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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVEL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO


MESTRADO EM DIREITO

DAIANE CRISTINA BERTOL

A TOKENIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE MITIGAÇÃO DA DUPLA


CONTAGEM NO MERCADO REGULADO DE CRÉDITO DE CARBONO

CASCAVEL
2023
DAIANE CRISTINA BERTOL

A TOKENIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE MITIGAÇÃO DA DUPLA


CONTAGEM NO MERCADO REGULADO DE CRÉDITO DE CARBONO

Dissertação de mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação strictu sensu
em Direito do Centro Universitário UNIVEL,
como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Júlio Cesar Garcia.

CASCAVEL
2023
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S586p Sobrenome, nome


Título / Mestrando(a). -- Cascavel, ano.
n. de páginas p.

Orientador: XXX.
Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário
Univel, Programa de Pós-Graduação em Direito, ano.

1. Palavra chave. 2. Palavra chave. 3. Palavra chave. I.


Sobrenome, Nome, orient. II. Título.

Catalogação na fonte elaborada pela Bibliotecária


Tatiana Demichei Imperatori CRB 9/1566
DAIANE CRISTINA BERTOL

A TOKENIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE MITIGAÇÃO DA DUPLA


CONTAGEM NO MERCADO REGULADO DE CRÉDITO DE CARBONO

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Professor Orientador Julio Cesar Garcia.
UNIVEL

_____________________________________
Professor Doutor Alexandre Barbosa da Silva
UNIVEL

_____________________________________
Professor Doutor XXXXXXX
Instituição

Cascavel, 01 de agosto de 2023.


Dedico este trabalho aos meus professores que por toda vida
tanto me ensinaram, a minha família (Neri, Soeli, Hector,
Amanda, Rodrigo e Helena), a doce Olívia, aos meus amigos,
em especial para Carol, e ao meu amado Jon Snow.
AGRADECIMENTOS

Ao professor Doutor Júlio Cesar Garcia, meu orientador, pela manifestação de


incondicional apoio e tempo dedicado a este trabalho, por sua compreensão por
algumas dilações, pelo carinho, atenção e estímulo permanente, que muito doou
para aumentar o desafio e melhorar a profundidade e a clareza da investigação do
tema, pela amizade.
A UNIVEL, seu corpo docente e funcionários, que desde 2007 quando
ingressei na instituição me acompanham neste percurso acadêmico até o mestrado
e que contribuíram com minha carreira que me trouxe tanta dignidade na vida.
Aos coordenadores do mestrado Doutor Alexandre Barbosa da Silva e Doutor
Alfredo Copetti Neto pela oportunidade.
Ao Sr. Joacir Alves pelos anos de trabalhos juntos, pela confiança e incentivo
em atuar na área do agrobusiness que possibilitaram a realização desde projeto de
investigação sobre o mercado regulado de crédito de carbono no Brasil.
À minha psicóloga Iraliz Soarez e Dr. Micael Fim pelo suporte indispensável
nesta trajetória.
À professora Doutora Katia Salomão pela orientação pedagógica e revisão do
trabalho.
De forma incondicional ao meu companheiro Rodrigo Marcon pelo acolhedor
abraço em momentos de lágrimas me fazendo acreditar que posso mais do que
imagino.
À Deus por todas as oportunidades concedidas a mim, pela força nos
momentos de ansiedade e dificuldades que me proporcionaram evoluir.
“Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil – e, no entanto, é
a coisa mais preciosa que temos”.
ALBERT EINSTEIN
RESUMO

A dissertação tem como tema a análise das condições que envolvem o mercado
regulado de crédito de carbono e como consequência investigar a questão da dupla
contagem de carbono. A metodologia utilizada para a elaboração deste estudo será
a pesquisa bibliográfica pelo método dedutivo, amparada também em estudo de
documentos jurídicos e doutrinas. Neste sentido, a problemática enfrentada é que
do mercado de crédito de carbono emerge a questão da dupla contagem, que
inclusive tem sido exaustivamente debatida internacionalmente pelos organismos
da ONU (Organização das Nações Unidas). Inicialmente, a investigação buscou
compreender as mudanças climáticas e definir o que são créditos de carbono e
estabelecer o problema da dupla contagem. Num segundo momento, procurou
compreender a regulação em âmbito nacional, a natureza jurídica dos créditos de
carbono e a segurança jurídica alicerçada em princípios para regulamentar o
mercado de tais ativos intangíveis. Por fim, a análise investigou na área de
inovações tecnológicas, o modo como as novas tecnologias dos tokens e
blockchains podem corroborar para o controle, mensuração e verificação dos
processos comerciais que envolvem o crédito de carbono, para contribuir para a
segurança jurídica e mitigação da dupla contagem. Afinal, a problemática é latente,
vez que ao ocorrer uma dupla contagem o mercado de carbono torna instável e, os
negociadores não sentem-se motivados a participar deste mercado, já que não
verificam estabilidade e ou segurança jurídica necessária para o processo;
sobretudo, se o crédito de carbono e sua comercialização tem como intuito
amenizar as mudanças climáticas, a ausência de regulamentação que conceda
segurança jurídica, acaba acarretando como consequência riscos severos a
manutenção da vida. Afinal, o que está em jogo não é apenas os ganhos ou perdas
financeiras, mas a capacidade do país em cumprir com sua parte perante o desafio
das reduções impostas para o combate da emergência climática.

Palavras-chave: Crise Climática; Segurança Jurídica; Inovação Tecnológica;


Blockchain.
ABSTRACT

The dissertation has as its theme the analysis of the conditions that involve the
regulated carbon credit market and, as a consequence, investigate the issue of
carbon double counting. The methodology used for the elaboration of this study will
be the bibliographical research by the deductive method, supported also in the
study of legal documents and doctrines. In this sense, the problem faced is that the
issue of double counting emerges from the carbon credit market, which has even
been exhaustively debated internationally by UN bodies (United Nations). Initially,
the investigation sought to understand climate change and define what carbon
credits are and establish the problem of double counting. Secondly, it sought to
understand regulation at the national level, the legal nature of carbon credits and
the legal certainty based on principles to regulate the market for such intangible
assets. Finally, the analysis investigated in the area of technological innovations,
how the new technologies of tokens and blockchains can corroborate for the
control, measurement and verification of the commercial processes that involve the
carbon credit, to contribute to the legal security and mitigation of the double count.
After all, the problem is latent, since when double counting occurs, the carbon
market becomes unstable and negotiators do not feel motivated to participate in this
market, since they do not verify the stability and/or legal certainty necessary for the
process; above all, if the carbon credit and its commercialization are intended to
mitigate climate change, the absence of regulation that grants legal certainty, ends
up causing severe risks to the maintenance of life. After all, what is at stake is not
just financial gains or losses, but the country's ability to fulfill its part in the face of
the challenge of the reductions imposed to combat the climate emergency.

Keywords: Climate Crisis; Legal Security; Technological Innovation; Blockchain.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável


CH4 – Metano
CIM - Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima
CNN - Cable News Network
CO2 – Gás Carbônico
COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
COP - Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas
CQNUMC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
CVM – Comissão de Valores Imobiliários
ERU – Unidade de Redução de Emissão
EU ETS - Mercado Europeu de Direitos de Emissão
GEE - Gases de efeito estufa
IPCC – Painel Intergovernamental Sobre Mudanças do Clima
IPI – Imposto Sobre Produtos Industrializados
MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
NASA - Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço
NDC – Contribuições Nacionalmente Determinadas
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ONU - Organização das Nações Unidas
PIS/PASEP – Programa de Integração Social
PL – Projeto de Lei
PNMC - Política Nacional sobre Mudança do Clima
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PSA - Pagamento por Serviços Ambientais
RCE - Reduções Certificadas de Emissões
RIO 92 - A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento de 1992
SIREDD - Systeme D'information Regional De L'environnement Et Du
Developpement Durable
SIRENE - Sistema computacional desenvolvido pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovações
SNRI-GEE - Sistema Nacional de Registro de Inventário de Emissões de Gases de
Efeito Estufa
UNFCCC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................13

1 O DESAFIO DA DUPLA CONTAGEM DE CRÉDITOS DE CARBONO NO


ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.................................17
1.1 O CONTEXTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O IMPACTO NA GERAÇÃO
DE GEE’S: OS CRÉDITOS DE CARBONO................................................17
1.2 A EMISSÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO COMO MECANISMO DE
CONTROLE DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: MERCADOS DE CARBONO
VOLUNTÁRIOS E REGULADOS (ESTATAIS OU INTERNACIONAIS)............24
1.3 O PROBLEMA DA DUPLA CONTAGEM: DESDOBRAMENTOS E ASPECTOS
JURÍDICOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS...........................................33

2 A REGULAÇÃO DO MERCADO DE CARBONO BRASILEIRO..................44


2.1 A NATUREZA JURÍDICA DOS CRÉDITOS DE CARBONO......................45
2.2 A SEGURANÇA JURÍDICA PARA OS MERCADOS DE CARBONO..........55
2.3 A PROPOSTA DE REGULAÇÃO DO MERCADO DE CARBONO BRASILEIRO
62
3 A TOKENIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO TECNOLÓGICO DE MITIGAÇÃO
DA DUPLA CONTAGEM.......................................................................66
3.1 A TOKENIZAÇÃO COMO SOLUÇÃO PARA A INTANGIBILIDADE DE ATIVOS
67
3.2 SOBRE AS PROBLEMÁTICAS NORMATIVAS NA DUPLA CONTAGEM DO
CRÉDITO DE CARBONO NO MERCADO REGULADO BRASILEIRO.................75
3.3 A RECEPÇÃO DA TOKENIZAÇÃO NO FUTURO DO POTENCIAL MERCADO
REGULADO DE CARBONO BRASILEIRO............................................................ 81

CONCLUSÕES.......................................................................................................87
REFERÊNCIAS......................................................................................................90
13

INTRODUÇÃO

No século XXI o grande desafio para a permanência da vida e do


desenvolvimento da humanidade são os avanços da mudança climática e,
consequentemente, do aquecimento global responsável por provocar alterações
que colocam em risco a sobrevivência no planeta. Tais mudanças acabam
afetando as circulações oceânicas, diminuem a resistência da câmara de ozônio,
questão que resulta no aumento da temperatura, que por sua vez impacta de
modo generalizado a fauna e a flora do planeta.
Neste contexto, deve-se ressaltar que o agente principal por estes efeitos
imediatos sentidos por toda a humanidade através de seguidas catástrofes
naturais, é o próprio homem, que através da ação de emitir gases do efeito estufa
antropogênico na atmosfera, vez que acarreta resultados degradantes.
Por um lado, o efeito estufa isolado da ação humana, é situação natural e
inata da terra e que mantém a atmosfera aquecida por meio da radiação solar. A
radiação percorre a atmosfera do planeta, fato promotor das condições para que a
existência de vida animal ou vegetal permaneça possível. Por outro lado, o efeito
estufa sofreu influência humana, por meio do estressor antropogênico, que gerou
excesso de aquecimento do ar devido a emissão de gases de efeito estufa como
dióxido de carbono, metano e outros. Esta condição estressora antropogênica
agravou-se a partir dos impactos da revolução industrial, que marca uma fase
geológica do início do ‘antropoceno’ das transformações ambientais e globais
tangíveis à ação humana.
Neste sentido, frente as condições implacáveis das mudanças climáticas, a
sociedade internacional por meio de suas instituições passou a estabelecer metas
de redução de emissões de carbono, e isto gerou diversas estratégicas, o que
inclui metas de redução de GEE’s que precisam ser atingidas e até mesmo
sobretudo um mercado de carbono emergente que suscita a possibilidade de
compensação entre países.
De tal forma, a inflamada celeuma é estes mecanismos compensatórios
não asseguram em suas operações comerciais em bolsa ou balcão de valores,
que um crédito emitido por um país e aproveitado por outro comprador seja pais
14

ou empresa privada, não seja disponibilizado mais de uma vez a outros


interessados, o que incide no que é chamado de dupla contagem. Este
procedimento falho por vezes, mina a segurança jurídica do processo para os
envolvidos nas transações e prejudica, elimina ou até piora a situação do
aquecimento global. Por isso, o Brasil incorre em não atingir as metas de redução
de GEE’s, ou até deixa de conquistar mérito adequado pelas reduções emissões
que realiza, mas não consegue comercializar ou até mesmo demostrar
concretamente. Assim, o problema de investigação enfrentando será analisar os
rumos do mercado de carbono no Brasil e a dupla contagem presente no mesmo,
devido à ausência de regulação específica, clara e objetiva para administrar as
operações financeiras, o que gera insegurança jurídica e instabilidade nas
negociações.
Por sua vez, as metas climáticas fomentaram as atividades do mercado de
crédito de carbono regulado e voluntário e a investigação proposta procura
verificar o processo de comercialização dos ativos ambientais intangíveis, isto é,
os créditos de carbono e se existe um processo de segurança jurídica, já que a
suspeita opera no sentido de questionar a segurança do processo de
comercialização dos créditos devido ao fato dos atos regulatórios nacionais, a
saber, os mais importantes, a Lei 12.187 de 2009 e o PL 2.148/2015 e seus
anexos como o PL 528/2021, bem como o PL 412/2022, mas sem se distanciar
das normativas internacionais às quais o Brasil é signatário: Pacto de Quioto e
Acordo de Paris.
Trata-se de um tema bastante pertinente aos dias atuais tendo em vista a
evolução do mercado de crédito de carbono, além do uso de tecnologias
inovadoras como a DLT (Distributed Ledger Technology ou tecnologia de ledger
distribuído) sendo a mais conhecida a blockchain, ainda, o uso de tokenização
para buscar por maior segurança para os negociantes, isto é, as partes do
processo da realização das operações de ativos intangíveis digitais. Alguns
especialistas consideram o blockchain a inovação tecnológica mais importante
desde o nascimento da internet na chamada 4ª. Revolução Industrial. Pode ser
descrito como uma rede distribuída de registros de informações que mudam por
meio de blocos de transações criptograficamente protegidos, conectados entre si,
que não podem ser alterados ou excluídos após a verificação. Logo, esta
15

tecnologia possibilita a inovação, é capacitada em provocar uma disruptura


latente e modifica a forma como o mercado de crédito de carbono opera.
Dentro deste contexto, o trabalho procura fazer uma contribuição na área
de inovações tecnológicas para evitar a dupla contagem de carbono, problema de
pesquisa que decorre da COP – Conferência das Nações Unidas e pelo
descrédito que gera um mercado com problemas na sua contabilidade, vez que
corrobora em desmotivar a inserção no mercado de crédito de carbono devido à
ausência de segurança jurídica no processo de comércio dos créditos de carbono
para a mitigação dos GEE’s.
Por isso, a metodologia utilizada para a elaboração deste estudo será a
ampla pesquisa bibliográfica pelo método dedutivo, qual se analisará um conceito
amplo que se deduz em conceitos específicos nas obras literárias, revistas,
jornais, artigos científicos, dissertações, sites internacionais e demais fontes de
pesquisas, além da pesquisa documental e doutrinária a fim de cotejar
analiticamente a temática abordada.
O trabalho está dividido em três capítulos. No Capítulo 1 consiste nos
esclarecimentos do histórico das mudanças climáticas e dos freios e metas
climáticas que evoluíram até o atual mercado de carbono 1. Passa por conceitos
do que é um crédito de carbono, como é o sistema de metas e redução de
emissões de gases de efeito estufa (GEE), como é o mercado voluntário, o
mercado regulado e o conceito de dupla contagem do crédito de carbono. Além
disso, aborda de forma crucial como foram estabelecidos os objetivos das metas
de redução de carbono, desde Estocolmo até as metas atuais do Acordo de Paris,
com as limitações do trabalho permite-se uma visão clara do escopo proposto.
No Capítulo 2, apresenta-se a fundamentação teórica e legislativa sobre o
aspecto da segurança jurídica que envolve a elucidação sobre os processos que
envolvem o comercio do crédito de carbono. Para tanto abordou-se sobre a
natureza jurídica do crédito de carbono, passo que ele é considerado por vezes
existe uma confusão sobre sua condição sendo necessário compreender como

1
O processo de aquecimento consiste na liberação de carbono na atmosfera, que só pode ser
reduzido ou neutralizado através da captura do carbono na atmosfera. Logo, para cada tonelada
de sequestro de carbono da atmosfera, gera-se um crédito de carbono: atualmente, este crédito é
comercializado em um mercado de carbono, o qual ainda conta com uma regulação insipiente e
frágil.
16

ele torna-se produto ativo intangível e negociável. Na sequência, abordou-se a


questão da segurança jurídica e, dos princípios que a sustentam, como caminho
para impedir a dupla contagem. Introduziu-se ainda uma abordagem sobre a Lei
12.187 de 2009 e o PL 2.148/2015 e seus anexos como o PL 528/2021, bem
como, o PL 412/2022, e sobre a ABNT PR 2060 no que tange a investigar quais
diretrizes norteiam a possibilidade de regulamentação em âmbito nacional em
tramitação e discussão. Todavia, a analise cotejada no capitulo 2 foi realizada em
face ao fato que Brasil é signatário quanto as metas do Acordo de Paris, do Pacto
de Kyoto e corrobora com a UNFCCC - Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre a Mudança do Clima para atingir as metas (NDC).
Por fim, no Capítulo 3, apresenta as inovações do mundo tecnológico,
como a tokenização de ativos e a tecnologia DLT blockchain, com o intuito de que
seja elaborado um meio de resolução do problema proposto para a dupla
contagem do crédito de carbono e fomento de um mercado em expansão.
Ademais, procurou-se verificar as problemáticas normativas a fim de cotejar a
questão da segurança jurídica e segurança tecnológica do uso destas novas
tecnologias, como mecanismo ou instrumento de solução para a dupla contagem
de carbono.
Em suma, o mercado de crédito de carbono apesar de ter inúmeras
diretrizes internacionais, e atos regulatórios dos estados brasileiros, e o Brasil
sendo signatário destes atos internacionais regulatórios, ainda não tem uma lei
federativa que regulamente e fiscalize o comércio de crédito de carbono de modo
eficaz, objetivo e mensurável. Por isso, a demanda de investigar as problemáticas
da dupla contagem de carbono e como a mesma desestabiliza a adesão ao
mercado de crédito de carbono faz-se relevante e plausível, dado que a não
adesão a tal mercado impede a mitigação das mudanças climáticas e coloca em
risco a vida.
17

1 O DESAFIO DA DUPLA CONTAGEM DE CRÉDITOS DE CARBONO NO


ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O objetivo do capítulo é apresentar o contexto das mudanças climáticas de


modo a situar a transformação decorrente do aquecimento global e a correlação
direta com a problemática dos GEE`s (gases de efeito estuda) e da dupla
contagem de carbono. Para isto, será necessário passar por etapas: i) tratar da
origem e consequências da mudança climática gerada pelo GEE’s; ii) analisar as
conferências organizadas pelas COP (Conference of the Parties), desde a ECO
92 até o Acordo do Paris em 2015, sua conexão imediata com o Crédito de
Carbono e sua comercialização; iii) compreender e cotejar sobre os caminhos da
comercialização de créditos de carbono por meio da regulação desdobrada do
Protocolo de Kyoto e do Acordo de Paris, além da Proposta do Marco Regulatório
para o Mercado de Carbono oriunda do Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) do estado brasileiro e da discussão sobre
o PL (projeto de lei) 2.148/2015 e seus anexos com ênfase no PL 528/2021 até o
PL 412/2022.

1.1 O CONTEXTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O IMPACTO NA


GERAÇÃO DE GEE’s: OS CRÉDITOS DE CARBONO

Inicialmente, o efeito estufa de acordo com Nelles e Serrer (2020) é um


fenômeno natural que ocorre na atmosfera da Terra e é responsável por manter a
temperatura do planeta em um nível adequado para a existência da vida. Ele
acontece quando certos gases presentes na atmosfera, como, a saber, o gás
carbônico (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o ozônio (O3) e o vapor
d’água (H2O), que entre outros configuram a classe dos principais gases do efeito
estufa, absorvem parte da energia solar que é refletida pela superfície da Terra e
a mantêm retida, responsável por aquecer a atmosfera e a superfície do planeta
tornando-o habitável.
Este fenômeno natural se alterou devido as mudanças climáticas, que
ocasionou o aquecimento global. Paul Crutzen (INPE, 2023) considera que o fim
do século XVIII, de 1880 até os dias atuais, gerou o aumento da temperatura
18

média do ar próximo à superfície em mais de 1 o C. O químico ganhador no Prêmio


Nobel de Química em 1995, nomeou de efeito antropocêntrico ou antropoceno,
esta era geológica oriunda dos últimos 200 anos da revolução industrial, fonte das
mudanças do clima global.
Desde o início da industrialização, para Crutzen (et al., 2011), a
temperatura média global do ar sofreu um aumento na concentração de dióxido
de carbono e outros gases de efeito estufa (GEE’s) na atmosfera, fato que
impediu a saída direta da radiação térmica para o espaço. Este escape de
radiação colabora com aumento da temperatura do ar e ao longo dos anos gerou
o chamado gases de efeito estufa antropogênico.
O desafio de enfrentar o problema das mudanças climáticas por meio do
comércio de emissões para os GEE’s, tornou-se uma forma de frear o
aquecimento global por meio da criação de um mercado com limitações,
permissões e compensações que as empresas seguirão para neutralizar sua
pegada de carbono. A retenção do carbono nos solos, plantas e algas por meio
de práticas sustentáveis, configuram uma solução que exige enfrentamento e
garantia de que o crédito não seja computado em duplicidade, que configura
atualmente como um problema crítico que vem sendo temática recorrente tratada
nas Conferências do Clima (COP27, 2022)2.
O efeito estufa natural para Nelles e Serrer (2020) é o que equilibra a
temperatura na terra, pois os raios solares penetram na atmosfera terrestre e
chegam à superfície, na qual ocorre a liberação na forma de radiação térmica que
retorna para atmosfera onde encontra o obstáculo natural dos gases e do vapor
de água. Esta barreira natural de vapores e gazes provoca o retorno dos raios
para terra, capaz de manter a terra aquecida em média a 14 graus.
Ora, com o efeito estufa natural a superfície terrestre mantém-se em média
de 14º C a 15º C., ora sem o efeito estufa ocorrendo de modo adequado a
temperatura da terra cairia em até 33º C, o que resultaria em temperaturas

2
A COP (Conference of the Parties) é um órgão das ONU (Organização das Nações Unidas) que
realiza a Conferência do Clima deste 1992, a fim de pensar soluções para o aquecimento global.
The Nature Conservancy (TNC). COP27 termina com acordo histórico para perdas e danos, 21 de
nov. 2022. Disponível em: < https://www.tnc.org.br/conecte-se/comunicacao/noticias/cop27-final-
acordo-perdas-e-danos/?
utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=search&utm_term=grants&gclid=Cj0KCQj
wwISlBhD6ARIsAESAmp69JY64er12MEeVS6t4T9q-zHMAs6TdSAyM2B4h1p7Rei-
uL25EhQcaAudPEALw_wcB> . Acesso em: 02/07/2022.
19

estimadas em os 18 º C negativos. Por isso, o efeito estufa natural é


imprescindível para a vida na terra, mas a quando o mesmo é modificado pela
ação humana no planeta impedindo sua forma orgânica, as temperaturas sofrem
variações constantes e capacitadas em destruir formas de existência do
biossistema natural.
Neste sentido, pesquisas diretamente oriundas das ciências do clima
apontam no Sexto Relatório de Avaliação (AR6 Sixth Assessment Report) do
IPCC3 considera que o impacto do homem no clima é evidente e denunciado nas
mudanças relativas ao oceano, a biosfera e crioesfera.
Logo, apenas pode-se impedir estes impactos da ação humana no clima e
bloquear as interferências antrópicas degradantes se as emissões de GEE’s, se
nos próximos 27 anos associadas com a redução de demais gazes, o impacto da
emissão de carbono na atmosfera for limitado a zero, por meio do comércio do
carbono (IPCC, 2021). A política no Brasil segue como norteador o IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças do Clima) no qual o cenário do GEE’s atual
tem máxima necessidade da previsão da previsão da regulação do mercado de
carbono, afinal apenas com uma estimativa global de carbono que deve ser
organizada e administrada pela ONU (Organização das Nações Unidas), torna-se
possível mitigar tal cenário ofertando uma solução viável.
De acordo com Crutzen (et al., 2011, p. 847) a influência humana inicia-se
ainda na fase pré-industrial com dois eventos preponderantes: primeiro, a
extinção da megafauna nas várias fases do Holoceno, na qual os mamíferos de
grande porte desapareceram, o que deixou claro a mudança no ambiente pela
ação humana. O segundo evento foi a agricultura em larga escala, oriundo da
Revolução Neolítica, que fomentou nas primeiras fases do Holoceno, a
aproximadamente 11,5 mil anos, o processo de estabilização climática. A hipótese
mais aceita atualmente pelos pesquisadores climáticos é que o desmatamento
para dar espaço para a agricultura, primeiro de subsistência e posteriormente
também para o comércio de trocas por volta de 8000 a 5000 mil anos,

3
IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima). Summary for Policymakers. In:
Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth
Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. (Masson-Delmotte, V., P.
Zhai, A. Pirani Et al.). Cambridge University Press. In Press. 2021. Disponível em : <
https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/>. Acesso em 01/07/2023.
20

ocasionaram o efeito de CO2 e metano CH4 suficientes, eficazes em evitar


inclusive uma outra era glacial.
Portanto, o desmatamento da floresta para o cultivo converteu a queda de
CO2 na atmosfera, em aumento da mesma e a sua concentração em 5–10 ppm
(de CO2). Em vista disso, credita-se a tal aumento sutil da emissão dos GEE’s,
estimularam efeitos nos oceanos e em todo biossistema terrestre impulsionando a
temperatura do planeta terra pela primeira vez na história. Além disso eles
afirmam que: “Desde meados do século XX, a concentração crescente e a
composição isotópica do CO2 na atmosfera foram medidas diretamente com
grande precisão e mostraram uma marca humana inconfundível” (CRUTZEN, et
al., 2011, p. 849).
Após o período pré-industrial, os dados de emissões de carbono na
atmosfera chegaram a um volume superior ao limite da variabilidade natural do
efeito estufa. Contudo, para Crutzen (et al., 2011, p. 849) apenas com a partir de
1850 com e era da Revolução Industrial, tem-se início o antropoceno, a era
responsável pelas transformações ambientais em que a concentração de CO2 na
atmosfera atingiu índices alarmantes como 296 ppm (de CO2). Assim, caso se
comparados aos 5 a 10 ppm da era do neolítico/holoceno, não é preciso ser
especialista em clima para levantar a suspeita sobre o impacto global desta
emissão de GEE’s.
Na visão do aclamado historiador Eric Hobsbawm (1979) a explosão
demográfica, desenvolvimento do comércio, acumulação de capitais gerido ao
longo da evolução histórica do modelo de produção e associado ao clima social
adequado, resultaram em desenvolvimento e transformações na econômica, qua
fomentaram o cenário de condições cruciais para a Revolução Industrial
(HOBSBAWN, 1971). Este período de rápidas mudanças ambientais gerou
alterações climáticas, cuja a preocupação até então era inexistente.
Além do mais, somente a partir da Revolução Industrial novas fontes de
energia passaram a ser amplamente utilizadas como, por exemplo, o uso de
petróleo e do carvão, combustíveis fósseis altamente poluentes quando
transformados pela ação do homem. De acordo com o IPCC (2021) a hipótese de
Hobsbawm corrobora com o fato de que as alterações climáticas antropogênicas
derivadas pelo aumento descontrolado da emissão de CO2 se agrava pela
21

combustão de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural, que são
os motores que ao serem alterados pela ação do homem tornam-se fonte das
mudanças no clima. Estes fatores estão ainda, vinculados com a radiação solar, a
atividade vulcânica, ciclos orbitais nos ciclos biogeoquímicos globais.
Portanto, estudiosos como Crutzen e Stoermer (2000) consideram que a
segunda metade do século XIII ou o momento do apogeu da Revolução Industrial,
é potencialmente o âmbito histórico no qual pode-se notar o efeito da ação
humana de uma forma catastrófica, para o aumento das temperaturas através da
emissão de GEE’s, sobretudo de CO2 e CH4. Estes efeitos da ação humana são
chamados de antropoceno.
Neste sentido, Paul Crutzen e Stoermer (2000) consideram que a Terra
havia saído do chamado “Holoceno” e entrado em uma nova época geológica, o
“Antropoceno”, impulsionada pelo impacto das atividades humanas no Sistema
Terrestre no período da Revolução Industrial. Por isso, sugere-se a data de auge
do Antropoceno seria o final do século XVIII, gerando um pacificado senso
científico sobre a matéria.
Assim, em concordância direta a hipótese de Crutzen (2002) Azevedo
(2018) vislumbra que as mudanças ambientais e climáticas globais ocorridas a
partir da Revolução Industrial se acirram e fomentam por meio das alterações na
forma de produção e consumo de energia, a degradação dos ecossistemas como
um todo.
Por sua vez, o uso de fontes de energias fósseis foi determinante para o
impacto ambiental na econômica industrial. A queima de combustíveis fósseis,
levou à liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases
de efeito estufa (GEE’s) na atmosfera, o que é reconhecido como uma das
causas (talvez a maior) da crise climática atual.
Apesar de tantos dados científicos disponíveis sobre este tema, Noam
Chomsky e Robert Pollin (2020), destacam a dificuldade enfrentada mediante ao
negacionismo climático sobre a responsabilidade humana pelas transformações
ecológicas e do clima no planeta. O negacionismo climático é muito forte nos
Estados Unidos da América, que deve-se de forma indubitável a indústria da
propaganda de massas, que é impulsionada em defender amplamente o uso dos
combustíveis fósseis como fonte energética, vez que propagam falácias sobre a
22

matéria em questão. Do ponto de vista daqueles que negam tais mudanças


climáticas, os mesmos minimizam os impactos da ação do homem sobre o
processo e naturalizam as alterações no planeta, como se as mesmas estivessem
cumprindo um ciclo natural.
O modelo de vida do homem como foi retratado por Bauman (2009), em
sua obra “Vida Líquida”, remete a uma sociedade em constante transformação
dada pela ação humana capacitada em produzir efeitos catastróficos 4 no meio
ambiente, como é o exemplo das emissões de gases de efeito estuda na
atmosfera. O referido autor ainda aponta que a: “(...) preocupação com o meio
ambiente deve a sua popularidade à percepção de um vínculo entre o uso
predatório dos espaços planetários e as ameaças ao fluxo suave das atividades
autocentradas da vida líquida (BAUMAN, 2009, p. 20).
Diante deste contexto conflituoso, James Hansen 5 (1988), climatologista
americano, ex-diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, que é
um dos principais defensores da redução das emissões de GEE’s, com vistas em
evitar os piores efeitos das mudanças climáticas, afirmou que o mundo passa por
um período de aquecimento decorrente deste processo de mudanças climáticas
ocasionadas pela ação do homem. Posteriormente a esta declaração, foi
publicado um artigo nomeado como “Efeito estufa: Hansen contra o resto do
mundo”, pela revista Science (1989). Contudo, somente após mais de uma
década, dados objetivos e comprovados pela ciência, puderam corroborar com a
tese apresentada por Hansen (OPERA MUNDI, 2022).
Tanto Boff (2015), quanto Hansen (1988) apontam que existe um consenso
na ciência de que o planeta Terra tem passado por alterações biogeoquímicas e

4
Um outro efeito catastrófico é o impacto de tal mudança climática na alimentação, em que a
análise de Bauman (2009) é corroborada com o pensamento de Mike Hoffmann (2022) na qual
aponta que o cardápio alimentar também sobre derradeiras alterações devido os impactos das
mudanças climáticas no planeta, em que o teor proteico e nutricional dos alimentos incluindo os
sabores veem sofrendo os efeitos de tais alterações. Diante de tais condições, Nelles e Serrer
(2020) consideram que esta condição é geradora de outra crise sem precedentes: a da
insegurança alimentar que tornou-se atualmente um problema de saúde pública. (GASPARINI,
2022)
5
É importante destacar que embora tenha sido Hansen (1988) quem disse publicamente os
termos que hoje se conhece com base na realidade, inúmeros outros pesquisadores já
apresentavam preocupações e criavam estudos sobre a possibilidade de a emissão de gases
causarem danos irreversíveis para o planeta.
23

transformações da paisagem de modo abrupto. Isto tem consequências éticas


frente às gerações do presente e do futuro e responsabilização para com o futuro
de todas as espécies do planeta. Assim, a crise climática é um problema
complexo e multifacetado, coordenada de governos, empresas e indivíduos para
mitigar seus impactos.
É necessário investir em fontes de energia renováveis, tecnologias limpas e
políticas para metas de redução de gases de efeito estufa para manter o
paradigma do direito ao meio ambiente equilibrado. Desta necessidade, surge a
suspeita de que o Mercado de crédito de Carbono possa ser um caminho viável,
já que por um lado pode impactar resolvendo as questões das alterações
climáticas, e por outro lado mantém a possibilidade do desenvolvimento
econômico, social e humano no planeta. Outra conjectura é o fato da ausência de
regulação para o Crédito de Carbono no âmbito do mercado interno no Brasil.
Para o IPCC (2022, fl. 37):

A evidência científica cumulativa é inequívoca: a mudança


climática é uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde
planetária. Qualquer atraso adicional na ação global antecipada
concertada sobre adaptação e mitigação perderá uma janela de
oportunidade breve e que se fecha rapidamente para garantir um
futuro habitável e sustentável para todos

Por isso, na abordagem defendida por Chomsky e Pollin (2020) tornou-se


prioridade um New Green Deal6 com pilares de necessidade de uma economia
verde, redução de gases de efeito estufa, investimento em energia limpa e a
elevação dos padrões de vida de trabalhadores e da população mais pobre do
mundo em busca de igualdade e sustentabilidade. Neste sentido preconizam:

Um Green New Deal global, que inclua essas quatro prioridades é,


em realidade, a única solução viável disponível, se quisermos
evitar as consequências catastróficas da elevação duradoura das
temperaturas médias globais. Dada a ausência de um programa
coerente de Green New Deal nos moldes apresentados, todas as
cúpulas internacionais do clima ocorridas até agora, incluindo a
6
O ‘Green Deal’ é essencialmente uma nova estratégia de crescimento. A ideia básica é simples:
uma grande parte do desempenho econômico da Europa depende da preservação de seus
recursos naturais. Isto se aplica à água, ao ar e ao solo, assim como às florestas, aos mares e a
um clima estável. A fim de garantir a prosperidade no futuro, a precaução é o melhor caminho. O
“Green Deal”, portanto, concentra-se nas tecnologias verdes e no uso moderado da natureza. O
objetivo é dissociar o crescimento econômico da exploração dos recursos naturais e, ao mesmo
tempo, criar novos empregos. As inúmeras iniciativas do projeto também dão às empresas a
necessária segurança de planejamento e estabelecem a estrutura para uma UE mais resistente a
crises.
24

COP 25, de Madri, organizada pela ONU em dezembro de 2019,


fracassaram diante do desafio de colocar o mundo em uma rota
viável de estabilização do clima. Mesmo a tão celebrada COP21,
de 2015, ocorrida em Paris, teve como resultado principal uma
nova rodada de inação ritualística. Frente a esses fracassos, a
Terra já está um grau mais quente do que era no período pré-
industrial, e deve atingir a marca de 1,5 oC dentro de uma ou duas
décadas. (CHOMSKY, POLLIN, 2020, p. 91 kindle).

O aquecimento global causa uma série de impactos negativos na Terra,


como, por exemplo, a elevação do nível do mar, o derretimento das geleiras, a
intensificação dos eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e
secas, a perda de biodiversidade, dentre outros. Além disso, a crise climática está
afetando diretamente as comunidades mais vulneráveis, isto é, pessoas em
regiões pobres e em desenvolvimento, dependentes de fontes de água e
alimentos baseados no extrativismo da natureza. Meneghini (2021) descreve
como a pandemia do século XXI, o ápice das emissões de GEE’s na atmosfera do
planeta, que terão ao longo do tempo impactos severos e enfreáveis para a
humanidade e para o biossistema do planeta terra.

1.2 A EMISSÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO COMO MECANISMO DE


CONTROLE DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: MERCADOS DE CARBONO
VOLUNTÁRIOS E REGULADOS (ESTATAIS OU INTERNACIONAIS)

O aumento do GEE’s tem se intensificado significativamente por conta da


queima de combustíveis fósseis, sendo gerador do aumento da temperatura
média do planeta, o que pode ter consequências graves para o clima, para os
ecossistemas e para a vida humana.
A redução do efeito estufa por metas estabelecidas pela Convenção-
Quadro das Nações ligadas sobre mudanças Climáticas (UNFCCC, 2020)7 é
estabilizar as concentrações de GEE’s na atmosfera em um nível que impeça a
interferência antropogênica perigosa no sistema climático. Por isso, tem como fim
um conjunto de objetivos e compromissos assumidos por governos, organizações

7
UNFCCC, 2020. Disponível em:
https://www4.unfccc.int/sites/ndcstaging/PublishedDocuments/Brazil%20First/Brazil%20First
%20NDC%20(Updated%20submission).pdf. Acesso em 2/07/2023.
25

e empresas com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na


atmosfera, com o intuito de mitigar os efeitos do aquecimento global.
As metas de redução de emissões de gases de efeito estufa podem ser
estabelecidas em níveis global, nacional, regional ou empresarial, e podem ser
baseadas em diferentes indicadores: i) a redução absoluta de emissões; ii) a
redução relativa em relação a um período de referência; iii) a intensidade de
emissões por unidade de produção ou por unidade de produto, entre outros que
estão inclusos no IPCC seguido internacionalmente
Os países se comprometem a cumprir metas de redução de emissões de
gases de efeito estufa através de acordos internacionais, sendo os principais a
ECO 92, o protocolo de Quioto de 1998 e, por fim o Protocolo de Paris de 2015.
Em Estocolmo, de acordo com Ribeiro (2001) do período de 05 a 16 de
junho de 1972, houve a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente, conhecida como Conferência de Estocolmo. Nesta reunião inicial,
estiveram presentes 113 países e estabeleceu as bases para a cooperação global
em questões ambientais. Desde então, busca-se alcançar metas ambientais para
proteção do meio ambiente.
No relatório da Delegação do Brasil à Conferência de Estocolmo de 1972 8
foi adotado um pacto voltado para o plano global a fim de proteger o meio
ambiente, que inclui a criação de instituições internacionais eficientes. O
reconhecimento de que a proteção do meio ambiente é uma preocupação global
que afeta todos os países, promove uma abordagem integrada para o
desenvolvimento econômico e à proteção ambiental, na qual princípios e metas
foram cotejados como indicadores para nortear a regulação interna dos países
como, a saber: i) conservar os recursos naturais para as gerações futuras; ii) o
compromisso em controlar a poluição, incluindo o controle da poluição do ar e da
água e a gestão de resíduos sólidos e tóxicos; iii) o estímulo à cooperação
internacional para resolver problemas ambientais transfronteiriços; iv) e o fomento
à educação ambiental e conscientização pública sobre as questões ambientais.

8
Relatório da Delegação do Brasil à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano — Estocolmo — 1972. Disponível em:
https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-content/uploads/sites/36/2013/12/
estocolmo_72_Volume_I.pdf> . Acesso em 02 de julho de 2023.
26

Essas metas e princípios são considerados marcos importantes no


desenvolvimento da política ambiental internacional. A conferência (1972)
também levou à criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA)9, que tem como objetivo coordenar a ação internacional para proteger o
meio ambiente.
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, também conhecida como Rio 92 ou Eco 92 foi uma conferência
internacional realizada no Rio de Janeiro. A conferência abordou questões globais
relacionadas à sustentabilidade ambiental e ao desenvolvimento econômico
(BARRETO, 2009). Para Herman Benjamin (2017), ministro do Superior Tribunal
de Justiça, a Rio 92 foi um divisor de águas, uma mensagem política de
mudanças.
A Rio 92 também chamada de Cúpula da Terra 10 reuniu líderes mundiais,
ativistas ambientais e representantes da sociedade civil de todo o mundo, com o
intuito de discutir as questões globais e criar planos de ação para enfrentar das
mudanças climáticas, na qual uma das temáticas mais emergente foi a emissão
de GEE’s na atmosfera. A conferência gerou dois documentos importantes: i) a
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; ii) e a Agenda 21. E
outros que não devem ser ignorados como: iii) a Carta da Terra; iv) Convenções:
Biodiversidade, Desertificação e Mudanças climáticas; v) Declaração de princípios
sobre florestas
A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi adotada
pelos líderes mundiais na conferência e estabeleceu princípios e diretrizes para a
sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento econômico. A Agenda 21 (1995)
é um plano de ação detalhado para o desenvolvimento sustentável, que aborda
questões relacionadas à pobreza, saúde, educação, igualdade de gênero,
governança, conservação da biodiversidade e uso sustentável dos recursos
naturais. Esta conferência compreende uma série de eventos paralelos, como a
Cúpula dos Povos, que foi um fórum para organizações não governamentais

9
PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Disponível em: <
https://pnuma.org.br/>. Acesso em 01/07/2023.
10
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992: Rio de
Janeiro). Assembleia Geral da ONU, de 22-12-89, Agenda 21 - Brasília: Câmara dos Deputados,
Coordenação de Publicações, 1995. (= Agenda 21, 1995)
27

discutirem questões relacionadas à sustentabilidade ambiental e ao


desenvolvimento humano.
Embora, a Rio 92 (AGENDA 21, 1995) tenha sido considerada um grande
sucesso em termos de gerar conscientização e compromissos para o
desenvolvimento sustentável, alguns críticos argumentam que a implementação
dos compromissos e objetivos da conferência foi limitada e insuficiente nas
décadas seguintes. No entanto, a Rio 92 estabeleceu um precedente importante
para futuras conferências internacionais sobre questões ambientais e de
desenvolvimento, e suas ideias e iniciativas continuam a ser relevantes para o
mundo de hoje.
A Cúpula da Terra de 92 adotou o tratado internacional da Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (em inglês, United
Nations Framework Convention on Climate Change ou UNFCCC), que entre os
principais objetivos sobre a mudança do clima constam os de 1) estabilizar as
concentrações de gases de efeito estufa; 2) garantir que as atividades humanas
não prejudiquem os ecossistemas; 3) promover a cooperação internacional para
enfrentar os desafios da mudança do clima de forma eficaz e justa; 4) fomentar
ações para aumentar a resiliência dos países e comunidades aos impactos das
mudanças climáticas e 5) transferir recursos tecnológicos e financeiros para
países em desenvolvimento; (Ministério do Meio Ambiente, 2021, p. 01).
A UNFCCC incluiu os compromissos que as Partes assumiriam com o
tratado internacional, sendo: 1) elaborar inventários nacionais de emissões de
gases de efeito estufa; 2) Implementar programas nacionais e/ou regionais com
medidas para mitigar a mudança do clima e se adaptar a ela; 3) Promover o
desenvolvimento, a aplicação e a difusão de tecnologias, práticas e processos
que controlem, reduzam ou previnam as emissões antrópicas de gases de efeito
estufa; 4) Promover e cooperar em pesquisas científicas, tecnológicas, técnicas,
socioeconômicas e outras, em observações sistemáticas e no desenvolvimento
de bancos relativos ao sistema do clima; 5) Promover e cooperar na educação,
treinamento e conscientização pública em relação à mudança do clima (MMA,
2023, p.01)
Desde a sua criação, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima tem sido um fórum essencial para o diálogo internacional
28

sobre a mudança climática e tem desempenhado um papel importante na


sensibilização e mobilização de ações globais para enfrentar esse desafio crítico
que afeta o planeta. Através de suas reuniões anuais, conhecidas como
Conferências das Partes (COPs), os países signatários continuam a negociar e
aprimorar suas estratégias para lidar com as mudanças climáticas e promover
ações conjuntas.
O Acordo de Paris, conferência internacional sobre mudanças climáticas
referente a 2015 na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP21,
ONU, 2015). Para Umbelino (2015) para uma ação mundial capacitada em
enfrentar este desafio, 195 países construíram junto, em dezembro de 2015, o
Acordo de Paris, que é um compromisso a ser cumprido até o fim deste século
(2020) com o foco em conter o aquecimento do planeta. O objetivo principal do
Acordo de Paris é limitar o aumento da temperatura média global a menos de 2
graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais e tentar limitá-lo ainda mais a
1,5 grau Celsius.
Como atingir a meta de redução de GEE’s na atmosfera, em vista do
método mais rentável e como os recursos existentes podem ser mobilizados de
forma mais eficaz, tornaram-se assuntos de paulatino debate tanto no âmbito
nacional quanto internacional, e foi o foco Acordo de Paris (ONU, 2015). Na União
europeia os esforços de controle da emissão dos GEE’s, concentram-se no setor
de energia (usinas elétricas) e indústrias que emitem intensivamente carbono e
outros gazes nocivos. Ainda, voltam seu potencial de controle para a área de
transportes (IPCC, 2023). No Brasil, as empresas podem estabelecer suas
próprias metas, como parte de suas políticas de responsabilidade social e
ambiental, ou em resposta à pressão de investidores e consumidores, sendo a
regulação livre.
Neste sentido, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis (2020) desde 2019 vem operando um mercado de carbono
voluntário, voltado apenas para o setor de combustíveis. Um caso deste mercado
muito conhecido é o RenovaBio, que tem como peça central a negociação de
CBIOs, certificados de descarbonização que visam incentivar o uso de
combustíveis renováveis, em detrimento das alternativas fósseis. Na prática, o
CBIO é um crédito de carbono com um uso bastante específico, sendo que quem
29

emite esses CBIOs são os produtores de biocombustíveis, como etanol, biodiesel


e biometano. Todo ano, as distribuidoras de combustíveis são obrigadas a
comprar uma quantidade determinada de CBIOs.
A redução do efeito estufa por metas e através da vinculação aos acordos
derivados dos indicadores existentes a partir da Convenção-Quadro das Nações
ligadas sobre mudanças Climáticas (UNFCCC, 2020), é uma estratégia
fundamental para limitar o aumento da temperatura global e proteger o planeta
das mudanças climáticas, vez que tem sido cada vez mais adotada por governos
e empresas em todo o mundo.
De acordo com Bill McKibben, jornalista e ativista ambiental americano,
autor de vários livros sobre mudanças climáticas, tais como ‘The End of Nature’
(1989) e ‘Eaarth’ (2010), transparece a defesa da criação de uma ação global, na
qual os líderes mundiais adotassem uma política única para criar um movimento
maciço que apoie a redução destas emissões, já que para o mesmo, medidas
menores não possuem a capacidade de surtir efeitos significativos em relação ao
efeito estufa. Contudo, o próprio autor considera que a conferência de Glasgow foi
inútil e decepcionante, e considera que a esfera política precisa pressionar os
mercados financeiros se realmente querem mudanças concretas.
De acordo com o artigo 6 do Acordo de Paris (2015, p. 14):

As Partes reconhecem a importância do apoio e da cooperação


internacional aos esforços de adaptação, e a importância de se
levar em consideração as necessidades das Partes países em
desenvolvimento, especialmente daquelas que são
particularmente vulneráveis aos efeitos negativos da mudança do
clima.

Bodansky (2016), em análise direta ao Acordo de Paris, identifica aspectos


que demonstram a capacidade de servir de base para uma ação global mais forte
sobre as mudanças climáticas. A esse respeito, enfatiza o fato de ter alcance
global, impor as mesmas obrigações básicas a todos, permitir a consideração das
circunstâncias nacionais e, o mais importante, criar uma estrutura cooperativa
durável de longo prazo.
O acordo também estabelece uma série de medidas para ajudar os países a
atingir esses objetivos, além de abarcar a monitorização regulada das emissões
de gases de efeito estufa e a implementação de políticas e tecnologias para
30

reduzi-las, como no exemplo do comércio do carbono como inovação para


resolver a questão. O Acordo de Paris prevê a transferência de tecnologias para
os países em desenvolvimento, a fim de ajudá-los a crescer de forma mais limpa
e sustentável. O Acordo de Paris (2015, p. 13) prevê em seu artigo 5, no 2.

As Partes são encorajadas a adotar medidas para implementar e


apoiar, inclusive por meio de pagamentos por resultados, o
marco existente conforme estipulado em orientações e decisões
afins já acordadas sob a Convenção para: abordagens de políticas
e incentivos positivos para atividades relacionadas a redução de
emissões por desmatamento e degradação florestal, e o papel da
conservação, do manejo sustentável de florestas e aumento dos
estoques de carbono florestal nos países em
desenvolvimento; e abordagens de políticas alternativas, tais
como abordagens conjuntas de mitigação e adaptação para o
manejo integral e sustentável de florestas, reafirmando ao mesmo
tempo a importância de incentivar, conforme o caso, os
benefícios não relacionados com carbono associados a tais
abordagens.(Grifo da autora).

O Acordo de Paris é ratificado por mais de 190 países, o que o torna um


dos acordos ambientais mais amplos já alcançados, e que é o ponto de partida
para se falar em comércio do Carbono. No entanto, para Silva (2022) muitos
críticos argumentam que as metas estabelecidas no acordo são insuficientes para
lidar com a gravidade da crise climática, e que mais medidas precisam ser
tomadas para garantir um futuro sustentável para todos. Outros, de modo mais
pontual admitem que apesar de ter um indicar que encaminha para o comércio do
carbono, o mesmo é insuficiente.
Tornou-se notório para o mundo a questão da mudança climática e da
emissão de GEE’s e de modo contundente sobre a necessidade de mitigação das
emissões. A COP18 em Dora 2012 no Qatar gerou a Emenda de Dora que é
documento adicional ao Protocolo de Kyoto realizado no ano de 1997 e que
possui como objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa para
combater as mudanças climáticas. Ambos os documentos são essenciais para
nortear a regulação sobre os Créditos de Carbono, sendo o seu principal objetivo
a redução das emissões de gases de efeito estufa, a fim de frear as mudanças
climáticas. Contudo, a Emenda de Dora derivada da discussão não surtiu grandes
impactos apesar de suscitar a discussão profunda sobre o tema.
O protocolo de Kyoto para cada tonelada de carbono não emitida, é gerado
um crédito de carbono. Quando um país consegue cumprir suas metas de
31

redução de emissões e deixar de emitir 1 tonelada de carbono, ele recebe


créditos dos países mais desenvolvidos e que não cumpriram as metas
estipuladas11.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL, 2016) foi criado a partir do
momento que o Brasil aderiu ao Protocolo de Kyoto, como uma forma de certificar
os créditos de carbono para o mercado voluntário de créditos de carbono. Este
mecanismo permite que o brasil participe do mercado por meio da proposta de
projetos que possam se converter em recursos financeiros, com o objetivo de
promover a mitigação dos GEE’s. As metas do protocolo de Kyoto entram em
vigência em 2008, e o MDL é um instrumento para alcançar suas metas. O que
firmou e aprofundou o compromisso do Brasil com a Convenção Quadro das
Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCCC) foi a adesão anos depois
ao Acordo de Paris em dezembro de 2015.
O Brasil assinou este acordo, e com ele adveio algumas metas a serem
atingidas, que estão presentes no Acordo de Paris em seu Artigo 6, parágrafo 4,
alíneas de a) a d), sendo elas: i) aumentar do uso de fontes alternativas de
energia; ii) aumentar a participação de bioenergias sustentáveis na matriz
energética brasileira para 18% até 2030; iii) utilizar de tecnologias limpas nas
indústrias; iv)melhorar a infraestrutura dos transportes, v)diminuir o
desmatamento e restaurar e reflorestar até 12 milhões de hectares. Tais metas
devem ser progressivamente mais ambiciosas ao longo do tempo, e os países
devem relatar regularmente sobre o progresso na implementação dessas metas
(MEIRELLES, 2021).
A transição para uma economia de baixo carbono 12 dispõe aos países o
dever de trabalhar para aumentar a participação de fontes de energia renovável
em sua matriz energética, reduzir a dependência de combustíveis fósseis e
promover o uso de tecnologias mais limpas e eficientes, a fim de promover
inovação tecnológica e regulação para os GEE’s.
11
United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC). Kyoto Protocol
Reference Manual: on accounting of emissions and assigned amount. 11/2008. Disponível em: <
https://unfccc.int/sites/default/files/08_unfccc_kp_ref_manual.pdf>. Acesso em 03/07/2023 (=
UNFCCC, 2008). A quantidade inicial atribuída é expressa em unidades individuais, chamadas
unidades de quantidade atribuída (AAUs), cada uma das quais representa uma permissão para
emitir uma tonelada métrica de dióxido de carbono equivalente (t CO2 eq). (Tradução da Autora).
12
Economia de baixo carbono é aquela que é voltada para a baixa emissão de gases na
atmosfera.
32

No documento oficial da ONU (Framework Convention on Climate Change,


FCCC, 2015)13 aponta para o fortalecimento da resiliência climática em que os
países devem trabalhar para consolidar sua capacidade de se adaptar aos
impactos das mudanças climáticas e, reduzir a vulnerabilidade das comunidades
mais afetadas, principalmente, aquelas que dependem diretamente dos recursos
naturais para subsistência.
Ainda na FCCC (2015) ocorreu a mobilização dos recursos financeiros dos
países desenvolvidos, os quais devem fornecer apoio financeiro e tecnológico
para ajudar os países em desenvolvimento a implementar as medidas
necessárias para cumprir os objetivos do acordo. O acordo estabeleceu uma meta
de mobilizar US$ 100 bilhões por ano até 2020 e, uma nova meta deve ser
estabelecida para o período após 2025. Por isso, o aumento da cooperação
internacional no acordo de Paris é resolutamente importante para atingir os
objetivos e metas previstas no documento, vez que a troca de informações e
melhores práticas, a coordenação de ações e a promoção da cooperação técnica
e científica tornaram-se o caminho para a mitigação das mudanças climáticas
(FCCC, 2015).
Dentre as metas estipuladas existe o mercado de crédito de carbono que
utiliza de compensações como ferramenta importante para ajudar a alcançar os
acordos climáticos, pois incentivam a redução das emissões de gases de efeito
estufa (GEE’s), sendo o crédito de carbono o ativo que consubstancia a economia
e sustentabilidade.

13
Flamework Convention on Climate Change, FCCC, 2015). Disponível em:
<https://unfccc.int/resource/docs/2015/cop21/eng/l09r01.pdf>. Acesso em 01/07/2023. (= FCCC,
2015).
33

O crédito de carbono14 é um certificado digital que comprova que uma


empresa ou um projeto ambiental capturou ou deixou de emitir 1 tonelada de
GEE`s, por exemplo: projetos de conservação florestal, reflorestamento de áreas
devastadas, energia limpa, biomassa, evitou a emissão de 1 tonelada de CO2
(dióxido de carbono) em um ano. O conceito de crédito de carbono foi definido na
já citada Cúpula do Clima e Aquecimento Global em Quioto, que visava reduzir a
emissão de gases de efeito estufa, questão relacionada a diversas questões
ambientais que afetam as mudanças climáticas. Os governos participantes
designaram um órgão para certificar e verificar as ações dos países que se
comprometeram a reduzir as emissões de gases poluentes, o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL).
Ao comprovar que não emite gases poluentes, o MDL gera um crédito de
carbono para cada tonelada de gás não emitida. Quando um país consegue
reduzir essa tonelada de emissões, o MDL vai demonstrar créditos que podem ser
negociados com países que ainda não cumpriram a meta. O MDL é um processo
oficial ligado ao Protocolo de Quioto e verificado por órgãos da própria ONU e
previsto no protocolo, além das autoridades nacionais.
Outra forma de verificar a garantia de que os créditos de carbono sejam
realmente correspondentes a redução de carbono na atmosfera é a Verra
(Verified Carbon Standard), plataforma que criou o Voluntary Carbon Standards
(VERRA, 2015). A Verra criou uma plataforma voluntária, paralela ao MDL, mas
baseado na mesma lógica e com os parâmetros de certificação da ONU.

14
Como ocorre o crédito de carbono? O dióxido de carbono é o principal gás responsável pelo
aquecimento global sendo o resultado da produção e distribuição de combustíveis fósseis (gás,
petróleo e carvão) e a queima e desmatamento das florestas (NELLES e SERRER, 2020). Na
fotossíntese, ocorre um processo no qual as plantas geram sua glicose (seu alimento), as plantas
absorvem o CO2 do ar e usam a energia solar através de suas folhas para CO2 (um átomo de
carbono, dois oxigênios) e a água absorvida por suas raízes e folhas (H2O) em átomos de
carbono, hidrogênio e oxigênio. As plantas geram energia para crescer e viver. Como resultado da
fotossíntese, as plantas liberam oxigênio no ar. Além disso, plantas e algas no oceano absorvem
CO2 durante o dia e liberam oxigênio (O2). Além da liberação dos GEEs como carbono, é liberado
o metano CH4, um gás de efeito estufa 30 (trinta) vezes mais potente e destrutivo que o CO2
quando liberado na atmosfera. Nestes GEEs absorvem o calor do sol na atmosfera, levando ao
efeito estufa e aquecimento do planeta. Ou seja, quando há mais CO2 do que o normal no ar, o
calor dos raios solares é absorvido pela atmosfera, e o planeta fica mais quente. Em outras
palavras, a emissão de gases de efeito estufa e o fato do uso de combustíveis fósseis amplamente
como base energética, aquecem o planeta e conduzem à mudanças climáticas drásticas. Para um
parâmetro e compreensão a quantidade de CO2 na atmosfera atual é de 417 PPM contra uma
média histórica de 100-300 PPM (partes por milhão – medição da concentração de gás na
atmosfera) (STEFFEN, et. Al., 2015). Por isso, o crédito de carbono torna-se uma solução viável
para a redução de GEE’s.
34

É importante notar que a elaboração de créditos de carbono é


regulamentada em muitos países, e é necessário seguir as normas e
regulamentos aplicáveis. Além disso, os métodos de medição, verificação e
emissão de créditos de carbono devem ser confiáveis e transparentes para
garantir a integridade do sistema.
A legislação que trata de crédito de carbono no Brasil é a Lei nº 12.187, de
29 de dezembro de 2009, que instituiu a Política Nacional sobre Mudança do
Clima (PNMC, 2010). A PNMC (2010) tem como objetivo principal a redução das
emissões de gases de efeito estufa no país e o crédito de carbono é uma das
estratégias previstas para alcançar esse objetivo prevista internacionalmente. A
lei estabelece o Sistema Nacional de Registro de Emissões (Sirene) e o Sistema
Nacional de Registro de Reduções de Emissões (SIREDD), que são responsáveis
por registrar, monitorar e auditar as emissões de gases de efeito estufa no país,
assim como as reduções dessas emissões decorrentes de projetos de mitigação.
Além disso, a PNMC (2010) prevê a criação do mercado de carbono no
Brasil, que permite a compra e venda de créditos de carbono entre empresas e
projetos que gerem créditos excedentes, sendo que tais empresas precisam ser
compensar suas emissões reduzidas. Esta lei estabelece as diretrizes para a
implementação da política nacional sobre mudança do clima, que abrange as
regras para o mercado de carbono no país.
O crédito de carbono é uma ferramenta importante para ajudar a incentivar
a redução das emissões de gases de efeito estufa e atingir as metas climáticas.
As empresas e indivíduos podem utilizar os créditos de carbono de diversas
maneiras, como estabelecer metas de redução de emissões, investir em projetos
de redução de emissões, vender créditos de carbono, participar de mercados de
carbono ou compensar emissões inevitáveis.
Por isso, diferentes países a partir da emergência climática preocupam-se
em desenvolver políticas ou incentivos capazes de salvaguardar o meio ambiente.
É nesse anseio que surgiram as PSA (pagamentos por serviços ambientais), os
quais são consideradas as mais viáveis para alcançar este objetivo, que no Brasil
estão regulamentados pela lei 14.119/2021, a qual trata da necessidade da dada
remuneração em troca do bem preservado. O pagamento pelos serviços
ambientais obedece às seguintes diretrizes: poderá ser direto de forma financeira,
35

ou indireto por meio de serviços de melhorias sociais prestados a comunidade


rurais e urbanas, e ainda a possibilidade de compensação associada a certificado
de redução de “emissões por desmatamento e degradação; comodato; títulos
verdes (green bonds) e Cota de Reserva Ambiental” (SIQUEIRA, 2021).
Assim, o PSA é um mecanismo financeiro utilizado para recompensar
produtores rurais, agricultores familiares e assentados, bem como comunidades
tradicionais e povos indígenas, pelos serviços ambientais prestados pela
preservação ambiental de suas propriedades. Os proprietários de terras que
restauram ou protegem os recursos naturais são pagos por serviços
anteriormente prestados gratuitamente. Assim, trata-se de um importante impulso
para a adoção de boas práticas nesta área, sendo fundamental para a utilização
de outras estratégias de combate ao desmatamento ilegal e cumprimento do
Código Florestal.
Por isso, os PSA motivam o pagamento daqueles que já preservavam sem
saber o bem que faziam, com o fim de preservar, recuperar ou melhorar o
ecossistema, o que sem dúvidas torna-se uma ideia de sustentabilidade
identificada com justiça. Neste sentido, de acordo com a abordagem de
BOSSELMANN (2015, p. 22) a ideia de sustentabilidade é semelhante a ideia de
justiça, pois ao mesmo tempo que se tem consciência das coisas sustentáveis, se
tem consciência das coisas justas, porém ambas devem ser analisadas com base
nos valores e princípios respectivos.
No Brasil com o foco de criar condições de justiça e sustentabilidade,
vários estados aprovaram leis de PSA e há discussões progressivas sobre a
adoção de leis nacionais sobre o assunto. Em maio de 2012, havia 33 iniciativas
legislativas: 13 em nível federal (2 leis, 2 decretos e 9 PL) e 20 em nível estadual
(14 leis e 6 decretos). Sendo que, dos PLs identificados, apenas 4 não foram
processados de forma semelhante aos demais (SANTOS, PEREIRA,
VERÍSSIMO, 2013)15.
No Paraná existe o Decreto 4.381/2012, que delimita a respeito do
Programa Bioclima Paraná de conservação e recuperação da biodiversidade,
mitigação e adaptação às mudanças climáticas no Estado do Paraná e dá outras

15
SANTOS, Daniel; PEREIRA, Denys; VERÍSSIMO, Adalberto. O estado da Amazônia: uso da
terra. Belém, PA: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), 2013.
36

providências. Além da Lei 17.134/2012 que versa sobre os pagamentos por


serviços ambientais (em especial os prestados pela Conservação da
Biodiversidade), integrantes do Programa Bioclima Paraná e o Biocrédito.
Já no estado do Amazonas (Bolsa Floresta) existe a Lei Complementar
53/2007 sobre o Sistema Estadual de Unidades de Conservação do Amazonas; a
Lei 3.135/2007 da Política Estadual sobre Mudanças Climáticas, Conservação
Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas; a Lei 3.184/2007 sobre
a alteração da lei estadual 3.135/2007 e, por último, o decreto 26.958/2007 sobre
a Bolsa Floresta do Governo do Estado do Amazonas (CETESB, 2007).
Logo, estas são tentativas de pensar caminhos para a regulação do
mercado voluntário de crédito de Carbono no Brasil, mas que por vezes ainda não
conseguem evitar o problema da dupla contagem. Este fato acaba por inviabilizar
que o Brasil atinja as metas estipuladas pelos acordos aos quais ele é signatário,
o que prejudica a redução do GEE’s na atmosfera e inviabiliza o mercado de
crédito de Carbono.

1.3 O PROBLEMA DA DUPLA CONTAGEM: DESDOBRAMENTOS E


ASPECTOS JURÍDICOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

Segundo Yvo de Boer, Secretário executivo da ONU que presidiu a


convenção sobre mudanças climáticas em novembro de 2008 afirmou
categoricamente (UNFCCC, 2008, p. 05) que: “Tanto a convenção como o
protocolo criou uma estrutura para a implementação de uma série de políticas
climáticas, e estimulou a criação do mercado de carbono e novos mecanismos
institucionais que poderiam servir de base para futuros esforços de mitigação”.
(Tradução da Autora).

Ao sinalizar uma trajetória de baixo carbono de longo prazo da


economia brasileira, esse sistema ameniza as exigências de
acordos de comércio multilaterais e reduz as disputas comerciais
por meio de medidas protecionistas de cunho climático. Além
disso, cria sinais de preços e de integridade climática para a
inserção dos agentes regulados em mercados internacionais, em
particular no uso dos instrumentos de mercado estabelecidos no
Acordo de Paris (tratado mundial criado com o objetivo de reduzir
o aquecimento global). O sistema de comércio de emissões não
só garante o custo-efetividade para atingir as metas de mitigação,
37

mas também amplia o leque de oportunidades de negócios para


mitigação e inovação tecnológica. (CEBDS, 2021, p. 11).

Assim, o protocolo acaba por regular as emissões de GEE’s, e suas metas


foram definidas em relação aos níveis de emissão de cada país no ano de 1990,
com o objetivo em reduzir as emissões em 5,2% em relação a esse nível até o
ano de 2012.Além disso, o acordo também estabeleceu incentivos para a adoção
de tecnologias mais limpas e a promoção de fontes de energia renovável.
O Protocolo de Kyoto foi o primeiro acordo internacional, no qual 192
partes aderiram ao mesmo, que estabeleceu metas obrigatórias de redução de
emissões de GEE’s. No entanto, o acordo teve uma adesão limitada, sendo que
algumas das maiores economias do mundo, como os Estados Unidos e a China,
não ratificaram o acordo.
O Protocolo de Kyoto (UNFCCC, 2023) expirou em 2012, sendo
inicialmente complementado pela Emenda de Dora que deve origem na COP18.
Mas, as negociações internacionais sobre mudanças climáticas, atualmente, têm
sido conduzidas sob o Acordo de Paris, que estabeleceu novas metas de redução
de emissões para todos os países, independentemente do seu nível de
desenvolvimento e que alcançou um número muito maior de países signatários.
De acordo com a Proposta de marco Regulatório para o marcado de
Carbono Brasileiro (CEBDS, 2021) o mercado de crédito de carbono é
autorregulado internacionalmente e também de modo interno no Brasil. O mesmo
é um sistema financeiro que permite às empresas compensarem as emissões de
gases de efeito estufa que produzem, através da compra e venda de créditos de
carbono. O documento que propõe uma regulação para o mercado interno
ressalta sobre a necessidade de garantir ‘regras claras, simples e estáveis’ para
ofertar segurança jurídica nas transações comerciais dos Créditos de Carbono.

(...) a proposta do CEBDS para um sistema brasileiro de comércio


de emissões recomenda, com base nas experiências
internacionais, mecanismos de proteção à competitividade para os
setores expostos ao comércio internacional. Esse instrumento
protege a competitividade maximizando as oportunidades das
atividades de baixo carbono, agregando eficiência produtiva e
ampliando as vantagens em acordos comerciais e de cooperação
internacional. (CEBDS, 2021, p. 05).
38

A partir das discussões que o protocolo de Kyoto (UNFCCC, 2023) gerou e


a partir da própria lógica de mercado atual, foi estabelecido o que se chama de
mercados voluntários e mercados regulados16. Por sua vez, os países capacitados
em emitir menos GEE e gerar um mercado interno mais eficaz, podem negociar e
vender esses créditos com outros países insuficientes em cumprir as metas
globais do Acorde de Paris (2015) para o desenvolvimento sustentável.
O mercado tem natureza de instrumento porque pode ser direcionado de
acordo com as pretensões e objetivos de seus pares, conforme conclui (CEBDS,
2021, p. 12):

Mercados são instrumentos, e não políticas, e seu desenho


precisa ser moldado de acordo aos objetivos das políticas.
Instrumentos de mercado são utilizados tanto para objetivos de
política corporativa de neutralização como para políticas climáticas
nacionais e internacionais. Assim, há diferentes ambientes de
comércio de emissões.

O mercado voluntário de carbono é outro sistema de comércio de créditos


de carbono, mas funciona de maneira diferente do mercado regulado. Enquanto o
mercado regulado de carbono é baseado em regras internacionais e metas de
redução de emissões de gases do efeito estufa estabelecidas pelos governos, o
mercado voluntário é uma iniciativa da sociedade civil, empresas e organizações
não governamentais que desejam compensar voluntariamente suas emissões de
carbono e reduzir seu impacto ambiental (CEBDS, 2021).
O mercado voluntário de carbono tem crescido significativamente nos
últimos anos (CEBDS, 2021)., com o aumento da preocupação das pessoas e
empresas com o impacto ambiental de suas atividades. No entanto, o mercado
ainda é bastante complexo e existe a necessidade de garantir que os projetos de
compensação de carbono sejam contabilizados, verificáveis, transparentes e que
realmente gerem reduções de emissões reais e adicionais.
O mercado voluntário de redução de emissões entre empresas e pessoas
físicas é capaz de atingir objetivos corporativos ou pessoal por meio de créditos
16
“É possível também que a regulamentação permita que uma parte das emissões de uma fonte
regulada seja compensada com créditos de carbono de fontes não reguladas, ou seja, com os
chamados offsets (mecanismos de compensação) ”, sendo estes os geradores das fontes não
reguladas (CEBDS, 2021, p. 06). O mercado de crédito de carbono é regulado por governos e
organismos internacionais, como a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
(UNFCCC, 2023) e o Protocolo de Quioto.
39

gerados por outras empresas e pessoas físicas. Esses créditos, por outro por
outro lado, são verificados por terceiros. Além disso, as diretrizes
regulamentadoras presentes nos acordos internacionais como por exemplo o
Acordo de Paris são desprezados, em função de princípios regulamentadores
privados e de mercado. De acordo com a UNFCCC (2021) as diretrizes
internacionais tornaram-se ferramentas obrigatórias para nortear o comércio dos
Créditos de Carbono, sendo esta definição uma garantia a integridade climática. A
questão que emerge é problemática, já que a contagem dos Créditos de Carbono
do mercado voluntário parece padecer de critérios orientadores e os que existem
parece pouco aplicados.
Por isso, pode-se conjecturar sobre a hipótese de um problema interno na
execução do mercado de carbono associada a uma inevitável consequência
jurídica porque quando o país assume uma NDC (Contribuições Nacionalmente
Determinadas), ele concomitante adere a uma obrigação internacional de direito
público. Logo, o este país ao estabelecer diretrizes para o mercado regulador
interno seja ele voluntário ou regulado deve pautar-se nas diretrizes
internacionais: neste sentido, caso o país permita algum tipo de ilícito como, a
saber, permitir, tolerar ou provocar processos de sequestro em geração de credito
de carbono duplicados, isto poderá acarretar em consequências problemáticas
tanto para o mercado internacional, não permite a eficiência das metas do Acordo
de Paris, sendo cumprisse de uma tácita insegurança jurídica. A solução é clara
para os CEBDS (2021) as diretrizes para o Sistema Brasileiro de Comércio, o qual
estabelece que precisa ser enfrentada por meio de regulação e práticas de
controle.
Esta foi uma solução para com a finalidade de incentivar países em
procurar aderir ao protocolo de Kyoto e buscar mecanismos estratégico para a
redução das emissões de carbono e poluentes, isto é, os GEE’s. Quanto mais um
país tenta reduzir suas emissões de poluentes, mais créditos consegue gerar,
para que possa usar esses créditos como moeda de troca com outros países que
não cumprem suas metas de redução de emissões17.

17
What is the Kyoto Protocol? Disponível em: < https://unfccc.int/kyoto_protocol >. Acesso em
03/07/2023 (= UNFCCC, 2023).
40

O objetivo do mercado de crédito de carbono é incentivar as empresas a


reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa, fornecendo-lhes uma forma
de compensar as emissões que não são capazes de reduzir internamente. As
empresas que excedem seus limites de emissão, podem comprar créditos de
carbono de outras empresas, que têm emitido na atmosfera uma quantidade
menor de carbono, permitindo-lhes atender aos seus compromissos de redução
de emissões e cumprindo a meta do Acordo de Paris de 2015.
Segundo o CEBDS (2021) as diretrizes para o Sistema Brasileiro de
Comércio e Emissões (SBCE) tem como foco estipular competividade
internacional do mercado interno e promover oportunidades de participação para
o mercado interno e internacional. As orientações estabelecem que: a) criar um
órgão interministerial para administrar o comércio do carbono, que abranja a
sociedade civil, o governo federal regulador e os especialistas; b) determinar
limites de emissão, obrigando os que excederem ao limite em compensar aqueles
que mitigaram a emissão de carbono; c) restringir a emissão de GEE a partir da
combustão de fontes de energias fósseis, indo em direção ao mercado de gazes
regulados; d) garantir níveis elevados de emissão gratuitas e direitos de emissão
para setores que precisam ser inseridos no plano do mercado competitivo
internacional; e) determinar os direitos de emissão em vistas nas emissões atuais
destes setores; f) preços jutos; g) Promover os créditos Offsets 18; h) Criar
plataformas credenciadas no sentido de administrar a comercialização; i) fomentar
um cronograma de revisão das regras; j) destinar receitas financeiras para
investimento em tecnologias limpas de emissão de baixo GEE.
De acordo com Oliveira (2021), o Protocolo de Kyoto tornou possível a
existência de um mercado global entre os países associados ao tratado, vez que
promove a viabilidade de práticas auxiliares aos créditos de carbono na busca
pela redução da emissão de carbono.

Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) compulsório,


implantado gradualmente com mecanismos de proteção à
competitividade e de estabilidade de preços, com uma primeira
fase focada no aprendizado dos agentes, desenvolvimento de
instituições e aprimoramento de dados e informações, inclusive

18
É possível também que a regulamentação permita que uma parte das emissões de uma fonte
regulada seja compensada com créditos de carbono de fontes não reguladas, ou seja, com os
chamados offsets
41

com a implantação do sistema de relato nacional de emissões.


(CEBDS, 2021, p. 07).

O protocolo de Quioto prescreveu suas metas sendo seu sucessor o


acordo de Paris de 2015. Desde a assinatura do Acordo de Paris, devido ao
surgimento de novas diretrizes, associadas também como desenvolvimento de
novas tecnologias de baixo carbono, e ainda com o aprimoramento dos controles
de transferências financeiras e a construção de um sistema de mercado global,
um novo panorama emerge estabelecido em torno dos créditos de carbono. Com
isso, governos e empresas estão dispostos e motivados em investir em iniciativas
de adaptação e mitigação dos efeitos do aquecimento global, sendo uma destas
iniciativas, o mercado de carbono (THE WORLD BANK, 2020).
No Brasil, existe um projeto de lei que visa regulamentar o mercado de
crédito de carbono no país (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2015). O projeto de lei
possui proposta de substituição em decorrência de seus apensos como o PL n°
528 (2021), de autoria do senador Marcelo Ramos (PL-AL), foi apresentado em
2021 e busca incentivar a redução de emissões de gases do efeito estufa por
empresas e indústrias, com o objetivo de conferir autonomia para o mercado
voluntário e regulado comercializar créditos de carbono no mercado internacional.
Atualmente, o setor emissor de maior impacto serão os big players 19.
Além dos apensos ao PL principal de n. 2.148/2015, há o PL 412 n° (2022)
que preconiza sobre as regulações do mercado de carbono e inovação com
utilização de sistema eletrônico como exemplo citado em sua justificativa a
Blockchain.
De acordo com Marcelo Ramos (UDOP, 2022, p. 01), não há como discutir
sobre desenvolvimento sustentável sem priorizar a vida dos que mais preservam
a natureza - àqueles que vivem nas florestas, potenciais clientes do mercado de
carbono voluntário através das práticas de offsets.
O projeto de lei n° 528 (2021) estabelece regras para a criação de um
mercado de crédito de carbono no país, com a participação do governo federal na
regulação e fiscalização das atividades. A proposta prevê a criação de um
Conselho Nacional de Política de Créditos de Carbono, que seria responsável por

19
Big Player é o nome de uma instituição financeira que compra, vende e administra ações e
outros ativos para clientes.
42

definir as regras do mercado, além de um sistema de registro e verificação das


emissões de gases do efeito estufa e da emissão de créditos de carbono.
De acordo com o Deputado Marcelo Ramos (UDOP, 2021, p.1): “O
endereçamento adequado das políticas climáticas é algo mais que necessário
para o posicionamento do Brasil como um país na vanguarda do desenvolvimento
inteligente e estratégico”.
De acordo com o projeto de lei n° 528 (2021), empresas e indústrias,
poderiam obter créditos de carbono por meio de ações de mitigação das
emissões de gases do efeito estufa, como a adoção de tecnologias mais limpas, a
melhoria da eficiência energética e a redução do desmatamento, entre outras.
Esses créditos poderiam ser comercializados no mercado internacional, gerando
receitas para as empresas, além de contribuir para a redução global das
emissões de gases do efeito estufa.
Além disso, o projeto de lei n° 528 (2021) também prevê a criação de um
Fundo Nacional de Créditos de Carbono, potencialmente financiado pelos
recursos arrecadados com a venda de créditos de carbono no mercado
internacional. Esse fundo seria destinado para investimentos em projetos de
mitigação e adaptação às mudanças climáticas no país e para programas de
incentivo à adoção de práticas mais sustentáveis e desenvolvimento de
tecnologias limpas.
O projeto de lei do mercado de crédito de carbono ainda está em
tramitação no Congresso Nacional e deve ser discutido em comissões e
audiências públicas antes de ser votado.
No Brasil o mercado hoje é voluntário e a ausência de regulamentação
abre um leque para ocorrência de fraudes, valores de crédito de carbono
defasado se comparado com parâmetro Europeu (mercado regulado), falta de
metodologia e a ocorrência das duplas contagens de carbono 20. A dupla
contagem de carbono é um termo usado no contexto das reduções de emissões
de gases de efeito estufa (GEE) e dos créditos de carbono. Refere-se ao risco de
que uma mesma redução de emissões seja reivindicada e contabilizada mais de
uma vez, provocada em uma contagem excessiva das reduções de carbono. Isso
pode ocorrer em sistemas de contabilidade de emissões ou em mercados de

20
43

carbono, onde as partes envolvidas podem erroneamente considerar a mesma


redução de emissões como sendo válida em vários contágios. Este é o problema
central que envolve a discussão presente.
A utilização desses ativos ambientais, inovações e matrizes econômicas se
dão também pela alta porcentagem da parcela da população que ainda vive em
situação de pobreza, e ainda visa que com a regulação correta e assertiva do
Mercado de Carbono, seja possível reduzir os dados alarmantes de
miserabilidade principalmente de povos e comunidade tradicionais e originárias
(TAVEIRA, 2023).
Para Scheneider (2015) emitir duas unidades para a mesma emissão ou
redução de emissão sob um único mecanismo é a forma mais simples e óbvia de
emissão dupla, visto que o mercado de carbono é fragmentado, com múltiplos
mecanismos de controle e a ausência de uma diretriz única, clara, simples e
objetiva. Assim, no âmbito internacional, bilateral, nacional ou governança não
governamental, existe o risco de que dois mecanismos diferentes possam emitir
uma unidade para a mesma emissão ou redução de emissão. Outro risco de
dupla contagem é que o mesmo país possa vender os mesmos créditos mais de
uma vez: quando uma empresa vende para outra, no setor privado, resta a dúvida
se esses créditos também são contabilizados para os respectivos países.
A dupla contagem de crédito de carbono foi objeto de análise em várias
Conferências das Partes (ONU, 2021): ergue-se o problema enfrentando, que
tornou-se corriqueiro, quando a redução de emissões de gases de efeito estufa,
os quais indevidamente podem ser contabilizadas duas vezes, em dois diferentes
sistemas de comércio de carbono ou, regulamentos de emissões.
Segundo Scheneider (2015), com base em uma revisão da literatura e das
submissões da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas UNFCCC, existem 3 formas de contagem dupla para as metas do
crédito de carbono: a dupla emissão, a dupla reivindicação e o uso duplo.
A Dupla emissão21 ocorre quando mais de uma unidade é sentida para a
mesma ou redução de emissão. Se dois ou mais conjuntos de unidades que

21
O que é a Dupla contagem de carbono, tema de impasse nas negociações da COP25, Instituto
de Humanas UNISINOS, 19/12/2019. Disponível em:
<https://www.ihu.unisinos.br/categorias/595282-o-que-e-a-dupla-contagem-de-carbono-tema-de-
impasse-nas-negociacoes-da-cop-25 >. Acesso em 03-07-2023. (= UNISINOS, 2019).
44

representam as mesmas emissões ou reduções de emissão são usados para


cumprir as metas de mitigação, fato que resulta em uma contagem dupla de
reduções de emissões. Dupla reivindicação é gerada diante de uma redução de
emissão, na qual ela é contabilizada duas vezes para atingir as metas de
mitigação. Isso ocorre por meio do inventário de GEE do país que sofre a redução
e do país que usa uma unidade de redução de emissão correspondente. De forma
pontual, a reivindicação de dupla contagem ocorre quando: i) cota interna
compatível com a meta de redução do país; ii) a redução está no relatório do GEE
do país como índice alcançado; iii) a redução foi transferida para outro país; iv) a
unidade de redução não foi contabilizada pelo país de origem, mas é
contabilizada pelo país que a adquiriu no mercado. O duplo uso é quando uma
unidade é emitida em duplicidade, a fim de atender países distintos a atingir duas
metas de mitigação.
Em suma, se uma empresa ou país recebe créditos de carbono por uma
ação de redução de emissões em um sistema e, depois vende esses créditos
para outra empresa ou país que os utiliza para cumprir suas metas de redução de
emissões em outro sistema, isto resulta em uma dupla contagem de carbono.
Para exemplificar a dupla contagem em matéria on-line publicada no site da
UNISINOS (2019), pontua sobre uma situação hipotética de duas entidades
diferentes que recebem, cada uma, uma unidade sob o mesmo mecanismo para
as mesmas emissões ou reduções de emissão, assim, a dupla inscrição de um
projeto no mesmo mecanismo gera a dupla emissão, isso surge devido a dois
relatórios de acompanhamento que se sobrepõem.
De acordo com Scheneider (2015) em alguns casos a propriedade das
reduções de emissão não é óbvia, e diferentes entidades podem reivindicar
unidades para as mesmas reduções de emissão GEE. Por exemplo, em um
projeto para promover iluminação eficiente em residências, as residências
poderiam reivindicar as reduções de emissão, mas também uma empresa de
serviços de energia que distribua lâmpadas eficientes, assim como os produtores
dessas lâmpadas.
A OCDE no relatório sobre mudanças climáticas distingue três elementos
do “ciclo de vida” das unidades de emissões conforme usado pela UNFCCC: (i)
criação de unidades (desenho e governança de mecanismos de mercado), (ii)
45

rastreamento de unidades e (iii) contabilização de unidade; se estes requisitos


fluem em direção a metas e objetivos nacionais (PRAG, 2013).
Ainda, segundo Scheneider (2019) a rastreabilidade de transações de
unidades e contabilização do mecanismo é o caminho para busca das principais
alternativas para mitigar a emissão dupla, que configura uma das principais
causas que prejudicam a integridade do mercado de carbono, visto que cada país
possui suas regras internas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Portanto as regras contábeis foram debatidas na COP 24 em Santiago, para
orientar os países a terem um conjunto de regras contábeis internacionais comum
sob a aplicação do acordo de Paris.
Neste seguimento, o Artigo 6 do Acordo de Paris não inclui as regras para
os mercados internacionais de carbono, visto que contêm diretrizes, mas não
regras claras, eficientes e concisas. Um consenso não foi alcançado devido a
opiniões divergentes sobre a melhor maneira de evitar a contagem dupla, que é a
contabilização da mesma redução para atingir as metas de mitigação climática. A
COP25 (2019)22 aponta para a conclusão do capítulo faltante do artigo 6 do
Acordo de Paris como devendo ser uma das tarefas mais importantes a ser
concluída. Os motivos pelos quais a resolução da contagem dupla é essencial
deve-se a tarefa de alcançar os objetivos do Acordo de Paris, bem como para
determinar os componentes essenciais para um resultado robusto que garanta a
eficácia ambiental e facilite a mitigação econômica.
Em suma, o problema enfrentando nas últimas mesas temáticas de debate
sobre Crédito de Carbono nas Conferências das Nações Unidas sobre as
Mudanças climáticas é buscar diretrizes que possam evitar a dupla contagem de
créditos de carbono. É importante estabelecer protocolos claros de
monitoramento, reporte e verificação para garantir que os créditos sejam
contabilizados apenas uma vez. Além disso, é importante que os diferentes
sistemas de comércio de carbono trabalhem juntos para garantir a
compatibilidade e evitar a dupla contagem.

22
If you’re not thinking about the climate impacts of thawing permafrost, (here’s why) you should
be. Disponível em: < https://news.un.org/en/story/2022/01/1110722>. Acesso em 02/07/2023.
(=COP25, 2023).
46

2 A REGULAÇÃO DO MERCADO DE CARBONO BRASILEIRO

No capítulo 3 sobre o processo de regulação do mercado brasileiro de


carbono. Para tanto a discussão é iniciada tratando dos fundamentos da natureza
jurídica dos créditos de carbono, vez que considera-se este o passo imprescindível
para compreender como os créditos de carbono tornam-se instrumentos jurídicos
intangíveis e negociáveis. Em seguida aborda-se a questão da relevância do
princípio da segurança jurídica e da responsabilidade, no sentido do fomento e
equilíbrio do mercado de carbono, em virtude de analisar até mesmo como os
princípios são caminhos que impedem a incidência da dupla contagem. Por último,
tratou-se da regulação brasileira principalmente do PL 2.148/2015 e seus apensos
como o PL 528/2021 e da ABNT PR 2060, com vistas em instituir metodologias que
sigam as regras internacionais para evitar a insegurança jurídica no mercado de
crédito de carbono ou ainda impedir a dupla contagem.
Neste sentido, com a análise do projeto de lei PL 2.148 (2015) e seu apenso
PL n. 528 (2021), procura-se por diretrizes regulamentadoras que possam mitigar a
dupla contagem de crédito de carbono através do seu sistema de ‘retirada de
reduções verificadas de emissões’ 23. Já o PL n. 412 (2022) inovou com
identificação expressa do uso de tecnologia DLT, como por exemplo a blockchain.
O Brasil é signatário das metas do Acordo de Paris, cujo principal alerta sobre a
temperatura global média será abaixo de 2 ⁰C acima dos níveis pré-industriais, em
razão de que cada país signatário deve estabelecer e determinar quais serão suas
Contribuições Nacionais Determinadas (Intended Nationally Determined
Contributions – NDC).

2.1 A NATUREZA JURÍDICA DO CRÉDITO DE CARBONO

23
Retirada de RVE: retirada permanente de circulação da RVE do mercado. A retirada de RVE é um
procedimento realizado pela entidade responsável pelo Registro, o qual impede que a RVE seja
comercializada e transferida novamente. Este procedimento ocorre quando a RVE é adquirida no
mercado e utilizada para compensar as emissões de uma determinada atividade, isto é, quando um
comprador utiliza a RVE para compensar a quantidade de gases de efeito estufa contabilizados em
CO2e. O procedimento de retirada de RVE não se aplica a casos em que a compra tem como
objetivo revenda ou investimentos. (PL, 528, 2021, art. 2).
47

Embora, a ONU tenha empenhando-se intensivamente a fim de conceituar o


que é um crédito de carbono, faz-se imprescindível pensar um processo de
regulação nacional de forma clara, objetiva e concisa, capacitada em evitar os
problemas oriundos da dupla contagem incongruentes com as diretrizes,
principalmente, as derivadas do Acordo de Paris.
Neste sentido, observa-se que os projetos internos ao território nacional
derivados do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, “consiste no
desenvolvimento de projetos que reduzam a emissão de gases de efeito estufa” 24.
Por isso, os esforços voltam-se em pensar estratégias vários tipos, mas no Brasil,
estão voltadas para o desenvolvimento de usinas eólicas, pequenas centrais
hidrelétricas, aterros sanitários, tratamento de lixo e uso de biomassa para geração
de energia (dentre as mais destacadas).
Por sua vez, em documentos internos do MDL considera-se que as
iniciativas do MDL devem promover o desenvolvimento sustentável e reduzir ou
ajudar no controle dos gases de efeito estufa. Os projetos devem incluir a
substituição de energia fóssil por energia renovável, a racionalização do uso de
energia, serviços urbanos e outras atividades25.
Então, os projetos orientados pelas diretrizes internas do MDL (2016) podem
atingir duas condições: i) medida que visa reduzir os GEE’s; ii) ou, ação voluntária,
coordenado por uma instituição pública ou privada, que opera para incluir um
número ilimitado de atividades com o mesmo fim, mas que são classificadas como
CPAS26.
Diante destes fatos, documentos e da norma internacional que instituiu o
MDL, passou a surgir um novo mercado, qual seja, o dos chamados créditos de
carbono, ou em seu vocabulário formal ‘Reduções Certificadas de Emissões’

24
Ministério da Tecnologia e Inovação. Mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL). 10 de agost.
2021. Disponível em: < https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/cgcl/paginas/teste2 >.
Acessado em: 07/07/2023. (=MDL, 2021).
25
O protocolo de Quioto definiu os seguintes elementos do efeito estufa: dióxido de carbono (CO2),
metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFCs), hexafluoreto de enxofre (SF6) e
perfluorcarbonos (PFCs): o MDL tem seguido a meta de reduzir principalmente tais GEE’s aqui
mencionados. Status dos projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo no Brasil. 31 de jan.
2016. (p. 01). Disponível em: < https://antigo.mctic.gov.br/mctic/export/sites/institucional/ciencia/
SEPED/clima/arquivos/status_mdl/Status-janeiro-2016.pdf >. Acessado em: 07/07/2023. (= STATUS
DOS PROJETOS DE MDL, 2016). (=MDL, 2016).
26
CPAS qualifica-se como uma pessoa coletiva de direito público. No caso dos projetos derivados
no MDL as CPAS são incorporadas nos Programas (guarda-chuva de atividades de um projeto
maior).
48

(RCE), no inglês Certified Emissions Reductions (CER), que tem como


direcionamento o Acordo de Paris e seus direcionamentos, vez que igualmente
consideram que uma: “unidade de redução de emissão ou ‘ERU’ é uma unidade
emitida de acordo com as disposições do anexo à decisão 13/CMP.1 e é igual a
uma tonelada métrica de carbono equivalente”. (UNFCCC, 2006, p. 28).
No código florestal, lei 12.651/12, o conceito de créditos de carbono incorre
em seu art 3: “(...) XXVII - crédito de carbono: título de direito sobre bem intangível
e incorpóreo transacionável” (Lei.12.651, 2012). Entretanto, atualmente o termo a
ser utilizado no Brasil é o RVE (Reduções Verificadas de Emissões) conforme art.
2, inciso 5 do PL 528 (2021).
Quando um país consegue reduzir ou sequestrar essa tonelada de emissões
GEE’s gera a partir de uma certificação, isto é, os créditos de carbono devem
realmente corresponder a redução de carbono na atmosfera (UNFCCC, 2006) 27.
Neste aspecto:

Uma ‘redução certificada de emissão’ ou ‘CER’ é uma unidade


emitida de acordo com o Artigo 12 e seus requisitos, bem como as
disposições pertinentes nessas modalidades e procedimentos, e é
igual a uma tonelada métrica de equivalente de dióxido de carbono,
calculado usando potenciais de aquecimento global definidos pela
decisão 2/CP.3 ou conforme revisado posteriormente em
conformidade com o artigo 5.º; (UNFCCC, 2006, p. 2)

Nesse contexto, convém cotejar reflexivamente os principais


desdobramentos da natureza jurídica e suas implicações legais no que tange ao
Crédito de Carbono, visto que a segurança jurídica no mercado de carbono
representa um chamariz para potenciais investidores e, consequentemente, para
cumprir as metas globais dos países partes ou membros das Conferências das
Partes.
Por sua vez, o MDL faz a Redução Certificada de Emissões (RCE’s) 28, que
adquire o caráter de instrumento comercializável, na medida que representa a
capacidade de emitir uma quantidade determinada de crédito de carbono conforme
27
United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC). 13 de set de 2006
Disponível em: < file:///C:/Users/Administrador/Downloads/FCCC_SBSTA_2006_8-EN.pdf>. Acesso
em 03/07/2023 (= UNFCCC, 2006).
28
Os termos Crédito de carbono, Certificado de carbono e Certificado de Redução de Emissão são
usados para descrever os certificados resultantes das reduções de emissão de CO2 e são
calculados em toneladas de CO2. Isso inclui os créditos de redução certificados de emissões
(RCE’s) provenientes do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e os demais certificados de
redução de emissões provenientes de outros mercados voluntários. Os créditos de carbono são
calculados em toneladas de CO2e equivalente.
49

as toneladas capturadas, armazenadas de carbono, que deixa de ser exalado na


atmosfera.
Segundo a Comissão de Valores Imobiliários do Estado do Rio de Janeiro, já
tinha chegado à conclusão a respeito de como pensar a condição da ordem da
natureza jurídica do crédito de carbono quando o debate desta comissão levou o
voto de Otávio Yazbek (2009, p. 04)29 a considerar que são:

(...) i) são emitidos como resultado de um procedimento próprio,


cuja idoneidade deve ser certificada por entidades às quais foi
delegada autoridade específica para tanto; e (ii) uma vez emitidos,
tornam-se desvinculados da instituição que implementou o
correspondente projeto de emissão, tornando-se fungíveis entre si.

Nesta discussão sobre a condição da natureza do Crédito de Carbono ficou


aclarada que os instrumentos de certificação são de ordem privada, em que o
resultado combinado desses fatores é que, em princípio, o público investidor não
seria beneficiado adequadamente. Foi considerado neste voto, que emitir RVE`s
deve ser facultado ao próprio regime de divulgação das partes interessadas. As
próprias emissões de produtos contam com uma série de gatekeepers (agentes
reconhecidos que desempenham um papel nas iniciativas de construção,
verificação e certificação de projetos) e procedimentos de controle e, não
requerem regimes diferenciados, mesmo que muitas vezes, tal emissão se dá no
âmbito das características individuais ou privativas de 2009 a 2015 pela CVM
(Comissão de Valores Imobiliários)30.
Segundo Souza e Miller (2011), as principais características dos créditos de
Carbono são: i) Transferibilidade, que significa que o titular do direito pode cedê-lo
ou vendê-lo a outros; ii) Exclusividade, pois não há possibilidade de dois ou mais
titulares de uma mesma RVE; iii) Segurança, pois conterão dados específicos com
o objetivo de individualizá-los e a transferência será feita por meio de registros
criados para tal fim.
Neste sentido, as RVE`s são qualificadas como bens de natureza de “(...)
título de direito sobre bem intangível, incorpóreo, transacionável, fungível e
representativo de redução ou remoção de uma tonelada de carbono equivalente”
29
Processo Administrativo CVM n. RJ 2009/6346. Voto do Diretor Otavio Yazbek. Disponível em:
<https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/noticias/anexos/2009/20090721-1-Voto_DOZ.pdf> .
Acessado em 05.07.2023. (=CMV, 2009).
30
Relatório Anual. Comissão de Valores Imobiliários (CMV). Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: <
https://www.gov.br/cvm/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/relatorios/anual/relatorio-anual-cvm-
2015/view >. Acesso em 10/07/2023. (=CMV, 2015).
50

(PL 528/2021), isto porque, seu conteúdo é derivado de um processo único de


aprovação perante órgãos de auditoria, em virtude de inocular quaisquer tentativas
de afastamento dos projetos de MDL de origem.
Quanto a hipótese na qual o RVE’s pode ser considerado um bem fungível,
ela é decorrente do entendimento da CVM em hipótese de colocado o ativo em
bolsa de valores este ser fungível31 entre si (CVM, 2015, p. 15). Embora, elaborado
em um processo de aprovação no órgão competente, pode integrar fundos de
investimentos: “todos os créditos de carbono emitidos acabam sendo fungíveis
entre si” (CVM, 2015, p. 09). Mas, outra hipótese é mencionada na:

(...) Instrução CVM nº 409/04, fundos de investimento são definidos


como uma comunhão de recursos destinada à aplicação em ativos
financeiros. A definição do que são estes ativos financeiros, para os
efeitos da referida Instrução, encontra-se no art. 2º, § 1º, da mesma
regra. Tal parágrafo, em seu inciso VIII, autoriza as carteiras dos
fundos de investimento a conter inclusive “warrants, contratos
mercantis de compra e venda de produtos, mercadorias ou serviços
para entrega ou prestação futura, títulos ou certificados
representativos desses contratos e quaisquer outros créditos,
títulos, contratos operacionais desde que expressamente previstos
no regulamento. (CVM, 2015, p. 09).

De tal sorte, ao considerar as definições, características e conceitos


supramencionados ao longo da discussão fomentados, analisa-se o que as RVE’s
dispõem de natureza jurídica, sendo que a controvérsia consiste entre se são
commodities, valor mobiliário, título de crédito, título de direito intangível.
Uma análise devida as características semelhantes de forma pretenciosa e
despreparada de classificação de que os RVE’s podem ser uma ‘commodity’.
Todavia, uma vez que os projetos que dão origem às RVE`s sofrem varrições
sendo individuais e únicos em seu conteúdo e objetivo, não pode-se considerar os
mesmos como commodity (CVM, 2015).
Além disso, uma ‘commodity' para Mascaro (2015) tem existência corpórea,
material ou ainda física, sendo classificadas enquanto mercadorias ou bens para o

31
Aqui cabe ainda uma analogia com o código de Direito Civil (BRASIL, 2002) no qual fica expresso
literalmente que o conceito de bens: “São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da
mesma espécie, qualidade e quantidade”. Por isso, o RVE pode confundir-se como commodity,
afinal da mesma forma que ela ocorre uma série de coincidências em seus critérios como, a saber,
extração, produtividade, classificação, investimentos, padronização. Além, de ser produto que pode
assim como uma commodity ser comercializado no mercado externo, e enfrentar negociações com
agentes internacionais. IN: ARANTES-PEREIRA, Lucas; CHAGAS, Bruno Rangel. Créditos de
Carbono: Natureza Jurídica no Brasil. Revista Científica, ed. 82, vol. 01, 2016. Disponível em: <
https://semanaacademica.org.br/artigo/creditos-de-carbono-natureza-juridica-no-brasil >. Acesso
em: 10/07/2023.
51

consumo, e ainda, podem ser bens ou produtos elaborados em escala. A


‘commodities’ possuem existência corpórea, são uma mercadoria ou destinados ao
consumo, bem como os RVE`s na exata medida em que não se referem a nenhum
produto, não apresentam condições de fungibilidade e não são transformados em
outros produtos. No caso da commodity, é o alto nível de fungibilidade, já que uma
commodity agrícola, por exemplo, (milho, soja, café, leite, entre outros) pode ser
transformada em produtos para o mercado de consumo. No caso os RVE’s não
passam por tal processo de industrialização e inserção no mercado de consumo
direto (PL n. 528, 2021).
A finalidade de uma mercadoria é o lucro imediato, portanto, sua lógica de
existência no mundo da vida, está na direção oposta a dinâmica de proteção do
meio ambiente. Neste sentido, inferir que o carbono seja uma ‘commodity’, signifca
produzir um erro grosseiro, afinal as emissões devem ser reduzidas e não
maximizadas para a venda num mercado livre e competitivo (PL n. 528, 2021).
Outra análise32 consiste em possível contrato de prestação de serviço, mas
este posicionamento não observa que, para existir um serviço, deve existir uma
obrigação de fazer, ao passo que nega a obrigação é de dar alguma coisa a
alguém. Inexiste, em toda a cadeia em que se desenvolve a emissão da RVE’s,
qualquer elemento ou fase que aponte uma prestação de serviços, já que o RVE’s
não é mercadoria para alimentar o mercado de consumo direto ou, ainda serviço
intangível derivado da atividade de profissionais que atendem a necessidade de
pessoas.
A ideia de prestação de serviço para a Iosco (2022) de bens tangíveis e
serviços intangíveis não faz jus a um fato pontual de um projeto que
necessariamente precisa ser imutável, com o foco em emitir uma declaração de
que o projeto em questão foi capaz de evitar a emissão de GEE ou ainda realizou o
sequestro de uma tonelada de CO2 e na atmosfera, e que até o momento, não é
efetivamente, uma obrigação de fazer ou a realização de um serviço como é o caso
de um contrato de prestação de serviço.
Deve-se considerar segundo a IOSCO (2022) que nos mercados voluntários
de carbono os compradores compensarão suas emissões, uma vez que as

International Organization of Segutities Commissions (IOSCO). Mercado Voluntário de Carbono:


32

papel de discussão. Novembro de 2022. Disponível em: <


https://www.iosco.org/library/pubdocs/pdf/IOSCOPD718.pdf>. Acesso em 10/07/2023. (=IOSCO,
2022).
52

terceirizam na medida em que consomem os créditos das reduções derivadas de


um projeto de mitigações. Logo, num mercado de carbono as compensações de
carbono com base em projetos concebidos em um local, estão a serviço de
compensar as emissões em outro lugar.
Para inflamar a dificuldade da atribuição de natureza jurídica aos créditos de
carbono, deve-se considerar que os projetos de emissão de créditos de carbono
podem ser de natureza muito diferente um do outro, desde reflorestamento e
conservação até energia renovável, e outros. Por isso, que os projetos que apoiam
a redução das emissões são sempre de duas naturezas: i) Reduções ou evitações:
se voltam para a redução de GEE, para atingir as metas de Carbono e podem
vincular-se a projetos que voltam-se para energias renováveis, e investem em
tecnologias limpas; ii) Remoção e sequestro: atrelam-se a tecnologias que limpam
a emissão, por exemplo, sistemas de reflorestamento (IOSCO, 2022).
Neste sentido, diante da análise proferida pela CVM (2009) é imputado aos
RCE’s uma natureza jurídica de valores mobiliários. Embora, este instituto seja
completamente afastado quando se trata da formulação dada na lei n. 6.385/1976,
de acordo com a interpretação do voto de Yasbek (CVM, 2009, p. 08), mas que tem
a hipótese que vem sendo aceita em casos de títulos ou contratos de investimento
valor mobiliário: “Entendo, desta maneira, que os créditos de carbono não são
instrumentos derivativos, não se lhes podendo considerar como valores
mobiliários para os fins dos incisos VII e VIII do art. 2º da Lei nº 6.385/76”. (Grifo
da autora).
A conjectura de Yasbek (CVM, 2009) é que para evitar equívocos em uma
análise apresada, torna-se necessário avaliar outras possibilidades interpretativas
sobre a natureza jurídica dos RCE’s, que os classificam e fundamentam tal
dispositivo normativo caracterizados como Contrato de Investimento Coletivo. Esta
categoria foi criada em 1990 na tentativa de inferir ao Crédito de Carbono um valor
mais generalista e abrangente de material de valor imobiliário. Assim, os contratos
de investimento coletivo e os créditos de carbono a partir da análise do inciso IX do
artigo 2 supramencionado, pode ser usado para caracterizar a natureza jurídica dos
RCE’s como valores móveis, ou seja, eles podem ser caracterizados como
contratos ou títulos de investimento coletivo
Além disso, este documento (CVM, 2009) aponta que na legislação brasileira
sobre valor mobiliário, apenas lista um rol de instrumentos exemplificativos que são
53

assim classificados, que todavia não está inserida a figura da redução certificada
de emissões dos GEE`s, pela falta de uma definição legislativa dos limites do que
pode ser um valor mobiliário.
De todo modo, com base na análise da lei 6.385/76, art. 2º da lei, proferida na
doutrina de Martins (2014, p. 04) os títulos negociáveis em massa emitidos em
série por sociedades anônimas, abertas e registradas na Comissão de Valores
Mobiliários, fungíveis ou infungíveis, são produtos negociáveis em bolsas ou balcão
de valores a partir da cotação do mercado de acordo com o disposto no artigo 2 da
lei 6.385/76. Quando oferecidos publicamente, esses títulos também encontram a
possibilidade de ser adicionados a quaisquer títulos ou contratos de investimento
coletivo, os quais são ofertados publicamente e disponibilizam do direito de
participação, parceria ou remuneração, inclusive como resultado de prestação de
serviços.
Na conceituação extraída do art. 2 da lei 6.385/76, com redação alterada pela
lei 10.303/200, os RCE’s são tratados pela CVM como (CVM, 2009, p. 11):

Com base no quanto já foi decidido, verifica-se que, a rigor, no


inciso IX do art. 2º da Lei nº 6.385/76, se está, basicamente,
tratando: i) de instrumentos destinados ao investimento (ou seja, de
inversão de recursos); ii) em um empreendimento coletivo; iii) com
a expectativa de obtenção de lucros; iv) que decorrem dos esforços
do empreendedor ou de terceiros (nunca do próprio investidor, que
é passivo em relação à produção dos resultados). Entendo que se,
no caso dos CEPACs ou das CCBs, foi possível, ante as condições
concretas, caracterizar aqueles instrumentos como valores
mobiliários, o mesmo não se pode fazer para os créditos de
carbono.

Por sua vez, estes títulos são classificados e caracterizados por serem
utilizados como veículos de investimento de capital para geração de renda. São
títulos de comércio massificado, emitidos em lotes, os quais conferem direitos
equivalentes aos associados na compra destes, isto porque, são bens de
fungibilidade, uma vez que possuem o mesmo valor e podem ser trocados entre si.
Segundo Eizerick (et al.) RCE’s são de fato comercializados em bolsa de
valores ou fora delas, no sentido de uma negociação pública, vez que o objetivo é a
busca do mero lucro vil e puro, assertivamente se enquadra o mesmo título de
crédito como valor imobiliário. Por isso, conclui-se que falar em valor imobiliário é
uma condição que irá se desdobrar a partir das circunstâncias e da perspectiva dos
investidores e se os mesmos serão negociados em balcão ou bolsa de valore.
54

Mister se faz prosseguir no estudo da classificação das RCE’s, eis que, eles
podem ser negociados pelo direito privado, entre empresas que pertencem no
mercado voluntário de crédito de carbono, ou seja, conduzidos diretamente entre
as partes e sem oferta ou circulação dos títulos ao público em geral. Para bem
compreender tal conceituação, mostra-se oportuno revisitar as lições elementares
do direito civil. A doutrina de Maria Helena Diniz (2008, p. XX) assim estabelece:

Daí afirmar-se que os direitos de crédito são: 1º) Direitos relativos,


uma vez que se dirigem contra pessoas determinadas, vinculando
sujeito ativo e passivo, não sendo oponíveis erga omnes, pois a
prestação apenas poderá ser exigida do devedor. (...)2º) Direito a
uma prestação positiva ou negativa, pois exigem certo
comportamento do devedor, ao reconhecerem o direito do credor
de reclamá-la”.

Já de acordo com o Marlon Tomazette (2014, p. 38):

Portanto, o Código Civil se aplicaria nas lacunas dos títulos típicos


e integralmente aos títulos atípicos. Outrossim, o art. 907 diz que é
um título ao portador emitido sem autorização de lei especial, logo,
os títulos nominativos ou à ordem poderiam ser emitidos
independentemente dessa autorização legal específica. Diante
disso, embora baseados na autonomia privada, é certo que os
títulos atípicos possuem certos limites impostos pelo Código Civil.
Desse modo, um documento criado pelos particulares só valerá
como título de crédito se contiver a data de emissão, a indicação
precisa dos direitos que confere e a assinatura do emitente (CC –
art. 889).

Pela leitura da conceituação apresentada, advém a tese de que a RCE’s


seria perfeitamente enquadrada como um crédito devidamente certificado por
instrumento próprio. Mais ainda, o crédito certificado e que se consubstancia de
acordo com o Art. 2 do PL 528 (2021, p. 02) enquanto um “título de direito sobre
um bem (...) intangível, incorpóreo, transacionável, fungível e representativo de
redução ou remoção de uma tonelada de carbono equivalente”.
Diante desta definição é inegável que a Redução Certificada de Emissões, é
a devida certificação de um crédito, que é derivado da a efetivação dos projetos
desenvolvidos para redução das emissões de GEE’s, a partir da utilização das
diretrizes procedentes dos MDL.
Não obstante as RCE`s possuírem peculiaridades que as diferenciam das
figuras clássicas dos títulos de créditos, conclui-se que tal instituto é plenamente
55

possível de ser utilizado como sua natureza jurídica, sob a modalidade de títulos de
créditos impróprios33.
Todavia, na obra coletiva de Baptista (et al., 2020) o fato de a RCE possui
natureza jurídica de títulos de crédito, não exclui que também se possa enquadrá-
las como valores mobiliários, sob a condição de que há valores mobiliários que são
também títulos de crédito, como é o caso das ‘debêntures’.
A definição o PL 528 (2021) dispõe sobre a natureza jurídica dos créditos de
carbono incide na condição de ‘título de direito intangível’ (Grifo da autora). Esta
tese corrobora com o entendimento de que o título desta natureza pode vir a
compor o mercado de valor mobiliário, visto que auxilia na compreensão da
necessidade de segurança jurídica. O foco volta-se em fomentar melhorias
consideráveis para o ambiente de negociação dos créditos de carbono no Brasil
criando condições de segurança jurídica. Logo, no art. 3 do PL 528 (2021) traz que
ao aplicar as regras na modalidade enquadrada, incide-se em segurança negocial
adequada para este título.
O PL 412 (2022), enquadra na mesma modalidade de título de direito
intangível “Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se: I – Crédito de Carbono:
título de direito sobre bem intangível, incorpóreo, transacionável, fungível e
representativo de redução ou remoção de uma tonelada de carbono equivalente (1
tCO2e); a medida métrica utilizada”.
Para culminar, a definição mais aceita é a que insta no ICVCM 34 (2023, p. 69)
na qual o crédito de carbono é tratado como:

(...) Instrumento intangível negociável emitido por um programa de


credenciamento de carbono, que representa uma redução de
emissões de GEE para a atmosfera, ou remoção das mesmas,
equivalente a uma tonelada métrica de dióxido de carbono
equivalente, calculado como a diferença entre as emissões ou
remoções de GEE de um cenário de referência e as emissões ou
remoções produzidas no marco da atividade de mitigação, e
qualquer ajuste por vazamento, está serializado de forma única,
emitido, rastreado e retirado ou cancelado administrativamente

33
BAPTISTA, Oraide Serafim (et al. ). Tratamento Inicial dos Bens Intangíveis. (Manual). Mato
Grosso do Sul: Secretaria do Estado da Fazenda, 2020. Disponível em: <
https://www.scge.ms.gov.br/wp-content/uploads/2021/04/Manual-Bens-Intangiveis-2020.pdf >.
Acessado em: 11/07/2023.
34
The Integrity Council: for the voluntary carbon market. Princípios fundamentais do carbono, marco
e procedimento de avaliação. Março, 2023. Disponível
em:<https://icvcm.org/wp-content/uploads/2023/05/CCP-POR-Book-FINAL-270423.pdf>. Acessado
em 10/07/2023. Tradução da autora. (= ICVCM, 2023, p. 69).
56

mediante um registro eletrônico gerenciado por um órgão


administrativo, como um programa de credenciamento de carbono.

Não se pode negligenciar esta definição da natureza dos RCE’s já que os


instrumento intangível negociável refere-se a um ativo financeiro que não possui
uma forma física tangível, mas que pode ser comprado, vendido ou negociado no
mercado. Assim, tais instrumentos incluem, por exemplo, títulos como ações, títulos
de renda fixa, derivativos financeiros, contratos de futuros, opções e moedas
digitais como o Bitcoin e também dos Créditos de Carbono, porque não podem ser
tocados ou fisicamente manipulados. No entanto, eles têm um valor financeiro os
quais são transferíveis, comercializáveis de uma entidade para outra por meio de
transações financeiras. Os instrumentos intangíveis negociáveis são importantes
no mercado financeiro, pois permitem que os investidores comprem e vendam
ativos financeiros sem a necessidade de uma transferência física do instrumento.
Isso permite uma maior liquidez para facilitar o acesso aos mercados financeiros de
investidores individuais, coletivos e ou institucionais. Contudo, devido sua
mobilidade alerta-se sobre a necessidade crucial do fortalecimento da segurança
jurídica.

2.2 A SEGURANÇA JURÍDICA PARA OS MERCADOS DE CARBONO

As regulações para circulação dos créditos de carbono se relacionam com


a necessidade crucial de mitigação das mudanças climáticas e a redução das
emissões de GEE`s no planeta. Por isso, Piovesan (1999) acredita ser
imprescindível pensar a segurança jurídica nas negociações dos RCE’s
promovendo a inter-relação negocial dos países e integração dos mercados de
carbono de âmbito nacional e internacional.
Na mesma toada, Ferrajoli (2022) considera que seria um considerável
desdobramento do direito fundamental à vida, o direito fundamental ao meio
ambiente, que deve ser entregue as gerações futuras em condições saudáveis e
integras, isto porque, o meio ambiente negligenciado é o mesmo que menosprezar
as condições para a existência da vida e consequentemente da Dignidade
Humana.
Em Habermas (2012) no livro Sobre a Constituição da Europa corrobora com
sua elaboração teórica a necessidade de um direito internacional do tipo
57

transnacional que resguarde as condições da ‘Dignidade Humana’. Para isso, ele


aposta num tipo de direito transnacional com caráter cosmopolita, no qual mesmo
diante da redução da soberania nacional torna-se possível resguardar Direitos
Humanos e Dignidade Humana.
Menciona-se Habermas (2012), no sentido de uma aproximação sobre a
necessidade de um direito que possibilite segurança jurídica para a Redução das
emissões de GEE’s de forma urgente e talvez um caminho, para possibilitar a
segurança jurídica almejada, que deve percorrer os caminhos da teoria do direito
no qual é possível cotejar um direito transnacional, apesar da soberania interna as
nações (Habermas, 2012, introdução da referida obra).
Ferrajoli (2022) parece estar em concordância com Habermas ao apontar
como caminho para a segurança jurídica sobre o tema e em conferência proferida
para a Unisinos abrir sua fala ao mencionar Kant em sua obra À paz Perpétua: “A
paz não é um fato natural; o que é natural é a guerra” e afirma que a paz deve ser
instituída através de um pacto de convivência. Da mesma forma qualquer direito
precisa ser estabelecido de forma clara e objetiva, caso tenha-se em vista a
garantia da segurança para todos.
O renomado professor propõe uma Constituição da Terra como alternativa
aos desafios do século XXI, como a guerra nuclear, emergência climática e o
aumento das desigualdades sociais. Bem como Habermas (2012), Ferrajoli (2020)
menciona sobre a necessidade de almejar um constitucionalismo global como
forma de ofertar segurança jurídica e preservação das condições de existência,
além de o mesmo autor considerar isto um salto civilizatório. Somente diante de
regulações eficazes é possível evitar tragédias do século XXI como, a saber,
guerra nuclear, a emergência climática e o aumento das desigualdades sociais.
Para Ferrajoli (2020) outro grande desafio do século XXI é o aquecimento
global. As emissões anuais de gases de efeito estufa aumentam e afetam e
contribuem para a ‘inabitabilidade’ de áreas extensas do planeta terra. O alerta é
para o fato que este desastre ambiental pode tornar o planeta inabitável no futuro
para a vida humana bem como para a animal e vegetal. Para ele as políticas que
tentam mitigas tais problemas acabam esbarrando na burocracia e na soberania
das nações e não ocorrem avanços suficientes inclusive para cumprir com os
acordos oriundos das COPS. “Estamos destruindo a natureza, que é essencial para
a sobrevivência da humanidade. Não devemos esquecer que somos parte da
58

natureza. A saúde do planeta e a saúde dos humanos estão intimamente ligadas”


(Ferrajoli, 2022, s/p.).
De acordo com Ferrajoli (2022) surgiu um constitucionalismo rígido depois da
Segunda Guerra Mundial, o que eclodiu o fortalecimento das instituições jurídicas e
da efetividade de um Estado de Direito consolidado. O Estado de Direito era uma
alternativa às autocracias autoritárias como nazismo, fascismo, ditaduras de
quaisquer formas. Mesmo, assim ainda é difícil mencionar que jamais viver-se-á os
horrores da guerra e dos regimes ditatoriais, já que sabe-se de longa data que tais
horrores são formulados em leis e as constituições as assentem. Ainda, nenhum
Estado de Direito tem o interesse de por conta própria resolver os problemas
ambientais, ou crises deste escopo como o aquecimento global.
Robinson (2021) contribui para a discussão ao considerar que o direito ao
meio ambiente saudável é comum a todos e está previsto no princípio da não
reversibilidade dos direitos fundamentais sociais, o que imbrica na justiça jurídica,
justiça social e justiça climática.
Bosselmann (2015) considera que embora o valor social relevante, mesmo
diante de diferentes culturas, valores e economia, sendo que são estes os critérios
que desestabilizam o meio ambiente e o impactam negativamente, vez que o induz
a um colapso sem precedentes vistos. Por isso, tais assuntos deixam de ser tema
puramente doméstico as nações e tornaram-se temáticas de ordem e interesse
compartilhado entre as nações e por isso transnacionais.
Para Bosselmann (2015) a sustentabilidade não é um assunto novo, mas é
um ideal de como deve ser uma sociedade justa e civilizada, para um
desenvolvimento sustentável35. À vista disso, para ele a sustentabilidade é a
capacidade de uma sociedade ou sistema se manter em equilíbrio, garantir
qualidade de vida para as atuais gerações sem comprometer a capacidade das
futuras gerações de suprir suas necessidades. Isso inclui uma gestão responsável
dos recursos naturais, redução do impacto ambiental, preservação dos
ecossistemas, promoção da justiça social e econômica, e o uso de tecnologias
sustentáveis. A sustentabilidade também envolve a conscientização e participação

35
“A noção de desenvolvimento sustentável, se as palavras e sua história tem algum significado, é
bastante clara. Ele convoca para o desenvolvimento baseado na sustentabilidade ecológica a fim de
atender às necessidades das pessoas que vivem hoje e no futuro. Entendido dessa forma, o
conceito fornece conteúdo e direção. Ele pode ser usado na sociedade e executado por meio de
Direito. A qualidade jurídica do conceito de desenvolvimento sustentável firma-se quando a sua
ideia central é compreendida. (BOSSELMANN, 2015, p. 08).
59

da sociedade, empresas e governos na busca por um desenvolvimento


sustentável, isto é, não existe sustentabilidade ou a sua própria eficiência sem a
segurança jurídica que tornou-se imprescindível ao discutir a redução dos GEE’s
no planeta.
Para Hans Jonas (2006) a humanidade deve agir de forma responsável em
relação ao meio ambiente e em consideração direta às gerações futuras. Para
Jonas, a sustentabilidade está relacionada à justiça intergeracional, ou seja, à
garantia de que as necessidades e direitos das futuras gerações sejam levados em
consideração no presente, o que implica na elaboração do Princípio da
Responsabilidade. Por isso, no referido princípio emerge a indispensável condição
de políticas que conectem às leis a reponsabilidade jurídica sobre as questões
ambientais.
Para o Hans Jonas (2006) o princípio responsabilidade existe para justificar
que o meio ambiente não supre por si só sua restauração e diz respeito a
capacidade sem precedentes da humanidade causem impactos significativos e
duradouros ao planeta em uma escala sem precedentes. Soares (2003) neste
contexto aponta que o meio ambiente não possui resiliência em face da ação
humana.
No contexto do meio ambiente Soares (2003) aponta que o princípio da
responsabilidade é um discurso necessário e qualificado em pressionar as
empresas e governos em adotar políticas ambientais mais responsáveis, como a
redução das emissões de gases de efeito estufa, como a obrigação da proteção de
áreas naturais e da promoção de práticas sustentáveis na produção e, além disso,
a reponsabilidade sobre o consumo de bens e serviços. Dessa forma, se pode
contribuir para a construção de um futuro mais sustentável e preservar o meio
ambiente para as gerações futuras. O princípio da responsabilidade sobre a
questão ambiental direciona para a necessidade de segurança jurídica plausível
orientada em promover regulação para questões ainda em debate como é o casso
das RCE’s. Nesta direção, encontra-se a definição de segurança jurídica de
Queiroz (2006), na qual a referida autora aponta que na ausência da segurança
jurídica ocorre derradeiramente um processo de retrocesso social
constitucionalmente ilícito. Insta na sua obra:

(...) a expressão ‘proibição do retrocesso social’ não é feliz.


Juridicamente poderia ser substituída por outros conceitos. V.g. a
60

‘segurança jurídica’ ou ‘proteção da confiança’ (vertrauenschutz),


ambos individualizadores da cláusula do ‘Estado de Direito
democrático e constitucional’, ínsita no artigo 2. Da Constituição,
que quando violados, se apresentam, em rigor, como critérios
indiciadores de um retrocesso socialconstitucionalmente ilegítimo.
(QUEIROZ, 2006, p. 71).

Di Pietro (2018) pondera que o princípio da segurança jurídica apresenta o


aspecto objetivo sobre a estabilidade das relações jurídicas, no que tange à
conduta leal, honesta. Atrelado ao aspecto subjetivo, vincula-se diretamente a
necessidade de proteção à confiança ou confiança legítima de um agir
corretamente, que leva em conta a boa-fé. Traz uma ideia de estabilidade das
relações jurídicas, ressalvando que há mudanças de orientação e que
frequentemente o direito evolui, e por isso mesmo que não seja seu objetivo ele
pode ser a origem também da insegurança jurídica, vez que por vezes pode afetar
o que estava consolidado na regulação anterior.
Por sua vez, Ávila (2013) conceitua a segurança jurídica como um princípio,
fato este que diferencia de uma regra, sendo que a regra é norma com caráter de
forma e passível de ser aplicada com consequências jurídicas. Para este autor os
princípios são valores éticos e morais que norteiam a aplicação das normas
jurídicas, isto é, são discursos jurídicos que servem como aporte para se poder
analisar as circunstâncias da aplicação das normas no campo da regulação jurídica
existente ou possível, mas que ainda não são regras suscetíveis de aplicação.
Por isso, nos princípios na visão de Rawls (1997) ocorre a ausência do
caráter formal de proposições jurídicas, isto é, a conexão entre uma hipótese de
incidência e uma consequência jurídica no sentido da sentença e poder coercitivo
emanado da mesma. Mesmo assim, o princípio da segurança jurídica não é
ignorado, já que busca garantir a previsibilidade do ordenamento jurídico evitar a
retroatividade e a mudança brusca de direcionamento, com o enfoque em evitar
conflitos desta ordem. Por isso, a necessidade de cotejar a segurança jurídica no
que se vincula ao processo de redução de emissão de GEE’s e a comercialização
de Créditos de Carbono.
Humberto Ávila (2013) afirma que o princípio segurança e princípio
responsabilidade por si, já ponderam sobre a necessidade de regulação
orientadora para evitar a duplicidade de contagem no mercado de crédito de
carbono.
61

Para Ramos (2021) a segurança jurídica é princípio jurídico que não se


questiona na comunidade especializada. Para ele, este princípio emerge como a
garantia de que as leis e normas jurídicas serão aplicadas de forma estável e
previsível, com o objetivo de gerar confiança e proteção aos indivíduos e
empresas. No que tange, ao fortalecimento do mercado de crédito de carbono é
notória insuficiente da segurança jurídica e, por isso a pertinência da discussão
apresentada.
A segurança jurídica também implica o respeito aos direitos fundamentais e
a proteção do Estado de Direito, assegurando que todos sejam tratados de forma
justa e igual perante a lei. Dessa forma, Ramos (2021) compreende a segurança
jurídica como um elemento essencial para a estabilidade e o desenvolvimento do
sistema jurídico e econômico de um país e também como mecanismo jurídico que
deve assegurar ao meio ambiente e sua salubridade.
Além disso, Ramos (2021) da interconexão entre a segurança jurídica e a
função social e a condição das liberdades, é evidente e necessária. A
responsabilidade pela liberdade não é apenas entre as partes, mas também entre
todos os afetados pelos efeitos dos contratos. Logo, a função social dos contratos
visa proteger e promover as garantias institucionais. Isso inclui as posições e
interesses simultâneos de todos e cada um, que possuem reconhecimento jurídico
e social especial, como defender o meio ambiente através da proteção do mercado
de carbono.
Desta forma, um mercado regulado e que evite a duplicidade da contagem
de créditos de carbono recairia no que Ramos (2021) aponta como o aumento do
fluxo nos mercados já que os sujeitos estão regulados. Em suma, o fato da
regulação gerar segurança jurídica para todos, influencia a forma como o mercado
se comporta, vez que aumenta a credibilidade e confiabilidade e objetividade do
Direito, sem ignorar cada aspecto da coerência normativa.
Essa característica, afirma Ramos (2021), favorece debates informados
que, por sua vez, conduzem a uma maior adesão dos sujeitos regulados. Em
suma, porque a postura aplicativa ancorada na segurança como coerência reforça
a confiabilidade, a calculabilidade e do Direito, muito para o além do alcance das
concepções fragmentárias de segurança referendadas pelos autores
especializados. Mas sem negar importância a cada um dos fragmentos, os quais
62

são albergados pela almejada coerência normativa por danos e segurança jurídica:
legislação e jurisdição nos contextos alemão e brasileiro.
Ao corroborar com a discussão Kässmayer e Fraxe Neto (2016, p. 37)
apontam que:

Também no art. 6º, em relação ao mecanismo de desenvolvimento


sustentável (SDM, na sigla em inglês) previsto no seu parágrafo 4º,
o Brasil o considera como o mecanismo internacional para certificar
ações climáticas e emitir créditos, fundamentando-se na
experiência com o mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) do
Protocolo de Quioto. O SDM seria, para o País, um MDL
expandido, uma certificação centralizada e voluntária sujeita à
governança multilateral para garantir sua integridade ambiental.

Integridade ambiental e segurança jurídica são relevantes e cruciais, dado


que o Brasil é signatário do Acordo de Paris, e aderiu as metas de emissões e
reduções certificadas como instrumentos de mitigação até 2020, aliás vencidas e
postergadas. De forma interna as regras nacionais sobre o tema giram em torno do
MDL e de forma internacional dos SDM (Sustainable Development Mechanism), na
qual a proposta defende que deve-se pensar regras concernentes em
transparência, confiabilidade e integridade do sistema de mercado de carbono.
Para Kässmayer e Fraxe Neto (2016, p. 38):

Defende ainda que as reduções de emissões decorrentes de


projetos de SDM possam: i) ser transferidas para viabilizar o
alcance da NDC de outro país, mas, nesse caso, o país anfitrião
não contabilizaria essa redução como parte do cumprimento de sua
NDC, evitando-se dupla contabilidade no inventário global de NDC;
ii) ou ser utilizadas para o atingimento da NDC da Parte onde se
localiza o projeto.

Práticas sustentáveis traduz no contexto desta pesquisa a um mercado


interno regulado de crédito de carbono para atingir a condição e prática sustentável
precisa inexoravelmente, ser compatível com o mercado internacional. Por fim, a
exigência em atender as premissas e diretrizes internacionais oriundas dos acordos
entre as partes, aos quais o Brasil é signatário. A redução das emissões inclusive
para Crutzen (2011) foi exaustivamente estudada pela comunidade científica que a
considerou pequena e objetiva em vista do que está em jogo é a manutenção da
vida.
Nos mercados as relações econômicas resultantes das ações humanas e
das suas inevitáveis imprecisões, tanto nas relações já efetivadas quanto nas
decorrências futuras destas ações, o princípio da segurança jurídica tem a sua
63

magnitude e pertinência, em virtude da preservação do Estado de Direito e,


simultaneamente, das relações econômicas que emanam do mercado. Sobretudo,
porque a segurança jurídica pode acarretar crescimento econômico, já que ao
investigar os desdobramentos do princípio da segurança jurídica é possível verificar
que ele afeta a potencial produção econômica, e se caso incorra em sua ausência
aumenta-se riscos de mercado, desencorajam-se os investidores, e dificultam o
uso de tecnologias novas e disponíveis.
A segurança jurídica está intimamente ligada à previsibilidade do mercado,
pois quando há previsibilidade, os agentes econômicos são capazes de realizar
seus planos de negócios de forma mais segura e eficiente. Quando as regras são
claras e não sofrem mudanças súbitas ou arbitrárias, as empresas podem fazer
investimentos de longo prazo, o que aumenta a confiança e a estabilidade no
mercado. A falta de segurança jurídica e previsibilidade pode afetar negativamente
o ambiente de negócios, gerando incertezas e aumentando os riscos.
A segurança jurídica para aquisição dos créditos de carbono desempenha um
papel importante nos mercados de carbono, pois é fundamental para garantir a
confiabilidade dos contratos, a proteção dos direitos de propriedade e a
estabilidade das regras que regem a operação desses mercados. Isso cria um
ambiente confiável para os participantes negociarem e investirem em projetos de
redução de emissões. Afinal, a segurança jurídica é um elemento-chave para o
bom funcionamento dos mercados de carbono, posto que proporciona um
arcabouço legal e regulatório estável capaz de promover a confiança, a
previsibilidade e a eficácia das ações de mitigação das mudanças climáticas.
Por isso, no engajamento para adquirir segurança jurídica para o mercado de
crédito de carbono no enfrentamento à dupla contagem de crédito de carbono,
dentre outros objetivos o PL 528 (2021) em seu art. 5 prevê: para “assegurar a
credibilidade e segurança das transações com estes ativos, servindo, também,
como ferramenta para contabilidade nacional das transações nacionais e
internacionais com créditos de carbono originados no país”.
O valor de segurança para mercado de crédito de carbono consiste em
garantir a previsibilidade pela determinação legal dos elementos da obrigação da
existência deste crédito, desde sua formação através de certificações
internacionais, que perpassa por sua constituição na sua fundamentação quanto a
sua natureza jurídica. Busca-se por segurança jurídica negocial, bem como por,
64

sendo que rastreabilidade do crédito de carbono para que este seja infungível e
único.

2.3 AS PROPOSTAS DE REGULAÇÃO DO MERCADO DE CARBONO


BRASILEIRO

O projeto de lei regulamenta o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões


(MBRE), determinado pela Política Nacional de Mudança do Clima – Lei nº 12.187,
de 29 de dezembro de 2009, que é uma proposta legislativa que visa estabelecer
um sistema de precificação do carbono, com o objetivo de reduzir as emissões de
gases de efeito estufa e combater as mudanças climáticas. Esse tipo de projeto de
lei geralmente é desenvolvido como parte de políticas de mitigação das emissões
de gases de efeito estufa e ainda tem como enfoque fomentar o mercado voluntário
de crédito de carbono
Desde a legislação do PNMC, foram apresentados os projetos de leis
2.148/2015 e seus anexos 290/2020, 528/2021 e o PL n. 412/2022 todos ligados a
implementação de regras sobre as metas para a diminuição das emissões de
GEE`s, com incentivos fiscais para baixo carbono, geração de fontes de energia
alternativas e regulação para o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões
(MBRE).
O PL nº 2.148 (2015) no qual continha a ideia de conceder incentivo fiscal
com a redução de alíquotas de IPI, PIS, PASEP e COFINS para os produtos que,
comprovadamente tenham sido elaborados com redução da intensidade de
carbono, todavia, o § 3º, do artigo 2º, prescrevia que a as emissões diretas
inventariadas deveriam ser verificadas por empresas verificadoras acreditas pelo
INMETRO, em parceria como Programa Brasileiro GHG Protocol. Este PL após
sucessivos PL`s apensados, possui um compilado em substituição datado de 2021.
Já o Decreto n. 9.073 (2017) mediante a impossibilidade do cumprimento de
metas do Acordo de Paris com relação a manutenção do aumento da temperatura
climática em 1,5ºC, o Brasil modificou a NDC (Contribuições Nacionalmente
Determinadas) de 2016. A meta foi atualizada para 2020 (UNFCCC, 2020, a
mesma meta de redução de GEE (37% até 2025 e 43% até 2030), alterando o
inventário que aprimora a tecnologia do cálculo de emissões, o que permite maior
65

emissão de GEE do que o anteriormente previsto, porém com a mesma


porcentagem já prevista.
O PL nº 290 (2020) envolve a possibilidade de compensação ambiental
oriunda da geração de energia elétrica com a utilização da certificação de créditos
de carbono para os empreendimentos de geração por fontes alternativas. Neste
sentido, a comercialização do crédito de carbono seria realizada mediante central
de registro, pública ou privada, que assegure o recebimento, a transação, a
compensação e o cancelamento do certificado após sua aplicação (art. 5º, §).
Ainda, o PL 528 (2021) estabelece que o mercado de carbono é um
mecanismo que estabelece um valor financeiro para as emissões de carbono,
permitindo a compra e venda de créditos de carbono. Empresas e organizações
que conseguem reduzir suas emissões além do necessário, podem vender esses
créditos de carbono para outras entidades que excedem suas cotas de emissões.
O projeto de lei 528 (2021) para o mercado de carbono ainda inclui
disposições relacionadas o Sistema Nacional de Registro de Inventário de
Emissões de Gases de Efeito Estufa – SNRI-GEE para operação do mercado de
carbono com credibilidade e segurança das transações com estes ativos e
contabilidade nacional das transações dos créditos originados no Brasil.
O projeto de lei 528 (2021) no artigo 5 define requisitos de monitoramento e
relatórios para as empresas e organizações participantes do mercado de carbono.
Isso permite o acompanhamento e a verificação das emissões de carbono, com o
fim em garantir a integridade e a transparência do sistema, sendo que quem realiza
monitoramento é quem certifica e o Instituto Nacional de Registro de Dados
Climáticos (INRDC).
Definição de metas e limites de emissões o projeto de lei estabelece para as
empresas e organizações cobertas pelo mercado de carbono no mercado
voluntário. Essas metas e limites das NDC são baseados em critérios científicos
contido na Eco 92 e no acordo de Paris, que terão um prazo de 05 (cinco) anos
para ser obrigatórias, conforme artigo de lei transcrito:

O programa nacional obrigatório de compensação de emissões de


GEE deverá ser baseado em sistema de transação de créditos de
carbono e deverá: I. basear-se nos dados dos Inventários Nacionais
de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa
(GEE) não Controlados pelo Protocolo de Montreal; II. Basear-se
nos setores da economia com maior índice de emissões de GEE;
III. Basear-se nos setores da economia com maior capacidade de
66

remoção e compensação de GEE; IV. Estabelecer metas setoriais e


individuais de redução, remoção e compensação de forma
progressiva e de acordo com a Contribuição Nacional Determinada
prevista no Acordo de Paris sobre a Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima. (Decreto nº 9.073, de 5
de junho de 2017).

O PL 528 (2021) conta com definições de metas para a atividade energética e


industrial, criando em seus 12 artigos regulamentações que se justificam na medida
que:
Logo o PL 528 (2021) vislumbra que para inserir o Brasil na vanguarda do
desenvolvimento inteligente e estratégico com uma economia competitiva e
inovadora, é fundamental endereçar corretamente as políticas climáticas. Qualquer
nação que projeta seu crescimento econômico para as próximas décadas, deve
tem a obrigação de lutar contra as negligências do século XXI como, por exemplo,
a crise climática global. O Brasil tem uma ampla capacidade natural para produzir
ativos ambientais, principalmente créditos de carbono, que podem ser negociados
dentro e fora do país no mercado voluntário ou regulado. O não aproveitamento
das oportunidades e recursos internos, é a materialização da ausência de atenção:
i) aos princípios da Constituição Federal geradores de segurança jurídica; ii) para
com a legislação pátria; iii) no que diz respeito a aderência do Brasil aos tratados
internacionais, com a finalidade de desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Além disso, traz em seu artigo 12 os objetivos e as metas a qual o Brasil
aderiu, irá se adotar como compromisso a meta de redução de GEE’s entre 36,1%
(trinta e seis inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove
décimos por cento) suas emissões projetadas até 2020. Para o mecanismo de
precificação do carbono estabelece como as emissões de carbono serão
precificadas e como os créditos de carbono serão criados, negociados e utilizados
com definição de preços mínimos e máximos para os créditos de carbono
considerando a localização que se forma o crédito.
A comercialização de créditos de carbono e sua dupla contagem são
considerados tema de alta complexidade e, infere-se que muitos no Brasil
defendem o livre mercado de Carbono. O projeto de lei 528 (2021) estabelece um
incentivo fiscal para empresas que aderem aos projetos e as penalidades não
foram previstas pela falta de obrigatoriedade que só ocorrerá em regulação o
Ministério da Economia no prazo estipulado em lei.
67

O PL 412 (2022) percebe-se uma evolução com a justificativa de que o


rastreamento pode ser feito por blockchain, desde que a partir de uma regulação
(fl. 11):

“A formação desses preços sempre considerará as variáveis


locais, as diferentes políticas adotadas e o nível dos avanços
tecnológicos anti-emissões. Para tanto, inovamos ao acrescentar à
Lei 13.493 de 2017, que cria o Produto Interno Verde (PIV) a
criação de uma nova moeda, o REAL VERDE. Imaginamos que a
partir de sua regulamentação, seja possível conferir-lhe
credibilidade e segurança, por exemplo, por meio de rastreamento
via Blockchain”.

Atualmente, o Brasil possui em vigência o decreto nº 11.550, de junho de


(2023) que dispõe sobre o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima – (CIM,
2023) que possui a finalidade de acompanhar a implementação das ações,
políticas públicas, os planos de desenvolvimento e os programas governamentais
para neutralidade climática decorrentes da Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima – CQNUMC, promulgada pelo Decreto nº 2.652, de 1º de
julho de 1998.
No projeto de lei 528/2021 há previsão para que haja a normalização 36
através de Prática recomendada37 (ABNT PR) que entrou em vigor em julho de
2023 sob a orientação da ABNT PR 2060 que prevê em seu uso que: “declarações
precisas e verificáveis de neutralidade de carbono que não sejam enganosas” (p.
09).

https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?
dm=9394822&ts=1688036313847&disposition=inline&_gl=1*55yjeq*_ga*MTQxNDY
yNTkzNC4xNjY5OTI0MjA5*_ga_CW3ZH25XMK*MTY5MTg1MDA0My4xMC4wLjE2
OTE4NTAwNDMuMC4wLjA. Acessado em 12.08.2023

O CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento


Sustentável (2023, p. 01), se posicionou para reforça a urgência de um
mercado regulado de carbono no país, com a economia de baixo carbono e

36
A Normalização é uma atividade de interesse geral, com o objetivo de fornecer documentos de
referência, elaborados de modo consensual por todas as partes interessadas, consolidando boas
práticas, recomendações, conjunto de requisitos de serviços, produtos, métodos e processos, com
vistas a garantir evolução e inovação tecnológicas, assim como níveis de segurança e desempenho
crescentes para a sociedade. (ABNT PR 460/2022, p. 07)
37
A Prática Recomendada (ABNT PR) é um documento normativo que difere de uma Norma
Brasileira e não substitui as normas ou legislações vigentes, oferecendo orientações aos usuários
(ABNT PR 460/2022, p. 07)
68

aumento de produtividade, emprego e renda reconhecendo as vantagens que


esse mecanismo traz ao ser o mais eficiente para redução das emissões de
gases de efeito estufa associadas as atividades econômicas.

Como se pode notar, existem várias iniciativas legislativas relacionadas ao


crédito de carbono. No entanto, fica perceptivo que cada uma delas enumera uma
forma diferente de se verificar as unidades de carbono. A Certificação do carbono
deve ter uma só regulação de certificação, essa é uma medida fundamental para
que se possa a partir dela.
A complexidade do tema (mercado de créditos de carbono) provoca a
incerteza ou a falta de segurança jurídica, exatamente pela obscuridade dos
mesmos, associada com a falta de clareza quanto a forma de operacionalização
dos ativos financeiros intangíveis. É essa evidência de apoio que garante que as
partes interessadas possam ter certeza da validade de qualquer reinvindicação de
neutralidade de carbono de acordo com a norma ABNT PR 2060 que não exclui a
legislação que se aplica ao mercado de crédito de carbono.
69

3 A TOKENIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO TECNOLÓGICO DE


MITIGAÇÃO DA DUPLA CONTAGEM

No mercado autônomo, como é o brasileiro para o crédito de carbono,


o uso de plataformas de comercialização para compensação de crédito de
carbono, como nos mercados regulados internacionais, não suprem o problema
da dupla contagem pelo que se pode notar nas várias recomendações feitas
pelas COP’S sobre o tema. Então o que se propõe é o uso de uma rede
descentralizada que tem um sistema de lastro nas operações que auxiliaria os
meios centralizados existentes nos instrumentos normativos internacional e nos
futuros instrumentos normativos nacionais.
Em função disso, neste capítulo pretende-se demonstrar uma resposta
ao problema proposto com análise da tokenização como instrumento
tecnológico de mitigação da dupla contagem e da sua tecnologia blockchain,
dado se tratar de uma inovação com potencial para alcançar um meio de
reduzir problemas na contabilização das metas e fraudes dos créditos de
carbono que levam à dupla contagem.
Busca-se também promover uma análise sobre as problemáticas
normativas, ou seja, sobre os conflitos enfrentados principalmente diante da
ausência de regulação clara, objetiva e eficiente para mitigar a dupla contagem
do crédito de carbono no mercado regulado brasileiro, em análise da 12.187 de
2009, do PL n. 2.148/2015 e o anexo PL 528/2021 e do PL 412/2022, mas sem
abdicar das diretrizes dos tratados internacionais a fim de coadunar suas
incipiências.
E por fim, e não menos importante, aborda-se como ocorre a recepção
da tokenização e o futuro mercado regulado de carbono brasileiro na busca da
mitigação da dupla contagem de carbono de forma a ofertar segurança jurídica
e motivar o desenvolvimento do mercado regulado de carbono nacional.
70

3.1 A TOKENIZAÇÃO COMO SOLUÇÃO PARA A INTANGIBILIDADE DE


ATIVOS

O processo de transformação de ativos físicos em ativos digitais é


chamado de tokenização38. Os projetos de tokenização de créditos são alguns
dos principais casos de uso de aplicação da tecnologia (DLT – distributed
ledger technology) nos mercados financeiros e de capitais, vez que significa
livro razão distribuída que armazena e compartilha dados através de cópias
digitais que mantém em locais diferentes de uma mesma rede, chamado de
’nós’ (ANBIMA, 2019, p. 08)39.
A tecnologia DLT possui dentre elas a blockchain que é uma ferramenta
revolucionária no âmbito da geração, processamento e transmissão da
informação, que é considerada inovadora na área da ciência da em códigos
inteligentes e colaboração em massa de uma instituição poderosa que deve
‘autenticado e estabelecido’40.
De acordo com Mougayar (2017) esta tecnologia já é empregada em
outras áreas de ativos virtuais, sendo a mesma descentralizada e apresentada
como meio de condução de mercado de moedas virtuais. Esta é uma rede de
criptomoeda, chamada também de blockchain, que segundo as pesquisas logo
este instrumento será mais significativo do que as moedas virtuais 41. Além
disso, as redes descentralizadas mais recentes permitem a aceitação de

38
“Criptoativos são ativos representados digitalmente, protegidos por criptografia, que podem
ser objeto de transações executadas e armazenadas por meio de tecnologias de registro
distribuído (Distributed Ledger Technologies – DLTs). Usualmente, os criptoativos (ou a sua
propriedade) são representados por tokens, que são títulos digitais intangíveis”. Essa definição
cumpre o fim de delinear de evitar restringir os tokens a uma definição engessada. Parecer
para orientação do CVM nº 40, de 11 de Outubro de 2022. Disponível em:
<https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/pareceres-orientacao/anexos/
Pare040.pdf >. Acessado em: 17/07/2023.
39
ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais).
Tokenização de ativos: conceitos iniciais e experimentos em curso. 2019. Disponível:
<https://www.anbima.com.br/data/files/02/30/82/CB/68001810C27A8F08882BA2A8/
Tokenizacao%20de%20ativos.pdf >. Acesso em: 17-07-2023. (=ANBIMA, 2019).
40
TAPSCOTT, Don. The Blockchain Revolution. Disponível em:
<https://www.mckinsey.com/industries/technology-media-and-telecommunications/our-
insights/how-blockchains-could-change-the-world>. Acesso em: 11-07-2023.
41
Muitas são as operações financeiras com moedas como, por exemplo, comprar, vender,
pagar, receber, transferir, economizar ou emprestar, caso usarem uma carteira ou uma conta
de corretagem. Por coincidência, o Paypal oferece as mesmas funcionalidades. (Mougayar,
2017).
71

qualquer ativo digital, instrumento financeiro ou ativo do mundo real conectado


a um token de criptomoeda.
Ainda, de acordo com o Pellini (2019) Bitcoin, blockchain e fintechs
formam o tripé de mudanças que estrutura o que se intitula como uma
revolução financeira, isto é, uma transformação focada no protagonismo das
pessoas através da inovação tecnológica. Trata-se de revolução tecnológica
capacitada em minimizar o atrito entre o consumidor e as empresas. No âmbito
desta revolução, a fricção denota todas as problemáticas que envolvem os
trâmites e processos, ou ainda, todo o desgaste que existe nessa relação entre
empresa e consumidor.
Pode-se, por exemplo, mencionar uma situação de solicitação de
empréstimo e todas as dificuldades que a acompanham, desde os protocolos
de avaliação e crédito, de verificação da documentação e até de seguridade,
entre outras dificuldades encontradas no decorrer do procedimento em foco.
A tecnologia blockchain é um tipo de tecnologia de registros distribuídos,
em sistema de blocos que armazena dados quando uma transação financeira é
realizada virtualmente. Para Uhdre (2020) esta tecnologia surgiu ao lado do
Bitcoin em 2009 e passou a armazenar mais de 160 gigabytes de dados sobre
cada Bitcoin comercializado. Assim, pode-se afirmar que a Tecnologia
blockchain é uma espécie de um registro formal, um livro-razão, no qual
transações de troca de valores são agrupadas sequencialmente em blocos.
Essa sequência é formada a partir da constatação de que cada bloco
contém uma assinatura baseada no conteúdo exato desse bloco, bem como de
seu anterior. É dizer, sempre o próximo bloco da sequência também conterá a
assinatura do anterior, ligando todos os blocos uns aos outros até o primeiro
bloco da corrente. Os blocos são gravados de forma imutável em uma rede
peer-to-peer, mediante mecanismos criptográficos de confiança e garantia
(Uhdre, 2020).
Em artigo publicado no The New York Times por Popper (2018)
esclarece que o blockhain não é usado apenas para registrar transações de
moedas virtuais, dado que governos e empresas têm utilizado o blockchain
para armazenar dados que nada têm a ver com transações de moeda virtual ou
transações de qualquer tipo.  Enquanto os bancos estão construindo
blockchains que podem rastrear pagamentos entre contas, os governos estão
72

experimentando o uso de blockchain para armazenar registros de propriedades


e até votos, o que viabiliza sua utilidade no sentido da comercialização dos
créditos de carbono, a fim de garantir fidedignidade e nas transações
comerciais por meio de moeda virtual. Inclusive esta tecnologia tem sido
utilizada para armazenas registros e dados de quaisquer tipos, que não
necessariamente está associada com comércio virtual.

Essas tecnologias permitem que sejam realizadas transações


jurídicas parte-a-parte (P2P), sem a presença do intermediário
de confiança (middleman). Destarte, a blockchain do Bitcoin,
por exemplo, possibilita que valores (bitcoins ou satoshis, que
são percentagens de bitcoins) sejam transferidos diretamente
entre as partes, sem a presença de instituições bancárias. E
tais transações ficarão registradas, de forma imutável, em
todos os pontos (nodes) da rede, o que significa que terá
alcance global (UHDRE, 2020, p. 23).

Satoshi Nakamoto (2023)42 que é o criador do Bitcoin afirma que o


blockchain podem ser compreendidos como um tipo de livro-razão, no qual
cada grupo de pessoas envolvidas na transação é chamada de bloco e, os
blocos são conectados uns aos outros de forma segura e transparente para
rastrear os proprietários dos ativos anteriores, durante e depois de qualquer
transação.
De acordo com Nakamoto (2023) o blockchain torna possível o que é
necessário para um sistema de criptomoeda seguro e de confiança, vez que
pode guardar e armazenar dados enlaçados em transações diversificadas nos
quais ocorra comércio, monetização ou não. Ainda, este sistema inovador
permite que quaisquer duas partes dispostas transacionem diretamente entre si
sem a necessidade de um terceiro confiável. As transações cuja reversão é
computacionalmente impraticável protegeriam os vendedores contra fraudes, e
mecanismos de custódia de rotina poderiam ser facilmente implementados
para proteger os compradores.

42
NAKAMOTO, Satoshi. Bitcoin: A peer-to-peer electronic cash system. www. Bitcoin.org
Disponível em: <https://bitcoin.org/bitcoin.pdf>. Acesso em: 31/07/2023. Observação: este
artigo de Nakamoto foi publicado um ano antes do surgimento massificado dos Bitcoin e
consequentemente do Blockchain. Mas, como no próprio site em que está hospedado o
referido escrito não consta data de publicação, o mesmo irá ser citado como Nakamoto, 2023
o que segue a orientação da NBR 6023.
73

Gangotri (2017) reforça o que Nakamoto afirma sobre o blockchain,


posto que considera que os chamados Blocks ou blocos são identificados por
‘carimbos’ registrados de forma cronológica em uma cadeia (Chain) sob
incentivos econômicos. O termo blockchain, então, se refere aos blocos de
transações gravadas num registro através de uma cadeia imutável anunciados
de forma pública, com a intensão de oferecer segurança no processo.
Com o advento da Bitcoin em 2008, surgiram também outras formas de
aplicação com tecnologias decorrentes, o blockchain, as quais foram sendo
empregadas nos mais diversos âmbitos da sociedade atual. Para Associação
Brasileira de Entidades dos Marcados Financeiros e de Capitais (ANBIMA,
2022) a pluralidade no tocante a utilização do blockchain, incorpora segurança
e eficácia dos mercados que por um lado já não obedecem mais os
mecanismos tradicionais de controle, e por outro lado, por meio da tokenização
de ativos, que seria a transformação de ativos físicos em ativos digitais, que ao
dar origem a um criptoativo possibilita garantias de mensuração, controle e são
evidências exitosas de um sistema de registro custódia, transferência e
negociação do meio eletrônico.

A despeito da variedade de usos e características, as mesmas


palavras têm sido utilizadas para descrever esses ativos.
Termos como “criptomoeda”, “moeda virtual”, “moeda digital”,
“ativo virtual”, “ativo digital” e “criptoativo” estão presentes
muitas vezes de forma simultânea, sendo utilizadas como
sinônimos. Essa variedade de termos evidencia ausência de
convergência e gera dificuldade de entendimento (ANBIMA,
2022, p. 05).

Logo, a tecnologia blockchain é considerada como uma criptomoeda ou


criptoativo e tem um potencial de disrupção similar ou até maior do que o da
internet, especificamente, devido à sua criação como um canal para a troca de
dinheiro ou negociação de ativos físicos ou virtuais.
De acordo com a Anbima (2022) é um tanto quanto complexo pré-
determinar o impacto do blockchain e como o mesmo irá alterar
significativamente as relações comerciais e de negócios de ativos e passivos
virtuais ao longo deste processo de mudanças.
Segundo Barbosa ( 2019) desde a criação do blockchain como um meio
para reduzir os gastos operacionais no setor bancário, as possibilidades do
blockchain no setor financeiro são quase ilimitadas. Este enorme alcance torna
74

possíveis as oportunidades de mercado financeiro e de gestão de capitalizar a


nova economia.
De acordo com a Anbima (2022) por meio do blockchain as
possiblidades de transações são muitas e contemplam por exemplo:
“escrituração, oferta, intermediação, distribuição, custódia e liquidação de
produtos 100% tokenizados: cotas de fundos de investimento, debêntures,
cédulas e certificados de depósitos de valores mobiliários” e outros.
A tokenização de crédito de carbono, para Uhdre (2020), é instrumento
facilitador da contabilização, da transferência e do rastreamento dos dados e
por isso também das transações que envolvem diretamente os créditos de
carbono de maneira transparente e eficiente. Os tokens digitais representam a
propriedade desses créditos e podem ser comprados, vendidos ou trocados por
outros ativos digitais ou moedas tradicionais, com a meta de oferecer
segurança e efetividade nas negociações. Este instrumento busca
proporcionar maior transparência e acessibilidade aos mercados de crédito de
carbono, além de tornar o processo de auditoria e verificação das reduções de
emissões mais eficiente.
De tal forma, o termo token é tomado, na maioria das vezes, como
representações digitais e criptografada de ativos. Tais representações podem
referir-se tanto a ativos existente no mundo real e físico, vez que gera uma
operação comercial nomeada de tokenização de ativos, quanto pode indicar
ativos nativos e exclusivos do mundo virtual. Os nativos de blockchain são
comumente conhecidos como criptoativos ou ativos digitais. Mas, para Uhdre
(2020) esta nomenclatura deve ser utilizada em sentido restrito, para evitar
possíveis interpretações indevidas, já que existem conflitos múltiplos, visto que
os termos criptoativos e tokens são aplicados como equivalentes.
Por isso, Uhdre (2020) considera diante desta aproximação a
possibilidade de tipologicamente reconhecer os tokens ou criptoativos como
títulos digitais ao portador, na medida em que o benefício jurídico incorporado é
orientado pelos dados que nele são correlatos e indexados. Para Uhdre (2020,
p. 90):

(...) estamos nos referindo a token, por ser um termo mais


genérico que engloba tanto os criptoativos (tokens nativos de
blockchain) quanto ativos tokenizados (representações
eletrônicas e criptografadas de ativos do mundo real) — ainda
75

que tal distinção inicial faça mais sentido quando no primeiro


momento de catalogação”.

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico


(OCDE)43 , descreve o termo tokenização como o processo de transferir direitos
a um ativo no mundo real para uma representação digital, e os denomina token
ou blockchain. A posse do referido token digital dá ao detentor o direito àquele
ativo e a habilidade de negociá-lo e rastreá-lo digitalmente. Pois, o Token é
uma tecnologia disruptiva e inovadora que viabiliza uma maior transparência
nos processos comerciais, com a capacidade de evitar corrupção nas
operações que o envolvem.
A tokenização de propriedade, principalmente como um conceito surgido
há apenas alguns anos, agora é uma realidade com testes inseridos em e
projetos de forma globalizada. Para a OCDE (2020) a tokenização tem se
estabelecido como uma possibilidade de investimento em ações, títulos e
commodities, além de ser evidente o foco em projetos e investimentos sociais,
que são condições de disponibilidade de aplicação desta tecnologia. Cabe
ainda mencionar, que as vantagens indicadas não foram provadas por meio da
ampla aplicação da tecnologia blockchain nas etapas de pós-negociação. Além
disso, a exploração dessas vulnerabilidades pode dar origem a novos perigos
originados pela natureza inovadora da tecnologia, por exemplo, a integridade
do mercado, a proteção do investidor e do consumidor, a operação, a
segurança, a governança e outros.
De acordo ainda com a obra da OCDE (2020), “Caminhos da era Digital
no Brasil”, a tokenização oferece novas oportunidades para o desenvolvimento
de novos mercados e modelos de negócios no caso de ativos não financeiro,
que atualmente não são negociáveis em um mercado organizado e físico. A
perspectiva de aumentar a eficiência e reduzir os custos com intermediários
tem estimulado o desenvolvimento de projetos que envolvem a tokenização de
valores mobiliários, de títulos financeiros, de capitais e outros como a saber os
créditos de carbono.

43
OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). A Caminho da
Era Digital no Brasil. Paris: OCDE, 2020. (=OCDE, 2020). Disponível em: <
https://www.oecd.org/sti/a-caminho-da-era-digital-no-brasil-45a84b29-pt.htm >. Acessado em
03/07/2023.
76

A disseminação de soluções com tecnologia blockchain mostra o desejo


dos negociadores atuais, em descobrir os potenciais benefícios dessa
tecnologia, apesar do fato de que a maioria dos projetos ainda está em estágio
experimental. O uso de tal tecnologia demostra em condições concretas da
possibilidade de transformar as estruturas tradicionais de negociação, por meio
de um sistema regulamentado, mas não engessado e, que no que diz respeito
às mudanças introduzidas nos mercados financeiros e de capital, nas quais
destacam-se as variedades de ativos transacionados, a eficiência, os novos
papéis para agentes e novas formas de pagamento e outras.
Nesse sentido, de acordo com Uhdre (2020, p. 20): “Os criptoativos,
blockchain e tecnologias correlatas produzem a uma forma de relacionamento
ponta a ponta (parte-parte, ou P2P), em que não mais se faz necessária a
presença das instituições intermediárias”. Assim, considera-se neste cenário
que a globalização das transações comerciais ou negociações de ativos, pode
ser uma realidade tangível e física ou completamente virtual como no caso dos
criptoativos. Por isso, as relações econômicas são comumente intangíveis no
mundo virtual e não precisam de território, espaço ou condições concretas de
existência: podem ser completamente pautadas na virtualidade que apesar da
ausência concreta, são reais e compõe o que chama-se ativo virtual de
negociação, vez que possibilita a inserção de novos agentes diante de
barreiras mais discretas de regulamentação, mas não menos eficientes.
Todavia, para Anbima (2022) existem razões razoáveis para a
preocupação de que uma regulagem possa impedir a inovação e colocar
empreendimentos sob motivações onerosas, especialmente quando se trata de
algo totalmente novo, como o blockchain. Como, a saber, se as regulações
normativas deixassem de ser consideradas, os novos negociantes poderiam
ser menos competitivos, ou ainda, gerar um alto custo de compliance para as
negociações.
Por um lado, isto agravaria o problema de concentração de mercado e a
competividade entre os negociantes, pois os participantes tradicionais do
mercado poderiam facilmente absorver o mesmo tipo de pressão regulatória. É
um risco que deve ser ponderado em conjunto com os outros interesses em
jogo. Por outro lado, uma transação financeira normalmente está sujeita a
regulamentações. No entanto, independentemente de ser mais ou menos
77

adequado para regular, o fato é que no Estado de Direito a tecnologia


blockchain se apresenta como solução viável e plausível para este novo
cenário (GCC, 2020).
Diante deste prisma, para a Anbima (2022) no Estado de Direito a
tokenização precisa necessariamente ser regulada e creditada a um órgão ou
instituição responsável por sua fiscalização. Mesmo diante de diferentes
abordagens de tokens, que necessariamente prescindem de distintas
categorias regulatórias, não pode-se perder de vista que as razões da criação
de regras ou de normatização as quais derivam justamente das dificuldades
sugeridas nos processos de negociações dos criptoativos.
No caso dos tokens para crédito de carbono, embora amplamente
demonstrado no capítulo anterior que se trata de um crédito de direito
intangível, incorpóreo, esse crédito não é gerado especificamente em um
ambiente digital. Como supramencionado o crédito de carbono é a captura de 1
tonelada de GEE`s da atmosfera certificados (RCE’S), sendo, portanto, um
bem intangível. Todavia, este por sua vez passa por um processo de
tokenização para ser comercializado em plataformas de crédito de carbono, e
torna-se um ativo digital intangível que pode ser mediado pela tecnologia
blockchain para o controle, rastreabilidade, contabilidade e ou evitar sua
possível corruptividade.
A CVM (2022) em seu parecer de orientação 40 de 2022 destacou que
os tokens são títulos digitais intangíveis, que em si, não se atrelam as
regulamentações imobiliárias, sendo que ao conferir a sua natureza os
mesmos podem estar sujeitos a regulamentações específicas: embora a
tokenização esteja sujeitada a CVM, os tokens também de modo enlaçado
estão sujeitos a regulamentações especificas que obedecem e seguem a
ordem de sua natureza jurídica. Esse parecer é fruto de uma evolução que
passou a considerar a tecnologia DLT e integrou os tokens como valores
mobiliários, com o foco em contribuir para proteção dos investidores e da
poupança popular, pretende repelir a corrupção através do impedimento da
lavagem de dinheiro, tem o interesse em evitar a evasão fiscal e ainda
combater o financiamento ao terrorismo e ao comércio ilegal de armas. A CVM
ainda destaca:
78

Embora ainda não haja legislação específica sobre o tema,


este Parecer tem o objetivo de garantir maior previsibilidade e
segurança, bem como de fomentar ambiente favorável ao
desenvolvimento dos criptoativos, com integridade e com
aderência a princípios constitucionais e legais relevantes.
(CVM, 2022, p. 02).

Por fim, pode-se inferir que os RCE`S após o processo de tokenização,


convertem-se em meio de troca e pode ser amplamente usado no mercado de
ações ou balcão de valores. Por esta definição o token deve seguir as
regulamentações também da CVM44, mas também suas regulamentações
específicas como anteriormente mencionado. Assim, no que se refere aos
créditos de carbono enquanto ativos digitais intangíveis, ou ainda bem de
direito intangível no que diz respeito a sua natureza jurídica, podem ser
tokenizados de acordo com as regras da CVM, mas ainda carecem de atos
regulatórios específicos para evitar sua corruptibilidade.

3.2 SOBRE AS PROBLEMÁTICAS NORMATIVAS NA DUPLA CONTAGEM


DO CRÉDITO DE CARBONO NO MERCADO REGULADO BRASILEIRO

O comércio de emissões é um sistema global de compra e venda de


emissões de carbono. Esse mecanismo, estabelecido pelo artigo 17º do
Protocolo de Kyoto, baseia-se no esquema de mercado Cap-and-Trade, já
usado nos Estados Unidos para a redução do dióxido de enxofre (SO2),
responsável pela chuva ácida. Por esse modelo, na visão de Maciel (2009) são
distribuídas cotas de emissão que podem ser comercializadas, ou seja, aqueles
países que conseguem emitir menos do que suas cotas de emissão podem
vender as cotas não utilizadas para aqueles que não conseguem limitar suas
emissões ao número de suas cotas.
Até momento não existe base regulatória para o comércio do Crédito de
Carbono no Brasil. Existem iniciativas em andamento, em que insta a mais
relevante o PL 2.148/2015 e seu anexo PL 528/2021 e o PL 412/2022 que está

44
“Nesse sentido, a utilização de DLT (Distributed Ledger Technology), ou qualquer outra
tecnologia na emissão, não descaracteriza a natureza do título enquanto valor mobiliário.
Ademais, a caracterização de determinado ativo como valor mobiliário independe de
manifestação prévia da CVM. Portanto, os agentes privados devem sempre avaliar se a
regulação do mercado de capitais é aplicável aos produtos distribuídos” (Ofício-Circular nº
4/2023/CVM/SSE).
79

em discussão e tramitando perante a Câmara. No Brasil o que está em vigor é


uma lei de 2009 que determina a regulação sobre a Política Nacional de
Mudança Climática, Lei 12.187 de 2009, a qual buscar incentivar o mercado
voluntário de créditos de carbono, mas não estipula regras claras ou objetivas
para o mercado não regulado ou ainda para como deve ser a comercialização
destes ativos intangíveis, o que gera certa insegurança jurídica para a questão
enfrentada.
No Brasil, há regulações em andamento através das leis discorridas no
capítulo 2 item 3.3, para alcançar as metas do Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL) a fim de alcançar as NDC`s. Por isso, desde a lei 12.187/2009 45,
outros projetos de leis foram propostos a fim de regular com segurança jurídica
o compromisso brasileiro para com as metas mundiais, inclusive com a norma
técnica da ABNT com Prática Recomendada n. 2060 de 2022, que foi lançada
em julho de 2023 de forma oficial.
Os objetivos da regulação, seus projetos de lei e a norma da ABNT PR,
tem entre eles a criação de um sistema que monitora a contagem dos créditos
de carbono a fim de evitar a dupla contagem que pode ser a emissão dupla, o
uso duplo e a reinvindicação dupla definidos assim na COP 27 realizada no
Egito (EDF, 2022, fl.05).
Na proposta implementada no PL 528/2021 a principal preocupação é
condicionar o ato regulatório as condições de viabilidade e segurança jurídica
para o mercado de Crédito de Carbono seja ele regulado voluntário ou
involuntário.
De tal forma, se estabelece que obrigatoriamente tosos os projetos e
ativos relacionados ao carbono que foram validados e certificados de acordo
com os padrões de certificação internacional são registrados e publicados em
seu sistema. Isso permite que todos os titulares de projetos se comuniquem e
tenham acesso à rastreabilidade de suas transações. Por exemplo, é possível
acessar os dados dos relatórios de validação, supervisão e certificação de cada
projeto que adotou este padrão de certificação, bem como todos os ativos que

45
12.187/2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC e dá outras
providências. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm>. Acessado em
30/07/2023.
80

foram emitidos por cada projeto e que foram pagos ou ainda estão disponíveis
para venda.
Contudo, o PL 528 não específica qual tecnologia será utilizada para
nortear a rastreabilidade dos dados, o que infere em uma certa fragilidade do
conteúdo regulatório infra indicado. Logo, suspeita-se que ignorou a tecnologia
de tokenização e de blockchain que são inovações disruptivas no processo de
contabilização e fiscalização do mercado de carbono e de outros bens
intangíveis.
Apesar do PL 528/2021 prever em seu artigo 4 parágrafo primeiro que o
Mercado Brasileiro de Redução de Emissões deve obedecer o que dispõe a lei
e que seguirá as normativas da Associação de Normas Técnicas Brasileiras-
ABNT, vez que deve prevalecer o que diz a lei, a própria lei é vaga no sentido
da dupla contagem. Pois, a ABNT PR 2060 inclui metodologias que seguem as
regulações interacionais de contagem como, a saber, o protocolo de Kyoto e o
Acordo de Paris, mas apesar de definir o que é dupla contagem, não indica
soluções ou mecanismos tecnológicos para mitigar ou evitar tal condição no
Mercado de Carbono.
O PL 528/2021 ainda considera na parte da exposição dos motivos que
o Brasil é uma potência mundial no que se refere a necessidade de redução
dos GEE’s no Planeta e, por isso necessariamente precisa ter um mercado
motivado e estimulado inclusive pela normatização para que os ativos
ambientais gerados sejam amplamente recepcionados no mercado de créditos
de carbono. A ausência de regulação no Brasil, acaba negando a capacidade
de comércio de tais ativos ambientais, o que gera certa negligencia a
capacidade brasileira e ignorara o que consta na CF, no que se refere ao
desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Neste sentido, o PL 528 (2021, p. 14) ainda prevê em seu XII parágrafo
a necessidade de transparência nos acordos com o foco de manter a
integridade ambiental e consenso sobre padrões de mercado para créditos de
carbono. Além disso, os créditos de carbono independentes, nacionais e
subnacionais, apresentam o desafio de garantir a consistência através de
vários mecanismos, tendo em vista que cada crédito gerado representa uma
tonelada de CO2 reduzido. Além disso, para evitar a dupla contagem, que é
essencial para a garantia dos sistemas de reduções, é necessária uma
81

regulação rígida para garantir que a redução de emissões continue sendo


integrada e ecologicamente correta.
O PL 528/2021 até o momento reconhece em seu conteúdo a ausência
de arcabouço legal específico para tratar do Mercado de Crédito de Carbono.
No PL fica evidenciada a ausência de regulamentação que fere diretamente a
condição de integridade ambiental do país, além de impedir a geração de
riquezas condicionando a pobreza e a divisa entre os países. Sobre esta falta
de especificidade no PL528 (2021, p. 09) consta: “Isso não quer dizer que não
haja regras ou regulação para o Mercado Voluntário, mas tão somente que
estas regras ou regulação decorrem de uma iniciativa do setor privado e não de
Leis e atos emanados pelo Poder Público”.
Sobretudo deve-se ressaltar que não quer dizer que não ocorra
regulações para o mercado voluntário, mas as regras são acordos do setor
privado e não emanam do poder soberano do Estado de Direito. E, de outro
prisma, o mercado involuntário também precisa de regulações e diretrizes, se
realmente se quer priorizar a necessidade de redução dos GEE’s e motivar o
Comércio de Créditos de Carbono.
Neste escopo, a dupla contagem do crédito de carbono segundo a
justificativa do PL 528/2021 considera que: “ainda é necessária forte regulação
para manutenção da integridade ambiental da redução de emissões a fim de
evitar dupla contagem, o que é fundamental para a credibilidade dos sistemas”
(2021, p. 14).
Como o PL 528/2021 foi apensado ao PL 2.148/2015 e este em 2021
passou por uma análise e voto para substituição do texto originais com um
texto mais amplo considerando todos os temas tratados nos apensos, contudo,
novamente o PL 2.148/2015 deixou passar oportunidade para incluir na
proposta legal a tecnologia DLT blockchain.
Já o PL n. 412/2022 não foi apensado ao PL 2.148/2015 até o presente
momento e este considera a aposentadoria do crédito de carbono como
solução para a problemática do uso duplo do crédito de carbono sem trazer
uma clareza quanto aos créditos utilizados para comercialização. Pelo
contrário, o PL 412 incentiva a comercialização dos créditos: Em seu artigo 3,
parágrafo V, considera: “implantar processos de preparação e validação de
registros, monitoramento e Certificação das Reduções e Remoções de
82

Emissões de GEE, visando potencializar a comercialização dos créditos de


carbono”. Além disso, PL 412/2022 reforça o que o PL 528/2021 preconiza ao
estabelecer a fiscalização do mercado de comércio do crédito de carbono
condicionada aos órgãos públicos, e ainda considerar a necessidade de
respeito a adesão voluntária ao mercado de carbono, em acordo com o
princípio de adesão voluntário ao mercado.
Na justificativa do PL 412/2022 embora não faça menção expressa a
dupla contagem mas trata da importância de o Brasil ter um mercado regulado,
ao verificar que durante a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas na Rio 1992, considerava a liberdade aos países
signatários em conferir a quota de redução o que se reforça no Acordo de Paris
e estabelece autonomia para negociar os créditos de carbono entre si.
Concomitante a tais indicações normativas surgiu um mercado de
carbono voluntário que não se submete a normas nacionais ou internacionais e
que é gerido pela motivação em manter sua imagem vinculada ao
compromisso ambiental. Contudo, tanto para o mercado voluntário quanto para
o mercado regulado é necessário estabelecer normas claras, objetivas e
efetivas para este fim. No PL 412/2022 considera-se:

(...) é necessário estabelecer normas e padrões internacionais


de validação e certificação de reduções de emissões de gases
de efeito estufa. Tais padrões são condição necessária à futura
integração desses mercados e o desenvolvimento dos projetos
de redução de emissões, com base em metodologias
científicas consagradas internacionalmente, o que lhes confere
transparência e rastreabilidade das transações (PL 412, 2022,
p. 10).

O PL 412/2022, inova ao apresentar o uso de blockchain como um


exemplo de sistema de tecnologia para rastrear com credibilidade e segurança
e supera a brecha inclusa no PL 528/202. Ou inovação está inserida na lei
13.493 de 2017, que cria o “real verde”, isto é, uma moeda virtual com
rastreabilidade via tecnologia de blockchain. Logo, esta inovação leva em conta
os avanços tecnológicos para mitigar a emissão de GEE’s.
A partir das normas citadas foram desenvolvidas as diretrizes da ABNT
PR 2060 que procura por meio das tecnologias instituir metodologias que
buscam evitar a dupla contagem, com o intuito de ofertar segurança jurídica
para o mercado de carbono. A normativa derivada da ABNT, a PR 2060, foi
83

pautada no Organismo de Normatização Britânico (BSI), sendo espelhados nos


instrumentos internacionais de controle e normatização para a redução de
GEE’s.
No site da ABNT (2023, on-line), em matéria publicada sobre ABNT PR
2060, considera-se que a mesma trata-se de um documento que visa
regulamentar a emissão de gases de efeito estufa para demostrar com critérios
e objetivos claros a possibilidade quantificação ou mensuração e compensação
e comercialização dos Créditos de Carbono. Segundo o órgão ABNT estas
diretrizes devem orientar a formulação de leis de controle e regulação
normativa para o mercado de carbono em ascensão, pois contém metodologia
de análise de neutralidade de carbono, vez que a norma também fomenta uma
série de orientações sobre como as declarações sobre conformidade devem
ser feitas.
Na PR 2060 a metodologia trazida pela ABNT deve impedir o uso por
outros através de aplicação de princípios incluindo a dupla contagem, além de
estabelecer padrões e métodos usados para compensações de carbono. Neste
sentido, até mesmo quando for empregado um padrão de esquema de
compensação beneficente, os métodos e tipos de crédito usados devem seguir
os seguintes princípios: i) todos os projetos que tenham como foco a contagem
de carbono devem se vincular a adição, permanência, vazamento e dupla
contagem; ii) os créditos de carbono devem ser verificados por uma outra
parte; iii) os projetos de compensação devem seguir editais públicos com
metodologia de ‘compensação, validação, verificação, registro e
monitoramento’; iv) os crédito devem ser armazenados em registro público.
Sobretudo, para evitar a dupla contagem a ABNT PR 2060 traz que as
compensações de crédito de carbono devem seguir as seguintes diretrizes:

(...) a confirmação de que o regime de compensação de


carbono foi utilizado de acordo com as suas provisões e que
não houve conflito com os princípios estabelecidos em 9.1.2; e.
número e tipo de créditos de carbono usados, período de
tempo em que os créditos foram gerados e data da
aposentadoria; f. informações sobre a aposentadoria ou
cancelamento de créditos de carbono suficientes para impedir
seu uso por outros, incluindo um link para o registro de onde o
crédito foi aposentado (ABNT PR 2060, p. 27).
84

De acordo com PL 528 (2021) e a regulação da ABNT PR 2060 restou


que somente a retirada ou aposentadoria do crédito de carbono, mas deixou os
créditos adquiridos para revenda sem parâmetro de monitoramento. Os
parâmetros de monitoramentos são representados somente na justificativa do
PL 412/2022 com a inclusão da tecnologia blockchain como mecanismo ou
instrumento de controle, para implantar processos de preparação e validação
de registros, monitoramento, mensuração e controle, oferecendo segurança
jurídica para as transações dos créditos de carbono.
Portanto, os projetos de lei não fazem uma previsão quanto ao combate
da dupla contagem de crédito de carbono, e essa brecha causa insegurança
quanto aos investidores, cujo o parâmetro de retirada deixou a possibilidade de
revendas sem que se saiba quantos contratos podem ser duplicados e
triplicados devido a falha em transparência, segurança jurídica e credibilidade
desse mercado.
No mesmo sentido é a justificativa do PL 412/2022 que dispõe que
inúmeros estados federativos disponibilizam de regulações próprias sobre o
controle do mercado de crédito de carbono. Contato, ainda falta uma regulação
nacional que esteja em acordo com os pactos dos quais o Brasil é signatário,
como, a saber, o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris, com o intuito de
regulamentar o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões, com o propósito
de potencializar as possíveis transações com ativos de carbono, vez que
decorre desta regulação a efetividade e segurança jurídica das operações
comerciais derivadas deste novo mercado.
A considerar o parâmetro da Gold Standard Registry (2015) a
contabilização passa por rastreamento da propriedade e a aposentadoria que
estão utilizando dessa certificadora, vez que evita salvaguardar as atividades
de varejistas e os projetos de leis analisados justamente consideram
necessária a rastreabilidade, confiança, credibilidade, segurança jurídica com
implementação de leis que possibilitem aplicação de rastreamento com
tecnologia blockchain e DLT (Distributed Ledger Technology ou tecnologia de
ledger distribuído).  Mesmo a Gold Standard Registry declara que não faz
controle dos créditos vendidos por terceiros.
Portanto, por mais que tenha ocorrido um esforço nos últimos anos a fim
de conciliar a tecnologia a fim de regular o mercado de crédito de carbono, a
85

segurança jurídica no que se refere a dupla contagem ainda parece prevalecer


no campo das negociações, isto porque os PL’s 2.148/2015, 528/2021 e o
412/2022 e ainda a ABNT PR 2060 mencionam o problema, mas não
direcionam uma solução em seu texto capacitada em ser plausível e eficiente
para sanar a sequela em questão e pôr fim a demanda.

3.3 A RECEPÇÃO DA TOKENIZAÇÃO NO FUTURO DO POTENCIAL


MERCADO REGULADO DE CARBONO BRASILEIRO

Embora haja literatura sobre a aplicação de blockchain a tecnologia para


selecionar aspectos do Acordo de Paris, especialmente para questões sob o
Artigo 6 (e, quando relevante, Artigos 4 e 13), se faz necessário esclarecer a
correlação do blockchain com a questão da tokenização e do rastreamento do
crédito de carbono. Por meio da aplicação da blockchain, a contagem dupla (e
preocupações semelhantes) pode ser mitigada ao mesmo tempo em que torna
os relatórios, o rastreamento e o gerenciamento dos ajustes correspondentes
eficientes.
A tecnologia do blockchain permite a contabilização de contribuições
determinadas nacionalmente (NDCs) e aumenta a transparência na
implementação do Acordo de Paris. Por sua vez, depende de um arranjo
institucional cuidadoso e regulatório claro, objetivo e eficiente para ofertar
segurança jurídica e tecnológica para o mercado de carbono. A hipótese
apresentada estabelece os requisitos para um sistema blockchain (ou um
conjunto de blockchain) sob o Artigo 6, a fim de ofertar segurança jurídica para
os aspectos que envolve a comercialização dos créditos de carbono.
A título de referência no mercado voluntário, a contabilização do crédito
em um padrão internacional Verra 46, passa pela sua certificação, escolhendo a

46
“A Verra é uma organização sem fins lucrativos que opera o principal programa de crédito de
carbono do mundo, o Programa Verified Carbon Standard (VCS), bem como outros padrões
socioambientais. A Verra está empenhada em ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito
estufa, melhorar os meios de vida e proteger os recursos naturais trabalhando com os setores
público e privado. Apoiamos a ação climática e o desenvolvimento sustentável com padrões,
ferramentas e programas que avaliam de forma confiável, transparente e robusta os impactos
86

metodologia aprovada pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (Clean


Development Mechanism) das Nações Unidas (CDM), com a abertura de uma
conta em um registro VCS (Verified Carbon Standard) que é monitorado por
reduções contabilizadas em um relatório da VVB (Validation/Verification Body).
Cada registro é rastreado com tecnologia inovadora, desde sua origem e,
mesmo a totalidade do seu processo de existência na base de dados VCS.
Os coordenadores ou dirigentes dos projetos que envolvem a redução
das emissões de GEE’s, podem comercializar, guardar, ou até aposentar os
VCU`s (Verified Carbon Units/Unidades de Carbono Certificadas), já que toda
base de dados ofertará um histórico completo de registro permanente de cada
VCU. Está métrica de regulação foi criada em 2005 pelo Grupo do Clima da
Associação Comercial Internacional de Emissões, o Fórum Econômico Mundial
e o Conselho Mundial de Empresas para o Desenvolvimento Sustentável, o
VCS (Padrão de Carbono Certificado), sendo o mesmo apontado como o
melhor padrão de certificação e contabilização de carbono no mundo.

O VCS revolucionou o mercado, criando ferramentas confiáveis


e inovadoras, e constituindo uma iniciativa pioneira na criação
de métodos padronizados que uniformizarão o processo de
aprovação de projetos, reduzindo os custos de operação e
aumentarão a transparência. Em todo o mundo, os projetos
que usaram o Padrão VCS emitiram mais de 100 milhões de
créditos. (VCS, 2013, p. 02).

De acordo com Schneider (2018) a própria tecnologia blockchain tem


suas limitações. A tecnologia (DLT) para selecionar aspectos do Acordo de
Paris (PA, ou Acordo), especialmente para questões sob o Artigo 6 (e, quando
relevante, Artigos 4 e 13). Alguns limites ao blockchain são impostos pela
própria tecnologia. As mais importantes, no entanto, decorrem do contexto em
que ela poderia ser empregada. O blockchain não pode substituir as
negociações de Sujeitos Soberanos (na linguagem das Nações Unidas Partes),
que determinam a configuração de um sistema ao qual a blockchain DLT, seja
uma blockchain de um conjunto de blockchain.

climáticos, ambientais e sociais e permitem o financiamento para sustentar e ampliar o impacto


de projetos que forneçam esses benefícios de forma verificável”. VERIFIED CARBON
STANDARD (VCS). O Ciclo de Projeto do VCS: Passo a Passo. Washington, 2023. Disponível
em: <https://verra.org/wp-content/uploads/2016/05/FactSheet-PROJECT-CYCLE-2013-
FINAL_Portugese_0.pdf >. Acesso em 30/07/2023. (=VCS, 2013, p. 03).
87

O que se vê que as cúpulas climáticas subsequentes ao Acordo de Paris


não mencionam blockchain nas decisões, nem mesmo na conferência do clima
realizada em Katowice em 2018, ou seja, a interação específica entre o Artigo 6
e os livros-razão distribuídos permanece inexplorada.

Utilizando-se de uma abordagem analítica sobre o assunto,


Michèle Finck sintetiza (...) “Código como Lei” significa dizer,
conjuntamente a Lessig, que os algoritmos podem ser tão
normativos quanto o ordenamento jurídico: afinal, o código são
comandos impostos aos partícipes da rede, pressupondo
decisões, as quais são feitas com base na escolha de
determinados valores. “Lei compelindo o Código” nos recorda
que não apenas de forças de mercado ou de exigências sociais
é forjado um código: os desenvolvedores tendem a observar a
regulamentação jurídica aplicável. Exemplo dessa dinâmica é a
Lei Geral de Proteção de Dados europeia (GDPR), que
basicamente estabelece regras e restrições à codificação de
softwares para fins de preservação aos dados pessoais dos
usuários. (Undre, 2020, p. 116).

Neste sentido, as leis gerais de proteção aos dados têm a função de


proteger dados em um ambiente virtual cada vez mais interconectado, vez que
promove o reforço para a possibilidade de controle do mercado de crédito de
carbono através de algoritmos a possibilidade de controle, que pode ser tão
regulatório na visão de Finck quanto a formulação normativa.
De acordo com Uhdre (2020) as operações com utilização de tokens e
criptoativos são as mesmas que as tradicionais, sendo que o mesmo do
mesmo tornaria desnecessário regulamentar se existem instrumentos
normativos para o fato, só muda a forma e onde estes fatos ocorrem. Por
exemplo, um crédito de carbono já existe desde Kyoto e a Eco 92 que
estabeleceram estes créditos, portanto não é novo o crédito de carbono, mas
sim a forma de utilizar a tokenização para dar a segurança para mercado de
carbono.
Para Uhdre (2020) a tecnologia é capacitada em demonstrar-se como
uma ferramenta útil para implementação de regulamentos e políticas
governamentais. Para Uhdre, uma ferramenta interessante é o que se chama
de RegTech, que esse configura como um modelo de empresa voltado para o
controle e para o processo regulatório que melhora na medida que se
implementa a tecnologia da informação e, torna-o mais digital. Por isso,
estabelecer diretrizes claras no Estado de Direito cria uma ‘segurança jurídica’
88

que motiva as pesquisas e projetos tecnológicos em blockchains. Além disso,


uma chancela estatal desse tipo facilita a peculiar aceitação social em larga
escala das inovações.
A tokenização como instrumento parar gerar tokens através de
blockchain, vantagem de token porque torna rastreável e a tokenização, já há
regulações das criptomoedas. Isto permite tokenizar o crédito de carbono e
logo o processo de rastreamento da tokenização, sendo de fato um instrumento
tecnológico que vai atender as premissas do mercado regulado brasileiro, que
está proposto nos PL`s a fim de buscar impedir a dupla contagem. Porém,
como já apontado, a uma ausência de clareza, objetividade e busca pela
eficiência que são diretrizes das políticas internacionais de regulação dos
créditos de carbono.
A CVM em ofício circular n. 04/2023 considerou o uso da tecnologia DLT
e tokens incluindo como valor mobiliário nas ofertas públicas de títulos de
natureza de direito intangível como é o caso de tokens de crédito de carbono,
mas que estão submetidos a demais regulações internas e federativas (CVM,
2023, p. 9):

Nesse sentido, a utilização de DLT (Distributed Ledger


Technology), ou qualquer outra tecnologia na emissão, não
descaracteriza a natureza do título enquanto valor mobiliário.
Ademais, a caracterização de determinado ativo como valor
mobiliário independe de manifestação prévia da CVM.
Portanto, os agentes privados devem sempre avaliar se a
regulação do mercado de capitais é aplicável aos produtos
distribuídos. 6. Caso os tokens se caracterizem como valores
mobiliários, as normas sobre registro de emissores e de ofertas
públicas devem ser respeitadas, bem como as disposições
sobre intermediação, escrituração, custódia, depósito
centralizado, registro, compensação, liquidação e
administração de mercado organizado para negociação de
valores mobiliários.

A tokenização foi implementada por razões como em especial dar liquidez


e resolver o problema da intangibilidade, em que ocorre a associação do ativo
intangível como uma causa direta ou indireta da possibilidade ou margem para
ocorrência de dupla contagem. Logo, ela se configura como meio de alcançar o
instrumento de mitigação da dupla contagem, no qual a tecnologia blockchain
volta-se para o fomento da segurança jurídica. A segurança jurídica para
aquisição dos créditos de carbono desempenha um papel importante nos
89

mercados de carbono, em vista de ser fundamental para garantir a


confiabilidade dos contratos, a proteção dos direitos de propriedade e a
estabilidade das regras que regem a operação desses mercados. Quando se
atinge o patamar da segurança jurídica emerge um ambiente confiável para os
participantes negociarem e investirem em projetos de redução de emissões.
Por isso, para o Global Carbon Coucil (=GCC, 2022)47 afirma-se que a
segurança jurídica é um elemento-chave para o bom funcionamento dos
mercados de carbono, e fornece um arcabouço legal e regulatório estável a fim
de promover a confiança, a previsibilidade e a eficácia das ações de mitigação
das mudanças climáticas. O valor de segurança para mercado de crédito de
carbono consiste em garantir a previsibilidade pela determinação legal dos
elementos da obrigação do crédito existir desde sua formação através de
certificações internacionais, passando por sua constituição que foi amplamente
tratada na natureza jurídica do crédito no item anterior, sendo que se busca
segurança negocial e rastreabilidade do crédito de carbono para que este seja
infungível, único.
O mercado de crédito de carbono na hipótese de obter segurança jurídica
através de norma ou regulação é medida para que haja segurança negocial,
enfrentamento à dupla contagem de crédito de carbono dentre outros objetivos,
para “assegurar a credibilidade e segurança das transações com estes ativos,
servindo, também, como ferramenta para contabilidade nacional das
transações nacionais e internacionais com créditos de carbono originados no
país” (art. 5. PL 528/2021, p. 15).
Com análise dos PL`s a conclusão de que há preocupação em evitar
fraudes e a regulação prevê criação de um sistema de registro eletrônico
centralizado, potencialmente capacitado em contabilizar e rastrear a origem do
crédito e sua trajetória monetizada. Que no PL 528/2021 há expressamente a
preocupação com a dupla contagem e claramente incorrem na declaração que
faltam mais estudos. Mas, na justificativa do PL 412/2022 há expressa iniciativa

47
Global Carbon Coucil (GCC). Standart on Avoidance on Double Counting. V. 1.0, 2022.
Disponível em: < https://www.globalcarboncouncil.com/wp-content/uploads/2022/03/Standard-
on-Avoidance-of-Double-Counting-V1.pdf>. Acesso em 01/08/2023. (=GCC, 2022).
90

de usar a blockchain pelo seu potencial em rastreabilidade e segurança, como


alternativas justas para evitar a dupla contagem de carbono.
Desta forma, no GCC (2022) a utilização do blockchain e tokenização de
ativos é conclusão que se chega para rastrear os créditos inclusive de forma
descentralizada, em razão da blockchain ocorrer entre os pares. O mercado
regulado de carbono considerou apenas um sistema eletrônico para controle e
não definiu de forma clara qual seria esse sistema, quem o gerenciaria ou
ainda quais instrumentos estariam dispostos nele. Baseado na pesquisa
apresentada a tecnologia DLT blockchain supre o rastreio do crédito de
carbono de forma imutável.
De acordo com Pellini (2019) o crédito de carbono se utilizado através
de aplicação de tecnologias e inovação com uso de tokenização em registrados
em blockchain evitam contagem dupla, fraudes e aumentam a segurança para
esse mercado que possui uma problemática quanto a sua forma metodologia
eis que seus pares são internacionais e cada um possui uma estrutura de
contabilidade.
Os elementos de contabilidade unitária seriam necessários para
alcançar diferentes níveis de confiança no uso de unidades baseadas no
mercado internacional como contribuições para o cumprimento das metas e o
uso de tecnologia faria a rastreabilidade para que as emissões sejam
transparentes na implementação do Acordo de Paris.
Por meio da aplicação da tecnologia de contabilidade distribuída na
blockchain, a contagem dupla (e preocupações semelhantes) podem ser
mitigadas, ao mesmo tempo em que torna os relatórios, o rastreamento e o
gerenciamento dos ajustes correspondentes eficientes. Ou seja, dentro da 4
revolução industrial na era digital se tem a inovação da tecnologia para ao
contrário do que ocorreu nas revoluções anteriores achar alternativa ao
problema da crise climática mundial, sendo o uso de tecnologia que soluciona o
que as outras revoluções industriais ocasionaram (Klaus Schwab, 2019).
91

CONCLUSÃO

As mudanças climáticas ou aquecimento global gerados pela ação


antropogênica foram temas de incessantes debates promovidos pela
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC).
Estes debates promoveram forte influência no Brasil para a criação de uma
Política Nacional sobre a Mudança do Clima (PNMC), sendo uma das
consequências desta política a necessidade de criar mecanismos para o
desenvolvimento limpo do Planeta.
O Mercado de Crédito de Carbono é regulado de forma internacional
pelos pactos e, ou tratados decorrentes das discussões das COP’s, que são
Conferência das Nações Unidas com o enfoque em debater as Mudanças
Climáticas, sendo nos últimos anos o foco da preocupação a mitigação dos
GEE’s da atmosfera.
Uma saída encontrada para redução GEE’s, foi o mercado de crédito de
carbono: um crédito de carbono consiste na captura de 1 tonelada de carbono
que deixou de ser emitido na atmosfera, isto é, o sequestro do carbono. Estes
créditos de carbono, por sua vez, podem ser comercializados no balcão ou
bolsa de valores entre as partes (países signatários da UNFCCC) para
alcançar as metas de mitigação. Desta forma, aponta-se para a hipótese de
que esta seria uma estratégia inteligente e dinâmica para contemplar com
valores consideráveis aqueles países que garantem um meio ambiente limpo e
sustentável, através do controle e redução dos GEE’s na atmosfera do planeta.
Logo, o mecanismo para o desenvolvimento limpo do planeta, tem como
enfoque atingir as metas climáticas e a necessidade de reduzir as emissões de
gases poluentes na atmosfera. Mas, o problema que circunda tal estratégia é o
fato de que o mercado de crédito de carbono tem encontrado dificuldades
regulatórias, devido à ausência de segurança jurídica para o processo de
comércio dos créditos, vez que por vezes no processo de negociação o crédito
de carbono ele pode ser duplicado ilegalmente: dois países podem emitir
certificação do mesmo crédito, ou seja, para a mesma redução de emissão; um
país pode vender o mesmo crédito mais de uma vez no setor privado, já que os
órgão de certificação carecem de controle tecnológico e normativo; ou mesmo
uma empresa pode lançar redução enquanto que toda cadeira produtiva,
92

indústria, fornecedor e consumidor também fazem uso da mesma redução,


nesse sentido, a dupla contagem pode ocorrer por emissão, reinvindicação ou
ainda uso duplo.
Mas, a inflamada celeuma é derivada pelo fato inclusive de existir
confusão quanto a natureza do crédito de carbono: ele passou a ser qualificado
como um título de direito tangível e até mesmo um valor mobiliário pela CVM e
com regulações internas tramitando para acompanhar o desenvolvimento do
mercado internacional e dar a segurança jurídica que se espera para evitar que
ocorram duplas contagens de créditos de carbono e fortalecer o mercado
quanto a possibilidade de projetos certificados por padrões internacionais.
Contudo, após plausíveis investigações analíticas conclui-se que mesmo
quando classificado como valor imobiliário ele precisa de outras
regulamentações e o RVE`s (Redução Verificada de Emissões) que classifica
sua natureza como instrumento intangível negociável, ou ainda ativo intangível,
isto porque, apesar de poder ser comercializado refere-se a um ativo
financeiro, que não possui uma forma física tangível, mas que pode ser
comprado, vendido ou negociado no mercado.
Por isso, com o foco em resolver os problemas decorrentes da dupla
contagem de carbono, foram propostos os projetos de leis 2.148/2015,
290/2020, 528/2021 e 412/2022 todos ligados a implementação de regras
sobre as metas para a diminuição das emissões de GEE`s, com incentivos
fiscais para baixo carbono, geração de fontes de energia alternativas e
regulação para o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE). Para a
dissertação o conteúdo mais relevante são os PL 528/2021 em tramite e, o PL
412/2022: este último, traz em seu escopo a questão da tokenização e do uso
da tecnologia blockchain, o que parece complementar ao PL anterior.
O PL 528/2021 desde sua justificativa preocupou-se em alertar que são
necessários mais estudos, para evitar a dupla contagem de carbono. Inerente
ao conteúdo deste PL se reconhece que a dupla contagem é problemática e
ocasiona problemas de adesão ao mercado de crédito de carbono, vez que
gera insegurança jurídica e ausência de efetividade objetiva nas negociações.
O PL 412 traz a saída e talvez uma possibilidade de resposta para o problema
da dupla contagem de crédito de carbono: a tokenização e a tecnologia DLT -
blockchain.
93

Neste sentido, vincular o crédito de carbono a tokenização de ativos e a


tecnologia blockchain garante o rastreamento digital e responde diretamente
para problema de pesquisa quanto a dupla contagem. Os créditos possuem
números rastreáveis, são cadastrados na rede e são imutáveis, o que dá
transparência e evita que o mesmo ativo seja compensado duas vezes. Mas,
nem toda resposta é totalitária e percebeu-se ao longo dos estudos que mesmo
diante da possibilidade do rastreamento desde a origem, o que pode favorecer
inclusive auditorias das operações que envolvem os créditos de carbono, seria
necessário investigações mais aprofundadas sobre a segurança tecnológica
destes instrumentos inovadores.
Por isso, está investigação não se encerra, mas abre campo para
ampliar o debate sobre a segurança tecnológica que aqui não foi enfoque
principal da investigação. Apesar desta suspeita sobre a insegurança
tecnológica, inúmeros são os casos de países (Suiça, França, Holanda, entre
outros) que tem usado esta tecnologia como instrumento de controle das
negociações, no processo de tokenização dos créditos de carbono, e tem-se
verificado grande sucesso nos relatos das atividades dos mesmos.
Por fim, indiferente das suspeitas, neste ínterim a tokenização e a
tecnologia DLT - blockchain auxiliar na busca por regular de um modo inovador
e tecnológico, vez que cria um rastro de logaritmos rastreáveis e por isso é
fonte para até mesmo auditar os caminhos das operações comerciais dos
créditos de carbono. Logo, estas tecnologias são capazes salvaguardar o
planeta, com o enfoque em estimular a adesão ao mercado de crédito de
carbono, mitigando assim o processo de emissão de GEE’s na atmosfera e
preservando a vida.
94

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