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CASCAVEL
2023
DAIANE CRISTINA BERTOL
CASCAVEL
2023
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Orientador: XXX.
Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário
Univel, Programa de Pós-Graduação em Direito, ano.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Professor Orientador Julio Cesar Garcia.
UNIVEL
_____________________________________
Professor Doutor Alexandre Barbosa da Silva
UNIVEL
_____________________________________
Professor Doutor XXXXXXX
Instituição
A dissertação tem como tema a análise das condições que envolvem o mercado
regulado de crédito de carbono e como consequência investigar a questão da dupla
contagem de carbono. A metodologia utilizada para a elaboração deste estudo será
a pesquisa bibliográfica pelo método dedutivo, amparada também em estudo de
documentos jurídicos e doutrinas. Neste sentido, a problemática enfrentada é que
do mercado de crédito de carbono emerge a questão da dupla contagem, que
inclusive tem sido exaustivamente debatida internacionalmente pelos organismos
da ONU (Organização das Nações Unidas). Inicialmente, a investigação buscou
compreender as mudanças climáticas e definir o que são créditos de carbono e
estabelecer o problema da dupla contagem. Num segundo momento, procurou
compreender a regulação em âmbito nacional, a natureza jurídica dos créditos de
carbono e a segurança jurídica alicerçada em princípios para regulamentar o
mercado de tais ativos intangíveis. Por fim, a análise investigou na área de
inovações tecnológicas, o modo como as novas tecnologias dos tokens e
blockchains podem corroborar para o controle, mensuração e verificação dos
processos comerciais que envolvem o crédito de carbono, para contribuir para a
segurança jurídica e mitigação da dupla contagem. Afinal, a problemática é latente,
vez que ao ocorrer uma dupla contagem o mercado de carbono torna instável e, os
negociadores não sentem-se motivados a participar deste mercado, já que não
verificam estabilidade e ou segurança jurídica necessária para o processo;
sobretudo, se o crédito de carbono e sua comercialização tem como intuito
amenizar as mudanças climáticas, a ausência de regulamentação que conceda
segurança jurídica, acaba acarretando como consequência riscos severos a
manutenção da vida. Afinal, o que está em jogo não é apenas os ganhos ou perdas
financeiras, mas a capacidade do país em cumprir com sua parte perante o desafio
das reduções impostas para o combate da emergência climática.
The dissertation has as its theme the analysis of the conditions that involve the
regulated carbon credit market and, as a consequence, investigate the issue of
carbon double counting. The methodology used for the elaboration of this study will
be the bibliographical research by the deductive method, supported also in the
study of legal documents and doctrines. In this sense, the problem faced is that the
issue of double counting emerges from the carbon credit market, which has even
been exhaustively debated internationally by UN bodies (United Nations). Initially,
the investigation sought to understand climate change and define what carbon
credits are and establish the problem of double counting. Secondly, it sought to
understand regulation at the national level, the legal nature of carbon credits and
the legal certainty based on principles to regulate the market for such intangible
assets. Finally, the analysis investigated in the area of technological innovations,
how the new technologies of tokens and blockchains can corroborate for the
control, measurement and verification of the commercial processes that involve the
carbon credit, to contribute to the legal security and mitigation of the double count.
After all, the problem is latent, since when double counting occurs, the carbon
market becomes unstable and negotiators do not feel motivated to participate in this
market, since they do not verify the stability and/or legal certainty necessary for the
process; above all, if the carbon credit and its commercialization are intended to
mitigate climate change, the absence of regulation that grants legal certainty, ends
up causing severe risks to the maintenance of life. After all, what is at stake is not
just financial gains or losses, but the country's ability to fulfill its part in the face of
the challenge of the reductions imposed to combat the climate emergency.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................13
CONCLUSÕES.......................................................................................................87
REFERÊNCIAS......................................................................................................90
13
INTRODUÇÃO
1
O processo de aquecimento consiste na liberação de carbono na atmosfera, que só pode ser
reduzido ou neutralizado através da captura do carbono na atmosfera. Logo, para cada tonelada
de sequestro de carbono da atmosfera, gera-se um crédito de carbono: atualmente, este crédito é
comercializado em um mercado de carbono, o qual ainda conta com uma regulação insipiente e
frágil.
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2
A COP (Conference of the Parties) é um órgão das ONU (Organização das Nações Unidas) que
realiza a Conferência do Clima deste 1992, a fim de pensar soluções para o aquecimento global.
The Nature Conservancy (TNC). COP27 termina com acordo histórico para perdas e danos, 21 de
nov. 2022. Disponível em: < https://www.tnc.org.br/conecte-se/comunicacao/noticias/cop27-final-
acordo-perdas-e-danos/?
utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=search&utm_term=grants&gclid=Cj0KCQj
wwISlBhD6ARIsAESAmp69JY64er12MEeVS6t4T9q-zHMAs6TdSAyM2B4h1p7Rei-
uL25EhQcaAudPEALw_wcB> . Acesso em: 02/07/2022.
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3
IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima). Summary for Policymakers. In:
Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth
Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. (Masson-Delmotte, V., P.
Zhai, A. Pirani Et al.). Cambridge University Press. In Press. 2021. Disponível em : <
https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/>. Acesso em 01/07/2023.
20
combustão de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural, que são
os motores que ao serem alterados pela ação do homem tornam-se fonte das
mudanças no clima. Estes fatores estão ainda, vinculados com a radiação solar, a
atividade vulcânica, ciclos orbitais nos ciclos biogeoquímicos globais.
Portanto, estudiosos como Crutzen e Stoermer (2000) consideram que a
segunda metade do século XIII ou o momento do apogeu da Revolução Industrial,
é potencialmente o âmbito histórico no qual pode-se notar o efeito da ação
humana de uma forma catastrófica, para o aumento das temperaturas através da
emissão de GEE’s, sobretudo de CO2 e CH4. Estes efeitos da ação humana são
chamados de antropoceno.
Neste sentido, Paul Crutzen e Stoermer (2000) consideram que a Terra
havia saído do chamado “Holoceno” e entrado em uma nova época geológica, o
“Antropoceno”, impulsionada pelo impacto das atividades humanas no Sistema
Terrestre no período da Revolução Industrial. Por isso, sugere-se a data de auge
do Antropoceno seria o final do século XVIII, gerando um pacificado senso
científico sobre a matéria.
Assim, em concordância direta a hipótese de Crutzen (2002) Azevedo
(2018) vislumbra que as mudanças ambientais e climáticas globais ocorridas a
partir da Revolução Industrial se acirram e fomentam por meio das alterações na
forma de produção e consumo de energia, a degradação dos ecossistemas como
um todo.
Por sua vez, o uso de fontes de energias fósseis foi determinante para o
impacto ambiental na econômica industrial. A queima de combustíveis fósseis,
levou à liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases
de efeito estufa (GEE’s) na atmosfera, o que é reconhecido como uma das
causas (talvez a maior) da crise climática atual.
Apesar de tantos dados científicos disponíveis sobre este tema, Noam
Chomsky e Robert Pollin (2020), destacam a dificuldade enfrentada mediante ao
negacionismo climático sobre a responsabilidade humana pelas transformações
ecológicas e do clima no planeta. O negacionismo climático é muito forte nos
Estados Unidos da América, que deve-se de forma indubitável a indústria da
propaganda de massas, que é impulsionada em defender amplamente o uso dos
combustíveis fósseis como fonte energética, vez que propagam falácias sobre a
22
4
Um outro efeito catastrófico é o impacto de tal mudança climática na alimentação, em que a
análise de Bauman (2009) é corroborada com o pensamento de Mike Hoffmann (2022) na qual
aponta que o cardápio alimentar também sobre derradeiras alterações devido os impactos das
mudanças climáticas no planeta, em que o teor proteico e nutricional dos alimentos incluindo os
sabores veem sofrendo os efeitos de tais alterações. Diante de tais condições, Nelles e Serrer
(2020) consideram que esta condição é geradora de outra crise sem precedentes: a da
insegurança alimentar que tornou-se atualmente um problema de saúde pública. (GASPARINI,
2022)
5
É importante destacar que embora tenha sido Hansen (1988) quem disse publicamente os
termos que hoje se conhece com base na realidade, inúmeros outros pesquisadores já
apresentavam preocupações e criavam estudos sobre a possibilidade de a emissão de gases
causarem danos irreversíveis para o planeta.
23
7
UNFCCC, 2020. Disponível em:
https://www4.unfccc.int/sites/ndcstaging/PublishedDocuments/Brazil%20First/Brazil%20First
%20NDC%20(Updated%20submission).pdf. Acesso em 2/07/2023.
25
8
Relatório da Delegação do Brasil à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano — Estocolmo — 1972. Disponível em:
https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-content/uploads/sites/36/2013/12/
estocolmo_72_Volume_I.pdf> . Acesso em 02 de julho de 2023.
26
9
PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Disponível em: <
https://pnuma.org.br/>. Acesso em 01/07/2023.
10
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992: Rio de
Janeiro). Assembleia Geral da ONU, de 22-12-89, Agenda 21 - Brasília: Câmara dos Deputados,
Coordenação de Publicações, 1995. (= Agenda 21, 1995)
27
13
Flamework Convention on Climate Change, FCCC, 2015). Disponível em:
<https://unfccc.int/resource/docs/2015/cop21/eng/l09r01.pdf>. Acesso em 01/07/2023. (= FCCC,
2015).
33
14
Como ocorre o crédito de carbono? O dióxido de carbono é o principal gás responsável pelo
aquecimento global sendo o resultado da produção e distribuição de combustíveis fósseis (gás,
petróleo e carvão) e a queima e desmatamento das florestas (NELLES e SERRER, 2020). Na
fotossíntese, ocorre um processo no qual as plantas geram sua glicose (seu alimento), as plantas
absorvem o CO2 do ar e usam a energia solar através de suas folhas para CO2 (um átomo de
carbono, dois oxigênios) e a água absorvida por suas raízes e folhas (H2O) em átomos de
carbono, hidrogênio e oxigênio. As plantas geram energia para crescer e viver. Como resultado da
fotossíntese, as plantas liberam oxigênio no ar. Além disso, plantas e algas no oceano absorvem
CO2 durante o dia e liberam oxigênio (O2). Além da liberação dos GEEs como carbono, é liberado
o metano CH4, um gás de efeito estufa 30 (trinta) vezes mais potente e destrutivo que o CO2
quando liberado na atmosfera. Nestes GEEs absorvem o calor do sol na atmosfera, levando ao
efeito estufa e aquecimento do planeta. Ou seja, quando há mais CO2 do que o normal no ar, o
calor dos raios solares é absorvido pela atmosfera, e o planeta fica mais quente. Em outras
palavras, a emissão de gases de efeito estufa e o fato do uso de combustíveis fósseis amplamente
como base energética, aquecem o planeta e conduzem à mudanças climáticas drásticas. Para um
parâmetro e compreensão a quantidade de CO2 na atmosfera atual é de 417 PPM contra uma
média histórica de 100-300 PPM (partes por milhão – medição da concentração de gás na
atmosfera) (STEFFEN, et. Al., 2015). Por isso, o crédito de carbono torna-se uma solução viável
para a redução de GEE’s.
34
15
SANTOS, Daniel; PEREIRA, Denys; VERÍSSIMO, Adalberto. O estado da Amazônia: uso da
terra. Belém, PA: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), 2013.
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gerados por outras empresas e pessoas físicas. Esses créditos, por outro por
outro lado, são verificados por terceiros. Além disso, as diretrizes
regulamentadoras presentes nos acordos internacionais como por exemplo o
Acordo de Paris são desprezados, em função de princípios regulamentadores
privados e de mercado. De acordo com a UNFCCC (2021) as diretrizes
internacionais tornaram-se ferramentas obrigatórias para nortear o comércio dos
Créditos de Carbono, sendo esta definição uma garantia a integridade climática. A
questão que emerge é problemática, já que a contagem dos Créditos de Carbono
do mercado voluntário parece padecer de critérios orientadores e os que existem
parece pouco aplicados.
Por isso, pode-se conjecturar sobre a hipótese de um problema interno na
execução do mercado de carbono associada a uma inevitável consequência
jurídica porque quando o país assume uma NDC (Contribuições Nacionalmente
Determinadas), ele concomitante adere a uma obrigação internacional de direito
público. Logo, o este país ao estabelecer diretrizes para o mercado regulador
interno seja ele voluntário ou regulado deve pautar-se nas diretrizes
internacionais: neste sentido, caso o país permita algum tipo de ilícito como, a
saber, permitir, tolerar ou provocar processos de sequestro em geração de credito
de carbono duplicados, isto poderá acarretar em consequências problemáticas
tanto para o mercado internacional, não permite a eficiência das metas do Acordo
de Paris, sendo cumprisse de uma tácita insegurança jurídica. A solução é clara
para os CEBDS (2021) as diretrizes para o Sistema Brasileiro de Comércio, o qual
estabelece que precisa ser enfrentada por meio de regulação e práticas de
controle.
Esta foi uma solução para com a finalidade de incentivar países em
procurar aderir ao protocolo de Kyoto e buscar mecanismos estratégico para a
redução das emissões de carbono e poluentes, isto é, os GEE’s. Quanto mais um
país tenta reduzir suas emissões de poluentes, mais créditos consegue gerar,
para que possa usar esses créditos como moeda de troca com outros países que
não cumprem suas metas de redução de emissões17.
17
What is the Kyoto Protocol? Disponível em: < https://unfccc.int/kyoto_protocol >. Acesso em
03/07/2023 (= UNFCCC, 2023).
40
18
É possível também que a regulamentação permita que uma parte das emissões de uma fonte
regulada seja compensada com créditos de carbono de fontes não reguladas, ou seja, com os
chamados offsets
41
19
Big Player é o nome de uma instituição financeira que compra, vende e administra ações e
outros ativos para clientes.
42
20
43
21
O que é a Dupla contagem de carbono, tema de impasse nas negociações da COP25, Instituto
de Humanas UNISINOS, 19/12/2019. Disponível em:
<https://www.ihu.unisinos.br/categorias/595282-o-que-e-a-dupla-contagem-de-carbono-tema-de-
impasse-nas-negociacoes-da-cop-25 >. Acesso em 03-07-2023. (= UNISINOS, 2019).
44
22
If you’re not thinking about the climate impacts of thawing permafrost, (here’s why) you should
be. Disponível em: < https://news.un.org/en/story/2022/01/1110722>. Acesso em 02/07/2023.
(=COP25, 2023).
46
23
Retirada de RVE: retirada permanente de circulação da RVE do mercado. A retirada de RVE é um
procedimento realizado pela entidade responsável pelo Registro, o qual impede que a RVE seja
comercializada e transferida novamente. Este procedimento ocorre quando a RVE é adquirida no
mercado e utilizada para compensar as emissões de uma determinada atividade, isto é, quando um
comprador utiliza a RVE para compensar a quantidade de gases de efeito estufa contabilizados em
CO2e. O procedimento de retirada de RVE não se aplica a casos em que a compra tem como
objetivo revenda ou investimentos. (PL, 528, 2021, art. 2).
47
24
Ministério da Tecnologia e Inovação. Mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL). 10 de agost.
2021. Disponível em: < https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/cgcl/paginas/teste2 >.
Acessado em: 07/07/2023. (=MDL, 2021).
25
O protocolo de Quioto definiu os seguintes elementos do efeito estufa: dióxido de carbono (CO2),
metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFCs), hexafluoreto de enxofre (SF6) e
perfluorcarbonos (PFCs): o MDL tem seguido a meta de reduzir principalmente tais GEE’s aqui
mencionados. Status dos projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo no Brasil. 31 de jan.
2016. (p. 01). Disponível em: < https://antigo.mctic.gov.br/mctic/export/sites/institucional/ciencia/
SEPED/clima/arquivos/status_mdl/Status-janeiro-2016.pdf >. Acessado em: 07/07/2023. (= STATUS
DOS PROJETOS DE MDL, 2016). (=MDL, 2016).
26
CPAS qualifica-se como uma pessoa coletiva de direito público. No caso dos projetos derivados
no MDL as CPAS são incorporadas nos Programas (guarda-chuva de atividades de um projeto
maior).
48
31
Aqui cabe ainda uma analogia com o código de Direito Civil (BRASIL, 2002) no qual fica expresso
literalmente que o conceito de bens: “São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da
mesma espécie, qualidade e quantidade”. Por isso, o RVE pode confundir-se como commodity,
afinal da mesma forma que ela ocorre uma série de coincidências em seus critérios como, a saber,
extração, produtividade, classificação, investimentos, padronização. Além, de ser produto que pode
assim como uma commodity ser comercializado no mercado externo, e enfrentar negociações com
agentes internacionais. IN: ARANTES-PEREIRA, Lucas; CHAGAS, Bruno Rangel. Créditos de
Carbono: Natureza Jurídica no Brasil. Revista Científica, ed. 82, vol. 01, 2016. Disponível em: <
https://semanaacademica.org.br/artigo/creditos-de-carbono-natureza-juridica-no-brasil >. Acesso
em: 10/07/2023.
51
assim classificados, que todavia não está inserida a figura da redução certificada
de emissões dos GEE`s, pela falta de uma definição legislativa dos limites do que
pode ser um valor mobiliário.
De todo modo, com base na análise da lei 6.385/76, art. 2º da lei, proferida na
doutrina de Martins (2014, p. 04) os títulos negociáveis em massa emitidos em
série por sociedades anônimas, abertas e registradas na Comissão de Valores
Mobiliários, fungíveis ou infungíveis, são produtos negociáveis em bolsas ou balcão
de valores a partir da cotação do mercado de acordo com o disposto no artigo 2 da
lei 6.385/76. Quando oferecidos publicamente, esses títulos também encontram a
possibilidade de ser adicionados a quaisquer títulos ou contratos de investimento
coletivo, os quais são ofertados publicamente e disponibilizam do direito de
participação, parceria ou remuneração, inclusive como resultado de prestação de
serviços.
Na conceituação extraída do art. 2 da lei 6.385/76, com redação alterada pela
lei 10.303/200, os RCE’s são tratados pela CVM como (CVM, 2009, p. 11):
Por sua vez, estes títulos são classificados e caracterizados por serem
utilizados como veículos de investimento de capital para geração de renda. São
títulos de comércio massificado, emitidos em lotes, os quais conferem direitos
equivalentes aos associados na compra destes, isto porque, são bens de
fungibilidade, uma vez que possuem o mesmo valor e podem ser trocados entre si.
Segundo Eizerick (et al.) RCE’s são de fato comercializados em bolsa de
valores ou fora delas, no sentido de uma negociação pública, vez que o objetivo é a
busca do mero lucro vil e puro, assertivamente se enquadra o mesmo título de
crédito como valor imobiliário. Por isso, conclui-se que falar em valor imobiliário é
uma condição que irá se desdobrar a partir das circunstâncias e da perspectiva dos
investidores e se os mesmos serão negociados em balcão ou bolsa de valore.
54
Mister se faz prosseguir no estudo da classificação das RCE’s, eis que, eles
podem ser negociados pelo direito privado, entre empresas que pertencem no
mercado voluntário de crédito de carbono, ou seja, conduzidos diretamente entre
as partes e sem oferta ou circulação dos títulos ao público em geral. Para bem
compreender tal conceituação, mostra-se oportuno revisitar as lições elementares
do direito civil. A doutrina de Maria Helena Diniz (2008, p. XX) assim estabelece:
possível de ser utilizado como sua natureza jurídica, sob a modalidade de títulos de
créditos impróprios33.
Todavia, na obra coletiva de Baptista (et al., 2020) o fato de a RCE possui
natureza jurídica de títulos de crédito, não exclui que também se possa enquadrá-
las como valores mobiliários, sob a condição de que há valores mobiliários que são
também títulos de crédito, como é o caso das ‘debêntures’.
A definição o PL 528 (2021) dispõe sobre a natureza jurídica dos créditos de
carbono incide na condição de ‘título de direito intangível’ (Grifo da autora). Esta
tese corrobora com o entendimento de que o título desta natureza pode vir a
compor o mercado de valor mobiliário, visto que auxilia na compreensão da
necessidade de segurança jurídica. O foco volta-se em fomentar melhorias
consideráveis para o ambiente de negociação dos créditos de carbono no Brasil
criando condições de segurança jurídica. Logo, no art. 3 do PL 528 (2021) traz que
ao aplicar as regras na modalidade enquadrada, incide-se em segurança negocial
adequada para este título.
O PL 412 (2022), enquadra na mesma modalidade de título de direito
intangível “Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se: I – Crédito de Carbono:
título de direito sobre bem intangível, incorpóreo, transacionável, fungível e
representativo de redução ou remoção de uma tonelada de carbono equivalente (1
tCO2e); a medida métrica utilizada”.
Para culminar, a definição mais aceita é a que insta no ICVCM 34 (2023, p. 69)
na qual o crédito de carbono é tratado como:
33
BAPTISTA, Oraide Serafim (et al. ). Tratamento Inicial dos Bens Intangíveis. (Manual). Mato
Grosso do Sul: Secretaria do Estado da Fazenda, 2020. Disponível em: <
https://www.scge.ms.gov.br/wp-content/uploads/2021/04/Manual-Bens-Intangiveis-2020.pdf >.
Acessado em: 11/07/2023.
34
The Integrity Council: for the voluntary carbon market. Princípios fundamentais do carbono, marco
e procedimento de avaliação. Março, 2023. Disponível
em:<https://icvcm.org/wp-content/uploads/2023/05/CCP-POR-Book-FINAL-270423.pdf>. Acessado
em 10/07/2023. Tradução da autora. (= ICVCM, 2023, p. 69).
56
35
“A noção de desenvolvimento sustentável, se as palavras e sua história tem algum significado, é
bastante clara. Ele convoca para o desenvolvimento baseado na sustentabilidade ecológica a fim de
atender às necessidades das pessoas que vivem hoje e no futuro. Entendido dessa forma, o
conceito fornece conteúdo e direção. Ele pode ser usado na sociedade e executado por meio de
Direito. A qualidade jurídica do conceito de desenvolvimento sustentável firma-se quando a sua
ideia central é compreendida. (BOSSELMANN, 2015, p. 08).
59
são albergados pela almejada coerência normativa por danos e segurança jurídica:
legislação e jurisdição nos contextos alemão e brasileiro.
Ao corroborar com a discussão Kässmayer e Fraxe Neto (2016, p. 37)
apontam que:
sendo que rastreabilidade do crédito de carbono para que este seja infungível e
único.
https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?
dm=9394822&ts=1688036313847&disposition=inline&_gl=1*55yjeq*_ga*MTQxNDY
yNTkzNC4xNjY5OTI0MjA5*_ga_CW3ZH25XMK*MTY5MTg1MDA0My4xMC4wLjE2
OTE4NTAwNDMuMC4wLjA. Acessado em 12.08.2023
36
A Normalização é uma atividade de interesse geral, com o objetivo de fornecer documentos de
referência, elaborados de modo consensual por todas as partes interessadas, consolidando boas
práticas, recomendações, conjunto de requisitos de serviços, produtos, métodos e processos, com
vistas a garantir evolução e inovação tecnológicas, assim como níveis de segurança e desempenho
crescentes para a sociedade. (ABNT PR 460/2022, p. 07)
37
A Prática Recomendada (ABNT PR) é um documento normativo que difere de uma Norma
Brasileira e não substitui as normas ou legislações vigentes, oferecendo orientações aos usuários
(ABNT PR 460/2022, p. 07)
68
38
“Criptoativos são ativos representados digitalmente, protegidos por criptografia, que podem
ser objeto de transações executadas e armazenadas por meio de tecnologias de registro
distribuído (Distributed Ledger Technologies – DLTs). Usualmente, os criptoativos (ou a sua
propriedade) são representados por tokens, que são títulos digitais intangíveis”. Essa definição
cumpre o fim de delinear de evitar restringir os tokens a uma definição engessada. Parecer
para orientação do CVM nº 40, de 11 de Outubro de 2022. Disponível em:
<https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/pareceres-orientacao/anexos/
Pare040.pdf >. Acessado em: 17/07/2023.
39
ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais).
Tokenização de ativos: conceitos iniciais e experimentos em curso. 2019. Disponível:
<https://www.anbima.com.br/data/files/02/30/82/CB/68001810C27A8F08882BA2A8/
Tokenizacao%20de%20ativos.pdf >. Acesso em: 17-07-2023. (=ANBIMA, 2019).
40
TAPSCOTT, Don. The Blockchain Revolution. Disponível em:
<https://www.mckinsey.com/industries/technology-media-and-telecommunications/our-
insights/how-blockchains-could-change-the-world>. Acesso em: 11-07-2023.
41
Muitas são as operações financeiras com moedas como, por exemplo, comprar, vender,
pagar, receber, transferir, economizar ou emprestar, caso usarem uma carteira ou uma conta
de corretagem. Por coincidência, o Paypal oferece as mesmas funcionalidades. (Mougayar,
2017).
71
42
NAKAMOTO, Satoshi. Bitcoin: A peer-to-peer electronic cash system. www. Bitcoin.org
Disponível em: <https://bitcoin.org/bitcoin.pdf>. Acesso em: 31/07/2023. Observação: este
artigo de Nakamoto foi publicado um ano antes do surgimento massificado dos Bitcoin e
consequentemente do Blockchain. Mas, como no próprio site em que está hospedado o
referido escrito não consta data de publicação, o mesmo irá ser citado como Nakamoto, 2023
o que segue a orientação da NBR 6023.
73
43
OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). A Caminho da
Era Digital no Brasil. Paris: OCDE, 2020. (=OCDE, 2020). Disponível em: <
https://www.oecd.org/sti/a-caminho-da-era-digital-no-brasil-45a84b29-pt.htm >. Acessado em
03/07/2023.
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44
“Nesse sentido, a utilização de DLT (Distributed Ledger Technology), ou qualquer outra
tecnologia na emissão, não descaracteriza a natureza do título enquanto valor mobiliário.
Ademais, a caracterização de determinado ativo como valor mobiliário independe de
manifestação prévia da CVM. Portanto, os agentes privados devem sempre avaliar se a
regulação do mercado de capitais é aplicável aos produtos distribuídos” (Ofício-Circular nº
4/2023/CVM/SSE).
79
45
12.187/2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC e dá outras
providências. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm>. Acessado em
30/07/2023.
80
foram emitidos por cada projeto e que foram pagos ou ainda estão disponíveis
para venda.
Contudo, o PL 528 não específica qual tecnologia será utilizada para
nortear a rastreabilidade dos dados, o que infere em uma certa fragilidade do
conteúdo regulatório infra indicado. Logo, suspeita-se que ignorou a tecnologia
de tokenização e de blockchain que são inovações disruptivas no processo de
contabilização e fiscalização do mercado de carbono e de outros bens
intangíveis.
Apesar do PL 528/2021 prever em seu artigo 4 parágrafo primeiro que o
Mercado Brasileiro de Redução de Emissões deve obedecer o que dispõe a lei
e que seguirá as normativas da Associação de Normas Técnicas Brasileiras-
ABNT, vez que deve prevalecer o que diz a lei, a própria lei é vaga no sentido
da dupla contagem. Pois, a ABNT PR 2060 inclui metodologias que seguem as
regulações interacionais de contagem como, a saber, o protocolo de Kyoto e o
Acordo de Paris, mas apesar de definir o que é dupla contagem, não indica
soluções ou mecanismos tecnológicos para mitigar ou evitar tal condição no
Mercado de Carbono.
O PL 528/2021 ainda considera na parte da exposição dos motivos que
o Brasil é uma potência mundial no que se refere a necessidade de redução
dos GEE’s no Planeta e, por isso necessariamente precisa ter um mercado
motivado e estimulado inclusive pela normatização para que os ativos
ambientais gerados sejam amplamente recepcionados no mercado de créditos
de carbono. A ausência de regulação no Brasil, acaba negando a capacidade
de comércio de tais ativos ambientais, o que gera certa negligencia a
capacidade brasileira e ignorara o que consta na CF, no que se refere ao
desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Neste sentido, o PL 528 (2021, p. 14) ainda prevê em seu XII parágrafo
a necessidade de transparência nos acordos com o foco de manter a
integridade ambiental e consenso sobre padrões de mercado para créditos de
carbono. Além disso, os créditos de carbono independentes, nacionais e
subnacionais, apresentam o desafio de garantir a consistência através de
vários mecanismos, tendo em vista que cada crédito gerado representa uma
tonelada de CO2 reduzido. Além disso, para evitar a dupla contagem, que é
essencial para a garantia dos sistemas de reduções, é necessária uma
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“A Verra é uma organização sem fins lucrativos que opera o principal programa de crédito de
carbono do mundo, o Programa Verified Carbon Standard (VCS), bem como outros padrões
socioambientais. A Verra está empenhada em ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito
estufa, melhorar os meios de vida e proteger os recursos naturais trabalhando com os setores
público e privado. Apoiamos a ação climática e o desenvolvimento sustentável com padrões,
ferramentas e programas que avaliam de forma confiável, transparente e robusta os impactos
86
47
Global Carbon Coucil (GCC). Standart on Avoidance on Double Counting. V. 1.0, 2022.
Disponível em: < https://www.globalcarboncouncil.com/wp-content/uploads/2022/03/Standard-
on-Avoidance-of-Double-Counting-V1.pdf>. Acesso em 01/08/2023. (=GCC, 2022).
90
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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causa aquecimento global. Opera Mundi, 2022. Disponível em:
https://operamundi.uol.com.br/hoje-na-historia/35760/hoje-na-historia-1988-
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– PNMC e dá outras providências. Disponível em:
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If you’re not thinking about the climate impacts of thawing permafrost, (here’s
why) you should be. Disponível em: <
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climático do mundo. 2021. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/156377-
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World Bank, 2020. Faltou Site
The World Bank. State and trends of carbon pricing 2020. Washington: The
World Bank, 2020.
https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?
dm=9394822&ts=1688036313847&disposition=inline&_gl=1*55yjeq*_ga*MTQx
NDYyNTkzNC4xNjY5OTI0MjA5*_ga_CW3ZH25XMK*MTY5MTg1MDA0My4xM
C4wLjE2OTE4NTAwNDMuMC4wLjA. Acessado em 12.08.2023