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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

Gestão de resíduos sólidos secos: um olhar para a responsabilidade dos


produtores e distribuidores no ciclo de vida dos produtos e embalagens

AUP 280 - ORGANIZAÇÃO URBANA E PLANEJAMENTO

Profa. Dra. Karina Leitão

Ana C. F. Franchini Nº USP 8961758

Camila A. Ferrara Nº USP 8960980

Ilana Mallak Nº USP 8961000

Letícia Jesus Nº USP 8960674

Lígia G. Paschoal Nº USP 4423506

Paula B. Gerencer Nº USP 6477855

São Paulo

2016
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................2
2. OBJETIVO................................................................................................................3
3. METODOLOGIA.....................................................................................................4
4. LEVANTAMENTO DAS POLÍTICAS EXISTENTES........................................5
4.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos...............................................................5
4.2 Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Cidade de São Paulo.....6
4.3 Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis..................................7
4.4 Embalagem e Sustentabilidade: Desafios e Orientações no Contexto da
Economia Circular....................................................................................................8
4.5 PNRS e o Acordo Setorial de Embalagens: Perguntas e Respostas................9
5. RELATÓRIO DE VISITA A PONTOS DE ENTREGA VOLUNTÁRIA..........11
6. RELATÓRIO DE VISITA AO COMPLEXO INDUSTRIAL DA NATURA.....17
7. CONCLUSÃO..........................................................................................................23
8. PROPOSTAS...........................................................................................................26
9. BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................31

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1. INTRODUÇÃO
De acordo com a proposta da disciplina AUP 280 – Organização Urbana e Planejamento
de escolha de um tema ligado à estruturação da metrópole de São Paulo, o grupo optou
por analisar a questão da gestão de resíduos sólidos. A partir de uma primeira
aproximação com o tema, surgiu o desejo de compreender melhor a posição do setor
privado dentro das políticas de gestão e regulamentação de resíduos sólidos no Brasil,
especificamente na região metropolitana de São Paulo.

O recorte do tema que pareceu mais interessante foi relativo aos Resíduos Sólidos
Domiciliares Secos (RSDS) e sua logística reversa, devido ao fato de que, em geral, esses
resíduos são provenientes de embalagens de produtos pós-consumo, principalmente de
gêneros industriais alimentícios, de cosméticos e de limpeza doméstica. Dessa forma, esse
recorte permite analisar uma cadeia que passa pela produção, distribuição, consumidor e
deve ser dado o destino adequado às embalagens, viabilizado pela coleta seletiva,
cooperativas de triagem e indústria da reciclagem, como representado no esquema abaixo.

A complexidade da gestão de resíduos se dá pela quantidade de fatores envolvidos que


devem se articular em prol do mesmo objetivo, como estabelece a responsabilidade
compartilhada, princípio fundamental da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei Nº
12.305, de 2 de agosto de 2010, que será abordada no decorrer do relatório.

Esse trabalho, portanto, pretende abordar a cadeia de consumo e descarte dos produtos
que geram Resíduos Sólidos Domiciliares Secos (RSDS), a fim de compreender o papel
do setor privado e sua responsabilidade no processo.

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2. OBJETIVO
O objetivo do trabalho é entender o ciclo de vida dos produtos com maior geração de
resíduos domésticos secos (RDS), com destaque para a compreensão do papel atual dos
setores de produção e distribuição para a sustentabilidade de todo o ciclo e o cumprimento
da legislação.

A partir da análise, pretende-se propor diretrizes e instrumentos para a redução da


produção de resíduos e para tornar a cadeia da reciclagem de embalagens mais eficiente
e menos onerosa para o ambiente, para o poder público e para a população, a partir da
maior responsabilização dos setores privados que iniciam o ciclo de vida dos produtos e
de suas embalagens.

Um dos desafios para a discussão do tema foi encontrar maneiras para que a logística
reversa se dê em grande parte por obrigações legais ao setor privado, porém sem tirar o
caráter social das cooperativas de catadores de materiais recicláveis, que há tanto tempo
lutam pelo seu reconhecimento e autonomia.

Esquema elaborado para compreensão das dinâmicas envolvidas no ciclo de vida dos produtos e de suas
embalagens.

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3. METODOLOGIA
Para atingir os objetivos desejados, a primeira etapa do trabalho passa pelo levantamento
e análise da legislação e planos em vigência (PNRS, Plano estadual de SP, PGIRS da
cidade de São Paulo) e de outros relatórios, cartilhas e documentos relevantes para o
estudo.

Além disso, para uma vivência real do problema em questão e para produção de novos
conhecimentos sobre o tema, propôs-se a realização de visitas de campo investigativas,
para compreender dinâmicas existentes.

Primeiramente foram escolhidos alguns Pontos de Entrega Voluntária (PEVs),


localizados em redes de comércio varejista na cidade de São Paulo para uma visita. Outra
visita proposta foi ao complexo industrial, localizado na região metropolitana de São
Paulo, de um dos grandes produtores de cosméticos do país e que se utiliza de princípios
de sustentabilidade em sua marca, a Natura.

A partir do levantamento desses dados, o grupo optou pela elaboração de propostas de


instrumentos e programas de governo para as várias etapas do ciclo de produção e
reciclagem dos RSDS. As propostas foram elaboradas em um brainstorming coletivo,
levando em conta aspectos da legislação existente e das visitas de campo realizadas.

Material elaborado pelo grupo na fase de definição do problema aproximação com o tema.

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4. LEVANTAMENTO DAS POLÍTICAS EXISTENTES
Existem várias publicações, disponíveis online, que concernem ao tema estudado neste
trabalho, publicadas principalmente após 2010, ano em que foi aprovada a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece princípios, diretrizes e instrumentos para a
gestão de resíduos sólidos no Brasil. Serão apresentadas brevemente algumas dessas
publicações de fácil acesso que se julgou serem mais pertinentes para o desenvolvimento
desse estudo propositivo.

4.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos


A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), lei Nº 12.305 foi aprovada em agosto
de 2010, após mais de 20 anos tramitando no Congresso Nacional. Ela veio preencher
uma lacuna na legislação brasileira em um cenário em que a agenda ambiental já estava
consolidada. Seu texto é bastante atual e apresenta vários avanços em termos de justiça
socioambiental.

Dentre os pontos mais importantes instituídos pela lei, pode-se destacar a importância
dada ao planejamento no setor. Incentiva-se a elaboração de planos nas diversas escalas
do território: Plano Nacional de Resíduos Sólidos, planos estaduais, planos
microrregionais, planos de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas e planos
municipais.

Outro avanço importante é a noção de responsabilidade compartilhada, associada ao


conceito de logística reversa, que pressupõem que a responsabilidade pelos resíduos
gerados pós-consumo seja compartilhada entre o poder público, fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores e que sejam, de preferência,
reinseridos como matéria-prima reciclada no ciclo produtivo.

Os artigos 31, 32 e 33 da lei são os mais relevantes para o tema do trabalho. Eles trazem
obrigações aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes para fortalecer a
responsabilidade compartilhada. Dentre elas, pode-se destacar a obrigação de garantir que
as embalagens sejam fabricadas com materiais que propiciem a reutilização ou a
reciclagem, além de restritas em peso e volume

Outro ponto importante é o estabelecimento de que fabricantes, importadores,


distribuidores e comerciantes devem se responsabilizar pela logística reversa dos

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produtos que colocam no mercado, porém para o caso da maior parte das embalagens (é
o caso das embalagens das indústrias alimentícia e de comércio) isso deve ser implantado
através de acordos setoriais. Segundo a análise de Edson Plá Montegrosso:

“A legislação peca e/ou é omissa quando em nenhum momento, preliminarmente,


estabelece prazos, metas, índices de recolhimento de embalagens etc. na formação dos
acordos setoriais. A legislação deixa uma lacuna, a qual resulta a nossa situação atual.
Passados mais de quatro anos, a maioria dos acordos setoriais não foram ainda assinados
pela indústria e pelo governo. Numa posição passiva, o governo aguarda que os acordos
setoriais sejam propostos, cabendo às indústrias o estabelecimento de suas metas, índices
e prazos. ” (MONTEROSSO, 2016)

Além disso, a lei incentiva esses setores a atuarem em parceria com cooperativas ou outras
formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, no
estabelecimento de medidas de logística reversa.

4.2 Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Cidade de São Paulo


O Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) da Cidade de São Paulo de
2014, foi elaborado visando adequar a gestão de resíduos da metrópole paulista à PNRS.
Em seu capítulo VII.1 (pág. 89), ele aborda o tema dos Resíduos Domiciliares Secos e
sua logística reversa.

Os grandes desafios a serem superados na gestão de resíduos sólidos no município de São


Paulo, segundo o PGIRS, são a inclusão dos catadores e catadoras de material reciclável
não organizados, integrando-os aos sistemas de coleta seletiva e de logística reversa; e a
regularização dos estabelecimentos comerciais que atuam na cidade e configuram a base
da cadeia econômica da reciclagem.

Além disso, o plano aborda os estabelecimentos da PNRS e reforça que as competências


e responsabilidades ficam claras na lei, tratando do conceito de responsabilidade
compartilhada e explicitando o papel de cada setor da sociedade.

“O setor privado deve adotar mecanismos que viabilizem a coleta dos resíduos
sólidos de seus produtos, após o consumo ou o término da vida útil, restituindo-os para a
reciclagem ou o reaproveitamento no ciclo produtivo. O poder público, representado pelo
titular da prestação de serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, deve:
adotar procedimentos para o reaproveitamento os resíduos sólidos reutilizáveis e

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recicláveis oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos
sólidos; estabelecer sistema de coleta seletiva; articular com os setores econômicos e
sociais medidas para viabilizar o retorno ao ciclo produtivo dos resíduos gerados pós-
consumo, oriundos dos serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;
realizar as atividades definidas nos acordos setoriais ou termos de compromisso firmados
com o setor privado, mediante a devida remuneração pelo setor empresarial; priorizar a
organização e o funcionamento de cooperativas e associações de catadores, bem como
sua contratação; e dar disposição final ambientalmente adequada aos resíduos e rejeitos
oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos. Os
consumidores devem acondicionar de forma diferenciada e adequada os resíduos gerados,
disponibilizar adequadamente os resíduos para coleta e efetuar a devolução, aos
comerciantes e distribuidores, dos produtos e embalagens submetidos à logística reversa.
(SÃO PAULO, 2014. Pág. 101)

Além disso, as considerações de Fabricio Dorado Soler são importantes no que concerne
à implementação efetiva da logística reversa, que depende da viabilidade econômica do
processo, ele deve ser mais vantajoso que outros meios de obtenção de matéria-prima e
de disposição final.

“ Do ponto de vista econômico, é evidente que o sucesso da logística reversa,


vale dizer, o alcance dos objetivos da PNRS, pressupõe, entre outros fatores, que a
atividade de reciclagem seja mais interessante aos operadores econômicos que as
atividades alternativas, tanto a jusante dos ciclos econômicos pretéritos, é dizer, em
relação ao gerenciamento ambientalmente adequado de resíduos (a reciclagem precisa ser
menos custosa que a aterragem ou tratamento térmico de resíduos), quanto a montante
dos ciclos econômicos futuros (produzir com resíduos – matéria-prima secundária –
precisa ser menos custoso que produzir a partir de matéria-prima virgem). ” (SOLER,
2016. Pág. 33)

4.3 Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis


O Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS), lançado em 23 de
novembro de 2011, é o documento que estrutura as ações de governo, do setor produtivo
e da sociedade no sentido de tornar os padrões de produção e consumo no Brasil mais
sustentáveis. Ele busca identificar boas práticas e recomendações para adaptar, replicar e
disseminar as políticas e iniciativas existentes, bem como os desafios a serem enfrentados

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para fortalecer a implementação do Plano e avançar no objetivo maior de alcançar o
desenvolvimento sustentável no país.

“Em seu primeiro ciclo, de 2011 a 2014, o PPCS teve seus esforços focados em
seis áreas principais: Educação para o Consumo Sustentável; Varejo e Consumo
Sustentável; Aumento da reciclagem; Compras Públicas Sustentáveis; Construções
Sustentáveis; Agenda Ambiental na Administração Pública. A escolha destas áreas é
estratégica para o alcance das metas, pois, articuladas, promovem um rápido avanço em
direção a práticas mais sustentáveis de produção e consumo. Não significa que outras
práticas não possam ser contempladas, basta que estejam estruturadas e prontas para um
maior investimento. Dentro do Plano estão elencados Pactos Setoriais, Ações
Governamentais, Iniciativas Voluntárias, Ações de Parceria, e Forças-Tarefa. Estes são
os instrumentos para implementação deste novo modelo de desenvolvimento que se
propõe através do PPCS, abarcando ações públicas e privadas, individuais ou em
parceria.” (Fonte: http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/producao-e-
consumo-sustentavel/plano-nacional)

4.4 Cartilha Embalagem e Sustentabilidade: Desafios e Orientações no Contexto


da Economia Circular
Com o objetivo de apoiar o atendimento à PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos,
bem como colaborar com a discussão do papel da embalagem na economia circular, foi
lançado no dia 12 de abril de 2016 o documento “Embalagem e Sustentabilidade:
Desafios e orientações no contexto da Economia Circular”. É o primeiro projeto
decorrente da assinatura, em setembro de 2015, do Termo de Cooperação Técnico-
Científica entre a ABRE – Associação Brasileira de Embalagem e a CETESB –
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo que tem como missão a identificação e
divulgação de boas práticas ambientais para projetos de embalagens de bens não duráveis
e duráveis.

O documento traz uma análise subdividida em 3 partes: função da embalagem, otimização


da embalagem e embalagem na economia circular. Dessa forma ele consegue abordar
todas as questões sobre a embalagem e olhar para os possíveis caminhos que levam para
uma otimização de ciclo de vida dela, aprofundando sobre o papel da embalagem no
contexto da sustentabilidade. A cartilha pretende dessa forma contribuir para fomentar a

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transição dos modelos de negócios, de utilização de recursos naturais e geração de
resíduos do linear para o circular.

Ela aborda as funções da embalagem e propõe uma orientação no projeto delas de forma
a facilitar a revalorização sem deixar de atender as necessidades do presente. Nesse
projeto procura atender aos seguintes tópicos: otimização, orientação para o consumidor
(considerando que a embalagem pode ser um meio de comunicação com o consumidor)
e comunicação responsável (deixar claro ao consumidor a porcentagem de material que é
reciclável no produto, por exemplo).

Todo o ciclo que uma embalagem passa também é abordada, os recursos, além do
material, utilizados na sua fabricação e necessários para o transporte e distribuição
também entram na economia circular. A valorização dos recursos renováveis e finitos é
o primeiro passo para a construção do círculo.

Ao apresentar todas as questões da embalagem sustentável, a cartilha deixa claro o


número de participantes de todo o processo, e mostra que para a economia se torne
realmente circular, é preciso o engajamento de todos eles.

Dessa forma a publicação fortalece a implementação da PNRS, prioriza os conceitos de


não geração de resíduos, reuso e revalorização, além de alinhar a cooperação entre as
diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade
para a transição para um modelo de valorização e uso de recursos, buscando a redução de
perdas e desperdícios, e reconhecendo o resíduo sólido reutilizável e reciclável como um
bem econômico e de valor social.

4.5 PNRS e o Acordo Setorial de Embalagens: Perguntas e Respostas


Devido a compreensão da importância do acordo setorial para logística reversa de
embalagens previsto pela PNRS, buscou-se mais informações sobre o assunto. A cartilha
lançada pela ABIPLAST e SINDIPLAST, disponível em meios digitais, fornece
informações rápidas e diretas, em formato pergunta e resposta sobre esse acordo setorial,
que foi firmado entre o governo e empresas do ramo em novembro de 2015.

A cartilha é voltada para empresas, com o objetivo de fazê-las aderir ao acordo setorial
de embalagens de produtos não perigosos. O acordo setorial foi o meio previsto na PNRS
para implantar a logística reversa de embalagens pós-consumo da maioria dos produtos.

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É um ato de natureza contratual entre poder público e setores privados (fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes), que de acordo com a Lei 12.305, são
responsáveis por implementar a logística reversa de seus produtos independentemente do
sistema de limpeza público.

Caso uma empresa opte por não fazer parte do acordo setorial, ainda assim ela deve
apresentar uma proposta de logística reversa para o Ministério do Meio Ambiente. Sendo
assim, os benefícios para as empresas signatárias do acordo são a facilidade e a garantia
de cumprimento da legislação ambiental.

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5. RELATÓRIO DE VISITA A PONTOS DE ENTREGA VOLUNTÁRIA

RELATÓRIO DE VISITA – SUPERMERCADO PÃO DE AÇÚCAR


Ponto de Entrega Voluntária (PEV)

Praça Panamericana, 217 - Alto de Pinheiros Data: 11 nov. - sexta-feira


São Paulo - SP

Entendeu-se que seria interessante para o desenvolvimento da pesquisa visitar Pontos de


Entrega Voluntária (PEVs) que funcionam em centros de distribuição de produtos, como
os do Grupo Pão de Açúcar. Sendo um exemplo de iniciativas privadas que visam
melhorias na coleta seletiva e logística reversa de embalagens. Foram visitados três
estabelecimentos, que possuem esse tipo de serviço, ambos localizados na região Oeste
da cidade de São Paulo, e razoavelmente próximos um do outro.

O supermercado Pão de Açúcar da Praça


Panamericana foi o primeiro PEV pensado
para uma visita rápida, devido à
proximidade do campus Cidade
Universitária e facilidade de acesso. Porém,
durante a visita percebemos que o estado de
manutenção não era dos melhores.

Apesar de nas mesas do café do


supermercado haver marketing do programa
de reciclagem do Grupo Pão de Açúcar
(GPA) e Unilever, alguns funcionários,
quando questionados sobre o
funcionamento do PEV no estacionamento,
não foram muito solícitos e reagiram com
certa resistência às nossas perguntas.

Além disso, constatamos que na estrutura instalada, os materiais não estavam separados
de acordo com o que estava escrito e seria o mais lógico para qualquer um que quisesse
deixar seus materiais. Por exemplo, no local que orientava o depósito de óleo, estavam
entulhadas garrafas de cerveja, que não pareciam estar cheias de óleo.

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A estrutura é bem pequena, talvez em função do espaço do estacionamento, onde está
localizado o PEV também ser pequeno. E apresentava apenas 5 divisões para coleta de
materiais.

RELATÓRIO DE VISITA – SUPERMERCADO PÃO DE AÇÚCAR


Ponto de Entrega Voluntária (PEV)

R. Teodoro Sampaio, 1933 – Pinheiros Data: 11 nov. - sexta-feira


São Paulo - SP

Sem conseguir mais explicações sobre o programa de reciclagem na unidade do


supermercado da Praça Panamericana, fomos “redirecionados” para a central do
programa, localizada na R. Teodoro Sampaio, a cerca de 4 km de distância da Praça
Panamericana.

A estrutura desse PEV é visivelmente mais elaborada que a do ponto da Panamericana.


Notou-se a diferença de movimento no local: funcionários trabalhando na separação e
pessoas efetivamente levando seus resíduos sólidos ao ponto. Não tivemos dificuldade
alguma em obter as informações desejadas, as quais nos foram dadas por um funcionário
do próprio galpão de coleta (contratado da empresa Triciclos), que trabalhava no
momento em que chegamos ao local. Situado também no estacionamento do
supermercado, o galpão é de fácil acesso a pedestres, que podem acessá-lo pelos portões
de entrada a partir das ruas Fradique Coutinho e Mourato Coelho. O voluntário leva seu

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material até o local de coleta e, preferencialmente, separa-o de acordo com as categorias
especificadas pelas placas de orientação.

Nesse ponto em específico, observou-se também uma diferença significativa na


quantidade de categorias de separação dos materiais, todos muito bem sinalizados e com
orientações sobre como e onde dispor o material. Os resíduos são separados em mais de
12 categorias, diferente das categorias usuais que separam apenas plástico, metal, vidro e
papel. Nesse PEV os materiais já são separados da forma como se dá o comércio de
materiais recicláveis. A parceria com cooperativa e intermediários estava mais clara nesse
caso, como é possível observar na placa informativa do local. Vale destacar que os
cooperados não recebem nada pelo serviço, além da doação dos materiais que são
comercializados pela cooperativa e o salário de todos é proveniente apenas da venda dos
materiais.

Haviam cerca de 5 pessoas trabalhando dentro do PEV no momento da visita, a maioria


eram cooperados da COOPAMARE e um, que nos explicou o funcionamento do ponto,
era funcionário da Triciclos. Essas pessoas desempenharam funções diversas durante o
período em que permanecemos no local: orientações às pessoas que levavam os resíduos,
separação e prensa do material depositado e conscientização da população quando
questionados sobre os serviços prestados no local.

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A tentativa de compreender o papel de cada agente na iniciativa resultou no seguinte
conjunto de informações:

- O Grupo Pão de Açúcar (GPA), em parceria com a Unilever, contrata a empresa


(Triciclos), cede espaço no estacionamento e doa os resíduos para as cooperativas;

- COOPAMARE – cooperativa de triagem que faz a coleta dos materiais entregues neste
PEV;

- Empresa Triciclos – faz a intermediação entre o GPA e a COOPAMARE e promove a


estrutura da estação de triagem e PEV.

Apesar de bem sinalizado e bonito por fora, o interior do PEV, onde trabalham por volta
de 5 pessoas todos os dias, é pequeno e abafado. Dado o tamanho do estacionamento,
entende-se que haja um descaso com as pessoas que ali trabalham e uma maior
preocupação das empresas com a aparência externa e o marketing gerado pelo ponto.

A disposição interna desse Ponto de Entrega Voluntária pode ser compreendida na


imagem acima. Há inclusive uma prensa localizada no interior da estrutura e todo o
manejo dos fardos e o trabalho com os materiais após a coleta é realizado apenas do
interior dessa pequena cabine.

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RELATÓRIO DE VISITA – MERCADO QUITANDA
Ponto de Entrega Voluntária (PEV)

R. Mateus Grou, 159 – Pinheiros Data: 11 nov. - sexta-feira


São Paulo - SP

No mesmo dia, escolheu-se fazer uma última visita ao PEV do mercado Quitanda,
localizado a 500 metros do Supermercado Pão de Açúcar da rua Teodoro Sampaio.
Também situado no estacionamento da empresa - que é, no entanto, coberto - o Ecoponto
Quitanda tem uma estrutura viabilizada pela empresa Recicleiros, que destina o material
coletado à Cooperativa YouGreen. Apenas uma funcionária da cooperativa estava
encarregada a organizar os resíduos e orientar os voluntários. O movimento no local
pareceu bem inferior ao do observado no Pão de Açúcar apesar da estrutura extremamente
organizada e didática - informações sobre como identificar os tipos de plástico pela
embalagem chamaram a atenção do grupo.

O isopor, material de difícil armazenamento e reciclagem, era recebido nesse PEV. A


cooperativa YouGreen, diferentemente da COOPAMARE (cooperativa associada ao

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PEV do Pão de Açúcar) trabalha com a reciclagem desse material, que necessita técnicas
específicas para viabilizar economicamente sua reciclagem.

Em ambos os pontos de coleta visitados, a reciclagem enquanto ferramenta educativa


aparecia no discurso das pessoas com quem conversamos. A conscientização sobre a
importância da separação correta das embalagens é um dos principais objetivos dos
PEVs, muito evidenciados na linguagem visual das estações de coleta e no contato com
a população que faz a entrega dos materiais.

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6. RELATÓRIO DE VISITA AO COMPLEXO INDUSTRIAL DA NATURA

RELATÓRIO DE VISITA – COMPLEXO INDUSTRIAL NATURA


Central de Resíduos

Rodovia Anhanguera - km30,5 - Cajamar - SP Data: 25 nov. - sexta-feira

Monitoria: Renato Dallora Responsável: Gorette Gonçalves

A empresa Natura possui indústrias em São Paulo e no Pará com ampla rede de
distribuição e com uma série de propostas para a redução, reutilização e reciclagem dos
resíduos gerados ao longo do ciclo de seus produtos. Há, entretanto, uma enorme
diferença entre as medidas adotadas nessas duas localidades. De acordo com Gorette, São
Paulo dispõe de algumas vantagens do que diz respeito ao destino dos resíduos, com o
grande número de empresas operando no ramo da reciclagem e um grande mercado
consumidor de matéria-prima reciclada ou para a reciclagem, material orgânico para
compostagem e mesmo resíduos destinados à produção de energia e aterros, dar um
destino apropriado aos resíduos torna-se viável e rentável. O Pará, por outro lado, segundo
Gorette, não dispõe da mesma rede capaz de absorver esses resíduos, restando à Natura
destiná-los à aterros e incineradores. Esta comparação é particularmente relevante quando
falamos em uma Política Nacional para Resíduos Sólidos, enfatizando a necessidade de
Planos regionais e locais.

A política da Natura para o tratamento dos resíduos é colocada como parte da missão da
empresa e de seu compromisso com a sociedade, mas mais objetivamente contribui de
diferentes modos para seus negócios promovendo uma imagem positiva para a marca que
é revertida em ganhos financeiros seja pela venda de seus resíduos tratados, seja pelo
aumento das vendas. Além do impacto ambiental, Gorette também revelou o cuidado para
que a marca não fosse identificável nos locais de descarte e transformação de forma a
depreciar a marca, por essa razão, os resíduos saem da central completamente
descaracterizados. Observou-se grande empenho em cultivar a imagem de empresa Verde
com publicidades e frequente oferecimento de visitas guiadas ao Espaço Cajamar, um
espaço de arquitetura impecável e segundo seu vídeo corporativo (não tivemos a chance
de conhecer), uma indústria altamente organizada, limpa, bela por dentro e por fora e

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silenciosa em seus espaços de laboratório e “chão de fábrica”, imagem diametralmente
oposta ao que povoa nosso imaginário de grandes fábricas.

A Natura produz 1230 ton/mês de resíduos, isso inclui os resíduos industriais,


operacionais, terceirizados (embalagens) e os entrepostos que distribuem os produtos às
revendedoras, não contabilizados aqui os resíduos a serem gerados pelo consumidor final.
Deste total 7% são encaminhados aos aterros sanitários e 93% dos resíduos são reciclados
ou reaproveitados de acordo com Gorette. A questão dos resíduos é tratada em diferentes
setores que devem se manter articulados para promover diferentes linhas de ações para

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redução de resíduos: Meio Ambiente; Sustentabilidade -> Inovação; Logística-
>Suprimentos; -->Logística Reversa. A Central de Resíduos na qual Gorette trabalha
corresponde ao setor de Suprimentos que responde às estratégias para a gestão dos
resíduos. O Quadro 1 apresenta os destinos dados para cada tipo de material (em São
Paulo):

Essas informações deixam claro alguns aspectos relevantes no que se refere à gestão de
resíduos pela Natura. Em primeiro lugar, a extensa lista de empresas envolvidas nos
processos indicados mostra a dimensão da infraestrutura necessária para um tratamento
de resíduos mais comprometido na escala industrial, assim como as relações de mercado
implícitas e a necessidade de uma articulação entre os diferentes setores industriais. Ainda
que a Natura esteja bastante à frente em suas iniciativas, pudemos observar que nos 93%
dos resíduos tratados incluem-se os destinados à incineração, coprocessamento e matéria-
prima para a indústria de cimento que, embora tragam rentabilidade ao processo e
possivelmente contribuam para a viabilidade financeira do conjunto de ações, podem ser
questionadas quanto aos seus impactos ambientais.

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Fotos de Lígia Pascoal

Questionamos Gorette a respeito da relação da Natura com os catadores e as cooperativas


de reciclagem que afirmou não haver relação alguma em razão da política de fornecedores
da empresa que implica em uma série de restrições e padrões nos quais as cooperativas
não se encaixariam, além disso o volume de resíduos e a complexidade dos processos
exigiria maior estrutura física e tecnologia tornando empresas maiores mais adequadas.

As iniciativas da Natura para a redução da produção de resíduos competem ao Setor de


Sustentabilidade e Inovação que estuda o design e material de embalagens com
investimento em linhas com menos embalagens, embalagens recicladas como as linhas
Ekos e Soul com a implementação de esquemas de refis. Recentemente em projetos piloto
passou-se a reaproveitar as tampas de caixas de papelão enviadas aos entrepostos que
agora retornam para o reenvio quantas vezes for possível obtendo uma redução de 100ton
do descarte de papelão em 2016. Também como projeto piloto foi instalado um Ponto de
Entrega Voluntário no Complexo Cajamar que aparentemente vem ganhando adesão
entre seus aproximadamente 5.000 funcionários.

As ações para um consumo consciente, apesar das escolhas de materiais reciclados e


embalagens refis, como esperado, não atuam no sentido de reduzir o consumo de produtos
e, por consequência, de embalagens. Pelo contrário, a expectativa destas ações inclui o

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aumento deste consumo, das vendas e do faturamento. Ainda assim, há uma iniciativa de
marketing interessante por ser também uma proposta de oferecer informação ao
consumidor. Todas as embalagens apresentam informações a respeito de sua composição
e destino enquanto resíduo em uma tabela como a que segue abaixo:

Como uma medida isolada e de uma empresa, talvez esses dados possam produzir um
efeito contrário, como às vezes acontece nos casos de “claims” como “zero gordura” e
“light” que acabam por aumentar o consumo por ser “menos nocivo”, mas como medida
amplamente aplicada pode ser uma ferramenta educativa importante.

Sobre a PNRS o aspecto que a empresa parece ter encontrado mais dificuldades é a
implantação da logística reversa que é tratado por um setor específico voltado ao
cumprimento das leis sobre resíduos. Apesar de discutidas medidas para tal, não houve
ações concretas nesse sentido e em decorrência de acordos setoriais, a empresa teve o
prazo ampliado para o cumprimento da lei.

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7. CONCLUSÃO
A questão dos resíduos sólidos tem diversas implicações para o meio ambiente e para o
espaço urbano, além de ser um fator de grande impacto para questões econômicas e de
desigualdades sociais. Os determinantes envolvidos são muitos e por sua característica
intrinsecamente multifatorial, o problema da geração de resíduos deve ser tratado de
forma transversal e articulada aos diversos setores da sociedade, a partir do
reconhecimento de todos os agentes envolvidos e suas responsabilidades.

Os esforços do poder público e da sociedade civil em relação à gestão dos resíduos


urbanos em geral concentram-se em medidas que atenuem os impactos do lixo gerado por
meio da reciclagem e disposição adequada em aterros sanitários, mas ainda são escassas
as medidas em larga escala que se proponham objetivamente a reduzir a geração de
resíduos. Assim, a produção e o consumo são pontos chave de intervenção, na medida em
que alimentam o ciclo de vida dos resíduos sólidos, e, nesse sentido, a Política Nacional
de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305 de 2010, representou conquistas ao
estabelecer como princípios (Art. 6º) a “prevenção e precaução” e o “desenvolvimento
sustentável” com objetivos de “não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento
dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” nesta
ordem de prioridade e de forma a abranger todas as etapas percorridas pelo produto desde
de sua concepção até o descarte com responsabilização e envolvimento de todos os
geradores de resíduos sólidos definidos como: “pessoas físicas ou jurídicas, de direito
público ou privado, que geram resíduos por meio de suas atividades, nela incluindo o
consumo”.

Apesar destes avanços, é preciso lembrar que a PNRS esteve em elaboração durante quase
duas décadas antes que conseguissem de efetivar enquanto lei, e que seus pressupostos
não estão livres de uma intensa disputa de poder e interesses. De acordo com Monterosso
(2016) a lei deixa brechas ao pautar-se em acordo setoriais como balizadores das metas,
índices e prazos para adequação das empresas à lei, colocando-se de forma passiva neste
processo principalmente no que se refere à logística reversa. Em nossa visita a Natura, foi
possível perceber que estes acordos significam a ampliação indefinida de prazos, mais
que um plano de ação ou uma perspectiva concreta de incorporação de novas medidas.

O Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) de 2011, embora não
tenha força de lei, apresenta propostas mais objetivas de ações do Estado e sociedade civil
para padrões de produção e consumo sustentáveis. O Plano busca em iniciativas

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existentes medidas de enfrentamento dos desafios postos em nível nacional para o
desenvolvimento sustentável. A questão dos resíduos não é possível se dar de maneira
homogênea em todo território nacional que apresenta particularidades territoriais, de
infraestrutura e mercado que determinam ou influenciam diretamente as possibilidades
de ação. Por essa razão, a PNRS enfatiza a necessidade da regionalização da lei por meio
de planos estaduais, municipais, microrregionais e para regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas, o que favorece a criação de agendas e incorporação da questão da
gestão dos resíduos na ordem do dia.

O município e a Região Metropolitana de São Paulo, neste sentido, dispõem de um grande


número de agentes interessados na compra e comercialização de produtos recicláveis e
reciclados com infraestrutura e tecnologia para processá-los, uma rede de coleta seletiva
em operação ainda que com abrangência reduzida, que procura responder à demanda
gerada por uma alta produção de resíduos decorrentes do consumo proporcional à
população, renda e hábitos de consumo de São Paulo. Segundo o Plano de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS, 2014) da Cidade de São Paulo, um grande desafio
é a integração dos catadores de material reciclável aos sistemas de coleta seletiva e de
logística reversa e a regularização dos estabelecimentos comerciais que atuam na cidade
configurando a base da cadeia econômica da reciclagem.

As visitas realizadas tanto na Natura como nos Pontos de Entrega Voluntária permitiram
observar alguns aspectos importantes desta cadeia. Em primeiro lugar, a coleta seletiva
depende não só de uma rede de coleta com caminhos e PEV, mas principalmente da
separação e entrega destes resíduos. A ausência de separação dos materiais em geral faz
com que materiais potencialmente reaproveitáveis na cadeia se percam nos lixões e
aterros sanitários, por outro lado, a separação inadequada inviabiliza a reciclagem alguns
materiais por seus aspectos físicos, mas também por exigir um sobre trabalho que o torna
desinteressante financeiramente, esses materiais acabam por ter o mesmo destino que os
primeiros. Os pontos de entrega voluntário desempenham um papel importante na coleta
desses materiais, mas também como ponto de informação, esclarecimento e incentivo
para a separação dos resíduos, sendo a presença de um funcionário nestes locais essencial
para qualificar essa comunicação. O manejo dos resíduos por parte dos consumidores
também tem um papel educativo na medida em que promovem um olhar mais crítico em
relação ao lixo e suas potencialidades e efeitos nocivos.

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Outra questão importante é a infraestrutura e tecnologia necessárias para a reciclagem de
materiais multicamada ou como o isopor. Nem todas as cooperativas têm condições de
processar todos os tipos de materiais, assim embora recicláveis, esses materiais não são
efetivamente reciclados, isso irá depender por exemplo da cooperativa responsável por
determinado PEV. O descarte desses materiais aponta, em primeiro lugar, para uma
necessidade de regulação dos produtores destas embalagens de forma a torná-las mais
viáveis financeiramente e ecologicamente dentro do ciclo de vida de seu produto, mas
também para a necessidade de uma melhor articulação entre cooperativas e empresas de
reciclagem para que esses produtos sejam mais eficientemente aproveitados.

A viabilidade técnica e financeira da reciclagem está intimamente ligada ao sucesso da


logística reversa na medida em que, em nosso sistema, o interesse econômico é que irá
propulsionar medidas que viabilizem o alcance dos objetivos da PNRS, tornando rentável
a reciclagem e menos oneroso o consumo de materiais reciclados, o que por fim afeta o
consumo de matérias-primas e recursos naturais. O viés predominantemente econômico
que articula as ações ligadas à gestão dos resíduos, para Zanetti (2009), possui, entretanto,
uma face perversa que acaba por estimular a produção de lixo uma vez que este se mostra
rentável. Este trabalho, assim, buscou refletir sobre as implicações de cada etapa do ciclo
de vida dos produtos e propor possíveis medidas que atuem sobre as diferentes questões
observadas.

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8. PROPOSTAS
As propostas procuraram intervir em todos os pontos críticos do ciclo de vida de um
produto de maneira a articulá-las em uma cadeia única de intervenção. O esquema abaixo
serviu de ponte de partida para as propostas divididas em: produtor, distribuidor,
consumidor e Estado.

Produtor

a) Embalagens: boa parte dos resíduos provêm das embalagens dos produtos seja
para venda seja para transporte e acondicionamento. No primeiro caso em geral
quem se responsabiliza pelo resíduo é o consumidor e o poder público por meio
da coleta fato que é transformado com a ideia de logística reversa. No estudo da
CETESB e ABRE, publicado na forma de cartilha, avalia-se o impacto ambiental
da embalagem não só na sua composição final, mas em todo o seu ciclo de
produção ao consumo em relação ao volume de embalagem como mostra o gráfico
na página seguinte.

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Modelo Packforsk para minimização do impacto ambiental do sistema produto-embalagem
(ERLÖV, et al., 2000)

O gráfico mostra um ponto ótimo do volume de embalagem em relação ao seu


impacto o que em outras palavras é a quantidade de embalagem mínima para que esta
cumpra a sua função sem que passe a representar aumento do impacto ambiental, neste
balança são levados em consideração diversos aspectos, como ilustra a imagem abaixo:

Detalhamento das dimensões do desenvolvimento da embalagem com foco na sustentabilidade.


(CETESB, 2016)

Partindo deste princípio, a proposta é que se regulamente a produção de embalagens de


modo que estas apresentem volume e peso próximo aos valores ótimos obtidos a partir de

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estudos de impactos, além de percentual mínimo de materiais não recicláveis ou de
reciclagem inviável. A proposta é de taxação proporcional desses produtos, com
abatimento nos casos do uso de materiais reciclados, embalagens retornáveis e adoção de
outras medidas de otimização das embalagens em relação aos impactos ambientais. Com
isso pretende-se pressionar os produtores a optar por designs mais sustentáveis para
baratear seus custos e seu produto no mercado, assim da mesma forma, incentivar os
consumidores a adquirir produtos que estejam dentro destes parâmetros. Ainda a respeito
das embalagens, a incorporação de dados a respeito dos materiais das embalagens a
exemplo do modelo implementado pela Natura deveria ser compreendida com
informação essencial ao consumidor e incorporado como norma às embalagens.

b) Logística Reversa: Considera-se aqui possíveis ações de aplicação da logística


reversa a implementação de sistemas de embalagens retornáveis e a articulação entre
produtor e distribuidor para viabilização dos pontos de coleta. Tendo em vista a
dificuldade de que todo material produzido e vendido seja gerenciado, propõe-se um
sistema de cotas no qual o produtor responsabiliza-se pelo resíduo (na forma de coleta
seletiva, reciclagem ou ações educativas para o consumo consciente) equivalente a um
percentual daquilo que é produzido por ele na forma de produto e que hoje não é
contabilizado em seus resíduos.

Distribuidor

a) Logística Reversa: Ficaria a cargo dos distribuidores na ponta da cadeia,


segundo nossa proposta, a responsabilidade de implantação de PEV (devidamente
indicados, com informações claras e responsáveis por dar informações adequadas) em
seus estabelecimentos, bem como o devido destino a esses materiais, podendo terceirizar
ou não este serviço. A obrigatoriedade, a capacidade e o grau de especificidade de cada
ponto deve adequar-se ao porte do estabelecimento.

Consumidor

A figura do consumidor como mediador está presente nas medidas anteriores tanto como
em questões como o acesso à informação, como mais ativamente na devolução de
embalagens retornáveis, incentivado pela remuneração referente a parte na taxação
decorrente dessas embalagens.

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a) Separação dos Resíduos: Como proposta para ampliar e qualificar a separação
dos resíduos residenciais sugere-se a implementação obrigatória, em condomínios acima
de determinada quantidade de unidades, de lixeiras para separação dos resíduos sólidos
recicláveis acompanhada de material informativo (placas, cartazes) que prestem a devida
informação aos usuários, além de incentivo para a criação de composteiras e treinamento
dos funcionários e condôminos para sua manutenção a exemplo do Composta São Paulo,
entretanto com enfoque em edifícios e condomínios.

Estado

As propostas apresentadas já incluem em maior ou menor grau a intervenção do estado


na regulação e gerenciamento dos recursos advindos das taxas, mas para além disso
entende-se que este tem um papel importante em ações educação para o consumo e para
a reciclagem além do fortalecimento das cooperativas de catadores para que estas sejam
mais e melhor integradas à cadeia de gestão de resíduos.

a) Cooperativas/Catadores: Propõe-se a criação em áreas periféricas e de menor


concentração de renda, onde há menos potenciais PEV e Coleta Seletiva, a criação de
complexos compostos por: PEV de gestão pública, galpão de trabalho para cooperativas
de catadores da região e centro de educação de gestão pública para cursos e atividades a
respeito de reciclagem, compostagem, coleta seletiva e meio ambiente e programas de
valorização do trabalhador na área de resíduos.

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Como mostra o esquema acima, além das propostas já apresentadas, considera-se que
seria essencial a criação de um “fundo de reciclagem”, para arrecadar taxas cobradas de
empresas que não tenham porte suficiente ou prefiram pagar taxas em vez de assegurar o
sistema de logística reversa de seus produtos. Dessa forma, o fundo ajudaria o poder
público na implementação de programas sociais envolvendo a valorização dos resíduos
e, também, a tornar a coleta seletiva mais ampla e democrática no espaço da cidade.

As propostas apresentadas neste trabalho consolidam as discussões e conhecimentos


adquiridos ao longo do semestre e configuram uma aproximação preliminar às possíveis
ações impulsionadas pela PNRS em nível metropolitano. Ainda que sem um grande
aprofundamento dos instrumentos, as propostas buscaram dar respostas às questões
surgidas como pontos críticos ao longo do trabalho de maneira a articular os diferentes
agentes e interesses envolvidos.

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9. BIBLIOGRAFIA

Publicações:
ABIPLAST; SINDIPLAST. PNRS e o Acordo Setorial de Embalagens: Perguntas e
Respostas. Disponível em:
<http://file.abiplast.org.br/download/links/pnrs_e_o_acordo_setorial_de_embalagens.pd
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BRASIL. (2010). Política Nacional de Resíduos Sólidos. Lei nº 12.305 de 02 de agosto


de 2010. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
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CETESB; ABRE. Embalagem e Sustentabilidade: Desafios e Orientações no Contexto da


Economia Circular. São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.abre.org.br/wp-
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GUIMARÃES, G. C. Consumo sustentável para a minimização de resíduos sólidos


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Universidade de Brasília, Brasília, 2011.
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SÃO PAULO (2014). Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Cidade de São
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SOLER, Fabricio Dorado. Os desafios do setor empresarial para a implementação de


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Ambiental. Plano de Ação para produção e Consumo Sustentáveis: Relatório do primeiro
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resíduos: a face oculta do sistema do capital. Sociedade e Estado, Brasília, v. 24, n. 1, p.
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acordo-setorial-de-embalagens-em-geral-e-assinado-em-brasilia/

http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/producao-e-consumo-
sustentavel/plano-nacional

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