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Gestão de embalagens vazias - Logística Reversa

Alexandre Victor S. Abreu


Advogado da área Ambiental e Minerário da Lacerda, Diniz, Sena Advogados

A preservação do Meio Ambiente se mostra prejudicada considerando os mais


diversos problemas decorrentes da grande produção industrial sobretudo após a década
de 1980. O crescimento da produção de resíduos sólidos, traduz-se em um dos
principais problemas causadores de impactos à natureza.
Neste sentido, grande desafio é enfrentado quanto ao gerenciamento de resíduos
de embalagens, uma vez que o consumo em constante crescimento acarreta, como
consequência, grande geração deste tipo de resíduo. No Brasil, a preocupação com a
destinação de embalagens em geral começou ainda na década de 1980, quando a
quantidade de lixo nos grandes centros urbanos aumentou significativamente,
despertando a ideia de conscientização e necessidade de preservação do meio ambiente.
Nesse contexto, a promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos -
PNRS1, marcou importante processo de articulação entre todos os setores da sociedade
definindo obrigações e responsabilidades que passaram a ser compartilhados 2 entre
empresas, governo e sociedade, configurando dessa forma, um dos maiores desafios
advindos do desenvolvimento econômico com inclusão social, buscando soluções para o
problema da geração de resíduos e sua gestão integrada.
Destacamos, neste texto, a inclusão na PNRS de importante instrumento para o
gerenciamento de resíduos sólidos de forma sustentável e responsável, qual seja a
Logística Reversa. Nos termos da Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), logística reversa é o“instrumento de desenvolvimento
econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios
destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor
empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou
outra destinação final ambientalmente adequada3”.
Dessa forma, podemos dizer que “logística reversa consiste na área da logística
empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas
correspondentes ao retorno dos bens pós venda e pós consumo ao ciclo de negócios ou

1
Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010
2
Art. 30 da Seção II da PNRS
3
Art. 3°, inc. XII
ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos” 4. Esse fluxo
proporciona a agregação de valor de natureza econômica, ecológica, legal, logística, de
imagem corporativa, entre outras, aos subprodutos que inicialmente seriam descartados.
Importante ressaltar que o Decreto 7.404 de 23/12/2010 que Regulamentou a
PNRS, estabeleceu que os sistemas de logística reversa deverão ser implementados e
operacionalizados por meio de acordos setoriais5, regulamentos expedidos pelo Poder
Público e por Termos de Compromisso6.
Em síntese, Acordos Setoriais são atos de natureza contratual firmados entre o
Poder Público e os fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes e visa a
implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos 7. Seus
termos devem atender a um conteúdo mínimo disposto no Art. 23 do Decreto
7.404/2010.
Mecanismos de logística reversa também pode ser instituído com base em
Regulamentos expedidos pelo Poder Público. Tem-se hoje alguns exemplos de leis e
normas que tratam do sistema de logística reversa para os seguintes itens: Agrotóxicos
(Lei 7802/89, seu regulamento Decreto 4074/02 e a Resolução Conama nº 465/2014),
óleo Lubrificante usado ou contaminado (Resolução Conama 362/2005), Pilhas e
Baterias (Resolução Conama 401/2008 e Instrução Normativa IBAMA nº 01/2010).
Por fim, o Poder Público poderá celebrar Termos de Compromisso com os
fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes desde que não tenha na
mesma área de abrangência acordo setorial ou regulamento específico8.
O Acordo Setorial para Implantação do Sistema de Logística Reversa de
Embalagens em Geral foi assinado em 25 de novembro de 2015 e tem como objetivo
garantir a destinação final ambientalmente adequada das embalagens, que nos termos do
referido acordo, podem ser compostas de papel e papelão, plástico, alumínio, aço, vidro,
ou pela combinação de materiais, como as embalagens cartonadas longa vida.
Ressalta-se que o acordo abrange auxílio a cooperativas de catadores de
materiais recicláveis e parcerias com o comércio com o propósito de instalação de
pontos de entrega voluntária.
4
Wille, Mariana Muller. Logística Reversa: conceitos, legislação e sistema de custeio aplicável.
Disponível em: http://www.opet.com.br/faculdade/revista-cc-adm/pdf/n8/LOGISTICA-REVERSA.pdf
5
A Política Nacional de Resíduos Sólidos apresenta 5 grupos que terão acordos setoriais: pilhas e
baterias; pneus; lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; óleos lubrificantes,
seus resíduos e embalagens; e produtos eletrônicos e seus componentes.
6
Art. 15 do Decreto 7.404/2010
7
Art. 19 do Decreto 7.404/2010
8
Art 32 do Decreto 7.404/2010
Importante ressaltar que, caso determinada organização não se torne signatária
de acordo setorial que vise implantar logística reversa de resíduo por ela fabricado,
importado, distribuído ou comercializado, deverá articular-se para estruturação de tal
sistema por outra via.
Neste sentido, a Logística Reversa pode ser considerada com um dos
instrumentos para aplicação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos, prevista no Art. 3°, XVII da Lei 12.305/20109.
Atualmente verifica-se a existência de formatos distintos de logística reversa
definidos em função da forma como os resíduos são coletados pós-consumo. Em se
tratando de Embalagens (Ex: embalagens de cosméticos, limpeza, alimentos, bebidas), o
formato de Ponto de Entrega Voluntária (PEV) é o principal.
Por este modelo, o consumidor entrega seus resíduos recicláveis em um local
estrategicamente definido, de fácil acesso e com grande fluxo de pessoas (escolas,
centros esportivos, bibliotecas, praças, supermercados), ou tem seu resíduo recolhido
por meio de coleta seletiva.
Segundo dados do Relatório contendo os resultados preliminares obtidos pelo
Acordo Setorial de Embalagens fornecidos pelos integrantes do Compromisso
Empresarial para a Reciclagem (Cempre), nos primeiros anos o Sistema de Logística
Reversa de Embalagens registrou ações em 422 municípios de 25 Estados brasileiros,
tendo um alcance de 51,2% da população brasileira.
O Estado de São Paulo, desde 2011 adotou, por meio da Secretaria de Meio
Ambiente e Cetesb, estratégia para implantação da logística reversa, de forma gradual e
progressiva, contando, ainda, com a participação do setor privado, que foi responsável
por apresentar propostas técnica e economicamente viáveis. Segundo essa estratégia, a
implementação seria composta por 3 fases: 1 – colocar em prática programas piloto –
com indústria e importadores; 2 – ampliar gradualmente para toda indústria e incluir o
comércio e os municípios; e 3 – consolidar os avanços na legislação.
Neste sentido foi publicada a Resolução SMA nº 45/2015 que, dentre outras
coisas, estabeleceu a vinculação da adoção do sistema de Logística Reversa ao processo

9
Art. 3°, XVII: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e
de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem
como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de
vida dos produtos, nos termos desta Lei;
de licenciamento ambiental no Estado de São Paulo. Assim, o cumprimento de medidas,
seria fator condicionante para emissão ou renovação das licenças de operação.
Dessa forma, em maio de 2018, foi assinado o termo de compromisso para
Logística Reversa de Embalagens em Geral entre 22 sindicatos e associações de
empresas de embalagens, com a Fiesp, Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SP) e a
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). Por este termo, 22% das
embalagens de produtos que possam ser reaproveitados deverão retornar à indústria para
reciclagem ou reaproveitamento.
Este termo de compromisso, é uma alternativa ao acordo setorial praticado pelo
governo Federal, com a finalidade de reduzir custos e apresentar maior eficácia. Como
forma de obrigar o cumprimento de tal obrigação por parte das empresas, caso não seja
cumprido as metas, estas empresas poderão ser penalizadas, inclusive com a não
renovação de sua licença de operação como dito acima.
Em Minas Gerais, a Logística Reversa passou a ser mais discutida após a
publicação da Deliberação Normativa COPAM nº 188, em 30 de outubro de 2013, que
estabelece diretrizes gerais e prazos para publicação dos editais de chamamento público
de propostas de modelagem de Sistemas de Logística Reversa no estado.
Embora ainda carente de debates e principalmente de ações que estimulem a
prática da logística reversa, em algumas áreas foram firmados acordos setoriais e
compromissos junto ao Ministério do Meio Ambiente como (i) embalagens plásticas de
óleos lubrificantes; (ii) lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz
mista; e (iii) embalagens em geral. Estes acordos tem como objetivo o recolhimento e
destinação adequada aos produtos descartados.
Conclui-se, portanto, que embora pareça de difícil execução, a logística reversa
de embalagens, representa um importante avanço na Lei que instituiu a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e vem se tornando cada vez mais importante e
presente nas empresas, órgãos públicos e sociedade em geral. O consumidor dos dias
atuais cobra práticas sustentáveis e, por isso, as soluções para os resíduos pós-consumo
são temas cada vez mais incorporados aos negócios, mostrando-se viáveis técnica e
economicamente falando, além de eficaz, na medida que a empresa ao buscar apoio
técnico legal para a gestão de ações neste sentido evita danos e passivos ambientais.
Referências:

• Lei 12.305 de 02/08/2010 - PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos


• Decreto 7.404 de 23/12/2010 - Regulamentou a PNRS
• Decreto 9.177/2017 – Instituiu a PNRS
• Deliberação Normativa COPAM nº 188, em 30 de outubro de 2013 – MG
• http://www.sinir.gov.br/web/guest/embalagens-em-geral acesso em 10/08/2018.
• http://www.mma.gov.br/index.php/comunicacao/agencia-informma?view=blog&id=2132 acesso
em 10/08/2018.
• Wille, Mariana Muller. Logística Reversa: conceitos, legislação e sistema de custeio aplicável.
Disponível em: http://www.opet.com.br/faculdade/revista-cc-adm/pdf/n8/LOGISTICA-
REVERSA.pdf. Acesso em 19/08/2018.

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