Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Barra do Garças–MT,
Setembro, 2023.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
Barra do Garças–MT,
Setembro, 2023.
PAULO HENRIQUE DE SOUZA ROCHA
BANCA EXAMINADORA
________________________________
Professor Marcel Carlos Lopes Félix
Orientador
________________________________
Professor Olímpio Ferreira da Silva Neto
Membro da Banca
________________________________
Professor Bernardo Leandro Carvalho Costa
Membro da Banca
AGRADECIMENTOS
The internet has ushered in an interconnected world, enabling the rapid exchange of
information and real-time communication between people in different parts of the
world. Social networks are currently one of the Internet applications that make the most
use of users' Personal Data and browsing patterns to operate services within their
platforms, including targeting Advertising based on this collected data. This research
analyzes whether this practice is fully in line with Brazilian legislation, especially the
General Personal Data Protection Law (Law n° 13.709/2018). In view of this, the
following research problems stand out: how is the Personal Data of social network
users processed and transmitted? Is the practice of Targeted Advertising based on the
collection of Personal Data by social networks compatible with the General Personal
Data Protection Law? The hypothesis is that various techniques are used to collect and
process users’ personal data and that there is a lack of clarity about how these
techniques work. The general objective is to analyze how Personal Data used for
Targeted Advertising purposes by social networks is processed in order to identify
whether it is compatible with Brazilian legislation on the subject. The first chapter
describes the emergence of cyberspace, how communication networks have
expanded over time and how social networks are used for marketing purposes. The
second chapter explains the vulnerability of Consumers in commercial relations,
analyzes the provisions of the Federal Constitution and laws regarding privacy and
deals with the observance of consent by Data Controllers. The third chapter discusses
the tactics used by social networks to target ads based on user behavior, analyzes the
role of algorithms in the precise identification and segmentation of target audiences for
Targeted Advertising and deals with the possible violation of the Principle of
Transparency provided for in the LGPD by Personal Data Controllers. Considering the
hypotheses presented, contradictions were found between the provisions of legislation
and the privacy policies of social networks, which act as Controllers of Consumers
Personal Data, which is used for Targeted Advertising purposes. Finally, it was
concluded that greater Transparency would allow users consent to be granted in a truly
informed and voluntary manner, thus ensuring compliance with the guidelines
established by legislation and promoting a more equitable relationship between digital
platforms and their users.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 70
INTRODUÇÃO
Segundo Lehfeld et. al. (2021, p. 237), a internet surgiu em meados da década
de 1960, tendo maior difusão a partir de 1990, alterando o modo como as pessoas
enxergavam o mundo e as relações interpessoais. A medida que a definição de
distância e informação se transformava, a distância física deixou de representar um
obstáculo real às relações sociais e às transações de modo geral. Neste sentido, a
velocidade no fluxo de acesso e disseminação das informações facilitou a formação
de bancos de dados com possibilidades inimagináveis de armazenamento de
informações dos usuários da internet.
dos Dados Pessoais por parte do Controlador para operar esses serviços; e c) analisar
se há compatibilidade da legislação brasileira com o uso pelas redes sociais de Dados
Pessoais dos Consumidores para operar serviços de Publicidade Direcionada.
A Metodologia basear-se-á na revisão bibliográfica a ser realizada na literatura
jurídica (em sua maioria), revistas científicas, Artigos Científicos, Dissertações de
Mestrado e Teses de Doutorado referentes ao tema. O método adotado será o
hipotético-dedutivo, com o intuito de analisar como é feito o tratamento dos Dados
Pessoais que são utilizados para fins de Publicidade Direcionada pelas redes sociais,
com a intenção de identificar se há compatibilidade com a legislação brasileira no que
se refere ao tema. Cabe salientar que algumas palavras e termos, que se relacionam
diretamente com o tema, estarão com a primeira letra em maiúscula, como forma de
destacar a importância destes termos para esta Pesquisa.
A Pesquisa distribuir-se-á da seguinte maneira: o primeiro capítulo apresentará
como surgiu o ciberespaço, buscando compreender como o desenvolvimento
tecnológico das últimas décadas possibilitou que esse espaço virtual, à parte e ao
mesmo tempo vinculado ao ambiente real, abrigasse os mais diversos tipos de
relações humanas. Posteriormente, analisar-se-á como as redes de comunicação se
ampliaram ao longo do tempo e como isso desencadeou os primeiros contornos do
ciberespaço. Por fim, tratar-se-á do uso das redes sociais para fins mercadológicos,
especialmente, a Publicidade Direcionada.
Já o segundo capítulo conterá uma breve explicação acerca da Vulnerabilidade
do Consumidor nas relações consumeristas, à luz do Código de Defesa do
Consumidor. Posteriormente, analisar-se-á as disposições da Constituição Federal e
das leis infraconstitucionais a respeito da Privacidade dos Consumidores na internet.
Por fim, tratar-se-á da observância do Consentimento por parte dos Controladores de
Dados em relação aos titulares de dados, em consonância com a Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais, demonstrando a importância de uma legislação firme
referente à problemática da Proteção de Dados Pessoais na internet.
Por fim, no terceiro capítulo, realizar-se-á uma abordagem das táticas utilizadas
pelas redes sociais para direcionar anúncios com base no comportamento do usuário.
Posteriormente, analisar-se-á o papel dos algoritmos na identificação e segmentação
precisa dos públicos-alvo para Publicidade Direcionada. Ao final, tratar-se-á da
possível violação ao Princípio da Transparência previsto na LGPD, por parte dos
Controladores de Dados Pessoais.
11
Diante disso, pode-se afirmar que o estudo possui um alto valor para a
comunidade jurídica, visto que o assunto está diretamente relacionado às leis e
regulamentações que envolvem a proteção de Dados e Privacidade, como é o caso
da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). É de extrema importância compreender
como essa legislação se aplica especificamente à Publicidade Direcionada, bem como
quais são os direitos e responsabilidades das partes envolvidas. A análise desse tema
possibilitará verificar se os usuários estão sendo adequadamente informados acerca
do uso de seus Dados e se estão cientes de suas opções de Consentimento.
No tocante à contribuição para a sociedade, o tema possui grande valia ao
abordar questões essenciais relacionadas à privacidade, segurança, transparência e
confiança no atual cenário digital. Compreender a forma como as redes sociais
utilizam os dados pessoais dos consumidores para Publicidade Direcionada é
fundamental para estabelecer um vínculo de confiança entre as plataformas e seus
usuários, permitindo que estes tenham algum controle de suas informações pessoais
e possam escolher como desejam ser alvo de campanhas publicitárias, além de
contribuir para a proposição de melhorias para a proteção de Dados Pessoais. Como
resultado esperado, esta Pesquisa visa contribuir para uma sociedade mais bem
informada e protegida no uso de plataformas e serviços on-line, estabelecendo uma
base sólida para uma governança digital ética e responsável.
12
utilizada nesse ambiente. Para Ferreira (2007, p. 53), a criação de uma linguagem
própria para o ciberespaço é essencial para facilitar a comunicação e a compreensão
mútua dos participantes, contribuindo para a formação de uma identidade e cultura
coletiva na comunidade virtual. Esses fatores, juntamente com a Tecnologia,
possibilitam uma experiência de interação e conexão única, que transcende as
limitações físicas e geográficas e abre novas perspectivas para a colaboração e
compartilhamento de conhecimentos e ideias no mundo virtual.
A globalização, aliada ao avanço das Tecnologias, teve um impacto
significativo no redimensionamento do espaço público. Isso ocorreu por meio da
conectividade e interatividade proporcionadas pelas Tecnologias, o que também
afetou as relações de tempo e espaço, além de promover interferências culturais.
Segundo Ribas e Ziviani (2008, p. 29), a internet, em particular, é apontada como o
primeiro meio de troca de informações e interatividade em escala global, em que os
indivíduos se tornam simultaneamente formuladores e consumidores de informações.
Ainda consoante Ribas e Ziviani (2008, p. 29), essa característica específica
da internet permite que os usuários não apenas acessem informações de diversas
fontes, mas também que contribuam com a criação de conteúdo, compartilhando suas
próprias ideias, conhecimentos e perspectivas com uma audiência global. Esse
fenômeno tem implicações profundas na forma como as pessoas se comunicam,
aprendem e interagem, criando uma nova dinâmica na esfera pública, que transcende
as fronteiras geográficas e culturais e abre espaço para uma participação mais ativa
e inclusiva na construção do conhecimento e da cultura contemporânea.
Ainda conforme Ribas e Ziviani (2008, p. 29), é possível observar que o ser
humano transcendeu a materialidade e as limitações da Era Industrial. Anteriormente,
a vida era fortemente marcada pela materialidade, em que o corpo e a máquina eram
centrais para as atividades diárias. O espaço era concreto e o tempo rigidamente
cronometrado, moldando as formas de interação e relacionamento entre as pessoas.
No entanto, com o avanço das Tecnologias e a chegada da Era da
Informação, essa realidade mudou profundamente. Silva, et. al. (2015, p. 176-196)
explicam que o homem se libertou das restrições físicas e geográficas, adentrando a
um mundo virtual e imaterial, o ciberespaço. Nessa nova realidade, o corpo-máquina
perdeu sua centralidade e as interações se tornaram cada vez mais mediadas pelas
Tecnologias Digitais.
16
Segundo Silva, et. al. (2015, p. 176-196), a vida cotidiana também passou por
transformações significativas. Muitos elementos que eram comuns na Era Industrial
foram substituídos ou modificados pela nova realidade tecnológica. O tempo e o
espaço perderam suas fronteiras rígidas, permitindo uma interconexão global quase
instantânea. As formas de relações interpessoais também foram alteradas, com o
advento das redes sociais e outras plataformas digitais que permitem a comunicação
e a interação em tempo real, independentemente, da localização física dos indivíduos.
Em suma, de acordo com Silva, et. al. (2015, p. 176-196), a alteração
tecnológica trouxe uma nova Era de experiências e possibilidades para a sociedade,
moldando a forma como nos relacionamos, nos comunicamos e compreendemos o
mundo ao nosso redor. A Era Industrial deixou marcas na história da humanidade,
mas hoje coexiste com essa nova realidade que transcende a materialidade e nos
apresenta novos desafios e oportunidades.
Após essa contextualização acerca do advento do ciberespaço, passar-se-á
a abordar a expansão das redes de comunicação e sua influência na conectividade
global, encurtando distâncias e permitindo que indivíduos de diferentes partes do
globo se interconectem em tempo real.
da internet. Tecnicamente, essa noção se refere à conexão entre nós, seja de maneira
direta ou indireta, simplificando a transmissão e o recebimento de informações e
inaugurando uma nova dinâmica de relação entre os sentidos de localidade e
globalidade.
Ainda consoante Vaz (2008, p. 230), de maneira ampla, é possível conceituar
as redes como a estrutura das conexões, constituindo um intricado conjunto de nós
destinados a percorrer um trajeto ilimitado de um ponto a outro, estabelecendo
ligações e, por consequência, ligando outros pontos por meio das interconexões
previamente estabelecidas. O computador, como ferramenta, desempenha o papel de
viabilizar o mecanismo de troca de informações entre diferentes pontos, além de
possibilitar o armazenamento e a modificação das informações quando são
interpretadas e lidas, sendo, subsequentemente, compartilhadas com a coletividade
por meio do acesso em rede.
Vaz (2008, p. 230) acrescenta que as redes não apenas consolidam a
interligação global entre as pessoas, como também estimulam os sentidos humanos,
incluindo a visão, a audição e a compreensão dos significados, quando os indivíduos
utilizam adequadamente as ferramentas dessas Tecnologias. A proficiência no uso
dessas ferramentas proporcionará vantagens aos grupos, permitindo o
desenvolvimento e a sustentação de processos de inteligência coletiva.
A conceituação de rede pode ser explorada por meio de várias abordagens.
Conforme apontado por Recuero (2009, p. 73), o grafo foi a primeira metáfora usada
para representar redes e é um elemento da matemática que se concentra em analisar
as propriedades de diferentes tipos de grafos. A representação dos grafos também
pode ser utilizada como uma metáfora aplicável a uma variedade de sistemas. A partir
dessa fundação no âmbito científico, as ciências sociais encontraram uma plataforma
para examinar os indivíduos e suas interações dentro do contexto social.
Como relata Vaz (2008, p. 219) houve alteração da definição de rede entre as
décadas de 1960 e de 1990. Inicialmente, o termo "rede" tinha uma conotação
diferente da sua atual, caracterizada pela abertura e descentralização. Era empregado
para referir-se a um fenômeno local e de caráter confidencial quando aplicado a
grupos sociais que, em um sentido amplo, eram literalmente isolados. Isso
frequentemente representava organizações secretas, em contraste com a
interpretação que temos hoje. Além disso, o termo rede também era utilizado para
21
Consumidores por meio de redes sociais e cadastros que parecem inofensivos, sendo
que, na verdade, são verdadeiras armadilhas preparadas pelas empresas.
A capacidade das empresas que operam na internet de dominar a Tecnologia
pode gerar desafios complexos que o sistema legal enfrenta com dificuldade em
superar. Em um artigo a respeito da liberdade de expressão nas redes sociais,
Hartmann e Sarlet (2019, p. 76) mencionam a inacessibilidade da estrutura das redes
como um obstáculo para a aplicação eficaz das regras jurídicas. De fato, quando um
algoritmo (aqui compreendido como um processo sistemático para a resolução de um
problema ou uma sequência ordenada de passos a ser observada para a realização
de uma tarefa) controla ou impõe certos comportamentos aos usuários, a
determinação da legalidade passa a ser flexível de acordo com a intenção do
programador.
Diante do que Hartmann e Sarlet (2019, p. 77) apresentaram, é factível afirmar
que, na sociedade atual, o Consumidor não desfruta de completa liberdade de
seleção. Em uma sociedade caracterizada pela intensa competição do mercado em
atrair o lado mais vulnerável da relação de consumo, incentivando o interesse do
Consumidor pela aquisição de produtos, parece antiquado abordar a proteção contra
a manipulação do Consumidor e a repressão das práticas comerciais desonestas.
Salienta Ferraresi (2019, p. 104) que a Publicidade contemporânea apresenta
estrutura e concepção distintas em comparação ao passado. A forma de comunicação
publicitária que conhecemos hoje teve origem na Madison Avenue, em Nova Iorque,
durante a década de 1920. No início, argumentava-se que a Publicidade tinha uma
função primordialmente informativa e destinada a destacar as características,
qualidades e preços de produtos e serviços. Contudo, essa função informativa pura já
não se mantém. A pressão em relação aos Consumidores por meio de mensagens
direcionadas e impositivas é uma realidade que merece estudo aprofundado.
Conforme Ferraresi (2019, p. 104), não se pode subestimar a realidade do
aumento substancial do consumo por meio da internet. Em um contexto no qual os
indivíduos estão cada vez mais conectados, algumas atitudes por parte dos
Fornecedores se destacam e necessitam de análise cuidadosa. O envio em massa de
e-mails contendo informações acerca de produtos e serviços, conhecidos como
spams, serve como ilustração de práticas mercadológicas invasivas. É essencial
reconhecer que o respeito à liberdade de escolha é um dos princípios fundamentais
do mercado de consumo.
27
tiveram acesso aos mesmos dados e quantas vezes, ou seja, uma vez obtida uma
informação é praticamente impossível controlá-la.
Um estudo conduzido pela Serasa Experian (2019, on-line) revela que 75%
dos cidadãos brasileiros possuem escasso conhecimento ou desconhecem
completamente a existência da Lei Geral de Proteção de Dados. Essa nova
regulamentação é considerada um ponto de referência jurídico-normativo no cenário
legal do Brasil, entrando em vigor em meados de setembro de 2020 após várias
postergações.
Dessa maneira, Lehfeld et. al. (2021, p. 248) argumentam que é crucial
entender a proteção das informações pessoais considerando a fragilidade do
Consumidor no ambiente digital, o que pode potencializar ainda mais a exposição da
Privacidade e intimidade dos indivíduos em um espaço com regulamentações
limitadas. Isso possibilita a exploração indevida por parte de pessoas e organizações
com intenções maliciosas.
Também esclarece Bioni (2019, p. 94) que, dado que a maior parte dos
conteúdos oferecidos na internet é gratuita e, por conseguinte, se afasta do modelo
de consumo convencional que demanda uma compensação pelo produto ou serviço
obtido, no ciberespaço as empresas têm explorado a oportunidade de tratar o usuário
como um produto e seus dados como a contrapartida imposta.
A maioria dos dados inseridos pelos Consumidores no ciberespaço ocorre por
meio de simples Contratos de Adesão destinados à criação de uma "conta" ou "perfil"
de usuário. Nesse processo, o usuário é compelido a concordar com os extensos
"Termos de Uso" ou a "Política de Privacidade", frequentemente, aceitando cláusulas
unilaterais das quais ele muitas vezes não tem plena consciência do que se trata. No
entanto, como alerta Bioni (2019, p. 32), é relevante destacar que essa forma de
adesão pode ser considerada prejudicial, seja por reforçar a alegada assimetria do
mercado informacional, seja por ser uma ferramenta que não habilita eficazmente o
indivíduo a exercer controle a respeito de suas informações pessoais.
Posteriormente ao estudo do tratamento dos Dados Pessoais dos
Consumidores na internet, respeitando a Privacidade, abordar-se-á a observância do
Consentimento por parte dos Controladores de Dados em relação aos titulares de
dados, em consonância com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.
38
expressão de vontade do titular, que deve ser livre, específica, informada e explícita,
na qual o titular dos dados consente, por meio de uma declaração ou ação positiva
clara e inequívoca, para que seus Dados Pessoais sejam processados (UE, 2023, on-
line).
“Livre” quer dizer que o titular possui a autonomia para optar entre aceitar ou
rejeitar a utilização de seu recurso, sem interferências ou circunstâncias que
influenciem seu Consentimento. Nesse contexto, foi explicitamente estabelecida a
proibição do tratamento de Dados Pessoais obtidos por meio de Consentimento
viciado. Acerca desse atributo, é pertinente examinar a disparidade entre as partes e
a potencial Vulnerabilidade de qualquer parte contratante, com o objetivo de garantir
a genuína validade do Consentimento concedido. Nessa esteira, para Bioni (2019, p.
197), é fundamental avaliar a capacidade de negociação do indivíduo em relação ao
tratamento de seus Dados Pessoais, o que envolve considerar quais escolhas estão
disponíveis para o titular, tanto em relação ao tipo de dado coletado quanto aos
possíveis usos.
Com o intuito de fortalecer o indivíduo, o artigo 9º, § 3º, da LGPD estabelece
que:
avaliar de maneira precisa a situação e o modo como seus dados serão processados.
Para Teffé e Viola (2020, p. 01-38) a disponibilidade de informações é um fator
essencial para a expressão de um Consentimento livre e consciente, voltado a um
tratamento específico, por parte de um agente determinado e sob condições
específicas. É crucial ressaltar a relevância dos princípios de Transparência,
adequação e finalidade, os quais visam a limitar tanto a utilização genérica dos dados
quanto os tratamentos obscuros. Para atenuar a discrepância técnica e informacional
entre as partes, exige-se que informações transparentes, adequadas, claras e em
quantidade suficiente sejam fornecidas ao cidadão, oferecendo detalhes a respeito
dos riscos e consequências do tratamento de seus dados.
De acordo com a premissa do Consentimento informado, o artigo 9º da LGPD
estabelece o direito do titular de ter o acesso simplificado às informações referentes
ao tratamento de seus dados, as quais devem ser disponibilizadas de maneira clara,
apropriada e evidente, englobando as seguintes características: finalidade específica
do tratamento (I); método e período de tratamento, respeitando segredos comerciais
e industriais (II); identificação do responsável pelo controle (III); detalhes de contato
do Controlador (IV); informações acerca do compartilhamento de dados pelo
Controlador e sua finalidade (V); obrigações dos agentes encarregados do tratamento
(VI); e direitos do titular, com referência explícita aos direitos delineados no artigo 18
(VII). Ademais, o artigo 8º, § 6º, da LGPD ressalta que:
Além disso, para Rodotà (2008, p. 59), tal diretriz se relaciona com o princípio
de uso não abusivo dos dados e com a recomendação de eliminar ou tornar anônimas
informações que não sejam mais necessárias. Defende-se que, dependendo do tipo
de informação, seja possível dividir o Consentimento em várias categorias, cada uma
com requisitos mais ou menos rigorosos, dependendo da natureza dos interesses
envolvidos. Isso se alinha com a ideia de Consentimento granular.
Há uma hipótese em que o Consentimento é dispensado, o artigo 7º, § 4º, da
LGDP dispõe que: “é dispensada a exigência do consentimento previsto
no caput deste artigo para os dados tornados manifestamente públicos pelo titular,
resguardados os direitos do titular e os princípios previstos nesta Lei”.
De acordo com Bioni (2019, p. 271), inicialmente, não seria apropriado que
terceiros utilizassem informações de uma rede social, mesmo que essas informações
43
estejam em perfis públicos. A divulgação pública desses dados pelo próprio titular teve
um propósito diferente, que é conectar-se com indivíduos em seu círculo social. Por
outro lado, seria mais adequado, em princípio, o uso de informações de perfis públicos
em redes profissionais, por terceiros como o LinkedIn, na condição de recrutadores
para facilitar a aproximação desses usuários a oportunidades profissionais de seu
interesse. Esse uso está alinhado não apenas com a finalidade da própria plataforma,
mas também com a razão pela qual esses dados estão públicos.
Além disso, o artigo 7º, § 3º, da LGPD dispõe que “o tratamento de dados
pessoais cujo acesso é público deve considerar a finalidade, a boa-fé e o interesse
público que justificaram sua disponibilização”. Da mesma forma que na situação dos
dados de acesso público, é crucial levar em consideração o contexto em que a
informação foi disponibilizada e garantir que seu uso esteja alinhado com as
circunstâncias em que ela se tornou pública. Isso deve ser feito em conformidade com
as restrições estabelecidas na legislação que proíbe o uso indiscriminado desses
dados.
É importante notar que, embora esses dados sejam considerados públicos,
eles ainda são informações pessoais (BIONI, 2019, p. 269-270). Portanto, é
fundamental avaliar sempre a finalidade da divulgação e o motivo que justifica torná-
los públicos. Um exemplo disso são os dados cuja divulgação é obrigatória por lei,
como informações acerca da propriedade de imóveis, ações de sócios em empresas
ou atividades específicas de órgãos públicos. Outro exemplo é a consulta de números
de CPF no site da Receita Federal, utilizada apenas para confirmar a titularidade em
transações financeiras.
Nesse contexto, o legislador estipulou que a subsequente manipulação de
Dados Pessoais (que sejam públicos), mencionados nos parágrafos 3º e 4º do artigo
7º, pode ser realizada para novos propósitos, contanto que sejam respeitados os
objetivos legítimos e específicos para esse novo tratamento, bem como a proteção
dos direitos do titular, juntamente com os fundamentos e princípios estabelecidos na
Lei (§ 7º). Entretanto, é importante distinguir as situações do § 3º e do § 4º do artigo
7º da LGPD.
Conforme a interpretação de Teffé e Viola (2020, p. 01-38), no caso do § 4º,
pode-se entender que não seria necessária uma nova base legal para o tratamento
desses dados, visto que se trata de uma verdadeira autorização para o tratamento de
dados sem a necessidade de Consentimento do titular. Por outro lado, no caso do §
44
3º, seria essencial enquadrar o tratamento em uma das bases legais autorizadas
estipuladas no artigo 7º ou no artigo 11.
Ainda de acordo com Teffé e Viola (2020, p. 01-38), não parece ser razoável
permitir que dados disponíveis publicamente sejam tratados sem uma base legal
específica, já que isso equivaleria a autorizar que qualquer informação publicada, por
exemplo, por obrigação legal, seja utilizada para uma finalidade diferente sem que o
novo Controlador tenha que comprovar a existência de uma base legal que permita o
tratamento desses dados, especialmente, quando o dado não foi tornado público pelo
titular. É importante notar que o § 3º não dispensa a necessidade de Consentimento,
ao contrário do que faz o § 4º.
Consoante a explicação de Bioni (2019, p. 269-270) no que se refere à eficácia
subjetiva, o Consentimento está diretamente ligado ao Controlador para o qual foi
concedido. Se um Controlador, que obteve o Consentimento mencionado no inciso I
do artigo 7º, precisar comunicar ou compartilhar os Dados Pessoais com outros
Controladores, será necessário obter um Consentimento específico do titular para
esse propósito, a menos que a lei preveja dispensa desse Consentimento. A partir
dessa disposição, argumenta-se que esse dever não se limita ao Controlador original,
mas deve ser observado por todos aqueles que tenham acesso aos dados. Isso
implica que todos os envolvidos devem verificar a legalidade do processo de acesso
ou compartilhamento, incluindo a obtenção do Consentimento específico do titular
quando necessário.
Outra disposição de relevância estabelece que o Consentimento pode ser
retirado a qualquer momento, mediante a expressa vontade do titular, de maneira
gratuita e simplificada (TEFFÉ; VIOLA, 2020, p. 01-38). Portanto, o Consentimento é
de caráter temporário. Defende-se a possibilidade de revogação incondicional desse
tipo de Consentimento com base nos princípios da autodeterminação na construção
da esfera privada e na proteção da personalidade, cujos atributos incluem a não
disponibilidade. No entanto, não parece razoável que aquele que recebeu a
autorização para o tratamento dos dados tenha que suportar riscos ilimitados, nem
que a revogação ocorra prejudicando flagrantemente o interesse público. Em caso de
abuso por parte do titular dos dados, deve ser garantida a devida reparação e o
intérprete pode orientar-se por mecanismos como o venire contra factum proprium.
Segundo Paulo Sérgio João (2021, on-line), advogado e professor da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Fundação Getúlio Vargas, o venire
45
pessoas que não tinham interesse em adquirir o produto anunciado. Foi assim que
surgiu a Publicidade Direcionada.
Segundo Zuffa e Teixeira (2023, p. 358) a Publicidade Comportamental utiliza
ferramentas tecnológicas que processam Dados Pessoais, como registros de
atividades de navegação, histórico de compras, interesses e comportamentos do
titular dos dados, entre outras informações específicas. Isso é feito com o objetivo de
criar um perfil de Consumidor e desenvolver estratégias mais eficazes para alcançar
esse público-alvo.
Conforme destacado por Bioni (2019, p. 22-23), é importante notar que a
maior parte dos Dados Pessoais obtidos nas redes sociais provém de um modelo de
negócios denominado "zero-price advertisement business model. Nesse modelo, os
usuários não pagam com dinheiro pelo acesso a produtos ou serviços, em vez disso,
fornecem seus Dados Pessoais como forma de pagamento, permitindo o
direcionamento de conteúdo publicitário.
De acordo com Zuboff (2020, p. 85), a Google foi um dos pioneiros ao
perceber que os dados colaterais gerados a partir das pesquisas dos usuários
poderiam ser valiosos para a construção de perfis detalhados contendo informações
a respeito dos seus interesses, pensamentos e sentimentos. Assim, a Google não se
limitou a usar apenas as palavras-chave das pesquisas para aprimorar seu algoritmo
e melhorar seus serviços, mas também começou a utilizar dados como o tempo de
visualização, informações de geolocalização, ortografia, maneira de formulação das
buscas e padrões de cliques para esse fim. Inicialmente, a Google utilizava esses
dados com a finalidade exclusiva de melhorar o seu serviço de buscas, que é
indiscutivelmente, o mais popular do mercado. No entanto, ao longo do tempo,
começou a empregá-los, também, para o direcionamento de anúncios publicitários.
Para Martins e Basan (2021, p. 350-351), os cientistas de dados empregam
duas técnicas para a execução da Publicidade Comportamental: mineração de dados
(data mining) e perfilização (profiling). Conforme destacado por Bioni (2019, p. 36), a
mineração de dados envolve a organização e processamento de uma grande
quantidade de informações utilizando algoritmos equipados com Inteligência Artificial.
Isso permite a identificação de padrões não óbvios, ou seja, a capacidade de
estabelecer conexões entre diversos eventos (dados), revelando padrões e até
mesmo fazendo inferências acerca das probabilidades de ocorrências futuras.
48
Ainda de acordo com Martins e Basan (2021, p. 351), a perfilização tem como
objetivo criar uma representação virtual, um tipo de "avatar", que reflete o Consumidor
com base em seus Dados Pessoais, tais como preferências, classe social, hábitos,
etc. Essa técnica possibilita a antecipação dos comportamentos futuros desse
Consumidor, com base nas ações de outros Consumidores que compartilham o
mesmo perfil. Com essas técnicas, o Consumidor não é mais apenas o receptor da
Publicidade, ele se torna também a fonte das informações que moldam a maneira
como será abordado e tratado. Isso abre a porta para a exploração de suas
Vulnerabilidades mais profundas, uma vez que a Inteligência Artificial tem uma grande
capacidade de identificar padrões a partir dos dados coletados.
Diante dessas considerações, fica evidente a impressionante capacidade
desses tipos de Tecnologias para estabelecer correlações que ultrapassam em muito
a compreensão ou controle humanos. Portanto, a utilização irrestrita dessas
Tecnologias, para fins publicitários, pode resultar em excessos por parte dos
Fornecedores, pois a Publicidade Comportamental é considerada o ápice da
Publicidade. Como Zuboff (2020, p. 96) observa, ela permite a entrega de mensagens
altamente direcionadas a um Consumidor específico no exato momento em que essa
mensagem tem a maior probabilidade de influenciá-lo.
A entrega dessas mensagens frequentemente é feita por meio de spams que
Teixeira (2020, p. 55) define como o envio em massa de mensagens sem o
Consentimento do usuário, com o propósito comercial de divulgar e oferecer produtos
ou serviços. No passado, os spams eram enviados principalmente por e-mail, o que
era condenado por sobrecarregar servidores e ocupar espaço, além de consumir o
tempo dos usuários que precisavam ler e excluir essas mensagens (Teixeira, 2020, p.
58). No entanto, ele também destaca que, atualmente, qualquer envio em massa de
mensagens eletrônicas, seja por SMS, WhatsApp ou até chamadas telefônicas, pode
ser considerado spam (Teixeira, 2020, p. 59).
Portanto, é possível afirmar que os spams têm um caráter ainda mais
perturbador nos dias atuais, uma vez que a elevada conectividade das pessoas com
seus dispositivos móveis possibilita que essas mensagens indesejadas ocorram a
todo momento. Além disso, as notificações podem alcançar os usuários em tempo
real, não se limitando ao momento em que eles verificam suas caixas de e-mail. Além
disso, segundo Zuffa e Teixeira (2023, p. 355-375), a Publicidade Comportamental
está se aproximando cada vez mais da Neurociência. Isso ocorre porque há relatos
49
indivíduos de fato adquiram os produtos e serviços, uma vez que cada usuário é
exposto apenas a anúncios relacionados aos seus interesses específicos. Além disso,
de acordo com Pariser (2012, p. 10), os algoritmos desempenham um papel crucial
na identificação das preferências dos usuários e na construção de seus perfis, o que
os coloca em uma espécie de "bolha de filtros".
Conforme apontado por Bastos e Von Ende (2020, p. 20), a coleta de dados
dos usuários realizada pelas empresas na internet cria um ambiente propício para a
atuação dos algoritmos, que desempenham a função de filtrar o conteúdo. Esses
algoritmos, por meio da análise e correlação de dados, têm a capacidade de elaborar
um perfil individualizado para cada usuário, levando em consideração suas
tendências, preferências e aquilo que ele procura ao navegar na internet.
De acordo com Silveira (2021, p. 39), um dos principais meios de controle que
os administradores das plataformas exercem em relação aos seus usuários envolve a
modulação das opções disponíveis e das vias de interação e acesso aos conteúdos
divulgados. Souza et. al. (2021, p. 10) enfatizam que, para realizar a modulação, é
essencial compreender o público-alvo que será alvo dessa modulação. Portanto, é
preciso limitar o campo de visão dos indivíduos ou segmentos que serão sujeitados a
essa modulação.
Consoante a lição de Silveira (2021, p. 41), o processo de modulação inicia-
se com a identificação e a compreensão precisa do agente que será objeto de
modulação. O segundo passo envolve a criação do perfil desse agente, seguido pelo
terceiro passo, que consiste em estabelecer dispositivos e procedimentos de
monitoramento contínuo e, se possível, abrangentes. Por fim, o quarto passo é agir
em relação ao agente para influenciar seu comportamento ou opinião.
Conforme Pariser (2012, p. 10), ao identificar o perfil dos Consumidores, são
criados grupos de usuários que compartilham interesses semelhantes, formando o
que ele chama de "bolha de filtros". Por outro lado, Pellizzari e Barreto Junior (2019,
p. 58) definem essa situação como "confinamento", resultado da influência dos
algoritmos que, ao serem alimentados com dados dos usuários, têm a capacidade de
identificar aqueles que compartilham preferências semelhantes e agrupá-los.
De acordo com Silveira (2019, p. 22), a partir da criação de perfis e das bolhas
de filtros, surge um grande volume de dados, conhecido como Big Data. Esses dados
são submetidos a análises com o propósito de identificar padrões e conexões que, de
alguma forma, seriam imperceptíveis fornecendo informações valiosas acerca dos
52
usuários que os geraram. É por meio do conhecimento adquirido pelas análises que
as empresas conseguem obter vantagem competitiva em relação às demais e tomar
decisões mais acertadas para os seus negócios.
Nesse contexto, Silveira (2019, p. 63) enfatiza que o tratamento de Dados
Pessoais por meio das Tecnologias de Big Data tem como objetivo último moldar o
comportamento das pessoas, orientando-as a se deparar com determinadas
mensagens em detrimento de outras. Isso ocorre porque, ao processar Dados
Pessoais, obtêm-se informações que possibilitam o direcionamento de conteúdo na
internet, tornando-se uma ferramenta essencial para a realização da modulação dos
indivíduos. Em outras palavras, os usuários deixam de receber uma ampla variedade
de conteúdos e passam a receber aqueles que estejam mais alinhados às suas
preferências.
A modulação implica na redução da autonomia do usuário, uma vez que, no
que diz respeito à decisão de comprar ou não um produto, o indivíduo ainda mantém
o poder de escolha (SILVEIRA, 2019, p. 63). No entanto, no contexto do acesso a
conteúdos on-line, o usuário só terá acesso àqueles que estão relacionados aos seus
interesses, identificados previamente pela Inteligência Artificial. Por exemplo, quando
alguém pesquisa um determinado produto, o usuário mantém total liberdade para
decidir qual produto comprar e se deseja fazê-lo. No entanto, a partir desse momento,
ele continuará recebendo informações relacionadas a esse conteúdo. O mesmo
ocorre com as informações pesquisadas pelo usuário, que são usadas para criar uma
"bolha virtual" e direcionar informações que estejam mais alinhadas ou similares às
suas pesquisas anteriores.
Nesse contexto, a "bolha de filtros" age como uma lente que modifica a nossa
percepção do mundo, decidindo o que é visível e o que não é, influenciando assim a
interação entre nossa mente e o ambiente ao nosso redor. Nesse sentido, Eli Pariser
(2012, p. 58) acrescenta que os filtros personalizados servem como restringentes das
informações que o usuário recebe e, também, têm um impacto significativo na maneira
como pensamos e aprendemos.
Conforme enfatiza Tavares (2019, p.133-152), os indivíduos têm a sensação
de fazer escolhas acerca dos conteúdos que desejam ver e os produtos que desejam
adquirir, quando, na realidade, são submetidos à modulação, ou seja, à manipulação
de seus interesses. Isso representa, portanto, uma ilusão de liberdade de escolha,
uma vez que as pessoas são induzidas pelos sistemas de big data. Pariser (2012, p.
53
78) afirma que a "bolha de filtros", ao oferecer algumas opções e bloquear outras,
exerce influência acerca de decisões e, consequentemente, contribui para moldar as
escolhas de uma pessoa.
Segundo Mulholland (2018, p. 173), o processamento de big data, ou seja, de
gigantesco conjunto de dado por meio de técnicas computacionais cada vez mais
avançadas, pode resultar em análises probabilísticas e conclusões que, embora
atendam aos interesses de um grupo específico da população, também podem
prejudicar a autonomia individual e o direito ao acesso a produtos e serviços, por
exemplo.
Conforme enfatizado por Silveira (2020, p. 65), observa-se a presença da
modulação algorítmica nas redes sociais, em que os usuários estão cada vez mais
imersos por meio de dispositivos conectados à internet e, como resultado, estão
sujeitos à influência dos algoritmos, acabando por traduzir em uma espécie de
vigilância. Os usuários são submetidos a essa regulação algorítmica, que engloba a
definição de padrões de comportamento e a coleta de dados. Nesse contexto,
conforme destacado por Silveira (2019, p. 61), os sistemas algorítmicos têm o
potencial de impactar a liberdade de escolha ao limitar as opções que são oferecidas
nas redes sociais.
Para Tavares (2019, p. 142-143), conceber a liberdade envolve considerar a
capacidade de fazer escolhas dentre diversas opções disponíveis. No entanto, quando
as alternativas são restritas, a liberdade de escolha fica comprometida já que,
independentemente da opção selecionada entre as oferecidas, ela estará predefinida
de antemão.
Ao discutirem a possível violação de direitos fundamentais como a Igualdade,
a Liberdade de Expressão, a Liberdade de Escolha, a Dignidade da Pessoa Humana
e a Não-discriminação no direcionamento de anúncios na internet por meio de
algoritmos, Bastos e von Ende (2020, p. 22) argumentam que a realidade em que os
indivíduos estão imersos, caracterizada como uma sociedade de controle focada na
coleta e no processamento de Dados Pessoais, tem o potencial de afetar diretamente
a liberdade de escolha do usuário. Isso se torna evidente, especialmente, no contexto
do direcionamento de anúncios resultante da lógica algorítmica, da filtragem de
conteúdo e da criação de perfis individuais para cada pessoa, uma vez que o usuário
só terá acesso ao que os algoritmos determinam previamente como visualizável.
54
Argumenta Pariser (2012, p. 15) que, por sua própria natureza, um mundo
construído apenas com base no que é familiar é um mundo no qual não se possibilita
a oportunidade de adquirir novos conhecimentos. Nesse sentido, o autor afirma que
se a personalização for levada ao extremo, ela pode nos privar da chance de pessoas
se depararem com experiências e ideias surpreendentes e revolucionárias, capazes
de desafiar nossos preconceitos e transformar a maneira como percebemos o mundo
e a nós mesmos.
Nesse contexto, como argumenta Pariser (2012, p. 16), a personalização
pode conduzir a uma espécie de determinismo informacional em que as escolhas
feitas anteriormente determinam o que será apresentado no futuro. Portanto, os
indivíduos perdem a autonomia em relação às suas decisões futuras, uma vez que o
que eles visualizarão será o resultado das previsões feitas pelos algoritmos, não mais
uma decisão pessoal.
Posteriormente a essa explicação do papel dos algoritmos na identificação e
segmentação precisa dos públicos-alvo para a Publicidade Direcionada, analisar-se-
á se existe violação ao Princípio da Transparência, previsto na LGPD, por parte das
redes sociais ao usar os Dados Pessoais dos Consumidores para Publicidade
Direcionada.
informações (DONEDA, 2020, p. 161). Isso significa que ele tem a capacidade de
decidir quando deseja fornecer os seus Dados Pessoais e quais deles está disposto
a compartilhar. Para Bioni (2019, p. 133-134), uma das técnicas legislativas utilizadas
para garantir a proteção das informações pessoais é o Consentimento. Estabeleceu-
se que o Consentimento estaria relacionado à manifestação da vontade voluntária do
titular dos Dados Pessoais, ou seja, respeitando a sua autonomia privada.
Destaca Doneda (2020, p. 292) que o Consentimento do titular para o
tratamento de seus Dados Pessoais é um dos aspectos mais delicados de toda a
regulamentação de Proteção de Dados Pessoais. Por meio desse Consentimento, o
Direito Civil tem a oportunidade de estabelecer, com base na consideração da
autonomia da vontade, na circulação de dados e nos direitos fundamentais, uma
estrutura que ajuste os efeitos desse Consentimento de acordo com a natureza dos
interesses envolvidos.
O Consentimento que também é abordado no Marco Civil da Internet deve
atender aos critérios de ser livre, expresso, informado e destacado para ser
considerado válido. Na LGPD não é diferente, pois o Consentimento é uma das bases
legais para o tratamento de Dados Pessoais (artigo 7º, I). Portanto, para que a LGPD
cumpra sua finalidade de proteger os direitos fundamentais, o Consentimento deve
ser concedido de maneira livre, informada e inequívoca (artigo 5º, XII) e deve se
relacionar às finalidades específicas (artigo 8º, § 4º). Já no caso de Dados Pessoais
sensíveis, o Consentimento também deve ser obtido de forma específica, destacada
e para as finalidades específicas (artigo 11, I).
Segundo Teffé e Tepedino (2020, p. 88), em resumo, a característica "livre"
implica afirmar que o Consentimento não deve ser obtido sob coerção ou qualquer
forma de influência externa, permitindo ao indivíduo tomar uma decisão de forma
autônoma, sem interferências externas. A qualidade "informado" refere-se à
necessidade de que o indivíduo seja plenamente informado acerca de como os seus
Dados Pessoais serão utilizados, de modo que ele possa tomar uma decisão
consciente relacionada ao desejo de conceder ou não o seu Consentimento. Por
último, a condição "inequívoco" indica que não deve haver ambiguidade quanto à
vontade do usuário ao conceder ou recusar o seu Consentimento.
De acordo com a abordagem apresentada por Teffé e Tepedino (2020, p. 88),
o Consentimento desempenha um papel crucial no contexto dos direitos individuais,
permitindo que terceiros utilizem os Dados Pessoais de um indivíduo em certa medida.
57
pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, que busca proteger os titulares de
Dados Pessoais, enfatizando a importância da Transparência para a obtenção de um
Consentimento válido e a realidade, na qual os usuários têm sua liberdade de escolha
limitada, devido à falta de Transparência na divulgação das informações a respeito da
coleta e o tratamento dos Dados Pessoais, além de não terem a opção de recusar os
Termos da plataforma.
63
NOTAS CONCLUSIVAS
configura uma prática desleal, entretanto, os usuários são obrigados a dar seu
Consentimento, mas ainda sem a possibilidade de consentir em partes, o que resulta
em um Consentimento que não reflete verdadeiramente a vontade do indivíduo.
Além disso, essas informações não são comunicadas de forma clara e
evidente, havendo a falta de Transparência na divulgação acerca da coleta e o
tratamento dos Dados Pessoais, sendo que tais informações estão localizadas nas
configurações do aplicativo, o que faz com que os usuários tenham que procurar,
ativamente, essas informações ao cadastrar seus Dados Pessoais.
Portanto, as redes sociais deveriam adotar práticas mais transparentes na
divulgação de suas Políticas de Privacidade, proporcionando aos usuários
informações claras e acessíveis a respeito da coleta e do tratamento de seus Dados
Pessoais. Assim sendo, essa Transparência permitiria que o Consentimento dos
usuários fosse concedido de forma verdadeiramente informado e voluntário,
garantindo assim a conformidade com as diretrizes estabelecidas pela Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais e promovendo uma relação mais equitativa entre as
plataformas digitais e seus usuários.
Isto posto, considerando que o Estudo possui um alto valor para a comunidade
jurídica, visto que, atualmente, o assunto está diretamente relacionado às leis e
regulamentações que envolvem a Proteção de Dados e Privacidade, como é o caso
da Lei Geral de Proteção de Dados, é de extrema importância compreender como
essa legislação se aplica, especificamente, à Publicidade Direcionada, bem como
quais são os direitos e responsabilidades das partes envolvidas. Espera-se que esta
Pesquisa fomente o debate e possibilite verificar se os usuários são, adequadamente,
informados a respeito do uso de seus dados e se estão cientes de suas opções de
Consentimento.
No tocante à contribuição para a sociedade, o tema possui grande valia ao
abordar questões essenciais relacionadas à Privacidade, Segurança, Transparência
e Confiança no atual cenário digital. Compreender a forma como as redes sociais
utilizam os Dados Pessoais dos Consumidores para a Publicidade Direcionada é
fundamental para estabelecer um vínculo de confiança entre as plataformas e seus
usuários, permitindo que estes tenham mais controle de suas informações pessoais e
possam escolher como desejam ser alvo de campanhas publicitárias, além de
contribuir para a proposição de melhorias em possíveis normativas para a proteção
dos Dados Pessoais. Como resultado, acredita-se que essa Pesquisa pode contribuir
69
para uma sociedade mais bem informada e protegida quando do uso de plataformas
e serviços on-line, estabelecendo-se, assim, uma base sólida para uma governança
digital ética e responsável.
70
REFERÊNCIAS
BLUM, Renato Müller da Silva Opice. Internet das coisas: a inauguração do novo
mundo e suas intercorrências jurídicas. In: Guilherme Magalhães Martins; João Victor
Rozatti Longhi. (Coord.). Direito Digital: Direito Privado e Internet. Indaiatuba:
Editora Focco, 2019.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e Direito. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018.
Honorato, Eduardo Jorge Sant’Ana. (2006). Comunidade Virtual Orkut: uma análise
psicossocial. In Oliver Zancul Prado, Ivelise Fortim & Leonardo Cosentino. Psicologia
e Informática: produções do III Psicoinfo II. Jornada do NPPI. (p. 31-47). São
Paulo: Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Ivelise-Fortim/publication/280004340_O_orkut_
na_clinica_e_a_relacao_terapeuta_paciente/links/55a310db08aec9ca1e65064b/O-o
rkut-na-clinica-e-a-relacao-terapeuta-paciente.pdf#page=32. Acesso em: 01 ago.
2023.
JOÃO, Sergio Paulo. O venire contra factum proprium nas relações contratuais
de trabalho. Revista Consultor Jurídico, 2021. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-jul-02/reflexoes-trabalhistas-venire-factum-proprium-
relacoes-contratuais-trabalho. Acesso em: 20 set. 2023.
PARISER, Eli. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. 1. ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
SILVA, Taziane Mara da; TEIXEIRA, Talita de Oliveira; FREITAS, Sylvia Mara Pires
de. Ciberespaço: uma nova configuração do ser no mundo. Psicol. rev. (Belo
Horizonte), Belo Horizonte, v. 21, n. 1, p. 176-196, jan. 2015. Disponível em: http://pe
psic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167711682015000100012&lng=
pt&nrm=iso. Acesso em: 03 ago. 2023.