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Portuguese Luoma Et Al. 2018
Portuguese Luoma Et Al. 2018
Embora a terapia cognitivo-comportamental (TCC) seja comumente discutida como se fosse um tratamento em
si e unificado, ela seria melhor pensada como uma ampla família de psicoterapias (Herbert & Forman, 2013) que
tendem a compartilhar elementos comuns, como uma relação terapêutica ativa e colaborativa, com ênfase em
aprendizagem como central para o desenvolvimento e manutenção de problemas, o uso de estratégias
comportamentais tradicionais, ênfase no empirismo científico e a importância da cognição na manutenção de
problemas. No entanto, as terapias cognitivas e comportamentais também variam. Suas conceituações da
etiologia dos problemas diferem, assim como as estratégias que enfatizam, os resultados que desejam, os
mecanismos hipotéticos de ação e a orientação teórica que especifica quando e como os métodos de tratamento
são implementados. Por exemplo, tanto a Terapia Cognitiva (Beck, 1979) e Terapia da Aceitação e Compromisso
(Hayes, Strosahl & Wilson, 2012) são consideradas formas de TCC, mesmo que suas estratégias sobre cognições
problemáticas sejam amplamente distintas, uma enfatizando mudança cognitiva e outra a aceitação (Wilson,
Bordieri, Flynn, Lucas, & Slater, 2010).
À medida que novas formas de TCC emergem, é importante para cientistas e clínicos discriminar com
precisão as principais características de cara abordagem, especialmente quando tais distinções podem, às vezes,
ser refinadas. Tais discriminações proporcionam maior precisão na aplicação clínica desses tratamentos e no
teste de previsões específicas que podem ser contrastadas em estudos de mecanismos de ação subjacentes, em
vez de focar apenas em comparações envolvendo resultados de tratamento. Consequentemente, o objetivo
principal deste artigo é facilitar este processo discriminativo, comparando e contrastando as principais
características encontradas na Radically Open Dialectical Behavior Therapy (Terapia Comportamental Dialética
Radicalmente Aberta) (RO DBT) com aqueles encontrado em várias outras formas mais recentes de TCC. Mais
especificamente, os principais recursos do RO DBT são comparados à Terapia Comportamental Dialética (DBT;
Linehan, 1993), Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT; Hayes et al., 2012) e Terapia Focada na Compaixão
(TFC; Gilbert, 2010). Essas terapias foram selecionadas para comparação porque compartilham elementos
importantes com RO DBT e, portanto, fornecem um veículo útil para descrever elementos distintos. Primeiro,
descrevemos brevemente o RO DBT e algumas de suas características exclusivas que o diferenciam de outros
tratamentos. segundo, fornecemos uma breve visão geral de cada um dos tratamentos de comparação
selecionados - isto é, DBT, ACT e CFT. Terceiro, oferecemos uma análise das semelhanças e diferenças entre os
tratamentos, concluindo com uma discussão integrativa.
Visão geral dos tratamentos
RO DBT
A RO DBT visa tratar transtornos caracterizados por supercontrole (SC; ou seja, autocontrole excessivo)
e é fortemente informado por pesquisas translacionais sobre as funções facilitadoras e comunicativas das
emoções na facilitação de laços sociais íntimos (Lynch, Hempel, & Dunkley, 2015). De acordo com a teoria RO
DBT, as diferenças biotemperamentais transacionam com o contexto social para levar os indivíduos SC a exibir
aversão ao risco, uma forte necessidade de estrutura, perfeccionismo, rigidez cognitiva, orientação de detalhes
elevados e uma tendência a ocultar sentimentos. Essas vulnerabilidades interferem na formação de laços
sociais estreitos, resultando em isolamento social, solidão e sofrimento psicológico associado (Lynch, 2018). A
RO DBT foca em mudanças nos déficits de sinalização social em indivíduos SC, resultando em uma expressão
emocional mais apropriada ao contexto. Isto, por sua vez, leva a mudanças na resposta de outras pessoas aos
indivíduos SC, incluindo aumento dos níveis de confiança e desejo de filiação com a pessoa, o que aumenta a
conexão social para o indivíduo SC. Assim, a RO DBT visa aumentar a capacidade de uma pessoa para "abertura
radical", que envolve a confluência de três capacidades: abertura, flexibilidade e conexão social (Lynch et al.,
2015). Envolve a disposição de renunciar a concepções anteriores sobre si mesmo e como o mundo “deveria”
ser, e acredita-se que fortaleça os relacionamentos ao modelar a humildade e a disposição de aprender com os
outros e com o mundo. O tratamento é normalmente realizado em 30 sessões simultâneas de terapia individual
e aulas de treinamento de habilidades. Os resultados mais estabelecidos são para depressão crônica resistente
e anorexia (Lynch, 2018; ver também Codd & Craighead, 2018, nesta edição).
Em contraste com outros tratamentos, RO DBT visa exclusivamente déficits de sinalização social e baixa
abertura como fatores centrais subjacentes à solidão emocional SC. Na verdade, a grande maioria das
intervenções em RO DBT são projetadas para melhorar a sinalização pró-social e abertura - com abertura radical
representando a habilidade central. Como espécie, reconhecemos instintivamente o valor que a abertura traz
aos relacionamentos. Por exemplo, tendemos a confiar em pessoas de mente aberta porque é mais provável que
elas revelem do que ocultem seus sentimentos internos durante o conflito. Desejamos nos afiliar a pessoas de
mente aberta porque são humildes - são mais propensas a dar aos outros o benefício da dúvida durante as
interações e não presumem automaticamente que seu caminho é o melhor, o certo ou o único. Assim, uma vida
radicalmente aberta não só influencia a forma como vemos o mundo (por exemplo, somos mais receptivos a
feedback crítico), mas também influencia a forma como os outros nos veem (pessoas gostam de pessoas de
mente aberta).
Essencialmente, a abertura é um poderoso sinal de segurança social. Ajuda a garantir que as intenções
cooperativas sejam percebidas como pretendidas, especialmente durante tempos de conflito potencial.
Consequentemente, RO DBT considera a abertura um tipo de cola tribal. Ela evoluiu em nossa espécie como um
meio central para estabelecer fortes relacionamentos colaborativos com indivíduos geneticamente distintos e
representa a pedra angular de todo novo aprendizado. Em RO DBT, sentir-se seguro, satisfeito ou relaxado não
é em si um precursor necessário da saúde psicológica - mas pertencer a uma tribo pode ser. assim, Viver
radicalmente aberto é aprender como criar uma vida que vale a pena compartilhar (com outras pessoas), com
base na premissa de que nossa felicidade pessoal é altamente dependente de outras pessoas e na medida em
que nos sentimos parte de uma tribo. De acordo com RO DBT, quando nos sentimos conectados, naturalmente
nos sentimos menos agitados, menos ansiosos, menos deprimidos e menos hostis. O mais importante é que a
abertura radical não significa aprovação, acreditar ingenuamente ou concordar sem pensar. Às vezes, estar
fechado é o que é necessário no momento, e às vezes a mudança é desnecessária.
Pressupostos do tratamento básico. Muitas das principais premissas no RO DBT diferem de outras abordagens.
Por exemplo, em contraste com muitas terapias, RO DBT considera essencial que os terapeutas individuais
introduzam certas estratégias em momentos precisos durante o tratamento. Essas estratégias de
sequenciamento em RO DBT são projetadas para abordar vieses biotemperamentais SC, que podem interferir
com o aprendizado e tornar mais provável o abandono prematuro do tratamento. Sequenciamento também
fornece uma estrutura para prever quando certas questões-chave são mais prováveis de ocorrer ao trabalhar
com indivíduos SC - por exemplo, uma forte aliança de trabalho não é esperada até a 14ª sessão. Dito isso, as
suposições do tratamento não são verdades. Elas ajudam a orientar o comportamento, mas se forem mantidas
com muita força, podem interferir no novo aprendizado. Outras premissas básicas de RO DBT incluem o
seguinte:
1. Os déficits na sinalização pró-social são o problema central nos transtornos de supercontrole e são
considerados a fonte de solidão dos clientes SC.
2. A abertura radical pressupõe que não vemos as coisas como elas são, mas como somos.
3. o segredo de uma vida saudável é o cultivo da dúvida saudável sobre si mesmo. Viver radicalmente aberto
significa poder questionar-se para aprender, sem desmoronar.
4. Terapeutas RO DBT praticam abertura radical e autoinvestigação 1, uma vez que RO DBT não é algo que
pode ser apreendido apenas por meios intelectuais.
5. Os terapeutas RO DBT reconhecem que as vidas de seus clientes SC são frequentemente sofridas, embora o
sofrimento de seus clientes nem sempre seja evidente.
6. Os terapeutas RO DBT reconhecem que os clientes SC levam a vida muito a sério e que precisam aprender
a relaxar, rir de suas próprias fraquezas e brincar.
DBT
DBT (Linehan, 1993) foi inicialmente concebida como um tratamento para pacientes com comportamentos
suicidas crônicos, muitos dos quais foram diagnosticados com transtorno de personalidade borderline (TPB).
Desde então, a DBT foi reformulada e conceituada como um tratamento para populações resistentes ao
tratamento transdiagnóstico. DBT extrai seus princípios da ciência comportamental, filosofia dialética e prática
Zen. A terapia equilibra dialeticamente aceitação e mudança, com o objetivo geral de ajudar os pacientes não
apenas a sobreviver, mas também a construir uma vida que valha a pena. A DBT consiste em sessões semanais
de terapia individual, sessões semanais de treinamento de habilidades em grupo e orientação por telefone para
o cliente, bem como reuniões da equipe de consultoria. Os grupos de treinamento de habilidades ensinam aos
clientes habilidades de tolerância ao mal-estar, habilidades de regulação emocional, habilidades de mindfulness
e habilidades de eficácia interpessoal - com mindfulness considerada a habilidade central. A condução da DBT
é organizada por uma estrutura dialética geral - da qual a dialética entre aceitação e mudança é um elemento
central e norteador - e por um conjunto claro de metas de tratamento, que são organizadas hierarquicamente
(comportamentos de risco de vida, comportamentos de interferência, comportamentos promoção da qualidade
de vida e aquisição de habilidades). Por exemplo, uma suposição de organização considera dialeticamente os
clientes como fazendo radicalmente o melhor que podem, ao mesmo tempo que reconhecem que precisam fazer
o melhor e a se comportar de maneira mais eficaz.
Entre os estudos, a DBT resultou em reduções em vários problemas associados ao TPB, incluindo
comportamento autolesivo, tentativas de suicídio, ideação suicida e comportamento bulímico (Dimidjian et al.,
2016; Lynch, Trost, Salsman, & Linehan, 2007). Por exemplo, uma meta-análise recente examinando os
resultados de ensaios clínicos randomizados (ECR) para adultos com diagnóstico de TPB concluiu que DBT foi
significativamente melhor do que TAU (treatment as usual, tratamento usual) na redução de tentativas de
suicídio e algumas evidências de melhora significativa no comportamento parassuicida em comparação com
1
Nota de tradução "autoinquirição/autoinvestigação": a tradução inicial adotada nos slides do webinar para "self-enquiry" foi
definida na forma de "autoinquirição". Porém foi notado que o termo sinônimo "autoinvestigação" seria de uso comum,
conservando o significado original que o autor propôs para o termo "self-enquiry". O termo também foi empregado em sua
respectiva forma para o espanhol, sendo uma das formas de padronizar a terminologia por "autoinvestigação".
condições (grupos) de controle (Panos, Jackson, Hasan, Panos, 2013).
ACT
ACT (Hayes et al., 2012) é uma psicoterapia baseada em princípios comportamentais e evolutivos modernos,
incluindo a Teoria das Molduras Relacionais, uma nova teoria da linguagem e cognição (Luoma, Hayes, &
Walser, 2017). De acordo com a ACT, os processos de linguagem nos levam a tentar escapar ou evitar nossos
sentimentos, ficar enredados em nossos pensamentos, perder o contato flexível com o presente e nos envolver
em defender e acreditar em nossas histórias sobre nós mesmos, o mundo e os outros. Como resultado, as
pessoas se desconectam do que realmente importa para elas (ou seja, seus valores) e a ação eficaz é impedida.
Em resposta, a ACT tenta promover a flexibilidade psicológica, que é definida como a capacidade de entrar em
contato com o momento presente mais plenamente como um ser humano consciente e, com base no que a
situação oferece, para mudar ou persistir no comportamento a fim de servir a fins de valor (Hayes et al.). ACT
visa seis processos para desenvolver a flexibilidade psicológica: (1) vontade ou aceitação da experiência; (2)
desfusão cognitiva, na qual o pensamento pode ser visto como um processo ativo, contínuo, relacional, de
natureza histórica e presente no momento atual; (3) atenção flexível ao momento presente; (4) contato com
um senso de self transcendente ou de perspectiva (self-como-contexto); (5) perspectiva e articulação de
valores; e (6) ação eficaz voltada para a construção de padrões mais amplos de vida baseada em valores. ACT
tem suporte empírico de mais de 200 ensaios clínicos randomizados em uma ampla variedade de problemas
psicológicos e em contextos não clínicos, como estresse no local de trabalho, prevenção e manutenção da saúde
(Hayes, 2018). Além do mais, ACT tem suporte empírico para os processos de mudança a partir de análises de
mediação, análise de componentes, e estudos com processos de mudança (e.g., Levin et al., 2012).
CFT
CFT(Gilbert, 2010) é uma abordagem integrativa e multimodal que se baseia na psicologia evolutiva,
neurociência e psicologia social, particularmente em pesquisas sobre psicologia e neurofisiologia do cuidar
(Gilbert, 2010). CFT surgiu originalmente de tentativas de abordar as dificuldades de pessoas que vivenciam
altos níveis de vergonha e autocrítica e aquelas com prejuízos complexos em saúde mental (Gilbert, 2010, 2012),
mas desde então parece ter se estendido além deste foco para abordar uma ampla gama de problemas do cliente
(Leaviss & Uttley, 2015). A compaixão no CFT é operacionalizada como envolvendo vários atributos, como
cuidado com o bem-estar, sensibilidade e ser movido pelo sofrimento, simpatia, empatia, tolerância ao
sofrimento e não julgamento (Gilbert, 2009). Um foco principal do CFT envolve o treinamento da mente
compassiva para ajudar os clientes a cultivar mentalidades sociais compassivas que os ajudem a se relacionar
compassivamente consigo mesmos, com os outros e com situações e emoções desafiadoras (Gilbert, 2014).
Mentalidades sociais são definidas por Gilbert (2000) como sistemas internos que organizam a fisiologia,
emoções, pensamento e comportamento do indivíduo em torno de motivos sociais específicos (e.g. motivos
competitivos ou de cuidado) que moldam a maneira como o indivíduo se relaciona com os outros e consigo
mesmo. CFT enfatiza o cultivo de um “eu compassivo” que é usado para ajudar o indivíduo a trabalhar com
bloqueios internos para estender compaixão e calor para si mesmo e para os outros, além de bloqueios para
receber compaixão dos outros. Além disso, um self compassivo é capaz de ser sensível ao sofrimento em si
mesmo e nos outros, motivado a se envolver nos comportamentos necessários para aliviar e prevenir o
sofrimento, bem como adquirir a sabedoria para saber como fazer isso com eficácia. O CFT tem evidências
preliminares de ensaios abertos, incluindo pessoas que sofrem de autocrítica, transtornos de personalidade,
esquizofrenia, transtorno bipolar e transtornos alimentares, entre outras dificuldades.
Conclusão
Em 2011, Hayes e colegas ofereceram uma atualização sobre a definição do que constitui as terapias de
"terceira onda", propondo que elas podem ser diferenciadas por seu valor compartilhado sobre a importância
de ser "aberto, ativo e consciente" (Hayes, Villatte, Levin, & Hildebrandt, 2011; ver também, Dimidjian et al.,
2016). RO DBT expande essa definição por meio de sua ênfase na sinalização social e conexão social na saúde
emocional - postulando que o bem-estar individual é inseparável dos sentimentos e respostas do grupo maior
ou da comunidade (Lynch, 2018). O que é importante de uma perspectiva de RO DBT não é apenas baseado em
como nos relacionamos com nossos próprios pensamentos e sentimentos, mas como nos relacionamos com os
outros, isto é, comunicar ou sinalizar socialmente nossas necessidades, desejos, e desejos para os outros - com
base na premissa de que nossa espécie é fundamentalmente tribal por natureza. Assim, quando se trata de
saúde mental e bem-estar a longo prazo, o que uma pessoa sente por dentro ou pensa em particular é
considerado menos importante no RO DBT, ao passo que o que mais importa é como uma pessoa se comunica
ou sinaliza experiências internas ou privadas para outros membros da tribo e o impacto que a sinalização social
tem na conexão social.
Nosso objetivo principal neste artigo foi comparar três tratamentos de “terceira onda” com RO DBT, a
fim de encorajar uma maior precisão na aplicação clínica desses tratamentos e novas pesquisas relativas aos
mecanismos de ação. Todos os três tratamentos compartilham muitos recursos sobrepostos - muitos dos quais,
devido a limitações de espaço, não foram totalmente explicados ou levados em consideração no artigo atual.
Ainda, apesar de suas semelhanças, suas diferenças podem ser mais importantes de explicar se assumirmos
que as técnicas terapêuticas e/ou fatores de relacionamento realmente importam quando se trata de um
tratamento bem-sucedido.
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