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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
SALVADOR
2021
ELIANE FÁTIMA BOA MORTE DO CARMO
SALVADOR
2021
ELIANE FÁTIMA BOA MORTE DO CARMO
Banca Examinadora
Minha história começou muito antes, desde o início dos tempos imemoriáveis,
desde o surgimento do mundo e da existência sempre presente de meus ancestrais,
razão da minha vida e do meu existir no mundo. A cada um que encontramos ao
longo do nosso caminho contribui, sempre e, positivamente para a nossa evolução
enquanto pessoa. “Mas é preciso ter força, é preciso ter raça. É preciso ter gana
sempre, quem traz no corpo esta marca” “sabe a dor e a delícia de ser o que é”. São
inúmeras vidas negras na luta contra o racismo cotidiano que nos mata de várias
formas e muitas vezes olhar para os lados e se sentir solitária e sozinha no
enfrentamento deste monstro tão grandioso. Mas, por tudo isso é necessário, é
preciso lembrar e, consequentemente, agradecer.
Agradecer a família e a quem veio antes e existiram antes de mim. À
Francisca Conceição Cortês (in memoriam), vó Chica, pessoa que deixou sua marca
em toda minha trajetória de vida, inspiração e espelho. À Izabel Sandoval do Carmo,
vó Bezinha. À Elizete Boa Morte do Carmo e Antonio Aylton Sandoval do Carmo,
pais que com seu esforço e tentativas de acertos deu-me a base familiar que
constituiu o sou hoje. Aos meus filhos Caiodê Boa Morte do Carmo Cardoso e Aline
Stern, pessoas que amo incondicionalmente e que, com suas existências, me deram
força para seguir em frente. Grata por terem me escolhido como mãe.
Agradecer à banca de avaliação. Ao professor Dr. Pedro Adolpho Jongers
Abib – meu orientador – que me escolheu para trilharmos juntos esses anos de
estudo e aprendizado. Uma pessoa leve, criativa e sorridente, mas desafiante e
generosa em seu olhar.
A Profª. Dra. Ana Célia da Silva, pessoa que desde os anos 80 esta na minha
vida, desde as reuniões do Movimento Negro Unificado no clube dos Arquitetos na
Ladeira da Praça; quando fazia seu doutorado na Faculdade de Educação (FACED)
da Universidade Federal da Bahia (UFBA); na coordenação do Curso de Direitos
Humanos – Raça e Discriminação, no mestrado na Universidade do Estado da Bahia
(UNEB) e tantos outros espaços. Entre idas e vindas, nos encontramos. Tenho seus
estudos e livros como inspiração para minha trajetória de vida.
Ao Prof. Dr. Cláudio Orlando Costa do Nascimento que foi meu professor no
mestrado em História da África, da Diáspora e dos povos indígenas na Universidade
Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) quando o conheci como profissional
competente, profundo e ser humano admirável.
A Profª Dra. Nanci Helena Rebouças Franco, amiga, irmã, comadre, há mais
de 25 anos na minha vida, perto ou longe as afinidades nos unem na trajetória de
luta, reflexões em prol da temática étnico-racial.
A Profª Dra. Rita de Cássia Dias Pereira de Jesus, minha querida orientadora
do mestrado, pessoa linda em todos os sentidos. Mulher sensível, profissional
competente, ser humano inspirador.
Agradecer aos parceiros da pesquisa. Aos gestores Silvania Mendes Libório
Leão da Escola Municipal do Pescador; Jorge Antonio de Oliveira, da Escola
Municipal General Labatut; e Roberta Messias Costa da Escola Municipal Professora
Sonia Cavalcanti.
As coordenadoras pedagógicas Adriana Costa Silva Martins Nonato, Eliecilda
da Conceição Souza e Elienay Mabel da Paz Carneiro Araújo, das escolas
respectivamente citadas acima e sem cujas presenças nada poderia ter sido feito.
Agradeço a cada uma por seu empenho, dedicação e enfrentamento às divergências
e apoio aos professores que aceitam aos desafios de algo novo e desconhecido.
Agradecimento as amigas/irmãs Antonia Maria Almeida Alves e Noliene Silva
de Oliveira, pessoas que encontrei no caminho e que seguem comigo nas
discussões acerca da temática racial, com as quais aprendo a cada dia.
A todas as colegas da Diretoria Pedagógica (DIPE) da Secretaria Municipal
de Educação de Salvador (Smed) e, em especial, a Gerência de Currículo (GERC),
espaço em que atuo e com as quais compartilho conhecimento acerca da educação.
A todos os membros do Núcleo de Políticas Educacionais das Relações
Étnico-Raciais (Nuper), aos que atuam no Órgão Central, nas Gerências Regionais
(GR’s) e nas escolas da Rede Municipal de Educação.
Professoras e professores, coordenadoras pedagógicas e coordenadores
pedagógicos, gestoras e gestores, secretárias e secretários escolares, técnicas e
técnicos das Gerências Regionais, pessoas com as quais, no diálogo constante,
apresentam materiais a reflexões e conclusões provisórias dos caminhos a seguir.
Grata a todas as pessoas que ao passarem pela minha vida participam e
contribuem para minha evolução como ser humano.
E, por fim, minha total reverência a João Itamar Costa Cerqueira da Silva –
Pai João – e a Casa da Força Ancestral que mudou positivamente o rumo da minha
vida e da minha evolução espiritual.
Meu Pai de Pena, orientador incondicional, e aos orixás que me dão o
caminho, a força, o equilíbrio aos quais peço, diariamente, sabedoria.
Encruzilhadas, cruzamentos, encruza,
cruz...
Caminhos, caminhadas, caminhantes,
cambiantes...
Possibilidades, possíveis....
Livre escolha dada por Ele que nos
orienta, desorienta, sacode e tormenta.
São tantas escolhas e opções...
Quem poderá dizer que não tem para
onde ir?
Quem é negro no Brasil? Esta pergunta suscita várias reflexões sobre a estrutura
populacional de Salvador, da Bahia e do Brasil, além de permite uma discussão das
características dos estudantes matriculados na rede e, concomitantemente, da
reflexão dos profissionais da educação, inicia o processo de construção de
metodologias para inserção da temática étnico-racial no currículo. A Lei nº
10.639/2003, no primeiro parágrafo, indica a obrigatoriedade do estudo da História
da África e dos Africanos. É neste conteúdo que centramos o presente estudo,
fazendo um panorama histórico e geográfico do Continente Africano, no sentido de
subsidiar as professoras e professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em
ampliar sua visão sobre o continente africano plural, diverso, com seu legado de
técnicas e conhecimentos, ampliando percepção para além de sua divisão
geopolítica formatada após a colonização do Continente pelos países europeus.
Toda nossa proposta de discussão é atravessada pelo estudo de currículo. Um
currículo que permita pensar a História da África e dos Africanos para além dos
estereótipos de fome, atraso no desenvolvimento, pobreza da população e dos
recursos minerais, guerras etc., ou seja, apenas uma visão negativa do mesmo. Esta
(re)construção do currículo, na escola, passa pela compreensão da complexidade
das questões que o envolve, das escolhas dos professores, das necessidades de
transversalisar os temas. A metodologia de pesquisa é de abordagem
predominantemente qualitativa, inspirada nos pressupostos da Pesquisa-Ação,
tendo como método de procedimento a Pesquisa-Formação realizada em três
escolas da Rede Municipal de Ensino de Salvador (Escola Municipal do Pescador,
Escola Municipal General Labatut e Escola Municipal Professora Sonia Cavalcanti)
do segmento dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A pesquisa a partir dos
projetos elaborados nas escolas participantes da pesquisa, em um processo de
construção coletiva e formação das professoras e professores, nos incitaram a
inserir, no currículo, alguns povos africanos. Estes elementos foram levados para o
cotidiano da escola em várias atividades nos diversos componentes curriculares e
na culminância de projetos. Por fim, propusemos caminhos, pistas, indicações e
proposições acerca da construção de um currículo que contemple a temática da
História da África e dos Africanos, de forma transversal ao conteúdo obrigatório dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano). Estas reflexões levaram a
construção do Referencial Curricular Municipal para Educação das Relações Étnico-
Raciais de Salvador.
Who is black in Brazil? This question raises several reflections on the population
structure of Salvador, Bahia and Brazil and allows for a discussion of the
characteristics of students enrolled in the network and, at the same time, the
reflection of education professionals and starts the process of building methodologies
for the insertion of the ethnic-racial theme in the curriculum. Law 10.639/2003, in the
first paragraph, indicates the obligation to study the History of Africa and Africans. It
is on this content that we focus this study, making a historical and geographic
overview of the African Continent, in order to support teachers from the Initial Years
of Elementary Education in broadening their vision of the plural, diverse African
continent and its legacy of techniques and knowledge, in addition to its geopolitical
division formatted after the colonization of the Continent by European countries. Our
entire proposal for discussion is crossed by the study of curriculum. A curriculum that
allows thinking about the History of Africa and Africans, beyond the stereotypes of
hunger, development delay, poverty of the population and mineral resources, wars,
etc., that is, just a negative view of it. This (re)construction of the curriculum, at
school, involves an understanding of the complexity of the issues that involve it, of
the teachers' choices, of the needs to cross-cut the themes. The research
methodology is a predominantly qualitative approach, inspired by the assumptions of
Action Research, having as a method of procedure the Training Research carried out
in three schools of the Municipal Education Network of Salvador in the segment of
the Initial Years of Elementary Education. From the projects developed in the schools
participating in the research, and in a process of collective construction and training
of teachers, it led us to include some African peoples in the curriculum. These
elements were taken to the daily life of the school in various activities in the many so
curriculum components and in the culmination of projects. Finally, we proposed
paths, clues, indications and proposals about the construction of a curriculum that
addresses the theme of African and African History, transversally to the mandatory
content of the Initial Years of Elementary School (1st to 5th year). These reflections
led to the construction of the Municipal Curriculum Framework for Education in
Ethnic-Racial Relations in Salvador.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 19
2 QUEM É NEGRO NO BRASIL? ....................................................................... 26
2.1 PERSPECTIVAS DE ALGUNS CONCEITOS................................................ 32
2.1.1 Raça / Etnia................................................................................................ 32
2.1.2 Miscigenação e Política de Imigração..................................................... 34
2.1.3 Negro........................................................................................................... 37
2.1.4 Racismo...................................................................................................... 38
2.1.5 Quesito Raça/Cor....................................................................................... 39
2.1.6 Autodeclaração / Heterodeclaração......................................................... 40
2.1.7 Política gradativa de Abolição, Lei Áurea e o 14 de Maio de
1888...................................................................................................................... 41
2.1.8 A importância e necessidade de implementação de políticas e de
dados.................................................................................................................... 45
2.2 ALGUMAS ESTRUTURAS MUNICIPAIS CITADAS....................................... 46
2.2.1 Setor da Secretaria de Educação ............................................................ 46
2.2.1.1 Núcleo de Políticas Educacionais das Relações Raciais......................... 46
2.2.1.2 Estruturas as quais o NUPER esta diretamente ligada a Secretaria da
Reparação............................................................................................................. 54
2.3 LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL VIGENTE................................. 54
3 HISTÓRIA DA ÁFRICA E DOS AFRICANOS: BASE DA CULTURA
BRASILEIRA........................................................................................................ 55
3.1 BERÇO DA HUMANIDADE! .......................................................................... 56
3.2 AFRICANOS: ESTRUTURAS SOCIAIS E ORGANIZAÇÕES
POLÍTICAS........................................................................................................... 58
3.3 ÁFRICA, CULTURA AFRO-BRASILEIRA E A ESCOLA................................ 70
4 MERGULHANDO NO UNIVERSO DA ÁFRICA NOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL.................................................................................... 78
4.1 PESQUISA-AÇÃO: ALGUNS RUMOS E CAMINHOS................................... 79
4.2 PERSCRUTANDO PERSPECTIVAS SOBRE A HISTÓRIA DA ÁFRICA E
DOS AFRICANOS................................................................................................ 82
4.2.1 Curso sobre África e os Africanos........................................................... 82
4.2.2 Participantes da Pesquisa......................................................................... 84
4.3 CRUZANDO CAMINHOS E PERSPECTIVAS: ESCOLAS, PROJETOS E
POVOS AFRICANOS........................................................................................... 88
4.3.1 Escola Municipal General Labatut............................................................ 88
4.3.1.1 A escola.................................................................................................... 88
4.3.1.2 O projeto da escola para 2019................................................................. 89
4.3.2 Escola Municipal Professora Sonia Cavalcanti...................................... 96
4.3.2.1 A escola.................................................................................................... 96
4.3.2.2 O projeto da escola para 2019 ................................................................. 97
4.3.3 Escola Municipal do Pescador................................................................. 103
4.3.3.1 A escola.................................................................................................... 103
4.3.3.2 O projeto da escola para 2019.................................................................. 104
4.3.4 Os Povos Africanos................................................................................... 106
5 ENCRUZILHADAS METODOLÓGICAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES................................................................................................ 113
5.1 UM OLHAR SOBRE O CURRÍCULO............................................................. 113
5.1.1 Programa Nossa Rede............................................................................... 117
5.2 COMPREENSÕES DA PESQUISA................................................................ 120
5.2.1 Coordenadores Pedagógicos................................................................... 122
5.2.2 Formação de Professores......................................................................... 123
5.3 REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL PARA EDUCAÇÃO DAS
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS DE SALVADOR.................................................. 124
5.3.1 Anos Iniciais do Ensino Fundamental..................................................... 128
CONCLUSÃO....................................................................................................... 138
REFERENCIAIS................................................................................................... 145
APÊNDICE A - PROJETO DA ESCOLA MUNICIPAL GENERAL LABATUT.... 152
APÊNDICE B - CARTA CONVITE....................................................................... 154
APÊNDICE C – PLANO DE TRABALHO DA PRIMEIRA REUNIÃO COM
PESQUISADAS.................................................................................................... 156
APÊNDICE D - PERFIL COMPLETO DAS PARTICIPANTES............................ 157
APÊNDICE E – TERMO DE AUTORIZAÇÃO..................................................... 158
APÊNDICE F – SISTEMATIZAÇÃO DA PESQUISA.......................................... 159
ANEXO A - FICHA DE APLICAÇÃO DA ATIVIDADE DO CURSO.................... 160
ANEXO B - PLANEJAMENTO SEMINÁRIO DE ENCERRAMENTO DO
CURSO................................................................................................................. 162
ANEXO C - MAPAS UTILIZADOS PARA ESCOLHA DOS POVOS
AFRICANOS......................................................................................................... 163
ANEXO D - FLUXOGRAMA – NUPER 2021....................................................... 165
ANEXO E - TABELA GERAL DOS TEMAS PRIORITÁIOS................................ 166
ANEXO F – COMPÊNDIO: POVOS ESTUDADOS.............................................
19
1 INTRODUÇÃO
professor dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em ampliar sua visão sobre o
continente. A ênfase dada a esta temática configurou-se em apresentar,
brevemente, as formas de organização social e política, a organização familiar, as
artes, as tecnologias, as línguas como forma de apresentar um continente plural e
diverso, que leve este profissional a não somente ver o continente a partir de sua
divisão geopolítica formatada após a colonização do continente pelos países
europeus.
O capítulo subseqüente apresenta o caminho percorrido para construção da
pesquisa de abordagem predominantemente qualitativa, inspirada nos pressupostos
da Pesquisa-Ação, tendo como método de procedimento a Pesquisa-Formação. A
partir dos projetos elaborados nas escolas participantes pesquisa, e em um
processo de construção coletiva e formação que nos levou a pesquisar os povos
Ovibundos, Zulus, Merina, Malês/Haussas, Kikuyu, Batu e Akan.
Enfim, chegamos às encruzilhadas metodológicas que tem a proposta de
apresentar uma reflexão a partir do processo desenvolvido no trato com os
profissionais de educação da Rede Municipal da Educação do Salvador, propondo
caminhos, pistas, indicações e proposições acerca da construção de um currículo
que contemple a temática da História da África e dos Africanos, de forma transversal
ao conteúdo obrigatório dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º Ano) nas
escolas. Estas reflexões levaram a construção do Referencial Curricular Municipal
para Educação das Relações Étnico-Raciais de Salvador.
.
26
Este capítulo não tem como objetivo responder de forma aprofundada, a partir
de uma vertente antropológica, histórica ou social, a conceituação de negro na
sociedade brasileira, mas apontar elementos de uma discussão realizada durante
alguns anos no setor da Secretaria de Educação do Município de Salvador que tem
como função implementar políticas acerca da temática étnico-racial no âmbito da
secretaria. São experiências adquiridas através do diálogo com os profissionais da
educação dos vários setores do Órgão Central, das Gerências Regionais2 (GR’s) e
de outros que atuam nas mais de 400 unidades escolares3 da Rede Municipal de
Educação.
A questão título deste capítulo é realizada, constantemente, nos últimos
quatro anos quando da minha atuação como coordenadora do Núcleo de Políticas
Educacionais das Relações Étnico-Raciais (NUPER), setor ligado à Diretoria
Pedagógica da Secretaria de Educação do Município de Salvador (DIPE). Enquanto
representante da Secretaria de Educação no Comitê Técnico do Programa de
Combate ao Racismo Institucional (PCRI), coordenado pela Secretaria da
Reparação e que integra o planejamento estratégico da Prefeitura do Salvador,
tenho como função executar as ações propostas pelo comitê, bem como
implementar as ações previstas no Plano Municipal de Políticas de Promoção de
Igualdade do Programa de Combate ao Racismo Institucional, que tem como um dos
seus objetivos principais a inserção do Quesito Raça/Cor4 em todos os documentos
oficiais das secretarias.
públicas realizadas para negros se constituem tomando por base dados de pretos e
pardos. Evidenciou-se que poucos profissionais da educação sabem desta
diferença, fator que é notado em várias atividades elaboradas e em falas onde os
termos são usados como sinônimos.
Há muitas discussões e discordâncias acerca das terminologias de preto,
negro e pardo. Caberiam vários debates, porém, tais conceitos são utilizados em
todas as sensibilizações a partir dos parâmetros oficiais estabelecidos pelos órgãos
públicos responsáveis por esta política, pois as discussões são circunscritas a um
público específico, a saber, servidores e servidoras públicas da prefeitura de
Salvador. Sendo assim, na função de servidora e servidor público, não cabe a
militância sem lastro oficial, ou meramente proposições particularizadas ou com
referência apenas acadêmica.
Todos esses elementos são importantes para construção de uma narrativa
que a partir de reflexões concretas possam nos colocar a serviço do responsável
direto da nossa ação, que é a população soteropolitana, mas notadamente as
estudantes e os estudantes matriculados na Rede Municipal de Ensino de Salvador.
É importante levar em consideração que o discurso do senso comum é de
que “somos um país mestiço”, miscigenado e misturado. Por isso perguntamos se é
possível que um dia uma pessoa acorde e decida se autoclassificar “puxada para
branca” ou “quase preta” ou ainda “cor de cuia”? Esta pergunta nos leva a iniciar
uma discussão acerca das dificuldades que as pessoas possuem em se enquadrar
em uma classificação e a tendência de focarem na cor da pele como parâmetro para
tal. Vale ressaltar que desde o primeiro recenseamento geral da população
realizado em 1872, com exceção dos anos de 1900 e 1920, todos possuíram o
quesito cor como parâmetro na coleta de dados (ROSEMBERG, 2003; OSÓRIO,
2004; PETRUCELLI, 2004).
As reflexões feitas a partir desta ampla categorização de pardo – promovida
pela lista das 135 cores no PNAD - e a possível tendência de se afastar cada vez
mais do que é apresentado como negro no Brasil é realizada a partir da
apresentação do quadro “A Redenção de Cam”, de 1895, do pintor espanhol
Modesto Brocos y Gómez, onde tem início as discussões acerca da política de
imigração e posterior política de “branqueamento” da população.
30
7Nossos e nossas no sentido de pertencimento à Rede Municipal de Ensino a qual atuo diretamente
como Coordenadora do Nuper e desta maneira me refiro, em alguns momentos ao construir a
narrativa dos encontros formativos, espaço de colaboração e co-criação.
35
8 VILA, Martinho da. Monteiro Lobato não era racista. Nós também não somos. Portal Geledés. São
Paulo, 27 de Abril de 2011 (Educação/ Dossiê Monteiro Lobato). Disponível em:
https://www.geledes.org.br/monteiro-lobato-nao-era-racista-nos-tambem-nao-somos/ Acesso em:
Acesso em: 24 mar. 2021.
9 SMANIOTTO, Edgar Indalecio. O Presidente Negro: síntese do pensamento racista de Monteiro
Lobato. Portal Geledés. São Paulo, 29 de outubro de 2010 (Educação/ Dossiê Monteiro Lobato).
Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-presidente-negro-sintese-pensamento-racista-de-
monteiro-lobato/ Acesso em: 24 mar. 2021.
36
frontalmente com a realidade apresentadas nos jornais diariamente e, por certo, com
o cotidiano vivenciado por nossas alunas e nossos alunos na periferia da cidade do
Salvador. Quando eles, profissionais da educação, evidenciam esta “mistura” e esta
suposta igualdade, homogeneização e isonomia de direitos sociais estão reforçando
o mito da democracia racial que, embora contestado veementemente, ainda
perpassa pelo discurso desses profissionais.
2.1.3 Negro
10Lei nº 7.716 de 05 de janeiro de 1989 que define crimes de preconceito de raça ou de cor, também
conhecida como Lei Caó.
38
2.1.4 Racismo
diversas ascendências e que não acham justo escolher uma para sua classificação,
em detrimento de outra.
Há de considerar que estes dados são de extrema relevância não só pela
discussão que leva os indivíduos envolvidos a pensarem sobre o lugar onde ocupa,
ou seja, a partir de que perspectiva esta pessoa entende ou viabiliza a discussão da
temática, mas, indicando o percurso pelo qual irá percorrer para fazer com que as
estudantes e os estudantes na Rede Municipal de Educação reflitam sobre si e de
como estes dados impactam na garantias de direitos e nas políticas públicas da
cidade do Salvador.
É necessário a partir de uma visão pessoal de autodeclaração ou
autoclassificação passar a pensar no que impacta coletivamente. As políticas
públicas voltadas para a população negra no Brasil é uma tomada de consciência
dos direitos assegurados as cidadãs brasileiras e aos cidadãos brasileiros que, nem
sempre chega à periferia das grandes cidades, onde muitos não reivindicam por falta
de conhecimentos de tais direitos.
A distribuição da população no espaço da cidade, em função do Quesito
Raça/Cor, denota um padrão que remonta a própria constituição da cidade. O que
aparentemente pode ser considerado por muitos como “normal”, revela uma
desigualdade, uma segregação reforçada ao longo da história e que recai, muitas
vezes, no discurso de que a desigualdade é de cunho financeiro e não racial. As
políticas públicas de saúde, transporte, educação circulam mais facilmente em
determinados bairros e em outros não. Por quê?
Portanto, apresentar e problematizar a partir dos dados coletados do Quesito
Raça/Cor e relacioná-los com os direitos básicos das cidadãs e dos cidadãos
soteropolitanos podem apresentar elementos que revelem quantitativamente o que é
sentindo cotidianamente de forma qualitativa.
pais ou responsáveis, que utilizam sua visão de mundo para informar, ou não
informar, o Quesito Raça/Cor da dependente e do dependente do qual está fazendo
o processo de matrícula. Isso nos leva a propor a professora e ao professor que
viabilize discussão da autodeclaração por parte das alunas e dos alunos para que, a
partir desta experiência pessoal, possibilite o início do processo de
autoconhecimento e do processo pessoal de construção de identidade.
Proporcionar momentos de reflexão sobre a autoclassificação é, portanto, um
momento inicial de compreensão do processo de construção da sociedade. É
importante e necessário reconhecer que a heteroclassificação e a autoclassificação
são processos distintos, embora ambos estejam na base da identidade.
É notório que a identidade se constitui na relação com o outro social e que,
por este fato, deve estar no currículo escolar de forma planejada e apoiada em um
conhecimento da temática por parte da professora e do professor que mediará este
processo. Processo este que se inicia desde o espaço familiar, depois quando a
criança é registrada em cartório e posteriormente matriculada na Educação Infantil,
ou seja, é no espaço de convivência que a identidade de constrói.
As leis comentadas são: Lei de Proibição ao Tráfico Negreiro (1831), Lei de Terras
(1850), Lei do Sexagenário (1885), Lei do Ventre Livre (1871) e Lei Áurea (1888).
Como essas leis ajudam na reflexão da realidade da população hoje?
Partindo da perspectiva de que cada encontro não se constitui em um curso de
história e que o tempo é exíguo para reconstituir um processo histórico de mais de
500 anos de Brasil, apenas assinalamos elementos no sentido de apresentar alguns
pontos que permitam perceber as condições atuais da população negra em Salvador
e no Brasil.
O Reino Unido proibiu o tráfico negreiro em 1807 em suas colônias e
começou a pressionar outros países para fazer o mesmo. Sua pressão levou o
governo a fazer a Lei de 7 de novembro de 1831 que “declara livres todos escravos
vindos de fora do Império, e impõe penas aos importadores dos mesmos escravos”.
Esta lei iniciava o processo de proibição do tráfico negreiro, também conhecida
como “lei para inglês ver”, pois a proibição só se “consolidou” com a Lei nº 581, de 4
de setembro de 1850 que “estabelece medidas para a repressão do tráfico de
africanos neste Império”.
No mesmo ano da proibição do tráfico foi promulgada a Lei nº 601, de 18 de
setembro de 1850, onde “Dispõe sobre terras devolutas do Império”. A lei em vários
de seus artigos favorece a consolidação do imigrante na ação de colonizador das
terras e trabalhador livre, “importação de colonos livres”; “e de promover a
colonização nacional e estrangeira”, como também dá prioridade de compra de
quem as possuía. Vejamos sobre isso no trecho a seguir,
priorizava quem já possui terras e a imigrantes europeus. Lei do Ventre Livre que de
forma legal possibilita que estas crianças nascidas “livres” pudessem trabalhar até
os 21 anos. Por fim uma lei que liberta todos os escravizados que, ainda estivessem
nesta condição em 13 de maio de 1888. A Lei Áurea, com dois artigos, não
assegurou direitos daqueles que ao longo de séculos sustentou, constituiu e
solidificou a sociedade brasileira.
Para ter uma visão mais ampla da condição da população negra atualmente é
conversado a respeito dos dias após o 13 de maio de 1888, onde a moradia, a
saúde, as condições de trabalho, a educação, enfim os direitos não foram extensivos
a população escravizada, ora liberta por força da lei.
Sendo assim, podemos constatar, a partir de dados do IBGE (precisamente
12
os dados das Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, 2018), que os
pretos e os pardos estão sempre em condições inferiores quando comparados com
os brancos, seja em relação aos rendimentos salariais (entre os 10% de maiores
rendimentos: brancos 70,6% x pretos e pardos 27,7%), ao fornecimento de água
potável (branco: 15,1% x pretos e pardos: 17,9%) ou mesmo a coleta de lixo
(brancos: 6% x pretos e pardos: 12,5%), a não possuírem máquina de lavar
(brancos: 21% x pretos e pardos: 44,8%), ou possuírem um grande número de
analfabetos (analfabeto com 15 anos ou mais: brancos 3,9% x pretos e pardos
9,1%).
Mas, basta termos os dados?
Esta realidade deve ser analisada à luz do processo histórico de constituição
da nossa sociedade sob pena de focarmos apenas nas consequências sem um
mínimo de entendimento das causas que nos levaram a esta realidade, colocando,
apenas no indivíduo a culpa por um processo coletivo de muitos anos.
As condições e os direitos da população negra na sociedade brasileira hoje é
fruto do processo escravista e do que se denomina efeito “dia 14 de maio de 1888”,
que reverbera até hoje. 13
12 Dados de 2018 obtidos através da tabela de “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”.
Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/10091/0?indicador=82296 Acesso: 02 jul.
2018.
13 Para fazermos toda esta discussão foi utilizada a música intitulada 14 de maio, composta por Jorge
14Com unidades cujo território reconhecido pela Fundação Cultural Palmares como Área
Remanescente de Quilombo.
50
o Representação
o Indígena
o História da África
o Cultura Afro-Brasileira
Além dos temas acima apresentados a temática indígena também se faz
presente. Ela é transversal e deve aparecer em todas as discussões metodológicas.
Destacando que a análise compreende as especificidades da cidade de Salvador
(perspectiva local e regional). Sublinhamos que podem ser notados outros temas
pertinentes a serem inseridos, perpassando as discussões, a exemplo de Gênero,
Racismo Ambiental, Racismo Religioso dentre outros.
d) Parcerias Institucionais
A parceria com a Fundação Cultural Palmares (FCP), que ocorre desde 2017,
a contar do projeto Conhecendo Nossa História da África ao Brasil16, onde além de
fazer formação nas 19 cidades arroladas do projeto, ocorreu a colaboração com a
reformulação do livro “O que você conhece sobre a África?” na condição de
Consultora de Conteúdo. Há de se destacar que a SMED/Salvador através do Nuper
foram os propositores da revisão do mesmo ao serem observadas inadequações do
primeiro livro apresentado, sendo plenamente acatada pela FCP.
e) Representações
16 Mais informações acessar a página da Fundação Cultural Palmares (FCP). Disponível em:
http://www.palmares.gov.br/?page_id=52755 Acesso em: 28 nov. 2018.
54
Um povo sem conhecimento da sua história, origem e cultura é como uma árvore
sem raízes.
Marcus Garvey
Este capítulo busca apresentar alguns aspectos gerais acerca da história, das
culturas e geografia do Continente Africano, no sentido de subsidiar e instigar as
professoras e os professores, dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em suas
reflexões, pesquisas e ampliação de suas percepções e perspectivas acerca do
continente.
A Lei nº 9.394/1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
em seu artigo 26 A, regulamentado pela Lei nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003 e,
posteriormente alterada pela Lei Nº 11.645/08 de 10 de março de 2008, tornou
obrigatório o estudo da Cultura Afro-brasileira e indígena. Ambas as leis possuem
em seu primeiro parágrafo o estudo da História da África e dos Africanos como
conteúdos importantes para o entendimento da formação da população e da
sociedade brasileira. Portanto, optei por, no presente estudo centrar nossas
discussões, especificamente, na História da África e dos Africanos.
Não obstante os Livros Didáticos e da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) focarem, no conteúdo do componente curricular de História, os conteúdos
são dispostos de maneira crescente, ou seja, o reconhecimento do “Eu”, do “Outro”
e do “Nós”, iniciando pelo Eu e o Outro, bairro, cidade, zona urbana e rural e,
finalmente, a diversidade das sociedades (BRASIL, 2017). A ênfase e proposição é
inserir o estudo da História da África e dos Africanos de forma articulada e
transversal, pois é observada a necessidade que as professoras e os professores
discutam o conteúdo “continente” nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Na
prática, o cenário observado denota que, em função da estrutura curricular, pouca
atenção é dada a esta temática nos Anos Iniciais.
Pode parecer óbvio, porém, é necessário apresentar alguns aspectos que
possam contrapor a ideia naturalizada e cotidiana de que o Continente Africano seja
um bloco monolítico, uno, geral, pois comumente ouvimos e lemos expressões
56
em tão grande tarefa? Porém, embora seja de conhecimento comum o tão pouco
tempo que os profissionais da educação têm para dedicar-se ao estudo, face aos
inúmeros afazeres inerentes à profissão, sem que haja um mínimo de conhecimento,
de leitura e de interesse, não teremos meios de conhecer alguns elementos básicos
que possibilite a ampliação de repertório acerca do Continente Africano. Assim,
enfatiza-se que é importante o estudo para ir além dos estereótipos ligados a África
que ainda é vista apenas de forma negativa em seus aspectos ligados a fome,
miséria, guerras, pobreza e doenças.
Se a ciência afirma que na África surgiu os seres humanos tal qual eles são
hoje, pergunto o porquê, desde tenra idade, ao estudarmos as fases do
desenvolvimento humano, dentro da divisão do componente curricular História (tais
como as periodizações da Idade da Pedra Lascada, Idade da Pedra Polida, Idade do
Ferro, Idade do Bronze dentre outras) estes fazeres históricos que nomeiam tais
períodos não eram ligadas a um local, a um território.
Pensar no desenvolvimento dos seres humanos, desde a evolução corporal,
intelectual e de adaptação ao meio ambiente, sua relação com a natureza e com os
outros animais, a elaboração de formas de alimentação, de coleta, de caça e pesca,
bem como, formas de sobrevivência que são ampliadas com a elaboração de novas
técnicas e do desenvolvimento de tecnologias, que com o tempo, facilitam suas
ações, é um grande percurso histórico.
As tecnologias desenvolvidas proporcionavam uma maior obtenção de
alimentos e maior tempo de vida. O fato de colocar na ponta de um bastão ou osso
um pedaço de pedra lascada ou polida para aumentar o corte, ou mesmo construir
artefatos como machados ou cozimento da argila para produção de recipientes
demonstra esta evolução. Desde a primeira comunicação ou registro humano
através das pinturas rupestres, datadas de, aproximadamente, 26 mil anos e a
produção de alimentos cultivados, ou seja, a agricultura, com a plantação de trigo,
cevada, milho-miúdo, arroz (africano), sorgo, dendê e inhame, feijão-caupi (que
conhecemos como feião fradinho), e ainda, achados arqueológicos provam que a
pecuária, criação de animais domésticos, como cabras, bois e carneiros surgiram em
diversos pontos do continente africano, considerando seu clima e relevo, a exemplo
da Mauritânia há cerca de 3.500 anos (CONNAH, 2013). Várias pinturas apresentam
estas ações do cotidiano que demonstram este trabalho de pastorear animais e
58
O mapa abaixo nos mostra a amplitude desta expansão e grande influência dos
povos Bantu no Continente Africano.
Fonte: CONNAH, Graham. África Desconhecida. Uma introdução à sua Arqueologia. 2013, p.161.
I Gana
Gana foi um forte estado fundado no século IV pelo povo soninquê e entrou
em declínio no século XIII. Gana era o nome dado ao soberano e significa “chefe de
guerra”. O soberano também recebia a designação de “rei do ouro” (tunca e caia-
manga).
A região ficou conhecida como grande produtora e comerciante de ouro, mas
também comercializava outros produtos. Localizou-se na região entre o deserto do
Saara e as florestas tropicais, onde atualmente está o país da Mauritânia.
O comércio através do controle das rotas comerciais ao longo do deserto
eram suas principais formas de economia, com importantes entrepostos comerciais,
onde moravam mercadores ricos que habitavam casas de dois andares com até
nove quartos. Nas diversas aldeias, as famílias viviam em casas com plantações de
pepinos, palmeiras, figueiras e curais para criação de carneiros e aves. Em seus
domínios havia mesquitas, pessoas letradas e professores assalariados. Havia
elegantes construções de casas feitas de pedra e madeira e o palácio real era
enfeitado com esculturas, pinturas e vitrais, onde além do comércio de ouro e sal, se
negociava produtos agropecuários e cavalos.
O rei cobrava o imposto de um dinar de ouro para cada carga de asno com
sal que entrava em seu país, e dois dinares de ouro para cada carga de sal que
saia. Todas as peças de ouro que eram nativas e encontradas nas minas pertenciam
ao soberano, embora ele deixasse o povo ter um pouco de ouro em pó, isso
certamente com o conhecimento de todos.
II Mali
O Mali surgiu logo após a queda do Império de Gana. Em 1180, Diarra Kanté,
um guerreiro de um clã de ferreiros adversários do Islão, conseguiu tomar a cidade
de Kumbi Saleh, capital do antigo império de Gana, mas sem ocupar as jazidas de
ouro que são controladas pelos malinqués (“homem de Mali”). Nos mostra Alberto da
Costa e Silva (2006) que
[...]
A cavalaria era a arma dos homens livres. O grosso das tropas de
arqueiros seria composto de escravos. Ou totalidade delas, como
possivelmente nos regimentos que respondiam de modo direto ao
mansa.
De escravos formava-se a guarda pessoal do soberano. Escravos
eram muitos, e dos mais importantes, funcionários da corte.
Forasteiros, sem laços com as famílias da nobreza, vinculados
apenas ao dono, tinham eles condições especiais para preencher os
ofícios políticos de absoluta confiança do rei. Sujeitos inteiramente a
quem se tinha pelo mais poderoso de todos os homens,
transformavam o cativeiro em poder e, quando o rei era na realidade
um fraco, tutelavam-no e por intermédio dele exerciam o mando. Em
momentos de crise [...] podiam até mesmo assumir a condição de
mansa. (SILVA, 2006, p. 330; 338-339)
O Império teve seu apogeu no início do século XIV com o governo de Mansa
Mussa. O Mali era um reino essencialmente agrícola, porém, com os malinqués foi
desenvolvida a cultura do algodão, do amendoim e da papaia, além da criação de
gado. As cidades de Tumbuctu18, Jené e Gaô foram importantes centros de trocas e
de concentração de pessoas, além de centros culturais e comerciais, com uma forte
presença dos costumes pregados pelo Islã presentes nas técnicas de construção de
casas e prédios, nas roupas e turbantes e na educação que eram ensinadas nas
universidades árabes na cidade de Tumbuctu.
O Mali não tinha organização distinta de seu antecessor, o de Gana. Não era
um estado unitário, pois o Mansa adotou a postura de
18 Timbuktu, a “cidade santa”, a “misteriosa”, a “inacessível”, é uma fabulosa cidade de areia situada
no nordeste do atual Mali, ao sul do imenso deserto do Saara e um pouco afastada da margem
esquerda do rio Níger. [...] No século XV, Timbuktu contava com cerca de 100 mil habitantes dos
quais 25 mil eram “estudantes” que frequentavam a universidade de Sankoré, atualmente
transformada em mesquita. Para maiores informações ver o material produzido por Valter Pitta,
denominado “O fascinante universo da História. Os manuscritos de Timbuktu”.
67
III Songai
19 Cadernos Nossa Rede. Ciências Humanas e da Natureza – 4º ano. Atividade da página 107 do
livro da professora e do professor.
72
brasileiros. A visão que se tem de África ainda é de guerras, fome, doenças, selva e
animais “exóticos”. Tal visão não reforça apenas a inferioridade e o
subdesenvolvimento do continente frente aos demais, especialmente ao continente
europeu, o qual desde a constituição do Brasil é apresentado como realizador do
grande feito de colonizar este país, impondo sua cultura.
A leitora e o leitor desta tese podem constatar em um breve relato, descrito no
capítulo anterior, o quanto do desenvolvimento da humanidade há no continente
africano. Desenvolvimento humano que levou a criação de várias técnicas, na
elaboração e criação de instrumentos, arranjos populacionais, ou seja, adaptação ao
meio no sentido de preservação e multiplicação da espécie. Ao desqualificar ou
invisibilizar a produção tecnológica e desenvolvimento de técnicas que ajudaram a
existência e sobrevivência da humanidade, reforça-se a ideia de que aqueles que
foram trazidos à força para o Brasil fossem desprovidos de qualquer conhecimento.
Esta visão distorcida recai sobre seus descendentes, como se a inaptidão atribuída
ao continente fosse transmitida a todas e a todos aquelas que deles vieram ou
descenderam.
As negras e os negros em nosso país foram alforriados, porém esta visão de
inferioridade em função da origem geográfica se perpetua até hoje consubstanciada,
também pela visão negativa do continente africano. Ainda hoje ouvi-se que os
negros são “herdeiros da escravidão”, ou seja, associado ao trabalho degradante, a
humilhação, a uma mercadoria, uma coisa.
Muitas vezes o caminho mais curto não é o que produz melhor resultado, ou
resultados mais duradouros. Como compreender as bases da formação da
sociedade brasileira e mais notadamente da sociedade soteropolitana sem
conhecer, mesmo que superficialmente alguns elementos que constituem o
continente africano? Elementos estes que agucem a curiosidade tal como: a África é
um continente com 54 países, não é um país; possui mais de 2.000 línguas e não
dialetos; possui vários tipos de relevos e climas e não apenas savanas; há fauna e
flora do continente; as características físicas dos vários povos são bem distintas e
fundamentalmente as culturas destes povos eram diversas.
Observa-se que tal perspectiva é reafirmada por Trajano Filho (2004) quando
diz que juntamente com os povos que foram trazidos como escravizados também
foram trazidos:
75
É preciso transpor muitas barreiras que nos foram impostas para iniciarmos
uma prática educacional que apresentem linhas de reflexão que ligue o processo
histórico de constituição da sociedade brasileira, e em particular soteropolitana, com
valores e conhecimentos constituídos ao longo da história da África e,
principalmente, dos africanos.
Um desafio, entre tantos desafios que nos apresenta a temática, é sairmos do
debate imposto da estética ligada ao povo negro no Brasil, ligada a cor da pele, a
textura do cabelo, formato dos lábios e do nariz ou mesmo, da indumentária na
76
utilização de torço, bata ou roupas coloridas para enfrentar uma mudança radical de
postura.
Apoiadas e apoiados em conhecimentos produzidos em África, mais
notadamente antes das negras e dos negros serem forçados a vir para o Brasil,
pode-se atestar, sem sombra de dúvidas, que nunca lhes faltou inteligência,
conhecimentos, criatividade, inventividade, o que derruba indubitavelmente a ideia
de que os escravizados eram “tabulas rasas” e que tudo que aprenderam foi graças
ao colonizador empreendedor e civilizador.
Os povos forçados a trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar, nas plantações
de café, na pecuária e nas minas de ouro já possuíam técnicas e já aplicavam
tecnologias para em suas terras de origem. O fortalecimento da identidade e da
autoestima das estudantes negras e dos estudantes negros precisam, também, ser
assentadas no processo de reconhecimento de evolução africana em seus diversos
aspectos e principalmente em seus povos.
Ubiratan Castro de Araújo (2004) nos indica que “o lugar de liberdade original
não pode estar dentro do Brasil” e eu ouso dizer que também o espaço de
conhecimentos, de filosofias e de tecnologias, de ancestralidade, de memória que
atravessa a população negra devem ser buscados e entendidos em África.
Quando você nasce em um mundo onde você não se encaixa, é porque você
nasceu para ajudar a criar um mundo novo.
Pádua
Como informado anteriormente, no ano de 2017, foi ministrado por mim, pela
professora Noliene Silva de Oliveira, integrante do Nuper naquela data, e a
professora Antonia Maria Almeida Alves, ex-integrante do Nuper e aposentada da
Secretaria Municipal de Educação, um curso de 100 horas com a proposta de
elaborar metodologias na perspectiva de encontrar caminhos na produção de pistas
metodológicas para trabalhar a temática de História da África e dos Africanos nos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental20.
No processo de inscrição, exposição via link do formulário de inscrição no site
da Secretaria Municipal de Educação, obtivemos 141 pessoas inscritas, porém como
os principais critérios para participação no curso foram que os inscritos fossem
professoras ou professores da Rede Municipal de Educação e que possuíssem
atividade extraclasse21 no dia de quarta-feira, para que evitássemos afetar a carga
horária destinada às atividades inerentes ao exercício docente. Sendo assim, após
apurada análise, formamos uma turma com 35 profissionais.
O curso História da África e dos africanos nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental teve carga horária de 100 horas, distribuídas conforme apresentado no
quadro abaixo:
Ilustração 06 – Quadro de Etapas do curso História da África e dos Africanos nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental
Carga
Nº Etapas
Horária
1 1ª etapa: oficinas temáticas 56
1.1 Caminhos abertos pela lei 10.639/03 – 8 horas
Produto: levantamento das dificuldades na aplicação da lei
1.2 África Pré-colonial – 16 horas
Produto: Levantamento dos conteúdos a serem trabalhados nos anos
iniciais do Ensino Fundamental
1.3 África Pós-colonial – 16 horas
Produto: Levantamento dos conteúdos a serem trabalhados nos anos
20 Ver: CARMO, Eliane F. Boa Morte do. Currículo e relações étnico-raciais nos anos Iniciais do
Ensino Fundamental: por uma outra lógica. In: Diálogos Plurais: produção de conhecimento em
história e cultura afro-brasileira e indígena. Santos, Roberto Carlos O. dos; Carmo, Eliane F.B.M.;
Jesus, Hélia R. M. de. (Org.) São Paulo: Literáfrica, 2021. E-book. Disponível em:
https://www.literafrica.com/product-page/e-book-di%C3%A1logos-plurais-pesquisas-acade-micas-17-
autores Acesso em: 04 nov. 2021.
21 Segundo definido no art.30, inciso II, da Lei nº 8722/2014 que dispõe sobre o Plano de Carreira e
22
Ver chamada de encerramento no site da Smed: Núcleo de Políticas Educacionais das Relações
Étnico-Raciais (Nuper) completa dez anos. Disponível em: http://educacao.salvador.ba.gov.br/nucleo-
de-politicas-educacionais-das-relacoes-etnico-raciais-nuper-completa-dez-anos/ Acesso em: 20 jan.
2019.
84
História da África e dos Africanos. Ao fim das 100 horas propostas se apresentou um
novo rumo para elaboração das pistas metodológicas.
Em janeiro de 2019 foi enviada, por e-mail, uma carta convite23 para 11 (onze)
pessoas que fizeram mais de 50% do curso em 2017. Das pessoas convidadas sete
compareceram ao encontro marcado para o dia 22 de fevereiro, realizada na sala do
Grupo de Pesquisa Griô, no 3º andar da Faculdade de Educação da Universidade
Federal da Bahia - UFBA.
Nesta reunião foram apresentados o Projeto e os procedimentos
metodológicos da pesquisa a proposta da pesquisa, entregue da ficha de dados
pessoais e profissionais para preenchimento e termo de consentimento para
assinatura. Também foram discutidos os procedimentos de acompanhamento
(descrito mais a frente), elaboramos um calendário de reunião e entregue um kit
(composto por caderno de campo, pen drive e classificador) para acompanhamento
e registro da pesquisa. Após esta reunião concordamos em criar um grupo no
aplicativo Whatsapp para agilizar a comunicação.
PROCEDIMENTOS:
Encontros coletivos mensais
Planejamento das atividades, estudo de textos, escolha de temas de trabalho,
discussões acerca das atividades e das anotações dos cadernos.
Visitas às escolas (calendário de acompanhamento)
Duas vezes no mês haverá visita a escola para discutir a aplicação das atividades
(dificuldades, entraves, propostas e procedimentos). As visitas tem o objetivo de
pensar cada proposta individualmente a partir de suas especificidades.
Áudio diário
TODOS os dias, no áudio, devem conter seu nome e data do dia.
É imprescindível para a pesquisa que TODOS os dias seja enviado um áudio para o
grupo do whatsapp ou para o meu whatsapp particular (a decidir) contendo
impressões acerca da pesquisa, aquilo que chamou mais atenção, uma sugestão,
uma parte importante da atividade realizada, ou seja, algo alusivo as atividades
propostas.
Caderno de Registros
Servirá para registro da atividade, dificuldades, ideias, pensamentos sugestões
textos, memórias, colagens, desenhos etc.
Pendrive
Servirá para guardar fotos e/ou transferir arquivos, bem como livros, textos e não
sobrecarregar os dispositivos.
Grupo de Whatsapp
Tem o objetivo de agilizar a comunicação. Neste grupo deve ser postado somente
conteúdos relativos a pesquisa, caso haja alguma foto ou arquivo a ser postado
DEVE ser enviado para o privado ou por e-mail.
Endereço no Skype
Caso haja necessidade de outro encontro coletivo isso poderá ser feito através de
conferência utilizando Skype. Sendo assim é necessário que todas possuam uma
conta no Skype.
Grupo de e-mail
Para facilitar o envio e a troca de arquivos grandes e fotos.
Textos complementares, material de suporte, livros, artigos e serão enviados por e-
mail
Endereço para envio: boamorte.ufba@gmail.com
86
4.3.1.1 A escola
Todos os Santos. Recebeu esse nome pelo Decreto Municipal nº 5363 de 28 de abril
de 1978.
Em 2014, o Parque ganhou um espaço de lazer, com novas instalações para
eventos culturais e esportivos, mas apesar dessa importância histórica, cultural e
ambiental, os moradores não se sentem seguros em desfrutar da beleza que o
Parque revela.
horas;
2º Encontros com professoras e professores em pequenos grupos - carga
horária 16 horas totais;
3º Oficina de Planejamento para o segundo semestre - carga horária 8 horas.
Na primeira oficina foram discutidas as possibilidades de estudo da História
da África antes do processo de colonização europeia. Foi entregue as professoras e
aos professores dois textos: História da África – Uma introdução de Ana Mónica
Lopes e Luiz Arnaut e História da África e do Brasil Afrodescendente de Yanê Lopes
dos Santos para serem lidos previamente. A partir dos textos foram debatidos os
temas escolhidos para o projeto do segundo semestre da escola, a saber: Países
Africanos de Língua Portuguesa (Moçambique, Guiné Bissau, Angola, Cabo Verde,
São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial). Os mapas, em anexo, indicados
possibilitaram a escolha dos povos que habitam os territórios dos países escolhidos.
Os encontros em pequenos grupos foram organizados pela coordenação
pedagógica da escola nos dias de encontro pedagógico, distribuídos nos seguintes
dias: terça-feira (à tarde), quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira. Sendo um encontro
em maio e outro em junho com o mesmo grupo de professores. Os temas a serem
discutidos ou aprofundados serão fruto da oficina realizada no dia 10 de maio.
11h15 – 12h00 Escolha de países para Trabalho em grupo Papel ofício e caneta
pensar temas a serem para ampliar as
trabalhadas discussões das
possibilidades de
trabalhos com os
temas
12h00 – 12h30 INTERVALO
12h30 - 14h00 Falando sobre Angola Palestra de Octavio Slides e data show
Luciano Zua
Fonte: A Autora, 2019.
Ilustração 09 – Quadro temático da Escola Municipal General Labatut: Povos, países e temas por ano
de escolaridade
ESCOLA PAÍS POVO TEMA ANO ESCOLARIDADE
MÚSICA / GRUPO 5
INSTRUMENTOS
ANGOLA OVIMBUNDO MUSICAIS
(1) MÚSICA / 1°
INSTRUMENTOS
MUSICAIS
CABELO / BELEZA 2°
GENERAL NEGRA
LABATUT VESTUÁRIO / 3º / ACELERA
ADEREÇOS
MOÇAMBIQUE ZULUS (2) MÚSICA / 4º
INSTRUMENTOS
MUSICAIS
FESTAS E DANÇAS 5º
Ilustração 10 – Quadro temático dos Especialistas da Escola Municipal General Labatut: Povos,
países e temas por ano de escolaridade
Especialistas Temas
Artes / Dança Coral performático
Educação física Brincadeiras e jogos
Inglês A definir
Fonte: A Autora, 2019.
Junho
Data/Horário Dia Turno Professores/As (continuação)
4 04/06 Terça- vespertino 2 professoras
13h00 – 14h40 feira
5 05/06 Quarta- matutino 6 professoras
08h20 – 10h20 feira
09h10 – 10h50
10h00 – 11h30
Julho
Data/Horário Dia Turno Professores/As
6 11/07 Quinta- Dia todo TODOS OS PROFESSORES /AS
08h00 - 16h00 feira
Fonte: A Autora, 2019.
O projeto previa:
Elaboração das Sequências Didáticas a partir das temáticas
selecionadas que contemple, de forma transversal e transdisciplinar, os
conteúdos ministrados nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Implementação do Projeto com os alunos(as) com aplicação das
sequências didáticas
Divulgação - Mostra Pedagógica – Os resultados obtidos por meio da
95
4.3.2.1 A escola24
24
Adaptado do texto fornecido pela gestão da escola
97
ANANSE
NTONTAN - “Teia
de Aranha” Nelson Mandela
Símbolo da
criatividade,
sabedoria e as
complexidades
da vida.
2º ano A NIGERIA É NIGÉRIA
NOSSA
NEA OPE SE
OBEDI HENE
“Quem quer ser Jare
rei”
Símbolo do
serviço e
liderança
3º ano “O QUE EU GANA,
OUÇO, EU ANGOLA,
MANTENHO – QUÊNIA E
EU BURKINA
ENTENDO!” FASO.
MATE MASIE
“O que eu ouço, DESERTO DE Wangari Maathai
eu mantenho – eu KALAHARI
entendo!” Símbolo
da sabedoria,
conhecimento e
prudência.
Nelson Mandela
4º ano O SENTIDO MOÇAMBIQUE,
DA VIDA: ANGOLA,
humana, GUINÉ
natureza e em EQUATORIAL.
deus
de fé e confiança
em Deus. Deus é
meu refúgio e
fortaleza.
Mia
Cout
o
5º ano Somos e - NIGÉRIA MULHERES
estamos em (LAGOS, IFÉ, INCRÍVEIS
transform/a/ção KANO) AFRICANAS (em
- REPÚBLICA estudo com as
Palavras- DEMOCRÁTICA turmas)
chaves: DO CONGO
transformação - REPÚBLICA MULHERES
(adinkra, DO MALI INCRÍVEIS
SESA WO puberdade, (TOMBUCTU, BRASILEIRAS (em
SUBAN adolescência); GAÔ) estudo com as
“Alterar ou aventuras - ANGOLA turmas)
transformar seu (estudo do livro (LUANDA,
personagem” Um passeio NAMIBE)
Símbolo da pela África); - GANA (ACRA)
transformação da descobertas - GUINÉ
vida. (invenções, (BISSAU)
tecnologias de - SENEGAL
origem (DACAR)
africana). - COSTA DO
MARFIM, Alberto da Costa e
Silva
DESERTO DO
SAARA
*Países e
cidades citadas
no livro Um
passeio pela
África de
Alberto da
Costa e Silva
Fonte: Adriana Nonato, 2019
previamente
Intervalo
15h00 – 15h30 O perigo da história Debate Vídeo - som
única - Chimamanda
Adichie
15h30 – 16h30 Discutir os planos Exposição dialogada Data show, notebook,
com auxílio de mapas slides e mapas
16h30 – 17h00 Trabalho individual Responder as questões Papel ofício e caneta
do slides
Fonte: A Autora, 2019.
Ilustração 16 – Imagem do quadro de umas das discussões dos encontros na Escola Municipal
Professora Sonia Cavalcanti
religião destacar os valores contidos que fizeram com que, os povos trazidos para o
Brasil, recriassem e reconstituíssem sua constelação familiar.
Alguns elementos foram importantes na discussão desta temática na Escola
Municipal Sonia Cavalcanti. Sublinhamos a resignificação de conhecimento e
práticas como a capoeira e o candomblé que muitas professoras e muitos
professores afirmavam ser africanos e não afro-brasileiros e as justificativas pela
escolha dos países e personalidades. Um deles foi a personalidade da Nigéria,
Jane, considerada pelos internautas como “a menina mais bela do mundo”. A
professora justificou sua escolha, dizendo que as estudantes e os estudantes da sua
turma iriam se identificar com a personalidade, inclusive por causa da sua idade. O
que levou a reflexões acerca do que seria beleza negra e o porquê da ênfase deste
elemento entre as crianças. Outro ponto foi o texto exposto na sala sobre o país
Gana (figura abaixo) reproduzido no texto que se segue.
4.3.3.1 A escola25
25
Texto adaptado de material cedido pela gestão da escola.
104
de algumas reflexões identificamos a Revolta dos Malês como fio condutor que
ligava povos africanos à história do bairro e, portanto, pactuamos que o projeto teria
o povo Haussa ou Hauçá como foco do projeto. Sendo assim, a coordenadora
pedagógica Elienay Araújo elaborou o projeto “Africanidades em Itapuã –
Conhecendo a história do bairro da escola e suas raízes africanas”, com o objetivo
de “promover, através de um olhar pedagógico, ações que viabilizem o ensino da
história da África e dos africanos no âmbito educacional a partir do estudo sobre o
bairro de Itapuã”.
O projeto apresenta brevemente o bairro justificando seu estudo para
construção da identidade dos alunos:
26Consta como Anexo F o compêndio com texto contendo todos os povos escolhidos durante a
pesquisa.
107
Estes textos não pretendem ser originais, nem acadêmico, mas sim
reunir um conjunto de informações básicas acerca dos temas. Constituem
imensas lacunas a serem preenchidas, a ponta de um novelo que necessita ser
desvelado, desenrolado, descoberto. “Porta de entrada” para a curiosidade da
professora e do professor sobre a imensidão de possibilidades de estudo e/ou
aprofundamento acerca dos povos africanos com suas especificidades,
diferenças e dinâmicas. Um grão de areia na imensidão de possibilidades de
conhecimentos e descobertas sobre o continente ancestral. Não são textos
autorais, antes disso, uma compilação com informações básicas e iniciais, um
início de pesquisa, como uma degustação para que experimentes o sabor e
através disso “tome gosto” pela leitura e investigação de povos, tradições e
conhecimentos. Os mesmos devem ser ampliados, revistos, complementados,
reformulados.
O conteúdo exposto é uma montagem de vários textos, cortados,
copiados e/ou adaptados de várias pesquisas e que podem ser resgatados de
forma integral a partir das referências apresentadas.
É apenas um convite!
OVIMBUNDOS – ANGOLA
ZULU – MOÇAMBIQUE
HAUSSAS – MALÊS
Para iniciar o estudo acerca dos povos que participaram da Revolta dos
Malês (Bahia, 1835) selecionamos informações acerca dos Haussas, em África e
dos Malês em terras brasileiras.
O texto tem 25 páginas e possui a localização territorial dos haussas, sua
origem, estrutura político-administrativa, economia que tinha no seu ponto alto a
produção têxtil e pelo comércio de algodão, couro, produtos agrícolas, metal, armas
etc. São apresentados também imagens, mapas e fotos das cidades-estado do povo
Haussa.
Os haussas islamizaram-se e tornaram-se zelosos defensores da nova fé. “A
conversão religiosa influenciou e organizou a política e economia, sendo importante
para construção de novos estados”. (SILVA, 2011) 27.
Na segunda parte do material fala do povo Malê. Malê é termo utilizado para
designar os negros escravizados seguidores do islamismo, inclusive os escravizados
convertidos no Brasil. O texto apresenta, com brevidade, alguns levantes e rebeliões
protagonizas pelos Malês em Salvador e no Recôncavo, entre 1807 e 1835.
Um texto sucinto, que tem como objetivo estimular as professoras e os
professores que não possuem conhecimento desta importante passagem da nossa
história a ter elementos mínimos que os levem a pesquisar com mais profundidade a
27SILVA, Alberto da Costa e. Os hauçás. In: SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África
antes da chegada dos portugueses. 5. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
110
MERINA – MADAGASCAR
HAUSSAS – NÍGÉRIA
KYKUYU – QUÊNIA
BANTU – MOÇAMBIQUE
AKAN – GANA
29 A BNCC e a política nossa rede: Concepções articuladas. Salvador, [2018?]. Disponível em:
http://educacao.salvador.ba.gov.br/pdfs-nossa-rede/materiais-de-apoio/profissionais/A-Base-
Nacional-Comum-Curricular-e-a-pol%C3%ADtica-Nossa-Rede-concep%C3%A7%C3%B5es-arti....pdf
Acesso em: 12 nov.2019.
114
currículo apresentado nos documentos oficiais indicados pelas várias esferas que
compõe a educação brasileira, ao que se organiza na escola, atendendo às suas
especificidades até aquele que realmente se concretiza em sala de aula.
Aliado a este currículo executado na escola e em sala de aula, procura-se
inserir a necessidade do “currículo como narrativa étnico-racial” (SILVA, 2011), numa
tentativa de introduzir novas perspectiva da cultura afro-brasileira a partir de
conhecimentos construídos e desenvolvidos no continente africano antes de sua
colonização. Por conseguinte, um currículo que permita pensar a História da África e
dos Africanos, para além dos estereótipos de fome, atraso no desenvolvimento,
pobreza da população e dos recursos minerais, guerras etc., ou seja, apenas uma
visão negativa do mesmo.
Esta (re)construção do currículo, na escola, passa pela compreensão da
complexidade das questões que o envolve, das escolhas das professoras e dos
professores, das necessidades de transversalisar os temas, mas tudo isso de forma
lúdica que atraia a atenção das estudantes e dos estudantes e possibilite uma
aprendizagem com alegria.
Salvador é uma cidade que possui o maior percentual de negros no Brasil,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O mesmo
percentual se reproduz nos dados obtidos no quadro de matrículas da Rede
Municipal de Educação de Salvador no ano de 2019/2020. A política pública
educacional da cidade do Salvador deve atender às suas especificidades, e sendo
assim, este capítulo buscará tecer um panorama administrativo dos órgãos públicos
dando ênfase a estrutura administrativa e pedagógica da Secretaria Municipal de
Educação, demonstrando suas concepções pedagógicas, projetos programas e
políticas voltadas para inserção da Educação das Relações Étnico-raciais.
Como foco principal desta proposta está a proposição de um novo olhar sobre
o currículo. É este e não outro. O objetivo final é a flexão da necessidade de uma
postura diferente sobre o currículo escolar e a forma como nos colocamos e nos
posicionamos frente a ele. Como exposto anteriormente, é pensar formas de
ministrar o conteúdo de História da África e dos Africanos a partir dos objetivos e
habilidades (aprendizagens avaliadas) previstas legalmente para cada ano de
escolaridade do 1° ao 5° ano, articulando concomitantemente os conteúdos
necessários nos diversos Componentes Curriculares (Língua Portuguesa,
115
30 Dados apresentados tendo por base os Indicadores Sociais Municipais – Uma análise do resultado
do Universo do Censo Demográfico 2010. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv54598.pdf Acesso em: 20 ago.2021.
116
31Todos os materiais listados podem ser encontrados, no formato PDF, no site da Smed, para tal ver:
Nossa Rede. Disponível em: http://educacao.salvador.ba.gov.br/nossa-rede/ Acesso em: 14 jun.
2020.
118
Vale salientar que este conjunto de materiais foi elaborado por instituições
parceiras distintas ao longo de sua produção. Assim, a parceria da Educação Infantil
(2015) se deu com Avante Educação e Mobilização Social (AVANTE), os cadernos
do Ensino Fundamental Anos Iniciais e Finais (2016/2019), bem como os
referenciais foram elaborados pelo Instituto Chapada de Educação e Pesquisa
(ICEP) e os Referenciais Curriculares de Arte para o Ensino Fundamental da Rede
Municipal de Educação de Salvador (2017) pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA).
apresentados nos projetos e ações elaboradas pelas escolas mesmo quando estas
tinham como objetivo atender aos preceitos da LDB.
Após convite para participar da pesquisa enviado às pessoas que cumpriram
50% ou mais da carga horária de 100 horas, três pessoas efetivamente atenderam
todos os requisitos a este chamado. São elas: Eliecilda da Conceição Souza,
formada em Pedagogia / Educação Inclusiva, lotada na Escola Municipal General
Labatut no cargo de coordenadora pedagógica (40 horas); Elienay Mabel da Paz
Carneiro Araujo, formada em Pedagogia / Alfabetização, lotada na Escola Municipal
Pescador no cargo de coordenadora pedagógica (20 horas) e Adriana Costa Silva
Martins Nonato, formada em Pedagogia / Anos Iniciais, professora e vice-diretora do
turno matutino (40 horas). Importante sublinhar que na escola onde não há
coordenadora pedagógica esta função é exercida pela vice-diretora. O foco de nossa
pesquisa seria com professoras que atuassem em sala de aula, porém passamos
atuar a partir da perspectiva da coordenação pedagógica.
Outro elemento demonstrado foi a necessidade de respeitar o projeto já
existente na escola e tentar adaptá-lo à temática da História da África e dos
Africanos, demonstrando que a ênfase a ser refletida não era a partir dos países
africanos, mas de seus povos, isso nos levou a uma outra perspectiva, a de uma
África plural e diversa, o que se evidenciou desequilibradora, mas propositiva.
A necessidade de formação ficou evidente. Uma formação continuada e em
serviço, pois seriam temas escolhidos e que subsidiaria as ações, proposições e
planejamentos dos profissionais em sala de aula, com vistas à execução do projeto
proposto e em adaptação.
Um currículo ainda fragmentado em Componentes Curriculares, com
profissionais específicos que não discutem os conteúdos e que não possuem tempo
suficiente para planejarem suas ações é lugar comum na Rede. Para construir a
transversalização dos conteúdos, dos temas, elaboração de sequências didáticas e
projetos é, fundamentalmente, necessário o diálogo.
Evidenciou-se que quando estimuladas e apoiadas em um projeto dialogado e
construído coletivamente é possível apresentar alternativas viáveis a construção de
um novo currículo com uma perspectiva articulada e integradora. A introdução de um
elemento novo no que já existe pode estimular a criatividade das professoras e dos
professores e trazer atenção, alegria, nas estudantes e nos estudantes.
122
não foram apresentados ao longo de sua formação inicial. Assim, se faz necessária
a formação em serviço. No caso da inserção da História da África e da formação da
sociedade brasileira a partir da herança dos povos africanos e indígenas no setor
econômico, cultural, religioso, filosófico, tecnológico, não há outra forma que não
seja o estudo.
Fica evidente o papel da coordenadora pedagógica e do coordenador
pedagógico nesta formação continuada e em serviço através das tessituras, dos
entrelaçamentos, da formação como ponto principal e inicial da construção da
autonomia do profissional de educação na implementação da política, porém, uma
formação contextualizada, com reflexões sobre a prática. Todavia, a partir, não da
separação dos elementos, mas do cruzamento. De assumir a retomada da
complexidade da realidade.
Para tanto necessário se faz um conhecimento maior acerca da História da
África, nem sempre enfatizada dos currículos escolares quando de inclusão, mesmo
que esporádica, da temática étnico-racial. Uma sugestão para tal perspectiva pode
ser o estudo e a reflexão apoiada nos diversos relatos de experiências e reflexões
teóricas apresentadas no livro Currículo e Formação (2010) de Claudio Orlando do
Nascimento e Rita de Cássia de Jesus.
alterada pela Lei nº 11.645/2008, há uma indagação de por onde começar esta
implementação visto que os temas são complexos e extensos. Em função disso
propusemos temas prioritários que poderiam servir de base para a elaboração de
um planejamento de ações e atividades nas salas de aula. São eles: Diversidade /
Diferença – Equidade / Igualdade; Identidade; Ancestralidade e Memória;
Representação; Racismo Estrutural e Racismo Institucional. Todos estes temas
possuem textos explicativos. Há mais três temas prioritários que possuem textos
mais amplos para discussão: Indígenas, História da África e Cultura Afro-Brasileira,
bem como a concepção de Educação Étnico-Racial, proposta para a Rede. Faz
também parte desde bloco as Considerações teórico-metodológicas de
transversalidade e transdisciplinaridade. A necessidade de estar atenta e atento
para o espaço da escola e na sala de aula em relação à temática étnico-racial, pois
consideramos que a ambiência também é importante. O ambiente precisa acolher as
discussões e os que nele circulam.
Ainda no Bloco 1 são disponibilizados dois textos complementares: “A
temática indígena nas escolas de Salvador: da face obscura ao mosaico de
possibilidades”, escrito por Ademário Ribeiro, e “A Lei 10.639/2003: Avanços e
Obstáculos”, escrito por Márcio Paim. Estes devem propiciar um debate sobre estas
duas temáticas.
O Bloco 2 – Aspectos Metodológicos tem como marcador a apresentação de
um texto introdutório falando da concepção dos segmentos e modalidades de ensino
e posteriormente como os temas prioritários se articulam com os saberes (EJA), as
campos de experiências (Educação Infantil) e as aprendizagens esperadas e
indicadores de aprendizagem (Ensino Fundamental) e por fim, apresenta uma
proposta de atividade articulada com os Cadernos Nossa Rede, Livros do PNLD e
paradidáticos.
Em síntese as formulações metodológicas apresentam a seguinte orientação:
Tema Prioritário ~ Aprendizagens Esperadas + Indicadores de Aprendizagem
(articular vários a componentes curriculares) = atividades que integrem o cotidiano
da sala de aula.
A proposta é que a coordenadora pedagógica e a professora busquem a partir
do conteúdo obrigatório insira temas relativos à temática étnico-racial independente
128
32A tabela com a distribuição de todos os temas prioritários em todos os anos de escolaridade está
descrita no Referencial Curricular Municipal para a Educação das Relações Étnico-Raciais (em
análise pela Rede).
130
FESTA NO POVOADO
dos povos formadores da sociedade o que vai ajudar a constituir o glossário. Elas podem ser
brasileira nos bairros de Salvador. organizadas em tabelas também por número de letras ou
(HIS) Reconhece e valoriza a de sílabas. Estas tabelas podem ser transformadas em
diversidade de hábitos e costumes? - gráficos de colunas.
(HIS) Situar o bairro em relação à cidade Reconhece a importância da memória Fazer um comparativo com festas realizadas em cidades
diferenciando características das paisagens do de outros povos como fonte de do interior do Estado com festas realizadas no centro da
centro e das periferias conhecimento? - Relaciona as cidade e/ou nos bairro de Salvador. Apresentar imagens
diferenciações sociais nos bairros de ou fotos trazidas pelos estudantes para discutir estas
Salvador? diferenças e semelhanças. Como as pessoas se vestem,
(EDF) Relaciona as normas e condutas se comportam no texto se é similar ao que é visto nos
presentes em brincadeiras e jogos com bairros onde as estudantes e os estudantes moram.
as existentes no contexto vivido fora da O texto apresenta uma festa na praça principal da cidade.
aula? - Transpõe para as brincadeiras e Procurar identificar onde as estudantes e os estudantes
jogos referências identitárias brincam. Se são em praças ou nas ruas próximo de casa.
pertencentes às tradições locais? - Identificar as brincadeiras realizadas por elas e eles.
(EDF) Perceber e reconhecer, nas brincadeiras Agrega outras linguagens presentes no Obs. O ideal é elaborar uma sequência didática utilizando
e nos jogos presentes na comunidade e região, cotidiano às brincadeiras e aos jogos o Caderno Nossa Rede e os livros do PNLD. Incluindo
aspectos relacionados à identidade local. realizados na escola? outras aprendizagem e componentes curriculares.
Legenda: LP (Língua Portuguesa); MAT (matemática); HIS (História); EDF (Educação Física).
Observa-se que as Aprendizagens Esperadas e os Indicadores de Aprendizagens foram retirados do Referencial Curricular Municipal para os Anos
Iniciais do Ensino Fundamental acessível no site da Smed e o uso da obra Memória das Palavras disponível no site Fundação Roberto Marinho.
133
Reunião em Madagascar
Árvore Genealógica
Você já viu uma árvore sem raiz? Já viu alguma árvore crescer de
cima para baixo?
Normalmente as árvores genealógicas que construímos, é elaborada
da copa para o chão. Porém nossos antepassados são, na verdade, o
sustentáculo, a base da nossa existência. O que somos hoje é fruto da
trajetória de vida daqueles que vieram antes de nós. Portanto eles
deveriam, na árvore genealógica, constituir nossas raízes, nossa base,
aqueles que nos mantem fincadas e fincados no chão. Raízes tão
profundas e fortes que somem no solo de tão forte e extensas. Sendo
assim ao construí-la devemos colocar nossos ancestrais na raiz (tataravós,
bisavós), logo após os mais próximos (avós e pais) e por fim, a pessoa em
questão, lembrando que esta árvore está sempre em construção e
ampliação. O indivíduo do qual estamos falando não é o fim da mesma,
não devem estar na copa, mas deve ser um dos galhos que darão origem a
outros galhos, seus descendentes.
135
pode trazer a tona outras formas de pensar o currículo educacional. Vejamos tal
assertiva no trecho a seguir.
Por mais que se queira implementar uma política em rede esta não pode
restringir a criatividade das professoras e dos professores, nem a especificidade de
cada escola inserida em uma comunidade diferente. Este pensamento em Rede só
pode se efetivar se tivermos pessoas com conhecimento sólido o suficiente para, a
partir daquilo que for apresentado, ser capaz de adaptar, dialogar com a realidade
local e com momento histórico. Tudo isso com o propósito único de elevar a
autoestima das estudantes e dos estudantes a partir do apoio intelectual que pode
ser alavancado através do desvelar, na História do Brasil, a importância do legado
africano à humanidade.
Diferente de pensar ou massificar a ideia de que nossa herança negra advém
da escravidão, é necessário reafirmar que nossa herança negra é da tecnologia, das
técnicas, das invenções da vida em comunidade, enfim da inteligência, criatividade e
da inovação. Não deixando, entretanto, de enfatizar a reelaboração de todo este
conhecimento em um novo território, com novas pessoas, nova geografia, um novo
sistema social, nova sociedade.
Foram criados e recriados uma civilização a partir de todos os conhecimentos
desenvolvido em África. Isso não pode ser esquecido, desconsiderado, apagado,
137
CONCLUSÃO
Para falar da diáspora, falar da África e não falar dos povos que aqui chegaram não
faz sentido.
Adriana Nonato
sistemática do tema, assim como foi feito na Escola Municipal Professora Sonia
Cavalcanti que por dois anos instituiram, em seus projetos anuais, a temática da
História da África. Em 2018, Adriana Nonato juntamente com sua Diretora, Roberta
Costa, ao terminar o curso em 2017, implementaram o projeto “Uma viagem pela
África”. Em 2019 deu inicio ao projeto “África: novas aventuras e grandes
descobertas” que foi modificado pela inserção da proposta de estudo de povos
africanos que, não fosse a pandemia do ano de 2020, o tema seria aprofundado com
o projeto “Povos de lá, identidades aqui”.
A aceitação dos pais, mesmo os de religião evangélica, em relação ao
trabalho realizado foi imediato, pois a escola apresentou elementos de estudo da
História da Cultura. O mesmo ocorreu com o coral de estudantes da Escola
Municipal General Labatut que possui grande parte de professoras, professores e
pais evangélicos. Eles apresentaram uma música gospel na língua umbundo, com
apresentação da tradução. Os pais puderam perceber que em África além de povos
distintos, línguas diferentes, também há diferentes religiosidade.
Inicialmente as professoras e os professores indicaram como dificuldade o
pouco tempo que possuiam para o estudo e a pesquisa relativas aos povos e a
história da África. Sendo assim foi entregue a eles um compêndio contendo
informações básicas, indicações de livros e vídeos - encontra-se o mesmo como
anexo nesta tese. Os relatos das coordenadoras pedagógicas foram diversos,
enquanto algumas professoras acharam trinta páginas um volume muito grande de
informações, outras pesquisaram outros videos para apresentarem as estudantes e
aos estudantes.
As coordenadoras pedagógicas foram unânimes em afirmar a necessidade de
uma ação mais efetiva junto as professoras e professores no sentido de promover
uma formação em serviço, acompanhemento e orientação no planejamento para a
inclusão da temática por um tempo razoável e contínunuo. Elas relataram que uma
das grandes dificuldades para a efetiva atuação da coordenação é a fragmentação
dos encontros para plajemento, o que impossibilita a efetiva reflexão coletiva.
Outra questão a ser vencida é conseguir envolver todas e todos, pois apesar
do projeto ter sido aprovado no coletivo não conseguimos fazer com que todas e
todos participassem, conforme afirmou Eliecilda Souza. No entanto, ela considerou
positiva a possibilidade criada para discutir um tema tão desconhecido, a forma de ir
141
Maya Angelou
33 Ainda assim eu me levanto de Maya Angelou. Poema apresentado pelas turmas de 5º no Sarau da
Escola Municipal Professora Sonia Cavalcanti no ano de 2019. Disponível em:
https://www.geledes.org.br/maya-angelou-ainda-assim-eu-me-levanto/ Acesso em: 20 nov. 2021.
144
REFERENCIAIS
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de Janeiro: Pallas, 2008.
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Iniciais do Ensino Fundamental: por uma outra lógica. In: Diálogos Plurais:
produção de conhecimento em história e cultura afro-brasileira e
indígena. Santos, Roberto Carlos O. dos; Carmo, Eliane F.B.M.; Jesus, Hélia
R. M. de. (orgs.) São Paulo: Literáfrica, 2021. E-book. Disponível em:
https://www.literafrica.com/product-page/e-book-di%C3%A1logos-plurais-
pesquisas-acade-micas-17-autores Acesso em: 04 nov. 2021.
IBGE. Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, 2018. Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/10091/0?indicador=82296 Acesso:
02 jul. 2020.
NASCIMENTO, Cláudio Orlando Costa do; JESUS, Rita de Cassia Dias Pereira
de. Currículo e Formação: Diversidade e Educação das Relações Étnico-
Raciais. Curitiba: Progressiva, 2010.
PIZA, Edith; ROSEMBERG, Fúlvia. Cor nos censos brasileiros. In: CARONE,
Iray (org.). Psicologia social do racismo – estudos sobre branquitude e
branqueamento no Brasil. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006.
VILA, Martinho da. Monteiro Lobato não era racista. Nós também não
somos. Portal Geledés. São Paulo, 27 de Abril de 2011 (Educação/ Dossiê
Monteiro Lobato). Disponível em: https://www.geledes.org.br/monteiro-lobato-
nao-era-racista-nos-tambem-nao-somos/ Acesso em: Acesso em: 24 Mar.
2021.
Prezadas,
Sei que vocês estão em suas merecidas férias recarregando as baterias para o novo
ano que se iniciará em breve. Em 2017 fizemos o curso Ensino de História da África
e dos Africanos nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, a primeira etapa da
pesquisa do doutorado que apontou a necessidade de outra perspectiva. Sendo
assim, outra etapa se faz necessário para darmos continuidade ao processo já
iniciado. Iremos nos aprofundar na abordagem da pesquisa-formação. Neste
momento estaremos, de forma colaborativa, realizando a construção de pistas
metodológicas para a aplicação da lei 11.645/08, onde destaco, nesse momento, da
ênfase da inclusão do conteúdo da História da África e dos Africanos nos currículos
escolares.
Esta comunicação objetiva saber se ainda permanecem interessadas em participar
desta tarefa ao longo do ano de 2019, porém não pretende esgotar aqui tal assunto,
ou mesmo esclarecer todas as possíveis dúvidas que possa suscitar. Sendo assim,
caso tenham interesse, gostaria que sinalizassem enviando o contato de Whatsapp
para que eu possa criar um grupo de comunicação, e assim marcar uma reunião
para alinhar, com todas, a proposta quer ora faço.
A princípio a proposta de pesquisa, que pode ser discutida e reelaborada, tem como
organização um encontro mensal, em horário e dia a serem definidos e uma visita de
acompanhamento feita por mim na escola onde aturem. Nosso encontro mensal se
caracteriza por ser um momento de estudo e planejamento das ações a serem
efetuadas na escola, no cargo onde vocês ocupam, de modo que possa contribuir
para a efetivação deste conteúdo em sala de aula.
Vale ressaltar que a construção das pistas metodológicas serão elaboradas a partir
das ações, das dificuldades, dos acertos, dos (re)planejamentos. Através da prática
do profissional de educação ao encontrar e/ou elaborar formas de seleção de
conteúdos, busca e construção de material, de atividades, de sequências, de
projetos; conectando-os às aprendizagens esperadas, os materiais didáticos
disponibilizados na Rede Municipal de Salvador e aqueles que podem ser construído
assim podemos contemplar toda gama de possibilidades reais que auxiliem na
construção de modo que possamos trabalhar e construir para que os estudantes
155
Aguardo o retorno,
PLANEJAMENTO
E-mail: Telefone
Especialização/ões em
Mestrado/s em
DADOS PROFISSIONAIS
Cargo/função
Obs.
158
TERMODEAUTORIZAÇÃO
Eu, ____________________________________________________________,
portadora do CPF número________________________________, autorizo
para os devidos fins de divulgação científica relacionados ao trabalho intitulado
“Pistas metodológicas para o ensino da História da África nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental”, imagens fotográficas, filmagens, gravações
e informações pertinentes a pesquisadora Eliane Fátima Boa Morte do Carmo,
CPF 195142555-34, do Programa de Pós-graduação em Educação –
Doutorado em Educação pela Faculdade de Educação – Universidade Federal
da Bahia
_________________________________________________________
159
Escola:
Atividade aplicada:
Metodologias utilizadas:
161
Observação: Anexar fotos, plano de trabalho, materiais utilizados e atividades dos estudantes
(escaneadas).
__________________________________________________________
Assinatura do/a aplicador/a
162
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
DIRETORIA PEDAGÓGICA
NÚCLEO DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS DAS RELAÇÕE ÉTNICO-RACIAIS
COORDENADORIA DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA - GERCC
Curso: História da África nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Específicos:
Apresentar experiências educacionais de outros países relativo à temática
proposta;
Dialogar com atores de outras redes educacionais;
Conhecer a história de alguns países africanos a partir das perspectivas dos
nativos.
Estrutura do Seminário:
HORÁRIO ATIVIDADE
8h00 ás 8h30 Acolhimento – café da manhã
8h30 ás 10h00 Apresentação dos relatórios da aplicação das atividades
10h00 ás 12h00 Petit Comité com Tomé Maloa
13h30 ás 16h00 Roda de Conversa: História da África e Africanos, com:
Nanci Franco – Dra. em Educação – UFBA
Octávio Zua (Angola) – Prof. História/Geografia –
Pedagogo
Tomé Maloa (Moçambique) – Doutorando em
Educação – UFBA
Mediação: Eliane Boa Morte
16h00 ás 16h30 Avaliação e encerramento
163
I IDENTIDADE AUTOESTIMA
2º II DIVERSIDADE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS AFRO-BRASILEIRAS
I IDENTIDADE AUTOIMAGEM
3º II RELAÇÃO ENTRE DIVERSIDADE E COMUNIDADES E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
DIFERENÇA
I MEMÓRIA IDENTIDADE
4º II EQUIDADE RECONHECIMENTO SOCIAL
167
I REPRESENTAÇÃO MEMÓRIA
5º II REPRESENTAÇÃO AUTOCONSCIENTIZAÇÃO
8º I RACISMO ORIGEM
II RACISMO ESTRUTURA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Fonte: Mark Dingemanse, Béria Lima de Rodríguez/ Wikimedia Commons. Disponível em:
https://www.genera.com.br/blog/a-influencia-africana-na-cultura-brasileira/Acesso em: 02 jun.2019
177
ANGOLA – OVIMBUNDOS
O nome Angola é uma derivação portuguesa do termo banto N’gola, título dos
reis do Reino do Ndongo existente na altura em que os portugueses se
estabeleceram em Luanda, no século XVI. O termo Ngola tem raízes no termo Ngolo
que significa força em quimbundo.
Angola, oficialmente República de Angola, é um país
da costa ocidental da África, cujo território principal é limitado a norte e
a nordeste pela República Democrática do Congo, a leste pela Zâmbia,
178
a sul pela Namíbia e a oeste pelo Oceano Atlântico. Inclui também faz fronteira com
a República do Congo, a norte.
Os portugueses estiveram presentes desde o século XV em alguns pontos do
que é hoje o território de Angola, interagindo de diversas maneiras com os povos
nativos, principalmente com aqueles que moravam no litoral. A delimitação do
território apenas aconteceu no início do século XX. O primeiro europeu a chegar a
Angola foi o explorador português Diogo Cão. Angola foi uma colônia
portuguesa que apenas abrangeu o atual território do país no século XIX e a
"ocupação efetiva", como determinado pela Conferência de Berlim em 1884,
aconteceu apenas na década de 1920.
A independência do domínio português foi alcançada em 1975, depois de
uma longa guerra de libertação. Após a independência, Angola foi palco de
uma intensa guerra civil de 1975 a 2002, maioritariamente entre o Movimento
Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência
Total de Angola (UNITA). Apesar do conflito interno, áreas como a Baixa de
Cassanje mantiveram ativos seus sistemas monárquicos regionais. No ano de 2000
foi assinado um acordo de paz com a Frente para a Libertação do Enclave de
Cabinda (FLEC), uma frente de guerrilha que luta pela secessão de Cabinda e que
ainda se encontra ativa. É da região de Cabinda que sai aproximadamente 65% do
petróleo de Angola.
O país tem vastos recursos naturais, como grande reservas de minerais e
de petróleo e, desde 1990, sua economia tem apresentado taxas de crescimento
que estão entre as maiores do mundo, especialmente depois do fim da guerra civil.
No entanto, cerca de 70% da população vive com menos de dois dólares por
dia, enquanto as taxas de expectativa de vida e mortalidade infantil no país
continuam entre os piores do mundo, a maioria da riqueza do país está concentrada
em um setor desproporcionalmente pequeno da população.
Os habitantes originais de Angola foram caçadores-colectores coissã,
dispersos e pouco numerosos. A expansão dos povos bantos, chegando do norte a
partir do segundo milénio, forçou os coissã (quando não eram absorvidos) a recuar
para o sul onde grupos residuais existem até hoje, em
Em 1482 chegou na foz do rio Congo uma frota portuguesa, comandada
pelo navegador Diogo Cão que de imediato estabeleceu relações com o Reino do
179
Congo. Este foi o primeiro contato de europeus com habitantes do território hoje
abrangido por Angola, contato este que viria a ser determinante para o futuro deste
território e das suas populações.
A partir do fim do século XV, Portugal seguiu na região uma dupla estratégia.
Por um lado, marcou continuamente presença no Reino do Congo, por intermédio de
influentes padres cultos (portugueses e italianos) que promoveram uma lenta
cristianização e introduziram elementos da cultura europeia. Por outro, estabeleceu
em 1575 uma feitoria em Luanda, num ponto de fácil acesso ao mar e à proximidade
dos reinos do Congo e de Ndongo. Gradualmente tomaram o controle, através de
uma série de tratados e guerras, de uma faixa que se estendeu de Luanda em
direção ao Reino do Ndongo. Este território, de uma dimensão ainda bastante
limitada, passou mais tarde a ser designado como Angola. Por intermédio dos
Reinos do Congo, do Ndongo e da Matamba, Luanda desenvolveu um tráfico de
escravos com destino a Portugal, ao Brasil e à América Central que passou a
constituir a sua base econômica.
No momento em que se realizou em 1884/1885 a Conferência de Berlim,
destinada a acertar a distribuição de África entre as potências coloniais, Portugal
pode, portanto, fazer valer uma presença secular em dois pontos do litoral, e uma
presença mais recente (administrativa/militar, comercial, missionária) numa série de
pontos do interior, mas estava muito longe de uma "ocupação efetiva" do território
hoje abrangido por Angola.
Perante a ameaça das outras potências coloniais, de se apropriarem de
partes do território reclamada por Portugal, este país iniciou finalmente, na
sequência da Conferência de Berlim, um esforço que visava à ocupação de todo o
território da Angola atual. Embora lento este esforço de ocupação não deixou,
porém, de provocar novas dinâmicas sociais, econômicas e políticas.
Num lapso de tempo relativamente curto foi edificada uma máquina
administrativa dotada de uma capacidade não sem falhas, mas sem dúvida
significativa de controle e de gestão. Esta garantiu o funcionamento de uma
economia assentado em dois pilares: o de uma imigração portuguesa que, em
poucas décadas, fez subir a população europeia para mais de 100 000, com uma
forte componente empresarial, e o de uma população africana sem direito à
cidadania, na sua maioria, com a exceção dos povos agro-pastores do Sul, remetida
180
para uma pequena agricultura orientada para os produtos exigidos pelo colonizador
(café, milho, sisal), pagando impostos e taxas de vária ordem, e muitas vezes
obrigada, por circunstâncias econômicas e/ou pressão administrativa, a aceitar
trabalhos assalariados geralmente mal pagos.
Logo depois do início do conflito armado, uma "ala liberal" no seio da política
portuguesa impôs uma reorientação incisiva da política colonial. Revogando já em
1962 o Estatuto do Indigenato e outras disposições discriminatórias, Portugal
concedeu direitos de cidadão a todos os habitantes de Angola que de "colônia"
passou a "província" e mais tarde a "Estado de Angola". Ao mesmo tempo expandiu
enormemente o sistema de ensino, dando assim à população negra possibilidades
inteiramente novas de mobilidade social - pela escolarização e a seguir por
empregos na função pública e na economia privada. A finalidade desta reorientação
foi a de ganhar "mentes e corações" das populações angolanas para o modelo de
uma Angola multirracial que continuasse a fazer parte de Portugal, ou ficar
estreitamente ligado à "Metrópole".
Esta opção foi, no entanto, rejeitada pelos três movimentos de libertação 34
que continuaram a sua luta. Nesta começaram, porém, a registar-se mais
retrocessos do que progressos, e nos primeiros anos 1970 as hipóteses de
conseguir a independência pelas armas tornaram-se muito fracas. Na maior parte do
território a vida continuou com a normalidade colonial.
A perspectiva da independência provocada pela Revolução dos Cravos em
Portugal, em Abril de 1974, e a cessação imediata dos combates por parte das
forças militares portuguesas em Angola, levou a uma acirrada luta armada pelo
poder entre os três movimentos e os seus aliados: a FNLA entrou em Angola com
um exército regular, treinado e equipado pelas forças armadas do Zaire, com o apoio
dos EUA; o MPLA conseguiu mobilizar rapidamente a intervenção de milhares de
soldados cubanos, com o apoio logístico da União Soviética; a UNITA obteve o
apoio das forças armadas do regime de apartheid então reinante na África do Sul.
34
O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), cuja principal base social eram
os ambundos e a população mestiça bem como partes da inteligência branca, e que tinha laços com
partidos comunistas em Portugal e países pertencentes ao então Pacto de Varsóvia; A Frente
Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com fortes raízes sociais entre os congos e vínculos com
o governo dos Estados Unidos e ao regime de Mobutu Sese Seko no Zaire, entre outros; A União
Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), socialmente enraizada entre
os ovimbundos e beneficiária de algum apoio por parte da China.
181
Geografia
Clima
Angola, apesar de se localizar numa zona tropical, tem um clima que não é
caracterizado para essa região. O clima de Angola é caracterizado por duas
estações: a das chuvas, de outubro a abril, e a seca, conhecida por Cacimbo, de
maio a agosto, mais seca, como o nome indica e com temperaturas mais baixas. Por
outro lado, enquanto a orla costeira apresenta elevados índices de pluviosidade, que
vão decrescendo de Norte para Sul, com temperaturas médias anuais acima dos
23 °C.
Demografia
183
Fonte: United Departamento de Assunstos Econômicos e Sociais das Nações - População de Angola.
Disponível em: https://countrymeters.info/pt/Angola Acesso em: 02 jun. 2019.
184
Composição Étnica
Línguas
1. Bakongo
2. Ambundu
3. Ovimbundu
4. Kioko
5. Herero
6. Ganguela
7. Ambó / Ovambo
8. Nhaneca – Humbe
9. Gabguela /
Tchinganjela
10. Khoisan
11. Xindonga
Para ampliar a leitura acerca das línguas em Angola ver disponível em:
https://www.ethnologue.com/country/AO/languages
Religiões
Dados fiáveis quanto aos números dos fiéis não existem, mas a grande
maioria dos angolanos adere a uma religião cristã ou inspirada pelo
cristianismo. Cerca da metade da população está ligada à Igreja Católica, cerca da
quarta parte a uma das igrejas protestantes introduzidas durante o período colonial:
as batistas, enraizadas principalmente entre os congos, as metodistas, concentradas
na área dos ambundos, e as congregacionais, implantadas entre os ovimbundos,
para além de comunidades mais reduzidas de protestantes reformados e luteranos.
A estes há de acrescentar os adventistas, os neo-apostólicos e um grande número
de igrejas pentecostais, algumas das quais com forte influência brasileira.
Os praticantes de religiões tradicionais africanas constituem uma pequena
minoria, de carácter residual, mas entre os cristãos encontram-se com alguma
frequência crenças e costumes herdados daquelas religiões. Há apenas 1 a 2%
de muçulmanos, quase todos imigrados de outros países.
187
Subdivisões
1.Cabinda
2. Zaire
3.Uíge
4.Luanda
5. Bengo
6. Cuanza Norte
7.Malanje
8. Lunda Norte
9. Cuanza Sul
10. Lunda Sul
11. Benguela
12. Huambo
13. Bié
14. Moxico
15.em:
Fonte: Mapa das subdivisões de Angola. Disponível Namibe
https://pt.wikipedia.org/wiki/Angola#/media/Ficheiro:Angola,_administrative_divisions_-_Nmbrs_-
16. Huíla
_colored.svg Acesso em: 03 jun.2019.
17. Cunene
18.Cuando Cubango
Educação
Além das Universidades públicas a partir dos anos 1990, fundaram-se toda
uma série de universidades privadas, algumas ligadas a universidades portuguesas.
Cultura
No âmbito das esculturas, há que realçar uma das mais belas estatuetas
africanas e a mais popular de Angola: O pensador.
Ilustração 08: Imagem – O Pensador Esta tem origem de Cokwe e é uma referência
cultural para todos os angolanos, sendo
mesmo considerado um Símbolo da Cultura
Nacional. A sua estética leva qualquer pessoa
a admirá-la: um idoso, que tanto pode ser
homem ou mulher, tem a face ligeiramente
inclinada para baixo, com as mãos sobre a
cabeça. No entanto, a figura esculpida em
madeira, tenta reportar-nos para a reflexão,
conjugando a harmonia, a tranquilidade e a
serenidade. Simboliza ainda o conhecimento
adquirido pelos idosos, ao longo do tempo, que
os torna sábios e respeitados por toda a
comunidade angolana. A figura tem origem na
Escola de Cokwe, uma escola tradicional de
arte, desenvolvida ao longo de muitos séculos.
Dança
Mas, a diversidade musical angolana não se limita aos três estilos musicais
apresentados, existindo uma série de outros gêneros como o Kabetula, Kazukuta,
Rebita, entre outros. Neste contexto, também é de extrema importância os
diversos rituais étnicos e as suas respectivas músicas e danças.
Em suma, é impossível identificar todos estilos musicais angolanos dadas a
diversidade de culturas, no entanto destacam-se, pela sua popularidade, três
gêneros contagiantes: o Semba, o Kizomba e o Kuduro.
Festas
[...] foi a evolução política dos povos que viviam ao sul do Cuanza, no
planalto de Benguela. Chamava-se, e chamam-se, Ovimbundos e
falam o Umbundo. Culturalmente, estão muito mais apartados dos
Ambundos do que este dos Congos.
35
O Reino da Lunda, também conhecido como Império da Lunda, foi uma confederação africana pré-
colonial de estados, onde são hoje a República Democrática do Congo, o nordeste de Angola e o
noroeste da Zâmbia.
36
Para maiores informações ver no site Wikipédia - Reino Luanda. Disponível em:
https://www.google.com/search?q=Lunda&oq=Lunda&aqs=chrome..69i57.2543864j0j7&sourceid=chr
ome&ie=UTF-8 Acesso em 04 jun. 2019.
195
Desse estado quase nada sabemos. Exceto que dele terá derivado o
reino de Libolo, mais ao norte, e que nele se desenvolveu um culto
guerreiro, uma associação masculina independente dos vínculos de
linhagem, uma espécie de exército em constante vigília, de
fraternidade militar cujos membros se ligavam por rigorosos ritos de
iniciação, que os faziam invulneráveis às armas inimigas. Esse corpo
armado tomaria o nome de quilombo e se transformaria numa
poderosa e disciplina máquina militar.
Figura 10: Mapa - Grupos Étnicos de Angola em 1970 - área dos Ovimbundu (marcada a azul escuro)
Produção
Propriedade
Organização Social
37
Herança quantitativa ou poligênica é um tipo de herança genética, na qual participam dois ou
mais pares de genes com segregação independente, resultando em um efeito acumulativo de vários
genes envolvidos, cada um contribuindo com uma parcela para a formação da característica.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Herança_quantitativa Acesso: 4 jun. 2019.
200
Comércio
38 Observar que a escravidão em África não tinha o mesmo caráter que a escravidão praticada no
Brasil.
39 Azeite de dendê.
40 Comerciante.
201
Caravanas
Organização Política
41 Para maiores informações sobre este reino ver: Reino Bailundo. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Bailundo Acesso em: 04 jun.2019.
202
Comunidade
Ritos e costumes
estes são saudados com insultos. São chamados por nomes abusivos, por exemplo:
"Ove a Ngulu, Ove ambua" que significa em português (tu porco, tu cão) e outras
palavras depreciativas pelas quais são tratados.
A mãe e os gêmeos depois de os umbigos caírem, são levados para fora de
casa, envoltos em barro, a mãe é arrastada no lodo passando com ela em volta da
casa num alarido de insultos assobios e ao som de chifre de boi ou cabrito, com uma
balaio cheio canjica não desfarelada na cabeça (ombulungu), que vai sendo
consumida á medida que se vai arrastando a mãe no lodo. Esta festa dura quase a
manhã toda. De seguida os umbigos são enterrados junto ao cruzamento dos
caminhos, as roupas que serviram a parturiente são deitadas fora ou num rio. Quem
faz isto é o curandeiro que acompanhou a parturiente e os bebês.
Dança42
Alimentação43
Atualidades44
Curiosidades45
45 Ver: CHISSOLA, Alfredo Lucas. Curiosidades de alguns nomes em Umbundu. Blog Etnia dos
Ovimbundos. Disponível em: http://culturaangolanaetniaovimbundo.blogspot.com/p/artigos-
informativos.html Acesso em: 06 jun.2019.
209
TCHITUMBA – É delicato ter barriga grande; quem não sabe pensa que já
comeu. – Se tens apetite, come. Quando te obrigam a comer, então estás
quase a morrer… Trata-se de uma pessoa doente!
TCHIVINDA – Ao guarda se responsabiliza tudo o que falta. Tu que andas de
noite podes ser responsabilizado de tudo o que acontece no oculto.
TCHIYO – Mais vale ser fiel ao que já nos pertence, porque da novidade nos
poderemos arrepender tarde demais.
TCHUKULYA – Antes de ires ao julgamento, dê primeiro uma dádiva – paga!
Assim, por o juíz estar comprometido contigo, não te condenará em tribunal.
VIHEMBA - É um nome dado a quem durante a gravidez e o parto provocou
muitos problemas de saúde; foram precisos muitos medicamentos para a mãe
ou mesmo o pai.
VISSOKA – O coração pensa em tudo e às vezes sem razão.
Fonte: Tavares, Debora. Minha história está na minha coroa. Disponível em:
https://deboratavares.medium.com/n%C3%A3o-toque-na-minha-coroa-4602fe68578f Acesso em: 06
jun.2019.
Música
Indicações de vídeos
Referências
3. Arte - http://www.angolanos-ap.moonfruit.com/arte/4540098866
Acesso em: 04 jun.2019.
4. Música - http://www.angolanos-ap.moonfruit.com/musica/4538289068
Acesso em: 06 jun.2019.
6. Povos http://culturaangolanaetniaovimbundo.blogspot.com/p/artigos-
informativos.html
7. Acesso em: 04 jun.2019.
8. Origem - http://francismundo.comunidades.net/os-ovimbundu-origem-lingua-e-
reinos
Acesso em: 04 jun.2019.
QUÊNIA – KIKUYU
46 Protetorado: Situação de um Estado estrangeiro que é colocado sob autoridade de outro Estado,
principalmente no que concerne às relações exteriores e à segurança. Os protetorados possuem
geralmente alguma autonomia, mas a nação "protetora" tem a palavra final nos assuntos importantes.
As potências protetoras conduzem todas as relações externas do protetorado, além de manipularem
sua defesa e suas finanças. Disponível em: https://www.dicio.com.br/protetorado/ Acesso em: 13
jun.2019.
215
História
Pré-história
Fósseis encontrados no Quênia sugerem que os primatas percorriam a região
há mais de 20 milhões de anos. Recentes descobertas perto do Lago
Turkana indicam que hominídeos como Homo habilis (1,8 e 2,5 milhões de anos
atrás) e Homo erectus (1,8 milhão a 350.000 anos atrás) são possíveis ancestrais
diretos do Homo sapiens moderno e viveram no Quênia no Pleistoceno.
Cultura Suaíli
A costa queniana acolheu comunidades de ferreiros, agricultores de
subsistência, caçadores e pescadores bantus que comercializavam com países
estrangeiros.47
Os árabes do sul da Arábia colonizaram o litoral e estabeleceram muitas
novas Cidade-Estados autônomas, incluindo Mombasa, Malindi e Zanzibar; os
migrantes árabes também introduziram o islamismo na região. Esta mistura de
culturas deixou uma influência árabe notável sobre a cultura e o idioma
bantu suaíli da costa.
Os Suaílis construíram Mombasa como uma grande cidade portuária e
estabeleceram laços comerciais com outras cidades-Estados próximas, bem como
centros comerciais na Pérsia, Arábia e até mesmo na Índia. No século XV, o
explorador português Duarte Barbosa afirmou que "Mombasa é um lugar de grande
tráfego e tem um bom porto em que há sempre pequenas embarcações ancoradas
de vários tipos e também grandes navios [...]” conforme descrito por Shanti Sadiq
(1996).48
47 Ver em: The Swahili Coast. Disponível em: http://www.pbs.org/wonders/fr_e2.htm Acesso em: 13
jun.2019.
48 Concentra-se na dispersão africana na região de Deccan, abrangendo a moderna Maharashtra,
Andhra Pradesh, Karnataka, a costa de Coromandel e a costa ocidental da Índia. Começando com
seu início no Decão como escravos ou mercenários em exércitos locais, vemos como os Habshis se
integraram e foram assimilados na sociedade indiana. Alguns ascenderam à nobreza e ocuparam
altos cargos no Reino Bahmani, sob o Nizam Shahis (1498-1634), o Adil Shahis (1500-1650), o Qutb
Shahis de Golkonda (1512-1687) e o Asif Jahis (1724-1948) — sendo o mais notável Malik Ambar. Ao
contrário da maioria das minorias imigrantes, os africanos deram uma contribuição significativa para a
história social, política e cultural do Deccan. Para ampliar leitura ver: ALI, Shanti Sadiq. The African
Dispersal in the Deccan. [S.l.]: Orient Blackswan. ISBN 978-81-250-0485-1
216
Geografia
49 Maiores informações sobre tal revolta ver: Revolta do Mau-Mau. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_dos_Mau-Mau Acesso em: 13 jun.2019.
217
Clima
Biodiversidade
Demografia
52 Dados mais atuais podem ser obtidos em: População do Quênia. Disponível em:
https://countrymeters.info/pt/Kenya Acesso em: 13 jun.2019.
219
Religião
Composição Étnica
O Quênia tem uma população diversificada que inclui a maioria dos principais
grupos etno-linguísticos encontrados na África. Há uma estimativa de 47
comunidades diferentes, sendo que os bantus (67%) e os nilotas (30%) constituem a
maioria dos residentes locais. Grupos cuchíticos formam uma pequena minoria
étnica, assim como árabes, indianos e europeus.
Os grupos étnicos do Quênia são representados da seguinte
forma: Kikuyu (22%), Luhya (14%), Luo (13%), Kalenjin (12%), Cambas (11%), Kisii (
6%), Meru (6%), outros africanos (15%), não africanos (asiáticos, europeus e
árabes) (1%).
Idiomas
Vários grupos étnicos locais normalmente falam suas línguas maternas dentro
de suas próprias comunidades. As duas línguas oficiais, inglês e kiswahili, são
utilizadas em diferentes graus de fluência para a comunicação com outras
populações. O inglês é amplamente falado no comércio, no sistema educacional e
no governo. Moradores de áreas rurais e de periferias urbanas são
menos multilíngues, sendo que muitas regiões rurais falam apenas suas línguas
nativas.
O inglês britânico é usado principalmente no Quênia. Além disso, um dialeto
local distinto, inglês queniano, é usado por algumas comunidades e indivíduos no
país e contém características únicas derivadas de línguas bantas locais, como
kiswahili e kikuyu. A variante tem vindo a desenvolver desde a colonização e
também contém determinados elementos do inglês americano.
220
Governo e Política
Subdivisões
O Quénia divide-se em
7 províncias (mkoa) e 1 área*:
1. Central
2. Costa
3. Oriental
4. Área de Nairobi*
5. Nordeste
6. Nyanza
7. Vale do Rift
8. Ocidental
Economia
Os principais produtos agrícolas quenianos são chá, café, milho, trigo, laranja,
abacaxi, abacate, girassol, soja, sisal, algodão, cana-de-açúcar, batata, tomate,
cebola,arroz, feijão, mandioca e caju. A pecuária tem como predominante a cultura
de bovinos, suínos e caprinos, além de piscicultura e avicultura (incluindo galinhas,
perus, patos, gansos e pavões). Os minerais extraídos são a pedra calcária, trona
(carbonato de sódio), ouro, sal e fluor. A industria queniana produz plásticos, refino
de petróleo, artefatos de madeira, tecidos, cigarros, couro, cimento, metalurgia e
comida enlatada.
O turismo também rende bons lucros, principalmente na costa (litoral) e
na savana queniana. A exportação é forte em chá e café, enquanto que
as importações incluem maquinaria, alimentos, equipamentos de transporte e
petróleo (e seus derivados).
maioria dos anos desde a independência do país. No final dos anos 1980, a indústria
do turismo tornou-se a principal fonte de divisas do país.
O turismo é o maior contribuinte do crescimento econômico do país e é
atualmente o setor de maior renda do país, seguido por flores, chá e café. Em 2006,
o turismo gerou 803 milhões de dólares, acima dos 699 milhões de dólares no ano
anterior. Atualmente, existem também inúmeros centros comerciais no Quênia.
Cultura do Quênia
53
Nsima (também conhecido como ugali, pap, e outras tantas denominações) é um tipo de mingau
de fubá feito na África. Às vezes, o Nsima é feito de outras farinhas, como farinha de milho ou sorgo,
e às vezes é misturado com farinha de mandioca. É cozido em água fervente ou leite até atingir
uma consistência firme ou firme, semelhante à massa. Disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Ugali Acesso em: 13 jun.2019.
54
Wiki de Sukuma é um prato da África Oriental feito com couve, conhecido como sukuma, cozido
com cebola e especiarias. É frequentemente servido e comido com ugali (feito com farinha de milho).
Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Sukuma_wiki Acesso em: 13 jun.2019.
55
O nyama choma é uma especialidade da carne de cabra grelhada, muito popular no Quênia - onde
é considerado o prato nacional - também na Tanzânia. A expressão nyama choma significa "carne
de churrasco " em kiswahili. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Nyama_choma Acesso em:
13 jun.2019.
223
Roupa Nacional
56 O kente é um tecido produzido pelas etnias axânti e ewe no Gana. Antigamente ele só podia ser
usado por reis. O material básico para sua produção é o algodão do norte do Gana ou a seda.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Kente Acesso em: 13 jun.2019.
57 Técnica de tingimento artístico em tecidos.
224
Música
58
Figueira (Ficus sycomorus) nativa de regiões tropicais e meridionais da África, introduzida no
Mediterrâneo e cultivada pelos figos comestíveis e pela madeira, muito usado, no antigo Egito, em
estátuas e sarcófagos.
225
Acredita-se que o povo Kikuyu migrou do Lago Chade para a África Oriental
em 1000 AD, instalando-se no fértil planalto central do Quênia e se dedicando à
agricultura. É através da cultura Kikuyu que o Quênia e o pico mais alto do país
adquiriram seu nome, já que os colonos europeus não conseguiram pronunciar o
nome Kirinyaga.
Historicamente, acredita-se que os Kikuyu vieram da África Ocidental, junto
com outros grupos Bantu como o Meru, Kamba e Embu. Tradicionalmente, os
Kikuyu acreditam que a tribo se originou de Gikuyu e Mumbi, que foram enviados
por Deus (Ngai) do Monte Quênia (Kirinyaga). Gikuyu e Mumbi tiveram nove filhas
que se casaram e formaram os nove clãs do povo Agikuyu.
Os Kikuyu se tornaram amigos de comunidades vizinhas, como os Masaai, e
se dedicaram ao comércio. Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos
instalaram-se no Quênia, confiscando as terras férteis dos Kikuyu e deixando-os
com pouca terra para cultivar. Frustrados com o domínio colonial e a perda de suas
terras, os Kikuyu formaram um grupo rebelde, Mau-Mau, liderado por Dedan
Kimathi, e entraram em guerra com os britânicos, o que acabou levando à
independência do Quênia em 1963.
A cultura Kikuyu é uma combinação de sua cultura tradicional e culturas pós-
coloniais recentemente revividas. A maioria do povo Kikuyu ainda está enraizada em
sua cultura tradicional, falando Kikuyu como sua língua nativa, além de Inglês e
Kiswahili como língua franca. A maioria é cristã e adora Ngai, a quem eles acreditam
que mora no Monte Quênia e é o provedor de tudo. De acordo com os Kikuyus, a
família é a unidade social, econômica e política básica da sociedade. É através do
sistema familiar que a educação e as tradições são ensinadas e transferidas através
das gerações. Além disso, é através do sistema familiar que os membros são
introduzidos nos sistemas políticos. A cozinha tradicional kikuyu inclui githeri 59,
mukimo60, irio, frango assado e carne de carneiro.
59 Githeri (Milho Cozido e Feijão) - um prato tradicional queniano feito de milho e feijão aromatizado
com curry em pó e pimenta branca OU você pode simplesmente usar sal e pimenta. Neste site tem a
receita e as instruções como fazer o prato, além da tabela com valor nutricional. Disponível em:
https://www.africanbites.com/githeri/ Acesso em: 07 jul. 2019.
60 Mukimo é um prato queniano que se origina principalmente da comunidade kikuyu. É composto de
milho, batatas, ervilhas e sal. As ervilhas às vezes são normalmente caras e podem ser substituídas
por kahurura (folhas de abóbora), como é feito regularmente nas famílias quenianas. No site tem a
receita e como fazer. Disponível em: http://sheenaskitchen.com/mukimo-with-peas/ Acesso em: 07 jul.
2019.
227
Fonte: Africanquestsafaris -
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/518195500845647163/?lp=true
Acesso em: 07 jul. 2019.
228
grande vantagem e impunham sobre eles o maior fardo dos povos sob o
colonialismo.
Eles tiveram maior acesso à educação e oportunidades de envolvimento na
nova economia monetária e mudanças políticas em seu país. Eles também
experimentaram a maior mudança cultural por causa das oportunidades e da
opressão de seus mestres coloniais.
O Kikuyu é uma língua bantu, e estão relacionados culturalmente com outros
povos de língua bantu da África Oriental. Os Kikuyu são identificados com outros
povos Bantu das Terras Altas, principalmente o Kamba, o Meru, o Embu e o
Chuka. Esses povos do centro do Quênia se entendem mesmo que não falem a
língua do outro fluentemente. Os Kikuyu são tradicionalmente uma gente agrícola. A
maioria ainda vive em pequenos lotes familiares, mas muitos deles estão envolvidos
em todos os tipos de negócios.
Com a modernização, muitos viram oportunidades nos negócios e se
mudaram para cidades e novas áreas para trabalhar. Eles têm um desejo por
educação e muitos Kikuyu se tornaram acadêmicos e professores universitários em
muitos países do mundo. O povo Kikuyu é capitalista em quase tudo o que
faz. Muitos possuem ou dirigem matatus (mini-van, taxis).
Devido às suas origens variadas e à incorporação de muitos grupos diferentes
de refugiados ou migrantes, os Kukuyus exibem uma ampla gama de altura,
constituição física, tom de pele e características faciais. A linguagem Kikuyu e o
sistema de nomenclatura são fortes fatores de identificação.
Os Kikuyu falam uma língua bantu na família Bantu das Terras Altas do
Nordeste. Tem semelhanças lexicais com Kamba, Embu e Meru. Exibe três dialetos
inerentemente inteligíveis com variações locais.
A língua kikuyu, frequentemente chamada tecnicamente em Gikuyu, é escrita
em um alfabeto romano modificado desenvolvido por missionários presbiterianos. O
nome do idioma é escrito Gikuyu devido a um padrão de mudança fonética na
gramática kikuyu. Esta ortografia é por vezes vista em referências inglesas. A Bíblia
foi traduzida para o Gikuyu há mais de 100 anos, uma das primeiras na África
Oriental.
Os membros mais velhos da família falam apenas Gikuyu. Os Kikuyu têm
muito orgulho da sua língua e a maioria são multilíngües, mas prefere falar kikuyu
230
com qualquer pessoa que conheça a língua. Os serviços da Igreja estão sempre em
Kikuyu, exceto nas cidades, onde o suaíli é usado ou os serviços são
bilíngües. Kikuyu é uma língua comum que você ouve em muitos escritórios do
governo por causa da forte influência e numerosa presença de kikuyu no país.
A língua kikuyu é falada por muitas pessoas de outras tribos e é comumente
ouvida em Nairobi, juntamente com suaíli. Em muitas escolas, a educação é iniciada
na língua materna, mas universalmente é ensinado Swahili, depois usado como
meio no ensino fundamental superior, quando o inglês é introduzido. O inglês é a
língua da educação secundária e avançada. Nas áreas urbanas, o inglês é
introduzido nos níveis mais baixos e algumas crianças
Aqueles que são criados nas cidades não falam o idioma kikuyu tão fluente ou
tão frequentemente quanto aqueles nas áreas periféricas. Nos últimos anos, as
famílias urbanas passaram a usar o inglês e o swahili em casa e muitas crianças
kikuyu em Nairóbi não conseguem falar com seus avós em sua língua materna.
Política
61Para saber mais sobre os Massai, ver material disponível em: O fascinante universo da história.
Disponível em: http://civilizacoesafricanas.blogspot.com/2010/02/massais.html Acesso em: 07 jul.
2019. Ver também: Tribo Masai. Disponível em: https://vivimetaliun.wordpress.com/2015/09/18/tribo-
masai/ Acesso em: 07 jul. 2019.
231
Giryama na costa. Os Maasai roubariam seu gado, embora o gado Kikuyu não seja
o foco, mas a agricultura.
Ao mesmo tempo, eles tinham laços comerciais estreitos com os Maasai e até
se casaram com eles. Durante as guerras civis dos Maasai no final do século XIX,
centenas de refugiados Maasai foram acolhidos e adotados pelos Kikuyu,
particularmente aqueles em Kiambu.
Eles são ativos politicamente e influentes na política da África Oriental,
especialmente no Quênia. O primeiro presidente do Quênia, Jomo Kenyatta, era um
kikuyu que vivia com os parentes maasai no vale do Rifte. Ele recebeu o nome
Kenyatta de um cinturão de contas Maasai em homenagem à sua família Maasai.
Kenyatta foi uma figura importante na luta pela independência e foi influente no
levante Mau-Mau contra os britânicos. O Quênia tornou-se independente em 1963
sob sua liderança.
Mudanças
Educação
Tradição Oral
Ritos
62
Para saber mais acesse: https://www.descomplicandoamusica.com/escala-pentatonica/
234
chamados pelo seu nome de faixa etária, mas à medida que as pessoas se
expandiram geograficamente e em número, e como ocorreu uma mudança cultural
rápida, o sistema de faixa etária basicamente desapareceu.
A circuncisão feminina que causou divisões no cristianismo perdeu parte de
sua ênfase entre os cristãos evangélicos. Ainda é praticado amplamente entre
aqueles com crenças tradicionais e católicos romanos. Ainda é oficialmente
desencorajado pela maioria das igrejas. Gerações mais jovens e famílias mais
urbanas abandonaram a prática.
Laços familiares
Religião
Ainda hoje, a árvore mugumo mantém este lugar de honra como um sinal do
sagrado. Em tempos difíceis, ou em um culto especial anual, um líder familiar ou da
aldeia levaria sua família para o "lugar alto" e oraria por essa família, pedir perdão
pelos seus erros e pedir ajuda na seca ou outra necessidade.
A religião mais difundida hoje é o cristianismo, mas ainda seguem as crenças
tradicionais. No entanto, muitos hoje estão focados no materialismo. Os Kikuyu
exibem um forte compromisso com o ganho material e estilo de vida. Eles também
adotaram grande parte do fascínio material da sociedade secular moderna.
O cristianismo tem estado ativo entre os Kikuyu por mais de cem anos. Muitos
Kikuyu são ativos como missionários para outros povos e evangelistas entre seus
próprios povos, bem como professores teológicos e líderes denominacionais.
Historicamente, muitos dos que foram mortos na Revolta do Mau-Mau eram
cristãos kikuyu. Eles se recusaram a fazer o juramento de Mau Mau, porque haviam
237
feito um juramento a Jesus. Por causa disso, muitos cristãos kikuyus foram mortos
durante a rebelião. A maioria das pessoas mortas na revolta eram kikuyus.
Embora atualmente o cristianismo ainda seja praticado, para alguns, tornou-
se uma forma cultural. Muitos kikuyus urbanos ricos, assim, lembram os americanos
"seculares" modernos, que também são chamados de "pagãos" e, em alguns casos,
rotulam a si mesmos como "neopagãos", que rejeitaram a fé cristã de seus
ancestrais.
Texto sobre o povo Kikuyu ver: The Kikuyu People of Kenya (O povo
Kikuyu do Quênia). Disponível em:
http://orvillejenkins.com/profiles/kikuyu.html Acesso em: 07 jul. 2019.
Música
1. Você conhece o Quênia? Do hip hop ao reggae, país é cheio de música boa.
Vem ver! Disponível em: https://razoesparaacreditar.com/quenia-hip-hop-
reggae-musica-boa/
Acesso em: 08 jul. 2019.
238
Indicações de vídeos
Referências
Fonte: ARMELIN, Débora. Naomi Wanjiku: Tecendo Tradições e Modernidades. Quênia. Disponivel
em: http://www.afreaka.com.br/notas/naomi-wanjiku-tecendo-tradicoes-e-modernidades/ Acesso em:
08 jul.2019.
MADAGASCAR – MERINA
Ilustração 22 - Imagem – Mapa de Madagascar
Geografia
A cor da terra tinge os rios e explica por que este lugar é chamado de Ilha
Vermelha.
Foram necessários milhões de anos para que a água abrisse fissuras numa rocha
dura como ferro e desenhasse, em Madagascar, uma paisagem tão impressionante. No
sudoeste do país, uma estradinha de terra vai cortando pequenos vilarejos. Depois de
quase 11 horas e meia de viagem, a equipe do Globo Repórter vai descansar. Na
manhã seguinte, parte para conhecer o Parque Nacional Tsingy de Bemaraha. A
primeira visão do Tsingy impressiona logo de cara. O maciço surge imponente, do
tamanho da cidade de São Paulo. Os picos atingem cem metros de altura. E tudo é
coberto por rochas pontiagudas, que justificam o nome do lugar. Tsingy quer dizer “onde
não se anda descalço”.
Seguindo rumo ao coração da floresta de pedra, uma gigantesca cadeia de
cavernas se estende por mais de 100 quilômetros. A equipe passou por um corredor
muito apertado, de paredes ásperas, onde só é possível passar uma pessoa de cada
vez. Dizem que nas profundezas do Tsingy que antigos moradores se escondiam
durante guerras tribais.
De volta à luz do dia, a equipe seguiu a trilha se equilibrando sobre pedras
pontudas e pontes improvisadas. Duzentos milhões de anos atrás, toda aquela região
era fundo do mar. Mais tarde, as águas recuaram e o conjunto ficou exposto. Por fim, a
chuva terminou o trabalho, desgastando a rocha e esculpindo lentamente as lâminas e
os labirintos. É um lugar único no planeta. Não muito longe dali outros gigantes se
destacam na paisagem. São os baobás, as árvores mais típicas de Madagascar. Para os
malgaxes, o baobá é a mãe da floresta. O país tem seis das nove espécies de baobás
encontradas no mundo. A grandidieri é a maior delas. Pode passar dos 30 metros de
altura e viver mais de mil anos.
Ameaçado de extinção, o baobá é uma das árvores mais exploradas de
Madagascar e uma das maiores vítimas do desmatamento. O avanço dos campos de
244
arroz também é uma ameaça. Típicas de solo árido, as árvores não resistem a tanta
água e acabam morrendo.
Fonte: Baobas gigantes vivem mais de mil anos e são atração de Madagascar.
Disponível em: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2017/11/baobas-gigantes-
vivem-mais-de-mil-anos-e-sao-atracao-de-madagascar.html Acesso em: 19 jul. 2019.
Fauna e Flora
63 Para saber mais ver: The wildlife of Madagascar. WildMadagascar.org, 2005. Disponível em:
https://www.wildmadagascar.org/media/PDFs/mammals_of_madagascar.pdf Acesso em: 19 jul. 2019.
245
orelhas de morcego (que se mexem uma de cada vez), dentes como de roedores,
que estão sempre crescendo, grandes olhos verdes e mãos pretas com dedos bem
magrinhos, parecendo galhos.
O aye-aye usa seus dedos para encontrar larvas escondidas dentro de
troncos e frutas. Esse lémure superinteligente dá toquinhos nos troncos das árvores
e escuta, procurando saber se a madeira é oca ou se tem algo apetitoso pra comer
lá dentro. O aye-aye está em alto risco de extinção por causa da destruição de seu
habitat e da caça. Em algumas áreas as pessoas acreditam que os aye-aye trazem
má sorte e por isso elas caçam os lémures que encontram.
O indri é o maior tipo de lémure. Ele é preto e branco e famoso por causa do
seu rabo inquieto, que faz um barulho parecido com o chamado das baleias. O indri
come frutas e folhas do alto das árvores nas florestas do leste de Madagascar. Hoje
em dia essa espécie está ameaçada pela extinção por causa da perda do habitat.
247
Mamíferos em Madagascar
Por ser uma ilha, várias espécies tipicamente africanas nunca chegaram em
Madagascar, como por exemplo camelos, girafas, antílopes, zebras e macacos.
Aves65
Madagascar tem 258 espécies de pássaros, sendo que 115 são endêmicas.
Várias pessoas visitam a ilha para ver seus pássaros.
Na ilha tinha o pássaros elefante, que podiam chegar a pesar até 500kg e
medir 3m de altura! Pássaros elefante, (Aepyornis) foram extintos recentemente por
causa da caça, da perda de seu habitat e da introdução de espécies não-nativas.
65
Para ampliar conhecimento sobre a Coua gigante pode acessar material disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Giant_coua
252
Sapos
O sapo tomate libera uma substância pegajosa que parece uma cola. Essa
secreção protege o sapo de predadores e pode causar reações alérgicas em
humanos também.
Os mantella são os sapos de estimação preferido dos Malagasy. Assim como
os sapos venenosos da América do Sul, os matella usam suas cores brilhantes para
alertar os predadores sobre seu veneno. No mundo selvagem cores fortes significam
“não me coma, eu sou venenoso”.
253
Répteis
Lagartos66
Camaleões
66
Mais detalhes estão disponíveis em: https://www.wildmadagascar.org/brazilian-
portuguese/kids/index.html Acesso em: 18 jul. 2019.
255
Phelsuma gecko
Calumma
Calumma Furcifer in Taolagnaro Uroplatus
globifer
parsonii cristifer balteatus fimbriatus leaf-
chameleon
chameleon tailed gecko
Phelsuma
madagascariensi
Furcifer
Uroplatus s kochi Uroplatus
gastrotaenia Calumma
fimbriatus with fimbriatus
chameleon brevicornis
flying insect gecko on Nosy
(male)
Mangabe
Uroplatus
fimbriatus - head
Furcifer shot tree trunk
Uroplatus
pardalis Furcifer willsii
fimbriatus Uroplatus
chameleon (Female)
gecko phantasticus
gecko
Uroplatus
fimbriatus - side
angle head shot
Brookesia Furcifer willsii
Uroplatus
peyrierasi (Male)
fimbriatus Uroplatus
chameleon on
gecko on Nosy fimbriatus
twig
Mangabe gecko
256
Uroplatus
fimbriatus - tree
trunk, full body
Brookesia Uroplatus
peyrierasi phantasticus Brookesia Collared
Cobras
Flora
Travelers palm
Baobabs Baobabs at Spiny forest
(Ravenala Orchid
258
Baobabs
Baobabs
Baobabs with Alluaudia spiny
rice paddies plant Spiny forest
vegetation at
sunset
Reino de Madagascar
Tecnologia
de pirogas. Embora essas tecnologias não tenham sido descobertas durante seu
reinado, Andriamanelo pode ter estado entre os primeiros soberanos em Imerina a
fazer uso em larga escala delas.
Economia
Fonte: Àsia e África estão unidas nos traços do povo de Madagascar. Disponível em:
http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2017/11/asia-e-africa-estao-unidas-nos-
tracos-do-povo-de-madagascar.html Acesso em: 18 jul. 2019.
261
Triste realidade
“Pele negra, olhos puxados, cabelos lisos. São descendentes dos Merinas, que
vivem principalmente nas terras altas, região da capital do país”.
Os merinas são a principal etnia de Madagascar, mas não a única. O país tem
outras 17. Todas com culturas muito particulares. Pelas ruas, vemos mulheres com
vários tipos de pintura no rosto. Além de enfeitar, a tinta funciona como uma espécie de
filtro solar, algo muito importante num país tropical que tem quase cinco mil quilômetros
de praias.67
67
Àsia e África estão unidas nos traços do povo de Madagascar. Disponível em:
http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2017/11/asia-e-africa-estao-unidas-nos-tracos-do-povo-de-
madagascar.html Acesso em: 18 jul. 2019.
263
Ilustração 43 - Imagem - Região tradicional do povo Merina (centro roxo), em relação a outras etnias
malgaxes
Língua
Religião
Estratificação Social
68
O significado de Casta é um sistema tradicional, social ou hereditário de estratificação, ou seja, é a
geração, povo ou família, que se distingue de outras, graças aos caracteres hereditários físicos e
morais. Dessa forma, a casta se classifica usando como base uma série de fatores, tais como a raça,
a ocupação profissional, a religião, a cultura, entre outros elementos. Disponível em:
https://www.significadosbr.com.br/casta Acesso em: 24 jul. 2019
268
Culinária
Ilustração 45 - Imagem – Uma mulher Merina vendendo Kakapizon (à esquerda, um lanche frito) e
batatas fritas em Antananarivo.
A cozinha do Merina é tão fortemente dominada pelo arroz que o termo para
comer uma refeição é simplesmente "comer arroz". Este alimento básico é
tão essencial para o Merina que é considerado masina , ou sagrado, e uma crença
comum de que comer arroz é a chave para o comportamento moral. A carne
também desempenha um papel importante na dieta Merina e, de acordo com a
história oral de Merina, foi um servo do rei Ralambo que descobriu que as vacas
eram comestíveis e compartilhavam esse conhecimento com o rei, que por sua vez
informava o resto de sua dieta ao reino.
Arroz, cassave69 e batatas são culturas básicas do povo Merina. Eles também
cultivam cebola e outros suplementos, enquanto o gado, porcos e criação de
animais também é uma ocupação significativa. Muitas pessoas Merina se mudaram
para áreas urbanas, onde operam fábricas e administram empresas.
Fontes:
REINO MERINA. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Merina_Kingdom
Acesso em: 18 jul. 2019.
Origens
Construção do Túmulo
pedra alta e não marcada (vatolahy ou “pedra masculina”) era às vezes erigida
tradicionalmente em memória do falecido.
Andrianampoinimerina promoveu a construção de túmulos mais elaborada e
cara como uma despesa digna para honrar seus ancestrais. Ele também declarou
que as sub-castas mais altas de Merina andriana (nobres) teriam o privilégio de
construir uma pequena casa no topo de uma tumba para distingui-las das tumbas
das castas mais baixas.
As duas maiores sub-castas andriana, a Zanakandriana e a Zazamarolahy,
construíram casas tumulares chamadas trano masina (“casa sagrada”), enquanto as
casas tumulares da Andriamasinavalona eram chamadas de trano manara (“casa
fria”). Essas casas eram idênticas às casas dos nobres de madeira padrão, exceto
pelo fato de não terem janelas nem lareira. Enquanto os restos envoltos em lamba 71
foram colocados para descansar em lajes de pedra no túmulo abaixo, valiosos bens
do falecido, como moedas de ouro e prata, elegantes lambas de seda, objetos
decorativos e mais foram colocados no trano masina ou trano manara, que foi
muitas vezes decorado como um quarto regular com móveis confortáveis e
refrescos, com rum e água para o espírito do falecido para desfrutar.
O trano masina do rei Radama I, que queimou com outras estruturas no
incêndio de 1995 no complexo do palácio de Rova em Antananarivo, foi considerado
o mais rico conhecido.
1. Ásia e África estão unidas nos traços do povo de Madagascar. Disponível em:
http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2017/11/asia-e-africa-estao-unidas-
nos-tracos-do-povo-de-madagascar.html
Acesso em: 18 jul. 2019.
71
Um lamba é a vestimenta tradicional usada por homens e mulheres que vivem em Madagascar.
Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Lamba_(garment) Acesso em: 22 jul.2019.
273
madagascar-correm-risco-de-extincao.html
Acesso em: 18 jul. 2019.
10. Você pode aprender mais sobre a vida selvagem de Madagascar no Wildlife
of Madagascar Packet [em inglês] (PDF) A ilha de Madagascar tem um dos
maiores índices de biodiversidade do planeta. Disponível em:
https://www.wildmadagascar.org/brazilian-portuguese/kids/07-wildlife.html
Acesso em: 24 jul. 2019.
Indicações de vídeos
Referências
Fonte: GILLOW, John. African Textiles. Colour and creativity across a continent. Thames e
Hudson. 2003
276
MOÇAMBIQUE – BANTU
72
Para saber mais sobre os Suaílis ver disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sua%C3%ADlis
Acesso em: 03 ago. 2019. Consultar também: SILVA, Alberto da Costa e. Enxada e a lança, p. 347,
348, 363, 372, 411 e 701.
278
Geografia
Clima
Meio Ambiente
73
O dugongo é o menor membro da ordem Sirenia, uma ordem de mamíferos marinhos que inclui
igualmente o peixe-boi ou vaca marinha. É o único representante vivo da família Dugongidae, todos
outros membros tendo sido extintos. O nome dugongo vem da palavra malaia duyung, que significa
sereia. Para encontrar maior informação ver: Dugongo. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dugongo https://pt.wikipedia.org/wiki/Dugongo Acesso em: 03 ago. 2019.
280
Demografia
Composição Étnica
Línguas
O português é a língua oficial e a mais falada do país, usada por pouco mais
da metade da população (50,4%). Cerca de 39,7%, principalmente a população
africana nativa, usam o português como segunda língua e 12,78% falam-no como
primeira língua. A maioria dos moçambicanos que vivem nas áreas urbanas usam o
português como principal idioma.
As línguas bantas de Moçambique, que são as mais faladas no país, variam
muito em seus grupos e, em alguns casos, são bastante mal analisadas e
documentadas. Além de ser uma língua franca no norte do país, o suaíli é falado em
uma pequena área do litoral próxima à fronteira com a Tanzânia; mais ao sul, na Ilha
de Moçambique, o mwani, considerado como um dialeto do suaíli, é falado.
74
Não foi encontrado mapa mais nítido para substituir o disponibilizado aqui.
282
Cultura
Artes
75 No batique javanês, o efeito final é produzido por sucessivos tingimentos no tecido, protegido por
máscaras de cera, onde somente as partes não vedadas pela cera são tingidas. As máscaras são
aplicadas sobre a seda com pincel ou "tjanting", uma ferramenta de metal própria para dispensar
pingos de cera derretida. No batique javanês, o efeito final é produzido por sucessivos tingimentos no
tecido, protegido por máscaras de cera, onde somente as partes não vedadas pela cera são tingidas.
As máscaras são aplicadas sobre a seda com pincel ou "tjanting", uma ferramenta de metal própria
para dispensar pingos de cera derretida. Para saber mais, ver: Batik. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Batik Acesso em: 03 ago. 2019.
76 Não foi possível encontrar imagem sobre tal instrumento.
284
popular entre os chopes da costa centro-sul moçambicana, que são famosos por sua
habilidade musical e de dança.
A música de Moçambique é semelhante ao reggae e ao calipso caribenho.
Outros tipos de música são populares em Moçambique, como a marrabenta e outros
tipos de música lusófona, como o fado, o samba, a bossa nova e o maxixe.
Os macondes são famosos por suas máscaras e esculturas elaboradas de
madeira, que são geralmente usadas em danças tradicionais. Existem dois tipos
diferentes de esculturas em madeira: as shetani (espíritos malignos), que são em
sua maioria esculpidas em ébano, e as ujamaa, que são esculturas em forma
de totem que ilustram rostos realistas de pessoas e de várias figuras. Essas
esculturas são geralmente referidas como "árvores genealógicas", porque contam
histórias de muitas gerações.
Literatura
Fonte: Mia Couto. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mia_Couto Acesso em: 03 ago. 2019.
Culinária
Dados populacionais
Triste realidade
REFERÊNCIAS
Povos Bantu é usado como um rótulo geral para os 300-600 grupos étnicos
na África que falam línguas Bantu. Eles habitam uma área geográfica que se
estende a leste e para o sul da África Central até a África do Sul. Bantu é um
importante ramo do Niger-Congo família linguística falada pela maioria das
populações em África. Há cerca de 650 línguas Bantu pelo critério de inteligibilidade
mútua.
Cerca de 3000 anos atrás, os falantes do grupo de língua Proto-Bantu
começaram uma série milenar de migrações para o leste a partir da sua terra natal,
293
Origem e Expansão
membros dos Bantu no povo suaíli. Com a sua comunidade original centrado nas
partes costeiras de Zanzibar, Quênia e Tanzânia – um litoral referido como a Costa
suaíli – a língua Bantu suaíli contém como resultado dessas interações, muitas
palavras-empréstimo dos árabes.
Entre os séculos XIV e XV, os estados de língua Bantu começaram a surgir
na região dos Grandes Lagos na savana sul da floresta tropical Central Africana. No
rio Zambeze, os reis Monomotapa construíram o complexo do Grande Zimbabwe
uma civilização cujas origens e filiações étnicas são incertas.
A partir do século XVI em diante os processos de formação do Estado entre
os povos Bantu aumentaram em frequência, provavelmente devido a população
mais densa (que levou a divisões mais especializadas de trabalho, incluindo o poder
militar, ao mesmo tempo que a emigração mais difícil); ao aumento da interação
entre os falantes Bantu com comunidades com chineses, europeu, da Indonésia, e
comerciantes árabes nas costas; à evolução tecnológica na atividade econômica; e
novas técnicas no ritualização político-espiritual da realeza como fonte de força e
saúde nacional.
Religiosidade
81
Animista: Pessoa que atribui a todos os elementos do cosmos (Sol, Lua, estrelas), a todos os
elementos da natureza (rio, oceano, montanha, floresta, rocha), a todos os seres vivos (animais,
árvores, plantas) e a todos os fenômenos naturais (chuva, vento, dia, noite) um princípio vital e
pessoal, chamado de "ânima". Para essas pessoas, todos esses elementos são passíveis de
possuírem: sentimentos, emoções, vontades ou desejos, e até mesmo inteligência. Para saber mais,
ver: Animista. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.com.br/animista/ Acesso em: 07 ago.
2019.
300
Partilhamento e Acolhimento
Na maior parte das aldeias não havia, e ainda não há, disparidade social
entre pobres e ricos. Por isso, sua existência tão marcante no mundo ocidental
choca os africanos.
Para evitar acumulação de propriedade, alguns povos criaram rituais em que
se realiza a redistribuição dos bens acumulados ao logo do tempo. O ritual é
realizado a cada dois ou três anos. Prepara-se uma grande quantidade de comida,
sendo que uma parte é oferecida aos adultos, numa tigela de barro. A senha é esta:
quem provar a comida e cuspir um pouco no chão sinaliza que aceita participar
desse ritual. Nesse momento as pessoas que acompanham o cerimonial têm direito
de levar o que desejarem da casa da pessoa que aceitou o ritual. “Há ao mesmo
tempo desprendimento e audácia, que podem causar admiração e medo”.
Outro aspecto da generosidade é o acolhimento. Nas comunidades bantu a
família não é restrita ao pai e à mãe como em nossa sociedade atual, mas é
alargada, ou seja, ela inclui os avós, os tios maternos e paternos. Se vier a faltar um
dos membros do casal — o pai ou a mãe, devido à morte ou por qualquer outro mal
–, a criança não fica desamparada, pois é acolhida por outra pessoa da família,
82Para saber mais sobre o assunto ver indicação: Quinta – uma grande propriedade rural. Disponível
em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Quinta_(propriedade) Acesso em: 07 ago. 2019.
302
como o tio ou o avô. Isso explica porque nas comunidades originais africanas não há
criança abandonada ou menor carente.
ALTUNA, Raul Ruiz de Asua. Cultura Tradicional Bantu. Editora Paulinas. Pior Velho
– Portugal. 2014.
Indicações de vídeos
1. Mojuba II (os povos Bantu no Brasil) – Mojubá II | Ep. 01: História e Geografia.
Disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=0FY7Ld9c_mM
Acesso em: 06 ago. 2019.
Referências
4. Moçambique: https://www.missaoafrica.org.br/sobre-mocambique/
Acesso em: Acesso em: 06 ago. 2019.
5. Moçambique: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mo%C3%A7ambique
Acesso em: 06 ago. 2019.
Fonte: GILLOW, John. African Textiles. Colour and creativity across a continente, p. 216, 2012.
O povo
83
Para saber mais ver conteúdo ver em: Zulu. Disponível em:
http://civilizacoesafricanas.blogspot.com/2010/02/zulus.html Acesso em: 13 ago. 2019.
305
Língua
Dança
Religião
Cestaria
Fonte: The art and material culture of the zulu-speaking peoples. UCLA Museum of Cultural
History, Fall, 1978.p 27.
O isichumu é tão enrolado que pode até conter líquidos. Uma segunda
técnica, semelhante à tecelagem, com estacas que proporcionam a urdidura e o
entalhe da trama, é tipicamente vista na isthebe finamente tecida. O isampompo
ilustra uma variação decorada dessa técnica, utilizando estacas de uma corrida em
particular como a urdidura e a corda fina como a ponta.
Uma terceira técnica, usada para um tipo de ivovo, bem como para vários
sacos de transporte, é caracterizada por faixas de palma na diagonal trançadas.
Cerâmica86
86
Cerâmica Zulu - Há outras belas imagens disponíveis em:
https://www.google.com/search?q=cerâmica+zulu&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjsns
S09qDkAhW-G7kGHXTDCbUQ_AUIESgB&biw=1366&bih=625#imgrc=_ Acesso em: 13 ago. 2019.
310
Fonte: Zulu Beer Pots ukamba with imbenge lids | African pottery, African art, South african art.
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/68328119326828625/ Acesso em: 13 ago. 2019.
Madeira
87 Enxó é um instrumento composto por um cabo curto e uma chapa de aço cortante. É usado por
carpinteiros e tanoeiros para desbastar a madeira.
88 Encontrado disponível em:
https://www.google.com/search?biw=1366&bih=625&tbm=isch&sa=1&ei=2AdkXa_7Md-u5OUPq-
64sAw&q=amasumpa+ferro+zulu&oq=amasumpa+ferro+zulu&gs_l=img.3...28055.33570..33953...1.0.
.0.182.1702.0j12......0....1..gws-wiz-img.efHAof_jKmY&ved=0ahUKEwivx_DF-
aDkAhVfF7kGHSs3DsYQ4dUDCAY&uact=5#imgrc=_ Acesso em: 13 ago. 2019.
311
Fonte: Colheres - The art and material culture of the zulu-speaking peoples. UCLA Museum of
Cultural History, Fall, 1978. p. 33.
Ferro
O trabalho em ferro era uma tradição importante entre os zulus. Esta arte foi
praticada por um grupo especializado de homens que fizeram implementos
domésticos, como enxadas, machados, enxós, facas e, mais importante, azerais ou
lanças (umkhonto).
Os instrumentos de ferro zulus variam de acordo com sua função. Os machos
de caça incluem o inhlendha, com uma lâmina farpada, e a ingcula, caracterizado
por uma lâmina curta e uma haste esbelta, usada para caça pequena.
Antes do shaka, a assegai de arremesso de cabo longo era usada na guerra;
mas uma vez que a lança foi lançada, o guerreiro desarmado estava em uma séria
desvantagem. Depois de 1818, Shaka substituiu esta arma tradicional pela iklwa89,
uma lança cortante com uma alça curta e uma lâmina longa. Essa arma, que não
89
Modelos disponíveis em:
https://www.google.com/search?q=iklwa&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwi-
jOOngqHkAhX9IbkGHWTKCQwQ_AUIESgB&biw=1366&bih=625 Acesso em: 13 ago. 2019.
313
Miçangas90
90 As figuras enumeradas estão no final do texto indicados pela seguinte abreviação: fig.
314
Vestuário
seu primeiro filho e uma faixa de cabeça (umnqwazi) acima da testa, na base do
isicolo, como sinal de respeito aos membros masculinos da família do marido.
Fonte: Mulher Zulu The art and material culture of the zulu-speaking peoples. UCLA Museum
of Cultural History, Fall, 1978. p. 34.
Fonte: Jovem Zulus - The art and material culture of the zulu-speaking peoples. UCLA
Museum of Cultural History, Fall, 1978.
318
92
Vários escudos podem ser vistos em: Escudos Zulus. Disponível em:
https://www.google.com/search?q=escudos+zulus&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiAo
8iW-6HkAhWuHLkGHRd7A5wQ_AUIESgB&biw=1366&bih=625 Acesso em: 13 ago. 2019.
319
Fonte: KENNEDY, Carolee. The art and material culture of the zulu-speaking peoples.
UCLA Museum of Cultural History, Fall, 1978.
Música
Indicações de vídeos
Referências
Figura 7
Figura 8
Figura 9 Figura 10
Figura 12
Figura 11
Figura 13
Fonte: The art and material culture of the zulu-speaking peoples. UCLA Museum of Cultural History,
Fall, 1978.
Fonte: Povo Zulu. In: GILLOW, John. African Textiles. Colour and creativity across a continente, 2012,
p. 217-220.
324
Fonte: Povo Zulu. In: GILLOW, John. African Textiles. Colour and creativity across a continente, 2012,
p. 210.
Fonte: Povo Zulu. In: GILLOW, John. African Textiles. Colour and creativity across a continente, 2012,
p. 221.
325
NIGÉRIA – HAUSSAS
Fonte: Plano de aula: Viajando pela África através de Brincadeiras Infanto-Juvenis. Disponível em:
https://www.geledes.org.br/plano-de-aula-viajando-pela-africa-atraves-de-brincadeiras-infanto-juvenis/
Acesso em: 14 ago. 2019
História
Pré-colonização
Os Impérios de Canem e Bornu, próximo ao Lago Chade, dominaram a parte
norte da Nigéria por séculos, prosperando como rota de comércio entre os povos
norte-africanos e o povo da floresta.
No começo do século XIX, Usman dan Fodio reuniu a maior parte das áreas
do norte sob o controle de um império islâmico tendo como centro Socoto. Ambos os
327
Colonização europeia
Até 1471, navios portugueses haviam descido o litoral africano até o delta do
Rio Níger. Em 1481 emissários do rei de Portugal visitaram a corte do oba de Benim,
com o qual mantiveram por um tempo laços estreitos, usufruindo de monopólio
comercial até o fim do século XVI.
Entre os séculos XVII e XIX, comerciantes europeus estabeleceram portos
costeiros para o aumento do tráfico de escravos (prisioneiros de guerra das tribos
africanas mais fortes e dominadoras regionais) para as Américas, concorrendo
fortemente com os árabes neste comércio.
A Companhia Real do Níger foi criada pelo governo britânico em 1886 e, em
1900, criou os protetorados britânicos do Norte da Nigéria e do Sul da Nigéria. Estes
protetorados foram fundidos em 1914, para formar a colônia da Nigéria.
Geografia
Demografia
nigerianos vivam em zonas urbanas, pelo menos 24 cidades têm uma população de
mais de cem mil habitantes. A variedade dos costumes, línguas, tradições entre 389
grupos étnicos do país, oferece uma rica diversidade. É impossível indicar os
montantes demográficos sobre a Nigéria, autoritariamente, pois os resultados dos
censos nacionais foram contestados.
As Nações Unidas estimam que a população em 2005 era de 141 milhões, e
previu que iria atingir os 289 milhões em 2050. A Nigéria tem uma grande taxa de
fecundidade e um grande crescimento populacional. O Departamento de
Recenseamento dos Estados Unidos estima que a população da Nigéria irá atingir
356 milhões em 2050 e 602 milhões em 2100, ultrapassando os próprios Estados
Unidos como o terceiro país mais populoso do mundo.
A Nigéria é composta por mais de 250 grupos étnicos93; as seguintes são as
mais populosas e, politicamente, mais influentes: hauçá-fulani com
29%, iorubás com 20%, igbos com 20%, ijaus com 6,5%, canúris com 4%, ibibios
com 3,5%, anangues com 2,5%, tives com 2,5, efiques com 2%. Estas percentagens
são estimativas, com base no número de colonatos, incluindo o número de cidades,
vilas e aldeias, com as informações fornecidas pelo serviço postal da Nigéria. Na
ausência de um censo até a data, outros números da população não seguem
procedimentos científicos. Só estes são cientificamente apoiados em números
fornecidos pelo governo. A língua oficial é o inglês.
Religião
93Importante observar a imprecisão dos dados referente ao número de grupos étnicos existentes no
país. Os valores dissonantes estão destacados em vermelho ao longo do texto.
329
Um relatório sobre religião e vida pública feito pelo Pew Research Center em
dezembro 2012 afirmou que 49,3% da população nigeriana era cristã; 48,8% era
muçulmana; e 1,9% era seguidora de religiões nativas e outras ou não eram afiliado
a qualquer religião. A pesquisa também previu que, em 2030, a Nigéria teria uma
ligeira maioria muçulmana na população (51,5%). Entre os cristãos, 24,8%
são católicos, 74,1% são protestantes, 0,9 % pertencem a outras denominações
cristãs e alguns de eles são cristãos ortodoxos.
Dados da Association of Religion Data Archives (ARDA) de 2010 também
informaram que 46,5% do total da população era cristã, ligeiramente maior do que a
população muçulmana (45,5%), enquanto 7,7% eram membros de outros grupos
religiosos.
Direitos Humanos94
94 Saber mais sobre Boko Haram ver: Boko Haram. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Boko_Haram Acesso em: 14 ago. 2019. Pode ampliar pesquisas também
através do seguinte site: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/boko-haram.htm Acesso em: 14
ago. 2019.
330
Sob o código penal islâmico da Charia95 (Direito Islâmico), que se aplica aos
muçulmanos em doze dos estados do norte do país, atos considerados como
crimes, como o consumo de álcool, a homossexualidade, a infidelidade e o roubo,
levam a penas severas, como amputação, apedrejamento e longas penas de prisão.
Sob uma lei assinada no início de 2014, casais do mesmo sexo que se casam
podem passar até 14 anos na prisão cada um. Testemunhas ou qualquer pessoa
que ajude casais homossexuais a se casarem são condenadas a dez anos atrás das
grades.
O projeto de lei também pune "atos públicos de relacionamentos amorosos
entre pessoas do mesmo sexo, direta ou indiretamente" e aqueles que forem
considerados culpados por organizarem, comandarem ou apoiarem clubes,
organizações e/ou reuniões homossexuais com uma pena de dez anos de prisão.
Economia
95Para saber mais buscar: Xaria. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Xaria Acesso em: 14
ago. 2019.
331
Infraestrutura
Educação
A Nigéria oferece um sistema educacional livre e sustentado pelo governo,
mas a frequência não é obrigatória. O sistema de ensino é composto por seis anos
de ensino primário, três anos do ensino secundário geral, três anos de escola
secundária superior e quatro anos de ensino universitário que leva a um grau
de bacharel.
Saúde
O sistema de saúde nigeriano é constantemente confrontado pela escassez
de médicos, o que é conhecido como "fuga de cérebros", devido ao fato de que
muitos médicos nigerianos altamente qualificados emigraram para a América do
Norte e a Europa. Em 1995, estimava-se que 21 mil médicos nigerianos estavam
trabalhando apenas nos Estados Unidos, o que é aproximadamente o mesmo que o
número de médicos que trabalham no serviço público do país.
Cultura
Cinema
A indústria cinematográfica nigeriana é conhecida como "Nollywood" e é a
segunda maior produtora de filmes do mundo. Muitos dos estúdios de cinema estão
332
sediados em Lagos e Enugu e a indústria é agora uma renda muito lucrativa para
essas cidades. O cinema nigeriano é a maior indústria de cinema do continente
africano em termos de valor e em número de filmes produzidos por ano. Apesar dos
filmes nigerianos serem produzidos desde a década de 1960, a melhora das
tecnologias de filmagem e de edição digital de vídeo, que se tornaram mais
acessíveis, estimulou a indústria cinematográfica do país. O nome Nollywood é do
termo Hollywood, da mesma maneira como Bollywood.
Música
A música da Nigéria inclui muitos tipos de música popular e tradicional,
algumas das quais são conhecidas em todo o mundo. Estilos de música popular
333
estão relacionados com os muitos grupos étnicos no país, cada um com as suas
próprias técnicas, instrumentos e músicas.
Pouco se sabe sobre a história musical do país antes de contato europeu,
embora esculturas de bronze que foram encontradas remontam aos séculos XVI e
XVII sejam alusivas à músicos e seus instrumentos.
A Nigéria tem sido chamada de "o coração da música africana", devido ao seu
papel no desenvolvimento ocidental, o highlife (Gana e Serra Leoa) e o palm-wine, o
maringa (Serra Leoa), que funde ritmos nativos com as técnicas importadas
do Congo para o desenvolvimento de vários gêneros populares que são genuínos
da Nigéria, como o apala, fuji, jùjú e o yo-pop.
Posteriormente, os músicos nigerianos criaram seus próprios gêneros
derivados da cultura hip hop americano destacando o hiplife, (ver: hip hop africano)
e do reggae jamaicano (ver: reggae nigeriano).
A expansão musical da Nigéria tem sido bem recebida internacionalmente
não só nos campos da música tradicional e popular, como também na música
ocidental em geral por compositores como Fela Sowande.
Para conhecer mais ver documentário Fela kuti, o gênio apaixonado pela África.
Documentário de Joel Zito Araújo. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=-BWVWh5b09w Acesso em: 14 ago. 2019.
Ver também: O indomável Fela Kuti. A história do Presidente Negro que fez da
música uma arma. Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-indomavel-fela-
kuti-historia-do-presidente-negro-que-fez-da-musica-uma-arma/ Acesso em: 14
ago. 2019.
334
Musica Tradicional
Mais de 250 grupos étnicos são nativos da Nigéria, e muitos outros têm
imigrado para este país. Os grupos étnicos mais destacados musicalmente são os
tives (no sudeste), os igbo (no sul), os hauçá (no norte) e os iorubá (sudoeste).
A música tradicional da Nigéria e em toda a África é quase sempre funcional,
em outras palavras, é realizada para marcar um ritual,
como casamentos ou funerais e não por puro entretenimento ou prazer
artístico. Embora alguns nigerianos, especialmente crianças e idosos, utilizam os
instrumentos para se divertir, o seu uso pessoal é estranho.
A música está intimamente ligada à agricultura, assim, por exemplo, existem
restrições de uso, de modo que só se pode tocar durante as diversas partes da
estação de crescimento.
As canções de trabalho são um tipo comum de música nigeriana tradicional.
Ajudam a manter o ritmo dos trabalhadores na colheita, as remadas em canoas e
outros trabalhos no campo. As mulheres utilizam ritmos complexos em tarefas
domésticas, tais como a preparação do inhame dando lugar a uma música altamente
ornamentada. Nas regiões setentrionais, os agricultores trabalham juntos uns dos
outros, e espera-se que o anfitrião forneça música para os seus vizinhos.
Os músicos tradicionais da Nigéria não são tipicamente profissionais, embora
existam algumas excepções. A questão da composição musical é também bastante
variável. Os hwana, por exemplo, acreditam que todas as músicas são ensinadas
pelos povos dos antepassados, enquanto os tives dão crédito aos compositores
nomeados para quase todas as canções, e os efiquis, que nomeiam individualmente
a cada um dos compositores das canções seculares. Destaca a liberdade de
expressão no gênero já que em muitas partes da Nigéria, permite-se aos músicos
dizer coisas em sua letra que, seriam entendidas como ofensivas em outras
circunstâncias
335
Música Hauçá
Os hauçás do norte são conhecidos por uma música de complexa percussão,
o uso da viola goje de uma corda, e uma tradição vocal na qual predomina a canção
de alabanza. Sob a influência muçulmana desde o século XIV, utilizam a
improvisação com ritmos livres e a escala árabe, mesclando-as com os elementos
africanos ocidentais tais como as polirritmias de chamada e resposta.
A música é utilizada para celebrar nascimentos, uniões, circuncisões, e outros
acontecimentos importantes. A música cerimonial hauçá (rokon fada) é conhecida
em toda a região e as famílias dos vocalistas dos cantos de cantos de alabanza
(louvor improvisado) a dominam com perfeição, entre os que se destacam
Narambad.
Música Igbo
Os igbos vivem no sudeste da Nigéria, e tocam uma variedade de
instrumentos populares. São conhecidos pela sua adaptação a gêneros
estrangeiros, e são uma parte importante do highlife nigeriano. O instrumento maior
é a cítara de treze cordas, chamada obo.
Música Iorubá
A música iorubá destaca-se pelo uso do dundun, instrumento de
percussão de duas partes e que pode ter uma sineta. Muitas vezes, é o instrumento
central de uma orquestra djembe, encarregado dos golpes mais graves.
Os iorubás tem uma avançada tradição de percussão, com um uso
característico dos timbales de tensão, em particular do dundun. Os conjuntos que
usam o tambor dundun tocam um tipo de música que também é
chamada dundun. Estes conjuntos consistem em vários timbales de tensão de
diferentes tamanhos que tocam junto com um gudugudu.
Música Teatral
O teatro nigeriano faz amplo uso da música. Muitas vezes, esta é
simplesmente a música tradicional usada em uma produção teatral, sem adaptação.
No entanto, existem diferentes gêneros de música usados na ópera nigeriana. Aqui
a música é utilizada para levar ao público uma impressão durante a ação dramática.
A música também é utilizada no drama literário, e, embora o seu acompanhamento
musical é usado mais escassamente na ópera, a música também tenta comunicar
ao público o humor ou o tom dos eventos.
Um exemplo é a Saga Ozidi de John Pepper Clark, uma obra sobre
assassinato e vengonha, na qual participam personagens humanos e não humanos.
Cada personagem na obra é associada a uma canção pessoal que acompanha as
batalhas em que o personagem está envolvido.
O teatro tradicional nigeriano inclui teatros de fantoches, e a antiga tradição
iorubá do Aláàrìnjó, que pode vir da figura do Egúngún mascarados. Com a chegada
das potências coloniais, que construíram estradas, estes grupos de teatro
espalharam por todo o país e suas produções tornaram-se cada vez mais
complicadas. Na atualidade, é mais comum o uso de instrumentos europeus,
acompanhados de trechos de filmes e gravações musicais.
Música Infantil
As crianças na Nigéria mantêm muitas de suas tradições, geralmente através
de canções em jogos. Estas são comumente canções do tipo chamada e
resposta que usam língua arcaica.
As crianças também usam instrumento de percussão como a cítara de
balsa, timbales feitos de latas, tubos feitos com o talo de um paw paw
e guimbarda feitas com o talo de sorgo. Na comunidade hauçá, as crianças tocam
um único instrumento no qual golpeiam ritmos sobre o estômago inflado de
um peixe vivo irritado peixe bola.
339
Instrumentos Tradicionais
Embora os instrumentos de percussão sejam onipresentes, a música
tradicional da Nigéria usa uma série de diferentes instrumentos. Muitos, como
o xilofone, foram incorporados através da África Ocidental, enquanto outros são
importações dos muçulmanos Magrebe ou do Sul da África Oriental. Outros
instrumentos vieram da Europa ou da América. Os instrumentos de metal
e instrumentos de sopro-madeira foram importações precoces que desempenharam
um papel vital no desenvolvimento da música nigeriana, enquanto a posterior
importação de guitarras elétricas impulsionaram a popularização da música jùjú.
Percussão
O xilofone96 é comum em toda África Ocidental e África Central. Na Nigéria,
predominam na parte sul do país e provêm do modelo da África central. Às vezes
vários músicos tocam simultaneamente um xilofone. Os instrumentos são
normalmente feitos de madeira colocada solta através de troncos de banana.
Também podemos encontrar xilofones ressonados por caixa. Os conjuntos de potes
de argila golpeados com uma almofadinha suave são comuns, e estes são tocados
às vezes cheio de água. Embora normalmente afinados, às vezes são usados
desafinados para produzir um ritmo mais grave. Também são utilizados troncos
96
Ver tipos diversos de xilofone em: Xilofone. Disponível em:
https://www.google.com/search?q=xilofone&sxsrf=ACYBGNS_6g61T828hiPZIDdRb-
kbUYT2gQ:1567941500656&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiGkLOhjcHkAhWxIrkGHY
waDP8Q_AUIEigB&biw=1366&bih=625#imgrc=vAJ-r6KnTfEs-M: Acesso em: 15 ago. 2019.
340
Instrumentos de corda
O arco musical é encontrado na Nigéria como uma corda vibrante através da
boca para ser tocado, puxando-a ou golpeando-a. É comum na parte central do país,
e está associado com canções agrícolas que muitas vezes expressam
preocupações e interesses sociais.
As hastes de plantas de grão amarradas juntas com cordas e apoiadas por
duas pontes são usadas para fazer uma espécie de cítara balsa, tocada com os
polegares, tipicamente utilizada para entretenimento pessoal.
Outros instrumentos
Na Nigéria também podemos encontrar uma grande variedade
de instrumentos de sopro#madeiras e instrumentos de sopro#metal. Estes incluem
muitas vezes trompetes, com frequencia feitas de alumínio e tocadas em dois ou
conjuntos de até seis músicos, muitas vezes acompanhados por um antecessor dele
o oboé. Também podemos encontrar trompetes de madeira, trompetes de cabaça,
flautas sopradas, assobios cruciformes, clarinetes transversais e várias classes
de chifres.
Arte e Cultura
As Artes e Cultura da Nigéria são tão variadas quanto os 374 grupos linguísticos
([estimativa] – grifo nosso) no país. A cultura da Nigéria é rica em tradições orais,
filosofia, ritos e rituais; dança, música, moda e artes cênicas.
Parte dos aspectos mais visíveis da herança cultural da Nigéria inclui o modo de
vestir dos vários grupos linguísticos que variam de roupas longas trabalhadas a
panos amarrados na cintura e camisas vestidas por cima, até panos amarrados na
parte inferior do corpo acompanhados na cabeça por lenços de vários tamanhos,
formas e cores.
97 Para saber mais sobre kanuris ou canúris, ver: Canúris. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Can%C3%BAris Acesso em: 15 ago. 2019.
342
Artes
98 Sobre Sahel, ver: Sahel. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sahel Acesso em: 16 ago.
2019. Pode também ser encontrado em: Britannica, The Editors of Encyclopaedia.
"Sahel". Encyclopedia Britannica, 24 Sep. 2021. Disponível em:
https://www.britannica.com/place/Sahel Acesso em 16 ago 2019.
344
Território
O povo Haussá habitava a área que ia desde os montes Air (norte), até o
planalto de Jos (sul), da fronteira do antigo reino de Bornu (leste), até o vale do
Níger (oeste). Desde tempos muito antigos, era a única língua conhecida, o território
era chamado de Kasar hausa, que quer dizer, território de língua haussa. (ADAMU,
2010, p. 299)
Segundo Alberto da Costa e Silva (2011, p. 457), por volta do século XI, já
havia várias comunidades que habitavam esse território. Os Haussás habitavam o
Sudão Central principalmente, o norte da Nigéria e sudeste do Níger. Eram grupos
que compartilhavam da mesma língua e mantinham contatos com outros povos,
alguns destes, fornecendo elementos que se tornaram parte da civilização haussá.
De acordo com Guy Nicolas (1975), conforme citado por Adamu (2010),
Estrutura político-administrativa
Economia
Religião
99
SILVA (2006) traz sobre os fulas: [...] os fulas falam o mesmo idioma, aparentado ao serere e ao
jalofo, que os tucolores. Podem ser citadinos ou nômades. Neste último caso, criadores de gado,
procuraram preservar sua identidade, ao viver entre gente agrícola. Distinguem-se dos outros
habitantes da África Ocidental por serem, de regra, mais esguios, de cor entre vermelhada e negra, e
apresentarem lábios pouco grossos, narizes aquilinos e cabelos menos encaracolados. É possível
que tenham vindo do Saara – e costuma-se apontar a semelhança de seus penteados em crista com
os que se veem, em figuras de homens associados à criação de bovinos, nas pinturas rupestres do
grande deserto.
Por volta do século XI, talvez para escapar do controle de Tacrur, os fulas começaram a dispersar-se
pelas campinas sudanesas, sem perder a independência e as características que lhes são próprias.
No século XV, muitos deles se instalaram nas montanhas do Futa Jalom e na região de Macina, no
desta interior do Níger, onde se constituíram em poder político. Não interromperam, porém, o avanço
terra afora, que os levou até o planalto de Adamaua. De então para cá, se alguns se urbanizaram e
outros se fizeram senhores de impérios e de grandes e pequenos reinos, a maioria continua a cuidar
de seu gado e a levá-lo de uma pastagem a outra, ao longo da ampla faixa do Sael e das bordas da
savana, desde o Senegal até os Camarões. Fonte: SILVA, Alberto da Costa e. Os hauçás. In: SILVA,
Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes da chegada dos portugueses. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2006, p. 321. Também podemos saber mais sobre os fulas em: Fulas. Disponível
em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fulas Acesso em: 16 ago. 2019.
349
Outra tese afirma que o movimento islâmico foi propagado por Osman Dan
Fódio, sendo um estudioso fervoroso do islã, pregava a volta do verdadeiro
islamismo. Essa doutrina permitiu ao movimento renovador consolidar a liderança
sobre as massas camponesas e artesãs angustiadas com as possibilidades de ser
reduzidas à escravidão. Este movimento acabou em 1811, com a completa vitória de
suas tropas. O seu expansionismo não se limitou aos territórios haussás.
Outra explicação foi encontrada na Crônica de Kano, que segundo a qual o
Islã teria sido introduzido em meados dos séculos XIV pelos Jula, vindos do Mali,
durante o reinado de Kano. Apesar de se tratar do primeiro testemunho escrito da
religião muçulmana no território haussa, é mais do que provável que a sua difusão já
se tivesse iniciado em época bem anterior, pois era praticada no Kanem –
Bornu desde o século XI.
Independente do fato de se saber qual das datas é certo que o Islã foi
introduzido bem antes no território haussá, pelo Kanem – Bornu ou por Osman Dan
Fódio. Não se pode descartar a possibilidade de negociantes muçulmanos
provenientes do oeste (Mali e Songhai100) terem se difundido entre os comerciantes
e parte da elite dirigente haussá, antes da chegada dos Wangarawa – eruditos e
missionários muçulmanos imigrantes -, que mais tarde contribuíram para instaurar
uma tradição islâmica mais forte e extensa que motivou a propagação de novas
ideias políticas, sociais, culturais e o desenvolvimento e a capacidade de ler e
escrever na Hauçalândia. Estes fatores contribuíram, por sua vez para melhorar a
administração do Estado, e para aperfeiçoar várias práticas comerciais.
Os haussás islamizaram-se e tornaram-se zelosos defensores da nova fé. A
conversão religiosa influenciou e organizou a política e economia, sendo importante
para construção de novos estados. A cultura Hauçá é fortemente ligada ao Islã o
que torna difícil a penetração do Evangelho.
Referência
Hauçás
História e cultura
Os povos hauçás entre 500 e 700, que tinham sido movidos lentamente para
o oeste da Núbia e misturados a populações locais do Norte e Centro da
Nigéria, estabeleceram uma série de fortes estados na região que é agora o
Norte e Centro da Nigéria e Leste do Níger. Com o declínio de Nok e Socoto,
que tinham controlado anteriormente as regiões central e norte da Nigéria,
entre 800 e 200 a.C., os hauçás foram capazes de emergir como um novo
poder na região. Intimamente ligados com os canúris do Canem-Bornu (Lago
Chade), a aristocracia hauçá adotou o Islão no século XI.
As cidades-estado
Fonte: Afrique - Zaria, l'une des plus anciennes villes haussa du nord du Nigeria, registro de Bruno
Barbey. Disponível em: https://www.pinterest.pt/pin/803962970956439278/ Acesso em: 18 ago. 2019.
353
101
Troca de mercadorias ou serviços sem fazer uso de moeda.
102
Ver maior informação em: MANDINGAS. Disponível em:
http://civilizacoesafricanas.blogspot.com/2010/02/mandingas.html Acesso em: 18 ago. 2019.
354
Ilustração 94 – Mapa - A África Ocidental, entre os séculos XVII e XIX: localização do Reino
Fulani no século XIX.
Fonte: A África Ocidental, entre os séculos XVII e XIX: localização do Reino Fulani no século
XIX. Disponível em:
http://2.bp.blogspot.com/_lrnheGDims4/TGWR5vsQesI/AAAAAAAAF0s/JiOrygnn88Y/s1600/A+%C3%
81frica+Ocidental,+entre+os+s%C3%A9culos+17+e+19.++Localiza%C3%A7%C3%A3o+do+Reino+F
ulani+no+s%C3%A9culo+19..gif Acesso em: 18 ago. 2019.
O Movimento islâmico teve vitória total em 1811 com suas tropas. Um jovem
irmão de Osman ficou responsável pela parte ocidental do novo reino. Osman desde
1809 abandonara a política e dedicou-se à religião. O reino cresceu, envolveu os
reinos de Nupe, Oio, dentro outros. Os seguidores de Osman declararam guerra aos
haussás não islamizados. Fugindo disso muitos se converteram mesmo sem
vontade.
Ilustração 95 - Imagem – Kano, The Emporium of Central Africa - Kano, Mount Dala - 1857.
Indicações de vídeos
Referências
OS MALÊ
conquistado pelo grande chefe do Império Shonghai, Askia Mohammed Touré, nos
primeiros anos do século XVI, desenvolvera-se num importante centro de empório
comercial de manufaturas de produtos de couro e de metal, ao tempo em que
readiquiriu a sua independência de Songhai, cerca de meio século depois.
Sublinha-se que Katsina se tornou um notável centro de Estudos Islamicos,
exemplo do qual é a extensa fama atingida pelo sábio de Katsina, Dan Marina, no
século XVII.
prisões. Em Urubu foi presa, a muito custo, uma extraordinária guerreira negra:
Zeferina, que de arco e flecha enfrentou os soldados. Durante a luta comportou-se
como verdadeira líder animando os guerreiros.
O Levante de 1827, iniciado em 22 de abril, teve dois dias de lutas no
Recôncavo Baiano. No final os negros foram derrotados: 600 deles foram mortos,
350 foram presos acorrentados e conduzidos ao centro da cidade, outros 200
conseguiram escapar. No ano seguinte 1828 novos levantes em Cachoeira e em
Santo Amaro e uma nova revolta em Itapuã, a mais sérias das três ocorridas na
localidade, com incêndios nos canaviais e instalações pesqueiras com morte de 20
insurgentes.
Em 1830 ocorreu no coração de Salvador uma nova rebelião mais uma vez
sufocada. Contudo, cinco anos depois em um mês de Ramadã, janeiro de 24 para o
dia 25 do ano de 1835 eclode a Revolta dos Malês. O plano da revolta consistia na
saída dos revoltosos do Corredor da Vitória em direção à Ribeira onde o grupo se
reuniria ao pessoal dos engenhos e quilombos da Mata Escura do Cabula e outros.
Entretanto, foram delatados e isso antecipou o enfrentamento que culminou com o
fracasso dos males.
Foram os combates mais ousados, árduos e ferozes de que se tem notícia em
toda a crônica das insurreições escravas na Bahia. Mas, também, os mais
desesperados. Uma retomada em escala ampliada, do levante de 1830. Delações,
ataques relâmpagos, escaramuças, grupos armados correndo por ladeiras e praças,
tiroteios, assaltos a cadeia municipal, mortes. Uma corrida sangrenta, pelas ruas do
centro desembocando em Água de Meninos, no quartel da cavalaria, onde se deu o
confronto crucial. Setenta males mortos. E o Islã Negro fracassou. Morreu ali,
naquela noite, o sonho da implantação de um Califado da Bahia. Ou, ainda o sonho
de uma Bahia unicamente negra.
Referências
5 REIS, João Jose. GOMES, Flavio Santos. (org.) Liberdade por um fio:
história dos quilombos no Brasil. São Paulo Companhia das Letras, 1996.
Indicações de vídeos
Referências
Fonte: GILLOW, John. African Textiles – Colour and Criativity across a continent escrito por John
Gillow, 2012.