Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE CATOLICA PORTUGUESA

FACULDADE DE TEOLOGIA

Davide Emanuel Almeida da Costa

Resumo da Conferência de Adelino Ascenso sobre Shūsaku Endō

Trabalho para a Disciplina de História da Filosofia Contemporânea


da Senhora Doutora Professora Maria Manuela Brito Martins

PORTO 2013/14
Shūsaku Endō é um escritor japonês cuja ficção, segundo o conferencista, pode ser
forma de conseguir explicar e fazer aderir todo o oriente à ressurreição.
Começou por dizer-se que na cultura japonesa existe uma insensibilidade tripla, fruto da
panteísmo oriental, da importância do sentir a ‘Energia’ e não a existência de Deus ou
não. Esta tripla é em relação a Deus, na medida em que os japoneses procuram viver em
sintonia com a natureza; em relação ao pecado, pois a definição deles é diferente da
nossa, pois para eles pecar é cometer um crime, moral pelo mero respeito humano
(relação com o Confucionismo, o pudor por respeito à lei). Para eles, Deus é aquele que
dá a força para lutar contra o destino; em relação à morte, pois veêm nela um extensão
do indivíduo, logo são adversos à nossa luta contra o pecado, e porque acham que o
Homem é parte dos deuses logo a morte é para eles o sono e a paz eternos, pelo que
nada há a temer; aqui também vemos a necessidade de ser quente ou frio, e não morno
(contra os extremos da cultura japonesa como horror).
O escritor que Adelino Ascenso tratou afirma que Cristo é universal, logo também tem
que tocar os japoneses, daí a revolução na escrita e na transmissão que se verifica em
Shūsaku Endō. O escritor apresenta a imagem de Cristo sob três formas: Cristo débil ou
indefeso, relacionada com o sentimento de abandono na Cruz, o carregar da Cruz e o
sangue dos Seus poros, que são apresentação da Omnipotência de Deus, porque Ele está
connosco e assim nos ajuda e nos acompanha, não é um Deus juiz mas que se revela na
debilidade, Ele é o centro da Igreja; Cristo companheiro ou amigo, o companheiro que
caminha connosco, verdade viva e eficaz, a verdade da alma vivendo no mundo como
amor, é assim que Deus sofre; Cristo maternal ou como mãe, que vem contra a
patriarcal superioridade, a passagem do Deus paterno a trinitário, relacionado a
conceção de sofrimento intrínseco do Pai e do Filho. Esta sua teoria nada tem que ver
com feminismos mas com a sua relação com a mãe pois considerava que a tinha traído
pois pelas circunstâncias familiares teve que optar entre trair o pai ou mãe, achando que
a traição a sua mãe relacionava-se de algum modo com a traição dos discípulos a Jesus,
daqui a imagem maternal de Cristo que aceita e perdoa a fragilidade humana.
Quanto à ressurreição, tema geral de todas as jornadas de Teologia deste ano, Shūsaku
Endō refere-se a ela por simbolismo, exemplo na obra A mulher que eu abandonei leva-
o a um símbolo antropológico, a ressurreição durante a própria vida. No seu livro Nas
margens do Mar Morto o escritor católico apresenta a ressurreição como algo de
imperativo e relaciona-a com um companheiro, Jesus, que vive hoje nos nossos
corações: época de Jesus e a do autor do romance. Por outro lado, no Rio Profundo,
temos uma apresentação bipartida: por um lado a ressurreição como essência de Jesus
Cristo no coração dos discípulos, explicação antropológica e por isso facilmente
percetível pelos japoneses, por outro Jesus no ceio do Pai até à Parosia, uma mostra
teológica e por isso de difícil compreensão para a cultura japonesa. Dentro desta
abordagem dupla relaciona-se com o Budismo e com a teoria da reencarnação, e com a
metempsicose, aqui como sinónimo para que os japoneses entendam, em cinco
personagens, pois toda história termina com a morte de toda a morte pela ressurreição
de cada moro no coração de cada um. Por isso aquilo que o escritor pretende transmitir
é que Jesus renasce, reencarnou no interior de cada um. Com isto também se relaciona
com a crença dos Hindus, o morrer nas margens do Ganges é sinal de salvação.
Toda esta abordagem de Adelino Ascenso deve-se pelo próprio ter feito tese de
doutoramento sobre o escritor católico aqui tratado e pela tentativa de arranjar uma
forma de conseguir fazer penetrar o cristianismo na cultura oriental, através neste caso
da ficção como meio/princípio indispensável pré-religioso de diálogo intercultural e
inter-religioso, levando a uma reinterpretação e inculturação.
No final a ideia de ressurreição que me ficou foi a de que esta se relaciona com
acontecimentos históricos mas que ultrapassa tempo e espaço, que tem que ser
experimentada no dia-a-dia, que tem que ver com a solidariedade no sofrimento
voluntário de Deus, total na Cruz e com o impacto prático no quotidiano: a
solidariedade com o fraco e com o traidor, esta última como fruto da ficção dar origem à
tal reinterpretação e inculturação e esta dar o tal impacto referido.
No final da conferência, uma das questões levantadas foi se esta tentativa de
evangelização não poderia ser ou pelo menos apoiar-se na filosofia, através da grande
escola de Kyoto, pergunta esta que só pôde ter origem da Senhora Doutora, muito
pertinente e fundamentada por ser o meio de chegar ao cerne da cultura japonesa, ao seu
pensamento ideológico, aos fundamentos de todo o seu pensamento base, pois as ideias
movem o mundo, de algum modo pelo menos.

Você também pode gostar