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EXMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA Nº VARA CÍVEL DA

COMARCA DE CIDADE, CEARÁ

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA C/C


OBRIGAÇÃO DE FAZER E REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS
C/ PEDIDO LIMINAR EM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

NOME DO REQUERENTE, QUALIFICAÇÃO


DO REQUERENTE, vem, com todo respeito, por intermédio do Defensor
Público abaixo subscrito, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos
artigos 4º, II, 273, 282, 461, todos do Código Buzaid c/c artigos 4º, I, 6º,
IV, VI, VIII 7º, 14, 17, 27, 34, 39, III, IV, VI, 42 § único, todos do Código
de Defesa do Consumidor, além de outros cânones aplicáveis à espécie,
propor, como de fato propõe, a presente AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER E
REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS COM PEDIDO LIMINAR EM
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA em face de NOME DO RÉU,
QUALIFICAÇÃO DO RÉU, pelos fatos e fundamentos jurídicos a
seguir.

PRELIMINARMENTE

Requer os benefícios da justiça gratuita, em razão de


estar sendo assistido(a) pela Defensoria Pública, por ser pobre na forma da
lei, conforme dispositivos insertos na Lei Federal 1.060/50, acrescida das
alterações estabelecidas na Lei Federal 7.115/83, bem como em
atendimento ao preceito constitucional, na esfera federal, da Lei
Complementar Federal nº 80/94, reformada pela Lei Complementar Federal
nº 132/2009 e, estadual, por meio da Lei Complementar Estadual nº. 06/97,
tudo por apego á égide semântica prevista no artigo 5°, LXXIV da Carta da
República de 1988.

SINOPSE FÁTICA

DESCRIÇÃO DOS FATOS

FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Qualquer travamento negocial deve cumprir, fielmente,


todos os planos contratuais descritos pelo saudoso Pontes de Miranda,
quais sejam: a existência, onde o negócio jurídico pressupõe elementos
mínimos para sua validade: agente, vontade, objeto e forma, pois, senão,
torna-o inexistente; a validade (artigo 104 CCB) e a eficácia, ou seja, os
elementos relativos à suspensão e resolução dos direitos e deveres dos
contratantes.

Por sua vez, os requisitos de existência do negócio


jurídico são os seus elementos estruturais, entre eles a declaração de
vontade, a finalidade negocial e a idoneidade do objeto. Se faltar um desses
elementos o negócio jurídico deixa de existir.
Nesse diapasão, lecionam os civilistas que a vontade é
a mola propulsora dos negócios jurídicos e é imprescindível que se
exteriorize. Essa vontade deve ser manifestada de forma idônea para que o
ato tenha vida normal na atividade jurídica. Se essa vontade não
corresponder ao desejo do agente, o ato jurídico torna-se suscetível de
nulidade ou anulação.

Obtempera o artigo 4°,inciso I do Código de Ritos


Civil, ipsis literis:

O interesse do autor pode limitar-se à


declaração:

I – da existência ou inexistência de relação


jurídica (destacamos).

Registre-se, nesta ansa, decisões favoráveis do STJ


sobre ações semelhantes:

“A ação declaratória é admissível na espécie,


para se declarar a inexistência de débito, já
que a autora não é e nunca foi devedora da
quantia informada pela ré quando da
negativação indevida de seu nome junto ao
SCPC.” (Ac. 1ª Seção do STJ no CC 52.431-
PB, Rel. Min. Luiz Fux, j. 22.03.06 -
grifamos).

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DANOS
MORAIS - JUNTADA DE TÍTULOS DE
CRÉDITOS (CHEQUES) PELA
REQUERIDA EM MOMENTO
POSTERIOR À CONTESTAÇÃO -
ACÓRDÃO EM HARMONIA COM O
ENTENDIMENTO DO STJ - AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO -
APLICAÇÃO DE MULTA - 1- É possível a
juntada de documento em momento posterior
à contestação, desde que inexista a intenção
de surpreender, causando tumulto e
insegurança ao Juízo, o qual, verificando a
necessidade e conveniência da juntada do
documento, deve admiti-la. Precedentes. 2-
Agravo regimental não provido. Aplicação
de multa. (STJ - AgRg-REsp 916.480 -
(2007/0006837-2) - Rel. Min. Luis Felipe
Salomão - DJe 21.03.2012 - p. 670)

No mesmo sentido, são as decisões a seguir do TJCE,


ex textus:

APELAÇÃO CÍVEL - DECLARATÓRIA


DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO - NÃO
COMPROVAÇÃO DE QUITAÇÃO -
NEGATIVAÇÃO DE NOME -
INADIMPLÊNCIA COMPROVADA -
EXERCÍCIO REGULAR DE UM
DIREITO. (TJCE - Ap 718359-
15.2000.8.06.0001/1 - Rel. Des. Jucid
Peixoto do Amaral - DJe 09.05.2012 - p. 42)

DIREITO CIVIL - RESPONSABILIDADE


CIVIL - INSCRIÇÃO EM CADASTRO
RESTRITIVO DE CRÉDITO - DANO
MORAL CARACTERIZADO -
CONSTRANGIMENTO CONFIGURADO -
INDENIZAÇÃO DEVIDA - REDUÇÃO
DO VALOR FIXADO - 1- No caso, ação
declaratória de inexistência de débito c/c
reparação de danos por inscrição indevida do
nome do autor nos cadastros de restrição ao
crédito. (...). (TJCE - AC 0110370-
26.2008.8.06.0001 - 4ª C.Cív. - Relª Maria
Iracema Martins do Vale - DJe 21.03.2012 -
p. 42)

Celebrado um contrato, com exceção das que forem


judicialmente consideradas abusivas ou leoninas, suas cláusulas passam a
ser consideradas disposições ou regras entre as partes, devendo ser, para
aquele negócio jurídico, devidamente observadas.

No magistério do induvidoso jurisconsulto Caio Mário


da Silva Pereira:

"Contrato é um acordo de vontades, na


conformidade da lei, e com a finalidade de
adquirir, resguardar, transferir, conservar,
modificar ou extinguir direitos", ou
sinteticamente, é o "acordo de vontades com
a finalidade de produzir efeitos jurídicos".
(Instituições de Direito Civil. 10. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1997. v. III. p. 2).
Segundo os ensinamentos da professora Cláudia Lima
Marques, a força obrigatória tem como fundamento absoluto a vontade das
partes. Conforme a jurista:

"Uma vez manifestada esta vontade, as partes


ficariam ligadas por um vínculo, donde
nasceriam obrigações e direitos para cada um
dos participantes, força obrigatória esta,
reconhecida pelo direito e tutelada
judicialmente". (apud Nelson Zunino Neto in
Pacta Sunt Servanda x Rebus Sic Stantibus:
uma breve abordagem. Santa Catarina.
10.08.1999).

Ora, Excelência, é comezinho nas práticas comerciais


que as cláusulas contratuais devem ser cumpridas, desde que válidas. É a
aplicação do brocardo latino pacta sunt servanda, que significa "os pactos
devem ser respeitados" ou mesmo "os acordos devem ser cumpridos". É
um princípio base do Direito Civil e do Direito Internacional.

Entretanto, essa autonomia da vontade, por vezes, não


é absoluta, pois que é limitada por princípios que regulam o trato
comercial. Neste sentido, vejamos o que dispõe o artigo 422 do NCCB,
ipsis verbis:

“Os contratantes são obrigados a guardar,


assim na conclusão do contrato, como em
sua execução, os princípios de probidade e
boa fé.”

Dessarte, a quebra desses deveres principiológicos gera


uma violação contratual e, consequentemente, a responsabilização civil do
infrator por falta do dever de lealdade e probidade.

Sabe-se que a boa-fé é um princípio normativo que


exige uma conduta das partes com honestidade, correção e lealdade. O
princípio da boa-fé, assim, diz que todos devem guardar fidelidade à
palavra dada e não frustrar ou abusar da confiança que deve imperar entre
as partes.

Nas palavras de Tereza Negreiros:

“O princípio da boa-fé, como resultante


necessária de uma ordenação solidária das
relações intersubjetivas, patrimoniais ou não,
projetada pela Constituição, configura-se
muito mais do que como fator de
compreensão da autonomia provada, como
um parâmetro para a sua funcionalização à
dignidade da pessoa humana, em todas as
suas dimensões.” (Fundamentos para uma
Interpretação Constitucional do Princípio da
Boa-Fé, Ed. Renovar, Rio de Janeiro, 1998,
pág. 222-223).

No caso sub judice, a atitude promovida pelo banco


requerido vetoriza-se em um ato ilícito, visto que não teve o cuidado
necessário para, antes de negativar a requerente, averiguar a veracidade das
informações que lhe foram repassadas, inclusive permitindo a manifestação
desta última, redundando em cobrança de dívida já paga. Neste sentido,
vejamos o magistério do inolvidável Orlando Gomes:

“Ato ilícito é a ação ou omissão culposa com


a qual se infringe direta e imediatamente um
preceito jurídico do direito privado,
causando-se dano a outrem” (GOMES,
Orlando. Introdução ao direito civil. Rio de
Janeiro, Forense, 1987, pág. 314).

Assim, quando alguém comete um ato ilícito, há


infração de um dever e a imputação de um resultado. E a consequência do
ato ilícito é a obrigação de indenizar, de reparar o dano, nos termos da parte
final do artigo 927 do NCCB, in verbis:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts.


186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.”

O conceito legal de ato ilícito, por sua vez, está


insculpido no artigo 186 do NCCB, senão vejamos:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Com efeito, a consequência jurídica do ato ilícito


praticado pelo banco requerido é, portanto, o dever de ressarcir os danos
que causou– e ainda causa - à requerente, por conta de seus atos
desastrosos, que culminaram em cobrança indevida de débito e inscrição
indevida nos cadastros pejorativos. Trata-se de negligência em não verificar
a veracidade das informações.

Analisando a responsabilidade civil das instituições


financeiras, tem-se que, pelos danos causados aos seus prepostos
(empregados), respondem elas na forma da legislação específica em vigor,
segundo os princípios que regem o acidente de trabalho. Assim, em se
tratando de acidente de trabalho, sem prejuízo da verba previdenciária,
poderá ser ajuizada ação de responsabilidade civil em face do empregador.

Em face dos seus clientes, por sua vez, não se tem


dúvida de ser o banco parte de uma relação de consumo, de maneira que o
seu cliente é reputado consumidor. Já em face de terceiros, a situação é
mais complexa. Entende-se, no caso, que se deve aplicar a norma contida
no parágrafo único do artigo 927 do Código Civil, que admite
responsabilidade civil objetiva, em função do risco da atividade
habitualmente exercida. Vejamo-lo:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts.


186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar


o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem. (grifamos).

Nesse sentido, responsabilizando a instituição


financeira por dano causado a terceiros, já há jurisprudência no próprio
Superior Tribunal de Justiça, in literis:

RESPONSABILIDADE CIVIL. CHEQUE.


TALONARIO SOB A GUARDA DO
BANCO. FURTO. LEGITIMIDADE DO
BANCO. INOCORRENCIA DE
VIOLAÇÃO DA LEI FEDERAL. DISSIDIO
NÃO DEMONSTRADO. PRECEDENTES.
RECURSO NÃO CONHECIDO.

I - PODE A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA


RESPONDER PELOS DANOS SOFRIDOS
POR COMERCIANTE, QUANDO ESSE,
TOMANDO TODAS AS PRECAUÇÕES,
RECEBE CHEQUE COMO FORMA DE
PAGAMENTO, POSTERIORMENTE
DEVOLVIDO PELA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA POR SER DE TALONARIO
FURTADO DE DENTRO DE UMA DAS
SUAS AGENCIAS.

II - PARA CARACTERIZAÇÃO DO
DISSIDIO, NECESSARIO O COTEJO
ANALITICO DAS BASES FATICAS QUE
SUSTENTAM AS TESES EM CONFLITO.

(STJ, Acórdão RESP 56502 / MG - Relator


Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA, Data da Decisão 04/03/1997 -
Órgão Julgador QUARTA TURMA)

RESPONSABILIDADE CIVIL. BANCO.


ABERTURA DE CONTA. DOCUMENTOS
DE TERCEIRO. ENTREGA DE
TALONARIO. LEGITIMIDADE ATIVA.
GERENTE DE SUPERMERCADO.

1. FALTA DE DILIGENCIA DO BANCO


NA ABERTURA DE CONTAS E
ENTREGA DE TALONARIO A PESSOA
QUE SE APRESENTA COM
DOCUMENTOS DE IDENTIDADE DE
TERCEIROS, PERDIDOS OU
EXTRAVIADOS. RECONHECIDA A
CULPA DO ESTABELECIMENTO
BANCARIO, RESPONDE ELE PELO
PREJUIZO CAUSADO AO
COMERCIANTE, PELA UTILIZAÇÃO
DOS CHEQUES PARA PAGAMENTO DE
MERCADORIA.

2. O GERENTE DO SUPERMERCADO,
QUE RESPONDE PELOS CHEQUES
DEVOLVIDOS, ESTA LEGITIMADO A
PROPOR A AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
RECURSO NÃO CONHECIDO.

(STJ, Acórdão RESP 47335 / SP - Relator


Min. RUY ROSADO DE AGUIAR, Data da
Decisão 29/11/1994 - Órgão Julgador
QUARTA TURMA)

No mesmo sentido, vejamos decisão do TJCE, ex


textus:

RESPONSABILIDADE CIVIL. RISCO DA


ATIVIDADE ECONÔMICA. ILÍCITO
ATRIBUÍDO A TERCEIRO. CASO
FORTUITO INTERNO. AGRAVO NÃO
PROVIDO. 1. A empresa ré, em razão do
risco da própria atividade econômica que
exerce, responde pela inscrição indevida do
nome da apelada em cadastros restritivos,
mesmo se resultante de fraude atribuída a
terceiros. 2. "[...] INSCRIÇÃO INDEVIDA.
INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. DANO
IN RE IPSA. [...] A jurisprudência deste
Pretório está consolidada no sentido de que,
na concepção moderna do ressarcimento por
dano moral, prevalece a responsabilização do
agente por força do simples fato da
violação." (STJ. REsp 851522/SP, Relator
Min. CESAR ASFOR ROCHA, 4ª TURMA,
DJ 29/06/2007). 3. Agravo Interno não
provido. (TJCE – Agravo - Regimental
1145955200380600001 - Relator(a):
LINCOLN TAVARES DANTAS Órgão
julgador: 4ª Câmara Cível Data do
julgamento: 30/04/2010 Data de registro:
12/05/2010 ).

De mais a mais, dispõe o artigo 932 do NCCB o


seguinte:

Art. 932. São também responsáveis pela


reparação civil:

(...)

III - o empregador ou comitente, por seus


empregados, serviçais e prepostos, no
exercício do trabalho que lhes competir, ou
em razão dele;

Sobre tal disciplina, assim disserta o inolvidável


jurisconsulto Pablo Stolze Gagliano:

“Em nosso entendimento, com a utilização


do advérbio “também” no seu caput (Art.
932. São também responsáveis pela
reparação civil...) a lei estabeleceu uma
forma de solidariedade passiva,
oportunizando à vítima exigir a reparação
civil diretamente do responsável legal.” (ob.
cit. pág. 152).

“Não se trata de uma novidade no sistema,


mas, sim, da consagração da idéia de que se
deve propugnar sempre pela mais ampla
reparabilidade dos danos causados, não
permitindo que aqueles que usufruem dos
benefícios da atividade não respondam
também pelos danos causados por ela.” (ob.
cit. pág. 249).

Trazendo os fatos para as normas do CDC, tem-se que


é inequívoca a responsabilidade do banco requerido no caso em apreço,
pois seu objeto encontra-se sob o pálio do Código de Defesa do
Consumidor, notadamente em seu artigo 6º, incisos IV e VI, que assim se
expressam:

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

(...)
IV - a proteção contra a publicidade
enganosa e abusiva, métodos comerciais
coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no
fornecimento de produtos e serviços;

(...)

VI - a efetiva prevenção e reparação de


danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos; (grifamos)

Destarte, os bancos e as instituições financeiras, a


partir do momento em que apresentem seus produtos e serviços aos
consumidores, se enquadram como fornecedores, devendo, portanto, seus
contratos serem redigidos pelo Código Consumerista.

No caso em apreço, a falta de diligência do banco


requerido configura vício de qualidade por insegurança do serviço nos
termos do art. 14 da Lei do Consumidor, adiante colacionado:

Art. 14 - O fornecedor de serviços responde


independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos. (grifamos)

Trata-se de responsabilidade objetiva do fornecedor


pelos danos causados ao consumidor pelo serviço defeituoso, sejam estes
de ordem material ou moral. Essa falha na prestação do serviço ocorre
devido a não observância do dever de cuidado. Deste modo, os
fornecedores de serviços respondem independentemente de culpa
(presumida em razão do dever de qualidade adequação e segurança dos
serviços colocados no mercado de consumo, e do dever de agir segundo a
boa-fé objetiva), pelos danos causados na prestação dos seus serviços.

Nesse sentido, é o magistério de CAVALIERI FILHO,


in literis:

“Pela teoria do risco do empreendimento,


todo aquele que se disponha a exercer
alguma atividade no mercado de consumo
tem o dever de responder por eventuais
vícios ou defeitos dos bens e serviços
fornecidos, independentemente de culpa.
Este dever é imanente ao dever de
obediência às normas técnicas e de
segurança, bem como aos critérios de
lealdade, quer perante os bens e serviços
ofertados, quer perante os destinatários
dessas ofertas. A responsabilidade decorre do
simples fato de dispor-se alguém a realizar
atividade de produzir, estocar, distribuir e
comercializar produtos ou executar
determinados serviços. O fornecedor passa a
ser o garante dos produtos e serviços que
oferece no mercado de consumo,
respondendo pela qualidade e segurança dos
mesmos”. (Programa de Responsabilidade
Civil. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 422)

No caso sub judice, houve inobservância de regra


comezinha no mundo jurídico, qual seja, a de somente cobrar quando o
celebrante estiver em mora, sob pena de incidência de repetição de indébito
em dobro e reparação pelos danos causados. A responsabilidade do
fornecedor, assim, segundo as regras do CDC, é objetiva.

Com efeito, na forma prescrita no § 3º do art. 14 do


CDC, para ilidir a responsabilidade do fornecedor de serviços, o mesmo
tem que provar, alternativamente: a) que o defeito inexiste; b) culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiros.

Trazendo-se tal preceito para o caso em querela,


observa-se que nenhuma das alíneas pode ser aplicada, visto que o defeito
existiu, consubstanciado na cobrança indevida de débito e a inscrição ilegal
nos cadastros pejorativos de créditos, bem como não há qualquer culpa da
requerente ou de terceiros no evento danoso, haja vista que a requerente foi
vítima de ação desidiosa do banco réu.

“É do banco a responsabilidade pelo


pagamento do saldo de fundo mútuo de
investimento feito a quem se apresentou com
procuração falsa, se não demonstrada a culpa
exclusiva ou concorrente do
depositante.”(STJ, REsp 267.651-0, 4ª T,
Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, RSTJ
146/60).

“Segundo a doutrina e a jurisprudência do


STJ, o fato de terceiro só atua como
excludente da responsabilidade quando tal
fato for inevitável e imprevisível. O roubo do
talonário de cheques durante o transporte por
empresa contratada pelo banco não constitui
causa excludente da sua responsabilidade,
pois trata-se de caso fortuito interno. Se o
banco envia talões de cheques para seus
clientes, por intermédio de empresa
terceirizada, deve assumir todos os riscos
com tal atividade. O ônus da prova das
excludentes da responsabilidade do
fornecedor de serviços, previstas no art. 14, §
3º, do CDC, é do fornecedor, por força do
art. 12, , § 3º, também do CDC.” (STJ, REsp.
685.662/RJ, 3ª T, Rel. Min. Nancy Andrighi,
DJU 05.12.2005, p. 323 - grifamos).

Não basta, portanto, que o fato de terceiro seja


inevitável para excluir a responsabilidade do fornecedor, é indispensável
que seja também imprevisível. Assim, por exemplo, se determinado
fornecedor admite a concessão de crédito por telefone ou internet, sem
conferir a documentação necessária, assume todos os riscos do
empreendimento.

De salientar, ainda, os ditames insertos no artigo 34 do


CDC:

Art. 34 - O fornecedor do produto ou serviço


é solidariamente responsável pelos atos de
seus propostos ou representantes autônomos.

A propósito, a doutrina e jurisprudência são vozes


uníssonas para a responsabilização que se quer implementar, pois se o
fornecedor necessita de prepostos para comercializar o seu produto ou o
serviço, torna-se automaticamente corresponsável pelos atos por ele
praticados. Vejamos:

“A voz do representante, mesmo o


autônomo, é a voz do fornecedor e, por isso
mesmo, o obriga.” (ANTÔNIO HERMAN
DE VASCONCELOS E BENJAMIN,
Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
Comentado Pelos Autores do Anteprojeto, 2,
Ed. Forense Universitária, p. 162).

“O fornecedor deve assumir total


responsabilidade pelos atos praticados por
seus prepostos, representantes autônomos ou
terceirizados, resguardando-se o seu direito
de regresso em face de quem deu causa ao
dano sofrido pelo consumidor.” (JOSÉ LUIZ
TORO DA SILVA, Noções de Direito do
Consumidor, Ed. Síntese, p. 47).

“A solidariedade do fornecedor perante os


atos de seus prepostos (agentes, corretores,
empregados, comissionistas, divulgadores
etc), ainda que sejam eles representantes
autônomos, é proclamada materialmente pelo
artigo 34 do CDC.” (HÉLIO ZAGHETTO
GAMA, Curso de Direito do Consumidor, 2.
Ed. Forense, p. 103).

Com efeito, não resta dúvida de que o banco


demandado deve pagar por erro de seus prepostos, à semelhança do que já
ficou demonstrado no artigo 932, inciso III do NCCB. Enfim, a prática
adotada pelo réu, que se pretende ver reconhecida como abusiva, pode ser
enquadrada, ainda, na hipótese prevista no inciso V do artigo 39 do CDC,
que dispõe:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos


ou serviços, dentre outras práticas abusivas:

[...]

V - exigir do consumidor vantagem


manifestamente excessiva;

Finalmente, destaque-se o disposto no artigo 42 do


CDC:

Art. 42 - Na cobrança de débitos, o


consumidor inadimplente não será exposto a
ridículo, nem será submetido a qualquer tipo
de constrangimento ou ameaça.

Parágrafo único - O consumidor cobrado em


quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro ao que
pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de
engano justificável. (destacamos).

De ressaltar, finalmente o disposto na Lei 10.820, de


17.12.2003, in literis:

Art. 5o O empregador será o responsável


pelas informações prestadas, pela retenção
dos valores devidos e pelo repasse às
instituições consignatárias, o qual deverá ser
realizado até o quinto dia útil após a data de
pagamento, ao mutuário, de sua remuneração
mensal.

§ 1o O empregador, salvo disposição


contratual em sentido contrário, não será co-
responsável pelo pagamento dos
empréstimos, financiamentos e
arrendamentos concedidos aos mutuários,
mas responderá sempre, como devedor
principal e solidário, perante a instituição
consignatária, por valores a ela devidos, em
razão de contratações por ele confirmadas na
forma desta Lei e seu regulamento, que
deixarem, por sua falha ou culpa, de serem
retidos ou repassados.

§ 2o Na hipótese de comprovação de que o


pagamento mensal do empréstimo,
financiamento ou arrendamento foi
descontado do mutuário e não foi repassado
pelo empregador à instituição consignatária,
fica ela proibida de incluir o nome do
mutuário em qualquer cadastro de
inadimplentes.

Portanto, Excelência, indubitável é a responsabilidade


do banco requerido pela ação desidiosa que culminou em cobrança de
débito inexistente e a inscrição do nome da requerente nos cadastros
restritivos de créditos, pelo que vem se socorrer do Poder Judiciário, a fim
de garantir a efetividade de seus direitos.

DO DANO MORAL

No âmbito constitucional, não se pode olvidar que a


Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso X, normatizou, de forma
expressa, que são invioláveis a intimidade, a vida privada e a honra e a
imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação. Trata-se de previsão inserida
no Título dos Direitos e Garantias Fundamentais, ou seja, os bens jurídicos
ali referidos são cruciais para o desenvolvimento do Estado Democrático.

A concessão dos danos morais tem por escopo


proporcionar ao lesado meios para aliviar sua angústia e sentimentos
atingidos. In casu, a falta de cumprimento contratual pela empresa
requerida, nas condições em que os fatos ocorreram, enseja indenização por
dano moral, que se traduz em uma forma de se amenizar a dor e o
sofrimento do requerente, afetado que ficou em sua dignidade, sendo certo
que se é verdade que não há como mensurar tal sofrimento, menos exato
não é que a indenização pode vir a abrandar ou mesmo aquietar a dor
aguda.

A indenização por danos morais, como registra a boa


doutrina e a jurisprudência, há de ser fixada tendo em vista dois
pressupostos fundamentais, a saber: a proporcionalidade e razoabilidade.
Tudo isso se dá em face do dano sofrido pela parte ofendida, de forma a
assegurar-se a reparação pelos danos morais experimentados, bem como a
observância do caráter sancionatório e inibidor da condenação, o que
implica o adequado exame das circunstâncias do caso, da capacidade
econômica do ofensor e a exemplaridade - como efeito pedagógico - que há
de decorrer da condenação.

Vejamos, a propósito, o que ensina o mestre Sílvio de


Salvo Venosa em sua obra sobre responsabilidade civil:

"Os danos projetados nos consumidores,


decorrentes da atividade do fornecedor de
produtos e serviços, devem ser cabalmente
indenizados. No nosso sistema foi adotada a
responsabilidade objetiva no campo do
consumidor, sem que haja limites para a
indenização. Ao contrário do que ocorre em
outros setores, no campo da indenização aos
consumidores não existe limitação tarifada."
(Direito Civil. Responsabilidade Civil, São
Paulo, Ed. Atlas, 2004, p. 206).

Nas palavras do emérito Desembargador Sérgio


Cavalieri Filho:

“...o dano moral não está necessariamente


vinculado a alguma reação psíquica da
vítima. Pode haver ofensa à dignidade da
pessoa humana se, dor, sofrimento, vexame,
assim como pode haver dor, sofrimento,
vexame sem violação da dignidade....a
reação química da vítima só pode ser
considerada dano moral quando tiver por
causa uma agressão à sua dignidade.”
(Programa de Responsabilidade Civil, 10ª
edição, Atlas, 2012, São Paulo, pág.89).

A reparação do dano moral não visa, portanto, reparar a


dor no sentido literal, mas sim, aquilatar um valor compensatório que
amenize o sofrimento provocado por aquele dano, sendo a prestação de
natureza meramente satisfatória. Assim, no caso em comento, clarividente
se mostra a ofensa a direitos extrapatrimoniais, haja vista toda a angústia e
transtorno que o requerente e sua família vêm sofrendo.

Com relação à prova do dano extracontratual, está


bastante dilargado na doutrina e na jurisprudência que o dano moral existe
tão-somente pela ofensa sofrida e dela é presumido, sendo bastante para
justificar a indenização, não devendo ser simbólica, mas efetiva,
dependendo das condições socioeconômicas do autor, e, também, do porte
empresarial da ré. É corrente majoritária, portanto, em nossos tribunais a
defesa de que, para a existência do dano moral, não se questiona a prova do
prejuízo, e sim a violação de um direito constitucionalmente previsto.

Trata-se do denominado Dano Moral Puro, o qual se


esgota na própria lesão à personalidade, na medida em que estão ínsitos
nela. Por isso, a prova destes danos restringir-se-á à existência do ato
ilícito, devido à impossibilidade e à dificuldade de realizar-se a prova dos
danos incorpóreos. Não é sem razão que os incisos V e X do artigo 5º da
CF/88 asseguram com todas as letras a reparação por dano moral, senão
vejamos:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta,


proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;

X - são invioláveis a intimidade, a vida


privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua
violação;”

Sobre o assunto, disserta Cavalieri Filho, in literis:

“...o dano moral está ínsito na própria ofensa,


decorre da gravidade do ilícito em si. Se a
ofensa é grave e de repercussão, por si só
justifica a concessão de uma satisfação de
ordem pecuniária ao lesado. Em outras
palavras, o dano moral existe in re ipsa;
deriva inexoravelmente do próprio fato
ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa,
ipso facto está demonstrado o dano moral à
guisa de uma presunção natural...” (Ob. cit.
pág.97).

E ainda disserta o ilustre magistrado:

A reparação por dano moral não pode


constituir de estímulo, se insignificante, à
manutenção de práticas que agridam e
violem direitos do consumidor. Verificada a
sua ocorrência, não pode o julgador fugir à
responsabilidade de aplicar a lei, em toda a
sua extensão e profundidade, com o rigor
necessário, para restringir e até eliminar, o
proveito econômico obtido pelo fornecedor
com a sua conduta ilícita. A previsão de
indenizações módicas ou simbólicas não
pode ser incorporada `a planilha de custos
dos fornecedores, como risco de suas
atividades (ob. cit. pág.105).

Para o caso em apreço, assim têm se comportado a


jurisprudência do STJ e do STF, senão vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO


DE INSTRUMENTO. OMISSÃO DO
JULGADO. INOCORRÊNCIA.
RESPONSABILIDADE CIVIL.
INSCRIÇÃO INDEVIDA EM ÓRGÃOS DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. DANO
MORAL. VALOR DA CONDENAÇÃO.

(...)

2. A inscrição sem a prévia comunicação ao


devedor é irregular e configura dano moral.

3. A quantia fixada não se revela excessiva,


considerando-se os parâmetros adotados por
este Tribunal Superior, que preleciona ser
razoável a condenação em 50 (cinqüenta)
salários mínimos por indenização decorrente
de inscrição indevida em órgãos de proteção
ao crédito. Precedentes.

Recurso a que se nega provimento.

(STJ - AgRg no Ag 1089374 / PE -


AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
DE INSTRUMENTO - 2008/0191892-9
Relator(a) Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO - Órgão Julgador T4 - QUARTA
TURMA - Data do Julgamento 09/11/2010
Data da Publicação/Fonte DJe 12/11/2010 )
inovados).

CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. AGRAVO
REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO
ESTADO. INSCRIÇÃO INDEVIDA DE
CPF NO CADIN. REPARAÇÃO DE
DANOS. ART. 37, § 6º, DA CF/88. FATOS
E PROVAS. SÚMULA STF 279. 1. Acórdão
recorrido fundado no fato de que, "não tendo
a União logrado comprovar qualquer das
hipóteses que ensejam o afastamento de sua
responsabilidade - a saber a ocorrência de
caso fortuito ou força maior, ou, ainda, a
culpa exclusiva da vítima - cabe-lhe
responder pelos danos que seus agentes,
diretos ou indiretos, nessa condição
causaram ao cidadão". 2. Incidência da
Súmula STF 279 para aferir alegada ofensa
ao artigo 37, § 6º, da Constituição Federal -
responsabilidade objetiva do Estado.
Precedentes. 3. Inexistência de argumento
capaz de infirmar o entendimento adotado
pela decisão agravada. 4. Agravo regimental
improvido. (STF - RE 539401 AgR / BA –
BAHIA - AG.REG.NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO - Relator(a): Min.
ELLEN GRACIE - Julgamento:
26/05/2009 - Órgão Julgador: Segunda
Turma).

No mesmo sentido é o entendimento do Egrégio TJCE:

RESPONSABILIDADE CIVIL. RISCO DA


ATIVIDADE ECONÔMICA. ILÍCITO
ATRIBUÍDO A TERCEIRO. CASO
FORTUITO INTERNO. AGRAVO NÃO
PROVIDO. 1. A empresa ré, em razão do
risco da própria atividade econômica que
exerce, responde pela inscrição indevida do
nome da apelada em cadastros restritivos,
mesmo se resultante de fraude atribuída a
terceiros. 2. "[...] INSCRIÇÃO INDEVIDA.
INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. DANO
IN RE IPSA. [...] A jurisprudência deste
Pretório está consolidada no sentido de que,
na concepção moderna do ressarcimento por
dano moral, prevalece a responsabilização do
agente por força do simples fato da
violação." (STJ. REsp 851522/SP, Relator
Min. CESAR ASFOR ROCHA, 4ª TURMA,
DJ 29/06/2007). 3. Agravo Interno não
provido. (TJCE - Agravo Regimental
1145955200380600001 - Relator(a):
LINCOLN TAVARES DANTAS - Órgão
julgador: 4ª Câmara Cível - Data do
julgamento: 30/04/2010).

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE
DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO -
EXTRAVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO -
UTILIZAÇÃO FRAUDULENTA -
OMISSÃO NA CONFERÊNCIA DA
ASSINATURA POR OCASIÃO DA
VENDA - INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS
CADASTROS DE INADIMPLENTES -
APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO
FORNECEDOR DE SERVIÇOS -
ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA
CONTRATUAL QUE TRANSFERE A
RESPONSABILIDADE POR COMPRAS
EFETUADAS POR TERCEIROS AO
TITULAR DO CARTÃO, ATÉ O
MOMENTO DA COMUNICAÇÃO DO
EXTRAVIO - DANO MORAL IN RE IPSA
- DEVER DE INDENIZAR - (TJCE -
Apelação 79095327200080600011 -
Relator(a): MARIA NAILDE PINHEIRO
NOGUEIRA - Órgão julgador: 2ª Câmara
Cível - Data do julgamento: 20/04/2010).

Doutro lado, os parâmetros judiciais para o


arbitramento do quantum indenizatório são delineados pelo prudente
arbítrio do julgador, haja vista que o legislador não ousou, através de norma
genérica e abstrata, pré-tarifar a dor de quem quer que seja. Por esse
raciocínio, ao arbitrar o quantum da indenização, deve o magistrado levar
em conta "a posição social do ofendido, a condição econômica do ofensor,
a intensidade do ânimo em ofender e a repercussão da ofensa", conforme
orientação jurisprudencial.

Coerente se faz a doutrina que indica que além de


respeitar os princípios da equidade e da razoabilidade, deve o critério de
ressarcibilidade do dano moral considerar alguns elementos como: a
gravidade e extensão do dano, a reincidência do ofensor, a posição
profissional e social do ofendido e as condições financeiras do ofendido e
ofensor. Apenas para supedanear a decisão meritória, o parâmetro que
entende razoável o requerente é o de que o valor não deverá ser abaixo de
trinta (30) salários mínimos.

Assim, no caso em comento, clarividente se mostra a


ofensa a direitos extrapatrimoniais, haja vista toda a angústia e transtorno
que o requerente sofreu e ainda vem sofrendo, sendo, pois, parâmetro que
se revela justo para, primeiro, compensar o autor pela dor sofrida, sem, no
entanto, causar-lhe enriquecimento ilícito, e, segundo, servir como medida
pedagógica e inibidora admoestando o plano peticionado pela prática do
ato ilícito em evidência.

DA TUTELA ANTECIPADA

A tutela pretendida na presente querela deverá ser


concedida de forma antecipada, posto que o requerente preenche os
requisitos do artigo 273 do CPC:

“O juiz poderá, a requerimento da parte,


antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da
tutela pretendida no pedido inicial, desde
que, existindo prova inequívoca, se convença
da verossimilhança da alegação e:

I – haja fundado receio de dano irreparável


ou de difícil reparação”

Da mesma forma é a prescrição do CDC, ex textus:

Art. 84 - Na ação que tenha por objeto o


cumprimento da obrigação de fazer ou não
fazer, o Juiz concederá a tutela específica da
obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento.

[...]

§ 3º - Sendo relevante o fundamento da


demanda e havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final, é lícito ao
Juiz conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citado o réu.

§ 4º - O Juiz poderá, na hipótese do § 3º ou


na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for
suficiente ou compatível com a obrigação,
fixando prazo razoável para o cumprimento
do preceito.

Ao comentar os requisitos para a concessão da tutela


antecipada, o Professor Luiz Guilherme Marinoni assim disserta:

"É possível a concessão da tutela


antecipatória não só quando o dano é apenas
temido, mas igualmente quando o dano está
sendo ou já foi produzido.

Nos casos em que o comportamento ilícito se


caracteriza como atividade de natureza
continuativa ou como pluralidade de atos
suscetíveis de repetição, como, por exemplo,
nas hipóteses de concorrência desleal ou de
difusão notícias lesivas à personalidade
individual, é possível ao juiz dar a tutela para
inibir a continuação da atividade prejudicial
ou para impedir a repetição do ato." (in "A
Antecipação da Tutela na Reforma do
Processo Civil", Ed. Malheiros, p. 57).

Com efeito, a tutela antecipada se consolida na


possibilidade de se anteciparem os efeitos do provimento final, quando
presentes seus requisitos, a fim de não se proporcionarem mais prejuízos a
quem tem um direito robusto e devidamente provado neste caderno
processual.

A concessão de liminar assenta-se, portanto no artigo


art. 273 do Código de Ritos Civil diante da verossimilhança da alegação e
do receio de dano irreparável, visto que as provas trazidas à colação são
robustas e estreme de dúvidas sobre o direito do(a) requerente, visto que
alicerçadas na legislação própria e definidora dos contratos bancários, nos
danos efetivamente ocorridos, em doutrinas inquestionáveis e em decisões
uníssonas dos nossos tribunais pátrios.

A antecipação da tutela, portanto, tem como maior


finalidade amparar a requerente até o julgamento definitivo, evitando-lhe
maiores danos do que já tem sustentado. Logo, na conformidade da redação
legal, o requerente faz jus à concessão da tutela antecipatória, uma vez que
preenche todos os requisitos por ela exigidos: prova inequívoca dos fatos e
dano irreparável.

O reconhecimento do periculum in mora evidencia-se


no direito subjetivo da autora em reaver seu poder de compra, pois, na
situação atual, sempre dependerá de outrem para prover-lhe
comercialmente, haja vista sua inscrição indevida em cadastros pejorativos.
Assim, o diferimento da pretensão preambular poderá acrescer mais danos
aos que estão sendo suportados atualmente pelo requerente, agredido que
está em sua própria dignidade.

Incontestável, ainda, a absoluta reversibilidade da


medida que se pede. Acaso no decorrer da lide se mostrem relevantes
motivos jurídicos em contraposição aos agora apresentados, a questão
poderá ser revista ou modificada segundo entendimento do Juiz.
Quanto ao fumus boni juris, presente se faz, às
escâncaras, evidente razoabilidade das alegações da promovente. Pelo que
foi exposto, há um iniludível vulcão em erupção de verdade na redação
fática externada pela autora, bem como prova material robusta e apta ao
acolhimento da tutela pretendida.

As provas inequívocas, capazes de convencer esse


Preclaro Judicante da verossimilhança dos fatos aqui alegados estão
também presentes, conforme farta documentação acostada a este caderno
processual.

Destarte, a verossimilhança da alegação, ao lado da


prova inequívoca do direito buscado pelo requerente e do seu receio de
dano maior e irreparável ao patrimônio familiar, trazem a esta querela o
cumprimento integral da égide semântica prevista no artigo 273, caput e
inciso I, do Código de Ritos Civil.

Por oportuno, ressalte-se que o fato de eventualmente


o(a) requerente não ter providenciado, de imediato, todas as provas
documentais capazes de trazer a esse Douto Judicante a certeza sobre os
fatos narrados, não ilide a pretensão da mesma em requerê-lo, haja vista o
status do direito perseguido nesta ação, que se identifica com aqueles que
compõem o rol dos direitos fundamentais, visto que, em última análise,
com concessão da tutela antecipatória, ter-se-á protegida a sua dignidade,
dando o direito de o julgador aplicar o princípio da proporcionalidade nos
casos em comento.

Neste sentido, dissertou o festejado Ministro Sálvio de


Figueiredo em sua recente obra:

“As exigências de prova inequívoca e


reversibilidade do provimento devem ser
interpretadas cum grano salis e com
observância do princípio da
proporcionalidade” (in CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL ANOTADO, SALVIO
DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, 7ª
EDIÇÃO,2003)

Destaque-se, nesta ansa, decisão recente do nosso


Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, ex textus:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO


- DECISÃO CONCESSIVA DE TUTELA
ANTECIPADA - PRESENÇA DOS
REQUISITOS ENSEJADORES DO
INSTITUTO - RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO.

I- Presentes os requisitos ensejadores da


tutela antecipada, impõe-se o seu
deferimento.

[...]

(AI 2002000146584 CE- 2ª Câmara Cível –


Rel. Des. Gisela Nunes Costa - j.31.03.2004
- grifamos)

Assim, considerando-se os fatos aqui narrados e o


prejuízo já experimentado pelo(a) requerente, o qual se encontra, até a
presente data, tolhido(a) no seu direito de utilizar seu crédito no mercado,
outra alternativa não há senão adiantar o resultado da sentença final, a fim
de resguardar o direito irreprochável do mesmo nesta lide.
DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer, se digne Vossa Excelência


de:

1) CONCEDER os benefícios da JUSTIÇA


GRATUITA, nos moldes insertos em preliminar;

2) CONCEDER, initio litis, liminar em antecipação de


tutela, nos termos do artigo 273 do CPC c/c artigo 84 do CDC, no sentido
de determinar ao banco réu que proceda a imediata exclusão do nome da
autora de todos os cadastros pejorativos de créditos, relativamente ao
contrato sub judice, no valor de VALOR DO CONTRATO, sob pena de
multa diária de um salário-mínimo (artigo 461, parágrafo 5º do CPC),
advertindo-se ao réu, na oportunidade, de que nova inclusão relativamente
ao mesmo CONTRATO incorrerá na incidência da mesma multa sobredita;

3) MANDAR CITAR, empós a concessão da liminar –


certamente deferida – o banco promovido para, querendo, responder ao
presente, sob as penas do artigo 319 do CPC;

4) CONCEDER a inversão do ônus da prova em favor


da requerente, nos moldes entabulados pelo Código de Defesa do
Consumidor, notadamente para determinar que o banco acionado faça
juntar aos autos cópia fiel do contrato em lide;

5) Intimar o douto representante do Ministério Público,


para acompanhar este feito até o final já que se trata de norma de interesse
social conforme artigo 1º do CDC;

6) Provado quanto baste, julgar procedente a contenda,


para o fim de, confirmando-se as liminares anteriormente concedidas:

6.1) DECLARAR a inexistência do débito em lide, em


face das provas cabais arrecadadas aos presentes autos, as quais dão conta
dos recolhimentos mensais das prestações no contracheque da autora;

6.2) DETERMINAR, de forma definitiva, a exclusão


do nome da requerente de todos os cadastros pejorativos de créditos, por
eventual débito cobrado pela instituição financeira ré, em face do contrato
em querela;

7) CONDENAR o banco requerido a pagar, a (o)


requerente, uma indenização por danos morais (art. 5º. CF/88 c/c arts. 6º,
inciso VI, e 14 do CDC), em montante a ser arbitrado por este juízo,
sugerindo-se, com base na capacidade financeira das partes e no grau e
extensão do dano, o valor correspondente a 30 (trinta) salários mínimos,
como parâmetro mínimo;

8) RECONHECER a mora do credor/fornecedor, em


face de suas práticas abusivas, haja vista as normas do CDC serem de
ordem pública;

9) CONDENAR, finalmente, o requerido no


pagamento das verbas de sucumbência, na base de 20% (vinte por cento)
sobre o valor da condenação, os quais deverão ser revertidos à
DEFENSORIA PÚBLICA-GERAL DO ESTADO DO CEARÁ .

Como a questão é somente de direito, não ensejando


dilação probatória, s.m.j, requer o julgamento antecipado da lide, a teor do
artigo 330, I do CPC.

Entretanto, acaso Vossa Excelência diferentemente


entenda, protesta e requer provar o alegado por todos os meios de provas
admitidos em direito, juntada de novos documentos, perícias, depoimentos
pessoais e inquirição de testemunhas (oportunamente arroladas), tudo desde
já requerido.

Dá à causa, para efeitos meramente processuais, o


valor de VALOR DA CAUSA.

Nesses termos.
Pede deferimento.
CIDADE, DIA DE MÊS DE ANO.

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