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Eu vim viver para o orfanato de St. Joseph à sete anos atrás, logo a seguir
à morte do meu pai. Ele era alto, quase com 1,80m, tinha olhos castanhos,
cabelo um pouco encaraculado e um tom de pele escuro. Ele estava
sempre a usar camisolas com desenhos de estrelas e planetas, exceto
quando vestia o equipamento da tropa. Eu odiava aquele equipamento,
significava que ele ia para a guerra, e poderia não voltar. Em grande parte
foi o meu pai que criou a paixão que eu tenho pelo Universo. Ele
compartilhava o mesmo sonho que eu, ser astronauta. Quando eu era
pequena, o meu pai contava-me histórias sobre o Universo, outros
planetas, luas, estrelas, eu gostaria de ser astronauta para poder honrá-lo.
Eu disse que não gostava do equipamento da tropa, e tinha razão em
fazê-lo. Durante anos a paz reinou no nosso planeta, ou pelo menos era
assim nas histórias do meu pai. Tudo começu quando eu tinha 10 anos,
em 2073. As duas maiores potências mundiais entraram em conflito, e
uma grande guerra começou, uma guerra tão grande que dura até hoje.
Pelo que eu estudei nas aulas de história, este planeta já passou por várias
guerras, mas esta, esta é diferente, os soldados têm armas mais
poderosas, e o governo utiliza armas nucleares para bombardiar outros
países. Depois das explosões, os países deixam de existir, passam a ser
uma memória na mente dos que se lembram da sua existência, as cidades
tornam-se cidades fantasmas, apenas um resto do que elas uma vez
foram, locais que antes tinham problemas de sobrepopulação são agora
regiões desertas. Eu ainda me lembro do dia em que o meu pai foi
chamado para participar na guerra, dia 27 de janeiro de 2073. Um chefe
de guerra foi pessoalmente à nossa casa para se certificar que o meu pai
iria. As suas palavras foram exatamente : “boa noite tenente Arthur
Monroe, creio que esteja a par da situação em que nos encontramos. O
senhor foi o nosso melhor soldado por diversos anos, por isso vim aqui
pessoalmente dizer-lhe que foi mais uma vez recrutado para defender o
nosso pais. Tem 24 horas para se despedir da sua familia e reunir-se na
nossa base”. A partir desse dia nunca mais vi o meu pai.
Durante o próximo par de meses eu vivi apenas com a minha mãe, ela é
de estatura média, tem olhos verdes e cabelo castanho e oleoso, um tom
de pele claro e uma voz muito suave. Desde o dia que o meu pai partiu
que eu e a minha mãe não conseguía-mos pensar noutra coisa senão
como estaria o pai. Estaria ele bem? Estaria vivo? Estaria...morto? Mas foi
só no dia 19 de março que obtivemos notícias, e que sinceramente, acho
que preferia não as ter obtido. “Ele foi declarado morto” , foi o que o
chefe de guerra disse. O corpo nunca foi encontrado, calcularam que
estivesse numa vala comum ou simplesmento junto dos milhares de
soldados que dão a vida no campo de batalha. Quando a minha mãe
soube da notícia ela não aguentou. Deixou de trabalhar, de pagar as
contas, começou a beber álcool, até que chegou ao extremo, foi-se
embora. Abandonou-me. Deixou uma criaça de 10 anos sozinha, na rua.
Depois da morte da tia Dulce no ano anterior, os meus pais eram a única
família que me restava. Os dois partiram, e eu estava sozinha, assustada,
perdida, à mercê do mundo, à mercê da morte. Naquele dia eu pensei que
iria morrer, mas a minha única sorte, ou azar, ainda não sei bem, foi uma
senhora idosa que reparou em mim e perguntou sobre a minha situação,
depois de saber tudo o que se passou ela pegou em mim e levou-me para
onde eu estou hoje, St. Joseph.
Capítulo IV – A Mudança