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Acção de Investigação de Maternidade 2
Acção de Investigação de Maternidade 2
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II. Tal facto jurídico pode lograr prova, quer diretamente, enquanto prova
da procriação / filiação biológica (via biológica), quer indiretamente,
através do uso de alguma das presunções legais (da relação biológica) de
paternidade previstas no nº 1 do artigo 1871º do Código Civil, desde que
não ilididas, nos termos do nº 2 do mesmo normativo (via presuntiva),
podendo tais vias ser invocadas cumulativamente (como sucede no caso
dos autos).
III. Na presente ação de investigação de paternidade, enquanto ação
fundada na presunção de paternidade estabelecida na alínea a) do nº 1 do
no artigo 1871º do Código Civil, à A. cabe provar os factos-base de tal
presunção, em concreto, a posse de estado, a qual é integrada, conjunta e
cumulativamente, por três elementos: (i) a reputação como filho pelo
pretenso pai (nomen); (ii) o tratamento como filho pelo pretenso pai
(tractatus); e (iii) a reputação como filho do pretenso pai pelo público
(fama).
ACÓRDÃO
I. Relatório
1. AA instaurou, em 07.2.2012, a presente ação declarativa, sob a forma
de processo comum ordinário, contra BB, pedindo que:
— Se declare e condene o R. a reconhecer que a A. é sua filha, com as
consequências legais;
— Se reconheça que a A. tem o direito de obter o registo da referida
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18ª. Ora, a Recorrente resigna-se contra o facto de tal equívoco não ter
sido corrigido pelo Venerando Tribunal da Relação: onde está, afinal,
efetivado o ónus de impugnação a cargo do Réu, em virtude da inversão
operada?
19ª. O Réu não logrou fazer prova da inexistência de qualquer facto
superveniente nos três anos anteriores à propositura da ação, pois não fez
qualquer prova!
20ª. Pelo que entende a Recorrente que o Acórdão recorrido deverá
baixar a Relação para que seia corrigido este flagrante erro judiciário,
o que se requer, ao abrigo do disposto no artigo 682º, n.º 2 e 3 e 683º,
n.º 1 do CPC.
21ª. Pugna a Apelante pelo facto de ter conseguido provar, através de
prova testemunhal, que entre a sua mãe, CC e o R. BB existiu
efetivamente uma relação amorosa secreta e que a sua mãe, à data dos
factos, não tinha nenhum relacionamento com outros homens.
22ª. A existência de prazos de caducidade das ações de investigação de
paternidade, impostos ao investigante, obstando a que, a todo o tempo,
obtenha o reconhecimento judicial da sua ascendência biológica
traduzem-se numa restrição, violadora dos princípios constitucionais
consagrados nos artigos 18º nº 2, 26º nº 1 e 36º nº 1 CRP, configurando
uma restrição desproporcionada do direito à identidade das pessoas.
23ª. À Recorrente não lhe pode ser coartada a possibilidade legal do
investigar a sua paternidade, com todas as demais consequências legais
resultantes desta mesmo proceder, direito que terá que prevalecer sobre
qualquer norma civilista, sob pena de inaceitável discriminação de um
dos elos da relação jurídico-filial.
24ª. Tendo em conta que no nosso ordenamento jurídico, em que a ação
de investigação da paternidade ou maternidade constitui o meio que
assiste ao pretenso filho para obter o reconhecimento judicial da sua
ascendência biológica, não se justifica qualquer limite temporal para o
seu exercício.
25ª. O Estado não pode restringir o estabelecimento da filiação, através de
prazos de caducidade, na medida em que ao condicionar a instauração de
ações de investigação de paternidade/maternidade, está a restringir
desproporcionadamente estes direitos.
26ª. Em suma, pleiteia a Recorrente pela violação dos artigos 1817º, n.º 3,
aI. b) por remissão do 1873º e 1798º todos do C.C.; dos artigos 471º, 639º
e 64º, do CPC e, ainda, o disposto nos artigos 16º, 18º n.º 2, 25º n.º 1, 26º,
n.º 1 e 36º n.º 1 da CRP.
Conclui pela procedência do recurso.
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1.5. O Réu sempre que se dirigia à sua casa da Freguesia de ... ... e se
cruzava com a Autora questionava-a se estava tudo bem com ela, bem
como do estado de saúde do seu filho [Pontos 7º e 14º da base
instrutória].
1.6. O Autor fez o serviço militar num quartel da cidade de …, onde
assentou praça em 00 de … de 1949 [ponto 15º da base instrutória].
1.7. Tendo terminado o serviço militar a 00 de … de 1951 [ponto 16º da
base instrutória].
1.8. Em 00 de … de 1951 o Réu teve licença para se ausentar para a então
colónia de Angola para onde veio a emigrar em data não concretamente
apurada [ponto 18º da base instrutória].
1.9. Tendo permanecido em Angola até … de 1975 [ponto 19º da base
instrutória].
1.10. Data em que regressou definitivamente a ..., onde se instalou com a
sua família na Freguesia de ... ... e, logo de seguida, na cidade de ...
[ponto 20º da base instrutória].
1.11. E onde passou a residir até hoje [ponto 21º da base instrutória].
1.12. A Autora sempre foi apelidada de “...” e “...” e a alcunha da família
do Réu é “...” [ponto 11º da base instrutória].
1.13. A ação foi proposta em 07 de Fevereiro de 2012.
2. Da pretextada prova da "posse de estado" [para efeitos de
estabelecimento da presunção de paternidade enunciada na alínea a) do nº
1 do artigo 1871º do Código Civil] e da "cessação do tratamento como
filha" (para efeitos de aplicação do prazo previsto no nº 3 do artigo 1817º
do Código Civil)
2.1. Enquadramento preliminar
Estamos no âmbito de uma ação de investigação da paternidade,
instaurada, em 07.2.2012, pela A., com vista ao reconhecimento pelo R.
da sua paternidade em relação à mesma A.
Tendo tal ação como escopo a atribuição jurídica da paternidade do filho
ao progenitor biológico deste, então, o facto de onde emerge tal direito é a
procriação biológica ou geração, constituindo tal facto jurídico procriador
(relação sexual fecundante) a respetiva causa petendi.
Sucede que tal facto, pode lograr prova:
— diretamente, enquanto prova da procriação / filiação biológica (via
biológica);
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tratado como filho pelo pretenso pai, a ação pode ser proposta nos três
anos posteriores à cessação do tratamento como filho pelo pretenso pai
(al. b) do mesmo nº 3 do artigo 1817º Código Civil).
E, no nº 4 do aludido artigo 1817º, coloca-se, então, a cargo do R. o ónus
da prova da cessação voluntária do tratamento nos três anos anteriores à
propositura da ação.
Vejamos se, no caso presente, a A. / Recorrente beneficiou da "posse de
estado".
2.3.2. Da não demostração do facto-base da presunção de paternidade
estabelecida na a) do nº 1 do no artigo 1871º do Código Civil
Os factos que as instâncias consideraram provados (dos alegados
enquanto reveladores da posse de estado), foram (apenas) os seguintes:
— O R. sempre que se dirigia à sua casa da Freguesia de ... ... e se
cruzava com a A. questionava-a se estava tudo bem com ela, bem como
do estado de saúde do seu filho;
— A A. sempre foi apelidada de "..." e "..." e a alcunha da família do R. é
"...".
Ora, mesmo tendo em consideração o anteriormente referido sobre o
requisito de tratamento e não sendo exigido à A. que alegue e prove um
conjunto de atos como se A. e R. vivessem no quadro de uma família
constituída, podendo considerar-se relevantes contactos discretos, certo é
que os factos dados como provados não nos levam a concluir pela
verificação, no caso presente, do tratamento de filha por parte do Réu.
A circunstância de o R., quando se encontrava em sua casa da Freguesia
de ... ..., e, se cruzava com a A., a questionar sobre se estava tudo bem
com ela, bem como do estado de saúde do seu filho, não caracteriza, só
por si, esse tratamento (e a preocupação de um pai para com a vida de um
filho), antes caracterizando um ato de cortesia social entre pessoas que se
conhecem numa pequena localidade.
E, à luz destes factos, numa perspetiva global dos fatores pessoais e
sociais envolventes, não merece qualquer censura que o Tribunal da
Relação tenha considerado que não ficou provado que o R. tenha
dispensado à A. o tratamento que os pais votam aos filhos, mantendo-
se tal segmento decisório.
E tal afastamento do estabelecimento da presunção de paternidade conduz
a que o Tribunal da Relação de Guimarães, sequencialmente, venha a
concluir:
— Pela não aplicação da hipótese prevista no nº 3 do artigo 1817º,
aplicável ex vi do artigo 1873º, ambos do Código Civil, uma vez que a
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IV. Decisão
Pelo exposto, acordam os Juízes que constituem a 1ª Secção Cível do
Supremo Tribunal de Justiça, em:
— Conceder parcial provimento à revista, e, em consequência, revogar o
acórdão recorrido no segmento em que, quanto ao fundamento da filiação
biológica, julgou procedente a exceção da caducidade da ação;
— Ordenar que os autos baixem ao Tribunal da Relação de … para que
seja apreciada o fundamento da filiação biológica, no contexto da
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Sebastião Póvoas
Alexandre Reis
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DECLARAÇÃO
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Alexandre Reis
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