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Aradia, a bruxinha

A gente sempre acha que bruxa é uma pessoa do mal. Mas, vou contar a história de
Aradia. Ela tinha os olhos azuis muito vivos, uma estrela na testa, passava sombra pink sobre
os olhos e tinha os cílios azuis muito grossos. Usava argolas no nariz, três, ao total e usava um
blush rosa em apenas uma das bochechas. Sua boca, muito grande, era pintada por um
vermelho bem forte e seu sorriso era farto; seu cabelo era rosa! Pintei o quadro de como era
Aradia por fora. Agora, vem a história de como ela era por dentro… Aradia nasceu no seio da
floresta, bem onde dificilmente as pessoas vão. Sua mãe achava que ela seria frágil e delicada,
mas não! Aradia tinha uma personalidade forte, porém gentil!
Desde menina, ela gostava de cuidar dos animais da floresta, aqueles que por algum
motivo se machucavam! Certa vez, ela viu um sabiá no chão, ele tinha a asinha quebrada.
Aradia o pegou e com um graveto e uma fita de seus cabelos, fez uma pequenina tipoia. O
arranjo ficou bem feito, tanto que os dias se passaram e o sabiá, alimentado pela bruxinha,
curou-se, tendo o ossinho de sua asa reconstituído, pela força da Natureza!
Quando a ave voou de novo, Aradia sorriu tanto, que fez uma passarada inteira revoar
e voltar para perto dela! Depois, ela foi ao vale dos lírios, pediu licença aos lírios, e sentiu o
doce perfume deles! Ela adorava quando sua mãe recolhia alguns para fazer doce de flores!
Depois enfeitou a sua casa, usando as ramas próximas das árvores aéreas. Aradia cantarolava
e dançava e os passarinhos também cantavam alto, juntos, faziam uma sinfonia natural!
Houve um dia em que Aradia chegou perto do limite da floresta! Sua mãe havia lhe
dito várias vezes que ela não podia, em hipótese alguma, cruzar aquele limite!
“Lá”, contou sua mãe, “moram os humanos e eles não são receptivos com nossa
gente. Acreditam que somos do mal e nos atacam, caso nós sejamos vistos. Meu bisavô já
teve muitos problemas com eles, que moram na vila além do limite da floresta. Não vá,
minha pequenina, nunca lá. Nunca!”
Aradia olhava, olhava e olhava o limite, que era delineado por uma densa alameda de
árvores frondosas! Aradia, com seus oito anos, ficou muito curiosa! Então, num dia
ensolarado, numa manhã de primavera, ela cruzou o vale dos lírios brancos, por onde o rio
sempre escorria! E, tomando coragem, passou a alameda das árvores frondosas! Aradia ficou
impressionada com o que viu! A vila dos humanos parecia pacata, e ela decidiu descer a
montanha! A caminhada só não foi longa por conta das maritacas que a acompanhavam pelo
alto das árvores! Eu não disse antes, mas Aradia era tão amiga dos animais que estes se
sentiam à vontade para ficar em sua companhia! Então, a bruxinha desceu, desceu e desceu.
Foi até onde se via um campo vasto de plantação de milho! Aradia, com sua mãe,
também comia milho, além de frutas, raízes e flores silvestres! E, aliás, sua família era bem
unida; e quando havia encontro de famílias na floresta, todos se uniam, sob a Lua, e
conversavam, cantavam, comiam e dançavam!
Uma vez lá embaixo, ela foi passeando pela vila. Que engraçado, não havia ninguém!
Só um bebê, a quem Aradia chamou de Azevedo! Azevedo? Perguntou a si mesma várias
vezes. Por que logo esse nome? Sua mãe uma vez havia lhe contado que os nomes têm poder.
Então, como aquele bebê era tão frágil, e estava deitadinho num berço sem estar aos cuidados
de sua mãe, ela decidiu chamá-lo assim, pois o nome Azevedo, em sua origem, significa
“arbusto com espinho”. Logo, nenhum mal se aproximaria daquela criança, pois os espinhos,
assim como nas rosas, servem para proteção!
Satisfeita com esta explicação, Aradia, então, pegou o menininho, que estava começando a
chorar e o ninou. Azevedo – e já também eu estou acostumada com o nome – sorriu, feliz, no
colo da bruxinha e quase lhe pegou as argolas do nariz! Os dias se passaram e Aradia cresceu
e cresceu, até se transformar numa moça muito bonita. Sua mãe não sabia, mas lá vai o
segredo de Aradia: ela sempre descia a montanha, para cuidar de Azevedo, quando a mãe do
menino não estava por perto! Nisso, Aradia ensinou o menino a cuidar dos animais, assim
como ela mesma sempre fazia!
Azevedo aprendeu cedo com sua professora que a Natureza precisa de cuidado. Na
vila onde ele nasceu, as pessoas até que eram tranquilas e conseguiam se manter ao mesmo
tempo em que a Natureza era respeitada! O que a mãe de Aradia não imaginava era que
aquela nova geração de humanos não mais compartilhava das mesmas ideias de seus
ancestrais, que somente exploravam e minavam o meio ambiente e seus recursos naturais.
Essa nova geração, vendo o preço que seus antepassados pagaram por não cuidarem da
Natureza, resolveram traçar novos rumos e horizontes, redesenhando suas ações, vivendo em
harmonia, retirando da natureza somente o necessário para sobreviverem e sem agredi-la. As
pessoas da vila de Azevedo, portanto, não faziam queimadas, não jogavam lixo nos rios que
desciam das montanhas, e que eram tão limpos que podíamos ver os seixos em seus leitos, e
nem mantinham passarinhos em gaiolas! Por isso, Aradia se dava tão bem com aquela
atmosfera! Tanto que ela passou a passear no meio dos humanos sem que estes lhe dirigissem
insultos e impropérios! Diferente do que sua bondosa mãe lhe dissera há anos, os humanos
também mereciam confiança!
Azevedo era um menino feliz, porque para se ser feliz, simplicidade e contentamento
são suficientes. E Aradia tinha muito, muito orgulho de seu aluno, que ia, com certeza,
tornar-se um homem educado e generoso com as pessoas, com os animais e com a Natureza.
Viva a Natureza! Este era o lema da bondosa bruxinha Aradia, que curava os animais
feridos e que por isso, vivia cercada por eles!

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