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A raposa Rute

A Rita era uma menina de dez anos muito amiga de


animais.
A sua casa estava situada num vale perto de uma
montanha, onde havia animais de toda a espécie:
coelhos, perdizes, aves coloridas, lobos e raposas.
Muitas vezes, os animais desciam do monte até ao
vale.
Um dia, a menina estava a brincar um pouco mais
afastada da sua casa, quando viu uma raposa sem
se poder mexer, escondida junto a uns arbustos
bastante altos. Pensou logo em ir falar com ela. A
raposa, quando viu a menina dirigir-se para ela, quis
fugir, mas, mal tentou levantar-se, caiu e começou a
chorar com medo.
A menina tentou acalmá-la e perceber o que se
passava.
— Eu não te faço mal. Quero ajudar-te. O que tens?
Como te chamas?
Com muito medo a raposinha foi falando:
— Acho que o meu nome é Rute, mas só me
chamavam deficiente. Sabes, eu não nasci igual aos
meus três irmãos raposos. Tenho muita dificuldade
em mexer as patas e estou sempre a cair e a ficar
para trás nas caminhadas. Desta vez, eles
aborreceram-se e abandonaram-me. Disseram-me
coisas horríveis, que não era como eles, que não
servia para nada, que era deficiente! Um autêntico
embaraço! O que vou fazer agora?
A Rita começou a pensar e perguntou à raposa:
— Não podes andar bem, mas podes fazer outras
coisas, não podes?
A raposa Rute gostou da Rita e, mais calma,
respondeu:
— Gostava muito de aprender a ler e a escrever,
para poder criar histórias que distraíssem os meus
conhecidos e amigos. Assim, não precisava de me
mover muito. Eles traziam-me comida e eu contava-
lhes uma história.
A menina, contente por a raposinha não ter medo
dela, disse:
— Boa! Ótima ideia! Vou ajudar-te. Vou ensinar-te a
ler e a escrever. Enquanto aprendes, podes
memorizar histórias e contá-las. Eu escrevo-te
algumas. Começa já a pensar na primeira. Vou
procurar uma tábua onde anunciar as tuas histórias
e convidar os animais a virem ouvi-las.
E continuou:
— Que nome queres pôr ao espaço onde vais contar
as histórias?
— Cantinho da Fantasia. Parece-te bem? –
perguntou a raposa Rute.
— Muito fixe. Vais levá-los para um mundo de
fantasia! — exclamou a menina.
— Não é para isso, também, que servem as
histórias? — perguntou a raposa.
— Muito bem! És uma raposa esperta. Mãos à obra!
— tornou a Rita a dizer entusiasmada.
 A tábua ficou feita em pouco tempo e pendurada
numa árvore que podia ser vista por muitos animais.
No dia seguinte apareceram, muito a medo, os
primeiros ouvintes.
A Rute contou a primeira história.
Todos ficaram encantados e o Cantinho da
Fantasia depressa se tornou conhecido.
Os irmãos da raposa, quando ouviram falar num
animal que contava lindas histórias, também foram
ao Cantinho da Fantasia e não queriam acreditar
que a irmã que tinham abandonado era a autora de
tanto sucesso.
Quando viu os irmãos no meio de tantos animais, a
raposa começou:
— Era uma vez uma raposa diferente dos seus
irmãos porque não conseguia mexer-se como eles e
acompanhá-los nas suas caminhadas. Em vez de a
apoiar, eles deixaram-na sozinha no bosque…
A raposinha não teve tempo de prosseguir.
Ao perceberem o que ela estava a contar, os irmãos
correram a abraçá-la e a pedir-lhe perdão. E
passaram a ser os ouvintes mais assíduos das
histórias que a irmã não se cansava de inventar.
Teresa Cavaco
Associação “NÓS COM A DEFICIÊNCIA RUMO À
CIDADANIA”
Porto, 2011
(adaptação)

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