animais. A sua casa estava situada num vale perto de uma montanha, onde havia animais de toda a espécie: coelhos, perdizes, aves coloridas, lobos e raposas. Muitas vezes, os animais desciam do monte até ao vale. Um dia, a menina estava a brincar um pouco mais afastada da sua casa, quando viu uma raposa sem se poder mexer, escondida junto a uns arbustos bastante altos. Pensou logo em ir falar com ela. A raposa, quando viu a menina dirigir-se para ela, quis fugir, mas, mal tentou levantar-se, caiu e começou a chorar com medo. A menina tentou acalmá-la e perceber o que se passava. — Eu não te faço mal. Quero ajudar-te. O que tens? Como te chamas? Com muito medo a raposinha foi falando: — Acho que o meu nome é Rute, mas só me chamavam deficiente. Sabes, eu não nasci igual aos meus três irmãos raposos. Tenho muita dificuldade em mexer as patas e estou sempre a cair e a ficar para trás nas caminhadas. Desta vez, eles aborreceram-se e abandonaram-me. Disseram-me coisas horríveis, que não era como eles, que não servia para nada, que era deficiente! Um autêntico embaraço! O que vou fazer agora? A Rita começou a pensar e perguntou à raposa: — Não podes andar bem, mas podes fazer outras coisas, não podes? A raposa Rute gostou da Rita e, mais calma, respondeu: — Gostava muito de aprender a ler e a escrever, para poder criar histórias que distraíssem os meus conhecidos e amigos. Assim, não precisava de me mover muito. Eles traziam-me comida e eu contava- lhes uma história. A menina, contente por a raposinha não ter medo dela, disse: — Boa! Ótima ideia! Vou ajudar-te. Vou ensinar-te a ler e a escrever. Enquanto aprendes, podes memorizar histórias e contá-las. Eu escrevo-te algumas. Começa já a pensar na primeira. Vou procurar uma tábua onde anunciar as tuas histórias e convidar os animais a virem ouvi-las. E continuou: — Que nome queres pôr ao espaço onde vais contar as histórias? — Cantinho da Fantasia. Parece-te bem? – perguntou a raposa Rute. — Muito fixe. Vais levá-los para um mundo de fantasia! — exclamou a menina. — Não é para isso, também, que servem as histórias? — perguntou a raposa. — Muito bem! És uma raposa esperta. Mãos à obra! — tornou a Rita a dizer entusiasmada. A tábua ficou feita em pouco tempo e pendurada numa árvore que podia ser vista por muitos animais. No dia seguinte apareceram, muito a medo, os primeiros ouvintes. A Rute contou a primeira história. Todos ficaram encantados e o Cantinho da Fantasia depressa se tornou conhecido. Os irmãos da raposa, quando ouviram falar num animal que contava lindas histórias, também foram ao Cantinho da Fantasia e não queriam acreditar que a irmã que tinham abandonado era a autora de tanto sucesso. Quando viu os irmãos no meio de tantos animais, a raposa começou: — Era uma vez uma raposa diferente dos seus irmãos porque não conseguia mexer-se como eles e acompanhá-los nas suas caminhadas. Em vez de a apoiar, eles deixaram-na sozinha no bosque… A raposinha não teve tempo de prosseguir. Ao perceberem o que ela estava a contar, os irmãos correram a abraçá-la e a pedir-lhe perdão. E passaram a ser os ouvintes mais assíduos das histórias que a irmã não se cansava de inventar. Teresa Cavaco Associação “NÓS COM A DEFICIÊNCIA RUMO À CIDADANIA” Porto, 2011 (adaptação)