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CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L149y
Lacour, Nina
Yerba buena [recurso eletrônico] / Nina Lacour; tradução Luisa Geisler. – 1. ed. –
Rio de Janeiro: Record, 2023.
recurso digital
Produzido no Brasil
ISBN 978-65-5587-826-4
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Ela não soube o que sentir quando viu os carros parados em frente à
sua casa. Se seria melhor mais um jantar apenas com ela e Spencer,
ou se as vozes altas do seu pai e dos amigos dele poderiam abafar
seu pavor.
Apesar de estarem na sala de estar quando ela entrou, havia
silêncio na casa. Passava na televisão o jornal local, o volume baixo.
Dois caras, irmãos cujos nomes ela sempre confundia, estavam
sentados na janela jogando cartas. Desviaram o olhar da partida
quando ela entrou, mas logo se voltaram para as cartas que tinham
nas mãos. Nunca falaram com ela. Mas Eugene estava no sofá.
— Oi — disse ele. — Oi, Sara. Senta com a gente.
Ele deu uma batidinha ao lado no assento, e Sara afundou no
sofá, notou como o corpo estava cansado de tanto procurar e limpar.
Ela se inclinou para a frente, apoiou a cabeça nas mãos.
— Mal tenho te visto ultimamente. Cresceu e ficou ocupada
demais para mim, foi isso?
Ela conhecia Eugene desde sempre. A mãe dela e a esposa dele
foram melhores amigas, mas então sua mãe morrera, e a esposa de
Eugene o largou.
— Uma amiga minha desapareceu — disse Sara, enterrando
ainda mais a cabeça, os olhos ainda fechados.
— Desapareceu — disse Eugene. — Eita.
A sala silenciou de novo, tensa com algo, mas não tinha nada a
ver com Sara. Ela estava exausta demais para se importar.
— A gente procurou por todo canto.
Ela sentiu uma mudança de peso no sofá. Quando abriu os olhos,
Eugene ainda estava ali, uma cerveja nova na mão.
— Bem. — Ele bebericou. — Ela vai aparecer. — Outro momento
passou. — Você sabe que pode falar comigo se precisar de alguma
coisa, não sabe?
Ela olhou para ele. Fez que sim com a cabeça.
— Bom — disse Eugene. Deu um tapinha nas costas dela.
Naquele instante, as luzes de uma viatura iluminaram a parede.
— É a porra do Larry — disse da janela um dos jogadores. Sara
ouviu a porta do carro bater e os passos de Larry na calçada. Os
homens ficaram tensos como sempre ficavam quando ele aparecia.
Tinham crescido juntos, mas a farda de Larry os dividia.
O pai de Sara abriu a porta, mas não o convidou para entrar.
— Como posso ajudar?
— Oi, Jack. Estamos procurando uma amiga da sua filha. Tenho
algumas perguntas para ela.
— Para a Sara?
— Ela está em casa?
O pai deu um passo para o lado para dar espaço para ela no
batente.
Sara respondeu às perguntas do policial — a última vez que viu
Annie, se lembrava de que roupas Annie estava usando. Ela se
lembrava de tudo, é claro, ainda não tirava os olhos dela, mesmo
depois de mais de dois anos juntas. Se Larry tivesse perguntado a
natureza do relacionamento delas, teria dito a verdade. Ela não sabia
ao certo por que estavam escondendo. Teve gente na escola que saiu
do armário e não foi terrível para eles. Mas ela e Annie se
acostumaram ao segredo. Uma coisa sagrada entre as duas. Queriam
guardá-lo só entre elas.
— Você sabe de alguma atividade perigosa em que Annie poderia
estar envolvida?
Annie à luz de velas, a marca no braço. Talvez devesse contar.
Mas poderia não ser nada, e Sara não tinha como ter certeza.
— Não — disse ela, e esperou que Jack acreditasse.
— E drogas?
Não era nada de mais. Sara fez que não com a cabeça.
Larry se virou para Jack.
— Você tem algum motivo para discordar?
O rosto do seu pai, impassível. Seu tom firme como sempre.
— Por que caralhos eu ia saber qualquer coisa a respeito disso?
— Só me certificando.
Larry foi embora, e o pai dela, Eugene e os outros caras abriram
outra rodada de cervejas. Sara verificou como Spencer estava, no fim
do corredor, dormindo pesado na cama. Ela pegou as chaves reserva
na gaveta da cozinha e parou na sala de estar.
— Preciso pegar a caminhonete emprestada. Tudo bem?
O pai lhe deu um único aceno de cabeça.
— Toma cuidado na rua — disse ele.
Depois que a mãe de Sara morreu, eles voltaram para casa, apenas
três agora. Um garotinho que mal havia deixado de ser criancinha,
que mesmo as menores das tristezas deixavam inconsolável: o leite
estragado no copo jogado fora, um buraco na meia, um brinquedo
desaparecido. Um homem que fazia piada e ria com os amigos, mas
que chorava tão alto no quarto à noite que acordava os filhos. Uma
garotinha de doze anos, cada parte dela ainda tenra e irregular. Doía
comer e doía sentir fome. Estar acordada era estar em desespero,
mas seus músculos doíam pela inércia.
Então, uma noite, Spencer entrou no quarto e se aninhou nela. Ela
estava acostumada a estar próxima dele, fazer carinho no cabelo
quando ele chorava, beijar sua testa. Mas naquela noite foi diferente.
Ele descansou o rosto entre as omoplatas dela. Ela sentia o abdômen
dele subir e descer nas suas costas. Ela sentiu o bater contínuo de
seus corações.
Ele precisa de mim. Ele precisa de mim. Ele precisa de mim.
Eu preciso dele. Eu preciso dele. Eu preciso dele.
Ele a trouxe de volta à vida.
Ao voltar para casa do estacionamento do Pink Elephant, os
amigos do pai já tinham ido, ela foi para o quarto de Spencer e subiu
na cama.
— Oi — resmungou ele.
— Posso dormir aqui? — perguntou ela. O rio. Ela não conseguia
tirar da cabeça.
Ele fez que sim com a cabeça, e ela se virou. Ela ajeitou o corpo
até sentir a barriga dele nas costas. Esperou pela respiração dele.
Esperou para sentir o coração batendo. Esperava que ele ainda
tivesse o poder de curá-la. Mas seu medo era uma coisa selvagem e
perigosa. O corpo dela tremia com ele. Spencer não notou. Assim
que ele pegou no sono de novo, ela voltou para o próprio quarto.
Um avental hospitalar com estampa de losangos. A lesma e as
sequoias. A sensação de ser abraçada, e a sensação depois disso. A
esperança, esvaziando.
O pânico foi tão poderoso que ela achou que ia ser esmagada por
ele, não sabia como ficar imóvel. O quarto parecia grande demais
para ela, cheio demais de ar. Ela precisava ser contida. Tirou algumas
caixas do closet para abrir espaço, levou as cobertas para dentro.
Fechou a porta e gritou no travesseiro. Ficou deitada no escuro,
camisas e vestidos pequenos demais pendurados acima dela. Queria
ficar lá, se sentia mais segura, mas ouviu uma batida à porta.
Encontrou o pai à espera. Ele olhou para o quarto além dela: a
cama desfeita, os cobertores escapulindo do closet.
— Estava dormindo ali? — perguntou ele.
Ela estava em carne viva de medo e ali estava o pai, e ela queria
contar a verdade.
— Estou com medo — disse ela.
Ele colocou a mão no seu ombro. Ele não a tocava havia muito
tempo. Sara sentiu o tremor da memória, algo enterrado muito
tempo atrás — um tempo anterior a Spencer, anterior à morte,
quando ela era uma garotinha que ria com os pais à luz brilhante do
sol no banco de um rio.
Muito tempo antes de ela saber que um rio poderia engolir uma
pessoa inteira.
Ela disse:
— Vão fazer uma dragagem do rio de manhã.
Quando olhou para ele de novo, as bochechas do pai estavam
molhadas, os olhos fechados.
— Pai — disse ela. — Vamos procurar por ela, tá bom? Vamos sair
de carro e encontrar a Annie.
Ela sentiu o calor da mão dele, sabia que ele poderia ajudá-la. E
então ele apertou o ombro dela e soltou.
— Olha só — disse ele. — Garotas da sua idade... elas não
desaparecem do nada. Ela foi embora e fim da história.
— A Annie não.
Ele inspirou, lançou um olhar para o corredor escuro. Ela queria
que ele a encarasse. Sentia que poderia desaparecer se ele não
estivesse olhando. Fica comigo, queria dizer. Me ajuda a passar por isso.
— Eu moro aqui nessa cidade há muito tempo — disse ele. —
Também perdi amigos. Você segue em frente. Você aprende.
Mas a boca de Annie beijando a sua, a cabeça de Annie
descansando no seu pescoço...
— A gente é mais que amiga — disse Sara, e os olhos dele
dispararam para ela, surpresos.
Ela tentou de novo.
— Me ajuda a achar a Annie.
Ele deu meia-volta e foi até a frente da casa. Ela disse a si mesma
que ele estava procurando as chaves. Talvez preparando café para
ficar acordado durante a viagem. Ele estava procurando os sapatos e
voltaria e diria “Vamos lá”. Ela esperou, imaginando como seria a
sensação de não estar sozinha.
Ela foi ao banheiro, voltou para o quarto, com a certeza de que ia
encontrar o pai esperando por ela, pronto para sair. Mas ele não
estava lá. Ele também não estava na sala de estar.
Ele tinha partido.
Ela foi apagar a luz da cozinha e viu algo familiar sobre a mesa.
As nuvens borradas de Spencer, as sequoias de Sara. E agora um rio
também, com uma garota — Annie — boiando com o rosto virado
para a água. Sara tomou um susto, largou o desenho, não quis olhar.
Mas a imagem ficou com ela mesmo assim. O cabelo cacheado de
Annie, a jaqueta jeans, tudo nas linhas cuidadosas do pai.
Ela voltou para o closet e se fechou.
***
***
***
***
Me busca?
Sem problema.
***
Mais tarde, tudo em que Emilie conseguia pensar era numa noite
quando tinha dezenove anos, morando com Alice no seu primeiro
apartamento. Ela e Alice dividiam as contas de água e luz. Faziam
listas de compras e cozinhavam panelas enormes de chili nas noites
de domingo para os outros universitários do prédio. Ela se sentia
capaz e confiante — motivada pela responsabilidade da vida adulta
—, quando Colette voltou da terceira passagem pela reabilitação.
Ela e Alice pensaram que seria divertido recebê-la, beber chá e se
sentar no sofá surrado delas. Só passar um tempo. Mas Emilie e
Colette não haviam passado tempo juntas por escolha em anos, e
tudo pareceu desencaixado desde o momento em que Emilie abriu a
porta e convidou Colette para entrar. Emilie só conseguia pensar em
como Colette estava morando na casa de infância delas, passando os
dias no quarto de infância enquanto o do lado, o quarto de Emilie,
ficava vazio.
Alice trouxe alguns biscoitos, serviu-os na mesinha de centro
manchada de água que tinham encontrado na rua. Emilie estava
ciente das imperfeições do apartamento, da simplicidade, do mau
estado da mobília resgatada das ruas. Mas, pela primeira vez,
naquele momento, estava contente em tê-lo. Como se os buracos de
prego nas paredes, a tinta irregular no teto, o tecido surrado do sofá,
tudo aquilo pudesse suavizar o sentimento terrível de que ela havia
ultrapassado sua irmã mais velha.
Colette estava linda, sentada no sofá de suéter, embora não
estivesse frio. Ela sempre parecia linda para Emilie, mesmo nos seus
piores momentos com as drogas. Mas, depois da reabilitação, Colette
preenchia melhor as roupas, o branco dos seus olhos estava mais
claro, a pele, em seu adorável marrom-claro, um rosado nas
bochechas de novo.
Na exuberância das tarefas domésticas, Emilie havia plantado
ervas num longo vaso retangular que mantinha no peitoril da janela.
Ela ofereceu erva-cidreira, hortelã, ou uma mistura dos dois.
— Ficam muito bons juntos — disse Alice. — Ainda mais com
mel.
— Pode ser — disse Colette. — Vou provar.
Emilie sentia tamanho orgulho, servindo chá para Colette numa
xícara azul-marinho que ela própria havia comprado, num
apartamento com seu próprio nome no contrato. Mas também a
culpa, como se os fatos de sua vida fossem atos de traição. Ela não
conseguia coordenar os dois sentimentos.
Ela iria se concentrar no que estivesse mais à mão — seria melhor
assim.
— Então, quais são os seus planos? — perguntou ela a Colette. —
Está procurando emprego?
Colette se apertou mais no suéter.
— O café Portfolio está contratando baristas. Eles mesmos
treinam. Eu me candidatei.
— Vai ser ótimo — disse Alice. — A gente vai lá estudar às vezes.
Você pode preparar os nossos lattes.
— Bom, eu nem fiz a entrevista ainda — disse Colette. — Mas,
com sorte, seria legal.
— Você chegou a pensar em transferir os seus créditos da
faculdade comunitária para a de Long Beach? É uma faculdade e
tanto. A gente adora. Você não adora, Em?
Emilie fez que sim com um aceno de cabeça. Ela de fato adorava.
Adorava o anonimato, tantos alunos, todos correndo de um lugar
para o outro. Adorava como o Jardim Japonês era distante disso,
como era silencioso. Com frequência, ela se sentava num banco nele
à sombra, para ler, fazia pausas para observar as carpas nadando sob
as vitórias-régias. Ela adorava as aulas, o conhecimento esotérico dos
professores. Adorava, em especial, quando saíam do personagem,
faziam menções a suas famílias ou campos de estudo. Quando
colocavam de lado o manual e revelavam suas paixões: ela vivia
para esses momentos. Emilie sabia que ela, também, se apaixonaria
por algo um dia.
Ela havia ido à cozinha esquentar mais água, voltou e encontrou
Colette com ar de cansada, esfregando o espaço entre as
sobrancelhas. Puxar assunto sobre o futuro tinha sido má ideia,
Emilie se deu conta. Deveria ter mantido todas elas no presente.
Deveriam ter falado de música ou televisão.
— Olha só — disse Emilie, sentando-se ao lado de Colette. —
Sabe, esquece tudo que a gente andou falando. Você está em casa
agora, então só precisa se permitir descansar. Tem bastante tempo
para começar a estudar ou arrumar um emprego ou qualquer coisa
mais tarde.
Ela pousou a mão no joelho de Colette, que se afastou de pronto.
— Você está me tratando que nem criança. Pode parar, por favor?
Emilie ficou sem fôlego. Vários meses se passaram sem que as
duas se vissem, e, quando se reencontraram, Emilie tomou cuidado
de não falar demais por medo de dizer a coisa errada.
Ela ainda tomava cuidado agora, tantos anos depois.
Olhou pela janela, o letreiro de vagas do hotel do outro lado da
rua brilhando forte.
A minha vida adulta inteira, pensou ela, eu fiquei esperando que a
minha irmã me amasse de novo.
Ela não diria nada a Colette ou aos pais sobre o que tinha acabado
de ver. O vício de Colette era dela própria, suas escolhas, também. O
papel de Emilie não era, nunca fora, se meter.
***
Manhã silenciosa.
Café preto, ovos, torrada.
Eles se sentaram lado a lado na mesa da cozinha, com vista para o
cânion. À tarde, deram uma longa caminhada, passeando pelas
trilhas mais seguras, sem menção de voltar ao lugar que ele queria
que ela visse. Voltaram para casa para comer sanduíches e então era
hora de ir.
Fazer a mala foi fácil. Ele apagou todos os vestígios dos dois.
Quando abriu um armário e tirou um saco plástico de lixo foi que ela
se deu conta: esta casa era dele. Uma casa de férias, que não era
grande o suficiente para a família de quatro pessoas, mais
confortável para dois. Emilie se perguntou se Jacob e a esposa
deixavam as crianças com amigos e iam até lá para fins de semana
românticos. Ela se perguntou se ainda dormiam juntos ou se esse era
o motivo pelo qual ela estava ali. Ou talvez eles trepassem o tempo
todo; talvez ela servisse para outra coisa.
Ele disse que conhecia um lugar ótimo para pegar café para a
viagem de volta. Estacionou em frente e soltaram os cintos de
segurança. Ela conseguia vislumbrar um espaço bem claro e
aconchegante.
— Já volto — disse ele.
— Vou entrar também.
— Acho que é melhor se só eu for.
— Ah.
Ele olhou para ela:
— Podemos deixar para lá.
— Não. Café é uma boa ideia.
Observou-o entrar e depois sacou o celular. Tinha sinal ali; não
tinha no cânion. Digitou o endereço da casa. Vendida seis meses
antes para Jacob Lowell e Lia Michaels, por pouco mais de um
milhão de dólares. Ele estava conversando com o barista naquele
momento. Parou um instante a uma mesa perto do balcão para
colocar as tampas nos cafés e ela viu que ele estava sorrindo.
Ninguém saberia onde encontrar a gente. Ninguém sabe onde a gente
está.
Quão idiota foi por dizer isso. Era a casa de Jacob. Se algo desse
errado, sua esposa saberia exatamente onde procurar. Eles
provavelmente tinham feito aquela mesma caminhada juntos, com
os filhos. Visto a beleza do cânion e não o terror.
Era apenas Emilie que ninguém saberia onde encontrar.
Apenas Emilie, que não pertencia àquilo.
Caía café no pulso dela durante a viagem pela estrada esburacada
até a autoestrada e ela não fez nada, mesmo que queimasse, como se
tentar impedi-lo fosse inútil, como se ela fosse forçada a tolerá-lo até
que uma quantidade suficiente transbordasse e ele esfriasse o
suficiente para beber. Jacob estava falando, mas ela não conseguia
ouvi-lo. Em algum momento, ele ligou o rádio.
Estavam na autoestrada, viajando rápido. Ele descansou a mão na
coxa dela por alguns quilômetros, mas depois tirou. A última música
acabou e então tudo ficou silencioso.
Ela disse:
— Eu me pergunto que desculpa vou dar para o meu professor
amanhã de manhã quando não puder entregar um ensaio que vale
metade da minha nota.
Ela olhava para a frente, fingiu não notar o olhar dele.
— Eu estava sabendo desse ensaio? — perguntou ele.
Ela deu de ombros.
— Andei falando dele. Talvez você não tenha prestado atenção.
— Não — disse ele. — Já sei. Aquele livro que você estava lendo
no café da manhã. De passagem.
Ela se surpreendeu, mas não quis lhe dar crédito. A estrada ficava
mais estéril à frente deles, nada além do cinza.
— Talvez eu deva contar para o meu professor que o homem com
quem tenho um caso de meses me convidou para uma viagem com
ele pela primeira vez na história.
— Você poderia ter me lembrado. Você poderia ter escrito o
ensaio lá.
— Hum. — Ela tentou imaginar a situação. Perdida digitando no
laptop enquanto ele cozinhava. Tentando decifrar as próprias
anotações ao se sentar diante da lareira. Nada de se vestir para o
jantar, nada de se despir depois. — Não consigo imaginar.
Ele suspirou. Estava exasperado com ela. Conseguia ouvir na voz
dele. Pela primeira vez em meses, ela se lembrou de como Olivia
havia se cansado dos fatos simples de sua vida. Que ela dividia o
apartamento, que ainda estava na faculdade. Ele suspirou de novo.
— O quê? — perguntou ela.
— O que você está fazendo?
— Não sei — disse ela.
Foi tão difícil com Olivia no fim. Emilie se perguntava se seria
mais fácil desta vez.
Passaram o restante da viagem em silêncio. Saíram da
autoestrada, e a esterilidade cedeu lugar a um pôr do sol elétrico de
Los Angeles. As janelas estavam fechadas e ela pensou em como o ar
que ela respirava havia, momentos antes, preenchido os pulmões
dele.
— Acho que a gente devia falar sobre isso.
— Falar sobre o quê?
— Vamos só ser honestos com o que estamos fazendo. Você vai
para casa para a sua esposa agora. Lia. E os seus dois meninos que eu
não sei o nome, mas que têm nove e seis anos.
Jacob desligou o motor do carro e ficou quieto de súbito, mais
quieto do que a rua jamais havia estado.
— Sete — disse ele. — James acabou de completar sete.
— Qual o nome do mais velho?
Jacob pigarreou. Emilie olhou para a mão dele, esfregando um fio
solto no volante com o dedão. Olhou para o rosto dele.
— Liam — disse ele.
— Que nome bonito — disse ela, sentindo-se amolecer. — Os dois
são.
— Essa foi uma péssima ideia. Viajar. Eu cometi um erro.
— Foi, acho que foi. Acho que você deveria ir para casa agora.
Para James e Liam. E ensinar os dois a não fazer escolhas péssimas.
A nunca se esconder.
O céu estava um cor-de-rosa quente, brilhante de poluição, e
Emilie precisava sair do carro.
— Deixa eu te acompanhar — disse ele.
Ela abriu a porta do carro e ele fez o mesmo, seguindo-a escada
acima até o apartamento dela. Ele deixou a bolsa dela no chão, ela
largou as chaves na mesa, e eles pararam, encarando-se.
— Sinto que acabou — disse ele. — E não sei como isso
aconteceu. — Ele passou a mão pelo rosto. Ela viu que ele estava
chorando.
Ela nem sequer desejara isso com ele, lembrou. Não de início.
Estava contente em apenas se sentar à mesa grande, trabalhar junto,
com café. Não, não contente. Exultante. Ela não precisava de nada
além daquilo.
A mesa de Jacob e Emilie.
Durante todo aquele tempo, ela só queria se sentir especial. Mas
ver a vida dele — com seu restaurante, seu chalé e sua família, com
seu carro, sua casa de férias e o café onde com certeza ele parava
toda vez que visitava o cânion — mostrava como ela tornara a
própria vida menor. Tinha muito pouco quando começaram. Agora,
de alguma forma, tinha ainda menos.
Emilie cruzou os braços até que por fim — depois de ele a abraçar
e soltar, depois de dizer que não precisava ser o fim, depois de
perguntar se tinha alguém que ele poderia chamar para cuidar dela,
depois de olhar a hora de novo e de novo, dizendo que precisava ir
— ela fez que sim, e ele a deixou.
Ela achava que a sua vida estava à beira de uma mudança, mas não
estava. Achava que era uma pessoa completa, e descobriu que estava
errada. A incompletude pairou e se expandiu até que ela mal
conseguia abrir os olhos. Até mesmo fazer os arranjos de flores por
dinheiro lhe pesava muito, depois que Meredith deixou que ela
trocasse o Yerba Buena por um bistrô em Echo Park. Toda a força de
que precisava para cortar os galhos. A energia de sorrir e
cumprimentar pessoas. A tristeza estranha de olhar para a beleza
que não a emocionava mais. O calor de outro verão, dia após dia
implacável.
Emilie quis mudar de ideia de novo, mudar a especialização de
literatura para outra coisa, mas fazer isso seria cair na própria
armadilha, a que ela seguia armando para si. Não podia mudar de
curso de novo — até mesmo ela sabia isso.
Marcou uma reunião com um conselheiro acadêmico.
— Eu nunca vi um histórico como esse — disse ele, maravilhado,
encarando o computador. — Você está a exatamente três créditos de
distância de um diploma em estudos de gênero, estudos étnicos,
design ou literatura. Botânica é outra questão... você precisaria de
mais umas aulas de ciências para essa. Você sabe no que quer o seu
diploma?
Ela deu de ombros.
— Tá bom — disse ele. — Quem sabe não olhamos a programação
de cursos para o outono e você pode escolher a aula que funciona
melhor?
— Pode ser.
Ele lhe deu tantas escolhas, mas todas pareciam terrivelmente
chatas, ou terrivelmente difíceis. Ele leu as descrições de cada uma,
perguntando a preferência de horário, como se ela tivesse uma vida
para planejar ao redor das aulas.
— E se fosse literatura estadunidense, ou alguma coisa assim? —
disse ela por fim. Assim, tudo que ela precisaria fazer seria ler e
escrever uns artigos.
— Literatura estadunidense? Claro — Ele abriu uma nova janela,
rolou um pouco. — Terças e quintas às três da tarde?
— Ótimo — disse ela.
E então ela leu Frank O’Hara.
Zora Neale Hurston.
Sylvia Plath.
Ela leu peças de Tennessee Williams e ensaios de James Baldwin.
Ela releu Gatsby pela sexta vez — aquela cópia muito amada com sua
capa verde desbotada — e, entre as aulas e as páginas, ela se
arrastava até a cama e dormia.
Emilie se recusou a participar da pompa de formatura, mas
concordou em deixar a mãe emoldurar o diploma. Surpreendeu-se
com o sentimento de conquista que sentiu ao abri-lo.
Estava terminado. Ela saiu da floricultura. E então não havia mais
nada para ela fazer.
Bas ligou para ela uma noite, compartilhando as notícias dos
médicos de Claire. Agressivo demais desta vez, nada a ser feito.
Claire queria voltar para casa — ficar em casa até o fim —, então ele
estava ligando para ver se Emilie poderia ajudar.
— Você ia precisar morar com ela, mas as enfermeiras vão estar lá
todo dia para cuidar dela — disse ele. — A gente pode cobrir os seus
gastos, já que isso significaria não arrumar outro emprego. Posso
cobrir o aluguel do seu apartamento também. Você poderia ficar no
apartamento do segundo andar da garagem. Assim, teria alguma
privacidade.
— Não preciso ficar com o meu apartamento — disse ela, o
telefone pressionado forte na orelha. Ela correu os olhos pelo espaço
triste. Ele havia se tornado uma lembrança de todos os seus
fracassos. Como ela o tinha achado especial naquela noite com Jacob,
Alice e Pablo?
— Nós sempre podemos contratar uma cuidadora — continuou
Bas. — Não queremos que faça nada que não queira.
Mas ela queria fazer isso. Sem dúvida. Emilie ansiava por
propósito, e ali estava.
Deixou o apartamento num sábado. Pablo a ajudou a descer seus
poucos móveis pela escada, deixando tudo na rua para alguém
pegar, exceto pela poltrona verde e pela estante. Grátis para um bom
lar, escreveu Pablo no verso de uma folha de um dos ensaios de
Emilie. Ele colocou com fita adesiva na mesinha de cabeceira.
— E se a pessoa que quiser essas coisas morar num lar ruim? —
perguntou Emilie.
— Aí estão sem sorte, eu acho — disse ele.
— Talvez os móveis estejam amaldiçoados. E se o lar da pessoa
for bom, mas depois de pegar essas coisas tudo ficar ruim?
— Em — disse ele, e colocou a mão no seu ombro.
— Era só brincadeira.
Ela olhou para o outro lado da rua, para o hotel. O letreiro de
vagas estava como sempre.
— Tchau, hotel — disse ela. — Já vai tarde essa porra. — Ela deu
a volta e ergueu a cabeça para suas janelas. — Só faltam umas caixas.
Você se importa de pegar?
Pablo balançou a cabeça.
— Nem pensar. É você quem precisa dar um ponto-final nisso.
Então marcharam juntos escada acima. Pablo empilhou as duas
caixas e as levantou.
— Vou deixar você aqui — disse ele. — Fica o tempo que precisar.
Faz sua despedida.
Vazio, o conjugado não parecia tão ruim. Ela quase conseguia se
lembrar da primeira vez que o vira, quando o vazio dele era cheio de
promessas e ela tinha planos de pintar as paredes com alguma cor
vibrante. Ela se lembrou — de súbito — de que tinha dito ao
proprietário que ele poderia deixar as paredes da cor que estavam,
só com a primeira demão de tinta. Alice tinha acabado de voltar do
Marrocos, e Emilie vira fotos de hotéis, lojas e casas, maravilhada
com as cores.
Poderia ter pintado as paredes de rosa-choque. Poderia ter
enchido o conjugado de plantas incontroláveis e preparado saladas
toda tarde com vegetais de cores vibrantes e molhos fortes. Poderia
ter consertado o toca-discos e colocado música alta. Poderia ter
arrancado a tinta preta das janelas e dado festas e jantares
barulhentos, se bronzeado na escada lateral da saída de incêndio.
Emilie poderia ter sido o tipo de pessoa que não se importa de ser
observada pela janela à noite — ela poderia ter vivido esse tipo de
vida.
Onde ela havia errado?
Agora seu tempo havia acabado e tinha que se despedir de uma
forma que significasse algo. Sabia que Pablo estava pensando em
Jacob quando disse “ponto-final”. Havia uma quantidade muito
limitada de luto possível quando se terminava com alguém que
nunca fora dela de fato. Disseram isso para ela naquela noite, bem
ali, quando foram visitá-la sem aviso prévio para jogar verdades na
sua cara.
— A gente está com saudade — dissera Alice.
— Tipo, muita — acrescentara Pablo.
Mas ela não tinha mais nada a dizer, então colocou as chaves na
bancada e fechou a porta.
Emilie tinha lembranças da infância do apartamento na garagem. Ela
e Colette ficaram lá algumas vezes porque era novidade, os avós
trazendo o jantar, colocando vídeos no videocassete portátil. Mas
fazia anos que ela não entrava lá. Nem ninguém, ao que parecia. O
piso de linóleo estava rachado e descascando, teias de aranha por
todo lado. Os quartos fediam a molhado, mas ao menos era um
lugar novo.
— Vamos deixar a porta aberta — disse Pablo. — Deixar arejar.
Carregaram a poltrona pelo quintal, rasgaram caixas e encheram
a estante com lombadas verdes. Tiraram os lençóis das camas e os
lavaram. Enquanto Pablo varria as teias de aranha, Emilie colocou
seus cristais no peitoril das janelas.
— Você devia tirar a poeira disso antes — disse Pablo, mas ela só
deu de ombros. Não conseguia acreditar que havia conquistado
tanto num único dia. Já sentia a derrota se apressando para voltar.
— Você poderia morar na casa, não?
— Acho que nós duas queremos ter o nosso próprio espaço —
disse ela.
Com um cabo de vassoura, ele bateu numa porção descolorida do
teto.
— Tenho um pouco de medo de que isso possa colapsar.
— Duvido que isso me mate.
— Bom, claro — disse ele. — Eu também duvido. Mas, mesmo
assim, é inverno. Se chover, não vai ter infiltração?
— Vocês estão aí dentro?
Alice apareceu no portal, recém-saída do trabalho, chegando com
tacos, como prometido, e Emilie se sentiu grata pela interrupção.
— Vou fazer o tour — disse ela. — Vai levar trinta segundos. Aí a
gente pode falar de decoração durante o almoço.
Alice fez que sim e deixou a bolsa do lado de fora.
— Aqui está o banheiro — disse Emilie, e Alice entrou.
— Só tem esse toalheiro? — perguntou ela, apontando para um
plástico quebrado.
— Só. Aqui está a sala de estar.
Alice notou a mancha no teto e ficou boquiaberta.
— O quê? — disse Emilie.
Alice apontou.
— Apavorante, né? — disse Pablo.
— A gente já discutiu isso. Aqui tem a cozinha. É só um frigobar,
mas eu devo cozinhar na casa na maior parte do tempo, de qualquer
forma. Não que eu cozinhe. E aqui está o quarto.
Alice atravessou o quartinho até a única janela. Ela moveu a
cortina dura para o lado: barras de metal, uma cerca.
— Vamos comer — disse Pablo. — Estou morrendo de fome.
Eles se sentaram a uma mesinha plástica verde no pátio do lado
de fora do apartamento. Havia uma cerca parcial que os separava do
jardim mais espaçoso de Claire, buganvílias de cores vivas em pleno
desabrochar.
— Esse quintal é bem legal, não é? — disse Emilie. — Eu podia
comprar uma espreguiçadeira ou algo assim.
— Talvez você pudesse colocar as latas de lixo em outro lugar —
disse Pablo.
— Bom, é óbvio. Ninguém vem aqui tem uns quinze anos, pelo
menos. É só por isso que as latas estão aqui. — Ela se virou para
Alice. — Então, decoração — disse ela. — Andei pensando num
monte de cores brilhantes e plantas.
— Está de brincadeira, né? — disse Alice.
— Não — disse Emilie. — Estou falando sério.
— Você não pode se acomodar aqui. Já é difícil para mim te
imaginar ficando aqui temporariamente.
— Mas eu quero tirar o máximo da experiência.
— Em — Alice abaixou seu taco. Sua testa se franziu de
preocupação. — Em. Eu sinto muito. Mas você não pode morar aqui.
Emilie empurrou o prato para o lado. Baixou o rosto sobre a
mesa, o plástico quente na bochecha.
— Vocês sabem a sensação de, tipo... de andar por uma neblina?
Só que é mais densa, é mais uma massa que uma neblina? Mal dá
para sair da cama. Formar palavras é difícil.
— Acho que sim — disse Pablo. — Acho que já me senti assim
algumas vezes.
— Do que você está falando? — perguntou Alice.
— É assim que me sinto o tempo todo.
— Desde quando?
— Não sei. Desde sempre? Não lembro.
— Emilie — disse Alice. — Você está falando sério?
— Eu só quero paredes brilhantes, tá bom? Preciso de alguma
coisa que me tire disso.
Então Alice e Emilie foram à loja de materiais de construção
comprar tinta enquanto Pablo dirigia até em casa para buscar rolos e
pincéis. Elas voltaram com cor-de-rosa para a cozinha, amarelo para
o quarto, verde para a sala de estar.
— Puta merda — disse Pablo quando o primeiro toque da tinta
tocou a parede do quarto. — Qual é o nome dessa cor? Na verdade,
deixa para lá... não importa. O nome verdadeiro dessa cor é Amarelo
Para Alegrar a Porra Toda.
Passaram o restante do dia pintando.
— A gente se esqueceu de comprar fita-crepe — disse Emilie, e os
três inclinaram a cabeça para olhar as linhas onde as paredes
encontravam o teto amarelado e então, do outro lado do teto, para as
rachaduras e os pontos escuros.
— Que bom que nunca chove — disse Alice. Eles olharam para a
moldura das portas, um pouco afastadas das paredes, pregos
expostos fazendo o melhor que podiam.
— Ah, bom — disse Emilie, subindo na escada que tinha
encontrado na garagem, e tentou pintar linhas retas perto das
quinas.
Emilie sentia falta do restaurante. Não dos dias e das noites com
Jacob, mas do lugar. Da comida.
O luto a fazia desejá-lo ainda mais.
Estava preparando a venda da propriedade de Claire, sentada à
mesa de jantar com o rádio sintonizado na estação pública, e lá
estava a voz de Jacob, um dos chefs numa mesa-redonda que
discutia segurança alimentar num congresso em Nova York. Ela
passou um tempo prestando atenção, enquanto organizava uma
caixa de joias de Claire, e, no fim do programa, o apresentador
anunciou que o painel inteiro estaria num importante restaurante de
Manhattan naquela noite para um evento beneficente. Ela trocou de
estação e seguiu para a caixa de bijuterias seguinte com diamantes e
rubis falsos.
Ele estava do outro lado do país.
Emilie pensou nos drinques, nas saladas, no pão quente.
Cederia aos seus desejos e se daria o presente de um jantar mais
tarde para uma pessoa só no bar.
Naqueles dias finais da vida de Claire, ela havia dormido na casa,
no sofá-cama do antigo escritório do avô. Mas, agora que Claire
havia partido, a perda parecia próxima demais. O vazio, as cartas, as
fotos. Melhor voltar para o apartamento na garagem com a sala de
estar amarelo brilhante. Melhor pensar em Pablo e Alice ajudando-a
a pintar do que pensar nos últimos dias de Claire.
Em geral, ela não se importava com os problemas do apartamento
da garagem, mas naquela noite, debaixo do chuveiro, refletiu sobre
os defeitos dele. As paredes plásticas do boxe se soltando nas
beiradas, o mofo no teto, o chuveiro tão baixo que ela tinha que se
inclinar para a frente para molhar o cabelo.
Enrolada numa toalha, Emilie foi até o quarto, o carpete
misteriosamente úmido embaixo dos pés. Escolheu um vestido
verde-floresta que tinha havia anos, sem manga, com um decote em
V profundo e, ao fechar os botões, imaginou paredes brancas e pisos
brilhantes e limpos, um armário com perfume de cedro e um espelho
de corpo inteiro sem distorções.
Foi dirigindo até o Yerba Buena com a sensação de que visitava
um velho amigo que a adorava. O tempo tinha passado, e eles não
telefonavam um para o outro tanto quanto deveriam, mas ainda se
conheciam bem.
A recepcionista era uma estranha, amigável do jeito que toda a
equipe do Yerba Buena era, um sorriso para Emilie, uma esperança
sincera de encontrar uma cadeira no bar para ela sem uma reserva e
então... A-há! Sucesso! Venha comigo. Emilie a seguiu, passou pela
mesa onde havia ficado tantas manhãs, passou pelas urnas de flores
arranjadas por outra pessoa, passou pelo bar da frente e foi para o
principal, nos fundos do restaurante, onde havia ornamentos de
vidro soprado artesanalmente suspensos em fila, brilhando
dourados, acima do bar de mármore polido. Mais uma vez foi
arrebatada pela beleza do restaurante. E se sentiu aliviada ao ver
tantos rostos desconhecidos. Além de um sorrisinho esperto de um
chef júnior que casualmente estava a uma mesa cumprimentando
amigos e um beijo rápido na bochecha de Megan, Emilie poderia ser
qualquer pessoa.
Ela pendurou a bolsa no gancho sob o bar e se sentou.
Então — um farfalhar de movimento. Sara voltando-se para ela,
cardápio e copo de água na mão. Emilie viu braços fortes e magros,
as tatuagens na parte interna de um deles, palavras ainda pequenas
demais para serem decifradas. O rosto: olhos de um azul profundo,
cílios loiros, desaparecendo, mais claros, nas pontas.
— Oi — disse Sara. Uma covinha quando sorria, dentes brancos e
um pouco tortos. — Já volto. — Tec-tec com a mão no cardápio, como
se estivesse batendo a uma porta. Virou-se rápido, pegou uma
garrafa no alto. Na curva do quadril, uma lasquinha de pele entre
blusa e cinto. Emilie a observou, o rosto em chamas.
Ela se lembrou de quando se conheceram — de como roubou
uma espiada de Sara no trabalho bem naquele bar, no restaurante
naquela manhã. Da sensação da mão direita de Sara na sua quando
se cumprimentaram. E de como Sara tinha ouvido falar da mesa de
café da manhã, feito a suposição lógica e parado o que poderia ter
começado.
Emilie se perguntava se Sara se lembrava dela também. Esperava
que não, para terem outra chance de se conhecerem.
Ela se voltou para o cardápio, mas Sara estava na sua visão
periférica, era tudo o que Emilie conseguia ver. Minutos se passaram
enquanto tentava não encará-la. Sabia que deveria ler o cardápio
para que Sara pudesse anotar o pedido ao voltar. Mas o retorno de
Sara agora parecia impossível; Emilie queria tanto isso. Havia dois
bartenders. Cada um era responsável por metade dos bancos.
Sempre funcionou dessa forma e, mesmo assim, Emilie se viu com
uma preocupação irracional de que mudassem de lugar.
Precisava se concentrar. Escolheria uma bebida. Melhor ainda,
escolheria duas e pediria a opinião de Sara para que ela ficasse mais
tempo na sua frente. Para que Emilie ouvisse mais sua voz. Talvez
elas se apresentassem, e Emilie tomaria a mão dela na sua mais uma
vez.
Mas, quando Sara reapareceu na frente de Emilie, ela se apoiou
no bar e perguntou:
— Quando você parou de fazer os arranjos?
Ah, pensou Emilie. Tá bom.
— Faz um tempo — disse ela. Quanto tempo fazia de fato? —
Quase um ano atrás.
Quis dizer: “Sou uma pessoa diferente agora.” Queria listar como
era diferente. O lance com Jacob tinha terminado. Havia concluído a
faculdade. Tinha saído do seu conjugado de merda — e ido para um
lugar ainda pior, isso é verdade, mas, mesmo assim, tinha saído de
lá. Havia acompanhado o declínio e a morte de uma pessoa que
amava. “Eu sou diferente. Eu sou diferente.”
— Então, o que vai querer? — perguntou Sara.
Emilie sorriu, baixou os olhos numa tentativa de esconder seus
pensamentos.
Sara riu.
— O quê?
Emilie balançou a cabeça.
— Nada — disse ela. — Eu só... — Ela apontou para a primeira
salada no cardápio sem ver o que era. — Isso — disse ela. — E um
Yerba Buena.
— Pode deixar.
Emilie não se importava mais com a comida; só queria um motivo
para ficar. Mas, quando Sara reapareceu com a tacinha cupê, o
Chartreuse até a borda, o raminho de hortelã que não fazia parte do
drinque antes, Emilie bebericou avidamente. Tinha sido bom quando
Jacob o preparara. Agora era extraordinário.
— Como está a bebida? — perguntou Sara, parando pouco
depois.
— Deliciosa — disse Emilie. — Eu adoro a hortelã também. — Ela
notou Sara analisando o copo. — No que está pensando? —
perguntou ela, sabendo que era uma pergunta íntima para uma
quase estranha.
— Que é hortelã — disse Sara. — Yerba buena seria melhor.
Emilie sorriu.
— Hortelã é mais intensa, mais dura. Yerba buena é um pouco
mais delicada. — Sara deu de ombros como que para afastar a ideia.
— É também mais difícil de encontrar. Então que seja hortelã.
Em seguida, veio com um prato de cerâmica com queijo de cabra,
ervilhas e rabanetes, trazidos por um garçom. Emilie comeu uma
garfada e então outra. Tinha se esquecido de quão deliciosa a comida
poderia ser. E comê-la a lembrava de um momento anterior a Jacob,
quando ele era apenas o dono famoso do restaurante favorito da sua
família, e ela era apenas ela mesma.
Terminou a salada e olhou para o cardápio de novo. O ragu não
estava nos pratos do dia, então ela teve que escolher outra coisa.
Achava que ainda estavam no inverno, mas lá estavam alcachofras,
cebolinhas, alho verde e damascos. O tempo havia passado e ela mal
notou. Escolheu um macarrão com favas, azeitonas e ricota salgada.
Sara voltou, cada retorno um milagre, e Emilie fez o pedido.
— Quer outro? — perguntou Sara, recolhendo a taça de Emilie.
— Quero. Mas alguma coisa diferente dessa vez.
— Vou pegar a carta de drinques.
Emilie balançou a cabeça. Esperou tempo suficiente até Sara ter
que olhar para ela, então disse, com franqueza:
— Quero o que você quiser me dar.
Observou o rosto de Sara mudar, e, quando o convite foi
registrado, ela deixou um breve sorriso escapar. Emilie não desviou
o olhar, mesmo quando se sentiu ruborizar, e o rubor apenas fez o
sorriso de Sara aumentar.
— Está bem — disse Sara, e esperou mais um instante antes de se
virar, ainda olhando para Emilie como se para garantir que era o que
ela pensava que era, e então sorriu de novo e disse mais uma vez: —
Está bem.
Em vez da estação de trabalho a alguns passos, Sara voltou para o
banco de Emilie com as garrafas que tinha escolhido. Sara não
olhava para ela, mas Emilie estava decidida a assistir. Havia algo
marrom espesso com um rótulo dourado. Algo mais leve numa
garrafa menor. Sara mediu o primeiro, então o segundo, mexeu-os
com uma longa bailarina de cobre num mixing glass cheio de gelo.
Emilie conseguiu vislumbrar as tatuagens dela outra vez enquanto
Sara media, ainda longe demais para conseguir ler. Queria perguntar
a Sara o que estava escrito, mas não confiava em si mesma o
suficiente para parar em apenas uma pergunta. Sentia a própria
insaciabilidade, sabia que precisava contê-la. E sabia que Sara devia
ouvir essa pergunta o tempo todo, dezenas de pessoas por turno nas
noites em que ela deixava os braços à mostra, e Emilie não queria
estar entre dezenas de pessoas. Ela então se forçou a manter a
pergunta em silêncio e confiou na esperança de que, mais tarde
naquela noite, teria a chance de ver por conta própria.
E lá vinha uma garrafinha de bitter — dois dashes. Sara abriu a
tampa de um frasquinho prateado, pegou uma pitada do conteúdo.
Mexeu de novo. E então, com uma faquinha perigosamente perto do
polegar, cortou uma fatia perfeita de casca de laranja e a deixou cair
no drinque. Colocou a bebida na frente de Emilie, encontrou seu
olhar e sorriu. Emilie tinha noção de quão próximos os dedos de
Sara estavam dos seus; ela poderia ter roçado no peito de Emilie se
estendesse o braço só uns centímetros a mais.
Então, Sara partiu para a ponta do bar para atender outra pessoa,
e Emilie se sentiu sozinha sem ela. Mas ali estava a bebida, um
verdadeiro presente. Ela o levou aos lábios e tomou um gole. Era
forte. Não estava decepcionada. De alguma forma, cada vez que
bebia, sentia algo diferente. Chá preto, ou cereja, ou cravo. Era difícil
não consumi-lo rápido demais; tinha ao menos mais umas horas ali;
precisava se conter. Ao mesmo tempo, ela se perguntava se Sara
seria atraída de volta para ela se esvaziasse a taça. Emilie a observou
ir de um cliente a outro, raramente observando o bar, de alguma
forma intuindo quem poderia precisar dela. Quando a bebida de
Emilie estava na metade, o casal ao lado dela foi embora e um novo
chegou. Deveriam ter mais ou menos a sua idade, ainda de terno
depois do dia no escritório. Ele usava gravata listrada; ela, meia-
calça. Emilie tomou um gole. Anis-estrelado desta vez. Sara desfilou
na sua frente para deixar os cardápios dos seus novos vizinhos. A
antecipação do seu retorno beirava o insuportável.
— Posso preparar uns drinques para vocês? — perguntou Sara ao
casal ao lado dela. Emilie sentiu a ligação entre elas, sabia que Sara
sentia também.
Os vizinhos de Emilie no bar eram de bater papo, fizeram
perguntas a Sara que Emilie ficou contente de entreouvir. Descobriu
que Old Tom era o gim favorito de Sara, que ela era de uma cidade
ao norte, mais ao norte que Bay Area, mas não disse o nome, e
Emilie sentiu uma necessidade esmagadora de saber tudo sobre ela.
Manteve a cabeça baixa, bebeu outro gole. E então as mãos de Sara
apareceram na beira da taça.
— Quero fazer outro para você, mas não quero te embebedar. —
Ela estava inclinada tão perto, aquela interação só entre as duas.
Emilie mordeu o lábio. É hoje, pensou ela. — Por outro lado... —
disse Sara. — Ainda tenho pelo menos mais uma hora de
expediente. Mais um?
Então foi decidido. Então Sara entendeu.
— Claro — disse Emilie. — Mais um.
Megan foi embora uma hora antes de fechar, seguida pela brigada de
garçons, um por um, conforme as mesas eram liberadas. E então os
últimos pedidos de sobremesa foram anotados e servidos, e os chefs
jogaram seus aventais na pilha de coisas para lavar e comeram a
comida que haviam feito para si mesmos, e, depois que eles também
foram embora, restavam apenas as máquinas de lavar louça, a
garçonete do turno de encerramento, Sara e Emilie e uma mesa de
amigos numa quina que havia pago a conta, mas não queria que a
noite acabasse.
— Eu moro a poucas quadras daqui — disse Sara. Emilie fez que
sim e a acompanhou, sem se importar de ter deixado o carro para
trás.
As ruas estavam silenciosas e elas não falaram. Ouviram os
próprios passos na calçada, um alarme de carro ao longe, a própria
respiração. No ponto em que o Sunset e a Marmont se cruzaram,
Sara, como se sem pensar, pegou a mão de Emilie. Os dedos delas se
entrelaçaram. A luz mudou.
Atravessaram e andaram mais, passando algumas quadras
sinuosas, cruzando um arco coberto por heras, atravessando um
pátio com um chafariz no centro.
— Por aqui — disse Sara, e Emilie a seguiu por um lance de
escada e entrou numa sala de estar espaçosa com vista para o pátio.
Sara acendeu a luz.
A decoração era esparsa e simples, com uma mesa de madeira
cercada de cadeiras. Perto da janela havia um sofá.
— Quer alguma coisa? — perguntou Sara, tirando a jaqueta com
um movimento dos ombros. Emilie passou os dedos pelas lombadas
dos livros. Tocou a manta estendida no braço do sofá, teria enterrado
o rosto no tecido se pudesse. Estava ávida por saber tudo sobre ela.
— Faz um tour da casa para mim? — pediu ela.
Sara se serviu de um copo de água da pia da cozinha. Apoiou-se
na parede do corredor.
— Não tem muito o que mostrar — disse ela. — Mas, claro, eu
faço o tour.
Emilie a seguiu para a cozinha, notou o trabalho intricado dos
azulejos e luminárias originais estilo art déco. Viu o padrão
entalhado na madeira que ia até o corredor. Parou no portal do
primeiro quarto escurecido, composto de uma cama de solteiro e
uma escrivaninha.
— Alguém mora com você?
— O meu irmão — disse Sara. — Mas só de vez em quando. Com
menos frequência ultimamente.
Emilie esperou para ouvir mais.
— Ele tem dezoito anos e está apaixonado.
Emilie sorriu.
Seguiram por um corredor menor, passaram pelo banheiro de
azulejos cor-de-rosa até a porta no fim.
Sara a abriu, e Emilie acendeu a luz. Queria ver tudo.
Um quarto quase vazio. Uma cama semifeita com lençóis limpos
e um edredom branco numa plataforma de madeira baixa.
Camisetas e calças jeans dobradas numa cadeira no canto. Uma
bandeira da Califórnia, velha, rasgada e com buracos de alfinetes nas
beiradas, era o único adorno. Uma pilha de livros na mesinha, e
Emilie soltou a mão de Sara para aprender sobre as outras partes
dela. Havia um punhado de romances, uma coletânea de ensaios de
James Baldwin, uma coletânea de poesia de Adrienne Rich. E então
bateu o olho em De passagem, de Nella Larsen. Ela o pegou por
impulso, abriu numa página aleatória.
— Adoro esse livro — disse ela.
— Eu também — disse Sara.
— Não conheço muita gente que leu.
Sara se sentou na beirada da cama.
— Eu comecei a trabalhar em restaurantes quando tinha dezesseis
anos — disse ela. — Nunca fiz faculdade nem nada, mas queria
aprender sozinha. Por uns anos, dava uma olhada na ementa dos
semestres da UCLA e ia lendo sozinha. Foi assim que encontrei.
— De que aula foi essa?
— As mulheres da Renascença do Harlem.
— Essa deve ter sido uma boa lista.
Sara fez que sim com a cabeça.
— Então — disse ela. — Isso é um problema para você?
— O que é um problema?
— Eu nunca ter feito faculdade.
— Claro que não.
— Você parece que vem de uma família em que todo mundo faz
faculdade.
— Você se surpreenderia.
— Eu também não terminei o ensino médio — disse Sara.
— Isso é uma confissão? Você também foi criada como católica?
— Não mesmo. Só quero deixar tudo isso às claras. Evitar
decepções futuras.
— Não é tão fácil assim me assustar — disse Emilie. Ela se voltou
para o livro que segurava. Era uma edição que não tinha visto antes,
o título em vermelho brilhante, desenhos a lápis embaixo. Pensou
em como havia virado a noite escrevendo o ensaio depois da viagem
para o cânion. Todo o sentido que encontrou naquelas páginas
quando sua vida parecia vazia. Queria saber o que significava para
Sara. — Sobre o que é esse livro, para você?
Sara se inclinou para trás.
— Acho que é sobre como duas pessoas vêm do mesmo lugar,
mas terminam em vidas completamente diferentes. Só baseado em
suas escolhas. É fascinante. E para você?
— Acho que é... tipo, quando se é uma pessoa com alguma
passabilidade, as outras pessoas acreditam no que quiserem a seu
respeito. No que for mais fácil ou melhor para elas. Elas veem o que
querem ver em você. Então, se não se sabe realmente o que quer... ou
se sabe o que quer, mas é ruim para você... você pode acabar indo
para a direção errada. — Emilie fechou o livro, devolveu-o à estante.
— Mas se sabe, então, acho, você tem muita liberdade.
Quando se virou, viu que Sara a estava observando, e, antes que
Sara pudesse desviar o olhar, Emilie começou a abrir o vestido.
Agonia, o engolir lento de Sara, seus olhos focados nos dedos de
Emilie, abrindo botão após botão, por todo o caminho até o fim. O
vestido de Emilie caiu no chão. Ela saiu da meia-calça, abriu o sutiã.
Nunca havia sentido um desejo tão puro e simples por outra pessoa.
Sara, ainda de blusa e jeans, balançou a cabeça e abriu um sorriso.
Levantou-se da cama. Atravessou o quarto até ela.
A FLORESTA E A CAMA
***
E então, certa noite, saindo para jantar com Alice, Pablo e Randy
num restaurante que Alice tinha escolhido, Randy começou uma
palestra sobre as tendências do mercado imobiliário, e Emilie se
encostou na cadeira, observando o ambiente enquanto ele falava.
Cortinas pesadas de veludo cobriam trechos da parede para dar uma
sensação de intimidade ao lugar. Ela gostava das cores — vermelhos
profundos e verdes. Grande parte da clientela tinha a idade deles.
Mais tranquilo que a maioria dos restaurantes de Los Angeles e mais
visivelmente queer também. Viu uma mesa de mulheres num canto,
as duas de costas para ela estavam de mãos dadas. E então ela notou
que uma das mulheres olhava para ela. Emilie evitou os olhos dela
— não queria ser pega encarando-a — até que uma compreensão se
enraizou devagar, e ela olhou também, e Sara levantou a mão em
saudação.
— Já volto — disse Emilie para os amigos. Levantou-se da mesa
em busca do banheiro. Entrou. Seu corpo inteiro tremia. Ela se olhou
no espelho, o rosto ruborizado e quente. Mas seus olhos cor de mel
estavam claros, e seu batom estava bem aplicado, e o cabelo estava
bonito, caindo pelos ombros em ondas. Estava tão pronta quanto
poderia estar.
Abriu a porta.
Sara estava ali, esperando.
— Oi — disse ela.
— Oi — disse Emilie.
Era mais forte do que nunca — a ligação entre elas.
Sara disse:
— As minhas amigas estão indo embora. Mas eu estava me
perguntando se poderia esperar por você, se estiver livre depois
daqui. Se você quiser. Imagino que esteja com a mulher do seu lado
na mesa. Não quero me meter. Eu só queria... Eu realmente gostaria
de me explicar. Pedir desculpa. Eu queria falar com você, se você
quiser.
— Ã-hã — disse Emilie. — Eu quero.
— Tá bom — disse Sara. — Bom. — Ela correu a mão pelo cabelo.
Um gesto de alívio, Emilie imaginou. — Vou esperar no bar. Não tem
pressa.
Ela começou a se virar, e Emilie disse:
— É a minha melhor amiga, Alice, na mesa.
Sara sorriu.
— Isso não quer dizer que vou para casa com você — disse
Emilie.
— Ah, eu sei — disse Sara. — Se eu fosse você, também não iria
para casa comigo.
Mais tarde, Emilie e Sara no quarto. Uma vela acesa, Emilie tirando
as roupas e colocando uma camisola. Sara estendida no colchão,
folheando as páginas do seu livro. Emilie sabia que podia escolher
deixar para lá. Mas não queria que fosse assim com Sara. Queria
conhecê-la.
Ela se ajoelhou no chão ao lado do colchão.
— Posso te fazer uma pergunta?
Sara baixou o livro.
— Claro.
— Por que você contou para a Colette sobre a sua família, mas
não para mim?
Sara se sentou na cama.
— Eu contei para vocês duas.
— Sim, mas estou falando das vezes que perguntei antes.
— Não é o tipo de coisa que eu costumo contar. Quer dizer, quem
quer ouvir essas coisas?
— Eu quero — disse Emilie. — Eu nem sabia que você tinha
perdido a mãe. Imaginei que ela ainda estivesse lá na sua cidade.
— Me desculpa.
— Você não precisa pedir desculpa. Não estou pedindo para me
contar tudo. Só quero conhecer você.
Sara fez que sim com a cabeça.
— Quantos anos você tinha quando ela morreu?
— Doze.
Emilie pegou a mão de Sara e a aproximou dos lábios. Pressionou
a boca na mão dela. Via a dor nos olhos de Sara, conseguia sentir o
quão fundo aquilo doía. Deixou Sara voltar para o livro. Não fez
mais nenhuma pergunta naquela noite.
***
***
***
A capelã havia ligado para o telefone fixo duas vezes nas primeiras
duas semanas em que estavam em casa. Sara ignorou as ligações nas
duas ocasiões, teve que se forçar a ouvir as mensagens.
— Aqui é Alison Tarr, do Hospital Geral de novo, ligando de
volta para saber quando vão poder vir.
— A gente devia conferir tudo — disse Sara a Spencer. — Colocar
numa caixa tudo o que quiser guardar.
— Tá bom, ã-hã.
— E a gente precisa ir ao hospital também.
— Já, já, ã-hã. Eu preciso me encontrar com umas pessoas.
Era comum ele dormir até o meio-dia, então saía para encontrar
uns amigos. Um dia, ele esvaziou o armário lotado do corredor, o
conteúdo jogado por todo lado. Sara imaginou que estivesse
começando a fazer a limpeza, mas não era o caso — ele estava
procurando alguma coisa. O capacete da bicicleta, contou a Sara
quando ela perguntou. Ela queria acreditar nele, mas ele vinha
guardando segredos. Ele sequer havia lhe contado a história toda
por trás da sua prisão. Ela tentou perguntar de novo e de novo, de
tudo que é forma possível.
Quem estava lá?
Só Spencer, a namorada e uns conhecidos deles.
E esse homem que ele machucou, ele era um amigo?
Não, nenhum deles tinha visto o cara antes.
E o quanto ele se machucou?
Levado às pressas de ambulância, sangrando com um talho na
cabeça.
— Ele me desrespeitou — disse Spencer.
— Certo — disse Sara. — Mas como?
Ele nunca lhe deu uma resposta, e a namorada de Spencer
terminou com ele, não o viu de novo depois daquela noite, e tudo
aquilo parecia pouco satisfatório, errado.
Ela se levantou e foi para a janela, viu-o sair de bicicleta, sem
capacete e sem preocupações. Seu irmãozinho, um estranho.
Ela se mantinha enfurnada dentro de casa, esperando para
descobrir onde começar. Esquecia até mesmo por que estava ali. O
motivo por ter voltado, quando a casa dela ficava a quase mil
quilômetros dali. O que exatamente pretendia fazer?
Na terceira segunda-feira, quando Alison Tarr ligou de novo, Sara
enfim atendeu. Ã-hã, disse Sara. Ela iria no dia seguinte.
Esperou Spencer voltar para casa naquela noite. Ouviu as chaves
na porta, a porta sendo destrancada. Ele entrou, e ela disse:
— Temos hora marcada para as onze amanhã no hospital.
— Para quê?
— Para falar com a capelã.
— Certo — disse Spencer. — Beleza.
Mas, de manhã, ele emergiu do quarto. Serviu-se de uma xícara
de café que ela tinha passado.
— Você se importaria se eu ficasse em casa? — perguntou ele.
E Sara pensou que talvez fosse por isso que estivessem juntos. Ela
lidaria com tudo pelos dois e talvez isso compensasse a maneira
como ela o havia deixado um dia. Talvez, se ela se saísse bem o
suficiente agora, as visões que tinha dele, cada vez menor no espelho
retrovisor, tão pequeno olhando para ela, desapareceriam.
— Tá bom — disse Sara. — Sem problema.
Sara deixou o carro no estacionamento, o mesmo onde haviam
parado quando a mãe dela estava morrendo. Entrou no hospital e foi
levada a um escritório pequeno com uma Bíblia, uma Torá e um
Corão. Pouco depois, Alison Tarr assumiu a cadeira à sua frente.
Tinha uns sessenta anos, rosto gentil e usava camisa social fechada
até a gola. Sara conseguia ver que era uma pessoa com prática em
ouvir, confiava em suas intenções. Mesmo assim...
— As cinzas do seu pai estão guardadas na funerária. Fica só a
umas quadras daqui. Podemos ir andando até lá quando
terminarmos — disse Alison. — Ele pediu que dissesse a você e ao
seu irmão Spencer que ele quer que sejam espalhadas no rio perto de
casa. Bem, não tenho certeza de que isso seja legal, então aconselho
que verifiquem. Mas saibam que essa era a vontade dele.
Sara fez que sim com a cabeça.
— E este — disse ela, tirando uma folha de uma pasta — é o
testamento dele. Escreveu aqui no hospital. Fez uma hipoteca
reversa na casa, mas ainda dá para tirar um pouco de lucro dela se
vender. Ele a deixou para você e para Spencer dividirem igualmente.
Ele também tem uma caminhonete Ford 1993, pelo que entendo.
Deixou para você.
— Para dividir com Spencer?
— Não. Só para você.
Sara fechou a mão com mais força.
— Agora — disse a capelã. — Se eu puder perguntar, tem alguém
com você durante esse momento, para te apoiar?
Sara fez que sim.
— O meu irmão está em casa. — Mas ela teve uma visão de
Emilie levando-a para o jardim, colocando uma manta nas suas
costas, dando-lhe chá.
— Quero que fique com o meu cartão — disse Alison. — Se
qualquer pergunta surgir, se houver qualquer coisa que queira saber
a respeito dos últimos dias do seu pai, por favor, me ligue a qualquer
momento. Tivemos muitas conversas antes de ele partir.
— A gente estava afastado.
— É — disse ela. — Às vezes isso faz com que a perda seja mais
difícil.
Sara olhou pela única janela do escritório, que dava para o
estacionamento dos funcionários.
— Por que ele deixou a caminhonete para mim? — perguntou ela.
— Ele não me contou. Sinto muito. Não sei.
De volta ao estacionamento, Sara pousou as cinzas do pai no piso
do banco do carona. Ela ligou o telefone pela primeira vez desde que
tinha voltado. Ela o deixava desligado em Guerneville; tudo o que
ele fazia lá era procurar sinal. Esperou o telefone voltar à vida, e logo
apareceram na tela: mensagens de texto de amigos de Los Angeles,
e-mails de restaurantes e uma mensagem de voz com o nome de
Emilie.
Ela queria ouvir. Morria de vontade de ouvir. O coração
disparava ao pensar nisso — imaginando a voz de Emilie dizendo
que sentia a sua falta, que a queria de volta, que estava tudo bem
entre elas. Mas essa dor era familiar demais. Seu desespero, como
um aviso. Não, pensou ela. Aqui não. Ela faria o que precisava ser
feito. Voltaria para casa. E então ouviria.
Voltou dirigindo para casa e encontrou Spencer na sala de estar
assistindo à televisão.
— Estou com as cinzas do papai no carro. Ele queria que a gente
jogasse no rio. Podemos fazer isso agora?
— Agora? — perguntou Spencer.
— É o que eu quero — disse Sara. — Se não é o que você quer, a
gente pode esperar.
Spencer desligou a televisão. Sentou-se imóvel.
— Vou só me aprontar, um minuto.
Ela se sentou no degrau da frente enquanto ele se preparava, e
então os levou para a River Road, passando o Safeway, até uma rua
pequena, onde estacionou. Eles andaram por um beco sem placas
entre uma fileira de casas, descendo degraus estreitos até a margem
do rio. Sara carregava as cinzas porque seu irmão não queria tocar
nelas.
Esse era o lugar favorito deles no rio, antes de tudo dar errado.
Ela sentia que estava deslocada do tempo, nos ombros do pai, a mãe
sorrindo para ela. E então no deque de Dave, vendo o corpo de
Annie ser içado da água. E então de volta ao presente.
— Seria bom que a gente encontrasse um lugar fundo — disse
Sara.
Spencer apontou.
— Vamos naquele deque ali.
Atravessaram as pedras, estabilizaram-se na superfície irregular
do deque. Sara baixou a caixa.
— Não sei como fazer isso — disse ela. — Tem alguma coisa que
você queira dizer?
Mas Spencer estava chorando, balançando a cabeça em negativa.
— A gente pode esperar, se você quiser.
— Não — disse ele. — Vamos fazer isso de uma vez.
Sara tirou a tampa. Dentro, havia cinzas e pequenos fragmentos
de ossos. Ela pôs a mão dentro da caixa, apanhou o máximo que
conseguiu e lançou no rio. Um pouco caiu, um pouco foi levado pela
brisa. Pegou outro punhado, e mais outro. Spencer colocou a mão na
caixa também, jogou. Quando a caixa estava vazia, voltaram para o
carro.
— Vou encontrar uma amiga — disse Spencer quando Sara
destrancou a porta.
— Tá bom — disse Sara. — Quer uma carona?
— Não, ela está perto. Vou a pé.
***
Na noite depois que Sara foi embora, Emilie sonhou que estava em
Guerneville. Andava por uma longa rua no escuro, procurando por
Sara. Viu a luz acesa numa casa, viu o carro de Sara estacionado em
frente. Seguiu uma trilha cheia de musgo até a porta. Ficou imóvel.
Planejou bater à porta, mas mudou de ideia.
No sonho, ela dirigiu até um hotel de beira de estrada. Tirou a
roupa e nadou no meio da piscina. Ela boiou, olhos abertos para o
céu escuro.
O tremor de uma caminhonete cortava a noite — muito longe, e
então mais perto. Faróis, reluzentes, brilhando cada vez mais. Estava
sozinha e boiando na água. Precisava se mexer, mas não conseguia,
precisava gritar, mas não saía nenhum som. E então a caminhonete
estava perto dela, e sua boca estava escancarada, e começou a entrar
água.
De volta em casa, assim que o dia amanheceu, ela ligou para Randy.
— A casa está pronta — disse ela. — Preciso ganhar o suficiente
nessa venda para comprar uma para mim e outra para reformar. E
preciso de dinheiro suficiente para investir para a Colette também.
A luz do sol preenchia o quarto, lançando-se por cima do colchão
no piso e em sua cômoda simples, aquecendo a casa que nunca
deveria ser dela — ao menos não para sempre. Não podia pagar por
ela — não teria nada para um projeto seguinte, não teria nada para
Colette, teria que arrumar um investidor para continuar a reformar
casas. E, mesmo se fizesse isso, não faria sentido nenhum ter tanto
espaço para si.
Ainda assim, ela sentia que merecia aquele tipo de beleza se a
desejasse, em especial se fizesse para si mesma. Não se sentia
deslocada ali. Seus avós sabiam quanto valiam e continuaram indo
atrás. Usaram smoking e roupas de gala apesar de serem rechaçados
de restaurantes e empregos. Escreveram cartas de amor no meio de
uma guerra. Dançaram por corações partidos e mudanças.
Construíram vidas abastadas a partir do pouco que lhes foi dado,
posaram na frente de suas casas quando o obturador da câmera
clicou.
Ela continuaria o que tinham começado. Faria do seu próprio
jeito.
— Conheço um consultor financeiro — disse Randy. — Vou te
passar o número dele. Para as casas, você quer comprar à vista ou
pegar empréstimos?
— Empréstimos — disse ela. — Não estou louca.
Ele riu.
— Certo, bom saber. Vou falar com o corretor; vamos dar um
jeito. Não vai ser um problema.
— Ótimo — disse ela. — Então vamos pôr à venda.
Desceu a escada e preparou café como sempre. Levou as canecas
até a sala de jantar, colocou a de Colette ao lado do computador.
— Tenho uma coisa para falar com você — disse ela.
Colette ergueu a cabeça.
— O que foi?
— A casa.
Colette correu os olhos pelo cômodo e Emilie acompanhou seu
olhar. Cada acessório estava no lugar, cada maçaneta e cada vidraça.
A tinta estava brilhante e limpa ao redor de trabalhos intricados.
Tudo reluzia.
Colette sorriu.
— Ah — disse ela. — Terminou.
***
***
Agradeço à minha amiga e agente, Sara Crowe, que, livro após livro
e ano após ano, faz meus sonhos se tornarem realidade. E obrigada a
toda a equipe da Pippin Properties, em especial a Holly, Elena,
Cameron, Rakeem e Ashley, por serem uma alegria e uma força. Sou
imensamente grata também à minha agente de filmes e televisão,
Dana Spector, e às minhas advogadas, Diane Golden e Sarah Lerner.
Caroline Bleeke, eis aqui uma história: uma noite, logo no início
do processo de envio deste livro, um sentimento me invadiu. Tive
uma sensação extraordinária, transcendental, de que alguém estava
por aí lendo o meu romance — naquele exato instante — e se
apaixonando por ele. Na manhã seguinte, acordei com o e-mail que
você enviou para Sara, dizendo tanta coisa linda sobre a história.
Que prazer e que presente tem sido trabalhar com você a cada passo
do caminho. Obrigada por tudo isso.
Agradeço também a toda a equipe da Flatiron por sua paixão,
profissionalismo, criatividade e tremendo cuidado. Se aprendi
alguma coisa a respeito do mercado editorial ao longo dos anos é
que muitas pessoas trabalham incansavelmente nos bastidores para
que os livros cheguem às mãos dos leitores. Sou tão grata a todo
mundo, e em especial a Sydney Jeon, Megan Lynch, Malati Chavali,
Bob Miller, Nancy Trypuc, Jordan Forney, Amelia Possanza, Keith
Hayes, Kelly Gatesman, Erin Gordon, Donna Noetzel, Frances
Sayers, Vincent Stanley, Callum Plews e Talia Sherer.
Agradeço também a Joanne O’Neill, por capturar a essência do
meu romance com tamanha perfeição na capa, a Julie Gutin, por suas
revisões impecáveis, e a Deni Conejo, por seu excelente olhar
editorial para criar um ANÚNCIO.
Gostaria de agradecer a todos os livreiros, bibliotecários,
blogueiros e leitores que apoiaram meu trabalho ao longo dos anos.
Vocês são a razão de eu ter esta carreira que adoro.
Usei grande parte da história real da minha família nas seções de
Emilie, desde as casas em que meus avós viveram até as cartas de
amor que o meu avô escreveu para a minha avó durante a guerra.
Para meus primos, meu tio e minha tia e meu pai: espero que o amor
que pus na história transpareça. Também gostaria de reconhecer que
minha tia Joe foi a pessoa que cuidou dos meus avós em seus
últimos anos, permitindo que ficassem em sua casa na Cherry
Avenue, em Long Beach, até o fim. Palavras não podem expressar
quão especial foi esse presente.
Agradeço aos meus amigos Brandy Colbert, Eliot Schrefer, Nicole
Kronzer, Mandy Harris e Jessica Jacobs, que leram este livro em seus
estágios iniciais e me deram feedbacks inestimáveis. Gosto tanto de
todos vocês! Agradeço a Jandy Nelson, por nos convidar para viver
no Magic Circle; adorei saber que vocês estavam escrevendo no
andar de cima o ano todo. Obrigada ao meu grupo de escrita —
Carly Anne West, Teresa Miller e Laura Davis — que leu trechos
deste livro por mais de uma década e meia e me apoiou e conduziu
durante todo esse tempo. Sua amizade e apoio significam demais
para mim.
E obrigada, Elana K. Arnold, por me motivar a escrever o
primeiro rascunho completo durante o verão da pandemia, por
passar dezenas de horas ao telefone comigo discutindo pontos da
trama e fios temáticos, por ler mais rascunhos do que posso contar e
por sua crença inabalável e exuberante neste romance — isso me
ajudou a atravessar muitos períodos de insegurança e dúvida. Você
torna minha escrita mais ousada e corajosa. Sou muito grata por sua
devoção, generosidade e brilhantismo.
Obrigada à minha mãe por me levar a Russian River quando
criança, onde andamos pela Armstrong Woods e ficamos no hotel
que reimaginei para o emprego de Sara. São memórias que guardo
com carinho. Agradeço a Sherry, Robyn, Jeremy, Riley, Katie, Sophie
e Charlie, por serem minha família. Obrigada, papai e Raewyn, por
estarem sempre presentes para mim, por sua empolgação, sustento e
amor incondicional. Obrigada, Jules, por ser o melhor irmão que
alguém poderia ter. Espero que cozinhemos gumbo juntos até
ficarmos velhos. Amanda, todo mundo deveria ter a sorte de ter uma
melhor amiga como você. Obrigada por dizer que sou perfeita e por
dizer isso com sinceridade. Juliet, simplesmente ter você,
maravilhosa como você é, como minha filha é suficiente. Você me
inspira e me encanta todo dia. Kristyn, eu não poderia ter escrito este
livro sem você. Obrigada por compartilhar sua vida comigo, por
saber do que preciso e ser tão boa em me proporcionar isso, pelo
café, pelos drinques e pelos inúmeros e extraordinários momentos
de alegria.
Este e-book foi desenvolvido em formato ePub pela Distribuidora Record de Serviços de
Imprensa S.A.
Yerba Buena
Instagram da autora:
https://www.instagram.com/nina_lacour/
Twitter da autora:
https://twitter.com/nina_lacour
Effie Talbot não consegue superar o divórcio dos pais. E seu pai
também não ajuda. Nem ele nem a namoradinha nova e irritante
dele, que teve a cara de pau de postar fotos dos dois de roupão no
Instagram com as hashtags "sexo aos sessenta" e "viagra
funciona!". Completamente sem noção! E os dois ainda venderam
Greenoaks, a casa onde Effie e seus irmãos cresceram. Mas a gota
d'água foi a festa de arromba que resolveram dar para se despedir
do lugar. E para a qual Effie não foi convidada. Bem, na verdade, ela
foi desconvidada.
De qualquer forma, Effie não está nem aí para essa festa e não vê
sentido em comemorar a ruína de sua família. Mas então se lembra
de que suas bonecas russas ainda estão naquela casa. E ela não
pode correr o risco de ficar sem elas de jeito nenhum. O problema é
que só há uma forma de recuperar suas preciosas bonequinhas:
entrar na casa às escondidas durante a festa, quando todo mundo
estiver distraído se divertindo.
Mas será que Effie fará algo com as informações que descobriu sem
querer? E, sinceramente, eram só suas bonecas russas que ela
esperava recuperar em Greenoaks mesmo?
"Com senso de humor e de uma forma leve, este livro nos ensina
que, no fim, o amor sempre vence." — Publishers Weekly
Enviada pela mãe para a casa do pai, com quem mal conviveu até
então, ela viaja de trem para Edgewood, Wisconsin, carregando
poucos pertences, muitas lembranças e uma caixa misteriosa
deixada pela irmã.
Sem saber o que esperar de sua nova vida, mas com um pouco de
esperança, Ashlyn começa o ano letivo na escola onde o pai é
diretor. E não consegue acreditar quando descobre, no primeiro dia
de aula, que Daniel — o belo músico de olhos azuis com quem já
está completamente envolvida — é o Sr. Daniels, seu professor de
inglês.
"Um thriller eletrizante do início ao fim, que faz com que o leitor fique
tentando adivinhar o que aconteceu." — Mystery & Suspense
Magazine
"O que você não tem mais que te entristece tanto?" É com esta
pergunta que Biá, uma psicanalista aposentada, apaixonada por
literatura, aborda a jovem jornalista Olívia pela primeira vez ao
encontrá-la sentada à mesa de um sebo improvisado. A provocação
inesperada, vinda de uma estranha, capaz de ouvir "como quem
abraça", desencadeia uma sucessão de encontros, marcados pela
intimidade crescente e que aos poucos revelam as histórias das
duas mulheres. "Nossa amizade começou assim, enquanto nos
afogávamos", relata Olívia.