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Camões: a história

No Dia de Portugal fomos à procura de Camões - e descobrimos que, na


verdade, não sabemos nada da sua vida, a não ser que escreveu os Lusíadas
e recebeu uma tença do rei. O resto é especulação e lenda

Hoje é Dia de Portugal. É dia de recordar os grandes empreendimentos


marítimos dos Descobrimentos, de enaltecer o amor de Pedro e Inês, de
sublinhar a ambição de D. Afonso Henriques ou de mostrar orgulho na língua.
Hoje é dia das Comunidades Portuguesas. É dia de lembrarmos os tempos do
Império e de olhar para aqueles que abandonaram o país em busca da mesma
sorte que os antepassados.

Mas convém lembrar que hoje se passam também 435 anos da morte de um dos
maiores poetas nacionais: Luís Vaz de Camões, um nome incontornável da
cultura portuguesa e uma personagem cujo trabalho tem tanto de atualidade
como de misticismo. Hoje também é o seu dia. Por isso, o Observador
embrenhou-se na História em busca do percurso de Camões. Trouxe sobretudo
dúvidas sobre a sua vida.

A vida de Luís de Camões


Diz-se que terá nascido em Chaves. Diz-se que terá vindo ao mundo em 1524.
Diz-se que a bagagem cultural de que era dotado foi absorvida em Coimbra. E
diz-se – apenas se diz – muito mais sobre este poeta, porque certezas há poucas.
Na verdade, não sabemos onde nasceu, se alguma vez esteve em Coimbra, se
frequentou a corte, e por aí adiante. Não há documentos, não há registos, há
quase não há nada, absolutamente nada. O que há são quase só restos de
especulações sem outro fundamento a não ser a imaginação de quem primeiro
as criou.

A história de Luís Vaz de Camões confunde-se com as memórias de um Portugal


em expansão. Mas está pendurada com muitos pontos de interrogação. Ainda
assim, há datas que vale a pena serem realçadas: explore a linha do tempo do
que habitualmente se conta sobre a vida daquele que é considerado o maior
poeta português de todos os tempos.

Junho 15, 1524

Nascimento de Luís Vaz de Camões


Luís Vaz de Camões terá nascido em 1524, embora a data não seja certa. O local
também não é conhecido: o poeta poderá ter nascido em Chaves ou Lisboa e
também há dados que apontam para Santarém ou Alenquer. Filho de Simão Vaz
de Camões e Anna de Sá e Macedo, o poeta português pode ser neto do trovador
galego Vasco Pires de Camões.

Junho 15, 1527

Mudança para Coimbra


Assume-se que, com três anos, a família de Camões mudou-se para Coimbra a
fim de fugir da peste que assolava o país.

Junho 15, 1537

Estudos em Coimbra
O nome de Luís de Camões não consta nos registos da Universidade de Coimbra,
mas a literacia do poeta faz acreditar que recebeu uma educação superior. Poderá
ter sido o tio, chamado Bento, a levar o poeta para o mundo das letras: o homem
era prior no Mosteiro de Santa Ana e chanceler da Universidade.

Junho 15, 1544

Mudança para Lisboa


Com vinte anos, Camões muda-se para Lisboa e começa a trabalhar na casa do
Conde de Linhares, da família Noronha. Foi aqui que nasceram alguns dos tórridos
romances que o poeta viveu. Destaca-se D. Violante, D. Joana e Catarina de
Ataíde. A irmã do rei D. João III, princesa D. Maria, também um nome apontado
para a extensa lista de conquistas de Camões. Todos eles inspiraram poemas de
amor.
Guerra contra os mouros
Quando chegou a Lisboa, Camões era também um membro da Corte de D. João
III. Em 1547 seguiu para Ceuta para lutar contra os mouros. Terá sido numa das
batalhas que perdeu o olho.

Junho 15, 1550

Alistamento para a Índia


O poeta regressa a Lisboa. Nesta altura, Luís de Camões quer viajar para a Índia,
a fim de afastar-se da vida boémia lisbonense. Alista-se então para viajar até à
Índia, mas não parte de imediato.

Junho 15, 1552

Prisão
Enquanto a viagem até ao Oriente não chega, Luís de Camões continua a causar
problemas. Em 1552 é preso por ferir com uma espada um membro da Corte,
Gonçalo Borges. Fique retido na cadeia de Troncos, em Chaves.

Março 7, 1553

Libertação
Ao fim de um ano, o poeta é libertado: o rei perdoou-lhe do comportamento e retira-o da
prisão. Assim que deixa as grades, Camões prepara-se para partir de vez até à Índia.

Março 24, 1553

Início da viagem
Luís Vaz de Camões embarca no "S. Bento", da frota de Fernão Álvares Cabral. A viagem
havia de durar perto de um ano.

Junho 15, 1554

Chegada à Índia
O poeta desembarca em Goa e alista-se ao serviço do vice-rei D. Afonso de Noronha.
Junho 15, 1555

Guerra contra os mouros


Quando Afonso de Noronha é substituído por D. Pedro de Mascarenhas, Camões
acompanha Manuel de Vasconcelos na luta contra o os mouros no Mar Vermelho.
Regressou a Goa em 1556.

Junho 15, 1561

Prisão
Entre 1556 e 1561, Camões enfrentou a prisão de novo, desta vez por acumulação de
dívidas ou por satirizar o vice-rei, algo que era ilegal na altura.

Junho 15, 1562

Provedor
Quando sai da prisão, Luís de Camões torna-se provedor dos defuntos e ausentes em
Macau. Esta função foi ocupada até cerca de 1565. Terá sido nesta altura que o poeta
começou a escrever Os Lusíadas.

Junho 15, 1565

Naufrágio no rio Mekong


Quando regressa a Goa, Camões sofre um naufrágio no rio Mekong, perto do Camboja. É
deste local que sai a lenda de que Camões terá nadado até à costa com o auxílio de apenas
uma das mãos, já que a outra segurava Os Lusíadas para não ser destruído pela água. Neste
naufrágio terá morrido Dinamene, uma das mulheres da vida de Camões.

Dezembro 15, 1567

Viagem para Moçambique


Em dezembro de 1567, Camões parte para Moçambique, onde os amigos o vão encontrar
em situação de extrema pobreza. Pedro Barreto, que tinha levado o poeta atrás de promessas
que nunca se concretizaram, deixou-o na penúria. Foram os amigos que reuniram o dinheiro
suficiente para o levar de volta a casa.
Abril 7, 1570

Regresso a Portugal
Luís Vaz de Camões chega a Cascais em abril de 1570, a bordo da nau "Santa Clara". Foi
cá que o poeta terminou Os Lusíadas.

Junho 15, 1572

Publicação d'Os Lusíadas


O poeta termina a obra e apresenta-a a D. Sebastião. Terá até lido a obra para o rei, que lhe
ofereceu uma pensão anual de 15 mil reis durante três anos, com possibilidade de
renovação. Mas a Corte pagava tarde, pelo que Camões continuou falido.

Junho 15, 1579

Vida miserável
Durante sete anos, Camões viveu com um escravo indiano num quarto, com fracas
condições e atacado pela peste. A saúde piorou com a iminência da perda de independência
portuguesa aos epanhóis.

Junho 10, 1580

Falecimento de Luís Vaz de Camões


Em 1579, o poeta foi transportado para um hospital. Luís Vaz de Camões morreu a 10 de
junho de 1580, pobre e miserável apesar da pensão cedida pelo rei D. Sebastião. No leito da
morte mostrou-se desiludido pela iminência da perda da independência portuguesa a favor
dos espanhóis, quando o trono estava prestes a ser ocupado por Filipe II de Espanha. A
morte do poeta passou despercebida para muitos: os ossos foram depositados na Igreja de
Sant'Ana com a data errada inscrita na lápide. Agora os alegados restos mortais de Camões
estão no Mosteiro dos Jerónimos.

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