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Comunicação Oral e Escrita

Os Lusíadas

Docente: Drª. Manuela da Silva Correia

Trabalho realizado por:

Sílvia Maria Carvalho Maranhão

Aluna nº 12564 – Turma C

Viana do Castelo

Abril de 2012
Os Lusíadas

Índice

Introdução 3
1ª Parte
Biografia de Luís de Camões 4
Origem da Obra 7
Época literária 8
Contexto socioeconómico 9
Contexto cultural 9
Análise estrutura do poema Os Lusíadas 11
Estrutura Externa 11
Estrutura Interna 11
Excerto Selecionado 12
Análise estrutura do excerto “Proposição” 13
Estrutura Externa 13
Localização do exceto no poema 13
Estrutura Interna 13
Análise Interpretativa 13
Planos Narrativos da Ação 15
Recursos Estilísticos 16
2ª Parte
Planificação da apresentação oral 19
Conclusão 20
Bibliografia 21
Webgrafia 22
Anexos 23

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Os Lusíadas

Introdução

O presente trabalho é elaborado no âmbito da unidade curricular


Comunicação Oral e Escrita, e será apresentado oralmente na turma B do 1º ano de
Educação Básica.
Este trabalho tem como tema Os Lusíadas da autoria de Luís Vaz de
Camões. E os motivos que contribuíram para a escolha desta obra, para a
realização do trabalho foram essencialmente dois. Um prende-se com o facto de
através deste poema tomarmos consciência de que a história de Portugal está
repleta de valentia, audácia e coragem por parte do nosso povo, o povo português.
O outro, é o facto de toda a história de Portugal ser retratada ao longo de vários
episódios através de uma extrema riqueza intelectual e cultural.
No decorrer do trabalho será feita uma análise quer interpretativa quer
sintática à primeira parte do poema, designada “Proposição”, a qual se situada no
canto I, estâncias I, II e III. Contudo, para uma melhor contextualização da mesma, o
trabalho abarca também uma análise global da obra, bem com a sua origem e o
contexto económico, social e cultural em que foi escrita. É ainda dedicada uma parte
à biografia do autor, Luís de Camões.
Para a apresentação oral do trabalho defini três objetivos, os quais passam
por: Sensibilizar a plateia para a beleza estética da obra; Transmitir a bravura e
espirito aventureiro com que o povo português outrora foi caracterizado; Levar a
plateia a contatar com o expoente máximo da literatura renascentista portuguesa,
motivando ao conhecimento e leitura integral d’Os Lusíadas.
Quanto à metodologia utilizada aquando da apresentação oral, será através
do método exposição, interrogação e ativo nomeadamente a dedução, com o
recurso a material audiovisual, mais especificadamente o programa informático
power point. Toda a apresentação oral terá por base a pesquisa de que resultou este
trabalho escrito.

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Os Lusíadas

1ª PARTE
Biografia de Luís de Camões

De Luís Vaz de Camões poucos são os aspetos que com exatidão se


conhecem relativos à sua vida.
“De Camões, em pura verdade, muito pouco sabemos…não sabemos onde
Camões nasceu; nem o ano ou dia em que saiu da “materna sepultura” para o
primeiro amanhecer.” COSTA, MARTINS e CASTRO, (1997: 300).
“No seu tempo, raras foram as notas ou observações que se escreveram a
seu respeito. Mesmo quando, em 1572,… viu publicados, com os favores reais, Os
Lusíadas, a obra não continha qualquer nota biográfica do seu autor.” “Grandes
Vidas Grandes Obras Biografias Famosas” (1974: 8).
Os poucos dados que existem sobre Camões foram extraídos de documentos
de caracter oficial, como por exemplo um documento de Simão Vaz de Camões,
datado de 1524, onde regista o nascimento do seu filho, o qual se crê que seja
referente a Luís Vaz de Camões, e um outro datado de 1553, ano em que Camões
embarcou para Goa, referindo o poeta como sendo mancebo e pobre.
Durante a vida do poeta pouco se escreveu sobre ele, pois tal como acontece
muitas vezes com aqueles que fazem algo extraordinário durante a sua vida, o
reconhecimento e famas só vêm depois da morte. “A primeira biografia do poeta só
aparece trinta e três anos depois da sua morte…”. LISBOA, ROCHA, (1985: 276)
Na vida de Camões realidade e lenda confundem-se, pois dada a escassez
de elementos exatos existente, os estudiosos camonianos reconstruiram a vida do
poeta com base no que liam nos seus sonetos, poesias e cartas, o que faz com que
grande parte das referências feitas a Camões sejam baseadas em hipóteses e
suposições. Assim, crê-se que Camões tenha nascido em 1524 ou 1525 na cidade
de Lisboa, contudo, Coimbra também disputa por essa honra, cidade esta, na qual
passou a sua infância e que, quando jovem, tenha aí realizado a sua formação
académica na universidade de Coimbra, sendo de referir que o seu nome nunca foi
encontrado nos registos universitários.
Camões pertenceu a uma família da aristocracia, mas devido à má situação
financeira da mesma era um pobre e simples soldado ao serviço do país, e nessa
condição foi para Ceuta lutar contra os Mouros, que ainda importunavam a

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Os Lusíadas

Península Ibérica. Ao que tudo indica terá, sido aí que perdeu o seu olho direito, pois
é certo que quando partiu para a India já tinha essa deformidade, visto que numa
das cartas que de lá escreveu refere-se a esse facto como sendo já conhecido.
Após o seu regresso de Africa, julga-se que terá estado preso durante nove
meses devido a um desentendimento que culminou numa luta de espadas com
Gonçalo Borges, membro da casa real, contudo em Março de 1553 recebeu uma
carta do perdão do rei D. João III, sendo esta carta um dos poucos documentos
oficiais existente sobre Camões, que assim o poupa à justiça, exigindo-lhe apenas o
pagamento de uma multa e sugerindo o seu embarque para a Índia, poucos dias
depois, na qualidade de soldado embarcou para Goa na armada de Fernão Alvares
Cabral. Durante esta viagem o soldado participou em várias batalhas militares,
conheceu novos povos e novas civilizações, enfrentou diversas calmarias e
sucessivas tempestades marítimas, o que lhe proporcionou conhecimentos, para
que mais tarde tivesse composto de forma tão pormenorizada e fidedigna a
grandiosa obra Os Lusíadas. E na qual Camões se preocupou em “acentuar o valor
que atribuía ao «saber de experiência feita». Uma obra como Os Lusíadas nunca
poderia ter sido escrita por um intelectual de gabinete… aquilo que descreve, ele
próprio o viu e experimentou….” “Grandes Vidas Grandes Obras Biografias
Famosas” (1974: 13-14).
Ao fim de três anos de serviço militar foi formalmente dispensado, tendo
vagueado pelo oriente durante dezassete anos, dos quais pouco ou nada de sabe.
Sabe-se que foi durante esse período que escreveu Os Lusíadas, “ …aquele Inverno
que esteve em Moçambique, acabando de aperfeiçoar as suas Lusíadas para as
imprimir…” “Grandes Vidas Grandes Obras Biografias Famosas” (1974: 15), e que
passou por inúmeras dificuldades “ No meio de tudo o que se ignora e imagina,
apenas um facto se afigura contante e indubitável: a penúria em que viveu e as
dificuldades de toda a espécie que conheceu durante o seu longo «desterro».”, “ Em
Moçambique achamos aquele Príncipe dos Poetas, Luís de Camões, tão pobre que
comia de amigos…” “Grandes Vidas Grandes Obras Biografias Famosas” (1974:
15).
Porém, também prova há que realidade e lenda se misturam durante esse
longo período, pois,“Conta a lenda que, enquanto permaneceu em Macau, Camões
se dirigia para uma gruta à beira-mar, onde ao lado da sua amada chinesa,
Dinamene, escrevia, dia após dia, os versos de os Lusíadas. Porem, a própria gruta

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Os Lusíadas

parece desmentir a versão da lenda: é extremamente pequena, quase uma fenda na


rocha,…Não é provável que Camões tivesse conseguido permanecer nela durante
tanto tempo…” “Grandes Vidas Grandes Obras Biografias Famosas” (1974: 14).
Em 1567 Camões partiu da Índia rumo a Portugal com o nauta Diogo de
Couto a bordo de uma nau capitaneada por Pedro Robim Barreto. Após a sua
chegada, reuniu esforços para que a sua obra fosse publicada. Em Setembro de
1571 conseguiu o alvará régio que concedia assim a licença de impressão da obra e
garantia os direitos de autor por dez anos.
Em 1572 o poema foi publicado e o rei concedeu a Camões uma tença no
montante de quinze mil reis por ano. Mas prova de que na época a obra não fora
devidamente compreendida e valorizada, é o motivo alegado pelo rei para a
atribuição da tença a Camões, a qual foi justificada simplesmente pelos serviços
prestados por Camões na Índia. Contudo e devido aos sucessivos atrasos no
pagamento da tença, Camões continuou com uma vida simples e modesta. “Em
Portugal morreu este excelente poeta em pura pobreza.” “Grandes Vidas Grandes
Obras Biografias Famosas” (1974: 17).
A 10 de Junho de 1580, Camões morreu vítima de uma violenta epidemia que
assolou Lisboa entre 1579 e 1581. O seu corpo, bem como o das restantes vítimas
foram sepultados na Cripta da Igreja de Santa Ana. Em 1880, devido a destruição da
Cripta por altura do terramoto de 1755, todos os despojos mortais foram levados
para o Panteão dos Jerónimos.
Partiu Camões, mas a sua vida permanece refletida nas grandiosas obras que
deixou.
Tal como anteriormente referido Camões morreu sem que lhe tivesse sido
reconhecimento qualquer mérito e talento, contudo o seu talento e a grandiosidade
da sua obra foram mais tarde apreciados e devidamente valorizados, não só em
Portugal, mas também no resto do mundo, o desejo do poeta concretizou-se,
“Cantando espalharei por toda a parte”.
Como forma de homenagear Camões, a partir de 1933, com a instauração da
República foi-lhe dedicado um dia, o dia 10 de Junho. O significado que os
republicanos lhe atribuíam foi que ele representava o génio da pátria, representava
Portugal na sua dimensão mais esplendorosa e mais genial. Este dia é também
conhecido como o dia de Portugal pois é também uma forma de relembrar aos feitos
passados do povo lusitano.

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Os Lusíadas

Origem da Obra

A ideia de se escrever uma epopeia sobre a expansão portuguesa surgiu no


seculo XV. Segundo COSTA, MARTINS e CASTRO, (1997), Luís Vives, humanista
espanhol, aclamou os descobrimentos lusíadas numa dedicatória ao rei D. João III, e
Ângelo Policiano, humanista italiano, propôs-se cantar em verso os feitos do reinado
de D. João II.
Em Portugal tudo parecia impor a criação de um poema épico, ou seja, de um
poema que cantasse as glórias da sua nação. Como exemplo desse desejo temos
os escritores português Garcia Resende que, no prólogo de Cancioneiro Geral,
lamenta que não estejam devidamente cantados os feitos lusíadas e confessa a sua
incapacidade para tal. “ E porque, Senhor, as outras cousas sam em si tam grandes
que por sua grandeza e meu fraco entender nam devo de tocar nelas (…) determinei
(…) ordenar este livro (…) pera que mais sabem s’espertarem a folga d’ escrever e
trazer à memória os outros grandes feitos, nos quais nam sou digno de meter a
mão.” GUERRA, J. Augusto, VIEIRA, J. Augusto, cit. por Cancioneiro Geral de
Garcia de Resende (2000: 21). E António Ferreira que por inúmeras vezes proferiu
“Quando será que eu veja a clara história / do nome português por ti entoada, / que
vença da alta Roma a grã memoria?” (Carta a António de Castilho) NUNES,
SOARES, e MARQUES, (2000: 343), e “O português Império, que assi toma /
senhorio por mar de tanta gente, / tanto bárbaro ensina, vence, e doma; / porque
assi ficará tão baixamente / sem Musas, sem espirito que, cantando, / o vá Tejo seu,
ao seu Oriente?”. (Carta a Pero de Andrade Caminha), NUNES, SOARES, e
MARQUES, (2000: 285).
Foram, essencialmente, duas as causas que contribuíram para este desejo
generalizado, por um lado, a evolução literária, pois com o Renascimento, os
humanistas desejavam fazer renascer os géneros clássicos entre os quais se
encontra a epopeia, e por outro lado, havia o tema a impor o livro, as façanhas
marítimas dos portugueses. Apenas faltava alguém que fosse digno de cantar tais
feitos.
Camões surge assim na altura certa, apenas lhe faltava o estudo e a
experiência, mas o poeta rapidamente se muniu de ambos e aliando o seu talento,
compôs a epopeia Os Lusíadas.

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Os Lusíadas

Época Literária

A obra Os Lusíadas surge na segunda metade do séc. XVI, integrada assim


no panorama cultural que se vivia nos países Europeus, definido por Renascimento.
O poema apresenta-se como uma verdadeira obra renascentista, uma vez
que evidência características próprias desse género literário. Eis alguns exemplos
que a classificam como tal:
- Apresenta uma atitude antropocêntrica, com a contestação à tradicional influência
da religião na cultura, no pensamento e na vida quotidiana, e a valorização das
capacidades e valores do ser humano;
- Recupera as formas e regras das obras literárias da antiguidade clássica: os
aspetos formais, métrica, ritmo e rima são na obra apresentados com extrema
regularidade e harmonia;
- Valoriza a observação e a experiência, com referências à astronomia e cosmologia,
áreas até então desconhecidas, e a fenómenos físicos e meteorológicos igualmente
desconhecidos e novas técnicas nautas;
- Anuncia um herói, que neste caso é um herói coletivo e real, o povo português;
- Apresenta pluralidade cultural, através de alusões a novas geografias, referências
etnográficas e etnológicas - costumes de outros povos, menções a novas faunas e
floras, conhecimentos literários, históricos e mitológicos, e universalidade de
saberes;
- Ostenta Universalismo, pois Camões pretende dar a conhecer ao mundo os feitos
dos portugueses, não se limitando a Portugal.
- Retoma o género épico, que é um dos géneros do modo narrativo, ao cantar as
grandes proezas do povo português, através da sucessão de quatro partes,
Proposição, Invocação, Dedicatória, e Narração, sendo parte desta última feita in
medias res, isto é, não desde o início temporal da ação, mas já a meio dos
acontecimentos. Por exemplo, quando Camões começa a narração, os navegadores
já se encontravam no Oceano Índico, e a parte inicial da viagem, entre Belém e
Moçambique, é narrada mais tarde, no Canto V, num processo de analepse.
Também é característica do género épico, o facto de conciliar a realidade com o
mito, ou seja, episódios da história de Portugal são aqui entrecortados com

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Os Lusíadas

episódios lendários, transpondo-se assim a fronteira do humano pelo heroísmo que


possuem.
Fará ainda todo o sentido contextualizar a época de escrita da obra quanto à
situação social, económica e cultural.

Contexto Socioeconómico

O Portugal da segunda metade do seculo XVI estava longe do apogeu que se


vivia no início do século. Devido às riquezas provenientes das descobertas das
terras de África, Ásia e Brasil, o país e a corte deslumbraram excessivamente, e
esses bens rapidamente se dissiparam. A coroa não soube gerir de forma inteligente
o manancial de riquezas chegadas a Portugal, além disso, o abuso do poder, a
exploração do povo e a avareza dos poderosos mergulharam o país numa grave
crise económica, social e de valores.
Assim, a situação socioeconómica da época camoniana caracteriza-se por
uma época de progressiva decadência, podendo afirmar-se que Portugal estava
perante o início da ruína económica. Alguns dos aspetos que para tal contribuíram
foram:
- A perda da independência e do domínio do comércio marítimo, devido sobretudo
aos elevados custos dos transportes e aos naufrágios;
- As sucessivas crises agrícolas, o que dificultava as condições de vida dos
camponeses;
- O endividamento externo, devido ao aumento das importações, provocando assim
aumento do desequilíbrio da balança comercial;
- Ostentação de luxo excessivo;
- Corrupção e perda de valores morais;
- Crescente interferência do clero e implantação da Inquisição.

Contexto Cultural

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Os Lusíadas

Contrastando com a decadência económica e social, a segunda metade do


seculo XVI afirmou-se como talvez a época em que a cultura e a língua portuguesa
atingiram o seu auge, estando na sua origem:
- a criação de um estilo arquitetónico genuinamente português, o estilo Manuelino,
caracterizado pela introdução de elementos decorativos ligados à expansão
marítima (esfera armilar, cordas, corais, algas, entre outros motivos marítimos).
Como exemplo deste temos a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, e a janela
do Capítulo do Convento de Cristo;
- Manifestações científicas e culturais de grade valor. Salientam-se como exemplo o
matemático Pedro Nunes, que traduziu o tratado sobre a esfera acerca da teoria do
sol e da lua, o médico Garcia da Orta autor de Colóquios dos simples e drogas he
cousas medicinais da Índia
- O fascínio pelo desconhecido, novas terras, novas gentes, novos costumes, novos
mundos, levou à criação de obras como Décadas da Asia de João Barros, História
dos Descobrimentos e Conquistas da India pelos portugueses, da autoria de Fernão
Lopes de Castanheda.
- O apogeu da literatura de expressão clássica, traduzindo ideias humanistas de que
foram seguidores os escritores Damião Góis, João de Barros, Sá de Miranda e Luís
de Camões.

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Os Lusíadas

Análise estrutural do poema Os Lusíadas

Estrutura Externa
O poema Os Lusíadas é composto por um total de 1102 estâncias,
distribuídas pelos dez cantos em que o poema se divide. O número de estâncias por
canto varia entre 87 no canto VII, e 156 no canto X.
Cada estância é uma oitava com o esquema rimático ABABABCC, assim, os
seis primeiros versos têm rima cruzada e os dois últimos têm rima emparelha.
Quanto aos versos perfazem um total de 8816, sendo na sua maioria decassilábicos,
com predomínio no decassílabo heroico, mas surgem também alguns de
decassílabo sáfico.

Estrutura Interna
A estrutura interna d’ Os Lusíadas segue a organização das epopeias
clássicas, assim sendo, divide-se em quatro partes, sendo elas:
 Proposição - constitui a primeira parte do poema, e é aqui que se apresenta
o assunto e o herói do poema, sendo o assunto o relato dos feitos gloriosos dos
portugueses, e o herói é Vasco da Gama em representação do povo português.
 Invocação - constitui a segunda parte do poema, e designa-se pela parte
onde o autor pede inspiração para escrever o poema. Luís de Camões invoca as
Tágides, Ninfas do Tejo, que são as suas principais musas inspiradoras. Ao longo do
poema, invoca ainda Calíope, musa da História.
 Dedicatória - esta é a terceira parte da epopeia, é a única que é facultativa
nas epopeias clássicas, e é aqui que o autor dedica o poema a D. Sebastião.
 Narração – constitui a quarta parte do poema, é onde se desenvolve o
assunto, onde Camões relata as façanhas do povo português.

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Os Lusíadas

Excerto Selecionado

Proposição

I
As armas e os Barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

II
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

III
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

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Os Lusíadas

Que outro valor mais alto se alevanta.

Análise estrutural do excerto Proposição

Estrutura Externa

Localização do excerto no poema

O excerto destacado para análise faz parte do primeiro canto da obra.


Constitui a primeira, segunda e terceira estâncias, formando a parte do poema
denominada Proposição, onde o poeta, de forma sintetizada, expõe os propósitos
que irão desfilar ao longo do poema, nele encontramos a indicação bem clara dos
heróis e da matéria do poema: Cantar os feitos gloriosos do “peito ilustre lusitano”, o
povo português, dando a conhecer a todo o mundo tais atos heroicos, se para tal
tiver talento e eloquência.

Estrutura Interna

Análise Interpretativa

Baseando-me nos autores BRASIL, Reis e PIMPÃO, Álvaro, passo a


presentar a análise interpretativa do episódio neste trabalho destacado. Segundo os
autores referidos, Luís de Camões, ao escrever estes versos, tinha por pretensão
tornar eternos e memoráveis os feitos do povo português, a bravura e coragem dos
homens que foram em busca de terras desconhecidas e novas conquistas.

As armas e os Barões assinalados”

Quanto aos heróis de tais feitos, Camões canta todo o povo português. Pois
através de uma análise às expressões pelo poeta utilizadas para se referir aos
heróis concluímos que Os Lusíadas abarcam todo o povo português,
nomeadamente:
Refere-se ao povo em geral.

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Os Lusíadas

“As armas e os Barões assinalados”


Em seguida faz alusão aos reis como chefes e senhores do povo.
“E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis Daqueles Reis”
Dá-nos também conta de heróis individuais, que pelas suas proezas merecem
ser recordados.
“E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando”

Camões, por considerar tal a grandiosidade das façanhas dos heróis


portugueses, mostra neste excerto a sua intenção de as dar a conhecer ao mundo,
ou seja, de exaltar, enaltecer e celebrar as façanhas e heróis autores das mesmas.
“Cantando espalharei por toda a parte”
Assim, os heróis portuguese partiram de Lisboa “Que, da Ocidental praia
Lusitana” e viajaram por mares onde nunca ninguém antes tinha viajado “Por mares
nunca de antes navegados”. Iam sem limites, pois passaram além da ilha de Ceilão,
ilha do mar da Índia descoberta pelos portugueses em 1507, “Passaram ainda além
da Taprobana”.
Durante a viagem, os nossos nautas depararam-se com diversos perigos no
mar, os quais tiverem que enfrentar lutando com toda a sua coragem e bravura. “Em
perigos e guerras esforçados, / Mais do que prometia a força humana,”. E, fruto
dessa valentia, conseguiram estabelecer novos domínios “E entre gente remota
edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram”, com a referência a Novo Reino o
poeta não se limita apenas à Índia, mas também à Africa e à Asia. Deste último
verso destaca-se ainda a palavra “sublimaram”, com a qual o poeta pretende
demostrar que os portugueses não se limitaram a estabelecer os novos domínios,
eles engradeceram-nos de tal modo que lhe deram uma vivência civilizadora
superior a tudo o que até ali tinha sido feito por outros povos.
A par dos aventureiros nautas, o poeta enaltece também os Reis, por
saberem dirigir e impulsionar o povo à realização de grandiosos atos,
nomeadamente nos descobrimentos e conquistas, que permitiram espalhar a fé
cristã e alargar o Império português “E também as memórias gloriosas/ Daqueles
Reis que foram dilatando/ A Fé, o Império, e as terras viciosas/ De África e de Ásia
andaram devastando”. Como também aqueles que praticaram feitos singulares, e

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Os Lusíadas

que por isso nunca deverão ser esquecidos “E aqueles que por obras valerosas/ Se
vão da lei da Morte libertando”, pois uma das consequências da morte é o
progressivo esquecimento.
Camões finaliza a segunda estância com o verso “Se a tanto me ajudar o
engenho e arte.” Assim, o poeta pretende dizer que espera ter o conhecimento
suficiente e a técnica necessária, ou seja, talento e eloquência, para poder cantar
fielmente feitos de tamanha importância.
Com a terceira estância, Camões continua a engradecer o assunto que vai
tratar ao longo da epopeia portuguesa. Segundo ele, nunca em tempo algum se
praticaram feitos, nem mesmo imaginários, que possam ser comparados aos feitos
dos portugueses. Para tal, o poeta relembra heróis reais e fictícios da Antiguidade,
citando, no campo das navegações, Ulisses - “o sábio grego”, herói cantado por
Homero na Odisseia, e Eneias - “Troiano”, herói cantado por Virgílio na Eneida. E no
campo das conquistas, cita Alexandre Magno, rei da Macedónia, e o imperador
Trajano. Refere, então, o poeta que os feitos destes quatro heróis não são tão
gloriosos quanto os dos portugueses, e por isso, devem ser esquecidos, pois já não
são merecedores de serem lembrados, “Cessem do sábio Grego e do Troiano/ As
navegações grandes que fizeram;/ Cale-se de Alexandro e de Trajano/ A fama das
vitórias que tiveram;”. O motivo que apresenta para tais afirmações prende-se com o
facto dos feitos portugueses, a sua bravura e valentia serem inigualáveis, os quais o
poeta classifica como “o peito, ilustre Lusitano”.
Os feitos dos portugueses foram de tal valor, no campo das navegações, que
dominaram o mar, aqui representado por Neptuno, deus do mar. E no campo das
conquistas, que foram invencíveis, simbolizados aqui por Marte, deus da guerra. E
por isso apresenta a submissão dos deuses perante os portugueses.
Explicada toda a superioridade dos feitos do povo Luso, quer nas navegações
quer nas descobertas e conquistas, o poeta finda a terceira estância com os versos”
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,/ Que outro valor mais alto se alevanta.”,
superlativando, deste modo, o valor do herói que cantará.

Planos Narrativos da Ação

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Os Lusíadas

Nestas três estâncias d’ Os Lusíadas estão presentes os quatro planos


narrativos da ação, em que toda a obra se desenvolve.

Plano da Viagem
Narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem marítima de Vasco
da Gama até à Índia.
“Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,”

Plano da História
Relato dos factos marcantes da história de Portugal
“ E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando”

Plano do Poeta
Refere-se às considerações opiniões e até mesmo queixas do poeta, ou
quando ele fala de si próprio.
“Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.”

Plano da Mitologia
É formado pelas partes do poema em que há intervenção dos deuses, este
plano permite favorecer a evolução da ação, na medida em que uns deuses se
assumem como adjuvantes e outros como oponentes aos portuguese.
“A quem Neptuno e Marte obedeceram.”

Recursos Estilísticos

Metonímia - consiste na designação de uma realidade ou conceito, por uma outra,


próxima da primeira.
Ex.: “As armas e os barões assinalados”
“Musa antiga canta”

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Os Lusíadas

Sinédoque – consiste em tomar a parte pelo todo ou o todo pela parte, isto é, o
singular pelo plural ou o plural pelo singular.
Ex.: “Ocidental praia Lusitana”
Perífrase - consiste no emprego de muitas palavras para se exprimir o que se podia
dizer mais concisamente.
Ex.: “Ocidental praia Lusitana”
“Se vão da lei da Morte libertando”

Anástrofe – Consiste na alteração natural das palavras na frase, por anteposição do


determinante ao determinado.
Ex.: “Mais do que prometia a força humana”

Metáfora – consiste na comparação, sem utilização da partícula comparativa, de


uma palavra para um campo semântico diferente.
Ex.: “Novo Reino”

Enumeração – consiste na apresentação de elementos em serie


Ex.: “A Fé, o Império, e as terras viciosas”

Elipse – consiste na supressão de elementos do discurso, frásicos, vocabulares ou


silábicos.
Ex.: “Cessem do sábio Grego e do Troiano”

Antonomásia – consiste no uso de uma qualidade ou frase sugestivos, em lugar do


nome próprio.
Ex.: “Cessem do Sábio grego e do Troiano” - Ulisses e Eneias respetivamente.

Anáfora – consiste na repetição de uma palavra ou expressão no início de diferentes


versos, ou frases.
Ex.: “Cessem do sábio Grego e do Troiano/ … Cesse tudo o que a Musa antiga canta”

Hipérbole – consiste na utilização de termos excessivos, pelo exagero de qualidades,


defeitos, ações ou capacidades, para destacar uma realidade, exagerando-a.

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Os Lusíadas

Ex.: (toda a estância) - há uma supervalorização dos feitos heroicos dos portuguese.
“Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.”

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Os Lusíadas

2ª PARTE
Planificação da apresentação oral

A apresentação realizar-se-á no dia 23 de Abril pelas 10:30 horas. Terá início


com a comunicação dos objetivos do trabalho, seguindo-se uma pequena atividade
onde serão exibidas várias palavras e expressões com as quais Camões, ao longo
do poema Os Lusíadas, caracterizou o povo português, a fim de que a plateia
consiga identificar o poema em questão. Após a identificação do mesmo e do seu
autor, farei uma síntese da biografia de Camões.
Terminada a apresentação inicial do trabalho, procederei a uma análise global
da obra, ou seja, das suas estruturas interna e externa. Esta análise abarcará temas
como a organização da obra em cantos, em estâncias, em versos, o esquema
rimático e métrico, a divisão da obra em partes, os diferentes planos de ação, e os
heróis referenciados ao longo do poema épico.
Seguidamente, farei a apresentação do excerto do poema por mim escolhido
para o trabalho, a “Proposição”. Para dar a conhecer à plateia o seu conteúdo,
apresentá-lo-ei em formato de banda desenhada, solicitando a elementos da plateia
que interpretem as diferentes personagens.
Após a leitura, para uma melhor compreensão do mesmo, farei a sua
localização na obra, seguida de uma análise interpretativa, para tal, solicitarei mais
uma vez, a colaboração da plateia, a fim de reunir para discussão a diversidade de
ideias que se esperam obter. Em seguida, farei a análise interna e externa do
excerto, identificando as partes em que se pode dividir, os planos de ação nele
existentes, e os recursos estilísticos. E assim, darei por terminada a apresentação,
abrindo espaço para eventuais dúvidas que a plateia queira a apresentar, ou até
opiniões ou reflexões que queira expor.

Conclusão

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Os Lusíadas

Este trabalho resultou de uma cuidadosa pesquisa bibliográfica e webgráfica


e uma atenta análise à mesma. Após a sua elaboração, conclui-se que Camões
apesar de todas as adversidades e desventuras que passou ao longo da vida, teve
o engenho e arte suficientes, para redigir aquela que viria a ser considerada pelos
estudiosos da literatura, o expoente máximo da poesia renascentista portuguesa.
Mas o seu talento e reconhecimento ultrapassaram fronteiras, alcançando um lugar
de destaque na literatura universal, estando hoje o poema Os Lusíadas traduzido
em inúmeras línguas.
A imponente obra Os Lusíadas pelas características que apresenta é
considerada uma narrativa épica, em que Camões embora cante em primeiro plano,
repleto de magnanimidade, a descoberta do caminho para a Índia, por Vasco da
Gama, também nos dá conta da História de Portugal desde a sua origem até ao
reinado de D. Manuel I, com grande veracidade.
Neste trabalho destaquei as primeiras estâncias do poema, designadas de
proposição, porque são muito reveladoras do que se irá encontrar ao longo de toda
obra, na medida em que, nelas Camões indica o assunto que se propõe cantar, os
feitos gloriosos dos portugueses, e os heróis que os praticaram, a fim de os enaltece
pela coragem demostrada.
A realização deste trabalho proporcionou-me um conhecimento mais
aprofundado da magnífica obra com que camões nos presenteou em 1572. No
entanto, tenho plena consciência de que ainda muito ficou por analisar e descobrir,
contudo espero poder faze-lo em futuros trabalhos.

Bibliografia

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Os Lusíadas

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– 10º ano Português B, Porto, Porto Editora.

COSTA, Fernanda, CASTRO, Rogério de (1995), Viagens em Português 9º ano,


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LISBOA, Eugénio, ROCHA, Ilídio, Dicionário Cronológico de Autores Portuguese


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S.A. (1974), Grandes Vidas Grandes Obras Biografias famosas, Lisboa, Selecções
do Reader’s Digest.
Webgrafia

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http://www.slideshare.net/crisseica/narrativa-pica, consultado em 18 de Abril de


2012.

Anexos
Power point utilizado na apresentação oral

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Os Lusíadas

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