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Nordeste turístico e políticas de

ordenamento do território
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Larissa da Silva Ferreira Alves

Nordeste turístico e políticas de


ordenamento do território

Fortaleza
2016
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território
Copyright © 2016 by Eustógio Wanderley Correia Dantas, Larissa da Silva Ferreira
Alves
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Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará (UFC)
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Capa
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Bibliotecária Marilzete Melo Nascimento CRB 3/1135

D192n Dantas, Eustógio Wanderley Correia.


Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território / Eustógio
Wanderley Correia Dantas, Larissa da Silva Ferreira Alves. - Fortaleza: Imprensa
Universitária, 2016.
83 p. : il. ; 21 cm. (Estudos da Pós-Graduação)

ISBN: 978-85-7485-246-1

1. Ordenamento territorial. 2. Turismo. 3. Nordeste. I. Título.


CDD 316.33
SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................. 7

ADVENTO DO TURISMO NO BLOCO


DE PAÍSES EM VIAS DE DESENVOLVIMENTO DAS AMÉRICAS........................ 9

TURISMO, PRIMEIROS ENSAIOS NO NORDESTE DO BRASIL....................... 13


Cultura política associada ao turismo no Nordeste:
de práticas locais ao II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND)............ 14
Primeiro Grupo: Bahia e Pernambuco – Cultura local, patrimônio
histórico-arquitetônico e turismo...................................................................... 16
Bahia................................................................................................................ 16
Pernambuco..................................................................................................... 22
Segundo Grupo: Ceará e Rio Grande do Norte – Valorização das zonas
de praia............................................................................................................ 24
Rio Grande do Norte........................................................................................ 25
Ceará................................................................................................................ 27
As políticas públicas de desenvolvimento do turismo
no Nordeste no final do século XX................................................................... 29
Quadro simbólico reforçando imagem negativa do semiárido.......................... 29
Quadro simbólico reforçando imagem positiva do semiárido........................... 30

NORDESTE TURÍSTICO................................................................................... 33
Prodetur I e II, PAC e Prodetur Nacional......................................................... 33
O inesperado: a vilegiatura e as entradas de capitais internacionais............... 38

CULTURAS DE ORDENAMENTO TERRITORIAL COMO


METODOLOGIA DE ANÁLISE PARA OS ESTUDOS DO TURISMO................ 47
Culturas de ordenamento territorial como novo campo de análise................. 49
Cultura de território como fator interveniente para o ordenamento
territorial......................................................................................................... 51
Propostas metodológicas para análise das culturas de ordenamento
territorial......................................................................................................... 54
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 57

BIBLIOGRAFIA................................................................................................ 63

AUTORES...................................................................................................81
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

N os estudos sobre o turismo, a noção de tropismo, em-


prestada das ciências biológicas, balizou a máxima de que as ações e
políticas de ordenamento do território implementadas são provenientes
de estímulos externos, responsáveis por seu delineamento. Reforça-se,
assim, a ideia do turismo como resposta a demandas provenientes dos
países desenvolvidos, que suscitam a sua implementação, a partir de
políticas públicas que embasem a atividade turística na temática da
geração de divisas e associada à gama de empreendimentos, investi-
mentos e demais negócios especializados (DANTAS, 2012).
Na tônica de fortalecimento da atividade no país, urge mirar o
passado na tentativa de apreender elementos do local que, no decurso do
tempo, definiram direta e indiretamente formas de ordenamento territo-
rial diferenciadas no Brasil. Neste sentido, torna-se possível vislumbrar
como elementos particulares de cada território são definidores no desen-
volvimento das políticas públicas em foco (ALVES; DANTAS, 2015).
Os estudos sobre as culturas de ordenamento territorial do turis-
mo possibilitam identificar, compreender e analisar o papel de atores
sociais, políticos e econômicos locais na dinâmica de espacialização da
atividade turística no território. Grosso modo, entende-se que o ordena-
mento territorial encetado pelo poder público é reflexo tanto da capa-
cidade de planejamento do território, de sua gestão técnica, como dos
seus elementos locais, que definem formas características de ordena-
ção. Ao compreender como essas culturas adentram o campo científico,
aproximamo-nos do apresentado por Ferrão (2011), o que nos permite
identificar e analisar fatores locais intervenientes, denotando identida-
8 Estudos da Pós-Graduação

des locais, cuja importância e força permitem modificar enormemente


o planejado para o futuro de determinado território.
Na pauta em foco, tomaremos, como elemento concreto de refle-
xão, a região Nordeste (NE) do Brasil, um dos principais locus de desen-
volvimento da atividade no país. O estudo do turismo, e seus reflexos
no ordenamento do seu território, torna-se imprescindível no entendi-
mento da região na contemporaneidade. Pautado em práticas locais,
o turismo engendrado modificou e ordenou o território. Desse modo,
a região reflete propostas turísticas e, em seu ordenamento territorial,
manifesta formas de pensar e de fazer turismo pautadas em distintas
concepções ideológicas, interesses e articulações políticas, em práticas
culturais locais e modos de vida, os quais proporcionaram a cada estado
nordestino a incorporação, em sua proposta turística, dos elementos que
poderiam melhor vender e representar seu espaço local.
O contraponto à máxima do tropismo será evidenciado no trata-
mento dos elementos teórico-conceituais relacionados ao ordenamento
territorial, capazes de elencar as formas metodológicas de análise das
culturas de ordenamento territorial, que definem espaços geográficos e
ordenamentos territoriais diferenciados.
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 9

ADVENTO DO TURISMO NO BLOCO DE PAÍSES EM VIAS


DE DESENVOLVIMENTO DAS AMÉRICAS

A compreensão dos desdobramentos dos fluxos turísticos


em escala internacional se justifica e é validada em uma organização
mundial de caráter funcional, na qual intervêm os Estados, as empresas
e os indivíduos, enquadrados, conforme Cazes (1989), em três grupos
principais: países em vias de desenvolvimento, sistema comercial e
organismos internacionais, estes, responsáveis pelo estabelecimento de
acordos visando a uma conexão internacional.
Rompendo com a noção de centro-periferia, Cazes (1989) aponta
quadro no qual os países em vias de desenvolvimento adquirem importân-
cia no delineamento da atividade turística em escala internacional, apesar de
o sistema comercial ter seu poder de escolha reforçado e de as instituições
internacionais exercerem importante papel no processo de homogeneiza-
ção progressiva dos comportamentos dos países anteriormente citados.
A articulação evidenciada representa fenômeno tornado mundial
e ilustra as especificidades de inserção de cada país em via de desenvol-
vimento na economia turística. Tal ênfase permite adotar perspectiva
que contrapõe duas escalas: uma global e outra local, indicando um
ponto de inflexão capaz de potencializar os estudos relativos à valo-
rização turística. Trata-se da utilização da noção de história espacial
seletiva, proposta por Santos (1985), para compreender a característica
de inserção dessas economias na economia mundial.
Afeitos à realidade das Américas, especificamente da parte latina,
é necessário ressaltar que a ocupação do território desses países é en-
10 Estudos da Pós-Graduação

quadrada em dinâmica mundial. Nela, o litoral constituiu, nos primór-


dios, o ponto de contato entre as civilizações tradicionais e os europeus
(ocidentais). Atualmente, com a geração de novos fluxos de informa-
ções e inovações, materializadas seletivamente no espaço, observa-se
um processo de valorização turística diverso e de forte concentração
nas zonas de praia.
Na área em foco, três dinâmicas são representativas dessa diver-
sidade. A primeira, ligada aos países nos quais o fenômeno de valoriza-
ção turística resulta diretamente de forte demanda dos países desenvol-
vidos. A segunda, relativa aos países conhecedores de uma influência
tanto do turismo internacional como nacional. A terceira, concernente
aos países onde existe fraco fluxo turístico de origem externa e cuja
demanda local reina quase de modo absoluto (DANTAS, 2016).
A primeira dinâmica enquadra-se perfeitamente no que ocorreu
nas Antilhas, local no qual a valorização dos espaços turísticos resultou
de demanda externa: o estabelecimento de um fluxo turístico interna-
cional, produzido desde os anos 1940, com o advento do turismo de
massa dos países desenvolvidos.
Na Geografia do Turismo, considera-se esta dinâmica como re-
presentativa da realidade vivenciada nos países em via de desenvolvi-
mento. Esta abordagem recorre a um enfoque quantitativo, a partir de
um quadro que não estima, como deveria, os fluxos de ordem secundá-
ria, principalmente os que ocorrem num conjunto de países possuidores
de um mercado relativamente forte, onde a elite local e até a classe
média se deleitam como turistas (CHARDON, 1987).
Essa diferenciação revela a complexidade e as especificidades do
processo de valorização dos espaços litorâneos nas Américas e, mais
especificamente, nos países em via de desenvolvimento. Necessário se
torna considerar os fluxos turísticos nacionais como indutores de trans-
formações espaciais, sociais, econômicas e culturais do grupo de países
inclusos na segunda e na terceira dinâmicas.
O México é representativo da segunda dinâmica. Neste país, o
desenvolvimento do turismo está ligado concomitantemente a fluxos de
caráter externo e interno. O fluxo externo, originário, principalmente,
dos Estados Unidos, iniciou-se, se for considerado o caso de Puerto
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 11

Vallarta, no estado mexicano de Jalisco, no final dos anos 1940, com


a chegada de turistas americanos (EVANS, 1979, p. 302). Esses fluxos
externos suscitaram, após a adoção de política de desenvolvimento do
turismo, em 1969, a construção de uma infraestrutura turística (notada-
mente, a instauração de centros turísticos regionais, com a construção
de um aeroporto internacional e de uma via moderna que assegura a
ligação com a grande artéria da Costa Oeste), que favoreceu igualmente
a atividade turística em escala nacional.
Esse tipo de turismo surge com a instauração do direito de
férias no México e, complementarmente, com a ação dos sindicatos,
que criaram as viagens organizadas a preços populares, contribuin-
do para o incremento do número de turistas mexicanos em Vallarta,
principalmente no verão, momento de baixa estação, ou na Páscoa,
com um fluxo turístico cujo volume corresponde a aproximadamente
25% do volume total. A situação é tão inusitada que Evans (1979,
p. 306) afirma que os “turistas mexicanos [são] mais numerosos que
os cidadãos e [...] encontram-se em todos os lugares”. Tal fato permi-
tiu estabelecer diversas atividades de grupos econômicos provenien-
tes das grandes cidades do México (KADT, 1979). Nestes termos,
constata-se neste país forte influência do turismo nacional associado
ao turismo de origem externa.
A terceira dinâmica pode ser representada pelo Brasil, país no
qual, diferentemente do ocorrido nos países inscritos na primeira e
na segunda dinâmicas, não foram pensadas políticas públicas nacio-
nais referentes às potencialidades turísticas em escala internacional.
Neste país, a prioridade era desenvolver o país às expensas da indús-
tria, considerada pelos governantes, até meados dos anos 1980, como
sinônimo de desenvolvimento, sendo, consequentemente, um paradigma
marcante nas políticas públicas nacionais. O caso do Brasil articula-se,
portanto, à mentalidade hegemônica da época, como também à ideia
que indica o turismo como única opção para micropaíses, por estes não
disporem de outras riquezas, mas apenas de praias, dunas e sol a explo-
rar, mormente como mercadoria turística (KADT, 1979).
A política de desenvolvimento baseada na indústria implicou a
redução do raio de ação das políticas turísticas no país, as quais, por
12 Estudos da Pós-Graduação

isso, atingiram somente algumas cidades, como o Rio de Janeiro. Nesta


cidade, tal política pontual investiu na constituição de uma infraestrutu-
ra turística que a distinguiu em escala internacional.
Em contrapartida, com a adoção do modelo de desenvolvimen-
to denominado de fordismo periférico (LIPIETZ, 1984), constata-se a
formação de mercado interno relativamente forte e cuja base é a classe
média. Somada à elite, tradicionalmente consumidora de lugares turísti-
cos e de lazer, a classe média garante a ampliação da atividade turística
em escala internacional, bem como a consolidação desta atividade em
escala nacional, cujos desdobramentos são peculiares no Nordeste.
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 13

TURISMO, PRIMEIROS ENSAIOS NO NORDESTE DO BRASIL

D iferentemente de outras cidades litorâneas dos países em


via de desenvolvimento, as cidades litorâneas do Nordeste não se enqua-
dram, até a primeira metade dos anos 1980, no fenômeno de valorização
turística intenso e em escala internacional. Os fluxos notados nesta re-
gião são reduzidos, de caráter fortemente nacional, e concentrados em
certas cidades. Inserem-se, nesta perspectiva, numa lógica de ampliação
da circulação mercantil, responsável pelo desenvolvimento de mercados
turísticos brasileiros, e visam a atender a demanda de uma classe média
consolidada graças aos projetos de integração (construção de sistema
viário nacional) e modernização (fundado na indústria automobilística),
adotados a partir do governo de Juscelino Kubitschek (BECKER, 1996).
No Nordeste brasileiro, as políticas engajadas em matéria de
turismo são, por conseguinte, pontuais e desarticuladas. Segundo
Paiva (1998), elas são oriundas, inicialmente, de políticas empreen-
didas pela Comissão de Turismo Integrado do Nordeste (CTI/NE),
ONG criada em 1969, e, posteriormente, de políticas publicitárias re-
alizadas pelo BNB na difusão do Nordeste como destinação turística.
Em escala nacional, a Embratur, criada em 1966, não escapa a esta regra.
Ela focava suas ações nos centros tradicionais de recepção, difundindo-
-os precariamente devido à inexistência de recursos e à ausência de um
plano estratégico de marketing em escala internacional.
A indicação da indústria como mola motriz da política de desen-
volvimento econômico regional acaba suscitando fracos investimentos
na construção de quadro favorável à exploração turística. Os governos
14 Estudos da Pós-Graduação

locais, seduzidos pelo paradigma da industrialização, foram induzidos a


colocar o turismo em segundo plano e, em alguns casos, a simplesmente
negligenciar as potencialidades turísticas da região.
Citada variável era tão marcante que até o presente momento
a impressão que persiste em nosso imaginário social coletivo é a de que a
atividade turística na região inexistia, sendo todos os esforços concentra-
dos na atração de subvenções do governo federal para o estabelecimento
de indústrias. Consequentemente, pouco se estudou e pouco se eviden-
ciou o pioneirismo dos governantes nordestinos no tratamento do tema.
Uma reflexão sobre a cultura política associada ao turismo na
região nos permite apreender tais desdobramentos, representativos do
pioneirismo dos governantes nordestinos neste domínio, em especial
os da Bahia, de Pernambuco, do Ceará e do Rio Grande do Norte, sob
os auspícios de planos nacionais de desenvolvimento, como o II Plano
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BRASIL, 1974).

Cultura política associada ao turismo no Nordeste: de práticas


locais ao II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND)

Enquanto documento que dá continuidade à política desenvolvi-


mentista do I PND, o qual focava nos setores de siderurgia, petroquími-
ca, transportes, construção naval, energia elétrica e mineração, o II PND
(BRASIL, 1974) foi o primeiro documento de caráter nacional a apontar
o turismo como atividade potencializadora de desenvolvimento regional
(ALVES; DANTAS, 2016).
O II PND se vinculava ao ideário nacional-desenvolvimentista,
cujas raízes se encontram na grande crise do final da década de 1920
e 1930, e que se efetiva em três grandes premissas: a do “nacionalis-
mo”, no governo de Getúlio Vargas; a dos “50 anos em 5”, constante
no Plano de Metas de JK; a do “Brasil, grande potência”, da época dos
militares” (FELIPE, 2010). Esse pensamento fundamentou o imaginá-
rio social coletivo de uma geração e apontou a consolidação do país
como grande potência econômica mundial. Segundo Felipe (2010),
tal imaginário foi embalado por nacionalistas, messiânicos populistas,
esquerdas reformistas, artistas e intelectuais, que acreditavam ser a
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 15

industrialização, por meio da intervenção do Estado, o caminho para


o desenvolvimento pleno do país.
Por ser o II PND a diretriz política de toda a década de 1970,
foi, consequentemente, a diretriz política dos governos estaduais, sob a
égide militar. O objetivo primordial do governo central era promover o
desenvolvimento industrial-urbano, balizado na siderurgia, na produ-
ção de petróleo e de energia elétrica (BASTOS, 2006; BRASIL, 1974).
A atividade turística foi enfocada como uma das possibilidades de
exploração de “novos caminhos e alternativas” (BRASIL, 1974) à política
de desenvolvimento do país. As principais preocupações do plano citado
em relação ao setor voltavam-se ao disciplinamento do processo de urba-
nização, à preservação das belezas e paisagens naturais, do patrimônio his-
tórico-cultural de cidades serranas e, principalmente, das zonas litorâneas,
tendo por fim o desenvolvimento e a subsistência do turismo de lazer.
Diferentemente da atividade industrial, o projeto não delineava
metas ou ações específicas para a utilização da atividade turística como
ferramenta de desenvolvimento regional. Baseava-se em abordagem de
caráter localista/municipalista, referenciada no que Davoud e Strange
(2009) denominam de land use planning, um ordenamento territorial
focado apenas na escala micro.
O II PND foi um marco para o turismo no Nordeste, influencian-
do diretamente nas ações políticas locais que promoviam o turismo.
Constituiu lógica de planejamento turístico pautado em programas e
planos de caráter local, com enfoques específicos de gestão e de orde-
namento do território pelos governos dos estados aqui considerados:
o Planejamento Turístico da Orla Marítima da Bahia, o Programa de
Promoção e Turismo no Ceará, o I Plano Integrado de Desenvolvimento
Turístico de Pernambuco e o Megaprojeto Parque das Dunas – Via
Costeira no Rio Grande do Norte.
No tratamento dos programas e planos associados à atividade
turística em cada um desses estados nordestinos, percebe-se a indi-
cação de um quadro diverso, assentado em sua geografia e história,
representando contextos territoriais específicos e revelando vontades e
influências políticas e culturais evidenciadas nas ações empreendidas
por seus governantes.
16 Estudos da Pós-Graduação

Pautando-se em Albrechts (2004), evidencia-se tônica de orde-


namento do território que varia conforme particularidades e singulari-
dades representativas de uma vontade política (cultura política local), a
qual se mostra o principal fator interveniente para diferenciados proces-
sos de territorialização do turismo no Nordeste.
Foi nestes termos em que se deu a filtragem do II PND pelos
governantes dos estados nordestinos em questão. Eles introduziram,
compreenderam, promoveram e administraram a atividade turística de
modo diferenciado, pautados em suas necessidades, características e
interesses sociais, políticos e econômicos, formando, assim, diferentes
culturas de ordenamento territorial, ou seja, concepções particulares de
como ordenar seus respectivos territórios, de acordo com seus pres-
supostos teóricos sobre planejamento, regras, condutas e normas. Tais
culturas ora se aproximam, ora se distanciam no concernente à racio-
nalidade de intervenção no território (ALVES, 2013).
Considerando as diversas culturas dessa natureza no Nordeste,
dois grupos de estados podem ser visualizados, comungando, grosso
modo, da mesma tendência de fomento ao turismo. O primeiro, com-
posto por Bahia e Pernambuco (ALVES; DANTAS, 2013a, 2013b),
com a construção e o ordenamento das propostas de turismo de seus
territórios em torno da cultura local, símbolo da construção de forte
identidade sociocultural dos cidadãos baianos e pernambucanos. O se-
gundo, constituído por Ceará e Rio Grande do Norte, de caráter mais
homogêneo e associado à ideia de valorização das suas zonas de praia.

Primeiro grupo: Bahia e Pernambuco – Cultura local,


patrimônio histórico-arquitetônico e turismo

BAHIA

Na Bahia, o foco de seu imaginário territorial repousa no próprio


baiano e na sua forma de ser e viver, diferenciando-o, nestes termos,
dos demais brasileiros em razão de seus aspectos históricos, geográfi-
cos e de mestiçagem social, que lhe proporcionariam uma singularida-
de, adjetivada como baianidade (PINHO, 1998).
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 17

Baianidade, assim como é definida, surge na literatura popular


baiana, ainda na primeira metade do século XX. Segundo Pinho (1998)
e Guerreiro (2005), a gama de livros que retratava as peculiaridades do
território e da gente baiana, denominados como primeiros “guias de baia-
nidade”, leva leitores a ansiar por conhecer a Bahia, fato fundamental
para o início do turismo nesse estado. As obras literárias de autores como
Jorge Amado, ao realçarem os traços geográficos e históricos da Bahia,
em alinhamento com a descrição da gente baiana, tornaram-se roteiros
turísticos antes de a atividade ser institucionalizada nesse estado.
Na institucionalização do turismo, embora ainda com caráter
amadorístico, o poder público soube apropriar-se do discurso da baia-
nidade, explorando-o como mecanismo de venda do território baiano
(QUEIROZ, 2002). Isso foi feito tanto nos anos 1930, pelo governo
municipal de Salvador, quanto na década de 1950, pelo governo esta-
dual de Régis Pacheco (1951-1955).
O imaginário social da baianidade, internalizado pela política baiana,
torna-se jargão político em discursos de cunho fortemente tradicionalista,
coronelista e essencialista,1 responsáveis pela estereotipização dos valores
e características atribuídas aos atores sociais locais do povo baiano (LIMA,
2008). Tal contexto de referência faz lembrar Gullestrup (2009), ao afirmar
que a postura política é iniciada, antes de tudo, a partir da afirmação de
determinada conduta social e cultural, o que torna impossível dissociar a
representação de atitudes políticas do seu território e daquilo que é popular.
Grosso modo, apostou-se nas características culturais do povo baia-
no, a partir da representatividade de alguns artistas e intelectuais, como
Dorival Caymmi e Jorge Amado, o que remete a Fürst (2009), quando este
defende que as características diferenciadas das sociedades levam tempos
distintos de ordenamento territorial, fazendo com que as ações de ordena-
ção sejam pautadas nos diferentes tempos das experiências sociais locais.
A partir de sua origem no social, o turismo na Bahia inicia seu
processo de institucionalização, com a implantação de ações públicas,
ao longo das décadas de 1950 e 1960. No governo de Régis Pache-

1 Essencialismo é definido, segundo Raymond (1969), como atributos sociais comuns que
podem ser encontrados nos membros de determinado grupo.
18 Estudos da Pós-Graduação

co (1951-1955), a principal contribuição foi a transformação da antiga


Secção de Turismo da Diretoria do Arquivo e Divulgação da Prefeitura
Municipal de Salvador (criada nos anos 1930) na Diretoria Municipal
de Turismo (DMT), em 1953. A DTM atuou, principalmente, no apoio
aos eventos mais representativos de Salvador, bem como na formulação
do primeiro Plano Diretor de Turismo de Salvador, em 1955, elaborado
e doado por uma empresa de propaganda local, cujo objetivo era esti-
mular o poder público para o desenvolvimento do setor (SECRETARIA
DE TURISMO DO ESTADO DA BAHIA, 2012).
Já no governo de Balbino de Carvalho Filho (1955-1959), o turis-
mo foi pensado pelo viés do planejamento, resultando na formulação do
Plano de Desenvolvimento da Bahia (Plandeb) (GOTTSCHALL, 2001).
Influenciado pelo ideário desenvolvimentista do período de JK, por
meio do Plano de Metas, o Plandeb segue tendência da época, propondo
aos governos sucessores um plano sistematizado de desenvolvimento da
Bahia, que até então tinha a economia estagnada e pautada unicamente
na exportação de produtos agrícolas, especialmente do cacau.
O documento em foco se tornou referência. Caracterizado pela
visão desenvolvimentista e esquerdista de Rômulo Barreto de Almeida,
foi finalizado no governo de Juracy Magalhães (1959-1963), quando
aquele era secretário de planejamento.
Independente da resistência da classe política do estado ao
Plandeb e ao “predomínio de uma velha oligarquia que via no pla-
nejamento uma séria ameaça de limitação da sua autoridade e poder”
(SPINOLA, 2000, p. 17), o governo de Juracy Magalhães incorporou a
atividade turística ao Programa de Recuperação Econômica da Bahia,
contemplando ações de planejamento sistemático. Tal planejamento
foi o ponto de partida para Antônio Carlos Magalhães (ACM), que,
em dois governos posteriores, rompe definitivamente com as antigas
oligarquias agrárias e inicia modelo de modernização conservadora,
respaldado pelos militares.
No governo de Lomanto Júnior (1963-1967), importantes ações
merecem menção. Além do asfaltamento da BR-116, conhecida como
rodovia Rio-Bahia, em 1963, destaca-se a criação da Empresa de
Turismo da Bahia (Bahiatursa), em 1968, resultante das ações típicas
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 19

do governo militar, as quais visavam à institucionalização do turismo


com base na promoção por empresas públicas.
A Bahiatursa também se responsabilizou pela formulação das
políticas setoriais e pela descentralização da atividade, até então restrita
ao âmbito de Salvador (SPINOLA, 2000). Foi responsável, ademais,
pela elaboração do Plano de Turismo do Recôncavo Baiano, marco para
o planejamento e ordenamento territorial da atividade em Salvador e no
seu entorno, e pelo incentivo fiscal para a construção de grandes hotéis
no ano de 1970, no governo de Luiz Viana Filho (1967-1971).
As ações citadas, marco dos primeiros ensaios, são aqui compre-
endidas como representativas da primeira etapa do turismo baiano, ini-
ciada na década de 1950 e institucionalizada em 1971. A segunda etapa,
cujo cerne foi a ruptura definitiva com a antiga elite oligárquica baiana
(REIS, 2010), inicia-se com o primeiro governo de ACM (1971-1975),
recorte core para a política do estado baiano, com a instituição de prá-
tica política com perfil autoritário, baseada no imaginário do nacional-
-desenvolvimentismo e no discurso essencialista baiano, acarretando a
“construção de um ideário político baseado na modernização conserva-
dora com a participação das camadas médias baianas, não afetando os
interesses tradicionais locais, em especial os da elite soteropolitana e do
recôncavo baiano” (REIS, 2010, p.14).
Antes de assumir o governo baiano, ACM já havia sido prefeito de
Salvador durante o governo de Luiz Viana Filho, iniciando na capital sua
carreira no executivo, com apoio político dos militares. No seu primeiro
governo, já na década de 1970, sua conduta política se assemelha à sua
gestão na prefeitura de Salvador. Devido ao apoio da ala denominada
“linha dura” do regime militar, consegue angariar mais recursos para a
Bahia, iniciando intenso processo de industrialização, tendo o turismo
como proposta atrelada de modo secundário. É a partir desse momento
que o governo local ordena o território da capital baiana e de seu entorno
metropolitano, como espaços dominantes do turismo baiano.
O bom relacionamento desse governador com o Estado Maior
favoreceu o apoio do governo Médici à sua gestão, fazendo com que
a Bahia chegasse a angariar 47% de todo o repasse fiscal federativo
destinado ao Nordeste (REIS, 2010, p. 59). Como consequência, o
20 Estudos da Pós-Graduação

estado baiano passa de meramente agroexportador para uma economia


industrial nascente.
Este cenário político permitiu, por conseguinte, a consolidação
de Salvador como importante destino turístico no Brasil, obtendo seu
primeiro boom turístico no final dos anos 1970, quando termina o pri-
meiro mandato de ACM. Tal quadro foi possível pelo fato de o governo
ter adotado várias medidas para o crescimento econômico do estado
como um todo e de ter realizado o ordenamento do território da capital,
com algumas ações para a modernização da infraestrutura dessa metró-
pole: o desenvolvimento do Polo Industrial de Aratu, a construção da
Avenida Paralela e do Centro Administrativo da Bahia, em Salvador, a
construção da Central de Abastecimento (Ceasa), a construção do Porto
de Aratu, a expansão da urbanização soteropolitana, dentre outras me-
didas. Além disso, foram concedidas reduções fiscais para a atração de
empresas de diversos ramos da economia (REIS, 2010, p. 59).
No que concerne ao turismo, é no ano de 1973 que surge o Pro-
grama de Remanejamento da Orla Marítima, criado pelo Decreto Lei
nº 26.666, de 4 de setembro de 1973, no cerne do I Plano Regional de
Desenvolvimento do Potencial Turístico e de Proteção à Ecologia da
Orla. Segundo Bonald (1978), este planejamento “objetivava a preser-
vação e a valorização do patrimônio paisagístico do litoral e a defesa do
equilíbrio ecológico”, definindo uma política geral de ordenação da orla
marítima, quanto aos seus usos, acessos e equipamentos, disciplinando
a ocupação do solo e prevendo a criação de infraestrutura para suportar
o fluxo turístico na Região Metropolitana de Salvador e a expansão das
atividades típicas do setor turístico.
Não é por acaso que Bonald, já em 1978, remete ao pioneirismo
da Bahia na arte de planejar a atividade turística, refletida no contingen-
te que usufruía de seus centros turísticos, bem como nos efeitos negati-
vos sobre o patrimônio natural e cultural (BONALD, 1978).
A par da importância dessa atividade de massa, ações de plane-
jamento e ordenamento são empreendidas pelo poder público. No ano
de 1974, foi desenvolvido, pela Coordenação de Fomento ao Turismo,
o Projeto “Baía de Todos os Santos”, que objetivou identificar as poten-
cialidades turísticas e definir áreas prioritárias de desenvolvimento do
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 21

setor. Em 1975, concebeu-se o I Plano Regional de Desenvolvimento


do Potencial Turístico e de Proteção à Ecologia da Orla Marítima, no
bojo do Programa de Remanejamento da Orla Marítima do Estado (Lei
Nº 3.365, de 16 de janeiro de 1975).
A postura político-ideológica defendida no II PND, a partir do dire-
cionamento de ações pautadas no ideário nacional-desenvolvimentista, é
seguida à risca pelo governo de ACM. Isso fez com que a Bahia lograsse
maior êxito em relação ao desenvolvimento do turismo, tanto pela sua van-
guarda, pautada na literatura e no povo, como também pela conduta políti-
ca, principalmente desse governador, no que concerne ao desenvolvimento
do estado a partir de elementos da cultura local do território baiano.
A atuação política de ACM foi marcada, sobretudo, por duas
frentes: a manutenção dos interesses da elite soteropolitana e de seu
recôncavo, principalmente, e o desenvolvimento com caráter moderni-
zador, baseado no desenvolvimentismo requerido pelos militares. Esse
modelo de política de governo permitiu que ele ascendesse vertigino-
samente no cenário político baiano, fragilizando a oposição e consoli-
dando a era “carlista”, marcada, segundo Reis (2010), pela conduta re-
ferenciada pelo grupo político ligado à figura de ACM, o qual iniciou o
processo de modernização autoritária no seu primeiro governo estadual.
No governo estadual de Roberto Santos (1975-1979), houve, de
um lado, a continuidade do investimento na construção de equipamen-
tos turísticos, como o Centro de Convenções da Bahia, em 1979, e,
de outro, a mudança no marketing turístico, que passa a ser baseado
no sol, na praia e na música baiana (GUERREIRO, 2005). Tal política
foi continuada na gestão seguinte de ACM (1979-1983) e culminou na
participação da Bahia em mais de cem eventos externos e na conquista
dos “primeiros voos internacionais diretos para Milão, Roma, Madri,
Assunção, Paris e Lisboa” (SPINOLA, 2000, p. 39).
Sem dúvidas, a interferência da política do Estado-Maior se fez
sentir nas ações locais, principalmente no período de ACM. A junção
dos interesses locais com o nacional fez com que a Bahia se consolidas-
se enquanto importante polo turístico no país. No entanto, essa lógica
não se efetivou, via de regra, em todos os estados. É nesta perspectiva
que Pernambuco, embora adote o turismo em seu território de modo
22 Estudos da Pós-Graduação

similar à Bahia, valorizando sua cultura local, desenvolveu-se à revelia


das aspirações políticas do Estado-Maior.

PERNAMBUCO

A construção identitária em Pernambuco se dá em função do


imaginário social de seu território, especificamente do sertão, tendo
suas expressões culturais com as manifestações e eventos sociocultu-
rais, como o folclore, com a arquitetura e com o conteúdo histórico.
A política turística em Pernambuco remonta aos anos 1960,
no governo de Nilo de Sousa Coelho. Político de origem tradicional
oligárquica e industrial do sertão pernambucano, como a maioria dos
políticos do estado, tornou-se personalidade contraditória no estudo
do turismo, na medida em que seu governo foi marcado por ações vol-
tadas para o desenvolvimento agrário do interior do estado.
É interessante salientar que, nesse período, o desenvolvimento da
atividade turística foi motivado por uma organização institucional desse
setor, que se tornou exemplo à época, seguindo a tendência do momento:
a de criação de secretarias de turismo nos governos estaduais e munici-
pais. No citado governo, foi proposta a criação da Empresa Pernambu-
cana de Turismo (Empetur), cujo funcionamento iniciou-se em 1968, e
do Conselho de Turismo de Pernambuco (Contur), por meio da Lei nº
6.030, de 3 de novembro de 1967 (HOLANDA, 2003). No ano de 1969,
completando quadro de institucionalização da atividade, a antiga Secre-
taria Estadual de Indústria e Comércio foi transformada em Secretaria de
Indústria, Comércio e Turismo, e, em 1970, foi criada a Empresa Metro-
politana de Turismo (Emetur). Esse contexto de aparelhamento legal e
institucional da atividade no estado de Pernambuco foi propício para o
empreendimento de um ideário turístico diferenciado para o local.
Nos primeiros momentos de funcionamento dessas empresas,
prevaleceram estudos sobre as potencialidades turísticas do estado, com
uma conduta político-cultural voltada, principalmente, à valorização dos
espaços do interior pernambucano, bem como de seu patrimônio históri-
co-arquitetônico. Sem dúvidas, a origem sertaneja do então governador
influenciou a interiorização da atividade, assim como a valorização de
sua cultura. Segundo Bonald (1978), Pernambuco parte primeiramente
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 23

para a interiorização do turismo, dando condições de inclusão de seu


produto turístico no mercado.
A perspectiva de consolidação de um turismo diferenciado, ao se
apropriar da cultura pernambucana e de seu território, foi vertente fértil
de pensamento para a liderança do planejamento do turismo deste gover-
no, personificada na Empetur nas figuras de Olímpio Bonald e Francisco
Bandeira de Melo. Segundo Vicente (2009), a Empetur e a Emetur:

[...] utilizaram o discurso de valorização, difusão da cultura


popular pernambucana e diferencial turístico; desenvolveram
diversas ações de promoção às artes populares do Estado, e
foram responsáveis, até a metade da década de 1970, também
pelas políticas de Cultura Estaduais. Integraram no quadro
funcional desses órgãos intelectuais e estudiosos das artes
culturais, sendo mais um indício dessa integração política [...]
(VICENTE, 2009, p. 43).

A organização e a visão de turismo adotadas pela Empetur tor-


naram-se referência no planejamento e organização do turismo no final
dos anos 1960 e início dos anos 1970 (BONALD, 1978).
Não obstante seu pioneirismo, no governo de Eraldo Gueiros
Leite (1971-1975), cogitou-se extinguir a Empetur por se entender que
suas atividades oneravam os cofres do Estado (HOLANDA, 2003). Evi-
denciou-se, assim, forte descontinuidade nas ações públicas no domínio
do turismo, segundo Holanda, 2003, as quais foram conduzidas, até o
governo de Moura Cavalcanti (1975-1979), de modo pontual, tendo em
vista, principalmente, as metas do então governo militar, sob a égide do
PND, com a priorização de outros setores da economia.
As manifestações culturais populares de Pernambuco eram vistas
criticamente pelo governo militar ditatorial, principalmente por sua re-
lação com o Manifesto Regionalista, encabeçado, em 1925, por Gilberto
Freyre, cujas teses regionalistas, com o culto às tradições e aos costumes
populares, influenciaram a forma de se fazer turismo neste estado. O re-
ceio se justificava pelo fato de Pernambuco contar com rico histórico nas
lutas sociais agrárias (Ligas Camponesas), adotando o governo militar
estratégias voltadas à sua neutralização. Neste sentido, espaços popula-
24 Estudos da Pós-Graduação

res, de aglutinação social e de liberdade de expressão da cultura popular,


constituíam-se em territórios de enfrentamento do governo militar.
Houve, assim, uma mudança radical no cenário pernambucano,
diferenciado da relativa liberdade de ações em prol do turismo notadas
no governo de Nilo de Sousa Coelho. Tal liberdade se justificava por
este ter governado no último ano do primeiro mandato da ditadura, o
do marechal Castello Branco (1964-1967), o qual tinha um cunho mais
liberal e não vislumbrava as manifestações culturais como “ameaça”
à pátria e nem ao sistema vigente. Essa realidade mudou no início do
mandato do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), período
mais duro do governo central, cujos reflexos incidem em Pernambuco,
“um dos polos regionais de maior agitação política e social do país”
(ZAIDAN, 2005, não paginado).
Essas circunstâncias fizeram com que o desdobramento do II
PND em Pernambuco fosse diferenciado do da Bahia. Se, neste es-
tado, foi sob a regência desse plano que se deu o alavancamento da
atividade turística, em Pernambuco, com ele, notou-se um grande re-
trocesso. Este quadro de referência remete à discussão da necessidade
de o ordenamento territorial se adequar às peculiaridades do território
para o qual é pensado. A ideia do land use planning, de natureza rígi-
da, não flexível e desvinculada do seio social (ALBRECHTS, 2004),
é, assim, fragilizada. Impõe-se, então, a necessidade de se discutir e
se ouvir o que provém do social e do subjetivo, elementos importan-
tes à identificação das culturas de territórios (DAVOUD; STRANGE,
2009), típicos do ordenamento territorial na perspectiva do spatial
planning. Esta concepção perpassa por um tipo de planejamento de vi-
são prospectiva do território, de caráter integrador e participativo, que
insere as particularidades sociais, culturais, ambientais, econômicas e
normativas do território nos planos e ações de impacto no espaço.

Segundo grupo: Ceará e Rio Grande do Norte – Valorização


das zonas de praia

Diferentemente da Bahia e de Pernambuco, o segmento sol e mar


foi supervalorizado no Rio Grande do Norte e no Ceará. Estes estados
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 25

não incluíram elementos de seu patrimônio histórico, opção política


local que definiu o ordenamento do território desde o princípio e explica
esforços mais concentrados em suas zonas costeiras.

RIO GRANDE DO NORTE

O turismo adentra no território norte-rio-grandense, por intermé-


dio do governador Aluísio Alves, como apropriação do discurso polí-
tico contraditório de modernidade das oligarquias. Alçado ao poder no
ano de 1961, a partir de uma opção política afinada ao nascente governo
militar, baseada na ideia de “burguesia nacional-associada” – termo que
remete a uma modernização conservadora e excludente, que aprofunda
a concentração de renda e mantém inalterada a estrutura fundiária e de
poder de elites locais (FELIPE, 2010) –, Aluísio Alves consegue man-
ter-se no poder mesmo após o Golpe Militar de 1964.
O referido governo propiciou momento importante para o turis-
mo no estado, com a inauguração do primeiro grande hotel da cidade de
Natal, o Hotel Reis Magos, em 1965, a partir da parceria entre Governo
Federal, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Governo
Estadual (GOMES; SILVA, 2000; GOMES; SILVA; SILVA, 2002).
Aluísio Alves iniciou a atividade turística ao estabelecer uma
política de ordenamento da infraestrutura na capital, nos termos
das diretrizes políticas advindas do nacional-desenvolvimentismo.
Baseou-se no incremento dos transportes e das telecomunicações, que
deixaram de ser foco no período ditatorial, em detrimento dos investi-
mentos no setor industrial produtivo (CAVALCANTE, 1993).
Com a centralidade da atividade turística na capital e em sua
região metropolitana, no ano de 1969, o estado foi sede do II Congresso
Brasileiro de Turismo, na gestão do sucessor de Aluísio Alves, Walfre-
do Dantas Gurgel (1966-1971).
O período governado por José Cortez Pereira de Araújo (1971-
1975) também foi importante momento para a consolidação do turismo
no estado do Rio Grande do Norte. De origem familiar agrário-oligárqui-
ca, foi escolhido governador por Emílio Garrastazu Médici. No ano de
1971, seu governo foi responsável pela criação da Empresa de Promoção
26 Estudos da Pós-Graduação

e Desenvolvimento do Turismo (Emproturn), que realizou, pela primeira


vez, em 1972, um levantamento das potencialidades turísticas do estado.
Também criou, em 1973, o Projeto Educacional de Turismo (Projetur) e,
em 1975, o Bosque dos Namorados, posteriormente inserido no Parque
das Dunas, até hoje importante área de preservação da Mata Atlântica
no território urbano de Natal. Com esse governador, iniciam-se ações
específicas de subsídio ao ordenamento territorial do turismo no estado,
com a meta de consolidá-lo como polo turístico do Nordeste.
Não obstante estas constituam ações pioneiras no domínio do
turismo, foi somente no governo de Tarcísio Maia que pôde ser posto
em prática o projeto Parque das Dunas – Via Costeira, especificamente
em 1977, com a idealização da primeira política de megaprojetos para
o desenvolvimento do turismo no Nordeste (CRUZ, 2000).
A atividade se consolidou no Rio Grande do Norte já na década
de 1970, como saída ao baixo desenvolvimento econômico em outros
setores de produção e como perspectiva de crescimento e consolidação
de sua economia, diferentemente do que ocorreu na Bahia, onde o turis-
mo tornou-se atividade alternativa ao forte desenvolvimento industrial.
O megaprojeto Parque das Dunas - Via Costeira beneficiou a elite
local com incentivos financeiros para a concessão de terrenos em locais
privilegiados da cidade de Natal, na região metropolitana e em demais
localidades no interior do estado, voltados à implantação da rede de
hotéis Rio Norte Hotelaria, todos a oeste do estado (PEREIRA, 2009):
Hotel Olho D’Água do Milho, em Caraúbas; Hotel Serrano, em Martins;
Hotel de Alexandria e Dunas Praia Hotel, em Tibau.
As práticas autoritárias provenientes do discurso tradiciona-
lista agrário-político se fixaram na capital e fizeram do turismo no
Rio Grande do Norte um mecanismo para sua reprodução no poder.
Assim sendo, Werlen (2000) é lembrado quando afirma que as socie-
dades tradicionais regionalistas “renovam” seu discurso pautando-se
na modernidade, mesclando tradições do passado, presente e futuro,
aliadas a laços familiares e de dependência na performance pública.
Além de ter sido o filão para que o estado consolidasse sua econo-
mia, o turismo, associado ao discurso da modernidade, tornou-se
peça-chave na manutenção do status quo das elites locais.
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 27

A meta de governo de Tarcísio Maia teve sequência com seu suces-


sor, o seu primo Lavoisier Maia Sobrinho, que governou de 1979 a 1983,
garantindo a continuidade das obras do megaprojeto Parque das Dunas - Via
Costeira. Em 1980, Lavoisier reabriu, após reforma, o aeroporto internacio-
nal Augusto Severo, localizado no município metropolitano de Parnamirim,
e, durante toda a sua gestão, paulatinamente, foram sendo inaugurados os
hotéis na Via Costeira, o que proporcionou o primeiro boom da atividade no
ano de 1985, já com o então governador José Agripino Maia (1983-1986).

CEARÁ
O Ceará foi o estado nordestino no qual a priorização da política de
industrialização mais seduziu as elites políticas. Segundo Araújo (2012),
as políticas públicas direcionadas ao turismo no Ceará eram desarticu-
ladas e/ou inexistentes. O autor faz esforços no sentido de apresentar as
ações pioneiras neste domínio. Baseado em Bernal (2005), ele remete
à atuação do governador Virgílio Távora, responsável pela implantação
do Plano de Metas Governamentais (Plameg I), em 1963. Este plano,
embora tivesse como foco principal ações de investimentos na indústria e
na agricultura, apresenta outras áreas de investimento na Região Metro-
politana de Fortaleza, reflexo direto da influência que a atividade turística
passa a exercer no continente americano no pós-1970. Araújo (2012) sin-
tetiza magnificamente estas ações pioneiras, remetendo aos governos de
César Cals, Adauto Bezerra e Virgílio Távora (segundo governo).
César Cals (1971-1974) pôs em pauta o Plano de Governo do
Estado do Ceará (Plagec) e adotou medidas que culminaram, em 1973,
na constituição da Empresa Cearense de Turismo (Emcetur). A este go-
verno deve-se o primeiro diagnóstico turístico do estado, com a identi-
ficação das principais áreas propícias à atividade: os espaços litorâneos
metropolitanos e os serranos (Serras de Baturité, Itapipoca, Urubureta-
ma, Ubajara e Tianguá). Assim, na citada política, os espaços litorâneos
não reinam em absoluto, destacam-se também as serras, em virtude do
seu clima ameno, contrapondo-se às temperaturas altas da realidade de
semiaridez predominante no Ceará.
Adauto Bezerra (1975-1978) avançou no tratamento do turismo
como atividade econômica, investindo na infraestrutura de áreas de par-
28 Estudos da Pós-Graduação

ques nacionais, dentre os quais o Parque Nacional de Ubajara (criado


em 1959), com papel de destaque.
Pautado no Plameg II, Virgílio Távora (1979-1982) criou o primei-
ro Plano Integrado de Desenvolvimento Turístico do Ceará (PIDTC), em
1979. Neste plano, há referência ao ordenamento dos espaços litorâneos
como áreas turísticas, destacando-se a capacidade motriz de Fortaleza, e
inaugurando-se, assim, mudanças no discurso, na imagem e nas repre-
sentações da cidade (ARAÚJO, 2012). Tendo em vista tal contexto, jus-
tifica-se a construção, no pós-anos 1980, de vários hotéis e pousadas na
avenida Beira-Mar, principal área de lazer da capital.
Gonzaga Mota (1983-1986), cujo governo refletiu mais signi-
ficativamente mudanças nos discursos políticos da época, foi pouco
representativo no domínio do planejamento e da implementação de
ações físicas.
Do que foi apresentado, Araújo (2012) remete a três fases, rela-
cionadas ao que ele qualifica de “primórdios”, referentes, obviamente,
ao conjunto de políticas de ordenamento do território do Ceará:

a) A primeira fase caracteriza o “turismo” como atividade ainda a


ser reconhecida e/ou avaliada por órgãos governamentais, em que
o governo César Cals (1971-1974) apresenta o turismo como pos-
sível atividade, e, por isso, a “identificação” do potencial turístico
e a criação da Emcetur, em 1973, para ações vinculadas à ativida-
de; b) a segunda fase é caracterizada pelo reconhecimento e pelas
primeiras ações de planejamento e de infraestrutura, marcada por
Adauto Bezerra (1975-1978), e pelos estudos sobre as áreas con-
sideradas potencialmente turísticas; c) a terceira fase é qualificada
pelas relações entre o turismo e a Região Metropolitana de Forta-
leza, além do reconhecimento do “espaço litorâneo” como espaço
turístico e da necessidade de planos específicos para o turismo,
iniciados pelo Plameg II, de Virgílio Távora (1979-1982), e pelo
Planed, de Gonzaga Mota (1983-1986) (ARAÚJO, 2012, p. 30).

Ressalte-se que as ações voltadas para o desenvolvimento da ativida-


de turística refletem os modelos de gestão política do período em que foram
adotadas, o que confirma a ideia de que a cultura de ordenamento territorial é
um estudo da cultura de condutas políticas de determinados territórios, uma
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 29

vez que a vinculação ‘política e território’ fornece a lógica e o entendimento


à análise deste último. Dessa forma, as fases do turismo, referenciadas em
Araújo (2012), representam particularidades da história, peculiaridades de
condutas de planejamento e de tradições políticas referentes a determinado
momento, e que foram superadas por outras estruturas institucionais, advin-
das com a posse de novas personalidades no governo do estado.

As políticas públicas de desenvolvimento do turismo no


Nordeste no final do século XX

No final do século XX, constitui-se quadro favorável à transfor-


mação do Nordeste de uma região não turística em uma região com
“vocação” turística, reflexo direto do processo de valorização contem-
porânea das zonas de praia. Tal fato instaura discussões que abalam a
imagem tradicional do Nordeste brasileiro, com a passagem da imagem
associada à pobreza a outra de caráter sobretudo turística, vinculada ao
sol, às jangadas e aos coqueirais (ALMEIDA, 1996).
O abalo em foco se relaciona à tônica de valorização das zonas
de praia empreendida nos Países do Sul, em vias de desenvolvimento,
justificando uma “turistificação dos litorais” (CAZES, 1999).
Grosso modo, a modificação do olhar da sociedade local em
relação ao semiárido evidencia conflito entre dois quadros simbólicos
contraditórios: o mais antigo, balizado em discurso que reforça um con-
junto de imagens negativas do semiárido e que beneficia a oligarquia
agrária regional; e o mais recente, associado a discurso focado nas vir-
tualidades dos espaços semiáridos, construindo uma imagem positiva
vinculada aos interesses de empreendedores ligados tanto à agricultura
irrigada como ao turismo, nosso objeto de estudo.

Quadro simbólico reforçando imagem negativa do


semiárido

O fundamento da imagem negativa do semiárido se encontra em


documentos antigos (cartas reais) e em relatos de viajantes, apresen-
tando forte conotação determinista e remetendo a um quadro natural
30 Estudos da Pós-Graduação

perverso marcado pela semiaridez e pelas secas cíclicas vitimadoras do


homem. O quadro socioespacial analisado anteriormente foi fundado
nessa matriz, denotando um tipo de organização espacial e um sistema
de atores atrelados às especificidades do ecossistema semiárido.
A oligarquia do Nordeste tirou proveito desse discurso de caráter
determinista para se inserir num modelo de constituição de um Estado
Nacional. Fundada no regionalismo, essa oligarquia nasce das cliva-
gens da dominação da elite assentada no Sudeste e age pura e simples-
mente numa luta por recursos que fundamentem o seu poder simbólico
de afirmação e de identidade em relação a outros segmentos da socieda-
de local (CASTRO, 1997).
A inserção do Nordeste nesse modelo evidencia um sistema
socioespacial dependente das ajudas e subvenções do governo federal,
permitindo, grosso modo, a construção de vias capazes de promover a
integração do sertão ao mercado, o estabelecimento e/ou criação de or-
ganismos públicos federais no Nordeste, a implantação da política de
industrialização dos anos 1960 e, com menor abrangência no domínio
regional, de políticas pioneiras e pontuais associadas à atividade turística.

Quadro simbólico reforçando imagem positiva do semiárido

A concepção do meio como base na adoção de políticas de desen-


volvimento é retomada no final do século XX, denotando transformações
de caráter político que aconteceram no Nordeste brasileiro em resposta
a uma nova ordem política nacional e internacional. A crise do Estado
Moderno gera desdobramentos no país, com a promulgação de uma nova
constituição, a qual possibilita a implantação da democracia no país e a
geração de um quadro no qual os governos dos estados nordestinos – o
“Estado local” (CLAVAL; SANGUIN, 1997) – tendem a adquirir autono-
mia na construção e efetivação de políticas públicas de desenvolvimento.
Da relação de completa dependência das políticas e dos recursos
provenientes do governo central, atualmente, os governantes dos esta-
dos nordestinos tomam para si a idealização e o controle das políticas de
modernização. Passam, nestes termos, a dialogar, no sentido de captar
investimentos, diretamente com organismos internacionais de desen-
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 31

volvimento, como o BID, e com empreendedores privados (nacionais


e internacionais). O poder do governo central é minimizado, passando
a atuar como avalista dos empréstimos realizados pelos Estados locais.
Coloca-se em cena uma racionalidade de intervenção gestada pelos
governantes regionais, numa política circunscrita aos limites de seus
estados e pautada nas potencialidades do substrato natural.
A reflexão em torno do semiárido é, então, retomada, eviden-
ciando-se suas virtualidades no desenvolvimento do agronegócio e do
turismo litorâneo. O primeiro, gênero de atividade associado às planícies
fluviais, às regiões de maciços (especializadas na produção de frutos) e
ao cerrado nordestino (com a produção de soja). O segundo, predominan-
temente relacionado à zona costeira.
Remete-se, por isso, à ideia de fragmentação da região (SIL-
VA, 1999), com a apresentação do “Nordeste do agronegócio” e do
“Nordeste turístico” (DANTAS, 2008) (Figura 1), e com a consequente
consolidação, em caráter regional, de novas elites políticas articuladas
conforme características inerentes a seus estados.

FIGURA 1 – “Nordeste do agronegócio” e “Nordeste turístico”

Fonte: Dantas (2006).


32 Estudos da Pós-Graduação

O Nordeste brasileiro começa a ser “vendido”, nestes termos,


como local no qual a produção de alimentos se dá com mais proprieda-
de e onde a ambiência litorânea possibilita fluxo crescente de turistas,
de preferência internacionais, ambos os pontos justificadores da im-
plementação de uma política de controle das bacias hidrográficas, ou
seja, da garantia de oferta de água em abundância. Dispondo de água
no lugar e no momento certos, condições de solo e de luminosidade
apropriadas, bem como de ambiência litorânea semiárida, ao Nordeste
se associa uma imagem positiva no cenário nacional e internacional
(DANTAS, 2002).
Da transformação empreendida, chama particular atenção o for-
talecimento da lógica urbana vis-à-vis à agrária. As cidades desempe-
nham um papel preponderante nesta nova racionalidade, o que se vê
tanto no fortalecimento das metrópoles nordestinas (litorâneas), como
das cidades médias (interioranas). Das duas lógicas de modernização
mencionadas acima, a inovação reside na aplicação maciça de recursos
dos governos em suas metrópoles e municípios litorâneos, com con-
sequente potencialização, delineamento e atendimento das demandas
por espaços de lazer, revertendo, assim, a caracterização exclusiva da
região como produtora de alimentos.
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 33

NORDESTE TURÍSTICO

O Nordeste turístico é pensado e projetado com a


concentração de polos turísticos em sua zona costeira, à exce-
ção da Bahia, que dispõe de um polo interiorano na Chapada da
Diamantina. Consolida-se, a exemplo do padrão internacional, o
turismo litorâneo na região, valorado na constituição de um quadro
em que a praia, o sol e o mar são variáveis importantes na atração
de fluxos turísticos.
Os governos dos estados nordestinos concebem individualmente
suas políticas, captando recursos do Banco Interamericano de Desen-
volvimento (BID), com aval do Banco do Nordeste, responsável pela
gestão desses recursos junto aos governos em foco.

Prodetur I e II, PAC e Prodetur Nacional

A espacialização dos investimentos nos Programas para o Desen-


volvimento do Turismo na região, o Prodetur I e Prodetur II, levam-nos
a compreender a essência das políticas. Voltados à disponibilização de
infraestrutura, tais programas implementam uma racionalidade diferen-
ciada da anterior, que convidava o sertão a se abrir. Na nova lógica,
estabelece-se uma logística pautada no aeroporto e articulada às vias
litorâneas, instituindo uma racionalidade de ocupação paralela à zona
costeira (Figura 2).
34 Estudos da Pós-Graduação

FIGURA 2 – Distribuição espacial dos investimentos do Prodetur I e II nos estados da Bahia,


do Ceará, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte

Fonte: Adaptada pelo autor.

Os investimentos na construção de vias litorâneas e de aeropor-


tos, ou em reformas, modificam plenamente a dinâmica urbana da re-
gião. As capitais se instituem como locus de recepção e de distribuição
dos fluxos turísticos na zona costeira, preferencialmente nos municípios
litorâneos das principais regiões metropolitanas do Nordeste: Fortaleza,
Natal, Recife e Salvador. Institui-se uma urbanização linear-fragmenta-
da, que aponta duas dinâmicas diferenciadas:

I) Do Nordeste semiárido e do Meio Norte, representativa da


tentativa de constituição de infraestrutura possibilitadora da
articulação entre os estados do Ceará, Piauí e Maranhão, e
pautada no projeto pioneiro intitulado CEPIMA, que institui
uma lógica de intervenção de caráter regional;
II) Do Nordeste úmido, Zona da Mata, cuja infraestrutura preté-
rita, herdada da época colonial, é reforçada, não justificando,
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 35

portanto, a implementação de uma política turística suscita-


dora da articulação entre os estados que a compõem. Neste
domínio, a lacuna deixada pela ausência de políticas regio-
nais entre os estados é coberta por recursos provenientes de
outros programas, como o PAC, cujos recursos destinados à
ampliação da BR-101 propiciam o reforço das articulações
preexistentes entre Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernam-
buco, Bahia, Sergipe e Alagoas. As “rugosidades” (SAN-
TOS, 1985) são assim reforçadas.

As políticas públicas pensadas e implementadas consolidam


a atividade turística na região, ampliando seu espectro, com a
complementação de investimentos, além dos trazidos pelo Prodetur I e
II e pelo PAC. Ademais, associado à dinâmica dos megaeventos, como
a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014, o Governo
Central disponibiliza recursos aos estados e capitais com mais de um
milhão de habitantes.
Apresenta-se, então, o Prodetur Nacional, destinado a ações
de caráter regional e à urbanização das cidades-sede dos eventos em
foco. Os prefeitos dos municípios de Fortaleza, Recife e Salvador
apresentaram e aprovaram projetos voltados ao reforço de obras
do receptivo em suas cidades. Assim também fizeram os governos
dos estados, com apontamento de política turística voltada a áreas
não litorâneas, em virtude da pressão dos municípios dessas áreas,
ávidos em participar do quinhão dos investimentos turísticos. No
Ceará, isto se deu com projetos voltados a Baturité e Ibiapaba; em
Pernambuco, a Caruaru e Petrolina; no Rio Grande do Norte, a Caicó;
na Bahia, com tônica diferenciada, os projetos concentraram-se em
sua região metropolitana (Figura 3). Preocupados com o atendimento
de demandas de lazer, os prefeitos passam também a participar da
elaboração de políticas turísticas na região.
36 Estudos da Pós-Graduação

FIGURA 3 - Distribuição espacial dos investimentos do PAC e Prodetur Nacional na Bahia, no


Ceará, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte

Fonte: Adaptada pelo autor.


Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 37

Ademais, emergem outras instituições nesse cenário, como o


Ministério do Turismo, que toma para si a gestão dos recursos apro-
vados para as cidades e para a região, complexificando a cadeia de
atores envolvidos nas políticas públicas associadas ao fortalecimento
da região e de suas metrópoles. Falar pura e simplesmente da recepção
de times de futebol, com seus jogadores e torcedores, não dá conta dos
interesses intrínsecos nessa trama. O intento é o de constituir uma ima-
gem positiva das metrópoles em foco, “vendendo-as” internacional-
mente, no sentido de animar os fluxos turísticos internacionais. A efe-
tivação desses investimentos, especialmente do Prodetur I, bem como
o apontamento de intervenções em andamento e futuras nos demais
programas, é basilar na atração de volume substancial de investimen-
tos privados e de fluxos turísticos à região.
Dados representativos da construção do Nordeste turístico são
percebidos, de um lado, no movimento dos aeroportos nordestinos, com
maior propriedade nos voos charters internacionais de caráter eminen-
temente turístico, e, de outro, na indicação de cinco cidades nordestinas
dentre as cidades mais visitadas no Brasil.
O fluxo turístico nacional se apresenta reforçado por fluxo de
caráter regional significativo. Embora o atingimento da meta inicial dos
governantes nordestinos tenha sido a de consolidar a região como desti-
nação turística internacional, os fluxos representativos desse movimen-
to não ultrapassaram os 10% do volume total. Nesses fluxos, explica-se
e justifica-se a atração de investimentos clássicos na região, notada-
mente do ramo hoteleiro, com hotéis estabelecendo-se, principalmente,
nas capitais, e com os resorts, cuja distribuição comporta abrangência
territorial maior, com força nas regiões metropolitanas.
Entretanto, o inesperado toma corpo. Da concepção clássica
almejada pelos governantes nordestinos, restrita a empreendimentos
e investimentos no segmento hoteleiro, bem como limitada à atração
do fluxo de turistas para validar estes empreendimentos, a região
passa a ser objeto de outros investimentos e da consequente chega-
da de outros atores nacionais e internacionais, com natureza díspar
daqueles característicos do turismo.
38 Estudos da Pós-Graduação

O inesperado: a vilegiatura e as entradas de capitais


internacionais

Com a infraestrutura e o consequente receptivo voltado à atração


de turistas, percebe-se a geração de fluxo significativo de vilegiaturis-
tas provenientes de outros países e de outras regiões do Brasil, fato
negligenciado pelos atores políticos da região (PEREIRA, 2012; FON-
SECA, 2012). O intento desses usuários não se reduz à viagem propria-
mente dita, eles anseiam por se fixar em lugar escolhido, adquirindo,
para tanto, uma segunda residência. Trata-se de fluxo que redimensiona
a prática da vilegiatura na região e em suas metrópoles, animando as
zonas de praia e instituindo uma prática eminentemente de caráter marí-
timo. Os usuários em foco se beneficiam da infraestrutura pensada para
o turismo, diversificando o mercado de terra nos municípios litorâneos
e, igualmente, nas metrópoles nordestinas.
De uma prática marítima de caráter eminentemente local e, na
melhor das hipóteses, regional, percebe-se, nos quatro últimos decênios,
a incorporação gradual de vilegiaturistas estrangeiros e provenientes
de outras regiões brasileiras. Acrescida à vilegiatura de caráter local,
tal prática toma a totalidade do espaço litorâneo nordestino, concen-
trando-se principalmente em suas regiões metropolitanas, bem como
revertendo uma tendência de esvaziamento de tal prática na metrópo-
le. Para os vilegiaturistas alóctones, provenientes tanto do estrangeiro
como de outros estados brasileiros, cidades como Salvador, Fortaleza,
Natal e Recife são potencializadas por sua ambiência litorânea carac-
terística, assim como pela possibilidade de usufruto do conjunto de
serviços especializados. Consolida-se, nestes termos, um movimento
de caráter predominantemente metropolitano, com frequência maior
notada nas capitais nordestinas, principalmente dos estados da Bahia,
Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, conforme os censos de
1980, 1991, 2000 e 2010 (Figuras 4, 5, 6 e 7).
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 39

FIGURA 4 - Distribuição do número de residências secundárias nos municípios da Bahia,


do Ceará, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte – 1980

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1980). Disponível em: <http://www.ibge.


gov.br>. Acesso em: 20 maio 2010.

FIGURA 5 - Distribuição do número de residências secundárias nos municípios da Bahia,


do Ceará, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte – 1991

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1991). Disponível em: <http://www.ibge.


gov.br>. Acesso em: 20 maio 2010.
40 Estudos da Pós-Graduação

FIGURA 6 - Distribuição do número de residências secundárias nos municípios da Bahia, do


Ceará, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte – 2000

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2000). Disponível em: <http://www.ibge.gov.


br>. Acesso em: 20 maio 2010.

FIGURA 7 - Distribuição do número de residências secundárias nos municípios da Bahia, do


Ceará, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte – 2010

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010). Disponível em: <http://www.ibge.


gov.br>. Acesso em: 20 maio 2010.
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 41

Da lógica associada à capacidade dos Estados locais em atrair


investimentos e fluxos, percebe-se, no final dos anos 1990, início dos
anos 2000, uma articulação entre empreendedores locais e estrangeiros,
vislumbrando a possibilidade de incorporação de investimentos imobi-
liários à dinâmica do turismo. Retoma-se a demanda dos vilegiaturis-
tas, redimensionando-a com o oferecimento de novos empreendimentos
imobiliários, tanto condomínios de segunda residência, como empreen-
dimentos que associam a estrutura hoteleira a um conjunto de residências
secundárias, cujo usufruto é garantido ao comprador. Tem-se, assim, a
possibilidade de disponibilização a turistas no pool do empreendimento.
São estes os complexos turísticos residenciais, que pululam na zona cos-
teira nordestina, com maior força em suas regiões metropolitanas.
Na dinâmica supramencionada, os empreendedores locais aca-
bam tendo o controle da terra, sendo os recursos originários do estran-
geiro. A análise do capital proveniente de fora do país, feita pelo Banco
Central, como mostra Silva (2010), no bojo de estudos desenvolvidos
pelo Observatório das Metrópoles, dá conta da importância desse fenô-
meno na região, cujo volume atinge, em 10 anos (de 2001 a 2010), US$
1.572.130,00, distribuídos nos estados da Bahia (BA), Ceará (CE), Rio
Grande do Norte (RN) e Pernambuco (PE) (Figura 8).
FIGURA 8 - Entrada de capital internacional no Nordeste - 2001 a 2010

Fonte: Adaptada pelo autor.


42 Estudos da Pós-Graduação

Empreendedores internacionais associados a locais se especia-


lizam na geração de novos produtos a uma clientela de vilegiaturistas
provenientes do exterior e ansiosos em se estabelecer ocasionalmente
nas praias nordestinas. São capitais provenientes do mundo inteiro, mas
com participação marcante de empreendedores de Portugal, Espanha e
Itália (Figura 9). Esse movimento garantiu ingresso de valores signifi-
cativos de capitais internacionais no período de 2001 a 2008, tendo sua
intensidade reduzida no pós-crise do mercado imobiliário de 2009. A
curva crescente é freada, reduzindo-se significativamente os volumes
dos investimentos. Em 2010, eles são retomados, mas abaixo dos valo-
res anteriores e com maior força no Ceará e no Rio Grande do Norte.

FIGURA 9 - Origem do capital internacional no Nordeste - 2001 a 2010

Fonte: Adaptada pelo autor.

Mesmo com a crise internacional, os envolvidos nos empreendi-


mentos imobiliários que associam a dinâmica da vilegiatura à turística
não entram em crise, somente redimensionam seus projetos em gran-
diosidade e voltam-se a outra clientela: os vilegiaturistas provenientes
de outras regiões do Brasil. A exemplo do turismo, o foco na internacio-
nalização é redimensionado com a incorporação da demanda nacional e
de importante participação regional.
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 43

O diferencial no processo relatado, em relação à atividade


turística, é que tal fato não resultou de algo pensado pelos gover-
nos dos estados nordestinos. Foram os empreendedores imobiliários
que, sensibilizados pela demanda dos vilegiaturistas, estabeleceram
parcerias e passaram a pressionar os governos locais, no sentido de
validar seus projetos. Além de se aproveitarem da infraestrutura pen-
sada para o turismo, conseguiram, na sequência, envolver os gover-
nadores em sua empreitada nos salões internacionais.
Na disponibilização de novos produtos imobiliários, associa-
dos a práticas diferenciadas, percebe-se, nos estados analisados, a
importância que os complexos turísticos residenciais tomam, geran-
do um quadro de concentração na região metropolitana, a exemplo
do notado na Bahia, no Ceará, em Pernambuco e no Rio Grande do
Norte (Figura 10).

FIGURA 10 - Empreendimentos imobiliário-turísticos na Bahia, no Ceará, em Pernambuco


e no Rio Grande do Norte

Fonte: Adaptada pelo autor.


44 Estudos da Pós-Graduação

Do apresentado, tem-se a constituição de um quadro de urba-


nização pautado em empreendimentos que suscitam a projeção das
metrópoles nordestinas à zona costeira, com o consequente direcio-
namento do processo de expansão das regiões metropolitanas para
o seu lado litorâneo, instituindo uma ocupação de caráter linear e
fragmentado. Com o advento da sociedade dos lazeres, as cidades
litorâneas nordestinas se tornam marítimas, validadas pelo exercício
das práticas turísticas e, inclusive, da vilegiatura marítima. Proje-
tam-se, portanto, em escala internacional, participando do pool de
cidades a valorarem seu lado litorâneo.
Embora os atores até então evidenciados abalem o pacto
oligárquico existente na região, eles não conseguem tomar o
poder em escala regional, diferentemente do ocorrido com a
oligarquia algodoeira pecuarista do sertão, que desbancou os
senhores de engenho da Zona da Mata (OLIVEIRA, 1981).
Aqueles atores são frágeis em termos políticos, dado gerador
da necessidade de estabelecimento de alianças com outros seg-
mentos políticos, econômicos e administrativos, a fim de se
obter representatividade.
As antigas elites do Nordeste, de caráter fortemente agrário,
são levadas a construir acordos e pactos com os novos atores urba-
nos: elite empresarial, funcionários altamente qualificados do ser-
viço público, dentre outros. Tem-se a configuração de um quadro
político validado na escala dos estados, dispondo cada um deles de
características próprias. A título de exemplo: a) no Ceará, o segmen-
to que assume o poder provém do empresariado urbano, que soube
se associar a outros atores e relegou a um segundo plano a antiga
elite algodoeira-pecuarista (leia-se coronéis); b) no Rio Grande do
Norte, a elite anteriormente citada se manteve no poder, construindo
um pacto com os outros atores políticos locais.
As configurações supramencionadas culminaram na efetiva-
ção de políticas pioneiras tanto no Ceará como no Rio Grande do
Norte. O primeiro estado, com a hegemonia obtida pelo segmento
urbano empresarial, lançou-se com força na defesa e efetivação de
uma política de desenvolvimento pautada no turismo. O segundo es-
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 45

tado, devido à força do segmento agrário em sua composição, mos-


trou-se forte no delineamento de uma política de desenvolvimento
associada ao agronegócio, destacando-se, portanto, no cenário re-
gional. Demonstra-se, nestes termos, como as elites agrárias locais
souberam se perpetuar no governo, dialogando e construindo um
projeto de modernização.
O recurso ao ocorrido no Ceará ilustra bem as transformações
ocorridas no sentido de viabilizar a atividade turística na região.
Nesse estado, as alianças políticas conduziram grupo de empresários
originários do Centro Industrial do Ceará (CIC) ao poder. Constata-
-se, então, o sucesso de estratégia empreendida em 1978, com a elei-
ção de presidente do CIC independente da Federação das Indústrias
do Estado do Ceará (Fiec), o que se relaciona ao interesse de jovens
empresários em estabelecer um diálogo com o governo, ou seja, em
buscar uma inserção política.
O Ceará torna-se um paradigma para a região Nordeste, ao
apostar em práticas políticas inovadoras, como o Programa de Desen-
volvimento do Turismo em Zona Prioritária do Ceará (Prodeturis), de
1989, um guia para os empreendedores e um indicador para os pro-
gramas oficiais e para as políticas de planejamento turístico no estado.
Do exposto, somos levados a apontar a necessidade de reali-
zação de estudos que vislumbrem, a exemplo do apresentado para
os primórdios das políticas relacionadas à atividade turística, uma
política de ordenamento do território diferenciada e resultante da
filtragem estabelecida in locus, especificamente pelos governos dos
estados, em articulação com demais segmentos enquadrados com
maior ênfase na dinâmica urbana ou agrária, política ou empresarial
e nacional ou internacional.
Os estudos do ordenamento territorial do turismo, no âmbito
da geografia, tornam-se imprescindíveis por mostrarem como o ter-
ritório é planejado e organizado para uma atividade econômica que,
efetivamente, constrói novas demandas territoriais. Destaquem-se,
ademais, os estudos das culturas desse ordenamento, que buscam
evidenciar quais particularidades do local são fatores intervenientes
na ordenação da atividade.
46 Estudos da Pós-Graduação

Assim, as culturas de ordenamento territorial demonstram que


vários são os atores locais que definem, por sua compreensão de pla-
nejamento, de Estado e de ação pública, as formas como determinadas
infraestruturas se alocam no território, delimitando, consequentemen-
te, as oportunidades e capacidades de competitividade dos territórios.
Revelam, ainda, como as gestões e ações públicas ratificam interesses
construídos historicamente por elites que se perpetuam no poder, pre-
servando, juntamente com elas, uma lógica territorial de desenvolvi-
mento e pautando os investimentos em territórios de acordo com os
interesses políticos e econômicos vigentes.
Desta forma, a proposta metodológica de análise da cultura
de ordenamento territorial do turismo apresenta-se como possibi-
lidade de incentivo a trabalhos futuros sobre as políticas vigentes,
mostrando as articulações entre atores regionais na escala de cada
uma das unidades da federação, os estados (ALVES; DANTAS,
2015; ALVES, 2015).
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 47

CULTURAS DE ORDENAMENTO TERRITORIAL


COMO METODOLOGIA DE ANÁLISE PARA OS
ESTUDOS DO TURISMO

A temática do ordenamento territorial se faz presente na


European regional/spatial planning Charter – Carta Europeia de
Ordenação do Território/Ceot (EUROPEAN CONFERENCE OF
MINISTERS RESPONSIBLE FOR REGIONAL PLANNING,
1983). Nela, esse assunto é apreendido a partir de três grandes facetas
articuladas entre si: a) acadêmico-científica; b) de política pública;
c) de ferramenta do planejamento.
O ordenamento territorial como ramo acadêmico e de conhe-
cimento é identificado por Becker (2005), em sua natureza prospec-
tiva e interdisciplinar, e visa à transformação do espaço, no sentido
de qualificá-lo. Embora tal discussão seja recente na academia, vale
destacar que a essência teórico-conceitual do ordenamento territo-
rial não é nova. O ato de “pensar” o território, com racionalidade e
estratégia relacionada às ações do Estado, remonta à necessidade de
reorganização fronteiriça e interna dos Estados nacionais, principal-
mente no contexto do pós-grandes guerras.
Nesse sentido, Mastop (1998) remete ao ocorrido na Europa
ocidental, fundamentando o apresentado por Albrechts (2006): em um
primeiro momento, concernente às primeiras ações de ordenamento
do território, empreendidas nos anos de 1920-1930, em que os go-
vernos europeus passaram a associar a ideia da necessidade de orde-
48 Estudos da Pós-Graduação

namento territorial à de Estado-Nação; e, em um segundo momento,


referente ao desdobramento ocorrido em outros continentes e países,
especificamente na Austrália, refletindo o processo de “europeização”
do planejamento do espaço (ALBRECHTS, 2006; FERRÃO, 2011).
A linha divisória entre o ordenamento territorial na perspectiva
acadêmico-conceitual, de política pública ou de ferramenta do plane-
jamento está na forma como o Estado efetiva o “pensar” o território.
Segundo Moraes (2000, 2005), a partir de ações públicas, o Estado se
firma como o principal agente na produção do espaço. Ao dotar o ter-
ritório de infraestruturas ou ao salvaguardar fronteiras, põe em práti-
ca ações públicas que ordenam o território e são formuladas a partir
da outra faceta do ordenamento: “ferramenta” do planejamento.
O modo como o Estado pensa o território se associa diretamente
ao contexto vigente. É nestes termos que a reflexão na América Latina
gira em torno de um quadro que caracteriza o Estado como centrali-
zador e que coloca em evidência, em situação de crise a se abater na
área, o conceito de descentralização. Para Estaba (1999), as políticas
públicas, de caráter estadista e populista, implementadas pelo Estado
venezuelano, aliadas ao processo histórico de formação territorial do
país, explicam a crise do modelo de desenvolvimento territorial ado-
tado, o qual concentra, espacialmente, o território.
Remete-se, no caso em foco, à problemática associada ao viés
da industrialização por “substituição de importação”, que concebe
um espaço com profundos problemas de concentração de infraes-
truturas, de serviços e de população nas grandes cidades e regiões
metropolitanas, relativizando as fortes desigualdades entre campo-
-cidade e inter-regionais e tornando-se, assim, um grande desafio
para o reordenamento (ESTABA, 1999). Partindo da realidade de
um país de governo centralizado, ele desenvolve estudo que evi-
dencia a descentralização espacial como elemento fundamental ao
ordenamento territorial e que expressa um projeto de modernização
global, gradual e progressivo, o qual reforça “los poderes locales y
la participación ciudadana” (ESTABA, 1999, p. 2).
O estudo de Estaba (1999) reporta-se à necessidade de ado-
ção de medidas descentralizadoras e de efetivação de práticas mais
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 49

territorial y social) [...] Su objetivo, sin embargo, no solo es reducir


los desequilibrios [..], sino también armonizar el conjunto de políticas
aplicadas sobre un territorio”2 (DASÍ, 2006, p. 57).
O ordenamento territorial, revestido de sua aplicabilidade de
política pública, tem como meta atingir o desenvolvimento equili-
brado das regiões, a partir de uma organização física do espaço e
de acordo com diretrizes preestabelecidas. Entretanto, vale salien-
tar que é “um instrumento de articulação transetorial e interinsti-
tucional que objetiva um planejamento integrado e espacializado
da ação do poder público” (MORAES, 2005, p. 46). Isso significa
dizer que uma política de ordenamento territorial é um conjunto de
ações setoriais, articuladas a partir de diretrizes comuns, que visam
ao desenvolvimento espacial. No bojo dessas políticas setoriais, en-
contram-se as do turismo, com a indicação de diretrizes gerais para
a gestão de sua competitividade e para o uso do solo, especificadas
nas singularidades territoriais e adequadas às características do local
no qual se espacializam.
Podemos afirmar que a complexidade desse conceito se deve
ao fato de tomar diferentes características e elementos integradores
para sua execução. Contudo, como apontam os estudos de Alves e
Dantas (2012), as concepções hodiernas, vis-à-vis às de culturas de
território, importantes no desenrolar de ações públicas de ordena-
mento territorial, nem sempre foram consensuais e muito menos se
mantiveram estáticas ao longo do tempo.

Culturas de ordenamento territorial como novo campo


de análise

Ferrão (2011), ao lidar com a questão da emergência do estudo


de culturas de territórios, no contexto de práticas atuais de ordenamen-
to territorial, endossa entendimento de Chapman (2002), em sua obra

2 “[...] resistência à desestruturação territorial, como a fratura territorial e social [...]. Seu objetivo,
sem dúvida, seria não somente reduzir os desequilíbrios territoriais, [...] mas também harmo-
nizar o conjunto de políticas aplicadas sobre um território” (DASÍ, 2006, p. 57, tradução nossa).
50 Estudos da Pós-Graduação

“System Failure. Why governments must learn to think differently”,


no que concerne às suas críticas às práticas de importação e expor-
tação de modelos de ordenamento alienígenas às singularidades dos
territórios. Para o primeiro autor, no advento do paradigma pós-estru-
turalista ou pós-moderno, impõe-se a cultura local de território como
importante elemento na formulação de planos e ações de Estado.
Face aos processos de globalização e de europeização, o
período da Pós-Nova Ordem Mundial (final da década de 1980
e início da de 1990) configura-se como importante momento de
propagação de ideias, modelos, modos de vida e de gestão. Traz
consigo, ao afetar diretamente os sistemas de planejamento de inú-
meros países, implicações na dinâmica do ordenamento territorial
(FERRÃO, 2011), gerando vários mal-entendidos e problemas
(STEINHAUER, 2011), em virtude de a filtragem estabelecida pelo
lugar esbarrar tanto em diferenças teórico-conceituais imanentes às
matrizes linguísticas como em suas tradições.
O problema enunciado reforça a necessidade de tratamento das
culturas locais de planejamento, entendidas aqui como de ordenamen-
to territorial, caminho imperativo na compreensão do território que se
intenta abordar. Para Friedman (2005a), a força da unificação e da
homogeneização da cultura em nível global implica, paradoxalmente,
a reação empreendida por países e regiões que passam a valorizar
suas diversidades culturais e, do ponto de vista do ordenamento
territorial, espaciais. Momento de transição entre Estruturalismo
e Pós-Estruturalismo, ou Pós-Modernismo, foi instituído como o
momento da “virada cultural” (cultural turn) e da “virada espacial”
(spatial turn) (FRIEDMANN, 2005a; KNIELING; OTHENGRA-
FEN, 2009a; GULLESTRUP, 2009; FÜRST, 2009).
Como novo caminho nos estudos do ordenamento territorial, a
análise das culturas de território adentra na esfera científica e intenta
identificar a importância de elementos endógenos na formação de
planos locais. Nessa perspectiva, os estudos referentes às práticas
de ordenação ganham o relevo das identidades locais como elementos
a modificarem, por completo, o que se planeja para o futuro de
determinado território.
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 51

Cultura de território como fator interveniente para o


ordenamento territorial

A construção histórico-analítica do conceito de ordenamento


territorial, feita por Ferrão (2011) e por Alves e Dantas (2012), bem
como o entendimento de sua adequação às mudanças paradigmáticas
vivenciadas no decurso histórico, é de importante valia na percep-
ção do apontamento dado às ações públicas referentes ao território.
Na compreensão das culturas de ordenamento do território (planning
culture), o elemento cultural, que se mostra preponderante, permite a
desconstrução de estruturas ou a modificação de realidades imanen-
tes a contextos sociais planejados para determinado espaço.
Steinhauer (2011), baseado em Knieling e Othengrafen
(2009b), afirma que:

[...] o conceito de culturas de ordenamento territorial considera


o planejamento e o desenvolvimento espaciais, em diferentes
níveis administrativos (nacional, regional, local), interligados e
influenciados por características particulares, tais como estru-
turas políticas, legislação e valores tradicionais. [...]. Assim, o
estudo das culturas de ordenamento territorial admite que os
sistemas de planejamento são caracterizados tanto por sua orga-
nização institucional e infraestrutural como pelos aspectos cul-
turais. Instituições, história, valores sociais e tradições desempe-
nham papel crucial na prática diária do ordenamento territorial
(STEINHAUER, 2011, p. 484).

Assim, como novo campo de estudos, diz respeito aos ele-


mentos e práticas tradicionais constantes nos planos, bem como nos
“extraplanos”, que não constam visivelmente na composição das
ações públicas locais e que modificam completamente o planeja-
mento territorial, alterando, consequentemente, seus resultados. Tais
elementos representam as características particulares dos territórios,
visualizadas em peculiaridades de estruturas políticas, de legislação
local, de atores sociais, de valores tradicionais etc., que não eram
considerados nos planos de ordenamento territorial na perspectiva
52 Estudos da Pós-Graduação

do land use planning, ou seja, em antigas práticas e concepções


(KNIELING; OTHENGRAFEN, 2009a; FERRÃO, 2011; ALVES;
DANTAS, 2012).
Do supramencionado, e embora considere esse tipo de ordena-
ção como uma prática eminentemente realizada pelo Estado, Fried-
mann (2005b) remete aos atores da sociedade local como tributários
do processo de planejamento territorial. Para ele, tal planejamento
tornou-se campo de ação em que a comunidade local passa a inserir
seus contextos sociais e traços culturais, revelando-se uma experi-
ência fundamentada e embasada em “saberes intuitivos que se mani-
festam através da fala, canções, histórias e diversas formas visuais”
(FRIEDMANN, 2005b, p. 29), os quais se tornaram, consequente-
mente, importantes fontes nos estudos do ordenamento territorial.
A inserção de elementos culturais – em perspectiva ampla, abar-
cando elementos específicos do social, do político, do econômico etc.
– proporcionou uma nova prática de ordenação, representativa das
diferenças significativas entre países, bem como entre regiões. Essa
variável tornou mais complexos os estudos do ordenamento do terri-
tório, passando a demandar o entendimento de novos componentes,
tanto materiais como imateriais.
Ao estudarem o ordenamento territorial de vários países,
Knieling e Othengrafen (2009b) consideram seus respectivos con-
textos culturais, evidenciando, assim, “particularidades da história,
atitudes, crenças e valores, estruturas cognitivas, interpretações de
tarefas e responsabilidades de planejamento, tradições políticas e ju-
rídicas, regras e normas, diferenças nos níveis de integração de mer-
cado e das estruturas institucionais de governança” (KNIELING;
OTHENGRAFEN, 2009b, p. 02). Concluem, nestes termos, que a
cultura de ordenamento do território representa a maneira como uma
dada sociedade guarda “práticas institucionalizadas ou compartilha-
das de planejamento”, referindo-se, grosso modo, “à interpretação
de tarefas de planejamento, à forma de reconhecer e de resolver os
problemas, à manipulação e utilização de certas regras, aos proce-
dimentos e instrumentos, ou às formas e métodos de participação
pública”. Para os citados, o ordenamento territorial dar-se-ia, então,
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 53

como desdobramento “das atitudes acumuladas, valores, regras, nor-


mas e crenças compartilhadas pelo grupo de pessoas envolvidas”,
incluindo “aspectos informais (tradições, hábitos e costumes) e for-
mais (quadro constitucional e legal)” (KNIELING; OTHENGRA-
FEN, 2009b, p. 43).
Diferentemente dos estudos outrora desenvolvidos, a carga de
aspectos formais e informais (materiais e imateriais) é enfocada em
uma única sintonia, numa perspectiva lógica de formação do territó-
rio através de seu planejamento. Corroborando este sentido, Faludi
(2011) afirma ser a cultura de território um ethos coletivo e domi-
nante que atua, visível ou invisivelmente, nas ações dos planejado-
res territoriais e que altera os resultados sociais. Gullestrup (2009)
também acredita que a cultura – seus traços culturais visíveis, com-
plementada pelos traços fundamentais de legitimação dessa cultura
– é um fator responsável pela construção identitária dos territórios,
logo, aspecto fundamental para sua real análise e compreensão.
Para Faludi, a cultura de ordenamento territorial pode ser
comparada à cultura política, compreendida no modo como aquela
agrega atitudes, crenças, emoções, valores da sociedade, desenvol-
vimento histórico, geográfico, diferenciações étnicas e situação so-
cioeconômica. Vista como relacionada a um ambiente de decisão,
que reflete em um “comportamento de planejamento”, a cultura de
ordenamento impõe a necessidade de identificação dos persona-
gens, grupos ou famílias políticas que ditam as regras da ordena-
ção, os quais seriam “sujeitos-chave” do ambiente político-institu-
cional (FALUDI, 2011).
A fusão de elementos objetivos e subjetivos no estudo das
culturas de ordenamento territorial apresenta-se como um desafio.
As mensurações, principalmente sobre a maturidade do sistema de
governo e sobre o que tradicionalmente foi planejado e executado
por determinada escala de governo, são tangíveis, embora, de difícil
análise. Realizá-las, todavia, no que diz respeito à gestão do turismo
no Brasil, é menos problemático, haja vista o fato de o planejamento
e a gestão da atividade ainda não estarem consolidados no país. É
perceptível a não maturidade do planejamento e das ações públicas
54 Estudos da Pós-Graduação

de gestão do turismo nas escalas locais, como mostra Ferreira (2009)


em estudo das políticas de ordenamento territorial do turismo na re-
gião metropolitana de Natal (RN).
Apreender a cultura do território nos conduz à busca de cami-
nhos metodológicos a seguir, dentre eles, os estudos realizados por
Knieling e Othengrafen (2009b) e por Stead e Nadin (2009).

Propostas metodológicas para análise das culturas de


ordenamento territorial

Partindo do concebido por Gullestrup (2009), Knieling e


Othengrafen (2009b) desenvolvem modelo teórico-metodológico
voltado à análise comparativa entre culturas de ordenamento territo-
rial. Neste sentido, indicam três elementos fundantes: I) a caracteri-
zação do ambiente social: valores sociais, econômicos e políticos do
território, que correspondem à “tradição” do local, aspectos também
referenciados por Gullestrup (2009) e por Stead e Nadin (2009);
II) a caracterização do ambiente de planejamento: estrutura e matu-
ridade organizacional e institucional do sistema; III) a identificação
dos artefatos de planejamento: instrumentos físicos de planejamen-
to, planos e produtos, e modo como estes foram influenciados pelos
demais ambientes, o social e o de planejamento. Para os estudiosos
indicados, a caracterização e a identificação desses elementos são
imprescindíveis na evidenciação das influências culturais nos proce-
dimentos e práticas do ordenamento territorial.
Não podemos entender tais elementos caracterizadores das
culturas de ordenamento territorial sem, de um lado, associá-los a
tempos diferenciados (FÜRST, 2009), o que mostra serem as ações
de ordenamento historicamente construídas, e sem, de outro lado,
considerar aspectos exógenos da construção de determinado territó-
rio (FERRÃO, 2011). A cultura, embora seja uma variável fundante,
não é independente, sendo influenciada e adaptada aos efeitos glo-
balizantes do mundo, que suscitam mudanças nos Estados-Nações.
Corrobora-se o que defendem Stead e Nadin (2009), que
concebem culturas de ordenamento territorial como formadas por
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 55

conjunto interdependente e conexo de valores sociais, econômicos


e políticos, e de normas, regras e leis, os quais evoluem cotidia-
namente e em função de influências tanto internas como externas.
Eles denominam esse conjunto interdependente de “tradição”, termo
que designa o enraizamento das condições históricas em determina-
do local. Acrescentam, assim, mais seis elementos importantes na
construção do modelo de análise desse tipo de cultura: I) o escopo
do sistema, no que se refere à abrangência de temas políticos; II) a
extensão do planejamento nacional e regional; III) as competências
relativas ao governo nacional e ao local; IV) os papéis referentes
aos setores público e privado; V) a maturidade do sistema ou o quão
bem ele é estabelecido no governo e na vida pública; VI) a distância
aparente entre as metas expressas de desenvolvimento espacial e os
resultados.
Assim, do colocado, a concepção de Knieling e Othengrafen
(2009b) fundamenta encaminhamentos necessários à apresentação
de uma proposta de análise de culturas de ordenamento territorial
do turismo, com o envolvimento dos três fatores responsáveis pela
territorialização do turismo no espaço geográfico e ao longo do
tempo: ambiente social, ambiente de planejamento e artefatos de
planejamento.
56 Estudos da Pós-Graduação
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS

N o âmbito da geografia, os estudos do ordenamento


territorial do turismo demonstram como o território é planejado e
organizado para uma atividade econômica que, de fato, constrói
novas demandas territoriais. Centrando o olhar nas culturas de
ordenamento territorial, a ideia de tropismo é rebatida, vis-à-vis
à filtragem estabelecida pelo local, a qual intervém efetivamen-
te na organização da atividade. Tais culturas demonstram que
vários são os atores locais que decidem, por sua compreensão
de planejamento, de Estado e de ação pública, as formas como
determinadas infraestruturas se alocam no território, definindo,
consequentemente, as oportunidades e as capacidades de compe-
titividade dos territórios.
Estudos revelam, ainda, como as gestões e as ações públicas
ratificam interesses construídos historicamente por elites que se
perpetuam no poder. Estas, para tanto, fundamentam-se em uma
lógica territorial de desenvolvimento singular, pautando os inves-
timentos em territórios que respondam aos interesses políticos e
econômicos vigentes.
Esperamos que o diálogo estabelecido com Knieling e Othen-
grafen, na adaptação de uma metodologia de estudo relacionada às
culturas de ordenamento territorial para o Brasil, com ênfase no caso
nordestino, incentive trabalhos futuros sobre a temática em outras re-
giões, bem como contribua metodologicamente para a área de estudo.
58 Estudos da Pós-Graduação

Tomando-se por base o exame do turismo das Regiões Me-


tropolitanas de Fortaleza, Natal, Recife e Salvador, a proposta
metodológica de Knieling e Othengrafen (2009b) foi testada em
estudo realizado por Alves (2013). Na oportunidade, ousou-se fazer
uma análise a partir da perspectiva regional (do Nordeste), no intuito
de compreender as nuanças do ordenamento territorial do turismo,
produzidas a partir de agentes e demais atores das culturas locais (do
estado e de suas regiões metropolitanas) que souberam internalizar
características regionalistas.
O passo seguinte foi determinar quais seriam os elementos his-
tóricos, os indicadores e os demais dados qualiquantitativos necessá-
rios para a mensuração requisitada. Tal etapa mostrou-se desafiadora,
em virtude da ausência de estruturas ou quadros de apoio para elen-
car os elementos culturais julgados como “similares” à comparação
(STEINHAUER, 2011; KNIELING; OTHENGRAFEN, 2009b).
Assim, a proposta de Knieling e Othengrafen (2009b) funda-
menta-se na caracterização do ambiente social, do ambiente de pla-
nejamento e dos artefatos de planejamento. A descrição do ambiente
social das culturas de ordenamento territorial envolve: I) A definição
do conceito de ordenamento territorial mais alinhada à compreen-
são desejada pelas gestões públicas; II) O levantamento histórico da
formação regional do território. No caso do estudo de Alves (2013),
chegou-se ao entendimento da formação regional do Nordeste como
celeiro de práticas regionalistas que constroem elementos culturais
representativos do povo e da política local. Seguindo tal orientação,
identificaram-se as principais personalidades ou grupos políticos
(cultura política) importantes na definição de políticas e ações pú-
blicas para o desenvolvimento e para o ordenamento do turismo nos
territórios (contexto político-econômico local); III) A identificação
dos planos nacionais para o desenvolvimento do turismo do terri-
tório estudado, no estudo de Alves (2013), focado no II Plano Na-
cional de Desenvolvimento (II PND), de 1975-1979, o “divisor de
águas” no planejamento do turismo no Brasil; IV) A identificação,
por meio de linhas temporais, dos projetos e planos locais de turis-
mo nas gestões estaduais e municipais do território em estudo, bem
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 59

como das principais ações que proporcionaram a estruturação do


setor nesses territórios. Este procedimento possibilita dimensionar o
entendimento do turismo em cada gestão de governo, identificar os
principais atores políticos que promovem a atividade em seus terri-
tórios e determinar as vias políticas de sua promoção.
Já na caracterização do ambiente de planejamento das cul-
turas de ordenamento territorial do turismo, adotamos uma leitura
mais sistemática, quantitativa e pragmática do planejamento e da
gestão do turismo. Os dados coletados foram elencados a partir de
dois elementos definidores: I) relacionados à própria existência de
dados turísticos para o território em estudo, de modo sistematiza-
do e padronizado, o que no Brasil ainda apresenta dificuldades; II)
definidores da seleção de indicadores pertinentes à perspectiva dos
estudos das culturas de ordenamento territorial que sinalizem a ten-
tativa de compreender a capacidade institucional de planejamento
vinculado ao turismo e associada às restritas fontes de pesquisas.
O maior fator limitante na difusão e facilitação dos estudos
sobre o turismo no Brasil é a ausência de dados sistematizados
que extrapolem a visão unilateral reinante. Grosso modo, o turis-
mo é compreendido tanto a partir da contagem de voos nacionais
e internacionais, ou de visitantes por estados, como da evidencia-
ção de seus fluxos de acordo com os meses do ano. Embora tais
informações sejam de grande importância ao entendimento do turis-
mo, principalmente no concernente à sua capacidade de carga nos
territórios estaduais, não propiciam uma leitura do setor em relação
à sua base elementar: a da consolidação de mecanismos à sua plena
institucionalização. Assim, percebe-se que é necessária uma melhor
apropriação conceitual e prática do que é turismo, e de sua necessi-
dade inerente de planejamento no território, coadunada com a incor-
poração de outros elementos fundamentais da organização espacial:
ambientais, econômicos e sociais.
A realidade em foco define e limita os estudos sobre o turismo,
fazendo com que os trabalhos acadêmicos se adaptem à realidade
dos indicadores, e não o contrário. Impõe-se, em vista disso, a neces-
sidade de compreensão do ambiente de planejamento da atividade
60 Estudos da Pós-Graduação

turística utilizando-se de outras fontes de dados (como os sites das


prefeituras municipais e dos governos estaduais, do IBGE e do Ca-
dastur) mais adequadas à compreensão do planejamento e da gestão
territoriais da atividade:

I) Primeira fonte de dados: Sites das prefeituras municipais e dos


governos estaduais.
O acesso aos sites possibilita a coleta de informações a respeito
da existência de secretaria municipal ou estadual de turismo e
da situação destas: se autônomas ou compartilhadas com demais
áreas de ações públicas. Esses dados permitem a apreensão do
nível de imersão do turismo institucionalizado nas prefeituras
ou governos, bem como de sua relativa autonomia para gestão,
planejamento e ordenação do setor.
II) Segunda fonte de dados: Perfil dos Municípios Brasileiros do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2012).
O recurso às informações do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) garante a obtenção de dados sistemati-
zados sobre a gestão pública de municípios, relativa ao setor
turístico. A última edição da publicação denominada “Perfil
dos Municípios Brasileiros” (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012) apresenta informações
básicas de todos os municípios do país. Nela, são destacados
os principais aspectos da gestão e da estrutura dos municípios,
relacionados a vários eixos: estrutura da administração, cultura,
esporte, habitação, transporte, saúde, segurança, política de gê-
nero, meio ambiente e direitos humanos. A partir desses eixos,
torna-se possível a compreensão da estrutura institucional e da
administração dos municípios, como ponto de partida para evi-
denciar dados sobre a gestão do turismo. O aprimoramento da
análise impõe a utilização de indicadores correlatos, inseridos
em eixos maiores: a existência de áreas de interesse turístico no
município, de áreas de influência de empreendimentos com sig-
nificativo impacto ambiental, em âmbito regional ou nacional,
de legislações específicas para o meio ambiente, para o patri-
mônio histórico, cultural, paisagístico, arquitetônico e arqueo-
lógico, bem como a existência de Plano Diretor e de políticas
de beneficiamento a empresas vinculadas ao setor do turismo.
Entendidos como marcos regulatórios importantes ao planeja-
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 61

mento racional da atividade em território municipal, tais indica-


dores demonstram, de modo indireto, a capacidade de envolvi-
mento e de efetivo ordenamento territorial da atividade turística
nos municípios.
III) Terceira fonte de dados: O Cadastur
O Cadastur é um sistema de cadastro de pessoas físicas e jurí-
dicas que atuam na cadeia produtiva do turismo. O sistema foi
elaborado em 2010 pelo Ministério do Turismo (MTur), em par-
ceria com órgãos locais de turismo, objetivando a promoção e
o ordenamento, a formalização e a legalização dos prestadores
de serviços turísticos no Brasil (BRASIL, 2012). Ele possibilita
uma análise espacial da distribuição territorial de equipamentos
turísticos (agências de turismo, casas de espetáculos, locadoras
de veículos, meios de hospedagem e restaurantes, bares e cafés),
fator relevante para o ordenamento territorial do setor.

No Cadastur, os dados são fornecidos em valores brutos, com


o número absoluto de estabelecimentos que cada município con-
centra em seu território. Essas informações, assim como as cole-
tadas no Perfil dos Municípios Brasileiros – Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (2012) – podem ser armazenadas em
bancos de dados, alimentando softwares de georreferenciamen-
to, como o livre Terra View (INSTITUTO NACIONAL DE PES-
QUISAS ESPACIAIS, 2014). O objetivo desse procedimento é
processar as informações geográficas necessárias à confecção de
mapas temáticos, concernentes à distribuição espacial dos indi-
cadores comentados e à caracterização dos municípios de acordo
com suas estruturas mínimas de gestão territorial do turismo. Os
mapas temáticos são importantes subsídios para a visão espacial
da concentração ou da dispersão da capacidade de gestão do tu-
rismo pelas administrações municipais, assim como para a dis-
tribuição de equipamentos turísticos, demonstrando ou não uma
visão de “descentralização e de redistribuição das oportunidades
de expansão” (ESTABA, 1999).
Por último, a caracterização dos artefatos de planejamento das
culturas de ordenamento territorial do turismo empreendeu-se com
62 Estudos da Pós-Graduação

a realização de criterioso levantamento e identificação das ações


executadas pelos programas ou projetos estruturantes incidentes no
território. Essa etapa subsidia a análise da alocação dessas ações
como forma de compreender como o território se organiza para a
atividade, estruturando, por consequência, a ação do capital. Alves
(2013) analisa o Prodetur I e II, especialmente os Planos de De-
senvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS) por es-
tado, e chega ao seguinte: I) Identificação e delimitação dos eixos
de investimentos, tendo como componentes Aeroportos, Transpor-
tes, Saneamento e Recuperação Ambiental, Patrimônio Histórico e
Desenvolvimento Institucional; II) Identificação da distribuição dos
recursos, por componente, para cada estado, tal como identificação
das ações realizadas nos cinco componentes por território municipal
ou estadual; III) Evidenciação das particularidades de cada ação dos
programas estruturantes, ou seja, exposição das singularidades da
distribuição espacial de equipamentos e infraestruturas turísticas e
do perfil do segmento turístico ao qual se destina.
A partir dos levantamentos realizados, evidenciam-se os re-
flexos das diferenciadas culturas de territórios no ordenamento ter-
ritorial, as quais possibilitam que a ordenação seja feita de modos
diferenciados na escala do município (ALVES; DANTAS, 2013a;
2013b), interagindo/filtrando variáveis provenientes de outras esca-
las, inclusive regional.
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 63

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AUTORES

Eustógio Wanderley Correia Dantas


Professor Titular da Universidade Federal do Ceará. Doutor em
Geografia e Planejamento – Université de Paris IV (Paris-Sorbonne)
(2000). Exerce trabalhos de orientação na Pós-Graduação em Geografia,
na qual foi coordenador (2004-2008), e no Doutorado e Mestrado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA). Em 2008, trabalhou
como Professor Visitante na Université de Paris IV – Sorbonne (Institut
de Géographie). Indicado Coordenador de Área da Geografia na CAPES
para o quadriênio 2014-2017. Eleito sócio efetivo do Instituto do Ceará
(Geográfico, Histórico e Antropológico), em 2013. Atua como editor
de periódicos (MERCATOR, 2004/atual e da Revista da ANPEGE,
2003-2005 e 2010-2014) e de co­leção de livros (UFC – “Coleção
Estudos Geográficos”, 2009-atual, e SPRINGER – “Latin Studies
Book Series” e “SpringerBrief in Latin American Studies”, 2016-atual).
Compõe a Comissão Editorial dos Cadernos das Metrópoles (IPPUR-
UFRJ, 2011-atual) e participa do Conselho Científico de periódicos
na área da Geografia e afins. Atua na área de Geografia e Estudos
Multidisciplinares, com ênfase na temática urbana: comércio, emprego
informal, maritimidade e urbanização litorânea.

Larissa da Silva Ferreira Alves


Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (2013),
Mestre em Geografia (2009), Especialista em Geoprocessamento e
Cartografia Digital (2009) e Graduada em Geografia – Licenciatura
(2006) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. É
Professora Adjunta II (D.E.) do Departamento de Geografia e Vice-
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Planejamento
e Dinâmicas Territoriais no Semiárido (PLANDITES) da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus de Pau dos
82 Estudos da Pós-Graduação

Ferros. Tem experiência na área de Geografia, ênfase em Geografia


Humana, atuando principalmente nos seguintes temas: ordenamento
territorial, culturas de ordenamento territorial, turismo, políticas
públicas e análise regional.
Nordeste turístico e políticas de ordenamento do território 83

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