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Armas
Os calibres atuais e seus limites de emprego em Conflitos Assimétricos
O mais recente trabalho dos pesquisadores Eduardo e Rogério Atem
Carvalho. Trabalho de vital importância além das Forças Militares
Resumo
Este trabalho lida com efeitos dos Conflitos Assimétricos sobre um aspecto do
combate de Infantaria: o calibre de sua arma padrão. A imposição inicial de um calibre
demasiadamente poderoso, o 7.62x51 mm, privou a OTAN e aliados por muitos anos
de fuzis de assalto verdadeiros. A mudança para o calibre 5.56x45 mm, que deveria
ter remediado esta situação, acabou por levar os aliados ao extremo oposto: um
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calibre cronicamente anêmico, que mesmo após extenso esforço pela indústria, ainda
falha em prover letalidade à longa distância, uma vez que não foi concebido para isto.
Hoje existe uma busca por um valor intermediário, mais próximo ao do calibre russo
7.62x39 mm. Como assunto secundário, o trabalho também aborda a dificuldade
enfrentada pela linhagem do fuzil M-16/M-4 e a nova geração que deve sucedê-la.
Finalmente, comenta muito brevemente sobre o novo fuzil brasileiro.
INTRODUÇÃO
Ao final da Segunda Guerra Mundial, a chamada Aliança Atlântica, sob a liderança dos
EUA, tinha uma problema: uniformizar os calibres então em desenvolvimento para
emprego nos futuros fuzis semi e automáticos, derivados todos, de uma forma ou
outra, do revolucionário StG 44 Sturmgewehr alemão [1]. Este usava 7.92x33 mm,
oferecendo potência entre as metralhadoras de mão e os fuzis de combate
tradicionais. Diversos países pesquisavam novos calibres, na faixa aproximada entre
6,0 e 7,5 mm de diâmetro.
Os parâmetros principais consistiam em ser capaz de atingir com precisão letal alvos
humanos sem proteção balística até uma distância de 500 m e suportar regime de tiro
em rajada (automático) de maneira controlada e sem causar desgaste acelerado do
cano da arma. As novas armas também deviam oferecer maior quantidade de munição
e fácil recarga.
Seu calibre original era o .280 britânico (7x43 mm). As autoridades americanas
consideraram o calibre como insuficiente e impuseram o poderoso 7.62x51 mm como
padrão [4], forçando os projetistas e fabricantes ocidentais a produzirem armas
pesadas e com recuo forte. O FAL foi levado ao limite de projeto, tornando o seu uso
em regime automático basicamente incontrolável [3]. Suas dimensões são
consideradas exageradas para soldados de pequena estatura. O exército americano
adotou o M-14, arma considerada por alguns usuários como a que melhor se adaptou
ao calibre em combate, no arsenal americano. Curiosamente, este binômio arma +
cartucho permaneceu por poucos anos em serviço, vindo a ser substituído pelo
cronicamente anêmico 5.56x45 mm.
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Como termo de comparação, a tabela abaixo apresenta dados dos calibres aqui
citados: 7.62x39 russo, 7x43 britânico, 7.62x51 nato e o 5.56x45 nato.
A Tabela 1 apresenta um breve sumário que permite uma rápida, ainda que simplistica,
comparação entre os calibres em questão quando da adoção do 7.62x51 mm pela
OTAN. Os russos partindo do projeto original alemão, acertaram desde o princípio,
mantendo o nível de energia em patamar médio com uma Quantidade de Movimento
(grandeza física associada ao recuo) equivalente à metade, por exemplo, de uma
espingarda calibre 12 GA. Já o 7.62x51 mm apresenta valor equivalente.
O Projeto original britânico, 7x43 mm, mesmo antes de ter tido sua potência
aumentada, cumpriria os mesmos requisitos que a munição russa, com uma grande
vantagem: seu projetil mais pesado garantiria balística terminal mais destrutiva e
precisão maior.
Em troca, o ocidente abria mão de ter armas simples, baratas e realmente capazes de
manter fogo automático de forma controlada. O caso extremo, o Exército Britânico,
encomendou seus FAL sem a opção de tiro automático [2]. Foi constatado pelos
militares britânicos, quando analisando os protótipos que em regime automático,
mesmo atiradores experientes desperdiçavam a maior parte dos tiros da rajada,
deixando o combatente rapidamente sem munição. Sob a pressão do combate,
mesmo uma tropa veterana acabava perdendo a posição porque não conseguia
administrar o consumo de munição.
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Isto foi verificado em combate no Vietnam [2], quando soldados australianos, atirando
com FAL em fogo intermitente mantiveram a posição a noite toda, enquanto os
soldados americanos, atirando em rajadas, ficaram sem munição no meio da
madrugada e tiveram sua posição superada pelo inimigo. Por todas essas razões, o
Exército Britânico classifica o FAL como “Battle Rifle” e não como “Assault Rifle” [2].
Com a continuação da Guerra Fria, um novo conceito surgiu para o emprego das
armas leves de Infantaria: um combatente inimigo morto retirava apenas um inimigo do
campo de batalha, já um inimigo ferido requeria 4 outros para carregá-lo até um ponto
seguro, além do efeito psicológico que a visão do sofrimento do ferido causa na moral
dos seus companheiros e todo o ônus sócio econômico e logístico que seu socorro e
recuperação causam.
Desta forma, um calibre menor, que não matasse o inimigo, mas o ferisse, removeria 5
combatentes do campo de batalha, ao invés de apenas um. Além desta matemática
sombria e bombástica, uma outra razão mais prosaica se impunha sobre o Exército
Americano: a má pontaria dos recrutas.
O recruta típico se apresentava para o serviço militar de 12 meses e devia ser instruído
nas técnicas de controle de gatilho, visada, postura e ser capaz de realizar o tiro
individual antes de poder realmente aprender a empregar o fuzil em benefício da
Esquadra ou Grupo de Combate. A experiência com atiradores esportivos indica que
um longo período de maturação é necessário até que o homem de fato domine a arma
até o ponto onde consegue atingir qualquer alvo desejado dentro do seu raio de visão.
Em contraste um recruta tinha cerca de 2 meses para absorver todas as fases do seu
treinamento até ser enviado para combate, como na Segunda Guerra, embora depois
pudesse receber algum treino extra já embutido em escalões maiores. Assim, com
apenas os rudimentos da técnica de tiro, o recruta era enviado ao Vietnam, onde devia
ser capaz de operar em patrulhas, guardas de ponto e tudo mais que se esperava de
um combatente naquele conflito. Após 10 meses no Vietnam era enviado de volta para
a vida civil, caso não desejasse se realistar. Ao contrário do que pensam os leigos, a
pouca melhora da performance vinha da melhora no autocontrole, conforme o
combatente ia se tornando um veterano.
Seus ferimentos eram causados pelo efeito combinado do baixo peso e altíssima
velocidade relativa para tal peso do projétil, causando estilhaçamento e “capotamento”
quando este atingia o alvo. Surgia assim o .223 Remington ou 5.56x45 mm NATO [5].
Os EUA buscavam agora seu AK47. E em plena Guerra do Vietnam, adapta-se o
projeto original da mente de Eugene Stoner, o M-10, surgindo o M-16, o Fuzil Negro
(devido ao fato de não mais usar madeira e sim baquelite preta como material para a
coronha e guarda-mão). O que se seguiu foi um desastre. A arma ainda não estava
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pronta para ser entregue à tropa, nem a tropa foi treinada para usá-la. Até hoje a
polemica continua em artigos, revistas técnicas e livros.
A partir de meados dos 90 o Exército Americano resolveu substituir os M-16 por uma
versão mais curta, uma carabina que fizesse o papel de fuzil de assalto, surgiu então a
M4. Com ela voltaram os defeitos da falta de confiabilidade e munição anêmica, uma
vez que o cano mais curto deste modelo (entre 12” - Marines e 14.5” para o US Army)
implicou no abandono das velhas munições e na necessidade de se desenvolver
novas munições. Os incidentes continuam a acontecer, narrados fartamente, por
exemplo, nas referências [7-9].
Embora o calibre 5.56x45 mm seja padrão da OTAN desde 1963 e portanto existam
diversas armas que compõem o binômio com este calibre, seu emprego continua
polêmico. Antes havia um calibre excessivamente potente, agora um que parece não
atender aos requisitos mínimos e falhar nos piores momentos. A solução temporária foi
aumentar a carga de propelente e o peso do projétil, as chamadas “green tips”, que
acabam por produzir uma quantidade de gases quentes que superaquecem as armas
mais rapidamente.
Os velhos e lentos AK47 evitam isto com projéteis relativamente pesados e cargas
menores de propelentes, além de folgas radicais entre suas partes deslizantes. Uma
carabina M-4 deve sobreviver a 5000 disparos até ser descartada pelo US Army.
Estima-se que este é o total de disparos que o soldado irá realizar, na pior das
situações, desde sua preparação para um “tour”, até sua desmobilização e repatriação,
um ano depois. O uso de nova munição implica em descarte dos modelos de
carabinas antigos. Ou sua falha prematura.
Cabe acrescentar que existe vasta quantidade de excelente literatura sobre este
assunto em livros, revistas e artigos, portanto, este artigo não tem a pretensão, em
momento algum, de esgotar o tópico.
AFEGANISTÃO E IRAQUE
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Existe uma busca de um novo calibre, que permita o controle de fogo em automático e
o tamanho reduzido do 5.56 com a algo da precisão e letalidade do 7.62. É uma busca
criteriosa, que evita uma solução que acabe em um cartucho que perca as boas
características de ambos sem conseguir uni-las. Se a experiência histórica se repetir, o
novo calibre surgirá de um já antigo, ligeiramente modificado para acomodar um
projétil com novas características e cápsula com formato reduzido, porém capaz de
acomodar carga de propelente na quantidade desejada.
A seguir uma pequena lista contendo 3 calibres cuja performance se encontra entre os
dois atuais. O primeiro tem origem militar, os seguintes, esportiva. Já são produzidos
em massa, embora existam outros em desenvolvimento, conhecidos como
“mavericks”, ou seja, produtos experimentais ainda em pequena escala.
Este calibre foi projetado para ter seu ótimo em fuzis de cano curto, como os
empregados em operações CQB (Close Quarters Battle), típicas dos conflitos
assimétricos, desta forma compensando a queda de performance que ocorreu nas
munições tradicionais empregadas nos M-16, quando da troca para armas de cano
mais curto (M-4, por exemplo, ou IA2 no Brasil).
Este calibre nasceu visando o mercado civil americano, para esportistas e caçadores,
empregando a plataforma do AR-15 mas capaz de ser efetivo até 800 m e também
apresentando performance superior ao 5.56x45mm. O comprimento total foi mantido,
porém projéteis maiores e mais pesados são empregados, de forma a se obter
coeficientes balísticos mais elevados. Voltado ao mercado civil, oferece ampla gama
de munições, com projéteis variando de 90 a 129 grain (5.8 – 8.4 g) e velocidades de
2,500 ft/s (760 m/s) com projéteis de 129 grain (8.4g) até 2,900 ft/s (880m/s) com os de
90grain (5.8g). Deriva do cartucho russo do AK47, 7.62x39 mm. Devido ao seu
diâmetro, reduz a capacidade do carregador padrão de 30 para 26 cartuchos [11].
Figura 3 – Comparação entre .300 BLK “Plastic Tip”, .300 “Match”, .300
subsônica, 5.56x45 mm e calibre russo 7.62x39mm.
Fonte:https://en.wikipedia.org/wiki/300_AAC_Blackout_(7.62×35mm)
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O novo modelo, na sua versão 5.56x45, destinado à tropa regular, pesa sem
carregador ou acessórios 3.38 kg, contra 4.30 kg do FAL tradicional e 3.79 kg do Para-
FAL de cano curto. É bastante curto, podendo ter sua coronha polimérica dobrada,
reduzindo seu comprimento para 60 cm. Vem de fábrica com trilhos tipo (Arsenal)
Picatinny, que permitem o emprego de toda a parafernália ótica disponível nos dias
atuais, sem afetar as seguras alça e massa de mira. Porém, para emprego em
conflitos assimétricos, recairia nas mesmas limitações descritas neste trabalho. A
solução temporária para este caso parece ser o Para-FAL como apresentado
recentemente, com ferrolho ajustado, trilho Picatinny sobre a tampa da caixa da
culatra, cano mais curto e munição adequada a esta nova situação. Desta forma, os
novos acessórios óticos previstos para emprego nos IA2 também podem ser
empregados no Para-FAL. A
nova família de munições, mais adequada a esta combinação, menos potente, com
projéteis mais pesados e velocidade de queima do propelente adequada ao cano mais
curto, pode ser facilmente desenvolvida pela indústria nacional. A outra opção seria a
própria Imbel iniciar estudos para a adoção de calibres intermediários, embora isto,
reconhece-se, nos leva ao mesmo ponto que se encontram todos na OTAN hoje: em
busca de um novo calibre que possa substituir os dois já em serviço, nos fuzis da tropa
regular.
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CONCLUSÕES
O calibre atualmente empregado pela OTAN e aliados, 5.56x45 mm, incluindo o Brasil,
atende aos requisitos de combate convencional até 300 m, porém quando confrontado
com o calibre 7.62x39 mm russo, adotado por combatentes irregulares em quase a
totalidade dos conflitos assimétricos de larga escala hoje e eficaz até 500 m, perde a
capacidade de oferecer proteção e poder ofensivo à tropa, levando ao componente
ligado às Operações Especiais a buscar calibres mais pesados, principalmente o
7.62x51 mm. Novos calibres tem surgido, porém ainda não existe consenso sobre um
novo calibre que reúna as vantagens dos dois calibres.
Referências Bibliográficas
[1] – McNab, C., German Automatic Rifles 1941-45: Gew 41, Gew 43, FG 42 and StG
44, Osprey Publishing, UK (2013)
[2] - Cashner, B., The FN FAL Battle Rifle, Osprey Publishing, UK (2013)
[3] – Iannamico, F., AK-47: The Grim Reaper, 2nd ed., Chipotle Publishing; (2016)
[4] - https://en.wikipedia.org/wiki/7.62×51mm_NATO
[5] - https://en.wikipedia.org/wiki/5.56×45mm_NATO
[6] – https://en.wikipedia.org/wiki/M27_Infantry_Automatic_Rifle
[7] - Rosso, O., The M-4 Carbine, Histoire & Collections, Paris (2009).
[8] - Neville, L., Taku Ghar – The SEALs and Rangers on Roberts Ridge, Afghanistan 2002, Osprey Publishing, UK
(2013).
[9] – Barndollar, G. “The Precision Engagement Gap”, Military Operations, V 3, Issue 2, Winter 2016, pp 4-6.
[10] – Lyman Reloading Handbook, 49th Edition, Lyman Product Corp, CT USA (2008).
[11] – https://en.wikipedia.org/wiki/6.5mm_Grendel
[12] https://en.wikipedia.org/wiki/300_AAC_Blackout_(7.62×35mm)
[13] - http://www.fnamerica.com/products/scar-family/system-overview/
[14] – http://www.defesanet.com.br/laad2011/noticia/613/IMBEL-2011--FUZIS-/
https://www.defesanet.com.br/armas/noticia/22563/Os-calibres-atuais-e-seus-limites-de-emprego-em-Conflitos-Assimetricos/ 9/10
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