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COMO PASSAR NO CONCURSO DO MPT - 1ª PARTE1

PHILIPPE GOMES JARDIM2

É preciso força pra sonhar e perceber


Que a estrada vai além do que se vê.
Além do que se vê, Marcelo Camelo / Los Hermanos

Uma introdução

Sim, o título é bastante ousado. Mas não espere encontrar aqui a fórmula mágica, a solução
ideal para a aprovação no concurso do Ministério Público do Trabalho. E isso por uma razão bastante
simples: não existe receita milagrosa. O resultado positivo é a combinação de organização e método,
empenho e dedicação, estudo e aprendizado. Ah, claro... e um pouco de sorte também!

Quero compartilhar, aqui, a minha experiência com o desejo de que possa ajudá-lo a tornar
essa caminhada menos difícil e mais prazerosa. É comum nos sentirmos perdidos ou inseguros. São
sentimentos que atingem a todos em um momento ou outro. Não sabemos por onde começar, como se
preparar, de que forma organizar os estudos, qual a intensidade do esforço, quando e quais cursos fazer,
como saber se estamos evoluindo, qual o modo de realizar as provas, enfim... São incontáveis as dúvidas
e todas elas fazem parte da trilha a ser superada.

1 Texto escrito em fevereiro de 2015. É permitida a sua distribuição, cópia e citação desde que indicada a autoria.
2 Procurador do Trabalho em Porto Alegre, RS. Professor do Grupo de Estudos MPT. Coordenador Nacional da Coordenadoria
de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho do MPT (CODEMAT, 2012/2015). Especialista em Direito do Trabalho (UNISINOS,
2003). Mestre em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR, 2007). Mestre em Derechos
Humanos, Interculturalidad y Desarollo, pela Universidad Pablo de Olavide, em Sevilla, Espanha (UPO, 2008). Coordenador
e autor da obra Meio Ambiente do Trabalho Aplicado. Homenagem aos 10 anos da Codemat, publicado pela Editora LTr
(2014). Contato: phil.jardim@yahoo.com.br / FB Philippe Jardim / Insta @philippe_jardim
II

Um pouco da minha história

I've planned each charted course / Eu planejei cada caminho do mapa


Each careful step along the byway / Cada passo, cuidadosamente, no correr do atalho
And more, much more than this / E mais, muito mais que isso
I did it my way / Eu fiz do meu jeito
My Way / Meu jeito, Frank Sinatra

Costumo dizer que o MPT nunca foi meu sonho, mas se tornou minha realidade. Desde a
faculdade, sempre gostei de Direito do Trabalho. Aliás, somente eu. Éramos em aproximadamente 40
colegas, e nenhum deles hoje trabalha na área. Não pensava em seguir a carreira pública. Não tinha
pretensão em fazer o concurso pra magistratura e, confesso, não conhecia o MPT. Estudei no interior do
Rio Grande do Sul, na Universidade Federal de Santa Maria. Foi no final do ano de 1999 que eu me
formei e, na época, o MPT ainda não tinha iniciado o processo de interiorização. Havia Procuradorias do
Trabalho apenas nas capitais dos Estados.

Sempre fiz estágios em escritórios de advocacia trabalhista e pensava que seguiria


naturalmente esse caminho. Quando me formei, me mudei para Porto Alegre e fui contratado por um
grande escritório. Era – e ainda é – um escritório bastante respeitado, com plano de carreira para os
advogados iniciantes, com bom engajamento político e sindical. Pensava que meu caminho profissional
já estava desenhado.

Advoguei por dois anos. E, com o tempo, comecei a questionar a minha escolha profissional.
Claramente não estava mais contente com o meu trabalho no escritório. Pensava que trabalhava muito
e ganhava pouco. Não tinha o reconhecimento que eu achava que merecia. Era começo de 2002, e fico
sabendo que o MPT lança o edital para o X Concurso para Procurador do Trabalho. Apenas cinco vagas.
Não costumo acreditar em sinais, sou até bastante cético, mas uma luz surgiu... E se? E se eu mudar
meus planos para o futuro? E se eu começar a estudar? E se der certo? E se?

Decidi que iria estudar para essa prova. Trabalhava o dia inteiro e fazia uma pós
(especialização em Direito do Trabalho) nos finais de semana. Estudaria à noite. E no que sobrasse de
tempo nos finais de semana.
A primeira coisa que fiz foi analisar as provas objetivas dos anos anteriores. Assim como um
viajante que chega a uma cidade desconhecida e busca orientar-se por um mapa. Procurar descobrir
quais as matérias mais cobradas, os assuntos mais exigidos, os conteúdos mais frequentes. Calculei o
tempo que eu teria até a data da primeira prova e dividi os dias de estudo conforme o que era mais
importante. Somente avançava para a matéria seguinte quando concluía o assunto.

Nesse meio tempo meu rendimento no escritório já não estava lá essas coisas. Embora eu não
tivesse comentado com ninguém que eu iria fazer o concurso do MPT, o pessoal percebeu a mudança
de foco. Quando me chamaram para uma conversa, abri o jogo quanto ao meu descontentamento e
disse que estava estudando para a prova. Em um diálogo franco, resolvemos – o escritório e eu – que a
melhor decisão para mim seria sair do escritório, parar de advogar. Decidimos então que no último mês
de trabalho, um mês antes da prova, eu poderia fazer meio turno de expediente para conciliar com os
estudos. Eu já era independente financeiramente e havia guardado certa grana que me permitiria ficar
“só” estudando por um período de um ano e meio, talvez um pouco mais. Essa havia se tornado a minha
meta: passar em algum concurso na área trabalhista no prazo de um ano e meio. Se não desse certo,
voltaria a advogar ou venderia sanduíches na praia...

Bom... se você estiver mesmo prestando atenção nessa história, deve estar agora se
perguntando: se ele se formou no final de 1999, e o edital do concurso foi lançado no começo de 2002,
como ele vai conseguir completar os três anos de atividade jurídica?

Eu respondo. Muito fácil. Simplesmente naquela época não se exigia os três anos. Essa é uma
inovação trazida com a Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, lembra? O requisito
era apenas dois anos da graduação (artigo 187 da Lei Complementar nº 75/93), tempo de calendário,
exatamente o período que eu tinha quando o edital foi lançado. Mais um sinal?

Veio a primeira prova e... passei! Veio a segunda prova e... passei! Veio a terceira prova e...
passei!

Pera lá. Estou acelerando essa história. Vamos mais devagar.

Eu cheguei a dizer que também fiz o concurso para magistratura do trabalho? Pois é. No meio
dos estudos para MPT, o TRT 12 lançou o XI Concurso para Juiz do Trabalho Substituto. E foi um
concurso extremamente rápido. Entre a primeira fase e a prova oral, foram pouco mais de quatro meses.
Cartão de identificação do MPT Cartão de identificação do TRT 12

O fato é cuidei de ambos os concursos ao mesmo tempo, mas sempre mantendo o foco no
concurso do MPT. E fui conseguindo vencer cada etapa, sem nenhuma reprovação. Apenas para ter
uma ideia, a prova oral do concurso da magistratura foi na sexta-feira seguinte ao domingo em que
ocorreu a terceira prova do MPT. Em pouco mais de seis meses de estudos eu já havia conseguido ser
aprovado em um concurso para Juiz do Trabalho e seguia estudando para o concurso do MPT. Ao final
de um ano de preparação, no dia 12 de março de 2003, em Brasília, aos 25 anos de idade, eu tomava
posse no cargo de Procurador do Trabalho. Festa na família.

Confesso que sempre tive um pouco de timidez em contar que passei no primeiro concurso
que eu fiz, no primeiro da magistratura, no primeiro do MPT, aprovado em dois concursos com um ano
de preparação, que era o mais novo da minha turma na posse e tal... Escutava as histórias dos colegas
que se prepararam por cinco ou dez anos, que fizeram mais de 20 concursos, que rodaram em provas
orais e se reergueram até tomar posse em outro concurso, que sofreram privações pessoais, que
passaram com mais de 50 anos de idade. São histórias incríveis, cativantes, que têm muito a ensinar
sobre perseverança e coragem. Achava a minha história pessoal desimportante. O tempo acabou me
mostrando que todas as histórias de quem é aprovado em um concurso público são histórias que
merecem ser compartilhadas. Todas elas trazem um legado interessante. E depois de que você toma
posse, todos têm a mesma carteira funcional vermelha e a placa com o nome na porta do gabinete.

Fiz a opção por assumir a carreira no MPT. Foi uma escolha acertada. Respeito muito o
trabalho dos magistrados. Minha esposa é Juíza do Trabalho. Julgar é uma arte. Mas é no MPT que
encontro a satisfação de ver que o resultado da minha ação pode mudar a realidade. Fazer parte do
Ministério Público do Trabalho traz pequenas alegrias diárias e também um enorme senso de
responsabilidade. Tenho a consciência de que somos a voz de uma parcela importante da sociedade
brasileira para a afirmação de seus direitos que são desrespeitados por práticas como o trabalho escravo
contemporâneo, trabalho infantil, fraudes trabalhistas, discriminações e agressões à saúde e à vida dos
trabalhadores. A atuação do Ministério Público do Trabalho está sempre voltada para a proteção do
interesse público e na defesa dos direitos sociais cotidianamente violados. Temos a chance de contribuir
para o empoderamento de grupos historicamente marginalizados e carentes de uma sociedade mais
justa, mais democrática e mais igualitária.

III

Alguns conselhos

Tudo bem se você acha ruim receber conselhos de um desconhecido apenas porque ele
passou em um concurso público. Também tenho certa resistência a tudo que se afirma apenas pela
posição dominante. Sou um pouco iconoclasta. Você pode substituir por dicas, palpites, pitacos.
Definitivamente não são advertências ou avisos. Quero apenas apresentar algumas sugestões que eu
gostaria de ter ouvido quando iniciei a minha trajetória de estudos.

Acredito que as duas primeiras coisas que você precisa fazer é definir um objetivo e estabelecer
um prazo para conquistá-lo.

Pense em onde você quer se ver trabalhando daqui a 10 anos. Pense em como você deseja a
sua rotina daqui a 20 anos. Se você acredita que tem vocação para ser juiz, invista nessa carreira. Se
você tem o sonho de fazer parte do MPT, lute por ele. Ouço muitos alunos dizerem que o que querem
mesmo é passar no MPT. No entanto, acabam fazendo o concurso para magistratura trabalhista porque
é mais fácil para ficar perto de casa, porque tem mais concursos no ano, porque a chance de passar é
maior, porque não é um concurso tão difícil quanto o do MPT. Quantas vezes você já escutou alguém
falando “estou iniciando a minha jornada em direção à magistratura e, quem sabe, ao MPT”? Meu caro,
você quem sabe! Essa decisão é somente sua! O concurso do MPT, sim, é um concurso difícil. Mas é
um concurso possível. E o fundamental para a sua aprovação depende de você mesmo: você tem que
acreditar que é capaz! Você deve acreditar no seu potencial! A sua autoconfiança é que ajudará você a
superar os desafios e as dificuldades, os obstáculos e os insucessos.

Não estou dizendo que você deve fazer apenas o concurso do MPT. Estou dizendo que você
deve se preparar para o concurso do MPT, que é algo bem diferente. E, principalmente, não abandonar
esse sonho antes mesmo de tentar, ou depois de algumas reprovações. Se você conseguir manter o seu
objetivo bem definido no MPT, fazer os concursos da magistratura será um acréscimo.

Avalie com calma e tranquilidade qual a bagagem de estudos que você acumulou ao longo da
sua vida acadêmica. Considere o quanto você aproveitou da sua graduação, ou de algum curso de pós-
graduação. Analise a sua experiência profissional. Calcule quanto tempo disponível você tem para se
dedicar aos estudos, às aulas, às discussões em grupo, aos exercícios práticos. Some tudo isso e defina
qual o seu prazo para você conseguir atingir o objetivo final de aprovação.

Acho engraçado quando escuto que a média de tempo para passar é de 2 a 3 anos. Média
para quem? Baseada em quê? Entrevistaram todos os candidatos? E aquele que desistiu no meio da
preparação, entra na média ou não? Qual a margem de erro do Ibope?

A verdade é que é você que tem que estabelecer o prazo para atingir a sua meta. Você se
conhece melhor do que ninguém. Só você sabe da sua experiência, do seu acúmulo, das suas
potencialidades e das suas dificuldades, no que você se destaca e no que ainda precisa melhorar. São
todos esses elementos bem valorizados por você mesmo que irão dar a resposta de quanto tempo será
suficiente para passar. Não terceirize a decisão de quando você chegará ao seu grande objetivo!

Claro que tudo isso são dados subjetivos e a resposta não será precisa (bem... somando tudo
isso, descobri que demorarei 2 anos, 7 meses e 4 dias para passar). Mas a resposta sempre será mais
útil e próxima da realidade do que um suposto tempo médio afirmado por outra pessoa.

A definição do prazo para atingir o seu objetivo é importante para você criar e executar as
metas de estudos. O cronograma de estudos. Dentro da janela de tempo que você definiu para passar
no concurso, divida todo o programa do edital. Os dois grandes referenciais de estudos deverão ser o
seu prazo para aprovação e o calendário das provas do concurso. Dialogue com ambos e defina as suas
metas de estudo.

Além do grande objetivo de aprovação final, crie também metas a curto e médio prazos, sempre
pensando no calendário do concurso que você busca. Mesmo que o edital ainda não tenha sido lançado.
Uma boa saída é definir metas de estudos diárias (podemos chamar de micro metas ou de metas
imediatas), semanais e mensais. Antes de sentar na cadeira pra estudar, você precisa saber o quanto
você deverá estudar naquele momento. É importante estabelecer um limite prévio e respeitá-lo. Procure
não desistir antes de completar aquela meta específica, e também não adiante o objetivo do dia seguinte
caso você termine antes. Esse limite é fundamental para que você perceba que está evoluindo e
cumprindo as metas. E o sentimento de dever cumprido é muito importante nessa hora. Se você
conseguir organizar o seu calendário de estudos dessa forma, a satisfação de vencer cada micro
meta/meta imediata será maior do que o esforço diário para atingi-la. Caso você tenha dificuldade ou
falta de experiência para definir as suas metas, pense na possibilidade de contratar um profissional
especializado na área, um coach para concursos públicos.

No entanto, não seja severo com você mesmo. Permita-se errar. Seja critico sem perder a
suavidade, seja persistente sem perder a ponderação. Não se deixe dominar pelo medo da derrota. Não
seja um candidato “Regina Duarte”, aquele que tem medo. Cada tropeço deve ser considerado como um
incentivo para seguir adiante na caminhada. Encare o futuro. Dedicação. Empenho. Comprometimento.
E, sobretudo, não se leve tão a sério. Permita-se reavaliar constantemente seus objetivos e metas.
Corrigir o rumo é tão importante quanto seguir no rumo correto.

Um erro bastante comum na preparação dos candidatos é se concentrar apenas para a próxima
fase. Geralmente esse equívoco é mais comum no início da preparação, quando se tem o fantasma da
primeira fase e se esquece de que o concurso seguirá em frente. Muitos entendem que a prova objetiva
é a mais difícil. Pode até ser. Mas é errado achar que a primeira fase é a mais importante. Todas são
importantes. Inclusive a prova de títulos, a sua classificação final depende disso, ficar perto ou longe de
casa. Os concursos do MPT guardam pouco tempo entre a primeira fase e as seguintes. A segunda e a
terceira provas são separadas por apenas uma semana. Deixar para se preparar para as próximas
etapas apenas após o resultado da primeira pode ser insuficiente para acumular conhecimento para a
prova subjetiva e aprender a executar a peça prática. Na sua programação de estudos, reserve um
período para praticar e simular as respostas das etapas seguintes desde já. Treine as questões
dissertativas. Desenvolva as peças práticas. O estudo para todas as fases do concurso deve ser
concomitante, embora com intensidades distintas. Deixar tudo isso para depois pode ser tarde demais.

Especialistas indicam que há várias técnicas de estudos. Se você chegou até aqui, significa
que terminou o ensino médio, passou no vestibular ou no ENEM, e se formou em Direito. Provavelmente
você já descobriu qual o seu melhor método. Para algumas pessoas basta ler, outras precisam destacar
ou grifar o conteúdo, e há também quem precise falar alto a matéria. Eu preciso escrever. Fiz resumos
de (quase) todo o programa, incluindo o texto de lei e súmulas. Não vou entrar na discussão de qual a
melhor técnica. A melhor técnica é a que você se sente mais confortável e a com melhor resultado.
Apenas adapte e concilie o seu cronograma de estudos com o método escolhido. Provavelmente você
demorará mais tempo para vencer uma meta (micro meta ou meta imediata) se você precisar
trans(es)crever o conteúdo, fazer resumos. Paciência. Aceite que esse é o melhor modo para você
adquirir e guardar conhecimento. Não adianta ficar brigando com esse fato e desejar que você gostaria
de estudar apenas lendo os livros.

Outra questão interessante para conversarmos é sobre a realização das provas anteriores.
Principalmente a resolução de questões objetivas. Há duas escolhas. Ou você deixa para fazer as provas
objetivas após esgotar o estudo completo da matéria. Ou você resolve as questões antes de estudar a
matéria. É uma opção pessoal. Particularmente eu prefiro a primeira alternativa. Responder as questões
objetivas depois de estudado todo o conteúdo servia para mim como avaliação de como eu estudei, qual
a efetividade dos estudos, o quanto eu realmente assimilei das matérias, quais as lacunas que ainda
precisavam ser preenchidas. Isso também evitava a angústia de tentar resolver a questão de uma matéria
que eu não havia estudado ainda. Porém, evite fazer as questões objetivas e também responder as
questões subjetivas imediatamente após estudar determinado conteúdo. Conceda um tempo para o seu
cérebro assimilar o estudo, para o cérebro perceber que deixou passar alguma coisa. Essa verificação
você irá fazer exatamente quando for testar o seu estudo com a resolução das questões.

Por outro lado, há quem consiga tirar bom proveito da segunda opção. Ao responder as
questões sem o estudo da matéria ainda, a pessoa aprende com o próprio erro e acaba servindo como
um modo válido de assimilar conhecimento. Enfim, escolha a forma que você melhor se adapta.

Conheça bem, digo, muito bem a instituição Ministério Público do Trabalho. Saiba quais são os
seus principais órgãos, suas atribuições, seus precedentes, os membros que os integram. Conheça as
Coordenadorias Nacionais temáticas, saiba dos Projetos Nacionais, leia as orientações, estude as
grandes ações civis públicas, os termos de ajustamentos de conduta e os pareceres, acostume-se com
as teses defendidas. Informe-se sobre a carreira que você decidiu seguir. Procure acessar diariamente
as notícias das Procuradorias Regionais e da PGT (www.pgt.mpt.gov.br). Não deixe de ler a Revista do
MPT (www.anpt.org.br) e a Revista Labor (www.pgt.mpt.gov.br). Assistir ao programa Trabalho Legal
também pode ser interessante (https://www.youtube.com/user/mptpgt). Hoje em dia é bastante fácil
reunir informações sobre a atuação institucional do MPT. No momento da prova, demonstrar que você
está atualizado sobre as principais questões que envolvem o MPT pode ser um diferencial positivo para
a aprovação.

Tão importante quanto mostrar que você conhece o MPT é se apresentar com o perfil da
instituição. Vista a camiseta. Defenda o MPT. Na dúvida, ultrapasse. Deixe a cautela e a ponderação
para o concurso da magistratura. Está no DNA do MPT ser arrojado, criativo, audacioso, propor soluções
novas para velhos problemas. Procure demonstrar que você tem esse perfil na prova. Muitas vezes as
posições do MPT não estão de acordo com os entendimentos dominantes do TST. 3 Claro que isso não
significa assumir compromissos com teses irrealizáveis ou sem fundamentos. A sensatez e o
discernimento sempre deverão acompanhá-lo, seja durante o concurso, seja na atuação institucional.

Incorpore com prazer o papel de aluno e de estudante. Etimologicamente, aluno deriva do


verbo latim alere, que significa alimentar, nutrir. Olha que bela metáfora. Aluno é aquele que é nutrido de
conhecimentos. Não tem nada a ver com alguém sem luz, provavelmente uma comparação equivocada
entre aluno e a significando sem mais lumen, luz. Já estudante vem do latim studium, entendido como

3O caso da OJ 130, principalmente em sua redação anterior, é emblemático quanto à divergência entre as posições do MPT
e do TST.
aplicação e dedicação. Seja ao mesmo tempo aluno e estudante. Seja determinado em busca de
conhecimentos.

Você faz exercícios? Estou me referindo a exercícios físicos. Não? Então deveria. Procure fazer
alguma atividade física que lhe traga satisfação. Faça musculação, nade, corra, jogue futebol, dance,
pratique curling... Certo, praticar curling no Brasil é muito complicado. Mas todas as outras, não. Se você
não gosta de nada disso, caminhe. Procure reservar uns 40 minutos de caminhada dia sim, dia não.
Incorpore alguma atividade física na sua rotina semanal. Os benefícios da prática desportiva para o seu
corpo, saúde e bem-estar são inúmeros. Mas sobretudo será o seu momento de descontinuidade dos
estudos, de recuperação da capacidade intelectual, de reforço da concentração, de recondicionamento
da energia.

E por fim, seja feliz! Busque encantamento e satisfação ao estudar. Pense que coisa
maravilhosa é ganhar conhecimento. Perceba que interessante é questionar-se e evoluir. Torne essa
caminhada a mais prazerosa possível.

IV

O concurso do MPT

O Concurso Público de Provas e Títulos para o ingresso na carreira do Ministério Público do


Trabalho atualmente é regulamentado pela Resolução CSMPT nº 108, de 05 de março de 2013, alterada
pela Resolução CSMPT nº 119, de 02 de dezembro de 2014. Nas resoluções você encontrará todas as
informações de ordem formal necessárias para prestar o concurso. Nem preciso afirmar que é leitura
obrigatória e completa, certo? Mas se você estiver sem tempo, vou fazer um breve resumo.

São cincos fases no total, quatro eliminatórias e uma classificatória.

A primeira fase é escrita e objetiva, com 100 questões de múltipla escolha de “a” a “d”. Tem a
duração de 4 horas. O detalhe é que a cada 3 erros há o desconto de 1 questão certa. Você precisa
acertar pelo menos 50% da prova. Para o 19º Concurso houve alteração quanto ao número de
aprovados, que passou dos 300 candidatos que obtiverem a maior nota para os 200 candidatos. Todos
os candidatos empatados no ducentésimo lugar serão admitidos à prova seguinte, mesmo que
ultrapassado o limite de 200 candidatos.

A segunda fase é escrita, subjetiva, composta de questões dissertativas e/ou resolução de


problemas. Costuma-se cobrar 5 questões/problemas. Novamente é necessário atingir a nota mínima de
50. A duração é de no mínimo 4 e no máximo 5 horas, conforme será fixado pela Comissão de Concurso.
No concurso anterior, o tempo foi de 5 horas.

A terceira fase é escrita, de natureza prática, e corresponde a elaboração de uma ou mais


peças jurídicas próprias da atuação institucional do membro do MPT, na esfera judicial ou administrativa.
Geralmente é uma ação civil pública, mas nos concursos mais recentes caiu um recurso ordinário e uma
ação rescisória. Mais uma vez você será eliminado caso não obtenha a nota mínima de 50. Igualmente
o tempo da prova é de 4 a 5 horas, ainda a ser determinado. No concurso anterior, o tempo foi de 4
horas.

A quarta fase é a prova oral, com questionamentos a serem respondidos para os cinco
examinadores da Comissão de Concurso. Ocorre no auditório da sede da Procuradoria Geral do
Trabalho, em Brasília, com presença de público. Ao contrário do que acontece na magistratura do
trabalho, não há o sorteio dos pontos do edital 24 horas antes da arguição. O sorteio é feito no momento
da própria arguição. Pela última vez você precisa tirar a nota mínima de 50 em cada uma das matérias
da prova oral.4 O tempo da arguição é de até 50 minutos.

A quinta fase é a aferição de títulos. O seu histórico acadêmico e profissional será valorado
com pontos relativos ao exercício da advocacia, em cargo ou função técnico-jurídico, de magistério
superior em direito, aprovação em concurso público, especialização, mestrado ou doutorado, publicações
de artigos, livros, teses, entre outros. A nota máxima a ser obtida nessa fase é 100. Apesar de ser
meramente classificatória, e não eliminatória, essa fase é muito importante porque definirá a sua
colocação final no concurso. E isso influenciará a sua vida institucional dentro da carreira, para fins de
remoção, promoção ou participação em cursos, por exemplo.

Você encontrará o seu nome na relação de habilitados (aprovados) se tiver nota final de
aprovação igual ou superior a 60 considerando todas as fases eliminatórias do concurso. Já para saber
a sua média final, é preciso somar a nota de títulos. Tanto para a nota final, como para a média final, as
provas escritas, as orais e a nota de títulos possuem pesos distintos. É a média final que irá determinar
a sua colocação na ordem de classificação. E correr para o abraço.

O momento de você comprovar os três de anos de atividade jurídica é no requerimento da


inscrição definitiva. E a inscrição definitiva ocorre depois de publicado o edital com os candidatos
aprovados na 3ª prova prática. A exigência de três anos de atividade jurídica deverá ser atendida até a

4 Os pontos a serem sorteados abrangem as matérias Direito Constitucional e Direitos Humanos, Direito Individual do
Trabalho, Direito Coletivo do Trabalho, Direito Processual do Trabalho, Direito Civil e de Empresa, Regime Jurídico do
Ministério Público, Direito Processual Civil e Direito Administrativo.
data da posse. Perceba que há diferença entre quando você deverá cumprir o tempo de atividade jurídica
e quando você deverá comprovar o seu cumprimento.

Os concursos do MPT geralmente são realizados a cada ano, a cada ano e meio. Veja que o
10º Concurso é de 2002. O 19º Concurso foi lançado no final de 2014. São exatamente 10 concursos no
período de quase 13 anos.

Não se impressione com o pouco número de cargos vagos no edital. Geralmente constam as
vagas mínimas necessárias para o lançamento do concurso. Dentro do prazo de eficácia do concurso,
que é de dois anos da homologação, prorrogável uma vez pelo mesmo período, todas as vagas que
forem surgindo nesse tempo serão consideradas para o preenchimento. Isso se houver candidatos
aprovados, óbvio. São vagas que decorrem de aposentadoria, morte, eleição para o quinto constitucional,
promoção na carreira ou mesmo a criação de novos cargos por lei.

Também não pense que as lotações indicadas no edital serão preenchidas pelos colegas
aprovados no concurso. Antes da posse dos novos colegas, as vagas disponíveis são oferecidas pelo
critério de remoção por antiguidade na carreira aos Procuradores já atuantes. As localidades em que não
houver interesse no preenchimento é que serão ofertadas aos novos colegas. Como você já deve ter
percebido, dificilmente haverá vagas nas capitais de Estados ou grandes centros urbanos. Considere a
possibilidade de ir para lugares como Picos (PI), Ji-Paraná (RO), Bacabal (MA), Água Boa (MT), Três
Lagoas (MS), Marabá (PA) ou Uruguaiana (RS). Por isso, não se preocupe com isso agora. É
absolutamente imprevisível saber com antecipação onde haverá vagas para a lotação dos colegas
aprovados no concurso. A carreira no MPT deve ser atraente pela potencialidade de fazer a diferença na
realidade, independente de onde você esteja.

A Primeira fase

É muito comum escutar que para a primeira prova do concurso do Ministério Público do
Trabalho basta o estudo da lei seca. Ou seja, você precisa conhecer o texto da lei e das súmulas e
orientações jurisprudenciais dos tribunais superiores. Eu costumo dizer que para alcançar a zona de
segurança da aprovação o candidato deve ir além. Eu brinco que deve buscar a lei molhada.

Além do texto das convenções e recomendações internacionais, da Constituição da República,


da legislação infraconstitucional, e das súmulas e orientações jurisprudenciais, o candidato deve ter
noção e conhecimento dos principais institutos e categorias jurídicas. Considere a lei molhada como o
complemento do conhecimento do texto normativo à doutrina propedêutica, às principais teses
relacionadas e aos julgamentos paradigmáticos. Claro que o aprofundamento do conhecimento não
deverá ser tão intenso como o estudo para as próximas etapas. Mas a lei molhada/encharcada dos outros
saberes vinculados é desejável para não passar sufoco na primeira fase.

A prova do MPT é toda elaborada pelos próprios Procuradores que compõem a Comissão
Examinadora do concurso. Isso significa dizer que não se terceiriza a decisão quanto ao nível de
conhecimento que é exigido do candidato. O resultado é uma prova que vai além da mera decoreba,
embora o conhecimento do texto da lei continue sendo muito importante nessa primeira fase. O perfil do
candidato começa a ser selecionado já na prova objetiva.

Mas não basta apenas o conhecimento da lei molhada. É preciso metodologia para a resolução
da prova, definir um método que lhe auxilie a solucioná-la. Há vários métodos e critérios para enfrentar
essa fase. Provavelmente cada aprovado teve a sua técnica própria e com resultado positivo. Quero
apresentar a forma que eu escolhi para superar a prova objetiva do MPT. “I did it my way”!

Para que esse critério dê certo, você precisa ser honesto com você mesmo na hora da prova,
ter a real consciência dos seus conhecimentos e nível de estudos. E também das suas deficiências e
das matérias que você não conseguiu estudar adequadamente. Não tente se enganar.

Como você sabe, a primeira prova do MPT são 100 questões de múltipla escolha, da letra “a”
até “d”. A letra “e” é para ser marcada quando não se sabe a resposta. O diferencial dessa prova do MPT
em relação a todas as demais da carreira jurídica é que há o desconto de 1 questão certa para cada 3
erradas. A letra “e” serve exatamente para isso, para evitar a contagem da questão errada.

O método consiste no seguinte. Durante a prova, divida as questões em 3 conjuntos: aquelas


em que você tem certeza absoluta da resposta, aquelas em que você está em dúvida entre duas
alternativas, e aquelas que você não tem a menor ideia da resposta certa. A dica é levar 3 cores de
canetas e assinalar cada conjunto de questão com uma cor. Se for permitido levar apenas canetas nas
cores azul ou preta, faça sinais gráficos distintos para cada conjunto ao lado do número da questão,
como círculos, quadrados, flechas etc. Você irá classificar a questão em cada um dos 3 conjuntos no
mesmo momento em que for ler e responder a questão.

No primeiro conjunto, assinale todas as questões daquelas matérias que você domina com
segurança, que você conseguiu estudar e assimilar o conteúdo, que você consegue explicar a resposta
para si ou para outra pessoa, que você já acertou em alguma prova ou exercício anterior. Geralmente
são as questões que o nosso inconsciente (aquele lugar onde guardamos certas coisas, inclusive o
conhecimento) identifica a resposta na primeira leitura e geralmente nosso inconsciente acaba acertando.

Mas geralmente não significa sempre.

Pra esse conjunto, você deve acertar de 80 a 90% das respostas.

No segundo conjunto, estão aquelas questões que você tem grande chance de acertar, mas
não tem certeza absoluta da resposta. Você está próximo de descobrir a resposta certa, mas falta
convicção por algum motivo. Você examina e relê a questão com calma e acabam sobrando duas
alternativas. Há uma dúvida razoável entre duas respostas. É aquela questão tipo "eu acho que é tal,
mas não tenho certeza".

Para esse conjunto, calcule de 40 a 60% de acerto.

Se você está em dúvida entre 3 alternativas, então muito provavelmente você não está em
dúvida entre 3 alternativas. No fundo você não sabe a questão. Você está próximo do terceiro conjunto.

E no último conjunto estão todas aquelas matérias que você não estudou, aquela lei que você
deixou pra última hora e não deu tempo, aquela teoria que você nunca ouviu falar – ou se ouviu, fingiu
que não escutou –, ou aquela súmula que você jamais pensou que fosse cair... Enfim... Aquelas questões
que parecem escritas em sânscrito.

Para essas, é letra "e" e assunto encerrado. O negócio é evitar um mal maior.

É impossível afirmar, antes da prova, qual será o ponto de corte. Nos dois últimos concursos,
ambos realizados pela atual administração da Procuradoria Geral do Trabalho, o ponto de corte foi de
60 e 57 acertos. Nos dois passavam os 300 primeiros colocados. A tendência é que o ponto de corte
para o concurso atual aumente já que diminuiu o número de aprovados, passando apenas os 200
candidatos com a maior nota. Mas, eu repito, é apenas uma estimativa. O ponto de corte está ligado
diretamente à dificuldade da prova.

O que você precisa é atingir a zona de segurança, aquele número de acertos em que você não
dependa de questões anuladas posteriormente e se mantenha longe do ponto de corte. Podemos dizer
que a zona de segurança inicia com 70 acertos líquidos. O cálculo dos 70 acertos líquidos deve
considerar o desconto de 1 questão certa para cada 3 erradas conforme a estimativa do percentual de
acertos dos conjuntos 1 e 2 de questões. É até provável que você consiga a aprovação com a pontuação
inferior e próxima a 70 acertos líquidos. Mas estamos propondo atingir a zona de segurança, a situação
ideal.
Pois bem. Quando você terminar toda a prova, antes de passar o resultado para a folha de
respostas, conte quantas questões você assinalou nos conjuntos 1 e 2 e faça os cálculos considerando
o percentual de acerto. Não se esqueça de considerar as questões provavelmente erradas dentro da
média, e descontar 1 questão certa para cada 3 erradas.

Se o seu resultado estiver próximo a 70 acertos líquidos, respire fundo, beba um gole d´água,
e comece a passar o resultado para o gabarito tranquilamente.

Se o resultado não estiver próximo a 70 acertos líquidos, procure retornar àquelas questões do
conjunto 2 e tente salvar mais algumas, diminuir a margem de erro, veja se consegue reclassificar alguma
questão do grupo 2 para o grupo 1. Vale mais a pena insistir com alguma questão do conjunto 2 do que
de uma questão do conjunto 3.

Ah, mas e se mesmo assim eu ficar longe dos 70 acertos líquidos? Bem, esse critério sugerido
não tem o poder de alterar o seu resultado na prova. O método não irá fazer você acertar mais questões
do que você estudou. Parece meio óbvio, mas a sua nota será resultado do seu estudo. O método é
apenas uma proposta de resolução de prova. Não há nenhuma comprovação científica quanto à certeza
de sucesso. Até porque está baseada em dados subjetivos, que variam de uma pessoa para outra. A
ideia foi apenas apresentar uma sugestão. Fique à vontade para segui-la ou descartá-la.

Você terá 4 horas pra fazer a prova. São 240 minutos. A minha sugestão é deixar 20 minutos
para a passagem do gabarito. Somente transcreva o gabarito para a folha de respostas quando terminar
completamente a prova. Isso ajuda a evitar o erro na marcação das respostas, como pular uma questão.
Se você mantiver a atenção e a concentração, é tempo suficiente. Reserve 2 minutos para cada questão.
Aí já temos 200 minutos (2 minutos x 100 questões = 200 minutos). Somando com os 20 minutos para
passar o gabarito, totaliza 220 minutos. E você ainda terá 20 minutos para rever as questões do conjunto
2 objetivando atingir os 70 acertos líquidos da margem de segurança.

O controle do tempo é uma questão fundamental. No concurso do MPT, não é permitido o uso
de relógio pelo candidato. Mas é de praxe o fiscal da sala informar o horário e anotá-lo na lousa a cada
hora cheia. Use o tempo a seu favor ao invés de se tornar refém dele. Tenha o controle do tempo como
um amigo a lhe informar como você está evoluindo na execução da prova dentro da sua programação.
E não como mais um adversário pronto para desestabilizá-lo, assim como o nervosismo, a insegurança,
a pressão, a fome, o cansaço...

É apenas a primeira fase. A caminhada segue.


VI

A Segunda fase

(Continua...)
VI

A segunda fase5

Se você chegou até aqui, antes de tudo, parabéns!

Você passou pelo maior filtro do concurso que é estar entre os duzentos primeiros candidatos
de maior nota na primeira fase. A partir daqui para as próximas fases, o concurso muda a sua perspectiva
de enfrentamento – e de superação – de forma radical em dois pontos bens claros.

O primeiro é que você praticamente deixa de competir com os demais candidatos. Se na


primeira fase você necessariamente precisa obter a nota acima do ponto de corte para seguir na briga,
nas demais fases você não precisa mais estar entre as maiores notas. Você precisa apenas atingir a
nota mínima, que é 50. A consequência é que agora a competição é com você mesmo.

O segundo ponto é que você será chamado a raciocinar com as suas próprias ideias. É você
que escolherá o caminho a ser trilhado em cada resposta, tendo pela frente todo o universo possível de
conhecimento a ser trabalhado. Nas questões objetivas, você deve escolher uma opção entre as quatro
alternativas definidas previamente pelo examinador. Isso pode ser bom ou ruim dependendo de você
mesmo, o que é algo bastante pessoal. Alguns encaram a primeira fase com mais facilidade. Outros
preferem exprimir o conhecimento escrevendo.

Eu sempre achei a primeira fase a mais difícil. Pensava que tinha mais facilidade com a escrita
do que marcar “x”. De qualquer forma, como há método para resolução da prova objetiva do MPT,
também há técnicas que podem contribuir positivamente para melhorar o resultado nas segunda e
terceira fases.

Pretendo sugerir respostas para três perguntas fundamentais para a aprovação nessa segunda
fase: Como se preparar? Como é a prova? E como resolvê-la?

Se você teve a oportunidade de se preparar concomitantemente para as três primeiras fases,


conciliando o estudo da lei (molhada) com os exercícios e simulações das questões subjetivas e peças
práticas, já deve ter reparado que, agora, o estudo para as segunda e terceira fases deve ser mais
aprofundado do que foi para a primeira fase. Na medida em que diminuem as matérias que podem ser
cobradas, igualmente aumenta a intensidade da exigência das questões.

5 Escrito em junho de 2015. Continuação do texto Como Passar no Concurso do MPT – 1ª Parte. É permitida a sua
distribuição, cópia e citação desde que indicada a autoria. Contato: phil.jardim@yahoo.com.br / FB Philippe Jardim
É fundamental que você pesquise, analise, estude e conheça satisfatoriamente toda a
produção acadêmica dos membros da banca. Mais do que isso. É imprescindível que você saiba os
entendimentos e posicionamentos dos examinadores sobre as questões jurídicas mais controvertidas e
mais atuais. É bastante comum que as questões cobradas estejam associadas à matéria de maior
familiaridade do membro da banca, inclusive podendo ser algo que ele já escreveu sobre o assunto. Você
simplesmente não pode deixar de ler tudo de sua autoria. Busque o seu currículo na Plataforma Lattes
/ CNPq. Confira o que o Google tem a dizer de cada examinador. Inclusive entrevistas ou atuações
práticas destacadas podem ser importantes. Essa é a hora de agir como um verdadeiro detetive.

Para além das obras e artigos dos membros da banca, eu não costumo indicar bibliografia. É
algo absolutamente pessoal! Eu posso gostar de um autor, e você, não. Eu posso gostar do estilo dele,
e você, não. Eu posso gostar do raciocínio dele, e você, não. Eu gosto de suco de bergamota, e você
pode não gostar.

Recomendo que você experimente todos (ou boa parte) dos autores. Isso vale para os autores
clássicos, para as obras de tipo-manual e também para os livros monotemáticos. Antes de comprar este
ou aquele livro, pesquise na internet quais as diversas bibliografias que o pessoal sugere por aí. Você
perceberá que não há muita diferença entre as sugestões de quem indica uma bibliografia. Pesquise
antes e estude pela bibliografia que você melhor se adapte. Não aceite pacotes prontos só porque alguém
disse que é a melhor. Lembre-se que não há uma bibliografia oficial para passar no concurso. A não ser
que o membro da banca já tenha expressamente indicado alguma bibliografia, a bibliografia que indicarão
para você será apenas a bibliografia que indicarão para você. Não necessariamente a melhor. Porque a
melhor bibliografia é a que você mais tenha prazer em estudar. Claro que eu estou falando dos livros que
abordam o conteúdo programático do concurso. Deixe a leitura do seu Paulo Coelho preferido para
depois... Vá a alguma biblioteca ou a uma grande livraria e analise as obras sugeridas. Veja o índice.
Leia pequenas partes sobre o mesmo assunto em diversos autores. E leve pra casa com você aqueles
autores que você mais se identificou. Só não se esqueça de pagar pelos livros, ok?

Nessa segunda fase, assim como na terceira, o treino é importantíssimo. Serve como forma de
prevenção de surpresas no momento do concurso. O candidato já deve ir se acostumando com as
condições as quais encontrará na prova, na medida do possível. Você já ficou 4 ou 5 horas apenas
estudando ou respondendo questões, sem internet ou celular, fazendo um lanche ao mesmo tempo em
que escreve e se levantando da cadeira somente para ir rapidamente ao banheiro? Pois bem. Como
você já sabe, é exatamente essa a realidade que você encontrará no dia da prova. E quanto mais
preparado para essa condição, maiores as chances de que o entorno não atrapalhe você. O treino deve
ser a simulação da prova.
Por isso a sugestão para que você faça os exercícios simulados a caneta e dentro do tempo
parecido com o qual você terá durante a prova para cada questão. Assim se mede a capacidade do aluno
de organizar o raciocínio e responder adequadamente com a máxima eficiência. E acostumar-se com
uma escrita rápida. Exercite a sua caligrafia durante a elaboração das respostas. É fundamental uma
boa letra que torne a leitura da sua prova agradável e fluida. Responder questões dissertativas no
computador possui pouca serventia. Se você costuma treinar assim em algum curso de correção virtual,
apenas estará facilitando o trabalho do professor. E se afastando da aprovação!

Outra recomendação interessante é para que você evite estudar a matéria após ler o enunciado
da questão e antes de responder. Na hora da prova o estudo da doutrina não será permitido. Se durante
os treinos você se acostumar a estudar cada matéria que você não domine antes de responder, deixará
seu cérebro acostumado a essa prática e totalmente despreparado para reagir na hora da prova em caso
de uma questão desconhecida. Mesmo que você não saiba completamente o conteúdo da questão, ainda
sim será metodologicamente importante responder sem estudar a matéria imediatamente antes. Eu sei
que é complicado responder sem saber a matéria, mas o momento de errar é nos treinos. O
recomendável é sempre se testar ao máximo, avaliar como se escapa dessa encruzilhada. Depois de
respondida, aí sim vale estudar o conteúdo. Não é impossível cair algo na prova que eventualmente o
candidato nunca tenha estudado. É exatamente nos treinos que você se conhecerá e saberá como reagir
à pressão. Superar esse desafio – responder algo que você não domine – também é consequência de
treino e técnica.

A prova de segunda fase do concurso do MPT é geralmente composta de 4 ou 5 questões


subjetivas, ou dissertativas ou resoluções de problemas. Podemos definir as questões dissertativas como
aquelas em que o candidato deve discorrer sobre um ou mais conteúdos, de forma livre ou a partir do
referencial teórico sugerido pela questão. Não é preciso necessariamente constar a expressão “disserte”
para que a questão seja considerada dissertativa.

Na resolução de problemas o examinador apresenta um caso específico e o candidato deve


responder um ou mais questionamentos relacionados à situação narrada. O caso pode ser real,
construído ou baseado em fatos concretos. A questão pode cobrar que o candidato analise determinados
assuntos relacionados ao caso e/ou se posicione quanto aos fatos apresentados.

A seguir, o quadro com a análise morfológica do tipo de questão cobrado a partir do 10º
Concurso.
2ª Fase/Conc 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º
Dissertativas 5 4 4 5 4 5 2 2 1
Problemas / 1 1 / 1 / 2 3 4
Total Questões 5 5 5 5 5 5 4 5 5
[

O concurso do MPT possui dinâmica própria que se destaca pelo tipo de questões subjetivas
e pela forma como são apresentadas, pela especificidade do conteúdo jurídico que o candidato deve
transmitir e também pela necessidade de demonstrar o conhecimento da realidade do exercício cotidiano
da função de Procurador do Trabalho.

A prova não costuma ter pegadinhas do tipo “o que é X?”, sendo que a resposta está na nota
de rodapé nº 347 da fl. 296 do autor “Y” que ninguém lê. As perguntas acabam direcionando a resposta
para a atuação do MPT. Muitas vezes a saída está em o candidato apresentar-se como se fosse
Procurador do Trabalho. Se você está fazendo o concurso do MPT, sinta-se Procurador do Trabalho.
Pense como o colega que hipoteticamente está investigando nos autos do inquérito civil ou que ajuizou
a respectiva ação civil pública de que trata a questão. Como você reagiria se você estivesse em seu
lugar? Tenho certeza de que agindo assim muitas dúvidas de como responder a questão serão
superadas. Por isso, use e abuse do trabalho das Coordenadorias Nacionais Temáticas, seus Projetos
Nacionais e Orientações. Se o tema for trabalho escravo contemporâneo, fale da Conaete. Se o tema for
aprendizagem, fale da Coordinfância e do Projeto Aprendizagem Profissional. Se o tema for terceirização
na administração pública, fale da Conap e da Orientação nº 37. Sempre é bom ilustrar a resposta com
exemplos concretos da atuação do MPT.

Para enfrentar a segunda fase, ter pouco conhecimento é ruim. Por incrível que pareça, ter
muito conhecimento também pode se tornar ruim. Isso fica claro quando o candidato tem dificuldade de
sistematizar o conhecimento acumulado para apresentá-lo de forma lógica e hierárquica. Se o candidato
não souber como organizar a sua resposta, pode ser que inicie falando muito de algo com pouca
importância (geralmente a parte histórica) porque ele tem bastante conhecimento e quer demonstrá-lo.
Só que acaba perdendo fôlego no final e deixa de tratar de assuntos centrais. Sim, você não pode iniciar
a resposta de qualquer maneira sem saber aonde quer chegar. Podem ocorrer dois problemas. A falta
de tempo para terminar a prova ou uma prova desigual. Ambos são efeitos indesejados.

A prova deve ser harmônica entre si.

As questões devem ter aproximadamente o mesmo volume de resposta. Isso em sentido


qualitativo, e não quantitativo. Não estou falando do número de linhas, mas da variedade e consistência
de argumentos. As respostas devem ter pesos semelhantes. Tamanho diferente de respostas é apenas
a exteriorização de argumentações desiguais.

Você sabe o que é logorreia? É algo a ser evitado. Trata-se da repetição de frases sem sentido
ou sem importância. Isso é relativamente comum no texto jurídico. Buscamos reforçar nossa
argumentação repetindo velhos argumentos com novas roupagens. Pensamos que o texto ganhará
qualidade se trocarmos as palavras para dizermos a mesma coisa que já havíamos dito antes. Não
adianta redizer argumentos achando que assim o texto ficará mais fundamentado. Cada argumento é
único e deve ser trabalhado com exaustão, e não repetição.

Você não terá tempo disponível durante a prova para elaborar um rascunho da resposta.
Esqueça completamente essa ideia. Sequer cogite a possibilidade de escrever uma resposta provisória
para depois passar a limpo. Porém, antes de começar a responder, é aconselhável que você faça o
boneco de cada resposta. Na indústria de arte gráfica, boneco é a representação preliminar de como
será o produto em seu formato final. Funciona como um protótipo com a finalidade de identificar e corrigir
falhas. Ora, não é exatamente isso que buscamos na hora da prova?

Essa é uma dica de fácil execução e com grande eficácia. A primeira coisa que você deverá
fazer é ler toda a prova. Leia integralmente todas as questões. Agora separe a folha de rascunhos e faça
o boneco de cada resposta, contendo, de forma objetiva, a ordem lógica da fundamentação e os
principais argumentos. Pense em como você iniciará a resposta. A seguir, quais os argumentos que
devem ser trabalhados. Apenas coloque uma ou duas palavras que resumam todo o argumento. Há
artigos de lei, convenções, súmulas? Escreva para não se esquecer durante a elaboração da resposta.
Coloque tudo isso na ordem em que devem ser apresentados. E o argumento final. Faça isso para todas
as questões, isoladamente. Pronto. Você terá o roteiro da sua prova. Você já sabe como iniciar, qual o
percurso seguir e aonde quer chegar em cada resposta. Depois é só seguir o roteiro e escrever as
respostas definitivamente. Você perceberá que a resposta fluirá mais tranquilamente do que se você tiver
que pensar no próximo argumento ao mesmo tempo em que você escreve. Claro, porque é como se
você estivesse passando por esse caminho pela segunda vez. Você já elaborou mentalmente a resposta
quando fez o boneco. A sua resposta não será mais novidade para você mesmo. Invista de cinco a dez
minutos no máximo por questão para fazer o respectivo boneco. É o tempo que você terá para pensar e
refletir, conceber e formatar cada resposta.

Ao fazer o boneco de toda a prova antes de começar a responder cada questão, você também
evita um erro de procedimento relativamente comum nos candidatos. Responder a prova fora de ordem.
Responder primeiro a questão que você tem mais segurança e deixar para o fim a que você tem menos
segurança. Dessa forma você estará dizendo ao examinador exatamente isso: que você sabe mais a
primeira questão e menos a última. Parece óbvio que isso pode influenciar negativamente a forma de
avaliação para as questões que estão no final em comparação às primeiras. E o que você busca é o
desempenho ótimo em todas as questões.

Supere aquelas dicas estandardizadas de que a resposta deve ter uma introdução, quatro ou
cinco parágrafos e uma conclusão. Você está fazendo um concurso para o MPT ou uma redação do
ENEM? Muitos candidatos seguem o modelo inventado por alguém e saem da prova com a certeza de
aprovação. Afinal, o candidato cumpriu a risca a padronização do discurso, o pretenso modelo ideal de
resposta. Apenas se esqueceu de que a banca quer tudo, menos respostas padronizadas.

Outra orientação questionável é começar a resposta com a abordagem histórica. Nem sempre
a resposta comporta que se fale da história do instituto perguntado. Talvez em uma pergunta do tipo
dissertativa, mas quando a pergunta for direta, provavelmente a abordagem histórica será desnecessária.
Ao invés de passar a ideia de erudição, que provavelmente seja o seu objetivo, você passará a ideia de
enrolação. Até porque a parte histórica não poderá ser maior do que um ou dois parágrafos, e é muito
difícil que você consiga resumir toda a evolução histórica de qualquer instituto jurídico em tão pouco
espaço. Então, se for para fazer uma coisa mal feita, por que fazer?

Para terminar a resposta, a sugestão é uma consideração de ordem pessoal e crítica a respeito
do assunto em debate. Mas apenas quando for cabível e a pergunta permitir esse espaço, claro. Evite
fazer associações com outros temas correlatos mas que não foram questionados para não passar a
impressão de que a resposta deveria seguir e foi interrompida. O final da resposta deve transmitir a
sensação de saciedade e não de quero mais. Dessa forma, evite encerrar a resposta com a transcrição
de um artigo de lei. A resposta perde a força do impacto que deve ter no final quando terminamos assim.
Por isso mesmo devemos evitar afirmações gerais e genéricas como a missão do MPT ou o conteúdo
do artigo 127 da Constituição, por exemplo, para as perguntas sobre a instituição. Se o final pode ser
usado em qualquer resposta, não é um final, digamos assim, elogiável.

Tenho muito receio quando vejo dicas para utilização indiscriminada de autotextos para
determinados assuntos ou autotextos gerais aplicáveis independentemente do assunto. Pior ainda, às
vezes o autotexto sequer é escrito pelo próprio aluno. É um modelo compartilhado. Os autotextos podem
ser úteis para economizar tempo em algumas partes formais da peça prática, como veremos a seguir.
Mas desde que sempre tenham sido escritos pelo próprio candidato, jamais por outra pessoa, não
importa quem seja essa pessoa. Para a segunda fase, a utilização de autotextos não parece ser uma
boa opção.

Bem, mas a resposta não pode ser um nada estilístico, um vazio procedimental.
Uma saída pode ser utilizar a técnica que eu chamo de escada argumentativa.

Partir do geral à especificidade, do abstrato ao concreto, do mais antigo ao mais novo, da tese
ao caso concreto, dos valores às regras, do Direito Internacional à Orientação Jurisprudencial. Ou pode
seguir o caminho inverso, dependendo do tipo de questão, do seu conhecimento e estilo próprio. Você
pode subir ou descer a escada. O que não pode (poder até pode, mas não é recomendável) é partir do
meio para o começo, depois pular até o fim, novamente voltar ao início e terminar em qualquer outro
ponto. Não comece respondendo que sim porque está no artigo da lei tal. Confirma porque a Convenção
também diz isso. Ratifica porque o tribunal entende assim já que está naquela súmula. Ressalva que
nem sempre foi desse modo porque historicamente se pensava o contrário. Mas assegura que hoje é
assim já que a Constituição afirma dessa forma. E finaliza com o princípio que tem a ver com tudo isso.
Confuso, não? Isoladamente cada argumento pode estar correto. Mas falta a noção de totalidade
sequencial que a resposta deve ter.

Você apenas ira tontear o examinador dando voltas errantes. A sua resposta deve ser um
convite. Um convite ao examinador caminhar ao seu lado em busca da resposta perfeita. E a direção
pode ser esta ou aquela. Mas você precisa sair de um lugar e chegar ao outro. O examinador quer a
segurança de saber que chegará a algum lugar ao invés de ficar apenas passeando. Ele não quer saber
apenas se você conhece o assunto. Quer saber se você consegue organizar e apresentar racionalmente
o que você sabe sobre o assunto.

Tudo isso é o que indiretamente os examinadores utilizam como "encadeamento de ideias" e


"desenvolvimento analítico e domínio da matéria".

Outro item fundamental para a avaliação positiva da pergunta é o “respeito à centralidade


temática”. Em bom português significa não fugir do tema. É um problema quando damos muita ênfase a
um assunto acessório. Os assuntos acessórios até podem fazer parte da resposta, mas de uma forma
mais passageira para não ocupar o espaço do tema realmente central. Para isso, preste muita atenção
ao enunciado da questão. É lá que você encontrará os limites da sua resposta. Sublinhe a(s) palavra(s)
chave(s) que define(m) o(s) ponto(s) central(ais) da questão e se concentre nele(s).

Saber identificar os artigos de lei e as súmulas aplicáveis à pergunta proposta é importante.


Mas está longe de ser o mais importante. Passar na segunda fase exige a demonstração de
conhecimento crítico e fundamentação consistente para além do enquadramento legal. De alguma forma,
sempre se teve essa percepção a partir do gabarito e do nível de imposição nas correções da segunda
fase no concurso do MPT. Isso ficou expressamente claro no 17º concurso, quando foi divulgado o
espelho de correção da 2ª prova.
Confira aí:

O aprofundamento é essencial à resposta, considerando que a prova era consultada e porque


o objetivo das provas subjetivas é, exatamente, o de averiguar outras habilidades do candidato,
sobretudo seu juízo crítico, o domínio jurídico, o raciocínio lógico e a capacidade de
compreender toda a dimensão do problema, com suas soluções. Neste sentido, sem dúvida
alguma a compreensão social se torna imprescindível ao candidato a cargo de Procurador do
Trabalho. A prova consultada não se presta a constatar se o aluno sabe manusear livros de
súmulas e fontes legislativas, porque isso é habilidade já analisada na Graduação de Direito.
Simples, não?

Assim como a maneira que nos vestimos e o modo como falamos não são atitudes neutras, a
forma como escrevemos também não é. O jeito como você escreve revela muito sobre você. Pense em
um texto cheio de abreviaturas ou de reduções. Ao leitor poderá passar a ideia de que o escritor teve
certa preguiça ao escrever. Se estamos em uma prova em que o seu perfil está sendo analisado, por
que não cuidar do modo que escrevemos?

O conhecimento do português é fundamental. Você precisa saber se expressar com o domínio


dos padrões linguísticos que formam o uso correto da norma culta. Na prova, o que você estará fazendo
é transmitir uma mensagem ao leitor, no caso, o examinador. E essa mensagem, repleta de conteúdo
jurídico, deve ter um significado íntegro e compreensível.

Agora, não confunda erudição com pernosticismo (aliás, usar a expressão “pernóstico” já é
bem pernóstico!!!). Modere o tom para termos muito rebuscados. Escreva com a agilidade do séc. XXI e
não com o arcaísmo do séc. XIX. Acredite, se você colocar uma palavra tão difícil que o próprio
examinador terá que procurar no dicionário provavelmente você fez uma péssima escolha. A linguagem
jurídica não pode ser usada como instrumento de dominação de um grupo selecionado que detém esse
conhecimento, não pode ser usada para estimular o distanciamento da população ao Direito, não pode
ser usada para estimular um modo conservador de promover justiça. Esse não é o perfil da instituição
Ministério Público do Trabalho e não será esse o perfil do candidato buscado no concurso.

Escrever bem não é escrever difícil.

Escrever bem é ser compreendido. Compreendeu? Escrevi bem?

O que eu vou dizer a partir de agora não é regra. Ou seja, é provável que não seja decisivo na
sua aprovação. São questões relacionadas ao gênero de escrita. Leia e reflita. Avalie você mesmo se
são sugestões úteis ou descartáveis. Confira se são adequadas ao seu próprio estilo.
Dê preferencia a períodos curtos, com poucas orações. Facilite a compreensão da mensagem
que você quer passar ao examinador. Escreva na ordem direta (sujeito + predicado). Aqui, é mais Luis
Fernando Veríssimo e menos José Saramago.

Tenha moderação com o uso de termos em latim. Reserve o uso do latim para aquelas
expressões que possuem significado de conteúdo jurídico próprio. Como ex tunc, ex nunc, ad hoc, erga
omnes... Mas se o objetivo de usar a expressão é apenas enfeitar o texto, saiba que o efeito será inverso.
Nada mais fora de moda do que expressões como data venia, a contrario sensu, ab ovo, pari passu...
Todas essas expressões são plenamente substituíveis em português.

Cuidado com o uso indiscriminado de sinônimos para a mesma palavra. Há limites até para a
criatividade. É algo de estilo pessoal, mas eu prefiro repetir a mesma palavra a ficar inventando
substitutos correlatos: Ministério Público do Trabalho, Ministério Público social, Ministério Público
especializado, Promotoria trabalhista, Parquet laboral, magistratura em pé... Eu prefiro escrever
Ministério Público do Trabalho e ponto. No máximo, usar a abreviatura MPT. E somente depois de
escrever no texto (resposta) por extenso na primeira vez em que a expressão aparece. Como nesse
texto, reparou? Pode procurar e você não encontrará nenhuma vez a palavra Parquet. Somente nesse
parágrafo como exemplo de como não usar. Petição inicial e ponto. Por que escrever petição ovo, petição
ab initio, petição prefacial, peça vestibular, peça isagógica, peça de começo? E Constituição já não é o
bastante? Qual a razão de escrever Constituição Federal, Carta constitucional, Carta magna, Lei maior,
Lei fundante, Lei básica, Lei das leis? Aliás, você sabia que não é tecnicamente correto escrever
Constituição Federal? O certo é Constituição da República Federativa do Brasil. Ou simplesmente
Constituição. Confira lá no seu preâmbulo. O que é federal é a República, e não a Constituição. A
Constituição é republicana. São essas coisas do Direito que escrevemos e reproduzimos sem nunca
questionar a origem.

“Ah, mas gosto de variar para o texto não ficar repetitivo!”

Bem, você perceberá que o que torna o texto repetitivo e truncado não é a repetição de
palavras que são centrais ao assunto que você está trabalhando e, por isso mesmo, deverá usar várias
vezes. E sim a forma como você organiza o conteúdo do texto, se os argumentos são apresentados de
um modo lógico e sequencial (escada argumentativa). A variedade extrema de sinônimos apenas
chamará a atenção para algo acessório.

Tenha parcimônia com os adjetivos. Quanto mais adjetivos, menos técnica a prova. Reserve
os adjetivos com forte carga emocional tais como “odioso” e “absurdo” para descrever aquelas situações
que realmente seja odiosas e absurdas. Pense se você usaria tais adjetivos em uma palestra para um
auditório lotado. O convencimento do que você está apresentando sempre será mais eficiente se apoiado
em argumentos do que em adjetivos.

Acredito que a regra de ouro para todas essas questões de estilo seja a razoabilidade.
Geralmente as coisas funcionam melhor com bom senso e o modo com que escrevemos não é exceção.
Busque o equilíbrio entre ser excessivamente informal e hermeticamente rebuscado. Encontre o tom
jurídico mais adequado.

Enfim... Procure escrever como um ourives que lapida o diamante em pedra bruta até
transformá-lo em joia.

Até a próxima fase!!!


VII

A terceira fase6

Quero começar com uma pequena história. Uma candidata estava fazendo o concurso do
Ministério Público do Trabalho. Passou na primeira fase. Passou na segunda. À época, a segunda e
terceira fases não eram realizadas em finais de semana seguintes. Havia alguns meses entre uma prova
e outra. Quando saiu o resultado da segunda fase, seu pai já estava bastante doente. As visitas
constantes ao hospital onde ele estava internado consumiam todo o tempo que restava aos estudos. Ela
trabalhava o dia inteiro. Quando saia do trabalho, ia direto para o hospital ficar com o seu pai. A verdade
é que não conseguiu se dedicar com intensidade à preparação para a terceira fase tanto quanto havia
se preparado para as fases anteriores. No dia anterior à prova, uma amiga próxima lhe convidou para
tomar banho de piscina em sua casa. Era um convite ao relaxamento necessário na véspera da prova,
uma forma de não levar os problemas de saúde de seu pai para o dia seguinte. Ela aceitou o convite e
resolveu levar uma edição qualquer da Revista do MPT para ler entre um mergulho e outro. Sua amiga,
executiva de uma multinacional, pediu a ela que explicasse o que era ação civil pública. Ela abriu
aleatoriamente uma ACP publicada na Revista, começou a ler em voz alta e a ensinar como se elaborava.
Foi uma das únicas peças que ela teve oportunidade de estudar durante todas essas semanas.

Hoje seu pai está muito bem de saúde.

E ela é uma competente Procuradora do Trabalho em São Paulo.

A matéria da ACP que ela escolheu ao acaso era exatamente a mesma que foi cobrada no dia
seguinte.

É claro que o resultado feliz teve influência direta da sorte, da coincidência, da ventura, do
destino, enfim... Chame como quiser. Entre todas as matérias que ela poderia ter escolhido, optou
exatamente por aquela que viria a ser cobrada no outro dia. Mas ela ajudou a sorte a lhe ajudar com uma
preparação consistente para as provas anteriores.

Já se tornou clichê afirmar que quanto mais se estuda, mais a sorte está do nosso lado. É
verdade. O ideal é se organizar com os estudos de forma tão eficaz que não precisemos contar com o
acaso.

6 Escrito em julho de 2015. Continuação do texto Como Passar no Concurso do MPT – 1ª Parte. É permitida a sua
distribuição, cópia e citação desde que indicada a autoria. Contato: phil.jardim@yahoo.com.br / FB Philippe Jardim
Você terá uma semana entre as segunda e a terceira fases. Ainda que a Resolução preveja a
possibilidade das provas subjetiva e prática serem realizadas em dois dias seguidos (sábado e domingo),
o calendário dos últimos concursos tem optado por realizar as provas em dois domingos consecutivos.
Ou seja, descontado o dia de domingo de aplicação da prova subjetiva, ainda restarão seis dias inteiros
para estudos. Claro que você já vem treinando como fazer a peça prática há algum tempo, então esses
seis dias serão mais de revisão do que de aprendizagem.

Procure fazer pelo menos uma peça por dia. Esse plano é viável para quem concilia o trabalho
com os estudos. Se você se dedica integralmente aos estudos, tente fazer duas peças por dia. Faça uma
peça completa no período da manhã. Descanse um par de horas e volte a fazer outra peça à tarde ou à
noite, conforme seu relógio biológico. Durante todo o concurso, provavelmente essa será a semana mais
intensa de toda a caminhada. Acredite, vale a muito a pena esse esforço em grau máximo. Se você ainda
pensa que deve estudar um número certo de horas por dia para passar, está na hora de você rever os
seus conceitos. Até o relógio de parede da sua sala sabe que você não deve orientar-se por horas de
estudos, e sim por metas diárias. As metas podem ser algum ponto do edital, artigos diversos ou capítulos
de livros, exercícios práticos etc. Qualquer coisa dentro da sua programação de estudos e que seja
compatível com o tempo efetivamente à disposição que você possui. As horas investidas em estudos
são apenas uma demarcação temporal de organização do seu dia, e não um fim em si mesmo. Você não
senta em sua escrivaninha para estudar quatro ou seis horas, você senta em sua escrivaninha para
vencer o seu objetivo de estudo diário e que pode durar quatro ou seis horas. Nesse momento da
preparação – e que será somente nessa semana, procure cumprir a meta de duas peças por dia.

Conforme a Resolução do concurso, a 3ª fase consiste em prova prática considerando a


“elaboração de uma ou mais peças jurídicas, típicas da atuação judicial ou extrajudicial do Ministério
Público como órgão agente ou interveniente, versando sobre qualquer matéria do programa” (art. 33,
parágrafo único, da Resolução nº 108, de 05/03/13, modificado pelo art. 18 da Resolução nº 119, de
02/12/14).

Pode ser cobrado do candidato a elaboração de qualquer peça prática da atuação do membro
do MPT, tais como petição inicial de ação civil pública (ACP), ação rescisória (AR), recurso ordinário
(RO), recurso de revista (RR), mandado de segurança (MS), dissídio coletivo de greve, ação anulatória
de cláusula de instrumento coletivo, parecer etc. Embora na Resolução esteja escrito uma ou mais peças
jurídicas, na história recente dos concursos do MPT sempre se cobrou a elaboração de somente uma
peça prática.

A seguir o quadro com a análise morfológica do tipo de peça prática cobrada a partir do 10º
Concurso.
3ª Fase/Conc 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º
Peça Prática ACP ACP ACP ACP ACP ACP ACP RO AR

Tanto quanto na segunda fase, aqui o treino é fundamental. Todas as dicas anteriores quanto
aos treinos e exercícios simulados continuam valendo. Durante a preparação, você deve estar seguro
em terminar uma peça prática – qualquer que seja ela – dentro do prazo estabelecido de quatro horas.
Acostume-se com isso o quanto antes.

Porém, mais do que em qualquer outra fase, aqui o seu maior adversário será o tempo.

Pensando em uma ACP, você precisa saber que o tempo disponível de quatro horas deve ser
dividido em três partes. Você é que irá definir o tempo necessário para cada parte. O importante é você
já chegar à prova com essa divisão de tempo bem definida.

Reserve a primeira parte do tempo para ler o enunciado da questão e fazer o boneco da peça.
Pois é, o boneco aqui também é muito importante. Pense e anote objetivamente todos os detalhes da
ACP. Todos os requisitos formais. A fundamentação. E, sobretudo, os pedidos. Todos os pedidos. Seu
boneco da ACP estará pronto.

A segunda parte do tempo você dispõe para escrever a qualificação, a exposição dos fatos, a
fundamentação e demais requisitos formais. Deixe de fora os pedidos porque...

Os pedidos merecem uma parte do tempo só para eles. É o bloco mais importante da ACP. É
aqui que você deve concentrar o seu maior cuidado, a sua melhor atenção. Os pedidos devem ser
impecáveis. É absolutamente fundamental – vou repetir, é absolutamente fundamental!!! – que não falte
tempo para escrever todos os pedidos que já constam no boneco. Caso o tempo esteja um pouco
apertado, é preferível economizar na fundamentação a deixar de fazer algum pedido. Os pedidos são a
janela da alma da sua ACP.

Então recomendo que você siga esse roteiro. Faça o boneco. Escreva a prova pela ordem
normal, qualificação, fatos, fundamentação (direito material e requisitos formais) e pedidos. Mas quando
faltar exatamente o tempo que você determinou para os pedidos, termine a fundamentação e vá direto
aos pedidos. Esse é a dica. A divisão do tempo serve para você saber quanto tempo precisa para
escrever todos os pedidos e, portanto, completar a prova. É a forma correta de execução da prova para
que você não corra o risco de não terminar todos os pedidos.
Essa divisão do tempo em três partes é apenas recomendável para a ACP. Para as demais
peças práticas, a divisão em duas partes é suficiente. A primeira parte para a leitura da questão e criação
do boneco. E aí já inicie a elaborar a própria peça.

Se eu disse que o uso de autotextos para a segunda fase era desaconselhável, aqui eles
cumprem um papel relevante. Antes de tudo – e isso é muito importante, os autotextos devem ser
próprios. Você mesmo deve escrever os seus autotextos. Ainda mais na terceira fase, você precisa se
destacar dos demais, e é demonstrando conhecimento, boa fundamentação, pedidos corretos, domínio
da estrutura formal da peça e escrita ajustada que você atingirá seu objetivo. Imagine se vários
candidatos utilizam o mesmo autotexto de algum professor ou cursinho para modelos de ACP?

Use os autotextos (próprios, sempre próprios) para ganhar tempo de raciocínio para elaborar
a causa de pedir/direito/fundamentação dos pedidos e escrever os próprios pedidos. Ou seja, pensando
em uma ACP, você deverá chegar à prova com os autotextos equivalentes para os itens de natureza
formal que devem constar em qualquer ACP. Tais como qualificação das partes, competência material
(da Justiça do Trabalho), competência funcional (da Vara do Trabalho), competência territorial (da
cidade), legitimidade do MPT, cabimento da ACP, fundamentação do dano moral coletivo,
fundamentação dos pedidos liminares e demais requerimentos finais (citação do réu, condenação do réu
em custas e despesas processuais, intimação pessoal do membro do MPT, produção de prova, isenção
de custas etc.).

Tudo bem buscar a inspiração em textos de ações verdadeiras e ajuizadas pelo MPT, mas não
copie. Mantenha-se fiel às suas características narrativas e a sua prova será homogênea quanto ao
estilo. Aliás, você já reparou que muitas ações verdadeiras não possuem todas as partes de natureza
formal que normalmente se exige do candidato durante a prova? A ACP na vida real não é a mesma do
concurso. Nem sempre as ações tratam da legitimidade do MPT ou da competência material, por
exemplo. São questões que antigamente ainda havia certa resistência por parte do Poder Judiciário, hoje
já praticamente superadas. Mas isso não significa que você pode deixar de abordar durante a prova.
Pense que são quatro horas que você dispõe para convencer o examinador de que reúne todas as
condições de ser Procurador do Trabalho. Então use esse tempo a seu favor e o convença com a peça
mais completa possível.

Outro ponto importante é a beleza estética da sua prova. Você já sabe disso, mas o examinador
não é um robô frio e sem sentimentos. É uma pessoa de carne e osso, angústias e desejos, que passa
por dias ruins e outros melhores. A sua avaliação pode sofrer influências de fatores externos como
cansaço, bom humor, se o time do coração ganhou ou se brigou com a esposa. E também do próprio
aspecto visual da sua prova. Sim, não deveria ser assim. Não, nenhum examinador reconhecerá isso.
Mas o fato é que ele se angustia em ver uma prova desorganizada e de difícil compreensão. Um desejo
simples do examinador é que a peça seja agradável à leitura. Se for assim mesmo, por que não ajudá-
lo a criar uma primeira impressão positiva? Afinal, a primeira é a que fica, certo?

Faça a folha de apresentação da ACP na primeira página (direcionamento e qualificação das


partes). Escreva a exposição dos fatos no início na folha seguinte. Somente comece a fundamentação
no início da folha posterior. E assim por diante. Deixe uma linha em branco entre cada parágrafo. Duas
linhas em branco entre as partes formais da peça. Novamente cuide da sua letra. Sempre legível. Essas
dicas não valem apenas para a ACP, e sim para todas as outras peças que podem ser cobradas.

E o mais importante. Confie no seu instinto de Procurador do Trabalho.

Encontro você lá na prova oral.

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