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ISBN 9788553609017

Salgado, Lia
Como vencer a maratona dos concursos públicos / Lia Salgado. – 6. ed. – São
Paulo : Saraiva Educação, 2019.
1. Concursos públicos - Método de estudo 2. Concursos públicos - Narrativas
pessoais I. Título.
18-1725
CDU 37.041

Índices para catálogo sistemático: 1. Concursos públicos : Método de estudo 37.041

Diretoria executiva Flávia Alves Bravin Diretora editorial Renata Pascual Müller
Gerência editorial Roberto Navarro Consultoria acadêmica Murilo Angeli Dias dos
Santos Edição Liana Ganiko Brito Catenacci Produção editorial Ana Cristina Garcia
(coord.) | Carolina Massanhi | Luciana Cordeiro Shirakawa | Rosana Peroni Fazolari
Arte e digital Mônica Landi (coord.) | Claudirene de Moura Santos Silva | Guilherme
H. M. Salvador | Tiago Dela Rosa | Verônica Pivisan Reis Planejamento e processos
Clarissa Boraschi Maria (coord.) | Juliana Bojczuk Fermino | Kelli Priscila Pinto | Marília
Cordeiro | Fernando Penteado | Mônica Gonçalves Dias | Tatiana dos Santos Romão
Novos projetos Fernando Alves Diagramação (Livro Físico) Luciano Assis Revisão
Adriana Cláudio Capa Mayara Enohata

Livro digital (E-pub) Produção do e-pub Guilherme Henrique Martins Salvador

Data de fechamento da edição: 6-11-2018

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prévia autorização da Editora Saraiva.
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184 do Código Penal.
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

PREFÁCIO

APRESENTAÇÃO

ADVERTÊNCIA

QUAL É A SUA SITUAÇÃO ATUAL?

E POR QUE CONCURSO PÚBLICO?

1999 ÚLTIMOS MESES COMIGO FOI ASSIM

DECISÃO

RECADO AOS FAMILIARES

UMA GRANDE AMIGA

MACETE PARA PASSAR

DEPRESSÃO

2000 MARÇO A SETEMBRO

AGORA É SÉRIO

PRESENTES

QUANTAS HORAS POR DIA?


A DISTÂNCIA TAMBÉM FUNCIONA

2000 OUTUBRO

SIMULADOS – SIM OU NÃO?

2001 JANEIRO

TOQUES E DICAS PRÁTICAS (conselhos não, por favor...)

SONO?

2001 MARÇO

PLANEJAR É PRECISO

DE NOVO?

2001 FIM DE ANO

VOCÊ OUVE VOZES?

2002 3 DE MARÇO ISS – NITERÓI-RJ

NÃO PASSEI. POR QUÊ?!

UMA MATÉRIA POR VEZ OU TODAS JUNTAS?

2002 JUNHO

TOQUES E DICAS PRÁTICAS.AINDA...

ESTUDAR É DIVERTIDO

2002 JULHO

ESTÁ DESEMPREGADO?EXCELENTE!

DIA LIVRE + ATIVIDADE FÍSICA = CONTINUIDADE


MARATONISTA, MEXA-SE!

EQUILÍBRIO É A CHAVE

2002 SETEMBRO DIFICULDADES

TOQUES E DICAS FILOSÓFICAS

ESSA É A LEI

QUAL CONCURSO ESCOLHER?

ENFIM, O EDITAL...

FILHOS PEQUENOS

POR QUE PRECISO PASSAR?

O DIA “D”: A PROVA...

A ESTRATÉGIA DO GUERREIRO

2002 29 DE SETEMBRO ISS – 1ª PROVA

RESULTADO DA 1ª PROVA 132º LUGAR

2002 OUTUBRO PANE!

2002 24 DE NOVEMBRO ISS – 2ª PROVA

RESULTADO DA 2ª PROVA 77º LUGAR

MAS NEM TUDO É TRISTEZA E PREOCUPAÇÃO

E SE NADA DER CERTO?

CUIDADO, SR. EXAGERADO!

2002 DEZEMBRO DIFICULDADES


FESTAS

2003 JANEIRO 2ª PANE

2003 12 DE JANEIRO ISS – 3ª PROVA

RESULTADO DA 3ª PROVA 55º LUGAR

DEPOIS DE TUDO

10 ANOS DE TRABALHO

E BEM DEPOIS...

TUDO NOVO DE NOVO!

UM PEDIDO OU UM DESEJO?
AGRADECIMENTOS

A todos os que me ajudaram nesta maratona, tornando a vitória possível:


Meus filhos, que ficaram “abandonados” durante tanto tempo, cuidaram uns
dos outros, e suportaram a minha ausência na confiança de que tempos
melhores viriam. Aos maiores, que tiveram de assumir uma idade que não
tinham, responsabilidades que não eram deles e oferecer aos irmãos menores
o que também lhes faltava... Aos pequenos, por serem ainda tão pequenos
para passarem por essas coisas sem poder compreender direito o porquê...

Meus pais, que tanto se sacrificaram, ajudando-me de todas as formas,


privando-se muitas vezes de sua vida pessoal, doando seu tempo ao cuidado
de meus filhos ou dedicando os limitados recursos financeiros ao custeio de
meus estudos e da própria subsistência da família...

Meu ex-marido, pelo exercício da amizade, oferecendo toda a ajuda


possível...

Meu sócio, que teve de segurar a barra sozinho tantas vezes e nunca me
cobrou por isso...

Meu irmão, que foi babá, office boy, motorista e funcionário do ateliê,
cobrindo minhas múltiplas funções...
Tantas pessoas queridas, que torceram sinceramente pelo meu sucesso...

Meus companheiros de maratona, que me ajudaram concretamente a


superar obstáculos ofertando-me resumos, aulas particulares, explicações e,
acima de tudo, apoio nos momentos mais difíceis (Leo, Flávia, Renato, é pra
vocês, viu?)...

Mauro, responsável por eu ter entrado nessa corrida e por ter me mantido
nela...

Meus mentores espirituais, que cobriram meus esforços de luz...

Mãe, a você, que batalhou todos os dias comigo, acompanhando-me a cada


passo dessa maratona, secando o suor, oferecendo-me água, encorajando-me,
obrigada pelo seu amor.
PREFÁCIO

Quase 10 anos depois de publicada a 1ª edição deste livro, algumas


atualizações se fizeram necessárias. Muita coisa aconteceu nesse tempo. O
mundo dos concursos públicos sofreu transformações e o mundo em geral
também. O tempo de recessão que vivíamos àquela época foi substituído por
um momento de mais oportunidades de emprego.*

O curioso é que isso não provocou uma redução da procura pelos concursos
públicos – ao contrário. Nunca se falou tanto no assunto. Atualmente, todos
os veículos de informação têm um segmento especializado, de forma que o
que era antes restrito a uma minoria é hoje de domínio público. Todo mundo
conhece alguém que fez ou está fazendo concurso.

Além disso, aos poucos as regras estão ficando mais claras, nem sempre a
partir de leis que definem os direitos dos candidatos – ainda carecemos de
uma lei geral sobre o tema –, mas em muitos casos por decisões judiciais
reiteradas ou de instância superior.

Os candidatos também estão mais informados, e quem deseja ser aprovado


já compreende a importância de uma preparação de qualidade. Por outro lado,
a administração pública também percebeu que pode utilizar o concurso como
meio para exigir que os futuros servidores tenham os conhecimentos – e, até
certo ponto, o perfil – necessários para o bom desempenho das suas
atribuições.

Mesmo no aspecto segurança e credibilidade os problemas têm sido cada


vez mais pontuais e prontamente denunciados, investigados e solucionados.
Todos atuam como fiscais da lisura do concurso, desde a banca examinadora
até os candidatos, que dedicaram tanto da sua vida para aquela oportunidade
e não aceitam ser trapaceados.

Então, temos uma evolução do instituto concurso público, sob todos os


aspectos. Para coroar tudo isso, aguardamos apenas uma lei geral que
estabeleça com clareza direitos e deveres de todos os envolvidos no processo,
para tornar ainda mais democrático e transparente o acesso aos cargos
públicos no país. Mas isso requer alteração na Constituição, atribuindo
competência para a União definir regras gerais sobre o assunto.

2013

Lia Salgado
APRESENTAÇÃO

Se há algo de que nunca tive dúvidas na vida é da minha paixão pelos


livros. Desde muito pequena, e por toda a tortuosa caminhada até hoje, nunca
abri mão de ler. É a coisa mais deliciosa a se fazer sozinha (porque
acompanhada há outras...) e nos permite viajar, aprender, encontrar a nós
mesmos. As paredes se dissolvem e podemos ir para qualquer lugar, qualquer
tempo. É um filme sem limitações tecnológicas nem de orçamento. E, o
melhor de tudo, estamos dentro dele.

E escrever? É uma necessidade. Parece que angústias e dores se diluem um


pouco, as situações ficam mais claras, a gente se entende melhor. Foi assim
que nasceu este livro: era apenas o desabafo desse tempo tão intenso que vivi,
escrito em folhas soltas durante os últimos meses de estudo, antes de dormir.
Só depois percebi como seria bacana compartilhar, sem disfarces, o que é o
“lado B” de alguém que venceu.

Afinal, quanto do que sou hoje é fragmento de livros, autores queridos,


histórias que me levaram para dentro de mim mesma? Penso que livros são
como pessoas: têm uma frequência energética; se não for compatível com a
nossa, naquele momento, tornam-se desinteressantes, distantes. Quando
ocorre o contrário, são “amigos íntimos”. Tantas vezes quis conhecer autores
com quem me identificava para saber se eram reais, se eu não estava louca
por acreditar naquelas coisas... E também para sentir-me menos só, já que
alguém mais comungava das mesmas ideias. No caso, eu vivi o que você está
vivendo agora. Acredito que essa nossa conversa pode ser útil.

Então, não espere muito mais do que isso. Sou alguém que poderia sentar-
se ao seu lado na sala ou num grupo de estudo e contar coisas que descobriu
quando passou por essa estrada, um tempo atrás. Aqui relato as muitas
bobagens que cometi durante a trajetória e que me fizeram perder um tempo
desnecessário. Quem sabe assim você poderá evitá-las?

Também passo orientações sobre coisas simples que descobri e que


otimizam o estudo e tornam o aprendizado mais efetivo.

Espero que possa suavizar um pouco o seu caminho.


* Nota de 2018: o país vive atualmente novo momento de crise e desemprego.
ADVERTÊNCIA

Se você está procurando uma forma de obter um emprego imediatamente,


acho que está lendo o livro errado. Mas, se deseja um emprego para o resto
da vida, temos muito o que conversar.
QUAL É A SUA SITUAÇÃO ATUAL?

Está insatisfeito no emprego? Ano após ano, dizendo que gostaria de mudar
de vida? O que acha de colocar um objetivo luminoso à sua frente?

Em qual dos casos específicos abaixo você se encontra?

I Está satisfeito com o seu trabalho, mas não com a remuneração; precisa
ganhar mais, mas não tem coragem de largar o emprego (e nem deve
mesmo).

II Ganha bem, mas não está satisfeito com o tipo de trabalho que realiza e
adoraria “virar a mesa”.

III Gosta do seu trabalho, ganha bem, mas se sente inseguro, porque sabe
que pode ser mandado embora de uma hora para outra.

IV Está desempregado ou subempregado, sem perspectiva, dependente da


ajuda de outras pessoas, amordaçado emocionalmente.

V Adora o que faz, ganha bem e está feliz da vida.

Opções I, II, III, IV: o concurso público pode ser uma excelente solução
para a sua vida.

Opção V: parabéns! Você é um felizardo!


Dê este livro de presente a um amigo que se enquadre nas opções I a IV.

Por outro lado,

se você está começando a vida agora...

E acabou de concluir o ensino médio (2º grau), talvez o seu maior sonho
seja ingressar numa universidade a fim de conseguir uma boa colocação no
mercado de trabalho. Em resumo: um bom emprego, com um bom salário.

Ou, um pouco mais à frente...

Você acaba de concluir a faculdade e deseja conseguir uma boa colocação


no mercado de trabalho. Em resumo: um bom emprego, com um bom salário.

Talvez chegue à conclusão de que seria interessante fazer logo um


mestrado para melhorar a sua qualificação. Mais dois anos de estudo...

Veja bem: em ambas as situações, você teria mais alguns anos de formação
pela frente e, depois, mais uns dois para encontrar seu espaço e começar a ser
minimamente remunerado.

Então pense: em dois anos (que você levaria para se inserir no mercado de
trabalho), você pode, seguramente, estar com um bom emprego, bom salário
e, aí, dedicar-se à profissão dos seus sonhos, sem a preocupação de que seja
tão rentável a curto prazo.

Talvez este seja um dos melhores argumentos para encarar essa


empreitada: o concurso público viabiliza o seu sonho.

Veja os seguintes exemplos:


Joana, 45 anos, formada em Turismo. Parou de trabalhar depois que casou.
Hoje tem uma relação falida, sem perspectiva emocional ou financeira.

Paulo, 38 anos, artista plástico. Prestador de serviços para televisão, dá


aulas, desenvolve fantasias para shows. Orçamento insuficiente e totalmente
imprevisível.

Bruno, 18 anos, família com dificuldades financeiras. Desejos de


conquistar o mundo.

O concurso público pode significar uma excelente opção nos três casos.

Por tudo o que foi dito, sugiro que reflita: há quanto tempo as coisas estão
difíceis para você? Quantas alternativas de solução para sua vida financeira já
foram tentadas? Será que não vale a pena investir em algo garantido e
definitivo, mesmo que demore um pouco?
E POR QUE CONCURSO PÚBLICO?

Na época em que decidi iniciar a minha maratona dos concursos públicos


(1999/2000), havia muito desemprego; dez anos depois, vivemos um período
com mais oportunidades; depois, retornamos a uma situação bastante crítica
na economia do país. Apesar da alternância entre momentos melhores e
piores, uma característica do mercado privado não se alterou desde aquele
tempo e não sei se algum dia será diferente no nosso país: um jovem recém-
formado tem dificuldades de se inserir no mercado de trabalho por ser
inexperiente, uma pessoa com mais de 40 anos é considerada obsoleta para
iniciar uma nova carreira e quem conquista uma posição financeira
confortável está quase sempre com medo de perdê-la para um substituto mais
barato.

O concurso público, ao contrário, permite que você inicie uma nova etapa
de vida – seja em outra área de atuação, melhor patamar salarial ou mesmo
um primeiro emprego –, independentemente de idade, sexo, experiências
anteriores (ou não), classe social, estado civil, número de filhos. Existe uma
troca justa: a Administração Pública precisa de servidores com determinados
conhecimentos; você se qualifica por meio do estudo, comprova isso na
realização da prova e obtém um emprego digno, com remuneração
compatível.

Infelizmente, ainda é comum a gente ouvir ataques aos concursos e aos


servidores, como se fôssemos pessoas acomodadas e que vivem à custa do
governo. Sim, é o “governo” que nos remunera, verdade, mas pelo trabalho
que a ele – ou melhor, aos cidadãos – prestamos. Porque para ser servidor
hoje (desde a Constituição de 1988) é preciso vencer uma maratona de
estudos, privações de tempo, de lazer, enfrentar frustrações diversas no
decorrer do caminho e ter uma determinação absoluta. Não é tarefa para
gente acomodada nem exploradora.

Não à toa a Administração está cada vez mais eficiente e moderna. Esta é a
tendência. Claro que há nichos ainda dos tempos antigos, mas isso, via de
regra, está associado à ausência de concursos para ingresso de novos
servidores. Onde os concursos acontecem regularmente, o que se observa é a
gradativa reciclagem de processos e procedimentos. O encontro que acontece
entre o conhecimento histórico da instituição (depositado nos servidores mais
antigos) e os novos recursos e talentos (trazidos pelos novos aprovados)
permite a saudável oxigenação do ambiente de trabalho, ainda que nem
sempre isso ocorra sem traumas, como é natural em qualquer situação de
mudanças.

Outra crítica comum é que estaríamos abrindo mão dos nossos sonhos.
Digo que nem sempre é possível viver de sonhos, quando se tem contas a
pagar, família a sustentar e uma vida profissional a construir. Nem todos
podem contar com apoio financeiro da família enquanto aguardam que a
carreira frutifique. Até porque não basta competência para que isso aconteça;
é preciso oportunidade e tempo para se posicionar bem no mercado privado e
ser adequadamente remunerado. Vou comentar o meu caso mais adiante, no
capítulo “10 anos de trabalho”.

Por tudo isso, vejo nos concursos públicos uma oportunidade ímpar. Para
quem não se definiu profissionalmente, não encontrou ainda a verdadeira
vocação, mas tem muitos talentos que serão úteis à Administração Pública,
por exemplo. Para quem está no mercado privado há algum tempo, mas
deseja subir de patamar e percebe que não será possível permanecendo na
situação atual; ou até atingiu um excelente patamar de remuneração, mas vive
assombrado com o fantasma da demissão. E, também, para quem sabe
exatamente o que “quer ser quando crescer”, mas precisa ter alguma
estabilidade financeira para investir na profissão.

Vale lembrar, ainda, que há concursos para os cargos mais variados. Desde
concursos de nível fundamental incompleto até nível superior de formações
surpreendentes, como astronomia, por exemplo. Assim, também é possível
atuar na profissão escolhida dentro do serviço público, com segurança e bom
salário.

Então, o concurso público oferece inúmeras vantagens e, se você está


decidido, mesmo que tenha a impressão de que não tem tempo livre,
reorganize a sua vida e dedique-se a esse investimento. Porque o tempo
(assim como o dinheiro) desaparece se a gente não dá “nome” a ele. Mas é
impressionante como ele é flexível quando a gente dá a ele uma destinação
clara e organizada (falaremos sobre isso mais à frente, no capítulo “Planejar é
preciso”). Lembre que a cada semana você estará mais perto de conseguir o
que quer.

E, se realmente deseja, faça algo agora. Não adianta pensar que decidiu.
Ratifique esta decisão por meio de uma atitude concreta. Pesquise na internet,
em mídias especializadas, busque jornais de concursos, converse com pessoas
do meio e defina o primeiro passo: matricule-se num bom curso (presencial
ou via internet) ou contrate uma consultoria especializada (sim, isso existe e
pode funcionar muito bem) e planeje seus estudos. Materialize a sua decisão:
vou estudar para concurso.
1999 ÚLTIMOS MESES COMIGO FOI
ASSIM

Eu tinha um ateliê de pintura em tecidos. Às vezes, dava um dinheirinho.


Muitas vezes, não dava. Faltava o dinheiro para as contas, para a comida.

Comecei a perceber que meu sonho de liberdade e arte não sobreviveria


muito tempo mais, se não encontrasse outra forma de comprar arroz e feijão.
Separada, com quatro filhos, precisava de uma solução definitiva e, de
preferência, rápida.

Em outubro/novembro de 1999, comecei a cogitar seriamente a


possibilidade de fazer concurso público. Eu vivia ainda um certo conflito no
sentido de que estaria abrindo mão dos meus ideais. Conversei com um
amigo muito querido, em cujo bom senso eu confiava plenamente. Ele me
contou a história de outra amiga que também havia passado por problemas
financeiros, decidiu estudar para concurso, foi aprovada e já estava de carro
zero.

Na virada do ano de 1999 para 2000, tomei a decisão. Pensei que em seis
meses estaria empregada. Já tinha feito provas anteriores com sucesso. Ia ser
moleza...
Não tinha percebido que os tempos eram outros. Naquela época, período de
recessão prolongada, transformação acelerada do mercado de trabalho,
rotatividade de mão de obra, tudo isso gerava uma insegurança muito grande
para quem estava na economia privada. Daí a procura cada vez maior pelos
concursos públicos: a possibilidade de obter um emprego por seus próprios
méritos e esforços, além de uma certa garantia de estabilidade. Sem falar no
orgulho de ser concursado.

Por outro lado, e em função disso, os programas tornavam-se cada dia mais
abrangentes e os candidatos, extremamente bem preparados.

A minha situação pessoal também era muito diferente: quando fiz os outros
concursos, eu era somente estudante; agora, carregava a responsabilidade de
ser chefe de família, com todas as atribuições decorrentes.

Com todas essas questões, de que forma começar a estudar depois de tantos
anos? Não sabia o que fazer. Procurei anúncios de cursinhos no jornal.
Telefonei para o que mais me agradou: início do Básico Fiscal em 14 de
março de 2000. Começou ali a minha maratona.
DECISÃO

– Vou estudar para concurso público.

– “Tá” doida? Esse é um jogo de cartas marcadas, há muita “marmelada”!


Além disso, você passa e nunca é chamada...

Frases assim, “encorajadoras”, você ouvirá de monte. Mas, se já tomou sua


decisão, siga em frente. Há milhares de pessoas empregadas e felizes,
usufruindo um salário fixo e segurança por conta de opção semelhante. E,
claro, há as que desistiram no meio do caminho ou que nem chegaram a dar o
primeiro passo.

Quando você entra nessa maratona, é, provavelmente, o último de uma


multidão de corredores. Parece uma tarefa impossível. Não se preocupe com
eles. Cuide de você. Prepare-se física e psicologicamente para a empreitada.
É uma maratona! Cuide da alimentação, do sono, da saúde e do físico. Mexa-
se!

Após algum tempo, os primeiros da fila sairão, ou porque passaram, ou


porque desistiram. Você ficará mais perto.

Após mais algum tempo, outros sairão da sua frente, pelos mesmos
motivos. Se você continuou, já estará perto dos primeiros da fila. Chegará o
momento em que não haverá ninguém na sua frente. Você está preparado/a,
domina as principais matérias, aprendeu a estudar, está em plena condição.
Passará no concurso que quiser!

Mas esteja atento/a! Se parar de estudar por um período, corredores que


estavam atrás passarão a sua frente e você perderá importantes posições.
Torna-se mais difícil retomar a empreitada.

Portanto, como ouvi quando comecei, “só há dois tipos de candidato: o que
desiste e o que passa”.

Em quanto tempo? Depende. Depende do tempo de que você dispõe para


estudar. De quantos concursos estão acontecendo no momento (há alguns
períodos de “entressafra” e outros com muitas oportunidades). Do tipo de
concurso que você deseja ou de que pode participar. Mas é projeto para
médio prazo, talvez dois ou três anos. Pode ser menos? Claro, muito menos!
Um ano, por exemplo. Que tal?

É verdade que iniciar e manter um projeto como esse dá trabalho. Mas, e se


você não fizer nada, o que acontecerá? Imagine sua vida daqui a cinco anos,
dez, quinze... O que, provavelmente, acontecerá? As mesmas queixas,
sensação de impotência, aprisionamento.

Agora, imagine sua vida daqui a três anos (numa hipótese conservadora), se
você começar a estudar do “zero”, com muitas dificuldades, mas não desistir?
Como estará?

Salário garantido, emprego seguro. E uma vida totalmente nova.


A escolha é sua.
RECADO AOS FAMILIARES

Se há pessoas que podem interferir profundamente no processo de


preparação do candidato, são: pais, filhos e filhas, cônjuges ou pretendentes.
Na posição de aliados e aliadas, dão um suporte inestimável em apoio
emocional, tático, prático. Por outro lado, podem colocar-se como algozes,
atormentando com infindáveis cobranças, chantagens etc., tornando-se mais
um obstáculo a ser vencido.

Por este motivo, sugiro uma conversa sincera, amorosa, a fim de


conscientizar essas pessoas da importância de sua atitude nesse momento.
Vou repetir: uma conversa sincera, amorosa, sem acusações, lamúrias etc. É
muito melhor ter a parceria de quem faz parte da sua vida do que viver em
um campo de guerra.

Aqui vai uma ideia, para o caso de faltar inspiração:

– Preciso da sua ajuda. Não estou satisfeito com a vida que eu tenho e
decidi prestar concursos públicos. É uma preparação longa e difícil, mas eu
conheço muita gente que mudou a vida desse jeito e é o que eu também
quero.

A parte mais complicada deste projeto é que não há como prever em quanto
tempo eu vou conseguir a aprovação. A parte boa é que, quando eu
conseguir, a nossa situação financeira vai melhorar e teremos mais tempo e
qualidade de vida.

Durante esse período, o nosso tempo será limitado, porque eu preciso


estudar muito. Eu também vou sofrer por isso, mas é realmente necessário
que seja assim. Depois, a gente vai ter o resto da vida para aproveitar.

Gostaria muito que você me compreendesse e me apoiasse. A sua parceria


e confiança serão muito importantes para que eu siga até o fim. Como um
maratonista, vou adorar ver você ao lado da pista, torcendo pelo meu sucesso.

Acho importante lembrar sempre que seu amor permanece. E, ainda, que o
afastamento é temporário e motivado pelo estudo, e não por deixar de gostar.
Para crianças pequenas, dizer também, de forma simples e clara, que você vai
fazer uma prova importante e que, depois, terão tempo juntos e dinheiro para
brinquedos e passeios. E, principalmente, diga sempre que as ama muito.

Para os meus filhos, eu dizia que poderíamos viajar juntos, comprar coisas,
ir a restaurantes, e que eu seria mais calma e feliz. Enfim, uma mãe melhor.

Mas, atenção! Não deposite a responsabilidade de seu equilíbrio emocional


em ninguém. Na verdade, foi você que tomou a decisão e o projeto é seu.
Além disso, é difícil para quem está de fora compreender esse “mundo dos
concursos públicos”. Feira de concurso, aulão de fim de semana, horas e
horas de estudo diário, sites especializados, editoras exclusivas, isso tudo é
uma loucura para quem não está no mesmo contexto. Assim, é importante
que você tente compreender que o outro está sofrendo com a sua ausência e
com a ansiedade da sua aprovação. Você acompanha notícias de pessoas que
venceram e se fortalece com isso. Sabe que vai chegar lá. Então, sustente-se
nas suas pernas, aprecie o apoio, se e quando ele vier, e esteja preparado para
também apoiar o outro (família e correlatos) quando for necessário.
UMA GRANDE AMIGA

Tenho uma grande amiga que teve a oportunidade de dar um salto na


carreira (já era servidora pública) por meio de concurso.

Casada, dois filhos pequenos, já não estudava há muitos anos. Trabalhava o


dia todo e assistia às aulas à noite.

Disse-me que teve de esquecer suas funções em casa e dedicar-se somente


ao estudo. Quando abria os armários, as coisas caíam em cima dela... Por
sorte, contou com o apoio irrestrito do marido (sábio homem), que ficava
com os filhos e não se queixava de sua ausência naquele período.

Ela lembra que, no início, parecia que sua cabeça fazia barulho, como uma
máquina enferrujada que volta a funcionar. Temia não ser capaz, mas insistiu,
porque era uma chance única. Conquistou sua vaga.

Essa mulher era minha mãe.


MACETE PARA PASSAR

Certa vez, numa entrevista, perguntaram-me se havia algum macete para


passar nas provas. E eu disse:

– Tem, tem sim: perseverança. É não desistir, não desistir, e não desistir!
Independentemente dos obstáculos ou dificuldades que apareçam. Lembrar
que, ao alcance do seu braço, está a solução definitiva para seus problemas
financeiros.

Não é a profissão com a qual você sempre sonhou? Talvez não, mas pode
permitir que depois você se dedique àquela profissão, desde que, obviamente,
haja compatibilidade de horário e não exista vedação legal.

Além disso, são cada vez mais comuns concursos para as mais variadas
áreas de formação. O que significa dizer que você pode exercer a sua
profissão no serviço público, com a vantagem de bom salário e segurança
garantidos.

Então, faça a sua escolha e siga em frente!


DEPRESSÃO

Eu sofria de depressão e tive recomendação terapêutica de começar a correr


diariamente, na tentativa de evitar o uso de medicamentos. Sou adepta do
naturalismo e achei uma excelente troca, já que não gosto de tomar remédios.

Desde jovem, sempre gostei muito de estar na praia. Assim, com o objetivo
de tornar a tarefa mais agradável, escolhi iniciar as corridas nas areias de
Itacoatiara, uma praia linda da minha cidade. Meu filho mais velho dispôs-se
a acompanhar-me.

No primeiro dia, fiz um breve alongamento, caminhei uns metros para


aquecer e disparei o cronômetro quando comecei a correr. Quando não
aguentava mais, travei o marcador e olhei: um minuto e quinze segundos!
Quase caí para trás – eu precisava correr vinte minutos, pelo menos, para
obter algum resultado!

Bom, levei aproximadamente uma hora para correr os tais vinte minutos.
Corria, andava, descansava, voltava a correr.

Meu filho, de personal trainer (só pelo amor, porque ele não era da área),
motivando-me e estimulando-me a vencer meus limites.

Quinze dias depois, eu já corria os vinte minutos em dois períodos de dez,


com um pequeno intervalo para normalizar a respiração. Um mês após, corria
vinte e cinco minutos, sendo: quinze minutos, pausa e mais dez minutos, com
tranquilidade.

Controlei a depressão, e era essa corrida que me dava forças para vencer o
stress nas épocas mais tensas da preparação.

Por isso, falo em persistência. Qualquer coisa que iniciamos, em qualquer


área, requer dedicação, perseverança. Assim é com um atleta, obrigado a
treinar horas e horas perseguindo um melhor desempenho, superando seus
próprios limites, muitas vezes enfrentando dor e medo. Assim deve ser o
concursando.
2000 MARÇO A SETEMBRO

Quando comecei a estudar, eu morava em Niterói, Pendotiba, e tinha aula


no centro do Rio três vezes por semana. Saía de casa às 7 horas da manhã e
retornava mais ou menos à 1h30 da tarde. Almoçava já no ateliê, para ir me
inteirando de como estavam as coisas. Trabalhávamos até as 6 ou 7 da noite,
quando eu assumia minhas funções de mãe e dona de casa. Depois que os
pequenos (3 e 6 anos) dormiam, eu ia estudar um pouco. Quando aguentava.

Mas é claro que, na prática, as coisas não funcionavam assim, com essa
organização. As solicitações eram simultâneas, e muitas vezes atendia a
telefonemas de clientes e filhos na aula, resolvia coisas de casa e deveres
escolares das crianças junto com o trabalho e estudava enquanto cuidava
deles. Aprendi a “multiplexar” (ainda bem que sou geminiana)...

Nos dias em que não tinha aula, pretendia rever a matéria em casa pela
manhã. Mas, aí, o ateliê exigia minha presença, e a culpa por estar
abandonando o trabalho nas costas dos meus sócios inviabilizou essa
alternativa.

Quando, finalmente, concluí o módulo básico, inscrevi-me na turma de


exercícios, na esperança de sedimentar melhor a matéria.
AGORA É SÉRIO

O conhecimento muito novo, recém-adquirido, é extremamente volátil.


Precisa ser fixado por meio de exercícios e sucessivas revisões e
aprofundamentos. Só então, chega o momento em que ele passa a fazer parte
de você e dificilmente se perderá. Costumo dizer que o primeiro contato com
a matéria é somente para familiarizar-se com as palavras, ter uma ideia do
que se trata. Ou, como diz um amigo meu, é para “quebrar o gelo”. A
segunda leitura permite um entendimento um pouco melhor. Na terceira, você
já faz ligações com outros pontos do conteúdo, ampliando a compreensão.

Eu gosto muito de “conversar” com a matéria: – Ah, então é por isso que...

– Ah! Isso fecha com aquele ponto tal...

Ou até:

– Caramba! O que será que isso quer dizer?!

Veja bem! Estamos falando de leitura atenta, concentrada e inteligente.


Não adianta ficar tentando decorar tudo o que lê sem compreender realmente.
Às vezes uma frase ou outra escapa mesmo, e isso não chega a ser um
problema. Mas, no geral, é importante que ocorra o entendimento. O
conhecimento precisa ser memorizado de forma dinâmica, a fim de permitir o
“manuseio” posterior daquele conteúdo. As questões de prova não vêm
literais e, se você não tiver o domínio do assunto, poderá encontrar grandes
dificuldades, mesmo possuindo ótima memória.
PRESENTES

Fazia quase um mês que a televisão bombardeava os espectadores com


anúncios de brinquedos fantásticos. Os meninos olhavam e nada diziam,
porque sabiam que eu não poderia comprar presentes.

Enfim, chegou o Dia das Crianças. Eu fui ao mercado e comprei dois


guaranás “Caçulinha Pokémon” (novidade da época), dois pacotes de biscoito
recheado para os dois filhos menores e dois refrigerantes de latinha com dois
saquinhos de batata frita para os dois maiores. Tudo isso eram luxos que eu
não podia dar a eles normalmente. Arrumei cada conjunto dentro de uma
cestinha de palha. Depois, peguei quatro guardanapos de papel, dei um beijo
de batom, escrevi à caneta “eu amo você!” e coloquei nas cestinhas. Pela
manhã, sentei-me na beirada da cama de cada filho e entreguei o presente que
eu pude comprar para eles, com todo o meu amor.
QUANTAS HORAS POR DIA?

Quando a gente começa a estudar para concurso, em geral, não tem a


menor ideia de como fazer. A experiência anterior que temos é dos tempos de
colégio ou de faculdade. De pouco serve, já que a proposta é bem diferente: a
época de estudante exigia que conhecêssemos apenas uma parcela da matéria,
a cada prova. A partir daí, os conteúdos seriam outros e não precisávamos
estar preocupados em reter os anteriores. Ou, em alguns casos, o assunto
seguinte se apoiava no anterior e, de qualquer forma, seria simples manter
aquelas informações vivas na memória.

A dinâmica do concurso é outra e, dependendo da vaga almejada, pode ser


necessário ter o domínio absoluto de algo em torno de vinte disciplinas!
Todas ao mesmo tempo, para sermos testados num único momento. Às vezes
com intervalo de uma semana entre duas provas, o que dá praticamente no
mesmo...

Seria, então, o caso de desistir, já que é tão pesado assim?

Claro que não, a menos que a sua vida esteja boa do jeito que está!

Quando iniciamos nossa vida estudantil também temos pela frente tantos
conteúdos diferentes e tantos anos de estudo que, se pensássemos a respeito,
certamente nos recusaríamos a ingressar na escola. Entretanto, a coisa
acontece de forma gradativa e natural, com os assuntos se sucedendo e se
tornando mais complexos aos poucos.

Na verdade, esta é a dinâmica de qualquer projeto maior: iniciamos pelo


“bê-á-bá” e seguimos aprofundando o conhecimento conforme assimilamos
os fundamentos anteriores. O mesmo acontece com um atleta. Os treinos se
iniciam suaves, testando o condicionamento do atleta e vão se intensificando
aos poucos, exigindo mais e mais, respeitando as possibilidades da pessoa, a
fim de não causar lesões. Assim, fica claro que a sequência de treinos, tanto
no tempo quanto na intensidade e na modalidade dos exercícios, varia de
acordo com as características do atleta.

Da mesma forma, o concursando também não deve estabelecer metas


irreais nem se comparar ao colega. O mais importante é examinar suas
condições com bastante objetividade e traçar um plano de treino adequado à
sua situação. Interferem aí o tempo disponível e a existência ou não de hábito
de estudo/concentração. Assim como um atleta, é preciso iniciar com pouco
tempo e grau de exigência menor e ir intensificando aos poucos, conforme o
rendimento obtido.

Para exemplificar, quando comecei a minha preparação não conseguia


estudar mais do que uma hora e meia e, em muitos dias, não estudava.
Situações externas e internas interrompiam a minha concentração, inclusive o
cansaço. Três anos depois, já nas últimas fases do concurso para o ISS-Rio,
estudava algo em torno de dez horas por dia. Provavelmente, se tivesse
estabelecido um planejamento desde o início, teria conseguido uma média de
tempo de estudo mais equilibrada e teria conquistado melhores resultados em
menos tempo.
A DISTÂNCIA TAMBÉM FUNCIONA

Ao longo dessa quase uma década desde a minha aprovação, o mundo dos
concursos públicos sofreu profundas transformações. Talvez a mais
significativa seja a disseminação do ensino a distância. Quando eu iniciei os
estudos, mesmo a internet não era acessível para qualquer pessoa. Quem não
tinha boas condições financeiras (como era o meu caso) não tinha internet ou,
se tivesse, a conexão era por meio de linha discada – um horror de lentidão.
Mas a tecnologia se desenvolveu absurdamente e está cada vez mais
disponível para outros segmentos da sociedade, com a invasão dos
computadores e celulares com internet.

Os cursos preparatórios, atentos a essa oportunidade, disponibilizaram a


modalidade de ensino a distância para concursos, o que significou mais um
passo na democratização do acesso ao conhecimento e, consequentemente, às
vagas no setor público em todo o país. Os cursos on-line, via internet, são
muito úteis para quem está longe de um grande centro e não tem condições
de acompanhar um curso presencial. E também para quem está num grande
centro e prefere economizar tempo e despesa com deslocamento. Ou, ainda,
para quem não tem possibilidade de assistir às aulas em horários
convencionais – o curso via internet pode ser assistido no horário mais
conveniente para os alunos e alunas. Alguns cursos permitem que cada aula
seja assistida por diversas vezes; outros deixam o curso disponível para
acesso ilimitado por período determinado de tempo (alguns meses). Se você
estiver com mais dificuldade em alguma matéria, esse também é um
excelente recurso, já que é possível interromper e repetir a explicação quantas
vezes for preciso até a perfeita compreensão do assunto.

Mas há duas desvantagens. A primeira delas é o fato de que é preciso muita


disciplina para não comprar o curso e adiar indefinidamente o início das
aulas; ou assistir sem qualquer regularidade e levar um tempo enorme para
concluir cada módulo. Qualquer das duas situações vai fazer com que se
perca a vantagem de poder assistir às aulas mais de uma vez, sem falar no
tempo desperdiçado.

A outra desvantagem é você ficar mais isolado das outras pessoas que têm
um projeto similar e, com isso, deixar de trocar informações preciosas
relacionadas a materiais, concursos iminentes e outras dicas úteis. Além
disso, a oportunidade de compartilhar experiências – tanto boas quanto ruins
– traz algum conforto emocional, tão necessário para quem está enfrentando
essa maratona de estudos e privações.

Esse aspecto pode ser minimizado utilizando-se fóruns de discussão


relacionados a concursos públicos na internet. Alguns são até divididos por
tipo de concurso e ali é possível obter informações e se sentir fazendo parte
de um grupo de iguais.
2000 OUTUBRO

Ainda cursando o módulo de exercícios, comecei também a fazer


simulados no sábado, o dia inteiro... Isto significa que, além das tarefas da
semana, eu acordava cedo no sábado, deixava as crianças na casa da minha
mãe e me despencava para o Rio: prova das 8h30 às 12h30 (não tinha
dinheiro para almoçar; levava um sanduíche de casa e tudo bem); correção
das 13h30 às 19h30. Nas primeiras vezes, pensava que ia “surtar”. Aquele
monte de informações, entra professor, sai professor, muda a matéria,
perguntas que eu não entendia, menos ainda as respostas. Saía de lá
completamente zonza.

Não sem motivo, em meados de novembro eu fiquei muito doente. Na


verdade, a correria não me deixou perceber que algo já não ia bem. Eu estava
com febre há vários dias, mas achei que fosse somente cansaço. Até que, uma
manhã, não consegui levantar da cama e precisei chamar um médico. Tive
uma “pane” generalizada, que terminou por afastar-me de todas as funções.
Aliás, acho que era essa mesma a ideia do “Lá de cima”. Passei vários dias de
cama, com possibilidade de diagnósticos bastante pessimistas. Graças a Deus,
não se confirmaram.
SIMULADOS – SIM OU NÃO?

Existem dois momentos bem distintos nesse processo de estudo para


concurso público. No primeiro, você está procurando adquirir o
conhecimento referente às matérias gerais, que costumam cair em todos os
certames da área escolhida (jurídica, fiscal etc.). Não há edital publicado e é
necessário ter uma determinação férrea para não deixar o tempo escoar, já
que não há ainda um objetivo visível à frente. Por outro lado, é quando você
pode, silenciosamente, ir ganhando posições na sua maratona. Nesse
contexto, os simulados são um excelente recurso.

Em primeiro lugar, você se habitua a passar quatro horas sentado numa


cadeira fazendo prova. Pode parecer bobagem, mas no início é quase
insuportável. Depois, mais outras tantas horas assistindo à correção. Melhor!
Há concursos com prova pela manhã e à tarde. Ponto para você que já estará
“escolado” nisso, enquanto outros entrarão em desespero, sem posição na
cadeira...

Em segundo lugar, você se sente desafiado a melhorar o desempenho a


cada semana. Ou a mantê-lo, se já estiver ótimo. Considero que um péssimo
resultado no simulado equivale a uma chamada que levamos, no sentido de
focar melhor os estudos. Nada de desanimar. Encarar como um alerta, um
puxão de orelhas e meter bronca na semana seguinte. Sem contar que, com
certeza, você terá muito a aprender com a correção, já que cometeu tantos
erros... Por outro lado, um ótimo simulado é um carinho no ego. Ficamos
orgulhosos, confiantes e com mais vontade de continuar a estudar.

Eu gostava de concorrer comigo mesma; não me preocupava muito com os


outros. Mas, também, gostava de observar pessoas que estavam sempre entre
os primeiros lugares. Percebi que eu chegava tarde, ficava entediada, saía
várias vezes da sala e, muitas vezes, não ficava até o fim do tempo permitido,
ainda que não houvesse terminado a prova. Aquelas pessoas, ao contrário –
especialmente um rapaz, que se tornou meu ídolo secreto – chegavam cedo,
concentravam-se todo o tempo, ficando até os últimos minutos. Procurei
absorver essa conduta e passei a levar mais a sério aquelas oportunidades.
Meu rendimento mudou consideravelmente.

Outro momento do estudo é quando a prova para valer está marcada, já se


sabe qual será a banca examinadora, o número de questões. Aí você poderá
efetivamente testar seus conhecimentos, porque as provas simuladas trarão o
mesmo número de questões, mesmo tipo de formulação. Os cursinhos
conhecem o estilo de cada banca e oferecem a oportunidade de você ser
submetido, toda semana, a uma prova bastante semelhante à que enfrentará
no dia do concurso. Com isso, você pode decidir como dividir o tempo e por
qual matéria começar a resolver a prova. Tem até o direito de errar umas
bobagens, porque é simulado. Daí, ficar atento/a, verificar o que não
funcionou, ajustar. No dia da prova, você vai com a tranquilidade de quem
tem a estratégia testada e aprovada. Já seu concorrente pode se atrapalhar...

Mas, atenção! O resultado do simulado não é determinante do seu


desempenho no dia da prova (inclusive porque alguns cursinhos pegam
pesado e fazem questões bem acima do nível da prova real). Ele apenas serve
de parâmetro: se você estiver nos primeiros lugares, o.k., esteja confiante,
mas não relaxe. Se não estiver, atenção total para fazer a melhor prova
possível e ganhar posições.

Eu, por exemplo, nas duas primeiras fases do ISS-RJ, estive bem
posicionada nos simulados, conseguindo até um primeiro lugar entre a elite
dos concursandos. Em compensação, na terceira fase ficava sempre entre os
últimos e o sábado tornou-se um dia muito difícil para mim – não conseguia
sequer terminar a prova no tempo determinado, porque havia muitas matérias
de exatas que, decididamente, não eram o meu forte. Entretanto, continuei
batalhando, fazendo exercícios para reduzir o tempo de solução e, graças a
Deus, a prova não trouxe tantas questões longas. No fim das contas, foi a
minha melhor pontuação naquele concurso.
2001 JANEIRO

Quando me recuperei daquele baque na saúde, reorganizei a vida e retornei


ao curso, estávamos no início de janeiro de 2001. Eu, totalmente perdida,
desvinculada dos meus colegas de turma e em cima de um concurso para
Auditor-Fiscal do INSS, com prova marcada para fevereiro. Comecei a
frequentar os módulos específicos já pela metade, tentando freneticamente
chegar a algum lugar. Inexperiência absoluta, pois se nem as matérias gerais
eu tinha sedimentado... É claro que aquela tentativa desesperada de recuperar
o tempo perdido não me conduziu a lugar algum.

Enfim, depois disso houve outros concursos, mas nenhum com vagas para
o Rio. Como seria um ônus muito grande mudar-me para outra cidade
sozinha com as crianças, nem tentei.
TOQUES E DICAS PRÁTICAS (conselhos
não, por favor...)

INVESTIMENTO

Escolha os melhores cursos e professores, adquira o material necessário.


Não encare isso como despesa, e, sim, como investimento. Esta será a base
para obter os melhores resultados. Por outro lado, não adianta comprar tudo o
que houver. Faça isso aos poucos, conforme for efetivamente utilizar, e
procure informar-se com colegas, professores e sites confiáveis sobre o que
realmente vale a pena. Afinal, livros empoeirando na estante não representam
conhecimento adquirido.

Existem pessoas que optam por estudar sozinhas em casa, sem assistir a
aulas. Particularmente, acho importante frequentar um curso para ter uma
referência do que está acontecendo e manter-se atualizado/a. Também
observo que ajuda a ter um foco melhor em relação ao que é importante
estudar. Porque não é só teoria, mas tendências de julgamentos,
posicionamento do STF, alterações nas leis... Além disso, o contato com os
concorrentes não deixa você esquecer que eles existem. De longe, tudo esfria
e você perde a noção de como está sua colocação na maratona.
Uma alternativa muito interessante que surgiu no ambiente dos concursos
públicos é a consultoria especializada ou coaching para a preparação. Há
diversos formatos, qualidades e preços, e é importante pesquisar e buscar
referências, assim como na compra de qualquer serviço ou produto. É uma
opção intermediária entre frequentar cursos e estudar sozinho/a. Uma grande
vantagem é evitar o tempo consumido na busca do melhor material e forma
de estudo. Algumas consultorias limitam-se a indicar o material, enquanto
outras fazem também o acompanhamento do estudo.

ORGANIZAÇÃO

Você tem um lugar no mundo. Pode ser uma mansão (não creio muito –
para que estaria enfrentando essa loucura?), um apartamento inteiro, um
quarto ou um cantinho.

Independentemente disso, precisa escolher um local onde organizar toda a


parafernália de estudo. Não importa se o espaço é grande ou pequeno, mas
que esteja bem organizado. Pode ser uma estante, gavetas, prateleiras ou até
no chão, mas separe a matéria em pastas individuais, abertas ou com elástico
(daquelas com lombada larga), coloridas, onde possa colocar absolutamente
tudo referente a cada disciplina, incluindo notas de aula, apostilas, exercícios,
provas anteriores, livros. Grampeie o que for afim, use clipes, enfim, poupe
seu tempo na hora do estudo. Além disso, pelo menos para mim, quando vejo
tudo bagunçado, parece que minha cabeça também fica confusa...

LOCAL DE ESTUDO
Limpo, organizado, confortável, bem iluminado e fresco. Vale investir
numa boa cadeira, pois é lá que você passará muitas horas do dia.

BIBLIOTECAS

Tenho um amigo que tinha de se trancar no carro para poder estudar,


porque senão sua filhinha não o deixava em paz...

Até onde sei, em casa estamos sempre sujeitos a chantagens emocionais,


culpa pelo abandono dos familiares, tentações. Mães, filhos e filhas sempre
têm “só uma coisinha a dizer”, “é rapidinho”... Não têm noção de quanto
tempo você levará para retomar a concentração obtida com tanto esforço. E
sentem-se magoados se você pergunta se não podiam ter aguardado a hora do
intervalo do estudo para resolver aquele assunto (ainda que pudessem...).

Então, se a sua casa não é propriamente um modelo de silêncio e


tranquilidade – e, a menos que você more sozinho ou tenha um bunker*,
nenhuma é –, tenho uma ótima notícia para você: existe uma infinidade de
bibliotecas maravilhosas, com salas de estudo, ar condicionado e, o mais
importante, ninguém para interromper. Toda universidade tem uma ou mais
bibliotecas, com acesso gratuito para visitantes. Informe-se e experimente. O
silêncio e a energia do local favorecem a concentração, e o estudo rende
infinitas vezes mais do que em qualquer outro ambiente.

NÃO DEIXE ACUMULAR MATÉRIA Vá estudando conforme for


recebendo as informações. Isso faz a maior diferença no aproveitamento das
aulas.
De nada adianta frequentar aulas e não sedimentar as informações
recebidas. Vai-se criando um “bolo” difícil de digerir depois, e o tempo
perdido pode ser a diferença entre passar ou não passar.

Hum... você já deixou acumular matéria? Sugiro então que volte o estudo
ao início de cada disciplina, como se nunca a tivesse estudado antes, sem se
preocupar com o ponto em que os professores estão agora. Sempre é tempo
de “arrumar a casa”. Se houver alguma matéria que ainda não tenha sido
iniciada no curso, você deverá cuidar para mantê-la sempre em dia.

ANTES DE CADA AULA Sempre que possível, antes de iniciar cada aula
releia rapidamente suas anotações ou a apostila referente à aula anterior
daquela matéria. Pode ser uma leitura leve, apenas para relembrar o assunto e
já deixar o cérebro sintonizado com o que será abordado a seguir. Pode ser
feito durante uns 15 a 20 minutos antes da aula ou até mesmo durante o
trajeto até o curso, se isso for viável.

NUNCA MAIS

Não saia de casa nunca, nem para ir à padaria, sem levar algum material de
estudo. Não existe nada pior do que um contratempo (engarrafamento, fila,
sala de espera) que faça você ficar preso em algum lugar sem ter o que
estudar; ver o tempo passando, enquanto você está totalmente improdutivo...

A propósito, material de estudo passou a ser a sua nova rede social. É ali
que você vai usar todos os minutinhos livres do seu dia.
SONO?

Estudar é ótimo... sonífero. Meio da manhã, após o almoço, ai... é mortal. E


aí, fazer o quê?

Bom, a batalha começa na hora em que toca o despertador e tem início o


diálogo interno: – Levanta, “tá” na hora!

– Ai, que preguiça... Preciso dormir mais um pouco... Só um pouquinho...

– Vamos lá, você tem um concurso! Seus concorrentes já estão estudando!

– “Tá” bom! “Tá” bom!

Ótimo! No embate interno entre o responsável e o malandro, venceu o


guerreiro. A questão é que, quando vence o preguiçoso (ou o cansado
mesmo; muitas vezes não é preguiça), na hora é ótimo, mas depois você se
mortifica por não ter sido capaz de honrar a programação. Quando você cria
coragem e se levanta da cama (ainda que seja no “piloto automático”), toma
uma chuveirada, toma o café da manhã e senta-se para estudar, vem uma
sensação de poder, de ter vencido a inércia. E é por aí. Todo dia a mesma
batalha, como um viciado. Pense em vencer aquele momento, daquele dia.

E, no decorrer das horas, novamente aparece nosso vilão. As letras vão


ficando difusas, os olhos fechando... Nessa hora, coragem. Lavar o rosto,
tomar um café, mate, guaraná natural, qualquer coisa. Uma balinha também
ajuda a espantar o tédio (quando passar, poderá pagar a conta do dentista).
Biscoito, barra de cereais, maçã, o que mais lhe aprouver. Desde que ajude a
superar a tentação de deitar e perder um tempo precioso.

Mas, existe uma exceção: há pessoas que precisam mesmo de um cochilo à


tarde, de vinte minutos que seja, senão ficam imprestáveis. Dormem de
qualquer jeito, sentadas, com o caderno na mão. Temos, então, duas opções:
colocar oficialmente a tal soneca na programação (é o melhor) ou, se o caso
não for tão grave, nos dias em que estiver insuportável, resignar-se e tirar os
minutos de descanso onde estiver. Tenho um amigo que deitava nas cadeiras
mesmo, sob a mesa da sala de estudo; minutos depois, levantava totalmente
recuperado. O pessoal das bibliotecas costuma não gostar muito, mas acho
que só deitar a cabeça sobre a mesa é aceitável.

Deixo um alerta: não vá tomar energéticos à noite e depois perder as horas


de sono, porque ficou “ligado”. Fazer isso seria esforço desperdiçado.

Certa noite, vi um amigo tomar uma bebida energética no intervalo da aula.


Depois, ele bebeu mais uma. Eu perguntei: – Caramba! Isso não tira o seu
sono?

E ele: – Não. Quer dizer, será que foi por isso que ontem só consegui
dormir às duas e tal?

Enfim, é necessário dormir na hora de dormir, o melhor possível, um


número de horas suficiente para o seu ritmo. Estudar na hora de estudar.
Para se ter uma ideia, o meu maior sonho para quando acabassem as provas
era poder dormir um dia inteiro, sem culpa, tal era o cansaço...

E não se iluda; é uma batalha constante: dormir ou estudar; passear ou


estudar; namorar ou estudar; ir à praia ou estudar; fazer nada ou estudar.

Mantenha-se firme: estudar ou estudar. E mais: não é “estudar para passar”,


mas “estudar até passar”. Depois que colher os resultados, você vai ver que
valeu a pena!
2001 MARÇO

Acabaram as aulas durante a semana. Fiquei só frequentando os simulados.


Mas o trabalho engoliu o tempo de estudo. Sobrava a noite, e muitas vezes eu
“apagava” quando colocava as crianças para dormir.

Ou seja, meu estudo ficou em “banho-maria”.

Fui lapidando as matérias, procurando melhorar meu desempenho nos


simulados, mas os resultados eram bastante inconstantes. Procurei vencer
minhas astronômicas dificuldades em Contabilidade, fazendo mais algum
módulo, pegando material com amigos, assistindo aos vídeos com as aulas.
Mas o progresso era lento.

A falta de um concurso iminente fazia com que eu perdesse um pouco o


foco e não aproveitasse tão bem o tempo, já que outras coisas ocupavam
aquele espaço.
PLANEJAR É PRECISO

Uma coisa que significou um salto de qualidade na minha preparação foi


quando descobri que poderia fazer um planejamento de estudo.

Até então a coisa funcionava de modo aleatório: todo o tempo livre de que
eu dispusesse seria dedicado ao estudo. Ocorre que, como mãe de quatro
filhos, chefe de família e trabalhando, isso era uma ilusão – não sobrava
tempo. Então, eu ficava o tempo todo angustiada, culpada por não estar
estudando enquanto realizava as outras tarefas a meu cargo. O tempo
dedicado ao estudo era pequeno e de péssima qualidade, porque meio
“roubado” de outros afazeres ou, na melhor das hipóteses, do sono...

Então, procure fazer uma ficha contendo quatro semanas (na primeira vez,
inclua até o fim do mês em curso, mesmo que seja um período menor). Se
você quiser, no fim do livro há um modelo em branco para ser copiado e
preenchido a cada mês. Ou, se preferir, produza a sua própria planilha, mas
acho importante imprimi-la e colocá-la bem à vista.

Nessa ficha, reserve tempo para: . estudo; . aulas; . atividade física; .


compromissos de rotina de acordo com seu estilo de vida e necessidades –
mercado, pagamentos etc.; . lazer.
Minha sugestão é que você comece anotando seus compromissos fixos
(trabalho, aula e outros); depois, inclua a atividade física (falaremos disso
mais à frente). Anote também compromissos eventuais do mês e registre se
haverá algum feriado (isso pode interferir na sua programação). Reserve ao
menos 6 horas para o sono.

A partir daí, fica simples perceber o tempo que você realmente tem para
estudar.

De preferência, deixe uma certa folga (sem exagero), de forma que você
possa absorver imprevistos indelegáveis e inadiáveis, sem comprometer
muito o planejamento inicial.

Há duas coisas importantes a considerar nesse momento: é proposta para


médio prazo; assim, não pode ser tão onerosa que comprometa sua
continuidade – em outras palavras, tem de ser algo que você suporte viver por
um período de tempo relativamente longo; a outra questão é que deve incluir
um dia totalmente livre na semana, para garantir o rendimento da semana
seguinte.

Na verdade, você estará fazendo um acordo com você mesmo/a: cumprir as


obrigações com a certeza de que também haverá o tempo do prazer. Não é
necessário, nem conveniente, que você deixe de namorar, jogar futebol ou o
que mais fizer parte da sua vida. Caso contrário, essas atividades represadas
terminarão sabotando seu tempo de estudo.

Eu gostava de fazer o planejamento a lápis para poder reajustá-lo sempre


que necessário. Por exemplo, o início de uma aula nova ou o cancelamento de
outra que já estava agendada alteravam o plano de estudo.

É claro que na ficha estará o ideal a ser atingido. Muitos fatores, externos e
internos, podem interferir naquela programação e isso não é motivo para
desespero (algum mau humor por conta da interrupção é aceitável).

Outro evento que altera totalmente o planejamento é a publicação do edital,


porque aí deixamos de trabalhar para um futuro distante e passamos a ter uma
data relativamente próxima. Nesse caso, vale até sacrificar alguns prazeres e
delegar absolutamente tudo, já que será por um período de tempo bem mais
curto – algo em torno de dois meses – e precisaremos convergir todos os
esforços para estarmos efetivamente prontos.

Um aspecto interessante da programação é que, no momento de planejar, a


gente se sente motivada a alcançar a meta e não há espaço para preguiça. No
dia de estudar, já haverá um comprometimento pessoal e será mais fácil
vencer o desânimo.

Veja os exemplos a seguir: Concursando “Light”: Rapaz solteiro,


morando com os pais, desempregado.

Concurso para Área Fiscal, edital publicado

Turno
2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

8h Acordar Acordar Acordar Acordar Acordar


Manhã

9h - 12h Estudo Estudo Estudo Estudo Estudo

12h Almoçar Almoçar Almoçar Almoçar Almoçar


Tarde
14h - 17h Estudo Estudo Estudo Estudo Estudo

17h30 -
Malhar Malhar Malhar Malhar
18h30
Noite Livre

19h - 22h Estudo Estudo Estudo Estudo

Este foi o Cláudio. O concursando mais tranquilo que conheci. Fazia três
períodos de estudo com três horas cada, sem o menor stress. Ainda tirava
uma soneca depois do almoço e fazia atividade física regularmente. Saía às
sextas-feiras e finais de semana (fazia simulados aos sábados), sem
preocupação. Aprovadíssimo no concurso, com pouco mais de um ano de
estudo. Exemplo de programação light e equilibrada, que dá para levar por
muito tempo.

Concursando “Médio”: Rapaz casado, sem filhos.

Concurso para a Área Fiscal, sem edital publicado


Observe que a tarde de quarta-feira é livre para providências diversas. Caso
surja algo que deva ser resolvido em outro dia, move-se aquela programação
para a quarta-feira. Caso contrário, aproveita-se também aquele período para
estudar. Funcionaria como um “bônus”.

Concursando ou concursanda “em desespero”

1ª opção

2ª opção

Na 1ª opção, a escolha é assistir às aulas durante a semana e concentrar o


estudo no sábado. É interessante quando o curso é perto do trabalho, porque
otimiza tempo de deslocamento e dinheiro de passagem.

A 2ª opção tem a vantagem de fracionar os períodos de estudo ao longo da


semana. Pode ser mais produtiva para quem ainda não consegue se manter
concentrado por muito tempo. O sábado seria dedicado a assistir às aulas.

Concursanda “Avançada”
1 a 2 anos de maratona. Quase pode “tocar” a vaga...

Edital publicado.

Esta foi a minha programação para a terceira fase dos concursos para Fiscal
de Rendas e Controlador, depois de mais de 2 anos de maratona – ia para a
biblioteca às 8h30 e saía de lá às 20 horas: Janeiro / 2003

*Na verdade, tudo ali era revisão; este último dia ficou como “curinga”
para o que fosse mais necessário.

Muitas vezes, era só nisso que eu pensava: estava muito perto de acabar.

Planejamento para a hora da prova

Esta seria a distribuição de tempo que eu utilizaria para a última prova do


ISS, considerando o número de questões de cada matéria. Não tinha sido
divulgado o tempo exato de duração da prova. Então, estimei em 240 minutos
(4 horas). Sabia que precisaria, ainda, “salvar” uns minutos para qualquer
emergência e para marcar o cartão.

Corria, pelo menos, três vezes por semana.


DE NOVO?

Preciso comentar sobre a minha difícil relação com a Contabilidade. Logo


que iniciei o curso Básico Fiscal, sentou-se ao meu lado um rapaz que
respondia a tudo o que o professor de Contabilidade perguntava.

Fiquei impressionada e comentei: – Você sabe tudo?

Ao que ele respondeu: – É a terceira vez que faço esse módulo, com
professores diferentes.

E eu: – Ah! – Enquanto pensava: “Nossa, que cara burro!”

Bom, fiz o primeiro módulo. Acompanhei até um ponto e depois “travei”.


Não entendia mais nada e me limitava a copiar a matéria. Quando o professor
iniciava um assunto novo, às vezes eu conseguia acompanhar alguma coisa,
mas depois “viajava” novamente. Fiquei apavorada e achei que o professor
era péssimo (afinal, eu sou tão inteligente...).

Reclamei no curso e me autorizaram a assistir novamente à matéria com


outro professor. Aceitei. Refiz o módulo até o fim e isso serviu para eu
conseguir finalmente entender quais contas seriam debitadas ou creditadas e
em quais situações. E só.

Depois disso, tentei estudar sozinha para superar as dúvidas e caminhei um


pouco mais. Já conseguia entender alguma coisa, mas não concluía exercício
algum.

Pedi nova orientação ao curso e decidimos que eu assistiria às aulas em fita


de vídeo (faz tempo isso...). Passei uma semana inteira acordando e dormindo
com aquelas fitas; não fazia mais nada. E foi ótimo! Em situações graves
como essa, acho muito válido um mutirão da matéria.

Podia dar pause no professor toda vez que não entendia alguma coisa e,
assim, revi toda a matéria (pela terceira vez). Já tendo sanado uma boa parte
das dúvidas, essa revisão completa me permitiu um salto de qualidade. Passei
a fazer metade das questões dos simulados e a entender a correção.

Ainda assim, aquele continuava sendo meu ponto fraco. Um tempo depois,
peguei um material com um amigo – professor de Contabilidade para não
contadores. Achei que podia ser a minha salvação. É verdade que ajudou
bastante a compreender a lógica da coisa, mas ainda precisava de mais.

Também fiz um módulo de exercícios com um terceiro professor, por


indicação de uma amiga. Outro passo.

Depois, surgiu a oportunidade de refazer a teoria com outro professor (o


quarto).

Após tudo isso, no carnaval de 2002, peguei novamente todas as fitas do


primeiro professor e fiz um resumo da matéria, desta vez acompanhando
tudo. Sucesso total!

Mesmo assim, no auge do concurso do ISS-RJ, ainda estava insegura com a


tal da Contabilidade. Na semana seguinte à primeira prova, comprei o livro
indicado pela banca e praticamente o esgotei, procurando fazer todos os
exercícios.

Bom, pelas minhas contas, foram seis módulos completos, mais tentativas
solitárias... A meu favor, tenho a declarar que sou formada em Direito.
Enfim, nem sempre as coisas foram muito fáceis...
2001 FIM DE ANO

Foi publicado o edital para o ICMS São Paulo – prova em janeiro de 2002.
Início de verão era o período de mais trabalho no ateliê. Eu tinha de fazer
uma escolha: salvar o dinheiro do mês ou investir no futuro e na solução
definitiva.

Não tive coragem de recusar encomendas e perder a oportunidade de aliviar


um pouquinho a penúria financeira.

Além disso, minha avó (com 99 anos à época) ficou trinta dias internada no
hospital; filhos e filhas, netos e netas, revezávamos plantões.

Não passei para a segunda fase do concurso.


VOCÊ OUVE VOZES?

Cruzes! O que é isso?

Calma! Estou me referindo a vozes externas e internas que passam o tempo


todo desviando você do objetivo: amigos e amigas, namorado/a e
congêneres...

– Vamos sair hoje? Tem uma parada maneira...

– Vamos à praia?

Mães, filhos e filhas, cônjuges...

– Ai, você não liga mais para mim, nunca tem tempo para me dar atenção.

Diversos...

– Você ainda não passou? Será que adianta ficar estudando assim?

– E se você não passar, o que vai fazer? (essa foi do meu filho de 18 anos,
antes da última prova; uma delícia...).

– Você não acha que precisa cuidar mais dos seus filhos? Nem tudo pode
ser adiado! (o de 15 anos...).

E as internas, nossos “fantasmas” pessoais: – Ai, meu Deus! E se eu não


for capaz?

– E se eu ficar doente no dia da prova? Se sofrer um acidente?

– E se o concurso for anulado?

– E se me der um “branco”?

Ou ainda: – Nunca passo nas provas, sempre fui péssimo/a aluno/a, não
tenho base...

Sugestão: faça-se de surdo/a. Dê um sorriso e diga: – Vou fazer o meu


melhor, pedir proteção; se ainda não for a minha hora, continuarei estudando.

Jogue fora todo aquele registro negativo. Você hoje é uma pessoa adulta
(ou quase) e tem algo que não tinha antes: maturidade. Isso faz toda a
diferença. Pode acreditar!

Fortaleça sua determinação, concentre todas as suas forças no concurso, de


forma que todo o resto saia um pouco de foco. Durante todo o tempo,
pergunte: – Isso é importante para a prova? Está me ajudando a estudar?

Fora isso, só enxergue algo realmente grave, inadiável mesmo.


2002 3 DE MARÇO ISS – NITERÓI-RJ

Assim que virou o ano, saiu o edital para o concurso do ISS-Niterói (RJ).
Eu reduzi minha carga horária de trabalho e dediquei todas as manhãs àquele
concurso: nos dias em que não tinha aula, estudava em casa. Agora, tinha
novamente um objetivo concreto à frente. Mas, mesmo expandindo o tempo
de estudo, ainda me sentia – e estava – muito “crua”. A prova disso é que, na
véspera da prova, eu achei melhor fazer uma revisão geral das matérias: 20
minutos para cada uma (e acreditei nisso!). Até hoje, rimos disso eu e a
Flávia (que, àquela época, já se tornara minha companheira de batalha).
Obviamente impossível.

Mesmo assim, fiquei em 44º lugar. Mas eram apenas trinta vagas.

A frustração foi enorme. Diziam que eu seria chamada, mas eu não


acreditava. E mesmo que fosse, quando?! Fiquei muito triste. Sentia-me
incapaz. De que forma conseguiria estudar mais? Tinha feito o meu melhor e
isso não havia sido suficiente! Como concorrer com pessoas que não tinham
quatro filhos, casa para cuidar, trabalho, falta de dinheiro, dificuldades em
matérias exatas, tudo ao mesmo tempo?
NÃO PASSEI. POR QUÊ?!

É uma das piores sensações. Às vezes, a gente se sente preparada, acha que
tem condições de passar e, quando chega o resultado, não conseguiu.

Dá raiva, medo, sentimento de rejeição e impotência. Inveja de quem


passou. Vem à tona o nosso lado mais sombrio. Não se cobre. Deixe essas
emoções fluírem. Chore, grite, encolha-se até que elas se acalmem. Isso pode
levar alguns dias.

Depois, acenda uma luz dentro de você e lembre que perdeu somente uma
batalha de uma guerra com várias oportunidades. Olhando por outro ponto de
vista, é uma situação privilegiada, porque, quando vencer sua primeira
batalha, terá vencido toda a guerra, não importando quantas vezes tenha sido
derrotado anteriormente. Então, a luta continua e o guerreiro tem de se
levantar. Procure ver, com isenção, o que pode ser melhorado: examine suas
armas, sua condição física, sua estratégia. Não é mais hora de pena ou ódio,
que enfraquecem. Mire seu objetivo e caminhe para ele.

O que eu quero deixar claro é que podem existir momentos muito difíceis
na vida do concursando, momentos de grande decepção: não fomos
aprovados em algum concurso, o concurso foi anulado, tivemos algum
impedimento sério no período da prova (doença pessoal ou na família, por
exemplo)... A vida não para porque temos um concurso pela frente e, muitas
vezes, ela até nos atropela. É importante, aliás, decisivo, que você não se
deixe vencer nessa hora. Ficamos abatidos, confusos, decepcionados, mas
busque forças para seguir adiante até o objetivo. Se você desistir, seria como
jogar fora todo o tempo, dinheiro e energia já investidos no projeto. A relação
custo/benefício fica desfavorável e o registro que fica é o da derrota. Se você,
ao contrário, seguir adiante, quando conquistar a vaga e a vida que desejava,
terá, para sempre, o registro da vitória. E o resto da vida para usufruir!

Há mais uma coisa: o que vemos como insucesso, muitas vezes, é o


caminho traçado com amor para que cheguemos ao melhor lugar. Então, é
preciso confiar que nosso caminho não é aleatório, mas parte de um projeto
maior. É que, por vezes, só muito mais tarde seremos capazes de
compreender por que algo não saiu como esperávamos em determinado
momento...
UMA MATÉRIA POR VEZ OU TODAS
JUNTAS?

Engraçado como tanta gente acha que seria melhor estudar uma disciplina
até o fim, para somente depois passar para outra, e assim por diante.

Se pensarmos que os concursos mais simples cobram algo em torno de


cinco matérias, e os mais complexos algo como vinte disciplinas diferentes,
seria viável a estratégia de estudar uma por vez? Penso que seriam
necessárias, minimamente, duas semanas para as matérias mais simples.
Avaliando um concurso com poucas disciplinas, ao fim de alguns meses
ainda teríamos segurança no conteúdo dos primeiros assuntos estudados?

Gosto de usar a analogia de que as matérias seriam um time de jogadores.


No caso acima, estaríamos treinando um jogador até que ele estivesse muito
bem, em técnica e preparo físico. Daí, colocaríamos o sujeito sentado no
banco, enquanto treinávamos os outros. Parece claro que a boa forma obtida
estaria absolutamente comprometida quando voltássemos a nos interessar por
ele.

O mesmo acontece com o nosso cérebro, principalmente em relação a


conteúdos muito novos. Falamos fluentemente a nossa língua porque a
exercitamos todos os dias – falando, ouvindo, lendo, escrevendo, pensando. É
comum aprendermos uma segunda língua e, quando não a utilizamos
regularmente, perdermos completamente a fluência e o vocabulário que
tínhamos adquirido durante o curso.

Acredito que podemos concluir que a melhor estratégia é treinar todos os


jogadores simultaneamente, reservando tempo para cada um na semana ou
quinzena. Vale dar mais atenção aos “piores jogadores” – ou seja, reservar
mais tempo de estudo para as matérias em que tiver mais dificuldade –, a fim
de elevá-los ao mesmo patamar dos outros. Daí a importância de ter um
planejamento mensal com os horários de estudo e as matérias – para poder
estabelecer de forma equilibrada o tempo de estudo e a distribuição das
disciplinas.
2002 JUNHO

Passei mais de trinta dias parada, desanimada. Cheguei mesmo a achar que
tinha desistido do projeto “concurso público”. Ficar tão perto das vagas e não
conseguir foi mais doloroso do que as outras reprovações – e já era o terceiro
fracasso.

Empacotei todo o material de estudo, e confesso que senti certo alívio por
tirar aquele peso da minha vida. Voltei a ter tempo para ficar com as crianças
à noite e nos fins de semana, e isso fazia parecer que eu estava tomando a
melhor decisão.

Mas, com o passar das semanas percebi que os problemas que me haviam
levado a iniciar o projeto permaneciam ali: falta de dinheiro e de perspectiva
para criar com segurança os meus quatro filhos. E não encontrei outra
solução para a minha vida. Assim, por uma questão de sobrevivência, decidi
reagir e voltar à luta: os jornais estavam divulgando novo concurso para
fiscal do INSS, que viria com muitas vagas.

Matriculei-me nos módulos específicos para fazer tudo com antecedência e


retomei o meu lugar na maratona.
TOQUES E DICAS PRÁTICAS.AINDA...

NADA DE JEJUM

Seu cérebro consome energia enquanto você estuda. Logo, você precisa
ingerir carboidrato (fruta, pão, bolo, cereais) a cada três horas. Caso
contrário, ele fica sem matéria-prima para trabalhar.

Mas tome cuidado! Não abuse, porque permanecerá sentado por muitas
horas. Será quase inevitável ganhar uns quilinhos extras.

REFORÇO

Acho que vale uma força extra para melhorar o seu desempenho:
vitaminas, complementos alimentares, calmantes naturais, fortificantes,
antifadiga. Procure orientação médica ou use recursos naturais que não
apresentem contraindicação. Jamais comprometa sua saúde.

ATIVIDADE FÍSICA Caminhada é uma ótima opção para quem tem vida
sedentária. Não requer grandes preparos (somente um alongamento antes e
depois) nem oferece riscos. Um tênis confortável, roupas leves e disposição
são suficientes. Evite horário de muito calor e use protetor solar se fizer a
atividade durante o dia. O resultado é uma melhora acentuada da disposição
física, da concentração (experimente e se surpreenderá) e até do humor. O
que está esperando?

Se você já pratica esporte ou outra atividade física, ótimo! Continue e


mantenha regularidade. Isso só vai contribuir para o seu desempenho. Já a
interrupção tende a deixá-lo irritado e com menos qualidade no estudo.

EQUILÍBRIO

Outra opção interessante são recursos que favoreçam o equilíbrio:


meditação, ioga, tai chi chuan, que reduzem o stress e harmonizam corpo e
mente.

Também o apoio espiritual, de acordo com suas crenças ou tradições, é


valioso; ainda mais nesse momento em que toda proteção é muito bem-
vinda...

Em resumo, em vez de se criticar, acolha suas dificuldades, compreenda-as


e busque soluções – naturais, sem agressões, preservando a saúde. Aprenda a
pedir e a aceitar ajuda.

SUBLINHE

Sublinhe a matéria enquanto estuda. Um grifo bem feito vale um resumo.


Só tome cuidado para não marcar tudo, porque de nada adiantará.

FICHAS-RESUMO X RESUMOS

Sou fã das fichas-resumo (aquelas durinhas, que a gente compra na


papelaria). Eu as considero mais produtivas do que os resumos, porque mais
rápidas de serem elaboradas e mais objetivas para serem consultadas. Você
deve organizar cada disciplina estudada em um grupo separado de fichas.
Faça as anotações utilizando quadros, esquemas e tópicos. Cada ficha deve
ter o título da matéria, o subtítulo do assunto e ser numerada (imagine se cai
tudo no chão). Pode passar um elástico no conjunto de cada matéria. Fica
super prático para carregar na bolsa ou na mochila.

A ideia é privilegiar o aspecto visual e, por isso, o uso de cores é indicado


(sem poluir). É importante incluir fórmulas, exceções, dicas e casos especiais,
além de alguma observação relevante para a solução de questões, se for o
caso.

Este é um excelente recurso para fixar a teoria e também como material


para revisões em etapas posteriores do estudo e nas semanas anteriores à
prova. Dá algum trabalho prepará-las, mas você vai agradecer por ter feito
esse processo quando sair o edital.

DÚVIDAS

Assinale as dúvidas, mas não se deixe paralisar, salvo se realmente não


estiver entendendo nada e não for possível pular para o tópico seguinte. É
natural não compreender tudo da primeira vez e, de modo geral, é mais
produtivo seguir adiante – aos poucos as informações passam a fazer mais
sentido.

Você vai perceber que, a cada vez que retornar ao mesmo ponto, mais
lacunas serão preenchidas e a compreensão da matéria se torna mais efetiva.

Peça também ajuda aos professores. É difícil para algumas pessoas, mas
eles têm muita experiência e são nossos aliados nessa batalha.
ESTUDAR É DIVERTIDO

Não acha? Então comece a relaxar e descubra o prazer de aprender e saber


um pouco mais a cada dia.

O uso da língua portuguesa – matéria presente em todos os concursos –


torna-se mais correto e seguro. Recurso útil no dia a dia de qualquer pessoa.

Sem falar que vamos nos tornando cidadãos mais completos e conscientes
pelo estudo de matérias como o Direito Constitucional e o Direito
Administrativo.

“Decorebas” intermináveis? Arranje frases engraçadas para ajudar. Conte


para todo mundo o que aprendeu (mesmo que não estejam nem um pouco
interessados...): é ótimo para fixar! Converse com as paredes, com o gato,
com as crianças. Acharão que você perdeu o juízo, e não deixam de ter um
pouco de razão. Mas quando você atingir este ponto, estará chegando a hora
de passar.
2002 JULHO

Quinze dias depois de começar a cursar os módulos específicos para o


INSS, saiu o edital do Município do Rio de Janeiro para os cargos de Fiscal
de Rendas e Controlador. Fiquei completamente perdida, sem saber em qual
dos concursos investir: é verdade que o INSS poderia não ter vaga para o Rio,
mas o ISS era coisa pra gente grande, pessoal que estudava a sério há vários
anos. E eu...

Lembro-me bem daquele sábado de simulado: fiquei totalmente paralisada


pela dúvida. Qual dos caminhos seguir? Em qual deles encontraria minha
vitória?

Ainda estava nesse dilema, quando recebi um recado taxativo do dono do


curso:

– Fala para a Lia largar tudo e se concentrar no ISS!

Fiquei assustada: será mesmo? Será que tenho condições de concorrer?

Decidi abandonar o trabalho – não dava dinheiro mesmo – e só estudar.


Viver de quê? Do mesmo jeito que já estava: cortando o que fosse possível e
com a ajuda de pai, mãe, ex-marido. Era o que eu podia usar a meu favor: o
tempo.
Agora era um caminho sem volta. Passar ou passar. Se não fosse naquele,
seria em outro próximo, mas eu queria (e precisava) muito que fosse logo.
ESTÁ DESEMPREGADO?EXCELENTE!

Não, eu não estou doida e já passei por isso.

Você tem a seu favor duas coisas importantíssimas:

1) Todo o tempo do mundo para estudar (enquanto seus concorrentes


consomem a maior parte do dia no trabalho).

2) A melhor motivação possível: a necessidade absoluta.

Sim, eu concordo que quem está empregado, com as contas pagas e comida
em casa, tem mais tranquilidade. Mas, por isso mesmo, não tem tanto
empenho e, na hora em que surgirem os obstáculos ou as tentações (feriados,
programas etc.), pode não ter a mesma determinação que você. Para quem
está sem dinheiro para passeios, o melhor é estudar. Mas, por favor, não se
considere uma pessoa merecedora de pena! Pense que está preparando seus
passeios futuros, com dinheiro no bolso e segurança.
DIA LIVRE + ATIVIDADE FÍSICA =
CONTINUIDADE

E, no sétimo dia, Deus descansou...

Olha só! Se até Ele tirou um dia de descanso na semana, por que nós,
simples mortais, não faríamos o mesmo?

A questão é que, quando estamos estudando para concurso, o stress é


inevitável. A semana tem todas as obrigações, mais aulas e estudo. Se você
não tira um dia ou, na pior das hipóteses, um turno livre (a partir das 14 horas
do domingo, por exemplo), a cada semana tem menos qualidade de
concentração e memória. E não estou falando de, simplesmente, descansar.
Refiro-me a prazer. De preferência, coisas que você coloque “para fora”,
como jogar bola, conversar com amigos, dançar, ir à praia, escrever (para
quem gosta) etc. Melhor do que ler, ir ao cinema, que jogam mais coisas
“para dentro”, repetindo o padrão da semana.

De qualquer forma, seja feliz, muito feliz nessas vinte e quatro horas. Isso é
combustível para a empreitada da semana. Acredite! E é o que vai garantir a
continuidade da sua maratona até a conquista da vaga, independentemente do
tempo necessário para isso acontecer.
MARATONISTA, MEXA-SE!

Falando em condições de continuidade, quero esclarecer o porquê da minha


insistência com relação à importância da atividade física regular. Sei que
corro o risco de estar me tornando desagradável, mas conheço a resistência
dos concursandos em dedicar algum tempo (às vezes tão escasso) a algo que
não seja o estudo propriamente dito. A proposta que faço é que você inclua
na programação, pelo menos três vezes por semana, algum trabalho aeróbico.
No mínimo, uma caminhada de 40 minutos. Se você praticava algum esporte,
retome; se frequentava academia, mantenha. Não é hora de exageros,
recordes ou de obter o “corpo dos sonhos” (deixe isso para depois que for
aprovado no concurso), mas é fundamental cuidar da saúde e bem-estar do
corpo, para que ele não venha a sabotar você na hora em que mais precisar
dele.

Então, não pense que está desperdiçando tempo de estudo. Bem ao


contrário, você está potencializando e qualificando o aprendizado. Isto,
porque durante a atividade física ocorre um aumento da circulação sanguínea,
o que melhora a oxigenação do cérebro. Além disso, ocorre a liberação de
serotonina e endorfina, responsáveis pela transmissão das informações entre
os neurônios. De quebra, esses chamados “hormônios do bem-estar”
produzem sensação de euforia. O resultado de tudo isso é que seu corpo
agradecerá devolvendo concentração, atenção, memória, disposição e
reduzindo o stress (que, além de muito desagradável, consome preciosa
energia que deveria ser usada no estudo).

Ou seja, o tempo investido na atividade física retornará na forma de


dividendos consideráveis para o rendimento do seu cérebro.

Será que, agora, consegui convencer você? Por favor, experimente e


observe a mudança.
EQUILÍBRIO É A CHAVE

Como viemos falando, é o equilíbrio que garantirá a continuidade do seu


trabalho, e é essa continuidade que levará você à aprovação. Lembre-se: não
são cem metros rasos e, sim, uma maratona; precisamos de resistência.

O estudo deve passar a fazer parte da sua vida – como atividade prioritária,
é verdade –, mas não pode impedir você de viver. Corpo, mente, emocional e,
até, espiritual devem estar em harmonia, como seus aliados.

Isso garantirá a sua vitória.


2002 SETEMBRO DIFICULDADES

Antes da primeira prova, tive de me mudar da casa onde morava para o


apartamento da minha avó, porque não tinha mais como pagar o aluguel. Foi
uma mudança “relâmpago”: de segunda a quinta-feira, organizamos; na
sexta-feira, mudamos.

Bateram no meu carro, o filtro de água quebrou, a geladeira pifou. Apesar


disso, arrumamos tudo no sábado e no domingo, com direito a quadros na
parede e enfeites no lugar.

Na segunda-feira, parece que perdi as forças. Quando minha mãe me


telefonou, chorei à beça, porque me sentia só, com tantas coisas a resolver
que dependiam de mim. Aí ela disse que me amava, que estava comigo vinte
e quatro horas por dia, e que eu era capaz de vencer. Foi a maior declaração
de amor que ela me havia feito. Sempre foi muito amiga, mas pouco afetiva,
e eu guardei aquilo como um presente especial.

Na semana seguinte...

Eu usava um fogão emprestado. Dias depois da mudança, o dono me


telefonou e disse que o pegaria de volta dentro de três dias. Lá fui eu procurar
um fogão barato, que fosse entregue em 24 horas e que eu pudesse pagar.
Angustiada, porque já se escoava mais um dia de estudo...
TOQUES E DICAS FILOSÓFICAS

n Respeite o seu jeito de ser e simplesmente ajuste seus recursos ao


estudo. Use da melhor forma as suas características e não brigue com você,
com os outros – família, namorado/a etc. –, nem com a matéria; afinal, é o
seu passaporte para atingir o objetivo.

n Não subestime ninguém, nem você mesmo. Busque a superação. Não se


compare. Cada um tem sua própria história.

n Durante o período de estudo, ofereça ajuda, compartilhe. Cada um tem


um talento: tempo, facilidade de compreensão, resumos, livros, pesquisas de
provas e informações na internet... No fim, todos ganham com esse
intercâmbio, inclusive você.

n Se encontrar parceiros de estudo que combinem com seu jeito, ótimo.


Podem até ter níveis diferentes de conhecimento e um ajudar o outro. Isso
não atrasa ninguém, pelo contrário: ensinar é uma ótima forma de fixar. Só
esteja atento para que haja empenho de todos – não é momento de carregar
ninguém às costas.

n Cada um passa quando chega a sua hora. Acredito que não são somente
conhecimentos técnicos, mas todo um momento de vida que converge para a
aprovação.

n Alegre-se sinceramente com o sucesso dos outros. Com certeza


mereceram. Quando conquistar a sua aprovação, solidarize-se com a tristeza
dos que terão de continuar. Se puder, colabore de alguma forma produtiva.
ESSA É A LEI

Atenção! Quando ouvir alguém na sala perguntando coisas ao professor


que você sequer suspeitava existirem, não pense que está diante de um gênio;
pode ter certeza de que essa pessoa leu a lei. Por mais incrível que possa
parecer, é ali que se “escondem” todas as facetas, os detalhes surpreendentes
dos quais o professor fala e que fazem você ficar com aquela cara...

A familiaridade com a letra da lei faz toda a diferença no estudo. O ideal é


ler, reler, periodicamente, com todo o cuidado. Não diria que você deve
decorá-la, mas ter uma ótima noção do que existe e de como se relacionam os
diversos pontos.

Uma sugestão interessante é anotar, no corpo da lei, as informações


importantes estudadas na teoria e relacionadas àquele texto. Assim, a cada
nova consulta fica mais fácil integrar os dois aspectos do estudo nas
disciplinas do Direito.
QUAL CONCURSO ESCOLHER?

Eu daria outro enfoque: qual área escolher? Acho temerário definir, já no


início, um concurso específico. Primeiro, porque dificilmente saberemos
quando ele vai sair. Segundo, porque fica uma expectativa muito grande em
cima de uma oportunidade, um momento só. Conforme comentamos
anteriormente, a vida às vezes “prega peças” e traz uma dificuldade
justamente no período daquela prova. Penso que a decepção é tanto maior
quanto maior é a expectativa. Fica mais complicado de superar... Desta
forma, sugiro escolher uma área: jurídica, fiscal, segurança pública, bancária
etc. e, quando você tiver segurança nas matérias básicas, poderá decidir qual
concurso vale a pena, conforme forem se aproximando os editais.

Outro equívoco frequente é só considerar concursos da sua área de


formação ou buscar somente concursos que tenham ênfase na sua área de
conhecimento, em razão de dificuldades em outras matérias. Essa estratégia
nem sempre é interessante, porque limita muito o leque de oportunidades,
sem necessidade. A preparação adequada para concursos pressupõe que você
está partindo do “zero” em todas as matérias. Sempre haverá aquelas em que
você tem mais facilidade e aquelas que parecem incompreensíveis
inicialmente. O que importa é ter determinação e lembrar que todos têm
dificuldades a superar, assim como você.

No meu caso, por exemplo, apesar da formação em Direito e da minha


comentada dificuldade nas matérias exatas, obtive melhor nota na prova de
Matemática, Estatística e Matemática Financeira do que na de Direito, no
concurso do ISS-Rio.

Além disso, se você está querendo mudar de vida, talvez devesse pensar
sob outra ótica: qual é sua maior motivação no concurso público? Já sei:
segurança e bom salário. Mas é importante pensar, também, na atividade que
será exercida, e não só no salário, para escolher melhor. Afinal, aquele será o
seu trabalho de todos os dias, por muitos e muitos anos. Há ainda outros
aspectos interessantes a serem considerados, tais como: oportunidade de sair
da cidade onde mora, flexibilidade de horário, outro patamar salarial...

Outro fato que deve ser levado em conta é que você não precisa encerrar a
trajetória na primeira aprovação. Quando chegamos ao ponto de sermos bem-
sucedidos em um concurso, estamos realmente preparados. Dominamos as
matérias comuns e temos tempo e serenidade para dedicar às específicas.
Amadurecemos e sabemos fazer a melhor prova possível. Lembre-se: não
existe sorte em concurso público. O resultado é fruto do estudo sério e
eficiente. E a aprovação é o atestado de que estamos num patamar de
excelência. Portanto, se formos aprovados e seguirmos estudando, a chance
de conquistarmos colocações cada vez melhores em concursos posteriores (da
mesma área, claro) é enorme. Por isso, se observarmos o histórico de quem
passa nos primeiros lugares, veremos que é comum uma trajetória de
aprovações anteriores na mesma área. São gênios? Não (somente alguns
poucos)! Simplesmente prosseguiram na maratona, aproveitando o
conhecimento e a experiência adquiridos e qualificando-se cada vez mais.
Assim como um atleta que, após anos de treinamento, passa a bater todos os
recordes. Com a vantagem de que, em competições desportivas, sempre pode
aparecer alguém com talento natural superior, independentemente de
treinamento. No nosso caso, não existe mágica, mas uma quantidade de
conhecimento que deve ser assimilada passo a passo. Por isso, a chance de
cair um craque de repente na sua frente, invertendo a ordem anterior da fila, é
mínima. Desta forma, pode ser interessante, em alguns casos, fazer um
concurso inferior às suas pretensões para aliviar a pressão, e continuar se
preparando para o concurso “dos sonhos” até conquistá-lo (o que poderá ser
mais fácil, se já estiver empregado e confiante de que é capaz).

Neste sentido, atenção aos concursos menos “badalados”, alguns bastante


interessantes. Observe os concursos municipais também.
ENFIM, O EDITAL...

Em que será que isto interfere na nossa estratégia?

Em muitas coisas. Tudo o que conversamos, até agora, tinha como objetivo
a continuidade da maratona, já que não sabíamos quanto tempo ainda haveria
pela frente. A publicação do edital do seu concurso inverte a situação:
passamos a ter uma data concreta, próxima (sempre mais próxima do que
gostaríamos ou precisaríamos...) e temos de priorizar o estudo acima de,
praticamente, todo o resto. É a hora do arranque final, quando cada minuto é
precioso.

Antes de tudo, pare e examine sua situação com “olhos de ver”: você tem
chances reais de sucesso nesta prova? Porque, caso contrário, é melhor
continuar no ritmo normal, aprofundando as matérias gerais, a fim de ter
condições de vencer num momento mais adiante. Enquanto isso, os
“apavorados” ficam fazendo todas as provas que aparecem, e módulos
específicos que só servirão para um concurso, sem ter ainda base suficiente.
Quando vier o próximo, você terá um conhecimento mais sólido nas matérias
básicas e, assim, terá serenidade e tempo para estudar somente as específicas.
Já quem ficou “atirando para todos os lados” estará em desvantagem.
O.k. Chegamos à conclusão de que “estamos no páreo”. Primeira
providência: verificar quantas semanas teremos até a prova e fazer um
planejamento global. Se possível, deixando as duas últimas semanas para
revisar todas as matérias – isto é o ideal. Na pior das hipóteses, deixe pelo
menos a última semana para revisão. Se você está seguro nas matérias gerais
e vem fazendo uma manutenção bacana, conseguirá revisá-las em pouco
tempo.

Mas preste atenção! Não divida o tempo uniformemente. Deixe mais tempo
para as matérias em que você tem mais dificuldade ou está mais fraco/a, e
menos tempo para aquelas em que está bastante tranquilo/a. Leve, também,
em conta a extensão da matéria (algumas são enormes e outras têm o
conteúdo mais limitado) e, ainda, a importância e o peso de cada uma na sua
prova. É preciso ter muito cuidado, ainda, com aquelas que parecem bobas, a
respeito das quais só cairão poucas questões, mas que eliminam o candidato
que “zerar”. De que adianta fazer uma excelente prova e ser desclassificado
por causa daquela matéria que parecia tão simples? É de chorar...

E como estudar nesse momento?

Vamos dividir o tempo, então, em dois períodos: no primeiro, todos os


dias, exceto aqueles que serão dedicados à revisão. Você tem “x” dias até a
prova. Lembre-se disso. Portanto, faça o melhor aproveitamento possível.
Delegue todas as tarefas, adie o que puder, inclusive amigos, amor, família.
Cuide deles no seu dia de folga (fundamental para preservar o seu
rendimento).
Quando bater o desespero, lembre que esse “aperto” é por tempo limitado
e, ali na frente, você poderá retomar a vida, passando ou não no concurso.
Claro, porque, mesmo se não passar, depois da primeira semana de “ressaca”
mental e emocional (ninguém é de ferro), voltará ao ritmo de maratona,
incluindo novamente todas as pessoas e tarefas na vida, até o próximo edital.

Cumpra as metas desde o início, para evitar a aflição dos últimos dias,
quando já não haverá mais tempo. Se necessário, crie novos horários de
estudo para repor o que não tiver sido suficiente. Afinal, é a hora do seu
sprint*.

Assim, estude atentamente cada matéria, como se fosse a primeira vez, a


fim de fechar o entendimento, perceber algo que possa ter escapado,
sedimentar. Faça muitos exercícios para ganhar agilidade, principalmente das
matérias exatas, já que o tempo, às vezes, é fator determinante na hora da
prova. Resolva muitas provas anteriores da mesma banca, para familiarizar-se
com a abordagem e o estilo das questões.

Na semana (ou semanas) de revisão, leia seus resumos. É claro que você os
fez, com anotações de casos específicos, aqueles detalhes que você sempre
esquece, dicas das pegadinhas em que você se atrapalha... Você fez, não fez?
Revise fórmulas, detalhes.

É fundamental, também, procurar saber a duração da prova e já estabelecer


o tempo que utilizará para cada matéria, deixando de 15 a 30 minutos (não
menos!) – conforme o número de questões – para marcar o cartão de
respostas com calma e atenção. Além disso, reserve alguns minutos (de 15 a
30 também) para qualquer imprevisto, uma questão mais trabalhosa, sei lá.
Fica como um “cheque especial” de tempo. Considere o número de questões
e o grau de facilidade ou dificuldade que você tem em cada matéria, a fim de
fazer a distribuição mais adequada. (Veja tabela na página 61.) Procure
definir logo a ordem de matérias mais favorável para você fazer a prova.
Sugiro que comece por aquelas em que você tem mais segurança e, também,
decorebas, leis, para esvaziar o HD para outras que exijam raciocínio.
Cuidado com as questões de português, que costumam ser longas. Se
deixadas por último, você poderá estar cansado/a. Mas tudo isso é uma
questão pessoal. Avalie bem.

Essas pequenas coisas, decididas fora do ambiente da prova, evitam perdas


de tempo geradas pela confusão e nervosismo daquele momento e que, não
raro, são fatais para o melhor desempenho do/a concursando/a.

Atenção total ao bem-estar na semana da prova! Alimentação, sono,


equilíbrio... tudo aquilo sobre o que já falamos.

Não planeje estudar na véspera da prova. Aproveite o dia para relaxar e


“carregar as baterias”. É fundamental estar descansado física e mentalmente
naquele dia. Isto contribuirá mais para o seu resultado do que uma matéria
vista de forma ansiosa e com pouco tempo.

Se isso não for possível para você, pelo menos estabeleça uma hora-limite
em que, como dizia meu sócio, “fechou o barracão”. Nos desfiles de escola
de samba, as coisas nunca ficam exatamente conforme idealizado; sempre
falta um retoque aqui ou ali. Mas existe o momento em que é preciso parar
tudo, porque a escola tem de sair.

Da mesma forma, nunca sabemos absolutamente tudo o que gostaríamos e,


se não controlarmos a ansiedade, sempre haverá algo mais a estudar. Mas,
nessa hora, não é a melhor opção. Repito: estar descansado no dia da prova
vale mais do que um detalhe que possa ser aprendido na véspera. A mente
descansada vai permitir que a atenção, o raciocínio e a memória estejam em
plena forma. Esse trio trabalha por você em toda a prova. Já uma informação
de última hora pode até não cair.

Fiz essa bobagem na primeira prova do ISS: fiquei relendo a matéria até
tarde da noite. Quase “apaguei” na hora da prova, não de sono, porque a
adrenalina não permitiria, mas de exaustão mental. Cometi erros que
poderiam ter sido evitados se estivesse em melhores condições. Aprendi a
lição.
FILHOS PEQUENOS

Uma das coisas mais dolorosas do meu tempo de estudo era ter de ficar
ausente da vida dos meus filhos.

No terceiro ano da minha maratona – depois de três reprovações e uma


desistência – percebi que precisava fazer algo realmente diferente se queria
mesmo ser aprovada. Foi aí que descobri as bibliotecas e quanto o tempo de
estudo rendia mais do que em casa. Esta foi a parte boa da história. A ruim é
que eu saía de casa às 8 horas da manhã e passava o dia todo na biblioteca.
Saía de lá quando fechava, já de noite, ou às 5 horas da tarde, direto para o
curso, nos dias em que havia aula de matérias específicas para o ISS.
Retornava perto de 11 horas.

Com isso, só via as crianças pela manhã, antes de irem para a escola, e
depois no outro dia, pela manhã, porque quando chegava elas estavam
dormindo. Era muito ruim para todos nós, mas penso que foi o menorzinho
quem mais sofreu. Ele era muito pequeno e ficava difícil explicar por que eu
“desaparecia” de casa. Ele se agarrava às minhas pernas e chorava, pedindo
para eu não ir para a “minha escola”. Perguntava se quando ele chegasse em
casa da escola eu estaria ali. E eu tinha de dizer que não estaria, que precisava
estudar porque um dia ia “escrever umas coisas” (não havia como explicar o
que era uma prova) e depois a gente ia ganhar muito dinheiro, eu ia comprar
brinquedos, passear com ele, comer em restaurantes.

E ele ia para a escola e eu, para a biblioteca, com o coração despedaçado.

No fim da tarde, eram os irmãos mais velhos que cuidavam dos menores,
davam jantar e os colocavam para dormir. Muitas vezes ligavam para mim,
porque o caçula estava chorando.
POR QUE PRECISO PASSAR?

Nos momentos de meditação, quando pedia proteção para minhas provas,


procurava mentalizar, com clareza, por que precisava passar.

Preciso:

. sustentar meus filhos;

. recuperar minha dignidade;

. ter serenidade para viver;

. ser uma pessoa mais equilibrada para minha família;

. honrar meu compromisso de mãe, sendo o apoio necessário ao


desenvolvimento saudável dos meus filhos;

. tirar tanta preocupação e peso dos ombros de meus pais;

. poder desenvolver-me em outros aspectos;

. ser feliz.

Com o tempo, descobri que a conexão com a minha real necessidade trazia
a proteção desejada. Quando estamos ligados à nossa essência, estamos
também ligados ao Universo, e tudo trabalha na mesma sintonia, a nosso
favor.

É importante ter em mente que não estamos querendo somente o dinheiro


do salário. Aquele é o meio para conquistarmos coisas mais importantes em
nossas vidas. Se ele se torna o objetivo único e final de seus esforços, sua luta
desconecta-se de uma força maior e você segue sozinho. Torna-se mais árido
o caminho.
O DIA “D”: A PROVA...

Todo mundo sabe: acordar com bastante antecedência, alimentar-se bem,


sair de casa cedo e chegar com tranquilidade ao local da prova.

Verifique, de véspera, os documentos e o material necessário: cartão de


confirmação de inscrição, identidade, canetas, lápis, borracha (confirme antes
no edital o que é permitido). Sugiro levar água e algo leve para comer (maçã,
barra de cereais, biscoito). Um analgésico também pode ser útil, porque não é
raro o esforço da prova provocar dor de cabeça.

Vá com uma roupa confortável e fresca, e leve agasalho, porque pode estar
muito frio ou muito quente na sala – é imprevisível.

Na sala, se os lugares não estiverem previamente definidos, examine a


posição das cadeiras em relação a sol, ventilador de teto, ar-condicionado e
escolha o local que parecer mais adequado. Evite as cadeiras próximas à
porta, porque o entra e sai de gente para ir ao banheiro pode atrapalhar a sua
concentração.

Esses cuidados garantem que nada desvie sua atenção da prova, nem
comprometa o seu rendimento.

Enquanto aguarda o sinal, concentre-se. Se tiver alguma crença, reze.


Senão, busque sua inteligência plena, memória, atenção. Dê uma ordem ao
seu subconsciente para que tudo o que estudou possa estar disponível no
momento necessário, de forma dinâmica para que possa ser manipulado
conforme a solicitação da prova. Inspire e expire suave e profundamente
algumas vezes, buscando um relaxamento.

Imagine-se aprovado/a, com bom salário e feliz.


A ESTRATÉGIA DO GUERREIRO

Durante todo o tempo da prova, confie no trabalho que foi feito. Mesmo
que apareça uma coisa que você nunca viu, leia com calma e atenção e tente
relacionar com algo que conheça. Um bom recurso é “conversar” com a
prova, tentar perceber a intenção do examinador.

Cuidado com a letra, com as contas. Para não ser traído por uma
observação confusa, tente organizar as anotações. Vale até usar a carteira
como rascunho – se o edital permitir levar lápis e a carteira for de fórmica
clara. Quando acabar a prova, apague tudo, por uma questão de gentileza...

Normalmente, o tempo é um fator primordial na hora da prova. Algumas


pessoas dizem que é o maior inimigo. Prefiro achar que precisamos fazer dele
nosso melhor aliado. Se você tiver feito uma preparação correta, já terá
escolhido a melhor estratégia a ser adotada, ordem de matérias etc., conforme
sugerimos no capítulo “Enfim, o edital...”.

Com base nisso, considero mais proveitoso responder, na ordem de


matérias preestabelecida por você, a todas as questões em que não tenha
dúvida e que não vão tomar muito tempo (cálculos demorados, por exemplo,
ficam para depois). Ao lado das opções, acho interessante fazer algumas
anotações que possam ajudar a decidir posteriormente qual é a resposta
correta, e circundar as questões em que há dúvida, para, no retorno, ir
diretamente a elas.

Concentre-se numa questão de cada vez. É ler, marcar e seguir em frente.


Se precisar pensar, pule para a seguinte, sem preocupação. Desta forma, você
vai garantir o maior número de pontos com o mínimo de tempo. Se demorar
muito em questões trabalhosas e depois não houver tempo suficiente para
outras que talvez fossem simples, você pode perder uma preciosa diferença
em relação a outros candidatos.

Quando chegar à última matéria dê uma pequena pausa, alongue-se um


pouco e faça algumas respirações mais profundas para recuperar o equilíbrio.

E se houver redação? Talvez seja melhor fazê-la logo após essa primeira
“rodada” (salvo se não estiver conseguindo desenvolvê-la de jeito algum; aí é
mais prudente adiantar as questões). Porque, quando voltar para a parte
objetiva, já haverá certa tranquilidade de que tudo o que você sabe está feito e
a redação, pronta.

Foi até o fim da prova uma vez? Retorne, então, à primeira matéria
escolhida, com a consciência de que garantiu muitos pontos. Siga,
novamente, até a última matéria, sem reler aquilo a que respondeu com
segurança da primeira vez. Dedique-se às questões que dependem de você
pensar um pouco mais, mas que não tomarão muito tempo. Por vezes, é só
uma questão de compreender melhor o enunciado. A serenidade de já ter feito
boa parte da prova torna o seu olhar mais preciso e a mente mais atenta.
Muitas vezes, esta segurança é suficiente para enxergarmos coisas que
haviam passado despercebidas na tensão do primeiro momento. Dedique-se,
também, às questões mais trabalhosas, mas às quais você sabe responder.
Siga até o fim da prova.

Faça mais uma pequena pausa. Lembre-se de respirar calma e


profundamente. Se necessário, vá ao banheiro (é bom “sair um pouco de
cena”, para espairecer). Agora, com todos os pontos possíveis já garantidos,
enfrente aquelas questões (espero que sejam pouquíssimas) que você não tem
ideia do que sejam. Esse é o momento crucial: buscar no fundo da memória
algo que você um dia ouviu ou leu, tentar recompor a informação necessária.
Às vezes, brincar mesmo com a questão, fazer suposições (mesmo as
absurdas), sei lá. De alguma forma, encontrar um caminho para escolher uma
das opções. Se você fez uma boa preparação, dificilmente será um “chute
cego”. Use o bom senso, o tempo que tem, e escolha a opção mais razoável.
Vale rezar para melhorar as chances...

Lembre-se do tempo para marcar o cartão de respostas. Considero mais


seguro fazê-lo somente no fim da prova, uma questão por vez, com o máximo
de atenção e cuidado.

Eu costumo sair da prova esgotada, pálida, como se tivesse “deixado a


minha alma” lá. Afinal, é o momento de coroar todo o esforço feito
anteriormente.
E, sabe? Aprendi uma coisa: o importante, ao terminar a prova, não é
somente o resultado. É saber se você fez o seu melhor. Porque errar coisas
que não sabia indica que precisa estudar mais. Mas, se houve realmente
dedicação ao estudo e não estava ao seu alcance ainda, não há por que se
cobrar. Agora, errar coisa que sabia é dureza. Dá uma tristeza enorme, porque
você sabe que tinha condições e não fez. E aí? Talvez seja o caso de perceber
que você necessita preparar-se melhor para o momento da prova. Também é
uma estrada a ser trilhada e requer alguma experiência. Procure não se
recriminar e use essa falha como um alerta sobre quais pontos precisam ser
trabalhados.

É isso, então. Como vimos, para conquistar a aprovação num concurso é


necessário ter o conhecimento adequado, mas não é o suficiente. O
amadurecimento de como fazer a prova pode colocar um candidato menos
preparado em melhores condições do que aquele que sabe toda a matéria, mas
não estabelece uma estratégia eficiente na hora de demonstrar seu
conhecimento. Precisamos cuidar para que tudo trabalhe a nosso favor, e
possamos sair da prova com a certeza de ter empenhado todos os nossos
recursos na direção do melhor resultado.
2002 29 DE SETEMBRO ISS – 1ª PROVA

MATÉRIAS

. Direito Constitucional . Direito Administrativo . Direito Tributário .


Direito Civil

. Direito Penal

. Direito Comercial . Ética do Servidor Público Eu ainda estava terminando


o módulo de Civil, comecei a cursar o de Penal e tinha feito um compacto de
Comercial na época do concurso para Niterói. Arranjei o caderno de uma
colega que havia feito o módulo completo de Comercial e revisei a matéria
por ali. A matéria de Ética era pequena e foi dada numa aula específica.

No mais, era aprofundar os Direitos (Constitucional, Administrativo e


Tributário), conhecer bem as leis, fazer muitos simulados, errar muito. Achar
que sabia tudo e depois perceber que ainda tinha um longo caminho pela
frente...

Descobri a maravilha que é fazer um planejamento com datas, para não


chegar à semana da prova sem ter visto toda a matéria. Pude conceder-me o
luxo de usar as duas últimas semanas para revisão.

Também descobri que, estudando com antecedência e objetividade, podia


partilhar o conhecimento com alguém (no caso, a Flávia) – cada um tem mais
facilidade num assunto e, no fim, todos ganham com a troca.

Na véspera da primeira prova eu pretendia dar “só uma olhadinha” na


matéria, mas terminei estudando o dia todo. A ansiedade era enorme e,
quando telefonei para desejar boa sorte à Flávia, disse-lhe: “Se tivéssemos
mais dois meses para estudar ‘os Direitos’, ficaríamos ótimas”. Esta era a
sensação: poderíamos saber muito mais. Lembrei-me de um professor que
disse que o candidato nunca vai para uma prova sabendo tudo. Então, tá.

Por via das dúvidas, deitei na cama às 8 da noite com o Código Tributário
Nacional e a Constituição Federal. Resultado: reli todo o Sistema Tributário
na Constituição e todo o Código Tributário Nacional, com medo de esquecer
alguma coisa importante. Fechei o material às 11 da noite, com a cabeça meio
oca.

No dia da prova, estabeleci meu ritual. Acordava às 6 horas, tomava banho,


comia algo saudável (não experimente nada novo, para evitar contratempos
digestivos) e rezava. Saía com calma, a fim de não correr riscos no trajeto.
Busquei estar o mais zen possível.

Quando cheguei ao local da prova, já havia uma porção de ”flanelinhas”


(guardadores de carro) sinalizando as vagas. Procurei chegar mais perto e
aceitei a indicação de um deles. Quando estacionei o carro, feliz por ter
chegado a tempo, ele me cobrou a singela quantia de “dez real”! Eu disse que
não tinha, se tivesse não estaria fazendo prova num domingo, estaria na praia.
Ele deixou, então, por cinco reais e eu disse que só tinha quatro (e era
verdade). Ele resmungou que todo mundo ali estava cobrando dez, que eu ia
“quebrar ele”, mas deixava por quatro. E eu disse que não podia dar tudo,
porque ainda tinha de comprar água para a hora da prova... Conclusão: dei
três reais e quase apanhei do cara. Que desaforo!

Gosto de entrar logo na sala, para escolher o local mais fresco (as provas
aconteceram no Rio de Janeiro e em pleno verão). Levo barrinha de cereais e
água.

A espera é terrível, mas procuro ocupar minha mente com pensamentos


construtivos, e rezo muito.

Quando chega a prova, a adrenalina sobe ao limite, mas procuro respirar


profundamente. Esqueço o mundo. Também não gosto de dar uma olhada
superficial nas questões, para não me desestabilizar se houver algo que não
sei. Escolho a matéria por onde começarei e concentro-me em uma questão
de cada vez. Respondo ao que tenho certeza e não me preocupo com o que
não sei – ainda não é a hora.

Mas existem exceções: quando a prova vem com características diferentes


do esperado, torna-se necessário fazer uma avaliação prévia, a fim de
redefinir a estratégia e a divisão de tempo, se for o caso.

Continuando... Vou até o fim da prova, respeitando o tempo que estabeleci


por matéria. Dou uma espreguiçada (xi, é falta de educação...) e volto à
primeira matéria novamente. Não olho mais o que já marquei com certeza.
Detenho-me nas questões que geraram dúvidas: se decidir, marco. Caso
contrário, pulo.

No terceiro retorno é que vou “espremer os miolos” com o que não sei. Só
que, nesse momento, já garanti os pontos de tudo o que sabia. O tempo que
resta será para aquelas questões mais difíceis e para marcar o cartão de
respostas.

Aliás, destine tempo suficiente para o cartão, porque não tem a menor
graça perder questão certa porque marcou o cartão correndo e errou. Para ser
sincera, é um dos momentos em que fico mais tensa, totalmente alerta para
não me enganar.

Naquele dia, quando cheguei a casa, comi algo e caí na cama. Dormi
durante umas três horas seguidas.
RESULTADO DA 1ª PROVA 132º LUGAR

A concorrência nesse concurso foi tão acirrada que eu fiquei classificada na


faixa entre o 130º e o 197º colocados na primeira prova. Este era o número de
pessoas empatadas com o mesmo número de pontos!

Tive muito medo: ainda estava longe das cinquenta vagas e aquela era, a
princípio, a “minha” prova, já que sou formada em Direito.
2002 OUTUBRO PANE!

No dia em que as aulas específicas foram reiniciadas, já preparando para a


segunda etapa do concurso, eu estava muito fragilizada. Quando encontrei
com o dono do curso, desabei: “Estou tão cansada de lutar, sem dinheiro, é
muita pressão... É demais para mim, não aguento mais...” (as lágrimas
pulavam dos meus olhos...).

Ele me olhava atônito, sem saber bem o que fazer. Disse-me que poderia
contar com sua ajuda, que me acalmasse, tudo ia sair bem. Como não havia
mesmo outra opção, lavei o rosto no banheiro, respirei fundo e fui para a sala
de aula continuar a batalha.

Naqueles dias, o meu estado de espírito era de muita angústia. A


classificação entre os cento e cinquenta primeiros nada me garantia, e eu
temia não conseguir ganhar as posições necessárias nas duas etapas seguintes
para ficar dentro das vagas. Esse terror estava minando as minhas forças e
deixando-me abatida.

Certa noite, um amigo disse-me que, se estivesse na minha colocação,


estaria “devorando os livros”, dando o máximo, e mais: disse que me via
“fiscal”.
A sinceridade com que ele falou fez com que eu estremecesse. Acho que
ele foi porta-voz do meu anjo da guarda. Aquilo seguiu ecoando nos meus
ouvidos, e fiquei pensando no que poderia fazer para mudar meu ânimo
rapidamente (na verdade, naquela noite), a fim de não perder mais tempo.

Foi aí que decidi oferecer-me uma “carga extra” de energia e passei a tomar
complementos alimentares e antifadiga, além de correr na praia. Foi uma
virada! Parei de sofrer e decidi lutar até o fim.
2002 24 DE NOVEMBRO ISS – 2ª PROVA

MATÉRIAS

. Contabilidade Geral . Contabilidade Bancária . Finanças Públicas .


Legislação Tributária Municipal . Processo Administrativo-Tributário
Contabilidade Geral: meu “calcanhar de aquiles”. Comprei o livro indicado
pela banca e dediquei a primeira semana somente a isso. Depois fiz
intensivos de exercícios aos domingos.

Contabilidade Bancária: matéria totalmente nova, sem conexão com nada


que eu soubesse anteriormente – uma loucura!

Finanças Públicas: ouvi algo a respeito no concurso para Niterói, em


Contabilidade Pública. Mas, no geral, era tudo terrivelmente novo. Fiz um
módulo completo e mais um intensivo de fim de semana. Saía com vontade
de chorar.

Legislação: já havia feito módulo um ano antes. Era memorizar o máximo


possível e garantir muitos pontos.

Processo Administrativo Tributário: idem.

Detalhe: como seriam cinco questões de Finanças e Contabilidade


Bancária, havia o risco de “zerar” (dependendo de como viesse a prova) e ser
eliminada, mesmo fazendo boa pontuação nas outras matérias.
RESULTADO DA 2ª PROVA 77º LUGAR

Cheguei mais perto, mas ainda havia posições a conquistar. E somente mais
uma prova. Seria minha última chance naquele concurso.

Pode parecer maluquice, mas hoje agradeço a Deus por não ter sido
chamada para o Município de Niterói naquele momento. Isso me teria
afastado da batalha. Na verdade, a necessidade imperiosa de resolver a
questão financeira foi determinante para o meu empenho.

Nas vezes em que pensei em desistir, nas aulas de Contabilidade Bancária,


Finanças Públicas, quando tinha a impressão de que não sabia que língua era
aquela, via meus sonhos indo por água abaixo novamente. Parecia que a
empreitada era maior do que a minha capacidade. Aí, pensava em como
estava a minha vida, no que poderia conquistar e dizia: eu vou conseguir, eu
vou aprender!

Também não tinha mais o direito de desistir, porque não poderia devolver o
tempo, atenção, cuidados, de que havia privado minha família, nem o que
havia sido investido a um custo tão elevado, emocional e financeiramente.
Eles acreditaram em mim – também não ofereci alternativa –, e eu não podia
desapontá-los.
MAS NEM TUDO É TRISTEZA E
PREOCUPAÇÃO

Certa vez, um professor estava resolvendo uma equação matemática e um


aluno contestou a resposta final. Disse que fez as contas em sua calculadora,
“de onde tirava seu sustento há anos”, e o resultado era diferente. Mostrou
para a turma, orgulhoso, o número no visor da máquina. Realmente, parecia
que o professor havia errado. Ocorre que a poderosa calculadora não sabia
(tampouco o aluno) que equações matemáticas requerem certa ordem
hierárquica na solução das operações...

De outra vez, num desgastante sábado de simulado, assistíamos a uma aula


de Estatística, quando o professor que havia dado a matéria anterior pediu
licença para entrar em sala. Licença concedida, ele informou que já estava no
metrô quando se lembrou de uma pergunta que um aluno havia feito e ficara
sem resposta. Iniciou, então, uma minuciosa explicação, repleta de exemplos
e detalhes. O outro professor, bastante educado, já mostrava sinais de
impaciência. Afinal, o tempo de correção de simulado é cronometrado e
supercorrido. Muitos minutos depois, o professor “invasor” concluiu sua
dissertação e perguntou se conseguira dirimir a dúvida do aluno. Mas “onde
está ele”?
Acreditem: não estava. Tinha ido embora. A turma desabou em
gargalhadas.
E SE NADA DER CERTO?

Existe aquele dia em que você acorda com muita disposição, decidido a ter
um dia produtivo de estudo. Arruma-se, toma café e senta-se para estudar (ou
vai para a biblioteca). Pega a ficha da programação, vê a matéria, abre livros
e cadernos sobre a mesa e começa a ler. De repente, você percebe que já
passou três páginas e não se lembra de nada, nem sequer do assunto. Resolve
voltar. Lê em voz alta. Sente-se um papagaio idiota. O pensamento está
longe. Começa a se lembrar de tarefas e outras providências pendentes. O que
fazer?

Depende. Tente todas as alternativas que conhece: lavar o rosto, tomar


café, comer algo. Tente alterar a programação e fazer exercícios, em vez de
ler. Se continuar desconcentrado, relaxe. Escreva uma lista das coisas que
você tem para fazer. Às vezes, isso afasta os “ruídos” da mente e você
consegue voltar a estudar. Mas, se nada disso funcionar, ou existir algo
concreto tirando sua concentração, talvez seja melhor resolver as pendências,
mesmo usando o tempo de estudo. Ou sair para dar uma caminhada,
espairecer mesmo. Procure não se culpar. Volte, tome um banho (para mim,
pelo menos, é ótimo) e reinicie. Ou não. Há dias em que, simplesmente, não
dá. O estudo não rende de jeito algum. Então “pule” esse dia.
Só tenha cuidado para que isso não seja uma constante. Se estiver
ocorrendo sempre, você precisa tomar uma providência: procure rever seus
passos e verifique o que pode estar faltando para o seu bem-estar. Porque
senão os dias passam, o concurso chega e você não estará preparado.
CUIDADO, SR. EXAGERADO!

Tenho um amigo para o qual nada do que foi dito no capítulo anterior tem
aplicação. Ele sempre estudou muito, demais até. Sabia tudo de todas as
matérias. Quando pedíamos que nos tirasse alguma dúvida, dava uma aula
completa sobre o assunto.

O problema é que ele não sabia equilibrar, e não buscava algum lazer,
atividade física, relaxamento. Cobrava-se muito e permitia-se pouco. Graças
a Deus, isso não foi suficiente para prejudicar sua colocação no concurso,
mas houve momentos em que fez menos do que sabia e ficou assustado.

Se você tem esse perfil, gostaria que lembrasse: para darem o melhor
rendimento, seu corpo e sua mente precisam ser bem tratados. O tempo
dedicado ao cuidado da saúde (sono, boa alimentação, atividade física e
algum lazer) retornará multiplicado para o estudo sob a forma de atenção,
concentração, assimilação (com tantos “ão” perderia pontos em uma
redação).

Por outro lado, o corpo desgastado pode sabotar você no momento mais
inconveniente, ficando doente ou dando uma pane emocional na hora da
prova, por exemplo.
Portanto, reserve um dia por semana para sair, ver amigos, namorar, enfim,
fazer algo de que goste muito e, durante esse tempo, não se culpe, por favor!
Estará investindo no estudo da mesma forma.
2002 DEZEMBRO DIFICULDADES

Oito e meia da noite. Intervalo da aula. Toca o celular:

– Mãe, o Guido está chorando. Quer você. Fala com ele.

– Mamãe, vem pra casa. Eu não quero ficar com o Pedro – soluçava meu
filhinho de 5 anos.

Várias vezes, nos períodos em que tínhamos aula todas as noites, ele
chorava antes de ir para a escola, implorando para que eu estivesse em casa
quando ele chegasse.

Mas eu tinha de ir...

Uma noite, os mais velhos brigaram feio, chegando à agressão física. Os


pequenos ficaram assustados. E eu saindo da aula, tentando controlá-los pelo
telefone até que chegasse em casa.

E depois disso, como ir à aula e deixar os quatro sozinhos?

Tive de deixar.
FESTAS

NATAL?

Aquela foi a primeira vez, desde que tive meu primeiro filho, em que não
armei árvore de Natal. Nem uma bolinha, uma luzinha, uma bota de Papai
Noel.

O apartamento para onde eu havia mudado era pequeno para nossa família,
então levei somente o essencial. Enfeites e árvore de Natal ficaram, junto
com tantas outras coisas, no sótão da casa de minha mãe. Não podia dispor
do tempo necessário para localizá-los e, como só parei de estudar no próprio
dia 24 de dezembro, não consegui arranjar nada de decoração. O máximo que
consegui foi “inventar” uma lembrancinha para as crianças.

E foi assim mesmo o nosso Natal. Sem cara de Natal. Paciência.

E RÉVEILLON?

Em dezembro daquele ano, quando as pessoas perguntavam o que faria no


réveillon, eu respondia:

– Vou passar em casa, dormindo.

A cara de pena era inevitável, mas eu completava:


– Estou no meio de uma batalha; não posso parar agora. Preciso estar em
forma para retomar o estudo no dia 1º. Além disso, estou preparando meu
próximo Ano-Novo!
2003 JANEIRO 2ª PANE

“Estou com medo”, disse assim que sentei na sala de estudo da biblioteca.
Eu simplesmente me debrucei sobre a mesa e comecei a chorar
convulsivamente. Era uma quinta-feira e a última prova do concurso
aconteceria no domingo. Leo (meu parceiro de estudo) fechou a porta da
salinha a fim de preservar o silêncio, porque eu não parava de soluçar. Ele
tentou me encorajar e me acalmar. Eu ouvi atentamente o que ele falou,
respirei fundo, mas não havia jeito de parar de chorar.

Assim, eu saí da biblioteca e fui para o pátio, onde me escondi junto ao


tronco de uma mangueira enorme. Ali fiquei por um bom tempo ainda
chorando, pensando que estava a tão poucos dias da prova. Seria a última
oportunidade para eu conquistar a minha vaga e acabar com todo aquele
tormento. Claro, porque àquela altura eu já estava há seis meses sem
trabalhar, com toda a minha vida voltada apenas para aquele concurso. Eu
não podia fracassar e estava apavorada.

Só quando me concentrei e rezei, buscando forças e equilíbrio, é que


recuperei a serenidade. Levantei, lavei o rosto e voltei a estudar.
2003 12 DE JANEIRO ISS – 3ª PROVA

MATÉRIAS

. Língua Portuguesa . Matemática . Matemática Financeira . Estatística .


Redação Português: adoro! Aprofundei-me mais um pouco em alguns pontos
da matéria e me rendi a algumas “decorebas”. Fizemos exercícios de
interpretação em provas anteriores da mesma banca.

Matemática: não lembrava quase nada: frações, áreas etc. Leo começou
desde os conceitos iniciais para que eu pudesse “tirar a poeira” de anos.
Tenho bom raciocínio, mas sou dispersa nas contas, obstáculo que exigiu um
enorme esforço para ser superado. Fiz centenas de exercícios para acostumar-
me e ganhar agilidade. Tempo, nesta última etapa, era problema.

Matemática Financeira: o.k.; já tinha passado meu “calvário” nos tempos


do Básico Fiscal e agora era matéria relativamente tranquila. Exercitar,
aprofundar.

Estatística: não sabia nada. Peguei material emprestado e dediquei a


primeira semana a familiarizar-me com o assunto. Depois tive, praticamente,
aulas particulares com a Flávia, além de assistir ao módulo com teoria e
exercícios. Consegui aprender o essencial, mas não poderia vir nada muito
complicado na prova.

Redação: colhemos várias “receitas de bolo” para não perdermos pontos


por causa da forma. Tenho letra péssima e tive de treinar algo mais legível.
Discutimos alguns temas e fizemos algumas redações para o outro criticar.

Foi a etapa que ofereceu o maior desafio, porque havia duas matérias –
Estatística e Matemática – que a maioria dos outros candidatos dominava e eu
não, o que me deixava em desvantagem.

Além disso, era a última prova. Depois não haveria como recuperar
posições, e eu precisava subir na classificação para chegar aos cinquenta
primeiros.

E mais: agora, eu já tinha seis meses de dedicação exclusiva e absoluta a


esse concurso, e sabia que tinha chances. A vontade era muito grande, mas o
medo também. Por isso, a batalha contra o tempo era minha preocupação
constante. Foi meu pior período nos simulados. Eu não conseguia fazer todas
as questões, porque ainda estava muito lenta em Estatística e Matemática.
Saía do curso arrasada aos sábados.

Mas eu não desisti. Ao contrário, dediquei-me com mais afinco aos


exercícios, para ficar mais rápida. Por causa da dificuldade, priorizei essas
matérias, mesmo nas semanas de revisão. (Veja tabela na página 60.) Tracei
com muito cuidado a estratégia para o dia da prova: primeiro Português, para
garantir pontos; depois Estatística, porque seriam cinco questões somente; em
seguida, Matemática Financeira; e, por último, Matemática. Logo após a
primeira passada geral na prova, fazer a redação.

Quando entregaram a prova, bati logo o olho no tema da dissertação:


Moda. Fiquei em estado de choque. Estava preparada para redações técnicas,
não para aquilo! Enfim, depois de algumas tentativas e abandonos, consegui
escrever algo razoável, no formato exigido, sem me estender demais (para
falar a verdade, o mínimo possível), porque tinha medo de que não desse
tempo para passar a limpo com letra boa – o que era um sacrifício, dava
cãibras na mão. Depois, voltei ao início da prova, ainda com bastante tempo
para fazer as questões mais difíceis. A serenidade de já ter feito o que sabia –
inclusive a redação – foi fundamental naquele momento.
RESULTADO DA 3ª PROVA 55º LUGAR

Fiquei gelada! Estava pertinho das cinquenta vagas, mas não dentro delas.
Faltava a nota da redação.

Rezei muito, muito, pedindo que a redação pudesse jogar-me para dentro
dos cinquenta primeiros. Sabíamos que até o centésimo deveria ser chamado,
mas não no primeiro momento. E a pressão que eu vivia era enorme. A
criatividade para fazermos malabarismos de sobrevivência estava no fim. Os
recursos esgotavam-se e não sabia mais o que fazer...

*****

Eu não tinha internet e ficava aguardando notícias pelo telefone. Dias


depois, ligou-me um amigo e perguntou se eu já sabia. Não, eu não sabia.
Aliás, do quê?

– Saíram as notas das redações: você tirou a maior nota, disparado! Foi
para quinto lugar na classificação final!

Quase morri! Então eu tinha vencido! Não conseguia entender bem o que
estava acontecendo. Fiquei meio paralisada, com medo de acreditar.

Agradeci muito por sempre ter gostado de ler e escrever. Bendito vício!
DEPOIS DE TUDO

Houve momentos muito especiais em todo aquele tempo de batalha.


Descobrimos o prazer de estudar nas bibliotecas, em dupla ou grupos, e
éramos felizes. Criamos laços afetivos que permanecem até hoje, porque
foram construídos na adversidade e no companheirismo.

Também houve dias terríveis, em que o cansaço era quase insuportável e o


medo ameaçava dominar totalmente. Um dia, eu estava dirigindo e, de
repente, não reconheci o local onde estava – próximo à minha casa, por onde
passava quase diariamente. Outra vez, fazendo uma conta, não conseguia
subtrair 4 de 6! Pane mental. Assustador!

Este é um resumo do que foi a minha maratona até a aprovação. Acredito


que algumas pessoas passam por dificuldades mais severas e outras têm uma
trajetória mais amena. Mas, o que observo depois que passei para o “lado de
cá” e tornei-me consultora em concursos é que todos enfrentam mais ou
menos as mesmas dificuldades e fases durante a preparação. A diferença é
como cada um lida com o que vê pela frente. Falta de tempo, de dinheiro,
dificuldades em compreender alguma matéria, reprovações, concursos
adiados, suspensos, tudo isso, de um jeito ou de outro, faz parte da vida de
quem busca uma vaga no serviço público.
Quem sobe no podium da vida (e dos concursos) não teve menos
dificuldades; soube lidar com elas.

Assim, o importante é ter sempre em mente o objetivo final – a aprovação –


e priorizar o estudo acima de quase qualquer coisa (exceto questões
absolutamente inadiáveis, como problemas de saúde na família).

Desde que possível, envolva as pessoas queridas e deixe-as a par de como


está o seu progresso; elas ficarão felizes por participar do projeto. Há
momentos em que é inestimável saber que temos torcedores sinceros.

Cuidado apenas com as expectativas – suas e dos outros. Porque você vai
conquistar o que deseja, é somente uma questão de tempo e persistência. Mas
não coloque sobre você mais pressão do que a inevitável nem culpa por
alguma eventual reprovação. É projeto de médio/longo prazo. Prepare-se, e
também os outros, para isso.

É claro que cada pessoa tem sua trajetória. Nem tudo o que serviu para
mim se adequará a você. A minha intenção é que, nos momentos mais
difíceis, em que parece que nada está dando certo, você possa ao menos
lembrar que outras pessoas passaram por isso. E venceram.

Acho que ficou claro que eu não tive um caminho linear, arrumadinho.
Foram subidas e descidas constantes até encontrar o passo certo. Você
também pode.

Hoje, olho para trás e vejo com orgulho o que vivi. Os tempos de
dificuldades foram extremamente dolorosos em alguns momentos, mas eu
não seria hoje o que sou se não tivesse passado por tanta coisa. Foram
oportunidades de aprendizado e crescimento que me permitiram
redimensionar a vida. Deram-me a certeza de que sou capaz de enfrentar
adversidades. Também me trouxeram a humildade para aceitar situações que
não podemos mudar de imediato. Descobri que elas trazem sempre um
ensinamento que, quando compreendido, permite a transformação. Aprendi
que é preciso cuidar da terra e da semente, mas a natureza tem seu próprio
tempo de acontecer.

Eu, hoje, sou feliz com o que tenho, com o que sou. Na verdade, já me
sentia feliz enquanto lutava, porque havia descoberto a minha força. Já me
sentia agradecida pelos meus filhos, meus pais, meus amigos. Por isso, nos
momentos de equilíbrio, acreditava que minha hora de passar havia chegado.
Havia amadurecido e internalizado os ensinamentos. Só faltava concretizar a
questão material. Era receber a medalha e o passaporte para uma nova etapa
de crescimento, em relação a outras questões. Afinal, não era isso o que eu
estava buscando?

Procuro, ainda, compreender as pessoas e não julgá-las, mas uma coisa é


fato: não sinto muita pena dos outros, porque acho que sempre se pode
encontrar uma saída. Cabe à gente ter coragem de abrir os olhos e levantar.

Os caminhos estão aí, mas temos de dar os passos para percorrê-los.


10 ANOS DE TRABALHO

29 de julho de 2013: uma década após a minha posse. Muita gente pediu
que eu escrevesse sobre o que aconteceu na minha vida durante esse tempo.
Acho que é natural querer saber o que há depois que se rompe a faixa de
chegada da maratona.

Há o mundo. Sim, porque não é somente o dinheiro do salário, férias,


segurança. Tudo isso permite que você olhe para dentro e lembre – ou
descubra – seus desejos mais preciosos. E até ouse sonhar coisas que antes
seriam inimagináveis. E isso é, talvez, o mais bacana: o quanto podemos nos
realizar a partir do momento em que a questão financeira está equacionada.

A aprovação, na verdade, coloca um carimbo na autoestima da gente.


Depois de enfrentar e vencer essa maratona passamos a acreditar plenamente
na nossa capacidade de realização, e isso nos transforma diante da vida.

Talvez por isso, observamos muitos colegas fazerem outra faculdade


depois de aprovados, muitas vezes encantados com áreas de conhecimento
que descobriram durante a preparação e diferentes da sua formação original.
Alguns prestaram outros concursos, iniciando uma nova carreira. Houve
também quem descobrisse possibilidades completamente diferentes e
investisse em outras atividades, como hobby ou profissionalmente. Afinal,
agora podemos tudo!

Houve também – e não foram poucos – quem investisse cada vez mais em
aprofundar os conhecimentos necessários ao exercício da função pública.
Novas faculdades, mestrados, MBA e outros cursos são ferramentas
importantes para quem deseja galgar posições como servidor.

Outra coisa bacana é como o fato de termos experimentado uma mudança


de vida tão significativa nos motiva a também estimular outras pessoas a
fazerem o mesmo. Fica difícil compreender alguém que não esteja feliz com
a vida que tem e nada faz para mudar a situação.

Ainda lembro a sensação dos primeiros dias depois da posse. O “frio na


barriga” por começar a trabalhar num local totalmente novo, a curiosidade de
saber como será o dia a dia, quem serão os colegas, o chefe. Mas é muito
prazeroso saber que você está ali por mérito e que poderá realizar um
trabalho de qualidade, sem a pressão da competição que existe no mercado
privado nem o temor da demissão.

A esse respeito, é sempre bom lembrar a importância de trabalharmos com


comprometimento e seriedade e levarmos, efetivamente, nossos melhores
recursos e conhecimentos para o aprimoramento do serviço público. É para
isso que estamos ali e por isso somos bem remunerados.

Assim que descobri que não precisava mais estudar, fiquei um pouco sem
saber o que fazer com o tempo livre. Mas logo, logo descobri. Durante alguns
meses, tudo o que eu queria fora do trabalho era diversão. Combinei com os
meus filhos que criaríamos o hábito de celebrar. Celebrar a vida, os
acontecimentos, as datas importantes. Era preciso passar a limpo o tempo de
privações e marcar muito bem a mudança.

Mas, mesmo com um bom salário, eu era responsável por uma família de
cinco pessoas e tinha dívidas a saldar. Os primeiros tempos foram dedicados
a isso. Eu procurava construir a nova vida aos poucos, enquanto organizava o
que tinha ficado para trás.

Uma vez fomos a Cabo Frio e nos hospedamos em frente à praia para
apreciar o nascer do sol. Inscrevemo-nos todos (inclusive eu) para fazer aula
de surfe. Foi muito divertido e até eu consegui pegar onda em pé – tenho
fotos para provar. Essas bobagens tornam a vida mais leve.

Logo depois surgiram oportunidades de trabalho além do cargo público. Já


em dezembro de 2003 foi publicada a primeira edição deste livro. No ano
seguinte fui convidada para dar uma palestra na Feira do Concurso, no Rio de
Janeiro. Daí em diante, ministrei palestras em todas as feiras do Rio e
também em outras cidades. Era comum ser procurada para entrevistas sobre o
assunto em jornais e revistas e também para participar de debates e mesas
redondas. Eu tinha me tornado um case de sucesso e todo mundo queria
entender como eu tinha conseguido ser aprovada, com tantas condições
desfavoráveis.

Durante certo tempo, eu ministrei aulas sobre como otimizar o estudo e a


preparação, e atuei como orientadora individual de alunos em suas
maratonas. Isso me rendeu uma vasta experiência sobre as dificuldades e
dores enfrentadas pela maioria dos candidatos. Mais do que isso, era muito
gratificante poder, de alguma forma, ajudar pessoas que estavam passando
por situações que eu tinha acabado de vivenciar. Era simples abordar mesmo
os aspectos mais espinhosos que envolviam cada trajetória, porque eu
conhecia tudo aquilo na pele.

Atuei também como consultora de um grande curso no Rio, participando da


montagem de turmas, grades de horários e acompanhando os problemas que
surgiam: publicações de editais diferentes do esperado, o stress da
proximidade de uma prova, a insegurança dos alunos. Eu estava conhecendo
o mundo dos concursos pelo lado avesso, já não mais na posição de
candidata, mas de alguém que tentava minimizar as dificuldades que surgiam
no caminho daqueles que lutavam por uma vaga.

Fiz muitas palestras, presenciais e teletransmitidas. Duas me marcaram


mais profundamente do que as demais. A primeira delas, na véspera da prova
de um concurso para o TRT-RJ. Era um cinema no subúrbio, em pleno verão
carioca, sem ar-condicionado. Quando iniciei a apresentação dos slides, pelo
fato de a tela ser gigantesca, as cores ficaram muito apagadas e as
informações, ilegíveis. Respirei fundo e perguntei: “Vocês estão
enxergando?” “Não!” foi a resposta. “Tudo bem, mas eu estou!” E segui
adiante, usando os slides apenas como roteiro para mim. Eles vibraram
durante a minha exposição, aplaudiram e gritaram “uhu!” como nenhuma
outra plateia que eu já tive.

A outra, anos depois, uma plateia de – pasme! – 2.300 pessoas. Tremi. Mas
logo fui recuperando a serenidade e, quando percebi, estava conseguindo
mobilizá-los como costumo fazer nas minhas palestras. Gosto quando as
pessoas riem e se emocionam alternadamente, porque sei que consegui tocá-
las de verdade. Quando acabei e agradeci, as pessoas começaram a aplaudir,
as da frente ficaram de pé, as seguintes, as outras e todo aquele mar de gente
ficou ali, de pé, batendo palmas. Eu não conseguia sair.

Mas o meu tempo estava de novo desaparecendo. Naquela época eu era


fiscal de rua, o que significa que podia administrar o tempo como desejasse.
Então, sempre que podia eu usava parte do dia para cuidar dos meninos,
acompanhar os deveres escolares e exercer, finalmente, o meu papel de mãe.
Quando me dei conta, estava trabalhando durante as noites, madrugadas e
fins de semana, para dar conta de tudo. Algo estava errado. Mais uma vez,
precisei repensar o caminho que estava trilhando e fazer novas escolhas.
Afinal, eu tinha assumido um compromisso com os meus filhos (e comigo
também).

Reduzi o número de palestras e deixei o trabalho no curso. Durante um


tempo, atuei como colunista na TV Boas Novas, gravando entradas semanais
no noticiário com orientações sobre concurso. Estava me tornando uma
especialista.

Paralelamente, fui convidada para ser colunista semanal na Rádio Roquette


Pinto, no Rio. A entrada era ao vivo, mas pelo telefone, então seria viável. E
eu adoro a dinâmica do rádio. Aceitei.

No início de 2009 passei a trabalhar interna na prefeitura, como assistente


de gerência, a pedido do meu chefe. Os meninos já estavam mais crescidos e
independentes, e achei que poderia ser interessante ter um horário regular de
trabalho para organizar as outras tarefas de forma mais disciplinada.

Encerrei a participação na Boas Novas no fim de 2009, com a retrospectiva


do ano.

Em julho de 2010 comecei o meu trabalho de colunista no portal G1 –


g1.globo.com. Foi um desafio a mais. Precisei aprofundar conhecimentos e
talentos para dar conta. Passamos a gravar também vídeos.

Com tanta exposição, tornou-se inadiável ter um canal de comunicação


com quem está buscando uma vaga no serviço público. As pessoas têm
dúvidas, pedem ajuda e orientação. Muitas vezes, querem apenas ser ouvidas
(lidas). Às vezes querem agradecer pela minha história, que os encoraja a
seguir adiante. Criamos o blog e, depois, os contatos no twitter e no facebook.
Sinto-me feliz por receber notícias de quem está na batalha e poder,
minimamente, ajudar.

Em 2012 fui homenageada com a Medalha Pedro Ernesto, que é a maior


honraria que a Câmara Municipal do Rio de Janeiro concede a um cidadão.
Foi uma noite de reconhecimento e valorização da instituição concurso
público e eu fiquei muito emocionada por estar ali. Tinha sido uma longa
caminhada.

É claro que cada uma dessas atividades dependeu de investimento pessoal e


dedicação. E, enquanto eu vivia um momento, não sabia o que viria depois.
Mas acho que cada etapa me preparava para a seguinte.

Quando eu estudava, buscando a minha vaga, jamais imaginaria o que


estava reservado para mim após a aprovação. Terminei construindo uma nova
carreira – consultora em concursos públicos – e abrindo caminhos para
tornar-me escritora – sonho que estava tão guardado que eu nem lembrava
mais.

Confesso que não é fácil dar conta de tantas atribuições. Há momentos em


que me sinto em falta com todos. São filhos, pai, mãe, amigos e amigas que
se queixam da minha falta de disponibilidade, as caixas de e-mail abarrotadas
de mensagens sem resposta, o blog sem a continuidade necessária, e a minha
vida pessoal... às vezes esqueço que existe.

Mas tenho conseguindo alguns progressos. Consegui manter na minha vida,


desde os tempos de concurso, a atividade física. Até porque eu sofro de
enxaqueca desde os 14 anos e a única coisa que reduz as crises é atividade
física pesada. Na época de concurseira, eu corria. Depois, ficou muito calor e
eu passei a nadar. Quando o inverno chegou, resolvi fazer kung fu e pratiquei
durante alguns anos. De todas as atividades, é a mais prazerosa para mim.
Precisei suspender por diversos motivos e agora vou à academia. Qualquer
dia desses encontro um jeito de voltar.
O fato é que, aos poucos, a vida vai indo para o lugar e eu consigo
equilibrar tudo de uma forma mais saudável. É uma questão de organização e
prioridades.

Depois de tantas experiências diferentes, fica claro que a aprovação não é o


fim da estrada, e sim o começo de um novo ciclo. O concurso não precisa ser
um fim em si mesmo, mas a abertura de um portal para novas possibilidades
de vida, mais intensas e verdadeiras.
E BEM DEPOIS...

Ainda hoje, tantos anos passados, agradeço todos os dias pela vida que
conquistei. Em diversos momentos, tanto eu quanto meus filhos nos pegamos
observando o que temos agora e apreciando o quanto a vida mudou.

São pequenas coisas, como quando fomos à Bienal do Livro e nos


sentamos na praça de alimentação. Cada um escolheu comer uma coisa
diferente, e eu, de repente, olhei para eles com os olhos cheios d’água. Como
era bom saber que eles podiam comer o que desejassem, sem racionamento,
sem maiores preocupações!

São coisas maiores também, como ter ido à Europa duas vezes, poder ter
um carro do tamanho da família, morar em um apartamento melhor.

São coisas ainda maiores, como ver os filhos mais velhos caminhando em
suas profissões, buscando seus passos na vida e saber que posso dar o suporte
necessário à sua formação em todos os sentidos; perceber que sou mesmo
uma pessoa melhor, mais inteira e equilibrada.

E, ainda, algo tão grande e tão simples como me saber feliz nas novas
batalhas que a vida apresenta, ou que eu mesma busco, ou ambas as coisas.
Saber que o caminho percorrido me serve para ajudar quem vem depois e que
o desconhecido me desafia e encanta.

Mas, de tudo, o mais gostoso é olhar nos olhos de cada filho e ver que não
ficou uma marca ruim dos tempos difíceis.

Aprendemos, todos, muita coisa e é perceptível o orgulho que eles sentem


pela minha coragem. Talvez seja a melhor herança que deixarei para eles: a
certeza de que é possível construir a vida que desejamos com empenho e
coerência. E que ninguém – senão nós mesmos – é responsável pelas nossas
escolhas.
Este cartão eu ganhei do meu filho mais novo quando ele estava com 11
anos. Foi a minha redenção – eu tinha feito a escolha certa!
TUDO NOVO DE NOVO!

O tempo segue passando e já lá se vão mais alguns anos. Em 2018, cumpri


todos os requisitos para a aposentadoria, e decidi que era hora de mergulhar
em um novo ciclo da vida, que me chamava há tempos. Foram alguns meses
de reflexões de “vou”, “não vou ainda”, porque haveria perda financeira. Até
que se tornou claro para mim que, se não fosse, perderia vida.

Explico. Minha mãe tem 89 anos; meu netinho, 1 ano e meio. São situações
que se transformam rapidamente e que eu não quero perder. A presença
física, nesses casos, é essencial. Além disso, existe a minha vida, que esteve
quase sempre na corda bamba, em precário equilíbrio, espremida entre
tarefas.

No total, foram mais de 35 anos de trabalho, sendo 30 deles no serviço


público. Cumpri todos os requisitos e tenho certeza de que contribuí
financeiramente (e ainda continuo contribuindo) para o que vou receber.

Trabalho desde os 19 anos, sempre com múltiplos afazeres e funções.


Estava sempre correndo atrás de alguma coisa, um prazo, uma tarefa. Meu
dia tinha 48 horas. Eu dava conta, mas isso tinha alto custo pessoal.

É chegada a hora de mudar o padrão. Resumindo: é chegado o tempo de


olhar para mim.

Esse ciclo de mudanças se aprofundou em 2013, quando comecei a fazer


uma formação em terapia reichiana. A intenção era melhorar minhas relações
pessoais e com o mundo (lembra que era parte do projeto?). Foram cinco
anos de descobrimentos (literalmente, tirar o que cobria) e de transformação.
Olhar quem a gente é de verdade pode ser doloroso em alguns momentos,
mas é profundamente libertador e gera muitas possibilidades.

No terceiro ano da formação, percebi que todo aquele conhecimento era


valioso demais para ser limitado ao meu uso somente. Bem, eu sou uma
comunicadora por natureza. Gosto de espalhar aos quatro ventos as coisas
bacanas que aprendo.

Com isso, resolvi fazer a graduação em Psicologia (minha formação


original era Direito) a fim de poder falar sobre o assunto de forma mais
legítima. Busquei informações sobre as faculdades e descobri que havia a
possibilidade de reingresso na universidade e, melhor ainda, que a UFF
costumava disponibilizar vagas uma vez por ano.

Aqui vem a parte que mais interessa a você, já que é o tema prioritário
deste livro: o acesso à universidade nessa modalidade se dá por meio de
concurso público.

O edital não tinha data certa para ser divulgado, e eu coloquei um lembrete
no celular para verificar toda 2ª feira se tinha saído alguma coisa. Já tinha
examinado o do ano anterior para entender mais ou menos como funcionava,
número de vagas, conteúdo cobrado, etc.

No dia 20 de dezembro de 2016, foi publicado o edital. Uma vaga de


reingresso para Psicologia. Uma vaga.

Seriam 40 questões de múltipla escolha, sendo 20 de português e 20 de


filosofia, cada questão valendo 5 pontos. Ainda teria uma redação, que
também valia 100 pontos.

Minha avaliação do edital:

português – é ok para mim;

filosofia – nunca estudei na vida;

redação – sempre gostei de escrever.

Eu nunca li um edital tantas vezes. A minha graduação era de décadas


atrás! Temia que o meu diploma não fosse aceito para reingresso, que
houvesse um item limitando o prazo para esse retorno à universidade. Li e
reli o edital mil vezes, marcando o que era importante e riscando o que não se
aplicava à prova de reingresso. Aparentemente, não havia impedimento.

Estávamos a 4 dias do Natal e meu netinho poderia nascer a qualquer


momento.

O Natal passou. Nas duas semanas seguintes, fiquei envolvida com um


problema sério de saúde de uma pessoa muito próxima. No dia 13 de janeiro,
nasceu o bebezinho que inundou o meu coração de amor. No dia 16, eu
passei pelo término de um relacionamento. Ou seja, até ali eu não tinha
conseguido focar no concurso nem estudado uma linha sequer. A prova seria
no dia 05 de fevereiro. Uma vaga.

O fim de semana era o limite para eu tentar alguma coisa ou desistir de vez.
Faltavam 15 dias para a prova. Paralisei todos os acontecimentos externos (e
internos) e decidi usar todos os recursos de que eu dispunha, apesar de a
chance ser bem pequena. É possível fazer essa blindagem emocional, apesar
de não ser recomendável; use somente em casos extremos, quando for preciso
e realmente importante agir de forma imediata.

Comprei a versão digital do livro indicado como bibliografia para filosofia.


Descobri que não daria tempo de ler tudo e ainda estudar o conteúdo. Olhei
os tópicos do edital e percebi que alguns itens eram títulos de capítulos do
livro. Por absoluta falta de tempo, só li esses. Fiz fichas-resumo muito
simples com o que constava do programa. Quinze folhas de A4, numeradas,
com realces em amarelo e detalhes em vermelho.

Examinei o que seria cobrado em português. Pulei o que sabia com


segurança (e não daria tempo de estudar) e fiz fichas do que não lembrava
bem para não perder ponto bobo – utilizei 6 folhas de A4.

Adiantei o que pude no fim de semana e usei os poucos dias (noites, porque
estava trabalhando durante o dia) que tinha lendo o livro, preparando as
fichas, resolvendo a prova do ano anterior, revisando, revisando, revisando.
Sendo bem sincera, eu não achava que ia conseguir. Era uma vaga. Mas iria
até o fim.
No dia, fiquei nervosa como em qualquer concurso. Respirei. Usei a
experiência de concurseira ali também. Marquei o cartão com cuidado.

Saiu o resultado: gabaritei as duas provas objetivas(!) e tirei 90 na redação.


Fiquei em primeiro lugar. E era uma vaga.

Vale ressaltar que a minha aprovação não foi definida pela matéria em que
eu me sentia mais segura: redação. Os quatro primeiros classificados tiraram
a mesma nota na discursiva. Acertar todas as questões de filosofia (matéria
totalmente nova para mim) e de português garantiu a minha vaga.

A mesma situação havia acontecido no concurso do ISS, quase 15 anos


antes, em que a minha melhor nota foi na terceira prova, que continha duas
das matérias mais difíceis para mim.

Para a prova da faculdade, eu me dediquei o máximo que pude diante das


circunstâncias e da falta de tempo, mas é óbvio que eu não tinha um
conhecimento profundo de todos os conteúdos. A estratégia escolhida a partir
da cuidadosa análise do edital e da avaliação da minha situação foi
determinante para o excelente resultado.

Como prêmio, estou cursando a minha graduação, descobrindo o mundo


novo que existe “além da minha janela”. São muitas reflexões novas,
conhecimentos, textos, debates, mas, principalmente, experiências com
pessoas diversas, novos modos de ser, que me têm feito enxergar aspectos
que nunca considerei. É gente de toda idade, todo jeito, histórias únicas. Uma
riqueza.
Eu não pretendo parar. Sigo fazendo também outros cursos, porque esse
caminho me encantou. Nessa área, eu sou a minha própria ferramenta de
trabalho e preciso de uma formação continuada – é movimento constante.
Novas atividades profissionais já se desenham no horizonte, unindo os
concursos públicos e o conhecimento terapêutico, mas são apenas esboços
por enquanto.

Ainda assim, há algo muito diferente: o tempo. Agora, cada dia é um dia a
ser vivido. Tudo o que está sendo colocado na minha vida é uma escolha.
Cada passo, cada sim e cada não passa pelo meu coração. Respirar e sentir.
Quando não tenho clareza do que desejo, espero.

Estou descobrindo que há um tempo natural, em que as coisas acontecem


com menos esforço e mais prazer, quando a ação está conectada, integrada
com quem eu sou e com o que está fora de mim. Esse é o movimento que
prospera e gratifica de verdade.

Agora, escolhi viver e ser feliz. Faltava ticar esse item da lista.
UM PEDIDO OU UM DESEJO?

Nas páginas anteriores, eu procurei passar o que julgo que pode ser útil, de
uma forma direta ou indireta, para o seu sucesso nessa empreitada.

Decidi pôr essas informações em um livro porque considero que a


autonomia material (financeira) faz parte de um processo de evolução.
Vivemos neste mundo e é importante que sejamos capazes de gerar a riqueza
necessária para uma sobrevivência digna.

A prosperidade material traz uma serenidade que possibilita a busca da


evolução de outros aspectos de nosso ser.

Mas gostaria de acreditar, ou mesmo pedir, que quando você tiver superado
essa etapa do caminho, possa perceber a exata importância do dinheiro e a
real dimensão que você tem neste mundo. A fronteira que nos separa uns dos
outros e da natureza é mera ilusão. Na verdade, somos todos parte de uma
mesma criação, e cada passo ou gesto que fazemos interferem no todo, quer
tenhamos ou não essa consciência. Da mesma forma, quanto mais pessoas
estiverem equilibradas e felizes, melhor será a vida de todos nós.

Assim, procure uma forma de ajudar alguém a também conquistar sua


própria autonomia. Direcione um pouco de você para o bem-estar do planeta.
Busque ser uma pessoa melhor a cada dia. Se você desejar, sempre haverá um
caminho.

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