Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
1 Os Evangelhos de Santo Agostinho
2 O Codex Amiatinus
3 O Livro de Kells
4 O Arateia de Leiden
5 O Beato de Morgan
6 Hugo Pictor
7 O Saltério de Copenhague
8 Carmina Burana
9 As Horas de Joana de Navarra
10 Chaucer de Hengwrt
11 O Semideus de Visconti
12 As Horas de Spinola
Epílogo
Referências bibliográficas e notas
Créditos das imagens
Introdução
O Codex Amiatinus
c. 700
Florença, Biblioteca Laurenziana, Cod. Amiat. 1
O Livro de Kells
final do século VIII
Dublin, Trinity College, MS 58
Cheguei a Dublin para vê-lo bem cedo num voo matinal de Londres,
pois é quase como vir dos subúrbios, pegando no aeroporto o
ônibus que faz a conexão com o centro-sul da cidade. Era um dia
frio de outono, com nuvens altas num céu do mais pálido azul.
Entra-se no Trinity College passando por um arco num edifício
clássico chamado Regent House, para o que é praticamente uma
cidade em miniatura, com grandes casas e praças elegantes. Para
chegar ao Livro de Kells segue-se a sinalização indo em frente e
depois à direita, contornando o lado extremo sul do longo prédio do
século XVIII, o da biblioteca. Um pouco constrangido por minha
própria presunção, passei por fileiras de turistas, já fazendo fila ao
longo do calçamento de pedrinhas no lado de fora para entrar na
exposição do Tesouro. Entra-se no prédio e se sai dele pela livraria,
pois é um negócio muito sério, como os santuários de peregrinação
da Idade Média. Não há um balcão de informações visível, afora os
atribulados caixas. Vislumbrei um homem de uniforme e perguntei
aonde teria de ir para um encontro marcado com Bernard Meehan, o
guardião dos manuscritos. “Oh, eu o levarei lá”, ele disse, com
aquela irresistível cadência irlandesa. Suspeito agora de que ele
efetivamente tenha sido enviado para me esperar. Ele me conduziu
adiante, subindo pela escadaria principal, assinalada com um “Saída
apenas”, direto para o centro do Salão Longo — como é chamado
— da Biblioteca do Trinity College. Essa é a magnífica catedral para
livros em madeira polida, construída pelo arquiteto Thomas Burgh
em 1712-32, a princípio para 100 mil volumes, dobrando esse
número em meados do século XIX com um piso superior formado
por múltiplas galerias em mezanino, com livros em suas
encadernações de couro e ouro indo do chão ao firmamento. É de
perder o fôlego. Até o meu cicerone fez uma pausa, para permitir
que o efeito me penetrasse adequadamente. “O senhor já esteve
aqui antes, suponho?”, ele perguntou. Confirmei que estivera. Se a
Biblioteca de Babel de Jorge Luis Borges tivesse mesmo existido,
deveria ser algo como o Salão Longo do Trinity College.
Atravessamos todo o comprimento da sala, passando por bustos de
mármore e vitrines de exposição atrás de barreiras de corda verde,
até uma íngreme escada de madeira, como a de um veleiro, no
canto mais afastado à esquerda. “Cuidado com a cabeça”, disse o
homem cujo nome, eu soube depois, era Brian. Ele me levou
escada acima até um balcão, onde dois restauradores trabalhavam
a uma mesa, e daí à sala de leitura de livros raros que ficava na
extremidade oeste, assim como a sacristia de Kells. Havia várias
pessoas às mesas, algumas delas (não pude deixar de notar)
usando luvas obrigatórias. Dobramos à direita e depois de novo à
esquerda para o espaço aberto que constitui os escritórios da
biblioteca, onde surgiu Bernard Meehan, muito afável, para me dar
as boas-vindas. Ele tem uma barba grisalha muito bem aparada,
parece um pouco um amigável cão schnauzer de óculos. Todos
gostam dele. É o tipo de pessoa que fica se dirigindo a você
tratando-o pelo primeiro nome.
O Salão Longo na Biblioteca do Trinity
College, Dublin, construído no início do século
XVIII e ampliado no século XIX.
O Livro de Kells é tão precioso e tão imediatamente reconhecível
que não seria conveniente, explicou Bernard, permitir que viesse à
sala de leitura. Nenhum outro manuscrito é comparável, nem
mesmo o Très Riches Heures, do duque de Berry, em Chantilly, na
França. O Livro de Kells corre o risco de ser assediado, como um
astro famoso ou um chefe de Estado. As disposições de segurança
em torno dele são tão complexas quanto a proteção ao presidente
realizada pelos serviços secretos de uma grande nação. Quando leu
um rascunho inicial deste capítulo, fazendo observações que foram
muito úteis, Bernard Meehan pediu-me que não descrevesse com
muita exatidão o lugar em que examinamos os volumes do precioso
manuscrito. Não tenho intenção de fazer mistério, mas é claro que
levei em conta sua precaução. Só devo dizer, simplesmente, que
nós três fomos para um recinto seguro na biblioteca, onde não havia
possibilidade de uma interrupção acidental. Mais cedo, naquela
mesma manhã, Bernard providenciara a vinda, sobre rodas, de um
grande e queixoso umidificador, para que o ambiente, com
calefação central, chegasse ao nível ótimo de segurança para o
manuscrito. Claramente estava funcionando, pois a pequena janela
já se embaçava com a umidade. Levaram-me a uma mesa circular
com tampo verde, guarnecida de antemão com almofadas de
espuma, um termômetro digital e luvas brancas. “Estamos prontos”,
ele acenou para Brian, e os dois saíram juntos para pegar o primeiro
volume. Não posso negar que senti certa excitação, sentado ali
sozinho, esperando que voltassem. Já fazia mais de cinquenta anos
que eu manuseara meu primeiro e modesto manuscrito medieval,
com treze anos de idade, na Biblioteca Pública de Dunedin, na Nova
Zelândia. Eu me perguntei o que teria pensado então se soubesse
que um dia estaria em Dublin, prestes a conhecer o livro mais
famoso do mundo.
Malgrado a recomendação do Museu Britânico, em 1874, de que
não se interferisse em sua encadernação, de todo modo
inadequada, o Livro de Kells foi de fato reencadernado em 1953 por
Roger Powell (1886-1990), o mais famoso artesão encadernador
britânico de sua geração. Powell dividiu o Livro de Kells em quatro
volumes, em parte para que os diferentes Evangelhos pudessem ser
exibidos simultaneamente, e de modo que os displays pudessem
rodar e partes do manuscrito pudessem ser retiradas da exposição,
antes que ele retornasse ao olhar do público. Eu já tinha combinado
com Bernard Meehan que me contentaria em ver o livro que não
estivesse exposto no dia em que eu estivesse lá, não importava qual
dos dois fosse. Quando Bernard e Brian voltaram, estavam
carregando uma caixa fina com alça de couro, como uma pequena
maleta de madeira. Parecia ser muito pequena para um Livro de
Kells, mas foi só por um momento, antes de eu perceber que na
verdade ela deveria conter o primeiro dos volumes separados. As
caixas foram feitas por Edward Barnsley (1900-87), um marceneiro,
e aparentemente todas as quatro se empilhavam, uma sobre a
outra, como prateleiras de algo que se parecia com uma arca de
gavetas de uma casa de bonecas, que é o camdach do manuscrito
no Trinity College. As caixas parecem bandejas de madeira, cada
uma com uma tampa muito bem ajustada, afixada por uma longa
mola de cobre, que se solta torcendo. A pressão exercida pela
tensão da mola mantém os volumes firmemente fechados,
prescindindo de presilhas.
Bernard Meehan tirou esse primeiro volume e o pôs sobre a mesa
à minha frente. Ficamos olhando por um momento. Fechado, ele
mede cerca de 35 por 27 centímetros. A encadernação de 1953 já
parece estranhamente antiquada, num estilo de Arts and Crafts
semelhante ao que foi usado nos Evangelhos de Santo Agostinho,
que foi reencadernado quase na mesma época. As capas do Livro
de Kells são feitas de placas de carvalho cortadas em quarto,*
atualmente bem manuseadas no folhear dos livros. A lombada é
envolta em couro branco curtido com alume, preso às bordas por
parafusos de aço, por dentro e por fora. Folhas que precisaram de
reparo foram costuradas com um fio branco muito visível, seguindo
o princípio de que a costura, conquanto óbvia, é, na encadernação,
uma arte honesta e tradicional. As guardas e os reparos essenciais
usaram pergaminho branco e limpo, sem tentar disfarçar. Suspeito
que um encadernador hoje em dia procuraria usar técnicas menos
invasivas. O maior problema com que deparou Roger Powell foi que
umas 140 folhas estavam soltas ou precisavam com urgência de um
reforço em suas dobras internas. Para isso, essas folhas tinham de
ser presas a novos pedaços de pergaminho moderno. Isso, por sua
vez, significava que as beiradas internas dessas folhas tinham agora
espessura duplicada, o dobro da espessura do livro em sua beirada
externa. A solução usual de um encadernador seria descascar o
pergaminho nas dobras até ficar excepcionalmente fino, para
compensar o acréscimo de material. A Junta do Trinity College
negou o procedimento de modo categórico, insistindo em que nada
(nem mesmo sujeira) devia ser removido das páginas. Powell e a
Junta quase brigaram quanto a essa questão. Ele disse que ela
estava “errada, beirando o ridículo”. Acho que hoje devemos louvar
a precaução da Junta. No fim, a solução de Powell foi inserir
aglomerados de novas páginas de pergaminho entre os cadernos,
descascados em suas bordas internas até elas ficarem muito finas e
de espessura robusta nas outras partes. O resultado restabeleceu
os volumes no formato normal, mas o preencheu de um modo não
natural e arruinou por completo o prazer que o bibliófilo tem em virar
as páginas, pois está sendo sempre interrompido pelo choque de
deparar com folhas totalmente novas. É uma grande pena. Isso não
é perceptível a quem esteja vendo o manuscrito num mostruário de
vidro, ou estudando-o num fac-símile, ou em imagens digitalizadas
on-line.
Estojos de madeira projetados por Roger
Powell para os quatro volumes do Livro de
Kells, que mantêm os Evangelhos bem
apertados sob a pressão de uma mola de
cobre.
O Arateia de Leiden
início do século IX
Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat. Q 79
O Beato de Morgan
meados do século X
Nova York, Biblioteca e Museu Morgan, M 644
Que a voz do fiel soe forte, soe forte e ecoe! Possa Maius, embora pequeno
e esperançoso, rejubilar-se e cantar e ressoar e gritar! Lembrem-me,
servidores de Cristo, vocês que vivem no mosteiro do arcanjo Miguel, o
supremo mensageiro de Deus. Eu mesmo escrevi isso em honra do
arquigrande patrono, por ordem do abade Victor [ou “do abade dos
vitoriosos”, como veremos dentro em breve], e também por amor ao livro da
visão de João, o discípulo amado…
Antes de mais nada, Maius nos conta que ele mesmo ilustrou o
manuscrito. Isso não é tão inesperado num livro daquela época: a
clara separação entre a arte do escriba e a do artista não se tornou
de fato a norma até o século XI ou XII. Mencioná-lo é que é
totalmente incomum. Este é o mais antigo manuscrito conhecido do
Beato em qualquer ciclo de pinturas. Está nos dizendo que ele
mesmo inventou e concebeu as imagens? Soa como algo assim.
Afinal, ele teve a reputação póstuma de ser o “artista mestre” desse
texto. Pode ser que nesse manuscrito tenhamos um dos mais raros
momentos na história da arte medieval, quando um determinado
ciclo de composições é efetivamente criado, por um artista
conhecido, em vez de derivar de alguma tradição já existente. Além
disso, Maius nos conta por que fez isso: para fazer as pessoas
temerem o fim do mundo.
A sentença seguinte é difícil. Ele parece estar dizendo que está
suplementando o manuscrito sobre o Juízo Final com dois
acréscimos complementares, ou gêmeos, supostamente os que
agora se seguem ao comentário do Beato: o texto curto sobre graus
de parentesco, o De affinitatibus et gradibus de Isidoro, e depois o
bem mais longo comentário a Daniel, de Jerônimo. Outros, no
entanto, inclusive M. R. James, um latinista muito melhor do que eu,
considera essa menção como parte da data na qual Maius está
arrematando o manuscrito no ano duas vezes dois… e depois o
resto, que é três vezes trezentos mais três vezes vinte. Isso seria
então 4 + 900 + 60 (= 964) ou, se os dois gêmeos são textos e não
anos, mais simplesmente 900 + 60 (= 960). Contudo, Maius usa a
palavra “era”, o sistema unicamente espanhol de datação, que
estava 38 anos à frente da datação tradicional. Assim, subtraindo, a
data seria 926, ou, mais provavelmente, 922 d.C.
Isso seria crível, se Maius morreu em 968 (ele teria 25 anos
quando escreveu o manuscrito de Morgan e 71 quando morreu),
mas uma carreira de escriba de quase cinquenta anos é improvável,
sobretudo antes da invenção dos óculos de leitura, dos quais quase
todos nós precisamos após uma certa idade. No manuscrito original
há claramente um espaço com mais de dois centímetros antes das
palavras “ter terna”, que transcrevi acima após reticências. É
evidente que algo foi apagado. Não sei dizer se foi uma alteração
contemporânea do próprio Maius (o escriba desenhado por
Emetério usa uma pena e uma espátula de raspar), ou se alguém
como, digamos, o trapaceiro Libri retirou algumas palavras para que
o manuscrito parecesse ser ainda mais antigo do que é. A maioria
dos historiadores de manuscritos data hoje cautelosamente o Beato
de Morgan em algum momento entre a década de 920 e 968,
decerto por volta do segundo quarto do século.
Outros oito manuscritos subsistentes de comentários do Beato
podem ser atribuídos à segunda metade do século X, até o ano
1000. Todos recaem principalmente nas duas “famílias” de texto
relacionadas, quase sempre referidas como “IIa”, que inclui o
manuscrito da Morgan, e “IIb”, uma prima em primeiro grau, embora
não esteja muito claro se todo esse ramo descende da obra de
Maius no Morgan M 644, ou se ambas as famílias derivam de um
único avô comum que não mais sobrevive. Esse progenitor perdido,
se é que houve um, poderia também, é claro, ter sido feito por Maius
numa data anterior (como 922), e assim sua reivindicação de ter
inventado a iconografia não seria invalidada por completo mesmo
que M 644 não seja a fonte única de ambas as famílias.
Os manuscritos na família IIa incluem: Valladolid, Biblioteca de la
Universidad, de Valcavado, escrito pelo escriba Obecus, datado
entre 8 de junho e 8 de setembro de 970; Lérida, Museo Diocesá de
La Seu d’Urgell, inv. 501, segunda metade do século X, na Catedral
de Urgell em 1147; Escorial, Real Biblioteca del Monasterio, & II.5,
possivelmente de San Millán de la Cogolla, c. 1000; Madri,
Biblioteca Nacional de España, ms Vitr. 14-2, escrito e
provavelmente pintado pelo escriba Facundo, datado de 1047, que
pertenceu a Fernando I de Leão e Castela e a sua mulher, Sancha
de Leão (ambos m. 1065), um livro maravilhoso; e Londres,
Biblioteca Britânica, Add. MS 11695, escrito pelos escribas
Domênico e seu parente Núnio, iniciado c. 1073 e completado em
1109, na Abadia de Silos. Os da família IIb incluem: Madri, Archivo
Histórico Nacional, Cod. 1097B, escrito pelos escribas Mônio e
Sênior, pintado pelos artistas Mágio e Emetério, terminado em 27 de
julho de 970, que é o manuscrito de Tábara, com o retrato de
Emetério em sua torre, acima descrito; Gerona, Museu de la
Catedral, inv. 7 (11), escrito pelo escriba Sênior e pintado pelos
artistas Emetério e Ende, “pintrix” (uma mulher), terminado em 6 de
julho de 975, na Catedral de Gerona em 1078; e vários manuscritos
do século XII e início do XIII, inclusive o M 429 na Biblioteca Morgan
de Nova York, datado de 1220, a data mais tardia atribuível a
qualquer manuscrito do Beato, do mosteiro de Las Huelgas, em
Burgos.
Notem-se quantos desses manuscritos são efetivamente datados
e assinados por aqueles que os fizeram, inclusive um pintado por
uma iluminadora mulher, talvez uma freira. O registro dos nomes de
quem os fez, não tão comum em manuscritos, pode se dever ao fato
de que esses são textos sobre o Juízo Final, ocasião em que cada
um quer ser lembrado favoravelmente. A proporção altamente
incomum de datas exatas sugere também um texto para o qual
cálculos do milênio nunca estiveram longe do pensamento dos
patronos. O manuscrito de Valladolid preserva as datas em que foi
iniciado e terminado, mostrando que o escriba levou 93 dias para
escrever suas 230 folhas, excluindo os domingos, o que dá mais de
duas folhas por dia, um ritmo vigoroso.
No caso, o mundo não acabou no ano 1000. Alguns cronistas do
século XI, como Adam de Bremen, observaram com aparente alívio
que ele passou “feliciter”, sem causar danos. Byrhferth, monge da
Abadia de Ramsey, na Inglaterra, escreveu por volta de 1011 que “o
milésimo ano agora se completava, de acordo com os cálculos da
raça humana, mas isso ainda restava a ser determinado na
presença do Salvador”: talvez as somas dos anos de algum modo
não estivessem exatamente corretas. Houve a conclusão,
modificada, de que o milênio final talvez devesse ser previsto não a
partir da encarnação de Cristo, mas da data da Paixão, o que
suscitou uma ansiosa atenção ao ano de 1033. Este também
passou sem uma catástrofe apocalíptica. Os manuscritos tardios do
Beato sobre o Apocalipse são maravilhosamente exuberantes e
decorativos, mas falta-lhes aquele terror intenso e urgente que
conseguimos divisar pelos olhos de Maius no século X.
As expectativas apocalípticas não cessaram com Beato, e ainda
são recorrentes em nossa própria época. Apocalipse 12,6 descreve
a mulher com um filho homem, comumente identificados com a
Virgem e Jesus, fugindo para o deserto por um período de 1260
dias, antes da guerra no céu que, assim se prevê, marcará o fim dos
tempos. Segundo o princípio de que um dia é um ano aos olhos de
Deus, no ano de 1260 veio a lume uma torrente de Apocalipses
ilustrados, especialmente na Inglaterra, que se estendeu até cerca
de 1260 anos após a Crucificação (1293), quando esses
manuscritos começaram a ficar fora de moda. Reapareceram como
livros impressos por blocos** nos Países Baixos e na Renânia a
tempo da temida metade do milênio, o ano 1500, e Albrecht Dürer,
que nunca deixava passar uma momentosa oportunidade de
marketing, publicou sua incomparável gravura Apocalipse, em 1498:
ela propiciou sua fortuna. Todos nos lembramos do popular e
crescente milenarismo à medida que se aproximava o ano 2000.
Essa data também passou, até mesmo sem o colapso dos
computadores no mundo, como estava popularmente previsto. Um
dia, no entanto, o mundo vai acabar, não já (é a nossa esperança), e
todos os manuscritos de Beato de Liébana serão destruídos.
* A estrutura dessas primeiras folhas ainda é complicada, mas o alceamento ao longo das
duas partes parece ser: i5 [de 6, faltando ii após o fólio 1], ii4 [provavelmente de 6, faltando
i e vi, após fólios 5 e 9], iii6 [provavelmente de 8, faltando iv-v após fólio 12], iv8, v6 [de 8,
faltando iv-v após fólio 26], vi2 [de 8, faltando ii-vii, após fólio 30], vii3 [de 8, faltando ii-vi,
após fólio 32], viii-xi8, xii6 [completo], xiii-xvi8, xvii7 [de 8, faltando ii, após fólio 105], xviii-
xxi8, xxii6 [de 8, faltando ii e v, após fólios 144 e 146], xxiii8 [agora encadernado fora de
ordem, mas foliado corretamente], xxiv7 [de 8, faltando v, após fólio 161], xxv7 [de 8,
faltando vii, após fólio 170], xxvi-xxvii8, xxviii7 [de 8, faltando iv, após fólio 190], xxix7 [de 8,
faltando ii, após fólio 195], xxx7 [de 8, faltando viii, após fólio 208], xxxi-xxxiii8, xxxiv6
[aparentemente], xxxv-xl8, xli7 [aparentemente de 8, viii ao que parece faltando ou
cancelado, após fólio 293], xlii6; com números contemporâneos nas últimas folhas, do
terceiro caderno (fólio 15) em diante, com frequência seguidos da letra “q” ou “Q”
(quaternio).
** Block-books, livros impressos a partir de matrizes que eram blocos inteiriços, e não a
partir de tipos móveis, já existentes então. (N. T.)
6
Hugo Pictor
final do século XI
Oxford, Biblioteca Bodleiana, MS Bodley 717
Depois voltei, como devia ter feito no início, à parte frontal do livro.
As páginas de abertura são ilustradas espetacularmente, o que é
incomum para um texto tão rotineiro quanto um comentário
patrístico das escrituras. Eu de fato não estava esperando isso. O
primeiro reverso é um enorme frontispício de página inteira, como
esses retratos de evangelistas que prefaciam os primeiros Livros de
Evangelhos. Aqui a figura é do profeta Isaías, mostrado por inteiro,
sentado num banco sob um arco apoiado por pilares listrados feitos
de pedra, talvez num templo, tendo acima os telhados de uma
grande cidade, provavelmente imaginada como a antiga Jerusalém.
Numa demonstração de que o artista levou em conta a arquitetura
(o que deve ter acontecido, já que a Primeira Cruzada foi pregada
em 1095, e Jerusalém estava presente na mente das pessoas), ele
mostra a linha do horizonte da cidade santa entre domos
convenientemente orientais, embora encimados por cruzes pouco
apropriadas para a época de Isaías, que viveu lá no século VIII a.C.
O profeta tem um halo, como tem Esdras no Codex Amiatinus. Um
certo exotismo do Antigo Testamento é expresso por seu bizarro
cabelo penteado em tranças, partido no meio, que daria bom crédito
a qualquer rastafári. Seus braços estão abertos, como os de um
budista em meditação, e sustentam um longo rolo, cujas
extremidades o identificam inequivocamente, “ISAIAS P[RO]PHETA”, e
que tem escrito em todo o seu comprimento, em maiúsculas
vermelhas, “ECCE VIRGO CONCIPIET ET PARIET FILIUM, ET
VOCABITUR NOMEN EI[US] EMMANUEL”, “Eis que a jovem está
grávida e dará à luz um filho e dar-lhe-á o nome de Emanuel” (Isaías
7,14), para o cristianismo, a mais importante sentença no livro de
Isaías, citada em Mateus 1,23.
Ao lado, pois se trata de uma abertura em página dupla, há um
cabeçalho ornamental: “Aqui começa o [‘primeiro’, acrescentado]
livro de São Jerônimo, o Padre, sobre Isaías, o Profeta…” (mas em
latim, é claro), em três fileiras de iniciais ornamentadas em vermelho
e verde com uma figura de meia página que mostra dois corredores
de um claustro, com teto de telhas. Debaixo do primeiro arco há um
alto clérigo tonsurado, com um halo, com seu nome identificado em
cada lado de sua cabeça, “HIERONIM[US]”, Jerônimo, erudito bíblico
e tradutor e agora canonizado como um dos quatro grandes
doutores da Igreja. Eusébio Jerônimo (c. 342-420) nasceu em
Estridão, na província romana da Dalmácia — sua localização exata
é disputada entre as modernas Croácia, Eslovênia e Bósnia —, e foi
um dos primeiros eruditos cristãos verdadeiramente internacionais,
tendo passado algum tempo na Gália, Antioquia, Síria,
Constantinopla, Roma e Egito, antes de enfim estabelecer-se em
Belém. Ele aqui é apresentado como um padre vestido com uma
batina azul, e não como um cardeal, como é usual e
anacronicamente mostrado na arte ocidental do século XIII em
diante. (Não havia cardeais, no sentido moderno, antes do século
VIII.) Jerônimo aqui está escrevendo um longo rolo no qual estão
inscritas as primeiras palavras do prefácio de seu comentário sobre
Isaías. Este paira no corredor adjunto do claustro, onde é recebido
por aquela a quem é dedicado, Eustóquia [em latim, Eustochium],
que está sentada, também tem um halo e também é identificada
com seu nome em capitulares vermelhas. Santa Eustóquia (m. c.
419), mulher e freira, apesar da terminação neutra de seu nome em
latim, era filha da especial amiga de Jerônimo, santa Paula (m. 404);
as duas devotas acólitas do erudito tinham deixado Roma juntas e
mais tarde se estabelecido perto da casa de seu mestre, em Belém,
onde fundaram depois dois mosteiros. Isso é relevante quando
viramos a página. Nesse segundo reverso há a mesma abertura do
prefácio de Jerônimo, aqui completo. “Expletis vix longo tempore…”,
com uma complexa inicial “E” que ocupa meia página, preenchida
com figuras entre as folhagens. Descrições diversas do Bodley 717
têm sugestões diferentes sobre a quem poderia se referir. No texto
do prefácio dirigido a Eustóquia, Jerônimo lhe conta que, tendo
terminado não havia muito tempo de escrever exposições sobre os
doze profetas e o livro de Daniel, ele agora estava abordando
Isaías, uma vez que fora isso que prometera a Paula antes da morte
dela. Na parte inferior da inicial, dois homens estão, evidentemente,
sepultando santa Paula, na igreja da Natividade em Belém.
Jerônimo continua, escrevendo que ele também tinha obrigações
com aquele homem instruído, Pamáquio, cunhado de Eustóquia. E à
esquerda um santo tonsurado está escrevendo: com certeza é
Jerônimo outra vez, olhando com deferência para uma jovem mulher
e um homem no centro e na direita, de novo com halos, que devem
ser Eustóquia e Pamáquio.
O prefácio de Jerônimo anuncia que ele explicará o texto de Isaías
principalmente quanto ao que o profeta nos conta sobre a vinda do
Cristo, aqui proclamado como Emanuel, que nascerá de uma virgem
e se tornará o salvador de todo o povo. Diferentemente do Beato,
que versa sobre o Apocalipse e chega às raias do absurdo na busca
de camadas de significado ocultas e místicas que seu autor original
nunca poderia ter imaginado, Jerônimo é sensível e racional,
buscando saber não mais do que aquilo que Isaías de fato quis
dizer, palavra por palavra, e como suas palavras se aplicam ao
cristianismo. Jerônimo se vale de — e até mesmo exibe — seu
imenso conhecimento de línguas e sua experiência por ter traduzido
a Bíblia para o latim. Por exemplo, veja-se este comentário de Isaías
1,3, em que o Senhor fala ao profeta: “O boi conhece o seu dono, e
o jumento a manjedoura de seu senhor, mas Israel é incapaz de
conhecer, meu povo não é capaz de entender”. Jerônimo compara
com o texto da Septuaginta grega (“Israel não me conhece, e meu
povo não me compreende”) e com a extensão da metáfora no texto
hebraico (“Israel não conhece seu dono”, e “o povo não
compreendeu a manjedoura de seu senhor”). Ele observa que os
israelitas não são comparados aos cães, por exemplo, que são
animais inteligentes e domesticados, mas a bestas de fraco
entendimento. O boi que carrega o jugo da Lei representa os judeus,
e o burro com o fardo do pecado é um símbolo dos gentios. Ambos
são animais de carga e quem está sendo rejeitado por seu povo não
é tanto Deus, mas Cristo, que disse: “Vinde a mim todos os que
estais cansados sob o peso do vosso fardo…” (Mateus 11,28), e
assim por diante. Isso, hoje em dia, poderia ser um sermão
perfeitamente normal em qualquer igreja cristã.
Uma das questões mais controversas em todos os profetas
bíblicos é o que significa a predição de que o Salvador nascerá de
uma “virgem”, como profetiza o rolo apresentado no frontispício do
manuscrito. Jerônimo discute isso no livro III, capítulo 16. Está nos
fólios 29v-30r do manuscrito, e um leitor medieval traçou uma
hesitante linha que desce pela margem junto a essa passagem.
Embora a palavra usual para “virgem” em hebraico seja “betulah”,
Isaías usa “almah”, termo empregado ao longo da Septuaginta
significando simplesmente “jovem mulher”. Os judeus, portanto,
concede Jerônimo, negam que Isaías estava profetizando o parto de
uma virgem no sentido literal. Contudo, continua a explicar Jerônimo
longamente, citando não apenas múltiplas formas da palavra no
Antigo Testamento mas também a versão grega do Gênesis pelo
judeu convertido Áquila, no século II, que a palavra tem um segundo
significado em hebraico, indicando algo oculto, como uma virgem
cujos pais a mantêm escondida e que portanto nunca foi vista por
um homem, que é o significado de “almah” na língua púnica, que na
verdade deriva do hebraico, e assim por diante, caso em que era
realmente a uma factual pureza virginal que Isaías estava se
referindo. O escriba do Bodley 717 translitera as palavras hebraicas
para o alfabeto latino, mas depois desenha uma linha acima delas
para mostrar que são exóticas, assim como nós usamos o itálico. O
conhecimento multilíngue de Jerônimo é muito impressionante, até
mesmo pelos padrões atuais, e ele inspira credibilidade.
Frontispício com Isaías entronizado em Jerusalém, ao lado de um
retrato de meia página de Jerônimo escrevendo à sua discípula, a
freira Eustóquia.
Para um comentário bíblico, gênero que figura entre as classes
mais austeras de texto medieval, esse é excepcionalmente
suntuoso. A abertura do texto principal é marcada com uma grande
inicial que mostra Isaías profetizando para os israelitas, que são
reconhecíveis por estarem usando o Judenhut, o característico
chapéu pontudo usado pelos judeus medievais no Sacro Império
Romano. Cada um dos dezoito livros começa com uma grande e
elaborada inicial feita de inquietos caules de plantas e corolas de
flores, às vezes com dragões e leões, todos contra um fundo feito
de blocos preenchidos de cor. Cada página tem pequenas
capitulares em vermelho ou verde, algumas ornamentadas. É um
manuscrito muito ornamental e com aparência de ser muito caro.
Um aspecto interessante é que as margens das páginas parecem
nunca ter sido aparadas, e (especialmente) muitas margens
inferiores preservam as curvas naturais e as ondulações das bordas
da pele animal usada para fazer o pergaminho. Às vezes, no canto
exterior, nota-se o inequívoco arco formado pelo pescoço ou pela
espádua do bicho, e até mesmo as linhas onduladas paralelas onde
a beirada da pele foi esticada com força e suspensa durante o
processo de sua fabricação. A adivinha de Exeter aludia aos
estágios da feitura de um pergaminho, como o encharcamento com
água, o branqueamento ao sol, a remoção dos pelos e a raspagem
com uma faca. O princípio da preparação do pergaminho é que a
pele ensopada de água se descasca e se afina seguidamente à
medida que vai secando aos poucos, suspensa e esticada por todos
os lados com uma tensão considerável. Se a pele é de ovino ou
caprino, a raspagem toda é feita enquanto a peça está molhada. Se
é pele de bezerro, o pergaminheiro continua a raspá-la quando já
está seca, mas ainda esticada na moldura. Uma ilustração desse
processamento final ocorre no famoso frontispício de um manuscrito
de santo Ambrósio do início do século XII, que está na
Staatsbibliothek, em Bamberg. É uma vinheta que mostra um
pedaço de pele preso e esticado numa moldura de madeira,
enquanto um monge o raspa com uma lâmina curva especial presa
a um cabo. Esse implemento é chamado de “lunellum”. Pode
acontecer, de vez em quando, que a lâmina perfure acidentalmente
a superfície. Como a pele está sendo puxada com força em todas as
direções, mesmo uma falha pequena ou um talho acidental pode
sem dificuldade se alargar num orifício redondo ou oval. Podem-se
ver exemplos disso no Bodley 717, nos fólios 36 e 53, e em outros
lugares. No entanto, se o pergaminheiro for capaz de desamarrar e
afrouxar o pedaço de pele de sua moldura rápido o bastante, poderá
costurar o corte antes de ele ser esticado e se abrir mais. Há
reparos desse tipo no fólio 42, delicadamente costurado com linha
branca, e no fólio 188, com linha verde. São costuras sem dúvida
originais, feitas na oficina do pergaminheiro muito antes de as folhas
de pergaminho serem enviadas ao escriba. Essas costuras não são
raras em pergaminhos do período românico, mas ainda assim essa
prática nunca foi estudada sistematicamente, como merece, no
mínimo porque essa é a costura dos bordadores contemporâneos à
Tapeçaria de Bayeux. De todas as belas artes da Idade Média, o
trabalho com agulha é um dos menos preservados, exceto
(insuspeito e não registrado) em páginas de manuscritos como
esse.
Comentário de Jerônimo sobre Isaías 7,14, profetizando que uma
virgem daria à luz um filho, marcado embaixo à esquerda com
uma linha à margem e a anotação “contra iudeos”,
“contrariamente aos judeus”.
Desenho do início do século XII de um pergaminho de pele sendo
amarrado fortemente sob pressão, e um buraco no manuscrito de
Hugo Pictor causado por ter a superfície do pergaminho sido
cortada por descuido.
O Saltério de Copenhague
terceiro quarto do século XII
Copenhague, Kongelige Bibliotek, MS Thott 143 2o
Nossa atenção se volta então para a Abadia de São Vítor. Ela foi
estabelecida a leste das muralhas da cidade de Paris, em 1110, por
Guilherme de Champeaux (c. 1070-1121), o filósofo e professor de
Abelardo. Os agostinianos eram cônegos, não monges. Eles
interagiam com o mundo secular e estendiam seus estudos aos
temas laicos. Sem dúvida alguma, forneciam manuscritos. O Liber
Ordinis da abadia, espécie de livro de regras internas, menciona
escribas pagos para trabalhar em seu scriptorium. Desde sua
fundação, a casa de São Vítor em Paris manteve escolas
acadêmicas que podiam ser frequentadas por estudantes que não
eram necessariamente membros de ordens religiosas. Professores
famosos nessas escolas incluíram Hugo de São Vítor (m. 1142),
teólogo e autor prolífico; Ricardo de São Vítor (m. 1173), que ao que
parece nascera na Escócia; André de São Vítor (m. 1175), nascido
na Inglaterra; e Adão de São Vítor (m. c. 1177/92), que também
pode ter sido britânico. A história da abadia em seu início mostra
que, surpreendentemente, muitos de seus membros residentes e
doutos visitantes vinham da Inglaterra. Ernius, o abade de São Vítor
de 1162 a 1170, pode ter sido inglês também. Sua irmã era casada
com um norueguês (estou extraindo tudo isso de Patricia
Stirnemann). No ano de sua nomeação, o arcebispo dinamarquês
de Lund, Eskil, rompeu com o rei Valdemar e foi para o exílio na
França, chegando a São Vítor. Trouxe consigo um depósito de 397
marcos de prata, que deixou aos cuidados do abade Ernius. Em
1168 ele resolveu sua desavença com Valdemar, que então o
convidou a presidir o traslado do agora santo Canuto Lavard, e a
coroação do rei-menino em Ringsted, em 1170. Patricia alega que o
Saltério de Copenhague foi encomendado pelo arcebispo Eskil
quando de (ou como resultado de) sua visita a São Vítor em Paris, e
ela insinua que os 397 marcos de prata podem ter algo a ver com o
pagamento pelo livro.
Isso é notável. Um dos maiores manuscritos ingleses do século XII
pode assim, em teoria, efetivamente ter sido escrito e iluminado em
Paris, como também, de fato, poderia ter sido o Saltério Hunteriano,
agora em Glasgow, talvez também encomendado por Eskil para o
mesmo evento. Não há dúvida de que escribas e artistas ingleses
trabalhavam em São Vítor. Conhecemos os nomes de inúmeros
escribas na França do século XII que nasceram e foram treinados na
Inglaterra, inclusive Manerius da Cantuária, que escreveu uma
grande Bíblia, hoje na Bibliothèque Sainte-Geneviève em Paris. O
calendário e a litania do Saltério de Copenhague certamente
parecem ser muito ingleses, mas não são localizáveis dentro da
Inglaterra, no aceno genérico de que são “do norte”, com mais
exatidão do que indicam as placas de sinalização nas estradas
inglesas, as quais, da perspectiva meridional de Paris, poderiam
parecer estar incluindo a Escandinávia. A Abadia de São Vítor era
agostiniana, o que explica a segunda camada do calendário.
Quando comecei a catalogar manuscritos para a Sotheby’s, uma
vez deixei em aberto uma questão de localização, apresentando
múltiplas sugestões. Meu chefe de departamento e mentor para o
resto de sua longa vida, Anthony Hobson, leu aquilo tudo em
desespero e disse em sua voz lânguida: “Você tem de chegar a uma
decisão”. A verdade, no caso em questão, é que não sei. Tenho me
preocupado incessantemente com isso, e não consigo chegar a uma
conclusão. Há outras opções ou variantes. O arcebispo Eskil, se é
que foi ele, pode ter conhecido iluminadores em Paris, mas poderia
tê-los contratado em qualquer lugar, inclusive a Inglaterra. Isso bem
pode ter sido o que aconteceu. O manuscrito poderia ter sido
começado num lugar e terminado em outro, embora o resultado final
pareça estar muito unificado. Gostaria de ser capaz de decidir. Erik
Petersen pode elogiar minha relutância em correr para alguma
conclusão, mas eu gostaria imensamente de saber a resposta.
Existe até uma possibilidade — uma possibilidade remota, mas
persistente — de que o manuscrito tenha sido feito na própria
Dinamarca. Estou sempre voltando a essa hipótese, incapaz de
descartá-la por completo. O arcebispo Eskil voltou para casa em
1168. A data da cerimônia foi marcada para o verão de 1170. Esse é
um livro feito para um rei. Reis medievais não compravam por
encomenda postal. Eles contratavam artistas. Por bastante dinheiro,
uma oficina inteira, com escribas e iluminadores e todo o seu
equipamento, poderia viajar para qualquer lugar, até mesmo para a
corte de um rei da Dinamarca. Quatro artistas e um escriba
trabalhando simultaneamente poderiam fazer sem dificuldade um
saltério como esse em dois dias. Eu gostaria muito que ele tivesse
sido iluminado em Ringsted.
O alceamento do manuscrito parece ser muito simples.*** Até
onde sei, não se reparou antes que provavelmente está faltando um
caderno inteiro com mais miniaturas de página inteira após o fólio 7,
entre os que hoje são os cadernos i e ii. A ponta protuberante da
folha de guarda após o fólio 7 está mal aparada. A dobra interna
desses cadernos está maltratada e torcida no sentido vertical ao pé
do fólio 8, dano que não ocorre em nenhum outro lugar no livro.
Faria sentido concluir que houve aqui a remoção de um caderno
inteiro. Os ciclos de miniaturas de página inteira no início de
saltérios antigos luxuosos começam comumente com cenas do
Antigo Testamento, desde o Jardim do Éden até a vida de Davi,
autor dos Salmos. O Saltério Hunteriano começa assim (embora
também lhe faltem folhas). O propósito era conectar a Queda do
Homem com os salmos, que eram tidos como profecias da vinda de
Cristo. As figuras no Saltério de Copenhague são apenas metade da
sequência, e provavelmente o manuscrito tinha uma vez oito folhas
a mais, com dezesseis figuras do Antigo Testamento. Podem ter
sido removidas ainda no século XIII ou no XIV, quando o culto à
Virgem passou a dominar a devoção privada, e quando talvez se
começou a achar que a Anunciação seria uma página de abertura
mais adequada às freiras do que as figuras nuas de Adão e Eva.
A divisão de trabalho corresponde absolutamente ao alceamento.
É gratificante constatar isso com tanta clareza. O primeiro artista
pintou o que resta do ciclo de miniaturas de página inteira (caderno
ii) e depois retomou o trabalho nos cadernos x-xv, do fólio 72 ao
119. O manuscrito ainda não estava encadernado quando outros
iluminadores trabalharam nele, e os cadernos perdidos devem ter
sido distribuídos entre os artistas. Os dois primeiros pintores
começaram simultaneamente, então talvez o tempo que o primeiro
artista levou para executar as 32 páginas inteiras de miniaturas
tenha sido o mesmo que levou seu colega para pintar as 72 folhas
de texto incumbidas a ele, até que o primeiro estivesse habilitado a
retomar o trabalho. O primeiro artista tinha um magnífico estilo
monumental, pródigo em cores claras e ouro escovado e não
lavrado, liso como vidro. No início, vimos como as miniaturas de
página inteira estão cheias de simbolismo da realeza. Também
poderia haver uma alusão ao patrono em sua capitular para o Salmo
87, que mostra Deus admoestando um homem barbado e com uma
bela cabeleira, talvez inspirada no versículo 8, “tua cólera pesa
sobre mim”: textualmente isso se aplica a Davi, o salmista, mas a
figura de aspecto nórdico pode ser parecida com o rei Valdemar.
Outras capitulares por esse artista incluem Cristo no templo, para o
Salmo 81, um anjo instando um homem a ouvir Deus, como
ilustração para o Salmo 85, e músicos celebrando Deus, para o
Salmo 91. Muitas são puramente decorativas e caprichosas. Entre
elas, um apavorante leão agarrando um homem por trás e
mordendo sua cabeça, um homem sentado de costas sobre um urso
atirando uma lança num burro que toca uma harpa; um macaco se
olhando no espelho; um animal desnudo, talvez um cão, usando um
enorme chapéu laranja e sentado num bode azul enquanto leva um
cão preso a uma correia, seguido por um homem; um par de
gêmeos alados em túnicas laranja sentados no dorso de pássaros
gigantescos; e um monstro de pelo marrom-escuro,
verdadeiramente maravilhoso, talvez um urso, parecendo uma coisa
selvagem ilustrada por Maurice Sendak, de pé sobre as patas
traseiras e olhando para a frente com as patas sob o queixo. Isso
está no fólio 110r. Se o manuscrito foi concebido para uma criança,
essas são imagens alegres, para chamar a atenção e ajudar na
memorização das páginas.
O artista das miniaturas de página inteira
também fez capitulares no Saltério, inclusive
esta, que mostra Deus admoestando um
príncipe de cabelos claros.
O artista das miniaturas de página inteira
também fez capitulares no Saltério, inclusive
esta, que mostra Deus admoestando um
príncipe de cabelos claros.
O segundo artista é um com o qual já nos encontramos, que
trabalhou no Saltério Hunteriano e nos quatro manuscritos
iluminados em Paris. No Saltério de Copenhague ele pintou o
caderno i (o calendário) e os cadernos iii-ix (fólios 16 a 71). Pode ter
colaborado às vezes em outros pontos do manuscrito, como o fólio
103r. O grande Beato inicial é dele, com suas pedras preciosas reais
coladas. Ele usa cores mais pálidas e suaves, e seu ouro escovado
é aqui e ali ornado com padrões, como se fosse metal lavrado. As
figuras feitas por ele incluem grandes capitulares que contêm as
histórias de Samuel coroando Davi, para o Salmo 26, Natan
castigando o rei Davi, para o Salmo 50, inclusive com Betsabeia
apoiada afetuosamente no ombro do rei — ela tem belos cabelos
longos e trançados, muito escandinavos —; e Saul ordenando a
Doeg que mate Abimelec e toda a sua família por deslealdade,
ilustrando o Salmo 51. Embora todos esses temas sejam comuns
nos saltérios, eles teriam sido considerados relevantes para uso
real.
O artista das miniaturas de página inteira às
vezes pintou animais estranhos e monstros,
inclusive esta criatura peluda de pé sobre as
patas traseiras.
O Saltério Hunteriano, em Glasgow, é primo-irmão do manuscrito
de Copenhague, talvez copiado pelo mesmo escriba e certamente
iluminado pelos mesmos artistas.
* No Natal, espécie de canudos envoltos em papel dourado que, ao serem puxados por
ambas as extremidades, libertam, num estouro, brindes como balas, bombons etc. (N. T.)
** Referência a computus, método para calcular datas, principalmente a da Páscoa. (N. T.)
*** Ele é: i1+6 [a folha de guarda, agora como fólio “1”, com a lista de relíquias, mais o
calendário], ii-xxv8.
8
Carmina Burana
primeira metade do século XIII
Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660
* Conforme a encadernação atual, a sequência é a seguinte: i2, ii-vi8, vii6 [de 8, faltando
vii-viii (duas folhas após o fólio 48)], viii1 [de um número de folhas que se desconhece, uma
única folha restante (fólio 49)], ix7 [de 8, faltando vii (uma folha após o fólio 55)], x-xi8,
xii8+2 [um bifólio (fólios 78-79) inserido após v], xiii-xiv8, depois um caderno inteiro
faltando, xv8, xvi.6 As duas folhas descritas como ausentes após o fólio 48 são aquelas
que foram transferidas para o início, agora chamado caderno “i”.
** A ordem original dos cadernos, como acima numerados, teria sido uma vez vii+i, ii-vi, xiii,
xii, ix-xi, xiii-xvi, faltando pelo menos um caderno no início e outro entre os fólios 98 e 99.
Na numeração dos fólios, essa ordem teria sido: [com folhas faltando], 43-48, 1-42, 49, 73-
82, 50-72, 83-98, [um caderno faltando], 99-112.
9
Há que admirar dom Bernard Besret. Ele não desiste sem lutar, e
prosseguiu reivindicando sua parte no valor, concernente à abadia,
até 1968, e solicitando que lhe devolvessem o manuscrito, coisa que
em junho de 1968 a Oberfinanzdirektion em Munique instruiu a
Bibliothèque Nationale a não fazer enquanto a questão estivesse em
litígio. Por fim, em outubro de 1969, após discutir com Maurice
Rheims, Besret reconheceu a derrota. Em 7 de novembro de 1969,
o barão Edmond, que não tinha tomado conhecimento do acordo de
sua tia com a Alemanha, também recuou educadamente. Em teoria,
se o caso fosse mantido, o governo da Alemanha Federal poderia
ter solicitado o envio do manuscrito para uma biblioteca em Berlim
Ocidental ou em Munique, por exemplo. Talvez com isso em mente,
Marcel Thomas conseguiu, em 1971, que ele fosse designado como
monumento inexportável da cultura francesa.
Enquanto isso, a Bibliothèque Nationale estava numa negociação
aparentemente interminável com a embaixada da Alemanha
Ocidental. Marcel Thomas tinha convocado a ajuda de Florentine
Mütterich, historiadora de manuscritos em Munique e amiga de todo
mundo, e juntos haviam visitado Hans Hauser, o adido cultural da
Alemanha em Paris, enfatizando o espírito de boa vontade
internacional que resultaria de uma solução generosa. Foram feitos
cálculos tendo como base os 365 mil marcos pagos a Madame
Alexandrine, mais juros de 4% desde a data da recuperação do
manuscrito, e em 15 de janeiro de 1973 Herr Hauser finalmente
concordou em escrever, em nome do Ministério Federal de
Finanças, os termos de ressarcimento por parte do governo francês,
pagável em três prestações anuais. A quantia foi paga, e o título foi
transferido. A própria Joana de Navarra nunca conquistou o trono da
França, mas seu aventuresco Livro de Horas está hoje recolhido
com segurança à biblioteca nacional francesa, à qual com justiça
pertence.
* Or, o ouro heráldico, é representado por um campo branco salpicado de pontos. (N. T.)
** i2+2 [acréscimo de um bifólio, fólios 1-2, precedidos de uma guarda em branco e
seguidos por uma miniatura acrescentada em c. 1420], ii7 [vii em branco, de 8, viii
cancelada, um folha em branco após o fólio 10], iii-v8, vi4, vii-xiv8, xv6, xvi8, xvii7 [de 8,
faltando v, numerado “121”], xviii7 [de 8, faltando iii, uma folha após o fólio 126], xix8, xx-
xxi7 [de 8, em ambos faltando vii, folhas após os fólios 145 e 152], xxii-xxvi8, xxvii4
[aparentemente completo], xxviii-xxxiv8, xxxv4 [o final do manuscrito original], xxxvi5 [final
do século XIV, de 6, vi cancelado após o fólio 263], xxxvii8 [final do século XV], a maior
parte com chamadas.
*** Em heráldica, grupo de símbolos no campo (o fundo de um escudo) de um brasão. (N.
T.)
10
Chaucer de Hengwrt
c. 1400
Aberystwyth, Biblioteca Nacional do País de Gales, Peniarth MS 392
D
O Semideus de Visconti
c. 1438
São Petersburgo, Biblioteca Nacional, Cod. Lat.Q.v.XVII.2
Eis aqui algumas técnicas úteis para o caso de você algum dia se
encontrar numa batalha naval. Ponha víboras venenosas dentro de
garrafas e jogue-as pela amurada dos navios inimigos para que se
espatifem no convés e as cobras possam sair e morder seus
oponentes. Esse dispositivo é recomendado pelas mais
competentes autoridades, e foi proposto originalmente por Aníbal
para Antíoco, o Grande. Enquanto as cobras sibilam e atacam, atire
usando lâminas de metal curvas fazendo as vezes de projéteis, que
cortarão o cordame do navio inimigo, e também bombas
incendiárias, que vão inflamar as velas. Enquanto isso, faça com
que mergulhadores tirem a roupa e nadem furtivamente por baixo
dos navios com verrumas, para que possam abrir buracos no casco
do barco inimigo, que vai afundar. Essas sugestões e muitas outras
são descritas e maravilhosamente ilustradas num tratado prático
para príncipes, sobre armamentos e técnicas de guerra, escrito pelo
humanista e advogado Catone Sacco (c. 1395-1463), de Pavia, que
provavelmente o deu de presente, em 1438, a Filippo Maria Visconti
(1392-1447), conde de Pavia a partir de 1402 e duque de Milão a
partir de 1412. O livro foi intitulado Semideus.
A maior parte da vida profissional do duque Filippo Maria foi
dedicada à guerra, que envolvia as intermináveis mudanças nas
alianças e nas ambições territoriais dos estados italianos. Em 1438,
ele estava engajado no que é denominada de quarta campanha das
guerras na Lombardia, principalmente contra a república de Veneza
e seus aliados. A credibilidade e a sobrevivência de qualquer
príncipe renascentista dependiam de suas aptidões militares. A
motivação para o tratado escrito por Sacco era adular o duque como
o maior defensor da Cristandade contra o Islã, já que as frotas
muçulmanas ameaçavam então o Mediterrâneo oriental. Em 1430
os exércitos do sultão otomano Murad II tinham derrotado
fragorosamente os venezianos que tentavam defender Tessalônica,
e agora avançavam implacáveis nos Bálcãs. A sugestão de usar
cobras venenosas talvez tenha repercutido na família Visconti, uma
vez que o brasão de armas da dinastia, desde que ela tinha
assumido o controle de Milão, no século XIII, ostentava uma víbora
azul devorando uma criança.
Filippo Maria Visconti, duque de Milão, 1412-
47, recebendo a cópia dedicatória de um livro
de seu autor, Galassio da Correggio.
Gian Galeazzo foi por sua vez sucedido como duque, em 1494,
por seu tio, Ludovico Maria Sforza (1452-1508), conhecido como “il
Moro”, e tudo começou a se desenredar. O novo governante da
França, Luís XII, rei de 1498 a 1515, considerou ser ele mesmo um
reivindicante mais legítimo ao ducado de Milão do que qualquer dos
Sforza, uma vez que era descendente direto de Valentina Visconti
(1371-1408), irmã mais velha do último duque de Visconti, Filippo
Maria. Valentina tinha se casado com Luís de Valois, duque de
Orléans (1372-1407, assassinado), irmão de Carlos VI. Seu filho,
Carlos d’Orléans (1394-1465), foi o pai de Luís XII. Constantes
combates e guerra eram os principais deveres que se esperavam de
todo rei. Luís XII já era um soldado muito experiente e planejou sua
campanha na Itália com um cuidado exemplar nos aspectos
militares. Neutralizou a oposição por parte do sacro imperador
romano e fez uma aliança com os venezianos, velhos inimigos de
Milão. Designou como seu próprio comandante Gian Giacomo
Trivulzio, líder da facção milanesa que se opunha a Ludovico, o
Mouro. Em julho de 1499 um exército, na maior parte francês, com
27 mil homens, inclusive 10 mil a cavalo, invadiu a Lombardia. No
final de agosto os franceses preparavam-se para fechar um cerco
sobre Pavia. Em 2 de setembro de 1499, Ludovico fugiu de Milão e
abdicou de seu ducado três dias depois. Luís XII fez sua entrada
triunfal na cidade como o novo duque em 9 de outubro. Ludovico, no
exílio, mobilizou uma oposição, contra-atacou valentemente e
retomou Pavia em fevereiro de 1500, mas foi por fim derrotado e
levado como prisioneiro para a França, onde morreu.
Ditava o costume que as cidades conquistadas fossem
saqueadas. Como também era moda, os governantes
renascentistas eram, com frequência, colecionadores de livros. Em
1499, ou com mais acerto em 1500, enquanto muitos jubilosos
soldados franceses sem dúvida ocupavam as tabernas da cidade ou
assediavam donzelas italianas, os agentes de Luís XII estavam na
biblioteca no andar superior do castelo em Pavia, esvaziando as
estantes e empacotando livros. Grandes lotes da biblioteca de
Visconti Sforza foram enviados à França, inclusive o manuscrito do
Semideus, e a maior parte desse espólio entrou, como devido, nas
coleções reais francesas em Blois, onde foi inventariada em 1518.
Leonardo da Vinci, um troféu posterior de Milão, morreu por volta de
1519. Bem mais de trezentos desses livros saqueados de Pavia
hoje estão abrigados pacificamente na Bibliothèque Nationale em
Paris, inclusive dezessete manuscritos que uma vez pertenceram a
Petrarca.
Mudemos agora o foco para o período violento seguinte na história
da França, a eclosão da Revolução Francesa, em 1789. Uma
oportuna testemunha desses eventos foi Piotr Dubrowsky (1754-
1816), um colecionador quase tão apaixonado e inescrupuloso
quanto Guglielmo Libri, que conhecemos no capítulo 5. Dubrowsky
nasceu em Kiev e foi educado numa época em que a cultura
francesa era considerada, na Rússia, como a mais sofisticada da
Europa. Em 1777 ele estava morando em Paris. Em 1780 tinha se
incorporado à embaixada russa na capital francesa, ascendendo a
vários postos, até o de secretário. Uma gravura contemporânea sua
mostra de perfil um homem corpulento de aparência afável, com um
nariz comprido e o início de um queixo duplo, usando um casaco
com gola ampla e grandes botões e uma gravata de seda. Quando
Dubrowsky foi obrigado a deixar a França no auge da Revolução,
em agosto de 1792, após o fechamento da legação russa, ele
estava na posse das mais inestimáveis coleções de arquivos
franceses e manuscritos iluminados. Tinham sido quase todas
selecionadas dos espólios da Bastilha, saqueada pela turba em 14
de julho de 1789, especialmente da vasta biblioteca da abadia real
de St-Germain-des-Prés em Paris, que foi sequestrada pelo comitê
revolucionário em junho de 1791 e fechada em fevereiro de 1792.
Quando a antiga biblioteca da abadia foi transferida para o Estado
francês em 1795-6, muitos de seus mais preciosos manuscritos já
estavam na posse de Dubrowsky e tinham sido levados para o
exterior. Não está claro se ele os roubou, como muitos acreditam, se
os levou consigo inadvertidamente, ou se foi uma ambígua
combinação dessas duas hipóteses. Um dos manuscritos era um
belo Tito Lívio, que talvez tenha pertencido a Lorenzo de’ Medici, e
que Dubrowsky alegou ter-lhe sido presenteado pelo filósofo Jean-
Jacques Rousseau (1712-78). Isso parece ser improvável, uma vez
que, como todos os outros, também tinha sido antes propriedade de
St-Germain-des-Prés. No entanto, seja como for, o butim de
Dubrowsky, de uns setecentos manuscritos, incluía joias tão
incomparáveis como a primeira cópia, do século VIII, da Historia
Ecclesiastica, de Wearmouth-Jarrow; um rebuscado Evangelho
carolíngio ilustrado; um bestiário em inglês do século XII; a Bible
Historiale dos reis de Navarra, do século XIV; a incomparável cópia
de L’Estrif de Vertu et de Fortune, de Martin le Franc, iluminada para
Filipe, o Bom, duque da Borgonha; e o Semideus de Pavia.
Dubrowsky voltou para a Rússia em 1800, e estava com pouco
dinheiro. Há relatos de que negociou na Inglaterra a venda de sua
biblioteca. Não pela primeira vez nessa saga, aí estava um
momento que poderia mudar a história da migração de manuscritos.
Contudo, mediante a intervenção do conde Alexander Strogonov,
presidente da academia russa de artes, toda a coleção foi comprada
em 1805 pela biblioteca pública imperial que começou a ser formada
em São Petersburgo pelo tsar Alexandre I. A biblioteca foi aberta ao
público em 1814. Depois da Revolução Russa tornou-se parte do
que foi renomeado em 1932 como a Biblioteca Pública Estatal
Saltykov-Shchedrin em Leningrado, e que desde 1992 é chamada,
com mais simplicidade, de Biblioteca Nacional da Rússia, ou
Rossiyskaia Natsional’naya Biblioteka, em São Petersburgo, que
vamos visitar.
* A sequência do alceamento é: (a) fólios 1r-8v, a dedicatória, abertura em 2r (i8); (b) fólios
9r-36v, o De laudibus Virginis (ii-iv8, v4), e (c) fólios 37r-116r, o Semideus (vi-xv8).
12
As Horas de Spinola
c. 1515-20
Los Angeles, Museu J. Paul Getty, MS Ludwig IX.18
* i7 [de 8, faltando i], ii-xi8, xii4, xiii2, xiv6, xv-xvi8, xvii8+1 [iii (fólio 118) é uma folha
isolada)], xviii-xxii8, xxiii6+2 [i e viii (fólios 165 de 172) são folhas isoladas], xxiv-xxix8,
xxx6+2 [iii e vi (fólios 223 e 226) são folhas isoladas], xxxi8, xxxii2+1 [ii (fólio 238) é uma
folha isolada], xxxiii-xxxv8, xxxvi6+2 [iii e iv (fólios 266-7) são folhas isoladas], xxxvii8+2 [i e
v (fólios 272 e 276) são folhas isoladas], xxxviii8, xxxix8+1 [i (fólio 290) é uma folha
isolada], xl8+1 [viii (fólio 306) é uma folha isolada], xli5 [provavelmente de 6, com a última
folha em branco cancelada, possivelmente de 8, também faltando iv-v, 2 folhas após o fólio
310].
O forro de seda verde no lado de dentro das
capas da encadernação das Horas de Spinola,
idêntico ao das Très Riches Heures e do Livro
de Orações de Rothschild.
Epílogo
Devo dizer, acima de tudo, que foi um grande prazer trabalhar com Stuart Proffit e seus
colegas da Allen Lane, inclusive Ben Sinyor e Richard Duguid, e que tivemos longas e
estimulantes sessões, com a presença frequente da editora de arte Cecilia Mackay e do
designer Andrew Baker. Todos contribuíram imensamente para este livro. Por vezes,
divergimos. Eu, por exemplo, teria preferido meu título original, Entrevistas com
manuscritos, uma vez que “entrevista” me parece ser o termo mais apropriado para
descrever aquilo que realmente empreendemos aqui, mas acatei a experiência dos
editores, e, se esse foi o preço para uma agradável e fascinante colaboração, valeu a
pena.
2. O CODEX AMIATINUS
Um fac-símile luxuoso, porém reduzido, do Codex Amiatinus, sem comentários, foi
publicado por La Meta Editore, La Bibbia Amiatina, Florença, 2003. Há também uma versão
em CD-ROM, produzida em 2000 pela Silmel (Società Internazionale per lo Studio del
Medioevo Latino). As principais descrições do manuscrito, com bibliografias, estão em
Lowe, Codices Latini Antiquiores, como acima, III, 1938, p. 8, n. 299; e em Alexander,
Insular Manuscripts, 1978, como acima, pp. 32-35, n. 7.
Para as escavações em Wearmouth e Jarrow, veja R. J. Cramp, “Monastic Sites”, in: D.
M. Wilson (Org.), The Archaeology of Anglo-Saxon England, Londres, 1976, , pp. 201-52,
esp. pp. 229-41. Os relatos de Beda sobre a fundação de Wearmouth e as expedições a
Roma de Bento Biscop e Ceolfrido estão em sua Historia Abbatum (C. Plummer (Org.),
Venerabilis Baedae, Opera Historica, como acima, 1896, pp. 367-8 e 373). O fragmento
dos Macabeus que pode ser de um dos manuscritos trazidos por eles está encadernado na
extremidade da biblioteca da Catedral de Durham, MS B.IV.6: está ilustrado mais
recentemente em R. Gameson, Manuscript Treasures of Durham Cathedral, Londres, 2010,
pp. 22-3, n. 1. A plaqueta que menciona Ceolfrido está descrita em J. Higgitt, “The
Dedication Inscription at Jarrow and its Context”, The Antiquaries Journal, 59, 1979, pp.
343-74. A feitura das Bíblias em Wearmouth-Jarrow é relatada na Vita Ceolfridi, incluída na
edição de Plummer da obra de Beda Opera Historica, p. 395, e a mesma atividade é
descrita por Beda na Historia Abbatum (Plummer, p. 379). Para a produção de manuscritos
em Wearmouth e Jarrow, veja A. Lowe, English Uncial, Oxford, 1960, esp. pp. 6-13,
reimpressão das principais fontes contemporâneas; e M. B. Parkes, The Scriptorium of
Wearmouth-Jarrow, Jarrow Lecture 1982, Jarrow, 1982. A redação da inscrição dedicatória
inserida na Bíblia está registrada na Vita Ceolfridi (Plummer, p. 402). Uma fonte importante
para todo este capítulo foi R. Marsden, The Text of the Old Testament in Anglo-Saxon
England, Cambridge, 2005 (Cambridge Studies in Anglo-Saxon England, 15), esp. pp. 91-8.
Há uma pesquisa geral da antiga Vulgata, inclusive sobre o lugar de Amiatino, em P.-M.
Bogaert, “The Latin Bible, c. 600 to c. 900”, in: R. Marsden e E. A. Matter (Orgs.), The New
Cambridge History of the Bible, II, From 600 to 1450, Cambridge, 2012, pp. 69-92. A
observação de Tischendorf sobre coisas que foram apagadas na página dedicatória ocorre
em sua edição, Novum Testamentum Latine interprete Hieronymo, ex Celeberrimo Codice
Amiatino Omnium et Antiquissimo et Praestantissimo, nunc primum edidit, Leipzig, 1850, p.
ix. A decifração do texto original foi publicada em G. B. de Rossi, “De origine historia
indicibus scrinii et bibliothecae Sedis Apostolicae commentatio”, pp. lxxv-lxxviii, in: H.
Stevenson e G. B. de Rossi (Orgs.), Codices Palatini Latini Bibliothecae Vaticanae, I,
Roma, 1886. O cotejo com a inscrição na Bíblia de Ceolfrido está em F. J. A. Hort, The
Academy, 31, 26 de fevereiro de 1887, pp. 148-9. A citação de H. J. White na p. 73 é da p.
273 de seu “The Codex Amiatinus and its Birthplace”, Studia Biblica et Ecclesiastica, 2,
1890, pp. 273-308. Minha dívida para com Nicolas Barker é bem evidente neste capítulo,
mas além disso ele também leu um primeiro rascunho e fez algumas sugestões muito
úteis. Usei e abusei de R. L. S. Bruce-Mitford, The Art of the Codex Amiatinus, Jarrow
Lecture 1967, Jarrow, 1978 (reimpresso de The Journal of the British Archaeological
Association, 3 ser., 32, 1969, pp. 1-25): a citação na p. 77 que começa “Já tendo se
sentado num banco…” está ali nas pp. 1-2. Meu relato sobre a Biblioteca Laurenziana,
como sobre diversas outras bibliotecas neste livro, inspirou-se na elegante prosa de A. R.
A. Hobson, Great Libraries, Londres, 1970, neste caso nas pp. 84-91. Claire Breay fez
todas as verificações para mim, e deu-me judiciosos conselhos. Scott Gwara, gentilmente,
também leu este capítulo. Creio que o levantamento do alceamento que fiz está exato;
versões anteriores, como a de H. Quentin, Mémoire sur l’établissement du texte de la
Vulgate, Rome, 1922, pp. 438-40, tentam enquadrar a realidade com a numeração errada
dos escribas originais, que eu simplesmente ignorei. Na biblioteca de Cassiodoro e sua
fonte para o Codex Amiatinus, em acréscimo às obras já citadas, veja R. L. S. Bruce-
Mitford, “Decoration and Miniatures”, pp. 109-260, in: T. D. Kendrick (Org.), Evangeliorum
Quattuor Codex Lindisfarniensis, volume que acompanha o fac-símile, Lausanne, 1960,
esp. pp. 143-9, in: Capítulo 3, “The Sources of the Evangelist Miniatures”; e P. Meyvaert,
“Bede, Cassiodorus and the Codex Amiatinus”, Speculum, 71, 1996, pp. 827-83. A
descrição por Cassiodoro de seu “Codex Grandior”, aqui citada na p. 87, é encontrada em
seu Institutiones, I, 14:2-3 (R. A. B. Mynors (Org.), Cassiodori Senatoris Institutiones,
Oxford, 1937, p. 40); ele diz que é formado por 95 cadernos de quatro folhas [ou seja, oito
páginas] e 95 × 8 = 760 páginas, ou 380 folhas. Devo a Gifford meu conhecimento sobre a
estante descrita no Mausoléu de Gala Placidia em Ravenna. O retrato de são Mateus nos
Evangelhos de Lindisfarne ocorre no fólio 25v (o manuscrito é o Cotton MS Nero D. iv, na
Biblioteca Britânica; a bibliografia desse manucrito célebre é vasta demais para tentar
reproduzi-la aqui). A prova de que os escribas do Codex Amiatinus eram ingleses (p. 93,
aqui) foi feita elegante e definitivamente em Lowe, English Uncial, citado acima,
comparando com outros manuscritos, todos atribuíveis a Wearmouth ou Jarrow, como os
fragmentos de dois Livros de Evangelhos (Utrecht, Universiteitsbibliotheek, Cod. 32, fólios
94-105, e da Biblioteca da Catedral de Durham, A.II.17, fólios 103-1111) e uma folha de um
saltério (Biblioteca da Universidade de Cambridge, MS Ff.5.27, folha de guarda). Para o
Evangelho de “Stonyhurst” ou de “St Cuthbert”, agora na Biblioteca Britânica, Add. MS
89000, veja T. J. Brown (Org.), The Stonyhurst Gospel of Saint John, Oxford, 1969, e agora
em C. Breay e B. Meehan (Orgs.), The St Cuthbert Gospel, Studies on the Insular
Manuscript of the Gospel of Saint John, Londres, 2015, que foi publicado depois que
completei este capítulo: os autores tendem a datar tanto o manuscrito do Evangelho como
o Codex Amiatinus no início do século VIII (embora a Bíblia, é claro, não após 716) e o
argumento agora é que o Evangelho foi posto no caixão de Cuteberto depois, talvez muito
depois do enterro de seus restos mortais em 698. Os escribas do Amiatinus foram
destrinçados por D. H. Wright, “Some Notes on English Uncial”, Traditio, 17, 1961, pp. 441-
56. Sobre o fornecimento de pergaminho para o manuscrito, veja R. Gameson, “The Cost
of the Codex Amiatinus”, Notes and Queries, mar. 1992, pp. 2-9. Estou supondo, como todo
mundo, que o Codex Amiatinus foi escrito em pele de bezerro. Jiří Vnouček diz-me que na
verdade os carneiros podem fornecer folhas maiores do que bovinos, já que se pode
utilizar um carneiro adulto para obter pergaminho, ao passo que só bezerros muito
pequenos produzem pele macia o bastante para ser usada. A folha de Greenwell e os
fragmentos que a acompanham, apresentados aqui na p. 97, foram o tema de minhas
primeiras Palestras de Lyell, Oxford, 2009, ainda não publicadas. A Folha de Greenwell foi
primeiro descrita por C. H. Turner em “Iter Dunelmense: Durham Bible MSS, with the Text
of a Leaf Lately in the Possession of Canon Greenwell of Durham, Now in the British
Museum”, Journal of Theological Studies, 10, 1909, pp. 529-44. Devo a Claire Breay a data
de sua aquisição pelo Museu Britânico: agora ela é Add. MS 37777, Biblioteca Britânica. O
primeiro relato das folhas de Middleton foi em W. H. Stevenson, Report on the Manuscripts
of Lord Middleton, Preserved at Wollaton Hall, Nottinghamshire, Londres, 1911 (Comissão
de Manuscritos Históricos, relatório 69), pp. xi-xii, 196-7 e 611-2; eles, por sua vez, estão
na Biblioteca Britânica, Add. MS 45025. As folhas de Greenwell e de Middleton estão em
Lowe, Codices Latini Antiquiores, como acima, II, p. 17, n. 177; a folha de Bankes foi
mencionada nas pp. 351-2 em B. Bischoff e V. Brown, “Addenda to Codices Latini
Antiquiores”, Mediaeval Studies, 47, 1985, pp. 317-66. M. T. Gibson, em The Bible in the
Latin West, Notre Dame, Ind., e Londres, 1993 (The Medieval Book, I), pp. 24-5, n. 3,
afirmam erroneamente que a folha de Bankes pode ser da terceira Bíblia de Ceolfrido. Nas
citações dos Livros dos Kings note-se que o texto da Vulgata em latim tem Reis I-IV,
renomeados em traduções modernas como I-II Samuel seguidos de I-II Reis. Minha cópia
da Vulgata em latim, à qual me referi na p. 101, é de A. Colunga e L. Turrado (Orgs.), Biblia
Sacra iuxta Vulgatam Clementinam, Nova editio, Madri, 1965. A possível participação do
próprio Beda nas emendas em Gênesis 8,7, discutidas na p. 105, foi observada em
Marsden, Text of the Old Testament, como acima, p. 204; veja também R. Marsden,
“‘Manus Bedae’: Bede’s Contribution to Ceolfrith’s Bibles”, Anglo-Saxon England, 27, 1998,
pp. 65-85. Sobre o relicário veja M. Ryan, “A House-Shaped Shrine of Probable Irish Origin
at Abbadia San Salvatore, Province of Siena, Italy”, in: M. Ryan (Org.), Irish Antiquities,
Essays in Memory of Joseph Raftery, Bray, Co. Wicklow, 1998, pp. 141-50, reimpresso em
Ryan, Studies in Medieval Irish Metalwork, Londres, 2001, pp. 574-86. N. X. O’Donoghue
sugere que esses recipientes continham crismas, óleos para manter a hóstia sagrada, e
não propriamente relicários, o que os tornaria ainda mais apropriados para o uso dos
monges itinerantes; veja O’Donoghue, “Insular Chrismals and House-Shaped Shrines in the
Early Middle Ages, in: C. Hourihane (Org.), Insular & Anglo-Saxon Art and Thought in the
Early Medieval Period, Princeton e University Park, Pa., 2011, pp. 79-91, (The Index of
Christian Art, Occasional Papers, 13). A Vita Ceolfridi (Plummer ed., p. 402) diz
simplesmente que alguns do grupo resolveram continuar a jornada após a morte de
Ceolfrido, “iter peregere”, mas não diz se chegaram ou se alguma vez voltaram para casa.
3. O LIVRO DE KELLS
Este capítulo deve muito, de muitas maneiras, a Bernard Meehan, guardião de manuscritos
e chefe de pesquisa de coleções no Trinity College, Dublin. Seu cativante comentário
ilustrado The Book of Kells, publicado por Thames & Hudson, Londres, 2012, fundamenta-
se nas décadas em que ele conviveu com o manuscrito, e foi minha leitura de verão
naquele ano, numa espreguiçadeira arrastada para as dunas de areia no norte da
Dinamarca, antes de minha visita a Dublin. É um magnífico e luxuoso fac-símile do Livro de
Kells, publicado por Faksimile Verlag, The Book of Kells, MS 58, Trinity College Library,
Dublin, Lucerna, 1990. O livro Commentary, editado por Peter Fox, inclui ensaios de
Umberto Eco, Peter Fox, Patrick McGurk (sobre o texto), Gearóid Mac Niocaill (sobre os
acréscimos em irlandês), do próprio Bernard Meehan e de Anthony Cairns (especialmente
sobre a encadernação e os pigmentos). Esses dois livros foram fontes importantes ao
longo deste capítulo. Um fac-símile anterior foi publicado por Urs Graf, Berna, 1951. Desde
2012, uma digitalização exemplar do Livro de Kells tinha livre acesso on-line por intermédio
do site Digital Collections do Trinity College, Dublin. Há descrições de catálogo do Livro de
Kells em Lowe, Codices Latini Antiquiores, como acima, II, p. 43, n. 274; J. J. G. Alexander,
Insular Manuscripts, 1978, como acima, pp. 71-6, n. 52; e M. L. Colker, Trinity College,
Dublin, Descriptive Catalogue of the Mediaeval and Renaissance Latin Manuscripts,
Aldershot, Hants., e Brookfield, Vt., 1991, pp. 106-8. Uma bibliografia exaustiva do Livro de
Kells seria inimaginavelmente longa. Relatos acessíveis sobre suas iluminuras incluem F.
Henry, The Book of Kells, Reproductions from the Manuscript in Trinity College, Dublin,
Londres, 1974; P. Brown, The Book of Kells, Forty-Eight Pages and Details in Colour from
the Manuscript in Trinity College, Dublin, Londres e Nova York, 1980; R. G. Calkins,
Illuminated Books of the Middle Ages, Londres, 1983, esp. pp. 78-92; G. Henderson, From
Durrow to Kells, The Insular Gospel Books, 650-800, Londres, 1985, pp. 131-98; e B.
Meehan, The Book of Kells, An Illustrated Introduction to the Manuscript in Trinity College,
Dublin, Londres, 1994.
Minhas citações do Birmingham Daily Post na p. 109 e de outros jornais britânicos e
irlandeses neste capítulo, inclusive de muitos detalhes sem atribuições, na história do
manuscrito na era moderna, foram obtidas com a busca da palavra “Kells” na base de
dados de Nineteenth-Century British Newspapers, Gale Digital Collections. Para a venda
da cópia de Perkins da Bíblia de Gutenberg em 1873 pelo até então mais alto preço pago
por qualquer livro em mais de sessenta anos, veja p. 302 em R. Folter, “The Gutenberg
Bible in the Antiquarian Book Trade”, in: M. Davies (Org.), Incunabula, Studies in Fifteenth-
Century Books presented to Lotte Hellinga, Londres, 1999, pp. 271-351. O manuscrito dos
Annals of Ulster é o Trinity College, Dublin, MS 1282, e a entrada aqui citada está no fólio
54r; está publicada em S. Mac Airt e G. Mac Niocaill (Orgs.), Annals of Ulster to AD 1131,
Text and Translation, Dublin, 1983, p. 439. Para roubos de manuscritos na Idade Média
devido ao valor de suas encadernações veja C. de Hamel, “Book Thefts in the Middle
Ages”, pp. 1-14, in R. Myers, M. Harris e G. Mandelbrote (Orgs.), Against the Law, Crime,
Sharp Practice and the Control of Print, Londres, 2004. Para a biblioteca, veja P. Fox, Trinity
College Library, Dublin, Cambridge, 2014. O relato dos reparos e reencadernação do Livro
de Kells deriva de um artigo que Edward Cheese me emprestou: é, de A. G. Cairns, “Roger
Powell’s Innovation in Book Conservation: The Early Irish Manuscripts Repaired and
Bound, 1953-1981”, pp. 68-87, in: J. L. Sharpe (Org.), Roger Powell, The Compleat Binder,
Turnhout, 1996 (Bibliologia, 14). Devo a tradução do documento irlandês a G. Mac Niocaill,
“The Irish ‘Charters’”, pp. 154-65, no volume fac-símile do comentário, 1990. A observação
na p. 127 de que a imagem da Virgem e do Menino no fólio 7v é a mais antiga na Europa
deriva de F. E. Warren, The Liturgy and Ritual of the Celtic Church, 2. ed. por J. Stevenson
(primeira vez em 1881), Woodbridge, 1987 (Studies in Celtic History, IX), p. lxxxv, n. 468,
citado por Colker, p. 106. Minha descrição da “maiúscula insular” na p. 136 é muito curta
para ser uma descrição apropriada (eu precisava fazer o parágrafo avançar): para todas
essas caligrafias, veja M. P. Brown, A Guide to Western Historical Scripts from Antiquity to
1600, Londres, 1990, inclusive a insular maiúscula nas pp. 50-1, n. 16. O poema citado na
p. 137 por Hugh MacDiarmid, que começa: “When a person is greatly interested in a
problem…”, consta em seu Complete Poems, org. de M. Grieve e W. R. Aitken, II,
Manchester, 1994, pp. 1389-93. Um relato de um escriba em atividade de como se fez a
escrita no Livro de Kells está em M. Drogin, Medieval Calligraphy, Its History and
Technique, Montclair, N. J., e Londres, 1980, pp. 109-12. A descrição de Gerald de Gales,
citada na p. 138, está em J. F. Dimock (Org.), Giraldi Cambrensis Opera, V, Londres, 1867
(Rolls Series, 21), pp. 123-4; foi traduzida e organizada por J. J. O’Meara, Gerald de Gales,
The History and Topography of Ireland, Harmondsworth, 1982, p. 84. A sugestão de que o
Livro de Kells não foi necessariamente único foi levantada por uma história veiculada na
imprensa, em novembro de 2015, da descoberta numa encadernação, em uma biblioteca
em Berlim, de um pequeno fragmento de Lucas 13,16, muito parecido com ele na escrita e
na decoração. Pode ter sido de um manuscrito que foi parar na Alemanha trazido por
antigos missionários insulares. Os outros grandes Livros de Evangelho insulares em Dublin
são: o Codex Usserianus Primus (concebivelmente escrito, na verdade, na Itália), Trinity
College, MS 55, antes A.4.15 (Lowe, Codices Latini Antiquiores, como acima, II, p. 42, n.
271; e Alexander, Insular Manuscripts, 1978, p. 27, n. 1); o Codex Usserianus Secundus
(Garland de Howth), Trinity College, MS 56, antes A.4.6 (Lowe, II, p. 43, n. 272); o Livro de
Durrow, Trinity College, MS 57, antes A.4.5 (Lowe, II, p. 43, n. 273, que é a fonte do
comentário de Lowe aqui citado; e Alexander, pp. 30-2, n. 6); o Livro de Mulling, Trinity
College, MS 60, antes A.1.15 (Lowe, II, p. 44, n. 276); e o Livro de Dimma, Trinity College,
MS 59, antes A.4.23 (Lowe, II, p. 44, n. 275). Dei os números antigos para enfatizar o
incrivelmente inspirador fato de que todos eles foram uma vez guardados em duas
prateleiras de uma mesma estante, “A”, na sala de manuscritos da biblioteca, com o Livro
de Kells como A.1.6: só essas prateleiras guardaram um dia um valor em ouro maior que o
de muitos bancos nacionais. Os três famosos livros insulares fora da Irlanda mencionados
aqui são o dos Evangelhos de Lindisfarne, Londres, Biblioteca Britânica, Cotton MS Nero
D. iv (Lowe, II, p. 20, n. 187; e Alexander, pp. 35-40, n. 9; e agora um fac-símile com
comentário de Michelle Brown, Das Buch von Lindisfarne, The Lindisfarne Gospels,
Lucerna, 2002); os Evangelhos de Echternach, Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms
lat. 9389 (Lowe, V, 1950, p. 18, n. 578); os Evangelhos de Barberini ou Wigbold, Città del
Vaticano, Biblioteca Apostolica Vaticana, Cod. Barb. lat. 570 (Lowe, I, 1934, p. 20, n. 63; e
Alexander, pp. 61-2, n. 36); e os Evangelhos Cutbercht, Vienna, Österreichische
Nationalbibliothek, Cod. 1224 (Lowe, X, 1963, p. 18, n. 1500; e Alexander, pp. 62-3, n. 37).
Para pigmentos no Livro de Kells, veja S. Bioletti, R. Leahy e outros, “The Examination of
the Book of Kells using Micro-Raman Spectroscopy”, Journal of Raman Spectoscopy, 40,
2009, pp. 1043-9; alguns cientistas afirmam que foi encontrado lápis-lazúli no Livro de
Kells, o que pressupõe acesso à rota comercial do Himalaia, mas essa identificação não é
universalmente aceita. A Palaeographica Sacra Pictoria de Westwood foi citada na
bibliografia do capítulo 1: a citação na p. 142 é da parte 17, p. 5. A sugestão na p. 145, que
não creio tenha sido feita antes, de que as figuras de página inteira podem ter sido
transferidas de outro manuscrito ganha possível suporte na observação de Roger Powell
de que seu pergaminho foi preparado de modo diferente (cf. p. 4 de R. Powell, “The Book
of Kells, The Book of Durrow, Comments on the Vellum, the Make-up, and Other Aspects”,
Scriptorium, 10, 1956, pp. 3-21); talvez um dia uma análise de DNA nos diga se essas
folhas vêm de um estoque diferente de peles de animal. O labor dos quatro escribas do
Livro de Kells é amplamente dividido segundo a divisão em cadernos; os limites do escriba
1, por exemplo, incluem todo o caderno xvi (fólios 130-140) e os cadernos xxxiv-xxxviii
(fólios 292-339); o escriba 3 termina um lote seu no fim do caderno x (fólio 87) e começa o
próximo no início do caderno xvii (fólio 141); e o escriba 4 escreve os cadernos xi-xiv (fólios
88-125) e termina o segundo lote no final do caderno xxi (fólio 187). Faltam no manuscrito
folhas isoladas de texto após o fólio 26, com parte da lista de nomes hebraicos para o
Evangelho de Lucas; após o fólio 177, de Marcos 14,32 a 14,42; e após o fólio 239, de
Lucas 12,6 a 12,18; e faltam três folhas de texto após o fólio 330, de João 12,28 a 13,19.
Aparas das margens do Livro de Domesday, guardadas como souvenirs pelo encadernador
(mencionado na p. 146), são descritas no Bernard Quaritch Ltd., Catalogue 1348, 2007
(Bookhands of the Middle Ages, VIII), p. 41, n. 47. A transcrição de Ussher dos documentos
no manuscrito, citada na p. 147, é o Trinity College, MS 580; as palavras “livro de Kelles”
aparecem no fólio 59v. A descrição de Ussher está em seu Britannicarum ecclesiarum
antiquitates, Dublin, 1639, p. 691. Meu relato da chegada do Livro de Kells a Dublin foi
reforçado pela oportuna publicação de Fox, Trinity College Library, como acima, esp. pp.
23-4 e 39. A citação da rainha Victoria na p. 149 é de sua Leaves from the Journal of Our
Life in the Highlands, from 1848 to 1861, To which are Prefixed and Added Extracts from
the Same Journal Giving an Account of Earlier Visits to Scotland, and Tours in England and
Ireland, Org. de A. Helps, Londres, 1868, pp. 257-8. As assinaturas reais, que estavam
numa folha de guarda e não nas páginas antigas, agora estão encadernadas em separado.
Sobre livros padrão para iluminação no século XIX veja R. Watson, “Publishing for the
Leisure Industry, Illuminating Manuals and the Reception of a Medieval Art in Victorian
Britain”, in: T. Coomans e J. De Maeyer (Orgs.), The Revival of Medieval Illumination,
Louvain, 2007, pp. 78-107; amostras de ilustrações para o Livro de Kells em W. J. Loftie’s
Lessons in the Art of Illuminating, 1885, p. 97. As cópias em aquarela de Helen Campbell
d’Olier do Livro de Kells são o Trinity College, MS 4729. Duas feitas por C. L. Ricketts,
agora na Biblioteca Lilly, Universidade de Indiana, em Bloomington, estão ilustradas em S.
Hindman e N. Rowe (Orgs.), Manuscript Illumination in the Modern Age, Recovery and
Reconstruction, Evanston, Ill., 2001, pp. 270-1 e pl. 37. Assim como o de Bernard Meehan,
o livro de Sir Edward Sullivan é chamado sucintamente de O Livro de Kells, Londres, Paris
e Nova York, 1914 (a referência ao encadernador daninho, mencionado na p. 146, é da p.
6). A carta de Joyce a Power é citada em R. Ellmann, James Joyce, Oxford e Nova York,
1982, II, p. 545. A citação de Finnegans Wake na p. 154 é tirada das pp. 122-23 da edição
em Londres, 1939. A página “Tunc”, como a chama Joyce, é a narrativa da Crucificação no
Evangelho, “Tunc crucifixerant xp[ist]i cum eoduos latrones”, “Então eles crucificaram dois
ladrões com ele” (Mateus 27,38). A página, realmente, é estranhamente tenebrosa, tanto
no layout, pois todas as palavras estão amontoadas e quase ilegíveis num padrão
cruciforme em X, como na gramática, pois “xpi” (Cristo) não significa nada aqui, e a leitura
padrão na Vulgata seria: “Tunc crucifixi sunt cum eo duo latrones”. Sobre a origem do
manuscrito sobre Jonas, além dos trabalhos já citados, veja P. Meyvaert, “The Book of
Kells and Iona”, The Art Bulletin, 71, 1989, pp. 6-19.
4. O ARATEIA DE LEIDEN
Há um fac-símile artístico, Aratea, Faksimileband, Lucerna, 1978, e, acompanhando-o,
Aratea, Kommentar zum Aratus des Germanicus, MS. Voss. Lat. Q. 79, Bibliotheek der
Rijksuniversiteit Leiden, Lucerna, 1989, com ensaios de B. Bischoff, B. Eastwood, T. A.-P.
Klein, F. Mütherich e P. F. J. Obbema; o ensaio de Mütherich, “Die Bilder”, pp. 31-68, está
reimpresso em seus reunidos Studies in Carolingian Manuscript Illumination, Londres,
2004, pp. 147-265. O manuscrito inteiro está disponível em imagens de alta resolução no
site Digital Special Collections da Universidade de Leiden. Também é ilustrado em W.
Köhler e F. Mütherich, Die karolingischen Miniaturen, IV, Die Hofschule Kaiser Lothars,
Einzelhandschriften aus Lotharingien, Berlim, 1971, lâminas 75-96. Há uma bibliografia
sobre o manuscrito em C. L. Verkerk, “Aratea: A Review of the Literature Concerning Ms
Vossianus lat. q. 79 in Leiden University Library”, Journal of Medieval History, 6, 1980, pp.
245-87. E ainda, valiosa, em G. Thiele, Antike Himmelsbilder, mit Forschungen zu
Hipparchos, Aratos und seinen Fortsetzen und Beiträgen zur Kunstgeschichte des
Sternhimmels, Berlim, 1898, esp. pp. 77-142. Estou em dívida, especialmente, com R.
Katzenstein e E. Savage-Smith, The Leiden Aratea, Ancient Constellations in a Medieval
Manuscript, Malibu, Ca., 1988, publicado para a exposição do manuscrito na América; A.
von Euw, Der Leidener Aratus, Antike Sternbilder in eines Karolingischen Handschrift,
Munique, 1989; F. Mütherich, “Book Illumination in the Court of Louis the Pious”, in: P.
Godman e R. Collins (Orgs.), Charlemagne’s Heir, New Perspectives on the Reign of Louis
the Pious (814-840), Oxford, 1990, pp. 593-604, reimpresso em Mütherich, Studies in
Carolingian Manuscript Illumination, acima citado, pp. 98-117; M. Dolan, “The Role of
Illustrated Aratea Manuscripts in the Transmission of Astronomical Knowledge in the Middle
Ages”, tese de doutorado, Universidade de Pittsburgh, 2007, disponível on-line e excelente;
e E. Dekker, “The Provenance of the Stars in the Leiden Aratea Picture Book”, Journal of
the Warburg and Courtauld Institutes, 73, 2011, pp. 1-37 (ela escreveu também Illustrating
the Phaenomena: Celestial Cartography in Antiquity and the Middle Ages, Oxford, 2012).
Estou contente por ter contado com a ajuda de D. B. Gain, The Aratus ascribed to
Germanicus Caesar, Edited with an Introduction, Translation & Commentary, Londres, 1976
(University of London Classical Studies, 8), evocado para mim por Peter Jones,
bibliotecário do King’s College, Cambridge.
O texto principal na biblioteca da corte de Carlos Magno é B. Bischoff, “Die Hofbibliothek
Karls des Grossen”, pp. 149-69 em seu Mittelalterliche Studien, III, Stuttgart, 1981,
traduzido para o inglês como “The Court Library of Charlemagne”, capítulo 3, in: M.
Gorman (Trad. e org.), Manuscripts and Libraries in the Age of Charlemagne, Cambridge,
2007 (Cambridge Studies in Palaeography and Codicology, 1), pp. 56-75; ainda é
controverso se a lista de textos citados aqui na p. 160 inclui efetivamente os que
pertenciam à própria biblioteca do palácio. Sobre a cultura intelectual de todo o período há
muitos livros de Rosamond McKitterick. Os dois Virgílio do século IV citados nas pp. 160-1
aqui são Città del Vaticano, Biblioteca Apostolica Vaticana, cod. Vat. lat. 3225 e Vat. lat.
3867. São muito conhecidos: bons sumários de D. H. Wright estão em M. Buonocore
(Org.), Vedere i Classici, L’illustrazione libraria dei testi antichi dall’età romana al tardo
Medioevo, Cidade do Vaticano, 1996, pp. 141-5, n. 1-2 (e também D. H. Wright, The
Roman Vergil and the Origins of Medieval Book Design, Londres, 2002). Para o “Calendário
de 354”, usei M. R. Salzman, On Roman Time: The Codex-Calendar of 354 and the
Rhythms of Urban Life in Late Antiquity, Berkeley, 1990 (The Transformation of the
Classical Heritage, 17). O Terêncio do século IX feito por Hrodgarius e os Agrimensores
também estão, os dois, no Vaticano (cod. Pal. lat. 3868 e Pal. lat. 1564). A famosa
observação de Scaliger citada na p. 162 foi feita para estudantes em Leiden em 1606: veja
K. van Ommen, “The Legacy of Joseph Justus Scaliger in Leiden University Library
Catalogues, 1609-1716”, in: M. Walsby e N. Constantinidou (Orgs.), Documenting the Early
Modern Book World, Leiden e Boston, 2013, pp. 51-82, p. 53, com mais referências. Erik
Kwakkel e Peter Gumbert foram meus convidados para a palestra em Leiden, e
conversamos sobre as encadernações da freira Lucie Gimbrère. Também sou grato pelas
conversas com David Ganz. Sobre a escrita com capitulares rústicas veja Drogin, Medieval
Calligraphy, como acima, pp. 89-92. Para o Saltério de Utrecht, o segundo mais importante
livro carolíngio nos Países Baixos, aqui citado na p. 166, veja o catálogo de exposição, K.
van der Horst, W. Noel e W. C. M. Wüstefeld (Orgs.), The Utrecht Psalter in Medieval Art,
Picturing the Psalms of David, Tuurdijk, 1996 (no qual também se descreve o Arateia, p.
200, n. 13). Na p. 168 eu menciono que os céus são apresentados quase pretos (exemplo
são os fólios 48v e 78v), chegando até o turquesa (como nos fólios 60v e 62v). Ao
descrever as miniaturas nas pp. 168-71 em geral evitei usar os números dos fólios em
benefício da fluência do parágrafo, mas registre-se aqui que são: 1, fólio 3v, Draco, a
serpente, com os ursos Ursus Minor e Ursus Major; 2, fólio 6v, Hércules; 3, fólio 8v, a
grinalda, Corona borealis; 4, fólio 10v, Ofiúco, o portador da serpente, de pé em cima de
um escorpião e segurando uma cobra; 5, fólio 12v, supostamente Boieiro; 6, fólio 16v, os
Gêmeos, juntos; 7, fólio 18r, Câncer, o caranguejo; 8, fólio 20v, Leo, um leão rampante; 9,
fólio 22v, Auriga, o cocheiro, segurando três cabritinhos; 10, fólio 24v, Taurus apresentado
como um touro em meio-corpo; 11, fólio 26v, Cefeu, estendendo os braços; 12, fólio 28v,
Cassiopeia no trono; 13, fólio 30v, Andrômeda amarrada entre as rochas; 14, fólio 32v,
Pégasso, meio cavalo alado; 15, fólio 34v, Áries, o carneiro saltando através de um aro; 16,
fólio 36v, Triângula; 17, fólio 38v, Peixes, apresentado como dois peixes; 18, fólio 40v,
Perseu segurando a cabeça da Medusa; 19, fólio 42v, as Plêiades, sete cabeças de
mulher; 20, fólio 44r, Lira; 21, fólio 46v, Cisne, um cisne sibilante; 22, fólio 48v, Aquário
esvaziando um jarro; 23, fólio 50v, Capricórnio; 24, fólio 52v, Sagitário; 25, fólio 54v, Aquila,
a águia; 26, fólio 56v, Delfim, um golfinho; 27, fólio 58v, Órion, com Lebre entre suas
pernas; 28, fólio 60v, Cão Maior; 29, fólio 62v, Lebre, novamente; 30, fólio 64v, Argo, meio
navio; 31, fólio 66v, Ceto, o monstro marinho; 32, fólio 68v, Erídano, o deus do rio; 33, fólio
70v, Peixe Austral; 34, fólio 72v, Ara, um altar; 35, fólio 76v, Hidra, Corvo e Cratera; e 36,
fólio 78v, Cão Menor. A cópia da tradução de Arato por Cícero, do século IX, mencionada
na p. 198, está encadernada em Londres, Museu Britânico, Harley MS 647, fólios 12v-17v.
Imagens dela estão disponíveis on-line no Catálogo de Manuscritos Iluminados da
Biblioteca Britânica, com bibliografia. É algo à parte, mas uma curiosa demonstração de
fidelidade a seu exemplar original, que o antiquário W. Y. Ottley acreditava ser um
verdadeiro manuscrito do século II ou III (Archaeologia, Miscellaneous Tracts Relating to
Antiquity, 26, 1836, pp. 47-214). Um estudo notavelmente envolvente e perceptivo da
evolução do códice nos primeiros séculos d.C. é H. Y. Gamble, Books and Readers in the
Early Church, A History of Early Christian Texts, New Haven e Londres, 1995. Na p. 187 eu
descrevo como me vi dando um curso não oficial a estudantes de pós-graduação em
Leiden: um deles, Jenneka Janzen, escreveu depois sobre isso no site da universidade. O
paralelo entre o rosto de Cefeu no fólio 26v com o de Davi no Saltério de Lotário (Londres,
Biblioteca Britânica, Add. MS 37768, fólio 4r) é feito por Mütherich em “Court of Louis the
Pious”, como acima, p. 105. O melhor registro sobrevivente do Calendário de 354 é a cópia
por Peiresc, do século XVII, da cópia carolíngia perdida (Biblioteca Apostolica Vaticana,
cod. Barberini lat. 2154). Sobre Alcuíno chamando a atenção de Carlos Magno para a
Historia naturalis de Plínio, como mencionado na p. 190, veja Bischoff, “The Court Library
of Charlemagne”, como acima, p. 57. Os dois artigos sobre a provável precisão
astronômica do planetário no 93v são R. Mostert e M. Mostert, “Using Astronomy as an Aid
to Dating Manuscripts: The Example of the Leiden Aratea”, Quaerendo, 20, 1999, pp. 248-
61; e E. Dekker, “Planetary Observations: The Case of the Leiden Planetary Configuration”,
Journal for the History of Astronomy, 39, 2007, pp. 77-90. A sugestão de que a data de 18
de março seja o aniversário da Criação deriva da tese de Dolan, “The Role of Illustrated
Aratea Manuscripts”, acima citada, p. 220. Li a tradução para o inglês da Vita Hludowici por
A. Cabaniss, Son of Charlemagne, A Contemporary Life of Louis the Pious, Syracuse, N.
Y., 1961. A prática de “decalcar” desenhos no verso de páginas iluminadas nos
manuscritos insulares é descrita em M. P. Brown, The Lindisfarne Gospels, Society,
Spirituality & the Scribe, Londres, 2003, pp. 217-20, nas lâminas 9a-b. As duas cópias do
Arateia feitas por volta de 1000 são: Boulogne, Bibliothèque Municipale, ms 188, e Berna,
Burgerbibliothek, MS 88. Para o patrocínio de Odbert, inclusive Boulogne ms 188, veja M.
Holcomb (Org.), Pen and Parchment, Drawing in the Middle Ages, Metropolitan Museum of
Art, Nova York, 2009, pp. 74-6, n. 16. Gostaria de poder pensar num candidato a ser o
artista em Gante cujas propriedades estavam sendo vendidas em 1573: isso
provavelmente é muito tarde para que ele seja Simon Bening, um dos pintores das Horas
de Spinola, no capítulo 12, que morreu lá em 1561. O termo “bis capta” era uma referência
clássica a Troia. O livro de Súsio que promete editar o Arateia é seu Carmina tam sacra
quam prophana, Leiden, 1590; a referência está na dedicatória. O Syntagma Arateorum de
Grócio, Louvain, 1600, refere-se especificamente ao manuscrito de Leiden na p. 30. Para
ser honesto, é possível que as linhas endentadas, que eu constatei olhando sob uma luz
lateral, tenham sido feitas por Grócio para sua edição, e não na Idade Média. O Atlas
Coelestis seu Harmonica Macrocosmica de Celário, Amsterdam, 1660, tem uma ilustração
do planetário numa página dupla que se segue à p. 54. A biblioteca de Grócio é comentada
em A. Nelson, “Deux Notes concernant la bibliographie de Hugo Grotius”, Nordisk tidskrift
för bok- och biblioteksväsen, 39, 1952, pp. 18-25. Para a rainha Cristina e Vóssio, consultei
C. Callmer, Königin Christina, ihre Bibliothekare und ihre Handschriften, Beiträge zur
europäischen Bibliotheksgeschichte, Stockholm, 1977 (Acta Bibliothecae Regiae
Stockholmiensis, 30), que menciona o Arateia na p. 150, e F. F. Blok, Contributions to the
History of Isaac Vossius’s Library, Amsterdam, 1974, esp. pp. 34-42. Michael Reeve disse-
me que tanto Oxford como Cambridge tentaram adquirir a biblioteca de Voss após sua
morte, 1689, mas perdeu para Leiden. Para a intricada história do primeiro fac-símile de
Virgílio no Vaticano, mencionado na p. 204, veja D. H. Wright, “From Copy to Facsimile: A
Millennium of Studying the Vatican Vergil”, British Library Journal, 17, 1991, pp. 12-35. Há
uma lista de 637 fac-símiles de manuscritos em H. Zotter, Bibliographie faksimilierter
Handschriften, Graz, 1976, já há muito desatualizada, e usei também N. Barker, The
Roxburghe Club, A Bicentennial History, n.p., 2012, capítulo 10, “The Development of the
Facsimile”, pp. 119-37.
5. O BEATO DE MORGAN
Há um fac-símile completo do Beato de Morgan, Apocalipsis de San Juan, Beato de
Liébana, San Miguel de Escalada, Valencia, 2000, acompanhado do Estudio del
Manuscrito, com contribuições em espanhol e em inglês de U. Eco, W. M. Voelkle, J. W.
Williams, B. A. Shailor, L. G. Freeman, A. Del Campo Hernández e J. González Echegaray.
O problema com todos esses comentários que acompanham fac-símiles modernos e caros
é que essa erudição fica além do alcance financeiro da maioria das bibliotecas de
pesquisa. Em vez dele, comprei uma cópia do livro profusamente ilustrado de Williams e
Shailor, A Spanish Apocalypse, The Morgan Beatus Manuscript, Introduction and
Commentaries, Nova York, 1991. Devo dizer, logo de saída, quanto devo a William Voelkle,
e sou grato por ter tido a oportunidade de conversar com Barbara Shailor; para meu grande
pesar, nunca me encontrei, que eu saiba, com John Williams. O principal texto sobre todos
os manuscritos do Beato é o do professor Williams: The Illustrated Beatus, A Corpus of the
Illustrations of the Commentary on the Apocalypse, 5 v., Londres, 1994-2003; desde então,
apareceu mais um manuscrito do Beato, do sul da Itália, agora em Gênova, onde me foi
mostrado por Barbara Roth. Dois textos datilografados por John Williams sobre uma
planejada porém abandonada exposição na Biblioteca Morgan foram generosamente
mostrados a mim por William Voelkle (são mencionados na p. 248); eles incluem “Visions of
the End in Medieval Spain, The Beatus Tradition”, o qual foi especialmente útil, cuja
publicação em 2016 pela Amsterdam University Press foi finalmente anunciada, organizada
por Therese Martin, Visions of the End in Medieval Spain, Catalogue of Illustrated Beatus
Commentaries on the Apocalypse and Study of the Geneva Beatus. Quando eu escrevia
este livro, ainda não tinha sido publicado.
Na p. 210 eu me refiro ao autor do Apocalipse como sendo “são João, o Divino”, o santo
titular da ampla catedral Episcopal em Nova York, e à denominação comumente dada a
João no Livro do Apocalipse, como seu autor (Apocalipse 1,9); se ele e são João
Evangelista foram ou não a mesma pessoa é uma questão na qual a tradição medieval e o
conhecimento bíblico moderno diferem um do outro. Para o contexto da escatologia na
época do Beato, eu me baseei inicialmente em P. Fredriksen, “Tyconius and Augustine on
the Apocalypse”, in: R. K. Emmerson e B. McGinn, The Apocalypse in the Middle Ages,
Ithaca, N. Y., 1992, pp. 20-37; e E. A. Matter, “The Apocalypse in Early Medieval Exegesis”,
pp. 38-50 no mesmo volume; R. Landes, “Lest the Millennium be Fulfilled: Apocalyptic
Expectations and the Pattern of Western Chronography, 100-800 C.E.”, in: W. Verbeke, D.
Verhelst e A. Welkenhuysen (Orgs.), The Use and Abuse of Eschatology in the Middle
Ages, Louvain, 1988, pp. 205-8 (Mediaevalia Lovaniensia, ser. 1, Studia, 15); e K. R. Poole,
“Beatus of Liébana: Medieval Spain and the Othering of Islam”, in: K. Kinane e M. A. Ryan
(Orgs.), End of Days, Essays on the Apocalypse from Antiquity to Modernity, Jefferson, N.
C., 2009, pp. 47-66. Não usei, mas li e recomendo muito J. T. Palmer, The Apocalypse in
the Early Middle Ages, Cambridge, 2014. O principal texto de Santo Agostinho contra uma
interpretação demasiadamente literal das alusões bíblicas ao fim dos tempos, citado nas
pp. 209-10, é sua Epístola 199, dirigida a Hesíquio (Migne, Patrologia Latina, XXXIII: 801-
925). O singular fragmento decorado do Beato do século IX mencionado na p. 211, é o
Silos, Biblioteca del Monasterio de Santo Domingo, frag. 4 (apesar do nome, é uma abadia
beneditina, cujo nome não evoca o de são Domingos [de Gusmão] mas o de um santo
abade que morreu lá em 1073). A identificação do manuscrito da Biblioteca Morgan com o
que pertenceu à ordem de Santiago de Uclès foi feita por G. de Andrés, “Nuevas
aportaciones documentales sobre los códices ‘Beatos’”, Revista de Archivos, Bibliotecas y
Museos, 81, 1978, pp. 543-5. O relato de Libri sobre a aquisição do manuscrito por
Frasinelli é agora o Biblioteca Britânica, Yates Thompson MS 54, antes Add. MS 46200,
fólio 102 (parte de coleção de notas antes incluída nos manucritos de Yates Thompson,
muitos dos quais estão agora na Biblioteca Britânica); o relato também é citado por Voelkle
no volume de comentário sobre o fac-símile. O verdadeiro Beato de Valcavado é o volume
que está agora em Valladolid, Biblioteca de la Universidad, ms 433. Sir Frederick Madden
(1801-1873), que segundo o relato de Libri em 1846, citado aqui na p. 216 foi Guardião de
Manuscritos no Museu Britânico; a citação é das pp. 178-9 de A. N. L. Munby, “The Earl
and the Thief”, in: org. de N. Barker, A. N. L. Munby, Essays and Papers, Londres, 1978,
pp. 175-91. Outros relatos de Accounts of Libri and Ashburnham incluem o sempre útil S.
De Ricci, English Collectors of Books & Manuscripts (1530-1930) and their Marks of
Ownership, Cambridge, 1930, capítulo XI, pp. 131-8; A. N. L. Munby, Connoisseurs and
Medieval Miniatures, 1750-1850, Oxford, 1972, capítulo VII, pp. 120-38; Munby, “The
Triumph of Delisle: A Sequel to ‘The Earl and the Thief’”, em Essays and Papers, como
acima, pp. 193-205; e J. M. Norman, Scientist, Scholar & Scoundrel, A Bibliographical
Investigation of the Life and Exploits of Count Guglielmo Libri, Nova York, 2013. Lord
Ashburnham vai reaparecer no capítulo 9. Quanto a Yates Thompson, ainda estou
orgulhoso de meu perqueno artigo, “Was Henry Yates Thompson a Gentleman?”, in: R.
Myers e M. Harris (Orgs.), Property of a Gentleman: The Formation, Organisation and
Dispersal of the Private Library, 1620-1920, Winchester, 1991, pp. 77-89. Para a
catalogação desse mauscrito por M. R. James (1862-1936), mais tarde reitor de King’s e
Eton, veja R. W. Pfaff, Montague Rhodes James, Londres, 1980, p. 193, “um verdadeiro
ensaio sobre o tema dos comentários do Beato em geral”; está nas pp. 304-30, n. 97, em A
Descriptive Catalogue of the Second Series of Fifty Manuscripts (n. 51 to 100) in the
Collection of Henry Yates Thompson, Cambridge, 1902. Quase todo o parágrafo nas pp.
219-20 é tirado do ensaio de Voelkle que acompanha o fac-símile de 2000 e de conversas
com o próprio William Voelke, amigo infalível de longa data que me ajudou em inúmeras
ocasiões em questões que envolviam a Biblioteca Morgan. Ele trabalhou para quase todos
os diretores da Morgan, exceto a própria Belle da Costa Greene. Existe uma biografia dela,
decepcionante no aspecto de que o autor nada sabe sobre livros raros, de H. Ardizzone,
An Illuminated Life, Nova York e Londres, 2007, e que faz alusão ao episódio nas pp. 367-
8. Para códigos de preço de colecionadores e negociantes, como o “bryanstone” usado por
Yates Thompson, veja I. Jackson, The Price-Codes of the Book-Trade, A Preliminary Guide,
Berkeley, 2010. A edição impressa do texto do Beato sobre o Apocalipse, que eu trouxe
comigo para Nova York, brevemente mencionada na p. 226, é J. G. Echegaray, A. del
Campo Hernández e L. G. Freeman (Orgs.), Beato de Liébana, Obras completes y
complementarias, I, Madri, 2004 (Biblioteca de autores cristianos Maior, 76). Agora ela é
suplantada por R. Gryson (Org.), Beati Liebanensis Tractatus de Apocalipsin, Turnhout,
2012 (Corpus Christianorum, Series Latina, 107). Os valores numéricos atribuídos
tradicionalmente a letras do alfabeto grego, mencionados nas pp. 228-9, são conhecidos
como “isopsefia”, segundo a qual a letra alfa = 1, beta = 2, gama = 3, e assim por diante,
passando por ro = 100, sigma = 200 etc., até ômega = 800. Peter Krakenberger teve a
gentileza de ler o rascunho do capítulo e fez diversas correções ao meu conhecimento do
espanhol, e, generosamente, deu-me um exemplar de sua tradução de S. Sáenz-López
Peréz, The Beatus Maps, The Revelation of the World in the Middle Ages, Burgos, 2014,
que foi extremamente útil naquela 11a hora. A cópia de Cockerell do catálogo de Yates
Thompson de 1902 pertence à biblioteca do Grolier Club em Nova York, onde eu a vi (sua
observação, aqui citada na p. 242, foi acrescentada por ele à margem da p. 315); sobre o
próprio Cockerell, então íntimo com a coleção de Yates Thompson, veja p. 454. Tenho uma
experiência a contar sobre a arte do Beato no Apocalipse. Em 2015 fui a um congresso da
Association Internationale de Bibliophilie, em Madri. Eles tinham posto para nós, numa
grande mesa da Biblioteca Nacional, alguns dos maiores tesouros da biblioteca, inclusive
seus dois manuscritos do Apocalipse do Beato. Nosso grupo foi imediatamente atraído por
estes, como se fosse pela música do flautista de Hamelin, ofegando e exclamando diante
das figuras hipnóticas e brilhantes, ignorando totalmente o fato de que os manuscritos ao
lado, abertos sobre a mesma mesa, eram dois cadernos ilustrados por Leonardo da Vinci,
imperceptíveis, em comparação. Beato teve o poder de desviar a atenção do maior artista
entre todos eles. A cópia do Beato assinado por Emetério, aluno de Maius, descrita nas pp.
246-7, é o Madri, Archivo Histórico Naciónal, Cod. 1097b; a inscrição do escriba está no
fólio 167r. Foi sugerido às vezes que a folha com a figura, em algum momento, foi
transferida para outro manuscrito, o que parece ser desnecessariamente complicado. O
scriptorium em Tábara do Morgan M 429 é reproduzido em J. J. G. Alexander, Medieval
Illuminators and their Methods of Work, New Haven e Londres, 1992, p. 9, fig. 9. Os
“acréscimos gêmeos” por Isidore e Jerome são os que estão nos fólios 234r-237r e 238v-
292v do manuscrito. A citação de Adam de Bremen na p. 252 é da p. 121 em R. Landes,
“The Fear of the Apocalyptic Year 1000: Augustinian Historiography, Medieval and Modern”,
Speculum, 75, 2000, pp. 97-145, e a de Byrhferth é tirada das pp. 31-2 de C. Cubitt,
“Apocalyptic and Eschatological Thought in England around the Year 1000”, Transactions of
the Royal Historical Society, 6 ser., 25, 2015, pp. 27-52.
6. HUGO PICTOR
Apesar de sua fama, não existe um fac-símile, nem mesmo uma monografia individual
sobre o manuscrito de Hugo Pictor. Ele está catalogado em O. Pächt e J. J. G. Alexander,
Illuminated Manuscripts in the Bodleian Library, Oxford, I, German, Dutch, Flemish, French
and Spanish Schools, Oxford, 1966, pp. 34-5, n. 441. O texto clássico sobre produção de
livros nesse período é de N. R. Ker, English Manuscripts in the Century after the Norman
Conquest, Oxford, 1960 (The Lyell Lectures, 1952-53). Qualquer estudo sobre catedral
inglesa e livros monásticos depende totalmente desse guia obrigatório, para este campo,
do mesmo autor, N. R. Ker, Medieval Libraries of Great Britain, a List of Surviving Books, 2.
ed., Londres, 1964 — sou conhecido por tê-lo descrito como o mais interessante livro de
referência já escrito — com N. R. Ker e A. G. Watson, Supplement to the Second Edition,
Londres, 1987.
Para o Livro de Exeter, apresentado na página de abertura deste capítulo, veja N. R. Ker,
Catalogue of Manuscripts containing Anglo-Saxon, Oxford, 1957, p. 153, n. 116; existe um
“fac-símile virtual” digital, B. J. Muir (Org.), com N. Kennedy, The Exeter Anthology of Old
English Poetry, Exeter, 2006. Há uma valiosa visão do contexto desse manuscrito e de
seus companheiros na biblioteca em P. W. Conner, Anglo-Saxon Exeter, A Tenth-Century
Cultural History, Woodbridge, 1993 (Studies in Anglo-Saxon History, IV). Sobre a história
primeva da Bodleiana, veja I. Philip, The Bodleian Library in the Seventeenth and
Eighteenth Centuries, Oxford, 1983; e M. Clapinson, A Brief History of the Bodleian Library,
Oxford, 2015. A autobiografia de Bodley, uma das primeiras na literatura inglesa, foi
reimpressa, organizada por W. Clennell, The Autobiography of Sir Thomas Bodley, Oxford,
2006. Nicholas Hilliard, seu companheiro de infância, pintou o retrato de Bodley em 1598
(K. Garlick, Catalogue of Portraits in the Bodleian Library, by Mrs Reginald Lane Poole,
Completely Revised and Expanded, Oxford, 2004, p. 35; ele foi dado à Universidade de
Oxford in 1897). O texto da oferenda de Bodley à universidade foi impresso várias vezes, a
primeira provavelmente por J. Gutch (Org.), Anthony à Wood, The History and Antiquities of
the University of Oxford, II, Oxford, 1796, p. 266. Atualmente as opiniões divergem quanto
a se a decisão do reitor e do capítulo de Exeter de enviar seus manuscritos a Oxford foi
esclarecida previsão ou “uma conspícua quebra de confiança… ao ignorar os interesses de
seus sucessores no patrimônio de sua Igreja” (A. Clark, A Bodleian Guide for Visitors,
Oxford, 1906, pp. 107-8). Conquanto o Livro de Exeter tenha sido deixado para trás, não
pode ter ficado totalmente fora de vista, uma vez que era conhecido por Matthew Parker
(Cambridge, Corpus Christi College, MS 101, p. 449, anotação à margem). O Jerônimo de
Hugo, tendo sido entregue a Oxford, está listado na p. 70 do Catalogus Librorum
Bibliothecæ Publicæ quam vir ornatissimus Thomas Bodleius eques auratus in Academia
Oxoniensi nuper instituit, Oxford, 1605, reproduzido em fac-símile como The First Printed
Catalogue of the Bodleian Library, Oxford, 1986. Peço desculpas por usar abreviações
locais de vários tipos: a Sala de Leitura “PPE” mencionada na p. 263 refere-se à graduação
exclusiva de Oxford em Filosofia, Política e Economia, que teve como estudantes nesse
antigo espaço Harold Wilson, Edward Heath, David Cameron, Bill Clinton, Benazir Bhutto e
muitos outros. O artigo de Richard Gameson, mencionado na p. 263, é “Hugo Pictor,
enlumineur normand”, Cahiers de Civilisation Médiévale, 44, 2001, pp. 121-38; e o de Otto
Pächt, a quem conheci em sua velhice, é seu “Hugo Pictor”, Bodleian Library Record, 3,
1950, pp. 96-103. A edição do texto que usei de Jerônimo sobre Isaías é M. Adriaen (Org.),
S. Hieronymi presbysteri, Commentarium in Esaiam, Turnhout, 1963 (Corpus
Christianorum, Series Latina, 73); agora há uma nova tradução para o inglês, T. P. Scheck,
Jerome, Commentary on Isaiah, including St Jerome’s Translation of Origen’s Homilies 1-9
on Isaiah, Nova York e Mahwah, N. J., 2015 (Ancient Christian Writers, The Works of the
Fathers in Translation, 68). A ilustração no verso do fólio vi, que descrevo como sendo de
Jerônimo com Estóquio e Pamáquio, é publicada em P. d’Ancona, The Art of Illumination,
An Anthology of Manuscripts from the Sixth to the Sixteenth Century, trad. de A. M. Brown,
Londres e Nova York, 1969, lâmina 37, descrevendo a Virgem Maria no trono entre
Jerônimo e Isaías, o que é certamente errôneo. A imagem, do início do século XII, do
encadernador mencionada na p. 276 é Bamberg, Staatsbibliothek, cod. Msc. Patr. 5; foi
reproduzida um número incontável de vezes, inclusive em meu próprio Scribes and
Illuminators, Londres, 1992, p. 12, fig. 7 (Hugo Pictor, incidentalmente, está lá na p. 64, fig.
55). Graham Pollard foi o primeiro a observar a facilidade com que se podiam extrair pinos
de encadernações românicas de modo que as tiras de costura pudessem ser fixadas em
novas capas: veja a p. 19 de seu “The Construction of English Twelfth-Century Bindings”,
The Library, 5 ser., 17, 1962, pp. 1-22. As duas cópias de Jerônimo no inventário de Exeter
de 1327 estão listadas em G. Oliver, Lives of the Bishops of Exeter and a History of the
Cathedral, Exeter, 1861, p. 302. Para a história da biblioteca medieval, usei A. M. Erskine,
“The Growth of Exeter Cathedral Library after Bishop Leofric’s Time”, Leofric of Exeter,
Essays in Commemoration of the foundation of Exeter Cathedral Library in A. D. 1072,
Exeter, 1972, pp. 43-55. O costume de identificar um manuscrito num catálogo de
manuscritos medievais citando as primeiras palavras da segunda folha começou
provavelmente na biblioteca da Sorbonne no final do século XIII: veja J. Willoughby, “The
Secundo Folio and its Uses, Medieval and Modern”, The Library, 7 ser., 12, 2011, pp. 237-
58. O catálogo da união franciscana, conhecido como Bodleian Library, MS Tanner 165, é
publicado por R. H. Rouse e M. A. Rouse (Orgs.), com R. A. B. Mynors, Registrum Anglie
de Libris Doctorum et Auctorum Veterum, Londres, 1991 (Corpus of British Medieval Library
Catalogues, 2), que cita a cópia de Exeter nas pp. 88-9, n. 6.72. Para a referência de
Jerônimo à Bretanha em seu comentário sobre Isaías, mencionado na p. 278, veja a edição
de Adriaen, 1963, p. 463; em Bodley 717 ela ocorre no fólio 186v. A cópia de Jerônimo
sobre Isaías do Priorado da Catedral da Igreja de Cristo em Canterbury está agora em
Cambridge, como Trinity College, MS B.5.24; a de Salisbury em Wiltshire ainda está lá na
catedral, MS 25, comentada na p. 284. A observação de Guilherme de Malmesbury sobre o
reflorescimento da religião na Inglaterra sob os normandos ocorre em seu Gesta Regum
Anglorum, III: 246: veja W. Stubbs (Org.), Willelmi Malmesbiriensis monachi De gestis
regum Anglorum libri quinque, II, Londres, 1889 (Rolls Series, 90), p. 306. A lista de
manuscritos sobreviventes conhecidos na, ou associados com, Inglaterra anglo-saxã
estendeu-se até 1100, o que inclui o período de Hugo Pictor, e está em H. Gneuss, Handlist
of Anglo-Saxon Manuscripts, A List of Manuscripts and Manuscript Fragments Written or
Owned in England up to 1100, Tempe, Ariz., 2001, com suplementos em Anglo-Saxon
England, 32, 2003, pp. 293-305; e 40, 2012, pp. 293-306; para a geração seguinte,
incomparavelmente mais rica, veja o catálogo de R. Gameson, The Manuscripts of Early
Norman England (c. 1066-1130), Oxford, 1999. Sobre a sistemática construção das
bibliotecas patrísticas pelos normandos, veja Ker, English Manuscripts, acima citado, p. 4; e
R. M. Thomson, “The Norman Conquest and English Libraries”, in: P. Ganz (Org.), The
Book in Medieval Culture, 2, Turnhout, 1986, pp. 27-40 (reimpresso em Thomson, England
and the Twelfth-Century Renaissance, Aldershot e Brookfield, Vt., 1998, n. XVIII); e
Thomson, Books and Learning in Twelfth-Century England: The Ending of the “Alter Orbis”,
The Lyell Lectures 2000-2001, Walkern, Herts., 2006, esp. pp. 48-60 e 101-4. Manuscritos
que estão agora em Oxford, adquiridos pelos normandos para Exeter, contemporâneos do
de Jerônimo sobre Isaías, incluem Ambrósio, Jerônimo e Agostinho (Bodley MS 137),
Pseudo-Atanásio (Bodley MS 147), Agostinho (Bodley MSS 301, 691 e 813), Gregório
(Bodley MSS 707 e 783) e Ambrósio (Bodley MS 739). Para a tradição textual do Jerônimo
sobre Agostinho, veja R. Gryson e outros (Orgs.), Commentaires de Jérôme sur le prophète
Isaïe, I-V, Freiburg, 1993-99 (Vetus Latina, Aus der Geschichte der lateinischen Bibel, 23,
27, 30 e 35-36), que atualiza e corrige B. Lambert, Bibliotheca Hieronymiana Manuscripta,
La Tradition manuscrite des oeuvres de saint Jérôme, Steenbrugge, 1969 (Instrumenta
Patristica et Mediaevalia, 4). Os dois principais manuscritos da família “galicana”
mencionados na p. 282 do texto são Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms lat. 11627
(de Corbie), e Salzburgo, Stiftsbibliothek Sanct Peter, a.X.22 (de St-Amand). Para a
produção de livros em Salisbury, veja T. Webber, Scribes and Scholars at Salisbury
Cathedral, c. 1075- c. 1125, Oxford, 1992; e Webber, “Salisbury and the Exon Domesday:
Some Observations Concerning the Origin of Exeter Cathedral MS 3500”, English
Manuscript Studies, 1, 1989, pp. 1-18. Os quatro textos em Salisbury MS 25 estão nos
fólios 4v, 2r, 3v e 5v. Eu também os conferi em Cambridge, Trinity College MS B.5.24, a
cópia da Cantuária. É ligeiramente diferente das duas. Como a de Salisbury, não inclui a
passagem intercalada; “salutare” no fólio 4v, texto de Salisbury, está escrito sobre uma
rasura; há um “scribens” no fólio 7v, como em Salisbury, mas lê-se “ministeria” no fólio 10r,
como no texto de Exeter. A forçosa conclusão é de que os textos de Jerônimo sobre Isaías
em Exeter, Salisbury e Canterbury chegaram à Inglaterra independentemente, e não foram
copiados uns dos outros. Os livros de William de St-Calais, bispo de Durham, apresentados
na p. 287, são descritos em R. A. B. Mynors, Durham Cathedral Manuscripts to the End of
the Twelfth Century, Durham, 1939, pp. 32-45; M. Gullick, “The Scribe of the Carilef Bible: A
New Look at some Late Eleventh-Century Durham Cathedral Manuscripts”, in: L. Brownrigg
(Org.), Medieval Book Production, Assessing the Evidence, Los Altos Hills, Ca., 1990; A.
Lawrence-Mathers, Manuscripts in Northumbria in the Eleventh and Twelfth Centuries,
Woodbridge, 2003, pp. 61-83, esp. pp. 27-48; e R. Gameson, Manuscript Treasures of
Durham Cathedral, Londres, 2010, esp. pp. 50-61, n. 10-12. A Bíblia de Guilherme de
Saint-Calais na Catedral de Durham é A.II.4; a lista de doações no fólio 1r. Volume III de
Agostinho sobre os salmos é o Durham é Cathedral B.II.14; o verso sobre ter sido
encomendado pelo bispo Guilherme está na última folha. A declaração de Symeon de
Durham de que Guilherme enviou livros de volta de seu exílio, referida na p. 288, está em
T. Arnold (Org.), Symeonis monachi opera omnia, I, 1882 (Rolls Series, 75), p. 128. Volume
II de Agostinho sobre os salmos é Durham B.II.13; a capitular com o retrato de Roberto
Benjamim está no fólio 102r. Michael Gullick, gentilmente, leu esse capítulo num primeiro
rascunho e fez sábias sugestões. Quase todas as identificações de escribas nas pp. 290-1
são dele e derivam se seu artigo “The Scribe of the Carilef Bible”, publicado em 1990.
Manuscritos pelo escriba da Bíblia citado aqui são acréscimos a Durham B.II.13, e.g., fólio
23r (Agostinho), Paris, Musée des Archives Nationales, 138 (a entrada sobre Bayeux no
rolo mortuário do abade Vitalis), Biblioteca Bodleiana, MS Bodley 810 (Lanfranc, de Exeter)
e Bayeux, Bibliothèque Municipale, mss 57-58 (o Gregório, em dois volumes). O Orígenes
também corrigido pelo escriba que corrigiu a Bíblia é Durham B.III.1. Seu principal escriba
trabalhou em Durham B.III.10 (Gregório), Biblioteca Bodleiana, MS Bodley 301 (Agostinho,
de Exeter) e provavelmente Rouen, Bibliothèque Municipale, ms A 103 (460) (Agostinho,
de Jumièges). Roberto Benjamim trabalhou no Bodley 301, Bayeux 57-58, já citado, e no
Rouen, Bibliothèque Municipale, ms A 85 (467) (Agostinho de St-Ouen). Não reivindico
originalidade na conclusão de que Hugo Pictor também trabalhou em algum lugar da
Normandia: além dos artigos já mencionados, veja o enganoso e despretensioso catálogo
embrulhado em papel de uma exposição montada conjuntamente pela Biblioteca Municipal
e o Musée des Beaux-Arts em Rouen em 1975, Manuscrits normands, XI-XIIème siècles,
compilado por François Avril, esp. pp. 49-51, n. 42-44; e observações de C. R. Dodwell,
The Canterbury School of Illumination, 1066-1200, Cambridge, 1954, pp. 115-8; e J. J. G.
Alexander, Medieval Illuminators and their Methods of Work, 1992, também acima citado,
esp. pp. 10-1. Na p. 292 descrevo capitulares na primeira parte de Bodley 717 que não se
encaixam nos espaços destinados a elas: exemplos são os fólios 16r, 31v, 61r, 87r, 104r e
outros; os de Hugo Pictor que encaixam justamente estão nos fólios 201v, 216v, 230v, 256v
e 270v. As atribuições de outros manuscritos à autoria de Hugo Pictor, listadas na p. 293,
derivam totalmente de Gullick, Gameson e Thomson sobre a escrita, e de Pächt e Avril
sobre a decoração. Os manuscritos aqui listados são Bodley MS 691 (Agostinho, de
Exeter), Bodley 783 (Gregório, também de Exeter), Durham B.II.9 (Jerônimo, doado por
Guilherme de Saint-Calais a Durham), Estocolmo, Riksarchivet, Frag. 194-95 (homilias),
Rouen ms A 366 (539) (Anselmo, citado como arcebispo nos fólios 1r e 111r, de Jumièges),
Rouen ms Y 109 (1408) (vidas dos santos, também de Jumièges), e Paris, Bibliothèque
Nationale de France, ms lat. 13765, fólio B (fragmento de hinário). Os fragmentos em
Estocolomo são descritos em M. Gullick nas pp. 57-8 de “Preliminary Observations on
Romanesque Manuscript Fragments of English, Norman and Swedish Origin in the
Riksarkivet (Estocolmo)”, em J. Brunius (Org.), Medieval Book Fragments in Sweden, An
International Seminar in Stockholm, 13-16 November 2003, Estocolmo, 2005 (KVHAA
Konferenser, 58), pp. 31-82. Compreendem partes de duas homilias; a lista de textos dados
a Durham por Guilherme de Saint-Calais inclui “II. libri sermonum & omeliaru[m]”, do qual
fora este não se conhece sobrevivente, e um deles deve ter chegado à Escandinávia entre
manuscritos fornecidos a partir do norte da Inglaterra, rota à qual vamos recorrer no
capítulo 7. A sugestão de que Guilherme de Saint-Calais assumiu o patrocínio de Durham
B.II.13-14 mesmo que pela metade, aludida na p. 296, foi feita em Gameson, Manuscript
Treasures, p. 59. Para o tratamento “frater”, “irmão”, usado por um iluminador monástico,
compare “fr. Rufillus” que inscreveu um autorretrato decorando um lecionário do século XII
da Abadia de Weissenau (Genebra, Bibliotheca Bodmeriana, Cod. 127, fólio 244r); cf.
Alexander, Medieval Illuminators, citado acima, pp. 10-20, inclusive uma discussão sobre a
ocupação de Hugo Pictor na p. 10 e exemplos de outros iluminadores profissionais que se
descrevem como “pictor”. Sobre os primeiros escribas e artistas contratados, veja M.
Gullick, “Professional Scribes in Eleventh- and Twelfth-Century England”, English
Manuscript Studies, 1100-1700, 7, 1998, pp. 1-24. Para Guilherme de Brailes, apresentado
na p. 298, veja especialmente C. Donovan, The de Brailes Hours, Shaping the Book of
Hours in Thirteenth-Century Oxford, Londres, 1991; seus dois autorretratos assinados são
British Library, Add. MS 49999, fólio 43r, e Cambridge, Museu Fitzwilliam, MS 330, fólio 3r.
A pesença de Guilherme de Saint-Calais como testemunha em documentos para Bayeux
em 1089 está registrada em V. Bourrienne (Org.), Antiquus cartularius ecclesiae Baiocencis
(Livre Noir), I, Rouen, 1902, pp. 8 e 12. O relato clássico sobre se aparar e segurar uma
pena é de E. Johnston, Writing & Illuminating, & Lettering, Londres, 1906, pp. 51-60 e 64-
70, reimpresso inúmeras vezes. Devo outras observações, inclusive sobre a vantagem de
sentar num banco e não numa cadeira, a conversas com o escriba moderno Donald
Jackson. Para cadeiras com cabeças de dragão nas extremidades dos braços, no entanto,
veja D. M. Wilson, The Bayeux Tapestry, Londres, 1985, pls. 10 e 13. O colofão, “Tres digiti
scribunt”…, ocorre, por exemplo, em British Library, Royal MS 6.A.VI, fólio 109r, um
manuscrito de Aldhelm do final do século XI.
7. O SALTÉRIO DE COPENHAGUE
Imagens digitais de alta qualidade do Saltério de Copenhague, que atualmente só vão até
o fólio 18, estão disponíveis no site da Royal Library: e-manuskripter. Todas as principais
iluminuras estão descritas e ilustradas num enorme volume, M. Mackeprang, V. Madesen e
C. D. Petersen, Greek and Latin Illuminated Manuscripts X-XIII Centuries in Danish
Collections, Copenhague, Londres e Oxford, 1921, pp. 32-42 e pls. 48-60. O manuscrito
está catalogado em C. M. Kauffmann, Romanesque Manuscripts, 1066-1190, Londres e
Nova York, 1975 (A Survey of Manuscripts Illuminated in the British Isles, 3), pp. 118-20, n.
96, e lâminas que incluem o frontispício em cores.
A devolução da Cruz Verdadeira, que provavelmente também fora planejada para a cena
da Entrada em Jerusalém, conforme descrita na p. 317, tem um paralelo parcial no
sacramentário do século XI depositado em Mont Saint-Michel (Nova York, Biblioteca
Morgan, M 641, fólio 155v; cf. J. J. G. Alexander, Norman Illumination at Mont St. Michel,
966-1100, Oxford, 1970, p. 159, n. 1). A exposição da Biblioteca Britância mencionada na
p. 318 está em McKendrick, J. Lowden, K. Doyle e outros, Royal Manuscripts, The Genius
of Illumination, Londres, 2011. Referências básicas aos cinco outros grandes saltérios,
listadas na p. 318, e novamente mencionadas ao longo do capítulo, são 1) o Saltério
Hunteriano (Glasgow, Biblioteca da Universidade, MS Hunter 229): T. S. R. Boase, The
York Psalter, Londres, 1962, Kauffmann, Romanesque Manuscripts, como acima, pp. 117-
8, n. 9; e N. Thorp, The Glory of the Page, Medieval & Renaissance Illuminated
Manuscripts from Glasgow University Library, Londres, 1987, pp. 62-5, n. 14; 2) o Saltério
de Ingeborga (Chantilly, Musée Condé, ms 9): fac-símile, F. Deuchler (Org.), Ingeborg-
Psalter, Le Psautier d’Ingeburge de Danemark, Ms. 9 olim 1695, Musée Condé, Chantilly,
Graz, 1985 (Codices Selecti, 80); 3) o Saltério de Branca de Castela (Paris, Bibliothèque de
l’Arsenal, ms 9): H. Martin (Org.), Psautier de Saint Louis et de Blanche de Castile, Paris,
1909; V. Leroquais, Les Psautiers Manuscrits des bibliothèques publiques de France,
Macon, 1940, I, pp. xcvii-xcviii; e II, pp. 13-7, e, como outros manuscritos, está em I. F.
Walther e N. Wolf, Codices Illustres, The World’s Most Famous Illuminated Manuscripts,
400 to 1600, Colônia, 2001 (oportunidade perdida para um livro que poderia ser
maravilhoso), pp. 162-3; 4) o “Saltério de Avranches” (Los Angeles, J. Museu Paul Getty,
MS 66): [aparentemente F. Avril], Un Très Précieux Psautier du temps de Philippe Auguste,
Paris, 1986 (um catálogo de Ratton e Ladrière, mas até agora a descrição mais detalhada
que foi impressa), e uma breve publicação em French Illuminated Manuscripts in the J.
Paul Getty Museum, Los Angeles, 2007, pp. x-xi e 12-4; e 5) o Saltério de Leiden (Leiden,
Universiteitsbibliotheek, Cod. BPL 76A): N. Morgan, Early Gothic Manuscripts, I, 1190-
1250, Londres e Nova York, 1982 (A Survey of Manuscripts Illuminated in the British Isles,
4), pp. 61-2, n. 14, e agora, como o Arateia, disponível em boas imagens do site Digital
Special Collections, da Universidade de Leiden. Em diferentes ocasiões, eu, pessoalmente,
examinei os cinco manuscritos. A referência completa à primeira descrição do Saltério de
Copenhague, mencionada nas pp. 323-4, está em Johann Heinrich von Seelen,
Meditationes Exegeticae, quibus Varia Utriusque Testamenti, Loca Expenduntur et
Illustrantur, Lübeck, 1737, parte V, pp. 185-95, De Psalterio manuscripto Capelliano ob
singularem elegantiam commemorabili observatio; tenho o orgulho de ter deparado com
essa referência independentemente, mas depois soube que é citada, com outros fatos que
eu nunca teria encontrado, em E. Petersen, “Suscipere Digneris: Et fund og nogle
hypoteser om Københavnerpsalteret Thott 143 2o og dets historie”, Fund og Forskning i Det
Kongelige Biblioteks Samlinger, 50, 2011, disponível on-line. O saltério está listado no
Catalogi Bibliothecae Thottianae, VII, Copenhague, 1795, pp. 287-8. Para o papel dourado
do século XVIII, muitas vezes chamado vagamente de “holandês” (efetiva e comumente,
alemão), veja E. W Mick, Altes Buntpapier, Dortmund, 1979. O Saltério de Dagulf, citado na
p. 325, é o Vienna, Österreichischer Nationalbibliothek, Cod. 1861. O outro saltério muito
importante do século XII, único verdadeiro rival desse manuscrito, é o Albani, ou Saltério de
Santo Albano, hoje em Hildesheim, Dombibliothek (cf. K. Collins, The St Albans Psalter,
Painting and Prayer in Medieval England, Los Angeles, 2013). O alfabeto e o Padre-Nosso
no Saltério de Copenhague, descritos na p. 326, estão no fólio 189v. Exemplo semelhante
mas muito posterior está no compêndio de Cláudio de França, Cambridge, Museu
Fitzwilliam, MS 159, p. 2 (The Cambridge Illuminations, 2005, pl. na p. 230); para quadros
com o alfabeto para crianças e a oração ao Senhor, veja L. Shepard, The History of the
Horn Book, A Bibliographical Essay, Londres, 1977. O artigo do professor Norton, resumido
nas pp. 329-30, é C. Norton, “Archbishop Eystein, King Magnus and the Copenhagen
Psalter, A New Hypothesis”, pp. 184-215 em K. Bjørlykke, Ø. Ekroll, B. Syrstad Gran e M.
Herman (Orgs.), Eystein Erlendsson — Erkebiskop, Politiker or Kirkebygger, Trondheim,
2013. Ao dar ritmo a este capítulo, retive as referências às publicações de Patricia
Stirnemann, até chegar a um ponto em que pudesse trazê-las com um rufar de tambores,
para máximo efeito, o que significa que aparecem menos nestas referências bibliográficas
do que sua importância merece. Elas são P. Stirnemann, “The Copenhagen Psalter”,
dissertação, Columbia University, 1976, fotocópia, Ann Arbor, 1979 (eu tinha comigo uma
cópia na Dinamarca); P. Stirnemann, “Histoire tripartite: Un Inventaire des livres de Pierre
Lombard, un exemplaire de ses Sentences et le destinataire du Psautier de Copenhague”,
in: em D. Nebbiai-Dalla Guarda e J.-F. Genest (Orgs.), Du Copiste au collectionneur,
Mélanges d’histoire des textes et des bibliothèques en l’honneur d’André Vernet, Turnhout,
1998, pp. 301-18; P. Stirnemann, “The Copenhagen Psalter”; in: E. Petersen (Org.), Living
Words & Luminous Pictures, Medieval Book Culture in Denmark, Copenhague, 1999, pp.
67-76; e P. Stirnemann, “The Copenhagen Psalter (Kongel. Bibl. ms Thott 143 2o)
Reconsidered as a Coronation Present for Canute vi”, in: F. O. Büttner (Org.), The
Illuminated Psalter, Studies in the Content, Purpose and Placement of its Images, Turnhout,
2004, pp. 323-8. A associação do saltério com a iconografia da fonte de pedra de 1170 na
igreja de Ringsted, identificando a entrada em Jerusalém como símbolo de coroação real, é
discutida nas pp. 131-3 de K. Markus, “Baptism and the King’s Coronation: Visual Rhetoric
of the Valdemar Dynasty and Some Scanian and Danish Baptismal Fonts”, in: K. Krodres e
A. Mänd (Orgs.), Images and Objects in Ritual Practices in Medieval and Early Modern
Northern and Central Europe, Newcastle upon Tyne, 2013, pp. 122-42. Em acréscimo aos
calendários dos salmos, para a digressão nas pp. 334-5, veja R. W. Pfaff, “Why do Psalters
have Calendars?” em seus ensaios reunidos — na verdade foi uma palestra — Liturgical
Calendars, Saints, and Services in Medieval England, Aldershot e Brookfield, Vt., 1998,
item VI, pp. 1-15; os dois primeiros exemplares são o Saltério de Bosworth (Biblioteca
Britânica, Add. MS 37517, final do século X) e o Saltério de Salisbury (Catedral de
Salisbury, MS 150, c. 969-89). Sobre calendários agostinianos do norte da Inglaterra, não
parecidos com o de Copenhague, veja R. W. Pfaff, The Liturgy in Medieval England, A
History, Cambridge, 2009, pp. 290-3. Carl Nordenfalk, ciente do estilo do norte no
calendário, assim mesmo atribuiu o Saltério de Copenhague à Inglaterra meridional
(Gyllene böcker: Illuminerade medeltida handskrifter i Dansk och Svensk ägo, Estocolomo,
1952, pp. 30-1, n. 24). Na p. 338 eu comparo a escrita com a das Bíblias de Bury e de
Lambeth, que creio terem sido escritas ambas por um único escriba (Cambridge, Corpus
Christi College, MS 2; e Londres, Biblioteca do Palácio Lambeth, MS 3; cf. R. M. Thomson,
The Bury Bible, Woodbridge e Tóquio, 2001; e D. M. Shepard, Introducing the Lambeth
Bible, Turnhout, 2007). A identificação dos restos mortais de Remígio como oriundos do
santo bispo de Lincoln (m. 1092) e não do muito anterior Remígio de Rheims (m. 533)
justifica-se porque estas eram de tecido corporal e não de ossos, como observado tanto
por Stirnemann como por Norton. Na p. 340 eu listo diversos manuscritos nos quais
Patricia Stirnemann reconheceu a mão do artista dos Salmos 1-54 do Saltério de
Copenhague e dos Salmos 1-101 do Saltério Hunteriano: são o Troyes, Médiathèque, ms
900 (Peter Lombard, Sentences, credivelmente datado de 1158); Oxford, St John’s College,
MS 49 (Peter Lombard, Sentences, pertencente a Hilário, bispo de Chichester, que esteve
na França em 1163 e 1164 e morreu em 1169); Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms
lat. 17246 (Grande Comentário de Pedro Lombardo sobre as Epístolas Paulinas); e Paris,
Bibliothèque de l’Arsenal, ms 939 (milagres de Santo Agostinho). As regras no scriptorium
em St-Victor, mencionadas na p. 342 estão publicadas em L. Milis (Org.), Liber ordinis
Sancti Victoris Parisiensis, Turnhout, 1984 (Corpus Christianorum, Continuatio Medievalis,
61), pp. 78-9. Alguns relatos sobre a abadia e sobre a importância dos estudos victorinos
estão em E. A. Matter e L. Smith (Orgs.), From Knowledge to Beatitude: St Victor, Twelfth-
Century Scholars, and Beyond: Essays in Honor of Grover A. Zinn, Jr., Notre Dame, Ind.,
2013. Os três volumes da Bíblia de Manerius, mencionados na p. 342, são Paris,
Bibliothèque Sainte-Geneviève, mss 8-10; seu escriba era de Canterbury e sua família está
documentada; cf. Dodwell, The Canterbury School of Illumination, citados nas notas do
capítulo 6, p. 110; e W. Cahn, Romanesque Manuscripts, The Twelfth Century, Londres,
1996 (A Survey of Manuscripts Illuminated in France, 3), II, pp. 99-102, n. 81. Note-se que
ao me referir a salmos individuais em latim, aqui e em outros lugares deste livro, estou
usando a numeração da Vulgata medieval: a maioria da Bíblias modernas baseia-se no
texto hebraico, mas a Vulgata em latim, tirada da Septuaginta grega, combina os salmos
modernos 9-10 em um só e a partir daí a numeração corre com um número a menos até o
Salmo 147, que ela divide em dois, retornando assim ao total de 150 no fim. A denúncia de
são Bernardo quanto à monstruosidades na arte — e ela vai muito além disso (pp. 350-1)
— é traduzida de sua Apologia dirigida a Guilherme, abade em Saint-Thierry, em 1125 (J.
Leclerq e H. M. Rochais (Orgs.), Sancti Bernardi opera, III, Roma, 1963, p. 106). O homem
que despela uma lebre na Bíblia de Bury, mencionado na p. 353, está em Cambridge,
Corpus Christi, MS 2, fólio 1v, interpretando um provérbio de M. Camille, Image on the
Edge, The Margins of Medieval Art, Londres, 1992, pp. 18-20. Para Mestre Simon, veja W.
Cahn, “St Albans and the Channel Style in England”, in: J. Hoffeld (Org.), The Year 1200, A
Symposium, Nova York, 1970, pp. 187-211 (inclusive o Saltério de Copenhague, na p. 189);
R. M. Thomson, Manuscripts from St Albans Abbey, 1066-1235, Woodbridge, 1982, pp. 54-
62 e 126-8; e D. Jackson, N. Morgan e S. Panayotova, A Catalogue of Western Book
Illumination in the Fitzwilliam Museum and the Cambridge Colleges, III, i, France, c. 1000 —
c. 1250, Londres e Turnhout, 2015, pp. 141-5. Os mosteiros listados na p. 354 como tendo
livros escolásticos de Mestre Simon são Bonport (Livro dos Números interpretado, Paris,
Bibliothèque Nationale de France, ms lat. 74), Liesborn (Gênesis interpretado, Münster-in-
Westfalen, Universitätsbibliothek, Hs 222), Klosterneuberg (obras de Aristóteles e de
Boécio, Klosterneuburg, Stiftsbibliothek, Cod. 1089) e Esztergom (Esztergomi
Föszékesegyházi Könyvtár, I.21). Os manuscritos atribuídos a Mestre Simon em St Albans
são Cambridge, Corpus Christi College, MS 48 (Bible), Cambridge, Trinity College, O.5.8
(Ralph de Flaix); e Stonyhurst College, Lancashire, MS 10 (Gregório). Na França é
conhecido como Mestre da Bìblia dos Capuchinhos por sua obra em Paris, Bibliothèque
Nationale de France, ms lat. 16743, possivelmente de Troyes; cf. W. Cahn, Romanesque
Manuscripts, The Twelfth Century, Londres, 1996 (A Survey of Manuscripts Illuminated in
France, 3), II, pp. 96-9, n. 79. Permitam-me uma digressão por um momento. Não sabemos
aonde foi Mestre Simon após a morte do abade Simon, em 1183; talvez tenha voltado para
a França. No entanto, sua mão ainda comparece na iluminação de Corpus Christi College,
Cambridge, MS 380, único manuscrito conhecido do Speculum Fidei de Robert de
Cricklade, datável por sua escrita, entre c. 1170 e 1190, e no que é provavelmente a própria
cópia do autor de seu Abbreviatio Plinii (Windsor, Eton College, MS 134). Robert de
Cricklade foi prior da Abadia de St Frideswide, outra casa agostiniana, em Oxford, onde
morreu após 1188, e é quase inconcebível que os primeiros manuscritos de seus textos
tenham sido feitos em outro lugar que não a própria Oxford. Um dos primeiros documentos
que sugerem a presença de qualquer atividade acadêmica em torno do lugar que mais
tarde se tornou a Universidade de Oxford é um contrato que registra a venda de terra em
Catte Street, ao lado da igreja de santa Maria, datado de c. 1180-90, testemunhado pelos
primeiros membros residentes do comércio de livros, inclusive um escriba, dois produtores
de pergaminho e dois iluminadores, estes identificados como Peter e Ralph. Será que um
deles poderia ser Mestre Simon, temporária ou permanentemente em Oxford, e é
concebível que tenhamos deparado com um candidato a esse nome? Para os orifícios de
costura, mencionados nas pp. 354-5, veja breve relato em C. Sciacca, “Raising the Curtain
on the Use of Textiles in Manuscripts”, in: K. M. Rudy e B. Baert (Orgs.), Weaving, Veiling
and Dressing: Textiles and their Metaphors in the late Middle Ages, Turnhout, 2007, pp.
161-90 (uma referência que devo a Michael Gullick). Qualquer leitor aqui que necessite de
um bom tema para um doutorado, que requeira acesso em primeira mão a múltiplos
manuscritos, sem necessidade de saber latim, poderia empreender uma documentação
sistemática de abas de tecido, pois essa prática era sem dúvida muito disseminada.
8. CARMINA BURANA
Existe um fac-símile de aspecto bem sombrio de Carmina Burana, Faksimile-Ausgabe der
Carmina Burana und der Fragmenta Burana, Handschrift Clm 4660 und Clm 4660a der
Bayerischen Staatsbibliothek in München, Munique, 1967, com excelente comentário de B.
Bischoff, Einfuhrung zur Faksimile-Ausgabe, em alemão e inglês. Uma análise detalhada
do manuscrito por Otto Schumann está em A. Hilke e O. Schumann (Orgs.), Carmina
Burana, mit Benutzung der Vorarbeiten Wilhelm Mayers, Kritisch Herausgegeben, II,
Kommentar, Heidelberg, 1930, pp. 3*-95*. Ambos foram textos cruciais para este capítulo.
Para contextualizar, antes de minha visita, comecei com uma velha cópia de Helen
Waddell, The Wandering Scholars, Londres, 1927, e a edição clássica da Penguin, D.
Parlett, Selections from the Carmina Burana, A Verse Translation, Harmondsworth e Nova
York, 1986. Foram-me especialmente úteis P. G. Walsh, Love Lyrics from the Carmina
Burana, Edited and Translated, Chapel Hill, N. C., 1993; T. M. S. Lehtonen, Fortuna, Money,
and the Sublunar World: Twelfth-Century Ethical Poetics and the Satirical Poetry of the
Carmina Burana, Helsinque, 1995; e T. Marshall, The Carmina Burana: Songs from
Benediktbeuern, Los Angeles, 2011. Todas as traduções das canções citadas são minhas.
Também sou grato pela conversa durante uma longa viagem de carro com Anne Azéma, da
Camerata de Boston, que cantou muitas vezes a Carmina Burana.
Sobre a aquisição de livros de Benediktbeuern, veja G. Glauche, Katalog der lateinischen
Handschriften der Bayerische Staatsbibliothek München, Die Pergamenthandschriften aus
Benediktbeuren, Clm 4501-4663, Wiesbaden, 1994 (Catalogus Codicum Manu Scriptorum
Bibliothecae Monacensis, n. III, i), pp. vii-viii. Manuscritos sobreviventes de Benediktbeuern
estão listados em S. Krämer, Handschriftenerbe des deutschen Mittelalters, Munich, 1989
(Mittelalterliche Bibliothekskataloge Deutschlands und der Schweiz, Engänzungband, 1),
pp. 78-9. No mínimo, a sequência das folhas descrita na p. 367 demonstra que o
manuscrito era provavelmente uma ruína desmontada no século XVIII, mas foi reconstruído
para ficar atraente ainda quando na posse da Abadia de Benediktbeuern. As folhas
perdidas e não encadernadas devem ter sido varridas quando os depósitos foram
esvaziados, em 1803. A referência ao cônego Alberico na p. 368 é de M. R. James, Ghost
Stories of an Antiquary, Londres, 1906, p. 13. Sobre a evolução dos breviários, o texto
clássico é V. Leroquais, Les Bréviaires Manuscrits des bibliothèques publiques de France,
Paris, 1934. Os exemplos de canções que começam com as mesmas palavras de salmos,
mencionados nas pp. 373-7, são “Bonum est” (fólio 3r) e “Lauda” (fólio 3v), as mesmas dos
salmos 91 e 146-47; o salmo Bonum est era o último das matinas num breviário, e dois
salmos sucessivos nas laudes começam com “Laudate”. Na p. 370 menciono o Breviari
d’Amor de Matfre Ermengaud (1246-1322): curiosamente, manuscritos desse texto não se
parecem especialmente com breviários, e o jogo de palavras está meramente no nome (cf.
P. L. Ricketts, Le Breviari d’amor de Maftre Ermengaud, Leiden e Londres, 1976). Com a
numeração dos fólios refeita em sua ordem original, os quatro blocos de texto,
apresentados na p. 373, teriam sido 1) poemas morais e satíricos, fólios 43r-48v e 1r-18v;
2) canções de amor, fólios 18v-42v, 49r-v, 78r-82v e 50r-72v; 3) canções para bebida e
jogos, fólios 83r-98v; e 4) dramas religiosos, fólios 99r-112v. Na p. 383 há uma observação
de que a figura na Roda da Fortuna também está sofrendo com a reviravolta no destino: a
própria Fortuna só muito ocasionalmente se encontra na roda, ideia mencionada por
Honório de Autun no início do século XII (H. R. Patch, The Goddess Fortuna in Medieval
Literature, Londres, 1967, reimpressão da edição de 1927, p. 152). O selo imperial de
Frederico II feito em 1220 é descrito em R. Haussherr (Org.), Die Zeit der Staufer,
Geschicte — Kunst — Kultur, Stuttgart, 1977, I, p. 34, n. 50; e III, pl. 20. Na realidade não
se acham paisagens naturalistas na arte europeia antes do século XIV: cf. O. Pächt, “Early
Italian Nature Studies and the Early Calendar Landscape”, Journal of the Warburg and
Courtauld Institutes, 13, 1950, pp. 22-32. Um exemplo de um ciclo de miniaturas sobre a
Criação, como os que são aludidos na p. 387, é o bestiário do final do século XII, Oxford,
Biblioteca Bodleiana, MS Ashmole 1511, fólios 5r (criação de plantas e árvores), 6r (criação
de aves e peixes) e 6v (criação de animais). Devo a Nigel Morgan a observação na p. 387
de que a Virgem Maria que segura uma flor parece ter aparecido primeiro na arte alemã do
século XIII. A carta de Pedro de Blois, citada na p. 395, é Ep. LVII (Migne, Patrologia
Latina, CCVII: 171-72). Para o autor, veja R. W. Southern, “The Necessity for two Peters of
Blois”, in: L. M. Smith e B. Ward (Orgs.), Intellectual Life in the Middle Ages, Essays
Presented to Margaret Gibson, Londres, 1992, pp. 103-17. A demonstração prática da
regra de “acima/abaixo da linha do topo” citada na p. 399 está em N. R. Ker, “From ‘Above
Top Line’ to ‘Below Top Line’, A Change in Scribal Practice”, Celtica, 5, 1960, pp. 13-6,
reimpresso em A. G. Watson (Org.), N. R. Ker, Books, Collectors and Libraries: Studies in
the Medieval Heritage, Londres, 1985, pp. 71-4. Para Bernhard Bischoff (1906-1991),
considerado o gigante entre os paleógrafos, veja S. Krämer, Bibliographie Bernhard
Bischoff und Verzeichnis aller von ihm herangezogenen Handschriften, Frankfurt, 1998
(Fuldaer Hochschulschriften, 27). Suas opiniões ainda gozam de enorme respeito. O artigo
de Georg Steer, mencionado na p. 400, é “‘Carmina Burana’ in Südtirol, Zur Herkunft des
Clm 4660”, Zeitschrift für deutsches Altertum und deutsche Literatur, 112, 1983, pp. 1-37.
Sobre a reordenação do conhecimento no final do século XII, como se reflete no projeto de
manuscritos, veja M. B. Parkes, “The Influence of the Concepts of Ordinatio and Compilatio
on the Development of the Book”, in: Medieval Learning and Literature, Essays Presented
to Richard William Hunt, Oxford, 1976, pp. 35-70; e M. A. Rouse e R. H. Rouse, “Statim
invenire: Schools, Preachers and New Attitudes to the Page”, in: R. L. Benson e G.
Constable (Orgs.), The Renaissance of the Twelfth Century, Cambridge, Mass., 1982, pp.
201-25, reimpresso em Rouse, Authentic Witnesses, Approaches to Medieval Texts and
Manuscripts, Notre Dame, Ind., pp. 191-219. Para a vida de Orff, consultei A. Liess, Carl
Orff, trad. de A. e H. Parkin, Londres, 1966; e, não totalmente abrangente, em W. Thomas,
Das Rad der Fortuna, Ausgewählte Aufsätze zu Werk und Wirkung, Mainz, 1990. A maior
parte da história aqui contada deriva de H. Schaefer e W. Thomas (Orgs.), C. Orff, Carmina
Burana, Cantiones profanae cantoribus et choris cantandae comitantibus instrumentis
atque imaginibus magicus, Faksimile der autographen Partitur in der Bayerischen
Staatsbibliothek München, Mainz e Londres, 1997, inclusive W. Thomas, “‘Fortune smiled
on me…’, The Genesis and Influence of the Carmina Burana”, pp. xvii-xxi, trad. de D.
Abbott; e de F. Dangel-Hofmann (Org.), Briefe zur Entstehung der Carmina Burana, Carl
Orff und Michel Hofmann, Herausgegeben und Kommentiert, Tutzing, 1990. Espero estar
certo da fama das quatro notas de abertura de “Ó Fortuna”: pessoas de certa idade na
Inglaterra podem fazer a mesma alegação em relação a “I’m a gnu”. A resenha do Royal
Festival Hall publicada em 12 de junho de 1951, p. 8, foi encontrada ao se buscar “Burana”
no The Times Digital Archive.
Frontispício. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 85v, detalhe
p. 18. Cambridge, Corpus Christi College, MS 286, primeira capa na encadernação,
mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66 (© The Master and Fellows,
Corpus Christi College)
p. 21. Matthew Parker, detalhe de uma gravura colada no lado de dentro da última capa de
Cambridge, Corpus Christi College, MS 582, Estatutos da faculdade (© The Master and
Fellows, Corpus Christi College)
p. 22. Biblioteca Parker, Corpus Christi College, Cambridge (© The Master and Fellows,
Corpus Christi College)
p. 25. Cambridge, Corpus Christi College, MS 286, fólios 129v-130r, fotografado por Steven
Archer (© The Master and Fellows, Corpus Christi College)
p. 29. Cambridge, Corpus Christi College, MS 286, fólio 1r (© The Master and Fellows,
Corpus Christi College)
p. 31. Cambridge, Corpus Christi College, MSS 286, fólio 125r (© The Master and Fellows,
Corpus Christi College)
p. 33. Cambridge, Corpus Christi College, MS 286, folha de guarda traseira, fólio v recto(©
The Master and Fellows, Corpus Christi College)
p. 34. Cambridge, Corpus Christi College, MS 286, fólio 129v (© The Master and Fellows,
Corpus Christi College)
pp. 36-37. Cambridge, Corpus Christi College, MS S 286, fólios 74v-75r (© The Master and
Fellows, Corpus Christi College)
p. 38. Cambridge, Corpus Christi College, MS 286, folha de guarda traseira, fólio i verso,
detalhe (© The Masterand Fellows, Corpus Christi College)
p. 39. Cambridge, Trinity Hall, MS 1, fólio 77r, detalhe (cortesia da Master and Fellows,
Trinity Hall)
pp. 44-5. Cambridge, Corpus Christi College, MS 286, fólios 133v-134r (© The Master and
Fellows, Corpus Christi College)
p. 46. Cambridge, Corpus Christi College, MS 286, fólio 235v, detalhe (© The Master and
Fellows, Corpus Christi College)
p. 51. A história da visita da rainha de Sabá a Salomão, pintada em 1965 (© Royal Asiatic
Society, Londres, e Bridgeman Images)
p. 53. Livro de Evangelhos de Theodelinda, primeira capa. Museo e Tesoro del Duomo,
Monza (© 2016, Scala, Florença)
p. 56. Estocolmo, Kungliga Biblioteket, MS A 135, fólio 9v (© Biblioteca Nacional da Suécia)
p. 58. (à esq.) Cambridge, Corpus Christi College, MS 286, fólio 125r, detalhe (© The
Master and Fellows, Corpus Christi College); (à dir.) Bayeux, Musée de la Tapisserie
(Alamy)
p. 62. Papa Bento XVI venerando os Evangelhos de Santo Agostinho (Getty Images)
p. 66. Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Ms Amiatino 1, primeira capa na
encadernação (Todas as imagens desse manuscrito são reproduzidas com a permissão
de MiBACT; reproduções a partir destas são estritamente proibidas)
p. 70. Igreja de Jarrow (Alamy)
p. 71. Pedra inaugural, igreja de Jarrow
p. 75. San Salvatore (Alamy)
p. 78. Sala de leitura, Biblioteca Laurenziana, Florença (com a permissão de MiBACT;
reprodução a partir desta estritamente proibida)
p. 81. Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Ms Amiatino 1, encadernação
pp. 82-3. Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Ms Amiatino 1, fólios 1v-2r
p. 84. Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Ms Amiatino 1, fólio 796v
pp. 88-9. Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Ms Amiatino 1, fólios 6v-7r
p. 92. Londres, Biblioteca Britânica, Cotton MS Nero D.IV, fólio 25v (© The British Library
Board)
p. 95. Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Ms Amiatino 1, fólio 11r
p. 98. (à esq.) William Greenwell (com permissão do cabido da Catedral de Durham); (à
dir.) British Library, Add. MS 37777 (© The British Library Board)
pp. 102-3. Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Ms Amiatino 1, fólios 303v-304r
p. 104. Londres, British Library, Add. MS 45025, fólio 2v (© The British Library Board)
p. 106. Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Ms Amiatino 1, fólio 15r, detalhe
p. 107. Caixa relicário, Museo San Salvatore, Abadia San Salvatore, Toscana (cortesia de
Don Giampaolo rev. do Riccardi, padre na paróquia da abadia. Salvatore no Monte
Amiata)
p. 110. Dublin, Trinity College, MS 58, primeira capa da encadernação mostrada na mesma
escala do Codex Amiatinus na p. 66 (© The Board of Trinity College, Dublin. Nenhuma
das imagens desse manuscrito pode ser reproduzida a partir de software. Para
reprodução, devem ser feitas solicitações ao chefe de Recursos Digitais e Serviços de
Imagem, Trinity College Dublin, pelo correio ou e-mail para digitalresources@tcd.ie)
p. 115. O Salão Longo, Trinity College, Dublin (Alamy)
p. 119. Estojos de madeira para o Livro de Kells (© The Board of Trinity College, Dublin)
p. 121. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 1r (© The Board of Trinity College, Dublin)
p. 122. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 2v (© The Board of Trinity College, Dublin)
p. 124. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 6v (© The Board of Trinity College, Dublin)
p. 126. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 7v (© The Board of Trinity College, Dublin)
p. 129. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 12r, detalhe (© The Board of Trinity College,
Dublin)
pp. 130-1. Dublin, Trinity College, MS 58, fólios 28v-29r (© The Board of Trinity College,
Dublin)
p. 133. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 34r (© The Board of Trinity College, Dublin)
p. 134. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 83v (© The Board of Trinity College, Dublin)
p. 137. Cédula irlandesa de cinco libras, reverso (Getty Images)
p. 138. Fotografado da lâmina III em Edward Sullivan, The Book of Kells, 1914
p. 143. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 297v, detalhe (© The Board of Trinity College,
Dublin)
p. 144. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 200v, detalhe (© The Board of Trinity College,
Dublin)
p. 146. Dublin, Trinity College, MS 58, fólio 337r, detalhe (© The Board of Trinity College,
Dublin)
p. 148. James Ussher, pintado por Cornelis Jansen, 1641 (© Jesus College, Oxford)
p. 149. Dublin, Trinity College, MS 58, folha de guarda anterior, detalhe (© The Board of
Trinity College, Dublin)
p. 151. Fotografado da lâmina XX em Edward Sullivan, The Book of Kells, 1914
p. 153. C. Lindsay Ricketts, cópia do fólio 8r do Livro de Kells (cortesia da Biblioteca Lilly,
Universidade de Indiana, Bloomington)
p. 155. (à esq.) James Joyce, 1934 (Roger-Viollet, Paris / Bridgeman Images); (à dir.)
Edward Sullivan, The Book of Kells, 1914, lâmina XI
p. 158. Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat, Q 79, primeira capa na
encadernação, mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66 (cortesia da
Universiteitsbibliotheek, Leiden)
p. 160. Figura em bronze de Carlos Magno, detalhe. Musée du Louvre, Paris. (© RMN-
Grand Palais (musée du Louvre) / Jean-Gilles Berizzi)
p. 161. Vaticano, Biblioteca Apostolica Vaticana, cod. Vat. Lat. 3225, fólio XLI recto (© 2016.
Photo Fine Art Images/ Heritage Images/ Scala, Florença
p. 164. Biblioteca da Universidade de Leiden (© SV, Países Baixos)
p. 167. Biblioteca da Universidade de Leiden, Cod. Voss. Lat, Q 79, fólio 2r
pp. 172-3. Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat, Q 79, fólios 3v-4r
pp. 174-5. Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat, Q 79, fólios 6v-7r
pp. 176-7. Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat, Q 79, fólio 12v ao lado de 14r
(falta o fólio 13)
pp. 178-9. Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat, Q 79, fólios 16v-17r
pp. 180-1. Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat, Q 79, fólios 20v-21r
pp. 182-3. Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat, Q 79, fólios 80v-81r
p. 188. Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat, Q 79, fólio 93v
p. 193. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms lat. 5927, fólio 157r
p. 197. Boulogne-sur-Mer, Bibliothèque Municipale, ms 188 fólios 29v-30r (© Bibliothèque
Municipale, Boulogne-sur-Mer)
p. 199. Leiden, Universiteitsbibliotheek, Cod. Voss. Lat, Q 79, fólio 1r, detalhe
p. 202. Christina da Suécia como Minerva, quadro de Erasmus Quellinus. Musée de la
Chartreuse, Douai (Bridgeman Images)
p. 205. Grotius, Syntagma Arateorum, 1600 (The Hague, Bibliotheek van het Vredespaleis);
Cellarius, Atlas Coelestis, 1660 (Wikimedia Commons)
p. 208. Nova York, Biblioteca Pierpont Morgan, MS M. 644, primeira capa na
encadernação, mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66
p. 212. Sala de leitura Fairchild, Biblioteca Pierpont Morgan (© 2007, The Morgan Library &
Museum. Photo: Schecter Lee)
p. 215. Londres, Biblioteca Britânica, Add. MS fólio 46 200, fólio 102r-103v (© The British
LibraryBoard)
p. 217. Guglielmo Libri, desenho atribuído a Éduouard Dubufe (cortesia de Arthur Freeman
e Janet Ing Freeman)
p. 220. (à esq.) John Pierpont Morgan, Jr. (Biblioteca do Congresso, Washington, D.C.); (à
dir.) Belle da Costa Greene (Getty Images)
p. 221. (à esq.) Henry Yates Thompson, fotografia de Sir Benjamin Stone (© National
Portrait Gallery, London); (à dir.) Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, ex-líbris
dentro da primeira capa.
p. 223. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 1r
p. 224. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 2v
p. 225. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio, 4v, detalhe
p. 227. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 10r
p. 231. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 133r
p. 233. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 23r
p. 235. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 27r
pp. 236-7. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólios 33v-34r
p. 239. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 79r
p. 243. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 151r
p. 245. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 26r
p. 247. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 644, fólio 293r, detalhe
p. 249. Nova York, Pierpont Morgan Library, MS M. 429, fólio 183r, detalhe
p. 255. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, primeira capa na encadernação,
mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66 (Todas as imagens desses
manuscritos estão reproduzidas por cortesia da Biblioteca Bodleiana, Universidade de
Oxford)
p. 256. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólio 287v
p. 259. Sir Thomas Bodley, miniatura por Nicholas Hilliard (Biblioteca Bodleiana,
Universidade de Oxford)
p. 264. Biblioteca do duque de Humfrey’, Biblioteca Bodleiana, Universidade de Oxford
(Alamy)
p. 265. Sala de leitura de livros raros e manuscritos, Weston Building, Biblioteca Bodleiana,
Universidade de Oxford (© Will Pryce)
p. 266. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólio 287v, detalhe
pp. 270-1. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólios v verso — vi recto
pp. 274-5. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólios 38v-39r
p. 276. (à esq.) Bamberg, Staatsbibliothek, cod. Msc. Patr. 5, fólio 1v, detalhe (foto: Gerald
Raab); (à dir.) Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólio 36r, detalhe
p. 277. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólio 188r, detalhe
p. 282. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólio 7r, detalhe
p. 283. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólio 227r, detalhe
p. 285. Salisbury, Cathedral Library, MS 25 (com permissão do deão e do cabido da
catedral de Salisbury)
p. 286. Catedral de Durham (Alamy)
p. 287. Durham, Cathedral Library, MS A.II.4, fólio 1r, detalhe (com permissão do cabido da
Catedral de Durham)
p. 289. Durham, Cathedral Library, MS B.II.13, fólio 102r, detalhe (com permissão do
cabido da Catedral de Durham)
p. 294. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólio 104r, detalhe
p. 295. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólio 270v, detalhe
p. 297. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms lat. 13765, fólio B recto
pp. 300-1. Oxford, Bodleian Library, MS Bodley 717, fólios vi verso — 1 recto
p. 307. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, primeira capa na
encadernação, mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66
p. 309. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 8r
pp. 310-1. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólios 8v-9r
p. 312. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 9v
p. 314. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 10v
p. 316. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 13v
p. 319. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 17r
p. 321. Vista do átrio da Kongelige Bibliothek, Copenhague (Getty Images)
p. 327. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 4r, detalhe
p. 328. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 16v
p. 330. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 1r, detalhe
pp. 336-7. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólios 5v-6r
p. 341. Paris, Bibliothèque de l’Arsenal, ms 939, fólio 57r
p. 345. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 109r
p. 347. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 110r
p. 348. Glasgow, University Library, MS Hunter 229, fólio 46r, detalhe (Bridgeman Images)
p. 349. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 40r
p. 350. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 171v, detalhe
p. 352. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólio 173v
pp. 356-7. Copenhague, Kongelige Bibliothek, MS Thott 143 2o, fólios 193v-194r
p. 360. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, primeira capa na encadernação
mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66
p. 362. Escadaria da Bayerische Staatsbibliothek, Munique (Bayerische Staatsbibliothek,
Munique)
p. 365. Benediktbeuern (Alamy)
p. 369. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 1r
p. 371. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 64r
p. 372. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 44v
p. 375. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 11r
p. 376. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 63v
p. 378. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 87v
p. 381. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 99r
p. 383. Grande selo de Frederico II, ilustração de Jean-Louis Alphonse Bréholles, Historia
diplomatica Friderici Secundi, 1852, volume II, parte I
p. 384. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 64v
p. 386. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 72v
p. 388. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 89v
p. 391. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 15r
p. 393. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 68r
p. 398. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 65v
p. 401. Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Clm 4660, fólio 72r
p. 404. Apresentação de Carmina Burana em 1941 (akg-images)
p. 405. Carl Orff, fotografia de Otto Moll (© Carl Orff-Stiftung, Archiv Orff-Zentrum, Munique)
p. 409. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, primeira capa na
encadernação mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66
p. 411. Trem em Berchtesgaden (Getty Images)
p. 412. Edmond de Rothschild (Getty Images)
p. 413. Bureau Central des Restitutions, Répertoire des biens spoliés durant la Guerre
1939-45, p. 30 (coleção do autor)
p. 417. Galeria Mazarina, Bibliothèque Nationale, Paris (© J. C. Ballot/ BnF/ Oppic)
p. 420. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, folha de guarda, verso,
detalhe
p. 423. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 6r
p. 424. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 151v
p. 426. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 123v
p. 429. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 97r
p. 432. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 118v
p. 434. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 55v
p. 437. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 53r
p. 440. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 9v
p. 441. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms lat. 10484, fólio 6v
p. 442. Nova York, Metropolitan Museum of Art, Acc. 54.1.2, fólio 155r
p. 443. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 39r
p. 446. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 150r, detalhe
p. 448. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms fr. 11496, fólio 80r, detalhe (Gallica)
p. 449. Chantilly, Musée Condé, ms 65, fólio 1v, detalhe (Bridgeman Images)
p. 450. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms n.a. lat. 3145, fólio 3v
p. 453. Nicholas-Claude Fabri de Peiresc, pintura atribuída a Ludovicus Finson. Château de
Versailles (Heritage Image Partnership/ Alamy)
p. 455. Sydney Cockerell, fotografia de Walter Stoneman (© National Portrait Gallery,
London)
p. 459. Hermann Göring e Adolf Hitler, provavelmente em Berlim, 1938 (© 2016. Photo
Scala, Florence/ bpk, Bildagentur für Kunst und Geschichte, Berlin)
p. 462. Aberystwyth, National Library of Wales, Peniarth MS 392 D primeira capa na
encadernação mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66 (Todas as
imagens desses manuscritos estão reproduzidas com a permissão de Llyfrgell
Genedlaethol Cymru, Biblioteca Nacional de Gales)
p. 466. San Marino, Huntington Library and Art Gallery, MS El. 26.C.9, fólios 153v-154r
(Bridgeman Images)
p. 467. Hatfield, Hatfield House, Cecil Papers, Box S.1, detalhe (com permissão da
marquesa de Salisbury, Hatfield House; a fotografia é cortesia de Linne Mooney)
p. 469. Biblioteca Nacional de Gales (Alamy)
p. 473. Aberystwyth, National Library of Wales, Peniarth MS 392 D, fólio 2r
p. 474. Chaucer, Canterbury Tales, Caxton, 1483, fólios 4v-5r (© The British Library Board)
p. 475. Aberystwyth, National Library of Wales, Peniarth MS 392 D, fólio 3r
pp. 476-7. Aberystwyth, National Library of Wales, Peniarth MS 392 D, fólios 57v-58r
p. 479. Aberystwyth, National Library of Wales, Peniarth MS 392 D, fólio 88r
pp. 484-5. Aberystwyth, National Library of Wales, Peniarth MS 392 D, fólios 128v-129r
p. 486. Aberystwyth, National Library of Wales, Peniarth MS 392 D, fólio 41r, dois detalhes
p. 487. Cambridge, Corpus Christi College, MS 61, fólio 1v, detalhe (© The Master and
Fellows, Corpus Christi College)
p. 489. Cambridge, Trinity College, MS R.3.20, p. 367, detalhe (The Master and Fellows of
Trinity College, Cambridge)
p. 493. Londres, manuscrito da Companhia dos Escrivães, depositado na Biblioteca
Guildhall, MS 5370, p. 56, detalhe (London Metropolitan Archives, reproduzido com
permissão da Worshipful Company of Scriveners)
p. 495. Cambridge, Trinity College, MS R.3.14, fólios 1v-2r, detalhe (The Master and
Fellows of Trinity College, Cambridge)
p. 497. Londres, British Library, Harley MS 4431, fólio 178r, detalhe (© The British Library
Board, All Rights Reserved/ Bridgeman Images)
p. 505. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, primeira capa
na encadernação mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66
p. 506. Paris, Bibliothèque Nationale de France, ms lat. 6041 D, fólio 8 ter (De Agostini/
Bridgeman Images)
p. 507. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS 79a, recto, detalhe
p. 508. Piotr Dubrowsky. Museu Estatal Hermitage, São Petersburgo (© The State
Hermitage Museum. Photo: E. N. Nikolaeva)
p. 512. Biblioteca Nacional da Rússia, São Petersburgo (© National Library of Russia)
p. 520. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, fólio 1v
p. 523. Florença, Biblioteca Nazionale Centrale, MS Landau-Finaly 22, fólio 78v, detalhe
(De Agostini/ Getty Images)
p. 525. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, fólio 9r
p. 527. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, fólio 37r
p. 529. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, fólio 42r
p. 530. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, fólio 45v
p. 533. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, fólio 66r
p. 534. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, fólio 74v
p. 536-7. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, fólios 88v-
89r
p. 539. São Petersburgo, Biblioteca Nacional da Rússia, Cod. Lat.Q.v.XVII.2, fólio 99r
p. 540. Monumento a Catone Sacco. Universidade de Pavia, Pátio Alessandro Volta
(cortesia da Universidade de Pavia)
p. 545. Oxford, Bodleian Library, Auct. P.3.13, última folha impressa, detalhe
p. 550. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, primeira capa na
encadernação mostrada na mesma escala do Codex Amiatinus na p. 66
p. 553. Centro Getty, Los Angeles (© The J. Paul Getty Trust)
p. 555. Hans Peter Kraus (Getty Images)
p. 557. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, ex-líbris de Hans Erni, úlima
folha (© Estate of Hans Erni)
p. 558. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 1v
pp. 560-1. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólios 2v-3r
p. 562. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 3v
p. 565. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 4v, detalhe
pp. 566-7. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólios 8v-9r
pp. 570-1. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólios 92v-93r
pp. 574-5. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólios 10v-11r
p. 578. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 21v
p. 580. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 56v
p. 585. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 254r
p. 590. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 276v
pp. 592-3. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólios 165v-166r
p. 596. (à esq.) Chantilly, Musée Condé, MS 65, última capa na encadernação (© RMN-
Grand Palais (domaine de Chantilly)/ René-Gabriel Ojéda); (à dir.) Perth, Kerry Stokes
Collection, LIB.2014.01, primeira capa na encadernação (© Christie’s/ Bridgeman Images)
p. 598. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 125v
p. 599. Perth, Kerry Stokes Collection, LIB.2014.01, fólios 108v-109r (© Christie’s/
Bridgeman Images)
p. 600. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 184v
p. 603. Margarida da Áustria, detalhe do lado direito de um díptico pelo Mestre de 1499.
Museum voor Schone Kunsten, Gante (© Lukas — Art in Flanders VZW/ Bridgeman
Images)
p. 607. Catálogo do leilão na Sotheby’s em 5 de julho de 1976, Lote 68. (coleção do autor)
p. 609. Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, revestimento interno na
capa da encadernação. Pesquisa por Cecilia Mackay
Publicado originalmente em língua inglesa por Penguin Books Ltd, Londres
Copyright do texto © 2016 by Christopher de Hamel
O autor assegura seus direitos morais.
Título original
Meetings with Remarkable Manuscripts
Capa
Victor Burton
Imagem de capa
Los Angeles, J. Paul Getty Museum, MS Ludwig IX.18, fólio 3v
Projeto gráfico
Andrew Barker Information Design
Preparação
Cássia Land
Revisão
Huendel Viana
Isabel Cury
ISBN 978-85-5451-011-4