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Psiquicobiologia Da Depedência Química
Psiquicobiologia Da Depedência Química
Apostila de estudos
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO
para Profissionais, Coordenadores e Monitores
de Comunidades Terapêuticas
www.febract.org.br MODULO 2
Apostila de estudos Equipe FEBRACT
para o Programa de Capacitação
para Profissionais, Coordenadores e Presidente
Monitores de Comunidades Luis Roberto Chaim Sdoia
Terapêuticas
Vice-Presidente
Elaboração, distribuição e informações: Roseli Ap. Consolaro Nabozny
Endereço postal:
CEP 13.090-970 - Campinas, SP
Caixa Postal 5694
Homepage: www.febract.org.br
Email: cursos@febract.or.br
INTERVENÇÃO
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 7
2. Definindo o tema
Através da definição do tema será construído o título do projeto, que deve ser
objetivo e explicativo ao mesmo tempo. Sugere-se que o título não tenha menos que 70
nem mais que 150 caracteres (sem espaço).
3. Caracterização do público-alvo
Neste tópico deve ser descrito a quem é dirigida a intervenção, tentando descrever
algumas das características principais deste grupo.
Dados sociodemográficos, como faixa etária, sexo, escolaridade, situação socioe-
conômica, informações acerca da gravidade da dependência e outros dados pertinentes
devem ser utilizados se disponíveis.
Pode também haver um público-alvo primário, que seria o alvo específico da
intervenção, e um secundário, que seria a população adjacente beneficiada indiretamente
pela intervenção.
4. Justificativa
Para que o projeto de intervenção possa ser executado deve existir uma justifi-
cativa válida que explique a importância que o mesmo terá para o público-alvo, do con-
trário será uma ação desprovida de sentido.
Em diversas outras, como na captação de recursos, por exemplo, a justificativa
pode ser o que defina o financiamento ou não do projeto, por isso deve ser explicado de
forma clara e consistente.
A justificativa é necessária para que a própria equipe se aproprie da importância
do projeto e, assim, tenha argumentos e clareza no discurso de apresentação do mesmo.
5. Objetivos
6. Referencial teórico
7. Método
8. Recursos
recursos materiais
o de consumo (papelaria, escritório, etc.)
o permanentes (mobiliário, equipamentos, telefone, veículo, etc.)
recursos humanos
o profissionais
o técnicos
o auxiliares
o outros
Também podem ser citados neste tópico os parceiros que possam estar engajados
no projeto, podendo ser instituições, autarquias, empresas e outros órgãos públicos.
9. Limitações e dificuldades
Tema do Projeto
Título do Projeto
Público-alvo
Justificativa
Geral
Objetivos
Específicos
Referencial Teórico
Técnicas
Método
Instrumentos
Produto Quantidade Valor
Materiais
Recursos
Função Quantidade Valor
Humanos
Limitações e
dificuldades
ANOTAÇÕES
TREINAMENTO - ENTREVISTA
1. Dados pessoais
Nome Telefone Entrevistador
Sexo Estado Civil Data da Entre-
Endereço Naturalidade vista
Data de Nasci- Religião Encaminhado
mento Escolaridade por quem?
Idade Profissão
Escrever por que o cliente foi encaminhado e o que ele pensa em terem sido as
razões (use as palavras do próprio residente).
3. História Familiar
4. Genograma
Figura 2 - Genograma 2
5. História Pessoal
Nascimento (complicações)
Infância: doenças, ambiente familiar, separação dos pais, pobreza, traumas, lem-
branças
Educação (problemas na escola com colegas e disciplinares)
6. História marital/sexual
7. Filhos
Quantos?
Quais as idades e estados civis?
Algum deles tem problema com o uso de SPA?
Qual a atitude deles diante do problema? Como é o relacionamento?
8. História Ocupacional
9. História Social
Delitos
Já foi detido ou preso?
Por qual motivo?
Início
o primeira vez que bebeu álcool
o primeira vez que comprou para si uma bebida alcoólica
o idade / circunstância
Evolução
o Quando começou a beber na maioria dos finais de semana?
o Quando começou a tomar bebidas destiladas?
o Quando começou a beber quase todos os dias?
o Quando começou a beber no padrão atual?
o Quando começou a perceber que seu hábito de beber estava causando pro-
blemas?
o Quando foi a primeira vez que teve sintomas de abstinência (tremores,
náuseas, ânsias de vômitos, sudorese)?
o Em que período parou de beber, completamente, por alguns dias, semanas,
meses?
o O que motivou a abstinência?
o Qual foi a última vez que bebeu?
Físicos Psicológicos
o Embriaguez o Depressão
o Amnésia o Ideias ou tentativas de
o Colapso suicídio
o Vômitos o Agressão
o Gastrite o Ansiedade
o Úlcera o Mentiras
o Hepatite
o Cirrose
o Convulsões
o Delirum tremens
o Acidentes
o Feridas
Evolução do problema
Envolvimento da pessoa com drogas
Padrão de uso da droga preferida num dia típico
Problemas relacionados às drogas
Apoio familiar e social (amigos que não bebem ou usam drogas, atividades de lazer) as-
pectos financeiros.
Hipótese diagnóstica
Fatores de risco
Fatores mantenedores da dependência
Fatores de proteção e prognósticos da dependência
Plano de Trabalho / Tratamento
Álcool
Fórmula
Exemplificando
Sabendo agora como as unidades alcoólicas são calculadas, confira abaixo a ta-
bela do consumo de álcool e riscos à saúde de acordo com as unidades consumidas:
Uso de risco
ANOTAÇÕES
FAMILIAR
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 22
ACONSELHAMENTO FAMILIAR
1. Objetivos
2. Etapas do uso
No princípio
A família tenta negar o problema, ainda que comecem a perceber que há algo
de errado.
A pessoa adicta racionaliza, o casal tem vergonha por exagerar na reação.
Começam os conflitos e a necessidade de “controlar”.
Ansiedade e insônia.
O uso avança
A família começa a isolar-se por medo e vergonha.
A família luta para manter o equilíbrio, buscando que o adicto se recupere e
retome seu papel.
A família tenta esconder o problema.
São feitas promessas, e o amor-próprio diminui.
Aumentam o medo, a ansiedade e a insegurança.
Ameaças e fugas.
Etapas avançadas
sistema se desorganiza mais, e a família desiste de tentar controlar o uso.
A família se concentra em aliviar a tensão, aceitando a culpa pelo uso de dro-
gas.
No final
O caos se torna insuportável.
O adicto é privado de seu papel como membro da família.
A comunicação entre os membros se fecha.
Pode ocorrer uma tentativa de escapar da situação: uma separação, um divór-
cio. Se o adicto consegue se recuperar, a família pode se reorganizar para
aceita-lo de novo no sistema.
Cocaína
Mais impulsividade ¾ pode provocar um aumento de violência ou em abuso
sexual na família.
Níveis altos de mania ou depressão.
Negligência com os filhos.
Atividade criminosa.
Álcool
Descuido dos pais, alternado com períodos de cuidado adequado.
Segredos.
Não se expressam sentimentos no interior da família.
Heroína
Atividade criminosa.
Pais envolvidos, não letárgicos.
Inconstância.
Segredos dentro da família.
4. Dinâmica familiar
As famílias sãs:
o Estão abertas a mudanças: novas amizades, matrimônios etc.
o Se têm em alta conta.
o Têm defesas funcionais.
o Têm regras claras, como os horários, respeito à propriedade, o uso do
telefone, a atribuição de deveres na casa.
o Têm um ambiente no qual os membros podem se aventurar a expressar
seus sentimentos, ideias e crenças.
o Podem lidar com o estresse, perceber as dores dos demais e cuidar uns
dos outros.
o Aceitam as etapas da vida, celebrando-as, como o crescimento, a
o sexualidade etc.
o Têm uma estrutura clara, ou são igualitárias, com uma relação forte entre
os pais, têm menos necessidade de controle e podem negociar.
o Estão abertas aos sentimentos e sua expressão direta. Aceitam qualquer
sentimento, e o enfado faz parte do contexto de reconhecer ao outro.
o Tudo está invertido, as crianças mandam, família caótica, sem regras ex-
pressas ou com apenas um pai encarregado de tudo.
o Atitudes de duvidar de tudo, hostilidade aberta, sadismo, intenções de
manipular e lamentar-se junto aos demais.
Equilíbrio de papéis
o Um estado de harmonia ou equilíbrio entre membros de uma família.
Papéis contínuos
o Um estado deve ser contínuo e persistente, sem interrupção.
Papéis complementares
o Um sistema que é mutuamente dependente, dando e recebendo.
Capacidade de papéis
o A qualidade ou estado de ser adequado funcionalmente por ter conhe-
cimento suficiente, juízo ou capacidades.
Regras familiares
o Um sistema governado por regras é um sistema em que todos os seus
membros se comportam com padrões de inter-relação organizados e
repetidos.
o Nas famílias sãs se estabelecem regras para se obter estabilidade e con-
tinuidade por um longo tempo.
o Também fornecem uma proteção sadia para os membros da família.
o As regras determinam os padrões de conduta dos membros da
o família.
4.3 Infância
ANOTAÇÕES
DO PROJETO
TERAPÊUTICO
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 29
Introdução
Desospitalização
Desinstitucionalização
Modelo Psicossocial
Singularização
Ressocialização
1
Remeta-se o leitor a este material do Módulo 1 para aprofundar-se no assunto.
Módulo 2: Construção do Projeto Terapêutico
FEBRACT – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 30
Enfim, podemos concluir que para que a Singularização seja uma prática real den-
tro da CT, a equipe precisa desprender-se dos enraizados conceitos baseados no Trata-
mento Moral, que ainda permeiam boa parte das práticas cotidianas.
Desta forma o dependente químico não somente teria sua saúde física restaurada
ou melhorada, mas poderia ter acesso a práticas que o levassem de volta a si mesmo, de
encontro com a sua história, com a sua singularidade.
Igualdade não significa tratar todos da mesma forma, mas justamente o contrário.
Igualdade é tratar a cada um de forma diferente, e acordo com as suas condições
pessoais e as suas necessidades.
Justiça, no sentido terapêutico, não significa avaliar a todos pelos mesmos parâmetros,
mas justamente o contrário.
Justiça é avaliar cada um de acordo com as suas condições e limitações pessoais.
Lei 10.216/2001 – Lei Paulo Delgado, que definiu a Reforma Psiquiátrica no Bra-
sil.
o Art. 2º – Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno
mental:
II – Ser tratado com humanidade e respeito e no interesse exclu-
sivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recupe-
ração pela inserção na família, no trabalho e na comuni-
dade.
Precisa estar claro para a equipe da CT que estas duas estratégias são diferentes,
embora uma (PAS) esteja contida na outra (PT).
1. Ingresso
2. Fase inicial
3. Fase intermediária
4. Fase final
3.2.1 Ingresso
o emissão de documentos
o roupas e objetos de higiene pessoal
o busca ativa familiar
Apresentação da CT
o Projeto Terapêutico
o Atividades
o Regulamentos
o Estrutura física
o Grupo e Equipe
Avaliação individual
o Recursos internos e externos
o Comorbidades
o Tratamentos anteriores
o Gravidade da dependência
o Fatores de risco e proteção
Adaptação com a CT
o Atividades de baixa complexidade
o Maior tolerância da equipe
o Poucas sanções
o Necessidade de “tutor”
o Foco na permanência
Desenvolvimento individual
o Habilidades sociais
o Estratégias de enfrentamento
o Capacidade de resolução de conflitos
o Tolerância à frustração
o Comunicação
o Atividades externas
Papeis na CT
o Aumento da responsabilidade
o Papeis de compromisso
o Direção de atividades
o Participação ativa em Assembleias
o Compromisso com o programa
Contato familiar
o Avaliação estrutura e dinâmica
o Avaliação do nível de codependência
o Maiores informações pessoais
Módulo 2: Construção do Projeto Terapêutico
FEBRACT – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 35
Reinserção social
o Condições de autossustento
o Vínculos familiares reconstituídos
o Retomada de estudos
o Maior equilíbrio emocional
o Maior autocontrole
Atividades externas
o Trabalho remunerado
o RAPS
O TEMPO NUNCA
o Grupos de apoio
DEVE SER O
o Grupos religiosos
CRITÉRIO DE
o Lazer saudável
ALTA
o Novas amizades
TERAPÊUTICA!!
o Evitar situações de risco
Estes critérios da Fase Final podem ser considerados também como critérios de
Alta Terapêutica.
Cabe lembrar que O TEMPO NUNCA DEVE SER O CRITÉRIO DE ALTA
TERAPÊUTICA, já que isto significaria simplificar e padronizar o processo, em de-
trimento de critérios mais específicos como as melhoras acima descritas.
Indisciplina
o Violência
o Sexo
o Roubos
o Uso de SPAs
Encaminhamento
o Tratamento de saúde
o Comorbidades
o Outra CT ou semelhante
Outros
o Ordem judicial
o Óbito
Referências
TENORIO, Fernando. A reforma psiquiátrica brasileira, da década de 1980 aos dias atu-
ais: história e conceitos. História, Ciências e Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, v.
9(1), jan-abr. 2002, p. 25-59.
ANOTAÇÕES
DE
CASOS
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 39
MANEJO DE CASOS
Introdução
Nos casos a seguir serão descritos 6 tópicos sobre a avaliação técnica de cada um
deles, tópicos estes que toda equipe precisa avaliar com cuidado antes de definir qualquer
manejo a ser tomado, para evitar intervenções iatrogênicas ou pouco eficazes.
Os itens a avaliar são os seguintes:
1. O que parece
Normalmente o que primeiro se evidencia no comportamento do residente
são as suas defesas e comportamentos aprendidos, reforçados pelo ambi-
ente de origem.
A equipe precisa ter claro que esta primeira visão não é a definitiva, e que
o que aparece neste primeiro momento não é a realidade definitiva.
Por isso a necessidade de uma avaliação minuciosa, feita em equipe, e com
tempo suficiente como para perceber todas as nuances possíveis.
2. Como é mesmo
Depois de uma avaliação minuciosa a equipe poderá compreender mais
profundamente quais são os padrões de comportamento aprendidos ao
longo da história de vida, quais as defesas decorrentes dos sofrimentos
passados, quais os déficits comportamentais, quais as habilidades e forta-
lezas.
5. O que precisa
Quando a equipe se faça esta pergunta sempre tem que pensar no que o
residente precisa da CT para poder superar os seus problemas e comporta-
mentos disfuncionais.
Equipes despreparadas tendem a pensar que o residente precisa mais de
recursos internos (paciência, tolerância, aceitação, etc.) do que de recursos
da CT e da equipe, culpabilizando-o assim pelos problemas apresentados.
É importante lembrar sempre que se o residente possuísse estes recursos
internos não precisaria estar na CT, já que teria dado conta dos seus pro-
blemas e dificuldades sem nem mesmo utilizar-se da droga como recurso.
6. Manejo
Depois de ter avaliado tudo o que foi visto nos tópicos anteriores, a equipe
estará mais próxima de definir uma intervenção neutra e eficaz para o caso.
Intervenções eficazes exigem tempo de avaliação, técnica específica de
interpretação dos comportamentos apresentados pelo residente e, sem dú-
vidas, a intervenção precisa ter sido definida em equipe, nunca por um
Depois de termos compreendido o que deve ser avaliado, vamos então tentar com-
preender alguns dos casos mais frequentes no dia-a-dia da CT.
O DESAFIADOR
Não quer ajuda / Não gosta da equipe
O que parece
Sabe tudo
Inseguro / Busca aprovação
Como é mesmo
Medo da rejeição
Rejeição / Esquiva
O que provoca na equipe
Enfrentamento
Modelo negativo
O que provoca no grupo
Desautoriza a equipe
Limites / Muita paciência
O que precisa
Vínculo
Intervenções individuais
Manejo
Pequenos grupos
O AGRESSIVO
Não quer ajuda
O que parece
Não gosta da equipe e do grupo
Inseguro / histórico de agressões
Como é mesmo
Medo do contato e da rejeição
Rejeição / Esquiva
O que provoca na equipe
Punições e enfrentamento
Valida comportamentos negativos (Mo-
O que provoca no grupo delo)
Insegurança / medo
Limites / Muita paciência
O que precisa
Vínculo / Continência
Intervenções individuais
Manejo
Pequenos grupos
O MIMADO
Quer tudo de seu jeito
O que parece
Birras e manipulações
Inseguro / dependente
Como é mesmo
Intolerante à frustração
Rejeição / impaciência
O que provoca na equipe
Invalidação das demandas reais
Impaciência / rejeição
O que provoca no grupo
Ciúmes, caso atendido
Limites claros
O que precisa
Equipe coesa (sem facilitadores)
Intervenções familiares
Manejo
Pressão do grupo
O COITADO
Queixas permanentes
O que parece
Chantagens e manipulações
Inseguro / dependente
Como é mesmo
Busca atenção permanente
Impaciência / pena
O que provoca na equipe
Invalidação das demandas reais
Impaciência / rejeição
O que provoca no grupo
Contratos negativos
Atenção focal
O que precisa
Equipe coesa (sem facilitadores)
Reforço diferencial
Manejo
Papeis de relevância (empoderamento)
O DESINTERESSADO
Não quer ajuda
O que parece
Não liga para nada
Inseguro / medo de desafios
Como é mesmo
Sente que não consegue mudar
Irritação / descaso
O que provoca na equipe
Falta de investimento
Irritação / rejeição
O que provoca no grupo
Isolamento / influência negativa
Estímulos eficazes
O que precisa
Vínculo forte
Atividades de seu interesse
Manejo
Acolhimento do grupo
O CHEFE DA GANGUE
Não quer ajuda
O que parece
Quer prejudicar o grupo
Pode ter perfil psicopático...
Como é mesmo
ou busca por reforço social
Raiva / revolta
O que provoca na equipe
Disputa (igualar-se)
Medo / rejeição
O que provoca no grupo
Contratos negativos
Grupo maduro e operante
O que precisa
Equipe coesa / postura profissional
Não supervalorizar influência
Manejo
Não disputar autoridade (extinção)
O SUPER ADAPTADO
Está muito bem
O que parece
Pratica todo o programa
Busca aprovação
Como é mesmo
Não internaliza
Confiança / segurança
O que provoca na equipe
Falta de investimento
Ciúmes / desconfiança
O que provoca no grupo
Modelo positivo inatingível
Segurança e vínculo para se expor
O que precisa
Avaliação minuciosa
Não supervalorizar comportamentos +
Manejo Promover vínculos mais profundos
(grupo)
O ESCONDIDO
Está tranquilo
O que parece
Adere ao programa
Inseguro / medo de desafios
Como é mesmo
Prefere não se expor
Invisibilidade
O que provoca na equipe
Falta de investimento
Isolamento / falta de vínculos
O que provoca no grupo
Não se expõe a conflitos
Ambiente terapêutico (segurança)
O que precisa
Vínculos significativos
Protocolo de atividades
Manejo
Atribuição de funções em pares/grupo
O FAZ TUDO
Está muito bem
O que parece
Gosta de ajudar
Busca aprovação
Como é mesmo
Não internaliza
Confiança / segurança
O que provoca na equipe
Excesso de atribuições
Ciúmes / concorrência
O que provoca no grupo
Modelo positivo inatingível
Segurança e vínculo para se expor
O que precisa
Avaliação minuciosa
Não supervalorizar comportamentos +
Manejo
Diminuir responsabilidades operacionais
O VIDA BOA
Não quer ajuda
O que parece
Só quer saber de lazer
Imaturo / falta de noção de realidade
Como é mesmo
Déficit de execução de tarefas
Irritação / rejeição
O que provoca na equipe
Punições e enfrentamento
Irritação / rejeição
O que provoca no grupo
Contratos negativos
Estímulos eficazes
O que precisa
Limites bem definidos
Atividades de seu interesse
Manejo
Pressão grupal
ANOTAÇÕES
SOCIAL
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 47
REINSERÇÃO SOCIAL
Introdução
Aspectos sociais
Aspectos psicológicos
Ansiedade da separação
Ansiedade generalizada
Neurose de êxito
Estados depressivos
Disfunções familiares (brigas, pactos perversos)
Vulnerabilidade emocional
Resiliência
Autoeficácia
Autoafirmação
Níveis de motivação
Estratégias cognitivas e de ação
Planejamento
Estratégias de enfrentamento
Habilidades sociais
Iniciar conversações
Cooperação
Resolução de problemas
Resolução de conflitos
Comportamento social hábil
Relacionamentos interpessoais
Novas possibilidades
ANOTAÇÕES
Introdução
1. O abandono do tratamento
a) sexo masculino;
b) baixa escolaridade;
c) jovem/adulto jovem;
d) comorbidade grave;
e) baixa motivação;
f) existência de problemas legais;
g) baixo nível de habilidades sociais;
h) polidependência;
i) transtorno mental na família.
tem como característica a tendência a não concluir nada que inicia, nunca mantém o seu
compromisso até o final e, por isso, justamente, a desistência do tratamento seria um fator
extremamente negativo no desfecho da sua recuperação. “A própria conclusão do pro-
grama representa um passo fundamental na aprendizagem do respeito aos compromis-
sos”.
Por outro lado, ele também afirma que, mesmo nos que continuam em tratamento,
podem ser encontrados vários graus de compromisso. Enquanto alguns permanecerão no
programa de tratamento apenas para não desistir dele, sem apresentar um grau elevado de
adesão para com o mesmo, suas regras e limites, outros apresentarão um compromisso
real em relação à CT, procurando aderir ao programa de recuperação de forma integral.
“A capacidade de assumir e cumprir compromissos é uma meta vital do processo
de mudança”. Por este motivo, mais uma vez pode-se perceber como o abandono do tra-
tamento é o primeiro passo do retrocesso no processo de recuperação iniciado no mo-
mento da internação.
A través destes dados pode-se observar uma visão diametralmente oposta entre
estes dois modelos, sendo que o primeiro colocaria as SPAs como centro do problema, e
o segundo o indivíduo como agente principal do processo.
Assim, através deste segundo modelo, surge o conceito de “recuperação natural”,
estudado por diversos autores, que representaria a possibilidade do dependente químico
recuperar-se sem necessidade de tratamento. Mas este conceito precisa ser compreendido
adequadamente, a fim de não desqualificar as mais variadas modalidades de tratamentos
existentes.
Num primeiro momento, “a recuperação natural é a via preferente de saída das
adicções entre os que abandonam ou reduzem o consumo do álcool e outras substâncias”,
e significaria a melhoria do quadro de dependência química sem necessidade de nenhuma
forma de tratamento.
Os autores acima referidos definem três conceitos básicos para considerar a me-
lhora do dependente químico como “recuperação natural”: o transtorno adictivo, o trata-
mento e a recuperação.
Analisando estes dados, seria razoável inferir que a população das CTs não se
encaixa em grande parte destes critérios, o que significaria, portanto, que muito prova-
velmente um indivíduo com características apropriadas para a recuperação natural difi-
cilmente procuraria tratamento em uma CT.
1.4.2 Tratamento
Os autores definem que, para que a recuperação seja considerada natural, não deve
existir nenhuma modalidade de tratamento ou recurso terapêutico intermediando a mu-
dança do comportamento adictivo.
O tratamento compreende distintos tipos de recursos ou serviços terapêuticos
dirigidos à mudança das condutas adictivas, tais como AA ou outros grupos de
autoajuda; tratamentos psicológicos ou psiquiátricos, recursos relacionados
com serviços sociais; hospital psiquiátrico; conselho do médico ou enfermeira;
hospital ou urgências e centros de desintoxicação.
Desta forma, o público que poderia ser incluído nestas condições fica ainda mais
reduzido, o que diminui a possibilidade de caracterizar a população da CT como passível
de recuperação natural, principalmente se forem considerados dados como os do NIDA e
Kurlander segundo os quais respectivamente 60% e 53% da população da CT já teria
passado por outros tratamentos anteriores.
1.4.3 Recuperação
Desenvolvido pelo autor desta pesquisa para uso de rotina na CTNJ, é fruto da
observação de inúmeros casos de abandono em mais de 20 anos de trabalho. Durante este
tempo foram observadas algumas razões muito recorrentes no discurso dos acolhidos que
abandonavam o tratamento, e que conferem com as citadas por diversos autores já citados.
Considerando estes discursos foi elaborado este questionário, tentando reproduzir
em linguagem simples o que a maioria dos acolhidos verbalizava ao abandonar o trata-
mento. Este tem se mostrado útil na prática diária da CTNJ, ajudando a perceber mais
claramente o que colabora com o abandono do tratamento, assim como na elaboração de
estratégias de prevenção ao abandono.
É um questionário autoaplicável que visa detectar os principais motivos auto re-
feridos que levam o acolhido a abandonar o tratamento e consiste em 12 afirmações com
possibilidade de resposta “sim/não”, sendo que todas as afirmações devem ser respondi-
das.
A aplicação é acompanhada tanto pela equipe técnica quanto pela equipe interna,
ambas devidamente treinadas e supervisionadas, considerando que o abandono não é uma
situação programada e, portanto, a aplicação deverá ser realizada por quem estiver pre-
sente no momento.
A elaboração das afirmações parte da hipótese já citada anteriormente de que
aqueles acolhidos que se consideram excessivamente otimistas em relação a si mesmos,
e aqueles que adotam uma postura negativa perante o tratamento estão mais predispostos
ao abandono.
As afirmações são as seguintes:
Masculino Feminino
Confirmando isto, a crença estruturada pelo residente de que é muito pouco pro-
vável sofrer uma recaída após o abandono (encontrada nas questões 6 a 14) viola a lógica,
já que toda a literatura nacional e internacional refere o contrário, e o mesmo é orientado
neste respeito durante o tratamento, e no ato do abandono.
A crença também é supergeneralizada, já que em muitos casos o residente que
abandona o tratamento toma como regra alguma exceção que tenha conseguido permane-
cer em abstinência após o abandono, ou até mesmo alguém que tenha conseguido inter-
romper o uso sem necessidade de uma internação, não discriminando se o padrão de con-
sumo2 e a história natural da doença3 se assemelham.
Considerando o trabalho como um dos principais fatores que colaboram com o
abandono do tratamento, vale a pena avaliar a representação social do mesmo, a fim de
considerar quanto é culturalmente reforçada a volta para o mercado de trabalho.
Para Ferreira et al. (2005, p. 3) as representações sociais “funcionam como um
sistema de interpretação da realidade que regula as relações dos indivíduos com seu meio
ambiente físico e social, orientando os comportamentos e as práticas desses indivíduos”.
Em diversos estudos sobre a representação social do trabalho no Brasil foi obser-
vado que o compromisso, a responsabilidade e o desenvolvimento pessoal foram as prin-
cipais características relacionadas ao mesmo, depois da remuneração e do sustento. Isto
pode colaborar com a crença de que quem não trabalhe, independentemente do motivo,
não seja uma pessoa comprometida, responsável e em desenvolvimento pessoal. Isto pode
funcionar como uma fonte de pressão interna e social para que o dependente em trata-
mento deseje retornar o mais brevemente possível para o mercado de trabalho, a fim de
não se sentir um indivíduo irresponsável, descomprometido e com baixo nível de desen-
volvimento pessoal.
Para Serra (2013), a vulnerabilidade cognitiva – tendência a aplicar um viés nega-
tivo no processamento de informação – contribuiria tanto para a instalação e manutenção
de transtornos afetivos quanto para aumentar a chance de o indivíduo cometer erros de
processamento da realidade, como os que muitas vezes podem contribuir para o abandono
do tratamento. Os principais erros seriam:
2
O padrão de consumo é a forma ou maneira como uma pessoa faz uso de uma determinada droga, a partir
da primeira experimentação, que pode ser baseado no tipo de droga, na quantidade, na frequência e na
forma do consumo. Esta caracterização se faz necessária para definir claramente os conceitos de abuso
e dependência.
3
A história natural da doença neste caso refere-se à passagem do uso experimental e ocasional para o
uso arriscado, depois para o uso nocivo ou abuso, no momento em que começam a aparecer os primei-
ros problemas de qualquer espécie na vida do indivíduo, e depois para a dependência, com todos os
possíveis transtornos e morbidades que possam surgir ao longo da mesma.
Raramente temos visto fracassar uma pessoa que cuidadosamente seguiu nosso
caminho. Os que não se recuperam é porque não podem ou não querem se
entregar completamente a este programa simples. Geralmente, homens e mu-
lheres que, pelas suas constituições, são incapazes de ser honestos consigo
mesmos. [...] São, por natureza, incapazes de desenvolver um modo de vida
que requeira rigorosa honestidade. Suas “chances” são menores que o comum.
Existem, também, aqueles que sofrem de graves desequilíbrios emocionais e
mentais, embora muitos se recuperem por terem a capacidade de ser hones-
tos. (AA, 1955, p. 73, grifo nosso).
O que mais surpreende nos resultados apresentados por este questionário de ava-
liação são as duas questões com mais respostas afirmativas: 10 (83,3%) e 13 (96,3%),
sendo esta última praticamente unânime.
Estas duas questões se referem a dois dos principais fatores de proteção para a
recaída: a espiritualidade/religiosidade e o trabalho. Por este motivo surpreende, já que
evidencia que estes fatores de proteção para a recaída podem ser fatores de risco para o
abandono do tratamento, que por sua vez é um grande fator de risco para a recaída.
Para Sanchez, Ribeiro e Nappo (2012), a espiritualidade e a religiosidade são im-
portantes fatores de prevenção à recaída, por causa da sensação de bem-estar interior que
provocam, pela adesão e pertença a grupos sociais específicos, pelos limites que impõem
ao comportamento dos fiéis, e pela diminuição da exposição a outros fatores de risco.
Mas estes mesmos fatores de proteção associados ao pensamento mágico e às
crenças disfuncionais podem se tornar um risco para o dependente químico em trata-
mento.
Por último, a frequência de resposta da questão 13 revelou que o desejo de voltar
a trabalhar e se tornar novamente economicamente ativo é o principal motivo autorrefe-
rido para o abandono do tratamento, o que complementa os dados obtidos a través da
análise multivariada deste estudo, que aponta o trabalho como o único fator preditor do
abandono estatisticamente significativo, e afirma que aqueles residentes que trabalhavam
antes de ingressar na CT possuem 10 vezes mais chance de abandonar o tratamento do
que aqueles que se encontravam desempregados no ato da internação.
Como visto acima, as crenças disfuncionais são extremamente difíceis de serem
descontruídas e não passíveis à desconfirmação, mais ainda quando se trata de crenças
reforçadas socialmente, como é o caso destas duas últimas questões.
A espiritualidade/religiosidade e o trabalho representam valores altamente refor-
çados socialmente, que dificilmente são contestados e, portanto, acabam sendo altamente
passíveis de generalização e interpretação alternativa, fato que pode ocorrer com o de-
pendente químico que abandona a CT afirmando estas duas últimas questões.
Considerando as questões acima, este instrumento (QARA) se mostrou eficaz em
detectar como possível fator prognóstico do abandono do tratamento a mesma variável
que a análise multivariada apresentou após a avaliação estatística. Por este motivo, este
instrumento poderá ser submetido a processo de validação em futuros trabalhos.
Conclusões
Referências
DE LEON, G.; SCHWARTZ, S. Therapeutic communities: what are the retention rates?
Am J Drug Alcohol Abuse. v. 10, n. 2, 1984. p. 267-284.
FIORINI, Hector Juan. Teoria e técnica de psicoterapias. Tradução de: Maria Stela
Gonçalves. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Coleção Psicologia e Pedagogia.
SMITH, L. A.; GATES, S.; FOXCROFT, D. Therapeutic communities for substance re-
lated disorder. Cochrane Database Syst Rev. v. 25(1), 2006.
SURJAN, J.; PILLON, S.; LARANJEIRA, R. O que acontece com os pacientes de-
pendentes de álcool e drogas que desaparecem das primeiras consultas? UNIAD
(Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas), Departamento de Psiquiatria, Escola Pau-
lista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo.
ANOTAÇÕES
RELACIONADOS
AO ÁLCOOL
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 69
1. História
2. Álcool no mundo
Segundo a OMS e a UNODC, o álcool provoca quase 10% das mortes de jovens
no mundo, e mata mais que a Aids ou a tuberculose.
O problema é gritante, principalmente na população masculina: 6,2% das mortes
de homens são relacionadas ao álcool, enquanto para as mulheres o índice é de 1,1%. Para
homens de 15 a 59 anos, a bebida está envolvida nas principais causas de morte.
Além de prejudicar o próprio usuário, o consumo de álcool atrapalha o bem-estar
e a saúde das pessoas que estão em volta. Uma pessoa bêbada pode machucar outras ou
CISA, 2014
3. O álcool no Brasil
4
Porcentagens referentes ao II LENAD para população adulta.
Módulo 2: Problemas relacionados ao álcool
FEBRACT – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 72
41% 38%
65% 62%
59% 62%
35% 38%
Abstinentes Bebedores
Beber
nocivo;
18%
Abstêmio;
50%
Beber
moderado;
32%
II LENAD
II LENAD
Este valor representa 17% dos bebedores, ou 6,8% da população geral, sendo que
entre os homens esta taxa é de 10,5% e entre as mulheres de 3,6%, o que evidencia que
os homens apresentam três vezes mais casos de dependência do álcool do que as mulhe-
res.
A mesma distribuição Gráfico 6 - Distribuição de uso abusivo e a dependência por sexo, com-
comparando o uso abusivo e a parando o I LENAD (2006) e o II LENAD (2012)
dependência nos estudos do I
LENAD (2006) e do II
LENAD (2012), mostra que
enquanto houve significativa
diminuição dos casos de uso
abusivo e dependência entre os
homens, as mulheres apresen-
taram aumento nos casos de
dependência, como mostra o
Gráfico 5.
4. Os prejuízos do álcool
Dados da OMS indicam que 70% dos indivíduos que têm problemas de abuso de
álcool estão empregados.
Outros estudos nacionais (SILVA; DUARTE, 2008) mostram que o alcoolismo é
a terceira causa de absenteísmo no trabalho, e que o uso de drogas no local de trabalho é
um problema mundial de Saúde Pública.
Dados levantados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam que
20% a 25% dos acidentes de trabalho no mundo envolvem pessoas intoxicadas que ma-
chucam a si mesmas e a outros.
No âmbito das relações de emprego, a intoxicação habitual faz com que o traba-
lhador se mantenha em atividade, enquanto pode, por mera obrigação.
O uso periódico e prolongado reduz a capacidade para o trabalho na medida em
que afeta o raciocínio, a concentração, alterando o comportamento do trabalhador relati-
vamente à sua responsabilidade, postura, valores morais, e tudo mais que possa excluí-lo
do convívio social.
Além dos problemas de ordem física, mental e moral que as drogas em geral cau-
sam a um trabalhador, existe a repercussão deste conjunto de acontecimentos na vida da
empresa, através de:
absenteísmo;
impontualidade, faltas constantes e injustificadas no trabalho;
afastamento e acidentes de trabalho;
desperdício de material devido à má qualidade da produção, que é, por sua
vez, resultado da perda da concentração, clareza visual e habilidades do
funcionário dependente;
diminuição da produtividade e qualidade dos produtos;
ocorrências disciplinares;
licenças-saúde longas e frequentes;
aposentadorias precoces.
O uso de álcool pelos pais pode influenciar uma criança genética ou ambiental-
mente. A síndrome alcoólica fetal (SAF) é uma das consequências diretas do uso de álcool
materno. Aproximadamente 3 a 10 entre cada 10.000 bebês nascidos nos Estados Unidos
a cada ano nascem com a SAF.
Acredita-se que a SAF afete cerca de 40 mil crianças por ano em todo o globo,
mais do que a síndrome de Down, distrofia muscular e espinha bífida somadas, segundo
a organização não-governamental The National Organization on Fetal Alcohol Syndrome
(NOFAS).
“Há uma estimativa de que um em cada cinco casos (20%) de deficiência mental
no mundo seja causado pelo álcool” ingerido pela gestante, afirma Dartiu Xavier da Sil-
veira, co-fundador e coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Depen-
dentes (PROAD) da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP).
A Síndrome Alcoó-
Também se afirma que a SAF é reconhecida como a
lica Fetal é reconhe-
maior causa de retardo mental no ocidente.
cida como a maior
Evidências científicas mostram que o alcoolismo tende
causa de retardo men-
a perpetuar na família. Segundo estudos os filhos de alcoolis-
tal no ocidente.
tas:
Negação.
Tentativas de controle ou evitação - isolamento social.
Desesperança, medo e esgotamento.
Contato sexual diminui/cessa, medo, raiva, culpa.
Tentativas de convencimento, procura de ajuda.
Término do relacionamento ou “Subterfúgios”.
Subterfúgios Afastamento;
Ataque controle, agressões, ameaças;
Manipulação exposição da própria angústia e a dos filhos, embriaguez
proposital;
Mimos cuidados e promessas;
Manejo Construtivo Assume o controle, cuida dos filhos;
Busca de ajuda construtiva Médico da família, AA, folhetos, informa-
ção, tratamento em CT.
E quando a esposa está lidando com problemas de ordem prática e emocional por
causa do alcoolismo do marido, diversos sentimentos e estados podem emergir recorren-
temente:
Face a isto, o envolvimento em brigas com agressão física também aumenta con-
sideravelmente quando se associa o abuso de álcool.
Segundo dados do II LENAD (2012), 2,6% da população geral, ou 3% dos ho-
mens, se envolveu em brigas no ano do estudo.
Se avaliados os homens com menos de 30 anos este número dobra, sendo 6% a
taxa para esta faixa etária.
Já para os homens bebedores problemáticos com menos de 30 anos a taxa foi de
27%, ou seja, 900% a mais do que a dos homens em geral, e 450% a mais do que a taxa
dos homens com menos de 30 anos em geral, como mostra o Gráfico 9.
Em um estudo realizado no interior do Estado de São Paulo (Ribeirão Preto) foram
analisadas 263 amostras de causa de morte violenta. Em 52% destas amostras a alcoole-
mia foi positiva (< 0,6 e = 0,6 g/l).
As análises estatísticas indicaram uma tendência de maior número de indivíduos
com idade entre 18 e 24 anos sem diferença entre homens ou mulheres, porém, no sexo
masculino houve predomínio de jovens na faixa etária entre 20 e 29 anos, enquanto nas
mulheres, a faixa etária mais encontrada foi entre 30 e 39 anos.
Gráfico 11 - Distribuição da alcoolemia segundo a causa jurídica da morte - Ribeirão Preto, 2008.
Neste gráfico pode-se ver que a alcoolemia positiva está presente em mais de 50%
dos casos tanto de mortes acidentais, homicídios, suicídios e outras formas de morta por
causas externas.
Segundo dados do Senado Federal, a maioria das fatalidades relacionadas ao con-
sumo de álcool ocorre entre 21 e 45 anos. O uso de álcool está relacionado com 23% das
fatalidades com menores de 16 anos, 37% das fatalidades com indivíduos entre 16 e 20
anos, 57% das fatalidades com indivíduos entre 21 e 29 anos, 53% das fatalidades com
indivíduos entre 30 e 45 anos e 38% das fatalidades com indivíduos entre 46 e 64 anos.
A alta prevalência de utilização do álcool entre as vítimas de morte violenta sugere
que outros estudos devem ser realizados para avaliar de forma mais definida o papel do
álcool na potencialização das causas de mortes externas.
Gráfico 12 - Relação entre beber e dirigir, por sexo, segundo dados do I e II LENAD
Face a isto não é de se estranhar que os mais altos índices de suicídio estejam
associados ao alcoolismo, como mostra a Figura 2.
5. Conclusões
Embora não tenha aumentado o número de pessoas que bebem álcool no Brasil, aqueles
que já bebiam bebem mais e mais frequentemente.
As mulheres, especialmente as mais jovens, são a população com maior risco, apresen-
tando maiores índices de aumento no padrão de consumo do álcool.
Houve uma diminuição generalizada no comportamento de beber e dirigir comparando
os dados de 2006 e 2012.
Quase um a cada 10 brasileiros possui uma arma de fogo, 5% dos homens andam ar-
mados, e este índice dobra (10%) entre homens jovens que bebem de forma abusiva.
Quase dois terços dos homens jovens que bebem de forma abusiva se envolveram em
alguma briga com agressão física no último ano.
Mais de 2 de cada 10 brasileiros referiram ter sido vítimas de violência física na infân-
cia. Em 2 de cada 10 casos os abusadores haviam bebido.
6% dos brasileiros relataram ter sido vítimas de violência doméstica no último ano. Em
metade dos casos o parceiro(a) que agrediu havia bebido.
Existe uma forte associação entre depressão, suicídio e abuso de álcool. Mais de 2 a
cada 10 tentativas de suicídio estão relacionadas ao consumo de álcool.
Referências
GMEL, G.; REHM, J. Impacto social do uso nocivo do álcool. Instituto Suíço de Pre-
venção dos Problemas Relacionados ao uso do Álcool e outras Drogas, Suíça.
ANOTAÇÕES
RECAIDA
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 88
PREVENÇÃO DA RECAÍDA
Intervenções específicas
Intervenções globais
Modelagem
Reforçadores
Aquilo que aumenta a probabilidade da repetição do comportamento.
Positivos = euforia, socialização, atenção das pessoas, sensação de calor, etc.
Negativos = evitação de sofrimento, dor, tensão, inibição, etc.
Expectativa de ação – resultado.
Estímulo ambiental
Auto eficácia
Exercícios
Extraído do livro: “Prevenção da recaída: Um manual para pessoas com problemas pelo uso do álcool e
de drogas”, de Paulo Knapp e José Manuel Bertolote
Sinalizadores
Ex.: Para João por exemplo, um dos sinalizadores mais importantes era seu
amigo José, que sempre passava pela sua repartição para irem juntos a bar encontrar-
se com os amigos e beber.
Tente identificar e faça uma lista a seguir dos possíveis sinalizadores com os quais
poderá se deparar:
Sinalizadores
Qual o seu plano para lidar com sinalizadores, que você certamente irá encontrar
em sua vida?
Ex.: João, por exemplo, resolveu falar com seu amigo José e explicar toda a situ-
ação. Pediu a ele que o ajudasse no seu Plano de Recuperação e que a primeira ajuda
que José poderia lhe dar era não mais irem ao bar, como de costume, mas saírem para
dar uma boa caminhada
Descreva abaixo todas as possíveis estratégias que você poderá usar para cada um
dos seus sinalizadores.
Referências
ANOTAÇÕES
Objetivos
Ao longo deste estudo será dada maior ênfase ao desenvolvimento das habilidades
sociais através dos pressupostos teóricos da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC).
Esta abordagem parte da concepção de que a dependência química é estabelecida, sobre-
tudo, por um padrão de comportamentos que emergem do aprendizado social.
Deste modo, o consumo de substâncias psicoativas é, a princípio, um comporta-
mento que o indivíduo aprendeu por meio das observações realizadas sobre eventos; tais
como: a ampla exibição do uso de drogas em meios de comunicação, a utilização de dro-
gas na família, no grupo de amigos e na sociedade como um todo.
Dentro desta estrutura conceitual, a utilização de substâncias psicoativas se mantém,
em parte, pelos efeitos farmacológicos da droga (ou seja, o efeito reforçador produzido pela
droga quando em interação com o organismo), bem como pelos efeitos oriundos dos reforça-
dores sociais (ou seja, do tipo não farmacológico, que são derivados do estilo de vida do
usuário).
Obviamente a dependência química envolve uma série de fatores, como por exem-
plo: biológico, psicológico, social e espiritual.
No entanto, de acordo com a TCC, o comportamento de consumir drogas se man-
tém, principalmente, pelo estilo de vida do dependente químico e pelo ambiente social
em que está inserido.
É importante notar que, de modo intrínseco ao contexto e ambiente, os comportamen-
tos relacionados às SPAS são determinados, em larga escala, pelas crenças e expectativas
distorcidas que os indivíduos desenvolvem acerca dos efeitos do uso. Ressalta-se que as emo-
ções e os pensamentos também são considerados como processos cognitivos que podem tanto
aumentar as chances de ocorrência, como manter tais padrões de comportamentos.
A TCC traz uma perspectiva mais otimista para o tratamento da dependência quí-
mica, pois não se atem apenas às causas fisiológicas e relativamente fixas para explicar
os comportamentos relacionados à utilização de substâncias psicoativas. De modo com-
plementar a tal suposição, a TCC enfatiza que processos cognitivos e comportamentais
são mais relevantes para o desenvolvimento e manutenção destes comportamentos. Além
disso, aponta para o fato de que tais processos são aprendidos e, de igual modo, são pas-
síveis de mudança caso o indivíduo passe por processos de obtenção de novos aprendiza-
dos. Para este processo de novos aprendizados, o treinamento de habilidades sociais é
utilizado como um método altamente eficiente.
Em vias práticas, tais informações podem ser sintetizadas do seguinte modo: ava-
liar o desempenho social, em tempo concomitante com as demandas situacionais, implica
no reconhecimento de que situações diferentes criam demandas diferentes, ou seja, é pos-
sível avaliar a legitimidade de um comportamento socialmente habilidoso, desde que se
analise também todo o contexto em que está inserido, ou seja: a situação que demandou
uma resposta, a resposta em si, bem como as consequências produzidas por esta respostas.
A dimensão cultural envolve uma série de fatores que determinam, em larga es-
cala, os costumes, hábitos e comportamentos coletivos de uma população em específico.
Por exemplo:
para lidar com um dado problema, o indivíduo recorre ao efeito da droga para obter certa
adaptabilidade perante uma situação.
Como consequência deste processo, o indivíduo passa a atribuir às substâncias psi-
coativas o poder sobre determinadas causas e efeitos que não dependeriam necessariamente
da sua utilização para ocorrer, como por exemplo: reduzir o estresse, perder a timidez, lidar
com os problemas, solucionar conflitos interpessoais e intrapessoais, aliviar os sentimentos
negativos e maximizar os sentimentos positivos.
A ausência das habilidades sociais é um preditivo para a utilização de substân-
cias psicoativas e, normalmente, as pessoas apresentam déficits de habilidades sociais
para lidar com as situações que lhes representam riscos para o consumo. Na verdade, não
é a situação em si que representa o risco, mas sim a falta de habilidades sociais para lidar
com a situação, de modo adequado e assertivo, que leva o indivíduo ao consumo de subs-
tâncias. Em outras palavras, seria pela falta de um repertório comportamental adequado
que muitas pessoas se tornam dependentes de drogas.
Por conseguinte, pode-se inferir que em todas as situações que o sujeito apresentar
pouca ou nenhuma habilidade social, baixa autoeficácia e alto conflito emocional, existe
uma grande chance de que este sujeito recorra ao consumo de substâncias psicoativas.
Para as situações em que uma pessoa apresenta pouca ou nenhuma habilidade so-
cial, utiliza-se a definição: situações de alto risco. Estas situações também podem ser
compreendidas como estímulos que, por repetidas vezes, foram acompanhados pela uti-
lização de substâncias psicoativas.
Neste contexto, as habilidades sociais são definidas como ferramentas, comporta-
mentais ou cognitivas, que podem ser usadas com o objetivo de restaurar o equilíbrio
frente às situações de risco que incluem adversidades e/ou autoeficácia reduzida.
Já o treinamento de habilidades sociais é o método utilizado para o desenvolvi-
mento das habilidades sociais que capacita os indivíduos, gradativamente, na obtenção de
respostas mais adaptativas perante as situações de alto risco.
Antes de adentrar sobre os métodos utilizados no treinamento de habilidades so-
ciais, em suma, enfatiza-se que: as habilidades sociais são as ferramentas que uma
pessoa dispõe para interagir de modo eficaz com seu meio ambiente, já o treina-
mento de habilidades sociais é um método de trabalho estruturado, onde por meio
da prática pode-se adquirir e/ou aperfeiçoar os comportamentos considerados como
socialmente habilidosos.
Módulo 2: Treinamento de habilidades sociais na dependência química
FEBRACT – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS, COORDENADORES E
MONITORES DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 99
assertividade
iniciar conversações
falar e ouvir sobre sentimentos e opiniões
fazer e receber elogios
fazer críticas construtivas
receber críticas a respeito de beber
recusar bebidas ou drogas.
manejo da raiva
manejo de pensamentos sobre álcool e drogas
manejo de pensamentos disfuncionais
habilidade de lidar com decisões aparentemente irrelevantes
aumentar as atividades prazerosas
habilidade de lidar com situações de emergência
habilidade de resolução de problemas e problemas persistentes
O profissional que estiver à frente do THS deve ter em mente que, em muitos
casos, os indivíduos não vão apresentar imediatamente respostas assertivas perante situ-
ações nas quais, por repetidas vezes, recorreram ao consumo de substâncias psicoativas
para solucionar seus conflitos intrapessoais e interpessoais.
Em vista disso, é normal que as pessoas encontrem grandes dificuldades para apre-
sentar outros tipos de respostas daquelas que habitualmente estavam acostumados a emi-
tir.
Por conseguinte, o profissional que estiver conduzindo o grupo de THS deve estar
preparado para servir como referência aos demais indivíduos, além disso, deve ter acesso
a uma série de materiais, sendo eles, áudios e visuais para facilitar o aprendizado e de-
senvolvimento destas práticas nos demais.
De acordo com o trabalho realizado por Silva e Serra (2004), os profissionais que
conduzirem o THS podem fornecer aos participantes uma série de estratégias que viabi-
lizam o desenvolvimento das habilidades sociais perante uma série de situações de alto
risco.
Vale ressaltar que, caso o indivíduo esteja passando por um tratamento dentro de
um ambiente protegido (Comunidade Terapêutica), é possível de avaliar o nível e grau de
habilidades sociais adquiridas, por meio de diversas situações e comportamentos como,
por exemplo:
Por fim, salienta-se que a aquisição de novas habilidades sociais não ocorre como
num passe de mágica, envolve prática e persistência. Por conseguinte, alguns indivíduos
ao encontrarem dificuldades na aquisição de novas habilidades sociais, tendem a apresen-
tar baixa motivação e altos índices de desistência dos programas de THS.
Em vista disso, durante os procedimentos de THS é útil valer-se dos princípios da
entrevista motivacional para trabalhar aspectos relacionados com a falta de motivação
para a mudança, bem como a tendência de desistência ao tratamento.
Considerações finais
Referências
DEL PRETE A., DEL PRETE Z. A. P. Habilidades sociais: conceitos e campo teó-
rico-prático [online]. São Carlos: UFSCAR; 2006. Disponível em: <http://rihs.ufs-
car.br>.
MONTI P. M.; O’LEARY T. A. Coping and social skills training for alcohol and co-
caine dependence. Psychiatr Clin North Am. 1999;22(2):447-70.
ANOTAÇÕES
Conceituação
Relevância
• Protocolos clínicos (definição 1): rotinas dos cuidados e das ações de gestão de
um determinado serviço, equipe ou departamento, elaboradas, a partir do conhe-
cimento científico atual, respaldado em evidências científicas, por profissionais
experientes e especialistas em uma dada área, e que servem para orientar fluxos,
condutas e procedimentos clínicos dos trabalhadores dos serviços de saúde (Wer-
neck et al., 2009, apud Araújo, 2011).
Exemplo de Protocolos
atividades diversas
reuniões
padrões de funcionamento da equipe
manejo das rotinas
condução e construção do cronograma
técnicas de aconselhamento
método de triagem e acolhimento
avaliações do processo de progressão do acolhido no ambiente terapêutico
atividades laborais
espiritualidade
Doze Passos
mútua ajuda
reinserção social
triagem
articulação com rede
indicação e contra indicação
Identidade Institucional
confessional - laica
pública - privada
gestão
estrutura logística
localização
Diretrizes da CT
ANOTAÇÕES
ENTREVISTA MOTIVACIONAL
Introdução
Entretanto, não há uma postulação absoluta, pois há pacientes que verbalizam algo
e não o colocam em prática, assim como o contrário também é verdadeiro. A preocupação
nesta abordagem é com o que o paciente faz. Na técnica da E.M. a motivação corresponde
às ações do cliente.
Com este olhar humanista, compreende-se a motivação como um grau de motiva-
ção ao tratamento, ou seja, ela pode ser encarada como a probabilidade de certos compor-
tamentos ocorrerem. É um caminho seguro para encarar a motivação de maneira práticae
até mesmo otimista, e não como um traço imutável de personalidade.
Nesta perspectiva, considerando a motivação como a probabilidade de que uma
pessoa adira a uma estratégia de mudança, declina-se da concepção adotada anterior-
mente, através do confronto, na qual defendia-se a ideia de que o dependente químico
teria um problema de caráter.
Abordagens moralistas ou até mesmo propostas a oferecer conselhos, desconside-
ram a ambivalência do paciente e assim, estimulam a resistência.
Nesta perspectiva, a motivação é considerada por esta abordagem de forma não
estática, e sim, dinâmica e influenciável por fatores externos, incluindo o próprio tera-
peuta.
Com esta referência teórica inicial, afirma-se que a Entrevista Motivacional é um
estilo de aconselhamento, que visa estimular a mudança de comportamento, sendo dire-
tivo e centrado no cliente, ajudando-o a explorar a sua ambivalência.
No que tange ao seu caráter diretivo, a definição está ligada ao fato de que o tera-
peuta manter o seu propósito e direção e escolher o momento certo de intervir, contribu-
indo ou facilitando com as metas.
Já em relação ao aspecto não diretivo, ao invés de propor soluções ou sugestões,
o profissional oferece condições de crítica que propiciem ao cliente uma mudança natural.
A postura do profissional está intrinsicamente ligada a uma prática humanista,
caracterizada por empatia, por uma escuta técnica e reflexiva, que não imponha as opini-
ões do profissional. Visa, na prática, a liberdade de escolha do cliente.
Conceitos principais
Diferentes autores defendem a ideia de que existem princípios gerais que nor-
teiam a Entrevista Motivacional, com características e funções específicas.
Para o presente estudo, compila-se uma parte desta teoria, como segue:
Especificando as ações
1. Parceria
2. Aceitação
3. Evocação
Evocar as forças que motivam a pessoa, ao invés de persuadir. Evocar quer dizer
lembrar, recordar. Motivação vem de motivo, que quer dizer aquilo que pode fazer mover,
motor que causa ou determina alguma coisa.
A motivação é um recurso interno. A evocação traz a proposta de ajudar o cliente
a se recordar de elementos próprios e únicos que podem se tornar motivos para que haja
uma mudança de comportamento.
Quem tem a verdade ou as respostas para os questionamentos é o próprio cliente;
cabe ao profissional evocar estas informações e empoderar o indivíduo quanto a este saber
de si mesmo.
4. Compaixão
1. Engajamento
2. Foco
3. Evocação
que o cliente diminui os seus questionamentos e começa a se preparar para uma tomada
de atitude.
Neste momento, o planejamento é fundamental, uma vez que desenvolve a formu-
lação de um plano de ação específico, podendo encorajar o cliente a aumentar seu com-
promisso com a mudança.
A construção do planejamento não deve ser prescrito e sim, evocado do cliente;
da mesma forma, não deve ser pontual e deve ser sempre revisto. Quando há ensaios rumo
ao movimento para a mudança, o planejamento torna o cliente mais seguro, uma vez que
promove sentimentos de autoeficácia pautados na sua autonomia e nas suas tomadas de
decisões.
Uma boa maneira de começar a terapia é fazer as perguntas de modo que encoraje
o cliente a falar o máximo possível. As perguntas abertas são aquelas que não podem ser
respondidas facilmente com uma palavra ou frase simples.
Fazer perguntas abertas é um convite ao cliente para que ele possa refletir e ela-
borar, uma vez que, para a EM, não é a resposta para aquilo que o profissional quer saber,
que é o mais importante.
2. Refletir
O reforço positivo também tem seu lugar no tratamento, sendo isso uma das pe-
culiaridades na EM. Pode ser realizado através de apoio e oferecimento de apreciação e
compreensão por parte do profissional. É importante ter em mente a ideia de reconhecer
comportamentos, situações ou pensamentos que ocorram na relação terapêutica ou que o
profissional tenha evidências concretas de sua existência, pois, caso contrário, o reforço
positivo pode funcionar como uma barreira para escutar o cliente se não for verdadeiro.
Podemos utilizar uma metáfora, no qual o profissional pode enxergar o copo meio
vazio ou o copo meio cheio - no reforço positivo, há o reconhecimento do copo meio
cheio, valorizando o que já foi conquistado até o momento. O reforço não pode ser uma
forma de indução; desta forma, vale ressaltar que quem produz mudanças é o cliente e
não o profissional.
Esta perspectiva convida a uma mudança paradigmática comum a muitas práticas
clínicas, que utilizam a intervenção contra o fato negativo, com a crença de que, confron-
tando o que está “ruim”, “errado” ou “mal”, o cliente terá mais condições de se mover em
direção à mudança.
O reforço positivo é uma forma de apoio autêntico, de incentivo e de verdadeiro
reconhecimento daquilo que há de valor em cada ser humano - e não de oferecer um mero
elogio.
4. Resumo
Resumos podem ser utilizados para conectar os assuntos que foram discutidos,
demonstrando que você escutou o cliente, além de funcionarem como estratégia didática
para que o cliente possa organizar suas ideias. Em um atendimento onde há a construção
de uma aliança terapêutica e o cliente se sente seguro e à vontade para promover “uma
tempestade de ideias”, nem sempre ele consegue alcançar a dimensão de tudo aquilo que
ele próprio disse.
Estas conexões não precisam se dar exclusivamente com os assuntos do mesmo
atendimento; ao contrário, o profissional tem liberdade, quando ver esta necessidade, de
resumir um processo, não somente uma fala, permitindo ao cliente a oportunidade de
perceber que de fato há um interesse e um acompanhamento por parte do profissional. O
cliente pode ver que o profissional “não se esquece das coisas que ele disse”.
Algumas armadilhas
1. Armadilha da Avaliação
Deixa o cliente passivo e o profissional ativo, uma vez que ele passa a ser o de-
tentor do poder de direcionar as perguntas para aquilo que ele próprio quer ou precisa
saber.
Esta armadilha traz muitas desvantagens, uma vez que desempodera o cliente, fa-
zendo assim um movimento oposto ao espírito da EM.
2. Armadilha do Especialista
3. Armadilha da Rotulação
5. Equanimidade
6. Engajamento
Plano de ação
Determinação de metas
Uma vez que as metas estejam claras e definidas, convém analisar os meios de alcançá-
las. Nesse ponto, devemos fazer uma revisão das modalidades de tratamento disponíveis.
Pode ser útil preencher com o cliente um formulário com o plano de mudança. O
resumo do plano nos conduz diretamente à questão do comprometimento e isso envolve
obter a aprovação e a concordância do cliente quanto ao plano e decidir sobre os próximos
passos a serem dados. Isso pode ser feito com uma simples pergunta: “é isso que você
quer?”.
Conclusões
A EM é uma abordagem que possui uma base teórica e não é meramente um con-
junto de técnicas (Lundahl, B. & Burke, B.L., 2009). Desta forma, por tratar-se de uma
metodologia prática e objetiva, qualquer profissional pode aplicar a EM, desde que capa-
citado para tal, uma vez que é uma estratégia efetiva, inicial de baixa toxicidade.
Diante disto, por meio de testes e adaptações com rigor científico, a EM almeja,
além da mudança no comportamento, se concretizar no decorrer do tempo, estabilizando
assim a ambivalência e agregando uma visão humanista e construtivista nas modificações
de comportamentos de risco.
Referências
MILLER, W. R.; ROLLNICK, S. Ten Things that Motivational Interviewing is not. Be-
havioral and Cognitive Psychotherapy. 2009; 37:129-140.
VELASQUEZ et al. Group treatment for substance abuse. The Guilford Press, 2001
ANOTAÇÕES