Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e Segurança
Radiológica em
profissionais e
utentes de uma
Unidade de Saúde
Rafaela Inácio
Mestrado em Física Médica
Departamento de Física e Astronomia
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
2022
Orientador
Prof. Doutor Pedro Manuel Peixoto Teles, Faculdade de Ciências da
Universidade do Porto
Declaração de Honra
Eu, Rafaela Nádia Silva Inácio, inscrita no Mestrado em Fı́sica Médica da Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto declaro, nos termos do disposto na alı́nea a) do artigo
14.º do Código Ético de Conduta Académica da U.Porto, que o conteúdo da presente
dissertação reflete as perspetivas, o trabalho de investigação e as minhas interpretações
no momento da sua entrega.
Ao entregar esta dissertação, declaro, ainda, que a mesma é resultado do meu próprio
trabalho de investigação e contém contributos que não foram utilizados previamente nou-
tros trabalhos apresentados a esta ou outra instituição.
Mais declaro que todas as referências a outros autores respeitam escrupulosamente as
regras da atribuição, encontrando-se devidamente citadas no corpo do texto e identifica-
das na secção de referências bibliográficas. Não são divulgados na presente dissertação
quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor.
Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilı́cito acadé-
mico.
Rafaela Inácio
Porto, 15 novembro de 2022
“ A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em
ter novos olhos. ”
Marcel Proust
iii
Agradecimentos
Um trabalho de mestrado é uma longa viagem, recheada de muitos desafios, incerte-
zas, esforço, dedicação, alegrias e percalços. Este percurso reúne o contributo de várias
pessoas, indispensáveis para encontrar a melhor trajetória para a meta final. Fazer esta
“caminhada” não foi fácil, mas foi possı́vel com o apoio, energia e força de várias pessoas,
a quem dedico este projeto.
No âmbito do desenvolvimento da presente dissertação expresso o meu profundo
agradecimento pela ajuda concedida por diversas pessoas e entidades.
Gostaria de agradecer à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, pelas condi-
ções que me foram prestadas para concluir este projeto da melhor forma.
Ao meu orientador Prof. Doutor Pedro Teles, que desde o inı́cio acreditou que eu
conseguiria fazer e concluir este percurso, mesmo à distância, a trabalhar e com filhos.
Por vezes, acreditarem em nós é o melhor apoio. Pela sua orientação concisa e muito
assertiva e com elevado rigor cientı́fico e visão crı́tica, que contribuı́ram para enriquecer,
todas as etapas subjacentes a este trabalho.
À minha irmã Sofia Inácio, que me apoia sempre em todos os projetos (mesmo sem
saber o tema). Obrigada pelo apoio, dedicação, amizade, perfecionismo, ajuda, rigor e
ambição. Obrigada por me ajudares a ser melhor.
A toda a Equipa dos Serviços de Radiologia e Medicina Nuclear, onde exerço funções,
pela ajuda, apoio e disponibilidade na recolha e interpretação dos dados para este traba-
lho.
À Lúcia Fernandes que, apesar de estar há pouco tempo no Serviço, foi uma peça fun-
damental para me ajudar na recolha, análise e interpretação dos dados para este trabalho.
As suas ideias foram muito importantes para ultrapassar obstáculos que foram surgindo.
Obrigada pela tua energia, positividade, dedicação e trabalho. Mesmo quando me sentia
perdida, tinha ali uma “luzinha” que dizia “tu consegues”.
À Doutora Ana Cristina Santos, pela sua total disponibilidade em ajudar. Pelos seus
conselhos preciosos, pela elevada competência e rigor, bem como pela leitura crı́tica e
atenta das versões preliminares da tese, contribuindo para o seu aperfeiçoamento, estou
também especialmente grata.
À Técnica Luı́sa Gouveia, pelo apoio e ajuda na interpretação dos dados que fui reco-
lhendo.
v
Agradeço também a toda a minha famı́lia, aos meus pais, que incondicionalmente
estão “sempre lá”, que sofrem connosco, mas que brindam também a cada conquista.
À minha filha Constança, (“minha menina linda”), que espero doravante compensar
das horas de atenção, brincadeira e festinhas que lhe devo.
Ao meu companheiro Bruno, pela sua ajuda, apoio e encorajamento naqueles momen-
tos cruciais desta difı́cil jornada.
À minha amiga Dina Pimenta, por estar sempre disponı́vel para mim, por me ouvir.
À minha amiga Ana Rita por acreditar em mim e me apoiar sempre: “em frente é o
caminho”.
Aos meus colegas e amigos do MFM, que conheci e nunca vou esquecer, sempre pron-
tos a ajudar e facultar apontamentos: Maria Clara Crasto, Lourival Junior e Hugo Freitas.
vi
Resumo
A exposição de indivı́duos à radiação ionizante, seja enquanto utente num ato médico
ou enquanto profissional responsável pela sua realização, rege-se pelas normas estabele-
cidas no âmbito da Proteção e Segurança Radiológica. Neste sentido, existe uma preocu-
pação constante com a otimização das técnicas realizadas e respetiva monitorização, em
particular em relação às doses de exposição para o utente e para o profissional.
Este trabalho teve como objetivo a caracterização e avaliação da Proteção Radiológica
numa Instituição de Saúde da Região Autónoma da Madeira, conjugando dados de duas
áreas distintas: Medicina Nuclear (MN), na vertente da exposição ocupacional, e Radio-
logia, na vertente da exposição do utente.
No que concerne a área da MN foram analisados os procedimentos realizados e as
doses manipuladas ao longo de um ano para cada profissional na Unidade de Saúde e
realizados testes de acordo com os critérios propostos pela International Atomic Energy
Agency (IAEA) no documento Safety Guide RS-G 1. Pôde concluir-se que o procedimento
com maior necessidade de monitorização interna é o de injeção/administração de ra-
diofármacos. Neste contexto, o Enfermeiro é o profissional com maior exposição interna,
pois o fator de decisão, calculado segundo os critérios da IAEA, para determinar a neces-
sidade de monitorização interna, é o mais elevado, nas condições de trabalho e para as
categorias profissionais analisadas.
No que diz respeito à área de Radiologia, nomeadamente no que concerne a análise
de exames de Tomografia Computorizada (TC) em utentes adultos, foi realizada uma
análise comparativa com base nas recomendações da Comissão Europeia. Foi igualmente
feita uma avaliação por tipo de exame realizado em dois equipamentos de TC do serviço.
Foram avaliadas as funcionalidades do software DoseWatch™, utilizado para lançar um sis-
tema de alertas de dose. Em seguida foram exportados todos os dados necessários e ana-
lisadas as grandezas dosimétricas Volumetric Computed Tomography Dose Index (CTDIvol ) e
Dose Length Product (DLP) para cada tipo de exame e analisados os Nı́veis de Referência
de Diagnóstico. Assim, pôde inferir-se que, apesar dos valores de CTDIvol estarem dentro
dos parâmetros normais para cada tipo de exame, o DLP excede a dose de referência na
maioria dos casos estudados.
vii
Palavras-chave: Radiação Ionizante, Proteção Radiológica, Medicina Nuclear, Tomografia
Computadorizada, Nı́veis de Referência de Diagnóstico, Computed Tomography Dose Index,
Dose Length Product.
viii
Abstract
The exposure of individuals to ionizing radiation, whether as a patient in a medical
procedure or as a professional responsible for carrying it out, is dictated by the rules of
Radiological Protection and Safety. In this scope, the constant concern for improving the
performed techniques and monitoring, relative to the absorbed doses for the user and the
worker, is increasing.
This work aimed to characterize and evaluate the Radiological Protection practices in
a Health Institution in the Autonomous Region of Madeira (RAM). Results from two dif-
ferent areas were combined: Nuclear Medicine (MN), in terms of occupational exposure,
and Radiology, in terms of patient exposure.
An internal dosimetry study was carried out based on criteria proposed by the Inter-
national Atomic Energy Agency (IAEA).
Regarding the MN area, the procedures performed, and the doses manipulated, over
a year for each worker in the Health Institution were analyzed. Data were studied accor-
ding to the criteria proposed by the IAEA in the document Safety Guide RS-G 1. It can be
concluded that the procedure with the greatest need for internal monitoring is the injecti-
on/administration of radiopharmaceuticals. In this context, the Nurse is the professional
with the greatest internal exposure. The decision factor for this professional, calculated ac-
cording to the IAEA criteria to determine the need for internal monitoring, is the highest,
concerning the existant working conditions and for the professional categories analyzed.
Regarding the area of Radiology, an analysis of Computed Tomography (CT) exams
in adult users patients performed. A comparative analysis was carried out based upon
the recommendations of the European Commission (EC). An evaluation was also done
considering the type of CT exam performed, using two CT equipments of the service.
The functionality of the DoseWatch™software, used to launch a dose alert system, was
evaluated. All the necessary data were exported, and the dosimetric quantities Volume-
tric Computed Tomography Dose Index (CTDIvol ) and Dose Length Product (DLP) were
analyzed, for each type of exam. The Diagnostic Reference Levels (DRL) were also analy-
zed. After this evaluation, it can be inferred that, although the values of CTDIvol (mGy)
are within the normal parameters for each type of exam, the DLP exceeds the reference
dose in most of the studied cases.
ix
Keywords: Ionizing Radiation, Radiological Protection, Nuclear Medicine, Computed
Tomography, Diagnostic Reference Levels, Computed Tomography Dose Index, Dose
Length Product
x
Índice
Agradecimentos v
Resumo vii
Abstract ix
Lista de Figuras xv
1 Introdução 1
1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Estrutura do Documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
xi
2.4 Dosimetria, Proteção e Segurança Radiológica . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4.1 Grandezas e Unidades Dosimétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4.1.1 Kerma – K . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4.1.2 Exposição – X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.1.3 Dose Absorvida - D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.1.4 Dose Equivalente - HT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.1.5 Dose Efetiva - E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.4.2 Princı́pios de Proteção Radiológica em Aplicações Médicas . . . . . . 17
2.4.2.1 Princı́pio da Justificação da Prática . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4.2.2 Princı́pio da Otimização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4.2.3 Princı́pio da Limitação da Dose . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.4.3 Dosimetria Externa vs Dosimetria Interna . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4.3.1 Dosimetria Externa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4.3.2 Dosimetria Interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4.4 Proteção Radiológica em Medicina Nuclear . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4.4.1 Exposição Ocupacional à Radiação Ionizante em Medicina
Nuclear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4.5 Proteção Radiológica no Radiodiagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4.5.1 Nı́veis de Referência de Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . 28
2.4.5.2 Nı́veis de Referência de Diagnóstico em TC . . . . . . . . . 30
2.4.5.3 Grandezas Dosimétricas em TC . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.4.6 Programa de Proteção Radiológica numa Unidade de Saúde . . . . . 35
2.4.6.1 Limites de Dose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.6.2 Classificação dos Profissionais . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
xii
4.1 Materiais - Equipamentos de TC e Software DoseWatch™ . . . . . . . . . . . . 49
4.2 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2.1 População e Amostragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2.2 Caracterização das variáveis e tipo de exames . . . . . . . . . . . . . 51
4.2.3 Parâmetros técnicos de aquisição dos Protocolos de Exame . . . . . . 52
4.2.4 Procedimento para Caracterização e Comparação da amostra nos
dois equipamentos de TC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.2.5 Procedimento de Verificação e Comparação de CTDIvol e DLP base-
ado nas Recomendações Europeias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2.6 Procedimento para cálculo da Dose Efetiva . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3 Resultados e Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3.1 Número e Tipo de exames usados no estudo . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3.2 Caracterização das Variáveis Demográficas . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.3.2.1 Número de exames por Tipo e Género . . . . . . . . . . . . 58
4.3.2.2 Exames de TC por Faixa Etária . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.3.3 Comparação das grandezas dosimétricas CTDIvol e DLP para os
dois equipamentos de TC por tipo de exame, com as referências da
CE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.3.3.1 Conversão das referências CTDIw para CTDIvol . . . . . . . 61
4.3.3.2 TC TX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.3.3.3 TC CL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.3.3.4 TC ABD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.3.3.5 TC CE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.3.3.6 TC PPM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.3.3.7 TC OUV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.3.3.8 TC PELV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.3.3.9 TC SP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.3.4 Cálculo dos NRD Locais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.3.5 Cálculo da Dose Efetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.4 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Referências Bibliográficas 79
xiii
Lista de Figuras
xv
Figura 3.2 – Fator de decisão, D f , por profissional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
xvi
Lista de Tabelas
xvii
Tabela 4.1 – Caracterı́sticas do equipamento TC da marca CANON. . . . . . . . . 50
Tabela 4.2 – Caracterı́sticas do equipamento TC da marca GE. . . . . . . . . . . . 50
Tabela 4.3 – Caracterı́sticas gerais do software DoseWatch™ utilizado no estudo. . 50
Tabela 4.4 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC TX. . . . . 52
Tabela 4.5 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC CL. . . . . 53
Tabela 4.6 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC ABD. . . . 53
Tabela 4.7 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC CE. . . . . 53
Tabela 4.8 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC PPM. . . . 53
Tabela 4.9 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC OUV. . . . 54
Tabela 4.10– Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC PELV. . . 54
Tabela 4.11– Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC SP. . . . . 54
Tabela 4.12– Valores de referência calculados em CTDIvol , para os diferentes va-
lores de pitch de cada equipamento, com a referência de CTDIw . . . . . . 61
Tabela 4.13 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC TX, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . . 62
Tabela 4.14 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC CL, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . . 63
Tabela 4.15 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC ABD, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . 65
Tabela 4.16 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC CE, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . . 66
Tabela 4.17 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC PPM, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . 67
Tabela 4.18 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC OUV, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . 68
Tabela 4.19 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC PELV, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . 69
Tabela 4.20 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC SP, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . . . 70
Tabela 4.21– NRD locais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Tabela 4.22– Cálculo da dose efetiva através do 3◦ quartil do DLP adquirido. . . . 71
xviii
Lista de Abreviaturas
xix
K Kerma (do inglês, Kinetic energy realesed in materia)
MEMN Médico Especialista em Medicina Nuclear
MIRD do inglês, Medical Internal Radiation Dose
MN Medicina Nuclear
Não-RI Radiação não-ionizante
NRD Nı́veis de Referência de Diagnóstico
PACS Sistema de Comunicação e Arquivo de Imagens
PPR Plano de Proteção Radiológica
RAM Região Autónoma da Madeira
RI Radiação Ionizante
RNA Ácido Ribonucleico
S.I. Sistema Internacional
SIMAG Serviço de Imagiologia
SMN Serviço de Medicina Nuclear
SPECT do inglês, Single-Photon Emission Computed Tomography
Sv sievert
TC Tomografia Computorizada
TC ABD TC abdómen superior
TC CE TC cranio-encefálico
TC CL TC coluna lombar
TC OUV TC ouvidos
TC PEL TC pélvica
TC PPM TC pescoço e partes moles
TC SP TC seios perinasais
TC TX TC torácxica
TLD Termoluminescente
TMN Técnico de Medicina Nuclear
UV Radiação Ultravioleta
V volt
X Exposição
xx
Capı́tulo 1
Introdução
A radiação ionizante (RI) é a radiação que possui energia suficiente para ionizar os
átomos do meio que atravessa, sendo capaz de arrancar eletrões às suas órbitas atómicas
e, assim, provocar danos biológicos [1].
A Humanidade tem estado exposta, desde sempre, à RI proveniente de fontes naturais
como o Urânio, Rádio e Tório, e respetivos descendentes, provenientes da crosta terres-
tre, e também a raios cósmicos. Estes último, no entanto, são na maior parte defletidos
pelo campo magnético terrestre e o restante absorvido pela atmosfera [2]. No entanto,
recentemente, a exposição a RI, sobretudo nos paı́ses desenvolvidos, vem sobretudo de
exposições não-naturais, tendo relevância neste caso as exposições médicas.
Atualmente, a RI é cada vez mais utilizada para diferentes fins, tanto para a Indústria
como para a Medicina, sendo produzida também artificialmente, pelo que a preocupação
no que concerne à proteção radiológica é cada vez maior [3, 4].
Nas Unidades de Saúde onde se utiliza RI é necessária a implementação correta e
contı́nua dos princı́pios da proteção radiológica, quer para os profissionais que lá exer-
cem a sua profissão, quer para os utentes - que ali se dirigem para realizar exames ou
tratamentos -, para os membros do público em geral e, finalmente, para o ambiente.
Com a crescente evolução das áreas de diagnóstico e terapêutica em que se usa RI,
foram também evoluindo os métodos de análise de proteção contra as radiações ioni-
zantes [5]. Nesse intuito têm sido implementados nas Unidades de Saúde vários siste-
mas de monitorização, através de equipamentos dedicados para: monitorização externa,
monitorização de áreas, análise de processos de manipulação da radiação, análise da
gestão de resı́duos radioativos e também alertas e registos de dose.
1
2 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
A Medicina Nuclear (MN) é uma especialidade médica que utiliza radiofármacos (pe-
quenas fontes não-seladas de RI) que são administradas ao utente para a realização de
exames de diagnóstico e terapêutica, ganhando a monitorização interna dos profissionais
um grande relevo [6].
No âmbito da especialidade de Radiologia, a Tomografia Computorizada (TC) é uma
modalidade muito utilizada em diagnóstico. Nos equipamentos de TC é produzida RI sob
a forma de raios-X. Neste sentido, uma análise e validação dos protocolos utilizados nes-
tes exames é fundamental, para que sejam definidos Nı́veis de Referência de Diagnóstico
locais (NRD), que devem ser aplicados segundo os princı́pios da Proteção Radiológica [7].
1.1 Motivação
1.2 Objetivos
• o primeiro estudo incide numa vertente ocupacional, em que se aplicam critérios de-
finidos pela Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) sobre a avaliação da
dosimetria interna de profissionais expostos no serviço de MN e posterior decisão
de monitorização interna;
1. I NTRODUÇ ÃO 3
Para o primeiro estudo foram feitos cálculos de dosimetria interna com base na ati-
vidade manipulada por profissional, nas diferentes operações realizadas, no perı́odo de
um ano. Este estudo, já realizado em outros hospitais em Portugal, analisa a necessidade
de uma avaliação interna rotineira nos profissionais de MN, usando uma metodologia
proposta pela IAEA, que fornece um conjunto de critérios para a determinar. A avaliação
do risco de contaminação interna, num determinado conjunto de condições de trabalho,
baseia-se no tipo e quantidade de radionuclı́deos a manusear, bem como nas condições
de segurança e de proteção em que são manipulados [9].
Para a segunda parte do trabalho foi utilizado um software de análise dosimétrica im-
plementado recentemente, DoseWatchTM . Foram dois os objetivos principais: analisar as
diferentes grandezas dosimétricas dos dois diferentes equipamentos de TC desta Uni-
dade de Saúde e também compará-los com referências europeias, tendo para o efeito sido
determinados os NRD.
Neste capı́tulo apresenta-se uma introdução aos temas desta dissertação, onde se de-
finem alguns conceitos fundamentais para melhor compreensão dos próximos capı́tulos.
Na primeira secção é feita uma breve referência à radioatividade e decaimento radioativo.
Na secção seguinte são caracterizadas as radiações ionizantes, referindo os seus efeitos e
riscos biológicos. Por fim, são apresentados conceitos relacionados com a dosimetria e
proteção radiológica em contexto médico hospitalar, nomeadamente as grandezas e uni-
dades, os principais princı́pios em contexto médico, a distinção entre dosimetria externa
e interna e o programa de proteção radiológica numa Unidade de Saúde.
Há isótopos de vários elementos que são instáveis, como exemplo 234 U, 235 U, 224 Ra,
228 Ra eo 228 Th, que, por isso mesmo, se vão transformando sucessivamente em outros
elementos. Neste processo vão emitindo partı́culas alfa (α), beta (β) e radiação gama (γ),
ou seja, vão libertando energia sob a forma de partı́culas, fenómeno designado por radio-
atividade, que resulta na emissão espontânea de RI [2, 8].
Quando um núcleo de um átomo de um elemento decai ocorre uma transmutação,
isto é, dá origem a um novo elemento diferente do original. Em cada transmutação uma
determinada emissão ocorre a partir do núcleo, existindo várias formas de desintegração
associadas a cada emissão [2].
5
6 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
dN
= −λN (2.1)
dt
onde N corresponde ao número de átomos radioativos presentes na amostra, enquanto λ
é a constante de decaimento (probabilidade de desintegração por unidade de tempo para
um radionuclı́deo, em s−1 ).
Desde que o grupo original não seja “reabastecido” por uma fonte de mais núcleos,
a taxa de variação de N, em qualquer momento t, é igual à atividade, A [1]. Através da
integração da Equação 2.1 obtém-se o cálculo da atividade:
N
= e−λt ⇔ N = N0 e−λt (2.2)
N0
onde N0 e N são o número de átomos radioativos presentes, respetivamente em t = 0
e num certo tempo t, para o qual se pretende determinar a quantidade de átomos radi-
oativos existentes. Em termos de atividade, A, do radionuclı́deo, pode reescrever-se a
Equação 2.2 como a taxa de decaimento do material radioativo [1]:
A = A0 e−λt (2.3)
O tempo de semi-vida T1/2 é definido como o tempo necessário para que 50% dos
átomos radioativos da amostra decaiam [10]. Por outras palavras, é o tempo necessário
para que a sua atividade inicial diminua para metade (A = 12 A0 ). Utilizando a Equação 2.3
e considerando o tempo de semi-vida, obtém-se a seguinte relação:
0, 693
λT1/2 = ln(2) ↔ T1/2 = (2.4)
λ
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 7
1 T
τ= = 1/2 (2.5)
λ 0, 693
Assim, a vida média é o tempo médio que cada átomo leva para transmutar, reconhecendo-
se que alguns se transmutarão imediatamente, enquanto outros durarão um tempo “infi-
nito” [12]. Na Figura 2.1 é mostrada a curva representativa do decaimento de um radio-
nuclı́deo em função do tempo e os seus principais parâmetros.
Há várias formas pelas quais um átomo instável se pode desintegrar, entre as quais
decaimento α, decaimento β− , decaimento β+ , captura eletrónica, conversão interna, e
emissão de raios γ. Uma sucinta análise das formas mais comuns de decaimento e das
suas caracterı́sticas é descrita nas subsecções seguintes.
2.2.1 Decaimento α
A −4
ZX → ZA− 4
2 Y +2 α (2.6)
2.2.2 Decaimento β
• Decaimento β−
Num núcleo rico em neutrões, um neutrão decai num protão libertando uma partı́cula
β− e um antineutrino ῡ. O núcleo fica com um neutrão a menos mas um protão
a mais, ou seja, há formação de um novo elemento. O antineutrino (ῡ) está pre-
sente para efeitos de conservação de energia, não possui carga nem massa e é a
anti-partı́cula do neutrino [1]:
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 9
A
ZX → Z+A1 Y + −01 β + ῡ (2.7)
• Decaimento β+
Num átomo deficiente em neutrões um protão decai num neutrão, libertanto uma
partı́cula β+ e um neutrino, υ, formando um novo elemento [1]:
A
ZX → Z−A1 Y + +01 β + υ (2.8)
As partı́culas β têm uma massa muito menor que as partı́culas α, por isso têm um
maior poder de alcance, no entanto não conseguem atingir órgãos internos. Se ingeridas
ou inaladas, podem ser perigosas tal como as partı́culas α. A nı́vel externo estas partı́culas
são perigosas para a pele e olhos [12]. Na Figura 2.3 é representado o decaimento de
partı́culas β.
Alguns núcleos deficientes em neutrões podem capturar um eletrão orbital para criar
um neutrão, emitindo apenas um neutrino [10]. Em alguns núcleos, a transformação
do protão em neutrão, ao invés de se realizar por emissão de um positrão, ocorre pela
neutralização da sua carga e captura de um eletrão orbital das camadas mais próximas,
assim representada na Figura 2.4 [12].
Nesse caso não ocorre emissão de radiação nuclear, exceto a do neutrino. No entanto,
a captura do eletrão da camada interna cria uma lacuna que, ao ser preenchida, provoca
a emissão de raios-X caracterı́sticos ou eletrões de Auger/Coster-Kronig [12].
10 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
2.2.5 Radiação γ
Nesta secção são apresentadas as definições de radiação, radiação não ionizante, radi-
ação ionizante, as suas caracterı́sticas e os seus efeitos biológicos.
Existem vários fatores que determinam a resposta biológica quando existe exposição
dos tecidos a RI, estando relacionados com a dose, a qualidade e energia da radiação,
assim como os tecidos irradiados [18]. Os efeitos biológicos devido à RI podem ser classi-
ficados como estocásticos ou determinı́sticos [18].
Os efeitos determinı́sticos têm probabilidade de se manifestarem de 100% desde que a
dose ultrapasse um determinado limiar abaixo do qual eles não se verificam. São efeitos
que surgem como consequência da morte coletiva de um número significativo de células,
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 13
do tecido exposto à radiação. Observam-se efeitos tais como lesões cutâneas, eritema,
fibrose, anemia, esterilidade, queda de cabelo, cataratas oculares e danos nas células he-
matopoiéticas, sendo o seu aparecimento geralmente tardio [19]. Dadas as taxas de dose
utilizadas em radioterapia, é possı́vel, mas cada vez menos ocorrente, a observação destes
efeitos em tecidos saudáveis adjacentes como consequência da irradiação de tumores [20].
Os efeitos estocásticos correspondem a alterações do material genético que podem
ocorrer com baixas doses ou baixas taxas de dose, que podem induzir um risco acrescido
de incidência ou ocorrência de uma determinada patologia. A lesão de um conjunto de
células ou mesmo de uma única célula é suficiente para produzir um efeito, podendo
este ser somático (aumento do risco de cancro, anos após a exposição) ou hereditário
(doenças hereditárias nas gerações seguintes). Os efeitos estocásticos são probabilı́sticos,
pois o aumento da dose não significa o aumento da gravidade dos danos, mas sim da
probabilidade de ocorrência. Estes surgem tardiamente sob a forma de carcinogénese,
como por exemplo ocorrência de leucemias, e através do aparecimento de anomalias here-
ditárias [19]. Os efeitos estocásticos são vistos como o principal risco para a saúde devido
a exposição de baixas doses de radiação, principalmente se prolongadas, o que conduz
a uma preocupação cada vez mais crescente [19]. Na Figura 2.9 pode observar-se um
pequeno esquema sobre estes efeitos biológicos da RI.
As alterações biológicas resultantes da RI só se tornam aparentes após um perı́odo
de latência, que pode variar desde minutos a semanas ou anos, dependendo do sistema
14 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
A ação direta acontece se uma macromolécula biológica, como o DNA (ácido desoxir-
ribonucleico), RNA (ácido ribonucleico) ou proteı́na ficam ionizados ou excitados devido
uma partı́cula que com eles interaja. As alterações indiretas resultam de interações entre
a radiação e o meio, criando espécies quimicamente reativas, radicais livres, que, por sua
vez, interagem com a molécula alvo. Como 70% a 85% da massa dos sistemas vivos é
composta por água, as lesões induzidas por RI são maioritariamente realizadas através
da ação indireta sobre as moléculas de água [18, 21].
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 15
2.4.1.1 Kerma – K
Kerma, K, significa Kinetic energy released per unit of mass, e representa a energia cinética
transferida por partı́culas não-carregadas incidentes num determinado volume para as
partı́culas carregadas nesse mesmo volume (Etr ) por unidade de massa (m), que se ex-
pressa na unidade gray (Gy) [1].
16 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
dEtr
K= (Gy) (2.9)
dm
2.4.1.2 Exposição – X
dq
X= (2.10)
dm
Esta grandeza permite caracterizar o comportamento de raios-X e raios γ no ar. No
passado foi designada por dose de exposição, no entanto, não deve ser considerada como
dose, uma vez que não indica uma cedência de energia ao meio. A exposição é medida
em coulomb por quilograma (C/kg).
A dose absorvida, D, é uma grandeza fı́sica que representa a energia depositada pela
RI num certo material ou meio. É uma medida de energia, E, depositada por unidade de
massa, m, e expressa igualmente em gray (Gy), ou pela unidade equivalente, joule por
quilograma (1 Gy = 1 J/kg) [1, 23]:
dE
D= (2.11)
dm
HT = ∑ WR DT,R (2.12)
R
E= ∑ WT HT (2.13)
T
Tecido WT ∑ WT
Medula óssea, colon, pulmão,
0,12 0,72
estômago, mama, restantes tecidos*
Gónadas 0,08 0,08
Bexiga, esófago, fı́gado, tiroide 0,04 0,16
Superfı́cie óssea, cérebro, glândulas salivares e pele 0,01 0,04
Total: 1,00
*Restantes tecidos: supra-renais, região extratorácica, vesı́cula biliar, coração,
rins, gânglios linfáticos, músculo, mucosa oral, pâncreas, próstata, intestino delgado,
baço, timo, útero/cérvix.
O princı́pio da Justificação da Prática diz-nos que nenhuma pessoa pode ser subme-
tida a um procedimento de exposição médica à radiação ionizante, se dela não resultar
nenhum benefı́cio [23, 24].
Este conceito alerta para a necessidade de uma clara justificação da utilização das
radiações ionizantes nos métodos complementares de diagnóstico e terapêutica, funda-
mentadas sempre num benefı́cio para o utente, superior ao risco a que este possa ser sub-
metido. Esta justificação implica que o resultado obtido devido à realização desse exame
não possa ser alcançado através de outros métodos complementares de diagnóstico dis-
ponı́veis, aos quais estejam associados menos riscos para o utente.
É de salientar que existem consequências nocivas, inerentes à exposição de radiação
ionizante, associadas aos exames e/ou terapêuticas. O Médico e o utente devem estar in-
formados e esclarecidos sobre os efeitos nocivos que podem ser causados pela exposição
à radiação ionizante. Ao prescrever este tipo de exames ou terapêuticas, o Médico prevê
que o resultado vai trazer benefı́cios superiores às suas consequências nocivas. É da res-
ponsabilidade do Médico justificar e fundamentar a escolha do exame prescrito, conso-
ante o seu objetivo.
Em Portugal a legislação, em vigor desde 2 de abril de 2019, é o Decreto-Lei n.◦ 108/2018
publicado a 3 de dezembro de 2018, pelo seu Artigo 5◦ : que determina que “A introdução
de uma prática deve ser justificada pelo facto de assegurar que o benefı́cio resultante
dessa prática, para o indivı́duo ou para a sociedade, é superior ao prejuı́zo para a saúde
que dela possa resultar” [23, 24].
O Princı́pio da Otimização refere que todas as doses devidas a exposições, para fins
de exames ou tratamentos radiológicos, devem ser mantidas a um nı́vel tão baixo quanto
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 19
segurança [24]. No caso das exposições médicas, este princı́pio não é aplicável aos utentes,
mas apenas aos profissionais expostos [23].
O conceito de exposição externa diz respeito à radiação que vem de fora do organismo
e interage com ele. Neste caso, tipicamente a análise a esta exposição é predominante-
mente sobre os raios-X, raios γ e partı́culas β, já que as partı́culas α não representam risco
de exposição externa, pois não atravessam a pele, como referido anteriormente [29].
A dosimetria externa é baseada em medições com um dosı́metro ou deduzida através
de medições feitas usando outros instrumentos de dosimetria [29, 30].
A dosimetria pessoal individual é uma parte essencial da dosimetria de radiação ex-
terna. A dosimetria pessoal é usada principalmente (mas não exclusivamente) para de-
terminar doses nos indivı́duos expostos à RI relacionadas com as suas atividades profis-
sionais [29].
Os dosı́metros geralmente registam uma grandeza, que pode ser convertida em dose
absorvida, em grays (Gy), ou à dose equivalente, em sievert (Sv), usando fatores previa-
mente determinados. Um dosı́metro pessoal é um dosı́metro desenhado para ser usado
perto da superfı́cie do corpo da pessoa que está a ser monitorizada e que regista a dose
pessoal equivalente de radiação recebida Hp(10; 0,07) [29, 31].
Os dosı́metros disponı́veis no mercado variam de dispositivos passivos e de baixo
custo, que armazenam informações de dose pessoal para leitura posterior, até dispositivos
mais caros e operados por bateria, que exibem informações imediatas de dose e taxa de
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 21
Figura 2.11: Variação da intensidade de uma fonte pontual com a distância (retirado
de [34]).
• Barreiras de Proteção: por fim, se a fonte for muito intensa e o tempo ou a distância
não fornecerem proteção suficiente contra radiação, a blindagem ou barreiras de
proteção devem ser usadas. A proteção contra radiação geralmente consiste em
barreiras de chumbo, cimento ou água. Existem muitos materiais que podem ser
usados para proteção contra radiação, mas existem muitas situações na proteção
contra radiação que dependem muito do tipo de radiação a ser protegida, da sua
energia e de muitos outros parâmetros.
A dosimetria interna diz respeito aos conceitos, métodos e grandezas que permi-
tem o cálculo, avaliação, estimativa e quantificação da dose absorvida pelos órgãos e
tecidos, bem como a sua evolução temporal, após a introdução do material radioativo
por inalação, ingestão, injeção ou absorção através da pele. Contudo, na dosimetria
interna não é possı́vel medir doses internas, estas apenas podem ser estimadas utili-
zando modelos, e, por isso mesmo, apresentam incertezas elevadas. De forma a esti-
mar o risco ou comparar a exposição não-uniforme com a exposição em todo o orga-
nismo, a ICRP propõe que a dose absorvida num certo tecido ou órgão seja convertida em
dose equivalente, isto é, a dose absorvida é ponderada em função do tipo e qualidade da
radiação [24, 27].
Modelos Biocinéticos
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 23
Metodologia ICRP
onde
∑ RYR WE AF ( T ← S) R
SEE( T ← S) = 1, 6 × 10−13 (2.15)
mr
é a energia absorvida efetiva especı́fica por grama do tecido-alvo devido à radiação R
emitida pelo órgão fonte; Us é o número total de desintegrações durante 50 anos; YR o
número de partı́culas do tipo R por desintegração; WR o fator de peso que depende do
tipo de radiação; AF ( T ← S) R a fração de radiação R absorvida em T por desintegração
ocorrida em S e mr a massa do alvo [36].
24 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
Metodologia MIRD
onde rk representa o órgão alvo, rh o órgão fonte e Ãh a atividade acumulada. O fator-S,
S(rk ← rh ), é definido como [39]:
k ∑ ini Ei φi (rk ← rh )
S (r k ← r h ) = (2.17)
mk
onde k representa uma constante, ni o número de fotões com energia, φi a fração absorvida
especifica e mk a massa do órgão k. A fração absorvida especı́fica depende do tipo de
partı́cula, da energia do fotão, da geometria do alvo e da fonte do tipo de tecido/material,
e é definida por:
O método MIRD depende de fatores fı́sicos, tais como a relação geométrica entre
o órgão-alvo e o órgão-fonte, a qual pode ser calculada para qualquer órgão de inte-
resse e para qualquer radionuclı́deo, utilizando, geralmente, métodos de simulação de
Monte Carlo [39]. Existem tabelas de dose por unidade de atividade acumulada para
diversos órgãos-fonte e órgãos-alvo e para diferentes radionuclı́deos, contemplados nas
publicações MIRD, com várias atualizações ao longo dos anos, sendo a MIRD 13 a mais
utilizada atualmente [35].
A metodologia MIRD assume que os órgãos que podem ser considerados órgão-fonte
(S) são os que contêm radionuclı́deos e cuja localização depende do tempo, sendo os
órgão-alvo (A) os que recebem radiação. Para além disso, assume ainda que o meio
absorvente é homogéneo, que a distribuição da atividade é uniforme, que a massa do
órgão/tecido é constante e que os efeitos dos limites dos órgãos são negligenciáveis [35].
É de salientar que o fator S corresponde ao cálculo da fração da energia, emitida por
um certo isótopo, que é absorvida por um órgão e, de um modo geral, corresponde ao
quociente entre a dose absorvida e a atividade acumulada, expressa em Gy/Bq·s. Este
fator, expresso em rad/µCi·h, está presente em tabelas baseadas na simulação de Monte
Carlo, que utiliza um fantoma de 70 kg do sexo masculino [35]. Por último, de modo a
determinar o tempo de residência - que ilustra o quociente da atividade acumulada pela
atividade administrada - é preciso escolher o modelo de atividade acumulada que melhor
se adequa ao radionuclı́deo e órgão/tecido em questão [35].
A metodologia MIRD e a ICRP foram generalizadas para um esquema e nomenclatu-
ras únicos na publicação MIRD pamphlet n◦ 23 [40].
das radiações emitidas (em diagnóstico). Podem também possibilitar o tratamento através
da interação das radiações com o organismo do utente [41].
De acordo com a World Nuclear Association, mais de 40 milhões de procedimentos de
MN são realizados a cada ano em todo o mundo. Nos paı́ses desenvolvidos, a frequência
de MN diagnóstica é de 1,9% ao ano, comparativamente com outros métodos comple-
mentares de diagnóstico por imagem, e a frequência de terapia com radionuclı́deos é
cerca de 1/10 desta. Em relação ao diagnóstico, o radionuclı́deo mais utilizado é o 99m Tc,
representando cerca de 80% de todos os procedimentos de MN [42, 43].
Em MN a exposição dos utentes à radiação ionizante não é decorrente da radiação emi-
tida por um equipamento médico, mas depende da administração de um radiofármaco,
sendo portanto uma exposição interna, podendo ocorrer em qualquer momento. Em caso
de terapia, a irradiação interna do utente pode continuar por dias ou mesmo semanas
após a alta. Portanto, o resultado de um procedimento de MN, tanto em termos de eficácia
clı́nica quanto de segurança, não é determinado apenas por um dispositivo médico ou
medicamento, mas por todo um processo que precisa ser controlado para produzir resul-
tados de qualidade e de forma segura [44].
O iodo-131 (131 I) e o tecnécio-99 metastável (99m Tc) são os isótopos radioativos mais
utilizados em MN. 131 I devido ao seu tempo de semi-vida relativamente curto (8,03 dias)
e à sua captação seletiva pela tiroide, é usado para diagnosticar e tratar doenças desta
glândula. O 99m Tc é um isómero nuclear metaestável do tecnécio-99 (tempo de semi-vida
de 6,01 h) e é comumente usado em cintigrafia através do método de imagem de tomo-
grafia computorizada por emissão de fotão único (SPECT), entre outras aplicações [33, 44].
Os NRD constituem modelos de boas práticas estabelecidos a nı́vel local (por cada hos-
pital) e efetivados através de protocolos de exame, que se baseiam em valores aconselha-
dos de dose de radiação em diagnóstico, obtidos a partir de procedimentos de otimização
e em condições padrão. Os NRD são utilizados em imagem médica para demonstrar, em
situações de rotina, se a quantidade de radiação ionizante usada para um tipo de exame
especı́fico é excecionalmente alta ou baixa. O objetivo dos NRD é validar estratégias de
otimização de dose, para ajudar a evitar exposições desnecessárias dos utentes à radiação
ionizante, mantendo a qualidade diagnóstica da imagem médica para um diagnóstico
fidedigno [26, 48].
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 29
Rever em 3
anos Calcular a dose média por exame
> NRD
Figura 2.12: Esquema de atualização regular de NRD (do inglês DRL-Diagnostic Reference
Levels) (adaptado de [24])
Grandezas dosimétricas em TC
CTDIw DLP Dose efetiva
Exame de TC
(mGy) (mGy·cm) (mSv)
Crânio (rotina) 60 1050 2,42
Tórax (geral) 30 650 11,05
Tórax (alta resolução) 35 280 4,76
Abdómen (rotina) 35 800 12,00
Coluna Lombar 35 780 11,70
Pélvis (rotina) 35 570 10,83
Tabela 2.4: Comparação dos NRD (em termos de CTDIw ) em diferentes paı́ses da União
Europeia comparados com a diretiva EUR16262 (adaptada de [7, 47, 53, 54]).
Ref. CE
Inglaterra Inglaterra
Alemanha Alemanha Áustria Grécia Grécia Itália EUR
Exame de TC (2003) (2003)
(1999) (2003) (2000) (2001) (2003) (2003) 19262
SSCT MSCT
(1999)
CE
45 60 70 110 68,9 43,3 68 59 60
(rotina)
Ossos da
25 35 - - - - - - 35
face e SPN
Tórax
13 22 13 18 18,9 22,1 21 21 30
(rotina)
Tórax (alta
- - 22 50 28 - - - 35
resolução)
Abdómen
15 24 20 20 19,8 22,1 23 23 30
(rotina)
Fı́gado e
15 25 - - 20,6 - - - 35
Baço
Coluna
30 47 - - 40,7 - 39 36 35
lombar
Pélvis 18 28 17 20 23,5 22,1 27 24 35
variações dentro de cada grupo, para assim estabelecer as linhas orientadoras [51].
Como já foi referido e explicado, anteriormente, a RI pode induzir riscos, os quais
estão relacionados com a dose média absorvida pelos órgãos do utente. No entanto, a
dose nos órgãos não pode ser medida diretamente, pelo que foi necessário implementar
grandezas dosimétricas especı́ficas para avaliar este impacto nas práticas de TC, como
por exemplo os ı́ndices de Computed Tomography Dose Index (CTDI) e Dose-Length Product
(DLP) [26, 53].
CTDI
32 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
Tabela 2.5: Comparação dos NRD (em termos de DLP) em diferentes paı́ses da União
Europeia comparado com a diretiva EUR 16262 (adaptada de [7, 47, 53, 54]).
Ref. CE
Inglaterra Inglaterra
Alemanha Alemanha Áustria Grécia Grécia Itália EUR
Exame de TC (2003) (2003)
(1999) (2003) (2000) (2001) (2003) (2003) 19262
SSCT MSCT
(1999)
CE
520 1175 760 930 1275 640 919 707 1050
(rotina)
Ossos da
190 - - - - - - - -
face e SPN
Tórax
250 650 430 580 484 643,25 429 483 650
(rotina)
Tórax (alta
- - 80 170 76 - - - 280
resolução)
Abdómen
490 1500 510 560 1109 471,5 493 551 780
(rotina)
Fı́gado e
210 770 460 470 763 - - - 900
Baço
Coluna
170 280 - - 495 - 473 303 800
lombar
Pélvis 300 750 - - 589 491,5 538 434 570
Z +∞
1
CTDI = D (z)dz (2.19)
T −∞
O CTDI pode ser interpretado com base na Figura 2.13, onde se pode verificar que este
corresponde ao valor de dose absorvida num corte, supondo que a dose é toda concen-
trada num detetor retangular com largura igual à largura do feixe, L.
Na Figura 2.13 pode observar-se a distribuição de dose, sendo todas as contribuições
que se encontram fora das dimensões da largura do feixe (nas áreas abaixo da cauda do
perfil de dose) adicionadas à área do detetor, aumentando assim o seu comprimento e a
sua dose.
Várias medidas de dose relacionadas com o CTDI foram estabelecidas, ou seja, quando
a avaliação do CTDI é feita utilizando uma câmara de ionização em forma de lápis com
um comprimento ativo de 100 mm, obtém-se o parâmetro CTDI100 , expresso em termos
de dose absorvida no ar (mGy). Estas medições podem ser adquiridas em qualquer
ponto, desde que a câmara de ionização esteja em paralelo com o eixo de rotação da
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 33
1 2
CTDIw = CTDI100,c + CTDI100,p (2.20)
3 3
Se se tiverem em conta os efeitos da exposição de radiação causados pelo pitch é de-
finido o CTDIvol . O pitch é definido como a distância percorrida pela mesa no exame ao
utente durante uma rotação de 360◦ da gantry a dividir pelo número total de cortes rea-
lizados (N) por rotação multiplicando pela espessura de corte (este produto representa a
colimação total do feixe na TC) [56]:
CTDIw
CTDIvol = (2.22)
pitch
DLP
Tabela 2.6: Coeficientes de conversão de DLP em dose efetiva em adultos de acordo com
a região anatómica irradiada durante o exame de TC (retirado de [7]).
deve passar pela avaliação inicial das atividades do serviço, que irá ter na sua prática RI,
considerando o número de exposições normais e as potenciais. Deve incluir, para todas as
atividades a desenvolver, a identificação das fontes de radiação (radionuclı́deos, gerado-
res de raios-X, etc.), bem como a avaliação da sua contribuição para a exposição na rotina
do dia-a-dia e em situações extraordinárias. Deve, ainda, contemplar uma estimativa
realista e fundamentada das doses absorvidas esperadas, assim como a probabilidades
da sua ocorrência; deve conter procedimentos relacionados com a proteção radiológica e
segurança, para em casos de emergência se saber como atuar, incluindo as consequências
esperadas e os efeitos previsı́veis no público, nos utentes e no meio ambiente. O PPR
deve também proceder à avaliação e contabilização dos efeitos para o caso de um pro-
cedimento incorreto, bem como quais as implicações envolvidas; deve prever a presença
de fatores de risco que provoquem uma libertação de material radioativo para o meio
ambiente e quais as medidas disponı́veis para a prevenir ou controlar; deve estabelecer
a atividade máxima que se espera poder ser libertada para a atmosfera, em caso de falha
maior no sistema, bem como prever a existência de algum fator que origine uma operação
não-intencional de qualquer feixe de radiação e a adoção de medidas para a identificar,
prevenir e controlar [59].
Relativamente às instalações, o PPR aborda o requisito de nomear as áreas do serviço
como: área controlada, área vigiada e área livre. Identifica o requisito que corresponde à
existência de uma série de barreiras fı́sicas e de procedimentos que imponham uma série
de verificações e pontos de controlo para a operação dos equipamentos, tais como, por
exemplo, detetores de área e sistemas de não-irradiação em caso de porta aberta [59].
O PPR é, assim, um documento em forma de regulamento interno, de que consta a
identificação do responsável pelas instalações/equipamentos e as suas funções; a definição
da cadeia de responsabilidades pela proteção e segurança dos profissionais; a designação
das áreas controladas e vigiadas; os regulamentos e protocolos internos; a classificação
dos profissionais e as suas respetivas funções; a informação relativa à monitorização dos
profissionais (dosimetria individual, etc.); a descrição do sistema de registo de toda a
informação relacionada com o controlo de exposição à radiação, medidas de proteção e
segurança dos profissionais e sua monitorização; a descrição dos programas de treino e
formação existentes relacionados com os riscos associados à radiação, proteção e segurança
radiológica, como por exemplo a descontaminação radioativa; identificação do material
radioativo e registo de eliminação de resı́duos radioativos; a caracterização dos planos
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 37
Tabela 2.7: Limites de dose para exposição ocupacional e membros do público expostos
a radiação, de acordo com o D.L. nº 108/2018 (retirado de [23]).
A IAEA é uma organização internacional das Nações Unidas, que estabelece padrões
de segurança contra as radiações ionizantes e os disponibiliza com o intuito de serem apli-
cados em diferentes atividades em que seja utilizada radiação nuclear. As suas publicações
são muito abrangentes, com temáticas que vão desde a segurança nuclear até aos aspetos
gerais de segurança em instituições onde utilizem radiações ionizantes, passando pelo
transporte e gestão de resı́duos de fontes radioativas e monitorização de profissionais
expostos.
39
40 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
O Safety Guide RS-G 1.2 da IAEA, publicado em 1999, aborda a determinação da expo-
sição ocupacional causada pela incorporação interna de radionuclı́deos, referindo um
procedimento que permite determinar se existem critérios para determinar a necessidade
de realização de monitorização individual interna dos profissionais expostos [61].
De acordo com várias normas de segurança e proteção radiológicas, todos os profis-
sionais, que trabalhem em áreas controladas e que possam estar expostos a doses signi-
ficativas, devem ser monitorizados não só externamente, com auxı́lio de dosimetria indi-
vidual, mas também sempre que se considere necessária e adequada uma monitorização
interna [61].
A necessidade de monitorização individual interna deve ser baseada na possibilidade
de se atingir uma dose efetiva de 1 mSv ou superior num ano. Para tal, devem ter-se
em conta as propriedades fı́sicas e quı́micas do material manipulado, a natureza das
operações realizadas e as proteções utilizadas, existindo valores tabelados para classifi-
car esses parâmetros através de fatores de segurança relativos ao material, manipulação e
proteção [9, 62].
A fim de avaliar os riscos de contaminação interna, envolvidos em práticas de MN, no
contexto do presente estudo, foram aplicados os critérios definidos pela IAEA [61]. Estes
critérios são baseados na estimativa de um “fator de decisão”, di , dado por:
• 0,001 é um fator de conversão de sievert (Sv) para milisievert (mSv). Na maioria dos
casos, f f s deve ser 0,01, portanto a Equação 3.1 toma a forma:
Tabela 3.1: Coeficientes de dose efetiva por inalação de 5 µm de aerossol por profissional
(retirado de [9, 61]).
O fator de decisão di deve ser determinado para cada radionuclı́deo e tipo de manipu-
lação. Assim sendo, o fator de decisão final D f , para todos os radionuclı́deos manipula-
dos, vai ser dado por [62]:
Df = ∑ di (3.3)
i
De acordo com a publicação da IAEA, a estimativa deste fator de decisão deve servir
como um meio para determinar se um profissional deve ser monitorizado para incorpo-
rações internas (se D f > 1 mSv) ou não (se D f < 1 mSv). Considerando mais do que
um radionuclı́deo presente no local de trabalho, a decisão de monitorização é baseada em
cada radionuclı́deo em separado, obedecendo aos seguintes critérios [9, 62]:
Deve notar-se que este critério se aplica a todos os tipos de práticas que envolvam
algum tipo de risco de contaminação interna e não apenas às práticas de MN. Isto deve
ser tido em conta na atribuição de valores aos fatores de ponderação a utilizar, para a
estimativa do fator de decisão. Os fatores de segurança, como proposto pelo guia de
segurança da IAEA, são muito gerais. Deve ser considerado um conjunto mais adaptado
de fatores, especificamente dedicado às práticas de MN.
2. em cada procedimento identificado foi efetuada uma análise cuidadosa das con-
dições de manipulação e das medidas de proteção utilizadas, levando à definição
de um conjunto de condições de manipulação e segurança com fatores de proteção
entre 0,01 e 1, como mostrado na Tabela 3.3;
5. não foram analisados os profissionais que detêm atividade no SMN em estudo ape-
nas em substituição de férias dos profissionais residentes;
A atividade total relativamente aos radionuclı́deos 99m Tc e 131 I foi contabilizada a par-
tir da atividade administrada a cada utente e registada na base de dados da instituição
em estudo. Adicionou-se, ainda, a radioatividade registada para os exames de Ventilação
Pulmonar. Na Figura 3.1 mostra-se a atividade total no perı́odo de um ano, por procedi-
mento.
10 7
10 6
Atividade (MBq)
10 5
10 4
10 3
Tc
ão
s
1
Tc
Tc
I
Tc
13
uo
Tc
m
m
iç
m
99
99
99
íd
lu
99
C
da
es
.E
om
io
ra
.R
ás
da
At
gl
t
is
.c
eg
ra
ân
At
in
t
eq
cn
is
dm
in
Te
da
de
dm
.A
tra
s
en
At
.a
Q
is
.V
C
At
in
os
dm
At
.n
.a
At
At
Para a atividade de eluição do 99m Tc foi considerada a atividade eluı́da, sempre que
foi necessário eluir o gerador de 99 Mo/99m Tc (Molibdénio-99/Tecnésio-99m). Relativamente
ao controlo de qualidade do gerador de 99m Tc, a atividade considerada foi a da eluição
sempre que chegou o novo gerador ao serviço (semanalmente). Neste serviço, para os
controlos de qualidade dos equipamentos, é usado o 99m Tc para o CQ mensal do equipa-
mento SPECT (uniformidade intrı́nseca), o CQ bissemanal da sonda para os exames do
gânglio sentinela, o CQ trimestral dos calibradores de dose - linearidade e repetibilidade.
Por fim, a atividade de gestão de resı́duos foi considerada zero neste estudo, porque só é
medida a atividade do resı́duo no ato de ser enviado para o lixo normal, o que, de acordo
com as normas de segurança, só é efetuado quando este está abaixo de 0,5 µSv/h a 1 m.
Com este levantamento de dados e com a determinação dos fatores de proteção tabe-
lados (Tabelas 3.2 e 3.3) foi possı́vel determinar os valores de di , através da Equação 3.2,
mostrados na Tabela 3.5. Para todos os procedimentos realizados no SMN em estudo,
os fatores segurança de manipulação do radionuclı́deo ( f hs ) e o fator de segurança de
proteção ( f ps ) foram atribuı́dos a cada procedimento e dependeram das circunstâncias
de execução das operações realizadas por cada profissional. Com base no resultado dos
valores das atividades e com o coeficiente de dose efetiva tabelado, foram calculados os
fatores de decisão (di ) para cada operação e para cada radionuclı́deo.
Tabela 3.5: Resultados dos valores do fator de decisão di , por operação no SMN.
Neste serviço em estudo, as operações são divididas e bem diferenciadas por cada ca-
tegoria profissional. Estando, por exemplo, todas as operações de radiofarmácia a cargo
apenas de um Radiofarmacêutico. Todas as administrações de 99m Tc, exceto as efetuadas
46 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
60
MEMN
FARM
50 ENF
FIS
Fator de Decisão, Df (mSv)
TMN
40
30
20
10
3.3 Conclusões
Um dos objetivos deste trabalho era estudar a dosimetria interna dos profissionais do
SMN, expostos a radiações ionizantes, durante a sua atividade laboral. Este estudo sugere
que, de acordo com os critérios da IAEA, um programa de monitorização de rotina para
as exposições internas, com base na metodologia acima referida, deve ser implementado
para a maioria dos trabalhadores deste SMN.
48 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
Com este estudo foi possı́vel concluir que o ENF, o FARM, o MEMN e os TMN devem
ser integrados num programa de monitorização de rotina para a contaminação interna.
Contudo, o guia da IAEA não menciona a periodicidade da monitorização a ser imple-
mentada, nem qual o fator D f a partir do qual esta está indicada. Este critério de peri-
odicidade deve depender do radionuclı́deo manuseado, bem como da sua forma fisico-
quı́mica, do seu comportamento in vivo, do tempo residente no organismo, do tempo
de absorção de cada órgão, da radiotoxicidade e do tempo de semi-vida do(s) radio-
nuclı́deo(s) envolvido(s).
É importante ter em conta, também, as especificidades das diferentes técnicas de me-
dida, disponı́veis para a monitorização interna. Segundo os critérios da IAEA, estes
profissionais deviam ser monitorizados, quer por métodos in vivo (por exemplo, dete-
tores/ contadores de corpo inteiro ou de órgão) quer também usando técnicas com con-
tadores in vitro (para amostras biológicas, como por exemplo: urina e fezes ou mesmo
amostras de ar expirado). Todos estes aspetos devem desempenhar um papel impor-
tante na monitorização da dosimetria interna e da otimização do programa de rotina de
monitorização em si.
Visto estas quatro categorias profissionais estarem sujeitas a doses mais elevadas, po-
derá ser necessária uma revisão dos protocolos de procedimento, proteção e otimização,
com o intuito de tentar reduzir ao máximo a exposição à radiação ionizante por parte des-
tes profissionais ou talvez programar uma maior rotatividade nas atividades profissionais
com a colaboração de mais elementos. Também a inclusão de proteção adicional e novas
medidas, durante estas operações de manipulação dos radionuclı́deos, pudessem reduzir
os riscos de incorporação e, consequentemente, os valores dos fatores de decisão.
Este estudo identificou, igualmente, as operações que implicam maiores riscos de con-
taminação, nomeadamente o manuseamento de 99m Tc em geral e a administração das do-
ses aos utentes. Assim, os objetivos inicialmente propostos para esta primeira seção foram
atingidos.
A realização deste estudo tornou-se uma mais-valia ao permitir congregar novos co-
nhecimentos e melhorar a compreensão da necessidade de monitorização interna dos pro-
fissionais. Este estudo permitiu, ainda, analisar uma futura revisão e otimização dos pro-
cedimentos relativos a toda a manipulação dos radionuclı́deos.
Capı́tulo 4
Os dados, dos exames de TC, utilizados no estudo* foram adquiridos em dois equipa-
mentos de TC diferentes instalados no SIMAG: TC da CANON, com um número máximo
49
50 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
TC CANON
Fabricante Canon
Modelo Aquilion CXL
Ano de fabrico 10/2011
Data de instalação 2011
Manutenção Preventiva (fabricante) Periodicidade de 4 revisões/ano
Resolução espacial 0,5 mm
Valores de tensão permitidos 80 kV; 100 kV; 120 kV; 135 kV
Valores de corrente permitidos [50-500] mA
TC GE
Fabricante GE
Modelo Revolution EVO
Ano de fabrico 09/2020
Data de instalação 2021
Manutenção Preventiva (fabricante) Periodicidade de 3 revisões/ano
Resolução espacial 0,28 mm
Valores de tensão permitidos 80 kV; 100 kV; 120 kV; 140 kV
Valores de corrente permitidos [10-560] mA
Software DoseWatch™
Fabricante GE
Designação DoseWatch
Versão 3.2.3
Ano da versão 2020
Ano da instalação 2021
4.2 Metodologia
perı́odo em estudo, devido ao facto do software utilizado para esta análise não ter sido
instalado ao mesmo tempo nos dois equipamentos. Por essa razão foi selecionado este
perı́odo, o único perı́odo em comum e com uma amostra considerável para os dois equi-
pamentos.
A população é constituı́da por utentes adultos, que realizaram (pelo menos) um exame
de TC no SIMAG desta Unidade, com o intuito de rastreio, diagnóstico ou follow-up. A
seleção dos exames foi independente do requisitante (urgência, consulta externa, inter-
namento), da informação clı́nica ou do objetivo do exame. A amostra foi selecionada e
anonimizada, tendo sido obtida de acordo com o tipo de exame de TC pretendido para o
estudo.
• tipo de exame;
• variáveis demográficas;
• variáveis/parâmetros dosimétricos.
• idade (≥ 18 anos).
Os parâmetros técnicos para cada tipo de exame, no âmbito deste trabalho, foram os
standards, utilizados para o tipo de exame requerido, dependendo da TC de aquisição.
Foram recolhidos os protocolos de cada tipo de exame para cada um dos equipamentos,
TC CANON (rotina) e TC GE (urgência), conforme as Tabelas 4.4-4.11.
TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 80-135 mA 300 mA
Tempo de rotação 0,50 s 0,70 s
Tempo total 4,30 s 6,15 s
pitch 0,641 0,984
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 53
TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 400 mA 500 mA
Tempo de rotação 10 s 0,8s
Tempo total 16,6 s 5,41 s
pitch 0,641 0,984
TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Large Large Body
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 135 mA 500 mA
Tempo de rotação 0,50 s 0,6 s
Tempo total 8,80 s 6,89 s
pitch 0,641 0,984
TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Large Large Body
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 180 mA 320 mA
Tempo de rotação 1,00 s 0,60 s
Tempo total 16,00 s 12,49 s
pitch 0,654 0,531
TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Small Small Body
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 150 mA 400 mA
Tempo de rotação 0,75 s 0,80 s
Tempo total 12,5 s 7,13 s
pitch 0,654 0,531
54 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Head Head
Tensão 120 kV 140 kV
Corrente 219 mA 140 mA
Tempo de rotação 1,50 s 1,00 s
Tempo total 22,70 s 7,48 s
pitch 0,688 0,531
TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Large Large Body
Tensão 135 kV 120 kV
Corrente 250 mA 450 mA
Tempo de rotação 0,50 s 0,80 s
Tempo total 5,60 s 12,89 s
pitch 0,828 0,969
TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Head Head
Tensão 135 kV 120 kV
Corrente 78 mA 80 mA
Tempo de rotação 0,50 s 0,60 s
Tempo total 4,00 s 6,85 s
pitch 0,641 0,531
A dose efetiva foi calculada de acordo com a Equação 2.24 (página 34), tendo como
referência o valor do 3◦ quartil do DLP para cada tipo de exame (correspondente ao NRD
local). Utilizaram-se os coeficientes de conversão EDLP , sugeridos nas recomendações
da Comissão Europeia, de acordo com a região anatómica estudada, como mostrado na
Tabela 2.6 [7].
No perı́odo de janeiro a agosto de 2022 foi realizado um total de 12 272 exames de TC,
considerando os oito tipos de exames selecionados para este estudo, nos dois equipamen-
tos de TC do SIMAG. Os critérios usados para esta seleção foram: o número de exames
nos dois equipamentos de TC no intervalo em que existia registo no software e os exames
que suscitaram maior interesse na sua análise, ou seja, os que apresentavam uma maior
discrepância de valores e eventuais dúvidas nos parâmetros de exame.
Nesta secção apresenta-se a caracterização da amostra, fazendo uma análise do número
total de exames por tipo de TC considerado. É também mostrada uma caracterização
da amostra através de variáveis demográficas, nomeadamente género e idade dos uten-
tes que realizaram as TC consideradas no estudo. É igualmente feita e analisada uma
comparação dos valores de CTDIvol e de DLP por tipo de exame nos dois equipamen-
tos de TC. Além da análise referida anteriormente, essas duas grandezas dosimétricas
(CTDIvol e DLP) são comparadas a nı́vel da adequação às recomendações europeias. Por
fim, é apresentado o cálculo da dose efetiva, através do 3◦ quartil dos valores de DLP de
cada tipo de exame considerado no estudo, usando os fatores de conversão sugeridos.
Na Figura 4.2 é mostrado o número total de exames efetuados para cada tipo de exame
considerado, por equipamento de TC. É possı́vel verificar que o maior valor global, no
conjunto dos dois equipamentos de TC, foi para o TC CE, perfazendo um total de 6 560
exames. O exame que registou o maior número de casos foi também a TC CE com o
equipamento TC GE (n = 6 052), utilizada para exames de caráter de urgência. Este valor
era esperado devido à existência da “Via verde de AVC” nesta Unidade de Saúde e ao
grande volume de utentes politraumatizados e com cefaleias que dão entrada na urgência.
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 57
104
CANON
GE
Número total de TC
103
102
101
TX CL BD CE PP
M
OU
V LV SP
TC TC A TC PE TC
TC TC T C
TC
60
50
40
Percentagem
30
20
10
0
Masculino Feminino
104
M
F
Número total de TC
103
102
101
TX CL BD CE PP
M
OU
V LV SP
TC TC A TC PE TC
TC TC TC TC
Figura 4.4: Distribuição do número de exames por género e por tipo de exame de TC.
Neste estudo foram apenas considerados indivı́duos adultos, ou seja, com idade su-
perior a 18 anos à data da realização do exame. Os demais não foram tidos em conta, uma
vez que são considerados estudos pediátricos e não fazem parte do âmbito deste trabalho.
Na Figura 4.5 é apresentada a distribuição do número de exames de TC por faixa etária
(no global dos dois equipamentos de TC).
18-39
> 80
40-59
60-79
100 100
90 90
Idade aquando da realização da TC
80
80
70
70
60
60
50
50
40
40
30
30
20
20 10
10 0
E
V
LV
LV
TX
TX
L
SP
SP
C
C
C
U
AB
AB
PP
PP
PE
PE
O
O
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
TC
(a) (b)
Figura 4.6: Distribuição por idade aquando da realização da TC por equipamento: (a) TC
CANON e (b) TC GE, para os vários tipos de estudo.
4.3.3 Comparação das grandezas dosimétricas CTDIvol e DLP para os dois equi-
pamentos de TC por tipo de exame, com as referências da CE
Nesta secção é apresentada uma análise estatı́stica de forma a fazer uma comparação
das grandezas dosimétricas CTDIvol e DLP, para os dois equipamentos de TC: TC CA-
NON e TC GE, relativamente a cada tipo de exame. Nesta análise foram ainda tidas em
conta as referências da CE para estas duas grandezas, para cada tipo de exame.
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 61
4.3.3.2 TC TX
A Figura 4.7 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC TX, dos dois equipamentos de TC. Verifica-se que, relativamente aos valo-
res de CTDIvol , as medianas apresentam valores próximos, nomeadamente 17,6 mGy para
a TC CANON e 18,2 mGy para a TC GE. O valor do 3◦ quartil de CTDIvol é de 22,5 mGy
para a TC CANON e de 25,1 mGy para a TC GE. Estes valores encontram-se abaixo dos
valores de recomendação da CE, apresentados na Tabela 4.12, os quais diferem entre os
equipamentos de TC, uma vez que este valor está diretamente relacionado com o valor
de pitch utilizado em cada protocolo de cada equipamento TC.
62 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
300 6000
Referência CE Referência CE
250 5000
200 4000
150 3000
100 2000
50 46,8 1000
30,5 650
0 0
Canon GE Canon GE
(a) (b)
Figura 4.7: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC TX com a referência da CE EUR 16262.
4.3.3.3 TC CL
A Figura 4.8 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC CL, dos dois equipamentos de TC. Verifica-se que, em ambos os casos, as
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 63
100 4500
Referência CE Referência CE
90 4000
80
3500
70
3000
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)
60
54,6
2500
50
2000
40 35,5
1500
30
1000
20 800
10 500
0 0
Canon GE Canon GE
(a) (b)
Figura 4.8: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC CL com a referência da CE EUR 16262.
4.3.3.4 TC ABD
A Figura 4.9 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos exa-
mes de TC ABD, dos dois equipamentos de TC. Relativamente aos valores de CTDIvol , os
valores do 3◦ quartil obtidos são 26,4 mGy e 17,8 mGy, respetivamente para a TC CANON
e TC GE. Estes valores são, aproximadamente, 50% inferiores aos valores recomendados
pela CE (54,6 mGy e 35,5 mGy, respetivamente).
Em relação aos valores de DLP, a TC CANON apresentou valores significativamente
mais altos, sendo a maior diferença observada no 3◦ quartil (2 366 mGy·cm) enquanto
para a TC GE o valor foi 1 358 mGy·cm. Estes valores encontram-se, novamente, muito
acima das recomendações CE (780 mGy·cm), nomeadamente 67% e 43,8%. Estes valores
poderão estar relacionados com o protocolo.
Muitas vezes um utente dirige-se ao serviço para fazer um exame de estadiamento
oncológico (geralmente um exame de 3 fases: Simples, Portal e Tardia). Por vezes, o utente
faz aquisições de 3 regiões anatómicas dentro do mesmo protocolo: Tórax, Abdómen e
Pélvico, ficando a dose somada e considerado-se apenas no protocolo da aquisição inicial.
140 8000
Referência CE Referência CE
120 7000
6000
100
DLP (mGy cm)
5000
CTDIvol (mGy)
80
4000
60 54,6
3000
40 35,5
2000
20 1000 780
0 0
Canon GE Canon GE
(a) (b)
Figura 4.9: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC ABD com a referência da CE EUR 16262.
Tabela 4.15: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC ABD, nos dois equipamentos de TC.
4.3.3.5 TC CE
A Figura 4.10 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC CE, dos dois equipamentos de TC.
450 6000
Referência CE Referência CE
400
5000
350
300 4000
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)
250
3000
200
150 2000
113,0
100 91,7
1050
1000
50
0 0
Canon GE Canon GE
(a) (b)
Figura 4.10: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC CE com a referência da CE EUR 16262.
casos de politrauma. Foi ainda indicado que esta TC GE (urgência) tem outros protocolos
base que são, no entanto, feitos com o protocolo de TC CE simples, como a “via verde de
AVC”, onde, perante os achados no exame simples, é muitas vezes associado à aquisição
de angiografia dos vasos do pescoço e vasos intra-craneanos, somando assim mais dose
ao exame.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.16 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC CE.
Tabela 4.16: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC CE, nos dois equipamentos de TC.
4.3.3.6 TC PPM
A Figura 4.11 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC PPM, dos dois equipamentos de TC.
50 4500
Referência Referência
45 4000
40 3500
35 3000
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)
30 2500
25 2000
23,0
20 1500
15 1000
523
10 500
5 0
Canon GE Canon GE
(a) (b)
Figura 4.11: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC PPM. As referências utilizadas foram retiradas de [63].
Nos exames de TC PPM, nas duas TC, CANON e GE, os valores apresentados para o
3◦ quartil do CTDIvol correspondem a 27,4 mGy para a TC CANON e a 18,45 mGy para
a TC GE. Para estes valores, de CTDIvol de TC PPM, não foram encontradas referências
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 67
4.3.3.7 TC OUV
A Figura 4.12 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC OUV, dos dois equipamentos de TC.
120 1500
Referência CE 113,0 Referência CE
110
100
1050
1000
DLP (mGy cm)
90
CTDIvol (mGy)
87,2
80
70
500
60
50
40 0
Canon GE Canon GE
(a) (b)
Figura 4.12: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC OUV com a referência da CE EUR 16262.
inferiores à referência CE. Em relação aos valores de DLP, verifica-se que ambos os valores
do 3◦ quartil se encontram abaixo da referência CE.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.18 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC OUV.
Tabela 4.18: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC OUV, nos dois equipamentos de TC.
4.3.3.8 TC PELV
A Figura 4.13 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC PELV, dos dois equipamentos de TC.
150 4500
Referência CE Referência CE
4000
3500
100 3000
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)
2500
2000
50 1500
42,3
36,0
1000
570
500
0 0
Canon GE Canon GE
(a) (b)
Figura 4.13: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC PELV com a referência da CE EUR 16262.
Nos exames de TC PELV, nos dois equipamentos de TC, CANON e GE, os valores do
3◦ quartil de CTDIvol são 29,0 mGy para a TC CANON e 18,4 mGy para os exames da TC
GE, valores abaixo das referências. Em relação aos valores de DLP, é a TC CANON a que
apresenta o valor mais alto do 3◦ quartil (1 594 mGy·cm). Assim como na TC ABD e na
TC TX, neste tipo de TC muitos dos estudos realizados são de exames para estadiamento
oncológico, onde, no mesmo varrimento, são integradas outras regiões anatómicas (como
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 69
por exemplo: Tórax + Abdómen + Pélvis) em diversas fases (Simples, Arterial e Portal) e,
consequentemente, a dose fica só contabilizada no protocolo inicial.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.19 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC PELV.
Tabela 4.19: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC PELV, nos dois equipamentos de TC.
4.3.3.9 TC SP
A Figura 4.14 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC SP, dos dois equipamentos de TC.
70 1400
Referência CE 65,9 Referência CE
1200
60
54,6
1000
50
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)
800
40
600
30
400
20 190
200
10 0
Canon GE Canon GE
(a) (b)
Figura 4.14: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC SP com a referência da CE EUR 16262.
Nos exames de TC SP os valores obtidos de CTDIvol do 3◦ quartil são 14,4 mGy para
a TC CANON e de 54,0 mGy para a TC GE. Estes valores são muito diferentes, podendo
esta diferença estar relacionada com o número total da amostra que é muito menor na
TC GE (como apresentado na Figura 4.2, página 57). O mesmo sucede em relação aos
valores de DLP, sendo a TC GE a que apresenta valores mais elevados. A razão para esta
diferença poderá estar relacionada com a realização dos protocolos de neuronavegação
70 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
para abordagem cirúrgica na TC GE, o que implica incluir uma grande área anatómica
com cortes muito finos e, assim, contabilizar mais dose no exame referido.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.20 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC SP.
Tabela 4.20: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC SP, nos dois equipamentos de TC.
A dose efetiva (mSv) foi calculada através do 3◦ quartil do DLP dos protocolos standard
dos tipos de exame em estudo, dos valores para os dois equipamentos de TC, multipli-
cando pelo fator de conversão EDLP , como referido anteriormente. Para a dose efetiva, só
foi possı́vel o cálculo para as regiões anatómicas referidas na Tabela 4.22, devido à falta
de referências para o valor de conversão EDLP , para as restantes regiões.
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 71
Da análise da Tabela 4.22 verificou-se que os tipos de exame com menor dose efetiva
resultado, da conversão do valor do 3◦ quartil do DLP, são os exames de TC CE, sendo
este o tipo de exame onde se registou a menor dose efetiva, nos dois equipamentos de
TC em estudo. A TC ABD foi o tipo de exame que registou maior dose efetiva na TC
CANON, o que poderá estar associado a exames triplos (Tórax + Abdómen + Pélvico),
como referido e discutido na própria análise do cálculo do 3◦ quartil do CTDIvol e DLP.
Verificou-se que os valores de dose efetiva deste trabalho, quando comparados com os
dados nacionais mais recentes conhecidos (Dose Datamed 2 Portugal e com as referências
CE) apresentam uma superioridade sistemática para a TC ABD (1,11 vezes superior), a
TC T PELV (1,65 vezes superior), a TC TX (1,73 vezes superior) e para a TC CE (3,77 vezes
superior).
Desta análise de dose efetiva observa-se também que os valores são superiores na TC
CANON, o que faz sentido para os tipos de exames e objectivo em estudo nesta TC, como
discutido anteriormente.
4.4 Conclusões
Este trabalho propôs-se realizar um estudo das práticas efetuadas para a realização de
exames de Tomografia Computorizada (TC) em adultos no SIMAG, com vista à otimização
dos procedimentos técnicos e numa perspetiva comparativa de parâmetros dosimétricos
em cada um dos seus equipamentos de TC, através de uma análise das grandezas do-
simétricas CTDIvol e DLP, com base nas recomendações europeias.
Neste estudo foi utilizado o software Dosewacth™, instalado recentemente no SIMAG
e ainda numa fase experimental, para recolher todos os dados e informações relevantes
para o presente estudo. Tentou, ainda, fazer-se um teste e análise às funcionalidades do
referido software.
72 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
Da análise dos resultados obtidos, observou-se que o NRD local de CTDIvol , que ca-
racteriza a técnica de um exame TC em si, tem um valor inferior ao recomendado, em
todos os tipos de TC analisados. Deste modo, poder-se-á concluir que os parâmetros
técnicos utilizados foram adequados aos tipos de estudo por TC. No entanto, como os
NRD locais de DLP, que caracterizam a exposição do utente, foram muito superiores às
recomendações, segundo a definição de conversão de CTDIvol em DLP, poderá concluir-
se que os utentes foram irradiados com um comprimento de aquisição muito superior ao
esperado. Tal poderá ter ocorrido devido a vários pontos que se irão discutir a seguir. Um
deles pode prender-se ao facto de que pode estar a ser determinado, pelo técnico de radi-
ologia, um comprimento de aquisição excessivamente grande. Poderá, ainda, ser devido
a caracterı́sticas do próprio utente e pode ser necessário alterar a dimensão da aquisição.
O protocolo poderá não estar bem definido, a nı́vel de dimensão do comprimento para o
tipo de exame em estudo, ou os protocolos de aquisição para um exame simples, estarem
a ser usados para exames duplos ou triplos, como anteriormente referido na discussão.
Em todos os exames de TC ABD do protocolo standard foram registados valores CTDIvol
inferiores aos recomendados pela CE. Os valores de NRD (correspondentes ao 3◦ quar-
til) de DLP para a TC GE encontram-se muito próximos do valor recomendado. No en-
tanto, constatou-se a existência de alguns casos com valores superiores às recomendações
CE, possivelmente devido a comprimentos de aquisição superiores. Tal facto poderá ser
aceitável, relativamente à definição dos NRD, pois considera a possibilidade de variações
demográficas ou de práticas ajustadas a um objetivo clı́nico, como referido na discussão.
Por exemplo, em situações de carácter de urgência, em que um utente politraumatizado
tem de fazer um exame mais abrangente de outras regiões anatómicas, por vezes é utili-
zado apenas um protocolo para dar resposta mais rápida. No entanto, a dose adminis-
trada fica apenas associada a um só protocolo. Ainda assim, numa perspetiva de trabalho
futuro, pode ser estudada a temática deste trabalho associada à análise da conformidade
das estruturas anatómicas de referência para o inı́cio e terminus de cada tipo de exame.
Como não existem valores de referência para o CTDIvol e DLP especı́ficos para a TC
OUV, as recomendações europeias referem os valores da TC CE. No entanto, anatomica-
mente, o comprimento de aquisição necessário para um exame de TC CE é muito superior
ao comprimento de aquisição de uma TC OUV. Assim, o valor do 3◦ quartil de CTDIvol e
DLP pode ser mais reduzido do que o referenciado.
Para os exames de TC CE os valores registados neste estudo de NRD locais para
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 73
CTDIvol foram inferiores às recomendações. Em relação os valores NRD locais de DLP,
para todos os oito tipos de exames TC em estudo, da TC CE foram os mais próximos dos
valores de referência, apesar de se verificarem alguns outliers, principalmente na TC GE
(urgência), devido a fatores já apresentados anteriormente no ponto 4.3.3.5 (página 65).
Para os exames TC TX, TC ABD e TC PELV, constata-se que todos os NRD locais
de DLP estão acima das recomendações da CE. No entanto, consultando o PACS e o
Glint consegue perceber-se que havia discrepâncias entre a prescrição, o planeamento e
a apresentação do resultado. Isto é, por exemplo: a um utente em carácter de urgência
na TC GE são prescritos, no Glint, 3 tipos de exames TC ABD, TC PELV, TC TX, mas ao
realizar e selecionar o utente, o técnico apenas abre uma prescrição e realiza os 3 exa-
mes, apenas com um protocolo. O software Dosewatch™ em estudo associa a dose a um
só exame, o que leva a que se tenham estes resultados de NRD locais muito superiores
aos recomendados e esperados. Outra questão, que também pode contribuir para se ob-
terem estes valores mais altos e que não é contabilizado pelo referido software, é o facto
de cada vez mais ser usada a telemedicina, para um maior número de exames. Tal faz
com que um exame que precise de ser observado e relatado fora das instalações hospi-
talares, muitas vezes leve à prescrição de um pedido com administração de contraste e
áreas anatómicas mais abrangentes, o que implica múltiplas aquisições e maior dose para
o exame prescrito.
Capı́tulo 5
75
76 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
de proteção poderá ser também importante e uma mais-valia para assegurar uma maior
proteção a estes profissionais. Outros estudos poderão ser realizados, tais como a análise
da dosimetria individual externa e a monitorização de áreas controladas, que está também
a ser efetuada no SMN em estudo, e comparar com os resultados obtidos neste trabalho.
É de salientar que este estudo foi realizado num SMN relativamente pequeno e com
poucos profissionais. Poderia ser interessante efetuar a comparação com estudos já efe-
tuados em SMN maiores em Portugal, que utilizem diferentes radionuclı́deos e outras
técnicas, para tentar perceber que estratégias adotam para a sua organização e que técnicas
de otimização poderão ser implementadas a um nı́vel mais alargado.
Na segunda vertente do trabalho, foi feita uma análise inicial da amostra, que revelou
uma discrepância no número de exames totais realizados em cada equipamento de TC, em
alguns tipos de exames, como por exemplo na TC CE. Esta discrepância está relacionada
com o facto de um dos equipamentos de TC, a TC CANON, ser vocacionado para exames
de rotina, enquanto o outro está vocacionado para exames de urgência (a TC GE), que
também dá apoio à Unidade de AVC. Foi igualmente observada uma diferença no tipo de
exames realizados de acordo com o género F/M, a qual ocorre em alguns tipos de exames,
tendo em conta a maior prevalência de determinadas patologias de acordo com o género.
Além do mais, o estudo demonstrou que a maior parte dos exames são realizados em
utentes com idade mais avançada. Comparando ainda aspetos demográficos, em relação
a ambos os equipamentos de TC, a TC GE (urgência) apresenta uma média de idades
inferior, isto porque situações de urgência ocorrem geralmente mais na população mais
ativa, enquanto na TC de rotina são estudados utentes com idades mais avançadas, pois
normalmente são quem apresenta patologias devido ao envelhecimento e realizam mais
exames para estadiamento de doenças oncológicas.
A maior ênfase desta vertente do trabalho prende-se com a comparação das grandezas
dosimétricas CTDIvol e DLP relativas a oito tipos de exames de TC efetuados no SIMAG:
observou-se que os valores de CTDIvol e DLP nos dois equipamentos de TC são diferentes,
tendo a TC CANON valores mais altos. Para ambos os equipamentos de TC do estudo,
relativamente aos oito tipos de exames, os valores de DLP estão acima dos recomendados
pela CE. Consequentemente, os valores de NRD locais (correspondendo ao 3◦ quartil) são
mais altos do que o esperado.
Entre outras questões, já analisadas e discutidas no Capı́tulo 4, outra perspetiva im-
portante a abordar é o software DoseWatch™, usado ainda em modo experimental, que
5. C ONCLUS ÕES E P ERSPETIVAS F UTURAS 77
depois confirmar no DoseWatch™. Obviamente que para este novo estudo, a amostragem
de exames teria de ser muito menor, porque não haveria ferramentas automáticas para
facilitar esta análise. No entanto, seria uma análise mais fidedigna para comparação com
as referências europeias.
Um objetivo importante seria detetar as discrepâncias, tentar estabelecer uma lingua-
gem comum entre a prescrição, planeamento e apresentação de resultados.
Apesar das limitações referidas, os resultados deste trabalho permitiram o cálculo dos
NRD locais para os dois equipamentos de TC existentes, tendo ficado com uma perceção
do que terá de se melhorar e otimizar nas práticas locais e como evoluir para atingir esse
objetivo.
No futuro, seria necessário elaborar um estudo que avaliasse as eventuais alterações
nas práticas locais, de forma a medir o impacto da otimização dos protocolos dos exames,
bem como para calcular novos NRD locais. De forma complementar, seria uma mais-valia
a elaboração de um estudo que direcionasse os protocolos técnicos para objetivos clı́nicos
especı́ficos, onde fosse possı́vel analisar a adequação das grandezas dosimétricas a um
objetivo clı́nico, tendo como referência as recomendações da Comissão Europeia.
Após se terem identificado as elevadas doses, a equipa do SIMAG foi alertada no sen-
tido de tomar medidas para tentar realizar o ajuste dos parâmetros técnicos, sempre que
possı́vel. Dadas as caraterı́sticas apontadas às prescrições, como por exemplo o grande
número de exames em telemedicina, uma análise mais pormenorizada poderia ajudar na
questão da uniformização dos protocolos e prescrição.
Espera-se que os resultados obtidos e conclusões delineadas neste trabalho possam
contribuir para a melhoria das práticas locais e para a proteção radiológica dos profis-
sionais. A otimização das práticas, no que se refere ao ajuste de parâmetros técnicos
de aquisição, deverá estar associada a um sistema duplo de validação da qualidade das
imagens: com base numa avaliação visual dependente de observadores treinados (obvi-
amente mais subjetiva) e num software dedicado de avaliação automática dos diversos
parâmetros que definem a qualidade de imagem.
Apesar das limitações, o trabalho presente poderá ter algum potencial para conseguir
levar a uma melhoria das práticas pela Equipa, num contexto de Proteção Radiológica,
sensibilizando e responsabilizando as chefias locais. Tal como foi sugerido atrás, para
avaliar a alteração das referidas práticas, seria importante elaborar um trabalho similar
ao efetuado neste trabalho, após a implementação de protocolos otimizados.
Referências Bibliográficas
[2] S. Cruz, “Radiation Safety Fundamentals Workbook,” Environmental Health and Safety, vol.
30255, no. January 2000, 2000.
[3] E. Vano, “Global view on radiation protection in medicine,” Radiation Protection Dosimetry,
vol. 147, no. 1-2, pp. 3–7, sep 2011.
[5] H. Delis, K. Christaki, B. Healy, G. Loreti, G. L. Poli, P. Toroi, and A. Meghzifene, “Moving
beyond quality control in diagnostic radiology and the role of the clinically qualified medical
physicist,” pp. 104–108, sep 2017.
[6] P. Early and D. Sodee, Principles of Nuclear Medicine, in Principles and Practice of Nuclear medi-
cine, Mosby:Missouri, 1995.
[7] European Guidelines for DECT, “European Guidelines on Quality Criteria for Computed
Tomography European Guidelines on Quality Criteria,” Eur 16262 En, pp. 1–71, 2004.
[8] Direção-Geral da Saúde, “Guia Técnico N.º 1 - Vigilância Da Saúde Dos Trabalhadores Expos-
tos A Radiação Ionizante,” Guia Técnico N.º 1 - Vigilância Da Saúde Dos Trabalhadores Expostos
A Radiação Ionizante, pp. 11, 20–21, 28, 2016.
[9] J. Bento, P. Teles, M. Neves, A. I. Santos, G. Cardoso, A. Barreto, F. Alves, C. Guerreiro, A. Ro-
drigues, J. A. Santos, C. Capelo, R. Parafita, and B. Martins, “Study of nuclear medicine prac-
tices in Portugal from an internal dosimetry perspective,” Radiation Protection Dosimetry, vol.
149, no. 4, pp. 438–443, 2012.
79
80 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
[10] A. J. Doggart, “Atomic Theory and Radioactivity,” pp. 241–245, apr 2021.
[11] D. J. Simpkin, “The AAPM/RSNA physics tutorial for residents: Radiation interactions and
internal dosimetry in nuclear medicine,” Radiographics, vol. 19, no. 1, pp. 155–167, 1999.
[12] R. D. P. Tauahata, Luiz; Salati, Ivan; Prinzio and A. R. D. Zio, “Radioproteção E Dosimetria :
Fundamentos,” Ird/Cnen, p. 345, 2013.
[14] S. S. Bhatia and S. D. Pillai, “Ionizing Radiation Technologies for Vaccine Development - A
Mini Review,” feb 2022.
[15] “Programa das nações unidas para o meio ambiente title = “Radiação: efeitos e fontes, Pro-
grama das Nações Unidas para o Meio Ambiente,”, isbn = 978-92-807-3604-5, year = 2016.”
[17] R. Ferreira, “Plataformas de petróleo no offshore: Como saber se existe risco radiológico
presente?” https://radioprotecaonapratica.com.br/como-saber-se-existe-risco-radiologico-
presente-no-offshore/, 2008, [Online; acedido a 21/10/2022].
[18] B. J. Bushberg JT, Seibert Ja, Leidholdt EM, The essential physics of medical imaging, 2nd ed.
Philadelphia: Lippincott, Williams & Wilkins, 2002.
[19] G. B. Saha, Physics and Radiobiology of Nuclear Medicine. New York, NY: Springer New York,
2013. [Online]. Available: http://link.springer.com/10.1007/978-1-4614-4012-3
[21] J. Valentin, “Radiation and your patient: A guide for medical practitioners,” Annals of the
ICRP, vol. 31, no. 4, pp. 1–52, oct 2001. [Online]. Available: http://journals.sagepub.com/
doi/10.1016/S0146-6453{%}2802{%}2900007-6
[22] ICRP, Radiological Protection and Safety in Medicine, icrp publi ed., 1996.
[24] D. Male, J. Brostoff, d. B. Roth, and I. Roitt, “The 2007 recomendation of the international
commission on radiaological protection,” vol. 60, pp. 9–34, 2006.
[27] J. Kaljevic, K. Stankovic, J. Stankovic, O. Ciraj-Bjelac, and D. Arandjic, “Hand dose evaluation
of occupationally exposed staffin nuclear medicine,” Radiation Protection Dosimetry, vol. 170,
no. 1-4, pp. 292–296, sep 2016.
[31] J. W. Poston, “External Dosimetry and Personnel Monitoring,” Health Physics, vol. 88, no. 4,
pp. 289–296, apr 2005. [Online]. Available: http://journals.lww.com/00004032-200504000-
00001
[32] P. Covens, D. Berus, V. Caveliers, L. Struelens, and D. Verellen, “Skin contamination of nu-
clear medicine technologists: Incidence, routes, dosimetry and decontamination,” Nuclear
Medicine Communications, vol. 33, no. 10, pp. 1024–1031, oct 2012.
[33] E. Osei, F. Nuru, and M. Moore, “Assessment of occupational radiation doses of medical
radiation workers in two community hospitals,” Radiation Protection Dosimetry, vol. 192, no. 1,
pp. 41–55, 2020.
[36] J. Bevelacqua, “Internal dosimetry primer,” Radiation protection management, vol. 22, no. 5,
p. 7, 2005.
[37] D. A. Weber, “The mird method of estimating absorbed dose,” Brookhaven National Lab.,
Tech. Rep., 1991.
[38] W. E. Bolch, K. F. Eckerman, G. Sgouros, and S. R. Thomas, “Mird pamphlet no. 21: a genera-
lized schema for radiopharmaceutical dosimetry—standardization of nomenclature,” Journal
of Nuclear Medicine, vol. 50, no. 3, pp. 477–484, 2009.
[39] H. MALAMUD, “Mird primer for absorbed dose calculations,” Clinical Nuclear Medicine,
vol. 14, no. 9, pp. 723–724, 1989.
[41] S. C. Vaz, F. Oliveira, K. Herrmann, and P. Veit-Haibach, “Nuclear medicine and molecular
imaging advances in the 21st century,” 2020. [Online]. Available: https://www.
[42] M. Marengo, C. J. Martin, S. Rubow, T. Sera, Z. Amador, and L. Torres, “Radiation Safety and
Accidental Radiation Exposures in Nuclear Medicine,” pp. 94–113, mar 2022.
[45] N. Dehghan and S. Sina, “Measurement of operational dosimetry quantities for nuclear me-
dicine staff,” Radiation Protection Dosimetry, vol. 190, no. 2, pp. 119–124, jun 2020.
[47] D. Tack, P. A. Gevenois, and H. Abada, Radiation dose from adult and pediatric multidetector
computed tomography. Springer, 2007.
[49] ICRP, Avoidance of Radiation Injuries from Medical Interventional Procedures, icrp publi ed., 2000.
[50] IAEA, Safety series no.115. International basic safety standards for protection against ionizing radi-
ation and for the safety of radiation sources. Viena: International Atomic Energy Agency, 1996.
[55] et al Sandler, M.P., Radiopharmaceuticals, Radiation protection and Dosimetry, in Diagnostic Nu-
clear Medicine. Philadelphia: Lippincott, Williams & Wilkins, 2004.
[56] J. Lima, Técnicas de Diagnóstico com Raios-X - Aspectos fı́sicos e Biofı́sicos. Coimbra: Imprensa
da Universidade de Coimbra, 2009.
[57] D.-G. for Environment (European Commission), “Guidance on diagnostic reference levels
(drls) for medical exposures,” 1999.
[58] D. Hamilton, Radiation, in Diagnostic Nuclear Medicine - A Physics Perspective. New York:
Springer, 2004.
84 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE
[59] Ministério da Saúde, “Programa de protecção radiológica - Linhas Gerais (Versão 1.0,
19/07/2006),” 2006.
[60] C. Martin and D. Sutton, “Ionising radiations: hazards, detection and measurement, in Prac-
tical Radiation Protection in Healthcare.” Oxford: Oxford University Press, 2002, pp. 3–66
Cap1.
[61] I. S. Guide and N. RS-G, “1.2, assessment of occupational exposure due to intakes of radio-
nuclides,” 1999.
[62] A. ICRP et al., “Dose coefficients for intakes of radionuclides by workers,” Ann. ICRP, vol. 24,
no. 4, 1994.
[63] D. Bos, S. Yu, J. Luong, P. Chu, Y. Wang, A. J. Einstein, J. Starkey, B. N. Delman, P.-A. T.
Duong, M. Das et al., “Diagnostic reference levels and median doses for common clinical
indications of ct: findings from an international registry,” European Radiology, vol. 32, no. 3,
pp. 1971–1982, 2022.