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Estudo de Proteção

e Segurança
Radiológica em
profissionais e
utentes de uma
Unidade de Saúde
Rafaela Inácio
Mestrado em Física Médica
Departamento de Física e Astronomia
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
2022

Orientador
Prof. Doutor Pedro Manuel Peixoto Teles, Faculdade de Ciências da
Universidade do Porto
Declaração de Honra
Eu, Rafaela Nádia Silva Inácio, inscrita no Mestrado em Fı́sica Médica da Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto declaro, nos termos do disposto na alı́nea a) do artigo
14.º do Código Ético de Conduta Académica da U.Porto, que o conteúdo da presente
dissertação reflete as perspetivas, o trabalho de investigação e as minhas interpretações
no momento da sua entrega.
Ao entregar esta dissertação, declaro, ainda, que a mesma é resultado do meu próprio
trabalho de investigação e contém contributos que não foram utilizados previamente nou-
tros trabalhos apresentados a esta ou outra instituição.
Mais declaro que todas as referências a outros autores respeitam escrupulosamente as
regras da atribuição, encontrando-se devidamente citadas no corpo do texto e identifica-
das na secção de referências bibliográficas. Não são divulgados na presente dissertação
quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor.
Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilı́cito acadé-
mico.

Rafaela Inácio
Porto, 15 novembro de 2022
“ A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em
ter novos olhos. ”

Marcel Proust

iii
Agradecimentos
Um trabalho de mestrado é uma longa viagem, recheada de muitos desafios, incerte-
zas, esforço, dedicação, alegrias e percalços. Este percurso reúne o contributo de várias
pessoas, indispensáveis para encontrar a melhor trajetória para a meta final. Fazer esta
“caminhada” não foi fácil, mas foi possı́vel com o apoio, energia e força de várias pessoas,
a quem dedico este projeto.
No âmbito do desenvolvimento da presente dissertação expresso o meu profundo
agradecimento pela ajuda concedida por diversas pessoas e entidades.
Gostaria de agradecer à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, pelas condi-
ções que me foram prestadas para concluir este projeto da melhor forma.
Ao meu orientador Prof. Doutor Pedro Teles, que desde o inı́cio acreditou que eu
conseguiria fazer e concluir este percurso, mesmo à distância, a trabalhar e com filhos.
Por vezes, acreditarem em nós é o melhor apoio. Pela sua orientação concisa e muito
assertiva e com elevado rigor cientı́fico e visão crı́tica, que contribuı́ram para enriquecer,
todas as etapas subjacentes a este trabalho.
À minha irmã Sofia Inácio, que me apoia sempre em todos os projetos (mesmo sem
saber o tema). Obrigada pelo apoio, dedicação, amizade, perfecionismo, ajuda, rigor e
ambição. Obrigada por me ajudares a ser melhor.
A toda a Equipa dos Serviços de Radiologia e Medicina Nuclear, onde exerço funções,
pela ajuda, apoio e disponibilidade na recolha e interpretação dos dados para este traba-
lho.
À Lúcia Fernandes que, apesar de estar há pouco tempo no Serviço, foi uma peça fun-
damental para me ajudar na recolha, análise e interpretação dos dados para este trabalho.
As suas ideias foram muito importantes para ultrapassar obstáculos que foram surgindo.
Obrigada pela tua energia, positividade, dedicação e trabalho. Mesmo quando me sentia
perdida, tinha ali uma “luzinha” que dizia “tu consegues”.
À Doutora Ana Cristina Santos, pela sua total disponibilidade em ajudar. Pelos seus
conselhos preciosos, pela elevada competência e rigor, bem como pela leitura crı́tica e
atenta das versões preliminares da tese, contribuindo para o seu aperfeiçoamento, estou
também especialmente grata.
À Técnica Luı́sa Gouveia, pelo apoio e ajuda na interpretação dos dados que fui reco-
lhendo.

v
Agradeço também a toda a minha famı́lia, aos meus pais, que incondicionalmente
estão “sempre lá”, que sofrem connosco, mas que brindam também a cada conquista.
À minha filha Constança, (“minha menina linda”), que espero doravante compensar
das horas de atenção, brincadeira e festinhas que lhe devo.
Ao meu companheiro Bruno, pela sua ajuda, apoio e encorajamento naqueles momen-
tos cruciais desta difı́cil jornada.
À minha amiga Dina Pimenta, por estar sempre disponı́vel para mim, por me ouvir.
À minha amiga Ana Rita por acreditar em mim e me apoiar sempre: “em frente é o
caminho”.
Aos meus colegas e amigos do MFM, que conheci e nunca vou esquecer, sempre pron-
tos a ajudar e facultar apontamentos: Maria Clara Crasto, Lourival Junior e Hugo Freitas.

vi
Resumo
A exposição de indivı́duos à radiação ionizante, seja enquanto utente num ato médico
ou enquanto profissional responsável pela sua realização, rege-se pelas normas estabele-
cidas no âmbito da Proteção e Segurança Radiológica. Neste sentido, existe uma preocu-
pação constante com a otimização das técnicas realizadas e respetiva monitorização, em
particular em relação às doses de exposição para o utente e para o profissional.
Este trabalho teve como objetivo a caracterização e avaliação da Proteção Radiológica
numa Instituição de Saúde da Região Autónoma da Madeira, conjugando dados de duas
áreas distintas: Medicina Nuclear (MN), na vertente da exposição ocupacional, e Radio-
logia, na vertente da exposição do utente.
No que concerne a área da MN foram analisados os procedimentos realizados e as
doses manipuladas ao longo de um ano para cada profissional na Unidade de Saúde e
realizados testes de acordo com os critérios propostos pela International Atomic Energy
Agency (IAEA) no documento Safety Guide RS-G 1. Pôde concluir-se que o procedimento
com maior necessidade de monitorização interna é o de injeção/administração de ra-
diofármacos. Neste contexto, o Enfermeiro é o profissional com maior exposição interna,
pois o fator de decisão, calculado segundo os critérios da IAEA, para determinar a neces-
sidade de monitorização interna, é o mais elevado, nas condições de trabalho e para as
categorias profissionais analisadas.
No que diz respeito à área de Radiologia, nomeadamente no que concerne a análise
de exames de Tomografia Computorizada (TC) em utentes adultos, foi realizada uma
análise comparativa com base nas recomendações da Comissão Europeia. Foi igualmente
feita uma avaliação por tipo de exame realizado em dois equipamentos de TC do serviço.
Foram avaliadas as funcionalidades do software DoseWatch™, utilizado para lançar um sis-
tema de alertas de dose. Em seguida foram exportados todos os dados necessários e ana-
lisadas as grandezas dosimétricas Volumetric Computed Tomography Dose Index (CTDIvol ) e
Dose Length Product (DLP) para cada tipo de exame e analisados os Nı́veis de Referência
de Diagnóstico. Assim, pôde inferir-se que, apesar dos valores de CTDIvol estarem dentro
dos parâmetros normais para cada tipo de exame, o DLP excede a dose de referência na
maioria dos casos estudados.

vii
Palavras-chave: Radiação Ionizante, Proteção Radiológica, Medicina Nuclear, Tomografia
Computadorizada, Nı́veis de Referência de Diagnóstico, Computed Tomography Dose Index,
Dose Length Product.

viii
Abstract
The exposure of individuals to ionizing radiation, whether as a patient in a medical
procedure or as a professional responsible for carrying it out, is dictated by the rules of
Radiological Protection and Safety. In this scope, the constant concern for improving the
performed techniques and monitoring, relative to the absorbed doses for the user and the
worker, is increasing.
This work aimed to characterize and evaluate the Radiological Protection practices in
a Health Institution in the Autonomous Region of Madeira (RAM). Results from two dif-
ferent areas were combined: Nuclear Medicine (MN), in terms of occupational exposure,
and Radiology, in terms of patient exposure.
An internal dosimetry study was carried out based on criteria proposed by the Inter-
national Atomic Energy Agency (IAEA).
Regarding the MN area, the procedures performed, and the doses manipulated, over
a year for each worker in the Health Institution were analyzed. Data were studied accor-
ding to the criteria proposed by the IAEA in the document Safety Guide RS-G 1. It can be
concluded that the procedure with the greatest need for internal monitoring is the injecti-
on/administration of radiopharmaceuticals. In this context, the Nurse is the professional
with the greatest internal exposure. The decision factor for this professional, calculated ac-
cording to the IAEA criteria to determine the need for internal monitoring, is the highest,
concerning the existant working conditions and for the professional categories analyzed.
Regarding the area of Radiology, an analysis of Computed Tomography (CT) exams
in adult users patients performed. A comparative analysis was carried out based upon
the recommendations of the European Commission (EC). An evaluation was also done
considering the type of CT exam performed, using two CT equipments of the service.
The functionality of the DoseWatch™software, used to launch a dose alert system, was
evaluated. All the necessary data were exported, and the dosimetric quantities Volume-
tric Computed Tomography Dose Index (CTDIvol ) and Dose Length Product (DLP) were
analyzed, for each type of exam. The Diagnostic Reference Levels (DRL) were also analy-
zed. After this evaluation, it can be inferred that, although the values of CTDIvol (mGy)
are within the normal parameters for each type of exam, the DLP exceeds the reference
dose in most of the studied cases.

ix
Keywords: Ionizing Radiation, Radiological Protection, Nuclear Medicine, Computed
Tomography, Diagnostic Reference Levels, Computed Tomography Dose Index, Dose
Length Product

x
Índice

Agradecimentos v

Resumo vii

Abstract ix

Lista de Figuras xv

Lista de Tabelas xvii

Lista de Abreviaturas xix

1 Introdução 1
1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Estrutura do Documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Análise dos Conceitos Fı́sicos Fundamentais Deste Trabalho 5


2.1 Radioatividade e Decaimento Radioativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Decaimento Radioativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2.1 Decaimento α . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2.2 Decaimento β . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.3 Decaimento por Captura Eletrónica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2.4 Decaimento por Conversão Interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2.5 Radiação γ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3 Radiações Ionizantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3.1 Definição e classificação da radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3.2 Caracterı́sticas das Radiações Ionizantes . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.3.3 Efeitos Biológicos da Radiação Ionizante . . . . . . . . . . . . . . . . 12

xi
2.4 Dosimetria, Proteção e Segurança Radiológica . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4.1 Grandezas e Unidades Dosimétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4.1.1 Kerma – K . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4.1.2 Exposição – X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.1.3 Dose Absorvida - D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.1.4 Dose Equivalente - HT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.1.5 Dose Efetiva - E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.4.2 Princı́pios de Proteção Radiológica em Aplicações Médicas . . . . . . 17
2.4.2.1 Princı́pio da Justificação da Prática . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4.2.2 Princı́pio da Otimização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4.2.3 Princı́pio da Limitação da Dose . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.4.3 Dosimetria Externa vs Dosimetria Interna . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4.3.1 Dosimetria Externa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4.3.2 Dosimetria Interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4.4 Proteção Radiológica em Medicina Nuclear . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4.4.1 Exposição Ocupacional à Radiação Ionizante em Medicina
Nuclear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4.5 Proteção Radiológica no Radiodiagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4.5.1 Nı́veis de Referência de Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . 28
2.4.5.2 Nı́veis de Referência de Diagnóstico em TC . . . . . . . . . 30
2.4.5.3 Grandezas Dosimétricas em TC . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.4.6 Programa de Proteção Radiológica numa Unidade de Saúde . . . . . 35
2.4.6.1 Limites de Dose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.6.2 Classificação dos Profissionais . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3 Monitorização dos profissionais de Medicina Nuclear – IAEA Safety Guide 39


3.1 Materiais e Métodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1.1 Publicação IAEA - Safety Guide RS-G 1.2 . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1.2 Determinação da necessidade de monitorização interna dos profis-
sionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2 Resultados e Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.3 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4 Avaliação e Comparação de dose em TC num Serviço de Radiologia 49

xii
4.1 Materiais - Equipamentos de TC e Software DoseWatch™ . . . . . . . . . . . . 49
4.2 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2.1 População e Amostragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2.2 Caracterização das variáveis e tipo de exames . . . . . . . . . . . . . 51
4.2.3 Parâmetros técnicos de aquisição dos Protocolos de Exame . . . . . . 52
4.2.4 Procedimento para Caracterização e Comparação da amostra nos
dois equipamentos de TC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.2.5 Procedimento de Verificação e Comparação de CTDIvol e DLP base-
ado nas Recomendações Europeias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2.6 Procedimento para cálculo da Dose Efetiva . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3 Resultados e Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3.1 Número e Tipo de exames usados no estudo . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3.2 Caracterização das Variáveis Demográficas . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.3.2.1 Número de exames por Tipo e Género . . . . . . . . . . . . 58
4.3.2.2 Exames de TC por Faixa Etária . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.3.3 Comparação das grandezas dosimétricas CTDIvol e DLP para os
dois equipamentos de TC por tipo de exame, com as referências da
CE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.3.3.1 Conversão das referências CTDIw para CTDIvol . . . . . . . 61
4.3.3.2 TC TX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.3.3.3 TC CL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.3.3.4 TC ABD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.3.3.5 TC CE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.3.3.6 TC PPM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.3.3.7 TC OUV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.3.3.8 TC PELV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.3.3.9 TC SP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.3.4 Cálculo dos NRD Locais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.3.5 Cálculo da Dose Efetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.4 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

5 Conclusões e Perspetivas Futuras 75

Referências Bibliográficas 79

xiii
Lista de Figuras

Figura 2.1 – Curva representativa do decaimento de um radionuclı́deo em função


do tempo e os seus principais parâmetros (adaptado de [12]). . . . . . . . 7
Figura 2.2 – Representação da emissão da partı́cula α por um núcleo (retirado
de [12]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Figura 2.3 – Representação do decaimento β (retirado de [12]). . . . . . . . . . . . 9
Figura 2.4 – Representação do processo de captura eletrónica e da emissão de
raios-X caracterı́stica (retirado de [12]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Figura 2.5 – Representação do processo de conversão interna (retirado de [12]). . 10
Figura 2.6 – Representação da emissão da radiação γ pelo núcleo (retirado de [12]). 11
Figura 2.7 – Espetro de radiação eletromagnética e classificação em radiação io-
nizante e não ionizante (retirado de [15]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Figura 2.8 – Alcance da radiação ionizante (retirado de [17]). . . . . . . . . . . . . 13
Figura 2.9 – Efeitos somáticos, genéticos, estocásticos e determinı́sticos (retirado
de [8]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Figura 2.10– Esquema da influência direta e indireta de radiação eletromagnética
de elevada energia no DNA (retirado de [16]). . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Figura 2.11– Variação da intensidade de uma fonte pontual com a distância (reti-
rado de [34]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 2.12– Esquema de atualização regular de NRD (do inglês DRL-Diagnostic
Reference Levels) (adaptado de [24]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 2.13– Ilustração do conceito de CTDI: CTDI representa o equivalente do
valor de dose dentro de uma secção de corte irradiada, que resultaria se o
perfil de dose de radiação absorvida fosse inteiramente concentrado num
perfil de dose retangular de espessura igual à espessura nominal de corte
(retirado de [47]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Figura 3.1 – Atividade total no perı́odo de um ano (2021) por procedimento. . . . 44

xv
Figura 3.2 – Fator de decisão, D f , por profissional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Figura 4.1 – Exemplo de imagem retirada da base de dados do software Do-


seWatch™. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Figura 4.2 – Distribuição do número de exames de TC pelo tipo de estudo: TC TX
= TC tórax, TC CL = TC coluna lombar, TC ABD = TC abdómen, TC CE
= TC cranio-encefálica, TC PPM = TC pescoço e partes moles, TC OUV=
TC ouvidos, TC PELV =TC pélvica, TC SP = TC seios perinasais. . . . . . 57
Figura 4.3 – Distribuição, em percentagem, do número total de exames de TC
realizados: género feminino (51,5%) e género masculino (48,5%). . . . . . 58
Figura 4.4 – Distribuição do número de exames por género e por tipo de exame
de TC. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Figura 4.5 – Distribuição do número de exames de TC por faixa etária. . . . . . . 59
Figura 4.6 – Distribuição por idade aquando da realização da TC por equipa-
mento: (a) TC CANON e (b) TC GE, para os vários tipos de estudo. . . . . 60
Figura 4.7 – Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, regis-
tados nos exames de TC TX com a referência da CE EUR 16262. . . . . . . 62
Figura 4.8 – Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, regis-
tados nos exames de TC CL com a referência da CE EUR 16262. . . . . . . 63
Figura 4.9 – Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, regis-
tados nos exames de TC ABD com a referência da CE EUR 16262. . . . . . 64
Figura 4.10– Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, regis-
tados nos exames de TC CE com a referência da CE EUR 16262. . . . . . . 65
Figura 4.11– Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, regis-
tados nos exames de TC PPM. As referências utilizadas foram retiradas
de [63]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 4.12– Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, regis-
tados nos exames de TC OUV com a referência da CE EUR 16262. . . . . . 67
Figura 4.13– Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, regis-
tados nos exames de TC PELV com a referência da CE EUR 16262. . . . . 68
Figura 4.14– Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, regis-
tados nos exames de TC SP com a referência da CE EUR 16262. . . . . . . 69

xvi
Lista de Tabelas

Tabela 2.1 – Exemplos do fator de ponderação de radiação WR (retirado de [25]). 17


Tabela 2.2 – Exemplos do fator de ponderação tecidular, WT (retirado de [24]). . . 17
Tabela 2.3 – Nı́veis de Referência de Diagnóstico em TC propostos pela Co-
missão Europeia, relativamente aos descritores CTDIw e DLP, e valores
de dose efetivas calculados a partir dos coeficientes de conversão sugeri-
dos (adaptado de [7, 52]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Tabela 2.4 – Comparação dos NRD (em termos de CTDIw ) em diferentes paı́ses
da União Europeia comparados com a diretiva EUR16262 (adaptada de [7,
47, 53, 54]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Tabela 2.5 – Comparação dos NRD (em termos de DLP) em diferentes paı́ses da
União Europeia comparado com a diretiva EUR 16262 (adaptada de [7,
47, 53, 54]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Tabela 2.6 – Coeficientes de conversão de DLP em dose efetiva em adultos de
acordo com a região anatómica irradiada durante o exame de TC (reti-
rado de [7]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Tabela 2.7 – Limites de dose para exposição ocupacional e membros do público
expostos a radiação, de acordo com o D.L. nº 108/2018 (retirado de [23]). . 38

Tabela 3.1 – Coeficientes de dose efetiva por inalação de 5 µm de aerossol por


profissional (retirado de [9, 61]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Tabela 3.2 – Fator de segurança de manipulação f hs de acordo com a natureza
da operação (retirado de [9, 61]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Tabela 3.3 – Fatores de segurança de proteção de acordo com as medidas de
proteção utilizadas (retirado de [9, 61]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Tabela 3.4 – Atividade total no perı́odo de um ano (2021) por procedimento. . . . 44
Tabela 3.5 – Resultados dos valores do fator de decisão di , por operação no SMN. 45
Tabela 3.6 – Factores de decisão final, D f , por profissional. . . . . . . . . . . . . . 46

xvii
Tabela 4.1 – Caracterı́sticas do equipamento TC da marca CANON. . . . . . . . . 50
Tabela 4.2 – Caracterı́sticas do equipamento TC da marca GE. . . . . . . . . . . . 50
Tabela 4.3 – Caracterı́sticas gerais do software DoseWatch™ utilizado no estudo. . 50
Tabela 4.4 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC TX. . . . . 52
Tabela 4.5 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC CL. . . . . 53
Tabela 4.6 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC ABD. . . . 53
Tabela 4.7 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC CE. . . . . 53
Tabela 4.8 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC PPM. . . . 53
Tabela 4.9 – Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC OUV. . . . 54
Tabela 4.10– Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC PELV. . . 54
Tabela 4.11– Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC SP. . . . . 54
Tabela 4.12– Valores de referência calculados em CTDIvol , para os diferentes va-
lores de pitch de cada equipamento, com a referência de CTDIw . . . . . . 61
Tabela 4.13 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC TX, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . . 62
Tabela 4.14 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC CL, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . . 63
Tabela 4.15 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC ABD, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . 65
Tabela 4.16 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC CE, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . . 66
Tabela 4.17 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC PPM, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . 67
Tabela 4.18 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC OUV, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . 68
Tabela 4.19 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC PELV, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . 69
Tabela 4.20 – Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os
exames de TC SP, nos dois equipamentos de TC. . . . . . . . . . . . . . . . 70
Tabela 4.21– NRD locais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Tabela 4.22– Cálculo da dose efetiva através do 3◦ quartil do DLP adquirido. . . . 71

xviii
Lista de Abreviaturas

ALARA As Low as Reasonably Achievable


A ampere
Bq becquerel
CE Comissão Europeia
CTDI Computed Tomography Dose Index
CTDIw CTDI Ponderado (Weighted CTDI)
CTDIvol CTDI Volumétrico (Volumetric CTDI)
CQ Controlo de Qualidade
D Dose absorvida
D f Fator de decisão final
DLP Produto comprimento dose (Dose Length Product)
DNA Ácido Desoxirribonucleico
Dps Desintegração por segundo
E Dose efetiva
EM Radiação Eletromagnética
ENF Enfermeiro
EURATOM Comunidade Europeia de Energia Atómica
FARM Radiofarmacêutico
FIS Fı́sico
Gy gray
HT Dose equivalente
IAEA do inglês, International Atomic Energy Agency
ICRP Comissão Internacional em Protecção Radiológica
J joule

xix
K Kerma (do inglês, Kinetic energy realesed in materia)
MEMN Médico Especialista em Medicina Nuclear
MIRD do inglês, Medical Internal Radiation Dose
MN Medicina Nuclear
Não-RI Radiação não-ionizante
NRD Nı́veis de Referência de Diagnóstico
PACS Sistema de Comunicação e Arquivo de Imagens
PPR Plano de Proteção Radiológica
RAM Região Autónoma da Madeira
RI Radiação Ionizante
RNA Ácido Ribonucleico
S.I. Sistema Internacional
SIMAG Serviço de Imagiologia
SMN Serviço de Medicina Nuclear
SPECT do inglês, Single-Photon Emission Computed Tomography
Sv sievert
TC Tomografia Computorizada
TC ABD TC abdómen superior
TC CE TC cranio-encefálico
TC CL TC coluna lombar
TC OUV TC ouvidos
TC PEL TC pélvica
TC PPM TC pescoço e partes moles
TC SP TC seios perinasais
TC TX TC torácxica
TLD Termoluminescente
TMN Técnico de Medicina Nuclear
UV Radiação Ultravioleta
V volt
X Exposição

xx
Capı́tulo 1

Introdução

A radiação ionizante (RI) é a radiação que possui energia suficiente para ionizar os
átomos do meio que atravessa, sendo capaz de arrancar eletrões às suas órbitas atómicas
e, assim, provocar danos biológicos [1].
A Humanidade tem estado exposta, desde sempre, à RI proveniente de fontes naturais
como o Urânio, Rádio e Tório, e respetivos descendentes, provenientes da crosta terres-
tre, e também a raios cósmicos. Estes último, no entanto, são na maior parte defletidos
pelo campo magnético terrestre e o restante absorvido pela atmosfera [2]. No entanto,
recentemente, a exposição a RI, sobretudo nos paı́ses desenvolvidos, vem sobretudo de
exposições não-naturais, tendo relevância neste caso as exposições médicas.
Atualmente, a RI é cada vez mais utilizada para diferentes fins, tanto para a Indústria
como para a Medicina, sendo produzida também artificialmente, pelo que a preocupação
no que concerne à proteção radiológica é cada vez maior [3, 4].
Nas Unidades de Saúde onde se utiliza RI é necessária a implementação correta e
contı́nua dos princı́pios da proteção radiológica, quer para os profissionais que lá exer-
cem a sua profissão, quer para os utentes - que ali se dirigem para realizar exames ou
tratamentos -, para os membros do público em geral e, finalmente, para o ambiente.
Com a crescente evolução das áreas de diagnóstico e terapêutica em que se usa RI,
foram também evoluindo os métodos de análise de proteção contra as radiações ioni-
zantes [5]. Nesse intuito têm sido implementados nas Unidades de Saúde vários siste-
mas de monitorização, através de equipamentos dedicados para: monitorização externa,
monitorização de áreas, análise de processos de manipulação da radiação, análise da
gestão de resı́duos radioativos e também alertas e registos de dose.

1
2 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

A Medicina Nuclear (MN) é uma especialidade médica que utiliza radiofármacos (pe-
quenas fontes não-seladas de RI) que são administradas ao utente para a realização de
exames de diagnóstico e terapêutica, ganhando a monitorização interna dos profissionais
um grande relevo [6].
No âmbito da especialidade de Radiologia, a Tomografia Computorizada (TC) é uma
modalidade muito utilizada em diagnóstico. Nos equipamentos de TC é produzida RI sob
a forma de raios-X. Neste sentido, uma análise e validação dos protocolos utilizados nes-
tes exames é fundamental, para que sejam definidos Nı́veis de Referência de Diagnóstico
locais (NRD), que devem ser aplicados segundo os princı́pios da Proteção Radiológica [7].

1.1 Motivação

De acordo com o princı́pio ALARA (As Low As Reasonable Achievable), a exposição à


RI deve ser o mais baixa o quanto possı́vel, assegurando que é a suficiente para obter um
resultado interpretável com valor clı́nico. Este princı́pio é muito importante em Medicina
Nuclear (MN) e em Radiologia, tais como os restantes princı́pios da Proteção Radiológica:
Justificação da Prática, Otimização da Proteção (onde se encontra inserido o princı́pio
ALARA) e Limitação de Dose. Neste contexto, várias investigações têm sido feitas no
sentido de otimizar as doses de RI, quer para os profissionais expostos no âmbito da sua
atividade profissional diária, quer para as doses de RI utilizadas em diferentes exames de
Medicina Nuclear e Radiologia [8].

1.2 Objetivos

O principal objetivo deste trabalho é estudar as condições de Proteção e Segurança


Radiológicas numa Unidade de Saúde da RAM, tendo por base dois estudos:

• o primeiro estudo incide numa vertente ocupacional, em que se aplicam critérios de-
finidos pela Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) sobre a avaliação da
dosimetria interna de profissionais expostos no serviço de MN e posterior decisão
de monitorização interna;
1. I NTRODUÇ ÃO 3

• o segundo estudo incide na avaliação de dose em utentes do Serviço de Radiologia


e consiste em calcular a dose administrada em exames de TC, comparando valo-
res de dois equipamentos de TC distintos, para posterior análise comparativa com
referências e NRD europeus.

Para o primeiro estudo foram feitos cálculos de dosimetria interna com base na ati-
vidade manipulada por profissional, nas diferentes operações realizadas, no perı́odo de
um ano. Este estudo, já realizado em outros hospitais em Portugal, analisa a necessidade
de uma avaliação interna rotineira nos profissionais de MN, usando uma metodologia
proposta pela IAEA, que fornece um conjunto de critérios para a determinar. A avaliação
do risco de contaminação interna, num determinado conjunto de condições de trabalho,
baseia-se no tipo e quantidade de radionuclı́deos a manusear, bem como nas condições
de segurança e de proteção em que são manipulados [9].
Para a segunda parte do trabalho foi utilizado um software de análise dosimétrica im-
plementado recentemente, DoseWatchTM . Foram dois os objetivos principais: analisar as
diferentes grandezas dosimétricas dos dois diferentes equipamentos de TC desta Uni-
dade de Saúde e também compará-los com referências europeias, tendo para o efeito sido
determinados os NRD.

1.3 Estrutura do Documento

O trabalho está estruturado em cinco capı́tulos distintos:

- o primeiro capı́tulo contém a introdução ao tema, os objetivos estabelecidos para o


projeto e uma breve descrição da organização da tese;

- o segundo capı́tulo apresenta os fundamentos teóricos sobre as questões tratadas no


trabalho, destacando-se os procedimentos-chave seguidos;

- o terceiro capı́tulo é dedicado à parte da Dosimetria Interna dos profissionais expos-


tos na MN de uma Unidade de Saúde da RAM, onde é feita a abordagem aos mate-
riais e métodos que foram utilizados para a avaliação dos diferentes parâmetros de
dosimetria e apreciação da necessidade de uma monitorização interna dos profissi-
onais, com apresentação de resultados e discussão;
4 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

- o quarto capı́tulo é dedicado à apresentação dos materiais e métodos utilizados


na comparação e avaliação das doses em exames de TC, utilizando o software Do-
seWatchTM . É também apresentada a análise dos resultados e uma breve discussão;

- as conclusões retiradas, de acordo com as hipóteses colocadas e os resultados obti-


dos nos dois estudos, bem como as sugestões para trabalhos futuros são apresenta-
das no capı́tulo cinco.
Capı́tulo 2

Análise dos Conceitos Fı́sicos


Fundamentais Deste Trabalho

Neste capı́tulo apresenta-se uma introdução aos temas desta dissertação, onde se de-
finem alguns conceitos fundamentais para melhor compreensão dos próximos capı́tulos.
Na primeira secção é feita uma breve referência à radioatividade e decaimento radioativo.
Na secção seguinte são caracterizadas as radiações ionizantes, referindo os seus efeitos e
riscos biológicos. Por fim, são apresentados conceitos relacionados com a dosimetria e
proteção radiológica em contexto médico hospitalar, nomeadamente as grandezas e uni-
dades, os principais princı́pios em contexto médico, a distinção entre dosimetria externa
e interna e o programa de proteção radiológica numa Unidade de Saúde.

2.1 Radioatividade e Decaimento Radioativo

Há isótopos de vários elementos que são instáveis, como exemplo 234 U, 235 U, 224 Ra,

228 Ra eo 228 Th, que, por isso mesmo, se vão transformando sucessivamente em outros
elementos. Neste processo vão emitindo partı́culas alfa (α), beta (β) e radiação gama (γ),
ou seja, vão libertando energia sob a forma de partı́culas, fenómeno designado por radio-
atividade, que resulta na emissão espontânea de RI [2, 8].
Quando um núcleo de um átomo de um elemento decai ocorre uma transmutação,
isto é, dá origem a um novo elemento diferente do original. Em cada transmutação uma
determinada emissão ocorre a partir do núcleo, existindo várias formas de desintegração
associadas a cada emissão [2].

5
6 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

A radioatividade, ou atividade do radionuclı́deo, é a desintegração espontânea dos


núcleos através da emissão de partı́culas subatómicas que, por vezes, levam à emissão
subsequente de fotões. A unidade de radioatividade do Sistema Internacional (S.I.) é o
becquerel (Bq), que corresponde a uma desintegração por segundo (s−1 ) [10, 11].
Os processos de decaimento ou desintegração são aleatórios, ou seja, não é possı́vel,
saber quais os átomos de um grupo que irão decair num certo perı́odo de tempo es-
pecı́fico. Apesar disso, pode estabelecer-se uma relação de proporcionalidade entre a taxa
de decaimento dos núcleos que se desintegram e o número desses mesmos núcleos ao fim
de um determinado tempo, dada por [10, 11]:

dN
= −λN (2.1)
dt
onde N corresponde ao número de átomos radioativos presentes na amostra, enquanto λ
é a constante de decaimento (probabilidade de desintegração por unidade de tempo para
um radionuclı́deo, em s−1 ).
Desde que o grupo original não seja “reabastecido” por uma fonte de mais núcleos,
a taxa de variação de N, em qualquer momento t, é igual à atividade, A [1]. Através da
integração da Equação 2.1 obtém-se o cálculo da atividade:

N
= e−λt ⇔ N = N0 e−λt (2.2)
N0
onde N0 e N são o número de átomos radioativos presentes, respetivamente em t = 0
e num certo tempo t, para o qual se pretende determinar a quantidade de átomos radi-
oativos existentes. Em termos de atividade, A, do radionuclı́deo, pode reescrever-se a
Equação 2.2 como a taxa de decaimento do material radioativo [1]:

A = A0 e−λt (2.3)

O tempo de semi-vida T1/2 é definido como o tempo necessário para que 50% dos
átomos radioativos da amostra decaiam [10]. Por outras palavras, é o tempo necessário
para que a sua atividade inicial diminua para metade (A = 12 A0 ). Utilizando a Equação 2.3
e considerando o tempo de semi-vida, obtém-se a seguinte relação:

0, 693
λT1/2 = ln(2) ↔ T1/2 = (2.4)
λ
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 7

O tempo de vida média τ, representa a vida média de um núcleo individual a partir


de um tempo de arranque arbitrário até que mais tarde se desintegre [1], dado por:

1 T
τ= = 1/2 (2.5)
λ 0, 693
Assim, a vida média é o tempo médio que cada átomo leva para transmutar, reconhecendo-
se que alguns se transmutarão imediatamente, enquanto outros durarão um tempo “infi-
nito” [12]. Na Figura 2.1 é mostrada a curva representativa do decaimento de um radio-
nuclı́deo em função do tempo e os seus principais parâmetros.

Figura 2.1: Curva representativa do decaimento de um radionuclı́deo em função do


tempo e os seus principais parâmetros (adaptado de [12]).

2.2 Decaimento Radioativo

Há várias formas pelas quais um átomo instável se pode desintegrar, entre as quais
decaimento α, decaimento β− , decaimento β+ , captura eletrónica, conversão interna, e
emissão de raios γ. Uma sucinta análise das formas mais comuns de decaimento e das
suas caracterı́sticas é descrita nas subsecções seguintes.

2.2.1 Decaimento α

Núcleos pesados com deficiência de neutrões emitem uma partı́cula α, compreen-


dendo dois protões e dois neutrões ligados, correspondendo assim ao núcleo de Hélio.
O número de massa atómica do radionuclı́deo é reduzido em quatro e o número atómico
em dois [10]:
8 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

A −4
ZX → ZA− 4
2 Y +2 α (2.6)

As partı́culas α são ejetadas a grande velocidade a partir do núcleo de alguns átomos,


quando estes se desintegram, conforme ilustrado na Figura 2.2. Devido à sua massa e
carga elétrica, estas partı́culas desaceleram muito rapidamente, não tendo um grande al-
cance. Não conseguindo penetrar na camada de células mais superficial da pele, por isso
da exposição externa do organismo a estas partı́culas não advém perigo. No entanto, den-
tro do organismo, as partı́culas α são mais relevantes, pois como sofrem muitas interações
com átomos vizinhos, depositam toda a sua energia num volume muito pequeno. Um
depósito de energia desta magnitude dentro do núcleo de uma célula poderá levar à sua
destruição. Precauções importantes devem ser tomadas para evitar a entrada destas fon-
tes de radiação α no organismo por inalação, ingestão ou punção [1, 10].

Figura 2.2: Representação da emissão da partı́cula α por um núcleo (retirado de [12]).

2.2.2 Decaimento β

O decaimento β consiste na transformação de um neutrão num protão, ou vice-versa,


assistindo-se à emissão de uma partı́cula β− ou β+ (positrão), e de um antineutrino ou
neutrino. O positrão, υ, partı́cula β+ , é a antipartı́cula do eletrão, partı́cula β− [12]. Para
cada decaimento, têm-se as seguintes equações:

• Decaimento β−

Num núcleo rico em neutrões, um neutrão decai num protão libertando uma partı́cula
β− e um antineutrino ῡ. O núcleo fica com um neutrão a menos mas um protão
a mais, ou seja, há formação de um novo elemento. O antineutrino (ῡ) está pre-
sente para efeitos de conservação de energia, não possui carga nem massa e é a
anti-partı́cula do neutrino [1]:
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 9

A
ZX → Z+A1 Y + −01 β + ῡ (2.7)

• Decaimento β+

Num átomo deficiente em neutrões um protão decai num neutrão, libertanto uma
partı́cula β+ e um neutrino, υ, formando um novo elemento [1]:

A
ZX → Z−A1 Y + +01 β + υ (2.8)

As partı́culas β têm uma massa muito menor que as partı́culas α, por isso têm um
maior poder de alcance, no entanto não conseguem atingir órgãos internos. Se ingeridas
ou inaladas, podem ser perigosas tal como as partı́culas α. A nı́vel externo estas partı́culas
são perigosas para a pele e olhos [12]. Na Figura 2.3 é representado o decaimento de
partı́culas β.

Figura 2.3: Representação do decaimento β (retirado de [12]).

2.2.3 Decaimento por Captura Eletrónica

Alguns núcleos deficientes em neutrões podem capturar um eletrão orbital para criar
um neutrão, emitindo apenas um neutrino [10]. Em alguns núcleos, a transformação
do protão em neutrão, ao invés de se realizar por emissão de um positrão, ocorre pela
neutralização da sua carga e captura de um eletrão orbital das camadas mais próximas,
assim representada na Figura 2.4 [12].
Nesse caso não ocorre emissão de radiação nuclear, exceto a do neutrino. No entanto,
a captura do eletrão da camada interna cria uma lacuna que, ao ser preenchida, provoca
a emissão de raios-X caracterı́sticos ou eletrões de Auger/Coster-Kronig [12].
10 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Figura 2.4: Representação do processo de captura eletrónica e da emissão de raios-X


caracterı́stica (retirado de [12]).

2.2.4 Decaimento por Conversão Interna

O processo de conversão interna consiste na transferência de energia de excitação nu-


clear para eletrões das primeiras camadas (K e L), através de interações de Coulomb,
retirando-os das orbitais. Esses eletrões são chamados de eletrões de conversão. De-
vido à lacuna deixada pelo eletrão, consequentemente ocorre a emissão de raios-X carac-
terı́sticos, como representado na Figura 2.5.

Figura 2.5: Representação do processo de conversão interna (retirado de [12]).

2.2.5 Radiação γ

Frequentemente, produtos de decaimento (α e β) não são estáveis após a desintegração


do núcleo original, ficando num estado excitado [10]. Assim, para atingir o estado funda-
mental de equilı́brio emitem a energia excedente sob a forma de radiação eletromagnética,
denominada radiação gama (γ), conforme é ilustrado na Figura 2.6 [12].
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 11

Figura 2.6: Representação da emissão da radiação γ pelo núcleo (retirado de [12]).

2.3 Radiações Ionizantes

Nesta secção são apresentadas as definições de radiação, radiação não ionizante, radi-
ação ionizante, as suas caracterı́sticas e os seus efeitos biológicos.

2.3.1 Definição e classificação da radiação

A radiação define-se como a propagação de energia sob a forma de ondas ou partı́culas


ao longo de um determinado meio ou vácuo [13, 14]. A radiação pode ser caracterizada
por RI e e não-ionizante (Não-RI). No caso da radiação eletromagnética, o facto de ser
RI ou Não-RI caracteriza-se pelo comprimento de onda ou energia, produzindo diferen-
tes efeitos fı́sicos e biológicos, como se pode observar pelo espectro eletromagnético da
Figura 2.7 [13, 14].
No processo de transferência de energia de uma radiação incidente para a matéria,
partı́culas carregadas - tais como partı́culas α, fragmentos de fissão e eletrões - atuam
através do seu campo elétrico e transferem a sua energia para diversos átomos simulta-
neamente, e são denominadas radiações diretamente ionizantes. Enquanto as partı́culas
não carregadas, tais como fotões e neutrões, são denominados de radiações indiretamente
ionizantes, porque interagem individualmente transferindo a sua energia para eletrões,
que consequentemente irão provocar novas ionizações, num processo denominado a dois
passos [12].
As radiações ionizantes caracterizam-se por terem energia suficiente para libertar ele-
trões de átomos ou moléculas, ionizando-os. As radiações Não-RI, as quais não pos-
suem energia suficiente para ionizar átomos ou moléculas. No caso da radiação ele-
tromagnética, correspondem à radiação ultravioleta (UV), à luz visı́vel, infravermelhos,
micro-ondas e ondas de rádio frequência [13, 16].
12 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Figura 2.7: Espetro de radiação eletromagnética e classificação em radiação ionizante e


não ionizante (retirado de [15]).

2.3.2 Caracterı́sticas das Radiações Ionizantes

A RI, ao atravessar a matéria, tem capacidade, direta ou indireta, de induzir ionizações.


A RI, sob a forma de partı́culas não-carregadas (fotões e neutrões) é a de maior alcance e
ioniza a matéria em processos de dois passos [8]. Por exemplo, os fotões são partı́culas sem
carga e sem massa que são diferenciados pela energia que transportam, ou seja, o fotão de
raios-X tem energia muito mais baixa e provém do rearranjo dos eletrões dos átomos, en-
quanto os raios γ possuem energia muito mais alta e são provenientes de transformações
a nı́vel do núcleo [1, 12].
A RI, no que diz respeito às partı́culas carregadas, interage com os átomos através
de métodos de ionização diretos e possui muito pouco alcance. Por exemplo, no caso de
uma partı́cula α é apenas necessária uma folha de papel para a bloquear, como mostra a
Figura 2.8 [17]. Para todo o tipo de radiação existe uma atenuação, que se refere à redução
da intensidade da radiação. Assim, para diferentes tipos de radiação e diferentes energias
essa atenuação será necessariamente diferente [17].

2.3.3 Efeitos Biológicos da Radiação Ionizante

Existem vários fatores que determinam a resposta biológica quando existe exposição
dos tecidos a RI, estando relacionados com a dose, a qualidade e energia da radiação,
assim como os tecidos irradiados [18]. Os efeitos biológicos devido à RI podem ser classi-
ficados como estocásticos ou determinı́sticos [18].
Os efeitos determinı́sticos têm probabilidade de se manifestarem de 100% desde que a
dose ultrapasse um determinado limiar abaixo do qual eles não se verificam. São efeitos
que surgem como consequência da morte coletiva de um número significativo de células,
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 13

Figura 2.8: Alcance da radiação ionizante (retirado de [17]).

do tecido exposto à radiação. Observam-se efeitos tais como lesões cutâneas, eritema,
fibrose, anemia, esterilidade, queda de cabelo, cataratas oculares e danos nas células he-
matopoiéticas, sendo o seu aparecimento geralmente tardio [19]. Dadas as taxas de dose
utilizadas em radioterapia, é possı́vel, mas cada vez menos ocorrente, a observação destes
efeitos em tecidos saudáveis adjacentes como consequência da irradiação de tumores [20].
Os efeitos estocásticos correspondem a alterações do material genético que podem
ocorrer com baixas doses ou baixas taxas de dose, que podem induzir um risco acrescido
de incidência ou ocorrência de uma determinada patologia. A lesão de um conjunto de
células ou mesmo de uma única célula é suficiente para produzir um efeito, podendo
este ser somático (aumento do risco de cancro, anos após a exposição) ou hereditário
(doenças hereditárias nas gerações seguintes). Os efeitos estocásticos são probabilı́sticos,
pois o aumento da dose não significa o aumento da gravidade dos danos, mas sim da
probabilidade de ocorrência. Estes surgem tardiamente sob a forma de carcinogénese,
como por exemplo ocorrência de leucemias, e através do aparecimento de anomalias here-
ditárias [19]. Os efeitos estocásticos são vistos como o principal risco para a saúde devido
a exposição de baixas doses de radiação, principalmente se prolongadas, o que conduz
a uma preocupação cada vez mais crescente [19]. Na Figura 2.9 pode observar-se um
pequeno esquema sobre estes efeitos biológicos da RI.
As alterações biológicas resultantes da RI só se tornam aparentes após um perı́odo
de latência, que pode variar desde minutos a semanas ou anos, dependendo do sistema
14 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Figura 2.9: Efeitos somáticos, genéticos, estocásticos e determinı́sticos (retirado de [8]).

biológico de cada indivı́duo e da dose inicial [8].


Os danos em materiais biológicos devidos à RI ocorrem quando as partı́culas que cons-
tituem a radiação interagem e ionizam os seus átomos, promovendo a rutura de ligações
de material biológico como o DNA, que pode ocorrer diretamente ou indiretamente, como
representado na Figura 2.10 [16].

Figura 2.10: Esquema da influência direta e indireta de radiação eletromagnética de ele-


vada energia no DNA (retirado de [16]).

A ação direta acontece se uma macromolécula biológica, como o DNA (ácido desoxir-
ribonucleico), RNA (ácido ribonucleico) ou proteı́na ficam ionizados ou excitados devido
uma partı́cula que com eles interaja. As alterações indiretas resultam de interações entre
a radiação e o meio, criando espécies quimicamente reativas, radicais livres, que, por sua
vez, interagem com a molécula alvo. Como 70% a 85% da massa dos sistemas vivos é
composta por água, as lesões induzidas por RI são maioritariamente realizadas através
da ação indireta sobre as moléculas de água [18, 21].
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 15

2.4 Dosimetria, Proteção e Segurança Radiológica

Os principais desı́gnios da Proteção Radiológica são o de limitar, monitorizar e oti-


mizar os nı́veis de exposição à RI e os seus efeitos na Humanidade e no Meio Ambi-
ente [2]. As recomendações fornecidas pela International Commission on Radiological Protec-
tion (ICRP) são consideradas padrão a nı́vel internacional, e resultam da crescente com-
preensão da natureza e dos processos de interação da radiação com a matéria biológica [22].
Este conhecimento tem permitido a permanente elaboração e atualização de normas e de
procedimentos de atuação, com o objetivo de garantir a prevenção da incidência de efeitos
biológicos determinı́sticos e a minimização da probabilidade de aparecimento de efeitos
biológicos estocásticos resultantes da sua utilização.
A dosimetria é a vertente da Fı́sica das Radiações que quantifica a ação da RI sobre as
substâncias, seres vivos e ambiente, bem como os métodos e os dispositivos para a sua
medição [12].
A dosimetria dá a possibilidade de, através de medições e/ou de cálculos, estimar a
dose de RI num ponto, num organismo ou recebida por profissional, na sua atividade
profissional, ao estar sujeito a essa exposição [12]. A dosimetria individual ou pessoal é
um procedimento de proteção radiológica que pretende minimizar os riscos devidos à
exposição de RI, no sentido da preservação da saúde dos profissionais ocupacionalmente
expostos. Assim, faz-se a monitorização externa da dose de radiação absorvida pelo pro-
fissional.

2.4.1 Grandezas e Unidades Dosimétricas

As grandezas e unidades dosimétricas são conceitos usados para o entendimento e


comparação dos efeitos e caracterı́sticas da RI. Na Proteção Radiológica e Dosimetria exis-
tem conceitos transversais, como kerma, exposição, dose absorvida, dose equivalente e
dose efetiva.

2.4.1.1 Kerma – K

Kerma, K, significa Kinetic energy released per unit of mass, e representa a energia cinética
transferida por partı́culas não-carregadas incidentes num determinado volume para as
partı́culas carregadas nesse mesmo volume (Etr ) por unidade de massa (m), que se ex-
pressa na unidade gray (Gy) [1].
16 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

dEtr
K= (Gy) (2.9)
dm

2.4.1.2 Exposição – X

A exposição, X, é a grandeza que expressa a quantidade de carga elétrica produzida


pela radiação (q), por unidade de massa de ar (m) [1]:

dq
X= (2.10)
dm
Esta grandeza permite caracterizar o comportamento de raios-X e raios γ no ar. No
passado foi designada por dose de exposição, no entanto, não deve ser considerada como
dose, uma vez que não indica uma cedência de energia ao meio. A exposição é medida
em coulomb por quilograma (C/kg).

2.4.1.3 Dose Absorvida - D

A dose absorvida, D, é uma grandeza fı́sica que representa a energia depositada pela
RI num certo material ou meio. É uma medida de energia, E, depositada por unidade de
massa, m, e expressa igualmente em gray (Gy), ou pela unidade equivalente, joule por
quilograma (1 Gy = 1 J/kg) [1, 23]:

dE
D= (2.11)
dm

2.4.1.4 Dose Equivalente - HT

A dose equivalente, HT , é uma grandeza de proteção radiológica que tem em con-


sideração o tipo de radiação e o seu dano potencial em meio biológico. Resulta da dose
absorvida (média) por um determinado tecido ou órgão, multiplicada por um fator de
ponderação, WR (radiation weighting factor), que varia consoante o tipo de radiação [24]:

HT = ∑ WR DT,R (2.12)
R

Os fatores de ponderação têm em consideração a avaliação do dano biológico depen-


dendo do tipo de RI, tendo em conta os efeitos estocásticos. A unidade S.I. é o sievert (Sv),
DT,R é a dose absorvida média no tecido, T, devido à radiação, R [2]. Na Tabela 2.1 são
mostrados exemplos do fator de ponderação de radiação WR .
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 17

Tabela 2.1: Exemplos do fator de ponderação de radiação WR (retirado de [25]).

Tipo de radiação e intervalo de energia Fator de ponderação de radiação WR


Fotões, todas as energias 1
Eletrões e muões, todas as energias 1
Protões e piões carregados 2
Partı́culas alfa, fragmentos de fissão,
20
núcleos pesados 
−[ln( En )]2 /6 , E < 1 MeV
2, 5 + 18, 2e n


−[ ln ( 2E )] 2 /6
Neutrões 5, 0 + 17, 0e n , 1 ≤ En ≤ 50 MeV
2, 5 + 3, 25e−[ln(0,04En )]2 /6 , En > 50 MeV

2.4.1.5 Dose Efetiva - E

A dose efetiva, E, é uma grandeza de proteção radiológica também expressa em sievert


(Sv). Provém da dose equivalente, HT , tendo em conta os fatores de ponderação referentes
ao tipo de radiação, mas também os fatores de ponderação de todos os órgãos ou tecidos
do corpo humano, que representam os diferentes ı́ndices de radiossensibilidade desses
órgãos ou tecidos, WT (tissue weighting factor) [24]:

E= ∑ WT HT (2.13)
T

Na Tabela 2.2 são apresentados exemplos de fatores de ponderação tecidular, para


diferentes tecidos.
Tabela 2.2: Exemplos do fator de ponderação tecidular, WT (retirado de [24]).

Tecido WT ∑ WT
Medula óssea, colon, pulmão,
0,12 0,72
estômago, mama, restantes tecidos*
Gónadas 0,08 0,08
Bexiga, esófago, fı́gado, tiroide 0,04 0,16
Superfı́cie óssea, cérebro, glândulas salivares e pele 0,01 0,04
Total: 1,00
*Restantes tecidos: supra-renais, região extratorácica, vesı́cula biliar, coração,
rins, gânglios linfáticos, músculo, mucosa oral, pâncreas, próstata, intestino delgado,
baço, timo, útero/cérvix.

2.4.2 Princı́pios de Proteção Radiológica em Aplicações Médicas

A proteção radiológica e a utilização de RI devem seguir os ditames da legislação naci-


onal, nomeadamente o DL 108/2018, que transpôs a diretiva europeia 2013/59/EURATOM
18 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

para a legislação nacional


O principal objetivo da proteção radiológica é garantir um padrão adequado de prote-
ção ao ser humano e ao ambiente, sem limitar os benefı́cios que advêm da utilização da
RI. Neste sentido, existem três princı́pios fundamentais de proteção radiológica defini-
dos pela ICRP que são: Justificação da Prática, Otimização da Proteção e Limitação da
Dose [24].

2.4.2.1 Princı́pio da Justificação da Prática

O princı́pio da Justificação da Prática diz-nos que nenhuma pessoa pode ser subme-
tida a um procedimento de exposição médica à radiação ionizante, se dela não resultar
nenhum benefı́cio [23, 24].
Este conceito alerta para a necessidade de uma clara justificação da utilização das
radiações ionizantes nos métodos complementares de diagnóstico e terapêutica, funda-
mentadas sempre num benefı́cio para o utente, superior ao risco a que este possa ser sub-
metido. Esta justificação implica que o resultado obtido devido à realização desse exame
não possa ser alcançado através de outros métodos complementares de diagnóstico dis-
ponı́veis, aos quais estejam associados menos riscos para o utente.
É de salientar que existem consequências nocivas, inerentes à exposição de radiação
ionizante, associadas aos exames e/ou terapêuticas. O Médico e o utente devem estar in-
formados e esclarecidos sobre os efeitos nocivos que podem ser causados pela exposição
à radiação ionizante. Ao prescrever este tipo de exames ou terapêuticas, o Médico prevê
que o resultado vai trazer benefı́cios superiores às suas consequências nocivas. É da res-
ponsabilidade do Médico justificar e fundamentar a escolha do exame prescrito, conso-
ante o seu objetivo.
Em Portugal a legislação, em vigor desde 2 de abril de 2019, é o Decreto-Lei n.◦ 108/2018
publicado a 3 de dezembro de 2018, pelo seu Artigo 5◦ : que determina que “A introdução
de uma prática deve ser justificada pelo facto de assegurar que o benefı́cio resultante
dessa prática, para o indivı́duo ou para a sociedade, é superior ao prejuı́zo para a saúde
que dela possa resultar” [23, 24].

2.4.2.2 Princı́pio da Otimização

O Princı́pio da Otimização refere que todas as doses devidas a exposições, para fins
de exames ou tratamentos radiológicos, devem ser mantidas a um nı́vel tão baixo quanto
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 19

razoavelmente possı́vel, tendo em conta as informações do diagnóstico pretendidas, ou


seja, tendo sempre presente o conceito ALARA [26, 27].
A Otimização baseia-se não só na proteção do utente, mas também na dos profissio-
nais que trabalham nesta área e são expostos. É importante que o utente seja protegido o
máximo possı́vel., com a diminuição do tempo de exposição à radiação e também quando
sujeito à exposição, os valores de dose sejam os mais baixos possı́vel, sem prejuı́zo para o
diagnóstico. Os exames devem ser realizados tendo em conta valores de dose recomen-
dados, que constituem os valores necessários para fazer um exame correto, criando uma
imagem de boa qualidade, refletindo o utente e o seu estado de saúde [26, 28].
A Otimização é uma responsabilidade multidisciplinar, ao contrário da Justificação,
cuja responsabilidade é exclusivamente do Médico. Toda a equipa: Médico, Fı́sico, En-
fermeiro e Técnicos, bem como a própria instituição e os engenheiros que trabalham para
a marca dos equipamentos, têm esta responsabilidade. A otimização tem em conta não
só a prática clı́nica, mas também outras valências, como controlos de qualidade regula-
res ao equipamento, realização periódica de manutenções, verificações e procedimentos
de otimização do valor de dose, sem comprometer a qualidade da imagem. Além do
cumprimento das orientações do fabricante dos equipamentos para a sua utilização em
segurança e otimização na realização do exame são ainda importantes para a otimização
vários fatores, desde o correto posicionamento do utente à utilização adequada das dife-
rentes variáveis do equipamento.
O Decreto-Lei n.◦ 108/2018, no seu Artigo 6◦ número 2-d), determina: “A otimização
abrange a seleção do equipamento, a produção regular de informações de diagnóstico ou
resultados terapêuticos adequados, os aspetos práticos dos procedimentos radiológicos
médicos, a garantia de qualidade, e a avaliação das doses administradas aos utentes ou
a verificação das atividades administradas, tendo em conta fatores económicos e soci-
ais” [23].

2.4.2.3 Princı́pio da Limitação da Dose

O princı́pio da Limitação de Dose define que a exposição à radiação ionizante dos


indivı́duos, rotineiramente expostos, deve ser sujeita a limites de dose legalmente estabe-
lecidos ou, no caso de exposições potenciais, ao controlo do risco, de modo a assegurar
que nenhum indivı́duo seja exposto a riscos de radiação julgados inaceitáveis para a sua
20 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

segurança [24]. No caso das exposições médicas, este princı́pio não é aplicável aos utentes,
mas apenas aos profissionais expostos [23].

2.4.3 Dosimetria Externa vs Dosimetria Interna

A dosimetria da RI engloba a medição, cálculo e avaliação das doses absorvidas pe-


los indivı́duos, materiais ou tecidos biológicos. Sendo assim, a ciência e a prática têm
como principal objetivo relacionar quantitativamente medidas especificas realizadas no
contexto da proteção contra a RI [29].
As técnicas de dosimetria variam e dependem da posição da fonte de radiação: fora
do organismo (externa) ou absorvida internamente pelo corpo (interna). Os dosı́metros
pessoais são usados para medir exposições externas à RI. As exposições internas são nor-
malmente monitorizadas medindo a presença de substâncias radioativas dentro ou excre-
tadas pelo organismo.

2.4.3.1 Dosimetria Externa

O conceito de exposição externa diz respeito à radiação que vem de fora do organismo
e interage com ele. Neste caso, tipicamente a análise a esta exposição é predominante-
mente sobre os raios-X, raios γ e partı́culas β, já que as partı́culas α não representam risco
de exposição externa, pois não atravessam a pele, como referido anteriormente [29].
A dosimetria externa é baseada em medições com um dosı́metro ou deduzida através
de medições feitas usando outros instrumentos de dosimetria [29, 30].
A dosimetria pessoal individual é uma parte essencial da dosimetria de radiação ex-
terna. A dosimetria pessoal é usada principalmente (mas não exclusivamente) para de-
terminar doses nos indivı́duos expostos à RI relacionadas com as suas atividades profis-
sionais [29].
Os dosı́metros geralmente registam uma grandeza, que pode ser convertida em dose
absorvida, em grays (Gy), ou à dose equivalente, em sievert (Sv), usando fatores previa-
mente determinados. Um dosı́metro pessoal é um dosı́metro desenhado para ser usado
perto da superfı́cie do corpo da pessoa que está a ser monitorizada e que regista a dose
pessoal equivalente de radiação recebida Hp(10; 0,07) [29, 31].
Os dosı́metros disponı́veis no mercado variam de dispositivos passivos e de baixo
custo, que armazenam informações de dose pessoal para leitura posterior, até dispositivos
mais caros e operados por bateria, que exibem informações imediatas de dose e taxa de
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 21

dose - dosı́metro pessoal eletrónico de leitura direta. Os métodos de leitura, a faixa de


medição da dose ou energia, o tamanho, o peso e o preço são fatores importantes de
seleção [29, 31].
A monitorização externa individual de rotina dos profissionais é feita geralmente com
dosı́metros termoluminescentes (TLD), podendo determinar-se, após análise e leitura, três
quantidades dosimétricas operacionais: dose pessoal equivalente a 10 mm, Hp(10), que
representa a exposição de órgãos mais internos a 10 mm de profundidade; dose pessoal
equivalente a 0,07 mm, Hp(0,07), que representa a dose mais superficial, na pele, corres-
pondendo a 0,07 mm de profundidade, e a dose pessoal equivalente no cristalino, Hp(3),
que corresponde a 3 mm de profundidade. Estas grandezas são usadas para efetuar a
estimativa da dose total ou dose efetiva [32].
A dose efetiva é uma medida ponderada do risco de exposição à radiação, sendo con-
siderada um bom indicador de risco radiológico. Esta medida destina-se a avaliar a ex-
tensão da proteção, ou seja, é fundamental para a avaliação prospetiva de dose para pla-
neamento e otimização em proteção radiológica e demonstração de conformidade com os
requisitos legais [33].
Existem três formas de proteção de fontes externas de RI, que são identificadas como [29,
30]:

• Limitação do Tempo: a quantidade de exposição à radiação depende diretamente


(linearmente) do tempo que o indivı́duo está sujeito ou perto da fonte de radiação.
A dose pode ser reduzida limitando o tempo de exposição. Reduzir o tempo de
exposição é um método muito prático de proteção radiológica. Tendo em conta que
a quantidade de exposição está relacionada com a duração da mesma, menos tempo
significa menos exposição;

• Distância à Fonte: a quantidade de exposição à radiação depende da distância à


fonte de RI. É uma medida de proteção muito eficaz e, muitas vezes a maneira me-
nos onerosa para reduzir a exposição à radiação. Ao afastar-se relativamente a uma
fonte de radiação, a quantidade de radiação a uma determinada distância da fonte é
inversamente proporcional ao quadrado da distância (lei do inverso do quadrado).
Esta lei diz que se duplicarmos a distância, a taxa de dose cai para 1/4 do valor
original. Se triplicarmos a distância, a taxa de dose cai para 1/9 do valor original,
como representado na Figura 2.11.
22 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Figura 2.11: Variação da intensidade de uma fonte pontual com a distância (retirado
de [34]).

• Barreiras de Proteção: por fim, se a fonte for muito intensa e o tempo ou a distância
não fornecerem proteção suficiente contra radiação, a blindagem ou barreiras de
proteção devem ser usadas. A proteção contra radiação geralmente consiste em
barreiras de chumbo, cimento ou água. Existem muitos materiais que podem ser
usados para proteção contra radiação, mas existem muitas situações na proteção
contra radiação que dependem muito do tipo de radiação a ser protegida, da sua
energia e de muitos outros parâmetros.

2.4.3.2 Dosimetria Interna

A dosimetria interna diz respeito aos conceitos, métodos e grandezas que permi-
tem o cálculo, avaliação, estimativa e quantificação da dose absorvida pelos órgãos e
tecidos, bem como a sua evolução temporal, após a introdução do material radioativo
por inalação, ingestão, injeção ou absorção através da pele. Contudo, na dosimetria
interna não é possı́vel medir doses internas, estas apenas podem ser estimadas utili-
zando modelos, e, por isso mesmo, apresentam incertezas elevadas. De forma a esti-
mar o risco ou comparar a exposição não-uniforme com a exposição em todo o orga-
nismo, a ICRP propõe que a dose absorvida num certo tecido ou órgão seja convertida em
dose equivalente, isto é, a dose absorvida é ponderada em função do tipo e qualidade da
radiação [24, 27].

Modelos Biocinéticos
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 23

Os modelos biocinéticos, através da aplicação de modelos compartimentais, descre-


vem a metabolização dos radionuclı́deos pelos diversos órgãos do corpo humano. Através
deles é possı́vel calcular a absorção, eliminação e metabolização de radionuclı́deos nos
órgãos e tecidos. Com recurso à utilização de equações diferenciais e dados farmaco-
cinéticos, estes modelos permitem calcular a atividade acumulada e a atividade em função
do tempo nos órgãos de interesse e estimar o valor das doses absorvidas respetivas, o que
é fundamental para rastrear as doses que cada utente recebe aquando de intervenções/
exames de MN [35, 36].

Metodologia ICRP

A ICRP propõe modelos biocinéticos que fornecem fatores de conversão de dose em


mGy/MBq para todos os órgãos envolvidos na biodistribuição do radiofármaco, pelo or-
ganismo, para cada exame e terapia em MN [24, 36]. Esta metodologia foi desenvolvida de
forma a calcular doses provenientes da exposição à RI devido a radiofármacos presentes
em órgãos e tecidos do corpo humano para exposições de rotina. A metodologia tem por
base a avaliação dos efeitos da RI nos órgãos de acordo com a sua radiossensibilidade.
Assim, atribui-se um fator distinto para cada órgão. Este método encontra-se adaptado
para a determinação de doses absorvidas devido a exposições ocupacionais, definindo-
se a dose equivalente acumulada durante 50 anos como H50,t ( T ← S) e sendo calculada
usando a seguinte forma [36]:

H50,t ( T ← S) = Us × SEE( T ← S) (2.14)

onde

∑ RYR WE AF ( T ← S) R
SEE( T ← S) = 1, 6 × 10−13 (2.15)
mr
é a energia absorvida efetiva especı́fica por grama do tecido-alvo devido à radiação R
emitida pelo órgão fonte; Us é o número total de desintegrações durante 50 anos; YR o
número de partı́culas do tipo R por desintegração; WR o fator de peso que depende do
tipo de radiação; AF ( T ← S) R a fração de radiação R absorvida em T por desintegração
ocorrida em S e mr a massa do alvo [36].
24 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Metodologia MIRD

O método mais comum para cálculos de dose interna em utentes é a metodologia,


Medical Internal Radiation Dose (MIRD) [37]. De forma a poder estimar a energia absorvida
por um órgão alvo é preciso definir alguns conceitos.
A fração absorvida é definida como a fração de energia emitida pelo órgão-fonte que
é absorvida pelo órgão-alvo, a qual depende do tipo de radiação, do tamanho, forma e
constituição dos órgãos fonte e alvo, assim como da distância e tipo de materiais que os
separam.
No que diz respeito à emissão de RI, temos de ter em conta dois tipos de absorção:
a auto-absorção, que ocorre quando o órgão-fonte é simultaneamente o órgão-alvo, e o
crossfire (fogo cruzado), quando o órgão-fonte irradia outros órgãos.
O formalismo MIRD desenvolve métodos padrão, modelos e esquemas matemáticos
de forma a poder avaliar as doses internas com origem na radiação de radiofármacos
administrados. A abordagem MIRD é capaz de simplificar o problema de avaliar a dose
para diversos radionuclı́deos, no ambiente biológico altamente diversificado do corpo hu-
mano, órgãos internos, tecidos, compartimentos de fluidos e células. A maior vantagem
da abordagem MIRD é que ela reduz sistematicamente análises dosimétricas complexas a
métodos relativamente simples, incluindo ferramentas de software para uso experimental
e clı́nico [38].
Na metodologia MIRD a dose absorvida é determinada com recurso à Equação [39]:

Drl = ∑ Ãh S(rk ← rh ) (2.16)


h

onde rk representa o órgão alvo, rh o órgão fonte e Ãh a atividade acumulada. O fator-S,
S(rk ← rh ), é definido como [39]:

k ∑ ini Ei φi (rk ← rh )
S (r k ← r h ) = (2.17)
mk
onde k representa uma constante, ni o número de fotões com energia, φi a fração absorvida
especifica e mk a massa do órgão k. A fração absorvida especı́fica depende do tipo de
partı́cula, da energia do fotão, da geometria do alvo e da fonte do tipo de tecido/material,
e é definida por:

energia absorvida pelo alvo


φ= (2.18)
energia emitida pela fonte
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 25

O método MIRD depende de fatores fı́sicos, tais como a relação geométrica entre
o órgão-alvo e o órgão-fonte, a qual pode ser calculada para qualquer órgão de inte-
resse e para qualquer radionuclı́deo, utilizando, geralmente, métodos de simulação de
Monte Carlo [39]. Existem tabelas de dose por unidade de atividade acumulada para
diversos órgãos-fonte e órgãos-alvo e para diferentes radionuclı́deos, contemplados nas
publicações MIRD, com várias atualizações ao longo dos anos, sendo a MIRD 13 a mais
utilizada atualmente [35].
A metodologia MIRD assume que os órgãos que podem ser considerados órgão-fonte
(S) são os que contêm radionuclı́deos e cuja localização depende do tempo, sendo os
órgão-alvo (A) os que recebem radiação. Para além disso, assume ainda que o meio
absorvente é homogéneo, que a distribuição da atividade é uniforme, que a massa do
órgão/tecido é constante e que os efeitos dos limites dos órgãos são negligenciáveis [35].
É de salientar que o fator S corresponde ao cálculo da fração da energia, emitida por
um certo isótopo, que é absorvida por um órgão e, de um modo geral, corresponde ao
quociente entre a dose absorvida e a atividade acumulada, expressa em Gy/Bq·s. Este
fator, expresso em rad/µCi·h, está presente em tabelas baseadas na simulação de Monte
Carlo, que utiliza um fantoma de 70 kg do sexo masculino [35]. Por último, de modo a
determinar o tempo de residência - que ilustra o quociente da atividade acumulada pela
atividade administrada - é preciso escolher o modelo de atividade acumulada que melhor
se adequa ao radionuclı́deo e órgão/tecido em questão [35].
A metodologia MIRD e a ICRP foram generalizadas para um esquema e nomenclatu-
ras únicos na publicação MIRD pamphlet n◦ 23 [40].

2.4.4 Proteção Radiológica em Medicina Nuclear

Durante as duas primeiras décadas do século XXI, o número de procedimentos de


MN aumentou consideravelmente. Atualmente, a MN tem um papel claramente definido
na prática clı́nica, sendo requisitada por outras especialidades médicas. A MN fornece
opções de diagnóstico e terapêutica relevantes, melhorando a saúde e qualidade de vida
dos utentes [4].
A MN utiliza radionuclı́deos, parte integrante dos radiofármacos, para finalidades
diagnósticas ou terapêuticas. Os radiofármacos são administrados ao utente e fornecem
informações sobre o comportamento dos sistemas biológicos, através da deteção externa
26 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

das radiações emitidas (em diagnóstico). Podem também possibilitar o tratamento através
da interação das radiações com o organismo do utente [41].
De acordo com a World Nuclear Association, mais de 40 milhões de procedimentos de
MN são realizados a cada ano em todo o mundo. Nos paı́ses desenvolvidos, a frequência
de MN diagnóstica é de 1,9% ao ano, comparativamente com outros métodos comple-
mentares de diagnóstico por imagem, e a frequência de terapia com radionuclı́deos é
cerca de 1/10 desta. Em relação ao diagnóstico, o radionuclı́deo mais utilizado é o 99m Tc,
representando cerca de 80% de todos os procedimentos de MN [42, 43].
Em MN a exposição dos utentes à radiação ionizante não é decorrente da radiação emi-
tida por um equipamento médico, mas depende da administração de um radiofármaco,
sendo portanto uma exposição interna, podendo ocorrer em qualquer momento. Em caso
de terapia, a irradiação interna do utente pode continuar por dias ou mesmo semanas
após a alta. Portanto, o resultado de um procedimento de MN, tanto em termos de eficácia
clı́nica quanto de segurança, não é determinado apenas por um dispositivo médico ou
medicamento, mas por todo um processo que precisa ser controlado para produzir resul-
tados de qualidade e de forma segura [44].
O iodo-131 (131 I) e o tecnécio-99 metastável (99m Tc) são os isótopos radioativos mais
utilizados em MN. 131 I devido ao seu tempo de semi-vida relativamente curto (8,03 dias)
e à sua captação seletiva pela tiroide, é usado para diagnosticar e tratar doenças desta
glândula. O 99m Tc é um isómero nuclear metaestável do tecnécio-99 (tempo de semi-vida
de 6,01 h) e é comumente usado em cintigrafia através do método de imagem de tomo-
grafia computorizada por emissão de fotão único (SPECT), entre outras aplicações [33, 44].

2.4.4.1 Exposição Ocupacional à Radiação Ionizante em Medicina Nuclear

Na manipulação de fontes de radiação não-seladas (radiofármacos), em serviços de


MN, os profissionais de saúde apresentam um risco ocupacional de contaminação ou
exposições locais elevadas. Manipulam fontes não-seladas com elevada atividade, sendo
a pele das mãos dos profissionais o órgão com maior risco de exposição à radiação ioni-
zante, que pode levar à contaminação e incorporação interna do radionuclı́deo.
A equipa da MN é exposta a doses de radiação em vários processos: desembalar,
armazenar, descartar, medir a atividade das fontes de radiação, preparar e administrar
o radiofármaco, o qual pode ser administrado por via intravenosa, oral ou inalatória ao
utente. Após a administração do radiofármaco, os utentes também passam a ser uma
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 27

fonte de exposição para a equipa durante e após os procedimentos de diagnóstico ou


tratamento [27, 45]. Assim, existe uma constante preocupação nas questões que dizem
respeito à proteção radiológica e, por isso, também a necessidade de medidas de proteção,
sensibilização, formação e monitorização dos profissionais.
A ICRP recomenda o estabelecimento de limites de dose aceitáveis e alcançáveis e
restrições para evitar exposições desnecessárias dos profissionais expostos à radiação [24].
A proteção contra RI de profissionais expostos ocupacionalmente inclui a monito-
rização de dose individual de rotina. Para tal, o método mais comum para a monitorização
de rotina de exposição externa em MN é baseado num dosı́metro termoluminescente
(TLD), usado na zona do tórax e lido mensalmente. A avaliação exata da porção de pele
com maior exposição é difı́cil, contudo, essa localização costuma ser na ponta de um dos
dedos. Como é difı́cil colocar dosı́metros na ponta dos dedos, a dosimetria de extremi-
dades geralmente é realizada com dosı́metros de dedo (anelar, indicador, polegar) ou de
pulso. O dosı́metro de anel com detetor termoluminescente (TLD) é relativamente fácil
de utilizar durante a manipulação e é compatı́vel com a utilização de luvas de proteção
(obrigatória). Ao usar dosı́metros de anel é importante posicionar o dosı́metro no local
onde se espera a dose mais alta [27, 45].
A dose de radiação externa nos dedos pode facilmente atingir o limite regulamentar
de 500 mSv/ano quando não há medidas de proteção contra radiação ionizante, junta-
mente com uma elevada carga de trabalho individual. O aumento de dose externa nas
extremidades, mãos e pele, também podem ocorrer durante extravasamentos acidentais,
contactos com fluidos corporais, remoção inadequada de luvas de proteção, remoção sem
proteção de um cateter de um utente ou ao tocar desatentamente em superfı́cies contami-
nadas (não assinaladas). Para evitar contaminações radioativas, os profissionais devem
realizar, regularmente, verificações de contaminação nas suas áreas de trabalho [32].
Uma vez que os profissionais ocupacionalmente expostos estão permanentemente sob
um programa de monitorização individual de dose obrigatória, os resultados do estudo
de baixas doses, recebidas pela equipa durante a manipulação de substâncias radioati-
vas no Serviço de MN, pode contribuir para a melhoria do nı́vel de proteção e segurança
radiológica na unidade de MN e também para a maior compreensão dos efeitos radio-
biológicos a longo prazo induzidos pela radiação ionizante [46].
O processo de descontaminação é muito importante para a dosimetria externa. A
descontaminação da pele é o passo mais importante, pois remove a grande maioria da
28 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

atividade inicial. As descontaminações subsequentes são caracterizadas por um padrão


fracamente exponencial e são relativamente ineficazes. No entanto, o elemento mais im-
portante na redução das doses de contaminação da pele deve ser a prevenção da sua
contaminação [32].

2.4.5 Proteção Radiológica no Radiodiagnóstico

Na área do radiodiagnóstico, a RI de baixa energia (tipicamente raios-X) é utilizada


para criar imagens médicas a fim de efetuar um diagnóstico médico. A imagem é obtida
através de um detetor ou pelı́cula, que regista a quantidade de radiação recebida, após
esta atravessar os tecidos, dependendo da sua absorção pelos mesmos. Na imagiologia
médica existem vários equipamentos que utilizam radiação ionizante para a obtenção de
uma imagem: radiografia convencional com uso de raios-X, mamografia, fluoroscopia,
TC (tomografia computorizada) e equipamentos dentários como o ortopantomógrafo ou
o scanner intra-oral, entre outros. Nesta área, além dos profissionais também estarem
ocupacionalmente expostos à radiação - havendo também uma monitorização individual
de cada profissional - é ainda fundamental (e tem vindo a ser uma ferramenta obrigatória
nos novos equipamentos) haver um registo de débito de dose para cada exame realizado
a cada utente. Pretende efetuar-se a proteção radiológica dos utentes, não pelo princı́pio
da limitação de dose como para os profissionais, mas com o intuito de ser aplicado o
princı́pio da otimização. Para isso têm sido criados modelos de protocolos e Nı́veis de
Referência de Diagnóstico, NRD locais, para que seja possı́vel uma melhor orientação,
comparação e compreensão da dose administrada em cada tipo de exame [47].

2.4.5.1 Nı́veis de Referência de Diagnóstico

Os NRD constituem modelos de boas práticas estabelecidos a nı́vel local (por cada hos-
pital) e efetivados através de protocolos de exame, que se baseiam em valores aconselha-
dos de dose de radiação em diagnóstico, obtidos a partir de procedimentos de otimização
e em condições padrão. Os NRD são utilizados em imagem médica para demonstrar, em
situações de rotina, se a quantidade de radiação ionizante usada para um tipo de exame
especı́fico é excecionalmente alta ou baixa. O objetivo dos NRD é validar estratégias de
otimização de dose, para ajudar a evitar exposições desnecessárias dos utentes à radiação
ionizante, mantendo a qualidade diagnóstica da imagem médica para um diagnóstico
fidedigno [26, 48].
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 29

A ICRP, na sua publicação n◦ 60, propôs o termo Nı́veis de Referência de Diagnóstico


(Diagnostic Referente Level - DRL), aplicados especificamente às exposições médicas [24].
É definido também que os NRD são importantes a nı́vel da investigação, aplicada a uma
quantidade facilmente mensurável, geralmente a dose absorvida num material tecido-
equivalente, na superfı́cie de um fantoma ou outro modelo representativo de um utente [24,
49].

A IAEA também emitiu pareceres sobre a necessidade de linhas orientadoras em Ra-


diologia, a que se refere como guidance levels, com o objetivo de uniformizar internaci-
onalmente os requisitos básicos, para proteger os utentes contra a exposição à radiação
excessiva em práticas e intervenções [50].
A definição usual de NRD corresponde ao valor do percentil 75 das distribuições de
valores de NRD observados em hospitais, para um determinado tipo de exame. Os va-
lores de NRD derivam de uma análise estatı́stica, com o objetivo de avaliar se o valor
mediano de uma quantidade de NRD, obtida para um grupo representativo de utentes,
é anormalmente alto ou baixo para esse tipo de exame. A recomendação da ICRP es-
tabelece o percentil 75 da distribuição como o patamar inicial entre valores aceitáveis e
excessivos [50].
Os NRD ajudam a identificar erros realizados durante o processo de exames que uti-
lizam radiação ionizante, para sugerir modificações e melhoramentos das práticas, com
a otimização dos processos e consequente dose administrada ao utente. Manter a quali-
dade da imagem e a precisão do diagnóstico é fundamental, contudo é também impor-
tante reduzir a exposição do utente à radiação ionizante para o valor mais baixo possı́vel,
segundo o princı́pio ALARA. Os NRD podem ser apenas valores, mas correspondem
também à avaliação de todo um processo [50].
Os valores NRD deverão ser atualizados/verificados regularmente, para que a otimi-
zação continue dentro dos parâmetros normais, acompanhando assim o aperfeiçoamento
do hardware e software e também a introdução de novas técnicas que vão surgindo. Na
Figura 2.12 é exemplificado como poderá ocorrer o processo de otimização numa unidade
de saúde [24].
30 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Recolher informação sobre os NRD para paciente


padrão

Rever em 3
anos Calcular a dose média por exame

< NRD Comparar a dose


média com o valor de
NRD

> NRD

Revisão de técnica, modos e exposição de resultados


de desempenho do equipamento

Recomendar uma estratégia de otimização e trabalhar


com os radiologistas para implementar mudanças

Figura 2.12: Esquema de atualização regular de NRD (do inglês DRL-Diagnostic Reference
Levels) (adaptado de [24])

2.4.5.2 Nı́veis de Referência de Diagnóstico em TC

Devido ao aumento de número de exames de TC realizados à escala mundial, surgiu


a necessidade de linhas orientadoras com o propósito de analisar as doses efetivas ca-
racterı́sticas dos exames de TC e, relacionados com estas, os riscos associados à radiação
ionizante [48].
Para imagens de TC, os NRD são determinados pela dose de radiação em procedi-
mentos de rotina usando o CTDIw , DLP ou ambos [26].
Existem linhas orientadoras disponı́veis, organizadas a partir de vários estudos rea-
lizados, mas só recentemente surgiram orientações oficiais quanto aos valores de dose
recomendados. A Comissão Europeia (CE) definiu, em 1999, nı́veis de referência de di-
agnóstico em diagnóstico por TC, com o objetivo de fornecer orientações para a introdução
de critérios de qualidade em exames de TC em adultos, mostrados na Tabela 2.3 [7, 51].
Outros estudos foram realizados e os nı́veis de referência foram comparados com as
recomendações da CE, como se pode observar nas Tabelas 2.4 e 2.5.
A CE recomenda a determinação de valores de restrição de dose para os exames mais
realizados, em três ou quatro faixas etárias, considerando-as suficientes relativamente às
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 31

Tabela 2.3: Nı́veis de Referência de Diagnóstico em TC propostos pela Comissão Euro-


peia, relativamente aos descritores CTDIw e DLP, e valores de dose efetivas calculados a
partir dos coeficientes de conversão sugeridos (adaptado de [7, 52]).

Grandezas dosimétricas em TC
CTDIw DLP Dose efetiva
Exame de TC
(mGy) (mGy·cm) (mSv)
Crânio (rotina) 60 1050 2,42
Tórax (geral) 30 650 11,05
Tórax (alta resolução) 35 280 4,76
Abdómen (rotina) 35 800 12,00
Coluna Lombar 35 780 11,70
Pélvis (rotina) 35 570 10,83

Tabela 2.4: Comparação dos NRD (em termos de CTDIw ) em diferentes paı́ses da União
Europeia comparados com a diretiva EUR16262 (adaptada de [7, 47, 53, 54]).

Ref. CE
Inglaterra Inglaterra
Alemanha Alemanha Áustria Grécia Grécia Itália EUR
Exame de TC (2003) (2003)
(1999) (2003) (2000) (2001) (2003) (2003) 19262
SSCT MSCT
(1999)
CE
45 60 70 110 68,9 43,3 68 59 60
(rotina)
Ossos da
25 35 - - - - - - 35
face e SPN
Tórax
13 22 13 18 18,9 22,1 21 21 30
(rotina)
Tórax (alta
- - 22 50 28 - - - 35
resolução)
Abdómen
15 24 20 20 19,8 22,1 23 23 30
(rotina)
Fı́gado e
15 25 - - 20,6 - - - 35
Baço
Coluna
30 47 - - 40,7 - 39 36 35
lombar
Pélvis 18 28 17 20 23,5 22,1 27 24 35

variações dentro de cada grupo, para assim estabelecer as linhas orientadoras [51].

2.4.5.3 Grandezas Dosimétricas em TC

Como já foi referido e explicado, anteriormente, a RI pode induzir riscos, os quais
estão relacionados com a dose média absorvida pelos órgãos do utente. No entanto, a
dose nos órgãos não pode ser medida diretamente, pelo que foi necessário implementar
grandezas dosimétricas especı́ficas para avaliar este impacto nas práticas de TC, como
por exemplo os ı́ndices de Computed Tomography Dose Index (CTDI) e Dose-Length Product
(DLP) [26, 53].

CTDI
32 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Tabela 2.5: Comparação dos NRD (em termos de DLP) em diferentes paı́ses da União
Europeia comparado com a diretiva EUR 16262 (adaptada de [7, 47, 53, 54]).

Ref. CE
Inglaterra Inglaterra
Alemanha Alemanha Áustria Grécia Grécia Itália EUR
Exame de TC (2003) (2003)
(1999) (2003) (2000) (2001) (2003) (2003) 19262
SSCT MSCT
(1999)
CE
520 1175 760 930 1275 640 919 707 1050
(rotina)
Ossos da
190 - - - - - - - -
face e SPN
Tórax
250 650 430 580 484 643,25 429 483 650
(rotina)
Tórax (alta
- - 80 170 76 - - - 280
resolução)
Abdómen
490 1500 510 560 1109 471,5 493 551 780
(rotina)
Fı́gado e
210 770 460 470 763 - - - 900
Baço
Coluna
170 280 - - 495 - 473 303 800
lombar
Pélvis 300 750 - - 589 491,5 538 434 570

A principal grandeza dosimétrica analisada em TC é o CTDI (Computed Tomography


Dose Index) expresso em mGy. O CTDI corresponde a um ı́ndice de dose em TC que é
definido pela integração do perfil de dose, D (z), ao longo de uma linha paralela ao eixo
de rotação, z, da gantry, para uma única rotação do emissor de raios-X, sendo equivalente
ao valor de dose integrada para N cortes, expresso matematicamente por [55]:

Z +∞
1
CTDI = D (z)dz (2.19)
T −∞

O CTDI pode ser interpretado com base na Figura 2.13, onde se pode verificar que este
corresponde ao valor de dose absorvida num corte, supondo que a dose é toda concen-
trada num detetor retangular com largura igual à largura do feixe, L.
Na Figura 2.13 pode observar-se a distribuição de dose, sendo todas as contribuições
que se encontram fora das dimensões da largura do feixe (nas áreas abaixo da cauda do
perfil de dose) adicionadas à área do detetor, aumentando assim o seu comprimento e a
sua dose.
Várias medidas de dose relacionadas com o CTDI foram estabelecidas, ou seja, quando
a avaliação do CTDI é feita utilizando uma câmara de ionização em forma de lápis com
um comprimento ativo de 100 mm, obtém-se o parâmetro CTDI100 , expresso em termos
de dose absorvida no ar (mGy). Estas medições podem ser adquiridas em qualquer
ponto, desde que a câmara de ionização esteja em paralelo com o eixo de rotação da
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 33

Figura 2.13: Ilustração do conceito de CTDI: CTDI representa o equivalente do valor


de dose dentro de uma secção de corte irradiada, que resultaria se o perfil de dose de
radiação absorvida fosse inteiramente concentrado num perfil de dose retangular de es-
pessura igual à espessura nominal de corte (retirado de [47]).

gantry, CTDI100,air . No entanto, se forem efetuadas no centro do eixo de rotação da gan-


try designam-se por CTDI100,c ou se forem 10 mm abaixo da superfı́cie denominam-se
fantomas dosimétricos de TC padrão por CTDI100,p [47].
Assumindo que a dose diminui, linear e radialmente da superfı́cie para o centro do
fantoma, a dose média normalizada da secção de corte aproxima-se do valor do CTDIw ,
sendo este o CTDI ponderado que é calculado usando uma ponderação dos valores medi-
dos com a câmara de ionização no centro e na periferia do fantoma, calculado da seguinte
forma [47]:

1 2
CTDIw = CTDI100,c + CTDI100,p (2.20)
3 3
Se se tiverem em conta os efeitos da exposição de radiação causados pelo pitch é de-
finido o CTDIvol . O pitch é definido como a distância percorrida pela mesa no exame ao
utente durante uma rotação de 360◦ da gantry a dividir pelo número total de cortes rea-
lizados (N) por rotação multiplicando pela espessura de corte (este produto representa a
colimação total do feixe na TC) [56]:

Distância percorrida pela mesa


pitch = (2.21)
N × Espessura de cada corte
O CTDIvol é, portanto, a correção do pitch no CTDIw :
34 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

CTDIw
CTDIvol = (2.22)
pitch

DLP

A monitorização do valor de CTDIw ou de CTDIvol em fantomas representativos de


cabeça ou corpo em TC, constitui uma ferramenta de controlo da seleção de configurações
de miliamperes (mAs). No entanto, para uma estimativa de dose de um exame completo,
a CE recomenda a utilização do Dose Lenght Product (DLP) (mGy·cm) como ı́ndice de
grandeza dosimétrica [57], definido por [47]:

DLP = CTDIvol × L (2.23)

onde L é o comprimento de aquisição do exame. Esta grandeza toma em consideração a


dose em cada corte e também a extensão do exame realizado, ou seja, o somatório de dose
em cada corte pela sua extensão. O que significa que o DLP aumenta com o aumento da
extensão do corpo que é irradiada [47].
A comparação e análise dos valores do CTDI ou DLP para cada tipo de exame for-
nece uma indicação útil no seu desempenho. No entanto, dados de exames de diferentes
regiões do organismo não podem ser comparadas diretamente. Com o intuito de avaliar
o risco relativo do utente, sujeito a um determinado tipo de exame de TC, existe a possi-
bilidade de comparar os valores de DLP. No entanto, a comparação com outros métodos
complementares de diagnóstico radiológico não é possı́vel sem o recurso a uma unidade
comum, a dose efetiva [47].
A dose efetiva, E (mSv), é calculada a partir do DLP para os exames especı́ficos de
TC, segundo a Equação 2.24 e são utilizados coeficientes de conversão, dados pela CE
para cada tipo de exame, em indivı́duos adultos, determinados por simulações de Monte
Carlo [7].

E = EDLP × DLP (2.24)

onde EDLP corresponde ao coeficiente de conversão de DLP em dose efetiva em adultos,


de acordo com a região anatómica irradiada durante o exame de TC, conforme mostrado
na Tabela 2.6.
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 35

Tabela 2.6: Coeficientes de conversão de DLP em dose efetiva em adultos de acordo com
a região anatómica irradiada durante o exame de TC (retirado de [7]).

Região do Organismo EDLP (mSv · mGy−1 · cm−1 )


Cabeça 0,0023
Pescoço 0,0054
Tórax 0,017
Abdómen 0,015
Pélvis 0,019

2.4.6 Programa de Proteção Radiológica numa Unidade de Saúde

Em Portugal, ao abrigo da lei 108/2018, as instalações licenciadas para manipulação e


utilização de radiação ionizante devem dispôr de um Programa de Proteção Radiológica
(PPR), o qual deve conter todos os passos, protocolos e procedimentos relacionados com
a execução das diversas atividades. O programa deve ter como objetivo geral a tradução
do empenho da entidade referente à proteção radiológica e segurança de operação, por
meio da adoção de estruturas adequadas, polı́ticas e procedimentos otimizados, tendo em
consideração os utentes e profissionais, bem como os membros do público [58–60].
Há uma série de princı́pios (abordados anteriormente) que devem ser considerados no
planeamento das instalações e das proteções estabelecidas. Resumindo, esses princı́pios
englobam os princı́pios básicos da proteção radiológica, incluindo a “Justificação”, por
meio da ponderação dos benefı́cios face aos riscos, a “Otimização”, tendo em conta a
maximização dos benefı́cios e redução das exposições à radiação ionizante a um nı́vel tão
baixo quanto razoavelmente possı́vel (ALARA), e a “Limitação de Dose”, que impõe a
não-exposição de qualquer pessoa a doses inaceitáveis. Além disso, o PPR deve com-
preender medidas que favoreçam a redução ou impedimento de potenciais exposições
elevadas, assim como a redução e determinação das consequências de possı́veis acidentes
que possam acontecer na prática quotidiana [58–60].
O PPR é um documento interno de cada serviço. Este documento, legalmente en-
quadrado por diferentes legislações nacionais, designadamente o Decreto-Lei n◦ 108/2018
de 3 de dezembro e demais recomendações internacionais, traduz a natureza dos riscos
radiológicos inerentes às atividades desenvolvidas numa instituição de saúde, nas nor-
mas de funcionamento e de atuação necessárias à garantia da proteção e segurança ra-
diológicas [58–60].
O PPR deve ser fundamentado em conhecimentos reconhecidos, nacional e interna-
cionalmente, embora adaptado à realidade local. A primeira fase para a sua elaboração
36 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

deve passar pela avaliação inicial das atividades do serviço, que irá ter na sua prática RI,
considerando o número de exposições normais e as potenciais. Deve incluir, para todas as
atividades a desenvolver, a identificação das fontes de radiação (radionuclı́deos, gerado-
res de raios-X, etc.), bem como a avaliação da sua contribuição para a exposição na rotina
do dia-a-dia e em situações extraordinárias. Deve, ainda, contemplar uma estimativa
realista e fundamentada das doses absorvidas esperadas, assim como a probabilidades
da sua ocorrência; deve conter procedimentos relacionados com a proteção radiológica e
segurança, para em casos de emergência se saber como atuar, incluindo as consequências
esperadas e os efeitos previsı́veis no público, nos utentes e no meio ambiente. O PPR
deve também proceder à avaliação e contabilização dos efeitos para o caso de um pro-
cedimento incorreto, bem como quais as implicações envolvidas; deve prever a presença
de fatores de risco que provoquem uma libertação de material radioativo para o meio
ambiente e quais as medidas disponı́veis para a prevenir ou controlar; deve estabelecer
a atividade máxima que se espera poder ser libertada para a atmosfera, em caso de falha
maior no sistema, bem como prever a existência de algum fator que origine uma operação
não-intencional de qualquer feixe de radiação e a adoção de medidas para a identificar,
prevenir e controlar [59].
Relativamente às instalações, o PPR aborda o requisito de nomear as áreas do serviço
como: área controlada, área vigiada e área livre. Identifica o requisito que corresponde à
existência de uma série de barreiras fı́sicas e de procedimentos que imponham uma série
de verificações e pontos de controlo para a operação dos equipamentos, tais como, por
exemplo, detetores de área e sistemas de não-irradiação em caso de porta aberta [59].
O PPR é, assim, um documento em forma de regulamento interno, de que consta a
identificação do responsável pelas instalações/equipamentos e as suas funções; a definição
da cadeia de responsabilidades pela proteção e segurança dos profissionais; a designação
das áreas controladas e vigiadas; os regulamentos e protocolos internos; a classificação
dos profissionais e as suas respetivas funções; a informação relativa à monitorização dos
profissionais (dosimetria individual, etc.); a descrição do sistema de registo de toda a
informação relacionada com o controlo de exposição à radiação, medidas de proteção e
segurança dos profissionais e sua monitorização; a descrição dos programas de treino e
formação existentes relacionados com os riscos associados à radiação, proteção e segurança
radiológica, como por exemplo a descontaminação radioativa; identificação do material
radioativo e registo de eliminação de resı́duos radioativos; a caracterização dos planos
2. A N ÁLISE DOS C ONCEITOS F ÍSICOS F UNDAMENTAIS D ESTE T RABALHO 37

de revisão periódica das caracterı́sticas das instalações (fatores de ocupação, definição


de zonas, limites de dose, etc.); os métodos de revisão e avaliação periódicas do próprio
PPR; os planos a adotar em caso de emergência nas instalações; os programas de saúde
ocupacional e vigilância médica adotados; os métodos de controlo e garantia de quali-
dade utilizados, bem como os métodos de otimização de processos (como por exemplo a
manutenção dos equipamentos, etc.) e o registo dos equipamentos produtores de radiação
ionizante [59].

2.4.6.1 Limites de Dose

Com o objetivo de prevenir o aparecimento de efeitos determinı́sticos e limitar a ocorrê-


ncia de efeitos estocásticos a um nı́vel aceitável, foram estipulados limites de dose para a
exposição ocupacional dos profissionais. Estes valores estão estabelecidos no Decreto-Lei
n.◦ 108/2018 de 3 de dezembro e encontram-se descritos na Tabela 2.7.

2.4.6.2 Classificação dos Profissionais

O perı́odo de monitorização dos profissionais depende das caracterı́sticas do trabalho


a realizar. A periodicidade mensal é a mais conveniente, visto que perı́odos superiores a
um mês dificultam a determinação da causa de valores anómalos registados. De acordo
com o Decreto-Lei n◦ 108/2018, os profissionais podem ser classificados em duas catego-
rias: A e B, dependendo da dose de radiação a que estão sujeitos. A categoria A é atribuı́da
aos profissionais que são suscetı́veis de receber uma dose efetiva superior a 6 mSv/ano
ou uma dose equivalente superior a 3/10 de um dos limites anuais de exposição. Os
profissionais que são classificados como categoria A devem ser monitorizados mensal-
mente. Todos os profissionais expostos que não estão incluı́dos na categoria A são clas-
sificados como categoria B e a sua monitorização pode ser prolongada até aos 3 meses (a
monitorização individual deve demonstrar que os profissionais estão corretamente clas-
sificados na categoria) [23].
38 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Tabela 2.7: Limites de dose para exposição ocupacional e membros do público expostos
a radiação, de acordo com o D.L. nº 108/2018 (retirado de [23]).

Tipo de Limite Ocupacional Público/Profissionais Grávidas


1 mSv/ano
Limite de 20 mSv/ano
(pode ser excedido num
ou 100 mSv num total
determinado ano, desde que
Dose efetiva: de 5 anos (a dose efetiva
a dose média ao longo de 5
não deve exceder os 50 mSv
anos consecutivos não
em nenhum dos anos)
exceda 1 mSv/ano)
Dose equivalente anual:
20 mSv/ano
Cristalino (não excedendo os 100 15 mSv/ano
mSv no perı́odo de 5 anos)
Pele (1 cm²) /
Extremidades 500 mSv/ano 50 mSv/ano
(mãos e pés)
Capı́tulo 3

Monitorização dos profissionais de


Medicina Nuclear – IAEA Safety
Guide

3.1 Materiais e Métodos

As informações dosimétricas necessárias para o desenvolvimento deste trabalho fo-


ram recolhidas num Serviço de Medicina Nuclear (SMN) da Região Autónoma da Ma-
deira (RAM). O estudo efetuado consistiu na avaliação das doses de radionuclı́deos ma-
nipuladas e atividades dos diferentes profissionais no perı́odo de um ano (ano 2021) e,
assim, determinar a necessidade de monitorização interna destes profissionais, com base
no risco de incorporação interna de radionuclı́deos.

3.1.1 Publicação IAEA - Safety Guide RS-G 1.2

A IAEA é uma organização internacional das Nações Unidas, que estabelece padrões
de segurança contra as radiações ionizantes e os disponibiliza com o intuito de serem apli-
cados em diferentes atividades em que seja utilizada radiação nuclear. As suas publicações
são muito abrangentes, com temáticas que vão desde a segurança nuclear até aos aspetos
gerais de segurança em instituições onde utilizem radiações ionizantes, passando pelo
transporte e gestão de resı́duos de fontes radioativas e monitorização de profissionais
expostos.

39
40 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

O Safety Guide RS-G 1.2 da IAEA, publicado em 1999, aborda a determinação da expo-
sição ocupacional causada pela incorporação interna de radionuclı́deos, referindo um
procedimento que permite determinar se existem critérios para determinar a necessidade
de realização de monitorização individual interna dos profissionais expostos [61].
De acordo com várias normas de segurança e proteção radiológicas, todos os profis-
sionais, que trabalhem em áreas controladas e que possam estar expostos a doses signi-
ficativas, devem ser monitorizados não só externamente, com auxı́lio de dosimetria indi-
vidual, mas também sempre que se considere necessária e adequada uma monitorização
interna [61].
A necessidade de monitorização individual interna deve ser baseada na possibilidade
de se atingir uma dose efetiva de 1 mSv ou superior num ano. Para tal, devem ter-se
em conta as propriedades fı́sicas e quı́micas do material manipulado, a natureza das
operações realizadas e as proteções utilizadas, existindo valores tabelados para classifi-
car esses parâmetros através de fatores de segurança relativos ao material, manipulação e
proteção [9, 62].
A fim de avaliar os riscos de contaminação interna, envolvidos em práticas de MN, no
contexto do presente estudo, foram aplicados os critérios definidos pela IAEA [61]. Estes
critérios são baseados na estimativa de um “fator de decisão”, di , dado por:

Ai e( g)i f ( f s)i f ( ps)i


di = (3.1)
0, 001
onde, para cada radionuclı́deo i:

• Ai é a atividade máxima anual do radionuclı́deo i manipulada pelo profissional, nos


diversos procedimentos que executa, como por exemplo: eluição, marcação de kits,
preparação de doses, administrações e controlos de qualidade;

• e( g)i (em SvBq−1 ) é o coeficiente de dose por inalação de aerossóis de 5 µm pelos


profissionais (Tabela 3.1);

• f ( f s)i é um fator de segurança baseado nas propriedades fisico-quı́micas do material


manuseado, que na maioria dos casos tem o valor de 0,01;

• f (hs)i é um fator segurança de manipulação, tendo em conta o radionuclı́deo mani-


pulado (Tabela 3.2);
3. M ONITORIZAÇ ÃO DOS PROFISSIONAIS DE M EDICINA N UCLEAR – IAEA Safety Guide 41

• f ( ps)i é um fator de segurança de proteção, responsável pelas precauções de segurança


tomadas durante o manuseamento do radionuclı́deo i (Tabela 3.3);

• 0,001 é um fator de conversão de sievert (Sv) para milisievert (mSv). Na maioria dos
casos, f f s deve ser 0,01, portanto a Equação 3.1 toma a forma:

di = 10Ao e( g)i f (hs)i f ( ps)i (3.2)

Tabela 3.1: Coeficientes de dose efetiva por inalação de 5 µm de aerossol por profissional
(retirado de [9, 61]).

Radionuclı́deo e( g)i (Sv · Bq−1 )


99m Tc 2, 0 × 10−11
111 In 3, 1 × 10−10
67 Ga 2, 8 × 10−10
68 Ga 8, 1 × 10−11
123 I 1, 1 × 10−10
125 I 7, 3 × 10−9
131 I 1, 1 × 10−8
18 F 8, 9 × 10−11
89 Sr 1, 4 × 10−9
90 Y 1, 6 × 10−9
153 Sm 6, 8 × 10−10
201 Tl 7, 6 × 10−11

Tabela 3.2: Fator de segurança de manipulação f hs de acordo com a natureza da operação


(retirado de [9, 61]).

Operação Fator de segurança de manipulação ( f hs )


Eluição do gerador 1,00
Marcação do radiofármaco 1,00
Medição da atividade 1,00
Administração da dose (injeção) 1,00
Administração da dose (cápsulas) 0,01
Estudos de ventilação Pulmonar 1,00
Controlo de qualidade de equipamentos 0,01
Estudo com câmara gama (diagnóstico) 0,01
Armazenamento de resı́duos radioativos 0,01

Tabela 3.3: Fatores de segurança de proteção de acordo com as medidas de proteção


utilizadas (retirado de [9, 61]).

Medida de Proteção Fator de segurança de proteção ( f ps )


Isolador/Câmara de Fluxo Laminar 0,01
Exaustor/ventilação 0,10
Céu aberto 1,00
42 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

O fator de decisão di deve ser determinado para cada radionuclı́deo e tipo de manipu-
lação. Assim sendo, o fator de decisão final D f , para todos os radionuclı́deos manipula-
dos, vai ser dado por [62]:

Df = ∑ di (3.3)
i

De acordo com a publicação da IAEA, a estimativa deste fator de decisão deve servir
como um meio para determinar se um profissional deve ser monitorizado para incorpo-
rações internas (se D f > 1 mSv) ou não (se D f < 1 mSv). Considerando mais do que
um radionuclı́deo presente no local de trabalho, a decisão de monitorização é baseada em
cada radionuclı́deo em separado, obedecendo aos seguintes critérios [9, 62]:

1. para todos os radionuclı́deos com di > 1 os profissionais devem ser monitorizados;

2. quando D f > 1, para radionuclı́deos com di > 0, 3, os profissionais devem ser


monitorizados e para radionuclı́deos com di < 0, 1 é desnecessário.

Deve notar-se que este critério se aplica a todos os tipos de práticas que envolvam
algum tipo de risco de contaminação interna e não apenas às práticas de MN. Isto deve
ser tido em conta na atribuição de valores aos fatores de ponderação a utilizar, para a
estimativa do fator de decisão. Os fatores de segurança, como proposto pelo guia de
segurança da IAEA, são muito gerais. Deve ser considerado um conjunto mais adaptado
de fatores, especificamente dedicado às práticas de MN.

3.1.2 Determinação da necessidade de monitorização interna dos profissionais

A determinação dos riscos de contaminação interna dos profissionais do SMN em


estudo foi realizada aplicando os métodos estabelecidos pela IAEA no Safety Guide RS-
G1.2. Assim, foram recolhidos dados sobre a atividade manipulada por cada profissional
desse SMN no ano de 2021.
Neste estudo foram avaliados 3 Técnicos de MN (TMN), 1 Enfermeiro (ENF), 1 Médico
Especialista em MN (MEMN), 1 Fı́sico Médico (FIS) e 1 Radiofarmacêutico (FARM). No
SMN a manipulação de fontes não-seladas de 99m Tc, 123 I, 131 I e 67 Ga poderá levar a um
aumento do risco de contaminação interna dos profissionais, no entanto, para este estudo,
só foram considerados os radionuclı́deos 99m Tc e 131 I, pois o número de exames realizados
com os outros radioisótopos foram escassos no ano de 2021. Foram analisados todos
3. M ONITORIZAÇ ÃO DOS PROFISSIONAIS DE M EDICINA N UCLEAR – IAEA Safety Guide 43

os procedimentos que implicam a manipulação destes radionuclı́deos (99m Tc e 131 I) eo


potencial risco de contaminação, tendo em conta as operações apresentadas na Tabela 3.2.
Foi realizada uma análise sistemática dos procedimentos efetuados por categoria pro-
fissional e as principais diretrizes de condução da análise foram:

1. todos os procedimentos que tenham envolvido o manuseamento de um determi-


nado radionuclı́deo foram identificados;

2. em cada procedimento identificado foi efetuada uma análise cuidadosa das con-
dições de manipulação e das medidas de proteção utilizadas, levando à definição
de um conjunto de condições de manipulação e segurança com fatores de proteção
entre 0,01 e 1, como mostrado na Tabela 3.3;

3. foi calculada a atividade anual total de cada radionuclı́deo do SMN em estudo e


analisada a atividade para cada profissional que executa os procedimentos;

4. os fatores de decisão, di , foram calculados para cada operação de cada profissional


e para cada radionuclı́deo, bem como o fator de decisão final, D f ;

5. não foram analisados os profissionais que detêm atividade no SMN em estudo ape-
nas em substituição de férias dos profissionais residentes;

6. a análise foi realizada em total anonimato, ou seja, a identidade dos trabalhadores


não foi revelada, de acordo com a Polı́tica de Privacidade, como disposto no Regu-
lamento (UE) 2016/679, de 27 de abril (RGPD) e na L.O. 3/2018, de 5 de dezembro,
sobre proteção de dados e garantia de direitos digitais (LOPDGDD).

O SMN em estudo possui procedimentos tanto de diagnóstico como de terapêutica.


Os procedimentos implementados para este estudo foram analisados com base nos crité-
rios definidos nas diretrizes da IAEA, para avaliar a necessidade de monitorização interna
e para identificar as operações mais favoráveis à ocorrência de contaminações internas.
A atividade total anual analisada neste estudo foi identificada por operação e por pro-
fissional, uma vez que as condições de manuseamento de um determinado radionuclı́deo
variam desde a preparação do radiofármaco até à sua administração ao utente e, conse-
quentemente, também variam os fatores de segurança.
Foram calculados os fatores de decisão por radionuclı́deo e operação aplicada e, por
fim, foram analisados os fatores de decisão D f para cada profissional, para perceber quais
44 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

as categorias profissionais que estarão em maior risco de contaminação interna e quais as


que deveriam ter uma monitorização interna no SMN em estudo.

3.2 Resultados e Discussão

A Tabela 3.4 contabiliza a atividade em cada operação, para cada radionuclı́deo, no


SMN em estudo, no ano de 2021.

Tabela 3.4: Atividade total no perı́odo de um ano (2021) por procedimento.

A - Atividade total num ano na instituição em estudo A (MBq)


Atividade administrada 99m Tc 2, 972 × 106
Atividade administrada 131 I 1, 229 × 104
Atividade Ventilação Tecnegás 99m Tc 5, 513 × 103
Atividade na gestão de resı́duos 0
Atividade na Eluição 99m Tc 5, 369 × 106
Atividade no CQ 99m Tc 1, 708 × 106
Atividade nos CQ de equipamentos com 99m Tc 3, 836 × 105

A atividade total relativamente aos radionuclı́deos 99m Tc e 131 I foi contabilizada a par-
tir da atividade administrada a cada utente e registada na base de dados da instituição
em estudo. Adicionou-se, ainda, a radioatividade registada para os exames de Ventilação
Pulmonar. Na Figura 3.1 mostra-se a atividade total no perı́odo de um ano, por procedi-
mento.

10 7

10 6
Atividade (MBq)

10 5

10 4

10 3
Tc
ão
s
1
Tc

Tc
I

Tc
13

uo
Tc

m
m


m

99
99

99

íd

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99

C
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Q
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C
At

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os
dm

At

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.a

At
At

Figura 3.1: Atividade total no perı́odo de um ano (2021) por procedimento.


3. M ONITORIZAÇ ÃO DOS PROFISSIONAIS DE M EDICINA N UCLEAR – IAEA Safety Guide 45

Para a atividade de eluição do 99m Tc foi considerada a atividade eluı́da, sempre que
foi necessário eluir o gerador de 99 Mo/99m Tc (Molibdénio-99/Tecnésio-99m). Relativamente
ao controlo de qualidade do gerador de 99m Tc, a atividade considerada foi a da eluição
sempre que chegou o novo gerador ao serviço (semanalmente). Neste serviço, para os
controlos de qualidade dos equipamentos, é usado o 99m Tc para o CQ mensal do equipa-
mento SPECT (uniformidade intrı́nseca), o CQ bissemanal da sonda para os exames do
gânglio sentinela, o CQ trimestral dos calibradores de dose - linearidade e repetibilidade.
Por fim, a atividade de gestão de resı́duos foi considerada zero neste estudo, porque só é
medida a atividade do resı́duo no ato de ser enviado para o lixo normal, o que, de acordo
com as normas de segurança, só é efetuado quando este está abaixo de 0,5 µSv/h a 1 m.
Com este levantamento de dados e com a determinação dos fatores de proteção tabe-
lados (Tabelas 3.2 e 3.3) foi possı́vel determinar os valores de di , através da Equação 3.2,
mostrados na Tabela 3.5. Para todos os procedimentos realizados no SMN em estudo,
os fatores segurança de manipulação do radionuclı́deo ( f hs ) e o fator de segurança de
proteção ( f ps ) foram atribuı́dos a cada procedimento e dependeram das circunstâncias
de execução das operações realizadas por cada profissional. Com base no resultado dos
valores das atividades e com o coeficiente de dose efetiva tabelado, foram calculados os
fatores de decisão (di ) para cada operação e para cada radionuclı́deo.

Tabela 3.5: Resultados dos valores do fator de decisão di , por operação no SMN.

Operação na instituição em estudo f ps f hs ffs di (mSv)


Eluição 99m Tc 0,01 1,00 0,01 10,737
Fracionamento de dose/verificação da dose
99m Tc 0,01 1,00 0,01 5,944
131 I 0,01 0,01 0,01 0,135
Administração de dose
99m Tc 1,00 1,00 0,01 55,446
99m Tc no gânglio sentinela 0,01 1,00 0,01 3,994
131 I 0,01 1,00 0,01 0,135

Ventilação pulmonar- Tecnegás 99m Tc 1,00 1,00 0,01 1,103


Controlo de qualidade 99m Tc 0,01 0,10 0,01 0,341
Controlo de qualidade dos equipamentos 1,00 0,10 0,01 0,767
Estudos de diagnóstico 0,01 0,01 0,01 0,594
Depósito de desperdı́cio radioativo 0,00 0,00 0,01 0,000

Neste serviço em estudo, as operações são divididas e bem diferenciadas por cada ca-
tegoria profissional. Estando, por exemplo, todas as operações de radiofarmácia a cargo
apenas de um Radiofarmacêutico. Todas as administrações de 99m Tc, exceto as efetuadas
46 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

para o estudo do gânglio sentinela, estão a cargo do Enfermeiro e os controlos de quali-


dade dos equipamentos com 99m Tc são feitos pelo Fı́sico Médico. Assim, para este estudo,
as atividades calculadas por operação serão as atividades manipuladas pelos diferentes
profissionais, não havendo distinção de diferentes atividades de manipulação para cada
um, nem a divisão de operações por profissional, visto haver apenas 1 pessoa por cada
sector profissional. Em relação aos TMN, embora sejam 3, todos participam nas mesmas
atividades por igual, pelo que foi considerada a mesma atividade para os 3.
Para os profissionais que têm mais do que uma operação a seu cargo, os valores par-
ciais de di obtidos foram somados, para calcular o fator de decisão final, D f , de cada
profissional, como demonstrado na Tabela 3.6.

Tabela 3.6: Factores de decisão final, D f , por profissional.

Profissional Procedimento di (mSv)


Ventilação pulmonar – Tecnegás 99m Tc 1,103
Administração 99m Tc - gânglio sentinela 3,994
Médico EMN
Administração 131 I - Cápsulas 0,135
TOTAL (D f ) 5,232
Eluição do gerador 99m Tc 10,737
Fracionamento 99m Tc /Marcação de Kits
Radiofarmacêutico 5,544
de radiofrármacos
Controlo de qualidade 99m Tc 0,341
TOTAL (D f ) 16,623
Administração 99m Tc 55,446
Enfermeiro
TOTAL (D f ) 55,446
Verificação da dose 131 I 0,135
Fı́sico Médico Controlo de qualidade dos equipamentos 0,767
TOTAL (D f ) 0,900
Ventilação pulmonar- Tecnegás 99m Tc 1,103
Técnicos de MN Estudos com a câmara gama (diagnóstico) 0,594
TOTAL (D f ) 1,697

De acordo com os resultados apresentados na Tabela 3.6, verificou-se que no serviço


em estudo, quatro dos profissionais (ENF, FARM, MEMN e TMN) devem ser integrados
num programa de monitorização de rotina para a contaminação interna (D > 1 mSv).
Contudo, deve notar-se que o valor do fator de decisão, relacionado com uma determi-
nada operação, embora tenha unidades de mSv, não representa a dose efetivamente rece-
bida pelo profissional ao realizar essa operação. Representa sim uma dose efetiva não real,
que pode decorrer da prática dessa operação. Como tal, com base na Equação 3.3, a maior
quantidade de atividade manipulada pelo profissional (A), o maior risco da operação ( f hs )
e quando são aplicadas medidas menos protetoras ( f ps ) levará a uma maior probabilidade
3. M ONITORIZAÇ ÃO DOS PROFISSIONAIS DE M EDICINA N UCLEAR – IAEA Safety Guide 47

de incorporação. A Tabela 3.6 mostra que as operações conducentes a fatores de decisão


maiores são aquelas em que o 99m Tc é administrado, tendo sido estimado um fator de de-
cisão de 55,4 mSv para o profissional que administra doses de 99m Tc. Estes valores maiores
estão principalmente relacionados com a maior frequência de execução das operações en-
volvendo 99m Tc, levando a um maior volume de atividade presente no local de trabalho,
quando comparado com os outros radionuclı́deos. Deve notar-se, no entanto, que o 99m Tc
é um radionuclı́deo de tempo de semi-vida curto (6,01 h), o que ajuda a diminuir os valo-
res. Os resultados mostram também que eluição e a manipulação/preparação de doses de
99m Tc são operações que apresentam maiores fatores de decisão, mesmo tendo medidas
de proteção superiores, pois são realizadas numa hotte cell. Na Figura 3.2 é mostrado o
fator de decisão obtido, D f , por profissional.

60
MEMN
FARM
50 ENF
FIS
Fator de Decisão, Df (mSv)

TMN

40

30

20

10

Figura 3.2: Fator de decisão, D f , por profissional.

3.3 Conclusões

Um dos objetivos deste trabalho era estudar a dosimetria interna dos profissionais do
SMN, expostos a radiações ionizantes, durante a sua atividade laboral. Este estudo sugere
que, de acordo com os critérios da IAEA, um programa de monitorização de rotina para
as exposições internas, com base na metodologia acima referida, deve ser implementado
para a maioria dos trabalhadores deste SMN.
48 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Com este estudo foi possı́vel concluir que o ENF, o FARM, o MEMN e os TMN devem
ser integrados num programa de monitorização de rotina para a contaminação interna.
Contudo, o guia da IAEA não menciona a periodicidade da monitorização a ser imple-
mentada, nem qual o fator D f a partir do qual esta está indicada. Este critério de peri-
odicidade deve depender do radionuclı́deo manuseado, bem como da sua forma fisico-
quı́mica, do seu comportamento in vivo, do tempo residente no organismo, do tempo
de absorção de cada órgão, da radiotoxicidade e do tempo de semi-vida do(s) radio-
nuclı́deo(s) envolvido(s).
É importante ter em conta, também, as especificidades das diferentes técnicas de me-
dida, disponı́veis para a monitorização interna. Segundo os critérios da IAEA, estes
profissionais deviam ser monitorizados, quer por métodos in vivo (por exemplo, dete-
tores/ contadores de corpo inteiro ou de órgão) quer também usando técnicas com con-
tadores in vitro (para amostras biológicas, como por exemplo: urina e fezes ou mesmo
amostras de ar expirado). Todos estes aspetos devem desempenhar um papel impor-
tante na monitorização da dosimetria interna e da otimização do programa de rotina de
monitorização em si.
Visto estas quatro categorias profissionais estarem sujeitas a doses mais elevadas, po-
derá ser necessária uma revisão dos protocolos de procedimento, proteção e otimização,
com o intuito de tentar reduzir ao máximo a exposição à radiação ionizante por parte des-
tes profissionais ou talvez programar uma maior rotatividade nas atividades profissionais
com a colaboração de mais elementos. Também a inclusão de proteção adicional e novas
medidas, durante estas operações de manipulação dos radionuclı́deos, pudessem reduzir
os riscos de incorporação e, consequentemente, os valores dos fatores de decisão.
Este estudo identificou, igualmente, as operações que implicam maiores riscos de con-
taminação, nomeadamente o manuseamento de 99m Tc em geral e a administração das do-
ses aos utentes. Assim, os objetivos inicialmente propostos para esta primeira seção foram
atingidos.
A realização deste estudo tornou-se uma mais-valia ao permitir congregar novos co-
nhecimentos e melhorar a compreensão da necessidade de monitorização interna dos pro-
fissionais. Este estudo permitiu, ainda, analisar uma futura revisão e otimização dos pro-
cedimentos relativos a toda a manipulação dos radionuclı́deos.
Capı́tulo 4

Avaliação e Comparação de dose em


TC num Serviço de Radiologia

O software DoseWatch™, na sua versão 3.2.3, foi instalado recentemente na Unidade


de Saúde em estudo, com o intuito de monitorizar alarmes de dose em TC. Ou seja, este
software permite ter acesso à informação sobre vários parâmetros importantes de todos os
equipamentos, desta Unidade de Saúde, que produzem radiação ionizante, entre elas a
dose administrada em cada tipo de exame de TC. Para este estudo apenas se analisaram
dados de dois equipamentos de TC. O Serviço de Imagiologia (SIMAG) possui um equi-
pamento de TC direcionado a exames de urgência, o TC GE Revolution EVO, e um outro
equipamento direcionado a exames de rotina, o TC CANON Aquilion CXL.
O software DoseWatch™ é capaz de recolher e analisar automaticamente todos os da-
dos de dose de radiação - em instalações com várias modalidades e equipamentos de
vários fabricantes - na sua rede, de forma a permitir conformidade e análise de diferentes
parâmetros. Assim sendo, este software facilita o acesso a uma ampla gama de dados para
permitir estratégias de baixa dose. Ao utilizar o sistema de comunicação e arquivamento
de imagens (PACS) e dos seus dispositivos médicos, o DoseWatch™ recolhe e relata a dose
de radiação e contraste para as várias modalidades e fabricantes.

4.1 Materiais - Equipamentos de TC e Software DoseWatch™

Os dados, dos exames de TC, utilizados no estudo* foram adquiridos em dois equipa-
mentos de TC diferentes instalados no SIMAG: TC da CANON, com um número máximo

* Prescritos através do software Glint.

49
50 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

de 64 cortes tomográficos adquiridos em simultâneo, e a TC da GE, comprada mais recen-


temente, com um número máximo de 128 cortes adquiridos em simultâneo. As Tabelas 4.1
e 4.2 apresentam algumas caracterı́sticas dos equipamentos utilizados.
Tabela 4.1: Caracterı́sticas do equipamento TC da marca CANON.

TC CANON
Fabricante Canon
Modelo Aquilion CXL
Ano de fabrico 10/2011
Data de instalação 2011
Manutenção Preventiva (fabricante) Periodicidade de 4 revisões/ano
Resolução espacial 0,5 mm
Valores de tensão permitidos 80 kV; 100 kV; 120 kV; 135 kV
Valores de corrente permitidos [50-500] mA

Tabela 4.2: Caracterı́sticas do equipamento TC da marca GE.

TC GE
Fabricante GE
Modelo Revolution EVO
Ano de fabrico 09/2020
Data de instalação 2021
Manutenção Preventiva (fabricante) Periodicidade de 3 revisões/ano
Resolução espacial 0,28 mm
Valores de tensão permitidos 80 kV; 100 kV; 120 kV; 140 kV
Valores de corrente permitidos [10-560] mA

Os dados utilizados neste estudo foram recolhidos através do software DoseWatch™. A


Tabela 4.3 apresenta algumas das caracterı́sticas do referido software, instalado no perı́odo
de recolha dos dados.
Tabela 4.3: Caracterı́sticas gerais do software DoseWatch™ utilizado no estudo.

Software DoseWatch™
Fabricante GE
Designação DoseWatch
Versão 3.2.3
Ano da versão 2020
Ano da instalação 2021

4.2 Metodologia

Efetuou-se um estudo analı́tico e retrospetivo dos exames de TC realizados nesta Uni-


dade de Saúde, entre janeiro de 2022 e agosto de 2022. Foi apenas considerado este
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 51

perı́odo em estudo, devido ao facto do software utilizado para esta análise não ter sido
instalado ao mesmo tempo nos dois equipamentos. Por essa razão foi selecionado este
perı́odo, o único perı́odo em comum e com uma amostra considerável para os dois equi-
pamentos.

4.2.1 População e Amostragem

A população é constituı́da por utentes adultos, que realizaram (pelo menos) um exame
de TC no SIMAG desta Unidade, com o intuito de rastreio, diagnóstico ou follow-up. A
seleção dos exames foi independente do requisitante (urgência, consulta externa, inter-
namento), da informação clı́nica ou do objetivo do exame. A amostra foi selecionada e
anonimizada, tendo sido obtida de acordo com o tipo de exame de TC pretendido para o
estudo.

4.2.2 Caracterização das variáveis e tipo de exames

Os dados selecionados foram obtidos a partir da informação acessı́vel na base de da-


dos integrada no DoseWatch™, para cada exame de TC realizado. Os exames foram sele-
cionados no intervalo de tempo pretendido, com filtração por tipo de exame de TC. As
variáveis para este estudo foram recolhidas por indivı́duo, sendo referentes a um determi-
nado tipo de estudo clı́nico. Ou seja, o mesmo utente poderá corresponder a dois ou mais
exames na amostra, uma vez que cada entrada na base de dados está associada apenas a
um tipo de exame e a uma data.
Todos os dados foram tratados estatisticamente a partir da informação extraı́da do
DoseWatch™, em formato Excel, e, posteriormente, agrupados por tipo de exame de TC.
A análise e o tratamento dos dados foram realizados no MATLAB® .
Os dados recolhidos foram categorizados em três grupos:

• tipo de exame;

• variáveis demográficas;

• variáveis/parâmetros dosimétricos.

O tipo de exame é definido consoante a região anatómica. Foram selecionados os tipos


de exames realizados em maior número no Serviço:

1. TC torácica (TC TX);


52 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

2. TC cranio-encefálica (TC CE);

3. TC abdómen superior (TC ABD);

4. TC coluna lombar (TC CL);

5. TC pescoço e partes moles (TC PPM);

6. TC pélvica (TC PELV);

7. TC seios perinasais (TC SP);

8. TC ouvidos (TC OUV).

As variáveis demográficas utilizadas para caracterizar a amostra foram:

• género (F, M);

• idade (≥ 18 anos).

As grandezas dosimétricas são fornecidas pelos equipamentos de TC e enviadas dire-


tamente para o DoseWatch™. Estas grandezas dosimétricas foram utilizadas para a compa-
ração com valores de NRD, estabelecidos por recomendações europeias, para cada tipo de
exame de TC, consoante os valores de:

• CTDIvol para cada exame;

• DLP total do exame.

4.2.3 Parâmetros técnicos de aquisição dos Protocolos de Exame

Os parâmetros técnicos para cada tipo de exame, no âmbito deste trabalho, foram os
standards, utilizados para o tipo de exame requerido, dependendo da TC de aquisição.
Foram recolhidos os protocolos de cada tipo de exame para cada um dos equipamentos,
TC CANON (rotina) e TC GE (urgência), conforme as Tabelas 4.4-4.11.

Tabela 4.4: Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC TX.

TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 80-135 mA 300 mA
Tempo de rotação 0,50 s 0,70 s
Tempo total 4,30 s 6,15 s
pitch 0,641 0,984
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 53

Tabela 4.5: Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC CL.

TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 400 mA 500 mA
Tempo de rotação 10 s 0,8s
Tempo total 16,6 s 5,41 s
pitch 0,641 0,984

Tabela 4.6: Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC ABD.

TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Large Large Body
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 135 mA 500 mA
Tempo de rotação 0,50 s 0,6 s
Tempo total 8,80 s 6,89 s
pitch 0,641 0,984

Tabela 4.7: Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC CE.

TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Large Large Body
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 180 mA 320 mA
Tempo de rotação 1,00 s 0,60 s
Tempo total 16,00 s 12,49 s
pitch 0,654 0,531

Tabela 4.8: Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC PPM.

TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Small Small Body
Tensão 120 kV 120 kV
Corrente 150 mA 400 mA
Tempo de rotação 0,75 s 0,80 s
Tempo total 12,5 s 7,13 s
pitch 0,654 0,531
54 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Tabela 4.9: Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC OUV.

TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Head Head
Tensão 120 kV 140 kV
Corrente 219 mA 140 mA
Tempo de rotação 1,50 s 1,00 s
Tempo total 22,70 s 7,48 s
pitch 0,688 0,531

Tabela 4.10: Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC PELV.

TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Large Large Body
Tensão 135 kV 120 kV
Corrente 250 mA 450 mA
Tempo de rotação 0,50 s 0,80 s
Tempo total 5,60 s 12,89 s
pitch 0,828 0,969

Tabela 4.11: Parâmetros técnicos de aquisição do protocolo do tipo TC SP.

TC CANON TC GE
Nº séries de aquisição 2 2
Tipo de aquisição Helicoidal Helicoidal
S FOV Head Head
Tensão 135 kV 120 kV
Corrente 78 mA 80 mA
Tempo de rotação 0,50 s 0,60 s
Tempo total 4,00 s 6,85 s
pitch 0,641 0,531

4.2.4 Procedimento para Caracterização e Comparação da amostra nos dois


equipamentos de TC

Para caracterizar a amostra em estudo, procurou verificar-se a existência de relações


entre cada tipo de exame selecionado, de acordo com os parâmetros demográficos, idade
aquando da realização do exame de TC e do género. Analisaram-se alterações destas
variáveis por equipamento de TC, com o intuito de estudar, em termos demográficos, a
população que faz exame em carácter de urgência (TC GE) ou de rotina/estadiamento
(TC CANON), para posteriormente se realizar uma melhor abordagem e caraterização.
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 55

4.2.5 Procedimento de Verificação e Comparação de CTDIvol e DLP baseado


nas Recomendações Europeias

Os valores das grandezas dosimétricas (CTDIvol e DLP) dos dois equipamentos de


TC em estudo foram obtidos através da base de dados, armazenada automaticamente
no software DoseWatch™ (Figura 4.1). A grande vantagem deste software é ser capaz de
detetar, automaticamente, exames em que os valores estão fora dos limites, produzindo
assim um alarme. Neste estudo apenas foram analisados os valores das grandezas do-
simétricas e comparados com os NRD (correspondentes ao valor do 3◦ quartil do CTDIvol
e DLP da totalidade dos estudos analisados) e comparados, de acordo com as orientações
relativas aos critérios de qualidade para exames de TC da Comissão Europeia – European
Guidelines on Quality Criteria for Computed Tomography EUR 16262 (CE, 1999) – onde são
feitas recomendações sobre os princı́pios gerais associados às boas práticas em exames de
TC [7].

Figura 4.1: Exemplo de imagem retirada da base de dados do software DoseWatch™.

Foram recolhidos os valores de CTDIvol e de DLP do exame, para o número de casos de


cada tipo de exame pretendido para o estudo. Comparou-se o valor do 3◦ quartil com os
valores oficiais recomendados pela Comissão Europeia (CE). Por fim, foi feita uma análise
comparativa entre os dois equipamentos de TC e as referências da CE.
56 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

4.2.6 Procedimento para cálculo da Dose Efetiva

A dose efetiva foi calculada de acordo com a Equação 2.24 (página 34), tendo como
referência o valor do 3◦ quartil do DLP para cada tipo de exame (correspondente ao NRD
local). Utilizaram-se os coeficientes de conversão EDLP , sugeridos nas recomendações
da Comissão Europeia, de acordo com a região anatómica estudada, como mostrado na
Tabela 2.6 [7].

4.3 Resultados e Discussão

No perı́odo de janeiro a agosto de 2022 foi realizado um total de 12 272 exames de TC,
considerando os oito tipos de exames selecionados para este estudo, nos dois equipamen-
tos de TC do SIMAG. Os critérios usados para esta seleção foram: o número de exames
nos dois equipamentos de TC no intervalo em que existia registo no software e os exames
que suscitaram maior interesse na sua análise, ou seja, os que apresentavam uma maior
discrepância de valores e eventuais dúvidas nos parâmetros de exame.
Nesta secção apresenta-se a caracterização da amostra, fazendo uma análise do número
total de exames por tipo de TC considerado. É também mostrada uma caracterização
da amostra através de variáveis demográficas, nomeadamente género e idade dos uten-
tes que realizaram as TC consideradas no estudo. É igualmente feita e analisada uma
comparação dos valores de CTDIvol e de DLP por tipo de exame nos dois equipamen-
tos de TC. Além da análise referida anteriormente, essas duas grandezas dosimétricas
(CTDIvol e DLP) são comparadas a nı́vel da adequação às recomendações europeias. Por
fim, é apresentado o cálculo da dose efetiva, através do 3◦ quartil dos valores de DLP de
cada tipo de exame considerado no estudo, usando os fatores de conversão sugeridos.

4.3.1 Número e Tipo de exames usados no estudo

Na Figura 4.2 é mostrado o número total de exames efetuados para cada tipo de exame
considerado, por equipamento de TC. É possı́vel verificar que o maior valor global, no
conjunto dos dois equipamentos de TC, foi para o TC CE, perfazendo um total de 6 560
exames. O exame que registou o maior número de casos foi também a TC CE com o
equipamento TC GE (n = 6 052), utilizada para exames de caráter de urgência. Este valor
era esperado devido à existência da “Via verde de AVC” nesta Unidade de Saúde e ao
grande volume de utentes politraumatizados e com cefaleias que dão entrada na urgência.
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 57

Pelo contrário, os exames de TC TX apresentam um maior número na TC CANON, com


2 364 exames, comparativamente com a TC GE, com 574 exames. Este resultado também
era esperado, uma vez que este tipo de exame faz parte do protocolo de estadiamento
oncológico, diagnóstico/evolução de patologias pulmonares e biópsias guiadas por TC.
Os exames de TC ABD apresentam maior número na TC GE (n = 1 066), em relação
ao mesmo tipo de exames na TC CANON (n = 557). As TC SP são em menor número
dado que normalmente correspondem a estudos para planeamento cirúrgico. O menor
número de exames realizado foi verificado na TC OUV, obtendo-se um total, nos dois
equipamentos de TC, de apenas 46 exames.

104
CANON
GE
Número total de TC

103

102

101
TX CL BD CE PP
M
OU
V LV SP
TC TC A TC PE TC
TC TC T C
TC

Figura 4.2: Distribuição do número de exames de TC pelo tipo de estudo: TC TX = TC


tórax, TC CL = TC coluna lombar, TC ABD = TC abdómen, TC CE = TC cranio-encefálica,
TC PPM = TC pescoço e partes moles, TC OUV= TC ouvidos, TC PELV =TC pélvica, TC
SP = TC seios perinasais.

4.3.2 Caracterização das Variáveis Demográficas

A amostra foi analisada no que concerne às caracterı́sticas demográficas género e


idade, aquando da realização do exame de TC.
58 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

4.3.2.1 Número de exames por Tipo e Género

Na totalidade da amostra, considerada neste estudo, 6 325 utentes pertenciam ao


género feminino e 5 947 eram indivı́duos do género masculino. Na Figura 4.3 é apre-
sentada a distribuição, em percentagem, da amostra por género.

60

50

40
Percentagem

30

20

10

0
Masculino Feminino

Figura 4.3: Distribuição, em percentagem, do número total de exames de TC realizados:


género feminino (51,5%) e género masculino (48,5%).

De forma a fazer uma breve comparação do número de exames realizados, em cada


tipo de TC, entre os dois géneros, na Figura 4.4 mostra-se o número total de exames re-
alizados, por tipo de exame e por género. Como é possı́vel verificar, a maior diferença
registada foi no exame TC CE, a nı́vel absoluto (n = 274). Relativamente à TC PPM um
maior número foi verificado no género masculino (n = 233; n = 132). Pelo contrário
nas TC PELV e TC SP são realizados mais exames no género feminino: obtendo-se n = 74
e n = 64 na TC PELV e n = 30 e n = 46 na TC SP. Respetivamente, as diferenças ob-
servadas podem ser justificadas tendo em conta que há maior prevalência de tumores da
cabeça e pescoço nos homens, sendo natural que haja um maior número de TC PPM no
género masculino. Pelo contrário, nas TC PELV e TC SP é registado um maior número
no género feminino, acreditando-se que esse facto se possa dever à ocorrência de tumores
ginecológicos nas mulheres e maior incidência de doenças dos seios perinasais relativa-
mente aos homens.
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 59

104
M
F

Número total de TC
103

102

101
TX CL BD CE PP
M
OU
V LV SP
TC TC A TC PE TC
TC TC TC TC

Figura 4.4: Distribuição do número de exames por género e por tipo de exame de TC.

4.3.2.2 Exames de TC por Faixa Etária

Neste estudo foram apenas considerados indivı́duos adultos, ou seja, com idade su-
perior a 18 anos à data da realização do exame. Os demais não foram tidos em conta, uma
vez que são considerados estudos pediátricos e não fazem parte do âmbito deste trabalho.
Na Figura 4.5 é apresentada a distribuição do número de exames de TC por faixa etária
(no global dos dois equipamentos de TC).

18-39
> 80

40-59

60-79

Figura 4.5: Distribuição do número de exames de TC por faixa etária.


60 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

A distribuição etária diferiu consoante o tipo de exame de TC estudado, como seria


de esperar. Na Figura 4.6 é mostrada a distribuição por idade, aquando da realização de
cada tipo de TC, e em cada equipamento. A Figura 4.6 (a) corresponde à TC CANON
(rotina) e a Figura 4.6 (b) corresponde à TC GE (urgência).
Constatou-se também que a média das medianas das idades dos utentes, que reali-
zam exames de carácter de rotina, é mais alta (61 anos) do que a média das medianas das
idades dos utentes que realizam exames de carácter de urgência (58 anos). Isto significa
que os utentes que realizam exames na TC GE (urgência) são mais jovens. Isto seria es-
perado, uma vez que geralmente é a população jovem a mais ativa e, por conseguinte, a
mais suscetı́vel a acidentes, que podem induzir traumas e lesões de caráter urgente. Já a
TC CANON (rotina) é mais utilizada para estadiamento de doenças oncológicas, o que é
mais preponderante na população de idade mais avançada.

100 100

90 90
Idade aquando da realização da TC

Idade aquando da realização da TC

80
80
70
70
60
60
50
50
40
40
30
30
20

20 10

10 0
E

V
LV

LV
TX

TX

L
SP

SP
C

C
C

U
AB

AB
PP

PP
PE

PE
O

O
TC

TC

TC

TC
TC

TC

TC

TC
TC

TC
TC

TC

TC

TC
TC

TC

(a) (b)

Figura 4.6: Distribuição por idade aquando da realização da TC por equipamento: (a) TC
CANON e (b) TC GE, para os vários tipos de estudo.

4.3.3 Comparação das grandezas dosimétricas CTDIvol e DLP para os dois equi-
pamentos de TC por tipo de exame, com as referências da CE

Nesta secção é apresentada uma análise estatı́stica de forma a fazer uma comparação
das grandezas dosimétricas CTDIvol e DLP, para os dois equipamentos de TC: TC CA-
NON e TC GE, relativamente a cada tipo de exame. Nesta análise foram ainda tidas em
conta as referências da CE para estas duas grandezas, para cada tipo de exame.
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 61

4.3.3.1 Conversão das referências CTDIw para CTDIvol

Nas recomendações da CE, os valores de referência aparecem em CTDIw . No entanto,


os valores fornecidos pelos equipamentos de TC do SIMAG em estudo são apresenta-
dos em CTDIvol . Neste sentido, os valores de referência de CTDIw foram convertidos
para CTDIvol , utilizando a Equação 2.22 (página 34). O valor de pitch, necessário para a
conversão, foi retirado de cada protocolo de exame, para cada equipamento de TC do SI-
MAG. São apresentados na Tabela 4.12 os valores de pitch, os valores de referência CTDIw
e o valor, calculado, correspondente em CTDIvol .

Tabela 4.12: Valores de referência calculados em CTDIvol , para os diferentes valores de


pitch de cada equipamento, com a referência de CTDIw .

Valores de pitch Valores CTDIw Valores CTDIvol


TC CANON
TC CE 0,654 60,0 91,7
TC TX 0,641 30,0 46,8
TC ABD 0,641 35,0 54,6
TC CL 0,641 35,0 54,6
TC PELV 0,828 35,0 42,3
TC SP 0,641 35,0 54,6
TC OUV 0,688 60,0 87,2
TC GE
TC CE 0,531 60,0 113,0
TC TX 0,984 30,0 30,5
TC ABD 0,984 35,0 35,5
TC CL 0,984 35,0 35,5
TC PELV 0,969 35,0 36,0
TC SP 0,531 35,0 65,9
TC OUV 0,531 60,0 113,0

4.3.3.2 TC TX

A Figura 4.7 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC TX, dos dois equipamentos de TC. Verifica-se que, relativamente aos valo-
res de CTDIvol , as medianas apresentam valores próximos, nomeadamente 17,6 mGy para
a TC CANON e 18,2 mGy para a TC GE. O valor do 3◦ quartil de CTDIvol é de 22,5 mGy
para a TC CANON e de 25,1 mGy para a TC GE. Estes valores encontram-se abaixo dos
valores de recomendação da CE, apresentados na Tabela 4.12, os quais diferem entre os
equipamentos de TC, uma vez que este valor está diretamente relacionado com o valor
de pitch utilizado em cada protocolo de cada equipamento TC.
62 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

300 6000
Referência CE Referência CE

250 5000

200 4000

DLP (mGy cm)


CTDIvol (mGy)

150 3000

100 2000

50 46,8 1000
30,5 650

0 0
Canon GE Canon GE

(a) (b)

Figura 4.7: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC TX com a referência da CE EUR 16262.

Relativamente ao valor de DLP total do exame, verifica-se que o valor do 3◦ quartil


da amostra para a TC CANON é de 1 844 mGy·cm e para a TC GE de 1 541 mGy·cm.
Estes valores são superiores em 184% e 137%, respetivamente, ao valor de DLP total do
exame para TC TX nas recomendações europeias (650 mGy·cm). Estes valores mais altos
podem corresponder, principalmente na TC GE, à contabilização de exames de pesquisa
de trombo-embolismo, onde, a partir do protocolo de TC TX, é feita também uma an-
giografia torácica, requerendo assim mais dose, que se soma a este protocolo de TC TX
simples.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.13 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e, ainda, a mediana dos valores de CTDIvol
e DLP relativos à TC TX.
Tabela 4.13: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC TX, nos dois equipamentos de TC.

CTDIvol (mGy) DLP (mGy·cm)


CANON GE CANON GE
25 14,0 12,9 697,5 749
Percentis 50 17,6 18,2 1 182,0 1 102
75 22,5 25,1 1 844,0 1 541

4.3.3.3 TC CL

A Figura 4.8 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC CL, dos dois equipamentos de TC. Verifica-se que, em ambos os casos, as
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 63

medianas apresentam valores próximos, nomeadamente 30,2 mGy para a TC CANON


e 31,0 mGy para a TC GE, no que respeita aos valores de CTDIvol e de 1 014 mGy·cm
para a TC CANON, e 1 104 mGy·cm para a TC GE, no que respeita aos valores de DLP.
É também verificado que apenas os valores do 3◦ quartil de CTDIvol da TC CANON se
encontra abaixo do valor de recomendação da CE (Tabela 4.12).
Em relação aos valores de DLP, os valores do 3◦ quartil são de 1 515 mGy·cm e 1 475
mGy·cm, respetivamente, para a TC CANON e a TC GE. Ambos os valores são superiores
aos valores das recomendações CE, em aproximadamente 47%. Esta diferença pode estar
associada a exames efetuados para controlo pós-operatório, em utentes com material de
artrodese. Na TC GE (urgência) a aquisição é realizada com o utente em plano duro, o
que altera a espessura e a dose dadas pelo aparelho.

100 4500
Referência CE Referência CE
90 4000

80
3500
70
3000
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)

60
54,6
2500
50
2000
40 35,5
1500
30
1000
20 800

10 500

0 0
Canon GE Canon GE

(a) (b)

Figura 4.8: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC CL com a referência da CE EUR 16262.

Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.14 são


apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e, ainda, a mediana dos valores de CTDIvol
e DLP relativos à TC CL.
Tabela 4.14: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC CL, nos dois equipamentos de TC.

CTDIvol (mGy) DLP (mGy·cm)


CANON GE CANON GE
25 24,4 30,2 773,7 920,4
Percentis 50 30,2 31,0 1 014,0 1 104,0
75 40,0 40,1 1 515,0 1 475,0
64 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

4.3.3.4 TC ABD

A Figura 4.9 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos exa-
mes de TC ABD, dos dois equipamentos de TC. Relativamente aos valores de CTDIvol , os
valores do 3◦ quartil obtidos são 26,4 mGy e 17,8 mGy, respetivamente para a TC CANON
e TC GE. Estes valores são, aproximadamente, 50% inferiores aos valores recomendados
pela CE (54,6 mGy e 35,5 mGy, respetivamente).
Em relação aos valores de DLP, a TC CANON apresentou valores significativamente
mais altos, sendo a maior diferença observada no 3◦ quartil (2 366 mGy·cm) enquanto
para a TC GE o valor foi 1 358 mGy·cm. Estes valores encontram-se, novamente, muito
acima das recomendações CE (780 mGy·cm), nomeadamente 67% e 43,8%. Estes valores
poderão estar relacionados com o protocolo.
Muitas vezes um utente dirige-se ao serviço para fazer um exame de estadiamento
oncológico (geralmente um exame de 3 fases: Simples, Portal e Tardia). Por vezes, o utente
faz aquisições de 3 regiões anatómicas dentro do mesmo protocolo: Tórax, Abdómen e
Pélvico, ficando a dose somada e considerado-se apenas no protocolo da aquisição inicial.

140 8000
Referência CE Referência CE

120 7000

6000
100
DLP (mGy cm)

5000
CTDIvol (mGy)

80
4000
60 54,6
3000

40 35,5
2000

20 1000 780

0 0
Canon GE Canon GE

(a) (b)

Figura 4.9: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC ABD com a referência da CE EUR 16262.

Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.15 são


apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC ABD.
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 65

Tabela 4.15: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC ABD, nos dois equipamentos de TC.

CTDIvol (mGy) DLP (mGy·cm)


CANON GE CANON GE
25 15,9 11,0 1 052 613
Percentis 50 21,8 13,0 1 532 928
75 26,4 17,8 2 366 1 358

4.3.3.5 TC CE

A Figura 4.10 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC CE, dos dois equipamentos de TC.

450 6000
Referência CE Referência CE
400
5000
350

300 4000
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)

250
3000
200

150 2000
113,0
100 91,7
1050
1000
50

0 0
Canon GE Canon GE

(a) (b)

Figura 4.10: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC CE com a referência da CE EUR 16262.

Como se observa na Figura 4.10, nos exames de TC CE os valores do 3◦ quartil de


CTDIvol são 56,40 mGy para a TC CANON e 61,02 mGy para a TC GE, encontrando-se
em ambos os casos abaixo da recomendação da CE. Em relação aos valores de DLP, o 3◦
quartil obtido é de 1 267 mGy·cm para a TC CANON e 1 342 mGy·cm para a TC GE. Estes
valores são superiores à recomendação da CE (1 050 mGy·cm) em 17% e 22%, respetiva-
mente. Comparativamente à diferença observada no caso das TC das secções anteriores,
no caso da TC CE, os valores do 3◦ quartil de DLP obtidos encontram-se mais próximos
dos da recomendação. No entanto, outliers também são observados, principalmente na
TC GE (urgência), que, após análise e discussão com os técnicos de execução, se verificou
que na TC GE, muitas vezes com o carácter de urgência, podem fazer no mesmo protocolo
TC CE noutra região anatómica, como por exemplo coluna cervical, com intuito de dar
uma resposta mais rápida e facultar informação para as várias modalidades médicas nos
66 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

casos de politrauma. Foi ainda indicado que esta TC GE (urgência) tem outros protocolos
base que são, no entanto, feitos com o protocolo de TC CE simples, como a “via verde de
AVC”, onde, perante os achados no exame simples, é muitas vezes associado à aquisição
de angiografia dos vasos do pescoço e vasos intra-craneanos, somando assim mais dose
ao exame.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.16 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC CE.
Tabela 4.16: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC CE, nos dois equipamentos de TC.

CTDIvol (mGy) DLP (mGy·cm)


CANON GE CANON GE
25 56,40 55,13 1 062 1 160
Percentis 50 56,40 59,33 1 119 1 248
75 56,40 61,02 1 209 1 342

4.3.3.6 TC PPM

A Figura 4.11 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC PPM, dos dois equipamentos de TC.

50 4500
Referência Referência
45 4000

40 3500

35 3000
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)

30 2500

25 2000
23,0

20 1500

15 1000

523
10 500

5 0
Canon GE Canon GE

(a) (b)

Figura 4.11: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC PPM. As referências utilizadas foram retiradas de [63].

Nos exames de TC PPM, nas duas TC, CANON e GE, os valores apresentados para o
3◦ quartil do CTDIvol correspondem a 27,4 mGy para a TC CANON e a 18,45 mGy para
a TC GE. Para estes valores, de CTDIvol de TC PPM, não foram encontradas referências
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 67

bibliográficas, os artigos consultados faziam aproximações a outras regiões anatómicas.


Para o estudo apresentado foram consideradas as referências de TC CE. Em relação aos
valores de DLP, a TC CANON apresenta um valor superior (1 787mGy·cm) para o 3◦
quartil, enquanto a TC GE apresenta 1 011 mGy·cm. Ambos os valores se encontram
acima da referência considerada em [63], com um maior impacto na TC CANON, em que
o valor obtido é 240% superior à referência.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.17 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC PPM.
Tabela 4.17: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC PPM, nos dois equipamentos de TC.

CTDIvol (mGy) DLP (mGy·cm)


CANON GE CANON GE
25 17,02 16,16 951,1 462,1
Percentis 50 21,00 16,84 1 297,0 776,0
75 27,40 18,45 1 787,0 1 011,0

4.3.3.7 TC OUV

A Figura 4.12 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC OUV, dos dois equipamentos de TC.

120 1500
Referência CE 113,0 Referência CE

110

100
1050
1000
DLP (mGy cm)

90
CTDIvol (mGy)

87,2

80

70
500

60

50

40 0
Canon GE Canon GE

(a) (b)

Figura 4.12: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC OUV com a referência da CE EUR 16262.

Como se observa na Figura 4.12, nos exames de TC OUV os valores do 3◦ quartil de


CTDIvol são 53,1 mGy para a TC CANON e a 66,7 mGy para a TC GE, valores 39% e 41%
68 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

inferiores à referência CE. Em relação aos valores de DLP, verifica-se que ambos os valores
do 3◦ quartil se encontram abaixo da referência CE.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.18 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC OUV.
Tabela 4.18: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC OUV, nos dois equipamentos de TC.

CTDIvol (mGy) DLP (mGy·cm)


CANON GE CANON GE
25 53,1 66,2 394,6 627,9
Percentis 50 53,1 66,7 439,0 749,1
75 53,1 66,7 468,0 1 033,0

4.3.3.8 TC PELV

A Figura 4.13 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC PELV, dos dois equipamentos de TC.

150 4500
Referência CE Referência CE
4000

3500

100 3000
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)

2500

2000

50 1500
42,3
36,0
1000
570
500

0 0
Canon GE Canon GE

(a) (b)

Figura 4.13: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC PELV com a referência da CE EUR 16262.

Nos exames de TC PELV, nos dois equipamentos de TC, CANON e GE, os valores do
3◦ quartil de CTDIvol são 29,0 mGy para a TC CANON e 18,4 mGy para os exames da TC
GE, valores abaixo das referências. Em relação aos valores de DLP, é a TC CANON a que
apresenta o valor mais alto do 3◦ quartil (1 594 mGy·cm). Assim como na TC ABD e na
TC TX, neste tipo de TC muitos dos estudos realizados são de exames para estadiamento
oncológico, onde, no mesmo varrimento, são integradas outras regiões anatómicas (como
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 69

por exemplo: Tórax + Abdómen + Pélvis) em diversas fases (Simples, Arterial e Portal) e,
consequentemente, a dose fica só contabilizada no protocolo inicial.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.19 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC PELV.
Tabela 4.19: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC PELV, nos dois equipamentos de TC.

CTDIvol (mGy) DLP (mGy·cm)


CANON GE CANON GE
25 18,0 11,5 635,3 474,5
Percentis 50 23,7 13,7 1 089,0 723,4
75 29,0 18,4 1 594,0 1 123,0

4.3.3.9 TC SP

A Figura 4.14 apresenta a distribuição em quartis dos valores de CTDIvol e DLP nos
exames de TC SP, dos dois equipamentos de TC.

70 1400
Referência CE 65,9 Referência CE

1200
60
54,6
1000
50
DLP (mGy cm)
CTDIvol (mGy)

800
40
600

30
400

20 190
200

10 0
Canon GE Canon GE

(a) (b)

Figura 4.14: Distribuição em quartis dos valores de: (a) CTDIvol e (b) DLP, registados nos
exames de TC SP com a referência da CE EUR 16262.

Nos exames de TC SP os valores obtidos de CTDIvol do 3◦ quartil são 14,4 mGy para
a TC CANON e de 54,0 mGy para a TC GE. Estes valores são muito diferentes, podendo
esta diferença estar relacionada com o número total da amostra que é muito menor na
TC GE (como apresentado na Figura 4.2, página 57). O mesmo sucede em relação aos
valores de DLP, sendo a TC GE a que apresenta valores mais elevados. A razão para esta
diferença poderá estar relacionada com a realização dos protocolos de neuronavegação
70 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

para abordagem cirúrgica na TC GE, o que implica incluir uma grande área anatómica
com cortes muito finos e, assim, contabilizar mais dose no exame referido.
Para melhor perceção e comparação da distribuição em quartis, na Tabela 4.20 são
apresentados os valores do 1◦ e do 3◦ quartis e a mediana dos valores de CTDIvol e DLP
relativos à TC SP.
Tabela 4.20: Distribuição em percentis dos valores de CTDIvol e DLP para os exames de
TC SP, nos dois equipamentos de TC.

CTDIvol (mGy) DLP (mGy·cm)


CANON GE CANON GE
25 14,40 15,88 223,5 238,6
Percentis 50 14,40 16,10 232,2 292,2
75 14,40 54,00 250,2 970,2

4.3.4 Cálculo dos NRD Locais

Os NRD locais correspondem aos valores do 3◦ quartil do CTDIvol (mGy) e do DLP


(mGy·cm). Na Tabela 4.21 são mostrados os valores de NRD locais obtidos neste estudo.

Tabela 4.21: NRD locais.

3◦ Q CTDIvol 3◦ Q DLP (mGy·cm)


TC CANON GE CANON GE
TC TX 22,5 25,1 1844 1541
TC CL 40,0 40,0 1515 1475
TC ABD 26,4 17,8 2366 1358
TC CE 56,4 61,0 1209 1342
TC PPM 27,4 18,5 1787 1011
TC OUV 53,1 66,7 468 1033
TC PELV 28,9 18,4 1594 1123
TC SP 14,4 54,0 250 970

4.3.5 Cálculo da Dose Efetiva

A dose efetiva (mSv) foi calculada através do 3◦ quartil do DLP dos protocolos standard
dos tipos de exame em estudo, dos valores para os dois equipamentos de TC, multipli-
cando pelo fator de conversão EDLP , como referido anteriormente. Para a dose efetiva, só
foi possı́vel o cálculo para as regiões anatómicas referidas na Tabela 4.22, devido à falta
de referências para o valor de conversão EDLP , para as restantes regiões.
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 71

Tabela 4.22: Cálculo da dose efetiva através do 3◦ quartil do DLP adquirido.

Região do EDLP 3◦ Q DLP (mGy·cm) E (mSv) REF1 REF2


Organismo (mSv·mGy−1 cm−1 ) CANON GE CANON GE (mSv) (mSv)
Crânio 0,0023 1 209 1 342 2,78 3,09 2,42 2,04
Pescoço 0,0054 1 787 1 011 9,65 5,46 – –
Tórax 0,0170 1 844 1 541 31,35 26,20 11,05 4,93
Abdómen 0,0150 2 366 1 358 35,49 20,37 12,00 6,94
Pélvis 0,0190 1 594 1 123 30,29 21,34 10,83 13,58
1 CE
2 Dose Datamed 2 – Portugal

Da análise da Tabela 4.22 verificou-se que os tipos de exame com menor dose efetiva
resultado, da conversão do valor do 3◦ quartil do DLP, são os exames de TC CE, sendo
este o tipo de exame onde se registou a menor dose efetiva, nos dois equipamentos de
TC em estudo. A TC ABD foi o tipo de exame que registou maior dose efetiva na TC
CANON, o que poderá estar associado a exames triplos (Tórax + Abdómen + Pélvico),
como referido e discutido na própria análise do cálculo do 3◦ quartil do CTDIvol e DLP.
Verificou-se que os valores de dose efetiva deste trabalho, quando comparados com os
dados nacionais mais recentes conhecidos (Dose Datamed 2 Portugal e com as referências
CE) apresentam uma superioridade sistemática para a TC ABD (1,11 vezes superior), a
TC T PELV (1,65 vezes superior), a TC TX (1,73 vezes superior) e para a TC CE (3,77 vezes
superior).
Desta análise de dose efetiva observa-se também que os valores são superiores na TC
CANON, o que faz sentido para os tipos de exames e objectivo em estudo nesta TC, como
discutido anteriormente.

4.4 Conclusões

Este trabalho propôs-se realizar um estudo das práticas efetuadas para a realização de
exames de Tomografia Computorizada (TC) em adultos no SIMAG, com vista à otimização
dos procedimentos técnicos e numa perspetiva comparativa de parâmetros dosimétricos
em cada um dos seus equipamentos de TC, através de uma análise das grandezas do-
simétricas CTDIvol e DLP, com base nas recomendações europeias.
Neste estudo foi utilizado o software Dosewacth™, instalado recentemente no SIMAG
e ainda numa fase experimental, para recolher todos os dados e informações relevantes
para o presente estudo. Tentou, ainda, fazer-se um teste e análise às funcionalidades do
referido software.
72 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

Da análise dos resultados obtidos, observou-se que o NRD local de CTDIvol , que ca-
racteriza a técnica de um exame TC em si, tem um valor inferior ao recomendado, em
todos os tipos de TC analisados. Deste modo, poder-se-á concluir que os parâmetros
técnicos utilizados foram adequados aos tipos de estudo por TC. No entanto, como os
NRD locais de DLP, que caracterizam a exposição do utente, foram muito superiores às
recomendações, segundo a definição de conversão de CTDIvol em DLP, poderá concluir-
se que os utentes foram irradiados com um comprimento de aquisição muito superior ao
esperado. Tal poderá ter ocorrido devido a vários pontos que se irão discutir a seguir. Um
deles pode prender-se ao facto de que pode estar a ser determinado, pelo técnico de radi-
ologia, um comprimento de aquisição excessivamente grande. Poderá, ainda, ser devido
a caracterı́sticas do próprio utente e pode ser necessário alterar a dimensão da aquisição.
O protocolo poderá não estar bem definido, a nı́vel de dimensão do comprimento para o
tipo de exame em estudo, ou os protocolos de aquisição para um exame simples, estarem
a ser usados para exames duplos ou triplos, como anteriormente referido na discussão.
Em todos os exames de TC ABD do protocolo standard foram registados valores CTDIvol
inferiores aos recomendados pela CE. Os valores de NRD (correspondentes ao 3◦ quar-
til) de DLP para a TC GE encontram-se muito próximos do valor recomendado. No en-
tanto, constatou-se a existência de alguns casos com valores superiores às recomendações
CE, possivelmente devido a comprimentos de aquisição superiores. Tal facto poderá ser
aceitável, relativamente à definição dos NRD, pois considera a possibilidade de variações
demográficas ou de práticas ajustadas a um objetivo clı́nico, como referido na discussão.
Por exemplo, em situações de carácter de urgência, em que um utente politraumatizado
tem de fazer um exame mais abrangente de outras regiões anatómicas, por vezes é utili-
zado apenas um protocolo para dar resposta mais rápida. No entanto, a dose adminis-
trada fica apenas associada a um só protocolo. Ainda assim, numa perspetiva de trabalho
futuro, pode ser estudada a temática deste trabalho associada à análise da conformidade
das estruturas anatómicas de referência para o inı́cio e terminus de cada tipo de exame.
Como não existem valores de referência para o CTDIvol e DLP especı́ficos para a TC
OUV, as recomendações europeias referem os valores da TC CE. No entanto, anatomica-
mente, o comprimento de aquisição necessário para um exame de TC CE é muito superior
ao comprimento de aquisição de uma TC OUV. Assim, o valor do 3◦ quartil de CTDIvol e
DLP pode ser mais reduzido do que o referenciado.
Para os exames de TC CE os valores registados neste estudo de NRD locais para
4. AVALIAÇ ÃO E C OMPARAÇ ÃO DE DOSE EM TC NUM S ERVIÇO DE R ADIOLOGIA 73

CTDIvol foram inferiores às recomendações. Em relação os valores NRD locais de DLP,
para todos os oito tipos de exames TC em estudo, da TC CE foram os mais próximos dos
valores de referência, apesar de se verificarem alguns outliers, principalmente na TC GE
(urgência), devido a fatores já apresentados anteriormente no ponto 4.3.3.5 (página 65).
Para os exames TC TX, TC ABD e TC PELV, constata-se que todos os NRD locais
de DLP estão acima das recomendações da CE. No entanto, consultando o PACS e o
Glint consegue perceber-se que havia discrepâncias entre a prescrição, o planeamento e
a apresentação do resultado. Isto é, por exemplo: a um utente em carácter de urgência
na TC GE são prescritos, no Glint, 3 tipos de exames TC ABD, TC PELV, TC TX, mas ao
realizar e selecionar o utente, o técnico apenas abre uma prescrição e realiza os 3 exa-
mes, apenas com um protocolo. O software Dosewatch™ em estudo associa a dose a um
só exame, o que leva a que se tenham estes resultados de NRD locais muito superiores
aos recomendados e esperados. Outra questão, que também pode contribuir para se ob-
terem estes valores mais altos e que não é contabilizado pelo referido software, é o facto
de cada vez mais ser usada a telemedicina, para um maior número de exames. Tal faz
com que um exame que precise de ser observado e relatado fora das instalações hospi-
talares, muitas vezes leve à prescrição de um pedido com administração de contraste e
áreas anatómicas mais abrangentes, o que implica múltiplas aquisições e maior dose para
o exame prescrito.
Capı́tulo 5

Conclusões e Perspetivas Futuras

O principal objetivo desta dissertação foi estudar as condições de Proteção e Segurança


Radiológica numa Unidade de Saúde da RAM, tendo como base duas vertentes: a ver-
tente ocupacional, em que foi avaliada a dosimetria interna de profissionais expostos
num Serviço de Medicina Nuclear e posterior decisão de monitorização interna; e uma
segunda vertente que incidiu na avaliação de dose de utentes do SIMAG, comparando
dois equipamentos de TC distintos desta Unidade.
Da avaliação da necessidade de dosimetria interna dos profissionais expostos no SMN,
determinou-se a importância da monitorização interna de determinados profissionais, no-
meadamente aqueles cujas funções estão relacionadas com a manipulação e administração
de radiofármacos.
A secção do estudo de dosimetria interna demonstrou que o ENF, o FARM o MEMN,
apresentam um fator de decisão superior, comparativamente com os restantes profissi-
onais ocupacionalmente expostos. Isto ocorre visto que são estes os profissionais que
estão mais diretamente ligados à administração e manipulação dos radiofármacos, es-
tando, por isso, mais suscetı́veis a contaminações internas. Estas conclusões realçam a
importância da revisão dos procedimentos que envolvem manipulação e administração
de radiofármacos, já implementadas na prática clı́nica, de acordo com os resultados deste
estudo e da sua otimização.
Serão necessários mais estudos no futuro, para se perceberem e adotarem as melho-
res estratégias, para que estes valores calculados de fatores de decisão, relativamente à
dosimetria interna, diminuam para as categorias profissionais acima mencionadas. Seria
interessante tentar implementar uma maior rotatividade nas tarefas e até dos próprios
colaboradores ou conseguir mesmo mais colaboradores. A aquisição de mais barreiras

75
76 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

de proteção poderá ser também importante e uma mais-valia para assegurar uma maior
proteção a estes profissionais. Outros estudos poderão ser realizados, tais como a análise
da dosimetria individual externa e a monitorização de áreas controladas, que está também
a ser efetuada no SMN em estudo, e comparar com os resultados obtidos neste trabalho.
É de salientar que este estudo foi realizado num SMN relativamente pequeno e com
poucos profissionais. Poderia ser interessante efetuar a comparação com estudos já efe-
tuados em SMN maiores em Portugal, que utilizem diferentes radionuclı́deos e outras
técnicas, para tentar perceber que estratégias adotam para a sua organização e que técnicas
de otimização poderão ser implementadas a um nı́vel mais alargado.
Na segunda vertente do trabalho, foi feita uma análise inicial da amostra, que revelou
uma discrepância no número de exames totais realizados em cada equipamento de TC, em
alguns tipos de exames, como por exemplo na TC CE. Esta discrepância está relacionada
com o facto de um dos equipamentos de TC, a TC CANON, ser vocacionado para exames
de rotina, enquanto o outro está vocacionado para exames de urgência (a TC GE), que
também dá apoio à Unidade de AVC. Foi igualmente observada uma diferença no tipo de
exames realizados de acordo com o género F/M, a qual ocorre em alguns tipos de exames,
tendo em conta a maior prevalência de determinadas patologias de acordo com o género.
Além do mais, o estudo demonstrou que a maior parte dos exames são realizados em
utentes com idade mais avançada. Comparando ainda aspetos demográficos, em relação
a ambos os equipamentos de TC, a TC GE (urgência) apresenta uma média de idades
inferior, isto porque situações de urgência ocorrem geralmente mais na população mais
ativa, enquanto na TC de rotina são estudados utentes com idades mais avançadas, pois
normalmente são quem apresenta patologias devido ao envelhecimento e realizam mais
exames para estadiamento de doenças oncológicas.
A maior ênfase desta vertente do trabalho prende-se com a comparação das grandezas
dosimétricas CTDIvol e DLP relativas a oito tipos de exames de TC efetuados no SIMAG:
observou-se que os valores de CTDIvol e DLP nos dois equipamentos de TC são diferentes,
tendo a TC CANON valores mais altos. Para ambos os equipamentos de TC do estudo,
relativamente aos oito tipos de exames, os valores de DLP estão acima dos recomendados
pela CE. Consequentemente, os valores de NRD locais (correspondendo ao 3◦ quartil) são
mais altos do que o esperado.
Entre outras questões, já analisadas e discutidas no Capı́tulo 4, outra perspetiva im-
portante a abordar é o software DoseWatch™, usado ainda em modo experimental, que
5. C ONCLUS ÕES E P ERSPETIVAS F UTURAS 77

revelou a necessidade de otimização, padronização e integração do software com os proto-


colos dos equipamentos utilizados e, consequentemente, a uma alteração no modo de
alarmes que este produz. Observam-se outliers em todos os tipos de exames analisa-
dos: quanto maiores são as amostras, mais outliers apresentam e vice-versa. Estes outliers
podem ser devidos ao somatório que o software DoseWatch™ realiza para determinados
utentes que realizaram vários exames, mas que são contabilizados apenas num protocolo,
como já foi referido anteriormente. Assim, alguns valores exorbitantes são apresentados
como outliers, não sendo possı́vel separar ou distinguir este tipo de procedimento/proto-
colo neste software, pois os valores de dose ficam associados a um só exame.
Para estudos futuros seria de interesse aprofundar as capacidades do software Do-
seWatch™, nomeadamente a integração com uniformização de protocolos de todos os
equipamentos que produzem radiação ionizante nesta Unidade de Saúde. A falta de
padronização dos softwares e protocolos utilizados em cada equipamento foi um dos mai-
ores problemas encontrados ao longo deste trabalho. Isto é, existem diversos softwares
utilizados pelos profissionais de saúde que, para que todo o processo clı́nico funcione,
têm de estar integrados, padronizados e utilizar a mesma linguagem. No SIMAG existe
um sistema onde fica gravado o pedido de prescrição do exame, o Glint. Existe ainda
o software do próprio equipamento, onde é realizado e gravado o exame, e que no final
também apresenta um registo de dose. Por fim, está em implementação o software Do-
seWatch™, para analisar essa mesma dose administrada. Assim sendo, é fundamental
uma análise profunda de todos estes sistemas, dos protocolos usados para a prescrição
médica, dos protocolos e parâmetros de realização do exame e da posterior análise de
dados e parâmetros dosimétricos no DoseWatch™.
É também necessário uniformizar os protocolos utilizados nos equipamentos, para
que sejam o mais uniformes e standard possı́vel, de modo a poder realizar protocolos mais
simples como uma TC ABD e não uma TC ABD+PELV, por exemplo. Desta forma, seria
possı́vel a análise de dose de um exame de TC ABD simples e não da dose do somatório de
dois tipos de exame, podendo conseguir-se uma melhor comparação com as referências
europeias.
Com intuito de, no futuro, melhorar este trabalho, após uniformização dos protocolos
técnicos de ambos os equipamentos, ter-se-ia de selecionar vários tipos de exames e fazer
uma triagem no software Glint: primeiro confirmar a prescrição do tipo de exame e depois
efetuar uma correspondente verificação no PACS do exame e relatório de dose, para só
78 E STUDO DE P ROTEÇ ÃO E S EGURANÇA R ADIOL ÓGICA EM PROFISSIONAIS E UTENTES DE UMA U NIDADE DE S A ÚDE

depois confirmar no DoseWatch™. Obviamente que para este novo estudo, a amostragem
de exames teria de ser muito menor, porque não haveria ferramentas automáticas para
facilitar esta análise. No entanto, seria uma análise mais fidedigna para comparação com
as referências europeias.
Um objetivo importante seria detetar as discrepâncias, tentar estabelecer uma lingua-
gem comum entre a prescrição, planeamento e apresentação de resultados.
Apesar das limitações referidas, os resultados deste trabalho permitiram o cálculo dos
NRD locais para os dois equipamentos de TC existentes, tendo ficado com uma perceção
do que terá de se melhorar e otimizar nas práticas locais e como evoluir para atingir esse
objetivo.
No futuro, seria necessário elaborar um estudo que avaliasse as eventuais alterações
nas práticas locais, de forma a medir o impacto da otimização dos protocolos dos exames,
bem como para calcular novos NRD locais. De forma complementar, seria uma mais-valia
a elaboração de um estudo que direcionasse os protocolos técnicos para objetivos clı́nicos
especı́ficos, onde fosse possı́vel analisar a adequação das grandezas dosimétricas a um
objetivo clı́nico, tendo como referência as recomendações da Comissão Europeia.
Após se terem identificado as elevadas doses, a equipa do SIMAG foi alertada no sen-
tido de tomar medidas para tentar realizar o ajuste dos parâmetros técnicos, sempre que
possı́vel. Dadas as caraterı́sticas apontadas às prescrições, como por exemplo o grande
número de exames em telemedicina, uma análise mais pormenorizada poderia ajudar na
questão da uniformização dos protocolos e prescrição.
Espera-se que os resultados obtidos e conclusões delineadas neste trabalho possam
contribuir para a melhoria das práticas locais e para a proteção radiológica dos profis-
sionais. A otimização das práticas, no que se refere ao ajuste de parâmetros técnicos
de aquisição, deverá estar associada a um sistema duplo de validação da qualidade das
imagens: com base numa avaliação visual dependente de observadores treinados (obvi-
amente mais subjetiva) e num software dedicado de avaliação automática dos diversos
parâmetros que definem a qualidade de imagem.
Apesar das limitações, o trabalho presente poderá ter algum potencial para conseguir
levar a uma melhoria das práticas pela Equipa, num contexto de Proteção Radiológica,
sensibilizando e responsabilizando as chefias locais. Tal como foi sugerido atrás, para
avaliar a alteração das referidas práticas, seria importante elaborar um trabalho similar
ao efetuado neste trabalho, após a implementação de protocolos otimizados.
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