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São com essas exatas palavras que o narrador começa uma trama, cheia
de emoção, verdades, contradições e fôlego até o final do romance.
Saber que o protagonista vai morrer é só o início da empreitada do leitor.
Santiago Nasar, jovem, detentor de posses e filho de imigrantes árabes, é acusado
de ter desonrado Ângela Vicário. A própria confessa aos seus irmãos Pedro e Pablo
Vicário, que Nasar fora o responsável por tal feito. Ângela é devolvida na sua noite
de núpcias, quando o seu marido, Bayardo San Roman, filho de general
congratulado em guerras, descobre que a mulher não era virgem.
Do momento em que a noiva é devolvida até a realização do homicídio,
passam-se quatro horas de uma angustiante comunicação entre os moradores do
vilarejo caribenho, que por falta de atitudes e desencontros nos diálogos, não
conseguem evitar a morte anunciada.
Santiago é assassinado com 14 facadas. Sua mãe, atordoada com a
história, acaba fechando a porta da casa e não percebe que o filho estava do lado
de fora; lá mesmo ele foi retalhado como um porco. O crime aconteceu no dia em
que o bispo veio visitar a cidade. Nasar morrera de branco, porque era a veste que
havia escolhido para ir cumprimentar a autoridade da igreja.
O colombiano García Márquez é muito feliz na construção do romance. Ele
cria a figura do “narrador-testemunha”, cujo nome em nenhum momento é revelado,
mas o leitor compreende que se trata de um amigo de Nasar e que a relação vai
além dessa amizade, quando em páginas posteriores descobre-se que a mãe do
narrador é madrinha de Santiago.
Márquez deu privilégio ao aspecto temporal, circundando entre passado e
presente e mostrando a incursão “espaço-tempo-memória”. Durante anos o
narrador se dedicou a apuração dos fatos, a coleta dos depoimentos, confrontando
a memória dos personagens com a sua memória, juntando peças importantes num
árduo trabalho de campo, galgando assim um amplo conhecimento sobre o
ocorrido. Ele estabelece três décadas até conclusão da ouvida das testemunhas.
No romance, quase todos os habitantes do lugarejo onde vive Santiago,
ficam sabendo do homicídio premeditado algumas horas antes (daí o título), mas
não fazem nada de concreto para proteger a vítima ou impedir os algozes.
O objetivo da obra é o de criticar a mentalidade primitiva que permite que
um assassínio premeditado tenha uma pena irrisória – independentemente da sua
execução ter ou não sido pressionada pelo costume – e que uma jovem seja
violentamente penalizada por não ter o comportamento sexual esperado para a
época.
O autor García Márquez em Crônica de uma morte anunciada, apesar de
relatar os fatos de forma objetiva e sem grandes divagações, não deixa de recorrer
aos sonhos premonitórios e aos presságios, como que para reforçar o caráter
intuitivo quer do narrador/autor, quer das restantes personagens. O ambiente é
mostrado como potenciador das emoções, sugerindo determinados estados de
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alma que, associados a uma capacidade de observação e de ligação de detalhes
muito superior à média, se manifesta numa capacidade, também muito superior, de
entendimento que muitos tendem a classificar como algo de sobrenatural ou
mediúnico.
É deste modo que o autor descreve o dia da morte de Santiago como um
dia em que fazia um tempo fúnebre e que no preciso instante da desgraça caía uma
chuva miúda como a que Santiago Nasar vira no bosque, no sonho – chuva que
era, na realidade, excremento de pássaro (segundo o autor, sonhar com pássaros
é sinal aziago). Também a irmã do narrador – Margot – afirma que sentiu passar
um anjo quando Santiago falou acerca do seu próprio casamento, fato que não se
chegou a realizar.
Outro sinal de presença do incrível é a forma que García Márquez dá ao
remorso como punição para o crime e a negligência. O cheiro de Santiago
moribundo impregna-se de tal forma nas narinas daqueles que, de alguma forma
tiveram o mais leve resquício de culpa, direta ou indireta, na sua morte atacando-
lhes as consciências como o mais cruel dos fantasmas. O aguilhão do remorso cai,
sobretudo, nos dois assassinos durante o relativamente curto espaço de tempo que
passam na cadeia pagando pelo crime, perdendo, inclusive, a faculdade de
controlar o próprio corpo, mas sempre sem perder a lucidez.
Apesar de tudo, é Bayardo quem, para a maioria da população, é visto
como a maior vítima.
Para recontruir a estória da morte de Santiago Nasar, García Márquez
recorreu não só à memória mas também a entrevista das pessoas envolvidas –
aqueles que estavam, na altura, mais próximos não apenas da vítima mas também
dos assassinos, tentando compor o quebra cabeças constituído pelos estilhaços da
memória.
A partir da morte de Santiago Nasar, são desvendadas as perspectivas e
as histórias de algumas pessoas que de uma forma ou de outra, estiveram ligadas
à sua morte. Pois, como já citado, a morte de Santiago, foi anunciada por toda a
vila de Riohacha, apenas ele, permaneceu na ignorância até ao momento em que
foi esfaqueado à porta de casa.
O autor Gabriel García Márquez retrocede e avança no tempo, fazendo do
narrador participante o cronista da tal morte anunciada. Desde o talhante à
empregada do café. Do padre ao delegado da polícia, todos sabiam muito antes de
morrer, que Santiago tinha Pedro e Pablo à sua espera, com as facas afiadas dos
porcos.
No entanto, por medo, receio, covardia, comodismo, ou mero sadismo,
ninguém avisou Santiago, preferindo antes observá-lo, inocente, ingênuo,
caminhando impávido e sereno para a morte.
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2. ANOS DE INVESTIGAÇÃO
Com a justiça vem a dívida. É preciso sanar aquele débito, fazer algo posterior
que possa suplantar um pouco o que não foi feito. O dever de memória traz o
sentimento de dever a um outro, de ter que efetuar o pagamento. A memória
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como experiência individual.
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3. O TRAUMA E A TESTEMUNHO
“Não só eu. Tudo continuou cheirando a Santiago Nasar
naquele dia. Os irmãos Vicário sentiram isso no calabouço
onde o prefeito os encerrou [...].” (MÁRQUEZ, 2009, p. 4
116).
A obra deixa claro que Santiago Nasar parecia estar realmente com seu
destino traçado, um homem marcado para morrer, e parece que injustamente. O
narrador nos dá esse suporte, pois o único elemento que ele nos oferece para
crermos que Santiago tinha desonrado Ângela era o depoimento da própria. E
ainda acrescenta que nunca tinha visto os dois juntos e nem nunca soubera de
boatos. Mas para que o leitor tenha uma opinião mais aprofundada, o narrador vai
esquadrinhando o testemunho dos envolvidos. Ângela, anos depois, manteve a
mesma versão. Nessa reconstituição das últimas horas de vida de Santiago Nasar,
cada personagem vai ganhando corpo no enredo e as peças vão se encaixando
aos poucos.
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4. PERCEPÇÃO DA MEMÓRIA
Um pormenor importante que o narrador nos conta é que Santiago Nasar
era um homem de festa e que a sua maior alegria foi justamente na véspera da sua
morte.
Empolgada, a vítima calculava o custo do casamento, ela dissera ao noivo
que até aquele momento a festa já estimava em nove mil pesos. Bayardo recebeu
com bom grado e arrogância, dizendo que aquilo era só o começo. A lembrança de
que Nasar gostava de festejo fez com que o anônimo contador dessa novela
tentasse puxar mais detalhes da sua memória.
Foi o que aconteceu, no curso das indagações ele recuperou vivências. Isso é o
que podemos chamar de percepção da memória.
Bergson também nos explica que para refletirmos sobre uma percepção a
imagem que recebemos dela, é preciso que possamos reproduzi-la por um esforço
de síntese. Foi o que fez o narrador, lembrou-se dos vestidos apenas das irmãs de
Bayardo; recordou o velho Pôncio Vicário (pai de Ângela) sentado, sozinho, num
tamborete no quintal; e por fim, do horário de encerramento da festa - por volta das
seis da tarde -, e do final da bebedeira, perto da meia-noite. Fragmentos juntos que
resultam por formar quase uma cena inteira.
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5. AO MESMO TEMPO LITERATURA E JORNALISMO.
Vamos esquecer um pouco o narrador e nos centrar no escritor Gabriel
Garcia Márquez não só foi buscar o leitor como saiu a procura de seus próprios
questionamentos, querendo resolver um conflito e, em meio a sua técnica, criar
uma intimidade “texto-leitor”. O autor é de uma geração de escritores datada dos
anos 60, junto com outros nomes reconhecidos no cenário internacional, como
Mário Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Alejo Carpentier e outros.
Esses autores não se renderam as tendências europeias da época; eles
romperam com o Realismo tradicional e criaram o Realismo Mágico, ou seja, uma
narrativa em que não se distingue o fantástico do mito, da história, do real, uma
narrativa que ultrapassa o limite da crítica e desempenha o papel social que eles
acreditavam existir na literatura. Um enredo típico das heranças latino-americanas,
onde indígenas, escravos, espíritos guerreiros, ancestrais passam a protagonizar
as histórias.
Márquez, que além de escritor também era jornalista, foi levado por frações
da sua memória ou por seu dever de memória a resgatar o caso do descendente
árabe, Santiago Nasar, que na verdade chamava-se Cayetano Gentiles, e era filho
de imigrantes italianos. A trama do livro é baseada em um fato real datado de 1951,
na cidade onde morou a família do escritor, Sucre, na Colômbia. Diferente do
enredo, Márquez estava estudando direito em Cartagena. Na época ele já quis
escrever sobre o episódio, mas um amigo jornalista o aconselhou a deixar passar
o tempo e depois, quem sabe, ver se ainda valeria a pena remexer nesse crime.
Talvez essa ausência naquela manhã do assassinato tenha deixado o
colombiano com a sensação de que não havia feito a sua parte para ajudar o amigo,
assim como os moradores da cidade que estavam no momento.
Na verdadeira história, um homem rico, com muitas terras, chamado Miguel
Reyes Palencia se casa com Margarita Chicas Sales, uma professora de 22 anos,
irmã dos gêmeos José Joaquin e Victor Manuel, dois pescadores. Na noite de
núpcias, Miguel descobriu que sua mulher não era virgem – assim como no
romance -, ele a agrediu e a devolveu para a família. Ela confessou aos irmãos o
nome do homem que a tinha desonrado, Cayetano Gentile. O descendente de
italiano fora morto igualmente a Santiago Nasar, em frente a sua casa e com as
brutais 14 facadas. Os irmãos se entregaram e passaram um ano preso, e não três,
como na trama de Márquez; Miguel Palencia se casou novamente e teve 12 filhos.
García Márquez seguiu o conselho do amigo e trinta anos depois voltou a Sucre
para mexer no passado.
O romance fora alvo de críticos da área de jornalismo, muitos não o
consideram como livro reportagem, alegando que o autor modificou os
personagens, os locais, alterou documentos, juntou um casal e se disse cúmplice
do crime quando, na verdade, estava em outra cidade, saindo da ética jornalística
que preza justamente pela verdade, tanto na apuração, como em todo o processo.
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6. CRIMES NO ROMANCE
Neste processo de apuração, crítica, analítica e reflexiva, além da
construção do enredo encontramos alguns fatos típicos e antijurídicos na qual
estamos tratando neste artigo, sendo os principais institutos jurídicos encontrados
na obra de Gabriel Garcia Márquez sendo estes - a falsa acusação de desonra
(estupro) de Ángela Vicário e o evidente homicídio duplamente qualificado citando
o modo em que Santiago Nasar foi assassinado.
No romance o personagem Santiago Nasar, acusado por Ângela Vicário
de tê-la desonrado, e será morto a facadas pelos irmãos gêmeos de Ângela,
embora seja Santiago Nasar inocente da acusação. No povoado todos sabem da
vingança iminente, mas ninguém se dispõe a avisar Santiago do fim que se
aproxima.
A acusão de desonra, ou falsa acusação de estupro, por parte de Ângela
Vicário, é evidentemente suspeito, pois no romance é claro que ambos possuiam
vidas totalmente opostas, o que expressa por parte do autor de que se no mínimo
se conheciam de vista, tais acusações carregam a expressão de serem falsas
acusações de desonra infundadas e sem provas onde coube apenas o livre arbítrio
da vítima de acusá-lo no momento da devolução na noite de núpcias e depois no
depoimento de acusação no tribunal quando chamada para se esclarecer sobre o
caso diante do juíz.
Por outro lado, após a acusação de Ângela Vicário na noite de núpcias há
no mesmo povoado mulheres, que ao receber a noiva devolvida, como Prudência
Cotes, noiva de Pablo Vicário, e sua mãe, bem como a matriarca da família Vicário
que esperam dos gêmeos uma atitude digna de “homem”, ou seja, atitude de
vingança, para honrar a noiva.
Mas a maioria dos que puderam fazer alguma coisa para impedir o crime
e, apesar de tudo, não o fizeram, consolou-se com invocar o preconceito
de que as questões de honra são lugares sagrados aos quais só os donos
do drama têm acesso (GARCÍA MÁRQUEZ, 2006, p.144).
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7. NOTÍCIAS DE JORNAIS LOCAIS SOBRE SEGURANÇA
PÚBLICA.
Com o advento da internet é possível acessar matérias dos principais jornais, sendo
através de sítios eletrônicos (websites) com fontes totalmente confiáveis e redigida
pelos mesmos jornalistas renomados e conhecidos pela sociedade brasileira.
Vimos desta forma apresentar algumas manchetes em que encontramos
casos semelhantes com o qual estamos tratando neste artigo, sendo os principais
institutos jurídicos encontrados na obra de Gabriel Garcia Márquez sendo estas a
falsa acusação de desonra (estupro) de Ángela Vicário e o evidente homicídio
premeditado citando o modo em que Santiago Nasar foi assassinado.
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Veja o que checamos.
80% das denúncias de estupro são falsas.
Argumento frequente em páginas conservadoras, a afirmação de que 80%
das denúncias de estupro são falsas tem origem em uma reportagem do
jornal Extra de maio de 2012. A matéria atribui à psicóloga do Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro Glícia Barbosa de Mattos Brazil a
informação de que, nas 13 varas de família do município do Rio de
Janeiro, 80% das denúncias são falsas.
Os números, entretanto, se referem a registros de abuso infantil em
situações de acusação de alienação parental e briga pela guarda de
crianças. "Na maioria dos casos, a mãe está recém-separada e denuncia
o pai para restringir as visitas", diz a psicóloga na reportagem em
questão.
No mesmo texto, o Extra cita também dados da Vara da Infância e da
Adolescência de São Gonçalo (RJ), segundo a qual 50% dos registros de
abuso sexual infantil são forjados.
Uma busca rápida no Google pela afirmação "80% das denúncias de
estupro são falsas" leva a uma série de páginas que usam a reportagem
do Extra como fonte, porém sem mencionar que o dado não é nacional,
tampouco se refere a casos de estupro de maneira geral.
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Selo. Aos Fatos dá o selo INSUSTENTÁVEL àquelas afirmações que não
podem ser refutadas nem confirmadas. Como não há dados oficiais
tampouco literatura científica que deem conta de diagnosticar a
quantidade de casos de falsas acusações de estupro no país, é dessa forma
que Aos Fatos classifica a declaração.
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Jovem é detida por fazer falsa denúncia de estupro à PM contra o
marido em Juiz de Fora
Segundo ocorrência, ela acusou rapaz de ter estuprado a filha do casal
para obter vantagens em uma possível separação. Polícia orienta sobre
riscos em se fazer denúncias falsas.
Por G1 Zona da Mata
11/01/2019 10h16 Atualizado há um ano
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b) HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO E PREMEDITADO
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1. REFERÊNCIAS
CARRERO, Raimundo. Os segredos da ficção: a arte de escrever bem.
Rio de Janeiro: Agir, 2005.
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