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RESENHA CRÍTICA DO LIVRO

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA.

Leandro Alberto da Silva


RA 7395524
Graduando em Direito – FMU / SP – TURMA 3201E

RESUMO: Este documento apresenta o processo de apuração, crítica, analítica e


reflexiva, além da construção do enredo de Crônica de uma morte anunciada, que
apresenta alguns aspectos que levam o leitor a confrontar a realidade e a ficção no
romance, do escritor colombiano e nobel de literatura Gabriel Garcia Márquez,
analisando as características do enredo e identificando pontos onde se pode
confirmar a veracidade dos fatos apresentados e o momento em que os artifícios
literários são utilizados para compor a obra de forma fictícia, partindo de trechos
que apresentam semelhanças entre o enredo da estória e fatos reais colhidos pelo
autor. Como embasamento, utilizam-se estudos de RICOEUR (2008), BERGSON,
(2006) entre outros. Santiago Nasar, o filho de imigrantes árabes é assassinado por
suspeita de ter desonrado Ângela Vicário e a noiva devolvida pelo marido. O
espelho quebrado da memória, como alcunha o autor, percorre um caminho de
memória trilhado por deveres, traumas e percepções, culminando numa mistura
textual entre jornalismo e literatura.

Sumário: 1 Ameaçado de Morte – 2) Anos de Investigação – 3) O trauma e a


Testemunha – 4) Persepção da Memória – 5) Ao mesmo tempo Literatura e
jornalismo – 6) Crimes no Romance – 7) Notícias de jornais locais sobre segurança
pública – 8) Referências
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1. AMEAÇADO DE MORTE
No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às
5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o
bispo”. (MÁRQUEZ, 2009, p. 9).

São com essas exatas palavras que o narrador começa uma trama, cheia
de emoção, verdades, contradições e fôlego até o final do romance.
Saber que o protagonista vai morrer é só o início da empreitada do leitor.
Santiago Nasar, jovem, detentor de posses e filho de imigrantes árabes, é acusado
de ter desonrado Ângela Vicário. A própria confessa aos seus irmãos Pedro e Pablo
Vicário, que Nasar fora o responsável por tal feito. Ângela é devolvida na sua noite
de núpcias, quando o seu marido, Bayardo San Roman, filho de general
congratulado em guerras, descobre que a mulher não era virgem.
Do momento em que a noiva é devolvida até a realização do homicídio,
passam-se quatro horas de uma angustiante comunicação entre os moradores do
vilarejo caribenho, que por falta de atitudes e desencontros nos diálogos, não
conseguem evitar a morte anunciada.
Santiago é assassinado com 14 facadas. Sua mãe, atordoada com a
história, acaba fechando a porta da casa e não percebe que o filho estava do lado
de fora; lá mesmo ele foi retalhado como um porco. O crime aconteceu no dia em
que o bispo veio visitar a cidade. Nasar morrera de branco, porque era a veste que
havia escolhido para ir cumprimentar a autoridade da igreja.
O colombiano García Márquez é muito feliz na construção do romance. Ele
cria a figura do “narrador-testemunha”, cujo nome em nenhum momento é revelado,
mas o leitor compreende que se trata de um amigo de Nasar e que a relação vai
além dessa amizade, quando em páginas posteriores descobre-se que a mãe do
narrador é madrinha de Santiago.
Márquez deu privilégio ao aspecto temporal, circundando entre passado e
presente e mostrando a incursão “espaço-tempo-memória”. Durante anos o
narrador se dedicou a apuração dos fatos, a coleta dos depoimentos, confrontando
a memória dos personagens com a sua memória, juntando peças importantes num
árduo trabalho de campo, galgando assim um amplo conhecimento sobre o
ocorrido. Ele estabelece três décadas até conclusão da ouvida das testemunhas.
No romance, quase todos os habitantes do lugarejo onde vive Santiago,
ficam sabendo do homicídio premeditado algumas horas antes (daí o título), mas
não fazem nada de concreto para proteger a vítima ou impedir os algozes.
O objetivo da obra é o de criticar a mentalidade primitiva que permite que
um assassínio premeditado tenha uma pena irrisória – independentemente da sua
execução ter ou não sido pressionada pelo costume – e que uma jovem seja
violentamente penalizada por não ter o comportamento sexual esperado para a
época.
O autor García Márquez em Crônica de uma morte anunciada, apesar de
relatar os fatos de forma objetiva e sem grandes divagações, não deixa de recorrer
aos sonhos premonitórios e aos presságios, como que para reforçar o caráter
intuitivo quer do narrador/autor, quer das restantes personagens. O ambiente é
mostrado como potenciador das emoções, sugerindo determinados estados de
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alma que, associados a uma capacidade de observação e de ligação de detalhes
muito superior à média, se manifesta numa capacidade, também muito superior, de
entendimento que muitos tendem a classificar como algo de sobrenatural ou
mediúnico.
É deste modo que o autor descreve o dia da morte de Santiago como um
dia em que fazia um tempo fúnebre e que no preciso instante da desgraça caía uma
chuva miúda como a que Santiago Nasar vira no bosque, no sonho – chuva que
era, na realidade, excremento de pássaro (segundo o autor, sonhar com pássaros
é sinal aziago). Também a irmã do narrador – Margot – afirma que sentiu passar
um anjo quando Santiago falou acerca do seu próprio casamento, fato que não se
chegou a realizar.
Outro sinal de presença do incrível é a forma que García Márquez dá ao
remorso como punição para o crime e a negligência. O cheiro de Santiago
moribundo impregna-se de tal forma nas narinas daqueles que, de alguma forma
tiveram o mais leve resquício de culpa, direta ou indireta, na sua morte atacando-
lhes as consciências como o mais cruel dos fantasmas. O aguilhão do remorso cai,
sobretudo, nos dois assassinos durante o relativamente curto espaço de tempo que
passam na cadeia pagando pelo crime, perdendo, inclusive, a faculdade de
controlar o próprio corpo, mas sempre sem perder a lucidez.
Apesar de tudo, é Bayardo quem, para a maioria da população, é visto
como a maior vítima.
Para recontruir a estória da morte de Santiago Nasar, García Márquez
recorreu não só à memória mas também a entrevista das pessoas envolvidas –
aqueles que estavam, na altura, mais próximos não apenas da vítima mas também
dos assassinos, tentando compor o quebra cabeças constituído pelos estilhaços da
memória.
A partir da morte de Santiago Nasar, são desvendadas as perspectivas e
as histórias de algumas pessoas que de uma forma ou de outra, estiveram ligadas
à sua morte. Pois, como já citado, a morte de Santiago, foi anunciada por toda a
vila de Riohacha, apenas ele, permaneceu na ignorância até ao momento em que
foi esfaqueado à porta de casa.
O autor Gabriel García Márquez retrocede e avança no tempo, fazendo do
narrador participante o cronista da tal morte anunciada. Desde o talhante à
empregada do café. Do padre ao delegado da polícia, todos sabiam muito antes de
morrer, que Santiago tinha Pedro e Pablo à sua espera, com as facas afiadas dos
porcos.
No entanto, por medo, receio, covardia, comodismo, ou mero sadismo,
ninguém avisou Santiago, preferindo antes observá-lo, inocente, ingênuo,
caminhando impávido e sereno para a morte.

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2. ANOS DE INVESTIGAÇÃO

“É a relação do dever de memória com a ideia de justiça que


se deve questionar”. (RICOEUR, 2008, p. 42)
O narrador, é uma figura próxima da vítima. Talvez isso justifique esse
passeio pelo tempo para a apuração do crime. Um aprofundamento a fim de tentar
juntar fragmentos que pudessem comprovar a inocência de Santiago Nasar; fato
que ele não conseguiu provar, já que não teve êxito em todos os depoimentos.
Bayardo, por exemplo, fora procurado duas décadas depois do crime e
mesmo assim se negou a falar.
A mãe de Santiago, a senhora Plácida Linero, foi fundamental para a
investigação, trazendo detalhes enriquecedores para a compreensão dos
acontecimentos; certa vez ela contara que o filho dormira igual ao pai, com uma
arma debaixo do travesseiro, mas que sempre a descarregava antes de sair de
casa.

“Eu o sabia, e sabia também que guardava as armas em um


lugar e escondia a munição em outro muito afastado, para
que ninguém cedesse, nem por acaso, à tentação de
carregálas dentro da casa” (MÁRQUEZ, 2009, p. 12),
complementava o narrador.

Talvez frases como esta e dúvidas como:

“Vestia a roupa de linho branco lavada só com água, porque


sua pele era tão delicada que não suportava o roçar do
engomado.” (MÁRQUEZ, 2009, p. 14)
Tenham despertado o dever de o narrador amarrar a história, o dever de fazer
justiça. Justiça que não está atrelada a uma hierarquia, a uma formalidade, mas
sim a justiça da memória. Ironicamente as provas formais estavam dispersas. O
local onde se encontravam os processos do caso fora inundado.

Eu mesmo procurei, muitas vezes com água até os tornozelos,


naquele tanque de causas perdidas, e só um acaso me
permitiu resgatar, depois de cinco anos de buscas, umas 322
folhas salteadas das mais de 500 que devia ter o sumário.
(MÁRQUEZ, 2009, p. 146).

Com a justiça vem a dívida. É preciso sanar aquele débito, fazer algo posterior
que possa suplantar um pouco o que não foi feito. O dever de memória traz o
sentimento de dever a um outro, de ter que efetuar o pagamento. A memória
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como experiência individual.

É a justiça que, ao extrair das lembranças traumatizantes seu


valor exemplar, transforma a memória em projeto; e é esse
mesmo projeto de justiça que dá ao dever de memória a forma
de um futuro imperativo. Pode-se então sugerir que, enquanto
imperativo de justiça, o dever de memória se projeta à
maneira de um terceiro ponto de junção do trabalho de luto e
do trabalho de memória. Em troca, o imperativo recebe do
trabalho de memória e do trabalho de luto o impulso que o
integra a uma economia de pulsões. (RICOEUR, 2008, p.97).

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3. O TRAUMA E A TESTEMUNHO
“Não só eu. Tudo continuou cheirando a Santiago Nasar
naquele dia. Os irmãos Vicário sentiram isso no calabouço
onde o prefeito os encerrou [...].” (MÁRQUEZ, 2009, p. 4
116).

O autor ressalta que a história é uma representação no passado e que a


memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente. É por
esse caminho que devemos seguir. O trauma é algo no eterno presente, em grego
significa ferida, e as feridas permanecem até que sejam tratadas e curadas.
Márcio Seligmann-Silva explica que o trauma está atrelado a nossa
incapacidade de simbolizar o choque, o que determina a repetição e a constante
volta ao cenário do crime. É o que acontece no livro, um insistente regresso.
Detalhes que a primeira leitura podem até passar despercebido, mas são
importantíssimos nessas idas e vindas e podem revelar algo que chega até a
perpassar do enredo, o clima é um exemplo. Pelo fator climático o narrador vai
atrelando os episódios a outros resquícios da sua memória e ao mesmo tempo vai
formando a opinião do leitor.
Alguns personagens associavam o dia da morte a uma manhã ensolarada,
outros asseguravam ser um dia nublado. O tempo pode estar relacionado a emoção
da personagem. Para Victória Guzmán, por exemplo, o dia era de sol. Quem sabe
ela não queria mesmo a morte de Santiago - já que tinha medo que ele abusasse
sexualmente da sua filha, a Divina Flor -, e esse sol fosse sinônimo de alívio, de
cor vibrante, de uma nova era. Com sol ou sem sol, todos concordavam em um
ponto, era um tempo fúnebre. O narrador vai aproveitando cada testemunho e,
mentalmente, descartando fatos que não estavam coincidindo com os da sua
memória.
Literatura de testemunho é um conceito que, nos últimos anos,
tem feito com que muitos teóricos revejam a relação entre
literatura e a ‘realidade’. O conceito de testemunho desloca
o ‘real’ para uma área de sombra: testemunha-se, via de
regra, algo de excepcional e que exige um relato.
(SELIGMANN-SILVA, 2006, p. 47).

A obra deixa claro que Santiago Nasar parecia estar realmente com seu
destino traçado, um homem marcado para morrer, e parece que injustamente. O
narrador nos dá esse suporte, pois o único elemento que ele nos oferece para
crermos que Santiago tinha desonrado Ângela era o depoimento da própria. E
ainda acrescenta que nunca tinha visto os dois juntos e nem nunca soubera de
boatos. Mas para que o leitor tenha uma opinião mais aprofundada, o narrador vai
esquadrinhando o testemunho dos envolvidos. Ângela, anos depois, manteve a
mesma versão. Nessa reconstituição das últimas horas de vida de Santiago Nasar,
cada personagem vai ganhando corpo no enredo e as peças vão se encaixando
aos poucos.
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4. PERCEPÇÃO DA MEMÓRIA
Um pormenor importante que o narrador nos conta é que Santiago Nasar
era um homem de festa e que a sua maior alegria foi justamente na véspera da sua
morte.
Empolgada, a vítima calculava o custo do casamento, ela dissera ao noivo
que até aquele momento a festa já estimava em nove mil pesos. Bayardo recebeu
com bom grado e arrogância, dizendo que aquilo era só o começo. A lembrança de
que Nasar gostava de festejo fez com que o anônimo contador dessa novela
tentasse puxar mais detalhes da sua memória.

“Eu conservava uma lembrança muito confusa da festa antes


de me decidir a resgatá-la aos pedaços da memória alheia.”
(MÁRQUEZ, 2009, p. 65).

Foi o que aconteceu, no curso das indagações ele recuperou vivências. Isso é o
que podemos chamar de percepção da memória.

Se a imagem retida ou rememorada não chega a cobrir todos


os detalhes da imagem percebida, um apelo é lançado as
regiões mais profundas e afastadas da memória, até que
outros detalhes conhecidos venham a se projetar sobre
aqueles que se ignoram. E a operação pode seguir
indefinidamente, a memória fortalecendo e enriquecendo a
percepção, a qual, por sua vez, atrai para si um número
crescente de lembranças complementares. (BERGSON, 2006,
p. 115).

Bergson também nos explica que para refletirmos sobre uma percepção a
imagem que recebemos dela, é preciso que possamos reproduzi-la por um esforço
de síntese. Foi o que fez o narrador, lembrou-se dos vestidos apenas das irmãs de
Bayardo; recordou o velho Pôncio Vicário (pai de Ângela) sentado, sozinho, num
tamborete no quintal; e por fim, do horário de encerramento da festa - por volta das
seis da tarde -, e do final da bebedeira, perto da meia-noite. Fragmentos juntos que
resultam por formar quase uma cena inteira.

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5. AO MESMO TEMPO LITERATURA E JORNALISMO.
Vamos esquecer um pouco o narrador e nos centrar no escritor Gabriel
Garcia Márquez não só foi buscar o leitor como saiu a procura de seus próprios
questionamentos, querendo resolver um conflito e, em meio a sua técnica, criar
uma intimidade “texto-leitor”. O autor é de uma geração de escritores datada dos
anos 60, junto com outros nomes reconhecidos no cenário internacional, como
Mário Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Alejo Carpentier e outros.
Esses autores não se renderam as tendências europeias da época; eles
romperam com o Realismo tradicional e criaram o Realismo Mágico, ou seja, uma
narrativa em que não se distingue o fantástico do mito, da história, do real, uma
narrativa que ultrapassa o limite da crítica e desempenha o papel social que eles
acreditavam existir na literatura. Um enredo típico das heranças latino-americanas,
onde indígenas, escravos, espíritos guerreiros, ancestrais passam a protagonizar
as histórias.
Márquez, que além de escritor também era jornalista, foi levado por frações
da sua memória ou por seu dever de memória a resgatar o caso do descendente
árabe, Santiago Nasar, que na verdade chamava-se Cayetano Gentiles, e era filho
de imigrantes italianos. A trama do livro é baseada em um fato real datado de 1951,
na cidade onde morou a família do escritor, Sucre, na Colômbia. Diferente do
enredo, Márquez estava estudando direito em Cartagena. Na época ele já quis
escrever sobre o episódio, mas um amigo jornalista o aconselhou a deixar passar
o tempo e depois, quem sabe, ver se ainda valeria a pena remexer nesse crime.
Talvez essa ausência naquela manhã do assassinato tenha deixado o
colombiano com a sensação de que não havia feito a sua parte para ajudar o amigo,
assim como os moradores da cidade que estavam no momento.
Na verdadeira história, um homem rico, com muitas terras, chamado Miguel
Reyes Palencia se casa com Margarita Chicas Sales, uma professora de 22 anos,
irmã dos gêmeos José Joaquin e Victor Manuel, dois pescadores. Na noite de
núpcias, Miguel descobriu que sua mulher não era virgem – assim como no
romance -, ele a agrediu e a devolveu para a família. Ela confessou aos irmãos o
nome do homem que a tinha desonrado, Cayetano Gentile. O descendente de
italiano fora morto igualmente a Santiago Nasar, em frente a sua casa e com as
brutais 14 facadas. Os irmãos se entregaram e passaram um ano preso, e não três,
como na trama de Márquez; Miguel Palencia se casou novamente e teve 12 filhos.
García Márquez seguiu o conselho do amigo e trinta anos depois voltou a Sucre
para mexer no passado.
O romance fora alvo de críticos da área de jornalismo, muitos não o
consideram como livro reportagem, alegando que o autor modificou os
personagens, os locais, alterou documentos, juntou um casal e se disse cúmplice
do crime quando, na verdade, estava em outra cidade, saindo da ética jornalística
que preza justamente pela verdade, tanto na apuração, como em todo o processo.

O repórter está onde o leitor, ouvinte ou espectador não pode


estar. Tem uma reputação ou delegação tácita que o autoriza
a ser os ouvidos e os olhos remotos do público, selecionar e
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lhe transmitir o que possa ser interessante. Essa função é
exatamente a definida como a de agente inteligente. (LAGE,
2008, p. 23).
Essa definição de Lage não habilitaria o colombiano de usar seu faro
jornalístico na literatura, tendo como suporte maior a sua própria memória?
Talvez sendo impossível a recriação perfeita, devido ao tempo de regresso
do escritor, Márquez criara uma memória coletiva para reportar o caso e assim
cumpriria seu papel de repórter e passaria a ficar em paz pelo dever cumprido de
ter juntado os “cacos” do espelho quebrado da memória. Bom, coincidência ou não,
o que ficou conhecido por “Novo Jornalismo”, na América do Norte, também
ocorreu na época de 1960, exato tempo da criação e difusão do Realismo Mágico,
na América Latina. Tom Wolfe foi um dos adeptos do New Journalism, o gênero
usava ferramentas e elementos da ficção nas reportagens; cenas eram descritas,
diálogos construídos, comportamentos destacados. Polêmicas a parte, em
“Crônica de uma morte anunciada” encontramos essas técnicas e percebemos a
composição da literatura com o jornalismo.

[...] Garcia Márquez não olha essa mesma realidade com a


suposta objetividade e o distanciamento de um jornalista que
reconstrói os eventos para cumprir seu compromisso com a
verdade. Ele prefere vê-la com o olhar subjetivo de um
escritor que penetra a realidade e retira dela a essência
humana, tomando liberdade de modificar os personagens e
eventos em sua busca pela natureza transcendental do mero
evento. (HERSCOVITZ, 2004 p. 191).
Em 1981, numa entrevista a revista Chasqui, Garcia Márquez disse que
pela primeira vez tinha encontrado um equilíbrio perfeito entre literatura e
jornalismo e que por isso a obra ganhara o título de crônica. Ele complementa
afirmado que o jornalismo ajuda a pessoa a manter o contato com a realidade, o
que é essencial para o trabalho literário e a literatura ensina a pessoa a escrever,
o que é essencial ao jornalismo.

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6. CRIMES NO ROMANCE
Neste processo de apuração, crítica, analítica e reflexiva, além da
construção do enredo encontramos alguns fatos típicos e antijurídicos na qual
estamos tratando neste artigo, sendo os principais institutos jurídicos encontrados
na obra de Gabriel Garcia Márquez sendo estes - a falsa acusação de desonra
(estupro) de Ángela Vicário e o evidente homicídio duplamente qualificado citando
o modo em que Santiago Nasar foi assassinado.
No romance o personagem Santiago Nasar, acusado por Ângela Vicário
de tê-la desonrado, e será morto a facadas pelos irmãos gêmeos de Ângela,
embora seja Santiago Nasar inocente da acusação. No povoado todos sabem da
vingança iminente, mas ninguém se dispõe a avisar Santiago do fim que se
aproxima.
A acusão de desonra, ou falsa acusação de estupro, por parte de Ângela
Vicário, é evidentemente suspeito, pois no romance é claro que ambos possuiam
vidas totalmente opostas, o que expressa por parte do autor de que se no mínimo
se conheciam de vista, tais acusações carregam a expressão de serem falsas
acusações de desonra infundadas e sem provas onde coube apenas o livre arbítrio
da vítima de acusá-lo no momento da devolução na noite de núpcias e depois no
depoimento de acusação no tribunal quando chamada para se esclarecer sobre o
caso diante do juíz.
Por outro lado, após a acusação de Ângela Vicário na noite de núpcias há
no mesmo povoado mulheres, que ao receber a noiva devolvida, como Prudência
Cotes, noiva de Pablo Vicário, e sua mãe, bem como a matriarca da família Vicário
que esperam dos gêmeos uma atitude digna de “homem”, ou seja, atitude de
vingança, para honrar a noiva.

“O advogado sustentou a tese do homicídio em legítima defesa da honra,


admitida pelo tribunal da consciência, e os gêmeos declararam ao final
do julgamento que voltariam a fazer mil vezes o que fizeram pelos mesmos
motivos” (GARCÍA MÁRQUEZ, 2006, p.73);

No caso do assassinato de Santiago podemos colocar em evidência o


príncipio da adequação social, ou seja, significa que apesar de uma conduta se
subsumir ao modelo legal não será considerada típica se for socialmente
adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da
vida historicamente condicionada.
De fato foi um crime de homiciodo duplamente qualificado além do
agravante de ser anteriormente ao crime premeditado.

Premeditar, segundo do dicionário Aurélio, significa resolver com


antecipação e refletidamente. A doutrina, estrangeira e pátria, nunca
chegou a um consenso sobre o exato sentido do termo “premeditação”.
Sempre se discutiu se a premeditação denotaria um maior grau de
depravação moral do agente, de perversidade, ou, pelo contrário,
denotaria uma maior resistência à prática delitiva. Em algumas
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legislações a premeditação constituiria traço característico do
assassinato (Código Penal suíço de 1937). A nossa legislação penal,
contudo, não prevê a premeditação como circunstância qualificadora do
homicídio, pois entende-se que ela, muitas vezes, demonstraria uma maior
resistência do agente aos impulsos criminosos, motivo que não justificaria
o agravamento da pena. [...] Em que pese não ser prevista como
qualificadora, a premeditação, conforme o caso concreto, poderá ser
levada em consideração para agravar a pena, funcionando como
circunstância judicial (CP, art. 59).Fernando Capez.

Na prática a população de vila de Riohacha permite que Santiago Nasar


seja morto pois trata-se de algo natural para aquela sociedade, sendo que ninguém
pode interferir quando se trata de crime para defender a honra.
Desse modo, a obra permite ao leitor refletir sobre o conceito de cultura, enquanto
contrato social.

Mas a maioria dos que puderam fazer alguma coisa para impedir o crime
e, apesar de tudo, não o fizeram, consolou-se com invocar o preconceito
de que as questões de honra são lugares sagrados aos quais só os donos
do drama têm acesso (GARCÍA MÁRQUEZ, 2006, p.144).

A narrativa reconstrói a atmosfera medieval do julgamento público ao qual


o povo assiste, organizando-se na praça como para um espetáculo. Desse modo,
o assassinato de Santiago ocorre à vista de todos e com o consentimento inclusive
das autoridades locais e do representante da Igreja, no caso da religião católica.
Pela construção da trama, García Márquez critica impiedosamente os
conceitos associados à honra, à virgindade e ao casamento. Embora a obra não
possua prefácio que a apresente, a sua abordagem do tema da ‘morte anunciada’,
ou seja, do crime passional, é coerente e atraente para o leitor que estabelece um
jogo, por meio da leitura, acompanhando a hipótese do narrador, enquanto
preenche os vazios instaurados em busca de pistas que evidenciem a tese.

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7. NOTÍCIAS DE JORNAIS LOCAIS SOBRE SEGURANÇA
PÚBLICA.
Com o advento da internet é possível acessar matérias dos principais jornais, sendo
através de sítios eletrônicos (websites) com fontes totalmente confiáveis e redigida
pelos mesmos jornalistas renomados e conhecidos pela sociedade brasileira.
Vimos desta forma apresentar algumas manchetes em que encontramos
casos semelhantes com o qual estamos tratando neste artigo, sendo os principais
institutos jurídicos encontrados na obra de Gabriel Garcia Márquez sendo estas a
falsa acusação de desonra (estupro) de Ángela Vicário e o evidente homicídio
premeditado citando o modo em que Santiago Nasar foi assassinado.

a) FALSA ACUSAÇÃO DE ESTUPRO

Dado sobre falsas denúncias de estupro não tem amparo oficial


Por Tai Nalon
19 de abril de 2017, 17h00
O Senado divulgou em suas redes nesta quarta-feira (19) uma sugestão
de projeto legislativo cuja premissa é tornar crime hediondo e
inafiançável falsa acusação de estupro. A ideia tomou tração por se
basear em estatísticas segundo as quais 80% das denúncias de estupro
são falsas. Ao citar o número, o proponente disse se basear em "uma
notícia", sem entrar em detalhes.
"Devido à impunidade, diversas mulheres se utilizam desse artifício para
atingir homens, que têm sua vida arrasada, muitas vezes são estuprados
na cadeia, sofrem linchamento público, perdem o emprego e dignidade",
diz o proponente em sua justificativa.
Aos Fatos
Checou a informação em que se baseia o argumento principal para a
elaboração da proposta e buscou dados oficiais de registros de abuso
sexual tanto no Brasil quanto no exterior. Porém, devido à ausência de
estatísticas mais básicas para comprovar ou refutar qualquer afirmação
categórica a respeito de falsas acusações de estupro em território
nacional, classificou a afirmação como INSUSTENTÁVEL.

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Veja o que checamos.
80% das denúncias de estupro são falsas.
Argumento frequente em páginas conservadoras, a afirmação de que 80%
das denúncias de estupro são falsas tem origem em uma reportagem do
jornal Extra de maio de 2012. A matéria atribui à psicóloga do Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro Glícia Barbosa de Mattos Brazil a
informação de que, nas 13 varas de família do município do Rio de
Janeiro, 80% das denúncias são falsas.
Os números, entretanto, se referem a registros de abuso infantil em
situações de acusação de alienação parental e briga pela guarda de
crianças. "Na maioria dos casos, a mãe está recém-separada e denuncia
o pai para restringir as visitas", diz a psicóloga na reportagem em
questão.
No mesmo texto, o Extra cita também dados da Vara da Infância e da
Adolescência de São Gonçalo (RJ), segundo a qual 50% dos registros de
abuso sexual infantil são forjados.
Uma busca rápida no Google pela afirmação "80% das denúncias de
estupro são falsas" leva a uma série de páginas que usam a reportagem
do Extra como fonte, porém sem mencionar que o dado não é nacional,
tampouco se refere a casos de estupro de maneira geral.

Algumas páginas também citam reportagem de fevereiro de 2013 do site


JCNet, de Bauru (SP), que afirma que, das 100 ocorrências de estupros
registradas por ano na cidade, cerca de dez envolvem crimes com autoria
desconhecida. Desses dez, cinco são revelados falsos após o início das
investigações. Os dados são da Delegacia da Defesa da Mulher do
município.
Não é possível extrapolar qualquer uma dessas informações, de caráter
local, para o plano nacional. Tampouco é seguro usar o número como
subsídio para estatísticas gerais de registros de estupro, já que o primeiro
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se refere a violência sexual infantil e o segundo, a casos em que o acusado
é desconhecido.
Dados oficiais.
Não existem dados oficiais no país que deem conta de subsidiar a
afirmação — seja para confirmá-la ou para derrubá-la. As estatísticas
brasileiras mal dão conta de agregar registros de abuso sexual, já que a
subnotificação é grande.
No entanto, para fins de colocar as estatísticas do Rio de Janeiro em
perspectiva, levantamento do Ministério Público do Estado revelou no
ano passado que 6% dos casos de estupro registrados em 2015 foram a
julgamento. Isso significa que, enquanto houve 4.887 casos de estupro
oficialmente registrados em todo o Estado só em 2015, só 291
investigações foram concluídas. As demais sequer conseguiram localizar
o acusado.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2015 a 2011, que mantém
a contabilidade oficial dos vários tipos de crimes praticados no país,
verificou que, entre 2010 e 2013, o número de casos de estupros
registrados manteve trajetória ascendente — de 41.180 para 51.090. Em
2014, porém, houve menor número de notificações do que 2013 e 2012–
47.646 registros.
O mesmo documento, entretanto, demonstra que não é possível
determinar se há de fato queda ou aumento nos casos, uma vez que esses
registros podem corresponder a apenas 35% do montante real de abusos.
No exterior. Da mesma maneira que estatísticas oficiais são
inconclusivas, estudos acadêmicos que pretendem abraçar um universo
muito amplo de pessoas também devem ser analisados com ceticismo, já
que comumente se alimentam desses mesmos dados.
Um artigo publicado em 2010 por pesquisadores da Universidade do
Massachussets e da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos,
averiguou os 136 relatos de violência sexual registrados entre 1998 e
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2007 numa universidade americana. Do total, encontrou oito casos de
falsa acusação — ou seja, 5,9%.
O estudo também ressalta que a escassa literatura científica sobre o tema
apresenta resultados relativamente próximos a esse, mesmo trabalhando
com universos diferentes. Os casos de falsas acusações de estupro nos
EUA, conforme o artigo, vão de 2,1% do total de registros desse tipo de
violência a 10,9%.
Os pesquisadores ainda citam as diretrizes do FBI para lidar com casos
de estupro. Segundo o Uniform Crime Reports Handbook, "a recusa da
vítima em cooperar ou o fracasso em encontrar o acusado não são
motivos para considerar o caso 'inconclusivo'". As diretrizes dizem ainda
que um caso "inconclusivo" não é necessariamente um caso "sem
fundamento" e, portanto, falso. Em 1997, o FBI afirmava que 8% dos
registros de estupro eram inconclusivos.
Conforme reportagem do jornal britânico The Guardian, no Reino Unido,
entre 2012 e 2013, houve 3.692 ações penais motivadas por estupro, das
quais 2.333 resultaram em condenções. A mesma reportagem também
aponta que o órgão que regula e fiscaliza os inspetores de polícia
britânicos diz que mais de um quarto dos casos de estupro e abuso sexual
não são registrados criminalmente.
Jurisprudência.
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) tem vasto material que assegura ao
depoimento da vítima de estupro valor de prova se for coerente com as
demais evidências colhidas nos autos. Isso significa que um relato sozinho
dificilmente condenará o acusado à maior pena, mas, se houver elementos
adicionais acolhidos pela Justiça como prova, o relato da vítima também
assume caráter contundente. Essas diretrizes são de particular
imporância para proteger vítimas em casos de violência infantil, já que
vestígios materiais da ocorrência do delito são raros.

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Selo. Aos Fatos dá o selo INSUSTENTÁVEL àquelas afirmações que não
podem ser refutadas nem confirmadas. Como não há dados oficiais
tampouco literatura científica que deem conta de diagnosticar a
quantidade de casos de falsas acusações de estupro no país, é dessa forma
que Aos Fatos classifica a declaração.

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Jovem é detida por fazer falsa denúncia de estupro à PM contra o
marido em Juiz de Fora
Segundo ocorrência, ela acusou rapaz de ter estuprado a filha do casal
para obter vantagens em uma possível separação. Polícia orienta sobre
riscos em se fazer denúncias falsas.
Por G1 Zona da Mata
11/01/2019 10h16 Atualizado há um ano

Uma jovem vai responder por falsa comunicação de crime em Juiz de


Fora depois de denunciar o companheiro, de 28 anos, pelo estupro da
filha de três anos do casal. Segundo o Registro de Eventos de Defesa
Social (Reds), ela fez isso para obter vantagens em "uma futura separação
e uma pensão alimentícia melhor".
A assessora do 2º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente Sandra
Jabour, ressaltou em entrevista ao G1 que as pessoas devem ter
consciência ao acionar os serviços públicos. (Confira abaixo)
O registro do caso terminou na madrugada desta sexta-feira (11). De
acordo com as informações da Polícia Militar, a menina de 27 anos
procurou a sede da 70ª Companhia no Bairro Bairu nesta quinta (10) para
denunciar que o suposto abuso ocorreu na quarta-feira (9), enquanto
estava no trabalho.
A mãe disse que viu manchas roxas no pescoço da criança que teria dito
que foram feitas pelo pai. A jovem levou uma testemunha, de 22 anos, que
afirmou ter feito um vídeo do relato da menina.
Os policiais localizaram o rapaz que disse nunca ter tocado na filha de
forma maliciosa. Ele alegou que a fala da criança foi influenciada pela
mãe.
A menina foi encaminhada ao Protocolo de Atendimento ao Risco
Biológico Ocupacional e Sexual (Parbos). O laudo provisório do médico
que realizou perícia na criança apontou resultado "negativo para
conjunção carnal e inconclusivo para ato libidinoso".
Os policiais voltaram a conversar com a solicitante e ela afirmou que não
houve o crime, alegando que "estava tentando prejudicar seu marido para
receber uma boa pensão".
A mãe e a testemunha receberam voz de prisão por falsa comunicação de
crime. O Código Penal explica que se trata de uma infração, punida com
penas que podem variar entre um e seis meses de detenção ou multa.

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b) HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO E PREMEDITADO

'Covarde e premeditado', diz delegado sobre assassinato de aluno a


facadas em Santa Maria
Para a polícia, suspeito praticou o crime motivado por ciúmes da
namorada. Gabriel vai ser enterrado na tarde desta terça-feira.
Por G1 RS
11/04/2017 12h36 Atualizado há 3 anos
:--/--:--

Aulas foram suspensas na escola onde aluno estudava em Santa Maria

Vai ser enterrado na tarde desta terça-feira (11) o corpo do


adolescente morto a facadas no portão da escola estadual Santa Marta,
em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul.
Para a polícia, a morte de Gabriel Silveira Medeiros, de 14 anos, foi
premeditada.
“Por volta das 13h30, o autor chegou acompanhado da namorada na
frente da escola. Ele solicitou que outro jovem chamasse a vítima. Quando
a vítima chegou, de imediato o suspeito esfaqueou o adolescente”, conta
o delegado Gabriel Zanella, da Delegacia de Homicídios, que investiga o
caso.
A polícia afirma ter a autoria e a motivação do crime. O suspeito é um
jovem de 18 anos, que teria dado as facadas por ciúmes da namorada,
que o acompanhava no momento.
“Motivação fútil. Foi um crime covarde e premeditado, que não
possibilitou a defesa da vítima”, afirma o delegado Zanella.
Quatro testemunhas do crime foram ouvidas e corroboram com a versão
da polícia. O suspeito não tem antecedentes. A polícia deve pedir a prisão
preventiva dele ainda nesta terça. Ele deve responder por homicídio
duplamente qualificado.
Familiares e amigos estão muito abalados com a morte do adolescente.
Ele era aluno do 7º ano do ensino fundamental. A escola suspendeu as
aulas por uma semana.
Gabriel estava dentro da escola quando foi chamado do lado de fora. Em
seguida, foi esfaqueado na calçada. O adolescente chegou a ser socorrido
pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu.
O estudante era novo no colégio, que fica na periferia de Santa Maria, e
estava no 7º ano. Ele tinha sido transferido depois do início das aulas.
Um representante da Coordenadoria Regional de Educação (CRE) esteve
na escola na segunda-feira, mas preferiu não falar.

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Rio de Janeiro: Agir, 2005.

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Disponível em:
http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/167023947607532230269405944
734179448812.pdf. Acesso em: 12/05/2020.

LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa


jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2008.

MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Crônica de uma morte anunciada. Rio de


Janeiro: Record, 2009.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares.


Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em
História e do Departamento de História da PUCSP. São Paulo, SP- Brasil,
1981.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas:


Unicamp, 2008.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. História, Memória, Literatura: O Testemunho


na Era das Catástrofes. Campinas: Unicamp, 2006.

REALIDADE E FICÇÃO EM CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA Disponível


em:https://revistas.ufpi.br/index.php/contraponto/article/viewFile/6187/3652
acesso realizado em 12/05/2020.

Memórias Narradas. O individual e o coletivo, a apuração e a construção de


“Crônica de uma morte anunciada”, de Gabriel Garcia Márquez Disponível em
http://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R10-1408-1.pdf
acesso realizado em 12/05/2020.

Reportagem disponível em : https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-


sul/noticia/covarde-e-premeditado-diz-delegado-sobre-suspeito-de-matar-aluno-a-
facadas-em-santa-maria.ghtml acesso realizado em 12/05/2020

Reportagem disponível em: https://g1.globo.com/mg/zona-da-


mata/noticia/2019/01/11/jovem-e-detida-por-fazer-falsa-denuncia-de-estupro-a-
pm-contra-o-marido-em-juiz-de-fora.ghtml acesso realizado em 12/05/2020.
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Reportagem disponível em:https://www.aosfatos.org/noticias/dado-que-diz-que-
80-das-acusacoes-de-estupro-sao-falsas-nao-tem-amparo-oficial/ acesso
realizado em 12/05/2020.

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