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Francisco Brandão
Trecho da obra de David Wojnarowicz, Untitled (Sometimes I Come to Hate People) ,de 1992
OBJETIVOS
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Estou gritando minhas palavras invisíveis. Estou ficando tão cansado, estou ficando cansado. Estou acenando
para você daqui. Estou rastejando e procurando a abertura do vazio completo e final. Estou vibrando
isoladamente entre vocês. Estou gritando, mas sai como pedaços de gelo claro. Estou sinalizando que o volume
de tudo isso é muito alto. Estou acenando. Estou acenando com as mãos. Estou desaparecendo. Estou
desaparecendo, mas não rápido o suficiente. (tradução livre)
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SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras. 2003
3
SONTAG, Susan. A Doença Como Metáfora. Rio de Janeiro: Edições GRAAL, 1984.
4
ANTIALEPH, Aleph. Feitiço de soma. Cotia, São Paulo: URUTAU, 2020.
1
DESCRIÇÃO
“When I put my hands on your body on your flesh I feel the history of that
body. Not just the beginning of its forming in that distant lake but all the way
beyond its ending. I feel the warmth and texture and simultaneously I see the
flesh unwrap from the layers of fat and disappear. I see the fat disappear
from the muscle. I see the muscle disappearing from around the organs and
detaching iself from the bones. I see the organs gradually fade into
transparency leaving a gleaming skeleton gleaming like ivory that slowly
resolves until it becomes dust.5
5
“Quando coloco minhas mãos em seu corpo em sua carne sinto a história daquele corpo. Não apenas o início
de sua formação naquele lago distante, mas todo o caminho além de seu final. Sinto o calor e a textura e
simultaneamente vejo a carne desembrulhar-se das camadas de gordura e desaparecer. Vejo a gordura
desaparecer do músculo. Vejo o músculo desaparecer ao redor dos órgãos e se desprender dos ossos. Eu vejo
os órgãos gradualmente se tornarem transparentes, deixando um esqueleto reluzente brilhante como marfim
que lentamente se dissolve até se tornar pó ". (tradução livre)
2
Precisei queimar quase todos seus pertences cotidianos como uma forma de
esterilização. Revirei por algumas horas uma pilha em chamas, formada por suas colchas,
toalhas, utensílios de cozinha e outros objetos. Os escondidos, fora do contato do dia a dia,
foram por mim ensacados e vieram comigo. Nessa pilha, álbuns de fotos (batizado,
aniversários, formaturas e passeios), algumas peças de roupa, brincos (que ela quase
nunca usava).
Naquele momento habitavam em mim várias sensações estranhas, que se
misturavam com aqueles objetos. Num momento revirando esses guardados, li uma carta
do meu pai cooptada por minha mãe e removi uma frase: "Lucimar, cuide da Luziana a
nossa maneira. Não deixe nunca que ela se transforme na Fatinha, a não ser por um
coração maior que o corpo. Vou ficando por aqui, pois não tenho condições de pensar".
Não conseguia concatenar aquele monte de recortes e cacarecos que formavam sua vida
enquanto sujeito para além de mãe. Povoada de seus próprios segredos embolorados nos
outros alheios que nos moldam. A partir daí comecei a profanat sua sacralidade
imutável, como se fosse possível rearranjar o lugar dessas lembranças. Para fazer do
agora não uma outra situação milagrosa, mas um cotidiano comum. Isso seguiu até o
momento em que comecei a criar meus próprios brinquedos, como uma busca de
habitar a ruína que é o desejo de ser o outro.
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BRUTUS / NARCISSUS 1 e 2
Derreter um minério e fazer dele uma forma acabou moldando parte de nossas
interações enquanto sociedade, desde as moedas, as armas, as grades ou os utensílios
que hoje consideramos banais pela larga escala do plástico. Essa extração, que hoje
machuca e consome montanhas, é de certa maneira reciclável, mas o que isso quer dizer
no mundo da exaustão?
Resolvi então criar um pião que discutisse todas as brutalidades que sentia
passar, e por vezes esbarrava num erotido, e interessado pelas formas prontas, decidi
crescer a escala de um pião até o insustentável doloroso. Daqueles que demandam ajuda.
Um socorro, talvez uma ação sadomasoquista. E, assim me meti com fundições, observei
os processos, suas manipulações mágico cuidadosas com o ferro em liga derretido e me
propus a fazer um pião que se deteriorasse com o processo de enferrujamento. Que
em certo momento fosse possível vê-lo por dentro (oco), em aspereza quase natural,
moldada no interno e escuro, furada pela mesma natureza que o quer de volta. No solo, no
toque.
Logo em seguida, em companhia e desintegração, substituí o ferro fundido do
primeiro pião por alumínio e fiz Narcissus, que foi polido espelhado. Nele consegui me
refletir, deturpado por nossas formas. Suas feituras me demandaram negociações
imprevistas, de ousadia desejante, desde sua feitura, passando pelo momento em que polia
a superfície fosca de alumínio. Desgastava pouco a pouco suas camadas e comecei a me
perguntar quais as possibilidades possíveis na construção de um espelho para o desejo
desviante e suas supostas aberrações. De onde e como construímos essas imagens? Por
não saber, propus vivenciar a distorção. Gosto de como o outro impregna superfícies.
4
Após convivências e faltas (devido ao envio dos piões para exposições) resolvi
"refazer" Brutus, agora numa versão que chamei cenográfica. Ele era uma cópia feita de
isopor e EVA quase similar, resgatada por fotos e memória de nossos corpos em interação
(medi o tamanho através da minha memória corporal, do tamanho do abraço que eu
dava em Brutus).
Essa possibilidade mais lúdica, manuseável Nesse aparente trajeto peregrino, esses
instantes foram me direcionando à construção d'A última gota, que é o primeiro pião inflável
dessa produção. Nesse momento já conseguia conversar sobre esses momentos que
partilhei anteriormente sem o peso e incômodo sentidos. Vários outros objetos apareceram
nessa época, eles se acessoravam enquanto me faziam companhia. Falarei um pouco
desses processos enquanto falo d'A última gota.
Recentemente reencontrei Brutus, que está em Ribeirão Preto para a 30º Mostra de
Arte da Juventude do SESC. Acostumei a conviver com seu quase gêmeo, que é um
pouco maior e mais divertido.
A última gota (2022), 2,50m x,1,50m, lona vermelha e motor de ventilação, Rua São João - Juiz de Fora - MG
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A ÚLTIMA GOTA
A última gota de plástico vermelho, um gota inflável que poderia ser de sangue,
mede 2,5 metros quando infla. Quando esvaziada o pião cabe em uma mochila e pode ser
facilmente transportado. Desde então, consegui acioná-lo em diferentes pontos urbanos de
Minas Gerais e do Rio de Janeiro. As esculturas começam a se tornar mais transitórias,
momentâneas.
O projeto dessa gota vermelha viaja comigo para São Paulo, e oferece medida e
corpo para a confecção de The Ghost. Gosto de conviver com o barulho de seu motor,
como se pudesse ouvir o som invisível desse ar rodopiando em sua membrana de pano.
THE GHOST
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Após pesquisa bibliográfica, material e cinematográfica, haverá necessidade possível dos
seguintes equipamentos, descritos de maneira generalizada:
Equipamentos fotográficos
Equipamentos de captação de áudio
Iluminação
Lixadeiras com lixas de diferentes espessuras
Assistência em locomoções (feitas de carro)
Equipamento de costura e para o tingimento do tecido
Corpo do autor, que irá executar o polimento e recolher seus resíduos em performances
mantidas em arquivo multimídia
Equipe eventual de processamento de mídias e seu tratamento
CRONOGRAMA
Mês 1
Mês 2
7
5 Primeira experimentação do polimento num espaço urbano ( arredores da
Residência FAAP).
6 Efetivação das performances ( programada para ocorrer pelo menos uma vez por
semana) e organização (catalogação do vídeo, anotação das sensações e
programação dos locais futuros, que podem entrar em diálogo com possíveis
espaços artísticos)
Mês 3
7 Outra lixação em atêlie (já compreendendo a energia necessária para que o pião
perfure e gaste)
+infos
Bibliografia
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https://livroerrante.blogspot.com/2013/11/parrrede-manoel-de-barros.html. Acesso em
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8
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https://esquizotrans.wordpress.com/2012/08/27/a-errancia-e-os-incomensuraveis-efeminism
os-sobre-a-erogenese-esquizotrans-fala-de-hilan-bensusan-no-tiresias-de-natal-amanha/.
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POD CAST
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Tg-6EWFw&dl_branch=1&nd=1. Acesso em 22/set/2021.
FILMOGRAFIA
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https://www.youtube.com/watch?v=Z7phI2w34Z8. Acesso em 07/mar/2019.
NICHT der Homosexuelle ist pervers, sondern die Situation, in der er lebt. Direção de
Rosa von Praunheim. Produção de Werner Kließ. Alemanha: Bavaria Atelier, 1971. 1 DVD,
67 minutos.
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