Você está na página 1de 17

ARTIGO

MODELO BIOECOLÓGICO DO DESENVOLVIMENTO


HUMANO NA INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL COM
ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI

BIOECOLOGICAL MODEL OF HUMAN DEVELOPMENT IN PSYCHOSOCIAL


INTERVENTION WITH ADOLESCENTS IN CONFLICT WITH THE LAW

RESUMO: Em relação ao trabalho com adoles- ABSTRACT: Regarding working with adolescents MARIANE COMELLI
centes em conflito com a lei no Brasil, têm-se as in conflict with the law in Brazil, the Socio Edu- DOS SANTOS
medidas socioeducativas como estratégias para cational System is a strategy for their account- Psicóloga, Prefeitura
a sua responsabilização e proteção social. Por se ability and social protection. As also constitute Municipal de Florianópolis,
constituírem como um campo de atuação para as a workfield for psychologists, this study aims SC, Brasil.
psicólogos, o presente estudo objetivou articular to articulate concepts and theoretical elements
conceitos e elementos teóricos do Modelo Bio- of Bioecological Model Human Development
ELISANGELA BÖING
ecológico do Desenvolvimento Humano (MBDH) (BMHD) to the psychologist and his team inter-
às demandas de intervenção do psicólogo e sua ventions demands at the Social Protection Ser- Universidade Federal
equipe no Serviço de Proteção Social a Adoles- vice to Adolescents attended in the SocioEduca- de Santa Catarina,
Florianópolis, SC, Brasil.
centes em Cumprimento de Medida Socioeduca- tional System (Assisted Freedom and Provision
tiva de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação of Services to the Community), aiming at the
de Serviços à Comunidade (PSC), visando ao development of theoretical-practical reflections
desenvolvimento de reflexões teórico-práticas that contribute to the assistance. This is a quali-
que contribuam com a assistência. Trata-se de tative research, using the documentary method
uma pesquisa qualitativa, utilizando o método do- and a theoretical and practical articulation based
cumental e articulação teórico-prática, baseada on BMHD. The results show that the BMHD con-
no MBDH. Os resultados apontam que o MBDH tributes in understanding the development of
contribui com a compreensão do desenvolvimen- adolescents in conflict with the law, as well as
to dos adolescentes em conflito com a lei, bem reflection on professional practices, in particular
como na reflexão sobre as práticas profissionais, the psychologist in the context of Socio Educa-
em especial, do psicólogo, no contexto das medi- tional System in an open environment.
das socioeducativas em meio aberto.
KEYWORDS: human development; adolescence;
PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento humano; socioeducational measures.
adolescência; medidas socioeducativas.

INTRODUÇÃO

A temática do adolescente em conflito com a lei tem ganhado destaque com


as crescentes discussões acerca da redução da maioridade penal no Brasil. Desse
modo, reflexões sobre o assunto têm se mostrado pertinentes não apenas para
fundamentar posicionamentos, mas, principalmente, para embasar políticas pú-
blicas destinadas a esses adolescentes e suas famílias.
O estigma que envolve o adolescente em conflito com a lei pode, muitas ve-
zes, dificultar a percepção deste como um ser humano em desenvolvimento e Recebido em: 19/03/2018
sujeito de direitos. Assim, reconhecer no autor de ato infracional um cidadão pa- Aprovado em: 05/06/2018

http://dx.doi.org/10.21452/2594-43632018v27n61a06
rece ser, para muitos, algo impróprio um acompanhamento, por um perío-
2 NPS 61 | Agosto 2018
e sem sentido (Volpi, 2010). Contudo, do mínimo de seis meses, por pessoa
existem políticas públicas destinadas ou equipe capacitada, de modo a pro-
a essa temática que tentam congregar mover a inclusão social do adolescente
os interesses da segurança pública e a e sua família.
defesa e garantia dos direitos desses Assim, os Serviços de Proteção So-
adolescentes. cial a Adolescentes em Cumprimento
No que se refere ao tema do adoles- de Medidas Socioeducativas de LA
cente em conflito com a lei, as políti- e PSC, regulamentados pelo SINA-
cas públicas destinadas a esse fim são SE, como parte do SGD, são serviços
pautadas no Estatuto da Criança e do oferecidos a partir de uma complexa
Adolescente (ECA) e no Sistema Na- articulação entre o Sistema de Justiça,
cional de Atendimento Socioeducativo o Sistema Único de Assistência So-
(SINASE), sendo este último um sub- cial (SUAS), o Sistema Único de Saú-
sistema dentro do Sistema de Garantia de (SUS), o Sistema de Educação e o
de Direitos (SGD). A lei do SINASE Sistema de Segurança Pública (CFP,
(Lei Nº 12.594/2012) e o ECA (Lei nº 2012). Essa política também se cons-
8069/1990) reconhecem o adolescente titui como um campo de atuação para
como uma pessoa em desenvolvimen- profissionais da área da Psicologia.
to, sujeito de direitos e destinatário de Foi pensando na intervenção dos
proteção integral. Ao mesmo tempo, psicólogos no referido Serviço, especi-
também é considerado como alguém ficamente em sua atuação no Sistema
que possui responsabilidades frente à Único de Assistência Social (SUAS),
situação de prática de ato infracional. que o presente estudo foi idealizado.
Como forma de responsabilizá-lo O trabalho do psicólogo nas medidas
pelo ato e, ao mesmo tempo, oferecer- socioeducativas contribui para auxi-
-lhe proteção e garantia de direitos, são liar no processo de reflexão do ado-
aplicadas as medidas socioeducativas. lescente e sua família no que se refere
Essas são um conjunto de ações que à situação de ato infracional, sempre
deve oportunizar educação formal, partindo de suas experiências e refe-
profissionalização, saúde, lazer, socia- renciais, seus objetivos de vida e seus
lização e demais direitos aos adoles- projetos de futuro. Também se baseia
centes que cometeram ato infracional. em uma compreensão contextualiza-
São, portanto, uma condição especial da do ato infracional, considerando
de acesso a todos os direitos sociais, questões sociais, culturais e econômi-
políticos e civis (Volpi, 2010). O ECA cas, bem como os vínculos familiares
(Lei nº 8069/1990) descreve seis me- e comunitários (CFP, 2016). Para isso,
didas socioeducativas: Advertência, é importante que o profissional seja
Obrigação de Reparar o Dano, Presta- capaz de compreender o que signifi-
ção de Serviços à Comunidade (PSC), ca ser sujeito em desenvolvimento em
Liberdade Assistida (LA), Semiliber- uma determinada realidade e como se
dade e Internação. O presente estudo dá esse desenvolvimento em um dado
abordará trabalho com as medidas de contexto familiar, social e histórico,
PSC e LA, que são chamadas medidas possibilitando intervenções profissio-
em meio aberto. Segundo a referida nais mais abrangentes.
lei, a PSC consiste na realização de ta- Na Psicologia, há muitas teorias so-
refas gratuitas junto a instituições de bre o desenvolvimento e todas trazem
interesse público. Já a LA consiste em contribuições importantes para a com-

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


preensão do fenômeno. Contudo, ten- por Bronfenbrenner e a política de As- Modelo bioecológico do
do em vista o caráter psicossocial do sistência Social justifica a articulação desenvolvimento humano 3
na intervenção psicossocial
trabalho dos psicólogos nos Serviços proposta entre o Modelo Bioecológico com adolescentes em conflito
com a lei
de Medidas Socioeducativas em meio do Desenvolvimento Humano e a prá- Mariane Comelli dos Santos
aberto, o Modelo Bioecológico do De- tica profissional na área das medidas Elisangela Böing

senvolvimento Humano, de Urie Bron- socioeducativas. Dessa forma, espera-


fenbrenner (Bronfenbrenner, 2011), -se contribuir com o aperfeiçoamento
traz uma contribuição especial por ofe- do trabalho dos profissionais que atu-
recer um aporte teórico e metodológi- am nessa área, bem como honrar o de-
co para a compreensão do desenvolvi- sejo do autor de que seus estudos ser-
mento como um processo complexo. vissem como base para o planejamento
Bronfenbrenner situa o desenvol- e execução de políticas públicas.
vimento humano no contexto, não É importante ressaltar que o pre-
apenas familiar, mas também histó- sente estudo não pretende fazer uma
rico e social, criticando os métodos revisão completa da teoria de Bron-
“artificiais” utilizados até então para fenbrenner, tendo em vista que outros
o estudo do desenvolvimento (Bron- estudos já se propuseram a este fim
fenbrenner, 1996). Também é notória (Benetti, Vieira, Crepaldi & Schneider,
a ênfase demonstrada pelo autor na 2013; Cecconello & Koller, 2003). O
articulação entre teoria e prática, fato que se pretende, por meio desse tra-
que reforça a importância de suas con- balho, é discutir alguns aspectos da
tribuições para a reflexão sobre a prá- teoria que possam ser aplicáveis ao
tica psicológica no contexto das medi- trabalho do psicólogo com as medidas
das socioeducativas. socioeducativas em meio aberto.
Por fim, dentre as contribuições de Diante disso, o presente estudo ob-
Bronfenbrenner, destaca-se a constan- jetivou articular conceitos e elementos
te preocupação do autor com a arti- teóricos do Modelo Bioecológico do
culação entre a ciência e as políticas Desenvolvimento Humano às deman-
públicas. Para ele, aqueles que plane- das de intervenção do psicólogo e sua
jam as políticas precisam utilizar-se da equipe no Serviço de Proteção Social
ciência e vice-versa. E, nesse sentido, o a Adolescentes em Cumprimento de
autor revisou e aprimorou constante- Medida Socioeducativa de Liberdade
mente a sua teoria visando à sua apli- Assistida (LA) e de Prestação de Servi-
cação para melhorar a qualidade de ços à Comunidade (PSC), visando ao
vida dos seres humanos, reconhecen- desenvolvimento de reflexões teórico-
do nas políticas públicas poderosos -práticas que contribuam com a assis-
instrumentos para esse fim (Bronfen- tência. Para tanto, foi realizada uma
brenner, 2011). caracterização da proposta de inter-
Desse modo, o presente estudo se venção do serviço em questão com os
justifica pela necessidade de buscar adolescentes e suas famílias, identifi-
embasamentos teóricos apropriados cando os desafios da prática profissio-
para a compreensão do processo de nal do psicólogo nesse serviço. Além
desenvolvimento de adolescentes em disso, foram identificados aspectos
conflito com a lei, de modo a aprimo- do Modelo Bioecológico do Desenvol-
rar as possibilidades de atuação dos vimento que se aplicam à compreen-
psicólogos nessa política pública. A são do desenvolvimento dos adoles-
convergência entre as ideias sobre o centes autores de ato infracional e à
desenvolvimento humano concebidas intervenção profissional nesse serviço.

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA junto a entidades assistenciais, hospi-
4 NPS 61 | Agosto 2018
tais, escolas e outros estabelecimentos,
ECA, SINASE e Serviço de Proteção bem como em programas comunitá-
Social Especial ao Adolescente rios ou governamentais. No que se re-
em Cumprimento de Medida fere à medida de Liberdade Assistida,
Socioeducativa de LA e PSC o objetivo é prestar um acompanha-
mento psicossocial ao adolescente e
O Estatuto da Criança e do Ado- sua família, fornecendo-lhes orienta-
lescente, Lei nº 8.069, de 1990, dispõe ção e inserindo-os, se necessário, em
sobre a proteção integral à criança e ao programa oficial ou comunitário de
adolescente. Em seu Título III, trata da auxílio e assistência social, bem como
prática de ato infracional, considerado supervisionar a frequência e o aprovei-
como conduta descrita como crime ou tamento escolar do adolescente, pro-
contravenção penal. Também deter- mover a profissionalização do mesmo
mina que os indivíduos menores de e sua inserção no mercado de trabalho
18 anos são considerados penalmente (Lei nº 8069/1990).
inimputáveis, estando sujeitos à apli- Já a Lei nº 12.594, de 2012, institui
cação de medidas socioeducativas em o Sistema Nacional de Atendimento
situações de prática de ato infracional. Socioeducativo (SINASE), que regula-
As medidas socioeducativas existen- menta a execução dessas medidas so-
tes são: I - advertência; II - obrigação cioeducativas. Apresenta um conjunto
de reparar o dano; III - prestação de de princípios, regras e critérios que
serviços à comunidade; IV - liberdade envolvem a execução de medidas so-
assistida; V - inserção em regime de cioeducativas, incluindo-se nele os sis-
semiliberdade; VI - internação em esta- temas estaduais, distrital e municipais,
belecimento educacional; VII – medi- bem como todos os planos, políticas e
das de proteção – descritas no art. 101. programas específicos de atendimen-
De acordo com a Resolução no to ao adolescente em conflito com a
119/2006, o adolescente deve ser alvo lei. Nesse documento, são elencados
de um conjunto de ações socioeduca- os principais objetivos das medidas
tivas que colaborem com a sua forma- socioeducativas: I - a responsabiliza-
ção cidadã, auxiliando-o a se relacio- ção do adolescente no que se refere ao
nar melhor consigo mesmo e com os ato infracional, sempre que possível
outros e a se afastar da prática de atos incentivando a sua reparação; II - a
infracionais. A medida socioeducativa integração social do adolescente e a
deve auxiliar no desenvolvimento de garantia de seus direitos individuais e
capacidades decisórias relacionadas sociais; e III - a desaprovação da con-
ao interesse próprio e ao bem comum, duta infracional (Lei no. 12594/2012).
potencializando competências pesso- Tendo em vista essas regulamen-
ais, relacionais, cognitivas e produtivas tações, o Serviço de Proteção Social
(Resolução no 119/2006). a Adolescentes em Cumprimento de
O presente estudo trará um enfo- Medidas Socioeducativas de LA e PSC
que nas medidas III e IV, que são as situa-se no Centro de Referência Espe-
medidas em meio aberto. De acordo cializado de Assistência Social (CRE-
com o ECA, a Prestação de Serviços à AS), e é entendido como um Serviço
Comunidade consiste na realização de de Proteção Social Especial de Média
tarefas gratuitas de interesse geral, por Complexidade dentro da política do
período não excedente a seis meses, Sistema Único de Assistência Social

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


(SUAS). Essa classificação se deve pelo Para o bom andamento da medida Modelo bioecológico do
fato de o referido Serviço atender a si- socioeducativa e para o desenvolvi- desenvolvimento humano 5
na intervenção psicossocial
tuações de risco pessoal ou social por mento de documentos consistentes e com adolescentes em conflito
com a lei
ameaça ou violação de direitos, mas elucidativos é necessário que o profis- Mariane Comelli dos Santos
sem rompimento de vínculos familia- sional construa uma visão completa Elisangela Böing

res e comunitários, demandando ações sobre cada caso, abordando a maior


especializadas. Esse serviço apresenta quantidade possível de aspectos que
os seguintes objetivos: realizar acompa- cercam a vida de cada adolescente (fa-
nhamento psicossocial dos adolescen- mília, escola, trabalho, amigos, comu-
tes que praticaram ato infracional; criar nidade, relação consigo mesmo, espi-
condições para a construção/recons- ritualidade etc.). Diante desse desafio,
trução de projetos de vida que visem acredita-se que o Modelo Bioecológico
à ruptura com os atos infracionais; es- do Desenvolvimento Humano pode
tabelecer contratos com o adolescente auxiliar o psicólogo e demais colegas
que regularão o processo de execução de equipe na construção desse panora-
da Medida Socioeducativa; auxiliar no ma, bem como fundamentar interven-
desenvolvimento da autoconfiança e ções psicossociais condizentes com os
da autonomia; possibilitar acessos e objetivos das medidas socioeducativas.
oportunidades para a ampliação do
universo informacional e cultural, bem
Concepção de Desenvolvimento
como a descoberta e desenvolvimento
Humano e Adolescência para
de habilidades; fortalecer a convivência
Bronfenbrenner
familiar e comunitária (CNAS, 2014).
Diante disso, tem-se o psicólogo Para Bronfenbrenner (2011), o de-
como um dos componentes da equi- senvolvimento deve ser entendido
pe técnica que acompanha os adoles- como um
centes, juntamente com a figura do
assistente social e, em alguns casos, Fenômeno de continuidade e de
do advogado. O trabalho do psicó- mudança das características biopsi-
logo envolve, portanto, a abordagem cológicas dos seres humanos como
individual do adolescente quanto ao indivíduos e grupos. Esse fenôme-
exercício de seus direitos e responsa- no se estende ao longo do ciclo de
bilidades, bem como na elaboração e vida humano por meio das suces-
execução de ações coletivas que pro- sivas gerações e ao longo do tem-
movam transformação das instituições po histórico, tanto passado, quanto
e mentalidades em relação ao estereó- presente (p. 43).
tipo do adolescente em conflito com a
lei (CFP, 2012). O caráter contínuo de reorganização
Outra função importante da equipe do sujeito ao longo do seu desenvol-
técnica nesse serviço é a elaboração de vimento ocorre em diferentes níveis,
documentos (relatórios e planos indi- incluindo ações, percepções, ativida-
viduais de atendimento) sobre a situa- des e interações da pessoa com seus
ção psicossocial do adolescente e sua contextos. Assim, o desenvolvimento é
família e sobre o andamento da medi- estimulado ou inibido de acordo com
da socioeducativa. Esses documentos o grau de interação do sujeito com as
subsidiarão as decisões jurídicas refe- pessoas, bem como pela sua partici-
rentes aos processos judiciais de cada pação e engajamento em diferentes
adolescente (CFP, 2012). contextos. Ou seja, o desenvolvimento

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


depende, prioritariamente, do equilí- bilidades de mudança e a corresponsa-
6 NPS 61 | Agosto 2018
brio entre o indivíduo e seus contextos bilização dos microssistemas em que
ambientais, que podem promover ou o adolescente está inserido devem ser
limitar mudanças (Sifuentes, Dessen, consideradas no momento de julga-
& Oliveira, 2007). mento de um ato infracional praticado
Considerando, especificamente, o por um adolescente. E essas possibi-
desenvolvimento humano no período lidades podem ser concretizadas por
da adolescência, o modelo proposto e meio das medidas socioeducativas.
a concepção de desenvolvimento que
o embasa, auxilia na investigação de
como se dá essa influência recíproca O Modelo PPCT – Pessoa, Processo,
entre o adolescente e o seu contexto. O Contexto e Tempo
sujeito que vive a fase da adolescência é A partir da compreensão do desen-
compreendido como um ser de carac- volvimento humano como um proces-
terísticas próprias (individuais, psico- so complexo e que acontece ao longo
lógicas e biológicas) e com uma forma de todo o ciclo de vida, Bronfenbren-
peculiar de lidar com suas vivências. É ner destaca, em sua Teoria Bioecológi-
entendido como um sujeito ativo que é ca, que as diferentes formas de intera-
produto e, ao mesmo tempo, produtor ção das pessoas não se devem apenas
do seu desenvolvimento. Estes conhe- ao contexto em que se desenvolveram,
cimentos contribuem para a superação mas também ao processo, que é defini-
da visão da adolescência como um pe- do como a relação entre o ambiente e
ríodo turbulento e instável, de modo as características da pessoa em desen-
a consolidar uma concepção mais po- volvimento. Assim, o Modelo Bioeco-
sitiva do desenvolvimento do adoles- lógico propõe que o desenvolvimento
cente (Senna & Dessen, 2012). humano seja compreendido pela inte-
Na adolescência, considera-se que a ração entre quatro núcleos: o processo,
família ainda é o microssistema prin- a pessoa, o contexto e o tempo (Cecco-
cipal do sujeito. Contudo, o funciona- nello & Koller, 2003).
mento desse microssistema sofre in- Essas quatro dimensões não devem
fluências de outros contextos em que ser entendidas como categorias pré-
os familiares participam. Na medida -definidas, mas como uma forma de
em que o adolescente passa a partici- delimitar focos de compreensão do
par de outros microssistemas e a am- processo de desenvolvimento. No caso
pliar sua rede social, há a formação das pesquisas em desenvolvimento
de novas relações e influências entre a humano, o modelo PPCT serve como
família, o adolescente e os demais con- direções e sentidos para onde o pes-
textos (Senna & Dessen, 2012). quisador deve lançar o “olhar” holísti-
A definição de desenvolvimento co e sistêmico, procurando estabelecer
proposta por Bronfenbrenner vai ao interações significativas com os indi-
encontro da concepção de adolescente víduos que integram os ambientes a
enquanto sujeito em desenvolvimento serem estudados (Silveira, Garcia, Pie-
apresentada pelo ECA, que fundamen- tro, & Yunes, 2009).
ta a concepção de medidas socioedu- O processo refere-se à interação re-
cativas. Ou seja, sendo a mudança e a cíproca progressivamente mais com-
influência mútua entre sujeito e am- plexa entre um ser em desenvolvi-
biente condições inerentes ao processo mento e as pessoas, objetos e símbolos
de desenvolvimento humano, as possi- presentes no ambiente ao seu redor.

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


São também chamados de processos Crepaldi, & Schneider, 2013). Esses Modelo bioecológico do
proximais, que, segundo Bronfenbren- eventos ou condições são considera- desenvolvimento humano 7
na intervenção psicossocial
ner (2011), são a força motriz para o dos sistemas que são classificados por com adolescentes em conflito
com a lei
desenvolvimento. Podem gerar dois Bronfenbrenner (1996) como: micros- Mariane Comelli dos Santos
tipos de efeitos: competência - desen- sistema, mesossistema, exossistema Elisangela Böing

volvimento de conhecimentos, habi- e macrossistema. De acordo com o


lidades e capacidade de conduzir os autor, esses sistemas são organizados
próprios comportamentos; ou disfun- como estruturas concêntricas que
ção - dificuldade em manter o contro- compõem o meio ambiente ecológico.
le e a integração do comportamento O microssistema se refere aos am-
(Morais & Koller, 2005). bientes que a pessoa em desenvolvi-
No que se refere aos atributos de mento frequenta e às relações que ela
pessoa, tem-se as características de- estabelece face a face (Bronfenbrenner,
terminadas biopsicologicamente e 1996). No caso dos adolescentes em
aquelas construídas na interação da cumprimento de medida socioeducati-
pessoa com o ambiente. As caracterís- va, os microssistemas dos quais o ado-
ticas da pessoa são entendidas, simul- lescente faz parte podem incluir a fa-
taneamente, como produtoras e como mília, o grupo de amigos, o serviço de
produtos do desenvolvimento e são proteção pelo qual ele é atendido etc.
divididas em três núcleos básicos: as Já o mesossistema é o conjunto de
características de disposição, os recur- microssistemas que a pessoa possui
sos biopsicológicos e as de demanda. e as inter-relações constituídas entre
As características de disposição são eles (Bronfenbrenner, 1996). A relação
aquelas capazes de promover o de- estabelecida entre a família do adoles-
senvolvimento ou retardá-lo, como a cente e o serviço de proteção podem
curiosidade, responsividade, impulsi- fazer parte do mesossistema do ado-
vidade etc. Os recursos biopsicológi- lescente, bem como a relação entre a
cos envolvem deficiências ou atributos escola em que ele estuda e o serviço de
psicológicos, como defeitos genéticos saúde pelo qual é atendido.
ou capacidades e habilidades. Por fim, No exossistema, encontram-se os
temos as características de deman- ambientes em que a pessoa em desen-
da, que se referem a atributos, inatos volvimento não participa diretamente,
ou não, que são capazes de estimular mas que acarretam influências indi-
ou desencorajar reações do ambiente retas em sua vida (Bronfenbrenner,
social, como as características de gê- 1996), como os Conselhos Municipais
nero, etnia, temperamento e aparên- de Direitos da Criança e do Adoles-
cia (Bronfenbrenner & Morris, 1998 cente (CMDCA), que são instâncias
como citado em Cecconello & Koller, de deliberação municipais que contro-
2003). De forma geral, as característi- lam e promovem ações para o bem-es-
cas de pessoa são atributos que facili- tar social das crianças e adolescentes.
tam ou dificultam o estabelecimento e No caso dos CMDCAs, mesmo que o
o engajamento nas relações (nos pro- adolescente não participe diretamente
cessos proximais). desses espaços, as decisões lá tomadas
O contexto é caracterizado por e as ações executadas podem repercu-
qualquer evento ou condição fora do tir em mudanças em seu contexto.
organismo que é capaz de influen- Por fim, o macrossistema se refere
ciar ou ser influenciado pela pessoa aos padrões globais que envolvem as
em desenvolvimento (Benetti, Vieira, ideologias, crenças e valores da socieda-

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


de em que vive a pessoa em desenvolvi- dos componentes observa e aprende a
8 NPS 61 | Agosto 2018
mento (Bronfenbrenner, 1996). No caso atividade do outro, que, por sua vez, re-
dos adolescentes, o estigma do “menor conhece o interesse demonstrado pelo
infrator” e as políticas públicas volta- observador. A segunda é aquela em
das para essa temática são exemplos de que os dois participantes se unem na
componentes do macrossistema. realização de uma atividade. Por fim,
Por fim, tem-se o tempo como o a terceira refere-se a quando a relação
quarto fator influente no processo de continua a existir mesmo quando os
desenvolvimento, e é o que permite componentes da díade não se encon-
examinar a influência das mudanças tram juntos, devido ao vínculo forma-
e continuidades que ocorrem ao longo do entre eles (Bronfenbrenner, 1996).
do ciclo vital para o desenvolvimento Nas relações diádicas, e, em espe-
humano (Bronfenbrenner, 1986, como cial, nas díades de atividade conjunta,
citado em Cecconello & Koller, 2003). Bronfenbrenner (1996) identifica três
Nessa concepção, o tempo refere-se propriedades fundamentais: reciproci-
não somente à idade cronológica do dade, equilíbrio de poder e relação afe-
indivíduo, mas também ao tempo so- tiva. A reciprocidade se refere à influ-
cial e histórico (Sifuentes, Dessen, & ência mútua entre os comportamentos
Oliveira, 2007). dos componentes da díade. De acordo
Cada um dos componentes do com o autor, o feedback mútuo entre as
modelo PPCT possui uma função partes age como motivador para per-
primordial e deve ser compreendido severarem na atividade e engajarem-se
a partir da integração e das relações em padrões de interação progressiva-
funcionais com os demais. Conside- mente mais complexos.
rando-se esses quatro componentes, Já no que se refere ao equilíbrio de
o conceito de desenvolvimento se tor- poder, Bronfenbrenner (1996) aponta
na mais sistêmico e plural (Sifuentes, que as díades podem apresentar dife-
Dessen, & Oliveira, 2007). renças entre seus componentes, sen-
do que um possui mais influência do
que o outro. Contudo, isso não signi-
Relações de Afeto, Reciprocidade e
fica que esse poder de influência não
Equilíbrio de Poder
possa oscilar entre os componentes no
Bronfenbrenner (1996) define que decorrer das interações. Para o autor,
“sempre que uma pessoa em um am- a situação ideal para aprendizagem e
biente presta atenção às atividades de desenvolvimento é aquela em que o
outra pessoa, ou delas participa, existe equilíbrio de poder gradualmente se
uma relação” (p. 46). Desse modo, se- altera em favor da pessoa em desen-
gundo o autor, a presença de uma rela- volvimento, ou seja, quando esta re-
ção em ambas as direções define uma cebe uma crescente oportunidade de
díade. A díade constitui um contexto exercer controle sobre a situação.
crítico do desenvolvimento e tem fun- Por fim, no que se refere à relação
ção de bloco construtor básico do mi- afetiva, Bronfenbrenner (1996) aponta
crossistema, possibilitando a formação que, conforme os participantes da día-
de estruturas interpessoais maiores. de se envolvem nas interações, é pro-
O autor apresenta, ainda, uma dife- vável que desenvolvam sentimentos
renciação entre díade observacional, mais acentuados em relação um ao ou-
díade de atividade conjunta e díade pri- tro. Esses sentimentos podem ser re-
mária. A primeira ocorre quando um ciprocamente positivos, negativos ou

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


assimétricos. Para o autor, na medida pesquisa realizada pelo Conselho Fe- Modelo bioecológico do
em que os sentimentos entre as partes deral de Psicologia (CFP, 2012), da desenvolvimento humano 9
na intervenção psicossocial
são positivos e mútuos, maior é a pro- qual resultou a publicação “Referência com adolescentes em conflito
com a lei
babilidade de ocorrência de processos Técnica para Atuação de Psicólogas(os) Mariane Comelli dos Santos
desenvolvimentais. em Programas de Medidas Socioe- Elisangela Böing

ducativas em Meio Aberto”, apontou


cinco grandes desafios ao trabalho da
MÉTODO Psicologia nesse contexto. A pesquisa
ouviu psicólogos que atuam na área em
O presente estudo caracteriza-se diferentes localidades do país.
como uma pesquisa de abordagem O primeiro desafio apontado é a
qualitativa, utilizando o método docu- potencialidade da medida em meio
mental e articulação teórico-prática, aberto de evitar futuras medidas de
baseada no Modelo Bioecológico do privação de liberdade. Para se chegar
Desenvolvimento Humano, de Urie a este fim, são necessários o conheci-
Bronfenbrenner. mento da legislação pertinente e a atu-
Para isso, o presente estudo foi divi- ação profissional de acordo com seus
dido em duas etapas. Na primeira etapa parâmetros, além da compreensão das
do estudo, realizou-se a análise docu- características peculiares da adoles-
mental das “Referências Técnicas para cência como etapa do ciclo de vida e
a Atuação de Psicólogos em Programas da clareza do objetivo de responsabi-
de Medidas Socioeducativas em Meio lização do adolescente pelo ato infra-
Aberto”, publicadas pelo CFP (2012), cional praticado. Por fim, destaca-se
de modo a identificar os desafios do o fato de que há questões que extra-
trabalho com as medidas socioeducati- polam o alcance de resolução com o
vas. Para tanto, também se contou com adolescente e sua família, uma vez que
a descrição dos desafios encontrados envolvem outras esferas de interven-
na prática profissional de uma das au- ções, inclusive, políticas (CFP, 2012).
toras no serviço em questão. Isso significa que a eficácia da medida
Na segunda etapa, realizou-se a arti- socioeducativa não depende apenas da
culação entre alguns conceitos do Mo- equipe técnica, do adolescente e sua
delo Bioecológico do Desenvolvimento família, pois envolve também a rede
Humano com a compreensão do proces- pública de atendimento e as políticas
so de desenvolvimento dos adolescentes públicas relacionadas ao atendimento
atendidos no programa e, consequen- socioeducativo. A inter-relação entre
temente, com as práticas do psicólogo esses diversos sistemas constitui um
e sua equipe, no contexto das medidas desafio para a efetivação das medidas
socioeducativas em meio aberto. socioeducativas.
O segundo desafio registrado pela
pesquisa se refere à adoção de pa-
RESULTADOS E DISCUSSÃO râmetros nacionais do SINASE que
especifiquem esferas de atuação dos
Desafios do Trabalho nas Medidas
profissionais envolvidos, sem perder
Socioeducativas
de vista a singularidade de cada con-
Como em qualquer área de atuação texto sociodemográfico, de cada pro-
para o psicólogo, o trabalho com as fissional e de cada adolescente. Com
medidas socioeducativas impõe uma isso, garante-se que todas as práticas
série de desafios ao profissional. Uma profissionais nesse âmbito sejam pau-

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


tadas pelos pressupostos básicos da cente atendido, o foco do trabalho é a
10 NPS 61 | Agosto 2018
garantia de direitos e promoção da prática de ato infracional (CFP, 2012).
cidadania (CFP, 2012). No que se refere à prática profis-
Outro desafio identificado pela pes- sional de uma das autoras do presente
quisa do CFP (2012) é a relação estabe- estudo, é possível apontar, além dos
lecida entre a equipe técnica e a família desafios já indicados pela pesquisa do
do adolescente em cumprimento de CFP (2012), outros dois desafios im-
medida socioeducativa. O limiar entre portantes para os psicólogos.
corresponsabilização e culpabilização, Um deles é a separação entre o po-
muitas vezes, pode ser tênue. Para que der judiciário e o Serviço de Proteção
o profissional atue mais na perspectiva Social Especial ao Adolescente em
da corresponsabilização, é necessário Cumprimento de Medida Socioedu-
que compreenda a prática de ato in- cativa de LA e PSC. Embora esses se-
fracional como um fenômeno multi- jam órgãos distintos no que se refere
determinado, ou seja, perceba que a à gestão, financiamento e finalidade,
família possui sua parcela de respon- suas funções são complementares no
sabilidade frente à situação, mas não é que se refere às situações de adoles-
a “culpada” e nem o único sistema no centes em conflito com a lei. Enquanto
entorno do adolescente que deve tra- o primeiro tem a função de apuração
balhar para produzir mudanças. do ato infracional e das decisões sobre
O quarto desafio refere-se à elabora- suas consequências para o adolescente
ção de um Plano Individual de Atendi- que o praticou, o segundo executa es-
mento, que é um documento construí- sas medidas e, por meio de relatórios,
do conjuntamente entre o adolescente, subsidia as seguintes decisões judiciais
a equipe técnica e a família, e que irá referentes a esses processos. Contudo,
nortear a execução da MSE. Esse docu- para o adolescente e sua família, essa
mento deve conter informações sobre o diferenciação entre um serviço e ou-
contexto de vida do adolescente atendi- tro, geralmente, não é evidente e gera
do, bem como objetivos para o acom- desconfianças por parte dos mesmos
panhamento socioeducativo do mes- sobre quais demandas podem ser tra-
mo. O desafio apontado pela pesquisa zidas à equipe, sem que isso cause con-
se refere à construção desse documento sequências ao processo judicial. Logo,
com objetivos que sejam coerentes com cabe à equipe das medidas socioedu-
os desejos do adolescente, condizentes cativas construir um vínculo de con-
com suas possibilidades – individuais, fiança com o adolescente e sua família,
familiares e da rede de atendimento da de modo a fazê-los compreender essa
região, e possíveis dentro do tempo de- distinção e, consequentemente, deixá-
terminado para a MSE (CFP, 2012). -los mais seguros para apresentarem
Por fim, o quinto desafio relaciona- suas demandas.
-se ao tempo de cumprimento das Outro desafio encontrado na prática
MSEs. Realizar todo esse trabalho e en- é a disseminação de uma compreensão
frentar todos esses desafios dentro de mais ampliada sobre a prática de atos
um limite de tempo estabelecido pelo infracionais por adolescentes. Tendo
poder judiciário é uma tarefa necessá- em vista a necessidade de um trabalho
ria à equipe técnica. Portanto, embora articulado com outros setores, como
não se possa perder de vista a comple- saúde, educação e cultura, faz-se ne-
xidade da interação dos sistemas que cessário que o psicólogo e sua equipe
fazem parte da vida de cada adoles- trabalhem para desconstruir concep-

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


ções baseadas no senso comum sobre Em se tratando dos processos que Modelo bioecológico do
geram competências ou disfunções, desenvolvimento humano 11
o adolescente em conflito com a lei, na intervenção psicossocial
de modo a “preparar o terreno” antes é válido ressaltar que os adolescentes com adolescentes em conflito
com a lei
do planejamento de uma intervenção chegam ao serviço de medidas socio- Mariane Comelli dos Santos
articulada. Assim, antes de estabelecer educativas por uma “disfunção social”, Elisangela Böing

essa articulação com outros setores, é ou seja, por um comportamento que


necessário ter clareza sobre qual é a vi- fere as normas sociais preestabelecidas.
são daqueles profissionais envolvidos Entretanto, é fundamental que esses
sobre o adolescente a ser atendido, de adolescentes não sejam reconhecidos e
modo a evitar preconceitos e discrimi- tratados apenas a partir da “disfunção
nações que possam dificultar o alcance social” apresentada, tendo em vista que
dos objetivos da intervenção. são seres humanos complexos e em de-
senvolvimento. O estigma do “menor
infrator” visto, muitas vezes, como a
O Modelo Bioecológico do disfunção em pessoa, atrapalha o pro-
Desenvolvimento Humano e suas cesso socioeducativo na medida em
Contribuições para o Trabalho nas que incute no adolescente a descren-
Medidas Socioeducativas em Meio ça em suas competências. Com isso,
Aberto o trabalho das equipes consiste em,
partindo da compreensão das “disfun-
Retomando o modelo PPCT e, mais ções”, conseguir identificar, valorizar e
especificamente, pensando nos atribu- potencializar competências.
tos de processo, é possível pensar que Nesse sentido, em se tratando de
a medida socioeducativa pode atuar processos promotores de competên-
como promotora de processos proxi- cias, o conceito de resiliência oculta
mais no desenvolvimento dos adoles- proposto por Ungar (2001, como ci-
centes atendidos, na medida em que tado por Libório & Ungar, 2010) pode
suscita novas interações do adolescen- auxiliar no trabalho de potencializa-
te com pessoas (outros adolescentes, ção das competências dos adolescen-
orientadores de PSC, equipe técnica tes em cumprimento de medida socio-
de atendimento socioeducativo, pro- educativa. Resiliência oculta se refere
fessores, profissionais de saúde), am- aos caminhos não convencionais de
bientes (escola, trabalho, ambientes acesso à saúde (como agressividade,
de profissionalização, de lazer, de cul- envolvimento em atividades ilícitas,
tura), situações (entrevistas de empre- abandono escolar etc.) que podem se
go, processos seletivos, confecção de apresentar no desenvolvimento de jo-
documentos) etc. Com isso, espera-se vens marginalizados e que, apesar de
que essas interações progressivamente serem considerados “disfuncionais”
mais complexas auxiliem no desenvol- em nosso meio social, podem possuir
vimento de novas competências por uma função protetiva na vida desses
parte do adolescente atendido. Con- jovens. Isso não significa que a inter-
forme Silveira et al. (2009), tanto a pes- venção psicossocial ocorrerá no sen-
quisa, quanto a intervenção, a partir tido de valorizar esses caminhos não
desse modelo, tornam-se oportunida- convencionais, mas, sim, atuará para
des de interações efetivas que possuem reconhecer seu significado e sua im-
o potencial de ampliar o mundo de re- portância na vida do adolescente e, a
lações e de significados que colaborem partir disso, ser capaz de propor no-
para o desenvolvimento humano. vos caminhos.

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


Ao se refletir sobre os atributos de A partir da figura é possível pensar
12 NPS 61 | Agosto 2018
pessoa, é possível pensar as medidas intervenções do psicólogo que atua
socioeducativas como espaços para nas medidas socioeducativas em cada
a identificação e fortalecimento dos um dos níveis de análise. No micros-
atributos de pessoa de cada adoles- sistema, que são os ambientes nos
cente atendido, incentivando o au- quais as interações com o sujeito em
toconhecimento e a autoestima. A desenvolvimento acontecem direta-
reflexão sobre as características de mente (Bronfenbrenner, 1996), pode-
demanda, como idade, etnia e gêne- mos localizar a família, os amigos, a
ro e de que forma essas influenciam o comunidade, as relações estabelecidas
desenvolvimento também pode fazer a partir da religião, a polícia, a rede de
parte do trabalho do psicólogo nesse atendimento utilizada pelo adolescen-
contexto. No que se refere aos atribu- te, as instituições de PSC (para aqueles
tos do contexto e à divisão didática que cumprem essa medida), a equipe
entre o micro, meso, exo e macrossiste- técnica responsável pela execução da
mas, percebe-se que essa conceituação medida socioeducativa etc.
de Bronfenbrenner se faz muito útil Ainda no que se refere ao micros-
para pensar o trabalho com os ado- sistema, algumas intervenções pos-
lescentes nas medidas socioeducativas síveis nesse nível são: atendimento
em meio aberto. A figura a seguir foi familiar, como o intuito de mobilizar
criada para ilustrar uma possível aná- a todos para o cumprimento dos ob-
lise de contexto de um adolescente jetivos da MSE, bem como para iden-
fictício em cumprimento de medida tificar e trabalhar outras demandas
socioeducativa, baseada nos conceitos apresentadas pelo núcleo familiar;
propostos por Bronfenbrenner. contato com a escola e seus profis-

Figura 1: Análise de contexto de um adolescente fictício em cumprimento de MSE.

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


sionais, objetivando firmar parcerias com o intuito de mobilizar reorgani- Modelo bioecológico do
para o trabalho com o adolescente; zações que possam promover o seu desenvolvimento humano 13
na intervenção psicossocial
atendimento ao adolescente, auxi- desenvolvimento. com adolescentes em conflito
com a lei
liando-o na identificação dos compo- O exossistema é a associação de Mariane Comelli dos Santos
nentes do seu microssistema e na re- dois ou mais contextos relacionados Elisangela Böing

flexão sobre sua relação com cada um ao sujeito em desenvolvimento, mas


deles; identificar alguns componentes sem a sua inserção direta em um deles
mais significativos do microssistema (Bronfenbrenner, 1996). Nesse nível,
do adolescente (ex. professor, amigo, o psicólogo pode trabalhar: partici-
líder religioso ou comunitário) e mo- pando de espaços deliberativos como
bilizá-los para auxiliarem no cumpri- os Conselhos de Direitos da Criança e
mento dos objetivos da medida socio- do Adolescente, que propõem e exe-
educativa, bem como proporcionar cutam ações na área da infância e ado-
possíveis novos componentes para o lescência; contribuindo para a pro-
seu microssistema, inserindo-o em posição de melhorias na gestão dos
cursos profissionalizantes, atividades serviços públicos locais; orientando,
culturais etc. juntamente com o assistente social,
Quando o sujeito em desenvolvi- os familiares do adolescente acerca de
mento sai de um microssistema co- questões trabalhistas, de saúde, edu-
nhecido para incluir-se em um novo cacionais etc., que terão um impacto
contexto, ocorre um movimento no es- indireto na vida do mesmo.
paço ecológico. Por meio da passagem Por fim, temos o macrossistema, que
por vários microssistemas, o sujeito é um contexto de estrutura mais am-
adquire novos conhecimentos e expe- pla e é composto de todos os padrões
rimenta novos papeis e novas relações. globais do micro, meso e exossistema
Essas transições promovem o desen- (Benetti et al., 2013). As intervenções
volvimento na medida em que o sujei- do psicólogo atuante nas medidas so-
to se sente apoiado, estabelece relações cioeducativas em meio aberto podem
significativas e confere sentido às ex- incluir a militância em movimentos
periências (Poletto & Koller, 2008). sociais, a participação em espaços de-
Ao se pensar em intervenções no liberativos para a construção/melho-
mesossistema, que, segundo Bron- ria das políticas públicas e a dissemi-
fenbrenner (1996), são interações nação de ideias contra o preconceito
entre microssistemas, é possível: e a estigmatização do adolescente em
atuar na mediação da comunicação conflito com a lei. Também é possível
entre família e escola, família e rede trabalhar com o adolescente sobre os
de atendimento; comunicar-se com o aspectos envolvidos em seu macrossis-
poder judiciário, por meio de reuni- tema e como eles influenciam, direta e
ões e relatórios, de modo a fornecer indiretamente, a sua vida.
informações que possam subsidiar as É importante ressaltar que o pre-
decisões judiciais; identificar e prepa- sente estudo não pretende generalizar
rar instituições parceiras para receber essa análise contextual para todos os
os adolescentes que precisam cum- adolescentes atendidos nos programas
prir a medida socioeducativa de PSC. de medidas socioeducativas, tendo em
Nesse nível de intervenção, a atuação vista que cada adolescente, como su-
do profissional não acontece direta- jeito singular que é, terá suas especifi-
mente com o adolescente, mas com cidades. Também não é objetivo desse
componentes do seu microssistema, estudo esgotar as possibilidades de in-

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


tervenção do psicólogo nesse contexto Retomando o conceito de díade pro-
14 NPS 61 | Agosto 2018
de trabalho. O que se pretende é apon- posto por Bronfenbrenner, é possível
tar algumas possibilidades de inter- pensar, como uma característica do
venção organizadas à luz da teoria de trabalho com as medidas socioeducati-
Bronfenbrenner. vas, a formação de uma relação diádica
Ao se refletir sobre o atributo do entre o adolescente e sua equipe técni-
tempo, o profissional das medidas so- ca de referência. O objetivo da forma-
cioeducativas também trabalha com ção dessa díade é auxiliar o adolescente
este fator ao considerar o momento do em seu processo de desenvolvimen-
ciclo de vida do adolescente e de sua to. A partir da diferenciação entre as
família, e os estressores horizontais três modalidades de díade, é possível
predizíveis e impredizíveis, ou seja, conceituar o relacionamento entre o
aqueles estressores inerentes ao pro- adolescente atendido e sua equipe de
cesso de desenvolvimento, em especial referência como uma díade de ativida-
os momentos de transição desenvol- de conjunta, na medida em que ambos
vimental; e os estressores que não são identificam, pactuam e realizam ati-
esperados (como doença, morte pre- vidades com o intuito de alcançar os
coce, desemprego). Há ainda os estres- objetivos acordados durante a medida
sores verticais do ciclo de vida familiar, socioeducativa. Assim, se um dos ob-
que dizem respeito a acontecimentos, jetivos é a inserção do adolescente em
crenças, mitos, segredos familiares em curso profissionalizante, ele e a equi-
uma perspectiva intergeracional (Car- pe trabalharão juntos para realizá-lo:
ter & MacGoldrik, 2001). adolescente e equipe identificam áreas
Ainda com relação ao tempo, em de interesse do mesmo; equipe realiza
diferentes níveis de análise deste fator pesquisa, identifica e informa o ado-
propostos por Bronfenbrenner, há de lescente sobre cursos na área de inte-
se considerar o período de duração da resse; adolescente (com ou sem ajuda
medida socioeducativa e a periodici- da família) realiza matrícula no curso;
dade dos atendimentos (mesotempo), adolescente frequenta as aulas.
bem como a duração dos contatos A partir da relação diádica de ativi-
com o adolescente e sua família (mi- dade conjunta, é possível pensar sobre
crotempo). as questões de reciprocidade, equilí-
Ao ponderar todos estes aspectos brio de poder e afeto. A reciprocidade,
relacionados ao fator tempo, o pro- nesse caso, significa que a resposta do
fissional amplia a sua compreensão a adolescente influencia a resposta da
respeito do ato infracional do adoles- equipe e vice-versa, promovendo a ca-
cente em todas as suas dimensões, de pacidade de geração de novas respos-
sua família e comunidade. Além disso, tas que podem ser reproduzidas em
o profissional também pode refletir outros contextos e em outras relações.
sobre sua prática buscando identificar Por exemplo, a equipe solicita que o
em que medida o tempo de que dispõe adolescente confeccione algum do-
para as intervenções (diretas e indi- cumento pessoal e presta orientações
retas) com o adolescente é suficiente sobre como fazê-lo. O adolescente, por
para que sua relação com ele, com sua sua vez, compreende as instruções e
família e demais profissionais dos dife- realiza a atividade sozinho. Isso gera
rentes setores envolvidos se constitua confiança, na equipe e no próprio ado-
em processos proximais promotores lescente, na capacidade do mesmo de
de desenvolvimento. resolver sozinho situações práticas do

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


cotidiano. Esse sentimento de confian- te. A construção desse vínculo é capaz Modelo bioecológico do
ça o auxilia nas próximas atividades de aumentar as chances de ocorrerem desenvolvimento humano 15
na intervenção psicossocial
que precisar executar, sejam elas soli- ganhos para o seu desenvolvimento. com adolescentes em conflito
com a lei
citadas pela equipe ou uma atividade Mariane Comelli dos Santos
qualquer de sua rotina, como realizar Elisangela Böing

matrícula escolar, abrir uma conta Bronfenbrenner ajudando a pensar a


corrente no banco etc. prática do psicólogo no trabalho com
No trabalho nas medidas socioe- as medidas socioeducativas em meio
ducativas é preciso estar atento às re- aberto
lações de poder. Não se pode negar A partir da teoria estudada e dos
que há uma relação de poder entre o desafios levantados, é possível pensar
adolescente e sua equipe técnica de que, quanto mais os profissionais das
referência, uma vez que há uma deter- medidas socioeducativas forem capa-
minação judicial para que ele cumpra zes de ampliar a sua compreensão a
a medida socioeducativa e a equipe respeito do ato infracional, como um
técnica está presente para acompanhar fenômeno complexo, como uma ação
o andamento do processo socioeduca- cometida pelo adolescente na relação
tivo e também para relatá-lo às autori- com outras pessoas, em um contex-
dades judiciais. Com isso, a “balança” to, em um determinado tempo, mais
pende para o lado da equipe técnica no efetivas tenderão a ser as ações socio-
que se refere ao controle da situação educativas propostas e executadas. E
nos momentos iniciais da execução da quanto mais compreenderem que esse
medida socioeducativa. adolescente apresenta inúmeras ou-
Com o passar do tempo, se faz ne- tras características pessoais, estabelece
cessário, e vai ao encontro das ideias de inúmeras outras relações e está inseri-
Bronfenbrenner, que as intervenções do em diversos contextos ao longo da
da equipe sejam menos diretivas e mais sua história de vida, maior será a pos-
promotoras da autonomia do adoles- sibilidade de o profissional estabelecer
cente. Assim, é comum que, no início uma relação com afeto, reciprocidade
do acompanhamento, a equipe solicite e equilíbrio de poder com o adoles-
a presença de familiares nos atendi- cente. Nesta relação, o adolescente em
mentos, de modo a trabalhar temas conflito com a lei viverá a experiência
eleitos pela equipe como importantes de “ser olhado de outra forma” por
(dinâmica familiar, ato infracional etc.). profissionais que condenam, sim, o
No decorrer do processo socioeducati- ato infracional, mas nunca o desquali-
vo, é possível que o adolescente relate à ficam como pessoa, e que reconhecem
equipe assuntos importantes para ele e e confirmam os seus recursos pessoais
decida se e quando a família será cha- e relacionais saudáveis.
mada para conversar sobre isso (senti-
mentos, projetos de futuro etc.).
Por fim, considerando a dimensão CONSIDERAÇÕES FINAIS
afetiva das relações diádicas, pensan-
do-se na relação adolescente em con- As políticas públicas voltadas ao
flito com a lei e equipe técnica das adolescente em conflito com a lei no
medidas socioeducativas, se faz neces- Brasil já passaram por grandes mu-
sário que essa equipe trabalhe em favor danças e o SINASE é a concretização
da formação de um vínculo afetivo po- dessas transformações. Contudo, po-
sitivo e de confiança com o adolescen- de-se considerar que a consolidação

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


do SINASE ainda é um processo em sociais, interacionais e históricos que
16 NPS 61 | Agosto 2018
andamento. A luta contra os projetos cercam a vida de cada adolescente e a
que propõem a redução da maioridade sua relação com a equipe responsável
penal, a humanização de centros so- pelo seu atendimento. Desse modo, a
cioeducativos de internação que ainda teoria em questão pode auxiliar essas
possuem características de instituições equipes na construção de intervenções
totais, o aperfeiçoamento dos serviços que façam sentido para eles e, ao mes-
que executam as MSEs em meio aber- mo tempo, produzam respostas às de-
to e a ampliação do acesso às discus- mandas da sociedade.
sões sobre a temática do adolescente
em conflito com a lei, de modo a diluir
visões preconceituosas e moralizantes REFERÊNCIAS
sobre esses adolescentes, são alguns
exemplos de desafios a serem enfren- Bronfenbrenner, U. (1996) A ecologia
tados para a consolidação do SINASE. do desenvolvimento humano: experi-
Bronfenbrenner, com sua con- mentos naturais e planejados. Porto
cepção de desenvolvimento huma- Alegre: Artmed.
no como processo contínuo e com- Bronfenbrenner, U. (2011) Bioecologia
plexo, contribui na compreensão do do desenvolvimento humano: tor-
desenvolvimento dos adolescentes nando os seres humanos mais huma-
em conflito com a lei, bem como na nos. Porto Alegre: Artmed.
reflexão sobre as práticas profissionais, Carter, B. & McGoldrick, M. (2001). As
em especial, do psicólogo, no contexto mudanças no ciclo de vida familiar:
das medidas socioeducativas em meio uma estrutura para terapia familiar.
aberto. A preocupação constante desse Porto Alegre: Artes Médicas.
autor era de que seus estudos pudes- Cecconello, A. M. & Koller, S. H. (2003)
sem oferecer suporte para as políticas Inserção ecológica na comunidade:
públicas, que, por sua vez, deveriam uma proposta metodológica para o
promover melhorias na vida das pes- estudo de famílias em situação de
soas. Esse fato reforça a importância risco. Psicologia: Reflexão e Crítica,
do autor para a ciência do desenvolvi- 16(3), 515-524.
mento humano e, também, para a área Benetti, I. C., Vieira, M. L., Crepaldi, A.
das políticas públicas. M., & Schneider, D. R. (2013). Fun-
O SINASE, enquanto política pú- damentos da Teoria Bioecológica de
blica, tem potencial para promover Urie Bronfenbrenner. Pensando Psi-
mudanças positivas na vida dos ado- cología, 9(16), 89-99.
lescentes atendidos e suas famílias. Resolução nº 119, de 11 de dezembro de
Portanto, a utilização dos conceitos 2006. (2006). Dispõe sobre o Sistema
desenvolvidos por Bronfenbrenner Nacional de Atendimento Socioedu-
para a reflexão acerca da execução cativo e dá outras providências. Bra-
dessa política pública é uma forma de sília, DF. Recuperado de http://www.
honrar o desejo do autor e, ao mesmo direitosdacrianca.gov.br/conanda/
tempo, contribuir para a promoção resolucoes/119-resolucao-119-
de melhorias no processo de trabalho -de-11-de-dezembro-de-2006/
nesse contexto. view
O Modelo Bioecológico do De- Conselho Federal de Psicologia – CFP.
senvolvimento Humano auxilia na (2012). Referências Técnicas para
integração dos aspectos individuais, a Atuação de Psicólogas(os) em

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.


Programas de Medidas Socioedu- Morais, N. A. & Koller, S. H. (2005). Modelo bioecológico do
cativas em Meio Aberto. Recupe- Abordagem ecológica do desenvol- desenvolvimento humano 17
na intervenção psicossocial
rado de http://crepop.pol.org.br/ vimento humano, psicologia posi- com adolescentes em conflito
com a lei
novo/wp-content/uploads/2012/10/ tiva e resiliência: ênfase na saúde. Mariane Comelli dos Santos
Atua%C3%A7%C3%A3o-dasos- In S. H. Koller (Org.), Ecologia do Elisangela Böing

-Psic%C3%B3logasos-em-Progra- Desenvolvimento Humano: Pesquisa


mas-de-Medidas-Socioeducativas- e Intervenção no Brasil (pp. 91-108).
-em-Meio-Aberto.pdf São Paulo: Casa do Psicólogo.
Conselho Federal de Psicologia – CFP. Poletto, M. & Koller, S. H. (2008). Con-
(2016). Nota técnica com parâmetros textos ecológicos: promotores de
para atuação das(os) profissionais resiliência, fatores de risco e de pro-
de Psicologia no âmbito do Sistema teção. Estudos de Psicologia, 25(3),
Único de Assistência Social (SUAS). 405-416.
Recuperado de https://site.cfp.org. Senna, S. R. C. M. & Dessen, M. A.
br/wp-content/uploads/2016/12/ (2012). Contribuições das teorias
Nota-te%CC%81cnica-web.pdf do desenvolvimento humano para a
Conselho Nacional de Assistência Social concepção contemporânea da ado-
– CNAS. (2014). Tipificação nacional lescência. Psicologia: Teoria e Pes-
de serviços socioassistenciais. Brasília, quisa, 28(1), 101-108.
DF: Ministério do Desenvolvimento Sifuentes, T. R., Dessen, M. A., & Oliveira,
Social e Combate à Fome. Recupera- M. C. S. L. (2007). Desenvolvimento
do de http://www.mds.gov.br/webar- humano: desafios para a compreen-
quivos/publicacao/assistencia_so- são das trajetórias probabilísticas.
cial/Normativas/tipificacao.pdf Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23(4),
Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990. 379-386.
(1990). Dispõe sobre o Estatuto da Silveira, S. B. A., Garcia, N. M., Pietro,
Criança e do Adolescente (ECA) e A. T., & Yunes, M. A. (2009). Inserção
dá outras providências. Brasília, DF: ecológica: metodologia para pes-
Presidência da República. Recupe- quisar risco e intervir com prote-
rado de http://www.planalto.gov.br/ ção. Psicologia da Educação, 29(2),
ccivil_03/leis/L8069.htm 57-74.
Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Volpi, M. (Org.). (2010). O adolescente
(2012). Institui o Sistema Nacional e o ato infracional (8ª ed.). São Pau-
de Atendimento Socioeducativo lo: Cortez.
(SINASE), regulamenta a execução
das medidas socioeducativas des-
tinadas a adolescente que pratique
ato infracional. Brasília, DF: Pre- MARIANE COMELLI DOS SANTOS
sidência da República. Recupera- Psicóloga, Prefeitura Municipal de
do de http://www.planalto.gov.br/ Florianópolis, SC, Brasil.
ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/ E-mail: maricomelli@gmail.com
l12594.htm
Libório, R. M. C. & Ungar, M. (2010). Resi-
liência oculta: a construção social do ELISANGELA BÖING
conceito e suas implicações para prá- Universidade Federal de Santa Catari-
ticas profissionais junto a adolescen- na, Florianópolis, Brasil
tes em situação de risco. Psicologia: E-mail: elisangelaboing@gmail.com
Reflexão e Crítica, 23(3), 476-484.

Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.

Você também pode gostar