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Prefácio

Essa foi uma incumbência, não resta dúvida,


desafiadora.

Prefaciar o livro de Aroldo Coelho, Teatrólogo,


Artista Plástico, Poeta e Escritor me deixou
lisonjeada, pela sua confiança, pela sua amizade
que sempre nos uniu ao longo dos anos e pela obra
assaz significante.

Quando disse ser uma incumbência desafiadora, o


disse em razão de ser essa obra profunda na sua
essência por apresentar um ângulo filosófico. Uma
obra que diz respeito `a condição humana, a
acontecimentos vividos pelo ser humano na sua
trajetória em busca de seus sonhos. Uma obra que
fala da vida, através de uma fábula. Com estilo
próprio, o autor retrata,, nesse trabalho fabulístico,
o complexo problema do relacionamento humano,
suas interfaces diante das circunstancias,
evidenciando suas dificuldades, suas imperfeições e
suas aspirações mais elevadas. E a vida de cada um
de nós, colocada nesse diálogo, cujas personagens
são animais. Ainda no trabalho, Aroldo Coelho quer
mostrar que, no ser humano, estão presentes a
inocência, a beleza, mas também a maldade inata.

O artista plástico Iberê Camargo dizia: “Preciso de


alguma coisa que me faça crescer, que me leve
além da animalidade”. E foi dessa forma que o
autor, com personagens animais chegou aos
anseios dos humanos.

De caráter moral e intuitivo “A Borboleta e o Lobo”


é um gênero literário em prosa que contém uma
conclusão moralizadora, em que a Borboleta mostra
ao Lobo que as mudanças são necessárias para o
crescimento pessoal e espiritual..

Caro leitor, leia no autor o misto de poesia e


realidade. Ele imprimiu nas suas personagens
ensinamentos construtivos, quando a borboleta
diz:- Agora sou uma Borboleta-Amarela ou uma
Borboleta-Gema.

E o Lobo sem entender, buscou uma resposta:

_ Como agora? O que você era antes? Não foi


sempre assim?

Desde o inicio dessa fantástica Fábula, vê-se que a


Borboleta relata todo o processo que passou, desde
a condição de lagarta até chegar a sua aparência
atual.

E o Lobo, na estática, imutável consciência de que


sempre foi assim, ficou triste. São assim, caro
leitor, muitas pessoas. Nunca pensam em mudar,
em crescer pessoal e espiritualmente para
apreciarem o belo, para cearem a lua, uma imagem
romântica da vida que a Fábula quis mostrar, tão
distante e tão inacessível ao Lobo.

O autor recomenda através Borboleta:

”- Todos temos que encarar, queiramos ou não.


Tudo em algum momento, vai acabar. Mesmo não
tendo ansiado por esse dia. O último dia de existir é
uma verdade universal: - o verão acaba, a página
final de um bom livro...”

Portanto, vê-se que essa Fábula, de cunho


filosófico, apresenta, também, um ensinamento
didático, como podemos observar no diálogo com
suas personagens.

Concluindo, quero dizer que a Fábula “A Borboleta e


o Lobo” pretende despertar as virtudes e o caráter
do homem; a consciência de que tudo é mutável
nessa sociedade com tantos ensinamentos
negativos e que o homem precisa receber a Luz, a
sua Estrela que será sempre seu guia.

Mena Azevedo
A BORBOLETA E O LOBO

Montanhas azuis celeste e por-do-sol

A TARDE E A NOITE

Era um fim de tarde, o sol bocejou inquieto, após


um longo dia de labuta, vivificar e dourar toda a
terra. Preguiçosamente buscou seu leito por detrás
das montanhas azuis celestes. Ansiando pelo
descanso, ainda percebeu o vento morno que vinha
valsando por entre as flores, bolinando os botões
das rosas, esvoaçando as pétalas, entoando
cantigas. No seu último raio nos convida a ver o
espetáculo. O sol se fez poente e adormeceu.
Veu negro da noitetons de cinza a preto
Forma de vesto estrela
E caiu a noite...
Sorrateiramente a noite chegou, envolvendo tudo
com seu negro véu. Os pássaros cessaram os
gorjeios e ocuparam seus ninhos. No manto da noite
as estrelas ensaiavam o luzir e tudo aquietou.
Coruja no tronco de ipê
Uma coruja, desnorteada pousou num tronco de
um velho ipê e começou o seu chirriar. No capinzal,
pirilampos plagiavam as estrelas. Um ser estranho
adentra fazendo com que os pirilampos
debandassem e a coruja aquietasse os pios. Era um
Lobo cinzento, farejando, explorando em busca de
uma presa qualquer. A caçada sem êxito,
praguejando, ele escalou o cume da colina além do
bosque e numa relva deitou-se.
A LUA E O LOBO
A LUA E O LOBO

A lua ainda estava alaranjada quando timidamente


despontou no horizonte. Faceira, com mestria
apossou do seu trono. Noite de lua cheia, e sob a luz
da deusa: _ É romance, é poesia e é mistério.
No ápice da sua performance, seu alaranjado
descora e seu brilho é um amarelo pálido e intenso
que, prateia todo o bosque.
O lobo na sua madorna, não percebia a grandeza
do cenário que ali projetava, até que os raios da lua
alcançaram os seus olhos avermelhados que se
abrem para um súbito delírio. Ergue-se e uiva para a
deusa da noite. Admirado, ele pergunta: “_ Quem é
você?” A lua com graça responde: _ “Eu sou a lua!”
E o Lobo continua: “Sua luz é tão linda, porém, me
deixa quase cego”. Ela justifica: _ nem sempre é
assim. Depende da fase em que estou que, são
quatro: nova, crescente, minguante e a que estou
que é a cheia.
A conversa estava mais íntima e ele confidenciou:
“_ Eu sou o que você esta vendo. Um canídeo, um
Lobo Cinzento, solitário, devido a minha aparência.”
A lua compadece: ”_ Não fique triste! Somos o que
somos e mudar só depende de si mesmo. Afinal,
tem-me agora. Estarei aqui para ouvir seu?...” O
Lobo, acanhado completa: “_... Uivo!”nuvem negra
esconde a lua
Naquele instante, uma nuvem densa e negra
cobre o brilho da Lua, deixando apenas alguns raios
escapar. O Lobo sem entender se desespera e sai
eufórico correndo pelo capinzal, murmurando: “_
Para onde foi? O que fiz para se esconder, assim?
Minha aparência bestial é a causa. Só pode ser!”
Diante da decepção, parou junto ao logo e se
refrescou. Como toda nuvem é passageira, aquela
também se foi abrindo as cortinas para a lua que
refletia nas águas mansas do lago. O Lobo
percebendo-a é tomado pela emoção, murmura: ”_
Você voltou? Esta mais perto agora!” A Lua é
apenas reflexo num espelho d’água. Sem entender,
ele se atirou no lago fazendo com que a água
desfigurasse a imagem da lua. Ele uiva com
desespero: ”_Que fiz agora? Sou um desastre!”.
Tremendo de frio e dor foi refugiar numa caverna.
Com uivos tristes e profundos é tomado pela dor e
solidão, hibernou.

A lua e o lago
A BORBOLETA campo florido

O dia vem chegando, e o Sol lança seus


primeiros raios.
O bosque era muito agradável. Os aromas
exalados das flores, árvores, e o cheiro lodoso do
lago. Era tão aprazível e cenográfico.
Sob o impulso dos ventos, caiam sobre a relva
molhada as pétalas das flores criando um lindo
cenário, onde destacava uma Orquídea Chuva de
Ouro, com galhos exuberantes e folhas tenras, e a
delicadeza de suas pétalas emanando um agradável
perfume. Num dos botões uma borboleta havia
depositado seus ovos.
Era uma manhã de primavera, e o sol deu sua
contribuição para que um ovo eclodisse e libertando
uma larva ou lagarta. Ela com grande esforço e
titubeante, devorava e se entupia de folhas, ficando
cada vez mais gorda e comprida. Ela desfazia da
pele como desfazemos de roupas velhas. Chuva de
Ouro
Certo dia, a lagarta parou de comer, ficou
dependurada e ponta-cabeça em um pequeno galho
da Chuva de Ouro e teceu um casulo sedoso ao seu
redor. Transformou-se em uma crisálida reluzente.
Dentro de sua cápsula, a lagarta transformou seu
corpo e depois de certo tempo emergiu uma bela
Borboleta-amarela. Ante o novo, com receio, abriu
suas asas e alçou seu primeiro vôo e foi piruetando
de flor em flor. A Borboleta pousa suavemente num
lírio branco para sugar seu néctar. Lírio branco
O Lobo saiu da caverna e foi acomodar-se
debaixo do salgueiro-branco. Num sobressalto
percebeu a Borboleta e foi até ela. Com a voz rouca
e trêmula balbucia: “_ É você, Lua?”

A Borboleta abriu e fechou suas asas amarelas e


respondeu: _ “Não! Eu não sou a Lua. Sou uma
Borboleta-gema ou Borboleta-amarela. Eu nem
sempre fui assim!” E então a Borboleta,
biograficamente conta sua trajetória para o Lobo. ”_
Eu era um ovo, assim que eclodi do ovo, eu era uma
lagarta, que comia, comia folhas sem parar, virei
uma crisálida e agora sou uma Borboleta.” E
orgulhosamente ela continua... ”_ Borboleta-Gema
ou Borboleta-amarela, da família dos pierídeos.
Deve estar pensando: _” como um ser pode mudar
tanto? “ Eu mudei! E você, o que é e quantas vezes
mudou?”
O Lobo abaixou a cabeça colocando a pata sobre
os olhos úmidos, recitando com tristeza, respondeu:
“ _ Eu sou um canídeo. Eu sempre fui assim, uma
criatura peluda, assombrosa e terrível. Não tenho
nada de especial que agrade, nem a mim mesmo.
O sol se escondeu atrás de uma nuvem fazendo
uma sombra. Naquele momento tudo silenciou. O sol
se escondeu atrás de uma nuvem fazendo uma
sombra triste e fria sobre o bosque. A Borboleta
esvoaçou de flor em flor. Pousou suavemente numa
folha e escutou os lamentos do Lobo: “Como
gostaria de ser feliz como você! Ser alegre. Poder
voar de flor em flor. Poder ver o Mundo do alto em
vez de andar aqui no chão, tão solitário, sem alegrar
a ninguém e ter nada que me alegre. ” A Borboleta
ouviu atentamente o Lobo, aproximou-se e num fio
de voz disse: “_Lobo, não fique triste! Alegre-se que
o Mundo é belo. Eu já fui como você. Já rastejei,
antes de poder voar, mas agora sou feliz!... Num
tom forte, e calmo continuou ela: _ Porque busca a
Lua num delírio bobo? Você, tão poderoso, tão
calmo. Não uiva só por uivar. Observe no silêncio.
Agora, olhe, sorria, silencie e vá em frente caro
amigo. Olhe, nada é totalmente imutável. Nem
mesmo as rochas. Os ventos e as águas
naturalmente moldam e mudam as suas formas. As
rosas, por exemplo, munem-se de espinho para se
defenderem, entretanto são tão frágeis aos mais
brandos ventos. Caro Lobo, olhe para dentro si e se
encontre.
Ouvindo aquelas palavras, o Lobo ergue-se e foi
adentrando a colina, sem que as patas tocassem o
chão, descobrindo em suas entranhas que, as águas
desde a nascente, com ou sem obstáculos, correm
com ligeira perfeição até o mar. E o Lobo no alto da
colina, querendo estar próximo ao céu, para senti-lo
e esquecer o profundo pranto e que é apenas um
Lobo da noite que uiva para a Lua.
A Borboleta levantou vôo. Naquele ângulo, varias
palmeiras destacavam. Árvores vivas e mortas. Ela
passou entre os galhos sem folhas. Subiu um pouco
mais e continuou ao longo das nuvens cinzentas.
Subiu até mais além da copa das arvores e se
perdeu.
Na verdade, ela não se perdeu; nós é que a
perdemos de vista, as pequenas coisas, são assim,
no alto, contra a luz do céu esbranquiçado da
tardinha, não é fácil vê-la sem a luz dos olhos e do
coração.
A Borboleta deixa um recado: ”_Que todos temos
que encarar, queiramos nós ou não. Tudo em algum
momento vai acabar. Mesmo não tendo ansiado por
esse dia. O último dia de existir é uma Verdade
Universal: _ O verão acaba, a pagina final de um
bom livro, se separar de um grande amigo. Os finais
são inevitáveis. As folhas caem, você fecha o livro.
Você diz adeus!
E segue em frente...
Mas nos esqueça da Luz, a sua Estrela, o seu Guia.
A Borboleta levantou vôo. Naquele ângulo, varias
palmeiras destacavam. Árvores vivas e mortas. Ela
passou entre os galhos sem folhas. Subiu um pouco
mais e continuou ao longo das nuvens cinzentas

FINAL editada

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