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Uma praia onde o mar chega devagar, e se vê estranhos passantes, entre sombras e
luares descobertos de nuvens. Águas mortas, descoradas, e na penumbra uma casa encara
o mar. Pede ao silêncio noturno uma esperança. Arvoredos inquietos, e entre eles a
presença admirável de um menino que surge como luz em trevas, entre espantos de uma
noite medonha, e caminha sozinho, cercado pelo vento e pela noite, esperando uma
estrada que possa levá-lo.
Era um menino triste e calado, trancado em seu mundo, onde muito do que acontece
seria envolvido em uma atmosfera de sonho. Poderia ser chamado de prisioneiro dos
sonhos e bastante senhor de si no experimentar do irreal.
No rosto tem a marca do eterno silêncio e dos olhos negros de carvão. Pode-se
enxergar que haverá muitas possibilidades de encontros e conflitos. Com trato de ser
delicado na aparência, diz ao mundo que pode ser tudo, menos um fraco, “não há espaço
para isso aqui”.
Chamam a ele pelo nome e esse nome deve ser o mais doce nome. O chamariam de
deus. Ele não é Deus, mas um anjo assim com essas confusões. Deve ser solitário no céu.
Nunca desceu um anjo aqui assim tão triste.
Perdido entre sombras o menino procura uma estrada, e entre espectros e sussurros
acha uma mão que o guia. Essa busca começa agora e a estrada o levará a si mesmo. Ele
está olhando e a sombra também espera por sua mão, e ambos devem esquecer seus
velhos nomes.
O menino parte e fica como as estátuas caiadas nas praças, com o mundo nas mãos,
suspende a respiração e diz seu nome entre olhares, e seu nome é de pedra e cal, brilha ao
sol. Ele sussurra e diz:
– Pedro!
– Estou de partida para conhecer o mundo, poder desvendá-lo e retirar o véu que
cobre meus olhos.
– Vá e volte em breve para contar tudo que verá, as novidades. Apenas não me
esqueça.
– Vamos dançar e sentir essa saudade nos aproximar e dizer o quanto nos queremos
bem.
Então a música, essa melodia da natureza, do mar e da noite, tocou solene. De cheia
a lua minguou e negra nova espreitou o casal. Luzes de longe...
Na casa vazia, em que o mar penetra pelos sentidos, um cheiro de brisa marinha
envolvia as paredes nuas, era de sal e saudade. Ele prepara malas e com elas o espírito de
partida, rompendo com o passado evoca o futuro, delicioso panorama de um novo mundo.
Xícaras e cafés, sabores de doces e bocas e esperança de novos horizontes.
Malas repletas e que nunca ficam todas de pronto alinhadas frente ao nervosismo.
Olha para o relógio na parede da sala, e o olhar no chão lambe a poeira do passado.
Debalde à reza implora. O mundo está inquieto e aperta o novo viajante nos seus braços.
O mundo trouxe motivos para colorir e traçar figuras no vazio. Uma praça que o sol
ilumina, cheiros de exóticas paragens e um sorriso que paralisa o tempo deixa povoado o
coração do menino. Ela era como pássaro, fada azul diáfana segurando o corpo esguio no ar,
etérea e como pluma branca, sua altivez translúcida e enigmática, olhando azul com olhos
de pedra rara.
Saltando no esverdeado da grama, veio, de tantas histórias, contar com boca rosada
que agora faziam parte de um mesmo enredo. Na curva suave dos seus cabelos, asas negras,
capturou os dedos e atou o coração do menino. De hipnotizar, com voz de maré cheia.
Como sempre esteve nos seus sonhos, devorando seu pensamento e acordando a alma do
sono. Demência suave dos nervos, assustadoramente viva.
Agora ele, que o nome guardava o amargor dos ecos, se vê num deslizar de uma boca
chamando seu nome:
Nunca mais voltou e nunca mais se soube dele, apenas que era feliz e para sempre
desencantado pela bela menina da praça.