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Meio ambiente conforme a Lei nº 9.

795, de 27 de abril de 1999 | TEMA 4 159

4.4 Meio ambiente e cidadania


Você já sabe que, em grande parte, o relacionamento homem versus natureza,
na verdade é de dependência, depredação e exploração, no qual a natureza ofe-
rece seu patrimônio natural tão necessário, e o homem retribui com poluição,
desmatamento e todas as consequências resultantes destes atos.

É preciso uma árvore de 15 a 20 anos de idade para produzir apenas


700 sacos de papel? Que uma tonelada de papel reciclado poupa cerca
de 22 árvores, economiza 71% de energia elétrica e polui o ar 74%
menos do que se fosse produzido de novo? E que para fabricar 1
tonelada de papel novo é preciso 10 a 20 árvores, 10.000 litros de água
e 5 Mw/hora de energia, enquanto para 1 tonelada de papel reciclado
apenas é preciso 1,2 toneladas de papel velho, 2.000 litros de água e
2,5 Mw/hora de energia?

O meio ambiente nos fornece recursos naturais, no entanto, ele apresenta uma
capacidade máxima de suporte, sendo o recurso renovável ou não. A ação hu-
mana predatória na exploração dos recursos naturais nos últimos séculos não
proporcionou à natureza tempo suficiente para que ela se regenerasse natural-
mente e nem mesmo a ajudamos a se regenerar.

Figura 1 – A ética é o pilar da cidadania


©olegdudko

Fonte: 123RF.

De acordo com o teólogo Leonard Boff, nós, seres humanos, já ocupamos e ex-
ploramos 83% do nosso planeta, tiramos proveito de todos os recursos naturais
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existentes e se fizermos uma relação planeta versus humanos, nosso modelo


de civilização consumista precisaria de três planetas semelhantes à Terra para
nosso usufruto.

Temos urgência em realizar ações eficientes para revertermos o caminho de


desastre que estamos traçando. Infelizmente para que isso aconteça, o homem
que está no centro desse processo precisa transformar sua visão e entender
que o dinheiro não pode e nem consegue comprar o que destruiu em tão pouco
tempo, e que a natureza levou bilhões de anos para conceber. Precisamos nos
tornar verdadeiros cidadãos éticos e reavaliarmos nossa postura moral sobre
nossas ações se quisermos ter novamente qualidade ambiental. O exercício da
cidadania só pode ser completo, se entendermos realmente o que vem a ser a
cidadania e ser cidadão. Pois, só assim, poderemos analisar o papel do cidadão
com relação ao meio ambiente.

Cidadania é, na realidade, uma condição jurídica e política em que o cidadão


possui direitos civis, políticos, sociais, mas também é responsável por pagar
impostos, votar, cumprir as leis relativas à coletividade política (LEFORT, 1991).

Em sociedade, ser cidadão, implica em respeitar as leis, usufruir de seus di-


reitos e cumprir com seus deveres. A ética e a conduta moral evoluem com o
tempo, mas segui-las no convívio em sociedade é uma das principais regras da
cidadania.

Segundo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso LXXIII e ar-
tigo 225:

Art. 5º, LXXIII - Qualquer cidadão é parte legítima para propor


ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio pú-
blico ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência.

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi-
dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações (BRASIL, 1988).

Observando os artigos acima citados podemos notar que o comprometimento


com o meio ambiente pertence, não apenas ao Poder Público, mas também a
toda sociedade. Nossa Constituição Federal oferece a todos os cidadãos o di-
reito de usufruir de um ambiente ecologicamente equilibrado, mas também
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atribui a nós, o dever de respeitá-lo, defendê-lo e preservá-lo. Para tanto, cada


cidadão, tem como obrigação propor ações que proporcionem a defesa do meio
ambiente.

Todos os cidadãos, em seus cotidianos, no momento do banho, quando alimen-


tam-se, lavam as roupas, colocam-nas para secar e durante cada respiração,
estão na dependência da qualidade do ar, da água, da terra, da camada de ozô-
nio etc. Enfim, a sobrevivência em seu sentido mais amplo e coletivo, escapa ao
controle do Poder Público ou de qualquer minoria, em particular. A preservação
da natureza somente se dá com a colaboração de todos, mediante a economia
no consumo de água e luz, atuando como agentes de reciclagem de resíduos,
em projetos de educação ambiental, denunciando agressões ao meio ambiente,
enfim, agindo como cidadãos.

Como um auxílio norteador, a Agenda 21 consiste em um plano de


ação para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável,
visando orientar às nações e suas comunidades nos seus processos de
transição para uma concepção de sociedade e os caminhos de acesso
ao desenvolvimento sustentável, de forma global e não obrigatória.

Figura 2 – Ações conjuntas ampliam os resultados


©rawpixel

Fonte: 123RF.

Nesse sentido, o Ministério Público está sempre atento e receptivo às ações am-
bientais de caráter agressivo, sendo um meio de proteção contra às más ações
causadas ao meio ambiente. Qualquer cidadão tem o direito e o dever de denun-
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ciar crimes contra o meio ambiente, porém é preciso dar o exemplo, cumprindo
seus deveres de cidadão, preservando o meio ambiente (MELO, 2014).

Como ações efetivas, o Poder Público deve:

• Promover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas, fiscalizar a


instalação de obras ou atividades potencialmente causadoras de dano ao
meio ambiente.
• Realizar estudos prévios de impacto ambiental, controlando a produção, a
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que com-
portem risco para a vida e para o meio ambiente.
• Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscien-
tização pública para a preservação do meio ambiente.
• Proteger a fauna e a flora, vedando, na forma da lei, qualquer prática que
coloque em risco o equilíbrio ecológico.
Todo cidadão tem como direito, usufruir de um meio ambiente ecologicamente
equilibrado que lhe proporcione qualidade de vida, deve ser informado sobre
os problemas ambientais e sobre as ações do Poder Público em sua defesa, deve
ter acesso à educação ambiental no âmbito escolar e também de maneira não
formal. Também é direito de todo cidadão que o Governo crie áreas de prote-
ção ambiental, como estações ecológicas, reservas e parques que promovam
a conservação da biodiversidade. Que toda a agressão ao meio ambiente seja
restaurada e que possa viver em condições dignas com seus direitos sociais
garantidos.

Assim como existem direitos, todos os cidadãos também têm deveres a cum-
prir. Com relação ao meio ambiente, todo cidadão deve defendê-lo e preservá-
-lo, precisa também estar atento a qualquer tipo de atividade econômica que
possa prejudicar o meio ambiente, ou seja, todos têm a obrigação de recuperar
um ambiente degradado e agir dentro da lei em situações de ameaças ou danos.

Algumas atitudes referentes à educação ambiental podem ser seguidas por todo
cidadão, pois promovem resultados significativos em nível local, regional e glo-
bal:

• Economia de água: na residência e no trabalho, além de disseminar a


ideia da redução do uso desse importante recurso natural indispensável
à vida. Resolver problemas hidráulicos, fechar as torneiras quando não
utilizadas, utilizar a água da chuva para limpeza de calçadas e para regar
hortas e jardins.
• Economia no uso da energia: evitar acender as luzes em períodos en-
solarados, apagar as luzes sempre que sair de um ambiente, evitar deixar
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os aparelhos em modo “stand by” em períodos de viagens ou ausência pro-


longada, juntar o máximo possível de roupas para utilizar a máquina de
lavar, reduzir o tempo de banho quente.
• Evitar desperdícios de qualquer maneira: seja de água, luz, ali-
mentos ou, até mesmo, a compra de bens materiais, quanto mais se des-
perdiça, mais é preciso tirar do meio ambiente.
• Reciclar seu lixo: a reciclagem reduz a necessidade de se obter matéria-
-prima nova, além de reduzir o consumo de energia.
• Diminuir ou usar corretamente produtos químicos: entre eles os
agrotóxicos e pesticidas. Cuidar do descarte dos resíduos (embalagens),
para que tenham destinação correta e para não contaminarem cursos os
d’água, o lixo e o esgoto de sua cidade.
• Protestar e denunciar: os casos de desrespeito ao meio ambiente nos
meios de comunicação e autoridades locais.
• Solicitar ao poder público: a realização de coleta seletiva na cidade.
Figura 3 – Pense globalmente, mas aja localmente

©Wavebreak Media Ltd

Fonte: 123RF.

Proteger o meio ambiente, reduzir a poluição, o desmatamento e a utilização


abusiva dos recursos naturais não é dever somente do Governo e das empresas.
Esse é um dever de toda sociedade, com mudanças nas ações e na rotina de
cada cidadão do planeta.
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4.4.1 Tecnologia e a cidadania ambiental


Os avanços científicos nas diversas áreas, nos trouxeram benefícios como a tec-
nologia, a qual cada vez mais se torna presente em nossas vidas. No entanto,
precisamos estar atentos em relação à geração destes recursos, e analisar as
variáveis que estão ligadas ao consumismo exagerado, à exploração dos recur-
sos naturais, ao aumento da desigualdade social e na dependência material que
poderá causar. Muitas vezes a excitação pelo desenvolvimento de novas tecnolo-
gias acaba por ofuscar os problemas ambientais que podem ser gerados a partir
desta tecnologia.

Figura 4 – Produção sem responsabilidade

©tomwang

Fonte: 123RF.

A tecnologia produz mais resíduos do que o estimado e esses resíduos geram


problemas ambientais como a poluição do ar, das águas e do solo. Além disso, o
gasto de energia de água é bastante alto, assim como a contaminação ambiental
por meio de ácidos, fotoquímicos e solventes. Estima-se que para cada quilo de
computador fabricado, por exemplo, geram-se 3 quilos de resíduos.

Com base em alguns cálculos, mais de 315 milhões de computadores


estão obsoletos e seus constituintes plásticos perfazem 6,2 quilos
por computador, o que significa que, em breve, aproximadamente
1,814 milhões de toneladas de plástico serão descartadas. Além disso,
estima-se que o aumento de resíduos de plástico cresce mais de 580
mil toneladas, por ano.
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Figura 5 – Lixo eletrônico

©pnphoto
Fonte: 123RF.

Por outro lado, a tecnologia também pode ser muito útil ao meio ambiente, pois
a sustentabilidade é destaque em muitas inovações, e muitos processos que an-
tes causavam problemas ao meio ambiente, hoje possuem alternativas limpas
que não prejudicam a natureza, inclusive com outras invenções que nos permi-
tem monitorar o ambiente e a emissão de gases, além de nos permitir estudar e
compreender os impactos que causamos e que afetam o meio ambiente.

As inovações vão desde os simples detectores de luz a complexos sistemas de


reciclagem de resíduos, formas de comunicação que não fazem mais uso de pa-
pel, entre outros.

A busca por soluções para os problemas ambientais precisa ter como aliada a
ciência e a tecnologia. Assim, a partir do desenvolvimento de pesquisas torna-
-se possível minimizar impactos negativos ao meio ambiente, recuperar áreas
degradadas, despoluir rios e encontrar formas sustentáveis de produzir tecno-
logia sem a exploração predatória dos recursos naturais.

Atualmente, tem-se desenvolvido métodos e produtos que aumentam a pro-


dutividade, a qualidade e a sustentabilidade, como exemplo, podemos citar os
sistemas de informação, os quais indicam os melhores materiais, levando em
consideração sua capacidade de reciclagem, de emissão de gases poluentes, en-
tre outros fatores que causam impactos ao meio ambiente.

Ainda podemos encontrar vários outros exemplos sobre o uso da tecnologia em


programas de ação social, dentre eles destacam-se:
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• Cedir/USP: trata-se de uma central de reciclagem de eletrônicos usados


ou obsoletos em que as peças são verificadas, consertadas e são montados
computadores manufaturados em pleno funcionamento. O Cedir doa esses
computadores reciclados para pessoas de comunidades pobres.
• Clique Alimentos: foi criado por uma ONG do Rio Grande do Sul e tra-
ta-se de um banco de alimentos. Ao acessar o site, você escolhe para qual
cidade vai doar 1Kg de alimento, mas quem paga essa doação são empre-
sas apoiadoras, que lucram com a divulgação.
• Casa Eficiente: criada pela WWF, objetiva ensinar, por meio de jogos,
como os hábitos em casa podem ajudar a melhorar o Planeta. O objetivo do
game é cumprir tarefas para a economia de energia e reciclagem de lixo.
No Brasil, a alta taxa de geração de resíduos e o seu consequente mau geren-
ciamento, é um exemplo causador de grandes impactos ambientais, além de ser
um risco para a saúde pública. De maneira geral, a sociedade brasileira ainda
não se deu conta disso, ou seja, o brasileiro não enxerga o lixo como sua respon-
sabilidade, atribuindo ao Poder Público toda a incumbência pela destinação do
lixo produzido no País.

Como cidadãos, temos de ter consciência e utilizar a tecnologia de maneira in-


teligente e responsável, procurando sempre resolver os problemas causados e
não criar outros.

No portal eCycle você encontrará uma série de artigos, reportagens


e dicas sobre sustentabilidade, reciclagem, reaproveitamento
de materiais, produtos contaminantes entre outras informações
importantes sobre preservação ambiental. Disponível em: https://www.
ecycle.com.br/.

LEITURA COMPLEMENTAR:
Para ampliar seus conhecimentos, leia o artigo “Os homens ‘Ocos’ e o meio
ambiente: desenvolvimento sustentável para quem?” de Raquel Fabiana
Lopes Sparemberger e Carlos Alexandre Michaello Marques. Este artigo
apresenta como ações impensadas e egoístas pelo desenvolvimento eco-
nômico podem prejudicar o meio ambiente como um todo. Disponível em:
http://repositorio.furg.br/bitstream/handle/1/5181/Os%20homens%20
%E2%80%9Cocos%E2%80%9D%20e%20o%20meio%20ambiente.pdf?-
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui-
cao.htm. Acesso em: 02 dez. 2020.

Ecycle. Sua pegada mais leve. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/.


Acesso em: 02 dez. 2020.

LEFORT, C. Repensando o Político. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra,


1991.

MELO, F. Manual de direito ambiental. São Paulo: Método, 2014.

SPAREMBERGER, R. F. L.; MARQUES, C. A. M. Os homens “ocos” e o meio


ambiente: desenvolvimento sustentável para quem? Direito em Debate. Re-
vista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí,
ano XXIV, n. 43, 2015.

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