BRAUDEL, Fernand. Mediterrâneo; A terra; O mar In: O espaço e a história no
Mediterrâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1992. Mar Mediterrâneo Mediterrâneo, é muito mais do que uma paisagem, mas sim um conjunto de paisagens, mares e civilizações sobrepostas ao longo da história, é como um lugar onde o passado e o presente se encontram constantemente Viajar pelo Mediterrâneo é encontrar vestígios das mais variadas épocas, culturas e civilizações, desde o mundo romano no Líbano, a pré-história na Sardenha, as cidades gregas na Sicília, e até a presença árabe na Espanha e o islã turco na Iugoslávia. além de mergulhar nas profundezas dos séculos, até as construções megalíticas de Malta ou até as pirâmides do Egito. O livro destaca que ele é uma encruzilhada muito antiga, onde convergem homens, mercadorias, ideias, religiões, artes de viver e até plantas, que não são necessariamente autóctones da região. “Tanto em sua paisagem em física corno em sua paisagem humana, o Mediterrâneo encruzilhada, o Mediterrâneo heteróclito apresenta-se em nossas lembranças como uma imagem coerente, como um sistema onde e tudo se mistura e se recompõe numa unidade a e original. [...]” (BRAUDELp.3) A terra O Mediterrâneo é descrito como um corte estreito na crosta terrestre, indo de Gilbratar a Suez e ao mar vermelho, possuindo profundas pregas terciárias que geraram montanhas, que em muitas vezes estreitam o mar, reduzindo a um rio de água salgada ou portas marinhas em locais como Gilbratar e o estreito de Bonifácio. “[...] Uma fossa de 4600 metros escava-se perto do cabo Matapan, a qual submergiria com muita tranquilidade o pico mais alto da Grécia, os 2985 metros do monte Olimpo.” (BRAUDEL, p.7) Entre essas, destaca-se a linha de fronteira que divide o mar em duas regiões hostis, oriente e ocidente, indo do Corfu e do canal de Otranto até a Sicília e o litoral atual da Tunísia, desde as colonizações gregas e fenícias até os tempos modernos. Essa linha também foi a principal área de combates no passado, tendo cidades e ilhas fortificadas se espreitando do alto das muralhas e torres, e a Itália se encontra no meio dela, tendo o sonho natural de dominar todo o mar. Uma geologia ainda em ebulição A causa das rupturas e dobras do Mediterrâneo é a geologia ainda em ebulição, assim, explicando o porque do mar ser semeado de ilhas, penínsulas, fragmentos ou pedaços de continentes. Até hoje continua a causar estragos diante de nossos olhos. Explicando... “[...]mar seja semeado de ilhas e penínsulas, fragmentos ou pedaços de continentes. alguns engolidos, outros esmigalhados, [...] os relevos retalhados ainda não tenham sido por demais atingidos pela erosão. O que explica os terremotos e o fogo dos vulcões, que grunhem com frequência, adormecem e também acordam de forma dramática.” (BRAUDEL, p.8, 9) São destacados três vulcões no mediterrâneo, Stromboli, que emite projéteis incandescentes todas as noites; Vesúvio, que destruiu as cidades de Herculano e Pompéia; E Etna, o maior dos três, estando sempre ativo. É citada também a ilha de Santorini no Mar Egeu, que é uma cratera vulcânica que explodiu e se dividiu em duas metades em 1450 a.C. A explosão foi quatro vezes mais forte do que a que destruiu a ilha de Krakatoa e teria sepultado Creta sob cinzas ardentes, o que teria afetado a civilização da região. Há especulações de que as nuvens de cinzas teriam atingido a Síria e o Egito, mencionado no "Êxodo”. No geral, a ameaça era constante de erupções vulcânicas e terremotos na região do Mediterrâneo desde os primeiros momentos da história humana, “[...]Na 'antiquíssima cidade de Catai Hoyos, na Asia Menor, a pintura mural de um santuário, datada de 6200 a.C., representa, ao fundo das casas de vários andares da cidade, um vulcão em erupção, sem dúvida o Hasan Dag. E, na mesma Ásia Menor, as escavações encontram hoje vestígios de monumentos aparentemente destruídos por terremotos e mesmo, na zona mais sujeita a sismos, o primeiro esforço de que temos conhecimento, empreendido há alguns milhares de anos antes de Cristo, de uma arquitetura em materiais leves, provavelmente concebida para resistir a esses cataclismos.” (BRAUDEL, p.10) Montanhas que cercam o mar por quase todos os lados. A região do Mediterrâneo é marcada por uma grande quantidade de montanhas recentes e altas, isso a geologia explica através do espaço sólidos, levando a formações rochosas que invadem a superfície. “[...]os Alpes, os Apeninos, os Balcãs, o Taurus, o Líbano, o Atlas, as cadeias da Espanha, os Pireneus[...] “(BRAUDEL, p.11) Apesar de terem características semelhantes, como picos abruptos cobertos de neve e inclinações íngremes que caem diretamente na água, são quase intercambiáveis e podem ser encontradas a centenas de quilômetros uma da outra. Entretanto essas montanhas, não margeia todo o Mediterrâneo, há exceções: “[...] a costa do Languedoc, até o delta do Rôdano, ou a costa baixa do Vêneto junto ao Adriático. [...]” p.11 A principal exceção encontra-se ao sul, onde há um longo litoral plano, que se estende do Sahel tunisiano ao delta do Nilo e às montanhas do Líbano, onde o deserto do Saara encontra-se em contato direto com o mar. As cores do deserto e do mar se confrontam, formando uma paisagem monótona. Por um outro lado, temos o deserto sendo o oposto das montanhas, fazendo com que as profundezas da África e vida nômade desemboque nas margens do mar. o sol e a chuva O clima era muito peculiar, influenciado pelo Oceano Atlântico (norte) e do Saara (sul), No verão o ar seco do Saara se entender ao mar, alcançando o norte, resultando em céus claros “céus gloriosos”, e as vezes embaçados, por conta dos ventos de areias. De abril a setembro, os ventos veem do Nordeste e sem umidade, A partir de outubro, as massas úmidas vão oeste ao leste, e empurradas para o oriente, escurecendo o mar. Resultando em grandes tempestades assim enchem os rios com as inundações, e as vezes vai para além do deserto. Todos ficavam agradecidos a Zeus. “Em Ain Sefra, ao sul de Orã, Isabelle Eberhard, a exilada russa seduzida pelo deserto, perecia, em 1904, levada por uma enchente imprevista do oued.” (p.14) “Andorinha, andorinha, Tu trazes a primavera, Andorinha de ventre branco, Andorinha de dorso negro. Ela chegou. Abre-se a porta das estações.”
*o céu dramático de Toledo dos quadros de EI Greco.
OU e chuva demais ou calor demais, dessa forma dificultando a vegetação, por isso as plantas são odoríferas, Em Andaluzia, as vezes, é possível a colheita mas cedo do trigo. Uma terra a conquistar Aqui, o autor comenta sobre a dificuldade da mudança no ambiente do Mediterrâneo, e sobre as transformações causadas tanto pelos processos naturais ocorridos no tempo, quanto a mão de obra do homem. Comenta também que as planícies da área, foram por muito tempo submersas, assim, levando um certo período para transformá-las em uma área favorável à agricultura, tendo esse processo se completado recentemente. Esse movimento, ocasionou na perda de várias das paisagens naturais, tendo sido conservadas em um parque natural. As evidências desse grande processo, são os sistemas de drenagem e irrigação remanescentes, iniciados pelos árabes, na Espanha. São citados dois exemplos desses sistemas, sendo eles na Huerta de Valencia, e na Conca d’Oro, que rodeia Parlemo, uma comuna na Itália. Essas planícies citadas, passaram por abrigar grandes cidades e aldeias, onde passaram vários nobres e burgueses. A grande exploração ocorrida nessas áreas, causou um rápido desaparecimento da agricultura arcaica. Por fim, o autor explica que a história dos homens no Mediterrâneo começou nas colinas e montanhas, onde a agricultura sempre foi precária. O que explica o porque de tantas aldeias e cidades agarradas as montanhas. As sociedades tradicionais As montanhas possuem os mais preservados fragmentos de costumes, instrumentos, dialetos e organização da vida tradicional. Lá, as construções se mantiveram onde os métodos agrícolas não podiam permanecer. Por essa visão, se conclui que as montanhas seriam um bom lugar de conservação do passado. Após isso, o autor fala um pouco sobre tradições folclóricas que habitam as montanhas berberes. Algumas citadas são: A festa do “Ennayer”, sendo essa o mês de janeiro, comemorando o ano novo; Ritos de primavera; Fogos da “ainsara”, acendidos no 7 de julho, associada a lenda de uma rainha judia que foi queimada na fogueira por incesto. Pode se associar algumas dessas como um processo de exterminação de parasitas, pela queima de plantas que causam fumaças. Sendo assim, considerado uma experiência que se enraizou como tradição. É dito, que além do folclore dessas regiões, a paisagem também seria uma testemunha desse modo de vida arcaico. A cultura é vista em toda a paisagem feita pelas mãos do homem. “[...] as culturas em terraços, as cercas de pedras empilhadas, sempre por reconstruir; as pedras que é preciso levar para cima em lombo de jumento ou de burro antes de ajustá- las e consolida-las, a terra que é preciso carregar em cestos 'para acumulá-la atrás dessa muralha.” P. 18 O espaço agrícola, vai sendo abandonado por não ser mais lucrativo. Ficando cada vez mais popular as emigrações para as montanhas, aonde se tinha trabalho, trabalhos braçais, artesãos itinerantes, diaristas, vindimadores e outros trabalhos complementares. As vezes essas migrações davam certo. “[...]o caso estranho e ruidoso dos armênios, que se tornaram os mercadores favoritos dos xás do Irã, e que conquistaram, a partir de Ispahê, um lugar de primeira linha na Índia, na Turquia, na Moscóvia, estando presentes na Europa, no século XVII, nas grandes praças de Veneza, Marselha, Leipzig ou Arnsterdarn.” p 19 Transumância e nomadismo A transumância, desapareceu a pouco tempo, o movimento dos rebanhos nas pastagens de verão, paras as regiões altas e as relvas e descia durante os 5 meses de inverno, reduziu bastante, mas existe até hoje, porém feitos por caminhões e ferrovia. “Alpes meridionais e O Crau, entre os Abruzzi e o planalto da Apúlia, entre a Castela do Norte e as pastagens meridionais da Estremadura e da Mancha de Don Oulxote.” P.20 Os homens que faziam esse percurso, com olhares de homens das cidades e camponeses eram considerados bárbaros semisselvagens “Nenna querida", diz a canção cruel, "teu pastor nada tem de bom, tem mau hálito, não sabe comer num prato. Nenna mia, mude de ideia, escolha um camponês por marido, que é o homem adequado." P.21 As transumâncias "normais" os proprietários ficam nas regiões baixas, transumâncias "inversas", nas montanhas. O Estado interfere com frequência, estabelece pedágios, outorga as pastagens baixas e regulamenta o comercio de lãs e animais. A transumância e valida em uma parte do Mediterrâneo a mais populosa e mais evoluída, e com divisão de trabalho melhor estabelecida. Sobre a vida nômade, hoje também tende a diminuir ou ate mesmo desaparecer, sendo anterior a transumância. No outro lado, mediterrâneo Oriental, os obstáculos para e deslocamento era quase insignificante. Os nômades em grande parte árabes, fugiam de guerras e vezes participavam delas. “[...]rebanhos, homens, mulheres e crianças deslocam-se juntos por enormes distâncias, transportando consigo todo o material de sua vida cotidiana.” p.23 Os equilíbrios de vida A vida mediterrânea gira em torno do mar, é claro, agricultura e pastoril em diversas regiões. Ela e difícil e precária, sendo inadequado ao homem. As cidades. no entanto, são acumuladoras de riquezas, Equilibração da vida se da a partir devinha e trigo (tríade oliveira), apenas no século XV a criação de porco e conservas de carne, isso pra um logo, pois o outro, islâmicos se privam voluntariamente desses alimentos além de vinho e de frutos do mar. As três culturas fundamentais eram o azeite, o vinho e trigo juntamente ao pão, vendido por um preço fixo e de pesos variado, e dependendo da colheita, levando a um problema, ambos importados para fora do mediterrâneo. “[...]em caso de escassez ou fome locais, seus mercadores, patrocinados pelos governos urbanos, equipam navios, percorrem mercados e fazem chegar até a cidade o trigo do mar “Negro, do Egito, da Tessá lia, da Sicília, da Albânia, da Apúlia, da Sardenha, do Languedoc, e até de Aragão ou da Andaluzia[...]” p.26 “[...]carência em Veneza. Nápoles. Roma, Florença ou Gênova, compradoras habituais do ‘trigo do mar’,” p.26 Os mais vulneráveis, morrem ou são pegos por doenças como a malária. O Mar O mar era visto por homens do passado, como uma imensidão enigmática e obsedante. Mesmo com o advento do vapor, o mar continuava imenso para os padrões antigos das embarcações a vela, levando-se meses para se viajar de Gibraltar a Istambul e semanas para ir de Marselha a Argel. Desde de então o Mediterrâneo vem encolhendo, com as possibilidades do avião, “[...] tinha cem, mil vezes as dimensões que hoje nos são reveladas pelas nossas viagens através do espaço aéreo ou marítimo. [...] Ele sozinho era, outrora, um universo, um planeta.” P.30 Uma modesta fonte de viveres, O Mediterrâneo aumenta significativamente os recursos da região, mas não garante abundância diária. A pesca é um ofício tão antigo e contribui para a região desde o do início da pré-história. Ele sofre de uma insuficiência biológica, pois é profundo demais e não possui as plataformas pouco imersas necessárias para a reprodução e proliferação da fauna subaquática. Além disso, por ser um mar muito antigo, pode estar desgastado em seus princípios vitais, sendo pouco rico em plâncton, que é a base alimentar das espécies marinhas. Atualmente não passa de um resíduo medíocre Embora a variedade de peixes a pescaria, acaba limitando, um dia será necessário transformá-lo em um parque zoológico selvagens, para preserva as espécies, isso não significa que atividades como a extração de sal, esponjas ou coral seriam proibidas, já que o coral é uma mercadoria valiosa. Havia licenças especiais, as pescas elementares, tradicionais. “O pescador conhece o mar diante de seu porto como o camponês conhece o terreno de sua aldeia.” p.32 “Os pescadores piratas das costas gregas, e, sem dúvida, de outros lugares, utilizam a dinamite, apesar da vigilância dos guarda-costas: é um artifício desleal. mas já antigo.” P.33 A dualidade e fundamental, pescadores gregos, que foram transferidos para cidades e perderam suas terras, mostra que é difícil sobreviver apenas com a pesca. Por outro lado, pescadores corsos que se tornaram agricultores conseguiram manter sua prosperidade. Além disso, a pesca do Mediterrâneo não é suficiente para alimentar os mercados locais, sendo necessário importar bacalhau do Norte para suprir a demanda popular. No entanto, algumas pescarias abundantes. Apesar da escassez geral de peixe no Mediterrâneo, existem alguns locais privilegiados para a pesca, como o Bósforo ou a entrada do Lago Berre. O mercado de peixe em Istambul também é abundante e colorido, mas esta é uma rara exceção. A pesca no Mediterrâneo, especificamente a pesca do atum, que é a única que pode ser considerada abundante. No entanto, essa pesca é possível apenas em zonas privilegiadas que estão se tornando cada vez mais raras, devido ao desmatamento e à urbanização. Os atuns vivem dispersos no Mediterrâneo até o momento da desova, quando procuram águas mais quentes e salgadas para colocar seus ovos. A pesca do atum é uma indústria antiga, que remonta aos fenícios e gregos, e os sistemas de captura foram conquistados pelos árabes. A pesca do atum continua a ser uma grande aventura e sua captura é impressionante, mas toda a pesca no Mediterrâneo representa apenas um terço da pesca norueguesa. “Mas a exceção confirma a regra: o Mediterrâneo líquido é pobre; toda sua pesca representa apenas um terço da pesca norueguesa.” P.36 Navegar contra a distância O mar é como uma importante superfície de transporte para as cidades e economias mediterrânicas. Os navios, a rota marinha, o porto e a cidade comercial são instrumentos cruciais para as trocas comerciais e a prosperidade dessas regiões. No entanto, observamos que, no passado, o mar representava um obstáculo significativo para a navegação e que somente com o desenvolvimento de veleiros com equipamentos como quilhas, remos e talha-mares é que a navegação se tornou efetiva. Inicialmente a navegação costeira que foi praticada, em que as viagens eram curtas e os navios seguiam as margens, garantindo conexões úteis. Essa navegação caseira dominava porque o Mediterrâneo é uma sucessão de mares, devido à familiaridade dos marinheiros com o mar e suas características, dividindo-se em superfícies autônomas de horizontes limitados, e também ao medo e perigo associados à navegação em águas desconhecidas “As cerimônias religiosas que se mantiveram até nossos dias em tantos portos do Mediterrâneo são ritos mágicos incessantemente repetidos contra os caprichos das tormentas e tempestades. [...]seus corpos e suas almas, são recomendados à Virgem Maria, Maris Steíía. Estrela do Mar, pelos marinheiros do Ocidente.” (BRAUDEL, 1985, p.37) Ainda se tinha as viagens em linha reta, como a de Ulisses até o Egito, até o século XVI. Com o tempo, as técnicas foram sendo aprimoradas e as viagens em alto-mar foram se tornando mais comuns e considerada uma proeza e arriscada; essa conquista das águas do mar ao longo da história, foi impulsionada pela curiosidade, aventura, lucro e políticas ambiciosas. Havia os barcos-bazar; comprava aqui, vendia ali. “Se nesta época a bússola não é muito utilizada, muito pelo contrário, apesar de conhecida desde o século XIl, é simplesmente porque a maioria dos serviços marítimos no Mediterrâneo é realizada por pequenas viagens ao longo da costa[...]” (BRAUDEL< 1985, p.38) Ressaltam a importância cultural e histórica do mar Mediterrâneo como um espaço de conexão entre as civilizações e de transmissão de histórias e tradições como a história épica de Homero ainda está viva e presente nas rotas marítimas do Mediterrâneo, e que a gênese e a eterna juventude da Odisséia. Civilizações belicosas como Gênova e Veneza (cristandade) cidades apoiaram o início das Cruzadas, com o interesse de obter mercadorias de luxo existentes no mercado oriental, que havia sido fechado desde a conquista muçulmana (islamismo), dessa forma, disputavam o controle do mar com expedições militares, mas essas operações eram arriscadas e podiam falhar, como aconteceu com a desistência de Carlos V diante de Argel em 1540. A batalha de Lepanto em 1571, com quase 100.000 pessoas envolvidas, foi um marco na história do Mediterrâneo. Navegar contra o mau tempo Mar é uma “superfície de transporte”, frequentemente agitado e com tempestades, mas durante o verão, há um período de calmaria e tranquilidade, conhecido como a época dos "mares azuis". Mesmo os barcos de guerra podem navegar sem problemas durante esse período. O velho príncipe Doria afirmava que havia apenas três portos seguros: "Cartagena, junho e julho". Durante o outono e o inverno, o mau tempo persistente impede o transporte de mercadorias por mar. Navios de carga devem permanecer no porto devido à sabedoria adquirida com a experiência. Hesíodo, em "Os Trabalhos e os Dias", aconselha os camponeses e marinheiros a não navegar durante a estação de inverno, mas a trabalhar a terra em vez disso. Ele também sugere que os navios devem ser bem guardados durante a temporada de inverno até o retorno da temporada de navegação. “[...]quando chega o inverno e os sopros de todos os ventos fervilham, não mais dirigir naus no mar vinhoso (cor de vinho), mas trabalhar a terra. Arraste a nau para a margem, cerque-a de pedras por todos os lados . . . e retire o batoque para que a chuva de Zeus nada apodreça[...]” (HESÍODO, início do século VII, p. 40) O barco em que o apóstolo Paulo estava atrasou-se devido a ventos contrários durante a navegação para a Itália. Como a navegação tornou-se perigosa por causa do outono, o capitão decide ancorar em um porto em Creta, mas uma tempestade arrasta-os para alto- mar durante quinze dias, até que encalham em Malta. A tripulação e os passageiros ficam felizes por terem conseguido salvar suas vidas e passam três meses na ilha antes de poderem partir na primavera em um navio alexandrino que também invernara naquele local. A prática de invernagem, ou seja, a permanência de navios nos portos durante o inverno, era comum na história da navegação. Até mesmo cidades e estados proibiam viagens invernais, reconhecendo os perigos associados ao mau tempo. A melhoria técnica dos cascos e dos lemes seria necessária para superar esses obstáculos. Barcos do fundo do mar Barcos semelhantes aos da antiguidade, ainda são construídos hoje em dia. Existem muitos destroços para comprovar na Grécia, Tunísia e Sicília. Eram barcos de grande porte, tendo de 20 a 30 metros de comprimento e 5 a 7 de largura, com uma grande capacidade para o transporte de carregamentos. Ainda se usam ânforas (tipo de vaso) que se assemelham as da antiguidade para o transporte de azeite. O leme dos barcos atuais é feito do mesmo modo que no tempo dos gregos e fenícios. “É um sistema mais eficaz do que geralmente se acredita”, assegura Patrice Pomey, especialista em arqueologia submarina, "e que os romanos aperfeiçoaram para transformá-lo em verdadeiros lemes de eixo que podem, quando necessário, ser emparelhados, e que, a partir de então, nada mais têm a ver com remos, a não ser seu aspecto geral.” (BRAUDEL 1985, p. 42) A vela quadrada era a única usada na antiguidade, às vezes, apenas encontrado uma pequena vela triangular acima da quadrada. A ordem sucessiva de construção do barco se dividia em 3: quilha (peça abaixo do navio que sustenta as outras peças), cavername (“costelas” do barco) e pranchas da “bordagem” (que cobriam o cavername). Nos tempos de Roma, era feito primeiro a cobertura (bordagem), depois o cavername. Os navios de guerra possuíam remos longos e estreitos, semelhantes aos trirremes (navios de guerra gregos) e as galeras (navios de guerra romanos). A diferença é que os primeiros do Mediterrâneo não possuíam artilharia a bordo, assim, reduzindo o peso e aumentando a velocidade. Até os navios de linha Evolução dos navios marcada por três transformações: leme de cadaste no século XII; casco de tábua trincada (bordagem) no século XIV e XV; e os navios de linha a partir do século XVII. O leme de cadaste é uma haste que permite controlar o barco de dentro dele. No século XVI, essa haste se tornou uma roda, com a mesma função. Em grandes embarcações, muitas vezes era necessário que vários homens controlassem esse leme. O casco de tábua trincada tem uma possível origem dos mares setentrionais com o kogge (embarcação), chamado no mediterrâneo de nave. As tábuas no casco recobriam umas as outras, como um telhado, sendo assim, mais resistentes que os barcos tradicionais. As embarcações do Mediterrâneo sempre foram de grande porte, pesando mais de mil toneladas, carregando tudo que é pesado. “[...]grãos, sal, sacos de lã, couros de boi ou búfalo, dos quais o Ocidente é um consumidor fantástico, e que vão ser buscados em Rodosto, no mar de Mármara, ou em Vama, no mar Negro.” (BRAUDEL 1985, p.45) Os veleiros de Ragusa pagam um baixo salário a tripulação e aproveitam a grande capacidade de sus porões, assim garantido sua fortuna. Dessa forma conquistaram para além do mediterrâneo, grandes navios eram divididos em partes chamadas "quilates". sendo propriedade de várias pessoas e eram controlados por um chefe ragusiano que prestava contas aos proprietários dos "quilates". O trabalho de marinheiro era difícil e que os setores marítimos que faziam fortuna acabavam se desgastando, havia dificuldades para recruta homens em setores estreitos do litoral. No entanto, o comércio marítimo renascia em outros lugares. No século XVII, os grandes navios de Ragusa declinaram e quase desapareceram. A evolução dos navios de guerra, desde a galera até o navio de linha, e os problemas enfrentados pelas galeras, como o seu alto custo de manutenção, a falta de espaço para a artilharia necessária, o acúmulo de homens a bordo e o fato de serem navios inadequados para os mares agitados do inverno. Isso pode levar a desgaste, esgotamento dos forçados e naufrágios. “[...]E o que acontece em outubro de 1562 com as galeras espanholas na baía da Herradura. Restava, então, apenas um consolo: tentar, se possível, resgata r os canhões!” (BRAUDEL 1985, p. 47). Ainda tem a questão de que os remadores delas eram prisioneiros forçados, havia dificuldade de encontra voluntários. As galeras espanholas, que eram navios de guerra movidos a remo, foram perdendo sua relevância no campo de batalha, devido ao naus comerciais e navios redondos a vela, que possuem uma artilharia mais eficiente contra corsários desenvolvidos pelos renegados nórdicos, se tornando o principal navio de caça. Apesar disso, ainda existiam algumas galeras em uso até o final do século XVIII. “E esses "barbarescos" de olhos azuis e cabelos louros passam pelo estreito de Gibraltar, espreitam os arredores de Cadiz e Lisboa, navegam até a Islândia e pirateiam pelo mar do Norte, com a cumplicidade dos portos ingleses e dos mercadores holandeses [,]” (BRAUDEL< 1985, p.47) O declínio das galeras e o surgimento dos navios redondos com artilharia mais pesada e depois os veleiros de corso nórdicos, que se tornam a principal ameaça. Os navios mercantes e de linha foram claramente divididos e os navios de linha foram influenciados por galeras finas e alongadas, cascos redondos e com grande poder de fogo, os navios de linha do futuro, mas bem maiores e excessivamente pesados para manobras. Descreve também o surgimento dos mastodontes, navios excessivamente pesados e sobrecarregados de artilharia, e a evolução dos navios de linha até o surgimento dos navios com mais de cem canhões, no final do século XVIII. Embarcações e florestas As embarcações de madeira cederam lugar a formas degradadas, vegetações cerradas e terrenos áridos não cultivados onde só crescem plantas rasteiras, a massas de arbustos odoríferos feitos para alimentar as chamas nos fogões ou para aquecer fornos de pão. Vegetações cerradas, chamadas maquis, recobrem inteiramente o solo, e terrenos áridos, chamados charnecas, desnudam em grandes áreas. Os maquis e as charnecas são também o resultado da exploração desorganizada para o uso da madeira na construção, no aquecimento das casas e na manutenção de indústrias; ou ainda da destruição de florest8S para a cultura, explorada por um tempo e depois abandonada, pois a terra não era suficientemente fértil. A rarefação e a sua consequência, a alta dos preços da madeira, foi uma das razões, entre muitas outras, da decadência do Mediterrâneo no século XVI, e mais ainda no século XVII. “[...]a crise da madeira no Mediterrâneo islâmico do século XI. O Islã dominava. todo o mar; quando lhe faltou a madeira. Este de súbito lhe escapou.” (BRAUDEL 1985, p.49) O mediterrâneo são rotas O Mediterrâneo são rotas por mar e por terra, unidas; quem diz rotas diz cidades, as modestas, as médias e as grandes, dando-se as mãos. Rotas e mais rotas, isto é, todo um sistema de circulação. Seu espaço foi desumanamente explorado pelas cidades e pelos mercadores do Mediterrâneo foi aumentado pelas rotas do Mar Interior. Um Mediterrâneo maior cerca e envolve. portanto, o Mediterrâneo stricto sensu, servindo-lhe de calxa.de ressonância. Não é apenas a vida econômica do Mar interior que se repercute ao longe. Suas civilizações, seus movimentos culturais também repercutem. A Renascença expande-se a partir de Florença. “[...]O Barroco, originário de Roma e da Espanha triunfante. recobre toda a Europa, inclusive os países protestantes do Norte. Do mesmo modo, as mesquitas de Istambul, principalmente a Süleymaniye, serão imitadas até na Pérsia e na Índia.” (BRAUDEL 1985, p.51) A decadência só se afirmará a partir de 1620. quando os ingleses e os holandeses tiverem se apoderado de mercados longínquos do Mediterrâneo e invadido seu próprio espaço. Tomado pelos estrangeiros no século XVI, o Mediterrâneo não podia mais ser devolvido à população de suas costas. Palavras chaves: mar, terra, barcos, chuvas, tempo.