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CLASSIFICAÇÀ©
IMPERIAIS RESOLUÇÕES
DO

CONSELHO .DE ESTABO


NA

SEÇCÃO DE FAZENDA

DESDE 0 ANNO EM QUE COMEÇOU A FUKCCIOMR 0 MESMO


CONSELHO ATÉ 0 DE 1865

COLL1GIDAS POR ORDEM DO GOVERNO

POR

(fmilio Xmricr Sobreira írc ilícito,


Contador da Thesouraria de Fazenda de Pernambuco "cm
Commissão no Tliesouro Nacional.

f V O L U M E I. )
viyOjYDCVU

ANNGS DE 1842 A 1844.

RIO DE JANEIRO.
TYPOGR/VPIIIA NACIONAL.

1SGT,
Mm t <&%\\\ &v.

Dignou-se o Governo Imperial por Aviso de.27 de


Janeiro próximo passado, encarregar-me de colligir
as Imperíaes Resoluções de Consulta da Secção de
Fazenda do Conselho de Estado para serem publica-
das na Typographia Nacional, a bem do serviço pu-
blico.
Honrado com esta commissão encetei logo o meu
trabalho, e tenho a satisfação de apresentar a V. Ex.
as Consultas, pertencentes aos annos de 1842 a 1844,
para o começo da publicação.
Pareceu-me conveniente que a Colleeção das Con-
sultas fosse precedida da lei, que creou o Conselho de
Estado, dos Regulamentos publicados para o regimen
de seus trabalhos e de diversos Decretos e Avisos, re-
lativos ao assumpto, de incontestável interesse; assim o
fiz.
Julguei também conveniente dar, em fôrma de ob-
servação, uma breve noticia dos actos expedjdos em
cumprimento das Imperiaes Resoluções, e do estado
actual da Legislação acerca da matéria de cada Corj^
s.ulta.
Organizarei um índice alphabetico das matérias das
Consultas, além dos que forem mais necessários, o qual
será impresso no fim da Collccção para fácil procura
dos variados assumptos das mesmas Consultas.
Sem poupar esforços estou no firme propósito de
empregar meus fracos recursos para desempenhar com
zelo e dedicação o encargo, com que me honrou o
Governo, prevalecendo-me da occasião para prestar
algum serviço ao paiz.
Deus Guarde a V. Ex.—Rio de Janeiro, 6 de Outubro de
1866.—Illm. e Exm. Sr. Conselheiro Zacharias de Góes
e Vasconcellos, Presidente do Conselho de Ministros,
.Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Fa-
zenda, Presidente do Tribunal do Thesouro Nacional.

O Contador.—Em ido Xao«y Sobreira de Mello.


INTHODUCfÃO.

Disposições relativas ao (louscllio de Estado.

LEI N. 23Í.-ÜE 23 DE NOVEMBRO ÜE 18-il.


Creaudo um Conselho de Estado (I)

Dom Pedro, por Graça de Deus e Unanime Accla-


mação dos Povos', Imperador Constitucional e Defensor
Perpetuo do Brasil, Fazemos saber a todos os nossos
subditos que a Assembléa Geral Legislativa Decretou e
Nós Queremos a Lei seguinte:

(I) Os Senadores e Deputados podcrSo ser nomeados para o cargo de Mi-


nistro de Estado ou Conselheiro de Estado, com a diflerença de que os
Seuadores continuarão a ter assento no Senado, e o Deputado deixa vago
o seu lugar na Câmara, e se procede a nora eleição, na qual pôde ser
reeleito e accumular as duas funeções. (Const. art. 29.)
Também acccumulao as duas funcçOes, se já exerciao qualquer dos men-
cionados eargos, quando forao eleitos, (ldem art. 30.)
O exercido de qualquer emprego, á excepçíío dos de Conselheiro de Estado
e Ministro de Estado, cessa interinamente , emquanto durarem as functOes
de Deputado ou de Senador, (ldem art. 32.)
E' da atlribuiçao exclusiva do Senado:
1.° Conhecer dos delidos individuaes commeltidos pelos Membros da Fa-
mília Imperial, Ministros de Estado, Conselheiros de Estado e Senadores,
e dos detictos dos Deputados durante o período da Legislatura.
%.•> Conhecer da responsabilidade dos Secretários e Conselheiros de Estado,
(ldem art. 47.)
Emquanto esta Regência se nflo eleger, (*) governará o Império uma
Regência Provisional composta dos Ministros de Estado do Império e da
Justiça, e dos dous Conselheiros de Estado mais antigos em exercício, presi-*
didà pela Imperatriz viuva, e na sua falta pelo mais antigo Conselheiro de
EStado. (ldem art. 124.)
(*) A Regência não poderá:
Perdoar aos Ministros c Conselheiros de Estado, salvo a pena de morte, quç
será commutada na-immediata, nos crimes de responsabilidade.
Nomear Conselheiros de Estado; salvo no caso, em que fiquem menos de
>res, mantos bastem para preencher este numero. (Lei de H Uc Junho de 1831,
art. WS 2.° e 3.».)
— 6 —

Art. I.° Haverá um Conselho de Estado, composto


de doze membros ordinários, além dos Ministros de
Estado que, ainda não o sendo, terão assento nelle.
O Conselho de Estado exercerá suas funcções, reu-
nidos os seus membros, ou emSecções.
Ao Conselho reunido presidirá o Imperador; ás Sec-
ções os Ministros de Estado, a que pertencerem os
objectos das Consultas.
Art. 2." O Conselheiro de Estado será vitalício, o
Imperador porém o poderá dispensar de suas funcções
por tempo indefinido.
Art. 3.° Haverá até doze Conselheiros de Estado extra-
ordinários, e tanto estes, como os ordinários, serão no-
meados pelo Imperador.
Compete aos Conselheiros de Estado extraordinários:
§ 1.° Servir no impedimento dos ordinários, sendo
para esse fim designados.

Haverá um Conselho de Estado composto de Conselheiros vitalícios no-


meados pelo Imperador, (ldem art. 137.) (*)
O seu numero nSo excederá de dez. (ldem art. 138).
Não são comprchendidos neste numero os Ministros de Estado, nem estes
serão reputados Conselheiros de Estado, sem especial nomeação do Impe-
rador para este cargo. (ldem art. 139.)
Para ser Conselheiro de Estado requerem-se as mesmas qualidades, que
devem concorrer para ser Senador. (ldem art. 140.)
Os Conselheiros de Estado, antes de tomarem posse, prestaráo juramento,
nas mãos do Imperador, de manter a Religião Catholica Apostólica Romana,
observar a Constituição e as Leis, ser fieis ao Imperador, aconselhal-o se-
gundo suas consciências, altendemlo somente ao bem da Nação, (ldem art. 141.)
Os Conselheiros serão ouvidos em todos os negócios graves e medidas
geraes da publica administração; principalmente sobre a declaração da
guerra e ajustes de paz, negociações com as Nações estrangeiras, assim como
em todas as occasiôes, em que o Imperador se proponha exercer qualquer
das attribuiçOcs próprias do Poder Moderador indicadas no art. 101, 4 ex-
ccpçao do § 6.°. (ldem art. 142.)
São responsáveis os Conselheiros de Estado pelos conselhos que derem
oppostos ás leis c ao interesse do Estado, manifestamente dolosos. (ldem
art. 143.)
0 Príncipe Imperial, logo que tiver 18 annos completos, será de direito
do Conselho de Estado, os demais Príncipes da Casa Imperial, para en-
trarem no Conselho de Estado, ficSo dependentes da nomeação do Imperador.
Estes e o Príncipe Imperial nüo entiSo no numero marcado no art. 138,
(ldem art. 144.)
O Imperador poderá suspendel-os ( os Juizes de Direito ) por queiias
contra elles feitas, precedendo audiência dos mesmos Juizes, informação ne.
cessaria, c ouvido o Conselho de Estado. Os papeis que lhe s&o concernentes
serão rcmettidos â Relação do Districto para proceder na forma <ia lei. x(ldem
art. 154.)

'••) Fica supprimido o Conselho de Estado de que trata o Tit. 5.» Cap. 7.» da
Constituição. (Lei de 12 de Agosto de 1831, art. 32.)
§ 2.° Ter assento e voto no Conselho de Estado,
quando forem chamados para alguma* consulta.
Art. 4.° Os Conselheiros de Estado serão responsáveis
pelos conselhos, que derem ao Imperador, oppostos á.
Constituição e aos interesses do Estado, nos negócios
relativos ao exercício do Poder Moderador, devendo
ser julgados, em taes casos, pelo Senado na fôrma da
Lei da responsabilidade dos Ministros de Estado. (2)
Para ser Conselheiro de Estado se requerem as mesmas
qualidades, que devem concorrer para ser Senador. (31
Art. 5.° Os Conselheiros, antes de tomarem posse*
prestaráõ juramento, nas mãos do Imperador, de manter
a Religião catholica apostólica romana, observar a
Constituição è as leis, ser fieis ao Imperador, acon-
selhal-o segundo suas consciências, attendendo somente
ao bem da Nação.
Art. 6.° O Príncipe Imperial, logo que tiver dezoito
annos completos, será de direito do Conselho de Es-
tado: os demais Príncipes da Casa Imperial, para
entrarem no Conselho de Estado, ficão dependentes da
nQmeação do Imperador.
Estes* e o Príncipe Imperial não entrão no numero
marcado no art. 1.", e somente serão convidados para
o Conselho reunido; o mesmo se praticará com os
antigos Conselheiros de Estado, quando chamados.
Art 7.° Incumbe ao Conselho de Estado consultar
em todos os negócios, em que o Imperador houver por
bemouvil-o, para resolvêí-os, e principalmente:
4.° Em todas as occasiões, em que o Imperador se
fS) Os Conselheiros de Estado s3o responsáveis pelos conselhos que derem:
l.o Sendo oppostos ás leis.
2.° Sendo contra os interesses do Estado, se forem manifestamente dolosos.
Os Conselheiros de Estado por taes conselhos incorrem nas mesmas penas
em que os Ministros e Secretários de Estado incorrem por factos análogos
a estes.
Quando porém ao conselho se não seguir cfleito, soffreráO a pena no gráo
médio nunca menor que a suspensão» do emprego de um a dez annos. (Lei de
15 de Out. de 1827, art. 7.°.)
(3) Para ser Senador requer-se:
l.° Que seja Cidadão Brasileiro, e que esteja no gozo de seus direitos
políticos:.
2.o Que tenha de idade 40 annos para cima.
3.» Que seja» pessoa de saber, capacidade e virtudes, com preferencia os
que tiverem feito serviços á pátria.
4.* Que tenha de rendimento annual por bens, industria, commercio ou
emprego a soraraa de 8008000. (Coust. art, 45.)
—8—
propuzer exercer qualquer das aüribuições do Poder
Moderador, indicadas no art. 101 da Constituição. (4)
ã.° Sobre a declaração de guerra, ajustes cte paz e
negociações com as nações estrangeiras.
3.° Sobre questões dê presas e indemnisações.
4.» Sobre conflictos de jurisdicção entre as autori-
dades administrativas, e entre estas e as judiciarias.
5.° Sobre abusos das autoridades ecclesiasticas.
6.° Sobre Decretos, Regulamentos e InstrucçÕes para
a boa execução das leis e sobre propostas, que o Poder
executivo tenha de apresentar á Assembléa Geral.
Art. 8.° O Governo determinará em Regulamentos o
numero das Secções, em que será dividido o Conselho
de Estado, a maneira, o tempo de trabalho, as honras
e distincções, que ao mesmo e a cada um de seus
membros competir, e quanto fôr necessário para a boa
execução desta Lei. Os Conselheiros de Estado, estando
em exercício, venceráõ uma gratificação igual ao terço
do que vencerem os Ministros de Estado.
Art. 9.° Ficão revogadas quaesquer leis em contrario.
Mandamos portanto a todas as autoridades, a quem
o conhecimento e execução da referida lei pertencer,
que a cumprão e facão cumprir tão inteiramente como
nella se contém. O Secretario de Estado dos Negócios
do Império a faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro aos vinte três
de Novembro de mil oitocentos quarenta e um, vigé-
simo da Inpependencia e do Império.
IMPERADOR com Rubrica e Guarda.
Cândido José de Araújo Viahna.
(4) O Imperador exerce o Poder Moderador:
l.° Nomeando os Senadores na forma do art. 43.
2.o Convocando a Assembléa Geral extraordinariamente nos intervallos das
sessões, quando assim o pede o bem do Estado.
3.° Sanccionando os Decretos c Resoluções da Assembléa Geral, para que
tenhão força de lei; art. 62.
4.» Approvando e suspendendo interinamente as Resoluções dos Conselhos
Provinciaes; arts. 86 e 87.
5.» Prorogando ou adiando a Assembléa Geral, e dissolvendo a Câmara dos
Deputados, nos casos cm que o exigir a salvação do Estado, convocando
immediatamente outra que a substitua.
6.° Nomeando e demittindo livremente os Ministros de Estado.
7.° Suspendendo os Magistrados nos casos do art. 154.
8.o Perdoando c moderando as penas impostas aos réos condemnados por
sentença.
9.o Concedendo amnistia em caso orgente, e que assim aconselhem a hu-
manidade e bem do Estado. (Const. art. }0i.)
— 9—
REGULAMENTO N.° 124— DE 5 DE FEVEREIRO DE 1842.
Contendo o Regimento provisório do Conselho de Estado. (1)

Hei por bem Ordenar que o Conselho de Estado Me


consulte sobre os Regulamentos, de que trata o art. 8."
da Lei de sua creação, regendo-se entretanto pelas
seguintes disposições.
TITULO ÚNICO.
Como o Conselho de Estado exeíxerá as suas funcçjes.
CAPITULO I.

Do Conselho de Estado, e de suas Secçóes.

Art. 1.° O Conselho de Estado será dividido em


quatro Secções :
1.aa Dos Negócios do Império.
2. Dos Negócios da Justiça, e dos Estrangeiros.
3.aa Dos Negócios da Fazenda.
4. Dos Negócios da Guerra, e Marinha.
Art. 2.° Cada uma das Secções se comporá de três
Conselheiros.
Art. 3.° As Secções, que se oceuparem dos negócios
de dous Ministérios, serão presididas pelo Ministro,
a quem tocar o objecto, que nella se discutir.
Art. 4." Quando,a importância, e a complicação dos
negócios o exigirem, poderão reunir-se duas, ou três
Secções, sob a presidência do Ministro, que pedir a
a reunião.
Art. 5.° Os Ministros de Estado fornecerão ás Secções
Iodos os esclarecimentos, que julgarem necessários
para acerto das deliberações.

(1) Hei por bem, conformando-mc com o parecer do Meu Conselho de Es-
tado, que o Regulamento numero cento vinte e quatro de cinco de Fevereiro
do corrente anno, no qual foi provisoriamente estabelecida a maneira por que
o referido Conselho devia proceder nos seus trabalhos, continue a ser obser-
vado; ficando a Secçao, a que pertencem os Negócios do Império, incumbida
de propor aquellas alterações, que a experiência mostrar ser necessário fa-
zerem-se no referido Regulamento.
Cândido José de Ãraujo Vtanna, do Meu Conselho, Ministro e Secretario
de Estado dos Negócios do Império, assim o tenha entendido e faça executar
com o; despachos necessários.— [üecr. n.° 222 de 9 de Setembro de 18í2).
2
— 10 —

Art. 6.' O lugar, dia e hora das conferências de cada


Seccão, serão marcados pelos respectivos Ministros.
Art. 7.° O Ministro Presidente da Secção nomeará o
Relator para cada negocio.
Art. 8.° Discutida e votada a matéria, o Relator
apresentará o parecer minutado, o qual, depois de
approvado, será assignado na seguinte conferência
pelos membros da Secção, que não derem voto separado.
O Ministro Presidente não votará, nem ainda no
caso de empate.
Art. 9.° O Imperador se Reserva o direito de resolver
os pareceres das Secções, sem que ouça ao Conselho
reunido.
Art. 10. Os Avisos para consultas do Conselho de
Estado, ou sejão estas sobre parecer de Secções, ou
sobre objectos, que ainda nestas não forão tratados,
serão dirigidos em geral ás Secções, a que pertencerem
os negócios, e estas colligiráo, e ordenarão quanto
puder esclarecer o Conselho em seus debates e decisão.
Art. 11. Quando o parecer da Secção fôr algum Pro-
jecto de Lei, Decreto, Regulamento ou Instrucções,
a Secção respectiva lhe dará todo o preciso desenvol-
vimento, de maneira que o Conselho detEstado o possa
regularmente discutir.
Art. 12. Para haver conferência do Conselho de
Estado sob a Presidência do Imperador, é preciso que
estejão presentes pelo menos sete Conselheiros de Estado
em efíectivo serviço.
Art. 13. As conferências do Conselho de Estado terão
lugar nos Paços Imperiaes, e quando o Imperador
Houver por bem Convocal-o.
Art. 14. Todas as vezes que fôr possível, serão com-
municados com anticipação aos Conselheiros de Estado
os objectos, para cuja consulta se reúne o Conselho.
Art. 15. As disposições dos artigos antecedentes serão
observadas, quando a urgência ou natureza dos ne-
gócios não exigir a preterição de algumas.
Art. 16. Os Conselheiros fallaráõ e votaráõ, quando
o Imperador ordenar.
Art. 17. Não havendo unanimidade no Conselho, os
membros divergentes apresentarão por escripto seus
votos separados.
Art. 18. Os Ministros de Estado, ainda que tomem
parle nas discussões do Conselho, não votaráõ, nem
mesmo assistiráõ ás voiações, quando a Consulta versar
sobre dissolução da Câmara dos Deputados, ou do
Ministério.
Art. 19. As Consultas do Conselho de Estado serão,
redigidas pela Secção, a que tocar o seu objecto, e
assignadas por todos os Conselheiros de Estado, na
fôrma do art. 8.°
Art. 20. A Resolução Imperial, tomada sobre parecer
da Secção, ou Consulta do Conselho de Estado, será
expedida por Decreto.
CAPITULO II.

Dos objectos não contenciosos.

Art. 21. Cada Secção examinará as Leis Provinciaes,


e todos os negócios, de que a encarregar o seu Pre-
sidente.
Art. 22. A cada Secção é permittido ouvir a quaesquer
Empregados Públicos, que não poderão negar-se a
prestar todos os esclarecimentos, que lhes ella exigir,
vocaes ou por escripto, pena de desobediência. Po-
derá outrosim ouvir a quaesquer outras pessoas, cujas
informações lhe possão ser úteis.
Art. 23. Quando, no exame dos negócios incumbidos
ás Secções, entenderem estas que é necessária alguma
Lei, Regulamento, Decreto ou Instrucções, o proporão,
expondo mui circurnstanciadameate ós motivos de sua
convicção, e as principaes providencias, que se devem
expedir.
CAPITULO III.

Dos objectos contenciosos.

Art. 24. Quando o Presidente de uma Província, ou


o Procurador da Coroa na Corte e Província do Rio
de Janeiro, tiver noticia de que uma autoridade Judi-
ciaria está effeclivameute conhecendo de algum objecto
administrativo, exigirá delia os esclarimentos precisos,
bem como as razões, pelas quaes se julga com juris-
dicção sobre o objecto.
Art. 2o. Sc forem consideradas improcedentes as
— 12 —

razões, em que a autoridade judiciaria firmar sua juris-


diccão, ordenará o Presidente, ou o Procurador cia
Coroa, que cesse todo o interior procedimento, e sejão
citados os interessados, para em um prazo razoável
deduzirem seu direito.
Art. 26. Findo o prazo, se o Presidente entender
que o negocio é administrativo, assim o resolverá pro-
visoriamente, rcmettendo todos os papeis a respeito
delle, com a sua decisão, á Secretaria da Justiça.
Se, porém, entender que o negocio não é adminis-
trativo, á vista dos novos esclarecimentos, que tiver
obtido das parles ou da mesma autoridade judiciaria,
declarará que não tem lugar o condido, e que continue
o processo no Foro judicial.
Art. 27. O Ministro da Justiça, ou o confliclo lenha
sido suscitado pelo Procurador da Coroa, ou por algum
dos Presidentes, commelterá o seu exame á respectiva
Secção, a qual, depois de ouvidas as parles, se estas
o requererem, interporá o seu parecer.
Art. 28. Quando o conílicto de jurisdicção consistir
em se julgarem incompetentes tanto a autoridade judi-
ciaria como a administrativa, a Secção dará o seu
parecer, ouvidas ambas.
Art. 29. Quando o conílicto fôr entre autoridades
administrativas,'se procederá na forma dos artigos
antecedentes no que lhe forem applicavcis.
Art. 30. O* Presidentes das Províncias conhecerão
dos abusos das autoridades ecclesiaslicas, procedendo
na fôrma do Regulamento n.° 10 de 19 de Fevereiro
de 1838, no que lhe forem applicaveis suas disposi-
ções (2).
(2) Hei por bem, de conformidade cnm a Minha Immediata e Imperial Reso-
lução de 28 de Junho próximo passado, tomada sobre Consulta da SccySo de
Juslii;a do Conselho de Estado, Declarar de nenhum cíTeito c implicitamente
revogado pela Lei de 23 de Novembro de 1841, que creou o Conselho de Es-
tado, e attribujo á sua jurisdicçflo os Recursos á Coroa pelos abusos das Au-
toridades Ecclesiaslicas, o Decreto de 10 de Fevereiro de 1838, que encarregou
as Relações os conhecimentos dos ditos líecursos,
José Thonjaz Natiuco de Araújo, do Meu Conselho, Ministro e Secretario de
Estad? dos Negócios da Justiça, assim o tenha entendido c faça executar.
Palácio do Rio de Janeiro em 3 de Julho de 1351; 33.» da Independência e
do Império,—Com a Rubrica de Sua Magcslade o Imperador.— José Thomaz
Thomaz Sabuco de Araújo.—(Decr. 1106 de 3 Julho 1S51.)
Hei por bem, Usando da autoridade, que Mo confere o art. 102 § II da
{Constituição. Decretar o seguinte:
Art. 1.° Dá-se Itecurso á Coroa :
— 13 —

Art. 31. Em geral serão observadas todas as dispo-


sições do processo actual, que, contribuindo para des-
cobrimento da verdade, sem prejuízo da celeridade
indispensável á marcha administrativa, forem admis-
síveis neste processo, e não se oppuzerem ás determi-
nações do presente Regulamento.

$ l.o Por usurpaçao de jurisdicção e poder temporal.


g 2.o Por qualquer ceusuA contra empregados civis cm razão de seu
oflicio. *
§ 3.° Por notória violência no exercício da jurisdicção e poder espiritual,
puslergando-se o direito natural ou os cânones recebidos na Igreja Brasileira.
Art. 2.o Não ha recurso u Coroa:
§ l.o Do procedimento dos Prelados Begularcs inlra claustrum contra
seus subditosem matéria correccional.
g 2.° Das suspensões e interdictos, que os Bispos extrajudicialmcnle o ex
informata conscientia, impõe aos clérigos para sua emenda e correcção.
ArrT 3.° li' só competente para conhecer dos Recursos à Coroa o Conselho
de Estado. Toda\ia nos casos do art. 1." gg l . ° e 2.°podem os Presidentes
das Províncias decidir provisoriamente as questões suscitadas, como decidem
os conflictos de jurisdicção.
Art. 4.» E' admissível o recurso á Coroa, de quaesquer actos, em que se
dê algum dos casos do art. 1.». ou seja despacho, sentença, mandamento,
pastoral, ou soja Constituição, acto de Concilio Provincial ou de visita.
Art. 5." Não obsta a competência do Recurso que o gravame seja judicial
ou cxtra-judicial.
Ari. <J.° Qualquer que seja a Instância cabe o Recurso á Coroa nos casos
do art. 1.» gS i °e2.°
Art. 7." Não será porém admittido o Recurso á Coroa no caso do art. 1.»
g 3.°, senão quando não houver ou n3o fôr provido o Recurso, que compelir
para o Superior ecclesiastico.
Art. 8." Compete o Recurso á Coroa não só ao Secular, se nao também
ao Ecclesiastico, salvo a disposição do art. 2 °
Art. 9.° Pódc ser interposto pela parte interessada.
Art. 10. Deve ser interposto pelo Procurador da Coroa nos casos do art. l.°
SS 1.° e 2."
Art. 11. InterpOe-se das Autoridades e Juizes Ecclesiaslicos, de qualquer
ordem que sejSo, ordinários ou commissarios.
Art. 12. E' suspensivo logo que se interpõe nos casos do art. 1.» g§ 1." e 2 °
Art. 13. E' porém devolutivo no caso-do art. 1.» g 3.° se o despacho de
que se recorre é interlocutorio, salvo:
§ 1 •• Se o gravame fór tal, que não possa ser reparado pela sentença de-
finitiva.
g 2.° Se da sentença definitiva não houver appellaçSo.
Art. 14. Também não é suspensivo no caso do art. 1.» g 3.° dos actos dos
Bispos em visita, salvo procedendo ellcs por via de Juizo.
Art. 15. O Recflrso á Coroa deve ser interposto por petição documentada
perante o Ministro da Justiça na Corte, c Presidentes nas Províncias, que
decidirão logo as questões, que oecorrerem sobre a suspensão dos Hecursos,
e rejeitarão aquellcs, que forem interpostos contra as disposições deste Decreto.
Art. 16. Das decisões do Ministro da Justiça e Presidentes das Províncias,
nos casos previstos pelo artigo antecedente de suspensão e rejeição do Recurso
podem as partes recorrer do Ministro da Jus-.iça para o Conselho de Estado,
e dos Presidentes das Províncias para o Ministro da Justiça. .
"Art. 17. Interposto o Recurso será logo intimado á Autoridade ou Juiz
ecclesiastico, assignando-se-lhe o prazo de 15 dias paia allegar o que convier.
— li —
Ari. 32. As questões relativas a presas serão decididas
pelo Governo em primeira e ultima instância.
Art. 33. No processo administrativo se observará cm
geral o seguinte: a parte apresentará na respectiva
Secretaria de Estado petição acompanhada dos docu-
mentos, com que pretende justificar sua intenção.

Art. 18. Se o gravame fôr judicial, serão pelo Juizo ecclesiastico remettidos
com sua resposta os autos respectivos: dellcs porém ficará traslado, salvo se
o facto se der na Corte, c o recurso tiver cffeito devolutivo.
Art. 19. Com a resposta do Juiz Ecclesiastico ou sem ella, se a n5o der
no prazo assignado, ouvido o Procurador da Coroa c com informação do'Pre-
sidente da Província, será o recurso remeltido para o Conselho de Estado por
intermédio do Ministro da Justiça.
Art. 20. Não é ouvida sobre ó Recurso a parte recorrida.
Art. 21. O Recurso será instruído com os documentos c inquirições que
a Autoridade, o Juiz ecclesiastico, Procurador da Coroa, Presidente «Va-Pro-
ibiria c Ministro da Justiça acharem convenientes para a decisão da questão.
Art. 22. Pôde a Autoridade ou Juiz ecclesiastico, á vista da petição do re-
corrente, reparar a violência que fez, dando para esse üm os despachos neces-
sários c participando ao Ministro da Justiça ou ao Presidente da Província a
sua decisão para ficar sem cffeito o Recurso interposto.
Art. 23. Decidido o Recurso pelo Conselho de Estado será por Aviso do
Ministério da Justiça Iransmittida a Resolução Imperial ao Juiz ou autoridade
ccclesiastica para fazêl-a cumprir como nella se contiver, no prazo, que o
mesmo AvLo lixar na Corte, ou fôr fixado pelo Presidente da Província.
Art. 24. Sc não obstante o Juiz ou Autoridade Ecclesiaslica não quizer
cumprir a Imperial Resolução, será ella, como sentença judicial, pelo Juiz de
Direito da Comarca, que procederá, como determinão os arts. 13 c l i do
Decreto de 19 de Fevereiro de 1838, o qual só nesta parte fica em vigor.
Art. y-j. O Recurso no caso do art. l.« g 1." é reciproco c pôde ser inter-
posto quando algum Juiz ou Autoridade temporal usurpar jurisdicção ou
poder Espiritual. O Recurso será interposto pelo Bispo, e são applicaveis a
esse caso as disposições deste Decreto relativas ao art. l.« g l. J
José Thomaz Nabuco de Araújo, do Meu Conselho, Ministro e Secretario de
Estado dos Negócios da Justiça, assim o tenha entendido c faça executar. Pa-
lácio do Itio de Janeiro em 28 de Março de 1857, 36.° da Independência e do
lmpwio.—Com a Rubrica de Sua Majestade o Imperador.— José Thomaz
Nabuco de Araújo.
Artigos do Regulamento ti.» 4 0 de 4 9 de Fcvcrc:r» de 1 8 1 5 8 ,
a o s q u a e s s e refere o Decreto supra n.° 1 0 1 4 de £ 8 de Março
de 4 8 5 7 .
Ait. 13. Cabe nos limites de jurisdicção dos Juizes de Direito, a respeito
do cumprimento das sentenças mencionadas, declarar na fôrma dellas, sum
algum efleito as censuras e penas Ecclcsiasticas, que tiverem sido impostas
aos recurreutes, prohibindo c obslando a que , a pretexto dellas, se lhes faça
qualquer violência, ou c.iuse prejuízo pessoal ou real, mcltcudo-os de posse
de quaesquer direitos c prerogativas, ou redditos de que houverem sido pri-
vados, e procedendo c rcspousabilisaiido na fôrma da Lei os desobedieutes,
e que recusarem a execução.
Art. 14. No caso de serem precisas as providencias do Juiz de Direito, na
fómu do artigo antecedente, alem das intiniaçOcs, que se fizerem «os Juizes
e Autoridades Ecclcsiasticas, se amiuiHura tudo por IMitacs tios lugares pu-
bib o; da Comarca.
— 10

Art. 34. Se fôr altendivel a petição, a Secção pro-


porá que sejão ouvidos os interessados, para o que
lhes será feita a intimação.
Art. 35. A Secção poderá requerer ao seu Presidente
avaliações, inquirições de testemunhas, depoimento
de partes, e quantas diligencias julgar necessárias para
esclarecimento da verdade, ás quaes procederá por
si mesma, quando lhe seja possível.
Art. 36. Na conferência seguinte á em que a Secção
tiver ultimado as diligencias sobreditas, ou na em que
o Presidente, attendendo á natureza do negocio, de-
signar, apresentará o seu relatório, a cuja leitura po-
derão os interessados por 6eus advogados assistir e
fazer os reparos precisos para sua reclificação.
Art. 37. Haverá até dez advogados do Conselho de
Estado, aos quaes somente será permittido assigmir
as petições e quaesquer allegações ou arrazoados,
que tiverem de ser apresentados ao Conselho e ás
suas Secções; bem como assistir ao depoimento e mais
actos do art. 33.
Art. 38. O advogado, que faltar ao devido respeito
ao Conselho, ás Secções ou a cada um dos Conselheiros,
será demittido; e, "se fôr em acto de officio, além de
demittido, será punido na fôrma das leis.
Art. 39. Os prazos assignados ás partes para res-
ponderem, recorrerem, ou produzirem quaesquer do-
cumentos e provas, não poderão exceder a dez dias,
residindo na Corte ou no seu Termo.
Art. 40. O Ministro da Justiça marcará em Avisos,
que farão parte deste Regulamento, os prazos, que,
além dos dez dias do artigo antecedente, devem ser con-
cedidos ás partes, em attenção ás distancias, em que
residirem, ou estiverem os documentos, e provas, que
houverem de produzir. (3)

(3) N. 21.-EM 14 DE JANEIRO DE 1860.


Marca os prazos em que devem ser interpostos os recursos para o Conselho
de Estado.
Ministério dos Negócios da Justiça.—Rio de Janeiro, em 14 de Janeiro
de 1860.—Illm. c Exm. Sr.—Sua Magestadc o Imperador, conformando-sc
com o parecer da Secção de Justiça do Conselho de Estado, Ha por bem que,
na fôrma do art. 40 do Regulamento n.° 124 de 5 de Fevereiro de 184?, se
observem as seguintes disposições, que ficüo sendo parte do mesmo Regu-
lamento.
— IG —

Ari. 41. O processo administrativo só poderá ser


suspenso nos casos seguintes :
I." Fallecendo a parte ou seu advogado, ou im-
possibilitando-se esle de exercer suas funcções antes
do ultimo relatório da Secção.
2." Sendo arguido de falso algum documento ou
testemunha, nos lermos do artigo seguinte.
Art. 42. Feita a arguição de falsidade a qualquer
documento ou testemunha, se parecer ás Secções ou
Conselho que é elle indispensável á decisão do ne-
gocio, e não querendo a parte renuncial-o, será sus-
penso o processo, até que em Juizo competente se
decida a falsidade.
4rt. 43. Se a Secção ou Conselho entender que lal
testemunha ou documento não é necessário para de-
Art. l.° O recurso estabelecido pelo Capitulo 5.» do Derreto n.° 2343
de 29 de Janeiro de 1S59 das Decisões do Tribunal do Thesouro sobre tomada
de contas para o Conselho de Estado será interposto nos seguintes prazos:
§ l.° Do Município neutro e da Capital da Província do Rio de Janeiro
dentro do prazo de dez dias marcado no art. 39 do citado Regulamento.
g 2." Da Capital da Bahia c da Província do Rio de Janeiro dentro de
um mez.
g 3.° Das Capitães de S. Paulo, Minas, Pernambuco, Alagoas, Parahyba,
Rio Grande do Norte, Ceará, Rio Grande do Sul, c das Províncias de Santa
Catharina c Espirito Santo, comprchendidas as suas Capitães dentro dos
dous mezes.
g 4." Das Capitães do Paraná, Sergipe, Maranhão e Pará, e das Províncias
de S. Paulo c Rio Grande do Sul, dentro de quatro mezes.
g 5." Das Capitães do Piauhy, Amazonas, e das Províncias de Pernambuco,
Ceará, Maranhão, Sergipe, Alagoas, Parahyba, Rio Grande do Norte e Paraurá,
dentro de seis mezes.
g 6.° Das Províncias do Pará, Piauhy, Minas, Bahia e Amazonas, e das
Províncias e Capitães de Mato Grosso c Goyaz, dentro de oito mezes.
Art. 2-o Estes prazos são fatacs, tanto para as partes como para a Fazenda
Nacional, e o recurso interposto fora dellcs não será levado ao conhecimento
do Conselho de Estado.
Art. 3.° Da decisão que denegar recurso por excesso de prazo legal, po-
derá a parte interpor novo recurso no termo improrogavel de cinco dias.
O que communico a V. Ex. para sua iutclligeucia e em resposta ao Aviso
desse Ministério de 8 de Fevereiro do anno passado.
Prevaleço-me da oceasião para renovar os meus protestos de estima e con-
sideração a V. Ex., a quem Deus Guarde.—João Lusluza da Cunha Pa-
ranaguá.—Sr Ângelo Moniz da Silva rerraz.
N. 49.-FAZENDA.—CIRCULAR DE 2G DE JANEIRO DE 18G0.
Marca os prazos para interposição do recurso estabelecido pelo Cap. 5.» do
Decreto u.°23í3 de 20 de Janeiro de 1859.
Ministério dos Negócios da Fazenda.—Rio de Janeiro cm 26 de Janeiro
de 1860.
Ângelo Moniz da Silva Ferraz, Presidente do Tribunal do Thesouro Na-
cional, comniuinca, de conformidade com o Aviso do Ministério da Justiça
de 1» do concilie, aos í>rs. Inspcetoics das Thesourarias de Fazenda, para
cisão do negocio, continuará o processo sem embargo
da dita arguição.
Art. 44. O mesmo terá lugar, quando a parte, que
produzio a mencionada testemunha ou documento,
nada responder ou delle desistir.
Logo que uma semelhante arguição fôr feita, e a
considerar procedente a Secção ou "Conselho, será in-
timada a parte, que o tiver'produzido, para dizer a
bem de seu direito.
Art. 45. Das resoluções dos Presidentes das Tro-
vincias em negócios contenciosos poderão as partes
interpor recurso dentro de dez dias por petição mu-
nida dos precisos documentos, que manifeste .as razões
do gravame soffrido; e os Presidentes a remetteráõ
com informação, ou sem ella, á respectiva Secretaria
de Estado. (4)

a devida execução, que Sua Magestade o Imperador, Conformando-Se com


o parecer da Secção de Justiça do Conselho de Estado, Ha por bem que,
na fôrma do art. 40 do Regulamento n.o 124 de 5 de Fevereiro de 1852,
se observem as seguintes disposições, que fleão sendo parte do mesmo Re-
gulamento.
Art. l.o O recurso estabelecido pelo Capit. 5.° do Decreto n. 2343 de
29 de Janeiro de 1859 das decisões do Tribunal do Thesouro sobre to-
mada de contas para o Conselho de Estado, será interposto nos seguintes
prazos:
g 1.° Do Município neutro eda Capital da Província do Rio de Janeiro,
dentro tio prazo de dez dias marcado no art. 39 do eitado Regulamento.
§ 2.° Da Capital da Bahia e da Província do Rio de Janeiro, dentro de
um mcz.
§ 3.o Das Capitães de S. Paulo, Minas, Pernambuco, Alagoas, Parahyba,
Rio Grande do Norte, Ceará, Rio Grande do Sul c das Províncias de Santa
Catharina e Espirito Santo, comprehendidas as suas Capitães, dentro de
dous mezes ^
g 4.o Das Capitães do Paraná, Sergipe, Maranhão e Pará, e das Provín-
cias de S. Paulo c Rio Grande do Sul, dentro de quatro mezes.
g 5.o Das Capitães do Piauhy, Amazonas, edas Províncias de Pernambuco,
Ceará, Maranhão, Sergipe, Alagoas, Parahyba, Rio Grande do Norte, e Pa-
raná, dentro de seis mezes.
g 6.° Das Províncias do Pará, Piauhy, Minas, Bahia e Amazonas, c das
Províncias e Capitães de Mato Grosso cGoyaz, dentro de oito mezes.
Art. 2.° Estes prazos são fatacs tanto para as partes como para a Fa-
zenda Nacional, e o recurso interposto fora dellcs, não será levado ao co-
nhecimento do Conselho de Estado.
Art. 3.° Da decisão que denegar recurso por excesso de prazo legal, p«-
dorá a parte interpor novo recurso, no termo improrogavel de cinco dias.—
Ângelo Moniz da Silva Ferraz.
(4) Querendo estabelecer uma marcha mais regular e uniforme para a dirc-c-
ção da correspondência oflTicial, que quaesquer Autoridades ou Repartições
Publicas das Províncias tenhão de encaminhar á Minha Imperial Presença
pelas diversas Secretarias de Estado e Querendo outro sim que á todos os
Subditos do Impei io residentes nas mesmas Províncias se facilitem os meius
3
— 18 —
Ari. 46. Também terá lugar recurso das decisões
dos Ministros de Eslado em matéria contenciosa, e
tanto este, como o do artigo antecedente, poderá ser de-
de fazer chegar ao Meu conhecimento quaesquer requerimentos ou Repre-
sentações, que devão ter andamento pelas ditas Secretarias de Estado;
Providenciando ao mesmo tempo sobre o acerto c bres idade das decisões,
bem como sobre o modo de serem cilas communicadas aos pretendentes,,
c lhes serem remettidos os Diplomas dos Despachos, com que forem atten-
didos sem que para isso uecessitem ter na Corte procuradores: Hei por
bem Decretar o seguinte:
Art. l.o Tanto os olíicios de quaesquer autoridades ou Repartições, como
os requerimentos c representações, que das Províncias se tiverem de enviar
a alguma das Secretarias de Estado, serão sempre remettidos por intermédio
do Presidente da respectiva Província ; não se dcvVndo nas mesmas Secreta-
rias de Estadj dar andamento algum aos que de outro modo forerh dirigidos.
Art. 2.° Do disposto no artigo antecedente exceptuio-se :
g l.o As representações que Me forem dirigidas contra alguma determi-
nação, decisão ou outro qualquer acto, que emanar do Poder Executivo.
§ 2.° As queixas e denuncias contra o Presidente da Província, que pode-
rão ser directameute apresentadas na respectiva Secretaria de Estado, uma
vez que o requerimento seja assignado pelo queixoso, ou denunciante e
reconhecida a sua assignatura.
g 3.° Os recursos interpostos pelas partes, ou por qualquer autoridade
ou Repartição Publica, das decisões proferidas pelo Presidente da Província,
que poderão ser enviados por intermédio dos mesmos Presidentes ou direc-
tamente apresentados na respectiva Secretaria de Estado.
g 4.o Os officios dos Secretários dos Collegios Eleitoraes, que acompa-
nharem as autheuticas da eleição de Senadores c Deputados, que na fôrma
dos arts. 79 e 8í da Lei n.o387 de 19 de Agosto de 1846, devem ser direc-
tamente enviadas á Secretaria de Estado dos Negócios do Império.
§ 5." Os officios das Câmaras Municipacs das Capitães das Províncias par-
ticipando a posse dos Presidentes para cilas nomeados.
§ fi.o Os officios dos Dircctorcs dos Cursos Jurídicos e Escolas de Medi-
cina do Império, bem como os de quaeM|iier outras corporações ou Auto-
ridades que, na fôrma das Leis em vigor, devão dircctamcntc dirigir-se a
respectiva Secretaria de Estado.
Art. 3.o O Presidente da Província a quem forem dirigidos officios, reque-
rimentos, ou representações para subirem á Minha Imperial Presença, os
remetterá sem demora acompanhados de todas as informações, que possão
esclarecer a matéria, c orientar o Governo sobre a justiça ou injustiça das
pretcuções, bem como sobre a necessidade, convenieucia ou utilidade das
medidas ou providencias, que foecm propostas ou reclamadas.
Ari. 8.o As informações dos Presidentes, que acompanharem ás petições',
de que tratão os artigos antecedentes, conteráõ, além da sua opinião sobre
o merccimeuto da pretenção, todos os esclarecimentos, que puderem dar
sobre as circumstancias dos pretendentes, seu estado, moralidade profissão
Art. O.o Quando nos requerimentos houver queixa ou representação contra
qualquer Funccionano Publico o Presidente da Província o ouvirá nor es-
ZTA° A C O mS a s u a l r c s0PC°dsct a 0 dremetterá o requerimento, sempre acompa-
oo ooojecto
b i r . c t nde r que
„ ? „ ' for í , aos , Empregado.
V ?arguido ? s i n f o r m a ç 0 e s > q«c Puder ministrar sobre
Art. 10. Todas^s decisões do Governo sobre os oiTicios, requerimentos
^rH?Pr0enlaÇÕeS' qUC " a f ó n n a d 0 P r c s e n t c D c c r e t 0 ^ b i r e m T ^ n h a h u
' ' ^ " ^ ^rao c9.nn1unica.las ao Presidente da respectiva Provi, c",
paia que este as transmitia ofíicialmentc ás autoridades, a[quem competir
ou s laça constar a u s p r t , t ( M l ! e i l t ( , s p „ l a , n a n c i l . a indicada'no aríilTsc-'
- 19
cidido por Decreto Imperial, sem se ouvir, ou ouviiido-
se as respectivas Secções e o Conselho de Estado. ( o)
Art. 47. A Resolução Imperial tornada sobre parecer
de Secção, Consulta'do Conselho, ou sem ella, emvir-

Art. 11. Haverá na Secretaria do Governo de cada Província um livro


próprio, que a todos será patente, no qual se lançará não só a direcçãí»
dada aos requerimentos, com declaração da data, em que forem remettidos,
mas também as decisões communicadas á Presidência da Província, a fim de
que os pretendentes tenhão assim sciencia do deferimento de suas petições
c possão, no caso de terem sido attendidos, solicitar a expedição de seus
títulos. •

O Visconde de Monte Alegre, Conselheiro de Estado, Ministro c Secretario


d 5 Estado dos Negócios do Império, assim o tenha entendido c faça executar.
Palácio do Rio de Janeiro em 27 de Agosto de 1849, 28.o da Independência
e do Império.—Com a Rubrica de Sua Magcstade o Imperador. — Visconde
de Monte-Alegre.
(5) Tendo ouvido a Secção de Fazenda do Conselho de Estado sobre a repre-
sentação do Inspector da Thcsouraria da Província da Bahia procurando
saber se o recurso ao Conselho de Estado das Decisões das Thcsquraria.s
c do Tribunal do Thesouro suspendia a execução deltas, c de que modo
devião ser as ditas Thesourarias instruídas da interposição de tal recurso;
c até quando deverião esperar'pela decisão do recurso interposto: e Ha-
vendo-me por Minha Immediata Resolução de vinte oito de Novembro
ultimo conformado com o parecer da mesma Secção ; Hei por bem Declarar
que as decisões do Tribunal do Thesouro, mesmo no caso que dellas se
recorra para o Conselho de Estado, devem ser executadas pelas Thesourarias
e Repartições competentes, salvo se .receberem ordem do Ministro e Secre-
tario de Estado, Presidente do mesmo Tribunal, para que sobr'cstejão na
execução dellas.
Manoel Alves Branco, do Conselho de Estado, Senador do Império, Ministro
e Secretario de Estado dos Negócios da Fazenda e Presidente do Tribunal
do Thesouro Publico Nacional, o tenha assim entendido c faça executar.
Palácio do Rio de Janeiro em três de Dezembro de mil oitocentos quarenta
c sete, vigésimo sexto da Independência e do Império.—Com a Rubrica de
Sua Magestadco Imperador.— Manoel Alves Branco.
O Decreto n.° 736 de 20 de Novembro de 1850 alterou a Lei de 1 de Outu-
bro de 1831, que creára o Thesouro Nacional.
Segundo esta Lei o Tribunal do Thesouro, que se compunha do Inspector
Geral, do Contador Geral e do Procurador Fiscal sob a Presidência do
Ministro da Fazenda único que tinha voto deliberativo, era meramente
consultivo.
Pelo Decreto, porém, de 1850, o Tribunal ficou tendo cm certas matérias o
voto deliberativo (art. 2.o §§ 1 a 10.)
O Regulamento do Conselho de Estado no artigo 48 lhe dá attribuição
de conhecer, em gráo de recurso, das decisões dos Ministros de Estado, e
pois emquanto vigorou a precitada Lei de 4 de Outubro o Conselho aceitou
c tomou conhecimento, dos recursos interpostos das decisões do Thesouro,
id est do seu Presidente, que vinhão a ser assim decisões do Ministro da
Fazenda.
Não assim depois do Decreto de 1850 : então as decisões do referido Tribu-
nal, naquellas matérias, cm que. ficou elle tendo voto deliberativo, e forão
todas as que versão sobre matéria contenciosa, já não erão decisões do
Ministro, mas sim de uni Tribunal, das quaes o Conselho uão podia tomar
couhccimculo por falta de attribuição.
— 20 —

lude do processo, de que trata este Capitulo, só po-


derá ser embargada nos casos:
l.° De não ter sido intimado algum dos prejudi-
cados.

Estes princípios forão luminosamente sustentados na Consulta da Secção


de Fazenda do Conselho de Estado de 15 e adoptados pela Imperial Re-
solução de 17 de Maio de 1851. (V. a Consulta no lugar competente.)
Hoje, porém, o Conselho deve tomar, e tem tomado conhecimento, sem
duvida alguma, dos recursos alludidos, porquanto as disposições cuja integra
abaixo vão transcriptas lhe conferem a necessária jurisdicção, c o constituem
ultima instância para resolução das questões do Contencioso Administrativo
uos casos ahi especificados.
DECRETO N. 2343 DE 29 DE JANEIRO DE 1859.
Faz diversas alterações nos Decretos n. 736 de 20 di Novembro de 1850 c
"870 de Ti de Xovcmbro de 1851.
•Isando da autorização concedida ao Governo pela Lei n.° 563 de 4 de
Julho de 1850, Hei por bem Decretar o seguinte:

CAPITULO v i .
Dos recursos.
Art. 2G. Das decisões do Tribunal do Thesouro fobre tomada de contas
haverá recurso de reusao para o mesmo Tribunal, por motivo de erro
de calculo, omissão, duplicata de verba, c apresentação de novos docu-
mentos ; e além deste haverá recurso de revista das ditas decisões para
o Conselho de Estado por motivo de incompetência, excesso de poder,
violação de Lei e preterição de formulas essenciaes.
Estes recursos também poderão ser interpostos a bem da Fazenda Nacional.
Art. 28. As decisões do Tribunal do Thesouro cm matéria contenciosa po-
der ,1o ser annulladas pelo Conselho de Estado á requerimento da parte, OM
quando, o Ministro da Fazenda dcvolvel-as ao seu conhecimento a bem
dos interesses da Fazenda Nacional, somente nos casos de incompetência,
excesso de poder <: violação de Lei ou de formulas, essenciaes.
Art. 29. As decisões administrativas em matéria contenciosa, proferidas
pelo Tribunal do Thesouro, ou pelos Chefes de Repartições fiscaes, po-
derão ser annulladas pelo Conselho de Estado nos casos de incompetência
excesso de poder, e violação da Lei oude formulas essenciaes, sem que to-
d.-ma a Resolução Imperial aproveite ás partes, que pelo silencio tiverem
approvado a decisão anterior.
Art. 30. Os negócios contenciosos, decididos pelos Chefes das Repariições
Fiscaes, poderão ser devolvidos ao Conselho de Estado ou ao Tribunal do
Thesouro, conforme as regras de competência dos Capitules l.« c 2 o neto
Ministro da Fazenda quando assim o entender a bem da Fazenda Nacional.

Francisco de Salles torres Homem, do Meu Conselho, Ministro c Secreta-


rio de Estado dos Negócios da Fazenda e Presidcutc do Tribunal do The-
souro Nacional, assim o lenha entendido c faça executar. Palácio do Rio
cie Janeiro çm vinte nove de Janeiro de mil oilocentos cincoenta c nove
• nai-siin.» oitavo da ..dependência c do I.npcrio.-Com a Hubrica de Sui
Magcíiade o lni<*'rad<»r.-i raw.tsco ik S-ülci Turres Homem.
— 21 —

2.° De ter corrido o processo á revelia, que não


possa ser imputada ao condemnado.
Art. 4S. Os embargos, no caso do artigo antecedente,
só terão lugar antes que o Decreto Imperial seja rc-

DECRETO N.o 2548.-DE 10 DE MARÇO DE 1860.

Dd Regulamento ao Tribunal do Thesouro para a tomada de contas dos


responsáveis pára com a Fazenda Nacional.

Allcndendo á necessidade de harmonizar as disposições dos Decretos r*n,i


736 de 20 de Novembro de 1850, c 870 de 22 de.Novembro de 1851, com
as do Decreto n.P 2343 de 29 de Janeiro de 1859, na parte relativa á
jurisdicção do Tribunal do Thesouro e Thesourarias de Fazenda sobre os
responsáveis para com a Fazenda Nacional, e dando execução ao art. 4(>
| t.° do ultimo dos citados Decretos sobre a fôrma do processo para o
julgamento das contas dos mesmos responsáveis, c recursos interpostos
das decisões das jurisdicçõus administrativas: Hei por bem Decretar o se-
guinte- *

CAPITULO IV.

Dos Becursos.

Art. 28. Das decisões "definitivas do Tribunal do Thesouro sobre tomada


de conlas haverá recurso para o mesmo Tribunal ou para o Conselho de
Estado. (Decreto de 29 de Janeiro de 1859, art. 26.) (*)
Art. 30. O recurso para o Conselho de Estado é de Rc\ista, e só terá
lugar nos casos de incompetência, excesso de poder, violação de Lei, ou
preterição de formulas essenciaes. (Decreto de 29 de Janeiro de 1859, art.
26.)
g 1.° Este recurso poderá ser interposto pelas partes nos seguintes prazos,
contados da data da intimarão ou publicação das decisões:
l.° De 10 dias para o Município da Corte e da Capital da Província do
Rio de Janeiro.
2.o De um mcz para a capital da Bahia c da Província do Rio de Ja-
neiro.
3.° De dous mezes para as capitães de S. Paulo, Minas, Pernambuco,
Alagoas, Parahvba, Rio Grande do Norte, Ceará, Rio.Grande do Sul, cpara
as Províncias de Santa Catharina e Espirito Santo, compreheudklas as suas
Capitães. *
4.» De quatro mezes para as Capitães do Paraná, Sergipe, Maranhão c
Pará, e para as Províncias de S. Paulo e Rio Grande do Sul.
(*) Os documentos com probatórios das dividas militares provenientes do
vendas de gêneros ede quaesquer fornecimentos á tropa, contrahidas de agora
em diante, serão apresentados nas Contadorias de Guerra onde as houver, c
na sua falta nas Thesourarias das Províncias, ou no Thesouro Publico Nacional
dentro de um anno da data da Iransacção do . contracto. sob pena de serem
havidas por perdidas. A respeito das dividas contrahidas antes desta Lei, <«
anuo será contado da data clu sua publicação. A liquidação de uma e outra
divida será feita administrativamente, com recurso para o Conselho de Estado,
finando a parte sd julgar prejudicada,: pi-milcndo porém revisão do Thesouro
5'ublico Nacional. (L. a." DUO <\<: li de Setembro de 1*1'», art. 51.)
22

mettido para a autoridade judiciaria, ou dentro dos


dez dias contados do em que foi feita intimação ao
condemnado.
Art. 49. Os embargos serão apresentados pelo rcs-

5.0 De seis mezes para as Capitães do Piauhy e Amazonas , e para as


Províncias de Pernambuco, Ceará, Maranhão, Sergipe, Alagoas, Parahyba,
Rio Grande do Norte e Paraná.
6.o Debito mezes para as Províncias do Pará, Piauhy, Minas, Bahia e
Amazonas, c para as Províncias c Capitães de Mato Grosso e Goyaz.
§ 2.° O recurso de Revista por parte da Fazenda Nacional poderá ser in-
terposto em virtude: 1.°, de Aviso Ministerial ao Conselho de Estado; 2.°
de representação do Dircctor Geral da Tomada de Coutas^ ou do Procurador
Fiscal do Thesouro, mas dentro dos mesmos prazos marcados nos §§ an-
tecedentes.
§ 3.° Interposto o recurso de que tratão os dons paragraphos antece-
dentes, c lavrado o respectivo termo na Secretaria da Fazenda, proceder-sc-ha
a respeito dellc ulteriormentc como com os demais negócios contenciosos
<1» Conselho de Estado.

Art. 32. O recurso de revisla para o Conselho de Estado na fôrma do


Decreto n.° 542 (le 3 de Dezembro de 1847 nãb tem effeito suspeusivo,
excepto no caso de ordem expressa do Ministro da Fazenda.

CANTULO v.
_ Disposições Geracs.

Art. 38. Sc qualquer Juizo ou Tribunal dç Justiça conhecer cie alguma


questão, que deva ser ou tenha sido decidida pelos tribunaes, ou jurisdicções
administrativas na fôrma deste Decreto, as autoridades competentes pro-
moverão immcdiatamente o conflicto de jurisdicção nos termos do Regula-
mento n.o 124 de 5 de F'cvcréiro de 1812.
§ Único. Os Procuradores Fiscaes podem e devem interpor recurso para
o Conselho de Estado por intermédio da Secretaria de Estado dos Negócios
da Fazenda das decisões dos Presidentes de Províncias que, nos termos da
2.'parle do art. 26 do citado Regulamento, declararem não ter lusar o
conílicto. °
• • • • ' " • • • • • • • • • • • . .

Art. 43. Ficão revogadas todas as disposições em contrario.'


Ângelo Moniz da Silva Ferraz, do Meu Conselho, etc.
Palácio do Rio de Janeiro em 10 de Março de 1860
Fc^r™ a , ' u b r i c a d e S u a M a e e s t n t | c o Imperador.-Ângelo Moniz da Silva

REGULAMENTO DAS ALFÂNDEGAS E MESAS DE RENDAS DO IMPÉRIO.

TITULO IX.

Vos Recursos.

das' M«is'dp)anp.Hr|Í-?e< d ; , s . , 1 n s P , , c t o r « *** Alfândegas e Administradores


h"c«- P>"fcr.das em matéria contenciosa administrativa,
— 2:J —

pectivo Ministro ao Conselho, o qual consultará ao


Imperador para o desattender, ou para reformar a Im-
perial Resolução, ou para ordenar que de novo seja
examinada na competente Secção.
l.° Recurso ordinário.
2.o Recurso de revista.

Art. 7C4. O recurso de revista pôde ter lugar:


l.o Das decisões proferidas dentro da alçada nos casos de incompetência,
excesso de poder e violação de Lei ou de formulas essenciaes: #
2.o Das decisões proferidas cm Juizo arbitrai nos casos acima referidos
(art. 4.° g 4.o do presente Regulamento).
g l.o Este recurso será interposto para o Tribunal do Thesouro ou para
o Conselho de Estado segundo as regras da competência do Ministro da Fa-
zenda, ou do mesmo Tribunal marcadas no art. 27 do Decreto de 29 de
Janeiro de 1859.
g 2.° Os Inspcctorcs das Alfândegas e Administradores das Mesas de Rendas
darão conta ao Ministro da Fazenda, por intermédio das Repartições com-
petentes, das decisões proferidas dentro da alçada, quando versarem sobre
iiitelligcncia e applicação da tarifa, isenção e restituição de impostos, apprc-
hensão, multas ou penas corporaes, se as partes não inlerpuzerem recurso
de Revista, na fôrma dos arts. 29 e 30 do Decreto n.° 2343 de 29 de Ja-
neiro de 1859, para cassar-se a decisão nos casos de incompetência, excesso de
poder, violação de Lei, ou de formulas essenciaes, ou no interesse da Fa-
zenda Publica, ou no interesse da Lei quando no caso couber.
Art. 765. Das decisões das Thesourarias de Fazenda poderão inlcrpôr-se
os mesmos recursos marcados nos artigos antecedentes, c nos casos ncllcs
mencionados.
g Único. As disposições dos §§ 1.° e 2.° do artigo antecedente são appli-
caveis ás Thesourarias de Fazenda c seus respectivos Inspcctorcs (art. 4.°
do presente Reg.)
Art. 766. A alçada dos Inspcctores das Alfândegas de l. a , 2. a c 3.» Or-
dem é de IOÜSOÜO c a dos das outras Alfândegas, bem como das Mesas de
Rendas, é de 5og000.
A alçada das Thesourarias é de 2008000.
g Único. A alçada dos Chefes das Repartições Fiscacs cm matéria de
contrabando ou tomadias será unicamente determinada pelo valor dos objectos
apprcheDdidos.

Art. 774. O recurso de revista não suspende os cllcitos da decisão an-


terior, salvo ordem cm contrario do Ministro da Fazenda na Corte e dos
phefes das Repartições-de Fazenda nas Províncias, requerida por.petição
especial depois de interposto a recurso.

Palácio do Rio de Janeiro cm 19 de Setembro de 1860.— Ângelo Moniz


da Silva Ferraz.

DECRETO N. 2713.-DE 2G DE DEZEMBRO DE 1860.

Manda executar o Regulamento do sello e de sua arrecadação.


Ari 50 Ko caso de ser a Resolução Imperial de
novo 'examinada, poderá sua execução ser suspensa
pelo respectivo Ministro, quando na demora nao haja
perigo, e de não ser suspensa possa resultar damno
irreparável. , , _^
Art. 51. A Imperial Resolução será executada como
qualquer sentença judiciaria, e pelos mesmos Juizes
e fôrma pela qual estas o são.
Sendo condemnada a administração, a execução será
feila administrativamente.
CAPITULO IV.

Das disposições geraes.


J

Art. 52. Haverá sempre em effectivo serviço doze


Conselheiros de Estado, um dos quaes escreverá as
actas dos negócios, que deverem ser conservados em
segredo.
Art. 53. Se algum Conselheiro, em effectivo serviço,
não puder exercer suas funcções por mais de quinze
dias contínuos, será designado o Conselheiro de Es-
tado extraordinário,- que ha de servir durante o seu
impedimento, cessando o qual, cessará também a subs-
tituição, independente de nova ordem.
Art. 54. O Conselheiro de Estado que fôr Ministro
de Estado, ou empregado em qualquer Commissão,
cujo exercício fôr incompatível com as funcções do

PARTE II.

Da cobrança do sello.

CAPITULO VIII.

Dos Processos c Recursos em matéria de Sello.

Art. 125. Haverá recurso voluntário, que ficará a arbítrio da parte":


g 2 . o Das decisões do Tribunal do Thesouro para o Conselho dé Estado
nos casos do art. 28 do Decreto n.° 2343 de 29 de Janeiro de 1859.
§ 3." Das decisões do Ministro da Fazenda c dos Presidentes d a s P r o -
viiicias para o Conselho de Estado, na fôrma do Regulamento de 5 de Fe-
vereiro de 1842.
— 25 —
Conselho, será considerado impedido, e se lhe appli-
cará o disposto no artigo antecedente.
Art. 55. O Conselheiro, que fôr dispensado do exer-
cício de suas funcções, passará a Conselheiro extra-
ordinário.
Art. 56. Só perceberão gratificações os Conselheiros
em effectivo serviço.
Art. 57. Os Conselheiros de Estado, nos actos pú-
blicos e funcções da Corte, occuparáõ o primeiro.lugar
depois dos Ministros e Secretários de Estado"; terão
o tratamento de Excellencia; gozaráõ das honras, de
que gozão os mesmos Ministros; e usaráõ do uni-
forme de que estes usão, tendo porém nas mangas
da farda, acima dos canhões bordados uma esphera,
e sobre esta a Coroa Imperial. (6)
Art. 58. Todas as autoridades publicas são obri-
gadas a cumprir as determinações expedidas em vir-
tude deste Regulamento, e tendentes á sua execução.
Art. 59. Haverá no Conselho, e em cada uma de
suas
J
Secções três livros.
i.° Para registro das actas respectivas.
2.° Para registro das Ordens Imperiaes.
3.° Para registro dos pareceres e consultas.
Art. 60. Ficão revogadas todas as disposições em
contrario.
Cândido José de Araújo Vianna, do Meu Conselho,
Ministro e Secretario de Estado dos Negócios do Im-
pério, assim o tenha entendido, e faça executar com
os despachos necessários. Palácio do Rio de Janeiro,
em 5 de Fevereiro de 1842, vigésimo primeiro da In-
dependência e do Império.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Cândido José de Araújo Vianna.

(6) Podem fazer as procurações por instrumentos particulares cscriptos por


mão alheia e por elles somente assignados:
Os que tem titulo do Conselho » (Ord. n.° 82 de 30 de Março de 1849
art. 6.o g 4.o)
• ••• ~3 . . . .
As mulheres casadas ou viuvas tem o mesmo- privilegio de seus maridos
(Ord. cit. art. 8.°)
4
CONSULTAS DO CONSELHO DE ESTADO
NA

SECÇÃO DE FAZENDA.
RELAÇÃO
DOS

MINISTROS DE ESTADO, PRESIDENTES,


£ DOS

CONSELHEIROS MEMBROS
DA

SECÇÃO DE FAZENDA DO CONSELHO DE ESTADO.

1842.

MINISTRO D E E S T A D O

Miguel Calmon Dupin e Almeida (depois Visconde e


Marquez de Abrantes), nomeado por Decreto de 23 de
Março de 1841.

C O N S E L H E I R O S D E E S T A D O

José Antônio da Silva Maya, nomeado por Decreto de


5 de Fevereiro de 1842.
Manoel Alves Branco (depois Visconde de Caravellas),
nomeado por Decreto de 5 de Fevereiro de 1842.
Barão de Monte-Alegre (depois Visconde e Marquez
do mesmo titulo), nomeado por Decreto de 5 de Feve-
reiro de 1842.
CONSULTAS

DO

CONSELHO DE ESTADO NA SECÇÃO DE FAZENDA,

18^2.

N. 1.—CONSULTA DO 1.° DE ABRIL DE 1842.

Sobre o projecto de Regulamento para a arrecadação da taxa e meia siza


dos escravos. „

Senhor.—Foi presente á Secção do Conselho de Es-


tado, presidida pelo respectivo Ministro, que tem a
seu cargo os Negócios da Fazenda, o Regulamento
para melhor arrecadação dos impostos da taxa de
mil réis sobre os escravos, e da meia siza das com-
pras e vendas e arrematações e dações in solutum
dos mesmos, «que lhe foi remettido, por ordem de Vossa
Magestade Imperial, por Aviso de 21 de Fevereiro; e,
depois que sobre elle discutio, concordou por sua
votação sobre as alterações e emendas oíferecidas,
que 'passasse da maneira que offerece; advertindo
para esclarecimento da matéria:
— 6 —

1 o Oue este Regulamento tem por fim regular a


arrecadação de dous impostos pertencentes á renda
geral um, o da taxa de mil réis sobre todos os
escravos de qualquer sexo ou idade, residentes nas
cidades e villas, estabelecido pelo art. 9.° § 5.° da Lei
de 31 de Outubro de 1835; outro da meia siza das
compras e vendas e arrematações dos escravos, e
dacões in solutum, que com elles se fazem, creado
pelo Alvará de 3 de JunJiQ de 4809 § 2.°, sendo este
somente relativo ao Município da Corte.
2.° Que se tratou da arrecadação destes dous im-
postos em um só Regulamento ; porque, dependendo
ella, a respeito de ambos, de uma mesma base, a
matricula geral, e sendo por isso indispensável
darem-se muitas disposições communs, ociosa e inútil
pareceu a repetição em dous diversos Regulamentos,
e muito mais sendo esta arrecadação dos dous im-
postos encarregada neste Município aos mesmos Em-
pregados.
3." Que a primeira parte do art. 1.° contém uma
disposição geral para ser observada em todo o Im-
pério na arrecadação da taxa dos escravos; e o para-
grapho único traz uma disposição especial para o
Município da Corte, onde a matricula geral ha de
servir de base ao lançamento e arrecadação de ambos
os referidos impostos.
4.° Que no art. 4." se obrigão a matricular os es-
cravos não só os senhores e proprietários delles, mas
também os que nas cidades e villas os tiverem (\Q
pessoas de fora, por algum dos meios ou títulos de-
clarados, para ter cumprida execução a Lei, que na
decretação do imposto não teve era consideração a
residência dos senhores, mas a dos próprios escravos.
5.° Que no art. 5.° se exige para a matricula dos
escravos as relações assignadas para o fim de evitar
duvidas futuras,' podepdo-se á vista dellas mais facil-
mente verificar tanto a exactidão do lançamento como
a sonegação e extravio, se o houver. ,
6.° Que não se exige no art. 6.° no acto da pri-
meira matricula o titulo por que se possuem os es-
cravos, por não ser da competência dos encarregados
da cobrança do imposto averiguar a legitimidade do
domínio, mas exige-se nas matrículas subsequentes
_ 7 —

por ser eiitflo preciso averiguar se se têm pago os


impostos devidos dos escravos novamente adquiridos.
7.° Que é mui razoável a disposição do art. 7.°;
porque seria demasiadamente incommoda tanto para
os contribuintes, como para os empregados a freqüente
repetição da matricula.
8.° Que a disposição do art. 8.° tem a duplicada
conveniência de fazer desde logo conhecer ao contri-
buinte a exactidão do lançamento e facilitar-lhe o
desfazer qualquer duvida, que por acaso possa occor^
rer.
9." Que nosarts. 9.°, 10 e 11 se dão mui convenientes
providencias para que os lançamentos annuaes se facão
com exactidão para o pagamento da taxa tanto a res-
peito da Fazenda Nacional, que não deve haver mais
do que direitamente lhe toGa, como a respeito dos
contribuintes, para que SÓ paguem o que justamente
devem.
10. Que o art. 12 Gontém o complemento das dis-
posições dos arts. 4.° e 5.°
W. Que nõ àrt. \3 se ordena õ que em regra se
observa a respeito de todos os impostos de lança-
mento, conforme os Regulamentos existentes, bastar
a existência dos objectos collectadOs ao tempo do
lançamento, ó que é necessário para evitar muitas
fraudulentas reclamações.
12. Que nó art. 16 se daò as necessárias provi-
dencias para que as partes tenhão um certificado
legal do pagamento feito afim de que por qualquer
engano se lhes não repita; e cora todas as especifi-
cações e clarezas para que não possa ter lugar uma
dolosa ou falsa applicação a outros escravos.
13. Que no art. Í8 se estabelece um meio, que
provavelmente será efiicaz, de obstar ao prejuízo da
Fazenda Nacional.
14. Que no Capitulo das—Disposições Gemes—se in-
cluem providencias, que se julgarão convenientes é
mais adaptadas para occorrer ás fraudes e extravios
èm prejuízo da Fazenda Nacional, bem como as multas
e pena* capazes de fazer etfeetivas taes providencias
cõMidàs nos limites da autorização, qüe teve o Go-
verno pelas disposições dos arts. 15 e 17 dá Lei de
30 de Novembro de 1841.
— 8

O que a referida Secção respeitosamente envia a


Augusta Presença de Vossa Magestade Imperial Que se
Dignara Resolver o mais acertado.
Rio de Janeiro em1.° de Abril de 4842.—José An-
tônio da Silva May a.—Manoel Alves Branco. ( )

N. 2.—CONSULTA DO 1.° DE ABRIL DE 1842.

Sobre o projecto de Regulamento para arrecadação da Dizima da


chancellaria.

Senhor.—A Secção do Conselho de Estado, encar-


regada dos Negócios da Fazenda, presidida pelo
respectivo Ministro, examinou o Regulamento para
arrecadação da—Dizima da chancellaria—, que lhe foi
remettidô, por ordem de Vossa Magestade Imperial,
em Aviso de 21 de Fevereiro; e, depois de haver
discutido sobre a sua matéria e redacção, foi de
parecer que elle se adopte da maneira, que ora se
apresenta.
Porquanto a Secção teve em sua consideração:
1.° Que este imposto, ainda impropriamente* deno-
minado—Dizima da chancellaria— já não é em reali-
dade aquelle, que, estabelecido como pena dos que
fazião má demanda, devia cobrar-se logo na chan-
cellariajaaoccasião de transitarem por ella as sentenças,
ou averbar-se para se haver ou demandar depois pelos

(*) O projecto, que deu motivo â Consulta, foi adoptado, e mandado obser-
var por Decreto n.° 151 de 16 de Abril 'de 1842.
Este Regulamento foi alterado pelo Decreto de i de Junho de 1845, e
depois revogado pelo do 1.° de Maio de 1858 na parte relativa á taxa de
escravos. A matéria hoje é regida, quanto á taxa, pelo Decreto em ultimo
lugar citado, e, quanto á meia siza pelo Regulamento n.° 3699 de 98 de
Novembro de 1860.
•— 9 —

meios judiciaes, especialmente designados, e é -sim


uma imposição lançada sobre os litigantes, devida
do valor de quaesquer cousas demandadas em Juizp
conforme a Lei de 31 de Outubro de 1835, art. 9."
§ 2 ° ; ainda que com a limitação, que lhe impõe a
outra Lei de 22 de Outubro de Í836 no art. 14 § 2Í,
de o ser só nos casos em que pelas Leis anteriores
era devida a Dizima: e que por conseguinte, desde
que, alterada a natureza do imposto, não se julgou
mais preciso esperar o transito, das sentenças na
chancellaria para se cobrar ou averbar, m u i t o a p r o - '
posito se achou e designou a occasião de se sellarem
os autos antes da conclusão final, para se .fazer o
pagamento, e na mesma Estação Fiscal; tornando-se
assim mui prompta e pouco dispendiosa a arreca-
dação, evitada a necessidade das execuções para a
•coorança.
2.° Que estabelecido este ponto cardeal eapparecendo
a precisão de declarar-se quaes as sentenças, que se
"considerão definitivas, para ter lugar o "pagamento
dos dous por cento, quando os processos se forem
preparar com o sello para a conclusão final, indis-
pensáveis forão as declarações cios §§ 1.°, 2.°, 3.° é
i." do art. 2.°; e, porque então o pagamento se'tem
"de regular pelo valor das cousas demandadas, exi-
gidas forão as providencias dos arts. 3.°, 4.°, 5. e
B.°, para o indicar de um modo claro e incontroverso,
tanto a respeito das causas novamente intentadas, como
"das actuaímenle pendentes.
3.° Que, satisfeito assim o que cumpria relativa-
mente ao melhoramento da arrecadação do imposto
em geral, era forca satisfazer também a limitação do
art. 14 § 21 da Lei de 22 de Outubro de 1836, e
que por isso muito bem se enumerão nos arts 9.° e 10
os casos em que se não deve o imposto, e as pessoas
que a elle não são obrigadas.
4.° Que, tendo o imposto de recahir sempre sobre
a parte vencida no caso de que a final o seja alguma
das pessoas privilegiadas, virá o vencedor a ficar
prejudicado por não ser essa parte obrigada ao paga-
mento ; necessária era por isso alguma providencia,
"esta se deu nos arts. 12 e 13.
2
— 10

O que a sobredita Secção tem a honra de fazer


subir a Augusta Presença de Vossa Magestade Imperial
para Resolver o que convier. (*)
Rio de Janeiro em 1.' de Abril de 1842.— José
Antônio da Silva May a.—Manoel Alces Branco.

N. 3.—CONSULTA DO l.° DE ABRIL DE 1842.

Sobre o projecto de Regulamento para arrecadação do imposto da


aguardente.

Senhor.—Na Secção dos Negócios da Fazenda do


Conselho de Estado*, presidida pelo respectivo Mi-
nistro, se examinou o projecto de Regulamento para
a arrecadação do imposto de patente da aguardente
do consumo no Município da Corte, que lhe foi reme-
tido por ordem de Vossa Magestade Imperial por Aviso
de 21 de Fevereiro, e tendo-se nella discutido a matéria,
se concordou pela votação que se apresentasse o
dito Projecto da maneira que se offerece cora a única
advertência, de que este Regulamento foi fácil de or-
ganizar e discutir por haver a Lei de 30 de Novembro
de 1841, que deu a nova forma ao imposto do con-
sumo da aguardente no Município da Côrle, submi-
nislrado nos arts. 12, 13, 14 e Io as principaes dis-
posições regulamenlares, e por se dar em conseqüên-
cia a simples precisão de paraphrasear esses arligosda
mineira mais conveniente e accom nodada á intelügen-
cia dos contribuintes e cxactores, a que a Secção en-

(") Foi approvodo e mandado ctenitar por Derreto n.° 150 deO de Abril
de 18i2 o Regulamento, <;ue fez objecto desta Consulta.
Esse Regulamento, porem, fui suiressivanieittc alterado pelos Decretos
« o 2,iu de 22 de Outubro de 1812 e u . " 4; -.de lu de Junho de I84õ,send<\
finalmente, todos ellesrevogados e Substituídos p - o Ke.ulamento n.° 37Í3
de 13 de fevereiro de 1SJI, expedido em virluile de autorização co.iccdida
pelo Poder Legislativo n i Lei n.» 1111 de 27 de Setembro de 18"0. art 11 ig 5.
A Lei n.° H77 de 9 de Setembro de lSòl, art. 10, n.° 3ô, declarando
revogada a disposição da Lei que creou o imposio de 4 u 0 em substituição
da Ui?ima, manjou lambem cousiderar em vigor a Legislação anterior.
— 14 -

tende satisfazer cumpridamente o mesmo Regula-


mento.
Digne-se Vossa Magestade Imperial tomar em consi-
deração este parecer da Secção de Fazenda e Resolver o
que julgar na sua Alta Sabedoria por mais acertado. (*)
Rio de Janeiro em 1.° de Abril de 1842.— José Antô-
nio da Silva May a.—Manoel Alves Branco.

N. 4. —CONSULTA DE 12 DE ABRIL DE 1842.


Sobre o projecto de Regulamento para a arrecadação do impcsto da Décima
urbana.

Seihor.—Foi Vossa Magestade Imperial Servido Min-


dar remetter á Secção dos Negócios da Fazenda do Con-
selho de Estado o projecto de Regulamento para o lan-
ça nento e arrecadação do imposto denominado—Déci-
ma urbana—, e a Secção, que, examinando-o e discutin-
do-o, mui pequenas observações entendeu faze.Mhe,
deliberou por sua votação, presidid i pelo respectivo
Ministro, que fosse respeitosamente levado á Augusta
Presença de Vossa Magestade Imperial da fôrma, em
que ora apresenta redigido.
A Secção, Senhor, inteirada do actual estado do im-
posto da— Décima Urbana—, singela ou dobrada, das

(*) O projecto, que servio de objecto á Consulta, foi approvado e mandado


executar pelo Decreto n.° 148 de 8 de Abril de 1842.
A Lei n.° 317 de 2t de Outubrode 1843, art. 30, revogou o art. 13 da de
30 de Novembro de 1811 na parte em que fixava o máximo do imposto,
de que se trata, e o fez extensivo a todos os productos, feitos com aguar-
dente de origem nacional.
Esta mesma Lei no art. 17 mandou cobrar o imposto municipal de 40
réis sobre ranada de aguardente pela Reccbedoria nas mesmas épocas, em
que se cobra o de patente, e eutregal-o á Câmara Municipal sem deducçao
de porcentagem.
A Lei n.° 840 de 18 de Setembro 1855, art. 15 § 1.°, autorizou o Go-
verno para substituir o systema de patentes por outro de melhor arrecadação.
O Decreto n.° 2169 do 1.» de Maio de 1858, que deu Regulamento para
a cobrança da imposto da aguardente do paiz e suas composições, consu-
mida no Município da CArt», é o que vigora.
*egras estabelecidas por aclos Legislativos c provi-
dencias dadas pelos Regulamentos, Instrucçoes e Or-
dens do Governo, talvez julgaria menos necessário
um novo Regulamento, se, com o devido respeito á
disposição do art. 17 da Lei de 30 de Novembro de
1841, não tivesse tomado, como tomou o Governo, a
autorização, que a este foi dada por um verdadeiro
preceito*: mas precisava de obedecer á Ordem Sobe-
rana de Vossa Magestade Imperial, revio o mencionado
projecto, prestou-lhe o seu assenso c o adoptou com
mui leves alterações, posto que conheça não haver nelle
essencialmente mats do que codificação das sobreditas
regras e providencias em actuale proveitosa execução
com o pequeno additamento de algumas multas-por
infracções, reguladas pela disposição do art. 13 da
referida Lei de 30 de Novembro de 1841.
A respeito de um imposto tão importante creado
para o Brasil pelo Alvará de 27 de Junho de 1808, e
helle lançado e arrecadado por differentes methodos,
no decurso de tão longo espaço de tempo, sendo ob-
jecto de diversas medidas e providencias, suggeridas
pela occurrencia de circumstancias, e não poucas vezes
pela necessidade de remover abusos e destruir fraudes,
forçoso era que a existência se desse de multiplicadas
disposições convenientes ao seu melhoramento, e que
ora somente se precisava colligil-as e coordenal-as de
uma maneira mais adequada á sua fácil intelligencia
e perfeita execução.
E, porquanto a estes fins satisfaz cumpridamente p
projecto de Regulamento apresentado, no juízo dá
Secção, é por isso de parecer que se approve e mande
porem execução, se Vossa Magestade Imperial se Dignar
assim o Haver por bem. (*)
Rio de Janeiro em 12 de Abril de 1842.— José An-
tonio da Silra May a.—Manoel Alves Branco.

i+) O Regulamento, cujo projecto fez objecto desta Consulta, foimandado


nerular pelo Decreto n.° ltí2 de 16 de Abril de 1842, que foi alterado pelo
de i de Junho de 1845.
A Lei n.° 719 de 28 de Setembro de 1853 estendeu a isenção do imposto
au.i prédios da Câmara Municipal da Corte e do Collegio de D. Pedro II.
Finalmente o U(v»eto n.« 1752 de 26 de Abril de 1853 fez ainda altera-
ções nos Rfgniuànentos de íSi;el845«
— 13 —
N.° 5 — CONSULTA DE 2'j DE ABRIL ÜE 1842.

Sobre o Projecto de»Regulamenlo para arrecadarão da taxa de heranças e


legados.

Senhor.—A Secção dos Negócios da Fazenda do Con-


selho de Estado, a cujo exame, por ordem de Vossa Ma-
gestade Imperial, íorão submettidos vários projectos de
Regulamento dictados pelo zelo e experiência, e encami-
nhados a melhorar a arrecad tção do imposto denomi-
nado— Taxa das heranças e legados—, entendeu dever
colher de todos elles oque lhe parecesse aproveitável no
sentido de uma execução prompta, mais íãcile mais ulil
á Fazenda Nacional, "com menos incommodo e vexame
dos contribuintes; e respeitosamente leva a Augusta
Presença de Vossa Magestade Imperial o projecto, que
organizou, persuadida de ter acertado nelle com a mais
adaptada oceasião e mais convenientes meios de rea-
lizar essa arrecadação no referido sentido.
Desde que se estabeleceu este imposto, com uma
pratica simples de sua arrecadação pelos §§ 8.°, 9.° e 10
do Alvará de 17 de Junho de 1809, se começou a mani-
festar a malversação e fraude dos lestamenteiros e in-
ventariar! tes, em prejuízo tanto da Fazenda Nacional,
como dos herdeiros e legatarios, e a necessidade por con-
seguinte de decretar providencias para se fazer effectivo
o pagamento integral da taxa estabelecida; mas continua-
rão a ser infruetuosas, não só as que derão o Alvará de
2 de Outubro de 1811, o Decreto de 27 de Novembro de
1812, e Ordens anteriores á Independência e Constituição
do Império e á Lei de 4 de Outubro de 1831, emquanto
a fiscalização desta taxa era toda privativamente encar-
regada aos Magistrados e Empregados Judiciaes; mas
também as que forão ordenadas pelo Regulamento de
14 de Janeiro de 1832 e outras Ordens posteriores
áquella Lei da organização do Thesouro Publico Nacio-
nal, quando já, com mais adiantamento na sciencia
administrativa, se tinha posto a mesma fiscalização em
grande parte a cargo dos Empregados das Repartições
Fiscaes, e dahi resultou a repetida exigência de provi-
dencias novas e a precisão em que ultimamente se reco-
nheceu o Corpo Legislativo de autorizar o Governo para
por meio de Regulamento melhorar tal arrecadação,
— 14 —

como o mais apto para remediar males que melhor


conhece•
Convencida a Secção de tão notória inefficacia dos
meios até agora empregados para a cobrança do impos-
to, de que hi uma mui avultadasomin 1 de divida em
atraso, deu de mão assim a esses meios já reconhecidos
por menos idôneos, como aos que, com poucas differen-
ças, se propunhào em alguns dos projectos, que ainda
o fizião dependente da mesma base, isto é, da necessi-
dade de esperar pelo lempo da tomada de contas dos
testamentos e pela oceasião da effectiva entrega das
heranças e legados, e resolveu-se adoptar o methodo,
indicado em um dos mesmos projectos de promover
e conseguir a mais prompla arrecadação pelo meio de
interessara Fazenda Nacional nos inventáriose partilhas
tão directa e igualmente, como qualquer dos herdeiros
e legatarios, que em tal caso terão de sentir a vanta-
gem de unir-se aos fiscaes em commurn proveito seu
e do Thesouro, na supposição de que para tanto se
acha autorizado o Governo, que, sem alterar a natureza
e quota da contribuição, somente procura pôr uma nova
fôrma á sua realização.
Se Vossa Magesla le Imperial Houver por bem, na
esrolha e preferencia do methodo, conformar-se com o
parecer e intenção da Secção, que por nenhum lado o
considera contra ou extra le^al, então esp ra a mesma
Secção que Vossa Magestade Imperial também se Digna-
rá cenceder o Imperial assenso ás providencias desen-
volvidas nos artigos do projecto para o effectivo e útil
cumprimento delle por serem as mais apropriadamente
conduceiites áboa fiscalização dos interesses da Fazen-
da Nacional de accordo com ajusta attenção que devem
merecer os dos contribuintes; e com uma mui sensível
diminuição das trabalhosas e complicadas operações ora
em pratica, e que no desempenho de outros syslemas
de arrecadação continuavão a ser indispensáveis.
A sabedoria, porém, de Vossa Magestade Imperial
Resolverá o mais conveniente. (*)
Rio de Janeiro, em 25 de Abril de 1842.— José An-
tônio da Silva May a.—Manoel Alves Branco.

(*) Foi expedido, de accordo com esta Consulta, o Regulamento mandado


observar pelo Decreto n.° 156 de 28 de Abril de 1842.
- 15 —

N. 6.—CONSULTA DE 25 DE ABRIL DE 1842.

Sobre o Projecto de Regulameuto para a arrecadaçlo dos bens de defuntas


e ausentes.

Senhor.—Foi Vossa Magestade Imperial servido encar-


regar á Secção dos Negócios da Fazenda do Conselho de
Estado de rever um projecto de melhoramento da arre-
cadação dos bens de defuntos e ausentes, dos bens
vagos e dos do evento para propor o que melhor
conviesse, e a Secção, solícita no desempenho de seu
dever, depois de haver bem examinado o dito projecto,
discutido e votado sobre a matéria delle e das emen-
das que lhe occorrôrào, tem a honra de apresentar
a Vossa Magestade Imperial o que julga adequado
para preencher o fim, que teve em vista a Assembléa
Geral Legislativa, quando, pelo art. 17 da Lei de 30
de Novembro de 1841, autorizou o Governo para
melhorar por meio de Regulamento a arrecadação dos
bens dos defuntos e ausentes, e de outros artigos das
Rendas Publicas.
Bens dos defuntos e ausentes, bens vagos e bens
do evento são objectos, de que se formão dLTerentes
verbas no mippa das Rendas Publicas, de que resulta a
Receita Geral do Império; mas é tal e tão saliente a
connexão que têm entre si estes objectos, e tão mani-
festa a conveniência ou antes a necessidade de regular
a arrecadação e fiscalização de todos elles por dis-
posições e regras communs, que a Sucção teria desatten-
dido á facilidade da inlelligencia e melhor execução
dellas, se deixasse de as colligir em um só Regula-
mento, si intentasse repelil-as em diversos ou se fi-

Esse Regulamento, porém, foi alterado pelo de 4 de Junho de 1845, expe-


dido em wrtude da autorização concedida ao Governo pela Lei n.° 317 de
21 de Outubro de 18 W, art. Sü, e, fiualmenle, substituído pelo do Io de
Dezembro de 1860, u.° 270s, que rege actualmente o assumplo, e foi expe-
dido em conseqüência da nova autorização concedida pela Lei u.° 514 de 28
de Outubro de 1848, art. 46.
— 1G —

zesse uns que a outros se reiirissem, e eis o por que


comprehendeii cm um único Regulamento assim essas
regras e disposições communs a todos os três objectos,
como as que são especialmente relativas a cada um
delles.
A arrecadação e administração dos bens dos defuntos
e ausentes carecião indispensavelmente de ser melhor
e mais convenientemente reguladas desde que a Lei
de 3 de Novembro de 1830, extinguindo a Provedoria
e revogando o seu Regimento com todas as outras Leis,
Provisões e Ordens, á ella relativas, reduzio a uma
extrema simplicidade, a uma verdadeira mingua á
Legislação, que deixou cm vigor, para satisfazer a pre-
cisões tão importantes, quando desde então se virão
mal consultadas, e é por isso que, a respeito dessas
arrecadações e administração, mais amplas e explicitas
são as disposições do Regulamento , em que muito
particularmente se teve em vista estabelecer, firmadas
na rigorosa fiscalização, na methodica escripturação
e contabilidade, as mais efficazes garantias do pre-
tendido resultado.
A respeito da arrecadação, administração e apro-
veitamento dos bens vagos e do evento a beneficio
da Fazenda Nacional, a que de direito pertencem, mais
algumas e boas determinações temos ainda em vigor,
Cuja execução, principalmente, é, e cumpre continuar
a ser, das altribuições do Poder Judiciário; pois que
a apropriação dos referidos bens á Fazenda Nacional
é de força dependente de averiguações e diligencias,
contestações e julgamentos só próprios da competência
e exercício desse Poder; e sendo por conseqüência
necessário apenas promover mais aclivamente os actos
do processo, dirigir e coadjuvar, nas suas diligencias,
os Empregados judiciaes até a apuração mais prompta
e exacta do que deve entrar nos cofres do Thesouro
Publico Nacional, por isso, bem como se dispuzera a
respeito da arrecadação e administração dos bens dos
defuntos e ausentes e da liquidação do seu produeto
e rendimentos, se incumbirão da agencia os fiscaes
mais immediatos da Fazenda Nacional; applicarão-
se-lhes as respectivas regras da escripturação e con-
tabilidade, e algumas multas se comminárão dentro
"dos limites legaes da outorgada autorização.
— 17 -
Dignc-se. portanto, Vossa Magestade imperial, Al ten-
dendo ao exposto, Resolver o que fôr servido (*).
Rio de Janeiro em 25 de Abril de 1842.— José An-
tônio da Silva May a.— Manoel Alves Branco.

N. 7.—CONSULTA DE 28 DE ABRIL DE I 8 Í ? .
m
Sobre a iutclligencia do art. iS da Lei de i de Outubro de 1831.

Senhor.—Manda Vossa Magestade Imperial que a


Secção de Fazenda do Conselho de Estado interponha
o seu parecer a respeito do .Regulamento, que pre-

O De accordo com a Consulta foi publicado o Regulamento, mandado


observar pelo Decreto n.° 160 de 9 de Maio de 1842.
Esse Regulamento foi alterado pelos de 27 de Junho de 1845, n." 422,
de 13 de Março de 1847, n.° 510, de 18 de Novembro de 1848, n.» 561 ;
c pela Lei n.° 628 de 17 de Setembro de 1851; art. 32, e, finalmente, sub-
stituído pelo Regulamento de 15 de Junho de 18^9, ti.» 2433, que actual-
mente regula o assumpto; sendo todos os referidos Regulamentos expedidos
em conseqüência de diversas autorizações do Poder Legislativo.
Õ Decreto n.° 855 dc8 de Novembro de 1851 regula as isenções e atlri-
buições dos Agentes Consulares estrangeiros no Império e o modo por que
se hSo de haver na arrecadaçilo e administração das heranças de subditos
de suas Nações, dado o caso de reciprocidade.
Este Decreto foi applicado aos subditos:
1.° de Portugal, pelo Decreto n.°882 de 9 de Dezembro de 1851;
2.» da Suissa, pelo Decreto n.° 1062 de 6 de Novembro de 1852;
3." de Parma, pelo Decreto n.° 1113 de 12 de Abril de 1855;
4.' da Republicado Uruguay, pelas Notas reversaes de 13 de Novembro c
?l de Dezembro de 1857.
As ultimas Convenções Consulares contêm estipuIaçOcs relativas a arreca-
dação das heranças dos subditos estrangeiros ; são ei Ias :
t.» com a França, publicada no Decreto n.° 2787 de 26 de Abril de
1861 ;
2." com a Suissa, publicada no Decreto n.° 2955 de 24 de Julho de
1862 •
3.a'com a Hcspanha, publicada no Decreto n.°3133 de 31 de Julho do
4.«'com a Itália, publicada no Decreto o." 3085 do28de Abril de 1833;
5.» com Portugal, publicada no Decreto n.° 3145 de 27 de Agosto de
1863.
A Convenção com a França foi interpretada por acto celebrado em Paris
em 21 de Julho ds 13<5fi, publicado no Decret» n.» 37 ti de 6 de Ou-
ubro do mesmo anno.
3
— 18 —
lende fazer o Governo para fixar o vago sentido do
ait 48 da Lei de i de Outubro de 1831, que auto-
riza os Presidentes das Províncias, independentemente
das Ordens Miiiisteriaes e Lei de Orçamento, a ordenar
despezas em casos urgentes, que não admiltão demora
do recurso ao Tribunal do Thesouro.
A Secção reconhece que é este um dos artigos da
Legislação de Fazenda, de que mais se tem abusado,
e de que mais se pode abusar em detrimento dos
cofres nacionaes e publico serviço, como exuberante-
mente provào os documentos annexos ao dito Regu-
lamento, e sendo por 4sso da maior urgência dar uma
providencia, que possa evitar alguma parte do mal;
entende que isso se obterá com o Regulamento pro-
posto, se o Governo fôr exacto e severo na applicação
das penas, em que têm de incorrer as Autoridades
subalternas, id est, os Presidentes, Inspectores, e t c ,
que delle se desviarem, e por isso o approva tal
como se acha.
Não parece, porém, á Secção que essa medida deva
•er permanente, porque, se* o fora, daria a entender,
que a Secção approva os princípios, em que se funda
o artigo da Lei, que aliás parece á Secção serem in-
teiramente anômalos dos que devem ter vigor em uma
boa administração de finanças, e dos que devem
reger no systema representativo, que evidentemente
exige centralisação na direcção das despezas publi-
cas, e responsabilidade perante á Assembléa Geral
Legislativa nos primeiros executores da Lei- do Or-
çamento.
O remédio radical do artigo da Lei, que o Regula-
mento pretende fixar, seria sem duvida a sua revogação
e passagem para os Ministros da Coroa da autoridade,
que nelle faculta aos Presidentes, ficando, porém, ps
Ministros obrigados a prevenir os casos, de que ani
se trata, nas decretações de suas despezas, que terião
de fazer no principio de cada anno financeiro, o que
de certo satisfaria os princípios e providenciaria da
maneira a mais segura e elficaz aos inconvenientes,
que se tiverão em vista, quando se estabeleceu o artigo
da Lei de que se trata.
Em conseqüência também é seu parecer, que o
Governo de Vossa Magestade Imperial devia quanto
— 19 —
antes propor ás Câmaras Legislativas a medida acima
expendida.
Tal é a opinião da Secção de Fazenda do Conseiho
de Estado, mas Vossa Magestade Imperial Determi-
nará o que fôr servido (*).
Rio de Janeiro em 28 de Abril de I8i2.— José An-
tônio da Silva Maya.—Manoel Alies Branco.

N. 8.— CONSULTA ÜE U DE MAIO DE ISÜ.

Distribuição dos créditos miuisleriacs ás Províncias.

Senhor.—A Secção de Fazenda do Conselho de Estado


examinou o projecto do Regulamento, que lhe foi sub-
mettido com ò fim de estabelecer d'ora em diante
maior regularidade na distribuição dos créditos minis-
teriaes , e nos supprimentos , que o Thesouro deva
fazer a algumas Províncias, e mais fiscalização e eco-
nomia nas despezas publicas, para que não s*ao ainda
sufficicnles os Regulamentos, Instrucções e Ordens
expedidas ; e persuadida a mesma Secção da utili-
dade que delle pôde resultar a bem desse pretendido
melhoramento, quando, na conformidade de suas dis-
posições, forem convenientemente regularizadas a es-
cripturação e contabilidade das mesmas despezas, e
centralisadas no Thesouro Publhe Nacional; respei-
tosamente o oíf.Teee á consideração de Vossa Mages-
tade Imperial.

(*) Em Mrludc dcsU C msulta foi expedido o Derreto n.° 15S de 7 de Maio
de 1842, a qui fez addições o deii u 2881 de l."dc Fevereiro de 1 s6J.
Estes Decretos tèm siuo explicados por muitas c diversas Ordens do The-
.íouro, merecendo ser aqui apontada, filtre todas, a Circular n." 5Í8 de
19 dc Novembro de líjü, quo especirn nu divcrfis caso,», em que a.-i The»
{.juradas nao devem cumprir ord^ui d-i.-. Proidoai i.i>, autoriz-imin d";)»"2*';
í.!.id,i mesmo''fiHi a rlanc<i!<i "vpr.-. i iie mptinz-^rdid•(•/,'--,
— 20 —

"Vossa Magestade Imperial Resolverá o (pie fòr ser-


vido.
Rio de Janeiro em 24 de Maio de 1842.—José An-
tônio da Silva May a.—Manoel Alves Branco. (*)

N. '•>. — RESOLUÇÃO DE IO DE SETEMBRO DE 1842.

Pdganicnlo de sello nos processos, etc.

Senhor.—A Secção dos Negócios da Fazenda do Con-


selho de Estado foi encarregada de interpor o seu
parecer sobre a duvida oceorrida no foro e apre-
sentada ao Governo pelo Ministério dos Negócios da
Justiça, por officios de 10 e 31 de Maio deste anno
do Desembargador Chefe de Policia da Corte a res-
peito do pagamento do sello dos papeis, que servem
ao expediente dos processos, actos o diligencias cri-
minaes e policiaes, que d'antes erão da privativaaltri-
buição dos Juizes de Paz na fôrma do art. 5.° da
Lei de 13 de Outubro de 1827 e do art. 12 do Có-
digo do Processo Criminal, e ora, ou são incumbidos
a outras Autoridades, os Chefes de Policia, Delegados,
Subdelegados e Juizes Municipaes ou são da com-
petência cumulativa destas mesmas Autoridades e
daquelles Juizes, segundo a Lei de 3 de Dezembro
de 1841; e ponderando a Secção sobre o peso e pro-
cedência desta duvida, que põe em luta os interesses
da Fazenda Nacional com os das partes, a conveniên-
cia ou necessidade do prompto expediente de taes
actos com a demora oceasionada pela exigência desse
sello, lendo em attencão o art. 6.° do Decreto de 20
de Setembro de 1829 que por uma excepção nas
Leis do estabelecimento do imposto, isentou do pa-

(*) Foi expedido, de accordo com a Consulta, o Regulamento, a que


ella >e refere, mandado executar por Decreto u.° 178 de 30 de Maio de 1845 ,
que continua em vigor.
gamenlo do sello os processos e papeis expedidos nos
Juízos de Paz, e art. 100 da já citada Lei de 3 de
Dezembro de 1841, que por disposição geral deter-
mina tenhão lugar os julgamentos nos processos cri-
minaes independente do sello, que poderá ser pago
depois, concordou em ter por certa a actuale vigo-
rosa existência daquella isenção a respeito dos men-
cionados processos e papeis* criminaes c policiaes,
que d'antes forão da privativa attribuição dos Juizes
de Taz, e ao presente são também expedidos por outras
Autoridades.
Porquanto a Seceão, na inlelligencia de que a dis-
posição do art. ü / d o Decreto de 20 de Setembro de
1829 não teve por fim privilegiar o Juizo de Paz,
mas somente favorecer a classe desvalida e dar mais
prompto andamento ás causas cuja natureza assim o
exigia, julga não ler sido abolida a isenção do pa-
gamento do sello de processos e papeis a respeito de
que fora decretada por um artigo da Lei de 3 de
Dezembro de 1841, que, não sendo bastante explicita
sobre a matéria, a teve aliás em vista, pelo que per-
tence ás dependências do Juizo de Paz, alliviar os
Juizes demasiadamente sobrecarregados de trabalho
e promover por meio da divisão delle entre diffc-
rentes Autoridades a melhor execução das Leis, e mais
completo desempenho do serviço publico : ainda mais
se confirma neste pensar quando considera a anli-
nomica irregularidade de se processarem e expedirem
sem pagamento de sello nos Juízos de Paz aquelles
mesmos actos e diligencias, que ao sello sejão su-
jeitos, se tratados forem perante os Chefes de Policia,
Delegados, Subdelegados e Juizes Municipaes; actos e
diligencias, que são por certo bem fáceis de reco-
nhecer e distinguir, para evitar-se o prejuízo, que á
Fazenda Nacional poderia provir da confusão ou do
abuso; e conclue, portanto, que a isenção do paga-
mento do sello dos processos e papeis do expediente
criminal e policial, d'anles privativamente incumbidos
aos Juizes de Paz, deve continuar, quaesquer que
sejão as autoridades perante quem ora se expeção, em
virtude da Lei de 3 de Dezembro de 1841; ou pelo
menos que cumpre nada alterar, do que está em pra-
tica conforme o art. 0.° do Decreto de 20 de Setem-
— 22 —

bro de 1829, sem declaração da Ajsc-mYéaGei-al Le-


gislativa. ,
Vossa Magestade Imperial, porém Resolverá o que
fôr servido.
Rio de Janeiro em 5 de Setembro de 1842. —José
Antônio da Silva Maya.—Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Hei por bem conformar-me com a segunda parte


do parecer da Secção; e o Ministro competente ex-
peça as ordens necessárias.
Paço em 10 de Setembro de 18 42.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador (*)
Visconde <le Abranles.

N. 10.—CONSULTA DE 14 DE OUTUBRO DE 1842.


Sobre os meios convenientes para o ausuiento da Receita e diminuição da
Despeza Publica.

Senhor.—.Manda Vossa Magestade Imperial que a


Secção dos Negócios da Fazenda do Conselho de Es-

(*) Em virtude da Imperial Resolução se expedio pelo Ministério da l'a-


zcmla o Aviso u.° 112 de 20 de Ssteinhra de I8i2, ordenando que nada se
alterasse do que estava em pratica, segundo o art. 6.° do Decreto de ío
de Setembro delS29, até Resolução da Assembléa (leral Legislativa a res-
peito dos sellos dos papeis, que servem uo expediente dos Juizes de Paz.
A Lei de 18 d* Setembro de 1845, art. 18, declarou isentos de sello os
autos e papeis processados nos JUÍZOS de Paz.
Esta disposição fui incluída no art. 85 § l í do Regulamento n."2713
i!c íli de De/.embro de 18U0. Quanto ao tcllo dos autos e papeis, que
«oi-reni ante as Autoridades policiacs (Delegados c Subdelegados): a Lei
nao lhes concedeu igual isenção, c antes <s Regulamentos de K) de Julho
de 18.')0 e de 2.1 de Dezembro de 1S60 já citado cxpic-ainciitc os su-
jeitarão ao imposto; mas n Ordem de 2'i de Maio de 1852 declarou que
nos processos policiaes pôde deixar de se exigir o sello até s.rcm julgados,
não se admittindo depois disto nenhum acto mais sem que se tenha veri-
ficado o pagamento Uo imposto.
Fiualmente o Decreto n.° 3139 de 13 de Ajusto de ISíiS, art. 111 ,<§«!.",
isentou do pagamento do sello os requerimentos de presos pobres diri-
gidos a qualquer Autoridade, bem como os documento*, que os instruírem,
com tjiito que a ciremnstancia de pobreja seja reconhci-H por d<'diirocã'i
forçada e nsiiijnada nos próprios requerimentos prta \ntori;Li<trl n qvcrn
ftiem presente* pam rl.ripulinl-os nu tronsmi'til-o••.
— 23 —

tado, á vista do Balanço e da Troposta da Lei do Or-


çamento apresentada a Câmara dos Srs. Deputados na
sessão próxima passada, e de outros esclarecimentos,
que possão ser fornecidos pelo Thesouro, consulte
sobre os meios, que julgar convenientes, para o aug-
mento da Receita e diminuição da Despeza Publica.
Em cumprimento desta ordem Imperial, e em desem-
penho de seus deveres, passa a Secção a expor succin-
tamente suas idéas, implorando da Alta Benignidade
Imperial toda a indulgência para com um trabalho
que mal pôde satisfazer, attenta a falta de muitos docu-
mentos estatísticos e indispensáveis, não menos que
a diííiculdade e grandeza do problema, que abrange
todas as partes do serviço, e ha muito tempo oecupa
em vão todas as cabeças políticas do Império.
O problema offerecido se compõe evidentemente de
duas parles, a saber: Receita e Despeza; por isso o
trabalho da Secção será lambem composto das mesmas
duas partes. Mas, como a Receita só deve ser aug-
mentada em tanto quanto seja preciso para preencher
a diíferença, que houver da actual á despeza indis-
pensável áo serviço, a Secção tratará primeiramente
dos meios de diminuir a Despeza Publica.

PRIMEIRA QUESTÃO.

Quaes serão os meios de diminuir as


Despezas Publicas actuaes ?

Esta questão não poderá ser tomada a respeito da


despeza extraordinária, que ora se está fazendo em
algumas Províncias, em conseqüência do estado extra-
ordinário dellas, porque essa despeza tem de cessar
immediatamente que cesse aquelleestado, enão pôde
cessar sem isso; e eis por que a Secção a crê limitada
somente aos excessos, que possão haver tanto na des-
peza extraordinária, como na despeza ordinária em
circumstancias regulares; excessos que o mesmo enun-
ciado da questão, por parte do Governo, parecepre-
suppôr ao menos como prováveis.
Na verdade também á Secção parece que em algumas
Repartições do Estado e na sua Administração taes
excessos são com effeilo presumíveis, e effeclivamente
— 24 —

se commeltem; tanto porque se não tem podido tomar-


lhes opportuna c cxactamcnte as contas, como porque
a vigente Lei do Thesouro não é bastante providento;
o que sedeprehende do resultado geral dos Balanços
annuaes, sendo, porém, certo que de positivo a mesma
Secção nem podo apontal-os, nem indicar os efficazes
meios de evital-os para o futuro por ser este um ne-
gocio puramente de facto, dependente de exames muito
minuciosos nas mesmas Repartições, feitos por pessoas
praticas, perfeitamente habilitadas a respeito dos di-
versos ramos do publico serviço, e que, penetrados
da importância da sua missão', não tenhão attenções
algumas pessoaes, queirão dizer a verdade e será todo
•Misto imparciaes e justos.
Na impossibilidade, pois, de dar um parecer cabal
e ílefinitivo sobre os meios de reduzir as Despezas
Publicas ao que fôr pura c restriclamente indispen-
sável e sem desprezar algum que possa ministrar-se,
resultado de positivo, aceurado exame, limila-se a
Secção (a seu pezar) á indicação de alguns mais óbvios,
figurando por principal entre elles o melhoramento
da Lei do Thesouro Publico Nacional, na parte relativa
ao Tribunal e á Contabillidade da Receita c Despeza,
o qual, se fôr adoptado, fará patentes todos os excessos
o poderá talvez inteiramente evital-os.
I." « Dar ao Tribunal do Thesouro Publico Nacional
a importância de um verdadeiro Tribunal Supremo. »

Cumpre fazer do Tribunal do Thesouro Publico


Nacional um Tribunal independente, ao menos pelo
que respeita á guarda da Lei do Orçamento e contas,
assim como ás questões entre os Contribuintes e os
Agentes do Poder, á conservação, accessos e recom-
pensas destes quando fieis a s"eus deveres.
<< A Receita, e Despeza Nacional (diza Constituição
art. 1 /O; será encarregada a um Tribunal debaixo do
nome de Thesouro Nacional, onde, em diversas Es-
tações devidamente estabelecidas por Lei, se regulará
sua administração, arrecadação c contabilidade cm
— 25 —
reciproca correspondência com as Thesourarias e Au-
toridades Provinciaes. »
Em desempenho deste preceito ConstitucionaT, an-
nexou a Lei de 4 Outubro de 1831 ao Ministério da
Fazenda um Tribunal meramente consultivo e com-
posto de membros até agora considerados em simples
commissão, art. 117, a quem além de outros objectos
encarregou também do trabalho e revisão das contas
de todas as Repartições de recebimento e despeza.
E será isto o que quer a Constituição ? Preciso é exa-
mina l-o
Se á Administração de Fazenda importasse somente
o fazer Regulamentos para a boa execução das Leis
(art. 102 § 12 da Constituição), nomear os Empregados
de Fazenda (ibiá, § 4°), a*presentar á Assembléa Geral
Propostas, Balanços e Orçamentos (arls. 53 e 172), etc-,
então a Secção não teria duvida de declarar aquella
Lei satisfactoria cm geral, e em harmonia com a
Constituição.
Em verdade todas as attribuições acima são própria
e puramente executivas e, por conseguinte, pertencentes
ao Ministério, de que o Tribunal indicado não podia
ser considerado senão como auxiliar e limitado exclu-
sivamente a esclarecel-o com seus conselhos, como o
fez a Lei referida: mas a Administração da Fazenda
comprehende ainda uma parte fiscal muito impor-
tante, que parece mais própria do exercício do Poder
Moderador ou Judiciário, e que indispensável é ter-se
em vista, como seja a em que se comprehendem a
decisão de questões entre os Empregados e Contri-
buintes, e o cumprimento das Ordens Ministeriaes de
pagamento; o exame e apuração final dos Orçamentos,
para que as Câmaras sejão informadas das reaes ne-
cessidades do Estado; a tomada e verificação de contas;
o accesso regular dos Empregados ; etc, etc.
Esta parte da Admiuistração não pôde pertencera
Autoridades moveis e dependentes, sem que se compro-
mettão muitos interesses permanentes, sem que se corx-
funda o executor e o seufiscal,a parte e o seu Juiz^- nem
pôde ficar sob a simples garantia de uma remota è
mui duvidosa responsabilidade, sem que se arrisque
tudo a males irremediáveis; sendo aliás muito e muito
própria de um Tribunal independente, único conforme
i
— 26 —
aes principios e pratica de todas ou quasi Iodas as
Nações civilisadas; e, por conseguinte, único que quiz
a Constituição, quando o indicou.
Assim, pois, o Ministro da Fazenda fará todos os Regu-
lamentos; distribuirá em geral o seu credito; nomeará
os Empregados da Administração; apresentará ás Câ-
maras Propostas, Balanços e Orçamentos com o assenso
do Tribunal ou sem elle, conforme lhe parecer melhor :
mas decidir as questões entre os Empregados e as partes,
cumprir as ordens de pagamento, examinar e fixar
definitivamente as despezas propostas pelos Ministros
em seus orçamentos, tomar e rever contas, segurar os
accessos regulares aos Empregados fieis aos seus de-
veres, e também sua justa conservação e recompensa,
tudo pertencerá ao Tribunal. E' só» assim que elle
pode ser justificado, porque é só assim que será ver-
dadeiramente útil, satisfazendo ao grande fim de ser
por um lado garante dos contribuintes contra os ex-
cessos, por outro lado garante dos Empregados e dos
Cofres Nacionaes contra os abusos e dissipações do
Poder.
2.° « Regular as aposentadorias dos Empregados. »

Além das disposições do art. 34 do Regulamento de


30 de Maio e do art. 31 do Regulamento de 22 de
Junho, ambos de 1836, relativas á aposentadoria dos
Empregados das Alfândegas e Mesas do Consulado, ne-
nhumas outras temos, aliás indispensáveis, para regular
as concessões das aposentadorias dos Empregados Pú-
blicos Civis e de Fazenda tanto a respeito do tempo
de serviço, que a ellas deve dar direito, como dos
vencimentos, que com ellas deveráõ ter os aposentados,
pois que o disposto nos arts. 93 e 94 da Lei de 4
de Outubro de 1831 foi simplesmente occasional e
reslricto aos Conselheiros de Fazenda e mais Empre-
gados do Conselho do Erário e de outras repartições
então extinctas ou reorganizadas. De tal falta tem nas-
cido a diversidade das deliberações do Governo e
mesmo das Câmaras Legislativas nesta matéria de apo-
sentadorias, umas vezes concedidas e approvadas, de-
— 27 -

negadas e desapprovadas outras vezes em igualdade


de circumstancias, em grande parte com injustiça, em
razão do favor ou desfavor com que são outorgadas
a mero e livre arbítrio, inteiramente desligado da su-
jeição ás regras, que devem assegurar o direito dos
pretendentes com a respectiva igualdade e a precisa
economia na distribuição dos dinheiros públicos.
3° « Regular as recompensas e remunerações pecu-
niárias dos serviços feitos ao Estado. »
§§

A Constituição, art. 179 §28, garante o direito adqu:-


rido ás recompensas pelos serviços feitos ao Estado
na fôrma das Leis; e algumas têm com effeito decla-
rado quaes os serviços remuneraveis, isto é, que dão
direito e acção a mercês pecuniárias e honoríficas, e
qual a maneira de os justificar, decretar e allegar
perante o Governo para serem justamente satisfeitos.
Mas, se excepluarmos os serviços militares prestados
pelos Officiaes desde o posto dê Alferes, em tempo de
guerra, e desde o de Major, em qualquer tempo, até
o de Brigadeiro, á favor dos quaes se tomou o Assento
do Conselho Ultramarino de 28 de Março de 1792,
vigorado pelo Decreto de 23 de Junho de 1841, e os
serviços dos Professores Públicos de primeiras letras
favorecidos pelo art. 10 da Lei de 15 de Outubro de
1827, a respeito de nenhuns outros se temfixadoem
quantias certas as mercês pecuniárias, com que devão
ser remunerados e daqui resultão os mesmos incon-
venientes notados no paragrapho antecedente.
4.° « Supprimir todos os empregos e commissões per-
manentes não creados por Lei. »
§§ ] .
E' applicavel a este artigo, assim generalizada,4
que ha pouco disse a Secção, guando affírmou páí*-
cer-lhe que em algumas Repartições do Estado effeou-
vamente se commettem excessos na despeza, pois <$&«
se persuade existirem ainda alguns empregos, aígumas
— 28 —
«Ommissões em differentes ramos da Publica Admi-
nistração, com que sem Lei e talvez sem decidida con-
veniência do serviço se fazem despezas, que devem
diminuir-se.
5.° « Reduzir ainda mais o numero e categoria dos
diplomatas. »

A reducção destes Empregados, que, tendo sido por


muitas vezes objecto de grandes discussões nas Câ-
maras Legislativas, já tem começado a praticar-se,
pôde ainda progredir em proveito da Fazenda Nacional,
na diminuição da'Despeza Publica, sem quebra da
dignidade do Império e sem dezar na consideração,
em que se devão ter as outras Nações, que, bem co-
nhecedoras de nossas actuaes circumstancias, não dei-
xaráõ de louvar-nos a parcimônia no Corpo Diplo-
mático, sendo manifesto que, por emquanto, em mui
poucos Estados precisaremos mais que Cônsules.
6.° « Fixar o numero dos membros do Tribunal do
Conselho Supremo Militar. »

Este Tribunal, que foi creado no Brasil pelo Alvará


do 1.* de Abril de 1808 sem determinado numero de
membros, e que no decurso do tempo tem, na
maior parte delle, desempenhado as suas funcções
com muito poucos, ora se acha composto de dez além
dos três Ministros Togados, que entrão nelle quando
formado em Conselho de Justiça; c, se se não op-
puzerem limites ao arbítrio, outros mais desneces-
sariamente se lhe poderão annexar cora o não módico
dispendio de 1:200$000 de gratificação a cada um.
7.° « Organizar uma nova tabeliã geral, bem especi-
ficada, de todos os vencimentos, que ora competem
-aos Officiaes do Exercito e Armada em campanha e
iora delia, embarcados, desembarcados, com ou sem
commando, destacados, estacionados em seus Quartéis,
e em marcha. »
— zy —

§§

Quando a Secção exige esta tabeliã, nada mais pre-


tende senão quê o Governo, exercitando uma sua
mais importante attribuição, a do art. 102 § 12 da
Constituição, dê as necessárias Instrucções adequadas
á boa execução das muitas Leis recentes, que têm
alterado os vencimentos dos Militares do Exercito e
Armada, nos soldos, nas differentes gratificações, nas
etapes, comedorias, forragens, etc, de uma maneira
fácil, e adaptada á comprehensão dos muitos Em-
pregados de diversas classes, que devem encarregar-se
delia; e exige-a, porque a experiência a tem con-
vencido da urgente necessidade de uma tal tabeliã
explicita e completa, como meio de evitar despezas,
que, occasionadas por indevidos pagamentos, feitos
por ignorância ou má intelligencia das Leis, passão
desappercebidos ou nunca sé remedeião com a in-
demnizarão da Fazenda Nacional.

8.° « Não fazer nem ordenar despezas, que não estejão


autorizadas por Lei, nem de maiores quantias, que
as designadas. »

Que se não devem fazer despezas illegaes (tanto


significa a proposição supra), é verdade, muito ao
alcance de todos, que constantemente reprovão e
condemiião a pratica contraria; e a Secção por certo
a não teria incluido entre os meios de diminuir a
Despeza Publica, se ella não tivesse sido obrigada a
reconhecer, como deixa dito, que algumas se lém
feito e poderão continuar a fazer, se não houver toda
a vigilância e energia na execução das Leis.
9.° « Não amortizar a Divida Publica interna ou
externa, emquanto fôr indispensável contrahir em-
préstimos. »
§§
A Lei de 15 de Novembro de 1827 estabeleceu a
amortização de 1 % ao anno para a divida interna -.
— 30 —

o mesmo se estipulou nos contratos da divida ex-


terna, com a declaração, porém, que, se o Estado a nao
fizesse, ficaria obrigado a resgatar toda a divida no
espaço de trinta e três annos e tanto.
E' á vista desta Lei e destes contratos, que ninguém
contesta o direito, que tem o Estado, de deixar de
amortizar a divida externa, quando assim lhe con-
venha, não acontecendo, porém, o mesmo a respeito
da interna, cuja falta de amortização se suppoe ser
um verdadeiro ataque e violação dos direitos e in-
teresses de todos os credores do Estado.
A Secção podia mostrar que tudo isto é perfeita-
mente ilíusoi io, porque o Estado sempre pôde emittir,
sem faltar ás suas estipulações ou á Lei, a titulo de
empréstimo, as Apólices, que tirou da circulação a
titulo de amortização; mas, não sendo o seu fim
aconselhar a não amortização em geral, porque sabe
que o resgate da divida é* a verdadeira reserva dos
tempos prósperos para os tempos difficeis, limita-se
a proposição acima enunciada, isto é, que o Estado
não deve amortizar, emquanto lhe fôr indispensável
contrahir empréstimos, porque neste caso a amor-
tização, além de illusoria, é inteiramente prejudicial
não'só ao Estado, como a seus credores, o que fica-
rá fora de questão pela simples exemplificação do
caso.
Supponhamos que o Governo precisa de um em-
préstimo de 300:000^1000 para fazer a amortização de
um anuo de seus empréstimos, e que os fundos pú-
blicos estão a 70; é evidente que elle não pôde
amortizar sem vender pelo menos 429:000^000 de
Apólices, e por conseguinte augmental-as no mercado
até essa importância. Feita a emissão, tem elle os
300:0000000 para amortizar; mas em que consiste
esta nova operação? Em nada mais do que tirar da
circulação toda â importância das Apólices emiltidas,
deixando o mercado exactamente na mesma posição
em que se achava antes de todo este jogo. E isto é
o que pôde acontecer de melhor, porque, se as
Apólices baixarem no acto da venda e subirem no
acto da compra, como é natural e ordinariamente
acontece, o jogo não será phantastico e illusorio, será
também prejudicial ao Governo, porque lhe augmenta
— 31 —

a divida em lugar de a diminuir, e aos particulares,


porque tende a desapreciar seus fundos.
Vê-se, portanto,"que neste caso a verdadeira amor-
tização é antes não amortizar, porque ao menos por
este modo não se augmenta a divida com prejuízo
de todos, e é esta a razão por que os nossos credores
externos, mais práticos em semelhantes transacções,
salvarão essa hypothese. E é também por isso que a
doutrina de só amortizar, quando ha sobras, é cor-
rente em todos os mercados do Mundo, em que se
tem reflectido bem sobre este objecto. Não receie o
Estado descrédito por esse motivo; elle lhe pôde
antes vir do systema de contrahir empréstimos para
amortizar, que do contrario, quando indispensável,
segundo a hypothese figurada.
10. « Levantar efixar,quanto fôr possível em nossas
circumstancias, o cambio estrangeiro. »
§§

Os males, que tém resultado ao paiz da baixa do


cambio, cuja principal e primeira origem está nas
estipulações dos novos Tratados, são tão manifestos,
que escusado será reíeril-os miudamente.
Só o empréstimo de 1824, cujo capital e juros po-
díamos pagar com 21.120:000,{f000 nos tem levado nos
juros muito mais dessa quantia e neste andar nos
levará até final embolso 87.600:000^(000, quantia mais
do que quádrupla da divida.
Embora se diga que a differença é simples valor
nominal e não real, porque, se isso é indifferente
para o Commercio (o que não é exacto), está muito
longe de o ser para o Estado por mais que se em-
penhe em proporcionar sua renda ao valor das cousas.
O facto de termos hoje em valor real uma Renda
menor que a que já Unhamos em 1820, não obstante
o muito que tem crescido a nossa riqueza depois
daquella época, confirma esta verdade.
Se a baixa do cambio já nos tem feito estes e outros
males incalculáveis, muitos maiores ainda, se é possível,
estão todos os dias resultando de sua eterna vacillação.
Nada diremos da ruina que daqui se segue ordi-
— 32 —

nariamente ao velho trabalhador, á viuva, ao orphào,


que possue uma parca reserva para sua subsistência,
e apenas consideraremos este negocio pelo lado da
Administração Publica e seus Servidores. Debalde
premeia o Governo os seus beneméritos com Pensões,
Aposentadorias, Reformas, etc; ou ô Corpo Legislativo
marca ordenados aos empregados da Nação; augmenta
as tarifas, ou os impostos, providenciando ao déficit
do Estado: a baixa do cambio repentina, quasi sempre
arbitraria entre nós, transtorna todos os cálculos,
illude todas as esperanças. 0 benemérito e o Empre-
gado cahe em indigencia, a Lei do Orçamento labora
em um novo déficit não previsto, sem que jamais o
augmento da população, da riqueza, o melhoramento
das Tarifas, os novo*s impostos aproveitem ao The-
souro, que ou fica estacionario, ou mesmo retrogrado.
Definha o credito publico e particular, porque o ca-
pitalista honesto, temendo o cambio do dia do paga-
mento, o ajíioteiro, esperando maiores lucros de seus
manejos illicitos, recusão os seus fundos, seguindo-se
dahi graves embaraços á causa publica e o maior desa-
nimo á industria do Paiz.
Tal é pouco mais ou menos o estado a que nos acha-
mos reduzidos, que bem se pôde comparara uma espé-
cie de vasta loteria, aonde todo o trabalho e hábitos
regularcs perderão o seu merecimento, e os prêmios
quasi que só pertencem á mais infrene e dissoluta agiota-
gem, ao espirito de sórdidos lucros, que tudo corrompe
e nos fecha o futuro dentro de um céo melancólico. Não
é possível duvidar de que semelhante estado de cousas,
resultado infallivel dos erros dos primeiros annos de
nossa emancipação política, em que sem reserva abri-
mos a nossa casa, franqueamos a nossa mesa e ouvimos
as palavras de todos os aventureiros do Mundo, tenha
a maior influencia na diminuição da nossa Receita e
augmento da nossa Despeza. A Secção, pois, não podia
deixar de considerar que este objecto era muito digno
da Imperial attcnçào, muito mais quando está persua-
dida de que o espirito exclusivamente mercantil, que
taes erros promoveu, que vive só do nosso presente,
sacrificando todo o nosso futuro, miua os fundamentos
do Thesouro hereditário, para que o futuro c muito, c
com elle a felicidade de todos os brasileiros.
— 33 —
SEGUNDA QUESTÃO.

Quaes são os meios de nugmentar a


Receita Publica actual ?

Quanto ao augmento da Receita, é a Secção de parecer


que só os direitos de importação nos podem fornecer os
meios de o conseguir com vantagem, e sem o menor
vexame de nossa industria, pensando nesta parte exacta-
mente com o Corpo Legislativo, que, na Lei do Orçamento
em vigor, já decretou um augmento desses direitos até
60 7o, máximo que com alguma razão reputou sufiiciente,
salvos talvez alguns differenciaes, que também deveráõ
haver, por serem os nossos gêneros admittidos em mais
alguma Nação
Com effeito, importando actualmente os direitos de
15 % em 7.000:000^000, é evidente que o termo médio
de 30, tomado entre o minimo e máximo estabelecido na
Lei, pôde produzir, pouco mais ou menos, outros
7.000:000#000, os quaes, juntos ao total da Receita actual,
orçada em 1o.000:000$000, perfazem a quantia de
22*000:000^000, além dos impostos com applicação espe-
cial, e deixão por conseguinte uma boa sobra para amor-
tização da nossa divida, e resgate do papel circulante.
Se, pois, nos fosse possível elevar immediatamente os
direitos de importação sem Tratados, ou, se, sendo algum
ou alguns indispensáveis para isso, se tomasse por base
o consumo de nossos gêneros, sem excepção de algum,
sob os mesmos ônus, que carregassem sobre iguaes
de producção nacional, ou se, ao menos,ficandoreser-
vado o noss°o mercado exclusivo somente para a nossa
producção, fosse o consumo de nossos gêneros fora do
paiz de tal maneira animado, que não víssemos annual-
mente desfalcados os nossos capitães aecumulados em
moeda, como até agora nos tem acontecido, em prejuízo
de nosso trabalho actual e progressivo, se, além disto o
^pequeno commercio dentro do paiz, ou o chamado re-
talho, ficasse exclusivamente reservado aos nossos natu-
raes ou naturalisados, ou como agenles principaes ou
como caixeiros; se se tornasse entre nós, ao menos no
futuro, possível em grande alguma daquellas mauufactu-
ras para as quaes possuímos abundante matéria prima;
se, finalmente, os direitos, que se estipulassem ás merca-
— 34 -

dorias estrangeiras na sua entrada no nosso paiz, fossem


estabelecidos de modo, que ficassem firmados em uma
base estável emquanto por accordo das partes contra-
tantes se não mudasse a quota, acabado o escândalo
presente, pelo qual a agiotagem annulla o resultado das
Leis mais benéficas ao Estado; decerto, entende a Secção,
que ficaríamos com uma Receita sufficiente para todas
as nossas necessidades, (o que é mais ainda) animaria*
mosanossa producçãoeindustria; daríamos segurança
á renda dô Estado c"maior força ao Governo, atrahiria-*
mos colonos c capitães estrangeiros, prepararíamos no
futuro um commercio e navegação, proporcionaríamos
instrttCção, trabalho apropriado* e subsistência honesta
ás class"es pobres do paiz, imitando ao bom pai de
família, cujo primeiro cuidado é o da subsistência e
felicidade de seus filhos; lançando os mais sólidos
fundamentos á moralidade e ordem publica, que, talvez
seja impossível consolidar de uma vez visto que quanto
ao commercio e á industria mais commum, os estranhos
são de facto mais favorecidos que os naturaes em sua
grande maioria.
Parece, porém, não ser isto possível na actualidade
pela intellígencia, que dão os Inglezes á cláusula do
Tratado relativa á sua conrlusão, e pelas pretenções,
sempre cm opposição ao bem das Nações, com que se
achão em relação, eque sempre dfsejào arruinar, e
effectivamente arruinão: e em taes circumstancias en-
tende a Secção que, não se podendo lançar mão de urna
medida completa, definitiva esatisfactoría para augmen-
to da receita, indispensável é que se espere tudo do
melhoramento gradual da nossa producção e commer-
cio, da Reforma que se ha dado a alguns Regulamen-
tos, da creação de alguns novos impostos, que menos
clamnifiquem a marcha da nossa riqueza, e de alguns
outros arbítrios, de que podem fazer parte os indicados
nos artigos seguintes.
1 .*'« Distribuição por venda, ou mesmo gratuitamen-
te dos terrenos Nacionaes devolulos. »
§§
Aindaaclu ílmeníe eiiste no Império uma mui grande
porção de terras que de facto e de direito são e se devem
- 3 o ->

considerai' dev.olutas, desaproveitadas, e nas circmn-


stancias de se fazerem prestar ao necessário augmento
da Receita Publica tanto directa e prompíamentê pelo
producto da sua venda bem regulada por Lei. como
indirecla, e posto que mais lenta, nem por isso menos
proficuamente, quer sejão as terras vendidas, ou gratui-
tamente dadas, pelo crescimento da população, da agri-
cultura, da industria de toda a espécie e por conse^
guinte das Rendas Publicas.
2." Venda dos Próprios Nacionaes desnecessários ao
serviço publico.

A Secção, que não lembra esta providencia copio


novidade, só deseja que se facão effeclivas as dispo.-
sições de Leis já existentes, relativas á esta venda dç
Próprios Nacionaes desnecessários ao serviço publico,
para que, applicado o seu producto ao ultimo destino,
que lhe deu o art. 12 da Lei de II de Outubro de
1837 n.° 109, a amortização do papal-moeda, se des-
onere a Nação de parte da sua divida, e a outros
úteisfinsse possão applicar as rendas correspondentes,.
3.° « Fazer executar a Resolução de 23 de Outubro
de 1832 na Província de Minas, como em quaesquer
outras, em que hajão terrenos diamantinos, depois
das modificações reclamadas pelas circumstancias
actuaes, fazendo-se o pagamento da renda destes ter-
renos em diamantes ou em ouro. »

0 apuro das idéas econômicasfinanceiras,de accordo


com os princípios e garantias da Constituição do
Império, dictou a Resolução de 23 de Outubro 4é 1812,
que acabou com o monopólio nacional dos diamantes,
extingui© a Junta da Administração Diamantina doTe-
juco e decretou o aproveitamento dos terrenos diaman-
tinos de uma maneira que pareceu mais regular e
adequada aos interesses da fazenda Nacional e dos
Minehros.
— 36 —

•'Sendo, porém, obslada a execução destas disposi-


ções legislativas por motivos nascidos das circum-
stancias de menor ordem, em que então se achava a
Província de Minas, da quebra de interesses parti-
culares e da pouca energia, ou antes da positiva
condescendência das Autoridades a respeito dos oppo-
sitores, entendeu o Governo (que nada conseguira da
instante repetição de suas ordens) propor á Assem-
bléa Geral Legislativa algumas modificações ao dis-
posto naquella Resolução, afim de aplanar algumas
das difficuldades e remover algum dos inconvenien-
tes, que se lhe arguião : e é ora o andamento dessas
propostas o que a Secção reclama, desejando que as
providencias sejão extensivas a todas as Províncias,
em que hajão ou se descubrão terrenos diamantinos,
e que o pagamento da respectiva renda seja feito
em diamantes ou em ouro, isto é, no próprio pro-
ducto dos ditos terrenos, por ser deste modo que
melhor se consegue a facilidade, igualdade e exactidão
do mesmo pagamento.

4.» « Fazer extensiva a contribuição das casas de


modas a todas as que venderem moveis ou adornos
feitos em paiz estrangeiro ».
o.° « Estabelecer uma contribuição sobre as casas em
que se fazem empréstimos sobre penhores e hypo-
thecas, casas de seguro c confeitarias -•>.

Nestas indicações a Secção, tendo primeiramente em


vista o seu principal fini, o augmento da renda pu-
blica, considerou também, como objecto essencial, a
justa igualdade, com que devem ser lançados e dis-
tribuídos os impostos, de maneira que o peso delles
se divida proporcionado aos meios, que cada um tem
de contribuir para as despezas do Estado.
0.° « Fazer arrematar a divida activa da Nação,
que tiver mais de 10 annos de data. *
<— J7 —*

A attenção prestada pelo Governo, tanto á grande


somma da divida activa nacional, espalhada por todas
as Províncias, e pela maior parle de antiga data,
como á reconhecida impossibilidade de realizar o seu
embolso no todo, e á suinma difliculdade de havel-o,
mesmo em parte, pelos meios ordinários, o tem in-
duzido a indicar á Assembléa Geral Legislativa vários
meios de cortar taes diffículdades e fazer effectiva, a
este titulo, alguma receita, eliminado d'entre os ha-
veres da Nação um artigo, que, se não é perfeitamente
fantástico, tenuissima parte tem de realidade, e a Secção
se decide pelo da arrematação por se lhe afigurar,
que será o mais expedito e efiicaz.
7."« Fazer extensivo a todas as Corporações de mão
morta, que possuem bens de raiz sem dispensa das
Leis da amortização, o favor do Decreto de 16 de Sr
lembro de 1817. »
§§

Esta providencia tem sido repelidas vezes impetrada


á Assembléa Geral Legislativa pelo Governo, que justa
e prudentemente a julga indispensável, na intuição
de seus importantíssimos resultados: 1 ° o de fazer
entrar para o Thesouro (como já o verificarão as Or-
dens Religiosas) uma avultada somma, importância
dos direitos de chancellaria estabelecidos pela amor-
tização, que deveráõ pagar as Corporações de mão
morta, a que se fizer extensivo o favor do Decreto de
16 de Setembro de 1817, sendo bem notório quão
grande é o numero e valor de bens, que taes Cor-
porações illegalmente possuem por falta da compe-
tente* licença; 2 ° o de manter e segurar essas Cor-
porações no gozo de taes bens.firmando-asna proprie-
dade delles, para livremente continuarem a applicar
seus rendimentos aos úteis fins, a que são destinados;
3.° o de evitar a perturbação econflagração geral no
Império, a que dará causa, com grave prejuízo da
tranquitlidade publica, da religião e da humanidade,
o excitar-se a rigorosa obse rvaiFb da^ l ris dr> amor-
•* 38
tização conlra as ditas Corporações, para serem jul-
gadas em commisso e privadas dos muitos bens, que
pacificamente têm até agora possuído : e é neste sen-
tido e por estas mesmas razões que a Secção a lembra.
8.° « Não dar o etequatur aos títulos dos Cônsules
estrangeiros, sem que elles se obriguem a obstar o
contrabando do páo-brasil, constrangendo os Mestres
a darfiançapara o caso de contravenção. »

Tão grande tem sido o contrabando do pao-brasil


e tão grande ainda é a facilidade de o continuar nas
costas do Império, conlravindo se as Leis e as pro-
videncias do Governo e illudindo-se a vigilância dos
Empregados, que necessário é lançar mão de impe-
dil-o ou diminuil-o ao menos, tanto pelo que per-
tence aos nacionaes e ao que se passa dentro do
Império, como no que diz respeito aos estrangeiros,
que o promovem e auxilião; e porque, quanto ao
interior, assaz previdentes são as disposições das Leis,
Ordens, Inslrucções e Regulamentos do Governo,
que cuidado ha de ter na sua execução, pareceu á
Secção que, quanto ao exterior (na certeza da nenhuma
attenção, que têm merecido as reclamações de nossos
Diplomatas perante os Governos estrangeiros), admis-
sível e proveitosa poderá ser a medida proposta.
9.° « Reforçar a confiança e fiscalização do Cor^
reio, ou pôr, por algum tempo, uma parte dos seus
rendimentos em arrematação. »

Que a confiança efiscalizaçãodo Correio não chegou


ainda ao ponto a que convém e a que é possível
chegar, verdade é ao alcance de todos, que, presente
á Assembléa Geral Legislitivi e ao Governo, os têm
incitado a promover o seu melhoramento: e é nisto
que a Secção deseja se empreguem os esforços por
todos os meios entre os quaes julga ler lugar õ apon-
tado, afim de que com actividade na fiscalização se
- 39 —
excite a exacção dos Empregados da administração
dos Correios, e se consolide a confiança publica a favor
delia e cresça em conseqüência a renda publica.
10. «Substituir os 5 % do ouro por um imposlo
sobre cada mina, proporcional ao numero de traba-
lhadores e arrecadado em o mesmo metal, reembol-
sando-o. porém, aquelles que forem cunhar seu ouro
na casa da moeda e pagarem a braçagem. »

O imposto sobre a mineração do ouro, posto que


já bastantemente reduzido na quota actual de 5 0/„
ainda é bastante pesado, attenta a custosa laboraçào;
ainda é bastante avultado para animar os extravia-
dores, attenta a facilidade do extravio; c é em todo
caso de mui difficil fiscalização Com estas conside-
rações propõe a Secção a indicada substituição, favo-
rável aos Mineiros, então mais alliviados, e favorável
á Fazenda Nacional, que então conseguirá a effectiva
cobrança de alguma parte do ouro, que ao presente
quasi inteiramente se extravia.
11. « Elevar, logo que findem os Tratados, a 60 %
os direitos dos gêneros di nossa producção, impor-
tados de paiz estrangeiro, á excepção do ouro. prata
em barra, pinha, ou moeda, que nada pagaráõ; e redu-
zir a 5 •/„ os direitos da nossa exportação, á excepção
do café, algodão, couros e gomma elástica, ouro, prata
bruta ou amoedada, que pagaráõ um direito maior.»
12 « Em compensação dessas vantagens, concedidas
aos gêneros da nossa producção, lançar no consumo
do paiz urna contribuição de ">% nas Cidades, Villas
e Povoações consideráveis. Esta contribuição poderá
ser substituída por uma taxa a titulo de Patente que
pagaráõ todas as tabernas, lojas, oflicinas, pedreiras,
caieiras, olarias, officios e profissões de industria,
emquanto não findarem os Tratados, e se não elevarem
os direitos do importação; assim como pôr um tributo
sobre toda a renda constituída em estradas, ruas,
pontes, canaes, foro ou aluguel de prédios rústicos. »
— 40 —

13 « Elevar quanto antes os direitos de importação


das mercadorias, que não forem produzidas pelos ín-
cdezes • o que parece á Secção poder-se fazer sem Tra-
tado e por acto do Poder Executivo, visto haver uma
Lei que marca o máximo futuro desses direitos; sendo
essas mercadorias indicadas por uma Commissào do
Commercio »
Por esta maneira entende a Secção que se poderá
diminuir a nossa Despeza e augmentar a nossa Re-
ceita : e, comquanto não tenha as medidas Lmbradas
por sufficienles para nos collocar nas circunstancias,
de satisfazer a todos os nossos empenhos, deixando
uma sobra para amortização de nossos empréstimos e
resgate regular de nosso papel, as reputa, comludo,
capazes de nos proporcionar os meios de satisfazer,
sem empréstimos, as despezas mais urgentes, ou de
muito reduzir a importância delles, se ainda alguns
forem precisos para o futuro.
A Secção não deixará de repetir mais uma vez,
que é dê medidas capazes de melhorar o cambio es-
trangeiro, de dar estabilidade, solidez e realidade ao
nosso meio circulante, assim como d »s direitos de
importação sem Tratados, ou mesmo com elles, que
ella espera o melhoramento de nossas finanças e o
progresso de nossa riqueza, reconhecendo ao mesmo
tempo, que delles, como de todas as cousas optimas,
podem lambem derivar os maiores males do paiz, e
talvez sua inteira ruina.
Ainda acrescentará a Secção que, podendo entender-
se que o máximo marcado pela Assembléa Geral aos
direitos de importação teve por fim tributar diver-
samente os gêneros estrangeiros, intelligencia em ver-
dade compatível com a Lei, também com ella é muito
compatível que as quotas sejão variáveis dentro do
minimo e do máximo marcado, segundo os tempos e
as circumstancias, e que, como isto pôde ser muito
conveniente, se acaso se entrar na execução de algum
Tratado, toma a Secção a liberdade dê suggerir a
idéa de que nenhuma quota se deve considerar fixa
por eslipulaçào definitivamente, e só em máximo c
minimo da Lei.
Porque, se o fizermos, os estrangeiros terão o direito
— 41 —

de reclamar e fixar lambem de uma vez quotas certas


e invariáveis na importação de nossos gêneros em
seu paiz, e por conseguinte de excluir do seu mercado
os mais importantes, como agora, sem que fique outro
recurso senão o esperar o fim do tempo dos Tratados.
Além disto parece igualmente á Secção que deveria
ficar livre ao Governo o fazer pagar as quotas da
importação, ou no próprio gênero importado ou
em dinheiro, segundo fosse mais conveniente nas di-
versas circumstancias do Estado.
Senhor, Digne-se Vossa Magestade Imperial acolher
benigno este trabalho da Secção, e dar-lhe o apreço
que puder merecer. (*)
Rio de Janeiro em 14 de Outubro de 1842. — José
Antônio da Silva May a.—Manoel Alves Branco.

N. 11 .—RESOLUÇÃO DE 26 DE NOVEMBRO DE 1842.


Sobre as Leis Proviuciaes de Pernambuco.

Senhor.—A Secção de Fazenda do Conselho de Estado,


tendo examinado os actos legislativos da Assembléa
da Província de Pernambuco, promulgados na sessão
do corrente anno, achou haver no de n.° 94 datado
de 7 de Março muito de excessivo e excedente de
suas attribuições na parte em que impõe novas con-
tribuições sobre objectos já tributados pela Assembléa
Geral Legislativa, principalmente quando exportados
para fora do Império, como se vê nos §§ 1.°, 2.°, 11,
12, 15, 16 e 22 do art. 36.
Porquanto, se conforme as disposições do art. 10
§ 5.° e do art. 20 do Acto Addicional* as Assembléas
Provinciaes não podem estabelecer impostos, que pre-

(*) Nãò houve Resolução; mandou-se, porém, consultar a respeito as


Secções reunidas dos Negócios da Fazenda, do Império e de Estrangeiros.
A Resolução da Consulta das três Secções reunidas foi de 2 de Janeiro
de 1843, e vai no lugar competente deste livro sob n.° 16.
ü
- 42 —

judiqucm ou oflendão as imposições geraes, e se é


incontestável, como parece á Secção, que todo o im-
posto sobre qualquer gênero e principalmente sobro
nm já tributado, tende a diminuir a sua producção,
ou quando menos a tornal-a estacionaria, é por con-
seguinte evidente que todo o imposto decretado pelas
Assembléas Provinciaes sobre gêneros ou actos já tri-
butados pela Assembléa Geral, forçosamente prejudica
a imposição geral c é, portanto, exeedente das res-
trictas attribuições das mesmas Assembléas; e que
nestas circumstancias se devem considerar todos os im-
postos decretados na sobredita Lei Provincial, quede
alguma das maneiras referidas prejudicão e offendem
as imposições geraes de importação e exportação.
Entende a Secção, que, para as A°ssembléas Provin-
ciaes poderem firmar o seu direito de impor, devem
mostrar não só que o imposto, que pretenderem esta-
belecer, não fará decrescer a cifra da imposição geral,
como também que elle em nada prejudicará o seu
progresso, e considera ser esla a única maneira mais
razoável de entender as disposições do art. 10 § 5.°,
arts. 12 e 20 da Lei de 12 de'Agosto de 1834, para
se tornarem effectivas as cláusulas e restricções por
ellas impostas ás Assembléas Legislativas Provinciaes,
evitado o absurdo de as haver por ociosas, inúteis e
«em valor algum real.
O que Vossa Magestade Imperial se Dignará tomar
em consideração para resolver o que fôr servido.
Rio de Janeiro em 24 de Novembro de 1842. —
José Antônio da Silva May a.—Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Como parece á Secção, e o Meu Ministro e Secre-


tario de Estado respectivo expeca as ordens neces-
sárias . f
Paço em 26 de Novembro de 1842.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Visconde de Abr antes.
- 43 —

N lá.—RESOLUÇÃO DE 7 DE DEZEMBRO DE 4842.

Sobre a preleuçao de Paulo Gomes Cardoso, pedindo seja averbada uo livra


das transferencias a convenção, que celebrara com sua mulher, sobre o
usotruclode seis Apólices da Divida Publica,

Senhor. — Por occasião de se apresentar á Junta


Administrativa da Caixa da Amortização o requerimento
de Paulo Gomes Cardoso por que pretende se averbe
no livro das transferencias", a convenção, que celebrara
com sua mulher D. Geminiana Roza de Oliveira, de
lhe ficar pertencendo o usofrueto de seis osApólices
da Divida Publica do valor de 1:000#000 de n. 22621 a
22626, inhibida a um e outro a disposição dellas,
que por fallecimento da usofruetuaria deveráõ re-
verter ao mesmo Paulo Gomes ou seus herdeiros,
nasceu a duvida de dever ou não annuir a Junta a
esta pretenção para mandar fazer a transferencia no
sentido da dita convenção, constante de um termo
de conciliação effectuada perante o-Juiz do Paz do
segundo dis*tricto daFreguezia de Santa Rita.
Esta duvida ainda subsistio depois que, ouvido o
Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda Nacional,
ofiiciou elle com a opinião negativa, fundada na res-
tricta litteral intelligencia das respectivas disposições
da Lei de 15 de Novembro de 1827, segundo a qual
lhe parecera que apenas podião ter lugar as trnsfe-
rencias direclas e puras nos termos dos arts. 63e64,
e foi por isso que a questão se submetteu por ordem
de Vossa Magestade Imperial ao exame da Secção, a que
estão incumbidos os negócios da Fazenda.
A Secção, que mui to seriamente ponderou sobre a ma-
téria nâ intenção de achar e propor a Vossa Magestade
Imperial uma"decisão, que não só dissolva a duvida
suscitada ou caso especial, que lhe foisubmettido, mas
lambemfixea regra para a pralica das transferencias em
quaesquer outras hypotheses oceorrentes, depois de
haver attentaraente meditado sobre os artigos da Lei
de 15 de Novembro de 1827, relativos a essas trans-
ferencias e sobre o que já e constantemente se tem
observado na Caixa da Amortização a respeito dellas
- 44 -
em diversos casos, em que não fora possível fazel-as
puras e directas no rigoroso e litteral sentido das dis-
posições dos sobreditos arts. 63 e 64, que aliás pru-
dentemente se julgarão não exclusivos das necessárias
urgentes limitações, exigidas por attendiveis circum-
stancias, e de alguma sorte apoiadas pelas outras dis-
posições dos arts. 36 e 37 da mesma Lei, conforme as
explicitas informações verbaes e por escripto. que
teve do muito digno Inspector Geral da Caixa, res-
peitosamente dirige á Augusta Presença de Vassa Ma-
gestade Imperial o seguinte :
Parece á Secção que, cumprindo entender as dispo-
sições da Lei "de 15 de Novembro de 1827 relativa
ás transferencias de maneira que a observância dellas
se não declare em opposição auti-constitucional ao
pleno uso do direito de propriedade, á livre pratica
de quaesquer das transacções licitas e legaes, a res-
peito das Apólices, inter vivos, ou causa mortis, cele-
bradas segundo os princípios da jurisprudência civil
e commercial, deverá declarar-se á Caixa da Amorti-
zação que continue a admittir as transferencias das
Apólices, fazendo-as, como até agora tem praticado, em
todos os casos de licitas transfencias de domínio e posse,
ou ellas sejão directas e puras, passando as mesmas
Apólices directa, immediata e plenamente de uns a
outros possuidores, actualmente existentes e presentes
ao acto por si ou por seus bastantes procuradores;
ou tenhão de passar dos actuaes a quaesquer oulros
em conseqüência de legítimos títulos de heranças, le-
gados ou doações causa mortis; ou ellas sejão dadas,
vendidas, deixadas e legadas na propriedade directa
e immediatamente ás pessoas aquém se transferem;
ou tenha de pertencer o usofrueto unicamente dellas
a alguma ou algumas pessoas ou corporações, havendo
da parte da mesma Caixa, especialmente do seu Cor-
retor, toda a vigilância no exame da legalidade dos
títulos e legitimidade das pessoas; e que neste sen-
tido se delira o requerimento de Paulo Gomes Cardoso.
Vossa Magestade Imperial se Dignará Resolver o que
for servido.
Rio de Janeiro em 29 de Novembro de 1842.—José
Antônio da Silva Maya.—Manoel Alves Branco.
45 -

RESOLUÇÃO.

Como parece á Secção, e o Meu Miuislro e Secretario


de Estado da Repartição competente expeça as ordens
necessárias. (*)
Paço em 7 de Dezembro de 1842.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Visconde de Abrantes.

N. 13.—CONSULTA DE 19 DE DEZEMBRO DE 1842.

foSre as Leis provinciaes de Mato Grosso do auuo de 184?.

Senhor.—A Secção" do Conselho de Estado, a que


pertencem os Negócios da Fazenda, examinando pela
parte a seu cargo os actos legislativos da Assembléa
da Província de Mato Grosso, promulgados no cor-
rente anno, nada encontrou, em que a mesma Assem-
bléa tenha excedido os limites de suas attribuições,
e com que tenha prejudicado ou offendido os impostos
geraes; e respeitosamente o faz presente a Vossa Ma-
gestade Imperial.
Rio de Janeiro em 19 de Dezembro de 1842. —
José Antônio da Silva Maya.—Manoel Alves Branco.

(*) Em virtude desta Resolução se expedio pelo Ministério da Fazenda o


Aviso D.O 130 de 14 de Dezembro de 1819, declarando o modo por que se
devem fazer as declarações nas transferencias das Apólices dos Fundos Pú-
blicos.
— 46 —
N. II.-CONSULTA DE 19 DE DEZEMBRO DE 1842.
Sobre as Leis da Província de S. Paulo do anno de 1842.

Senhor.—A Seceão do Conselho de Estado dos Ne-


gócios da Fazenda* no exame dos actos legislativos da
Assembléa da Província de S. Paulo, promulgados na
sessão do corrente anno, nada encontrou que esteja fora
dos limites das attribuições das Assembléas Legisla-
tivas Provinciaes*, ou qúe de alguma fôrma offenda a
Constituição e os impostos geraes; o que respeitosamente
leva ao alto conhecimento de Vossa Magestade Im-
perial
Oio de Janeiro em 19 de Dezembro de 1842.-—
José Antônio da Silva May a.—Manoel Alves Branco.

N. 15. —RESOLUÇÃO DE 21 DE DEZEMBRO DE 18Í2.


Sobre as Leis Provinciaes de Sauta Catliariua.

Senhor.—A Secção do Conselho de Estado, a que


loção os Negócios* da Fazenda, tendo examinado os
aclos legislativos da Assembléa Provincial de Santa
Catharina, promulgados neste corrente anno achou, que
a mesma Assembléa excedeu os limites de suas attri-
buições :
1> Nos §§ 13, 14, 15, e16 do art. 3.° da Lei n.8171
de 2 de Maio, que, lançando fortes impostos na ex-
portação de differentes gêneros a favor das Rendas
Provinciaes, prejudicão e oífendem notória e grave-
mente os impostos geraes da mesma natureza, porque
produzem a diminuição dessa exportação, sobre que
estes se achão já anteriormente assentados.
2.° Nos§§ 19 e20do mesmo artigo, que lanção pe-
sados impostos sobre lojas, armazéns, tabernas, bo-
Ucas e cavallariças, e assim prejudicão c offendem os
impostos geraes," que devem recahir sobre taes casüs,
- 47 -

e têm applicacão especial na conformidade do art. 5.*


da Lei de 8 d*c Outubro de 1833, § 2.°, e do art. 38
da Lei de 3 de Outubro de 1834.
E é, portanto, a Secção de parecer, que deverá or-
denar-se a suspensão do cumprimento de taes dispo-
ções.
No art. 13 da mesma Lei se determina que as funcções
do Procurador Fiscal da Provedoria Provincial serão
exercidas pelo da Thesouraria da Província, e porque
não é conveniente que este empregado geral seja en-
carregado do exercício e desempenho do emprego pro-
vincial, que lhe é incompatível pela opposição, que
muitas vezes pôde occorrer entre os interesses geraes
e provinciaes, e a impossibilidade, por conseguinte, de
bem defender uns e outros, como já o tem declarado
o Tribunal do Thesouro Publico Nacional por occasião
de iguaes incumbências dadas aos Procuradores Fis-
caes das Thesourarias, parece, por isso, á Secção que
cumpre ao Governo Imperial assim o declarar para
que se não leve a effeito a determinação, ordenando
ao actual Procurador Fiscal da Thesouraria da Pro-
víncia de Santa Catharina que opte um dos dous
empregos, por lhe não ser permittida a accumulação.
Vossa Magestade Imperial se Dignará Resolver o que
julgar mais conveniente.
Rio de Janeiro em 19 de Dezembro de 1842. —
José Antônio da Silva May a.— Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO -

Como parece á Secção, eo respectivo Ministério ex-


peça as ordens necessárias.
Paço em 21 de Dezembro de 1842.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Visconde de Abrantes.
RELAÇÃO
DOS

MINISTROS DE ESTADO. PRESIDENTES.


E DOS

CONSELHEIROS MEMRROS

SECÇlO DE FAZENDA DO CONSELHO DE ESTADO*

1843.

M I N I S T R O X>E E S T A D O

O Visconde de Abrantes, até 19 de Janeiro desse


anno, e depois
Joaquim Francisco Vianna, nomeado por Decreto de
20 de Janeiro de 1843.

C O N S E L H E I R O S r>E E S T A O O

Manoel Alves Branco, depois Visconde de Garavellas.


Visconde de Monte-Alegre.
Visconde de Abrantes, nomeado por Decreto de 30
Novembro de 1843.
CONSULTAS

DO

CONSELHO DE ESTADO NA SECÇÃO DE FAZENDA.

1843.

N. 16.— REROLUÇÃO DE 2 DE JANEIRO DE 1S43.

Sobro as medidas a tomar para diminuir o déficit da receita para as


despezas que o Governo declara necessárias.

Senhor.—As Secções do Conselho de Estado, a que


pertencem os negócios do Império, Estrangeiros e da
Fazenda, reunidas por ordem de Vossa Magestade Im-
perial para consultarem sobre as quantias reclamadas
pela Administração publica, e sobre o déficit que dahi
deve resultar ás rendas do Império, tendo á vista a
demonstração do estado do Thesouro no corrente exer-
cício de 1842—1843, que lhes foi apresentada sob a
assignatura do Inspector Geral com alguns documentos,
a que se refere, respeitosamente oíferecem á alta con-
sideração de Vossa Magestade Imperial o seguinte :
9
o*

p.imiiin o iho:>oiiio em sua demous.liar.ao apresen-


tando o dclicil com que passou na Assembléa Geral
a Lei de 30 de Novembro de 1841, que rege o exer-
ci cio, a saber:
Despeza lixada 21.798:8000004
Rcccila orçada 16.503:000^000
,(jcji 5.295:8000004

O qual talvez se eleve á quantia de 5.843:4790426;


porque de uma das labellas, que acompanhão a demons-
írarão do Thesouro é evidente que a renda publica de-
cresce em quasi todas as Províncias do Império e tanto
que não dá esperanças de mais que 15.955:3200574,
o que talvez possa attribuir-se ao estado de nossas
relações commerciacs, ou ao extravio, que se diz haver
em "algumas Alfândegas do Império.
Mostrado assim o déficit do exercício o Thesouro
prosegue logo a reduzil-o:
Primeiro—A 2.750:9440004 pela subtracção de
2.544:8500000, importância dos impostos destinados
á caução em Londres e resgate do papel, que se avalião
em 2.394:8560000 juntos ao producto presumível do
melhoramento de algumas contribuições do Município,
e empréstimo do cofre dos orphãos na fôrma da lei.
c que se avalião em 150:C000000.
Tem as Secções a observar á respeito destas deduc-
ções, que a primeira, isto é, a dos impostos applicados
a caução cm Londres no exercício corrente, não é legal;
estão" porém de accordo cm que convém empregar
estes fundos na despeza effectiva do anno já porque
nossas urgências assim o exigem, e já porque tendo
nos casas respeitáveis naquella praça, que se com-
promcltem a adiantamentos, nenhum mal se seguirá
ao serviço daquella applicação; quanto porém ás outras
parccllas, as deducções são perfeitamente legaes, não
havendo mais nada* a dizer a seu respeito senão que
podião ser calculadas em maior importância que
aquclla que apresenta o Thesouro, com tudo as Secções
não aífirmarão cousa alguma de positivo sobre isso,
porque não lhes forão presentes dados pelos quaes
ficassem para isso rompetcnlcmcnlc habilitadas.
— 53 —
Segundo.—A quantia de 1.243:2450754, resultante da
importância da amortização de nossos empréstimos
externos, que ao cambio dê 30 */a monta a 859:9440754,
junta á amortização de nossos empréstimos internos
que o Thesouro calcula em 647:7040000.
Obscrvão as Secções que estas deducções no exercício
corrente não tem lambem fundamento" em lei alguma ;
mas ainda quando não approvem em geral, que se
deixe de amortizar, entendem com tudo que tal proce-
dimento tem o appoio de muito boas razões emquanto
é indispensável conlrahir empréstimos, assim como
que o Corpo Legislativo, que assim o decretou no exercí-
cio passado, naturalmente o não reprovará no corrente,
em o qual se dão as mesmas senão peiores circumstan-
cias, ou se considerem as cousas pelo lado da política,
ou pelo lado das finanças.
Reduzido assim o déficit a 1.243:2450250 passa o
Thesouro a juntar-lhe as addições seguintes, a saber:
Primeiro. Todas as despezas insufíicientemente do-
tadas na Lei do Orçamento e outras especiaes.
Segundo. Todas as despezas extraordinárias, e que
não forão previstas na dita Lei do Orçamento.
Terceiro. Todas as despezas de serviços decretados
para os quaes se não votarão os fundos necessários.
Debaixo da primeira rubrica vem contemplado:
Primeiro: O Ministério dos Negócios Estrangeiros
com 637:5070666 resultantes da somma de 79:7220746
differença entre o cambio de 30 4/2 e 26^2 médio
porque se presume terão de fazer-se as remessas, e
de 557:7840920, que se despenderão, ou tem de des-
pender-se além dos 1.000:0000000, concedidos na Lei
de 25 de Setembro de 184Q para pagamento das recla-
mações portuguezas e brasileiras.
Estas quantias elevão o déficit a 1.850:7520916 cum-
prindo somente dizer a respeito do cambio, que tendo
cessado os principaes motivos de sua baixa, talvez
pudesse elle ser calculado a 27, e a respeito das recla-
mações portuguezas e brasileiras, que o seu pagamento
não" tem por ora appoio de lei, que aliás reputou suffi-
ciente os 1.000:0000000 para todas as ditas reclamações
liquidadas, e que se houvessem de liquidar; accres-
cendo que não forão presentes documentos alguns pelos
quaes se pudesse julgar de sua necessidade indeclinável.
— 54 —
Segundo. O Ministério da Guerra com 695:3640246,
resultantes da somma de 320:0000000 para remonta
do exercito, 330:9490746 para paquetese transportes;
44-4140500 para hospitaes regimentaes, além dos
6:0000000; 80:0000000 e 36:2020500 votados para taes
applicações.
Estas "parcellas elevão o déficit a 2.576:1170162; e
as Secções não podem deixar de consideral-as exces-
sivas, não só á vista do credito, que teve o Ministério
da Guerra para despezas eventuaes na importância de
244:5890716 e outros, como também á vista da falta
de cavallos em que labora o exercito da legalidade
no Sul, se merece credito o que diz a este respeito
a própria folha Official do Governo.
Terceiro.—O Ministério da Fazenda com 288:4740111,
em que se calcula a differença de cambio de 30 iJ2
fixado na lei, e 26 1/2 por que" se presume fazer as re-
messas para o pagamento de nossos empréstimos em
Londres.
Esta addição eleva o déficit a 2.864:5510273 e pôde
bem applicâr-se a ella o que fica dito a respeito do
cambio em uma das verbas da demonstração do The-
souro relativa ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Debaixo da segunda rubrica vem contemplado:
Primeiro.—O Ministério do Império com 220.0000000
resultantes da somma de 120:0000000 destinados á
compra de próprios para habitação de S. A. Imperial e
Seu Augusto Esposo e 100:0000000 destinados ao enxoval
do casamento.
Estas parcellas elevão o déficit a 3.084:5910273 c
nada ha que observar a seu respeito, se não que ellas
estão em harmonia com a Lei de 29 de Setembro de 1840,
lembrando-se apenas, que no caso de verificar-se o
casamento dentro do exercício corrente, talvez seja
preciso augmentar este credito com a parte da dotação
correspondente ao tempo, que tiver de decorrer até o
fim do mesmo exercício, deduzidos os alimentos.
Segundo.—Outra vez o Ministério dos Negócios Es-
trangeiros com 152:8300188 réis, importância de 60:OOO0
ao par de 67 1/2 calculados em moeda fraca ao cambio
de 26 1/2 para as despezas do casamento de S. M. Im-
perial fora do Paiz.
Eslíi addição eleva o déficit a 3.237:421^/461, »• com
ÜJ

quanto este Ministério tenha sido muito bem dotado,


comtudo é tão sagrado o objecto a que é destinado o
novo credito pedido que nada ha a dizer a seu respeito.
Terceiro.—Outra vez o Ministério da Guerra com
102:0000000 para compra do armamento para o exer-
eito.
Esta parcella elevão déficit a3.339:4210461 e deve
applicar-se a ella o que se disse de outras quantias
extraordinárias relativas ao mesmo Ministério, acres-
centando somente que na Lei do Orçamento do exercício
corrente já lhe foi concedido um credito de quatrocen-
tos e oitenta e quatro contos quatrocentos quarenta e
seis mil oitocentos quarenta e seis para Arsenaes de
Guerra e Armazéns de artigos bellicos, em que se pôde
muito bem comprehender o objecto para que se pede
um novo credito extraordinário.
Quarto.—Outra vez o Ministério da Fazenda com
63:3960226 importância de uma nova encommenda
de papel, que se justifica com a Lei de 6 de Outu-
bro de 1835.
Essa parcella eleva o déficit a 3.402:8170687, é neces-
sária e urgente; observando-se apenas qúe seria muito
de desejar que o papel para toda nossa circulação de
credito fosse fabricado, e principalmente as notas
fossem estampadas na casa da moeda, onde talvez não
seria impossível fazel-o com sufíicienle perfeição.
Debaixo da terceira e ultima rubrica são contem-
plados
Primeiro.—O Ministério da Marinha com 95:1200600
resultantes da somma de 7:1190200 para a reforma da
Secretaria; 81:4020000, para augmento de soldo do
corpo da Armada e Artilharia de Marinha, e finalmente
6:5990400 para os reformados.
Estas addições elevão o déficit a 3.497:9380287, mas
são todas legaes e moderadas.
Segundo.—Outra vez o Ministério do Império com
411:19702OO resultantes da somma de 28:8000000 para
o Conselho de Estado; 232:0000000 para Correios e
Vapores; 115:7000000 para ajudas de-custo; 34:6970200
para obras do Município, segundo a informação de 6
do corrente apresentada ás Secções reunidas" a 12.
Estes pedidos elevão o déficit á importância de
3.909.0350487 havendo a observar que as três primei-
— 56 —
ras tem seu fundamento em leis, mas devem soffrer
reduccões pelo melhoramento das taxas dos correios
e pelo"subsidio de muitos membros do Corpo Legislativo
que não assistirão á Sessão; e que o quarto pedido
para as obras do Município, não tem justificação alguma
conhecida.
Terceiro.— O Ministério da Justiça com 242:6900000
resultantes da somma de 5:2500000 para a reforma da
Secretaria; 57:0000000 para os Juizes de Direito das
Províncias, que não têm supprimento, e 180:4400000
para as despezas da nova lei de reforma do Código,
segundo o que consta do Oíficio de 26 de Novembro
apresentado ás Secções no dia 12 do corrente.
Estas addições, "todas legaes, elevão o déficit a
4.151:8250487°; seria porém de desejar que os orde-
nados dos Juizes de Direito das Províncias de S. Paulo,
Pará e Rio de Janeiro, fossem a final eliminados do Or-
çamento, por quanto por elles forão gratuitamente
dotadas as ditas Províncias com quantias de que não
precisavão com manifesto damno das outras, que para
ellas concorrem, embora se desse também o caracter de
permanente ao supprimento temporário, que recebião,
o que talvez lhes fosse devido em attençâo a terem sido
muito mal dotadas na muito parcial partilha de 1835.
Quarto.—Outra vez o Ministério da Guerra com
1.323:3360475 réis, que resultão da somma de 168:1320
para o augmento do soldo; 6:4120800 réis para os Com-
mandos das Armas de S.Paulo e Minas; 17:1000000
para a reforma da Secretaria; 6:7300000 para Commis-
sarios Fiscaes; 146:9790275 réis, para gratificações de
campanha em S. Pedro do Sul, 720:1520250 réis, para
a Guarda Nacional destacada em outras; e finalmente
48:0000000 para transporte de 3.000 praças do Rio de
Janeiro áquella Província.
Todas estas addições elevão o déficit a 5.475:1610962,
e sobre ellas oceorrem reflexões penosas, mas que com-
tudo devem fazer-se na presença de Vossa Magestade
Imperial.
A despeza com Commissarios Fiscaes não dá esperança
alguma, porque se persuadem as Secções de que ás
desordens das despezas do Exercito não cessaráõ em-
quanto os Superiores não forem effectivamente obri-
gados a cumprirem algumas leis antigas de muita sabe-
•) i

doria, que estão hoje, como muitas boas, em completo


desuso e esquecimento.
Além disto é muito digno de reparo que tendo-se
pedido em 1841 para gratificações somente 41:1500800,
que concedeu a Assembléa Geral, quando já era bem
conhecido quanto se gastava por essa verba no Rio
Grande do Sul, se torne agora a exigir só para essa Pro-
víncia a a voltada quantia de 146.9790275 réis que tem
de elevar no balanço este algarismo a 188:1300075 réis.
Não é também menos notável a nova exigência de
48:0000000 para transporte de 3.000 praças daqui para
o Sul além dos 330:9480746, sobre que a°Secção de Fa-
zenda já deu seu parecer, e os 80:0000000 facilitados na
lei, e propostos no Orçamento; d'onde se vê que fica ele-
vada esta verba a 458:9480746 muito mais de um milhão
de cruzados, além dos Paquetes de Vapor do Norte e
Sul, dando-se mais a entender, que se tem movido ou
ha de mover por mar este anno dentro do Império um
numero de praças que elle não tem.
Quinto. Outra* vez o Ministério da Fazenda com
445:7270250 que resultão da somma de 34:9990990
para o Juizo privativo dos Feitos da Fazenda, e
410:7270260 para prêmios e corretagens dos emprés-
timos a effectuar para preencher o déficit.
Estas addições elevão o déficit a 5.920:8890212 e
nada ha que" observar sobre ellas senão que a pri-
meira é legal, a segunda poderá reduzir-se conforme
a ultima resolução do Governo sobre os novos pedi-
dos extraordinários, e modo de realizar o credito.
Eis-aqui um exacto relatório do que se encontra
na demonstração do Thesouro e documentos, que a
acompanhão; cumpria agora que as Secções dessem
o seu parecer sobre o modo de preencher o déficit;
seja-lhes porém licito antes disso fazer mais duas
observações geraes, que são as seguintes:
1.° As* Secções reconhecem que parte das quantias
pedidas resultão de actos previstos e autorizados por
diversas leis, ainda quando não fossem calculados e
fixados na do Orçamento, como era conveniente;
outra parte compõê-se de despezas que a adminis-
tração reputa indispensáveis, e que ou não forão pre-
vistas, ou forão mal dotadas naquella lei; mas não
tendo as ditas Secções sido ouvidas sobre as creações
— 58 —
e reformas que derão lugar a muitas das primeiras,
nem sobre os casos e circumstancias de que resul-
tarão as segundas, estando antes occupadas por Con-
sulta Imperial em pensar nos meios de diminuir as
existentes, nada podem dizer de positivo, principal-
mente, quando não tem ainda ouvido os Ministros
e nenhuma prova lhe foi offerecida de sua necessi-
dade e urgência absoluta, casos únicos em que ellas
parecem justificáveis nos apuros de finanças, em que
nos achamos ha algum tempo.
2.° Por este relatório terá visto V. M. Imperial que
o trabalho do Thesouro não pôde ser organizado de
modo a satisfazer á primeira vista as exigências que
tiver de fazer o Conselho para sua completa informa-
ção. Não se vê nelle reunido o total da despeza e
do déficit do exercício, não apparece calculado o que
deste déficit é permanente, e o que é simplesmente
transitório, e não se acha a quanto fica elevado o
credito de cada Ministro depois dos novos pedidos.
Além disto os pedidos do mesmo Ministro não estão
reunidos como convinha, para rapidamente julgar-se
de toda a sua importância, mas sim dispersos por
todo o corpo da demonstração em razão do methodo,
que se adoptou, o qual, podendo satisfazer em outras
circumstancias, não satisfaz nas actuaes, por isso lan-
çando as Secções mão dos mesmos elementos de que
se servio o Thesouro os coordenarão por outra ma-
neira em uma nova demonstração própria a satisfa-
zer com toda a promptidão aos fins, que se devião
ter em vista em semelhante trabalho, a qual junta
offcrecem á consideração de V. M. Imperial (*)

{*) Demonstração a que se refere a Consulta.


SEPARADA. REUNIDA. RE
MINISTÉRIO 1)0 IMPÉRIO.
Despeza votada na Lei de 13 de No-
vembro de 1841 2.535:791^00
Dita agora pedida, a saber:
Prédios para Sua Mages-
tade imperial M I20:000#ooo
Enxoval 1$ I00:000gooo
Correios e vapores 232:O00g000
Ajudas de custo Jg 115:7008000
Conselho de Estado 28:8008000
Obras do m u n i c í p i o . . . , ^ 34:0978200 031:1978-200 3.1G6:989ÜÍOOO
— 5y —

Vê-se da demonstração acima referida que o dé-


ficit neste anno além do atrazado, que ainda se diz
por pagar apezar dos repetidos créditos concedidos,
não pôde andar em menos de 11.966:1600602 ou
antes 10.966:1600602 abatendo-se os 1.000:0000000
contemplados para a despeza extraordinária de S.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA.
Despeza votada 1.121:7098588
Dita agora pedida, a saber:
Reforma do Código 180:4108000
Juizes das Províncias que
não tem supprimento Sfê 57:0008000
Reforma da Secretaria.... 5:2508000 24a:6908000 1,367:3998588
MINISTÉRIO
DE ESTRANGEIROS.
Despeza votada 560:8328090
Dita agora pedida, a saber:
Casamento de Sua Mages-
tade imperial 83 152:8308188
Reclamações Portuguezas e
Brasileiras m 557:7848920
Differeriça de cambio 26 l/2-l- 79:7228746 790:33788511.351:1708850
MINISTÉRIO DA MARINHA.
Despeza votada 2.618:2968906
Dita agora pedida, a saber:
Reforma da Secretaria 7:1198200
Corpo da Armada e Classes
annexas 76:6908200
Corpo de Artilharia de Ma-
rinha 4:7118.800
Reformados 6:5998400 95:1208600 2.713: U78;.r,G
MINISTÉRIO DA GUERRA.
Despeza votada , 5.675:68f8972
Dita agora pedida, a saber:
Remonta do Exercito... |K 320:0008000
Transportes m 330:9498746
Hospitaes regimentaes.. + 44:4148500
Armamentos 8s 102:0008000
Augmento de soldo,....... 168:1328000
Commando das Armas de
S. Paulo e Minas. 6:4128800
Secretaria, Pagadoria e Con-
tadòria 17:100800O
Gratiflcações de campanha
no RitfGrande 146:9798275
Çommissarios Fiscaes... •(• 6:7308000
Guarda Nacional no Rio
Grande SK 120:1528250
Dita nas outras Provín-
cias 58 209:8308150
Transporte de 3000 pra-
ças. $ 48:000g000 2.120:7008721 7.796:387^693
— 00

Paulo e Minas, a qual, assim como o alrazado deve


ser primeiro liquidada para poder-se pedir e obter
regularmente os meios de pagamento. Daquclle déficit
será talvez transitório 3.762:4090297 e permanente
7.203.7510305 e ainda quando se appliquem ao todo os
impostos destinados ao resgate do papel, melhoramento

MINISTÉRIO DA FAZENDA.
Despeza votada 9.283:48I#682
Dita agora pedida, a saber:
JuiZO privativo 34.9998990
Encommenda de papel. $ 63:3968226
Difierença de cambio.... + 288:4748111
Prêmios e corretagens. 8$ 410:7278260 797.-597J587 10.081:079^26»26.476:tí'3896tr

Avalia-se a despeza dos juros do empréstimo para ajustamento


de contas (1), o resto da despeza da reforma da Justiça e li-
quidação de Minas e S. Paulo em mais de 1.200:0008009
Será o déficit total do anno além do atrazado-. 2n.&K:u,.sH'x,b
Abate-se a Receita provável 15.710:2838361
Será pois o déficit total este anno 11.966:1608602
Abate-se a despeza presumida de S. Paulo e Minas que ainda
nao está liquidada 1.000:0008000
Ficará reduzido a (2) ro.966:1608602
Abate-se os impostos applicados ao resgate do papel, emprés-
timo dos Orphãos e melhoramento de alguns impostos, se-
gundo é disposto na lei 2.036:1718000
Ficará reduzido a 8.929:9898602
Abate-se a importância do imposto para a caução em Londres,
segundo lembra o Governo 508:685$ooo
Ficará reduzido o déficit a 8.421:3048002
Abate-se a amortização dos nossos empréstimos internos e ex-
ternos segundo ta:nbom lembra o Governo 1.507:6988754
Ficará o déficit reduzido este anno a 6.913:6058848
Quantia, que só poderá ser provida segunda o parecer das Secções por meio
de uma ampla reducção das despezas votadas c de navo pedidas, assim como
por certos impostos anticipados por meio de bilhetes de credito com juro e
por emissão de Apólices sendo indispensável.
jy. B. (1) A importância da divida do Brasil a Portugal ultimamente liiiui-
dada é, até o 1.» de Dezembro do corrente anno, f 022.702 — 1 — 3 —• que em
Apólices a 85 monta a £ 723.590, cujo juro annual é de £ 36.629; à amorti-
zação igual a esta quantia por sua vigésima parte do capital primitivo; na de-
monstração acima vai já calculado um semestre de juros, que Ira de vencer-se
cm o l.o de Junho de 1813; não calcula-se a amortizarão porque se não pagará
e só tem de venecr-se no l.o de Dezembro de 1843. *
(2) Por este modo o déficit clevar-se-ha nos annos seguintes a 11.365 0268.902
incluindo mais um semestre de juros e um anno de amortização do emprés-
timo acima; mas como parece que das quantias calculadas podem reoutar-sc
despezas transitórias as que levão o signal $ , e mesmo as que levão o siciial + '
que importão em 3.762:4098297, ficará elle reduzido a 7.602:617*005 que pódè
ainda descer á 5.207:7618605 pela applicação por empréstimo,dos impostos des^
finados ao resgate do papel e caução cm Londres, á despeza ordinária se «
Assembléa julgar conveniente, em quanto se não pôde impor na importação
entendendo-se pelo mesmo tempo os impostos propostos pelas Scccócs mor-
mente dos escravos, c o sello das letras, ctu. *
— 61 —

dos impostos do município, e empréstimo do cofre dos


Orphãos,como é de lei, e se adoptem todos os mais ar-
bítrios lembrados pelo Governo não pôde elle ser redu-
zido a menos de 6.913:6050848, que é forçoso supprir.
Para prover a este déficit e ao déficit, que infal-
livelmenle deve ter lugar nos annos seguintes, lem-
brão em primeiro lugar as Secções a reducção dos
créditos já votados, e dos que de novo se pedem,
assim como que, não sendo possível o augmento dos
direitos de importação, como foi indicado no parecer
da Secção de Fazenda de 14 de Outubro do corrente
anno, se lance mão dos seguintes, a saber:
1.° Fazer effecliva a venda dos Próprios Nacionaes
desnecessários ao serviço publico.
Por Decreto de 13 de Novembro de 1827 foi o Governo
autorizado para alienar todas as armações de pesca de
balèas pertencentes aos Próprios Nacionaes, seus terre-
nos e edifícios, escravos, embarcações e utensílios. Mas,
pela Portaria de 14 de Dezembro dê 1827, se exceptuárão
desta alienação os prédios e terrenos das Armações de
S. Domingos da banda d'além, e da Piedade na Província
de Santa Catharina, por serem precisos ao serviço da Ma-
rinha Nacional.
E' necessário que o Ministério da Fazenda, de accor-
do com o da Marinha, trate de fazer effectiva a venda
da parte destes bens reservados, que por ventura sejão
dispensáveis.
Pelo art. 21 da Lei de 24 de Outubro de 1832 se
autorizou a venda dos que estavão debaixo da admi-
nistração do Ministério da Guerra, que não tivessem
serventia, e que se estivessem arruinando. Porém o
art. 20 da lei de 22 de Outubro de 1836 limitou
em parte esta disposição, autorizando o Governo a
conceder á Província de Minas Geraes os quartéis dos
extinetos destacamentos para prisões nos districtos dos
Juizes de Paz, que não forem de Cidades ou Villas,
quando sejão pedidos pela Assembléa Provincial.
Cumpre averiguar a execução que tem tido estas
disposições legislativas, para saber-se se alguns bens
ha á venda dos que estiverão na administração do
Ministério da Guerra.
Pelo art. 12 da Lei de 11 de Outubro de 1837 n.°
109 se determinou que o Governo nas sessões seguin-
— Ü2 —

les apresentasse á Assembléa Geral Legislativa uma


circumstanciada informação e relação dos próprios
nacionaes desnecessários ao serviço, e cuja venda seja
conveniente, para ser applicado o seu producto á amor-
tização do papel-moeda.
E, porque até agora se não tem podido satisfazer
esta determinação, convirá exigir-se da Assembléa Ge-
ral Legislativa uma definitiva autorização ao Governo
para ir vendendo todos os Próprios, que julgar des-
necessários ao serviço, em occasiào opportuna, e da
maneira mais conveniente.
2.° Permittir a mineração em todas as Províncias do
Império, em que se descobrirem diamantes, ouro, prata,
cobre, estanho, chumbo e carvão de pedra, repar-
tindo-se e concedendo-se os terrenos por datas na
fôrma das Leis existentes, e cobrando-se os direitos
por meio de licenças.
3.° Propor á Assembléa Geral Legislativa que seja
o Governo autorizado a arrematar a divida activa da
Nação, que tiver mais de dez annos de data, com a
cláusula de passar aos arrematantes o privilegio do
processo executivo, e também o do foro, se lhes con-
vier, nas oceasiões e pelo modo, que mais proveitoso
fôr aos interesses da Fazenda Nacional.
4_.° Item, que se faça extensivo a todas as corpo-
rações de mão morta,* que possuem bens de raiz sem
dispensa das leis de amortização, o favor do Decreto
de 16 de Setembro de 1817.
5.» Lembrar á Assembléa Geral Legislativa o lança^
mento de um imposto sobre o consumo dos gêneros
de producção do paiz, que deverão ser especialmente
designados; cobrado por uma taxa de Patente a que
sejão sujeitas as tabernas e lojas das villas e cidades,
e as oíficinas, pedreiras, caieiras e olarias, que veiv-
derem os seus produetos.
6.° Item, elevar ao dobro a taxa dos escravos das
cidades e villas.
7.° Item, elevar ao dobro o imposto sobre as seges,
carruagens e carrinhos.
.8.° Item, elevará quantia de 1000 annuaes a ma-
tricula dos cursos Jurídicos e Escolas de Medicina.
9.° item, lançar um imposto sobre os cavallos e
bestas de montaria, que se tiverem dentro das cidades.
— 03 —

10.° ldem sujeitar a uma taxa de sello de 2000 as


licenças concedidas para impetrar Breves ou Bullas do
Pontífice ou seu Delegado por que se concedão quaes-
quer honras, distincções, e prerogativas ecclesiasticas, e
outras graças, exceptuadas as dispensas matrimoniaes.
11.° Item, sujeitar a uma taxa de sello, proporcional
aos respectivos valores, todos os papeis de contraclos de
empréstimos de dinheirose letras de cambio e da terra,
e mais papeis de credito e obrigações commerciaes.
12.° Item, lançar uma contribuição extraordinária,
para durar somente por dous annos, de 5 % sobre
todos os vencimentos superiores a 4000000.
13.° Item, sujeitar á taxa de 10000 também extraor-
dinariamente todos os escravos residentes fora das
cidades e villas.
O producto de todas estas rendas ou impostos po-
derá no anno corrente ser anticipado por meio de
bilhetes de credito, declarando-se os mesmos paga-
veis comum juro annualmente por encontro nasmesmas
rendas ou contribuições.
Se nada disto fôr possível este anno, o Governo lance
mão da reducção das despezas, e venda de Apólices;
porque a emissão do papel, que alguns desejão, nem
é empréstimo na phrase da lei, e nem pôde servir
de remédio ao mal, que ao conlrario empeiora.
Debalde trabalharemos para evitar desgraças immi-
nentes, se o Governo não tomar francamente a reso-
lução de economizar, de não elevar mais a Despeza
Publica, com a qual é mais que evidente que não
pôde actualmente a nossa industria.
Taes são os meios que ás Secções se figurão capazes
de reduzir verdadeiramente o* déficit, fazer o Povo
feliz, e a Vossa Magestade Imperial Grande e Glorioso.
Rioem 23 de Dezembro de 1842.—Visconde de Olinda.
—José Antônio da Silva Maya.—Bispo de Ancmuria.—
Caetano Maria Lopes Gama.—José Cesario de Miranda
Ribeiro,—Honorio Hermeto Carneiro Leão.— Manoel
Alves Branco (com voto separado). (*)
(*) Voto separado do Exm. Conselheiro Manoel Alves Branco.
Senhor.—Eu adopto todas as observações das Secções reunidas, acrescen-
tando b seguinte, que por ellas foi regeitado:
< l.o Que a Lei de 3 de Dezembro de 1811 podia e devia ser executada c :m
mais economia e com mais attenção á commodhlade dos povos.
— 64 —
ê

UKSOl.lK.ÃO.

Examine-se em Conselho de Estado.


Paço, 2 de Janeiro de 1813.
Com a Rubrica de Sua Magestade o imperador.
Visconde de Abrantes. (*)
« 2.0 Que em meu entender a providencia da Lei de 16 de Outubro de 1841 só
teve por fim acautelar eventualidades, emquanto se não completavão as 16:000
praças de linha votadas, e que por conseguinte não pôde haver necessidade
de tanto dinheiro, como se pede para a Guarda Nacional.
« 3.o Que não posso admittir os impostos, que se lembrão nos n.»s 6, 11
e 12, e que, ainda quando não impugno o de n.o 5, comtudo eu o propuz no
parecer da Secção de Fazenda de 14 de Outubro (1), combinado com uma re-
ducção nos direitos de exportação, e outras providencias.
« 4.o o melhoramento de nossas finanças só pôde vir dos direitos de impor-
tação, reducçâo de despezas, e economias amplamante feitas, o qae é muito
possível sem damno da causa publica, e mesmo sem ataque de algum direito
legalmente adquirido.
« Os direitos de importação devem ser variáveis segundo as circumstancias,
natureza da mercadoria, e vontade do legislador, ainda mesmo que se faça
algum tratado com o estrangeiro, porque nellcs não se pôde revogar a Consti-
tuiçiodo Império, nenhum tratado, em minha opinião, deve ser feito sem se
tomar por base o consumo de todos os nossos goneros pela Nação contractante,
um ônus superior áquelle que pagarem os nacionaes da mesma natureza; pa-
gamento dos direitos em moeda real de ouro e prata ou seu equivalente em
papel do Governo, e commercio de retalho e cabotagem exclusivamente para
os naturaes, ou naturalizados a quem o Governo o permittir.
« Para uma efficaz reducçâo de despezas e economia muito convirá que na
Lei do Orçamento se não introduzão disposições creando ou alterando Repar-
tições inteiras; disposições com que se illudem as Câmaras, por ficar encoberta
a importância dos novos ônus, que tem de recahir sobre a Nação, ecotn que
se adultera essencialmente a dita Lei, que regularmente não deve ser mais do
que um perfeito balanço do que tem de haver ou pagar a Nação em cada exer-
cício, para poder prover a seu bem, como fazem as casas particulares de mais
inferior previdência.
< Tamoem muito concDrrerá para o dito fim que o Governo procure por todos
os meios a seu alcance impedir que a retirada de alguns Membros da Câmara
dos Srs. Deputados prejudique a mais ampla discussão da Lei do Orçamento,
e a livre approvação por todos os ramos do Poder Legislativo, porque d'outro
modo é muito de receiar que a final o Senado não se veja forçado a approvar,
e o mesmo Poder Moderador a Sanccionar a inteira ruina do Paiz, ruina de que
já não estamos muito longe pela simples acção do primeiro meio empregado.
« Evitar semelhantes desordens, a que alguns tem chamado ordem: dar ao
Tribunal do Thesouro a attribuição de guarda responsável da Lei do Orça-
mento; ü circulação nacional a solidez necessária, para que as leis de finanças
não sejão uma zombaria nas mãos do agioteiro, e não se erija em principio
social a fraude dos devedores contra seus credores; dar á prosperidade e segu-
rança individual juizes, que não tenhao interesse em transigir por votos, e
autoridades, que não violentem e corrompão as eleições; abrir á mocidade
brasileira a carreira industrial e mercantil, hoje obstruída pelas leis, e pelos
Tratados, para que senão veja o Estado continuamente na necessidade de crear
novos empregos ou destruil-a nos campos da anarchia; ao trabalho nacional
mercados ricos e abundantes; e finalmente ser fiel á Constituição, e só gastar
o que fór indispensável á ordem publica; taes são os meios, que se me figurão
capazes de reduzir o déficit, fazer o povo feliz, e a V. M. Imperial Grande e
Olonoso: entretanto V. M. imperial Mandará o que fôr servido.
« Rio, 5 de Janeiro de 1813.—Manoel Alves Branco. »
(*) O Conselhode Estado em virtude desta Resolução deu sobre o assumpto o
seguinte parecer:
Senhor.—o Conselho de Estado na conferência do dia 4 do corrente mez exa-
minou attentamente o parecer das Secçôos, a que pertencem os Negócios da
;jj Vide no lugar compete»!? essa Consulta.
— 05 —

N. 17.— RESOLUÇÃO DE 29 DE MARÇO DE 1843.


Sobre a apprehensão da Barca Mary, e sua condemnação, por crime de
contrabando.

Senhor.—A Secção dè Fazenda do Conselho de Estado


examinou o processo da Barca Mary dos Estados-Unidos,
apprehendida neste Porto e condeninada pelo Inspector
interino da Alfândega e Tribunal do Thesouro por crime
de contrabando de 2.225 barris de pólvora estrangeira.
Sem duvida da existência do crime, que aliás parece
bem provada no processo, entende a Secção que a
Alfândega e Tribunal do Thesouro, nó caso de que
se trata, procederão na organização do processo e
julgamento sem a menor formula de direito.
Fazenda, Império e Estrangeiros, relativo aos meios de augmentar a receita
publica, e preencher o déficit actualmente conhecido, dando assim exacto cum-
primento a Resolução Imperial de 3 do mesmo mez exarada naqüelle parecer:
e conformando-se com as observações das mencionadas Secções, adopta os
meios por estas indicados para o sobredito fim. Mas Vossa Magestade Imperial
Resolverá como fôr mais acertado.
Deus Guarde a Vossa Magestade Imperial por muitos annos.—Rio de Janeiro,
Paço da Boa-Visla aos 4 de Janeiro de 1843.
São, Senhor;
De VOSSA MAGESTADE IMPERIAL
Muito reverentes e fieis subditos
Caetano Maria Lopes Gama.—Bispo de Anemuria.—Barão de Mont'Alegre.—
visconde de Olinda.—José cesario de Miranda Ribeiro.—Manoel Alves Branco.
(Com voto separado).
Forão votos os Srs. Conselheiros de Estado:
Honorio Hermeto carneiro Leão.—José Antônio da silva May a.—Francisco
cordeiro da Silva Torres.
José cesario de Miranda Ribeiro.
Além do voto separado do Sr. Conselheiro Alves Branco já acima transcripto,
houve o do Sr. Conselheiro Vasconcellos do teor seguinte:
Senhor. — Bom que concordasse em muitas das conclusões do parecer da
Secção mixta, não pude todavia votar por algumas dellas, como são—Tribunal
do Thesouro,— guarda responsável da Lei do Orçamento; e —Imposição sobre
o consummo dos gêneros produzidos no Paiz. — Já tive a honra de expender
perante Vossa Magestade Imperial as razões pelas quaes não julgava útil se-
melhante Tribunal, porque a ser independente do Ministro entorpecerá a
marcha deste, e se o não fôr não deferira dd actual senão no augmento de des-
pezas. Não comprehendendo como se possa estabelecer um imposto sobra
consumo, sem grande vexame dos contribuintes, nem esperando que o seu
producto justifique ao menos medida tão rigorosa, só me resolveria a appro-
yal-a, se a visse desenvolvida em um projecto, que desvanecesse minhas ap-
Dreliensõcs.
, Eis os motivos pelos quaes não assiguei o parecer da Secção mixta.
Paço, 1 de janeiro de 1843.—Êetnardo Pereira de vasconcellos.

Posto qnc não conste a Resolução Imperial tomada sobre esta Consulta do
Conselho da Estado pleno, todavia muitas ou grande parte das medidas pro-
postas pela Secção mixta forão incluídas na Lei de 38 de Outubro de 1843 e
putras mandadas pôr. era execução por actos do Governo, que constão das
collecção respectiva, e Sobre alguns dos quaes precedeu Consultar da*Seeçâe
ae fazenda doXohselho de'Esrado como se verá deste traballíOt • • .
9
— 66 —

Com effeito o Regulamento da Alfândega de 22 de


íunho de 1836 apenas estabelece o Juizo Administrativo
Summario, e a competência da Alfândega e Tribunal
do Thesouro no caso de contrabando, quando elle
é apanhado em flagrante nos portos onde ha Alfân-
degas, art. 284, ou onde as não ha, art. 294 ;e com
toda a razão, porque só a prova resultante do flagrante
)óde justificar os desvio das regras ordinárias, e a
Vevidade do processo excepcional, que se estabe-
eceu; e, como conste destes autos que o contrabando
ora perpetrado na Ilha de Santa Anna, ao Norte de
Cabo Frio, sem que fosse visto e menos seguido por
Official algum Fiscal, ou qualquer pessoa em acto
continuo até este porto, onde fôra descoberta e appre-
hendida a Barca, é manifesto que nem a Alfândega
nem o Tribunal era competente para julgal-o.
O caso, de que se trata, ficou sempre da compe-
tência dos Juizes ordinários geraes para todos os
crimes, até* que pela Lei de 3 de Dezembro de 1841
art. 17 ficou competindo ao Juizo Municipal segundo
as regras do processo commum.
Portanto é a Secção de parecer que todo o pro-
cesso deve ser remettido ao Juizo Municipal, para ser
competentemente julgado; Vossa Magestade Imperial,
porém, Mandará o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, 2 de Março de 1843.—Manoel Alves
'Branco.—Barão de MonVAlegre.
RESOLUÇÃO.

Examine-se em Conselho de Estado.


Paço em 29 de Março de 1843. (*)
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim Francisco Vianna.
(*) Sendo ouvido o Conselho de Estado pleno nos termos da Resolucç&o
deu o seguinte parecer:
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar por Sua
immediata Resolução de 39 do Março deste anno, que cm Conselho de
Estado fosse examinado o Parecer da Secção do Fazenda do mesmo Con-
selho, cujo teor é o seguinte:
— 67 —

N. 18.-RESOLUÇÃO DE 5 DE ABRIL DE 1843.

Sobre a duvida proposta pelo Presidente do Rio de Janeiro á Ordem n.° 86


de 23 de Outubro de 1642.

Senhor. — Manda Vossa Magestade Imperial que a


Secção de Fazenda interponha o seu parecer a respeito
da duvida, que propõe o Presidente da Província do
Rio de Janeiro, ao cumprimento da Ordem n.° 86 de

E tomada na devida consideração, depois de bem discutida esta matéria»


o sobredito parecer foi approvado pelo Conselho de Estado. Mas Vossa
Magestade Imperial Resolverá como achar em sua Alta Sabedoria que é
mais acertado.
Deus Guarde a Vossa Magestade Imperial por muitos annos.—Rio de
Janeiro 27 de Abril de 1843.—Caetano Maria Lopes Gama.—Francisco
Cordeiro da Silva Torres.—José Joaquim de Lima e Silva.—Visconde de
Olinda.—Bispo de Anemuria.—Barão de Monte Alegre.—Manoel Alves
Branco.—José Cesario de Miranda Ribeiro.
RESOLUÇÃO.

Expeça-se Decreto.—Paço cm 3 de Juuho de 1813.— Com a Rubrica de


Sua Magestade o Imperador.

Decreto expedido de conformidade com esta Resolução


Tendo ouvido o meu Conselho de Estado reunido sobre o parecer dado,
pela Secção do mesmo Conselho, a quem pertencem os Negócios da Fa-
zenda, relativamente á matéria do recurso interposto por Benjamim Duval
Clark Capitão da Barca Mary dos Estados-Uuidos da Decisão do Tribunal
do Thesouro Publico Nacional, que, confirmando a do Inspector da Al-
fândega desta Cidade, julgou bem apprehendida. e conderanada a dita
Barca pelo crime de. contrabando de 2.225 barris de pólvora estrangeira:
e Tendo-me conformado com o voto do referido Conselho, de Estado re-
unido em approvar o mencionado parecer da Secção de Fazenda: Hei
por bem Decretar que, revogadas, como por este ficao as Decisões de que
recorreu Benjamim Duval Clark Capitão da Barca Mary dos Estados-
Unidos, seja o processo remettido ao Juizo Municipal, para ser competente-
mente julgado.
Joaquim Francisco. Vianna, do Meu Conselho, Ministro e Secretario de
Estado dos Negócios da Fazenda e Presidente do Tribunal do Thesouro
Publico Nacional, o teuha assim entendido e faça executar com os des-
pachos necessários.
Palácio do Rio de Janeiro em 22 de Junhe de 1843,22." da Independência
e do Império.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador,— Joaquim Francisco
yianno.
— oo

23 de Outubro do corrente anno, cm que o Governo


declara, em additamento ás Instrucções de 12 de Maio,
que os empréstimos feitos aos particulares pelos cofres
dos Orphãos sem designação de tempo, devem en-
tender-se annuaes, e que por conseguinte devem
dar-se todos por acabados, par,a serçm recol.hi.das. as
quantias emprestadas, logo que acabar o anno actu.al,-
mente pendente.
A Secção está de perfeito aççordp nas razões que
offerece*o Presidente da Província do Rio de Janeiro,
que são as seguintes, a saber:
1,° Que a Lei que autorizou o Thesouro a tomar
por empréstimo as quantias existentes nos cofres dos
Orphãos, não podendo ter effeito retroactivo, não pôde
comprehender as quantias já emprestadas a particu-
lares.
2.° Que as quantias emprestadas a particulares sem
declaração de tempo, longe de se deverem entender
emprestadas só pelo espaço de um anno, se devem
entender emprestadas até* que os menores emanci-
pando-se, ou casando-se hajão de as receber.
3.° Que esta intelligencia tem sido constantemente
dada pelos Juizes dos Orphãos, que parecem ser os
competentes, e quando não seja a real, não é o Tri-
bunal do Thesouro, mas os Tribunaes de Justiça os
que devem decidir a questão, pois que ella toca a
matéria de contractos entre particulares.
A Secção acrescenta que não ha Lei alguma em
contrario a esta intelligencia pratica do contractp do
empréstimo feito pelos cofres dos Orphãos sem tempo
definido, e nem mesmo a de 17 de Janeiro de 1.757,,
que, além de só dizer respeito ao commercio marítimo,
apenas prohibe o, empréstimo por, menos, e não por
mais de um anno, que é o casa de que se trata,
íortanto é a Secção dç parecer que seja revogada
a Ordem acima, e que, em conformidade das razões
expendidas, sejão entendidos os contractos de emprés-
timos effectuados pelos cofres dos Orphãos sem tempo
definido, reputando-se feitos até a maioridade dos
menores, mas Vossa Magestade Imperial Mandará o
que fôr mais justo.
Rio de Janeiro» 16 de Março de 1843.— Manoel
Alves Branco.—Barão de Monl%Alegrc.
-«- 69 —
RESOLUÇÃO-.

Examine-se em Conselho de Estado.


Paço em 5. de Abril de 1843. (*)
Com a Rubrica de Sua. Magestade o imperador.

N.* 1 9 . ^ RESOLUÇÃO DE 29, DE MARÇO DE 1843.


Sobre o direita da Câmara Municipal da Corte para aforar terrenos de
marinhas.

Senhor.— E;m 10 de Setembro de 1833, conseguia


Francisco Ignacio Rodrigues da Municipalidade li-
cença para aterrar 15, braças quadradas de terreno
ajagadiço no, Porta de Mariângú, onde occupava suas
canoas, e abi formar u.n> cáes para si. e para o pu-
blico.
Obrigado a estas condições, fez o. aterro e cáes,
ejá ellee o. publico gozavão dessa vantagem, quando
as irmãs Mascarenhas mandarão pelo Juiz de Paz do

(*) Sendo ouvido, nos termos da Resolução, o Conselho de Estado pleno


deu o seguinte parecer:
Senhor.—Houve por bem Vossa Magestade Imperial ordenar por Sua
iminediata Resolução de 5 de Abril deste anno, que. em Conselho de Estado.
Tosse examinado o parecer da Secção de Fazenda do mesmo Conselho cujo
teor é o seguinte:

E v tomada na devida consideraçlo, e depois de bem discutida esta ma-


téria, o sobredito parecer foi approvado pelo Conselho de Estado. Mas Vossa
Magestade Imperial Resolverá como- achar em Sua Alta Sabedoria que é mais
acertado.
Deus Guarde a Vossa Magestade Imperial por muitos annos.—Rio de Ja-
neiro, 18 de Maio de 1843.—Bispo de Anenturia..—Barão de Monte Alegre.
.—Caetano Maria Lopes Gama.—Francisco Cordeiro da Silva Torres.—José
Joaquim de Lima e Silva.—Visconde de Qlinda.—José Cesario de Miranda
Ribeiro.
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço em 3 de Junho de 1843.—Com a Rubricade Sua


Magestade o. Imperador.
— /u —
Engenho Velho embargar a obra, fazendo-a demolir
por seus escravos com uma pequena cabana já alli
levantada, allegando estar o lugar comprehendido
entre aquclles que sempre li verão por limites de suas
fazendas.
Seguindo-se duhi um pleito, teve Francisco Ignacio
dous Accordãos em seu favor na Relação desta Corte,
mas, indo por revista á Relação de Pernambuco, deci-
dio-se procedente o embargo salvo o direito de quem
por meio legal e competente obtivesse o respectivo
aforameuto, o que parece querer dizer que o prin-
cipio de posse, que servio de fundamento ao Accor-
dão, não prejudique a quem houver de conseguir legal-
mente o aforamento, ou por outra faça-se o que se
quizer-
Antes de aqui chegar o Accordão, e no anno de
1837, requererão as irmãs Mascarenhas por aforamento
os terrenos de suas fazendas, que coufrontão com o
mar, mandáráo-se medir com reserva do concedido
a Francisco Ignàcio Rodrigues, depois do ultimo
Accordão o mesmo Rodrigues requereu o afora-
mento do terreno antigamente concedido, e elle lhe
é dado com as mesmas condições, entretanto re-
querem as irmãs Mascarenhas ordem á Câmara para
que se dê o titulo de aforamento do terreno, o The-
souro assim o ordena e a Câmara duvida cumprir.
Examinemos agora o ponto de direito a este res-
peito.
A Lei de 15 de Novembro do 1831 poz á disposi-
ção da Câmara Municipal os terrenos de marinhas
que estas reclamassem do Ministério da Fazenda ou
Presidentes para logradouros públicos. Pela manei-
ra por que se exprimio, o Ministro não pôde recu-i
sar ás Câmaras os terrenos, que reclamarem com
tanto que sejão de marinhas e tenhão o destino de
logradouro publico, salvo se o terreno já tiver sido
concedido a alguém, já tiver edificação.
Ora, a Câmara Municipal deu a Francisco Ignacio
Rodrigues um terreno de marinha e deu-o para es-
tabelecimento de um lagradouro publico, este terreno
não tinha edificação alguma nem eslava ainda con-
cedido a ninguém*. Como, pois, duvidar de que fora
muito bem dado e de que reclamado possa lhe ser
— 71 —

denegado pelo Governo, ou mandado dar a outrem ?


Isto seria obrar diametralmente contra a Lei. Mas diz-
se que as irmãs Mascarenhas tinhão posse antiga, pois
que sempre considerarão a marinha como limite de
suas fazendas: examinemos esta coarctada.
A única razão que apresentão as irmãs Mascarenhas
para fundar a sua posse é o serem senhoras da fa-
zenda limitada pela marinha, mas será isto bastante ?
Sabe-se que as marinhas por nossas Leis forão sem-
pre reservadas a logradouros públicos, e nunca se
reputarão concedidas sem acto especial. De mais que
actos possessorios mostrão ellas ter praticado na mari-
nha, que não praticasse o publico e esse mesmo con-
cessionário, pois que abi tinha suas canoas ? Não se
allega nem prova nenhum. E, quando os provasse, a
Lei não é favorável senão á posse provada por ti-
tulo de concessão especial da marinha ou por edi-
ficação sobre ella, casos únicos em que manda estipu-
lar e não pôr em leilão, que é o que se pôde en-
tender por aforamento segundo o maior interesse da
Fazenda Nacional. As irmãs Mascarenhas não se achão
em algum dos casos acima e, por conseguinte, nem
ao menos podião ter a marinha por estipulação, mas,
se a pretendessem, havião de conseguil-a em com-
petência com outros segundo o maior interesse da
Fazenda. H\*
Vejamos, agora, que apoio recebem as irmãs Mas-
carenhas da Lei, que se seguio sobre marinhas, que
.é a Lei de 3 de Outubro de 1834; ella diz: « ficão desde
já pertencendo á Câmara Municipal da Cidade do Rio
de Janeiro os rendimentos dos foros de marinhas na
comprehensão de seu Município, inclusive os do Mangue
da Cidade Nova, podendo aforar, para edificações, os
que ainda o não estiverem, reservados os que o Go-
verno destinar para estabelecimentos públicos, e salvo
o prejuízo que taes aforamentos possão causar aos
estabelecimentos da marinha nacional. » Pôde haver
nada de ;mais decisivo em favor do aforamento que
fez a Câmara Municipal do Rio de Janeiro a Francisco
Ignacio Rodrigues ?
O direito da Municipalidade de aforar os terrenos
de marinhas do Município só é limitado pela necessidade
que tenha delles o Governo para estabelecimentos
72
públicos, ou por prejuízos que possão causar àos esta-
belecimentos da marinha, circumstancias em que não
se acha o terreno aforado.
Note-se bem, pela Lei de 1831 era o Governo que
dispunha dos terrenos; a Câmara os podia reclamar
para logradouros públicos, e o Governo responder
declarando ser o terreno desembaraçado, oü não poder
ser dado para esse fim por haver concessão antiga
ou edificação nelle. Pela nova Lei é â própria Câmara
quem dispõe do terreno, participando-o assim, antes de
fechar o contraio, ao Governo, que não tem outra cousa
a responder senão que o terreno é ou não preciso
para estabelecimentos públicos, ou que sua concessão
pode fazer mal aos estabelecimentos de marinha na-
cional. Em qualquer deites casos está agora a ordem
do Governo que manda que a Câmara Municipal desta
Cidade dê por aforamento o terreno em questão ás
irmãs Mascarenhas, que não tem titulo de concessão,
que não tem edificação tio terreno, qüe não tencionão
lazer estabeleciinentó algum nacional, nem livrar os de
marinha dé algum prejuízo? E' evidente que nemhum;
logo é illegal e deve ser revogada, guardando a Câ-
mara inteiro o seu direito, como cumpre.
Mas diz-se que o Governo em 1835 ordenou que se
guardassem as posses, e que as irmãs Mascarenhas
têm em seu favor um Accordão da Relação de Per-
nambuco, que as declara de posse desse terreno.
Depois de ter mostrado que a Lei só favorece a posse
com titulo, oü ao menos com edificação no terreno, es-
cusava dizer mais nada sobre os dous documentos, que
se trazem como argumento, mas vejamos.
A Ordem de 30 de Agosto de 1835 manda que tenhão
preferencia no aforamento dos terrenos de marinhas,
não só os que ahi tiverem seus estabelecimentos de
trapiches, etc, mas também os que dos terrenos de
marinhas se acharem de posse pacifica na supposição
de lhes pertencerem e fazerem parte de suas fazendas, etc,
o que pela Ordem de 30 de Janeiro de 1836 se es-
tendia também áquelles que tivessem arrendado a
uma ou mais pessoas esses mesmos terrenos em todo
ou em parte para serem preferidos a seus arrenda-
tários. A primeira parte desta Ordem é legal, porque
exceptua dos aforamentos os terrenos edificados; ase-
gunda parte, porém, ou é directamcnte contraria á Lei,
ou deve ser entendida nos termos delia, isto é, com
o titulo de concessão e não por mera supposição, caso
em que não estão as irmãs Mascarenhas.
Pelo que diz respeito ao Accordão, que julgou va-
lido o embargo e a demolição da obra, vê-se que
elle é todo fundado nas Ordens acima e pareceres do
Sr. Procurador da Coroa, e comquanto decida -que
ha posse, comtudo não sendo d'aquellas que a Lei
dá preferencia, isto é, posse com concessão ou edifi-
cação e ficando por elle salvo o direito de quem houver
de obter o terreno pelos meios competentes, de nada
pôde servir ás irmãs Mascarenhas senão de allivial-as
de pagar o damno, que causarão a Francisco Ignacio
e ao publico na demolição do aterro e cáes primei-
ramente feitos.
Parece, pois, á Secção que o Governo, bem longe de
dizer á Câmara Municipal que dê o terreno ás irmãs
Mascarenhas, diga-lhe ao contrario que pôde aforar
o terreno em questão a quem lhe parecer, visto que
as irmãs Mascarenhas não têm titulo de concessão nem
têm edificação alguma no dito terreno e visto que o
Governo nem precisa delle para estabelecimento na-
cional nem a concessão pôde trazer prejuízo a esta-
belecimento da marinha; tal é o parecer da Secção
de Fazenda do Conselho de Estado, porém Vossa Ma-
gestade Imperial mandará o que fôr de mais justo.
Rio de Janeiro em 16 de Março de 1843.—Barão de
Monte Alegre.
RESOLUÇÃO.

Examine-se cm Conselho de Estado.


Paço em 29 de Março de 1843. (*)
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
(*) Ouvido o Conselho de Estado pleno nos termos da Resolução, deu o pa-
recer seguinte:
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar por sua im-
nicdiata Resolução de 29 de Março deste anno que em Conselho de Estado
fo»se examinado o parecer da Secção de Fazenda do mesmo Conselho, cujo
teor é o seguinte:

10
— 74 —

S, 20.—RESOLUÇÃO DE 29 ABRIL ÜE 1843.

Sobre as Leis provinciaes de Santa Catharina, promulgadas em 1812.

Senhor.—A Secção de Fazenda do Conselho de Es-


tado examinou mui cuidadosamente as Leis, que na
sessão do próximo passado anno de 1842, fez a As-
sembléa Legislativa da Província de Santa Catharina,
que de ordem de Vossa Magestade Imperial lhe forão
submettidas e nellas não achou cousa alguma exor-
bitante de suas attribuições.
Verdade é que a Lei n.° 165 de 22 de Março, pela
qual a dita Assembléa manda conceder privilegio ex-
clusivo até 10 annos para o indivíduo, companhia, ou
corporação religiosa, que com mais favoráveis con-
dições apresentar na cidade do Desterro carros fúnebres
de aluguel, pôde soffrer alguma duvida, mas, quaes-
quer que sejão os fundamentos delia, cessão elles á
vista de mais de um acto do Poder Legislativo do Im-
pério, que tem reconhecido nas Assembléas Provinciaes
o direito de conceder privilégios exclusivos de muito
maior monta, uma vez que não transcendão das res-
pectivas Províncias e não firão Leis geraes.
Entre outros exemplos a Secção de Fazenda lembra
a Resolução de 29 de Outubro de 1838, em cujo art. 1.o
se achão as seguintes palavras : Ficão approvadas na
parte que excedem as attribuições das Assembléas Pro-
vineiaes, as disposições conteúdas nos seguintes artigos
de uma resolução adoptada pela Assembléa Provincial

E tomada na devida consideração, e depois de bem discutida esta ma-


téria, o sobredito parecer foi approvado pelo Conselho de Estado. Mas Vossa
Magestade Imperial resolverá, como achar cm sua alta sabedoria, o que é
mais acertado.
Deus Guarde a Vossa Magestade Imperial por muitos annos.—Rio de Ja-
neiro em 27 de Abril de 1843.— Caetano Maria Lopes Gama.—Visconde de
Olinda.—Francisco Cordeiro da Silva Torres.—José Joaquim de Lima e
Silva.—Bispo de Annemuria.— Barão de Monte-Alegre.—Manoel Alves
Branco.—José Cesario de Miranda Ribeiro.

BESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço em 3 de Junho de 1843.—Com a Rubrica de Sua


Magestade o Imperador.
— 75 —
de S. Paulo em data de 22 de Março do corrente anno
pela qual foi concedido a Aguiar, Viuva, Filhos & Comp.,
Plat Reid & Comp. privilegio exclusivo para a cons-
trucção de uma estrada de ferro na referida Província.
O 'Poder Legislativo deu por bom e valioso o pri-
vilegio exclusivo, concedido pela Assembléa Provincial
de S. Paulo e sua approvação recahio meramente sobre
o art. 3.°, que concede o direito de cidadão brasileiro
aos colonos que trouxesse a companhia e sobre os arts.
8.°, 9.° e 10, etc, em que se concedem terras, isenção
de direitos de importação, pagamento de dízimos, etc.
E' evidente que o exclusivo, de que trata a Lei n.° 165
da Assembléa de Santa Catharina nem transcende a
outra Província, nem fere alguma Lei geral.
A' face do exposto é a Secção de Fazenda do Con-
selho de Estado de parecer que nada ha o Governo
Imperial que fazer acerca das Leis, que a Assembléa
Legislativa da Província de Santa Catharina fez na
Secção de 1842; Vossa Magestade Imperial, porém, man-
dará o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro em 17 de Março de 1843.— Barão de
Monte-Alegre.—Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Examine-se em Conselho de Estado.


Paço em 29 de Abril de 1843.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

N. 21.—RESOLUÇÃO DE 29 DE ABRIL DE 1843.


fobrc as Leis provinciaes da Bahia promulgadas no anno de 18 í 2.

Senhor.— A Secção de Fazendu do Conselho de Es-


tado, depois de bem examinar os actos da Assembléa Le-
gsilativa da Província da Bahia no anno de 1842. tem a
honra de apresentar a Vossa Magestade Imperial o seu
parecer, que é o seguinte :
— 76 —

A Secção entende que a excepção da 2.a parte do


§ 12 do" art. 2.° da Lei n.° 179 de 20 de Junho do
anno passado, elevando á quantia de 100#000 o im-
posto provincial sobre casas de cambio e venda de
espiritos fortes pertencentes aos estrangeiros, nada ha
mais nas ditas Leis, que se possa taxar de exorbi-
tante e fora das attribuições daquella Assembléa.
E' verdade que a disposição do art. 9.° da mesma
Lei, pela qual são dispensados de entrar para os cofres
provinciaes com a metade da divida de 44:000$000 os
arrematantes dos dízimos de miunças, pescado e gado
no triennio de 1820 a 1823, parece êm contradicçâo ao
disposto no Regulamento de 4 de Abril de 1837* mas,
sendo mui conforme com a Lei de 31 de Dezembro
de 1835, art. 2l,que deu ás Províncias a metade da
divida activa proveniente de impostos provinciaes e
a que aquelle Regulamento deu uma intelligencia muito
arredada da verdadeira, não pôde elle servir de argu-
mento contra a dita Lei da Assembléa Provincial, de-
vendo ao contrario revogar-se o mesmo Regulamento.
Tal é o parecer da Secção, mas Vossa Magestade Im-
perial mandará o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro em 16 de Abril de 1843.—Barão de
Monte-Alegre.—Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Remetta-se á Assembléa Geral Legislativa.


Paço em 29 de Abril de 1843.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

N. 22.—RESOLUÇÃO DE 17 DE JUNHO DE 1843.


Sobre a força obrigatória do Decreto de 15 de Novembro de 1812, n. 247 cm
relação aos empregados provinciaes.

Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem


mandar ouvir a Secção de Fazenda do Conselho de Es-
— 77 —

'ado sobre a duvida, que tem occorrido, de serem ou não


extensivas aos empregados provinciaes as disposições
do Decreto de 15 de Novembro de 1842, n.° 247.
E' opinião da Secção que taes disposições não são
nem podem ser appíicaveis aos empregados Provin-
ciaes.
Vossa Magestade Imperial, porém, se dignará resolver
como julgar mais justo.
Rio de Janeiro em 12 de Junho de 1843.*-Manoc/
Alves Branco.—Barão de Monte Alegre.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço em 17 de Junho de 1843. (*)
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim Francisco Vinnna.

N. 23.—RESOLUÇÃO DE 17 DE JUNHO DE 1843.


Sobre as Leis provinciaes do Rio Grande do Norte promulgadas no anno
de 1841.

Senhor.—Examinando os actos legislativos da As-


sembléa da Província do Rio Grande do Norte pro-
mulgados no anno de 1841, a Secção de Fazenda do
Conselho de Estado não encontrou cousa alguma, que
oífensiva seja do Acto Addicional, podendo comtudo
duvidar-se da regularidade do art. 2.°§§1.° e 15 da
Lei do Orçamento Provincial de 11 de Novembro, n. 76;
entende, porém, que estando a Assembléa Geral aberta,
o Governo a devia consultar sobre este e sobre pontos
semelhantes.

(*) Em conformidade da Imperial Resolução se espedio pelo Ministério


da Fazenda a Ordem n. 31 de 21 de Junho de 1843. declarando que as
disposições do Decreto de 15de. Novembro de 1842, n.» 217, não são nem
podem'ser appíicaveis aos empregados prownciacs.
— 78 —

Vosssa Magestade Imperial, porém, resolverá como


lhe parecer conveniente.
Rio de Janeiro em 12 de Junho de 1843.—Manoel
Alves Branco.—Barão de Monte-Alegre.
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço em 17 de Junho de 1843.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaqiiim Francisco Vianna.

N. 24.—CONSULTA DE 20 DE JUNHO DE 1843.


Sobre a ingerência dos Cônsules Estrangeiros na arrecadação dos bens dos
subditos de sua nação fallecidos no Império.

Senhor.— A Secção de Fazenda do Conselho de Estado


lendo de novo examinado os papeis relativos a inge-
rência dos Cônsules Estrangeiros na arrecadação e
administração dos bens dos seus respectivos subditos
fallecidos no Império, sobre que já havia dado pare-
cer em 7 de Outubro do anno passado e a respeito do
que foi ouvida também a Secção dos Negócios Estran-
geiros, apresenta a Vossa Magestade Imperial os pare-
ceres de eada um de seus dous actuaes membros por
isso que não são inteiramente conformes a fim de que
Vossa Magestade Imperial Haja de resolver na sua
Alta Sabedoria como julgar mais acertado.
Rio de Janeiro em 20 de Junho de 1843.—Barão de
Monte-Alegre.— Manoel Alves Branco.
- 79 -
N.° 25.—RESOLUÇÃO DE 21 DE JUNHO DE 1843.
Sobre a suspensão imposta pelo Presidente da Província do Maranhão ao
respectivo Inspector da Thesouraria de Fazenda, por não ter tomado assento
na Assembléa Provincial.

Senhor.—A Secção de Fazenda do Conselho de Estado


a que Yossa Magestade Imperial Houve por bem Mandar
remetter o officio do Presidente da Província do Mara-
nhão Venancio José Lisboa participando haver mandado
suspender o Inspector da Thesouraria da Província por
não ter tomado assento, como Deputado, na Assembléa
Provincial e mais papeis relativos, é inteiramente do
parecer do Conselheiro Procurador Fiscal do Tribunal
do Thesouro Publico Nacional, que sobre esta questão
respondeu o seguinte.
« Não posso julgar o Presidente da Província do Mara-
« nhão assistido de bastante razão para dar-se por
« desacatado, com offensa da sua dignidade, pelo que
« se acha escripto nos ditos officios de 26 de Novembro
« e 1.° de Dezembro de 1842 do Inspector daThesou-
« raria da mesma Província, que aliás respeitou e cum-
« prio as suas ordens a que obedeceu. Por quanto se
« o Presidente da Província pelo officio de 24 de No-
« vembro lhe fez saber que era mister o informasse do
« motivo por que havia deixado de reunir-se á Assem-
« bléa Provincial, de que era membro, vê-se que o
« Inspector promptamenle. cumprio, e expondo no seu
« officio de 26 do mesmo mez os motivos, que suppu-
« nha legítimos para o sustentar na deliberação cm
« que estava de não reunir-se á dita Assembléa, e se
« nessa exposição foi algum tanto mais prolixo, e expli-
« cito do que b Presidente entendia preciso, nem por
« isso faltou ao respeita e decoro devido ao seu su-
« perior, a cuja exigência satisfazia, e deveria esperar
« uma mais prudente tolerância a respeito da infor-
« mação, que lhe pedira posto que com ella se não
« conformasse.
« Se o Presidente, porque não julgara procedentes os
« expostos motivos por que o Inspector deixara de
« reunir-se á Assembléa Legislativa Provincial, lhe
« ordenou definitivamente pelo officio de 29 de Novem-
« bro, que cessasse o exercício de seu emprego* é certo
« que este promptamenle obedeceu, como declara o
— su

« mesmo Presidente neste officio, e se no oificio em


« que o Inspector certificou, no 1.° de Dezembro, que
« deixava de continuar no exercício do seu emprego,
« seria dispensável a insistência nos princípios já desat-
« tendidos pelo Presidente, não me parece com tudo
« que delia, ou da maneira por que foi enunciada, se
« deduza tão grave offensa e desacato, como se figura.
« Além disto parece-me que não é da competência
« do Ministério dos Negócios da Fazenda, ou Tribunal
« do Thesouro reconhecer e julgar da relevância das
« razões, em que o Inspector da Thesouraria apoiava
« seu procedimento.»
Vossa Magestade Imperial Se Dignará resolver como
julgar mais acertado.
Rio de Janeiro em 12 de Junho de 1843.—Manoel
Alves Branco.—Barão de Monte-Alegre.
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço em 21 de Junho de 1843.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim Francisco Vianna.

N.° 26.—RESOLUÇÃO DE 21 DE JUNHO DE 1843.


Sobre a apprchensflo de duas caixas com seda pelo Guarda-Mór da Alfân-
dega da Corte.

Senhor.— Forão apprehendidas pelo Guarda-Mór da


Alfândega desta Corte duas caixas com 27 peças de sarja
de seda, desembarcada da Galera Hespanhola Horten-
cia, sem que a parte interessada fizesse requerimento
para as descarregar da dita Galera, que estava em fran-
quia, e sem ter tirado bilhete de descarga pela Repar-
tição, competente postoque no bote, em que forão
desembarcadas taes fazendas, viesse um Guarda da
Alfândega.
— 81 —
O Inspector da Alfândega julgou bem feita a apprehen-
são e o Tribunal do Thesouro confirmou a sentença do
Inspector.
Destas decisões recorre para o Conselho de Estado
Manoel Martins Hurtado, consignatario das ditas fa-
zendas, allegando que não tivera intenção de as sub-
trahir aos direitos, que as desembarcara assim por
ignorância e por enganado pelo Guarda, que as acom-
panhava, o qual Guarda já havia denunciado ao Guarda-
Mór que fora peitado pelo recorrente, etc.
A Secção de Fazenda do Conselho de Estado entende
que está provadissimo o contrabando, que não vale
nem é provada a defeza do Recorrente, e que conse-
guintemente sejão confirmadas as sentenças, de que se
recorre.
Vossa Magestade Imperial porém mandará o que fôr
justo.
Rio de Janeiro em 11 de Junho de 1843.— Barão de
Monte-Alegre.—Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Como parece. Paço em 21 de Junho de 1843.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

N. 27.—RESOLUÇÃO DE 28 DE JUNHO DE 1843.!


Sobre a Lei Provincial das Alagoas de 23 de Abril de 1842, n.° 8.

Senhor.—Na Secção de Fazenda do Conselho de


Estado se examinarão os papeis juntos relativos ás
duvidas, que têm occorrido na execução dos arts. 9,
10, 11 e 12, da Lei Provincial das Alagoas de 23 de
Abril de 1842 n.° 8, que estabeleceu algumas medidas
de fiscalização sobre os gêneros sujeitos a direitos
Provinciaes, cobrados nas de Pernambuco e Bahia, e
è o seu parecer, que nenhuma Assembléa Provincial
tem direito de fazer, nem os seus Presidentes de
n
•sanccionarem leis, que passem a ser executadas ern
outras Províncias ; competindo-lhes somente o direito
de representar ao Governo Geral o mal que soffre
de outra Província para ser providenciado pelo mesmo
Governo como bem parecer, e que portanto deve or-
denar-se que os Presidentes da Bahia e Pernambuco
não consintão o que até hoje se tem praticado pelos
Agentes da Província das Alagoas, que devem ser
•cohibidos.
Vossa Magestade Imperial porém em Sua Sabedoria
Resolverá como julgar mais acertado.
Rio de Janeiro, 12 de Junho de 1843.— Barão de
Monte-Alegre.—Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Rio 28 de Junho de Í843.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim Francisco Yianna.

N. 28.—CONSULTA DE 7 DE DEZEMBRO DE 1843.


Sobre leis Provinciaes de Pernambuco e Santa Catharina.

Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial, ouvido


o 'Conselho de Estado, que os Presidentes de Pernam-
buco e Santa Catharina suspendessem a execução de
varias disposições Legislativas daquellas Províncias,
-que na imposição de alguns tributos excederão as
attribuições, que a lei confere ás Assembléas Pro-
vinciaes; mas esses Presidentes representarão que
se vião embaraçados no cumprimento de taes ordens,
porque, não sendo expresso e muito claro na Lei de
42 de Agosto de 1834 o direito do Governo Geral de
suspender os actos Legislativos Provinciaes, pôde isso
dar origem a conflictos, sempre damnosos, entre os
Presidentes e as Assembléas.
— 83 —

A Secção de Fazenda do Conselho de Estado acha


muito peso nas razões expendidas pelos ditos Pre-
sidentes, posto que muito convencida de que o Go-
verno Geral deve ter o direito de suspender taes actos
exorbitantes, como já teve a honra de expor a Vossa
Magestade Imperial em outra oceasião, tratando da
suspensão de um artigo da lei da Província da Bahia,
que impõe 5 % nos Empregados Geraes, e por isso:
E' de parecer que esta matéria seja levada á As-
sembléa Geral, que poderá estabelecer regras que
tirem todas as duvidas a respeito e firmem o direito
do Governo.
Vossa Magestade Imperial Mandará o que fôr mais
justo.
Rio de Janeiro, 7 de Dezembro de 1843.—Visconde
de Monte-Alegre.—Manoel Alves Branco.— Visconde
de Abrantes.

N. 29.—RESOLUÇÃO DE 13 DE DEZEMBRO DE 18i3. '

Sobre a reforma do art. 551 "do Regulamento de 22 de Junho de I83S.

Senhor.—Manda Vossa Magestade Imperial que a


Secção de Fazenda do Conselho de Estado interponha
seu parecer sobre a possibilidade e importância da
reforma do art. 251 do Regulamento de 22 de Junho
de'1836, decretando-se que se facão as Pautas das
Alfândegas, e arrecadem os direitos pelos preços do
mercado sem dedücção alguma.
Ainda quando pareça que a alteração do Regula-
mento nesta parte nãò seria opposta á letra dos Tra-
tados, que acabarão, e mesmo do que ainda continua,
comtudo, considerando-se mais attentamente o objecto.
ver-se-ha que uma tal deliberação seria não só
offensiva do mesmo e injusta, como também de mui
duvidosa conveniencra aos corres do- Estado. • * •: ;
' Seria òfferisiva dó Tratado e injusta porque téndo se
nelle estipulado somente o pagamento de 15 % sobre»
— 84 —
O valor das mercadorias, bem longe disto virião elfas
a pagar Dão só os 15% do seu valor como também
15% dos direitos pagos por ellas ao Governo, quan-
tia que .não devendo ser considerada senão como
direitos, virião estes a importar cm muito maior quota
do que fora estipulada.
Seria de mui duvidosa conveniência aos cofres pú-
blicos, porque obrigaria a fazer nos Portos maritimos
do Império uma Pauta diária ou pelo menos semanal,
ou mensal, o que a par das maiores difficuldades poria
as rendas das Alfândegas á descripção de empregados ou
arbitradores infiéis, promoveria a immoralidade e
prevaricação, e mui provavelmente com o tempo teria
o triste effeito de diminuir mais a nossa insufficiente
receita; o que se diz das Pautas semanaes dos Con-
sulados de algumas Praças do Império nos deve servir
de aviso contra semelhante syslema.
Tal é, Senhor, o parecer da Secção de Fazenda do
Conselho de Estado, Vossa Magestade Imperial porém
Mandará o que fôr servido.
Rio de Janeiro, 30 de Novembro de 1843.—Visconde
de Abrantes.—Manoel Alves Branco.— Visconde de
Monte-Alegre.

RESOLUÇÃO.'

Examine-se em Conselho de Estado.—Paço em 13


de Dezembro de 1843 (*).

Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

(*) Ouvido o Conselho de Estado pleno conforme a Resolução foi seu pa-
recer o seguinte:
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem Ordenar, por sua
immediata Resolução de 13 de Dezembro do anno passado, que fosse exa-
minado em Conselho de Estado o Parecer da Secção de Fazenda do mesmo
Conselho cujo teor é o seguinte:

E tomada n,i devida considcraçSo, c depois de bem discutida, esta matéria,


o sobredito parecer foi approrado pelo Conselho de Estado, mas Vossa
- 85 —
N.° 30.-RESOLUÇÃO DE 13 DE DEZEMBRO DE 1843.
Sobre a lei Provincial da Bahia, que onera os empregados Geraes com
direitos de 5 °/0

Senhor.—Em 7 de Outubro do anno passado expe-


dio o Governo ordem a Província da Bahia para sus-
pender-se a execução da lei Provincial que onera os
empregados Geraes com o imposto de 5 % .
O Presidente daquella Província não executou a
ordem e respondeu com uma representação do Pro-
curador Fiscal, que, sustentando que a Asse*mbléa Pro-
vincial não tem direito de impor nos empregados
Geraes, nega todavia ao Governo Geral o direito de
suspender uma lei Provincial, que os onera, porque
o art. 20 da de 12 de Agosto de 1S34, addicional á
Constituição do Império, lh'o não confere expressa-
mente; posto que determine a remessa dos actos Le-
gislativos Provinciaes á Assembléa Geral e ao Governo
afim de se examinar se offendem á Constituição, os
impostos geraes, os direitos das outras Províncias e
os Tratados.
A Secção de Fazenda-do Conselho de Estado aquém de
ordem de Vossa Magestade Imperial foi enviado este ne-
gocio, entende que impor nos empregados Geraes é fora
das attribuições das Assembléas Provinciaes, que o
Governo Geral deve ter o direito de suspender a exe-
cução das leis Provinciaes exorbitantes, porque se o
não tiver fica sem objecto a remessa, que d citado

Magestade Imperial Resolverá como achar em sua Alta Sabedoria que é


mais acertado.
Sala das SessOes do Conselho de Estado em 18 de Janeiro de 1844.—
José Joaquim de Lima e Silva.—Caetano Maria Lopes Gama.—Francisco
Cordeiro da Silva Torrei.— Visconde de Monte Alegre.—Visconde de
Abrantes.—José Cesario de Miranda Ribeiro.
ForSo votos os Srs.:
Conselheiros Visconde de Olinda e Vasconcellos.
Miranda Ribeiro.
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço em 20 de Fevereiro de 1844.—Com a Rubrica de


Sua Magestade o Imperador.
— 86 —

art. 20 determina que se faça ao Governo; c nem


este pôde impedir os males resultantes do excesso das
Assembléas Provinciaes.
Porém visto que não é esse direito claro c expresso
na lei, e podendo lambem seguir-se delle abusos c
conílictos, é de parecer a Secção de Fazenda do Con-
selho de Estado que quanto antes se consulte á As-
sembléa Geral, a qual por interpretação poderá esta-
belecer regras, que garantão os direitos do Governo
Geral e dos Provinciaes.
Mas Vossa Magestade Imperial mandará o que fôr
mais justo.
Rio de Janeiro em 30 de Novembro de 1843.—Barão
de Monte-Alegre. — Manoel Alces Branco — Visconde
üe Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Examine-se em Conselho de Estado.—Paço em 13 de


Dezembro de 1843.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

N.° 31.—RESOLUÇÃO DE 16 DE DEZEMBRO DE 1843.


Sobre a suspensão de leis Provinciaes de Pernambuco c Santa Catharina.*

Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial, ouvido


o seu Conselho de Estado, que os Presidentes de Per-
nambuco e de Santa Catharina suspendessem a execução
de varias disposições legislativas daquellas Províncias
que, na imposição de alguns tributos excederão as
attribuições que* a lei confere ás Assembléas Provin-
ciaes; mas estes Presidentes representarão que se
vião embaraçados no cumprimento de taes ordens,
porque não sendo expresso e muito claro na Lei de
12 de Agosto de 1834 o direito do,Governo Geral de
suspender os actos Legislativos Provinciaes, pôde isset
— 87 —

dar origem a conílictos sempre damnosos entre os


Presidentes e as Assembléas.
A Secção de Fazenda do Conselho de Estado acha
muito peso nas razões expendidas pelos ditos Presi-
dentes posto que muito convencida de que o Governo
Geral deve ler o direito de suspender taes actos exor-
bitantes, como já teve a honra de expor a Vossa Ma-
gestade Imperial, em outra occasiáo, tratando da sus-
pensão de um artigo de lei da Província da Bahia,
que impõe 5 % nos empregados Geraes, e por isso é
de parecer que esta matéria seja levada á Assembléa
Geral, que poderá estabelecer regras que tirem todas
as duvidas a respeito e firmem o direito do Governo.
Vossa Magestade Imperial mandará o que fôr mais
justo.
Rio de Janeiro em 27 de Novembro de 1843.—Vis-
conde de Monte-Alegre.—Manoel Alves Branco.—Vis-
conde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Seja examinado em Conselho de Estado.—Paço em


16 de Dezembro de 1843.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim Francisco Vianna.

N. 32.—RESOLUÇÃO DE 16 DE DEZEMBRO DE 1843.


Sobre os meios de promover a colonisaçao, inclusive o desconto da an«
coragem em favor dos navios, que trouxerem colonos.

Senhor.—As Secções do Conselho de Estado dos Ne-


gócios do Império* e Fazenda vêm apresentar a Vossa
Magestade Imperial seu parecer sobre as bases, que
se devêm marcar para o desconto da ancoragem em
favor dos navios, que trouxerem colonos, bem como
sobre as qualidades que estes devem ter na fôrma
— 88 —

do § 4.°, art. 8.° da Lei n.° 317 de 20 de Outubro


de 1843.'
E' profunda convicção das Secções, que, se fôr
exactamente conhecido o Brasil entre as Nações es-
trangeiras, que regorgitão de braços e capitães, a
elle affluiráõ uns e outros, attrahidos pelas immensas
vantagens, que viráõ aqui desfructar. Releva pois ao
Governo Imperial recommendar aos seus Agentes nos
paizes estrangeiros, que se desvelem em propagar
por todas as classes da sociedade o conhecimento
da posição geographica do Império, e de sua extensão,
de seus portos, rios navegáveis, salubridade, isenção
de flagellos naturaes, fertilidade de seu solo, pro-
veito e salários dos capitães e trabalhos empregados
nelle e nas manufacturas, e a capacidade para em-
prego de muitos mais capitães e trabalhos, se não
com maiores, ao menos com as mesmas vantagens.
Era verdade, qual será o europeu ou asiático pouco
abastado, ou que procure augmentar a sua fortuna,
que não corra para o Brasil, tendo a certeza de que
receberá do Governo toda a protecção compativel com
a mantença da ordem e de suas'instituições livres;
que vem habitar um paiz extenso, que comprehende
de Norte a Sul mais de 650 léguas, e mais de 300
de Leste a Oeste, sob climas tão difíerentes que pode
escolher o mais adaptado ao seu temperamento, e
saúde; que ainda não foi devastado por uma só
epidemia, de cuja existência não ha noticia nem pre-
sentemente nem desde que foi descoberto, e povoado ;
que pôde empregar seus capitães já na pesca de que
abunda sua immensa costa, já nas terras cuja fertili-
dade se não é superior a todas conhecidas, a nenhuma
é inferior; sem receio de terremotos, tempestades, e
outros flagellos naturaes, que em outros paizes fre-
qüentemente arruinão tantos estabelecimentos, planta-
ções e fortunas; já nas suas ricas minas e criação
de animaes úteis ao homem, já em manufacturas, em
euja creação e augmento tanto se desvela o Governo,
e para as mais importantes das quaes existe já grande
cópia de matérias primas, já finalmente em a nave-
gação tanto interior como exterior, que muito facilitão
exlensissimos rios, vastíssimos portos, que se de-
mandão e entrão sem auxilio de Piloto nem risco de
— 89 —
naufrágios, tanto pela raridade dos temporaes, como
de correntes, e baixios ?
Se a população e riqueza do Brasil não tem pros-
perado mais do que a dos mesmos Estados-Unidos da
America do Norte, não é porque não offereça elle
muito maiores vantagens do que aquella Republica; é
sim porque (com dôr o reconhecem as Secções] não
tem o Governo dirigido sua attenção a este objecto,
sem duvida o de primeira necessidade para o Im-
pério : é tempo de arripiar carreira. Digne-se Vossa
Magestade Imperial assignalar o seu Reinado pro-
movendo a vinda de trabalho e capitães estrangeiros,
e dentro de pouco tempo o Brasil será elevado ao
auge de grandeza e civilisação para que o talhou a
natureza.
Releva que os Agentes do Governo nos paizes es-
trangeiros não se limitem a diffundir conhecimento
do Brasil, mas que tenhão a peito principalmente
rebater as falsidades, que o espirito de partido, ciúme
e interesses encontrados soem assacar.
Não está o Império livre de inimigos externos,
tanto de suas Instituições e leis, como. de sua pros-
peridade, que ameaça algumas poderosas Nações da
Europa, e indubitavelmente são estes os mais irre-
conciliaveis. As Secções receião que apenas forem
conhecidas dessas Nações as providencias colonisa-
doras do Governo Imperial, e principalmente quando
de todas as partes se dirigir para este Império a
torrente da emigração, publicarão milhares de jornaes
e folhetos com o intuito de desacreditar o Império
despintando factos, e figurando os colonos no mais
abjecto estado de miséria", e oppressão e os capitães
e industria sem emprego, e cercados de infinitos
perigos. Cumpre pois estar apercebido para debellar
essa infallivel cruzada.
Posto que seja geralmenle sentida a grande falta
de braços para continuar a producção dos terrenos
e capitães sem actual emprego, cumpre todavia pôr
na selecção dos colonos, cuja passagem fôr paga pelo
Governo,* a mais desvelada diligencia, a fim de que, em
vez de benéficos promotores da industria, não venhão
e ser a ella e ao Estado onerosos. Antes nenhum do
que o colono immorigero, que venha especular com
12
— 90 —
a ociosidade e crimes ; bem que não perigosos, pouco
podem interessar os débeis, achacados ou velhos;
inda com a melhor vontade, acanhado e não o melhor
serviço prestarão. O colono moço, morigerado, ro-
busto*, e saudável custa a mesma* despeza e promelte
mais trabalho, melhor e por mais tempo do que
aquelles em quem não concorrem todas estas quali-
dades. Sem duvida que a idade a mais própria é a
da nubilidade, e deve sempre ser dada preferencia
ao casado; dá-se no homem quando toma estado
uma revolução, que lhe faz ter sempre presente o
futuro de seus filhos, e o leva a empresas, em que
desenvolve a energia e constância, que muito contri-
buem para o seu bem estar e progresso da industria
do paiz em que-vivem.
- Nem é maior a despeza com a passagem da mulher,
nem menos valioso o seu trabalho: está demonstra-
do que dous homens occupados ao mesmo tempo
no seu serviço doméstico e no de seus amos fazem
tanto trabalho, quando muito, como um só exclusiva-
mente empregado em ganhar jornal, tendo uma
mulher, que se encarregue de toda a occupição do-
mestica como lavar, cozinhar coser, etc.
Escusado é oecupar a altenção a Vossa Magestade Im-
perial com as desordens, que são de recciar cm um paiz
em que é muito menor o numero das mulheres, que o
dos homens, e principião as Secções a conceber al-
gumas apprehensões observando que milhares de ho-
mens são annualmcnle importados no Império sem que
sejão acompanhados nem de uma vigésima parle de
mulheres. Recommenda ainda mais este syslema
a consideração de que por meio delle é licito an-
tever um futuro, não mui remoto, em que o Brasil
ponha termo aos sacrifícios, que lhe vai custar a im-
portação de braços. Finalmente cabe observar que
a importação de meninos é mais incommoda na via-
gem pelo circumscripto espaço em que tem de accom-
modar-se e em terra por terem de pesar sobre o
Governo a quem incumbirá o cuidado de sua edu-
cação, até que possão prestar serviço de que subsistão :
haja excepção para os pais dentro de 37 a 50 annos
que trouxerem filhos na razão de um por 4 annos
de idade os quaes se devem principiar a contar dos
— 91 —
vinte e um annos, aproveitando este favor só ao pai
que trouxer pelo menos quatro filhos.
Exigindo os serviços agricolas lavradores e pastores
e nas circumstancias presentes carpinteiros, pedreiros
e ferreiros serão estes preferidos para a emigração;
mas importa que os officiaes não sejão dos empre-
gados em officinas em que esrefa admittida divisão
do trabalho; porque a não terem elles capacidade para
todo o serviço, que se exige de qualquer destes offi-
ciaes, pouco ou nada poderão prestar. O governo
que paga a passagem do colono, não exigirá delle com-
pensação alguma, que não seja a de trabalhar por três
annos nos serviços para que tiver declarado vocação
e habilidade no seu paiz natal, não podendo aban-
donar o Brasil nem dar-se a diverso emprego sem que
satisfaça a despeza, que custou o seu transporte. Deve
pois ser livre ao colono trabalhar com quem e por
conta de quem quizer, embora tenha feito fora do Brasil
quaesquer contractos, em que se haja obrigado apagar
qualquer quantia, ou prestar quaesquer serviços. O
Governo Imperial não reconhecendo taes contractos;
porque delles nenhum beneficio espera, nem para os
colonos, nem para os progressos da civilisação, deve
prestar-lhes a necessária protecção contra todos que
por tal pretexto o vexem e oppíimão.
' As Secções entendem que se deve lixar o preço da
passagem dos colonos, que vierem de diversos portos do
mundo, a fim de ser descontado na importância do im-
posto de ancoragem que tem de pagar os navios, que
os conduzirem. Este desconto porém não terá lugar,
se os colonos não tiverem as qualidades requeridas
attestadas pelos Agentes da colonisação, a quem o Go-
verno Brasileiro tiver incumbido promovel-a nos paizes
estrangeiros, bem como se não chegarem sãos e salvos no
porto do desembarque.
As Secções reputào revogado o art. 18 da Lei de
31 de Outubro de 1835, que isentou do direito deanr
coragem as embarcações, que conduzirem mais de 100
colonos brancos, pela do orçamento do corrente anno;
pois que esta manda que se desconte na ancoragem
do navio, que trouxer colonos uma quantia propor-
cional ao numero destes; e portanto ainda que venha
um deve diminuir-se do direito de ancoragem a
— 92 —
quantia fixada no Regulamento para passagem de cada
um. Julgão as Secções que esta proporção deve ser
maior á medida que maior fôr o numero dos colonos
que conduzir qualquer embarcação, inda que, contados
individualmente, devesse ser menor.
Assim se por 10 colonos vindos do Porto para o
Rio de Janeiro devia pagar-se 100^000 réis, por 20
conviria pagar-se 202#000 réis. Deste modo se acoro-
çoaria o transporte de maior numero de colonos.
As Secções se abalanção a pedir a Vossa Magestade
Imperial que Declare valiosos e remuneraveis os bons
serviços, que prestarem os Agentes do Governo neste im-
portante ramo do serviço Publico; porque em verdade
muito contribuirão ellcs para a força e felicidade da
Nação e esplendor e gloria do Throno Imperial. E
para que sejão observadas as disposições, que as Sec-
ções apontão, tem a honra de apresentar a Vossa Ma-
gestade Imperial o seguinte:
<>
;*ui.j; PROJECTO DE REGULAMENTO.
•j">..

CAPITULO 1 . °

Das qualidades dos colonos.

Art. 1.' Os colonos, cuja passagem para este Império


o Governo do Brasil descontará na importância do
imposto de ancoragem, que tiverem de pagar as em-
barcações, que os conduzirem, devem ser:
§ 1 *° Destituídos dos meios para satisfazel-a.
§ 2.° Robustos, saudáveis e diligentes no serviço, em
que se tiverem occupado na sua pátria.
§ 3.° De idade entre 14 e 21 annos e em igual nu-
mero de sexos.
Art. 2.° O Governo não descontará passagem de moça
solteira, que não venha em companhia de seu pai ou
de senhora, que seja passageira de camarote.
Art. 3.° Poderá também ser descontada a ancoragem
por passagem de colonos de idade até 50 annos uma
vez que tragão comsigo filhos ou filhas em numero
— 93 —
tal que contando-se cada filho por 4 annos, princi-
piando a conta pelos 21 annos, tenhão pelo menos a
idade de 37 annos.
Admitle-se a estes colonos trazerem entre cada 3
filhos um menor de 14 e maior de 6 annos. ;
Art. 4.° Os colonos serão escolhidos entre creados
de servir, lavradores, ferreiros, carpinteiros, pedreiros,
c canteiros.

CAriTÜLO 2.*

Do desconto das passagens dos colonos no imposto


da ancoragem.

Art. 5.° O Governo do Brasil descontará no direito


de ancoragem, a que são obrigados os navios vindos
de portos estrangeiros a este Império, pela passagem de
cada colono:
§ 1.° Que fôr conduzido dos portos de $
§ 2.° Que fôr conduzido dos portos de §
Esta será a quantia que se ha de descontar por co-
lono dos que trouxer cada navio não passando de dez;
e contar-se-ha mais 1 % por cada dezena além da pri-
meira com tanto que nunca exceda a 6%.
Art. 6.° Os descontos pela passagem, de que trata
o artigo antecedente, só terá lugar chegando os colonos
aos portos do Império sãos e salvos, de modo que
possão immediatamente empregar-se no trabalho a
que forem destinados.
Terá lugar o disposto neste artigo se a moléstia ou
o mal do colono não fôr procedido de máo tratamento a
bordo durante a viagem.
Art. 7.° Os Provedores das Visitas de Saúde nos
Portos do Império examinarão o estado de saúde, em
que chegão os colonos e attestaráõ o que em verdade
observarem, a fim de ter lugar o desconto na fôrma
referida nos artigos antecedentes.
— 94 —
CAPITULO 3.°

Do despacho dos colonos nospaizes estrangeiros.


Art. 8.° Os capitães ou donos dos navios, que qui-
zerem aproveitar-se do beneficio deste Regulamento,
deveráõ communicar aos Cônsules, Vice-Cônsules, Mi-
nistros brasileiros ou quaesquer outros Agentes de co-
lonisação para este Império, que elles pretendem con-
duzir'colonos e estes lhes declararão.
§ 1.°Seu nome, idade e estado.
§ 2.° Terem conhecimento deste Regulamento, sa-
berem as obrigações que lhes elle impõe, sujeitarem-
se a todas, e expressa e nomeadamente a espécie de
trabalho que vem prestar. (Devem nomear qual é o
trabalho.)
§ 3.° O nome morada do amo com quem tiverem
servido, e attestado deste sobre sua conducta.
§ 4.° Mostrarem-se sem culpa os maiores dé 17
annos.
§ 5.° Terem já tido bexigas ou sido vaccinados.
Art 9.° Os Cônsules e Vice-Consules do Império em
paizes estrangeiros poderão despender com os Facul-
tativos, que averiguem o estado de saúde dos colonos
as quantias que os Ministros dos Negócios Estrangeiros
e do Império puzerera expressamente á sua dispo-
sição.
Art. 10. Os Cônsules, e Vice-Consules darão aos co-
lonos, que vierem para o Império em virtude deste
regulamento, passaportes gratuitos declarando nelles
que forão habilitados na fôrma deste regulamento,
e remetteráõ ao Ministro do Império documentos que
a esse respeito tiverem collegido com uma lista con-
tendo os nomes dos colonos, que se transportarem.
CAPITULO 4.°

Disposições Geraes.
Art. 11 Os Cônsules e Vice-Consules observaráõ pon-
tualmente o disposto neste Regulamento, salvo quando
os avisos ministeriaes lhes fizerem uma ou outra modi-
ficação.
— 95 —
Art. 12. Os colonos vindos em virtude deste Regu-
lamento não poderão dentro de três annos:
§ 1.° Retirar-se para fora da Provincia para onde
tiverem vindo.
§ 2.° Comprar, aforar, arrendar ou adquirir o uso
de terras por qualquer titulo que seja.
§ 3." Estabelecer casa de negocio ou administral-a
ser caixeiro ou vender de porta em porta.
As violações deste artigo serão punidas com as penas
da Lei de 11 de Outubro de 1837, em que incorrem
os que não cumprem seus contractos.
Art. 13. O Governo poderá dispensar nas disposições
do artigo antecedente se forem attendiveis as razões,
que produzirem os colonos, para obterem este favor.
Art. 14. Nunca o desconto, que o Governo tiver de
fazer pela conducção de colonos, excederá a impor-
tância do imposto* da ancoragem, que o navio effecti-
vamente pagar, qualquer que seja o numero delles.
Art. 15. Os capitães dos navios poderão receber dos
que houverem de tomar os colonos de bordo para
seu serviço huma gratificação, que não exceda ao quin-
to da importância do desconto do direito da ancora-
gem, que por elle se fizer, sem que dessa prestação
resulte qualquer ônus ao colono.
Art. 16. Os Cônsules, e Vice-Consules só mandaráõ
o numero de colonos, que o Governo designar expres-
samente em seus avisos, ainda que maior numero lhes
requeirão a vinda para este Império com o beneficio
do presente regulamento.
Art. 17. Os Presidentes das Provincias informarão
trimensalmente ao Governo Imperial o numero de co-
lonos nellas importados em virtude deste regulamen-
to, o estado em que chegarem e a maneira porque se
comportarem.
Art. 18. Serão remunerados segundo sua importân-
cia os serviços, que prestarem os Cônsules e Vice-
Consules na* execução deste regulamento.
Sala das Sessões do Conselho de Estado em 7 de
Dezembro de 1843.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.
— Visconde de Olinda.— José Cezario de Miranda Ribei-
r0m—Visconde de Monte-Alegre.—Visconde de Abrantes.
—Manoel Alves Branco.
— 96 —
RESOLUÇÃO.

Submetta-se ao Conselho de Estado reunido.—Paço


em 16 de Dezembro de 1843.
Coma Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
José Antônio da Silva May a. (*)

(*) Tendo sido ouvido, nos termos da Resolução o Conselho de Estado


reunido, deu o seguinte parecer:
Senhor.—Houve Vossa Majestade Imperial por bem ordenar por Sua ini-
mediata Resolução de 16 de Dezembro do anno próximo passado que se
submettesse ao Conselho de Estado reunido o parecer das Secções dos Ne-
gócios do Império c Fazenda do mesmo Conselho cujo teor é o seguinte.

E tomada na devida consideração, c depois de bem discutida esta maté-


ria, o sobredilo Parecer foi approvado pelo Conselho de Estado, mas Vossa
Magestade Imperial Resolverá como achar cm sua Sabedoria que é mais
acertado.
Sala das Sessões do Conselho de Estado em 15 de Fevereiro de 1814.—
Visconde de Monte-Alegre.—José Joaquim de Lima e Silva.—Caetano Maria
Lopes Gama.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—José Cezario de Mi-
randa Ribeiro.
Forao votos os Srs..
Maya e Bispo de Anemuria.
Miranda Ribeiio.

O projecto de Regulamento, a que se referem as consultas, foi adoptado


e mandado exetutar pelo Decreto n.° 356 de SC de Abril de 1841.
RELAÇÃO
DOS

MINISTROS DE ESTADO, PRESIDENTES,


E DOS

CONSELHEIROS MEMBROS
DA

SECÇAO DE FAZENDA DO CONSELHO DE ESTADO.

1844.
M I N I S T R O X>E E S T A . D O

Joaquim Francisco Vianna, até 1 de Fevereiro desse


anno, e depois
Manoel Alves Branco, (depois Visconde de Caravellas)
nomeado por Decreto de 2 de Fevereiro de 1844.

CONSELHEIROS DE ESTADO

Visconde de Monte-Alegre.
Visconde de Abrantes.
José Antônio da Silva Maya; designado para substi-
tuir o Conselheiro Alves Branco.
13
CONSULTAS

DO

CONSELHO DE ESTADO NA SEC$0 DE FAZENDA.

18^.

N.° 33.—RESOLUÇÃO DE 3 DE JANEIRO DE 1844.

Sobre Leis Provinciaes do Rio de Janeiro e do Espirito Santo.

Senhor.—A Secção de Fazenda do Conselho de Es-


tado examinou as Leis das Assembléas Legislativas
das Provincias do Rio de Janeiro e do Espirito Santo,
feitas na sessão do anno passado, e nellas nada achou,
quanto á sua Repartição, digno de reparo ou pro-
videncia do Governo.
Rio de Janeiro, 30 de Janeiro de 1843.— Visconde
de Monte-Alegre.—Visconde de Abrantes.—Manoel Alves
Branco.
— 100 —
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço em 3 de Janeiro de de 1844.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim Francisco Vianna.

N.° 34.—RESOLUÇÃO DE 3 DE JANEIRO DE 1844.


Sobre a questão: as Câmaras Municipaes süo corporações de müo-morta'?

Senhor.— A Secção do Conselho de Estado a que


pertencem os Negócios da Fazenda em cumprimento
da Ordem de Vossa Magestade Imperial examinou a
questão—se devem ou não ser consideradas corpora-
ções de mão-morta as Câmaras Municipaes, para o
éffeito de serem sujeitas á 2.a décima, que foi im-
posta aos prédios pertencentes a estas corporações;— e
tem a honra de expender a sua opinião, que se con-
forma com a conclusão do parecer fiscal junto e que
consiste em que desde a origem das leis de amor-
tização, que prohibirão ás Igrejas, Mosteiros, e Com-
munidades religiosas a acquisição ou conservação de
bens de raiz sem licença do Soberano, nunca as Muni-
cipalidades se considerarão incluídas no numero dessas
corporações, nem era possivel que o fossem uma vez
que era de sua instituição despenderem em beneficio
publico toda a sua renda, e que não havia por isso
o risco, de se accumular em seu poder grande somma
de bens em desproveito publico e que por conseguinte
a intelligencia universal, que nunca suppoz as Câmaras
sujeitas a essa 2.a décima, deve ser mantida, parü-
cipando-so assim aos Empregados, que mostrão ter
duvida a tal respeito.
Rio de Janeiro em 22 de Dezembro de 1843.— Vis-
conde de Monte-Alegre.—Visconde de Abrantes.—Manoel
Alves Branco.
— 101 —

RESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço em 3 de Janeiro de 1844.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador. (*)
• Joaquim Francisco Vianna.

N.° 35.—RESOLUÇÃO DE 3 DE JANEIRO DE 1844.


Sobre a substituição das cédulas Provinciaes na Província de S. Pedro

Senhor.—Remetteu o Governo pela Repartição compe-


tente á Thesouraria da Província do Rio Grande de
S.. Pedro do Sul cem contos de réis em notas para, na
fôrma da lei, substituir as cédulas, que ainda gyrão
naquella Província, e o Inspector daquellaThesouraria,
não cumprindo a ordem do Governo, representou que
retiradas as cédulas de curso peculiar á Província fal-
taria em breve meio circulante alli, pois sendo as notas
geraes e devendo muito o commercio de S. Pedro do
Sul ao desta Corte os pagamentos se farião em notas dahi
remettidas, pois que os saques da Thesouraria não
serião suffiçientes para isso.
A Secção de Fazenda a quem de Ordem de Vossa
Magestade Imperial foi sujeito este negocio não acha
fundado o receio do Inspector da Thesouraria, enten-
dendo que os saques e os productos Provinciaes serão
suffiçientes para as remessas daquella para esta praça,
e que não deve por isso suspender-se a execução de
uma lei, que já está em pratica em todo o Império,
e é de parecer que se mande cumprir a Ordem de 27
de Maio de 1842, que determinou a substituição não
attendendo a representação do Inspector da Thesou-
raria da Província do Rio Grande do Sul.

(*) Em virtude desta Resolução eipedio-se a Ordem sob n.° 4 de 15 de


Janeiro de 1844, declarando que as Câmaras Municipaes não são incluídos
no numero das corporações de mao-morta, e por isto n3o estão sujeitas
os seus prédios á segunda décima. (Vid. CoII. respectiva pag. 3).
— 102 —

Vossa Magestade Imperial porém Mandará o que fôr


mais justo.
Rio de Janeiro em 22 de Dezembro 1843.— Vis-
conde de Monte-Alegre.—Visconde de Abrantes.—Ma-
noel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Como parece —Paço em 3 de Janeiro de 1844.


Com a Rubrica de Sua Magestane o Imperador.
Joaquim Francisco \ianna.

N.° 36.—RESOLUÇÃO DE 5 DE JANEIRO DE 1844.


Sobre duvidas propostas pelo Administrador da Recebedoria da Corte em
relação á arrecadação de certos impostos.

Senhor.—O Administrador da Recebedoria desta


Corte, tendo ordem para cobrar no 2.° semestre do
corrente anno financeiro alguns impostos , que forão
augmentados, ou alterados pelos arls. 10, 11, 17, e
30 da Lei do Orçamento de 21 de Outubro deste anno
pede ser esclarecido acerca do seguinte:
1.° Se deverá exigir dos donos das casas de leilão,
lojas, e escravos, que já pagarão o imposto annual
a que erão obrigados, o dobro do imposto, a que
acabão de ficar sujeitos, relativo ao 2.° semestre.
2." Se, abolido o máximo de 300#000 para o im-
posto de patente na venda da aguardente da terra,
deverá, para a cobrança do 2.° semestre, deduzir o
imposto do total das pipas lançadas no anno, aos
que pagarão no 1.° semestre na razão daquelle máximo,
abatendo-se as que o perfizerão, ou somente da metade
das pipas lançadas.
A Secção de Fazenda do Conselho de Estado, a quem
Vossa Magestade Imperial Se Dignou Mandar ouvir
sobre os referidos assumptos, é de parecer:
Quanto ao 1.° que sendo o imposto das casas de
leilão e lojas, e a taxa dos escravos pagos annual-
— 103 —
menle e não, por semestres, seria iníquo, se não
injusto, exigir-se dos contribuintes, que já pagarão
tudo quanto a Lei existente lhes impunha durante o
anno, o dobro a que a nova Lei os sujeitou agora.
Não favorecendo porém esta razão áquelles que até
a publicação da mesma nova Lei não tinhão pago
o referido imposto e taxa, deverá pesar sobre estes
somente o dobro, a que actualmente se achão sujeitos.
Quanto ao 2.° que determinando o art. 18 do Re-
gulamento n.° 149 de 8 de Abril de 1842, que o
pagamento das patentes para a venda da aguardente
seja realizado por semestres, e que cada pagamento
seja igual a 20 % do valor da metade do total das
pipas lançadas por anno a cada um vendedor, justo
e exigir-se agora, ou quando ainda corre o 2.° se-
mestre, que o imposto seja pago sem attenção ao
máximo, que foi abolido; devendo porém, para que
não se falte á equidade, ou antes "á justiça, ser o
pagamento igual a 20 % do valor da me*tade so-
mente do total das pipas lançadas por anno, como
exige o citado artigo do Regulamento, e não do va-
lor total lançado, pois que este ultimo arbítrio seria
o mesmo que despojar o collectado de um beneficio,
de que já havia gozado, em virtude da Lei existente,
durante o 1.° semestre.
Vossa Magestade Imperial Resolverá todavia como
parecer mais justo.
Rio de Janeiro em 22 de Dezembro de 1843.—Ma-
noel Alves Branco.—Visconde de Monte-Alegre.
•RESOLUÇÃO.

Seja examinado em Conselho de Estado.—Paço em


5 de Janeiro de 1844.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador. (*)
Joaquim Francisco Vianna.

(*) Ouvio-se o Conselho de Estado, como determinara a Resolução e o


seu parecer foi o seguinte:
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem Ordenar por sua
immediata Resolução de 5 do corrente mcz que fosse examinado cm üon-
— 104 —

N.° 37.—RESOLUÇÃO DE 5 DE JANEIRO DE 1844.


Sobre ser ou nSo ostensiva á taxa de heranças a disposição, que isenta
os herdeiros do pagamento da siza, quando até 24 horas, depois de
julgada a partilha, rimem os bens adjudicados á Fazenda.

Senhor.— O Presidente da Província de Minas em


seu officio datado de 13 de Outubro deste anno snb-
mette á decisão do Governo Imperial a duvida, em
que entrara o Inspector da Fazenda da mesma Pro-
víncia, a saber: se a disposição do art. 5.° do Re-
gulamento n.° 156 de 28 de Abril de 1842, que dis-
pensa da siza os bens adjudicados á Fazenda, quando
os herdeiros, dentro de 24 horas depois de julgada
a partilha, os tomarem e pagarem, pôde ser appli-
cada á cobrança da taxa de heranças e legados, per-
tencentes á renda provincial.
Dignando-se Vossa Magestade Imperial mandar ouvir
a Secção do Conselho de Estado dos Negócios da Fa-
zenda é esta de parecer :
Que nem o Governo Imperial, nem o Presidente de
Minas, ainda mesmo autorizado pela respectiva Assem-
bléa Provincial, podem estender o citado Regula-
mento de 28 de Abril de 1842 á cobrança da taxa
das heranças naquella Província.
Não pôde o Governo, porque o art. 17 da Lei n.°
243 de 30 de Novembro 1841 autorizou a alteração

selho de Estado o Parecer da SecçSo de Fazenda do mesmo Conselho


cujo teor é o seguinte:
. . . . • • . . • • • • . . . • . . . . . . . •

E tomada na devida consideração, c depois de bem discutida esta ma-


téria o sobredito Parecer foi approvado pelo Conselho de Estado, mas
Vossa Magestade Imperial Resolverá como achar em Sua Alta Sabedoria
que é mais acertado.
Sala das sessões do Conselho de Estado cm 18 de Janeiro de 1844.—
José Joaquim de Lima e Silva.—Caetano Maria Lopes Gama.—Francisco
Cordeiro da Silva Torres.— Visconde de Monte-Alegre.—Visconde de
Abrantes.—José Cezario de^Miranda Ribeiro.
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço, 20 de Fevereiro de 1844.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.
— 193 —
das Leis em vigor acerca da referida cobrança so-
mente no Município da Corte, ficando por conseqüência
nas Províncias em plena execução a legislação an-
terior, não obstante aquelle Regulamento feito em
virtude do mencionado art. 17. Não pôde o Presidente,
nem mesmo a Asssembléa Provincial, porque a dis-
posição do art. 5.° do Regulamento de que se trata
relativa á isenção do imposto da siza, que é geral,
não cabe nas attribuições nem do Governo, nem mesmo
da Assembléa Provincial.
Vossa Magestade Imperial resolverá todavia como
íôr mais justo.
Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 1843.—Visconde
de Abrantes.— Manoel Alves Branco.— Visconde de
Monte-A legre.
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço cm 5 de Janeiro de 1844.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim Francisco Vianna.

N. 38. —RESOLUÇÃO DE 5 DE JANEIRO DE 1844.


Sobre a prctcnçao do Marquez de Gantagalío.

Senhor.—Manda Vossa Magestade Imperial que a


Secção do Conselho de Estado dos Negócios da Fa-
2enda emitta sua opinião acerca da pretenção junta
do Marquez de Cantagallo para ser indemnizado dá
perda do Officio de Escrivão da Abertura da Alfân-
dega desta Corte, de que tinha a propriedade, e que foi
abolido na oceasião da reforma da mesma Alfândega.
O Art. 1." do additamento ao Regulamento das Al-
fândegas de 25 de Abril de 1832 diz o seguinte:—
« Os actuaes Empregados das Alfândegas Com pro-
« priedade, ou serventia vitalícia, que tiverem ser-
14
— IOG —

« ventuarios, receberão a titulo de pensão a terça


« parte da lotação pela qual tiverem pagos os novos
« direitos. »
.Neste caso está o Marquez de Cantagallo, e por
isso é a Secção de parecer que lhe é devida a pensão
da terça parte da lotação do Officio de Escrivão da
Abertura da Alfândega* desta Corte.
Entretanto, ponderando a Secção nas actuaes apu-
radas circumstancias do Thesouro Publico, não pôde
ella dissimular ante Vossa Magestade Imperial a con-
veniência de adiar este deferimento para tempos mais
prósperos, ou menos árduos.
Vossa Magestade Imperial porém Mandará o que
fôr justo.
Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 1843.—Visconde
de Monte-Alegre.—Visconde de Abrantes .—Manoel Alves
Branco.
RESOLUÇÃO.

Seja examinado no Conselho de Estado.—Paço cm


5 de Janeiro de 1844.
Com a Rubrica de S. M. O imperador. (*)
Joaquim Francisco Vianna.

(*} Foi ouvido, cm virtude da Imperial Resolução, o Conselho de Estado


sobre o assumplo c deu o parecer seguinte:
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar por sua
immediata Resolução de 5 de Janeiro de 1844, c Aviso de 16 de Junho
do corrente auno, que o Conselho de Estado consultasse com o que se lhe
oflerecesse sobre o Parecer da Secç3o do mesmo Conselho a que pertencem
os Negócios da Fazenda, cujo teor é o seguinte:

O que, visto c depois de ponderada esta matéria, pareceu ao Conselho de


Estado que ao supplicantc é devida a pensão da terça parte da lotação do
extineto Õflicio, de que foi proprietário, por achar-se no caso do Art. l.o
do Additamcnto ao Regulamento das Alfândegas de 25 de Abril de 1832,
como conclue a Secção na primeira parte do seu parecer.
Quanto porém á segunda parte, cm que a Secção insinua a conveniência,
de ser adiado para tempos mais prósperos ou menos árduos o deferimento
a este respeito, o Conselheiro de Estado Alves Branco disse que a primeira
parte do parecer era de equidade, pois que outras pessoas nas mesmas
circumstancias já tem obtido a mesma indcmnizaçüo, mas como isso cia
uma graça e nossas circumstancias ainda n5o crao apropriadas a liberali-
— 107 —
N. 39.—RESOLUÇÃO DE 19 DE JANEIRO DE 1844.
Sobre a arrecadação da taxa de escravos nas Províncias de Minas e
Pernambuco.

Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial que a


Secção do Conselho de Estado dos Negócios da Fa-
zenda interpuzesse parecer sobre a resolução tomada
pelo Inspector de Fazenda da Província de Minas,
constante do officio junto, datado de 3 de Novembro
deste anno, e sobre a duvida oceorrida em Pernambuco,
de que trata o officio do respectivo Presidente com
data de 23 de Janeiro do corrente; e cumprindo com
o seu dever e examinando o conteúdo dos ditos offi-
cios é a Secção de parecer:
Que não é° conforme ao Regulamento em vigor nem
ao interesse da Fazenda a resolução, que tomara o
Inspector de Minas, de mandar arrecadar a taxa dos
escravos dentro dos limites d'antes marcados para a

sal-as, ainda sustentava esta segunda parte do mesmo Parecer; principal-


mente quando era certo que a mandar-se pagar já essa indemnizaçSo ao
Marquez, talvez a despeza deste artigo não fosse menor de trezentos contos;
porque sabia que havia muitos outros pretendentes nas circumstancias do
Marquez, aos quaes não só tinna de pagar-se a pensão de agora em diante,
como também ó atrazado desde o dia da abolição dos seus Officios,pois nao
seria justo fazer já a um o que se nao fizesse a outros, que tem o mesmo
direito.
O Conselheiro de Estadq Paula Souza disse, que não estando prevenida
sobre esta matéria, e nao tendo-a por conseguinte estudado, vacilla sohre
p voto que deva dar: lembra entretanto que pela legislação anterior não
era obrigado o Governo a indemnizações taes, pois quando se davao taes
Officios era com essa cláusula de nao ipdemnizaçao: que o Regulamento
de 1832 não lhe parecia ter força de Lei, não só pela letra do artigo da Lei,
que deu origem a esse Regulamento, como porque nunca foi approvado pelo
Poder Legislativo, como devia, em virtude daquelle artigo, que lhe deu
origem: que também nao o convence o argumento que possa tirar-se da Cons-
tituição a respeito da remuneração de serviços e do direito a ella, porque
não é só com dinheiro que se remuncrão serviços, podendo por conseguinte
ainda serem remunerados esses serviços: só diz que, se este cidadão tem
direito a esta pensão nao pôde o Governo deixar de pagar-lhe, competin-
do-lhe somente pedir para isto os necessários fundos á Assembléa Geral.
Os demais Conselheiros de Estado rejeitarão o adiamento indefinido, que
a Secção propõe, isto a fim de que o reconhecimento da divida nao se torne
ilusório, podendo espaçar-se o pagamento infinitamente, ainda com injus-
tiça, sem que a parte interessada possa fazel-o effectivo; e parece-lhes que
ao supplicante se deve conceder a indemnizaçao pedida, e pagar o que lhe
fôr devido desde a extineção do sobredito Officio, logo que haja dinheiro
no Thesouro para esse fim: que tal pagamento é de justiça e nao só graça
e mera equidade, pois que a cláusula, com que se argumenta cm sentido
contrario, ficou sem vigor desde que o citado art. 1." do Additamento de
25 de Abril de 1832 especialmente para o caso, de que se trata, dispoz outra
— 108 —
décima urbana; porquanto se o Regulamento ou Ins
trucções de 13 de Dezembro de 1833 a mandão cobrar,
nos lugares sujeitos ádecima, dentro dos limites desta,
também determinão que, nos lugares não sujeitos, se
fizesse a cobrança pelos limites, que as Câmaras Muni-
cipaes marearem.
E pois que se acha abolida a décima urbana na-
quella Província, não havendo limitesactuatmenle exis-
tentes, mais regular fora ter-se resolvido antes pelas
demarcações, que fizessem as Câmaras, mormente
quando dahi devia resultar estender-se a taxa a muitos
lugares não sujeitos ádecima.
Pelo que respeita á duvida ©ocasionada em Pernam-
buco; que em verdade não seria regular, avista do
Regulamento existente de 13 de Dezembro já citado,
que o Fiscal e o Inspector de Fazenda daquella Pro-
víncia preferissem a demarcação feita pelo Presidente
para a cobrança da décima, a "que se achasse feita ou
o devesse ser pelas respectivas Câmaras Municipaes.

eousa: que o referido Regulamento, embora ainda não approvado pda As»
sembléa Geral, tem força de Lei, porque foi feito pelo Governo com au-
toridade legitima, e como t»l deve ser guardado no presente caso, eomo o>
tem sido cm outros idêntico», c nem a legislação antiga, c essa cláusula,
com que, em virtude delia, se dava» taes Officios, poderião ser hoje at-
tendidas em presença da Constituição do Império art. 179 § 28, que ga-
tindo as recompensas conferidas peles serviços feitos ao Estado, assim como
o direito adquirido a ellas na fôrma das Leis, seria menos bem guardada
se se retirassem a qualquer as anteriormente rcecbidas pó* taes serviços.
Eis, Senhor, o qUc parece á maioria dos membros do Conselho de Es-
tado; e assim também o que parece aos Conselheiros de Estado Alves Ilranco.
c Paula e Souza sobre esta materia.
V. M. I. ResoIvCTá como achai- cm Sua Alta Sabedoria que c de justiça.
Sala das conferências do Conselho de Estado aos 18 de Junho de 1846.
—Francisco de Paula Souza e Meão.—Manoel Alves Branca.—José An-
tônio da Silva Maya.— Josc Cesario de Miranda Ribeiro.— Visconde de
Monte-Alegre.—José Carlos Pereira de Almeida Torres.—Caetano Maria
Lopes Gama.—Visconde de Olinda.—José Joaquim de Lima e Silva.—Fran-
cisco Cordeiro da Silva Torres.

r.ESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço, 1! de Julho de 1846.


Com a Rubrica de S. M. O Imperador.
Antônio Francisco de Paula Hollanda,Cavalcanti de Albuquerque.

Expcdio-se Decreto em ri de Julho de 1846 para o abono da pensão.


— 109 —
Entretanto a Secção reflectindo na conveniência fiscal
de altribuir-se aos Presidentes das Províncias a de-
signação dos limites das cidades e villas, em que fi-
cassem sujeitos á taxa os escravos residentes nellas,
c na incongruência de serem taes limites, aliás indis-
pensáveis para a cobrança e fiscalização de um im-
posto geral, marcados pelas Municipalidades; julga a
Secção que para remediar os inconvenientes de alguma
outra resolução como a do Inspector de Minas, e para
resolver quaesquer duvidas, que possão apparecer no
sentido da oceorrida em Pernambuco, melhor será
que Vossa Magestade Imperial, alterando os Arts. 3.°
e 4." do referido Regulamento de 13 de Dezembro, al-
teração meramente regulamentar, e toda da compe-
tência do Tribuna] do Thesouro, ou do Ministério da
Fazenda, se Digne approvar o seguinte novo

REGULAMENTO.

Art. 1.° Os Presidentes das Províncias ficão autori-


zados para marcaremos limites das Cidades eVillas
dentro dos quaes deverá cobrar-se a taxa de 2#000
sobre os escravos residentes nellas, precedendo in-
formação das Autoridades, que lhes parecerem mais
habilitadas para esse fim.
Art. 2.° Ficão revogados os arts. 3.° e 4.° das Ins-
trucçõesde 13 de Dezembro de 1833.
Vossa Magestade resolverá, porém, como julgar mais
acertado.
Rio de Janeiro em 22 de Dezembro de 1813.—Vis-
conde de Abrantes.—Manoel Alves Branco.—Niseonde de
Monte-Alegre.
RESOLUÇÃO
*
Como parece.—Paço em 19 de Janeiro de 1844.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador. ( : )
Joaquim Francisco Vianna.

(*) Não se encontra nas collecções o Decreto, que se devera expedir de


accordo com a Imperial Resolução supra. O que 6 certo, porém, é que o Decreto
D. 411 de 4 de Junho de 1845, alterando c additando o Regulamento de
II de Abril de 1812, regulou o assumpto commetlendo a designação dos limites
— 110 —

N. 40.—RESOLUÇÃO DE 5 DE JANEIRO DE 1844.


Sobre duvidas propostas pelo Procurador dos Feitos da Fazenda da Corto.

Senhor.—O Trocurador dos Feitos da Fazenda desta


Corte em officio de 29 de Julho deste anno ao Desem-
bargador Procurador Fiscal do Thesouro Publico re-
quer solução das seguintes duvidas, em que labora a
saber:
1.a Se o Juizo daProvedoria dos Resíduos e Testa-
mentos é competenle para nelle se fazerem inventá-
rios.
2." Qual o modo por que se deve executar o Regu-
lamento n.° 150 de 9 Abril de 1842 acerca da cobrança
da dizimada chancellaria nos casos de preferencias.
Submeltendo o referido Conselheiro a matéria deste
officio ao Tribunal do Thesouro Foi Vossa Magestade
Imperial Servido mandar ouvir sobre ella a Secção do
Conselho de Estado dos Negócios da Fazenda, que, exa-
minando ambas as duvidas, é de parecer :
Quanto á primeira, que é fundada, e razão teve o
rrocuranor dos Feitos para submettel-a ao exame de
Superior autoridade; porque embora não haja lei,
que expressamente vede ao actual Juizo da Provedo-
ria o fazer inventários, e esteja elle na posse de os
fazer, quando as partes interessadas o procurão para
esse fim, posse que parece haver sido respeitada pelo
moderno Regulamento n.c 156 de 28 de Abril de 1842 ;
todavia é certo que nenhuma lei expressamente tem
conferido tal attribuição ao mencionado Juizo. Mas
não sendo prudenle, 'nem conforme a direito que o
Governo Imperial desconheça a invocada posse ou pra-
tica immemorial como titulo bastante para a preten-
dida competência em geral ou para se fazerem in-
ventários de maiores na Provedoria, porquanto pela
lei de 18 de Agosto de 1769 convém respeitara mesma
pratica, mormente quando delia não consta que incon-

das Cidades e Villas á uma commissão composta do Agente Fiscal c de dous ci-
dadãos nomeados pela Câmara Municipal, ou, quando esta o não faça, pelo
mesmo Agente Fiscal sob approvação da Thesouraria.
O Decreto de 20 de Junho de 1846 estabeleceu os recursos, que se devem
dar no caso de abusos na designação de limites de que se traia.
Eslas disposições continuão em vigor.
veuienle algum tenha resultado; pensa a Secção, que,
conservadas as cousas no estado em que s*e achão,
poder-se-ha quando muito submetter a resolução desta
duvida ao Poder Legislativo, a quem compete estabe-
lecer a tal respeito a regra, que mais conveniente
fôr.
Quanto á segunda, que não tem a importância da ante-
cedente, e deve cessar logo que se conciliem algumas
disposições, que parecem discordantes do citado Re-
gulamento de 9 de Abril; porque devendo-se entender
o§ 3.° do Art. 2.° pelo que posteriormente determina
o Art. 7.°, onde se estabelece uma regra justa, como
a de não proceder-se á cobrança da Dizima quando as
partes mostrarem que já atem°pago na chancellaria;
claro fica que nos casos de preferencia somente se
deve exigir dos preferentes o imposto, quando se mos-
trar que este não foi satisfeito antes ou no transito da
sentença da causa principal, d'onde procedeu a da pre-
ferencia, e que nesta hypothese a importância da Dizima,
que fôr paga, não só deve ser igual a 2 % do valor decla-
rado ou arbitrado da cousa demandada na causa prin-
cipal, como se deprehende dos Arts. 3." e seguintes,
mas também deve ser accumulado ás custas, que têm
de pesar sobre a parte ou o executado como determina
o Art. 11.
Tal é o parecer da Secção ,de Fazenda que Vossa
Magestade Imperial Se Dignará tomar na consideração
de que fôr digno.
Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 1843.— Visconde
de Abrantes.—Manoel Alves Branco.—Visconde de Mon-
te-Alegre.
RESOLUÇÃO.

Seja examinado em Conselho de Estado.—Paço em


5 de Janeiro de 1844.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim Francisco Vianna. (*)
(*) Sendo ouvido o Conselho de Estado nos termos da Resolução deu o
seguinte parecer:
Senhor.— Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar por sua ím-
mediata Resolução de ã do corrente mcz que fosse examinado* em Conselho
- 112 —

N. H -RESOLUÇÃO DE 20 DE FEVEREIRO DE 1844.

Sobre apprcliensão (!c gado snino, extraviado aos direitos, competência do


Juiz Municipal pura proceder contra o cxtraviador.

Senhor. —Manda Vossa Magestade Imperial que a


Secção do Conselho de Estado dos Negócios da Fa-
zenda de seu parecer sobre o conteúdo no officio n.° 45
do Administrador da Recebedoria do Município da
Corte, datado de 17 de Outubro do corrente anno.
Contém este officio a seguinte espécie:—Um Guarda
da Alfândega apprehendeu 36 porcos que cm contra-
venção das ínslrucções, ou ordem do Thesouro, de 28
de Março de 1836 se dirigiüo, sem guia da competente
Agencia, para o mercado desta cidade. O Adminis-
trador da Recebedoria officiou ao Juiz Municipal para
que procedesse nos termos do art. 15 das citados Íns-
lrucções, o qual manda remetler o termo da apprehen-
são ao Juiz de Paz respectivo para que proceda contra
o extraviador. O Juiz Municipal respondeu-lhe que
não lhe competia proceder em caso tal, porque o art.
17 § 1.° da Lei de 3 de Dezembro de 1841, dando-lhe

de Estado o parecer da Sccçilo de Fazenda do mesmo Conselho, cujo teor


é o seguinte.

E tomada na devida consideração, c depois de bem discutiJa esta maté-


ria, o sobredito parecer foi approvado pelo Conselho de Estado, mas Vossa
Magestade Imperial Resolverá, como achar cm Sua Alta Sabedoria que é
mais acertado.
Sala das Sessões do Conselho de Estado em 18 de Janeiro de 1844.— José
Joaquim de Lima e Silva.—Caetano Maria Lopes Gama.—Francisco Cor-
deiro da Silva Torres.—Visconde de Monte-Alegre.— Visconde de Abrantes.—
José Cezario de Miranda Ribeiro.

IIESOLCÇÁO.

Como parece. Paço em 20 de Fevereiro de 1844.


Coma Rubrica de Sua Magestade o Imperador.— Manoel Alves Branco.

A Imperial Resolução de Consulta do Conselho de Estado a cima transcripta


deu lugar á expedição do Decreto de 13 de Março de 1844, publicado em
seguida à. Decisão do Governo n.° 111 de 27 de Abril de 1849 na respecti-
va collecçao.
— 113 —

jurisdicção para julgar definitivamente o contrabando,


exceptuou o apprehendido em flagrante, cujo conhe-
cimento na fôrma das Leis e Regulamentos da Fazenda
compete ás autoridades administrativas, sendo igual
disposição repetida nos arts. 211, e 386 do Regula-
mento de 31 de Janeiro de 1842. A vista do que pede
o referido Administrador que o Governo Imperial re-
solva sobre o que deva ser observado a semelhante
respeito na sua Repartição.
Examinando a Legislação e Regulamentos em vigor,
appíicaveis á sobredita espécie, reconhece a Secção,
que é fundada a recusa do Juiz Municipal, pois que
em verdade o citado § 1.° do art. 17 da Lei de3 de
Dezembro nega-lhe em geral, isto é, sem limitação al-
guma, nem excepção, quer a respeito da mercadoria
ou cousa apprehendida, quer a respeito da Estação ou
Repartição fiscal por onde se verificasse a apprehen-
são, o poder julgar definitivamente do contrabando ap-
prehendido em flagrante.
E não julga a Secção que as palavras—na fôrma dos
Regulamentos de Fazenda—, escriptas naquelle paragra-
pho da Lei, e repetidas no artigo do Regulamento res^-
pectivo, tenhão força de limitar a regra estabelecida no
mesmo paragrapho, de sorte que, por effeito dellas, ou
entendendo-as com referencia ao art. 15 das Instrucções
do Thesouro de 28 ,de Março, ficasse o Juiz Municipal
com jurisdicção em algum caso para conhecer de^p-
prehensões em flagrante, não só porque as ditas palavras
claramente se referem ao modo de processar administra-
tivamente, estabelecido pelos Regulamentos com força
de Lei de 30 de Maio de 1836 e 22 de Junho do mesmo
anno, e não á competência do juiz, cujas attribuições
marcava o referido art. 17 da Lei, como porque sendo
uma e a mesma razão desla lei a favor da competência
das autoridades administrativas, absurdo fora que se
lhes reconhecesse jurisdicção para conhecer de ap-
prehensões em flagrante em uma Estação fiscal, e se
lhes negasse a mesma jurisdicção para igual conhe-
cimento em outra, ou (o que vem a dar no mesmo)
que se julgasse o Juiz Municipal incompetente para
julgar de contrabando apprehendido pela Alfândega e
Consulado, e competente para o julgamento de igual
contrabando apprehendido pela Recebedoria. ComeC-
19
— 114 —

feito não se pôde fundar uma tal excepção, ou antes


injustificável aberração das regras de Direito nos arts.
45 e 16 das Instrucções de 28 de Março, Instrucçôes
que a Lei de 3 de Dezembro não teve nem devia ter em
vista; porque elles não tratavão de processo admi-
nistrativo.
Não sendo pois o Juiz Municipal competente para
julgar de apprehensão alguma em flagrante, nem po-
dendo agora o Juiz de Paz, a que se referem as Ins-
trucções de 28 de Março, exercer jurisdicção em caso
tal, 'evidente é, que, a não dar-se conveniente pro-
videncia, ficaráõ impunes os extraviadores de gado no
Município da Côrle e duvidosa a fiscalização de uma
renda de quasi cem contos de réis por anno. Cabendo,
porém, nas attribuições do Governo alterar as ditas
Instrucções-e cumprindo que isso se faça a fim de
pôl-as êm harmonia com a Lei de 3 de Dezembro de
4841 e respectivo Regulamento de 1842, é a Secção de
parecer que Vossa Magestade Imperial se digne Orde-
nar ao Presidente do Thesouro Publico, que, como
providencia para o caso sobre que versa o officio do
Administrador da Rebedoria, haja de expedir novas
Instrucções neste sentido :
« Art. 1." Quando houver apprehensões de gados,
por causa de extravio na fôrma das Instrucções do
Thesouro de 28 de Março de 1838, proceder-se-ha na
Recebedoria do Município da Corte, pela maneira pres-
cripta no Cap. 17 do Regulamento de 22 de Junho de
1836, fazendo o Administrador da mesma Recebedoria,
em tal caso, as vezes do Administrador do Consulado,
e praticando o mesmo que este praticava, no caso de
apprehensão de gêneros e mercadorias.
« Art. 2.° Ficão sem effeito os Arts. 15 e 16 das Ins-
trucções de 28 de Março de 1838. »
Tal é o parecer da Secção, que Vossa Magestade
Imperial Se Dignará Resolver como fôr justo.
Rio de Janeiro em 24 de Dezembro de 1843.—Vis-
conde de Abrantes.—Manoel Alves Branco.—Visconde
de Monte-Alegre.
- lio -
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Paço em 20 de Fevereiro de 4844,


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador. (*)
Manoel Alves Branco.

N. 42.—RESOLUÇÃO DE 18 DE MARÇO DE 1844.


Sobre a preterição de Antônio José de Bem ao ordenado do emprego de
Escrivão da Fabrica de Lapidação, que servira interinamente.

Senhor.—Antônio José de Bem, Amanuepse do The-


souro, em 1827 foi nomeado para servir interina-
mente o lugar de Escrivão da fabrica de Lapidação
dos Diamantes, e exerceu esse emprego, então vago,
por onze mezes e cm dia : requereu logo o ordenado
daquelle lugar de Escrivão e sendo favoravelmente
consultado o seu requerimento pelo Conselho da Fa-
zenda, foi todavia indeferido pelo Governo: renova
agorãaquella pretenção, mas não afundaem lei alguma,
que a favoreça.
A Secção dô Conselho de Estado a "que pertencem
os negócios da Fazenda, a quem Vossa Magestade Impe-
rial se dignou de Mandar consultar sobre este objecto,
é de parecer que não havendo lei violada, na decisão
do Governo deve ella ser sustentada e ter-se por findo
este negocio; mormente quando o Decreto de 27 de
Março de 1802 nega ao official, que faz o expediente de
dous officios, um dos quaes está inteiramente vago, a
mesma 5.a parte do ordenado, que pelo Decreto de 3
de Outubro de 1791, era concedida ao que servia officio
não vago, como bem ponderou a Mesa do Thesouro.

(*) Em virlude da Imperial Resolução se expedio pelo Ministério da Fa


zenda a Ord. n.« 17 de 22 de Fevereiro de 18i4, publicada na collecção
das Decisões do Governo desse anno, e que autoriza a Recebedoria do Mu-
nicípio da Corte para proceder, nos casos de apprehensões de gado, na
fôrma do Cap. 17 do Regulamento de 22 de Junho de 1836.— Estas dis-
posições estão em vigor pois que, nem pelo Regulamento de 29 de Outubro
de 1839, nem por outro qualquer acto, de que tenhamos noticia, forao ellas
revogadas.
— 116 —

Vossa Magestade Imperial Mandará o que fôr justo.


Rio de Janeiro em 9 de Março de 1844.—Visconde de
Monte Alegre.—Viseonde de Abrantes.—José Antônio da
Silva May a.
RESOLUÇÃO.

Como parece.—Rio, 18 de Março de 1844.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 43. —RESOLUÇÃO DE 23 DE ABRIL DE 1844.


Sobre o projecto de Regulamento para arrecadação do imposto sobre os
ordenados.
Senhor.—Para desempenhar-se o § 4.° do art. 23
da Lei de 21 de Outubro de 1843 n.°317a cargo do
Governo Foi Vossa Magestade Imperial servido incum-
bir a Secção do Conselho de Estado, a que pertencem
os negócios da Fazenda, de estabelecer o modo de
arrecadar-se a nova imposição, a que pelo § I • do
mesmo artigo, ficarão sujeitas todas as pessoas, que
receberem vencimentos dos cofres Públicos Geraes, por
qualquer titulo que seja, e a Secção dedicada, com
todo o esmero, a confecção deste trabalho, não teve
pouco em decidir-se primeiramente sobre alguns
pontos, que apresentando-se-lhe como preliminares e
controversos, precisavão ser fixados de uma maneira
capaz de os constituir bases sólidas de um bem or-
denado Regulamento.
Questionou-se em primeiro lugar qual deveria ser
o tempo da duração deste extraordinário imposto, a
vista da disposição da lei, com attenção ao longo es-
paço já decorrido do periodoiieila; e a Secção, cTentre
as differentes opiniões apresentadas, deliberou seguir
por mais conforme á letra e espirito da cilada lei de
21 de Outubro de 1843 nos arts. 23 e 50 a de dar-lhe
dous annos completos de duração, contados da dala
em que começasse a arrecadação; isto é, que em
- 117 -

vigor permanecesse por tanto tempo quanto teria de


durar se pudesse ter sua execução no principio do anno
financeiro de 1843 — 44, em virtude e na fôrma do
art. 23, e houvesse de continuar immediatamente no
outro anno financeiro de 1844—45 por forca da dis-
posição do art. 50.
Occorreu em segundo lugar a grande difficuldade
que se antepunha de regular com justiça e igualdade
o lançamento e arrecadação desta imposição nos casos
de accumulações de vencimentos de accordo com a
intenção da lei, e a Secção em verdade se vio em
embaraços para removel-ás com a adopção do mais
razoável arbítrio.
A Secção não se conformou com o meio (no caso
de accumulações) de cobrar-se a quota correspondente
a cada um vencimento separadamente ou em relação
á importância de cada um delles; porque era evi-
dentemente contrario ao espirito da lei, dava lugar
á desigualdades irritantes e trazia considerável dimi-
nuição á renda; pois que se assim se executasse des-
appareceria em muitos casos a proporção, que cumpre
haver entre a imposição e a somma dos vencimentos
dos contribuintes; e em não poucos a mesma impo-
sição se aniquilaria; devendo provir do erro desle
meio que duas pessoas com rendimento igual tivessem
de pagar muito desiguaes quotas, só pela differença
de perceberem a mesma somma annual a um só ou
a differentes títulos, e em muitos casos nada pagaria
aquelle que tivesse diversos vencimentos, que sepa-
rados não chegassem a 500#000.
Também nãoseguio por manifestamente injusto, pro-
movedor de excessos em prejuízo dos contribuintes
e portanto igualmente em desaccordo com a mente
da Lei o outro meio de sommar em generalidade todas
as parcellas dos vencimentos, que tiverem de accu-
mular-se no decurso de um anno, para mensalmente
se fazer a deducção do imposto em relação a essa
somma total divididas nas 12 partes; porque em muitos
casos serião obrigados os contribuintes a pagar muito
maior quota que a decretada pela lei. quando se con-
tasse desde o começo do anno, v. g. como certo um
rendimento que teria de ser composto de vencimentos
que ou só tem lugar em uma parte do anno, e que
— 118 —
por qualquer occurrencia podem deixar de ser per-
cebidos, ou são de incerta duração como provenientes
de commissões, e empregos amoviveis, casos que se
verificão a respeito dos Senadores, Deputados, Ministros,
Conselheiros de Estado, Presidentes de Província, etc.
Mas na urgente necessidade de tomar um expediente
a Secção lançou mão de um meio termo, que julgou
conciliador dos interesses do Thesouro e dos sujeitos
á imposição com o verdadeiro sentido da Lei, meio
termo quê adoptado a prevenir a concussão e o ve-
xame contra os contribuintes o prejuízo e fraude contra
a Fazenda Nacional o excesso ou negligencia dos em-
pregados, não pôde comludo deixar de reconhecer-se
complicado por dependente de miúdas operações em-
quanto a experiência não indicar os melhoramentos.
Depois de tomadas essas essenciaes deliberações e
lembradas as mais medidas convenientes para a re-
gularidade da escripturação e contabilidade da im-
posição, organizou a Secção o projecto que tem a
honra de submetter respeitosamente á consideração
de Vossa Magestade Imperial que, relevando os de-
feitos, nascidos em parte da gravidade da matéria, se
Dignará Resolver o que fôr servido.
Projecto fie Hegulamento para a cobrança da contribuição
extraordinária sobre os vencimentos, lançada pelo art. 2 3
da Lei n.° 3 1 7 de 21 de Outubro do 1 8 1 3 .

Art. l.°São sujeitos ú contribuição extraordinária


lançada pelo art. 23 da Lei n.° 317 de 21 deOutubro
de 1843 todas as pessoas, que receberem dos cofres
públicos geraes, por qualquer titulo que seja, o ven-
cimento annual de 500#000, e dahi para cima, quer
seja em um só vencimento, quer em dous ou mais
reunidos, comprehendendo-se nelles os emolumentos,
que receberem de partes; e será regulado na proporção
seguinte:
A. pessoa que receber 500#000 até 1:000#000 pagará 2 »/0
D M mais de 1:0008000 » 2:000,1000 » 3 °/o
» » » » 2:0008000 » 3 0008000 » i «Io
» » » » 3:0008000 » 4:0008000 » 5 «Io
0 U
» - 4:000 ; 000 » 5:0003000 » 6 °/o
» » V » 5:000jj080 » (i: 0008000 » 7 %
)| X
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» » )> » 7:000)1000 » 8:'008000 » 0"/o
» 1)
" » 8:0')030'.tO » n 10 «0
- 119 —
Art. 2.° Não são sujeitos a esta contribuição os ven-
cimentos dos militares em campanha, os das praças
de pret de terra e mar", e os que são designadamente
applicados a despezas de serviço publico como cavai-
gaduras, íorragens, expediente, °etc.
Art. 3.° Quando o vencimento se compuzer de uma
parte fixa e de outra variável, v. g. ordenado e por-
centagem como nas Alfândegas e consulados, ou de
ordenado e emolumentos como nas Secretarias de
Estado, ou consistir todo em porcentagem como nas
Collectorias, a quota da contribuição será a correspon-
dente á totalidade do vencimento, tomando-se por
base, para a parte variável, o rendimento delia no anno
antecedente, e pelo que pertence a emolumentos será
de antemão participada pelo chefe da respectiva re-
partição áquella que faz as relações, de que trata o
art. 9.°, e sem essa participação não serão pagos os
vencimentos fixos. Se no fim do anno se reconhecer
que o rendimento effectivo da porcentagem ou emo-
lumento effectivo foi maior ou menor do que o to-
mado por base, e a differença alterar a quota da con-
tribuição, a Fazenda Nacional ou o empregado serão
indemnizados, no pagamento do ultimo mez do anno,
do que de mais ou de menos se houver descontado para
pagamento da contribuição.
Art. 4.° Quando o vencimento consistir somente em
emolumentos regular-se-ha a quota da contribuição
pela ultima lotação em vigor.
Art. 5.° Para â quota relativa aos emolumentos dos
Officiaes de Justiça, que tiverem ordenado pago pelos
cofres públicos, servirá de base a ultima lotação em
vigor, a qual será fornecida pelas Recebedorias ás
repartições a quem o art. 9." incumbe fazer as relações
dos contribuintes.
Art. 6." Os contribuintes, que durante uma parte
do anno tiverem um vencimento maior do que em
outra, pagaráõ a quota da contribuição correspon-
dente á totalidade dos vencimentos, que lhe compe-
tirem no anno todo, mas o desconto da contribuição
far-se-ha em relação ao que receberem em cada uma
dessas partes, v.'g. o Presidente de Província que
tem 4:000#000 de ordenado e fôr também Deputado
á Assembléa Geral, pagará no intervallo das sessões
— 120 —

em que só receber ordenado a quota de 5 % que


lhe é correspondente e no tempo da sessão ordinária a
de 7 % correspondente a 5:066#666 réis ordenado de
oito mezes e subsidio dos quatro mezes.
O Ministro de Estado que fôr também Deputado,
pagará no intervallo das sessões a quota de 9 °/0 cor-
respondente a 7:200^(000 de ordenado e gratificação
de Ministro, e no tempo da sessão ordinária 10 % cor-
respondente a 9:600^000, que é o vencimento de
de Ministro reunido áo de Deputado. Como porém o
Presidente, ou outro funccionario em circumstancias
semelhantes ou análogas, no caso de não receber
alguma parte do subsidio, poderá ficar prejudicado
pagando maior contribuição do que a devida, e o
Ministro, que o receber todo, e juntamente o orde-
nado e gratificação de todo anno, virá pelo me-
thodo acima indicado a pagar menos doqüe o devido,
pois sendo o seu vencimento total de 9:600#000 no
anno a que corresponde a quota de 10 °/0 e a con-
tribuição de 9G0#000, pagou no intervallo da sessão
uma quota menor, far-se-hão os resarcimentos devidos
no pagamento' do ultimo mez do anno, ou do ultimo
que servir o emprego, se o deixar antes de findo o
anno.
Art. 7.° Esta contribuição Começará a cobrar-se dos
vencimentos pertencentes ao mez, em que fôr publi-
cado este regulamento, e continuará por espaço de
dous annos.
Art. 8." Esta contribuição será cobrada pelos Thc-
soureiros Pagadores a quem pertencer pagar os ven-
cimentos a ella sujeitos, e no mesmo acto do paga-
mento á vista de relações aulhenticas, que de antemão
lhe serão fornecidas: a contribuição dos vencimentos,
que só consistirem em emolumentos, será paga nas
Recebedorias, Mesas de Rendas, e Collectorias no fim
de cada semestre.
Art. 9.° As relações na Corte, pelo que pertence a
vencimentos pagos pela Thesouraria dos ordenados,
serão organizadas na Contadoria Geral de Revisão, e
pelo que pertence a vencimentos pagos pelas Repar-
tições da Marinha e Guerra, pelas suas respectivas
Contadorias, nas Províncias o serão pelas Thesourarias
de Fazenda; e tanto na Corte como nas Províncias,
— 121 —
pelo que pertence ás Alfândegas, Consulados» Recebe-
dorias eoutras Estações, cujos empregados são pagos
por ellas, serão organizadas pelos respectivos Escrivães;
as de contribuintes cujos vencimentos consistem só
em emolumentos (art. 4.°) serão feitas nas Recebe-
dorias, Mesas de Rendas ou Coliectorias do lugar.
Art. 10. As relações devem conter o nome do con-
tribuinte, o seu vencimento arfnual e a naturefcá deste,
a quota a que é sujeito e a importância <desta. no
mez, em que tem de ser pago o vencimento.
Art. 11. Pára que, nas estações encarregadas de
organizar as relações, se saiba a quota a que é sujeito
o contribuinte, que recebe vencimentos por cofres
differentes, ellas se communicaráõ reciprocamente os
de que tiverem assentamento ou noticia.
Art. 12. No acto, em que se fizer a cobrança da
contribuição, se lançará na relação a nota—Pg.—e
se dará aó contribuinte um recibo impresso, podendo
ser cortado de livro de talão, que será fornecido á
Thesouraria pela Estação ou Empregado, a quem o
art. 9.° incumbe de organizar a relação, de que alli
se trata, sendo rubricado pelo respectivo Chefe. O re-
cibo deverá conter p nome do contribuinte, a impor-*
tanciapaga, e o tempo a que elia pertence, a data,
e a rubrica do Thesoureiro, Pagador, ou Collector e do
respectivo Escrivão.
Art. 13. Acontecendo que, por engano ou por falta
de noticia dos vencimentos do contribuinte, se cobre
mais ou menos do que o devido, se farão as com-
petentes correccões na relação, que se organizar quando
se der pelo engano ou falta, e disso se lançará nota
na mesma relação.
Art. 14. Os Thesóureiros Pagadores, residentes nas
Capitães, remetteráõ na Corte ao Thesouro, e nas Pro-
víncias ás Thesourarias, até o dia 10 de cada mez
impreterivelmente, a somma que tiveremarrecadado
da contribuição do mez antecedente, acompanhada
-de uma relação nominal das pessoas, que apagarão,
e quanto cada uma e- o mez ou mezes a que per-
tence Os Thesoureiros ou Collectores, residentes fora
das ditas Capitães, farão do mesmo modo remessa ás
Thesourarias nas épocas estabelecidas para a remessa
das outras rendas.
16
— 122 —
Art. 15. Pela arrecadação e escripturação desta
renda não se levará porcentagem ou estipendio al-
gum.
Art. 16. Concluída a arrecadação de ura anno da
contribuição os Thesoureiros e Collectores remetteráõ
na Corte áo Thesouro, e nas Províncias ás Thesourarias
os livros de talão e as relações, que lhe tiverem sido
fornecidos para a cobrança, a fim de se tomar na
fôrma da lei a conta desta arrecadação.
Rio de Janeiro em 27 de Fevereiro de 1844.— José
Antônio da Silva May a.—Visconde de Monte-Alegre.—
Visconde de Abrantes.

RESOLUÇÃO.

Como parece. —Paço, 23 de Abril de 1844. (*)


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Manoel Alves Branco.

N. 44.—RESOLUÇÃO DE 6 DE JUNHO DE 1844.


Sobre o Regulamento para cobrança dos direitos de Patentes dos Despachantes
das Alfândegas.

Senhor.—A Secção do Conselho de Estado dos Ne-


gócios da Fazenda, em desempenho das Ordens de
Vossa Magestade Imperial, tem a honra de apresentar

(*) Em conformidade deste projecto se expedio o Decreto e Regula


mento n.o 349 de 20 de Abril de 1844, que vigorou somente até 36 de
Junho de 1845, fim do anno financeiro de 1844—45, por ter sido abolido
o imposto para cuja arrecadação fora expedido, pela Lei n.o 346 de 34 de
Maio de 1845, art. l.°, a qual mandando continuar em vigor no exerciiio
de 1845—46 a lei do orçamento do exercício anterior de 21 de Outubro
de 1843, exceptuou expressamente os arts. 23, 29, 41, 45, 49, o primeiro
dos quaes fora o que lançara o imposto de que se trata. „ •$'.*J\
— 423 —

respeitosamente á approvação de Vossa Magestade Im-


perial o Regulamento que* organizou para a cobrança
dos direitos de Patente dos Despachantes das Alfân-
degas, de um imposto, que, novamente creado pelo
art. 20 da Lei de 21 de Outubro de 1843, n.° 317
não pôde ser lançado e arrecadado sem que se lhe
regule, segundo as bases estabelecidas na mesma lei,
a maneira de o fazer effectivo com promptidão, mas
sem vexame; com interesse da Fazenda Nacional, mas
sem excesso; em perfeita conformidade com a letra
e intenção do preceito legal.
Os Despachantes, Imperial Senhor, de muito tempo
conhecidos nas Alfândegas do Império, já estavão le-
galmente designados ou definidos no art. 191 do Re-
gulamento de 22 de Junho de 1836, para bem se en-
tender a disposição da Lei emquanto ás pessoas sobre
quem tem de récahir, em generalidade, o imposto
novamente decretado, isto é, daquellas, que devem
ficar sujeitas a pagar uma Patente annual, sem a qual
lhes não será permittido o exercício, que até agora
gratuitamente se lhes facultava, epor isso, especial-
mente incumbia á Secção fazer dellas a divisão nas
duas classes reguladas pela importância dos despachos
que fizerem como determina a lei, e fixar as regras
para regular nessas mesmas classes e em differentes
ordens dentro dellas, tanto as qualidades de que
devem revestir-se os Despachantes, como as respec-
tivas quotas, incluídas entre o máximo e o minimo
marcado pela mesma Lei, e bem assim a fôrma de
seu lançamento e cobrança; mas porque as disposições
do mencionado art. 191* do Regulamento de 22 de
Junho de 1836, ainda poderião dar lugar a algumas
duvidas, e não poucos abusos em prejuízo do imposto,
por falta de clareza, e de cautelas para sua per-
feita execução, penetrou-se a Secção da necessidade
de estabelecer mui positiva e circumstanciadamente
os meios de bem se qualificarem nos actos dos des-
pachos das mercadorias nas Alfândega», os próprios
donos dellas, e os caixeiros das casas de commercio,
de cuja conta ou consignação ellas forem; ao que a
Secnão entendeu satisfazer da maneira que se segue :
- 124 —

Regulamento para execução do art. 2 0 da Lei n«° 3 1 9 de 21 de


Outubro de 18 43.

Art. 1 .• A pessoa que despachar pôr si mesma gê-


neros ou mercadorias de sua propriedade ou consig-
nação, deverá apresentar em requerimento ao Inspector
da* Alfândega as facturas ou conhecimentos, que lhe
tenhão sido dirigidos ou endossados, por onde mostre
ser o próprio dono ou consiguatario, ficando assim
declarado o art. 191 do Regulamento de 22 de Junho
de 1836.
Art. 2.° O commerciante, que encarregar a caixeiro
seu despacho de gêneros ou mercadorias, que: lhe
pertenção ou sejão consignadas, deverá requerer ao
Inspector da Alfândega que lhe mande tomar o termo
de que trata o § 2 o do citado art. 191 do referido
Regulamento, no qual termo, que será lavrado em
livro próprio, declarar-se-ha o nome e naturalidade
do caixeiro.
Art. 3.° Os Despachantes das Alfândegas, sujeitos ao
imposto de Patente, serão divididos em duas classes,
a saber—geraes e, éspeciaes.
§ 1.° Como geraes serão' qualificados os que, mos-
trando-se maiores de 21 annos e isentos de crimes,
se apresentarem abonados por escriplo por três ou
mais firmas de negociantes acreditados na Praça, que
certifiquem a sua idoneidade, e se reponsabilzem como
fiadores pelas multas e indemnizaçóes, em que possão
incorrer por effeito das Leis e Regulamentos.
§ 2.° Como éspeciaes serão qualificados os que, nas
mesmas circumstancias dos antecedentes, apresentarem
uma ou mais firmas de Negociantes autorizando-os
para o despacho de gêneros ou mercadorias de sua
conta ou consignação, e responsabilizando-se pelas
multas e indemnizaçóes, a que forem aquelles con-
demnados.
Além disto poderão os desta classe ser eventual-
mente encarregados, por qualquer pessoa, do despacho
de gêneros próprios ou consignados, mas não serão
admittidos a fazel-os sem que apresentem ao Ins-
pector a autorização com responsabilidade da pessoa,
que os empregar e a factura ou conhecimentos, que
provem a propriedade ou consignação da mesma pessoa.
— 425 —
Art. 4.°; Cada uma das classes, referidas nos artigos
antecedentes, será subdividida em diversas ordens,
segundo a importância dos despachos, que costumão
fazer, ou dos lucros, que possão ter os classificados;
lançando-se-lhes como.preço das Patentes, á que são su-
jeitos, taxas correspondentes â classe e ordem a que
pertencerem, na fôrma davTabella annexa a este Re-
gulamento.
Art. 5.° A classificação dos Despachantes e sua sub-
divisão em diversas ordens, será annualmente feita
por uma Commissão do Inspector, Escrivão ê Feitores
(da respectiva Alfândega, exigindo das casas de com-
mercio, e dos próprios Despachantes, as informações
prècisaa, Esta Commissão fará a relação nominal dos
ditos Despachantes por classes e ordens, conforme a
Tabejla annexa, e remettel-a-ha até o dia 20 de Junho
de cada anno as Recebedorias nesta Corte, na Bahia,
Pernambuco, e Maranhão e ás Thesourarias nas outras
Províncias.
Art. 6.° A primeira classificação, pqrém, que deve
ter lugar neste corrente anno,* será feita da mesma
fôrma dentro do prazo de um mez contado do dia
da publicação deste Regulamento, em cada uma das
Alfândegas do Império.
Art. 7.° Os que actualmente* se achão em exercício
de Despachantes, na fôrma do § 1." do art. 191 do Re-
gulamento de 22 de Junho de 1836, apresentarão os
seus requerimentos aos Inspectores das Alfândegas
dentro de 15 dias acompanhados de certidão de idade,
folha corrida, certidão de corrente na respectiva Al-
fândega, e abonacão dos-Negociantes, nos termos dos
§§ 1.° e 2,° do art* 3-.°; e os que para os annos fu-
turos se quizerem habilitar Despachantes de qualquer
das duas classes, apreseutaráõ os seus requerimentos e
documentos acima indicados até o fim do mez de
Marco.
Art. 8.* Quando algum dos actuaes Despachantes,
ou dos futuros pretendentes, se julgar prejudicado por
não ter sido admittido, ou por ter sido collocado em
classe e ordem superior a que entenda competir-lhe
poderá recorrer da Commissão para ás Recebedorias
ou Thesourarias respectivas e destas para o Tribunal
do Thesouro Publico Nacional.
— 426 —

Art. 9." A vista das relações, remettidas pelas Com-


missões das Alfândegas, as* Recebedorias ou Thesou-
rarias farão, em livro próprio, a matricula dos Des-
pachantes e o lançamento da taxa correspondente a
cada um, segundo a classe e ordem a que pertencer,
e expedirão as Patentes, cujo pagamento será reali-
zado por quantias adiantadas. Em caso de recurso
interposto e attendido, proceder:se-ha á correcção da
matricula, lançamento e patente por meio das verbas
necessárias.
Art.10. As fianças geraes e éspeciaes, exigidas pelos pa-
ragraphos do art. 3.°, poderão ser revogadas ou cassadas
pelosfiadores,ou committentes dos Despachantes, que
assim o requererem aos Inspectores das Alfândegas. E
neste caso não poderão os mesmos Despachantes conti-
nuar no exercício do seu emprego sem que por outras
fianças se tenhão rehabilitado; não obstando este facto
a ultimação dos despachos, que estiverem pendentes ;
—salvo se se mostrar que nesses mesmos estão os Des-
pachantes procedendo com fraude ou notável negli-
gencia.
Art. 1 1 . 0 emprego de Despachante é pessoal e por
isso não se admittiráõ notas de despachos assignadas
por prepostos, ou ajudantes delles por mais explicita
e especial que seja a autorização, que lhes dêm.
Art. 12. Não poderão ser admittidos a alguma das
duas classes de Despachantes :
§ 1.° Os Negociantes fallidos, que não tiverem sido
reconhecidos de boa fé por sentença da competente
autoridade.
§ 2.s Os que tiverem sido convencidos, em qualquer
tempo, dos crimes de contrabando, furto e estellionato.
— 127 —

TABELLA
1.' CLASSE.
Despachantes Geraes.

CORTE.
PERNAM- MARA- OUTRAS
BAHIA. S. PEDRO.
BUCO. NHÃO. PROVÍNCIAS.

1.* Ordem. 5008000 300g000


2.» » 4008000 2008000 308000
3.» » 3008000

a. a CLASSE.
Despachantes éspeciaes.

20|000

Digne-se Vossa Magestade Imperial Acolher benigno


este trabalho da Secção e tomal-o na consideração de
que fôr merecedor.
Rio de Janeiro em 37 de Fevereiro de 1844.—José
Antônio da Silva May a.—Visconde de Monte-Alegre.
—Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece, coma declaração porém, que no art. 12


se acrescente a condição seguinte e é : que não seja de-
vedor á Fazenda Publica.—Paço em 6 de Junho de 1844.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador. O
Manoel Alves Branco.
(*) Foi mandado executar o Regulamento constante do Projecto supra por
Decreto n. 362 de 16 de Junho de 1844.
Este Regulamento, porém, foi alterado pelos 'Decretos ns. 376 de 12 de
Agosto de 1844, 687 de 27 de Fevereiro de 1849, 633 e 634 de 28 de Agosto
do mesmo anno, 1914 de 28 de Março e 1939 de 23 de Junho de 1857.
H Rege finalmente hojeo assumpto o T i t . 5 . 0 Cap. 7.o arts. 648eseguintes
do Regulamento mandado observar pelo Decreto n.° 2647 de 19 de Setembro
de 1860.
— 128 —

N. 4 5 . —RESOLUÇÃO DE 8 DE JUNHO DE 1844.


Sobre o Regulamento para lançamento arrecadação e fiscalização do
imposto de lojas, etc.

Senhor.—A Secção do CóhselhQ de" Estado T cargo


da qual se achão os negócios da Fazenda tem a honra
de apresentar respeitosamente á approvacão de Vossa
Magestade Tmpjeriâl um projecto deTegulamento, por
que se dirijão convenientemente, o lançamento arre-
cadação e fiscalização dos impostos, a qúe são sujeitas
as lojas e casas de commercio e outras de diversas
classes e denominações; as de leilão e modas, as seges
e os -barcos tte nave^çarr~ititer1ür.' Pn^ectonpie^a
Secção julgou necessário quando de outros se occu-
pava, não tanto para comprehender o que relativa-
mente a estes impostos de novo decretou a lei de 21
de Outubro de 1843 n.° 317 nos arts. 10, 17 e 18,
pois que os additamentos compreendidos nestes ar-
tigos, assim dos objectos onerados com os impostos
como das quotas d'antes estabelecidas, bem podião
subordiaar-se a Regulamentos já feitos, e até agora
em pratica; mas principalmente para, por meio de uma
mais bem ordenada reforma desses mesmos Regula-
mentos, facilitar a intelligencia e execução das res-
pectivas disposições, as quaes tendo precisado por vezes
de explicações *e declarações á duvidas occorridas aos
empregados Fiscaes, ou suscitadas pelos Collectados,
se havião tornado cada vez mais embaraçados para
o expediente, que dependia da combinação das dif-
ferentes ordens e Instrucções expedidas pelo Tribunal
do Thesouro Publico ISacional, prejudicados os inte-
resses das partes, ora os da Fazenda Nacional cora
igual injustiça de difficultosa reparação.
Consistio portanto o serviço da Secção, na maior
parte, em colligir e coordenar essas disposições dos
Regulamentos actuaes, dessas ordens e instrucções ex-
plicativas de maneira queficassembem distinctamente
conhecidos os deveres e obrigações dos Fiscaes, dos
Exactores e dos Contribuintes, bem positivamente fi-
xadas as regras de proceder ao lançamento dos im-
postos, segundo as bases estabelecidas na lei; a cobrança
delles no tempo e pelo modo mais commodo tanto
— 129 —

aos mesmos contribuintes, como aos empregados;


e a fiscalização e contabilidade com a uniformidade
e clareza indispensáveis para a tomada^das contes e
processo, quando fôr preciso, dos responsáveis; ga-
rantindo conjunctamente aos colleçtados o direito a
legítimos recursos contra os excessos e arbitrariedade
dos Exactores; e eis em resultado o projecto seguinte.
CAPITULO I.
IMPOSTO ANNUAL SOBRE AS LOJAS E CASAS COMMERCIAES
, E OUTRAS DE DIVERSAS CLASSES E DENOMINAÇÕES.

Art. 1.° O imposto das lojas estabelecido pelo Air


vara de 20 de Outubro de 1812, pelo art. 9.» § 4."
da Lei de 22 de Outubro de 1836, e art. 10 da Lei
de 21 de Outubro de 1843, será cobrado:
§ 1.° Nas cidades do Rio de Janeiro, Bahia, Per-
nambuco e Maranhão na razão de 20 °/„ do aluguel
da casa, em que estiver a loja, mas nunca menos de
12#800.
§ 2.° Nas outras Cidades e Villas e nos lugares do
Município da Corte fora da Cidade por uma Patente
para cada loja, cujo minimo será de 120800 e o má-
ximo de 400000 na proporção seguinte.
1 .• As loiás cujo fundo fôr do valor de menos dé
1:0000000. 420800
2.» de 1:OOO0OOO a 2:0000000 20^000
3." de 2:0000000 a 3:0000000 300000
4.° de 3:0000000 e dahi para cima 40^00
§ 3.° Nas Povoacões, Arraiaes, e quaesquer lugares,
fora dos designados nos paragraphos antecedentes,
120800 por cada loja.
Ârt. 2.° São sujeitas ao imposto do artigo anteoe-
derite. , ,
§ 1 .• Todas as lojas, armazéns ou sobrados, em que
se vender por grosso ou atacado e a retalho ou va-
reio qualquer qualidade de fazendas e gêneros, seccos
e molhados, ferragens, louças, vidros, inaçamesequaes:
quer outros de toda a natureza.. >-.
§ 2.° Todas as casas que contiverem gêneros ex-
postos á venda, qualquer que seja a sua qualidade e
17
— 130 —

quantidade, comprehendendo-se as lojas de todas as fa-


bricas e officinas, que tiverem expostos á venda quaes-
quer obras, ou gêneros de sua manufactura como as
de entalhador, esculptor, marceneiro, pentieiro, po-
leeiro, tanoeiro e torneiro; de cutileiro, espingardeiro,
ferreiro, e serralheiro; de pintor, dourador, e gra-
vador; de alíaiate, sapateiro, colchoeiro e selleiro;
de padeiro, sebeiro, e outros semelhantes.
§ 3.° Todas as lojas de ourives, lapidarios, correeiros,
latoeiros, caldeireiros, estanqueiros de tabaco, boti-
cários e livreiros.
§ 4.° Todos os botequins, tabernas e confeitarias.
§ 5.» Todas as casas de consignação de escravos.
§ 6.» Todas as casas ou lojas, em que se vender carne
verde de vacca, carneiro-ou porco, e carne secca.
§ 7.° Todas as fabricas de charutos.
§ 8.° Todas as cocheiras, cavallariças, que tiverem
seges ou cavallos de aluguel.
§ 9.° Os escriptorios dos Banqueiros, Negociantes,
Corretores e Cambistas.
§ 10. Os Cartórios de Advogados comprehendidos os
que não assignão os papeis do foro, Escrivães, Ta
belliães, Distribuidores, e Contadores Judiciaes.
Art. 3.° São isentos do imposto os seguintes estabe"
lecimentos, não se vendendo nelles gêneros ou mer-
cadorias algumas em grosso ou a retalho.
§ 1.° Os armazéns de recolher ou de simples deposito.
§ 2.° Os Trapiches de arrecadação é transito.
§ 3." As fabricas.
§ 4.° As officinas e casas de officio.
§ 5.° As estâncias oü barracas portáteis.
§ 6.* As casas denominadas de quitandas, cm que
só se venderem as miudezas próprias deste trafico.
§ 7.» As estalagens e hospedadas.
- § 8.° As casas de jogos, inuseos, cosmoramas, e
Dioramas.
Art. 4.° O processo do lançamento do imposto de
20 % do aluguel annual das lojas, armazéns, escrip-
torios, etc, de que trata o art. 2.° será feito no mez
de Julho de cada anno e do mesmo modo por que se
faz o da Décima Urbana no Município da Corte.
Art. B.° O preço do aluguel annual para servir de
base á quota dó imposto de £0 0/0 será o constante
— 131 —
dos recibos e arrendamentos ou o arbitrado pelos
Lançadores ou Conectores.
Art. 6.° O arbitramento, será feito com attenção ao
local onde existir a loja» armazém ou escriptorio e
á capacidade destes estabelecimentos, tomando-se por
termo de comparação o aluguel das casas mais pró-
ximas e dâ mesma capacidade pouco mais ou menos
e terá lugar.
§ 1.° Quando os collectados forem donos das casas
em que estiverem as lojas, armazéns ou escriptorios,
ou quando occüparem as casas por aluguel sem dis-
tincção do preço da parte occupada pelos ditos esta-
belecimentos ; êm ambos os casos se arbitrará para
o lançamento o aluguel relativo á parte da casa no
pavimento térreo ou do sobrado, quando estiver occu-
pada com a loja, armazém ou escriptorio.
§ 2.° Quando os Collectados, por qualquer pretexto,
não apresentarem no acto do lançamento os recibos
ou arrendamentos ou estes forem visivelmente sus-
peitos de fraude em prejuízo do imposto.
Art. 7.° Quando em parte de um mesmo pavimento,
térreo ou sobrado, o Collecíado tiver differentes es-
pécies de negocio ou a sua loja ou armazém cora
escriptorio, far-se-ha um só lançamento.
Art. 8.° Se o Collectado occupa*r a loja e sobrado da
casa com uma ou com differentes espécies de negocio,
também se fará um só lançamento na razão do espaço
occupado pelo negocio.
Art. 9.° O fundo que ha de servir de base ao im-
posto de Patente, de que tratão os arts. 1.° e 2.°, re-
gular-se-ha pelo existente, pouco mais ou menos no
acto do lançamento, e do permanente durante o anno
antecedenteem gêneros e mercadorias expostas á venda,
e com attenção á sua maior ou menor extracção, se-
gundo a impbrtancia-commercial do lugar onde estiver
a casa.
CAPITULO II.
IMPOSTO ANNUAL DAS CASAS DE LEILÃO, DE MODAS E OUTRAS.

Art. 10. São sujeitas ao imposto estabelecido pelo


art. 30 § 1.° da Lei de 8 de Outubro de 1833, e elevado
pelo art. 17 da Lei do 21 de outubro de 1843 todas
— 132 —

as casas de leilão que se abrirem ou sejão estabele-


cidas em lojas do andar da rua, ou se achem em so-
brados, uma vez que por taes sejão conhecidas ou
nomeadas, e estejão publicamente franqueadas.
A quota do imposto é:
Para a Cidade do Rio de Janeiro 8000000
Para a Bahia e Pernambuco 4000000
Para as outras Cidades Capitães 2000000
Art. 11. São sujeitas ao imposto especial de 800000,
de que tratão os arts. 17 e 18 da Lei de 21 de Ou-
tubro de 1843, todas as casas que se qualificarem com
as seguintes denominações, e contiverem os objectos
abaixo declarados:
§ 1.» As casas de modas, que forem estabelecidas,
abertas, nomeadas e franqueadas nos termos do art. 10.
§ 2.° As casas, que venderem roupa ou calçado
fabricado em paiz estrangeiro.
§ 3." As confeitarias e perfumarias.
§ 4.° As de armação de luxo.
§ §.° As em que se vendem escravos.

CAPITULO III.
DISPOSIÇÕES COMMUNS Á MATÉRIA DOS CAPÍTULOS ANTE-
CEDENTES.

Art. 12.. Se os Collectados comprehendidos na dis-


posição do art. 2." em qualquer tempo do anno mu-
darem para outras casas de maior ou menor aluguel
para outras de maior ou menor importância commercial,
serão obrigados a pagar a correspondente maioria do
imposto pelas lojas, armazéns ou escriptoriosoccupados
uu descontar-se-ha a correspondente diminuição, que
se verificar.
Art. 13. No caso de venda cessão ou traspasso,
por qualquer titulo das casas, lojas, e t c , sujeitas
ao imposto de que tratão os Capítulos 1.° e 2.° o novo
dono ficará responsável pelo imposto devido, que o
seu antecessor tiver deixado de pagar.
Art. 14. O imposto é devido por inteiro desde logo
que se faz o lançamento, e depois em qualquer dia
do anno cm que se estabecerem as casas, lojas, arma-
— 133 —

zens, e t c , ainda que se1 fechem antes de findo o


mesmo anno.
Art. 45. Quando os Collectados forem tão indigentes,
que não possão pagar o imposto serão alliviados dentro
do anno do lançamento, procedendo-se ás informações
convenientes, do que se fará no mesmo lançamento
especial declaração.
Esta disposição porém não é extensiva ás casas de
leilão.
Art. 16. Encerrado o lançamento do anno as casas,
lojas, etc. que se abrirem serão inscriptas em addi-
tamento ao lançamento para pagarem a quota a que
forem obrigadas, procedendo-se aos exames conve-
nientes.
Art. 17. Ninguém poderá abrir loja, casa, etc para
exercer qualquer industria commercial ou profissão
sujeita ao imposto, sem que primeiro faça declaração
na EstaÇão Fiscal do lugar, em que a pretende abrir,
e da natureza do negocio, para ser inscripta no lan-
çamento e proceder-se aos convenientes exames, e
o que o contrario fizer incorrerá na multa de outro
tanto do imposto.
Art. 18. As Câmaras Municipaes não poderão dar
as licenças annuaes aos que são obrigados ao paga-
mento do imposto sem que tenhão apresentado co-
nhecimento de o haver' pago do anno anterior ou do
da licença, que se requerer.
Art. 19. Nenhuma acção poderá o Collectado propor
ou defender em Juizo sobre o objecto do negocio da
respectiva casa, loja, e t c , sem que mostre alli pelo
conhecimento competente estar quite do imposto do
ultimo anno no acto de propor ou defender a acção.

CAPITULO IV.

IMPOSTO SOBRE AS SEGES.

Art. 20. São sujeitas ao imposto annual de 120800


réis, estabelecido pelo § 1.° do Alvará de 20 de Ou-
tubro de 1812:
§ l.° Todas as carruagens, traquitandas, coches, ca-
leças, carrinhos, gondolas, sociaveis, c outras de
— 134 —

qualquer denominação, ou fôrmas, que tiverem, sendo


de quatro rodas.
Art. 21. São do mesmo modo sujeitas ao imposto
annual de 100000 estabelecido pelo § 1.° do dito
Alvará :
§ I.° Todas as seges e carrinhos de qualquer deno-
minação e fôrmas que tiverem, sendo de duas rodas.
Art*. 22. São isentas do imposto :
§ 1.° As carruagens, coches e seges do serviço da
Casa Imperial.
§ 2." As dos Empregados Diplomáticos das Nações
estrangeiras.
Art. 23. O lançamento respectivo não comprehende
quantas seges e carruagens se possuir, mas somente
as que se põe em uso effectivo ao mesmo tempo,
havendo para isso os criados e parelhas competentes.
Art. 24. Se os Collectados tiverem ao mesmo tempo
carruagens ou carro de quatro rodas, e sege ou car-
rinho de duas rodas, servindo-se porém de uma dellas
somente em uso effectivo, considerando-se a outra
em reserva, neste caso regular-se-ha o imposto pela
de quatro rodas.
Art. 25. São sujeitas ao imposto tanto as que
depois do lançamento se puzerem em uso em qual-
quer tempo do anuo; como as que depois de incluídas
no lançamento ficarem sem uso em qualquer tempo
do anno lançado.
Art. 26. Quem montar ou comprar sege ou car-
ruagem, de qualquer fôrma ou denominação que seja,
para seu uso ou para aluguel, será obrigado a ma-
nifestal-a na Repartição Fiscal para ser inscripta no
lançamento do anno.e os que o contrario praticarem
incorrerão na multa do duplo do imposto, e os que
occu.ltarem e usarem de meios illicitos para sub-
trahirem-se ao imposto, não declarando no acto do
lançamento as que estão em circumstancias de pagar
o imposto devido, serão sujeitos a igual multa do
duplo do imposto.
— 135 —
CAPITULO V.
DO IMPOSTO ANNUAL SOBRE OS BARCOS DE NAVEGAÇÃO
INTERIOR.

Art. 27. São sujeitos ao imposto de 40800, réis esta-


belecido pelo § 3.° do Alvará de 20 de Outubro de 1812,
todos os barcos, que não navegão fora das barras
dos portos do Império, que se alugão e andão a
frete, empregados em serviço de transporte de gêneros
a saber :
1.° Os Saveiros.
2." As Lanchas.
3.° As Faluase Escaleres.
4.°Q Os Botes .e Catraias.
5. As Jangadas, Canoas e outras embarcações de
qualquer fôrma e denominação.
Art. 28. São isentas do imposto:
1." As Canoas empregadas em serviço particular dos
donos dellas e as que se empregarem nas pescarias,
ainda que estas não sejão constantes.
2.° As Jangadas e quaesquer barcos destinados e
empregados exclusivamente nas pescarias.
3.° Os Botes, Escaleres, e Lanchas pertencentes ás
embarcações de barra fora, que forem sujeitas á im-
posição respectiva.
4.° Os Barcos pertencentes ao serviço e costeio das
Caieiras, Cortumes, Olarias e 'outros estabelecimentos
de industria fabril ou rural de que fizerem parte
integrante.
Art. 29. No lançamento dos Barcos, que se fizer do
Districto da Estação Fiscal, comprehender-se-hão tam-
bém aquelles que navegarem nos rios e portos res-
pectivos, ainda que seus donos nelles não sejão domi-
ciliados, não apresentando conhecimento de talão' do
pagamento do imposto feito na Estação Fiscal do
Districto, em que forem domiciliados."
Art. 30.* Nas Mesas do Consulado e Rendas em"
qualquer Estação Fiscal, não se expedirá conheci-
mento do pagamento de siza dos 5 % das compras
e vendas, que se fizerem dos Barcos do interior, sem
rue estejáo quites para com o imposto annual de 40800
qéis a que são sujeitos.
— 13G —

CAPITULO VI.

DOS PRAZOS DOS PAGAMENTOS.

Art. 31. O pagamento dos impostos, de que trata


este Regulamento, será feito pelos Collectados á boca
do cofre da Estação encarregada da sua cobrança a
saber :
O imposto das lojas, armazéns, escriptorios, e t c ,
que pagarem mais de 120800 réis, o das casas de
leilão e modas, será pago metade no decurso de Julho
e a outra metade no decurso de Dezembro.
O das lojas, que pagarem 120800 réis. e dos barcos
do interior será pago na sua totalidade no decurso
dos mezes de Novembro e Dezembro.
Art. 32. Os Collectados, que não tiverem pago os
impostos nos prazos marcados no artigo antecedente,
pagaráõ mais a multa de 3 °/0 do valor dos impostos,
a que forem obrigados, a qual será applicada aos
Recebedores da Estação Fiscal, que fizerem a arreca-
dação no domicilio dos devedores. Os que assim não
tiverem pago o imposto e a multa, dentro do anno,
serão executados pelo imposto vencido e multa incor-
rida.
Art. 33. Findo o anno se exlrahirá do Livro de
lançamento certidões do que se achar em divida com
as precisas declarações, as quaes serão remettidas ao
Juizo Privativo dos Feitos da Fazenda da Província
para proceder a sua arrecadação executivamente, dentro
do semestre addicional do exercício de cada anno.
CAPITULO VII.
DAS RECLAMAÇÕES E RECURSOS.

Art. 34. Os Collectados, que tiverem de reclamar


contra o lançamento dos impostos, de que trata este
Regulamento, intentaráõ suas reclamações documen-
tadas durante o tempo do mesmo lançamento até o
dia, em que começar a sua cobrança,*sob pena de
não serem depois admiltidos, e o processo dellas se
limitará a uma petição dirigida na Corte ao Admi-
nistrador da Recebedoria e nas Províncias ás The-
— 437 —

sourarias, instruída com os documentos, que os recla-


mantes julgarem a bem de seu direito; havendo re-
curso das decisões para o Tribunal do Thesouro Pu-
blico Nacional, sem comtudõ suspender a. arreca-
dação,
CAPITULO VIII.
DA FISCALIZAÇÃO E CONTABILIDADE.

Art. 35. Afiscalizaçãodo lançamento dos impos-


tos deste Regulamento se fará dó mesmo modo esta
belecido no Regulamento para o da Décima Urbana
do Município da Corte.
Art. 36. Haverá para o expediente da contabilidade
do imposto, os seguintes livros, abertos, numerados,
rubricados e encerrados na fôrma da Lei, que serão
escripturados conforme os modelos annexos. ,
r 1.° Livro do Lançamento.
2.° « de Receita.
3." « de talão para as quitações.
4." « de valores, que se remeiterem ao Juizo Pri-
vativo para serem cobrados executiva-
mente.
Art. 37. Na Corte a Recebedoria do Município, e
nas Províncias as Thesourarias respectivas, remetteráõ
ao Thesouro Publico, conjunetamente como Balanço
definitivo de cada anno, a Estatística financeira dos
objectos especificados, em que reeahem os impostos
de que trata este Regulamento, com as observações
que oceorrerem, conforme o modelo junto.
Art. 38. A porcentagem e mais despezas inherentes
ao expediente da arrecadação, administração e fisca-
lização; as épocas para as entregas do producto li- i
quiâo dos jrapostos, e da prestação das contas dos
Exactores respectivos, serão as mesmas actuaJmente
determinadas nos Regulamentos Fiscaes do Governe*.
Digne-se Vossa Magestade Imperial tomal-o na Sua
Imperial consideração, e outorgar-lhe a approvação
. se delia fôr julgado merecedor. a, •
Rio de Janeiro, 9 de Março de 1844. — Visconde
de Monte-Alegre.—Visconde de Abrantes.'—José An-
tônio da Silva May a.
18
— 138 —

RESOLUÇÃO.

«Corno parece, não excedendo porém as multas im-


postas nos arts. 17, 26, etc. ao máximo da lei.
Paço em 8 de Junho de 1844.

Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador. (*)

Manoel Alves Branco.

M. 46.—RESOLUÇÃO DE 21 DE DEZEMBRO DE 1841.

Sobre o recurso do Ajudante do Guarda-mór da Alfândega de Pernambuco


Manoel José Martins Ribeiro, relativamente a apprehensão de fazendas
não incluídas no manifesto do brigue Genovcz Eridano.

Senhor.—Por Aviso de 5 de Setembro deste corrente


anno Foi Vossa Magestade Imperial Servido mandar re-
metter á Secção de Fazenda do Conselho de Estado, para
consultar o requerimento de recurso de Manoel José
Martins Ribeiro, Ajudante do Guarda-mór da Alfândega
de Pernambuco, interposto da decisão do Tribunal
do Thesouro Publico Nacional sobre a apprehensão
de fazendas não incluídas no manifesto do brigue Ge-
novez Eridano.

(*) foi mandado executar o Regulamento por Decreto n.° 361 de 15


de Junho de 1844.
Esse Regalamento foi suecessivamente alterado pelos seguintes actos, a
saber:
Decreto o.° 2146 de 10 de Abril de 1858, regulando a cobrança do im-
posto dos Agentes de leilão, etc.
Decreto n.» 2506 de 16 de Novembro de 1859, regulando o lançamento,
arrecadação, e fiscalização a que são sujeitas as lojas, casas de commercio,
eoutras de diversas classes e denominações, etc.
A Lei n.° 628 de 17 de Setembro de 1851 art. 29 determinou que o
imposto sobre as seges e mais vehiculos ficasse pertencendo ás Províncias
-e na Corte á respectiva Câmara Municipal.
— <F39 —
Tinha-se feito a apprehensão pela Alfândega de Per-
nambuco em grande numero de fazendas de valor» que
tendo sido importadas pelo brigue Eridano, vindo de
Gênova, e não tendo sido incluídas no manifesto^ só
forão contidas em uma declaração feita pelo Capitão
do dito brigue na occasião de âar; a sua entrada : foi
esta apprehensão sustentada por despacho da Thesou-
raria daquella Província; mas, recorrendo o Capitão
para o Tribunal do Thesouro Publico Nacional, julgou
esle improcedente a mesma apprehensão por despacho
de 29, em conseqüência do que se expedio a Provisão
e Ordem de 31 de Agosto deste anno; foi de tal
decisão que o referido Manoel José Martins Ribeiro,
imterpôz o recurso para Vossa Magestade Imperial
Que Houve por bem submettel-o ao exame da Secção.
A Secção de Fazenda, Senhor, dirigindo-se pelas
disposições do Regimento Provisoriet do Conselho de
Estado ârts. 31, 37, 40, 45-e 46 relativas ao processo dos
objectos contenciosos,, e tendo em vista o requerimento
do recorrido contra a extemporaneidade e defeitos do
recurso, entendeu, não dever ou não poder tomar
conhecimento do recurso poü ter sido illegal e nulla-
mcntc interposto, e apresentado a Vossa Magestade Im-
perial; pois que se em tempo, isto é, dentro dos dez
dias elle se offereceu, como mostra a sua data com^
binada com a decisão de que se recorreu, esteoffere-
cimento comtudo for irregular e por isso inadmissível,
por ter sido feito pelo Bacharel Augusto Teixeira de
Freitas, que posto tivesse já a Imperial nomeação para
Advogado do Conselho de Estado, ainda não tinha to-
mado posse e entrado no exereieio, faltando-lhe a
prestação áo< juramento, que só effteotuou mui pos-
teriormente em 30 de Outubro; e além disto também
ainda ao tempo da interposição do recurso não tinha
procuração do recorrente a qual, como delia mesma se
ve, foi sellada em Pernambuco em 8 de Outubro, mais
de um mez passado.
E é isto o que offèrece á Imperial Consideração para
que Vossa Magestade Imperial Se Digne Resolver o que
fôr justo. .
Rio em 21 de Dezembro de 1844.—José Antônio da
Silva May a.—Visconde de Monte-Alegre.—Visconde de
Olinda.
— 140 —
RESOLUÇÃO.
0

Como parece.—Paço em 21 de Dezembro de 1844.


Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N.° 47.—RESOLUÇÃO DE 21 DE DEZEMBRO DE 1844.


Sobre a reclamação de Henrique e João e Moon & C a pedindo indemni/.a-
çSo ide. grande porção de pólvora por elles importada na Província do
Maranhão, è que dizem haver-sc deteriorado e extraviado uo respectivo
Deposito.

Senhor.—As Secções reunidas do Conselho de Estado


dos Negócios da Justiça e Fazenda para apresentarem a
Vossa Magestade Imperial o seu parecer examinarão at-
tentamente o requerimento de Henrique e João Moon &
C.a com todos os documentos a elle juntos, relativos ao
pedido que elles dirigirão a Vossa Magestade Imperial
da indemnização da importância de grande numero de
barris de pólvora de sua propriedade, importados na
Província do Maranhão, que dizem haverem sido extra-
viados, consummidos, e avariados no deposito, f m que
forão postos e conservados por ordem do Presidente da
dita Província.
Allegãoos Supplicantes que, para o giro de seu com-
mercio, fizerão importar na Praça da Maranhão em di-
versas embarcações 2193 barris* de pólvora, no tempo
em que na Província existia em acção uma facção re-
belde ; que por medida de segurança ordenou ó Presi-
dente da mesma Provincia que toda essa pólvora fosse
depositada na Barca Nacional D. Francüca, que era a
de vigia no Porto, e assim se effecluou em Maio de 1839;
que quando cessados os receios se ordenou que a pól-
vora fosse desembarcada, e passada para os armazéns
do almoxarifado, onde se recolheu, então se acharão
elles gravemente prejudicados, porque no decurso do
tempo em que os referidos barris estiverão depositados
a bordo da Barca, foi roubada uma parte delles, outra
consummida e avariada, como consta do auto do corpo
de delido feito em 2 de Setembro de 1839, e exame a
que se procedeu em 31 de Março de 4840, e certidão
do Almoxarife passada em 10 de Maio de 1841, veri-
— 141 -*

ficahdo-se em resultado que 344 barris forão desen-


caniinhádos e roubados, e 749 se, acharão inteira-
mente arruinados,-restando apeuas 1.100 em bom
estaco;.que,elles requererão e diligenciarão haver
indemnização da importância desses barris extraviados
e arruinados, do Presidente da Província, que mandou
recorrer aos meios judiciaes,, e do Tribuna! do The-
souro Publico Nacional, que os dirigio para o Conselho
de Estado, e por isso lapresenlào o seu requerimento a
fl. 3 cora a reclamação dessa pretendida indemnização.
í; :Finnão-se. principalmente em que o Deposito da pól-
vora não fora voluntário por convenção e escolha delles
reclamantes, mas ordenado pelo Presidente da Pro-
víncia e encarregado a seus. agentes,, e portanto for-
çados e constrangidos por motivos, que lhes erâo es-
tranhos, dada demais a cireumstancia de ser o mesmo
depqsiito sobre água, onde as avarias são mais pro-
vayçjs,; e deduzem destes princípios ser o-Governo
obrigado a restituir-lhes a pólvora no estado em que
se achava, quando foi depositada, ei responsável, na
falta, por, todos -os damnos provenientes do extravio
e da ruina, que acontecerão emriim deposito orde-
nado pela publica autoridade, de que não podiáo
declinar, u MIM
Formado o respectivo processo com todos os docu-
mentos e illuslrações, que se puderào haver, acharão
as Secções estar demonstrado que os Supplicanles im-
portarão com effeiio na . Província do Maranhão Os
2.193 barris de pólvora; que estes por uma ordem,
aliás prudente e necessária, do Presidente da Pro-
víncia; que quiz têl-os em cautela e segurança, forão
recolhidos na barca D. Franeisca; e que naoccasião
de serem desembarcados para se recolherem aos Ar-
mazéns» do Ahnoxarifado, apparecerão de menos 344,
tendo sido proveniente esta diminuição, constante da
certidão fi.. 14 v. da ruína a que deu causa o máo
estado da barca, que fazia muita água, extravio e roubo
que se suppõe feito pela gente da guarniçáo da mesma
barca, e deleixo e descuido 'dos encarregados da sua
guarda, f sem' que nesses factos intcrviesse culpa, Ne-
gligencia ou qualquer acto iinputavel aos Supplicanles:
e julgando-os nestas circumstancias com direito a re-
clamar indemnização dos prejuízos c damnos única-
-»- 142 —
menle resultantes do defeito do deposito, são de pareeer
que justiça se lhes fará Dignando-se Vossa Magestade
Imperial ordenar que o pagamento lhes seja feito da
importância da pólvora que se conlinha^nos 3*4 barris,
consumidos e extraviados, pelo seu justo preço, regu-
lando-se tudo por árbitros á vista das respectivas fac-
turas. E porquanto se não dá ainda a mesma certeza
a respeito da avaria dos outros 749 barris, que se
achão nos Armazéns do Almoxarifado, a qual, suposta
sé veja certificada pelo Almoxarife na cerlidãe fl. 14»,
não foi comtudo legal e perfeitamente demonstrada
por exames, a que compelentemente se procedesse,,
parece nesta parle ás Secções que não podendo jáv
ser definitivamente aüendída a indemnização, seja
Vossa Magestade Imperial Servido ordenar que pro-
cedendo-se aos precisos exames, sob a inspeeção do
Inspector da Alfândega do Maranhão, sejão os Suppli-
eantes indemnizados da diminuição do respectivo valor
com que se acharem os referidos 749 barris de pól-
vora, e por resultado de avaria proveniente da mesma
causa do máo estado da barca, em que estiverão de-
positados, som attenção á que por ventura lhe possa
ler provindo da natureza do gênero e demora do des-
pacho. Determinando mais Vossa Magestade Imperial
que a Alfândega do Maranhão ponha em effediva exe-
cução, a respeito dos barris da pólvora dos Supplican-
les, as disposições dos Regulamentos das Alfândegas re-
lativas aos consummos, conlra os quaes os mesmos barris
se tem conservado armazenados por muito mais que o
tempo permittido.
E' este, pois, o parecer das Secções reunidas de Jus-
liça n Fazenda, que Vossa Magestade Imperial haverá
por bem Resolver como julgar mais justo.
Bio em 13 de Dezembro de 1844.— José Antônio da
Silva May a,—Visconde de Olinda.—Visconde de Monte-
Alegre.—Ilonorio Hermelo Carneiro Leão.—Bispo de
A nemuria.
RESOLUÇÃO.
Como parece.—Paço em 21 de Dezembro de 1844.
Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.
ÍNDICE

DAS MATÉRIAS CONTIDAS NA INTRODUCÇAO.

Notas. Pags.
Lei n.° 234 de 23 de Novembro de 1841, creaudo um Con-
selho de Estado
Constituição Política:
Titulo IV, Capitulo 1.°, arts. 29, 30 e 32 5
Titulo IV, Capitulo 3.», art. 47 5
Titulo IV, Capitulo 3.°, art. 4 5 . . . 1
Titulo V, Capitulo l.«, art. 101 8
Titulo V, Capitulo 5.°, art. 124 5
Titulo V, Capitulo 7.°, arts. 137, 138, 139, 140, 141, 142,143
e 144 .' 6
Titulo VI, Capitulo único, art. 154 6
Acto addicional á Constituição do Império (art. 32).. 6
Lei de 14 de Junho de 1831: sobre a fôrma da eleição da
Regência Permanente (art. 19) , '.
Decreto n.° 124 de 5 de Fevereiro de 1842: dando Regimento
provisório ao Conselho de Estado
Titulo único: —Como o Conselho de Estado exercerá suas
funcções 9
Capitulo 1.°—Do Conselho de Estado e suas Secções 9
Capitulo a.0—Dos objectos nao contenciosos !. ... 11
Capitula 3.0—Dos objectos contenciosos 11
Capitulo 4.0—Disposições geraes. 24
Decreto n.° 222 de 9 de Setembro de 1842: tornando effectivo
o Regimento provisório do Conselho de Estado
Decreto n.°1406 de 30 de Julho de 1854: revogando o de 19
de Fevereiro de 1838, que encarregara ás Relações o co-
nhecimento dos recursos á Coroa pelos abusos das Auto-
ridades Ecclesiasticas,,,, 13
— 2 —

Notas. Pags.
Decreto n.° 1911 de 28 de Março de 1857: regulando a com-
petência, interposição, effeitos e fôrma do julgamento dos
recursos á Coroa 12
Deereto n.° 632 de 27 de Agosto de 1849: regulando a re-
messa ás Secretarias de Estado, tanto dos requerimentos
de partes como da correspondência offlnal, etc 11
Decreto n.° 542 de 3 de Dezembro dé 1847: declarando que
o recurso para o Conselho de Estado das Decisões do Tri
bunal do Thesouro nSo suspende a execução destas, salvo
mandando-o o Ministro Presidente do mesmo Tribunal. 19
Resolução de Consulta de 17 de Maio de 1851 (Extracto da )
sobre a competência do Conselho de Estado para conhecer
em gráo de recurso das Decisões do Thesouro, depois da pu-
blicação do Decreto n.° 736 de 20 de Novembro de 1850. 19
Decreto* n.° 2343 de 29 de Janeiro de 1859 (Cap. 6.°): re-
gulando a competência do Conselho de Estado para co-
nhecer em gráo de recurso das decisões do Thesouro sobre
tomada de contas, e em qualquer matéria contenciosa da
jurisdicção do mesmo Tribunal 20
Circular n.o 49 de 26 de Janeiro de 1860: marcando o prazo
para interposição dos recursos estabelecidos pelo Decreto
de 29 de Janeiro de 1859 16
Decreto n.o 2548 de 10 de Março de 1860 (Caps. 4.o e 5.°):
regulando os recursos para o Conselho de Estado das De-
cisões do Thesouro em matéria de tomada de contas, e
dando outras providencias 21
Decreto de 19 de Setembro de 1860 (Regulamento das Alfân-
degas Tit. 9.o): dispondo sobre recursos e modo de os interpor. 22
Decreto n.» 2713 de a 26 de Dezembro de 1860 (Regulamento
do sello, Parte 2. Cap. 8.o): dispondo sobre o processo e
recursos em matéria de sello 23
Aviso (do Ministério da Justiça) n.o 21 de 14 de Janeiro de
1860 marcando o prazo em que devem ser interpostos os
recursos para o Conselho de Estado T 15
Ordem n.» 82 de 30 de Março de 1849 art. 6.° § 4.» e art. 8.o. 25

<?^i
1MDICE CHRONOLOGICO

O A 9 CONSULTAS E RESOLUÇÕES CONTJDAS


ÍfO P R E S E N T E V O L U M E .

Anno de 1S42.

PAGS «
N. 1. —Em o 1.° de Abril de 1842.—Sobre o projecto de Regulamento
para arrecadação da taxa e meia siza de escravos 5
N. 2. —Em o 1.° de Abril de 1842.—Sobre o projecto de Regulamento
para arrecadação da Dizima de Chancellaria 8
N. 3. —Em o 1.° de Abril de 1842.—Sobre o projecto de Regulamento
para arrecadação do imposto da aguardente 10
N. 4. —Em 12 de Abril de 1842.— Sobre o projecto de Regulamento
para a arrecadação do imposto da Décima Urbana 11
N. 5. —Em 25 de Abril de 1812.—Sobre o projecto de Regulamento
para arrecadação da taxa de heranças e legados 13
N. 6. —Em 26 de Abril de 1842.—Sobre o projecto de Regulamento
para arrecadação dos bens de defuntos e ausentes 15
N. 7-. —Em 28 de Abril de 1842.—Sobre a intelligencia do art. 48 da
Lei de 4 de Outubro de 1831 17
N. 8. —Em 24 de Maio de 1842.—Sobre a distribuição dos créditos
Ministeriaes ás Províncias 19
N. 9. —Em 10 de Setembro de 1842.—Sobre o pagamento de sello nos
processos, etc 20
N. 10. —Em 14 de Outubro de 1842.—Sobre os meios convenientes para
o augmento da Receita e dimiuuição da Despeza Publica 22
N. 11. —Em 26 de Novembro de 1842.—Sobre leis Provinciaes de Per-
nambuco 41
N. 12. —Em 7 de Dezembro de 1842.— Sobre a pretenção de Paulo
Gomes Cardoso, pedindo seja averbada no livro das transfe-
rencias a convenção que celebrara com sua mulher sobre o
uso-frueto de seis Apólices da Divida Publica 43
N. 13,.—Em 19 de Dezembro de 1842.—Sobre as Leis Provinciaes de
Mato Grosso do anno de 1842 45
N. 14 .—Em 19 de Dezembro de 1842.—Sobre as Leis Provinciaes deS.
Paulo do anno de 1842 46
N. 15 .—Em 21 de Dezembro de 1842.—Sobre as Leis Provinciaes de
Santa Catharina »
— 2 —

Anuo de 1 8 4 3 .

PÍGI
N. 16.—Em 2 de Janeiro de 1843.—Sobre as medidas a tomar para
diminuir o déficit da receita para as despezas que o Governo
declara necessárias 51
N. 17.—Em 29 de Março de 1843.—Sobre a apprehensão da barca Mary,
c sua condemnação por crime de contrabando 66
N. 18.—Em 5 de Abril de 1843.—Sobre a duvida proposta pelo Presi-
dente do Rio de Janeiro á Ordem n.° 80 de 23 de Outubro
de 1842 -. 67
N. 19.—Em 29 de Março de 1843—Sobre o direito da Câmara Municipal
da Corte para aforar terrenos de Marinhas ; 69
N. 20.—Em 29 de Atril de 1843.—Sobre as Leis Provinciaes de Santa
Catharina 74
N. 21.—Em 29 de Abril de 1843.—Sobre as Leis Provinciaes da Bahia
promulgadas no anno de 1842 75
N. 22.—Em 17 de Junho de 1843.—Sobre a força obrigatória do Decreto
de 15 de Novembro de 1842, n.° 247, em relação aos empregados
Provinciaes 76
N. 23.—Em 17 de Junho de 1843.—Sobre as Leis Provinciaes do Rio
Graude do Norte promulgadas no anno de 1811 77
N. 24.—Em 20 de Junho de 1843.—Sobre a ingerência dos Cônsules
Estrangeiros na arrecadação dos bens dos subditos de sua nação
fallecidos no Império 78
N. 55.—Em 21 de Junho de 1843.—Sobre a suspensão imposta pelo Pre-
sidente da Província do Maranhão ao respectivo Inspector da
Thesouraria de Fazenda por nao ter tomado assento na Assem-
bléa Provincial 79
ri. 26.—Em 21 de Junho de 1843.—Sobre a apprehensão de duas caixas
com seda nelo Guarda-Mór da Alfândega da Corte 80
N. 57.—Em 28 de Junho de 1843.—Sobre a Lei Provincial das Alagoas
de 23 de Abril de 1842 u.° 8 81
N. 28.—Em 7 de Dezembro de 1843.—Sobre Leis Provinciaes de Per-
nambuco c Santa Catharina 82
N. 29.—Em 13 de Dezembro de 1843.—Sobre a reforma do art. 251 do
Regulamento de 22 de Junho de 1836 83
N. 30.—Em 13 de Dezembro de 1843.—Sobre a Lei Provincial da Bahia
onerando os empregados geraes com o pagamento de direitos
de 5 % 85
N. 31.—Em 16 de Dezembro de 1S43. — Sobre a suspensão de Leis Pro-
vinciaes de Pernambuco c Santa Catharina 86
N. 32.—Em 16 de Dezembro de 1843.—Sobre os meios de promover a
colonisação, inclusive o desconto da ancoragem cm favor dos
navios que trouxerem colonos 87

Anno de l S i - 1 .

N. 33.—Em 3de Janeiro de 1844.—Sobre Leis Provinciaes do Rio de


Janeiro e Espirito Santo 99
N. 34.—Em 3 de Janeiro de 1814.—Sobro a questão:—as Câmaras Mu-
nicipaes são corporações de mão morta ? 100
N. 35.—Em 3 de Janeiro dé 1844.—Sobre a substituição das cédulas
provinciaes na Província de S. Pedro 101
N. 36.—Em 5 de Janeiro de 1844.— Sob;e duvidas propostas pelo Ad-
minstrador da Recebedoria da Corte cm relação á arrecadação
de eertos impostos 102
— 3 —

PAGS.
H. 37.—Em 5 de Janeiro de 1844.—Sobre ser ou não extensivaá taxa
de heranças a disposição que isenta os herdeiros do pagamento
da siia, quando, até 24 horas depois de julgada a partilha,
rimem os bens adjudicados á Fazenda 104
N. 38.—Em 5 de Janeiro de 1844.—Sobre a pretenção do Marquez de
Cantagallo , io*
N. 39.—Em 19 de Janeiro de 1844.—Sobre a arrecadação da taxa de
escravos nas Províncias de Minas e Pernambuco 10Í
N. 40.—Em 5 de Janeiro de 1844.—Sobre duvidas propostas pelo Pro-
curador dos Feitos da Corte 110
N. 41.— Em 20 de Fevereiro de 1844,—Sobre a apprehensão de gado
suiuo extraviado aos direitos, e competência do Juiz Municipal
para proceder contra o cxtraviador 112
N. 42.—Em 18 de Março de 1844 . — Sobre a pretenção de Antônio José
de Bem ao ordenado de Escrivão da Fabrica de lapidação, que
servira interinamente 115
N. 43.—Em 23 de Abril de 1844.—Sobre o projecto de Regulamento
para arrecadação do imposto sobre os ordenados 116
N. 44.—Em 6 de Juuho de 1844.—Sobre o Regulamento para cobrança
dos direitos dos Despachantes das Alfândegas. 122
N. 45.—Em 8 de Junho de 1844.—Sobre o Rcgulameuto para lança-
mento e arrecadação do imposto de lojas, etc 128
N. 46.—Em 21 de Dezembro de 1844 —Sobre o recurso do Ajudante do
Guarda-Mór da Alfândega de Pernambuco Manoel José Martins
Ribeiro, relativamente á apprehensão de fazendas não incluídas
no manifesto do brigue genovez Eridano 138
N. 47.—Em 21 de Dezembro a
de 1844.—Sobre a reclamação de Heurique
e João Moon & C. pedindo indemnização de grande porção de
pólvora por elles importada na Província do Maranhão, e que
dizem haver-sé deteriorado e extraviado no respectivo Deposito. 140
ERRATA.

Não obstante todo o cuidado empregado na revisão das provas desta*


impressão, e a boa vontade c zelo dos impressores, escaparão, enlre
outros mais insignificantes, os seguintes erros:

Introducção.

TAGS. LIXH. CRROS. EME.NDAS,


5 15 acecuniufão accumulão.
13 10 neloria.. notória.
» 27 será ella, como sentença ju-
dicial, pelo Juiz, etc. será ella, como sentença ju-
dicial , mandada executar
pelo Juiz, etc.
23 2 para o desattender para os desattender.
Consultas.
12 36 fotmandado foi mandado.
65 49 que constão das collecção... que constão da collecção.
73 25 da Secção da Secção.
E como esses outros pequenos erros terão escapado, os quaes a illus-
tração do leitor supprirá, e a sua benevolência relevará.
Na pag. 5 da Introducção nota (1) deve ler-se depois da sub-nota (*)
o seguinte:
O art. 124 da Constituição foi alterado pelo art. 30 do Acto Addicional,
que dispõe o seguinte:
« Emquanto o Regente não tomar posse, e na sua falta e impedi-
mentos governará o Ministro do Império, e na falta ou impedimento
deste, o da Justiçai
BO

CONSELHO DE ESTADO
NA

SECÇÃO DE FAZENDA

DESDE 0 ANNO EM QUE COMEÇOU A FJJNCCIOMR 0 MESMO


, COS&áHO ATÉ O DE 1865

COLIDIDAS POR ORDEM DÓ GOVERNO

^'CXJL/QXQ^JIXJ
VOLUME II

Ag NOS DE 1845 A 1849

MO DE JANEIRO
TTPOCH4PHIA NACIONAL
ISTO
Ministério da fazenda.—Em 10 de Dezembro de 1869.

Haja o Sr. administrador da typographia nacional de mandar impri-


mir a collecção de consultas do conselho de estado, cujos originaes
lhe serão para esse fim entregues pelo 1.° escripturario do thesouro
Joaquim Isidoro Simões, fazendo extrahir mil exemplares da referida
collecção que serão enviados á secretaria de estado deste ministério.

Visconde de Itaborahy.
CONSULTAS DO CONSELHO DE ESTADO

NA

SECÇÃO DE FAZENDA
RELAÇÃO
nos

MINISTROS DE ESTADO PRESIDENTES


E DOS

CONSELHEIROS MEMBROS

DA

SECÇÃO DE FAZENDA DO CONSELHO DE ESTADO.

1845.

MINISTRO I>E ESTADO.

Manoel Alves Branco (depois visconde de Caravellas)


nomeado por decreto de 21 de Fevereiro de 1844.

CONSELHEIROS DE ESTA.DO.

José Antônio da Silva Maya.


Visconde de MonfAlegre.
Francisco de Paula Souza e Mello nomeado por de-
creto de 14 de Abril de 1845.

SECRETARIO.

João Maria Jacobina (interino), official maior da se-* *


cretaria. de estado dos negocio* da fazenda^
CONSULTAS

CONSELHO DE ESTADO NA SECÇÃO DE FAZENDA.

1845.

N. 48.—RESOLUÇÃO DE 9 DE JULHO DE 1845.

Sobre a representação da contadoria geral de revisão a respeito


da execução do decreto n.° 346 de 24 de Maio antecedente.

Senhor. — A secção de fazenda do conselho de estado


a. que Vossa Magestade Imperial se dignou mandar que
interponha o seu parecer sobre a representação da con-
tadoria geral de revisão do tribunal do thesouro publico
nacional, a respeito da execução do decreto n.° 346 de 24
de Maio deste anno, que ordena a continuação, por seis
mezes, da lei do orçamento vigente, com excepção do
art. 23, que versa sobre a contribuição imposta nos ven-
cimentos dos empregados públicos, depois de meditar
sobre a matéria, cumpre a imperial determinação da
maneira seguinte.
Respeitosamente pondera a secção perante Vossa Ma-
gestade Imperial que, tomando em consideração a mui
expressa, explicita e positiva disposição do referido
decreto de 24 de Maio que, mandando continuar por
seis mezes a lei do orçamento a esse tempo em vigor,
que devia terminar no ultimo de Junho próximo passado,
exceptuou o art. 23 delia, que creára a contribuição ex-
—8 -
traordinaria sobre os vencimentos de todas as pessoas,
que os recebessem dos cofres públicos, por qualquer
titulo que fosse, e é forçada a declarara Vossa Mages-
tade Imperial, na convicção de que essa extraordinária
contribuição inteiramente deixou de vigorar, e para todo
o Império, no sobredito dia ultimo de Junho próximo
passado, em virtude e por necessária execução do men-
cionado decreto, que prorogou e fez effectivas por mais
seis mezes, começados no 1.° de Julho corrente, todas
as disposições da lei de 21 de Outubro de 1843, menos
a do art. 23.
Porquanto, não é possível negar-se a este acto legisla-
tivo ultimo, o decreto de 24 de Maio, a litleral intelligencia
que tem e só pôde ter a sua disposição derogatoria do
artigo em questão, nem possivel é também que, em pre-
juizo delia e da sua prompta execução, a começar de 19
do corrente mez, prevaleção quaesquer opiniões relativas
ao tempo por que alguém entenda dever ainda continuar
a cobrança de tão extraordinária contribuição, pelo que
expendêrão os membros do tribunal do thesouro publico
nacional, pois que julga a secção, sem controvérsia,
deverem cessar e dar-se por terminadas e improcedentes
todas as intelligcncias fundadas nas disposições dos
arts. 23 e 50 da lei de 21 de Outubro de 1843, sem ex-
Ceptuar a mais respeitável, por firmada com a imperial
resolução sobre consulta do conselho de estado (*), sub-
mettendo-se á litteral e terminante disposição do Decreto,
que todas as duvidas removeu, sem deixar o menor mo-
tivo a qualquer 'discussão, e ainda menos ao escrúpulo
do governo, a que só incumbe cumprir o decretado pelo
poder legislativo.
E', portanto, a secção de parecer que, por devida litteral
execução do decreto de 24 de Maio deste anno, tem ces-
sado a disposição do art. 23 da lei de 21 de Outubro de
1843, e deve, por conseguinte, baver-se por exlincla a
contribuição extraordinária que ella creára, para mais não
serem a ella sujeitas as pessoas que recebem vencimentos
dos cofres públicos geraes, do 1.° do corrente em diante.
Digne-se Vossa Magestade Imperiiil acolher eslc parecer
da secção com a costumada benignidade, e resolver o
que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, 8 de Julho de 1845.— José Antônio da
Silva Ma;/n. — Visconde dr Movi'Ate<jrc. — Francisco
de Paula Souza.

("< Vide resolução de consulta de 23 t!<- Abril <!<• I8íí a w 11C


r
tio l.o v o l .
- 9 -

RES0LUÇÃ0.

Gomo parece (*).


£aço, em 9 de Julho de 1845.
Com a rubrica de Súa Magestade o Imperadoh
Manoel Afoes Branco.

ft\ 49.-RESOLUÇÃO DE 10 DE SETEMBRO DE 1845;

Sobre apprehensões feitas pelos vigias dá alfândega da corte de umá


porção de Ouro em pó como extraviada aos direitos.

Senhor.— Em observância da ordem de Vossa Magestade


Imperial, que foi communicada á secção do conselho
de estado encarregada dos negócios da fazenda pelo
aviso de 18 do corrente^ examinou ella os papeis, que*
com o mesmo aviso lhe forão remettidos, relativos ás
apprehensões feitas pelos vigias da alfândega desta corte,
nos dias 15 de Junho e 9 de Julho deste anno, em duas
porções de ouro em pó extraviadas aos direitos, a íim
de interpor o seu parecer sobre o que na mesma ma-
téria se pôde ofíerécer de controverso.
A secção á vista desses papeis submettidos ao seu
exame, em que o facto com todas as suas circumstancias

(*) Manoel AlveS Branco, presidente do tribunal thesouro publico,


riacional, em conformidade da imperial resolução de Sua Magestade.
o Imperador de 9 do corrente, tomada sobre consulta da secção dé
fazenda do conselho de estado, declara que a arrecadação da con-
tribuição extraordinária sobre os vencimentos de todas as pessoas que
OS recebem dos cofres públicos, cessa do ultimo de Junho próximo
passado em virtude do decreto n.° 346 de 24 de Maio deste anno, que,
Ordenando a continuação |por seis mezes da lei do orçamento de 21
de Outubro de 1843, exceptuou o art. 23 desta lei.
Thesouro publico nacional, em 17 de Julho de 1845. — ManoU
Àlbes Branco.
10 -
*e encontra bastantemenle esclarecido, tem por averi-
guado: 1." que os vigias da alfândega desta côrle Jacintho
José de Castro Sampaio e Jesuino Antônio da Silva ap-
prehendêrão no dia 15 de Junho, como extraviados aos di-
reitos devidos, por falta de guia ou conhecimento da
solução destes, cento noventa e três marcos, três onças,
quatro oitavas e cinco grãos de ouro em pó pertencentes
a José Baptista Drumond, Custodio Martins da Costa e
Pedro Augusto Teixeira, os quaes no dia 10 entrarão na
casa da moeda, onde, depois de deduzida a importância
dos direitos de 5 % para - a fazenda nacional, ficou o
resto em doposito para sei entregue a quem de direito
pertencer, como consta do officio do provedor da dita
casa de 17 do referido mez; 2." que no dia 9 de Julho
os mesmos vigias juntamente com outros dous Francisco
Dias da Cosia e Joaquim Moraes Santos, pelo mesmo
motivo de extravio, fizerão apprehensão de sete marcos,
umá onça e trinta e seis grãos, que igualmente forão
levados á casa da moeda, pertencentes a Joaquim de
Oliveira Lima e Manoel Aílbnso Pereira, do que deu parle
o provedor em officio de 10 desse mesmo mez; 3.° que
esta segunda apprehensão, submettida a processo admi-
nistrativo nos termos do art. 17 § 1." da lei de 3 de
Dezembro de 1841, já se acha definitivamente julgada
pelo provedor da casa da moeda a revelia das partes,
que nada reclamarão no prazo assignado para sua de-
fesa, havendo-se por procedente a favor dos apprehen-
sores em conformidade do capitulo 17 do regulamento
de 22 de Junho de 1836.
E assim verificado o que houve de facto, sendo preciso
verificar o que ha também de direilo que lhe deva ser
applicavel para se ajuizar da legalidade e justiça das
apprehensões e do julgado, é isto do que a secção passa
a oecupar-se, por entender ser o objecto que principal
e especialmente se lhe incumbe, para o que Vossa Ma-
gestade Imperial se dignara permiltir-lhe que faça aqui
a resenha das disposições legislativasr porque se tem
regulado, e cumpre regular ao presente, o que é do di-
reito e interesse da fazenda nacional, e do dever dos
particulares a respeito do pagamento do imposto sobre
o ouro extraindo das minas do Império.
Ainda os mineiros do oiiro do Brasil, depois da sua
independência, se achavão sujeitos na conformidade das
antigas leis da monarchia portugueza, revalidadas e na-
cionalisadas pela do Império de 20 de Outubro de 1823
ao pagamento do quinto, ou 20 "/,„ effecluados dentro das
províncias, em que era extrahido, e de que não podia
sahir antes de ser reduzido a barras nas casas de fim-
— 11 —
diçãq, sob penas graves, pelo extravio para cuja averi-
guação as buscas se permiltião e arbitrariamente se pra-
licavão, quando a lei de 26 de Outubro de 1827 reduzi»)
o imposto do quinto sobre o ouro a 5 °/0, e permiltio a
circulação delle em pó, como mercadoria, nas comarcas
de mineração até a quantidade de dez oitavas, e a do
ouro em barras cm todo o Império, uma vez que con-
tivesse o peso, quilate, anuo c casa da fundição ou moeda
cm que fossem fundidas, c o decreto de 27 de Setembro
do anno seguinte declarou que as buscas por contra-
bando ou extravio de ouro somente terião lugar ha-
vendo denuncia por escrjpto, altestada por duas pessoas
li Jcdignas, ainda que os denunciados fossem viandantes.
A estas disposições se seguirão as do decreto de 28
de Novembro de 1831, pelas quaes se determinou que
o ouro em pó corresse livremente, como mercadoria, em
todas as províncias mineiras, em qualquer quantidade
que fosse, depois de pagar os direitos devidos, sendo
acompanhado de uma cédula ou guia com as necessárias
cautelas, e ficando sujeitos ás penas impostas aos con-
trabandistas e pxtraviadores de direitos os que passassem
de umas para outras províncias, o ouro em pó, não sendo
acompanhado da competente guia, na qual se mostrasse
pago o imposto respectivo ; e bem assim ás do regula-
mento de 14 de Fevereiro de 1832 expedido para melhor
execução dessas do referido decreto.
Acontecendo, porém, que não se pudesse conseguira
esperada e devida execução de taes disposições, em
conseqüência talvez dos inconvenientes e embaraços,
que provjnhão desse mesmo gyro, que se pretendera
facilitar da necessidade do precedente, pagamento dos
direitos e do indispensável acompanhamento da guia,
resolveu b poder legislativo, pelo decreto de 6 de Julho
de 1832, autorisar o governo a mandar receber ouro na
casa da moeda desta corte até o fim de Junho de 1833,
posto que não acompanhado das competentes guias,
para o reduzira barras ou moedas, cobrando-se osde^
vidos direitos. Entendendo logo depois, na sua sabedoria,
que convinha generalisar e tornar permanente esta pror
videncia, assim o decretou, declarando, no art. 94 da
lei de 24 de Outubro do mesmo anno de 1832, que é livre
o curso e gyro do ouro em. pó nas províncias que o
produzem, seja qual fôr sua quantidade; e, quando nellas
não tenhâo pago o competente direito, poderá ser ma-
nifestado pa casa da moeda, para ser reduzido a barras
ou a moeda, pagando no primeiro caso o direito respectivo,
f. no segundo o mesmo direito e o de senhoriagem. IV
'jsta a ultima legislação que rege, vigorada conseculi,-
- » —
vãmente por todas as leis de orçamento até o pre-»
sente.
Sendo, pois, a do art. 94 da lei de 24 de Outubro de
4832 supra transcripto a ultima disposição legislativa
por que se regula a plena liberdade do gyço do, ouro
em pó em todas as provincias que o produzem, e a
obrigação de se manifestar somente na casa da moeda
para o pagamento dos respectivos direitos, com revo--
gação de todas as anteriores no que de mais ou em con-
trario determinavão, e vigorando ainda o que dispõe o,
decreto de 27 de Setembro de Í828. a respeito das buscas ;
desta legislação deduz a secção as seguintes conclusões,
1." Que actualmente é livre o curso e gyro do ouro
em pó nas provincias que o produzem, seja qual fôr
a sua quantidade, sem a necessidade de precedente pa-.
gamento dos direitos, como d'antes era ordenado, pois
que se admilte o caso de se não terem pago esses di-
reitos nas ditas provincias sem sujeição a alguma pena,
« e quando nellas. não se tenha pago o competente di-.
« reito poderá ser manifestado na casa da moedat çtc.»
2." Que também necessidade não ha de ser o ouro
acompanhado de qualquer guia para o seu curso e gyro
dentro das provincias productivas, e para dellas passar
de umas a outras até que venha ter á capital, onde deve.
ser manifestado na casa da moeda, e pagar os respectivos
direitos, pois que, não se dando a obrigação de pagar laes
direitos nas provincias, igualmente obrigação não ha, nem
occasião ou motivo pôde dar-se de haver as guias, cujo
fim era unicamente o de mostrar o pagamento do irn-.
posto na fôrma do decreto de 28 de Novembro de 1831..
3.» Que,, a pretexto de qualquer suspeita de contrabando
ou extravio de ouro, se não pôde dar busca, sem que
tenha havido denuncia por escripto, uttestada por duas
pessoas fidedignas, ainda que os denunciados sejão vian-
dantes.
E, confrontando estas conclusões com os factos, que lhe
são presentes, de buscas, apprehensões e julgamentos,
cômodo contrabando e extravio de ouro em po de vian-
dantes que o trazião para esta corte, onde existe a caia
da moeda, è a secção de parecer que todas, eUas forão
contrariadas com manifesta illegalidade e injustiça; por-
quando derão-se buscas sem precedência da denuncia
regular e legalmente apresentada; fizerão-se as appre-
hensões intempestivamente, quando, o ouro em,pó apenas
tinha chegado ás praias desta cidade, onde deve ser
manifestado na casa da moeda e quando por conseguinte
ainda não podia ser conhecido que os donos lhe pre-.
tendessem dar outro destino., e tentassem extravial-o,. dei^
— 13 —
xando de fazer o manifesto e o pagamento de direitosÍ
e uma de taes apprehensões se declarou já procedente
a despeito de tantas illegalidades! Pelo que, e por es-
tarem pagos os direitos devidos á fazenda nacional,
cumpre serem entregues aos seus proprietários as par-
cellas de ouro apprehendidas e depositadas na casa da
moeda, depois de reduzidas a barras ou a moeda na
fôrma do art. ftí da lei de 2'» de Outubro de 1832, se
Yossa Magestade Imperial se dignar acolher este pa-
recer da secção, e honral-o com sua imperial appro-
va ção,
Rio de Janeiro, em 28 de Agosto de 4845.—Francisco,
de PaiUa Souza.—^José Antônio, da Silva May a.— Vis-,
conde de Mont'Alegre.

tUCSOLLÇÁO.

Examine-se em. conselho de estado. (*}


Paço, em 10 de Setembro de 1845.
Com a rubrica, de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

(*) Tendo sido ouvido a conselho de estado, nos termos da reso-


lução, deu o seguinte parecer.
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar, por
sua immediata resolução de 10 deste mez, que o conselho de es-
tado consultasse com o que se lhe offerecesse acerca do parecer da,
secção do mesmo conselho, que trata dos negócios da fazenda, cujo
teor é p seguinte.
v*«. •
E, tomado na devida consideração,,depois de discutido, foi o sobre-
dito parecer approvado pelo conselho de estado que o considera nas,
circumstancias de merecer a resolução imperial em conformidade
com o que se propõe.
Vossa Magestade Imperial resolverá como. achar, em sua alta sa-
bedoria, que é melhor.
Sala das conferências do conselho de estado, aos 25 de Setembro,
de 1845.— Caetano Maria Lopes Gama.—Visconde de Olinda, vencido.
— José Antônio da Silva May a. —Francisco de Paula Sousa.—Ho.
f&rio Hermeto Carneiro Leão.—José Cesario de Miranda Ribeiro.
Forão votos os Srs. visconde de MonfAlcgre e Cordeiro Torres.
Miranda Ribeiro,
li -

N. 50.—RESOLUÇ.iO DE I DE OUTUBRO DE 184ü.

Sobre as multas impostas na alfandcyi do sergipe a J. A. D. Bothemm,


comuiaiidante e dono do foeigantím ham,burguez Eliza.

Senhor.—Por determinação de Vossa Magestade Im-


perial forão presentes á secção do conselho de estado,
que tem a cargo os negócios da fazenda, todos os papeis
relativos á questão, ainda pendente, das multas impostas
na alfândega da província de Sergipe a J. A. D. Dolheman,
commandante e dono do bergantim hamburguez Eliza,
para cuia final e terminante decisão Vossa Magestade
Imperial se digna ouvir o parecer da mesma secção,
que passa a occupar-se da matéria.
Deu entrada na alfândega das Larangeiras da província
de Sergipe, no dia 21 de Fevereiro de 1843, o berganlim
hamburguez Eliza, vindo de Buenos Ayres em lastro
<:om cincoenla e seis pipas vasias e quatro toneladas
de pedras, consignado ao próprio corhmandante, com
todos os papeis correntes, e seguio logo. para o anço-
radouro da descarga. Nu dia G de,Março requereu o com-
mandante licença para carregar o bergantim, a qual lhe
íoi concedida, e então, desembarcadas as sobreditas
cincoenta e seis] pipas, sem licença, e sem ter prece-
dido despacho para consumo, apparecêrão expostas á
venda, e deu isto motivo a que, julgando-se violadas as
disposições dos §§ 9.° e 10 do art. 145 do regulamento

RESOLUÇÃO.

Como parece. (*) Paço, em 4 de Outubro de 1843.


Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

(*) O Sr. provedor da casa da moeda fique na intelligencia de qiws, tendo sido,
ouvido o conselho de estado relativamente ás dua,.s apprehensões feitas, em con-
seqüência de buscas, pelos vigias da alfândega desta corte nos dias 15 de ju-
nho e 9 de Julho deste anno, em porções ouro empo, uma de I93m 3005.4 OÍJ, c
5 gr. pertencentes a João Baptista Drummond. Custodio Martins da costa e
redro Augusto Teixeira da Motta o outra cie 7 m, 1 onç. e 36 gr- pertencentes a Joa-
quim de Oliveira Lima e Manoel Affonso Pereira, as quaes ainda estilo em
deposito nessa repartição : houve Sua Magestade o Imperador por bem. em
resolução de consulta do mesmo conselho de 4 do corrente, ordenar que as'
sobreditas porções de ouro em pó indevidamente apprehendidas, e em depo-
sito na casa da moeda depois de pagos os direitos, e depois de reduzidas a barras,
ou moeda, na fôrma do art. 94 da lei de 24 de Outubro de 1833, sejão entregues
aos seus proprietários.
Itio de Janeiro, em 13 de Outubro de 1815.— Manoel Alves Branco.
tfe 22 de Junho de 183G, de accordo com o inspector d<<
thesouraria, e approvaçào do presidente da província ,
impuzesse o inspector da alfândega ao commandante do
referido bergantim as mullas ordenadas por aquellas
disposições, que importarão na quantia de 5:968#800,
cuja solução affiançárão Christovão Diestel, José Rodri-
gues Dantas e Mello e Agostinho José Ribeiro Guimarães,
e forão estas mullas confirmadas pelo tribunal do the-
souro publico nacional em portaria de 17 de Maio.
Recorreu J. A. D. Rotheman, commandante do ber-
gantim, ao tribunal, para que, fazendo-se-lhe justiça, se
declarassem insübsistentes as multas, á vista do que
allegava e coadjuvava de documentos juntos ao reque-
rimento datado de 12 de Junho. Exigio o tribunal novas
informações do presidente da província, que as deu
circumstanciadas no seu officio de 31 de Agosto ; e, posto
que, com attenção a. ellas e ao mais constante dos do-
cumentos, favoráveis fossem ao deferimento desse, re-
curso os pàreceres do procurador fiscal e mais membros
do tribunal em 7, 10 e 24 de Outubro, houve a defini-
tiva contraria decisão. de 27 de Novembro, mandando
subsistir o despacho de 10 de Maio, isto é, aquelle em
virtude do qual se éxpedio a portaria dé 17 do mesmo
mez e annó: e assim permanece, apezar do que official-
mente exigio o encarregado dos negócios do Brasil em
Ilarmburgo, e que se communicou ao ministério da fa-
zenda pelo aviso de 9 de Março de 1844 da secretaria
de estado dos negócios estrangeiros* e sem attenção ao
que representarão os fiadores Diestel, Dantas e Mello,
e Ribeiro Guimarães, já a este tempo executados pelo
juizo dos leitos da fazenda da provincia de Sergipej
com data de 1 de Agosto do mesmo anno.
Exposto assim o facto na sua generalidade, incontes-
tável parece que justa e irremissivelmente forão impostas,
e devem ser susientadas as multas, na conformidade dos
| | 9.d e 10 do citado regulamento de 22 de Junho
de 1836, art. 145, que assim se expressão: « 9." Provi-
« denciar (o commandante) que se não desembarque de
« seu bordo mercadoria alguma, sem ser de ordem por
« escripto do inspector da alfândega, e acompanhada de
« guarda; si desembarcar, sem ella pagará 100#000 réis
« por volume além do seu valor estimado.—10. Dar parte
« ao escrivão da entrada e descarga, por si ou por um seu
« preposto, dentro de 24 horas depois de finda a des-
« carga, que está descarregada a sua embarcação de todas
« as mercadorias que trouxe, para se procederlogo á com-
« petente visita sob pena de pagar uma multa de 100#000,
<Í e as mercadorias achadas a bordo serão appreherididas
_ \(l -
"' pelos empregados quefizeremâ visita, e o commandante
•<' pagará a multa de metade do valor dellas. »
Como, porém, nem sempre é bastante a certeza da exis-
tência de uma acção ou omissão contraria ás leis* para
que se haja por criminoso ou delinqüente o autor della^
e fique este sujeito ás penas estabelecidas* sendo pre-
ciso verificar-se qüe essa acção ou omissão se praticará
com má fé, conhecido o mal e havida a intenção de o
praticar na conformidade não só dos princípios sanc-
cionados no art. 2." do código criminal, mas até da
doutrina do mesmo regulamento das alfândegas, que
pela disposição excepcional do art. 156* em que de-
clara sujeito ás penas desse, e do artigo antecedente
o commandante de qualquer embarcação «pelo simples
facto da achada de mais ou de menos (que o constante
do manifesto), ainda que se não prove de outro modo
o extravio », firma a respeito de outros casos a pro-
cedência da regra que estabelecera aquelle código ; com
o que está de accordo o disposto no art; 33 § 10 que,
admittindo o poderem ser alliviados os multados das me-
nores e maiores multas do regulamento, admitte necessa-
riamente a possibilidade de se justificarem factos contrá-
rios ás disposições delles ;• cumpre por isso averiguar si
as circumstancias de que se revestio o facto, de que se
trata e constão dos documentos e informações presentes
e bem especificadas, excluem do multado commandante do
bergantim Eliza a má fé que era necessária para o consti-
tuir criminoso, e o justificão, como elle se esforçou por
demonstrar, como demonstrado se affigurou aos membros
do tribunal do thesouro publico nacional; e, como de-
monstrado lambem o julga a secção, convencida de que
menos justamente se procedeu na imposição das mencio-
nadas multas sobre quem sô reconhece desacompanhado
de toda a má fé;
Neste sentido, e em resultado do exame de todas as
allegações e documentos, notando com especialidade
por mais apropriadas e attendiveis provas as que provém
das informações do inspector da alfândega nos officios
de 10 de Março e 23 de Agosto de 1843 e dos docu-
mentos juntos ao requerimento de J. A. D. Botheman n.°* lj
2 e 4, pondera a Secção:
Qoe o bergantim Eliza entrou na provincia de Sergipe,
levando a seu bordo as 56 pipas vasias, mas que estas
pipas se não achavão nelle como carregamento de ge-
nefos para commercio, e só sim para servir-lhe de
lastro por commodo da navegação, e por taes decla-»
radas no seu manifesto legal, a respeito de que nenhuma
duvida se oppoz na respectiva alfândega.
— 17 —
•Que o commandante desse bergantim fez desembarcar
as pipas sem ter precedido licença, e sem as ter des-
pachado para consumo, mas que este desembarque, ne-
cessário para poder carregar o bergantim de gêneros do
paiz, para o que òbüvera licença, foi feito publicamente
e de conformidade com o uso e pratica constantemente
seguida até então de se admittirem e permiltirem taés
desembarques sem necessidade de despacho algum, como
afíirma o inspector da alfândega; havendo por conse-
guinte da parle do mesmo commandante toda a boa fé,
e nenhuma sinistra intenção nesse procedimento, que por
justificado reconhece a exposição do dito inspector nos
supramencionados officios, quede mais acredilão o Com-
mandante isento de toda a suspeita.
Que nestes termos mui justamente se decidirão a favor
do recurso da multa do commandante do bergantim
Eliza os membros do tribunal do thesouro publico
nacional, para se declararem insubsistentes as multas,
havendo-se para a fazenda nacional a importância so-
mente dos direitos das pipas, si vendidas forão, regu-
lado pelo valor da pauta.
Eis o parecer que a secção tem a honra de apresentar
respeitosamente á alta consideração de Vossa Mages-
tade Imperial, que se dignará resolver o que fôr mais
acertado.
Rio de Janeiro, 1.° de Setembro de 1843. — José An-
tônio da Silva Mana.— Francisco de Paula Souza.—
Visconde de MonV Alegre.

RESOLUÇÃO.

Como parece (*).


Paço, em 1.° de Outubro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

(*) Tendo ouvido a secção do meu conselho de estado, a que estão


encarregados os negócios <la fazenda sobre a justiça c providencia
das multas impostas na alfândega da província de Sergipe a J. A.
L). Rolheman, conimandaiite e dono do bergantim hainburguez Eliza,
na importância de cinco contos novecentos sessenta e oilo mil e
oilocentos )<;is, com o fundamento de terem sido desembarcadas c
expostas á venda uo porto da mesma província cincoenla e seis pipa?
vasias, que lhe havião ícnido de Insiro, sem precedência de licençac
c. 3
— 1S —

N. 31.-CONSULTA DE 2i DE OUTUBRO DE 4845.

Sobre o não cumprimento no thesouro de uma precatória do juizo


de orphãos, requisitando a entregue de ccrla quantia por conla do
empréstimo do respectivo cofre.

Senhor. — Houve por bem Vossa Magestade Imperial


ouvir a secção do conselho de estado, a que pertencem os
negócios da fazenda, sobre a pretenção de Carlos Miguel
Fontaine, que recorre do despacho dó presidente do the-
souro de data de 25 de Agosto, pelo qual se lhedenegou o
cumprimento de uma precatória obtida por elle para
levantamento de uma quantia depositada no thesouro. (")
A secção nota que ainda não se dá motivos de re-
curso no' caso presente. Uma vez que não foi cum-
prida a precatória, devia ella voltar ao juizo d'onde veio,
para ahi obrar-se, como fosse de direito ; si então appa-

despaclio para consumo, e haver-se por isso violado as disposições


dos paragraphos nove e dez do artigo cento quarenta e cinco do
regulamento de 22 de Junho de 1830; e, lomando em consideração
as razões que pela sobredila secção do conselho de estado me forão
apresentadas, e segundo as quaes se me manifestou menos justa a
imposição das referidas multas áquelle commandante e dono do ber-
gantim Eliza, que sem dolo e má fé se houve no acto de desembarque
das sobreditas pipas, necessário para poder proceder ao carregamento
de gêneros do paiz, praticado publicamente, e de conformidade corn
o uso constantemente seguido na província de se admiltirem, e per-
mittirem taes desembarques sem necessidade de despacho: hei por
bem ordenar que, ficando insubsistentes as multas mencionadas, se
haja para a fazenda nacional a importância somente dos direitos das
pipas, si vendidas forão, reguladas pelo valor da pauta.
Manoel Alves Branco, conselheiro de estado, senador do império,
ministro e secretario de estado dos negócios da fazenda e presi-
dente do tribunal do thesouro publico nacional, assim o lenha en-
tendido e faça executar.
Palácio do Rio de Janeiro, em 2 de Outubro de 1845, 24.» da inde-
pendência e do império.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.
(*) Este despacho foi proferido de conformidade com o decreto
n.° 160 de 9 de Maio de 1842, art. 35, cm virtude do qual nenhuma
quantia do cofre de ausentes se entregava senão á vista de depre-
eada do juizo de orphãos, acompanhada das habilitações originaes
julgadas por sentença.
O decreto citado de 18'<2 acha-se revogado pelo de n.«2433 de 15 de
Junho de 1859.
— 19 —
recosse conílicto, seria occasião de requerer provi-
dencias.
Entende, pois, a secção que devem remetter-se estes
papeis ao thesouro, para dahi voltar a precatória ao
juizo respectivo com as razões por que não foi cum-
prida, e seguir-se como fôr de direito.
E' esta a opinião que a secção tem a honra de apre-
sentar a Vossa Magestade Imperial.
Rio de Janeiro, 24 de Outubro de 1813. — Visconde dô
Monf Alegre.—José Antônio da Silva Maga.—Francisco
de Paula Souza. (')

N. 32.—CONSULTA DE 31 DE OUTUBRO DE 1843.

Sobre o modo de cobrar os juros das lelras a favor da fazenda


ajuizadas.

Senhor.—Tendo o procurador dos feitos da fazenda


pedido ao governo instrucções sobre —si deve cobrar
juros nas letras sacadas a favor da fazenda nacional,
que são remettidas ao juizo dos feitos, para serem co-
bradas executivamente, e também que destino ha de dar
a outras, cujos responsáveis não tem nesta corte, nem
em alguma outra parte do Império bens, em que se
possa fazer penboia—; foi Vossa Magestade Imperial servi-
do ordenar que a secção de fazenda do conselho de estado
consultasse sobre esse objecto, e a secção, em desempenho
do seu dever, havendo-o bem meditado, tem a honra
de fazer subir á augusta presença de Vossa Mag«estade
Imperial as seguintes proposições com as quaes entende
fica providenciada esta matéria importante.
1.° Em todas as transacções de qualquer natureza,
que no thesouro e nas thesourarias das provincias se
celebrarem por meio de letras, se deverá observar cons-
tante e invariavelmente o disposto nos arts. l.° e 2.° da
lei de 13 de Novembro de Í827, isto é, o valor de taes
transacções. A importância das dividas activas da fa-
zenda nacional provenientes dellas deverá sempre re*

(*) I)e accordo com a consulta devolveu-se a precatória ao JHÍZQ;


ú& orphãos da corte—Aviso de 15 de Dezembro de 18Í5.
— 20--
cíuzir-se a letras aceitas pelos devedores, sacadas e en-
dossadas por seus fiadores, de nnlurez* d<- letras mer-
cantis, e como taes sujeitas a todas os H s , dísposiçòrs
e estylos commerciaes, que a respeito destas se acíião
em vigor, na conformidade do art. 3." da citada lei.
2.° Reduzida assim a importaiu-.,-! das dividas activas
da fazenda nacional a letras sacadas, aceitas e endos-
sadas pela maneira dita, como mercantis, da obrigação
é dos empregados fiscaes, a quem incumbe a cobrança
dellas, o fazel-as protestar competentemente, nos casos
de falta de pagamento, no prazo estipulado, e em todos
os outros em que as Letras mercantis se costumão e
devem protestar definitiva ou provisoriamente.
3.° Sendo ajuizadas as letras da fazenda nacional
protestadas, se devem demandar os devedores, saca-
dores, e aceilantes e endossadores pela total importância
do valor das mesmas letras, dos juros vencidos desde
a data do protesto, e de todas as custas e despezas
deste, da mesma forma que se procede a respeito das
letras mercantis.
4.° Quando as letras da fazenda nacional, que se
apresentarem para serem ajuizadas, não estiverem re-
vestidas das sobreditas formalidades, segundo a lei
de 13 de Novembro de 1827, sendo apenas sacadas pelos
empregados de fazenda e aceitas pelos devedores, ou
só por estes passadas e aceitas, ou não tendo sido pro-
testadas em tempo devido, em taes casos somente serão
demandados os devedores aceitantes pelo valor das letras
e pelos juros da mora, que se contará da data da in-
terposição da acção em juizo; e a cargo dos respectivos
empregados ficará a indemnisação do prejuízo, que vier
á fazenda nacional, da falta das referidas formalidades
e protesto.
Vossa Magestade Imperial na sua alta sabedoria re-
solverá o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, 31 de Outubro de 1845.—Visconde de
Monf Alegre.—José Antônio da Silva Maga.—Francisco*
de Paula Souza. {*)

(*) De conformidade com a consulta expedio-se instrucções regu-


lando o modo de proceder na cobrança das letras sacadas a favor
da fV/enda nacional, c seus respectivos juros. Aviso n.° 12(1 de 2»
«k Sou-mhro de 1845.
— 21 —

N. 5 3 . — CONSULTA DE 14 DE NOVEMBRO DE 1845.

Sobre as leis da província do Piauhy promulgadas no anno de 1844.

Senhor.—A secção do conselho de estado, que consulta


sobre os negócios da fazenda, a cujo exame forão sub-
mettidas as leis da assembléa provincial do Piauhy, pro-
mulgadas no anno de 1844, nada encontrou nellas que
notar pela parte que lhe diz respeito; pois que em ne-
nhuma de suas disposições, que relação possão ter com
os negócios da fazenda nacional, dêscobrio offensa da
constituição ou prejuízo das imposições geraes do Estado.
E, porquanto, ao mesmo tempo lhe forão presentes os
dousofficios do presidente daquella província, um do 1.°
de Abril, e outro dol.° de Setembro deste anno, nos quaes
observa que a lei n.° 171 crêa a thesouraria provincial
com grande augmento de despeza, vindo a ter seus em-
pregados maior ordenado que os da thesouraria geral,
que fazião d'antes o serviço mediante uma módica gra-
tificação, que a lei n.° 174 ordena a e lificação da nova
capital da província nas margens do rio Parnahyba, em
um campo desabrido, onde não existe nem uma misera
choupana, tendo por base este projecto (sem attenção ao
máo estado de suas finanças) contrahir a provincia por
via do governo imperial umo empréstimo de 200:000^000,
para ser amortizado por 10 /p das suas rendas,, e que a
lei n.° 175 augmenta o subsidio pecuniário dos membros
da assembléa provincial, elevando-o a 4$00O diários,
com declaração de que, quer sejão os ditos membros
empregados geraes, quer provinciaes, tendo de solTrer
diminuição no total de seus vencimentos, inclusive gra-
tificações, sejão indemnisados pelo cofre provincial,
contra o que dispõe o art. 23 do acto addicional, consti-
tuída a secção na necessidade de emittir a sua opinião,
especialmente sobre estas observações, com que o presi-
dente como que dá a entender haver considerado irregula-
res e menos sensatas as referidas disposições legislativas:
declara respeitosamente a Vossa Magestade Imperial:
1.° Que não dá peso ao que se nota relativamente ás
leis n.oS 171 e173 pelo augmento de despezas provinciaes,
por isso que, não sendo as provincias agora suppridas,
como d'anles o forão, pelo cofre geral, não ha motivo,
riem competência da parte do governo geral para obstar
de qualquer modo, ou mesmo para reparar que as as-
sembléas provinciaes exerção as faculdades, que lhes
competem pelo acto addicional, como exerceu a assem-
22

bléa legislativa da província do Piauhy nas mencionadas


leis, conforme o disposto no art. 10 §§ 5.°, &." e7.°; Q
art. 22, legislando sobre despezas provinciaes, creação
de empregos provinciaes e subsidio de seus membros.
2." Que a respeito da outra lei n.° 174, que decretou a
mudança da capital da província com a necessidade de
se edificar para ella uma cidade desde os seus primeiros
fundamentos, activada pela resolução de 30 de Agosto
deste anno n.° 191, não ousa ainda a secção offerecer a
Vossa Magestade Imperial o seu juizo definitivo, apezar
de que se não incline a acreditar a precisão presente de
tal transferencia, e a sua futura utilidade, entendendo
comtudo que para o governo imperial poder deliberar
com perfeito conhecimento de causa, e apresentar á as-
sembléa geral legislativa o que mais convier sobre a
decretação da referida lei, convirá exigirem-se do pre-
sidente da província circumstanciadas informações, por
que se facão constar as razões que induzirão a assembléa
provincial a ordenar essa transferencia, e quaes o presu-
mido melhoramento e vantagens que dellas se devão ou
Eossão esperar a favor da prosperidade da província e
oa administração delia, enviando conjunclamente o
plano approvado para a edificação da cidade, que com a
denominação de Regeneração ha de ser a capital.
Vossa Magestade Imperial se dignará tomar em consi-
deração o que fica exposto e é parecer da Secção, para
resolver o que fôr mais acertado.
Rio de Janeiro, 14 de Novembro de 1845. — Visconde
de Monf Alegre. —José Avfonio da Silva Maga. — Fran-
cisco de Paula Souza. (írj

N. y*.— CONSULTA DE 14 NOVEMBRO DE 1845.

Sobre o regulamento para a impressão das leis, decretos, etc. na


typographia nacional.

Senhor.—Respeitosamente apresenta a secção dos negó-


cios de fazenda do conselho de estado a Vossa Magestade

H Km aviso de 2C do mesmo mpz pcdio-se á presidência do


Piauhy as informações indicadas nesta consulta.
Imperial o projecto de regulamento que organisou para se
fazer efffectivo o privilegio da impressão das leis, decretos
e outros actos governativos, na conformidade da disposi-
ção do art. 35 da lei de 18 de Setembro de 1845. Entende a
mesma secção que tem desempenhado quanto lhe in-
cumbia, em cumprimento da ordem de Vossa Magestaàe
Imperial, de accordo com a sobredita disposição legis-
lativa pelo que pertence ao fim e aos meios para elle
adequados, e de accordo lambem com o interesse da fa-
zenda nacional, promovendo-nãocom lucro mas sim sem
prejuízo o bem do serviço publico e geral administração.
O projecto é o seguinte.
Art. í.° Em virtude da disposição do art. 35 da lei de
18 de Setembro de 1845 n.° 369, fica declarada de pro-
priedade nacional e de privilegio exclusivo da typogra-
phia nacional a impressão das leis, decretos e outros
actos governativos geraes.
Art. 2." Todos os actos do poder legislativo geral e
os do governo geral, incluidos os que se expedem em con-
seqüência de resoluções de consulta do conselho de
estado, e todas as decisões do mesmo governo, que
estabelecerem regra e norma constante de proceder em
matéria de publica administração expedidas por portarias
avisos e ordens , e as provisões dos tribunaes expe-
didas em virtude de resoluções de consultas, serão
privativa e exclusivamente impressas na typographia
nacional pelo modo estabelecido nos regulamentos do 1.°
de Janeiro e 24 de Fevereiro de 1838.
Art. 3. D Também se fará na mesma typographia, priva-
tiva e exclusivamente, a impressão de cada um dos
ditos actos e decisões em separado, mas no mesmo for-
mato daquelles de que se hão de formar as collecções
na conformidade dos ditos regulamentos.
Art. 4." A vencia destes actos e decisões, assim em
volumes como avulsos, só poderá ser feita na typographia
nacional na corte, e nas capitães das provincias naquel-
las casas que para isso forem autorisadas por portarias
do ministério da fazenda, com informação dos presidentes
a respeito das das provincias.
Art. 5." O preço dos actos e decisões impressos será
fixado pelo minimo no principio de cada anno, em
relação ás paginas, que contiverem, pelo administrador
da typographia nacional, com approvação do thesouro
publico nacional, sendo o preço dos que se houverem
de vender nas provincias augmentado somente quanto
baste para cobrir a despeza do transporte.
Art. 6." As pessoas que se propuzerem a vender os
actos e decisões, de que se trata, na corte e nas provincias
- í'í —

os haverão da typographia nacional com o abatimento de


10 °/o, quando a importância (que deverá ser paga avista)
fôr de cem mil réis, e dahi para cima.
Art. 7.° Fica, portanto, prohibida a impressão e venda
dos actos legislativos e decisões do governo em quaes-
quer outras lypographias e casas não autorisadas na
forma do art. 4.°, e bem assim a importação dos que
forem impressos fora do Império.
Art. 8.° Os que imprimirem Os referidos actos e deci-
sões em qualquer parte do Império, ou nelle venderem
os que forem impressos em qualquer typographia parti-
cular nacional ou estrangeira, incorrerão na pena de con-
fisco para a fazenda nacional dos volumes e exemplares,
que lhes forem apprehendidos, e de multa igual ao valor
delles.
Os volumes e exemplares apprehendidos serão con-
sumidos, para que delies se não possa fazer uso, ainda
que exactos e correctos sejão.
Art. 9.° Os que na corte ou nas provincias venderem
os volumes ou exemplares dos actos e decisões impressos
na typographia nacional, sem a competente autorisação,
serão punidos com as penas do art. 137 do código cri-
minal.
Art. 10. Os que com aulorisação ou sem ella venderem
os volumes e exemplares por maior preço que o lixado na
fôrma do art. 5 °, serão punidos com as penas do art. 135
do código criminal, verb. « No caso em que etc. »
Art. 11. Não é comprehendida na prohibição do art. 7.°
a impressão dos actos legislativos e governativos, que se
fizer nos periódicos publicados na corte e nas capitães
das provincias, em qualquer typographia que o governo
ou os presidentes autorisarem e caraclerisarem por oíli-
ciaes.
Art. 12. Também se não comprehende na dita prohi-
bição a impressão, que de algum dos ditos actos, ou parte
delles se fizer incidentemente ou em resumo, em qual-
quer obra ou escripto jurídico scientifico ou histórico,
manifesto, reclamação, requerimento, edital, estatuto, ou
outro semelhante, que se publicar pela imprensa.
E muito se gloriará a secção, si elle fôr digno da appro-
vação de Vossa Magestade Imperial.
Rio de Janeiro, em 14 de Novembro de' 1845. — Vis-
conde de Monf Alegre.—José Antônio da Silva Maya.—
Francisco de Paula Souza. (*)

(*) Regulamento n.° 27 de 12 de Março de 18í6, alterado pelo de-


creto n.° 2V.H de 30 de Setembro de 1839.
X. 33.-CONSULTA DE 14 DE NOVEMBRO, DE 1843.

Sobre o regulamento para ase,ii\as de depósitos públicos.

Senhor.—Foi Vossa Mages,inde imperial servido or-


denar á secção de fazenda do conselho de estudo que
organisasse um projecto de regulamento para as caixas
de deposito publico, que o governo deve estabeleci i
nas thesourarias de todas as províncias, em virtude da
autorisação que lhe foi dada pela lei de 18 de Se-
tembro de 1845, no art. 33: e a secção, que, para o
desempenho desta imperial determinação, teve em vista
todas as disposições regulamentares, por que se rege
o deposito publico neste município da corte, e as accorh-
modou com as precisas alterações ás circumstancias
das provincias , tem a honra de apresentar respeitosa-
mente a Vossa Magestade Imperial o projecto, que cffecti-
vamente organisou, da maneira seguinte.
Art. 1.° Em cada uma das thesourarias de fazenda
do Império haverá um cofre especial e privativamente
destinado para os depósitos públicos de dinheiro, papeis
de credito, objectos de ouro, prata r- diamantes, que
se fizerem por' ordem ou mandado de qualquer auto-
ridade judiciaria ou administrativa nos lermos das
capitães das provincias.
Art. 2.° Este cofre estará a cargo do thesoureiro da
fazenda da província, auxiliado pelo seu fiel debaixo
da inspecção e direcção do inspector da thesouraria.
Art. 3."Além deste cofre geral haverá nas provincias
da Bahia, Pernambuco, Maranhão e Rio Grande do Sul
um cofre filial a cargo do thesoureiro dos ordenados,
o qual será suppririo pelo cofre geral com as quantias
em dinheiro, que forem necessárias para as entregas
diárias, não podendo accumular mais de quatro contos
de réis.
Art. 4.° Os thesoureiros das thesourarias, e os dos
ordenados prestarão uma nova fiança idônea corres-
pondente ao encargo, que por este regulamento lhes
aceresce.
Art. 5." As entradas e sabidas dos depósitos serão
todas feitas no cofre geral das thesourarias, em que
não houver cofre filial, e naquellas em que o houver,
na fôrma do art. 3.°, nelle se farão as entradas e sahidas.
dos depósitos em dinheiro e papeis de credito: e só
serão feitas directamente no cofre geral as entradas o
sahidas dos objectos de ouro, prata e diamantes.
r, k
— 26 —

Art. 6.° Nos cofres de depósitos públicos das provín-


cias se receberão todas as quantias de dinheiro ou papeis
de credito, e as peças de ouro, prata e diamantes que a
elles forem levados por officiaes de justiça, por quaesquer
empregados públicos, e mesmo pelaspartes em virtude de
ordens, mandados ou despachos de autoridades judiciarias
ou administrativas dos termos das respectivas capitães.
Art. 7.° A quem quer que apresentar e entregar para
ficarem em deposito alguns dos referidos objectos, se
dará conhecimento com o teor do lançamento no livro
das entradas, de que se declararão as paginas, assignado
pelo thesoureiro e seu escrivão.
Art. 8.° As sahidas dos depósitos de dinheiro, papeis
de credito, ou peças de ouro, prata e diamantes, só
poderão ser feitas em virtude de precatórios legaes das
autoridades, que as tiverem mandado fazer, cumpridos
pelo inspector da respectiva thesouraria a que deveráõ
ser dirigidos com as formalidades do estylo.
Art. 9.° Quando o inspector da thesouraria, pelas
informações que tiver do thesoureiro, entender que deve
negar o cumprimento do precatório de levantamento de
qualquer deposito por duvidar da sua legitimidade, ou
por se acharem os depósitos, cujo levantamento se de-
precar, impedidos por embargos, penhoras ou outros
embaraços diversos daquelles que mencionar o preca-
tório, assim o declarará, e reenviará o mesmo precatório
á autoridade por quem fora expedido; não havendo,
porém, para esta recusa maior demora que a de 24 horas.
Art. 10. Si a autoridade deprecante, apezar das razões
expendidas pelo inspector da thesouraria, resolver que
o deposito se deve entregar, o mesmo inspector o man-
dará cumprir, e no caso de insistir na negativa o the-
soureiro fará a entrega independentemente do —Cum-
pra-se—, fazendo-se de tudo as averbações necessárias.
Ari. 11. Para o expediente destes depósitos haverá
os livros de entrada e sabida, que serão numerados,
rubricados e encerrados pelo contador da thesouraria,
e a escripturação será feita pelos mesmos escripturarios
que forem destinados para o lançamento da receita e des-
peza dos thesoureiros da thesouraria e dos ordenados.
Art. 12. No acto da entrega dos depósitos o thesoureiro
cobrará para a fazenda nacional os devidos prêmios ,
os quaes consistem em 2 °/0 das quantias em dinheiro
do valor dos papeis de credito pelo que delles constar,
e do valor dos objectos de ouro, prata e diamante* pela
avaliação competentemente feita antes de se effectuar o
deposito.
Art 13. Denois de estabelecidos os cofres dos depósitos
— 27 —
públicos na fôrma dos artigos antecedentes, serão nullos
e de nenhum effeito todos os que se fizerem em mãos
de particulares e officiaes de justiça, em qualquer lugar
dos termos das capitães das provincias, e os escrivães
e empregados a quem pertencer não juntarão a autos
ou quaesquer papeis das suas repartições os termos ou
certificados de depósitos feitos de outra maneira.
Art. 14. Todos os depósitos feitos por ordem ou man-
dado de qualquer autoridade judiciaria ou administra-
tiva, que se acharem em poder de particulares ou de
corporações e estabelecimentos, ou associações de qual-
quer natureza, serão transferidos para os cofres dos de-
pósitos públicos sob a mesma pena de nullidade.
Art. 15. Do producto dos prêmios dos depósitos pú-
blicos se deduziráõ três por cento mensalmente, dous
para o thesoureiro, e um para o escripturario que servir
de escrivão, e este haverá além disto das partes os emo-
lumentos de 150 réis por cada termo de entrada ou sa-
hida e o de 80 réis por cada verba de embargo ou
penhora.
Digne-se Vossa Magestade Imperial tomal-o em con-
sideração, para que tenha efTeito, si merecer a imperial
approvação.
Rio de Janeiro, em "14 de Novembro de 1845.— Vis-
conde de Monf Alegre.—José Antônio da Silva Maga.—
Francisco de Paula Souza. {')

N. 56.—CONSULTA DE 3 DE DEZEMBRO DE 1845.

Sobre a creação de uma alfândega na villa de Antoniua.

SENHOR.— A secção de fazenda do conselho de estado


a que foi. a consultar o requerimento de câmaras e elei-
tores da comarca de Coritiba para a creação de uma Al-
fândega na villa de Antonina, vem respeitosamente ex-
pender a sua opinião a este respeito.
Sendo a villa de Antonina tão próxima á cidade de
Paranaguá, onde já existe uma alfândega, a creação de

(*) Regulamento n. 131 do 1.° de Dezembro de 18íS, alterado pelo


decreto n. 498 de il de Janeiro de 1^7.
28
uma outra naquella, nao so augmenta.ia muito a* de*i» u»
uublicas, corno, daria occasião a muitos contrabandos, »
extravies das rendas, sendo como são muito escassos os
vencimentos dos empregados das pequenas alfândegas,
e ficando tão remotas da acção do presidente da província
»*ssas estações. , , ..
Si se abole a alfândega de Paranaguá, para so ficara
oue ao-ora se creasse em Antonina, isso nao só chocaria
os legítimos interesses, de que ha tantos annos está de
posse Paranaguá, como augmentaria muito as despezas
publicas pela necessidade da creação de edifícios para
esse destino, visto que em Antonina não os ha, acerescendo
maior perigo de contrabandos e extravios, sendo como e
vntonina de uma povoacão tão pequena e pobre.
Não desconhece a secção que uma alfândega em Anto-
nina seria de muita utilidade para a grande maioria da
comarca de Coritiba, mas, pelas razões expostas, por ora
não se anima a propôl-a; si porém, feita a reforma das
alfândegas (para o que esta o governo autorisadoj, so
reconhecer que cessão eu muito diminuem os obstáculos,
que presentemente a secção encontra na creação dessa
desejada alfândega, então será occasião de tornar a ser
meditada essa matéria, pois só então poderá ser com
mais acerto resolvida, á vista dos novos factos que possão
apparecer. .
E' esta a opinião da secção. Vossa Magestade Imperial
se dignará resolver como melhor parecer em sua alta
sabedoria.
Rio de Janeiro, em 5 de Dezembro de 1845. — Vis-
conde de Monf Alegre.— Francisco de Paula Souza.—
Josr Antônio da Silva Maga. (')

N. 57.—RESOLUÇÃO DE IO DE DEZEMBRO DE 18 43.

soltrc as leis provinciaes do Espirito Santo de 1842 cl843, e Alagoas


c Bahia de 1843.

SENHOR.— Dignou-se Vossa Magestade Imperial de or-


denar á secção do conselho de estado, encarregada dos,
negócios da fazenda, que examinasse:

; j o rtccrei" n.° 1583 de i de Abril de 18;ÍO ercou uma mesa de


•lulas na vili.i de AntoniiiH. província do Paraná,
— 29 —
1." As leis feitas pela assembléa provincial d*o Espi-
rito Santo, publicadas nos annos de 1842 e 1843 e re-
meltidas em officios do presidente da mesma província
do 1.° de Agosto e 9 de Dezembro do anno passado.
2.° As leis feitas pela assembléa provincial das Ala-
goas, publicadas no anno det1843 e remettidas em officio
do presidente de 13 de Setembro do mesmo anno.
3." As leis feitas pela assembléa provincial da Bahia,
publicadas no anno de 1843* e remettidas pelo presi-
dente em officio de 14 de Agosto daquelle anno.
Quanto ás leis mencionadas em 1.° e 2." lugar, no
exame que dellas fez nada encontrou a secção, que fosse
digno de reparo, havendo-se a assembléa provincial do
Espirito Santo e das Alagoas com regularidade no desem-
penho de suas attribuições.
Quanto ás leis -mencionadas em 3. ° lugar acha a secção,
que a de n.° 201 de 29 de Maio de 1843, da assembléa
provincial da Bahia, não pôde prevalecer. Declara essa
lei nullos e de nenhum eíléito os títulos de serventuários
de officios de justiça e fazenda, que ainda tiverem pro-
prietários , quando" aquelles não pagarem a estes por
três annos suecessivosa respectiva quota da renda. Ora,
achando-se regulado, pela lei geral de 11 de Outubro
de 1827, o modo por que devem ser providos aquelles
officios, e não impondo a mesma lei aos serventuários
a pena de nullidade de seus litulos, que eqüivale a
demissão dos empregos que exereião, parece que a as-
sembléa da Bahia (á vista do artigo 3." da lei n.° 105
de 12 de Maio de 1840, interpretando o § 11 do artigo
10 do acto addicional) não devia legislar, como fez,
sobre os referidos serventuários, pois que são elles em-
pregados por leis geraes relativas a objecto da compe-
tência do poder legislativo, como seja a administração
da justiça civil e criminal.
EÍ portanto a secção de parecer que Vossa Mages-
tade Imperial haja por bem mandar prevenir ao presi-
dente da Bahia sobre o excesso havido na publicação
da referida lei, a fim de que evite, pelo modo que lhe
fôr possivel, que da execução delia resulte damno ao
paiz até que a assembléa geral tome sobre esta matéria
a resolução que fôr mais conveniente.
Entretanto Vossa Magestade Imperial ordenará a tal
respeito o que tiver por melhor.
R i o , ' e m 7 de Novembro de 1845.— Visconde de
Monf Alegre. — José Antônio da Silva May a. — Fran-
cisco de Paula Souza, declarando que, entre os meios,
não reconhece o da suspensão da lei.
— 30 —

RESOLUÇÃO

Como parece. (')


Paço, em 10 de Dezembro de 1845.
Com a rubrica de Sua. Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 58.-RESOLUÇÃO DE 10 DE DEZEMBRO DE 1845.

Sobre as leis provinciaes do Maranhão de 18i5.

SENHOR.— A secção dos negócios da fazenda do con-


selho de estado, tendo examinado as leis provinciaes do
Maranhão, promulgadas neste anno de 1845, entendeu na
sua maioria que os §§ 4.° e 7.° do art. 1.° da de n.° 205 de
24 de Julho, offendem as imposições geraes, estabele-
cendo pesados impostos de exportação, nos couros e mais
gêneros da província, e são por isso as suas disposições
daquellas, que reprova o acto addicional; apezar disso,
porém, é de parecer que nenhuma providencia se pôde
dar, na necessidade de esperar-se a deliberação da as-
sembléa geral legislativa, conforme a resolução impe-
rial de 28 de Fevereiro de 1844, (**) sobre consulta do con-
selho de estado, relativa a iguaes disposições de leis das
assembléas legislativas de outras provincias.
O conselheiro Francisco de Paula Souza, discordando
da maioria, é de parecer que nada ha a notar nas sobre-
ditas leis, e nos paragraphos indicados, por entender que
as assembléas provinciaes não exorbitão, quando le-
gislão sobre direitos de exportação.

(*) Em aviso de 22 de Dezembro do mesmo anno recommendou-se ao


presidente da provincia da Bahia a sua intervenção nos termos da
consulta, de modo a evitar-se a execução da referida lei, pelos damnos
que delia poderão resultar ao paiz, alé que a matéria seja resolvida
pela assembléa geral, a que vai ser submettida.
Foi submettida ao conhecimento da assembléa geral legislativa,
—Aviso de 14 de Maio de 1846.
("*) Vide a nota a pag. 'VI.
- 31 —

Vossa Magestade Imperial na sua sabedoria resolverá o


mais acertado.
Rio de Janeiro, em 14 de Novembro de 1845.—José An-
tônio da Silva Maga.— Francisco de Paula Souza. —
Visconde de Monf Alegre.
RESOLUÇÃO.

Como parece á secção (*).


Paço, em 10 de Dezembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 59.—RESOLUÇÃO DE 10 DE DEZEMBRO DE 1845.


* Sobre as leis provinciaes de Pernambuco, promulgadas em 1844.
SENHOR.—A secção do conselho de estado, encarregada
dos negócios da fazenda, que examinou as leis da assem-
bléa provincial de Pernambuco, promulgadas no anno de
1844, encontrou no art. 35 §§ 1 °, 2.°, 3.°, 11,14, 13 e 18 da
de n.° 130 disposições correspondentes e idênticas ás do
art. 36§§1.°, 2.», Í1.12, 15, 16 e22 da de n.°9i do anno de
1842, sobre que consultou a secção com o parecer que
Vossa Magestade Imperial se dignou approvar pela resolu-
ção de 26 de Novembro do dito anno, (**) em conseqüência
do que se expedio pelo ministério da fazenda a ordem
de 17 de Dezembro, mandando suspender a execução das
referidas disposições.
Tinha sido esse parecer da secção que naquellas dispo-
sições muito havia de excedente ás attribuições das assem-
bléas legislativas provinciaes, em prejuízo das imposi-
ções geraes, concluindo entender ella que, para as
assembléas provinciaes poderem firmar o seu direito de
impor, devem mostrar não só que o imposto, que pre-
tenderem estabelecer, não farádecrescer a cifra da impo-
sição geral, como também que elle em nada prejudicará o

(*) Submettida ao conhecimento da assembléa geral legislativa.-


Aviso de 14 de Maio de 1846.
{"*) Vide 1.» vol. pag. 41.
seu progresso ; e considerar ser esta a única maneira mais
razoável de entender as disposições do art. 10 § 5.°, art. 12
c art. 20 da lei de 12 de Agosto de 1834, para se tornarem
effectivas as cláusulas e restricções por ella impostas ás
assembléas provinciaes , evitado o absurdo de as haver
por ociosas e inúteis, sem valor algum real: c fora em
conseqüência da imperial resolução, que com elle se
conformou, que se havia expedido a sobredita ordem de
17 de Dezembro de 1842.
Sobre o cumprimento, porém, desla ordem fez o presi-
dente da província de Pernambuco algumas observações,
porque entendeu suspendel-o, no officio de 27 de Janeiro
de 1843; e, consultada a secção por ordem de Vossa Ma-
gestade Imperial, como achasse cila serem de muito
peso as razões expendidas pelo dito presiderte, assim
como pelo da província de Santa Catharina, em caso e cir-
cumstancias idênticas , e fosse de parecer que a matéria
se levasse á assembléa geral legislativa, para estabelecer
regras que tirem todas as duvidas a este respeito, e firmem
o direito do governo, com o que se conformou o conselho
de estado reunido : houve Vossa Magestade Imperial por^
bem assim o ordenar pela resolução de 28 de Fevereiro*
de 1844. n

!") Esta consulta, que não se acha transcripta no lugar compeicnte,


é a que se segue.
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar, por sua
immediala resolução de 16 de Dezembro do anno passado, que fosse
examinado em conselho de estado o parecer da secção de fazenda
do mesmo conselho, cujo teor é o seguinte.
(O parecer da secção de fazenda eslá insertoapag. 87 do vol. 1.°;
E tomada na devida consideração, e depois de bem discutida esta
matéria, o sobredilo parecer foi approvado pelo conselho de estado;
mas Vossa Magestade Imperial resolverá como achar, em sua alta
sabedoria, que é mais acertado.
Sala das sessões do conselho de estado, em 18 de Janeiro de
1844.—José Joaquim de Lima c Süva.—Caetano Maria Lopes Gama.—
Francisco Cordeiro da Silva Torres.—Visconde rf« Mont'Aleqre.— Vis-
conj? de Abrantes.—José Cesario de Miranda Ribeiro.
Forão voios os Srs. visconde de Olinda c Vasconcellos.
Miranda Bibriro.
RESOLI •<;, t o .
Como parece, (o)
Paço, 28 de Fevereiro de 18H.
Com a rubrica da Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.
{ir Foi suhmcttida á consideração <a n-íscmhlóafferal.—Avisofie 11 rio Maio
— 33 -

Estando nestes termos a matéria controversa, é a secção


de parecer que nada se pôde alterar ou providenciar em
qualquer sentido, cumprindo esperar-se a deliberação do
poder legislativo.
O conselheiro de estado Francisco de Paula Souza e
Mello declara que, em sua opinião, esses paragraphos
estão na orbita dos poderes da assembléa provincial, e
portanto nada tem a notar.
Vossa Magestade Imperial será servido resolver o que
mais convier.
Rio de Janeiro, em 14 de Novembro de 1845.— Visconde
de Monf Alegre.—José Antônio da Silvfr Maga.— Fran-
cisco de Paula Souza.

RESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (*)


Paço, em 10 de Dezembro de 1845.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 60.—RESOLUÇÃO DE 10 DE DEZEMBRO DE 1845.

Sobre o reeurso de Carlos Coleman & C.a reclamando contra o pa-


gamento de direitos que se lhes exigira na razão de 50%-

Senhor. — Recorrem para Vossa Magestade Imperial


Carlos Coleman & C.a, do commercio desta praça, da deci-
são dada pelo ministro e secretario de estado dos negó-
cios da fazenda, presidente do tribunal do thesouro pu-
blico/nacional, sobre o recurso, que interpuzerão, do
inspector interino da alfândega, pelo motivo de lhes ter

(*) Submettida ao conhecimento da assembléa geral legislativa.


— Aviso de 11 de Maio de 1846.
c. o
—n—
feito pagar 50 o não 30 °/0 sobre o valor do despacho de
arrematação para consumo, que os recorrentes fizerão,
de 53 caixas com cbá Sequim, vindas de New-York na
barca Eunomus em Fevereiro de 1844, começadas a
despachar em 21 de Agosto e eíléctivamente arrema-
tadas em 23 do mesmo mez do corrente anno de 1845.
Expendendo os recorrentes as razões fundamentaes
deste seu recurso, ou aquellas por que esperão o pro-
vimento da imperial justiça, dizem elles que o des-
pacho para a arrematação do cbá foi iniciado no dia
21, publicado em 23, é concluído no dia 25 de Agosto,
isto é, emquanto regia a disposição do art. 18 do de-
creto de 12 do Agosto de 1844 :
<< Nos gêneros arrematados por consumo em conse-
« quencia de demora nos armagens da alfândega, além
<.< dos prazos permillidos pelo regulamento, etc, cobrar-
« se-bão do preço da arrematação os direitos ad valorem,
«si estes estiverem lançados'na tarifa deste modo; e,
« quando forem gêneros sobro os quaes a tarifa im-
« ponha taxas lixas cobrar-so-hão sempre 30 c/0 sobre os
•< preços da arrematarão,, e não as taxas fixas. »
E por conseguinte não podião ser sujeitos a qualquer
disposição revogatoria superveniente, até então não sabi-
da nem conhecida, applicando-se-lbes a disposição de
uma portaria não sufficientemenlo promulgada, pois que
a sua publicação somente tivera lugar no dia 30 de Agosto.
Em opposição ás allegações deste recurso, c quaes
as que os recorrentes produzirão, bem desenvolvidas, no
seu requerimento apresentado ao thesouro no dia 1 de
Setembro lindo, a pedir a reforma dos despachos do
interino inspector da alfândega, que teve a definitiva
decisão de que se recorre, apparece afl. a informação
daquelle inspector, em que, para sustentar como regu-
lar e justo o procedimento , contesta que a portaria
do tbesouro de 23 de Agosto de I845, que alterou
a disposição do sobredito art. 18 do decreto de 12 de
Agosto de 18íV, em conseqüência do que se cobrarão
os direitos de 50% do cbá arrematado, se mandara
cumprir e registrar na alfândega nesse mesmo dia em
"que fora expedida, antes portanto de eífeeluada a arre-
matação em 25 do mesmo mez, a respeito da qual nestes
termos não teve oíléito retroaclivo a referida portaria.
Que, de se não mandarem publicar as ordens do go-
verno, no Jornal do Commercio, no mesmo dia em que
se expedem, se não segue dever ser suspensa a sua
observância antes dessa formalidade, nem pôde a pe-
quena demora, que teve a alfândega cm mandar inserir
napiella folha a portaria em questão, servir de motivo
• )0

para não ser ella observada nesses poucos dias que


mediarão entre o seu recebimento e a sua publicação.
Que o verdadeiro motivo, que tiverão os recorrentes
de pedir o consumo do seu chá, não fora o de prevenir
que a avaria augmenlasse, e sim o de fruir especu-
lativamente a diminuição dos direitos; pois que aliás
poderião elles despachal-o com arbitramento de avaria,
no que terião lambem menos direitos a pagar.
A secção do conselho de estado, a que loção os ne-
gócios da fazenda, e a que Vossa Magestade Imperial
houve por bem mandar examinar a matéria, para sobre
ella consultar, tem seriamente meditado no que por uma
e outra parte se lhe offerece á consideração, como lhe
cumpria.
E porquanto acha verificado, pelo que expuzerão os
recorrentes, e contestou o interino inspector da alfân-
dega, pelos documentos que estão juntos, ter sido apor-
taria de 23 de Agosto, de que se fez applicação ao caso
controverso, somente manifestada e apresentada ao co-
nhecimento publico pelo Jornal do Commercio no dia
30 desse mez sem precedência de outro algum acto
promulgador; e tem por sem duvida que nenhum acto
imperativo ou seja do poder legislativo, ou seja do exe-
cutivo, mas ainda quando prejudicial, pôde ter effeito
retroactivo para regular actos anteriores á sua data, e
sujeitar qualquer ao seu cumprimento, emquanto não
fôr legitimamente promulgado; por isso, não obstante
reconhecer a justiça e conveniência daquella portaria
expedida para obstar abusos em prejuízo da fazenda
nacional, que o inspector da alfândega representara c
de que faz menção o seu officio, julga que delia menos
justa e legalmente se fez applicação á arrematação do
chá dos recorrentes, e sujeitando-se á sua onerosa dis-
posição um acto, que havia sido requerido, ordenado,
e efiéctuado antes da sua publicação, na bem fundada
intelligencia e persuasão de que deveria ser regulado
pela disposição, ainda então vigente, do art. 18 do de-
creto de 12 de Agosto de 1844, entendendo demais a
mesma secção, que, ainda quando a portaria de 23 de
Agosto regesse com todo o effeito desde a sua data, a
mesma do cumprimento e registro na Alfândega sem
dependência da publicação, como se persuadio o ins-
pector, não podia sujeitar o acto, já d'antes requerido
e admittido conforme a legislação que existia, é de
parecer:
Que o recurso interposto está no caso de merecer o
provimento de Vossa Magestade Imperial, para semandar
reparar a injustiça feita aos recorrentes com restituição
•* — 36 —

do que demais se lhes cobrou nos direitos do chá arre-


matado, e elles reclamão, si isto também parecer justo
a Vossa Magestade Imperial.
Rio de Janeiro,. 14 de Novembro de 1843.— Visconde
de Monf Alegre.—José Antônio da Silva Maga.—Fran*
cisco de Paida Souza.

RESOLUÇÃO.

Como parece. (')


Paço, em 10 de Dezembro de 1845.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

H Expedio-se ordem á alfândega, em 8 de Janeiro de 1846.


RELAÇÃO
DOS

MINISTROS DE ESTADO PRESIDENTES


E DOS

CONSELHEIROS MEMBROS
DA

SECÇlO DE FAZENDA DO CONSELHO DE ESTADO.


1846.

MINISTRO D E ESTADO.
*
Manoel Alves Rranco (depois visconde de Caravellas)
até o 1.° de Maio de 1846, e
Antônio Francisco de Paula e Ilollanda Cavalcanti de
Albuquerque (depois visconde de Albuquerque), nomea-
do por decreto de 2 de Maio.
CONSELHEIROS I>E ESTAOO.

José Antônio da Silva Maya.


Francisco de Paula Souza e Mello.
Manoel Alves Rranco.
Visconde de MonfAlegre, dispensado da secção por
decreto de 13 de Maio. Foi depois designado para servir
no impedimento do conselheiro Alves Rranco por decreto
de 21 de Outubro.
Visconde de Olinda, designado para servir no impe-
dimento do conselheiro Paula Souza por decreto de 21
de Setembro.

SECRETARIO.

João Maria Jacobina (interino), official maior da se-


cretaria de estado dos negócios da fazenda.
CONSULTAS

CONSELHO DE ESTADO NA SSCÇlO DE FAZENDA.

N. 61. —RESOLUÇÃO DE 3 DE JAXEIRO DE 1846.

Sobre a lei provincial das Alagoas de 8 de Abril de 1843, na parte


cm que impôz nos títulos já sujeitos ao imposto de novos e velhos
direitos de receita geral.

Senhor.—A secção do conselho de estado dos negócios


da fazenda, a que foi presente, por ordem de Vossa Ma-
gestade Imperial, o officio do presidente das Alagoas,
datado de 17 de Maio de 1844, em que expõe a contro-
vérsia suscitada por occasião de se ter executado o dis-
posto no art. 2.° § 21 e arts. 15 e 16 da lei provincial de 8
de Abril de 1843, na tabeliã de novos e velhos direitos,
tendo em consideração taes disposições, pelas quaes se
comprehendem na receita provincial os novos e velhos
direitos, e se autorisa o presidente da província a orga-
nisar a tabeliã delles, tendo em vista os objectos das de
25 de Janeiro de 1832, não comprehendidos na lei geral
de 30 de Novembro de 1841, podendo alterar as taxas,
e estabelecendo uma sobre os alvarás, ou mandados em
geral, não classificados pelas ditas tabellas, julga que, nem
— 40 —
nestas disposições, nem na tabeliã, que em cumpri-
mento dellas fôi organisada, se contém matéria, que por
alheia e exorbitante das attribuições das assembléas le-
gislativas provinciaes, marcadas pelo acto addicional, e
sua interpretação, ou por offenderem os impostos ge-
raes, como entenderão o inspector e o procurador fiscal
da dita província, dê causa a se suspender a execução.
Porquanto, sendo certo que os novos e velhos direitos
e de chancellaria, de empregos e objeòtos provinciaes
couberão ás rendas destinadas para as provincias, na re-
partição feita pelas leis de 24 de Outubro de 1832 art. 83,
de 8 de Outubro de 1833 art. 35, de 13 de Outubro de
1834 arts. 36 e 39, de 31 de Outubro de 1835 art. 12; e
que são por conseguinte taes direitos bem incluídos no
numero daquelles objectos, sobre que podem legislar as
mesmas assembléas provinciaes, na conformidade da lei
de 12 de Agosto de 1834 art. 10 | 5.°, podendo alteral-os
como julgarem conveniente, lei de 31 de Outubro de 1835
art. 12; lambem por evidente se deve ter que a sobre-
dila tabeliã, organisada em virtude da referida dispo-
sição, e que se acha junta, posto que estabeleça im-
postos, em parte demasiadamente gravosos aos qúe tem
de pagal-os, por isso que recahem sobre objectos su-
jeitos já a impostos geraes, e não pouco pesados, quaes os
dos | | 2.° até 10, não está comtudo no caso da excepção
do | 5.° do art. 10, e da disposição do art. 20 da lei de
12 de Agosto de 1834, como oflénsiva das imposições ge-
raes do Estado; pois que esses impostos, especificados
na mencionada tabeliã para as rendas provinciaes, hão
de ser pagos em casos e por objectos de um expediente
indispensável, que necessariamente se ha de efTectuar,
apezar do ônus de que esteja sobrecarregado; e em taes
circumstancias não produzirão o efTeito de fazer decrescer
a cifra dos impostos geraes, que também em taes casos,
e por taes objectos se devem satisfazer.
Reconhece aliás a secção que esta accumulação de im-
postos sobre os mesmos objectos, lançados a favor das
rendas geraes e provinciaes, é notória e excessivamente
vexatória, e muito precisa ser tomada em particular con-
sideração das assembléas geral legislativa do império,
e legislativas das provincias, para que os ônus de tão pe-
sadas imposições se reduzão ao termo razoável, guar-
dada a proporção recommendada e garantida pela cons-
tituição; concorrendo para este fim o governo imperial
com quanto estiver de sua parte.
O Sr. conselheiro de estado Paula Souza concordou
addicionando que em sua opinião não reconhecia no go-
verno o direito de suspender as leis provinciaes, que só
— 41 —
podem ser suspeusas na fôrma do art. 16 do acto addi-
cional.
Digne-se Vossa Mngeslade Imperial attender a este pa-
recer, que a secção respeitosamente leva á imperial pre-
sença, e resolver o que íôr uiais acertado.
Hio de Janeiro, em 24 do Outubro de 1845.— José
Antônio da Silva Mm/a. — Visconde de Monf Alegre.—
Francisco de Paula Soura.

RESOLUÇÃO.

Submetta-se ao conhecimento e deliberação da as-


sembléa geral legislativa. (*)
Paço, em 3 de Janeiro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 62.—RESOLUÇÃO DE 3 DE JANEIRO DE 1846.

Sobre a indemnisnção de uma porção de pólvora extraviada dos ar-


mazéns da alfândega pelos rebeldes em 1837, e reclamada por Samuel
Pbillipps & C. a , como procuradores de J. F. Vogeier & C. a nego-
ciantes da praça da Baliia.

Senhor.—A' secção do conselho de estado, a que tocão


os negócios da fazenda foi apresentado o requerimerto
de Samuel Phillipps & C.a, como procuradores de .T. F.
Vogeier & C.% negociantes da praça da Bahia, em que
reclamão do governo imperial a indemnisação de 728
barris de polvoia fina, na importância de ?>:8^8^000, os
quaes, tendo sido importados na cidade da Bahia, vindos
de Londres pelos navios Hcreford e Columbian Paquet
em 18 <ie Janeiro e 26 de Maio de 1S3*>, e immediata-
mente depositados nos armazéns nacionaes do forte do

{*) Submettida ao co.ihecimento da assembléa geral.—Aviso de 14


rt> .«iaio de 1816.
c. 6
Mar, onde ainda se achavãó por despachar em 7 de
Novembro de 1837, dahi forao tirados e consumidos
pelos rebeldes, de maneira que, pretendendo elles pro-
prietários despachal-os para consumo em meiado do
anno de 1838, se verificou existirem apenas dous dos
ditos barris sem tampos, e com diminuição de pólvora,
sendo certo que nenhuns havião despachado, emquanto
a cidade esteve occupada pelas forças rebeldes.
Na petição formal e especificada, que para esse fim
produzirão por seu advogado, e se acha a fl., fundão
os reclamantes o seu pretendido direito á exigida in-
demnisação do governo, em se acharem os referidos
barris em armazém do Estado sob a guarda da nação,
e reputarem por isso ser-lhes esta obrigada a indem-
nisar a perda da sua propriedade, que as leis do Im-
pério garantem em toda a sua plenitude, e bem assim
em ter sido concedida por effeitos da imperial clemência
a amnistia aos cabeças da rebellião por taes conhecidos
e condemnados, e julgarem que por esta lhes fora pre-
judicado e tolbido o direito de os accionar para sa-
tisfazerem ò prejuízo causado pelo delicto, pondo a
cargo do governo imperial o providenciar a respeito,
a fim de serem indemnisados do valor da sua pro-
priedade, que tinhão sob guarda e protecção da nação.
A secção, senhor, tomando em consideração o ex-
posto com o que consta do processo, tem por impro-
cedente os dous argumentos produzidos, entendendo
que nelles se não pôde firmar o pretendido direito dos
reclamantes, ou delles se não pôde deduzir a obrigação
do governo imperial fazer-lhes a requerida indemqi-
sação.
Não o primeiro, porque certo de direito que a cousa de-
positada periga e perece por conta de seu dono, sem
responsabilidade alguma do depositário, fora do caso
de dolo ou culpa lata da parte delle ; e certo de facto que a
pólvora dos reclamantes foi distrahida e consumida pelos
rebeldes no tempo em que estiverão senhores da cidade ;
incontestável é que não pôde imputar-se a cargo do
governo imperial e da fazenda nacional, em razão do de-
posito, a indemnisação da perda proveniente do caso for-
tuito e força maior.
Não o segundo, por isso que esta amnistia, não ex-
tinguindo a obrigação civil dos delinqüentes, não preju-
dicou o direito dos reclamantes contra elles; porquanto
em generalidade a amnistia tem unicamente por effeitos
jurídicos impor silencio á lei penal, desobrigar os de-
linqüentes de responder a processos crimes, e consti-
tuil-os ao abrigo delia, a salvo das penas, que aliás
- 4 3 -
deveriio soffrer; e por^'còiiseguinte os não desobriga,
nem os senta de responder pelos effeitos civis do facto
praticad r. e isto muito mais é procedente a respeito dos
rebeldes, de que se trata, que amnistiados depois de
julgados e condemnados, se devem haver por sujeitos á
disposição do art. 66 do código criminal.
Nem obsta o que ultimamente razoou o advogado
dos reclamantes, a quem a secção mandou ouvir, pondo
em duvida o facto de ter sido a pólvora tirada do
deposito, e consumida pelos rebeldes, e reforçando o
argumento deduzido de ter sido esse deposito feito
nos armazéns nacionaes, com a circumstancia de que
o reveste, para consideral-o como forçado; porque a
primeira parle de tal razoado é agora extemporânea
e contradictoriamente produzida em opposição ao que
elles reclamantes constantemente reconhecerão, e ex-
plicitamente allegárão a fls., attribuindo sempre aos
rebeldes o extravio e consumo da sua pólvora; e a
segunda, ainda quando não fosse manifestamente impro-
cedente de facto, por não poder-se dizer forçado, não
voluntário, o deposito da pólvora importada no Império,
feito nos lugares para isso destinados, sendo assim
praticado por expressa disposição do art. 182 do re-
gulamento de 22 de Junho de 1836, de que perfeita noti-
cia tinhão os reclamantes, improcedente e inattendivel
seria de direito, por não poder contestar-se que o governo
e a nação tem de regular da maneira mais conveniente
aos interesses e commodos públicos os objectos da
administração, e tanto a respeito dos nacionaes como dos
estrangeiros.
E é portanto a secção de parecer que o requeri-
mento aos reclamantes não merece a consideração e
.favorável deferimento de Vossa Magestade Imperial.
Rio de Janeiro, em 24 de Outubro de 1845.— José
Antônio da Silva Maga.—Visconde de Monf Alegre.
—Francisco de Paula Souza.

RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 3 Janeiro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.
- \\ -
N. 63.—RESOLUÇÃO DE 3 DE FAYF.IRO DE Í 8 Í 6 .

Sobre duvidas suscitadas pelo juiz municipal do Valcaça e Vassouras,


com referencia ao regulamento de 9 de Maio de 1842.

Senhor.—A secção do conselho de estado dos negó-


cios da faz:,n Ia, cumprindo a ordem d -. Vossa MagesUi le
Imperial, meditou sobre as duvidas propostas pe!oj'iiz mu-
nicipal e dos orphãos dos termos de Valença e Vassouras da
província do Rio de Janeiro, ocçorridas" por occasião de
executar-se o regulamento de 9 de Maio de 1842, e ora
respeitosamente offerece á consideração de Vossa Ma-
gestade Imperial o juzo que formou a respeito dellas;
tendo em attenção o que proximamente dispoz o re-
gulamento de 27 de Junho de 1845.
A disposição do art. 20 do regulamento de 9 de Maio
d 1:4á. pila qual sp determina que aos juizes dos
or,)' ãos, além do que lhes é incumbido peia lei de 3
de Novembro de I8i0, cumpre promover o andamento
dos inventários dos defuntos e ausentes e activar o
apununento das heranças jacentes e não addidas, remet-
endo para os cofres públicos o producto liquido, e ren-
dimento «laquelhis que não forem reclamadas nos lermos
do mesmo regulamento, não dá motivo á duvida, ou
embaraço algum na sua execução; entendendo-se ella,
como devtj ser entendida, de "accordo e em harmonia
com as disposições dos outros artigos antecedentes, e
subsequentes, è do art. 1.° do regulamento de. Ti de
Junho de 1845.
Porquanto, estando ordenada mui clara e explicita-
mente a marcha, que d.ve seguir o juizo de orphãos:
1.° a respeito do inventario, arrecadação e administração,
tanto dos bens dos defuntos testados ou intesbdos \
que não deixarão na terra cônjuges ou herdeiros, pa-
rentes ascendentes, descendentes* ou coliatorae.-» noto-
riamente conhecidos, como dos bens dos uiioeni.eó, de
que não ha noticia, arts. 11, 12, 10, 17, .8 e 29, e art.
1.° do dito regulamento de 27 de Junho; £ ° a respeito
das habilitações dos herdeiros desses uJuntos e au-
sentes, e da» justificações das dividas passivas d>.-> he-
ranças e bens' delles, art. 15, e &rt. 9." do de 27 de
Junho: 3.° a respeito do como e quando se deve julgar
vagos, pertencentes ã fazenda nacional, os bens dos
defuntos e ausentes, de <|U3 não tiverem concorrido
a habilitar-se os legítimos successores e he.rdt.iros: ma-
nifesto de que, quanto se dispõe no art. i0, na imposição
.ao Juiz u" «rphãos da obrigação de promover o anda-
mento doa inventados dos ,ln,'".ntos c .usem .s, 6 activar
o apuramento d«s heranças j . mentes não urdidas, para
fazer a remessa aos cofres púbicos do liqaido prjducto,
e rendimento das que não forem reclamadas, nos termos
do r galamento, se deve entender em coherente re-
lação com o que nos outros artigos se dispõe; haven-
do-se por procedente e efíéctiva essa obrigação de re-
metter o liquido producto e rendimento das heranças
jacentes e não addidas somente até o ponto de as julgar
v ícantes e pertencentes á fazenda nacional na" fôrma
do art. 33.
Também não ha o embaraço que suscitou ao juiz dos
orphãos de Vassouras o capitulo 2." do referido regu-
lamento, ordenando (diz elle) que a contabilidade e es-
cripturação de todos os bens dos defuntos e ausentes
e vagos se facão nos mesmos livros e pelo escrivão
dos orphãos, quando são dous os juizos, e diversos con-
forme a natureza dos bens; por dever entender-se o
que dispõe esse capitulo com a precisa e litteral res-
tricção que o faz applicavel só á contabilidade e es-
cripturação encarregada ao escrivão dos orphãos, e
peio que pertence aos bens vagos até a data da sentença
que por taes os julgar na fôrma do art. 33 e da en-
trega, que então se fizer, delles ao juizo da provedoria
paia o procedimento ordenado no árt. 21.
Julga porém a secção ter havido no regulamento a
falta, que se deverá remediar, de fazer extensiva ao juizo
da provedoria a respeito da contabilidade e escripturação
dos bens vagos, quanto fôr applicavel á matéria desse
capitulo 2.°
Igualmente não dá lugar a qualquer duvida o disposto
uo art. 12 do regulamento, que determina se proceda
a respeito dos bens de pessoas ausentes da mesma ma-
neira, porque se d,:ve pmeeder a respeito dos bens e he-
ranç.is dos defuntos e ausentes; porque, si o juiz dos
orpíiaos, em virtude da disposição deste artigo, deve pro-
ceder á arrecadação e inventano dos bens dos ausentes,
prover a respeito da administração delles, na fôrma das
ieis e do mesmo regulamento^ claro está que o juiz
dos urpbãos, depois de feitas todas as diligencias relativas
a essa arrecadação, inventario e administração ha de a final
julgar vacantes, pertencente á fazenda nacional, e man-
dal-os entiegar ao juizo da pr> vedoria, no caso de não
apparecerem os herdeiros a reclamar a curadoria provi-
sória, '.epois de passados os prazos marcados na Ord
L. 1." Tit. 62 | 38, e Decr. de 15 de Novembro de 1827.
A respeito do que dispunha o art. 32 do regulamento,
- 46 —

deverá ora proceder-se da maneira ordenada no art. 9.*


do regulamento de 27 de Junho de 1845, que o .ev gou;
e deverá haver-se, c m o é, por mui expressamente gené-
rica e extensiva a todas e quaesquer causas e acções ac-
tivas e passivas, a obrigação que nos arts. 24 e 25 se im-
põe aos administradores ou curadores dados ás heranças
jacentes e bens de ausentes, de representar pelas mesmas
heranças e bens, em juizo e fora delle, demandando e
sendo demandados pelo que lhes disser respeito.
O art. 34 deve ser entendido de maneira que a sua dispo-
sição fique de accordo com as dos arts. 2.°, e 3.° g 4.°,
referindo-se unicamente ás heranças jacentes e bens que
por sentença tiverem sido julgadas vacantes nos termos do
art. 33; pois que, si esses se devolvem á fazenda nacional,
na fôrma do dito art. 3." g 4.°, e devem arrematar-se, como
determinão os arts. 4.° e 21, para ser o seu producto
recolhido ao thesouro e thesourarias, devendo os outros
bens dos defuntos e ausentes ser inventariados, ar-
recadados e administrados, até serem entregues a seus
donos, siapparecerem, ou a seus herdeiros ou successores
legitimamente habilitados, ou até se haverem por vagos
e devolutos á fazenda nacional, art. 2.°; e, sendo assim,
nenhuma limitação ou alteração se precisa no art. 15,
que pôde e deve ter a sua litteral execução, com o que
lhe addio o art. 5.° do regulamento de 27 de Junho
de 1845.
A respeito dos bens e heranças dos defuntos e ausentes,
que forem estrangeiros, quando não existirem tratados
em contrario, como actualmente acontece, se deve pro-
ceder, como a respeito dos bens e heranças dos nacionaes,
conforme o que dispõe o regulamento e mais legislação em
vigor, pelo que é expresso no art. 43 e sua addição no
art. 11 do de 27 de Junho dito. (*)
A disposição do art. 26, a respeito da porcentagem do
producto dos bens arrecadados, para o juiz e mais
empregados, não é extensiva ao producto dos bens do
evento, por julgar a secção poderem bem fazer-se as
diligencias relativas á arrecadação e arrematação destes
bens somente pelos salários respectivos.
Sendo pois este o juizo da secção relativamente ás duvi-
das propostas pelo juiz municipal e de orphãos do*; termos
de Valençae Vassouras, no seu officio de 31 de Julho de
1844, e esta a maneira porque entende solvel-as- tudo

voí!lVÍdpea?CO?7SuUa n ' ° 6 de2i$ de Abril de


18*2 e a respectiva nota
- 4 7 -
submette á sabedoria de Vossa Magestade Imperial, para
resolver o que melhor parecer.
Rio de Janeiro, 7 de Novembro de 1845.—Visconde de
Monf Alegre.—José Antônio da Silva May a.—Fran-
cisco de Paula Souza e Mello.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 3 de Janeiro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 64.-RESOLUÇÃO DE 3 DE JANEIRO DE 1846.


Sobre diversas leis da assembléa provincial do Pará, creando impos-
tos de importação e de exportação.

Senhor.—Manda Vossa Magestade Imperial que a secção


de fazenda do conselho de estado interponha o seu pa-
recer sobre o officio do presidente da província do Pará
sob n.° 28 de 2 de Novembro do anno passado, cujo
conteúdo a secção passa a expender resumidamente.
A assembléa legislativa da província do Pará pelo g 4."
do art. 23 da lei de 15 de Outubro de 1839, impoz3%
addicionaes no algodão, assucar e outros gêneros de
producção da província; e pelo g 6.° do artigo único da
lei de 17 de Outubro do mesmo anno, sobre propostas da
câmara municipal e para as despezas da mesma, impoz
10 réis por libra de sabão e sabonetes importados na
província.
Chegando estas duas leis ao conhecimento do governo,
expedio este pela repartição da fazenda o aviso de 25 de
Janeiro de 1841, em que ordenou que ficasse suspensa
a execução dellas até deliberação da assembléa geral,
com o fundamento de que umá onerava os gêneros de
exportação em prejuízo do dizimo ou imposto de 7%
pertencente á renda geral, e outra estabelecia impostos
na importação, contra a clara e terminante disposição da
lei de 12 de Agosto de 1834.
— i8 -
Em conseqüência desta ordem não forão executadas
estas duas leis ; mas a assembléa legislativa do Pará con-
tinuou a legislar sobre impostos, segundo suainlelligencia
do acto addicional á constituição do império, sem atten-
ção á opinião do ministro da fazenda, decretando, pela lei
de 5 de Julho de 1841, que se pagasse para as despezas
provinciaes 20 réis pela canada de aguardente, licores, ge-
nebra, cerveja e outras bebidas espi. ituosas ; 10 réis pela
canada de vinho de qualquer qualidaúj ; 40 réis por libra
de tabaco de fumo ; 10 réis por libra de sabão ou sabo-
netes, que não fossem fabricados na província, e se ven-
desse para consumo: e '20 réis por dúzia de foguetes,
chamados do ar: mas esta lei nf;o foi lambem execntda,
apezar de ler sido sanecionada, porque estabelecia (c «mo
diz o presidente) novos impostos sobre gêneros, que es-
tavão em circumstancias idênticas ás dos tributados pelas
duas leis já apontadas, as quaes o governo mandou sus-
pender, do que se infere que o mesmo presidente as foz
suspender, ou pelo menos deixou-as sem execução, in-
dependentemente (ie recorrer jatei isso ao governo geral.
A assembléa legislativa da província não fez opposição
alguma directa a esses actos da presidência; mas na lei
do orçamento municipal decretou que os presidentes das
câmaras municipaes, ficassem autorisadós para mandar
pôr em custodia, na cadeia, aos arrematantes, cobr.idores
ou devedores remissos das rendas municipaes, forman-
do-se auto de tudo o que tivesse lugar por occasião desse
procedimento, remetl-ndo-se tudo ao juizo municipal,
para proceder contra eiles como exlraviadores.
Esía lei foi sanecionada pelo antecessor do actual pre-
sidente ; mas como ue sua expressão geral—rendas mu-
nicipaes—se podia inferir que nellas estava comprehen-
dida a taxa de 10 réis por libra de sabão ou sabonetes,
não manüfacturados na província, a qual estava suspensa
por ordem do governo; o presidente entendeu que a
devia também suspender em todos os seus effeitos, al-
legando em seu officio as representações do commer-
cio e do cônsul porluguez, e o desgosto geral que se ma-
nifestou ás primeiras tentativas de sua execução.
Taes são os factos, senhor, que a secção passa agora a
emiltir seu parecer sobre tudo quanto se contém no
officio, e procurará ao mesmo tempo firmar alguns prin-
cípios acerca dos limites dos poderes geraes e provin-
ciaes, que tão freqüentemente se achão em conílicto.
Nenhuma duvida tem a secção em attribuir ao governo
o poder de suspender as leis provinciaes em todos os
casos previstos no a ri, 20 da lei de 12 de Agosto de 4834,
a saber:—quando ellas offenderem ã constituição, aos iai-
— 49 —
postos geraes, aos direitos de outras provincias, e aos
tratados.
Não só esse poder se infere da obrigação, que têm os
presidentes das provincias de remetter todos os actos
legislativos ao governo, além da remessa que também
são obrigados a lazer á assembléa geral: não só se infere
do direito do exame desses actos, que naquelle artigo
expressamente se confere ao governo; mas também é
impossível negar-Ih'o, quando se considera o quanto
seria absurdo que, no intervallo das sessões da assem-
bléa geral, que pôde ser longo por milhares de motivos,
que nem sempre é dado prever, ficasse mero espectador
.das offensas aos tratados com as nações estrangeiras,
sem poder attender ás reclamações, que se lhe fizessem,
por mais obvia que fosse a justiça dellas. E, si, no caso
da offensa aos tratados, não é possível negar ao governo
esse direito de suspensão; si os outros casos, por exem-
plo, b de offensa á constituição, podem ser não menos
graves e urgentes; e, se nenhuma dillerença entre elles
e o de offensa aos tratados se collige do "artigo citado,
nem das outras disposições do acto addicional: forçoso
é dizer que em todos estes assiste ao governo o mesmo
direito de suspender as leis provinciaes.
Não se segue porém dahi, no sentir da secção, que elle
deva usar desse direito, cada vez que tenha" um funda-
mento qualquer para suppôr offendido, bem que indi-
rectamente, algum desses objectos. Seria isso o mesmo
que annullar as assembléas provinciaes, ou ao menos
tirar-lhes toda a independência, e a seus actos, consum-
mados por saneção dos presidentes, todo o effeito.
Actos pôde haver, em que a exorbitância das assem-
bléas provinciaes seja patente, em que a offensa aos tra-
tados, soja flagrante, em que o damno causado com a
execução delles seja prompto, quando irreparáveis. A
estes pois é mais obrigação, do que direito do governo,
oppor logo a medida da suspensão.
Outros, porém, só por uma longa deducção de racio-
cínios é que se poderá demonstrar que estão em alguns
dos casos prevenidos no citado art. 20 do acto addicio-
nal, ou só muito remotamente, e depois de longo tempo
de execução, é que poderião causar offensa: e nestes
imprudência fora usar o governo da sua interferência,
embora muito legal, quando é certo que a decisão defi-
nitiva do corpo legislativo pôde tudo remediar em tempo.
De tudo isto segue-se: 1.° a indisputável competência
do governo para suspender as leis provinciaes, que esti-
verem em alguns daquelles casos do citado art. 20; 2.° a
parcimônia e moderação, com que deve usar desse
c.
— :><) —

poder, limitando o uso delle aos casos óbvios e graves


de ollénsas.
Se a secção porém reconhece esse direito no governo
geral, nem por isso está disposta a extendel-o aos pre-
sidentes de províncias. O que a estes compete na faclura
das leis provinciaes está muito claramente marcado no
acto addicional, e tão longe está de que se lhes quizesse
conceder um poder tão amplo, como o de suspender essas
leis, que antes o exercício do veto foi mui limitado, e
a fora isso nada mais tem elles que se possa inferir
de alguns dos artigos da lei de que se trata.
Applicando estes princípios ás questões, que resultão
do officio do presidente do Pará, que Vossa Magestade
Imperial se dignou entregar ao exame da secção, tem
ella a honra de submeller ao alto conhecimento de Vossa
Magestade Imperial o seu parecer, o qual consiste: 1."
em que o governo sustente o aviso de 25 de Janeiro de
1841 que suspendeu a execução das leis provinciaes que
estabelecião impostos nas importações, pois é manifesta
a exorbitância de suas attribuições, como se houve a as-
sembléa legislativa daquella província, e a offensa que
com isto fez aos impostos geraes; 2." que todavia se
ordene ao presidente da província que, no tocante ás dis-
posições da lei do orçamento municipal, que não disse-
rem respeito a estes impostos de importação, as faça
executar, não obstante as reclamações que contra ellas
apparecerão, até que a assembléa geral tome em consi-
deração as razões de duvida, que apparecem sobre a legi-
timidade dessas medidas de evicção para cobrança dos
impostos municipaes, mas que o não são tão manifes-
tamente, nem ameação damnos tão graves, que reclamem
a medida da suspensão ordenada pelo executivo ; 3.° que
igualmente se declare ao mesmo presidente que deve para
o futuro abster-se de suspender por sua própria autori-
dade os actos da assembléa legislativa da província, que
estiverem convertidos em lei segundo as regras estabele-
cidas no acto addicional, limitando-se a participar ao go-
verno geral pela repartição competente os inconvenientes
que nelles encontrar.
O conselheiro de estado Paula Souza é de opinião que
o governo não tem o direito de suspender as leis pro-
vinciaes : não descobre artigo algum, nem no acto
addicional nem na sua interpretação, lhe dê esse direi-
to: que o art. 20 daquelle manda sim remetter ao go-
verno os actos das assembléas provinciaes, mas diz o
fira, que é—para se examinarem—declarando ao mesmo
tempo quem os pôde revogar, e em que casos (que
é o poder legislativo geral) nada tratando de suspensão
— 51 —
de que já tinha tratado o art. 16, que em certos casos
dá aos presidentes o direito de suspender a sancção e exe-
cução da lei, até ser definitivamente decidida a questão
pela assembléa geral, á qual e ao governo deve ser ella
remettida: que o art. 7.° da interpretação apenas de-
clara mais um caso, para que tenha lugar a providencia
do art. 16: e que nenhum artigo ha nella, d'onde se
possa deduzir esse direito que se quer dar ao governo.
Que, pensando assim, não lhe parece sustentável o aviso
de 25 de Janeiro de 1841, tanto mais que, ainda quando
tivesse o governo esse direito, não o tinha no caso do
imposto de exportação, pois não éprohibido ás assem-
bléas provinciaes legislarem sobre impostos de expor-
tação, e só sim sobre os de importação, caso que se dá
quanto ao imposto no sabão ou sabonetes (se não foi no
seu consumo): nem o demove desta opinião o dizer-
se que este imposto na exportação offende os impostos
geraes, pois que elle diminuirá o preço do gênero na-
quelle lugar; mas não estorva a sua sahida, tanto que
em todas as provincias os gêneros pagão na sahida
dellas a arbítrio das assembléas provinciaes.
Que muito menos sustentável lhe parece o proceder do
presidente, suspendendo essas leis, sem ser nos casos
e pela fôrma declarada no art. 16 do acto addicional,
explicado pelo art. 7.° da interpretação, embora lhe
pareça que exorbitou a assembléa provincial no g 17 da
lei n.° 109 de 6 de Dezembro de 1841, decretando um
novo processo para cobrança de dividas municipaes,
(não porém no § 18, nem na lei n.° 100 de 5 de Julho
de 1841, que estavão dentro de sua competência).
Entende, pois, que, emquanto não houver interpreta-
ção ou reforma do acto addicional, todas as vezes que'
houver exorbitância das assembléas provinciaes, o que
resta é, que os presidentes usem do remédio do art. 16,
ue lhe dá muita latitude, depois da interpretação que lhe
3 eu o art. 7.° da lei de 12 de Maio de 184Ô, quando
declara que toda a vez que offénder á constituição uma
lei provincial, pôde ser ella suspensa na fôrma deter-
minada pelo dito art. 16, nada mais competindo ao go-
verno se não lembrar-lhes, e recommendar-lhes o des-
empenho desse dever: e que, quanto ás leis já sancciona-
das, e á que portanto não se pôde applicar este remédio,
resta que o governo determine que os presidentes solici-
tem das assembléas provinciaes sua revogação o que é;
facillimo, sabendo elles usar dos meios que tem a seu
alcance.
Que entretanto lhe parece summamente útil que st
trate de promover uma interpretação, ou antes uma jce-
forma dos artigos do acto addicional que dao motivo a
conflictos e perigos, empregando nisso o governo sua
legitima influencia. .
Vossa Magestade Imperial resolvera o que for mais
justo.
Rio em 7 de Novembro de 1845. — Visconde de
Monf Alegre. —José Antônio da Silva Maga. — Fran-
cisco de Paula Souza.
RESOLUÇÃO.

Submetta-se ao conhecimento e deliberação da assem-


bléa geral legislativa. (*)
Paço, em 3 de Janeiro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Manoel Alves Branco.

N. 65.—RESOLUÇÃO DE 3 DE JANEIRO DE 1846.

Sobre as leis provinciaes de S. Paulo e Santa Catharina dos annos


de 18lí e 1845, e de Goyaz de 1813 c 1844.

Senhor.—A secção do conselho de estado, a que per-


tencem os negócios da fazenda, examinou as leis pro-
vinciaes de S. Paulo, promulgadas nos annos de 1844
e 1845, e embora achasse defeitos em algumas dellas,
não achou, todavia, que exorbitassem das attribuições
das assembléas provinciaes, e portanto nada tem a
propor a respeito.
Examinou também as leis provinciaes de Goyaz dos
annos de 1843 e 1844, e nada lendo a notar nas de 1843,
somente observa, quanto ás de 1844, que a lei n.° 40

(*) Foi submettida á consideração da assembléa eeral. —Aviso de


11 de Maio ,\p 184,,
— 53 —
de 22 de Julho desse anno, nos §§ 27 e 28 do artigo
28, exorbitou das attribuições das assembléas provin-
ciaes, por tributarem sobre a importação em opposição
directa ao artigo 12 do acto addicional; e no artigo 46,
por legislar sobre testamentos e escrivães, em oppo-
sição ao mesmo já citado artigo 12 do acto addicional.
Examinou finalmente as leis provinciaes de Santa Ca-
tharina dos annos de 1844 e 1845, e nada tem a notar
senão, que a lei n ° 202 nos §§ 8.° e 47 do artigo 3.°,
e a lei n. 218 nos §§ 10 e 17 do artigo 3.° exorbitarão
das attribuições das assembléas provinciaes, por legis-
larem nos p*rimeiros paragraphos sobre caixeiros es-
trangeiros, em opposição ao artigo 20 do acto addicional,
visto existir tratado com a França, e nos segundos sobre
impostos de importação, em opposição ao artigo 12 do
acto addicional.
Nada diz a secção sobre os §§ 19 e 20 do artigo 3.°
da lei n.°202, e §§ 20 e 21 do artigo 3.° da lei n.° 218,
que decretão impostos sobre estrangeiros, porque nelles
se faz a expressa declaração de que só deve abranger
os estrangeiros, com cujos governos não exista tratados ;
e portanto, bem que lhe pareça impolitico e censu-
rável esse imposto, não lhe parece exceder as attri-
buições das assembléas provinciaes.
Observa a secção que o presidente da província não
quiz sanccionar a lein." 218, talvez por estes motivos,
a qual por isso foi promulgada pelo presidente da as-
sembléa provincial. O que se devera então praticar,
era o que determina o artigo 16 do acto addicional,
interpretado, como se acha, pelo artigo 7.° da lei de
12 de Maio de 1840, deixando portanto de promulgar-
se, e executar-se essa lei, emquanto não fosse defini-
tivamente decidida a questão por quem tem este direito.
E' pois a opinião da secção que sejão remettidas á
assembléa geral, para sua revogação, essas disposições
que tem ella notado, e que o governo recommende
aos presidentes toda a reflexão na sancção das leis,
seryindo-se do remédio do artigo 16 interpretado, como
está, todas as vezes que houver lugar; e, quanto ao
passado, que elles, usando da legitima influencia que
exercem, promovão a revogação, pelas mesmas assem-
bléas provinciaes, de todas as disposições exorbitantes
de suas attribuições.
Vossa Magestade Imperial, porém, em sua alta sabe-
doria resolverá o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, em 5 de Dezembro de 1845.— Visconde
de MonfAleqre.—Francisco de Paula Souza.—José An-
tônio da Silva Maga.
RESOLUÇÃO.

Submetta-se ao conhecimento e deliberação da as-


sembléa geral legislativa. (*)
Paço, em 3 de Janeiro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 66.— RESOLUÇÃO DE 24 DE JANEIRO DE 1846.

Sobre o recurso de Antônio José da Rocha Pereira á restituição do


imposto de ancoragem.

Senhor. —Antônio José da Rocha Pereira comprou o


brigue austríaco Elise et Louise, que veio a este porto
com carga procedente de Celte ; e, embandeirando-o
brasileiro com o nome Marquez de Pombal, o fez se-
guirem lastro para Paranaguá. Na occasião do despacho,
pagou por inteiro o imposto da ancoragem, mas depois
reclamou metade da quantia paga com o fundamento que
o art. 2.° do regulamento de 20 de Junho de 1844 favo-
rece com metade da ancoragem os navios que entrão
com carga, e sanem em lastro. Foi indeferida a preten-
ção pelo administrador do consulado, e bem assim pelo
ministro e secretario de estado dos negócios da fazenda,
de cuja decisão interpoz recurso para o conselho de
estado.
A secção de fazenda do mesmo conselho, a quem foi
Vossa Magestade Imperial servido enviar este negocio,
antes de entrar no conhecimento da matéria, examinou si
o recurso estava nos termos de ser tomado em conside-
ração ; e, achando que não foi elle interposto dentro dos
dez dias, que marca o art. 45 do regulamento n." 424

(') Submettida ao conhecimento da assembléa geral.— A^iso de 14


de Maio de 1846.
de 5 de Fevereiro de 4842, pois que, sendo o despacho
recorrido de 11 de Setembro, sua petição é datada de 13
de Novembro; nem sendo ella assignada por advogado
do conselho de estado na fôrma do art. 37 do citado re-
gulamento:
E' de parecer que não tem lugar lomar-se conheci-
mento do recurso que interpoz Antônio José da Rocha
Pereira.
Vossa Magestade Imperial, porém,, mandará o que for
justo.
Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 1845.— Visconde
de Monf Alegre.— José Antônio da Silva Maga.—Fran-
cisco de Paula Souza.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 24 de Janeiro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 67.—RESOLUÇÃO DE 24 DE JANEIRO DE 1846.

Sobre as leis provinciaes de Minas Geraes dos annos de 1844 e 1845.

Senhor.—Nas leis provinciaes de Minas Geraes do cor-


rente anno de 1845, que forão examinadas na secção de
fazenda do conselho detestado, só achou ella exorbitância
nos §§ 1, 2 e 16 do art. 2.° da lei n.° 281 (que fixa
a receita e despeza da província) por isso que o1.°
e 2.° prejudicão os tributos geraes, e o 16 legisla sobre
importação contra o disposto nos arts. 10 g 5 e 12 do
acto addicional.
Essa mesma exorbitância se acha nas leis da mesma
província, n.° 275 e n.° 251 ; como porém ambas já
não têm vigor, pois que erão leis annuas, e a de
n.° 275 de mais a mais foi revogada pelo poder legis-
lativo geral, só resta agora que o governo' proponha
á assembléa geral a revogação da lei n.° 281, recom-
— r;o —
mondando dcsdejá ao respectivo presidente toda a at-
tenção na sancção das leis provinciaes, sabendo apro-
veitar-se do remédio do art. 16 do acto addicional
interpretado pelo art. 7." da lei interpretativa do mesmo.
Quanto ás outras leis dos annos de 1844 e 1843, nada
tem a notar. .
O conselheiro de estado Francisco de Paula Souza
não acha exorbitância nos gsjl." e 2." do art. 2." da
lei n.° 281, e das leis n.° 275 e 251, pelas razoes ja
dadas por vezes; portanto, concordando com este pa-
recer em tudo o mais, só nisto discrepo.
E' esta a opinião da secção.
Rio de Janeiro, em 5 de Dezembro de 1845.—Visconde
de Monf Alegre.—Francisco de Paula Souza e Mello.—José An-
tônio da Silva Mana.

RESOLUÇÃO.

Submetta-se ao conhecimento e deliberação da as-


sembléa geral legislativa. (*}
Paço, em 24 de Janeiro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Manoel Alces Branco.

N. 68.—RESOLUÇÃO DE 9 DE MAIO DE 1846.

Sobre a pretenção de José da Cunha Coutinho e outros á indem-


nisação das sacas de algodão gastas nas trincheiras da capital
das Alagoas, na rebellião do anno de 1844.

Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem


mandar remetter, por aviso de 6 do corrente, a secção
do conselho de estado, a que pertence os negócios da

O Submettida ao conhecimento da assembléa geral —Aviso de 14


de Maio de 1846.
- r,7 -
fazenda, o officio do presidente das Alagoas de 7 de
Junho ultimo, e os documentos, que o acompanharão*
relativos á indemnisação de 50 sacas de algodão per-
tencentes a José da Cunha Coutinho, Antônio de Oli-
veira e Souza e Manoel Antônio Gomes Ribeiro, que,
por ordem da presidência, forão tiradas para as trin-
cheiras da capital; a fim de interpor o seu parecer:
ao que respeitosamente obedece.
A secção, senhor, que, pelo exame dos ditos officios,
documentos e petições dos reclamantes, reconhece e
ha por verificada a existência do facto de se haverem
tirado sacas de algodão da propriedade destes, que
se achavão recolhidas nos armazéns da inspecção, nos
dias 16, 17 e 18 de Outubro de 1844, por ordem vocal
do ex-presidente Bernardo de Souza Franco, para o
fim de se formarem trincheiras em defesa da capital
da província em guerra, ter-se effectuado uma desa-
propriação por necessidade, sem que então se liqui-
dasse o seu valor, e sem que até o presente tenha o
sido os mesmos reclamantes indemnisados delle, por
se haverem preterido as regras estabelecidas para se-
melhantes casos nos arts. 5.°, 6.°, 7.° e 8.° da lei de 9 de
Setembro de 1826; entende em these que direito têm
os prejudicados a essa indemnisação que requerem.
Considerando, porém, em hypothese, que o officio,
documentos e petições referidas não produzem uma
prova legalmente attendivel e bastante para certificar,
como é mister, a ordem do ex-presidente da província,
apenas indicada pelo inspector da inspecção do algodão,
como vocalmente dada, a quantidade das sacas ue al-
godão pertencentes a cada um dos reclamantes, as quaes
sahirão do armazém, em virtude dessa ordem do ex-
presidente, para serem empregadas nas trincheiras',
e lhes não forão restiluidas, e bem assim o seu res-
pectivo valor, para o pagamento lhes ser ordenado sem
dependência de mais averiguações e exames; julga que
por este meio não podem as reclamações ser justas e
definitivamente deferidas, ainda que aliás lugar podem
ter o darem-se agora por suppridas as formalidades,
que mais opportunamente se deverião ter praticado, si
uma concludente prova se apresentasse.
E' portanto a secção de parecer que justiça se fará
aos reclamantes, reconhecendo, em generalidade, o di-
reito que tem a ser indemnisados da sua propriedade,
garantida pela constituição do Império, e nos -termos
da lei de 9 de Setembro de 1826; e, ordenando que, para
verificar a desapropriação e o valor delia, recorrão aos.
meios e autoridades competentes.
- 58 —
Vossa Magestade Imperial, na sua alta sabedoria, re-
solverá o que for mais justo.
Rio de Janeiro, 14 de Agosto de 1845.—Francisco de
Paula Souza.-José Antônio da Silva Maya.-Visconde de
Monf Alegre.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*).


Taco, em 9 de Maio de 1840.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 69. —RESOLUÇÃO DE 9 DE MAIO DE 1846.


Sobre a pretenção dos negociantes inglezcs Miller Le Cocq & C.«
de annuir a fazenda nacional á concordata que lhes concederão
seus credores.
Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado
vem respeitosamente apresentar a Vossa Magestade Im-
perial o seu parecer sobre o requerimento dos nego-
ciantes Miller Le Cocq & C.% que lhe foi remettido, por
ordem de Vossa Magestade Imperial, em aviso de 23 de
Janeiro próximo passado.
Allegão os supplicanles que, tendo soffrido o revez
commercial, que é publico nesta praça, com a falta de
aceite de letras sacadas sobre Thomaz Dobson, de Londres,
deliberarão immediatamente reunir os seus credores,
e com elles celebrarão a concordata, que junlão; e que,
por ser o thesouro publico nacional portador de algumas
dessas letras, implorão elles a Vossa Magestade Impe-
rial a graça especial de approvar a mesma concordata, or-
denando que o ministro e secretario de estado dos ne-
gócios da fazenda acceda e preste a sua assignatura
a ella que é do teor seguinte.

(*) Officiou-se ao presidente da província das Alagoas nos termos


da cocsulta, devolvendo-se-lhe o respectivo processo da reclamação.
—Aviso de 22 de Maio de 1846.
- o9 -

Contracto celebrado entre partes Miller L e Cocq & C.% d o


Kio de J a n e i r o , e o s portadores de s u a s letras de c a m b i o
sobre Tuoniaz Dobson, de L o n d r e s .

Art. 1.° Em testemunho da illimitada confiança, que


os portadores das referidas letras depositão em Miller
Le Cocq &C.% concordão elles, a bem de todas as partes
interessadas, que continuem os mesmos Miller Le Cocq
& C.1 no livre gyro de seus negócios de commissão, sem
que soffrão o menor estorvo, e debaixo das condições que
seguem.
Art. 2.° Os portadores das referidas letras acima men-
cionadas se obrigão a não usar contra Miller Le Cocq
& C.a de quaesquer meios judiciaes, até que se preencha
o espaço de doze mezes contados da presente data.
Art. 3.° Logo que os protestos das letras, por faita de
pagamento, forem apresentados, Miller Le Cocq «Sc C.E
entregarão aos portadores dellas suas obrigações a pagar
no prazo de doze mezes, acima concedido, segundo o va-
lor esterlino das mesmas, com os juros de 5 °/ 0 ao anno,
e com todas as despezas até então feitas ; entretanto que
Miller Le Cocq & C* se obrigão, logo que forem ven-
didos os objectos, sobre os quaes se fizerão os saques,
a applicar õ producto delles ao devido pagamento.
Art. 4." Para garantia das concessões outorgadas nos
artigos acima, Miller Le Cocq & C s e obrigão, durante
o prazo facultado, a não entrar em negociação alguma
por sua conta própria, e a evitar em geral todas as ope-
rações que possão augmentar suas obrigações, e que não
estiverem baseadas na mais perfeita segurança.
Art. 5." Miller Le Cocq «Sc C.a espontaneamente con-
cordão em entrar para onanco commercial desta cidade
com a quantia de 200:000^000, aqualtemofim de garantir
especialmente os portadores de suas letras sobre Thomaz
Dobson, de. Londres.
Art. 6.° Miller Le Cocq & C* se obrigão a não fazer
pagamento algum no Rio de Janeiro, ou em outra qual-
quer parte, que ijjão seja em perfeita harmonia com este
contracto; e bem assim promettem não dar segurança,
ou preferencia alguma a qualquer portador de letras, seja
qual fôr o pretexto. A infracção deste artigo bastará de
per si para annullar apresente concordata.
Art. 7.° Para que Miller Le Cocq & C* tenhão mais
facilidade em communicar aos portadores das letras o
que fôr occorrendo a respeito de seus negócios, assen-
tou-se em nomear para tal fim os Srs. João Samuel,
Henrique Punn e Guilherme Finnie, os quaes se en*r
carregão de participar toda e qualquer notificação, qua
— 60 —
haja acerca deste assumpto, e bem assim de consultar
com Miller Le Cocq «Sc C.a sobre tudo aquillo que fôr do
interesse das partes contractantes. •
Rio de Janeiro aos 22 dias de Dezembro de 1845. (Se-
guião as assignaturas dos credores concordamos.)
Constou á secção que, pelos referidos negociantes
Miller Le Cocq &C.*, forão sacadas letras, a favor do
governo do Rrasil, na importância de £. 18,465—12—8,
das quaes forão pagas £. 4.465—12—8, protestadas
de não aceitas £. 2.000, ignorando-se ainda o êxito de
£. 12.000; e foi também informada de que esses ne-
gociantes gozão nesta praça de mui grande e bem
Fundado conceito em que se firma a muita confiança que
nelles depositão os que com os mesmos têm coutas.
Nestas circumstancias, ainda que a secção seaffigure
á primeira vista, como inquestionável, que o thesouro
publico nacional não pôde no estado actual, em at-
tenção somente ao requerimento e concordata, acceder
a esta, e prestar-lhe a sua assignatura; por isso que,
além de não ter sido pelos supplicantes contemplado
para o chamamento de um seu representante que as-,
sistisse com os mais credores convocados a exposição
e demonstração, que devião fazer, das suas circumstancias
causadoras da necessidade da concordata, esta se lhe
apresenta sem inventario, sem balanço, sem relação de
credores e sem a designação especificada da importância
de suas dividas, como era mister, conforme as disposi-
ções de direito e estylo mercantil; comtudo, como in-
tende que o thesouro publico nacional neste caso se
não pôde considerar a respeito dos supplicantes com
outra representação ou qualidade que a de um portador
de letras de cambio, de um credor commercial delles,
e que, por conseguinte, lhe não é licito subtrahir-se ao
accordo da maioria dos credores communs, quando só
outhorgão a espera dos pagamentos aos mesmos suppli-
cantes devedores, uma vez que cumpridas sejão as for-
malidades acima mencionadas; por isso, conformando-se
com a pratica mercantil, a que se sujeitou o thesouro,
pelo facto de negociar letras de cambio, e reconhecendo
que nenhuma utilidade viria á fazenda nacional de com-
prometter-se em um processo judicial, não duvida an-
nuir a que se defira o requerimento.
Parece pois á secção, que satisfazendo os supplicantes
as formalidades exigidas pelas disposições das leis, e esty-
los mercantis, e sendo manifestas perante o tribunal do the-
souro publico nacional, ou por intermédio de seu procura-
dor fbcal, as circumstancias dos supplicantes a respeito das
— 61 —
suas transacções commerciaes do actual estado da sua
casa, do numero de seus credores e das quantias de-
vidas a cada um delles, acceda o thesouro publico na-
cional á concordata, no caso de se verificar ter a ella
accedido a maior parte dos credores em quantidade
de divida, e autorise o procurador fiscal para assignal-a
por parte da fazenda nacional, nomeando-se um dos ne-
gociantes credores que, conjunctamente com os já no-
meados, represente pela fazenda nas incumbências de-
signadas no art. 7.° da concordata de que se trata.
Vossa Magestade Imperial, porém, resolverá o que fôr
mais justo.
Rio de Janeiro, em 13 de Fevereiro de 1846.—José
Antônio da Silva Maga.— Francisco de Paula Souza.—
Visconde de Monf Alegre.
RESOLUÇÃO.

Ouça-se o conselho de estado. (*)


Paço, 9 de Maio de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Anto>iio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

{*) Ouvido o conselho de estado em conformidade da imperial re-


solução, deu elle o seguinte parecer.
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar, por
sua immediata resolução de 9 do corrente mez, que o conselho de
estado consultasse com o que se lhe oferecesse acerca do parecer
seguinte.

E, tomada na devida consideração esta matéria, depois de discutido


foi o sobrediio parecer approvado pelo conselho de estado, <iue o
considera nas circumstancias de merecer a resolução imperial, em
conformidade com o que nelle se propõe.
O conselheiro de estado Lopes Gama, depois de fazer algumas ob-
servações, votou contra o mencionado parecer, porque, segundo de-
clarou o mesmo conselheiro, não o tendo examinado previamente, re-
reiava emittir seu voto, com precipitação, sobre esta matéria que
considera importante. O conselheiro de estado Carneiro Leão mos-
trou não estar de accordo com os fundamentos pelos quaes a secção
entende que o governo deve annuir á concordata; declarou que, não
havendo convocação d<> todos os credores, apresentação dos livros
e exame feito sobre elles, não podiáo os credores da minoria ser
obrigados á annuir o accordo da maioria. Acrescentou que, havendo
na concordata a estipulação de juros de 5 %, era evidente que havia
rebate nos créditos, porque por lei erão devidos e exigiveis juros de
fr> —

,\. 70.—RESOLUÇÃO DE 13 DE MAIO DE 1846.

Sobre o despacho de moeda nacional —patacões brasileiros— da corte


para os portos do norle do Império em navio estrangeiro.

Senhor.—A secção do conselho de estado, encarre-


gada dos negócios da fazenda, por ordem de Vossa
Magestade Imperial, em aviso de 20 de Novembro ul-
timo, tem de consultar sobre a questão occorrida entre
A. Schramin, e o administrador do consulado desta corte,
relativa ao despacho de moeda nacional—patacões bra-
sileiros—deste porto para os do norle do Império em
embarcação estrangeira, questão sobre que o tribunal
do thesouro publico nacional já deu a decisão com
que se não accommodou o supplicante.

ti °.'#, e concluio que só esta circumstancia desobrigava os credores


«Ia minoria de annuir ao accordo da maioria, ainda que a concor-
data tivesse sido celebrada com as formalidades necessárias, sendo
esta a disposição do alvará de 14 de Março de 1780.
Apezar dessas razões julgou o mesmo conselheiro que o governo
podia annuir á concordata, si porventura entendesse que assim mais
facilmente cobraria a sua divida, e julgasse ser isso em proveito
commum de todos os credores e do devedor que é digno de attenção.
Discorda pois da secção somente na parte em que ella entende
poder ser o governo obrigado a annuir á concordata de que se
trata.
Vossa Magestade Imperial resolverá como achar, em sua alta sabe-
doria, que é melhor.
Sala das conferências do conselho de estado, em 14 de Maio de 1846.—
Visconde de Olinda.—Caetano Maria Lopes Gama.— José Joaquim de
Lima e Silva.—Manoel Alves Branco.—Francisco de Paula Souza e
Mello.—Francisco Cordeiro da Silva Torres.—Honorio Hermeto Cor*
neiro Leão.—Visconde de Monf Alegre.—José Cesario de Miranda Ribeiro.
Foi voto o Sr. Almeida Torres.
Miranda Ribeiro.
RESOLUÇÃO.

Conceda-se moratória nos pagamentos do devedor, na forma da


concordata da maioria dos credores, e precedendo os termos recom*
mendados na consulta.
Paço, 4 de Junho de 1846.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.


Antônio Francisco de Paula e ãollanda Cavalcanti de Albuquerque.
— 63 -

A. Schramm, tendo fretado aqui o brigue sueco Ilarrich,


para ir carregar de gêneros e mercadorias brasileiras
nos portos do norte do Império, pretendeu remetter per
elle os fundos necessários para a despeza do carre-
gamento, em patacões brasileiros, e promoveu pelo con-
sulado o respectivo despacho, na intelligencia de que
lhe era permittido esse transporte da moeda nacional,
apezar de que estrangeira fosse a embarcação em que
se fazia, sujeitando-se a qualquer deposito, que se jul-
gasse necessário para segurança dos direitos de expor-
tação ; e, porque o despacho lhe foi negado pelo admi-
nistrador daquella repartição, que considerou no referido
transporte um commercio de cabotagem prohibido a
embarcações estrangeiras, recorreu o supplicante ao
tribunal do thesouro, onde approvada foi a negativa do
dito administrador, por legal e bem fundada nas ex-
pressas disposições do regulamento de 30 de Maio e
22 de Junho de 1836, a respeito do commercio de ca-
botagem ; e, como não convencido da justiça da de«úsão,
replicou pelo outro requerimento, sobre que Vossa Ma-
gestade Imperial Houve por bem resolver a remessa
a secção, depois de terem sido ouvidos os votos dos
membros do tribunal. (*)
Neste ultimo requerimento quer sustentar o suppli-
cante que nem se oppõe ao transporte da moeda na-
cional de uns para outros portos do Império as dispo-
sições dos referidos regulamentos, que só tratão de
gêneros e mercadorias, em que se não comprehende
essa moeda, e nem seria conveniente deduzir dellas
tal prohibição de que resullarião graves inconvenientes
e vexames em estorvo e prejuízo do commercio na-
cional com os estrangeiros, além de ferir de morte as
esperanças de todos os que acreditão no melhoramento
do systema monetário: e a secção respeitosamente de-

(*) Parecercs dos membros do thesouro a que se refere a consulta


acima.
« E' tão explicita a litteral disposição do art. 188 do regulamento
de 30 de Maio de 1836:—« O ouro e prata em barra, pinha ou em moeda
« nacional ou estrangeira não se poderá despachar de um para outro
« porto do Império »— para não poder deixar de comprehender-se a
moeda nacional de prata e ouro nas disposições, que regulão a na-
vegação de cabotagem, que não é possível entendel-a da maneira que
pretende o supplicante; epor isso ha de ser indeferido.—Rio, 12 de
Novembro de 1845.—May a.
Concordo. Rio, 15 de Novembro de 1845.— Lint.
Concordo, mas fora mais conforme aos interesses nacionaes o que
o supplicante pretende. Rio, 17 de Novembro de 1845.— Mariz.
t)i —

clara a Vossa Magestade Imperial que se inclina a


acompanhar o supplicante na sua argumentação, pelo
que respeita á inconveniência de se considerar a moeda
metallica nacional como gênero ou mercadoria, para se
prohibir o seu transporte de uns para outros portos
do Império em embarcações estrangeiras, com o destino
de facilitai- a compra de gêneros e mercadorias de
producção e industria brasileira para o seu carrega-
mento, embaraçando-se assim uma das operações com-
merciaes de mais vantagem; e, pelo que respeita também
á incoherencia de se proceder tão reslriclamenle para
com a moeda nacional metallica, como se fosse merca-
doria no sentido ordinário, para se obstar ao seu trans-
porte nas embarcações estrangeiras de uns a outros
portos, ao mesmo passo que nenhum obstáculo se oppõe
a que assim seja transportada a moeda papel.
Como, porém, apezar desta conformidade com o que
pondera o supplicante pelo lado da conveniência, não
pôde a secção por agora deixar de reconhecer que a
recusa do administrador do consulado, e a decisão do
tribunal do thesouro publico nacional, que a apoiou,
se fundão nas litteraes e mui expressas disposições em
vigor dos arts. 177 e 188 do regulamento dê 30 de
•Maio de 1836, e do art. 307 do regulamento de 22 de
Junho do mesmo anno, que regulão a navegação e,
commercio de cabotagem, e o probibem ás embarca-
ções estrangeiras; e que portanto justo foi o proce-
dimento havido com o mesmo supplicante por obser-
vância devida dessas disposições, que só deixaráõ de
executar-se, quando forem alteradas como aliás convier;
é por isso de parecer:
Que, na occasião de fazer o governo imperial um pru-
dente uso da autorisaçáo que lhe foi dada pelo art. 30
da lei de 18 de Setembro deste anno, n.° 369, na re-
forma dos regulamentos das alfândegas e mesas do
consulado, altere as mencionadas disposições, permit-
tindo o transporte da moeda metallica brasileira (quando
por motivo e disposição especial não esteja vedado) de
uns para outros portos do Império, em navios estran-
geiros que a elles se dirijão para fazer ou completar
seus carregamentos de gêneros e mercadorias de pro-
ducção e industria brasileira.
Vossa Magestade Imperial se dignará acolhel-o com
a costumada benignidade, e resolver o que fôr mais
accommodado aos interesses nacionaes.
Rio , em 19 de Dezembro de 1845. — Visconde de
Monf Alegre.—José Antônio da Silva May a.—Fran-
cisco de Paula Sovzu.
- 65-

RBS0LUÇÃO. ,v!)
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Como parece. ry
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Paço, em 13 de Maio de 1846.


Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 71.—RESOLUÇÃO DE 43 DÉ MAIO DE 1846.

Sobre a lei provincial de Sergipe n.» 146 de 18 de Março de 184S,


que decretou impostos de importação.

Senhor.—A secção do conselho de estado, que consulta


os negócios da fazenda, pelo exame que fez nas leis da
assembléa provincial de Sergipe, promulgadas no corrente
anno, reconheceu e conveio, na sua maioria, que a dita
assembléa exorbitou de suas legaes attribuições mar-
cadas no acto addicional pelas disposições que designão
e limitão os objectos sobre que lhe compete legislar.
Porquanto no capitulo 2.°, art. 1." §§ 9.° e 29 da lei
n.° 146 de 18 de Março de 1845, decretando o imposto de
20 •/„ pela aguardente de qualquer qualidade que seja,
que fôr importada, e o de mil réis por milheiro de
charutos importados, legislou sobre impostos de im-
portação contra a expressa, litteral prohibição, que se
acha, e a assembléa provincial devia respeitar, no art. 12
do acto addicional:—Assembléas provinciaes não po-
derão legislar sobre impostos de importação.
E nos §§ 3.°, 4.°, 5.°, 8.°, 27 e 29, em que decretou os
impostos de 5 % na exportação dos couros seccos, sal-
gados, e meios de sola; de 10 °/0 sobre cal, pedras de
amolar, lages, sal, azeite e todos os mais gêneros, que
forem exportados, inclusive as achas de lenha, que ser-
virem para estivar as embarcações; de 25 7, sobre a
farinha de mandioca que fôr exportada, quando no mer-
cado estiver a mais de 5$120 a quarta, e 12*/0 quando
estiver desta base para baixo; de5 % sobre a aguardente,
c. 9
— 66 —

que fôr despachada para fora da província, de qualquer


qualidade que seja ; de 20$000 sobre lojas ou casas que
venderem armas prohibidas; e de 12#800 sobre lojas ou
casas que venderem pólvora; onerando pesadamente
objectos já sujeitos a imposições geraes, contraveio o
disposto no art. 10 § 5.°, e no art. 20 do acto addicional,
que limita ás assembléas provinciaes a faculdade de fixar
impostos necessários para as despezas municipaes e pro-
vinciaes com a cláusula—com tanto que estes não preju-
diquem as imposições geraes do Estado—; e declara re-
vogaveis aquelles actos legislativos provinciaes que offen-
derem os impostos geraes, pois que por taes decretações
de impostos sobre gêneros exportados, e sobre lojas e
casas de commercio a assembléa provincial prejudica e
offende as imposições geraes lançadas sobre esses objec-
tos, occasionando a quebra daquellas pela diminuição da
exportação, e estabelecimento destes, quando bem não
puderem supportar o duplicado gravame.
Em attenção ao exposto, a maioria da secção, enten-
dendo que as disposições da lei provincial nos paragra-
phos notados, estão no caso de outras semelhantes, de que
o governo imperial tem ordenado a suspensão, emquanto
não tivessem approvação da assembléa geral legislativa,
não teria duvida em propor a Vossa Magestade Imperial,
que assim mesmo se procedesse a respeito dellas, se
não tivesse Vossa Magestade Imperial resolvido que da
assembléa geral legislativa se solicitasse a declaração
dos casos, em que poderá o governo usar de uma facul-
dade cujo exercício é da mais reconhecida necessidade.
Impedida porém a secção de repetir agora perante
Vossa Magestade Imperial a opinião que outras vezes tem
emittido, julga comtudo do seu dever propor a Vossa Ma-
gestade Imperial, como meio efficaz e legal, sem con-
trovérsia, de tornar inúteis os sobreditos actos legislativos
provinciaes, e de prevenir a repetição de semelhantes na
província de Sergipe e quaesquer outras, o requisitar da
assembléa geral legislativa a revogação delles; lembrando
respeitosamente que conveniente pôde ser também dig-
nar-se Vossa Magestade Imperial recommendar ao pre-
sidente da província de Sergipe que promova a revoga-
ção dos mesmos actos pela própria assembléa legislativa
provincial, e que solicito seja sempre em prevenir, quanto
estiver a seu alcance, que ella ultrapasse os restrictos
limites de suas legaes attribuições: e é este o parecer
que tem a honra de apresentar a Vossa Magestade Im-
perial.
O conselheiro Francisco de Paula Souza e Mello, que
se conforma na maior parte com os outros conselheiros
— 67 —

membros da secção, não concorda em comprehender


entre os actos legislativos provinciaes, notados por ille-
gaes, os dos §§ I o , 4.°, 5.°, 8.°, 27 e 29 do capitulo 2.°
artigo 1.° da lei n.° 146, por ser de opinião, já por vezes
declarada, de que é amplamente licito ás assembléas pro-
vinciaes legislar sobre os impostos de que nelle se trata.
Vossa Magestade Imperial se servirá resolver o mais
acertado.
Rio de Janeiro, em 19 de Dezembro de 1845.— José
Antônio da Silva Maga.— Visconde de Monf Alegre.—
Francisco de Paula Souza e Mello.

RESOLUÇÃO.

Remetta-se á assembléa geral legislativa. (*)


Paço, em 13 de Maio de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 72. RESOLUÇÃO DE 13 DE MAIO DE 1846.


Sobre as leis provinciaes da Parahyba do anno de 1845.

Senhor.—Htruve Vossa Magestade Imperial por bem


que a secção de conselho de estado, que consulta sobre
os negócios da fazenda, interpuzesse sua opinião sobre
as leis provinciaes da Parahyba, promulgadas no anno
próximo passado de 1845, da competência desta secção.
Em obediência a esta ordem de Vossa Magestade
Imperial examinou a secção todas as leis do dito anno
que lhe cumpria examinar, e nada achou nellas de exor-
bitante, á excepção do § 9.° do art. 19 da lei n.°8 de
10 de Julho, que dá para a receita municipal o dizimo
das lavouras, milho, feijão, arroz, fumo, etc, prejudicando
deste modo os impostos geraes, pois que, ficando taes

(*) Submettida á consideração da assembléa geral. Aviso de 18 dô


Maio de 1846.
— 6S —

gêneros onerados com o dizimo para as câmaras muni-


cipaes, além do imposto de 5 °/0 n a exportação para a
receita provincial, não poderão supportar mais o imposto
geral de7°/ 0 no consulado de sahida, diminuindo por
conseguinte esta importante renda geral: entende por-
tanto a secção que deve ser revogada tal disposição,
como contraria ao § 5.° do art. 10 do acto addicional,
propondo-se á assembléa geral essa revogação.
O conselheiro de estado Francisco de Paula Souza,
>orém, não concorda nesta opinião, nem julga ter-se vio-
{ado o acto addicional com essa disposição, porquanto,
não [sendo prohibido ás assembléas provinciaes tributar
na exportação, como sempre se tem reconhecido, não
se pôde com boa razão entender que ellas exorbitão,
quando usão de um direito seu, que nunca se lhe con-
testou: além disto esse accrescimo do tributo diminuirá
sem duvida o valor que do gênero receberá seu pro-
ductor, mas não o preço do gênero no mercado da ex-
portação, que é por onde se regula a quota do tributo
no consulado da sahida, não havendo por conseguinte
prejuízo nas imposições geraes, pois não é crivei que
por tal augmento cesse ou diminua essa producção: de-
mais, pela leitura do paragrapho em questão, lhe parece
que esses gêneros tributados para a receita municipal são
os gêneros que não pagão os 5 % para a receita provin-
cial, por se não exportarem pelos pontos em que aquelles
5 °/„ se cobrão, e sim os que se consomem no lugar,
ou suas immediações, não havendo portanto duplicação
de tributo, como á primeira vista parece.
E' este o parecer da secção, que Vossa Magestade Im-
perial se dignará receber com a sua costumada bondade.
Rio de Janeiro, em 13 de Fevereiro de 1846.—Visconde
de Monf Aleqre.—Francisco de Paula Souza.—José
Antônio da Silva Maga.
RESOLUÇÃO,

Remetta-se á assembléa geral legislativa. (*)


Paço, em 13 de Maio de 1846.
Cora a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

(*) Submettida á consideração da assembléa eeral.—Aviso de 18 de.


Mil o de 1846.
— 69 —

N. 73.—RESOLUÇÃO DE 13 DE MAIO DE 1846.

Sobre o requerimento de Schroder & C." pedindo modificação do art.


2.° do regulamento de 20 de Junho da 1844.

Senhor.—Dignou-se Vossa Magestade Imperial mandar


(ue a secção do conselho de estado dos negócios da
? àzenda consultasse sobre o requerimento de Schroder
&C.a que pedem modificação ou explicação do art. 2.*
do regulamento de 20 de Julho de 1844 : ella passa a
obedecer a esta ordem de Vossa Magestade Imperial.
Representão elles que, tendo determinado aquelle ar-
tigo que as embarcações, que entrarem em lastro, e
sahirem com carga, ou vice-versa, paguem metade, e
as que entrarem e sahirem em lastro um terço, não
providenciou a respeito daquellas, que entrão por franquia
com os seus manifestos, contendo parte da carga para
o porto em que entrão, e parte para um porto estran-
geiro, sem todavia receberem carga para seu ultimo
destino, depois de descarregarem a parte destinada ao
porto da entrada : requerem portanto que se fixe para o
pagamento da ancoragem neste caso uma quota propor-
cional ao proveito, que a especulação assim emprehen-
dida possa offerecer.
A secção considerou attentamente a questão, e ficou
persuadida da conveniência de uma providencia a res-
peito ; mas não entende opportuna a que lembra o sup-
plicante de ser a quota proporcional, por ser isso diífi-
cllimo, se não impossível, de bem apreciar-se, como já
ponderou o conselheiro inspector geral de thesouro,
que lembra que seadopte também para esta hypothese a
quota de metade, opinião com que concorda a secção.
E', pois, ella de parecer que se addicione áquelle regu-
lamento, determinando-se que as embarcações, que esti-
verem nesta hypothese, paguem também de ancoragem
metade, como pagão as que entrão em lastro e sanem
com carga ou vice-versa.
Vossa Magestade Imperial se dignará resolver como
melhor parecerem sua alta sabedoria.
Rio de Janeiro, em 13 de Fevereiro de 1846.—Visconde
de MonfAlegre.—Francisco de Paula Souza.—José An-
tônio da Silva Maga.
1

- 70 -

RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 13 de Maio de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 74.—RESOLUÇÃO DE 20 DE MAIO DE 1846.

S»bre a representação de José Fernandes de Oliveira Penna, contra


o pagamento dos direitos de entrada djcretalos pela assembléa
provincial de Minas Geraes.

Senhor.—Por aviso de 7 de Novembro de 1845, de ordem


de Vossa Magestade Imperial, foi remettido á secção de
fazenda do conselho de estado o officio do presidente da
província de Minas Geraes de 10 de Outubro com reque-
rimento e papeis de João Fernandes de Oliveira Penna,
em que se queixa de ter sido obrigado a pagar impostos
de entrada nas recebedorias de Parahibuna e Sapucaia; e a
dita secção, depois de examinar todos esses papeis, passa
a expor o que nellesse contém, e a consultar com que
lhe parece a respeito da matéria em questão.
Por um requerimento dirigido por João Fernandes de
Oliveira Penna ao tribunal do thesouro publico nacional,
representou elle a arbitrariedade, com que nas recebedo-
rias da Parahibuna e Sapucaia lhe extorquirão a quantia
de duzentos e oito mil e oitocentos réis, a pretexto de di-
reitos de entrada, apezar de estarem abolidos pelo decreto
de 24 de Maio de 1845; e a injustiça com que fora desatten-
dida pelo presidente da provincia de Minas Geraes a sua
reclamação contra esse procedimento ; pedindo, em con-
clusão, que se ordenasse a sua indemnisação da referida
quantia.

(*) Vide circular de 26 de Maio de 1846 na collecção das leis.


— 71 —
Ordenou o thesouro publico nacional que informasse o
presidente da província; e, cumprindo este a deter-
minação pelo officio de 40 de Outubro de 1845, declarou
que a imposição, cuja cobrança era taxada de extorsão
pelo supplicante, tinha sido decretada nos mesmos termos
em duas leis provinciaes do orçamento, a de n.°275, que
foi revogada pelo decreto de 24 de Maio, e a de n.° 281,
que ainda não foi expressamente revogada por acto algum
legislativo : entendendo, de accordo com o inspector da
mesa de rendas provinciaes, que, não se tratando da pri-
meira lei, porque, ainda que não tivesse sido revogada,
teria caducado por ser feita para o exercício de 1844 a
1845, mas sim da segunda, por virtude da qual o sup-
plicante pagou esses direitos; e, não estando esta expres-
samente revogada, não cabia na alçada do governo da
província suspender a sua execução, até de mais, porque
a não percepção de taes direitos de entrada importaria
em um desfalque de mais de cem contos de réis nas
já mingoadas rendas da província. Preparada e illus-
trada assim a matéria, tendo-se á vista as disposições das
mencionadas leis provinciaes, forão ouvidos os membros
do tribunal do thesouro publico nacional, que unani-
memente concordarão no seguinte parecer.
« Pelo decreto de 24 de Kaio de 1845 revogou a assem-
bléa geral legislativa o §16 art. 2.° cap. 2.° da lei provincial
de Minas Geraes de 45 de Abril de 1844 n.* 275 que
assim diz:
§ 13 Direitos de entrada sobre gêneros de commer-
cio, que das outras provincias vierem para esta, na razão
de quatro mil réis por cada animal carregado, qualquer
que seja o peso ou volume da carga. Quando os gêne-
ros forem importados em carros, canoas, barcos ou outro
qualquer meio de transporte, pagaráõ tanto quanto pa-
garião se 9fossem importados em bestas. Exceptuão-se:
1." o sal, 2. os gêneros de agricultura produzidos nas pro-
vincias limitrophes, quando a carga do animal constar
somente destes gêneros.
Aconteceu porem que já a esse tempo se havia pu-
blicado a outra lei da mesma assembléa provincial em
12 de Abril, contendo idêntica disposição no §16 do
art. 2.° cap. 2.°; e que esta disposição repetida apezar
da identidade, que a fazia comprehender na revogação
do sobredito decreto de 24 de Maio, foi pelas autoridaaes
da província considerada exeqüível, e posta em effec-
tiva execução, não obstante a bem fundada reclamação
daquelles sobre quem está pesando, pelo inefficaz mo-
tivo de que o decreto da assembléa geral legislativa só
revogara o § 16 do art. 2.° cap. 2.° da lei n.° 275, e não
- 72 -

o igual paragrapho e disposição da outra lei n.* 281 auxi-


liado da allegação de que, a estender-se a revogação a
esta disposição da ultima lei de 12 de Abril, resultaria que
a província ficasse em um momento privada de quasi
todos os meios de satisfazer os seus mais importantes
e selemnes empenhos, é exposta a perder o credito.
Injustificável me parece o procedimento das reiendas
autoridades mineiras, sem embargo das razões com que o
sustentão, e que se podem apresentar especiosidades, não
são revestidas da concludencia, que force a convicção ;
sendo bem claro em opposição que a disposição da assem-
bléa geral legislativa, que revogou o imposto das entradas,
por contrario áo acto addicional, tido por imposto de
importação sobre que ás assembléas provinciaes não é
permittido legislar, forçosamente se ha de haver por
constante, permanente e sempre exeqüível e inviolável,
emquanto por outro igual acto legislativo não fôr alte-
rado ; e, sendo demais certo também que ao alcance da
assembléa provincial está remediara falta, e sustentar o
credito por meio de outros quaesquer impostos decre-
tados na conformidade das leis (acto addicional art. 10
§5.°, arts. 12e20; lei de 31 de Outubro de 1835 art. 12].
Nestes termos, se illegal é com effeito, e injustifi-
cável o proceder das referidas autoridades em direcla
opposição ao decreto da assembléa geral legislativa do
Império, incontestavelmente superior ás assembléas pro-
vinciaes, como se deduz do que dispõe o art. 11 | 9.°,
arts. 16, 17e20 do acto addicional, com attribuição e
competência de proferir decisões revogatorias dos actos
legislativos provinciaes em differentes casos; e, se uma
tão notável irregularidade necessita de providencia, não
duvido ler por seguro que neste caso especial o governo,
por força de suas attribuições constitucionaes do art. 102
| | 12 e 15, e do disposto no art. 5.° § 1.° da lei de 3 de
Outubro de 1834, pode, por si e pelo presidente da pro-
víncia, dar a conveniente providencia, ordenando e fa-
zendo effectiva a inteira execução do decreto do poder
legislativo geral de 24 de Maio deste anno, com o impe-
dimento á cobrança dos direitos de entrada na província
de Minas cuja creação e decretação, uma vez revogada
tão solemne e explicitamente, com manifesta irregula-
ridade e perturbação da ordem publica, se continua a
executar: por ser incontroverso que, na collisão da lei
geral com a provincial, respeito, acatamento e sujeição
se deve prestar áquella com preferencia a esta; e sou de
parecer que em assim resolver cumprirá o governo um
dever a seu cargo.>
E, sem que sobre este parecer se proferisse no tribunal
— 73 -

decisão alguma definitiva, houve Vossa Magestade Im-


perial porbem ordenar que tudo fosse remetlido a esta
secção do conselho de estado, a qual na sua maioria
concorda inteiramente cmu a opinião dos membros do
sobredito tribunal; e é de parecer que na conformidade
delia se pó le, e convém proceder, sem contrariar-se a
resolução, que Vossa Magestade Imperial tem tomado,
de exigir da assembléa geral legislativa a declaração dos
casos f*m que o governo poderá suspender as leis
provimiaes, pois que neste caso, e nas circumstancias
expostas, não traia o governo directa e positivamente de
su-peu ler a seu juiz > alguma lei provincial, mas somente,
e com > lhe cumpre, de fazer executar-inteiramente a dis-
posição de uma lei geral, pelos meios adequados ; e de-
terminar-se em conseqüência a restituição do indevida-
mente cobrado.
O conselheiro Francisco de Paula Souza é de parecer
que, não tendo o governo o poder de suspender leis pro-
vinciaes, uma vez que não usou o presidente da pro-
víncia do remédio do artiço de/aseis rio acto addicional,
ora só resta propor á assembléa geral legislativa a re-
vogação da lei n.° 281 da assembléa provincial de Minas
Guraes, e consulial-a sobre a restituição do recebido em
virtude desta.
Vo>sa Majestade Imperial em attenção ao exposto e aos
fundamentos dos dous pareceres, se dignará resolver o
mais seguro e acertado.
Rio de Janeiro, em 16 de Janeiro de 1856.—Visconde
de Monf Alegre.- José Antônio da Silva Maga.—Fran-
cisco de Penda Souza.
RESOLUÇÃO.

Ouça-se o conselho de estado. (*)


Paço, em 20 de Maio de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda, Cavalcanti dâ
Albuquerque.

P) Tend i «i Io ouvdo o conselho de estado, nos termos da resolução,


deu o seguinte parecer.
« Sfiijior. Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar por sua
immediata resolução de 20 deste mez, que o conselho de estado
c. 10
— yt —

N. '75.—RESOLUÇÃO DE 20 D2 MAIO DE 184G.

Sobre o modo de proceder-sc no caso de adjudicação de bens á fazenda


para seu pagamento.

. Senhor.—Por officio de 19 de Agosto de1845 ooffi-


cial maior, servindo de inspector da thesouraria da pro-
víncia de Minas Geraes, fez presente ao ministro e se-
cretario de estado dos negócios da fazenda, presidente
do tribunal do thesouro publico nacional, que, tendo
sido adjudicadas á fazenda publica, por falia de arre-
matantes, as fazendas de cultura penhoradas em exe-
cução contra o devedor fiscal padre José Júlio de Araújo
Vianna com abatimento da terça parte; e pretendendo
este devedor, executado o levantamento do excesso do
Valor das ditas fazendas, depois de pagas as despezas da
execução, se offerecêrão algumas duvidas, não só a res-
peito cio referido abatimento e entrega do excesso, mas
também a respeito do pagamento da siza, e dizima da
chancellaria, como expôz o procurador fiscal da repar-
tição, no seu parecer cuja solução se faz precisa, a
fim de que a thesourariase possa haver a tal respeito.
No citado parecer do procurador fiscal diz elle o se-
guinte.
« Pela sentença de 27 de Janeiro de 1845 forão adjudi-
cados á fazenda nacional duas fazendas, que se penho-
rárão ao supplicante, com o abatimento da terça parte.
. As fazendas têm o preço de 33:804^000, e estão adju-
dicadas á fazenda em 22:536§000. Abatidos deste o prin-
cipal, juros e custas da execução, que importarão em

consultasse com o que se lhe offerecesse acerca do parecer da res-


pectiva secção, a que pertencem os negócios da fazenda, cujo teor
é o seguinte:

E tomada na devida consideração esta matéria, o parecer da maioria


da secção foi approvado pelo conselho de estado, que o considera nas
circumstancias de merecer a resolução imperial em sua conformidade.
t O conselheiro de estado Paula Souza iiisisiio uo seu mesmo voto,
que se acha expressado no parecer da secção, da qual è membro.
Vossa Magestade Imperial resolvera como achar, em sua alta sabe-
doria, queé melhor.
Sala das conferências do conselho de estado, aos 28 de Maio de
1846.— Bernardo Pereira de Vasconcellos.— Visconde de Olinda.—José
Antônio da Silva Maya.—Caetano Maria Lopes Gama.—Francisco dt
Paula Souza e Mello.—Francisco Cordeiro da Silva Torres.—ílonorio
Mermeto Carneiro Leão.— Visconde de MonVAlegre.—José Cesario de Mi-
randa Ribeiro.
/o

Í8:772í)960, \em a ser necessário repor-se ao execu-


tado 3:766^040.
Occorre uma duvida, e é da siza da adjudicação, po?
não ser expresso se, depois do abatimento da terça
parte, deve ainda abater-se esta quantia ao executado.!
Ainda, ab.itando-se a siza, que importa cm 2:253#600 ,
sobra em favor do executado a quantia de 1:509#440.
Informo a este respeito que, depois de adjudicadas
as fazendas á fazenda publica, voltarão á praça conforme
o aviso de 22 de Dezembro de 1843, e não tem havido
arrematante.
Este é o estado da execução, mas convém pedirem-se
ao Extn. ministro da fazenda as explicações seguintes
a respeito desta execução—1.° Se subsiste a disposição
do capitulo 177 do regimento da fazenda, não obstante
a disposição da lei de 20 de Junho de 1774 art. 23, que
manda abater a quarta parte. 2." Se a siza da adjudi-
cação deve ainda recahir sobre o devedor, não obstante
o abatimento da terça parte. 3.° Se deve repor-se o ex-
cesso depois da adjudicação, não tendo apparecido ar-
rematante ás fazendas. 4." Se não tendo havido arre-
matante até o presente, pôde arrematar-se por prazos, ou
antes incorporar-se aos próprios nacionaes. 5.° e ul-
timo. Averbou-se nesta execução a dizima da chancel-
laria na importância de 367#322, para se proceder á ad-
judicação, entretanto que o executado não fez a menor
opposição, e parece que neste caso não se devia dizima.
E, sendo ouvidos os membros do tribunal do thesouro,
officiou o procurador fiscal da maneira que segue.
« Quanto ao 1.° quesito.—Segundo a legislação em vigor,
nas adjudicações sobre execuções fiscaes, abate-se a
quarta parte do valor dos bens adjudicados, e procede-se
immediatamente a nova praça pelo valor da adjudicação.
Assim se tem entendido e praticado a lei de 25 de
Março de 1821, e o capitulo 177 das ordenações da fazen-
da, o qual mandava abater a terça parte regulada pelo
valor da divida, e não pelo valor dos bens adjudicados.
Quanto ao 2.°—A siza deve recahir por metade sobre
a pessoa do executado, e segundo o valor da adjudi-
cação: é esta a pratica firmada no capitulo 11 dos artigos
das sizas § 4.°
Quanto ao 3.°—Se>a adjudicação foi feita com toda
a legalidade, e se a final fôr o prédio effectivamente
incorporado nos próprios nacionaes, vem o executado
a ter direito para haver o excesso do valor dos bens
adjudicados e incorporados: antes disso não.
Quanto ao 4.°—Depende a solução de uma circums-
tanciada, informação que deve dar a tesouraria*
— 76 —

Quanto ao 5.°—A' vista do art. 12 do regulamento de


9 de Abril de 1842, e do art. 8.° do decreto de 10 de
Junho próximo passado, é fora de duvida que o execu-
tado deve pagar o imposto de chancellaria. »
Conformou-se com o procurador fiscal o conselheiro
contador geral.
O conselheiro inspector geral disse que :
* Quanto ao 1.° quesito.—Parece-me que a lei de 25de
Março de 1821 não tem hoje applicação alguma ao Brasil,
na espécie de que se trata, por ser inadmissível a«|ui o
pagamento do preço da arrematação em papel moeda,
como era o de Portugal, differenie do do Brasil, que não
soffre como aquelle um rebate legal, ou em títulos de di-
vida, que, quando não prescriptos, devem ser hoje pagos
pela forma estabelecida nas leis por meio de inscripção
no grande livro, ou por créditos de exercícios lindos.
Quanto aos 3.° e 4.° quesitos.—Os bens, ainda que
adjudicados á fazenda, não devem ser incorporados nos
próprios nacionaes, pois. se o forem, não podem ser
alienados, sem lei que o mande; e, fazendo elles parte
da renda, com que as leis de orçamento contarão para
a despeza, devem ser arrematados pelo seu justo preço
a dinheiro á vista, e nunca a prazos, como dispõe a
provisão de 8 de Novembro de 1844.
Quanto ao mais, concordo. »
E, sem se tomar definitiva deliberação sobre a matéria,
por ordem de Vossa Magestade Imperial, em aviso de 4
de Dezembro de 1845, forão os papeis remettidos á &ecçào
de fazenda do conselho de estado pata consultar.
A secção, dada ao cumprimento da imperial determi-
nação, inteirando-se das circumstancias do faclo, e medi-
tando, assim sobre as duvidas oceorridas, de que se pede
a solução, como sobre os pareceresemittidos pelos sobre-
ditos membros do tribunal, advertio principalmente que,
da exposição do procurador fiscal da thesouraria, se col-
lige: 1.°que as fazendas penhotadas ao devedor fiscal pai
dre José Júlio de Araújo Vianna, e sobre o que contra elle
correrão os termos da execução, forão avaliadas com lesão
notória em um preço demasiadamente excessivo em fraude
da fazenda nacional; e tanto que, nem o executado se oppôz
a que a.adjudicação se fizesse, como não devera, como
abatimento da terça parte; nem, api zar de tão grande di-
minuição no valor dado pela avaliação, appareceu algum
lançador a essas fazendas: 2." que a adjudicação foiilltgál,
e irregularmente feita contra a expre&Ma e bem explicita
disposição <:a lei no cap. 177 das ordeiianças da fazenda,
ainda em vigor, como já notou o procurador «Ia coroa, res-
pon•.'..-.: !o ao primeiro quesito dos do procurador íkscab
— 77 —

« Item (determina o citado cap.) quando acontecer que


« os taes bens e fazendas se mandem metter em pregão,
« e se achar que o tal almoxarife ou recebedor fez todas
« as diligencias na maneira conteúda nos capítulos alraz
« escriptos, e nos ditos bens não quizerem lançar por
« algumas aífeições, ou outras semelhantes cousas ; de-
« pois de serem os tempos dos pregões corridos e pas-
« sados, em tal caso mandamos que os taes bens, e
« fazendas se tomem aos ditos devedores para nós em
« menos da terça parte do que valerem
« os quaes bens se tomarão assim aos ditos rendeiros,
« fiadores e abonadores nesta maneira, por doze mil
« réis, que nos sejão devidos se tomarão bens, que sejão
« avaliados em dezeseis... »
E porque, sendo assim manifesta a irregularidade do
procedimento na execução, de que se trata, havido contra
as disposições das leis, e contra os interesses legítimos
da fazenda nacional, entende que se dá no processo uma
notória nullidade, ao que cumpre occorrer antes de tudo;
por isso a secção, sem se fazer cargo de responder a
quesitos, que suppõe o negocio por terminido entre a
fazenda nacional exequenle e o d vedorexecut do, res-
peitosamente offereco a Vossa M.igeslade Imperial a
opinião em que se accordou.
Parece á .secção que será jurídico e conveniente or-
denar-se: 1.° que o procurador fiscal e do juizo dos
feitos da fazenda, na província de Minas r.eraes, pelos
meios competenles, implorada, se fôr preciso, pelo pri-
vilegio da fazenda nacional, a restituição in inlegrum,
que lhe compele, intente a nullidade da adjudicação,
porque foi feita e julgada conra lei expressa, com aba-
timento da terça parle do valor d.as fazendas penhoradas,
quando só deveria ser da quarta; i.° que, conseguida
a nullidade de tal adjudicação, requeira nova avaliação
das fazendas penhoradas, com escolha de sãos avalia-
dores, que lhes dêm o valor razoável, e emendem a
le>ão, que houve na primeira por ignorância , ou por
dolo e prevaricação; 3.° que, conseguido o exposto, e
feita de novo a arrematação, se proceda na fôrma das
leis e ordens do thesouro, que são claras, a respeito do
pagamento da siza, e «Io destino das fazendas penhoradas,
no caso de outra vez se adjudicarem legalmente á fa-
zenda nacional.
Vossa Magestade Imperial, porém, resolverá o que fôr
mais justo.
Rio de Janeiro, em 6 de Fevereiro de 184"). — Visconde
de Monf Alegre.— Francisco de Paula Souza.—José
Antônio da Silva May a.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 20 de Maio de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti


de Albuquerque.

N. 76.-RESOLUÇÃO DE 20 DE MAIO DE 1846.

Sobre o recurso do agente da companhia de seguros marítimos da-


decisão do tribunal do thesouro, que obrigou ao sello as letras
passadas pelos prêmios dos seus seguros.

Senhor.—A' secção de fazenda do conselho de estado


foi presente por ordem de Vossa Magestade Imperial,
em aviso de 22 de Novembro de 1845, a petição de re-
curso que interpoz C. Le Blon, agente director da com-
panhia de seguros marítimos desta praça da decisão
do tribunal do thesouro publico nacional, porque foi
obrigado a pagar sello das letras passadas pelos prê-
mios dos seguros celebrados pela dita companhia; e
é do dever da dita secção interpor sobre elle o seu
parecer.
Tinha a companhia, de que é director o recorrente,
deixado de pagar os sellos das letras passadas pelas
suas transacções; e foi por isso advertido este, por officio
do administrador da recebedoria de 7 de Outubro de
4845, de que devia effectuar tal pagamento; e, como
duvidasse o recorrente satisfazer, pelas razões que ex-

(*) Em cumprimento da imperial resolução, ordenou-se á thesouraria


de fazenda da província de Minas que procedesse nos termos indicados
no final da mesma consulta.—Ordem dç 6 de Junho de 1816.
- 79 -
pendeu em sua resposta de 8 do mesmo mez, como fun-
dadas na disposição do art. 15 % 3.° da lei de 21 de
Outubro de 1843, dirigio-se o referido administrador a
pedir esclarecimentos ao tribunal do thesouro publico
nacional, o qual, ouvidos os votos de seus membros,
que não forão conformes, decidio, segundo o do con-
selheiro inspector geral, que as apólices de seguro e
as letras do prêmio dellas são títulos de transacções
distinctas, cada um dos quaes está sujeito a sello próprio,
e diverso do que, por officio de 19 de Novembro de
1845, foi intimado o recorrente; que, por não se con-
formar com esta decisão, delia recorreu em tempo legal
para o conselho de estado.
Allegao recorrente que a companhia de seguros, para
mais facilitar este negocio aos segurados, e não obri-
gal-os a desembolsar á vista o prêmio do seguro, o preço
pelo qual o segurador toma responsabilidade de pagar
o valor segurado, caso elle se perca, determinou con-
ceder aos segurados o prazo de seis mezes, para pagar
a importância do prêmio estipulado, e para a realisação
deste pagamento, os seguradores sacão letras pela im-
portância do prêmio que os segurados aceitão ao re-
ceber a apólice ou titulo do contracto de que provém
a letra : que estas letras da importância do prêmio não
são títulos de uma transacção nova e distincta, porque
este modo de pagamento desse prêmio até vai estipulado
na mesma apólice, e em tal caso, quando o segurador
diz ao segurado: « eu me obrigo apagar-vos 4:000#0O0
« réis, valor dos gêneros que embarcais em tal navio,
« se este se perder, e vós, em compensação deste
« risco, pagar-me-heis de hoje a seis mezes 20#000
« ou 2 V. do valor que me comprometto a pagar-
« vos », não pôde sustentar-se que ha nisto duas trans-
acções distinctas, cada uma das quaes deve pagar um
sello próprio e diverso, para1 lhe não ser applicavel
a disposição do § 3.°«do art. 15 da lei de 21 de Ou-
tubro de 1843, que expressamente isenta do sello os
títulos «de dinheiro provenientes de contractos, que já
tenhão pago o devido sello, de sorte que se não repita
em uma mesma transacção: que é insustentável ser a
obrigação contrahida' pelo segurador, de pagar o valor
segurado no caso de sinistro, uma transacção distincta
da obrigação contrahida no mesmo acto pelo segurado,
de pagar o prêmio no prazo de seis mezes; e em taes
termos, se a letra pela importância do prêmio é um
titulo de dinheiro, se este titulo é proveniente de con-
tracto de seguro, se este contracto paga um sello de
2 % da importância dessa mesma letra, que deüe é pro-
- 80 -

v%níente. imnifeslamenle se offende a letra da lei, co-


^bra-ilo-se um sello «Io seguro, e outro di importância
do premi» d^lh, pois <\\ie clara e evidentemente se re-
pete o sello em um i m «.ii i tr.insacçã), o que foi ve-
dado pela citada lei: que de facto esse paga.nento do
prêmio, no p*azo «le soi-; m ;zes, é uitn condição do
contracto de seguro, e a letra não é m tis que o titulo
proveniente do contracto para implemento da condição
ou obrigação contrahida por u n a das partes contrac-
tantes, o s-jgural), assim com i a apólice é o titulo
proveniente d > mesmo, um e único contracto p ira o
implemento d;i con lição e obrigação contrahida pelo
outro contrahenle, o segurador.
E a maioria da sec>;ão, que não julga fundadas e
procedentes as argume.itiçóes do recorrente, acompa-
nha id i o voto d > conselheiro inspector geral do thesouro,
concorda com elle ein que a apólice do seguro, e as le-
tras d > prêmio delle são coin efiulo títulos de transacções
distinctas, cada um dos quaes está suj dto a sello pró-
prio e diverso, e o de um não é repetição do pagamento
do outro; que taes letras não são quitação do prêmio, e
sim um titulo de divida de empréstimo, por não ser pago
á vista o prêmio ; e estão no caso de todas as outras le-
tras, que não podem circular ou ser transigidas de
algum modo, ou pagas sem sello, sob pena de incorrer-se
na multa da revalidação : e em conseqüência é de pare-
cer que subsisla a decaio do tribunal do thesouro publico
nacional, indeferido o recurso, se Vossa Magestade Im-
perial assim o houver por bem.
E' porém de contrario parecer o conselheiro José An-
tônio da Silva Maya que, adoptando todas as razões pro-
duzidas pelo recorrenie, por que se lhe afiguráo sólidas
e concludentes, não pôde deixar de considerar as letras
passadas para pngamento do prêmio do seguro, e em
Virtude de uma condição expressa do contracto, com a
qualidade de lilulos de dinheiro provenientes de con-
troelo, de que já se pagou o devido sello ; comprehendi-
das portanlo na favorável disposição da primeira parte
do § 3.° do art. 15 da lei de 21 de Outubro de 1843, para
o sello se lhes não repetir: e ainda mais se firma neste
seu parecer, forçado a não desviar-se delle, quando
altende <)ue ora pela disposição do art. 12 da lei de 18
de Setembro de 1*45, nos casos, ou contractos de seguro,
recahe o sello s«dne o prêmio estipulado na apólice;
e que haveria a prohibida repetição do sello em uma
rnesma transacção, se, pago pelo prêmio do seguro, ou-
tro se exigisse pela letra passada para a solu«;áo desse
mesmo prêmio.
— 81 — ,
Vossa Magestade Imperial se dignará resolver o que
na sua alta sabedoria achar melhor.
Rio de Janeiro, 3 de Abril de 1846.— Visconde de
Monf Alegre.—Francisco de Paula Souza. —José An-
tônio da Silva Maga.
RESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (*)


Paço, em 20 de Maio de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 77 —RESOLUÇÃO DE 20 DE MAIO DE 184G.

Sobre as leis provinciaes do Maranhão do anno de 1843.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado-,


encarregada por ordem de Vossa Magestade Imperial de
examinar os actos legislativos da assembléa provincial do
Maranhão, promulgados no anno de 1843, somente ad-
vertio que na lein. 0 181 de 13 de Novembro seespecificão,
como artigos de receita da santa casa da misericórdia da
cidade do Maranhão, alugueis de prédios e foros de ter-
renos o terras; e teve por isso a necessidade de infor-
mar-se, se a dita santa casa está legalmente autorisada
com dispensa das leis da amortisação, para possuir bens
de raiz.
A informação foi exigida do presidente da referida pro-
víncia por aviso do ministério da fazenda de 12 de No-
vembro de 1845; e, satisfeita por elle essa exigência, no
officio de 2 de Fevereiro deste anno, trazendo annexos o
officio informatorio do provedor de santa casa de miseri-
córdia, e um exemplar da lei provincial de 5 de Julho de
1836, ficou a secção inteirada de que a dita santa casa, es-

(*) Communicou-se á recebedoria do município a imperial reso-


lução de consulta, para que subsista a decisão recorrida do tribunal
do thesouro publico, que lhe foi transmittida por portaria de 19 de
Abril desse anno. ficando indeferido o recurso.—Portaria de 25» de
Maio de 18í6.
c. 11
— 82 —
tabelecimento de antiga data, possuio sempre bens de raiz,
sem contestação alguma, apezar de que para isso nunca
fosse habilitada, com dispensa das leis de amortização
por acto legislativo geral anterior ou posterior á consti-
tuição do Império; de que uma autonsação para possuir
até a quantia de 400:000#000 em bens de raiz, inclu-
sive os que já possue, lhe foi concedida pela assembléa
provincial na sobredita lei de 5 de Julho de 1836 ; e de
que tanto o provedor da mesma santa casa, como o pre-
sidente da província reconhecem a insufficiencia e ineffí-
cacia daquelle acto exorbitante das attribuições da as-
sembléa provincial, e solicitão a intervenção do governo
imperial, para se obter da assembléa geral legislativa a
necessária autorisação, para que aquelle pio estabeleci-
mento fique habilitado a possuir os bens de raiz até a
sobredita quantia de quatrocentos contos de réis.
Nestes termos a secção, convindo em'que o governo im-
erial preste a exigida intervenção para com a assem-
E léa geral legislativa, a fim de se obter para a santa casa
da misericórdia da cidade do Maranhão, com dispensa
das leis da amortização, um favor que a outros iguaes es-
tabelecimentos se tem outorgado ; é comtudo de parecer
que, para o governo poder bem e razoavelmente apoiar a
»retenção, deverá antes exigir uma circumstanciada in-
formação do estado actual do estabelecimento e suas
dependências, dos melhoramentos que nelle se projectão,
ou será possível fazer, da qualidade e importância dos
bens de raiz que ora possue, e do termo médio da sua
receita e despeza annual.
Vossa Magestade Imperial, porém, se dignará resolver
o que fôr mais conveniente.
Rio, 13 de Março de 1846. — Visconde de Monf Alegre.—
Francisco de Paula Souza, concorda na conclusão.—
José Antônio da Silva Maga.
RESOLUÇÃO.
Como parece. (*)
Paço, em 20 de Maio de 4846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

( ) Exigio-se da thesouraria da província do Maranhão informações


a, respeito da santa casa da misericórdia da mesma província, nos
termos da consulta.-Ordem de 10 de Junho de 184C.
- 83 —

N. 78.—RESOLUÇÃO DE 27 DE MAIO DE 1846.

Sobre o recurso do proprietário do trapiche do Cleto relativamente a


isenção do foro, do terreno de marinhas occupado pelo mesmo
trapiche.

Senhor.—Recorre para Vossa Magestade Imperial o


actual proprietário do trapiche denominado —do Cleto—,
Geraldo José da Cunha, da decisão, que entende ser in-
justa, do tribunal do thesouro publico nacional, datada
de 19 de Maio deste anno, pela qual se ordenou a sus-
pensão da portaria de 3 de Abril, que se havia expedido
e dirigido á cam:ira municipal desta corte, em deferi-
mento á declaração, que requererá o recorrente, de ser
isenta de foro a parte do terreno de marinhas que oc-
cupa o sobredito trapiche.
Pertence o exame deste recurso, pela matéria sobre
ue versa, á secção do conselho de estado, encarregada
3 os negócios da° fazenda, a que Vossa Magestade Im-
perial se dignou mandar remettel-o; e a secção na sua
maioria, depois de terattendido ás allegações do mesmo
recorrente, e confrontado com ellas o que contém os
documentos produzidos, e o que em contrario oppôz a
câmara municipal, que as contesta, tem a honr/i de de-
clarar a Vossa Magestade Imperial que o considera
digno de provimento, pelo que passa a expor. Sentir-se o
recorrente gravado com a imposição de um pesado foro
de 164$400 annuaes pelo terreno de marinhas, em que
se achava estabelecido o seu trapiche, como se sujeito
fosse ás disposições da lei de l5de Novembro de 1831,
art. 51 § 14, e instrucções de 14 de Novembro de 4832,
e constrangido pela câmara municipal para effectuar o
pagamento delle, dirigio-se, em 22 de Dezembro de 1842,
ao tribunal do thesouro publico nacional, para se lhe de-
clarar e firmar-se-lhe a isenção desse ônus, a que não é
obrigado conforme a lei.
Então mostrou o recorrente muitoconcludentemente, por
documentos, que o trapiche edificado em 1731 em terras
primitivamente concedidas por legitimo titulo de sesmaria,
sem foro ou pensão, com licença do governador da ca-
pitania do Rio de Janeiro, e com dispendio de avulta-
dissimo cabedal, nellas foi conservado e sustentado com
tal isenção, na certeza de pertencerem ás marinhas,
pelas decisões superiores da provisão do conselho ul-
tramarino de 14 de Julho de 1733, e accordão do con-
— 84 —
selho da fazenda de 16 de Outubro de 1818, passando
assim de uns a outros possuidores, até que, proceden-
do-se á medição e demarcação dos terrenos de marinhas su-
jeitos ao foro, no termos da sobredita lei de 15 de Novem-
bro de 1831, se comprehendeu o terreno do trapiche, e
se lhe impôz o foro de 164$400, correspondente a 507
palmos de frente para a rua de S. Francisco da Prainha, e
548 para o mar, contra a expressa disposição dessa mesma
lei, que não sujeita a tal foro aquelles terrenos, que
d'antes forão concedidos sem a condição de o pagarem.
Tomou-se em consideração no tribunal do thesouro
publico nacional este requerimento com audiência da
câmara municipal contendora; e, se primeiramente loi
indeferido por despachos de 9 de Agosto de 1843 e 16 de
Julho de 1844, por que se tomara o pedido da isenção como
de mera graça e mercê com dispensa da lei, depois,
com attenção* a nova instância bem fundada nos docu-
mentos apresentados, e reconhecida no tribunal a justiça,
com que o recorrente reclamava o soccorro e protecção
da lei expressa contra as exigências de um foro inde-
vido, o outro despacho se proferio no 1." de Abril de 1845,
em virtude do qual a portaria se expedio, em que se
declarou, em vista dos documentos, que ao recorrente,
pela maneira por que foi feita a concessão aos seus
antecessores dos terrenos, em que se acha ediíicado o
trapiche do Cleto, não se deve impor foro; porquanto,
pelo § 1,4 do art. 51 da lei de 45 de Novembro de 1831,
somente estão a elle sujeitos os terrenos, onde se edi-
ficou sem concessão, ou que tinhão sido concedidos
condicionalmente.
Sendo, porém, esta portaria enviada á câmara muni-
cipal para sua intelligencia e execução, aconteceu que
esta, em vez de respeitar a decisão do tribunal e do
ministério da fazenda, repartição e autoridade compe-
tente para determinar sobre esta matéria, representou
contra tal execução, com o fundamento de haver questão
entre ella e o recorrente, perante o poder judiciário,
e não ser licito ao poder executivo sustar o proseguimento
do uma causa pendente, porque seria isso um verdadeiro
conílicto entre os dous poderes, vindo por este meio
o executivo a nullificar os elfeitos do judiciário, como
disse por seu advogado, acerescendo que da portaria re-
sultava ser licito ao poder executivo interpretar a lei na
sua applicação aos casos oceurrentes, e dispensar por
graça especial as obrigações na mesma lei impostas,
e que a titulo da interpretação podia, desobrigando os
loreiros dos terrenos de marinhas do pagamento dos foros,
privar a câmara de parte de suas rendas; e eis que
- 85 —
houve a decisão de 18 de Maio de 1845, pela qual se
ordenou a suspensão da sobredita portaria impugnada,
decisão de que o recurso foi interposto.
Entende a maioria da secção que esta ultima decisão
deu com effeito justificado motivo para o recurso a Vossa
Magestade Imperial, a fim de que se sustente aquella
anterior, que bem reconheceu e declarou a isenção, em
que está, do foro, a titulo de terreno de marinhas, o que
occupa o trapiche do recorrente, em virtude da dispo-
sição da lei, por isso que de muito antes havia sido le-
gitimamente concedido sem condição.
Porquanto, se diz a lei de 15 de Novembro de 1831 no art.
51 §14: «e o mesmo ministro na corte, e nas provincias
« os presidentes em conselho, poderão aforar a particu-
l a r e s aquelles de taes terrenos, que julgarem conve-
« nientes, e segundo o maior interesse da fazenda, estipu-
« lando também, segundo fôr justo, o foro daquelles dos
« mesmos terrenos, onde já se tenha edificado sem con-
« cessão, ou que, tendo já sido concedidos condicional-
« mente, são obrigados a elle desde a época da concessão,»
e, se desta disposição se deduz obvia e facilmente que
o foro não se deve estipular daquelles terrenos, onde já
se tenha edificado, tendo sido concedidos não condicio-
nalmente, isto é, sem a condição de serem sujeitos ao
foro; bem concludente e convenientemente demonstrou
o recorrente estar neste segundo caso o terreno contro-
verso, concedido de remota antigüidade, com condições
sim onerosas, que forão satisfeitas, mas nenhuma 'por
que o sujeitasse a foro de presente ou de futuro.
Se a execução desta lei foi posta a cargo do ministro da
fazenda, como delia se vê, e, se além disso, pela lei de 4
de Outubro de 1831 art. 6.°§1.°, compete ao tribunal do
thesouro publico nacional a suprema direcção e fiscali-
sação da receita e despeza, inspeccionando a arrecadação,
distribuição e contabilidade de todas as rendas publicas,
e decidindo todas as questões administrativas, que a taes
respeitos possão occorrer; incontestável é a competência
da autoridade, a que se dirigio o recorrente para requerer
a observância da lei a seu respeito, e a decisão mera-
mente financeira e administrativa de ser ou não sujeito
o seu terreno á imposição do foro; e que essa autoridade,
decidindo favoravelmente, não interpreta a lei, mas só a
executa, não faz dispensa de graça, mas torna effectiva a
de direito e justiça por ser decretada pela lei; e, se, por
virtude de tal decisão, o interesse ou renda da câmara
municipal se diminue de facto, é esta diminuição obra
da mesma lei, e jamais do arbítrio do governo ou do
tribunal do thesouro publico nacional.
— 86 -

Não éaltendivel e procedente, em opposição a arguida


offensa dos princípios e garantias constitucionaes, que
sustentão a divisão e harmonia dos poderes políticos do
Estado, e a independência do poder judiciário, na sup-
posiçãò de conter a decisão assim proferida uma susta-
ção do processo pendente; porque, tomando o governo c
ô tribunal do thesouro á sua conta somente, o que é da sua
incontestável competência, o decidir a questão financeira
e administrativa de dever ou não ser o terreno do tra-
piche sujeito á imposição e pagamento do foro, nada or-
dena ou impõe ao poder judiciário no que é de suas at-
tribuições, em prejuízo de sua independência; pois, ainda
3ue tenha de cessar a questão e o processo judiciário,
esde que pela decisão do ministro da fazenda e tri-
bunal do thesouro lhe fallecer o fundamento, ficando
certo que o recorrente, não sendo obrigado ao foro, não
pôde por elle ser demandado, esta cessação ha de effec-
tuar-sepor acto e sentença da autoridade judiciaria, com-
petente perante quern o processo pende ea requerimento
da parte.
Nem também pôde obstar a existência, allegada pela
câmara municipal, de alguns actos do recorrente, porque
pareceu ter annuido á imposição do foro, e haver-se cons-
tituído na classe dos foreiros de terrenos de marinhas,
no numero daquelles de quem a mesma câmara tem de
haver o rendimento que a lei lhe concedeu para suas des-
pezas, pois que aceitou o titulo de aforamento, e a ella
pedio espera do pagamento; por que, sendo verificado que
o terreno não é pela lei sujeito a esse foro, que o recor-
rente ainda nenhuma vez o pagou, e que da data da
medição e demarcação para o aforamento, e do titulo delle
apenas tem decorrido onze annos, tendo nesse mesmo
espaço de tempo feito o recorrente continuadas dili-
gencias para firmar a sua legal isenção; por inquestionável
se deve ter, de facto e de direito, que nenhum ha a favor
da câmara municipal, que tenha por jurídico e legal
fundamento a disposição da lei, ou uma longa e pacifica
posse.
Nestes termos a maioria da secção, não duvidando da
competência do conselho de estado, bem como não du-
vida da do tribunal do thesouro publico nacional e do mi-
nistro da fazenda para o conhecimento e decisão, em pri-
meira instância, e" por via de recurso, de uma questão de
sua natureza financeira, administrativa, porque versa so-
bre execução de uma lei de fazenda relativa a um artigo
da receita geral de que a câmara é somente usufructuaria;
uma questão sobre a qual nada pôde determinar a au-
toridade judiciaria, perante quem em semelhantes casos
- 87 -

não se ventila, se os demandados são ou não de direito


obrigados á quantia demandada, mas só se elles têm ou não
pago essa quantia, cuja certeza e legalidade tiver sido
averiguada pelas repartições e autoridades fiscaes; é de
parecer que deve prevalecer a decisão do tribunal do
thesouro publico nacional do 1.° de Abril de 4845, em
conseqüência da qual se expedio a portaria de 3 do
mesmo mez, declarando-se que o recorrente Geraldo J.
da Cunha, pela maneira por que, foi feita a concessão, aos
seus antecessores, dos terrenos em que se acha edifi-
cado o trapiche do Cleto, não é obrigado a pagamento de
foro; porquanto pelo § 44 do art. 51 da lei de 15 de
Novembro de 1831 somente estão a elle sujeitos os ter-
renos, onde se çdificou sem concessão, ou tinhão sido con-
cedidos condicionalmente; e ficando por conseguinte sem
eíTeito o titulo de aforamento, que se passou, dos ditos ter-
renos, do que se fará a competente averbação á margem
do registro delle, sem que alguma ordem se expeça á
autoridade judiciaria, perante a qual, e pelos meios com-
petentes, cumpre ao recorrente requerer o que lhe con-
vier, conforme o direito que lhe resultar da imperial
resolução.
O conselheiro de estado Paula Souza não concorda com
esta opinião, porque entende que, estando a questão, como
está, em tela judiciaria, e em termos de decidir-se, não
deve ser já do conhecimento do conselho de estado, ao
menos peio modo por que o foi, e que por isso não entra
nos fundamentos da justiça de uma e outra parte : que, no
juizo onde corre a causa, allegue o recorrente as razões,
em que se estriba, para que seja ella decidida administra-
tiva, e não judiciariamente, e que, não sendo atten-
dido, recorra ao procurador da coroa, para terem lugar os
meios de que fazem menção os arts. 24 e seguintes do
regulamento do conselho de estado : não lhe parece re-
gular que ao mesmo tempo esteja uma causa sendo co-
nhecida em dous diversos tribunaes, no administrativo e
no judiciário: lembra mais que tudo quanto presente-
mente allega o recorrente já elle por vezes tinha allegado
anteriormente, sendo indeferido, não por pedir a isenção
do foro, como graça, mas por se ter entendido que não
pertence ao governo, e sim ao poder judiciário, a decisão
da questão, do que resultou pedir elle á câmara espera
do pagamento, e assegurar fazel-o de todo o tempo atra-
zado, se não fosse o negocio decidido a seu favor pelo
poder legislativo até a sessão de 1844, e ser chamado a
juizo por não ter feito esse pagamento. Ora, não tendo o
recorrente recorrido então dessas decisões para o conse-
lho de estado, que já existia, quando ainda não estava a
- 88 —
questão cm tela judiciaria, não descobre razões por que
possa recorrer agora, quando a questão está já em lermos
de ser decidida no juizo commum, e muito mais pelo
modo por que recorreu. Não o convence a razão deduzida
da lei de 4 de Outubro de 1831, porque, havendo razão
de facto a ventilar-se entre o recorrente e a câmara mu-
nicipal, só pelos meios judiciários se poderá melhor
descobrir a verdade, e que por isso mais de uma vez o
tribunal do thesouro o remetteu a esses meios, julgando-
se incompetente. E\ pois, seu voto que não se fez injus-
tiça ao recorrente na decisão de 18 de Maio, e que, por
conseguinte, se sustentem essa e as anteriores decisões
idênticas, de 8 de Agosto de 1843 e 16 de Junho de 1844.
Vossa Magestade Imperial, porém, resolverá o que á
sua alta sabedoria se apresentar mais justo.
Rio, 7 de Novembro de 4845.— Visconde de Monf Ale-
gre.— José Antônio da Silva Maga.—Francisco de
Paula Souza e Mello.

RESOLUÇÃO.

Consulte-se o conselho de estado. (*)


Paço, em 27 de Maio de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Antônio Francisco de Paida e Hollanda Cavalcanti


de Albuquerque.

(*) Em cumprimento da imperial resolução supra, sendo presente


ao conselho de estado a questão, de que se trata, deu elle o seguinte
parecer.
Senhor.— Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar, por
sua immediata resolução de 27 de Maio do corrente anno, que o
conselho de estado consultasse com o que se lhe offerecesse sobre
o parecer do teor seguinte.

E, depois de discutida e ponderada esta matéria, & parecer da


maioria da secção dos negócios da fazenda foi approvado pela maioria
dos membros do conselho de estado, a quem parece que o referido
parecer está nas circumstancias de merecer a resolução imperial
em sua conformidade.
O conselheiro de estado Alves Branco votou, que se aguardasse a
decisão recorrida.
E o conselheiro de estado Paula Sou/a sustentou o seu voto ex-
pressado no mesmo parecer.
-«I —
N. 79;—RESOLUÇÃO DE 30 DE MAIO DE 1846.
Sobre a extensão da lei n.° 242 de 29 de Novembro de 1841, do juizo
dos feitos da fazenda ás .causas da fazenda provincial.
Senhor.—Manda Vossa Magestade Imperial remetter ás
secções do conselho de estado dos negócios da fazenda
e da justiça os officios juntos de varias autoridades pro-
vinciaes, propondo duvidas sobre a extensão, que deva
ter a lei n.° 242 de 29 de Novembro de 1841, ás causas
da fazenda provincial, a fim de que as secções exponhão
sua opinião acerca dessas duvidas.
As secções entendem que, depois de ter o decreto n.*
230 de 9 de Novembro daquelle mesmo anno de 1841
revogado a lei provincial da Parahyba, que creára um
juizo privativo dos feitos da fazenda provincial, e de ter
assim declarado a incompetência das assembléas pro-
vinciaes, absurdo seria suppor que, sobrevindo imme-
diatamente aquella lei n.° 242, que restabeleceu o pri-
vilegio de foro para as causas da fazenda nacional, não
tivesse esta por fim comprehender os feitos relativos
ás rendas provinciaes, e que antes deixasse as províncias
privadas do que parecia ou era uma vantagem, e que
as mesmas provincias reclamarão.
O ter a lei empregado a expressão—fazenda nacional—
sem acrescentar outra que se referisse mais particular-
mente ás rendas provinciaes attribuem ás secções ao
terem os legisladores entendido que essa expressão
abrangia as ditas rendas, que, sendo colhidas de todos
os habitantes do Rrasil, applicadas a usos de commodi-
dade geral, tendo a mesma natureza das rendas geraes
do Império, de que fazião parte, gozando dos mesmos

Vossa Magestade Imperial resolverá, como achar em sua alta sabe-


doria, que é de justiça.
Sala das conferências do conselho de estado, aos 18 de Junho de
1846.— José Antônio da Silva Maya.— Visconde de Monf'Alegre.—
José Carlos Pereira de Almeida Torres.— Francisco de Paula Souza
e Mello.— Caetano Maria Lopes Gama.— Visconde de Olinda. —
José Joaquim de Lima e Silva.— Erancisco Cordeiro da Silva Torres.
— José Cesario de Miranda Ribeiro.— Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.
Como parece, (a)
Paço, em 11 de Julho de 1846. .
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de Albuquerque.
(a) Expedio-se ordem a Illma. câmara municipal da corte, em 21 de Julho
de 1816.
c. 12
- 90 —
privilégios, da mesma fôrma de processo, da mesma
isenção de custas e salários, com razão deviáo ser in-
cluídos na mesma expressão.
Alem disso, senhor, ponderão as secções: 4." que o
Império do Rrasil ainda se conserva perfeitamente da
maneira por que foi constituído, composto de provincias,
e não de Estados, não obstante o acto addicional; e por-
tanto se não pôde dar e reconhecer existente nelle mais
do que uma classe de fazenda publica, consistindo no
que se comprehendeu como receita geral em todas as
leis de orçamento até a de 24 de Outubro de 4832, que
primeiramente declarou as rendas geraes e provinciaes,
dando a parte dellas particular destino, sem lhes mudar
a natureza; 2.° que o acto addicional nada dispoz em
contrario quando autorisou ás assembléas provinciaes
a legislarem sobre a fixação da receita e despeza provin-
cial, e impostos para estas necessários ; 3.° que nenhuma
alteração se deduz da lei de 31 de Outubro de 1835 art.
12, que, declarando competir ás assembléas provinciaes,
legislar sobre a arrecadação das rendas provinciaes, e
alteral-as ou abolil-as, só lhes permitte a alteração na
quota e denominação, sem as desnaturalisar; 4.° final-
mente que tanto se não altera a natureza da fazenda
publica pela distincção de rendas geraes e provinciaes,
que no art. 78 § 22 da lei de 24 de Outubro de 1832 e
no art. 31 § 22 da lei de 8 de Outubro de 1833 se incluirão
na receita geral os saldos e sobras da receita provin-
cial, supprindo-se pelo thesouro publico os deficits das
provincias.
Por todas estas considerações, as secções do conselho
de estado dos negócios da fazenda e da justiça são de pa-
recer que o governo de Vossa Magestade Imperial declare
que a dita lei n.°242de 29 de Novembro de 1841 com-
prehende em suas disposições as rendas provinciaes, e
lhes são appíicaveis todas as suas disposições. (*)
O conselheiro de estado Paula Souza é de opinião que
compete ás assembléas provinciaes decretar, se serão
demandados, e executados no juizo privativo da fazenda,
ou no juizo commum, os devedores da fazenda provin-
cial, e que portanto não compete ao governo resolver
tal duvida, caso lhe competisse interpretar as leis. Nem
o convence do contrario o dizer-se que as assembléas

(*) Vide os decretos n.°« 263 e 316 de 21 de Fevereiro e 21 de Ou-


tubro de 1843, que revogarão as leis provinciaes de Sergipe de 7 de
Março de 1839 e 26 de Janeiro de 1841, creando um juizo privativo
para as causas da fazenda provincial e da misericórdia.
-91 -
provinciaes não podem dar as regrais sobre o mo^o de
cobrar suas dividas, tanto que foi revogada uma lei pro-
vincial da Parahyba, que creou um juizo privativo pro-
vincial, pois que os juizos não são creados por ellas,
mas por lei geral, accrescendo que, emquanto não houver
interpretação aulhentica do poder competente, será a
elle duvidoso que ellas não possão estabelecer essas
regras, e portanto um juizo seu para isso, nem lhe bas-
tando o argumento da revogação dessa lei.
Entende, pois, que deve o governo responder que se
esteia nas diversas provincias pelo que a este respeito
deliberarem suas assembléas provinciaes, pois talvez pre-
flrão ellas, ou alguma dellas, o juizo commum, por com-
modidade dos povos, e que sendo a matéria (cobrança de
suas rendas) privativa de sua competência, embora errem,
estão no seu direito, e por conseguinte fora da alçada
de outro qualquer poder.
Vossa Magestade Imperial, porém, mandará o que fôr
melhor.
Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 1845. — Visconde
de Monf Alegre.—José Antônio da Silva Maga.—Fran-
cisco de Paula Souza.—Caetano Maria Lopes Gama.—
Bispo de Anemuria.
RESOLUÇÃO.
Ouça-se o conselho de estado. (*)
Paço, em 30 de Maio de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Calvalcanti
de Albuquerque.

(*i Em cumprimento da imperial resolução acima, sendo presente


ao conselho de estado a questão, de que se trata, deu elle o seguinte
parecer.
Senhor.—Houve Vossa Magestade por bem ordenar, por sua im-
mediata resolução de 30 de Maio do corrente anno, que o conselho
de estado consultasse com o que se lhe offerecesse sobre o parecer
das secções do mesmo conselho, á que pertencem os negócios da
fazenda e da justiça, do teor seguinte.

Discutida e ponderada esta matéria, o parecer da maioria da secção


foi approvado pelos conselheiros de estado visconde de Olinda, vis-
conde de Monf Alegre, Lopes Gama, Almeida Torres, Cordeiro, Maya
c Lima e Silva, parecendo-lhes achar-se nas circumstancias de me-
recer a resolução imperial em sua conformidade.
O conselheiro de estado Alves Branco disse que votava contra o
mesmo parecer, por estar persuadido que as assembléas provinciaes
jiudiao escolher o juizo commum, ou mesmo crear administrações par-
— 92 —

N, 80.—RESOLUÇÃO DE 10 DE JUNHO DE 1846.

Sobre o recurso de Damaso Antônio Marques, se a taxa municipal


de 40 réis no consumo da aguardente comprehende os districlos
de fora da cidade do Rio de Janeiro.

Senhor. — As secções do conselho de estado, que con-


sultão sobre os negócios do império e da fazenda, em
observância do aviso de 23 de Maio do corrente anno,
têm a honra de apresentar a Vossa Magestade Imperial o
seu parecer acerca do requerimento de Damaso Antônio
Marques, e mais papeis que o acompanharão.
Allega o supplicante que se acha estabelecido com casa
de negocio de seccos e molhados na freguezia do Campo
Grande, e que, tendo pago á fazenda nacional o imposto
sobre lojas, e o que pesa sobre o consumo da aguardente
do paiz, exigem-lhe de mais, além disto, na recebedoria

ticulares para a execução de seus devedores, ainda que, segundo de-


cidio a assembléa geral legislativa, não pudessem crear juizos priva-
tivos .
O conselheiro Cirneiro Leão, reconhecendo que não cabe nas
attribuições das assembléas provinciaes a creação de um juizo par-
ticular para as causas da fazenda publica das provincias, todavia
disse que não lhes podia negar o direito de decretar, que taes causas
corrão no foro commum, ou perante os juizes privativos creados
ielas leis geraes, assim como as considera habilitadas para estabe-
Íecerem as regras, que mais lhes parecerem conducentes para a boa
arrecadação e fiscalisação das rendas provinciaes, pois que sem esta
faculdade seria illusoria a que ellas tem, de crear as mesmas rendas.
O conselheiro de estado Paula Souza insistio no seu voto expres-
sado no sobredito parecer.
O conselheiro de estado Miranda Ribeiro pedio a Sua Magestade
Imperial permissão, para não votar sobre esta matéria, visto que não
a tinha examinado previamente, e ainda que lhe parecia acertado o
parecer da maioria da secçao, julgava necessário ponderar as diversas
questões, que dalli nascem, a fim de poder votar com conhecimento
de causa.
Vossa Magestade Imperial resolverá eomo achar, em sua alta sabe-
doria, que é melhor.
Sala das conferências do conselho de estado, em 48 de Junho de
1846.— José Antônio da Silva Maya— Visconde de MonVAlegre.— José
Carlos Pereira de Almeida Torres.—Francisco de Paula Souza e Mello.
— Caetano Maria Lopes Gama. — Visconde de Olinda. —José Joaquim
de Lima eSilva.— Francisco Cordeiro da Silva Torres.— Manoel Alves
Branco.— José Cesario de Miranda Ribeiro.
DECRETO.

Tendo ouvido o meu conselho de estado reunido sobre o parecer


da secção do mesmo conselho, a que pertencem os negócios da fa-
- - 93 —
do município a taxa de 40 réis, creada pelo art. 19 da le'
de 31 de Outubro de 1835, para renda da Illma. câmara
municipal: e, porque lhe parece illegal esta exigência,
visto que á tal taxa, segundo a lei cilada, está sujeito so-
mente o consumo daquelle gênero na cidade do Rio de
Janeiro, conclue o mesmo supplicante, pedindo a Vossa
Magestade Imperial que, altendendo ao exposto, haja por
bem ordenar que se lhe faça justiça.
Sobre este requerimento o administrador da recebe-
doria , em conseqüência de ordem superior, informou
que « a sobredita taxa se percebe era todo o município,
em virtude do art. 16 da lei de 30 de Novembro de 1841,
art. 47 da lei de 21 do Outubro de 1843, na fôrma do re-
gulamento municipal de 21 de Julho de 1842, e despacho
do thesouro de 16 de Julho de 1844. »
A' margem desta informação se acha o officio do con-
selheiro procurador da coroa, fazenda e soberania na-
cional de 9 de Maio deste anno, em que requer que se lhe
faça com vista o despacho ultimamente alli citado. E,
satisfeito, continua o mesmo magistrado na sua resposta,
aos 17 do referido mez, expressando o seu parecer nos
seguintes termos : « O art. 16 da lei de 30 de Novembro
de 1841 nada mais fez em essência do que alterar o me-

zendae justiça, a respeito das duvidas sobre acxlensão, que deve ter
a lei n.° 242 de 29 de Novembro de 1841, as causas da fazenda pro-
vincial, e conformando-nie com o voto do conselheiro de estado no-
norio Hermeto Carneiro Leão de que, não cabendo nas attribuições
das assembléas provinciaes a creação de um juizo particular para as
causas de fazenda publica das provincias, todavia tem o direito de
decretar que taes causas corrão no foro commum, ou perante os juizos
privativos creados pela leis geraes, assim como podem estabelecer as
regras que mais lhes parecerem conducentes para a boa arrecadação e
fiscalisação das ditas rendas:
Hei por bem decretar, em solução das referidas duvidas, que as as-
sembléas legislativas provineiaes tem direito de decretar que as causas
da fazenda provincial se processem e corrão no foro commum, ou
perante os juizos privativos creados pelas leis geraes para as causas
da fazenda publica nacional, e estabelecer as regras, que mais lhes
parecerem conducentes para a boa arrecadação efiscalisaçaodas
rendas provinciaes, pois que sem esta faculdade seria illusoria a que'
ellas tem, de crear as mesmas rendas.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de Albuquerque,
do meu conselho, senador do império, ministro e secretario de es-
tado dos negócios da fazenda, e presidente do tribunal do thesouro
publico nacional, o tenha assim entendido e faça executar com os des-
pachos necessários.
Palácio do Rio de Janeiro, em quatorze de Julho de mil oilocentos
quarenta e seis, vigésimo quinto da independência e do Império.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula c Hollanda Cavalcanti de Albuquerque.
- 91 —
thodo da cobrança do imposto sobre bebidas espirituosas,
que a lei de 31 de Outubro de 1835 havia creado para
renda da Illma. câmara municipal desta corte, e como
esta lei havia expressa e restrictamente limitado o imposto
ao consumo da cidade do Rio de Janeiro, não podia cer-
tamente a mesma Illma. câmara amplial-o por seu regu-
lamento a todo o municipio; vendo-se pelos papeis,
ora juntos, que a approvação deste regulamento fora
mandada decretar com esta cláusula, como provão
os pareceres dos membros desse tribunal ahi exarados,
com os qaaes se conformou o Sr. presidente.
Parece-me, portanto, que o supplicante tem fundada
razão, e que é de mister fazer-se declaração a este
respeito. »
E, depois de vista e ponderada esta matéria : parece ás
sobreditas secções, em perfeito accordo com o procurador
da coroa, fazenda e soberania nacional, que o supplicante
não está sujeito á taxa, contra cuja exigência, com fun-
dada razão se queixa, e que á Illma. câmara municipal se
declare que o seu regulamento de 21 de Julho de 1842
deve limitar-se á extensão desta cidade, em observância
do art. 19 da lei de 31 de Outubro de 1835, que creou
aquelle imposto, e da cláusula expressa com que o mesmo
regulamento foi approvado pelo despacho do tribunal do
thesouro publico nacional de 16 de Julho de 1844.
Vossa Magestade Imperial resolverá como achar, em
sua alta sabedoria, que é de justiça.
Sala da conferência das sessões do conselho de estado
a que pertencem os negócios do império e da fazenda,
aos 2 de Junho de 1846.— José Cesario de Miranda Ri-
beiro.— Visconde de Olinda. — José Antônio da Silva
Maga.— Francisco de Paida Souza e Mello.— Manoel
Alves Branco.— Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 10 de Junho de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque.

() Officiou-se a Illma. câmara municipal da corte nos termos da


imperial resolução, declarando-se que « a arrecação da taxa de 40 réis
« sobre a aguardente para a renda da mesma câmara só tem lugar
" Iia 55.ÍSnsa(V.dií cul!i,]p" eonformc «> art. 10 da lei de 31 de Outubro
« de 18Jd».-Ordem n.» 36 de 17 de Junho de 1816.
- 9S - .

N. 81.—CONSULTA DE 46 DE JUNHO DE 1846.

Sobre as leis provinciaes do Piauhy do anno de 184S.

/ Senhor.—As leis provinciaes de 'Piauhy promulgadas


no anno próximo passado de mil oitocentos quarenta
e cinco forão submettidas ao exame da secção de fa-
zenda do conselho de estado: e porque esta, pelo que
pertence á parte fiscal, que éj de sua alçada, nada en-
controu disposto nellas, que deva ser revogado na fôrma
do acto addicional, assim reverentemente o representa
a Vossa Magestade Imperial, que resolverá o que houver
por bem.
Rio de Janeiro, em 16 de Junho de 1846.— José An-
tonio da Silva Maga.—Manoel Alves Branco.—Fran-
cisco de Paiüa Souza e Mello.

N. 82.—CONSULTA DE 16 DE JUNHO DE 1846.

Leis provinciaes das Alagoas do anno de 1845.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado,


a cujo exame, por ordem de Vossa Magestade Impe-
rial, em aviso de vinte três de Maio, forão submet-
tidas as leis provinciaes das Alagoas promulgadas no
anno de mil oitocentos quarenta e cinco, vem respei-
tosamente fazer presente a Vossa Magestade Imperial,
que nellas nenhuma disposição encontrou, que seja
exorbitante das attribuições das assembléas legislativas
das provincias, nem cousa que duvida lhe faça.
Vossa Magestade Imperial, porém, resolverá o que
melhor entender.
Rio de Janeiro, em 16 de Junho de 1846.—José
Antônio da Silva Maga.—Manoel Alves Branco.—Fran-
cisco de Paula Souza e Mello.
— 9G —

NV 83. — RESOLUÇÃO DE 16 DE JUNHO DE 1846.

Sobre o officio do presidente da Bahia, relativo ao pagamento do


.laudemio exigido pela venda dos prédios rústicos e urbanos cm
terrenos aforados.

Senhor.—Foi Vossa Magestade Imperial servido mandar


remetter á secção de fazenda do conselho de estado
o officio do presidente da província da Rahia n.° 70 de
16 de Abril ultimo, e mais papeis que acompanhão, re-
lativos ao pagamento do laudemio exigido pela venda
dos prédios rústicos e urbanos em terrenos aforados.
Nestes papeis vê a secção suscitada a questão de di- .
reito, de que se exige solução, se no caso de venda ou
alienação de um prazo qualquer, o laudemio se deve
ao senhorio directo de todo o preço da venda ou valor,
tanto do terreno aforado, como do valor também corres-
pondente ás bemfeitorias, que nelle existirem—: tendo
dado motivo á duvida, e á necessidade da sua solução, .
em que interessa a fazenda nacional, pelo que respeita
aos seus foreiros, algumas decisões da relação da Rahia,
que tem estabelecido como regra, de que os ditos fo-
reiros se prevalecem, dever-se o laudemio somente do
valor do solo ou terreno aforado; e nelles mesmos se
acha o officio do procurador da coroa, soberania e fa-
zenda nacional nos termos seguintes.
• « Fossem quaes fossem essas decisões da relação da
Rahia, que por certo não podem servir de arestos, tanto
porque se ignora inteiramente quaes os casos sobre
que forão proferidas, sendo diversissimas as espécie» |i
de emphyteusis, como porque, para constituir aresto, não
basta a simples decisão em uma relação, onde é suf-
ficiente o voto de três desembargadores para o venci-
mento em qualquer causa eivei. E', fora de duvida que
por instituição antiquissima, segundo a qual tem sido ce-
lebrados os contractos emphyteuticos até hoje existentes,
os laudemios pagos nas alienações dos prazos são de-
duzidos tanto do preço dos terrenos emprazados, como
dos das bemfeitorias de qualquer espécie nelles exis-
tentes. Esta doutrina tem por si a legislação, a pratica
immemorial e a opinião dos jurisconsultos, e só pôde
admittir excepção, quando nos contractos primordiaes
dos aforamentos outra cousa se lenha accordado ex-
pressamente.
— 97 -
De certo tempo a esta parte tem apparecido alguns
loreiros que, contra a fé dos contraclòs. têm procurado
sublrabir-se a este ônus, introduzindo a distineção entre
terrenos e bemfeitorias, e até em 1826 foi proposto na
câmara dos deputados um projecto de lei para esse. fim ;
mas este projecto, que obteve approvação naquella câ-
mara, foi rejeitado pelo senado, ficando assim ainda
mais firme e subsistente a legislação e a pratica nella
firmada, bem como todos os contractos cmphyteulicos
celebrados em sua conformidade. Cumpre, portanto, que
se responda nesta conformidade.
Não duvida, senhor, a secção, depois de ponderada
a matéria, conformar-se com a opinião do desembar-
gador procurador da coroa, soberania e fazenda nacional,
ha certeza, em que eslá firmada, de que a disposição
da Ord. Liv. 4." Tit. 38, relativa ao pagamento de lau-
demio, positiva e lerminantemente o manda satisfazer
pela quarentena, ou pelo conleudo do contracto em-
phyteulico, no caso_ de venda ou escambo da possessão
aforada, sem fazer 'distineção alguma entre o valor do
terreno e das bemfeitorias ; de que nesta conformidade
se tem constantemente decidido, e julgado nos juizos
e tribunaes de Portugal è do Rrasil, firmando a juris-
prudência , que não pôde soffrer prejuízo ; de que de
outra maneira tem entendido a sobredita relação da
Rahia; e de que todos os esforços, que se têm feito etn
contrario em segui menlo de Lobão na sua deserta-
ção, sobre emphyteuticaç.ões, no appendice dos prazos,
paginas 403 e seguintes, bem claramente mamfesião,
que a pratica constante de entender a sobredila Ord.
Liv. 4." Tit. 38, e de julgar conforme a ella, tem
.sido aquella que esses oppositores suppõem errada,
e menos razoável.
E' portanto a secção de parecer que deva conservnr-se
e fazer-se observar a jurisprudência estabelecida, na con-
formidade da litteral e indislineta disposição da Ord.
Liv. 4.° Tit. 38, em vigor; continuando esta a appli-
car-se da maneira que tem sido entendida, e pagando-se
o laudemio nos casos de venda e escambo, tanto do valor
do terreno aforado, corno do das bemfeitorias, que nelle
houver, emquanto outra cousa não fôr determinada por
acto legislativo, se Vossa Magestade Imperial na sua alta
sabedoria não resolver o contrario.
Paço do Rio de Janeiro, cm 16 de Junho de í816. — José,
Antônio da Silva. Maga.—Manoel A Ives Branco.—Fraa*
cisco de l^aula Souza e Mello.

c.
— 98 —

RESOUÇÃO.

Ouça-se o conselho de estado.


Paço, em 16 de Junho de 1846.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador,

Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de


Albuquerque. (*)

(*) Sendo ouvido o conselho de estado reunido, nos termos da re-


solução, deu o seguinte parecer.
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar, por
sua immediata resolução de 16 de Junho do corrente anno, que o con-
selho de estado consultasse, com o que se lhe oflerecesse, acerca do
parecer da respectiva secção de fazenda , cujo teor é o seguinte.

O que visto, e depois de discutida e ponderada esla matéria, parece


ao conselho de estado, em perfeito accordo com a respectiva secçqo,
a quem compete consultar sobre os negócios da fazenda, que deve
conservar-se e fazer-se observar a jurisprudência estabelecida na
conformidade da litteral e indistiucta disposição da Ord. Liv. 4.» Tit. 38,
cm vigor; continuando esta a applicar-sc da maneira, que tem sido
entendida, e pagando-se 9 budemio nos casos de venda e escambo,
tanto do valor do terreno aforado, como do das bemfeitorias, que nelle
houver, emquanto outra cousu não for determinada por acto legis-
lativo.
Vossa Magestade Imperial resolverá como achar, em sua alta sabe-
doria, que c melhor.
Sala da conferência do conselho de estado, aos2 de Julho de 1846.—
Bernardo Pereira de Vasconcellos.— Francisco Cordeiro da Silva Torrei..
— José Joaquim de Lima e Silva.— Francisco de Paula Souza e Mello.—
José Antônio da Silva Maya.— José Carlos Pereira de Almeida Torres. •
— Manoel Alves Branco.— Visconde de Monf Alegre.— Honorio Hermeto
Carneiro Leão. — Visconde de Olinda. — José Cesario de Miranda Ri-
beiro .
RESOLUÇÃO.
Y
Como parece. ( )
Paço, em 19 de Agosto de 1816.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de Albuquerque.
f*) Derreto n.» 467 de 23 do Agosto dn 1848. Declara a legislação a respeito do
pagamento de laud.-inio, pela veada dos prédios rústicos c urbanos, em ter-
renos aforados.
— 99 -
N. 34.—'AESOLUy.VO DE 16 DE JUNHO DE 1816.
Sobre a representação da contadoria geral de revisão do thesouro
publico nacional, a respeito do desconto do montepio de marinha.
Senhor.—Representou o ofíicial respectivo da conta-
doria geral de revisão do thesouro publico nacional que,
tendo-se effectivamente feito o desconto de um dia de ven-
cimento do montepio, que recebem mensalmente pelo
thesouro as mães, irmãas, e filhas dos ofíiciaes de guerra e
marinha fallecidos, a favor do dito montepio, em virtude da
provisão do conselho supremo militar de 30 de Dezembro
de 1819, aconteceu advertir-se que o aviso da secretaria
de estado dos negócios da marinha do 1.° de Outubro de
1831 está em opposição áquella provisão; e pedio por
isso se lhe declarasse, se deveria ou não continuar-se a
fazer o desconto de um dia no montepio mensal, que
percebem as mães, irmãas, e filhas dos ofíiciaes fallecidos,
que forão contribuintes: o que o conselheiro contador
geral fez presente ao tribunal do thesouro publico.
A esta representação se juntarão cópias assim da pro-
visão do conselho supremo militar de 30 de Dezembro
de 1819, pela qual se ordenou e estabeleceu em regra
que o desconto do montepio, que se houver de fazer, ás
viuvas, orphãos e irmãas dos offioiaes militares, deve ser
correspondente a um dia do vencimento mensal, que
lhe foi concedido, seja elle qual fôr, cômodo aviso da
secretaria de estado dos negócios da marinha do 1.° de
Outubro de 1831 do teor seguinte. « Em solução ao que
« Vm. expuzera no seu officio de 28 do mez findo, sobre o
« objecto da representação do contador da marinha, rela-
« tivamente á falta, que tem havido, de desconto para o
« montepio na pensão de D. Antonia Rita da Costa, tenho
« de significar-lhe que, tratando o art. 5." da lei, quere-
« gula aquélle estabelecimento, somente das viuvas dos
« ofíiciaes, e percebendo a supplicante a dita pensão,
« como filha de um capitão de mar e guerra, não deve ser
«i obrigada a contribuir com cousa alguma. »
Ouvidos os membros do tribunal do thesouro inter-
puzerão estes seus pareceres, e que não forão unanimes
em um accordo ; pelo que, sem haver definitiva deci-
são do mesmo tribunal, foi Vossa Magestade Imperial
servido ordenar que tudo fosse remettido á secção de
fazenda do conselho de estado.
Esta, pois, tendo examinado a matéria, respeitosamente
pondera a Vossa Magestade Imperial que, considerando
devidamente a provisão de 30 de Dezembro de 1819 como
uma lei, de que adquirio toda a força pela disposição da
— 100 -
de20 de Outubro de 1823, e estando por ella regulado o
desconto, que se ha de fazer mensalmente, no vencimento
das mais, filhas e irmãas dos ofíiciaes militares fallecidos
que contribuirão para o montepio ; não pôde admittir o
reputar o aviso mencionado do 1.° de Outubro de 1831,
com força de revogar ou alterar de qualquer modo a
sua disposição.
E' portanto de parecer que a provisão de 30 de De-
zembro de 1819 se acha em inteiro vigor, não obstante
o aviso em contrario; e que por ella se deve regular o
desconto mensal no vencimento do montepio das mães,
filhas e irmãas dos ofíiciaes, até que uma lei especial ou
a ordenança militar, de que o corpo legislativo se oecupa,
de outra maneira o determine.
Sirva-se Vossa Magestade Imperial acolher este parecer
da secção, e dar-lhe a alteração de que o julgar digno.
Rio de Janeiro, em 16 de Junho de 1846. —José An-
tônio da Silva Maga.—Manoel Alves Branco.—Fran-
cisco de Paula Souza e Mello.
KESOLUÇÃO.
Como parece. (*)
Paço, em 16 de Junho de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 8o.-RESOLUÇÃO DE 8 DE JULHO DE 1846.


Sobra a íucrssi lale de modificar-se o regulamento de'.) de Maio de
1842, na parle em que trata das correições.

Senhor.—A secção do conselho de estado, a que per-


tencem os negócios da fazenda, teve a honra de receber
a ordem de Vossa Magestade Imperial, expedida em aviso
de 8 de Maio do corrente anno, para consultar sobre o que
seexpendeno aviso da secretariado estado dos negócios
da justiça de 19 de Dezembro do anno próximo passado,
a respeito de correições, e da necessidade de modificação

</P!TM1I> i i « «•_» d e -27 <h- U m l i o d e l"í<3.


— 101 —
do regulamento de 9 de Maio de 1842; e,em cumprimen-
to delia, vem muito respeitosamente expor a sua opinião
sobre esses objectos.
A secção nada diz quanto ás correições, por isso que
a esse respeito já houve consulta e° decisão do go-
verno de Vossa Magestade Imperial ; e, quanto á modi-
ficação do regulamento de 9 de Maio de 1842, pede a
sec<jão licença a Vossa Mageslade Imperial para ponde-
rar que lhe parece não ter o governo autoridade para
alieral-o. porquanto, sendo esse regulamento lei do Es-
tado, por isso que feito em virtude de autorisacão dada
na lei do orçamento de 30 de Novembro de 1841, só pôde
ser alterado por uma outra lei ou autorisacão dada por
lei. e essa lei ou autorisacão não existe, pois que nem
ha lei que o altere, nem que autorise essa alteração, tendo
findado em Junho de 184o a autorisacão dada pela lei do
orçamento de 1841, e não tendo pila sido novamente dada
pela lei do orçamento de 18 de Selembro de 1845, a qual
só dá autorisacão para alteração dos regulamentos ex-
pedidos para a execução das disposições da lei do or-
çamento de 21 de Outubro de 1843, e não das anteriores.
Accresce que, no entender da secção, não é necessário
alterar-se o dito regulamento de 9 de Maio de 1842, para
que se execute o que dispõe a lei a respeito de cor-
reições. Não descobre a secção opposição entre o regula-
mento e a lei: Oobjectodacbrreiçãoa este respeito deve
ser verificar se é ou não observado o que o dito regu-
lamento determina, e dar providencias para que seja elle
observado, e por isso não é necessária alteração alguma.
E' este o parecer que a secção tem a honra de mui
respeitosamente apresentar á alta consideração de Vossa
Magestade Imperial. Digne-sc Vossa Magestade Imperial
rccebel-o com a s m costumada benevolência.
Rio de Janeiro, 30 de Junho de 1846.— Francisco de
Paula SOUZT, e Mello.—Manoel Alves Branco.—José
Antônio da Silva Maga.
RESOLUÇÃO.
Como parece. (••)
Paço, ern 8 de Julho de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula-e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

•{*) Respondeu-se ao ministério «Li jq-üra no-? termos da eonsulla.


—Aviso de 10 de .falho de líiííi, ' |
— 102 —

N. 86.-CONSULTA DE 10 DE JULHO DE 1846.

Sjbre o projecto do regulamento para a administração dos terrenos


diamantinos.

Senhor. —As secções do conselho de estado, que con-


sultão sobre os negócios da fazenda e do império, tem a
honra de apresentar a Vossa Magestade Imperial o regu-
lamento sobre a administração de terrenos diamantinos,
emendado como lhes pareceu mais conveniente, como
lhes foi ordenado em aviso de 4 de Dezembro de 184o.
J)igne-se Vossa Magestade Imperial acolher este tra-
balho com a sua costumada benevolência, e resolver em
sua alta sabedoria.
Rio, 16 de Julho de 1846.—Francisco de Paula Souza
e Mello.—José Antônio da Silva Maga.— José Cesario de
Miranda Ribeiro.— Visconde de Olinda.— Manoel Alves
Branco. {")

N. 87—RESOLUÇÃO DE 22 DE JULHO DE 1846.

Sobre o regulamento para os vencimentos dos empregados de fa-


zenda, nos casos de substituição.

Senhor.—Á secção de fazenda do conselho de estado


foi participada, pôr aviso de 22 de Junho deste anno, a
ordem por que Vossa Magestade Imperial houve por
bem determinar-lhe que consulte sobre o projecto, que
veio incluso, de regulamento para os vencimentos dos
empregados de fazenda nos casos em que substituem
os impedidos, ou exercem interinamente empregos va-
gos, o qual é do teor seguinte.
Art. 1.° Todos os empregados de fazenda, de qual-
quer repartição, que servirem uns por outros, que se
acharem impedidos por moléstia ou licença, com ven-
cimento de ordenado por inteiro, farão seus todos os

*) o projecio foi adoptado c mandado executar pelo Decreto n." 463


de 17 de Acosto de lSítí.
— 103 —

emolumentos e salários, que pagarem as partes pelos


actos dos empregos que servirem, mas nada haverão
da fazenda nacional a titulo de ordenado, emolumentos
ou porcentagem <jue pertencerão aos impedidos, e so-
mente poderão haver quaesquer gratificações de exer-
cício que lhes forem consignadas.
Art. 2.° Quando o impedimento daquelles por quem
servirem, nos casos do artigo antecedente, passar de
quarenta dias, poderão haver, desse prazo por diante, a
quinta parte dos ordenados e porcentagens, que com-
petirem aos impedidos, para o que farão declaração cm
tempo, a fim de se fazer a averbação no respectivo as-
sentamento.
Art. 3.° Se os empregados com licença perceberem
somente metade ou outra qualquer quota dos respec-
tivos ordenados e porcentagens, a quinta parte para
os que os substituírem será dada pelo cofre da fazenda
nacional, e por conta da parte que de menos se der
aos licenciados.
Art. 4.° Se o impedimento fôr proveniente de pas-
sarem os empregados a servir temporária e provisoria-
mente outro algum emprego ou cargo de que recebão
vencimento, haverão os que os substituírem a quinta
parte dos ordenados e mais vencimentos legaes, por
conta da fazenda nacional.
Art. 5.° O mesmo se praticará nos casos em que os
empregados, indo servir temporária e provisoriamente
algum emprego ou cargo fora da repartição, optarem
comtudo a continuação dos ordenados e mais venci-
mentos que nella lhes competião.
Art. 6.° Se o impedimento resultar de serviço gra-
tuito, a que os empregados sejão chamados em virtude
de lei ou de ausência, nos termos do art. 33 da consti-
tuição, nada haverão os que os substituírem, da mesma
ou diversa repartição, nem dos ordenados e venci-
mentos legaes que*compelirem aos empregados impe-
didos, nem da fazenda nacional.
Art. 7.° Quando os empregados servirem interina-
mente lugares ou empregos vagos , haverão a quinta
parte dos ordenados, e legaes vencimentos, por conta
da fazenda nacional.
Art. 8.° Acontecendo que por não haver em uma re-
partição, quem deva eu possa substituir o empregado
impedido na fôrma dos arts. 1."e seguintes, se se en-
carregar da substituição algum de diversa repartição de
fazenda, observar-se-ha o que fica disposto nos refe-
ridos artigos.
Art. 9.° Quando o empregado impedido de qualquer
— 101 —
repartição fôr do classe e denominação, em que hajão
dous ou mais,0Sainda que com diHerontos graduações
ordinaes de 1. , 2.0S, e t c , nada haverá aquelle dessa
mesma classe, e denominação, que os substituir.
A secção attenlamente se dedicou ao cumprimento da
imperial' determinação ; e, lendo averiguado o reconhe-
cido que os vencimentos dos empregados de fazenda
(como acontece aos de outras repartições ) nos casos
mencionados se não achão sufileiente e justamente re-
gulados, nem por disposições legislativas, que pouco se
occupárão da matéria, nem pelas regras estabelecidas e
alteradas porsuecessivas ordens do thesouro publico na-
cional, convenceu-se da necessidade de um regulamento
«jue, supposto se revistada mesma qualidade de interino,
com que forão expedidas as referidas ordens, para ter exe-
cução emquanto a assembléa geral legislativa não de-
cretar outras e mais acertadas providencias, seja positivo,
terminante e comprehensivo das hypotheses que a expe-
riência lem mostrado costumarem oceorrer no serviço
das estações fiscaes.
Examinando então o projecto, que lhe foi apresentado
pela ordem de Vossa Majestade Imperial, o considerou
nos termos de poder bem satisfazer a exigência, consul-
tados os interesses dos empregados e do expediente do
serviço com o menor despendio da fazenda nacional,
que gravemente se onerara por algumas das sobreditas
ordens do thesouro publico nacional, e que ainda mais
gravado poderia ser pelas deliberações de um livre ar-
bítrio, a que se não pôde haver por efílcaz obstáculo
a ultima ordem de 5 de Agosto de 4843, que, declarando
providentemente que « as disposições da ordem de 28 de
Fevereiro de 1837 e posteriores, que a explicarão e am-
pliarão, somente tivessem lugar quando as imdemnisa-
çòes, que ella permille, se não fizerem á conta da fazenda
nacional, e sim dos ordenados dos empregados, que
não tiverem direito a perceber os vencimentos dos lu-
gares » está sujeita a uma revogação ou ajteração lão
facilmente como ativerão as antecedentes ; e portanto:
K* a secção de parecer que o projecto é merecedor da
approvação de Vossa Magestade Imperial, para por elle
se regularem os vencimentos de todos os empregados de
fazenda de qualquer repartição, nos casos em que substi-
tuem os impedidos, ou exercem inlerinamenle empregos
vagos, emquanto a assembléa geral legislativa não
decretar outras providencias, que muito se precisão em
geral, para a certa c invariável designação dos vencimen-
tos, em taes casos, dos empregados das diíferenles classes
em lodosas repartições da publica administração.
— 10o —

Digne-se Vossa Magestade Imperial acolher este parecer


que a secção respeitosamente põe na imperial presença,
<• resolver o que melhor convier abem do serviço, e da fa-
/.onda nacional.
Rio de Janeiro, em 21 de Julho de 1846.— José Antônio
da Silva Mai/a.—Francisco de Paula Souza e Mello.—
Manoel Aires Branco.
RESOI.rçÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 22 de Julho de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio F'raacisco de Paulae Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque.

\". 88.—RESOLUÇÃO DE 1 DE AGOSTO DE 1846.

Sobre a reclamação de Plowes Law & C . a contra a venda para consumo


de gêneros de sua coma, existe.iie; naalfandegado Rio de Janeiro.

Senhor.—Forão vistos pela secção de fazenda do conse-


lho de estado os autos da reclamação de Plowes Law & C.a
negociantes britannicos desta praça do Rio de Janeiro, que
perante ella se processarão, e que mostrão, pela petição
dos reclamantes, documentos a elle juntos, informações
do inspector da alfândega e mais papeis, o seguinte:
Reclamarem os ditos negociantes haver da fazenda
nacional, por indemnisação, a quantia de 6:584#355, valor
de dez amarras de ferro que, tendo sido recolhidas na
alfândega desta cidade, não apparecêrão nella, quando
pretenderão despachal-as para consumo ; por quanto di-

(*) Decreto n.° -Í59 de 27 de Julho de 184(5 regulando os venci-


mento dos empregados de fazenda, nos casos em que substituem os
impedidos ou exercem interinamente empregos vagos.
A legislação que actualmente regula a matéria é o decreto n.<> 1995
de 14 de Outubro de 1837, com as alterações do ai t. 41 do decreto
n.» 2343 de29de Janeiro de 1859.
«j. 14
— 106 —
zem elles, que em data de 7 e 8 de Janeiro de 1828
desembarcarão para a estiva da alfândega seis amarras
de ferro, vindas de Londres a bordo do bergantim inglez
Orion; e em 27 de Março do me^mo anno desembarcarão
mais quatro, vindas de New Castle no.bergantim inglez
Edmund Castle, todas dez á ordem e consignação delles
reclamantes ; mas que, procedendo-se a consumo em 21
de Fevereiro de 1829, se disse terem sido nelle incluídas
e vendidas as ditas amarras, ou estramalhadas sem au-
diência nem intimação delles, que as não acharão, quando
as procurarão para* despachar, e que nada conseguirão,
para sua indemnisação, dos requerimentos que fizerão ao
conselheiro juiz da mesma alfândega, allegando que o
espaço legal da estada das amarras na alfândega ainda
não era decorrido nos termos do alvará de 26 de Maio
de 1812 §5.°, para ter lugar o consumo, e que já em
caso semelhante o thesouro publico nacional tinha sido
favorável á reclamação de Warren Rainsford, não admit-
tindo questão ^segundo elles entendem) o dever recahir
sobre a fazenda publica a indemnisação dos prejuízos
provenientes de um facto espoliativo de autoridades dele-
gadas do governo, que obrarão em nome delle, sem
que alguma omissão se possa altribuir a elles recla-
mantes, em não se terem opposto áquella venda, que
se ánnunciára em 31 de Janeiro de 1829, com a falta
da precisa designação dos consignatarios dos gêneros,
que se sujeitarão ao consumo, e dos navios de que
se havião descarregado, e acrescentando que no refe-
rido consumo se incluirão as amarras com o peso
de 171 quintaes e uma arroba, avaliadas a mil e du-
zentos réis o quintal, quando o seu verdadeiro peso era
o de 287 quintaes, 3 arrobas e 5 libras, e o seu razoável
valor o de vinte mil réis por quintal.
Ser certo terem havido os reclamantes as dez amarras
de ferro, vindas de Inglaterra nos berganlins Orion e
Edmund Castle e desembarcadas nos dias 7 e 8 de Janeiro,
e 27 de Março de 1828, das quaes nenhuma foi por elles
despachada, por não apparecerem quando para o des-
pacho as procurarão, por terem sido vendidas no con-
sumo, com o sobredito peso de 171 quintaes, pela quan-
tia de 3:036#I64; e bem assim terem sido sem effeito
a reclamação e instâncias que fizerão perante o juiz da
alfândega no anno de 1830, e que tiverão por deferi-
mento os despachos de 23 de Julho e 21 de Agosto,
declarando legal o consumo, por ter sido feito depois
de seis mezes da entrada na estiva, e remettendo os re-
clamantes á estação competente para haver o que lhe
coube desse consumo.
- 107 —
E porquanto, sendo demonstrado pelos autos e docu-
mentos nelles juntos, emquanto ao facto, que o consumo,
a que se procedeu, e em que se incluirão e forão ven-
didas as amarras de ferro dos reclamantes, posto que
com peso muito differente, para menos, do que consta
dos respectivos conhecimentos e facturas, e por dimi-
nutissimo .preço, teve lugar cin 21 de Fevereiro de 1829
onze e treze mezes depois da entrada dellas na alfândega;
e que esse mesmo consumo se fez na fôrma da pratica
estabelecida por ordem do então juiz da mesma alfândega;
tem a secção por certo, emquanlo a direito, que, entradas
e guardadas as amarras de que se trata, na estiva, consi-
deradas sempre como gêneros delia, tanto pelos em-
pregados da dita alfândega, como pelos próprios recla-
mantes, o que se vè dos requerimentos e certidões, não
lhes pôde aproveitar em prejuízo, e como illegalidadedo
consumo, o não se ter regulado pela disposição do alvará
de 26 de Maio de 1812 § 5.°, que relativa á demora dos ge~
neros recolhidos e conservados nos armazéns das alfân-
degas, não é comprehensiva dos gêneros de estiva, que
antes do regulamento de 22 de Junho de 1836, quando se
não despachavão immediatamente fora da alfândega, e
sobre água, erão pcstos nos pateos onde não convinha,
nem era permittido conservarem-se por muito tempo, em-
baraçando o expediente, como se deduz do cap. 32 do an-
tigo fora!, por que d'antes se região as alfândegas do Rrasil,
do alvará de 11 de Janeiro de 1751, e decreto de 20 de
Março de 1812, cujas disposições autorisavão os consumos
de taes gêneros, quando sedemoravão por alguns mezes,
"e logo que conviesse despejarem-se os pateos, e que
nestes termos aos reclamantes apenas se poderá dar
attenção pelo que pertence ao prejuízo resultante da
diminuição do peso das suas amarras para lhes ser in-
demnisado por quem fôr responsável.
Portanto julga a secção que a reclamação deve ser des-
attendida, desonerada a fazenda nacional de fazer aos
reclamantes a reparação que pretendem, e avalião na so-
bredita quantia de 6:584/J355, compelindo a estes haver
do thesouro publico nacional o liquido producto das
amarras vendidas no consumo; e íicando-lhes o direito
salvo para haverem do administrador das capatazias
daquelle tempo, ou seus successores, a indemnisaçãa
do prejuízo resultante da falta verificada: e é este o seu
parecer a que Vossa Magestade Imperial se dignará dar
a attenção e apreço que merecer.
Rio de Janeiro, em 18 de Julho de 1846.—José Antô-
nio da Silva Maga.—Manoel Alves Branco.—Francisco-
de Paula Souza e Mello.
— 108 —

RESOLUÇÃO.

Como parece, (*)

Paço, em 1 .* de Agosto de 1846.


Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Antônio Francisco de Panla e Hollanda Cavalcanti.


de Albuquerque.

N. 89.—CONSULTA DE 12 DE AGOSTO DE 184C.

Sobre as leis provinciaes de Pernambuco, promulgadas na sessão ev


traordinaria do anno do 184,6.

Senhor.—A secção dos negócios da fazenda do con-


selho de estado, tendo, em execução de ordem de Vossa
Magestade Imperial, examinado as leis provinciaes da as^
sembléa legislativa de Pernambuco, promulgadas na
sessão extraordinária do corrente anno, não encontrou
nellas a notar disposição alguma, que, por opposta á cons-
tituição do Império ou acto addicional, esteja nas cir-
cumstancias de dever revogar-se pela assembléa geral
legislativa: e assim o faz presente respeitosamente a
Yossa Magestade Imperial.
Rio de Janeiro, 12 de Agosto de ISW.—José Antônio
da Silva Maga.—Francisco de Paula Souza e Mello.—
Manoel Alves Branco.

('< Aviso ao ministério dos estrangeiros, em o l.o de Dezembro de


1SÍ6.
— 10«J —

N. 9 0 . — RESOLUÇÃO DE 14 DE AGOSTO DE 1846.

Sobre apprehensão de ouro feila a diversos, julgada pelo provedor da


casa da moeda.

Senhor.—Por ordem de Vossa Magestade Imperial com


o aviso de 21 de Julho próximo passado forão remet-
tidos á secção do conselho de estado, a que pertencem
os negócios da fazenda, dous processos de apprehensões
de ouro a Antônio José Domingues Pereira e Joaquim
da Cunha Rastos, julgados pelo provedor da casa da
moeda, a fim de que sobre este objecto a mesma secção,
tomando em consideração as duvidas, que tem oceor-
rido sobre a intelligencia da legislação, que regula o
curso e gyro do ouro em pó, e a arrecadação do respec-
tivo imposto, de novo consulte e se fixe a intelligencia
das leis respectivas, removendo-se as difficuldades, que
muito eslorvão a marcha do serviço publico, e a arreca-
dação dos direitos nacionaes; sendo a principal questão
a resolver, se pela legislação existente é livre a qualquer
cidadão trazer o ouro em pó para esta corte, sem ser
acompanhado de guia.
A secção, obedecendo á imperial determinação, nova-
mente meditou sobre a matéria, que já outra vez cuida-
dosamente examinara, e força lhe é declarar respeitosa-
mente a Vossa Magestade Imperial que ella não pôde
deixar de insistir no que, a respeito da legislação em
vigor relativa ao curso e gyro do ouro em pó, e arreca-
dação do respectivo imposto, e a respeito da liberdade
que, em virtude de suas disposições, tem qualquer ci-
dadão de trazer o mesmo ouro para esta corte sem a
fuia, consultou em 28 de Agosto de 1845, teve o oceordo
o conselho de estado pleno, e mereceu a approvação de
Vossa Magestade Imperial na resolução de 4 de Outubro
do mesmo anno. (*)
Não desconhecendo porém a mesma secção a urgente
necessidade de providencias, por que se faça effectiva a
arrecadação do imposto do ouro extrahido das minas
do Império, que, estabelecido por leis em actual e pleno
vigor, é fraudado e quasi annullado pelo escandaloso e
fácil extravio, que tem sido tão notoriamente conhecido,
como impossível de remediar, depois que a immorali-

(4) vide pag. 9 deste volume.


— 110 —
dade dos contribuintes accresceu o relaxamento da fis-
calisação, proveniente em parte das disposições do de-
creto de 27 de Setembro de 1828, e da lei de 24 de Ou-
tubro de 1832, porque as guias se dispensarão, e pro-
hibidas forão as buscas por extravio e contrabando do
ouro, a que não precedessem formalidades jamais reali-
saveis;e procurando descobrir algumas, que'pelo governo
possão ser dadas, dentro dos limites de suas attribuições
conslitucionaes, que nullas serião em verdade, se a tanto
não pudessem chegar, deliberou propor as seguintes,
que, no caso de merecerem a approvação de Vossa Ma-
gestade Imperial, poderão ser reduzidas a decreto.
1.» Restabelecer a necessidade ou obrigação de se ma-
nifestar o ouro nas provincias, em que fôr extrahido,
para ahi se pagar delle o devido imposto, e ser acom-
panhado das respectivas guias, quando tiver de sahir
dessas provincias mineiras.
2." Renovar, e vigorar para esse fim as disposições do
regulamento de 14 de Fevereiro de 1832, pondo-se a
cargo dos colleclores das rendas publicas o que ahi se
incumbia a thesoureiros nomeados pelas câmaras mu-
nicipaes.
3.» Ordenar-se que todo o ouro em pó, que fôr achado
sem guia fora das provincias mineiras, ou seja acciden-
talmente, ou seja por meio das buscas a que se pro-
ceda em conseqüência de denuncias, nos termos do de-
creto de 27 de Setembro de 1828, ou seja por occasião
de quaesquer outras buscas ou diligencias fiscaes, que
se facão, em execução dos regulamentos da alfândega,
consulado, correio ou outra repartição de fazenda, se
apprehenda, e da apprehensão se faça o competente pro-
cesso, para se imporem as penas aos extraviadores pelo
provedor da casa da moeda.
4.* Declarar-se que serão isentos da apprehensão e
das penas de extravio aquelles que, trazendo o ouro em
pó sem a guia, e não lhes sendo este encontrado em
alguma das hypotheses do artigo antecedente, o mani-
festarem na casa da moeda para ser reduzido a barras,
ou a moeda, e pagar os respectivos direitos, na confor-
midade do art. 94 da lei de 24 de Outubro de 1832.
Vossa Magestade Imperial se dignará acolher este pa-
recer da secção de fazenda com a mesma benignidade
que costuma outorgar-lhe.
Rio de Janeiro, em 12 de Agosto de 1846.—José An-
tônio da Silva Maga.—Francisco de Paula Souza e Mello.
—Manoel Alves Branco.
— 111 -

RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 14 de Agosto de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque.

N. 91.—RESOLUÇÃO DE 14 DE AGOSTO DE 1846.

Sobre as leis provinciaes de Santa Catharina do anno de 1846.

Senhor.—A secção dos negócios da fazenda do con-


selho de estado, examinando as leis da assembléa le-
gislativa da província de Santa Catharina, promulgadas
neste corrente anno, teve occasião de fazer as obser-
vações que reverentemente vai fazer presentes a Vossa
Magestade Imperial, notando o em que concordarão, e
divergirão alguns de seus membros.
1. ° No decreto n." 225, aVts. 2. ° e 3. ° observou a secção
que, autorisando-se a administração do hospital de ca-
ridade da cidade do Desterro para vender todos os bens
de raiz do domínio do mesmo hospital, para ser o seu
produclo empregado em apólices da divida publica da
nação, se declarou que essas apólices serão inalienáveis,
bem como as que se comprarem com o outro producto
dos bens vendidos em conseqüência da autorisacão dada
pela lei provincial n.° 206 de 4 de Maio de 1844, e
adverte que melhor seria, se a lei se tivesse mais jurídica
e adequadamente expressado, determinando que as apó-
lices, depois de compradas pela referida administração, se
tornarião intransferíveis; porque assim, satisfazendo-se
a intenção da assembléa provincial, inhibida a admi-
nistração de transferir as apólices a seu arbítrio, ces-
sava a razão de notar-se que a disposição concebida,

{") Decreto n.° 478 de 12 de Outubro de 1846 para a arrecadação


do imposto do ouro,
— Ilá —
como se acha, parece em opposição ao disposto no
art. 57 § 2.° e art. 60 da lei de 15 de Novembro
de 1827, que na amortisação á sorte estabeleceu uma
forçada alienação, a que taes apólices não podem deixar
de ser sujeitas ; ainda que aliás seja inquestionável que
a lei provincial jamais se poderá entender sem a ex-
cepção do caso dos citados artigos da lei geral.
2> Na lei de 15 de Junho de 1836 art. 1." e seguintes
agora publicados com a ordem do presidente de 3 de
Maio deste anno, observou a maioria da secção que
inconstitucionalmente se decretava a alienação de terras
devolutas, ou cabidas em commisso, bens nacionaes,
para serem applicados ao estabelecimento de colonos,
legislando a assembléa provincial sobre um objecto não
comprehendido nos arts. 10 e 11 do acto addicional, e
da privativa competência da assembléa geral legislativa
pelo art. 15 % 15 da constituição; e entende por isso
dev.er essa lei provincial ser revogada pela assembléa
geral legislativa na conformidade do art. 20 do acto
addicional: mas de contrario voto é o conselheiro Ma-
noel Alves Rranco, por julgar que a mesma lei pro-
vincial só faculta a favor dos colonos aquella posse
dos terrenos devolutos, que é permittida pelas leis
geraes.
3.° A respeito da lei n.° 230 discordarão entre si os
três membros da secção, emquanto a legitimidade de
algumas das disposições nella incluídas; porque, se o
conselheiro José Antônio da Silva Maya entendeu que
no art. 3.°^ 20, estabelecendo-se pesados impostos sobre
as lojas, armazéns, tabernas, e t c , se offendem os im-
postos geraes, e não pôde por isso prevalecer tal dis-
posição nos termos dos arts 12e20 de acto addicional;
e se pareceu ao conselheiro Manoel Alves Rranco du-
vidosa a legalidade, e procedência dos §§11, 15,16 e 17
do mesmo artigo da citada lei que estabelecem impostos
sobre differentes gêneros no consumo e exportação;
em contrario julgou o conselheiro Francisco de Paula
Souza que por nenhuma das notadas disposições se of-
fendião os impostos geraes, e que,, a dar-se uma intel-
ligencia demasiadamente restricta ao acto addicional,
nada haverá em matéria de impostos sobre que possão
legislar as assembléas provinciaes.
Coratudo, porém, unanime foi a secção em reconhecer
a necessidade urgente, que ha, de ser declarado pela as-
sembléa geral legislativa, com interpretação do acto ad-
dicional, não só o como e quando o governo poderá
obstar a execução de leis contrarias ás disposições do
dito acto, como Vossa Magestade Imperial já Houve por
— 113 —
bem resolver; mas também o como, o quando e até
que ponto se devem considerar ofTendidos os imposíôs
geraes pelas disposições, que sobre esla matéria de-
cretarem as assembléas provinciaes.
Eis o que a secção tem a honra de oíferecer á con-
sideração de Vossa Magestade Imperial, para resolver o
que houver por bem.
Rio de Janeiro, em 12 de Agosto de 1846.— José An-
tônio da Silva Maga.— Francisco de Paula Souza e
Mello .—Manoel Alves Branco.

RESOLUÇÃO»

Consulte-se o conselho de estado. (*)


Paço, em 44 de Agosto de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de. Albuquerque.

C) Sendo ouvido o conselho de estado, nos termos da resolução,


deu o seguinte parecer.
Senhor.—Foi Vossa Magestade Imperial servido ordenar pela im-
perial resolução de 14 de Agosto deste anno, que se consultasse o
conselho de estado sobre a consulta da secção do mesmo conselho,
a que pertencem os negócios da fazenda, do teor seguinte:

Apresentada com effeito esla consulta ao conselho de estado, que


se reunio sob a augusta presidência de Vossa Magestade Imperial em
ti7 de Agosto, emittindo suas opiniões os conselheiros presentes,
votarão pela primeira parte os visconde de Olinda, Cordeiro, Paula
Souza, Alves Branco, Maya, Lima e Silva e Miranda Hibeiro.
Os conselheiros visconde de Monf Alegre, Almeida Torres e Carneiro
Leão disserão, sobre esta parte da consulta, que deixarião passar sem
alguma observação a lei provincial, de que ahi se trata, não obstante
reconhecerem que seria mais jurídica e adequadamente empregada
a palavra—intransferíveis—em lugar da de—inalienáveis—; porquanto,
sendo claro que a referida lei não pode entender-se sem a excepção
do caso do art. 57 § 2.° e art. 60 da lei de 15 de Novembro de 1827,
vem a ser indifferente, quanto ao resultado, que se empregue uma
ou outra expressão.
O conselheiro Vasconcellos considerou inconstitucional a lei pro-
vincial de Santa Catharina, ainda sendo corrigida, como propõe a
secção; porque assim mesmo entende que é ella manifestamente
«mposta á execução da lei de 15 de Novembro de 1827, dispondo que
sejáo intransferíveis as apólices, quando estas, conforme a lei geral,
são sempre transferiwis; e declarou portanto ser seu voto que esta
li-i provincial deve ser eompetentenieiite revogada.
C. 45
— 114 —

N . 92.—RESOLUÇÃO DE 14 DE AGOSTO DE 1846.

Sobre as leis provinciaes do Ceará do anno de 1843.

Senhor.—A sec<;ão de fazenda do conselho de estado,


depois de ter examinado os actos legislativos da as-
sembléa legislativa provincial do Ceará, promulgados no
anno próximo passado de 1845, dividio-se nas duas opi-
niões, que ora respeitosamente vai levar a augusta pre-
sença de Vossa Magestade Imperial.
A maioria da secção, encontrando no art. 4.° da lei
n.° 355 de 12 de Setembro as disposições do § 5." com
o imposto de 20 °/„ da aguardente fabricada ou im-
portada na província e do § 9." com outro igual im-
posto de 20 °/0 do fumo fabricado , ou importado na
província, entende que nellas excedeu a assembléa pro-
vincial as suas legaes attribuições, em directa opposição
ao art. 12 do acto addicional, que lhe prohibe legislar
sobre impostos de importação ; e que por isso se achão

O conselheiro Miranda Ribeiro observou que as apólices em ver-


dade, segundo a lei geral, são sempre traiisleriveis, mas que o pos-
suidor dellas não é obrigado a transferil-as; transfere-as quando quer,
alias sao sempre suas, emquanto se não «ler o caso de deverem sahir
da circulação por via da sorte, estando ao par do seu valor nominal
o valor que então lhes der o mercado; que essa faculdade de trans-
ferir as apólices, fora desta íiliinia hvpothese, é o que a lei provin-
cial, de que se trata, negou aos administradores dos bens do hospital,
em cujo beneficio quer ella como que vincular as mesmas apólices;
e concirno que este acto não involve a inconslilucionalidade que se
nota.
Tassando-se á 2.a parle, foi approvado o voto da maioria da secção,
menos pe o conselheiro Alves llranco, que se referio ao seu voto
mencionado na consulta.
Pelo que respeita á terceira parte, houve a approvação dos conse-
lheiros Paula Souza, Alves llranco e Maya, conforme os seus v«,tos
«oiisi.tiites «Ia consulta; c os conselheiros viscondes de Olinda e de.
MoniAlegre, Almeida Torres, Cordeiro, Lima e Silva, e Miranda
Kibeiro seguirão esse mesmo voto, em que estão concordes os três
membros da secção.
O conselheiro Carneiro Leão entendeu que a interpretação, que se
pretendi;, do aeto addicional <• iiisufliciente para o caso em questão,
a nao pode evitar os inconvenientes, que resultão do direito de impor
concedido as assembléas provinciaes; <|nc pela letra do acto addicional
e vedado as assembléas provinciaes lançar impostos sobre a impor-
tação: nao lhes e porem vedado lançal-os sobre a exportação, salvo
quando isso oftenda os impostos geraes, quando haja essa offensa,
ue no entender delle conselheiro se reduz a uma questão de facíú
nàJ i',,í e, ?, ve '''í-' ua '- sc ,«',".' '«uitos casos; porque para haver tal offensa
°„ i 1 u e •} assembléa provincial lance impostos sobre objectos,
. m S J d , h ' l l , U t a d o s p e l a í l l ' i s »cr™*, é necessário que dessa
. • ' . '^"'^.PiejiNzo, e diminuição no reiidiinenlo dos impostos
e".n.v. pelo que julgava insullicieiiie qualquer iulerprelaeão, crendo
- 115 -
essas disposições nas circumstancias de serem revogadas,
nos termos do art. 20 do mesmo acto, pela assembléa
geral legislativa ; não adiantando a mais o seu parecer,
porque, além de se achar em sessão a dita assembléa
geral, a quem compete resolver sobre a matéria, sub-
siste a resolução porque Vossa Magestade Imperial houve
por bem submetter ao corpo legislativo a necessidade
de se declarar o como e quando poderá o governo
suspender as disposições das leis provinciaes, que
olfendão a constituição, os impostos geraes, os direitos
do outras provincias e os tralados.
O conselheiro Francisco de Paula Souza, pelo con-
trario, entende que os impostos acima mencionados
são lançados no consumo, e não na importação; e por-
tanto julga não haver nelles violação da constituição, e
por conseguinte necessidade de revogação.
Vossa Magestade Imperial porém se dignará resolver
o que julgar mais acertado.
Uio de Janeiro, em \i de Agosto de 18i5.—José An-
tônio da Silva Maga.—Francisco de Paula Souza e
Mello.—Manoel Alves Branco.

(|«ie conviria a revogação, para que as assembléas provinciaes não


pudessem lançar mão se não de impostos direelos, a lini de licarem
os impostos de exportação e outros a cargo somente da assembléa
geral legislativa, para os diminuir quando convier aos interesses do
nosso commercio c producção, do que nunca podem julgar bem,
nem a taes cousas attender devidamente as assembléas provinciaes.
Do que tudo resultou ser approvada a consulta da secção nas suas
três parles pela maioria do conselho, na forma exposta, a que Vossa
Magestade Imperial se dignará attender para resolver o que for
servido.
Uio de Janeiro, em 10 de Novembro de ISSO.— Francisco Cordeiro
da Silva Torres . — Visconde de Olinda.—José Carlos Pereira de Almeida
Torres. —Caetano Maria Lopci Gama.— Visconde de MonVAkqre. —
ITonorio Ilcrmcto Carneiro Leão.— José Joaquim de Lima r Silva. —
Bernardo Pereira de Vasconcellos.—José Antônio da Silva Maya.
Forão votos os Srs, conselheiros Manoel Alves Rranco, Francisco
de Paula Sju/.a c Mello, e José Cesario de Miranda llibeiro.
Maya •
RESOLUÇÃO.

Leve-se ao conhecimento da assembléa geral (*).


Paço, 'Jl de Novembro de 1840.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula c nollanda Cavalcante dr Albuquerque.
*' Sttbtiefüa a1) eonlieciuicnty da a^emble-i f^nl. Ausa de s «In Maio
d e 1817
— iifi —

RESOLUÇÃO.

Como parece. C)
Taco, em 14 de Agosto de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula c Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 93.—CONSULTA DE 24 DE AGOSTO DE 1816.

Sobre as leis provinciaes do Rio Grande do Norle.

Senhor.—A secção do conselho de estado, a que per-


lencem os negócios da fazenda, tendo examinado os actos
legislativos da província do Rio Grande do Norle, pro-
mulgados no anno próximo passado de 1845, como lhe
foi ordenado em aviso de 14 de Maio do corrente, nada
achou que notar na parte que lhe toca examinar : isto,
pois, tem a honra de expor a Vossa Magestade Impe-
rial que se dignará resolver, como melhor entenderem
sua alta sabedoria.
Rio, 24 de Agosto de 1846.—Francisco de Paula Souza
e Mello.—José Antônio da Silva Maga.—Manoel Alves
Branco.

•> N. 94.—RESOLUÇÃO DE 12 DE SETEMBRO DE 1816.

Sobre o recurso de Francisco Manoel de Carvalho da decisão do mi-


nistério da fazenda acerca do preço da avaliação do páo brasil
de seu contracto com o governo.

Senhor.—Foi presente á secção do conselho de es-


tado dos negócios da fazenda "o recurso, que interpoz

(*) Submettida á consideração da assembléa geral.-Aviso de 28 de


Agosto de 1SÍ0.
- 117 -
Francisco Manoel de Carvalho da decisão do ministro
da fazenda, dada em despacho de 16 de Março do cor-
rente, desalteudendo a pretenção do supplicante, c appro-
vando o procedimento do inspector da thesouraria da
província das Alagoas a tal respeito: a secção passa
a expor sua opinião sobre este recurso.
Parece á secção que o recurso do supplicante não
merece ser altendido,pois que o acto de que se queixa
foi-lhe até mais favorável do que deveria ser.
Tinha sido apprehendida uma porção de pão brasil, que
mandou-se-lhe entregar com o fundamento de que tinha
sido cortado, em virtude de um contracto feito pelo
governo dous annos antes com um terceiro, e avaliou-se
a 4/J800: requerendo elle contra essa avaliação, e
mandando-se-lhe pagar, como se visse que era" o páo
brasil de três qualidades, e nenhuma porção delle da
primeira qualidade, mandou a thesouraria pagar pelo
preço médio das duas ultimas qualidades, preço que
já era maior do que aquelle por que tinha sido a pri-
meira vez avaliado : é disto que elle se queixa, querendo
que se lhe pague a 8#000 ; e, por não ter sido attendido,
interpõe o recurso.
Qual o direito para isso, quando está provado que ne-
nhuma porção desse páo brasil era da primeira quali-
dade ? Esse contracto, a que o supplicante allude, nem
está provado que existisse, nem lhe daria direito se
estivesse provado, pois que não foi com elle, mas com
outrem; e se elle tem com esse um tal contracto, com
esse se haja, e não com a fazenda publica, que nada
com elle contractou, e que se foi com elle muito be-
nigno, pois que, pela leitura reflectida e imparcial de
todos estes papeis, parece que devia ser antes repu-
tada de contrabando essa porção de páo brasil.
Como pois o art. 34 do regimento do conselho de
estado só manda ouvir as partes, no caso de ser atten-
divel a petição de recurso, não parecendo ella tal á
secção, antes digna de rejeição, pois que julga deverem
manter-se as decisões dadas, é sua opinião que, inde-
pendente de ouvir as partes, se rejeite o recurso, sub-
sislindo a decisão contra que foi elle interposto.
E' este o parecer da secção que muito respeitosamente
ella submelte á alta consideração de Vossa Magestade
Imperial.
Rio de Janeiro, 5 de de Setembro de 1846.—Francisco
de Paula Souza e Mello.—José Antônio da Silva Maga.
—Manoel Alves Branco.
lis —
• * '

RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 12 de Setembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula c Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque.

N. 95.-RESOLUÇÃO DE 12 DE SETEMBRO DE 1846.

Sobre a reclamação do visconde de S. Leopoldo á indemnisação


pela perda dos officios de juiz c sellador das alfândegas do Rio
Grande do Sul c Porto-Alegre.

Senhor.—Por aviso do ministério da fazenda de 27 de


Julho deste anno se participou á secção do conselho
de estado, a que pertencem os negócios da fazenda, a
ordem de Vossa Magestade Imperial, em virtude da qual
lhe foi remettido para consultar o requerimento do vis-
conde de S. Leopoldo, reclamando a indemnisação dos
officios de juiz das alfândegas do Rio Grande do Sul,
e# Porto-Alegre, e do de sellador dellas ; e com a remessa
«lesse requerimento igualmente lhe forão enviados oulros
muitos requerimentos relativos a tal reclamação, que
começou c repetio perante o tribunal do thesouro pu-
blico nacional desde Janeiro de 4834.
A secção, tendo examinado attentarnente lodosos papeis
assim remettidos, deduzio delles: 1.° Que a reclamação
do visconde tem sido fundada em títulos legaes "da
mercê que lhe fora feita dos officios de juiz das duas
sobreditas alfândegas, e da annexação a élles do outro
ollicio de sellador, de «pie esleve empacilica posse desde
o armo de 1804 por si e seus propostos coinpetentemenle
admittidos, emquanto o olíicio de sellador não foi abo-
lido pela lei de 6 de Outubro de 1828, e até que por
occasião da redoma , que teve lugar em 1835. sòflreu
a prjvaçao dos ollicius de juiz das referidas alfândegas,
que lhe deu motivo a.. -Ma:- repetidas i n t u í d a s , sobre
— I IO -
que differentes resoluções houve do sobredlto tribu-
nal do thesouro publico nacional, com que nunca se
satisfez o mesmo supplicante, cuja pretenção era apoiada
pelos votos concordes dos membros daquelle tribunal,
que a julgavão favorecida pelas disposições do addi-
tamento de 23 de Agosto do regulamento das alfândegas
de 25 de Abril de 1832, emquanto a esses officios de
juiz, de que a propriedade ou serventia vitalícia lhe
tinha sido conferida e mantida conjunctamente por di-
plomas , resoluções e despachos atlendiveis e conclu-
dentes, que produzio, e se achão juntos. 2." Que de-
pois de varias occurrencias fora o reclamante provido
na serventia do lugar de inspector da alfândega de Porto-
Alegre pelo decreto de 12 de Novembro de 1836; pouco
tempo passado, obtivera a aposentadoria nesse mesmo
lugar com o seu ordenado por inteiro de oitocentos mil
réis pelo outro decreto de 13 de Julho de 1838, na con-
formidade do art. 31 do regulamento de 22 de Junho
de 1836 com attenção a todo o seu serviço anterior; e,
por despacho do presidente do thesouro de 22 de Maio
de 1839, se lhe declarara achar-se indemnisado de todas
as suas reclamações com a aposentadoria concedida
pelo mencionado" decreto de 13 de Julho. 3." Que o
officio de sellador das alfândegas da província do Rio
Grande do Suh que uma provisão de 8 de Janeiro de
1812 conservou annexo ao de juiz, não foi pe!o suppli-
cante obtido em remuneração dé serviços, para estar com-
prehendido na favorável disposição do art. 4.° da lei de
6 de Outubro de 1828.
Nestes lermos a secção, que, não podendo jamais con-
siderar o visconde de S. Leopoldo com direito a haver
qualquer indemnisação pelo officio de sellador das men-
cionadas alfândegas, por lhe não ser applicavel a res-
tricta condicional disposição da citada lei de 6 de Ou-
tubro de 1828, se inclinaria a que attendida fosse a sua
reclamação para ser indemnisado do officio de juiz da
alfândega do Rio Grande do Sul, na conformidade do
referido additamenlo de 23 de Agosto de 1832, emquanto
o reclamante se conservasse nas circumstancias em que
se achava em 22 de Maio de 1839, data do despacho
acima referido, que deu por satisfeitas todas as suas
reclamações; ora se sente plenamente convencida de
que nenhum direito e acção pôde ter para persistir na
sua pretenção de ser indemnisado da privação daquelle
officio de juiz da alfândega do Rio Grande, quando,
depois de bastantemenle premiado com muitas mercês
honoríficas, e a nomeação de senador, lhe foi conferido
pelo decreto de 30 de Setembro de 1843 o ordenado de
— 120 —
um conto e oitocentos mil réis, que percebem os membros
do extincto conselho da fazenda, o qual por certo só
lhe foi dado em attenção aos seus serviços em empregos
«le fazenda pelo tempo de mais de vinte cinco annos,
e é manifestamente superior á indemnisação que se lhe
houvesse de conceder nos termos do additamento.
Portanto é a secção de parecer que impertinente, e
menos digna da imperial attenção e deferimento, é a
pretenção do reclamante visconde de S. Leopoldo; s»
Vossa Magestade Imperial na sua alta sabedoria não julgar
o contrario.
Rio de Janeiro, em 5 de Setembro de 1846.—José An-
tônio da Silva Maga.—Manoel Alves Branco.—Francisco
de Paula Sou:-a e Mello.

RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 12 de Setembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque.

N. 96.-RESOLUÇÃO DE 12 DE SETEMBRO DE 1816.

Sobre a pretenção da praça do commercio do Rio Grande do Sul á


concessão de um prédio, próprio nacional, na cidade do Rio Grande.

Senhor, —Ordenou Vossa Magestade Imperial, em aviso


de 6 de Agoslo do corrente, que a secção do conselho de
estado, a que pertencem os negócios da fazenda, consul-
tasse sobre a representação da commissão da praça do
commercio da cidade do Rio Grande do Sul, em que pede
a cessão do prédio nacional, em que faz ella as suas
sessões; ao que a secção obedece, dando o seu parecer.
Entende a secção.que não se podem alienar bens na-
cionaes sem autorisacão do poder legislativo, e não ha-
vendo esta, que não pôde ler lugar a cessão requerida:
— 121 —
nem pôde a secção julgar, se é ou não útil essa cessão,
para lembrar ao governo de Vossa Magestade Imperial o
alcançar do poder legislativo essa autorisacão, pois que
não tem elle as necessárias informações, muito mais
vendo que alguns negociantes daquella dita cidade offe-
recem já quatro contos de réis mais do que o preço,
por quê foi aquelle prédio avaliado: é portanto opinião da
secção, que se peção ao presidente daquella província
informações miúdas e circumstanciadas sobre este ob>-
jecto, para, á vista dellas, decidir o governo de Vossa Ma-
gestade Imperial se convém essa alienação, e nesse caso
tratar da necessária autorisacão.
E' este o parecer da secção, que ella submette multo
respeitosamente á alta consideração de Vossa Magestade
Imperial, que se dignará recebel-o com sua costumada
benignidade.
Rio de Janeiro, em 5 de Setembro de 1846.—Francisco
de Paula Souza e Mello.—José Antônio da Silva Maga.
—Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Como parece. ( ' )


Paço, em 12 de Setembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque.

N. 97.—RESOLUÇÃO DE 42 DE SETEMBRO DE 1846.

Sobre o recurso de Joaquim M3ria Serra acerca da suspensão que


soffrêra por effeito de pronuncia em crime de responsabilidade.

Senhor.—Ordenou Vossa Magestade Imperial, em aviso


de 20 de Agosto do corrente, que a secção do conselho

(*) Officiou-se ao presidente da província do Rio Grande do Sul,, pe-


dindo-sças informações, nos termos da consulta.—Aviso de 21 de Se-
tembro de 1846.
C * 16
— 122 —
de estado, a que pertencem os negócios da fazenda, con-
sultasse sobre o requerimento de Joaquim Maria Serra,
em que se queixa da suspensão que soffrêra, como the-
soureiro da alfândega da província do Maranhão, por
effeito de pronuncia em crime de responsabilidade: a
secção passa a cumprir esta ordem expondo a sua opi-
nião a respeito.
Tendo sido o supplicante pronunciado pela relação do
Maranhão por actos praticados, como juiz de direito
interino, e sendo um dos effeitos da pronuncia (á vista
do § 3.° do art. 465 do código do processo criminal), a
suspensão do exercício de todas as funcções publicas,
parece á secção, que nada tem o governo de Vossa Ma-
gestade Imperial a providenciar a respeito, por isso que
não lhe compete decidir sobre aquelle acto do poder ju-
diciário.
E' este o parecer da-secção. Digne-se Vossa Magestade
Imperial acolhel-o com a sua costumada benignidade.
Rio de Janeiro^ em 5 de Setembro de 1846.—Francisco
de Paida Souza e Mello.—José Antônio da Silva Maga.—
Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 12 de Setembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 98.—RESOLUÇÃO DE 19 DE SETEMBRO DE 1846.

Sobre a pretenção de José Antônio Lopes Ferreira & Comp. para que
cesse o conílicto de jurisdicção, em uma questão de aforamento
de marinhas.

Senhor.—A secção dos negócios da fazenda do con-


selho de estado, a que, por ordem de Vossa Magestade
Imperial, foi remettido o requerimento documentado de
— 123 —

José Antônio Lopes Ferreira & Comp., vio que por elle
requerem os supplicantes uma resolução que termine,
como fôr justo, o conílicto de jurisdicção que suppõem
formado no caso que expõem, e é o seguinte.
Allegão os supplicantes que, tendo requerido por afora-
mento uma porção de terrenos de marinhas, era Macahé,
contíguos a um seu estabelecimento, aconteceu serem
esses mesmos terrenos concedidos a Bento Gonsalves da
Silva Júnior a despeito de algumas determinações do
thesouro publico nacional e ministério dos negócios da
fazenda, que os protegem, e lhes assegurão a preferencia,
e com que se conformarão os pareceres do respectivo
fiscal; que recorrendo elles supplicantes para o tribunal
do thesouro, este os remetleu para as vias ordinárias ju-
diciaes ; querendo então propor sua acção ao supplicado
ara exhibir a carta de aforamento, que pretenaião em-
E argar de ob e subrepção pelo juize dos feitos da fazenda
da província do Rio de Janeiro, não forão ahi admiltidos, a
pretexto de incompetência; e dirigindo-se novamente ao
tribunal do thesouro, também por elle forão repellidos pelo
mesmo motivo de incompetência, dando-se assim o con-
ílicto de jurisdicção, de se julgar incompetente, tanto a
autoridade judiciaria, como a administrativa.
A secção, que, tendo confrontado esta allegação, com
os documentos a,ella annexos, se conforma com os suppli-
cantes emquanto ao facto, não se accorda da mesma
fôrma emquanto ao direito, entendeu que, não se verifi-
cando no caso relatado o supposto conílicto negativo de
jurisdicção, formado pelos despachos das duas sobredi-
tas autoridades administrativa e judiciaria, não era
altendivel o requerimento para, era virtude delle se for-
mar e progredir o processo, e assim o declarou, de con-
formidade com os arts. 33 e 34 do regulamento de 5 de
Fevereiro de 1842.
Porque, como o titulo de aforamento, que os suppli-
cantes julgão offénsivo de seu direito, fòi mandado passar
pelo presidente da província do Rio de Janeiro, é por
isso este mesmo presidente a autoridade, a que única e
legalmente compete admittir os embargos cie obe su-
brepção oppostos ao effeito e cumprimento de um acto •
seu, pelo que tem disposto o art. 4.° da lei de 4 de De-
zembro de 1830, e portaria de 4 de Julho de 4844: e como,
por ser notória e indubitavel a incompetência dessas
duas autoridades, judiciaria (o juizo dos feitos da fa-
zenda) e administrativa (o thesouro publico nacional),
perante as quaes pretenderão' os supplicantes oppér e dis-
putar a matéria de ob e subrepção por meio dos embar-
gos, preterida aquella, o presidente da província, a quem:
— 124 —
por direito é incumbido o conhecimento da questão, é
manifesto que se não pôde dizer formado o conílicto de
jurisdicção pelo facto de se haverem ambas as ditas au-
toridades declarado incompetentes, segue-se que infun-
dadamente se queixão da denegação da justiça os suppli-
cantes, que ainda não recorrerão á autoridade legalmente
competente.
E, sendo este o parecer da mesma secção, respeitosa-
mente o apresenta a Vossa Magestade Imperial, para »e
dignar resolver o que fôr servido.
Rio de Janeiro, 17 de Setembro de 1846. — José An-
tônio da Silva Maga.—Francisco de Paula Souza e
Mello. — Manoel Alves Branco.
11ESOLUÇÂO.

Como parece.
Paço, 19 de Setembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

H. 99.-RESOLUÇÃO DE 23 DE SETEMBRO DE 1846..

Sobre as tarifas das alfândegas dos Estados Unidos e do reino das


Duas Sicilias.

Senhor.— Mandou Vossa Magestade Imperial por aviso


de 21 de Agosto ultimo, expedido pela secretaria de es-.
tado dos negócios da fazenda, remetter á secção de
fazenda do conselho de estado os avisos da repartição
dos negócios estrangeiros de 22 de Junho e 43 de Julho
antecedentes, o primeiro communicando ao thesouro o
parecer da commissão de fazenda da câmara dos repre-.
sentantes dos Estados-Unidos da America, constante do
impresso que acompanhou o officio n.° 7 de 19 de Abril
deste anno, do ministro do Brasil em Washington, sobre
<i projecto da nova lei da pauta das alfândegas; e o se-
gundo acompanhando um exemplar impresso do decreto
— 12S —
de 9 de Março deste anno, pelo qual Sua Mageátade el-rei
das Duas Secilias alterou alguns artigos da tarifa de suas
alfândegas; a fim de que a mesma secção, examinando as
bases diversas, que adoptárão aquellas peças ofíiciaes
para a imposição de direitos de importação é exportação,
declare se algumas das disposições nellas contidas deve
ser tomada em consideração, ou para ser adoptada nas
alfândegas do Império, ou para servir de base a qualquer
deliberação a bem dos interesses nacionaes; e outrosim
se alguma providencia convém adoptar com referencia
ás projectadas alterações dos direitos de importação dos
nossos productos nos Estados Unidos, e notadamente aos
40 % que o bill proposto autorisa o presidente a impor
sobre o café, no caso de deficiência de receita.
A secção, pelo que respeita á base tomada para o des-
pacho das mercadorias estrangeiras pela tarifa de Ná-
poles, não a considera digna de imitar-se, tanto porque
o valor das mercadorias jamais seguem a razão do peso,
como porque as vantagens, que alguns querem descobrir
em semelhante modo de. despacho, lhe parecem todas
illusorias.
O systema adoptado em a nossa tarifa é o melhor, e
tem o seu modelo nas primeiras nações commerciaes do
mundo; a Áustria, a Prússia, Nápoles, etc, não estão no
caso de França, Inglaterra e Estados-rUnidos, pelo que
respeita á política mercantil
Pelo que respeita á base adoptada pelos Estados-Uni-
dos, isto é, despachos ad valorem, é a que foi também
adoptada em nossa tarifa, com a única differença de
não fazer-se a avaliação segundo os tempos e as cir-
cumstancias, em que se apresenta cada mercadoria, mas
por um termo médio fixo por algum tempo, modificação,
ue.parece indispensável por ora, attento-o nosso estado
3 e moralidade, segundo se manifesta todos os dias nos
leilões que se fazem ás portas de nossas alfândegas, etc.
A pauta dos Estados-Unidos não nos obriga a provi-
dencia alguma, ainda no caso de realizar-se o direito
sobre o nosso café, pois que entre nós as mercadorias
dos Estados-Unidos pagão direitos; a secção acha, porém,
digna de tomar-se em muita consideração, para imitar-se
na parte, em que manda pagar 75 7<,a aguardente e outros
espíritos, o que muito a lisongeia, pois foi opinião, na
organisação da nossa pauta, elevar os direitos dessa es-
pécie de mercadoria á mais alta tarifa, a que estava
aulorisado o governo, o que não realisou-se por ser idéa
muito combatida pelos práticos das alfândegas.
O conselheiro de estado Paula Souza addicionou que
seria útil, em qualquer alteração da nossa tarifa, favo-
— 126 —
recer alguns dos principaes productos norte-americanos,
não com direitos differenciaes, mas alliviando-os.
E' este o parecer da secção a que Vossa Magestade
Imperial se dignará attender como houver por bem.
Rio de Janeiro, em 5 de Setembro de 4846.— José
Antônio da Silva Maya. — Manoel Alves Branco.—
Francisco de Paula Souza e Mello.

RESOLUÇÃO.

Ouça-se o conselho de estado. (*)


Paço, em 23 de Setembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade. o Imperador.

Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti


de Albuquerque.

N. 100.—CONSULTA DE 4 DE NOVEMBRO DE 4846.

Sobre o regulamento de 11 de Fevereiro de 1846, expedido pelo presi-


dente da província do Maranhão, para a percepção de impostos pro-
vinciaes.

Senhor.—A secção dos negócios da fazenda do con-


selho de estado, em obediência á ordem de Vossa Mages-
tade Imperial, que lhe foi transmittida em aviso do
ministério da fazenda, examinou o regulamento orga-
nisado pelo presidente da província do Maranhão em
data de onze de Fevereiro deste anno para a percepção
dos impostos provinciaes, e só encontrou nelle objecto
digno de reparo o determinar-se no capitulo doze a
maneira de cobrar um imposto de cinco por cento de

i*) Não foi presente ao conselho de estado, como determinou a


imperial resolução. Reporto-me ás actas das sessões do conselho de
estado reunido.
Remettida á commissão encarregada de rever a tarifa das alfân-
degas, mandada executar por decreto de 12 de Agosto de 1844.
—Portaria de 18 de Junho de 1830.
— 127 —
todo o fumo em rama, ou manufacturado de qualquer
maneira, que fôr importado na capital, comprehendido
o que vier de paizes estrangeiros; regulando-se a
cobrança de um imposto que, sendo manifestamente
de importação, não pôde subsistir decretado pela assem-
bléa legislativa provincial, contra a expressa prohibição
do artigo doze do acto addicional.
Coma porém adverte a secção que esta parte do regula-
mento foi ordenada para execução da lef provincial
n.8 497, art. 4.° § 12, que, bem ou mal expedida e pro-
mulgada, se acha em actual vigor, entende por isso
que nada ha a deliberar a respeito deste regulamento,
cuja sorte deve ser "dependente do que se resolver
sobre o acto legislativo, que estabeleceu o imposto.
Vossa Magestade Imperial resolverá o que fôr ser-
vido.
Rio de Janeiro, em 4 do Novembro de 4846.—José
Antônio da Silva Maya.— Visconde de Monf Alegre.— Vis-
conde de Olinda.

N. 101.-RESOLUÇÃO DE 7 DE NOVEMBRO DE 4846.

Sobre a conveniência de se diminuírem os direitos de importação em


alguns gêneros de producção dos Estados-Unidos.

Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem


mandar remetter á secção, dos negócios da fazenda do
conselho de estado, em aviso da secretaria de estado
dos negócios da fazenda de 2 de Setembro deste anno,
para consultar, a informação do inspector interino da
alfândega desta corte sobre o officio da legação impe-
rial em Washington de 18 de Fevereiro do corrente anno,
acerca da conveniência de se diminuirem os direitos de
importação em alguns gêneros dos Estados-Unidos.
A secção, por cumprimento desta imperial determinação,
leu o officio do ministério do Brasil, em que expõe que
lhe parecerão plausíveis as razões allegadas por Mr. Wise,
para induzir o governo imperial a fazer uma reducçâo
razoável nos direitos estabelecidos sobre alguns pro-
ductos dos Estados-Unidos, que são importados para
consumo do Brasil ( excepto o fumo ), porquanto um
dos principaes artigos de exportação do Brasil, o café,
— 128 -
é admittido para consumo nos Estados-Unidos livre de
direitos de entrada; os couros brutos pagão o módico
direito de 5 °/„ ad valorem ; e, se fôr adoptado o projecto
de nova tarifa que fora apresentado á câmara dos repre-
sentantes pelo secretario da fazenda, os direitos sobre
o assucar serão reduzidos de 60 a 30 7„ ad valorem:
certificando porém que o favor, com que é tratado o café,
não é devido á attenção especial que o governo federal
presta ao commercio com o Brasil, existindo sim outras
razões de conveniência própria a estabelecer esta pro-
tecção, que aliás muito têm concorrido para augmentar
consideravelmente o consumo deste gênero nos Estados-
Unidos, e por conseqüência a sua exportação do Brasil.
Confrontou o contexto deste officio, que já por si pouco
concluía em favor da indicada reducçâo de direitos, com
o que informou o interino inspector de alfândega com
perfeito conhecimento de causa, ponderando que poucos
são em qualidade os artigos de producção dos Estados-
Unidos importados no Brasil, posto que valiosos pela
quantidade, por ser este paiz o terceiro na ordem dos
que importão em maior escala; sendo os principaes ar-
tigos a farinha de trigo, os algodões, o pinho, o pixe,
o alcatrão, o breu, as velas de espermacete e de cornt-
posição, o fumo, drogas, carnes em salmouras, cadeiras;
alguns outros gêneros menos importantes, como sabão,
ferragens, salitre, bacalhau, banha, unto, manteiga, quin-
quilharia, gelo; e também alguns productos da Asiae
outros paizes, como chá, cera, especiarias, e t c : que
destes productos são taxados com os direitos de 25 °/t a
farinha de trigo, a carne em salmoura, o salitre, o alcatrão,
e o bacalháo, e os demais, com excepção do fumo que paga
60 7., e das cadeiras que pagão 40 7„, são taxados com os
direitos geraes de 30 7„, com advertência de que sobre o
principal artigo da importação no Brasil, a farinha de
trigo, os direitos de 25 7„ são nominaes reduzidos ver-
dadeiramente a 20 7„, comparado o preço do mercado
com aquelle sobre que assentão na tarifa os ditos di-
reitos de 25 7„, accrescendo além disto que, não havendo
concurrente que possa competir, e menos excluir do
mercado brasileiro este producto, manifesta é a vantagem
dos Estados-Unidos, na certeza de não soffrer quebra
nos preços, e de se lhe não diminuir a importação
e consumo deste gênero de primeira necessidade: que
os algodões admittirião alguma reducçâo, em attenção
a ser artigo de grande consumo entre as classes pobres,
cujos encargos conviria minorar, se esta medida não
estabelecesse os direitos differenciaes, e não desviasse o
governo brasileiro da marcha neutra e imparcial que
— 129 —
seguio na imposição dos direitos da nova tarifa: que
razão não ha para se reduzirem os direitos ao pinho,
em um paiz como o nosso, que abunda em madeira^
dtí construcção, e as velas de composição que forão
tributadas em 40 7, na intenção de proteger esla indus-
tria no paiz; podendo havel-a a respeito dos outros
gêneros, quando se tratar em geral de uma revisão da
actual tarifa.
E, meditando a secção allenlamenle sobre a matéria,
firmou-se na opinião "definitiva de que por agora não
convém fazer reducçâo alguma nos direitos de impor-
tação em qualquer dos gêneros dos Estados-Unidos ;
não porque conteste o quanto nos são vantajosas as re-
lações com esta nação, queé a terceira na ordem das
que importão no Brasil em maior escala, c uma por
conseguinte que muito anima e sustenta em grande a
exportação de seus productos; mas porque na realidade
ate o presente não nos tem os Estados-Unidos feito favor
algum propriamente dito, quando aliás nós muito temos
feito em attenção a elles, favorei^endo constantemente
seus gêneros e mercadorias, que antes da nova tarifa
nada mais pagavão que 15 7o. e conservando a farinha
de trigo, principal gênero da America do Norle impor-
tado entre nós, com o leve imposto de 20 70> como bem
mostra o Inspector da Alfândega, ainda Uepois dessa
nova tarifa.
A isenção de direitos , de que tem gozado o nosso
café na America, e que á primeira vista pareceria favor,
deixa de ser considerada tal, quando se attende, como
advertio o nosso ministro ein Washington, a que essa
isenção ou favor não é devido a alguma attenção es-
pecial do governo federal para com o commercio bra-
sileiro, e sim a outras razões de própria conveniência,
e de seu exclusivo interesse; e tanto assim que bem se
tem os americanos indemnisado no nosso assucar que
tem pago e talvez ainda pague 60 7o. emquanto os
seus gêneros só pagavão entre nós os direitos de 15°/0.
Nenhumas esperanças restarião á lavoura e á indus-
tria do nosso paiz, se alliviados fossem dos direitos, que
pagão, os algodões americanos, que podemos produzir
breve e facilmente; o tabaco, charutos e outros arle-
factos desta planta, que já produzimos em abundância e
progressiva perfeição; e bem assim outros gêneros na-
turaes e industriaes, que se podem promover e fazer
.prosperar; e, não devendo o governo aniquilar capitães
empregados, e trabalho produetivo creado, para fazer
favores gratuitos a qualquer nação, que a ella só aprovei-
tarião, sem interesse, e até com grave prejuízo do Brasil,
c. 17
- 130 - *!.
m
razão se não dá para que excepcionalmente proceda a
respeito dos Estados-Unidos, favorecendo, com a reducçâo
de direitos, a importação dos seus. gêneros no Império,
em que se não tem adoplado, nem convirá adoptar em
regra, o systema de direitos differenciáes; reservando-se,
para a occasião de passar em revista a ultima tarifa em
generalidade, o fazer-se aquellas alterações, que se jul-
garem convenientes, de accordo com os interesses do
commercio e da fazenda, sobre os gêneros e mercadorias
de qualquer procedência.
E' este o parecer que a secção tem a honra de apre-
sentar a Vossa Magestade Imperial, que se dignará re-
solver o que julgar, na sua alia sabedoria, por mais
conveniente.
Rio de Janeiro, em 4 de Novembro de 1816.— .Jos<1
Antônio da Silva Maga.— Visconde de Monf Alegre.—
Visconde de Olinda.

IvCSOLUÇÃO.

Como parece. (')


Paço, em 7 de Novembro de 184G.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 102.—CONSULTA DE 11 DE NOVEMBRO DE 184G.

Sobre as leis provinciaes das Alagoas do anno de 1846.

Senhor.—A secção do conselho de estado dos negó-


cios da fazenda tendo, em cumprimento de ordem de
Vossa Magestade Imperial, examinado as leis da as-
sembléa legislativa da província das Alagoas promul-
gadas no corrente anno, não encontrou nellas disposição

(*) Remetlida á commissão encarregada de rever a tarifa das al-


fândegas de 1844.—Portaria de 18 de Junho de 1830.
- 131 -
alguma, que, por inconstitucional ou exorbitante das
altribuiçpiís da dita assembléa, se lhe fizesse digna de re-
paro: e e isto o que tem a honra de fazer presente a
vossa Magestade Iinporial que resolverá o que fôr ser-
vido.
Rio de Janeiro, em II de Novembro de 1846. — José
Antônio da Silva Maya.— Visconde de Olinda.— Vis-
conde de Monf Alegre.

N. 103. —RESOLUÇÃO DE 14 DE NOVEMBRO DE 1846.

Sobre a execução da lei n.» 401 de 11 de Setembro deste anno, art. l.o,
que determina o- valor das moedas de ouro e de prata.

Senhor. — A secção do conselho de estado dos negócios


da fazenda, em cumprimento das ordens de Vossa Mages-
tade Imperial, tem a honra de apresentar seu parecer
acerca da execução da lei n.° 401 de 11 de Setembro deste
anno, quanto ao seu primeiro artigo.
Dous são os objectos que a secção tem de considerar:
í." estabelecer a relação entre o ouro e a prata; 2.°
determinar quaes as moedas estrangeiras que convirá
admitlir na circulação.
Quanto ao primeiro ponto, cumpre advertir que a lei,
alterando o systema monetário, deixou subsistir muitas
das disposições que região esta matéria. Duas moedas
corriáo simultaneamente no mercado, uma de ouro e
outra de praia; e duas continuão ainda a ser as que
exercem as mesmas funcções. A lei não revogou a antiga
legislação senão quanto aos valores legaes dos metaes,,
fixando logo o de um delles, e autorisando ao governo
para determinar o do outro. Deve, portanto, ser estabe-
lecida a relação dos dous metaes debaixo da consideração
de que ambos exercem os officios de moeda-
A relação legal dos metaes, quando admittidos como
moedas, cumpre que seja a expressão de seus valores
reacs. Se um só delles está encarregado de desempenhar
as funcções de moeda, desnecessário é dar valor ao outro:
authenticado pelo cunho o seu peso e titulo, elle será'
recebido pela estimação que lhe der o mercado.
Quando, porém, ambos estão revestidos desse caracter,
é evidente a necessidade de se conhecer a relação em

.^
- ma -
que estão entre si; mas nesta avaliação é mister attender
a uma circumstancia. Ou os metaes estão igualmente aulo-
risados a entrar nos pagamentos, perfazendo-os em sua
integridade, ou um delles só goza daquella prerogaliva
até uma certa quantia. Neste segundo caso a boa lé dos
contractos ea certeza dos valores, que deve acompanhar
as transacções, não exigem tão escrupulosa exactidão na
relação entre elles. Então a qualidade de moeda quasi
que desapparece pela limitada circulação que se lhe
deixa, servindo unicamente para os pequenos paga-
mentos, ou para completar as fracções nos grandes.
Pôde abonar esta asserção o que se passa em Inglaterra,
aonde a grande desproporção dos valores legaes do
ouro e da prata nenhum transtorno causa nas, conven-
ções particulares.
Não acontece, porém, o mesmo no primeiro caso. A
concurrencia simultânea de dous metaes, para todos os
seus effeitos, torna necessário o maior vigor na fixação
de seus valores respectivos. O arbítrio da escolha da
moeda não deve apadrinhar fraudes na satisfação das
obrigações contrahidas. Isto não quer dizer que a exacti-
dão da relação legal dos valores possa sempre manter
os dous metaes em perfeito equilíbrio. As necessidades
do mercado são muitas vezes superiores ás prescripções
da lei. Mas uma vez que se estabeleça a verdadeira ex-
pressão legal dos valores, isto é, uma vez que esla corres-
ponda exaclamente á relação, geral que os metaes tem
entre si, quaesquer variações, que possão sobrcvir, nem
serão de grande importância, e nem delonga duração;
menos no caso de se alterar a proporção real dos metaes
pela abundância de um, ou pela escassez de outro, hy-
pothese esta que só se pôde verificar no deeurso de longo
período. Correndo, portanto, o ouro e a prata como moe-
das para todos os pagamentos, e sendo este o caso em
qüe nos achamos, releva procurar com a maior exactidão,
que fôr possível, a relação que melhor represente os va-
lores que esses dous metaes tem no^ínercado.
Ponderada a matéria debaixo deste principio, con-
venceu-se a secção de que a relação de 1:15 s/g é a que
melhor preenche o objecto indicado: e para isso foi le-
vada pelas seguintes razões.
1 .• Esta é a relação legal adoptada em alguns paizes
que commercião com o Brasil; e, quanto a outros, é a
que mais seapproxima da que nelles se acha estabele-
cido. Ligado o Brasil em transacções mercantis com
outros Estados, não pôde deixar de seguir as leis geraes
que regulão essas transacções em todos elles. Este
argumento por si só sustenta a opinião da secção. lí
- 133
ella o corrobora ainda com a demonstração que se
segue
2.» Esta relação é a que mais se conforma com o valor,
por que já é recebida a praia em algumas provincias do
Império. Ella dá ao patacão, o qual tem o peso de 7 */2
oitavas, o valor de 1#920, que pouco discrepa daquelle,
que é de 2#000. Maior será a differença, se se calcular
na razão de 1:16, que então será seu valor de 1#875. A
relação de 1:15 1/2 é verdade que se approxima mais do
valor de 2$000, que nessa razão vem a valer 1#935. Mas
tem contra si o apartar-se dos valores das outras praças,
e a isto é que é muito necessário attender nesta matéria,
não podendo o Brasil segregar-se da communhãocom-
mercial dos outros povos. Além disso tem o inconvenien-
te de ser de difficil uso no trafico da vida, e de se não
prestar a divisões perfeitas. Para se lhe dar o valorde
2#000 fora necessário estabelecer a relação de 1:15. Mas
a secção não hesitou em regeilar esta proporção, que,
dando á prata um tão alto valor nominal, e tornando
por isso extremamente fraca a moeda, tenderia a fazer
desapparecer o ouro, edesie modo a obstará introducção
e circulação dos metaes preciosos, que a lei chama pára
dar alguma estabilidade ao papel.
A secção julga não dever deixar em silencio um facto,
que apresenta a historia monetária, o qual parece contra-
riar este principio, mas que em seu resultado final veio a
confirmal-o. A relação estabelecida em Portugal entre
o ouro e a prata amoedados era até 1822, segundo as
ordens transmittidas á casa da moeda, de 1:13 ij-2 ; o que
deveria expellir da circulação o primeiro daquelles me-
taes, e fazer que se regulassem as transacções sobre o
segundo. Entretanto até 1807 era o ouro a moeda, por
que se regulavão os preços no mercado, contra o que
se deveria esperar de semelhante proporção. Causas par-
ticulares porem produzirão aquelle effeito. Sendo obri-
gados muitas vezes os portuguezes a satisfazer em metal
o saldo de suas contas, nao sendo sempre bastantes
para isso os valiosos productos do Brasil, de que tinhão
o commercio exclusivo, não querião os credores, que em
grande parte erão estrangeiros, receber em pagamento
se não a moeda de ouro. Por outro lado não era essa
exigência pesada aos devedores, que, com o ouro que re-
cebião de nossas minas, podiào com toda a facilidade
satisfazer seus empenhos naquella moeda. Deste modo
veio a moeda de ouro a ser o regulador do cambio, o
qual se conservou ao par até aquella época, e até chegou
depois a subir consideravelmemte por causas ainda mais
particulares, que não vêm para aqui averiguar. Logo
- I3i -
porém que, abertos os portos do Brasil, forão levados
seus productos directamente para outros paizes, seguindo
também esta nova direcção a remessa do ouro, e diminuio
por isso sua maior importação naquelle reino, e logo
que cessarão as causas extraordinárias provenientes da
guerra; foi necessário então lançar mão da prata, e dahi
resultou baixar o cambio, e alierar-seo valor do ouro
em proporção.
E de tal modo occupou a prata o campo da circu-
lação, que cunhando-se desde aquelle anno de 1807 até
o de 1821 cincoenta e dous milhões, destes só dez forão
de ouro; e no ultimo destes annos, rendendo a casa
da moeda 40:000,^000, não se cunhou uma só moeda
deste metal. O mesmo viria a realisar-se enlre nós, se
adoptassemos a relação de 1:Io.
E cumpre notar que nesta hypothese teríamos na cir-
culação duas moedas, uma de papel, e outra de prata,
ambas fracas ; o que havia de embaraçar por si só que
o cambio tomasse alguma estabilidade, ficando as cousas
no estado em que se achão.
3. a5 Além destas razões, que sustentão a relação de
1:15 / 8 , tem ella a vantagem de facilitar em extremo o>
uso de moeda pelo habito, em que eslá o povo, de contar
por patacas, sendo 13920 o valor que corresponde ao
patacão; e tem de mais a conveniência de admiltir di-
visões completas de quatro e de duas patacas para as
moedas até aqui chamadas de duas e de uma.
4.a Quando se houvesse de adoptar uma relação, cujo
resultado fosse expulsar da circulação um dos metaes,.
nunca se deveria dar preferencia áquella, cuja influencia
viesse a recahir sobre o de lavra nacional.
Por todas estas razões, entende a secção que deve ser
.adoptada a relação de 1:15 V s , ou antes que deve ser
conservada a existente, que é a mesma que ella propõe.
Fixada a relação entre o ouro e a prata, resta deter-
minar quaes as moedas estrangeiras, que convirá admiltir
na circulação. Mandando a lei que as moedas de ouro
de 22 quilates sejão recebidas na razão de 4#000 a oitava,
e não restringindo a circulação ás nacionaes, é claro
que faculta o curso legal ás estrangeiras. Sendo o seu
fim dispor os meios que tendão a fazer cessar a incons-
tância do cambio em sua maior escala, e habilitando para
isso a moeda metallica a entrar nos pagamentos por um
yalor, que lhe deu, proporcionado ao do mercado, seria
imprevidente, se limitasse a circulação ás nacionaes,
que, sendo em pequena quantidade, não satisfarião ao
intento a que se ella propoz. Não tendo nós senão muito
pouca moeda metallica, que offcrecer nos pagamentos*
— 138 -
ou ella não exercerá uma verdadeira influencia nos preços,
continuando estes a ser regulados como até aqui sobre
o papel, e então nenhum melhoramento tiraríamos da
medida ; ou então virá a servir de instrumento nas mãos
dos especuladores para alterarem os preços segundo
as conveniências que acharem. A falta, portanto, de
moedas nacionaes, no estado actual das cousas, é uma
necessidade a que muito sabiamente altendeu a lei para
a amplitude que deixou.
Na admissão porém das moedas estrangeiras não
convém, nem ampliar o curso a muitas, o que traria
grande confusão no mercado, complicaria a escriptu-
ração, e daria occasião a muitas fraudes, já pela igno-
rância, em que está o povo, a respeito da. maior parte
«lellas, e já pelo valor differente por que correm no mer-
cado, ainda as que tem o mesmo titulo; e nem tão
pouco restringil-o-tanto, que cause embaraços á circu-
lação dos metaes preciosos contra a mente da lei.
Isto posto, assenta a secção que,admitlidas as de ouro
de Portugal e Inglaterra, e os pesos duros de Hespanha
quanto ás de prata, serão satisfeitas as mais urgentes
necessidades do mercado; e que assim, restabelecendo-se
gradualmente o meio circulante em espécies melallicas,
os particulares não correrão o risco de ser lesaidos em
suas transacções, e o governo se achará habilitado para
as operações que julgar convenientes, sem receio de
alteração de valores por uma introducção forçada de
metaes preciosos. As duas de ouro indicadas, além de
serem conhecidas no mercado, apresentão a circum-
stancia particular de terem o titulo de 22 quilates, que
a lei exige.
As Águias dos Estados-Unidos, que até o anno de 1834-
erão cunhadas com o mesmo titulo das nossas moedas,
hoje só o tem na razão de 0,9 em virtude da alteração
que então se fez no systema monetário daquelle paiz.
Esta razão não será bastante por si só, para que não
fossem adoptadas, porque, dando-se o necessário des-
conto á differença do titulo, satisfeito seria o preceito
da lei. Mas, além de nãooccorrerem motivos ponderosos
que o exijão, é de recear que a introducção dessa moeda
traga embaraços práticos, não estando o povo habituado
com ella. E sobretudo não parece conveniente lançar
na circulação ao mesmo tempo muitas moedas diffe-
rentes, as quaes, como já foi observado, podem não
correr com o mesmo valor, ainda que sejão do mesmo
titulo, como acontece em todas as praças, por causas par-
ticulares que as acompanhão, e entre nós se está veri-
ficando todos os dias, como se pôde conhecer pela
— 136 —
comparação dos valores das diversas, que se apresentão
no mercado. Com este ultimo fundamento julga lambem
a secção não se dever dar curso legal ás Onças de
Hespanha, comquanto sejão mais vistas no paiz; cum-
prindo advertir que estas mesmas não têm o titulo de
22 quilates, estando na razão de 0,875. E no mesmo
caso se achão as moedas de ouro de França, as quaes
tem o titulo de 0,9.
Quanto á prata, entende a secção que bastará por ora
admiltir os pesos duros de Hespanha, que são muilo
conhecidos, correm em abundância, e têm o titulo da
lei: e talvez que a circulação legal destes habilite o
governo para retirar os bilhetes de um e de dous mil
réis, que só podem ser justificados pela imperiosa ne-
cessidade dos trocos na ausência completa de todo o
metal.
Todavia, se a experiência mostrar a necessidade de se
dar curso legal a mais algumas moedas, nenhuma razão
encontra a secção que embargue a adopção dessa me-
dida, havendo sempre o cuidado de se lhes dar o valor
correspondente ao titulo que a lei prescreve, quando
o não tenhão; assim como entende, que a circulação
monetária deve ficar circumscriptaás nacionaes, logo que
cesse a causa que faz admittir as estrangeiras, tendo-se
a cautela de marcar-se um prazo conveniente para a
restrição ser levada a effeito.
Antes de concluir, a secção pede licença a Vossa Ma-
gestade Imperial para fazer uma observação sobre a
actual moeda de prata. O peso de 7 1/2 oitavas, que tem
o patacão, não permilte, qualquer que seja o valor que
se lhe dè, que se preste a divisões e subdivisões com-
pletas, o que é de grande inconveniente no uso da vida.
Por esta razão parece que deve parar o seu cunho, até
que urna lei regule de novo esta matéria, estabelecendo
um systema que facilite o modo de contar.
Em conformidade portanto destas observações, tem a
secção a honra de offerecer o seguinte projecto de de-
creto, rogando mui respeitosamente a Vossa Magestade
Imperial queira acolher com benevolência este resul-
tado de seus trabalhos.
« Artigo único. No tempo prescripto no art. l.° da lei
n.° 401 de 11 de Setembro deste anno serão recebidas
as moedas de ouro e de prata nacionaes, e as estran-
geiras abaixo declaradas, na razão de 4$000 por oitava
de ouro de 22 quilates, observadas entre ambos os metaes
a relação de 1:15 5/g ; na fôrma que segue.
- 137 -

Peso. Valor
Moedas de ouro. , — « — ^ Título, nominal.
Oit. Gr.
Peças. Brasil e Portugal 4 ) r 16#000
Moedas de 4$000. Brasil 2 48ÍftQ,7 9$000
Soberano. Inglaterra ( 1/2 , 2 e 5 ?u'yi' \
em proporção) 2 16) [ 8#890
Moedas de praia.
Patacão. Brasil ? * „ fi ) Í „
l S
Pesos duros. Hespanha. J («047)
Dè<a5 patacas. Brasil (1, 1/2 e 1/4 ? ' ' 'S
em proporção) 5 ) f 1#280

Rio de Janeiro, em 13de Novembro de1846.— Visconde


de Olinda.—José Antônio da Silva Maya.— Visconde de
Monf Alegre.

RESOLUÇÃO.

Consulte-se o conselho de estado. (*)

Paço, em 14 de Novembro de 4846.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de


Albuquerque.

(*) Sendo ouvido o conselho de estado, nos termos da resolução,


deu o seguinte parecer.
Senhor.—Pela imperial resolução de 14 do corrente mez, foi Vossa
Magestade Imperial servido ordenar que se consultasse o conselho
de estado sobre o parecer, que apresentou a secção dos negócios da
fazenda do mesmo conselho acerca da execução da lei n.° 401 de 11 de
Setembro ultimo, quanto á disposição do seu primeiro artigo, e que é
concebido nestes termos.

Consultando com effeito o conselho de estado, foi approvado o pare-


cer da secção dos negócios da fazenda sem alteração ou observação
alguma pelos conselheiros de estado viscondes de Olinda, e Monf Ale-
gre, Lopes Gama, Cordeiro, Lima e Silva, Vasconcellos, e Maya;
e os conselheiros Almeida Torres e Carneiro Leão, que também o
approvárão, declararão mais o seu voto pela admissão na circulação da
moeda de ouro denominada onça* de Hespanha; por ser muito co-
nhecida nos mercados das nações das differentes partes do mundo,
incluídos os do Brasil.
E*, portanto, o parecer da maioria do conselho de estado pela ap-
provaêão tal qual do parecer da secção dos negócios da fazenda, de
C. 18
- 138 —

N. 104.—RESOLUÇÃO DE 21 DE NOVEMBRO DE 1846.

Sobre as multas impostas ao commandante e dono do bergantim


Eliza.

Senhor.—Por ordem de Vossa Magestade Imperial foi


encarregada a secção dos negócios da fazenda do con-
selho de estado, de examinar a questão da multa imposta
ao commandante do bergantim Eliza na alfândega da pro-
víncia de Sergipe, confirmada por decisões definitivas do
thesouro publico nacional, e consultar com effeito.
O bergantim hamburguez Eliza deu entrada na alfân-
dega da província de Sergipe no dia 21 de Fevereiro de
4843, vindo de Buenos Ayres em lastro com quatro to-
neladas de pedras e 56 pipas vasias, consignado ao
próprio commandante; seguio para o ancoradouro de
descarga no porto das Redes; o commandante, sem li-
cença do inspector da alfândega, nem despacho das ditas
pipas para consumo, as fez desembarcar, e este proce-
dimento, em que então se vio uma manifesta infracção do
art. 145 | 9.° do regulamento de 22 de Junho de 1836,
posto que incluísse aquelle inspector da alfândega a
imposição da multa decretada nesse artigo, constiluio
comtudo um estado de bem fundada duvida, pelas cir-
cumstancias occurrentes, do costume que havia no porto
de se descarregar o lastro sem dependência de licença ou

que senão desviarão, mas que pouco addirão os referidos conselheiros


Almeida Torres e Carneiro Leão, da maneira acima dita.
Vossa Magestade Imperial, acolhendo benignamente este parecer, se
servirá resolver o mais conveniente.
Uio de Janeiro, em 24 de Novembro de 1846. — Visconde de Olinda.
— Caetano Maria Lopes Gama.—Visconde de Monf Alegre. — Honorio
Hermeto Carneiro Leão. —José Antônio da Silva Maya. —Francisco
Cordeiro da Silva Torres. —José Carlos Pereira de Almeida Torres. —
José Joaquim de Lima e Silva.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 23 de Novembro do 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de Albuquerque
(*) Derreto n.» 487 de 28 de Novembro de 181fi. Para execuçSo da lei n.» 401
de 11 d:.' Sete;i)ijrn deste a:uio, quanto au seu primeiro artigo.
- 139 —
despacho, da falta de exacta execução de algumas for-
malidades prescriptas no regulamento das alfândegas a
respeito da navegação estrangeira, e de não haver razão
de duvida da veracidade do manifesto e da boa fé do
commandante a respeito do desembarque das referidas
pipas; e o obrigou por isso a recorrer ao auxilio da illus-
tração do inspector da thesouraria, por officio de 13 de
Março de 1843.
O inspector da thesouraria teve por mui fácil decidir
afirmativamente, fundado na expressa disposição do § 9.°
do art. 145 do regulamento de 22 de Junho de 4836, e na
do art. 162, que não deixa suppor ignorância da parte
dos commandantes das embarcações estrangeiras, que
navegão para os portos do Brasil; não podendo, porém,
vencer a impressão que fizerão em seu animo, ao que
parece inclinado á justiça, aquellas circumstancias de
não duvidar o inspector da alfândega da boa fé do com-
mandante, e de ser certo que o ancoradouro de carga e
descarga se acha a cinco léguas de distancia da alfân-
dega, e que as communicações desta com aquelle são
dependentes de marés, e por isso muito mais morosas se
lornão com gravame do commercio, e de existir o cos-
• tume de se fazerem desembarques de volumes sem as
formalidades legaes, talvez por falta de precisas provi-
dencias; apenas resolveu interinamente que se prestasse
fiança idônea á multa imposta, para ser ou não arreca-
dada depois que o tribunal do thesouro publico nacional
se decidisse definitivamente.
Sendo isto presente ao dito tribunal em officio de 20
de Março do sobredito anno, houve nelle a decisão con-
íirmaloria da multa, que se declarou bem imposta pela
ordem de 17 de Maio dirigida ao inspector da thesouraria;
e em conseqüência se tratou de promover a cobrança
da avultada quantia de 5:968^800 em que importou.
Recorreu J. A. D. Botheman, commandante do men-
cionado bergantim contra a violência, com que fora tra-
tado, por uma leve omissão, nascida da confessada e
reconhecida inexecução em que estava na alfândega de
Sergipe o respectivo regulamento; e, tendo feito uma
circumstanciada exposição da maneira por «pie franca e
publicamente procedera á descarga das pipas velhas que
lhe servirão de lastro, e que abandonara á vista dos
guardas da alfândega, que nenhuma opposição lhe fi-
zerão , nem motivo acharão para procederem á appre-
hensão ; e dos funestos resultados de uma multa tão pe-
sada, como desarrazoada, á vista do costume que preva-
lecia; concluio dando por evidente: 1." que elle não
desembarcara de seu bordo mercadorias, pois que taes se
- 1W —
não podião considerar as pipas velhas com água salgada
para lastro; 2.° «jue não fez desembarque algum clandes-
tino e doloso, antes obrou com franqueza e boa fé con-
forme a pratica seguida de que se informara, esperando
por conseguinte que se lhe fizesse justiça. No tribunal do
thesouro, porém, depois de novas informações, que nada
acrescentarão ás já havidas, e apezar de favoráveis pare-
ceres dos seus membros, se confirmou, por despacho de
27 de Novembro de 4843, o de 10 de Maio, em virtude do
qual se havia expedido a ordem de 17 acima mencio-
nada.
Subsistente a multa dos 5:968$800, firmada pelas de-
cisões de primeira e ultima instância, promoveu-se e
activou-se em Sergipe a execução pelo pagamento
delia contra José Rodrigues Dantas e Mello e Agos-
tinho José Ribeiro Guimarães, que o tinhão afiançado ;
então estes, reputando-se os interessados, na falta do
capitão e do dono do bergantim, que até já havia fal-
lecido, ainda outra vez moverão a questão da proce-
dência da dita multa perante o tribunal do thesouro
publico nacional, reclamando contra a injustiça delia,
e pedindo que, declarando-se improcedente, se fizesse
cessar a execução pendente com seu grave vexame; ao.
que accrescia ter sido presente ao governo a cópia da
carta dirigida ao nosso encarregado de negócios em
Hamburgo pelo syndico Sovelerng, ministro dos negócios
estrangeiros, com o íim de obter o levantamento, ou
desobriga da fiança : e foi quando o negocio se achava
nestes termos que Vossa Magestade Imperial houve por
bem submettel-o á consulta da secção dos negócios
da fazenda.
Senhor, a secção dos negócios da fazenda em devido
cumprimento da ordem de Vossa Magestade Imperial,
depois de ter accuradamente examinado todos os papeis
que lhe forão enviados para o esclarecimento da ma-
téria, tem a honra de expor a Vossa Magestade Im-
perial que se sente obrigada a seguir aquelles pareceres
dos membros do tribunal do thesouro publico nacional,
que tem sido desfavoráveis á procedência e subsis-
tência da multa imposta ao capitão e dono do bergan-
tim Elisa; prevalecendo na sua consideração as ra-
zões da justiça aos interesses da fazenda nacional, que,
quando mal fundados são as mais das vezes em seu
verdadeiro prejuízo.
Não pretende a secção apoiar de qualquer modo a
infracçâo dos regulamentos fiscaes do paiz, de que não
admitte allegação de ignorância, nem ainda aos es-
trangeiros que, dirigindo-se aos nossos portos, devem
- 141 —
instruir-se das leis, estatutos, regulamentos, usos e es-
tylos por que elles se regem, e lhes cumpre observar:
mas também se não conforma com a rectidão e im-
parcialidade, com que altende aos objectos submettidos
ao seu exame, e com que se preza de emittir respei-
tosamente o seu parecer na augusta presença de Vossa
Magestade Imperial, o justificar ou dissimular ao menos
o proceder dos empregados de fazenda, que põem elles
mesmos, ou consentem que se ponhão, em desuso as
disposições das leis e regulamentos das attribuições e
incumbências a seu cargo ; introduzem elles mesmos,
ou permittem que seintroduzão, abusivas praticas, omis-
sões, ou facilidade nos actos, que devem fiscalisar, para
sorprenderem uma vez os desapercebidos, que já em
bôa fé descansavão á sombra do esquecimento, ou do
erro, em que os havião collocado, e arguirem-lhescomo
criminosas transgressões as praticas menos regulares,
a que elles mesmos os tinhão induzido.
Nesta conformidade declara a secção que não approva
a imposição da multa, de que se trata, como pena de
acto de positiva transgressão de uma disposição do re-
gulamento de 22 de Junho de 1836; isto é, da des-
carga do lastro do bergantim Elisa sem licença do
inspector da alfândega de Sergipe, a qual assim fora
praticada em seguimento e de accordo. com o costume
antigo, e ainda então existente, de se fazerem taes
descargas sem dependência dessa licença; e com toda
boa fé, sem a mais leve sombra de suspeita da parte
do capitão e dono, como reconheceu e confessou o ins-
pector da dita alfândega; e, como é de crer, avista do
manifesto legal do porto d'onde viera, e da qualidade
e uso que tiverão as pipas descarregadas, não ap-
prova esta imposição da multa, a que tanta repugnância
mostrou no seu officio de 13 de Março de 1843 o mesmo
inspector da alfândega, que bem reconhecia ser a ar-
guida infracção proveniente, não de fraude e má tenção
do capitão, mas de deleixo e abuso dos empregados.
E' portanto a secção de parecer que se declare im-
procedente a multa, para ser desobrigada a fiança, pa-
gando-se quaesquer direitos que por ventura se devão,
no caso de se terem vendido as pipas.
Vossa Magestade Imperial porém "resolverá o que fôr
mais justo.
Rio de Janeiro, 11 de Novembro de 1846.—José An-
tônio da Silva Maga.—Visconde de Olinda. —Visconde
de Monf Alegre.
— 142 —

RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 21 de Novembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 105—.RESOLU«5AODE12DE DEZEMBRO DE 1846.


Sobre o projecto de regulamento para a cobrança do imposto dos
caixeiros estrangeiros, estabelecido no art. 12 da lei de 2 de Se-
tembro de 1846.

Senhor.—Em cumprimento do que foi por Vossa Ma-


gestade Imperial ordenado, vêm as secções reunidas
dos negócios da fazenda e estrangeiros do conselho de
estado dar o seu parecer sobre o projecto de regulamento,
abaixo transcriplo, para a cobrança do imposto lançado
nos cüixeiros estrangeiros pelo art. 12 da lei de 2 de Se-
tembro ultimo, n.° 396, e sobre os mais papeis que o
acompanharão.
Projecto de regulamento do imposto dos caixeiros.

Para execução do art. 12 da lei de 2 de Setembro, n.°


396, ordena sé observem as seguintes instrucções.
Art. l.° As casas de commercio nacionaes ou estran-
geiras que na corte tiverem mais de dous caixeiros estran-
geiros, e mais de um nas outras praças e povoações,
estabelecidas dentro dos limites marcados para o lança-
mento do imposto sobre as lojas e casas commerciaes,
estabelecido pelo alvará de 20 de Outubro de 1812, e
pelo art. 9.° § 4.° da lei de 22 de Outubro de 1836, e

(") A matéria, sobre que versa esta consulta, já havia sido tratada e
resolvida anteriormente, em conseqüência do que lavrou-se o de-
creto de 2 de Outubro de 1843.
Vide imperial i'.'solução do 1.° de Outubro de 18*5 a pag. 14
deste volume.
- 143 —

art. 10 da lei do 21 de Outubro de 1843, pagaráõ 120#


annuaes por cada um que exceder a este numero.
Art. 2." Entender-se-hão comprehendidas debaixo da
denominação de—casas de commercio—todas aquellas
que são numeradas na generalidade da disposição do
art. 2.° do regulamento de 15 de Junho de 1844, n*.° 361.
Art. 3.° Serão considerados caixeiros, para effeito do
lançamento, todos os que nas casas mencionadas no ar-
tigo antecedente se empregarem na escripta, ou no ser-
viço interno ou externo dellas, e só se reputão sócios
e interessados nas casas os que apresentarem escriptu-
ras publicas de sociedade.
Art. 4.° Serão havidos por estrangeiros, para o mesmo
effeito, todos aquelles que, sendo reputados como taes
pelos lançadores ou collectores, não mostrarem ser cida-
dãos brasileiros, por documentos authenticos, expedidos
pelas autoridades policiaes dos districtos, ou naturali-
sadosna fôrma das leis.
Art. 5.° No lançamento, cobrança e reclamação do im-
posto se observará o que se acha determinado para outros
internos no regulamento de 15 de Junho de 1844.
As secções approvão o arl. 4.°, mas não o seguinte,
porque o art. 2." do regulamento de 15 de Junho de
1844, n.° 36I, a que elle se refere, é tão largo que, c©m-
prehendendo quasi todas as occupações a que se podem
dar os homens na sociedade, sujeita ao imposto de 420$
creados propriamente ditos, serventes, ofíiciaes mecâ-
nicos e outras pessoas alheias da profissão commercial,
que a lei teve só em vista. Torna-se palpável esta razão
das secções, applicando-se a definição de caixeiros, que
vem no art. 3.° do projecto, a qualquer dos paragraphos
do art. 2.° do regulamento n.°361, v. g. aos §§ 6.° e 8.°,
e vê-se que ficão sujeitos a esta pesada imposição car-
niceiros, cortadores e conductores de carne, cocheiros,
bolieiros, etc, porque todos esses se empregão no servi-
ço interno ou externo das casas ou lojas, em que se vende
carne verde devacca, de que trata o | 6 . ° , e das cochei-
ras e cavallariças que têm seges de aluguel, de que
falia o | 8.°
Entendem portanto as secções reunidas que não pôde
ser approvado o art. 2.° do projecto, na generalidade em
que está concebido, referindo-se a todos os paragraphos
do art. 2." de regulamento n.° 361, posto que divirjão seus
membros sobre a emenda que deve soffrer esse artigo.
Pensa a maioria das secções reunidas que a melhores
termos ficará elle reduzido, se fôr limitado ao § 1. ° do
dito artigo, o qual assim se exprime:
— 14i —
« Todas as lojas, armazéns ou sobrados, em que se
vender por grosso ou atacado e a retalho, ou a varejo
qualquer qualidade de fazendas é gêneros seccos e mo-
inados, ferragens, louças, vidros, massames e quaes-
quer outros de toda a natureza. »
Não nega a maioria das secções que ainda fica de
sobejo largo o artigo assim emendado, e que pôde ser
muito damnoso ao commercio mesmo nacional, que por-
ventura quiz o art. 12 da lei de 2 de Setembro pro-
teger. Todavia receia ir em opposição á dita lei, cujas
disposições se trata de regular, mas não de alterar, e
menos de annullar.
O conselheiro de estado Honorio Hermeto Carneiro
Leão não se refere puramente ao § 1.° do art. 2.° do
regulamento n.° 351, porque está persuadido que suas pa-
lavras finaes —e quaesquer outros de toda a natureza—dão
demasiada extensão ao artigo, e por isso em lugar dellas
diria—que sejãode manufactura ou producção estrangeira
—ou, pela negativa—que não sejão de producção ou ma-
nufactura do Brasil.
Aos conselheiros de estado Bernardo Pereira de Vascon-
cellos e Caetano Maria Lopes Gama parecendo ainda exces-
siva a doutrina do artigo mesmo reduzido aos termos que
propõe o conselheiro Carneiro Leão, são de parecer que
se limite o imposto aos caixeiros das lojas, armazéns e
sobrados, em que se venderem mercadorias estrangei-
ras por grosso ou atacado ; e que desta restricção só pôde
resultar diminuição do gravame que elle vai produzir.
Emendado de qualquer dos modos propostos o art. 2.°
do projecto, entendem as secções reunidas que pôde
ser approvada a primeira parte do art. 3.° quanto a de-
finição de caixeiros, e apenas para mais clareza e pre-
cisão acrescentará depois da palavra—serviço—a palavra
—commercial.
Não podem porém as secções dar o seu assentimento
á ultima parte desse artigo, que só reputa sócios e in-
teressados, e por isso isentos do imposto, os que apre-
sentarem escripturas publicas, quando a nossa legis-
lação admitte sociedades commerciaes por escriptos par-
ticulares, e porque difficil ou raramente se dará o caso
de, para fraudar o imposto de 120#000, animar-se alguém
a declarar n'uma repartição publica seu sócio e inte-
ressado quem o não é, pois por pequena que seja a
casa de commercio, essa falsa sociedade lhe dará mais
prejuizo do que o imposto de 120$000.
Não approvão as secções reunidas também o art. 4.°
que põe nas mãos dos lançadores um grande meio de
vexame, e impõe aos brasileiros um ônus rigoroso; e
— •H" —
pensão que deve tudo ficar nos lermos do ari. 5." e ul-
timo que approvão.
Nos papeis que foi Vossa Magestade Imperial servido
enviar ás secções reunidas com o projecto de regu-
lamento, sobre que aeabão de dar o seu parecer, en-
contrão ellas, sob oííicio do. ministro e secretario de
estado dos negócios estrangeiros de 30 do Junho ul-
timo , cópias das notas confidenciaes, que com dala
de 10 de Junho de 4845 e 27 de Junho do corrente di-
rigio áquella repartição o encarregado de negócios do
rei dos franceses, e das que mandou a mesma re-
partição em 17 do Junho de 1845 e 17 do, Agosto deste
anno'o encarregado de negócios de sua magestade fi-
delissima, todas relativas ao estabelecimento do imposto
sobre as casas de commercio que tiverem mais de dous,
caixeiros estrangeiros.
O encarregado francez, apoiado no art. 6." do tra-
tado de 6 de Junho de 1826 entre o Brasil e a França,
em virtude do qual os subditos francezes não podem
ser obrigados a pagar contribuição alguma ordinária
maior do que as pagão ou houverem de pagar os sub-
ditos brasileiros, diz que o imposlo sobre as casas
de commercio que tiverem mais do dous caixeiros es-
trangeiros é uma verdadeira capitação indireeta no modo
de percepção, mas que realmente constitue uma si-
tuação excepcional e desvantajosa aos estrangeiros na
concurrencia com os nacionaes nesse ramo do indus-
tria, e que por isso não pode recahir sobre os subditos
francezes.
O encarregado portuguez invoca o art. 5." do tratado de
29 de Agosto e 1825, pelo qual os subditos portuguezes
devem ser considerados como os da nação mais favore-
cida, e acrescenta que, bem que sejão igualmente com-
prehendidas as casas de commercio brasileiras, é porém
claro que o imposto recabe sobre os caixeiros estran-
geiros, que por tal fôrma virão a ser dellas excluídos.
As secções reunidas, reíleclindo no objecto, não podem
hesitar em declarar que lhes parece bem fundada a
pretenção dos dous encarregados de negócios de França
e de Portugal.
O artigo 6.° do tratado de 6 de Junho de 1826 é um
dos declarados perpétuos, e nelle são evidentemente equi-
parados os subditos francezes aos*brasileiros quanto a
impostos. E' da natureza das eslipulações perpétuas
durarem indefinidamente, e só convenção expressa ou,
guerra subsequente as pôde romper. E,"como nem uma
nem outra cousa tem havido, estão elles em vigora o
devem ser observados, pois estabelecem um direito
«. 19
— 116 —
peífeilo uma obrigação rigorosa, um verdadeiro con-
tracto svnallagmalicn.
Que a'imposição do art. 12 da lei de 2 do Setembro
ultimo reeahe verdadeiramente nos caixeiros estrangeiros,
é cousa que se não pôde negar, ainda que mal disfar-
çada o pareça com a.-, expressões—^asas comnierciaes
nacionaes e "estrangeiras.
Ao ler esse artigo da lei vem tão naturalmente essa
intelligencia, que no próprio oííicio de remessa destes,
papeisás secções a secretaria emprega a seguinte phrase:
—Regulamento para a cobrança do imposto sobre 0 cai-
xeiros estrangeiros estabelecido no art. 12 da lein. 396
de 2 de Setembro ultimo.
Não é próprio do governo servir-se de uma argúcia,
de um subterfúgio; cumpre-lhe ser franco, e franca-
mente observar os tratados.
E' tambern principio corrente e indisputável que não
podem vigorar as leis feitas contra tratados legitima-
mente celebrados, assim como que não podem ser vá-
lidos quando contrários ás leis, vigentes, emquanto o
corpo legislativo os não homologar.
Não louvão as secções, não apadrinbão o art. 6.° do
tratado com a França, mas não podem desconhecer
sua existência e vigor.
Quanto á pretenção do encarregado portuguez, só dirão
as secções que o governo imperial declarou vigente o
tratado com Portugal, e que por essa razão os subditos
daquelle reino, que pelo art. 5.° devem ser equiparados
aos Francezes, e estes o são aos Brasileiros, devem ser
também excluídos do imposto estabelecido no art. 12
da lei n.° 396 de 2 de Setembro ultimo.
O conselheiro de estado Bernardo Pereira de Vascon-
cellos c «le opinião, pois que alguns artigos do tratado de
29 de Agosto de 1825 tem sido infringidos pelo governo
portuguez, e outros não tem sido executados pelo governo
do Brasil, se declare roto aquelle tratado.
O conselheiro de estado visconde de Olinda concorda
com o parecer pelo seu fundamento, indo nisto de accordo
com o seu voto em outro parecer sobre matéria análoga;
mas tem de observar que essa declaração do governo im-
perial de que subsiste o tratado com Portugal, solfre graves
objecções, as quaes se aggravão com a consideração de
que o nosso próprio interesse nos aconselha que tra-
temos a todas as nações com a mais perfeita igualdade.
A legislação que faz objecto das mencionadas recla-
mações já foi estabelecida em 1838 no art. 19 da lei
de 20 de Outubro, e então o governo, reconhecendo que
ella não podia ser observada para com os subditos das
-— 147 —
nações que por tratados em vigor são iguftíados aos
nacionaes, determinou por portaria de 15 de Outubro
de 1839 que a recebedoria suspendesse a arrecadação
desse imposto. Verdade é que, na lista dos tratados com o
dia de sua expiração que acompanhou á recebedoria essa
ordem de suspensão, se não encontrão os tratados francez
e portuguez, mas é sem duvida porque, sendo elles per-
pétuos, e como taes havidos pelo governo, não tem dia de
expiração que possa ser marcado. O facto é que nem
Francezes nem Portuguezes pagarão jamais esse imposto.
E' de notar que as mesmas expressões—casas decom-
meroio nacionaes e estrangeiras—sãotambem as empre-
gadas na lei de 1838.
A' vista do expendido, senhor, são as secções reunidas
dos negócios da fazenda e estrangeiros dò conselho de
estado de parecer que o imposto de 120#000 sobre as
casas de commercio nacionaes e estrangeiras, que tiverem
mais de dous caixeiros estrangeiros, não comprehendem
os caixeiros francezes e portuguezes; eé, por assim dizer,
caso julgado pelo mesmo governo imperial.
A quão pouco fica reduzido esse imposto, excluídos
delle essas duas numerosas classes, é fácil de ver; bem
como a que monta o alento que se pretendeu dar ao com-
mercio nacional com essa pesada e improficua imposição.
Tendo as secções cumprido, como lhes foi possível,
a ordem de Vossa Magestade Imperial, supplicãoa Vossa
Magestade Imperial haja de acolher este trabalho com
a sua costumada benignidade.
Rio de Janeiro, 5 de Dezembro de 1846. — Visconde de
Monf Alegre.—Honorio Hermeto Carneiro Leão. -Caeta-
no Maria Ijopes Gama.— Visconde de Olinda.—José Antô-
nio da Silva Maya.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Consulte-se o conselho de estado. (*)


Paço, em 12 de Dezembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paidae Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque.
__ . 4

(«) Sendo ouvido o conselho de estado, nos termos da resolução,


deu o seguinte parecer :
Senhor.—Pela imperial resolução de 12 de Dezembro de 1846, foi
Vossa Magestade Imperial servido ordenar que se consultasse o con-
- l\S-m
N . 160.—RESOLUÇÃO DE 30 DE DEZEMBRO DE 1846.
Sobre o projecto de regulamento para arrecadação do imposto de
meio por cento na importação dos diamantes.

Senhor.—Forão presentes á secção dos negócios da


fazenda do conselho de estado, por ordem de Vossa Mages-

sclho de estado sobre o parecer, com que consultarão as secções


reunidas dos negócios da fazenda e estrangeiros a matéria do regu-
lamento, em pròjeeio, para a cobrança do imposto lançado nos cai-
xeiros estrangeiros pelo art. 12 da lei de 2 de Setembro do dito anno
com os mais papeis «iue o acompanharão, o qual é do teor seguinte.

Sendo apresentado c lido este parecer no conselho de estado, em


conferência de t~ de Dezembro de 1840, e dignandose Vossa Mages-
tade Imperial admiltir a discussão, em resultado das observações c
contestações, que tiverâo lugar, foi o voto da maioria «Io conselho
pela approvaçâo delle cm ambas as suas partes, e se olTerecérão as
alterações dos conselheiros Almeida Torres, Alves Branco c Vas-
concellos.
Estes tres conselheiros concordarão, emquanto á primeira parte,,
na emenda substitutiva ao art. 2.° do projecto, propondo que seja
reduzido aos termos do I I . " art. 2° do regulamento de 15 de .lunho de
18íí, n.° 361, com ;i inodilicação das palavras finaes do mesmo para-
grapho, dueuclo-se em vez de — quaesquer outras de ioda a natureza
— e quaesquer outras de igual natureza—. Emquanto, porém, á se-
gunda parle, o conselheiro Alves Branco, que na referida conferência
expôz algumas razões, por que não concordava com a maioria, com
a permissão que obteve de Vossa Magestade Imperial na outra con-
ferência de 23 de Janeiro próximo passado, apresentou o seu voto em
separado, que segue.
Senhor. —Tendo eu divergido em parte do parecer da maioria
das secções a respeito do regulamento para a arrecadação do imposto*
s.obre as casas de commercio que tiverem mais de dous caixeiros es-
trangeiros, peço a Vossa Magestade Imperial a permissão de dar meu
voto em separado.
Senhor, eu concordo nas emendas, que propõe ao regulamento a
maioria das secções com a única diflerença de adoptar a substituição
das palavras — toda a natureza —da emenda ao art. 2.» pelas palavras
— igual natureza —como indica o Sr. conselheiro Almeida Torres.
Concordo igualmente com a maioria das secções, em que a imposi-
ção recalie toda sobre os estrangeiros, e lambem em que convém dizer
isso francamente, e observar francamente os tratados, pois não é digno
«le um governo usar de argucias e subterfúgios para disfarçar suas
intençõçs. Não posso porém concordar com a maioria das secções em
que sejão exceptuados do imposto os francezes e portuguezes, e menos
posso concordar em algumas considerações de direito, com que a
dita maioria das secções sustenta sua opinião.
Entende a maioria das secções que os Francezes não são compre-
hendidos no imposto, porque, recahindo elle exclusivamente sobre os
«íslrangeiros, e por conseguinte sobre os Francezes, não está em har-
monia com o art. 6.° do tratado de 6 de Junho de* 1820, que a res-
peito de imposições não admitle differença entre Francezes c Brasi-
leiros, acrescentando que esse artigo está em pleno vigor, porque é
perpetuo, e porque é «Ia inlole dos tratados perpétuos o acabarem
somente por novo accordo ou puerra entre ;ts duas altas parles eon-
— Ii9 —
tade Imperial, participada em aviso de 12 de Outubro
ultimo, o apontamento e pareceres, por copia, a respeito
da arrecadação do imposto de meio por cento na impor-
tação dos diamantes, a íim de consultar sobre a matéria.

traelanles, o que não leve ainda lugar entre a Frauça e o Brasil. Ana-
lvsarei primeiro esta parte do parecer.
Da exposição acima é evidente que a maior força de argumentação
«Ia maioria das secções repousa na idéa, que dá, dê tratados perpétuos,
queeni sua opinião só podem acabar por novo accordo ou guerra entre
as partes conlractautes. Será porém isso exacto? Eu creio que não,
porque, consultando os publicistas, acho <[ue a guerra só acaba os
tratados, quando do próprio tratado se pode inferir que fora essa a
intenção dos contraclantes. Se esta intenção se não manifesta, os bel-
ligeranies só tem direito de os romper tanto, quanto isso é reclamado
pelos I ns legítimos da guerra. Acho lambem que os tratados acabão
ou se invalidão.
i.° Quindo as partes tomão esse accordo e lambem,
2.° Quando chega o termo ou tempo nelle estipulado.
3.o Quindo uina das partes desiste da convenção segundo a facul-
dade, que para si reservou na estipulação.
4.° Quando se tem conseguido o Um para que foi celebrado o tra-
tado òu convenção.
5.» Quando se realisa a condição resolutoria expressa no tratado.
6.o Quando o cumprimento do tratado vem a ser physica ou mo-
ralmente impossível.
7.o Quando ha mudança essencial nas circumstancias, cuja exis-
tência era julgada necessária pelas duas parles contractantes rebus sic
stanlilms;'ou expressamente ou pela natureza «lo mesmo tratado. _ .
8.o Quando ha defecção de uma das partes que recusa a execução
do tratado, ou mesmo de qualquer outro totalmente differente, ficando
por esse mesmo facto a outra parte livre da obrigação de o cumprir.
9.o Guando as obrigações , que fazem objecto da convenção, tem
sido inteiramente cumpridas, ficando porém as conseqüências firmes
entre as partes não obstante a mudança na situação das cousas.
Ora é evidente que de todos estes modos de invalidação de tratados
só o segundo, isto é, a chegada do termo estipulado nelles, se nao pode
applicar aos tratados perpétuos ou vratados de duração indefinida.
Logo, parece que não tem razão a maioria das secções, quando, peto
facto de não ter havido accordo ou guerra entre o Brasil eFrança,
e só porque o primeiro não é de esperar, e a segunda não e de de-
sejar, entende que a lei, de que tratamos não deve, nem pode com-
prehender os Francezes. Vejamos agora, se o corpo legislativo com-
prebendeu t s Francezes na lei, e se nisso abusou ou usou de um
direito, que indispuiavclmente lhe compete. Se consultarmos os
princípios da recta razão e sã política, acharemos que, quando um
tratado tem uma duração definida por certo numero de annos, em-
quanto elles não são passados, nenhuma das duas partes contractantes
pôde regularmente desobrigar-se de suas estipulações sem consenti-
mento da parte contraria, salvo exercendo o direito de represália
tácita ou expressamente. No mesmo caso estão os tratados perpétuos,
cuja duração não é definida, mas que ao menos não podem acabar
sem conseguir-se um íim, sem realisar-se uma condição ou cláusula
claramente estipulada, etc. , porque cm todos elles o consentimento
eslá dado, o contracto é perfeito até uma época ajustada, ainda qne
incerta. Em qualquer destes casos, se uma das partes quer invalidar
o tratado antes do dia desconhecido, mas ajustado, obra meramente
de facto. conuuctie uma violação escandalosa, para a qual nenhum
— 150 —
Diz o referido apontamento :—A lei ultima do orça-
mento impôz meio por cento sobre o valor dos dia-
mantes exportados para o estrangeiro.
• A praça do Rio de Janeiro tem exportado, segundo

direito lhe assiste por maneira alguma. Acontecerá porém o mesmo


quando o tratado é apenas declarado perpetuo, isto é, de duração in-
definida sem ser eterna, eem que ao mesmo tempo nada se estipulou,
que mais ou menos directamenie designe o tempo e o modo de sua
terminação.' Parece-me que não; porque, não tendo dado as partes seu
consentimento nor tempo certo ou incerto,,mais ou menos dependente
da rcalisação de um fiiu, de uma clausuia, de uma condição, neai
havendo eslípulaçào, <|ue obrigue a outra a estar pelo tratado, em
<;ue noutra «iiiizer, a duração do tratado não tem outra garantia, que
não seja o bem querer, ou mesmo o capricho de qualquer dellas.
Por conseguinte pôde qualquer dellas retirar seu consentimento,
quando bem lhe parecer, sem atacar direito algum da outra parte, fi-
cando desse dia em diante o tratado nullo e inteiramente insubsis-
lente. Se assim não fora, um tal tratado perpetuo não podia dizer-se
legitimamente celebrado, porque, sujeitando-nos eternamente ao ca-
tiveiro de uma nação estrangeira, teria destruído pela base os princí-
pios mais vitaes da nossa existência política, nossa soberania, nossa
independência, e finalmente nossa constituição.
Se consultarmos os factos da nossa historia diplomática, veremos
«pie é essa a accepção que sempre se tem dado á palavra— perpetua—
upplicada as estipuíações e tratados que temos feito com outras nações.
Em loJos os tratados anteriores nossos se estipula pelo menos paz
perpetua; mas nessa mesma occasião vê-se que, na mente dos nego-
ciadores, nada havia de semelhante á noção, que dá a maioria das
secções da palavra —perpetua.—Estipula-se paz perpetua, mas logo
se previne a hypothese de seu rompimento por uma das du-as altas
partes contractantes, o que mostra claramente que, para romper-se a
perpetuidade diplomática, tal qual a do nosso tratado com a França,
não ha necessidade de concurso das duas vontades contractantes.
Esla mesma accepção da palavra—perpetua—se infere do art. 23 do'
tratado de 1810, entre o Brasil e a Grã-Bretanha, pois que, para não
ficar á disposição de cada uma das partes contractantes, o acabar o
tratado quando lhe parecesse, depois de passados os 15 annos de sua
duração definida, ajustou-se «iuc, quando alguma das duas partes não
quizesse continuar em alguma ou algumas das estipuíações, outras
serião substituídas, ficando as impugnadas suspensas, cinipianlo se
não acabasse a discussão das novas.
Se consultarmos os escriptores de direito internacional, acharemos
muitos que siisienlào a doutrina que professamos, e entre elles «i
notável a opinião dos litleratos que escreverão a Encyclopedia
Mcthodiea, tomoí", pag. 335, que pe«;o licença para transcrever aqui:
« II n'y a pas de doute sur l'obligation d'observer le traité; il
s'agit seulement de sa durée. Or, il y a souvent lieu de douter si
les coutractans out voulu étendre les engagements reciproques au-
delá de leur vie, et lier loura suecesseurs. Les conjonetures chan-
gent; une charge aujourd'lini légére peut devenir insupportablc ou
trop onereuse eu d auires circonstances; Ia faoon de penser des sou-
verains ne varie pas moiris; et il est des cboses, dont il convient
que chaque prince puisse disposer librement, suivant son systême.
II en est d'autres que l'on accordera volontiers à un roi, et «pie l'on
ne voudroit pas permeitic à son suceesseur. Il faut donc chercher
dans les termos du traité ou dans Ia matiero qui en fait. l'ohjeet,
dr ipioi dccotivrii rinienfon «!c> coulra''lants. Mais nom ohMiveions
— 131 -
dados mui aproximados, de 1844 para cá, quatro mil
contos annuaes, que devem produzir pela porcentagem
da lei vinte contos de réis.
O commercio dos diamantes se faz á sombra do mis-

qu'on compte peu sur les slipnlations anoncées eomnie perpétuelles


«pie si on conserve ces vaines formules, e est pour tromper les ignorans,
et les hommcs crédules.
«Les traités perpetueis sont des traités réels, disent les publi-
cistes; puisque leur dnrée ne peut dépendre de Ia viedecontractans.
De méme, lorsqu'un roi declare dans le traité, qn'il le fait pour
lui, et ses successeurs, il est manifeste que le traité est réel. II
est attacné à 1'état, il|l'ait pour durer autant que le royaume lui-méme.
« Ces remarques sont fort bcllcs : toul le monde sail aujourd'liui
à quoi s'cn tenir là-dessus, et elles ne méritent pas une discussion
scriéuse... On ne fait pas plus d"allention à Ia perpétuité qu'on stipule,
qu' à tant d'autres formules.
Puffendorf établit les régles que voici: il dit 1.°, que les succes-
seurs doivcnt garder les traités de paix faits par leurs prédécesseurs.
2.o qu'un successeur doit ganler loutes les conventions legitimes,
par lesqu'el!es son prédécesseur a transfere quelqne droit á un tiers.
3.° que si 1'autre allié ayant déjà execute quelqne chose, á quoi il
étoit tenu en vertu du traité, le roi vient à mourir avant que
cfavoir effectué à son tour cc à quoi il s'ctoit engagé, son succes-
seurs doit indispcnsablement y suppléer. Voilà des beiles máximos
qu'on oublic pour des iniérêts de convenance bien ou mal entcndus.
Los publicisies sont commc les casuistes; ils posent toutes sortes
de qucstions, et ils les résolvent avcc lamémeassuranrc. »
Eis-aqui o que são na pratica da diplomacia—tratados perpétuos,—
que alguns, como a maioria das secções, não reputão invalidaveis
sem novo accordo ou guerra, conta-se pouco com elles, são formulas
vãs que se conservão para enganar ignorantes c crédulos. Eu não sei
o que seja mais precioso para provai- que os tratados chamados—
perpétuos—não eslao no caso daquelles contra os quaes não podem
prevalecer leis novas. Mas não quero ainda fazer parar aqui a
minha analyse; vejamos como entende a França, que é coinparte
comnosco nesse tratado, a perpetuidade de suas estipuíações.
Se consultarmos a opinião da França a respeito das palavras —
tratado perpetuo — veremos que c a mesma que nós aqui sustentamos,
porque, quando lhe parece, considera o mesmo tratado não exis-
tente, e pratica actos em manifesta contradicção á sua genuína in-
telligencia, aquclla mesma que fora a sua própria por espaço de
muitos annos. Assim decidio ella em 1840 que os cônsules do Im-
pério não gozavão «Io direito de servirem de interpretes e corre-
tores dos capitães de navios de sua nação, como os cônsules hespa-
nlióes, nação nessa parte a mais favorecida, não obstante ser-nos
isso garantido pelo art. 4.° do tratado, c estarem nossos cônsules
na posse desse gozo desde 1826, época do tratado.
Embora se cobrisse a França nessa occasião com uma lei anterior
ao nosso (ratado, e posterior ao de Hespanha, porque, se assim é.ou
não devia estipular esse favor no tratado, ou, estipulando-o, devia
fazer revogar a lei em nosso favor, para que sua promessa não fosse
unia fraude, e o tratado nos pudesse obrigar, nitiilo principalmente
quando lia tantos annos não houvera o obstáculo, que finalmente
descobrio o Sr. Thiers, que nem fez o tratado, nem o mandou pôr
em execução, como estava.
Assim, não obstante ns estipuíações de paz perpetua, e dos privi-
légios de nação mais favorecida, arreda a França de seu consumo
— Vrl —
terio mesmo nos mercados da Europa; o as dillérentes
casas que recebem esse gênero, para tirar melhor par-
tido nas vendas, procurão occoltar o mais possível as
porções que tem, ou por sua conta, ou á consignação.

interno com direitos extravagantes todos os nossos gêneros, o final


mente insulta nossa bandeira, capturando navios suspeitos «le tra-
fico de africanos, a pretexto de pirataria, como se houvesse entre
nós e ella estipulação especial a este respeito, ou se o direito «Ias
gentes universal considerasse como tal um trafico aliás pennit-
tido e animado mesmo por todas as nações até pouco tempo a
esla parle; e se hoje o guerreiào é somente com vistas de accom-
modar na America uma massa iinmcnsa «le proletários, que iiieom-
modão a Europa, que para nada prestão, degradados, aviltados
e anniquilados em suas faculdades, como se achão por suas leis e
instituições.
A definição, pois, de—tratado pcrpeluo,—tal qual o que se fez cm
1826 entre o Brasil e a França, não pôde ser outra senão a seguinte:
Tratados que acabão ouse suspendem quando qualquer das «luas altas
partes contractantes entende dever retirar seu consentimento empe-
nhado nas estipuíações sem cláusula alguma reslrictiva, e por con-
seguinte ad libitum.
Esta definição mostra evidentemente o direito que tinha o corpo
legislativo de comprehender na lei do imposto dos caixeiros estran-
geiros aos Francezes, não obstante o tratado, que bem entendido,
não pode servir de impedimento legal a isso.
Se porém por um excesso de escrúpulo, ou generosidade mal en-
tendida, não se quizer aceitar esla definição, a despeito da exactidão
das observações, de que deriva, nem assim podem os Francezes ser
exceptuados da comprehensào de um imposto, por que se tem pro-
nunciado a opinião oflicial em todo o Império, se quizennos usar de
nossos direitos indisputáveis nesta matéria.
Ha pouco dissemos que os Francezes tirarão a nossos cônsules o
direito de serem interpretes o corretores dos capitães de nossos
navios; os Francezes commettem actos de hostilidades contra nossos
navios de commercio, sem a menor attenção ás estipuíações do Iraiado
perpetuo. Este procedimento para eomnoseo não só nos da o direito,
como nos impõe o dever de ter o tratado por invalidado, e sem
for«;a para procedermos como se não existisse.
O corpo legislativo fez a lei sem distineção entre os estrangeiros;
ao governo, que a aceitou o sanecionou, cumpre mandal-a correr e
executar na sim mais ampla applicação, declarando a França sua
resolução a respeito do tratado, e e dal-o por lindo ou quando
menos por suspenso ate novas estipuíações. Este arbítrio é mesmo
necessário para livrar o governo dos graves eml.araeos e dilHcnldade»
em que o eolloca o tratado perante as mais nações, tino, vendo que
nao ha motivo para ser a França privilegiada no Brasil, com razão
rcelamao os mesmos favores e garantias.
Se continuar semelhante tratado perpetuo, entendido como entende
a maioria da scc«;ao, <[tie alias não duvida eonsideral-o bem fatal ao
paiz, o governo ou ha de lutar com todas as nações por causa delle,
on ha de communieal-o a todas ellas, o que seria uma grande cala-
midade para o Império.
Pelo que respeita aos Portuguezes, lambem quer a maioria das
secções que sejão excluídos da comprehensão do imposto, norque
um dos nossos ministros de estrangeiros declarou em 18íl cm uma
nota ao ministro portuguez, que o tratado com Portugal estava cm
vigor, c também porque <*w tratado no art. 3.» dá aos poiliciie/cs
— i:js —

O mesmo succede nos mercados do Brasil, onde ps com-


pradores fazem os maiores esforços por se occultarem uns
aos outros. Creio por esta razão que muitos se haverião de
subtrahir ao pagamento dos direitos de exportação, se

os favores, que são concedidos, ou que forem concedidos á nação


mais favorecida, que agora é a franceza. Examinemos:
Pelos annos de 1835 ou 1836 na ominosa administração de Passos
Manoel, a pauta feita para as alfândegas de Portugal, exagerou de
tal modo os direitos de importação sobre os gêneros do Brasil, que
passarão os de todos os gêneros das mais nações estrangeiras, e isso
contra a letra expressa do art. 10 do tratado de 1823, e mesmo
contra o art. 5.° que, promcttendo maiores favores, jamais podia ser
compatível com o augmento de maiores ônus.
O governo brasileiro representou contra semelhante condueta, mas
nunca foi attendido, continuando o escândalo a ponto, que ainda ha
pouco ine foi mandada do Maranhão a conta de um carregamento
de arroz remeltido para Portugal, o qual quasi que foi absorvido em
direitos de entrada, despeza de porte, comraissões, etc. Nestas cir-
cumstancias foi o governo brasileiro autorisado a impor direitos
sobre vinhos, aguardentes, etc., pela lei de 20 de Outubro de 1838, e
em conseqüência elevou os direitos de entrada desses gêneros a 53 e
meio por cento, sendo de nações que não tivessem tratados em vigor
com o Brasil, em cujo numero foi comprehendida a nação portugueza.
Assim foi considerado sem vigor o art. 10 do tratado que não
permitte impor mais de 15 por cento, foi considerado sem vigor o
art. 5.o, porque nessa mesma occasião os vinhos do Cabo, por serem
inglezes, pagavão só 15 por cento; nessa mesma occasião mandava-se
pelo regulamento de 9 de Maio de 1842 arrecadar as heranças dos
defuntos e ausentes portuguezes pelo juizo dos orphãos , entretanto
que os bens dos subditos inglezes e francezes, nas mesmas circums-
tancias, continuavão a ser arrecadados pelos cônsules de suas nações.
Nem se pôde dizer que não assistia ao governo brasileiro direito para
isso, porque—par Ia défection d'une partie, qui se refuse 1'éxécution
d'un traité, 1'autre partie est libérée de son côté.
Este facto annullatorio do tratado portuguez, ao menos nos artigos
que cá trazem, como argumento, dura ha sete annos avista e face de
todos com inteira approvação de todas as administrações, de todas as
opiniões que tem governado o paiz desde 1839; e não conheço que haja,
ou possa haver, nada de. mais regular, e de mais authentico, de mais
solemne, porque tudo tem sido feito por leis e por decretos impe-
riaes. Mas diz-se que nada disto foi intimado ao ministro portuguez,
e que por conseguinte não se pode considerar o tratado roto; a isto
responderei que nem se podia, ou devia fazer semelhante intimação,
porque nem foi o Brasil quem primeiro considerou de nenhum vigor
o tratado , mas sim Portugal, augmentando os direitos de importação
dos gêneros do Brasil, muito acima do que prescrevia o tratado;
nem o Brasil, quando impoz em algumas das mercadorias portuguezas,
se dirigio especialmente contra Portugal, como em represália^ fel-o,
sim, por disposição geral, para com todas as nações, não tendo.por
conseguinte nada a dizer de especial a Portugal, que aliás bem sabia
que fora quem primeiro rompera ou annullára o tratado. Entretanto
quero suppôr que semelhante intimação fosse precisa para a rotura
ou abandono do tratado, quem sustentara a doutrina, que essa falta
de intimação aiinulla em direito o acto, por que aceitámos depois de
reclamações e instâncias, o acto que para comnosco commetteu
Portugal sem a menor ceremonia, de annullar o tratado solemne
entre as duas nações, portugueza e brasileira, que de mais a mais
C 20
— m -
fossem obrigados a despachar as remessas em seu nome,
e me parece por outro lado que nenhum inconveniente ba
em se fazerem os despachos no consulado sem mencio-
nar-se o nome da pessoa que despacha e paga os direitos.

tinha tido a tão mal paga generosidade de prometler, em outros tra-


tados, que nenhuma nação devia pretender os favores, que o Brasil
se propunha fazer a Portugal ?
Diz-se também que um ministro da coroa, em 1841, declarou, em
uma nota ao ministro de sua magestade fidelissima, que o tratado
entre o Brasil e Portugal eslava em pleno vigor. A isto responderei
que, ou essa declaração apenas se refere a formalidades, cuja falta
comludo não pôde annullar o facto, ou deriva de um manifesto en-
gano, equivoco ou inadvertcncia muito possível em pessoas occupada.s
de muitos e gravíssimos negócios, como um ministro de negócios
estrangeiros; pois que uma ial assereào não é conforme com os fados
«pie se estavão passando nessa mesma occasião no ministério, em que
servia o ministro, e «le que a repartição de estrangeiros devia estar
muito bem inteirada.
Com effeito os direitos de 53 Va °/« sobre os vinhos, aguardentes e
outros gêneros de producção do reino de Portugal, e seus do-
mínios já ha muito se arrecadavão, contra os arts. 5.° e 10. do tra-
tado, e foi nessa época, que se mandarão arrecadar pelos juizos dos
orphãos, tirando-se aos cônsules de Portugal os bens dos ausentes
e intestados contra a letra clara, c indubilavel do art. 5.° do mes-
mo tratado, que conferia a Portugal os mesmos direitos , que então
linlião os francezes, pelo terem os inglezes, que então era a nação
mais favorecida.
Eu não posso pois considerar essa declaração do ministro, senão
como unia declaração singular e ofliciosa de um ministro, nunca de-
claração do governo; para dizer o contrario era preciso suppor que o
tratado estava cm vigor para um dos ministros, e sem vigor para
outros, e que a primeira declaração prevalecia, entretanto que a opi-
nião dos segundos tinha seu pleno effeito em todas as repartições do
Estado, o que é manifesto absurdo. Esta declaração de que o tratado
com Portugal está em vigor não é assim indifferente, como parece,
a primeira vista, porquanto, se está em vigor, e o está desde a época
«Ia primeira elevação dos direitos dos vinhos, então é necessário que
nos preparemos a pagar a Portugal uma avultadissima quantia por-
quanto essas palavras encerrão uma divida a Portugal, sem duvida não
menor de 10 a 12 mil contos, que temos arrecadado de seus gêneros
em direitos acima dos 15 % do tratado.
Felizmente porém não é assim, e nem uma nota de um ministro
pôde annullar actos legislativos e ministeriaes, decretados com a as-
signatura de Sua Magestade Imperial, nem um tratado atacado e con-
trariado em suas disposições, seja qual fôr o modo por que isso se
verifique, pôde jamais considerar-se revalidado senão por uma nova
convenção entre as parles.—Il y a rétablissement d'un traité lors-
qu'ilacessé d'être enforco, et qu'une nouvelle convention le fait re-
vivre—é doutrina corrente. Quero porém conceder de barato tudo
quanto pretende a maioria das secções, e é que, pela nota do Sr.
Aureliano, esta o tratado em vigor; nem assim mesmo podião ou
«levião ser excluídos os Portuguezes da comprehensão da lei do im-
posto, porquanto só o podião ser por virtude do tratad o com a França,
que, como fica demonstrado, não subsiste, ou não deve mais subsistir.
Concluo pois que é meu parecer que todas as nações sem distine-
ção alguma devem pagar o imposto sobre os caixeiros; é mesmo alroz
ou ridículo que ellas ponhão impedimentos a isso, quando sabem que
, — lí)ü —

O mesmo mistério que faz com que o commercio dos


diamantes evite a publicidade, exige também que as
qualidades das remessas não sejão conhecidas senão
pelos negociantes que as fazem, os quaes difücilmente
se sujeitarião a consentir que fossem as suas partidas
examinadas e avaliadas pelos empregados públicos do
consulado, nos quaes aliás difücilmente se poderia en-
contrar a aptidão necessária para semelhantes exames.
Por outro lado estou em circumstancias de poder
affirmar que seguramente nove décimos da totalidade
da exportação dos diamantes se compõem de partidas
misturadas (isto é, contendo diamantes de todas as quali-

esse imposto ainda nao é unia justa compensação dos ônus «pie sof-
frem os brasileiros, e de que tem sido isentos os estrangeiros, e é um
desideratum de todo o Império manifestado na opinião diversas vezes
repelida da assembléa geral legislativa , e de ipiasi todas as assem-
bléas provinciaes; entretanto, reconhecendo que uma lei tal pôde tra-
zer embaraços ao governo, e tanto assim que sempre votei contra ella
depois do anno dé 1839, c o mesmo faria em o anno passado, se não
sahisse do senado com receio de contrariar com meu voto as vistas
do governo alli mesmo manifestadas pelo Sr. ministro da fazenda,
nao terei duvida de concordar em que, senão obstante o facto de ter
o mesmo governo aceitado e sanecionado o artigo da lei de que
se trata, o qual não pôde soffrer as reslricções, que agora lhe que-
rcin pôr, que forão todas repellidas nos debates, elle entende que da
execução daquelle artigo se podem seguir comproinellimentos graves
ao paiz, admitta-se excepção dos Francezes. ordenando-se a suspensão
da cobrança do imposto até nova resolução da assembléa geral, que
a poderá dar logo no principio da sessão, e portanto dentro do anno
financeiro: mas neste caso por decoro nosso fique lambem suspensa
at«>então a dita cobrança com qualquer nação, pois que nenhuma pôde
ou deve ser considerada em circumslancias diversas da França, a quem
o Brasil nada deve mais, do que a qualquer outra.
Tal é, Senhor, a minha opinião, mas Vossa Magestade Imperial,
mandará o que fôr servido. Rio de Janeiro, em 27 de Janeiro de 1837.
—Manoel Alves Branco.
O conselheiro deestado Vasconcellos expôz que havia indicado a con-
veniência de romper-se o tratado portuguez de 1825, porque, tendo sido
este muitas vezes violado pelo governo de Porlugual em prejuízo do
Brasil, entender-se-hia que este renunciava ao direito de o declarar
roto por causa de taes infraecões, se em conseqüência e attenção a
elle fossem isentas as casas conimerciaes portuguezas do imposto dos

ria a ser perpetuo como o da França, c oneraria com quatro a cinco


mil contos, de que ainda se reputa credor em virtude da convenção
secreta; e, não obstante ser evidente que é fantástica essa divida, como
no caso de divergência dos commissarios a decisão compete ao go-
verno inglez, este infallivelmcnte condemnaria o Bras.l : julgando po-
rém que, se Vossa Magestade Imperial se dignar attender ao exposto,
poderá ser melhor informado, ordenando-se um cireunistanciado exa-
me de todas as oceurrencias, a respeito das quaes devem existir os
precisos documen'os na secretaria de estado dos negócios estran-
geiros.
— ISI;
dades e tamanhos), e estas partidas sendo de dia-
mantes de Minas regulão umas pelas outras ao termo
médio de 300#000 por oitava mais ou menos, e sendo
de diamantes da Bahia o termo médio não excede a
150#000 por oitava, sendo estas as mais avultadas re-
messas. Destas informações concluo que é muito fácil
cobrar o imposto sem examinar e devassar o gênero,
ordenando que no consulado se recebão e se pesem
mesmo lacradas as latas em que se costuma remetter
os diamantes, e que, descontada uma tara razoável na
razão do peso provável da lata, em que estiverem as
remessas, se faça o competente despacho, pagando os
exportadores meio por cenlo sobre 200#000 por cada
oitava, o que eqüivale a 1#000 por cada oitava que se
exportar. Em resumo o regulamento do governo me
parece que deve conter simplesmente os dous seguin-
tes artigos.
Art. 1.° Para a cobrança dos direitos de meio por
cento sobre o valor dos diamantes, que se exportarem
para fora do Império na forma do art. 13 da lei de
2 de Setembro de 1846, se procederá nas mezas do con-

A' vista do que fica expendido, e que o conselho de estado respei-


tosamente faz subir á augusta presença de Vossa Magestade Impe-
rial, se resolverá o que Vossa Magestade Imperial houver por bem.
Rio de Janeiro, 9 de Fevereiro do 18Í7.— Bernardo Pereira de Vas-
concellos.—José Antônio da Silva Maya.—Manoel Alves Branco.—Cae-
tano Maria Lopes Gama.—Honorio Hermcto Carneiro Leão.—José Joa-
quim de Lima e Silva.—Francisco Cordeiro da Silva Torres.
Foi voto o conselheiro José Carlos Tereira de Almeida Torres.
Maya.
UKSOI.UÇÃO.

Leve-se ao conhecimento «Ia assembléa geral conjunetaniente com


o decreto e instrucções de 10 de Março ultimo (') que a este objecto
se refere.(")
Paço, em 13 de Maio de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcantide Albuquerque.
(*) Regula a cobrança do imposto sobro as casas que tiverem mais de dous
caixeiros estraugeiros na corte, e mais de um nas outras praças c povoações.
(**) Foi submettido á consideração da assembléa geral.—Aviso de 21 de Maio
de 1817.
.V. p. o decreto n.° 1"8 de 24 de Setembro de 1847 revogou o art. ai da Lei
n.o mui (je 2 ( [ c setembro de teu- que ercou o imposto sobre os caixeiros es-
trangeiros.
- lo7 —
sulado da corte e provincias ao exame do peso dos
embrulhos lacrados, que se apresentarem ao despacho
com declaração de serem diamantes, sem se quebrar
o sello dos ditos embrulhos, e descontada a tara do
peso provável do invólucro far-se-ha o despacho pa-
gando o exportador na razão de meio por cento sobre
200$000 por cada oitava.
Art. 2.° Nos despachos se omittirá o nome do expor-
tador nem o consulado terá o direito de o indagar.
Sobre este apontamento, que foi submettido ao exame
dos membros do tribunal do thesouro publico nacional,
emittirão elles os seus pareceres seguintes.
l.° Do conselheiro procurador fiscal nestes termos:
Poderei suppôrque, em virtude da disposição do art. 13
da lei de 2 do corrente, se deve considerar desde já franco
e inteiramente livre o commercio dos diamantes extra-
hidos no Império, qualquer que seja o peso de cada
uma pedra, para poderem ser exportados com o simples
ônus do pagamento do imposto de meio por cento na
exportação: mas não posso convir em que este imposlo
se cobre pela maneira indicada no projecto de regu-
lamento inciuso.
Diz o citado artigo da lei . Do valor dos diamantes
que se exportarem para fora do Império cobrar-se-ha
o imposto de meio por cento.—E portanto o valor especial
dos diamantes, e não o seu peso indistinctamente con-
siderado, é que deve servir de regulador do imposto
para cumprir-se a litteral disposição da lei, e demais
para se proceder a respeito deste imposto na exportação
dos diamantes de conformidade com o que se observa
a respeito da cobrança de semelhante imposto na ex-
portação dos outros gêneros do paiz.
E' certo que no mesmo artigo se decreta que—a ava-
liação seja feita segundo os regulamentos do governo—
autorisahdo o governo a estabelecer as regras segundo
as quaes se ha de determinar aos diamantes o valor,
de que se deve deduzir o imposto; é porém manifesto
que uma avaliação de diamantes regulada só e indis-
tinctamente pelo peso, que se achar ter na partida ou
remessa delles, qualquer que seja a sua qualidade,
tamanho e peso, ha de, com incontestável prejuízo da
fazenda nacional, contrariar as mais das vezes, senão
sempre, a verdade do facto, e deixar de satisfazer a in-
tenção da lei. Contraria a verdade do facto, porque dá
um valor igual a diamantes diíFerentes em qualidade,
tamanho e peso, contra o constante uso do com-
mercio nacional c estrangeiro, ou contra as regras que
— loS —

nelle se segue para os avaliar, e segundo £s quaes o


diamante, que duplica em peso, quadruplica em valor;
e, porque assim os eslima de maneira que os põe a
mui grande distancia do preço commum, que em regra
constitue o verdadeiro e natural valor dos gêneros : e
contraria a intenção da lei, porque reduz á dminutissima
somma o producto do imposto estabelecido para aug-
mento da renda publica, afagando a má vontade, que
tem os commerciantes deste gênero de satistazer o im-
posto, ministrando-lhes o meio de se subtrahirem le-
galmente ao pagamento integral delle. Parece-me por-
tanto que a cobrança do imposto na exportação dos
diamantes se deve fazer do mesmo modo, que se faz a
de semelhante na exportação dos outros gêneros do paiz,
com a única differença dé* poder dar-se á pauta ou tarifa
dos preços muito maior duração qual, v. g., a do 6 mezes
ou de um anno para regular a percepijão, pois que o
preço dos diamantes é ordinariamente mais regular e
constante que o desses outros gêneros: e na pauta de-
verão ser os valores regulados pelos lotes, segundo a qua-
lidade, tamanho e peso conforme o uso de commercio.
Rio, 18 de Setembro de 1846.—Maga.
2.» Do conselheiro contador geral.
Como o art. 13 da lei de 2 do corrente manda arrecadar
meio porcento do valor dos diamantes que se exportarem
para fora do Império, preciso é, para preencher a determi-
nação da lei, que o mais aproximado possível se arrecade a
imposição; e porque o gênero tem um tão importante valor
que cresce á medida de seupeso, julgo indispensável
(jue o exportador apresente para o despacho uma guia
«jue designe, os lotes e o peso dos diamantes, logo com
seus valores, para que, conferida, se tire a importância
do imposto.
Que a dita guia seja formada p*or dous peritos no-
meados pelo governo, os quaes certifiquem o que contém
o embrulho a respeito da quantidade e peso dos dia-
mantes. Que os diamantes possão ser apresentados em
embrulho lacrado. Que, no caso de denuncia, seja o
administrador do consulado autorisado a destruir o lacre
do embrulho, para se conferirem os lotes dos diamantes
com a respectiva guia. Que se marque uma multa nos
casos de fraude conhecida por meio do exame. E' o que
me parece.
Rio, 26 de Setembro de 1816 —Lins.
•i.* Do conselheiro inspector geral.
Se para cobrança do imposto se houver de entrar na ava-
— l.)í) -

liação de cada diamante ou lote de diamantes segundo o


seu peso e qualidade, como a que se costuma fazer para
compra entre particulares, mister em que ha mui poucos
peritos, o resultado infallivel de tanta exacção será pas-
sarem todos por alto ; e, se alguns forem á estação
fiscal, o producto do imposto não valeria o tempo
e o trabalho despendido em tal processo, além do risco
de se desencaminhar alguma pedra de grande valor e
outros inconvenientes, que são óbvios. E' pois de ab-
soluta necessidade, e mesmo assim não sei se será mui
profícuo á renda, adoptar uma forma de despacho expe-
dita e livre de formalidades, em que o imposto se cal-
cule sobre o peso total dos diamantes, como se pro-
põe no projecto incluso, com algumas modificações
q.ue julgo necessárias (sendo a principal o preço de
200#OOO que parece diminuto), e vão incluídas no se-
guinte.
F...ordena, que na cobrança de 1/2 °/0 sobre a exportação,
dos diamantes estabelecida pelo art. 13 da lei n." *396
de 2 de Setembro de 1846, se observe o seguinte:
Art. 1.° Toda a pessoa, que quizer exportar diamantes
brutos para fora do Império, os apresentará nas mesas
do consulado, acompanhados de uma nota, como as es-
tabelecidas para o despacho dos outros gêneros, em
que se declare o peso total dos mesmos diamantes em
oitavas e grãos.
Art. 2.° O administrador mandará por um feitor pesar
em sua presença, do escrivão e do apresentante o vo-
lume que contiver os diamantes, sem se abrir; e, achando
que, feito um desconto razoável pela tara delle, o peso
orça pelo accusado na nota, mandará lacrar o volume
pelo lugar da abertura com o sello das armas impe-
riaes, em que ficará presa uma tira de papel que ser-
virá de despacho na qual estará escripto pelo escrivão:—
Pagou de meio por cento de exportação d e . . . oitavas
...#...Mesa do consulado de tantos de tal mez e
anno—rubrica do administrador e escrivão.
Art. 3.° Se ao administrador parecer que o peso é di-
minuto, fará reformara nota, e, convindo o apresentante,*
se fará o despacho, aliás se abrirá o volume e se pe-
saráõ os diamantes; o que comtudo se evitará quanto
fôr possível, desattendendo-se pequenas differenças.
Art. 4.° Por cada oitava de peso dos diamantes se co-
brarão 1#500 como equivalente do meio por cento do
imposto. Se além das oitavas houver grãos e estes, exce-
derem de meia oitava, cobrar-se-ha o imposto como se
fosse uma, e se não excederem desprezar-se-hão.
Art. ").° Os diamantes que foretn encontrados, em acto
— ífif) —

de embarque, sem o sello e despacho «Io art. í.\ serão


havidos como extraviados ao imposlo.
Este é o meu parecer.
Rio, 7 de Outubro de ISW.—Maris.
A secção, tendo em vista os transcriptos apontamentos
e pareceres, e attendendo principalmente á necessidade
de propor-se o meio mais conveniente, expedito e effec-
tivo de executar a disposição do art. 13 da lei de 2 de
Setembro deste anno para a cobrança do imposto
de meio por cento na exportação dos diamantes,
de modo tal que se concilie o proveito da fazenda na-
cional, na realisada arrecadação do mesmo imposto, com
o commodo e interesse das partes, que aliás se sub-
trahiráõ ao pagamento com tanta facilidade quanto é
a reconhecida difficuldade e impossibilidade mesmo de
obstar ao extravio dos diamantes de uma inveterada pra-
tica ; concordou na sua maioria com o parecer do con-
selheiro inspector geral do thesouro, adoptando o me-
thodo por elle proposto como o mais adequado aos de-
sejados fins de conseguir renda para o thesouro, e mo-
ralidade para o commercio neste ramo.
O conselheiro José Antônio da Silva Maya, porém, não
pode deliberar-se a seguir o mesmo parecer; não por-
<|ue desconheça o quanto são procedentes de facto todas
as razões de conveniência expostas no apontamento e
no voto do conselheiro inspector geral do thesouro,
para que seja preferido o meio que adopta a maioria
para se expedir o despacho da exportação dos diamantes,
e cobrar-se os devidos direitos delles ; não porque deixe
de apreciar o quanto será inefficaz e improductivo o sys-
tema estabelecido para o despacho e cobrança dos di-
reitos de exportação dos gêneros do paiz, se fôr applicado
aos diamantes em opposição aos interesses e hábitos dos
commerciantes deste gênero ; mas sim e somente por
entender que a disposição do art. 13 da lei de 2 de Se-
tembro deste anno, litteralmente entendida, exactamente
se não cumpra, se o despacho de exportação dos diamantes
e a cobrança dos direitos de meio porcento se íizer por
methodo differente do que se observa a respeito dos outros
gêneros, que se exportão, e que a alteração desse methodo
só poderá ser decretada por acto do poder legislativo.
Vossa Magestade Imperial se dignará dar a cada um
dos pareceres a attenção que merecer, para resolver o
que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, 11 de Novembro de 1846.— José Antônio
da Silva Maga.—Visconde de Olinda.—Visconde de
Monf Alegre.
161 —

IIF.SOI 1 l,AO.

Como parece. (*)


Paço, em 30 de Dezembro de 1846.
Com a rubrica «le Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque.

N. 107.—CONSULTA DE 30 DE DEZEMBRO DE 1846.

Sobre a possibilidade de se fazer extensiva a todas as rendas de lan.


çamento a cobrança de mullas, fora dos prazos para pagamento,
das mesmas rendas.

Senhor.—O administrador da recebedoria deste muni-


cípio propõe em officio de 2G de Setembro deste anno
que se faça extensiva a todas as rendas de lançamento
as disposições do art. 21 § 1.° do regulamento de 16 de
Abril de 1842, e do art. 32 do de 15 de Junho de 1844.
Sobre este mesmo objecto já havia transmiltido ao go-
verno imperial o presidente da província do Rio de Ja-
neiro duas representações, uma do procurador fiscal da
província, pedindo igual providencia, e outra docollector
de Iguassu sobre a intelligencia daquelle art. 32 com-
binado com o art. 33 do mesmo regulamento. Propõe
mais o mesmo administrador em officio de 3 de No-
vembro ultimo que se faça extensiva á recebedoria do
município a providencia dada na circular de 24 de Ou-
tubro de 1845, como meio de se facilitar a cobrança das
dividas provenientes dos impostos de que se faz menção
na mesma circular. O que tudo sendo examinado pela
secção do conselho de estado dos negócios da fazenda,
tem ella a honra de dar o seu parecer.

(*) Decreto n.°492 de 2 de Janeiro de 1847.—Dá providencias sobre


a cobrança do meio por cento sobre a. exportação dos diamantes,
c. 21
— UV1 —

Quanto ao primeiro officio:


Determinando os regulamentos citados que, não sendo
agos nos prazos marcados os impostos de que nelle se
Kaz menção, seja sua cobrança exigida dos collectados
por meio de rècebedores para isso nomeados, antes de
recorrer á execução judicial, propõe o administrador que
seja esta medida ampliada aos mais impostos de lança-
mento; e a secção concorda na providencia lembrada.,
Ella tende a fazer realizar dentro do exercício do anno a
cobrança integral destes impostos, sem que se accumule
a divida para depois ser cobrada pelo meio executivo, e
com morosidade, e sem que soffrão vexame os contribuin-
tes já com o processo e já com a commissão de 6 °/0; sendo
que os que se achão nessas circumstancias, se não são re-
tractarios ou remissos, são miseráveis que terião satisfeito
a exigência por aquelle systema de cobrança; accrescen-
doaisto a vantagem de se evitar uma longa escripturação
e uma extensa serie de certidões de multiplicidade de
addições miúdas que se devem remetterpara o juizo.
Na applicação porém da doutrina daquelles artigos a
outros impostos releva ter algumas considerações. Os
dous regulamentos concordão no systema de cobrança
por meio de rècebedores com a multa de 3 "l0em favor
destes, antes de se lançar mão do meio executivo; mas
estabelecem regras differentes para se chegar ao mesmo
fim.
No de 1842 marcão-se dous prazos dentro do anno para
os pagamentos; no de 1844 ordenão-se já dous e já um
só, segundo a importância da imposição. No de 1844 é
expresso que os dous pagamentos devem ser feitos no
decurso do mez de Junho, e no do mez de Dezembro ;
n,o de 1842 determina-se que o sejão por semestres venci-
dos nos mezes de Junho e Dezembro, no prazo de 30 dias
úteis, não sendo claro se esses 30 dias vão além dos se-
mestres vencidos naquelles mezes, ou se são nelles com-
prehendidos.
Pele primeiro daquelles regulamentos, uma vez que
não seja pago o imposto no prazo marcado, e que não
seja satisfeita a exigência do recebedor, segue-se logo
a execução; pelo segundo, porém, a exeeução não tem
lugar, se não passados seis mezes depois de vencido o
termo do pagamento. Além disso, concedendo-se no
de 1844 o espaço de seis mezes para o pagamento do
imposto e da multa, determina-se ao mesmo tempo que
no caso de execução seja esta feita no semestre addi-
cional, o que põe os executados em mui desigual con-
dição, porque os que não pagão a prestação do pri-
meiro semestre, tem seis mezes de espera, e os que
- 163 —

não pagão a do segundo soffrem logo uma execução.


E' pois differenle o processo da cobrança estabelecido
nos dous regulamentos. Tratando-se portanto de ap-
plicar suas disposições a outros impostos, é mister esta-
belecer regras certas que o executor deva seguir. E,
uma vez que se prescreve uma só norma de cobrança
para impostos de lançamento, parece de boa ordem que
ella comprehenda aquelles mesmos que são o objecto
dos dous regulamentos, ficando assim um só systema
geral e uniforme para todas as da mesma natureza.
Na determinação porém das épocas para os pagamentos
parece não se dever estabelecer uma regra absoluta para
todos. Os dous regulamentos rnarcão dous prazos para
os pagamentos; mas o de 1844 em alguns casos estabele-
ce um só, regulando-se pela importância da obrigação.
Esta distineção parece conveniente. Alguns impostos
são de tão diminutas quantias, que, dividido seu pa-
gamento em duas prestações, sua arrecadação não con-
pensará o trabalho da escripturação, e a perda de tempo
para sua cobrança: tal é, por exemplo, o da taxa dos
escravos, que muitas vezes não passaráõ de três ou
quatro e até de um só. Nestes casos são tão pequenas
as parcellas, que divididas em duas quasi que nenhum
incentivo de lucro offerecem ao recebedor, entretanto
que se complicará excessivamente a escripturação e
crescerá a necessidade de uma multidão de certidões
ue devem ser remettidas para o juizo. Com este fun-
3 amento a secção adopta a doutrina do regulamento
de 1844, com as alterações que parecerem convenientes.
Quanto ao segundo officio:
A secção concorda também nesta parte com o ad-
ministrador da recebedoria, posto que tenha de apre-
sentar algumas modificações á sua proposta. Pela cir-
cular de 24 de Outubro de 1845, foi ordenado, para
facilitar a arrecadação das dividas dos annos anteriores
provenientes da taxa dos escravos, e do imposto das
lojas, que as collectorias e mesas de rendas das pro-
víncias ficassem encarregadas dessa cobrança com a gra-
tificação de 6 °/„; mas só por espaço de um anno, no fim
do qual deveria proceder-se ao meio executivo.
Propõe agora o administrador que esta providencia
se faça extensiva á recebedoria do município.
Antes de tudo cumpre observar que a existência dessa
divida aceusa de negligencia aos que tem sido encarre-
gados de sua cobrança, senão em seu todo, que algumas
poderão estar perdidas, ao menos na maior parte dellas
que bem podião e devião estar cobradas.. Entretanto a sec-
ção não acha inconveniente em que, antes de se recorrer
— 16'i —
ao executivo, que é o único expediente que resla, se em-
pregue um meio fácil e brando em si mesmo, e que
pode ter bons resultados para o Ibesouro sem gravame
para os contribuintes ; e, tanto mais se inclina a abraçar
este alvedrio, quanto, sendo executado como ella o indica,
vem elle reduzir-se em sua substancia a applicar á co-
brança da divida atrazada a mesma regra que agora se es-
tabelece para o futuro.
Admitlida portanto a idéa geral da circular, é mister
observar o seguinte.
1." Aquella circular comprehende somente as dividas
provenientes da taxa dos escravos, e do imposto das
lojas. Parece porém á secção que, adoptando-se um
methodo geral de cobrança para os impostos de lan-
çamento, e convindo adiantar a cobrança das dividas atra-
zadas, e ajustar as contas anteriores, deve a providencia
abranger todas as dividas que procederem de impostos da
mesma natureza.
2." Ampliada assim a providencia, julga a secção que
deve ser extensiva a todas as provincias, aonde verificão-se
as mesmas razões, que aconselháo para este município.
3.° Como porém a cobrança de alguns destes impos-
tos já se faz actualmente por via dos rècebedores, que
são òs dos regulamentos do 1842 e I84'i, parece que as di-
vidas que tiverem essa origem não «levem ser coinpre-
hendidas na providencia, poniuc não se trata aqui senão
de estender o beneficio deste systema de arrecadação
aquelles impostos que ainda onãogozão.
4.° A providencia não deve servir de exemplo, que
deixe conceber esperanças de maiores lucros aos rè-
cebedores. os quaes por isso deixarão de propósito atra-
zada a cobrança da divida. Por esta razão assenta a
secção que a gratificação não deve passar de 3"/.. Deste
modo fica removido o inconveniente que o inspector do
thesouro notou na circular.
5.° Publicado o decreto, deve logo ser exigido pelos
rècebedores o pagamento do que estiver em divida.
Concedendo-se um prazo qualquer, vem os antigos de-,
vedores, que aliás já deixarão do pagar no tempo pres-
criplo, a ficar de muito melhor condição «pie os actuaes
aquém não se permilte nenhuma espera.
6.° Entende lambem a secção que não deve esta provi-
dencia embaraçar á marcha da justiça, quando esta já es-
teja em acção. È por isso não deve este favor estender-se
áipielles devedores que já estiverem em processo.
Em cumprimento portanto das observações «pie a secção
acaba de fazer, tem ella a honra de offerecer o seguinte
projédo de decreto.
— 165 —
Art. I." O pagamento dos impostos que estão sujeitos
a lançamento, será feito pelos collectados á boca do co-
íre da estação fiscal encarregada de sua arrecadação,
em duas prestações iguaes, uma no decurso dos mezes
de Maio e Junho, e outra no decurso dos mezes de No-
vembro e Dezembro. O daquelles porém cuja importância
annual nao exceda de 10#000 será feito em uma só pres-
tação no decurso dos mezes de Maio e Junho.
Art. 2.° Não sendo feitos os pagamentos nos prazos mar-
cados no artigo antecedente, os rècebedores, que forem
encarregados de sua cobrança, irão récebel-os nos domi-
cílios dos collectados, os quaes pagaráõ mais a multa de
3 /„ que seráapplicada em favor dos mesmos rècebedores.
Art. 3.° Não sendo satisfeita a exigência dos rècebe-
dores quanto ao imposto e á multa, elles o declararão
no verso do conhecimento do recibo e o assignaráõ;
e na estação fiscal respectiva se extrahirá logo certidão
do livro do lançamento, o qual será remetlido ao juizo
dos feitos para proceder á cobrança executiva de uma
e outra divida, devendo proroover-séo processo de modo,
que se realise a entrada no cofre dentro do semestre
que se seguir ao do prazo vencido.
Art. 4." Fica comprehendida nas disposições deste
decreto, a cobrança dos impostos de que tratão os re-
gulamentos de 16 de Abril de 1842, e de 15 de Junho de
1844; e assim explicados os arts. 21 e 22 do primeiro e
os arts. 31, 32 e 33 do segundo destes regulamentos.
Art. 5." As dividas dos annos anteriores, que não
estiverem em processo, provenientes de falta de paga-
mento dos impostos de lançamento, serão exigidas pelos
rècebedores nos domicílios dos collectados, os quaes pa-
garáõ a multa de 3 °/0 em favor dos mesmos rècebedores.
Esta disposição não comprehende aquellas, que pro-
cederem de falta de pagamento dos impostos de que
fazem menção os citados regulamentos de 16 de Abril
de 1842, e 15 de Junho de 1844.
Rio de Janeiro, 30 de Dezembro de 18W.— Visconde
de Olinda.— Manoel Alves Branco.—José Antônio da
Silva Maga. (*)

f) Nada se resolveu por não estar na occasião o governo autori-


sado para fazer as alterações indicadas na consulta.
Foi, porém, esta questão afFecla ao corpo legislativo, como se vê
dos relatórios do ministério da fazenda.
O art. 30 da lei n. u 1307 de 26 de Setembro de 1867 fez extensiva
a todas as rendas lançadas a imposição da multa de 6 %» quando
nao são pagas á boca do cofre nos prazos marcados nos respectivos
regulamentos.
RELAÇÃO
DOS

MINISTROS DE ESTADO PRESIDENTES


E DOS

CONSELHEIROS MEMBROS

SECÇlO DE FAZENDA DO CONSELHO DE ESTADO.


1847.
MINISTRO I>E ESTADO.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque (depois visconde de Albuquerque), até 16
de Maio.
José Joaquim Fernandes Torres, nomeado por decreto
de 17 de Maio. Servio até 21 do mesmo mez.
Manoel Alves Branco, nomeado por decreto de 22 de
Maio.
Saturnino de Souza e Oliveira, ministro e secretario
de estado dos negócios estrangeiros. Nomeado por de-
creto de 20 de Outubro, no impedimento por motivo de
moléstia, do conselheiro Manoel Alves Branco. Servio
desde 21 do mesrno mez até 16 de Novembro.
CONSELHEIROS DE ESTADO.
Manoel Alves Branco (até 21 de Maio).
Visconde de Olinda.
Visconde de Abrantes.
José Antônio da Silva Maya, dispensado da secção, por
se ter apresentado o conselheiro visconde de Abrantes,
por decreto de 12 de Março.
José Cesario de Miranda Ribeiro, designado para servir
no impedimento de conselheiro Manoel Alves Branco,
por decreto de 17 de Julho de 1847.
SECRETARIO.
João Maria Jacobina (interino), official maior da se-
cretaria de estado dos negócios da fazenda.
CONSULTAS

CONSELHO DE ESTADO NA SECÇlO DE FAZENDA.

1847.

N. 108;—RESOLUÇÃO DE 21 DE JANEIRO DE 1847.

Sobre o projecto de regulamento para as caixas de depósitos


públicos.

Senhor.—Manda Vossa Magestade Imperial, por aviso


de 23 de Novembro de 1846, consultar sobre a conve-
niência de mandar-se executar o projecto de regulamento
seguinte, a saber:
Art. 1.° Nas capitães das provincias da Bahia, Pernam-
buco, Maranhão e Pará, e na cidade do Rio Grande do Sul,
serão, como na corte, thesoureiros do deposito publico
de dinheiro, diamantes e papeis de credito os das re-
cebedorias das rendas geraes infernas alli estabelecidas,
para as quaes passaráo os livros e documentos respec-
tivos, e o expediente e escripturação que ora se faz nas
thesourarias dos ordenados da Bahia, Pernambuco e
Maranhão, e na thesouraria de fazenda do Pará.
Art. 2.° Nas outras provincias, incluída a de S. Pedro,
na capital, serão thesoureiros dos referidos depósitos
os mesmos thesoureiros das respectivas thesourarias.
c. 22
— 170 —
Art. 3.° O cofre geral ou de reserva, que existe em
cada uma das thesourarias das mencionadas provincias
da Bahia, Pernambuco e Maranhão, e o que ora deve
existir também na thesouraria do Pará, serviráõ somente
para a guarda dos moveis de ouro, prata, diamantes e
apeis de credito, e estarão sob a guarda e responsa-
E ilidade do thesoureiro da recebedoria, tendo elle uma
das chaves, outra o seu escrivão, e outra o thesoureiro da
thesouraria; fazendo-se as entradas e sahidas com as-
sistência dos três clavicularios.
Art. 4.° Nos cofres íiliaes e nos de deposito das the-
sourarias, onde os não houver, só se poderão accumu-
lar em dinheiro, para occorrer ás restituições ordiná-
rias* a saber: nos da Bahia e Pernambuco até 4:000$, nos
de Maranhão, Pará, S. Pedro, Minas e S. Paulo até 2:000$,
e nos das outras até ! :000#, passando o excedente para a
caixa da renda geral da thesouraria, que será conside-
rado como cofre de reserva das referidas espécies, es-
cripturando-se como movimento de fundos, que serão
restituidos com preferencia a outra qualquer despeza,
quando seja necessário, para restituição de algum de-
posito, para o qual não chegue o existente no respectivo
cofre.
Paragrapho único. No cofre do deposito da recebedoria
da cidade do Rio Grande do Suí só se accumulará em di-
nheiro alé 1:000#, passando o excedente para o cofre das
renclas geraes no íim de cada mez, sem que delle se
deduza porcentagem para os empregados, sendo-lhe ap-
plicavel, quanto ao mais, o disposto no artigo antecedente.
Art. 5.° O prêmio dos depósitos fica sendo uma das
rendas a cargo das recebedorias, a quem por este regu-
lamento se encarrega o cofre dos depósitos públicos; e
do mesmo prêmio se não deduzirá porcentagem para
bs empregados delia, além da estabelecida sobre0 as
outras rendas, cessando portanto a deducção dos 3 /„,
de que trata o art. 15 do citado regulamento do 1.* d°e
Dezembro de 1845.
• Art. 6.° Nas recebedorias encarregadas dos cofres de
depósitos em que o administrador não reunir o cargo de
thesoureiro dellas, as incumbências, que o regulamento
citado nos arts. 8.°, 9.° e10 dá ao inspector da the-
souraria, serão exercidas pelo mesmo administrador,
fexcepto comtudo o da recebedoria da cidade do Rio
Grande do Sul, que, posto accumule o exercício de the*
soureiro, exercerá as referidas incumbências em attenção
á distancia da thesouraria. .i
Art. 7.° No fim de cada anno financeiro o tribunal do
thesouro na corte, e os inspectores das thesourarias nas-
- 171 -
provincias mandarão dar balanço ao cofre dos depósitos,
e tomar a conta do thesoureiro delle. solicitando, das
autoridades (ou seus actuaes subrogados) por cuja or^
dem se fizerão os depósitos incorridos em prescripção,
que hajao do lhes dar o destino determinado nas leis.
Art. 8.° São appíicaveis aos cofres de depósitos da^
províncias o disposto no decreto de 8 de Janeiro de 1835
a respeito do da corte, e ao desta as disposições, dó pre-
sente regulamento, e do de 1.° de Dezembro de 1845.
Senhor, este projecto tem por fim, como se vê de
suas disposições, fazer guardar os dinheiros existentes
nos cofres de deposito das diversas províncias, de modo
que, garantida quanto é possível sua segurança, não
fiquem elles estagnados nos ditos cofres, como se achão.
A secção não pode deixar de reconhecer sua eminente
utilidade, e por isso é seu parecer que se pôde deixar
de entender a disposição do art. 33 da !lei de 18 de
Setembro de 1845, no sentido restrictamente litteral, em
que se entender para o regulamento de 1 de Dezembro
de 1845, isto é, se puder estabelecer-se nas provincias
as caixas dos depósitos públicos íõra das thesourarias,
elle deve adoptar-se.
Cumpre porém fazer-lhe as seguintes modificações.
1.° Usar das phrases—entregar, cnlrega ou levanta-
mento—em lugar das phrases—restiluir ou restituição—
por serem aquellas as apropriadas aos depósitos que se
fazem com a cláusula expressa ou tácita de serem le-
vantados e entregues em virtude de ordens competentes.
2.° Supprimir a ultima parte do art. 7.°, por isso que a
respeito dos depósitos se não dá prescripção.
Tal é, Senhor, o parecer da maioria da secção 4e fa-
zenda do conselho de estado ; Vossa Magestade Imperial
porém mandará o que fôr servido.
Voto separado do conselheiro visconde de Olinda. t

Talvez que seja conveniente a matéria deste regula-


mento; mas não me parece que se possa tomar seme-
lhante providencia, á vista da lei de 18 de Setembro de
1845, que vai ser alterada, não só creando-se caixas de
depósitos fora das thesourarias para uma parte dos depó-
sitos, mas também destruindo-se a que nellas deva ser
estabelecida, mandando-se confundir com as rendas ge-
raes a parte desses depósitos que para ellas entrarem. E,
quando passe uma lei que regule essa matéria, será ne-
cessário assegurar de um modo mais positivo a entrega dos
depósitos que se acharem nos cofres geraes ; assim como
que se determine o modo de prescripção, pois que não é
possível deixar sempre em aberto esta divida; sendo
— 172 —
Conveniente que se tomem informações miúdas de todas
as provincias para se calcular a importância dos valores
que si» deixados a essas caixas parciaes para acudir ás
reclamações do momento.
Rio de Janeiro, em 18 de Janeiro de 1847.— Manoel
Alves Branco.—José Antônio da Silva May a.—Visconde
de Olinda.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 21 de Janeiro de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 109.—RESOLUÇÃO DE 30 DE JANEIRO DE 1847.

Sobre a isenção de direitos de matérias primas e maneira de con-


eedel-a ás fabricas.

Senhor.—Por aviso de 7 de Dezembro do anno pas-


sado houve Vossa Magestade Imperial por bem mandar
remetter á secção de fazenda do conselho de estado
diversos requerimentos de pessoas, (jue possuem fa-
bricas em diversas provincias do Império, que requerem
o favor de isenção de direitos ás matérias primas em-
pregadas em suas fabricas, a exemplo de outras que já

(*) Decreto n.° 498 A« 22 de Janeiro de 1847.— Altera o regula-


mento do 1.° de Dezembro de 1843 sobre os cofres de depósitos pú-
blicos.
Vide cônsul* de 1K de Novembro de 18íí> a pag. 2o deste volume.
- 173 —

boie gozão delle, a fim de que a mesma secção con-


sulte sobre a conveniência de revogar as concessões
feitas, diminuindo na pauta da alfândega os direitos
de importação, que pagão as mesmas matérias.
Senhor, é para a secçào de fazenda do conselho de
estado incontroverso que o governo deva fazer tudo
uanto estiver de sua parte , para estabelecer dentro
3 o paiz todo o gênero de industria que nelle possa
prosperar; porque é assim que creará trabalho variado
para todas as capacidades dos que nascerem no mesmo
paiz, para que a ninguém faltem os meios de viver,
e se promova mais eflicazmente a moralidade, riqueza
e poder nacional, que mal pôde existir entre gente sem
occupação, ou sem occupação adequada á sua capaci-
dade e talento.
Também é incontroverso para a secção de fazenda
do conselho de estado que, sem largos favores do go-
verno, entre os quaes deve sempre contar-se a isenção
dos direitos á matéria prima, que nellas se empregar,
não é possivel conseguir o estabelecimento de manu-
facturas dentro de um paiz ainda tão falto de capitães
e população competentemente preparada em frente de
nações onde todos esses elementos abundão, onde por
conseguinte os juros do dinheiro, e salários do tra-
balho são tão moderados, que não soífrem comparação
alguma com os do nosso paiz, e que por tantos factos
tem mostrado não terem duvida de fazer os maiores
sacrifícios para sustentarem sua preponderância indus-
trial em todos os pontos do mundo.
Também reconhece a secção que o governo de Vossa
Magestade Imperial está tão profundamente convencido
destas idéias, que dá por decidida a questão relativa á
protecção das fabricas por meio de isenção de direitos
á matéria prima, e apenas consulta a secção sobre a
conveniência de mudar o modo de realizar essa pro-
tecção, isto é, se convém deixar ao tribunal do the-
souro a faculdade de conceder tal isenção ás fabricas
qualificadas de nacionaes pelo tribunal dá junta do com-
mercio, como está actualmente em pratica, ou se será
melhor estabelecer a isenção de direitos para a ma-
téria prima importada para as fabricas nacionaes na
tarifa das alfândegas, e é sobre este ponto que vai so-
mente versar o parecer da secção.
A secção, senhor, comquanto entenda que por qual-
quer dos dous systemas se pôde realizar alguma pro-
tecção ás fabricas nacionaes, comtudo não está infor-
mada de inconveniente algum produzido pela pratica
actual, que remonta a tempos muito anteriores, pois
— 171 -
nesta parte o regulamento das alfândegas nada creou
de novo.
A secção acha que, ao menos em nossas circumstan-
cias, é muito preferível esse methodo, tanto porque, dando
pr«>tecção somente ás fabricas que são dignas delia, reduz
o sacrifício de nosso thesouro ao minimo possível, como
porque attende muito ao estado da nossa industria ainda
pouco desenvolvida, sem acabar com todo o estimulo
á producção, denlro do paiz, da mesma maleria prima
protegida, vantagens estas que se não podem realizar,
ou só hão de realizar-se com muila difiiculdade, se se
adoptar o methodo apontado na ordem de Vossa Ma-
gestade Imperial.
A secção entende que o methodo actual de conceder
isenção de direitos eircumscreve a protecção ás fabricas
dignas delia, reduzindo ao minimo possível o sacrifício
do thesouro, o que é impossível ou muito difílcil com
o novo methodo lembrado ; porque pelo systema actual
nenhuma matéria prima é Lenta de direitos, senão aquella
que vem para as fabricas declaradas nacionaes pela
junta do commercio, e consideradas dignas delia pelo
tribunal do thesouro. Neste systema a mesma matéria
prima, que não vem para as fabricas constituídas nas
circumstancias acima figuradas, paga direitos, vindo por
conseguinte a ser o sacrifício do thesouro o minimo
possível, isto é, tanto quanto é aconselhado por uma
grande utilidade social, o que de certo não teria lugar,
ou seria muito difflcil, se a isenção dos direitos da ma*
teria prima fosse estabelecida na pauta, porque então
delia gozarião todas as industrias sem distineção alguma,
ou ellas fossem importantes e dignas de promover-se
ou não o fossem. Um exemplo porá mais claro este
objecto.
Se alguém se propuzesse a estabelecer dentro do paiz
uma fábrica de tecidos finos de lã, seria sem duvida
útil conceder-lbe isenção de direitos para as lãs finas
importadas para seu consumo, emquanto se não vul-r
garisasse no paiz a criação dos animaes próprios a for*
necel-a.
As vantagens que traria á nação um tal estabeleci-
mento compensariáo a perda dos direitos soffrida pelo
thesouro nesta concessão. Mas que vantagem resultaria
de fazer-se a mesma concessão á lã que alguém qui-
zesse importar para o fabrico de colchas?
Parece evidente que nenhuma; conviria pois que o
methodo de fazer taes concessões fosse tal, que não
confundisse um fabrico com outro; esse methodo não
pôde ser outro, senão o que eslá actualmente em
— 175 —
pratica; o ; methodo lembrado de fazer a concessã.o na
pauta á matéria prima não daria um semelhante resultado,
porque a isenção do gênero daria protecção tanto aos
fabricos que o merecessem como aos indignos disso.
A secção também entende que o methodo actual de
conceder isenção de direitos á matéria prima impor-
tada para nossas fabricas é muito accommodado á nossa
posição industrial, e a circumstancia de sermos um povo
habitante de um paiz, em que talvez tudo se possa pro-
duzir, porquanto por uma parte é sabido que o fabrico
de productos dignos de protecção ainda é mui pouco
desenvolvido entre nós, não sendo por isso necessário
isentar de direitos toda a matéria prima a elles applicavel,
como o pretende Parnell, para a Gram-Bretanha; por
outro lado também é certo que, se toda a matéria prima
fosse isenta, desappareceria todo o estimulo para produ-
zil-a dentro do paiz o que não pôde ter lugar, isentan-
do-se somente a que vem para certas fabricas a quem
o governo tenha concedido isenção; porquanto a que
entrar para outros misteres sempre conservará no mer-
cado um preço sufíicientemente subido para convidar
a especuladores a produzil-a.
E finalmente, Senhor, ainda por outro principio a
secção entende que se deve conservar o methodo actual
de conceder protecção á industria fabril por meio dos
tribunaes do paiz, e não na pauta da alfândega por
um modo geral indistincto, e é que por elle podem
separar-se as fabricas pertencentes a cidadãos brasi-
leiros das que o não são, para terem os primeiros favor,
e as segundas nenhuma; distineção, que além de ser
justa é eminentemente política. E' justa, porque,além
de não terem os brasileiros os capitães baratos que-
podem ter os estrangeiros, são sujeitos aos ônus do
recrutamento, guarda nacional e outros de que pre-
tendem e tem conseguido isenção os estrangeiros dentro
do paiz, formando assim uma classe privilegiada. E*
política, porque é por este modo que daremos valor á
qualidade de cidadão braisleiro, e traremos os estran-
geiros á naturalisação que despresão ou mesmo abor-
recem, por ser onerosa, diminuindo-se assim a diffe-
rença da protecção dada pelas leis a uns, e a outros
diíTerença que alimenta, geralmente fallando, em todo
o Império alguma indisposição para com os estran-
geiros, que sem ella não haveria, attenta a Índole dos
Rrasileiros.
. Embora se diga que o Brasileiro em troca dos ônus,
que soffre como cidadão, tem os direitos de voto, e
ò de ser empregado publico, que os estrangeiros não
- 176 -
tem, porque ninguém ignora que o estrangeiro rico
pela protecção do Estado tem mais influencia na for-
mação do seu governo do que qualquer brasileiro de.
pouca fortuna com o seu voto o seu direito de exercer
cargos públicos. Fácil fica ao estrangeiro gozar de
toda a protecção industrial, porque pôde naturalisar-se,
gozando de todos os direitos de qualquer cidadão : e
a secção não vacilla em lembrar que seria útil uma
lei, que naturalisasse, sem as condições da lei exis->
tente, a qualquer estrangeiro que trouxesse capitães e
industria para o paiz, ou estabelecesse uma fabrica de
quaesquer productos.
A única razão, com que se impugna este arbítrio nos
papeis que forão presentes á secção, é que este sys-
tema dá lugar ao patronato, e essa asserção é de um
membro do tribunal do thesouro, que, não apontando
factos, dá lugar a crer-se que talvez elle suppõe patro-
nato a distineção que se tem feito de fabricas e pe-
quenas officinas fabris, e talvez mesmo a distineção,
que propõe a secção, de nacional e estrangeiro, a res-
peito de. protecção ás fabricas. Seja o que fôr, o facto
è que a lei autorisava a primeira distineção, e talvez
mesmo a segunda, ainda que ás vezes se entendeu
benignamente mesmo em favor de estrangeiros * dos
quaes alguns gozão do favor da isenção de direitos que
deve somente ser partilha do cidadão brasileiro.
Pelo que respeita á primeira distineção, a secção não
tem duvida de propor que se não faça differença de
fabricas nacionaes para a protecção, concedendo-se a
todos isenção na proporção de seu consumo de matérias
primas, sem distinguir fabricas em grande ou em pequeno
ponto, e isso para melhor satisfazer-se ao preceito
constitucional, que quer que a lei seja igual para todos,
quer castigue, quer proteja; conservada porém sempre
a distineção entre fabricas pertencentes a cidadão bra-
sileiro, e fabricas pertencentes a estrangeiros.
Tal é, senhor, o parecer da maioria da secção de fa-
zenda do conselho de estado sobre o objecto, que Vossa
Magestade Imperial se dignou mandar consultar: Vossa
Magestade porém resolverá como fôr mais justo.
Voto separad» do conselheiro visconde de Olinda.
Concordo com o parecer na parte em que sustenta o sys-
tema actual de protecção ás fabricas; mas não na em que
propõe que se acabe com a distineção entre fabricas
em ponto grande e fabricas em ponto pequeno ; e nem
ainda na em que aconselha que seja ella adoptada entre
fabricantes naturaes, e fabricantes estrangeiros.
— 177 —
1 / Para que uma fabrica prospere, é necessário que
seja estabelecida e em pé tal que seus productos não
so cubrão as despezas do custeamento , mas lambem que.
deixem um lucro correspondente ao capital empregado,
e que esse lucro seja tal que permitia um certo fundo
de reserva para reparação dos estragos das machinas.
Uma vez que se não verifiquem estes resultados, a fa-
brica ha de deteriorar-se, os capitães nella empregados
hão de consumir-se, e a perda do fabricante lia de ser
certa. Animar portanto especulações fabris que nenhumas
proporções tenhão, não só para se engrandecer , mas
nem ainda para se conservar, é concorrer para destruição
de capitães com uma falsa esperança que não só não
se ha de realizar, senão que ha de^ vir a ser «ausa da
ruina dos que as emprehenderem. 0 interesse particular
nem sempre é tão perspicaz que se não engane em seus
cálculos. As illusões de um futuro mais feliz conduzem
ao homem em quasi todos os seus passos ; e, se elle
encontra facilidade na execução de seus planos, entrega-se
sem maior exame ás suas primeiras inspirações. O favor
concedido na introducção das matérias p*rimas ha do
servir de incitamento a" pequenas ofíicinas, que não se
.poderão manter; quando, empregados esses capitães em
outro gênero de industria do menos dispendio de fun-
dação, e de mais fácil custeamento, poderião servir de
fundamento a sólidos estabelecimentos, com que real-
mente ganhe a riqueza geral. Não se acrescente pois
aos incentivos naturaes de emprezas temerárias mais osso
de um favor que as não poderá salvar de naufrágio.
Parece-me portanto bem fundado o arbítrio, «]ue. se tem
exercido, de tomar conhecimento do estado da fabrica,
para se julgar se ella está no caso de se lhe extender
o favor da lei. A constituição não se oppõe a esse pru-
dente juizo : o que ella determina é que em igualdade
de circumstancias sejão todos tratados do mesmo modo ;
mas não crdena a díspensação dos mesmos favores em
posições diversas. Ao executor da lei pois cumpre avaliar
essas circumstancias para sua justa applicação.
2." Também não concordo na parte em que faz dif-
ferenca entre as fabricas, segundo que pertencem a
naturaes ou a estrangeiros. A lei de 1809 nenhuma
distineção faz. A concessão do art. 1.° é a mais ampla
que pôde ser, tanto na sua primeira parte, que é a
.que a estabelece, como na segunda, em que se outorga
igual favor ás fabricas que consumirem gêneros e pro-
duecões do paiz, não fazendo differença nem entre fa-
bricantes consumidores desses gêneros e producções,
<e nem entre fabricantes produetoivs desses artigos.
— 178 —
O favor não é concedido aos fabricantes individual-
mente, ainda que sejão elles os primeiros que com
isso lucrem, mas sim á industria nacional, de cujo
desenvolvimento se espera o augmento da riqueza geral.
Se os benefícios que a nação colhe do estabelecimento
e perfeição das fabricas, não dependem de seus do-
nos serem nacionaes ou estrangeiros, fora uma injus-
tiça contemplar só aquelles, e excluir a estes, os
quaes, debaixo desta relação, concorrem de sua parte,
tanto como os primeiros, para os progressos da in-
dustria nacional. Além disso, para restringir-se o favor
ás nacionaes, é mister definir primeiro quaes ellas
sejão; o que nem a lei o fez, e nem ha uma regra geral
a que recorrer para determinar a idéia. A tomar-se
a expressão em seu rigor, deveria dizer-se que é fa-
brica nacional a que pertence a cidadão brasileiro,
que trabalha com braços brasileiros, e até que é fun-
dada com capitães brasileiros, e não tomados por em-
préstimo a estrangeiros; que não ha razão para que
se julgue bastante só a primeira destas condições,
para se lhe dar aquella qualificação. Seria pois injusto
considerar só como nacional a que pertence a brasi-
leiros, quando talvez com mais razão se possa deno-
minar tal a que emprega braços brasileiros, pertença
ou não a natural. Além de não me parecer .justa esta
distineção, ella lambem não me parece política. Se o
estrangeiro não gozar deste beneficio, não poderá en-
trar em concurrencia com o natural, e por isso não
se animará a lançar-se em uma empreza com certeza,
ou pelo menos com toda a probabilidade de perder-se.
As fabricas pertencentes a estrangeiros, quando não in-
troduzão novas machinas, novos processos, novos me-
thodos de trabalho, trazem braços e capitães ; e o Brasil
ficará privado de todas essas vantagens, se lhes não
quizer communicar esses favores, com os quaes aliás
nenhum damno se causa aos naturaes. Não é com essas
restricções que havemos de conseguir o augmento da
população por meio da naturalisação; ao contrario se-
rão difficuldades que, em lugar de a favorecer, hão de
retardal-a, fazendo dirigir-se para outros paizes ele-
mentos de riqueza que poderíamos aproveitar. O que
mostra que essa medida ha de ser nociva á industria e
á população.
Rio de Janeiro, 25 de Janeiro de 1847.— Manoel
Alves Branco.—José Antônio da Silva Maya.—Vis-
conde de Olinda.
- 179 -
RESOLUÇÃO.

Consulte-se o conselho de estado. (*)


Paço, em 30 de Janeiro de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

(') Tendo sido ouvido, nos lermos da resolução, o conselho de es-


tado reunido, deu o seguinte parecer.
Senhor.—Foi Vossa Magestade Imperial servido resolver, em trinta
de Janeiro deste anno, que o conselho de estado consultasse sobre o
seguinte parecer da secção dos negócios da fazenda, e voto separado
do conselheiro visconde de Olinda, membro da mesma secção.

" Dignando-se Vossa Magestade Imperial ouvir sobre o objecto desta


consulta a opinião de cada um dos conselheiros de estado, que se
achavâo presentes na conferência de onze de Fevereiro deste anno,
pronnnciou-se o conselheiro Lopes Gama contra o parecer e voto se-
parado, por seguir elle o principio de que o favor concedido á industria
pela isenção dos direitos de importação das maiorias primas para
consumo das manufacturas do Brasil, deve ser regulado pela acçao,
que ellas podem ter no augmento da riqueza nacional: de maneira
qu«\ quando o governo conhecer que o engrandecimento e prospe-
ridade de tal ou tal ramo de industria dependem da livre importação
de certas matérias primas, não se limite a conceder a isenção de
direitos a certas e determinadas fabricas, mas sim a estenda a iodas
as que possão ter igual necessidade. Procedendo-se por concessões
individuaes, acrescentou elle, crêa-se um monopólio funesto a in-
dustria «jue como se sabe, muito depende da concurrencia de pro-
ducto rês, tanto para a quantidade, como para o aperfeiçoamento das
m
Fo"fapCoísr,ade opinião que devião ser geralmente livres de direitos
de entrada as matérias primas, que assim ja tem sido qualilicadas
ara o uso de algumas fabricas; e que o mesmo se praliquc com as
que para o futuro tiverem a mesma qualificação:, e quando se insista
em estabelecer alguns direitos sobre cilas, deverão ser wo diminutos,
que possão, depois de fabricadas, competirem preço com iguaes pro-
fliicròps dos naizes estrangeiros. , _
O conselheiro Cordeiro seguio o parecer da maioria <a seccao ira
primeira i arte, isto é, que se regule a isenção dos direitos pela na-
tureza c importância da empreza, averiguadas esins circunwlaneiM
ncíosresnectivos tribunaes, como até agora, concordando, quanto a
se-unda parte como volo separado do conselheiro visconde de Olinda,
oue
q
nenhuma dificrença faz entre fabricas nacionaes « estrangeiras.
o Conselheiro Alves Branco, sustentando o parecer da secção de-
clarou <iue o modificava na parle em que estendia o favor a odas
«fabricas quer grandes, quer pequenas, por .entender que o voto se-
naradòd'. conselheiro visconde de Olinda, l.m.lando-o somente as
enndes
8
fabricas, era fundado em razoes econômicas. . .
O Mnsclbciio Carneiro Leão approvou o parecer da maioria
sc"ç5«tói na parle que considera o favor da isenção de direitos
— IcO —

X. 110.—CONSULTA DE 30 DE JANEIRO DE 1817.

Sobre o projcclo de regulamento para as barcas de vigia das Alfân-


degas do Império.

Scnbor.—As secções do conselho de estado dos ne-


gucios da fazenda c marinha examinarão o projecto de
regulamento para os barcos vigias, e mais papeis rela-
tivos, que por ordem de Vossa Magestade Imperial lhes
forão remettidos. para consultar com seu parecer; c tendo
ponderado a matéria, segundo pede sua importância, tem
a honra de apresentar o resultado de seus trabalhos.

das matérias primas extensivo ás grandes c ás pequenas fabricas,


sendo cilas habilitadas com patente da junta do commercio, como
na parte cm que exclue desse favor as fabricas estrangeiras.
Ponderou então o ministro e secretario de eslado dos negócios da
fazenda que o Íim do governo, quando eonsullou o conselho de es-
tado, era dilucidar as seguintes duvidas: se pela lei que mandou fazer
;i tarifa, tendo em vista diminuir em favor da industria uns direitos
d • importação, e auginentar outros, se deveria entender revogada a
anterior legislação; se, estabelecida a fôrma de protecção pela tarifa,
ainda continuaria a subsistir a outra forma; se, não subsistindo
aquella legislação, deverião ser rovogadas as concessões já feitas; c
se, subsistindo ella, convém continuar a praliea até agora seguida,
a qual o mesmo ministro julgava mais prejudicial do que favorável as
latrinas.
Sobre estas questões responderão os conselheiros Carneiro Leílo c
Alves Branco, sustentando as suas opiniões ja emittidas, isto é, que na
isenção dos direitos das malerias primas se seguisse a praliea ale
;iqni observada.
Do mesmo voto foi o conselheiro Vasconcellos, por entender que
estão ainda em vigor o alvará de 28 de Abril de 1809, e mais legis-
lação relativa ao favor das fabricas, e «jue a lei de 30 de Novembro
de 1841, aulorisando o governo a alterar os direitos de importação na
tarifa e a fixal-os entre dous e sessenta por cento, não o incumbiu
«'specialmente de ter em visla o favorecer a industria; e concluiu
adoptando o parecer da maioria da secção nesta parte.
yuanto á distineção entre grandes e pequenas fabricas, entre na-
i-ionaes e estrangeiras, seguiu o voto separado do conselheiro \is-
coiide de Olinda, acrescentando, para excluir a distineção entre na-
cionaes e estrangeiras, que elle entende por fabricas nacionaes as
«jue são estabelecidas no paiz, e que muito convém não admiltir lal
«lislineção, porque, para entre nós se estabelecerem e prosperarem
ÜS fabricas, é preciso ensino, é preeisa certa aptidão, que somente
nos pôde vir dos estrangeiros; c observou, além disto, que muitos
serião os abusos, multiplicadas as falsidades, <|ue se pralicariáo ein
fraude desta distiu/jção, e muito seria illudido o governo: ndver-
iindo ainda que as fabricas mais importantes, que lemos, são de es-
tabelecimento e propriedade «te estrangeiros, euiuo as de vidro, de
y;tpcl, de tecido» de aljrodíw. '."*.<:.
- 1S1 -
O projecto é o que se segue.
Art. 1.° Cada uma das alfândegas do Império poderá
armar e tripolar, provisória ou permanentemente, um ou
mais barcos (quando assim se determinar) para serem
empregados na repressão do contrabando, e no mais
serviço que necessário fôr, a bem da arrecadação dos
direitos nacionaes.
Art. 2." Estes barcos que se chamarão—vigias—terão,
quando forem permanentemente armados, um rodízio a
o mais armamento que o governo determinar, ouvindo o
inspector da alfândega respectiva, o qual sujeitara tam-
bém á approvação do mesmo governo a fixação do nu-
mero de praças embarcadas nos vigias.
Para o armamento provisório nas provincias bastarão
ordens e autorisacão dos presidentes.

O conselheiro Lima c Silva approvou o parecer da maioria da


secção.
• O conselheiro Mava confirmou o voto da maioria da secção, que
subscrevera, não duvidando concordar com o voto separado do con-
selheiro visconde de Olinda na conservação da differença entre fa-
bricas grandes e pequenas, na conformidade do que se tem prati-
cado.
E' portanto o parecer da maioria do conselho de estado que, na
isenção dos direitos de importação das matérias primas em favor «as
fabricas, se continue na pratica até agora observada, com attenção
a grandeza dellas, e aos meios, que apresentarem, de desenvolvimento
e prosperidade.
Quanto á diferença entre nacionaes e estrangeiras, houve quairo
votos a favor e quatro contra, como se vê, desta consulta, e que o con-
selho de estado respeitosamente subiuette á alta consideração «te
Vossa Magestade Imperial, para que se digne resolver o que lor ser-
vido.
Sala das sessões do conselho de, estado, cm .'! de Março de 18Í7-—
Visconde de MonVAktjrc —Bernardo Pereira de Vasconcellos.—José An-
tônio da Silva Maya.—Francisco Cordeiro da Silva Torres.-Uonorio
Hermeto Carneiro Leão.— José Joaquim de Lima e Silva.— Manoel Alies
Branco.—Caetano Maria Lopes Gama.
RESOLUÇÃO.

Como parece á maioria do conselho, sendo consideradas fabricas


nacionaes as estabelecidas dentro do paiz, e a que na lórma «Ias leis
se pódc conceder iseução de direitos á matéria prima que einpregau. [ )
Rio de Janeiro, 28 de Julho de 18Í7.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

[»)T>r.rreto n.° ">3«5 d"' J8 dr Jullio de 1817 —Isenção de direitos de matérias


primas para us fabricas eitabdecida--: ne Imperiu.
— 182 —
Art. 3.° O armamento será fornecido, quando mais con-
vcnha, pelas repartições de marinha, emprestado, se fôr
provisoriamente, e não o sendo, mediante a devida in-
demnisação.
Art. 4.° Os vigias içaráõ, além da bandeira nacional,
o distinctivo usual das alfândegas, podendo porém ar-
riar, quer uma, quer outra, sempre que a conveniência
do serviço o exigir. Só poderão içar ílamula, quando
forem commandados por ofíicial da armada.
Art. 5." Julgando o inspector de qualquer alfândega
que é necessário fazer navegar estes vigias, para os íins
de seu estabelecimento, só poderá ordenal-o, prece-
dendo expressa autorisacão do presidente da província,
ou do governo na côrle.
Art. G.° O inspector da alfândega dará ordem por es-
cripto ao commandante do vigia, com instrucções por
elle assignadas,*b nas quaes se estipulará o numero de
dias, que o vigia deve cruzar, os lugares e as diligen-
cias que terão de praticar, e tudo o mais que conveniente
fôr; assim como uma cópia aulhentica deste regula-
mento.
Art. 7.° A embarcação destinada para vigia, que fôr
encontrada fora da barra pelos navios de guerra sem
os títulos mencionados no artigo, antecedente, será ap-
prehendida e entregue á disposição do inspector da al-
fândega respectiva para mandar fazer effectiva a respon-
sabilidade dos empregados.
Art. 8.° Se alguma embarcação particular falsamente
se intitular vigia, usando dos signaes próprios dos vigias,
e fôr encontrada fora da barra pelos navios de guerra,
será apprebendida e entregue á disposição das autori-
dades criminaes, para serem o commandante e pessoas
da equipagem processadas e punidas, como piratas; o,
se o encontro fôr dentro do porto, o commandante e
equipagem serão processados c punidos pelos delidos
dos arts. 301 e 30'2 do código criminal, c quaes«iuer ou-
tros que tiverem com mel lido.
Art. 9.° Os vigias só poderão navegar dentro dos portos,,
ou fora, á visia das costas. Exccptna-se o caso de forca
maior, e o de ir em seguimcnlo de um navio sorpren-
dido em flagrante contrabando.
Art. 10. Aquellas alfândegas, que forem aulorisadas
a ter vigias permanentemente armados, poderão requi-
sitar, para commandal-os, ofíiciaes de marinha ou
pilotos da armada ; porém os primeiros em nenhum caso
:;e conservarão mais de um anno neste serviço.
Art. II. Os vigias das alfândegas não poderão ser es-
torvados cm suas diligencias pelos navios de guerra, os
— 183 —
quaes terão, sim, o direito de visital-os e examinar
se taes vigias estão devidamente autorisados (art. 6.8),
não podendo porém, caso achem regulares os seus pa-
peis, detel-os por qualquer pretexto.
Art. 12. Nenhum navio de guerra poderá embaraçar
uma apprehensão, nem desimpedir o navio apprehen-
dido pelos vigias, uma vez que reconheça a legitimi-
dade destes.
Art. 13. No caso de infracção dos dous artigos ante-
cedentes, se fará eífectiva a responsabilidade dos com-
mandantes dos navios de guerra pela prevaricação, ex-
cesso , abuso de autoridade ou falta de exacção no
cumprimento dos deveres que tiver havido.
Art. 14. Os vigias poderão chamar á falia, deter e vi-
sitar quaesquer embarcações mercantes nacionaes e es-
trangeiras que encontrarem fora da barra á vista das
costas, e que se lhes fizerem suspeitas de contrabando ou
extravio ; mas nunca usaráõ de força ou farão fogo sobre
ellas fora do caso de necessidade extrema.
Art. 15. O vigia que estiver dando caça a um navio
suspeito de contrabando, e que fôr chamado á falia por
um navio de guerra, içando o seu distinctivo, não será
incommodado; devendo neste caso o navio de guerra
tomar conselho das circumstancias e do zelo pelo ser-
viço para, ou auxiliar a caça, ou íicar de observação, e
no fim delia examinar e visitar não só o vigia como o
navio perseguido.
Art. 16. As autoridades locaes e os navios de guerra,
prestarão todos os auxílios a seu alcance, que lhes forem
requisitados pelos vigias das alfândegas, para o bom des-
empenho de suas commissões.
Art. 17. Nos casos de extravio, embarques ou desem-
barques, entradas e descargas illegaes, se procederá nos
termos dos cap. 17 e 18 do regulamento de 22 de Ju-
nho de 1836.
A' vista do que passão as secções a fazer as seguintes
observações.
Arts. 1.° e 2.° Segundo o systema do projecto são au-
torisados os inspectores das alfândegas a armar e tri-
polar provisória ou permanentemente barcos que sejão
empregados na repressão do contrabando, art. 1.°, fi-
cando reservado somente ao governo, no caso de serem
permanentes, marcar seu numero, dito artigo; e determi-
nar a qualidade do armamento, e a tripolação, que cada
um deva ter, art. 2.°, e no caso de serem provisórios, fi-
cando tudo á disposição dos mesmos inspectores, pre-
cedendo autorisacão dos presidentes, dito artigo.
- 181 —
Uma tal organização porém, uo juizo das secções, não
parece convir aos fins desta instituição.
Creados deste modo os vigias, parecem destinados
para um serviço local, e será necessário estabelecel-os
em todas as provincias, não havendo uma autoridade
commum que lhes prescreva o serviço, quando tenha
este de ser prestado na:> águas de mais de uma dellas.
Que estes vigias estejão sujeitos á autoridade dos ins-
pectores, o indica a natureza do serviço para que são
creados; mas que seu armamento, a nomeação de seus
commandantes e mais tripolação, sua creação e a desig-
nação em geral das paragens que devem correr, liquem
ao seu arbítrio, é o que nem exige o desempenho das
obrigações daquelles funccionarios, e nem o exige a re-
gularidade do serviço. Do modo proposto não haverá
alfândega que não lenha seu barco vigia, quando al-
gumas provincias são de tão difíicil accesso, e de tão
pouca communicação com o estrangeiro, que bastará um
só barco para correr as costas de duas ou mais. E neste
caso já os inspectores não são muito próprios para
aquelle armamento.
Para creação destes barcos, a qual deve acarretar
grandes despezas, é mister instituir um rigoroso exame
sobre sua necessidade. Não é só a possibilidade de fazer
o contrabando a que se deve decidir. É necessário saber
se elle com effeito se faz, qual a sua freqüência e a sua
importância. Um ou outro contrabando que se possa fa-
zer, ou ainda, que se lenha feito, não autorisa por isso
tão avultadas despezas, como as que exige esta institui-
ção. Se em uma ou outra província se manifesta esse
repetido extravio dos direitos, é justo que se tomem as
cautelas necessárias; mas isto só não basta para au-
lorisar este armamento em todas.
Se os inspectores lição autorisados a armar estes bar-
cos provisoriamente, a cada passo se estarão renovando
estes armamentos, não sendo bastante a exigência de
autorisacão dos presidentes, para cohibir os excessos
nesta parte, porque estes não «luererão tomar sobre si
a responsabilidade de se não prestarem a essas requisi-
«•(3es, podendo ser aceusados de favorecer o contrabando.
Esla faculdade de armar e desarmar ha de ser uma boa
origem de despezas inúteis e de dissipações. Era casos
extraordinários os presidentes podem e deVem providen-
ciar, ou com cs vigias que navegarem nas águas res-
pectivas, ou com os navios da armada, a qual é obrigada
a prestar-lhes todo o auxilio; ou do modo que as cir-
cumstancias e os meios que lêm á sua disposição os
habilitem para oceorrer com o remédio prompto, para o
— 18:; —
que estão sempre aulorisado.s, sem que seja necessário
estabelecer uma regra especial; de que tanto se pôde
abusar.
Esta marinha fiscal não é de tão pouca consideração
que não mere«;a uma tal ou qual organisação. Os inte-
resses, que é destinada a proteger, são muito impor-
tantes, para que fique entregue á discrição de autori-
dades subalternas sem um centro commum, eaté sem
esperanças de outro prêmio que não seja o salário que
recebem", ou o producto das apprehensões. As funcções
que lhes são encarregadas, cumpre que sejão tidas em
algum apreço, para que appareção homens capazes que
se resolvão °a desempenhal-as. O officio de apprehender
contrabando está um pouco rebaixado entre nós, e é
mister realçar a posição daquelles que são chamados a
cohibir o extravio das rendas nacionaes.
Além destas considerações releva ponderar a extensão
das faculdades que são confiadas a estes funccionarios.
Autorisados a vigiar os navios que se aproximão das
costas, e a empregar a força, elles podem envolver a
nação em grave responsabilidade com o estrangeiro,
quando, menos prudentes, não duvidem fazer um em-
prego indevido da força que é posta á sua disposição.
Obrando quasi sem testemunhas, se animarão a com-
metter actos que darão lugar a bem fundadas reclama-
ções, e que nos hão" de obrigar a pesadas indemnisações.
Se estes barcos não forem instituídos para navegarem
de continuo nas costas, inútil será sua creação, porque
para reprimir o contrabando dentro dos portos nãoé ne-
cessário fazer tão avultada despeza; e, se elles têm de
prestar o serviço para que são destinados, e como é
pratica em todos os povos que os instituem, outras pre-
cauções convém que se tomem para assegurar o bom
desempenho de seus deveres, para tranquillisar o com-
mercio que pôde ser muito inquietado, e para não expor
a nação a complicações com outros governos.
Todas estas razões pois mostrão a necessidade de se
dar a estes barcos uma organisação particular, e acon-
selhão*a maior circumspecção na escolha de seus com-
mandantes, a qual do modo ordenado no projecto não
dá todas as seguranças de recahir em pessoas que
saibão inspirar toda a confiança no exercício de tão
melindrosas funcções. Por isso parece que ao governo
imperial deve ser reservada não só sua creação, como
sua composição pessoal, muito embora fique perten-
cendo aos inspectores das alfândegas ordenar-lhes o
serviço dentro dos limites que forem assignados a cada
um, segundo as paragens que devem correr,
c. 24
— 486 —

Art. 3.° No systema das secções este artigo torna-se


inútil. O ministro da fazenda mandará armar os barcos,
segundo julgar mais conveniente aos interesses da fa-
zenda.
Art. 4.° Quanto ao uso da flamula, os Estados-Unidos e
a Inglaterra concedem-n'a aos vigias. Seguindo o Brasil
o exemplo destas duas nações, parece que não errará.
Art. 5.° Este artigo suppoe que os vigias estão esta-
cionados dentro dos poitos, o que é contrario aos fins
desta instituição, que exige que elles corrão as costas
incessantemente, porque só assim poderão desanimar as
tentativas de contrabando.
Não vale a pena de tanta despeza para os ter parados,
e só navegarem quando appareça alguma necessidade
de momento. A autorisacão especial que se exige para
elles navegarem, sendo retardada, como ha de acontecer
muitas vezes, aindasem propósito deliberado, ha de obstar
ao bom desempenho da commissão.
Art. 6.° Este artigo estabelece o direito, que compete aos
inspectores das alfândegas, de dar instrucções aos vigias.
Mas cumpre observar que elle está redigido no systema
do artigo antecedente, que suppõe que elles só navegão
em casos extraordinários, e por isso é que determina
que se marque o numero de dias que o vigia deve na-
vegar, o que ainda mesmo nesse systema ha de concorrer
muitas vezes para que se mallogre a diligencia pela obri-
gação delle se recolher em um prazo certo. Estabeleça-se
pois a autoridade dos inspectores sobre estes barcos,
mas fique sempre salva a do presidente em casos extra-
ordinários, e sob sua responsabilidade, quando este en-
tenda que deve empregal-os em alguma commissão espe-
cial de que deverá dar parte immediatamente ao governo.
Art. 7." Este artigo pôde acarretar diíficuldades na pra-
tica. Elle estabelece uma jurisdicção ordinária aos navios
da armada sobre os fiscaes, autorisando visitas para o
exame dos títulos destes, o que pôde muitas vezes re-
tardar uma diligencia, e embaraçar o seu bom êxito.
Isto é o mesmo que autorisar os escaleres do arsenal
a visitar sempre os da alfândega para examinar se estão
competentemente constituídos, ou os navios de guerra
para visitar fora da barra aos navios que encontrarem, a
ver se são piratas. Quando houver denuncia ou ainda uma
simples suspeita de que algum vigia commette excessos,
o governo e os presidentes saberão prever convenien-
temente. O que convém determinar é que estes barcos
não exerção acto nenhum de autoridade sem estarem
autorisados ou pelo governo ou pelos inspectores das
alfândegas.
— 187 —

Art. 8." O crime de pirataria só pôde ser creadopor


lei. Um navio particular pôde usar do distinctivo de vigia
sem se destinar a roubar no mar, mas só para se subtranir
á vigilância dos barcos fiscaes, para mais a salvo com-
metterem o contrabando, o que é muito differente. A
exemplo de outras nações cabe uma multa, a qual deverá
limitar-se á faculdade do governo. ;.
Art. 9.° A doutrina deste artigo em parte é inútil* e
em parte está connexa cornado art. 14 de que logo se
fallará.
Art. 10. Este artigo é inútil no systema das secções, e
não é conveniente no do projecto. 3e uma ou outra vez
entender o governo que deve nomear ofíiciaes da ar-
mada para commandar estes barcos, pode o fazer sem ser
necessário autorisar aos inspectores para os requisitar,
estabelecendo-seassim, com prejuízo da disciplina, uma
regra ordinária, que, excitando a cubiça, ha de abrir a
porta ás importunações dos empenhos.
Arts. 11, 12 e 13. Estes artigos estabelecem aauto-
ridade dos navios da armada sobre os vigias, e previnem
abusos que possão commetter. Quanto áprimeira parte,
não parece conveniente essa jurisdicção que se lhes con-
fere, como já foi ponderado na observação ao art. 7."
Quanto á segunda, os excessos que aqui se previnem são
do numero daquelles que não é preciso recommendar
quese não comraettão. Se se tratasse de lhes impor uma
pena particular, teria lugar fazer delles uma especial
menção, mas enumeral-os e remettel-os para sua pu^
nição, ás regras geraes de responsabilidade,'é amon-
toar repetições sem utilidade nenhuma. Um só artigo
em que se declare que os navios de guerra não devem
embaraçar aos fiscaes no exercício de suas funcções é
o que basta.
Art. 14. A doutrina deste artigo desenvolve parte do
art. 9.°, e encerra o ponto mais melindroso da matéria.
A protecção dos interesses fiscaes não exige que se dê
tanta latitude ao direito de inspecção sobre os navios que
se aproximão das costas. Chamar á falia, e visitar quaes-
quer embarcações em qualquer distancia que se achem
das costas com à só limitação de estarem á vista destas, é
ir muito além do que pede uma bem regulada fiscalisação;
assim como restringir o emprego da força ao caso de
necessidade extrema-sem a definir, é deixar ao juizo do
executor a mais importante parte daquelle direito, e dar
lugar ou a excessos, ou a incúria e negligencia dos de-
veres. Importa pois determinar até que distancia chega
o direito de fiscalisação, e os casos em que a força pôde
ser empregada.
- 18? —
Dentro dos portos e bahias não apresenta a matéria
difficuldade nenhuma. Sendo incontroverso o direito que
assiste á autoridade suprema do paiz sobre estas esta-
ções, como comprehendidas dentro do território, as em-
barcações, que nellas forem encontradas, indubitavel-
mente estão sujeitas ás leis que as regulão. Não é porém
tão livre de duvidas o direito da autoridade territorial,
se as considerarmos fora das barras e pelas costas. F/
geralmente reconhecida a jurisdicção territorial sobre
os mares que banhão as costas; mas não está igual-
mente assentado quaes são os limites até onde se ex-
tende essa jurisdicção. Esta matéria tem sido algumas
vezes objecto de tratados ; mas, na falta delles, é forçoso
recorrer aos princípios geraes de direito das gentes.
Sem entrar em uma longa exposição das differentes
opiniões em que se dividem os autores que tratão da
matéria, e nem ainda na da legislação de diversos paizes,
limitão-se as secções a estabelecer o principio d'onde di-
mana a jurisdicção territorial sobre os mares adjacentes,
o qual servirá para determinar a extensão em que ella
se pôde exercer. Sendo o mar de uso universal, c não
podendo ser tomado cm propriedade, o império, que
sobre elle pódc competir a uma nação, não é fundado
senão na necessidade da própria conservação, e na pro-
tecção dos interesses nacionaes. E, como os meios de
acção, que de terra se podem empregar para aquelles
fins, não vão e não podem ir além do alcance do canhão,
esta vem a ser a medida por onde se deve julgar da ex-
tensão da jurisdicção territorial, a qual ordinariamente
se calcula em uma legua de distancia.
Esta é hoje a opinião mais seguida, e é a que está adop-
tada na legislação ingleza por uma lei de 1833, que re-
gulou particularmente esta matéria de contrabando no
mar ; e esta é a distancia reconhecida por uma conven-
ção entre a França e a Inglaterra em 1839 sobre o direito
da pescaria nas costas. E' pois a regra que parece ser
deduzida da natureza das cousas, e que as secções se-
guem de preferencia a outra qualquer. As secções não
ignorão que alguns paizes têm levado a maior distancia
o exercício de sua autoridade territorial; e entre outros
aponta os Estados-Unidos da America e a Hespanha,
que estabelecerão a distancia de quatro léguas, e a mes-
ma Inglaterra, a qual em alguns casos extendeu-se amais
ainda. Porém, adoptando aquella regra, mostra com isto
conformar-se com os princípios rigorosos do direito das
gentes, qualquer que seja a pratica de outras nações,
ás quaes o Brasil nem sempre pôde imitar. Por esta oc-
casião seja permillido ás secções trazer á memória o
— 189 —
que aconteceu com os princípios da intimação prévia
nos bloqueios adoptados pelo Brasil na guerra com Bue-
nos-Ayres. Obrigado o governo a ceder a uns, porque
não adoptavão aquelles princípios, via-se depois obri-
gado igualmente a ceder aos outros, cujos princípios ha-
via seguido, mas que não soffrêrão a desigualdade que
resultava deste proceder. O mesmo é o que ha de vir a
acontecer no caso presente. Impugnado este direito de
visita, como de jurisdicção territorial, por aquelles go^
vernos que os não professarem, elles serão depois com-
batidos pelos outros, que não quererão reconhecer fi-
carem sujeitos a regras que não obrigão a todos. Com-
quanto sejão claros os,regulamentos a que as secções
se referem, como a respeito da Inglaterra a lei citada do
anno de 1833 é muito expressa e terminante, e todavia
no anno de 1844 apparecem no The Yearly Journal of
Tracle, como em vigor, aquellas disposiçõesjque por ella
parecião estar revogadas; aconselha à prudência que
antes de se tomar uma resolução definitiva, se procure
haver todos os esclarecimentos a este respeito, para que
não se arrisque uma decisão que, ou contrarie a pra-
tica de outras nações, ou deixe indefensos os interesses
nacionaes.
Esta observação porém não induz que os vigias não
ossão navegar além daquelle termo para vigiar as em-
E arcações que se aproximarem das costas; mas devem
limitar a isto toda sua acção. E, uma vez que os navios
se achem nos mares territoriaes, e estejão fundeados
ou á capa, ou bordejando, então poderão elles, ou fazel-
os entrar para dentro dos portos, ou seguir viagem quan-
do se dirijão a outro, sem que em caso nenhum os possão
visitar, mas somente observar sua marcha.
Estabelecida deste modo a jurisdicção territorial sobre
os navios que se acharem nos mares adjacentes, releva
que se facão respeitar os agentes dessa jurisdicção.
Quando pois não sejão obedecidos, darão primeiro um
tiro de pólvora secca, e ao depois outro com bala, sem
que fiquem responsáveis nesse caso pelos damnos que
causarem, do que tudo lavraráõ termo muito circum-
stanciado.
Art. 15. A doutrina deste artigo está no mesmo caso
da dos arts. 11, 12e13. Aqui não se trata de regular
a superioridade de uma marinha sobre outra, e nem de
prescrever preceitos á de guerra. Além disso o artigo
suppõe que um vigia pôde dar caça a um navio, sem ter
levantado seu dislinctivo; porque figura a hypothese de
estar dando caça, e içar o dislinctivo depois que é cha-
mado á falia. Esta faculdade não deve jamais ser per-
— 190 —
millida. Um vigia pôde occultar os signaes que o dão
a conhecer, para melhor espreitar as intenções do navio
que encontrar; mas não deve nunca exercer acto nenhnm
de autoridade, sem que primeiro se manifeste para ser
reconhecido como tal. Esta é a regra que se deve esta-
belecer, determinando-se ao mesmo tempo que, quando
içar o distinctivo, deve o firmar com um tiro.
Art. 16. Não se oíferece objecção a este artigo.
Art. 17. Talvez fosse mais conveniente estabelecer
esta doutrina em mais generalidade, dizendo-se que
ficão considerados como empregados da alfândega no
que é relativo a contrabando, devendo regular-se pela
legislação respectiva.
Tendo as secções feito estas observações ao systema
do projecto e ás suas diversas disposições, julgão neces-
sário acrescentar que, sendo muito* graves as conse-
qüências dos excessos que hajão de praticar os vigias no
exercício de sua autoridade, faz-se necessário um regula-
mento muito severo para o commandante e tripoíação
destes barcos. No estado de relaxação em que se achão
as obrigações mais positivas, á vista das facilidades de
impunidade, que apadrinhão todos os abusos, com a le-
gislação commum e com o processo ordinário, não é
que elles hão de ser cohibidos. Conviria talvez su-
jeilal-os aos regulamentos da marinha, attenta a impor-
tância das funcções que vão exercer, e a gravidade das
complicações que se podem originar. Mas cumpre obser-
var que este regulamento só uma lei pôde estatuir.
Senhor, digne-se Vossa Magestade Imperial acolher
este parecer com sua costumada benevolência.
Voto separado do conselheiro J o s é Antônio da S i l v a Maya.
Não concordo com a maioria das secções dos negócios
da fazenda, marinha e guerra, no que diz respeito á maté-
ria do art. 14 do projecto de regulamento sobre que con-
sultão. Porque, se a maioria das secções entende depen-
dência deixar por ora em suspenso qualquer deliberação
sobre a maneira de exercitarem os vigias fora das barras,
pelas costas, a sua fiscalisação por meio do chamamento
á falia e visita das embarcações mercantes, quando forem
encontradas fora dos marés lerritoriaes, além do ponto
até onde pôde chegar o exercício da jurisdicção do go-
verno, limitado ao espaço de uma légua, emquanto se
não conseguem todos os esclarecimentos do que se pra-
tica nas outras nações; e se é de parecer que, ainda
mesmo dentro daquelle limite dos mares territoriaes, a
acção dos vigias se deve limitar a vigiar as embarcações
que se aproximarem das costas, e no caso de «tstarcm
— 19 1 —
fundeadas, bordejando ou á capa, fazel-as entrar para
dentro dos portos, ou seguir viagem quando se dirijão a
outro: sigo outra opinião , e outro arbítrio que respei-
tosamente proponho a Vossa Magestade Imperial.
Julgo, pois, que, por bem dos interesses da fazenda na-
cional, se pôde tornar effectivamente proveitoso, quanto
seja possível, o serviço dos vigias, sem offensa dos di-
reitos de quaesquer nações, e da justiça para com os na-
cionaes, admittindo que elles, dentro de quatro léguas de
mar além das costas deste espaço, que a respeito de
matérias de commercio tem tomado por fronteiras ma-
rítimas os Estados-Unidos, a Hespanha e a França, e que
nós também podemos tomar, para fiscalisar os direitos
nacionaes, e evitar o contrabando, possão chamar á falia
os navios nacionaes, visital-os, e, no caso de se dirigirem
aos portos do Império, exigir delles os manifestos, da
mesma fôrma que ora os exigem os guardas-móres das
alfândegas na occasião de suas visitas de entrada; e que
aquém do sobredito espaço restricto de uma légua
possão e devão fazer o mesmo a respeito dos navios
nacionaes e estrangeiros com destino aos nossos portos.
Porquanto, embora me conforme com a doutrina es-
tabelecida pela maioria das secções a. respeito da ex-
tensão dos mares territoriaes, ou do ponto até onde
pôde ter acção a jurisdicção do governo de qualquer
nação, a que pertencem as costas, conforme a mais
seguida opinião, abstrahindo do caso de tratados; e,
convenha em que por mares territoriaes e adjacentes
do Império se entendão os comprehendidos em tanta
distancia das costas, quanta abranger o tiro de canhão,
a qual se computa em uma légua nos termos do al-
vará de 4 de Maio de 1805, que seguio, além da opi-
nião mais commum, o que de séculos estava estabe-
lecido em Portugal pela concordata de D. Affonso 5.°
com o rei de Castella eAragão: entendo comtudo que
esta restricção somente prevaleça a respeito dos es-
trangeiros, emquanto o governo de Vossa Magestade
Imperial, mais bem informado, não tomar a deliberação
de acompanhar as sobreditas nações commerciantes,
e extender a fronteira maritima ás quatro léguas, para
os fins acima ditos de fiscalisar os direitos, e reprimir
os contrabandos ; que desde já se estabeleça essa fron-
teira a respeito dos nacionaes, para que dentro delia
e até ella possão os navios brasileiros ser chamados
á falia e visitados pelos vigias, e se ordene o proce-
dimento inteiramente igual a respeito dos navios nacio-
naes e estrangeiros, quando encontrados para dçntro
da légua a tiro de canhão.
— 192 -
Admilto sem duvida que a prudência aconselha, por
emquanto, —não fazer prevalecer a respeito das em-
barcações estrangeiras a extensão da fronteira maritima
do Império alé quatro léguas a distancia das costas—,
por se evitarem as contestações entre o governo e as
differentes nações, emquanto não estiver bastantemente
informado para rebater sua opposição com a allegação
do que ellas mesmas praticão e consentem praticar:
nada porém haverá de imprudente, de precipitado e
falto de direito em se estabelecer essa linha de fron-
teira a respeito dos nacionaes, de se sujeitarem tanto
estes como os estrangeiros á restricta fiscalisação dos
vigias, com a visita dentro da linha dos mares terri-
toriaes, a tiro de canhão, a respeito do que nenhuma
duvida ha.
Porquanto os subditos do Império sujeitos são ás
leis legitimamente promulgadas, e aos regulamentos
feitos pelo governo, na conformidade epara execução
dellas, sem que possão entrar em disputa e opposição
com razões e princípios do direito das gentes, natural
ou convencional contra o que é estabelecido com apoio
do direito politico e civil, porque se rege o Império:
e a respeito das embarcações nacionaes aconselha essa
ampliação da fronteira maritima a necessidade de pro-
mover e fiscalisar os interesses da fazenda nacional,
e repellir o contrabando, na consideração da facili-
dade com que os nacionaes, pela maior parte práticos
conhecedores dos portos e das costas do Brasil, com
mais relações em terra, podem praticar esse contra-
bando, e subtrahir-se á vigilância dos vigias; e os es-
trangeiros que, dentro do território de qualquer nação,
e portanto dentro dos mares territoriaes, são sujeitos
tanto quanto os nacionaes ao cumprimento das leis
do paiz, nenhum direito terão para impugnar a exe-
cução de um regulamento fiscal, bem como não têm
impugnado outros semelhantes.
Sirva-se Vossa Magestade Imperial tomar em consi-
deração o exposto, com a costumada benignidade.
Rio de Janeiro, em 30 de Janeiro de 1847.—Visconde
de Olinda.—Manoel Alves Branco.—Francisco Cor-
deiro da Silva Torres.—José Carlos Pereira de Al-
meida Torres.—José Joaquim de Lima e Silva.—José
Antônio da Silva Maga. (*)

(*) Decreto n.° 806 de 6 de Março de 1847.—Manda executar o re-


gulamento para a* barcas «le vijdii das alfândegas do Império.
— 193 —

N. 111 .—RESOLUÇÃO DE 3 DE FEVERÉlftO DE 1847."

Sobre a lei provincial do Pará n.° 132 de 28 de Maio de 1816, quô


crêa um imposto especial aos estrangeiros.

Senhor.—As secções reunidas dos negócios da fazenda


e ilos estrangeiros do conselho de estado forão encar-
regadas, por ordem de Vossa Magestade Imperial, d e
consultar a respeito do art. 31 § 25 da lei n.° 132 da
assembléa legislativa do Pará, com data de 28 de Maio
de 1846, cpie impõe sessenta mil réis por loja ou a r -
mazém de molhados ou seccos, por grosso ou atacado,
além de quaesquer outras imposições pertencentes a
estrangeiros, cuja nação não tenha tratado de commercio
com o Brasil, ou que, mesmo tendo-o, não se opponha
á presente disposição; sendo conprehendidas nesta de-
terminação todas as ditas casas encarregadas a algum dos
referidos estrangeiros como sócio, administrador, p r e -
posto ou caixeiro: artigo legislativo contra cuja exe-
cução representarão o encarregado de negócios de sua
magestade britannicaem nota de 16 de Setembro de 1846,
e outros agentes diplomáticos estrangeiros.
As referidas secções, em cumprimento da ordem d a
Vossa Magestade Imperial, examinarão a matéria, dis-
GUtirão-n'a? tomada nos differentes "pontos de vista e m
que se lhes apresentou pelo lado da constituição e das
finanças, e concordarão na sua maioria em considerar a
mencionada disposição da lei provincial do Pará conr
traria á constituição do Império, e aos interesses d a
fazenda nacional. ,.>•)
Contraria á constituição, por isso que, por argumento
deduzido do art. 102 § 8.°, é da attribuição do poder
supremo da nação regular as relações políticas e com-
merciaes para com os estrangeiros. Só a esse poder
compete marcar as condições da sua existência dentro
do paiz; e jamais poderá ser licita e convenientemente
arrogada a faculdade de legislar sobre esta matéria
pelas assembléas provinciaes, que só e restrictamente
o podem fazer sobre os objectos comprehendidos nos
arts. 10 e 11 do acto addicional, os quaes, entre os seus
muitos paragraphos, nenhum tem que lhes seja relativo, e
que, se exorbitarem em objecto tão importante e melin-
droso sem efficaz opposição, perturbando a política adop?
tada pelo governo geral nas suas relações para com
os estrangeiros, que o mesmo tratamento e proteegão
c. 2o
— 194 —
devem encontrar em todas as partes do Império, muíio
avançarão em prejuízo da unidade nacional.
Manifesto é para a maioria das secções o absurdo
que resultaria de se admittir o contrario, elevadas as pro-
vincias á categoria de Estados soberanos e indepen-
dentes, autorisadas suas assembléas a legislar sobre as
referidas matérias, e a estabelecer pelas suas leis con-
dições e ônus éspeciaes para os estrangeiros ; pois que
uma conseqüência seria dessa doutrina que as potências
estrangeiras, que tem direito de advogar os interesses
de seus subditos, e de representar em seu favor, ti-
vessem igualmente o de se entender com as assembléas
provinciaes, no caso de não haver tratado com o poder
supremo, visto que ellas então obrarião com toda a
soberania e independência, sendo somente limitados
no caso de haver os tratados.
Contraria aos interesses da fazenda nacional, porque
muito prejudica e offende os impostos geraes, obstando
a multiplicação das lojas e armazéns de commercio ta-
xados pelas leis geraes, e causando mesmo a suppressão
de algumas já existentes, por não poderem supportar
tanto gravame, contra o que é expressamente prohibido
pelo acto addicional art. 10 § 5." e art. 20.
Assim considerada a disposição do art. 31 §25 da lei
provincial do Pará n.° 132, prejudicada por defeitos de
tal transcedencia, exorbitante das legitimas e expressas
attribuições das assembléias legislativas provinciaes, in-
cluídas nas excepções do art. 20 do acto addicional que
a sujeitão a ser revogada pela assembléa geral legislativa ;
e no caso, portanto, de exigir uma prompta providencia
do governo aos resultados de sua execução, emquanlo
não pôde ser presente á assembléa geral legislativa: a
maioria das secções, que tem por uma incontestável at-
tribuição do governo imperial, o oppor barreira aos ex-
cessos e exorbitâncias das assembléas provinciaes, e pre-
venir os inconvenientes da execução de seus actos irregu-
lares e illegaes, em algum dos°cnsos especificados no
citado art. 20, é de parecer que o governo ordene a sus-
pensão da disposição legislativa de que se trata, para
que nenhum effeito e cumprimento tenha, emquanto o
poder legislativo supremo não decretar o contrario.
O conselheiro José Antônio da Silva Maya, posto que
veja na disposição legislativa sobre que se consulta um
acto pouco digno de uma assembléa legislativa do Bra-
sil, como resultado do desconhecimento dos verdadeiros
interesses-nacionaes, que muito aproveitão da fácil admi-
nistração, e bom acolhimento dos subditos das nações
amigas, em toda a extensão do território brasileiro, como
— 19o —
resultado de prejuízos e prevenções contra os estrangei*
ros, só próprias de povos pouco adiantados na cívilisação,
não concorda coriuudo na maioria das secções, em que
cila seja contraria á constituição e aos interesses da fa-
zenda nacional.
Não se conforma com a opinião da dita maioria, e dos
diplomatas estrangeiros, em julgar que a assembléa le-
gislativa do Pará excedeu os limites de suas attribuições,
e se arrogou um poder soberano que de direito só compe-
te ao governo imperial.
Porquanto, sendo as assembléas provinciaes autorisa-
das para legislar sobre impostos necessários para as
despezas municipaes e provinciaes (lei de 12 de Agosto
de 1834 art. 10 |6.°) comas únicas cláusulas limitativas,
ou excepções expressas de não prejudicar com o es-
tabelecimento desses impostos as imposições geraes do
Estado (dite art. 10 §5.°), de nãousar dessa autorisacão a
respeito dos impostos de importação (art. 12); de não of-
fender a constituição, os impostos geraes, os direitos
das outras provincias ou os tratados (art. 20): bem se acha
incluida na generalidade da disposição—legislar sobre os
impostos necessários para as despezas municipaes e pro-
vinciaes—a faculdade, de que usou a assembléa legislati-
va do Pará, de decretar impostos sobre as lojas e arma-
zéns de estrangeiros cuja nação não tiver tratado com o
Brasil, sem que lhe fosse prejudicada por algumas das
excepções mencionadas, mas antes apoiada pelo argu-
mento a contrario sensu, deduzido daquella que lhe não
permilte fazer leis offensivas de tratados, da «qual a mes-
ma assembléa se aproveitou, quando reslringio o seu
acto a respeito daquelles estrangeiros cuja nação não te-
nha tratado.
Se é incontroverso que a assembléa geral legislativa,
na falta de expressas estipuíações de tratados, pôde su-
jeitar os estrangeiros a mais pesados impostos que os
nacionaes, e ampliar-lhes ou restringir-lhes mais ou me-
nos, como julgar conveniente, a faculdade de exercitar
o commercio interno, sem oífender o direito das gen-
tes, conforme a opinião geralmente recebida; sem duvida
parece ao conselheiro Maya que o mesmo poderão fazer
em lal caso as assembléas provinciaes, no exercício de
sua autorisacão para legislar sobre impostos, não appro-
vando comtudo o excesso nesta matéria, seja da assem-
bléa geral ou das provinciaes.
Concorda o dito conselheiro em que as assembléas
provinciaes não podem legislar a respeito de estrangei-
ros, sobre os objectos de que tratão os §§ 6.°, 7.°, 8.°, 9.° e
10 do ait.102 da constituição do Império, e que por ella são
— 196 —
da privativa attribuição do poder executivo, pois que ne-
nhum desses objectos é comprehendido nos.arts. 10 e
41 do acto addicional; assim como pela mesma razão el-
las não podem exercitar a sua faculdade de legislar so-
bre objectos de que tratão alguns outros paragraphos do
mesmo artigo constitucional, e sobre os que são da exclu-
siva competência da assembléa geral legislativa, eda câ-
mara dos deputados enumerados nos arts. 15,36 e 37: ao
contrario porém é de parecer que, bem como as assem-
bléas provinciaes podem legislar sobre a repartição da
contribuição directa, sobre a creação de alguns empre-
gos civis, sobre a autorisacão ao governo provincial para
contrahir empréstimos, participando, arespeito destes ob-
jectos, de attribuição da assembléa geral legislativa por
força de expressas disposições do acto addicional, con-
tidas nos arts. 10 e 11; assim e igualmente poderão exer-
cel-a com a mesma amplitude que toca á assembléa ge-
ral legislativa a respeito dos impostos necessários para
as despezas municipaes e provinciaes, fazendo differença
dos nacionaes e estrangeiros, com mais pesada carga so-
bre estes em virtude da autorisacão do art. 10§5.°
Não duvida o conselheiro Maya de que o estabelecer
as regras, por que se deva reger a admissão dos estran-
geiros, e o tratamento respectivo, quando vierem estabe-
lecer-se ou residir dentro do Império, seja da compe-
tência exclusiva do poder executivo, na fôrma da consti-
tuição, no caso de lhes serem outorgados mais favores,
ou de se dever ter para com elles mais considerações
que as estabelecidas em generalidade entre os subditos
das nações amigas, pelo direito das gentes natural; por-
que, como esta especialidade de favores e considerações
só pôde ter lugar em virtude de tratados, cerlo é que
estes só podem ser celebrados pelo poder executivo, e
que atai resppito são inteiramente incompetentes as as-
sembléas provinciaes; quando porém aos estrangeiros
se não deverem, em virtude de tratados, favores estipula-
dos, por que sejão igualados aos nacionaes, a respeito
de pagamentos cie impostos, tem por sem duvida que as
ditas assembléas, tanto quanto a assembléa geral legis-
lativa, poderão lançar-lhes impostos differentes e mais
fortes, e ainda com mais razão e competência que as
câmaras municipaes, que de uma tal faculdade tem usa-
do sem contestação ou desapprovação da assembléa ge-
ral legislativa, como se vê nas posturas da desta corte,
titulo 6.° §20.
Também o mesmo conselheiro não julga a disposição,
controversa ( posto que o não approve) contraria aos in-
teresses da lazenda nacional, por ter cm vista que ella
— 197 -
faz recahir a imposição somente sobre as lojas e arma-
zéns de estrangeiros, em que se vendão seccos ou molha-
dos, em grossT) ou atacado; e por considerar que as lojas
e armazéns desta natureza, além de serem sempre em
pequeno numero,' são as que bem podem com o maior
peso das imposições, que commoda e facilmente íepar-
tena pelos seus freguezes.
Conclue, portanto,que se não dá motivo justificado para
que o governo tome a deliberação de fazer suspender a
execução do acto legislativo provincial em questão.
Vossa Magestade Imperial na sua alta sabedoria resol-
verá o mais acertado.
Rio de Janeiro, em 29 de Janeiro de 1847.— José Anto*
nio da Silva Maga.—Caetano Maria flores Gama.—Ho^
norio Hermeto Carneiro Leão.— Visconde de Olinda.—
Manoel Alves Branco, é meu voto que se consulte a as-
sembléa geral sobre este «)bjecto, como se tem feito em
análogos.— Bernardo Pereira de Vasconcellos.

Consulte-se o conselho de estado. (*)


Paço, cm 3 de Fevereiro de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade O Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de
Albuquerque.

(*) O conselho de estado, em virtude desta resolução, deu sobre o


assiiinpto o seguinte parecer.
Senhor.—Foi Vossa Magestade Imperial servido resolver nn 3 de
Fevereiro deste anno que o conselho de estado consultasse sobre o
seguinte, parecer das secções reunidas dos negócios da fazenda e dos
estrangeiros.

Reunidos os conselheiros de estado abaixo assignados em confe-


rência de 11 de Fevereiro deste anno, dignou-se Vossa Magestade
Imperial ouvil-os sobre o objeelo do parecer, e suas opiniões forão
como segue.
Os conselheiros Lopes Gama e Cordeiro conformárão-se com o
parecer das secções.
O conselheiro Alves Branco, não duvidando da conveniência de se
suspender em alguns casos a execução perniciosa de algumas leis
provinciaes, insislio comtudo em que se deve consultar a assembléa
geral legislativa, para que ella haja de declarar o como e quando o
governo o poderá fazer; porque, sendo incontestável o direito no go-
verno para ordenar essa suspensão, elle admitliria o uso deste em
— 198 —

N. 112.—CONSULTA EM 17 DE FEVEREIRO DE 1847.

Sobre as leis provinciaes do Piauhy do anuo de 1816.

Senhor.—A secção dos negócios da fazenda do con-


selho de estado, tendo por ordem de Vossa Magestade

caso extraordinário, isto c, quando da execução de taes leis resultasse


damno irreparável.
O conselheiro Carneiro Leão explicou e reforçou as razões, em que
se fundara o parecer das secções; e, tomando especialmente em con-
sideração o ponto mais essencial da questão, a saber: se—sendo as
leis provinciaes contrarias á constituição, devem ou não ser suspensas
por ordem do governo—mostrou que taes suspensões já tem sido de
facto assim decretadas, e que, de direito, supposlo não seja elle ex-
pressamente declarado, julga que o governo o tem, e convém que o
exerça, não sendo possível acudir opportunamente a assembléa geral
legislativa com essa medida; acrescentando, como opinião particular
sua, que, npezar de não ser de direito expresso a faculdade de sus-
pender o governo as leis provinciaes, entende coinludo que cila
lhe compele, porque não tem sido alteradas pelo acto addicional as
attribuições do poiler moderador, entre as quaes está a de sanecionar
;is leis, é uma delegação deste poder a autorisacão, dada aos presi-
dentes, de sanecionar as leis provinciaes, devendo por isso consi-
derar-se esla saneção como dada cm nome do Imperador, e enten-
der-se que ella subsiste, emquanto pelo mesmo augusto senhor não
fòr revogada.
Os conselheiros Lima e Silva e Vasconcellos conformarão-se com
o parecer, e o conselheiro Maya sustentou o seu voto, que, como
membro da sec<;ão, havia dado.
Foi portanto á maioria «Io conselho de estado do mesmo parecer
que a maioria do parecer das respectivas secções, isto ó, considera
a disposição da lei provincial do Pará contraria á constituição do
Império, e aos interesses da fazenda nacional, competindo por con-
seguinte ao governo suspender a sua execução, emquanto o poder
legislativo supremo não decretar o contrario. E assim o mesmo con-
selho respeitosamente consulta a Vossa Magestade Imperial, que se
dignará resolver o que fòr servido.
Sala dassecròes do conselho de estado, em 8 de Março de 1847.—
Visconde de MonVAlejre.—José Antônio da Silva Maya.—Bernardo
Pereira de Vasconcell <s.—Francisco Cordeiro da Silva Torres.—Honorio
Hcrmeto Carneiro Leão.—José Joaquim de Lima c Silvo .—Manoel Aires
Branco, com declaração, de que, nao lenho duvida de admiltir o direito
de suspensão nos casos éspeciaes.—Caetano Maria LOJCS Gama.
RESOLUÇÃO.

Leve-se ao conhecimento da assembléa geral. (*)


Taco, em 13 de Maio de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula cHoüanda Cavalcanti de Albuquerque.
(*y Foi submettida ao conhecimento da assembléa geral.—Aviso de si de Maio
de 1847.
— 199 —
Imperial examinado as leis provinciaes do Piauhy pro-
mulgadas no anno de 1846, respeitosamente faz presente
-a Vossa Magestade Imperial que nada encontrou nellas,
que exorbite das attribuições legaes das assembléas
provinciaes, prejudique ou offenda a constituição, os
impostos geraes ou os tratados.
Rio de Janeiro, 17 de Fevereiro de 1847.—José An-
tônio da Silva Maya.—Manoel Alves Branco.—Visconde
de Olinda.

N. 113.—RESOLUÇÃO DE 24 DE FEVEREIRO DE 1847.

Sobre a duvida—se as licenças aos ofíiciaes inferiores e soldados da


guarda nacional estão sujeitas á taxa de 1#000 de sello.

Senhor.— Mandou Vossa Magestade Imperial que a


secção de fazenda do conselho de estado consultasse
corri séu parecer a respeito do conteúdo no officio do
presidente de Santa Catharina de 24 de Setembro ultimo,
no qual entra em duvida se as licenças dos inferiores,
e soldados da guarda nacional estão comprehendidas
na ordem de 12 de Março de 1845, para lambem pa-
garem 1g000, ou se essa taxa lhe deve ser relevada
em attenção a serem inteiramente destituidos de meios,
e como jornaleiros serem obrigados a tirar diversas
vezes taes licenças dentro do mesmo mez.
A secção, Senhor, sympathisa com os sentimentos do
presidente de Santa Catharina, e nenhuma duvida teria
de propor a Vossa Magestade Imperial a diminuição da
taxa, ou mesmo sua revogação relativamente aos infe-
riores e soldados da guarda nacional, pelas razões ex-
pendidas pelo presidente de Santa Catharina, se o go-
verno estivesse actualmente aulorisado a reformar a lei
de 21 de Outubro de 1843 e regulamento de 26 de Abril
de 1844; não estando porém o governo autorisado a isso,
é a secção de parecer que se comprehendão também
os inferiores e soldados na ordem do thesouro de 12
de Março de 1845, que manda pagar 1#000 pelas li-
cenças dos ofíiciaes da guarda nacional, como pagão
as licenças sem ordenado dos empregados públicos o
que já está em pratica na recebedoria do município
como informa o respectivo administrador.
— 200 —

Reconhece a secção, Senhor, que os inferiores e sol-


dados da guarda nacional não se podem considerar
empregados públicos no sentido rigoroso da palavra,
mas também reconhece que é esse o único meio, que
actualmente resta ao governo, de attender á pobreza, meio
que não está lóra da lei, mas sim comprehendido nas
analogias delia, pois que podem muito bem ser consi-
deradas as suas licenças na mesma razão daquellas,
que obtêm sem ordenado os empregados públicos,
e porque de outro modo não podem elles escapar á pesada
taxa de 2#000 que na fôrma do art. 32 pagão as licenças
não especificadas.
Tal é, Senhor, o parecer da si^cção, mas Vossa Mages-
tade Imperial mandará o que for servido e mais justo.
Rio de Janeiro, em 23 de Janeiro de 1847.—Manoel
Alves Branco.—José Antônio da Silva Maga. —Visconde
de Olinda.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 24 de Fevereiro de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 114.—RESOLUÇÃO DE 24 DE FEVEREIRO DE 1847.

Sobre a pretenção de D. Delfina Maria de Souza Reis, á percepção


do meio soldo.

Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial, por aviso


de 9 de Setembro de 1846, que- a secção de fazenda do
conselho de estado consultasse sobre o requerimento

( A
12
" de Ma?co0ae
uc março deri1847,
S d en d a
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^ collecção
província
dasdeleis
Santa Catharina, n.»;41
e«. ' de
7,
^ ' — 201 —
em que D. Delfina Maria de Souza Reis pedi; «pie se lhe.
continue a pagar a sexta parte do soldo de seu fallecido
marido, que ha muito percebe, e que o tribunal do the-
souro ultimamente deliberou não poder-lhe compelir^
ordenando a reposição do que tem recebido ; e é sobre
este objecto que a secção passa a dar o seu parecer.
A supplicante, senhor, allega em seu favor que ella é
viuva do alferes Luiz José Ribeiro, que falleceu em 10 de
Abril de 1817: que como tal lhe compete a respectiva
«niota do soldo, que seu marido vencia, na conformidade
«Ias disposições da lei de 6 de Novembro de 1827, e do
alvará de 16 de Dezembro de 179Ò, pelas quaes se regu-
lara a thesouraria da província de Minas Geraes, quando
lhe consignou a sexta parle daquelle soldo, pois que,
supposto tivesse servido somente pelo espaço de 7 annos
6 mezes e 20 dias, provado se mostrava pelo altestado
do facultalivo que o tratou, cirurgião do seu Corpo, que
fallecêra de moléstia de peito proveniente de uma cons-
lipação, de que foi aíacaddestando em serviço aclivo: e
que, por um engano (diz ella) qUe teve lugar no thesouro
publico nacional* se aclia dolloc'ada entre o susto e a
miséria, pela privação do vencimento do referido meio
soldo, e a necessidade de repor o recebido ; do que im-
plora a reparação á Vossa Magestade Imperial.
A secção confessa francamente perante Vossa Mages-
tade Imperial que muito se condóe da triste sorte de
qma pobre viuva que, além dé privada da continuação
do recebimento da sexta parte do soldo de seu fallecido
marido na diminuta importância de 36$ annuaes, que.
lhe fora concedida por legitima autoridade, e preenchi-
dos os meios legaes, obrigada ê pela decisão do thesouro
publico nacional a resliluir o já recebido ; mas, não po-
dendo por isso deixar de cingir-se aos princípios de
rigoroso direito, quando só lhe incumbe consultar sobre
a justiça dessa decisão, contra que se reclamou, com
ella se conforma, desallendida a reclamação da suppli-
cante.
Porquanto, para que a viuva de um alferes que não
contou 20 annos de serviço , e somente 7 annos e 6
mezes e 20 dias, pudesse ser deferida por virtude da lei
de 6 dé Novembro de 1827, com metade do soldo, que
competiria a seu marido se fosse reformado, preciso era
que ella tivesse provado incontestavelmenle que o falle-
cimento lhe resultará de algum desastre ou grave mo-
léstia adquirida no mesmo serviço, nos termos do alvará
de 10 de Dezembro de 1790 § 10, tivesse demonstrado de
uma maneira, que por indubitavel não admittissecon-
testarão, ler sido a moléstia, de que morrera seu ma-
c. 26
— 202 —

rido adquirida no mesmo serviço, isto é, proveniente de


algum acto do serviço militar, ou por elle occasionada.
Não basta por certo, como bem se tem entendido no
thesouro publico nacional, para tal fim, satisfeita a exi-
gência da lei—moléstia gravo adquirida no mesmo ser-
viço,—a occurrencia natural e ordinária de qualquer
moléstia que, por ser havida no tempo do serviço, se
lhe não pôde comtudo assignar este por causa, pois
que outra deve ser a conclusão deduzida da litteral dis-
posição da lei reguladora da matéria. E, como tanto se
não acha effectiva e incontestavelmente provado para
ter applicação á lei, nem pela qualidade da moléstia
resultante de uma constipação, nem pela natureza da
prova que consisto apenas em uma altestação gra-
ciosa de facto passado mais de dexesete annos antes,
e não mencionado na fé de officio, forçoso é á sec-
ção concluir que legal e justa foi a decisão do tribunal
do thesouro publico nacional : ou aliás teria de re-
conhecer, como regra geral e sem alguma excepção,
que a sexta parte do soldo se deveria dar em todos os
casos do fallecimento dos ofíiciaes que, não contando
os vinte annos de serviço, morressem de qualquer mo-
léstia na actualidade delle; com o que a mesma sec-
ção se não conforma, nem alguém haverá que se con-
forme, avista da lrlteral disposição e intelligencia da lei.
E' portanto a secção de parecer que, indeferida a sup-
plicante, subsista a decisão do tribunal do thesouro,
se a Vossa Magestade Imperial outra cousa não pa-
recer mais justo.
Rio de Janeiro, em 23 de Janeiro de 1847.—José An-
tônio da Silva Maga,—Manoel Alves Branco.—Visconde'
de Olinda,
RESOLUÇÃO-

Como parece. (*)


Paço, 24 de Fevereiro de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Holtanda Cavalcanti;
de Albuquerque.

(*) Ordem de 17 de Março de 1817 a thesouraria de Minas Geraes,


para que subsista a decisão recorrida do tribunal do thesouro, e
*>ja indeferido o recurso.
- 2itf

N. 115.—RESOLUÇÃO DE 6 DE MARÇO DE 1847.

Sobre a distribuição do producto do contrabando apprehendido


p 'Io brigue de guerra nacional Fere Fogo nas águas 4o Mara-
nhão.

Senhor.—Vossa Magestade Imperial foi servido mandar


rernelter ás secções do conselho de estado dos negócios
da fazenda e da marinha os papeis relativos á appre-
hensão do brigue Fere Fogo, e uma canoa que o au-
xiliava no contrabando, para consultar sobre o modo
porque deve ser feita a divisão do seu producto.
E, sendo tudo examinado pela secção, tem elfa a honra
de apresentar o seu parecer.
Tendo sido resolvido pelo governo imperial que a
divisão devia ser feita segundo o regulamento de 22
de Junho de 1836, reclamou contra esta decisão o com-
mandante da estação naval no Norte, a que pertence
o navio apprehensor, pretendendo que devia ser obser-
vado o alvará de 9 de Maio de 1797, e não o sobredito
regulamento de 1836. A questão pois a que dá lugar
o facto que occorreu é se,—no caso de uma apprehensão
de contrabando ter sido feita por uma embarcação de
guerra, deve ser feita a divisão do producto dos objectos
apprehendidos segundo o regulamento de 22 de Junho
de 1836, ou segundo o alvará de 9 de Maio de 1797.
Sendo ouvido o procurador da coroa, foi elle de opi-
nião que não pôde ser applicado ao caso o alvará de
1797, o qual so regula as capturas de propriedade de
inimigo em tempo de guerra, que é o que não se ve-
rifica, mas sim as leis de fazenda, que são as que au-
torisão essas apprehensões; devendo por isso ser feita
a divisão na conformidade dessas mesmas leis, assim
como no caso presente o havia sido sem contestação
o julgamento, o qual, a reger aquelle regulamento, devera
pertencer a outras autoridades.
Foi porém de outro parecer o conselho supremo mi-
litar, que por ordem de Vossa Magestade Imperial foi
mandado consultar sobre a matéria. Reconhece o con-
selho supremo que o julgamento destas apprehensões
pertence ás autoridades fiscaes segundo as leis de fa-
zenda, mas entende que, sendo um dos fins daquellas
estações navaes obstar ao contrabando, e tendo os seus
commandantes as attribuições de commandantes em
chefe de uma esquadra, quando se houver de proceder
á divisão do producto das apprehensões, não se dever
- 20't —

na falta de instrucções particulares que regulem o


methodo pratico de a*fazer, ir buscar um regulamento
estranho á marinba de guerra, em despeito de seus
estylos, e em manifesta conlradicção das regras disci-
plinares, e de gradação da escala* das autoridades cm
actos de serviço militar.
Que o alvará de 1797 não pódc ser applicado ás ap-
prehensões de contrabando, parece claro á secção. Elle
regula o serviço militar em tempo de guerra, e tem
por objecto a propriedade do inimigo do Estado, que
é caso mui diíierente. O fundamento, que toma o con-
selho supremo militar para sustentar sua opinião, é que,
tendo os commandantes das estações navaes as allri-
buições de commandante em chefe de uma esquadra,
devem a seu respeito ser observadas todas as leis mili-
tares que regulão o serviço que elles devem prestar,
uo qual entra a repressão do contrabando, pelo decreto
n.° 320 de 2 de Outubro de 1843.
A secção porém observa que os actos, do que se traia,
têm uma natureza particular, que lhes dão as leis que
os autorisão; e que, tendo sua origem, e baseando sua
legitimidade nas leis fiscaes, e não nas militares, por
aquellas e não par -estas é que devem ser avaliados
e julgados, muito* embora sejão praticados por autori-
dades differentes, que para isso eslejão autorisadas. Se
a lei de 1797 é a que deve regular o caso, então nem
«i julgamento pôde competir- ás autoridades fiscaes, o
<jue aliás reconhece o conselho supremo , não podendo
servir de resposta o ser isso expresso nas referidas
leis fiscaes, porque lambem nas mesmas bem expresso
ó o methodo da divisão, não se percebendo a razão
por que devão vigorar aquellas leis em parte, e em parte
não.
Portanto, emquanto estiverem em vigor as actuaes
disposições de fazenda, a divisão do producto do con-
trabando não pôde ser feita senão pelo regulamento
de 1836, que <; o que autorisa taes apprehensões : e
por isso entende a secção que justa foi a decisão do
governo imperial.
Entretanto a secção pede licença a Vossa Magestade
Imperial para fazer a seguinte observação.
As razões dadas pelo consellio supremo* mililar, se não
abonão a reclamação, mostrão ao menos a conveniência de
alguma alteração no actual regulamento das alfândegas.
As regras daquelle regulamento, applicadas em toda a
.sua extensão á marinha do guerra, estabelecem uma
igualdade que não c compatível com a disciplina v.
uradaijãu militar, c dcjtroem o principio geralmente
— .2(1.') —
recebido de que ás combinações dos commandantes
são devidos os bons suecessos" das operações dos vasos
que lhes são subordinados. Parece pois pedir a boa
ordem do serviço que, depois de feito o processo se-
gundo as leis fiscaes, e praticadas todas as formali-
dades que ellas recommendão para se liquidar o pro-
ducto das apprehensões, sejão observadas as regras
do regimento da marinha quanto á divisão a que se
houver de proceder entre os apprehensores, quando
estes pertenção á marinha de guerra. E, como o governo
imperial, pela lei vigente do orçamento que mantém em
vigor o art. 30 da de 18 de Setembro de 1845, está au-
torisado a reformar o regulamento das alfândegas, a
secção tem a honra de offerecer o seguinte projecto de
decreto.
Artigo único. O producto do contrabando, apprehen-
dido por embarcação de guerra, ou com seu auxilio,
depois de praticadas todas as formalidades das leis e
regulamentos de fazenda perante as autoridades fiscaes,
será entregue á reuartição da marinha, ou na sua tota-
lidade, ou na terça parte, quando se verifique o caso
do art. 295 do-regulamento de 22 de Junho de 1836;
para ser distribuído segundo o alvará de 9 de Maio de
1797.
Este, Senhor, o parecer que a secção submelte mui
respeitosamente á alia consideração de Vossa Mages-
tade Imperial.
Rio. de Janeiro, em 27 de Fevereiro de 1847.— Vis-
conde de Olinda.—José Antônio da Silva Maga.—José
Joaquim de Lima e Silva.—Honorio Hermeto Carneiro
Leão .—Francisco Cordeiro da Silva Torres.—Manoel
Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, cm 6 de Marco de 1847.
Com a rubrica do Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

•*) Decreto u.° 509 «le 10 de Março de 1847.—Determina que a


(listiihuieão do producto do contrabando apprehendido por embar-
cações de guerra, seja feita scguiido u alvará de 9 de Maio de 1797.
— 2UÍ» —

X. 116,— CONSULTA DE 13 DE ABRIL DE 1847.

Sobre as leis provinciaes de Goyaz, do anno de 1846.

Senhor.—Com o aviso da secretaria de estado dos ne-


gócios da fazenda de 6 do corrente mez dignou-se Vossa
Magestade Imperial mandar remelter á secção do con-
selho de estado, encarregada de consultar sobre os mes-
mos negócios, um exemplar do tomo 12 das leis pro-
vinciaes de Goyaz, promulgadas no anno próximo findo.
E, á vista do'exame de cada uma das 18 leis compiladas
no dito torno, e publicadas de 23 de Maio até 10 de Julho
de 1846, parece á secção que não ha nellas disposição
ou cláusula alguma que seja offensiva do acto addicio-
nal á constituição do Império, e da lei inlerpretativa de
12 de Maio de 1840.
Vossa Magestade Imperial resolverá, entretanto, como
mais conveniente fôr.
Sala das conferências dó conselho de estado, em 13
de Abril de 1847,— Visconde de Abrantes.—'Viscondede
Olinda.—Manuel Alves Branco.

N. 117.—CONSULTA DE 13 DE ABRIL DE 1817.

Sobre as leis provinciaes tio Rio Grande do Sul, do anno de 1846.

Senhor.—A secção do conselho de estado dos negócios,


da fazenda, em observância das ordens de Vossa Ma-
gestade Imperial, tem a honra de dar o seu parecer
acerca das leis da assembléa provincial do Rio Grande
do Sul, promulgadas na sessão do anno passado.
Tendo a secção examinado todas as leis que dizem
respeito ao objecto da fazenda, nada encontrou que sof-
fra objecção. não havendo excesso de autoridade.
Vossa Majestade Imperial resolverá como mais acer-
tado entender.
Sala das conferepcias do conselho de estado, em 13
de Abril de 1847. — Visconde de Olinda.—Manuel Alves
Branco.—Visconde de Abrantes.
- 207 -

N. < 18.— RESOLUÇÃO DE 16 DÊ ABRIL DE 1847,

Sobre a exigência do Juiz de direito do crime desta corte, de exa-


minar os livros do thesouro publico nacional, para esclarecimento
do processo de responsabilidade de um ex-empregado do mesmo
thesouro.

Senhor.—As secções do conselho de estado, que con-


sultão sobre os negócios da fazenda e justiça, tendo
examinado, por ordem de Vossa Magestade Imperial, os
papeis relativos ás exigências do juiz de direito-da 1.*
•ara crime desta cidade, no processo do ex-thesoureiro
dos ordenados* tem a honra de apresentar seu parecer.
O antecessor do actual juiz de direito, por seu des-
pacho de 20 de Dezembro do anno findo, entre outras
indagações que julgou necessárias para a formação da
culpa, mandou proceder a exame nas folhas dos orde-
nados e pensões, no livro de receita e despeza do
thesoureiro dos ordenados, e nos da thesouraria geral
de onde constem as entregas de dinheiros ao ex-thesou-
reiro nos anno»de 1843 e 1844, enos mais documentos per-
tencentes aquelles annos, e relativos ás mesmas entregas;
e nomeou peritos para o que toca á contabilidade, es-
cripturação e verificação dos desvios dos dinheiros, e
tabelliães para verificação de qualquer falsidade de
firmas e letras, exigindo que, no caso de que não existão
esses livros e mais papeis, isto mesmo conste por do-
cumento, para recahir a responsabilidade sobre quem
de direito fòr^
Sendo apresentado ao Exm, presidente do thesouro a
requisição do juiz pelo promotor publico, mandou elle
ouvir ao conselheiro de estado procurador fiscal, o qual
foi de parecer que não se satisfizessem as exigências
na parte em que se mandava proceder a exame nos
livros e papeis do thesouro, e na escripturação e con-
tabilidade ; porque os exames necessários já havião sido
feitos competentemenle, e o procedimento do juiz tendia
a conhecer dos outros empregados que não estavão em
processo. E com este parecer se conformou o presidente
do theseuro. Instando porém o juiz no exame,' e sendo
isso communicado ao mesmo presidente, que tornou a
ouvir ao procurador fiscal, foi este de parecer que se
declarasse ao juiz que não devião comparecer no the-
souro as pessoas por elle nomeadas para examinarem
a eontahilidade e escripturação dos livros; pofque, além
— 208 ^

de não ser isso necessário, só erão para esse aclo com-


petentes os empregados do thesouro.
Tendo o juiz marcado o dia 3 dé Fevereiro próximo
para o exame, compareceu no thesouro com os tabelliães
e peritos que havia nomeado. Então,declarou-lhe o con-
tador geral, como consta do officio deste do mesmo dia
3, qiie não lne apresentaria senão as folhas, e estas
sõ para o exame judicial por tabellião. E, como o juiz
assegurasse que não mandaria fazer exame na escrip-
turação e contabilidade, devendo este limitar-se á letra
ealgarismo, e que esse exame podia elle mandar fazer
tanto por tabelliães como por quaesquer pessoas; por
isso, e porquê presente se achava o promotor publico,
que não deixaria de cumprir as ordens do governo, re-
solveu o mesmo contador geral entregar-lhe' as folhas
para se proceder nos termos indicados. .
Depois defeito o exame da maneira referida, declajrou
0 juiz, por seu despacho do mesmo dia 3, que, não se
prestando aquelle exame, do modo regulado pelo aviso,
ao reconhecimento da verdade, nada podendo colher-
se delle para prova dos crimes denunciados, e não lendo
sido reconhecidos verdadeiros os papeis, convinha que se
procedesse ao exame que havia ordenado.
O que tendo sido submettido ao Exm. presidente do
thesouro pelo promotor publico, e sendo novamente
ouvido o procurador fiscal, sustentou este seu parecer de
não se dever admitlir ex3ine nos livros, na escriptura-
ção e contabilidade da contadoria geral, e dos thesou-
reiros geral e dos ordenados pelo modo prescripto pelo
juiz, isto é, por peritos da escolha deste, devendo ser
feito por empregados da repartição, ou pelos que o
mesmo presidente houver de nomear, não podendo convir
em que se possa ingerir autoridade estranha no exame
da exactidão e regularidade da escripturação e conta-
bilidade das repartições do thesouro.
Estando as cousas nesto pontOj foi nomeado para a
1 .• vara crime outro juiz, e este em um officio dirigido
ao Exm. presidente do thesouro, além de uma conta
corrente que exige, insiste na necessidade do exame
na escripturação e contabilidade dos livros da thesou-
raria dos ordenados, -e nos mais que forem delles de-
pendentes, naquelles lugares onde existão vestígios do
crime, sendo feito o exame por peritos de sua nomeação.
E, na sustentação que faz do direito que lhe assiste, de-
clara não ter de examinar, como autoridade superior, a
escripturação e contabilidade ; e que esle exame se dirige
a descrobnr nellas a existência e provas de novos crimes.
Sendo ouvido o procurador fiscal sobre esta nova in-
— 2>ü —

sistencia do actual juiz de direito, foi elle de parecer,


com data de 7 do corrente mez de Março, que fossem sa-
tisfeitas as exigências do juiz de direito, pelos lermos ra-
zoáveis a que agora erão reduzidas.
Com este parecer conformou-se o contador geral, e
o inspector geral também nelle concordou, menos em
se negar credito e fé aos cálculos e contas correntes da
contadoria geral de revisão, e em se admittirem peritos
de fora, para verificarem a exactidão desses mesmos cál-
culos e contas.
Nesse estado da questão, mandou Vossa Magestade Im-
perial que as secções de fazenda e justiça consultassem
sobre a matéria.
As secções, sem entrar no exame das differenças que
se possão nolar entre as exigências de um e outro juiz,
considerão duas questões no facto que occorreu: 1 .» se
o juiz de direito para formar o processo temo direito de
examinar os livros do thesouro na parte relativa ao
mesmo processo, nomeando peritos para esse exame, ou
se, no caso de ser este necessário, deve ser feito por
empregados nomeados pelo presidente do thesouro; 2. a
se, tendo o juiz de direito de instituir esse exame com
peritos de nomeação sua, pôde este extendcr-se á escrip-
turação e contabilidade.
Quanto ao primeiro ponto, parece dever-se resolver affir-
malivamente. Obrigado o juiz a formar opinião sua, e a
baseal-a, em sua sentença, sobre a existência do crime
e seu autor, tem inconlestavelrnente o direito de exa-
minar por si tudo quanto possa concorrer para o escla-
recer sobre a matéria que tem de julgar ;e conseguin-
temente o de nomear aquelles que o devem assistir na-
quelle acto.
Exames instituídos por autoridade de outra natureza,
e por pessoas da escolha destas, com quanto a outros
respeitos gozem de inteira fé em juizo, não se pôde toda-
via dizer que tenhão a força de levar a convicção ao espi-
rito do modo que é mister ao juiz. Para se dispensar o
exame do juiz e por peritos seus, é necessário que á lei
admitia certos láctos como indicativos de crime; mas en-
tão não se faz necessária a convicção intimado julgador:
a autoridade da lei suppre a isso. Mas esses casos, como
excepcionaes, não se presumem, é necessário que sejão
expressos.
Quanto ao2."ponto, parece também ás secções que
não se pôde negar ao juiz o direito de examinar' a conta-
bilidade e escripturação. As mesmas razões, que suslen-
lão a opinião das secções quanto ao primeiro ponlo,
servem para resolver o segundo.
c. 27
— 210 —
Se as partes exigirem esse exame, ou se o juiz ex-officio
o julgar necessário, para se inteirar do crime e do seu
autor, não se lhe pôde negar esse meio i de descobrir a
verdade.
Casos pôde haver em que se duvide da exactidão dessa
escripturação,e então forçoso é sujeital-a a exame. Se o
"uiz nesse acto exceder a sua alçada, se íizer mais do que
\ he cumpre, ingerindo-se na administração do thesouro,
e tomando conhecimento do que é administrativo, o go-
verno o fará entrar em seus deveres, resolvendo como
lhe compete, o conílicto que possa apparecer. Mas, só
porque elle pôde abusar dessa faculdade, extendendo o
exame além dos termos para que está autorisado, só por
isso ser-lhe vedado inteiramente investigar por si o crime,
e obrigal-o a estar por informações de autoridade estra-
nha, é violentar-lhe a consciência, e circumscrever-lhe
os meios de convicção.
As secções concordão com o procurador fiscal em que
na censura da escripturação e contabilidade não se de-
ve intrometter outra autoridade que não seja o geverno;
isto certamente é administrativo, e como tal fora da al-
çada da justiça. Más não é disto de que se trata.
• No caso presente, o primeiro juiz não expressou em seu
despacho os termos em que queria examinar a escriptu-
ração: o segundo porém, á vista das duvidas que se tinhão
levantado, declarou que só queria verificar o crime, e
reconhecer a existência de novos, sem pretender exami-
nar, como superior, os livros e a escripturação do thesou-
ro em geral. Admiltido portanto o exame na escriptura-
ção e contabilidade tanto quanto se faz necessário para
investigação do crime, deve o juiz abster-se de tomar co-
nhecimento da parte administrativa e do que é da compe-
tência do ministro da fazenda; e, quando haja algum
conílicto, ao governo toca decidir.
Por todas estas razões as secções conformão-se com o
parecer do conselheiro de estado procurador fiscal de 7
do próximo mez de Fevereiro, cumprindo declarar-se ao
juiz que, se, no exame a que tem de proceder apparecer
alguma questão administrativa, deverá recorrer ao go-
verno para a resolver.
As secções pedem licença a Vossa Magestade Imperial
para fazer mais as seguintes observações.
Dos papeis que forão examinados consta que, tendo o
juiz de direito ordenado o exame nos livros do thesouro,
marcou elle mesmo o dia em que deveria ter lugar, sendo
o promotor publico quem se dirigio ao ministro com a
requisição constante do despacho; assim como que, ten-
do elle nomeado para perito a um empregado de outro
— 211 —
ministério, foi-lhe intimada a nomeação pelo escrivão,
sem que isso fosse communrcado ao respectivo ministro.
A's secções parece menos regular semelhante pratica,se
é que ella está introduzida. E' mais conforme com o ser-
viço publico e mais consentaneo com o respeito que as
autoridades devem guardar para eom as que lhe são su-
periores, que em taes casos os juizes se dirijão directa-
mente aos respectivos ministros a quem devem represen-
tar as diligencias que são necessárias a bem da justiça,
pedindo-lhes dia para se ellas effectuarem; para que estes,
marcando-o, ordenem ás repartições, que lhes são subor-
dinadas, que a ellas se prestem.
Constituídas cada uma das repartições debaixo de au-
toridades éspeciaes, seria um transtorno de toda a ordem
que, sem sciencia e consentimento destas, fossem ou-
tras estranhas exercer acto de jurisdieção no recinto de
cada uma daquellas.
Além da perturbação dos'trabalhos, uma semelhante
pratica daria lugar a muitos confliclos, que convém evi-
tar. Pelamosma razão, quando seja necessária a presença
de algum empregado publico fora da sua repartição, pa-
ra qualquer acto de justiça, cumpre que o juiz se dirija
direclamente ao respectivo ministro com a competente
requisição, para que este, sendo sabedor da ausência que
elle tem de fazer, possa dar as providencias necessárias
para que não soffra o serviço.
Senhor, queira Vossa Magestade Imperial acolher este
parecer com sua costumada benevolência.
Rio de Janeiro, 31 de Março de Í847. — Visconde de
Olinda.— Visconde de Abrantes.—Honorio Hermeto Car-
neiro Ijeão.—Manoel Alves liranco.—Caetano Maria
I^opes Gama.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.

JlESOLUÇÃO .

Na suprema direcçãoe fiscalisação da receita e despeza


regulando a administração, arrecadação e contabilidade
da fazenda nacional, nos termos dos arts.'6.° §§ 1.° e 3.°, e
17,25 e 27 da lei de 4 de Outubro de 1831, não pôde inge-
rir-se autoridade estranha, de qualquer classe ou gra-
duação que seja. Esta disposição porém não inhibe que
nos processos criminaes, á requisição dos juizes compe-
tentes, se possão permitlir novos exames 'ou quaesquer
esclarecimentos, eommetlendo-os a empregados do the-
souro, ou a outros peritos propostos pelos juizes crimi-
naes.
212
Nas diligencias que os juizes a bem da justiça lenhão
de fazer nas repartições subordinadas ao governo, de-
veráõ taes juizes dirigir-se directamente aos respectivos
ministros, ou presidentes de província, pedindo-lhes
dia para ellas se effectuarem; e esles, marcando-o, or-
denarão ás repartições, que lhes são subordinadas, que
a ellas se prestem. Igualmente, sempre que seja ne-
cessária a presença de algum empregado publico fora
da sua repartição para qualquer acto de justiça, cum-
pre que o juiz se dirija directamente ao respectivo mi-
nistro, ou presidente de província, com a competente
requisição, para que este dê as providencias necessárias
a não soffrer o serviço. (*)
Paço na cidade de Campos, 16 de Abril de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti
de Albuquerque.

N. 119.—CONSULTA EM 13 DE MAIO DE 1847.

Leis provinciaes do Espirito Santo do anno de 1816.

Senhor.—A secção do conselho de estado dos negó-


cios da fazenda examinou as leis provinciaes do Espirito
Santo, promulgadas na sessão do anno passado, que
por ordem de Vossa Mageslade Imperial lhe forão re-
mettidas para consultar com seu parecer.
Tendo a secção cumprido com o seu dever na parte
relativa nos objectos de fazenda, que lhe incumbe, nada
encontrou que objecção faça.
Vossa Mageslade Imperial determinará como mais
acertado entender.
Rio de Janeiro, em 15 de Maio de 1847. —Visconde de
Olinda.—Manoel Alves Branco.— Visconde de Abrantes.

H Decrclo n.° o!2 de 10 de Abril de 1847.—Fixa a maneira pela


«|ual o« juizes criminais se «levem dirigir nos processos de empre-
gados d) lhesouro publico nacional, c outras providencias á«ei';i
das diligem i,es de juMiça nas repartições publicas.
— 213 —

N. 120.—CONSULTA EM 15 DE MAIO DE 1847.


i
Sobre as leis provinciaes da Parahiba, do anno de 1846.

Senhor.—Por aviso da secretaria de estado dos ne-


gócios da fazenda forão remettidos á secção do con-
selho de estado desta repartição as leis provinciaes da
Parahiba, promulgadas na sessão do anno passado, sobre,
as quaes passa ella a dar seu parecer.
Tendo as examinado na p*arte que pertence aos ne-
gócios da fazenda, a secção nada encontrou que offenda
a constituição e os tratados.
Vossa Magestade Imperial resolverá como mais acer-
tado entender.
Rio de Janeiro, em 15 de Maio de 1847.—Visconde de
Olinda.—Manoel Alves Branco.— Visconde de Abrantes.

N. 121.—RESOLUÇÃO DE 19 DE MAIO DE 1847.

Sobre a venda dos bens do vinculo de Itambé, instituído por An-


dré Vital de Negreiros.

Senhor.—A secção do conselho de estado dos negócios


da fazenda tem- a "honra de dar seu parecer sobre os offi-
cios do inspector da thesouraria de Pernambuco e do
procurador fiscal da mesma, relativos á venda dos bens
da capella de Itambé, instituída por André Vital de Ne-
greiros, hoje pertencentes á fazenda publica.
Na execução das leis, que regulão estas arrematações,
oceorrem varias duvidas que muito embaração a de que
se trata, assim quanto á fôrma que se deve seguir, attenta
a natureza e diversidade dos bens, como quanto ás des-
pezas que será necessário fazer para o seu extenso in-
ventario, e para o reconhecimento dos limites dós pré-
dios. Sobre o que deu o procurador da coroa o parecer
seguinte. ;
A' vista das informações e da cópia do Accordão pro-
ferido cm gráo de recurso de revista a favor da fazenda
publica, nenhuma questão jurídica mais resta a tratar-se
sobre o direito da mesma fazenda, visto que por aquelle
— 21 í —
Accordão foi definitivamente julgado legal e procedente o
seqüestro sobre todos os bens desta capella. em confor-
midade do alvará de l i de Janeiro de 1807, o qual em sua
letra declara desde logo por devolutose incorporados nos
próprios nacionaes semelhantes vínculos, independente-
mente de quaesquer formalidades, e manda proceder im-
mediatamente á venda em hasta publica, depois de se-
qüestrados, inventariados, avaliados, etc. com dinheiro á
vista, ou em soluções breves e bem afiançadas. Todas as
.duvidas, aliás muito ponderosas, que cumpre resolver, são
puramente administrativas, econômicas e de mero calculo,
e reduzem-se a saber qual será o melhor methodo, que
cumprirá seguir-se na alienação, para vantagem e segu-
rança da fazenda publica, attentas as circumstancias és-
peciaes, que se ponderão, e outras que são de presumir.
Emprehender um inventario com as solemnidades que
requer a lei citada, é expor a fazenda publica a uma in-
calculável despeza, sem esperançai de ver-se o fim desse
processo, e dos outros que infallivermente hão de brotar,
com evidente e irreparável damno da mesma fazenda.
Só o poderá contestar quem não estiver no Brasil, ou
ignorar inteiramente o que são entre nós medições judi-
ciaes de terras.
Mandar proceder á arrematação, ou em todo o acervo,
ou por parles, sem essas formalidades subslanciaes para
sua legalidade, e para se obter pleno conhecimento dos
valores, e poder-se calcular o preço, 6, sobre manifesta
infracção da lei citada, e de outros artigos da legislação
de fazenda, aventurar ou, como vulgarmente so diz,
queimar esses bens, que, ao que parece, são de avul-
tado valor.
Em tal collisão é o meu parecer que na próxima
sessão se leve este urgente negocio ao conhecimento do
corpo legislativo, para que, inteirado das circumstancias,
haja de aulorisar o governo imperial, para verificar a
venda destes bens pela maneira que na occasião en-
tender mais proveitosa aos interesses da fazenda, dis-
pensadas para esse cffeito as formalidades, que requer
o alvará citado e as mais leis fiscaes.
Cumprirá entretanto recoinmendar a melhor adminis-
tração e fiscalisação sobre os mesmos bens, e procurar
obter as mais circumstanciadas noticias a respeito das
qualidades de cada um dos prédios, a íim de se poder
depois deliberar com pleno conhecimento.—Rio de Ja-
neiro, 24 de Março de 1847.— Francisco Gomes de Cam-
pos . '
A secção reconhece com o procurador da coroa os
inconvenientes da arrematarão na conformidade das leis
— 21o —
actuacs, e conforma-se com seu parecer, entendendo
que o governo deve solicitar- do corpo legislativo auto-
risacão para proceder á venda desses bens, segundo
achar mais conveniente aos interesses da fazenda, sem
se ligar ás regras ordinárias que vigorão nesses casos,
assim como para fazer todas as despezas que forem
necessárias para se proceder ao inventario e á con-
veniente demarcação das terras respectivas, quando não
faça um ajuste com os compradores que o exonere de
qualquer responsabilidade para o futuro.
A secção concorda lambem com o procurador da coroa
na necessidade de se haverem mais amplas informações
sobre esses bens, para se poder tomar uma providencia
conveniente sobre essa venda.
Vossa Magestade Imperial resolverá como mais acer-
tado parecer.
Rio de Janeiro, 15 de Maio de 1847.— Visconde de
Olinda.^-Manoel Alves Branco.—Visconde de Abrantes.
BESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 19 de Maio de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
José Joaquim Fernandes Torres.

N. 122.—CONSULTA DE 28 DE MAIO DE 1847.


Sobre o meio oíTicial de se verificar se as quantias emitlidas pelo
banco commercial da Bahia são as que permittem os seus esta-
tutos.

Senhor.—Dignou-se Vossa Magestade Imperial mandar


consultar as secções de fazenda e do império do eonse-

(*) Submettida á consiiferaçfio do corpo legislativo.— Aviso de 26


de Maio de 1846. ^
N. B. A lei n.° 586 de 6 de Setembro de 1850, art. 4.°, autorisa,
pela maneira mais couvenienle, a venda dos bens da capella do
Itambé; e o decreto n.» 778 de 6 de Setembro de 1834, declara que
por occasião da venda o goverpa poderá atirontar aos indivíduos que
se acharem de posse dos ditos bens e terras.
— 21G —
lho de estado acerca dos papeis relativos ao projecto d Í
decreto sobre o meio oíTicial de se verificar se as quantias
emittidas pelo banco commercial da Bahia são as que lhe
permittem os seus estatutos.
As disposições do referido projecto de decreto são as
seguintes.
Art. 1." Na commissão annual de exame, nomeada pe-
la assembléa geral do banco commercial da Bahia, iará
parle um empregado nomeado pelo inspector da thesou-
raria da fazenda, para verificar a maior quantia, que an-
dou em circulação durante o anno, em vales ou letras
pagaveis ao portador, e reconhecer-se se está para com o
capital effectivo do banco na relação permiltida pelos
estatutos.
Art. 2.° Será recolhido ao thesouro o lucro correspon-
dente a ipialquer excesso de emissão dos vales ou letras
3ue se verificar, regulado em proporção do liquido total
os lucros do banco durante o anno em que tiver occor-
rido o excesso.
Art. 3."Todos os ditos vales ou letras que andarem na
circulaçüo, além do prazo de 10 dias, facultado aos esta-
tutos dos bancos do Rio de Janeiro e Bahia, pagaráõ a ta-
xa do sello, como se reformados fossem de 10 em 10 dias,
verificando o commissario por parte do thesouro e the-
sourarias, e o chefe da estação arrecadadora do sello ou
um seu delegado o cumprimento desta disposição, co-
mo lhe é facultado pelo regulamento de 26 de Abril de
1844, art. 36 § 5.° n. 1.
Art. 4.° Se acontecer que o valor das notas do estado,
que servem de meio circulante, baixem do actual padrão
monetário, os bancos do Rio de Janeiro e Bahia come-
çarão a retirar os seus vales da circulação; e dentro de
«quatro mezes deveráõ concluir a total retirada delles,
não os podendo tornar a emittir senão quando começar a
subir o valor das notas.
Segundo o relatório, que precede ao mesmo projecto,
são as referidas disposições motivadas, a saber: a i.' na
conveniência de supprir a omissão havida no decreto,
que approvou o banco da Bahia, de fixar-se o meio de ve-
rificar officialmenle se a sua emissão de vales ou letras
excede ou não o limite marcado nos seus estatutos, meio
que aliás não fora esquecido no decreto que approvou o
banco do Rio de Janeiro; a 2.» na conveniência de com-
minar, como pena de transgressão dos respectivos esta-
tutos, que sejão applicados ao thesouro os lucros prove-
nientes de qualquer excesso de emissão da parle dos
dous referidos bancos; a 3.» na conveniência de acaute-
lar que a taxa do sello sobre os vales ou letras não seja
— 217 —
Uludida pela demora destas na circulação além do práfpà>
marcado nos estatutos dos ditos bancos, e de forçar itfdi-
rectamente o da Bahia a augmeritar o minimo valor
( 1003OOO) dos seus vales e letras cujo gyro pôde emba-
raçar o do papel moeda do Estado; eaA.a na conveniên-
cia de prevenir que a circulação do papel emittido pelos
mesmos bancos augnlentea depreciação do actual meio
circulante, no caso que o cambio baixe de 27 pence por
I^OOO, correspondente ao novíssimo padrão monetário.
Para que as secções possão dar, e seja bem entendido
o parecer que devem interpor sobre tão grave assumpto,
convém que sôjão previamente exairlinadás as duas se-
guintes questões.
<< Tem o governo o direito de ádoptar e fazer executar
as medidas acima indicadas ? »
« São todas essas medidas convenientes nas actuaes
circumstancias do paiz? >>
Quanto ã questão do direito, as secções rião duvidãd
resolvel-a aflirmativámente. Não ha publicista ou eco-
nomista que conteste ao governo do Estado a suprema
direcção de.toda e qualquer funcção da vida social, que
possa ser nociva ao bem commum do mesmo Estado.
Como representante da sociedade, deve o governo inter-
vir em todos os negócios que; por divergência ou collisão
de interesses, possão causar profundo abalo e geral per-
turbação; assim como abster-se da menor intervenção
haquelles em que não possa haver conílicto entre o inte-
resse individual e o social, sendo este o principio regu-
lador de toda á acção governativa ém objectos econômi-
co—políticos. De accordo com este principio, todos ad-
mittem hoje o direito indispensável e salutar, que tem o
governo (tornado no sentido mais amplo ) de dirigir e fis-
calisar o credito e circulação do paiz, como a funcção
que mais influe nos melhoramentos materiaes, e mais pô-
de compromélter o bem estar da mesma sociedade, e
como negocio em que o interesse particular está em
constante luta com o interesse publico, como o de-
monstra a historia dos bancos de emissão. E, posto que
durante longd tempo se desconhecesse por um lado que
a emissão de notas promissórias circulaveis fosse uma
operação equivalente, de bater moeda, que aliás nun-
ca deixou de sér attríbuida exclusivamente ao governo
do Estado, ou se invocasse por outro lado o principio do
laisser faire ou da liberdade da industria a favor dos
bancos que á operação do desconto reunião a da emis-
são; todavia, depois que, bem analysados e apreciados os
factos pelos economistas mais modernos, se fez distine-
ção entre aquellas duas operações, e se reconheceu qué
c. 26
— áih -•

.1 uo desconlo, consistindo em fazer valer o capital, qué


se tem, nada mais é que uma industria livre e patente
à todos, porque a todos é licito empregar o seu dinhei-
ro como lhe aprouver; mas que a da emissão, consis-
tindo em crear capital que não se tem, ou em bater moe-
da sem gasto de barras de ouro o prata, não era em ver-
dade, nem jamais poderia ser, uma industria ao alcance
de todos; depois emfirn quesedislinguio o que d'a n les se
achava confundido, ninguém mais disputa seriamente
aos governos a faculdade de embaraçar e prevenir por
meio de leis e regulamentos que os Estados sejão victi-
mas da cobiça de especuladores, e soffrão os abalos e
males que ainda causa o banking sgstem da America do
Norte, e tem causado os Joint-siok-bonks da Inglaterra.
Pelo que sem a menor hesitação julgão as secções qué
não falta ao governo direito para tomar quaesquer me-
didas que tenhão por fim regular e fiscalisar a circulação
Ão paiz, e impedir que seja ella obstruida e depreciada
pela emissão de bancos particulares e de outras socie-
dades anonymas.
Quanto á questão de conveniência, antes de resolvel-a
a respeito de cada uma dás-medidas indicadas, cumpre
«jue as secções facão uma breve consideração.
Na época da transição cm que nos achamos, quando,
pela cxlincção do trafico de africanos, e difliculdade de
substiluil-os por colonos livres, a nossa agricultura está
ameaçada de desandar e ser privada de alguns capitães
que desertarão para novas industrias, pensão as secções
«jue em tal época, é conveniente, senão indispensável,*«jue
o governo trale de promover, até onde fôr possível, a crea-
ção de bancos de desconto e deposito «pie, reunindo os
capitães disponíveis que jazem, ou ináctivos, ou mãl apro-
veitados, possão fazer avanços de dinheiro, a prêmio ra-
zoável, não só aos lavradores ameaçados, como aos novos
industriosos.
E' cerlo que melhor seria pára esse duplo auxilio o
estabelecimento de um banco nacional e central, com
caixas filiaes nas provincias (como iôra o dós Estados-
Unidos, tem sido o da Áustria e Rússia, e é recentemente
o da Prússia) que reunisse as operações do deposito e
desconto á da emissão de notas circulaveis, feita debaixo
da immediata fiscalisação do governo, a quem perten-
ceria boa parte dos lucros provenientes delia, como justo
é, e como ha muito foi lembrado pelo celebre Ricardo, e só
ha pouco reconhecido pelo parlamento britannico.
Mas, reflectindo, bem a seu pezar, na lembrança ainda
vivada catastrophe do antigo banco do Brasil, na idéa ainda
esr voga de ser nociva a ingerência do governo na ád-*
r- tl\, -r-

ministração dos bancos, na pouca abundância de capi-


tães circulantes disponíveis n'um paiz novo e immenso,
ria timidez da mór parte dos nossos capitalistas que
sempre enxergão no futuro as crises e calamidades por
que tem passado, na quasi nulla esperança de que venhão
«apítaes estrangeiros empregar-se n'uma empreza tal em
paiz cuja circulação é anormal, e na falta de credito
do Estado, por effeito de causas que só com o andar dos
tempos poderão ser attenuadas e removidas ; não se atre-
vem as secções por ;!!?ora, ou emquanto algumas dessa*
cansas deixem de obrar com a maior intensidade, a dar
por fácil e promptaa tarefa da creação de um semelhante
Jinnco.
Entretanto, pois que não convém, na falta do melhor
desprezar o bom, privando assim a agricultura, a indus-
tria nascente, e mesmo o commercio, de um alimento
lão necessário como o de empréstimos fáceis e com-
modos; as mesmas secções pensão, como acima indi?
eárão, que é do interesse nacional aconselhar e favorecer
a instituição particular de bancos de desconto nas pro-
vincias, pcrmittindo-se-lhes mesmo a emissão restricla
o incompleta de vales ou letras, debaixo de cláusulas
taes, que não só obstem a qualquer prejuízo que dahi
possa vir á circulação e credito do paiz, como facilitem
no futuro a conversão dos mesmos bancos em caixas íi-
Jiaes de um banco central, pelo menos na parte mais
substancial das suas operações, qual a de emissão peiv
feita e completa. E tanto mais julgão as secções realisavel
este seu pensamento, quanto se lhes antolha que será me-
nos difíicil a organisação do desejado banco central depois
que estabelecidos forem os provinciaes, como dito hca;
já porque a existência destes, além de proveitosa desde
logo ao desenvolvimento da riqueza das respectivas pro-
vincias, destruirá muitos preconceitos contra aquella or-
ganisação, e contribuirá para que se adquira em diversos
pontos do Império a pratica, que ainda nos falta, das ope-
rações bancaes ; e já porque, ainda que taes bancos hajão
de crear grandes interesses locaes, será comludo sufi-
ciente a concessão da completa faculdade de emitlir, para
movel-os em qualquer tempo a reunirem-se e concor-
rerem para a mesma organisação.
Partindo pois da conveniência, que fica demonstrada, de
não se pôr estorvo ao progresso dos bancos commer-
ciaes do Rio e da Bahia, e á creação de outros seme-
lhantes nas demais provincias que os possão admittir;
as secções passão a examinar se as medidas propostas
po projecto de decreto estão em. harmonia com essa con-
veniência.
— 220 —

Apreciando o alcance de cada uma dellas, os secções


não hesitão em reputar convenientes a 1.' e 3.*, e em
considerar a 2.' e 4.» como nocivas, sem necessidade aos
bancos existentes e futuros.
' A C medida, tendo apenas cm vista: 1." fiscalisar,
como o exige o interesse publico, a e.xacta observância
do art. 14 § 12 dos estatutos do banco da Bahia, por
effeito do qual só lhe é d>do emitir letras ou valos pa-
gaveis ao portador a prazo não maior de 10 dias, e de
valor não menor de 100$000, não podendo jamais a sua,
emissão exceder a 50 0/„ do capital effectivo do mesmo
banco; 2.* applicar ao mesmo banco o mesmo meio de
fiscalisação admittida e praticada no b,anco, do Rio de Ja-
neiro, em, vjrtu.de dst cláusula 3.* do decreto, de 23 de
Junho dé 1842, que approvou os seus estatutos, e se-
gundo a qual é elle obrigado a admiltir na sua com-
missão annual de exame um commissario por parte do
thesouro nacional, para ofimsomente de verificar a emis-
são havida ; 3.* encher uma lacuna existente no decreto
de 13 de Novembro de 1845, qué approvou os referidos
estatutos do banco da Bahia, e deixou de mencionar aquella
cláusula aliás necessária : não pôde, certamente, uma
tal medida embaraçar o progresso, nem de leye offeoder.
o credito deste banco, como não tem embaraçado nem,
offendido o do Rio de Janeiro.
E as secções reputão a mesma medida tanto mais,
justificável e conveniente, quanto, á, vista do que refe-
rem os ofnoios da presidência e da thesouraria da Ba-
hia, consta que o banco daquella provinciax não só não
tem guardado o § 12 citado do art. 14 dos seus esta-
tutos, emittindo letras e vales sem prazo algum, e por
isso iguaes a notas de circulação indefinida, que podem,
correr mezes e annos, como também que não tem sido
possível ao governo o saber com certeza official, como
é preciso, qual seja ao certo a quantia crhittida pelo
mesmo banco.
A 3.* medida, versando sobre a execução da lei de 21
de Outubro de 1843, que estabeleceu o imposto do sello,
e do respectivo regulamento de 26 de Abril de 1844, não
pôde tão pouco embaraçar a marcha, nem comprometter
de modo algum o credito dos bancos existentes, como o
não tçm feito até agora. E, com effeito, longe de importai*
uma nova providencia, a mesma medida nada mais con-
tém que uma simples disposição para que seja cxacta-
mente observado, se o não tiver sido já, o art. 36 § 5.°
n.° 1 do referido regulamento de 26 de Abril, cuja trans-.
gressao é punida nos termos do art. 06 5 !." do mesmo,
Regulamento.
— 221 —
Assim que, as secções a julgão não só conveniente
como necessária.
A 2." medida, porém, no conceito das secções, além de
inconveniente, é desnecessária ; inconveniente, porque
páo pôde ella dei.\ar de abalar o credito dos bancos,
comminando uma pepa extraordinária, e derramando no.'
publico a desconfiança de ser mui possível um excesso de
emissão nocivo á circulação do paiz; e desnecessária,
porque, para prevenir um tal excesso e o mal que delle
pôde vir, bastão por um lado a certeza de que o governo
procederá contra os bancas que não salisfizerem as con->
dições da sua existência, ou violarem as cláusulas com que
forão approvados, e por ou,tro lado as medidas 1." e 3.*,
cuja execução deve sem duvida obstar a qualquer desvio
dos seus estatutos pa parte relativa á emissão dos seus
vales ou letras. E, posto que esta medida pareça ser
análoga á cláusula com que foi modernamente prorogado
0 privilegio do banco de Inglaterra, segundo a qual
devem pertencer ao -Estado os lucros provenientes de
qualquer emissão além da somma correspondente ao
seu capital garantido (14 milhões); todavia a analogia
desapparecerá logo que se reílicta em que a dita cláusula,
longe de ser uma pena destinada a reprimir excessos
de emissão, só teve por íi.m a applicação do principio,
não contestado hoje, de que só ao Estado compete diri-
gir a circulação, é facultar a emissão de notas que cor-
rem como moeda (até mesmo nas estações publicas) e
de que só a elle deve pertencer todo o beneficio de tal
emissão.
A 4.* medida» eqüivalendo á revogação da faculdade
consentida aos bancos existentes, de emiltirem letras ou
vales com certas restricções, é sem duvida ainda mais
iíicogveniente que a 2."
De certo, mui temerários serião os bancos, se emittissem
taes valores debaixo, de condição de recolhel-os dentro
de quatro mezes, logo que o cambio (que ora se acha
entre 27 e 28) por qualquer eventualidade muito pos^
sivel, bailasse de 27. E, assim como não é fácil provar,
em abono de tão severa medida, que ella seja sufficiente
para conter a baixa do cambio, assim também não é
evidente que, entre as causas que costumão concorrer
iara a mesma baixa, tenha a emissão restricta e imper-
Í eita dos mesmos bancos uma influencia tal que legitime
o que ha de violento na medida de que se trata.
A' vista pois do que tôm exposto, são as secções de
parecer que sejão adoptadas as medidas que se contém
nos arts. i." e 3.° do projecto de decreto, como bas,--
tan.tes para o íim de reprimir qualquer abuso na emis-
2^J .

são facultada ao banco da Bahia, e prevenir qualquer


fraude do sello correspondente ás-letras ou vales emilii-
dos pelos bancos existentes.
E em attenção á importância do objecto sobre que têm
consultado, as secções, ao concluírem este seu trabalho,
ousão ainda submetter á alta consideração de Vossa Mar
gestade Imperial : l.° a conveniência de consignar an?
les em uma lei do que em um regulamento quaesquer
medidas que devão servir de norma aos bancos estabe-
lecidos e que so estabelecerem, prevenindo futuras diffi-
culdades; e 2.° a-necessidade, como indica o inspector
geral do thesouro, de translerir da repartirão do império
para a da fazenda todos os negócios relativos a bancos,
cessando assim uma anomalia que pôde ser muito pre-
judicial ao credito e circulação do Iippeiio.
Vossa Magestade Imperial*, porém, se dignará resolver
o que tiver por melhor em sua sabedoria.
Rio de Janeiro, 2;i de Maio do 1847.— Visconde de
Abrantes.—José Antônio, da Silva Maga. —Visconde de
Monf Alegre.— Visconde de Olinda. (")

N. 123. — RESOLUÇÃO DE ".> DE JUXIIO DE 1817.

Sobre as leis provinciaes «Io Pará do anno de 184G.

Senhor. — A secção de fazenda do conselho de estado,


a (piem Vossa Magestade Imperial se dignou mandar re-
rnetter as leis da assembléa legislativa provincial do
Pará, publicadas no anno findo de 184G, vem submetter á
alta consideração de Vossa Mageslade Imperial o resul-
tado do exame, que fez, das sobreditas leis.
No conceito da secção os §§ 9.°, 10,17,18, 22, 2:> e 26 do
art. 31 da lei n.° 131 de 28 de Maio offerocem duvida fun-
dada contra a legalidade de suas disposições ; visto que,
impondo-se novos e pesados direitos sobre a exportação,
barcos do interior, vendas, lojas, armazéns e casas de

( ) Como se ve, esta consulta não teve resolução imperial; no dç-


V.1^!0'. P.0™!11' n - 9 úrA (| e 10 de Janeiro de 184!» vem consifíiiadi a
incauta lembrada pelas secções no final do parecer, eslabelecendo-sc
X-MHS pau a incorporação de rjiiae«;uer sociedades anonvmns.
negócios, é qua*i certo que taes disposições serão prcíu-
diciaes ás imposições geraes do Estado, lançadas sobre
os mesmos objectos.
E, pois que é de urgência oceorrer a esse prejuízo, em-
quanto é tempo de remedial-o sem grande difüculdade ;
ii so acha felizmente reunida a assembléa geral legisla-
tiva, é a secção de parecer :
Que o governo do Vossa Magestade Imperial haja de
liHiii' ao conhecimento da mesma assembléa geral as
disposições dos citados paragraphos, para «pie d<": a pro-
videncia que o caso requer.
Rio de Janeiro, em 24 de Maio de 1817.— Visconde dó
Abrantes.— Visconde de Olinda.

RESOUÇÃO.

Como parece. (*)


Paro, em ò de Junho de !8i7.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 124. —RESOLUÇÃO DE 5 DE JUNHO DE 1847.

Sobte as leis provinciaes de Minas' Geraes, do anno de 18*6.

Senhor.— Ordenou Vossa Magestade Imperial que fosse


rcmetlida á secção de fazenda do conselho de estado a
collecção de leis daassembléa legislativa provincial de
Minas Geraes, publicadas no anno próximo passado de
1846, a fim de ser examinada.
Tendo revisto cada um dos vinte actos legislativos que
s,e contém na dita collecção, a secção somente achou
digna de reparo a Lei n.° 305 de 8 de Abril, art. 2.°, §§ 1.%
2. e 4.°, cujas disposições, augmentando os direitos
sobre a exportação e casas de negocio, algum prejuízo

('*) Submettida á ctfnsideraçãó da assembléa geral.'— Aviso de 1©


de Junho de 18í7.
- 22~i -
podem trazer ás imposições geraes, e o § 19 cujo fim é
antes o de estabelecer direitos de importação, do qué
taxas proporcionaesde barreiras pelo uso das estradas.
E, pois que é conveniente prevenir o indicado prejuízo,
e sobretudo embaraçar que seja illudido O art. 12 dd
úcto addicional á constituição, na parte em que veda ás
assembléas provinciaes o legislarem sobre impostos de
importação, é a mesma secção de parecer :
Que o governo imperial leve ao conhecimento da as-
sembléa geral, que se aclla reunida, ástt disposições dos
citados paragraphos, mormente do 19. , para que dê á
providencia que necessária fôr.
Vossa Magestade Imperial resolverá, porém, o que em
sua sabedoria tiver por melhor.
Rio de Janeiro, em 25 de Maio de 1847.—Visconde dé
Abrantes.—Visconde de Olinda;

RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 5 de Junho de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador;
Münoel Alves Branco;

N. 125.—RESOLUÇÃO DE ü DE JUNHO DE 1847.

Sobre as leis provinciaes de Sergipe; do anno de 1846.

Senhor.— Havendo Vossa Magestade Imperial por benl


mandar consultai a secção de fazenda do conselho dd
estado sobre as leis da assembléa legislativa provincial
de Sergipe, contidas rio volume ií.°, e publicadas no anno
próximo passado de 1846; passa a mesma secção, depois
de ter examinado os 24 actos legislativos, compilados no
dito volume, a expor o que nelles encontrara.

aiíuh5u<í™8$? * consideração daassembléa geral.-Aviso de 16 de


22.'i
.As disposições do cap. 2.°, art. 1." e §§ 3.°, 4.°, 5.% 6.°.
7.°, 8.°, 16, 17, 29, 31 e 33, e do cap. 3.°, art. 40 da lei
n.° 166 de 23 de Março, devem, no conceito da secção, pre-
judicar as imposições geraes do Estado: porquanto, pondo
de parte o que possa haver de extravagante no § 5.°, que
arremeda, a respeito da exportação da farinha de man-
dioca, a extincta lei ingleza a respeito da importação dos
cereaes, até com a sua escala movei de direitos ; entende
a secção que os outros paragraphos, e sobretudo o art. 40,
augníentando os direitos sobre barcos, lojas e casas de
commercio, que pagão taxas geraes, e estabelecendo pesa-
dos direitos de 4,5,6 e 10, e até 20 % sobre a exportação de
muitos gêneros sujeitos, além disso, ao meio dizimo para
a renda provincial, e a 7 °/« para a geral; não podem deixar
de concorrer, ou para que diminua a producção agrícola
e industrial da província, ou (o que será mais natural)
para que se augmente a tentação do extravio e clandes-
tina exportação, que não será fácil de reprimir onde tão
difficeis são os meios de fiscalisar; sendo, quer em um,
quer em outro caso, infallivel o prejuízo da receita geral.
E, como seja prudente, além de necessário, o pôr cobro
a esse mal, antes que pelo curso do tempo se torne in-
veterado e irremediável, é a secção de parecer:
Que, achando-se reunida a assembléa geral legislativa,
convém que o governo imperial leve ao seu conhecimento
as referidas disposições, a fim de dar a providencia que
mais opportuna fôr?
Rio de Janeiro, em 26 de Maio de I8i7. — Visconde de
Abrantes.— Visconde de Olinda,

KESOUÇAO.

Como parece. (*)

Paço, em 5 de Junho de 1817.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Manoel Alves Branco.

I*} Submettida á consideração da assembléa geral.—Aviso de 16 de


Junho de 1817.
c 29
— !2fl —
N. 126.—RESOLUÇÃO DE 5 DE JUNHO DE 1847.

Sobre a duvida suscitada acerca do direito qne tem ao meio soldo


as filhas dos militares que se easão depois da morte de seus pais.

Senhor.—Houve Vossa Mageslade Imperial por bem


mandar remetter á secção de fazenda do conselho de es-
tado o requerimento de D. Thereza José de Bittencourt
Cutrim, pedindo o meio soldo de seu fallecido pai, em vir-
tude da lei de 6 de Novembro de 1827 e decreto de 22 de
Novembro de 1831; e ordenar á mesma secção que con-
sulte sobre a duvida, que se tem suscitado, acerca do di-
reito que tem ao dito meio soldo as filhas dos militares,
que se casão (como o fez a supplicante D. Thereza) depois
da morte de seus pais, havendo muitos que entendem
que a citada lei só garante esse beneficio ás que se con-
bervão no estado de solteiras.
Sem oecupar-se do caso particular da referida suppli-
cante, caso que aliás, se valem arestos, parecia resolvido
á vista do que se lem.praticado com outras filhas de mi-
litares nas circumstancias delia, como consta dos do-
cumentos que, a pedido da secção, lhe forão remeltidos
pelo thesouro, e do segundo requerimento da mesma
supplicante; limilar-se-ha a secção a tratar da questão
de direito, para que emíirn se fixe uma regra, e se evite
a reproducção de uma duvida, que, não tendo valor algum
para umas, pretende-se que o tenha para outras filhas de
militares.
O art. 1.° da dita lei de 6 de Novembro exprime-se
assim :—O governo fica autorisado para fazer abonar ás
viuvas dos ofíiciaes do exercito, que tem fallecido, e
daquelles que fallecerem, assim corno a«>s orphãos me-
nores de dezoito annos, e ás filhas que existirem solteiras
ao tempo da morte dos pais, a metade do soldo que ca-
beria a seus maridos e pais, se fossem reformados se-
gundo a lei de 16 de Dezembro de 1790, exceptuando o
caso de melhoramento de soldo por terem mais de 35
annos de serviço.
Examinada a disposição litteral deste artigo, evidente é
que o beneficio outorgado por elle, isto é, o meio soldo,
deve ser abonado ás filhas que existirem solteiras ao
tempo da morte, e não ás que permanecerem solteiras
depois da morte do pai.
Não ha ardil nem esforço algum de hermenêutica nesta
conclusão, e por conseqüência a secção reputa clara e in-
controversa a disposição constante da letra da lei. E, pelo
que toca ao seu espirito, nenhuma duvida tem a secção em
227 —

presumir que o legislador, altendendo á necessidade de


amparara donzella que ficou sem o arrimo do pai militar,
teve de certo em vista habilital-a para viver honestamente
e ser pedida em casamento, considerado ó meio soldo
como dote, e nunca condemnal-a ao celibalo, ou (o que
seria mil vezes peior) provocal-a ao concubinato pela
certeza de perder, casando, o beneficio da lei.
Nem ao principio foi entendida de modo diverso a re-
ferida disposiçãodo citado artigo da lei de 6 de Novembro ;
pois só por effeito da portaria do ministério da fazenda de
14 de Maio de 1835, expedida sete annos depois da publi-
cação da mesma lei, foi-lhe dada outra intelligencia, e
negado o meio soldo ás filhas dos militares que tivessem
casado depois da morte dos pais.
Entretanto, posto que esta portaria fosse depois revo-
gada por outra do mesmo ministério de 10 de Junho de
1839, e se tenha de então para cá deferido favoravel-
mente a varias filhas de milkares que se casarão depois
da morte dos pais ; todavia longe está a secção, á visla
de considerações de um interesse mais elevado que o
particular, e de graves apprehensões sobre o futuro, de
reparar em que ainda se suscite a duvida que faz o objecto
da presente consulta.
Com effeito não desconhece a secção que a disposição
litteral da lei, de que se trata, é menos conforme com a
economia do Estado que se devia ter por diante, e que
da sua execução ampla e indefinida hão de resultar sé-
rios embaraços á fazenda publica, que mal poderá, no
andar do tempo, sustentar um exercito de vivos, e outro
de sobreviventes.
Crê porém a secção que o meio de prevenir o mal que
se nos antolha, e remover esse futuro embaraçoso, é o de
provocar com franqueza a reforma da lei, ou uma decla-
ração delia, no sentido que o bem do Estado aconselha,
e nunca o de recorrer ao arbítrio de uma intelligencia
forçada, que não deixa de offender, como no caso da
supplicante, a justiça distributiva.
A' vista do que tem tido a honra de expor, é a secção
de parecer: Que se continue a executar o art. 1.° da lei
de 6 de Novembro de 1827, pela maneira porque o foi até
14 de Maio de 1835, sem embargo da opinião que exclue
do beneficio do meio soldo ás filhas dos militares que
casão depois da morte dos pais; assim como que se trate,
em tempo opportuno, da reforma dessa e outras dispo-
sições da mesma lei, cpmo o exige o interesse geral da
nação.
Rio de Janeiro, 26 de Maio de 1847.— Visconde de
Abrantes . — Visconde de Olinda.
— 228 —

RESOLUÇÃO.

Como pare.ee. ("i


Paço, 5 de Junho de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
1

Manoel Alves Branco.

N. 127.— CONSULTA DE 11 DE SETEMBRO DE 1817.

Sobre as leis provinciaes de S. Paulo c de Santa Calliarina,


do anno de 1847.

Senhor.—Em observância do aviso de 11 de Agosto deste


anno, remettendo, de ordem de Vossa Mageslade Imperial
as leis provinciaes de S. Paulo e de Santa Catharina á sec-
ção de fazenda do conselho de estado, passou a mesma
secção a examinar os trinta actos legislativos que se con-
tém na collecção da primeira, e os dez que se achão no da
segunda província; e, nada encontrando digno de reparo,
é de parecer.
Que nas ditas leis provinciaes de S. Paulo e de Santa
Catharina, publicadas no corrente anno de 1847, não ha
disposição alguma que seja contraria á limitação do § 5.°
do art.* 10, e a regra do art. 12 do acto addicional á
constituição.
Vossa Magestade Imperial resolverá porém o que fôr
mais acertado.
Rio de Janeiro, 11 de Setembro de 1847.—Visconde de
Abrantes.— José Cesario de Miranda Ribeiro.— Visconde
de Olinda.

(4) Decreto n.° 521 do l." de Julho de 1847.—Explica a disposição


do art. 1.» da lei de 6 de Novembro de 1827 sobre serem ou não
comprehendidas no beneficio do meio soldo as filhas dos ofíiciaes do
exercito, que, sendo solteiras ao tempo do fallecimciito de seu? pais,
passao depois au estado de casadas.
— 229 —

N. 128.— RESOLUÇÃO DE 30 DE OUTUBRO DE 1847.

Sobre as leis provinciaes do Rio Grande do Norte do anno de 1846.


Senhor.—A secção do conselho de estído dos negócios
da fazenda, em observância das ordens de Vossa Mages-
lade Imperial, examinou as leis da assembléa provincial
do Rio Grande do Norte , promulgadas na sessão do anno
passado; e tem a honra de dar o seu parecer.
Considerando-as a secção, pelo que pertence á reparti-
ção de fazenda, somente se lhe offerecêrão as seguintes
duvidas: *
1 .» A resolução de 10 de Outubro de 1846 sobre proposta
da câmara municipal da cidade do Assú, no art. 43 sujeita
os ofíiciaes de officios mecânicos, que nãoTorem cidadãos
brasileiros, a tirarem annualmente licença para terem
abertas suas lojas e tendas.
Esta disposição, na generalidade em que é concebida,
offende o tratado que temos com a França.
2." A lei de 31 de Outubro, sobre a receita e despeza das
câmaras municipaes, autorisa as câmaras , á excepção da
de S. José, a augmentar o foro das terras do seu patrimô-
nio. Esta disposição offende a legislação geral, que não
permitte alteração em taes contractos.
Entretanto, podendo ser que naquella província tenha
essa palavra uma significação particular, é de parecer á
secção que se peção informações ao presidente a este res-
peito.
E' este, senhor, o parecer da secção. Vossa Magestade
Imperial resolverá como mais acertado julgar.
Rio de Janeiro, em 18 de Outubro de 1847.— Visconde
de Olinda.— Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (*)


Paço , em 30 de Outubro de 1847.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Saturnino de Souza e Oliveira.

(*) Aviso á presidência do Rio Grande do Norte em 16 de Novem-


vembro de 1817.
— 230 -

N. 129.—RESOLUÇÃO DE 6 DE NOVEMBRO DE 1847.

Sobre a apprehensao.no porto de Pernambuco, de algumas barcaças


com_madeiras de construcçâo naval.

Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem


mandar consultar a secção de fazenda do conselho de
estado sobre o aviso do ministério da marinha do 1 .• de
Fevereiro deste anno, acerca da apprehensão de algumas
barcaças, no porto de Pernambuco, pelo motivo de se
acharem carregadas com madeiras de construcçâo naval,
e sobre outros papeis annexos análogos ao objecto da
consulta. A secção começará por estabelecer o estado
da questão, e mencionar o conteúdo de cada um dos
papeis annexos.
O inspector do arsenal de marinha de Pernambuco ap-
prehendeu em 4 de Setembro do anno próximo passado
a barcaça Franklina 1." vinda do porto de Una da mesma
província, cujo carregamento constava de 16pranchões de
amarello; procedendo assim por achar-se nrohibido e
não poder fazer-se o corte de madeiras de lei, sem ex-
pressa autorisacão do governo; e, por não lhe constar que
semelhante autorisacão tivesse sido dada pelo presidente,
pois que este havia deixado de convir em que elle ins-
pector contractasse com alguém o fornecimento de taes
madeiras dentro da província, e preferido recorrer ao
presidente das Alagoas, afim de que viessem dalli as de
que carecia o dito arsenal. E em seguida continuou o
mesmo inspector a apprehender as barcaças Bom Jesus
dos Navegantes, S. Bernardo e S. Bernardino 1.'', alle-
gando ( ao dar parle da apprehensão do Bom Jesus ) em
abono de seu procedimento, o ter sido prohibido o corte
de madeiras de conslrucção naval, como agora lhe cons-
tava, pelo ministério da fazenda, em aviso circular ex-
pedido ás diversas presidências do Império no anno
próximo passado.
Ouvindo o presidente da província ao da relação, sobre
o modo de proceder em taes apprehensões, disse este,
em officio de onze do mesmo mez de Setembro, que,
nào tendo noticia do aviso circular do anno passado, a
que se referia o inspector, por não achal-o na respectiva
collecção, e ajuizando á vista do art. 11 da lei de 15
de Novembro de 1831, que extinguio as conservatórias
das matas- e cortes de madeiras, e da tabeliã de 18 de
üezembro de 1834, que designou as madeiras de cons-
trucçâo, parecia-lhe que, ainda no caso de existir algu-
— n\ —
ma prohibição em virtude do citado avíso circullr, não
podião o corte e conducção dessas madeiras em barcaças
nacionaes, e para o consumo na construcçâo do paiz,
ser qualificados de contrabando nos termos dó art. 177
do código penal, quando mesmo feitos sem licença do
governo; por isso que as mesmas madeiras nem são ab-
solutamente prohibidas, nem sujeitas a pagamento de
direitos; mas tão somente de transgressão de ordens ou
regulamentos, se estes tiverão a necessária publicidade
para serem observados : assim que se persuadia que
seria a mesa do consulado a competente para proce-
der segundo o art. 198por argumento do art. 175 com-
binado com o 143 e o 171 do regulamento de 30 de Maio
do 1836.
Não se atrevendo o presidente a conformar-se com este
parecer, participou em officio de 14 do mesmo mez ao
referido inspector—que ia submetter o negocio á decisão
do governo, ordenando-lhe entretanto que fossem as mer-
cadorias apprehendidas entregues a seus donos, quando
prestassem fiança na capitania do porto, pela qual se
obrigassem ao que decidido fosse a tal respeito, ou de-
positadas no arsenal, quando se recusassem á dita fiança,
e que igual procedimento se tivesse com as barcaças
que fossem chegando.
Exigida com effeito do ministério da fazenda a de-
cisão do mesmo negocio, e ouvido sobre elle o de-
sembargador procurador da coroa e fiscal do thesouro,
deu este o seguinte parecer.
« O art. 11 da lei de 15 de Novembro de 1831 extin-
guio as conservatórias dos cortes de madeira, e posto
que por esta disposição não foi entendido, nem se podia
entender que fica vão revogadas as antigas determi-
nações, e as cláusulas das sesmarias, que reservarão
os intitulados páos reaes, e as madeiras de construcçâo
naval, foi comtudo supprimido o respectivo regimento
das conservatórias, e todos os artigos que dizião res-
peito, sem que até o presente se haja substituído (que
eu saiba) outro algum a semelhante respeito; constan-
do-me apenas terem sido expedidas em épocas diver-
sas algumas ordens pelo ministério da marinha, e pelo
da fazenda, tendentes a tornar effectiva a prohibição
do corte, merecendo especial menção o ultimo aviso
de 31 de Dezembro de 1845, expedido pelo ministério
da fazenda, no qual, fazendo-s«j igual recommendação
ao presidente da provincia da Bahia, reconhece-se que
este assumpto depende de medidas legislativas.
Foi por intelligencia dada a estas ordens pelo capitão
do porto de Pernambuco que se fizerão as apprehen-
— 232 —

sõe*s de que Iraíao os officios do presidente daquella


província; e offerece-se agora a duvida sobre a com-
petência da autoridade que dellas deve conhecer, bem
como sobre a espécie de processo que cumpre instau-
rar. Eu concordo com o presidente da relação da men-
cionada província em não reputar o caso comprehen-
dido nas disposições sobre o contrabando em geral,
attenta a definição dç código criminal, que por sua
natureza só se deve entender restriclamente; nem o posso
aualiflcar como um extravio de direitos, pois não se
dá no caso propriamente fraude alguma em damno
dos impostos devidos á fazenda nacional. Este ramo
de administração é especialissimo, e como tal requer
uma legislação também especial, como está reconhe-
cido por este tribunal no citado aviso.
E' portanto o meu parecer que com toda a urgência
se cuide de um regulamento particular, que substitua
o das extinctas conservatórias, no qual se especifiquem
as penas correspondentes ás violações, bem como o juizo
e o processo competente ; e que a respeito das madeiras
apprehendidas se mandem tomar para os arsenaes aquel-
las que parecerem aproveitáveis, pelo preço que vale-
rem, reslituindo-se as outras a seus donos.— Rio de
Janeiro, 19 de Abril de 1847- Campos. »
Tal é o estado da questão: agora cumpre indicar o
que se contém nos papeis annexos.
E' o 1.° uni officio do presidente da Bahia, chamando
a attenção do governo imperial sobre a destruição das
matas, e pedindo instrucções sobre o procedimento
que devia ler com os invasores das mesmas matas, e
destruidores das madeiras de lei. E a secção crè que
foi em resposta a este officio que o ministro da fazenda
expedio o aviso circular de 31 de Dezembro de 1845,
que em verdade não se acha na collecção, e que servio
de motivo para as apprehensões feitas" pelo capitão do
porto de Pernambuco.
E' o 2.° outro officio do presidente da província do
Espirito Santo de 24 de Abril de I846, expondo a diíli-
culdade de se fazer executar aquelle aviso circular, em-
quanto a guarda e conservação das malas não fossem
confiadas a agentes pagos pela fazenda publica, e exi-
gindo que lhe fosse remellida uma relação das madeiras
de lei, cujo corte se prohibia.
E' o 3.° um extracto de outro officio do presidente
das Alagoas de 11 de Janeiro deste anno, participando
que mandara apprehender cento e cincoenta ou duzentos
toros de madeira, que restara da construcçâo de um
patacho feito com licença do governo, por Francisco
- 233 —
' * . *
das Chagas Lima Lossa, por lhe parecer inadmissível,
que de um só palacho restasse tanta madeira.—E sente
a secção nada mais poder colher deste extraeto tão la-
cônico e isolado, senão que outra apprehensão de ma-
deira de lei, por ordem da presidência com audiência
da thesouraria respectiva -tiverÉllugar nas Alagoas.
E pois que o assumpto é de mór interesse para o
paiz, a secção julga necessário examinar previamente
a legislação* em vigor que lhe é relativa, e fazer algu-
mas observações geraes.
Os nossos antigos legisladores, certos de que a ma-
rinha militar é indispensável a uma potência maritima,
não se descuidarão dos meios de ter sempre no ter-
ritório nacional um dos seus principaes elementos,
provendo sobre a existência e conservação das matas,
que pudessem fornecer madeiras próprias para a cons-
trucçâo naval.
Além dos regimentos de 12 de Setembro de 1652 § 12
e de 13 de Outubro de 1751 § 29, que davão providencias
para que não fossem destruídas as madeiras de lei no
Brasil, existe o alvará de 5 de Outubro de 1795, que
determina nos §§ 9.° e 10 que—as matas, cujas madeiras
podem servir para a construcçâo dos navios reaes, sitas
á borda nos portos de mar do Brasil, sejão vedadas,
e não dadas em sesmarias; e que mesmo nas malas
já oecupadas pôr sesmeiros vizinhos aos portos e cosla^
e ainda no interior dellas, não sejão cortadas as ma-
deiras cie lei, e menos para construcçâo de navios, sem
que preceda licença do governador—.È como applicação,
ou complemento desta determinação existe também o
plano de alvará posto em execução pela carta regia
de 12 de Julho de 1799 expedida ao governador e ca-
pitão generaFda Bahia, e conhecido pelo titulo de re-
gimento das matas de Cayrú, e Alagoas.
Por este plano ou regimento forão particularmente *
reservadas as malas sobre o litoral entre os rios Ta-
hipe e Belmonte (para mais de 18 léguas de cosia) nas
antigas comarcas dos Ilheos o Porto Seguro da pro-
víncia da Bahia; e bem assim as situadas entre os rios
de S. Miguel e Formoso (para mais de 20 léguas de
costa) na antiga comarca das Alagoas da provincia de
Pernambuco; tendo ambas as rezervas varias léguas de
fundo da costa para o interior: forão ao mesmo tempo
estabelecidas varias multas pecuniárias, e penas de
prisão, e degredo para fora da comarca, e de perdi-
mento de carros, bois, escravos, etc., contra aquelles
que cortassem madeiras, nas referidas matas, ou as
destruíssem, ou lhes pozessem fogo : forão emfim
G. 30
creados juizes conservadores para uma, o outra reserva,
com escrivães, almoxarifes, administradores, mestres,
e outros empregados, a cujo cargo ficou a guarda e
conservação dellas, e a direcção do corte das madeiras
não só para os arsenaes reacs, como para a construcçâo
naval por conta dos particulares.
Este systema, porém, que só carecia de reforma v
melhoramento, foi de fado destruído na época em que
vogou a iátal idéa de antes abolir os instituições an-
tigas do que corrigir os abusos que nellas se havião intro-
duzido. Com effeito o art. 11 da lei do orçamento de
45* de Novembro de 1831, concebido em cinco pa-
lavras, exlinguio as conservatórias dos cortes de ma-
deiras; e assim paralysando a acção directa do governo
na conservação das matas, que 'desde então ficarão ao
cuidado dos juizes de paz dos dislriclos, isto é, do
autoridades eieclivas, e destituídas dos meios do fazer
guardar o regimento respectivo, inutilisou e frustrou
completamente aquelle systema. Entretanto é certo que
o citado arligo 11, limitando-se a extinguir os juizes
conservadores, e os empregados nos cortes das ma-
deiras, deixou em vigor a legislação relativa ás malas
reservadas e ás penas c multas contra aquelles que
indevidamente usarem ou abusarem de taes inatas:
de sorte que, havendo lei só nos falláo agentes éspeciaes
que a executem.
Cumpre agorafazer as observações geraes que aspoçãn
tem por convenientes.
Da regra—economico-polilica,—que repula nociva a
intervenção do governo nos trabalhos da industria, e\-
ceptuão-"se aquelles que estão essencialmente ligados ao
interesse geral, e bem commum da naçã0glji\ntre outros o
trabalho do aproveitamento das matas, quer perlenção ao
domínio publico, quer ao domínio particular, é um dos que
* devem estar sujeitos á intervenção dos governos, como
effectivamente o está em todos os paizes cultos, mormente
os marítimos. Se o uso das matas fosse abandonado á na-
tural cobiça da geração presente, de certo a geração
futura teria de sentir grande falta das madeiras pre-
cisas, não só para oceorrer ás necessidades mais or-
dinárias da vida, como para satisfazer ás da agricultura
e industria domesticas; ficando além disso o Estado,
quando marítimo, privado de um dos elementos mais
substanciaes para a construcçâo naval. Dahi vem que não
ha governo algum policiado que não tenha intervindo
nesse ramo da industria rural, dando providencias mais
ou menos enérgicas, para que as malas não sejão des-
truídas pelo egoísmo e sOdedo lucro, ou só pela igno-
— 23:; —

rancía e iniprevisão daquelles que as possuem, ou que


as podem invadir. E os governos de Estados marítimos
tem além disso cuidado em reservar o conservar matas
como próprios nacionaes; não só para fornecer ma-
deiras aos seus arsenaes de marinha o guerra, mas
também para poderem renunciarão antigo systema ve-
xatório, e odioso de servirem-se para aquclle Íim das
malas dos particulares.
Em abono do que acaba de referir, a secção julga
bem cabido o apontar o exemplo das três "primeiras
nações marítimas do-mundo.
Na França, antes da revolução, tis florestas estavão su-
jeitas a uma legislação conservadora : a nenhum pro-
prieíario ern licito dêstruil-as ou convertel-as em terras
de 1 ivor. Abolida esta legislação no regimen da liberdade
indefinida, foi devastada eiii menos de 12 annos, de
1791 a 1803, uma superfície de inatas igual a 1.500.000
hectares.
Para pôr termo a tão assustadora devastação, a lei
de 29 de Abril de 1803 exigio Jàcença prévia do° governo
para as derrubadas, e restabeleceu parte dos privilégios
das repartições da marinha e guerra que consistião em
serem sempre preferidas na compra de madeiras para a
construcçâo naval, e para os usos da artilharia, fabricas
de pólvora, ol<;. E com effeito durante a acção desta lei
foi apenas destruída em 32 annos, de 1803a 1835, uma
superíicie de matas igual a 200.000 hectares.
Entretanto, reconhecendo-se que os privilégios de que
goza vã o aquellas repartições publicas nas inatas dos
particulares erão nocivos á propriedade privada, as-
sentou-se em 1827, quando se organisou e publicou o
código florestai, na continuação dos ditos privilégios só
por mais 10»annos, até que as matas do domínio na-
cional pudessem fornecer madeiras aos arsenaes de ma-
rinha e guerra. Assim que de 1837 em diante tem esla^
repartições recorrido ás malas reservadas do Estado, ou
ao mercado, para se proverem das madeiras precisas;
ficando os bosques e florestas dos particulares livres da
odiosa acção de privilégios, e somente sujeitas ás pres-
cripções do sobredito código e aos encargos indispen-
sáveis á conservação, melhoramento, protecção e guarda
das matas. Segundo o Rapport des Finances de 1837, um
oitavo das malas e bosques, que existem na França, acha-se
reservado, e pertence ao Estado ; visto que sobre 8.522.000
hectares de florestas pertencem ao domínio nacional
1.099.000, que renderão nos 10 annos de 1831 a 1840 a
.somma de 227 milhões de francos, tendo custado a des-
peza de sua conservação e guarda, a de 10 milhões
— 236 -

no mesmo periodo, como consta do Budget definitivo


de 1840.
Nã Inglaterra desde 1771 tratou o governo de tomar
medidas efficazes para a conservação das malas, sendo
daquelle anno. o primeiro relatório apresentado ao par-
lamento, sobre o estado dellas. Exigindo depois a cons-
trucçâo naval durante a guerra americana e franceza,
grande quantidade de madeiras, redobrou o governo de
esforços para prevenira destruição das malas existentes,
e promover a replanta das destruídas; e, tendo-se mos-
trado, em segundo relatório apresentado em 1792, que
era assustadora a falia que havia de earvalhos para o
fabrico de navios, assim nas matas reaes, como na «dos
particulares, forão desde logo dadas algumas providen-
cias, até que finalmente, pelo acto 50 de Jorge III (anno
de 1810), ficarão reservadas 12 matas para o serviço dos ar-
senaes do Estado, instituindo-se ao mesmo tempo a re-
partição especial dos commissarios das matas e bosques,
que tem agentes próprios para a guarda, replanta c con-
servação das matas, cortes de madeiras, etc. Estes commis-
sarios no relatório, que offerec«u'ão em 1812, íirmando-se
em que para uma náo de 74 ou de 2.000 toneladas erão
precisos 3.000 loads de madeira de carvalho; em que uni
acre de terra só pôde conter 40 arvores, dando cada
uma 1 1/2 loads de madeira ; em «pie o carvalho carece de
100 annos para chegará inaluridadis, o um navio de guerra
só por 14 annos se conserva em bom estado; mos-
trarão que, para haver dentro do paiz, como conviuha,
a madeira precisa para manter a marinha de guerra no
pé em que se achou em 1806, quando linha a capacidade
de 776.087 toneladas, supprindo-a anitiialincnte com
cascos novos equivalentes em tonelagem a W uáos de 7í,
erão necessários 100.000 acres de malas «Io carvalho
devidamente conservadas; e, como enlâo existisse a quan-
tidade de 20 milhões de acres de terra de mala e charneca
na Grã-Bretanha, propuzerão «pie fossem applicados 2/100
daquella quantidade para a cultura de malas, reservadas
ao consumo dos arsenaes de marinha. L no 7.° relató-
rio dos mesmos commissarios (em 1818) deu-se por ve-
rificado que as matas reaes reservadas continhão 115.594
acres, dos quaes 70.000'erão próprios para as arvores
de carvalho, e capazes de fornecer annualmente 35.000
loads de madeira; c demonstrou-se que, beneficiando-se
700 acres em cada anno, conseguir-se-hia um grande
supprimento de madeiras para a construcçâo naval.
Nos Estados-Unidos da America, logo que o governo fe-
deral, ao principio descuidado, apctccbcu-sc de «pie fi-
caria o paiz falto de madeira para os seus estaleiros, M-
-237 -

cohlinUasse a devastação das florestas, forão, pelo acto


do 1." de Março de 1817, reservadas para uso da repar-
tição da marinha varias matas, em que mais abundava
o carvalho e cedro vermelho; sendo o ministro da mesma
repartição autorisado a mandar fazer as demarcações,
etc. Pelo referido acto ficou vedado a qualquer indiví-
duo o cortar arvores de carvalho e cedro, não só nas
matas reservadas, como em outras que existissem nas
terras publicas dos Estados-Unidos, debaixo da pena cte
prisão até seis mezes e multa alé 500 dollars; e a qualquer
armador ou mestre de navio o transportar as madeiras
assim cortadas para porto algum dos Estados-Unidos, ou
dp estrangeiro, debaixo da pena, no primeiro caso, de
confisco do navio e demais, e no segundo, de multa até
1.000 dollars; pertencendo metade das referidas multas
ao cofre das pensões de marinha, e a outra metade ao
denunciante se o houver.
Pelo acto de 23 de Fevereiro de 1S22 foi o presidente
autorisado a empregar a força de terra o de mar, que
julgasse necessária, para obstara destruição das matas
publicas na Florida, e impedir o corte e transporte das
madeiras reservadas. Além disso, pelo acto de 2 de Março
«Io 1831, forão aggravadas as penas e mullas impostas
polo anterior acto do 1." de Março de 1817. Kmíim, por
«miro acto de 2 de Março de 1833, as alfândegas dos
Estados da Florida, Alabama, Mississipi c Luziana, onde
existem as malas reservadas e outras publicas, não devem
dar despacho de sahida a embarcação alguma que tenha
a bordo madeira de carvalho, sem prova satisfactoria de
que tal madeira fora tirada de matas particulares. E a
conservação, administração e guarda das matas reservadas
«íídào debaixo da superintendência do ministro da ma-
rinha, confiadas a agentes próprios, etc.
Passando a fazer applicação das disposições legislati-
vas, que ainda vigorão entre nós, e dos exemplos das na-
ções marítimas que mais adiantadas seachão, éa secção
de parecer.
Quanto á questão principal ou á apprehensão de madei-
ras, de lei feita em Pernambuco e Alagoas: '
1.° Que.á vista da legislação existente, que fazia depen-
dente de licença do governo o córle das madeiras de
construcçâo naval, não se pôde arguir de arbilrario o pro-
cedimento do intendente da marinha de Pernambuco, e
do presidente das Alagoas, quando mandarão apprehen-
der taes madeiras, sabendo aquelle que não se tinha ob-
tido a licença prévia, e lendo este os mais vehemenles indí-
cios, se não prova, de que linha havido abuso da licen-
ça obtida;
— áüiS - *

2.° Que, não sendo porém pralicavel nem justa (depois


da extineção dos juizes conservadores) a apprehensão de
taes madeiras"^ a applicação das penas do regimento ain-
da em vigor áquelles*que ("ilicitamente as corlão, <• trazem
aos mercados, sem que se ache bem definido e designa-
do o juizo competente para conhecer desses casos, e o
processo que nelles se deva seguir, sejão prevenidos os
presidentes das provincias para quo embaracem que se
continue a dar a.circular do thesouro cie 31 de Dezem-
bro de 1845 a extensão «pie lhe foi dada nas referidas
províncias, até que sejão'tomadas medidas eftieazespara
regular os corte» das madeiras, e evitar a destruição'das
matas; r
3.° (jue consequentemente, e de acegrdo com a parte
final do parecer do procurador da coroa, interino fiscal
f do thesouio, sejão tomadas para os arsenaes de marinha,
aquellas das madeiras apprehendidas quo forem apro-
veitáveis, pelo preço que valerem, e restituidas as outras
aos que se dizem "seus donos.
E, quanto á matéria dos officios annexos dos presidentes
da Bahia e do Espirito Santo, «pie, sendo mui dignas de
consideração r.s reflexões feitas pelo 1.°, e attendivel a re-
quisição que fez o 2.°, ede máximo interesse para uma
nação marítima, como a nossa, o ler madeiras para a sua
construcçâo naval; quo o governo de Vossa Magestade
Imperial haja de oceupar-.se quanto antes de dar a esto
ramo importante da administração a regularidade e des-
envolvimento convenientes, seguindo, até onde o permit-
lirem nossas circumstancias, o exemplo dos Estados-Uni-
dos, que. como paiz novo, mais analogia tem com o nos-
so, começando por obter daassembléa geral a autorisa-
cão, e créditos necessários para que o ministério da ma-
rinha mande proceder ao exame das localidades onde
cristão matas que possão ser de novo reservadas, demaiv
«ar e lombar as já reservadas, e estabelecer uma admi-
nistração efficaz para a conservação c guarda dellas, e
fiscalização dos cortes e depósitos de madeiras que sir-
vão para os arsenaes: e propondo entretanto ( ou aléque
as novas reservas e o tombo das existentes possa ser fei-
to, e montaila a administração indispensável) a medida
legislativa que julgar conveniente para obslar a comple-
ta destruição «Ias malas na cosia, o proximidade dos rios
«pie vem ler ao mar, o parlicularimuile das dosllhéos,
Valença e Jequiriçá na Bahia, e «Ias do rio S. Miguel e ttio
Formoso nas Alagoas e Pernambuco, marcando as penas
que devão ser impostas aos destruidores e invasores
dellas, e indicando o juizo o ppjeesMj respectivo^: afim
de que pox-ão l«i" ejjHto, «orno muito convém, os actos
* ' - 230 -

de apprehensão do irt-ndo.iras cortadas ijlicitainente, e por


agora, apezai* de justificáveis em princrpio t sâo insusten-
táveis na pratica. *
Tal i': o parecer da secção", que supplica a Vossa Mages-
tade Imperial se digne desculpal-a por haver sido proli-
xa, em attenção á gravidade do assumplo sobre que foi
consultada.
Vossa Magestade Imperial, porém, resolverá o que ti-
ver por melhor em sua saocdoria.
Rio de Janeiro, 30 de-Outubro do 1847.—Visconde de
Abrantes.— Visconde de.Olinda.
RESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (*) ,


Paço, em G de Novembro de 1817.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Saturnino de Soura e Oliveira.

X. 130.—RESOLUÇÃO DE 13 DE NOVEMBRO DE 1847.

Sobre o recurso de Joaquim José dos Santos .lunior da decisão (!o


Tlicsouro confirmando o acto do provedor da casa da moeda, que
exigio 4 % de iitdcniiiisaeão pela fundirão do ouro.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de es-


tado, havendo' examinado o recurso interposto para o
mesmo conselho de uma decisão do tribunal do the-
souro publico acerca da 6 exigência, que faz a casa d^i
moeda desta côrle, de 4 /„ sobre o ouro que alü se vai
amoedar, vem expor o facto que deu causa á conlro-*

(*) Nos termos da imperial resolução de eonsulla foi alfecta esta


questão ao ministério da marinha, para que por esla repartição se
dèm as providencias apontadas na mesma eonsulla; eprevenio-se aos
presidentes das províncias sobre a intelligencia que cumpre .dar a
circular de 31 de Dezembro de 184S, até que sejão tomadas medidas
mais etlicazes para regular os ciirtes das madeiras e destruição das
matas.—Aviso de 23 de Novembro de 18í7.
— 2í0 —

vorsia, e as razões em que se fundara a dita de-


cisão.
O recorrente Joaquim José dos Santos Júnior, nego-
ciante desta praça, manifestou na casa da moeda uma
porção de ouro em pó, e quiz que fosse reduzido a
moeda. O provedor da dita casa entendeu que o ouro
manifestado para ser reduzido a moeda achava-se com-
binado com palladio, e exigio que o recorrente pagasse
4 % além dos 5 % dos direitos de mineração, e 1 % d e
senhoriagem, fundando-se para isso na portaria de 17
de Novembro de 4840, que aulorisa a cobrança dos
ditos 'i % como indemnisação da despeza dos processos
metallurgicos, nocasodequéoouro, que se queira amoe-
dar.se ache em combinação com outros metaes, e soja pre-
ciso separal-o, aiinal-o é rcduzil-o ao quilate que a lei
requer na moeda.
Reclamou o recorrente contra essa exigência do pro-
vedor, allegando que a portaria, em que se elle fun-
dava, achava-se derogada pelo art. 10 do regulamento
do 12 de Outubro de ISíG, segundo o qual não se devia
exigir de quem manifestasse ouro em pó, e quizesse
reduzil-o a moeda ou a barras senão os direitos de
50/„ de mineração.
Sendo indeferido pelo provedor, e querendo, não obs-
tante isso, que seu ouro fosse amoedado, resolveu-se
o recorrente apagar os i 7o exigidos; mas com pro-
testo de rchavel-os, quando se julgasse illegal, como
elle entendia, a exigência da casa 'da moeda.
Com esta intenção dirigio-se o recorrente ao tribunal
do thesouro, anie o qual, sendo ouvido o referido
provedor, sustentou-se: 1.° que era conveniente a dis-
posição da citada portaria de 17 de Novembro, visto
que, sendo o imposto de 1 7o de senhoriagem apenas
sufficiente para cobrir a despeza do feilio da moeda,
e não chegando para fazer face á outra despeza de
reduzir o metal ao gráo de pureza necessária para ser
ainoeclado, não devia a fazenda publica ser gravada, em
beneficio dos particulares, com essa oulra despeza, que
lhe não compele, da afinação do ouro impuro que se
.apresentar á casa da moeda; 2.°que a mesma dispo-
sição da portaria não podia considerar-se revogada por
efTeilo do art. 10 do regulamento lambem citado, e
invocado pelo recorrente, visto que, tendo o mesmo re-
gulamento por fim especial o regular a arrecadação
do imposto de o 7o da mineração, não era applicavel o
que pelle se dispunha á arrecadação de impostos re-
lativos ao feilio da moeda, e á afinação dos metaes «jue
as partes quizessetn araoedar, E, concordando com esta
— áil —
opinião o procurador íiscal e os outros membros do
dito tribunal, foi indeferido o recorrente, que por con-
seqüência interpoz o presente recurso.
Tal é o facto ;e, como base do parecer que vai dar,
cumpre que a secção examine quaes as leis e regu-
lamentos em vigor, relativos ao mesmo facto, e qual a
força das razões em que se fundara a decisão recor-
rida.
Quanto ás leis e regulamentos, temos :
1." O art. 1." da lei de 26 de Outubro de 1827, que
reduzio o imposto do quinto do ouro a •"> 7o somente,
com excepção do extraindo por companhias estran-
geiras -
° 2." Ò art. 15 da lei de 2G de Setembro de 1840, que
reduzio a 1 •/• a senhoriagem na moeda de ouro, e
o 7o «a de prata ;
3.° A portaria de 17 de Novembro de 1840, expedida
52 dias depois da publicação da presente lei, orde-
nando que, como indemnisação das despezas dos pro-
cessos metallurgicos, se cobrasse na casa da moeda 4 °ja
sobre o ouro, e 5 7» sobre a prata, que houvessem de
ser amoedados, alem de* 5 7. de mineração, e 1 °/0 de
senhoriagem;
4.° O art. 10 do regulamento de 12 de Outubro de 1846,
determinando que, depois de pesado o ouro em pó
manifestado, e deduzidos delle os direitos de 5 7», seja
reduzido a moedas ou barras á vontade do portador.
E, não constando' que outras disposições existão, re-
lativas ao facto de que se trata, a secção julga que o
ouro em pó só está sujeito a 5 °/0 de direitos, quando
manifestado para ser reduzido a barras, e a mais 1 °/0
de senhoriagem, quando o manifestante quizer amoedal-o.
Julga, outrosim, que a portaria' de 17 de Novembro
de 1840, na parte em que ou lançou um novo imposto,
ou augmentou o de senhoriagem sobre o ouro, sendo
contrária ás leis em vigor, não podia ou não devia ser
expedida pelo governo sem autorisacão do poder le-
gislativo. Julga finalmente que o art. 10 do regula-
mento, limitando-se unicamente á fiscalisação do im-
posto de 5 °/o de mineração, não é applicavel (no que
concorda com a opinião dó thesouro) ao facto em questão,
e mal podia ser invocado pelo recorrente contra a exi-
gência do provedor da moeda, pois, em verdade, se o
citado artigo valesse para tanto, então poderia valer
também contra a exigência do direito de 1 7o de se-
nhoriagem, visto que, segundo a sua letra, o ouro que
o manifestante quizer que se reduza a moeda é uni-
camente sujeito ao imposto de mineração.
c." 31
_ 242

Quanto á força das razões da decisão do thesouro,


a secção, posto que admitta a conveniência de fazer
recahir a despeza da afinação dos metaes, antes sobre
as partes a quem faz conta amoedal-os, do que sobre
a fazenda publica, todavia entende que essa razão de
conveniência pôde servir a quem legisla, mas não a
quem executa as leis. Igualmente a secção, embora con-
corde com o thesouro, como já o disse, em que o re-
gulamento não revogara a portaria, pensa comtudo que
esta outra razão não basta para considerar-se legal e
vigorosa a mesma portaria.
Entretanto, bem que assim pense acerca da matéria
do presente recurso, a secção não pôde dissimular ao
governo de Vossa Magestade Imperial a necessidade
de melhorar-se a legislação que regula o serviço da
casa da moeda, pedindo licença para interpor também
seu parecer a tal respeito.
E' certo que ao direito exclusivo que tem o Estado de
cunhar a moeda do paiz, corresponde a obrigação da
parte do governo de fazer amoedar os metaes que ôs par-
ticulares lhe apresentarem para esse íim. Mas não é me-
nos certo, que esta obrigação relativa, como é, ao feitio da
moeda, só tem lugar a respeito dos metaes que se apre-
senta/) no gráo de pureza exigido pela lei, ou com pe-
quenas diflerenças para mais ou para menos. A afinação
dos metaes ou a sua separação, quando combinados com
outros, é operação própria dos laboratórios chimicos;
e a secção não tem noticia de que,"nas nações cultas da
Europa sejão as casas de moeda obrigadas ã despeza dos
processos melallurgicos, necessários para a dita apuração
á custa da módica senhoriagem que todas ellas perce-
bem, menos a ingleza quanto ao ouro somente.
Ao contrario, consta que não ha casa alguma de moeda
bem regulada naquella parte do mundo, que receba
metaes para serem amoedados, por conta de particu-
lares, sem que estejão em estado tal de pureza, que pos-
são ser facilmente reduzidos aos quilates exigidos pela
lei; não resultando dessa pratica o menor inconveniente
publico, "porque abundão alli os laboratórios chimicos,
aos quaes podem as partes recorrer para a conveniente
afinação.
Na união norte americana, porém, onde não é tão fá-
cil o mesmo recurso, outra é a pratica admittida na res-
pectiva casa de moeda, a qual, tendo por conveniência
publica os apparelhos necessários, recebe metaes im-
puros, e se encarrega da afinação delles, mas a custa das
partes.
Pelo acto de 18 de Janeiro de 1837, é o director da casa
— 243 —

da moeda autorisado a deduzir 1/2 7» do ouro ou prata que


as partes lhe apresentarem, achando-se aquilatados se-
gundo a lei, salvo quando as mesmas partes quizerem
receber o equivalente amoedado em 40 dias, e não em 5,
como lhe é permittido. E' igualmente autorisado a rece-
ber, para amoedar, qualquer porção de ouro ou prata
em pó, barra ou pinha; salvo nos casos (em que lhe
será licito rejeitar) de ser a porção de valor menor de
200 dollars, e de ser o metal tão baixo ou impuro que
não sirva para a casa da moeda. E, quando receba algum
dos ditos meiaes em estado tal que previamente exija
operações metallurgicas, é finalmente autorisado a exigir
das partes a compensação que fôr bastante para cobrir
a despeza com a afinação do metal que se achar abaixo
do quilate legal, com a operação de tornal-o malleavel,
se estiver combinado com outros metaes que o tornem
impróprio para o cunho, com a separação do ouro da
prata e vice-versa, se se acharem reunidos com a por-
ção de prata que deve entrar na liga do ouro, e com o cobre
preciso para a liga da prata e do ouro que se acharem
acima do quilate legal; devendo ser a mesma compensa-
ção fixada, de tempos em tempos, com approvação do
ministro do thesouro, e não exceder ao custo do ma-
terial e do trabalho, empregados nas referidas operações.
Ocioso seria demonstrar, á vista da analogia dasVir-
cumstancias entre aquella União, como paiz novo e o Bra-
sil, que a disposição referida pode ser admittida sem in-
conveniente na casa da moeda desta corte.
Não tem a secção os esclarecimentos precisos para po-
der affirmar que a actual senhoriagem de 1 7o não seja
bastante para cobrir a despeza do feitio da moeda; mas
presume ter motivo fundado para pôr em duvida, que o
seja para compensar também a despeza da afinação dos
metaes, mormente do ouro, apresentado ordinariamente
em pó , combinado muitas vezes com outros metaes , e
quasi sempre de quilate inferior ao legal da moeda: sendo
com effeito obvio, que, pela falta deapparelhos mais aper-
feiçoados, e difficuldade dos processos metallurgicos
entre nós, não pôde a mesma despeza deixar de ser cres-
cida. Nem a secção alcança qual seja a utilidade que pôde
vir ao Estado de sobrecarregar-se de tal despeza em mero
beneficio das partes , a quem de certo faz mais conta a
exportação ou venda do seu ouro em moedas que em
barras.
Assim que, póde-se aventurar a opinião de que tão ex-
cessiva é (além de illegal) a exigência de 4 °J0 só para a
despeza da afinação, como insufficiente para compensai-a
a senhoriagem de 1 °(0 estabelecida pela lei de 26 de Ou-
* 341 —

tubro ; e oulrosim, de que não ha razão de justiça ou eco-


nomia para que pese essa despeza sobre o Estado , euao
sobre as parles a quem aproveita. _ *
A' vista pois do que fica exposto, 6 a secção de^parecer:
1,°Que, apezar de não ter comparecido o advogado do
recorrente no dia aprazado, seja deferido o recurso inter-
posto por Joaquim José dos Santos Júnior, e attendidos os
protestos que fizera contra a exigência, autorisada pela
portaria.de 17 de Novembro de 1840 , de 4 7» sobre o ouro
que por sua conta fora amoedado; ,
2.° Que o governo imperial haja de propor a assembléa
geral legislativa que admitta a pratica estabelecida pelo
citado acto dos Estados-Unidos, ou eleve a actual senho-
riagem á somma que fôr bastante, á vista de exames e en-
saios previamente feitos por pessoas hábeis, para com-
pensar a dupla despeza do feitio da moeda e da afinação
dos metaes; providenciando ao mesmo tempo para que se
aperfeiçoe, como muito convém, o laboratório existente na
casa da moeda, de sorte que se consiga corrigir qualquer
defeito que possa ter havido no processo da afinação e
concorrido talvez para o notório facto de valerem as novas
peças de ouro menos do que as velhas ;
3.° Que, emq'uanlo não houver lei que faculte a exigência
da compensação necessária, continue a casa da moeda a
cunhar somente o ouro que lhe fôr apresentado em cir-
cumstancias taes, que possa ser facilmente reduzido a qui-
late exigido pela lei, limitando-se afundirem barras o que
se achar em estado tal, que não possa ser afinado sem dis-
pendioso processo.
Digne-se Vossa Mageslade Imperial acolher com be-
nignidade este parecer, e resotvel-o como tiver por
melhor. , ,
Rio de Janeiro, 13 de Outubro de 1847. — Visconde de
Abrantes.— Visconde de Olinda.
ItESOLLCAO.

Como parece á secção. (*)


Paço, cm 13 de Novembro de 1847.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Saturnino de Souza Oliveira.

C) rvos termos da resolução expediu-se a seguinte portaria:


O Sr. provedor da casa da moeda fique na intelligencia de que
Sua Magestade o Imperador, conformando-se com o parecer da scc«;âo
de fazenda do conselho de estado sobre o recurso de Joaquim José
- 245 —

N. 1 3 1 . - RESOLUÇÃO DE 28 DE NOVEMBRO DE 1847.

Sobre —se o recurso interposto para o conselho de estado, suspende


o effeito das decisões das thesourarias e do thesouro.

Senhor.— Dignou-se Vossa Mageslade Imperial ordenar


por aviso de 14 do mez passado que a secção de fazenda
do conselho de estado consultasse sobre a representação
feita ao tribunal do thesouro , com data de 27 de Março ,
pelo inspeclor da thesouraria da Bahia, procurando sa-
ber se o recurso ao conselho de estado das decisões das
thesourarias e do tribunal do thesouro suspendia a exe-
cução dellas; e de que modo devião ser as ditas thesou-
rarias instruídas da interposição de tal recurso ; e até
quando deverião esperar pela" decisão do recurso inter-
posto. O procurador fiscal e os outros membros do tri-
bunal do thesouro , ouvidos sobre esla representação ,
não encontrando lei alguma que regulasse a espécie em
questão de um modo contrario á regra de direito, segundo
a qual todos os recursos são suspensivos , forão de voto
que, logo que constasse nas thesourarias, ouporcommu-
nicação do thesouro publico ou por documentos que as
partes apreseniassem, que tivessem sido recebidos quaes-
quer recursos para o conselho de estado, dever-se-hia
sobre'star na execução dos julgamentos recorridos, até
final decisão do mesmo conselho.
A seção porém, persuadida por um lado de que a mesma
espécie, versando sobre decisões ou julgamentos de um
tribunal como o do thesouro que tem a suprema inspecção
e administração das rendas do Estado , não está sujeita á
regra, e sim á excepção do direito, segundo a qual não
ficão suspensos, no caso de recurso, os julgamentos dos
tribunaes superiores; e convencida por outro lado de que
muito convém obstar a que devedores públicos manifes-

dos Santos Júnior da decisão do tribunal do thesouro a respeito da


exigência, que faz a £asa da moeda, de 4 °/o sobre o ouro que vai-se
amoedar em virtude da portaria de 17 de Novembro de 1840, houve
por bem resolver que fosse deferido o sobredito recurso e atlendidos
os protestos que fizera o mesmo Santos Júnior ; e outrosim que, em-
quanto nao houver lei que faculte a exigência de compensação ne-
cessária, continue a casa da moeda a cunhar somente o ouro que
lhe fòr apresentado em circumstancias taes, que possa ser facilmente
reduzido ao quilate exigido pela lei; limitando-se a fundir em barras
o que se achar em estado tal, que não possa ser afinado sem dispen-
dioso processo.
Rio, em 17 de Novembro de 1817.— Manoel Alves Branco.
— 240 —

lamente remissos, e alguns nolorios defraudadores da fa-


zenda nacional achem na simples interposição de recurso
para o conselho de estado uma moratória tão injusta
quanto obtida sem exame, e uma dilação de tempo em mero
proveito da chicana, e damno da moral publica: não pôde
convir no referido voto, que, a ser adoptado na extensão
em que se acha concebido , abriria de certo larga poria a
graves abusos.
Entretanto, admitlindo a necessidade de ficar ao pru-
dente arbilrio do governo o suspender quaesquer decisões
do thesouro, de que se tenha recorrido, quando não haja
perigo na demora da sua execução, e de não serem suspen-
sas, possa resultar damno irreparável, como se exprime o
art. 50 do regimento provisório do conselho de estado; e
julgando conveniente que se prescreva, em deferimento
á sobredita representação, o modo por que, em caso de re-
curso das mesmas decisões , devão proceder as thesoura-
rias, para que se evite a menor hesitação, ou diversidade
de pratica da parte dellas ; é a secção de parecer:
Que Vossa Magestade Imperial haja por bem declarar
que as decisões do tribunal do thesouro , mesmo no caso
que dellas se recorra para o conselho de estado , devem
ser executadas pelas thesourarias e repartições compe-
tentes, salvo se receberem ordem do ministro e secretario
de estado presidente do mesmo tribunal para que sobr'es-
tejão na execução dellas
Vossa Magestade Imperial resolverá, porém, o que mais
justo ou conveniente fôr.
Rio, 19 de Maio de 1847. — Visconde de Abrantes. —
Visconde de Olinda.

RESOLUÇÃO.

Como parece. (")

Paço, 28 de Novembro de 1847.

Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.

Manoel Alves Branco.

{') Decreto n.° 542 de 3 de Dezembro de 18í7. — Declara que o


recurso para o conselho de estado das decisões do tribunal do the-
souro nao suspende a execução dellas, salvo mandando o ministro
presidente do mesmo tribunal.
— 247 —

N. 132. —RESOLUÇÃO DE 28 DE NOVEMBRO DE 1847.

Sobre o recurso de F. J. da Costa Brito & C.a da decisão que sujei-


tou á imposto, os armazéns de sua propriedade, que servem de de-
pósitos.

Senhor.—A secção do conselho de estado dos negócios


da fazenda examinou o requerimento de Francisco José
da Costa Brito & C.a, que recorrem para o conselho de es-
tado, da decisão do thesouro, que confirmou o lançamento
do imposto de armazém em todos os que possuem os
supplicantes nesta cidade, e tem a honra de dar o seu
parecer.
Tendo os supplicantes vários armazéns de madeiras,
que forão todos comprehendidos no lançamento como
sujeitos ao imposto, representarão ao administrador da
recebedoria do municipio contra este arbítrio dos lança-
dores, com o fundamento de que a lei só obriga a este
pagamento os armazéns que são destinados para compras
e vendas, e não os que servem para depósitos, achando-se
no primeiro caso somente um dos dos supplicantes.
Em prova dos serviços que elles prestão, allegâo os
supplicantes as informações dos lançadores, as quaes não
lhes são contrarias, e bem assim os depoimentos das tes-
temunhas, que havião produzido no juizo dos feitos da
fazenda no processo de execução, que se lhes intentou
pela recusa do pagamento que delles se exigio. Suas al-
legações, porém, não forão admittidas, sendo indeferida
a pretenção; e então requererão ao governo imperial
pela repartição do thesouro.'
Foi mandado ouvir o administrador da recebedoria, o
uai desfez os enganos, em que cahio o lançador Men-
3 onça, e que erão trazidos como argumento que favorecia
a pretenção dos supplicantes, assim como o foi igualmente
o lançador Madeira, o qual confuta oallegado,'affirmando
ter feito compras em um desses armazéns, que os sup-
plicantes dizem ser destinados só para deposito, e além
disso produz razões que destroem o argumento tirado do
testemunho dado em juizo. Por estas razões foi do mesmo
modo desattendido pelo Exm. presidente do thesouro,
que se conformou com os votos dos membros do tribunal.
E finalmente recorrem desta decisão para o conselho de
estado, fundando-se nas mesmas razões, com o que já
havião sustentado a sua pretenção perante o thesouro.
Tendo-se marcado dia para o advogado comparecer em
conferência da secção, para ouvir o relatório, e não tendo
elle apparecido, passa a secção a dar seu parecer.
— 2iS —
Exanunando-sc as razões dos supplieaiUes, e as do ad-
ministrador da recebedoria, corroboradas com as do
lançador Madeira, parece bem fundada a decisão do the-
souro, e com ella se conforma a secção.
Vossa Magestade Imperial resolverá como mais justo
parecer.
Rio de Janeiro, em 30 de Outubro de 1847. — Visconde de
Olinda.— Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 2S de Novembro de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 133.—RESOLUÇÃO DE 28 DE NOVEMBRO DE 1847.

Sobre o recurso de Lane Brotliers consignatarios da barca ingleza.


Britania, acerca da apprehensão de uma porção de diamantes ex-
cluídos do manifesto.
Senhor.—O ajudante do guarda mór da alfândega da
Bahia, tendo ido visitar a barca ingleza Britania, que che-
gava de Liverpool, apprehendeu uma porção de dia-
mantes, que não vinhão incluidos no manifestado, e nem
á este acrescentados. O juiz da alfândega julgou boa a
apprehensão; e tendo os consignatarios do navio, Lane
Brothers recorrido de sua decisão para o inspector da
thesouraria, e deste para o presidente da provincia,
ambos a confirmarão, sendo finalmente todas estas deci-
sões sustentadas pelo tribunal do thesouro. Julgando-se
porém offendidos em sua justiça os sobreditos consigna-
tarios, recorrerão ao conselho de estado. O que tendo
sido examinado pela secção da fazenda, em observância
das ordens de Vossa Mageslade Imperial, tem ella a honra
de dar o seu parecer.

(') Portaria á recebedoria do município em o 1.° de Dezembro


de 1317.
— 24(1 —

As razões em que se fundão os supplicantes são -. que


não houve intenção criminosa de commetter o contra-
bando nem da sua parte, e nem da do capitão do navio; e
que ignoravão que aquellas pedras estavão sujeitas a di-
reitos ; sustentão que não é o facto material, e sim o inten-
cional, que deve provocar a sancção penal; e que nas de-
cisões dadas só se tem attendido a circumslancia da falta
de declaração, quando cumpria ler-se examinado se
aquella falta fora voluntária com a intenção de extravio
dos direitos.
Para provar a boa fé, com que obravão, allegão: 1.'
que, não sendo seus os diamantes, nenhum interesse ti-
nhão em os subtrahir aos direitos nacionaes; 2.° que,
gozando do conceito de negociantes honrados, sem sus-
peita de tendências de contrabando, não se havião de
expor a nodoar seu credito, por um facto tão mesquinho,
e em beneficio de outrem; 3.* que foi um dos seus só-
cios quem denunciou os diamantes ao agente fiscal, pe-
dindo que os trouxesse para terra para com brevidade
entregar a seus donos, na supposição, em que estavão, de
que taes pedras não pagavão direitos, supposição que era
corroborada pala pratica dos paquetes inglezes que os
largavão em terra sem aquelle ônus.
Acrescentão mais em seu requerimento que esta sua ,
boa fé, já fora reconhecida pelo inspector da alfândega ;
mas que este se acha adslricto a julgar do faclo, não ca-
bendo em sua alçada tomar em consideração as circum-
stancias que o escusão, como tem sido declarado por
provisões do thesouro.
Estes, senhor, são os fundamentos em que se estribão
os supplicantes-para arguir de injusta a decisão do the-
souro que julgou procedente a apprehensão; sobre o que
passa a secção a fazer as seguintes observações :
1." O argumento, que produzem os supplicantes em seu
favor, é a boa fé com que obrarão ; e essa boa fé é fun-
dada na ignorância da lei. Tratavão de tirar os diamantes
de bordo sem pagar os direitos, porque estavão persua-
didos que elles não erão a isso obrigados. Que a boa fé
pôde ser admitlida em matéria de facto, é o que não se
pôde contrariar, e é o que reconhecem as provisões do
thesouro citadas pelos supplicantes, mandando attender a
ella na imposição das multas. Mas que possa ella ser re-
cebida na disposição da lei, é o que não se pôde conceder;
em direito é isto reprovado, e não podem ser tomadas as
citadas provisões do thesouro nesse sentido;
2." Ainda que fosse admittida a boa fé em matéria de
lei, se bem forem examinadas as circumstancias do facto,
não são ellas de natureza tal, que a demonstrem conclu-
c. 32
- 250 —
dentemente.—1'.° Dizem os supplicantes, em seti requeri-
mento ao inspector da alfândega que os diamantes vierào
fora do manifesto, por haverem sido entregues quando elle
já eslava fechado, estando já o navio no rio recebendo
pólvora fora do alcance das autoridades. Mas nota-se que,
muito antes da chegada do navio á Bahia, já naquella ci-
dade se sabia que elles vinhão fora do manileslo. Esta cir-
cumstancia não se pôde explicar senão por um de dous
modos, ou por aviso anterior de que assim se havia de
praticar, ou por noticia que trouxesse algum outro navio
que, tendo sabido depois daquelle, chegasse primeiro.
Esta segunda hypotliese, de uma grande imporlancia
para se avaliar o facto, não está provada; entrelanlo que
se ajuntão documentos para certificar outras oceurrencias
de pouco momento.
E pois forçoso recorrer á primeira, a qual não é favo-
rável aos supplicantes. Além disso, se a pólvora foi
acrescentada ao manifesto, apezar de ser recebida quando
elle já se achava fechado, e o navio fora do alcance das
autoridades, que razão havia para que o não fossem
igualmente os diamantes ?—2.° Referem os supplicantes a
conversação que em vozes altas, e diante de testemunhas,
tivera um de seus sócios com o ajudante do guarda-mór,
a quem pedira que trouxesse os diamantes para terra, e
ajunla uma carta que o mesmo dirigira a uma pessoa que
a ella assistira, a quem pedia alteslasse aquellas circum-
stancias, assim como a resposta que tivera. Mas esla res-
posta não prova nada do intento dos supplicantes ; decla-
rando a pessoa, que a deu, que só ouvira a este perguntar
quando esperava o navio, e aquelle indagar qual seria o
official que estaria de semana.
Nota-se mais que a conversação com o ajudante do
guarda-mór sobre os brilhantes foi de tal modo dirigida,
que este, escrupuloso no cumprimento de seus devores,
entendeu ser um convite a deixal-os passar por alio, como
declarou ao juiz da alfândega que o refere;
3." Tratarão os supplicanles de tirar de bordo os dia-
mantes sem os manifestar, porque estavão persuadidos
que elles não pagavão direitos; mas, quando disso esti-
vessem persuadidos, não podião ignorar como negociantes,
que são, que nada se acha a bordo de um navio que não
deve ser dado ao manifesto, até aquelles mesmos objectos
que não estão sujeitos a direitos, como os restos dos man-
timentos, e sobrésalentes do navio.
Estas observações a secção não as faz senão em cum-
primento de seu dever, sendo obrigada a interpor um juizo
sobre o facto; sem que porém dahi se possa deduzir con-
ceito de menos probidade na casa dos supplicantes, que
— 251 -
ella tem na mesma consideração'que merece ao inspector
da alfândega, que a abona.
Não tendo comparecido o advogado do recorrente, e
cumprindo á secção dar o seu parecer, conclue ella que,
ainda quando as circumstancias fossem taes que não dei-
xassem a menor duvida sobre-a boa fé dos supplicantes
que ella não contesta, mas que desgraçadamente não
está provada, ainda assim não pôde ser admittida, por
isso que é fundada na ignorância da lei, que o direito
rejeita: e quando lhes aproveitasse essa boa fé na igno-
rância da lei dos impostos, fallece ella na dos regula-
mentos quanto aos manifestos , que elles não podem
ignorar.
Parece, portanto, justa a decisão do thesouro.
Vossa Magestade Imperial, resolverá como mais justo
entender em seu alto juizo.
Rio de Janeiro, em 30 de Outuhro de 1847. — Visconde
de Olinda.—Visconde de Abrandes.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 28 de Novembro de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador*
- Manoel Alves Branco,

N. 131.— RESOLUÇÃO DE 28 DE NOVEMBRO DE 1847.


Sobre a condemnação da barca baleeira Sarah Esther, ancorada en>
porto não franqueado ao, commercio estrangeiro.

Senhor.—A seeçâo do conselho de estado dos negócios


da fazenda examinou o requerimento do commandante da
barca baleeira Sarah Esther, e mais papeis annexos,
relativos á condemnação da mesma barca, por infracção
dos regulamentos fiscaes ; e tem a honra de apresentar
seu parecer.

O Ordem á tUcsouraria da Bahia era o l.» de. Dezembro de 1817,


— 2o2 —

Na enseada de Abrahão foi encontrada no dia 27 de


Março deste anno aquella barca por um dos vigias da
alfândega, o qual, procurando haver algumas informações,
voltou para este porto, e dando parte de tudo ao respectivo
inspector, por ordem deste, dirigio-se ao mesmo lugar
para inquirir os motivos de se achar alli fundeada aquella
embarcação, e obrar na conformidade dos regulamentos
fiscaes. Não tendo o commandante da baleeira satisfeito
aos preceitos do regulamento de 22 de Junho de 1836, foi
ella conduzida, 14 dias depois do primeiro encontro, pelo
mesmo vigia para este porto ; e, formando-se processo, foi
a íinal condemnada como infraclora do mesmo regula-
mento. Esta sentença foi sustentada pelo governo impe-
rial, para quem havia recorrido o supplica,nte, sendo
concordes os membros do tribunal do thesouro, com os
quaes se conformou o mesmo governo; e desta decisão
interpõe o mesmo supplicante recurso para o conselho
de estado.
Allega o commandante, para demonstrar a justiça que
lhe assiste: 1.°que o regulamento só é applicavel aos
navios que vem commerciar ao Brasil, e quejrazem e
levão mercadorias sujeitas a impostos; e não ás barcas
' baleeiras, as quaes em todos os portos gozão de certos
privilégios, como o de procurarem os portos mais vizinhos
das paragens em que andão exercendo sua industria, e
dahi se refazerem de lenha, água e refrescos; 2." qüe
estas-barcas estão no uso antigo de demandarem quaes-
quer portos do Brasil, e de haverem certos objectos em
troco do producto de sua industria, que é o azeite ; não
tendo sido embaraçadas nesse pequeno trato pelas auto-
ridades locaes, e nem pelas embarcações de guerra que
com ellas se tem encontrado nesses portos ; 3.° que esse
costume em que'ellas estão, e a liberdade, que tem lido,
de fazer esse limitado commercio removem toda a idéa
dedolo de sua parle, sem a qual não ha crime, sendo elle
mesmo o que denunciou haver efléctuado essas pequenas
transacções, não havendo disso outra prova, senão suas
próprias declarações, o que prova boa fé em que eslava
de o poder fazer.
Os fundamentos da sentença são : 1.° o achar-se aquella
barca em um porto que não está aberto ao commercio
estrangeiro, e não justificar a necessidade de o haver
demandado, como ordena o regulamento de 22 de Junho
de 1836; não tendo o commandante apresentado as de-
clarações que o mesmo regulamento exige em taes casos,
estando tantos dias fundeada com tempo de sobejo
para o fazer; 2.° o estar a baleeira comprehendida no
regulamento, o qual abrange todas as embarcações sem
- 253 -
distineção, ou ellas se dirijão de propósito para os portos
do Brasil ou venhão a elles incidentalmente ; 3.° o haver
praticado naquelle porto actos de commercio com defrau-
damento das rendas publica*, sendo indifferenie para o
caso a maior ou menor escala em que se elles executão ;
4.° o não ser admissível a eseusa, que se allega, do con-
sentimento das autoridades subalternas, pois que a tole-
rância e connivencia destas, não podem nunca importar
derogação ou modificação das leis, e nem aresto legal
que seguir; e o ser menos admissível ainda a ignorância
dos regulamentos, em que se <>slriba a boa fé do recor-
rente ; pois que não pôde ser recebida em direito.
Tendo comparecido o advogado do recorrente, a quem
foi lido este relatório, allegou elle mais em favor da causa
que defende, a concessão que o governo imperial acaba de
fazer ás barcas baleeiras, de quatro mezes para não serem
julgadas incursas na saneção do regulamento pelo simples
facto de sua entrada em portos que não estão abertos ao
commercio estrangeiro.
Combinadas as razões por üm e outro lado, parece á
secção que subsistem em toilo o seu vigor as que sus-
tentáo a sentença, não podendo negar-se que os actos
praticados pela baleeira são contrários ao regulamento
citado, do qual não é licito admittir ignorância. Não fa-
vorece ao supplicante a razão ultimamente allegada pelo
seu advogado, porque um favor posteriormente concedido
não pôde empecer á execução da lei anterior, debaixo de
cujo império foi o acto praticado; e porque a mesma
concessão não allivia da pena aos que exercerem actos
de commercio, e taes que trazem lesão dos direitos pú-
blicos, como os que praticou a baleeira.
Por todas estas razões parece á secção ser justa a de-
cisão do thesouro.
Vossa Magestade Imperial resolverá em sua sabedoria
o que mais justo parecer.
Rio de Janeiro* 2 de Novembro de 1847.—Visconde de
Olinda. —Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 28 de Novembro de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

(*) Portaria á alfândega da corte, em ol.° de Dezembro de 1847.'


— 254 —

N. 135.-RESOLUÇÃO DE 4 DE DEZEMBRO DE 1817.

Sobre a representação da câmara muuic:pal da cidade de Diamantina


contra a execução da lei n.° 37i de 2i de Abril de 1813 e respectivo
regulamento.

Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial que as sec-


ções de fazenda e do império do conselho de estado
consultassem sobre a representação, feita pela câmara
municipal da cidade de Diamantina, conlra a execução da
lei n.° 374 de 24 de Abril de 184o, e do regulamento
n.° 465 de 17 de Agosto de 1846, acerca da administra<;ão
dos terrenos diamantinos.
Pondera a referida câmara conlra a dita execução os
seguintes inconvenientes.
1.° De ficarem (arts. 10 e 11 do regulamento) sujeitas
á praça e concurrencia de licilantes as lavras conce-
didas a particulares pelo governo, intendentes, e junta dia-
mantina ; porquanto, tendo quasi todos os concessionários
eseus descendentes estabelecimentos ruraes nos terrenos
concedidos, ver-se-hão na dura alternativa ou de arre-
malal-os pelo alto preço a que forem elevados pela inveja,
ou vingança de algum outro licitante, ou a perderem
o trabalho de seus pais, e serem expulsos de suas
casas, e t c , e t c .
2.° De ser prohibido (regra 2.* do art. 1.° da lei) ar-
rendar-se mais de um lote de terreno ao mesmo in-
divíduo ; porquanto, devendo a mineração diamantina ter
lugar em tempo secco, no leito e margens dos rios, e
em tempos chuvosos em terras altas, e não sendo fácil
que um só lote de cem mil braças quadradas, ou de
trezentas e dezeseis braças por lado de um quadro, abranja
as duas localidades, serão mineiro forçado a interromper
os seus trabalhos durante seis mezes doanno, sem poder
aliás empregar a sua escravatura em outro serviço, por
não lh'o permittir a natureza do terreno, e t c , e t c .
3.° De ser enorme a taxa (regra 3 / do citado artigo)
de 30 réis por braça quadrada ; porquanto, sendo in-
certo achar-se algum descoberto de diamantes na limi-
tada área de um lote, e poder-se trabalhar no mesmo
descoberto, quando achado, por quatro annos inteiros,
impossível é que o mineiro se sujeite a pagar a renda
annual de três contos de réis por semelhante lote, ou
possa, quando' se sujeite, pagar doze contos de réis até
o fim do quadriennio, e t c , e t c .
4.° De exigir-se do rendeiro ou licitante (regra 4.* do.
•*MM*to*>MM
— 2oo —

mesmo artigo) que preste fiança idônea ; porquanto, ha-


vendo na demarcação, fora da classe dos mineiros, poucos
proprietários consideráveis, e sendo impossível que estes
queirão afiançar a milhares de licitantes, ou, quando o
queirão, que baste o valor da sua propriedade para
cobrir o de lanlas fianças, evidente é que os mesmos
licitantes, ou hão de recorrer ao meio de se afiançarem
uns aos outros, o que é uma illusão, ou tem de mendigar
íiadores fora da sua classe, o que é um vexame, e l e .
b.° De difficullar-se o estabelecimento de companhias
para a mineração, emquanto por um lado se obriga a cada
sócio (arl. 27 §3.° do regulamento) a prestar um
fiador que responda, independente dos outros, por lodo
o valor da renda annual e por outro lado se destroe
a vantagem da alternativa, aliás concedida (citado artigo
§ 1.") «Je pagar taxa ou porcentagem, quando se exige
(o mesmo artigo § 2.") a apresentação d<» conhecimento
de haver-se pago a renda do primeiro anno, antes de
lavrar-se o teimo do arrendamento: porquanto, a res-
peito da fiança, não podendo formar-se companhias (ci-
tado artigo | 3.°) com menos de seis sócios, vem a ser
a mesma companhia forçada a afiançar, não o simples
valor da renda, mas o sextuplo desse valor; e, a respeito
da alternativa, não havendo na mineração base alguma,
para se poder presumir qual será o seu producto em
um anno, vem a ser improíicuo o remédio applicado
(mesmo artigo § 5.°) para salvar-se a dita alternativa, e t c .
6." Demandar-se suspender (art. 52 do regulamento) os
trabalhos da mineração durante o tempo das medições ;
porquanto, sendo impraticável o medir-se em um anno
a extensão de cem léguas de terreno diamantino, terão
os mineiros e suas escravaturas de ficar ociosos, gas-
tando sem produzirem durante o mesmo tempo, etc, e t c .
7." De limitarem-se os dislriclos dos faiscadores (arts.
28 e 29 do regulamento) aos das suas residências; por-
quanto, havendo os mesmos faiscadores conlrahido, ha
um quarlo de século de mineração livre o habito de
procurar os terrenos mais produclivos, e sendo o
trabalho de faiscar o meio de vida de milhares de. fa-
mílias, não será^possivel a sua restricção aquelles li-
mites, sem que appareção conílictos e desordens, pro-
vocados pela miséria e°transmigração forçada, e t c .
8,° De proceder-se á arrematação dos terrenos em
praça (regrai.» do art. 1.° da lei), admittindo-se lici-
tações ; porquanto, devendo tornar-se cada praça em
campo aberto ás vinganças e ambições individuaes,
crear-se-ha em cada termo das arremalações umasuc-
cessão de ódios, de rancores intermináveis, etc.
— 2fiG —

Posto que da simples leitura da representação, que


fica substanciada, possa alguém concluir; que, no conceito
da câmara representante, melhor fora, que o governo im-
perial em vez de tratar da emenda da lei e regulamento
em questão, deixasse absolutamente de intervir na mi-
neração diamantina, e abrisse mão dessa propriedade
nacional, abandonando-a sem reserva aquelles que
licita ou illicitamente se tem apossado delia, para que
continuem a desfructal-a como bem lhes aprouver; to-
davia as secções, reconhecendo que a mesma representa-
çã o exprime o voto de uma autoridade, que está ao alcance
das circumstancias locaes,e por isso em estado de melhor
sentir a necessidade de serem modificadas, segundo a
equidade ou a justiça, as providencias dadas sobre a
referida mineração, longe de concluírem do mesmo modo
pnssão a examinar o que ha de fundado ou infundado
nas allegações da sobredita câmara.
Na opinião das secções, os inconvenientes allegados,
em 4.°, 6.°, 7.° e 8." lugar, não são fundados em razão
alguma de justiça, nem mesmo na conveniência publica.
Sendo certo que o arrendamento dos terrenos dia-
mantinos é o meio, menos sujeito a abusos e perigos,
que se offerece ao Estado, para poder tirar algum pro-
veito dessa sua propriedade, nada ha de mais obvio e
justo em caso lal que exigir fianças idôneas da parte
daquelles que contractarem os arrendamentos.
Nem o simples bom senso pôde tolerar, que se repute
vexatória a exigência dessas fianças, só porque os lici-
tantes tenhão de procurar liadores, no caso de não que-
rerem forrar-se a lal incommodo, depositando apólices
ou metaes preciosos, como lhes permitte o art. 11 do
regulamento; nem tão pouco, que se repute illusoria a
mesma exigência, só porque os mineiros tenhão de re-
correr ao expediente de serem fiadores uns dos outros;
quando aliás este recurso, que tem em seu abono a pratica
dos seguros mútuos, não só é bastante para dar sufi-
ciente garantia, como cflicaz para expellir do numero dos
licitantes aquelle que não tiver capitães ou braços ne-
cessários para a mineração, e não acha/ por isso entre os
outros quem o afiance': o que é de tanta Vantagem publica,
que só em consideração delia cumpriria não embaraçar
o mesmo recurso.
Isto posto, deixa de ser real o inconveniente allegado
em 4.* lugar.
Menos real é ainda, se possível, o allegado em sexto
lugar; porque do art. 52 combinado com o art. 10 do re-
gulamento, não se pôde de modo algum colligir que
devão cessar os trabalhos da mineração durante as me-
dições dos terrenos: sendo ao contrario expressamente
facultado a todos os concessionários o continuarem os
mesmos trabalhos até a data marcada para o arrenda-
mento.
E, pois que o mesmo arrendamento não pôde ser feito
senão depois de medido o terreno, claro é que durante as
medições não pôde haver interrupção dos trabalhos, nem
o perigo de ficarem ociosos os mineiros e seus escravos.
Maravilha certamente que pudesse a câmara municipal
ponderar e até encarecer o inconveniente allegado em sé-
timo lugar; porquanto, sendo da alçada do mais commum
bom senso o reconhecimento do interesse publico, que
vai na applicação de medidas indireclas, e até de provi-
dencias menos brandas para arredar a esses milhares de
famílias, compostas de faiscadores, de um modo de vida
precário e funesto, que produz quasi sempre a miséria,
que gera todos osvicios do vagabundo, que alimenta to-
das as paixões do jogador, que desmoralisa e corrom-
pe pela fatal esperança da riqueza em um instante ad-
quirido, era mais de esperar que antes se achasse de-
masiada a generosidade do governo imperial, quando
pelos artigos 28, 29 e 30 do regulamento mandou reser-
var tecrenos e lavras em cada município ou districto da
demarcação diamantina, para que taes faiscadores pu-
dessem empregar-se, do que se levasse em culpa ao
mesmo governo o ter procurado mais de leve cóarctar a
nociva liberdade, que elles se arrogárão, de andarempor
toda a parte, de tudo invadirem, de gastarem o seu tempo
em constantes peregrinações mais próprias de tribus
selvagens, que de homens de mediana civilisação.
E' igualmente de maravilhar que tenha sido escripto
e amplificado, como foi, o inconveniente allegado em oi-
tavo e ultimo lugar, na parte em que se pretende (menos
a respeito dos actuaes concessionários ) banir a hasta pu-
blica e as licitações dos contractos de arrendamentos dos
terrenos diamantinos.
Com effeito seria apenas possivel atinar com o-motivo
de tão estranha pretenção, se lôra licito consideral-a co-
mo incobrindo outra, que se deseja fazer valer mas que
não se ousa declarar, a saber: que o Estado faça doação
plena e inteira dos ditos terrenos aos oecupantes actuaes;
orquanto, a não ser assim, mal se pôde conceber que
E aja difficuldade ou hesitação em decidir qual dos dous
melhodos abriria mais largo campo á inveja, á vingança, á
suecessão de ódios, á rancores intermináveis; se o da hasta
publica nas arremalações, se o do patronato secreto nas
licenças ou distribuição que tivesse de dar ou fazer
qualquer autoridade.
c. Z3
Outra ó porem a opinião das secções a respeito dos
inconvenientes allegados em 1.°, 2.°, 3.» e 5.° lugar.
Pelo que toca ao 1.° não se pôde negar que não seja elle
fundado em boa razão.
Se o simples posseiro, ou aquelle que invade e aprovei-
ta a terra publica, é tolerado, e mesmo attendido pela
legislação em certas circumstancias, não é razoável que
o concessionário, ou aquelle que occupa e aproveita um
terreno diamantino, por effeito de concessão que lhe fi-
zera o governo e seus delegados, seja menos attendido,
ou tratado com desfavor.
Assim que não só a equidade, como até o interesse pu-
blico, aconselhão que se permitta aos actuaes concessio-
nários, o arrendar fora da hasta publica, pelo minimo
da taxa, os terrenos diamantinos em que tiverem cultura
ou outro estabelecimento de economia rural; cumprindo
porém que tal permissão não exceda os limites gue a
mesma equidade e interesse publico prescrevem; pois tão
inconveniente seria forçar o concessionário a arrendar
por alto preço, ou abandonar o seu estabelecimento, co-
mo seria desarrazoado e injusto que o mesmo concessio-
nário continuasse a occupar, dentro da demarcação, da-
tas de meia légua, e mesmo de légua em quadro de ter-
renos, sem que aliás possa ter meios para aproveital-os.
Não deixa também de ser fundado o segundo inconve-
niente.
As razões produzidas pela câmara provão sem réplica
que um lote de cem mil braças quadradas não pôde has-
tar para o serviço regular e continuo da mineração nas
duas principaes estações: e, pelo mesmo motivo por que
não convém acoroçoar a mineração irregular, e mais que
precária, como a dos faiscadores, cumpre não escassear
aos mineiros estabelecidos e diligentes os terrenos indis-
pensáveis, para que possão evitar a inlerrupção dos seus
trabalhos, devendo-se por isso conceder diversos lotes
a quem se mostrar habilitado para levar a effeito qual-
quer maior empreza de mineração.
São igualmente procedentes as razões em que se funda
o terceiro inconveniente.
Quando se reflecte naimmensa extensão dos terrenos
diamantinos, e no facto notório de acharem-se os da an-
tiga demarcação em grande parte lavrados ou quasi
exhaustos; quando demais se attende aos freqüentes aza-
res da mineração dos mesmos terrenos, e a conveniên-
cia de não desalentar uma industria a que se tem affeito
uma parte da população, sente-se em verdade que é al-
gum tanto elevada a taxa de 30 réis por braça quadrada,
ainda mesmo feita abstracção, como se recomrnenda no
— 259 —
art. 24 do regulamento, das partes já exploradas e eviden-
temente inúteis dos ditos terrenos.
E, não só pelas precedentes considerações, como pela
fundada esperança de que, no caso de que se trata, mais
rendoso deve ser o imposto menor que o maior, cumpre
que aquella laxa seja diminuída.
Também procedem as razões em que a câmara fun-
darão 5. "inconveniente, na parte em que se exige que cada
sócio da companhia preste fiança idônea pela totalidade
da renda annual; não havendo com effeito razão suffi-
ciente de conveniência fiscal, que possa legitimar uma
tal demasia de segurança; na parte porém em que se
exige da companhia o apresentar conhecimento de haver
pago a renda do primeiro anno antes de lavrar-se o ter-
mo do contracto, não é licito julgar que dahi venha o fi-
gurado inconveniente de destruir-se a vantagem da al-
ternativa de pagar taxa ou porcentagem; pois, qualquer
que seja a difficuldade de presumir-se o producto da mi-
neração durante o primeiro anno, chimerico é o receio
de qüe uma companhia se desanime e encolha, só porque
tenha de empatar por um anno (até que se liquide a som-
ma da porcentagem devida) alguns centos de mil reis, no
caso de ter sido exagerada a presumpção do referido
producto.
Em altenção pois ao que fica exposto, são as secções de
parecer:
1.° Que o governo de Vossa Magestade Imperial se digne
fazer desde já, no regulamento n.° 465 de 17 de Agosto de
1846, a alteração seguinte:
Que os contractos com as companhias, organisadas
para a mineração dos diamantes, possão ser celebrados
sob fiança de um ou dous iiadores idôneos.
2.° Que o mesmo governo haja de propor á assembléa
geral legislativa as seguintes alterações na lein.°374 de
24 de Setembro de 1845.
1." Que aos actuaes concessionários dos terrenos dia-^
mantinos, que requererem dentro do prazo de trinta dias,
marcados por edital, sejão arrendados fora da hasta pu-
blica, e pelo valor minimo da laxa, dous lotes de terrenos
próprios para a mineração, sendo ao mesmo tempo con-
servados na posse dos terrenos em que liverem casas,
plantações e qualquer outro estabelecimento rural dentro
das suas respectivas concessões. _ •
2.a Que aos licitantes, que mostrarem ter meios para
minerar com probabilidade de suecesso, se permitia que
cada um arrende em hasta publica, pelo menos dous lotes
de terrenos, em posições taes que se possão trabalhar de
verão e inverno.
— 2(i0 —

Q . n u e o valor minimo xla taxa seja o de 10 réis por


braça quadrada, de terreno ulil, ou próprio para a mine-
ra
Tal°é senhor, o parecer que as secções submettem á
imperial consideração, e que Vossa Magestade Imperial
seãignará acolher com benevolência, e resolver como lor
conveniente.
Rio de Janeiro, em 30 de Novembro de1817.-Visconde
de Abrantes.—Visconde de Olinda. —José Antônio da
Sdva Maya.— Caetano Mama Lopes Gama,

KKSCU.rÇVO.

Como pnivt.' (*)


faço, em i de Dezembro de isi7.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 136.— RESOLUÇÃO DE 22 DE DEZEMBRO DE 1847.

Sobre o recurso «le A. E. de Magalhães Tusso, fiador de um cx-


collector da denegação de moratória para pagamento de alcance.

Senhor. — Antônio Esleves de Magalhães Pusso, tendo


afiançado a Simplicio José Ferreira, collector das ren-
das nacionaes no termo de Pirahy da provincia do Rio
de Janeiro, foi chamado a entrar para os cofres públicos
com a quantia cm que esle ficou alcançado, quando se
lhe tomarão as contas. Não se julgando o supplicante
obrigado a esse pagamento, foi convencido judicialmente;

(*) Decreto n.° 543 de 3 de Dezembro de 18í7.— Altera o regula-


lento de 17 de Agosto de 18íü, relativo aos terrenos diamantinos.
Pi. B. A lei n.° 665 de 6 de Setembro de 1832, mandou executar, com
al(,'iiin.i> alterações, a resolução u ° 37í «le 2í de Setembro de 1843,
^olin <• !i<h<^ diamantinos iw provincia de Minas Geraes.
- 201 —
c a final pedio ao governo imperial a graça de pagar em
prestações a somma em que havia sido condemnado. E,
como esta lhe fosse denegada pelo ministro presidente do
thesouro, recorre ao conselho de estado. O que sendo
examinado pela secção de fazenda, tom ella a honra de
dar seu parecer.
Examinando a secção a matéria, entende que não é
das contenciosas de que falia o art. 46 do regimen-
to de 5 de Fevereiro de 1842, que é o em que se
funda o supplicante para interpor o recurso ; e, como ma-
téria administrativa, a concessão de taes prazos, nos
casos em que é autorisada, é deixada ao prudente juizo
do governo. Na conformidade, portanto, do art. 34 do
mesmo regimento, a secção nãojulgaaltendivela petição,
e por isso não toma conhecimento do recurso interposto.
A secção julga de seu dever notar a impropriedade de
algumas expressões' de que se serve o advogado do sup-
plicante: « Mas o nobre ministro recorrido, suppondo
talvez que o galardão de um ministro consiste em reduzir
a grandes difficuldades os subditos de Vossa Magestade Im-
perial, que mais garantias offerecem ao Estado e t c » Estas
palavras, que em si irrogão uma injuria, attribuindo uma
intenção malfazeja, são dirigidas expressamente ao mi-
nistro que deu o despacho. O acatamento, que se deve ás
autoridades, e sem o qual não ha ordem na sociedade,
reprova semelhante linguagem. A secção não se'quer
persuadir que houvesse no advogado intenção formal de
dirigir uma offensa ao ministro, rnas não pôde deix,ar de en-
xergar nessa phrase urna daquellas licenças, hoje tão vul-
gares, que muito convcrn reprimir. Parece-lhe, pois, que,
sem se dar por ora unia demonstração mais positiva de re-
provação de semelhante procedimento, será bem cabido
extranhar-se-lhe a liberdade que tomou.
Vossa Magestade Imperial resolverá como mais prudente
julgar.
Rio de Janeiro, em 19 de Maio de 1847.— Visconde de
Olinda.—Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 1847.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alces Branco.
— 2(32 —

N. 1)7.—RESOLUÇÃO DE 22 DE DEZEMBRO DE 1847.

Sobre o tempo de duração da responsabilidade dos thesoureiros


pela remessa de notas inutilisadas.

Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem


mandar consultar á secção de fazenda do conselho de
estado sobre a matéria do officio n." 14 de 11 de Fevereiro
deste anno, da thesouraria da província de S. Paulo,
incluindo uma representação do thesoureiro da mesma
thesouraria, na qual pede que se resolva:
1.° Se, tendo o inspector da thesouraria nomeado um
empregado da casa para conduzir certa somma de notas
substituídas, e ordenado ao thesoureiro que a entregasse
ao mesmo empregado; se, tendo este contado e achado
exacta a dita somma, e passado recibo da entrega, á vista
do qual se fez a competente descarga ao thesoureiro no
livro caixa da substituição; se, tendo pois saindo esta
somma da thesouraria pelo mesmo modo por que sahem
outras, ficando o thesoureiro desde o momento da entrega
dellas exonerado da responsabilidade: deve por excepção
neste caso continuar o mesmo thesoureiro a ficar res-
ponsável pelas faltas que em qualquer tempo e lugar
apparecerem, ou somente pelas notas falsas e falsificadas
que se encontrarem.
2.° Se, no caso afftrmativo, apresentadas as dilas notas
no thesouro, ou na caixa de amortização, e não podendo
ser contadas no acto do recebimento, ficando alli, como
em deposito, e dando-se recibo ao conduetor, deve a
thesoureiro responder pelas faltas, que se encontrarem,
seis mezes e ainda mais tempo depois.
Deu causa a esta representação o facto de ser o re-
ferido thesoureiro chamado a responder pelo valor de
dezoito mil réis de notas substituídas, que, por exame na
caixa de amortização, se verificou faltarem uma remessa
de taes notas, feita seis mezes antes.
Ouvido sobre a mesma representação o inspector da
caixa de amortização, foi de voto que para remediar, ou
antes dar provas de que se trata de remediar o mal em
questão, conviria : 1.° que houvesse precaução sobre
todos os collaboradores das remessas, e seus conduetores •
2.° que nenhuma remessa se fizesse para a caixa de amor-
tização nos laboriosos mezes de Janeiro e Julho; 3.° que
os actos do recebimento e resposta fossem rápidos e
promptos.
Ouvidos igualmente snbre a matéria o desembargador
— 2(J:Í —

fiscal, e membros do tribunal do thesouro, foi o inspector


geral delle de opinião que seria proveitosa, senão para
acautelar extravios, ao menos para fixar a quem devessem
estes ser imputados, a* adopçào das seguintes providen-
cias : 1 .* que as notas remettidas sejão emmassadas, cada
masso com um rotulo, que declare o numero, valor e
somma total das notas nelle contidas; 2.a que os massos
sejão acondicionados em presença do inspector, contador
e fiscal da thesouraria em um volume, e este fechado
e lacrado com o sello da mesma thesouraria, e mettido
em outro volume que será pregado na mesma occasião
e entregue ao conductor; 3.a que dentro do primeiro
volume venha uma relação dos massos (que serão nu-
merados) e do numero, valor e somma das notas nelles
contidas, assignada pelo thesoureiro, escrivão e ditos
funccionarios ; remeltendo-se em officio aq thesouro pu-
blico, pelo correio, uma duplicata da mesma relação;
4.» que, chegadas as notas ao thesouro, sejão immediata-
menle remettidas á caixa pelo mesmo conductor, para
que os volumes sejão alli abertos em presença do ins-
pector geral da mesma caixa, e do thesoureiro e primeiro
escripturario da substituição, e conferidos os massos
pela relação, lavrando-se termo do que>se achar, e en-
viando-se cópia authentica delle ao thesouro, para ser
transmittida á thesouraria respectiva; 5.a se os volumes,
ou pelo menos o interior estiver em perfeito estado será
responsável pelas faltas o thesoureiro remettente; mas,
se tiver signaes de haver sido aberto, será responsável
o conductor, procedendo-se neste caso á conferência
individual das notas em presença dos ditos funccio-
narios.
No conceito da secção, para se poder resolver o que
requer o thesoureiro da thesouraria de S. Paulo, e pro-
videnciar como mais conveniente fôr, a respeito do ne-
gocio de que se trata, cumpre que se examine : 1/ até
quando deve durar a responsabilidade do thesoureiro que
remette notas substituídas para a caixa de amortização;
e 2.° qual o meio de evitar que seja o mesmo thesoureiro
responsabilisado injustamente.
Quanto ao 1.°, partindo do principio, que tem por averi-
guado, de que no caso, em que está, a responsabilidade
deve pesar sobre aquelles a quem pôde ser proveitoso o
extravio das notas substituídas, entende a secção quemais
responsáveis devem ser os thesoureiros, que as recebem
em estado de poderem ainda circular, do que os con-
ductores, ou outros que as recebem já carimbadas e inu-
tilisadas, ou fora do estado de poderem circular. E, pois
que uma tal responsabilidade seria illusoria, se pudesse
— 204 —

cessar por qualquer outro acto (salvo o de sinistro por


força maior, ou o de commissão ou omissão culposa de
terceiro), que não fosse o da verificação na repartição
competente; a secção entende, oulrosirh, que absurdo
fora exonerar delia os thesoureiros, só porque fizerão
entrega das notas substituídas a conductores, e destes
houverão recibos, e se lhe fizera descarga nos livros da
substituição, ou só porque a remessa deixara de ser
contada no acto do recebimento, e ficara como em de-
posito, e demorado fora por mezes o seu exame na caixa
de amortização; porquanto nenhum desses actos, nem o
complexo delles pôde ser considerado como quitação
prévia de uma entrega, que aliás não se pôde nem se deve
reputar perfeita e consuipmada, senão depois de verifi-
cada na caixa de amortização. Assim que nenhuma du-
vida tem a secção de que a responsabilidade dos the-
soureiros, que remettem notas substituídas á dita caixa,
não deva durar (menos nos casos acima indicados) desde
o momento da substituiçãoaté o da verificação na mesma
caixa.
Quanto ao 2.°, reconhecendo que uma responsabilidade
tão grave como exlensa devo ser revestida ao mesmo
tempo de todas rts garantias, para que os thesoureiros não
sejão victimas da má vontade, deleixo ou mesmo dólo
de terceiro, pensa a secção que o meio de prevenir que
sejão elles injustamente responsabilisados é o de pres-
crever regras, que marquem, quanto possível fôr, os casos
em que a falia deva ser imputada aos thesoureiros ou
aos conductores, ou ao acaso, ou mesmo aos verifi-
cadores.
Isto posto, a secção é de parecer: que, para tornar-se
mais seguro e expedito o processo da substituição das
notas, e declarar-se, como convém, a extensão da respon-
sabilidade dos thesoureiros, e fixar-se o caso, em que
outros devão responder pelas faltas, será sufficiente a
adopção de uma medida, contendo os arbítrios lembrados
pelo inspector da caixa de amortização, e as providencias
indicadas pelo inspector geral do thesouro, menos na
parle em que exigem a presença e intervenção directa
de todos os principaes funccionarios das thesourarias,
e da secção de substituição da dita caixa, pois que isso
difficultaria e retardaria sem mór necessidade o expe-
diente das ditas repartições; e bem assim acautelando
os casos de sinistro real, e de negligencia culposa da
parle daquelles que devem receber e verificar as re-
messas das notas substituídas.
Riõ de Janeiro, em 25 de Maio de 1847.—Visconde de
Abrantes.—Visconde de Olinda.
RF.SOUTÇÃO.

Como parece. (*)


Rio, 22 de Dezemhro de 1817.
Com a rubrica do. Sua Mageslade o Imperador.
i

Manoel Alves llranco.

N. 138.—RESOLUÇÃO DE 23 DE DEZEMBRO DE 1817.


Sobre a pretenção de n . Doniiiips Maria, ao meio soldo de seu
filho, oflieial do exercito, reformado em virluile da lei de 20 de.
Setembro de 1838.
Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial que a
secção de fazenda, reunida á da guerra do concelho de

(') CIRCULAR.— Manoel Alves Branco, presidente do tribunal do the-


souro publico nacional, conforme a imperial resolução de 22 de l>e-
zembro próximo lindo, tomada sobre consulta da secção de fazenda
«Io conselho de estado, acerca da duração da responsabilidade dos
thesoureiros das thesourarias, que renietlein notas substituídas para
a caixa de amortização, e de evitar que sejão injustamente responsa-
bi Usados; ordena «pie, na remessa das ditas notas, e seil recebimento
nas estações respectivas, d'ora em diante se observe o seguinte :
1.° as notas, que houverem de ser remettidas pelas thesourarias ao
thesouro (que nunca terá lugar nas imniediações dos mezes de Janeiro
c .lullio) serão emmassadas, lendo um rotulo cada masso com o nu-
mero de notas nelle comidas, com o valor e somma lotai delia?.;
2." o volume, que as deve conduzir, será fechado e lacrado com o
sello das armas imperiaes, e ineltido em outro volume que também
será fechado e pregado; 3.° dentro do primeiro volume virá uma
relação dos números dos inassos e das notas, e sua importância as-
signàda pelo thesoureiro e escrivão, devendo outra semelhante relação
ser remeuida com oflicio ao thesouro publico, pelo correio ; '« ü logo
que chegarem as notas ao thesouro, serão remettidas á caixa de.
amortização pelo mesmo conductor sem se abrirem os volumes, e
serão alli immedialamente, e de preferencia a outro qualquer tra-
balho, abertos c conferidos os massos pela relação, lavrando-se termo
do que se achar, do qual se remetterá uma cópia authentica ao the-
souro, para ser transmillida á thesouraria remctiente : S.« se os vo-
lumes, ou ao menos o interior, estiver em estado perfeito, será res-
ponsável pelas faltas o thesoureiro remcltente, mas, se tiver signaes
de haver sido aberto, será responsável o conductor, procedendo-se
neste caso á conferência individual das notas.
Thesouro publico nacional, em 17 de Janeiro de 1SÍ.S.
Manoel Alves Branco.
c. 34 -
— 26fl —
estado consultassem sobre os officios do presidente «le
Pernambuco, e mais papeis annexos ao requerimento da
viuva Domingas Maria, exigindo que, em virtude da lei de
G de Novembro de 1827, lhe seja concedido o meio soldo
de seu filbo, o alferes quartel-mestre reformado Luiz da
Costa Bezerra Rimbert, fallecido no estado de solteiro.
Processado o dito requerimento no tribunal do tlie-
souro, foi o conselheiro procurador fiscal de opinião fa-
vorável á exigência da referida viuva, entendendo que o
caso delia estava comprehendido no § 2.° do art. 1." da
resolução legislativa de 6 de Junho de 1831, que ne-
nhuma outra condição exige além do facto de reforma,
independentemente dos annos de serviço. Foi porém con-
trario á mesma exigência o conselheiro inspector geral
interino, fundado em que o fallecido alferes (embora
reformado por effeito da lei de 20 de Setembro de 1838,
que mandou organisar o quadro do exercito) tendo apenas
servido 8 annos, 8 mezes e 25 dias, não podia ser refor-
mado segundo a lei de 16 de Dezembro de 1790, e por
conseqüência não contava os annos de serviço exigidos
pela lei de 6 de Novembro de 1827, para que b seu meio
soldo pudesse ser abonado á sua mãi viuva.
A secção de fazenda, tendo verificado, á vista dos docu-
mentos apresentados, que o alferes quarlel-mestre Rim-
bert (que assentara praça em 31 de Dezembro de 1835,
fora reformado em 27 de Maio de 1842, e fallecêra em 18
de Setembro de 1845) somente servira 6 annos, 4 mezes
e 27 dias; e que, quando mesmo tivesse ficado no quadro
do exercilo, não teria contado, ao tempo de sua morte,
mais que 9 annos, 8 mezes e 18 dias de serviço ;
Entendendo que a lei de (ide Novembro de 1827 (quando
permille que se abone á viuva, filho menor, filha solteira,
e mãe viuva do oílieial de exercito, que fallccer, a metade
do soldo que caberia ao mesmo official, se fosse refor-
mado segundo a lei de 6 de Dezembro de 1790) exige
como condição necessária, para a concessão do meio
soldo, que o official fallecido lenha pelo menos 20 annos
de serviço;
Entendendo, outrosim , que a resolução legislativa
de 6 de Junho de 1831 («juando faz extensiva aos ofíiciaes
da 2. a linha, que tiverem passado da 1 -a, e aosoíliciaes
reformados a precedente disposição, que somente apro-
veitava alé enlão aos officiaes di/exercito em aclividade
de serviço) não altera de modo algum a condição neces-
sária dos annos de serviço, exigidos pela mesma lei de
6 de Novembro de 1827 ;
Entendendo mais que a cilada lei que organisou o
quadro do exercilo (quando mandou reformar com soldo
— 267 —

por inteiro, embora contasse menos de 20 annos de


serviço aos officiaes que não fossem idôneos para o ser-
viço) teve em vista compensar logo alguma futura van-
tagem de que taes officiaes, apezar de incapazes, pudes-
sem ficar privados ; pois, se assim nãô fosse, seguir-se-hia
o intolerável absurdo de dar-se ao incapaz, em ócio, uma
vantagem que se nega ao idôneo, em serviço, quando
falleça antes de servir 20 annos ; absurdo que" se verifica
no caso em questão, visto que o alferes Bimbert, se ti-
vesse continuado a servir no exercilo e fallecesse, corno
falleceu, com menos de 10 annos de serviço, não teria
de certo deixado o meio soldo á sua mài viuva, segundo
a dita lei de 6 de Novembro ;
Entendendo, finalmente, que a opinião do conselheiro
fiscal é insustentável: — 1.° porque a resolução ou decreto
invocado por elle (que aliás só attendeu ao passado, ou
aos officiaes que forão reformados na fôrma das leis en-
lão existentes) não podia referir-se nem ser hoje appli-
cavel á reformas extraordinárias, como a de que se trata,
concedidas por effeito de uma lei excepcional, publicada
sete annos depois da mesma resolução ou decreto:—2."
porque não é licito, por consideração alguma de equi-
dade (que aliás, em casos semelhantes ao que se dis-
cute, náo pôde ser allegada sem offensa da moral e da
justiça distributiva, segundo a qual não deve ser mais
favorecido o official julgado incapaz do que o reputado
idôneo) nem mesmo por simples conveniência política o
estender, além dos justos limites, o privilegio que se
contém na citada resolução, e na lei a que se ella refere,
e tornar com isso ainda mais pesado o encargo que
tomou o Estado de alimentar as viuvas, filhos e mais
dosofficiaes militares que fallecerem: —3.° porque, ainda
quando se tenha entendido diversamente o § 2.° do art. 1.°
da mesma resolução , e haja até exemplo disso (o que
aliás não se pôde affirmar, por ignorar-se se ha iden-
tidade entre os casos desses exemplos, e o caso de que
se trata) não é, certamente, permittido invocar e fazer valer
tal intelligencia ou taes exemplos, quando se verifique
que são contrários á letra e espirito das leis em vigor:
E' a mesma secção de fazenda de parecer, qüe não pode
serdeferida a pretenção do meio soldo, sobre que versa a
consulta.
A secção de guerra porém, ou o conselheiro de es-
tado José Joaquim de Lima e Silva (de accordo com
pile o conselheiro de estado Francisco Cordeiro da Silva
Torres) entende ; que á vista da litteral disposição do
art. 1.° | 2.° do decreto e resolução de 6 de Junho de 1831 ,
que manda abonar ás viuvas, orphãos menores de 18 annos,
— 208 —
filhas solteiras ea mais dos officiaes reformados ade I.»
linha, e dos da ü. linha, que tiverem passado da I , c-ven-
cerem o soldo , a metade daquelle que vencião seus ma-
ridos, pais e filhos ao tempo em que forão reformados;
tem a supplicante direito a perceber a quantia de 11$000
mensacs, metade do soldo de 22§00O, que vencia son
finado filho Luiz da Cosia Bezerra Bimbert na quali-
dade de alferes quartel-mestre reformado do exercito. Se
os officiaes militares reformados em virtude da lei n." il
de 20 de Setembro de 1838, como foi o filho da supplicante,
forão postos lora da regra geral estabelecida para as re-
formas pelo alvará de 16 de Dezembro de 1790, delermi-
nando-se, que percebessem o seu soldo por inteiro, sem
distineção de tempo de serviço ; parece de razão quo suas
viuvas, mais ou filhos devem lambem ser considerados tora
da regra designada na lei de 0 de Novembro de 1827: por-
quanto, indemnisando a citada lei de 1838, pela maneira
referida, aos officiaes que forão reformados contra a sua
vontade, por occasião da organisação do quadro do exer-
cito, dos prejuízos quo passavão a sòlírer, cortando-se-lhes
a sua carreira de accesso», o ficando privados das vanta-
gens, queatéalli gozavão,e de outras maiores quedeverião
perceber para o futuro, segundo os poslos a que serião ele-
vados se não fossem reformados ; não podem deixar de ser
semelhantemente altendidas as famílias de taes olliciaes,
que por aquelle fado ficavão igualmente prejudicadas.
Esla opinião, que está de accordo, não só com a do
actual conselheiro fiscal do thesouro , mas com a de seus
predecessoros os conselheiros José Antônio da Silva Maya
e Gustavo Adolpho de Aguilar Pantoja, e com a do con-
celho supremo militar ; tem merecido a approvação do
governo cm casos idênticos quo tem oceorrido, como se
\r dos exemplos seguintes.
I.° Por imperial resolução de 19 de Maio de 183,'j , to-
mada sobre eonsulla do dilo tribunal de 15 do mesmo
mez c anno, foi concedida, em virtude do art. I.° § 'i.a do
decreto o resolução de Ode Junho de 1S.JI , a D. Maria
fausta de Miranda, a metade do.soldo que vencia seu fal-
lecido pai Francisco Manoel dos Santos, ao tempo em «pie
foi reformado no poslo, quo exercia, de 1.° ajudante da
evtincta segunda linha.
•2." Por imperial resolução de 4 de Dezembro de 1839,
tomada sobre consulta do referido tribunal de i:> de No-
vembro do mesmo anno, se concedeu, segundo a citada
lei, a D. Leopoldina Isabel do Verna Magalhães de Figuei-
redo, a metade do .soldo que percebia seu finado marido o
major de 1." linha do exercito João Manoel de Figuei-
r.jdo, ao tempo em que foi reformado.
— áG9 —
A' vista pois das razões produzidas , e dos exemplos
acima indicados, é o conselheiro Lima c Silva (assim
como o conselheiro Torres) de. parecer que deve a sup-
plicante ser deferida como requer.
Vossa Majestade Imperial, porém, resolverá em sua
alta sabedoria e justiça o que tiver por melhor.
Rio, 30 de Outubro de 1847.— Visconde de Abrantes.—
Visconde de Olinda.— Francisco Coedeiro da Silva Tor-
res.— José Joaquim de Lima e Silva.

RESOLUÇÃO.

Como parece á secção de fazenda. (*)

Uio, í3 de Dezembro de 1817.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Manoel Alves Branco.

*) Decreto n.° 318 de 10 de Janeiro de 18iS. — Declara que di-


reito tem ao meio soldo ás vimas , lilhos menores de 18 annos, filhas
solteiras e mais dos otiiei.ies militares lelbrmaduj, em virtude da lei
de -0 de Setembro de 1833.
RELAÇÃO
DOS

MINISTROS DE ESTADO PRESIDENTES


F. DOS

CONSELHEIROS MEMBROS
DA

SECÇÃO DE FAZENDA DO CONSELHO DE ESTADO.

1848.

MINISTRO r»E ESTADO.

Manoel Alves Branco (depois visconde de Caravellas)


até 8 de Março.
Antônio Paulino Limpo de Abreu (depois visconde de
Abaeté), nomeado interinamente por decreto de 9 de
Março. Servio até 13 de Maio.
José Pedro Dias de Carvalho, nomeado por decreto
de 14 de Maio. Servio até 30 do mesmo mez.
Francisco de Paula Souza e Mello, nomeado por de-
creto de 31 de Maio. Servio até 17 de Agosto. Exone-
rado por decreto de 29 de Setembro.
Dernardo de Souza Franco, ministro e secrelario de
estado dos negócios estrangeiros, nomeado interinamente,
no impedimento do conselheiro Francisco de Paula Souza
0
Mello, por decreto de 18 de Agosto. Servio até ?9 de
Setembro.
Visconde de Olinda (depois marquez) ministro e se-
cretario de estalo dos negmúos estrangeiros, nomeado
interinamente, por decreto de 2.) de Selcm!u\>. Servio
até G de Outubro.
José Joaquim Rodrigues Torres (depois visconde de
Ilahorahy) nomeado por decreto do 6 de Outubro.

COXSRLTIRinOS IíE ESTVDO.

Manoel Alves llranco.


Visconde de Abrantes.
Francisco de Paula Souza o Mello.
Visconde de Olinda, designado para servir nos impe-
dimentos de Manoel Alves Branco, por avisos de 4 de
Janeiro e 28 de Junho.
Bernardo Pereira de Vasconcellos, designado para servir
no impedimento de Francisco de Paula Souza e Mello, por
aviso de 2S de Junho de 18IS.

SECRET.VniO.

João Maria .Tacobina (interino), odicial-maior da secre


taria de estado dos negócios da fazenda.
CONSULTAS

CONSELHO DE ESTADO NA SECÇÃO DE FAZENDA.

lSh8.

N. 139—RESOLUÇÃO DE 8 DE JANEIRO DE 1848.


Sobre a pretenção de D. Maria de Cássia Pinto de Souza Carvalho
ao meio soldo de seu pni, que lhe foi negado, por se achar casada
ao tempo do fallecimento de sua mãi.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado


examinou o requerimento de D. Maria de Cássia Pinto
de Souza Carvalho e mais papeis a elle annexos relativos
á sua pretenção á terça parte do meio soldo do seu fal-
lecido pai o capitão Florencio Pinto Guedes de Souza-
Carvalho; e tem a honra de expor a Vossa Magestade
Imperial que em sua opinião não tem ella direito ao que
pretende , pois que já se achava,ella casada ha muito,
quando morreu sua mãi D. Rita de Cássia Çalvão de
S. Martinho, e se devolvia portanto o direito de suc-
cessão, como já o entendeu o tribunal do thesouro,
e já o tinha entendido o procurador fiscal da thesouT.,
raria de Minas com cujas razões concorda á secção.
E' pois o seu parecer, que seja indeferida a preterição
da supplicante.
c. 35
— 274 —

Vossa Magestade Imperial decidirá como melhor en-


tender em sua alta sabedoria.
Rio de Janeiro, 19 de Dezembro de 1847.—Frajicisco
de Paula Souza e Mello.—Visconde de Abrantes.
IÍESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (*)


Paço, em 8 de Janeiro de 4848.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

N. 140.—RESOLUÇÃO DE 7 DE FEVEREIRO DE 1848.


Sobre a pretenção de Antônio José Machado á isenção da décima
da herança que coube a sua mulher filha natural, por morte de sua
mãi.

Senhor.—Antônio José Machado, casado com Joanna


Maria de Jesus, filha natural de Joaquina de Jesus,
querendo, por morte desta, haver a herança que lhe com-
pete por parte de sua mulher, foi constrangido a entrar
com a competente décima para o thesouro por despa-
cho do juiz dos orphãos da corte, que o não considerou
coraprehendido na disposição da resolução de 2 de
Julho de 1819, a qual só isenta ao filho de peão, e ao filho
legitimado.
Reclama o supplicante contra esta decisão ; allegando
não dever ser entendida aquella resolução, se não das
heranças paternas, porque só a respeito destas é que se
faz necessária sentença de declaração de paternidade,
ou diploma publico que a reconheça. O que sendo exa-
minado pela secção do conselho de estado dos negócios
da fazenda, tem ella a honra de dar seu parecer.
A resolução de 2 de Julho de 1819, para o eíTeito de
que se trata, nem uma differença faz entre heranças

O Ordem n. e 9de 12 de Janeiro de 1848 Da mllçcção das leis.


— 273 —

paternas ou maternas. Por ella são isentos da décima


todos os filhos illegitimos, uma vez que tenhão o direito
de succeder em virtude da lei, o que se verifica no caso
de que sejão filhos de peões, ou estejão legitimados.
Como porém a ordem do thesouro de 19 de Dezembro
«le 1839 estabeleceu duas hypotheses para ter lugar a
isenção, ou estarem os filhos legitimados, ou compe-
tentemente habilitados, não bastando a simples decla-
ração do testamento ; esla segunda hypothese tem dado
lugar a julgar-se sempre necessária a habilitação, quando
falta a legitimação, ou se trate de heranças paternas ou
maternas. Esta intelligencia porém nem é fundada na
sobredita resolução , que nem uma differença estatuiu^
nem nos princípios da justiça, que condemna essa desi-
gualdade, e nem nas necessidades de uma boa fisca-
lização das rendas publicas, pois que a verdade, neste
caso , estriba-se em prova certa e irrecusável, qual
é a certidão do baptismo que mostra a maternidade.
Por esta razão entende a secção, conformando-se com
o parecer do procurador fiscal, que deve ser.explicada
a ordem do thesouro de 19 de Dezembro de 1839, que
tem dado occasião a essas exigências, menos fundadas
em direito; decla.rando-se que nas heranças maternas
dos filhos illegitimos, nos casos em que podem herdar
por suecessão legitima, a certidão de baptismo deve
produzir o effeito da habilitação exigida pela ordem do
thesouro de 19 de Dezembro de 1839, para isenção da
décima, na conformidade da resolução de 2 de Julho
de 1819.
Vossa Magestade Imperial resolverá como melhor
entender em seu alto juizo.
Rio de Janeiro, 27 de Julho de 1847.—Visconde d&
Olinda.—Visconde de Abrantes.

RESOLUÇÃO.

Na fôrma do parecer. (*)


Paço, 7 de Fevereiro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

í*) Circular a.» 29 de 23 de Fevereiro de 1849 ua collecção de leis»


— 276 — •
N. 141.—RESOLUÇÃO DE 29 DE FEVEREIRO DE 4848. c

Sobre a pretenção de Joaquim Bueno Pilaluga á indemnização que se


lhe exige de uma letra sacada pela thesouraria de Goyaz, de cuja
importância não foi debitada a mesma repartição.

Senhor.—Dignou-se Vossa Magestade Imperial ordenar


por aviso de 20 do corrente mez, que a secção de fa-
zenda do conselho de estado consultasse sobre os re-
querimentos de Joaquim Bueno Pitaluga, negociante da
província de Goyaz, pendentes de decisão do tribunal
Uo thesouro publico.
Consta dos requerimentos, e mais papeis annexos, que
o supplicante negociara com a thesouraria daquella pro-
víncia, em 7 de Fevereiro de 1844, uma letra do valor
de um conto e quinhentos mil reis, a seu favor, sobre
o thesouro publico: que esta letra, e officios de aviso,
e a portaria do respectivo inspector, ordenando que se
fizesse cacga daquelle valor ao' thesoureiro, forão en-
tregues ao fiel deste o padre Manoel José do Couto
Guimarães: que a mesma letra passara das mãos do
dito íiel para as do supplicante, sem que se fizesse a
ordenada carga e a escripturação competente : e que
por essa falta, aliás commettida pelos empregados da
thesouraria a quem competia fiscalisar a transacção, exi-
ge-se agora que o supplicante entre para os cofres da-
quella thesouraria com a importância da dita letra, como
se recebida não fora pelo fiel na occasião em que lhe
entregara a mesma letra.
Pondo de parte (quando não se julgue plenamente
satisfactoria) a prova dada pelo supplicante, na justificação
junta, de haver entrado com o valor da letra quando a re-
cebera do fiel do thesoureiro ; e limilando-se a ponderar:
1." Que o facto da entrega da letra e officio de aviso
(os quaes, como está provado, achavão-se em mão do
fiel) ao sócio do supplicante, para cobrar do thesouro
o respectivo valor, presuppõe a entrada de igual valor,
menos o prêmio, para os cofres da thesouraria.
2.° Que toda a omissão ou dolo havido nessa trans-
acção deve ser imputado ao fiel do thesoureiro, e aos
demais, empregados a cujo cargo estava fiscalisal-a, e
escriptural-a.
3.° Que a portaria do thesouro de 11 de Março de
1846, nem a legislação da fazenda, tem a força que lhes
attribue o presidente de Goyaz, na informação cons-
tante do seu officio junto; pois que além de inexacto,
seria tão injusto como absurdo concluir-se da citada
. — 277 —
portaria, ou de lei alguma de fazenda que a falta de es-
cripturação regular, pela qual consta a entrada do valor
das letras sacadas sobre o thesouro, importa a imme-
diata obrigação do sacador de indemnizar a fazenda,
ainda quando o mesmo sacador prove aquella entrada.
4.° Que, a prevalecer, todavia, semelhante absurdo,
muito soffreria o credito publico, e se difficultaria o mo-
vimento de fundos para dentro, ou fora do Império; pois
que todo o homem prudente e honesto repugnaria fazer
com o thesouro e thesourarias transacção ou contracto
algum, receiosos de que por falta de escripturação, que
aliás não lhe é permittido regular, ou por deleixo, igno-
rância, ou dolo de qualquer empregado, cujo com-
portamento, aliás não lhe é dado fiscalisar, venha de-
pois a annullar-se em seu prejuízo a mesma transacção,
ou contracto: é a maioria da secção de parecer, con-
formando-se com a opinião do inspector geral do the-
souro, que seja deferido o supplicante.
O conselheiro de estado Paula Souza diz que: —
E' fora de duvida que sahiu do thesouro esse dinheiro,
e que ainda nelle não entrou.
Deferindo-se na fôrma requerida, fica o thesouro com
esse desfalque ou perda: e isso será justo? Se estivesse
evidente, que foi entregue o dinheiro ao fiel, eu defe-
riria ao supplicante; mas mandando havel-o do fiel a
quem de mais a mais demittiria, e faria ser punido;
não estando porém, parece-me que, o que resta é tra-
tar-se da cobrança, competindo ao supplicante, pelos
meios judiciaes, mostrar ter já pago, chamando á autoria
o fiel, e fazendo que seja elle quem pague, devendo então
o governo fazel-o punir.
Vossa Magestade Imperial resolverá, porém, como mais
justo ou conveniente fôr.
Rio, em 22 de Dezembro de 1847.—Visconde de Abrantes.
— Visconde de Olinda. — Francisco de Paula Souza e
Mello.
RESOLUÇÃO.
Na fôrma do parecer do conselheiro Paula Souza. (*)
Paço, 29 de Fevereiro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Alves Branco.

O Nos termos da resolução omciou-se em S de Julho de 1848 á


presidência de Goyaz, para que fizesse cffectiva a cobrança da somma
retirada dos cofres públicos e também o prêmio de 10 0/0; como já
lhe havia sido anteriormente reconimendado.
N. 142.—CONSULTA DE 23 DE MARÇO DE 1848.

Sobre a conveniência da conversão da alfândega de S. José do>


Norte em simples mesa de rendas ou collecloria.

Senhor.—Manda Vossa Magestade Imperial que a secção


de fazenda do conselho de estado, avista de um officio
do iuspeclor da alfândega da cidade do Rio Grande
da província de S. Pedro, e dos pareceres sobre elle
dados pelos membros do tribunal do thesouro, con-
sulte sobre a conveniência de acabar-se com os des-
pachos da alfândega e consulado de S. José do Norte,
ficando somente naquèlla villa uma mesa de rendas
ou collectoria.
Não encontrando no referido officio, nem nos pa-
receres do thesouro esclarecimentos satisfactorios e
razões suffiçientes em abono da mesma conveniência;
e não havendo informação alguma do presidente, nem
da thesouraria da província acerca de ura negocio
aliás de gravidade para a fazenda publica e para o
commercio interno da mesma província, mal pôde a
secção cumprir o mandato de Vossa Magestade Impe-
rial com inteiro conhecimento de causa.
Com effeito propõe o inspector, em seü officio, a
extineção ou conversão da alfândega filial da villa de
S. José do Norle em simples mesa de rendas, ou
cpllecloria , como o havia indicado no seu relatório;.
ou, quando não, a execução das instrucções por elle
oflerecidas á thesouraria, regulando a entrada, visita,
descarga, etc. das embarcações que surgirem no porto
da dita villa.
Pelo que toca á conversão ou extineção, achou a
secção, nos esclarecimentos dados pelo próprio ins-
pector, razões bastantes para duvidar da sua conve-
niência. Assevera elle, no trecho do seu relatório,
que a alfândega daquella villa está situada á margem
ao grande canal, onde começa a navegação interior
da província, e onde I13 ancoradouro para navios de
maior porte; e que na mesma alfândega são despa-
chadas quasi todas as mercadorias estrangeiras, que
passão depois, em hiates ou botes, para o grande
mercado da cidade. Sendo isto assim , a conclusão
mais conforme ao interesse fiscal, e ao do commercio
seria, que permanecesse, considerada como principal,
a alfândega da villa, e fosse a da cidade convertida
em collectoria ou mesa de rendas. Nem o inspector
provou, como lhe cumpria, a conveniência da conversão»
- 279 -
AHega, que não ha commercio na villa, embora o
tivesse havido ha poucos annos : suspeita que alguma
fraude ha no expediente da alfândega filial: dá a en-
tender que ao proveito, que dessa fraude lirão os ne-
gociantes , deve-se atlribuir a preferencia que dão á
mesma alfândega para o despacho das suas merca-
dorias. E porém é certo, que para a descarga e des-
pacho fiscal de mercadorias importadas é mais neces-
sário um porto accessivel e seguro ancoradouro do
que uma cidade ou grande mercado ; e que tanto não
é meio de reprimir Iraudes, e corrigir abusos, o ex-
tinguir-se uma repartição, cujo pessoal pôde ser mu-
dado, cujo regulamento pôde ser emendado, como não
é difíicil achar a razão daquella preferencia na bondade
do porto da villa, e no calculo de anles arriscar algumas
mercadorias, ao transportal-as, em botes ou hiates,
para a cidade, que pôr em risco no mão porto desta,
navios e carregamentos inteiros.
Demais, a proposta conversão, debaixo do ponto de vista
fiscal, é conlradictoria, ou mais própria para aggravar o
mal que se deseja remediar. Incumbe-se á mesa de
rendas ou collectoria, que deve ficar na Villa do Norle,
a parte mais difficil e importante da fiscalisação de uma
alíandega, qual seja a visita e entrada das embarcações,
a descarga, conducção e desembarque das mercadorias
estrangeiras que entrarem, o despacho das que sahirem
com cartas de guia, a inspecção do ancoradouro, etc;
sem se reflectir, que se ha perigo em confiar-se tudo
isto á alfândega filial do Norte, maior haverá em con-
fial-o a uma simples collectoria ou mesa de rendas;
salvo se o inspector entende, que toda a fiscalisação a
seu cargo limita-se a da sala da abertura, e da porta
da sahida, como infelizmente parece que muitos o tem
entendido.
Pelo que pertence ás instrucções offerecidas, cujo íim
principal é chamar para a alfândega da cidade o despa-
cho ou abertura e qualificação das mercadorias destina-
das ao mercado delia, não tem a secção contra ellas outra
objecção se não a de serem ociosas, se a sua execução fôr
confiada a empregados deleixados ou aos mesmos que,
segundo o inspector, são suspeitos de concussão.
Assim que, julgando-se pouco habilitada para interpor
juizo seguro sobre a conveniência da conversão pro-
posta, e entendendo que as instrucções organizadas pelo
inspector da alfândega da cidade do Rio Grande, quando
não embarassem, não hão de certamente augmentar o
extravio dos direitos que ora existe, e que na opinião
de muitos não pode ser maior; é a secção de parecer:^
— 280 —
Que o governo imperial se sirva ordenar ao presi-
dente da província de S. Pedro que institua um exame
mais acurado acerca da fiscalisação das três alfândegas,
estabelecidas na foz, e no extremo da Lagoa dos Patos,
e informe com seu parecer sobre a utilidade da con-
versão de que se trata, ou de qualquer outra medida,
que possa corrigir o que ha (e deve haver) de defei-
tuoso na mesma fiscalisação; autorisando outrosim ao
dito presidente para mandar no entanto executar as
instrucções propostas pelo inspector da alfândega do
Rio Grande e providenciar como entender, para que
dessa execução possa vir algum proveito á arrecadação
das rendas publicas.
Vossa Magestade Imperial, porém, dignando-se des-
culpar á secção o que ha de menos nesta consulta, re-
solvel-a-ha, como julgar mais conveniente.
Rio de Janeiro, em 23 de Março de 1848.— Visconde
de Abrantes.—Visconde de Olinda.—Francisco de Paula
Souza e Mello. (*)

N. 143.—CONSULTA DE 6 DE ABRIL DE 1848.


Sobre as leis provinciaes do Rio Grande do Sul, do anno de 1847.
Senhor.— A secção do conselho de estado dos ne-
gócios da fazenda, examinou as leis provinciaes do Rio
Grande do Sul, publicadas no anno passado; e tem a
honra de dar seu parecer.
Considerando-as pelo que pertence á repartição de
fazenda, nada encontrou a secção que offenda á cons-
tituição, e ás leis geraes do Império.
Este, Senhor, o parecer que a secção mui respeito-
samente submette ao alto juizo de Vossa Magestade
Imperial.
Rio de Janeiro, em 6 de Abril de 1848. — Visconde de
Olinda.—Visconde de Abrantes.—Francisco de Paula
Souza e Mello.

(*) A alfândega de S. José do Norte foi extincta c convertida em


mesa de rendas. Decreto n.° 2082 de 16 de Janeiro de 1858, art. 3."
— 281 —

N. 144.—RESOLUÇÃO DE 8 DE JULHO DE 1848.

Sobre a apprehensão do brigue Sociedade Feliz.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de es-


tado tem a honra de mui respeitosamente apresentar
a Vossa Magestade Imperial, seu parecer a respeito
do recurso interposto por Thomaz da Costa Ramos, da
decisão do ministro da fazenda, sobre a apprehensão
do brigue Sociedade Feliz. A secção, tendo examinado
com toda a altenção e cuidado os autos respectivos,
e feito notificar os advogados das partes para com-
parecerem á sessão, querendo, e não tendo elles com-
parecido, julga que muito justa e acertada foi a de-
cisão de que se interpôz o recurso, e que deve ella
subsistir e cumprir-se avista da evidencia de seus
fundamentos.
E' este o parecer da secção. Vossa Magestade Impe-
rial dignar-se-ha resolver como melhor parecer em
sua alta sabedoria.
Rio de Janeiro, em 26 de Fevereiro de 1848.—Fran-
cisco de Paula Souza e Mello.—Visconde de Olinda.
— Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO

Como parece (*).


Paço. em 8 de Julho de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Francisco de Paula Souza e Mello.

{*) Tendo ouvido a secção de meu conselho de estado a que estão


encarregados os negócios da fazenda sobre o recurso interposto
por Thoinaz da Costa liamos, da decisão do tribunal do lliesouro
publico nacional de 9 de Oezenibro de 1847 relativa a apprehensão
do brigue Sociedade Feliz; e conformando-me com o parecer da
mencionada secção : hei por bem resolver, que muito justa e acer-
tada foi a decisão de que se interpôz o recurso, e que deve ella sub-
sistir, e «muprir se á vista da evidencia de seus fundamentos.
Francisco de Paula Souza e Mello, conselheiro de estado, mi-
nistro e s«!crelario de estado dos negócios da fazenda, e presidente
do tribunal do lliesouro publico nacional, assim o tenha entendido,
e faça executar.
Palácio do Rio de Janeiro, em 11 de Julho de 1848, 27.° da inde-
pendência e do império.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.,
Francisco de Paula Sousa e Mello.
c. 30
N. 145.—RESOLUÇÃO DE 8 DE JULHO DE 1848.

Sobre o projecto de regulamento para as alfândegas do Império.

Senhor.—Mandou Vossa Mageslade Imperial que a


secção do conselho de estado dos negócios da fazenda
consultasse sobre o incluso projecto de regulamento
para as alfândegas, redigido por uma commissão, com-
posta de empregados éspeciaes ; e teudo examinado as
disposições contidas no mesmo projecto, confrontando-as
com as do regulamento em vigor, e com as pra-
ticas admittidas nas alfândegas das duas nações que
mais florescem no commercio do mundo; passa a secção
a submetter á alta consideração de Vossa Magestade Im-
perial o parecer que lhe cumpre dar, precedendo-o
das razões em <iue o deve fundar.
Sem duvida, no conceito daquelles que conhecem os
melhoramentos suecessivos que se tem.introduzido na
administração das alfândegas da Grã-Bretanha, e Esta-
dos-Unidos da America do Norle, o regulamento em
vigor, filho do antiquissimo foral da alfândega de Lis-
boa, não pôde satisfazer ás necessidades do commercio
actual. nem promover os interesses da fazenda publica;
devendo ser por isso, e quanto antes reformado.
Cumprindo porém que a reforma seja efficaz e seria,
a secção lastima (salvando a boa fé e zelo dos seus re-
dactores) que o projecto a fizesse paliativa e illusoria,
certamente pelo receio do abalo, e offensa de interesses
privados que daquella resultaria. Com effeito o projec-
to limitou-se a transcrever quasi todas as disposições
do regulamento actual; a compilar varias regras esta-
belecidas por instrucções posteriores, e por leis e de-
cretos ; a reduzir a artigos algumas praticas já em uso
no expediente; a fazer alleraijões menos essenciaes, ou
inconvenientes; e a deixar ou conservar os defeitos ca-
pitães do regulamento que tinha em vista reformar.
Para não lã ligar a attenção do governo imperial com
a demonstração de todas estas proposições, a secção,
pondo de lado as três primeiras, cuja prova lhe parece
obvia, oecupar-se-ha somente das duas ultimas.
Alterações menos essenciaes, ou inconvenientes, feitas pelo
rrojeem.
Além de varias outras, que tem por secundarias, a
secção apontará as seguintes:
1.» No art. 12 altera-se o modo de retribuir o serviço
dos empregados, abandonando-se o systema de orde-
— 283 —

nado fixo e porcentagem adoptado pelo regulamento, e


estabelecendo-se o de porcentagem somente conforme a
tabeliã A.
Não só este systema é sem exemplo nas alfândegas
dos paizes bem administrados, como está sujeito ao
grave inconveniente de reduzir os empregados á misé-
ria, logo que por cITeito de uma guerra maritima, possa
qualquer bloqueio vedar a importação , e diminuir a
renda das alfândegas. E a este inconveniente de futuro,
ajuntou-.se outro de presente, qual o de serem marca-
dos na iabella ES vantajosos ordenados para a aposen-
tadoria dos empregados, menos os Heis, guardas e contí-
nuos; pois ainda relevando-se a falta de economia que
houve na fixação de taes ordenados, seria da maior in-
justiça relativa que alguns officiaes das alfândegas ti-
vessem aposentadorias superiores ás dos outros empre-
gados públicos de mais elevada categoria.
2.a Em vários artigos do capitulo 1.° extingue-se a de-
nominação de escrivães e feitores, dando-se a de sub-
inspectores, e qualificadores; entretanto que conser-
va-se a de amanuenses, tão prosaica, ou antiquada como
a daquelles, e a de guardas e vigias, mais rebaixada
ou desconsiderada que a de outro algum empregado
dasa alfândegas.
3. Nos artigos 33 e 98 —o 1/2 por cento de expediente
sobre as mercadorias estrangeiras, despachadas para
consumo em uma província, e transportadas para outra, é
convertido em—direito de cabotagem:— denominação,
que, além do mal soante quando appücada á navegação
costeira, revela a maior impropriedade no emprego
da palavra—direitos—para designar uma tênue porcenta-
gem, destinada aliás a compensar o trabalho material
da alfândega com o expediente de taes mercadorias.
4.» No art. 103 § i " estende-se a isenção dos direitos
aos moveis, livros, e retratos de família dos passageiros;
quando parece evidente, que, a não definir-se com clareza
quaes sejão os moveis, assim isentos, abrir-se-ha porta
largaa a muitos abusos e fraudes.
5. No artigo 104 altera-se a disposição do art. 26
da lei de 18 de Setembro de 1845, não se exigindo em-
dinheiro, a 4." parte do despacho que exceder a 400#000,
e privando-se o thesouro de receber moeda sem mór
necessidade ; pois quando se faculta ao commercio o-
deposito das mercadorias em armazéns alfandegados para
que possa esperar a mais favorável occasião de vendei-
as, e além disso permitte-se-lhe pagar com assignados 3/4
dos direitos no acto de despachal-as, nenhuma razão ha para/
que o. thesouro soffra aquella privação.
— 2Si —.
6.* Nos artigos do capitulo 11 impõe-se aos donos ou
consignatarios dos carregamentos dos navios que
entrão, obrigações inteiramente novas ; as quaes, sendo
desnecessárias para a boa fiscalisação, e servindo para
alliviar alguns empregados do trabalho de examinarem,
conferirem, calcularem, etc, não só devem causar estorvo
e vexame ao commercio, como talvez augmenlar a pos-
sibilidade de ser lesada a fazenda publica. Embora conste
que semelhantes obrigações existem nas alfândegas de
França, Hespanha e Portugal, nãox são de tanio peso as
praticas desses paizes em assumptos de economia com-
mercial , que nos mova a aceilal-as. O regimen das
alfândegas de França é tão meticuloso e casuistico, quanto
fora injusto e violento o systema continental de Napoleão
cujo governo o creára com pouca differença do que está
ainda em vigor ; e o das alfândegas de* Portugal e
Hespanha carece, como o nosso, de melhoramento e
reforma.
7." No capitulo 8." altera-se todo o syslema da es-
cripturação e contabilidade das alfândegas, sem que
tivesse precedido, como não consta á secção, o ensaio
preciso para reconhecer-se a utilidade pratica de tao grave
mudança, e evitar-se o mal de repetidas reformas, inevitá-
vel confusão nessa parto essencial da administração Gscal.
Defeitos capitães do regulamento actual, que o projeclo não iralou
de eorrigir.
Com razão de sobra pôde arguir-se o regulamento
em vigor dos seguintes defeitos, cada qual mais grave :
1.° De ler confiado a parte mais importante e ar-
riscada da fiscalisação aos empregados de menor con-
fiança, se não aos mais desconsiderados da rcparlicão
das alfândegas.
2.° De fazer consistir toda a fiscalisação em formali-
dades mais ou menos severas dentro dâ casa chamada
alfândega, e deixar de empregar os meios precisos, e
usados nas nações bem administradas para prevenir o
reprimir o contrabando assim no porto e suas immedia-
çoes, como no litoral ou costas do districto de cada
alfândega.
3.° De ter admittido um methodo de impugnações
dentro das alfândegas, que não tem exemplo em nação
alguma civihsada, e pôde desmoralisar os empregados.
4. De não ter desenvolvido, e regulado o systema
de deposito ou entreposto das mercadorias estrangeiras,
de um modo mais vantajoso para o fisco, c mais se-
guro para o commercio.
— 285 —
'•')." De não satisfazer á necessidade geralmente sen-
tida de promover o desenvolvimento da industria agrícola
e fabril.
Cumpre que a secção mui resumidamente demonstre,
com o exemplo das duas nações mais commerciaes, que
cada um destes defeilos existe no regulamento, e que
nenhum delles fora emendado pelo projecto.
Quanto ao 1."—, sabido é que a administração de uma
alfândega requer dous serviços dislinclos, e" ambos es-
senciaes— o de fiscalisação, e o de o prevenção;—que a
fiscalisação divide-se naturalmente em externa, que tem
por objecto a inspecção e guarda dos navios que en-
trão, a manifestação, descarga, conducção,e desembarque
das mercadorias que trazem; e em interna, que tem
por objecto a guarda das mercadorias desembarcadas,
a qualificação, avaliação e despacho dellas, a escrip-
turação, contabilidade, e t c : que emfim a fiscalisação
externa é mais arriscada e mais importante que a in-
terna ; mais arriscada, porque os vários e diversos actos
que ella exige, sendo quasi sempre praticados por em-
pregados que obrão individual e isoladamente, sem
outras testemunhas que os interessados na fraude, são
mais sujeitos não só aos ardis e ciladas dos exlravia-
dores, como as tentaij.ões e seducções dos mesmos em-
pregados ; e mais importantes porque de certo virá ao
fisco maior prejuízo do extravio de volumes inteiros
nos actos da descarga, conducção, e t c , que da inexacta
qualificação, e avaliação dos mesmos volumes no acto
do despacho, e t c
Tanto assim que nos paizes mais entendidos, essa
parte da fiscalização externa é confiada a empregados
escolhidos, bem pagos, e dos mais considerados. Na
Inglaterra são delia encarregados, em cada alfândega,
um inspector das descargas (Landing Surveyor) com os
precisos ajudantes, que superintendem e dirigem os ac-
tos relativos á mesma fiscalisação, e diversos verifi-
cadores de descargas (Landing Waiters) todos empre-
gados de inteira confiança, e vantajosamente retribuídos,
que assistem,e fiscalisão a descarga, conducção, e desem-
barque das mercadorias, tendo debaixo de suas ordens
certo numero de guardas do mar (tide Waiters) para os
tijudarem : e sendo estes guardas fiscalisados por vários
inspectores do mar (tide surveyors); de sorte que mal
pôde haver extravio sem o concurso simultâneo de muitos
empregados, e de differentes categorias.
Nos Estados-Unidos da America é a mesma fisca-
lização externa encarregada a um inspector em chefe
(Surveyor) , com os ajudantes precisos, e a muitos
— 286 —

inspectores (inspectors ) todos empregados escolhidos,


considerados, e bem pagos, vencendo cada um 1.095
dollars, quando aliás os escripturarios e officiaes de
contabilidade que servem nas cinco secções (*) em que
se divide cada alfândega, percebem ordenados de 250,
600.800.900, e poucos 1.000 dollars. Além destes inspe-
ctores, cujo numero é proporcionado ás necessidades da
respectiva alfândega, havendo 130 só na de—Nova-York,
ha inspectores nocturnos (nigtit-inspectors) que dormem
a bordo dos navios, e vencem por noite de serviço a
gratificação de 2 1/2 dollars ou quasi '6^000.
Accresce que nem os verificadores na Inglaterra, nem
os inspectores nos Estados-Unidos, podem receber dos
meslres ou consignatarios dos navios, a cujo bordo cum-
prem seus deveres, emelumentos ou remuneração al-
guma.
O nosso regulamento porém tomando pelo avesso, in-
cumbe toda a fiscalisação externa á classe Ínfima dos
empregados da alfândega, aquelles de quem apenas
exige a habilitação de saber ler ( art. 44 ) aquelles a
quem retribue com o ordenado annual de 400#000 em
papel, e 320 réis por dia de serviço activo. aquelles em
fim que erão «dantes assalariados pelos negociantes, cu-
jos actos devião fiscalisar, e que ainda hoje recebem, a
pretexto de dormirem a bordo dos navios, certa remune-
ração pecuniária dos mesmos negociantes. Assim que o
regulamento entrega e abandona a parte mais arriscada
e importante da fiscalisação ao cuidado e discripção dos
indivíduos da repartição^ que menos consideração me-
recem, que menos habilitações tem, que menos confian-
ça inspirão.
Nem o mal que dahi deve resultar pôde ser altenua-
do pelo exercício das obrigações impostas (arts. 37e38)
ao guarda-mór, e ao escrivão das descargas; porque as
deste e seu ajudante limitão-se a uma visita aos navios
depois de descarregados, e as daquelle e seu ajudante,,
consistem também n'uma visita ás embarcações que
entrão para haver dos mestres os manifestos, e n'outra
visita quando as mesmas embarcações acabão de des-
carregar ; ficando entretanto, a cargo e por conta dos
guardas, e só delles, a inspecção e vigia dos navios, as
descargas, conducção das mercadorias, etc. E como para
remate de tão obvio contrasenso, o mesmo regulamento

(*)l.a secção: ado colleetor (collector)chefe da alfândega: 2.» a do


contador (auditor)-. 3.» a dos avaliadores (appraiser): 4.» ado fiscal,
(naval officicr): 5.» a do inspector em chefe (surveyor).
— 287 —
annexou a estes guardas, outros que tem o nome de vigias,
ainda mais desconsiderados, cujo zelo fiscal, como é"
notório, excita-se para agarrar pela gola da casaca, no
cães pharoux em 1842, ao ministro de França, barão de
Langsdorff, e arrefece-se para deixar em paz os verdadei-
ros extraviadores.
Mas o projecto em vez de emendar este defeito ca-
pital, aggravou-o mais ; porquanto, deixando Ioda a fis-
calisação externa, como d'antes, á discripçáo dos guardas,
não duvidou rebaixal-os ainda mais, já reputando-os in-
dignos do augmento de ordenado concedido (tabeliã C)
a todos os outros empregados, já privando-os (art. 253)
do direito de impugnar.
Quanto ao 2.°—,para demonstrar que o regulamento fez
consistir toda a fiscalisação na pratica de varias formali-
dades dentro da alfândega, como na persuasão de que
só na entrada da ponte, nas coxias, na sala da abertura,
e na sahida da porta era possível haver fraude, ou ser
lesado o thesouro publico; bastará que a secção, depois
de ter provado o abandono em que o mesmo regula-
mento deixou a 'parle externa do serviço da fiscalisação,
prove também que em igual abandono deixara elle todo
o serviço de prevenção.
Como o de fiscalisação, esle serviço divide-se, em pre-
venção interna, que comprehende a guarda e inspecção
da barra, ancoradouros, praias, e lugares de desembarque
nas águas interiores do porto; e em externa que com-
prehende a guarda e cruzeiro do litoral de barra fora,
ou das costas mais accessiveis no districto de cada al-
fândega. E é de tanta importância esta dupla prevenção,
que as nações já citadas põem nella particular cuidado.
Na Grã-Bretanha, a prevenção interna é confiada em
cada alfândega a um chefe e diversos ajudantes, que tem
á sua disposição o numero necessário de escaleres, mais
ou menos armados para fazer dia e noite, a visita e
inspecção dos navios, etodo o serviço de rondas, e outras
diligencias no interior do porlo e suas immediações; e
a externa é (em geral ou para todas as alfândegas) en-
carregada a um official superior da armada real, que
recebe instrucções da administração central das alfân-
degas, e que tem á sua disposição mais de 60 embar-
cações armadas (revenue cutters) cada uma tripolada
com 24 homens, e commandada por officiaes da armada
a meio soldo, e todas especialmente destinadas ao ser-
viço de guarda-costas, cruzando nos pontos do litoral
mais expostos ao contrabando, visitando todos os navios
mercantes dentro de quatro léguas das costas, em certas
paragens, e dentro de oito em outras, e t c
— 288 —
Além destes guarda-costas, outros navios de maior porte
da marinha real são empregados, conforme as exigências
do serviço de prevenção, em certos cruzeiros, assim
como ha" destacamentos, e piquetes de tropas do exer-
cito, em lugares mais vulneráveis, e de fácil desem-
barque nas costas. Todavia forçoso é confessar, que ta-
manho apparalo de guerra contra os extraviadores dos
direitos só pôde ser necessário onde, corno, na Grã-Bre-
tanha, o systema outr'ora prohibitivo, e ainda prolector,
e os exorbitantes impostos fiscaes sobre certos artigos,
mormente o tabaco, chá, espirituosos, e t c , provocão pela
esperança de grandes lucros todo o furor dos contraban-
distas.
Mas nos Estados-Unidos, cuja legislação fiscal é menos
áspera que a ingleza, e mais aproximada á nossa,
nem por isso o serviço de prevenção é feito, salvo o
apparato de guerra, com menor vigilância, e esmero, que
o de Inglaterra. Desde 1799 e successivamente por actos
de 1804, e 1809, achão-se alli estabelecidas, em cada al-
fândega, para a prevenção interna uma repartição dis-
tincta (Bargé-Office) dirigida pelo official.de visita (Boar-
ding-Oíficer) e pelos ajudantes precisos, com o numero
de escaleres, de maior ou menor força, necessário
para a visita dos navios na barra, e met>mo fora delia,
e para as vigias e rondas dentro do porto, e águas ad-
jacentes, durante o dia, e durante a noite; revesando-se
para- esse fim o Boarding-Oíficer, e seus ajudantes, dos
quaes ha três na alfândega de Nova-York; e para a pre-
venção externa, outra repartição, a dos guarda-costas
(revenue-cutters) debaixo da direcção do chefe de cada
alfândega, que dá no seu districto as instrucções con-
venientes aos respectivos commandantes, havendo mais
de 20 cutters, cada um commandado por um capitão
e três tenentes e tripolados com 70 homens, inclusive
fuzileiros, e artilheiros, e todos empregados na vigia de
cerlas paragens das costas (que as vezes comprehende
dous e mais districtos de alfândegas) onde fazem cru-
zeiros, vibitão os uavios de commercio dentro de quatro
léguas das mesmas coslis, guardão as enseadas e lugares
de fácil acccsso, e deseinpenháo qualquer outra com-
missão tendente a reprimir o contrabando.
A despeza de uma e outra repartição corro por conta
das alfândegas, e segundo um relatório do ministro do
thesouro de 8 de Fevereiro de 1847, a do Bargé-Office,
custa por anno 83.871 dollars, e a do Uevenue-Cullers
497.855; unnunciando-se no mesmo relatório, que os
cutters á vela ião ser substituídos por 10 vapores, que
se estavão armando e custavão :>(>0.000 dollars.
— 289 —
O nosso regulamento, porém, contentou-se nos arts.
37, 122, 124, 126, 128, em mandar ao guarda-mór e a
seu único ajudante (quando o tenha) não só que visite
todos os navios que entrarem, e os que descarregarem,
como que dirija, e fiscalise as barcas de vigia, que ronde
e guarde dia e noite todos os ancoradouros, praias, etc.
deste vasto porto, que acuda a naufrágios,etc: em orde-
nar que se marquem quatro ancoradouros em cada porto
de alfândega: em estabelecer os quatro do porto desta ca-
pital: em determinar que cada um fosse vigiado por
uma- ou mais barcas fundeadas e igimoveis, tendo cada
uma dous guardas a bordo (dos quaes o mais antigo será
o commanaante do ancoradouro) além de um patrão, e
marinheiros, assim como um ou dous botes para rondas :
em providenciar que haja demais, em certos portos, uma
barca á vela para acompanhar os navios da barra ao
ancoradouro.
D'onde se vê que, applicando meios inefficazes, e mes-
quinhos para a prevenção interna, o regulamento esque-
ceu-se absolutamente da externa; e com effeito, quando
se attende á vastidão deste porto, e á importância do seu
v commercio marítimo, mal se pôde dissimular quanto ha
de illusorio nas providencias até hoje dadas para a pre-
venção do extravio. Por informação do actual inspector
interino consta que existem seis barcas ou cascos im-
moveis, como atalaias dos diversos ancoradouros, todas
confiadas a guardas, que vencem pataca por dia. e 33$
por mez: que além disso ha três escaleres para todo o
serviço de visitas e rondas a cargo do guarda-mór e seu
ajudante: mais seis esoaleres ou botes que pertencem
ás ditas barcas, e fazem fondas ; ainda mais dous espe-
cialmente destinados ás visitas das embarcações en-
tradas, e descarregadas; efinalmenteum de folga, sendo
ao todo onze entre bons e máos: e que existe moder-
namente uma barca á vela, para cruzar fora da barra,
tendo a bordo dous guardas, um mestre e nove mari-
nheiros I
E apezar de saltar aos olhos de todos este fatal de-
feito do regulamento, o projecto, longe de o corrigir, só
tratou de refundir no seu capitulo 9.» todas as dispo-
ções daquelle, acrescentando apenas no art. 144—que
houvesse em cada alfândega um ou mais escaleres para
o serviço das visitas, rondas, etc.
Quanto ao 3.°—, á parte final do art. 16 do tratado de
commercio de 1810 com a Inglaterra, devemos a intro-
ducção do sjstema das impugnações em nossas alfan-
egas; mas não é possível explicar convenientemente a
azão por que em vez de o admittirmos segundo a
c 37
d "
— 290 —
pratica do paiz, d'oride o tiramos, inventássemos outra
sui-generis, que não tem exemplo, como fica dito, ein
nação alguma bem administrada.
Em verdade na inglaterra, como se vê em City Com-
mercial Law, Vol. 1.°, Cap. 13, qualquer dos ofHciaes
encarregados do exame ou qualificação das mercadorias
importadas, reconhecendo ser lesiva a avaliação da
algumas, é autorizado a detel-as, fazel-as recolher aos
armazéns reaes, e apprehendel-as ; e a administração da
alfândega a quem o official apprehensor dá immediata-
mente conta do seu acto, é igualmente autorisada a
mandar pagar pelo cofre da mesma alfândega, dentro de
15 dias, o preço da avaliação com mais 10% ao dono ou
consignatario dellas, e a ordenar que sejão vendidas em
leilão, sendo o producto da venda, depois de deduzida a
importância do pagamento feito, e dos direitos, e da des-
peza de armazéns e leilão, repartido do modo seguinte:
metade para os diversos officiaes encarregados do exame
ou qualificação, e a outra metade para o thesouro pu-
blico.
Na Rússia, como affirma Mc. Gregor Commercial Statistics
vol.2.°sec 12, cap. 7.°, o oíficial da alfândega, que desco-
bre, antes de feito o despacho, ser o valor da mercadoria,
declarado pelo dono ou consignatario, inferior ao que
deva ter, é obrigado pela lei a dar parte á mesa da
alfândega, a qual ordenando logo a detenção da mer-
cadoria, e informando desse facto á repartição do com-
mercio exterior, manda verificar, e decide se *com effeito,
o valor é inferior ao corrente no mercado, e então pro-
cede-se á apprehensão por conta do Estado, e depois ao
pagamento do valor declarado, e mais 10 7» pelo cofre
da alfândega, ao respectivo dono, e por fim a venda em
leilão, cujo producto, deducção feita daquelle pagamento,
e dos direitos e despezas, é depositado na caixa commum,
ou banco que ha em cada alfândega, para ser distribuído
no fim do anno da maneira seguinte :— 1/4 para o oíficial
que fez a descoberta e os outros 3/4 para o director da
alfândega e officiaes pertencentes á secção que fiscalisa
os direitos de importação, entrando de novo nesta dis-
tribuição o mesmo official descobridor.
Nos Estados-Unidos, onde pelo acto de 30 de Agosto
de 1842 foi admiltido este syslema, não em sua appli-
cação, mas somente em principio, ou como meio de
repressão da fraude, cada collector (o chefe da alfân-
dega) como se lê em Gordon Digest n.° 2156, ultima
edic. sempre que julgar possível e conveniente ao íim
de obslar á fraude na avaliação baixa das mercadorias,
sujeitas a direitos ad valorem, é autorisado a appivhen-
— 291 —
der a porção das mesmas mercadorias que fôr bastan-
te para perfazer a importância dos direitos, correspon-
dentes á avaliação fraudulenta, e a mandar vender taes
mercadorias erri leilão, e recolher ao thesouro o pro-
ducto da venda; sem todavia perceber o collector, ou
quem o substituir, emolumento ou commissão alguma
pela apprehensão e venda que fizer, salvo o que por
lei lhe fôr concedido. E não consta á secção que outro
paiz algum, bem administrado, tenha adoptado o mes-
mo systema.
Mas o regulamento das nossas alfândegas, não só
attribuiu amplamente a qualquer empregado (art. 217)
desde o inspector até o ultimo guarda ou continuo, o
direito de impugnarem a seu arbítrio, e reterem por
15 dias as mercadorias, ainda mesmo depois de des-
pachadas por factura, e de se acharem pagos os com-
petentes direitos; como apropriou exclusivamente ao
empregado impugnador (art. 220) todo o lucro prove-
niente da apprehensão, faculiando-lhe o pagar dentro
de 15 dias (art. 221) o valor da factura, e mais 10 °/0
emquanto houvesse algum tratado que assim o estipu-
lasse ao dono da mercadoria apprehendida.
Ora comparadas estas disposições com a dos três pai-
zes que admittem o systema dê impugnações, eviden-
te é que a nossa pratica é sai generis, e sem exem-
plo que abone a sua utilidade. E não menos eviden-
te é, que o nosso regulamento, renegando a sua origem
ingleza, converteu uma medida de repressão da fraude,
.em uma segura especulação de lucro para cada em-
pregado da alfândega isoladamente, provocando-os as-
sim a que cada um de per si cuide mais dos seus
interesses particulares, que de suas obrigações officiaes,
e convidando a todos a serem antes especuladores ou
mercadores, que exactores ou fiscaes das rendas pu-
blicas.
Entretanto o projecto parecendo aliás querer pôr co-
bro n'a!guns abusos da arbitraria e extensa faculdade
de impugnar, nada remediou, se acaso não aggravou
mais o mal que semelhante faculdade pôde causar á
moral dos empregados, aos interesses da fazenda, e
ás operações do commercio de importação. Com effeito
não pensa a secção que seja remédio efficaz contra
taes abusos a exclusão dos praticantes, fieis, guardas
e contínuos do numero dos impugnadores, e a restricção
a 8 dias do prazo de 15, para a retenção das mer-
cadorias, de que trata, o art. 253; nem tão pouco a
isenção das obras de ouro e prata, jóias, sementes e
plantas vivas, concedida pelo art. 2*55, c a pena de
— 292 —
suspensão temporária e mulla, impostas pelo art. 2C2,
ào empregado impugnador da mercadoria que não fôr
. arrematada em leilão, no caso de não entregar ao the-
soureiro da alfândega, dentro de 15 dias, o valor da
mesma mercadoria com o augmento dos 10 %; e ainda
menos o arbítrio, deixado ao inspector, pelo art. 264,
de obstar ás impugnações de objectos que não vale-
rem cem mil réis, e daquelles que forem para uso
particnlar, e não para commercio, e cujo valor não exce-
der de 300^000.
Ao contrario vê a secção aggravado o mal do sys-
4ema ou pratica que seguimos pelo art. 254, em quan-
to obriga os donos das mercadorias a franquear aos
impugnadores as facturas, cartas de ordens, e outros
documentos, por onde se conheça o valor dellas.
Quanto ao 4.°—,o systema de facultar o deposito dás
mercadorias importadas, em armazéns seguros, onde
possão esperar melhor occasião de venda, pagando en-
tão os respectivos direitos, acha-se aclualmente admil-
lido em todos os paizes civilisados e bem adminis-
trados. Ao ministro Pitt, mais feliz que o celebre Colbert
(a quem se attribue essa creação, que aliás foi malo-
grada, mesmo em seu tempo, na França) deveu a Grã-
Bretanha, em 1803, a substituição deste systema á an-
tiga pratica ingleza de exigir o immediato despacho,
e integral pagamento dos direitos de entrada das mer-
cadorias no acto da sua importação ou descarga; pra-
tica inconveniente que restringia o commercio de impor-
tação a certo numero de ricos negociantes, a quem era
possível o anticipado desembolso de consideráveis som-
mas. Não foi porém o mesmo systema adoptado pelo
governo britannico, nem depois por outras nações, sem
as necessárias precauções; pois não só estabelecerão
desde o principio certas condições de segurança ma-
terial e fiscal para a instituição dos armazéns "de de^
posito ou entreposto, como não se descuidarão de me-
lhorar e desenvolver a mesma instituição, tendo sem-
pre em mira evitar extravios e fraude*s em damno das
rendas do Estado, sem todavia pôr pêas ao natural desen-
volvimento do commercio.
Na Grã-Bretanha, e Irlanda, onde ha 111 portos com
aiiandegas, abertos ao commercio do mundo, somente
em o7 foi permiltido o estabelecimento de armazéns
de deposito ou entreposto; sendo os mesmos armazéns
divididos em três classes—i.» dos reaes, que são os cons-
truídos, ou arrendados pelo governo, e exclusivamente
administrados pela repartição da alfândega— 2* os de
segurança especial (special securitv—Warehouses) que
— 293 —
são os das dockas ou*tanques artificiaes, onde entrão
as embarcações carregadas, ficando ahi em perfeito res-
guardo ; e os construídos sobre os cáes expressamente
designados pela lei para o desembarque das mercado-
rias, e cercados de muros, sem conlacto algum com
outros edifícios—e 3." os de segurança ordinária (ordi-
nary security—Warehouses) que são* todos os outros
que posto não estejão nas dockas, ou em cáes desig-
nados, offerecem com tudo a juizo da administração
das alfândegas, a necessária segurança.
Além destas disposições materiaes, outras ha relativas
á guarda e mantença dos interesses fiscaes, e á po-
licia, e regimen dos armazéns de interposto.
A' administração das alfândegas compete autorizar
o estabelecimento de taes armazéns, e restringir, e
mesmo revogar,"essa autorização; assim como indicar
os portos, e nestes a classe de armazéns, ou de taes
e taes mercadorias, segundo a importância relativa
dellas, que devão ser depositadas. Nenhum armazém
de segurança ordinária pôde servir de entreposto sem
que o dono delle preste urna fiança geral, ou quando
não, que os donos das mercadorias a prestem cada um
no que lhe tocar, pelos respectivos direitos de impor-
tação.
Um official da alfândega, collocado em cada armazém,
quer de segurança especial, quer de ordinária, fisca-
lisa e escriptura a entrada e sahida das mercadorias
depositadas.
Nenhuma destas mercadorias pôde ser conservada
nos armazéns de entreposto por mais de três annos, pena
de ser vendida em leilão, ou ser confiscada se o com-
prador a não retirar dentro de três mezes depois do leilão.
Pesadas multas de 5 a 500 libras são impostas sobre
os donos ou emprezarios dos armazéns por qualquer
falta de arrumação, mudança de riiarca ou vasilha, ex-
travio, etc. das mercadorias.
Em fim varias formalidades fiscaes são exigidas para
os casos de remoção das mesmas mercadorias de um
entreposto ou armazém para outro.
E não será fora de propósito (para arredar a objecção
da falta que ha entre nos de armazéns seguros, como
requer o systema de qire se trata) observar aqui, que
quando Pitt admilliu esse systema, que tanto o honra,
havia apenas em Londres uma docka, e que só depois^
por effeito das condições e r«.'°ra.s fixadas para a rea-
lisação do mesmo systema, fora.i construídas naquelle
grande porto, e em vários outros ua Grã-Bretanha e
Irlanda, não só muitas dockas, como esse pasmoso
— 29 i —
numero de armazéns de entreposto que ora existem
em mais de 60 portos das ilhas britannicas.
Nos Estados-Unidos, cujo governo conservou por longo
tempo a antiga pratica ingleza, admillindo apenas cm
1818, o systema de deposito ou entreposto a favor dos
vinhos e'espíritos, acaba de adoplal-o por acto de 6 de
Agosto de 1846, para todos os gêneros e mercadorias.
li á vista do texto deste acto , e das instrucções do
ministro do thesouro de 14 de Agosto e 30 de Outubro
de 1846, reconhece-se que posto o congresso admitlissa
com o systema quasi todas as regras inglezas, leve com-
tudo por mais conveniente fazer as seguintes modifi-
cações. Todos os armazéns para o deposito ou entreposto
devem ser construídos, ou arrendados por conta da re-
partição do thesouro, e exclusivamente administrados
pelo chefe da respecliva alfândega. E o prazo de Ires annos
lixado na Inglaterra para a conservação das mercadorias
nos armazéns de deposito, foi reduzido ao de um anno,
íindo o qual serão avaliadas pelos avaliadores das alfân-
degas (appraisers) e vendidas em leilão, cujo producto
depois de deduzidos os competentes direitos' e mais des-
pezas, deve ser entregue ao respectivo dono se apre-
sentar-se para recebel-o dentro de 10 dias, e quando
não ficará pertencendo ao thesouro.
Mas é de esperar que a dureza desta ultima dispo-
sição, já sensurada no relatório do ministro do thesouro
de 1847, venha a ser corrigida.
Entre nós porém, como arremedo, foi seguida a pra-
tica de depositar as mercadorias importadas «em ar-
mazéns de fora, que se dizem alfandegados ; mas, como
tal praliea fosse antes exigida pela falta de coxias em
nossas mesquinhas alfândegas, que aconselhada pela
sciencia econômica ou simples desejo de promover o
commercio, seguiu-se dahi que nos contentamos com
a idéa geral do systema , desprezando as condições o
caulelas que elle "requer, e deixando de meihoral-o e
desenvolvel-o como o tem feito outras nações.
Com effeito o nosso regulamento, cujas disposições
sobre todo o systema de entreposto, couberão folgada-
mente em cinco pequenos artigos do seu cap. 10, permilte
a descarga das mercadorias importadas para trapiches
ou armazéns de fora, em todos os portos onde ha alfân-
degas, sem reserva alguma; e no intuito de prevenir
os abusos de tão arriscada e extensa permissão—exonera
de termo algum de responsabilidade ao dono de taes
mercadorias, obrigando-o apenas a apresentar uma lista
dellas ao inspector:—-manda acompanhar as ditas mer-
radorins por uni guardo, confiando H outro guarda a vigia
— -29o -
do trapiche ou armazém onde forem descarregadas : —
incumbe a escripturação do livro da entrada e sahida
das mesmas mercadorias ao próprio dono do trapiche,
ou armazém, mandando-o somente advertir quando se
haja nisso com deleixo, e prohibindo, no caso de rein-
cidência, que se descarreguem mercadorias para o tra-
piche ou armazém de que fôr dono ou preposto o de-
leixado:—declara incurso na pena de contrabando o tra-
picheiro ou dono de armazém que tiver parte em ex-
travio das mercadorias depositadas:—veda emfim, que se
augmente, sem licença do thesouro, o preço da arma-
zenagem. Tal é, em resumo, o texto quasi angélico do
regulamento em vigor na parle relativa ao entreposto
das mercadorias 1
A secção não está habilitada para avaliar a conside-
rável perda, que uma tão bastarda adopção do systema
de entreposto deve ter causado ao thesouro publico;
mas fundando-se por um lado na perigosa extensão que
lhe foi dada; convertendo-se em armazém de deposito
qualquer trapiche dos pequenos portos onde ha alfân-
degas insignificantes, e por isso mal administradas; e
por outro lado na falta de providencias efflcazes para
a segurança e regimen fiscal dos armazéns de entre-
posto, e pára defesa dos interesses da fazenda publica
e do commercio honesto, contra a fraude e negligencia;
julga-se autorisada a aflirmar que só por milagre terá
deixado de haver enorme extravio das rendas publicas.
Isto não obstante, o projecto, ainda mais lacônico que
o regulamento providenciou em quatro artigos (206, 207,
e 208 do cap. 12, e 226 do cap. 13.) todo o systema de
entreposto; e como sufficiente retorma do estado de
abandono em que se achava, limitou-se a exigir de
novo que os donos das mercadorias depositadas se
responsabilisassem pelos competentes direitos; a pro-
hibir que se mudassem as vasilhas ou envoltórios das
mesmas mercadorias; e a ordenar que os trapicheiros
em vez de advertidos fossem multados em 30$ por cada
15 dias de atrazo na escripturação do livro de conta
dos depósitos.
Quanto ao 5.°—dando por averiguado que nenhum go-
verno, mais que o nosso deve promover com afinco,
nas actuaes circumstancias, o melhoramento e desenvol-
vimento da industria agrícola e fabril do paiz, empregando
meios efíicazes para facilitar o trabalho, e predispol-o
a passar, sem grande perturbação e abalo, da condição
de forçado a livre; a secção não pôde dissimular, que
o regulamento em vigor, mais attento a mesquinhos
interesses fiscaes, que as necessidades reaes do Estado
- 24)3 —

propendêra antes para frustrar, que auxiliar a execução


das raras e talvez únicas disposições legislativas, tendo
por fim, embora incompletamente, satisfazer parte da-
ouelle dever.
* Quiz a lei de 15 de Novembro de 1831 isentar de di-
reitos a importação de machinas que pudessem ir sup-
prindo o trabalho braçal, e augmenlar, e aperfeiçoara
nossa producção; mas o regulamento, a quem o sys-
tema de entreposto apenas mereceu cinco artigos, consa-
grou nove ao só despacho de taes machinas (cap. 5.°), e a
tantas e tão complicadas formalidades sujeitou o dito des-
pacho, que de certo ás vezes mais valerá renunciar ao
favor da lei, que satisfazer a taes formalidades.
Assim que, se a citada lei por sua má redacção talvez,
foi pouco favorável á industria do paiz, quando isentou so-
mente as machinas que não estivessem em uso, limitando
assim o fqvor ao indivíduo que importasse a primeira,
e negando a outros igualmente dignos delle, o regula-
mento, em sua austeridade fiscal, mostrou-se quasi hostil
á importação de machinas.
E o projecto, que não corrigiu este inqualificável defeito,
prestou-se a copiar nos arts. 9.° e seguintes, as dis-
posições em vigor relativas ao despacho das mesmas
machinas, lembrando-se apenas, no art. 103, de estender
a isenção dos direitos aos utensílios e instrumentos ara-
torios ou de artes liberaes ou mecânicas, já usados,
e pertencentes a industriosos que venhão estabelecer-se
no Império.
Aos defeitos que ficão apontados, seja ainda licito
á secção acrescentar outro de igual gravidade, qual o
da falsa economia que o regulamento ostenta, dando
mesquinhos ordenados a mór parte dos empregados de
mais confiança, e evitando augmentar a despeza, aliás
productiva, com o serviço de prevenção: quando aliás
é certo, que nos paizes bem governados, reputa-se
verdadeira economia qualquer despeza que trouxer aug-
mento á renda publica, obstando ao extravio e á fraude;
e julga-se econômico o retribuir cora largueza aquelles
empregados, cuja virtude corre mais risco de ser tentada
e vencida, como succede aos que arrecadão e distribuem
a renda do Estado, pois em verdade, se nem sempre a
probidade acompanha ao abastado, também rarissimas
vezes é ella companheira do necessitado.
Segundo o orçamento apresentado para 1848—49 sendo
a renda das nossas alfândegas de 13.147:000$, e a sua
despeza total de 830, vem esta a corresponder a pouco
mais de 6 0/0 daquella, e custando o serviço de pre-
venção apenas 126:000$000, vem este a absorver pouco
- 297 -
mais de 1/7 da despeza. E quanto á alfândega desta
corte em particular, a sua despeza, corno informa o
actual inspector interino, não corresponde a mais de
3,3 °/0 da sua renda: e sendo essa despeza, como se
vê do citado orçamento, de 253:000^000, e custando o
serviço de prevenção neste vasto porto somente 33:000$,
vem o mesmo serviço a absorver pouco mais de 1/8 da
despeza.
Entretanto que nos Estados-Unidos, paiz de stricta
economia, onde os ordenados em geral são tão min-
goados, como os nossos, subindo a 26 milhões (em 1846)
a renda das alfândegas, a despeza da administração
dellas passou de dous milhões, somma que corresponde
a 8 •/„ da renda, e custando alli o serviço de prevenção,
como já se notou em outro lugar, mais de 500.000 dollars
vern o dito serviço a absorver mais de 1/4 da despeza.
Este exemplo que não merece desprezo, dispensa a
secção de recorrer ao de Inglaterra e França, onde
a despeza das respectivas alfândegas corresponde- na
opinião de alguns, a 9 °/0 da renda que ellas pro-
duzem.
E antes de concluir, a secção não tem por demais o
ponderar, que o resultado infallivel dos defeitos acima
demonstrados deve ser, como tem sido, o notório abuso
que lavra nas cartas de guia, e nas reexportações.
Não só das pequenas alfândegas, onde a fiscalisação
c má, mas também das grandes alfândegas sahem cartas
de guia cobrindo mercadorias que nunca pagarão di-
reitos de consumo : assegura-se mesmo que alguns
navios chegão aos nossos portos, trazendo carrega-
mentos de certos gêneros de uma mesma natureza,
como pipas de vinho, e t c , já divididos em parte com
igual serie de números e marcas, para o fim de ser
parte descarregada em uma alfândega, e parle ser le-
vada para outra coberta com guias daquella; e além
desta dizem que outras praticas fraudulentas estão em
uso.
Por informação official da alfândega desta corte, consta
que a medida legislativa que reduziu os direitos de
reexportação para a Costa da África a 5 % somente,
tem dado causa a um extenso contrabando.
Especuladores ha que não cessão de despachar mer-
cadorias finas e de preço para a dita Costa, prestando
fiança, ou depositando letras em caução dos respec-
tivos direitos de.consumo: taes mercadorias, mettidas
a bordo dos navios empregados no trafico illicito, são
descarregadas ou na ida, ou na volta, em pequenos
portos das nossas costas, mesmo diversos daquelles
o. 38
— 298 —
em que costümão desembarcar os africanos: e depois
apresentando os ditos especuladores um certificado de
descarga, passado por seus agentes ou caixeiros em
algum lugarejo da Costa da África, onde nao ha côn-
sules, conseguem mui regularmente, annullar a fiança
prestada, levantar o deposito das letras, e ganhar a
differença que vai de 5 para 30 e mais •/„•..
E para avaliar-se até que ponto deve ter sido preju-
dicial ao thesouro publico essa notória manobra, bas-
tará saber-se que ha dia nesta alfândega em que o
numero de despachos de reexporlação para a Costa
d'Africa sobe ao de 150; e que despachante ha, que elle
só tem despachado em um mez para o mesmo destino
5.000 volumes I Assim que, boa parte do nosso litoral
consome mercadorias estrangeiras, que não pagão di-
reitos de importação em nossas alfândegas.
A'vista pois das observações que tem feito, e reco-
nhecendo, não só a impossibilidade de fundir-se com
acerto e desde já em um regulamento a profunda re-
forma de que carecem as nossas alfândegas, como a
utilidade de ensaiar-se, por meio de instrucções pro-
visórias, o melhoramento de cada um dos ramos da
administração das mesmas, para que a final possa o
novo regulamento ser organizado com inteiro conhe-
cimento pratico; é a secção de parecer:
1.° Que o projecto sendo tão digno de reforma como
o regulamento actual, não pôde ser approvado.
2." Que o governo haja de nomear iliiia ou mais com-
missões de pessoas entendidas e praticas, com o en-
cargo de formularem instrucções para a reforma <jc cada
um dos serviços das alfândegas; a saber:
O dafiscalizaçãointerna, regulando melhor o methodo
de avaliar as fazendas; extinguindo a pratica das im-
pugnações ou reduzindo-a á que está em voga nos
Eslados-Unidos, ou mesmo na Rússia; e seguindo nesta
parte do mesmo serviço os princípios que o regulào
na Inglaterra e nos referidos Estados-Unidos.
O da fiscalização externa, instituindo uma classe de
empregados escolhidos e bem pagos, que com o titulo
de verificadores, ou outro mais conveniente, assistão e
inspeccionem a descarga e carga das mercadorias, e a
conducção e desembarque dellas; estabelecendo as regras
e condições necessárias para o deposito das mercadorias
importadas, a fim de que os actuaes trapiches alfande-
gados, satisfação, se puderem, as mesmas condições e
regras, ou se edifiquem, por conta do Estado, ou de com-
panhias, outros que melhor se prestem á segurança e
fiscalização exigidas pelo systema do entreposto; e in-
— 299 —
dicando quaes dos nossos portos, onde ha alfândegas,
devão servir de deposito geral para todas e quaesquer
mercadorias, e quaes devão limitar-se ao deposito de
algumas somente: e
O de prevenção, augmentando como convier o material
e pessoal dos escaleres e barcas para o serviço da barra,
ancoradouros e praias no interior do porto; dando aos
guarda-móres o numero de ajudantes que fôr preciso
para que as rondas, ou vigias, não cessem dia e noite;
e possão ser fiscalizadas sempre por um empregado de
maior graduação; e regulando o estabelecimento o ser-
viço de certo "numero de guarda-costas ou embarcações
armadas á vela ou á vapor, que se facão respeitar, e
guardem effectivamente as paragens das costas mais
accessiveis ao contrabando, etc.
Tal é, Senhor, a opinião da secção, que Vossa Mages-
tade Imperial se dignará acolher com indulgência, re-
solvendo entretanto o que tiver por melhor em sua
sabedoria.
Rio de Janeiro, em 15 de Março de 1848.—Visconde
de A brantes.— Visconde de Olinda.—Francisco de Paula
Souza e. Mello.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 8 de Julho de 1848.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.

Francisco de Paida Souza e Mello.

(*) Rejeitado, nos lermos da resolução, deixa de ser aqui trans-


criplo o projecto de regulamento, de que trata esta consulta.
Este projecto organizado por uma commissão creada por decreto
de 20 de Setembro de 1845, composta do inspector da alfândega da
corte Saturnino de Souza e Oliveira, como presidente, do escrivão
interino da mesma alfândega Antônio Nicoláo Tolentino e do ad-
ministrador do consulado Theodoro Lázaro de Sá, foi impresso em
avulso, na typographia nacional, no anno de 1848.
Por decreto de 18 de Novembro de 1848 foi nomeada outra com-
missão, presidida pelo conselheiro de estado Visconde de Abrantes,
encarregada de organizar um novo regulamento para as alfândegas.
Pi. Ti. O decreto n.° 2617 de 19 de Setembro de 1860 deu novo
regulamento para as alfândega» do Império.
— 300 —
N. 146.—RESOLUÇÃO DE 26 DE JULHO DE 1848.
Sobre o recurso de D. Rosa Antonia da Soledade Ferreira contra o
aforamento das marinhas feito ao arrendatário de um terreno de
sua propriedade, fronteiro as mesmas marinhas.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado,


tendo examinado o recurso, interposto para o mesmo
conselho por D. Rosa Antonia da Soledade Ferreira, de
uma decisão do tribunal do thesouro sobre o afora-
mento de marinhas que fizera a câmara municipal á
Torquato de Araújo e Silva, arrendatário da recorrente,
passa a expor o facto que deu causa ao mesmo recurso,
e ás razões que servirão de base á decisão recorrida.
A recorrente possue uma chácara, sita no bairro da
Saúde e Oambôa; formando península, com frente por
dous lados para o mar, em cujas terras se achão vários
arrendatários seus, e entre elles o referido Torquato
de Araújo e Silva, o qual além das casas que possue sobre
«; terreno de que paga renda, tem de mais um cães edi-
ficado desde 1821, em face das ditas casas, sobre o mar.
Tratando-se, em virtude da lei de 15 de Novembro
de 1831, de medir e demarcar os terrenos de marinhas,
para serem aforados, o engenheiro e commissão encar-
regados deste objecto começarão a medição e demar-
cação de taes terrenos no 1.° de Setembro de 1835, em
frente da chácara da recorrente, considerando os seus
respectivos arrendatários como posseiros.
A recorrente, á vista dos seus títulos de proprietária
dos mesmos terrenos, protestou logo contra a medição
c demarcação que se ia fazendo ; mas o engenheiro e
commissão, cingindo-sc ás instrucções que linhão,
proseguirão no trabalho encetado, sem embargo do pro-
testo, limitando-se a leval-o ao conhecimento da câmara
municipal em officio de 24 do mesmo mez de Setembro.
Não sorlindo effeito este seu prolesto, a recorrente
dirigiu-se ao tribunal do thesouro, também logo, re-
querendo conlra a mesma medição e demarcação, e
pedindo preferencia para o aforamento dos terrenos
de marinhas em frente de seus arrendatários. O the-
souro, conformando-se com a resposta fiscal datada
de 3 de Setembro (dous dias depois do começo da me-
dição) remetteu o requerimento da recorrente á câmara
municipal, a quem expediu a portaria ou provisão de 14
de Janeiro de 1836, declarando que a mesma recorrente
e seus lilhos deverião preferir a quaesquer outros pre-
tendentes no aforamento das marinhas dos terrenos de
que erao proprietários, e estivessem de pacifica posse,
— 301 -
suspendendo a expedição de títulos de aforamento das
porções dos ditos terrenos sobre que existissem con-
trovérsias forenses, e cobrando entretanto o respectivo
foro da recorrente e seus filhos, que por ora devião ser
considerados como possuidores pelo mesmo facto de
haverem arrendado os terrenos como seus. A câmara
municipal, á vista de um parecer sobre o dito requeri-
mento, e da precedente portaria, resolveu a favor da
recorrente, declarando em 19 de Abril de 1842 que ella
devia preferir no aforamento aos seus arrendatários
Bento José Gomes, e outros.
Achando-se neste estado a questão do aforamento das
marinhas, que bordão a chácara da recorrente, o seu já
referido arrendatário Torquato de Araújo e Silva, alle-
gando ter herdado de sua mãi três moradas de casas
contíguas, na praia da Gamboa, e ler-se já medido um
terreno de marinhas em frente dellas, em Setembro de
1835, requereu em Agosto de 1846 á câmara municipal,
que lhe mandasse avaliar o foro do dito terreno e con-
ceder-lhe o competente titulo de aforamento. A câmara,
deferindo ao supplicante Torquato, sujeitou corno devia
o seu deferimento áapprova'ção do tliesouro.
Contra este deferimento e approvação representou a
recorrente ao mesmo thesouro, allegando que o sobre-
dilo Torquato de Araújo e Silva não teria obtido o afo-
ramento se não tivesse oceultado a sua qualidade de
arrendatário do terreno onde tinha as ditas Ires moradas
de casa, qualidade que foi então provada á vista da es-
criptura de compra das mesmas casas, da qual consta
que com effeito o dito terreno paga á recorrente a renda
annual de 9^000; e ponderando de mais que, em vir-
tude da decisão do thesouro, constante da portaria de
14 de Janeiro de 1836, e da deliberação da própria
câmara municipal de 19 de Abril de 1842, devia ser a
recorrente preferida aos seus arrendatários no afora-
mento dessa e outras marinhas em frente da sua chácara.
Ouvida, sobre esta representação a câmara municipal,
de accordo com a opinião do seu advogado e de mais
três babeis letrados a quem consultara, foi favorável á
pretenção do sobredito Torqualo; e ouvidos depois os
membros do tribunal forão contrários á mesma pre-
tenção o desembargador fiscal e o contador geral interino,
e favorável o inspector geral interino. Conformando-se
com o voto deste deu o Exm. presidente do thesouro
a decisão de que se recorre.
As razões em que se fundara esla decisão a favor de
Torquato de Araújo c Silva podem ser substanciadas nas
seguintes:
— 302 —

(.* Porque a lei «le 15 de Novembro de 1831, art. 51


§ 14, mandando aforar as marinhas aos particulares que
nellas tivessem edificado sem concessão, e querendo
assim proteger a posse, e legitimar a occupação de taes
marinhas, é favorável a Torquato, cuja mãi tinha edifi-
cado um cáes em 1821.
2.» Porque a circular de 20 de Agosto de 1835, man-
dando preferir aos pacíficos posseiros que requeressem
o aforamento dentro do prazo marcado, e fora delle a
quem primeiro requeresse, deve aproveitar a Torquato,
que requereu em tempo, e não á proprietária, que,
ainda quando estivesse de posse das marinhas, deixou
de requerer.
3." Porque a outra circular de 30 de Janeiro de 1836,
mandando preferir aos proprietários dos terrenos que ti-
vessem arrendado, e negando a preferencia nos terrenos
de marinhas, não occupados, além de uma estrada ou rua,
aos proprietários das terras que pegassem com essa es-
trada ou rua, em cujo caso deveria ser attendido quem
primeiro requeresse, segundo a precedente circular de
20 de Agosto, deve também aproveitar a Torquato, já
porque da escriplura da compra das casas do mesmo
Torquato, junta á rcpresenla«;ão da recorrente, vê-se que
.só fora arrendada a porção "do terreno onde se achão
as ditas casas, e não as marinhas, e já porque estando
as marinhas em questão além da rua, foi elle Torqualo
quem primeiro as requereu.
4. a Porque outros arrendatários da recorrente, como
Faro e Gomes, nas mesmas circumstancias que Torquato,
já obliverão o aforamento das marinhas de suas res-
pectivas frentes.
5. a Porque as decisões do governo, preferindo os re-
ligiosos carmelitas, e as irmaãs Mascarenhas aos seus
arrendatários no aforamento das marinhas em frente das
fazendas de que são proprietários, não devem ser appíi-
caveis a Torquato, pois que este tem bemfeitorias e
posse que não tinhão aquelles arrendatários preferidos.
Contesla a recorrente estas razões, allegando : conlra
a 1/ que não possuindo o arrendatário, segundo o di-
reito, senão em nome do proprietário, e mandando a
circular de 30 de Janeiro de 1836 que o proprietário
preferisse ao arrendatário, ainda quando este tivesse
edificado e aproveitado o terreno arrendado, não podia
Torquato ser considerado posseiro, nem ter preferencia
no aforamento pelo facto de haver sua mãi edificado
um cáes; conlra a 2.a que não só pelo oííicio do en-
genheiro, que começou a demarcar as marinhas no 1."
de ^'lembro, mostra-o que a recorrente protestara
— 303 —

contra a demarcação do modo por que se ia fazendo;


como polo requerimento que logo depois levara ao tri-
bunal do thesouro, e sobre o qual officiára o conse-
lheiro fiscal em data de 3 do mesmo mez de Setembro,
prova-se que a recorrente pedira preferencia no afora-
mento das marinhas fronteiras á sua chácara ; conlra
a 3.° que provando-se ter a recorrente pedido desde
logo a preferencia no aforamento das marinhas, como pro-
prietária das terras adjacentes, são a seu favor (como
o governo e a câmara municipal o havião já reconhecido
em anteriores decisões) as citadas acirculares de 20 de
Agosto, e 30 de Janeiro; contra a 4. que o aforamento
obtido por Faro depende ainda da decisão da relação
da Bahia para onde fora a questão em gráo de revista,
que a recorrente obtivera; e quanto ao de Gomes, que
a mesma câmara lh'o havia antes negado; contra a 5.*
emíim que os fundamentos das decisões do governo
nos dous casos allegados dos carmelitas e irmãs Mas-
carenhas, são as mesmas que devem servir para a re-
solução da causa da recorrente.
Tendo comparecido somente o advogado da recorrente
que nada acrescentou ao allegado por parle delia; e
depois de haver combinado com os documentos res-
iectivos, todas as razões pró e contra, e examinado a
f etra e espirito do citado artigo da lei de 15 de No-
vembro de 1831, e das intrucções de 14 de Novembro
de 1832, da circular de 20 de Agosto de 1835, e da
outra de 30 de Janeiro de 1836; e tendo reconhecido
que a recorrente é proprietária das terras de cujas ma-
rinhasse trata; que ella pedira em tempo ao thesouro
publico, o ser preferida no aforamento aos seus arren-
datários; que o facto de haver-se attendido a algum
arrendatário seu, não deve servir de areslo para que a
proprietária continue a ser desattendida ; quo a anterior
consulta, feita com inteiro conhecimento de causa, a
favor das irmãs Mascarenhas , como proprietárias da
fazenda da Pedra, versa sobre questão idêntica á do
presente recurso ;é a secção de parecer:
Que Vossa Magestade Imperial haja por bom deferir
a representação de D. Rosa Antonia da Soledade Ferreira,
e mandar reformar a decisão do lliesouro, favorável ao
arrendatário Torquato de Araújo e Silva.
Mas Vossa Magestade Imperial, que se dignará acolher
com benevolência este parecer, reso'lvel-o-ha como mais
justo ou convenienle fôr.
Rio de Janeiro, em 2 de Novembro de 1817.— Vis-
conde de Abrantes. — Visconde de Olinda.
- 304 —

RESOLUÇÃO.

Consulte-se o conselho de estado. (*)


Rio, 26 de Julho de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Francisco de Paula Souza e Mello.

[") Ouvido o conselho de estado pleno nos termos da resolução, deu


O parecer seguinte:
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem ordenar por
sua immediala resolução de 26 de Julho «Io anno próximo passado, que
o conselho de estado consultasse acerca do parecer da secção «Io mesmo
conselho, a que estão alfectos os negócios da fazenda, relativo ao re-
curso interposto por l>. Rosa Antonia da Soledade Ferreira de uma
decisão do tribunal do thesouro sobre o aforamento de marinhas, que
fizera a câmara municipal desta cidade a Torquato de Araújo e Silva.
O teor do dito parecer é o seguinte:

Foi tomada esla matéria na devida consideração, e depois de exa-


minado, e discutido o sobredilo parecer, foi elle approvado pelos votos
dos conselheiros Visconde de Abrantes, Lopes Gama e Lima e Silva,
fundando-se nas razões expostas no mesmo parecer, e foi rejeitado
pelos votos dos conselheiros Alves Branco, Galvã», Carneiro Leão e
Limpo de Abreu, que se fundarão nas seguintes razões para sustentar
a riedsão do lliesouro.
1.» Porque o lerreno, sobre cuja concessão se questionava, não es-
tava coinprehendido no arrendamento do recorrido, nem estava na
posse da recorrente, era um lerreno totalmente conquistado ao mar,
«í esta conquista tinha-se realisado com a edificação de um cáes, que
tinha sido construído pelos antecessores do recorrido uo anuo de
1821.a
2. Porque a respeito de semelhante construcçâo não podia dizer-se
que o recorrido obrasse cm nome da recorreute, visto que a cons-
trucçâo linha sido feita em lerreno não comprehendido no arrenda-
mento, e na época em que foi feita nem a recorrente, nem o recor-
rido linhâo direito de avançar sobre o mar, o qual sempre esteve no
domínio publico, e nacional.
3.» Porque a preferencia que a circular do thesouro, mencionada
no parecer, dá, na concessão de terrenos de marinhas, aos proprie-
tários dos terrenos annexos, e adjacentes sobre os arrendatários desses
mesmos terrenos, não podia ter applicação á questão entre a recor-
rente c o recorrido, por«|ue não era na qualidade de arrendatário,
que o recorrido pretendia a concessão contestada, mas sim na de
posseiro, como suecedendo nos direitos daquelles, que lizerào a
construcçâo do cães, por meio do qual se conquistou o terreno
sobre o mar.
4. 1 Porque a preferencia do recorrido sobre a recorrenle, linha
um fundamento incontestável na lei de 13 de Novembro de 1831, por-
quanto, sendo provado que o cães existente no terreno, que se pre-
tende alorar, foi construído cm 1821, e o foi pe os antecessores do re-
corrido, seguia-se que nos lermos da lei devia estipular-se o foro com
o recorrido sem admiltir conciirreiicia de quaesquer pretendemos, pois
— .105 —
N. 147.— RESOLUÇÃO DE 27 DE SETEMBRO DE 1848.
Sobre a pretenção de Francisco José da Koza ao pagamento do ágio
de uma quantia entrada nos cofres públicos.

Senhor.—Foi Vossa Magestade Imperial servido mandar


ouvir a secção de fazenda do conselho de estado sobre a
pretenção de Francisco José da Roza ao pagamento do
ágio de trinta por cento de uma quantia entrada nos cofres
da extineta junta da fazenda da província deSanta Catharina,
proveniente do espolio do seu fallecido pai, e a mesma
secção, em cumprimento das imperiaes ordens, vem
apresentar o seu parecer a tal respeito.
Requer Francisco José da Roza o pagamento de 2:224$540
em que importa o ágio de 30 % da quantia de 7:415$t35,
que recebera do thesouro em 1845, proveniente do espo-
lio de seu fallecido pai do mesmo nome, recolhida nos
cofres da extineta junta da fazenda da província de Santa
Catharina nos annos de 1827 e 1828, e sobre cuja preten-
ção todos os membros do tribunal do thesouro são de
voto, que se lhe mande pagar.
A secção examinou com toda a attenção este ob-
jecto, e com quanto reconhecesse que a razão de se

que o recorrido era do numero daquelles, que ediíicárão sem con-


cessão, aos quaes a lei manda attender.
3.a Porque, quando pudesse haver questão de preferencia, devia
esta ser resolvida a favor do recorrido, tanto porque foi elle quem pri-
meiramente requereu o terreno, como porque especialmente o favo-
recem, nos termos da circular de 30 de Janeiro de 1836, as circum-
stancias de oecupar o terreno da marinha com seu cáes, e a de existir,
entre este terreno e a chácara, que se diz da propriedade da recor-
rente, uma rua aberta e freqüentada.
Tal é o parecer do conselho de estado, a que Vossa Magestade
Imperial, houve por bem submetter o da secção dos negócios da fa-
zenda.
Vossa Magestade Imperial, se dignará acolhel-o com a costumada
benevolência e resolver o que fôr mais conveniente e acertado.
Sala das sessões do conselho de estado, em 11 de Janeiro de 1849.—
Visconde de Abrantes.— Honor«o Hcrmeto Carneiro Leão.— Caetano
Maria Lopes Gama.—Antônio Paulino Limpo de Abreu.—Manoel An-
tônio Galvão.—José Joaquim de Lima e Silva. —Manoel Alves Branco.
1VES0LUÇÃ0.

Como parece.
Paço, em 23 de Março de 1849.
Com a rubricn de Sua Mageslade o Imperador.
• Joaquim José Rodrigues Torres.
c. 39
— 306 —

não ter pago ao supplicante o ágio reclamado foi a duvida


em que se está da espécie em que entrara na relenda
extincla junta o espolio do seu íinado pai, duvida que
ainda subsiste, porque dos papeis juntos consta que nem
na thesouraria daquella província, nem no JUÍZO dos
orphãos ha declaração alguma a este respeito, eomtudo
como essa falta não'deve prejudicar ao supphcanle por
não lhe ser imputavel, mas sim aos ofnciaes públicos,
e como essa divida deve entender-se liquidada no thesou-
ro em 1830, época em que é constante dos papeis juntos
que o prêmio dos saques de Santa Catharina sobre o thesou-
ro era muito superioc a trinta por cento, que se mandou
pagar ao supplicanle por despacho de 6 de Junho de 1830,
é de parecer que, se não rigorosa justiça, ao menos
muita equidade favorece ao supplicante, e que por isso
se deve deferir ao que pede.
Vossa Magestade Imperial em sua alta sabedoria resol-
verá o que houver por melhor.
Rio de Janeiro, em 23 de Agosto de 1848.— Manoel
Alves Branco.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—
Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

. -Como parece. (*)


Paço, aos 27 de Setembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Bernardo de Souza Franco.

N. 148.—RESOLUÇÃO DE 14 DE OUTUBRO DE 1848.


Sobre o recurso de D. Maria José Leal da Nobrega da decisão d»
thesouro que lhe negou accumular o meio soldo, á pensão poste-
riormente concedida.
Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado,
em observância das ordens de Vossa Magestade Im-

(*> Nos termos da resolução, por ordem de 29 de Setembro, fez-se


effectivo o pagamento do ágio de 30%, na forma requerida.
— 307 —
perial, examinou o requerimento de recurso de D. Matia
José Leal da Nobrega contra a decisão do tribunal d<J
thesouro, que indeferio a sua pretenção relativa a ac-
cumulação do vencimento do meio soldo, como viuva
de oííicial militar, ao do soldo por inteiro concedido
pelo decreto de 8 Outubro de 1831, e tem a honrado
apresentar o seu parecer.
A recorrente D. Maria José Leal da Nobrega, viuva
do brigadeiro Luiz Pereira da Nobrega de Souza Cou-
tinho, obleve a> pensão do meio soldo de seu fallecido
marido por decrelo de 28 de Janeiro de 1828, em con-
formidade da lei de 6 de Novembro de 1827 , e pos-
teriormente pelo decreto de 8 de Outubro de 1831 con-
cedeu-se-lhe a pensão do soldo por inteiro em attenção
aos relevantes serviços prestados á independência do
Império pelo seu referido marido.
Esteve no gozo de ambos os vencimentos até que por
portaria do ministério da fazenda de 12 de Março de 1835
lhe foi suspenso o do meio soldo, com o fundamento de
se achar incluído no do soldo inteiro concedido posterior-
mente.
Requereu ella ao governo contra aquella suspensão, al-
legando ter direito ao meio soldo, por isso que lhe com-
petia em virlude de lei geral, e que a nova pensão fôra-lhe
dada em atlenção aos serviços relevantes de seu marido,
sem que nella se incluísse a anterior; e igualmente apre-
sentando exemplos de outras viuvas, que percebem ambas
as pensões,, e decisões do governo imperial neste sentido ;
esta pretenção porém foiTlhe indeferida pelo despacho de
15 de Novembro de 1847, e é contra elle que interpôz o
presente recurso para o conselho de estado.
A secção considerando que uma pensão concedida em
remuneração de serviços extraordinários, e relevantes,,
como se dá no caso da recorrente, de modo algum pre-'
judica ao meio soldo, que a lei concede ás viuvas, e filhas
dos officiaes militares pelo simples facto de o serem, é de
parecer que o governo deve deferir ao requerimento da>
recorrente, revogando a portaria de 12 de Março de 1835,
para que ella possa continuar no gozo de anibas as pen-
sões, e mandando pagar-lhe o que fôr vencendo do cor-
rente exercício em diante., e incluir o atrasado no credito,
que se houver de pedir ao corpo legislativo para exer-
cícios findos; não podendo servir de obstáculo á esta
decisão o facto de haver o governo dado conta desta
suspensão á assembléa geral no relatório do ministério
da fazenda apresentado ás câmaras em Maio de 1835;,
por isso que nenhuma opinião chegarão a emittir a tal
respeito», .„-• . . , . . . . • . .,
— 308 - »

Vossa Magestade imperial, porém, resolverá ei» sua


alta sabedoria e justiça o que tiver por melhor.
Rio de Janeiro, em 8 de Julho de 1848.—Manoel Alves
Branco.—Visconde de Abrantes.—Visconde de Olinda
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Palácio do Rio de Janeiro , em 44 de Outubro de
•1848.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

W. 149.— RESOLUÇÃO DE 4 4 DE OUTUBRO DE 1848.


Sobre a substituição de notas do governo.
Senhor..—Foi Vossa Magestade Imperial servido ordenar
que a secção de fazenda do conselho de estado consultasse
sobre a matéria contida nos papeis annexos ao aviso do
ministério da fazenda de 13 do passado mez de Julho,
ou antes sobre os seguintes quesitos:
4.* Se convém a substituição de todas as notas, de que
ha falsas, ou de quaes com preferencia?

(*) O Sr. conselheiro contador geralfiquena intelligencia de que, na


conformidade da imperial resolução de 14 do corrente me? sobre
consulta da secção de fazenda do conselho de estado, que deferiu o
recurso interposto por D. Maria José Leal da Nobrega, viuva do bri-
gadeiro Luiz Pereira da Nobrega de Souza Coulinho, lhe deverá
continuar a ser pago o respectivo meio soldo, que lhe compele, cm
virtude da lei de 6 de Novembro de 1827, conjunctameiite com a
pensão do soldo por inteiro, que lhe foi concedida pelo decreto de
8 de Outubro de 1831 em remuneração dos relevantes serviços pres-
tados á causa da independência pelo seu fallecido marido, ficando
assim revogada a portaria de 12 de Março de 1836, que suspendera
o pagamento do dito meio soldo; e incluindo-se na relação aos cre-
dores de exercícios findos o que se lhe estiver devendo anterior ao
presente exercício, para pedir-se credito na futura sessão do corpo
legislativo.
Rio, em 19 de Outubro de 18Í8. — Joaquim José Rodrigues Torres.
— 309 —
2." Se não havendo na caixa de amortização notas para
assignar, dos valores que tem de ser substituídos, em
quantidade equivalente á circulante, convirá emittir em,
substituição notas de outros valores, e se isto não fará
embaraços na circulação?
3.° Finalmente, se seVá possível sem detrimento publico
esperar-se a nova remessa de notas encommendadas,
para então se fazer a substituição que fôr conveniente?
A secção examinando, ern obediência ao que lhe fora
ordenado, cada um dos referidos quesitos, é de parecer:
Quanto ao 1." que a experiência tern mostrado ser
conveniente a pratica de não proceder-se á substituição
de notasapparecidas, que por mal estampadas sejão logo
reconhecidas como falsas; devendo limitar-se essa dis-
pendiosa medida ao caso de apparecerem notas falsas
de perfeição lal, que possão circular sem reparo.
Quanto ao 2." que, dado aquelle caso, e verificada a
hypothese deste quesilo, mais inconveniente seria não
substituir as notas falsas apparecidas, do que subslituil-as
por notas de valores diíferentes; sendo então forçoso
seguir-se a regra de preferir de dous males o menor.
Quanto ao 3.° finalmente que, bem ponderado o actual
estado da circulação das notas, é mais prudente esperar
pela encommenda que se fez de novas, para fazer-se a
substituição conveniente, do que aventurar-se agora uma
substituição incompleta e irregular, que além da des-
peza improficua da reserva existente, pôde aggravar o
mal que actualmenle se soffre.
Vossa Magestade Imperial, porém, se dignará resolver
o que tiver por melhor em sua sabedoria.
Rio de Janeiro, 9 de Setembro de 1848.— Bernardo
Pereira de Vasconcellos.— Visconde de Abrantes.—
Manoel Alves Branco.
ItESOLUÇÀO.

Como parece.
Palácio do Rio de Janeiro, em 14 de Outubro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.
— 310 —

N. 150.-RESOLUÇÃO DE 18 DE OUTUBRO DE I8Í8.

Sobre a representação da assembléa provincial do Rio Grande «to


Sul acerca da execução da lei d e l i de Setembro e decreto do 28 de
Novembro de 184C, que regulão o curso da moeda metallica.

Senhor.—Vossa Magestade Imperial houve por bem-


que a secção do conselho de estado dos negócios da fa-
zenda consultasse com seu parecer sobre uma represen-
tação da assembléa provincial do Rio Grande do bul
acerca da execução da lei de 11 de Setembro, e decreto
de 28 de Novembro de 1846, que regulão o curso da
moeda metallica no Império. Com esta representação,
forão presentes á secção outras relativas ao mesmo
objecto; assim como a" correspondência do presidente
da província, e do inspector da thesouraria sobre a
mesma matéria.
Dos papeis que a secção examinou, consla que na-
quella província correm," ha muito tempo, as onças de
ouro pelo valor de 32#0Q0 réis, e os patacões de prata pelo
de 2#000 ,réis, qualquer que seja sua origem, e isto não
só nas tr n>ar.cões entre os particulares, como também
entre estes e a íà/umla publica. Como, porém, estas moe-
das não são reconhecidas como legaes, e nem os seus
valores estão em harmonia com os que estão marcados
na sobredita lei e decreto, não tendo ellas o titulo le-
gal, e nem ainda o peso que inculcão, resultarão daqui
embaraços no trato ordinário da vida, não só pelo pre-
juízo que devião soífrer os seus possuidores, como por
não haver na circulação outra moeda que a substituísse.
Attendendo a este estado de cousas, autorisou o presi-
dente da província nas repartições íiscaes, quanto aos
patacões, o recebimento de todos, qualquer que fosse
sua origem, e quanto ás onças, somente o das que ti-
vessem o toque da lei, devendo porém este estar ins-
cripto no seu próprio cunho. Deste modo foi alterada
a lei na sua execução, admittindo-se como legaes, moedas
que ella não reconhece. E' mister porém confessar que
nenhum resultado devia ler esta ordem quanto ás onças,
por isso que não se verifica a respeito dellas a condição
imposta: sabido é que ellas não tem o toque de 22 qui-
lates, e só por falsificação poderião apresentar-se com
a inscripção exigida.
Entretanto a secção não pôde dissimular uma asser-
cão que se lê em uma representação dos negociantes
do Rio Grande, que se acha entre os papeis; de que nas
repartições publicas são admittidas as onças ainda de
— 314 —
mais baixo toque, as de 21 quilates por 28$G35 réis, e
Iodas as outras (que são em maior numero) conside-
radas como tendo 20, por 27#270 réis. De qualquer modo
porém que tenha sido executada a ordem do presidente
nas eslações íiscaes, o certo é que continuão os parti-
culares , por accordo entre os negociantes das praças
do Rio Grande e Porto Alegre, a receber aquellas moe-
das pelos valores por que erão recebidas até então, isto
è, ás onças por 32#O00 réis, e os patacões por 2#000 réis.
O inspector da thesouraria, que já havia proposto ao
presidente da província a necessidade que entendia ha-
ver de se suspender a execução da lei, ao que este res-
pondeu com a ordem já referida; officiou ao governo
imperial, em 13 do mez de Fevereiro daquelle mesmo
anno, insistindo nas mesmas idéas. Foi-lhe então res-
pondido por provisão do thesouro de 18 de Março se-
guinte, que se observasse a lei, julgando-se exagerados
ps clamores que se havião levantado, e em parte filhos
da illusão popular, os quaes devião cessar em pouco
tempo, logo que se estabelecesse o equilíbrio entre os
preços dos gêneros, eo novo valor da moeda.
Na representação de que já se fez menção, dos ne-
gociantes da praça do Rio Grande do Sul, de Abril do
anno passado, dirigida á commissão administrativa da
praça do commercio, para ser. levada ao conhecimento
do governo imperial, pretendem elles mostrar que grandes
bens devem vir á província, se nas repartições pu-
blicas forem recebidas todas as onças indistinctamente,
e na razão de 1 para 16, sendo enlão seu valor de
30#720, e contado o patação a 1#920. A' esta seguiu-se
outra de 29 de Maio do 'mesmo anno, assignada pelos
deputados da província, que sustentão e abonão aquella
pretenção. E finalmente corrobora as mesmas idéas a
assembléa provincial em sua representação de 10 de De-
zembro ultimo, pedindo uma excepção no decreto de 28
de Novembro com a admissão de todas as onças, qualquer
que seja sua origem, pelo valor que se houver de fixar,
e na razão de 1 para 16.
Posta a questão nestes termos, tem a secção de fazer
as observações seguintes.
4.a As moedas de que se trata, não tem o toque da
lei. que é de 22 quilates para o ouro e de 11 dinheiros
para a prata. Se ellas eslão comprehendidas na tabeliã
de 18 de Outubro de 1833, que acompanhou a lei de
8 do mesmo mez o anno, não foi porque se julgasse
terem o mesmo titulo que as nacionaes. A mesma ta-
beliã demonstra o contrario, não só a respeito das onças,
mas ainda a respeito dos patacões: nella se vê a ditfe-
— 312 —

rença que ha, para as primeiras de 0,917 a 0,875, epara


as segundas de 0,917 a 0,895. K se apezar disso forao os pa-
tacões considerados todos com igual valor, não é porque,
ao menos, se reconhecesse terem o mesmo peso. A
ausência completa de metaes na circulação, e o ágio da
moeda fizerão então desprezar aquellas difierenças, jul-
gando-se preferível um meio circulante metallico, ainda
que não inteiramente perfeito, ao estado de cousas exis-
tentes ; deixando-se para melhores tempos uma reforma
mais de accordo com as necessidades do commercio e
com os princípios da sciencia.
2.* Além destas differenças, que ellas apresentão em
si mesmas, occorre mais a que resulta do cunho o qual
os põe muito abaixo daquelle mesmo toque.
Do officio do presidente da província de 3 de Fevereiro
consta que as onças das republicas vizinhas tem, as de-
mais subido quilate, 20, outras, e estas em maior nu-
mero, 19, e outras ainda menos de 19. O mesmo se ve-
rifica a respeito dos patacões.
A' excepção das onças hespanholas, nas quaes se pôde
dizer que são constantes o peso e o titulo, em todas as
mais são tão variáveis estas duas condições, ou pelas
leis do seu cunho, ou pela má fé, ou simplesmente por
incúria do fabrico, que não se pôde estabelecer uma ta-
beliã constante de valores para todas ellas, e nem ainda
paraa as de um mesmo Estado.
3. Um tal meio circulante ainda que metallico, está
sujeito a todos os inconvenientes dos de moeda depre-
ciada, e tanto mais quanto, como já se observou, nao se
lhe pôde assignar um valor intrínseco, certo e cons-
tante.
Por esta razão aquella província, está actualmente, e
ha de ficar para o futuro, se este estado de cousas con-
tinuar, em muito peiores circumstancias que as outras
aonde gyra o papel; porque este ao menos tem hoje um
padrão por que se regula, o que não acontece com aquella
aonde a moeda diíTere entre si em peso e titulo.
4." Uma tal moeda deve causar os maiores embaraços
tanto no commercio interno da província como no seu
commercio externo, ou comas demais provincias do Im-
pério, ou com o estrangeiro. Se até aqui não se tem
sentido estes efTeitos, elles não deixaráõ de apparecer.
Até hojepóde-se dizer que a moeda do Rrasil, de certo
tempo para cá, era toda imaginaria, por não haver padrão
a que se referisse: neste estado de cousas, nenhum incon-
veniente serio se oíferecia, de que em uma ou outra pro-
víncia corresse o metal por este ou aquelle preço, e
podia até muito bem ser recebido nas estações publicas,
— 313 —

pelo do mercado. Mas agora que ha um typo, que regula


o meio circulante, as transacções na província, se forem
deixadas as cousas no estado em que estão, devem resen-
lir-se da incerteza do meio circulante, que estará sujeito
as oscillações provenientes de sua mesma natureza.
5.» A presença desta moeda deve fazer desapparecer
toda outra que seja mais forte, e o governo não poderá
depois, restabelecer a verdadeira circulação monetária
sem os maiores sacrifícios do thesouro de envolta com
os dos particulares, que então os soífreráõ em muito
maior gráo. E' fácil de ver que entrando em concur-
rencia, com as moedas marcadas no decreto, as das re-
publicas vizinhas, devem aquellas ser expellidas por estas
como mais fracas que são pela razão geral que regula a
circulação monetária. E com effeito convirá então intro-
duzir na província dessa moeda fraquissima para obter
outra, que sendo exportada, vá dar lucro seguro, e maior
em outras praças.
6.* Urna vez que seja autorisado o recebimento dessa
moeda, não deixaráõ os especuladores de se aproveitar
dessa faculdade para a introduzir ern grande escala, fa-
zendo até cunhar de propósito com toque ainda mais
baixo, e até com diminuição no peso.
7.a Pagos os impostos nesta moeda, a província virá
a concorrer para as despezas geraes com muito menos
tio (jue as outras: os seus habitantes pagaráõ menos do
que os outros brasileiros. Não servirá de compensação
a maior elevação dos preços, os quaes não chegarão a
equiparar a differença dos valores respectivos: e esta
dilferença se fará bem sensível quando se houver de
rçtirar da província o producto desses impostos, como
acontece actualmente que o Estado tem de soffrer todo o
prejuízo da moeda que existe em seus cofres.
Não faça illusão o prêmio com que argumenta o ins-
pector da thesouraria, em seu officio de 13 de Fevereiro
do anno passado, querendo mostrara vantagem da con-
servação da moeda pelo lucro que se obtém no movi-
mento dos fundos. Além de que este lucro (que não
se verifica senão no caso de se passarem fundos para fora
da província) não está em relação com o que se perde na
recepção geral dos impostos, e por isso é todo apparenle;
este mesmo facto está denunciando a fraqueza da moeda,
e mostrando a necessidade de se dar remédio ao mal.
8.* Tendo sido estabelecida pelo decreto, autorisado
pela lei, a relação de 1 para 45 o/s, enlre a prata e o ouro,
e correndo estes metaes na província na de 1 para 16,
deu-se maior valor nominal á prata, a qual por isso ficou
mais fraca sendo assim, não so concebe como é que a
c 40
— 314 —

nova relação fez expellir do mercado esla moeda, como se


aiRrmana representação da assembléa provincial, e nislo
vão de accordo as outras duas representações; quando
mui diverso, e até o contrario, devera ser o effeito que
essa medida devia produzir. Sendo verdadeiro o láclo,
outra deve ser a causa, e não a que se lhe assigna.
Todas estas razões dão em resultado que não se deve
dar curso legal a uma moeda tão depreciada, que nem
ao menos se pôde determinar qual o seu valor intrín-
seco pela variedade de seu peso e toque.
Se a circulação metallica da província consistisse em
uma moeda de valor intrínseco, certo e constante, e que
olferecesse todas as seguranças de sua legitimidade,
não serião tão fortes as objecções á sua adopção, uma
vez que se levasse em conta â differença do título para
a conformar ao preceito da lei. Mas o contrario é o que
acontece desgraçadamente.
Dos officios annexos aos papeis que forão presentes á
secção, consta que no mez de Janeiro do anno passado,
das moedas estrangeiras que existião nos cofres da pro-
víncia entre 62.566 patacões, apenas se achavão 5S0 de
Hespanha, e entre 4.597 onças apenas 148 daquella nação.
Este facto mostra com ioda a evidencia, que o meio
circulante que alli corre, compõe-se na maior parle
dessa moeda fraquissima das republicas vizinhas, en-
trando as moedas hespanholas em concurrencia com
ella só em muito pequena fracção. Sendo assim, a
admissão das onças hespanholas não satisfará as exi-
gências, que se apresentão, e seria forçoso dar curso
legal ás dos outros Estados ; mas é o que a secção não pôde
jamais aconselhar, pela razão acima expendida nas ob-
servações de n.° 2 a n.° 7 ; e ainda porque, no caso de
serem taes moedas admittidas pelo seu baixo e vario
quilate e peso, serviria essa medida não para melhorar,
mas para aggravar os embaraços actuaes do commercio,
e circulação da província, visto ser impraticável á mor
parte dos particulares, e ainda dos rècebedores das rendas
o verificarem o verdadeiro quilate, e o mesmo peso para
receberem-nas pelo valor legal.
Se esta medida a secção a julga um verdadeiro mal
para a província, menos pode indicar seja adoptada para
todo o Império: isto repula ella a maior das calamidades
que lhe podia sobrevir para as suas transacções comrner-
ciaes. Em nenhuma outra se verificão essas mesmas razões
que naquella parece que abonáo essas representações.
Apenas existe uma representação do cônsul bespanhol
do Maranhão, que pede sejão admiltidas as onças como
moeda do paiz; e um oííicto do inspector da thesouraria.
- 313 -
do Pará, que consulta ao governo sobre o valor em
que deveráõ ser estimados 93 patacões Mexicanos. Em
todas as mais provincias, pois, acha-se a circulação
monetária inteiramente livre para assentar sobre bases
sólidas ; e com estas não se poderá jamais conciliar a
concurrencia de tantas moedas e tão depreciadas. E á
secção se offerecem razões que a demovão da opinião
que teve a honra de enunciar no parecer, de 43 de No-
vembro de 1846 (*) que deu sobre a execução da lei de 11
de Setembro daquelle anno; isto é, que não é conveniente
lançar ao mesmo tempo na circulação muitas moedas
differentes.
Estas moedas assim legalmente autorisadas, pôde acon-
tecer que no mercado não tenhão o mesmo valor, ainda
que sejão do mesmo titulo, como se observa em todas
as praças commerciaes. Se isto se verificar, e nada mais
fácil na concurrencia de muitas, sua admissão legal
deve trazer graves embaraços no cumprimento dos con-
tractos, para evitar os quaes terão os negociantes o cui-
dado de estipular sobre a moeda, e enlão inulilisada está
a medida em seu effeito.
Quanto á relação de 1:16, observa a secção «pie uma
vez que não sejão adrniltidas como moedas legaes essas
de que se trata, cessa o motivo que faz reclamar aquella
medida.
Entretanto não pôde a secção deixar de ponderar, que
essa providencia que se solícita como beneficio, deveria
produzir o effeilo contrario do que se deseja. Se a prata
naquella província estiver na relação de 1:16, estando
em todas as outras no relação de 1:15 s/s , virá a ter
dous valores segundo a praça em que circula, e por
isso irá buscar aquelle mercado que maior lucro lhe
oíTerecer, o qual encontrará na só differença das re-
lações, independente de outra circumstancia.
E como esta ultima relação de 1:46 já existe de facto
pelo accordo dos negociantes, posto qué não autorizada,
entretanto que em todas as mais provincias é guardada
a da lei; por isso já se tem alli sentido o effeito que este
eslado de cousas devera produzir, que é fazer desap-
parecer a prata da circulação, para ir buscar um mer-
cado mais lucrativo; sendo esta a causa da escassez
desta moeda, e não a que erradamente se aponta, a qual
como já foi ponderado, deverá ter produzido um effeito
contrario.
Além destas observações, subsistem em toda sua ex-

{*) Vide pag. 131 deslc volume.


— 31(J —
lepsão as razões que fizerão adoplar aquella relação de
1:15 6/8 ; e não se podendo suppôr seja conveniente á
província separar-se da communhão do mundo com-
mercial, onde está recebida aquella relação.
A secção não desconhece que devem de apparecer al-
guns embaraços na execução da lei, mas considera
também que são males necessários, que perseguem a
todos os povos que tem a desgraça de servir-se de um
meio circulante tão depreciado, e que nem por isso
deixão de lançar mão de todos os meios que se lhes of-
ferecem para assegurar um melhor futuro, sujeitando-se
a todos os sacrifícios do presente. Ella está altamente
convencida de que os bem entendidos interesses da
província aconselhão se ponha um termo á essa innun-
dação monetária das moedas depreciadas das republicas
vizinhas, que ha de vir a occupar todos os canaes da
circulação, causando para o futuro males muito graves.
Não foi de outro modo que se houve o governo do
Estado Oriental, quando desmonetisou e expelliu da cir-
culação toda a moeda brasileira, então depreciada, apezar
dos clamores do commercio, que delia se estava ser-
vindo; medida que, posto que causasse (como todo o
remédio radical applicado á circulação) grande abalo e
perdas, todavia, passado algum tempo, tudo voltou ao
estado normal que se procurava, fazendo esquecer o
passado pelo bem que daqui resultou. E a secção está
certa que, melhor esclarecidos os espíritos sobre as causas
dos males que ora acabrunhão a província, e desabu-
sados dos erros que abonão as medidas reclamadas,
em pouco tempo a província ha de reconhecer o grande
beneficio da legislação actual.
Devendo porém a execução da lei e decreto, ser acom-
panhada de medidas que a facilitem, parece á secção
que deve ser recolhida á casa da moeda, ioda a moeda
de prata e ouro, que existe nos cofres da província, para
ser recunhada segundo a lei novíssima: e que se envie
para a mesma uma quantidade de papel correspondente,
pelo menos, aototal dos valores intrínsecos dessas moedas,
devendo a moeda novamente cunhada ser exclusivamente
reservada para o resgate desse papel.
A secção não desconhece o grande prejuízo que deve
soilrer o thesouro com essa moeda: e por isso julga ne-
cessário ser este objecto submettido ao conhecimento do
corpo legislativo para mandar abonar a diíleretiça enlre
os valores das diversas épocas, e tomar as providencias
que em sua sabedoria entender ser necessário.
Quanto ao estabelecimento de um banco na província,
a roerão está persuadida que urna tal instituirão muito
— 317 —
bem havia de fazer á província: mas, sendo este ne-
gocio de mera conveniência do banco commercial desta
praça, que é quem o pôde crear, estando sua execução
fora da acção governativa, e sendo toda dos limites da
persuasão, abstem-se a secção de recommendar este ob-
jecto á consideração do governo imperial, o qual não
se descuida de promover os interesses geraes do Im-
pério, e os de cada urna das províncias em particular.
O conselheiro de estado Paula Souza tendo examinado
os papeis respectivos, está persuadido que são graves
as circumstancias da província do Rio Grande do Sul, e
exigem sérios remédios, que também se devem estender
ás outras onde se derem circumstancias semelhantes.
Sendo as onças e os pesos as moedas que mais cir-
culãono Rio Grande, por isso que muito relacionada com
os Estados Hespano-Americanos, e não tendo o decreto
de 28 de Novembro de 1846 admittido na circulação na-
cional nenhuma qualidade de onças, e dos pesos só os
hespanhoes, necessariamente devião haver grandes em-
baraços quando a falta da moeda circulante (o papel)
exigisse a circulação de uma outra moeda, pois quasi
só havião na província as onças e os pesos de oulros
Estados além da Hespanha, e como as onças nunca po-
dião ser admiltidas, podendo em parle os pesos (os da
Hespanha) e sempre os patacões (as moedas de 960
brasileiras) necessariamente devia escasseara prata, e su-
perabundar o ouro em onças, sendo esta a causa dessa
escassez da prata, e não sua relação actual, pois se fosse
ella de 1 a 16, maior seria essa "escassez, pois é sabido,
que nesta hypothese valendo a prata mais que o ouro
em outras provincias, para lá iria cila.
E como o íim da lei de 11 de Setembro de 1846, foi
supprir com moedas metallicas a falta de moeda papel,
que pudesse haver na circulação, quando esta por cir-
eumslaneias exigisse maior somma de meio circulante, e
por isso admittiu as moedas metallicas nacionaes ou es-
trangeiras, e tanto o governo assim o entendeu que admii-
tiu algumas moedas estrangeiras; não descobre o dito
conselheiro a razão porque se não hajão de admiltir
também outras moedas estrangeiras como as onças de
ouro, e os pesos de prata dos differentes Estados, além
de Hespanha, como tinha determinado a ordem de 18
de Outubro de 1833.
Talvez se objecte que essas moedas não têm o toque
das nacionaes,que é o da lei; mas podia-se quanto á de
ouro declarar seu valor em relação ao toque quo devião
ter: assim fica destruída essa objecção (só relativa as
de o u r o ) c (pie tem peso em atlengâo á letra da lei.
— 318 —
E' pois o volo do dito conselheiro.
1 .• Que se addicione a tabeliã do decreto de 28 de No-
vembro de 1846, admitlindo na circulação outras moedas
de ouro e prata estrangeiras, declarando seus valores, o
que não só providencia ao estado do Rio Grande, como
de outras provincias.
2.° Que além disso se trate quanto antes de fazer
moedas nacionaes de ouro e prata com os valores da
nova lei, applicando, como matéria as estrangeiras exis-
tentes nas repartições fiscaes, e quaesquer oulras que
por parle dos particulares se apresentarem.
3.° Que a respeito das moedas já recebidas por um
valor superior, ao que deverião ter á vista da lei.soffra
o thesouro o prejuízo que deve haver, dando-se parte
ao corpo legislativo para providenciar.
Senhor, este é o parecer da seceçáo de fazenda, a
qual roga a Vossa Magestade Imperial, haja de o aceitar
com sua costumada benevolência.
Rio de Janeiro, em 16 de Fevereiro de 1848.—Visconde
de Olinda.— Visconde de Abrantes.—Francisco de Paula
Souza e Mello.
RESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (*)


Palácio do Rio de Janeiro, em 18 de Outubro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 151.—RESOLUÇÃO DE 18 DE OUTUBRO DE 1848.


Sobre a circulação da moeda de praia.

Senhor.—Vossa Magestade Imperial foi servido mandar


remelter á secção do conselho de estado dos negócios

(*)Nos termos da resolução, declarou-se a presidência de S. Pedro


do Sul, que as dUpulições da lei de 11 de Setembro de 18í«3, que
regulão o curso da moeda mciallica no Império e as ordens que se
expedirão pira sua exci u«;ao, devem ler pleno cumprimento. Aviso
de 7 de >\>vembro de 18Í8.
— 319 —
da fazenda, para consultar com seu parecer, uma repre-
senlação da praça do commercio desta cidade, sobre a
circulação da moeda de prata, o ella tem a honra de
cumprir com o seu dever.
Diza representação: que se acha depreciada a moeda de
prata pela sua impropríedade para as transacções mer-
cantis : que a esta causa accresce o facto de nas reparti-
<;ões fiscaes serem aviadas de preferencia as pessoas que
apresenlão outras espécies de moeda : que a execução
da lei de 20 de Setembro do anno passado talvez fizesse
distrahir para os misteres domésticos parle da prata que
actualmente embaraça o gyro commercial, mas que não
é de esperar que o novo «;unho possa concluir-se coma
desejada brevidade: e indica, como meio de fazer cessar,
todos os inconvenientes seja a moeda de prata recebida
cm deposito, em qualquer repartição publica (a caixa
da amortização, por exemplo), dando-se aos depositante.s
papel representativo das quantias depositadas, admissível
nas repartições publicas.
O beneficio que a representação espera provenha da
execução da lei de 20 de Setembro, faz suppor que, além
da impropríedade daquella moeda para as transacções
mercantis, oceorre também a sua superabundaticia no
mercado; superabundancia que, segundo a mesma re-
presentação terá de desapparecer, logo que a moeda
do novo cunho faça appíicar aos usos domésticos parte
da prata que actualmente gyra.
Que a moeda de prata não é própria para as grandes
transacções, é o que não se pôde contestar. Mas que ella
superabunda aclualmente no mercado, é o que não é
tão fácil de admillir. Uma vez que as espécies metal-
licas concorrem oorn o papel, e que este preencha todas
as funcções do meio circulante, como acontece enlre
nós, não se pôde dizer que ellas superabundáo.
Poderá acontecer que corra mais de uma espécie que
de outra, segundo as conveniências do mercado; mas
qualquer dellas que appareça em maior proporção em
relação á outra, não ha de ser nunca demais, não ha de
nunca exceder ás necessidades do mercado. O que se
verifica em taes circumstancias, e é o que se está obser-
vando entre nós, é que, segundo o estado do cambio,
assim ha de ser do interesse dos possuidores dos metaes,
ou offerecel-os em pagamento, ou recolherem-se com
elles.
Na primeira hypothese, que é a em que nos temos
achado ultimamente, ha de manifeslar-se toda a repu-
gnância da parte daquelles a quem forem oíferecidas.
Mas isto ha de acontecer tanto com a moeda de prata
— 320 —
como com a de ouro, posto quo em maior gráo a res-
peito da primeira por causa de seu volume. A repu-
gnância pois em taes casos em receber-se a moeda do
prata, nem é privativa dessa espécie de moeda, e nem
prova sua superabundancia no mercado.
Se porém é verdadeira essa superabundancia, a secção
não concebe como é que a execução da lei de 20 de
Setembro a fará desapparecer do modo que se suppõe.
Se ella bem peneirou o pensamento da representação,
parece-lhe aíTirmar-se que a moeda do novo cunho ha
de produzir o elfeito de fazer retirar para os usos do-
mésticos parte da prata que circula. Se com a nova
moeda ficasse desmonetisada a de cunho velho, enlão
deveria, na verdade, ser distrahida parte da prata para
outros usos. Mas a verdade é que cila continua a correr
juntamente com a nova, e portanto continuará a exercer
as mesmas funcções que d antes.
Além disso o novo cunho não diminue a somma de
valores existentes naquelle metal, pois que elle, alterando
um pouco o peso, conservou o mesmo titulo, e a mesma
proporção para com o ouro. Com isto porém não quer a
secção contestara influencia que ha de ter o novo cunho
nas facilidades da circulação, ella só impugna o modo de
acção que se lhe attribue". O arbítrio apontado na repre-
sentação para oceorrer aos embaraços que soffre o com-
mercio, não deixa de estar sujeito a serias objecções.
1." Este deposito parece vir a ser uma espécie de
banco de deposito. Mas não se dão entre nós as cir-
cumstancias que os aconselharão em sua origem, que
erão a multiplicidade de moedas depreciadas, ou pelo
seu uso, ou pelo seu próprio cunho. Para obviar aos
inconvenientes de um tal meio circulante erão rece-
bidas as moedas segundo seu valor intrínseco, com uma
retribuição de pequena fracção em favor do eslabele-
cimento;e isto não é o que se pede.
2. 1 O deposito da prata, dando lugar a um papel que
a representa, fará correr duas espécies de papel moeda,
uma que representa um valor metallico que se pôde
realisar, e outra não. O que deve de estabelecer logo urna
diíTerença em favor da primeira.
3. a Estes bilhetes hão de correr só nesta praça, ou
poderão ser transportados para as outras provincias,
para onde o pôde ser a prata que representão? Na pri-
meira hypothese ha de vir a sentir-se nas provincias
a falta de toda a prata que fôr conduzida para a corte,
que será em não pequena escala pelo interesse que ha
de achar o possuidor no deposito : na segunda abre-se
a porta a especulações do falsificação.
— 321 —
4.a Este deposito ha de ser levantado á apresentação
dos bilhetes, quem quer que seja o portador, ou en-
tregue somente aquelle que o houver feito?
5.a Estes depósitos não se hão de fazer senão no
caso de a prata correr no mercado com um valor in-
ferior ao da lei, que é quando ha repugnância em a
receber. Então achará o possuidor do metal um meio
fácil de locupletar-se, que é fazer o deposito, receber
bilhetes que representem as quantias depositadas, isto
é, que exprimão um valor maior, que o que ellas tem no
mercado, e assim passal-os a outrem com um verdadeiro
ganho: e depois, mudado o cambio, irá o possuidor
dos bilhetes levantar a prata, e com esta haver no mer-
cado um lucro igual á differença do valor deste, para
o da lei.
6." Se este arbítrio fôr adoptado nesta praça, porque
o não será em outras muitas, aonde se hão de.veri-
ficar as mesmas cansas?
7." Não se deve omittir a horrorosa despeza que terá
de fazer a fazenda publica, com o papel para os bilhetes,
seu fabrico, expediente e escripturação, e talvez aug-
mento de empregados. Por todas estas razões não pa-
rece conveniente a adopção de semelhante medida.
Para atalhar essas difficuldades que tem soffrido o
commercio, e que são communs a todas as classes da
sociedade no trato ordinário da vida, a providencia que
se houver de dar deve recahir sobre a causa que as
produz, procurando-se, ou distruil-a directamente, ou
indirectamente, ou ao menos contrapesar sua influencia
e attenuar seus effeitos.
O governo pôde certamente alcançar grandes resul-
tados em operações sabiamente combinadas. Mas tam-
bém são tantas as causas que concorrem para a alta e
baixa do cambio, que ella nem sempre as poderá remo-
ver, e ás vezes nem ainda lhe é dado prever.
Será bem cabida sua intervenção, quando as oscilla-
ções se succedão rapidamente, ou sigão uma marcha
progressiva com notável alteração nos valores, causando
assim a maior incerteza nos contractos. Mas propôr-se
a regular quaesquer differenças que o curso ordinário
do mercado estabelece, e que elle mesmo destróe, é
muitas vezes causar embaraços ao commercio.
Se o cambio se tem conservado um pouco acima* do
par, actualmente já o acompanha; as providencias dadas
poucos dias antes, já hoje serião nocivas. Neste estado
de cousas parece mais procedente não entorpecer a
marcha natural das cousas com medidas intempestivas,
e deixar que o equilíbrio se restabeleça por si mesmo,
c. 41
— 322 —
Se cousas extraordinárias vierem transtornar os cál-
culos, mais acauteladamente formados, e que pareção
ter de continuar em seas effeitos ; então, e só enlao de-
verá o governo acudir com medidas adequadas.
Entretanto a secção pensa que muito concorrerá para
racilitar a circulação monetária, o cunho da moeda de
prata, segundo a lei de 20 de Setembro do anno passado.
Se com as novas moedas forem tirados da circulação os
bilhetes de um e dous mil réis, ou ao principio, talvez só
os deste segundo valor, será provável que seja a prata
chamada para encher o vasio que deixarem aquelles
bilhetes pequenos ; deste modo deixará de ser accumu-
lada nas mãos dos capitalistas pelo maior campo que se
abre ao seu emprego, e cessará a depreciação. Se a
prata tomar essa direcção, ao menos conseguir-se-ha
um dos fins porque forão admillidos os pesos hespa-
nhoes, que foi habilitar mais promptamenle o governo
a recolher esses bilhetes de pequeno valor.
O conselheiro de estado Paula Souza, comquanto en-
tenda, que caberia na alçada do governo a medida de
recolher-se a um deposito na caixa da amortização toda
a moeda de prata e ouro que ahi se apresentasse,
dando-se em troco valor igual em notas circulantes (não
em outra espécie de papel) e vice-versa, e que isto
facilitaria as transacções, embora algum accrescimo de
despeza motivasse, vendo, todavia, que está mui próxima
a installação da assembléa geral, e que só ella pôde dar
providencias radicaes e permanentes, concorda em que
por ora nada se providencie, limitando-se o governo a
apressar, quanto fôr possível o cunho das moedas de
prata, mesmo para facilitar á assembléa geral as pro-
videncias, que haja de dar, e que disso dependerão.
E' este, Senhor, o parecer que a secção mui respeito-
samente submette ao alto juizo de Vossa Magestade
Imperial.
Rio de Janeiro, em 27 de Março de 1848.— Visconde
de Olinda.—Visconde de Abrantes.—Francisco de
Paula Souza e Mello.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Palácio do Rio de Janeiro, em 48 de Outubro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.
— 323 —

N. 452.—RESOLUÇÃO DE 48 DE OUTUBRO DE 1848.

Sobre o curso das moedas de praia de 600, 300, 150 c 75 réis.

Senhor.—O presidente da província de S. Paulo em


ofíicio de 22 de Março deste anno, submetle á decisão
do governo imperial a seguinte duvida:
A alfândega de Sanios recebeu, em pagamento de
rendas provinciaes, algumas moedas de 600 réis, umas
carimbadas, outras não. O inspector da thesouraria pro-
vincial, duvidando da legalidade desse recebimento, exi-
giu que o inspector da thesouraria geral declarasse, se,
avista da lei de 11 de Setembro de 1846 e decreto de
28 de Novembro do mesmo anno, podião ser [recebidas,
e por que valor, as moedas de prata de 600, 300, 450
e 75réis.
O procurador fiscal, ouvido sobre a declaração exigida,
pronunciou-se a favor da legalidade das ditas moedas,
fundado em que o alvará de 18 de Abril de 1809 as havia
igualado às de patacas, e em que estas achavão-se contem-
pladas na tabeliã do citado decreto de 28 de Novembro.
Apesar do que o inspector da geral, não ousando resol-
ver a duvida proposta, recorreu ao ministério da fazenda
para que houvesse de decidil-a.
A secção de fazenda do conselho de estado, á quem
Vossa Magestade Imperial houve por bem consultar sobre
a matéria do referido officio, concordando com o pre-
sidente da província e ser legal o curso daquellas das
ditas moedas que se acharem marcadas á ponção ou
carimbadas como o exigiu o citado alvará de 1809 para
que pudessem correr com valor igual ao das patacas,
entende que com effeito a duvida da thesouraria pro-
vincial só é procedente a respeito da legalidade daquellas
das ditas moedas que apparecem agora sem a marca
ou carimbo exigido.
Entendendo outrosim: 1.° que a lei de 11 de Setembro
de 1846 não teve em vista expellir da circulação moeda
alguma nacional de prata; 2." que a mesma lei autoriza
amplamente ao governo para determinar o valor de todas
as moedas de prata que devem circular na razão do
valor que foi dado ás de ouro ; 3.° que as antigas moedas
nacionaes de 600 réis e suas divisões tem o mesmo peso
e quilate que as de duas patacas e suas divisões; e 4.°
que é de conveniência publica remover toda e qualquer
duvida, seja fundada ou não, que possa desacreditar na
opinião do povo, alguns dos raros instrumentos da nossa
circulação monetária; a mesma secção é de parecer;
— 324

Oue o governo imperial se sirva declarar, que as


moedas de prata de 600, 300, 450 e 75 réis de cunlio na-
cional quer se achem carimbados quer nao, devem
correr e ser aceitas pelo mesmo valor que foi marcado
para as de duas patacas, uma, meia e quarto na parte
final da tabeliã do decreto de 28 de Novembro de 1846.
Vossa Magestade Imperial porém se dignará resolver
como mais conveniente fôr.
Rio 9 de Maio de 1848. — Visconde de Abrantes.—Vis-
conde de Olinda.—Francisco de Paula Souza e Mello.
RESOLUÇÃO.
Como parece. {*)
Palácio do Rio de Janeiro, em 18 de Outubro de 1848,
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 153.—RESOLUÇÃO DE 18 DE OUTUBRO DE 1848.


Sobre o recurso de Pedro Peixoto de Araújo do despacho do the-
souro, que negou cumprimento á rogatória do juizo do eivei, expe-
dida para pagamento de uma divida, de herança jacente, arrecadada
durante a demanda.

Senhor.—Por aviso de 6 do corrente mez houve Vossa


Magestade Imperial por bem ordenar á secção de fa-
zenda do conselho de estado, que interpuzesse seu pa-
recer sobre o recurso de Pedro Peixoto de Araújo contra
o não cumprimento da rogatória expedida pelo juizo da
3.* vara eivei ao tribunal do thesouro; em desempenho
deste dever tem a secção a honra de expor o seguinte:
O recorrente era credor de Sebastião de Carvalho, de-
mandou-o pelo juizo da 3.» vara eivei desta corte, mas
quando o processo tinha de ser arrazoado a final acon-
teceu morrer o seu devedor, e foi sua herança arreca-
dada pelo juizo de ausentes. Citados o Dr. procurador
dos feitos da fazenda, e o curador nomeado á herança,
seguiu o processo seus termos, e obteve o recorrente

(*) Decreto n.° 858 de 23 de Outubro de 1848 declarando que as


moedas de prata de 600, 300,150 e 75 réis, de cunho nacional, devem
correr pelo valor marcado para as duas, uma, meia, e quarto.
— 325 —
sentença a seu favor, que extrahiu e fez transitar pela
chancellaria, e praticados os mais actos necessários lhe
foi dada rogatória para levantamento do dinheiro, que
havia penhorado e que fora recolhido ao cofre publico do
thesouro, mas não foi ella cumprida com o fundamento
de ser incompetente o juízo da 3. a vara eivei, tendo sido
a herança arrecadada pelo juizo de ausentes.
O recorrente viu no despacho do tribunal do thesouro
um conílicto de iurisdicçáo entre o mesmo e o juiz da
3." vara, epara decisão deste conílicto é que interpôz o
recurso, soore que tem a secção de consultar.
Entende a secção que não ha conílicto de jurisdicção
entre autoridade judiciaria e administrativa, porque o
tribunal do thesouro, não se considera competente para
conhecer da acção da divida intentada pelo recorrente;
o tribunal declara incompetente o juiz da 3. a vara eivei,
e é este o motivo, pelo que não cumpriu a rogatória.
No conceito pois da secção é improcedente o recurso.
Permitta porém Vossa Magestade que a secção pondere
em sua Augusta Presença, que a precatória deixou de ser
indevidamente cumprida,porque tendo sido demandado
o devedor ainda em sua vida perante o juiz da 3. a vara
çivel, era este o competente para proferir sentença, como
realmente proferiu ; porque ao tempo do fallecimento do
dito devedor estava já preventa a jurisdicção do juizo
eivei. Parece pois á secção justo e decoroso.ao thesouro
o cumprimento da rogatória, pois que, além de ser váli-
da a sentença referida, não é airoso ao thesouro, como
depositário da herança mencionada, negar-se ao reque-
rido pagamento, ainda quando houvesse alguma irregu-
laridade nas fôrmas, uma vez que não influísse na subs-
tancia do objecto.
E' este o parecer da secção, que Vossa Magestade Im-
perial se dignará resolver como for mais justo e razoável.
Sala das sessões do conselho de estado, 28 de Setem-
bro de 4848.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—Manoel
Alves Branco.—Visconde de Abrantes
RESOLUÇÃO.
Como parece. (*)
Palácio do Rio de Janeiro, em 48 de Outubro de 4848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Ordenou-se o cumprimento do precatório, em 23 de Outubro


de 1848.
— 326 —

N. 154.-RESOLUÇÃO DE 28 DE OUTUBRO DE 1848.

Sobre o recurso de José Pereira Leal da decisão do lliesouro, que


obrigou á siza os bens com que se ficou, e que estavão adjudica-
dos á dividas, que remiu, do seu casal.

Senhor.— Dignou-se Vossa Magestade.Imperial ordenar


por aviso de 28 de Fevereiro do corrente anno, que a
SMPP;\O do concelho de estado, a que pertencem os ne-
gócios da fazenda, consultasse sobre o requerimento de
José Pereira Leal, que pretende não ser obrigado ao
pagamento da siza dos bens com que se ficou, que es-
tavão adjudicados á dividas do seu casal, dividas que
eile remiu : a secção, passa a obedecer a esta ordem im-
perial, expondo a sua opinião a respeito.
José Pereira Leal, do município da Barra Mansa, provín-
cia do Rio de Janeiro, tendo-se devorciado de sua mulher,
e em virtude disto tendo-se procedido a inventario e parti-
lhas do casal no juizo municipal daquelle termo, separá-
rão-sebens para pagamento de dividas do casal, como tudo
se vê dos documentos juntos; acontece porém que elle
convencionou-se com o credor (José Ferreira Cardoso) e
remiu a divida, passando letras e obtendo quitação,
assim como obteve também quitação de sua mulher do
que lhe tocava de sua meação.
O collector das rendas publicas exigiu delle o paga-
mento da siza respectiva, a que elle se oppõe com o
fundamento de que, não lendo havido venda, não era
obrigado á siza, e que não houve venda, pois que os bens
ainda não tinhão sahido do domínio do seu casal,
quando elle os remiu, como podia á vista da lei. Ou-
vido o tribunal do thesouro, opiniou o conselheiro de
estado procurador fiscal, e o conselheiro contador geral,
que era devida a siza, sendo de voto contrario o conse-
lheiro inspector geral.
A secção concordaria em que não ha obrigação do
pagamento da siza, se não tivesse havido o divorcio, e
portanto a partilha dos bens do casal: nesse caso, como
não tenha havido ainda a entrega dos bens ao credor,
uma vez que elles forão remidos (corno em verdade o
forão), voltavão ao casal, d'onde tinhão sahido, como
permitte a lei, ainda depois da penhora, e mesmo da
arrematação ; mas tendo havido o divorcio, e partilha,
já os bens não são todos do casal, mas década um dos
cônjuges aquelles, que a cada um delles tocarão: sendo
assim o marido só podia remir a metade daquelles,
que forão adjudicados, ao pagamento das dividas, com-
— 327 —

«pelindo á mulher o direito de fazer o mesmo quanto


a outra metade: e como isto não fez ella, segue-se, que
para o marido ficar-se com essa metade, era preciso
que se lhe vendesse, e venda reputa a secção o contracto
feito pelo credor com o marido, e como "tal dependente
do pagamento da siza. Se quizer-se suppôr que houve
também remissão da divida por parte da mulher, e que
portanto não ha também quanto a essa metade obrigação
de pagamento da siza, ainda assim continua a secção
na opinião que enunciou, porquanto, tendo havido o
devorcio e partilha, e cessando por conseguinte a cu-
munhão de bens, para pertencer essa metade ao marido,
necessário seria que a mulher lh'a vendesse, e nesse
caso necessário também seria o pagamento da siza. De-
vendo portanto entender-se que e por compra, que ficão
pertencendo ao marido esses bens que só a mulher podia
remir, mas que não remiu; parece á secção claro, que
dessa metade deve-se pagar siza, e que neste sentido
se defira ao supplicante.
E' este o parecer da secção que mui respeitosamente
ella submette á alta consideração de Vossa Magestade
imperial.
Rio, 28 de Março de 1848.—Francisco de Paula Souza
e Mello.— Visconde de Olinda.— Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece: (*)


Palácio do Rio de Janeiro, em 28 de Outubro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(») Joaquim José Rodrigues Torres, presidente do tribunal do thesouro


publico nacional, de conformidade com a resolução de consulta da
secção de fazenda do conselho de estado de 28 do mez ultimo, de-
clara ao Sr. inspector da thesouraria da província do Rio de Ja-
neiro, que José Pereira Leal, fazendeiro do município da Barra Mansa,
deve pagar siza da metade dos bens, que coube em partilhas a sua
mulher, em conseqüência do divorcio, e que elle, tendo sido adjudi-
cada á dividas do casal, remiu, recebendo delia quitação pela sua
meação; devendo entender-se que é por compra, que ficarão per-
tencendo ao marido esses bens.
Thesouro publico nacional, em 2 de Novembro de 1848—Joaquim
José Rodriques Torres.
— 328 —

N. 455.—RESOLUÇÃO DE 28 DE OUTUBRO DE 4848. "

Sobre a representação do juizo de orphãos da corte contra a ordem


do thesouro, que mandou deduzir porcentagem somente do liquido
dos bens de defuntos e ausentes

Senhor!—Ordenou Vossa Magestade Imperial que a


secção de fazenda do conselho de estado desse pa-
recer sobre a representação que o juiz de orphãos desta
corte dirigiu, com data de 23 Outubro do anno pró-
ximo passado, ao ministério da fazenda, contra a dis-
posição da ordem do thesouro publico de 12 de Se-
tembro de 4845: Esta ordem explicando as palavras
— producto que se arrecadar e apurar— empregadas
no art. 26 do regulamento de 9 de Maio de 1842, de-
clarou que a porcentagem á favor dos empregados do
iuizo dos orphãos se devia deduzir somente do dinheiro
liquido que produzissem os bens arrematados, ou que
fosse achado em espécie no espolio do intestado. Aquel-
le juizo porém, que se achava na posse, até então não
contestada, de deduzir a mesma porcentagem de todos
os bens arrecadados e apurados, vendo-a agora li-
mitada aos moveis e semoventes, que forem arrema-
tados, e ao dinheiro achado em espécie, com exclusão
dos bens de raiz que não são postos em arrematação,
e d o s objeetos de ouro, prata e pedras preciosas, que
são recolhidos aos cofres públicos, representa contra
a dita ordem, arguindo-a de opposta aos interesses
da fazenda, e dos herdeiros dos defuntos e ausentes,
por isso que, faltando o incentivo de uma conveniente
remuneração aos empregados do juizo, e sobre tudo aos
curadores, é de receiar que muitas heranças fiquem aban-
donadas, ou sejão mal administradas.
Tendo apreciado os fundamentos desta representação,
e as razões da legislação em vigor sobre a sua ma-
téria, entende a secção, que convém sustentar a dis-
posição da citada ordem do thesouro na parte que diz
respeito aos juizes, escrivães e officiaes do juizo dos
orphãos; mas que é necessário providenciar, quanto aos
curadores, de modo que a responsabilidade destes,
e o seu zelo e diligencia não deixem de ter uma ra-
zoável compensação. Porquanto se em attenção aos fias
da lei de 3 de Novembro de 1830 que extinguiu a pro-
vedoria dos defuntos e ausentes, é de evigente conve-
niência, se não de justiça, alliviar a massa das heranças
e bens dos mesmos defuntos e ausentes das conside-
— 32» —

.raveis despezas que d'antes exigia a sua administração


pela dita extincla provedoria, e por conseqüência re-
duzir essas despezas aos termos a que forão limitadas
pela sobredita ordem ; lambem em attenção á neces-
sidade de obstar-se á que homens honestos e idôneos,
por falta de conveniente compensação, se recusem á
tomar sobre si, na qualidade de curadores, a respon-
sabilidade do encargo de administrar com zelo, e de-
fender os interesses e bens confiados á sua guarda,
não é conveniente nem justo sujeitar os curadores ás
regras da porcentagem, que devem perceber os empre-
gados do juízo dos orphãos.
Isto posto, e tomando por base da opinião que passa
a dar, algumas disposições da antiga legislação e da
actual que não deixão de ter analogia com a espécie
de que se trata, a secção é de parecer:
1.° Que a disposição da ordem do thesouro de 12 de Se-
tembro de 1845, seja sustentada, è incorporada ao regu-
lamento de 9 de Maio de 1842.
2.° Que, porém, aos curadores das heranças e bens dos
defuntos e ausentes, além da porcentagem que lhes ca-
be em commum com os empregados do dito juizo, se-
gundo a mesma disposição daquella ordem, sejão-lhe
mais abonados :
2. % do valor dos bens moveis e semoventes, que não
forem arrematados, e ficarem confiados á sua guarda;
por ser esta a porcentagem concedida por lei ao deposi-
tário publico.
1 % do valor dos objectos de ouro e prata e pedras pre-
ciosas, que forem arrecadados, e recolhidos aos cofres pú-
blicos, por ser essa a commissão que regularmente se
exige por semelhante trabalho.
5 7» do rendimento liquido dos bens de raiz, que fica-
rem debaixo de sua guarda e administração, com tanto
que o total dessa porcentagem não exceda á somma an-
nual de quatro centos mil réis ("400$000), por ser a mes-
ma porcentagem equivalente á vintena que a ord. liv. i.°
tit. 88 § 53 concede aos curadores dos orphãos, e o limite
prescripto igual ao de cincoenta mil réis (50#000) em
moeda forte que a citada ordenação prescrevia em caso
tal.
Vosssa Magestade Imperial se dignará, a vista do ex«
posto, resolver o que tiver por melhor.
Rio, 21 de Maio de 1847.—Visconde de Abrantes.—Vis~
conde de Olinda.—Manoel Alves Branco.

o. 42.
— 330 -
RESOLUÇÃO.

Como parece (*).


Palácio do Rio de Janeiro, em 28 de Ouiubrode 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 156.—RESOLUÇÃO DE 4 DE NOVEMBRO DE 4848.

Sobre a pretenção de Ângelo Francisco Carneiro ao pagamento,


á que foi condemnada a fazenda nacional, de uma quantia, rou-
bada dos cofres da mesa de rendas de Pernambuco

Senhor l— Dignou-se Vossa Magestade Imperial por


aviso da secretaria de estado dos negócios da fazenda,
que a secção do conselho de estado, a que pertencem
os negócios daquella repartição, consultasse sobre o
requerimento de Ângelo Francisco Carneiro, em que
pede se lhe mande pagar a quantia de 264#040 que
tinha sido depositada na mesa das diversas rendas de
Pernambuco : e ella passa a obedecer, dando o seu pa-
recer.
O supplicante depositou essa quantia nessa repartição,
e quando quiz rehavel-a, como tinha direito, não se
lhe satisfez porque tinha sido ella roubada com mais ou-
tras. Propôz então demanda á fazenda publica, e apezar
das razões do procurador da coroa obteve contra ella
sentença que transitou em julgado. A secção lastima
que possa estabelecer-se o aresto de ser a fazenda pu-
blica obrigada em casos taes a pagamentos de de-
pósitos existentes em suas repartições, e por isso toma
ella a liberdade de lembrar ao governo de Vossa
Magestade Imperial a necessidade de alguma medida
legislativa, que mande julgar questões taes administra-
tivamente, assim como ja está determinado a respeito
das presas, e indemnizaçóes, e como lhe parece evi-

ODecreto n.»861 de 18 de Novembro de 1848. Additando os regu-


lamentos de 9 de Maio de 1842, e 27 de Junho rte iWi, para arreca-
dação dos b#ns de defuntos e ausentes.
— 331 —
dente esta necessidade deixa de desenvolver as razões
que a fundamentão. A secção reconhece a indepen-
dência do poder judiciário, e respeita suas decisões ; mas
reconhece também a independência dos outros poderes, e
julga indispensáveis suas decisões, quando algum acto do
poder judiciário para seu complemento dependa dellas.
Ora, embora exista essa sentença não existe fundos decre-
tados pelo poder legislativo para este ou semelhante paga-
mento , e sem essa decretação entende a secção que
não pôde o poder executivo fazer o pagamento, pois só
pôde obrarem virtude de decretação. •
Que não existe taes fundos decretados, é claro á vista
das informações do thesouro. Parece pois á secção que
o que convém é ser este negocio remettido ao poder
legislativo para este em sua sabedoria deliberar como
tem o direito, se se deve fazer esse pagamento, e nesse
caso decretar os fundos necessários, habilitando para
isso o poder executivo.
O conselheiro de estado Visconde de Olinda concorda
na conclusão do parecer; mas tem de fazer as seguintes
observações.
1.a Não admitte o principio do modo absoluto que
arece estabelecer-se no relatório de que a fazenda pu-
K lica não é obrigada a responder pelos depósitos exis-
tentes, em suas repartições. No caso presente entende
que não corre a obrigação de pagar o damno que se
reclama, por causa da força maior que o causou; e por
isso menos bem fundada lhe parece a sentença, tendo
sido a matéria bem desenvolvida pelo procurador fiscal.
Mas não se pôde dizer que esta regra vigora em to-
dos os casos, principalmente quando o extravio do de-
posito provém de acção, ou omissão criminosa da pes-
soa aencarregada da sua guarda.
2. Estabelecida a independência dos poderes, uma
sentença do poder judiciário não pôde ser destruída por
um acto do poder legislativo, como virá a ser neste
caso, se este* ullimo poder, negar os fundos necessários
para sua execução.
Isto não contraria a independência deste poder, o
qual não é sem limites, postos pela mesma constituição,
que creou estes poderes igualmente independentes, os
quaes por essa mesma razão se devem respeitar mu-
tuamente, sustentando os actos ufts dos outros. A lei
de 24 Outubro de 1832, que fez dependente de auto-
rização legislativa o pagamento dos prejuízos causados
por occasião de guerra externa ou interna, não é re-
digida de modo que se deva dizer necessariamente que
coinprehende todos os casos, ainda os que tem em seu
— 332 —

favor uma sentença. Parece antes que dev<; ser enten-


dida daquelles em que fallece mandado judiciário; de-
vendo ella ser considerada somente como uma limitação
ao arbítrio que até então exercia o poder execulivo,
de fazer taes pagamentos só por si. Não sendo coarctada
a acção do poder judiciário por esta lei, para que te-
nha ella applicação aos casos decididos pelos juizes,
será forçoso dizer que fica constituído um poder juiz
do outro; o que seria um absurdo. Entretanto para re-
mover as conseqüências de taes arestos, que serão
funestos ao thesouro, concorda o mesmo conselheiro
na instituição do juízo administrativo, como se indica
no relatório do parecer.
E' este o parecer da secção, que muito respeitosa-
mente tem ella a honra d»** submetter ao alio conhe-
cimento de Vossa Mageslade I uperial, que se dignará
acolhel-o com a sua costumada benevolência.
Rio, em 14 de Janeiro de 1848.— Francisco de Paula
Souza e Mello.—Visconde de Abrantes.— Visconde de
Olinda.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 4 de Novembro de 1818.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 156.—RESOLUÇÃO DE 4 DE NOVEMBftO DE 1848.

Sobre o officio do presidente de S. Paulo, acerca de duvidas susci


tadas, na arrecadação do sello dos quinhões hereditários.

Senhor.—Ordena Vossa Magestade Imperial que a


secção de fazenda do conselho de estado consulte sobre
o officio do presidente de S. Paulo, que pede ao governo

„JíLSuib"!o-.Ada a
consideração da cisaeinbléa geral. Aviso de 3deJa-
— 333 —

uma decisão sobre as duvidas, que se têm suscitado a


respeito da arrecadação do sello proporcional dos qui-
nhões hereditários, que o aviso de 24 de Setembro
de 1846, mandou fazer, quando se extrahisse a sentença
ou formal de partilha, e antes que fosse subscripta pelo
respectivo escrivão.
Informa aquelle presidente, que sendo raros os her-
deiros, que lirào formal de partilha, por se ter admitlido
a pratica de entrarem na posse de seus quinhões sem
essa formalidade, entendeu a thesouraria dever recom-
mendar aos juizes, que não consentissem, que os escri-
vães dessem quaesquer certidões de partilha, antes da
extracção dos formaes e pagamento do sello, mas op-
nondo-se á esta recommendação alguns juizes com o
fundamento de lhes não ser permillido o negar ás par-
tes , principalmente ás interessadas, quaesquer certi-
dões, uma vez que não seja o seu objecto de segredo,
ficara o negocio no mesmo estado, isto é, ficara a.co-
brança da taxa do sello inteiramente dependente da
vontade das partes de tirar ou não tirar o seu formal,
pedindo sobre isso decisão do governo.
A secção de fazenda do conselho de estado, depois de
attentamente considerar o objecto entende, que e indis-
putável, que nenhuma lei autoriza os juizes a negar ás
partes, e muito principalmente ás partes interessadas
certidões de quaesquer actos de processos, qu,e correm
em seus juizos ; e por isso não o devem fazer com o fim
de indirectamente obrigal-os a tirar formaes de parti-
lhas, a que também nenhuma lei os obriga, nein deve
obrigar, attento o grave detrimento que dahi se seguiria
á maior parte dos subditos do Império, cujos quinhões
hereditários são insulíicientes para carregar com custas,
sendo neste caso preferível mandal-os arrecadar na sua
totalidade para os cofres nacionaes.
Ora, sendo islo assim, entende também a secção que
o aviso de 24 de Setembro de 1846, bem longe de con-
correr para a arrecadação do imposto, inteiramente a
contraria, porque para não ser arrecadado basta que as
partes usem de seu direito de não tirar formal, o que
sem duvida alguma não é conforme com a letra da lei
de 21 de Outubro de 1843, reg. de 26 de Abril de 1S44,
que taxa os quinhões heriditarios independentemente
de formaes, e que não impõem a ninguém obrigação
alguma nova a este respeito.
Portanto a secção é de parecer, que seja revogado o
aviso de 24 de Setembro de 1846, e se ordene á the-
souraria de S. Paulo, revogue a sua recommendação
aos juizes, eslabelecendo-se um outro modo do arreca-
— 334 —

dar o sello dos quinhões hereditários sem quebra do


imposto, e sem impor aos cidadãos brasileiros o ônus
de tirar formaes de partilhas ; e como tudo se pode
conseguir pelo methodo lembrado pelo administrador
da recebedoria da corte e juizes de S. Paulo, seja esse
o meio adoptado.
Tal é o parecer da secção.
Vossa Magestade Imperial, porem, mandará o que fôr
mais justo.
Rio de Janeiro, 6 de Outubro de 1848.— Manoel Alves
Branco.—Bernardo Pereira de Vasconcellos .—Visconde
de Abrantes.
KESOLUÇÃO.

Como parece. (*)

Paço, em 4 de Novembro de 1848.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.


Joaquim José Rodrigues Torres.

N.° 158.—RESOLUÇÃO DE 4 DE NOVEMBRO DE 1848.

Sobre as leis provinciaes de Sergipe do anno de 1848.

Senhor.— A secção de fazenda do conselho de estado,


a quem Vossa Magestade Imperial se dignou mandar re-
metter uma collecção das leis provinciaes de Sergipe
publicadas no corrente anno, examinou as ditas leis na
parte relativa aos negócios da fazenda, e entende que
nellas nada se acha disposto, que não esteja nas attri-
buições da assembléa provincial; podendo porém ser
inconveniente que se encarreguem as repartições ge-

ri Ordem circular n.° 137 de 8 de Novembro de 1848, na collecção


das leis.
— 335 —
raes cobranças de impostos sem o accordo do governo
geral, e também que as assembléas se desmandem em
impor na importação e sobre o commercio e nave-
gação entre as provincias, é a secção de parecer que se
recommende ao presidente que tenha muita attenção
sobre leis, como as que se achão a fls. 15, 42, e 43
da referida collecção (*); e que sejão levadas ao conheci-
mento da assembléa geral legislativa as disposições de
que se trata, para que proveja de remédio, emquanto é
tempo.
Vossa Magestade Imperial Resolverá, porém, como
fôr mais acertado.
Rio de Janeiro, 16 de Outubro de 1848—Manoel Alves
Branco.— Visconde de Abrantes.—Bernardo Pereira de
Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece (")


Paço, em 4 de Novembro de 4848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Resolução n.» 217 de 17 de Maio de 1848, que encarrega ns


repartições geraes da cobrança das rendas da província; lei do
orçamento n.° 235 de 17 de Junho de 1848, §§ 3.»8.° e 20 do art. 13
que creão o imposto annual de 6$000 sobre os barcos de cabotagem—
o de 3J000 sobre uiilheiro de charutos vindos de fora da provincia— e o
de 6#400 sobre os mascates, sendo no duplo, se forem estrangeiros,
com quem o Brasil, não tenha tratado de commercio.
(**) Mm. e Exm. Sr.—Sua Magestade o Imperador houve por bem em
resolução de consulta da secção de fazenda do conselho de estado de 4
do corrente mandar declarar a V. Ex. que, não cabendo ás assembléas
legislativas provinciaes o direito de incumbira arrecadação de rendas
ás repartições geraes, sem consentimento do governo; e nem con-
vindo que imponhão no commercio e navegação entre as provincias,
deve V. Ex. ter muita attenção sobre leis, como as que se achão a
fls. 15, 42, e 43, da collecção de legislação dessa provincia promul-
gadas no presente anuo, que acompanhou o officio dessa presidência
de 21 de Julho próximo passado.
Deus guarde a V. Ex.—Palácio do Rio de Janeiro, em 24 de No-
vembro de 1848.— Joaquim José Rodrigues Torres.—Sr. presidente da
provincia de Sergipe.
Esta consulta foi submettida á consideração da assembléa geral.
Aviso de 5 de Janeiro de 1830.
— 336 —

N. 159.—RESOLUÇÃO DE 4 DE NOVEMBRO DE 1848.

Sobre as leis provinciaes do Ceará de 1847.

Senhor.—Em cumprimento da ordem de Vossa Mages-


tade Imperial para que a secção do conselho de estado
dos negócios da fazenda examinasse a collecção de leis
provinciaes do Ceará, publicadas no anno de 1847, pas-
sa a mesma secção a dar conta do juizo que formou so-
bre as referidas leis, na parte que respeita á repartição
de fazenda.
Bem que não encontrasse nos actos legislativos, con-
tidos na dita collecção, disposições manifestamente con-
trarias ao acto addiccional á constituição, entendido co-
mo em geral tem sido; não pôde comtudo a secção
deixar de fazer reparo nas excepções estabelecidas pelos
i|5.°e9.°do art. 4.° da lein.°432 do1.° de Setembro de
1847, segundo os quaes a aguardente e o tabaco, fabri-
cados, importados de outra provincia, ficão sujeitos á
maiores direitos do que pagão os mesmos productos
sendo da própria província; porquanto, embora se en-
tenda que a importação, de que falia o acto addicional, é
a de procedência estrangeira, não é menos certo que o
estabelecimento de direitos differenciaes e de alfânde-
gas entre as provincias do império, além de ser opposlo
aos princípios da unidade política, tende manifestamen-
te á contrariar o desenvolvimento da producção e com-
mercio interior do paiz. Pelo que, é a secção de pare-
cer que o governo imperial haja de levar ao conheci-
mento da assembléa geral legislativa, as sobreditas dis-
posições, para occorrer, com tempo, ao grande incon-
veniente que dellas devem resultar, empregando entre-
tanto os meios suasorios, ao seu alcance, para que a
assembléa provincial do Ceará não continue na carreira
que encetou..
Vossa Magestade Imperial, porém, se dignará resolver
o que tiver por melhor.
Rio de Janeiro, em 16 de Outubro de 1848.—Visconde
de Abrantes .—Manoel Alves Branco.—Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.
— 337 —

RESOLUÇÃO.

Como parece (*).


Paço, em 4 de Novembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

X. ICO RESOLUÇÃO DE 4 DE NÓVEMNRO DE I818


Sidireas li*is provinciaes do Piauhy de 1857.

Senhor.—\ secção de fazenda do conselho de estado, á


quem Vossa Mageslade Iinperial se dignou mandar ouvir

CJIlIm. cF.xm. Sr.—Na conformidade da resolução Imperial de 4


do corrente tomada sobre consulta da secção «le fazenda do conse-
lho <te estado, a quem foi remeitida a collecção de leis da assem-
bléa legislativa do Ceará, promulgadas uo anuo próximo passado, e
transmittidas pelo presidente da ditft provincia a repartição da fa-
zenda, hoje a meu cargo, em officio n. 17 de 6 de Junho ultimo,
cominunico ao referido presidente, que poslo se não encontrem nes-
ses actos legislativos, disposições manisfestamente contrarias ao acto
addicional entendido como em geral o tem sido; são dignas de re-
paro, as excepções estabelecidas pelos §§ 5.» e 9.» do art. 4.» da lei
ii.° 432 do 1.° de Setembro de 1847, segundo as quaes a aguardente,
e o tabaco, fabricados, importados, de outra província, ficão sujeitos a
maiores direitos, do que pagão os mesmos productos sendo da pró-
pria província, porque, embora se entenda que a importação de.
que trata o acto addicional, é a de procedência estrangeira, não é
menos certo, que o estabelecimento de direitos differenciaes, e de
alfândegas entre as províncias do Império, além de ser opposto aos
princípios de unidade política, tende manifestamente a contrariar o
desenvolvimento da producção, e commercio interior do paiz; e nes-
tes termos, emquanto o governo não leva ao conhecimento da as-
sembléa geral legislativa as sobreditas disposições para occorrer
com tempo ao grande inconveniente que dellas deve resultar, recom«<
inendo ao dito presidente que empregue entretanto os meios sua-
sorios ao seu alcance, para que a assembléa legislativa dessa provin-
cia não continue na carreira que encetou.
Esta recommendação, que tem por objecto prevenir maiores diffi-
euldades íuiuras, quando houverem de ser tomadas a este respeito
as providencias que o bem do paiz reclama, não deve limitar-se á
provincia do Ceara, pois que iguaes casos podem occorrer nas mais
províncias do Império; e por isso o faça igualmente extensiva.
ücus guarde a V. ILxm. Palácio do Uio de Janeiro, em 13 de Novem-
bro de 1858.— Joaquim José Rodrigues Torres.— Sr. presidente da
provincia de
Esta consulta foi submeilida á consideração da assembléa geral.;
Aviso de S de Janeiro de 1850.
c. 43.
— 338 —

sobre as leis provinciaes do Piauhy, publicadas no anno


findo de 1847, não encontrou no exame que dellas fez, re-
lativamente aos negócios da fazenda publica, disposição
alguma contraria ao acto addicional á constituição do im-
pério ; não comprehendendo porém ncsle seu juizo a re-
solução n.° 215 de 9 de Agosto de 1847, que poe em vigor
nesse anno a lei do orçamento do passado ; visto que não
lhe tendo sido presente a legislação anterior do Piauhy, só
pode a secção referir-se agora, árespeilo das disposições
desta lei, ao que tiver dito no seu precedente parecer
sobre a legislação publicada naquella provincia no anno
de 1846.
Vossa Magestade Imperial resolverá entretanto como
mais conveniente fôr.
Rio de Janeiro, em 18 de Outubro de 1848.— Visconde
de Abrantes. — Manoel Alves Branco.—Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paro, em 4 de Novembro de 1848.
Com a rubricado Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

X. 161.-RESOLUÇÃO DE 4 DE NOVEMBRO DE 1848.

Sobre a época, em que deve começar a ter execução a lei do orça-


menio n.° 51 í de 23 de Outubro de 18Í8, na parte em que crêa
. novos impostos.

Senhor.—Em observância do que Vossa Magestade Im-


perial houve por bem ordenar, vem aseceáo dos negócios
da lazenda do conselho de estado apresentar seu parecer
sobre a época em que deve começar a execução das dis-
posições da lei do orçamento do corrente, e* do seguinte
anno financeiro, que alção a metade da taxa de impor-
tação para consumo, as reexportações para a costa d'Africa
eaSO-y os direitos de importação sobre calçado, roupa H
íeita e obras de marcenaria.
— 339 —

Justo c conveniente fora, que de accordo com as leis


anteriores não principiasse a execução da refjrida lei, na
parte relativa á alça dos direitos mencionados, se não de-
pois de decorrido o tempo necessário, para que chegasse
ao conhecimento publico : muitas transacções ern verdade
terão sido feitas calculando-se com a legislação vigente,
e não pequeno transtorno á fortuna publica e particular,
tem de resultar da alteração de que se trata. Mas a disposi-
ção da lei, que vai regera despeza e receita do império no
corrente e seguinte anno financeiro, nãopermitte a íixação
dealgum prazo, ha de ser executada immediatamente de-
pois de sua publicação.
Nem justificará qualquer aclo do governo que o con-
trario resolva, a injustiça da medida, ou sua opposição
aos preceitos economico-politicos e financeiros.
Reconhece a secção que a lei vai mallograr esperanças
bem fundadas, fornecer demasiada protecção a "alguns
ramos de industria, e incitar á fraude e ao contrabando
em detrimento da moral e das rendas publicas; mas
estas razões, dado que mui ponderosas, não autorisão a
a suspensão das leis .
Nem sequer se dá a retroaclividade, que nessa parte
da lei enxerga a commissão da praça do commercio.
Se ha retroaclividade em executar uma lei que allera os
direitos de importação logo depois que he promulgada,
retroactivas serão todas as leis sobre os outros impostos,
que não marcarem para sua execução um prazo maior do
que o exigido para a observância das outras leis.
Ainda em matéria civil é questionável se um tal defeito
justifica a inobservância da lei desde a época na mesma
declarada.
Finalmente nem tão avultados são os interesses feridos
pelas disposições, sobre que versa esta consulta, q\xe por
sua magnitude fosse o governo justificado de suspendel-a.
O valor dos objectos reexportados para a costa d'Africa
não montarão a mais de 1.600 a 1.800 contos, e os di-
reitos de importação sobre calçado, obras de marcenaria
e roupa feita importarão no anno de 1843—1844 em 925
contos, em 1844—1645 em 1.000 contos, mas em 1845—1846
baixarão a 604 contos ; e segundo se coliige das informa-
ções do thesouro, a baixa continua nos annos seguintes
de 1846 a 1848. E' pois provável que estes valores de
importação não excedãohoje a 400 contos ; e, bem que
possão soíírer algumas fortunas com a inesperada alça de
direitos, não parece razoável que sem receio de desordem
o governo imperial comprometta sua responsabilidade, e
ofíereça um exemplo perigoso de inobservância «Ias leis
por motivos «Injustiça, ou de prejuízos da ordem dos enu
— 340 —
merados. Permitia Vossa Magestade Imperial uma obser-
ração sobre a demonstação dos valores dos artigos—cal-
çado, obras de marcenaria e roupa feita — apresentada
pelo thesouro ; e a que o foi pela alfândega desta corte.
Le-seno officio do inspeclor da alfândega o seguinte.
1 Calçado f,4í:275$20O
1843—1844. < Obras de marcenaria 214:350#i>00
( Roupa feita Ü7:000$000
E na demonstração do director da commissão de esta-
tística do thesouro sele o seguinte
'O :

I
Calçado 64V:275$200
1843—1844. { Obras de marcenaria 2U:3.'>0$00O
ROupa feita 67:000$000
E se declara que esteé o valor dos mencionados artigos
despachados para consumo nas alfândegas do Império,
d'onde se conclue, que a não haver engano, não se impor-
tarão senão em o Rio de Janeiro os mencionados valores,
o que não é possível, A secção faz esta observação por-
que em objeclo de tanla transcendência, como os de
dados estatísticos desta qualidade, cumpre haver a maior
exactidão possível, e averiguar as causas d'onde procedem
os erros, para se não reproduzirem, e se evitar a reinci-
dência.
E' este o parecer da secção, que Vossa Magestade Impe-
rial se dignará acolher com sua costumada indulgência.
Rio de Janeiro, em 27 de Outubro de 1848.—Bernardo
Pereira de Vasconcellos.—Manoel Alves Branco.—Vis-
conde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 4 de Novembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

() Em circular dirigida as thesourarias de fazenda, com data dc2í de


fevereiro de 1849, declarou-se que nos lermos da imperial resolução
de consulta foi determinado « quo a disposição «Io an. 11.» ü |.«> da'lci
».° 514 de 28de Outubro de 1848, tivesse forca desde a sua publicarão . ~
•f - 341 -
N. 162.—RESOLUÇÃO DE 4 DE NOVEMBRO DE 1848.
Sobre a pretenção do brigadeiro Joaquim Antônio de Alencastro, de
não prestar contas da quantia recebida para pagamento de tropas, por
lhe terem sido tomados os documentos c parle dessa quantia, pelo
inimigo, no ataque da fronteira de Missões.
Senhor. — Manda Vossa Magestade imperial que a
secção de fazenda do conselbo de estado consulte
sobre o requerimento do brigadeiro Joaquim Antônio de
Alencastre, que pretende ser dispensado de prestar con-
tas de 37:278$600. que recebera do commandante da
fronteira de Missões, para pagamento das tropas que
a guarnicião, fundando-se em que todos os seus do-
cumentos, resto do dinheiro em caixa, munições, etc, fora
tomado pelo inimigo, quando em 1828 invadiu aquella
fronteira, a despeito de Iodas as diligencias, e esforços
que empregara para pôr tudo a bom recato.
A secção de fazenda do conselho de estado, depois
de examinar todos os documentos que acompanhão o
requerimento do supplicante, reconhece que na verdade
está exuberantemente provado não só por um officio
do commandante da fronteira de 8 de Maio de 1828,
remettido por cópia do ministério da guerra, como tam-
bém por uma justificação a que procedeu no juiz mu-
nicipal e de direito eivei de Porto Alegre, já em tempo,
em que estava extineto o juiz privativo dá fazenda, e
prevalecia o foro commum; tudo quanto allega o sup-
plicante em apoio de sua pretenção, e porque ao tribunal
do thesouro compete na fórmafdalei de 4 de Outubro de
1831, art. 6.° decidir de todas as questões relativas á re-
ceita e despeza nacional, tomar conta aos responsáveis por
ellas, mandar proceder contra aquelles que mal procede-
rão em sua gerencia, ou dar quitações definitivas aos que
bem procederão; é seu parecer, que é também de sua
competência dal-os por desobrigados de prestar as mes-
mas contas, e por isso quites com a fazenda nacional,
quando, como neste caso reconhece no seu agente res-
ponsável impossibilidade absoluta de prestal-as sem
culpa sua, mas somente em conseqüência de um caso
forluito, ou força maior, ã que não pôde subtrahir-se.
Embora pretenda o procurador fiscal e Inspector geral
do thesouro que o caso não é da competência do the-
souro, mas sim do poder iudiciario, entendendo que
uma cousa é não tomar o thesouro uma conta por lhe
ser isso impossível, e outra cousa é julgar as contas
tomadas, e o responsável isento de as dar, ou livre da
responsabilidade dellas.
— 342 —
A secção reconhece que assim seria se a impossi-
bilidade viesse do tliesouro, porque na verdade o não
poder o thesouro tomar uma conta não exime o res-
ponsável de a prestar, ainda assim mesmo não se devol-
veria á nenhum tribunal o direito de a tomar, irnjk'-
dindo-se o Tliesouro de o fazer quando o pudesse, quanto
mais no caso presente em que o thesouro não pode
tomar a conta pela simples razão de que o responsável
está impossibilitado de o fazer sem culpa sua. E' evi-
dente que reconhecer este facto é reconhecer que tem
cessado a responsabilidade do agente responsável; o
se o thesouro pode dar quitação, e reconhecer que
tem cessado a responsabilidade de um agente respon-
sável por contas, quando elle justificou sua gerencia,
não é conseqüente deixar de reconhecel-o competente
para dar a mesma decisão no casp, de que se trata.
Se procedesse a argumentação do Sr. procurador fis-
cal c inspector geral do thesouro , o poder judi-
ciário seria competente para eximir de preslar contas
a quaesquer agentes fiscaes, ou de receita e despeza
que o thesouro julgasse obrigados a ella, e por este
modo poderia sem duvida alguma aniquilar todo o poder
executivo e administrativo, e com elle a constituição
do Império.
E' pois parecer da secção, que deferindo Vossa Ma-
geslade Imperial na forma pelo supplicante requerida
se lhe fará justiça; mas Vossa Magestade Imperial orde-
nará o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro.em 31 de Outubro de 1848.—Manoel Alves
Branco.—Visconde de Abrantes.—Bernardo Pereira de
Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 4 de Novembro de 1848.
Com a Rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*)Nos termos «Ia resolução ordenou-se á lliesouraria do Uioílranile


do Sul, cm 6 de Dezembro de 18Í8, que «haja o brigadeiro Joaquim
Antônio de Alcncastrc nor dispensado da prestação «le contas «• livn:
«le toda a responsabilidade • 01110 se efiVcilvamaiite tivessem sitio to-
rnadas c saldadas. »
N. 103. RESOLUÇÃO DE 4 DE NOVEMRRO DE 1848.
Sobre o recurso de Antônio Joaquim Ferreira Júnior, da decisão
que lhe negou o reconhecimento da avaria em um despacho de
viftho, considerado cm mão estado.

Senhor.—Tendo desembarcado para a alfândega desta


:& corte Antônio Joaquim Ferreira Júnior vinle e oito pipas
com vinho, requereu no dia 20 ao inspector daquella
repartição para que mandasse proceder a uma vistoria,
com o fim de ser classificado, e avaliado o gênero para
depois proceder-se a arrematação.
O inspector mandou informar sobre o caso, e por infor-
mação do escrivão da descarga Luiz de Souza Lobo se
declara que com effeito as pipas descarregarão na es-
tiva nos dias 11 e 19, e que neste acto não teve reclamação
alguma do recorrente, entendendo que elle não tinha mais
direito de o fazer pelas já entradas, a vista do regula-
mento, indefirio o requerimento.
Replica o supplicante declarando, que elle não se de-
rigira a reclamar por avaria, mas que pedia vistoria e
classificação do gênero, que não era a que se dera no
manifesto de vinho de Lisboa; procedeu-se a vistoria, o
por ella foi classificado o liquido contido nas pipas por
vinho em máo estado, á vista do que mandou o inspector
despachar conforme a tarifa ; e com quanto replicasse a
parle para que em attenção á informação dos feitores
se mandasse despachar o gênero como avariado, insistiu
o inspector ao seu despacho, e este foi confirmado no
tribunal do thesouro, sendo este o motivo por que se re-
corre ao conselho de estado, e é sobre isso que tem
de dar o seu parecer a secção do conselho de eslado; o
que passa a fazer.
O decreto de 5 de Fevereiro de 1848 ordenou que não
se admitlisse reducçâo alguma de valor ou de taxa por
causa de avaria, ou deterioração, senão antes da entrada
da mercadoria para a alfândega nos termos do § 4.° do
art. 263 do regulamento de 22 de Junho de 1836. O § 4.°
do art. 263 do "regulamento de 22 de Junho de 1836 or-
dena, que emquanto se não organizar nova pauta com
taxas e abatimentos far-se-hão taes abatimentos em di-
versos casos, entre os quaes aponta-se quando a mer-
cadoria ao desembarcar para a alfândega, ou trapiches
alfandegados, offerecer uma avaria geral, se assim o re-
querer a parte etc.
Ora, á vista destas duas disposições, combinadas entre
si, parece evidente que com justiça foi indeferida a
pretenção do recorrente, ou para dar a seu gênero uma
— :iYt —

classificação diversa da que vinha no manifesto, ou para


admiltir-se-lhe a reclamação de avaria, porquanto das
informações dos peritos se manifesta, que a meroadoria
do recorrente é vinho, e não é liquido desconhecido ; e
que ainda quando estava em máo estado, comtudo elle
não fez a reclamação—antes da entrada da mercadoria
para a alfândega, "nem se manifestou, ou reclamou ao
desembarcar—ha forma do decreto e regulamento acima
cilados.
A secção não pode attender á coarctada do recorrente,
quando 'dizque, para ser attendida baslava, que a avaria
tivesse lugar antes da entrada da mercadoria para a al-
fândega, e que isto está provado, porque em menos de
24 horas não se podia deteriorar o seu vinho, porquanto
ainda que só essas avarias devem ser attendidas, e lam-
bem verdade que só o podem ser havendo reclamação,
antes de ter entrado a mesma mercadoria para a alfân-
dega, ou ao desembarcar, e não 24 horas depois, como
se manifesta da informação do feitor, e mesmo con-
fessa o recorrente.
Também não pode a secção attender á coarctada de
não ser possivel fazer-se a reclamação antes de entrar
o gênero para a alfândega, por ser vedado ás parles
irem fazer averiguações a bordo, e ser isso impraticável
ao transporte da mercadoria para a terra ou no acto do
desembarque, porquanto ainda que se admiüão como
procedentes as duas primeiras razões, não é possivel
admittir a procedência da ultima, senão por negligencia
ou abandono do recorrente, que ainda quando fizesse o
desembarque de seu gênero em hora em que tinha de
ser fechada a alfândega, devia sobre a ponte tirar a
prova de seu vinho para reclamar, e segurar seu di-
reito, o que lhe era fácil, e não podia ser-lhe vedado ;
e não proceder, como procedeu, e informa o feitor que
assistiu a entrada de suas mercadorias para a estiva.
A secção pois reconhece que se cumpriu a lei para com
o supplicante, e com quanto lambem reconheça, que o
recorrente tem de pagar de direitos maior quantia do que
vale o gênero importado, no máo estado em (jue se acha,
como elle mesmo «dlega; comtudo atiendendo a con-
veniência de arredar de nosso mercado vinhos de pés-
sima qualidade, e que só podem servir de damno á
saúde publica, o que de certo não terá lugar, se admiltir
alguma relaxação a esle, c outros respeitos : é de parecer,
que se confirme o despacho da alfândega, e do thesouro.
Rio de Janeiro, em 31 de Outubro de 1848.—Manoel
Alves Branco.—Visconde de Abrantes. — Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.
— 345 —
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 4 de Novembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.'
Joaquim José Rodrigues Torres*

N. 164.—RESOLUÇÃO DE 6 DE NOVEMBRO DE 1848.

Sobre o relatório da presidência e acerca das leis provinciaes do


Espirito Santo do anno de 18í7.

Senhor. —Houve Vossa Magestade Imperialpor bem que


a secção do conselho de estado dos negócios da fazenda
consultasse sobre o relatório que o presidente da pro-
víncia do Espirito Santo apresentou a respectiva assem-
bléa legislativa na abertura «Ia sessão ordinária do anno
passado, e sobre os actos legislativos da mesma assembléa
publicados no dito anno.
Versa o relatório sobre vários objectos da adminis-
tração provincial, tendo por fim inteirar a assembléa
legislativa da província do estado dos negócios, para
poder deliberar sobre os meios de promovêl-os, quer
dando as providencias que couberem na sua alçada,
quer solicitando-as do poder legislativo geral, e do go-
verno imperial; e não indicando o presidente medida
alguma cuja execução dependa de immediata intervenção
do governo imperial, nem constando que aquella as-
sembléa provincial tenha feito representações á que o
mesmo governo deva attender ; julga a secção que nada
ha no sobredito relatório, que exija resolução de Vossa
Magestade Imperial.
Quanto ás leis provinciaes da referida provincia, pu»
blicadas em 1847, a secção tendo-as examinado no que
pertence á repartição da fazenda, não encontrou nellas
disposição alguma contraria ao acto addicional á cons-
tituição do império, a não ser a que se contém no art.<
4.° da lei n.° 12 de 29 de Julho de 1847, segundo a qual
eleva-se a 50^000 o direito da licença para mascatear
que fôr concedida á estrangeiros; porquanto r não sendo
c, 44
— 346 —
«xcepluados aquelles a quem favorece um tratado exis-
tente, vem á ser a exigência de tal direito oílénsiva
desse tratado : pelo que, é a maioria da secção de pa-
recer que seja a citada disposição levada ao conheci-
mento da assembléa geral legislativa, para providenciar
o que convier ; empregando entretanto o governo im-
perial os meios ao seu alcance para que dahi não venha
damno á causa publica.
O conselheiro de estado Manoel Alves Branco diz,
que ainda que o imposto sobre as licenças para mas-
catear fosse contrario á letra do tratado, depois de estar
sanccionado, só resta ao governo remetter a lei á assem-
bléa geral na fôrma do art. 20 do acto addicional
Vossa Mageslade Imperial resolverá porém o que tiver
por mais acertado.
Rio de Janeiro, em22 de Outubro de 1848.— Visconde
de Abrantes.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—Ma-
noel Alves Branco.
RESOLUÇÃO,

Como parece. (*)


Paço, em 6 de Novembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador,
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 165.—RESOLUÇÃO DE 18 DE NOVEMBRO DE 1848.


Sobre o recurso de Joaquim José dos Santos Júnior contra a ap-
prehensão de uma porção de ouro em pó.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado


tendo examinado o recurso interposto pelo negociante
Joaquim José dos Santos Júnior, de uma decisão do the-
souro publico nacional sobre a apprehensão de certa
porção de ouro em pó, passa a resumir, á vista dos do-

(*)Submettida á consideração da assembléa geral.—Aviso de 5 de Ja-^


teiro de 1890.
— 3'i7 -

cumenlos que lhe forão presenles, o facto da mesma


apprehensão, e as razões pró e contra a decisão recorr
rida.
O mestre da barca—Estreita—Manoel Marques Pires.desr
embarcou ás 8 horas da noite do dia 7 de Outubro,
na praia dos Mineiros, e quando seguia em direcção
á rua dos Pescadores, e ao virar o canto da rua Direita
(como consta da parte dada pelos vigias, e das allega-
ções feitas pelo recorrente) ou ao desembarcar, e ao
seguir das escadas do cáes dos Mineiros {como consta #
das participações do guarda-mór, e do inspector da ai- *
fandega, e das allegações finaes do mesmo recorrente)
sahirão-lhe ao encontro dous vigias da alfândega, os
quaes notando que elle levava objectos pesados nos
bolsos da japona, derão-lhe busca, e acharão alguns
embrulhos com ouro em pó, cuja apprehensão fizerão
como extraviado aos direitos, levando ao mesmo tempo
o dito Pires para bordo da barca de vigia—Pellico—,onde
o puzerão em custodia.
O inspector da alfândega, a quem os vigias e o guarda-
mór derão parte do occorrido, e apresentarão os objec-
tos apprehendidos, remetleu ao provedor da casa da
moeda, autoridade competente para conhecer de tal ex-
travio, cinco embrulhos lacrados, contendo ouro em pó,
com sobrescripto ao recorrente Joaquim José dos Santos
Júnior.
E abertos, e pesados os ditos embrulhos na casa da
moeda, verificou-se que elles continhão 42 marcos, 5
onças e 7 oitovas de ouro em pó.
O recorrente, como pessoa a quem o ouro vinha re-
mettido ou consignado, tratou logo de reclamar ante o pro-
vedor da casa da moeda contra a referida apprehensão, por
ter sido feita quando o conductor Pires ia virar o canto
do arsenal, na rua Direita, e se encaminhava para o
portão do mesmo arsenal, onde devia manifestar o ouro
na capitania do porto, que se achava prevenida para rece-
bel-o, á qualquer hora que chegasse a barca—Estrella—,
requerendo que o dito provedor tivesse o mesmo ouro
por manifestado, e que, deduzidos os direitos, lh'o fir
zesse entregar. E depois mostrando por attestado do
capitão do porto, que esta autoridade fora prevenida
por elle, no dia 6.de Outubro, de que esperava uma porçãe
de ouro na barca—Estrella,—e que a mesma autoridade
lhe assegurara, que a qualquer hora que chegasse a
dita barca mandasse apresentar o ouro, levando-o por
mar, ou por terra, no caso que a mesma barca, não
tivesse escaler, batendo em tal caso no portão do ar-
senal, que lhe seria aberto quando estivesse.fechado;
— 3icS —

sustentou o recorrente a improcedencia da apprehonsá»


-e repellio o ser considerado contrabrandista um ne-
gociante que, como elle, já havia manifestado na casa
•da moeda mais ouro em pó do que nenhum outro.
Os vigias, na parte que deráo e allegações que fizerão
à favor da apprehensão, affirmão que o conduclor Pires
se dirigira á rua dos Pescadores, onde mora o recor-
rente, na occasião em que fora encontrado, e que o
mesmo conductor lhes dissera, que ia levar o ouro á
casa de seu amo, confirmando este seu dito á bordo da
barca—Pellico—, quando declarou em presença de teste •
munhas, que recehêra o dito ouro no Porto da Estrella,
para entregar ao recorrem»:, sem que o arrieiro de quem
o recebera, lhe tivesse fallado em leval-o ao arsenal,
nem á capitania do porto: affirmão mais, que além da
tentativa de extravio, que estas circumstancias revelâo,
a apprehenção é legitima e inquestionável á vista da letra
e espirito dos arts. 3.°, 17 e 18 do regulamento n." 478
de 12 de Outubro de 1846; porquanto uão lendo si«lo o
ouro levado á nenhum dos lies lugares onde cumpria
que fosse manifestado, e não podendo admillir-se, por
contraria ao dito regulamento e regras fiscaes, a per-
missão que se diz concedida pelo capitão do porto de
entrar o manifestante pelo portão do arsenal, fazendo ca-
minho pelas ruas ou p<do interior da cidade, segue-se
que o mesmo ouro, apprehendido fora dos lugares do
manifesto, não pôde ser considerado senão como extravio
aos direitos.
O provedor da casa da moeda, tomando por defesa o que
dissera o recorrente, e o conduclor Pires, em alguns
requisitos, e mandando responder aos vicias, julgou
procedente a apprehensão, e confirmado este julgamento
por decisão do tribunal do thesouro de 22 de' .Novembro
passado, foi então interposto o presente recurso.
Nas suas allegações finaes o recorrente, depois de
queixar-se da preterição de formulas essenciaes neste
processo, e de ponderar o motivo porque julga que o
provedor da casada moeda lhe é adverso, afiirma, que a
apprehensão tivera lugar, quando o conductor desembar-
cava, e seguia das escadas do cães dos Mineiros, dirigin-
do-se para a capitania do porto, a fim de manifestar o ouro
pelo modo que indicara o próprio capitão do porto, e que
consta do segundo attestado deste funecionario: argúe
de fabulosa a declaração que se diz feita pelo dito
conductor a bordo da barca de registo, e de pouco
•valiosa a attestação dos três guardas que ouvirão ao mesmo
conductor: sustenta que o simples facto de encontrar-se
o ouro no cães, ou na rua, que ia ler ao arsenal ou capitar
— 349 —
nia do porto, em hora que a alfândega se achava fechada,
não podia justificar a apprehensão; por isso que o
regulamento não determina que os conductores de
ouro atraquem no arsenal, e desembarquem alli, e não
em outros lugares das praias e cães, on<le costumão
aportar as barcas de carreira certa, e d'onde se possa
seguir por terra para o mesmo arsenal: repete em
prova da sua boa fé, e para não ser tido como estra-
viador, o facto de haver manifestado directamente á
casa da moeda (mesmo depois de executado o actual
regulamento) mais ouro do que nenhum outro negocian-
te, sem ter sido o mesmo ouro apresentado antes á
capitania do porto, ou á alfândega, e sem ter feito o
provedor a menor obsjrvação contra essa pratica;
e bem assim o outro facto provado por certidão de não
haver figurado (se não agora pela primeira vez) como
reclamante de ouro que tivesse sido apprehendido:
requer finalmente que sejão inqueridos, debaixo de
juramento, ante a secção, o capitão do porto acerca do
que refere em seus attestados, e o mestre da barca—Pelli-
co—acerca da declaração attribuida ao conductor Pires.
Os vigias, em suas*allegações também finaes; depois
de fazerem a defeza do provedor da casa moeda, arguido
de preterição de algumas formulas neste processo, e de
parcialidade no julgamento; e'depois de suscitarem como
questões prejudiciaes, a da improcedencia do recurso
por não ser o recorrente pessoa legitima para interpôl-o,
e a da incompetência do conselho de estado, por não
se achar a espécie, sobre que versa o mesmo recurso,
indicada entre aquellas a respeito das quaes a lei da
creação do dito conselho, e o seu regulamento permittem
que se recorra ; insistem em affirmarquea apprehensão
não tivera lugar no cães ou praia dos Mineiros, e sim
na rua dos Pescadores, e por conseqüência dentro da
cidade, e fora dos lugares em que, segundo o regula-
mento, devia ser o ouro manifestado; notando á este
respeito algumas contradicções da parte do recorrente:
repetem os argumentos com que procurão demonstrar
que houve tentativa de passar-se por alto o ouro appre-
hendido : reilerão a affirmação de ser verdadeira a de-
claração feita pelo conductor Pires, em presença de
testemunhas á bordo da barca-registo, e digna de fé
a atlestação assignada por três guardas, que se achavão
presentes: continuão á mostrar que, á vista do lugar
e circumstancias da apprehensão, e da disposição dos
artigos (mormente o 18) do regulamento, devejulgár-se
o ouro como extraviado, e o conductor como extraviador:
contestão as razões allegadas. pelo rçcorrente.em.proYa,
— 350 —
de sua boa fé, ponderando o interesse que lhe ia em levar
á casa da moeda, grande quantidade de ouro, emquanto
a mesma casa o comprava por maior preço que o
corrente no mercado: convém finalmente em que seja
imprirido, ante a secção, o capitão do porto, com tanto
que se facão effectivas as disposições do código penal
a respeito de empregados prevaricadores.
Deferindo o requerimento das partes para a inqui-
rição do capitão do porto, e do mestre da barca—Pel-
Uco—, forão ambos juramentados pelo juiz dos feitos da
fazenda, ante quem depuzerão, confirmando aquelle,
tudo quanto havia dito em suas attestações, e não concor-
dando este em tudo quanto havia assignado em sua atles-
tação.
A final, ouvido o advogado do recorrente, único que
comparecera á audiência que se lhes deu; considerando
de novo os factos mais ou menos provados; e atten-
dendo ás circumstancias—1.' de não se haver supprido
com instrucções do thesouro o que havia de incom-
pleto ou pouco explicito no regulamento de 12 de Ou-
tubro de 1846, a respeito do modo pratico de verificar-se
a manifestação do ouro nas estações a borda do mar,
deixando-se ao arbítrio dos executores o indicarem,
como o fez o capitão do porto, o caminho ou porta por
onde devia entrar o manifestante :—2." de haver o recor-
rente prevenido á capitania do porto de que esperava
uma porção de ouro pela barca—Estrella—como de facto se
verificou, manifestando assim a intenção de antes pagar
o direito, que extraviar o ouro :—3." de não estar bem
provado se a apprehensão foi feita no acto do desem-
barque, ou se em caminho para a casa do recorrente,
ou para o arsenal de marinna, havendo discrepancias
nas declarações das autoridades, e das parles interes-
sadas, e nos ditos dos apprebensores, apprehendido, e
mestre da barca, de sorte que não se pôde dar por
provada a intenção de fazer o extravio:—e 4.a de ser
o recorrente um dos poucos que tem pago direitos do
ouro em pó, não seguindo o exemplo de outros que,
como é notório e se mostra pelos cálculos do thesouro, '
tem feito impunemente o extravio de quanto ouro re-
cebem ; a maioria da secção não pôde julgar proce-
dente a apprehensão recorrida.
O conselheiro de estado Manoel Alves Branco, diver-
gindo da maioria da secção, diz que ainda que muito
acredite no actual capitão do porto, comtudo deve
confessar, que neste negocio se faltou a tudo o que se
prescreve no regulamento de 12 de Outubro de 1846
arts. 3.°, 4.°, 5.°, etc, e para que se não autorise uma cor-
— 331 —
rtiptela damnosa ao serviço; é de parecer que se con-
firme a resolução do tribunal do thesouro.
Vossa Magestade Imperial se dignará porém resolver
o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, em 10 de Novembro de 1848. — Visconde
de Abrantes.—Manoel Alves Branco.—Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (*)


Paço, em 18 de Novembro de 1848.
Co m a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres,

N. 166.—RESOLUÇÃO DE 29 DE NOVEMBRO DE 1848.


Sobre as leis provinciaes do Pará dos annos de 1847, e 1848,

Senhor.—A secção do conselho de estado dos negócios


da fazenda, examinou, como lhe foi ordenado por Vossa
Magestade Imperial, a collecção das leis provinciaes do
Pará, que contém sete actos legislativos, sendo um pu-
blicado em 1847, e seis no corrente anno de 1848, e limi-
tando o seu exame ao que pertence á repartição da fa-
zenda, não achou nas ditas leis disposição alguma con-
traria ao acto addicional á constituição ; e quando o con-
trario se ache na lei n. 144 de 23 de Junho de 1848, que
mandou executar no seguinte anno financeiro a lei do
orçamento passado, cujo texto não tem presente, a mes-
ma secção se refere, a respeito delia, ao que teve a hon-
ra de consultar sobre os actos legislativos da mesma pro-
víncia, publicados em 1846 e 1847.

(*) Nos termos da resolução communicou-se ao provedor da casa


da moeda, em 20 de Novembro, ter sido julgada improcedente a appre-
hensão do ouro em pó feita a Joaquim José dos Santos Júnior.
— 352 -
E á vista deste parecer Vossa Magestade Imperial se
dignará resolver o que tiver por melhor.
Rio de Janeiro, em 22 de Novembro de 1818. — Visconde
de Abrantes .—Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece (*).


Paço, em 29 de Novembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres

N. 167.—RESOLUÇÃO DE 29 DE NOVEMBRO DE 1848.

Sobre o officio dopresidenle de Pernambuco, a respeito do aforamen-


to de terrenos de marinha a empregados da thesouraria da mesma
provincia.

Senhor.—Ordenou Vossa Magestade Imperial que a


secção de fazenda do conselho de estado, consultasse so-
bre o oflicio do presidente de Pernambuco de 22 de Abril
deste adno, a respeito de aforamento de terrenos de
marinha a empregados da thesouraria daquella provincia.
Consta dos papeis annexos ao dito oflicio : 1." que por
occasião de requerer o contador da thesouraria de Pernam-
buco o aforamento de um terreno de marinhas, o procu-
rador fiscal da mesma thesouraria, depois de se haver
opposto ao requerido aforamento, representara ao tri-
bunal do thesouro, informando-o dos motivos da sua op-
posição aquelle acto, e pedindo uma decisão que fizesse
cessar a duvida em que elle permanecia acerca da lega-
lidade de aforamentos concedidos aos empregados da the-
souraria : 2.° que o presidente de Pernambuco, ouvido so-
,bre esta representação do fiscal, se conformara com a
' opinião do respectivo inspector da thezouraria, o qual en-

(*> Submettida á consideração da assembléa geral, aviso de 5 da


Janeiro de 1850.
— Xú -
tende que a legislação citada pelo fiscal representante, só
é applicavel a todos os empregados da thesouraria, nos ca-
sos de contractos com a fazenda publica, que vão á hasta
publica, e de quaesquer outros que dependão de voto,
calculo, e interferência dos mesmos empregados, ou que
versem sobre cousas, em cuja administração, disposição
ou guarda, tenhão elles de intervir em razão de seus o"fíi-
cios; e não no caso de aforamento de marinhas, que não
dependa da hasta publica e em cuja realisação, segundo
alei eregulamentos apenas intervém o engenheiro encar-
regado da demarcação, o procurador fiscal, o inspector
da thesouraria, e o presidente da provincia : 3.° que, ou-
vidos também sobre este assumpto os membros do tri-
bunal do thesouro, forão todos de parecer contrario á
generalidade com que a representação fiscal de Pernam-
uco, pretende vedar aos empregados da thesouraria o
aforamento de marinhas, não desconhecendo, porém, a ne-
cessidade de fixar-se a tal respeito a intelligencia da le-
gislação existente, e estabelecerem-se regras certas que
previnão abusos.
A secção de fazenda, attendendo ás razões ponderadas
na informação do inspector da thesouraria de Pernambuco,
e no parecer do conselheiro fiscal do thesouro, contra a
opinião sustentada pelo procurador fiscal daquella the-
souraria, na parte em que pretende excluir indistincta-
mente todos os empregados da mesma thesouraria, dos
contractos de aforamentos de marinhas, e reconhecen-
do a conveniência de supprir-se o que ha de incompleto
na decisão do thesouro de 22 de Julho de 1846, e estabe-
lecer-se regra mais geral que previna duvidas iguaes á
dofiscalrepresentante, salve o interesse da fazenda publi-
ca, ou evite abusos, e ao mesmo tempo não restrinja sem
necessidade, ou utilidade publica, os direitos que compe-
tem aos empregados do Estado, na sua qualidade de ci-
dadãos, é de parecer:
Que por outra decisão do thesouro, declarando a cita-
da de 22 de julho de 1842, seja estabelecida a regra, de
hão ser licito o aforamento de terrenos de marinhas, so-
mente aquelles empregados públicos de qualquer clas-
se ou categoria que em razão de seus officios, e se-
gundo as leis e regulamentos, tenhão de intervir direc-
tamente, sendo ouvidos, ou informando sobre a petição,
e decidindo sobre a concessão do dito aforamento.
Vossa Magestade Imperial resolverá com tudo o que
tiver por mais justo ou conveniente.
Rio, em 22 de Novembro de 1848.— Visconde de Abran-
tes.—Manoel Alves Branco.—Bernardo Pereira de Vas-
concellos.
e. 4o
— 354 —
RESOLUÇÃO.

Como parece (*).


Paço, em 29de Novembro de 1848.
Com a a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 168.—RESOLUÇÃO DE 29 DE NOVEMBRO DE 1848.

Sobre a reclamação de Tobin & Hersfall, ao pagamento da pólvora,


depositada nos armazéns da alfândega da P.ahia e consumida du-
rante a rebellião de 1837.

Senhor. —Ordena Vossa Magestade Imperial que a


secção do conselho de estado dos negócios da fazenda,
consulte sobre a reclamação feita por Tobin & Hersfall,
negociantes inglezes, do pagamento de certa porção de
pólvora, que havião depositado no Forte do Mar da
Bahia, e fora consumida durante a rebellião que tivera
lugar em 7 de Novembro de 1837, naquella cidade.
Do exame da petição dos reclamantes, dos documentos,
com que se pretende justificar a reclamação, das in-
formações da thesouraria da Bahia, e do processo ha-
vido no thesouro publico a tal respeito, consta:
1.° Que com effeito os reclamantes importarão na
Bahia, pelo navio Richard Watson, em 9 de Agosto
de 1837r antes da rebellião, 32 barris de 50 libras, e 69
de 25 libras, contendo 3.325 libras de pólvora, e não
157 barris contendo 5.025 libras, como se pretendia.
2.° Que os mesmos reclamantes importarão demais
pelo navio Cabotia, em 15 de Dezembro de 1837, du-
rante a rebellião, e contra as ordens do governo (que
já havia mudado a alfândega da cidade para a villa
e porto de Itaparica, e declarado a incompetência dos
despachos que os rebeldes fizessem naquella) outra
porção de pólvora contida em 620 barris, que também

(*) Ordem circular n. 136 de 4 de Dezembro de 1848, na collecção


das leis.
— 355 —
foi depositada no Forte do Mar, então em poder dos
rebeldes.
3.° Que solicitando os reclamantes a intervenção do
seu governo para haverem o pagamento da pólvora im-
portada por elles, e consumida durante a rebellião, na
importância de £ 1216—13—11 ; e exigindo o ministro dos
negócios estrangeiros, em conseqüência de notas re-
cebidas da legação británnica nesta corte, sobre tal. ob-
jecto , que o ministério da fazenda o habilitasse para
poder contestar as ditas notas ; fora por este declarado,
á vista das informações, que havia colhido , em aviso
de 26 de Março de 1842, quando já se achava orga-
nisado o actual conselho de estado—que para ter lugar
a reclamação devia preceder consulta daquelle con-
selho, apresentando-lne os reclamantes os documentos
comprobatorios para seguir os tramites legaes.—E é em
virtude desta declaração que os referidos negociantes
inglezes Tobin & Hersfall, fizerão regularmente a pre-
sente reclamação.
A secção dando por averiguados os láctos, que acaba
de relatar avista dos documentos, que lhe forão pre-
sentes , passa a examinar a questão do direito, que
possão ter os reclamantes á indemnização que requerem,
No conceito da secção o governo imperial, nem pelas
leis do- paiz, nem pelos princípios geraes do direito inr
ternacional, é obrigado a indemnizar os reclamantes
da perda, que soffrerão: porquanto sabido é que não
ha disposição alguma de lei nossa, nem mesmo de
direito commum, que considere o Estado como respon-
sável pelos damnos causados por sedição, rebellião ou
guerra civil, poisque além do principio geral, de que
em casos taes, como de força maior, a cousa perde-se
por conta de seu dono, seria impraticável a indem-
nização das perdas sofíridas, já por não haver renda
nacional, que chegasse para tanto, já por não ser pos-
sível reconhecer ou estimar o valor dos damnos soffndos
e evitar abusos e fraudes de todo o gênero: assim
como, que não será fácil invocar principio algum de
direito internacional, que obrigue o Estado á referida
indemnização, embora em um ou outro caso excepcional
de guerra civil, e mesmo de guerra enlre nações , a
política e a equidade aconselhem o emprego de meios
para a reparação de alguns damnos soffridos; nem se
poderá mostrar, de que a reclamação de que se trata deva
entrar nesses casos excepcionaes ; sendo, ao contrario,
certo que a reparação da perda dos reclamantes e de
outros de igual origem, e fundadas na mesma razão,
longe de ser política, produzirão o máo effeito de tornar
— 356 —
indifferentes á ordem publica, aquelles que, aliás, mais-
poderião influir e concorrer para a sua conservação.
Pensa igualmente a secção, que nenhum valor pôde
ter o argumento fundado no facto de achar-se a pól-
vora depositada em armazéns do governo, e debaixo
da guarda da autoridade publica; porque, quando mesmo
esse argumento pudesse ser valioso, não procederia
a respeito da pólvora, cujo deposito em lugar separado,
como requer a boa política, e se usa em todo o mundo
civilisado, não tem por fim responder pela segurança
da cousa, porém sim garantir a segurança publica.
A estas considerações de direito, ajuntara ainda a
secção, que sendo notório, que muitos cidadãos brasi-
leiros, e mesmo alguns estrangeiros tem soffrido perdas,
mais ou menos consideráveis, por causa de sedições
ou rebelliões em varias províncias, mormente, nas do
Pará, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Rio
Grande do Sul, e constando que o thesouro nacional,
longe de ter indemnizado essas perdas, sustenta ao
contrario, como lhe cumpre, o principio da não respon-
sabilidade do Estado em casos taes; seria em verdade
injusta e odiosa qualquer excepção que fizesse a favor
dos reclamantes; porque haveria inequidade e absurdo,
se o Estado, que deixou de pagar a tantos cidadãos
brasileiros o valor das suas propriedades incendiadas
ou devastadas pelos rebeldes da Bahia, pagasse agora
aos reclamantes o valor da pólvora consumida pelos
rebeldes, concorrendo demais a circumstancia aggra-
vante de ser a mór parte delia (os 620 barris impor-
tados pelo navio Cabotia) fornecida aos mesmos rebeldes
por culpa ou omissão dos próprios agentes dos recla-
mantes.
E' portanto a secção de parecer, que seja indeferida
a reclamação, se Vossa Magestade Imperial não tiver
por melhor.resolver o contrario.
Rio de Janeiro, em 22 de Novembro de 1848. — Vis-
conde de Abrantes.—Manoel Alves Branco.—Bernardo
Pereira de Vasconcellos.

RESOLUÇÃO.

Como parece á secção.


Paço, em 29 de Novembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.
— 357 —
N. 169.—RESOLUÇÃO DE 16 DE DEZEMBRO'DE 1848.

Sobre duvidas suscitadas na arrecadação do imposto do sello.

Senhor .—Manda Vossa Magestade Imperial que a secção


de fazenda do conselho de estado interponha seu pa-
recer :
1.° Sobre a taxa que devem pagar as letras, quando
tendo pago dentro do prazo legal um sello menor, do
que o devido, tenhão de ser levadas a juizo depois do
seu vencimento.
2.° Se devem ou não os juizes admittir como docu-
mento, para qualquer effeito legal, as letras ou outros
papeis, que, embora sellados na estação competente, não
tenhão todavia pago a quota estabelecida na lei.
A secção passa a expor a Vossa Magestade Imperial,
o que prescrevem as leis a este respeito, e depois fará
applicação de sua doutrina ás questões, que se offere-
cerem.
Uma letra de cambio, que hão paga o sello marcado
na tabeliã.—A—da lei de 21 de Outubro de 1843, perde sua
natureza não podendo nem ser protestada, nem atten-
dida em juizo; e tal é o preceito da mesma lei no seu
art. 13.
« Art. 13. As letras de cambio, e da terra, escriptos
á ordem, e notas promissórias, que forem passadas,
ou emittidas dentro do Império, sem que tenhão pago
o sello marcado na tabeliã—A—, não poderão ser pro-
testadas, nem attendidas em juizo. »
Podem porém essas letras ser revalidadas, isto é, tor-
nar a adquirir a natureza de letras, e por conseguinte,
serem protestadas, e como taes attendidas em juizo nos
casos seguintes, a saber:
1.° Quando não tendo pago sello algum no prazo da
lei, o pagarem no dos regulamentos do governo, se
no lugar não houver repartição fiscal; e 20 "/„ até o dia
anterior ao seu vencimento, se no lugar houver repar-
tição fiscal.
2." Quando tendo pago sello menor, do que devia pela
tabeliã, no prazo marcado na lei, forem selladas até o dia
do seu vencimento; pagando o tresdobro do sello de-
vido, como é doutrina do f 1.° do mesmo art. 3.°
« § 1.° As que forem passadas ou aceitas nos lugares
em que não houver estação fiscal para o sello, poderão
ser revalidadas se pagarem o sello nos prazos que o
governo marcar em seus regulamentos; aquellas porém
que forem passadas ou aceitas nos lugares em que
— 35S —
houver a dita estação, só o poderão ser pagando alé
o dia anterior ao do vencimento, em vez do sello,
20 7„ do respectivo valor. Igualmente serão revalidadas,
as que tendo pago antes de passadas ou aceitas, um
sello inferior ao marcado, forem selladas até o dia do
vencimento, pagando o tresdobro do sello devido. »
E finalmente a letra que não tiver pago o sello, nem
tiver sido revalidada na fôrma do paragrapho antecedente,
pôde comtudo ser produzida, e attendida em iuizq para
qualquer effeito legal, como documento, pagando 40 °/0 de
seu valor; é a doutrina do J 2.° do mesmo art. 3.°
« § 2.° E as que forem passadas e emitlidas sem pré-
vio pagamento ao sello, e não forem revalidadas como
dispõe o paragrapho antecedente, somente poderão ser
produzidas como documentos para qualquer effeito legal,
pagando, em vez do sello, 40 °/0 do respectivo valor. »
Vê-se pois que aquelle que não pagou o sello soffre
uma mesma pena, isto é, perde o direilo de protestar sua
letra, e procurar o seu pagamento pela acção própria das
letras, sem differença entre nada ler pago ou ter pago
alguma cousa. Essa differença só se estabelece para a
revalidação, pois que impondo-se aos que nada pagarão
20 °/„ sobre o valor da letra, apenas se impõe aos que
pagarão alguma cousa o tresdobro do sello, que é muito
menor quantia. Se porém não se pagou o sello, nem
se revalidou a letra, a pena torna-se também igual,
isto é, além da perda da natureza da letra, só pôde
ser levada a juizo, como documenlo, pagando 40 °/ 0 de
seu valor sem differença entre aquelle que nada pagou,
e aquelle que pagou uma parte do sello. E a secção crô
que estas disposições não são arbitrarias ; mas fundão-se
em muito boas razões.
Exposta assim a doutrina das leis; a secção passa a
fazer sua applicação.
Quanto á primeira questão, a secção entende que uma
letra nas circumstancias figuradas, tem perdido a natu-
reza de letra, não pôde ser protestada nem attendida
em juizo, como letra, podendo só ser produzida, e atten-
dida como documento, mediante o pagamento de 40 °/0,
se não fôr ern tempo revalidada,
Quanto á segunda questão, a secção entende que os
juizes devem admiltir como documento para qualquer
'eífttito legal, as letras, que, ou nada tivessem pago de
sello, ou que tivessem pago sello menor ao da tabeliã,
somente depois que se tiver pago 40 °/« de seu respec-
tivo valor ; do contrario não.
A secção entende, que não só as mesas de rendas, que
arrecadarão sello menor ao devido, como os juizes que
— 359 -
fizerão obra em juizo por virtude de uma letra, que não
pagou sello, ou o pagou menor, do que era devido, e
não foi revalidada, ou não pagou afinal 40 °/0 do seu
respectivo valor, é responsável em virtude do art. 65
do regulamento.
E' verdade que esta pena parece dura de mais, quando
recahe sobre uma pessoa (o portador da letra) que talvez
faltou a seu dever por confiar em uma repartição pu-
blica, entretanto o certo é que nossas leis não admittem
como defesa de alguém a ignorância de direito.
Tal é a opinião da secção; Vossa Magestade Impe-
rial porém mandará o que fôr mais justo
Rio de Janeiro, 6 de Dezembro de 1848. —Manoel
Alves Branco:—Visconde de Abrantes.—Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos, conforma-se com o inspector da
thesouraria. (*)

(*) O oflicio do Inspector da Thesouraria de Sergipe, a que se re-


fere o conselheiro Bernardo Pereira de Vasconcellos é o seguinte:
Uma letra de 2:333#484 foi sellada na mesa de rendas desta capital
com a taxa de IgOOO (metade menos da marcada na tabeliã annexa
á lei de 18 de Setembro de 1845) dentro do prazo legal de trinta
dias. Não sendo satisfeita no vencimento, e propondo o aceitante a
acçao competente contra o passador, este oppòz-se com o fundamento
de não ter sido pago o sello devido. O juiz da causa, bem, ou mal,
fez pagar o restante do sello, e a collectoria de Itabaianna que assim
arrecadou esla differença, por força do debate judicial, para resal-
var-se de responsabilidade, submetteu o séu procedimento á decisão
da thesouraria, entretanto que o juiz proseguiu no feito até final
sentença. Ouvi o voto fiscal, e este pronunciou-se pela taxa de 40 °/o
e pela imposição da multa ao juiz, por haver julgado a causa sem
0 pagamento da mesma laxa, e aos empregados da mesa da capital
pelo descuido da cobrança total do sello; e tendo com elle concor-
dado o outro membro da mesa da thesouraria, resolvi a questão
apartando-me do parecer de ambos, e declarando indevida a taxa de
40 °/o, e por conseguinte a multa contra o juiz, visto que, a ter nella
incorrido, não pudera escapar-se o collector que arrecadou, á man-
dado seu, aquella differença, e não os ditos 40 °/o, contra o qual
todavia não foi indicada esta pena; e a impuz de ÍOJOOO ao admi-
nistrador, e de SgOOO ao escrivão da predita mesa, únicos culpados
na falta que deu motivo ás questões suscitadas.
Como, porém, a espécie de que se trata não se ache prevenida no
art. 13 e seus paragraphos da lei de 21 de Outubro de 1843, á que se
refere o art. líí do regulamento de 26 de Abril de 1844 sobre as revali-
dações; e a applicação da pena comiminada no § 2.» daquelle artigo,
á ter cabimento, não só seria rigorosa, como também sobremaneira
injusta, comparada com a do final do § 1.», que considera o caso de
fraude, que não houve no presente, e tão somente engano da parte
da estação fiscal, que primeiro interveiu na arrecadação; e vendo
que a lei não teve o fim de diminuir as fortunas dos particulares
em beneficio da fazenda, por meio de altas penas pecuniárias, e só
— 3G0 —

RESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (*)


Paço, em 16 do Dezembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 170.—RESOLUÇÃO DE 16 DE DEZEMBRO DE 1848.

Sobre a duvida suscitada pela thesouraria do Espirito Santo, na co-


brança do imposto da siza, na troca de bens existentes no Império
por outros situados no estrangeiro.

Senhor.—Manda Vossa Magestade Imperial por aviso


de 16 de Novembro de 1848, que a secção de fazenda do
conselho de estado dê o seu parecer a respeito do officio
do inspector da thesouraria do Espirito Santo, que pro-
põe á resolução do governo a duvida, em que esta, se
a lei de 31 de Outuhro de 1835, art. 9.° | 9.°compre-
hende a troca de bens situados neste Império por bens
situados em Portugal.
A secção depois de examinar attentamente este ob-
jecto concorda inteiramente com os membros do tri-
bunal do thesouro declarando, que não tendo a dita lei
estabelecido distineção alguma entre o caso que se
oíferece, e aquelle, que se dá ordinariamente, não ha
razão "alguma para duvidar-se, de que esteja na mesma
lei comprehendida a questão proposta.

quiz que se arrecadassem as taxas ordinárias do sello ; mas podendo


acontecer que esteja em erro : remetto-me á decisão de V. Ex.
Deus guarde a V. Ex.—Thesouraria da provincia de Sergipe, 26 de
Julho de 1848.—Ulm. e Exm. Sr. Francisco de Paula Souza e Mello,
senador do Império, presidente do conselho de ministros, e do tri-
bunal do thesouro publico nacional. — O inspector, Rafael Arcanjo
Galvão.
O Decreto n.»579 de 27 de Janeiro de 1849. Resolve as duvidas susci-
tadas a respeito das letras, e outros papeis levados a juizo, teudo pago
uin sello menor do que o devido, para que possão ter effeito legal.
— 3G1 —
Tal é o parecer da secção; Vossa Magestade Imperial;
porém, mandará o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, 6 de Dezembro de 1848.—Manoel AIves
Branco.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—Visconde
de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 16 de Dezembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.'
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 171 .—RESOLUÇÃO DE 16 DE DEZEMBRO DE 1848^


Sobre as leis provinciaes da Parahyba, do anno de 1848.
Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial por aviso
de 12 de Dezembro de 1848 que a secção de fazenda do
conselho de estado desse seu parecer a respeito das
leis da provincia da Parahyba, feitas no corrente anno.
A secção examinou escrupulosamente todas essas leis,
e é de parecer, que em nenhuma ha cousa alguma de
censura á vista da constituição do Império, acto addi-
cional, e sua interpretação; entretanto Vossa Magestade
mandarão que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, 13 de Dezembro de 4848.—Manoel
Alves Branco.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—*
Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.:

Como parece.
Paço, em 16 de Dezembro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.]
Joaquim José Rodrigues Torres.
•*
!*) Ordem n.» H3í de 30 de Dezembro de 1848, na collecção das leis*
c, 46
RELAÇÃO
DOS

MINISTROS DE ESTADO PRESIDENTES


E DOS

CONSELHEIROS MEMBROS
DA

SECÇlO ÜE F A Z E M DO CONSELHO DE ESTADO.

1849.

MINISTRO D E ESTADO.

Joaquim José Rodrigues Torres (depois visconde de


laborahy).
Visconde Olinda (depois marquez) ministro e secre-
tario de estado dos negócios estrangeiros, nomeado in-
terinamente , no impedimento do respectivo ministro,
por decreto de 19 de Maio de 1849. Serviu desde 22 de
Maio até 11 de Junho do mesmo anno.

CONSELHEIROS DE ESTADO.

Manoel Alves Rranco.


Visconde de Abrantes.
Bernardo Pereira de Vasconcellos.

SECRETARIO.

João Maria Jacobina (interino), official maior da se-


cretaria de estado dos negócios da fazenda.
CONSULTAS

CONSELHO DE ESTADO NA SECÇÃO DE FAZENDA.

1849.

N. 172.—RESOLUÇÃO DE 3 DE JANEIRO DE 1849

Sobre a incorporação de sociedades anonymas.

Senhor.—Em observância do que Vossa Magestade Im-


perial houve por bem ordenar-lhes, vem as secções
reunidas de fazenda e de justiça do conselho de es-
tado apresentar seu parecer sobre os seguintes quesitos:
1.° E' permittida a incorporação de companhias para
o fim de organizarem bancos da natureza dos da Bahia,
Rio de Janeiro e Maranhão, sem que para isso sejão
previamente autorisadas ?
2.° E no caso negativo, a quem compete conceder
semelhante autorização ?
3.° Que providencias se devem tomar acerca do banco
de Maranhão, cujos estatutos nem forão ainda appro-
vados pelo governo?
4.° As letras ou vales emittidos pelos bancos, e que,
sem serem reformados, continuarem a circular ainda
depois de vencido o prazo fixado nos respectivos esta-
tutos , estão sujeitos á revalidação, ou antes a pagar
tantas vezes a taxa do sello quantos são os prazos ven-
cidos ?
— 366 —

5.° Para evitar que os bancos emittão maior somma


de letras ou vales do que lhes permittem seus estatutos,
será conveniente adoptar as seguintes disposições?
i.° Da commissão de exame nomeada por cada um
dos bancos commerciaes fará parte um empregado da
respectiva thesouraria de fazenda, designado pelo ins-
pector delia, ao qual incumbe verificar qualquer emissão
de vales ou letras, que exceda á permittida pelos res-
pectivos estatutos, e dar logo conta desse excesso á the-
souraria, que o communicará ao governo; e 2." será
revogada a faculdade que aos bancos concedem seus
respectivos estatutos, de emittir vales ou letras pagaveis
ao portador, não só quando a somma da emissão fôr
superior á que lhes é permittida, mas ainda quando o
prazo dos vales ou letras não fôr o marcado nos re-
feridos estatutos?
1.° Quesito.
Em nosso foro, como nos da maior parte das nações
civilisadas, são conhecidas três espécies de sociedades
mercantis permanentes: a sociedade em nome collectivo,
a sociedade em commandita e a sociedade anonyma.
Bem que estas sociedades tenhão pontos de contado,
são todavia essencialmente distinctas e differentes.
Constituem a sociedade em nome collectivo duas ou
mais pessoas, que reúnem seus capitães e industria de-
baixo defirmasocial para melhor negocio e maior ganho,
ficando cada uma dellas responsável solidaria e inde-
finidamente. Com o mesmo intuito são instituídas as
sociedades em commandita, mas só os sócios quo
firmão com o nome ou razão social, são responsáveis
como os das sociedades coüectivas; os que porém
não entrão na formação do nome ou firma social, ar-
riscão só as suas entradas ou acções, mas quinhoão bene-
fícios illimitados.
Na sociedade anonyma reunem-se menos as pessoas
que os capitães; nellas desapparece a individualidade,
e consegumlemente a responsabilidade, pois não se su-
jeilão a mais do que á perda da importância de suas
acções.
Os membros das duas primeiras sociedades é de pre-
sumir que se desvelem em bem dirigir suas operações,
evitar despezas menos necessárias e augmenlar os seus
lucros, porque de seu desmazelo, indiíTerença ou má
fé, ha de resultar-lhes perda e até ruina de sua fortuna
e reputação. Nas sociedades em commandita verdade
é que os sócios commanditarios não respondem por
mais do que por suas entradas, e se lhes não pôde con-
seguintemenle suppor o mesmo interesse no bom êxito*
— 307 —

da especulação; mas estes sócios nem administrão,


nem de qualquer modo lhes é permiltido promover a
utilidade da sociedade, sem que de commandilarios
passem a fazer parte da firma social. Os administradores
são os outros sócios, .os responsáveis solidaria e inde-
finidamente, e que tem conseguinlemente o maior in-
teresse em que a sociedade não soffra prejuiso algum,
antes prospere e apresente consideráveis dividendos.
A sociedade anonyma é administrada por mandatários '
temporários, revogaveis, irresponsáveis, gratuitos ou as-
salariados, associados ou não associados. Os interesses
pois de taes administradores são muito insignificantes,
comparados com os que esperão e procurão os admi-
nistradores das outras sociedades. O compromettimento
da fortuna e da honra, natural é que facão muito cir-
cumspectos os membros da sociedade collectiva, nem
é de esperar vel-as constituídas com fundos colossaes.
Mais avultados fundos conseguirão accumular as socie-
dades em commandita, por isso que se lhes podem
reunir os capitães não só commerciaes, mas também
civis, que procurão empregos seguros sem prováveis
riscos, e que não se assustão com a possibilidade de
uma perda, que não comprometterá toda a fortuna, e
a reputação de seus possuidores, isto é, dos sócios
commandidarios, e que são attrahidos com a esperança
de lucros consideráveis. As associações mais apropriadas
para .reunir consideráveis fundos, e por conseguinte
para as emprezas mais dispendiosas e duradouras, são
as anonymas, que se constituem exclusivamente por
acções, isto é, por meio de quantias tão moderadas,
que estão ao alcance de muitas fortunas, e que sós ficão-
sujeitos a compor os prejuízos que possão resultar a
terceiros e aos mesmos sócios.
Para facilitar suas operações commerciaes gozão os
membros das duas primeiras sociedades da mais ampla
liberdade, pois em geral se não veêm obrigados a re-
correr a deliberações de muitos, nem soffrer opposição
dos que, embora sócios, tem muitas vezes interesses
diversos do commum.
A par da liberdade está a rapidez, a harmonia e a fer-
tilidade dos expedientes ou por outra a unidade de acção.
• Nas sociedades anonymas, porém, quasi todos os seus
actos estão marcados em estatutos, que nem sempre
sabem acommodar-se ás occurrencias, e não raras
vezes forçoso é recorrer a deliberações de conselhos,
que muito transtornão a marcha regular das transacções,
embora os objectos de taes associações sejão de ordi-
nário simples, e de natureza tal, que uma vezr egulados
— 36S —

em seus começos seja fácil o seu andamento. Finalmente


quando correm mal os. negócios das duas primeiras
sociedades, os seus membros se interessão na sua li-
quidação, apresentão-se lalüdos, e seus credores podem
prevenir, não pouciis vez^s, muitos damnos e transtornos.
Nas sociedades anonymas não ha quem tenha o mesmo
interesse na sua liquidação, e' no pagamento de seus
credores, e dahi as delongas, e diíuculdades na aber-
tura de suas quebras.
Estas, além de outras ponderações, tem induzido os
legisladores das nações modernas a não permitlir a reu-
nião de sociedades* anonymas, sem prévia autorização
do governo, e a respeitar a liberdade na formação das
outras associações. Na Inglaterra é tolerado o estabele-
cimento de sociedades anonymas, sem prévia autorisa-
cão; mas os membros de taes sociedades são solida-
riamente responsáveis, em quanto não obtém acto do
parlamento, que as incorpore: acto de ordinário tão
dispendioso, «jue companhias alli ha, que gastarão mais
de dous milhões de cruzados para o conseguirem, por
exemplo, a companhia do caminho de ferro de Manches-
ler para Liverpool. Exigem prévia autorização para as
sociedades anonymas os códigos e leis das nações com-
merciaes de todo o mundo civilisado: assim que não
se formão taes associações por mera deliberação par-
ticular na França, Hollanda, Hespanha, Portugal, Sar-
denha, Nápoles, Estados Pontiíicios, Rússia e toda a Alle-
manha.
Contra o assentimento geral não podem valer as con-
siderações de liberdade de trabalho e industria, a que
recorrem os fundadores do banco do Maranhão, nem a
iratica diversa e variada de nossos tribunaes. Se a lei
f undamenlal do Império não autorisa a prohibição de
trabalho ou industria, que não seja contraria aos bons
costumes, á segurança, e á saúde dos cidadãos, é evi-
dente que não permitte as sociedades anonymas sem fis-
calisação da autoridade competente, por isso que po-
dem promover a immoralidade, e tornar vacilante a for-
tuna publica e particular. Com a maior facilidade espe-
culadores imprudentes ou fraudulentos, aclivos e astutos,
concebem o plano de uma sociedade, empregão todos
os meios adaptados para as acreditar, ganhão a seu favor
nomes commerciaes respeitáveis,* propalão por toda a
parte as vantagens incommensuraveis do seu estabele-
cimento, e não raras vezes se testemunha a venda de
acções por dez e mais por cento, além do seu valor
nominal, quando um mais reílectido exame evidenciaria
a esterilidade, e até a impraticabilidade da empreza.
— 3G9 —
Inda sem fraude podem mallograr-se as especulações,
por capitães insulficientes, por condições menos irregu-
lares e damnosas.
Embora pois os tribunaes do Império não esteião sem-
pre de accordo com a opinião das 3ecções reunidas, ellas
estão profundamente convencidas de que não havendo
legislação pátria sobre a matéria, e sendo unanimes os
códigos das nações estrangeiras, em exigir a fiscalisação
da autoridade nas companriias anonymas, não pôde o go-
verno imperial tolerar sua incorporação, antes de veri-
ficar se seus capitães são verdadeiros ou ficticios, se
são suffiçientes, e se os seus estatutos podem preencher
o fim a que são destinados.
Se as secções reunidas se pronuncião desta arte contra
a liberdade, com que actualmente se incorporão com-
panhias por acções, sem a menor dependência do go-
verno, razão muito mais ponderosa milita para se pedir
a autorização do governo quando se tem de estabelecer
bancos de deposito, desconto e circulação, como os do
Rio de Janeiro, Bahia e Maranhão. Estas associações po-
dem ser as mais damnosas aos interesses particulares
e públicos, pela faculdade que se arrogão de emittir papel
moeda.
2.° Quesito.
Na actualidade não vêem as secções quem, a não ser
o governo imperial, autorize o estabelecimento de bancos
e companhias por acções, quando estas não pretendão pri-
vilégios, que só do poder legislatiyo geral podem alcan-
çar. Sem duvida que haverá lenteza, e alguns embaraços
na impetra de taes concessões; e com este pretexto e
com o desfavor das* reslricções da liberdade indispen-
sável á industria, pretenderão alguns colorar sua repug-
nância á fiscalisação: mas que peso podem ter estes
inconvenientes quando comparados com os abusos que
soem resultar da liberdade illimitada em semelhantes
especulações ? Accresce que além de raras as associa-
ções anonymas, os estorvos que se receião da prévia
autorização serão muito attenuados e imperceptíveis, ex-
pedindo-se regulamento que facilite as diligencias neces-
sárias, bem como as transmissões dos requerimentos
e quaesquer papeis que os instruão, dos pontos mais
remotos para a capital do Império. Quando pois, Vossa
Magestade Imperial seja servido adoptar o parecer das
secções ao 1." quesito, dignar-se-ha, para bem de seus
subditos, expedir regulamentos adaptados a conciliar a
acção da autoridade com os interesses dos particulares..
3.° Quesito.
Estando já em exercício o banco do Maranhão ha dous
c, 47
— 370 —

para três annos, sua dissolução, e de ordem do governo


imperial, parece menos considerada, porque provável é
que tenha creado muitos interesses, que ficaráõ preju-
dicados com sua suspensão ou extineção.
As secções, pois, sem se retratarem do que consultarão
em 5 de Março de 1847, (*)são de parecer, que não seja
dissolvido o dito banco, e que pelo contrario seja appro-
vado com as alterações propostas na consulta, a que se
ha referido.
4.° Quesito.
O governo imperial declarou sujeitos ao sello os vales
ou letras, que na fôrma dos seus estatutos os bancos
emittirem, bem como aos revalidarem, quando gyrando
depois de vencidos não tiverem pago o sello tantas vezes,
quantas pagarião se findos os prazos tivessem sido reco-
lhidos, e reemittidos. Esta ordem porém entendem as
secções, que importa revogar-se, porque nem tal obri-
gação é expressa na lei, nem delia se pôde inferir, mor-
mente depois que a lei do orçamento de 1845 alterou
a tabeliã da de 4843 exigindo o mesmo sello sem attenção
ao tempo dos documentos, pelos quaes é devido.
As secções, pois, são do mesmo parecer que o foi a de
fazenda na consulta de 12 de Abril do corrente anno, (")
e conseguintemente propõem favorável deferimento á
representação do banco do Uio de Janeiro nesta parle
somente. Inda na hypothese de ser fundada a mencio-
nada ordem imperial, cuja revogação ora propõem as
secções, reclamava a equidade, que o pagamento do sello
e rivalidação se exigissem somente de futuro, lançan-
do-se um véo sobre o passado, não apparecendo má fé
na falta do referido pagamento.
Sendo provável que circulem na Bahia mil contos de
réis em vales, e no Maranhão quatrocentos contos, e ou-
trosim se conservem neste gyro além dos prazos nos
mesmos marcados, ver^se-diia o banco da primeira obri-
gado a uma despeza superior a quatrocentos contos, e
o da segunda a cento e sessenta contos: e com luta
semelhante sem duvida não poderião manter-se taes es-
tabelecimentos, seria infallivel sua ruina, que acarretaria
a de muitas casas e famílias.
5.° Quesito.
As secções crêem que -çonvirá designar-se um empre-
gado da respectiva thesouraria de fazenda, para verificar

(*) Da secção dos negócios do império do consclüo de estado. Vide


no appendicc.
;**) Vide pag. ziz adiante.
— 371 —
as emissões de vales ou letras, que tiverem feito os bancos,
e informar ao governo o resultado de suas averiguações,'
como já foi proposto pela secção de fazenda.
Quando o governo pelo referido exame chegar ao co J
nhecimento de que tem havido excesso na emissão dos
ditos vales ou letras, ou nos referidos estatutos, poderá,
e mesmo deverá mandar dissolver taes asso«;iações >,
porque procedendo assim ellas violaõ as condições com
que forão estabelecidas.
Cumpre subentender-se sempre a cláusula revogatoria
em concessões de semelhantes estabelecimentos, quando
estes não preenchem, ou infringem, as obrigações a que
se sujeitarão.
E' este o parecer das secções, que Vossa Magestade
Imperial se dignará acolher com sua costumada indul-
gência.
Sala, em 27 de Novembro de 1848.— Bernardo Pereira]
âe Vasconcellos.—Visconde de A br antes. —Mdnoel A Ives
Branco, com as modificações de um voto separado que
oíferece. — Honorio Hermeto Carneiro Leão. — Caetano
Maria Lopes Gama.—Ahtonio Paulino Limpo de Abreu.i

Voto separado do conselheiro Manoel Alves Branco.



Senhor.—Ainda que concordo em geral com a maioria
das secções nos princípios, que expõem em seu parecer,
e sobre elles já me fundei para bensurar a condúcta do
banco mercantil desta corte, com tudo não me atrevo a
aconselhar ao governo de Vossa Magestade Imperial, qué
faça desde já um regulamento prohibindo incorporações
de companhias anonymas.ou annullando as que se tiverem
estabelecido antes que o governo geral tenha verificado
se seus capitães são reaes ou fictícios, se são suffiçientes,
se seus estatutos podem preencher o íim, a que se dés-
tinão, como pretende a secção.
E' minha opinião já indicada em um parecer que dei
sobre o banco do Maranhão em consulta de 5 de Março
de 1847, que á vista das decisões dos tribünaes do
Império em sentido contrario ao parecer da" secção,
decisões de que ella mesma faz menção, e que não tem
sido vários, mais constantes e uniformes depois da consr
tituição do Império, o governo não deve por um acto
puramente seu fazer o que propõe a secção, sem uma lei
que interprete authenticamente a constituição, porque se-
gundo outro artigo da mesma constituição nenhum ci-
dadão pôde ser obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma cousa, senão em virtude de lei.
— 372 —
Além desta consideração ha outra de nõo menor impor-
tância, que é o não ser liquido, á vista do acto addi-
cional, que a autorização de semelhantes companhias
nas provincias seja exclusivamente da competência do
governo ou assembléa geral; é questão que tem sido
suscitada, e mesmo debatida, mas ainda não resolvida;
e eu penso, que não é o governo, mas a assembléa geral,
que deve resolvel-a competentemente.
Estas considerações para mim valem muito contra o
assentimento geral, de que falia a maioria da secção,
senão pelo que respeita á matéria, ao menos pelo que
respeita á autoridade que deve resolvel-a, pois que de-
rivão da constituição, a que todos devemos acatamento.
Uma duvida bem fundada a respeito de lei, e princi-
palmente a respeito da constituição do Estado reclama
primeiro que tudo solução pela assembléa geral e eu
não posso considerar, que haja duvida mais bem fun-
dada, do que a presente, que tem por si a opinião dos
tribunaes e de varias assembléas provinciaes do Im-
pério.
Pelo que respeita á resolução do terceiro quesito estou
de accordo com a maioria da secção, confessando, que
a deliberação, que tomei, como ministro da fazenda sobre
parecer do tribunal do thesouro, a respeito do sello dos
vales, não foi bem considerada.
Também concordo com o parecer a respeito da re-
solução do quinto quesito, e em conformidade com ella
já na qualidade de ministro da fazenda dei uma ordem
ao banco commerciafda Bahia, ordem que hoje deve ser
considerada annexa ao decreto, que autorizou sua in-
corporação.—Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.
Como parece. (*)
Paço, em 3 de Janeiro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Nos termos da resolução de consulta foi expedido o decreto n.° 875
de 10 de Janeiro de 1849, que estabelece regras para a incorporação
de quaesquer sociedades anonymas (na collecção das leis), acompa-
nhado do relatório do respectivo ministro, que se segue:
Senhor.—A constituição do Império, de accordo com os sãos prin-
cípios da sciencia econômica, determina jio § 21 do art. íTi, «me ne-
— 373 —

N. 173.—RESOLUÇÃO DE 10 DE JANEIRO DF 1849.

Sobre a representação dos amanuenses, e praticantes da secretaria de


fazenda, contra a nomeação de pessoa estranha para o lugar de offi-
cial da mesma secretaria.
Senhor.—Manda Vossa Magestade Imperial que a secção
de fazenda do conselho de estado consulte sobre um
requerimento dos amanuenses, e praticantes da se-
cretaria de estado dos negócios da fazenda, em que
se queixão da nomeação, que em data de 21 de Setembro
deste anno fizera o ministro e secretario de estado dos
negócios da fazenda e presidente do tribunal do the-
souro publico nacional, de uma pessoa extranha á re-
partição de fazenda para entrar na vaga deixada por
um official aposentado, por entenderem que nessa no-
meação houvera preterição de seus direitos.

nhuma espécie de tr.ibalho.de cultura, ou de industria e commercio


poderá ser nrohibiila se não se oppuzer aos costumes, á segurança,
e á salubridadc publicas.
Ha certas emprczas conhecidas pelo nome de sociedades anonymas,
que a má fé, ou mesmo errados cálculos, podem com tanto maior
facilidade tornar prejudiciacs ao publico, porque são constituídas
sem firma social; administradas por mandatários revogaveis; e
nenhum dos sócios responde por mais do vai ir de suas acções, e
é por isso, que a legislação dos paizes civilisados, deixando plena li-
berdade ás associações, cujos membros todos, ou ao menos parte
delles, são responsáveis pela execução das obrigações sociaes, e su-
jeitão seus bens ao pagamento dellas, não permitte todavia que se
organizem .companhias anonymas sem prévia autorização dos poderes
encarregados de olhar pelos interesses nacionaes.
A legitimidade dessa intervenção da autoridade deriva, não da na-
tureza da industria que se pretende exercer, mas de fôrma da so-
ciedade anonyma; da necessidade que tem o publico de certificar-se
se o fim da sociedade é licito; se os capitães annunciados existem
realmente; se são proporcionados á empreza á que se destinão; se
os estatutos de taes associações oferecem aos accionistas, cujo con-
curso reclamão, garantias moraes, meios suffiçientes de fiscalisação.
Assim, o fim da autorização é pura e simplesmente assegurar a so-
lidez das bases das associações anonymas, que se estabelecerem, e
a moralidade e capacidade das administrações, que as dirigirem. Mas
seu governo nunca deve autorizar a incorporação de companhias,
que não satisfação ás condições referidas, nem simples projectos,
muitas vezes baseados unicamente no interesse individual de espe-
culadores, que procurão locupletar-se á custa da fazenda alheia,
ou na imprudência de emprehendedores mal avisados, que sacrificão
seus cabedaes, e os dos incautos, que se deixão fascinar por peri-
gosas illusões, cumpre-lhe todavia não estorvar, antes favorecer, as-
sociações reaes, organizadas convenientemente, nas quaes se tenhão
empenhado sufíicienle numero de acreditados accionistas, que con-
corrão com seus capitães, ou estejão em circumstancias de realizar
as quantias, com que subscreverem.
— 374 —

A secção «le fazenda do conselho de estado examinando


este negocio, como era de seu dever, achou, Senhor,
que dos arís. vu e 97 da lei de 4 de Outubro de 1831,
se deduz mui claramente, que nenhum empregado pôde
ser admiilido nas repartições de fazenda s«iin concurso,
em que mostre ter os princípios de grammatica da lingua
nacional, escripturação por partidas dobradas, calculo
mercantil, boa letra, e boa condueta ; achou também
que nenhum empregado de fazenda devia ser promovido
senão por maior antigüidade, salvo havendo na repar-
tição pessoa reconhecidamente mais apta para o serviço;
achou finalmente que desde a data da lei acima citada
sempre se tem seguido essas regras no thesouro e thesou-
rarias de fazenda, com excepção somente das nomeações
dos membros do tribunal, e inspectores de fazenda, para
que a mesma lei estabeleceu regras éspeciaes; e das
relativas ás repartições subalternas, como alfândegas^
consulados e recebedorias, para as quaes os reguiamentoá

Se estas considerações são valiosas, applleadas ás sociedades ano-


nymas em geral, muito maior importância adquirem quando se re-
ferem ás que tem por fim fazer operações bancaes. Ninguém des-
conhece a utilidade dos bancos nos paizes, cujo meio circulante é
metallico. Produzem elles, além de outras menos consideráveis, a
grande vantagem de substituir um instrumento de circulação dis-
pendioso por outro muito mais econômico; e os valores, que por
esse meio deixao de representar o papel de meros agentes da cir-
culação, passão a ser empregados como capitães produclivus, e con
correm poderosamente para augmenlar a riqueza publica; mas, ainda
assim.Ipara que os bancos possão fazer esse beneficio sem perigo de
causar grandes males ao commercio e industria, cumpre que sejão
organizados solidamente; que emprestem quantias limitadas, a prazos
curtos ou freqüentemente renovados, e com boas garantias.
No Brasil, porém, onde papel irreali/.avelfaz exclusivamente as func-
ções de meio circulante, os bancos de emissão, sem poderem prestar o
mesmo serviço, tenderão a tornar mais irregulares e prejudiciaes as
oseillações próprias desse agente de circulação, e afugentar cada vez
mais a moeda de ouro e prata. E' fora de duvida, e recente expe-
riência já o demonstrou, que, quando a quantidade de moeda papel que
temos em circulação, avaíiaila conforme o padrão estabelecido na lei
n.° 401 deli de Setembro de 1846, fôr insuficiente para todas as
transacções do paiz, os metaes preciosos affluiráõ para auxilial-a, é
facilitar o estabelecimento de uma circulação mais solida e normal.
Se porém ás associações anonymas fòr permittida a ampla faculdade
de emittir a seu arbítrio vales ou letras pagaveis ao portador, claro
é que esses papeis de credito, cuja somma irá augmentando ao par
e passo, qne fôr maior a insufficiencia da moeda papel, occuparáõ
o vácuo, que devera ser preenchido pelos metaes preciosos, os quaes
licaráõ indefinidamente expellidos da circulação, contra a intenção
manifesta da citada lei de 11 de Setembro de 1816. Assim pretender
o restabelecimento da circulação metallica, e deixar aos particulares
plena liberdade de organizar bancos de emissão mais ou menos per-
feita, é querer conciliar dous princípios, «jue por sua natureza se
repcllcm mutuamente.
— 37o —

posteriores, feitos com autorização legislativa, estabelé^


cêrão modificações ás regras da lei fundamental.
• E' sobre esta intelligencia e pratica da lei, que se es-
tabeleceu no regulamento de 19 de Abril de 1844, que
os accessos dos officiaes e amanuenses da secretaria
de estado dos negócios da fazanda serião feitos pelas
disposições da lei de 4 de Outubro de 1831 ; e que mesmo,
os praticantes não poderião ser nomeados sem as habi-
litações exigidas no art. 96 da dita lei.
Embora o conselheiro procurador fiscal do thesouro
ache nas duas disposições assim reunidas uma prova
de que ficarão as nomeações dos ofíiciaes e ama-*
nuenses fora da regra do referido art. 96; porquanto
é evidente que se pôde arguir o art. 3.° do regulamento
de uma redacção pouco accurada, não se pôde com tudo
dizer que nas palavras—disposições da lei—não esteja
comprehendido o art. 96 delia, como quiz o mesmo
conselheiro procurador .fiscal em sua .argumentação,

Nossa legislação é omissa ern pontos importantes de matérias eco-


nômicas, e mercantis; mas determinando o § 9.° da lei de 18 de Agosto
de 1709, que em taes casos se recorra ao subsidio das leis das nações
civilisadas; e sendo a legislação destas uniforme acerca da necessi-
dade de autorização para estabelecimentos de sociedades anonymas,
é fora de duvida que esla, doutrina é lei nossa em íalla de pátria,
que não temos.
O que fica exposto, e a deliberação que Vossa Magestade Imperial
se dignou de tomar sobre o parecer das secções reunidas de fazenda
e justiça do seu conselho de estado, em resolução de consulta de 3
do mez corrente, me impõe o dever de submetter á approvação de
Vossa Magestade Imperial o decreto junto, que estabelece as regras
e meios a qué deve recorrer quem entre nós quizer incorporar com-
panhias anonymas.
Procurei conciliar quanto me pareceu possível as garantias e se-
gurança nas transacções particulares, que o publico tem direito de
exigir com a facilidade dos meios de obter concessão para seme-
lhantes associações..
Nem estas garantias porão estorvo á organização de companhias
verdadeiramente úteis; bem ao contrario, servirão de dar-lhes mais
solidez e credito, e de excitarem assim o concurso de capitães, que
sempre procurão de preferencia as empresas mais seguras, e oude
reconhecem maior probabilidade de avautajados lucros.
Sou, Senhor, com o mais profundo acatamento.
De Vossa Magestade Imperial.
Subdito inuite fiel e reverente,
Joaquim José Rdtírigues Torres.
Decreto n.« 397 de 2i de Março de 1849. Approva os estatutos do
banco commercial do Maranhão com algumas alterações..
- 37G —

a que apenas é possível conceder o mérito de agu-


deza.
Não tem a secção duvida alguma em reconhecer que
o nomeado tem muitas habilitações, e que seria uma
optima acquisição para o serviço do Estado em um em-
prego de igual, e mesmo de superior categoria; mas
á vista do que fica ponderado a respeito daquelle, para
que fora nomeado, para o qual não só a lei exige co-
nhecimentos peculiares, mas até provas éspeciaes delles;
e em presença da lei e regulamento, que estabelecem
um accesso regular porantiquidade, salvo maior mereci-
mento dentro da repartição, não pôde deixar de reco-
nhecer, que houve irregularidade na nomeação de que
se queixão os supplicantes, e preterição de seus direitos,
e por isso é de parecer que Vossa Magestade Imperial
attendendo-os lhes fará justiça; entretanto Vossa Ma-
gestade Imperial ordenará o que lhe parecer mais justo.
Rio de Janeiro, em 10 de Novembro de 1848.— Manoel
Alves Branco.—Visconde de Abrantes.—Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 10 de Janeiro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
> Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 174.—RESOLUÇÃO DE 10 DE JANEIRO DE 1849.


Sobre o loflicio do inspector da alfândega da côrlc, a respeito do*
objectos comprchendidos sob a denominação de roupa feita c
obras de marcencria.
Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado
vem interpor seu parecer sobre o oflicio em que o ins-
pector da alfândega da corte pede que, para execução
do disposto no. § 1." do art. 9.° da lei n.° 514 de 28
de Outubro ultimo, lhe sejão declarados os objectos
comprehendidos sob a denominação de roupa leita e
obras de marceneria.
- 377 —

A secção está persuadida de que o intuito do legis*


lador, elevando os direitos sobre os mencionados ob*
jectos, foi promover a producção dos que já são manu-
facturados.no paiz, mas que "sem especial favor não
podem concorrer cora os importados do estrangeiro,
onde a industria está mais aperfeiçoada. Daqui resulta,
que se o "jvor mencionado comprehender objectos que
inda não são produzidos, ou que apenas principião a
sel-o em uma ou outra localidade, não será preenchido
o fim da» lei. era prejuízo do thesouro e dos habitantes
do Império. Era prejuízo do thesouro porque direitos
tão elevados convidãó ao contrabando; e em prejuízo dos
habitantes do Império porque alçará consideravelmente
o preço de taes objectos, além de que attrahiráõ elles os
capitães e braços empregados era outras industrias.
E' pois o. parecer da secção que a lei sujeitou aos di*
feitos de 80 °/„ os objectos seguintes :
•ROUPA FEITA.

Vestidos
Saias... I
Camisas í>Para senhoras e mehtnas.
Capotes.
Casacas-
Sobrecasacas.
Palelots
Rodaques — k
Japonas [Para homens «> meninos, exceptuados os
Jaquetas \ de prova d\igua„ ou feitos degowma
Capotes [ elástica.
Ponches
Calças...
Calções.
Colletes.
Camisas ÍExceptuadas as de meia de lã ou de
Ceroulas J meia de algodão.
CALÇADO.

Todo o calçado para homens, senhoras, meninas* e me-


ninos, exceptuando os sapatinhos de meia ou rede de lã
para crianças.
OBRAS DE MARCENERIA

Todos os objectos de madeira para adorno ou serviço


de casa, vulgarmente chamados—mobília—,exceptuados
c. 48
— 378 —
4odos aquelles artigos em que a madeira não seja a
matéria principal, corno por exemplo , os pianos, reale-
jos e outros instrumentos de musica, espelhos e quadros
dourados com, ou sem vidros e estampas, molduras
douradas, caixinhas enfeitadas com ou sem preparos
para costura, barba, ou outros misteres, etc. etc.
Digne-se Vossa Magestade Imperial acolher com sua
costumada indulgência este parecer da secção.
O conselheiro de estado Manoel Alves Rranco, vencido
pelo que respeita as excepções, que limitão o sentido
vulgar das palavras da lei; admitte porém excepção
para a mobília, em que a mão d'obra de marceneiro não
seja objecto principal, e não se possa avaliar separada-
mente.
Sala das sessões, em 22 de Dezembro de 1848.— Ber-
nardo Pereira de Vasconcellos.—Visconde de Abrantes.
—Manoel Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 10 de Janeiro de 1848.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 175.—RESOLUÇÃO DE 13 DE JANEIRO DE 1849.


Sobre a representação do banco commercial desta praça relativa ao
sello dos vales do mesmo banco.

Senhor.—A secção do conselho de estado dos negócios


da fazenda, em observância das ordens de Vossa Ma-
gestade Imperial, tem a honra de dar o seu parecer
sobre a representação da directoria do banco commer-
cial desta praça, contra a ordem do thesouro que manda
exigir o pagamento do imposto do sello, todas as vezes
que, vencendo-se o prazo dos vales que elle tem a fa-

n Circular n<° 11 de 12 de Janeiro de 1849, na collecção das leis*


— 379 —
culdade de emittir. continuem elles a correr na praça;
e que exige a revalidação dos que houverem sido emit-
tidos sem aquelle pagamento.
E' publico que os vales do banco conservão-se nas
mãos dos seus possuidores muito além dos prazos dos
seus vencimentos. Como porém este facto é indepen-
dente da vontade do bancq, sendo livre aos particulares
apresental-os ou não, para receberem sua importância;,
uma vez que, expirado o prazo, se conservem em poder
de quem os tem, sem que intervenha o banco, e sem
que haja novo contracto em virtude do qual continuem
elles a gyrar; não parece justo que o banco esteja su-
jeito a pagar novo sello, não tendo elle parte na demora
da apresentação, a qual, neste caso, é da conveniência
dos possuidores, que são os que calculão as vantagens1
da sua conversão em dinheiro.
A providencia conlra a qual reclama o banco, já foi
proposta em um projecto que fora remettido a esta secção
para ser examinado; e então foi ella adoptada, como
medida geral, como não arriscando o credito dos bancos,
como consta do parecer de 28 de Maio do anno pas-
sado. (*)
Mas a consideração de que esses vales do banco estão
debaixo dessa relação, no mesmo caso que as letras dos
particulares, faz que a secção reconheça uma injustiça
na exigência de que se trata.
E' sabido que as letras dos particulares, quando não
são apresentadas no tempo de seus vencimentos, nem
por isso pagão novo sello, não sendo consideradas come
reformadas; e não se apresenta razão nenhuma espe-
cial, que faça uma excepção contra as do banco. En-
tende pois a secção que o banco não deve ser obri-
gado a pagar novo sello no caso de que se trata. Se
porém esses vales forem recolhidos, não devem então
ser novamente emittidos sem que paguem o sello res-
pectivo.
Como da mesma representação consta que ainda de-
pois da lei de Setembro de 1845, não se tem pago sello
dos vales senão segundo a tabeliã do decreto de 26 de
Abril de 1844, e isto com o fundamento de que se havia
feito o pagamento antecipado de uma grande somma
pela faculdade quev para isso, dá o mesmo, decreto ; a
secção pede licença a Vossa Magestade Imperial para
fazer a seguinte observação:

(*) Vide a pag. 213 deste volume.


— 380 —
- 0 favor do art. 4.° do decreto de 1844 não pode em-
baraçar a execução da lei de 4845. Dando uma facili-
dade ás transacções particulares, elle não estabeleceu
direitos em favor de actos que hão de ser consummados
debaixo do império de outra legislação.
Se o imposto variar, e o papel que houver sido sel-
lado não tiver ainda servido, não é o pagamento ante-
cipado o íjue deve regular a obrigação, e sim a lei que
vigora no momento do contracto. Ém taes casos terão
os interessados o direito, ou de só pagarpm a dilferença
do antigo ao novo imposto, quando este seja mais pe-
sado, ou de serem embolsados de sua differença, quando
se verifique o caso contrario; mas nunca o de serem
dispensados do novo imposto quando este seja acres-
centado.
Por esta razão parece á secção que não só eslá obri-
gado o banco a pagar o imposto segundo a nova lei;
apezar de ter ainda em seu poder papeis com sello an-
tecipado, mas que toda a differença deve pagar dos
dous sellos que se verificar existir das emissões «pie
houver feito desde a publicação da lei de 1845.
O conselheiro visconde de Abrantes, concordando em
geral, apenas diverge em um ponto; sendo de opinião
que os vaies ou letras do banco que se demorarem na
circulação além do prazo de dez dias, marcado em seus
estatutos, devem pagar novo sello como se reformados
fossem; cumprindo ao commissario do thesouro, e ao
administrador da recebedoria ou a seu delegado verifi-
car o cumprimento desta disposição como lhes faculta p
art. 36 § 5." n. 1 do regulamento de 26 de Abril de 1844.
E funda esta sua opinião, não tanio no motivo de a ha-
ver já sustentado em-consulta de 28 de Maio do anno
passado, como em ser esse um dos meios mais efíicazes
de reprimir excessos de emissão da parte dos bancos.
Quando porém pareça que a mesma disposição seja,
ou nimiamente pesada para os bancos, ou de maior
difficuldade pratica, poderá recorrer-se ao alvilre, se-
guido por alguns governos, de admillir-se ajuste ou
avença entre o thesouro e os bancos, fixando-se sobre
o termo médio das emissões dos dous últimos annos
uma somma certa annual, e dando-se aos bancos que a
pagarem, á quartéis adiantados, o beneficio de seis por
cento de cada pagamento.
Vossa Magestade Imperial resolverá como mais acer-
tado parecer em seu alto juizo.
Rio de Janeiro, em 12 de Abril de 1848.—Visconde de
Olinda.—Visconde de Abrantes.—Francisco de Pau-
la Souza e Mello.
— 381 —
RESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (^


Paço, em 13 de Janeiro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 176.—RESOLUÇÃO DE 13 DE JANEIRO DE 1849.

Sobre o aviso do ministério dos estrangeiros, acerca da intelligencia


do decreto do l.» de Outubro de 18í7 , que estabeleceu direitos
differenciaes.

Senhor.—Dignou-se Vossa Mageslade Imperial ordenar,


que a secção de fazenda do conselho de estado con-
sultasse sobre a matéria do aviso do ministério dos
negócios estrangeiros de 13 do mez de Julho passado,
acerca da intelligencia do-decreto do 1.° de Outubro
de 1847, que estabeleceu direitos differenciaes.
Contém o referido aviso os três quesitos seguintes :
i.° Comprehende-se ou não nas disposições do citado
decreto o commercio indirecto ?
2.° No caso de negativa, e de se não comprehender
nelle o commercio indirecto, continua este em plena
liberdade como pela legislação anterior, ainda mesmo
para as nações que não recebem em pé de igualdade com
os seus os navios brasileiros que ahi vão fazer o com-
mercio directo ou indirecto ? Ou ha nas disposições do
decreto o espirito de reserva immediata do commercio
indirecto para a bandeira brasileira, vedando-o á de
todas as mais nações ?
3.° No caso de se comprehender na disposição do
citado decreto o commercio indirecto, ficará elle livre
em toda sua extensão ás bandeiras das nações em cujos
portos são recebidos em pé de igualdade os navios bra->
sileiros com carga de producção do paiz, ou se lhe
exigirá completa reciprocidade, de sorte que o.cora-

{') Ordem n.° 23 de 24 de Janeiro de 1849, na collecção das leis.


— 382 —

mercio indirecto somente seja livre em toda sua ex-


tensão aos navios daquellas nações em cujos portos
sejão também os brasileiros admittidos ao commercio
indirecto ?
A maioria da secção, tendo examinado a letra e es-
pirito do decreto em questão, e as observações con-
tidas no sobredito aviso, é de parecer:
Quanto ao 1.° quesito—que nas disposições do decreto
do 1.° de Outubro do anno passado comprehende-se o
commercio indirecto ; não só por que se assim não fora,
ou se deixasse de exigir completa reciprocidade, e per-
feita igualdade entre os nossos navios e os estrangeiros,
nas importações e exportações, o mesmo decreto faltaria
ao fim que teve em vista de promover a navegação na-
cional de longo curso, á qual tão nociva pôde ser a
desigualdade de tratamento no commercio directo, como
no indirecto; mas também porque esta intelligencia,
que resulta do espirito do referido decreto, está de
accordo com a letra do seu art. 3.°, cuja disposição
geral exclue qualquer distineção entre um e outro com-
mercio.
Quanto ao 2." quesito—que, resolvido afíirmalivamente
o 1.°, não se pôde admittir a hypothese de permittirmos,
como d'antes, o commercio indirecto aos navios das
nações que não permittirem o mesmo commercio aos
nossos navios; nem tão pouco, attendendo-se á mente
do decreto, e á política commercial adoptada pela mór
parte das nações marítimas, que vão se contentando
com o principio da igualdade de tratamento, e renun-
ciando á pratica de exclusivos (menos na navegação
costeira ) a favor de seus próprios navios, póde-se
suppôr no mesmo decreto o—espirito de immediata re-
serva do commercio indirecto para a bandeira nacional.
Quanto ao 3.° quesito—que segundo a letra e espirito
do decreto do 1.° de Outubro, o commercio indirecto
em nossos portos não deve ser permittido aos navios
de nação alguma, que em seus portos não permitta o
mesmo commercio aos navios brasileiros ; mas que em
attenção ao caso de achar-se alguma nação, que faz
avultado commercio com nosco, obrigada tempora-
riamente por sua legislação ou por tratados a não fa-
cultar sem restricções o commercio indirecto aos navios
de outras nações; assim como á falta que haverá, em-
quanto não se desenvolve a nossa navegação de longo^
curso, de navios que exportem nossos volumosos pro-
ductos, mormente na quadra actual, cujos effeitos no-
civos ao commercio do mundo não podem ser de curta
duração, forçoso é que o governo imperial, para evitar
— 383 —

os dous inconvenientes —ou de expor o paiz á indicada


falta, que será talvez calamitosa, — ou de prorogar se-
gunda vez o decreto do 1.° de Outubro, acto que seria
equivalente ao da sua revogação, haja de fazer alguma
excepção temporária á regra acima estabelecida, per-
mittindo por decreto, e emquanto o mesmo governo
não resolver o contrario, que os nayios das nações,
que se acharem no mencionado caso, e tratarem os
nossos navios como aos seus próprios no commercio
directo, possão fazer nos nossos portos o commercio
indirecto.
O conselheiro de estado Manoel Alves Rranco, entende
porém o seguinte :
1.° Que nas disposições do decreto do 1.° de Outubro
do anno passado comprehende-se também o commercio
indirecto.
2.° Que entretanto era intenção do governo, que o
formulou, reservar este commercio aos nacionaes, e
como não julgasse possível o fazel-o já, guardava-o para
uma lei ou decreto posterior, e assim o pretendia de-
clarar em qualquer ajuste ou convenção, que se fizesse
em conseqüência do mesmo decreto.
3.° Em caso nenhum admiltiria que fizesse commercio
indirecto em nossos portos nação, que não o permit-
tisse nos seus aos brasileiros, tanto porque isto con-
traria todas as illações do decreto, como porque poria
o commercio nacional indirecto sem esperanças.
Tal é, Senhor, o parecer da secção, que Vossa Ma-
gestade Imperial se dignará acolher, e resolver como
mais conveniente fôr.
Rio de Janeiro, em 1.° de Setembro de 1848.— Vis-
conde de Abrantes.—Manoel Alves Branco.—Bernardo
Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.
Como parece. (*)
Paço, em 13 de Janeiro de 1849.
Com a -rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Decreto n.° 608 de 4 de Maio de 1849. Revoga o decreto


n.o 536 do 1.? de Outubro de 1847, que estabeleceu direitos diffe-
renciaes.
Aviso ao minister
ministério dos estrangeiros em 24 de Janeiro de 1849, com
cópia da consulta.
rtonia da rnn<:iilt:i '
— 3S4 —
N. 177.—RESOLUÇÃO DE 31 DE JANEIRO DE 1849.
Sobre a'pretenção de Joaquim Diogo ilartley de ser dispensado de dar
liador pelo empréstimo que lhe foi concedido.
Senhor.—Joaquim Diogo Ilartley pretende ser dispen-
sado de dar fiador pelos cem contos de réis que a lei
de 28 de Setembro de 1847 autorizou o governo de Vossa
Magestade Imperial a emprestar-lhe com o fito de o au-
xiliar na sua fabrica de tecidos de algodão sita nos su-
búrbios desta cidade. A bem desta pretenção pondera o
supplicante que, tendo a lei em mira coadjuval-o em uma
empreza de indisputável interesse para o Brasil, seria
mallogrado tão patriótico intuito se, offerecendo o suppli-
cante bens suffiçientes para garantias da fazenda publica,
fosse obrigado a prestar fiança, porque diíílcilimo é en-
contrar pessoas abastadas qué obriguem seus bens á fa-
zenda publica por muitos annos, pois durante o tempo
deste ônus podem ser prejudicados pela quebra de cre-
dito que provável é lhe resulte, e que consequentemente
serão necessários ao supplicante para offerecer fiadores,
pesados sacrifícios que talvez annullem o beneficio que
os legisladores se propuzerão fazer-lhe.
Reflectindo a secção dos negócios da fazenda do con-
selho de estado, que a le<i, exigindo a fiança, não teve,
nem podia ter outro fim que o de assegurar o reembolso
da quantia emprestada, e que afiança é imposta na falta
do supplicante, que aliás oíTerece eáução tal, que a fazen-
da publica nenhum prejuízo venha a soffrer, está per-
suadida de que o supplicante é credor do favor que
pede, pois oom elle recebe o merecido beneficio sem
detrimento do thesouro publico nacional.
Digne-se Vossa Magestade Imperial acolher com sua
costumada indulgência este parecer da secção.
Sala das sessões, em 10 de Janeiro de 1849.— Bernardo
Pereira de Vasconcellos.— Visconde de Abrantes.—Ma-
noel Alves Branco.
RESOLÜÇVO.
Indeferido. (*)
Paço, em 31 de Janeiro de 1849.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) O decreto n.° 588 de 9 de Setembro de 1850, autoriza o governo


para aceitar de Joaquim Diogo Hartley caução hypothecaria, em lugar
defidejussoria,parasegurança do empréstimo de cem contos.
— 383 —

N. 178. —RESOLUÇÃO DE 31 DE JANEIRO DE 1849.

Sobre a lei provincial de S. Paulo que lança um imposto aos caixeiros


estrangeiros. Leis de Santa Catharina do anno de 1848.

Senhor.—Manda Vossa Mageslade Imperial, que a secção


de fazenda do conselho de estado consulte sobre o art. 5.°
da lei provincial de S. Paulo de 16 de Março de 1847, que
impõe 30#000 sobre cada caixeiro estrangeiro admittido
nas casas de commercio nacionaes, ou estrangeiras, que
lhe foi remettido em aviso de 8 de Novembro de 1848.
O parecer da secção não pode ser outro , senão o
mesmo que tem dado em diversas vezes a respeito de
imposições semelhantes á vista do art. 20 do acto addi-
cional,"isto é,que esla lei deve ser remettida á assembléa
geral para deliberar sobre sua validade, ou nullidade,
não podendo o governo no entretanto fazer regularmente
outra cousa, senão recommendal-a á attenção do pre-
sidente, se assim o entender conveniente, ou coherenle
com sua política.
A cláusula de não ser arrecadado o imposto, se por
lei geral se houver de arrecadar um análogo, não é
de natureza a fazer variar a opinião da secção, porque
bem longe de aggravar tende a modificar o ônus, e em
nada se oppõe a constituição.
A secção pede a Vossa Magestade Imperial, a permissão
de aqui mesmo dar o seu parecer a respeito das leis
de Santa Catharina, que lhe forão remettidas por aviso
de 2o deOutubrodoannode1848,para serem examinadas,
e que envolvem matéria análoga na lei de 4 de Maio de
1848 art. 3.° § 10.
A secção opina a respeito dessa lei da mesma ma-
neira, que opinou a respeito da lei de S. Paulo, decla-
rando não ter encontrado em todas as outras, matéria
digna de nota.
Tal é o parecer da seeção ; mas Vossa Magestade Im-
perial mandará o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, 6 de Dezembro de 1848.— Manoel Alves
Branco.—Bernardo Pereira de Vasconcellos, com voto
separado.— Visconde de Abrantes, concorda com o
voto separado.
Voto separado.
Concordo em que sejão ambas as leis, tanlo a da as-
spmblóa provincial de S. Paulo, como a da de Santa
c. 49
— 386 —

Catharina, remettidas á assembléa geral para deliberar


sobre sua validade ou nullidade, eque se recommende á
attenção dos dous respectivos presidentes, que promovão
pelas mesmas assembléas, uma revogação, visto que
insignificante ha de ser o resultado da imposição, e
muitas vexações serão commeltidas na arrecadação.
Julgo porém que se deve suspender a arrecadação
do imposto sobre casas que tiverem dous caixeiros sub-
ditos francezes, que, pelo tratado em vigor, são igualados
aos nacionaes quanto ao pagamento das contribuições,
• como foi resolvido em 15 de Outubro de 1839 ; não excep-
luar estes habitantes do Império na execução de uma lei
provincial quando o forão em execução de lei geral pelo
citado acto do governo de 15 de Outubro, é procedimento
incoherente e que deve excitar acres e fundadas recla-
mações.
E' este o meu voto que Vossa Magestade Imperial sè
dignará acolher com sua costumada indulgência.
Sala das sessões, em 13 de Janeiro de 1849.— Bernardo
1'creira de Vasconcellos. — Visconde de Abra>tles.
RESOLUÇÃO.

Remetla-se á lei a assembléa geral. (*)


Paço, em 31 de Janeiro de 1849.
Coma rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 179. — RESOLUÇÃO DE 10 DE FEVEREIRO DE 1849.


Sobre o recurso de José Ferreira Alves conlra a prohibição que lhe
foi imposta de entrar na alfândega da corte.

Serihor.-José Ferreira Alves negociante desta praça foi


condemnado pelo inspector da alfândega desta corte,
como extraviador de direitos, e como lal, inhibido de
entrar mais na alfândega, por uns queijos londrinos, que

(*) Submettida á consideração da assembléa geral. Aviso de 5 de


Janeiro de 1850.
- 387 —

havia comprado, e que lhe forão apprehendidos na rua


de S. José, quando os conduzia para sua casa.
Desta condemnação pretendeu o réo interpor recurso
para o tribunal, tanto porque tendo sido arrematados os
queijos á porta da alfândega, como objectos sujeitos á
corrupção, liverão o valor de mais de cem mil reis que é a
taxa da alçada da alfândega, como porque o feria em seu
credito, e privava de seus direitos impedindo-lhe a en-
trada em uma repartição, onde, como negociante, havia
de ter muitas vezes necessidade de comparecer.
Este recurso lhe foi denegado pelo inspector fundando*
se, em que sua alçada somente se regulava pela avaliação,
que o regulamento manda logo fazer dos contrabandos, e
que ficava a baixo da taxa de cem mil réis sua alçada; e mais
em que nenhuma lei dava recurso ordinário ás partes a
quem os inspectores das alfândegas impuzessem o preceito
denão entrarem mais nellas. Este despacho do inspector
da alfândega foi sustentado pelo tribunal do thesouro
no dia 14 de Dezembro de 1848; e é dessa sustentação,
que a parle recorre para o conselbo de estado, e sohre
que Vossa Magestade Imperial manda que a secção de
fazenda do mesmo conselho interponha o seu parecer.
A secção, depois de allentamente considerar sobre o
objecto reconheceu, que o espirito do regulamento não
justifica adenegação do recurso no caso, cie que se trata,
entendendo-se que a avaliação regula a alçada do inspector
na generalidade do? casos, em que a arrematação sopóde
ler lugar depois da decisão definitiva em ultima instância,
e não nos casos excepcionaes de mercadorias sujeitas á
corrupção, em que a arrematação á porta da alfandegadeve
lo?o fazer-se, pois que em verdade não se deve suppôr,
que mandando a lei fazer a avaliação com o único íim
de conhecer o valor real da cousa, venha a desprezal-o,
quando elle se manifesta por uma maneira incontestável,
contentando-se com o presumido, que aliás só deve ser
attendido na falta do primeiro, por que de outro modo
não podia a lei escapar a pexa de inconseqüente, e
mesmo de absurda; mas ainda quando se devessem des-
prezar todas estas considerações, ainda assim se não po-
dia dizer que o rigor da letra do regulamento justificava
adenegação do recurso no caso actual, porquanto a sen-
tença do inspector não se limita, como para isso seria
preciso, a condemnar o recorrente exclusivamente na
perda de uma propriedade de valor inferior a cem mil
réis, mas vai muito além impondo-lhe demais a pena de
não entrar mais na alfândega, como extraviador de direi-
tos nacionaes, e por conseguinte também na perda do
credito tão essencial a todos, e principalmente a um ne-
— 388 —
gociante ; embora por esta ultima razão não conc«?da ex-
pressamente recurso o regulamento, pois baslava não
prohibil-o, para que fosse muito duvidosa a autoridade
do inspector para recusal-o: é opinião da secção, que
o regulamento não é. nem pôde ser opposto aos recur-
sos ás autoridades superiores, tendo somente em vista
evitar abusos a esse respeito, e por isso sempre que não
seja clara, e evidentemente demonstrado que a condem-
nação não passa da perda de uma propriedade de valor
inferior a cem mil reis, o recurso ao superior não pôde
ser justamente recusado.
Tal é a opinião da secção; mas Vossa Magestade Im-
perial mandará, o que fôr mais justo.
Rio, 20 de Janeiro de 1849.—Manoel Alves fíranco. — Vis-
conde de 'Abrantes.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 10 de Fevereiro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 180.—RESOLUÇÃO DE 47 DE MARÇO DE 1849.

Sobre o recurso de João da Rocha Santos da apnrehcnsão de mer-


cadorias e multas impostas em embarcações de sua consignação.

Senhor.—Ordena Vossa Magestade Imperial que a


secção de fazenda do conselho de estado consulte sobre
o recurso, que João da Rocha Santos, negociante do Ma-
ranhão, interpôz de uma decisão do thesouro publico
confirmando as apprehensões feitas em parle dos car-
regamentos de três embarcações de sua consignação, o
mullas impostas aos respectivos capitães.

(*) Ordem circular n.° 40 de 17 de reverciro de 1819, na collecção da


Itis.
- 389 —
Chegarão ao porto do Maranhão o navio Nova Aurora,
o patácho Clementina, e o brigue barca Urbana, pro-
cedentes os dous primeiros do Porto, d'onde sabirão em
Julho, e o 3.° de Lisboa, d'onde largara em Agosto de
1847; e os seus capitães apresentarão á alfândega os res-
pectivos manifestos, e declarações das mercadorias que tra-
zião fora delles ou por accrescimo, como lhes era facultado
pelo regulamento das alfândegas, e decreto de 22 de Julbo
de 1842; mas porque os ditos capitães não justificassem
que as suas declarações de accrescimo forão motivadas
por força maior, segundo a novíssima disposição da cir-
cular do thesouro publico do 4.° de Maio do mesmo
anno de 4847, passou a alfândega á apprehender as mer-
cadorias, constantes das ditas declarações, e á multar os
capitães dos referidos navios a saber: o da Nova Aurora
em 1:446#043, o da Clementina em 2:3I0$823, e o da
Urbana em somma que não consta dos papeis juntos.
Sendo este o facto, cumpre examinar o direito que lhe
deva ser applicado.
Pelo § 6.° do art. 145, e pelo art. 148 do regulamento
actual das alfândegas, devia o capitão de qualquer navio
mercante, dentro de 24 horas depois da visita da alfân-
dega, fazer declarações, accusando as mercadorias que
faltassem ou accrescessem ao manifeslo,-«-justificando a
causa da diminuição ou accrescimo.—E nada mais dizia o
regulamento.
Pelo decreto de 22 de Julho de 1842 foi abolido o prazo
das 24 horas do regulamento, e determinado que os capi-
tães fizessem taes declarações no acto da visita; estabe-
lecendo porém, que esta nova disposição não fosse exe-
cutada se não 9 mezes depois, a respeito das embarcações
vindas da Europa, Costa Oriental da America, e Occidental
da África, e 18 mezes depois, a respeito das que chegassem
d'além dos cabos da hoa-Esperança, e Horn. Para o que,
por aviso de 5 de Agosto do mesmo anno, foi prevenido o
ministro dos negócios estrangeiros, a fim de remetter
exemplares do dito decreto a todos os cônsules do Im-
pério, e ordenar-lhes que exigissem dos capitães de navios,
que se destinassem ao Brasil, a declaração, assignada nos
respectivos manifestos, de que farião"por escripto, du-
rante a viagem, quaesquer declarações tanto por falta, como
por accrescimo de volumes, para entregal-os á primeira
visita, ficando scientes que depois dessa occasião nenhuma
outra declaração ser-lhes-hia admitlida pelas autoridades
fiscaes.
E pela ordem do thesouro de 9 de Setembro do mesmo
anno, foi declarado que as penas dos arts. 155 e 156 do
regulamento das alfândegas fossem impostas ao capitão
— 390 -
do navio, cujas declarações, de trazer a seu bordo mais
ou menos mercadorias do que as constantes do mani-
festo, não fossem justificadas com prova—de não ler ha-
vido intenção de fraudar—.
Taes erão as disposições fiscaes em vigor até a pu-
blicação da referida circular do 1.° de Maio de 1847,
pela qual foi determinado, que não se desse por jus-
tificada nenhuma declaração de accrescimo ao manifesto
sem provas evidentes de haver sido motivado por força
maior, sem sombra de dolo. Sendo mui digno de re-
paro, que esta ordem circular não se ache impressa
na collecção das decisões do governo, nem mesmo fosse
publicada, como se ai lega, nas gazelas do Maranhão.
Desta suecinta exposição do facto, e do direito, sobre
que versa o recurso , a secção julga-se autorizada a
tirar previamente as seguintes conclusões:
1." Que a dita circular do 1.° de Maio, não se con-
tentando, para a justificação das declarações, com a
prova de não ter havido "intenção de fraudar; e exi-
gindo a de serem motivadas por força maior, não só
alterou essencialmente as disposições fiscaes anteriores,
como probibiu indirectamente a pratica, até então permit-
tida, das declarações de accrescimo; porquanto é evi-
dente a quem conhece o valor jurídico de—força maior—,
que esta poderá motivar declarações de falia das mer-
cadorias, por exemplo, alijadas durante a lormenta,
roubadas por algum pirata,' consumidas por algum in-
cêndio, etc.; porém nunca declarações de accrescimo, não
sendo fácil apontar um caso em que algum capitão
seja obrigado por força maior á receber mercadorias a
seu bordo , depois do encerramento do manifesto, a
excepção do de salvar, em alto mar, parte do carre-
gamento de algum navio, incendiado, ou prestes a ir á
pique.
2. J Que uma nova disposição fiscal, c de tanto alcance,
no commercio marítimo, como a da mesma circular
não devia ler sido executada senão depois de decorrido
o tempo necessário para ser conhecida nos portos es-
trangeiros ; pois que de outra sorte poderia ser con-
siderada como um laço armado á boa fé daquelles,
que, confiados nas disposições anteriores, únicas conhe-
cidas em paizes remotos, houvessem de continuar na
pratica das declarações de accrescimo; além de dar
justos motivos para serias, e onerosas reclamações.
3. a Que na censura do direito, e no conceito de «jualquer
tribunal do mundo civilisado, será iníquo e injusto ap-
plicar a dita circular, que só admitte declarações—moti-
vadas por furça maior—, a navios c capitães* que igrio-
— 391 -
rando, como os próprios cônsules brasileiros, a publicação
da mesma circular, partirão para o Brasil com mer-
cadorias fora dos manifestos,e fizerão durante a viagem,as
declarações de accrescimo que lhes erão permittidas pela
legislação fiscal então conhecida, e que devião ser jus-
tificadas só com razões que excluíssem—a intenção de
fraudar—.
E parece que assim o entenderão, como consta das
certidões annexas, os inspectores das alfândegas, e the-
sourarias da Bahia e Pernambuco, os quaes assentarão
de continuara receber declarações de'accrescimo,apezar
de prohibidas pela circular, até que a nova disposição
delia pudesse ser conhecida nos portos d'onde chegavão
os navios. E posto que não seja louvável o procedimento
destas autoridades, se por ventura obrarão como de di-
reito próprio, não solicitando do governo a providencia
necessária para deixar de ser executada uma ordem cir-
cular do thesouro publico ; todavia a secção também não
acha louvável o nimio rigor, com que a alfândega, e the-
souraria do Maranhão, sem representarem, nem fazerem
reparo algum, tratarão de executar a mesma ordem.
Avaliando agora as allegações contra a decisão recor-
rida, a secção acha, que o recorrente mostrara, até com
certidões dos cônsules brasileiros, no Porto, e Lisboa,
não haver alli, ao tempo da partida dos ditos navios, co-
nhecimento, ou noticia alguma da circular do 1.° de Maio.
que os manifestos apresentados, e declarações de aceres-
cimos feitas pelos capitães, estão de accordo com as
disposições do regulamento e decreto em vigor ao tempo
da partida dos mesmos navios, e com a pratica admiltida
em nossas alfândegas: e que as razões com que forão jus-
tificadas as ditas declarações, bem que não provassem
ter havido força maior, podião comtudo provar não ter
havido intenção de fraudar.
E pelo que toca ás allegações a favor da mesma de-
cisão, não encontra a secção, nas de facto e de direito,
produzidas no officio do presidente da provincia, e adop-
tadas pelo conselheiro fiscal, e pelos outros membros do
tribunal do thesouro, a procedência e força que lhes forão
attribuidas.
Apezar das illações tiradas do facto das declarações,
ou da quantidade das mercadorias acerescidas, das razões
da justificação, do erro de calculo dos officiaes da al-
fândega, etc, a secção não vê que ficasse provado ter ha-
vido, da parte dos capitães, intenção de fraudar.
.E quanto ao direito, a secção respeitando a intelligen-
cia que tem de resolver o presente recurso, não demons-
trara o quo ha de illogico, e gratuito em sustentar-se, que
— 392 —
a circular d o l . 0 de Maio, não estabeleceu direito novo,
dando-se como provado, que o regulamento, e o decreto
de 22 de Julho já exigiáo a prova de força maior para
a justificação das declarações.
Antes porém de concluir, a secção pede licença a Vossa
Magestado Imperial para observar, quanto á disposição
da, tantas vezes citada, circular do I." de Maio, que a
sua conveniência, além de não ser admittida por aquel-
les que conhecem as necessidades do commercio marí-
timo, não é abonada pelo exemplo das duas nações que
mais avultão no mesmo commercio.
E' geralmente sabido que em muitos portos, o despacho
de um navio, ou a certeza de que vai elle partir, é o que
determina, ou provoca o carregamento de certas mer-
cadorias ; assim como que a demora de um navio no
porto, depois de despachado, por causa de tempo contra-
rio, ou outro motivo justo, offereceaos carregadores nova
occasião de lhe confiarem mercadorias. Privar pois aos
donos, e capitães de navios mercantes, em taes circums-
tancias, de receberem a bordo volumes e gêneros, depois
de encerrados os seus manifestos, é antes embaraçar
o commercio, do que promover a fiscalisação, a qual
aliás depende mais, se não tudo, da vigilância e inte-
gridade dos empregados das alfândegas, que da pro-
hibição das declarações de accrescimo.
E é, sem duvida por isso, que na Inglaterra ( Chilty
Com. Law.T. 1.°pag. 737) permitte-se ao capitão do na-
vio, destinado a qualquer porto inglez, receber merca-
dorias a seu bordo, depois de ter íegalisado o seu ma-
nifesto, com tanto que faça em tal caso um manifesto, e
justifique, á contento do director da alfândega, a urgen-
te necessidade que teve para o fazer. E nos Estados-
Unidos da America do Norte (Jones Digest. pag. 285)
é permittido ao capitão do navio que entra em qualquer
porto da União, declarar as mercadorias que tiver ou
descobrir a seu bordo, nãocomprehendidas em seu ma-
nifesto, ainda depois de o ter apresentado ; visto que, até
pelo juramento que deve prestar o mesmo capitão ao
dar a sua entrada na alfândega, obriga-se elle a proceder
assim, no caso de encontrar a seu bordo volume ou gê-
neros não incluídos no manifesto.
, A'vista pois do que tem ponderado, a secção é de pa-
recer:
1.° Que seja reformada a decisão recorrida.
2.° Que seja igualmente reformada a circular do 1.°de
Maio de 1847, ou no sentido de continuar em vigor a
pratica anterior, ou (o que talvez seja mais conveniente)
no de estabelecer-se a praliea da Inglaterra.
— 393 —

Vossa Mageslade Imperial,,porém, se dignará resolver


o que mais justo c vantajoso fôr.
Rio de Janeiro, 5 de Fevereiro de 1849.—Visconde de
Abrantes .—Manoel Alves Branco.—Bernardo Pereira de
Vasconcellos.
RESOLUÇÃO,
Como parece. (*)
Palácio do Rio de Janeiro, em 47 de Março de 1849".
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 181. ^RESOLUÇÃO DE 17 DE MARÇO DE 1849.


Sobre as leis provinciaes de S. Paulo do anno de 1848.
Senhor. —A secção de fazenda do conselho de estado,
como lhe foi ordenado por Vossa Magestade Imperial,
examinou a collecção de leis provinciaes de S. Paulo, pu-
blicadas na sessão legislativa da assembléa da mesma
provinciano anno próximo findo de 1848, o não achou em
nenhuma das ditas leis, pelo que pertence á repartição
da fazenda publica, artigo ou cláusula alguma que seja
contraria á constituição do império, e disposições do acto
addicional.
Entretanto Vossa Magestade Imperial resolverá como
melhor lhe parecer.
Rio de Janeiro, 7 de Fevereiro de 1849. — Visconde
de Abrantes.—Manoel Alves Branco. -^BernardoPereira
de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Palácio do Rio de Janeiro, em 17 de Março de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres

(*) Ordem circulam.0 88 de li de Abril de 1849,. na * collecção das


leis.
C SO
— 394 —

N. 182.—RESOLUÇÃO DE 17 DE MARÇO DE 1849.

Sobre a pretenção de D. Leopoldina Carolina Cony á.concessão do


meio soldo, comofilhanatural do brigadeiro Jacques Augusto Cony.

Senhor. — D Leopoldina Augusta Carolina Cony, filha


do fallecido brigadeiro reformado Jacques Augusto Cony,
requereu ao tribunal do thesouro, que se lhe mandasse
abonar o meio soldo de seu fallecido pai, o sobredito bri-
gadeiro Cony.
Não lhe sendo deferida a pretenção por aquelle tribu-
nal recorre a supplicante ao conselho de estado, e é sobre
este objecto que a secção de fazenda do mesmo conselho
passa a dar seu parecer independentemente de qualquer
outra formalidade por ser matéria simples, e assim auto-
rizar o regulamento.
A lei de 6 de Novembro de 1827 art. 5.° exprime-se
pela maneira seguinte: « Além destes requisitos serão
obrigados a apresentar os orphãos certidão dos casamen-
tos de seus pais, e de seus baptismos. »
A lei de 6 de Junho de 1831, não tocou nesta disposição,
e como não haja alguma outra?lei, que a revogasse, ou al-
terasse; é evidente que o favor do meio soldo só pôde
competir ás filhas legitimas, e por conseguinte não pode a
recorrente, que não é legitima, mas somente legitimada,
segundo consta destes papeis.
E' verdade que os filhos legitimados são tidos inteira-
mente no lugar de legítimos para herdarem até bens da
coroa, Ord. L. 2.° T. 35 § 12, mas isto só toca aos legitima-
dos" por subsequente matrimônio, ,e não aquelles que o
forão por escriptura,e carta de legitimação, o que se deduz
por analogia da Ord. acima citada.
A supplicante não tem por si a letra de nenhuma lei
posterior, e nada dispõe em seu favor a resolução de 16 de
Dezembro de 1798 na Provisão de 18 de Janeiro de 1799;
ue declarando que as legitimações não tem a quali-
âade de restituição plenária, mas somente de uma: mera
dispensa, e que só podem aproveitar para effeitos, e fins
que as leis do reino prescrevem, bem longe de invalidar
aquella conclusão, ao contrario a confirma e robustece.
Além disto, Senhor, o meio soldo concedido ás viuvas,
e filhos dos militares é um beneficio tão extraordinário,
que só a nossa legislação o faculta; elle augmenta todos
os dias a lista dos pensionistas do Estado já muito cres-
cida ; e por isso é a opinião da secção, que a lei seja en-
e ndidamente á letra, como consta que o tem feito o tri-
— 395 —
bunal do thesouro, segundo se deprehende do parecer
dos membros do tribunal.
Tal é o parecer da secção; Vossa Magestade Imperial
porém, mandará o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, em 7 de Fevereiro de 1849. — Manoel
Alves Branco. — Visconde de Abrantes. —Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Palácio do Rio de7aneiro, em 17 de Março de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 183.—RESOLUÇÃO DE 17 DE MARÇO DE 1849.


Sobre as leis provinciaes das Alagoas do. anno de 1848.

Senhor.—Em cumprimento de ordem de Vossa Mages-
tade Imperial a secção de fazenda do conselho de estado
examinou a collecção de leis provinciaes das Alagoas,
publicadas durante o anno próximo passado de 1848, e
não encontrou, no que respeita á repartição sobre cujos
negócios consulta a mesma secção , disposição alguma
das referidas leis, que pareça opposta aos artigos e cláu-
sulas da constituição do Império, e do acto addicional.
Vossa Mageslade Imperial, porém, resolverá o que tiver
por mais conveniente.
Rio de Janeiro, 8 de Fevereiro de 1849.—Visconde de
Abrantes.— Manoel Alves Branco. — Bernardo Pereira
de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Palácio do Rio de Janeiro, em 47 de Março de 1849.
Com a ruhrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres*
— 396 —
N. 184.^RESOLUÇÃO DE 14 DE ABRIL DE 1849.
Sobre as leis provinciaes do Piauhy do anno de 1848.
Senhor.— A secção de fazenda do conselho de estado
examinou as leis provinciaes da provincia do Piauhy pro-
mulgadas no anno próximo passado e tem a honra de dar
seu parecer.
Considerando-as pelo que pertence ao Ministério da
fazenda, nada encontrou a secção que oífenda á cons-
tituição e as leis geraes do Império.
Este, Senhor, o parecer que a secção mui respeitosa-
mente submette ao alto juizo de Vossa Magestade Im-
perial.
Rio de Janeiro, em 22 de Março de 1849.—Manoel Alves
Branco.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—Visconde
de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 14 de Abril de 4849.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 185.—RESOLUÇÃO DE 14 DE ABRIL DE 1849.


Sobre as Jeis provinciaes do Espirito Santo do anno de 1848.
Senhor.— Em cumprimento da ordem de Vossa Mages-
tade Imperial para que a secção dós negócios da fazenda
do conselho de estado examinasse a collecção de leis
provinciaes do Espirito Santo promulgadas no anno pró-
ximo findo, a mesma secção passa a dar seu parecer.
A' excepção do imposto de exportação para fora da pro-
vincia, que não é contra a lei, mas pôde ser inconve-
niente, nada encontrou a secção digno de reparo.
Vossa Magestade Imperial porém mandará o que fôr
Riais justo.
Rio de Janeiro, em 22 de Março de 4849.—Manoel Alves
Branco .—Bernardo Pereira de Vasconcellos .—Visconde
de Aprantes.
— 397 —
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 14 de Abril de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 186.—RESOLUÇÃO DE 14 DE ABRIL DE 1849.

Sobre o officio do juiz municipal deS. João de El-Rei, se são sujeitos


ao sello os créditos que se ajuizão para serem declarados nullos.

Senhor.—Ordenou Vossa Magestade Imperial por aviso


do ministério da fazenda de 8 de Fevereiro próximo pas-
sado que a secção de fazenda do conselho de estado
consultasse sobre a duvida suscitada-no officio junto do
juiz municipal de S. João de El-Rei, se os créditos que
se ajuizão para serem declarados nullos são sujeitos ao
sello proporcional, e a secção passa a obedecer dando
seu parecer.
Marciano Eugênio de Souza Ferraz cedeu um credito
ao padre José Lameda de Oliveira, e como o devedor
fallisse de bens, apresentou o cessionário o credito em
juizo para o declarar nullo, e por conseguinte ir haver
do cedente o dinheiro que lhe deu pela cessão. Havendo
questão se a lei do sello era applicavel a taes, decidiu
o juiz mandando suspender a acção até revalidação do
credito, e consultou o governo.
A lei é tão clara que a secção não sabe como possa
haver duvida a este respeito.
A' vista do art. 43 da lei de 21 de Outubro de 1843,
se se passou o prazo assignadopélo governo nos lugares
onde não ha estação fiscal, e a véspera do vencimento
do credito; não pôde d credito ser attendido em juizo,
sem pagar 20 °/0 do seu valor. E se já passou essa
época, para ser o credito productor de algum effeito legal
em juizo, deve pagar 40 %; julga pois a secção ,que o
juiz obrou bem, e que deve ser sustentado o seu des-
pacho.
— 398 —
Tal é o parecer da secção, mas Vossa Magestade Im-
perial mandará o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, em 22 de Março de 1849.— Manoel
Alves Branco.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—
Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 14 de Abril de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 187.—RESOLUÇÃO DE 14 DE ABRIL DE 1849.


Sobre o recurso de Antônio José Pereira de Mello da restituição dos
direitos de consumo de uns couros que reexportara do Rio Gran-
de para esta cidade.
Senhor—Manda Vossa Magestade Imperial que a secção
do conselho de estado dos negócios da fazenda consulte
sobre o recurso que interpôz Antônio José Pereira de Mel-
lo, negociante desta cidade, de uma decisão do thesouro
publico nacional, indeferindo a pretenção de serem-lhe
restituidos os direitos de consumo de uma porção de
couros que reexportara do Rio Grande do Sul para aqui.
Allega o recorrente: 4.' que fizera transportar do porto
do Bucêo para o do Rio Grande do Sul, a bordo do hiate na-
cional Vigilante 5.868 couros, corn intenção de reexportai-
os;2.*queconvindo-lhe realizar essa reexportação daquel-
le para este porto a bordo do bergantim nacional Anibal, fo-
ra obrigado pelo inspector da alfândega do Rio Grande do
Sul, fundado no art. 8.° do decreto de 12 de Agosto de
4844, a pagar os respectivos direitos de consumo, de 30 °/„
do valor dos ditos couros; e 3." que havendo-os reex-
portado daqui para Londres, a bordo do navio Neptuno,
julga-se com direito á restituição dos direitos de con-

(*) Ordem n.° 125 de 7 de Maio de 1849, na collecção das leis.


— 399 —
sumo, que pagara no Rio Grande, não se lhe devendo
cobrar senão os direitos das duas reexportações que fizera.
O tribunal do thesouro, ouvidos os inspectores das al-
fândegas, desta corte, e do Rio Grande do Sul, decidiu a
final contra a restituição requerida, visto que os referi-
dos direitos havião sido legalmente exigidos e recebidos.
Como consta dos papeis juntos, complicou-se, com a
questão do recurso, outra puramente administrativa,
acerca da conveniência, allegadapelo inspector da al-
fândega desta corte, de revogar-se a parte final do citado
art. 8.° do decreto de 12 de Agosto.
Pelo que toca á questão do recurso, achando que com
effeito é terminante a disposição do art. 8.° do decreto
de 12 de Agosto de 1844, na parte gue suspende proviso-
riamente os despachos por baldeaçao e reexportação para
outros portos dentro do Império, sem o pagamento dos
direitos de consumo; e que a mesma disposição já foi
sanecionada pelo artigo 29 da lei n. 369 de 18 de Setembro
de 1845; é a secção de parecer que bem indeferida foi
pelo tribunal do thesouro a pretenção do recorrente.
E quanto á questão administrativa, sem entrar na apre-
ciação das razões que poderão aconselhar, em 4844, a
suspensão provisória da baldeaçao e reexportação de
mercadorias estrangeiras em barcos nacionaes, de uns
para outros portos do Império, a secção pensa que tal
suspensão não pôde hoje deixar, por um lado, de privar
a nossa navegação costeira de um dos seus principaes
alimentos, qual seja o transporte das ditas mercadorias,
e por outro de tornar mais amplo e freqüente o uso das
—cartas de guia—que servem para autorizar a entrada li-
vre em uma* alfândega d'aquillo que já tem pago di-
reitos de consumo em outra.
E tendo por certo, que muito convém favorecer o des-
envolvimento da nossa navegação de grande cabotagem,
a qual pelo motivo de serem os productos do paiz, os
mesmos em quasi todas as provincias ( e de ter por isso
cada uma dellas dentro em si, salvo o caso passageiro
de sêccas, o que lhes basta para o próprio consumo)
acha-se actualmente limitada ao transporte do xarque
do Rio Grande do Sul para as provincias do Norte, e
de algum assucar que destas vem occasionalmente pro-
curar melhor preço no mercado desta cidade, não avul-
tando em muito a conducção de madeiras e de outros
materiaes de uns para outros portos do litoral, nem tão
pouco a das pacolilhas ou mercadorias com cartas de
guia; e presumindo que maior perigo de fraude, e ex-
travio ha no mais amplo uso destas cartas de guia, do
que na reexportação e baldeaçao de mercadorias sujei-
— 400 —

Ias a direitos de uma para outra provincia ou alfândega^


por ser mais seguro e menos sujeito a enganos, cobrar
direitos de tudo quanto entra para ser consumido, do
que dar entrada livre a mercadorias guiadas e destina-
das a consumo; a secção é também de parecer que con-
vém revogar a referida suspensão provisória.
• O conselheiro Manoel Alves Branco concorda na pri-
meira parte do parecer; não pôde porém concordar na
segunda pelas razões seguintes:
Suspendeu os despachos de reexportação e baldeaçao
de provincia á provincia pelos muitos abusos que se di-
zião commettidos entre as alfândegas maiores e meno-
res, que em regra geral são muito mal servidas de
empregados.
Teve tenção de decidir-se definitivamente* quando al-
cançasse prova mais positiva a respeito das informações,
que teve, logo ao entrar para o ministério; e com quan-
to não as podesse obter satisfactorias, com tudo é certo
que nada obteve que podesse destruil-as antes pelo
contrario tudo quanto disserão as com missões de exame
das alfândegas, que nomeou, concorreu a confirmal-as.
Está persuadido, de que a continuação da suspensão
desses despachos, ou sua abolição definitiva evita mui-
tos abusos, e porque também é sua convicção» que o
commercio e cabotagem, que aliás nada soffrerão com
essa suspensão, não devem ser animados de um modo,
que dá lugar a grandes abusos e extravios, sustenta a
necessidade de continuar a medida, e mesmo de tornar-
se definitiva.
Vossa Magestade Imperial porém se dignará resolver o
que mais vantajoso fôr*
Rio, 26 de Março de 1849.—Visconde de Abrantes.—
Bernardo Pereira de Vasconcellos.-*-Manoel Alves
Branco.
RESOLUÇÃO.
Como parece (*)•
Paço, em 14 de Abril de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Decreto n.605 de 21 de Abril de 1849. Revoga a ultima parte


do art. 8.» do regulamento de 12 de Agosto de 1844, que suspendeu
os despachos de reexportação e baldeaçao para dentro do Império.
- 401 -

N. 188.—RESOLUÇÃO DE 14 DE ABRIL DE 1849.

Sobre o oflicio do inspector da thesouraria de Minas a respeito dos ar-


rendamentos de bens de raiz a longos prazos para subiracção da
siza.

Senhor.—Em observância do que Vossa Magestade Im-


perial houve por bem ordenar, vem a secção dos negócios
da fazenda do conselho de estado interpor seu parecer
sobre o oflicio em que o inspector da thesouraria da pro-
vincia de Minas Geraes participa ao governo imperial de
que alli se tem feito arrendamentos de bens de raiz por
tanto tempo, que se devem considerar antes verdadeiras
vendas simuladas com o nome de locações, para não ser
pago o imposto da siza; e cita o arrendamento de uma
lavra de ouro que fez a companhia de Gongo Soco por
eincoenta annos.
Este ultimo facto está verificado com a própria escriptura
de arrendamento feito pela dita companhia. E em verdade
quando se considera que uma lavra de ouro, inda muito
rica, estará exhaurida no íim de 30, 40 ou 50 annos, não é
de presumir boa fé em quem tal contracto celebrou. O pro-
curador fiscal do thesouro é de parecer que taes arrenda-
mentos são nullos, eque pelo juizo dos feitos da fazenda
de Minas Geraes deve ser annullado o referido contracto.
Em abono de sua opinião cita o procurador da coroa,
entre outros, o § 41 do regimento de 49 de Abril de
4702, que assim se expressa. — « Mando que nenhuma
pessoa possa comprar nem vender semelhantes datas,
mas que todos desfructem as que lhes forem repartidas....
porém no caso de que fôr repartida alguma data a quem
a não possa desfructar, por lhe fallecerem ou faltarem os
escravos que tinha, nesse caso poderá vender, fazendo
primeiro certo ao superintendente a causa que tem para
fazer a dita venda, o qual lhe concederá licença para o
oder fazer—»; e o § 48 do regimento de 15 de Agosto
S e 1603.—« Nenhuma pessoa poderá tomar mina para la-
vrar em nome de outrem, nem como seu procurador, e
só poderá fazer sendo criado ou salariado para lavrar em
nome de quem ativer. »
Reviver as disposições destes regimentos, que o con-
trario uso tem posto de parte, não traria hoje vantagem
alguma, nem ao thesouro, nem aos particulares, pois
quando o proprietário de uma mina a não pudesse lavrar,
enão achasse comprador, como não raras vezes succede,
seria ella abandonada, nem o seu proprietário perce-
«. 51
— 402 —
teria lucro algum, nem o thesouro os direitos que paga
o oure.
A secção entende portanto que não convém limitar o
domínio das lavras, prohibindo as locações das mesmas
como prohibirão os citados regimentos; pois inda no
caso de uma ou outra venda fraudulenta seria a fazenda
publica compensada com o imposto do ouro.
Em presença destas e outras razões a secção não hesita
em pronunciar-se contra a interpretação das leis vigentes
para o effeito de serem vedados os longos arrendamentos,
anda que sejão lavras de ouro.
Esla opinião, porém, não obsta a que o thesouro
promova a annullação de contractos como os mencio-
nados quando tenha a certeza de que forão celebrados
para fraudar os direitos nacionaes.
É' este o parecer da secção, que Vossa Magestade Impe-
rial se dignará acolher com sua costumada indulgência.
Rio de Janeiro, em 7 de Abril de 1849.— Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.—Visconde de Afo*antes.—Manoel
Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (')


Paço, em 14 de Abril de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Joaquim José Rodrigues Torres, presidente do tribunal do tliesouro


publico nacional, na conformidade da imperial resolução de 14 «le
Abril ultimo tomada sobre consulta da secção de fazenda do conselho
de estado de 7 do dito mez relativamente á participação que fez a the-
souraria da provincia de Minas Geraes em officiosns. 6e43 de l i de
Janeiro de 1847 e 15 de Julho de 1848, de que alli se tem feito arrenda-
mentos de bens de raiz por tanto tempo, que devem considerar-se antes
verdadeiras vendas simuladas com o nome de locações para não ser
pago o imposto da siza ; citando o arrendamento de uma lavra de ouro
que fez a companhia do Congo Soco por cincoenta annos: responde
ao Sr. inspector da mesma thesouraria que, á vista da legislação exis-
tente, nenhuma providencia se pode tomar para pôr obstáculo ao abuso
mencionado, excepto a de promover-se a annullação de semelhantes
contractos; mas que esta medida mesma não trará vantagens que com-
pensem os enconvenientes que delia resultarão, no caso de que trata o
Sr. inspector.
Thesouro publico nacional, em 19 de Junho de 1849.
Joaquim José Rodrigues Torres.
— 103 —

N. 189.—RESOLUÇÃO DE 44 DE ABRIL DE 1849~

Sobre o aviso do ministério da fazenda, acerca da substituição de


natas, na caixa de Amortização.

Senhor,—Houve Vossa Magestade Imperial por bem


ordenar, que a secção de fazenda do conselho de es-
tado, avista dos factos exarados no aviso do minis-
tério da fazenda de 21 de Novembro passado, consulte
sobre o que cumpre ao governo fazer a tal respeito:
Os factos que se contém no referido aviso resumem-
se nos seguintes:
1.° De haver o governo não só ordenado; que a caixa
de Amortização emittisse, de Julho de 4845- a Janeiro
de 1846, a somma de 3.624:000#000 de notas, entre-
gando-as ao thesoureiro geral, paFa pagamento de igual
quantia, que se mandava ap@licar da renda geral á subs-
tituição de notas nas provincias; mais também deter-
minado, em Maio de 4847, que as Thesourarias das
provincias emittissem as notas novas, que sobrassema
da substituição das de vinte e cem mil réis da 2.
estampa, ou tivessem sobrado das anteriores substi-
tuições, passando-as para os seus cofres eomo suppri*
mento feito pelo thesouro, e sacando pelo respectivo
• valor, e a trinta dias precisos, sobre o mesmo the-
souro a favor da caixa de Amortização.
2.° De ler-se verificado que a somma das notas subs-
tituídas á custa da renda geral, e recolhidas á dita
caixa, longe de ser igual a da primeira emissão de
3^.624:000^000, apresenta a differença para menos, de
1.196:545^000; e que por effeito da segunda emissão
achão-se no thesouro letras não aceitas ainda, nem
pagas, na importância de 239:000#000, sacadas a favor
da caixa pelas diversas thesourarias, menos dás do
Maranhão, Alagoas e Mato Gkosso; resultando, em con-
seqüência de uma e outra emissão, achar-se actual-
mente na circulação a somma, não autorizada por lei,
de 4.435:545#000.
3.° De não haver na lei do orçamento- do exercício
corrente, nem na do passado exercício de 4847—1848
fundos decretados e disponíveis para o pagamento, ou
resgate desse excesso de-emissão.
Cumprindo-lhe apreciar estes factos, a secção não
pôde dissimular que, em seu eonceito, ambas ás emis-
sões, ordenadas pelo governo, forão menos conformes
á lei; não sendo licito justifical-as nem como movi-
— 10 i —
mento de fundos, nem como meio legal de haver di-
nheiro para occorrer á despeza publica.
O movimento de fundos, tem por fim evitar despeza,
mas não crear receita.
Havel-o-hia nas emissões de que se trata, se na pri-
meira, conhecida a somma de notas substituiveis, e a
da renda geral, com que as thesourarias pudessem sup-
prir ao thesouro e applicar á substituição, fosse igual
somma emittida pela caixa, e entregue ao thesouro;
e se na segunda, conhecida também a quantia das sobras
de notas das thesourarias, houvesse no thesouro igual
somma de fundos desde logo applicada exclusivamente
ao pagamento dos saques ou á substituição; evitando-se
assim, em um e outro caso, a despeza de transportes
de dinheiro, ou risco de letras.
Mas ninguém dirá que o houve, quer na primeira
emissão, anticipadamente feita para a substituição de
notas, cuja somma mal podia ser conhecida em cada
provincia, e cujo resgate á custa da renda geral mal
se sabia se as thesourarias podião ou não fazel-o, quer
na segunda emissão, ordenada á esmo, sem que o the-
souro estivesse habilitado para pagar os saques res-
pectivos, de sorte que, em ambos os casos, como o
resultado o tem provado, em vez de uma simples ope-
ração para evitar despezas, houve uma creação de
receita, um supprimento feito pela caixa ao thesouro,
e a final um augmento da divida ílucluante.
Entretanto na apreciação que acaba de fazer dos re-
feridos actos, a secção não teve em vista senão pre-
venir ao governo de Vossa Magestade Imperial contra
a repetição de operações semelhantes á das emissões
feitas, que além de menos Conformes á lei, são ar-
riscadas e perigosas, e produzirão sempre o mesmo
mal que agora se trata de remediar.
Quanto finalmente ao que cumpre que a adminis-
tração actual faça a tal respeito, attendendo á falta de
fundos, como afürma o ministro e secretario de es-
tado dos negócios da fazenda, que possão ser appli-
cadas ao resgate do excesso havido nas ditas emissões ;
e julgando que o governo não deve servir-se para o
mesmo resgate da disposição do art. 2." da lei n.° 401
de 11 de Setembro de 1846, que só autoriza operações
de credito para o fim determinado de elevar o papel-
moeda que então circulava ao valor dado á oitava de
ouro pelo art. 1.° da mesma lei; a secção é de pa-
recer, que o sobredito ministro e secretario de estado,
haja de conservar as cousas no estado em que as
achara, e levar ao conhecimento da assembléa geral
— 405 —
legislativa a necessidade de conceder um credito es-
pecial, se o julgar conveniente, para effecluar-se o re-
ferido resgate, quando pelo balanço dos exercícios, em
que as mesmas emissões tiverào lugar, se reconheça
definitivamente não haver saldo suínciente para esse
fim.
O conselheiro de estado Manoel Alves Rranco limi-
tando-se á questão, que propõe o governo de Vossa
Magestade Imperial, pois que não deve dar conselho
que não lhe é ordenado nem mesmo para prevenir
quaesquer operações, que se pretenda fazer, ou para
insinuar accusações, diz que, se o dinheiro que deixou
nas thesourarias como representante das notas aqui
emittidas e que destinou para o resgate das notas de
vinte e cem mil réis existe, é por elle, que se deve
fazer o resgate; e se não existe, o governo de Vossa Ma-
gestade Imperial achará fundos, para o que pretende,
e que justamente reputa de seu rigoroso dever, nos
mesmos créditos, d'onde ha de haver fundos para pagar
os bilhetes de prêmio, que actualmente circulão, parle
dos quaes essas notas substituirão com a mesma na-
tureza de operação transitória, como está declarado
nas ordens de sua emissão.
Tal é, Senhor, o parecer da secção, e Vossa Mages-
tade Imperial se dignará resolver o que julgar mais
conveniente.
Rio de Janeiro, em 7 de Abril de 4849.—Visconde
de Abrantes.— Bernardo Pereira de Vasconcellos.—
Manoel Alves Branco.

RESOLUÇÃO.

Como parece. ( )

Paço, em 14 de Abril de 1849.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Joaquim José Rodrigues Torres.

O Submettida a consideração da assembléa geral. Aviso de 3 de Ja-


neiro de 1850.
— 400 —
N. 190.—RESOLUÇÃO DE 5 DE MAIO DE 1849.
Sobre as leis provinciaes das Alagoas do anno de 1848.
Senhor.—A secção do conselho de estado que consulta
sobre os negócios da fazenda, tendo examinado, por
ordem de Vossa Magestade Imperial, a collecção das
leis provinciaes das Alagoas, publicadas no passado
anno , não encontrou em nenhuma das mesmas leis,
pelo que respeita á repartição da fazenda, cláusula ou
disposição alguma, que pareça exorbitante das attri-
buições conferidas ás assembléas legislativas das pro-
vincias, pelo acto addicional á constituição do Império.
Vossa Magestade Imperial, porém, se dignaiá resolver
o que fôr mais acertado.
Rio, em 23 de Abril de 1849.—Visconde de Abrantes.
— Bernardo Pereira de Vasconcellos.— Manoel Alves
Branco.
RESOLUÇÃO.
Como parece (').
Taco, em 5 de Maio de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres

N. 191.—RESOLUÇÃO DE 5 DE MAIO DE 1849.


Sobre o recurso do capitão do brigue americano Vintage da appre-
hensão feita a bordo de objectos subtrahidos a direitos de exportação

Senhor.—Em observância do que Vossa Mageslade Im-


perial houve por bem ordenar, vem a secção de fa-
zenda do conselho de estado apresentar seu parecer
sobre o recurso, que interpôz Francisco Babbidge D.
v
G. E., capitão do brigue americano Vintage, de ter sido
confirmada a deeisão pela qual o inspector da alfân-
dega desta corte declarou procedente á apprehensão,
feita abordo do dito brigue.de 183 dentes de marfim,
e de um saco com resina, objectos de que se declarou
apprehensor o guarda-mór da mencionada alfândega,
Leopoldo Augusto da Câmara Lima.

(*) Vide eonsulla, sobre o mesmo assumpto, n.» 183 a pag. 393 deste
volume.
— 407 —

A secção julga inattendivel o recurso, porque não


mostrou o recorrente que os objectos apprehendidos
tinhão sido comprados e embarcados depois da visita
de desembaraço, não obstante o despacho ao consulado,
ue do processo se evidencia ser falso. A excepção
3 e incompetência que oppõe o recorrente, longe de ter
fundamento na lei, épor ella contrariada.
O § 1.° do art. 17 da lei de 3 de Dezembro de 1841
faz privativo das autoridades administrativas o julga-
mento do contrabando apprehendido em flagrante, na
fôrma das leis e regulamentos de fazenda, e nestas é
expresso, que o contrabando apprehendido no mar é
do conhecimento destas autoridades, e não ha duvida
de que a apprehensão de que so trata foi effectuada
no mar, tendo-o sido a bordo de um brigue.
Não favorece também ao recorrente o ter-se verifi-
cado a apprehensão já depois da visita de desemba-
raço, e por conseguinte não estar já o navio sob a fis-
calisação da alfândega; este argumento não annulla o
crime, nem isenta o recorrente das penas de contra-
bandista, pois que está demonstrado evidentemente o
facto, de que tentou não pagar os direitos do dito marfim
e resina.
Todavia fora mais regular que a esta apprehensão
precedesse despacho do administrador do consulado,
ou pelo menos fosse elle a autoridade que proferisse
o julgamento.
E' este o parecer da secção, que Vossa Magestade
Imperial se dignará acolher com sua costumada benevo-
lência.
Rio de Janeiro, 1.° de Maio de 1849.— Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.—Manoel Alves Branco .—Visconde
de Abrantes.
RESOLUÇÃO.
Como parece (*).
Paço, em 5 de Maio de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Nos termos da resolução, dando-se conhecimento á alfândega, em


ordem de 12 de Maio de 1849, de ter sido indeferida a pretenção do
capitão do brigue americano Vintage, declarou-se: « que quaesquer
ordens que sejão precisas para proceder a buscas a bordo de navios
já desembaraçados pela alfândega, ou que estejão no ancoradouro
da carga, devem ser expedidas pelo administrador do consulado e
por elle julgadas as apprehensões que se fizerem. »
- 408 —

N . 192. —RESOLUÇÃO DE 5 DE MAIO DE 1819.

Sobre a pretenção dos partidores do juizo de orphãos de serem


isentos do imposto sobre escriptorios.

Senhor.— Manda Vossa Magestade Imperial por aviso de


14 de Março de 4849, que a secção de fazenda do conse-
lho de estado dê seu parecer a respeito do requerimento
de Estanisláo José da Silva Paiva, e João Caetano de Oli-
veira Guimarães, partidores do juizo dos orphãos, que
pretendem ser isentos de pagar o imposto annual de
escriptorio estabelecido no alvará de 20 de Outubro de
1812, Lei de 22 de Outubro de 1836 art. 9.° § 4.°, e de 21
de Outubro 1843 art. 10, por não virem expressamente
designados no regulamento de 15 de Junho de 1844, que
só trata dos contadores judiciaes.
A secção leu com a devida attenção a lei, e regulamento,
e a informação do administrador da recebedoria, e com
quanto seja parecer deste, que os supplicantes, devem
pagar o imposto por estarem na mesma razão dos con-
tadores judiciaes, comtudo não podendo concordar na
doutrina, de que aos exactores seja dado ampliar por
analogias as disposições literaes de uma lei, entende,
que os supplicantes devem ser deferidos.
Tal é o parecer da secção.
Vossa Magestade Imperial, porém, mandará o que fôr
mais justo.
Rio de Janeiro, em 4.° de Maio de 4849.—Bernardo
Pereira de Vasconcellos.—Manoel Alves Branco.—Vis-
conde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece. n
Paço, em 5 de Maio de 1849.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

n Ordem n.°130 deli de Maio de 18*9, na collecção das leis.


- 409 —

N. 193.-RESOLUÇÃO DE 5 DE MAIO DE 4849.


Sobre o recurso de Manoel de Oliveira Coelho guarda da alfândega,
da decisão que julgou improcedente a apprehensão do bote de um
navio mercante.

Senhor.—Em observância do que Vossa Magestade Im-


perial houve por bem ordenar, vem a secção dos negó-
cios da fazenda apresentar seu parecer sobre o recurso
interposto por Manoel de Oliveira Coelho, guarda da
alfândega desta corte, da decisão pela qual o tribunal
do thesouro declarou improcedente a apprehensão de-
bote do navio portuguez Silencio.
Em o referido bole forão apprehendidas treze varas
de panno de Unho, que nelle conduzia para terra um
dos marinheiros do mencionado navio, e o inspector
da alfândega julgou boa e legal a apprehensão, tanto do
panno de linho como do bote, que o conduzia, fundan-
do-se na doutrina do art. 292 do regulamento de 22 de
Junho de 1836 ; porém a secção entende, á face da por-
taria de 7 de Agosto de 1841, que não deve este recurso
ser favoravelmente deferido ; porquanto é fora de duvida,
e o governo já o declarou, que nao prejudicão ás embar-
cações os contrabandos feitos por pessoas da tripolação,
quando os objectos que se tentarão extraviar aos direitos
são de fácil oceultação.
E' este o parecer da secção, que Vossa Magestade Im-
perial se dignará acolher com sua costumada indulgência.
Rio de Janeiro, em 1.° de Maio de 1849.— Bernardo
Pereira de Vasconcellos.—Manoel Alves Branco.—Vis-
conde de Abrantes.

RESOLUÇÃO.

Como parece.

Paço, em 5 de Maio de 4 849.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Joaquim José Rodrigues Torres.

M
— 410 —
N. 494.— RESOLUÇÃO DE 5 DE MAIO DE 1849.
Sobre as leis proviuciacs do Maranhão do anno de 1847.
Senhor.—A secção do conselho de estado dos negó-
cios da fazenda, lendo examinado os actos legislativos
da assembléa provincial do Maranhão, publicados no
anno de 4847, não encontrou disposição alguma, pelo
que pertence á repartição da fazenda publica, que pa-
reça contraria á constituição do Império, e ao acto ad-
dicional .
Vossa Magestade Imperial, porém, resolverá o que fôr
mais justo e conveniente.
Rio de Janeiro, 4.° de Maio de 1849.—Visconde de
Abrantes.—Bernardo Pereira de Vasconcellos .—Manoel
Alves Branco.
RESOLUÇÃO.

€omo parece.
Paço, em 5 de Maio de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador. t
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 195.—RESOLUÇÃO DE 19 DE MAIO DE 1849.


Sobre a pretenção dos escrivães e officiaes de justiça do juizo dos
feitos da fazenda não éspeciaes á percepção de vencimentos, pelos
cofres públicos.

Senhor. — Em observância do que Vossa Magestade


Imperial houve por bem ordenar, vem a secção dos negó-
cios da fazenda do conselho de estado interpor seu pare-
cer sobre os requerimentos dos escrivães e officiaes de
justiça do juizo dos feitos da fazenda nacional das provín-
cias do Rio Grande do Sul, Santa Catharina, S. Paulo,
Minas Geraes, Matto Grosso, Espirito Santo, Sergipe, Para-
hyba, Ceará e Maranhão.
Os supplicantes allegão que, competindo-lhes pela lei,
que creou,Qu restaurou os ditos juizes dos feitos da fazen-
— 411 —
da, o ordenado na mesiua fixado, tendo títulos de serven-
tias vitalícias, e estando na posse dos ditos vencimentos,
forão delles injustamente privados pelas circulares do
thesouro de 15 de Novembro de 1844 e17 de Abril de 1845.
O governo imperial tem constantemente indeferido taes
pretenções, exceptuando apenas a do escrivão dos feitos
da fazenda de Minas Geraes e a do official de justiça do
mesmo juizo de Mato Grosso, pelas éspeciaes circumstan-
cias em que se achão.
Verdade é que a lei, em sua literal disposição, parece
favorecer aos supplicantes, mas attendendo a secção a
que na lei do orçamento não forão consignados fundos
senão para pagamento dos ordenados dos escrivães e offi-
ciaes de justiça dos juizos em que lia juizes privativos és-
peciaes aos feitos da fazenda, a que nos em que os não ha
devem taes officios ser annexos á semelhantes dos outros
juizos ; e finalmente a que cm não poucos desses juizos
são raros os processos e insignificantes as cobranças.além
de que força é reformal-os; entende a secção ser de j u s -
tiça o indeferimento das ditas petições.
Entretanto a secção julga conveniente ponderar a Vossa
Magestade Imperial que pela ultima lei do orçamento
quando em um pleito é vencida a fazenda publica a estes
officiaes do juizo não são devidas custas, e bem assim que
forão abolidos os por centos das execuções vivas, que a lei
que estabeleceu este juizo privativo lhes concedera.
E' este o parecer que a secção tem a honra de submetter
á consideração de Vossa Magestade Imperial, que resol-
verá como melhor entender em sua alta sabedoria.
Rio de Janeiro, em 10 de Maio de 1849.— Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.—Manoel Alves Branco, concorde
na conclusão.—Visconde de Abrantes.—Antônio Paulino
Limpo de Abreu. — Caetano Maria Lopes Gama. — Ho-
nor to Hcrmeto Carneiro Leão.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 49 de Maio de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Submettida á consideração da assembléa geral. — Aviso de 28 de


Fevereiro de 1830.
— 412 —
N. 196.—CONSULTA DE 5 DE JULHO DE 4849.

Sobre a representação do inspector da alfândega da côrtc para que se


faça effectiva a pena pecuniária do art. 203 do regulamento de 22 de
Junho de 1836.

Senhor. — Mandou Vossa Magestade Imperial por aviso


da repartição da fazenda de 7 de Abril deste annoi que a
secção dê fazenda do conselho de estado consultasse
sobre ã providencia, que pede o inspector da alfândega
desta corte em oflicio de 14 de Março deste anno, para que
se faça effectiva a pena pecuniária que impõe o art. 203
do regulamento de 22 de Junho de 4836 ao defraudador
dos direitos nacionaes além da perda dos objectos appre-
hendidos.
A secção conformou-se com o parecer do conselheiro de
estado procurador fiscal do tribunal do thesouro, com
quem concordarão os outros membros do. mesmo tribu-
nal, concebido nos seguintes termos: « Que sendo mani-
festo pelas disposições dos regulamentos de 22 de Junho
de 1836, arts. 435, 221, 278, e de 30 de Maio do mesmo
anno, art. 464, ter-se adoptado a prisão em custodia como
meio administrativo de haver o pagamento de multas, e
encargos pecuniários, não garantidos por mercadorias na
alfândega, ou por embarcações no porto; e estando este
meio de conformidade com o que se estabeleceu no re-
gulamento de 31 de Janeiro de 1842, arts. 429 e 430 para
a effectividade das penas de multas; parece-me por isso
que a providencia poderá ser dada nesses mesmos termos,
ordenando-se que neste, e em casos semelhantes, seja o
multado intimado para pagar no prazo de três dias, sob
pena de ser recolhido á cadea em custodia até pagar.»
Vossa Magestade Imperial resolverá o que houver por
bem.
Rio de Janeiro, em 5 de Julho de 1849. — Viscondede
Abrantes. — Manoel Alves Branco. — Bernardo Pereira
de Vasconcellos. (*)

H Não houve resolução imperial; mas a matéria desta consulta


está actualmente assentada; o prazo de 8 dias é o marcado para pa-
gamento da multa, sob pena de prisão. Reg. das Alfândega» de 19
de Setembro de 1860, art. 7S3.
— 413 —

N. 197.—RESOLUÇÃO DE 14 DE JULHO DE 1849.

Sobre a pretenção do Conde de S. Simão e outro â substituição de


notas do «xlincto banco do Brasil.

Senhor.—A* secção do conselho de estado que con-


sulta sobre os negócios da fazenda foi presente o re-
curso, interposto pelo conde de S. Simão, e LeopobJo
Augusto da Câmara Lima, de uma decisão do tribunal
do thesouro publico, que lhes indeferira a pretenção
que tinhão de ser-lhes substituída certa somma deno-
tas do extincto banco do Brasil, em virtude do art. 51 da
lei de 28 de Outubro do anno passado.
E reconhecendo á vista da disposição do art. 46,
combinado com a do 45 do regimento provisório do con-
selho de estado, que o recurso de que se trata, em vez
de ter sido interposto dentro dos dez dias, somente o
fôrà passados quarenta, como se collige da confronta-
ção das datas da referida decisão, e da petição do
mesmo recurso, a secção de fazenda julga que o não
deve admiltir, nem delle tomar conhecimento. Além
de que, como consta da petição junta, assignada pelo
advogado do conselho João Manoel Pereira da Silva, os
próprios recorrentes acabão de desistir do recurso que
tentarão.
Vossa Magestade Imperial, porém, se dignará resolver
como mais justo fôr.
Rio, 3 de Julho de 1819.—Visconde de Abrantes.—Ma-
noel Alves Branco.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.

RESOLUÇÃO.

Como parece.

Paço, em 14 de Julho de 1849.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.


Joaquim José Rodrigues Torres.
— 414 —

N. 198. —RESOLUÇÃO DE 18 DE JULHO DE 1849.


Sobre o aviso do ministério da justiça a respeito da exigência do
sello proporcional, nas remoções dos juizes de direito.

Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial por aviso


da secretaria de estado dos negócios da fazenda de 41
de Abril deste anno, que a secção de fazenda do conse-
lho de estado consultasse sobre o objecto do aviso do
ministério da justiça de 8 de Março a respeito da exi-
gência, que se faz aos juizes de direito, quando re-
movidos de umas para outras comarcas, do sello pro-
porcional aos respectivos ordenados por se acharem
comprehendidos na generalidade do disposto no art. 13
do regulamento de 26 de Abril de 1844.
A secção de fazenda considerando que é esta a intelli-
gencia que a pratica tem dado á constituição e leis
actuaes, por isso que o juiz removido deixa de ser de
um lugar para o ser de outro, e o seu titulo tem de pro-
duzir um outro effeito, e de passar por outros tramites,
como seja novo registro, assentamento, posse, etc, em-
bora passado em apostilla, concordou em que com razão
se arrecada o sello dos títulos de remoção, que nada
menos são, do que títulos de nova nomeação, e que elle
seja arrecadado como se fossem novas nomeações, em-
quanto se não estabelece uma nova pratica a respeito
das nomeações dos juizes de direito, qne seja mais con-
forme á índole desses lugares.
Vossa Magestade Imperial, porém, mandará o que
houver por bem.
Rio de Janeiro, em 5 de Julho de 1849. — Manoel
Alves Branco . — Visconde de Abrantes.—Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

As disposições do art. 12 § 1." da lei de 21 de Outubro


de 1843 não comprehendem os juizes de direito, se não
quando obtêm a nomeação para entrarem na carreira da
magistratura, e não quando, depois de nomeados, são
removidos de uns para outros lugares. (*) '
Paço, em 18 de Julho de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

C) Ordem n.» 190 de 23 de Julho de 1849, na collecção das leis.


- 415 —

N. 199.— KESOLUÇÃO DE 26 DE JULHO DE 4849.


Sobre a moeda que deva servir de padrão se o ouro ou a prata e
questões annexas.

Senhor.—Em observância do que Vossa Magestade


Imperial houve por bem ordenar, vem a secção dos
negócios da fazenda do conselho de estado interpor
seu parecer sobre os seguintes quesitos.
1.* Convém que continuem a ser admittidas, conto
moeda legal,as de ouro e prata, ou somente as do primeiro
destes metaes, não sendo a prata recebida senão até
o valor da maior moeda de ouro ?
' 2 . " No caso de adoptar-se o ouro como único pa-
drão de valores, qual deve ser a relação entre o seu
valor e o da prata?
3.° Devem continuar a correr, como moeda legal, os
cunhos estrangeiros admitlidos pelo regulamento de 28
de Novembro de 1846?
4.° Está o governo autorizado para resolver estas ques-
tões da maneira que julgar mais conveniente aos in-
teresses nacionaes?
A lei de 11 de Setembro de 1846, que fixou o valor
da oitava de ouro amoedado de 22 quilates em quatro mil
réis de papel, commetteu ao governo marcar o da moeda
de prata, sem declarar se a este cumpria regular-se
na fixação pelo valor que os dous metaes tivessem no
mercado das nações civilisadas, ou se pelo uso que
de um delles se "devia fazer para moeda do paiz, ca-
bendo ao outro as funcções dos trocos, que a lei negou
á moeda de cobre.
No silencio da lei a secção julga mais acertado adop-
tar-se um destes metaes "para moeda legal do paiz;
pois os princípios mais sãos de economia política e de
finanças, condemnão o gyro simultâneo de ambos os
metaes preciosos ; e consequentemente é de presumir
que nesta incumbência ao governo teve o legislador o
intuito de o autorizar a determinar o valor legal, ou
extrinseco da prata relativamente ao ouro.
É lambem a secção de parecer que o ouro deve ser
preferido á prata para as funcções de moeda, tanto
porque se deprehende esta intenção da lei quando fixou
o valor do ouro relativamente ao papel, como porque
o Brasil, tendo vivido tantos annos sob o regimen do
papel moeda, muito estranhará o uso de meio circu-
lante tão pesado, volumoso, e incommodo, como a prata.
Para justificar esta medida ainda soao os clamores do
commercio contra a moeda metallica, mormente de prata,
— 416 —

que foi admittida nas estações publicas em 1847, e prin-


cípios de 1848.
Se o governo Imperial adontar o parecer da secção,
convirá circumscrever a moeda de prata ás transacções
que não excedão á 20P00, pois que sendo destinada aos
trocos das moedas de ouro, é a dita importância a maior
que nossas leis mandão cunhar. _
A secção pois entende, resolvendo a questão contida no
primeiro quesito: 4 •• que deve ser adoptada como moeda
legal no Brasil, a de ouro; e 2.° que a de prata so
deve ser admittida nas transacções até ao valor da maior
moeda de ouro.
No conceito da secção o valor extrinseco da prata
deve ser maior que o intrínseco, pois que sendo des-
tinada á servir aos trocos, deriva o seu valor deste officio
e não da matéria de que consta. Se o valor extrinseco da
prata fosse igual ao intrínseco, não raras vezes se re-
senliria o mercado, principalmente da falta de trocos ;
pois apenas se desse a menor alta no seu preço, ella
correria ao mercado em que fosse mais apreciada. E por-
que uma differença considerável entre o valor intrín-
seco e o extrinseco da prata, convidaria a falsificação,
pensa a secção que, dano á prata um valor maior de
9 a 10 °/. do que o intrínseco, será evitado este mal.
A pouco monta a moeda de ouro e prata, a que caiba
o nome de brasileira: o nosso meio circulante era pela
maior parte de cunho portuguez.
Se prosperar a industria; se as relações industriaes
se multiplicarem, como é provável; e principalmente se
o governo se esforçar em restaurar a moeda dos metaes
preciosos, é evidente que a moeda papel não bastará
para as transacções, e então muito interessará que a
venha auxiliar a estrangeira admittida pelo regulamento
de 28 de Novembro de 1846: a opinião contraria acar-
retaria transtornos mui consideráveis, e que se aggra-
varião pela circulação do papel, visto que facilmente se
não cunharia a moeda nacional; em tal hypothese re-
clamarião o commercio e a industria.
A secção porém julga que a moeda de prata eslran->
geira, emquanto não na nacional sufllciente, deve ser
recebida com o abatimento de 9 a 10 °/0 em proveito do
thesouro, e só nos trocos.
A secção considera o governo autorizado para resolver
os quesitos mencionados, pois que recebeu da lei a in-
cumbência de fixar o valor da prata relativamente ao
ouro, sem nenhuma limitação; e cingindo-se aos prin-
cípios da sciencia no desempenho desta commissão,
procede regularmente, e autorizado.
— 417 —

0 conselheiro de estado Alves Branco porém é de.


opinião: Quanto ao 1.° quesito—, que na verdade escrir
piores existem que sustentão a conveniência de um só
metal para moeda legal, ficando o outro reduzido a um
gyro limitado por-lei; e que adoplado este systema pa-
rece conseqüência dar preferencia ao ouro para as func-
ções de moeda, por ser mais valioso, reduzindo a prata
a simples auxiliar com gyro limitado ; mas que cumpre
confessar que um tal systema ainda não foi geralmente
adoptado, preferindo quasi todas as nações e entre ellas
algumas muito sabias, o gyro simultâneo, e indistincto
dos dous metaes, como moeda legal, dando comtudo
uma preferencia de facto á prata de uso mais geral,
não por limitação de pagamentos em ouro, mas por
alguma exagerãção no valor intrínseco da mesma prata,
obviando-se aos inconvenientes de sua circulação nos
grandes pagamentos com os depósitos, e com os bancos,
e mesmo com a moeda de ouro; e é este o systema
que temos procurado imitar, não sem muito boas razões,
que ainda subsistem.
Quanto ao 2.°—, que no caso de adoptar-se o systema
de um só metal, e por conseguinte do ouro, para moeda
legal, ficando a. prata reduzida por lei a um gyro limi-
tado de trocos, como acontece na Grã-Bretanha, pôde
estabelecer-se entre os dous metaes a relação de 1:15,
para salvarem-se as despezas da moedagem na nossa
casa da moeda, que não são pequenas; embora com isso
se exagero muito o valor da prata, e dê-se incentivo á
falsificação da moeda, porque esse mal deve ficar pre-
venido pelo gyro limitado, que em tal systema tem de
dar-se á prata por lei: entendendo o mesmo conselheiro
de estado, que a nação não deve ganhar com o cunho
da moeda; e que o mais que lhe pôde ser permittido
é salvar a despeza do seu fabrico, se tanto. Esta nova
relação dos dous metaes dá á oitava de prata pura amoe-
dada entre nós o valor de 265 ou 266 réis que corres-
ponde ao augmento que se propõe de 6 °/0 no valor in-
trínseco da prata, e que deve achar-se na relação de
1:15,80 e 1:15,84, a qual, segundo asseverou Mr. Peel
nos debates sobre a reforma do banco de Inglaterra, tem
sido a que tem regulado entre a prata e o ouro nos úl-
timos 40 annos.
Quanto ao 3.°—, que na hypothese de adoptar-se o sys-
tema acima, a moeda estrangeira de prata só deve ser
recebida pelo seu valor intrínseco, dando-se á oitava
de prata valor que não seja maior de 250 réis, que é o
correspondente á relação de 4:15,82, termo médio da*
duas relações acima apontadas: cumprindo advertir bem,
c*. 53
— 418 —
que o dito conselheiro de estado faz distineção entre
o valor intrínseco e o valor commercial dos metaes em
diversas circumstancias das praças, ainda que reconheça
que os valores observados por algum tempo iormao a
base do intrínseco. , .
Quanto ao 4.°—, entende que o governo esta autorizado
para resolver como lhe parecer, todas as questões, menos
a primeira, porque em nossas leis está claramente es-
tabelecido o gyro simultâneo dos dous metaes, podendo
evitar-se a grande abundância da moeda de prata, que
appareceu quando o cambio correu alto, enfraquecendo-
se mais a prata, v. g. estabeteeendo-se entre ella e o
ouroumarelaçãomaisapproximada ádos Estados-Unidos,
Ou mesmo por outros meios ; o que não chegou a fazer,
quando ministro, por entender que não havia ainda suf-
ficiente experiência a respeito ria relação de 1:15,025,
que a lei marca entre nós á prata e ouro.
E' esto o parecer da secção que Vossa Magestade Im-
perial se dignará acolher com sua costumada indul-
gência.
Rio de Janeiro, cm 9 de Julho de 1849. — Visconde de
Abrantes.—Manoel Alves Branco.—Bernardo Pereira de
Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece á secção. (*)


Paço, 26 de Julho de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) De conformidade com esta resolução, baixou o decreto n.° 02o


de 28 de Julho de 1849 (na collecção das leis) acompanhado do re-
latório do respectivo ministro, que se segue:
Senhor.—O systema de promiscuidade do ouro c prata, como moeda
de pagamentos, parece haver sido admittido em Portugal de tempos
mais remotos; mas foi a lei de 4 «le Agosto de 1688 que o regulou,
elevando 20 "|o o valor dos cunhos destes dous metaes, «lue então cir-
culavão, e fixando entre elles a relação de 1:10. Quasi pela nmsma
época mandou o governo cunhar, para correrem so no Brasil, e nos
domínios da Ásia, moedas de ouro de 22 quilates do valor de 4<l000,
com o peso de duas oitavase vinte grãos; e de prata de 11 dinhelros
do valor de 640 réis, com o peso de cinco oitavas e vinte grãos.
Assim ficou estabelecido naquelle reino a relação legal de 1:16
entre a prata e o ouro; e no Brasil a de 1:14,48.
E' de presumir que os inconvenientes destas medidas fossem entãd
mais sensíveis em Portugal do «iue entre n«is, por quanto parece qwe,
— 1*0; —
N. 203.—RESOLUÇÃO DE 14 DE SETEMBRO DE 1849.
Sobre ai leis provinciaes de Minas Geraes do anno de 1848.
Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado
examinou, como lhe foi ordenado, a collecção dos actos

desde o meado do século XVII até o começo do actual, a relação real


entre os dous metaes, não ultrapassou os limites de 1:14 a 1:13.
As moedas de ouro de 4g00&forão depois reduzidas ao peso de 2 #4
oitavas, e as d& prata de 6í0 réis a 5 oitavas, o que elevou a relação
legal entre os dous metaes a 1:13,88; mas como forão posteriormente
admittidas no Brasil as moedas de ouro de Gg400, e recunhou-se em
1810 grande porção de pesos hespanhóes de 71/2 oitavas de prata com
o valor de DUO réis, fioou finalmente lixada a relação de l :12,5 entre
os dous metaes; d onde resultou escassez de ouro e o predomínio da
praia como moeda de pagamentos.
Esla legislação, vigorou até 1833, apezar de haver desapparecido do
mercado Ioda a moeda metallica, em virtude da invasão do papel
moeda; mas nesse anno foi promulgada a lei de 8 de Outubro, «jue
teve em visla crear um banco nacional, e fez alterações radicaes no
nosso systema monetário.
O art. l. a dessa lei diz— « Na receila e despeza das estações pu-
blicas entrarão o ouro u a-prata cm barras ou em moedas nacionaes
qu estrangeiras, a 2£o00 por oitava de ouro de 22 quilates. »
Ora como nesse artigo não se determina senão o valor legal do
ouro, e em nenhuma das disposições da lei se depara com autori-
zação dada ao governo para cunhar moeda de prata com valor dif-
lerenle do que lhe dá a. legislação anterior, é força concluir ou que
a lei de 8 de Outubro desmoueiisou a prata, e adoptou o ouro como
única moeda legal;, ou que deverão couservar-se as moedas de praia
com o peso, loque, e valores, que lhes dava essa legislação; o que
estabeleceria entre os dous metaes a relação de 1:19,33. Esta-ultima
hypothese, senão absurda, ao menos contraria a iodos os princípios
e factos bem conhecidos na época em que foi discutida a supramen-
cionada lei, parece inadmissível, e assim o entendeu, o governo, pu-
blicando o regulamento de 18 de Outubro de 1833, que mandou re-
ceber nas estações publicas o ouro c prata, .lanlo amoedados como
em barras e piulia, na relação de 1:15,023, marcando assim o preço
por que as referidas estações receberião a prata; não como moeda,
que paia lauto não estava o governo autorizado, senão como merca-
doria, por entender que a mencionada lei a havia desaulorado da cate-
goria de numerário.
Assim sob o império da lei de 8 de Outubro de 1833 deixou de exis-
tir- a promiscuidade dos dous metaes ouro e prata como moeda
legal.
A de 11 de Setembro de 1846 elevou o preço da oitava de ouro
amoedado de 22 quilates a 4$00Q, autorizando o governo a marcar a
relação entre este metal e a praia, mas não resolveu se deveria ella
continuar a correr como mercadoria ou convertida em moeda.
Em 1847 foi finalmente o governo autorizado a lavrar moedas de
prata do valor de 2#000, igooo e SOO réis, mas o poder legislativo não
decidiu se essas, moedas serião admittidas nos pagamentos qualquer
que fosse a importância delles, voltando-se desta arte ao systema da
lei de 4 de Agosto de 1688, ou se, conservando-se o da de 8 de. Ou-
tubro de 1833, farião unicamente as funcções de troco.
A' visla do que deixo relaiado, e porque subsiste a autorização con-
cedida ao governo para marear a relação--entre o ouro e a prata, e
esla relação não pôde ser fixada sem que préYiaweiHc se decida qual
— 420 —

legislativos da assembléa provincial de Minas Geraes,


publicados no anno próximo passado, e somente achou

dos dous systemas deve seguir-se, parece-me fora de duvida que, se


a legislação actual não veda ao governo admiltir a promiscuidade dos
cunhos de ouro e prata como moeda legal, lhe dá faculdade para, no
fabrico das novas moedas, conservar o systema da lei de 8 de Outu-
bro, que reconheceu o ouro como único padrão de valores.
Em taes circumsiancias pois é dever do governo aduplar a medida,
que menos possa oftendcr os interesses da industria c commercio na-
cionaes, e perturbar as relações entre credores e devedores.
O valor dos metaes preciosos, como o de todos os productos do tra-
balho do homem, esta sujeito a leis independentes das decisões do
legislador; varia com a maior ou menor despeza de producção. E por-
que a promiscuidade do ouro e prata, como moeda legal, exige que
sejão elles ligados por uma relação permanente, que lhes fixe os va-
lores, segue-se que a lei que o pretendesse fazer, seria de contínuo
contrariada pela natureza das cousas, e produziria o resultado de alte-
rar constantemente as condições dos contractos, e de prejudicar a
parte credora da população cm beneficio da devedora, ou vice-versa.
Accresce que moedas de ouro e praia não podem conservar-se na
circulação promiscuamente, senão em quanto a relação lixada pela lei
entre esses dous metaes está de accordo com os preços do mercado:
e como esse accordo é, senão impossível, ao menos pouco duradouro,
o metal mais depreciado expelle em breve o outro, e constilue-se
agente exclusivo da circulação.
E' esla a razão porque dos paizes mesmos, que tem ern suas leis
estabelecido a promiscuidade do ouro e prata como moeda legal, não
ha talvez nenhum, onde a circulação monetária não seja quasi exclu-
sivamente composta de um só destes metaes.
E' facto averiguado que, desde a descoberta das minas d'America,
a prata tem se depreciado em uma progressão mais rápida do que o
ouro; e se o mesmo acontecer «l'ora em diante", e no Brasil admiliir-
mos o systema de promiscuidade, virá a ser por fim a prata o único
agente metallico de nossas transacções commerciaes, salvo se por fre-
qüentes alterações na relação legal entre o valor delia c do ouro pro-
curarmos corrigir esta decidida tendência de usurpação, que é pró-
pria do metal menos precioso; alterações que aliás produzem sérios
inconvenientes nas fortunas publicas e particulares.
Ora em um paiz, como o nosso, por tão longo prazo habituado á
facilidade, que para o movimento de fundos, presta o papel moeda,
e onde a população se acha disseminada por tão vasta extenção de
território, tornar-se-hia intolerável o exclusivo domínio da moeda de
prata.
Bem recentes são ainda as queixas ilo commercio do Rio de Janeiro
contra a que appareceu no mercado no fim do anno de 1847, e prin-
cipio de 1848. ' '
Do que succintamcntc levo exposlo, parece-me dever concluir, que
convém prelerir o systema da lei de 1833 ao da de 1688, cunhando-se
moedas de prata para fazerem a respeito do ouro as mesmas func«;ões.
que o cobre a respeito da prata.
Neste caso dever-sc-ha dar á prata maior valor legal do que o in-
trínseco, admlltindo-a nos pagamentos até o valor da maior moeda
de ouro; e cobrando o Esiado uma senhoriagem, que compense
todas as despezas qu«i tem de fazer com os novos cunhos, e que deixe
mesmo algum lucro a casa da moeda.
•Não desconheço que a senhoriagem, mormente quando é exagerada,
tem o inconveniente de não só elevar os preços dos gêneros do paiz
relativamente ues mercados csuangeiros, e de dificultar a exportação
— 421 —
dignas de sérios reparos, no que loca á parte financeira, as
disposições contidas nos §§ 1.° e 2." do art. 4.°, cap. 3.°

delles, senão também de provocara introducção de moeda falsificada;


mas o primeiro inconveniente sómeuie diz respeito á moeda que tem
curso illimitado; e quanto ao segundo não julgo que um accrescimo
de 9 a 10 °/o no valor dos cunhos sobre o da praia em barras, na
hypothese de que iralo, possa produzil-o. E' sabido que na Inglaterra
a introducção de moeda falsificada diminuiu de 1816 para ca; e en-
tretanto nessa época augmentou-se 6 -~- <•/« a senhoriagem soíire
os cunhos desse metal; o que mostra quãoefllcaz remédio é contra
esse mal limitar ouso da moeda, sobre cujo fabrico recalie a senho-
riagem.
Se naquelle paiz uma differença de 9 a 10 % entre os valores legal e
intrínseco da prata não excita a falsificação, parece-me que maisdif-
licil ainda será ella no Brasil, se nos' limitarmos á mesma dittc-
rença.
Nem penso lambem que possa servir de ohslaculo á medida, que
lenho a honra de propor a Vossa Mageslade Imperial, a alienação de
ser o systema da promiscuidade dos cunhos adminidopela unir parte
das nações civilisarlas. Eulre estas lem a praia dominado como quasi
único agente metallico de circulação ; e é contra idêntico resultado,
cujas conseqüências serião perniciosas ao desenvolvimento de nossa
riqueza, que convém aeantelarmo-nos; ao que cumpre acrescentar
que, quando se trata de questões econômicas e commerciaes, os exem-
plos da Inglaterra devem fazer muito peso no juizo daquelles que
tiverem de decidil-as.
Releva ainda observar que entre as nações, onde domina o princi-
pio da promiscuidade dos cunhos de ouro e prata, foi esse systema
estabelecido em tempos remotos, quando a experiência não havia ainda
mostrado os defeitos, que lhe são inherentes; quando mesmo prin-
cípios que se da vã o então por incoucussos, e hoje reconhecidos errô-
neos, aconselhavão a adopçáo delle. Cumpre 'finalmente ponderar,
que em taes matérias nem sempre se pode passar de um a outro sys-
tema, ainda que mais perfeito seja, sem «lilUculdadcs, e offensa de
legítimos interesses, creados anteriormente.
A suspensão do pagamento dos bilhetes dos bancos de Inglaterra
em 1797, e a conseqüente expulsão do ouro e prata da circulação, apla-
nárão o caminho para a reforma do systema monetário daquella nação
em 1816.
Se outros paizes, ou por saberem menos calcular seus interesses,
ou por não lerem tido opporlunidade de mudal-o, conservão o sys-
tema da promiscuidade do ouro e da prata como moeda legal, não é
isso razão para que o Brasil os siga, mormente não mililando entre
nós nenhum dos motivos, que nol-o poderião aconselhar.
As razões que deixo expostas, e a resolução que Vossa Magestade
Imperial houve por bem tomarem dalade 26do mez corrente, sobre
consulta da secção de fazenda do seu conselho de estado, me levao
a pedir a Vossa Mageslade Imperial se digne de approvar o decreto
junto.
Sou, Senhor, com o mais profundo acatamento.
De Vossa Mageslade Imperial.
Subdito muito fiel ereverente.
Joaquim José Rodrigues Torres.
— 422 —
da lei n.° 434, que fixou a receita e despeza provincial
para o anno financeiro de 4849—1850; por quanto forão
reproduzidas nos citados paragrapbos, com diversa redac-
ção, as mesmas taxas itinerárias, que eqüivalem a direitos
de importação sobre os gêneros que etilrão naquella pro-
vincia, enue tem sido não só consideradas em consulta
de conselho de estado como exorbitantes das attribuições
da referida assembléa, mas também revogadas por uma
resolução da assembléa geral legislativa.
Sem fazer commenlario algum sobre a mencionada re-
producção, a sec«;ão é pois de parecer que sejão de
novo levadas ao conhecimento da mesma assembléa
geral as sobreditas disposições dos paragrapbos acima
apontados, para que haja de providenciar como julgar
conveniente.
Vossa Mageslade Imperial, porem, se dignará resolver
o que fôr melhor.
Rio de Janeiro, em 18 de Agosto de 1849.— Visconde
de Abrantes .—Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece (*).


Paço, em 14 de Setembro de 1849-.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 201.-RESOLUÇÃO DE 14 DE SETEMBRO DE 1849.


Sobre as leis provinciaes do Rio de Janeiro do anuo de 1848.
Senhor.-A secção dos negócios da fazenda do con-
selho de estado examinou, como lhe fora ordenado a
collecção de leis e decretos da assembléa legislativa
da província do Rio de Janeiro, publicadas no próximo
findo anno de 1848, e na parte relativa aos mesmos ne-
gócios da fazenda nao encontrou disposição alguma que
*%

á CO sidciaíao da
* jJneiroWSS? " «"wnliiéa geral. Aviso de 6 de
— 423 —

possa ser julgada como exorbitante das attribuições da


referida assembléa, e contraria á constituição e âo acto
addicional.
Vossa Magestade Imperial se dignará porém resolver
o que mais conveniente fôr.
Rio de Janeiro, em 24 de Agosto de 1849.— Visconde
de Abrantes.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 14 de Setembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 202.—RESOLUÇÃO DE 4 4 DE SETEMBRO DE 4849.


Sübre as leis provinciaes de S. Paulo do anno de 18í9.

Senbor.—A secção de fazenda do conselho de estada


em virtude de aviso imperial de 13 do corrente, exa-
minou ns leis provinciaes da assembléa legislativa da
provincia de S. Paulo, publicadas neste anno de 1849,
e pelo que toca aos negócios da fazenda não encontrou
nas mesmas leis disposição alguma, que possa ser ha-
vida como contrária aos artigos da constituição e do
acto addicional, que marcão as attribuições das assem-
bléas provinciaes.
Vossa Magestade Imperial porém resolverá o que tiver
por melhor.
Rio de Jnneiro, em 27 de Agosto de 1849.—Visconde de
Abrantes .—Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 14 de Setembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.
— 424 —
m. 203.—RESOLUÇÃO DE 6 DE OUTUBRO DE 4849.
Sobre a pretenção do gerente da companhia brasileira de paquetes
á isenção de direitos de matérias primas.
Senhor.—A secção dos negócios da fazenda do con-
selho de estado vem interpor seu parecer sobre o re-
curso de Marcellino José Coelho, gerente da companhia
brasileira de paquetes movidos á vapor.
O mencionado Marcellino supplica a Vossa Magestade
Imperial a isenção de direitos de alfândega para as ma-
térias primas da offlcina, que em grande escala tem
a mesma companhia tanto para os concertos dos ma-
chinismos das suas barcas, como para a construcçâo
de caldeiras das mesmas ; e dignando-se Vossa Mages-
tade Imperial indeferir tal pretenção, recorreu para a
secção do conselho de estado dos* negócios da fazenda.
Sendo manifest.imente injusto tal recurso, julga a
secção que preterindo a forrhalidade da audiência como
lhe permitte o regulamento, deve propor a Vossa Mages-
tade Imperial a rejeição de tal supplica e recurso, pois
nem se mostra a companhia habilitada com o necessário
titulo para fazer o requerimento que apresentou, nem
um estabelecimento que tom por único objecto o inte-
resse particular pôde ser attendido com a graça que pede.
Este é o parecer da secção.
Vossa Magestade Imperial porém resolverá como lhe
parecer melhor.
Rio de Janeiro, em 18 de Setembro de 1849.—Bernardo
Pereira de Vasconcellos.—Visconde de Abrantes ; decla-
rando porém, que concorda em ser desattendido o pre-
sente recurso unicamtmte pela razão de não haver o recor-
rente exhibido o titulo necessário para ser considerada
como fabrica e nacional, a oflicina de que se trata; por-
quanto entende, que a mesma ollicina, estabelecida pela
companhia brasileira de paquetes de vnpor, embora tenha
por objecto o interesse particular (como o tem as demais
officinas ou fabricas estabelecidas por empiezarios, sejão
indivíduos ou companhias) nem por isso deixa de ler
em vista o interesse publico, e de satisfazer a uma ne-
cessidade do paiz.
RESOLUÇÃO.
Como parece ao conselheiro Vasconcellos.
Paço, em 6 de Outubro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres
— 423 —

N. 204.—RESOLUÇÃO DE 6 DE OUTUBRO DE 1849.

Sobre o recurso de D. Marianna de Seixas Souto Maior do des-


pacho que lhe negou o meio soldo de seu pai, por se ler casado ainda
em vida de sua mãi.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado vem


submetter á alta consideração de Vossa Magestade Impo-
ria! o juizo que formou a respeito do recurso interposto,
por D. Marianna Rita de Seixas Souto Maior, de uma decisão
do thesouro publico nacional, que lhe indeferiu a preten-
ção que tem ao meio soldo de seu fallecido pai o coronel
José Antônio de Seixas Souto Maior.
C«»nsta dos papeis juntos, que o dito pai da recorrente
fallecera em 1800, deixando a mesma recorrente, nascida
em 1792, com oito annos de idade, e por conseqüência no
estado de solteira. Consta igualmente que a recorrente
casara em 18t 6 com o tenente Francisco Vicente de Azevedo
Seixas Souto Maior, fallecido no posto de coronel em
1846. Consta finalmente que a mesma recorrente não
percebe vencimento algum do thesouro publico.
Fundada, por um lado, na disposição da lei de 6 de
Novembro de 1827, que concede o meio soldo ás filhas
dos officiaes do exercito que se achassem solteiras ao
tempo da morte de seus pais, quer tivessem fallecido antes
ou fallece^sem depois da mesma lei; e por outro lado
na declaração, contida uo decreto n.° 521 do 1.° de Julho
de 1847, de que o facto do subsequente matrimônio das
filhas dos militares, que se achassem solteiras ao tempo
da morte de seus pais, não podia prival-as do beneficio
da referida lei de 6 de Novembro ; a recorrente julga-se
com direito ao que pretende.
Allega-se contra este direito: 1." haver se casado a
recorrente ainda em vida de sua mãi, que fallecera em
Outubro de 1827 ; 2.° haver-se a mesma recorrente casado
antes da época em que devia principiar o vencimento
do meio soldo, na fôrma do decreto de 22 de Novembro de
1831, isto é, antes da data da lei de 6 de Novembro de 1827.
Pensa porém a secção, que a primeira destas allegações
seria valiosa se a citada lei de 6 de Novembro tivesse
exigido que as filhas se achassem solteiras ao tempo da
morte da mãi; e que a segunda seria procedente, se a
mesma lei tivesse excluído do seu beneficio aos militares
fallecidos antes da sua publicação.
Nem pôde ser contraria á recorrente a resolução de 8
de Janeiro do anno passado, tomada em consulta, desta
c. 54
— 426 —

secção, a respeito de uma filha do capitão Florencio Pinlo


Guedes de Souza Carvalho (*); porquanto a viuva do dito
capitão, fallecida em Julho de 4829, havia já gozado
do beneficio da lei de 6 de Novembro, percebendo o meio
soldo de seu finado marido ; entretanto que a recorrente,
cuja mãi fallecera como dito fica antes de 6 de Novembro
de 1827; é a única pessoa existente a quem pôde aproveitar
o mesmo beneficio.
Isto posto, e referindo-se ás ponderações que teve a
honra de fazer na anterior consulta (**) sobre recurso idên-
tico, cuja resolução produziu o já citado decreto n.° 521 do
1.°de Julho de 1847, é a secção de parecer: 1.° que seja de-
ferida a recorrente; e 2.°que para tornar menos pesado ao
thesouro publico o ônus que lhe impôz a citada lei de
6 de Novembro, e evitar que algumas filhas solteiras ao
tempo da morte de seus pais fiquem absolutamente pri-
vadas do favor a que tem direito segundo a mesma lei;
haja o governo de Vossa Magestade Imperial de recom-
mendar a conveniência de ser modificada a referida lei
de 6 de Novembro, impondo-seás pessoas que perceberem
o meio soldo de seus maridos ou pais a obrigação de
deixarem cada mez no thesouro publico a metade do
respectivo soldo de um dia; e decretando-se a partilha do
mesmo meio soldo, na occasião em que fôr concedido,
pela viuva e filhas solteiras do militar fallecido.
Vossa Magestade Imperial porém se dignará resolver o
que mais justo fôr.
Rio de Janeiro, era 25 de Setembro de 1849.— Visconde
de Abrantes.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.

RESOLUÇÃO.

Não ha que deferir.

Paço, em 6 de Outubro de 4849.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Joaquim José Rodrigues Torres.

f) Vide a pag. 273 deste volume.


('*) Vide a pag. 226 deste volume.
— 427 —
N. 205.—RESOLUÇÃO DE 6 DE OUTUBRO DE 1849.
Sobre o recurso de João Gomes Ferreira, ex-contractador das capata-
zias da alfândega da corte contra o methodo seguido de proceder-se
ao inventario e balanço das mercadorias.
Senhor.—João Gomes Ferreira, ex-contractador dos tra-
balhos das capatazias da alfândega desta corte interpõem
recurso para o conselho de estado das decisões do the-
souro publico nacional sobre o methodo seguido pelo
inspector da mesma alfândega para se proceder ao inven-
tario e balanço das mercadorias, e sobre o facto de
haver o referido inspector" mandado pagar por elle
ex-contractador algumas multas ás partes.
Não se achando porém demonstrado e provado, quer
na petição e allegações do recorrente, quer nos do-
cumentos juntos, que o methodo seguido para o inventario
seja contrario ao regulamento, e ás cláusulas do contracto
da capatazia, nem se achando tão pouco definidos os
casos, e circumstancias em que fora ordenado o paga-
mento de multas ás partes por conta do ex-contractador;
sendo por fim evidente que a maior confusão e obscu-
ridade predomina no presente processo ; é a secção de
parecer, que seja o recorrente indeferido.
Entretanto Vossa Magestade Imperial se dignará resol-
ver como mais acertado fôr.
Rio, em 27 de Setembro de 1849.— Visconde de
Abrantes.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece á secção.


Paço, em 6 de Outubro de 1849.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Joaqnim José Rodrigues Torres.

N. —206 RESOLUÇÃO DE 12 DE OUTUBRO DE 1849.


Sobre as leis provinciaes do Pará do anno «le 1848.
Sonhor. — A secção de fazenda do conselho de estado
examinou attentamente as leis provinciaes do Pará do
— 428 —

anno de 1848, como lhe foi ordenado por Vossa Magestade


Imperial, e cingindo-seno seu exame a verificar se nellas
havião disposições offensivas dos impostos geraes; é de
parecer que nenhuma dellas está nas circumstancias de
ser por este motivo suspensa ou revogada.
Todavia a secção não desiste do que já por vezes tem
tido a honra de ponderar na augusta presença de Vossa
Magestade Imperial sobre direitos de exportação creados
pelas assembléas provinciaes, e sobre impostos elevados
que recahindo sobre os objectos já anteriormente tri-
butados pelo governo geral, offendem os interesses ge-
E' este ô parecer da secção, mas Vossa Magestade Im-
perial resolverá como fôr conveniente e justo.
Rio de Janeiro, em 8 de Outubro de 1849.—Bernardo
Pereira de Vasconcellos.—Visconde de Abrantes.
RKSOUIÇÃO.

Como parece (*)


Taco, em 12 de Outubro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 207. RESOLUÇÃO DE 12 DE OUTUBRO DE 1849.

Sobre as leis provinciaes das Alagoas do anno de 1849.

Senhor.—\ secção da fazenda do conselho de estado


examinou altentamente as leis provinciaes das Alagoas
promulgadas no corrente anno, como lhe foi ordenado
por Vossa .Magestade Imperial, e cingindo-se no seu
exame a verificar si nellas havia disposições offensivas
dos impostos geraes ; é de parecer que nenhuma dellas
está nas circumstancias de ser por este motivo sus-
pensa ou revogada.

{*) Submellida á considera«;ão da assembléa geral. Aviso de 5 de


Janeiro de 18J0.
— 429 —
Todavia a secção não desiste do que já por vezes
tem tido a honra de ponderar na augusta presença de
Vossa Magestade Imperial sobre direitos de exportação
creados pelas assembléas provinciaes, e sobre impostos
elevados que, recahindo sobre os objectos já anterior-
mente tributados pelo governo geral, otfendem os in-
teresses geraes.
E' este o parecer da secção, mas Vossa Magestade Im-
perial resolverá como fôr conveniente e justo.
Rio de Janeiro, em 8 de Outubro de 1849.— Bernardo*
Pereira de Vasconcellos.—Visconde de Abrantes.
RSOLUÇÃO.

Como parece (*)•


Paço, em 12 de Outubro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Jmquim José Rodrigues Torres.

N. 208.—RESOLUÇÃO DE 24 DE OUTUBRO DE 1849.


Sibre o officio do inspector da thesouraria da Bahia de ter a relação
do districto mandando soltar um colleclor preso administrativa-
mente por alcance.

Senhor.—Em 18 de Dezembro de 1846 deu parte ao


lliesouro o inspector da thesouraria da Bahia, oe que a
Relação do districto, mandara soltar ao ex-collector de
Itaparica Manoel Braz Martins Moscoso, que o juiz mandara
prender por causa do alcance, ern que ficara com a
fazenda, pedindo providencias a este respeito.
Em 27 de Novembro do anão passado participou o
mesmo inspector que avaliando-se os bens do casal de
João Maria Costa Ferreira , gastara a fazenda nacional
cem mil réis em pura p^rda, porque os avaliadores
derão aos objectos avaliados valores tão excessivos, que
é impossível achar, quem nelles lance em praça.

O Submettila á consi leração da assembléa geral. Aviso de 5 dj


Janeiro de 1830.
— 430 —

Taes são os objectos, sobre que manda Vossa Mages-


tade Imperial que as secções de fazenda e justiça do
conselho de estado dêm seu parecer, e sobre que as
duas secções depois de conferenciarem accordàrao no
seguinte; a saber: , .
Pelo que pertence ao primeiro ponto ficou accordado
unanimemente que os títulos 3.°, 4.°, 5.°, 7.° e 8.° do al-
vará de 28 de Junho de 1808 estavão em seu pleno vigor
não só por força da disposição do art. 88 da lei de 4 de
Outubro de 1831, como por força da excepção contida no
art. 310 do código criminal.
Pelo que pertence ao segundo ponto foi accordado pela
maioria que a remissão e demora ou omissão dos col-
lectores em fazer as entradas nos tempos devidos, em
virtude dos regulamentos, ou quando lhes fosse orde-
nado, não devião sempre ser consideradas como de-
monstrativas da intenção de apropriarem-se os ditos col-
lectores e thesoureiros, consumirem ou extraviarem os
dinheiros e effeitos públicos, que tinhão a seu cargo,
isto é, concordarão que as demoras e omissões dos ditos
collectores, thesoureiros, etc, nem sempre constituião o
delicto de peculato, de que trata o art. 170 do código ;
mas entenderão que estando em vigor os mencionados
títulos do alvará de 28 de Julho de 1808, os ministros
da fazenda e inspectores podião ordenar a prisão dos
thesoureiros, collectores, etc, quando fossem remissos ou
omissos em fazer as entradas.
Concordarão que as prisões assim ordenadas não obri-
gavão a formação de processo conseqüente, pois se
devião considerar como administrativas e destinadas a
compellir os thesoureiros ou collectores omissos ao cum-
primento dos seus deverese obrigações, fazendo eífectivas
as entradas dos dinheiros públicos existentes em seu
poder; considerando-se est;i prisão como pena da na-
tureza daquellas, de que trata a excepção contida no
mencionado art. 310 do código criminal, e parecendo
comtudo que conviria que as ditas prisões fossem feitas
com ordem, escripta das autoridades judiciarias a quem
os ministros e inspectores deverião requisitar as ditas
prisões.
Concordarão que se os collectores e thesoureiros
não verificassem as entradas dos dinheiros públicos de
seus alcances, ainda depois de còmpellidos a isso pela
referida prisão administrativa, devia se presumir que
elles tinhão extraviado, consumido ou apropriado-se aos
ditos dinheiros públicos, e conseguintemente se devera
ordenar a formação de culpa pelo crime de peculato, pa-
recendo razoável que se fixasse um máximo da duração
- 431 —
da prisão administrativa, de maneira que se verificada
a prisão os thesoureiros e collectores durante a prazo
fixado não verificassem as entradas, se procedesse im-
mediatamente á formação de culpa, continuando a prisão
no caso de pronuncia, e mandando-se então também pro-
ceder civilmente contra os fiadores.
Pelo que toca o prejuízo á fazenda publica de ava-
liações dolosas e excessivas que impossibilitavão achar-se
lançador sobre os bens executados, resultando lesão nas
adjudicações , concordarão que taes prevaricações nãd
podião tão freqüentemente realisar-se sem que houvesse
connivencia da parte dos procuradores da fazenda pu-
blica ; parecendo por isso que o mal provinha antes da
immoralidade dos empregados, do que de falta de lei,
e que o remédio a dar pelo governo não podia ser outro
senão excitar a observância das leis, fazendo que os pro-
curadores da fazenda intervenhão na nomeação dos lou-
vados que tem de avaliar os bens penhorados e execu-
tados, e que suas nomeações recaião em pessoas probas
e não conniventes com os executados; e outrosim pro-
curando que os juizes dos feitos sejão magistrados de
rectidão actividade, e probidade, a íim de que dando-se
o caso de não concordar na avaliação, o louvado da parte
com o da fazenda, haja garantia de que o terceiro no-
meado dê uma decisão justa ; declarando porém, o con-
selheiro de estado Manoel Alves Branco que, com quanto
não se opponha a esta deliberação, por ser a que tem
estado sempre em pratica, comtudo julgava conveniente
consultar a assembléa geral a respeito da providencia
dada na Ord. liv. 2." tit. 53 § 6." que lhe parecia resolver
melhor a questão.
Rio de Janeiro, 30 de Junho de 1849.— Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos.—Manoel Alves Branco.—Visconde
de Abrantes.—Antônio Paulino Limpo de Abreu.—Caetano
Maria Lopes Gama.
RESOLUÇÃO.
Como parece. (*)
Paço, em 24 de Outubro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Decreto n.° 657de 8 de Dezembro de 1849, resolvendo sobre a


intelligencia e execução de algumas providencias decretadas pelas ieis
que regem a administração da fazenda nacional, fiscalisação e arre-
cadação de suas rendas.
- 432 —
N. 209.—RESOLUÇÃO DE 27 DE OUTUBRO DE 184).
Sobre o recurso de Diogo Calvo «V Filhos consignatarios do paládio
Edelina da multa por differeiiça de gejcros descarregados.

Senhor.- O patacho nacional Edelina. vindo de Buenos-


Ayres, consignado a Diogo Calvo & Filhos, trouxe, se-
gundo o seu manifesto legalisado, 1.496 quintaes de carne
secca, e segundo uma declaração do respectivo capitão,
mais 354 quintaes, ou o total de 1.850 quintaes, que cor-
respondem a 5.781 arrobas brasileiras. Desta quantidade
de carne manifestada e declarada na alfândega, despa-
chou o consignatario para baldeatjão 3.708 arrobas, e
para consumo 856, que juntas perfazem a quantidade
de 4.564 arrobas ; e verificando-se não haver mais carne
secca a bordo do dito patacho, reconheceu-se á vista do
manifesto e declaração a falta de 1.217 arrobas.
Foi por esse facto multado o capitão no valor total
das arrobas que faltarão, e mais metade desse valor;
e requerendo o consignatario, que do valor da multa
fosse deduzido o dos 10 % da tolerância admittida
pelos regulamentos para o augmento ou diminuição
no peso da carne secca, foi-lhe o seu requerimento in-
deferido por despacho do inspector da alfândega, e
depois por decisão do tribunal do thesouro nacional.
A secção de fazenda do conselho de estado depois
de examinar o recurso que desta decisão interpôz o
referido Diogo Calvo, e de consultar o art. 156 do re-
gulamento de 22 de Junho de 1836, onde se fundara
a mesma decisão eonde se declara expressamente que
a pena (a multa) nelle estabelecida, só deve ter lugar,
nas differenças para mais ou para menos de 5 "/. (ou
de 10 °/„ segundo o art. 2.° do regulamento de 19 de
Janeiro de 1838) do accusado no manifesto ou declaração;
entende, que assim como não é licito applicaruma dispo-
sição penal senão no sentido o mais restricto e literal,
assim também não deve a multa, no caso de accrescimo,
ou da falta de que se trata ter lugar ou assentar no todo
do mesmo accrescimo ou falta; mas somente na differença
para mais ou para menos da tolerância dos 10°/.; pois a
dar-se intelligencia contraria viria a mesma disposição
legislativa que em attenção á natureza de certas mer-
cadorias permitte augmento ou diminuição no seu peso
até 10 7o» a punir como fraudulento o próprio facto
que admittira como licito. Nem consta a secção que tal
intelligencia se tenha até agora dado ao citado art. 156,
mormente depois da explicação contida na ordem do
thesouro de 15 de Junho de 1838.
— 433 —

Pelo que a secção conformando-se com as opiniões


dos membros do tribunal do thesouro publico, é de
parecer que seja deferido o recorrente.
Vossa Magestade Imperial, porém, se dignará resolver
o que fôr mais justo.
Rio de Janeiro, em 14 de Outubro de 1849.— Visconde
de Abrantes.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Não ha que deferir.


Paço, em 27 de Outubro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues To?ves.

N. 210.—RESOLUÇÃO DE 7 DE NOVEMBRO DE 1849,:


Sobre o projecto de uma bolsa nesta capital.
Senhor.—Em observância do que Vossa Magestade
Imperial houve por bem ordenar-lhe, vem a secção dos
negócios da fazenda do conselho de estado apresentar
seu parecer sobre o projecto que se dignou remetter-lhe
de uma bolsa nesta capital para negociação de fundos
públicos nacionaes e estrangeiros, letras de cambio,
descontos de letras e metaes preciosos.
A secção principia por pedir licença a Vossa Mages-
tade Imperial para reunir neste parecer ao regulamento
dos corretores de câmbios e fundos públicos o dos
outros ramos de corretagem, a fim de satisfazer a ne-
cessidade reconhecida pela commissão da praça do
commercio, e de dar plena execução ao art. 21 da lei
n." 317 de 21 de Outubro de 4843* que creou o imposto
da patente annual de 200#000 a 1:000#000 sobre todos
os que exercerem o oflicio de corretores.
Não desconhece a secção a conveniência, e até ne-
cessidade de uma bolsa de commercio e de corretores
nesta cidade onde se fazem hoje muitas e importantes
transacções; e quando outros argumentos fallecessem,
sobrava o deduzido do effeclivo estabelecimento de sua
C. 5o
— 434 —

aclual praça do commercio e dos corretores por simples


impulso dos interesses commerciaes. Em verdade sem
lei foi creada nesta corte a praça do commercio, e sem
lei estão corretores servindo de intermediários nas nu-
merosas negociações que diariamente se effectuâo, e não
ha ahi quem conteste os serviços que tem prestado á
Bossa industria esta praça e seus corretores. Todavia
a secçãí) está persuadida que de muitos melhoramentos
é susceptível a instituição da actual praça do commercio,
e a corporação dos corretores.
.Sem duvida que á esta praça chegão noticias de todos
os pontos onde esta capital tem ou pôde ter interesses
commerciaes: seu actual regulamento facilita e promove
tão indispensáveis esclarecimentos; cruzão-se nella pro-
curas e supprimentos; mas como affirmárão os corre-
tores' e negociantes consultados, a maior parte dos ne-
gócios de corretagem se realizão fora da praça. Não
é pois de crer que com a necessária publicidade e li-
berdade se fixem os preços correntes independentemente
de annuncios e de publicações em periódicos, e que se
calcule e se peneire o estado e situação das casas com-
merciaes pela natureza e qualidade de suas negociações.
Os corretores devem dispensar a presença das pessoas
a quem pertencem as transacções, poupar o tempo
que sem sua intervenção empregarião nas mesmas e com
menor proveito, prestar serviços mais accommodados e
baratos do que lhes custarião os dos seus próprios
caixeiros, e evitar o damno que provavelmente lhes re-
sultaria do abandono de suas oecupações se viessem
pessoalmente negociar. Importa porém não trancar a
porta a quaesquer negociantes que queirão freqüentar
a praça, pois desfarte se consegue aproximar, pôr
mesmo em presença os compradores e vendedores; e
o actual regulamento só permitte a entrada aos assig-
nantes sejão ou não da profissão commercial.
Também não ignora a secção que pelo decreto n.° 417
de 14 de Junho de 1845 se propôz o governo imperial
a dar um regulamento aos corretores ; mas no seu con-
ceito é elle susceptível de alterações taes, que será pre-
ferível revogal-o e substitui-lo por um inteiramente
novo: breves palavras sobre suas disposições justifi-
carão o juizo da secção.
O artigo 1.° do dito decreto define o oííicio do cor-
retor de maneira que por taes devem ser tidos e
considerados ainda os que não exercerem actos com-
merciaes ; assim que raras transacções poderão ser feitas
por oulrem que corretor não seja; e no art. 4.° pune
com a multa de 2O0#n00, e só dá força de simples man-
—m—
datarios aos que exercerem o officio de corretor sem as
qualidades no mesmo marcadas, sem a nomeação da auto-
ridade competente, e sem a prestação da fiança e paga-
mento do imposto. A par desta vem a disposição do art.
43 que autoriza qualquer pessoa a tratar de todos os
negócios alheios, uma vez que nisso intervenha gra-
tuitamente, ou por menos do que os ditos corretores.
E' diflicil conciliar a definição ampla do emprego do
corretor com a autorização para qualquer exercer esse
emprego uma vez que o faça gratuitamente ou mais bara-
to ; porque sendo fácil illudir esta disposição da lei, raro
será o corretor official, visto que sobre elle deve pesar
o ônus da fiança e do imposto. Eo peior é que se não
melhorou este interessante emprego commercial, não
offerecendo os corretores as garantias que em todos os
paizes dão aos que recorrem ao seu ministério.
O art. 9.° do citado decreto responsabilisa o corretor
pela veracidade da assignatura que houver nas letras
de cambio, ou em quaesquer effeitos negociáveis, em cuja
transacção tiver intervindo. Esta disposição concorrerá
para que mui poucas negociações de letras e effeitos
sejão realizadas, pois não sendo sempre fácil ao cor-
retor averiguar a verdade de todas as assignaturas de
taes papeis, as quaes podem ser não poucas, será ne-
cessária muita afouleza para se sujeitarem á respon-
sabilidade marcada. A secção está bem longe de eximir
aos corretores de toda a responsabilidade a este res-
peito, limitando-se a exigil-a pela veracidade da ultima
assignatura.
A secção impugna também a doutrina do art. 5.°,
bem que a encontre em alguns códigos commerciaes
modernos, porque entende que o corretor não deve ser
commerciante, ou elle seja só de alguns ramos de ne-
gociações ou de todas. Tal corretor ainda que pres-
tasse avultadissima fiança, não podia inspirar confiança
aos seus committentes, nem assegurar-lhes de que os
compromettessem em suas transacções.
Não só fixa o art. 3." a quantia da fiança, mas no
§ 3.° declara que o imposto a que está sujeito o cor-
retor na corte não excederá a 200#000, nas provincias
da Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul a 400^000,
e a 50^000 nas outras cidades sendo geraes, e á metade
sendo éspeciaes. Ora a lei fixou o máximo do imposto
em 1:000#000, e o decreto além de o reduzir a 200#00O,
parece satisfazer-se com qualquer quantia, uma vez que
seja inferior aos 200JJ000; a lei exige 20#000 dos corre-
tores (jue residem nas cidades marítimas que não no-
niôa, e o decreto, como que em compensação da dirni-
— 43G —

nuição do máximo de que se acaba de fazer menção,


o eleva para estas de 20 a 5ü#000.
A' face do expendido julgou a secção dever propor um
projecto de decreto que comprehendesse disposições
ara Iodos os corretores, que não só para os de cam-
S ios e fundos públicos. No desempenho da tarefa que
a secção se impôz, esmerou-se em adoptar do projecto
do código commercial, que ha mais de 42 annos tem
s;òo objecto de vastas discussões na assembléa geral,
quanto não contrariava suas antigas e profundas con-*
vicções ; é este um tributo de reconhecimento e respeito
que a secção paga as luzes e patriotismo das câmaras
legislativas.
No cumprimento deste dever a secção parlio da sup-
posição de que o legislador chamando os corretores
a contribuir para as despezas publicas, incumbiu ao
governo de definir precisamente e de regular este em-
prego. E não deparando a secção com legislação pá-
tria sobre a matéria, pois apenas se encontra uma
ou outra disposição nas ordenações e leis vigentes,
entendeu que lhe* cumpria recorrer ás leis das nações
cultas, que servem de direito subsidiário em nossas
contestações econômicas e commerciaes.
A secção conformou-se com as mencionadas leis nos
requisitos que julgou indispensáveis para o código de
corretores, e nas garantias que delles exigiu para se-
gurança de seus committentes. Assim que serão os
corretores de nomeação imperial; os que pretenderem
o exercício destas funcções deveráõ preencher con^
dições de capacidade, idade, fiança, pagamento de im-
posto e juramento. Serão punidos os que exercerem
este emprego sem que tenhão preenchido qualquer
destas exigências; e se a secção não foi nesta com-
missão tão severa como as leis subsidiárias, procede
de considerar o governo ligado na imposição das penas
pela citada lei de 1843, que o autorisa a impor só
mullas até 200£000.
Não dissimulará a secção seu desvio de alguns dos
códigos das nações civilisadas, admillindo ainda ao
exercício das funcções de corretores por espaço de
cinco annos os estrangeiros, embora naturalisados não
sejão, e espera que sua proposta será justificada por
quem reíleclir que, não havendo Brasileiros que se
dediquem a esta profissão, e nem sendo fácil habili-
tal-os de um momento para outro, era de mister con-
servar a actualidade ainda por alguns annos. Não era
próprio da dignidade do governo imperial, nem con-
veniente aos interesses do commercio, que lindos os
— 437 -

cinco annos, fossem despedidos ou demillidos os actuaes


corretores.
A secção julga que esla profissão não admille por
ora nesta capital maior divisão que a de três ramos,
fundos públicos; mercadorias e navios; bem que já
numerosas as negociações da sua praça, não são tanto
que fundem o augmento do numero de classes, pois
cada uma dellas não occuparia todo o tempo de um
homem, nem lhe poderia ministrar suffiçientes meios
de subsistência. Accresce que a divisão adoptada não
comprehende tantas operações e tão delicadas, que sejão
raras as pessoas capazes de bem preencher os tra-
balhos que qualquer desses ramos comprehende. Nas
outras praças commerciaes ao corretor nomeado cabe
todo o serviço de corretagem, por serem em muito
menor numero ás transacções de que podem ser in-
cumbidos.
Esmerou-se a secção em fazer o corretor um mero
intermediário entre o comprador e o vendedor, como
o reclamáo os verdadeiros interesses do commercio e
da industria. E' só quando o corretor não tiver cm
mira no exercício de suas funcções, outro alvo que
o de satisfazer igualmente aos seus coinmillentes, com-
pradores e vendedores, é só então que será perfeita-
mente imparcial e poderá prestar çsses auxílios, que
os tornão tão poderosos auxiliares da producção e
riqueza do paiz. Daqui vem a prohibição do com-
mercio em seu ou alheio nome, directo ou indirecto;
daqui as prohibições de afiançar em quaesquer tran-
sacções mercantis, de se encarregar de cobranças ou
pagamentos por conta alheia, e de quaesquer acqui-
sições para si, ou para pessoa de sua família nas com-
pras ou vendas de que fôr incumbido.
Força porém foi sacrificar em parte tão relevante
principio, exige-o o eslylo arreigado nesta praça de
adiantarem os corretores dinheiros sobre mercadorias.
Crê-se que estes adiantamentos em não poucos casos
prestão para sustentar ou alçar o preço dessas mer-
cadorias, e a secção não se afoutou por amor da co-
iierencia e harmonia de procedimento affronlar idéa
tão apreciada; não raras vezes occorre a necessidade
de curvar-se a regra commercial ante os interesses e
estylos de longa data. A secção pois se julga justifi-
cada por admitlir taes adiantamentos de dinheiros feitos
por corretores, quando tiver intervindo ou houverem
de intervir nessas negociações de cujo producto serão
pagos.
Existem nesta capital vinte e Ires corretores como
— 438 —

informa a actual praça do commercio, e é notório que


a maior parle destes estão associados com outros, po-
dendo pois calcular-se o seu numero em mais de ses-
senta. Dado que a secção se antolhem menos úteis
e até prejudiciaes, hesitou em propor a Vossa Mages-
tade Imperial sua dissolução desde já, contentando-se
com a sua prohibição, e conservação dos actuaes
emquanto subsistirem os seus contractos. Associações
servem quando não bastão as forças individuaes, ou as
emprezas são arriscadas; mas para a simples operação
de comprar e vender a secção as julga desnecessárias,
e se persuade que podem prestar ao conluio.
Com quanto seja de summa transcendência prevenir
as fraudes que podem os corretores commelter em
prejuízo das partes, mormente ausentes, não hesitou
a secção em acrescentar o capitulo do syndicato a
instituição dos corretores, pelo reconhecer tão ulil
ao publico, como aos próprios corretores. A junta syn-
dical tem a importante missão de velar e manter in-
tactas as prerogativas da corporação dos corretores, já
punindo pelos seus interesses, e repellindo os seus
aggressores, e já censurando aos mesmos corretores,
punindo-os correccionalmente , e procurando conci-
lial-os com os que por elles se considerào oíléndidos.
Este beneficio, como que de preliminar conciliação,
reúne ao mérito da equidade o da presteza que tanto
interessa as transacções commerciaes. As grandes com-
panhias industriaes tiverão sempre seus syndicos que
as representavão perante as autoridades e o publico,
e censuravão os membros que as compunhão.
A secção encontrou a actual praça do commercio
cuias funcções são diversissimas das que tal nome re-
cebem nos paizes cultos. Seu principal fim é colligir
informações commerciaes assignando periódicos, com-
parando preços correntes, etc. O governo econômico
e policial é confiado a uma commissão eleita pelos
assignantes, e consiste na limpeza da casa, e arreca-
dação das assignaturas, e dos alugueis dos escriptorios
ás companhias: o governo nenhuma ingerência tem
na sua policia. O corretor é alli reconhecido nomean-
do-se a si próprio para o emprego, ninguém exerce
inspecção sobre seu procedimento, nem ha uma co-
tação regular de valores que mereça fé. O edifício é
acanhado e talvez que ainda franqueando-se o andar
superior não seja bastante para os trabalhos dos cor-
retores , na forma do regulamento proposto para o
serviço do que presentemente se considerão operações
da praça. Na falta de outro edifício é forçoso conli-
— 439 —
nuar no actual a praça e a bolsa que o projecto propõe;
e para offerecer mais alguns commodos lôra conve-
niente ceder o dito andar, removendo-se para outro
edifício o tribunal da junta do commercio, e os quadros
que alli está pintando Porto Alegre desde 4841. Con-
servar no mesmo edifício a corporação dos corretores
com a actual praça do commercio, é uma necessidade
do momento, pois causaria transtorno a immediata se-
paração sem os precisos preparativos, e a convicção
produzida pela experiência de que se não pôde accom-
modar no mesmo edifício os corretores e a commissão
da praça, que sobre elles nenhuma vigilância exerce,
e que apenas se occupa de promover o bem commum
do commercio, ministrando-lhe as noções precisas, e
elevando ao augusto conhecimento de Vossa Magestade
Imperial suas necessidades com a proposta dos meios
apropriados.
A secção julga ter tocado nos ebjectos que relevava
explicar, e pois tem a honra de offerecer a Vossa Ma-
gestade Imperial o seguinte projecto de regulamento.
Digne-se Vossa Magestade Imperial acolher este pa-
recer com sua costumada indulgência.
Rio de Janeiro, em 2 de Novembro de 1849.—Bernardo
Pereira de Vasconcellos.—Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.
Como parece (*).
Paço, em 7 de Novembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

' .N. 214 .—RESOLUÇÃO DE 40 DE NOVEMBRO DE 4849.


Sobre o recurso de Diogo Calvo & Filho, ejCIausen capitão da galera
Skiold, da decisão do thesouro relativa a apprehensão de uma porção
de carne secca.
Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado
tem a honra de submetter á Vossa Magestade Imperial o

H O projecto foi adoptndo e mandado executar pelo decreto


n.» 648 de 10 Novembro de 1849.
— YtO —

seu parecer sobre o recurso, interposto por Diogo Calvo


& Filhos, de uma decisão do thesouro publico nacional,
confirmando a apprehensão, feita pelo inspector da al-
fândega desta corte, de grande porção de carne secca,
importada pela galera dinamarqueza Skiold.
Consta dos papeis apresentados á secção, que a dita
galera Skiold, capitão Claussen, vinda de Buenos-Ay-
res, dera entrada na alfândega desta corte, no dia 19 de
Dezembro do anno passado, e apresentara as duas vias
do seu manifesto, nas quaes se declarava a quantidade de
4.526 arrobas de carne trasajo; sendo a abreviatura—@—
um tanto equivoca, podendo.entrar em duvida se indicava
quintaes, ou arrobas, posto que na via do manifesto,
mais parece um—q—do que um—a—.
Juntamente com o manifesto foi apresentado o co-
nhecimento da collectoria de Buenos-Ayres, que se
acha visível e grosseiramente emendado, tendo-se
escripto (não se sabe se antes, ou depois de apresentado
á alfândega ) sobre a abreviatura —qq— a outra abrevia-
tura—@—usadas nas vias do manifesto.
Também na cópia traduzida do mesmo manifesto, as-
signada pelo capitão Claussen, e entregue á alfândega,
usou-se com o numerai 500 da abreviatura—@—.
Mas nos conhecimentos da carga, feitos em Buenos-
Ayres, e deixados na alfândega pelo dito capitão,
indicava-se a quantidade de carne embarcada, e
comprehendida no manifesto pela abreviatura — qq —
á margem, e pela palavra quintales no corpo dos
mesmos conhecimentos. Eas tolhas diárias que costu-
mão publicar os manifestos das embarcações que chegão,
transcrevendo o da galera Skiold no mesmo dia 19 de De-
zembro em que dera entrada na alfândega, declararão, a
saber, o Jornal do Commercio e Correio Mercantil 4.526
quintaes, e o Biario do Bio 4.526 —qq.—
Igualmente consta, que os recorrentes Calvo «Sc Filhos, a
quem pertencia a carne manifestada, despacharão para
consumo, em 28 de Dezembro, a quantidade de 2.000
arrobas; que nesse mesmo dia 28 obtiverão elles do
consulado desta corte um despacho ou carta de guia
para 8.000 arrobas já despachadas para consumo, com
destino á Bahia, para onde serião transportadas no bri-
gue Saudade do Rio-, sendo evidente que tal carta de
guia fora alterada por mui visível emenda assim no al-
garismo—8—como na palavra—oito—.
O guarda, porém, incumbido de dar sahida ás 2.000 ar-
robas do despacho da alfândega, e de conferir a baldea-
çao para o dito brigue das 8.000 do despacho ou carta
tio guia do consulado, notando o vicio, ou emenda des-
— 441 —

t«i, pediu explicações ao despachante dos recorrentes, e


deu parte do occorrido, no dia 3 de Janeiro ao ins-
pector da alfândega, o qual, recommendando ao mesmo
guarda o maior sigillo, ordenou-lhe que completasse o
despacho do consulado, embora superior ao da alfândega.
Dias depois (5 de Janeiro) os recorrentes despacharão
mais para consumo a quantidade de 1.335 arrobas e 30
libras, perfazendo esta quantidade, junta á do anterior
despachado, o total de 3.535 arrobas e 30 libras, des-
pachadas regularmente pela alfândega.
Continuou o referido guarda, á vista destes despachos,
e da ordem secreta do inspector, a dar sahida, do dia 2 a
15 de Janeiro, segundo as folhas de descarga, a 7.564
arrobas, sendo 7.560 pura o brigue Saudade e 4 não se
sabe para onde.
Chegado a este ponto, o inspector ordenou ao guarda
mór, e a um ajudante dos conferentes, no mesmo dia 15
de Janeiro ( portaria da mesma data) que fossem
a bordo da galera Skiold, e á vista do seu manifes-
to, e folhas de descarga, e do carregamento existente,
apprehendessse o excesso que se verificasse além da
a uantidade manifestada: ordem que foi cumprida, dan-
o-se por certo que o capitão Claussen havia manifes-
tado 4.526 arrobas, hespanholas de carne secca, e appre-
hendendo-se (depois de deduzir-se as arrobas manifesta-
das das que havião sido baldeadas , e exislião na dita
galera, e de reduzir-se o peso hespanhol ao nacional) a
quantidade de 9.478 arrobas brasileiras.
Julgada procedente esta apprehensão da alfândega
pelo respectivo escrivão, servindo de inspector, foi o
dito capitão condemnado nas penas do perdimento
do excesso, e multa de metade do valor do mesmo ex-
cesso, segundo o art. 155 do regulamento; e confirmado
este julgamento por decisão do thesouro publico, foiin-
terposto o presente recurso.
Depois de apreciar os fados que ficão substanciados,
examinar a legislação que lhes é applicavel, entende a
secção, que menos justo foi o julgamento, que condem-
nára ao mencionado capitão Claussen: porquanto, tendo
elle apresentado o seu manifesto legalisado, ou, eomo
diz o próprio inspector, em devida forma, sem alte-
ração, rasura ou emenda, não tendo elle declarado, nem
sido chamado a declarar que a abreviatura-@—do mesmo
manifesto indicava o peso de arrobas hespanholas, e não
o de quintaes, que é aliás o de que geralmente se usa na
importação do xarque de Buenos-Ayres; tendo elle sub-
mettido ao exame da alfândega, juntamente com o dito
manifesto, o conhecimento da collectoria de Buenos-
c. 86
— 442 —
Ayres, e deixado na mesma alfândega os conhecimen-
tos da carga recebida naquelle porto, á vista dos quaes
se devia entender, que a referida abreviatura significava
quintaes; não tendo elle emfim contestado ou desmen-
tido as folhas diárias que, no mesmo dia em que dera
a sua entrada na alfândega, publicarão que a galera Skiold
havia manifestado «quintaes de carne secca ; evidente é,
que não se pôde aífirmar, nem dar como provado, que
o sobredito capitão tivesse manifestado 4.526 arrobas
hespanholas de xarque, ou tivesse trazido maior quan-
tidade de mercadorias do que as constantes do seu mani-
festo, e das declarações nelle acrescentadas, caso único
em que lhe devião ser impostas as penas do citado
art. 455.
Seria clamorosamente iniquo e injusto comdemnarao
mesmo capitão por causa do erro de officio do cônsul
brasileiro em Buenos-Ayres por causa da negligencia dos
empregados da alfândega desta corte, e por causa de
fraude praticada por Diogo Calvo & Filhos, novo bode
commissario do velho testamento, teria elle de expiar
as faltas alheias.
Com effeito, não só o mencionado cônsul infringiu o
art. 150 do regulamento, quando legalisou o mani-
festo, que continha uma ahreviatura, aliás tão grave
quanto podia pôr em duvida a quantidade da mercado-
ria embarcada, deixando assim de observar a mui ex-
Íiressa disposição do art. 146, n. 7 do mesmo regu-
amento, segundo a qual tndo nos manifestos deve ser
escripto por extenso excepto os números dos volumes; co-
mo também nos termos do art. 152, vem a ser o mesmo
cônsul o único responsável pelo defeito ou vicio que
deixou de acautelar e corrigir antes de legalisar aquel-
le manifesto.
Aos empregados da alfândega incumbidos do exame
e conferência dos manifestos, compete fiscalisar a execu-
ção e observância do citado art. 146 do regulamento,
exigindo o cumprimento do art. 159, quando os mes-
mos manifestos não contiverem ás formalidades pres-
criptas, ou chamando os capitães ( como aconselha a boa
razão ) á explicarem o que nelles possa haver de equivoco
ou duvidoso.
Deixando-se porém de obrar assim com o capitão Claus-
sen, seria tão injusto punil-o, por essa negligencia dos
referidos empregados, quanto indecoroso atlribuir a estes
o desejo de armarem laços á boa fé ou ignorância das
parles.
Vehementes indícios, e até um facto provado, conven-
cem a secção, de que Diogo Calvo não só tentou extrai
— 411 -

viar aos direitos da alfândega grande parte da carne secca


que importara, preparando-se de antemão para levar a
effeito o seu intento, como de que por intermédio de seu
despachante começou effectiva mente a executar o extravio,
promovendo a baldeaçao de8.O00 arrobas, que se afllrmava
tinhão pago já os direitos de consumo, em vez de 3.535
que somente havia despachado para consumo; pois que,
por um lado, não se pôde attribuir senão á Calvo, que se
achava em Buenos-Ayres, e dalli viera a bordo da mesma
galera Skiold, o ter empregado no manifesto a abreviatura
@ que pudesse servir para indicar quintaes ou arrobas
como e quando lhe conviesse, e bem assim o ter con-
corrido para a grosseira emenda do conhecimento da
collectoria de Buenos-Ayres, visto não se poder suppôr que
o capitão Claussen tivesse parte na dita emenda pelo facto
de haver elle apresentado os conhecimentos da carga»
nos quaes se lia por extenso a palavra quintales; mas
também por outro lado, está provado que foi o despa-
chante de C.ilvo quem agenciou a carta de guia que foi
emendada ou viciada, e quem promoveu a baldeaçao frau-
dulenta para o brigue Saudade, de muito maior quantidade
de carne, do que a que havia regularmente despachado
pela alfândega. Mas seria contrario a todos os princípios
de justiça confundir Calvo com Claussen, e fazer expiar
a este a falta ou delicio daquelle.
A' vista pois das observações precedentes é a secção de
parecer:
Que o capitão da galera dinamarqueza Skiold seja rele~
vado das penas do art. 455, por não se ter provado
que houvesse elle manifestado arrobas hespanholas, e
não quintaes de carne secca; não se lhe devendo impor,
tão pouco, a multa do art. 459, como pretende o ins-
pector geral do thesouro, porque, combinado este ar-
tigo com os antecedentes 152 e 153, reconhece-se que è
o cônsul brasileiro, e não Claussen, o único responsável
pelo defeito da abreviatura do manifesto.
Que o dito cônsul seja multado ou reprehendido pelo
deleixo com que se tem havido, e erros que tem com-
mettido na, legalisação deste, e de outros manifestos,
como se collige dos papeis juntos; sendo advertido de
que não lhe é licito authenticar manifesto algum em papel
separado, ou de outra fôrma que não seja prescripta no
art. 150 do regulamento das alfândegas de 22 de Junho
de 4836.
Que a respeito das 7.560 arrobas de carne baldeadairre-
gular e fraudulentamente para o brigue Saudade do Rio, se
proceda como dispõe o mesmo regulamento, impondo-se
a Diogo Calvo & Filhos apena declarada no art. 227 comr
— lil
binado com o 234 , e com o § 4.° do regulamento annexo
ao decreto n.° 7 de 19 de Fevereiro de 1838.
Vossa Magestade Imperial porém dignar-se-ha resolver
como fôr mais justo.
Rio de Janeiro, em 5 de Novembro de 18'*9.— Visconde
de Abrantes.

Voto separado do conselheiro Bernardo Pereira de


Vasconcellos.

Senhor.—Parece ao conselheiro de estado Vasconcellos


que deve subsistir o despacho de que foi interposto o
presente recurso, pois que estão em pé e em toda sua
força os fundamentos em que foi ella assentada. Não
me farei cargo de examinar se houve dolo, isto é, inten-
ção de fraudar os direitos no carregamento do navio di-
namarquez que deu causa a este processo; nesta matéria
a pena recane tanto sobre o dolo como sobre o erro;
assim o exige a necessidade de uma efficaz fiscalisação.
Funda-se o despacho recorrido em ter sido manifes-
tada uma quantidade de carne secca e verificada outra
muito maior. Este fundamento é tirado; 4.' do facto da
abreviatura da formula—@ -existente no manifesto; 2.° da
emenda do conhecimento da alfândega de Buenos-Ayres,
em que existindo a abreviatura da formula—qq—foi esta
alterada para—@—de harmonia com o mesmo manifesto;
3.° do mesmo facto no reconhecimento de carga junto ao
manifesto; 4.°eno manisfesto traduzido assignado pelo
capitão.
Em balde se abalançárão os recorrentes a aluir este
facto, pois sua argumentação no conceito de Vasconcellos
longe de debilitar robustece as razões expendidas. Con-
sidera o os recorrentes que a publicação do manifesto
n«>s periódicos desta corte, cm que se lêem que o navio
Skiold trazia 4.235 quintaes, é argumento irrespondível.
E Vasconcellos não attribue força alguma a este fado
para provar que o capitão do Skiold não prejudicaria a
fazenda publica, uma vez que tinha publicado que trou-
xera a dita quantidade de carne. Que fé podem ter esses
extractos ? Se não se effectuasse a apprehensão, se se rea-
lizasse o extravio, e se a final a alfândega quizesse cobrar
direitos de quintaes e não de arrobas, apoiada nessas
publicações periódicas, fácil fora aos recorrentes oppôr
que commetlerão errata os periódicos, e que uma cópia
tal não merecia mais fé do que o original, quer dizer
os manifestos, e acceder a esla solida ponderação fora
de equidade e razoável. . ,
Allegão os recorrentes que os conhecimentos de carga
existentes na mão do capitão dão quintaes e não arro-
bas. A existência desses conhecimentos de carga em mão
do capitão ediíferentedo apresentado á alfândega, prova
contra os recorrentes. Neste a abreviatura—@—que os re-
correntes querem que seja de quintaes, é a usada em
Buenos-Ayres. Naquelles passados pela mesma mão tudo
é diverso. Lê-se por extenso no corpo—quintales—, na
margem—qq—. E cabe suspeitar-se que sendo o primei-
ro destinado a illudira alfândega os segundos erão a»
garantia do capitão, e só por um acaso, que se não podia
prever, poderia apparecer, como appareceu, ante a al-
fândega apresentado pelo cônsul dinamarquez.
Nas mesmas círcumslancias está o argumento deduzido
do adjectivo numerai—quinhentos,—porque um previden-
te contrabandista o praticaria para salvar-se no caso de ser
descoberta a fraude. E esta suspeita ganha muita força
quando se reflecte que o dito manifesto traduzido pela
própria letra do caixeiro dos recorrentes que assignou
os despachos, trazescriptasas palavras—quinhentas @—.
Não mais felizes forão os recorrentes asseverando que
a abreviatura usada em Montevidéo e Buenos-Ayres é esse
—@—para designar quintaes e não arrobas, como preten-
derão provar com attestados de negociantes. Vasconcellos
está longe de menoscabar o credito desses negociantes;
mas crê que erraria ao seu dever se por consideração á
sua firma recusasse credito ao que consta da repartição
da alfândega. Pelas informações que obtive é incontes-
tável que a formula empregada em Buenos-Ayres para
designar abreviadamente è a mesma usada no mundo
commercial, isto é,—qq—e não outra, enem ha noticia
de que em manifesto algum se não do de carne con-
signada á casa dos recorrentes se empregasse tal for-
mula: citará elle o manifesto e papeis da embarcação
Joven Itália pertencente aos recorrentes. Tanto é verdade
o exposto, que nos mesmos conhecimentos apresenta-
dos pelo capitão, se encontra escripta por extenso a pa-
lavra—quintales—e na margem a abreviatura—qq—.
Finalmente não demoveu a Vasconcellos a allegação
de que o manifesto não usou da abreviatura de—@—, mas
sim da de um—q—. Na via do manifesto apresentado ao
guarda-mór, que vinha na mão do capitão se lê a formu-
l a i — q u e sempre designou arrobas, e que se não equivo-
ca com—q—; e a mesma formula—@—que não è—q—, está
escripta no conhecimento da carga unida á mesma via
do manifesto. Mas no conhecimento da alfândega de
Beunos-Ayres vê-se a formula primitiva de—qq—que foi
falsificada eniendandg-separa.—(a)—.
— 4iG —
Verdade é que no manifesto que veio fechado se lê a
formula seguinte—q—, mas dos documentos juutos consta
que este manifesto fora subtrahido, e pela emenda nelle
feita se presume que nesse—q—foi mudado o—@—,e ainda
assim não é a formula—qq—usada como se vem de dizer
em Buenos-Ayres e em todo o mundo commercial. Na
traducçáo do manifesto a formula está—#—e não—q—.
Não aproveita aos recorrentes a observação de que não
podião ser falsificados os manifestos sem conhecimento
dos empregados, e que consequentemente não sendo
crivei estaconnivencia não podem ser os recorrentes res-
ponsáveis: 1.° porque é facto incontestável a falsificação;
e 2.° porque inda sem participação de empregado algum
podião ler sido feitas taes emendas. Pelo art. 145 §7.° do
regulamento o manifesto deve ser entregue ao comman-
dante para as traducções ou cópias, e nesse caso podião
ser feitas as referidas emendas.
Accresce o facto de terem os recorrentes despachado
para consumo 2.000 arrobas em 28 de Dezembro, e nesse
mesmo dia no consulado para a Bahia 8.000 arrobas,
isto é, mais do que o despachado para consumo. Em 5
de Janeiro seguinte despacharão 4.535 arrobas e 30 li-
bras. As duas quantidades despachadas para consumo
dão a totalidade da quantidade manifestada reduzida a
peso brasileiro. Esta coincidência de despacharem para
consumo tanto quanto tinhão manifestado, fez muito
peso no espirito de Vasconcellos.
Não me oecuparei de outros argumentos a que se
socccorrêrão os recorrentes, porque são mais dirigidos
á pessoa e opiniões do inspector da alfândega, do que
a remover a idéa de terem commettido o contrabando.
Verificada a existência deste, a questão a ventilar é
se cumpre applicar o art. 155, ou se o art. 227 de re-
gulamento de 1836, e lambem a este respeito diverge Vas-
concellos de seu collega da secção, pois está persua-
dido de que não tem lugar na matéria o art. 227, mas
o 155 já citado. Declara o art. 4." do regulamento de
49 de Janeiro de 1838 que o art. 227 do de 1836
só cabe entre a quantidade e a qualidade dos gêneros
constantes dos mesmos despachos e a verificada pela
conferência da quantidade despachada, e não sobre o
restante do carregamento. Nos objectos que vem a granel,
e que se despachão parcialmente, que não podem ser re-
conhecidos pelo seu numero, ou distinctos por sua quali-
dade, como carne secca, sal, carvão etc. nunca se pôde
na conferência dos despachos achar-se o excesso, e nisto
se funda o citado artigo do regulamento de 48 de Ja-
neiro de 1838. Sendo pois a lei que cabe na presente
— 4*7 —
contestação os arls. 455 e 156 do regulamento de 4836,
é evidente que com justiça foi condemnado o capitão
da barca Skiold, embora fosse elle illudido, ou por outro
qualquer motivo commettesse o crime ou erro, pois a
citada legislação o manda punir designadamente, ainda
ue nenhum dolo lhe possa ser imputado. E estas con-
3 emnações, diz o art. 156, terão lugar pelo simples facto
da achada de mais ou de menos, ainda que se não
prove de outro modo o extravio.
Verificando-se portanto que o manifesto de que se trata*
empregou para designar quintaes uma formula desusada
no mundo commercial, e formula tal que indicava ser
o peso da carne secca arrobas, e não quintaes, e ten-
do-se realizado um carregamento de muito mais ar-
robas do que as manifestadas, considera Vasconcellos
fundada e justa a decisão reccorrida. E porque está
evidenciado que só para a casa dos recorrentes os ma-
nifestos vindos de Buenos-Ayres usavão de tal formula,
julga que deve ser multado em 500$000 réis o cônsul
"brasileiro naquella cidade, pois que se não foi connivenle
na fraude, nenhum zelo tem pelo serviço publico; pôde
ser qualificado de nimiamente relaxado.
E' este o parecer do conselheiro de estado Vasconcellos
que com pezar divergiu de seu collega cujas luzes muito
aprecia.
Rio de Janeiro, em 5 de Novembro de 1849.— Ber-
nardo Pereirao de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece ao conselheiro Vasconcellos. (*)

Paço, em 40 Novembro de 4849.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Nos termos da resolução foi imposta a multa de 500$00 ao cônsul


brasileiro em Buenos-Ayres, pelo facto provado, denio ter elle çun>
nrido na sua qualidade de agente consular brasileiro, as disposições
dos arts. 146 | 7, e 180 do reg. das alfândegas de 22 de Junho de
1836. Aviso de 20 de Novembro de 1849.
_ iW — •

N. 212.-RESOLUÇÃO DE 24 DE NOVEMBRO DE 1849.

Sobre o officio da thesouraria do Rio Grande do Norte a respeito do


laudemio das alienações de terrenos foreiros á fazenda nacional.

Senhor.—O inspector da thesouraria da provincia do


Rio Grande do Norte representou ao thesouro publico
nacional a duvida qae lhe occorria, se uma propriedade
foreira á fazenda nacional que tenha soffrido mais de
uma alienação, sem que de todas, ou de alguma dellas
houvesse pago o competente laudemio, está integral-
mente obrigada a todos elles, e neste caso se o actual
proprietário, que já tiver pago o laudemio da venda
para com elle verificada fica ainda sujeito á importância
dos que não não forão pagos, ou se pelo fucto de se
achar legalmente feita a ultima venda, deve a fazenda
publica perder os laudemios das anteriores alienações
de que se não teve conhecimento.
O tribunal do thesouro para decisão do negocio ouviu
os seus membros, eo conselheiro de estado procurador
fiscal disse, que p laudemio nos casos em que é devido,
posto que incluído seja entre os artigos da renda geral
do Império, não é comtudo revestido da natureza, e
caracter de um verdadeiro imposto, para que deva, ou
possa ser em tudo, e por tudo regido pelas disposições
das leis financeiras, que fixão a maneira de segurar
e arrecadar as dividas da fazenda nacional. Elle é
apenas uma espécie de renda, ou proveito particular do
domínio, e propriedade de bens de raiz dados por afora-
mento, firmado em direito meramente civil e por isso
regulado pelas disposições, e praticas do dito direito,
a que neste objecto é a fazenda nacional tão sujeita, como
qualquer outro proprietário, ou senhor directo de bens
aforados. Se o laudemio fosse, ou por sua essência,
ou por alguma disposição de lei financeira, havido
por imposto, elle seria (quando devido pelo aforamento
de bens nacionaes) regido pelas leis de fazenda, e prin-
cípios financeiros; gozaria de todos os privilégios que
lhe são attribuidos, e mui fácil seria resolver a questão
proposta. Porquanto o laudemio, devido pela transfe-
rencia do domínio útil dos bens nacionaes aforados,
em tal caso, como imposto, seria um ônus real, annexo
a causa, passaria de uns a outros possuidores, e o ul-
timo carregaria com a responsabilidade por todos os
laudemios, que anteriormente se devessem, e tivessem
deixado de pagar.
— 449 —
Sendo porém o laudemio, mesmo o devido á fazenda
nacional pela transferencia dos seus bens aforados, uma
espécie particular de renda, de natureza civil, e regida
pelas disposições do direiio civil, mui differente me
parece ser a solução da duvida proposta, e minha opinião
e que no caso proposto o ultimo proprietário não é res-
ponsável pelos laudemios anteriores não pagos.
E' certo que autores tem seguido o parecer*de que
responsável é o actual foreiro por todos os laudemios
devidos, obrigado a pagal-os, com regresso aos ante-
cessores, fundados em disposições do denominado—
direito commum—affirmando haver hypotheca legal, e
concedendo por isso ao senhor directo a acção in
rem para haver a solução dos laudemios devidos contra
o foreiro actual; e da doutrina de Almeida e Souza no
seu tratado do direito emphyteulico se deduz haver-se
adoptado, e seguido tal parecer na pratica do fô'ro por-
tuguez: outros autores porém tem fortemente sustentado
© parecer contrario; e é com estes que me conformo
por duas mui salientes razões: 1. a de ser estabelecido
por nosso direito na Ord. liv. 1.°tit. 62 § 48 eliv. 4.°
tit. 38, que o vendedor e não o comprador (como era
de direito commum) é obrigado ao pagamento do lau-
demio; 2." de não haver disposição alguma do direito
brasileiro, que constitua a hypotlieca pelo laudemio.
Se assim entender o tribunal deverá responder-se que
o actual proprietário do terreno aforado, que tem pago
o laudemio da ultima alienação não é responsarei pelos
anteriores não pagos porque devem ser demandados
os vendedores.—
Com este parecer se conformou o conselheiro con-
tador geral; mas o conselheiro inspector geral entende
— que o ultimo comprador é o responsável á fazenda
nacional pelos laudemios não pagos.
Houve Vossa Magestade Imperial por bem mandar
consultar ás secções reunidas de fazenda e justiça do
conselho de estado, e ellas conformando-se com o pa-
recer do conselheiro de estado procurador fiscal do
tribunal do thesouro o apresentão a Vossa Magestade Im-
perial como próprio.
Vossa Magestade Imperial, porém, se dignará resolver
como fôr mais justo.
Rio de Janeiro, em 20 de Novembro de 1849. — Visconde
de Abrantes.—Bernardo Pereira de Vasconcellos .—Cae-
tano Maria Lopes Gama.—José Antônio da Silva Maya.

37
— 450 —
HESOLUÇÃO.

Como parece ( ).
Paço, em 24 de Novembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torras.

N. 213.—CONSULTA DE 26 DE NOVEMBRO DE 1819.


Sobre a pretenção de Luiz João Beau a isenção de direitos de mate-
terias primas.
Senhor.—Luiz João Beau, tendo requerido ao tribunal
do thesouro publico nacional a isenção de direitos de
grande quantidade de matérias primas para uso da sua
fabrica de couros envernisados, sita lia rua de S. Chris-
tovão n.° 77, e sendo indeferido o seu requerimento por
decisão do mesmo tribunal, interpôz recurso para o con-
selho de estado.
A secção de fazenda do mesmo conselho, avista dos
papeis e documentos juntos, e das expressas disposições
do § 1.° do alvará de 28 de Abril de 1809 que se acha em
vigor, e do art. 91 §5.° do regulamento das alfândegas
de 22 de Junho de 1836, entende, que posto fosse o recor-
rente muito exagerado e imprudente na pretenção de im-
portar, livre de direitos, uma exorbitante quantidade de
matérias primas, não é comtudo justo que se lhe recuse
absolutamente o favor e protecção a que tem direito como
fabricante.
Não desconhecendo que as referidas disposições legis-
lativas, além de deficientes para o fim de proteger a in-
dustria do paiz, podem dar lugar, se já não o tem dado, a
muitos abusos e fraudes em damno da renda publica, a
secção está mui longe de querer, que o governo imperial,
sem exame nem escrúpulo, conceda a qualquer fabricante

(1 Decreto n.u 686 de 5 de Dezembro de 1849. Sobre o pagamento


do laudemio das alienações de propriedades foreiras á fazenda na-
cional.
— 451 —
toda a isenção que lhe aprouver solicitar; mas ju|ga, que,
emquanto ulterior medida legislativa não estabelecer
outro methodo de protecção á industria, que mais útil e
econômico seja, não se deve negar ao recorrente a razoá-
vel protecção, que se tem concedido a outros fabricantes.
Pelo que, é a secção de parecer, que desprezando-se o
que ha de demazia no requerimento do mesmo recor-
rente, seja-lhe facultada a importação livre de algumas
matérias primas, e em quantidades razoáveis. .
Cabe entretanto a Vossa Magestade Imperial resolver
como fôr mais justo.
Rio, 26 de Novembro de 1849.—Visconde de Abrantes.—
Bernardo Pereira de Vasconcellos. (*)

N. 214.— RESOLUÇÃO DE 12 DE DEZEMBRO DE 1849.


Sobre as leis provinciaes do Pará e de Pernambuco do anno de 1847.
Senhor.—Por aviso de 11 de Agosto próximo passado,
dignou-se Vossa Magestade Imperial ordenar que a
secção de fazenda do conselho de estado examinasse
as colleceões das leis provinciaes do Pará, e de Pernam-
buco, publicadas no corrente anno de 1847.
Pelo que pertence ás leis provinciaes do Pará, a sec-
ção achou que a lei n.° 137 de 27 de Abril do dito anno,
contém, no seu art. 36, §§ 9.°, 17, 20, 22 e 38, disposições
que parecem contrarias á limitação do § 5.° do art. 10
do acto addicional á constituição, porquanto é mais que
provável, que taes disposições, augmentando (mesmo
com alguma exageração) os impostos sobre a exporta-
ção, sobre a tonelagem das embarcações de commercio
interno, sobre as lojas e armazéns, e sobre barcos do in-
terior, tragão prejuízo ás imposições geraes do Estado
sobre os mesmos objectos.
Ha pouco ainda, em consultas de 24 de Maio deste
anno , (") a respeito da legislação provincial do Pará, a
secção teve a honra de ponderar a Vossa Magestade

(*) Por portaria de 22de Fevereiro de 1850 á alfândega da corte, com-


municou-se a concessão feita a Luiz João Beau, de despacho livre, de
matérias primas, do uso de sua fabrica de couros envernisados.
(**) Vid. a pá?. 222 desle volume.
— l.)i
Imperial o que lhe parecia haver de exorbitante em
vários §§ dojart. 31 da lei n.° 131 do anno passado; e
chamando de novo a attenção do governo imperial sobre
os paragraphos acima indicados da lei do anno corrente,
somente lhe cumpre acrescentar, que a notada exorbi-
tância vai em progresso, visto que já neste anno lem-
brou-se a assembléa paraense de impor sobre a tone-
lagem do commercio interno, quando de tão prejudicial
imposto não se havia lembrado nos annos anteriores.
Quanto ás leis provinciaes de Pernambuco a secção
achou :
1." Que a disposição do § 16 do art. 1.° tit. 3.° da lei
n.° 192 de 12 de Abril deste anno, parece contraria á
regra do art. 12 do acto addicional á constituição ; pois
que, estabelecendo naquelle paragrapho um imposto
assaz pesado sobre o consumo do tabaco, e charutos,
com excepção do fabricado na provincia, a assembléa
de Pernambuco veio realmente a legislar sobre impostos
de importação.
2." Que a disposição dos §§ 12, e 13 do art. 1.° da loi
n.° 196 de 20 de Abril do corrente anno, parece, além
de exorbitante, eminentemente perigosa. Estabelece esta
lei uma—caixa de economia, ou soccorro da provincia—,
e ordena nos citados paragraphos que esba caixa possa
emittir notas de valor de 25#000 á 500#000, pagaveis ao
portador á 15 e 30 dias, e que taes notas sejão recebidas
nas estações provinciaes.
Sem interpor juizo sobre a utilidade desta caixa, ou
sobre o mérito das regras prescriplas na mesma lei
quer para a sua organização, quer para as suas opera-
ções, cujo complexo aliás parece que reúne quasi tudo
que costumão fazer não só os bancos de desconto cir-
culação e depósitos como os bancos hypothecarios, e
os antigos Lombardos, ou Montes de Piedade, e até as
modernas caixas econômicas; e sem mesmo reparar na
immensa difficuldade de dirigir e sustentar um tão
vasto, e complicado estabelecimento de credito onde falta
a pratica das operações bancaes ainda as mais simples,
e onde não ha legislação apropriada para dar-lhe con-
sistência, ou tornal-o" possível; a secção limita-se a
observar, que a circulação monetária dê qualquer pro-
vincia e mormente de uma tão considerável como a de
•Pernambuco não pôde ser alterada sem que abale, per-
turbe e comprometia a fortuna do paiz ; que á vista das
attribuições dadas ás assembléas provinciaes pelo acto
addicional, a nenhuma dellas é licito crear moeda, ou
alterar a lei do pagamento, e debilitar o credito do meio
circulante no Império; e que ao governo imperial cabe
— 453 —
providenciar á tal respeito, preferindo prevenir o mal
que pôde vir de lao exorbitante lei provincial, á neces-
sidade de reparal-o depois com graves sacrifícios do paiz.
Lsto posto e a secção de parecer, que o governo de
Vossa Magestade Imperial, haja de levar quanto antes ao
conhecimento da assembléa geral legislativas as dispo-
sições dos citados paragraphos das referidas leis pro-
vinciaes do Pará e de Pernambuco, para que sei a dada
a providencia que mais conveniente fôr.
Vossa Magestade Imperial, porém, resolverá o aue
tiver por mais útil ao paiz.
Rio de Janeiro, em 10 de Setembro de 1847.—Visconde
de Abrantes .—José Cezario de Miranda Ribeiro —Vis-
conde de Olinda.

RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 42 de Dezembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres-

N. 215.—RESOLUÇÃO DE 12 DE DEZEMBRO DE 1849.

Sobre as leis provinciaes de Minas Geraes do anno de 184".

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado,


em cumprimento do aviso de 20 do corrente mez, exa-
minou a collecção das leis provinciaes de Minas Geraes,
publicadas no presente anno de 1847, e vem submetter á
alta consideração de Vossa Magestade Imperial o resultado
do seu examo.
Entre os 24 actos legislativos que se contém na dita col-
lecção, não achou a secção digno de reparo senão o dis-

(•*) Submettida á consideração da assembléa geral. Aviso de Süe


Janeiro de 1830.
— 454 —
posto no§ 1.° do art. 4.° da lein.°329 de 3 de Abril
deste anno, cujo alcance é manifestamente contrario ao
art. 12do acto addicional á constituição.
Já em consulta de 25 de Maio do corrente anno (*), a res-
peito das leis provinciaes de Minas do anno passado, teve
a secção a honra de ponderar que a disposição do § 19 do
art. 2.° da lei n.° 306 de 8 de Abril de 1846, estabelecia
realmente um imposto de importação debaixo do nome de
taxas proporcionaes de barreiras.
Agora vêa secção que a assembléaMineira, proseguindo
no intento de legislar sobre a importação, não duvidou
sujeitar cada animal que conduzir mercadorias para
dentro da província , a uma taxa (3$920), 8 e 16 vezes
maior do que á que fica sujeita (240 a 480), cada animal
que conduzir gêneros para fora da provincia. Assim
dispõe o citado § 1.° do art. 4." da lei de 3 de Abril deste
anno, onde em verdade estão assentadas algumas das
bases para a organização de uma pauta fiscal e prolec-
tora que se pretende estabelecer nas raias e barreiras da
provincia de Minas: e com effeito a excepção primeira do
mesmo paragrapho favorece o que é produzido e fabrica—
do na provincia, e a excepção «]uarla limita-se a lançar a
moderada taxa de 200 a 400 réis sobre cada animal que
introduzir gêneros de primeira neccessidade, e objectos
que tendão a desenvolver a industria na-provincia.
Persuadida porém a secção de que a nenhuma assem-
bléa provincial deve ser permittido o promover o bem da
própria provincia com offensa da constituição do Império,
e lesão dos interesses das outras provincias; e convencida
além disso de que a mantença da ordem publica, se
não da integridade do Brasil, exige que o governo im-
perial trate sem demora de reprimir os desvios de algu-
mas assembléas legislativas provinciaes; é a mesma
secção de parecer.—Que o governo de Vossa Magestade
Imperial haja de levarão conhecimento da assembléa geral
legislativa, logo que reunida seja,as referidas exorbitantes
disposições das citadas leis da provincia de Minas Ge-
raes, para que as emende, como mais justo e conveniente
fôr.
Mas Vossa Magestade Imperial resolverá entretanto o
que tiver por melhor.
Rio de Janeiro, em 30 de Setembro de 1847.—Visconde
de Abrantes.—Visconde de Olinda.

{<) Vide a pag. 223 deste volume.


— 455 —
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 12 de Dezembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 216.—RESOLUÇÃO DE 12 DE DEZEMBRO DE 1849.


Sobre a representação de diversos fabricantes contra a lei provincial
de Pernambuco que impoz no sabão e tabaco direitos de consumo,
não sendo do fabrico da mesma provincia.
Senhor.—Em cumprimento do aviso de 12 do corrente
mez, a secção de fazenda do conselho de estado passa
a consultar sobre o requerimento de vários negociantes,
e proprietários de fabricas de sabão e tabaco desta Corte,
reclamando contra o disposto nos §§ 16 e 20 do art. 1.°o
tit. 3." da lei provincial de Pernambuco n.° 192 de 12
de Abril deste anno.
Pelos citados paragraphos desta lei, forão estabele-
cidas as taxas ou impostos—de 60 réis por libra de tabaco
fabricado;—de 600 réis por arroba de tabaco em rama;
—de 500 réis por,milheiro de charutos—e de 500 réis por
arroba de sabão , que entrarem para consumo, — não
sendo do fabrico da provincia.
Já em.consulta de 10 de Setembro do corrente anno, (**)
acerca da legislação provincial de Pernambuco, a secção
teve a honra de ponderar a Vossa Magestade Imperial,
que na mesma lei, contra a qual os supplicantes recla-
mâo, disposições havião manifestamente contrarias ao
art. 12 do actò addicional á constituição do Império; por-
quanto, não podendo as assembléas provinciaes legislar
sobre impostos de importação, e estabelecendo a dita
lei varias taxas sobre o consumo de certos gêneros não
fabricados na provincia, não podia haver nem sombra

(*) Submettida á consideração da assembléa geral. Ayiso de S de Ja-


neiro de 4830.
(**) Vide a pag. 431 deste volume.
— 456 —
de duvida, de que, por um lado, não fossem aquellas
taxas verdadeiros impostos de importação, e de que, por
outro lado, não tivesse a assembléa de Pernambuco
exorbitado de suas attribuições constitucionaes.
A' esta razão, que de persi basta para justificar a re-
clamação dos supplicantes, e a necessidade de annullar-
se semelhante lei, póde-se ainda acrescentar que (além
do anachronismo e escândalo que ha de lançar uma
provincia como se fora estado á parle, um imposto qual-
quer sobre a industria e producção das outras provincias)
nenhum dos impostos estabelecidos pela referida lei pôde
ser defendido como fiscal, nem sustentado como pro-
tector.
E a analyse de um, será sufficiente para demonstrar
quanto é exaeta esla proposição a respeito de todos.
O imposto de 500 réis por arroba de sabão importado,
feito o calculo sobre o preço médio corrente de 90 réis
por libra, eqüivale pelo menos ao de 17 % do valor. Ora
um tal imposto, contribuindo para arredar do consumo
grande parle do sabão nacional, e para provocar o con-
trabando do estrangeiro, que assim ficaria sujeito á mais
de 50 % de imposto geral e provincial, não pode de
certo, por exagerado augmentar a renda da província, ou
ser defendido como fiscal. Igualmente se o fabrico do
sabão não pôde ainda medrar em Pernambuco á sombra
da protecção de 30 a 35 °/q da pauta geral das alfân-
degas, que aliás vai aproveitando á outras provincias, e
se isso revela a existência de uma causa maior que obsta
por ora o desenvolvimento dessa industria naquella pro-
vincia, lambem não pôde de certo o mesmo imposto
por insufficiente produzir o effeito desejado, ou ser sus-
tentado como proteclor.
O mesmo se pôde affirmar, com pequenas differenças,
para mais ou para menos, acerca dos outros impostos
sobre o tabaco e charutos.
E com effeito, mal irá o paiz se o systema de pro-
tecção á industria fôr entendido e applicado como o vai
sendo pelas assembléas legislativas de Pernambuco, e
de outras provincias.
Reconhecida porém, como fica a justiça da reclamação
dos supplicantes, contra a citada disposição da lei °de
Pernambuco por ser contraria ao acto addicional, o de
mais inefficaz para o augmento da renda provincial,
opposta aos sãos princípios do systema protector, e por
isso prejudicial ao natural progresso da industria nacio-
nal, resta examinar qual o meio de que se deve servir o
governo imperial para deferir aos supplicantes, e emba-
raçar o mal, que da mesma disposi«;ào podo vir ao paiz.
Tempo houve em que se.pensou que ao governo de
Vossa Magestade Imperial, no intervallo das sessões da
assembléa geral, competia suspender (como de facto sus-
pendeu) a execução daquellas leis provinciaes, que fossem
contrarias á constituição reformada, quer prejudicando
as imposições geraes (art. 10, § 5.° do acto addicional),
quer legislando sobre impostos de importação (art. 12.),
quer offendendo os direitos das outras provincias, ou os
tratados com as nações estrangeiros (art. 16).
Entendeu-se porém, pouco depois, que não era isso '
dado ao governo imperial, em caso nenhum, segundo
a opinião de alguns, e segundo a de outros, somente
em caso de perigar o Estado, assentando-se finalmente
como mais constitucional e prudente, que se deixasse
á assembléa geral a correcção dos desvios das assem-
bléas provinciaes, ou a annullação das leis que ellas
publicassem violando a constituição; e que, quando muito
se exigisse da mesma assembléa geral uma interpre-
tação authenlica ou declaração especial dos casos, e do
modo por que o governo geral, no intervallo das sessões
devesse suspender á execução de certas leis provin-
ciaes.
Neste sentido teve a secção a honra de consultar, ha
tempos á esta parte; mas até hoje nem o governo
imperial nem as câmaras legislativas tem podido oc-
cupar-se deste importante assumpto.
Desta falta, que não deixará de ir compromettendo o
futuro do Império, tem-se aproveitado algumas assem-
bléas provinciaes, como a de Minas Geraes para con-
tinuar (e já a despeito da assembléa geral) a estabe-
lecer taxas sobre a importação, e uma espécie de pauta
prolectora nas raias e barreiras da provincia; como a
de Pernambuco, para ir favorecendo a producção e in-
dustria local com lesão dos interesses das provincias
vizinhas, e até para crear (o que é muito mais grave)
um banco complicadissimo em suas operações, e auto-
rizar a emissão de notas circulaveis, o recebidas como
dinheiro nas estações provinciaes, alterando assim alei
do pagamento; e prejudicando a circulação monetária
do paiz, e como a do Pará, e algumas outras, para não
desistirem do propósito de estabelecer taxas, com pre-
juízo das imposições geraes, sobre lojas, armazéns,
barcos do interior, e mesmo de augmenlar os direitos
detonelagem de certas embarcações de cabotagem; como
tudo consta dos exames feitos pela secção, e das consi-
derações submeltidas em varias consultas á decisão im-
perial .
E posto que o mal, que por ora tem resultado de tão
c, 58
— 4íIS —

irregular procedimento, não seja assustador, todavia á


nenhuma intelligencia pôde escapar, que, se não fôr quanto
antes remediado, elle ganhará em breves annos ta-
manho vulto e extensio, pela immensidade de interesses
iocaes que creará, de idéas falsas, de preconceitos
que propagará, de revalidades e conflictos que produ-
zirá, que eertamente não será tido por visionário quem
houver de enxergar nelle, desde já, um embrião de des-
ordem geral, cujo termo seja talvez o fraccionamento,
se não a dissolução do Império.
A vista das observações precedentes, a secção não po-
dendo deixar de seguir as opiniões já manifestadas em
mais de uma consulta, sobre assumptos de igual, e ainda
de maior transcendência, que o da reclamação dos suppli-
cantes; e cumprindo-lhe esperar pela já lembrada in-
terpretação ou declaração que deve ser solicitada da
assembléa geral, a fim de que o governo imperial tenha,
a respeito dos mesmos assumptos, uma regra certa e
inquestionável; é de parecer.
Que o governo de Vossa Magestade Imperial haja de
levar ao conhecimento da assembléa geral o requeri-
mento dos supplicantes, instando ao mesmo tempo,
para que na futura sessão legislativa se trate da me-
dida necessária, e cada dia mais urgente, para que as
assembléas plovinciaes possão ser prudentemente con-
tidas na orbita de suas attribuições. constitucionaes.
Tal é, Senhor, o resultado do trabalho da secção ; mas
a Vossa Magestade Imperial, que se dignará acolhel-ocom
indulgência, cabe resolver o que mais justo e conve-
niente fôr.
Rio de Janeiro, em 23 de Novembro de 1847. — Vis-
conde de Abrantes.—Visconde de Olinda.

RESOLUÇÃO.

Como parece (*).

Paço, em 12 de Dezembro de 1849.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Joaquim José Rodrigues Torres.

(*) Submettida á consideração da assembléa geral. Aviso de 3 de Ja-


neiro de 1830. >
- 459 —
N. 217. - RESOLUÇÃO DE 12 DE DEZEMBRO DE 1849.
Sobre as leis provinciaes de Sergipe do anno de 1847.

Senhor —A secção de fazenda do conselho de estado,


tendo examinado os vinte e oito actos legislativos que se
cintern na collecção de leis da provincia de Sergipe, pu-
blicadas no corrente anno, achou dignas de reparo, pelo
que toca a repartição da fazenda publica, algumas dispo-
sições da lei n.° 201 de 28 de Julho de 1847.
. Os §§ 4° 5.°, 6.°, 8.°, 21 e33 do Cap. 2.°desta lei, lançando
impostos(e alguns muito pesados) sobre a exportação
de certos productos, e sobre os barcos de cabotagem, ar-
mazéns ou trapiches, lojas ou casas em que se vende pól-
vora, na opinião do relator (como já teve a honra de
exporem consulta de 26 de Maio deste armo a respeito
da collecção das leis de Sergipe, publicadas no passado
anno de 1846) (*) devem prejudicar as imposições geraes
do Estado, contra o que determina o art. 10 § 5.° do acto
addicional. Entende porém o conselheiro de estado Paula
Souza que taes impostos, embora prejudiciaes, cabem na
alçada das assembléas legislativas das provincias; as
quaes a não poderem lançar taxas na exportação em quasi
nada o poderião fazer.
A secção julga contraria ao que determina o art. 12 do
mesmo acto, a disposição do § 13 do cit. capitulo da lei,
pelo qual se estabelece sem disfarce algum um imposto
de importação.)
Finalmente no conceito da secção, não pôde entrar na
alçada da assembléa provincial a disposição dos f§ 17 e
18 do referido capitulo da lei, na parte em que lanção um
imposto sobre os ordenados dos empregados geraes.
E sendo necessário que alguma providencia se dê para
reprimir estes desvios da assembléa de Sergipe, mormen-
te quando parece que elles tem por fim augmentar a re-
ceita provincial, para poder ser applicada como o foi no
tit. 9.° da lei em questão a pretexto —de soccorros públi-
cos—; é a secção de parecer:
Que o governo de Vossa Magestade Imperial, haja de
levar a lei de que se trata ao conhecimento daassembléa
geral legislativa, para que resolva, acerca das disposições
indicadas, o que tiver por mais conveniente,
Rio de Janeiro, em 18 de Dezembro de 1847. — Visconde
de Abrantes.—Francisco de Paula Souza e Mello.

(*) Vide a pay. -V2í deste volume.


— 460 —
RESOLUÇÃO.

Corno parece (*)•


Paço, em 12 de Dezembro de 1849.
Coma rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaqui>n José Rodrigues Torres.

N. 218.—RESOLUÇÃO DE 12 DE DEZEMBRO DE 1849.

Sobre a lepresentaçãodos negociantes da praça do Maranhão relativa


a alguns impostos que a assembléa provincial lançou nos gêneros
de producção de outras provincias.

Senhor.—\ secção de fazenda do conselho de estado


tem a honra de dar seu parecer sobre uma represen-
tação dos negociantes da praça do Maranhão, relativo a
alguns impostos que a assembléa provincial lançou sobre
gêneros de producção de outras provincias.
Tendo-se estabelecido em 1840 o imposto de 15 %
sobre os couros de producção òa província, em substitui-
ção do dizimo do gado voecum e cavallar, pela lei do orça-
mento do anno passado, foi o mesmo imposto ampliado a
todos sem distineção de origem, vindo deste modo a re-
cahir sobre os da producção das outras provincias. Tam-
bém pela mesma lei provincial foi cruado o imposto de
160 réis por arroba de assucar introduzido das outras
provincias.
Não foi presente á secção a lei a que se refere a repre-
sentação, e nem ainda se acha na secretaria de estado a
collecção respectiva, como consta da informação da
mesma secretaria de 10 do mez findo ; sendo para reparar
que então longo intervallo, como o que decorre de 24 de
Agosto do anno passado, em que ella foi publicada, como
se vê da informação da collectoria do Maranhão de 8 de
Outubro do mesmo anno, ainda não tenha o governo
imperial noticia oíficial de suas disposições.

C) Siibineltida ao conhecimento da assembléa jçeral. Aviso de 3 de


Janeiro de íWi.
- 461 —
Entretanto, avista da referida informação da collectoria
nao pode a secção duvidar da verdade da exposição.
A simples enunciação daquelles impostos mostra que
elles recahem sobre a importação, e que offendem os
direitos das outras províncias ; estando por isso a lei no
caso de outras que tem sido revogadas pela assembléa
geral.
E' pois a secção de parecer que, verificada a existên-
cia da lei, seja levada ao conhecimento da assembléa geral
para resolver como julgar em sua sabedoria.
Vossa Magestade Imperial, resolverá como melhor pa-
recer.
Rio de Janeiro, em 21 de Março de 1848.— Visconde de
Olinda.—Francisco de Paula Souza e Mello.— Visconde
de A brantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece(•)•
Paço, em 12 de Dezembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 219.-RESOLUÇÃO DE 12 DE DEZEMBRO DE 1849.


Sobre as leis provinciaes do Ceará do anno de 1848.
Senhor.— A secção dos negócios da fazenda do con-
selho dé eslado vem apresentar seu parecer sobre as
leis provinciaes do Ceará promulgadas no anno de 1848.
Cingindo-se a secção ao exame das leis meramente
financeiras, limitar-se-ha a mui breves observações sobre
a de n.° 34 de 31 de Agosto do dito anno, que orçou a
receita e fixou a despeza da dita provincia. Julga a secção
que o direito de 5 •/<> de exportação para fora do Império
imposto sobre todos os gêneros produzidos na provincia,
§ 1.° do art. 4.°; e 2 1/2 7» sobre os gêneros que se ex-

ri Submettida á consideração da assembléa geral. Aviso de3 de Ja-


neiro de l'"wO.
— 462 —

portarem para outras provincias, § 23 do dito art.; não


podem deixar de merecer mui particular attenção do
governo imperial: 1.° porque estes tem a funesta ten-
dência de isolar os Brasileiros como se fossem estran-
geiros ; 2.° porque uns e outros não se concilião com
a lei fundamental do Império, a qual recusando ás as-
sembléas provinciaes legislar sobre impostos de impor-
tação, por isso que podião offender os interesses de outras
províncias, seria contradictoria autorizando-as a lançar
impostos de exportação, visto que igualmente podem pesar
sobre outras provincias.
Considera porém a secção contrários á letra e espirito
do acto addicional os §| 6.", 9.° e 19 que estabelecendo
direitos de importação violarão expressamente o dito
acto addicional. e que portanto devem taes disposições
ser suspensas até definitiva resolução do poder legislativo
geral.
E' este o parecer da secção, que Vossa Magestade Im-
perial se dignará resolver 'como íõr conveniente e justo.
Rio de Janeiro, em 8 de Outubro de 1849.— Bernardo
Pereira de Vasconcellos. — Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Seja romeltido á assembléa geral. (')


Paço, em 12 de Dezembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 2>0.-RESOLUÇÃO DE 15 DE DEZEMBRO DE 1849.

Sobre as leis provinciaes de Santa Calharina do anno de 18W.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado


examinou, como lhe foi ordenado, a collecção dos actos
legislativos daassembléa provincial de Santa Calharina,

H Siibrnettida a consideração «Ia assembli-a tcral. AVÍMJ de .'» «le


Janeiro <!<• !S.jo.
— 463 —

promulgados no corrente anno de 1849; e no que per-


tence á repartição da fazenda não encontrou na mesma
collecção artigo algum, que possa ser considerado como
exorbitante das attribuições da referida assembléa, ou
contrario á constituição do Império, e ao acto addi-
cional.
Vossa Magestade Imperial se dignará porém resolver
o que mais conveniente fôr.
Rio, 27 de Outubro de 1849.—Visconde de Abrantes.—
Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, em 15 de Dezembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres. .

N. 221.—RESOLUÇÃO DE 45 DE DEZEMBRO DE 1849.

Sobre o officio do procurador fiscal da thesouraria de Sergipe em


que consulta se deve exigir siza nas adjudicações á fazenda na-
cional.

Senhor.—O procurador fiscal da thesouraria da provín-


cia de Sergipe, em officio de 12 de Fevereiro deste anno,
solicita ser esclarecido pelo tribunal do thesouro publico
sobre a duvida em que se acha de exigir o pagamento da
siza nas adjudicações de bens de raiz á fazenda publica,
nlle°-ando 'o não encontrar nas leis, citadas pelas ins-
trucções do 1.° de Setembro de 1836, disposição alguma,
nue resolva a mesma duvida, e o não ter á mão, para
consultar, o capitulo 11 § 3.° do regimento das sizas,
lambem citado nas ditas instrucções.
Ouvidos os membros do referido tribunal, o conse-
lheiro fiscal, produzindo o texto do citado § 3.° do ca-
riitulo H do dito regimento, foi de opinião, que nao devia
opr exibido o pagamento da siza, por ser a adjudicação
uma verdadeira compra, e ser toda a compra ou es-
cambo de bens a favor da fazenda nacional isenta
daquelle imposto.
Discrepando desta opinião o conselheiro inspector
geral, deu o voto seguinte —O paragrapho citado não
comprehendeu as adjudicações, e com razão; porque
de não haver nellas siza resultaria prejuízo á fazenda,
o que se não dá nas compras e escanibos, porque o
vendedor, ou permutante não tendo de pagar a metade
que lhe tocaria da siza, a bale-a no preço, e o Estado
nada despende com a arrecadação delia,"ou não a perde
se andar conlractado esse imposto.
Não acontece o mesmo com as adjudicações : nellas
não ha liberdade para se estabelecer pelo debate entre
o vendedor e comprador o verdadeiro preço. O Estado
é forçado a receber os bens pela avaliação ; que nas
execuções por parte da fazenda é ordinariamente exces-
siva , e hoje com tanto escândalo (e sem remédio)
que tem subido algumas vezes ao triplo, e maior seria
o prejuízo se o executado não pagasse a metade que
lhe loca da siza.
Entendo portanto que as adjudicações á fazenda entrão
na regra geral das feitas a particulares, com a diffe-
rença, que a fazenda não precisa effectuar o pagamento
da siza; e basta que a metade que pertence ao exe-
cutado se desconte no preço da avaliação.
Ainda nisto ha favor ao executado, e perda para a fa-
zenda ( independente das avaliações exageradas) pois
se os bens fossem arrematados, ella seria embolsada
da divida, e receberia a siza por inteiro do arrematante
e executado.
Em ultima analyse a siza sabe dos bens, ainda que
metade ou toda seja paga pelo comprador ; e em rigor,
nas adjudicações, deveria descontar-se toda do valor
dos bens, más a lei a manda dividir pelo exequente, e
executado na razão de metade.
A secção de fazenda do conselho de estado, a quem
Vossa Magestade Imperial se dignou consultar, tendo por
sólidas as razões allegadas pelo referido conselheiro
inspector geral, é de parecer, que a duvida seja resol-
vida alarma ti vãmente, declarando-se applicavel ás adju-
dicações de que se trata a legislação em vigor.
Vossa Magestade Imperial porém resolverá o que fôr
mais justo.
Rio, 27 deNovembro de 1849.— Visconde de A brantes. —
Bernardo Pereira de Vasconcellos,
~ 463 —
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 15 de Dezembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 222.—RESOLUÇÃO DE 15 DE DEZEMBRO DE 1849.


Sobre as leis provinciaes de Sergipe do anno de 1849.

Senhor.—A secção de fazenda do conselho de estado


lendo examinado a collecção dos actos legislativos da
assembléa provincial de Sergipe, promulgados no corrente
anno, entende que varias disposições da lei n.° 258 de
10 de Maio são exorbitantes das attribuições conferidas
ás assembléas provinciaes pelo acto addicional á consti-
tuição do Império.
Porquanto os §§ 2.°, 3.% 7.° e 23 do art. 2.» cap. 2.° da
citada lei, estabelecendo direitos de 10 e 20% sobre os
gêneros de exportação, de 6#400 sobre os barcos de
cabotagem, de 3#000 sobre milheiro de charutos impor-

(*) DECRETO N. 663.—DE 24 DE DEZEMBRO DE 1849.


Declarando que das adjudicações de bens de raiz á fazenda nacional
se deve siza.
Conformando-me com o parecer da secção dos negócios da fa-
zenda do conselho de estado; Hei por bem declarar que das adju-
dicações de bens de raiz á fazenda nacional, nas execuções por
parte delia promovidas contra os seus devedores, se deve a siza;
sendo metade paga pelo executado, e ficando outra metade por conta
da mesma fazenda nacional. Joaquim José Rodrigues Torres, do
meu conselho, senador do império, ministro e secretario de es-
tado dos negócios da fazenda, presidente do tribunal do thesouro
publico nacional, assim o tenha entendido e faça executar. Palácio
do Rio de Janeiro, em vinte e quatro de Dezembro de mil oitocentos.
quarenta e nove, vigésimo oitavo da Independência e do Império.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Bodriques Torres.
59
— 4G6 —

lados, e de 80 réis sobre cada volume que embarcar e


desembarcar na alfândega e consulado, evidentemente,
ou prejudicão ás imposições geraes contra o que dispõe
o | 5.° do art. 10 do acto addicional, ou legislão sobre
impostos de importação contra a expressa determinação
do art. 12 do mesmo acto.
A'vista do que, é a secção de parecer, que o governo
imperial, além de levar a referida lei ao conhecimento
da assembléa geral legislativa, como se tem praticado
em casos idênticos, haja de providenciar, pela sua parte,
iara que das indicadas disposições exorbitantes da mesma
fei, não venha maior damno a provincia de Sergipe em
particular, e ao Império em geral.
Vossa Magestade, porém, resolverá o que mais justo, e
conveniente fôr.
Rio, 28 de Novembro de 1849.— Visconde de Abrantes.—
Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Seja remettida á assembléa geral. (*)


Paço, em 15 de Dezembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 223.—RESOLUÇÃO DE 45 DE DEZEMBRO DE 1849.


Sobre o recurso do conde de S. Simão e outros relativo ao troco de
notas do extincio banco do Brasil.
Senhor— Pela segunda vez (**) o conde de S. Simão, e
Leopoldo Augusto da Câmara Lima recorrem para o con-
selho de estado de outra decisão do thesouro publico,

(*) Submettida á consideração da assembléa geral. Aviso de » de


Janeiro de 1350.
volume! de consuUan,
°m sobre
° raesmo
assumpto a pag. 413 deste
— 467 —

indeferindo-lhes a pretenção de trocarem certa porção


de notas, na caixa de amortização, por effeito do art. 5t
da lei de 28 de Outubro do anno próximo passado. •
A secção de fazenda do mesmo conselho, que deixou
de conhecer do primeiro recurso, por haver sido inter-
posto fora de tempo, e por desistência das partes, vai
agora entrar no exame da nova decisão que deu causa
a este segundo recurso.
Indeferindo aos recorrentes, o tribunal do thesouro
fundou-se na declaração, feita pelos empregados da cafca
da amortização, encarregados da substituição das notas,
de que —as apresentadas pelos mesmos recorrentes, não
erão do extincto Banco do Brasil, e sim das emittidas
depois pela commissão liquidadora do mesmo banco,
ou da classe daquellas, que em virtude dos prazos, e
descontos, estabelecidos pela lei de 6 de Outubro de 4835,
já se achavão, ha muito, prescriptas, ou sem valor al-
gum—.
E como por expressa declaração do citado art. 51 da
referida lei de 28 de Outubro, se devesse mandar substi-
tuir notas do extincto banco, que estivessem em gyro
antes da sua extineção, entendeu aquelle tribunal, que
excederia a alçada de mero executor, se permittisse a
substituição de outras notas, que não as expressamente
indicadas no sobredito artigo.
De accordo com a intelligencia dada pelo tribunal do
thesouro não só á letra, que é assaz clara, mas lambem
ao espirito do mencionado artigo da lei, por ser absurdo
admittir-se que disposição alguma legislativa possa ser
mais prolectora do interesse particular, que do interesse>
geral, ou possa autorizar uma flagrante injustiça rela-
tiva, qual a que seria feita, se tivesse lugar a substituição
de que se trata, á tantos outros indivíduos, cujas notas
não forão substituídas, ou ficarão sem valor; a secção*
é de parecer, que seja indeferido o presente recurso ~
E como se deprehenda deste mesmo recurso, e de
outros factos já verificados, que se vai introduzindo no*
tribunal do thesouro a pratica de requerer-se segunda-
e terceira vez, sem aliás offerecer-se razão alguma nova,,
o mesmo negocio que da primeira vez tem sido inde-
ferido ; pratica que, além de desrespeitosa, produz o-
grave inconveniente de oecupar a attenção dos membros*
do tribunal, e do governo, sem utilidade alguma; a sec-
ção pede venia a Vossa Magestade Imperial para não>
dissimular, nesta occasião, a necessidade de atalhar-se
em tempo, o mal que necessariamente resultará do pro-
gresso que pode ter esta espécie de chicana adminis-
trativa.
— 468 -

Mas Vossa Magestade Imperial resolverá, n'um, e ifoutro


caso, o que em sua alta sabedoria, tiver por mais justo
e conveniente.
Rio, 3 de Dezembro de 1849.— Visconde de Abrantes. —
Bernardo Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece (*).


Paço, cm 15 de Dezembro de 4849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 224.—RESOLUÇÃO DE 45 DE DEZEMBRO DE 1849.

Sobre a pretenção da caixa commercial da cidade da Bahia de


approvação de seus estatutos.'

Senhor.—A secção dos negócios da fazenda do con-


selho de. estado vem interpor seu parecer sobre o re-
querimento em que a caixa commercial da cidade da
Bahia pede a approvação dos seus estatutos.
E sendo examinados os ditos estatutos com a attenção
que a importância da matéria aconselhava, não encontrou
nelles razões suffiçientes para que não merecessem a
imperial approvação.
Seu único objecto é descontar letras, bilhetes da al-
fândega e quaesquer outros títulos do governo nagaveis
a prazos fixos, e emprestar dinheiro sobre penhores de
prata, ouro, jóias e apólices da divida publica, e taes
actos poderia praticar a associação sobredita indepen-
dentemente de licença do governo, a não ser anonyma
e pretender a irresponsabilidade dos accionistas, além da
importância de suas acções. Parece portanto á secção
que podem ser approvados os estatutos, visto que por

{*) Submettida à consideração da assembléa geral. Aviso de 12 de


Junho de 1880.
— 469 —
este estabelecimento se facilitará a circulação de muitos
pequenos capitães, que não acharião emprego lucrativo
e seguro como o que promette a caixa commercial.
Não obsta á pedida approvação não haver declaração
do tempo pelo qual deve durar a sociedade, nem do seu
fundo social porque são amoviveis os seus fundos, sendo
por isso impossívelfixar-seum capital, bem como o tempo
da sua duração.
Todavia a secção julga que no fim de 20 annos devem
ser de novo examinados os estatutos e approvados sê
convier.
E' este o parecer da secção, mas Vossa Magestade Im-
perial resolverão que entender mais acertado.
Rio de Janeiro, em 4 de Dezembro de 1849.—Bernardo
Pereira de Vasconcellos.—Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, em 45 de Dezembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador:
Joaquim José Rodrigues Torres.

N. 225.—RESOLUÇÃO DE 15 DE DEZEMBRO DE 1848.


Sobre o recurso de Jeronymo Pinheiro de Carvalho conlra a lotação,
da aguardente .vendida na sua laverna.

Senhor.—A secção dos negócios da fazenda do con-


selho de estado vem apresentar seu parecer, como lhe
foi por Vossa Magestade Imperial ordenado, sobre o re-
curso que Jeronymo Pinheiro de Carvalho com taverna
na rua do Mercado interpôz do despacho do tribunal
do thesouro, que lhe não attendeu a reclamação feita
contra a lotação da aguardente vendida na sua taverna.
Allega o recorrente que vendendo apenas annualmenle

(*) Decreto n.° 664 de 18 de Janeiro de 1850. Approva os estatutos


da caixa commercial da cidade da Bahia, e marca-lhes o prazo de sua
duração.
— 470 —

26 pipas de aguardente foi a sua taverna lotada em 40,


e obrigado assim a pagar um imposto superior ao que
realmente deve. Consta porém da informação da rece-
bedoria que a lotação accusada não é excessiva, porque
se teve attenção no calculo a localidade e capacidade
da mesma taverna, e a sabida no trapiche da Ordem nos
Ires últimos annos, cujo termo médio passa de 38 pipas.
Accresce que em casas como a do recorrente situadas
nas praias se vende aguardente que não passa pelo dito
trapiche, e se passa leva destino differente do despacho
que se faz.
O recorrente insiste em que se não apresentou a sua
reclamação até fins de Junho do corrente anno, foi
porque o consulado lhe não deu a precisa certidão se-
não a 2 de Julho; mas este facto não está plenamente
provado, nem o de que lhe não fora notificado o lança-
mento, como tudo se collige da leitura dos documentos
com que foi instituído este recurso.
Para evitar a usada negação de que não foi intimado
o lançamento de tal ou tal imposto, parece á secção
que muito convirá estabelecer a regra de que laes noti-
ficações sejão assigriadas pelos contribuintes a quem
fôr feito o lançamento, ou por duas testemunhas, quando
elle se não preste á assignatura, ou se occulte para
que lhe não seja feita. Entretanto a secção julga que
deve sèr desattendido o recurso; mas Vossa Magestade
Imperial resolverá o que entender mais acertado.
Rio de Janeiro, em 7 de Dezembro de 1849.—Bernardo
Pereira de Vasconcellos.—Visconde de Abrantes.
RESOLUÇÃO. ,

Como parece.
Paço, em 45 de Dezembro de 1849.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.
ÍNDICE CHR0N0L0G1C0

DAS OOXSULTAS E RESOLUÇÕES CONTIDAS


NO PRESENTE VOLUME.

Anno de 1 8 4 5 .

PACS.
N. 48. -Em 9 de Julho de 18í5. — Sobre a representação da
contadoria geral de revisão a respeito da execução do
decreto n.a 3i6 de Maio antecedente.. 7
N. 49. -Em 10 de Setembro de 1843. — Sobre apprehensões
feitas pelos vigias da alfândega da Corte de uma porção
de ouro em pó como extraviada aos direitos 9
N. 50. -Em o l.o de Outubro de 1845.— Sobre as multas im-
postas na alfândega de Sergipe a J. A. D. Botheman,
commandante e dono do bergantim hamburguez Eliza. 14
N. 51. -Em 24 de Outubro de 1845. — Sobre o não cumpri-
mento no thesouro de uma precatória do juizo de
orphãos, requisitando a entrega de certa quantia por
conta do empréstimo do respectivo cofre 18
N. 32. -Em 31 de Outubro de 1845.— Sobre o modo de cobrar
os juros das letras a favor da fazenda, ajuizadas 19
N. 53.- -Em 14 de Novembro de 1845.—Sobre as leis da pro-
vincia do Piauhy promulgadas no anno de 1844 21
N. Si.- -Em 14 de Novembro de 1845. — Sobre o regulamento
para a impressão das leis, decretos, e t c , na typographia
nacional 22
N. 55.^ -Em 14 de Novembro de 1845.— Sobre o regulamento
para as caixas de depósitos públicos 25
N. 56. -Em 5 de Dezembro de 1845.— Sobre a creação de uma
alfândega na villa de Antopina 27
N. 57. -Em 10 de Dezembro de 1845. — Sobre as leis provin-
ciaes do Espirito Santo de 1842 e 1843, e Alagoas e
Bahia de 1843 28
N. 58. -Em 10 de Dezembro de 1845.— Sobre as leis provin-
ciaes do Maranhão de 1845 30
K. 59. -Em 10 de Dezembro de 1845.— Sobre as leis provin-
ciaes de Pernambuco, promulgadas em 1844 31
2*. 60. -Em 10 de Dezembro a «le 1845. — Sobre o recurso de
Carlos Coleman & C. reclamando contra o pagamento
de direitos que se lhes exigira na razão de 50% 33
Anno de 1S 46.

N. 61.—Em 3 de Janeiro de 1846.—Sobre a lei provincial das


Alagoas de 8 de Abril de 1843, na parte em que impôz
nos titulos já sujeitos ao imposto de novos e velhos
direitos de receita geral 39
N. 62 —Em 3 de Janeiro d« 1846.—Sobre a indemnização de
uma porção de pólvora extraviada dos armazéns da al-
fândega pelos rebeldes em 1837 e reclamada por Sa-
muel Phillips <k C a , como procuradores J. F. Vogeier
& C , negociantes da praça da Bahia 41
N. 63. —Em 3 de Janeiro de 1846.—Sobre duvidas suscitadas
pelo juiz municipal de Valença e Vassouras, com refe-
rencia ao regulamento de 9 de Maio de 1842 44
N. 64,,—Em 3 de Janeiro de 1846.—Sobre diversas leis da as-
sembléa provincial do Pará, creando impostos de im-
portação e de exportação 4'
N. 63,,—Em 3 de Janeiro de 1846.—Sobre as leis provinciaes
de S. Paulo e Santa Catharina dos annos de 1844 e 1845,
e de Goyaz de 1843 e 1844 52
N. 66 .—Em 24 de Janeiro de 1846.-Sobre o recurso de An-
tônio José da Rocha Pereira á restituição do imposto de
ancoragem 84
N. 67 .—Em 24 de Janeiro de 1846. —Sobre as leis provinciaes
de Minas Geraes dos annos de 1844 el845 55
N. 68. —Em 9 de Maio de 1846.—Sobre a pretenção de José da
Cunha Coutinho e outros á indemnização das sacas de al-
godão gastas nas trincheiras da capital das Alagoas, na
rebellião de 1844 56
N. 69,.—Em 9 de Maio de 1846.—Sobre aa pretenção dos negocian-
tes inglezes Miller Le Coq & C. de annuir a fazenda na.
cional a concordata que lhes concederão seus credores. 58
N. 70 .—Em 13 de Maio de 1846.— Sobre o despacho de moeda
nacional— patacões brasileiros— da corte para os portos
do norte do Império em navio estrangeiro 62
N. 71..—Em 13 de Maio de 1846. — Sobre a lei provincial de
Sergipe n.° 146 de 18 de Março de 1845, que decretou
impostos de importação 65
N. 72 .—Em 13 de Maio de 1846.—Sobre as leis provinciaes da
Parahyba do anno de 1845 07
N. 73 .—Em 13 de Maio de 1846.—Sobre o requerimento de
Schroder & C.a pedindo modificação do art. 2.° do re-
gulamento de 20 de Junho de 1844 69
N. 74.—Em 20 de Maio de 1846.— Sobre a representação de José
Fernandes de Oliveira Penna, contra o pagamento dos
direitos de entrada decretados pela assembléa provin-
cial de Minas Geraes 70
N. 75.,—Em 20 de Maio «le 1846.— Sobre o modo de proceder-se
no caso de adjudicação de bens á fazenda para seu
pagamento 74
N. 76 .—Em 20 de Maio de 1846. — Sobre o recurso «ío agente
ria companhia de seguros marítimos da decisão do tri-
bunal do tliesouro, que obrigou ao sello as letras
passadas pelos prêmios de seus seguros 78
N. 77 .—Em 20 de Maio de 1846.—Sobre as leis provinciaes
do Maranhão do anno de 1843 81
N. 78 .—Em 27 de Maio de 1846.—Sobre o recurso do proprie-
tário do trapiche do Cleto, relativamente á isenção do
foro, do terreno de marinhas oecupado pelo mesmo
trapiche , 83
- 3 —
PACS,

N. 79. -Em 30 de Maio de 1846.— Sobre a extensão da lei n.a242?


de 29 de.Novembro de 1841, do juizo dos feitos da
fazenda ás causas da fazenda provincial i $%
N. 80. -Em 10 de Junho de 1846.—Sobre o recurso deDamazo
Antônio Marques, se a taxa municipal de40 réis no
consumo da aguardente comprebende os districtos de
fora da cidade do Rio de Janeiro 92
N. 81. -Bm 16 de Junho de 1846.— Sobre as leis provinciaes
de Piauhy do anno de 1845 93
N. 82..—Em 16 de Junho de 1846.— Sobre as leis provinciaes
das Alagoas do anno de 1845 1*5
N. 83. -Em 16 «le Junho de 1846.— Sobre o officio do presidente
da Bahia, relativo ao pagamenlo do laudemio exigido
pela venda dos prédios rústicos e urbanos em terrenos
aforados 96
N. 84. -Em 16 de Junho de 1846.—Sobre a representação da
contadoria geral de revisão do thesouro publico na-
cional, a respeito do desconto do montepio de marinha. 99
N. 85. -Em 8 de Julho de 1846.—Sobre a necessidade de mo-
dificar-se o regulamento de 9 de Maio de 1842, na parte
em que trata das correições , 100
N. 86. -Em 16 de Julho de 1846.—Sobre o projecto de regula-
mento para a administração dos terrenos diamantinos. 102
N. 87. -Em 22 de Julho de 1846. —Sobre o regulamento para
os vencimentos dos empregados de fazenda, nos casos
de substituição 102
N. 88.—Em o 1.» de Agosto a
de 1846.—Sobre a reclamação de
Plowes Law & C. contra a venda para consumo de
gêneros de sua conta, existentes na alfândega do Rio
ae Janeiro 105
Ti. 89.—Em 12 de Agosto de 1846.— Sobre as leis provinciaes
de Pernambuco, promulgadas na sessão extraordinária
do anno de 1846 108
N. 90.—Em 14 de Agosto de 1846.—Sobre apprehensão de ouro
feita a diversos, julgada pelo provedor da casa da moeda. 109
N. 9i.—Em 14 de Agosto de 1846.— Sobre as leis provinciaes de
Santa Catharina do anno de 1846 111
N. 92.—Em 14 Agosto de 1846.—Sobre as leis provinciaes do
Ceará do anno del845 114
N. 93.—Em 24 de Agosto de 1846.— Sobre as leis provinciaes do
Rio Grande de Norte do anno de 1845 116
N. 94.—Em 12 de Setembro de 1846. —Sobre o recurso de
Francisco Manoel de Carvalho da decisão do ministério
da fazenda acerca do preço da avaliação do páo brasil
de seu coutracto com o governo 116
N. 95.—Em 12 de Setembro de 1846.—Sobre a reclamação do
visconde de S. Leopoldo á indemnização pela perda
dos officios de juiz e sellador das alfândegas do Rio
Grande do Sul e Porto-Alegre 118
N 96.—Em 12 de Setembro de 1846.—Sobre a pretenção da
praça do commercio do Rio Grande do Sul á concessão
de um prédio, próprio nacional, na cidade do Rio r
G rande • • 420
N. 97.—Em 12 de Setembro de 1846.— Sobre o recurso de Joa-
quim Maria Serra acerca da suspensão que soffrêra por
effeito de pronuncia em crime de responsabilidade I2t
N 98.—Em 19 de Setembro de 1846.— Sobre a pretenção de
José Antônio Lopes Ferreira & C.» para que cesse o
conílicto de jurisdicção, em uma questão de aforamento
de marinhas « 122,
— 4 -

N. 99.—Em 23 de Setembro de 1846.— Sobre as tarifas das


alfândegas dos Estados-Unidos e do reino das Duas
Sieilias 124
N. 100.—Em 4 de Novembro de 1846.— Sobre o regulamento de
11 de Fevereiro de 1846, expedido pelo presidente da
provincia do Maranhão, para a percepção de impostos
provinciaes 126
N. 101.—Em 7 de Novembro de 1846.—Sobre a conveniência de
se diminuírem os direitos de importação era alguns gê-
neros de producção dos Estados-Unidos 127
N. 102..—Em 11 de Novembro de 1846 —Sobre as leis provin-
ciaes das Alagoas do anno de 1846 130
N. 103..—Em 14 de Novembro de 1846.— Sobre a execução da lei
n.' 401 de 11 de Setembro deste anno, art. l.°, que
determina o valor das moedas de ouro e de prata 131
N. 104 .—Em 21 de Novembro de 1846.—Sobre as mullas im-
postas ao commandante e dono do bergantim Eliza.... 138
N. 105 .—Em 12 de Novembro de 1846.— Sobre o projecto de
regulamento para a cobrança do imposto dos caixcMios
estrangeiros, estabelecido no art. 12 da lei de 2 de
Setembro de 1846 142
N. 106..—Em 30 de Novembro de 1846.—Sobre o projecto de
regulamento para a arrecadação do imposto de meio
porcento na importação dos diamantes 148
N. 107 .—Em 30 de Dezembro de 1846.—Sobre a possibilidade
de se fazer extensiva a todas as rendas de lançamento
a cobrança de multas, fora dos prazos para pagamento
das mesmas rendas 161

Anno de 1849.

N. 108.—Em 21 de Janeiro de 1847.—Sobre o projecto de re-


gulamento para as caixas de depósitos públicos .. 169
T. 109.—Em 30 de Janeiro de 1847.—Sobre a isenção de direitos
de matérias primas e maneira de conccdel-as ás fa-
bricas 172
N. 110.—Em 30 de Janeiro de 1847.—Sobre o projecto de re-
gulamento para as barcas de vigia das alfândegas «Io
Império igo
N. 111.—Em 3 de Fevereiro de 1847.— Sobre alei provincial do
Pará n.<> 132 de 28 de Maio de 1846, que crêa um im-
posto especial aos estangeiros 193
N. 112.—Em 17 de Fevereiro de 1847 .—Sobre as leis provin-
ciaes do Piauhy do anno de 1846 jgfj
N. 113.—Em 24 de Fevereiro de 1847.— Sobre a duvida—se as
licenças aos officiaes inferiores e soldados da guarda
nacional estão sujeitas á taxa de lgooo de sello 199
N. 114.—Em 24 de Fevereiro de 1847.— Sobre a pretenção de
D. Delíina Maria de Souza Reis, á percepção do meio
soldo 200
N. 115.—Em 6 de Março de 1847.—Sobre a distribuição do pro-
ducto do contrabando apprehendido pelo brigue de
guerra nacional Fere-Fogo nas águas <ío Maranhão... 203
N. 116.—Em 13 de Abril de 1847.—Sobre as leis provinciaes
de Goyaz, do anno de 1846 2«06
N. 117.—Em 13 de Abril de 1847.—Sobre as leis provinciaes do
Rio Grande do Sul, do anno de 1846 206
N. 118—Em 16 de Abril de 1847.—Sobre a exigência do juiz
PAGS.

de direito do crime desta corte, de examinar os livros


do lliesouro publico nacional, para esclarecimento do
processo de responsabilidade de um ex-empregado do
mesmo lhesouro , 207
N. 119.—Em 13 de Maio de 1847.—Sobre as leis provinciaes do
Espirito Santo, do anno de 1846 212
N. 120.—Ein 15 de Maio de 1847.— Sobre as leis provinciaes da
Parahyba, do auno de 1846 213
N. 121.—Em 19 de Maio de 1847.—Sobre a venda dos bens do
vinculo de Itambé, instituído por André Vidal de Ne-
greiros 213
N. 122.—Em 28 de Maio de 1847.—Sobre o meio official de se
verificar se as quantias emitlidas pelo banco com-
mercial da Bahia são as que permittem os seus esta-
tutos 215
N. 123. -Em 5 de Junho de 1847.—Sobre as leis provinciaes do
Pará, do anno de 1846 222
N. 124. -Em 5 de Juniio de 1847. —Sobre as leis provinciaes de
Minas Geraes, do anno de 1846 223-
N. 125. -Em 3 de Junho de 1847.—Sobre as leis provinciaes de
Sergipe, do anno de 1846 224
N. 126. -Em 5 de Junho de 1847.— Sobre a duvida suscitada
acerca do direito que tem ao meio soldo as filhas dos
militares que se casão depois da morte de seus pais.. 226
N. 127. -Em 11 de Setembro de 1847.— Sobre as leis provinciaes
de S. Paulo e de Santa Calharina do anno de 1847.. 228
N. 128..—Em 30 de Outubro de 1847.—Sobre as leis provinciaes
do Rio Grande do Norte do anno de 1846 229
N. 129..—Em 6 de Novembro de 1847.— Sobre a apprehensão no
porto de Pernambuco, de algumas barcaças com ma-
deiras de construcçâo naval £30
N. 130.—Em 13 de Novembro de 1847.— Sobre o recurso de
Joaquim José dos Santos Júnior da decisão do the-
souro confirmando o acto do provedor da casa da
moeda, que exigiu 4 % de indemnização pela fundição
do ouro 239
N. 131.—Em 28 de Novembro de 1847. —Sobre—se o recurso
interposto para o conselho do estado, suspende o ef-
feito das decisões das thesourarias e do thesouro..... 243
N. 132.—Ein 28 de Novembro de 1847.—Sobre o-recurso d e F .
J. da Costa Brito & C." da decisão que sujeitou á im-
osto os armazéns de sua propriedade, que servem de
N.
S eposi tos
133.—Em 28 de Novembro de 1847.—Sobre o recurso de
247
Lane Brothers consignatarios da barca ingleza Britania,
acerca da apprehensão de uma porção de diamantes
excluídos do manifesto 248
N. 134 .—Em 28 de Novembro de 1847.—Sobre a condemnação
da barca baleeira Sarah Estlier, ancorada em porto não
franqueado ao commercio estrangeiro 251
N. 133..—Em 4 de Dezembro de 1847.—Sobre a representação
da câmara municipal da cidade Diamantina contra a
execução da lei n.° 374 de 24 de Abril de 1845 e res-
pectivo regulamento 254
N. 136..—Em 22 de Dezembro de 1847„— Sobre o recurso de A.
E. de Magalhães Pusso, fiador de um ex-collector da
denegação de moratória para pagamento de alcance.. 260
N. 137,.—Em 22 de Dezembro de 1847.—Sobre o tempo de du-
ração da responsabilidade dos thesoureiros pela re-
messa, (ICUOP^IS iaulüisiulas, 262
—o —
PA cs

N. 13S.— En 25 do Dezembro de 1817. —Sobre a preienção de


1). l)oini;igas Maria, ao meio soldo de seu filho, oíficial
d > exer. ito, reformado cm virtude da lei de 20 de Se-
tembro de 1838 265

Anno de 1848.

N. 139.-Em 8 de Janeiro de 1848. — Sobre a pretenção de


D. Maria de Cássia Pinto de Souza Carvalho ao meio
soldo de seu pai, que lhe foi negado, por se achar
casada ao tempo do fallecimcnto de sua mãi 273
N. 140.—Em 7 de Fevereiro de 1848.— Sobre a pretenção de An-
tônio José Machado á isenção da décima da herança
i[ue coube a sua mulher, filha natural, por morte de
sua mãi 274
>*. 141.—Em 2.» de Fevereiro de 1848.—Sobre a pretenção de
Joaquim Bueno Pitaluga á indemnização que se lhe
exige de uma letra sacada pela thesouraria de Goyaz,
de cuja importância não foi debitada a mesma repar-
tição 276
N. 142.—Em 23 de Março de 1848.—Sobre a conveniência da
conversão da alfândega de S. José do Norte em
simples mesa de rendas ou collectoria 278
K. 143, -Em 6 de Abril de 1848.— Sobre as leis provinciaes do
Rio Grande do Sul, do anno de 1847 280
N . 144 -Em 8 de Julho de 1848.— Sobre a apprehensão do brigue
Sociedade Feliz 281
If. l i o -Em 8 de Julho de 1848.—Sobre o projecto de regula-
mento para as alfândegas do império 282
N. lti6 -Em 26 de Julho del848.— Sobre o recurso de D. Rosa
Antonia da Soledade Ferreira contra c> aforamento das
marinhas feito ao arrendatário de um terreno de sua
propriedade, fronteiro ás mesmas marinhas 300
N. 147. -Em 27 de Setembro de 1848.—Sobre a pretenção de
Francisco José da Rosa ao pagamento do ágio de uma
quantia entrada nos cofres públicos 305
N. 148 -Em 14 de Outubro de 1848. — Sobre o recurso de
D. Maria José Leal da Nobrega da decisão do thesouro
que lhe negou accumular o meio soldo, á pensão pos-
teriormente concedida 306
N. 149. -Em 14 de Outubro de 1848— Sobre a substituição de
notas do governo 308
N. 150 -Em 18 de Outubro de 1848.—Sobre a representação da
assembléa provincial do Rio Grande do Sul acerca da
execução da lei de 11 de Setembro e decreto de 28 de
Novembro de 1846, que regulão o curso da moeda me-
tallica 310
N. 131.—Em 18 de Outubro de 1848.—Sobre a circulação da
moeda de prata 318
N. 132.—Em 18 de Outubro de 1848.— Sobre o curso das moedas
de prata de 600, 300,150 e 75 réis 323
N. 153.—Em 18 de Outubro del848.— Sobre o recurso de Pedro
Peixoto de Araújo do despacho do lliesouro, que negou
cumprimento á rogatória do juizo do eivei, expedida
para pagamento de uma divida arrecadada durante a
demanda 324
IN", tòi —Km 2-i de Outubro de 1848.— Sobre o recurso de José
Pereira Leal da decisão do thesouro, que obrigou á
PAGS.

si*.% os b i m com q'ie se ficou, c que estavão adjudi-


cados á dividas, que remiu, do seu casal 326
N. 155.—Em 28 de Outubro de 1848.—Sobre a representação do
juizo de orphãos da còrté contra u ordem do thesouro,

N.
a ue mandou deduzir porcentagem somente do liquido
os bens de defuntos e ausentes
153.—Em 4 de Novembro de 1848.—Sobre a preienção de
328
Ângelo Francisco Carneiro ao pagamento , á que foi
con.iemnada a fazenda nacional, de uma quantia, rou-
bada dos cofres da mesa de rendas de Pernambuco... 330
N. 157.—Em 4 de Novembro d«í 1848.—Sobre o officio do pre-
sidente de S. Paulo, acerca de duvidas suscitadas na •
arrecadação do sello dos quinhões hereditários 332
N. 158.—Em 4 de Novembro de 1848.— Sobre as leis provinciaes
de Sergipe, do anno de 1848 334
N. 159.—Em 4 de Novembro de 1848.—Sobre as leis provinciaes
do Ceará de 1847 '.. 336
N 160.—Em 4 de Novembro de 1848.— Sobre as leis provinciaes
do Piauhy de 1847 337
N. 161.—Em 4 de Novembro de 1848.—Sobre o época, em que
deve começar a ter execução a lei do orçamento n.° 514
de 28 de Outubro de 1848, na parte em que crèa novos
impostos 338
N. 162.—Em 4 de Novembro de 1848.—Sobre a preienção do
brigadeiro Joaquim Antônio de Alencastre, de não
prestar contas da quantia recebida para pagamento de
tropas, por lhe terem sido tomados os documentos e
parte dessa quantia, pelo inimigo, no ataque da fron-
teira de Missões 341
N. 163—Em 4 de Novembro de 1848.—Sobre o recurso de Au-
tonio Joaquim Ferreira Júnior, da decisão que lhe
negou o reconhecimento da avaria em um despacho de
vinho, considerado em máo estado 343
N. 164 .—Em 6 de Novembro de 1848.—Sobre o relatório.da „;>.
presidência, e áperca das leis provinciaes do Espirito
Santo, do anno de 1847 345
N. 165. —Em 18 de Novembro de 1848. —Sobre o recurso, cfce
Joaquim José dos Santos Júnior contra a apprehensão
de uma porção de ouro em pó 346
N. 166. —Em 29 de Novembro de 1818.—Sobre as leis provin-
ciaes do Pará, dos annos de 1847 e 1848 331
N. 1(57. - S n 29 de Xivembro deH48.— Sobre o officio do pre-
sidente de Pernambuco, a respeito do aforamento de ,.r
terrenos de marinhas a empregados da thesouraria da
mesma provincia 352
N. 163.—Em 2i de Novembro de 1848.—Sobre a reclamação de :.
Tobin «St llersfall, ao pagamento da pólvora depositada
nos armazéns da alfândega da Bahia e consumida du-
rante o rebellião de 1837 354
N. 169.—Em 16 de Dezembro de 1848.—Sobre duvidas susci-
tadas na arrecadação do imposto do sello '.. 337
N. 170.—Em 16 de Dezembro de 1848.—Sobre a duvida susci-
tada pela thesouraria do Espirito Santo na cobrança do
imposto da siza, na troca de bens existentes no Império
por outros situados no estrangeiro '.. 360
N. 171.—Em 16 de Dezembro de 1848.— Sobre as leis provin-
ciaes da Parahyba do anno de 184S 361
—s—
Anno de 1849.
P»r.s
N. 172.—Em 3 de Janeiro de 1859.—Sobre a incorporação de
sociedades anonymas 365
N. 173.—Em 40 de Janeiro de 1849.— Sobre a representação
dos amanuenses, e praticantes da secretaria de fazenda,
contra a nomeação de pessoa estranha para o lugar
de oíficial da mesma secretaria 373
N. 174.—Em 10 de Janeiro de 1849.—Sobre o officio do iuspe-
ctor da alfândega da corte a respeito dos objetos com-
prchendidos sob a denominação de roupa feiia e obras
de marceueria 376
N. 173.- -Em 13 de Janeiro de 1849.—Sobre a representação do
banco commercial desta praça relativa ao sello dos
vales do mesmo banco 378
N. 176. -Em 13 de Janeiro de 1849.—Sobre o aviso do minis-
tério dos estrangeiros acena da intelligecia do decreto
do 1.» de Outubro de 1847, que estabeleceu direitos
differenciaes 381
N. 177. -Em 31 de Janeiro de 1843.— Sobre a pretenção de Joa-
quim Diogo Ilartley de ser dispensado de dar liador
pelo empréstimo que lhe foi coucedido 384
N. 178. -Ein 31 «le Janeiro de 1849.— Sobre á lei provincial de
S. Paulo, que lança uni imposto aos caixeiros estran-
geiros. Leis de Santa Calharina do anno de 1848 385
N. 179. -Em 10 de Fevereiro de 1849.—Sobre o recurso de
José Ferreira Alves contra a prohibição que lhe foi
imposta de entrar na alíanlega da c«5rte 386
N. 180. -Em 7 de Março de 1849.—Sobre o recurso de João da
Rocha Santos da apprehensão de mercadorias em mul-
tas em embarcações de sua consignação 388
N. 181. -Em 17 de Março de 1849.— Sobre as leis provinciaes
de S. Paulo do anno de 1848 393
N. 182. -Em 17 de Março de 1849.— Sobre a pretenção de D. Leo-
poldina Carolina Cony á concessão do meio soldo, como •
iilha natural do brigadeiro Jacques Augusto C o n y . . . 394
N. 183.—Em 17 de Março de 1849.—Sobre as leis provinciaes
das Alagoas, do anno de 1848 393
N. 184. -Em 14 de Abril de 1849.— Sobre as leis provinciaes do
Piauhy, do anno de 1848 396
N. 185. -Em 14 de Abril de 1849.— Sobre as leis provinciaes do
Espirito Santo do anno de 1848 396
N. 183. -Ern 44 de Abril de 1349. —Sobre o officio do juiz mu-
nicipal de S. João de El-Rei, se são sujeilos ao sello
os créditos que se ajuizão para serem declarados nullos. 397
N. 187.—Em 14 de Abril de 1849.—Sobre o recurso de Antônio
José Pereira de Mello da restituição dos direitos «le
consumo de uns couros que reexportarão do Rio Grande
para esta cidade 398
N. 188.—Em 11 de Abril de 1819.—Sobre o officio do inspector
da thesouraria de Minas a respeito dos arrendamentos
de bens de raiz a longos prazos para subtracçãó 0 1
da siza *
N. 189.—Em 14 de Abril de 1849. —Sobre o aviso do ministério
da fazenda, acerca da substituição de notas, na caixa /,ü
de amortização *
N. 190.—Em 5 de Maio de 1849.—Sobre as leis provinciaes das r _00
Alagoas do anuo de 1848 -*
N. 191.—Em 5 de Maio de 1819.— Sobre o recurso do capitão
do brigue americano Vinlage. da appreheusão feila a
— 9—
PAGS,

bordo de objectos subtrahidos a direitos de expor-


tação 406
N. 192.- -Em 5 de Maio de 1849.—Sobre a pretenção dos parti-
dores do juizo de orphãos de serem isentos do imposto
sobre escriptorios 408
N. 193. -Em 5 de Maio de 1849.—Sobre o recurso de Manoel
de Oliveira Coelho, guarda da alfândega, da decisão
que julgou improcedente a apprehensão do bote de um
navio mercante 409
N. 194. -Em 5 de Maio 1849.—Sobre as leis prvinciaes do Ma-
ranhão do anno de 1847 410
N. 195. -Em 19 de Maio de 1849.— Sobre a pretenção dos es-
crivães e oflleiaes de justiça do juizo dos feitos da
fazenda não éspeciaes, a percepção de vencimentos,
pelos cofres públicos 410
N. 196.—Em 5 de Julho de 1849.—Sobre a representação «Io
inspector da alfândega da corte para que se faça effectiva
a pena pecuniária do art. 203 do regulamento de 22 de
Junho de 1836 412
N. 197.—Em 14 de Julho de 1849.—Sobre a preienção do conde
de S. Simão, e outro á substituição de notas do ex-
tincto banco do Brasil 4.13
N. 198.—Em 18 de Julho de 1849.—Sobre o aviso do ministério
da justiça o respeito da exigência do sello proporcio-
nal nas remoções dos juizes de direito 414
A. 199.—Em 26 de Julho de 1849.— Sobre a moeda que deva ser-
vir de padrão se o ouro ou a praia e questões annexas. 415
N. 200.—Em 14 de Setembro de 1849.—Sobre as leis provin-
ciaes de Minas Geraes do anno de 1848 419
N. 201.—Em 14 de Setembro de 1849.—Sobre as leis provin-
ciaes do Rio de Janeiro do anno de 1848 422
N. 202.—Em 14 de Setembro de 1849.—Sobre as leis provin-
ciaes de S. Paulo do anno de 1848.: 423
N. 203.— Em 6 de Outubro de 1849.— Sobre a pretenção do ge-
rente da companhia brasileira de paquetes á isenção
de direitos de matérias primas 424
N- 204.— Em 6 de Outubro de 1849.— Sobre o recurso de D. Ma-
rianna de Seixas Souto-Maior do despacho que lhe
negou o meio soldo de seu pai, por se ler casado ainda
em vida de sua mãi 425
N. 203.—Em 6 de Outubro de 1849.—Sobre o recurso de João
Gomes Ferreira, ex-contractador das capatazias da al-
fândega da corte contra o methodo seguido de proce-
der-se ao inventario e balanço das mercadorias 427
N. 206.—Em 12 de Outubro de 1849.—Sobre as leis provinciaes
do Pará do anno de 1848 427
N. 207.—Em 12 de Outubro de 1849.—Sobre as leis provinciaes
das Alagoas do anno de 1849 428
N. 208—Em 24 de Outubro de 1849.— Sobre o officio do inspe.
ctor da thesouraria da Bajiia de ter a relação do
districto mandado soltar um collector preso adminis-
tratrativamente por alcance 429
N. 209.—Em 27 de Outubro del849.—Sobre o recurso de Diogo
Calvo âi Filhos, consignatarios do patacho Edelina, da
multa por differença de gêneros descarregados 432
N. 210.—Em 7 de Novembro de 1849.— Sobre o projecto de uma
bolsa nesta capital 433
N. 211.—Em 10 de Novembro de 1849.—Sobre o recurso de Diogo
Calvo «St Filhos c Claussen, capitão da galera Skiold
da decisão do thesouro relativa a apprehensão de uma
porção de carne secca , 439
—m —
PA os.
N. 212.—Em 24 dte NOvembrO de 1849. —Sobre o oflieio da the-
' . . . souraria do Rio Grande do Norte a respeito do laude-
mio das alienações de terrenos foreiros á fazenda
nacioual 448
* • 213. -Em 26 de Novembro de 1849.— Sobre a pretenção de
Luiz João Beau a isenção de direitos de matérias primas. 450
N. 214..—Em 12 de Dezembro de 1849.— Sobre as leis provin-
ciaes do Pará e Pernambuco do anno de 1847 451
N. 215. -Em 12 de Dezembro de 1849.— Sobre as leis provin-
ciaes de Minas Geraes do anno de 1847 t 452
N. 216. -Em 12 de Dezembro de 1849.—Sobre a representação
de diversos fabricantes contra a lei provincial de Per-
nambuco, que impôz no sabão e tabaco, direitos de con-
sumo, não sendo do fabrico da mesma provincia 434
N. 217. -Em 12 de Dezembro de 1849.—Sobre as leis provin-
ciaes de Sergipe do anno de 1847 459
N. 218. -Em 12 de Dezembro de 1849.—Sobre a representação
dos negociantes da praça do Maranhão relativa a al-
guns impostos que a assembléa provincial lançou nos
gêneros de producção de outras provincias 460
N. 219. -Em 12 de Dezembro de 1849.—Sobre as leis provin-
ciaes do Ceará do anno de 1848 461
Kí 220. Em 15 de Dezembro de 1849.—Sobre as leis prvin-
ciaes de Santa Catharina do anno de 1849 462
N. 221. -Em 15 de Dezembro de 1849.— Sobre o officio do pro-
curador fiscal da thesouraria de Sergipe em que con-
sulta se deve exigir sua nas adjudicações á fazenda
nacional 4(53
N. 222. -Em 15 de Dezembro de 1849.—Sobre as leis provin-
ciaes de Sergipe do anno de 1849 465
N. 223.. -Em 15 de Dezembro de 1849.—Sobre o recurso do
cpnde de S. Simão e outros, relativo ao troco denotas
do extincto Banco do Brasil 466
N. 224. -Em 15 de Dezembro de 1849.— Sobre a pretenção da
caixa commercial da cidade da Bahia de approvação
de seus estatutos 468
N. 225. -Em 13 de Dezembro de 1849.—Sobre o recurso de
Jeronymo Pinheiro de Carvalho contra a lotação da
aguardente vendida na sua taverna 496
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