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CONSULTAS
DA

SEOÇA.O I ) A JUSTIÇA
DO

CONSELHO DE ESTADO

.842 A 1846.

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IMPER1ÀES RESOLUÇÕES
TOMADAS

SOBRE CONSULTAS DA SECÇÃO DE JUSTIÇA


DO

CONSELHO DE ESTADO
DESDE

0 AMO EM QUE COMEÇOU A FUNCCIONAR 0 MESMO CONSELHO


COLLIGIDAS EM VIRTUDE DE OKDEM DO EXM. SR.

CONSELHEIRO DIOGO VELHO CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE


Ex-Ministro e Secretario de Estado dos Kegoeios da Justiça o actuatacnte Ministro do Estrangeiros

POR

jflteüarintno íBra-jüúrisc fjksaoa òe Jíklto


i.L olfioial da Secretaria de Estado dos Nogoeios da Justiça e Diroctor em
commissão da Casa de Corrocção da Corte.

V O L U M E I

DE 1342 A 1846

yrx\

RIO DE JANEIRO
T Y P O G R A P H I A NACIONAL
'.;.'• V\ á| /.• *' ••
\V:>X $ ! " ,/VÍ- -' ' ll.LM. li EXM. Sli.

O antecessor de V. Ex., o Ex.m. Sr. Conselheiro Diogo


Velho Cavalcanti de Albuquerque, dignou-se em Agosto
do anno passado de encarregar-me de colligir as Consultas
da Secção de Justiça do Conselho de Estado.
Querendo corresponder a essa prova espontânea de apre-
ço e consideração, encetei logo o meu trabalho, e, apezar de
ter lutado com muitas difflculdades, por isso que algumas
Consultas se achavam dispersas e outras em parte dilacera-
.das, pude reunir as dos annos de 1842 á 1846.
Pareceu-me de utilidade fazer a respeito dellas annota-
ções contendo as disposições, que posteriormente se deram.
Organizei dous Índices, um chronologico e outro alpha-
betico, para fácil procura dos variados assumptos das mes-
mas Consultas.
Estou disposto a continuar no desempenho do encargo,
com que fui honrado pelo Governo ; e para isto, além de
meus fracos recursos, empregarei todo o zelo e dedicação,
com que tenho servido ao Estado durante a minha carreira
publica, de quasi trinta annos.
Deus Guarde á V Ex.—Rio de Janeiro, 13 de Junho
de 1877 — Illm. Exm. Sr Conselheiro Dr. Francisco
Januário da Gama Cerqueira, Ministro e Secretario de
Estado dos Negócios da Justiça.

$f!dlfMimm<} i§m^iiiená-6 iPmo-a cL mdlc.


CONSULTAS

DA

SECÇÃO DE JUSTIÇA DO CONSELHO DE ESTADO

_842,

C o í í s u l t a d e V d e M a r ç o .de l ® ^ ã ^ .

Solweo projecto de regulamento para a execução da parte civil da


Lei n. ° 261 de 3 de Dezembro de 1841.

Senhor.—Por Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios


da Justiça datado de 2 do corrente mez, Houve Vossa Mages-
tade Imperial por bem Mandar examinar pela Secção dos
Negócios da Justiça do Conselho de Estado o incluso pro-
jecto de regulamento, para a execução da parte civil da
Lei n.° 261 de 3 de Dezembro do anno próximo passado :
em cumprimento do que, havendo a mesma Secção se reunido
em sessão sob a presidência do Ministro e Secretario de
Estado dos Negócios da Justiça, e sendo o dito projecto
de regulamento relatado pelo Conselheiro Honorio Hermeto
Carneiro Leão, precedendo discussão, foi a Secção de parecer
que era elle digno de ser adoptado sem alteração alguma,
porque contendo as disposições necessárias para a boa
execução da Lei sobredita n,. 261, estava em harmonia e
seguia o mesmo systema do outro regulamento já adoptado
8

para a execução daquella Lei na parte policial e criminal:


e com quanto pareça á Secção conveniente desenvolver-se
o modo pratico com que os Juizes do Direito hão de exercer
a jurisdicção de Provedores de comarca, que a Lei de novo
lhes conferiu, com tudo julgou que sendo urgente a publi-
cação do regulamento submettido ao seu exame, para que
a Lei a que diz respeito tenha a prompta execução, que o
interesse publico exige ; conviria antes que esse desenvolvi-
mento fizesse o objecto de um outro regulamento, do que
demorar-se a publicação do que lhe era submettido, que
aliás lhe parece suíficiente.
Este é o parecer da Secção de Justiça do Conselho de
Estado, a qual submissamente o leva á presença de Vossa
Magestade Imperial, para que. se digne Resolver, o que
Julgar conveniente.
Secretariado Estado dos Negócios da Justiça em sessão
da Secção de Justiça do Conselho de Estado aos 7 de Março
de 1842.— Honorio Hermeto Carneiro Leão.— Bispo de Ane-
muria.— Caetano Maria Lopes Gama. (*)

Consulta tle IO de Abril cie 18-^2*.


Sobre o projecto de regulamento para o corpo Municipal
Permanente.

Senhor. —Mandou Vossa Magestade Imperial por Aviso


de 31 do mez próximo passado, expedido pela Secretaria de
Estado dos Negócios da Justiça, que reunidas as Secções de
Justiça e Guerra do Conselho de Estado, tendo em vista o
art. 3. § 13 da Lei n. u 243 de 30 de Novembro de 1841.,
consultassem com o seu parecer sobre o incluso projecto
de regulamento para o corpo Municipal Permanente.

O Expediu-se o Regulamento n.-143 de 15 de Marco de 1842 Vide


a collecção de leis desse anno.
A citada Lei de 3 de Dezembro foi alterada não só na parle civiL
como na criminal pela de n. ° 2033 de 20 de Setembro de 1871.
—9—

Reunidos os membros das ditas Secções, sob a Presidência


do Exm. Ministro e Secretario de Estado da mencionada
Repartição, Paulino José Soares de Souza, não compare-
cendo por estar fora da cidade o Conselheiro de Estado
José Carlos Pereira de Almeida Torres, e examinando o
referido projecto entraram no conhecimento de que fora
este feito em virtude da lei acima citada, que autoriza o
governo para preenchei* o numero respectivo da Guarda
Municipal Permanente, na falta de voluntários, com praças
escolhidas do exercito, as quaes ahi devem completar o seu
tempo de serviço; autorizando-o igualmente para fazer,
dentro do prazo de um anno, na organização da mesma
Guarda Municipal, e nas penas de disciplina, as alterações
convenientes, que serão submettidas á Assembléa Geral para
sua definitiva approvação, sendo logo postas em execução,
com tanto que a despeza não exceda a votada na lei.
Reconheceram as Secções, que o Regulamento de que
trata o projecto divide suas disposições em quatro partes,
ou capítulos, a saber:
O capitulo primeiro, comprehende — Disposições ge-
raes.— Põe em harmonia os princípios da instituição do
corpo, indicados no Decreto de 22 de Outubro de 1831 com
os indispensáveis preceitos da disciplina, economia, e ad-
ministração militar, fazendo comtudo as modificações con-
venientes, a fim de apartar a idéa, que é repugnante á maior
parte da população do Rrazil de que a Guarda Municipal é
propriamente de l.a linha do exercito, e como tal sujeita
ao rigor das leis militares; idéa que uma vez admittida,
inutilizaria o pensamento de ter-se um corpo composto
de homens voluntários e da inteira confiança do go-
verno.
O capitulo segundo, trata —Dos crimes e penas. —Esta-
belece as penas proporcionadamente aos delidos, em har-
monia com a legislação vigente, e em relação às circumstan-
cias peculiares do corpo; determinando, porém, que no caso
excepcional de desobediência do subdito ao superior oppon-
do-se-lhe com arma ou ameaço, seja o réo punido pelas
leis militares em vigor; tendo-se em consideração a gravi-
c. J. 2
- 10 -

dade deste crime, e a conveniência de um castigo exemplar,


quando infelizmente se commetta.
O capitulo terceiro trata do —Processo.—Estabelece
um Conselho peremptório para julgar os indivíduos que
estiverem ausentes, sem comtudo completarem os prazos
determinados para poderem ser qualificados desertores; á
imitação dos Conselhos de Disciplina, creados no exercito
pela Ordenança de 9 de Abril de 1805.
Institue um Conselho Criminal para julgar em l. a ins-
tância os crimes maiores, a semelhança dos Conselhos de
Guerra, estabelecidos para o exercito pelas Leis militares;
determinando, que o Conselho Supremo Militar de Justiça
julgue em ultima instância estes processos. E dá as conve-
nientes providencias sobre a formação da culpa, fórmula
do processo, interrogatórios e inquirição de testemunhas,
funeções de Auditor e membros dos Conselhos, e obrigações
do Commandante Geral do Corpo.
O capitulo quarto trata do—Conselho Administrativo e
econômico do Corpo.— Estabelece este Conselho á imitação
do de Administração Regimental, creado nos corpos do
exercito pelo Alvará de 12 de Março de 1810; marcando as
convenientes regras sobre a arrecadação, administração,
íiscalisação, e economia das quantias destinadas para far-
damento, sustento, e curativo das praças de pret nacionaes
do corpo, bem como, para a manutenção, ferragem e cura-
tivo dos cavallos.
Annexas ao Regulamento se acham cinco tabellas :
A 1.% marca a organização e força do corpo, á imitação
do exercito e segundo os preceitos militares.
A 2.*, mostra o vencimento e cavalgaduras correspon-
dentes a cada praça.
A 3.1, indica o armamento e correame, e o tempo de sua
duração.
A 4.\ designa as peças de equipamento e arreios.
E a 3.", estabelece os utensis que se devem fornecer ao
corpo.
Julgando as Secções regular o projecto em questão, e
que desempenhando este os fins a que é destinado, não
—11 —

excederá a despeza dos objectos de que trata á quantia de


duzentos trinta e nove contos duzentos oitenta cinco mil
e seiscentos réis, consignada para a Guarda Municipal Per-
manente da Corte pela Lei acima mencionada; são de
parecer, que o mesmo projecto está no caso de merecer a
approvação de Vossa Magestade Imperial.
Rio de Janeiro. Paço em 19 de Abril de 1842.-— Bispo
de Anemuria. — Torres.— Lopes Gama.—Carneiro Leão.—.
Lima e Silva. (*)

Consulta d e S> d e S e t e m b r o de IS-SS.


Sobre duvidas no processo e julgamento dos embargos oppostos á
um Acórdão da Relação da Corte, proferidos nos autos de appel-
lação entre D. Francisca Norberta e seus'íilhos e D. Maria Gualberta
Xavier de Lima.

Senhor. — Mandou Vossa Magestade Imperial por Aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, de 18 de
Abril do presente anno, que esta Secção do Conselho de
Estado consultasse com o seu parecer sobre a matéria do
officio junto por cópia do Conselheiro Presidente da Rela-
ção desta Corte, e parecer annexo do Conselheiro de Estado
Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda Nacional (**)Con-

(*) Expediu-se o Regulamento n." 191 do 1.° de Julho de 1842.


Vide a respectiva Collecçao de Leis.
• Este Regulamento foi revogado pelo Decreto n.' 2081 de 16 de
Janeiro de 1858 em virtude do § 5.° do art. 16 da Lei n.° 939 de
26 de Setembro de 1857.
Mais tarde o Decreto n.* 3598 de 27 de Janeiro de 1866 reorga-
nizou a força policial da Corte, dividindo-a em dous corpos, um
militar e outro civil, denominado Guarda Urbana, á qual o Decreto
n.° 3609 de 17 de Fevereiro de 1866 deu regulamento.
E finalmente os Decretos n. os 5424 e 5425 de 2 de Outubro de
1873 augmentaram os vencimentos dos referidos corpos.
(") O officio e parecer acima alludidos são do teor seguinte :
111 m. Exm. Sr. Nos autos de appellaçâo entre partes, D. Francisca
Norberta e seus filhos, appellada D. Maria Gualberta Xavier de Lima,
se proferiu Acórdão nesta Relação confirmando a sentença appellada.
Oppôz-se a appellante com primeiros e segundos embargos de resti-
tuição, que foram desprezados; e interpondo o recurso de revista,
foi-íhe concedida por injustiça notória dos Acórdãos, que despreza-
ram in limine a matéria de uns e outros embargos, que recebida re.
levaria; designando-se para revisora do processo a Relação do Ma.
— 12 —

formando-se a maioria dos membros desta Secção com o re-


ferido parecer, ella o submette á Alta Consideração de

rantaão, que limitou-se a receber os últimos embargos, por serem de


restituição, e conterem matéria, que depende de ventilação, na
fôrma do Decreto de 17 de Fevereiro de 1838, art. 2. °
Apresentados estes autos, mandei na conformidade do art. 5. do
mesmo Decreto entregar ao Juiz relator do Acórdão recorrido, o
qual depois de contrariados os ditos embargos, e preenchidos os de-
mais termos necessários apresentou-os parafinai julgamento aos seus
adjuntos. Estes, porém, duvidam proferir sobre elles qualquer juizo
pelas seguintes razões : ter cessado a sua juridicçâo com o Acórdão
de que se recorreu : não deverem como Juizes de segunda Instância
praticar actos próprios da primeira, quaes vem a ser os posteriores
ao recebimento dos embargos, e conducentes para sua final decisão :
hesitarem se os devem julgar a final, ou renietter depois de prepara-
dos á RelaçãoSrevisora, á visia dos arts. 2.°e 5.° do sobredito De-
creto, que nãodeclaram qual o destino, que se lhes deva dar neste caso:
e, finalmente, não se considerarem Juizes competentes, por não ter
sido o feito novamente distribuído.
Nesteestado de duvida eu tenho a honra de apresentar a V. Ex. a
fim de fazer subir ao conhecimento de Sua Magestade o Imperador os
seguintes quisitos :
Qual das Relações deve processar e julgar a final os embargos rece-
bidos no Juizo de revista :
No caso de ser aquella de que se recorreu, se devem distribuir-se
novamente os embargos, ou se pertencem ao Juiz relator do Acórdão
recorrido :
Por esta occasião cumpre-me também submetter á consideração, e
decisão de V^ Ex. a seguinte duvida :
Se a Relação na fôrma da antiga Legislação, e pratica, deve proces-
sar e julgar a final os embargos, que ella receber, por conterem ma-
téria, que provada releve, tanto os oppostos aos3 seus Acórdãos, como
os offerecidos d sentença definitiva do Juiz dal. Instância e por este
desprezados in iimine; ouse os deve, depois de recebidos, remetter
ao mesmo Juizo inferior, para os processar e julgar. Bem como se são
admissiveis os artigos de nova razão, e se tem lugar o seu processo na
Relação que os admitte; como antigamente se praticava : por quanto
é de opinião a maior parte dos Desembargadores, que pela moderna
Legislação e Regulamento de 3 de Janeiro de 1833 tem caducado uma
e outra°pratica, por se haverem extinguido as certezas, e por se con-
siderarem meramente Juizes da segunda Instância, destinados so-
mente a emendar os julgados da primeira e nao a processal-os. —Deus
Guarde á V. Ex.— Rio de Janeiro, 28 de Setembro 1841.
Illm. Exm. Sr. Paulino Jozé Soares do Souza, Ministro e Secretario
de Estado dos Negócios da Justiça. — Manoel Pinto Ribeiro Pereira
de Sampaio, Presidente.
Entendo que nos casos não expressos na Disposição Provisória, no
Regulamento das Relações, e nos Decretos e Instrucções do Governo,
a respeito do expediente destasj e em todos aquelles casos, em que
senão der opposição as disposiçoes^e declarações da dita Disposição
Provisória, dos Decretos e lnstrucçoes referidas, ainda subsiste a an-
terior legislação, por que se regulavam as antigas Relações relativa-
mente á maneira de processar e julgar os feitos, que a ellas subiam
por via de appellação: nesta intelligencia, meditando attentamente
sobre o que dispôz o Decreto de 17 de Fevereiro de 1838, não acho ca-
— 13 -

Vqssa Magestade Imperial como sendo o que lhe cumpre


dar por meio desta Consulta.
Paço, 9 de Setembro de 1842. — Lopes Gama. — Bispo de
Anemuria.— Carneiro Leão.

bimento ás duvidas occorridas; e parece-me se deverá responder aos


quesitos do Presidente da Relação desta cidade :
1.° Que no caso de haver julgado a Relação Revisora, que injustiça
se praticara em se não terem recebido na Relação, de que se recor-
rera, uns embargos, que provados relevariam, limitando a sua deci-
são a reconhecer e remediar essa mesma injustiça, na conformidade
do art. 2.° do sobredito Decreto de 17 de Fevereiro de 1838, devem vol-
tar os autos á Relação recorrida, para ahi se seguirem os termos na
conformidade da emenda da injustiça, segundo a disposição do art.
5.° do mesmo Decreto; isto é, para nella se receberem os" embargos
e seguirem os mais termos do processo destes, e da sua final decisão,
da maneira que anteriormente devera ter praticado, se com justiça
tivesse procedido.
2.° Que neste caso e para o fim do recebimento, processo e julga-
mento dos embargos, de que na Relação recorrida se vai tomar con-
hecimento em virtude da decisão da Relação Revisora, se deverá pro-
ceder a uma nova distribuição, por ser isto de accórdo com o disposto
no art. 58 do Regulamento das Relações, e Aviso de 19 de Abril
de 1838.
3.° Que a Relação na fôrma da antiga Legislação, e pratica, deverá
processar e julgar definitivamente os embargos", que forem oppostos
ás suas sentenças no transito da chanceliaria, como os oppostos á
execução, que lhes forem remettidos por tal motivo,-nos termos da
Ord. L.°3.° T. 87. §§ 12 e 14; feita a nova distribuição, conforme o
citado Aviso de 19 de Abril de 1838: deixando, porém", de observar a
disposição da Ord. L.° 3.° T. 68 pr. que, no caso ahi especificado, a
autorizava para conhecer e julgar em uma só Instância, por se lhe op-
pôr o art. 18 da Disposição Provisória.
4.° Que ainda sao admissíveis os artigos de nova razão nas cau-
sas de appellação eivei, porque não ha disposição legislativa, que
os tenha prohibido.
Nao pôde ter lugar no caso do 1. ° quesito a remessa dos autora Re-
lação Revisora para o julgamento dos embargos, que mandara rece-
ber, e processar, segundo opinam alguns Desembargadores, porque; —
1.°. a Relação Revisora deixou de ter jurisdicçao, e de ser competente
a respeito de taes autos desde que, em decisão da Revista, satisfez ao
fim para que foi designada pelo Tribunal Supremo de Justiça, deter-
minando a emenda da injustiça ; 2.°, não se conhece em Revista se-
não de sentenças definitivas proferidas em uliima Instância, como é
expresso no art. 6.° da Lei de 18 de Setembro de 1828 e no art. 6 do
Decreto do 20 de Dezembro de 1830; e no caso dos embargos, de que se
trata, se fossem assim remettidos, não haveria ainda a sentença de-
finitiva de ultima Instância, de que se conhecesse.
A' respeito do 4.° quesito, posto que me pareça ter ainda lugar le-
gal a admissão dos artigos de nova razão, julgo mais seguro a este
respeito consultar a Assemblea Geral Legislativa e pedir-lhe a decla-
ração: e quando o Governo decida a favor da mesma admissão, será
preciso que regule o processo, pois que a esse respeito foi omisso o
Regulamento. — Rio de Janeiro em 18 de Outubro de 1841. — José
Antônio da Silva Maia,
— 14

Consulta de O de S e t e m b r o de 18-4».

Sobre o embargo feito no producto da venda da barca portugueza


Maria Carlota, quey como navio empregado no trafico de africanos,
foi condemnada pela Commissão Mixta Brazileira e Ingleza e arre-
matada em hasta publica, em virtude de sentença da mesma
Commissão.

Senhor.—-Mandou Vossa Magestade Imperial por Aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça de 14 de
Junho do presente anno, que esta Secção do Conselho de
Estado, consultasse com o seu parecer sobre as questões
relativas á barca Maria Carlota.
Senhor, as presas são actos de hostilidade, verdadeiras
conquistas permittidas por Direito das Gentes, no caso de
guerra, ou por Direito Convencional, nos casos estipulados
em tratados. O uso geralmente recebido entre as nações
modernas é de se considerar a jurisdicção do Estado belli-
gerante (fórum arresti) como a competente para o julga-
mento da legitimidade das presas; quando porém, ellas são
autorizadas por Convenção, ás Potências contractantes per-
tence instituir os Tribunaes, que as devem julgar. Neste,
como no primeiro caso, esses Tribunaes são Tribunaes de
excepção: seus actos, a fôrma do processo e os meios de
execução são regulados administrativamente, e sujeitos á
acção immediata do Governo.
Segundo estes princípios ninguém pôde annullar, mo-
dificar ou de qualquer modo estorvar a execução e effeitos
das sentenças proferidas pela Commissão Mixta Brazileira e
Ingleza, estabelecida pela Convenção de 1817 para o julga-
mento das presas feitas por trafico de escravatura.
A justiça civil e distributiva do Estado somente pôde
intervir na execução das sentenças daquelle Tribunal, sem
outra acção que não seja a necessária e legal para a realização
do producto das mesmas presas, que deve ser considerado
com uma propriedade política, e inteiramente diversa das
propriedades civis e ordinárias, cujo direito pôde ser dia»

pulado por quaesquer interessados, já no andamento da


causa, já no processo da execução, c ainda depois pela acção
rescisória.
Quando pelo art. 4.° do Alvará de 26 de Janeiro de 1818
se conferiu as Justiças ordinárias a execução das sentenças
da Commissão Mixta, não se estendeu a jurisdicção do Juiz
executor a outros actos, senão aos que tem por fim a
mesma execução, nem se permittiu qualquer recursQ,
que não fosse motivado pelo modo, com que nella se proce-
desse.
A discussão de preferencias suppõe um devedor commum,
suppõe títulos de dividas, exige sentenças em juizo conten-
cioso: emfim, é uma nova instância, em que se ventilam
os direitos dos credores provenientes de contractos e obri-
gações regulados por direito civil.
Nada disto tem lugar a respeito do apresador: elle nada
tem com o direito, que este ou aquelle indivíduo possam
ter sobre os objectos apresados.
O facto criminoso dos armadores ou proprietários é a
origem, é o titulo de seu direito, e os credores dos mesmos
proprietários não podem por modo algum resgatar o que
por estes foi perdido para sempre, como por naufrágio,
incêndio ou qualquer outro acontecimento semelhante.
Se fosse admissível a discussão de preferencias sobre o
producto das presas, os.tratados que as autorizam, seriam
estipulações indignas das Potências, que as celebrassem;
porque nenhum navio se empregaria em um trafico pro-
hibido, que não fosse hypothecado pelos seus proprie-
tários.
Ao Governo, pois, compete pôr termo aos procedimentos
irregulares e arbitrários, com que. se tem atropellado a
execução da sentença, que julgou boa presa a barca Maria
Carlota; expedindo-se as mais terminantes ordens, para que
as Justiças ordinárias seabstenham de qualquer acto, que
se encaminhe ao conhecimento da pretendida preferencia.
Explicando-se assim o Regulamento e Instrucções, com
que o mesmo Governo tem estabelecido a fôrma do pro-
cesso em semelhantes causas, pensa esta Secção ser esta
16

uma medida digna da soberana approvação de Vossa Mages-


tade Imperial.
Paço, 9 de Setembro de 1842.— Lopes Gama.— Bispo
de Anemuria.— Carneiro Leão. (*)

Consulta d e * 1 de N o v e m b r o d e 1®<£».
Sobre os actos da Assembléa Legislativa da Província das Alagoas,
promulgados nas sessões extraordinária e ordinária do anno
de 1842.

Senhor. —Mandou Vossa Magestade Imperial por Aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça de 7 do
mez próximo passado, que esta Secção do Conselho de
Estado consultasse com o seu parecer sobre os actos da
Assembléa Legislativa da Província das Alagoas, promul-
gados na sessão extraordinária e na ordinária do presente
anno.
Entre as diversas disposições legislativas daquella As-
sembléa Provincial a que parece ao Conselheiro de Estado
Procurador da Coroa ser contraria á Lei de 12 de Agosto
de 1834, e offender a Constituição do Império, é o art. 3.1
da Lei de 18 de Abril sob n.° 5, em que o Presidente da
Província é autorizado a mandar recrutar para preencher
a força de Policia, de que trata a mesma Lei. (**)

(*) Por Portaria e Avisos de 13 de Outubro de 1842 remetteu-se


cópia desta consulta ao Presidente da Relação da Corte e aos três
Juizes Municipaes, que então aqui existiam, para que procedessem de
conformidade com o parecer exarado na referida Consulta,
(**) O parecer do Procurador da Coroa, é o seguinte:
A Assembléa Provincial das Alagoas no art. 3.° da Lei de 18_de
Abril deste anno, n.° 5, excedeu os limites de suas attribuiçoes,
marcadas nos arts. 10 e 11 da Lei de 12 de Agosto de 1834, e offendeu
a Constituição do Império, autorizando o Presidente da Província
para proceder a recrutamento, a respeito de que só, e privativa-
mente pôde legislar a Assembléa Geral a iniciativa da Câmara dos
Deputados; e portanto não se deverá consentir na execução.
Rio, 18 de Maio de 1842.— José Antônio da Silva Maia.
— 17 —
Pensa, porém, a Secção, que nem a Constituição, nem a
Lei de 12 de Agosto foram offendiclas por esse acto da
Assembléa Legislativa das Alagoas; porque competindo-
lhe regular o Corpo Policial da Província quer demi-
nuindo, quer auo-mentando a sua força, o que lhe cumpria,
era decretar, como decretou, o respectivo recrutamento,
ficando comtudo a autorização dada ao Presidente inteira-
mente subordinada ás regras e procedimentos marcados
nas Leis da Assembléa Geral Legislativa, a quem exclusi-
vamente pertence estabelecei* o modo e condições do re-
crutamento, assim como fixar as forças do exercito e da
marinha, nas quaes não se comprehendem os corpos poli-
ciaes das Províncias.
A Secção não entrará agora no exame de outros actos da
mesma Assembléa Provincial, por ter de cumprir este
dever em outra Consulta, que lhe foi ordenada pela mesma
Secretaria de Estado, e que tem de subir á Augusta pre-
sença de Vossa Magestade Imperial.
Paço em 21 de Novembro de 1842. — Lopes Gama.—- Bispo
de Anemuria. — Carneiro Leão.
CONSULTAS

DA

SECÇÃO DE JUSTIÇA DO CONSELHO DEESTADO

184:3.

Consulta de â de Março de 1 8 ^ 3 .
Sobre os seguintes quesitos:—Se por virtude da Lei de 3 de
Dezembro de 1841 foram restabelecidos para a Relação os ag-
gravos dos despachos do Chanceller. que foi substituído pelo
Presidente ; e , no caso afflrmativo, — as regras pelas quaes esse
recurso se deverá reger.

Senhor. — Mandou Vossa Magestade Imperial por Aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, que esta
Secção do Conselho de Estado consultasse com o seu pare-
cer sobre os seguintes quesitos:
1.° Se por virtude da Lei de 3 de Dezembro de 1841
foram restabelecidos os aggravos para a Relação dos des-
pachos do Chanceller, hoje substituído pelo Presidente ;
2.° No caso affirniativo, quaes as regras pelas quaes esse
recurso se deverá reger.
Nem a Lei de 3 de Dezembro de 1841, nem qualquer
outra autoriza o recurso de aggravo dos despachos profe-
ridos pelos Presidentes das Relações na qualidade de Chan-
celler.
Os antigos Chancellercs exerciam funcções próprias deste
emprego, e acctimulavam também as de Regedores ou Go-
vernadores das Relações, na falta destes.
— 20 —
Neste segundo caso nenhum outro recurso havia dos seus
despachos, senão o de representação ao Soberano.
Quando, porém, os Chancelleres exerciam funcções pró-
prias, davam-se'recursos para as respectivas Relações,
como se vê da Ord. Liv. 1.', Tit. 4.", § 13.
As funcções dos Chancelleres eram muito amplas, e exer-
ciam ellesasde Juizes privativos de certas causas e inciden-
tes dellas, como as suspeições, questões sobre a dizima da
Chancellaria, erros de custas, etc.
Nenhuma destas attribuições conservam os Presidentes
das Relações: as funcções, que hoje exercem como Chan-
celleres, estão reduzidas ao simples officio de presidir ao
transito das sentenças, e ao sello, que não passa de mera
solemnidade ; e estando abolidas as glosas, já nenhum
lugar pôde ter a interposição dos recursos, que antiga-
mente se davam dos Chancelleres para as Relações nas
matérias de sua competência. Cumpre notar, que apezar
de serem permittidos esses recursos, eram elles muito
raros.
Por todas estas considerações entende esta Secção, que
não se podem considerar restabelecidos estes aggravos pelo
art. 120 da Lei de 3 de Dezembro de 1841.
Paço em 2 de Março de 1843. —Lopes Gama. —Bispo de
Anemuria. (*)

(*) Expediu-se o seguinte Aviso:


Tendo o Governo Imperial mandado consultar a Secção dè Jus-
tiça do Conselho de Estado sobre os seguintes quesitos:" 1/ se por
virtude da Lei de 3 de Dezembro de 1841 ficaram restabelecidos os
aggravos para as Relações, dos despachos dos Chancelleres; 2.° no
caso afirmativo, quaes as regras, pelas quaes esse recurso se deveria
reger, foi a dita Secção de parecer, de que nem a citada Lei, nem
qualquer outra "autoriza semelhantes aggravos; e que, sendo muito
amplas as funcções dos antigos Chancelleres, que, entre outras,
exerciam as de Juizes privativos de certas causas, e incidentes
dellas, como as suspeições, questões sobre a dizima de Chancellaria,
erros de custas, e t c ; attribuições estas que não conservam os
actuaes Presidentes das Relações, que, como Chancelleres, apenas
presidem ao transito das sentenças, e ao sello, que não passa de
mera solemnidade, estando de mais abolidas ás glosas, nenhum
lugar pode ter a interposição dos recursos, que antigamente se
davam, dos referidos Chancelleres para as Relações nas matérias de
sua competência. E, Conformando-se Sua Magestade o Imperador
21 —
Consulta de 1*3 de «Junho d e 1®-£S.
Sobre os inconvenientes encontrados pelo Juiz Municipal da 3. a vara
da Corte na distribuição, processo e remessa de autos crimes, de-
pendentes da sustentação da pronuncia.

Senhor.— Mandou Vossa Magestade Imperial por Aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, de 11 de
Abril do presente anno, que esta Secção do Conselho de
Estado consultasse com o seu parecer sobre a representação
do Juiz Municipal da 3. a vara desta Corte, tendo por objecto
os inconvenientes, que elle encontra na distribuição, pro-
cessamento e remessa dos autos crimes, que sobem para a
sustentação da pronuncia (*)

Com este parecer da Secção de Justiça do Conselho de Estado,


o manda communicar á Vm. para sua intelligencia.
Deus Guarde a Vm.—Paço em 23 de Março de 1843. — Honorio Her-
meto Carneiro Leão. —Sr.'Presidente interino da Relação da Corte.
O Decr. n." 1730 de S de Outubro de 1869 extinguiu o transito das
sentenças e outros actos forenses pela Chancellaria das Relações.
(*) A representação acima citada é do teor seguinte :
Mm. e Exm. Sr.—He fundado na faculdade outorgada pelo art.
495 do Regulamento de 31 de Janeiro de 1842, que tenho a honra de
levar ao conhecimento de V. Ex.. os inconvenientes originados pela
disposição do art. 289 do mesmo Regulamento.
Determinando o citado artigo, que « os Delegados e Subdelegados,
que tiverem pronunciado ou nao pronunciado algum réo, remettam
immediataniente o processo ao Juiz Municipal do respectivotermo
para sustentar, ou revogar o despacho de pronuncia, ou nao .pro-
nunciai foi posto em pratica o fazerem os Escrivães daquelles JUÍZOS
directamente remessa dós processos aos Juizes Municipaes designados'
pelos Delegados e Subdelegados para sustentação das pronúncias ou
não pronúncias; marcha esta que nao parece ser muito regular,
parecendo antes, que tal remessa deveria ser feita a um Escrivão
designado.
Recebidos assim pelos Juizes Municipaes os processos, e devendo
necessariamente haver um Escrivão, que perante elles escreva os
precisos termos até a decisão do recurso, e não determinando posi-
tivamente o referido Regulamento a forma, que se deveria seguir
em tal caso, principalmente na Corte, onde ha um subido numero de
Escrivães, adoptou-se mandarem os Juizes Municipaesos processos
ao Distribuidor Geral p*ara distribuil-os aos Escrivães das suas
respectivas varas, os quaes escrevem nos processos até a decisão do
recurso, e remessa dos autos ao Juizo d'onde vieram, para dahi se-
rem remettidos ao Escrivão do Jury : daqui resulta a nenhuma
garantia dos processos, por quanto não tendo os Juizes outros meios
á sua disposição, mandam os processos ao Distribuidor pelo oficial
de justiça, que está de semana, e por este leval-os ao Escrivãoa
quem tocarão, o qual nenhuma carga assigna, e só pela distribuição
Entende esta Secção, que praticando-so o que judicio-
samente lembra no seu parecer o Desembargador Procura-

he que ficam por elles responsáveis, quando muito bem pôde acon-
tecer, que tendo levado descaminho da mão do oficial, fiquem
aquelles assim obrigados a dar conta daquillo que nao receberam, o
que já aconteceu; e o que é mais, sem saber-se a final a quem se
deva responsabilisar por uma tal falta.
Não é só este o inconveniente'que se apresenta pela disposição do
supradito artigo : outros existem ; sendo um delles á demora que
muitas vezes se causa ao julgamento dos réos com taes remessas,
nao só_por que os Escrivães, que servem perante os Juizes Munici-
paes, nao obstante a determinação do predito artigo, sao mui pouco
escrupulosos na brevidade do devolvimento dos processos ao Juizo
d'onde vieram, como também por que os Escrivães daquelles JUÍZOS,
seja qual fôr o motivo (que não pôde ser justo) demoram longo
tempo em seu poder os processos sem. os remetter ao Escrivão do
Jury, e só quando se convocam as sessões do Jtíry é que uns e outros
se dão pressa na remessa dos processos áquelle Escrivão, quando já
muito poucos dias restam para se abrir a sessão, e isto quandotem
de se fazer os necessários preparatórios para a sua apresentação ao
dito Tribunal; resultando de semelhante irregularidade, que réos
modernamente presos e pronunciados tem sido, na_o poucas vezes,
julgados antes de outros de data mais antiga em prisão, e pronuncia ;
accrescendo mais o trppeço, que dahi provém na promptificação dos
processos, que tem de entrar em julgamento, pois contando-se com
aquelles que na occasiao da convocação do Jury existem no Cartório
do Escrivão daquelle Tribunal, tanto de presos, como de afiançados,
este immediatamente colligindo o numero provável dos que podem
ser julgados em uma sessão, extrahe todos os mandados para notifi-
cação das testemunhas, os quaes se remettem em tempo aos respecti-
vos Subdelegados, na conformidade do art. 330 do citado Regula-
mento, e aindadepois em todo o espaço, que decorre antes da
abertura da sessão, o que sempre aconteceu-, tem de extrahir-se e
remetter-se novos mandados aos Subdelegados para notificação de
testemunhas duas e mais vezes; o que de certo é não pequeno°trans-
torno não só para o Juizo—Cabeça do Termo, como mesmo para os
das Subdelegacias, que tem de os mandar cumprir, e algumas vezes
'de lugares distantes desta Corte.
Todos estes inconvenientes cessariam se se adoptasse um centro
de reunião de todos os processos mandados remetter pelos Subdele-
gados, isto é, um Escrivão a quem directamente elles fossem dalli
remettidos, e o qual servisse nas sustentações de todas as pronúncias
até o recurso inclusive, podendo muito bem ser este o Escrivão do
Jury, a cujo poder tem a final de vir parar todos os processos para
serem apresentados ao Tribunal, o qual os faria logo conclusos aos
Juizes Municipaes designados nos despachos de pronuncia, ou não
pronuncia para a sustentação, ou revogação das mesmas, ficando
igualmente a seu cargo o lançamento dos nomes dos réos no rói dos
culpados.
Com esta medida/ou outra qualquer, que fizesse cessar tão demo-
radas remessas, muito aproveitariam as partes, as quaes para sabe-
rem a que Escrivão tocou o seu processo para sustentação da pro-
nuncia, ou nao pronuncia, preciso lhes é i r mendigar a distribuição,
o que nao aconteceria se tivessem certeza de que em um só Cartório
as deveriam procurar, procedendo-se a necessária intimacão, antes
da remessa, tanto aos autores, como aos réos.
- 23 -

dor da Coroa, Soberania e Fazenda Nacional nada mais


será preciso, para que cessem os motivos da referida repre-
sentação. (*)
Quaesquer outras medidas, além de dispendiosas, não
seriam mais profícuas do que as apontadas nesse parecer, que
tem em seu favor a experiência e antiga pratica do Foro.
Vossa Magestade Imperial Resolverá, porém, o que Hou-
ver por mais acertado.
Paço em 16 de Junho de 1843,— Caetano Maria Lopes
Gama.— Bispo de Anemuria.

Consulta de SS1 d e S e t e m b r o d e 1 8 4 3 .
Sobre a reclamação de Francisco Baptista do Almeida contra o
Decreto de 4 de Maio de 1843, que conferiu a Pedro José Cardoso
a serventia do oficio de Escrivão dos Feitos da Fazenda de Per-
nambuco.

Senhor. —A Secção do Conselho de Estado dos Negócios


da Justiça tem a honra de apresentar a Vossa Magestade
Imperial o seu parecer sobre a pretenção de Francisco
Baptista de Almeida, de ser nomeado Escrivão vitalício

Estas considerações, filhas da experiência de quasi um anno de


pratica, t as quaes tenho a honra de expender, espero que mereçam
a attenção de V. Ex., a fim de dar as providencias, que em °sna
alta sabedoria julgar mais consentaneas á boa administração da
justiça.
Deus Guarde á V. Ex.— Rio de Janeiro, 3 de Fevereiro de 1843.—
lllm. e Exm. Sr.— Honorio Hermeto Carneiro Leão.— Ministro e
Secretario de Estadoa dos Negócios da Justiça.— Justino José Tavares,
Juiz Municipal da 3. vara.
(") O parecer referido é o seguinte :
Entendo que, uma vez que se restabeleça a antiga pratica de se-
rem os Juizes criminaes os Distribuidores do seu Foro, tendo livro
para isso próprio, como eu observei fielmente quando por três mezes
servi de Juiz do crime de todos os bairros desta Capital, evítar-se-hão
os inconvenientes, que em primeiro lugar se ponderam. Quanto,
porém, á mora dos Escrivães na remessa dos processos ao Jury, cabe
á providencia, e a vigilância dos Juizes, a quem por Lei incumbe
prover sobre tal objecto. Assim parece-me que se pôde prescindir
da medida lembrada, sujeita igualmente a inconvenientes, além de
dar lugar a queixas.pelo exclusivo, que irá conferir a um Escrivão,
com perda das vantagens, que outros percebem.
Rio de Janeiro, 31 de Março de 1843.— Francisco Gomes de Campos.
— 24 —

dos Feitos e Execuções da Fazenda Publica da Província de


Pernambuco, como lhe foi determinado por Aviso de 25
de Agosto do corrente anno.
Funda o supplicante a sua pretenção em ter obtido do
Governo da Província em Outubro de 1832 o mencionado
ofücio, e o prova por documentos, bem como que, não
obstante a abolição do Juizo privativo dos Feitos da Fa-
zenda, o exercera privativamente, por deliberação do Con-
selho do Governo até o presente.
Por este motivo, pois, pede a Vossa Magestade Imperial
que se Digne cassar a Graça feita, do mesmo ofücio a Pedro
José Cardoso, por decreto de 4 de Maio do corrente anno.
Parece á Secção que o supplicante nenhum direito tem
ao ofücio, de que se diz em posse, porque abolido o Juizo
dos Feitos da Fazenda em 1831, ficou sem effeito a no-
meação que o supplicante obtivera da Autoridade Provin-
cial ; e bem que de novo se instaurasse o dito Juizo, nem
por isso se pôde entender instaurada a nomeação do sup-
plicante. Nem o Conselho do Governo tinha poder de
conservar um Escrivão privativo contra a Lei que o aboliu,
sendo para estranhar que as Justiças de l. a Instância, ea
Relação do Districto reconhecessem por mais de 10 annos
tal Escrivão, como competente para só escrever nos Feitos
da Fazenda Publica. *
Entretanto Vossa Magestadel mperial pôde attender ao
supplicante, se assim fôr servido.
Paço em 21 de Setembro de 1843. —Bernardo Pereira de
Vasconcellos. —Caetano. Maria Lopes Gama.— Bispo de Ane-
muria.

M e s o l a s ç ã o d e »'*?' d e S e t e m b r o d e 1 8 4 3 .
Sobre a intelligencia do § 8.° da Lei de 3 de Outubro de 1834, relativa
á duração da faculdade concedida aos Presidentes de Província
para suspenderem Magistrados.

Senhor. —Mandou Vossa Magestade Imperial por Aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça de 2 de
— 25 -
Agosto do presente anno, que esta Secção do Conselho de
Estado consultasse com o seu parecer sobre a intelligencia,
que se deve dar ao § 8.° da Lei de 3 de Outubro de 1834
emquanto á duração da attribuição, que abi se deu aos
Presidentes de Província para suspenderem Magistrados.
Não tendo a Lei das reformas alterado o art. 101 da
Constituição na parte relativa á suspensão dos Magistrados,
é, no cenceito desta Secção, evidente, que só ao Regente
do Império podia essa attribuição ser coarctada e distri-
buída, como foi, pelos Presidentes de Província.
Mas, logo que Vossa Magestade Imperial Assumiu ás suas
Prèrogativas Constitucionaes cessou a restricção, com que
o Regente as exercia em'Nome de Vossa Magestade Impe-
rial, e conseguintemente cessou a disposição do § 8.° da
Lei de 3 de Outubro de 1834, cuja intelligencia se ques-
tiona, por ser incompatível com o citado artigo da Consti-
tuição hoje em seu pleno vigor.
E' este o parecer desta Secção. Vossa Magestade Impe-
rial resolverá, porém, o que fôr mais digno da Sua Alta
Sabedoria.
Paço em de Setembro de 1843. —Caetano Maria Lopes
Gama. — Bispo de Anemuria. — Bernardo Pereira de Vascon-
cellos.
*
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 27 de Setembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Honorio Eermeto Carneiro Leão.

(*) De accôrdo com esta Consnlía expediu-se aos Presidentes de


Província a Circular de 28 de Setembro de 1843, a qual é do teor
seguinte:
Mm. e Exm. Sr.— Tendo alguns Presidentes de Província.entrado
em duvida se ainda lhes competia suspender Magistrados, á vista do
art. 17 da Lei de 14 de Junho de 1831, e em razão de se enumerar
essa attribuição, entre as demais dos ditos Presidentes, no § 8.° do
art. 5.° da de 3 de Outubro de 1834, que nao era temporária: Houve
Sua Magestade o imperador por bem Ouvir a respectivaJ5ecção do
C J. 4
— 26 —
IResoineSo d e S d e O u t u b r o d e I S ^ S .
Sobre factos- occorridos na Província do Espirito Santo contra a
tranquillidade publica, que motivaram a suspensão do Juiz de
Direito da Comarca de Iíapemirim.

Senhor —Houve Vossa Magestade Imperial por bem


Ordenar por sua immediata Resolução de 11 do mez pas-
sado, que fosse subinettido ao exame do Conselho de Estado
o parecer da Secção do mesmo Conselho, a que pertencem
os Negócios da Justiça, cujo teor é o seguinte :
Senhor. —A Secção do Conselho de Estado dos Negócios
da Justiça tem a honra de apresentar a Vossa Magestade
Imperial o seu parecer sobre os factos, que tem ultima-
mente ameaçado a tranquillidade publica na Província do
Espirito Santo ; cumprindo assim o que lhe fora ordenado
nos Avisos de 14 e 24 do mez de Agosto próximo passado.
O Presidente da dita Província aceusa aos dous Juizes de
Direito das Comarcas da Victoria e Itapemirim de terem
empregado todos os meios a seu alcance, inda violentos,
para obter o triumpho nas eleições, afim de serem reeleitos
para a Assembléa Provincial.
Em prova de sua asserção junta o Presidente documentos,
pelos quaes mostra que o Chefe de Policia mandou proceder
contra um Agente de Rendas Publicas, por fornecer a um
destacamento policial azeite para luzes, como lhe fora com-
petentemente ordenado, e não dinheiro, como entendia o
Chefe de Policia, insistindo em tal perseguição, apezar de
saber que o Agente das Rendas Publicas obedecia á Ordens
da Thesouraria, dando gêneros, e não dinheiro ao dito
destacamento.

Conselho de Estado, e Conformando-se com o parecer desta, resolveu


que, não tendo sido alterado o art. 101 da Constituição do Império
na parte, em que faz uma tal attribuição privativa da Coroa, devia
necessariamente cessar a disposição do referido art. 17 da Lei de
14 de Junho de 1831, que marcou as attribuições da Regência desde
o momento, em que Sua Magestade foi reconhecido maior e Assumiu
o pleno exercício de suas Augustas Funcções. O que communico
a V. Ex. para sua intelligencia.
Palácio do Rio de Janeiro em 28 de Setembro de 1843. — Honorio
Hermeto Carneiro Leão.
— 27 —

Participa mais o Presidente que o Delegado de Policia


da Villa da Serra, com o Juiz de Paz, Vereadores da Ga-
mara, e Juiz Municipal obrigavam os povos da mesma
Villa e seu Termo a assignarem listas para eleitores, sem
duvida de accôrdo com o Juiz de Direito Chefe de Policia,
e bem assim que os sobreditos Juizes de Direito abriram
correição logo que souberam que o Presidente da Província
tinha de mandar proceder á eleição geral, o que lhe não
communicaram officialmente, assim como não lhe commu-
nicavam os acontecimentos, que tinham lugar na Pro-
víncia.
Além das perseguições e violências que o Presidente as-
severa que praticaram os dous Juizes de Direito contra os
que se não conformaram com os seus intentos, e da pro-
tecção que davam aos que lhe desobedeceram, imputa o
mesmo Presidente ao Juiz de Direito de Itapemirim arbi-
trariedades, e doutrinas anarchicas escriptas a diversas
Autoridades, semelhantes ás que têm sublevado o Rio
Grande do Sul e outras Províncias, e bem assim a pre-
tenção de que o Chefe de Policia reuna. forças, e as faça
marchar, sem consentimento delle Presidente.
Não duvida o mesmo Presidente arguir ao mencionado
Juiz de Direito de Itapemirim do empenho de concitar o
povo á desordem, já por meio de calumnias, já commet-
tendo insultos contra pessoas de probidade, já despertando
antigos ódios entre duas famílias respeitáveis, e influentes
de sua Comarca.
E', porém, accusado o Presidente por ambos os Juizes de
Direito de empregar a força armada, sem requisição das
autoridades civis, governando assim militarmente a Pro-
víncia.
Esta aceusação é fundada em ordens expedidas ao Chefe
de Legião, incumbindo-o de manter a tranquillidade pu-
blica, empregando os meios mais apropriados, e ordenando
aos Commandantes da força que não cumpram as ordens
das autoridades civis.
Todavia'a Secção não pôde julgar com acerto das razões,
que levaram o Presidente a expedir as ordens mencionadas,
e inclina-se a crer, que com ellas tivera em. mira prover
a ordem publica ameaçada na Comarca de Itapemirim.
Em verdade evidencia-se, pelos documentos que a Secção
examinou, estar muito malquisto o Juiz de Direito de Ita-
pemirim em sua Comarca, pois estando de correição em
Guarapary foi sua casa cercada tumultuariamente por au-
toridades, guardas nacionaes e tropa de l. a linha, e se lhe
intimou ordem de prisão; e, conseguindo evadir-se desta
Villa para aquella, está em circumstancias de não residir
na povoação, mas em fazendas de amigos, alli conhecidos
pelo nome de moços de arêa, a cujo teor de vida não abona
o Presidente da Província.
Accresce que este Juiz de Direito tem officiado ao Presi-
dente da Província em um estylo irritante e insultuoso,
Igual descomedimento nota a Secção na correspondência
do mesmo Juiz de Direito com algumas autoridades.
Foi V. M. I. servido ouvir ao Juiz de Direito de Itapemi-
rim, sobre a queixa contra eile feita pelo Presidente da
Província, ordenando a este que lhe marcasse um prazo
razoável para a resposta. Não tem o dito Juiz de Direito
satisfeito o que lhe foi ordenado, tendo passado a muito o
termo que lhe foi assignado; e entretanto receia-se pela
tranquillidade daquella Comarca..
A' vista do exposto parece á Secção :
Primo, que deve ser suspenso o Juiz de Direito da
Conlarca de Itapemirim José Francisco Arruda da Ga-
mara :
Secundo, que deve responder o Juiz de Direito Chefe de
Policia, sobre a accusação que lhe faz o Presidente da Pro-
víncia de intervir nas eleições com violências e persegui-
ções, e de não fazer-lhe as devidas participações; incum-
bindo-se ao Juiz Municipal as diligencias do § 4.° art. 17 da
Lei de 3 de Dezembro de 1841:
Ter tio, que se fixe um prazo em decreto para dentro
delle responderem as autoridades, à quem fôr imputado
qualquer crime, quando não esteja marcado em Lei, pena
de que não o fazendo dentro delle, se proceda como se tives-
sem cumprido este dever.
— 29 —
Deste modo evitar-se-ha que Juizes nas circumstancias
do cia Comarca de Itapemirim demorem suas respostas, com
grave prejuízo do serviço publico.
E pois, que a Secção já em outro parecer expôz a V. M.
Imperial a necessidade de declarar-se que só ao Poder Mode-
rador compete suspender Magistrados, entende que o bem
publico., exige que os Presidentes das Províncias, a requeri-
mento de queixosos, ou sem elle, os oução sobre quaesquer
crimes que lhes forem imputados, ou de que sejam suspeitos,
a fim de que.possam ser dadas por V. M. I., com a maior
brevidade, as necessárias providencias.
A Secção fundada no Regulamento do Conselho de Estado
pede venia a V M. I. para propor o seguinte ;
Primo.—Quando o Presidente da Província tiver de ouvir
a algum empregado publico suspeito de crime, assignar-
lhe-haum prazo, que não excederá a quinze dias, contados
do recebimento da ordem, se por Lei não estiver- marcado
outro.
Secundo.—Esta disposição terá lugar inda com os Juizes
de Direito, independentemente de ordem cie V M. I.
Esta audiência terá lugar depois das diligencias prescrip-
tas no § 4.- do art. 17 da Lei de 3 de Dezembro de 1841,
para o que o Juiz Municipal remetterá directamente ao Juiz
de Direito os autos que tiver formado, recommendando-lhe,
que com a sua resposta os envie ao Presidente da Província,
quando assim este o haja resolvido.
Tertio.—As Relações, áquem forem remettidos os papeis
concernentes a um Juiz de Direito suspenso por V M. I.,
mandarão proceder na fôrma do citado § 4.° do art. 17 da
Lei de 3 de Dezembro de 1841, quando a ellas senão haja
procedido, ou as julgue defeituosas.
A Secção não ousa lembrar a necessidade de um novo
Presidente para a Província, não estando certa de que
também sobre este objectose Dignou V. M. I. Ouvil-a.
O que á Secção parece conveniente é, que se adoptem me-
didas apropriadas, para evitar a perturbação da ordem
publica, que tanto receia o Presidente.
Eis, Senhor, o parecer da Secção, que V M. í. Se Dignará
- 30 -
Tomar na Consideração que merecer, e com Sua costumada
Benignidade.
Paço em 4 de Setembro de 1843.—Bernardo Pereira de
•Vasconcellos.—Caetano Maria Lopes Gama.—Bispo d'Anemu-
ria.
RESOLUÇÃO.

Seja ouvido o Conselho de Estado.


Paço, 11 de Setembro de 1843.
Com a rubrica de S. M. Imperador.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.
E tomada na devida consideração, depois de ser discutida
esta matéria, o sobredito Parecer foi approvado pelo Conse-
lho de Estado, em todas as suas partes.
V M. I. Resolverá como achar em sua alta sabedoria,
que é mais acertado.
Sala das Conferências do Conselho de Estado, aos 2 de
Outubro de 1843.—Visconde de Olinda.—Visconde de Mont'ale-
gre.-Caetano Maria Lopes Gama.—José Carlos Pereira de
Almeida Torres. —José Joaquim de 'Lima e Silva.—Bispo
d' Anemuria,—Bernardo Pereira de Vasconcellos .—Francisco
Cordeiro da Silva Torres.—JoséCesario de Miranda Ribeiro.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 8 de Outubro de 1843.
Com a rubrica de S. M. O Imperador.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.

(') De conformidade com a Imperial Resolução expediu-se o Regu-


lamento n. 328 de 8 de Outubro de 1843, marcando o prazo de 18
dias para dentro delle o empregado publico responder ás imputações
que lhe forem feitas de crimes e omissões no exercício de seus em-
pregos, e dando outras providencias relativas ao assumpto.
Expediu-se mais o Decreto de 30 do mesmo mez, suspendendo o Ba-
charel Arruda da Câmara do lugar de Juiz de Direito da Comarca de
Itapemirim; e mandou-se na referida data ouvir o dito Chefe de
Policia, Bacharel Francisco Jorge Monteiro.
— 31 -

R e s o l u ç ã o de 8 de Síovembro de 1 8 ^ 3 .

Sobre duvidas relativas ao § 9.° do art. 46 do Código do


Processo Criminal.

Senhor.— A Secção do Conselho de Estado dos Negócios


da Justiça, em cumprimento do Aviso de 19 de Agosto do
corrente anno, tem a honra de apresentar a Vossa Magestade
Imperial seu parecer sobre as duvidas que ao Presidente
da Província da Bahia propôz o Juiz de Direito da co-
marca de Sento Sé, da mesma Província, e que elle resolveu,
em virtude do art. 34 do Regulamento de 2 de Fevereiro
de 1842.
Perguntou o referido Juiz de Direito ao Presidente :
Primo, se ainda está em vigor, depois da Lei de 3 de
Dezembro de 1841, o § 9.- do art. 46 do Código do Processo
Criminal :
Secundo, se, no caso affirmativo, póde-se observar para
com o Delegado, quando as funcções deste cargo sejam
exercidas por pessoa diversa da de Juiz Municipal, a dispo-
sição do referido artigo.
E o Presidente respondeu-lhe que a attribuição conferida
aos Juizes de Direito pelo citado artigo do Código, longe
de ter sido revogada, fora pelo contrario de novo repetida
no art. 210 do Regulamento n.° 120, e no art. 5. da Lei
de 3 de Dezembro de 1841, em que confirma aos Juizes de
Direito as attribuições, que lhes competiam pelo Código do
Processo Criminal.
E quanto ao segundo, que, comprehendendo o art. 210 do
citado Regulamento também os Delegados, e Subdelegados,
incumbe aos Juizes de Direito instruil-os nos seus deveres,
como aos Juizes de Paz e Municipaes.
A Secção é do mesmo parecer do Presidente da Província
da Bahia; mas Vossa Magestade Imperial resolverá o que
fôr mais justo e consentaneo ao bem publico.
Paço em 31 de Outubro de 1843. — Bernardo Pereira de
Vasconcellos.— Bispo de Anemuria.—Caetano Maria Lopes
Gama.
— 32 —
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço em 8 de Novembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador
Honorio Hermeto Carneiro Leão.

R e s o l u ç ã o d e @ d e M o v e m b r o d e 1@^S3.

Sobre: se pôde o Juiz de Direito reformar actos exercitados pelo seu


substituto.

Senhor.— A Secção do Conselho de Estado dos Negócios


da Justiça, em cumprimento do Aviso de 19 de Agosto do
corrente anno, tem a honra de apresentar a Vossa Magestade
Imperial seu parecer sobre a duvida que, ao Presidente da
Província da Bahia propôz o Juiz de Direito interino da
comarca de Camamú, da mesma Província , e que elle re-
solveu, em virtude do art. 34 do Regulamento de 2 de Fe-
vereiro de 1842.
Recorreu o dito Juiz de Direito interino ao Presidente da
Província, para lhe declarar se o Juiz de Direito proprietário

(*) De conformidade com a Resolução Imperial expediu-se o


seguinte Aviso:
Illm. e Exm. Sr.— Sua Magestade o Imperador, Tendo-se con-
formado com o parecerda Secção de Justiça do Conselho de Estado
que approvou a decisão dada por V. Ex°. em resposta ao ofücio
junto por cópia do Juiz cie Direito da comarca de Sento Sé, Manda
remetter a V. Ex. o dito officio e parecer, para que fique na in-
telligencia de que, avista do disposto no art. 210 do Regulamento
n.° 120 de 31 de Janeiro do anno próximo passado, subsiste a
attribuição, que pelo Código do Processo Criminal competia aos
Juizes de Direito para instruir aos Juizes de Paz e Municipaes, e se
estende ás instrucçoes, que elle entenda dever dar aos Delegados e
Subdelegados.
Deus Guarde1 a V. Ex.—Palácio do Rio de Janeiro em 14 de No-
vembro de 1843.— Honorio Hermeto Carneiro Leão.— Sr. Presidente
da Província da Bahia.
— 33 —

pôde, ex-oíücio, tomar.conhecimento e reformar os actos que


elle houver, como seu substituto, exercitado, entendendo
que tal autoridade só podia ser exercida por meio de em-
bargos, e nos casos em que elles têm cabimento, por quanto
aos substitutos compete a mesma jurisdicção que aos pro-
prietários.
E bem que não haja motivo de duvida na proposta so-
bredita, todavia o Presidente declarou que, assim como é
permittido a qualquer Juiz reformar seus próprios des-
pachos, também o pôde praticar cornos de seus anteces-
sores , ou substitutos, não tendo lugar a revogação das
sentenças definitivas depois de publicadas, senão quando
regularmente embargadas.
A Secção é do mesmo parecer; mas Vossa Magestade Im-
perial Resolverá o que fôr mais justo e consentaneo ao bem
publico.
Paço em de Outubro de 1843.— Bernardo Pereira de
Vasconcellos.— Bispo de Anemuria.— Caetano Maria Lopes
Gama.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 8 de Novembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
IHonorio Hermeto Carneiro Leão.

(*) Expediu-se o seguinte Aviso :


Mm. eExm. Sr.—A decisão por V. Ex. dada sobre a duvida
constante do officio junto por cópia do Juiz de Direito interino da
comarca de Camamú, quando declarou ao mesmo que nenhuma
duvida havia de que pudessem os Juizes de Direito reformar os
despachos ou sentenças proferidas por seus substitutos, ex-offlcio,
no caso de serem ellas interlocutorias, e somente por via de em-
bargos, quando definitivos, foi approvada por Sua Magestade o
Imperador, depois de ouvir a Secção de Justiça do Conselho de
Estado, com cujo parecei: Houve por bem Conformar-se. O que
communico á V. Ex. para sua intelligencia.
Deus Guarde a V. Ex.—Palácio do Rio de Janeiro de 1843.—
Honorio Hermeto Carneiro Leão.— Sr. Presidente da Província da
Bahia.
c. J. 5
— 34 -

Kesolução d e ® de Ríovembro de 1 8 - 4 3 .

Sobre: se pôde o Juiz de Direito Presidente do Jury, depois de ter


recorrido da decisão deste Tribunal, deixar de proseguir nesse re-
curso por ter reconhecido, pelo exame dos autos, que o não devora
ter interposto.

Senhor.—A Secção do Conselho de Estado dos Negócios


da Justiça, em cumprimento do Aviso de 19 de Agosto do
corrente anno, tem a honra de apresentar á Vossa Mages-
tade Imperial seu parecer sobre as duvidas que, ao Presi-
dente da Província da Bahia, propôz o Juiz de Direito
interino da comarca de Santo Amaro, e que elle resolveu
em virtude do art. 34 do Regulamento de 2 de Fevereiro
de 1842.
Tendo o referido Juiz de Direito interino recorrido da
decisão do Jury, como lhe prescreve o § 1.° do art. 79 da
Lei de 3 de Dezembro de 1841, entrou em duvida se podia
deixar de proseguir nesse recurso, reconhecendo pelo
exame dos autos que o não devera ter interposto : e o Pre-
sidente da Província declarou que elle não podia desistir
desse recurso, pois affectou a sua autoridade ao Tribunal
superior, o que não se verifica quando as partes, a quem
cabe o arbítrio de desistir do seu direito, interpõem appel-
lação, ou qualquer recurso.
Accresce que a Secção entende que os Juizes de Direito
só podem interpor o recurso do § 1.° art. 79 no caso de
manifesta injustiça, reconhecida á vista dos debates, dos
depoimentos e provas apresentadas, podendo os mesmos
procurar esclarecer-se antes do julgamento, a fim de que
possam satisfactoriamente cumprir o dever que lhes impõe a
Lei. Nem a intelligencia contraria pode-se admittir sem
perigo de solicitações e meios impróprios, que se emprega-
ram, para que os Juizes desistam de taes recursos, e bem
que muito se deva confiar de sua integridade, firmeza e
luzes, todavia não é prudente multiplicar occasiões em que
possam ser tentados.
— 35 —
E' este o parecer da Secção, que Vossa Magestade Impe-
rial se Dignará Acolher com sua costumada indulgência.
Paço em 31 de Outubro de 1843.—Bernardo Pereira de
Vasconcellos.— Bispo de Anemuria.—Caetano Maria Lopes
Gama.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 8 de Novembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.

R e s o l u ç ã o de S d e Movembro de 18<£3.
Sobre a reforma do despacho de sustentação de pronuncia.

Senhor.—A Secção do Conselho de Estado dos Negócios


da Justiça, em cumprimento do Aviso de 19 de Agosto do
corrente anno, tem a honra de apresentar a Vossa Mages-
tade Imperial seu parecer sobre as duvidas que ao Presi-
dente da Província da Bahia propôz o Juiz de Direito
interino de Maragogipe, e que elle resolveu, em virtude
do art. 34 do Regulamento de 2 de Fevereiro de 1842.
Consultou o dito Juiz de Direito interino se, sustentada a
pronuncia de qualquer crime pelo Juiz Municipal, nos

(*) Expediu-se o seguinte Aviso :


Illm. e Exm. Sr.— Sua Magestade o Imperador, Dígnando-se Ouvir
a Secção de Justiça do Conselho de Estado sobre a duvida proposta pelo
Juiz de Direito interino da comarca de Santo Amaro, que junto re-
verte por cópia, Houve por bem Conformar-se com o parecer da
dita Secção, que approvára a decisão de V. Ex. quando declarou
ao dito Juiz de Direito, que não podia elle desistir da appellaçao in-
terposta ex-officio nos casos do art. 79 da Lei n.° 261 de 3 de Dezembro
de 1841.
O que communicoa V. Ex. para sua intelligencia— Honorio Her-
meto Carneiro Leão.— Sr. Presidente dá Província da Bahia.
— 36 —

lermos do art. 289 do Regulamento n.° 120 e interposto


para o Juiz de Direito por uma das partes o recurso, con-
forme o art. 70da Lei de 3 de Dezembro de 1841, e § 2.
do.art. 440 daquelle Regulamento, tendo sido reformado o
despacho na conformidade do art. 74 da dita Lei ; pôde o
Juiz Municipal, de quem se recorreu, ou outro que esteja
servindo nessa occasião, tornar a reformar o despacho re-
corrido ; e se cumpre ao Juiz de Direito tomar conheci-
mento do recurso, que se interpozer do segundo reparo do
aggravo ?
O Presidente da Província, com quem concorda a Secção,
decidiu que o Juiz Municipal, sustentando uma pronuncia,
pôde, quando se recorra desse seu despacho, reformal-o,
uma vez que, em conformidade do art. 74 da Lei de 3 de
Dezembro de 1841, se convença que sua decisão foi menos
justa, ou que para ella não estava sufficientemente esclare-
cido ; e bem assim que, quando a outra parte recorrer dessa
decisão, pôde reformal-a pelas mesmas razões, e conhecer
delia o Juiz de Direito, para o qual foi interposto recurso,
não havendo Lei qne o prohiba.
E' este o parecer da Secção, que Vossa Magestade Imper ial
se Dignará acolher com sua costumada benignidade.
Paço em de Outubro de 1843. — Bernardo Pereira de
Vasconcellos.— Bispo de Anemuria. —Caetano Maria Lopes
Gama.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 8 de Novembro de 1843.
Com a rubrica de Sua. Magestade o Imperador.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.

(*) Expediu-se o seguinte Aviso :


Illm. e Exm. Sr.—Sua Magestade o Imperador, Tendo ouvido o
Secção de Justiça do Conselho de Estado sobre a duvida proposta pelo
Juiz de Direito interino da comarca de Maragogipe no ofücio junto
— 37 —
R e s o l u ç ã o d e 8 d e N o v e m b r o d e 184L3.
Sobre o julgamento de suspeições postas aos Juizes Municipaes, em
causas eiveis.
Senhor.—0 Presidente da Província de S. Paulo pede á
Vossa Magestade Imperial se Digne resolver a duvida que
se tem suscitado sobre o Juiz, a quem cabe julgar as sus-
peições postas aos Juizes Municipaes, em causas eiveis,
pretendendo uns que deve ser o Juiz de Direito, na confor-
midade do | 2.° do art. 25 da Lei de 3 de Dezembro de
1841, e outros que as partes se devem louvar em quem as
julgue, como dispõe a Ord. L. 3.° Tit. 21 § 8.° Sobre
este objecto tem a Secção do Conselho de Estado dos Negó-
cios da Justiça, em observância do Aviso de 26 de Agosto
do corrente anno, a honra de apresentar á Vossa Magestade
Imperial o seguinte parecer :
Os Juizes de Direito, no conceito da Secção, só podem
julgar as suspeições postas aos Juizes Municipaes nas causas
crimes pelo citado § 2.°doart. 25 da Lei de 3 de Dezembro,
não só porque esteparagrapho está collocado no Capitulo 4.°
doTituIol. 0 . o qual se inscreve—Disposições criminaes—
mas porque no art. 25, mencionado, se lô as seguintes pa-
lavras—Aos Juizes de Direito das comarcas, além das attri-
buições que têm pelo Código do Processo Criminal, campete
. . . § 2.° Julgar as suspeições, etc.—As palavras—além das
attribuições que têm pelo Código do Processo Criminal—
indicam claramente que neste artigo q.uiz o Legislador

por cópia, Houve por bem Approvar a decisão dada por V. Ex. quan-
do lhe declarou, que os Juizes Municipaes, depois de terem reformado
uma sentença de sustentação de pronuncia por oceasiao de recurso
delia interposto, podem, se a parte contraria recorrer dessa nova
sentença, reformal-a também, e que nada impede que ainda neste
segundo caso o Juiz de Direito conheça do recurso, que dessa ultima
decisão interponha a parte, que se sentir aggravada.
Deus Guarde a V. Ex.— Palácio do Rio de Janeiro em 14 de No-
vembro de 1843.— Honorio Hermeto Carneiro Leão.— Sr. Presidente
da Provincia da Rahia.
O Aviso de 31 de Janeiro de 1854 declara que o Juiz d quo pode no
segundo recurso reformar o seu despacho, como pôde no primeiro.
Presentemente aos Juizes Municipaes compete exclusivamente nos
crimes comniuns a pronuncia, com recurso necessário para o Juiz
de Direito respectivo, art. 4.° da Lei n.° 2033 de 20 de Setembro de 1871
e 17 | 2.° do Decreto n.° 4824 de 22 de Novembro do mesmo anno.
_ 38 —
conferir só jurisdicção crime aos Juizes de Direito ; a in-
telligencia contraria torna supérfluas as palavras—além das
attribuições que têm, etc.
Nem occorre razão alguma para que se interprete exten-
sivamente o citado § 2.° do art. 25 da Lei de3Dezembro,
porquanto nenhum inconveniente ha que nas causas eiveis
julgue as suspeições dos Juizes Municipaes o Juiz que as
partes nomearem e nas crimes o Juiz de Direito ; antes ó
razoável que a Lei, pelo interesse que tem a sociedade na
celeridade dos processos crimes, designe Juiz, deixando aos
contendores o arbitrio de elegerem Juizes nas eiveis, em
que elles são os immediatos interessados. Se houvesse razão
que justificasse o julgamento das suspeições postas aos
Juizes Municipaes nas causas eiveis, pelos mesmos Juizes,
que os que delia conhecem nas causas crimes, deviam as sus-
peições postas aos Juizes de Direito, nas causas eiveis ser
decididas pelos Jurados, embora o art. 70 do Código do
Processo Criminal só a estas limite a autoridade dos Jurados.
A Secção por tanto tem a honra de propor a Vossa Ma-
gestade Imperial que se responda ao Presidente da Pro-
víncia de S. Paulo, que os Juizes de Direito só podem
conhecer das suspeições postas aos Juizes Municipaes nas
causas crimes; mas Vossa Magestade Imperial Decidirá o
que fór mais acertado e conducenté ao bem publico.
Paço em de Novembro de 1843.—Bernardo Pereira de
Vasconcellos.— Bispo de Anemuria. — Caetano Maria Lopes
Gama.
RESOLUÇÃO.
Como parece. (*)
Paço, 8 de Novembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador
Honorio Hermeto Carneiro Leão.

O Expediu-se o Aviso n.- 93 de 14 de Novembro de 1843, que é do


theor seguinte :
Illm. eExm. Sr.—Sua Magestade o Imperador, Tendo ouvido a
Secção do Conselho de Estado dos Negócios da Justiça, sobre a du-
R e s o l u ç ã o d e 8 d e Novembro de 1 8 4 3 .
Sobre a nomeação interina de Promotor Publico, para negocio
urgente em um termo, estando o effectivo occupado em outro, e
imposição de penas aos escravos julgados pela Lei de 10 de Junho
de 1835.

Senhor.—0 Presidente da Província de Minas Geraes


elevou ao alto conhecimento de Vossa Magestade Imperial
as duvidas que lhe foram propostas pelo Juiz de Direito in-
terino da comarca do Serro, e vem a ser:
Primo, se, estando em exercício o Promotor da comarca
em um termo delia, pôde nomear Promotor interino, para
negocio urgente, em outro:
Secundo, se não havendo outra prova, de quem matou a
um senhor, senão a confissão do réo, qual deve ser a pena
immediata, que se lhe ha de impor, segundo o art. 94 do
Código do Processo; não tendo a Lei de 10 de Junho de
1835 estabelecido senão um gráo de pena para taes delictos:
Tertio, se, mandando a dita Lei que a imposição da pena
se verifique quando vencida por dous terços de votos, acon-
tecer que haja somente sete votos contra o réo, o que se
deverá fazer?
Sobre estes differentes objectos vem a Secção do Conselho
de Estado dos Negócios da Justiça apresentar a Vossa Ma-
gestade Imperial o seu parecer, como lhe foi ordenado em
Aviso do 1.° de Setembro do corrente anno.

vida por V. Ex. proposta em seu officio n.° 119 de Agosto deste
anno, acerca do Juiz a quem compete conhecer das suspeições postas
ao Juiz Municipal em causas eiveis, e de Orphãos em todas as de sua
jurisdicção : Houve por bem Conformar-se com o parecer da mesma
Secção, e Mandar, portanto, declarar a V. Ex. que a jurisdicção
dada aos Juizes de Direito no | 2 . ° do art. 25 da Lei n.° 261 de 3 de
Dezembro de 1841, para conhecerem das suspeições dos Juizes Mu-
nicipaes e Delegados, limita-se ás causas crimes, subsistindo quanto
ás outras a Ord. do L. 3.° Tit. 21 | 8.°
O que participo a V. Ex. para sua intelligencia.
Deus Guarde a V. Ex.— Palácio do Rio de Janeiro em 14 de No-
vembro de 1843.— Honorio Hermeto Carneiro Leão.
O julgamento das suspeições postas aos Juizes inferiores, tanto nas
causas crimes, como nas cíveis, compete aos Juizes de Direito. § 2.°
do art. 7.° e § 3.° do art. 24 da Lei n.° 2033 de 20 de Setembro de
1871.
— 40 —
A Secção julga desnecessário providencia alguma para o
caso em que o Promotor occupado em um termo não pôde
acudir a um processo que corre em outro, dentro do prazo
marcado nas Leis; porque não está revogado o art. 38 do
Código do Processo Criminal, que autoriza a nomeação de
Promotores interinos, no impedimento dos proprietários;
antes o confirmam, com leve alteração, os arts. 22 e 23 da
Lei de 3 de Dezembro de 1841.
Nem obsta a ponderação que faz o dito Juiz de Direito
in terino de que pôde estar, e tem estado em algumas occur-
rencias, o Promotor proprietário em exercício dentro da
comarca, porque não podendo este, por estar distante, pro-
mover, como lhe cumpre, os termos de um processo, deve
para elle considerar-se impedido, e consequentemente ao
Juiz de Direito incumbe nomear interinamente, como
prescreve o mencionado art. 22 da Lei de 3 de Dezembro
de 1841.
Escusado é pois nomear-se um'Promotor para cada termo,
ou ampliar á prol dos Promotores, o prazo do art. 72 da ci-
tada Lei de 3 de Dezembro, como propõe o Juiz de Direito.
Sendo a Lei de 10 de Junho excepcional, parece á Secção
não ser matéria de contestação que não pôde o art. 94 do
Código do Processo Criminal ser applicavel aos casos de
mortes, que forem processados em virtude delia, e que
conseguintemente não havendo outra prova de um assassi-
nio senão a confissão do escravo do assassinado, pôde im-
pôr-se-lhe a pena de morte, uma vez que coincida com as
circumstancias do facto e seja livre; todavia, se razões
ponderosas justificam a excepção prescripta na sobredita
Lei de 10 de Junho, a insigne piedade de Vossa Magestade
Imperial não pôde permittir que se desattendam os princí-
pios da justiça.
Podendo acontecer que nos autos não estejam provados
factos alguns, além da morte, importa que os Juizes, Presi-
dentes do Jury, além de outros quesitos, façam sempre o
seguinte : —Ha outra prova além da confissão do réo ?
Cumpre também verificar se a confissão do réo escravo é
espontânea, ou se feita em conseqüência de castigos, amea-
=*3 41 —*

ças, ou promessas, porque estes motivos podem arrancar


confissões oppostas à verdade.
Quando não constar quem fez um assassinio senão pela
confissão do réo escravo, e se reconhecer que é feita com
toda a liberdade, sem coacção, nem illusão qualquer e hou-
ver a declaração do Jury, de que elle se resolveu por outras
provas, além da confissão, poderão os Presidentes das Pro-
víncias mandar executar as sentenças de morte proferidas
contra escravos, ainda quenellasnão estejam provadas cir-
cumstancias que coincidam com o delido.
A Secção, pois, não duvida propor a Vossa Magestade
Imperial Se Digne Explicar por um Decreto, na fôrma
lembrada, o de 9 de Março de 1837.
A duvida que tem o Juiz de Direito da pena que deve ser
imposta ao réo escravo, accusado em virtude da Lei de 10
de Junho, quando a imposição da pena de morte não é ven-
cida por dous terços de votos, mas só pela maioria de sete,
está resolvida no art. 4.° da sobredita Lei, nas palavras —e
para os outros pela maioria.
Todas as vezes que não concorrerem dous terços de votos,
ou mais, para a imposição da pena de morte, mas houver o
numero de sete, será imposta a pena de galés, que é a im-
mediata, na fôrma do Código Criminal.
E' este o parecer da Secção sobre o ofücio do Presidente
da Província de Minas Geraes, e espera que Vossa Magesta-
de Imperial o Acolherá com sua costumada Indulgência.
Paço em 31 de Outubro de 1843.—Bernardo Pereira de
Vasconcellos.—Bispo d'Anemuria. — Caetano Maria Lopes
Gama.
RESOLUÇÃO
Examine-se em Conselho de Estado. (*)
Paço, 8 de Novembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.

(') Não consta que fosse ouvido o Conselho de Estado, nem que
se expedisse providencia alguma em virtude desta consulta.
Mas a disposição do art. 94. doGod.do Processo Criminal, prohi-
c. j . 6'
— 42 —

R e s o l u ç ã o d e 8 d e N o v e m b r o d e 1S4L3.

Sobre oacto do Presidente da Província do Ceará, que negou sanc-


ção á uma lei da respectiva Assembléa Legislativa, creando um
ofücio de Justiça.

Senhor.—0 Presidente da Província do Ceará negou sanc-


ção a uma lei, pela qual Assembléa Legislativa da respectiva
Província creava,na cidade do Sobral, o ofücio de segundo
Tabellião; sobre este objecto vem a Secção do Conselho de

bindo a applicação da pena de morte, nos casos em que não houver


contra o delinqüente outra prova mais do que a sua própria confissão,
deve ser guardada, mesmo nos crimes de que trata a Lei de 10 de
Junho de 183S; por quanto, embora seja esta Lei excepcional, não
se segue que em sua applicação deva o executor afastar-se das Leis
geraes, mesmo naquellas disposições que ella nao alterou. Aviso
n.° 233 de 8 de Outubro de 1849, expedido em virtude de Resolução
Imperial de 6 do dito mez e anno.
Posteriormente, por Aviso de 14 de Fevereiro de 1851, declarou-se,
em virtude da Resolução Imperial de 10 do dito mez, que, para ser
imposta a pena de_morte, segundo a referida Lei, devia haver dous
terços de votos, nao só a respeito do facto principal, como de todas as
circumstancias que a Lei requer, para que seja ápplicada aquella
pena, sendo uma dellas a existência de outra prova, além da confis-
são do réo.
As disposições do art. 10 § 1.° doCod. Criminal são também appli-
caveis aos escravos menores, que praticarem crimes previstos na Lei
de 10 de Junho de 1835. Aviso de 17 de Julho de 1852.
A Lei de 10 de Junho de 1835 deve ser executada sem recurso algum
nos casos de sentença condemnatoria contra escravos, não só pelos,
crimes mencionados no 1.° artigo, como também pelo de insurreição
e quaesquer outros, em que caiba a pena de morte, como determi-
nam os demais artigos. Aviso n.° 264 de 27 de Novembro de 1852.
Deve-se, porém, interpor o recurso de graça ao Poder Moderador,
ficando assim revogados nesta parte os Decretos de 11 de Abril de
1829 e 9 de Março de 1837, pelas terminantes disposições do Decreto
n.° 1310 de 2 de Janeiro de 1854 e Aviso n.3 388 de 27 de Outubro
de 1857.
Este recurso deve ser remettido pelos Juizes de Direito directa-
mente na Corte, e nas Províncias c por intermédio dos respectivos
Presidentes. Art. 2.° do Decreto n. 1458 de 14 de Outubro de 1854
A Lei de 10 de Junho de 1835 nao alterou as disposições do Cod.
Criminal, que regulam os gráos da imputaçâo moral dos delinqüen-
tes, e por conseqüência os menores de 21 annos, avista dos arts. 18
| 10 e 45 do dito Cod., nao podem ser condemnados á morte, nem a
galés, pena esta que também nao pôde ser ápplicada aos maiores de
60 annos; e mesmo dado o caso de cumplicidade, quando o réo não
for menor ou maior de 60 annos, a pena deverá ser, não a de morte,
mas sim a de galés perpétuas, segundo os arts. 34 e 35 do mesmo
Cod. Imperial Resolução de.5 de Outubro de 1844.
— 43 —

Estado dos Negócios da Justiça apresentar à Vossa Mages-


tade Imperial o seu parecer, como lhe foi ordenado em
aviso de 29 de Setembro do corrente anno.
O Presidente justifica a negativa da sancção a este pro-
jecto pelo não julgar de absoluta necessidade, mas não de-
monstra, como cumpria, sua asserção, inferindo-se apenas
de que limitado é o serviço do Tabellião daquella cidade,
por ser tão pequena, que se lhe annexou o termo da Villa
Nova, devendo o Tabellião desta servir naquella por dis-
tribuição, como prescreve o art. 482 do Regulamento n.'
120 de 31 de Janeiro de 1842.
Não é de suppôr mui considerável o expediente do Ta-
bellião do Sobral, quando a esta cidade se lhe mandou unir
mais um termo, e no caso de que fosse superior ás suas for-
ças, seria auxiliado pelo novo Tabellião do termo annexo,
que é natural que nelle pouco tivesse que fazer.
Parece á Secção que o Presidente da Província teve ra-
zão para não sanccionar a sobredita lei: mas Vossa Mages-
tade Imperial Resolverá o que fôr mais justo.
Paço em de Outubro de 1843.— Bernardo Pereira de
Vasconcellos.—Bispo de Anemuria.— Caetano Maria Lopes
Gama.

RESOLUÇÃO

Como parece. (*)

Paço, 8 de Novembro de 1843.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Honorio Hermeto Carneiro Leão.

(*) De conformidade com a imperial resolução expediu-se Aviso em


14 de Novembro de 1843 ao Presidente da Província do Ceará decla-
rando que foi approvado o acto, que negou sancção á dita lei.
_ 44 —
R e s o l u ç ã o de &4i d e N o v e m b r o de 1 8 5 3 .
Sobre um provimento da Relação de Pernambuco, que não foi cum-
prido por ter sido apresentado fora do prazo marcado no art. 77 da
Lei de 3 de Dezembro de 1841 e a maneira pela qual se deve expedir
ordem de habeas-corpus, quando os detidos estejam em quartel
militar, ou em outra prisão, que não seja cadeia publica.

Senhor.—0 Presidente da Província da Parahybaparti-


cipa que, tendo Alexandre Francisco de Seixas Machado
recorrido da sentença, que o pronunciou por tentativa de
morte do ex-Presiciente Pedro Rodrigues Fernandes Chaves,
para a Relação de Pernambuco, è havendo obtido alli provi-
mento o não cumpriu o Chefe de Policia, por ser apresentado
fora do prazo marcado no art. 77 da Lei de 3 de Dezembro
de 1841; e que, tendo o dito pronunciado obtido mandado
de habeas-corpus da mesma Relação, não teve effeito, por-
que, sendo dirigido aoCommandante do corpo de l. J Linha,
em cujo quartel estava preso o paciente á requisição do
Chefe de Policia, e de ordem da Presidência, o dito Com-
mandante se recusou á execução sobredita, por não ser
subordinado á Relação, e não estar no seu quartel preso o
paciente senão á requisição da justiça, e que por esse motivo
a Relação de Pernambuco o mandou prender, no que não
conveio o mesmo Presidente de Província. Queixa-se o Presi-
dente da Relação de Pernambuco do Presidente da Provín-
cia, e pede que Vossa Magestade Imperial Tome em sua
Alta Consideração matéria de tanta magnitude, em ordem a
cautelar futuras duvidas e contestações, em detrimento do
serviço publico.
A secção do Conselho de Estado dos Negócios da Justiça
vem apresentar o seu parecer sobre o referido objecto, como
lhe foi determinado em Aviso de 31 de Julho do corrente
anno. Pretende o Presidente da Relação de Pernambuco
que os provimentos em recursos sejam cumpridos pelo Juiz
à quo, ainda que lhe não sejam presentes no prazo marcado
na Lei de 31 de Dezembro de 1841, pretenção, que á Secção
parece inadmissível.
Se o provimento apresentado fora do termo prescripto não
é nullo, nullo é o citado art. 77, que concede o mesmo tempo
— 45 —
para se apresentar o provimento ao Juiz à quo, que o conce-
dido para levar o recurso á instância superior, ou quando
muito deve ser considerada sua disposição, como um con-
selho, que se pôde adoptar ou rejeitar á arbitrio das
partes.
Que é esta a conseqüência da interpretação do Presidente
da Relação de Pernambuco é indubitavel, reílectinclo-se que
nem no citado artigo, nem em outra Lei, é estabelecida
pena, no caso de sua infracção. Nem a razão, nem as regras
da hermenêutica permittem que se vejam em lei tão clara,
como esta, não preceitos, mas conselhos.
Força é, pois, ter por nullo o provimento, que não é
apresentado ao Juiz à quo no termo prescripto.
Ainda que seja a disposição do dito art. 77 affirmativa, são
todavia nullos os actos contra ella praticados pela natureza
do objecto, sobre que versa.
Os prazos marcados para os recursos são fataes na opinião
dos mais esclarecidos jurisconsultos, de maneira que não
podem ser ampliados, ou excedidos, sem nullidade. A socie-
dade interessa em que os processos, mormente crimes, sejam
terminados com a possivel brevidade, sem que se preju-
dique ao conhecimento da verdade; com o lapso de tempo
esvaece-se a impressão do crime, e perdem-se meios proba-
tórios. Tendo sido estabelecida a doutrina do art. 77 para
eritar que o effeito suspensivo do recurso no caso de pronun-
cia, de que trata o art. 72 da mesma Lei de 3 de Dezembro
de 1841, não protelasse demasiado os pleitos, mallográra-se
a intenção do Legislador, se fosse válido em Direito o
provimento do recurso em qualquer tempo que fosse apre-
sentado ao Juiz à quo. E', pois, infundada a intelligencia,
que dá ao citado art, 77 o Presidente da Relação de Pernam-
buco, quando o não considera artigo irritante. Demais se a
Relação de Pernambuco, ou o seu Presidente estão persua-
didos que o Chefe de Policia devia cumprir o citado provi-
mento,como se collige da sobredita representação, incumbia
á mesma Relação formar-lhe culpa, como prescreve o art.
157 do Código Criminal. Cumpre, pois, ouvir a Relação de
Pernambuco sobre o facto arguido; a fim de que Vossa
— 46 —

Magestade Imperial seja servido Resolver-se a exercer o


direito, que lhe confere o art. 154 da Constituição.
Permitia Vossa Magestade Imperial que a Secção pondere
que muito convém exigir-se informação dos motivos, pelos
quaes o Chefe de Policia indeferiu a petição do sobredito
Seixas,-para que continuasse o seu processo e tivesse imme-
diato julgamento. Não pôde a Secção atinar com a razão jus-
tificativa deste acto do Chefe de Policia.
Está a Secção convencida de que não podem ser conside-
rados detentores de presos, os que os têm em sua guarda, á
requisição das autoridades Judiciarias, porque não compe-
tindo aquelles á quem são dirigidas as taes requisições
exame algum sobre a prisão, não podem dar as razões do
seu procedimento para orientar os Juizes, ou Tribunaes
em suas deliberações, como o exige o art. 343 do Cod. do
Proc.Nema contraria intelligencia tolera o actual estado
das prisões, porque sendo necessário recorrer á cada passo
à prisões militares, na falta de civis, veriamos tirados de
suas commissões Commandantes de Corpos e de Fortalezas
para conduzirem á grandes distancias pacientes, que esti-
vessem de baixo de sua guarda e que tivessem obtido man-
dados de habeas-corpus: escusado é referir quanto soffreria
a disciplina militar e o sirviço publico, se tal imtelligen-
cia fosse admittida.
Inda suppondo fundada a intelligencia contraria, fora ra-
zoável que os Juizes em requisições civis obtivessem a apre-
sentação dos presos, a quem concedessem habeas corpus, es-
perando do prudente arbítrio das autoridades, que os tives-
sem em sua guarda, a conducção dos mesmos com a precisa
segurança.
A: vista do expendido, é a Secção de parecer que o Presi-
dente da Província procedeu acertaclamente oppondo-se á
execução da ordem, pela qual a Relação de Pernambuco
mandara conduzir preso á sua presença o Commandante da
tropa de Ia linha Tenente Coronel João Sabino Monteiro; pois
fora despropósito tiral-o do Gommando do seu corpo, mor-
mente quando apenas se lhe imputa não cumprir um man-
dado de habeas-corpus da Relação, que elle não considerara
— 47 —
competente, e a beneficio de um preso, que estava recolhido
no seu quartel á requisição da Autoridade Judiciaria; accres-
cendo a maneira insólita, com que o Escrivão do Juiz
Municipal lhe intimou a ordem sobredita. Epara evitar se-
melhantes contestações no futuro, a Secção propõe á Vossa
Magestade Imperial a conveniência de declarar em uma
circular, ou regulamento, que as ordens de habeas-corpus,,
passadas á favor de pacientes, que não estejam presos nas
cadeias publicas, mas em privativa, á requesição das auto-
ridades competentes, sejam á estas dirigidas; e inda que o
sejam ás que os conservam nas prisões sob sua autoridade,
não se lhes ordene que vão pessoalmente apresental-os,
bastando que o façam por algum de seus subalternos.
W este o parecer da Secção,|que Vossa Magestade Imperial
se dignará Receber com a costumada indulgência.
Paço em 12 de Agosto de 1843.—Bernardo Pereira de Vas-
concellos.—Caetano Maria Lopes Gama.—Bispo de Anemu-
ria.
RESOLUÇÃO

Como parece. (*)


Paço. 24 de Novembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.

(*) Expediram-se os seguintes Avisos:


Illm. e Exm. Sr.—Sua Magestade o Imperador, Dignando-se ouvir a
Secção de Justiça do Conselho de Estado, sobre as diversas partici-
pações por V. Ex. expostas acerca da marcha que levou o processo de
Alexandre Francisco de Seixas Machado, pronunciado por tentativa de
morte do ex-Presidente dessa Província, Pedro Rodrigues Fernando
Chaves, Houve por bem conformar-se com o parecer da dita Secção,
e, em conseqüência, approvando a deliberação por V. Ex. tomada, de
não fazer cumprira ordem de prisão expedida pela Relação Provin-
cial contra o Tenente Coronel Commandante da tropa de l. a linha es-
tacionada nessa capital, em cujo quartel se achava preso o dito réo,
visto que, além de outras irregularidades e falta de justiça, em que
laboravam a dita ordem de prisão e a de habeas-corpus, anterior-
mente concedida ao réo, era também manifesto, que o Tenente Co-
ronel Commandante, não se devia considerar como verdadeiro deten-
— 48

torde um preso da justiça, que só por falta de pnsao mais segura


fora recolhido á ordem do Juiz competente; e dando outras provi-
dencias acerca do procedimento da Relação em todo este negocio, as
nuaes ora são communicadas ao Presidente da Província de Pernam-
buco, ordena outrosim queV. Ex. exija do Chefe de Policia dessa
Província as razões por que indeferiu a petição do réo Seixas, em que
pedia que contiuasse o seu processo, para ter immediato julgamento,
logo que viu que a ordem de habeas-corpus, expedida a seu favor nao
tivera execução, pois desse indeferimento, do qual nao é fácil desco-
brir uma razão justificativa, resultou a insistência do réo pela nova
ordem da Relação, e a collisão em que se viram as autoridades, e
que rematou pela soltura do mesmo réo, sem um julgamento profe-
rido com conhecimento de causa, soltura quefcomo V. Ex. nota em seu
offlcio n.° 20 de 10 de Maio deste anno), influiu muito para a indevida
absolvição dos outros co-réos, só porque eram menos criminosos do
queaquelle. O que tudo communicoá V. Ex., para sua intelligen-
cia, e para que exija do referido Chefe de Policia resposta dentro de
um prazo razoável sobre o mencionado indeferimento.
DeuS Guarde a V. Ex.—Palácio do Rio de Janeiro em 30 de Novem-
bro de 1843.—Honorio Hermeto Carneiro Leão. — Sr. Presidente da
Província da Parahyba.
Illm. e Exm. Sr.—Sendo presente a Sua Magestade o Imperador a re-
presentação junta da Relação dessa Província, e sendo ouvida sobre
ella a Secção do Conselho de Estado dos Negócios da Justiça, Houve
o Mesmo Augusto Senhor por bem, conformando-se com o parecer da
dita Secção, Mandar declarar á V. Ex., para que assim o íaça cons-
tar á Relação: 1.° que o Decreto irritante que ella não encontrou ex-
presso no ârt. 77 da Lei n°. 261 de 3 de Dezembro de 1841, é tão inhe-
rente á disposição do mesmo artigo, quando este prescreve que os pro-
vimentos de re°cursos sejam presentes ao Juiz á quo dentro de um
certo prazo, que não pôde deixar de considerar-se como subenten-
dido, salvo á querer-se dar por de nenhum eífeito, e por inteiramente
supérflua a própria disposição, o que seria manifesto absurdo; 2.°
que lambem não é exacto o considerar-se como detentor, no sentido
emque faliam os differentes artigos do cod. do proc. cr. relativos á or-
dem de habeas-corpus, o Commandante de uma guarnição ou força,
as prisões de cujo quartel se acha recolhido um preso á ordem da
autoridade judiciaria, pois resultariam graves inconvenientes ao ser-
viço e á disciplina militar, de serem exeqüíveis taes ordens, e as de
prisão do detentor que ás vezes resultam das primeiras, na pessoa de
Commandantes e oificiaes, cujas obrigações e attribuições nada têm
das que pertencem aos carcereiros das cadeias publicas; devendo por-
tanto as ditas ordens de habeas-corpus, a favor de presos de Justiça,
recolhidos em prisões militares, dirigir-se sempre ás autoridades a
cuja ordem estiverem presos, na fôrma do Regulamento que ora se ex-
pede para esse fim. E como a Relação, pela facilidade com que des-
pronunciou aq réo Alexandre Francisco de Seixas Machado, com o fun-
damento de não estar bem provado o crime, quando é certo que para
a pronuncia bastam vehementes indícios, que só podiam ser bem apre-
ciados pelos juizes locaes; pela illegalidade com que expediu a ordem
de habeas-corpus em sustentação de um provimento, que caducara em
virtude da disposição da lei, que marcara prazo para a sua apresentação
e que por isso mesmo necessariamente annullava os não apresentados
dentro do prazo; e, finalmente, pela insistência com qae ella se houve
nas medidas para a execução de suas deliberações, sem quo hesitasse
sobre a legalidade dellas, senão depois do seú complemento quanto
& soltura do réo; faz presumir que os seus membros, cujos votos fo-
— 49 —
Cionsulta de D e z e m b r o de 1 8 4 3 . (*)

Sobre a'substituição do Juiz de Direito, appellaçâo, suspeição, o


tempo em que as Leis principiam a obrigar, e art. 34 do Regula-
mento de 2 de Fevereiro de 1842, que autoriza os Presidentes de
Província a resolver duvidas.

Senhor.—A Secção do Conselho de Estado dos Negócios


da Justiça, em cumprimento do Aviso do 19 de Agosto do
corrente anno, tema honra de apresentar a Vossa Magesta-
de Imperial seu parecer sobre as duvidas que ao Presidente
da Província da Bahia propôz o Juiz Municipal supplente
da villa de Inhambupe e comarca do mesmo nome, e que
elle resolveu em virtude do art. 34 do Regulamento de 2
de Fevereiro de 1842.
Entrou em duvida o referido Juiz Municipal supplente:
1.° — Se lhe competia assumir as funcções de Juiz de Di-
reito na. ausência deste, ou se ao primeiro supplente do
Juiz Municipal da villa da Purificação, apezar de que, abo-
lido o Juiz letrado delia, se limite sua autoridade ao pre-
paro dos feitos, como a delle supplente :
2.L—Se, tendo como Juiz Municipal sustentado uma
pronuncia, podia como Juiz de Direito mandar escrever
uma appellaçâo, que se lhe requer, no feito em que serviu
de Juiz Municipal :

rao vencedores em todas essas medidas se deixassem levar de alguma


consideração menos justificável para desprezarem o preceito da lei:
cumpre que V. Ex. exija uma resposta dos ditos membros da Relação
sobre todo o proceder delia neste negocio, ordenando ao Presidente
delia que os convoque para esse effeito, marcando um prazo dentro
do qual apresentem a dita resposta.
O que tudo communico á V. Ex. por determinação de Sua Magesta-
de o Imperador.
Deus Guarde áV. Ex.— Palácio do Pio de Janeiro em 30 de No-
vembro de 1843. —Honorio Hermeto Carneiro Leão.—Sr. Presidente
da Província de Pernambuco.
Não consta que fosse expedido o Regulamento acima citado.
Esta consulta não tem mez, nem anno; mas supponho que ella
éfi
le Dezembro de 1843, avista de dados existentes nesta Secretaria
de Estado,
c. J. 7
—m—
3. —Se o Juiz de Direito, e o seu 1.°supplente se derem
de suspeitos em um processo, a quem compete o seu co-
nhecimento :
4/-_ Finalmente, quando principiam as Leis a obrigar nos
municípios de fora da capital, se dentro de dez dias depois
da sua publicação na respectiva Secretaria de Estado, ouse
depois de entregues ás Câmaras e autoridades compe-
tentes.
O Presidente da Província satisfez aos mencionados que-
sitos da maneira seguinte :
Quanto ao 1.°. que ao 1.' supplente do Juiz Municipal
da villa de Inhambupe, na falta ou impedimento do pro-
prietário, competia substituir ao Juiz de Direito da co-
marca, e ao segundo exercer as funcções de Juiz Municipal
com jurisdicção ampla para proferir até sentença final;
quanto ao 2.', que o Juiz Municipal pôde mandar escrever a
appellaçâo na hypothese figurada, se nella tiver cabida; pelo
que toca ao 3. ', que, dando-se de suspeito o Juiz de Direi-
to em qualquer feito, deve tomar conhecimento delle o
Juiz Municipal, o qual, sendo também suspeito, o passará ao
seu 1. supplente, e assim por diante; e., finalmente,
que as Leis são obrigatórias depois de recebidas pelas au-
toridades locaes.
A Secção concorda com o Presidente da Província na re-
solução tomada sobre os três primeiros quesitos; mas,
quanto ao 4.°, parece-lhe conveniente ser mais preciso, e
por isso julga que se deve declarar, que as Leis obrigam na
Corte, depois de publicadas na respectiva Secretaria de Es-
do, e nas comarcas de fora depois que o forem por editaes
dos Juizes de Direito.
Esta mesma disposição se encontra no Regulamento n.° 1
d o l . de Janeiro de 1838, em conformidade do que está
determinado pela Lei de 14 de Junho de 1749.
Que a Ord. do L. 1. Tit. 1. § 10 não podia ser áppli-
cada aoBrazíl,é incontestável; por quanto, marcando ella
o prazo de três mezes para se considerar a Lei publicada, e
em execução em todo o Reino de Portugal, não podia abran-
ger o Brazil á tanta distancia daquelle Estado, mormente
— 51 —
atlento o a ir azo da navegação no tempo em que foi publi-
cado o Código Pbilippino.
O legislador que tal presumpção reconhecesse, sanccio-
naría a obrigação de observar uma Lei, antes que delia
se pudesse obter conhecimento.
Suppondo a Secção em pleno vigor a citada Lei de 1749,
que prescreve a fôrma da publicação das Leis nos domínios
portuguezes, de que então fazia parte o Brazil, fundada na
faculdade que lhe confere o Regulamento do Conselho de
Estado, abalança-se a propor a Vossa Magestade Imperial a
necessidade de uma Lei sobre a promulgação .das Leis.
No conceito da Secção, esta Lei não deve ter por base a
da Ord. do L. 1." Tit. i.° §10, nem a da citada Lei
•de 1749, porque uma e outra lhe parecem mui defeituosas.
A Ordenação fixa o mesmo prazo para a Lei principiar a
obrigar em qualquer parte do território, ou seja próxima,
ou a mais remota delle, excepluando-se somente a Corte,
em que obriga oito dias depois de publicada na Chancella-
ria-mór do Reino.
Se é tyrannia responsabilisar pela inobservância da Lei
a quem delia não teve, nem pôde ter noticia, nada justifica
não ser a Lei guardada, logo que delia haja, ou prudente-
mente se presuma ter havido noticia, é este um dos defei-
tos da doutrina da Ordenação.
Nesta hypothese, obrigaria na Corte oito dias depois que
fosse publicada na Chancellaria, e na cidade de Nictheroy,
aonde podia chegar uma hora depois de sua publicação, só
principiaria a ser esecutada três mezes depois.
Durante este prazo poder-se-hia, em fraude da Lei,
eommetter grande parte dos actos que ella teve em mira
prevenir; e como que se familiarisaria o povo em desa-
catal-a.
Eis a razão pela qual a Secção se persuade de que a base
da Ordenação não pôde ser adoptada em a nova Lei sem
offensa da boa razão, e sem prejuízo publico.
Mais razoável parece, á primeira vista, o systema, que faz
datar o império da lei, depois que é publicada por editaes,
ou por outra qualquer maneira ; afflgura-se que neste caso
—m —
a lei obriga, quando é e deve ser conhecida ; mas esta sup-
posição é contrariada pelos factos.
A autoridade incumbida desta publicação pôde por
negligencia, ou para promover o próprio ou o alheio
interesse, retardar a promulgação.
Este systema, pois, labora no defeito de tornar possível,
ou provável, a observância da lei nos lugares mais remotos,
e fica esta dependente do capricho e interesses dos empre-
gados subalternos.
A Secção acha, que uma, boa lei á este respeito deve fun-
dar-se na distancia c no tempo, de maneira que principie a
obrigar na Corte depois de certo prazo, e fora da Corte con-
lando-seosdiaspor um dado numero de léguas em distancia
delia; por exemplo, obrigaria a lei no município da corte
oito dias depois de publicada, e fora delle tantos dias nos
lugares á tal distancia, contando-se cada dia por tantas lé-
guas, de maneira que obrigue a dezaseis léguas da corte um
dia depois que nella principiou a ter vigor.
Não duvida a Secção que também, segundo este metbòdo,
deixará de ser observada a lei nos lugares em que delia já se
tenha noticia, mas estas hypotheses serão raras, e de mui
limitada duração.
A Secção não dissimula a objecção que se poderá fazer ao
methodo que ella prefere, ponderando-se que em muitos
casos a lei não chegará ao conhecimento daquelles que a
têm' de observar ; mas esta consideração não basta para que
elle seja rejeitado.
Qualquer que seja a maneira pela qual se promulguem as
leis, sentir-se-ha sempre essa falta, haverá sempre muitos
que ignorem suas disposições.
A existência e prosperidade de qualquer paiz depende
da observância das leis, e esta nunca se realizaria, se só
pudesse ter lugar depois que todos os subdUos as conhe-
cessem.
Força é pois presumir que a lei é geralmente sabida,
feitas pela autoridade as precisas diligencias para esse fim.
Não ha legislador que não tenha procedido da maneira
indicada, ainda nos governos em que a lei não é discutida
— 83 -
com publicidade, em que apparece sem ser esperada : pro-
va-o essa mesma ordem que considera obrigatória a lei em
todo o reino três mezes depois de promulgada na chan-
cellaria, ainda que realmente o não fosse.
Em um governo livre, como o Brazil, em que as leis são
largamente discutidas em cada uma das Câmaras Legislati-
vas, muito tempo antes annunciadas, o seu conhecimento
chega a todos os pontos com muita rapidez e facilidade. Esta
lei, porém, deve ser mui lacônica, isto é, não deve fixar um
numero certo de léguas que se deve contar por dia, porque
sendo hoje mui difficeis as communicações, não se pôde viajar
com tanta facilidade, como no futuro, em que a mul-
tiplicação de boas estradas, e de barcas de vapor appro-
ximaram da Corte lugares que hoje se afflguram, ou estão á
ímmensa distancia.
A Secção, finalmente, pensa, que, se no gabinete de Vossa
Magestade Imperial vencer a idéa de que no Brazil não ha
uma lei sobre esta matéria, pois nem a de 1749, nem a
Ord. lhe são ou foram appiicaveis, convirá em tal hypothese
expedir um regulamento, que fixe matéria tão importante.
Tal regulamento cabe na attribuição de expedir decretos,
regulamentos e instrucções adequadas á boa execução das
leis, pois sem duvida para esse fim muito contribuirá
marcar a maneira de sua promulgação.
Permitia ainda Vossa Magestade Imperial que a Secção
manifeste a apprehensão que em seu animo tem produzido
o art. 34 do Regulamento de 2 de Fevereiro de 1842, que
autoriza aos Presidentes das províncias a resolver as
duvidas que se suscitarem na sua execução; posto que lhes
incumbe trazer ao conhecimento do Governo Imperial quaes-
quer deliberações que tomarem, a fim de serem definitiva-
mente resolvidas.
Rara é a innovação contra que não protesta a actualidade:
os seus apaixonados, até os mesmps a quem não satisfazem
as disposições, vigentes, reclamam contra sua mudança, já
com o intuito de restaurarem o passado, já com o de al-
lerarem segundo o próprio pensamento, e não pela maneira
realizada.
— 54 -
A este numero accrescem não poucos de boa fé, que não
comprehendem as alterações feitas, ou que se não tran-
quillisanr, sem que o superior llfas explique : menção
merecem também os que, para alardear talento e instrucçao,
imaginam duvidas sem o menor fundamento.
Não maravilha pois, attenta a natureza humana, que, só
pelos motivos que ficam ponderados, muitas representações
subam ao Governo Imperial solicitando resolução de
duvidas na execução de uma lei, como a citada de 3 de
Dezembro, que alterou, em não poucas de suas bases, a
legislação anterior. Não é do esperar que os Presidentes de
províncias, em quem se não requer a qualidade de juris-
consulto,e a quem fallecem muitos dos recursosde que dispõe
o Governo Imperial, possam satisfatoriamente deferir a
taes representações sem perigo de emmaranhar a adminis-
tração e o foro.
Receia a Secção que do exercício de tal autorização re-
sulte que em uma Província seja a Lei explicada de um
modo, e em outras de diverso, e até contrario; e pôde até
acontecer que isto se verifique na mesma Província, visto
que tão curtas são as Presidências, ainda sob os mesmos
Presidentes.
Verdade é que as decisões dos Presidentes das províncias
podem ser alteradas pelo Governo Imperial; mas estas
derogações irão annullar actos praticados á sombra das
explicações presidenciaes, e abrir a porta a reclamações e
pleitos ruinosos.
Esta consideração tem ainda mais força reflectindo-se
que a Lei de 3 de Dezembro de 1841 investiu o Governo da
autoridade de legislar provisoriamente; que consequen-
temente muitos dos actos contrários a esses Regulamentos,
e a essas decisões dos Presidentes serão nullos segundo a
sua natureza, e os objectos sobre que versarem.
Quantos males podem resultar da continuação deste sys-
tema, póde-se conjecturar por uma decisão do Presidente
da Provincia da Bahia, com a qual se não conformou o
Conselho de Estado. Havia aquelle Presidente, fundado
no citado art. 34 do Regulamento de 2 de Fevereiro de
— 35 —
1842, resolvido que a Lei não permiltia ao Juiz Municipal,
que pronunciasse, presidir o Jury que conhecesse desse
pleito: suppondo que o Governo Imperial adoptou o parecer
do Conselho de Estado, entrará em duvida se as sentenças
em que diverso Juiz do da pronuncia presidiu ao Jury, são
válidas, por ser excluido pela Lei o competente. (*)
E se o Governo Imperial se não conformou com a con-
sulta mencionada, essa duvida terá lugar nas Províncias
em que os Presidentes tiverem decidido como ao Conselho
de Estado pareceu.
Se não fosse o sobredito art. 34 do Regulamento, os
Presidentes das Províncias, sobr'estando o seu juizo recor-
reriam ao Governo Imperial, e uma só decisão seria expe-
dida para todas as Províncias do Império: haveria ao
menos uniformidade.
Sem duvida que as autoridades competentes, ainda sem
decisão do Governo, procederiam no-desempenho de seus
deveres, segundo sua intelligencia ; mas não se daria tanta
afouteza nos procedimentos, nem a mesma unidade de
opiniões, que em taes casos resulta de uma declaração que
se estende a toda a uma província.
A Secção não se anima a propor a revogação do art. 34
do citado Regulamento ; porque receia comprometter o
serviço publico, inhibindo aos Presidentes das províncias
de tomar as resoluções que delle exigirem circumstancias
imprevistas e imperiosas; mas pede á Vossa Magestade
Imperial seja servido Tomar em sua Alta Consideração o
expendido,para o fim de deliberar se convirá recommendar
aos Presidente', que só em circumstancias extraordinárias
exerçam a faculdade que lhes conferiu o Regulamento.
E' este o parecer da Secção, que Vossa Magestade Imperial
acolherá como melhor entender. — Bernardo Perára de
Vasconcellos. — Bispo de Anemuria. — Caetano Maria Lopes
Gama. (**)

(*) Vide a Resolução lançada a pag. 60.


(**) As Leis obrigam na Corte oito dias e. nas üProvíncias três mezes,
depois de publicadas, na forma da Ord. L.° l. Tit. 2.° | 10, salvo
quando trazem fixado o tempo de sua execução; e os Decretos do
C o s í s u l t a «íe cie í > « a e r a b r o d e fi®-&"8. (")

Sobre o requerimento em que um Magistrado, acc-usado deter recebi-


do dinheiro para não pronunciar a um criminoso, pediu ser res-
ponsabilisado

Senhor.— ígnacio Manoel Alvares de Azevedo, Chefe de


Policia da Província do Rio de Janeiro, chamou á responsa-
bilidade um artigo publicado no n. ' 351 do periódico Sen-
tinella da Monarchia, em que lhe imputou o recebimento
de dous contos de reis, para o funde não pronunciar re-
belde à um Antônio José Dias de Novaes, e ter posto a jus-
tiça em almoeda no processo, que organizou, como Chefe de
Policia nas villas do norte do S. Paulo, pelo motivo da rebel-
lião, que naquellaprovíncia rebentou em o anno passado.
Foi pronunciado como responsável do dito artigo Fran-
cisco Lopes da Silva, mas o Conselho dos Jurados declarou
por sete votos contra cinco que tinha o Chefe de Policia
posto a justiça em almoeda, e por oito votos contra quatro,
que recebeu de Novaes dinheiro para o absolver; sentença
de que appellou para a Relação do districto.
E como este tribunal não pôde conhecer da injustiça da
sentença, limitando-se sua autoridade a mandar que seja
por novo Jury julgado o processo e o supplicante queira
limpar sua reputação de tão negra nodoa, ped,e a Vossa Ma-
gestade Imperial que se digne não só exoneral-o do impor-
tante cargo de Chefe de Policia, senão também resolver que
o Tribunal da Relação promova e organize contra elle pro-
cesso de responsabilidade, tomando como denuncia a deli-
beração da maioria do conselho dos jurados.

Governo devem ^ser cumpridos, logo que delles houver noticia pela
publicação na folha offlcial. Av. de 31 de Outubro de 1873. Sobre
este assumpto veja-se também o Av. da Fazenda de 14 de Novembro
de 1867 e o da Justiça de 14 de Dezembro de 1869.
As substituições dos Juizes de Direito se acham marcadas na Lei
n.° 2033 de 20 de Setembro e Decreto de 22 de Novembro de 1871;
assim como pela dita Lei e Decreto citado os Juizes Municipaes não
sustentam mais pronuncia.
("*) Esta consulta não tem data.
0/

Gircumscrevondo a secção seu parecer á parte do reque-


rimento em que o supplicante pede á Vossa Magestade Im-
perial que lhe mande organizar processo de responsabilidade
na Relação do districto, tomando como denuncia a decisão
contra elle proferida pela maioria do Jury ; entende que não
tendo esta por fim accusar ao supplicante mas absolver ao
réo, pronunciado por calumnia, não pôde jamais reputar-se
denuncia, como pretende. Nem tem lugar procedimento
official contra o supplicante, porque, além da razão expendi-
da, não apparece outra prova, se tal nome merece, senão a
deattestados, que não podem fazer fé em juizo, nem justifi-
car procedimento contra o supplicante, uma vez que docu-
mentos taes com facilidade se conseguem, ainda da boa fé.
Concede a Secção que o supplicante esteja profundamente
magoado de uma decisão susceptível de comprometter o
seu credito e reputação no conceito publico, mas não julga
razoável que o Governo intervenha em sua justificação por
actos taes, como o pretendido.
O indeferimento de tal pretenção não tolhe ao supplican-
te de intentar qualquer justificação ou outro processo, em
que evidencie a falsidade dos documentos contra elle produ-
zidos e a injustiça da sentença do Jury, que julgou provados
os factos criminosos, que a imprensa lhe imputou.
Pelo contrario se o Governo Imperial mandasse proceder,
como requero' supplicante, mostraria dar credito ás impu-
taçõesque lhe foram feitas, para o que não tem os precisos
esclarecimentos, e faria considerar sentença de condemna-
ção do autor a que absolvesse o réo por elle accusado.
Este precedente obrigaria o Governo a resolver da mes-
ma maneira em casos semelhantes, o que não rara vez po-
deria comprometter o serviço publico.
Nem a secção tem noticia de lei, ou precedente, que possa
invocar em abono desta pretenção, a não ser a pratica, pois
que também não ha lei, segundo a qual os offlciaes do exer-
cito, ou da armada requerem conselho de guerra, quando
a autoridade offlcialmente o não determina, salvo se se
allegar o direito de petição, que é de todos os tempos, e de
todos os lugares,
c. J. 8
- 58 —
Gomo que em compensação das fadigas e perigos a que
está exposto um militar se tolerou que considerando'estes
ferido o seu brio, e ponto de honra, pedissem conselho de
guerra, para se justificarem ; mas isto pouco lhes aproveita,
porque justificações taes não servem para lavar nodoas, que
a malignidade consegue imprimir no credito de qualquer
pessoa. E deste mesmo favor abusam não pouco os militares.
Incumbe aos commandantes de corpos, commanclantes
de armas, generaes commandantes de forças ter livros
particulares, em que notem de um lado as culpas dos offlciaes,.
castigos em que tenham incorrido, etc. eclo outro, serviços,
relevantes e extraordinários, e prêmios respectivos, de que
tudo devem fazer menção as informações semestraes, com
um juizo critico dos generaes, e commandantes sobre a
habilidade ou inhabilidade para serem empregados, promo-
vidos, ou excluídos do quadro do exercito.
Officiaes que receiam essas informações e esse juizo critico
pedem conselho de investigação, que de ordinário os inno-
centa, por falta de provas, o os chefes põem tal nota no
referido livro, ficando assim o indigno habilitado para o
adiantamento a par do benemérito.
Se, pois, a secção faz votos para que tal estylo cesse no
exercito e armada, não pode deixar de se pronunciar contra
a sua admissão na carreira civil.
Cumpre que o Governo seja mui circumspecto nos pro-
cessos que ordenar, porque sempre lhe resultará alguma
quebra de força moral, se fôr de alguma sorte contrariado
pelos tribunaes julgando gratuitas e infundadas suas accu-
sações.
Não havendo no processo a que se refere o chefe de poli-
cia supplicante, prova que funde, nem ainda um despacho
de pronuncia, não será decoroso ao Governo Imperial, só
para satisfazer ao supplicante, mandar que a Relação o
processe.
Quanto vem de dizer a Secção confirmam os documentos,
com que o supplicante instrue o seu segundo requeri-
mento.
Chamados á depor em. juizo alguns dos que passaram os
— 59 —
attestados produzidos perante o Jury, ou negaram o conteúdo
destes, ouse explicaram de maneira que, em vez de accusar,
abonaram o supplicante, e até com certidão do inventario
de Antônio José Dias de Novaes mostra a falsidade do facto,
que foi ai legado, de se haver nelle descripto quantia, que
fora dada ao supplicante, para o não pronunciar.
A decisão do Jury, de que se queixa o supplicante, e
outras semelhantes, inclinam á secção ao reconhecimento
da necessidade de ser a lei do Jury attentamente reconsi-
derada e aperfeiçoada.
Entretanto, se Vossa Mage-tade imperial o Houver por
bem, pôde exigir do Presidente da Província informações
sobre as. mencionadas imputações; Ordenando-lhe, que
mande, em.primeiro lugar, verifical-as pelo Juiz muni-
cipal, e proceder na fôrma do direito.
Depois destas diligencias ficará o Governo Imperial habi-
litado para resolver, como fôr de justiça. E' este o parecer
da secção, que Vossa Magestade Imperial se Dignará Acolher
com sua costumada Indulgência.
Paço em de Dezembro de 1843. — Bernardo Pereira de
Vasconcellos. — Caetano Maria Lopes Gama. (*)

(') Expediu-se ao dito Chefe de Policia o seguinte Aviso :


Sua Magestade o Imperador, Tendo ouvido a Secção do Conselho de
Estado, dos Negócios da Justiça, sobre o requerimento que Vm. fez
subir a Imperial Presença, pe'dindo demissão do cargo de Chefe de
Policia da Província do Rio de Janeiro, e as necessárias ordens ao
Tribunal da Relação para promover a sua responsabilidade pelos factos
que lhe foram arguidos no periódico Sentinella da Monarchia, e que
o Jury desta Corte reputou provados na sentença de absolvição, que
foi proferida a favor do responsável por Vm. accusado; e Dignando-se
o Mesmo Augusto Senhor Conformar-se com o parecer da s >bredita
secção, Resolveu não aceitar a demissão pedida, nem ordenar as
diligencias para a responsabilidade, visto que a sentença proferida
no Jury, dado que seja confirmada na relação, não é um caso julgado
senão para a absolvição do responsável pelo periódico, e nao constitue
unia presumpção jurídica da existência dns factos arguidos, dos quaes
nao se dpfendia Vm. como réo, e até mesmo não vale como uma1
opinião digna de attenção, porque os documentos por Vm. apresen-
tados convencem de que os juizes naquelle processo foram illudidos
por falsa prova.
O què communico á Vm. para sua intelligencia.
Deus Guarde a Vm. —Palácio do Rio de Janeiro em 23 de Janeiro
de 1844.— Honorio Hermeto Carneiro Leão.— Sr. Chefe de Policiada
Província do Rio de Janeiro.
— 00 -

R e s o l u ç ã o d e »<U» <le D e z e m b r o «le 1 8 4 Í S .

Sobre—: se o Juiz de Direito interino pôde presidir ao Jury n'o


julgamento de um processo, no qual, como Juiz Municipal, revogou
ou sustentou a pronuncia.

Senhor.— Houve Vossa Magestade Imperial por bem, por


Sua Immedíata Resolução de 8 do mez passado, Orde-
nar que fosse examinado pelo Conselho de Estado o pa-
recer da Secção dos Negócios da Justiça do mesmo Conse-
lho, cujo theor é o seguinte:— Senhor—A Secção do Con-
selho de Estado dos Negócios da Justiça, em cumprimento
do Aviso de 19 de Agosto do corrente anno, tem a honra de
apresentar à Vossa Magestade Imperial seu parecer sobre
a duvida, que ao Presidente da Província da Bahia propôz
o Juiz de Direito interino da comarca da capilal daquella
Província, e que elle resolveu em virtude do art. 34 do
Regulamento de 2 de Fevereiro de 1842.
Recorreu o dito Juiz de Direito interino ao Presidente
para declarar-lhe se o Juiz Municipal, que serve no impe-
dimento do de Direito, pôde presidir ao Jury na sessão em
que elle tem de decidir processo, em que elle Juiz de Di-
reito interino, quando em exercício de Juiz Municipal,
tomasse conhecimento, por sua revogação ou sustentação de
pronuncia ; e o Presidente da Província resolveu, que
nenhuma Lei prohibia ao Juiz Municipal, servindo de Juiz
de Direito, presidir ao Jury no julgamento de taes processos,
porque, bem que o contrario determinasse o Código do
Processo nas causas crimes, todavia parece estar tal intelli-
gencia em harmonia com a legislação actual. A Secção
julga que nenhum impedimento ha para que o Juiz de Di-
reito interino presida ao Jury no julgamento dos processos
referidos.
Vossa Magestade Imperial, porém, Decidirá o que fôr
mais justo, e consentaneo com o bem publico.
Paço em de Outubro de 1843. — Bernardo Pereira de
Vasconcellos. —Bispo de Anenmria.— Caetano Maria Lopes
Gama.
— 61 —
Examine^se em Conselho de Estado.
Paço, 8 de Novembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade Imperial.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.
E tomada na devida consideração, e depois de bem dis-
cutida esta matéria, o sobredito parecer foi approvado pelo
Conselho de Estado; mas Vossa Magestade Imperial Resol-
verá como achar em Sua Alta Sabedoria, que é mais acer-
tado.
Sala das Sessões do Conselho de Estado em 9 de Novem-
bro de 1843.—Visconde de Mont'alegre.— Visconde de Abran-
tes. — Bernardo Pereira de Vasconcellos. — José Carlos Pe-
reira de Almeida Torres.— José Joaquim de Lima e Silva.—
Caetano Maria Lopes Gama — Visconde de Olinda.— Manoel
Alves Branco.— JoséCesario de Miranda Ribeiro.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 20 de Dezembro de 1843.
Paulino José Soares de Souza. (*)

Resolução de SO de Dezembro d e 184Ü55.


Sobre—se os Juizes Municipaes que pronunciam, ou sustentam pro-
núncias, podem presidir ao Jury nos processos, em que assim tiverem
intervindo.

Senhor—Houve Vossa Magestade Imperial porbem, por


Sua Immediata Resolução de 8 do mez passado, Ordenar que
fosse examinado pelo Conselho de Estado o parecer da Secção

(*) lista consulta é idêntica á que se acha lançada a pag. 60.


— 62 —

dos Negócios da Justiça do mesmo Conselho, cujo theor é o


seguinte
Senhor.—A Secção do Conselho de Estado dos Negócios
da Justiça, em cumprimento do Aviso de 19 de Agosto do
corrente anno, tem a honra de apresentar a Vossa Mages-
tade Imperial seu parecer sobre a duvida, que ao Presidente
da Província da Bahia propôz o Promotor Publico da co-
marca de Nazareth, e que elle resolveu, em virtude do
art. 34 do Regulamento de 2 de Fevereiro de 1842.
Pediu o dito Promotor Publico declaração—se os Juizes
Municipaes, que pronunciam, ou sustentam pronúncias,
podem presidir ao Jury nos processos, em que assim tiverem
intervindo, e o dito Presidente respondeu, que apezar de
não.haver Lei alguma, que expressamente prohibisse aos
Juizes Municipaes quandoservissem interinamente de Juizes
de Direito tal presidência, parecia-lhe mais consentaneo
com a justiça, e de accôrdo com a Lei de 3 de Dezembro de
1841, não poderem os Juizes Municipaes, em taes casos,
presidir ao Jury, devendo chamar-se para esse fim a quem
competir, na ordem das substituições.
A Secção não pôde acceder ao parecer do Presidente da
Província, por quanto, a ser verdadeira a intelligencia que
elle deu á Lei, se veriam em muitos casos suspeitos os Juizes
de, Direito, porque a estes incumbe a cilada Lei de 3 de
Dezembro no § 3.L do art. 25, proceder, ou mandar pro-
ceder, ex-ofíicio, quando lhe fôr presente por qualquer
maneira algum processo crime, em que tenha lugar a accu-
sação por parte da Justiça á todas as diligencias necessárias,
ou para sanar qualquer nullidade, ou para mais amplo co-
nhecimento da verdade e circumstancias, que possam in-
fluir no julgamento ; accresce, que na mesma Lei os Juizes
de Direito pronunciam, e julgam definitivamente os crimes
de responsabilidade. Nem é de suppôr que a Lei julgando
menos apto para presidir ao Jury o Juiz que interveio na
formação da culpa, conferisse aos Juizes de Direiro as men-
cionadas attribuições, podendo ser em muitos casos sus-
peitos. Doutrina similhante já o Código do Processo tinha
consagrado no art. 294.
— 63 —

Parece, por tanto, á Secção que a decisão do Presidente da


Província da Bahia não merece a approvação Imperial; mas
Vossa Magestade Imperial Resolverá o que formais justo e
conducente ao bem publico.
Paço em de Novembro de 1843. — Bernardo Pereira de
Vasconcellos.— Bispo de Anemuria.— Caetano Maria Lopes
Gama.
Examine-se em Conselho de Estado.
Paço, 8 de Novembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade Imperial.
Honorio Herneto Carneiro Leão.
E tomada na devida consideração, e depois de bem
discutida esta matéria, osobredito parecer foi approvado
pelo Conselho de Estado, mas Vossa Magestade Imperial,
Resolverá como achar em Sua alta Sabedoria que é mais
acertado.
Sala das sessões do Conselho de Estado em 9 de Novembro
de 1843.— Yisconde de Mont'Alegre.— Visconde de Abrantes.—
Bernardo Pereira de Vasconcellos. — José Carlos Pereira de
Almeida Torres. — José Joaquim de Lima e Silva.— Caetano
Maria Lopes Gama.— Visconde de Olinda.— Manoel Alves
Branco.— JoséCezario de Miranda Ribeiro.
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 20 de Dezembro de 1843.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Paulino José Soares de Souza.

(*) Expediu-se a seguinte Circular :


Illm. eExm. Sr.—Tendo entrado em duvida—se um Juiz Municipal,
substituindo interinamente o de Direito da comarca, poderia presidir
- 64 —
R e s o l u ç ã o de » 0 de D e z e m b r o d e 1 8 4 3 .
Sobre os privilégios concedidos aos subditos de Sua Magestade Bri-
tannica no art. 6.° do Tratado de 17 de Agosto de 1827.

Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem Or-


denar, por Sua Immediata Resolução de 8 do mez passado,
que fosse examinado pelo Conselho de Estado o parecer da
Secção dos Negócios da Justiça do mesmo Conselho, cujo
theor é o seguinte :
« Senhor.—Èm observância do Aviso de lüdeOutubro do
corrente anno, vem a Secção do Conselho de Estado dos
Negócios da Justiça ter a honra de apresentar á Vossa Ma-
gestade Imperial seu parecer sobre as notas, em que o Mi-
nistro Plenipotenciario de Sua Magestade Britannica nesta
Corte, insta pela pontual observância dos privilégios que,
aos subditos de sua soberana, afiançou o art. 6 do Tratado
de 1827, e pela rekxação da fiança, em virtude da qual
foram soltos o capitão, e parte da tripolação da barca in-
gleza Fortitude.
E' fora de duvida que, pelo citado tratado, ficou compe-
tindo aos inglezes privilegio de foro em todas as suas
causas crimes e eiveis, sejam réos ou autores, emquanto
não fosse estabelecido um substituto satisfactorio ; e bem
que nenhuma razão justifique tanta insistência da parte
dò Ministro Inglez, para assegurar a fruição de tal privile-
gio aos subditos de sua nação, recebendo elles da justiça
ordinária a mesma protecção, que gozam os Brazileiros e
todos os outros habitantes do Império; a Secção considera

ao Jury para o julgamento de um processo crime, em que elle tivesse


intprvindo como formador de culpa, ou em que tivesse suste itado ou
revogado a pronuncia : Houve Sua Magestade o Imperador por
bem Ouvir o Conselho de Estado ; e Conformando-se coin o pa-
recer do mesmo, Resolveu que Lei nenhuma prohibia que um
Juiz nessas circumsiancias presidisse ao Jury, e que nem disso
resuttavam inconvenientes alguns, que devessem ser acautelados. O
que Manda o mesmo Augusto Senhor communicar a V. Ex. para sua
intelligencia, e para que se observe nos casos que oceorrerem.
Deus Guarde a V. Ex.—Palácio do Rio de Janeiro em 29 de De-
zembro de 1843.—Paulino José Soares de Souza.— Sr. Presidente da
Província de
Vide as notas lançadas na Resolução Imperial, transcripta a pag. 35.
- 65 —
prudente annuirá requisição mencionada, declarando Vossa
Magestade Imperial que o privilegio do foro sobredito sub-
siste em toda a sua extensão depois do Código do Processo
Criminal, como antes delle emquanto estiver em obser-
vância o Tratado celebrado entre o Brazil e Portugal
cm 1827, visto que o Governo Britannico recusa reconhecer
como satisfactorio o Juizo dos Jurados, instituído em ob-
servância da Gonstituição do Império.
Quanto, porém, á relaxação da fiança que pede o Ministro
Inglez, é acto judiciário, que os interessados devem reque-
rer perante as autoridades competentes, e com o qual ne-
nhuma connexão tem o privilegio do foro, tendo até sido
concedida pelo Conservador, seu juiz privativo, como já
foi declarado em Aviso da St cretaria de Estado dos Negócios
da Justiça de 6 de Dezembro de 1841.
A Secção se abstem de contrariar a inexacta exposição,
que nas ditas notas faz o Ministro Inglez^, do facto que mo-
tivou a prisão e pronuncia do capitão, e parte da tripolação
da barca Fortitude, porque a considera desnecessária, para
repellir a pretenção, a que se annulle a fiança por elles pres»
tada.
Dos documentos presentes á Secção evidencía-se que
aquelles inglezes foram presos em flagrante, por terem al-
gemado, amarrado, espancado e tapado com mordaça a bocçâ
a um caixeiro de Domingos Fernandes AlVes & C. , e que
foram regularmente pronunciados pelo Juiz Gonservador
da Nação Britannica, e que por conseguinte são infundadas
as arguiçoes feitas pelo citado Ministro á Justiça ordinária
do paiz.
E' este o parecer da Secção, que Vossa Magestade Impe»
rial se Dignará acolher com sua costumada indulgência.
Paço em de Outubro de 1843.—"Bernardo Pereira de Vas^
toncellos.— Bispo de Anemuria.— Caetano Maria Lopes Gamàt
Examine-se em Conselho de Estado,
Paço, 8 de Novembro de 1843,
Com a rubrica de Sua Magestade ImperíaL
Honorio Hermeto Carneiro Leão.,, »
— 66 —

E tomada na devida consideração, e depois de bem discu-


tida esta matéria, o sobredito parecer foi approvado pelo
Conselho de Estado, mas Vossa Magestade Imperial Resol-
verá como achar em Sua Alta Sabedoria o que é mais acer-
tado.
Sala das Secções do Conselho de Estado em 9 de Novem-
bro de 1843.—Visconde de Mont' Alegre.—Visconde de Abran-
tes.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—José Carlos Pereira
de Almeida Torres.—José Joaquim de Lima e Silva.—Caetano
Maria Lopes Gama.—Visconde de Olinda. — Manoel Alves
Branco.—José Césario de Miranda Ribeiro.

RESOLUÇÃO

Como parece.

Paço, 20 de Dezembro de 1843.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Paulino José Soares deSouza. (*)

( ) Com Aviso de 23 de Dezembro de 1843 remetteu-se cópia desta


™ £ » u a a o M i n , l s t e n o d e.Kstrangeiros para que, de conformidade
com ella, respondesse ao Ministro de Sua Magestade Britannica.
CONSULTAS

DA

SECÇÃO DE JUSTIÇA DO CONSELHO DE ESTADO

Resolução de Ji-S, <le J a n e i r o dei@4'£.


Sobre a intelligencias do termo —Magistrados.

Senhor. — Houve Vossa Magestade Imprerial por bem


Ordenar por sua immediata Resolução de 3 do corrente
mez, que fosse examinado em Conselho de Estado o parecer
da Secção do mesmo Conselho, a que pertencem os Negó-
cios da Justiça, cujo teor é o seguinte :
O Presidente da Província do Rio de Janeiro, tendo
recebido o Aviso de 28 de Setembro do corrente anno, de-
clarando que a suspensão dos Magistrados passou a perten-
cer exclusivamente á Vossa Magestade Imperial desde que
entrou no exercício de Suas Augustas funcções; pede que
se fixe a intelligencia do termo — Magistrados — a fim de
que fique fora de duvida se nelle estão comprehendidos
somente os Desembargadores, Juizes de Direito, Munici-
paes, dos Orphãos e seus substitutos, ou se também os
Chefes de Policia, Delegados, Subdelegados, Juizes de Paz,
Árbitros, e mesmo os Juizes de faoto ; em vista do art. 163
do Cod. Crim.
— 68 —
A Secção do Conselho de Estado dos Negócios da Justiça
tem a honra de apresentar á Vossa Magestade Imperial seu
parecer sobre este objecto, como lhe foi determinado em
Aviso de 9 de Outubro do corrente anno.
Dispõe o art. 101 da Constituição do Império que o Impe-
rador exerce o Poder Moderador suspendendo os Magistra-
dos, nos casos do art, 154; e se o termo —Magistrados —
fosse aqui empregado na sua mais ampla accepção, com-
prehenderia todas as autoridades quo exercem qualquer
jurisdicção.
Mas referindo-se o citado art. ao 15i evidencia-se que os
Magistrados, cuja suspensão pôde ser decretada só pelo
Poder Moderador são os Juizes de Direito, como se vê das
palavras do art. 184—o Dnperador poderá suspendel-os
por queixas contra elles feitas, precedendo audiência dos
mesmos Juizes — (são estes os Juizes de Direito de que
trata o art, 153.) Nas palavras —Juizes de Direito — estão
comprehendidos os membros das Relações, edos Tribunaes
Superiores, por isso que, suas principaes funcções consistem
na applicação das Leis.
Se a denominação do termo — Juizes de Direito — não
abrangesse os membros das Relações, e Tribunaes Superio-
res, não gozariam estes o privilegio da perpetuidade, que
aquelles expressamente confere o titulo 6.' da Constituição,
e estariam expostos a qualquer disposição Legislativa, que
tornasse sua condição inferior á dos Juizes de Direito.
Entende pois a Secção que se deve declarar ao sobredito
Presidente que a palavra Magistrados— do § 7. art. 101 da
Constituição comprehende só os Juizes de Direito, membros
das Relações, e Tribunaes Superiores ; e bem que todos os
outros Magistrados, como Juizes Municipaes, de Orphãos,
Chefes de Policia, Delegados, Subdelegados, e Juizes de Paz
possam ser suspensos pelo Governo Imperial, cabe igual
autoridade aos Presidentes das Províncias, que a devem
exercer com a moderação que, em actos de tanta gravidade, 6
indispensável.
Como o dito Presidente deseja sei esclarecido, se os
Árbitros e mesmo os Juizes de Facto podem ser suspensos.
— (59 —
citando o art. 163 do Código Criminal; convirá declarar-
lhe, que a suspensão de que trata esse art. não é a prévia do
| 7.° art. lOle art.. 154 da Constituição do Império, mas a
que é imposta por sentença da autoridade competente.
E' este oparecerda Secção, que Vossa Magestade Imperial
se Dignará acolher com sua costumada indulgência.
Paço em de Novembro de 1843.— Bernardo Pereira
de Vasconcellos. —Caetano Maria Lopes Gama.
Examine-se em Conselho de Estado.
Paço, 3 de Janeiro de 1844
Com a Rubrica de Vossa Magestade Imperial.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.
E tomada na devida consideração,e depois de bem discutida
esta matéria, o sobredito parecer foi approvado pelo Conse-
lho de Estado, mas Vossa Magestade Imperial Resolverá
como achar em Sua Alta sabedoria, que é mais acertado.
Sala das Sessões do Conselho de Estado em 4 de Janeiro
de 1844. — José Joaquim de Lima e Silva. — Visconde de
Mont'Alegre,—Visconde de Abrantes. — Visconde de Olinda.—
Caetano Maria Lopes Gama. —José Cesario de Miranda Ri-
beiro .
O conselheiro de Estado Miranda Ribeiro fez a seguinte
declaração no final da consulta — : Foram votos os Srs.
Bispo de Anemuria, Torres e Alves Branco.
RESOLUÇÃO.
Como parece. (*)
Paço> 24 de Janeiro de 1844.
Coma rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.

(') Expediu-se a seguinte circular aos Presidentes de Província;


Sua Magestade o Imperador, tomando em consideração as duvidas que
tem apparecido sobre a intelligencia da palavra — Magistrados — nos
casos em que a Constituição do Império atlribue ao Poder Moderador
— 70 —

I X e s o l u ç ã o d e * 2 4 d e J a n c l i » ile i ^ 4 .

Sobre o cffeito do perdão concedido pelo olTendido e o modo de pro-


cessar um indivíduo quando contra elle existirem queixa da
parte e denuncia do Promotor Publico.

Senhor —Houve Vossa Magestade Imperial por bem Or-


denar, por Sua Imnrediata Resolução de 3 do corrente, que
fosse examinado em Conselho de Estado o parecer da Secção
do mesmo Conselho, a que pertencem os Negócios da Jus-
tiça, cujo theor ê o seguinte :
Senhor.—A Secção do Conselho de Estado dos Negócios
da Justiça, em cumprimento do Aviso de 19 de Agosto do
corrente anno, tem a honra de apresentar a Vossa Mages-
tade Imperial seu parecer sobre as duvidas que, ao Presi-
dente da Província da Bahia, propôz o Delegado supplente
do 2.- districto da capital, e que elle resolveu em virtude
do art. 34 do Regulamento de 2 de Fevereiro de 1842; e
que são as seguintes:
1." Se, nos crimes policiaes, que forem da competência
dos Delegados e Subdelegados, julgar a final, pôde o perdão
do offendido impedir a prosecução do procedimento ex-offi-
cio, ou isentar da pena ao delinqüente, quando tenha já
sido proferida sentença condomnatoria?

a faculdade de suspendel-os, e ouvindo o Conselho de Estado, com


cuja opinião Houve por bem conformar-se, ordenou-me, que com-
municasseá V. Ex. para servir de regra nos casos oceurrentes, que
a palavra — Magistrados — empregada no § 7. ° do art. 101 da Con-
stituição do Império, comprehende não só os Juizes de Direito que
presidem as Comarcas, mas também os membros das Relações e
Tribunaes superiores, que também são Juizes de Direito, pois que
applicam a Lei ao facto, e são perpétuos; mas que não acontece o
mesmo com os Juizes Municipaes, de Orphãos, Chefes de Policia, Dele-
gados, Subdelegados e Juizes de Paz, os quaes, posto que com maior
razão possam ser suspensos pelo Governo Imperial, sao também su-
jeitos a serem-no pelos Presidentes de Província, como o permitte o
1 8.° do art. 5.° da Lei de 3 de Outubro de 1834; o que todavia não
obstaa que os mesmos Presidentes devam exercer essa attribuição
com a moderação que pede um acto de tanta gravidade.
Deus Guarde a V. Ex.—Palácio do «io de Janeiro em 29 do
Janeiro de 1844.— Honorio Hermeto Carneiro Leão.—Sr. Presidente
da Província de. ..
- 71 -
2.a Se, em geral, nos delidos em que tem lugar o proce-
dimento ex-officio podem-se instaurar simultaneamente
dous processos, um ex-officio, e outro á requerimento da
parte queixosa, ou se deve antes o Juiz que fôrma a culpa
mandar juntar ao mesmo summario, á que primeiro tenha
dado principio, quaesquer peças, ao mesmo delicto relati-
vas, corpos de delicto, partes officiaes, informações, inter-
rogatórios, ou a petição de queixa, apresentada depois de
começado o processo ex-officio?
A Secção entende que não têm lugar dous processos si-
multâneos contra o mesmo indivíduo, e pelo mesmo crime,
embora concorram queixa do offendido, e denuncia do Pro-
motor, ou procedimento official, porque, perdoando o offen-
dido, continuará por parte da justiça o processo, devendo
sempre o Juiz mandar juntar em um só quaesquer peças,
relativas ao delicto, partes officiaes, informações, interro-
gatórios, ou a petição de queixa.
A pratica contraria não raras vezes prejudicará ao conhe-
cimento da verdade, separando-se documentos e provas,
que juntos a evidenciariam ; exporão o conceito dos Juizes
a nota de contradictorios, absolvendo em um processo, e
condemnando em outro; e obrigarão as partes a maiores
Custas e trabalho.
Quanto ao eífeito do perdão da parte, em crime policial,
a Secção está convencida de que elle não exime o réo das
penas em que tiver, ou possa ter incorrido, não obstante a
letra do art. 67 do Cod. Crim. parecer amplial-o á todos
os crimes que, não forem públicos, ou particulares em que
tiver lugar a aceusação por parte da justiça.
Não recahindo o mal do crime policial sobre certa e de-
terminada pessoa, mas offendendo directa, e immediata-
mente ao publico, não pôde entrar em duvida que no termo
—crimes públicos—que se lê no citado artigo do Cod., estão
comprehendidos os crimes policiaes para os effeitos do
perdão, pois é evidente que um particular não pôde renun-
ciar a um direito que não lhe pertence, mas á sociedade.
De accôrdocom esta intelligencia parece estar, além de
outras disposições legaes, a do art. 206 do Cod. do Proc,
- 72 -

Crim., que se exprime assim —não havendo queixa, ou de-


nuncia, mas constando ao Juiz de Paz, que se tem infringi-
do as Posturas, Lei policial....- mandará formar auto
circumstanciado do facto, com declaração das testemunhas
que nelle hão de jurar, e citar o delinqüente, etc—d'onde
se conclueque tem lugar o procedimento offlcial em crimes
policiaes, ainda que não haja parte.
Nem obsta o determinado no art. 221 do mesmo Cod. do
Proc, que declara perempta a aceusação quando ambas as
partes deixam de comparecer, sem excusa legitima, nas
sessões, ou audiências, em que seus processos têm de ser
julgados pelos Juizes, e Juntas de Paz, aos quaes substitui-
rão os Subdelegados e Delegados de Policia, Juizes Munici-
paes, de Direito, e Chefes de Policia; podendo inferir-se
deste artigo, combinado com o 241, que cabendo na alçada
destes Juizos grande parte dos crimes policiaes, não tem
lugar procedimento offlcial quando os offendidos desistem
da aceusação em taes casos. Por quanto o art. 221 suppõe a
aceusação de um particular offendido nas palavras—a do
autor a perda do direito de continuar a aceusação— a qual
por este mesmo facto ficaria perempta, e consequentemente
não pôde comprehender a hypothese do procedimento offl-
cial, sem manifesta contradicçãocom os arts. 206, e 7 3 | l . °
do Cod. do Processo.
E' pois evidente que os arts» 220 e 221 só se referiam aos
delictos aceusados por particulares offendidos,, e que só
destes falia o art. 241 quando cita a disposição dos arts»
220 e 221, e não aos policiaes, porque sendo complexos os
delictos policiaes, e particulares, só se julgará perempta a
aceusação destes nas hypotheses dos arts. 220 e 221, prose-
guindo na daquelles. a justiça.
Entende pois a Secção que quando, além do crime poli-
cial, houver particular, o perdão da parte põe termo ao
procedimento deste, eximindo o réo da pena, em que por
elle tenha, ou possa ter incorrido, mas que não obsta ao
procedimento para a punição do delicto policial.
Todavia crimes ha particulares, que a Lei considera poli-
ciaes, como as offensas physi-cas leves, as injurias e calum-
— 73 —

nias não impressas, e as ameaças (art. 5. da Lei de 26 de


Outubro de 1831). Mas á Secção parece que taes crimes só
foram reputados policiaes para o effeito de serem como taes
processados, e que por conseguinte o perdão dado pelo of-
fendido exime aos réos das penas em que por elles tiverem
incorrido.
Nem outro pôde ser o sentido da citada Lei, porque se as
partes pudessem perdoar, com o mencionado effeito, penas
muito mais graves do que as impostas por ameaças, injurias
eoffensasphysicas leves,como são as penas de furto, e outras,
fora incomprehensível que não pudesse igual perdão eximir
aos réos de penas muito mais leves, quaes as de amea-
ças, etc.
A Secção pois se conforma com o Presidente da Província
da Bahia na parte em que resolveu se não devem formar
dous processos simultâneos, pelo mesmo delicto, e entre os
mesmos indivíduos, ainda que haja procedimento offlcial,
queixa de parte ou denuncia do Promotor, mas julga que se
deve declarar, que se com o crime policial estiver complexo
o particular, o perdão deste aproveita ao réo, mas não o
exime das penas daquelle, para cuja punição cumpre seguir
o processo.
E' este o parecer da Secção, que Vossa Magestade im-
perial Se Dignará Acolher com Sua costumada Benigni-
dade.
Paço em de Outubro de 1843'. —Bernardo Pereira de
Vasconcellos .—Caetano Maria Lopes Gama.

Examine-se em Conselho de Estado»

Paço, 3 de Janeiro de 1844.

Com a rubrica de Sua Magestade Imperial.

Honorio Hermeto Carneiro Leão.

E tomada na devida consideração, e depois de bem discu-


tida esta matéria, o sobredito parecer foi approvado pelo
c. J. 10
— 74 —

Conselho de Estado, mas Vossa Magestade imperial Resolve-


rá como achar em Sua Alta Sabedoria, que é mais acertado.
Sala das sessões do Conselho de Estado, 4 de Janeiro de
1844.— José Joaquim de Lima e Silva. —Visconde de Mont'Ale-
gre.—Visconde de Abrantes. — Visconde de Olinda.—Caetano
•Maria Lopes Gama.—JoséCesario de Miranda Ribeiro.
O Conselheiro de Estado Miranda Ribeiro fez a seguinte
declaração no final da Consulta : Foram votos os senhores—
Bispo de Anemuria, Torrese Alves Branco,
RESOLUÇÃO

Como parece. {*)


Paço, 24 de Janeiro de 1844.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador ,
Honorio Hermeto Carneiro Leão.

(*) O crime particular torna-se1 publico pelo facto de ser o offendi-


do pessoa miserável, nos termos do art. 74 do Cod. do Proc, e por-
tanto não tem lugar o perdão do offendido, segundo a doutrina do
art. 67 do Cod. Cnm. Aviso de 21 de Janeiro de 1867.
O Aviso de 6 de Fevereiro de 1869 declarou que não ha antinomia
entre os Avisos de 31 de Maio de 1864 e 21 de Janeiro acima citado.
No de 1864 trata-se do perdão do miserável offendido, cuja causa,
independente de representação sua, fora intentada pelo Promotor
Publico : nesta hypothese tem elle, como está decidido, o direito de
impor silencio á justiça publica, quanto aos crimes particulares, na
fôrma do referido art. 67 do Cod. Criai.
No de 1867, acima mencionado, trata-se-do caso, em que o offendi-
do, depois de ter representado sobre a impossibilidade de perseguir
em juizo o seu offensor e obtida a intervenção do Promotor, pretende
embaraçar a acção publica, interpondo o seu perdão.
As attribuições dos Chefes de Policia, Delegados e Subdelegados
foram alteradas pelaLei n.° 2033 de 20 de Setembro de 1871 nos artigos
e paragraphos seguintes:
Art. 9.° Fica extincta a jurisdicção dos Chefes de Policia, Delega-
dos e Subdelegados no que respeita' ao julgamento dos crimes de que
trata o art. 12 | 7.° do Cod... do Proc. Criminal, assim somo quanto
aojulgamento das infracçoes dos termos de bem viver e segurança,
e das infracçoes de posturas municipaes.
Paragrapho único. Fica também extincta a competência dessas au-.-
toridadespara o processo e pronuncia nos crimes communs; salvo aos
Chefes de Policia á faculdade de proceder a formação da culpa e pro-
nunciar no caso do art. 60 do Regulamento de 31 de Janeiro de 1842.
Do despacho de pronuncia, neste caso, haverá, sem suspensão das
piisoes decretadas, recurso necessário, nas províncias de fácil com-
7o

R e s o l u ç ã o d e % ^ d e «Jfaneii»© d e l@«ffi-<S.

Sobre as correiçõcs de que trata o Regulamento n.' 120 de 31 de


Janeiro de 1852.

Senhor — Houve Vossa Magestade Imperial por bem


Ordenar, por Sua Immediata Resolução de 3 do corrente
mez, que fosse examinado em Conselho de Estado o parecer
cia Secção do mesmo Conselho, a que pertencem os Negócios
da Justiça, cujo theor é o seguinte :
Senhor.— 0 Código do Processo Criminal e a Disposição
Provisória acerca da Administração da Justiça civil, insti-
tuíram autoridades judiciarias, cujos actos rara vez eram
sujeitos áfiscalisação; já porque delles não havia recurso
ou as partes o não interpunham, já porque não havia uma
autoridade que os corrigisse e procedesse contra os cul-
pados.
Esta omissão devia causar males graves, e pois, não
admira que providencias fossem geralmente reclamadas.
O art. 26 da Lei de 3 de Dezembro de 1841 procurou
remediar este mal estabelecendo as correições, que pelas
Leis anteriores ao clito Código estavam a cargo das autori-

municaçâo com a sede das Relações, para o Presidente da respectiva


Relação; nas de difficil commúnicação, para o Juiz de Direito da
capital da mesma província.
Art. 10. Aos Chefes, Delegados e Subdelegados de Policia, além de
suas actuaes attribuições tão somente restringidas pelas disposições
do artigo antecedente," e paragrapho único,ficapertencendo o preparo
do processo dos crimes, de que trata o art. 12 | 7.° do Cod. do Proc.
Crim. até a sentença exclusivamente. Por escripto serão tomadas nos
mesmos processos, com os depoimentos das testemunhas, as exposições
da aceusação e defesa; e os competentes julgadores, antes de profe-
rirem suas decisões, deverão rectificar o processo no que fór preciso.
§ 1.° Para a formação da_ culpa nos crimes communs as mesmas
autoridades policiaes "deverão em seus districtos proceder ás diligen-
cias necessárias para descobrimento dos factos criminosos e suas cir-
cumstancias, e transmittirâo aos Promotores Públicos, com os autos
de corpo de delicto e indicação das testemunhas mais idôneas, todos
os esclarecimentos colligldos; e desta remessa ao mesmo tempo darão
parte á autoridade competente para a formação da culpa.
| ã.° Pertence-lhes igualmente a eoncessão" da fiança provisória.»
— JÜ —

dades judiciarias, que presidiam as comarcas, ordenando


que os Juizes de Direito examinassem todos os processos de
formação de culpa, e todos os outros criminaes, sentenciados
pelos Juizes Municipaes, Delegados e Subdelegados, e bem
assim os livros dos Tabelliães e Escrivães-, para procederem
contra os que forem achados em culpa.
E' pois evidente que na letra do artigo citado estão com-
prehendidos os Tabelliães e Escrivães, que servem perante
os acluaes Juizes do Civel, pois do § 3.° do art. 26 da Lei
de 3 de Dezembro não se distingue entre Tabelliães e Es-
crivães, que servem perante Juizes do Cive], e Tabelliães o
Escrivães que servem perante outras justiças.
Accresce que a razão, que tornou necessárias as correi-
ções mencionadas, comprehende os Tabelliães e Escrivães
que servem perante os Juizes do Civel, porquanto não sendo
o principal fim destes, no exame dos processos, averiguar
como os seus subalternos cumprem seus deveres, e havendo
actos destes que nem ao menos chegam ao seu conheci-
mento, como os lançados nos livros de notas, releva que os
Juizes de Direito os examinem, corrijam e procedam contra
os culpados.
Parece, portanto, á Secção que deve ser alterado o
art. .487 do Regul. n. 120 de 31 de Janeiro de 1842, na
parte em que declara isentos das correições os Tabelliães e
Escrivães que servem perante os actuaes Juizes do Civel,
ainda mesmo quando estes accumularem as funcções de
juizes de Orphãos.
Permitta Vossa Magestade Imperial que a Secção patenteie
em Sua- Alta Presença a opinião em que está de também de-
verem ser sujeitos ás correições os mesmos Juizes do Civel,
posto que o exame desta matéria não fosse commeftido á
Secção no Aviso de 28 de Outubro do corrente anno.
Os Juizes do Civel podem errar, podem commetler preva-
ricações , e estes males têm de ser mais duradouros, do
que á primeira vista parece, como reconhece o citado Aviso,
havendo Províncias, nas quaes a jurisdicção destes Juizes
abrange todos os termos, como na de Pernambuco : e é in-
questionável , que para prevenir os rlosregramentos, abusos
e crimes que elles podem commelter, muito contribuiriam
as correições.
Que foi este o intento da Lei não é permittido duvidar,
pela simples leitura do §4.° art. 28 da citada Lei, assim
concebido —SÍ' os Juizes Municipaes, de Orphãos..... fazem
' as audiências, e se são assíduos, e diligentes no cumprimento
de seus deveres, procedendo contra os que acharem em culpa—
e não exercendo os Juizes do Civel differente, nem maior
jurisdicção do que a dos Juizes Municipaes, e Orphãos, como é
expresso no art. 114 da mesma Lei, não ha razão justificativa
que os isente de tão salutar fiscalisação.
Não contraria esta intelligencia o serem Juizes de Direito
os Juizes do Civel, como o declara o art. 21 da Disposição
Provisória, e o terem consequentemente o Juizo privativo
das Relações do Império, não cabendo na alçada dos Juizes
de Direito formar-lhes culpa (f i.° art. 25 da Lei de 3 de
Dezembro de 1841).
Não ha Lei que vede, antes a boa administração da Jus-
tiça exige que os Juizes de Direito achando em. culpa aos do
Civel lhes formem processo, que o deverão remetter ás
Relações, para que estas procedam na fôrma do art. 161 do
Código do Processo Criminal, e o participem circumstan-
ciadamente ao Governo, na Corte, e aos Presidentes, nas
Províncias.
Não pôde prevalecer contra esta opinião não serem os
Juizes de Direito superiores aos do Cível, porque ainda
suppondo que taes os não considera a Lei de 3 de Dezembro
de 1841, não suppõe superioridade a formação de taes pro-
cessos, como se collige do art. 17 § 4.° da citada Lei, e do
art. 21 da de 18 de Setembro de 1828, que incumbia seme-
lhante tarefa aos Juizes territoriaes contra os Presidentes
do Província, e membros das Relações.
A' vista do exposto a Secção se abalança a propor a Vossa
Magestade Imperial que o art. 487 do sobredito Regulamen-
to n.ü 120 seja substituído da maneira seguinte: —artigo —
Os actuaes Juizes do Civel, e os Tabelliães e Escrivães, que
perante elles servem, estão sujeitos ás correições, de quo
trata a Secção 3. Capitulo 1.° das Disposições Criminaes
— 78 —

do Regul. n. 120.de 31 de Janeiro de 1842; com a decla-


ração de que os Juizes de Direito achando aos do Civel
incursos no § 4. do art. 26 da Lei de 3 de Dezembro de
1841, remetterão todos os documentos, e provas, que
eolligirem, á Relação do districto, e cópia de tudo, na
Corte, ao Ministério da Justiça e nas Províncias, aos res-
pectivos Presidentes.
Eis, Senhor, o parecer que a Secção do Conselho de
Estado dos Negócios da Justiça tem a honra de apresentar
á Vossa Magestade Imperial, em observância do que lhe foi
determinado em o Aviso de 28 de Outubro do corrente
anno; esperando que terá o Benigno Acolhimento, que têm
tido outros.
Paço em de Novembro de 1843.— Bernardo Pereira de
Vasconcellos. — Caetano Maria Lopes Gama.

Examine-se em Conselho de Estado.

PJÇO, 3 de Janeiro de 1'84-í.

Com a rubrica de Sua Magestade imperial.

Honorio Hermeto Carneiro Leão.

E tomada na devida consideração,.e depois de bem


discutida esta matéria, o sobredito parecer foi approvado
pelo Conselho de Estado, mas Vossa Magestade Imperial
Resolverá como achar em Sua Alfa Sabedoria, que é mais
accrlado.
Sala. das sessões do Conselho de Estado, 4 de Janeiro de
1844.— José Joaquim de Lima e Silva.— Visconde de Monte
Alegre.— Yisconde de Abrantes.— Visconde de Olinda.—
Caetano Maria i^opes Gama.— José Cezario áe Miranda Ri-
beiro.
O Conselheiro de Estado Miranda Ribeiro fez a seguinte
declaração : Foram votos os Srs. Bispo de Anerauria, Torres
e Alves Branco.
— 79 —

RESOLUÇÃO.

Como parece quanto aos Escrivães e Tabelliães, não


quanto aos Juizes de D i r a f i do Cível.

Paço, 24 de Janeiro de 1844. (*)

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Honorio Hermeto Carneiro Leão.

(*) Expediu-se o Decr. n.1 428 de 31 de Julho de 1845, que é do-


theor seguinte :
Não estando de accòrdo com a letra e espirito da Lei n.° 261 de
3 de Dezembro de 1841, a disposição do art. 487 do Regulamento
n.° 120 de 31 de Janeiro de 1842, na parte em que declara, isentos
das correições os Tabelliães e Escrivães, que servem perante os
actuaes Juizes do Cível, já porque no § 3.° do art. 26 daquella Lei
não se distingue entre Tabelliães e Escrivães que servem perante
taes Juizes, e Tabelliães e Escrivães, que servem perante outras
Justiças ; já porque a mesma razão, por que estes últimos são
sujeitos ãs correições, milita para com aquelles, visto que, além
de nao ser o principal fim dos Juize do Civel, quando examinam
os processos, averiguar como os seus subalternos cumprem seus
deveres, accresce que actos ha dos mesmo-; subalternos, que nem
ao menos chegam ao conhecimento dos ditos Juizes, como são os
lançados nos livros de notas, o que tudo bem demonstra quanto-
importa que taes actos fiquern sujeitos ás correições dos Juizes de
Direito, para que estes não só os examinem e corrijam, mas também
procedam contra os culpados : Hei por bem, Tendo ouvido o
Conselho de Estado, Decretar o seguinte :
Art. 1." São também sujeitos ás correições, de que trata a Secção
terceira, Capitulo primeiro das Disposições Criminaes do Regula-
mento n.° 120 de 31 de Janeiro de 1842^ os Tabelliães e Escrivães,
que servem perante os actuaes Juizes do Civel.
Art. 2.° Fica nesta parte somente, revogado o disposto no art. 487
do mencionado Regulamento
José Carlos Pereira de Almeida Torres, do Conselho de Estado,
Ministro e Secretario de Estado dos Negócios do Império, e interina-
mente dos da Justiça, assim o tenha entendido e faça executar com
os despachos necessários.
Palácio do Rio de Janeiro, em 31 de Julho de 1845, vigésimo-
quarto da Independência e do Império.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
José Carlos Pereira de Almeida Torres.
O Decreto n.° 834 de 2 deOutubro de 1851 dá Regulamento para as
correições, e marca no art. 23 quaes os empregados que estão sujeitos.
aellas.
_ 80 -
CJorasMlfca.de %£í d e J a n e i r o d e SS4-<5.
Sobre actos legislativos da Assembléa da Província do Rio Grande do
Norte.

Senhor.— A Secção do conselho de Estado dos Negócios


da Justiça, submette respeitosamente a Alta Consideração
de Vossa Magestade imperial o seu parecer, sobre os actos
legislativos da Assembléa da Província do Rio Grande do
Norte.
As resoluções n. os 62, 63, 68 e 75 approvando os com-
promissos de diversas irmandades, são certamente da
competência das Assembléas Provinciaes ; mas é preciso,
que elles não contenham disposições offensivas das at-
tribuições dos Poderes políticos do Estado.
Portanto, só pelo exame desses compromissos poder-
se-hia fazer um juizo seguro sobre a validade das refe-
ridas resoluções.
A Lei n. 70 contêm no art. 3.° disposições, que devem
ser revogadas ; porque alteram direitos e acções de co-
herdeiros regulados pelas Leis geraes do Império.
No mesmo caso está a Lei n.° 73, porque deroga o
Alvará de 30 de Outubro de 1793 § 1.', onde estão estabe-
cidas as quantias para os contractos, que se devem provar
por escripturas publicas ou particulares.
Paço, em 26 de Janeiro de 1844.—- Caetano Maria Lopes
Gama.— Bernardo Pereira de Vasconcellos.— Bispo de Ane-
muria. (*)

Utesolução de íí de Outubro d e 1®4^S.


Sobre o recurso de graça dos réos Francisco Cassange e Francisco
Moçambique; e interpretação da Lei de 10 de Junho de 1835.

Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial, por Aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça de 22 de

(') As leis provinciaes citadas nesta consulta são do anno de 1841.


— 81 -
Setembro do presente anno, que esta Secção do Conselho de
Estado interpozesse o seu parecer sobre a sentença do
Jury de Cantagallo, que condemnou á pena capital os réos
Francisco Cassange e Francisco Moçambique por terem
assassinado a seu senhor Francisco José Neves.
A informação do respectivo Juiz de Direito e as principaes
peças do processo justificam a decisão do Jury emquanlo
teve por provada a criminalidade dos réos; na applicação,
porém, da pena não se guardou a proporção que a lei
exigia.
O Cod. Crim. no art. 18 § 10 considera como circum-
stancia attenuante a de ser o delinqüente menor de 21
annosl
O Juiz de Direito afürma veriíiear-se no réo Francisco
Cassange essa circumstancia, não devia pois ser-lhe imposta
a pena capital, mas sim a de prisão com trabalho por toda
a vida por ser a pena, que segundo o art. 45 do mesmo Cod.
substitue a de galés para os menores de 21 annos e maiores
de 60.
Commutada assim a pena do réo Francisco Cassange,
será esta graça um acto de verdadeira justiça, porque
entende esta Secção que a Lei de 10 de Junho de 1835 não
alterou aquellas das disposições do Cod. Crim., que-regulam
os gráos da imputação moral para a punição dos delin-
qüentes.
Quanto ao réo Francisco Moçambique, supposto não
exista outra prova mais do que a confissão do réo Francisco
Cassange, é ella comtudo revestida de circumstancias taes,
que, se não provam plenamente a qualidade de autor, bem
descobrem a cumplicidade daquelle réo; e por isso parece a
•esta Secção, que elle está no caso de merecer a commutação
da pena capital na de galés perpétuas, que é a immediata
segundo os arts. 34 e 35. do Cod. Crim.
Vossa Magestade Imperial Resolverá porém o que fôr
mais acertado.
Paço em 27 de Outubro de 1843.— Caetano Maria Lopes
Gama.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.— Bispo de Ane-
muria.
c. i. 11
— 82 --
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 5 de Outubro de 1844.
Com a "rubrica de Sua Magestade o Imperador,
Manoel Antônio Galvão (*),

R e s o l u ç ã o d e i ® de Outubro de IS^S^S.
Sobre o destino dado a diversos processos, que existiam nas
Conservatórias Inglezas.

Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial, por Aviso


de 16 do mez próximo passado, que esta Secção do Con-
selho d-e Estado consultasse com o seu parecer sobre os
quesitos exarados no officio do Juiz Conservador dos Inglezes
nesta Corte, dirigido naquella mesma data ao Ministério dos
Negócios da Justiça; o que a Secção vai respeitosamente
cumprir na presente consulta.
As providencias que nesse officio so pedem estão cm
grande parte reguladas pelo art. 18 da Disposição Provi-
sória acerca da Administração da Justiça Civil que-sup-
primiu a jurisdicção de todos os Desembargadores, que jul-
gavam em primeira instância, ou em Relação, como
Adjuntos.
Se alli não se fez menção do Juizo da Conservatória, foi
por ser a sua duração dependente do tratado de 17 de Agosto
de 1827; mas devendo este cessar a 11 de Novembro do pre-
sente anno, cessa com elle esse privilegio de foro, por não
haver lei, que o autorize.
Partindo destes princípios, entende a Secção, que quanto
ao 1. quesito do referido officio a decisão deve consistir
em mandar-se remetter todos os processos civis pendentes,

(") Vejam-se as annotações lançadas na Consulta que se acha


— 83 —

assim da Conservatória desta Corte, como da de outras


Províncias, aos Juizes Municipaes ou aos do Civel, onde
estes ainda se conservem.
Ter-se-hiade attender ao estado dos processos para a sua
distribuição entre os Juizes^da 1." instância, se a jurisdicção
dos Juizes Municipaes fosse a que lhes marcou o art. 8.°
da Disposição Provisória.; mas sendo ella boje a mesma,
que a dos Juizes do Civel pelo art. 114 da Lei cie 3 de De-
zembro de 1841, não pôde ter outro fim a preferencia, que
se dér a qualquer desses Juizes, senão a da melhor e mais
prompta expedição dos mesmos processos.
Quanto aos processos findos (objecto do 2.' quesito) con-
viria que fossem remettidos á um só Juizo, a fim de que
as partes por qualquer modo interessadas possam á todo
o tempo saber para onde elles foram transferidos e assim
obter as certidões ou quaesquer actos, a que tenham direito .
A esse mesmo Juízo deverão ser remettidos, para serem
archivados em um só cartório, os livros e mais papeis do
cartório da Conservatória, de que trata o 5.' quesito.
Quanto ao 3. quesito nenhuma duvida ha de que ao
Escrivão do Jury devam ser remettidos os processos com pro-
nuncia decretada, assim como ao Juiz de Orphãos as causas
pendentes de que trata o 4.° quesito. Não basta, porém,
attender-se na transferencia desses diversos processos,
ánatureza das jurisdicções, é preciso também ter em con-
sideração a competência proveniente do foro do domicilio,
dofôrodocontracto, do foro do delicto, da situação da causa
demandada, e da connexão do negocio ; porque abrangendo
a Conservatória todo o districto da respectiva Relação, não
se faria legalmente a restituição de suas causas ao foro
commum sem se ter em vista as mencionadas circum-
stancias, mas como para este procedimento seria necessário
ao Juiz Conservador maior prazo do que permittè a cessação
do tratado, convém que todos os processos pendentes sejam
remettidos para o Juiz do Civel ou algum dos Juizes Muni-
cipaes do termo, em que residir o Juiz Conservador, para,
ou continuarem alli os seus termos, ou para serem remettidos
a requerimento e com citação das partes ao foro competente-,.
— 84 —
A respeito do Escrivão é a Secção de parecer, que com elle
se pratique o mesmo, que se ordenou nas Instrucções para
execução do Cod. do Proc. quanto aos Escrivães das Ouvi-
dorias das comarcas, annexando-se a algumas das Varas
Cíveis ou Municipaes .os Escrivães da Conservatória Ingleza
nas Províncias, onde este Juizo tenha existido.
Paço em 10 de Outubro de 1844.— Caetano Maria Lopes
Gama. —Bispo de Anemuria.—Honorio Hermeto Carneiro
Leão.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 18 de Outubro de 1844.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Antônio Galvão. (*)•

Consulta de 384í d e Outubro d e 4 8^-4.


Sobre a competência de foro para o julgamento de um militar.
Senhor.—Ordena Vossa Magestade Imperial, pelo aviso
da Secretariade Estado dos Negócios da Justiça de 15 de Julho
do corrente anno, que a Secção de Justiça do Conselho de Es-
tado consulte com o seu parecer sobre o conflicto de júris-

(') De aecôrdo com a consulta expediu-se o seguinte aviso ao Mi-


nistério de Estrangeiros.
Illm. e Exm. Sr.—Tendo Sua Magestade o Imperador, por Sua
Immediata e Imperial Resolução da data deste, dada sobre Consulta
da Secção de Justiça do Conselho de Estado, Determinado as provi-
dencias precisas acerca do destino dos livros, autos e mais papeis,
actualmente existentes na Conservatória Ingleza, que tem de ser
extincta, com a terminação, a 11 de Novembro próximo futuro do
Tratado de 17 de Agosto de 1827 entre o Brazil e a Grã-Bretanha,
passo ás mãos de V. Ex., para seu conhecimento e governo, a
cópia inclusa da mesma Consulta; cumprindo-me unicamente acres-
centara á V. Ex. que, nesta Corte, foi designado o Juizo do Civel
da l. Vara, para o recebimento de todos aquelles papeis de que
tratam o l.°e2.° quesitos, na fôrma da Consulta; e que ficam,
a respeito, expedidas todas as ordens precisas.
Deus Guarde a V. Ex.— Paço, em 18 de Outubro de 1844. — Manoel
Antônio Galvao.— Sr. Ernesto Ferreira França.
— 85 -
dicção, que teve lugar entre o commandante das armas da
província do Maranhão., e o desembargador chefe de policia
da mesma província, por occasião do julgamento do Capitão
de 1.* linha, Antônio de Sampaio, pronunciado por crime de
offensa physica na pessoa do ex-deputado Manoel Jansen Pe-
reira. Examinando a Secção o officio do Vice-presidente da
província, datado de 19 de Abril do corrente anno, a recla-
mação do Commandante militar, e a resposta do desembar-
gador chefe de policia e todos os mais documentos que ins-
truem o mencionado officio do Vice-presidente do Ma-
ranhão, reconhece que o conflicto de que se trata já foi
decidido nos lermos do § 11 do art. 5." da Lei de 11 de Ou-
tubro de 1834, pelo ex-Presidente da Província do Maranhão,
Jeronymo Martiniano Figueira de Mello.
Este ex-Presidente, ouvido o Commandante das Armas, e
o Desembargador Chefe de Policia, acerca dosmotivos pelos
quaes o primeiro sustentava a competência do foro militar,
para formar culpa e julgar o Capitão., Antônio de Sampaio,
pelo facto mencionado ; e o segundo, a competência do foro
civil, e particular a sua jurisdicção, como Chefe de Policia,
quer para o julgamento, quer, especialmente , para a for-
mação da culpa do dito Capitão ; passou a consultar sobre se-
melhante objecto, o Conselheiro Presidente da Relação e o
Desembargador Procurador da Coroa da referida província;
e, conformando-se com os pareceres destes magistrados, de
cidiu-sea favor da competência do foro militar, pelas razões
exaradas em seu officio de 13 de Março do corrente anno, di-
rigido ao Desembargador Chefe de Policia. (*)

(') O officio alludido é do teor seguinte :


N. 104.—lllm.— Sr. Tendo ouvido o Brigadeiro Commandante das
armas acerca do officio, que V. S. me endereçou em 28 deFevereiro
findo, mostrando ser extemporânea e prematura a requisição por elle
feita do corpo de delicto, a que V. S. procedera pelo crime de offensa
physica leve commettido na pessoa do Deputado Manoel Jansen Pe-
reira pelo Ajudante de Ordens desta Presidência, o Capitão Antônio
de Sampaio, a fim de que elle fizesse proseguir o conselho de guerra,
que a este tem de julgar; devo significar á V. S. : 1.° que, á vista do
art. 4.° da Provisão de 20 de Outubro de 1834, que designou quaes os
erimes puramente militares, combinado com o disposto no Cap. 1.°
Secção 5.a do lit. S.° doCod. Crim., que trata das prevaricações, abusos
80 —
O crime de olíensas physicas leves de que era arguido o
Capitão Antônio de Sampaio, foi por elle commettido, na

e omissões dos empregados públicos, nao se pôde deixar de considerar


militar e de classificar como violência o facto supra indicado, visto
que foi commettido por um militar no exercício das funcções do
emprego militar de Ajudante de Ordens, e por occasião de ser-
viço, embora se devesse conside-rar policial, se taes circum-
stancias não concorressem, do mesmo modo que a subtracçao da
propriedade toma os nomes de peculato e concussão quando praticados
por empregado publico contra a nação no exercício de suas funcções,
passa a ser crime de responsabilidade, tem differente processo, e se
conhece perante foro diverso; 2.° que consegumtemente nao sendo
policial, mas de responsabilidade militar, o referido facto, não pode
ter lugar o procedimento policial ex-officio na formação das Leis Civis
por V. S. citadas, e somente aos Juizes Militares compete o seu jul-
gamento e punição, na fôrma das Leis Militares subsistentes pelos
arts. 30812.° do Cod. Crim., e 8.° do Cod. do Proc. respectivo; 3."
que ainda quando á V. S. competisse o processo da formação da culpa
em virtude do Alv. de 21 de Outubro de 1763, e da Provisão de 4 de
Maio de 1809, como V. S. pretende, não poderia tal attribuição per-
tencer-lhe no caso em questão, porque não se deram as circum-
stancias exigidas pelos §§ 6. ° e 8.° do mesmo alvará, quaes a de ser o
réo preso em flagrante, e o crime contra a tranquillidade publica e
bem commum do Império, nem tão pouco ser esse crime dos não me-
ramente militares, pois destes unicamente falia a provisão citada,
maxime á vista do art. 155 § 3.° do Cod. do Proc. Criminal, que ex-
pressamente declara competir aos conselhos de investigação a for-
mação da culpa nos crimes de responsabilidade dos Empregados Mi-
litares, e do art. 171 do mesmo Cod., que os manda aceusar no juizo do
seu foro ; 4.° que como os processos verbaes (únicos que tocam á po-
licia) são destinados a descobrir o delicto e o delinqüente antes da re-
messa do preso militar ao conselho de guerra, e ambos estejam co-
nhecidos no caso vertente pelo corpo de delicto por V. S. formado, e
pela notoriedade do .facto, observada e satisfeita fica a Lei na sua
letra e espirito, remettendo-se o corpo de delicto á competente auto-
ridade militar, que o requisitara para perseguição do réo; 5.° que
tendo sido o réo preso para responder no foro militar, antes de sêl-o
pelos Magistrados Civis, é aquelle foro o competente para lhe proceder
á formação da culpa, á vista dos princípios de direito ; e,6.° que, de-
clarando expressamente a Lei de 21 de Outubro de 1763 que a juris-
dicção dos Auditores e conselhos de guerra, em tudo o que pertence
á crimes prohibidos pelas Leis Militares, seja privativa e exclusiva
de qualquer outra, e de todo e qualquer privilegio e que das causas
•pertencentes aos ditos crimes não possam tomar conhecimente nenhum
Magistrado ou Tribunal senão nos casos exceptuados pelas Leis; não
posso deixar de determinar que me remetta o corpo de delicto requi-
sitado pelo Commandante das Armas, a fim de poder proseguir mais
promptamente o julgamento do Capitão Antônio de Sampaio, deci-
dido assim temporariamente o conflicto de jurisdicção, que se sus-
citou entre V. S. e o referido Commandante das Armas, conforme a
autorização, que me confere a Lei de 3 de Outubro de 1834, e á vista
dos pareceres do Conselheiro Presidente daRelação, e do Desembar-
gador Procurador da Coroa, com os quaes meconformei.
Deus Guarde á V. S.—Palácio do Governo do Maranhão, 13 de Março
de 1844.— Jeronymo Marl.íniano Figueira de Mello.— Sr. Desembar-
gador José Mariani, Chefe de Policia da província.
— 0/

pessoa do ex-Deputado, Manoel Jansen Pereira, por oceasião


de ter negado ao dito ex-Deputado o ingresso nas salas in-
teriores de audiência do palácio do Governo do Maranhão ;
o que praticou o referido capitão, na qualidade de ajudante de
ordens do Presidente, e por ordem expressa deste. Parece
que o Presidente da província, tendo já anteriormete tido
desagradáveis contestações com o referido ex-deputado,
julgou conveniente evital-as, ordenando ao seu ajudante
cie ordens que lhe vedasse a entrada no palácio.
A Secção não está habilitada para apreciar os motivos
que, para assim obrar, teve o Presidente ; mas, sem entrar
nesta averiguação, que crê desnecesaria, julga ella que,
assim como se a ordem em questão tivesse sido dada ao
Commandante da guarda do palácio, e por elle, ás senti-
neilas, não se duvidaria que o crime, commettido por oc-
easião da sua execução, seria da competência do foro mi-
litar, do mesmo modo não vê a Secção motivo para se du-
vidar dessa competência, no caso da execução pelo capitão
Antônio de üampaio, na qualidade de ajudante de ordens
do Presidente.
Se os ajudantes de ordens, executando semelhantes deter-
minações dos Presidentes, não se julgassem fazendo serviço
militar, poder-se-hiam julgar rebaixados e reduzidos á con-
dição de porteiros do palácio, ou de criados do Presidente ;
e então taes serviços não lhe poderão ser ordenados, como
são de facto, em todas as províncias em que ha ajudantes de
ordens.
A Secção,-pois, combinando o facto em questão com a le-
gislação em vigor e, especialmente , com o estabelecido no
| 4.° da provisão de 20 de Outubro de 1834, não pôde deixar
de reconhecer que a decisão do Presidente, a respeito do con-
flicto suscitado, foi justa e bem fundada.
Toda a allegação do Chefe de Policia, considerando-se com-
petente para a formação da culpa, basêa-se na legislação
anterior ao Cod. do Proc. e á referida provisão, legislação
que não se considera em vigor.
Em conformidade da legislação vigente, em todos oscasos
em que se dá competência no foro militar, para o julgamento,
— 88 —
se dá também a competência do mesmo foro, para a for-
mação da culpa, que pertence aos conselhos de investigação ;
salvo os dous únicos casos de sedição e rebellião, que, nos
termos da Lei de 3 de Dezembro de 1841, sendo commet-
tidos por militares, devem ser julgados no foro militar,,
ainda que a formação da culpa não esteja, pela referida lei,
tirada ao foro civil. Fora destes dous casos, segundo o que
se acha estabelecido no Cod. do P r o c , quer nos crimes de
emprego militar, quer nos puramente militares (que se
acham definidos pela referida Provisão de 20 de Outubro
de 1834) dá-se a competência dos conselhos de investigação
para formação da culpa, e o que allega o Desembargador
Chefe de Policia, fundado no § 8." do Alvará de 21 de Ou-
tubro de 1763, parece á Secção sem fundamento, por isso
que a jurisdicção dos Chefes de Policia actuaes se acha esta-
belecida e definida na Lei citada de 3 de Dezembro de 1841,
e no respectivo Regulamento n. 120, de 31 de Janeiro
de 1842, e não pode ser ampliada pelas Leis que regulavam
a competência dos Intendentes Geraes de Policia, naquillo
em que ellas se oppõem ao que se acha estabelecido nas leis
novíssimas em vigor.
A' vista do exposto, entende a Secção que a decisão tem-
porária do ex-Presidente do Maranhão, acerca do conflicto
entre o Commandante das Armas e o Desembargador Chefe
de Policia da dita província, merece ser confirmada por de
cisão definitiva do Governo de Vossa Magestade Imperial.
Vossa Magestade Imperial, porém, decidirá o que parecer
mais acertado.
Paço em 24 de Outubro de 1844.— Honorio Hermeto Car-
neiro Leão. — Caetano Maria Lopes Gama. Bispo de Ane-
muria

R e s o l u ç ã o de 2 9 de Outubro d e 1S^<£.
Sobre o destino que se devia dar á uma quantia proveniente de ar-
rendamentos e aforamentos de terras pertencentes á índios.
Senhor. —Por Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios
da Justiça de 27 de Julho do corrente anno, Mandou Vossa
-'89 —
Magestade Imperial remetter á Secção de Justiça do Con-
selho de Estado um officio do Presidente da Província de
Pernambuco, dirigido ao Ministério da Fazenda em'data de
2 de Março deste anno, pedindo esclarecimentos a respeito
do destino que deve dar-se a uma porção de dinheiro, pro-
veniente de arrendamentos e aforamentos de umas terras
pertencentes a índios da Aldeada Escada, termo de Santo
Antão, existente em poder do respectivo Curador, e houve
Vossa Magestade Imeprial por bem ordenar que a referida
Secção desse seu parecer sobre o indicado objecto.
Examinando o officio do Presidente, a que se refere o Im-
perial aviso eo officio do Juiz dos Orphãos que o instrue,
não encontra a Sseção nelle as informações que seriam pre-
cisas para emittir seu parecer sobre o ponto em questão.
Não consta qual a quantia que existe em poder do Curador
dos índios da Aldêa da Escada, quaes as ordens particulares
em virtude dss quaes se aforaram ou arrendaram as terras
dos índios dessa Aldêa, e por fim qual a applicação que ao
producto desses arrendamentos ou aforamentos se dava
anteriormente ao Decreto de 3 de Juhno de 1833, que en-
carregou aos.Juizes de Orphãos da administração dos bens
dos índios.
A Secção não tem noticia de lei alguma gôral que regu-
lasse e ordenasse o arrendamento, ou aforamento das terras
dos índios, e desse applicação do producto das sommas arre-
cadadas provenientes de taes arrendamentos ou aforamen-
tos ; presume pois que, a respeito*das terras dos índios da
Aldêa da Escada, terá acontecido o mesmo que tove lugar
com as terras dos índios de differentes Aldêas existentes
nesta Província do Rio de Janeiro. Não fallando nas Aldêas
deCampos, que até1832 fazia parte da Província do Espi-
rito Santo, existiam nesta Província do Rio de Janeiro
cinco Aldêas, a saber: a de S. Lourenço com terras no Mu-
nicípio de Nitheroy ; a de S.Pedro com terras em Cabo Frio;
a de S. José com terras em Villa Nova, hoje anneXada a Ita-
borahy; a de Itaguahy com terras em Mangaratiba ; e final-
mente a do Rio Bonito com terras no Município de Valença.
Todas essas terras foram doadas aos índios das referidas
c. J. 12
— 90 —
Aldêas porcarias de sesmaria, eeram destinadas á sua ha-
bitação e cultura, e não a serem arrendadas ou aforadas.
Com o andar do tempo, a incúria dos conservadores dos
índios, dos seus Capitães-mores ou Directores; o recru-
tamento para a Marinha e por ventura a embriaguez a que
são muito dados os índios, fizeram definhar suas Aldêas.
Uma grande parte das terras foi usurpada, outra passou a
ser arrendada ou aforada perante o Ouvidor da Comarca, na
qualidade de Conservador dos índios ; existindo hoje mui-
to insignificante parte na posse e usofructodos raros índios
que ainda ha em taes Aldêas.
Os arrendamentos ou aforamentos se fizeram em virtude
de ordens particulares dos Vice-Reis, e deliberação dos Con-
servadores ; eem parte evitaram a completa usurpação das
terras. Os índios vendiam com grande facilidade, e por
vil preço, suas culturas e bemfeitorias á Portuguezes ou
Brazileiros, que passavam aoccupar essas terras, e augmen-
tar suas culturas; e as usurpariam completamente se
não se tivesse annuido a converter taes possuidores de bem-
feitorias em arrendatários, como fundamento de que sendo
as terras dos índios, não bens individuaes de cada um del-
les, mas sim propriedade commum de toda a aldêa, não
podiam os índios alienar as mesmas terras, mas somente
as bemfeitorias, que nellas tivessem.
As sommas provenientes de taes arrendamentos eram re-
colhidas ao cofre da conservatória a cargo de um thesou-
reiro, que residia nesta corte.
Em virtude das mesmas ordens dos Vice-Reis, e delibe-
rações dos conservadores, essas sommas eram applicadas:
i. ° á fornecimentos de guizamentos de freguezias de indios;
2. ás festas aos oragos dessas freguezias, e aos concertos
e reparos de suas igrejas; 3.' á dotes de 12#80O á cada
índia que casava ; 4. á pequenas pensões à indios aleijados,
cegos, e t c ; 5.° á despeza de administração, medição de
terras, etc.
Publicado o cod. do proc, e extinctos os ouvidores de
comarcas, que eram os conservadores dos indios, sem que
no dito cod. se desse providencias sobre a administração
— 91 —
dos bens de que tomava contas o conservador, como seu
juiz privativo, foi pelo Governo, no decreto de 3 de Junho
de 1833, encarregada essa administração aos juizes de
orphãos.
Este decreto, porém, nada dispõe sobre a applicação das
quantias provenientes dos arrendamentos de bens de indios;
nem em verdade cumpria que dispozesse, porque essa ap-
plicação devera continuar do mesmo modo até deliberação
do corpo legislativo; não se tendo a providenciar senão
acercado juiz que devia substituir o conservador.
Apezar disso, consta que, por um aviso da secretaria de
estado dos negócios da justiça, se mandou entrar para o
thesouro com o saldo existente no cofre da conservatória
desta província, que orçava por cerca de seis contos de
réis.
Este aviso, porém, mandando recolher ao thesouro esse
saldo, em nada alterou a applicação que anteriormente se
dava ao producto de taes arrendamentos ; e é de crer que
os juizes de orphãos que têm á cargo a administração de
taes bens, tenham continuado a dar a mesma applicação,
que tinha lugar no tempo dos conservadores.
Depois do acto addicional, ou lei de 18 de Agosto de
1834, a assembléa provincial do Rio de Janeiro tem ten-
tado, em differentes projectos, dar destino aos ditos bens
chamados de indios, ou regular sua administração ; mas
tantas dificuldades têm surgido na discussão, que ella,
embaraçada, nada de novo tem legislado a respeito.
A assembléa Provincial entende poder legislar sobre este
objecto, por lhe competir cumulativamente com a Assembléa
Geral, prover sobre a catechese e civilisação dos indiginas,
e reputar os bens dos indios originariamente dados com este
destino.
Sem se duvidar da competência das Assembléas Provin-
ciaes, para legislarem sobre catechese e civilisação de indí-
genas, poder-se-ha duvidar de seu direito de dispor dos bens
antigamente dados aos indios pelo Governo: não existindo
ainda lei geral que deve declarar quaes os bens provinciaes
e gera es.
— 92 —
Esta questão, porém, não parece necessário resolver-se,
visto que a reclamação feita pelo juiz dos orphãos do termo
de Santo Antão, c pelo Presidente da Provincia de Pernam-
buco, demonstra que a Assembléa desta provincia não tem
legislado ou pretendido legislar sobre os bens de indios;
assim nenhum embaraço acha a Secção a que o Governo de
Vossa Magestade Imperial resolva a duvida proposta, quando
tenha as precisas informações, que se devem exigir do mesmo
Presidente.
Peloque, é a Secção de parecer: 1. que se mande re-
colher em deposito, na Thesouraria de Pernambuco, a
quantia que ora se diz existir em poder do curador dos
indios da aldêa da Escada, para ulteriormente se resolver o
seu destino ; 2. que se peça ao dito Presidente informações
círcumstanciadas: l. L das terras de indios que ha na Pro-
vincia de Pernambuco, quer aforadas, quer arrendadas ;•
2. do teor dos títulos de aforamento ou arrendamentos, e
das ordens ou disposições em virtude das quaes se fizeram
taes aforamentos; 3." da importância do rendimento annual
dessas terras, quer as pertencentes á aldêa da Escada, quer
a quaesquer outras aldêas; 4. da applicação que tinham
antes dó Decreto de 3 de Junho de 1833; 5.° qual a quantia
que existe em poder do curador; e se existem bens perten-
centes á outras aldêas ; que quantias ha provenientes delles
ou qual a applicação que têm tido desde o anno de 1833.
Tal é o parecer da Secção; Vossa Magestade Imperial re-
solverá o que parecer mais acertado.
Paço em 17 de Outubro de 1844.— Honorio Hermeto Car-
neiro Leão. — Caetano Maria Lopes Gama. —Bispo de Ane-
muria.
RESOLUÇÃO.
Como parece.
Paço, 29' de Outubro de 1844.
Com a rubrica de Sua Mageslade o Imperador
Manoel Antônio Galvão. (*)
(*) De conformidade com a Resolução Imperial expediu-se Aviso
em 2 de Novembro de 1844 ao Presidente de Pernambuco.
— 93 —
F&esoluç&o de %0 de Outubro d e 1 8 4 4 .
Sobre a conservação ou não conservação de postos á officiaes da
guarda nacional, cujas companhias e corpos forem dissolvidos.

Senhor.— 0 Presidente da provincia de Minas Geraes,


em officio de 10 de Setembro do corrente anno, enviou á
Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça cópia da sua
ordem do dia de 19 de Agosto do mesmo anno, pela qual
determinou elle que fossem reorganizados e chamados ao
serviço os corpos e companhias da guarda nacional da so-
'bredita Provincia, que tinham sido dissolvidos ; por haver
expirado o prazo de um anno depois da execução do de-
creto n." 274 de 9 de Março do anno passado.
Por occasião disso, representa o mesmo Presidente que
o seu antecessor, dando execução ao referido decreto,
declarara, na ultima parte de sua ordem do dia dol.- de
Agosto do dito anno, que es officiaes das companhias ou
corpos dissolvidos, que tivessem'tirado suas patentes, con-
servariam seus postos até ulterior deliberação.
A' este respeito observa o Presidente que, tendo tomado
conta da administração no 1.° de Julho deste anno, só ti-
vera de aceitar as conseqüências do facto consummado,
continuando a reconhecer não só os officiaes das compa-
nhias e corpos dissolvidos, mas também os chefes e officiaes
do estado maior das legiões, por já lhe não ser possível
tomar uma^eliberação contraria á do seu antecessor-
Pensa o mesmo Presidente que este ponto de legislação
deve ser esclarecido, para que se fique entendendo, sedado
o caso da dissolução de alguma companhia, corpo ou le-
gião da guarda nacional, ficam ou não subsistindo os res-
pectivos officiaes; questão esta que elle submette á decisão
do Governo de Vossa Magestade Imperial.
Ouvido a este respeito o conselheiro de estado procurador
da coroa e soberania nacional, foi elle de parecer que a
ordem do dia do ex-presidente da provincia de Minas Geraes,
mesmo na parte em que manda conservar seus postos aos
officiaes das companhias e corpos da guarda nacional dis-
solvidos, que tivessem tirado as suas patentes, era regular
=- 94 —
e legal, a vista do que foi Vossa Magestade Imperial ser-
vido, por aviso da secretaria de estado dos negócios da
justiça, de 2 do corrente mez, ordenar que a Secção de
Justiça do Conselho de Estado consultasse com o seu pa-
rcer acercado dito ponto.
Examinada a matéria, a Secção crê dever observar antes
de emittir o seu parecer sobre a questão, que ella não julga
que o actual Presidente da provincia de Minas Geraes só
tenha de aceitar as conseqüências do facto que diz con-
summado pela ordem do dia do seu antecessor, continuando
a reconhecer não só os officiaes das companhias e corpos,
mas também os chefes e officiaes do estado maior das le-
giões dissolvidas; porquanto não só a ordem do dia de
seu antecessor não parece ter deliberado definitivamente
sobre a conservação dos postos dos officiaes dos corpos dis-
solvidos, pois declara que conservaram esses postos até
ulterior deliberação ; mas accresce que a lei mineira de 16
de Março de 1840 dá pleno arbitrio ao presidente da pro-
vincia, para demittir os officiaes do estado maior e os offi-
ciaes das companhias, segundo o exigir o interesse publico.
Parece, pois, que o actual Presidente não está restricta-
mente obrigado a manter taes officiaes, nos postos de que
gozavam, considerando sua conservação como facto con-
summado.
No entender da Secção, essa conservação não é de modo
algum forçada ; depende inteiramente do arbitrio discri-
cional conferido ao Presidente pela lei, que não foi de ma-
neira alguma limitada pela ordem do dia de que se trata,
a qual de nenhuma sorte vedaria a demissão dos officiaes
dos corpos dissolvidos, se por ventura elles não merecessem
a confiança do Presidente.
Passando agora a examinar o ponto principal da questão
submettida ao Governo de Vossa Magestade Imperial, que
vem a ser. se —dado o caso da dissolução de uma companhia,
corpo ou legião da guarda nacional, ficam ou não subsis-
tindo os respectivos officiaes—a Secção julga não haver
razão alguma para se duvidar que a dissolução dos corpos
importe a annullação ou demissão dos respectivos officiaes.
- 95 —
O art. 4.°-da Lei de 18 de Agosto de 1831, ordenando
que a organização da guarda nacional seja permanente,
confere ao Governo duas faculdades distinctas, a saber:
1.° a de suspender, e 2. a de dissolver a guarda nacional
em determinados lugares: Uma e outra faculdade só pôde
ser exercida por espaço de um anne, não sendo por lei pro-
rogado o prazo ; circumstancia que não se verificando, or-
dena a mesma lei que as guardas suspensas sejam chama-
das ao serviço, e as dissolvidas sejam reorganizadas, pas-
sado o referido anno.
Ora, nosystema da citada lei de 18 de Agosto de 1831, a
organização das guardas nacionaes comprehende o alista-
mento e matricula dos guardas, a divisão em companhias
ou secções de companhia, a nomeação de officiaes, a orga-
nização de corpos e legiões, a designação das paradas das
companhias, corpos e legiões; consequentemente, man-
dando a lei reorganizar as guardas dissolvidas, parece
claro que a dissolução annulla e destroe inteira-mente
todos os actos de organização, nos quaes entra a nomeação
de officiaes.
Em these, pois, parece á Secção que a dissolução dos cor-
pos da guarda nacional importa a demissão dos officiaes,
quer das companhias, quer do estado maior desses corpos.
Se assim, porém, é em regra, parece todavia que o Go-1
verno não está inhibido de dissolver os corpos da guarda
nacional, e conservar comtudo todos ou alguns dos officiaes
desses corpos, quando houver expressamente limitado
assim a dissolução que tiver feito. Uma semelhante limi-
tação, não consistindo senão em uma restricção da facul-
dade amplissima, que teria o Governo, de dissolver os
corpos da guarda nacional, comprehendendo nelles os
officiaes, não só se deve considerar permittida, mas em
muitos casos, será útil, ou mesmo necessária; porquanto
poderá muitas Vezes decretar-se a dissolução de determi-
nados corpos da guarda nacional, por occasião de insu-
bordinação dos guardas para csm os seus officiaes, e em
circumstancias em que esses officiaes, tenham feito rele-
vantes serviços á Nação e á Vossa Magestade Imperial : e,
— 96 —
em taes casos, a conservação dos postos dos officiaes não
pôde deixar de considerar-se como justa, e útil á disci-
plina da guarda nacional.
Em vista do expendido, entende a Sexção que, feita a dis-
solução dos corpos da guarda nacional, sem limitação, é
conseqüência necessária a demissão de todos os officiaes
pertencentes aos corpos dissolvidos, mas que o Governo
não está inhibido de deliberar a conservação de todos os
officiaes, ou de certos e determinados, como parecer con-
veniente.
Tal é a opinião da Secção, acercado ponto submettido ao
Governo de Vossa Magestade Imperial pelo actual Presi-
dente da provincia de Minas Geraes :
Vossa Magestade Imperial o decidirá, como parecer
mais justo.
Paço em 24 de Outubro de 1844.— Honorio Hermeto Car-
neiro Leão.—Caetano Maria Lopes Gama.—Bispo de Ane-
muria.
KESOLUÇÃO.

Como parece. (*)


Paço, 29 de Outubro de 1844.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Manoel Antônio Galvão.

(") Expediu-se o seguinte aviso :


Mm. e Exm. Sr.—Tendo sido submettida ao conhecimento da
Secção de Justiça do Conselho de Estado a duvida que V. Ex. offe-
receu pelo seu ôfficion.0 40 de 10 do mez de'Setembro passado, se
pelo facto da dissolução dos corpos e companhias da guarda nacional,
que teve lugar nessa provincia, os officiaes dos mesmos corpos e
companhias deveriam conservar os seus postos, na conformidade do .
que declarara o seu antecessor para com aquelles que tivessem
tirado as suas patentes : Sua Magestade o Imperador, conforman-
do-se com o parecer da mesma Secção, houve por bem, pela sua
imperial resolução de 29 do mez antecedente, declarar, que todas,
as vezes que a dissolução dos corpos da guarda nacional fôr feita
sem limitação alguma a respeito dos officiaes pertencentes aos cor-
pos> que forem dissolvidos, é conseqüência necessária também a
- 97 -

R e s o l u ç ã o de 9 de Movembro de 18^4«4.
Sobre a amnistia e destino dos rebeldes apresentados na comarca do
Brejo, Provincia do Maranhão.

Senhor.—Ordena Vossa Magestade Imperial, pelo aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, de 29 de
Julho do corrente anno, que a Secção de Justiça do Conselho
de Estado consulte com o seu parecer sobre as medidas que
convém adoptar-se acerca dos rebeldes, que se apresen-
taram na comarca do Brejo, da Provincia do Maranhão, e
que o respectivo Chefe de Policia não julga conveniente
estarem aldeiados no Cadoz.
Entre os officios e mais papeis que instruem o referido
aviso, encontra-se: I.° um officio do Presidente do Mara-
nhão, datado de 27 de Outubro de 1842, no qual participa
que, constándo-lhe a existência, nas matas da comarca do
Brejo, de um numero avultado de rebeldes que desejavam

demissão destes: mas que o Governo não fica inhibido de deliberar


a conservação de todos ou de certos e determinados officiaes, quando
para esse fim se offereçam circumstancias dignas da consideração
do mesmo Governo. O que communico a V. Ex. para sua intelli-
gencia e devida execução.
Deus guarde a V. Ex. Palácio do Rio de Janeiro em 2 de Novem-
bro de 1844.— Manoel Antônio Galvão.—Sr. Presidente da Provincia
de Minas Geraes.
O art. 64 da lei n. (502 de 19 de Setembro de 18S0 declara, que
quando fòr dissolvida a guarda nacional de algum lugar como
permítte o art. 4.» da mesma lei ficarão os officiaes suspensos do
serviço de seus postos ; mas o Governo poderá determinar que todos,
ou alguns deiles, .continuem a servir como addidos a outro corpo,
se o julgar conveniente
Os officiaes da guarda nacional, que ficarem avulsos, pela reor-
ganização ou extineçao de batalhões e companhias, devem con-
servaT os seus respectivos postos, e ser aggregados a qualquer
corpo. Aviso de 20 de Junho de 1860.
A medida que ficarem vagos os commandos de batalhões, corpos,
secções de batalhões, esquadrões e companhias avulsas, os Presi-
dentes de provincia mandarão aggregar aos outros batalhões e corpos
do município os officiaes e praças do batalhão, corpo, secção es-
quadrão ou companhia que houver de ser dissolvido por não°conter
o n. ü de praças exigido; e os officiaes do estadomaier dos com-
mandos superiores, que forem supprimidos, ficarão aggregados aos
novos commandos superiores, e assim elles como os officiaes dos
corpos e batalhões reduzidos ou extinetos, terão preferencia para
as futuras nomeações dos lugares vagos no commando superior ou
corpo a que estiverem aggregados. Arts. 11 el4 do Decreto n.° 5573
de 21 de Março de 1874.
c. J. 13
— 98 —
apresentar-se. ás autoridades legaes, por intermédio do
alferes João Paulo de Araújo Bacellar, com tanto que se
lhes concedesse aínnistia, e diz que, não estando autorizado
para concedel-a, por haver expirado o prazo marcado do
respectivo Decreto, ordenara ao Delegado da comarca no
Brejo, por intermédio do Chefe de Policia, que recebesse os
referidos rebeldes e os desarmasse; promettenclo-lhes não
os perseguir, até que o Governo de Vossa Magestade Imperial
resolvesse o que fosse justo.
Este procedimento do Presidente foi approvado por aviso
de 3 de Fevereiro de 1843, no qual se autorizou além disso
o Presidente, para praticar o mesmo com quaesquer outros
rebeldes que estivessem em idênticas circumstancias, uma
vez que contra elles não houvesse pronuncia, e não pudes-
sem ser considerados como cabeças de rebellião.
Em data de 14 de Janeiro de 1843, e em aditamento ao
officio já referido do Presidente da Provincia do Maranhão,
enviou elle uma relação dos rebeldes já apresentados, e das
armas que se lhes acharam; e, em 5 de Julho do mesmo anno,
officiouo Presidente Figueira de Mello, participando que se
haviam apresentado 78 rebeldes, por intermédio do alferes
Bacellar, o qual havia offerecido a quantia necessária para
comprar uma porção de terra, com cuja cultura pudessem
os mesmos rebeldes prover aos meios de sua subsistência; e
refere ter aceitado, em nome do Governo Imperial, o offere-
cimento desse cidadão, louvando o seu procedimento.
Acrescenta que, para que tal doação fosse revestida de
toda a segurança, encarregara o Delegado da sobredita
comarca de proceder, de accôrdo com o mencionado Bacellar,
á escolha e compra do lugar adaptado ao aldeiamenlo do
rebeldes já apresentados, e dos que houvessem de apresen-
tar-se, lavrando-se a competente escriptura de doação, e
communica que tudo isto se realizara, comprando-se um
quarto de légua de terra, de frente, com uma légua de fundos
como lhe participara o Delegado em 26 de Março ultimo,
remettendo-lhe os traslados das escripturas, que se enviarão
á Thesouraria de Fazenda, para proceder ao devido assenta-
menlo; e termina declarando que expedirá um regulamento
— 99 -
para a policia de taes individuos, que não devem ficar
somente entregues à sua discrição.
Por officio de 24 de Julho do corrente anno, remette o
actual Presidente uma lista dos apresentados, que têm até
o presente permanecido no lugar do Brejo, sem ter havido
alteração na tranqüilidade publica, declara, porém, que,
não sendo fácil o aldeiamento nas terras compradas pelo
cidadão João Paulo de Araújo Bacellar, para sua residência,
conforme pondera o Chefe de Policia em o seu officio que
remette por cópia, convém muito que se tomem medidas,
a fim de que seja a sorte de taes rebeldes definitivamente
fixada, e elles possam, com certeza do seu futuro, deixar
de viver em suspeitas e receios, causando-os igualmente á
provincia que os acolheu.
Tendo a Secção examinado o conteúdo no officio do Chefe
de Policia, e no resto da correspondência que instrue o já
citado do actual Presidente da provincia, veio no conhe-
cimento que, além da medida tomada de aceitar a apresen-
tação dos rebeldes,sob promessa de amnistia, havia de mais
a mais o ex-presidente deliberado exceptuár do recruta-
mento os apresentados, obrigando-os a apresentarem-se
mensalmente ao Delegado do Cadoz.
A excepção do recrutamento devia necessariamente
tornar crescido o numero dos apresentados; eentre estes
figuram alguns já amnistiados, e debaixo da protecção das
leis, os quaes sem duvida se apresentarão, para gozarem
da referida isenção.
Dahi vem que, em uma relação de apresentados que
enviou o Alferes Bacellar ao Presidente da provincia, cons-
tando de 153 individuos, figuram entre elles somente 39
casados e viúvos, sendo o numero dos solteiros o de 114,
pela maior parte de 18 a 30 annos, sem estabelecimento
fixo, e aptos para o serviço militar
A' vista de todo o exposto,a Secção é de parecer:
1.° Que o Presidente da Provincia do Maranhão seja
autorizado por Decreto Imperial a conceder definitivamente
amnistia a todos os apresentados, uma vez que não tenham
outra culpa senão a de se terem envolvido nas rebelliões que
— 100 —
tiveram lugar nas Provincias do Maranhão e do Piauhy, e
que Vossa Magestade Imperial, Houve por bem Amnistiar
em 1840 ;
2. ° Que se mande distribuir as terras, doadas pelo Alferes
Bacellar, pelo numero de apresentados que fôr possível
acommodar nellas; preferindo-se para essa distribuição
os que forem casados ou viúvos, ou maiores de 30 annos;
declarando-se que , tendo, sido a doação feita a beneficio
dos mesmos apresentados, nenhum foro ou arrendamento
será delles exigido; antes que gozarão em plena propriedade
e domínio, cada um da porção que lhe fôr distribuída ;
3. Que se recommende ao Presidente da provincia que
estabeleça os regulamentos, que as circumstancias locaes
exigirem, para a policia do aldeiamento dos apresentados,
que se estabelecerem na data do Morcego, doada pelo Alferes
Bacellar ;
4.° Que se faça cessar a isenção de recrutamento, para
que elle possa recahir sobre aquelles apresentados que,
estando comprehendidos nos casos das leis, que regulam o
mesmo recrutamento, não tiverem estabelecimentos fixos,
não quizerem alugar seu trabalho, e mostrarem-se desor-
deiros ou vadios;
5. Que se faça cessar a obrigação de se apresentar, a
respeito dos amnisliados, com excepção comtudo daquelles
que, por factos posteriores á amnistia, tornarem-se dignos
de ser sua conducta vigiada pela Policia ;
6." Que o Presidente possa conceder a dita amnistia, em
nome de Vossa Magestade Imperial, debaixo da cláusula ou
condição de residência, por dous annos, em certo e deter-
minado lugar, termo ou comarca, segundo parecer con-
veniente.
Taes são as medidas que a Secção julga conveniente que
se tomem, em solução do officio do actual Presidente da pro-
vincia do Maranhão; Vossa Magestade Imperial porém,
Deliberará o que fôr mais acertado.
Paço em 31 de Outubro de 1844.— Honorio Hermeto Car-
neiro Leão. — Caetano Maria Lopes Gama. —Bispo de
Anemuria.
— 101 —

RESOLUÇÃO.

Como parece.

Paço em 9 de Novembro de 1844. (*)


Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador,
Manoel Antoniio Galvão.

(*) Expediu-se o Decreto n.° 392 de 20 de Novembro de 1844, que é


do theor seguinte:
Conformando-me com o parecer da Secção de Justiça do Conselho
de Estado, Hei por bem Decretar o seguinte:
Artigo único. O Presidente da Provincia do Maranhão fica auto-
rizado a conceder amnistia a todos os individuos, que se tenham
apresentado na comarca do Rrejo, da mesma provincia, uma vez
que não tenham outra culpa mais, que a de se terem envolvido nas
rebelliões, que tiveram lugar na sobredita provincia, e na do Piauhy,
com a cláusula de residirem, por dous annos,em certo e determinado
lugar, termo, ou comarca, segundo parecer! conveniente ao mesmo
Presidente.
Manoel Antônio Galvão, do Meu Conselho, Ministro e Secretario de
Estado dos Negócios da Justiça, assim o tenha entendido e faça
executar.—Palácio do Rio de°Janeiro em 20 de Novembro de 1844,
vigésimo terceiro da Independência e do Império.—Com a rubrica
de Sua Magestade o Imperador.— Manoel Antônio Galvão.
Expediu-se mais, na mesma data, aviso ao Presidente do Mara-
nhão, de conformidade com o parecer da dita Consulta; Aviso este,
que tem a seguinte integra:
Illm. e Exm. Sr.— Tendo Sua Magestade o Imperador, por decreto
da data deste (o acima transcripio), Conformado-se com o parecer
da Secção de Justiça do Conselho de Estado, autorizando á V. Ex.
para conceder definitiva amnistia a todos os individuos, que se tiverem
apresentado na comarca do Rrejo, dessa provincia, pela maneira
constante do mesmo decreto, que V. Ex. achará por cópia assignada
pelo Conselheiro Official-maior desta Secretaria de Estado, Ha outro-
sim por bem, quanto ao aldeiamento destes individuos, Ordenar o
seguinte:
1.' Que V. Ex. mande distribuir as terras doadas pelo Alferes
Bacellar, pelo numero de apresentados, que fôr possível accom-
modar-se nellas, preferindo-se para esta distribuição os que forem
casados ou viúvos, ou maiores de 30 annos, declarando que, tendo
sido a doação feita a beneficio dos mesmos apresentados,nenhum foro
ou arrendamento será delles exigido, antes gozarão em plena pro-
priedade e domínio cada um a porção que lhe fôr distribuída, para o
que V. Ex. estabelecerá regulamentos apropriados,e que as circums-
tancias locaes exigirem para a policia do aldeiamento dos mesmos
apresentados na data do Morcego, doadas pelo sobredito Alferes
Bacellar;
2.° Que V. Ex. faça cessar a isenção do recrutamento, concedida
pelo seu antecessor a fim de quê possa recahir sobre aquelles
— 102 —
Corasualta d e â 8 d e ISíoveMifoi-o d e &&>*&&.

Sobre actos legislativos da Assembléa Provincial de S. Paulo.

Senhor.—A Secção de Justiça do Conselho de Estado,


tendo examinado a collecção impressa dos actos legislativos
da Assembléa Provincial de S. Paulo, promulgados no cor-
rente anno, não encontra, nos que pertencem á Bepartição
da Justiça, senão o den°. 16 que mereça reflexões, por ser
contrario á Constituição e ás leis geraes.
Na Provincia de S. Paulo se acha alterada a Lei de 18 de
Agosto de 1831 que creou a Guarda Nacional, pela Lei pro-
vincial de 23 de Fevereiro.de 1836 sob n° 11.
Esta lei provincial, com quanto contraria á Lei de 12 de
Maio de 1840 que interpretou artigos da Reforma Constitu-
cional, comtudo deve continuar a observar-se por ainda não
tér sido revogada como exige o art. 8. da mencionada lei,
não se acha, porém, nestas circumstancias o acto legislativo
que vem na collecção do corrente anno, sob n° 16 e data
de 2 de Fevereiro. Neste acto., se altera a mencionada Lei
provincial de 23 de Fevereiro de 1836 e por conseguinte vem
a legislar-se de novo sobre objectos da competência do
Poder Legislativo Geral.
Nestas circumstancias, parece á Secção que o Governo de
Vossa Magestade Imperial deve promover a revogação do
referido acto legislativo na próxima sessão da Assembléa Ge-
ral, e igualmente a de todas as leis provinciaes, que altera-
ram a organização, disciplina e fôrma de nomeação dos pos-

que, estando comprehendidos nos casos das leis, que regulam o mesmo
recrutamento, nao tiverem estabelecimentos fixos, não quizerem
alugar seu trabalho, e se mostrarem desordeiros, ou vadios;
3.° QueV. Ex, faça igualmente cessar a obrigação de se- apresen-
tarem a respeito dos amnistiados, com excepçao comtudo daquelles
que, por factos posteriores á amnistia, tornarem-se dignos de sei' a sua
condueta vigiada pela Policia. O que communico á V. Ex. para sua
inielligencia, e em resposta ao seu officio n.° 9 de 24 de Junho do
corrente anno.
Deus Guarde a V. Ex. — Palácio do Rio de. Janeiro em 20 de No-
vembro de 1844. — Manoel Antônio Galvão. — Sr. Presidente da Pro-
vincia do Maranhão.
— 103 —

tos da Guarda Nacional, procurando que se façam por lei


geral as alterações convenientes sobre os ditos pontos.
Tale a opinião da Secção a respeito dos actos legislativos
da Assembléa Provincial de S. Paulo; Vossa Magestade Im-
perial Resolverá o que fôr mais acertado.
Paço em 28 de Novembro de 1844.— Honorio Hermeto
Carneiro Leão.— Visconde de Monte Alegre.— Bispo de Ane-
muria.

Resolução d e 11 d e M e z e i n b r o d e 18*54

Sobre o provimento interino de um serventuário de ofücio de justiça.

Senhor.—Ordena Vossa Magestade Imperial, em Aviso de


15 do corrente, que a Secção de Justiça do Conselho de Es-
tado consulte com o seu parecer sobre a matéria contida no
officio do Presidente da Provincia do Ceará n.° 118 de 26 de
Dezembro do anno próximo passado; o que a mesma Secção
passa a cumprir. Nenhuma duvida apresenta o Presidente
da Provincia do Ceará, quer sobre a. demissão pedida
pelo 1." Tabellião e Escrivão do civel e crime da cidade da
Fortaleza, Francisco Manoel Galvão, em razão de moléstias
e avançada idade, quer sobre a idoneidade de Cândido José
Pamplona, que foi provido interinamente no referido offi-
cio dei. 0 Tabellião pelo Juiz Municipal e de Orphãos da ci-
dade da Fortaleza, e que pretende a graça de ser definitiva-
mente provido no mencionado officio por Vossa Magestade
Imperial; porém, por occasião de remetter o requerimento
de demissão do 1.° Tabellião Francisco Manoel Galvão e o
provimento interino do pretendente Cândido José Pam-
plona, expõe que acha irregular o procedimento do Juiz
Municipal, emquanto proveu interinamente no officio de
Tabellião ao referido Pamplona, por ser isso contra a dispo-
sição da Lei provincial n.°4 de 14 de Agosto de 1838, que
— 104 —
creando na cidade da Fortaleza um officio separado de Es-
crivão deOrphãos, determinou que os dous Escrivães exis-
tentesseriamsupplentesumdo outro em qualquer falta ou
impedimento, e que só na falta de ambos poderia o Juiz
Municipal nomear quem servisse interinamente.
Semfallar na legislação provincial, também, hesita o Pre-
sidente da provincia sobre a competência do Juiz Municipal
para o provimento interino de officios de justiça, em vista
do § 6.° do art. 5.° da Lei de 3 de Outubro de 1834, que con-
fere aos Presidentes de provincia a faculdade de prover pro
visoriamente os empregos geraes.
Ouvido o Conselheiro de Estado Procurador da Coroa e
Soberania Nacional sobre este objecto emittiu elle o seu
parecer do seguinte modo : l.°que não ha duvida em dar-se
á Francisco Manoel Galvão a demissão do officio de 1.° Ta-
bellião e Escrivão do civel e crime da cidade da Fortaleza;
2.' que, dada a demissão, está o pretendente Cândido José
Pamplona nas circumstancias de ser provido no mesmo of-
ficio, á vista das informações e documentos; 3.1 que deve
advertir-se ao Juiz Municipal que elle procedeu irregular e
illegalmente provendo interinamente o dito Pamplona,
como em execução do Decreto do 1.° de de Julho de 1830,
quando ainda o officio não estava v ago, pois que era preciza
a precedente verificação da demissão de Francisco Manoel
Galvão; 4.° que convirá declarar-se ao Presidente (se ainda
assim o entender o ^Governo) que a disposição do art. 5."
| 6.° da Lei de 3 de Outubro de 1834 não obsta á execução
do Decreto do 1.° de Julho de 1830.
A Secção examinando o officio do Presidente, e todos os
documentos annexos, concorda inteiramente com o Conse-
lheiro de Estado Procurador da Coroa, em todos os pontos
do seu parecer, menos no 3.", em que o mesmo Conse-
lheiro de Estado Procurador da Coroa julga dever ser ad-
vertido o Juiz Municipal por ter procedido irregular e
illegalmente, provendo interinamente a Pamplona no officio,
como em execução do Decreto do l.** de Julho de 1830, quando
o officio não estava vago por ainda não se ter aceitado a
demissão de Francisco Manoel Galvão.
— 103 —
Diverge a Secção do parecer do Conselheiro de Estado
Procurador da Coroa nesta parte, porque nem no officio di-
rigido pelo Juiz Municipal da cidade da Fórtaleza,ao Presi-
dente da Provincia do Ceará, nem nos despachos proferidos
por este Juiz nos requerimentos, que lhe foram feitos por
Francisco Manoel Galvão, e Cândido José Pamplona, en-
contra expressão alguma, pela qual conste com certeza que
o referido Juiz Municipal provera o officio de que se trata
em razão de já o considerar vago, usando assim da facul-
dade que lhe é permittida pelo Decreto do-1." de Julho
de 1830.
Para ter lugar o provimento interino, não é necessário
dar-se a vaga do officio, basta verificar-se impedimento; e
pelos documentos annexos ao officio do Presidente é cons-
tante ter-se dado o Tabellião Francisco Manoel Galvão por
impossibilitado de continuar a servir em razão de molés-
tias e avançada idade ; em vista do que não se pôde ter por
irregular o procedimento do Juiz Municipal pelo motivo
allegado pelo Conselheiro de Estado Procurador da Coroa.
Se ha irregularidade neste procedimento, ella não pôde pro-
vir senão do disposto na Lei provincial de 14 de Agosto de
1838 que refere o Presidente da provincia.
A lei provincial, de que so trata, usurpou evidentemente
attribuições do Poder Legislativo Geral, alterando as dispo-
sições de leis geraes, emquanto impediu o Juiz Municipal
de fazer nomeações interinas, no caso de impedimento de
um dos Escrivães do Judicial da cidade da Fortaleza, per-
mittindo-lhe somente na falta de ambos.
Apezar disso, cumpre que a disposição desta lei provin-
cial continue a ser observada, até que seja revogada expres-
samente; pois tal é a disposição contida no art. 8.( da Lei
de 12 de Maio de 1840, que interpretou alguns artigos da
Reforma Constitucional. Nesse art. 8.° se diz que as leis
provinciaes que forem oppostas á interpretação dada nos
arts. da mesma lei, não se entendem revogadas pela pro-
mulgação delia, sem que expressamente o sejam por actos
do Poder Legislativo Geral. Nestas circumstancias se acha
a lei provincial que refere o Presidente da Provincia, visto
ç, J. 14
— 106 —
que ella em nada se oppõe á Lei de 3 de Dezembro de 1841,
caso em que se poderia entender revogada pela disposição
genérica do art. 124 da referida lei :
Tal é o parecer da Secção; Vossa Magestade Imperial,
porém, Resolverá o que fôr mais acertado.
Paço em 27 de Novembro de 1844.—Honorio Hermeto Car-
neiro Leão .—Bispo de Anemuria.—Visconde de Monte Alegre.

RESOLUÇÃO

Como parece.

Paço, 11 de Dezembro de 1844.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador

Manoel Antônio Galvão. (*)

R e s o l u ç ã o de 11 de D e z e m b r o do 18-44.

Sobre o provimento dos Solicitadores do numero das Relações.

Senhor.— Ordena Vossa Magestade Imperial, em Aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, de 21 de
Novembro do corrente anno, que a Secção cie Justiça do
Conselho de Estado, examinando o requerimento de José

(*) Os offlcios de Justiça serão providos temporariamente pelos


Magistrados ou autoridades perante quem houverem de servir—1 1.°
do art. 10 de Decreto n° 817 de 30 de Agosto de 1851.
Esses provimentos sao da competência dos Juizes Municipaes.—
Avisos de 18 de Janeiro de 1862, 6 de Setembro de 185S, 12 de Dezembro
de 1872 e 26 de Janeiro de 1876.
— 107 -

Rodrigues Pereira da Fonseca, e a informação que, acerca


de sua pretenção, deu o Conselheiro Presidente-interino da
Relação da Corte, interponha o seu parecer sobre as duas
questões de direito, propostas na referida informação ; o que
passa a Secção a cumprir.
A primeira questão consiste em saber qual é a autoridade
a quem compete a expedição dos titulos dos Solicitadores do
numero da Relação ; a segunda, em determinar o tempo
por que taes titulos se devem passar.
Pelo que toca á primeira questão, a Secção não tem du-
vida em concordar com o Conselheiro Presidente interino
da Relação, na opinião de que a nomeação dos Solicitadores
do numero das Relações deve pertencer aos Presidentes
dellas, de accôrdo coma legislação antiga, que regulava as
attribuições do Regedor.
E' certo que o Regulamento de 3 de Janeiro de 1833, que
organizou a nova fôrma do serviço das Relações e de-
clarou as attribuições dos Presidentes dellas, em virtude dos
arts. 21 e 22 da Disposição Provisória acerca da Adminis-
tração da Justiça Civil, foi omisso em declarar que aos
mesmos Presidentes das Relações pertencia a nomeação dos
Solicitadores; mas nem por isso essa attribuição lhe pôde
ser negada, em vista da legislação anterior.
A Ord. do L. 1. Tit. 1." §26 conferia ao Regedor
da Casa da Supplicação a attribuição de nomear os Solici-
tadores do numero da mesma casa, attribuição que per-
tencia aos Governadores das outras Relações, por virtude do
disposto no | 8. da Ord. do L. 1. Tit. 35 e dos Regi-
mentos de cada uma das ditas Relações.
O | 13 do art. 11 da Lei do Orçamento, publicada em 15
de Dezembro de 1830, supprimiu o ordenado do lugar de
Regedor da Justiça, e vindo assim a supprimir virtualmente
o emprego, não aboliu suas attribuições que continuaram a
ser exercitadas pelo Chanceller, em virtude do disposto no
| 16 da Ord. do L. 1.' Tit. 4.°; e por isso devia-se enten-
der conservada aos Presidentes das Relações a attribuição
de nomear os Solicitadores do numero, que, pela falta do
Regedor e Governadores cias Relações, pertencia aos Chan-
— 108 -

celleres; interpretando-se assim, como conviria, o art. 22


da Disposição Provisória acerca da Administração da Justiça
Civil.
Pelo que toca á segunda questão, isto è, saber-se o tempo
por que se devem passar as cartas dos Solicitadores, a Secção
não encontra Lei alguma que declare que taes nomeações
devam ser temporárias; ao contrario, das Leis citadas no
parecer do Conselheiro de Estado Procurador da Coroa e
Soberania Nacional se deduz que taes cartas de provimento
podem ser passadas ou vitalicia ou temporariamente ; e sem
citar outras Leis anteriores, passa a Secção a referir aqui
o texto do | 6. da tabeliã annexa à Lei de 30 de Novembro
de 1841, que é o seguinte :
*§ 6.° Do emprego vitalicio de Solicitadores dos Auditó-
rios das quatro cidades mencionadas no paragrapho ante-
cedente 30#000.
«Dos outros Auditórios do Império 15$000.
« Sendo porém temporariamente pagarão 1^000 por cada
anno, e na fôrma do paragrapho antecedente. »
Em vista desta disposição, parece claro que nenhum im-
pedimento ha para que os Presidentes das Relações confi-
ram os Officios de Solicitadores sem tempo determinado ou
vitaliciamente.
Reconhece a Secção que existe algum inconveniente em
designar-se á confiança das partes individuos immorigera-
dos ou prevaricadores; mas julga que tal inconveniente se
remove, já pela necessidade que ha de autorização e pro-
curação das partes, para que taes individuos exerçam seus
officios, já com a vigilância dos Juizes e Tribunaes, perante
quem servem os ditos Solicitadores; uma vez que não sejam
omissos em verificara responsabilidade.
Accresce que o provimento sem tempo determinado ou
vitaliciamente não importa necessariamente a irrevogabi-
liclade do provimento ; pois não estando esta irrevogabili-
dade garantida em Lei ou na Constituição, o provimento
sem tempo determinado se pôde entender concedido, em
quanto os providos bem procederem.
A Secção, entendendo que ha omissão no Regulamento das
— 109 —
Relações acerca do provimento dos Solicitadores, julga do
seu dever apresentar a Vossa Magestade Imperial, por
artigos, um projecto de additamento ao Regulamento das
Relações com o fim de occorrer á dita omissão.
Por esta occasião, a Secção nota que o mencionado Re-
gulamento fdas Relações, determinando nos arts. 76 e 79,
que osGuarclas-móres das antigas Relações, que tivessem
titulos vitalicios, exercitassem o emprego cie Secretario in-
dependente de nova nomeação, e que os Guardas-menores,
que também tivessem titulos vitalicios, exercitassem o
emprego de Continuo, não foi expresso sobre a competência
de taes nomeações, no caso de não haver empregados antigos
com titulos vitalicios.
Uma tal omissão parece reservar a Vossa Magestade Im-
perial taes nomeações, segundo o | 4 . ° do art. 102 da Cons-
tituição da Monarchia; porém se tal reserva pôde parecer
conveniente a respeito do Officio de Secretario, que é
chamado a exercitar funcções mais elevadas, não o parece
pelo que toca aos Officios de Contínuos e de Officiaes de
Justiça; nem ha coherencia em tal reserva com o que se
acha disposto em Leis anteriores e posteriores, e em vários
Regulamentos acerca de empregos que se podem reputar
de maior importância, cujos provimentos estão conferidos
a autoridades subalternas, inferiores em categoria aos
Tribunaes das Relações, e aos seus Presidentes.
Sem pretender mencionar todos os empregos de maior
importância, que são providos por autoridades inferiores
aos Presidentes das Relações, a Secção lembrará que as Câ-
maras Municipaes nomeam os seus Secretários, Físcaes,
Procuradores, e todos os outros empregados que perante-
ellas servem, os quaes pela maior parte têm mais importân-
cia que os empregos de Continuos e Officiaes de Justiça
das Relações, e recebem mais avultados salários.
Os Chefes de Policia provêem açs Amanuenses de suas
Secretarias ; e os Delegados, aos Escrivães dos Subdelegados
e aos ínspectores de Quarteirão; e os ditos empregos de Es-
crivães têm funcções sem duvida muito mais importantes que
as dos Officiaes de Justiça e dos Continuos das Relações,
— 110 -
cujas nomeações não podem sei* feitas definitivamente pelos
Presidentes dellas.
Em attenção ao expondido, pensa a Secção que, uma vez
quese tenha de reparar a omissão do Regulamento das Re-
lações, acerca da nomeação dos Solicitadores, convém
declarar também pertencente aos mesmos Presidentes a
nomeação dos Continuos e Officiaes de Justiça.
Quanto ao Secretario, por ser emprego de maior im-
portância, julga a Secção que deve continuara ser de no-
meação directa de Vossa Magestade imperial, masque muito
conviria não se effectuarem taes nomeações sem serem
ouvidos os Presidentes das Relações.
Tal é a opinião da Secção: Vossa Magestade Imperial
Determinará o que Fôr servido.

Projecto de adãitamento ao Regulamento das Relações do


Império, de 3 de Janeiro de 1833.

Tendo em vista o disposto no art. 22 da Disposição


Provisória acerca da Administração da Justiça Civil, e
no | 12 do art. 102 da Constituição Política do Im-
pério, Hei por bem, em additamento do Regulamento
das Relações do Império, de 3 de Janeiro de 1833, Decretar
o seguinte:
Art. 1. Os Solicitadores do numero das Relações, os
Continuos e os Officiaes de Justiça dellas serão providos
pelos Presidentes das mesmas Relações
Art. 2.° Para o provimento, se farão perante os mesmos
Presidentes as provanças de idoneidade, na fôrma das Leis;
e os provimentos dos Solicitadores serão temporários,
ou sem tempo determinado, como parecer aos mesmos Pre^
sidentes, que não passarão as respectivas cartas aos providos,
sem que tenham verificado o pagamento dos novas e velhos
direitos, na fôrma das Leis e Regulamentos.
Paço, em 5 de Dezembro de 1844. — Honorio Hermeto
Carneiro Leão. — Visconde de Monte Alegre. —Bispode Ane-
murvi.
~ 111 -
RESOLUÇÃO.

Como parece. (*)

Paço 11 de Dezembro de 1844.

Com a rubrica de Sua Magestade o imperador.

Manoel Antônio Galvão.

ü e s o l u ç ã o de 11 de D e z e m b r o d e 18-5^.
Sobre orphãs desvalidas.

Senhor.— Manda Vossa Magestade Imperial., em Aviso


de 22 do mez passado, que a Secção de Justiça do Conselho
de Estado interponha o seu parecer sobre as providencias
pedidas, a respeito de orphãs desvalidas, em officio dirigido
á mesma Secretaria de Estado pelo Juiz Municipal e de Or-
phãos do Termo da Cidade do Desterro e annexas, da Pro-
vincia de Santa Catharina, acompanhado de um officio do
Presidente da dita Provincia, e de outro do Juiz de Direito
da Comarca do Sul, delia.

(*) Expediu-se o Decreto n. c 398 de 21 de Dezembro de 1844 de


conformidade com o referido projecto.
O provimento dos Solicitadores de Fazenda será temporário, não
devendo haver Solicitadores especiaes de 2. a instância. Aviso de 3
de Outubro de 1850.
Nos lugares em que não houver Solicitadores ou requerentes dos
auditórios, provisionados pelos Presidentes das Relações, podem
os Juizes da l. a instância nomeal-os provisoriamente. Aviso de 31 de
Outubro de 1854'.
As provisões dos Solicitadores judiciaes serão passadas pelos ditos
Presidentes, por tempo de dous a quatro annos; e poderão ser re-
novados seus provisionados apresentarem attestados de abonação dos
Juizes de Direito perante os quaes servirem. § 10 do art. 14 e art.
48 do Decreto n.° 5618 de 2 de Maio-de 1874.
— 112 —
Examinando o dito officio, a Secção julga que se deve re-
commendar ao mencionado juiz de Orphãos a observância do
disposto no §13 e seguintes da Ord. do L .' l.° Tit. 88; por
isso que, o disposto nessa Lei parece ser a única medida a
adoptar nas presentes circumstancias a respeito de orphãs
desvalidas.
A Secção julga que o pensamento do Juiz, recommendando
á paternal caridade e protecção de Vossa Magestade Im-
perial as orphãs desvalidas de seu Termo não é outro senão
obter, ou soccorros pecuniários para taes orphãs, ou a de-
signação de casas de caridade ou de educação, em que as
mesmas orphãs sejam recolhidas.
Se é este o pensamento, a Secção julga que não deve ser
attendido; porque não existindo casas de caridade com tal
destino na referida Provincia, não convém que ellas se ins-
tituam á custa do Estado, a quem faltam os meios para
occorrer a taes estabelecimentos em todas as Províncias,
como seria de justiça.
Accresceque a creação de taes estabelecimentos augmen-
taria o numero de Orphãs desvalidas, e que o desvalimento
d'aquellas de que trata o Juiz, provêm, ás mais das vezes,
da falta de habito do trabalho e da louca presumpção com
que se recusam sujeitar a elle, e alugar seus serviços, as or-
phãs de cor branca não favorecidas da fortuna.
Em taes circumstancias, longe de dever o Estado favo-
recer taes prevenções, instituindo collegios e Pensionatos,
em que as orphãs recebam educação superior a seus meios
de fortuna, e adquiram hábitos de necessidades a que esses
meios de fortuna não podem satisfazer, parece que deve
compellir taes orphãs a alugarem seu trabalho.
A autoridade que têm os Juizes de Orphãos, para darem
os mesmos orphãos á soldada, segundo sua condição, na
fôrma disposta na Ord. do Lv. l.° Tit. 88, e a que as Leis
posteriores conferem ás autoridades policiaes, para com-
pellirem ao trabalho os vadios, parece á Secção que, sendo
exercida com zelo e dedicação pelos mencionados Juizes e
autoridades, poderá occorrer ao mal ponderado pelo Juiz
de Orphãos da Cidade do Desterro, e por isso entende ella
— 113 -
que nenhuma outra providencia deve aconselhar, que não
seja a acima mencionada.
Tal é sua "opinião : Vossa Magestade Imperial Determinará
o que parecer conveniente.
Paço em 5 de Dezembro de 1844. —Honorio Hermeto
Carneiro Leão. — Visconde, de Monte Alegre.—Bispo de Ane-
muria.
RESOLUÇÃO.

Como parece á Secção.

Paço, 11 de Dezembro de 1844. (*)

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador-

Manoel Antônio Galvão.

(") De accordo com a Consulta expediu-se o seguinte Aviso :


111 m. e Exm. Sr.—Tendosido presente a Sua Magestade OImperador
o ofücio de V. Ex. n. 42 de 11 de Setembro ultimo, juntamente com o
que a este Ministério dirigiu o Juiz Municipal e de Orphãos, José
ltodrigues Pinheiro Cavalcanti; pedindo providencias a favor das
orphãs desvalidas dos Termos de sua jurisdicção, Houve o Mesmo
Augusto Senhor por bem Decidir em conformidade com o parecer da
Secção de Justiça doConsejbo de Estado, que nenhuma outra provi-
dencia cabe aó Governo a tal respeito, senão recommendar ao dito
Juiz a observância do que dispõem o § 13 e seguintes da Ord. do Lv.
l.° Tit. 88, sendo o disposto nessa lei a única medida adoptavel em
semelhantes circumstancias acerca de orphãs desvalidas, por isso
que não existindo nessa Provincia casas de caridade destinadas á sua
recepção, nao convém que taes estabelecimentos se formem a custa
do Estado, a quem faltam os meios para creal-os em todas as outras
Províncias, como seria de justiça. O que commuuico á V. Ex. para
sua intelligencia, c para que as°sim o faça constar ao referido Juiz
de Orphãos.
Deus Guarde a V. Ex.—Palácio do Rio de Janeiro, 19 de Dezembro
de 1844.— Manoel Antônio Galvão.— Sr. Presidente da Provincia de
Santa Catharina.

15
CONSULTAS

DA

SECÇÃO DE JUSTIÇA DO CONSELHO DE ESTADO

1845.

R e s o l u ç ã o d e V de «Junho de 18^SS.

Sobre a creação do Registro Geral das hypothecas.

Senhor.— Foi a Secção de Justiça do Conselho de Estado


encarregada, pelo Aviso*de 27 de Março do corrente anno,
de organizar o Regulamento que convém dar-se aos officios
de Registro Geral.de hypothecas, a fim de poder ter exe-
cução o art. 35 da Lei n.° 317, de 21 de Outubro do anno
passado.
Se a disposição deste artigo da referida Lei fosse mera-
mente facultativa, talvez a Secção se abalançasse a ponderar
á Vossa Magestade Imperial a inconveniência que ella reputa
haver em estabelecer-se um Registro Geral de hypothecas,
sem acompanhar esse estabelecimento de uma reforma com-
pleta do systema'hypothecario, adoptado nas Leis pelas
quaes, nesta matéria, se regula o nosso foro; mas sendo
ella positiva em crear o Registro Geral das hypothecas, e
deixando somente ao Governo determinar em seus Regula-
mentos o modo e lugares em que o Registro ha de ser esta-
— 116 —
belecido, inútil se torna, e sem propósito, o arrazoado que,
no sentido de justificar sua opinião, pudera aqui apresentar
a Secção.
Cumpre-lhe dar execução á ordem de Vossa Magestade
Imperial, contida em o mencionado Aviso; e é o que faz a
Secção no projecto de regulamento, que offerece á consi-
deração de Vossa Magestade Imperial.
-Esse projecto é um ensaio, e ensaio que deve conter
muitas imperfeições.
A matéria em si é complicadissima; e bem que, para a
desenvolver convenientemente, a Secção pudesse achar
modelos na Legislação estrangeira, faltavam ao membro
delia, encarregado ultimamente de sua redacção, os meios,
tempo e conhecimentos necessários, para poder examinal-a.
O Cod. Civil dos Francezes, que, por existir em mãos de
todos, pudera ser mais amplamente consultado, não é guia
seguro, pois que muitos Jurisconsultos dessa nação reco-
nhecem sua imperfeição, nesta parte, e reclamam reforma
larga, que ponha, neste ponto, sua Legislação mais em
harmonia com o seu actual estado social.
Sem duvida o do Brazil não apresenta ainda as mesmas
necessidades; e talvez nessa idéa estivesse a Assembléa
Geral, quando contentou-se com estabelecer, pelo art. 35
da Lei n. 317, o registro das hypojhecas, isto é, sua publi-
cidade, sem curar de nenhuma revisão, quer sobre a mesma
legislação hypothecaria, quer sobre os outros ramos que
com ella estão intimamente ligados, especialmente o que
regula as alienações, voluntárias ou forçadas, das proprie-
dades de raiz; e o que estabelece impostos pesados nossas
alienações, com grave depreciação do valor de taes pro-
priedades.
A circumstancia de se ter creado esse Registro Geral na
Lei annua do Orçamento talvez pudesse dar mesmo a en-
tender que com elle, a Assembléa Geral teve mais em vista
a fiscahsação do novo imposto do sello, do que consultar os
interesses da agricultura, industria e commercio, que, em
a to ponto, podem ser auxiliados pela publicidade das hypo-
thecas, c por um bom e adequado regimen dellas.
- 117 —
Qualquer, porém, que fosse o intuito da Assembléa Geral,
o certo é que a missão, encarregada ao Governo pelo citado
art. 3o da Lei n. 317, se limita a estabelecer os lugares e
modo por que se deve realizar a creação do Registro Geral
das hypothecas.
Tendo em vista estes precisos limites, a Secção, antes de
organizar o trabalho que offerece á Vossa Magestade Impe-
rial, teve primeiramente de examinar os lugares em que
convinha estabelecer o Registro, e depois, o modo por que
devia ser realizado.
Quanto á primeira questão, na falta de outras divisões
administrativas ou judiciarias, a Secção teve de examinar
se o Registro devera ser estabelecido por Províncias, por
comarcas, por termos ou municípios.
Esta ultima divisão, isto é, a de termos ou municípios,
offereceu-se em primeira linha.
Concentrar o Registro em uma divisão mais limitada, e
ao alcance das partes, foi a primeira idéa em que se fixou a
Secção ; porém ella teve de a rejeitar por diferentes consi-
derações importantes.
Não era possível crear-se em cada município um Conser-
vador de hypothecas, ou um Tabellião privativo para o
registro dellas, por serem em tão pequeno numero os actos
que constituem hypotheca, e que teriam de ser registrados
na maior parte dos municípios do Império, que officios
limitados a. taes funcções não poderiam certamente dar
subsistência aos empregados que fossem nelles providos.
Era forçoso annexar o Officio do Registro das hypothecas
ao de Tabellião do Notas.
A diíficuldade, porém, não ficava solvida, uma grande
parte dos municípios do Império tem por Tabelliães de notas
homens de crassissima ignorância, quer nas disposições
mais triviaes de Direito, quer mesmo na arte calligraphica.
Entregar a homens taes o Registro das hypothecas seria
pôl-o em um chãos tal, que é de receiar que, em pouco
tempo, se viesse a considerar como uma calamidade, para
os credores e devedores hypothecarios, a creação de tal
Registro.
— 118 —
Deve-se considerar que o estabelecimento de Registro de
hypothecas importa necessariamente a concessão cie uma
tal ou qual jurisdicção ou autoridade conferida ao Regis-
trador. Tem elle de deliberar sobre a validade dos titulos
com os quaes se lhes requer o registro de hypothecas, ou
de sua baixa e extincção. Certamente essa deliberação se
deve limitar ao exame da existência ou não existência das
formalidades externas prescriptas pelas leis a taes titulos;
mas isso mesmo exige mais amplos conhecimentos que
aquelles que se dão em grande parte dos Tabelliães dos
municípios.
Outra consideração cumpre ter; e esta consiste na res-
ponsabilidade que têm os Registradores para com os cre-
dores e devedores hypothecarios.
São elles sujeitos a indemnizarem ás partes os damnosque
lhes causarem ; mas se, em grande parte dos Municípios, os
Tabelliães não têm propriedade alguma, quer movei, quer
de raiz, que possa garantir as indemnizações por elles devi-
das, essa responsabilidade ficará meramente nominal, ou
pelo menos inútil para os credores e devedores, porque
deverá limitar-se á penal, que éde si mesma insignificante
no Império, onde atéqui poucos exemplos se encontram de
tal responsabilidade verificada em empregados prevarica-
dores.
Por todas estas considerações teve a Secção de rejeitar a
idéa de estabelecer o registro cias hypothecas em todos os
Municípios do Império.
Então teve a irléa de estabelecer por Províncias; esta pa-
recia própria a evitar a maior parte dos inconvenientes que
ella havia ponderado no estabelecimento do Registro por
Municípios.
Reduzidos os Conservadores de hypothecas ou Registra-
dores a desoito, é provável que o numero de actos hypo-
thecarios registraveis, que deviam concorrer em cada car-
tório, fosse assaz avultado, para que os emolumentos do
registro assegurassem decente subsistência á taes empre-
agdos.
Com taes circumstancias é também provável que, cbenlre
_ 119 _
os concurrerites que solicitariam taes empregos, pudesse o
Governo Imperial fixar sua escolha sobre individuos for-
mados em direito, ou tendo delle os conhecimentos necessá-
rios; e pudesse exigir que prestassem uma fiança avultada,
ou que fossem possuidores de bens de raiz sufficientes, para
assegurar ás partesas indemnizaçõesque lhes fossem devidas.
Por mais consideráveis que fossem estas vantagens no
entender da Secção, ella se viu forçada, a seu pezar, a renun-
ciar também esta idéa, pela consideração do grave íncom-
modo que se daria aos habitantes dos lugares remotos das
grandes Províncias, forçando-os a fazerem o registro dos
actos hypothecarios nas Capitães dellas.
Talvez tudo se conciliasse, estabelecendo-se novas divi-
sões ou círculos destinados ao registro hypothecario, sem
attenção ás divisões já existentes, quer administrativas,
quer judiciarias; porém a Secção não julgou ser-lhe isso
permittido;e portanto, obrigada a renunciar as idéas do
estabelecimento do registro de hypothecas por Províncias,
e por Municípios ou Termos, viu-se na necessidade de ado-
ptar a do estabelecimento por Comarcas.
Em verdade o registro assim estabelecido nem pode pro-
duzir as vantagens que se deveriam esperar do estabeleci-
mento por Províncias, nem pôde acautelar todos os incon-
venientes que são de receiar do estabelecimento por Muni-
cípios ; é apenas um meio termo que colloca o registro nas
Cidades e Villas que se consideram principaes, e onde por
isso é presumível que os Tabelliães sejam mais idôneos.
Deste modo, Senhor, a Secção explica á Vossa Magestade
Imperial a preferencia que deu ao estabelecimento, por Go-
marcas, do registro das hypothecas, sem comtudo preten-
del-o justificar completamente, porquo ella é a primeira a
reconhecer os seus defeitos já ponderados.
A Secção fixou a regra da annexação do emprego de Re*
gistrador de hypothecas ao do Tabellião das Cidades ou
Villas principaes da Comarca, que fosse designado pelo Go-
verno, e pelos Presidentes, sem desconhecer que talvez na
Capital do Império, e em uma ou outra Comarca de alguma
das Capitães de Provincia, se pudesse admittir excepção a
— 120 —
essa regra, ou creando officio privativo para o registro das
hypothecas, ou annexando-o a outros empregos, como, por
exemplo, ao Escrivão dos Feitos da Fazenda.
Julgou, porém, ella que taes excepções devem ser priva-
tivamente deliberadas pelo Governo, em vista das infor-
mações que tiver, e que as possam justificar.
Quanto ao modo por que deve ser realizada o registro das
hypothecas, a Secção seguiu a Legislação estrangeira que
consultou, tendo em vista especialmente o estabelecer a
necessidade do registro, isto é, a publicidade de todas as
hypothecas, ou ellas fossem convencionadas, ou fossem le-
gaes, privilegiadas e judiciarias.
A Fazenda Publica deveu ser comprehendida na regra,
não porque a Secção deixe de receiar que a negligencia dos
seus Procuradores e Fiscaes não lhe possa causar algum
prejuízo e a perda de direitos garantidos pelas Leis, mas
porque não achou, nas Legislações que teve em vista, ex-
cepções a favor da mesma Fazenda ; e porque entendeu que
admittir tal excepção seria inutilizar e destruir todas as
vantagens do registro.
Não obstante haver a Secção adoptado a regra da publici-
dade de todas as hypothecas, e, por isso, da generalidade do
registro ; e outrosim a da especialidade das mesmas hypo-
thecas, exigindo que ellas fossem registradas em todas as
Comarcas em que existissem bens immoveis a ellas sujeitos,
e sobre os quaes se pretendesse conservar o direito hypothe-
cario; comtudo ella admittiu duas excepções, adoptando,
nessa parte, o Código Civil dos Francezes.
AsSim conservou ella independente do registro: 1.° os
direitos hypothecarios dos menores sobre os bens dos tuto-
res, para pagamento dos alcances de sua administração ; e
2.1- os da mulher sobre ps bens immoveis do marido, sujeito
aos dotes e convenções matrimoniaes.
Se taes pessoas fossem indispensavelmente sujeitas ao re-
gistro, e se perdessem necessariamente seus direitos, todas
as vezes que faltassem esses registros, é presumível que
fossem freqüentes vezes gravemente prejudicadas.
E' certo que entre nós raras vezes ao casamento prece-
— 121 -
dem convenções matrimoniaes, e constituições de dotes, a
que as Leis garantam a hypotheca, por serem a maior parlo
dos casamentos celebrados por carta de metade, segundo o
costume que nos foi transmittido de Portugal; mas a pouca
freqüência de taes convenções mais serve para justificar a
excepção que para a tornar inopportuna.
A obrigação de fazer taes registros, em favor das mulhe-
res, e dos menores e interdictos, não podia deixar de ser
incumbida aos maridos, e aos tutores e curadores, aos quaes
se deve sujeitar alguma penalidade, na falta do cumpri-
mento de tal obrigação, como de facto o fez a Secção; mas
não parece conveniente deixar extinguir os direitos dos
menores e interdictos, por falta dos tutores e curadores, e
dos maridos, falta que se poderia tornar freqüente, por
serem esses mesmos, a quem tocava a obrigação, interessa-
dos em a commelter
Deixar perdei* taes direitos por semelhantes faltas, não
parece coherente com a protecção que as Leis, em todos os
outros, prestam a taes pessoas.
Os motivos, pois, que decidiram os redactores do Código
Civil dos Francezes a admittir as excepções acima expostas,
foram os mesmos que influíram no animo dos membros da
Secção: o seu trabalho é imperfeito, como ella mesma re-
conhece; mas a estreiteza do tempo, os limites fixados aos
regulamentos do Governo pelo art. 3b da lei n." 317, a falta
de experiência que ha em semelhante matéria, devem jus-
tificar a sua imperfeição.
Repete a Secção que esse trabalho deve ser considerado
como um ensaio, o qual poderá ser corrigido posteriormen-
te, quando seus inconvenientes e defeitos se tornarem mais
patentes pela pratica.
E' neste sentido que a Secção é de parecer que o Regula-
mento offereciclo seja adoptado : Vossa Magestade Imperial,
porém, Deliberará o que parecei* mais conveniente.
Paço em 9 de Dezembro de 1844.— Honorio Hermeto
Carneiro Leão. —Visconde de Mont'Alegre.— Bispo de Ane-
muria.

c. J. 16
- 122 —
RESOLUÇÃO.

Consulte-se o Conselho de Estado. (*)


Paço em 7 de Junho de 1845.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
José Carlos Pereira de Almeida Torres.

O Ouvido o Conselho de Estado pleno nos termos da resolução,


deu o parecer seguinte :
Senhor.—Houve Vossa Magestade Imperial por bem Ordenar por
Sua Immediata Resolução de 7 de Junho deste anno, que o Conselho
de Estado consultasse,'com o que se lhe offerecesse, sobre o parecer
da Secção do mesmo Conselho, a que pertencem os Negócios da Jus-
tiça, com o Regulamento para o Registro Geral das hypothecas, an-
nexo- ao referido parecer, cujo teor é o seguinte :

E na conferência de hoje, 23 de Setembro de 1845, em observância


do Aviso de 9 deste mez, afim de ser examinado, na occasião de dis-
cutir-se aquelle outro, que fica transcripto, apresentou-se o projecto
de Regulamento para o Registro Geral das hypothecas, do teor se-
guinte :
Art. 1.» O Registro Geral das hypothecas, creado pelo art. 33 da
Lei n. c 317, de 21 de Outubro de 1843, fica estabelecido em cada uma
das Comarcas do Império, e terá o seu assento na Cidade ou Villa prin-
cipal, que fôr designada pelos Presidentes das respectivas Provín-
cias, precedendo informação dos Juizes de Direito.
Art. 2.° Na Corte, e nas Capitães das Provincias, poderá haver um
Tabellião especial encarregado do registro das hypothecas: nas
outras Comarcas, porém, ficará a cargo de um dos Tabelliães da Villa
ou Cidade, designada pelo methodo estabelecido no artigo precedente.
Art. 3.» Os Tabelliães do registro serão de serventia vitalícia, no-
meados, providos e substituídos, na fôrma das Leis de 11 de Outubro
de 1827, 22 de Setembro de 1828, art. 2.° § 1.° in fine, e Decreto do 1.°
de Julho de 1830; e os Juizes de Direito da Comarca em que servirem,
os competentes para lhes formar culpa: art. 186do Código do Pro-
cesso Criminal. Havendo mais de um Juiz de Direito, será o compe-
tente o d a l . a vara, assim para este, como para os mais effeitos deste
regulamento, e, na falta delle, o seu legal substituto.
Art. 4.° Os Tabelliães do Registro gerai das hypothecas são obri-
gados a ter os livros seguintes : 1.° o do Registro geral das hypothe-
cas da comarca onde servirem, para nelle registrarem as hypothecas
dos individuos nella domiciliados, e fazerem o lançamento dasaver-
baçoesaella relativas, e annotação das certidões afflrmativas, que
passarem, da existência do registro de alguma hypotheca, nos seus
livros; 2.° o livro ou Índice alphabetico dos nomes dos devedores,
onde se indiquem as folhas do registro, ou registros de cada um del-
les; 3.° o protocolo, que servirá para nelle se annotarem toda-: as
certidões negativas que se passarem; havendo um índice alphabetico
especial, onde se lançarão os nomes das pessoas a quem taes certidões
forem passadas, indicando a folha do protocolo onde estiver anno-
tada a certidão respectiva.
— 123 —
O regulamento acima referido é o que se segue :
Art. 1. O Registro Geral das hypothecas, creado pelo
art. 3b da Lei n.° 317 de 21 de Outubro de 1843, fica esta-
belecido em cada uma das comarcas do Império, e estará a
cargo de um dos Tabelliães da Cidade ou Villa principal da
Comarca, que fôr designado, na corte., pelo Governo e nas
províncias, pelos Presidentes, precedendo informações dos
Juizes de Direito.

Todos estes livros serão sellados (Decreto de 26 de Abril de 1844,


n.° 385), abertos, rubricados, numerados e encerrados pelos Juizes
de Direito competentes.
Art. 5.° O livro do registro das hypothecas terá todas as suas pagi-
nas divididas convenientemente, para que no lado esquerdo se possa
fazer o_registro, e, no direito, apontar, em frente delle, as baixas ou
novaçoes das obrigações; contendo estas notas, o dia, mez e anno em
que foram feitas, e por virtude de que titulo.
Neste segundo lado, também se tomarão, por ementa, as certidões
affirmativas, que se passarem, da existência do Registro de qualquer
hypotheca.
Art. 6.° O livro do Registro deverá ser escripto chronologica e
successivamente, sem mediar espaço mais que o necessário para dis-
tinguir um de outro assento ; e estes serão numerados e escriptos em
todas as suas partes, por extenso, fazendo-se menção no fim delle,
de qualquer cousa emendada, ou acrescentada por entrelinha, min-
guada, ou riscada: Ord. do L^° 1.° Tit. 78 | 4.°
Art. 7.° Os assentos deverão conter o dia, mez e anno em que fo-
rem feitos; os nomes do devedor e credor, com todas as declarações
que es possam distinguir de outros quaesquer; o motivo do registro
ou a divida ou obrigação á que a hypotheca foi dada; a qualidade
desta, cartório e tempo, por onde expedida ; se geral ou especial; e,
sendo especial, as confrontações dos prédios, como estiverem no ti-
tulo que se exhibir ; e todos" serão assignados pelo Tabellião, e pelo
interessado que requer o registro, ou por seu procurador, com pode-
res especiaes, .cuja procuração deverá ficar archivada.
Art. 8.° Averbar-se-hão os registros, em todos, e em cada um dos
titulos, documentos, e procurações por onde se fizerem, com decla-
ração da data e folhas do livro', onde estiverem lançados, e com as-
signatura do Tabellião.
Art. 9.° Sao registraveis as hypothecas convencionaes, legaes e
judiciarias. As convencionaes, á face da escriptura publica, ou es-
cripto particular, revestido das solemnídades do § 33 da Lei de 20 de
Junho de 1774, em que a hypotheca expressamente se constitua; de
auto de conciliação, termo de transacçao, ou obrigação em autos ou
livros de Repartição publica, ou judiciaria; verba testamentaria ex-
trahida do registro de testamento, ou codicillo; e contracto de fiança
quando, nestes actos, se tiver expressamentecontrahido, ou estabe-
lecido a hypotheca geral ou especial; certidão authentica por que
se mostre que os bens de que se pretende fazer o registro, se acham
litigiosos, nos termos da Ord. do L.°4.° Tit. 10, legalmente penho-
rados, ou foram doados, ou por qualquer contracto, alienados, com
reserva do usufructo, emquanto não acabar. As legaes, á face do ti-
tulo, ou sentença a que as Leis tiverem concedido semelhantes hypo-
thecas.
— 124 —
Art. 2.° As hypothecas deverão ser registradas no cartó-
rio do Registro Geral da Comarca, onde forem situados os
benshypothecados. Não produzirá effeito algum o registro
feito em outros Cartórios, e igualmente o que foi feito dentro
dos vinte dias anteriores ao fallimento.
Art. 3. As hypothecas que comprehenderem bens si-
tuados em differentes Comarcas, serão registradas em cada
uma dellas. O mesmo se praticará, quando a hypotheca,

Art. 10. Da regra estabelecida no artigo antecedente, exceptuam-se


comtudo as seguintes :
1.° As dividas provenientes de salários de Justiça ou dos Depositá-
rios, e conductores de bens á praça; 2.° as de soldadas ude mar; de
fretes e salários de operários dos s'eis últimos mezes; 3o as despezas
de funeral, e gastos da ultima moléstia; 4.° as de sementes ou instru-
mentos de lavoura; 5.» as de rendas de casas, ou de prédios rústi-
cos ; as de foro e outras prestações que têm tracto successivo ; 6.° de
tributos.
Art. 11. Nas hypothecas legaes, e nas constituídas por sentença,
que comprehenderem todos os bens de devedor hypothecario, não é
necessário, para a validade do registro, que se faça de cada um
delles especifica menção : a declaração genérica — todos os bens —
ésufficiente para sujeitar aos effeitos hypothecarios todos os bens do
devedor, que existirem na comarca, ou comarcas, onde se fizer o re-
gistro.
Art. 12. A antigüidade das hypothecas regular-se-ha_pelas datas
dos registros, e não pelas das escripturas, salva a disposição dos arts.
16, n.°5, e21.
As hypothecas nao registradas eqüivalem a obrigações chirogra-
pharias, a respeito de terceiros; mas a respeito dos devedores, nunca
cessam de ser hypothecas.
_Art. 13. Para o registro das hypothecas, anteriores ásua installa-
çao, na cidade ou villa em que tiver de ser creado, sao concedidos
seis mezes a contar da data do edital do Juiz de Direito, por onde tem
de publicar-se, em cada uma das Municipalidades da sua comarca,
a sobreditainstallação. Durante estes seis mezes, regulará, a respeito
de taes hypothecas anteriores, a antigüidade das escripturas,'ou dos
escriptos particulares do | 33 da Lei de 20 de Junho de 1774.
Art. 14. Asinscripções destes encargos, anteriores à installaçao do
registro, serão feitas" em livro distincto e separado com as formali-
dades do art. S.°; e deverá começar por nelle transcrever-se o teor
do edital do artigo antecedente, e acabar pelo termo de encerramento,
que deverá ser assignado pelo Tabellião do Registro, e pelo Juiz de
Direito.
Art. 15. O registro não .produzirá effeito por mais de dez annos:
se a divida ou obrigação perdurar, renovar-se-ha o registro, dentro
do ultimo anno de cada decennio.
Exceptua-se o registro : 1.° pelo dote da mulher, emquanto du-
rar o matrimônio ; 2.° o da hypotheca do filho nos bens do pai, em-
quanto não fôr emancipado; 3.° o da alienação com reserva do usu-
fructo vitalício; emquanto este durar; 4.° o "dos bens hypothecados
á Fazenda Nacional, que terá effeitos permanentes, emquanto se nao
extinguir a divida, ou obrigação.
— 125 —
posto que limitada a uma propriedade ou fazenda, parte
desta fôr situada em uma Comarca, e parte em outra. A
data do primeiro registro que, em taes casos, se fizer em
uma Comarca, marcará a época dos effeitos legaes da hypo-
theca, com tanto que o registro, nas outras Comarcas, se
não demore depois do primeiro, mais que o tempo necessá-
rio para nellasseeffectuar, contando-se a distancia, á razão
de duas léguas por dia, do lugar do primeiro registro para
o dos outros.

Art. 16. Compete promover os registros aos interessados na sua


existência, e com especialidade : 1.° aos fiscaes da Fazenda Nacional,
procuradores das Municipalidades, e outros agentes de corpos collec-
tivos, os das hypothecas dos seus. contractadores, rendeiros, thesou-
reiros, e recebedores; os dos prédios litigiosos, por acção sobre do-
mínio, em que a Fazenda Publica, e demais corporações, forem
autores; e as acquisições com reserva dousufructo, sob pena de res-
ponsabilidade pessoal; 2.° ao Juiz do inventario dos menores, pródi-
gos, mentecaptos, ou ausentes, o fazer com que o tutor, ou curador,
por elle nomeado, ou approvado, registre as obrigações que, 'como
taes, contratarem perante^ elle; fazendo ajuntaranota do registro
ao inventario, ou nomeação do tutor, ou curador, antes do que, não
poderão exercer as funcções, para que forem nomeados; 3.° ao ma-
rido, á própria mulher, a qualquer dos seus parentes, ou ao doador,
o registro da hypotheca, nos bens do marido, por causa do dote, ou
dos bens paraphernaes da mulher; 4.° ao pai, administrador dos
bens dos filhos, o da sua obrigação hypothecaria; 5.° ao tutor, e cura-
dor, o da hypotheca dos immoveis obrigados a tornar aos menores,
e semelhantes, de quem fôr tutor e curador. O tutor, ou curador,
que assim não fizer, responderá, por seus bens, a qualquer prejuízo
dos lesados.
Art. 17. Poder-se-hao averbar, á margem de cada registro, todas
as novações que nelle possam ter oecorrido, como sejam a sua baixa,
ou extincção, em todo ou em parte, e, bem assim, qualquer altera-
ção que sobrevenha, na quantidade da divida; rnas ellas referir-se-
hão sempre aos titulos porque são feitas, com declaração da sua data,
Tabellião que os lavrou, Escrivão que os processou, ê em que Juizo ;
ecom elles se procederá do mesmo modo que está estatuído no art. 8.°
Art. 18. Estas verbas do artigo antecedente, por si sós, sem os ti-
tulos a que se referirem, nunca servem de prova da extincção do
registro, ou alteração na quantidade da_ divida; assim como o re-
gistro, sem os títulos por que se faz, nao prova os encargos regis-
trados.
Art. 19. Havendo duvida se a obrigação produz hypotheca, ou se
está dissolvida, o Juiz de Direito decidirá; e a sua decisão será mais
um titulo para annotar-se no assento do registro, ou na sua aver-
bação, sem que obste comtudo ao conhecimento e decisão de quaes-
quer questões futuras.
Art. 20. O registro das, hypothecas deve ser feito no domicilio do
devedor; e sendo muitos os devedores de diversos domicílios, ou
sendo os fiadores de domicilio differente do devedor, será repetido
o registro nos diversos domicílios; assim como também o será o
— 126 —
Art. 4.° Deverão ser registradas, no cartório do Regis-
tro geral: 1.° todas as hypothecas sobre bens immoveis,
tanto as convencionaes, quer geraes, quer especiaes, como
as legaes, privilegiadas e judiciarias; 2.' as doações e alie-
nações, por qualquer titulo feitas, com reserva do usu-
fructo.
Art. S.°Não são sujeitas ao Registro, e conservam a hypo-
theca, ainda sobre immoveis, independente delle, as dividas

da hypotheca especial, na comarca da situação do objecto hypothe-


Art. 21. Quando o devedor fôr domiciliario na cidade, villa ou
termo, onde o titulo da hypotheca fôr feito, serão concedidos oito
dias ao credor, para a ir registrar.
O mesmo espaço se dará para as novações. Neste intervallo, porem,
não será prejudicado o credor, pela demora, ainda que outro credor
posterior registre primeiro a sua hypotheca.
Art. 22. Se o devedor fôr domiciliario, ou o objecto hypothecado
situado, em lugar distante do em que a escriptura é feita, serão
concedidos três correios de mar, ou terra, para se mandar fazer o
registro, ou as novações, no domicilio do mesmo devedor.
Art. 23. Mudando.um devedor de domicilio, qualquer dos inte-
ressados poderá requerer que se averbem, em a nova residência, as
hypothecas que estiverem registradas na anterior.
Art. 24. Se duas hypothecas do mesmo devedor forem registradas
no mesmo dia, uma não terá preferencia a outra, ainda que o Ta-
bellião declare que uma foi registrada de manha e outra de tarde.
Valerá, em tal caso, em igualdade de circumstancias, a data das es-
cripturas, por excepção feita ao art. 12.
Art. 25- O marido, o pai, e o tutor, e curador, cujos bens estive-
rem geralmente nypothecados, podem requerer que a hypotheca
geral se mude em especial, ouvidos os interessados, e o fiscal do
Juizo, onde o ha, ou o da Fazenda Nacional, no caso de dote. Da de-
cisão do Juiz dos Orphãos, ou Municiprl competente, haverá recurso
suspensivo de appellaçâo, para a Relação do districto.
Art. 26. O mesmo poderá requerer outro qualquer devedor geral-
mente obrigado, se o credor nisso convier. Mas, quando não conve-
nha, o juiz competente, certificado de que a hypotheca especial offe-
recida eqüivale a divida, e um terço mais, poderá julgai-a substi-
tuída a geral, havendo delle o mesmo recurso do artigo antece-
dente.
Art. 27. A verba da extincção do registro, em parte, ou em todo,
por se lhe substituir outra hypotheca, nao dispensa o registro da
nova hypotheca, quando fôr constituída em bens hypothecaveis.
Art. 28. Os cessionários dos credores com registro, para exercer
os direitos destes, carecem fazer averbar a cessão que delles obti-
verem, nos mesmos prazos, e com as mesmas particularidades com
que aquelles a quem representam, deveriam proceder, para fazer
qualquer alteração no seu registro, eo mesmo se-observará a res-
peito dos herdeiros, e quaesquer outros suecessores de taes credores.
Art. 29. A hypotheca convencional não poderá ser registrada
senão quando a soturna por que é feita, fôr certa, e determinada pelo
acto em que fôr constituído.
— 127 —
provenientes: 1.° de salários de justiça; 2.° de soldadas,
jornaes e salários; 3.' de despezas funerárias, egastos da
ultima doença.
Art. 6. São competentes para requerer o registro das
hypothecas, por si, ou por seus procuradores, munidos de
poderes especiaes : 1.° os credores e os devedores, e quaes-
quer outras pessoas interessadas em que os direitos hypo-
thecarios se conservem e produzam todos os effeitos legaes;

Sendo o credito resultante da obrigação, condicional quanto á


sua existência, ou indeterminado no seu valor, o credor não po-
derá requerer a inscripção., senão até a concurrencia de um valor
estimativo, por elle declarado expressamente, de consentimento do
devedor; ou reduzido, como fôr de justiça, segundo os termos da
Ordenação do L. 3.° Tit. 78 1 2.°, a requerimento do ultimo.
Art. 30. Os Tabelliães do registro são responsáveis ás partes, pelo
damno que lhes causarem, se falsificarem o registro, ou faltarem á
verdade, na certidão que lhes fôr pedida, acerca das hypothecas ins- -
criptas em nome de qualquer devedor; e isto além das penas em que,
pelas leis, incorrem, pelas suas omissões, erros e prevaricações.
Art. 31. Demorando o Tabellião do registro o registrar alguma
hypotheca, ou passar certidão das hypothecas inscriptas em nome de
algum devedor, o Juiz de Direito, ouvindo o Tabellião, lhe fixará
tempo razoável, com pena de suspensão.
Art. 32. As partes que se sentirem prejudicadas na recusa, ou
demora de suas pretenções fundadas em justiça, deverão para segu-
rança do .seu direito, e procedimento contra o Tabellião, justificar o
acontecimento, dentro de cinco dias úteis, com duas testemunhas de
vista, e notificação daquelle, perante o Juiz Municipal do termo.
Se a recusa oü demora fôr julgada infundada e improcedente, a
sentença será intimada ao Tabellião, e este obrigado a averbal-a no seu
protocolo, e a fazer menção desta averbaçâo, nas certidões que passar,
relativas ao devedor, e bens cujo registro houver recusado ou demo-
rado. Em taes casos, a sentença de justificação supprirá a falta do
registro.
Art. 33. Os Tabelliães do registro nao poderão fazer inscripção, por
titulo algum, sem que delle conste estar pago o sello fixo, e o propor-
cional, que possa ser devido.
Havendo acerca deste ultimo, questão que faça recorrer ao Juizo de
Direito, nao será a parte prejudicada, no caso de ser a decisão em seu
favor, pela demora que nisso houver.
Art. 34. Os Tabelliães do registro geral das hypothecas darão certi-
dões dos seus livros, independentemente de despacho; e nas que
passarem, deverão transcrever nao só o theordo assento do mesmo
registro, mas também o de todas as averbaçoes e annotacões a elle
relativas, que existirem nos seus livros; declarando em todas, a
requerimento de quem foram passadas.
Art. 33. As certidões negativas que os ditos Tabelliães passarem,
declarando que nenhuma hypotheca existe registrada no seu cartório,
relativa a determinada pessoa, ou bens especial ou genericamente
designados, só terão vigor por tempo de seis mezes, e só poderão ser
passadas aos próprios donos dos bens que se acharem desembargados,
ou a seus bastantes procuradores; devendo os Tabelliães que as passa-
— 128 —
2.° os maridos pelas mulheres, os pais pelos filhos, e os
tutores e curadores pelos seus tutelados ou curados; 3.° os
inventariantes e os testamenteiros pelos direitos hypothe-
carios da herança ou testamentaria, emquanto estas se
acharem debaixo de sua administração; 4.°^ os Procurado-
res da Fazenda Nacional, e os Fiscaes, pelos direitos hypo-
thecarios da mesma Fazenda Nacional, e os Procuradores das
Câmaras Municipaes, pelos que tiver a Municipalidade; S."

rem portar por fé, que são pessoas delles reconhecidas pelas próprias.
E durante o referido período, não poderão passar segunda certidão
negativa do mesmo theor, ainda que as partes alleguem ter-se-lhes
desencaminhado a primeira.
Art. 36. Os Tabelliães de notas a quem taes certidões forem
apresentadas, em prova de que se acham desembargados os bens a
que ellas se referirem, os quaes pretendam hypothecar, são obrigados
a incorporal-as nas escripturas de hypotheca dos mesmos bens, que
.passarem; guardando-as emmassadas no seu cartório, com a compe-
tente averbação dos livros e folhas em que ficarem lançadas.
Art. 37. Sê alguma escriptura de hypotheca fôr apresentada para
o registro, não vindo nella incorporada a certidão negativa que se
haja passado, relativa aos bens naquella hypothecados, o Tabellião
exigirá da parte que a exhiba; e se recusar fazer a exhibição, tomará
o registro com esta declaração, mas tal registro não poderá preju-
dicar a outro que posteriormente possa fazer-se, de escriptura de
hypotheca, na qual appareça incorporada a referida certidão, uma
vez que aquella tenha sido passada dentro dos seis mezes da validade
desta. '
Art. 38. Os Tabelliães levarão pelos registros das hypothecas os
mesmos emolumentos que competem aos Tabelliães de notas pelas
escripturas (Alvará de 10 de Outubro de 1754, e Decreto de 13 de
Outubro de 1832); pelas averbações, metade; pelas certidões aflirma-
tivas, contarão, por uma meia folha escripta de ambos os lados,
400 réis, devendo ter cada lauda 25 regra_s, e cada regra 30 letras pelo
menos; e pelas negativas; emfim, levarão outro tanto, como pelas'
averbações.
Art. 39. A despeza do registro das hypothecas fica a cargo de quem
o requerer, para havel-a do devedor hypothecario, salva estipu-
laçao em contrario: a das averbações e certidões pertencerá, em todo
o caso, a quem as solicitar.
Art. 40. Os Juizes de Direito, nas correições que fizerem, terão
particular cuidado de examinar os livros dos Tabelliães do Registro
Geral das hypothecas, para verificação da responsabilidade em que
tiverem incorrido.
Art. 41. Este regulamento não confere, por suas disposições,
privilégios ou hypothecas, a cousas ou pessoas que, por Lei anterior,
ou posterior, os não devam ter; nem impede o exercício dos meios
que as Leis têm estabelecido, para qualquer se poder desembaraçar
dos encargos com que um objecto legalmente adquirido possa estar
onerado: Ord. do Liv. 4.° Tit. 6.°
Tomada na devida consideração esta matéria, discutiu-se logo a
questão prôvia-se o Governo ainda se devia considerar autorizado,
para tratar deste objecto, posto que já nao esteja em vigor a Lei
— 129 ~
osdirectores e administradores de companhias, sociedades
e corporações, ou corpos collectivos, comprehendendo os
administradores das casas fallidas, pelos direitos regis-
traveis das mesmas companhias, sociedades e corpos col-
lectivos.
Art. 7." As pessoas que pretenderem registrar alguma
hypotheca, ou direito hypothecario, deverão apresentar, ao
Tabellião do Registro geral das hypothecas, da comarca

n.° 317, de 21 de Outubro de 1843, que creou, pelo art. 35, o Registro
Geral das hypothecas? —E resolveu-se afflrmulivãmente, por enten-
der-se que esta disposição era permanente, porque tal também é a
necessidade do referido registro.
Entrou depois em discussão o Regulamento organizado pela Secção,
conjunctamente com o projecto sobre a mesma matéria, que, segundo
o Aviso de 9 deste-mez, como já fica expressado, expedido pela Secre-
taria de Estado dos_ Negócios' do Império, devia também discutir-se
nesta mesma occasiao; e foi este projecto o que se tomou por base da
discussão, discutíndo-se cada-um de seus artigos.com os que lhes
correspondiam, no regulamento offerecido pela Secção.
Finda a discussão, foram approvados o 1.° e 2.° artigos do projecto,
pelos Conselheiros de Estado Lopes Gama, Torres, Maya, e Miranda
Ribeiro: votaram pelo 1.° artigo do Regulamento offerecido pela Sec-
ção os .Conselheiros de Estado Visconde de Monte Alegre, Paula
Souza, è Carneiro Leão.
O Conselheiro de Estado Visconde de Olinda fez algumas reflexões,
querendo que esta matéria fosse mais meditada.
Em seguida foram rejeitados os,arts. 3.°, 4.°, 5.°, 6.u, 7.° e seguintes
até o art. 13 inclusive, e a discussão ficou adiada para a conferência
seguinte, depois de discutido o art. 14, que foi approvado.
Na conferência de 2 de Outubro deste anno, continuou a discussão
adiada na antecedente, começando-se por discutir o art. 15 do pro-
jecto, que foi apresentado como emenda ao Regulamento organizado
pela Secção.
Discutida a matéria, o referido art. 15 foi approvado pelos Conse-
lheiros Paula Souza, Dispo de Anemuria, Lopes Gama e Maya; e
rejeitado pelos Conselheiros Visconde de Monte Alegre, Torres, Car-
neiro Leão e Miranda Ribeiro, que adaptaram os arts. 20 e 21 do
Regulamento da Secção. O Conselheiro Maya também adoptou estes
artigos, querendo que se combinem com o mencionado art. 15. O
Conselheiro Visconde de Olinda apresentou o seu voto em separado,
acerca de toda esta matéria, o qual sobe, por cópia, á presença do
Vossa Magestade Imperial.
O art. 16 foi approvado pelo Conselheiro Bispo de Anemuria, e
rejeitado pelos demais Conselheiros, que adoptaram o art. 6.° do
.Regulamento da Secção. O Conselheiro Maya votou por ambos.
Quanto ao art. 17, "que foi rejeitado, adoptando-se, em seu lugar, o
art. 22 do Regulamento da Secção, os Conselheiros Lopes Gama e Bispo
•de Anemuria reflectiram que, em o mesmo livro, nao seria possível
fazerem-se todas as averbações.
O art. 19 foi approvado pelos Conselheiros Maya, Lopes Gama, e
Bispo de Anemuria, insistindo os dous últimos pela necessidade de
maior espaço, para ás averbações. Votaram contra o mesmo artigom
-C J.' 17
— 130 —
onde se acharem,situados os bens hypotbecados, urna mi-
nuta duplicada, assígnada pela própria parte, ou seu bas-
tanteprocurador, ecompetentemente sellada, que contenha:
l . o nome, officio ou emprego, e domicilio do credor hy-
pothecario; 2. os bens hypothecados, sua situação, con-
frontações, e mais circumstancias que os caracterisem; 3.
o nome, officio ou emprego do devedor, ou pessoa em quem
residir o dominio, usufructo ou posse dos mesmos bens ;

Conselheiros Visconde de Monte Alegre, Torres, Paula Souza, Carneiro


Leão e Miranda ui beiro, por consideral-o prejudicial o primeiro, &
os outros desnecessário.
Os arts. 20, 21, 22 e 23 julgaram unanimemente prejudicados pela
votação sobre os arts. 2." e 3.° do Regulamento daSeeção.
O a°rt. 24 foi unanimemente approvado.
O art. 25 foi approvado pelos Conselheiros Visconde de Monte Alegre
Lopes Gama, Bispo de Anemuria e Torres; e rejeitado pelos Conse-
lheiros Paula Souza, Maya, Carneiro Leão e Miranda Ribeiro.
O art. 26 julgaram prejudicado.
Foram unanimemente rejeitados os arts. 27 e 28, adoptando-se, em
lugar d-aquelle, o art. 25 do Regulamento da Secção, salva a redacção.
Foi também rejeitado, menos pelo Conselheiro Maya, o art. 2°9, e-
adoptado o art. 7.° do Regulamento da Secção, que o mesmo Conse-
lheiro quer que se combine com aquelle outro.
Em lugar doart. 30, que foi rejeitado, adoptou-se o 33 do Regula-
mento da Secção. O Conselheiro Maya votou por ambos.
O art. 31 foi approvado pelo Conselheiro Maya, e rejeitado pelos
outros Conselheiros, que approvaram, em lugar deste,' o art. 3í do
sobredito Regulamento..
Quanto ao art. 32, que foi approvado, por ser conforme com o
art. 35 do Regulamento da Secção, o Conselheiro Paula Souza disse
que preferia o Juiz de Direito ao Municipal.
Em lugar do art. 33, que foi rejeitado, approvou-se o art. 11 do-
Regulamento da Secção. O Conselheiro Maya acrescentou que a
questão fosse decidida pelo empregado da fazenda.
Os arts. 34 e 33 foram rejeitados, e adoptaram os arts. 28, 29 e 30
do Regulamento da Secção.
Foi também rejeitado o art. 36, e adoptado o art. 31 dos da
Secção. Os Conselheiros Lopes Gama c Bispo de Anemuria acham
que as certidões não devem ficar emmassadas no cartório, mas
devem ser. entregues ás partes. O Conselheiro Maia quer que não
sejam somente averbadas as certidões negativas, porém tambemas-
affirmativas.
Foram approvados os arts. 37, 38, 39 e 40, pela sua conformidade-
com os arts. 32, 36 e 37 do Regulamento da Secção.
O art. 41 foi approvado pelos Conselheiros "Lopes Gama, Bispo
de Anemuria, Torres, Paula Souza e Maya ; e rejeitado, por desne-
cessário, pelos Conselheiros Visconde de Monte Alegre Carneiro
Leãoe Miranda Ribeiro.
Entraram ultimamente em discussão, e foram approvados os
arts. 15, 17 e 18 do Regulamento da Secção. Os Conselheiros Car-
neiro Leão e Miranda Ribeiro, rejeitaram o art. 18.
— 131 —
i.° a origem ou causa de que procede a divida ou obrigação
principal; o titulo em que se funda o direito hypotheca-
rio, com a sua data, nome do Offlcial publico que o passou,
e o cartório e Juizo, nu Repartição fiscal, por onde houver
sido expedido ; 5. o quantitativo da divida, ou obrigação
principal, com os juros que vencer, quando forem expres-
samente estipulados, e a época ou prazos em que a mesma
divida fôr exeqüível. Não constando do titulo o quantitativo

Vossa Magestade Imperial Resolverá como achar em Sua Alta


Sabedoria, que é melhor.
Sala das conferências do Conselho de Estado aos 2 de Outubro
de 1845.— José Antônio da Silva Maya.—Visconde de. Monte Alegre.—
Francisco de Paula Souza e Mello.—Caetano Maria Lopes Gama.—
Visconde de Olinda, com voto separado.— Francisco Cordeiro da Silva
Torres.—José Cesario de Miranda Pdbeiro.
Foi voto o Sr. Bispo de Anemuria e Miranda Ribeiro.
O voto separado do Sr. Conselheiro Visconde de Olinda, é do theor
seguinte:
Senhor.—Não tendo concordado em muitas disposições do projec-
to de registro das hypothecas, julgo dever -dar por e°scripto minha
opinião sobre as questões principaes que são alli resolvidas.
Reconhecendo minha insuficiência na matéria, a qual pede pro-
fundo conhecimento da legislação, e até de pratica do fôro> offereco
com timidez minhas observações, que partem somente do desejo de
bem cumprir minha obrigação.
Art. 4.° do projecto da Secção.
Por este artigo ficam sujeitas ao registro todas as hypothecas.,
assim as convencionaes, corno as legaes e as judiciarias.
Eu entendo que, no estado em que se acha nossa legislação sobre
esta matéria, não deve ser obrigatório o registro, senão para as con-
vencionaes.
As legaes e judiciarias (não fallo das chamadas privilegiadas, por
que estas não formam uma classe particular) não estão de tal modo
definidas, que, dada uma obrigação, se possa com segurança affirmar
estar ella sujeita a uma ou outra destas hypothecas.
Quanto as iegaes, cumpre antes d e tudo observar que a lei de 20 de
Junho de 1774 as suppõe, por identidade de razão. E assim na mesma
hypotheseem que um jurisconsuíto não reconheça essa identidade, e
por is?o nao julgue necessário o registro, outro°pensará difíerente-
mente; e desta maneira ficará incerta a sorte dos particulares., pois
que dependerá sua justiça do modo de pensar do juiz.
O projecto dá como constituídas por lei hypothecas em favor das
mulheres, em razão do dote, nos bens dos maridos; em favor dos
menores, mentecaptos e pródigos, nos bens dos tutores e curadores; e
em favor dos salários, despezas funerárias e gastos da ultima doença;
e o projecto offerecido posteriormente, acrescenta ainda outros
casos. Quanto ao dote, a lei de 74 sò faz uma menção daquelle que é
dado como valor estimado; e entretanto o projecío, sem fazer essa
distincção, sujeita á hypotheca os bens do marido, em razão do dote,
4e qualquer modo que elle seja constituído. Nao dará isto occasião
a muitas duvidas no foro?
- 132 - -

da divida oü obrigação principal, deverá este ser estimado


pelo credor ou pessoa que promover o registro, ficando di-
reito salvo ao devedor, para requerer em Juízo a reducção
ao justo valor, sempre que se julgar prejudicado na esti-
mativa.
A declaração do quantitativo da divida não se requer no
registro de hypothecas por dividas á Fazenda Nacional.,
quando não constar des respectivos titulos, e no registro

Quanto aos menores, mentecaptos e pródigos, não sei quea lei esta-
beleça semelhante hypotheca. Os tutores e curadores estão obriga-
dos a pagar, pelos seus bens, os prejuízos que causarem; mas nao se
pôde por isso dizer que seus bens estão sujeitos a este ônus.
A obrigação de pagar os damnos causados não produz por si só hy-
potheca nos bens dos quê os causam, mas è preciso que uma lei o de-
clare expressamente.
Os tutores são obrigados, segundo sua qualidade, umas vezes a
prestar juramento, outras a dar fiança; e algumas vezes nem a esta
mesma são obrigados. Os curadores recebem os bens por inventario,
para dar conta delles; e quando a curadoria é encarregada á mu-
lher, até se lhe entregam os bens sem esse mesmo inventario; e
note-se que a Ordenação não faz differença entre a que é casada por
carta de ametade, e"a que o é por dote e arras.
Estas são as obrigações dos tutores e curadores, que se acham ex-
pressas na lei; e não encontro em parte nenhuma semelhante ônus
de hypotheca.
Nao trato da conveniericia dessa declaração; mas, se o estado dos
menores, e das mulheres casadas por escriptura de dote, exige esse
favor, não é por um Decreto que isto se deve fazer.
Também não sei qual seja a lei que conceda hypotheca em favor
dos salários. Tudo quanto pude descobrir a este respeito, foi que nao
estão sujeitos á penhora os salários dos artífices dos Arsenaes do
Exercito e Marinha, assim como os vencimentos dos caixeiros dás
casas de commercio e das equipagens dos navios mercantes: Lei
de 16 de Março de 1778.
O mesmodigo dos outros casos que o segundo projecto ajunta, para
os quaes nao acho lei que conceda tal favor.
Não supponho que o projecto se proponha a crear hypothecas para
casos que por lei não estão a ellas sujeitos, Elle está limitado á auto j
risação que a lei deu ao governo, que é regular o modo pratico por-
que se deva fazer o registro. Como, porém, elle dá por constituídas
por lei essas hypothecas, que duvidas nao hão de apparecer no foro ?
Para mostrar os embaraços que este projecto ha de trazer na sua
execução, apontarei a hypotheca que a lei estabelece em favor dos
que emprestam dinheiro ou fornecem materiaes para construcção
o reparo de edifícios, e de embarcações. Não estando regulado o modo
por que se deve considerar constituída de facto essa hypotheca, que
aliás é declarada em lei, como se ha de julgar, no intervallo que
decorrer do começo da obra até ella findar-se, outra hypotheca que
fôr constituída e registrada ? O fornecimento de materiaes se faz
por actos repetidos; o mesmo pôde acontecer com o empréstimo
de dinheiro para aquelle fim : será necessário ir registrando
cada prestação por si, á proporção que se forem fazendo, ou bastará
— 133 —
daquelles que se acharem comprebcn lidos na disposição do
n." 2 do art. 6.
Art. 8. Nas hypothecas legaes, e não declaradas por
sentença, que comprehenderem todos os bens do devedor
hypothecario, não é necessário, para a validade do registro,
que se faça, de cada um delles, especifica nomeação : a de-
claração genérica—todos os bens-— ésüfflciente para sujei-
tar, aos effeitos hypothecarios, todos os bens do devedor,

um registro geral no fim da obra ? Quando haja nova hypotheca,


haquelle intcrvallo, será perdido o favor da iei para. as prestações
anteriores a essa hypotheca, ou terão ellas valor sem registro?
Outras muitas especiaes podern occorrer a que nao será fácil dar
solução no estado em que se acha a legislação hypothecaria.
As mesmas duvidas se apresentam acerca das hypothecas judi-
ciarias. Não se pôde bem determinar quaes são os actos judiciaes
que as constituem ; e por isso não se pôde bem definir quaes ellas
sejam. Serão as que resultam das sentenças, Ord. Liv. 3.° Tit. 84 | 14,
pela qual entendem muitos que todas as sentenças produzem
hypothecas? Mas lá está a Lei de 20 de Junho de 1774, que exclue
expressamente das preferencias as de preceito ; e, para que taes sen-
tenças tivessem esse effeito, quando dadas sobre letras de cambio,
o de risco, foi preciso que uma lei posterior o declarasse, Lei de 15
de Maio de 1776. Além de que estas hypothecas não podem ser consi-
deradas judiciarias: uma lei o pôde declarar, mas emquanto isto
'se não fizer, é forçoso coliocal-as na classe_das Jegaes. O direito ro-
mano não pôde ser trazido em auxilio : não fallando na autoridade
que tinham os Juizes romanos, quanto ás hypothecas, da qual nao
gozam os nossos Juizes, por aquelle direito elles tiravam o objecto
hypothecado do poder do dono, o que não se compadece com a nossa
legislação.
Neste estado, pois, de incerteza, impor a obrigação do registro a
todas as hypothecas, de qualquer natureza que sejam, é expor os
homens de boa fé a serem enganados e dar oceasião a muitas
demandas.
E' mister definir primeiro o quo sejam as legaes, e as judiciarias,
e determinar, com precisão, os casos em que ellas têm lugar. Isto é
o que fez o Código Francez, e o que têm feito todas as legislações
que, depois delle têm adoptado o systema do registro. Fazendo-se
menção, no regulamento, somente das convencionaes, já se faz um
grande beneficio ao publico, e aquelle que é mais altamente recla-
mado. O que deu oceasião a este artigo da lei, foi o clamor que partia
da má fé dos contractos.
. Satisfeita esta primeira necessidade, que é o objecto principal da
lei, fique o mais para quando tivermos uma legislação, clara e
precisa sobre a matéria; e não se vá alargar o campo da fraude com
o intuito, aliás muito louvável, de se' querer tudo remediar.
Se taes disposições forem adoptadas, o regulamento, em meu
entender, ha de produzir mais males do que bens.
Proseguindo no mesmo artigo julgo necessário, quanto aos objectos
que devem ficar sujeitos ao registro, acrescentar os casos seguintes:
l." a hypotheca que recahir sobre escravos; a qual, por sua natu-
reza especial, deverá ser1 registrada, no domicilio do devedor, sendo
— 134 —
que existirem na comarca ou comarcas onde se fizer o re-
gistro.
Art. 9. As minutas de que trata o art. 7. serão acom-
panhadas do titulo em que se fundar o direito hypothecario
que se pretender registrar ; a saber : instrumento original
do contracto, nas hypothecas convencionaes, ou na falta
delle, certidão sulhentica da respectiva escriptura (se a
hypotheca puder provar-se por escripto particular, o titulo

esta uma excepção á regra do art. 2.° Os escravos não estão na razão
de outros quaesquer moveis que inteiramente se podem confundir
com outros, e facilmente se podem distrahir sem conhecimento de
terceiro, e sem se saber onde param. No Código da Luisiana acha-se
esta providencia que me parece dever ser adoptada.
2.° Deve ser sujeito ao registro o penhor quando recahe sobre immo-
vel. Os Francezes nãooadmittem neste caso, porque, concedendoa
taes pinhores certos direitos, não lhes dão o da preferencia, o que não
acontece entre nós.
3.° Uma vez que se faz menção especial da alienação da propriedade,
com reserva do usufrueto, assento dever ser comprehendida também
a concessão do usufrueto com reserva da propriedade. As razoes de
uma hypothese faliam igualmente em favor da outra-
Art. 5.° O que acabo de dizei1, mostra que não reconheço estas
hypothecas. Mas, uma vez que estejam declaradas por lei, julgo neces-
sárias as excepções.
Não sei se os termos —Salário, jornal e soldada —exprimem no
projecto idéas differentes: a Ord. Liv. 4.° Tit. 21 até Tit. 3i toma-os
no mesmo sentido.
Art 7.° Parece-me que o acto do"registro deve ser simplicado o mais
que fôr possível.
O titulo que constituir a hipotheca, ou no original, ou em traslado
authentico, julgo ser bastante, sendo transcripto no livro competente,
sem mais dependência de outra declaração, "Naquelle titulo acham se
todas as indicações necessárias, assim em relação ao credor, devedor,
e ao objecto da hypotheca, como em relação á sua extensão de gene-
ralidade, ou especialidade. Lição temos ém França de quão acaute-
lados devemos ser nessas exigências. Os Tribunaes franceses, que ao
principio annullaram muitos registros, por falta de algumas dessas
declarações, viram-se obrigados a relaxar muito de seu rigor de inter-
pretação, a vista dos casos immensos que appareciam em juizo, com
esse defeito. Na Hollanda, uma vez que se faça bem conhecido o
credor, o devedor, a data da hypotheca, e o seu objecto, nada mais
è necessário para validade do registro. Esta simplicidade parecé-me
conveniente, e até necessária entre nós, attenta a pouca capacidade
dos Tabelliães, como é de suppor, na vasta extensão do Império. Por
estas razoes julgo que este artigo, e os que são relativos ao mesmo
objecto, devem serj-efundidos de modo que se facilite a execução do
Regulamento, e nao se augmentem dimeuldades aos particulares.
Art. 9." E' mister declarar a naturesa destes escriptos particulares,
para que se nao entenda que por elles, de qualquer naturesa que
sejam, se pôde constituir hypotheca. A lei de 20 de Junho de 1774 sò
autoriza os que têm força de excriptura publica, e para estes mesmos
exige mais certas solcuinidades particulares,.
— 135 —
original só poderá ser supprido por instrumento authenti-
co, extrahido de livro de notas, em que tenha sido lança-
do); certidão authentica da verba testamentaria, extrahida
do registro de testamento, provindo a hypotheca de dispo-
sição de ultima vontade; e certidão authentica do contrac-
to, fiança ou conta corrente, extrahida dos livros das
competentes repartições fiscaes, no registro de bens hypo-
thecados á Fazenda Nacional.

Art. 15. Parece-me que se deve dizer simplesmente que, sem o


registro não. produzem as hypothecas seus effeitos legaes. O registro é
uma condição de mais a que as leis as sujeitam, para sua validade. Seus
effeitos ficam dependendo desta condição, mas não é esta a que os
produz. Em todo o caso entendo que nunca se deve dizer que a falta
do registro annulla qualquer alienação. A lei só declara que o prédio
passa para o novo possuidor com o ônus que tem; o que não importa
nullidade de alienação.
Art. 16. Sou de opinião que os effeitos da hypotheca devem
começar a subsistir da data da escriptura, devendo-se marcar tempo,
para se fazer o registro; e quando não seja feito dentro desse tempo,
comece-se então a contar de sua data. Este methodo, além de ser
mais conforme aos principios que dão os effeitos á hypotheca, e não
ao registro, è menos susceptível de fraude, particularmente quando,
lavrada a escriptura em uma Comarca, deva o registro ser feito em
outra muito distante.
Art. 17. Tem cabimento aqui a mesma observação que fiz sobre o
art. 5.3 E quando seja adoptada a doutrina do "artigo, penso que
se deve acrescentar: 1.° a hypotheca dos filhos nos bens dos pais,
quando estes administrarn os bens daquelles; 2." a dos menores nos
bens dos Juizes dos Orphãos. Isto não quer dizer que eu reconheça
essas hypothecas. Mas uma vez admittidos aquelles principios, julgo
dever-se applicar a estes casos a mesma disposição a respeito dos
outros. A lei sujeita as pessoas de que aqui trato, a mesma obrigação
de pagar, e por isso devem ficar sujeitas ao mesmo ônus.
Art. 18 Não posso admittir a parte deste,artigo em que se impõem
penas. Se esta disposição está na lei, é ociosa ; se não está, o Regula-
mento não pôde prescrever.
Art. 20. Não descubro razão que abone esta disposição. Nós temos
leis que marcam o numero de annos para a prescripção, segundo as
differentes hypotheses. Umas são de 10, outras de 20, de 30, e até
de 40 annos: aOrd. L. 4.° Tit. 79 é clara e terminante, além de
outras espécies declaradas em outros lugares. Gomo alterar toda esta
legislação por um Decreto? Assento que não se pôde fazer isso por
um Regulamento, ainda que se apresentem razões muito fortes que
exijam essa providencia.
O motivo que levou os legisladores francezes a estabelecer esta
regra particular de prescripção, foi, segundo consta dos debates do
Conselho de Estado, a difficuldade de se procurar nos Cartórios um
registro, quando elle haja de ter vigor por muito tempo ; razão esta
que me não convence, e que, a ser adoptada, seria valiosa para se
acabarem as prescripções de longos annos. _
Cumpre notar que esta legislação nao foi recebida geralmente.
Na Hollanda não se contentaram os legisladores em não marcar
i«5b

Art. 10. As assignaturas que authenticarem os titulos


com que as partes instruírem as suas minutas, serão reco-
nhecidas pelo Tabellião do registro, antes de o fazer, ou por
duas pessoas de credito, na sua presença, por elle reconhe-
cidas pelas próprias, de que se portará fé.
Art. 11. Dos referidos titulos deverá constar o pagamen-
to do sello fixo, ou proporcional, a que estiverem sujeitos:
pena de nullidade do registro que por elles se fizer

tempo especial para este caso;1 elles declararam expresamente que


o registro uma vez feito, não precisava ser renovado. Mas se se
quizer adaptar um prazo especial, eu preferia o da legislação da
Sardenna, que estabelece o de 15 annos, para a renovação do re-
gistro.
Art. 26. Parece-me que deve haver um livro especial para as
baixas, transferencias, substituições, ou outras quaesquer alterações
que se façam nas hypothecas.
A parte em branco que, pelo art. 27 se manda deixar no livro,
não me parece sufficienle para todos os casos. Uma vez que á margem,
ou nessa mesma parte em branco, se façam as competentes referen-
cias, fácil será procurar tudo quanto ha a respeito de uma hypotlieca
dada.
Art. 30. Não descrubro razãode differença entre as certidões afir-
mativas e negativas, para que, sendo livre passarem-se as primeiras,
a quem as peça, não o devam ser as segundas senão aos próprios donos
dos prédios.
O Código francez contém a mesma disposição a respeito de todas.
A fazer-se alguma differença, eu ordenaria o contrario do que aqui
se determina.
Art. 35. Parece-me que se deve acrescentar que, no caso de que o
Tabellião se recuse a tornar o registro, se, no intervallo que decorrer
desse momento até o em que elle venha a ter lugar, se lhe pedir al-
guma certidão, deverá declarar nellaessa circumstancia, isto é,que
lhe foi apresentada uma hypotheca, eque elle se recusou a regis-
fral-a. A nao se adoptur esta providencia, arecusa do Tabellião de
collusão com o devedor, fará passar uma certidão que declare esta-
rem os bens desembaraçados; e o credor de boa fé, fiado nesse
documento, que é o que a lei lhe subministra ; será facilmente en-
ganado. A pena em que possa incorrer o devedor, pela má fé com que
obrou, nao salva ao credor o damno'que dahi lhe possa resultar.
Estes, Senhor, são os pontos principaes em que não concordo com o
projecto, sobre os quaes julguei dever lançar por escripto meu modo
de pensar ; deixando outros de menosimportancio, tanto na matéria,
como naredacçâo, que tive a honra de apresentar na discussão.
Agora peço licença a Vossa Magestade Imperial, para offerecer mais
duas observações :
A 1.» versa sobre as hypothecas constituídas em paizes estran-
geiros. Estabelecido o registro de todas ellas, de qualquer natureza
que sejam, é necessário declarar se as judiciarias que forem consti-
tuídas por Tribunaes estrangeiros, têm força de obrigar entre nós,
sem intervenção de nossas autoridades judiciarias; e se em conse-
qüência devem ser registradas. O Cod ige Francez, e, deaccôrdocom
elle, outros muitos decidem a questão negativamente, salvas sempre
— 137 -
Art. 12. Os tabelliães do registro geral das hypothecas,
immediatamente que alguma minuta lhes fôr apresentada,
tomarão delia apontamento.no seu livro — Protocolo—,
lançando-a por extracto, debaixo do numero que competir,
na ordem successiva da ultima minuta que se achar lançada;
e escrevendo nos dous autographos da sobredita minuta a
seguinte verba por elle assignada :
i N°... apresentada e annotada á folhas... do Protocolo
do registro geral das hypothecas da comarca d e . . . . em...
(a data). » Entregarão um dos mesmos autographos á parte,
e conservarão o outro em sou poder, competentemente
emmassado, por todo o tempo que deverem durar os effeitos
legaes cio registro.
Art. 13. Os assentos dos registros das hypothecas serão

as leis políticas, e os tratados que estatuam o contrario. Mas nao


acho a mesma clareza, quanto a extensão dessa intervenção. Estão
as autoridades judiciarias do paiz limitadas a reconhecera authen-
ticidade do acto que constitue as hypothecas, e, quando a reconhe-
çam, a julgal-o obrigatório, sem entrar no seu merecimento; ou
podem tomar conhecimento da causa, como se nada estivesse deci-
dido ? Os Jurisconsultos francezes, interpretando o Código, resolvem,
pela maior parte, neste segundo sentido.
Julgo necessário fixar estes pontos, que poderão apparecer no
foro.
Quanto ás legaes, também me parece necessário fazer alguma
declaração. Em paiz estrangeiro, pôde passar-se, por exemplo, uma
escriptura de dote, pôde estabelecer-se uma tutela : as hypothecas
que nascerem destes actos, terão força de obrigar entre-nós ?
Quando se decida afflrmativãmente, não se deverá fazer diffe-
rença (que ê reconhecida pelos Jurisconsultos francezes) de casos
em que ambas.as partes sao estrangeiras, mas com propriedades no
paiz, ou ambas nacionaes, ou umas estrangeiras, e outras nacio-
naes ?
E' mister resolver estas questões ; mas parece-me que só uma
Lei o pôde fazer. E seja esta uma razão mais em abono da minha
antecedente opinião, de que o Regulamento não deve comprehender
senão as hypothecas convencionaes.
A outra observação é relativa ás conseqüências do registro. .
Uma vez admittldo este systema, está entendido que sem o re-
gistro a hypotheca não produz seus effeitos
Não haverá, porém, caso que mereça ser exceptuado.
O Código da Luisiana determina que a falta do registro não apro-
veita ás próprias partes que contrataram a hypotheca, a seus her-
deiros, e nem ás testemunhas que interviram no acto da escrip-
tura. Esta excepção parece-me digna de consideração.
Tendo exposto minha humilde opinião sobre a matéria, peço á
Vossa Magestade Imperial toda a Sua Indulgoncia.— Visconde de
Olinda.
c. J . 18
- 138 —
lançados diariamente, no livro do registro gera] das hypo-
thecas, guardada a mesma numeração que no protocolo se
der ás minutas, ea mesma data; e consistirão na inscripção
litteral das minutas copiadas verbo ad verbum com as forma-
lidades praticadas pelos Tabelliães, no lançamento de docu-
mentos nas suas notas, a requerimento de parles; não
devendo mediar, entre uns e outros registros, espaço em
branco, mais que o preciso para distinguir-
Art. 14. Effectuado o registro, o Tabellião restituirá á
parte o titulo que acompanhar a minuta, annotado com a
seguinte verba, por elle assignada:
« N.°. .. Fica registrado a folhas.... verso do livro (o
numero do livro) do Registro Geral das hypothecas da
comarca d e . . . . em... (a data do registro). »
Art. 15. São effeitos legaes do registro das hypothecas :
1. tornar nulla, a favor do credor hypothecario, qualquer
alienação dos bens hypothecados, que o devedor possa fazer,
posteriormente ao registro, por titulo, quer gratuito, quer
oneroso; 2. poder o credor hypothecario, com sentença,
penhorarc executar os bens registrados, em qualquer parte
que elles se acharem; 3. conservar, ao credor hypothe-
cario, o privilegio de preferencia, nos bens registrados,
que pela hypotheca possa haver adquirido.
Art. 16. Depois da installação do Registro Geral das
hypothecas, em qualquer comarca, os effeitos legaes cias
hypothecas dos bens nella situados, só começarão a existir
da data do registro das mesmas hypothecas, salvas as
excepções do artigo seguinte.
Art. 17. Produzirão seus effeitos legaes, nãoobstantea
falta de registro:!, a hypotheca dos menores e inter-
dictos, sobre os bens immoveis de seus tutores e curadores
desde o dia da aceitação da tutela ou curatela, para o
pagamento dos alcances da administração dos ditos tutores
ou curadores; 2.° a das mulheres sobre os bens immoveis
do marido,, desde o dia do casamento, em razão dos seus
dotes e convenções matrimoniaes.
Art. 18. Nãoobstantea disposição do artigo antecedente,
os maridos, e os tutores e curadores são obrigados a registrar
— 13!) —
as hypothecas a que seus bens estiverem sujeitos, promo-
vendo este registro sem dilação, nos cartórios respectivos
das comarcas onde forem situados seus bens immoveis, ou
onde de novo os adquirirem. Os maridos e os tutores e
curadores, que não effectuarem os competentes registros,
serão reputados estellionatarios, e, como taes, processados
e punidos, se se fizerem registros de outras hypothecas,
sobre seus bens immoveis, sem a declaração de acharem-se
taes bens sujeitos á hypotheca legal das mulheres, menores
ou interdictos.
Art. 19. Os credores hypothecarios, por titulos de data
anterior á installação do registro geral das hypothecas, na
comarca onde forem situados osbcnshypothecados, conser-
varão todos os direitos que, a esse tempo, houverem adqui-
rido, uma vez que procedam ao competente registro, dentro
de um anno subsequente á dita installação. As hypothecas
referidas, que forem registradas depois de um anno, só
começarão a contar os seus effeitos legaes, da data do seu
registro.
Art. 20. Os effeitos legaes do registro das hypothecas
prescrevem, no fim de dez annos, contados da data do mes-
mo registro: para este conservar os seus effeitos, além dos
dez annos, deverá ser renovado dentro do decennio.
Art. 21. Exceptua-se da disposição do artigo antece-
dente o registro: 1. das hypothecas de que trata o art. 17;
2.° das que pertencerem aos filhos famílias, que terão va-
lidade, emquanto estes não sahirem do pátrio poder; ou
se não emanciparem, e seis mezes depois; 3.° dos bens
hypothecados k fazenda nacional, que terá effeitos perma-
nentes, emquanto se não extinguir a divida ou obrigação.
Art. 22. Deverão averbar-se no registro geral das líy-1
pothecas, as baixas ou extineções, em todo ou em parte,
das hypothecas nelle registradas; a sua substituição oii
transferencia para outro devedor ou credor, ou para outros
bens; e, bem assim, qualquer outra alteração ou novação
do contracto ou obrigação hypothecaria.
Art. 23. As baixas e extineções serão feita,s, por virtu-
de de consentimento cias parles, ou de sentenças passadas
_ |40 —

em julgado : e, para serem averbadas as ditas baixas, apre-


sentarão as'partes interessadas, ao tabellião do Registro
geral das hypothecas, o competente titulo de contracto,
quitação ou sentença que extingue, no todo ou em parte,
altera ou innova a hypotheca, ou obrigação registrada.
Nos casos de doação ou alienação, por outro qualquer ti-
tulo, com reserva do usufrueto, a baixa no registro só terá'
lugar á vista de certidão que prove a morte do usufruetua-
rio. Os titulos deverão ser authenticos e legalisados. pela
fôrma prescripta nos arts. 9. e 10.
Art. 24. As averbações referir-se-hão sempre ao titulo
por que se fizerem, com as declarações exigidas para os
registros, no art. 7. em tudo quanto fôr applicavel, e
serão apontadas no protocolo, no acto da apresentação
dos titulos, e nestes annotados, depois de registrados, pela
fôrma determinada no art. 14.
Art. 25. Extinguindo-se alguma hypotheca, em todo ou
em- parte, por transferencia, ou substituição de outros bens,
a nova hypotheca estabelecida nos bens que substituírem a
primeira., não produzirá effeitos válidos, em quanto não
fôr competentemente registrada.
Art. 26. Os Tabelliães do Registro geral das hypothecas
são obrigados a ter os três seguintes.livros: l.L o do Registro
geral das hypothecas da comarca em que servirem ; o qual
será exclusivamente destinado ao registro das hypothecas
dos bens situados na mesma comarca ; lançamento das aver-
bações a ellas relativas, e annotações das. certidões afíir-
mativas, que passarem, da existência do registro de alguma
hypotheca, nos seus livros; 2. o protocollo que servirá
para os apontamentos das minutas e averbações, e para as
annotações das certidões negativas-que passarem; 3.° o livro
indice escripturado por ordem alphabetica, e por fôrma
que facilite, sem equivoco, o conhecimento de todos os
bens hypothecados, que se acharem registrados no seu
cartório. Todos estes livros serão abertos, rubricados,
numerados e encerrados pela autoridade competente.
Art. 27. O livro do registro das hypothecas terá todas
as suas paginas divididas em duas partes iguaes, por um
— 141 -
traço perpendicular. Na parte esquerda, se fará o registro,
pela fôrma prescripta no art. 13; e a parte direita ficará em
branco, reservada para nella se lançarem successivamente,
em frente dos respectivos registros as alterações, baixas,
remoções, substituições e mais averbações a ellas relativas,
e, outrosim, para se notarem as certidões affirmativas, que
se passarem, da existência do registro de alguma hypotheca.
Art. 28. Os Tabelliães do registro geral das hypothecas
darão certidões dos seus livros, independentemente, de
despacho, observando o determinado nos artigos seguintes.
Art. 29. Nas certidões do registro de hypothecas, que
passarem, deverão os ditos Tabelliães transcrever o theor
não só do assento do mesmo registro, mas também de
todas as averbações, e annotações á elle relativas, que exis-
tirem nos seus livros, declarando, em todas, a requeri-
mento de quem foram passadas.
Art. 30. As certidões negativas que os ditos Tabelliães
passarem, declarando que nenhuma hypotheca existe re-
gistrada no seu Cartório, relativa á determinada pessoa, ou
bens especial ou genericamente designados, só terão vigor,
por tempo de seis mezes, e só poderão ser passadas aos pró-
prios donos dos bens que se acharem desembargados, ou
a seus bastantes procuradores ; devendo os Tabelliães que
as passarem portar por fé que são pessoas delles reconhecidas
pelas próprias. E durante o referido período, não poderão
passar segunda certidão negativa do mesmo theor, ainda que
as partes alleguem ter-se-lhes desencaminhado a primeira.
Art. 31. Os Tabelliães de Notas a quem taes certidões
forem apresentadas, em prova de.que se acham desembar-^
gados os bens a que ellas se referirem-, os quaes pretendam
hypothecar, são obrigados a incorporal-as nas escripturas
de hypotheca dos mesmos bens, que passarem, guardan-
do-as emmassadas, no seu Cartório, com a competente
averbação do livro e folhas em que ficarem lançadas.
Art. 32. Se alguma escriptura de hypotheca fôr apre-
sentada para o registro, não vindo nella incorporada a
certidão negativa que se haja passado, relativa aos bens
naquella hypothecados, o Tabellião exigirá da parle que a
— 142 -
exhiba, e se recusar fazer a exhibição, tomará o registro
com esta declaração ; mas tal registro não poderá prejudicar
a outro que posteriormente possa fazer-se, de escriptura
de hypotheca, na qual appareça incorporada a referida
certidão, uma vez que aquella tenha sido passada dentro dos
seis mezes da validade desta.
Art. 33. Os Tabelliães do Registro Geral das hypothecas
são responsáveis ás partes pelos damnos que lhes causarem,
além de incorrerem nas penas que competirem, por suas
omissões, erros e prevaricações ; e dé poderem ser proces-
sados como estellionatarios, ou como complices deste crime,
nos casos em que nelle incorrerem.
Art. 34. Não poderão recusar, nem demorar ás parles
o registro de hypothecas, ou averbações que estas lhes
requererem, nem as certidões dos seus livros, que preten-
derem, sempre que se apresentarem habilitadas, nos termos
prescriptos no presente Regulamento.
Art. 35. As partes que se sentirem prejudicadas, na
recusa ou demora de suas pretenções fundadas em justiça,
deverão, para segurança do seu direito, e procedimento con-
tra o Tabellião, justificar o acontecimento, dentro de cinco
dias úteis, com duas testemunhas de vista, e notificação da-
quelle perante o Juiz Municipal do Termo. Se a recusa ou
demora fôr julgada infundada e improcedente, a sentença
será intimada ao Tabellião, e este obrigado a averbal-a
no seu Protocolo, e a fazer menção desta averbação, nas
certidões que passar, relativas ao devedor, e.bens, cujo
registro houver recusado ou demorado. Em taes casos, a
sentença de justificaçãosupprirá a falta do registro.
Art. 36. Os Tabelliães do Registro Geral das hypothecas
levarão, pelos registros das hypothecas, os mesmos emo-
lumentos que competem aos Tabelliães de Notas pelas es-
cripturas; pelas averbações, metade, e pelas certidões, o
mesmo que aquelles percebem, pelas que_passama das suas
Notas. Pelas certidões negativas, porém, levarão mil réis.
São obrigados a lançar a conta dos emolumentos que per-
cebem, nos titulos por onde fizerem os registros ou
averbações, e nas certidões que passarem.
— 143 —

Art. 37. A despeza do registro das hypothecas é a cargo


do devedor hypothecario ; a das averbações e certidões per*
tencerá a quem as requerer. Será todavia paga pelo credora
despeza do registro, quando elle o promover, com direito
salvo para haver o seu embolso do devedor, e com hypothe-
ca especial, nos bens registrados.
Art. 38. Os Juizes de Direito, nas correições que fizerem,
terão particular cuidado de examinar os livros do Tabel-
lião do Registro Geral das hytothecas, para verificação da
responsabilidade em que tiverem incorrido.
Paço em 9 de Dezembro de 1844. — Honorio Hermeto
Carneiro Leão.— Visconde de Monte Alegre. — Bispo de Ane-
muria. (*)

(*) Expediu-se o Decreto n.° 482 de 14 de Novembro de 1846, esta-


belecendo o Regulamento para o Registro geral das hypothecas.
A Lei n.° 556 de 25 de Junho de 1850 revogou pelo art. 285 a regra
do art. 14 do mesmo Regulamento, como o declarou a Circular de
26 de Setembro do dito anno de 1850.
Uma vez registradas as escripturas de hypothecas, não dependem,
para ter validade, de um novo registro, ainda quando os municípios
em que estiverem os bens passem a fazer parte de outra comarca.
Aviso de 9 de Abril de 1853,,
O Decreto-n.° 1569 de 3'de Março de 1855, no art. 94, alterou o
art. 32 do referido regulamento, e o Aviso n.°116 de 15 de Março de
1856 decidiu que os Tabelliães de hypothecas nao podiam ter mais de
1$500 pela averbação, que é o acto, pelo_ qual elles fazem constar
a existência do registro da hypotheca, e nao cada uma das notas rela-
tivas, postas nas cópias, ou traslados.
Mas o Decreto n.° 3123 de 10 de Julho de 1863 declarou novamente
em vigor a primeira parte do referido art. 32.
Posteriormente a Lei n.° 1237 de 24 de Setembro de 1864 reformou
a legislação hypothecaria e estabeleceu as bases das sociedades de
credito real; e expediu-se o respectivo regulamento com o Decreto
n.° 3453 de 26 de Abril de 1865.
Os arts. 13 e 21 deste ultimo regulamento foram alterados pelo
Decreto n.° 3482 de 12 de Junho de 1865, que reduziu o numero de
folhas dos livros designados em taes artigos.
O Aviso n.° 356 de 19 de Agosto, tratando da inscripção com o
requisito do §3.° do art. 218, declara que sendo devedor também
aquelle, que presta hypotheca por outrem, deve seu nome figurar na
casa dos devedores, á par do nome do devedor da obrigação, assim—
F. porF.; e que não havendo credor certo, mas só eventual, deve
ficar em branco a casa dos credores, declarando o official isto mesmo
na casa das averbações.
O Aviso n.° 486 de 18 de Outubro declarou ao presidente do
tribunal do commercio de Pernambuco, que o registro das hypo-
thecas commerciaes devia ter sido alli encerrado, logo que se ins-
tallou o registro geral, á vista do art. 2.° da dita lei e do respec-
tivo regulamento.
— 144 —
Consulta de de S e t e m b r o de IS^ES»,
Sobre a necessidade da nomeação de um Ajudante do Procurador
dos Feitos da Fazenda.

Senhor.—Mandou Vossa Magestade Imperial que a Secção


do Conselho de Estado dos Negócios da Justiça consultasse

Os navios não são objecto de hypotheca e registro, mas todavia


subsistem as obrigações reaes, que sobre elles estabeleceu o Código
do Commercio, as quaes devem ser registradas no tribunal do Com-
mercio, em livro destinado pelo art. 58 § 4.° do Decreto n.° 738 de
25 de Novembro de 1850 para as hypothecas commerciaes. Aviso
n.° 96 de 6 de Março de 1866.
O titulo vitalicio do Tabellião das hypothecas deve ser mantido,
se por ventura forem supprimidos outros officios exercidos pelo
mesmo serventuário. Aviso n,° 122 de 20 de Março.
Se a hypotheca prenotada nao tiver sido inscripta dentro do
prazo concedido pelo Juiz de Direito, ficará prejudicada a prenota-
ção, por força do art. 149 do Regulamento hypothecario, ainda-que
a parte interessada não requeira o seu cancellamento.
Se ella fôr apresentada para ser inscripta, depois de findo o prazo,
o numero que lhe tocar será outro, e nao o da prenotaçao prejudi-
cada; renovando-se o processo estabelecido nos arts. 45 e seguintes
do mesmo regulamento.
A hypotheca prenotada não pôde ser inscripta com o numero da
ordem da prenotaçao, se fôr apresentada depois de expirado o prazo,
ainda que a demora provenha de duvidas oppostas nos termos dos
arts. 68 a 74; por quanto o prazo é fatal, e a inscripção, depois delle,
prejudicaria a terceiros, se aquelle numero regulasse a prioridade da
hypotheca.
No prazo da prenotaçao podem ser inscriptas outras hypothecas
do mesmo devedor, porque as inscripçoes feitas durante esse prazo
não prejudicam os effeitos attribuidos á prenotaçao pelo art. 152 do
regulamento.
A prenotaçao concedida á hypotheca judiciaria teve em attenção
o prejuizo, que poderia soffrer o exequente com inscripçoes feitas no
prazo, que decorre entre a sentença proferida e a sentença extrahida.
Assim não é possível prescindir da prenotaçao, porque não se pôde
prescindir da extracção da sentença para ser inscripta.
Pode-se, porém, prescindir da especialização, porque, conforme o
art. 224 do regulamento, a hypotheca judiciaria considera-se espe-
cializada pela sentença. Aviso n.° 60 de 7 de Fevereiro de 1867.
A obrigação proveniente de compras de terras não constitue hypo-
theca legal. Aviso n.° 71 de 1-3 de Fevereiro.
A dita lei,_no art. 3.° § 6.°, não obriga os Thesoureiros de corpo-
rações de mao morta a prestar fiança. Aviso n.° .322 de 18 de
Outubro.
O pái que não tiver bens de raiz para garantir as legitimas de seus
filhos menores, deverá, nao obstante, proceder á inscripção de sua
hypotheca no tempo e pelo modo marcado nos §§ 17 e 22 do art. 9.°
da lei, e nos arts. 199 e 212 do regulamento. Aviso n.° 319 de 18 de
Agosto de 1868.
Nao se pôde registrar uma hypotheca de immovel, que é possuído
em commum, sem o consentimento dos outros co-proprietarios, desde
_ 14:; —

com o seu parecer sobre o officio do Presidente interino da


Relação desta Gôrte, em que expõe os motivos pelos quaes
convém nomear-se um Ajudante do Procurador dos Feitos
da Fazenda.
Em Verdade são muito, attendiveis as ponderações que

que a divisibilidade não estiver manifesta, nem se exhibir prova


delia. Aviso n.° 382 de 14 de Setembro.
Compete ás Presidências de provincia designar o Tabellião ou
Escrivão para servir interinamente o lugar do Official do Registro
geral de hypothecas nos lugares em que não estiver este officio creado
pela lei. Aviso n.° 2 de 4 de Janeiro de 1869.
O Tabellião designado è obrigado a servir o lugar de Official do
Registro das hypothecas. Aviso n.° 191 de 12 de Abril.
A dita lei e seu regulamento, innovando o regimen hypothecario,
revogou tudo o que estava estabelecido na legislação anterior, in-
clusive a Ord. do livro 4.° tit. 102, § 5.°; e estabeleceram a hypo-
theca legal desde a data do termo de tutela e curatella, e por isso a
hypotheca existe necessária desde o acto, que a constitue. Aviso
n.° 420 de 22 de Setembro.
O Decreto n.° 3453 de 26 de Abril de 1865 não derogou a hypotheca
estabelecida pela lei criminal. Aviso n.° 580 de6 de Dezembro.
Não se pôde destinar o livro auxiliar n.° 2 para o lançamento das
hypothecas de que trata o art. 4.° da dita lei. Aviso n.° 329 de 6 de
Outubrs de 1871.
A designação de um Tabellião para servir de Official do Registro
Geral das hypothecas tem o caracter de provisória, nao depende de
approvação do Governo Imperial, e pôde ser cassada por motivo do
serviço publico. Avisos de 9 de Dezembro de 1871 e de 24 de Abril
de 1873.
Nas comarcas novamente creadas a inscripção das hypothecas
deve ser feita por um dos serventuários de justiça, nomeado pelo
Juiz de Direito. Aviso n_.° 98 de 6 de Abril de 1872.
Os Tabelliães e Escrivães encarregados do Registro Geral das hypo-
thecas, devem auxiliar-se dos cadernos legalisados nos termos do
art. 5.° do Regulamento de 25 de Abril de 1865, quando no exercicio
de seus officios fora das cidades ou villas. Aviso n.° 150 de 16
de Maio.
O Tabellião eEscrivão de um termo não pôde advogar em outro dà
mesma comarca, na qual accumule funcções de Offlcial do Registro
Geral das hypothecas. Aviso n.° 335 de 30 de Setembro de 1874.
E' inconveniente o arbitrio na designação dos Tabelliães para
Officiaes do Registro de hvpothecas desde que é idôneo o que foi no-
meado. Aviso n.° 347 de 18 de Agosto de 1875.
Ao Juiz de Direito competem emolumentos pela abertura, nume-
ração, rubrica e encerramento dos livros destinados ao Registro geral
das hypothecas. Aviso de 12 de Janeiro de 1876.
Os Officiaes do Registro de hypothecas só têm direito aos emolu-
mentos do art. 107 do regimento approvado pelo Decreto n.°5737 de
2 de Setembro de 1874, salva a disposição do art. 201, § 3.°, podendo
aparte, na fôrma do art. 197 do mesmo regimento, recorrer para o
respectivo Juiz, no caso de exigência ou percepção de salários, inde-
vidos õu excessivos, feita pelos Escrivães e mais empregados e offi-
ciaes. Aviso de 9 de Outubro de 1876.
o. J. 19
— 146 —
faz o referido Presidente para mostrar a necessidade dessa
nomeação.
Já em 1690 se tinha reconhecido que era indispensável
nomèar-se um Ajudante do Procurador cia Fazenda da Casa
da Supplicação, como se vê do Decreto de 18 de Novembro
daquelle anno. O mesmo aconteceu depois com o cargo de
Procurador da Coroa, a quem se deu um Ajudante por De-
creto de 12 de Março de 1804.
Se então se julgaram necessários esses Ajudantes, hoje,
que o lugar de Procurador da Coroa é sobrecarregado de
maior trabalho, não se pôde hesitar sobre a necessidade de
um Ajudante para as diversas funcções desse cargo; não
sendo menos digna de attenção a circumstancia de habili-
tarem-se por esse modo os Magistrados que tiverem de oc-
cupar o importante lugar de Procurador da Coroa, Sobe-
rania e Fazenda.
E' este o parecer que a Secção tem a honra de submetter
á Alta Consideração de Vossa Magestade Imperial sobre o
referido officio do Presidente da Relação desta Corte.
Paço em de Setembro de 1845.— Caetano Maria Lopes
Gama.—Honorio Hermeto Carneiro Leão. (*)

(') O officio acima alludido é do theor seguinte :


Illm. e Exm. Sr.— Por preceito da Ord., Liv. l.°, Tit. 13 é obri-
gado o Procurador dos Feitos da Fazenda a comparecera todas as
conferências da Relação.
Tinha-se nesse tempo por tão necessário este comparecimento, que,
para fácilital-o, não só a mesma Ord. escusou o Procurador dos
Feitos da Fazenda de continuar com o Tribunal do Conselho da
Fazenda, salvo quando fosse mandado chamar, ou no principio
de cada mez, mas também, pelo Decreto de 18 de Novembro de 1690,
se lhe nomeou um Ajudante, assim como, pelo Decreto de 12 de
Março de 1804, se concedeu outro ao Procurador da Coroa.
Toda esta Legislação desappareceu devorada pelo espirito abolicio-
nario de reforma, e, conseqüência inevitável deum systema opposto
que se abraçou, as actas deste Tribunal attestam que por ventura
são mais as conferências a que falta do que aquellas a que assiste o
Procurador dos Feitos da Fazenda.
A razão disto é obvia; o Magistrado, de que se trata, não tem ac-
tualmente um Ajudante, que o auxilie, nem substitua nos seus
impedimentos.
Entretanto é fora de duvida que este Ajudante torna-se tanto mais
indispensável, quanto releva attender á reeente multiplicidade, e
eomplieaçao dos negócios de fazenda em o nosso paiz.
— 147 —

C o n s u l t a d e I O d e S e t e m b r o d e 1H4L&.

Declara que o perdão não exime o réo de satisfazer o damno


causado.

Senhor.— A Secção do Conselho de Estado dos Negócios


da Justiça vem cumprir neste parecer o Aviso de 9 de Junho
do presente anno, pelo qual Vossa Magestade Imperial Houve
por bem Ordenar-lhe que consultasse sobre o perdão pedido
no requerimento junto, de Thomaz Ferreira dos Santos
Varginha.
Tendo sido nomeado o supplicante Thesoureiro do troco
do cobre na Provincia da Bahia, ficou alcançado no balanço
dado quando findou aquella operação na quantia de
26:743^040 em prejuízo da fazenda publica, proveniente
da falta de .20.893 libras de cobre.
Processado em conseqüência desse alcance, foi o suppli-
cante condemnado por sentença do Jury de 11 de Dezembro
de 1835 na indemnização do damno causado, perda do em-
prego, e inhabilidade para exercer outro, emquanto não
mostrasse a sua completa emenda.
Pretende o supplicante que Vossa Magestade Imperial lhe
perdoe as penas impostas por aquella sentença, allegando a

Esta consideração reclama que o Governo procure habilitar com


anticipaçâo alguns Magistrados, que pelo tempo, e pelo estudo e
experiência dos negócios se tornem especiaes no conhecimento da
Legislação fiscal, e mesmo nas graves questões de finanças, de que
dependem o augmento das rendas e a riqueza do Brazil, não devendo
ser distrahidos para outro algum serviço.
E' esta a maneira, por que penso.
Collocado, em virtude da Lei, na presidência interina da Relação,
não devo occultar á V. Ex. um pensamento, que os factos justificam,
e confirmam, e ao qual me parecem ligadas muitas vantagens do
serviço de Sua Magestade o Imperador, tanto dentro, como fora deste
Tribunal.
Digne-se, pois, V. Ex. fazer presentes estas respeitosas observações
ao mesmo Augusto Senhor, que em Sua Alta Sabedoria e Justiça, Re-
solverá o que tiver por mais acertado e conveniente.
Deus guarde á V. Ex. muitos annos.—Rio de Janeiro em 10 de
Dezembro de 1844.—Mm. e Exm. Sr. Conselheiro Manoel Antônio
Galvão, Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Justiça.—
Antônio Paiúino Limpo de Abreu, Presidente interino.
— 148 -
sua innocencia e as razões por que não se lhe devia imputar
o referido alcance.
O Conselheiro de Estado Procurador da Coroa é de pa-
recer que nada ha a deferir, por ser inútil o perdão quanto
ás duas primeiras penas, e inadmissível quanto á ultima, por
consistir na indemnização do damno causado, que o art. 66
do Cod., Crim., por elle citado, quer que seja satisfeito,
ainda quando os réos são agraciados pelo Poder Mode-
rador.
Entende também a Secção que o pretendido perdão não
pôde eximir o supplicante da obrigação de pagar o alcance
que deu motivo á sua condemnação. Mas, se as razões por
elle allegadas, se as ponderações das respectivas autoridades
sobre as suas circumstancias o fazem digno da Alta Cle-
mência de Vossa Magestade Imperial, nada obsta a que lhe
seja perdoada a pena de prisão que está soffrendo em vir-
tude do art. 32 do mesmo código ; porque deste perdão não
resulta desobrigar-se o supplicante da indemnização a que
está obrigado pelo art. 66; o que resulta éa cessação de
uma prisão, que será perpetua, attentas as circumstancias
em que se acha o mesmo supplicante, e a importância do seu
alcance, tornando-se por isso essa prisão não só um soffri-
mento estéril, mas também uma pena superior ao delicto ;
e que, se não pudesse ser perdoada, traria comsigo uma
excepção ao poder de agraciar, que a Constituição confere
a Vossa Magestade Imperial, ainda nos casos de penas cor-
poraes mais graves e afflictivas.
A' vista, portanto, destas considerações, é a Secção de
parecer que o supplicante merece a graça que implora,
ficando sempre obrigado á indemnização domai causado.
Vossa Magestade Imperial Resolverá o que em Sua Alta Sa-
bedoria tiver por mais justo e acertado.
Paço em 10 de Setembro de 1845.-— Caetano Maria Lopes
Gama.— Honorio Hermeto Carneiro Leão.
__ 149 —
Consulta de 2 7 de S e t e m b r o d e 18-£SS.

Sobre a alteração illegal que o Presidente da Provincia do Ceará


mandou fazer na lista dos jurados da Cidade do Sobral, e cor-
respondência desrespeitosa, que aquella autoridade dirigiu-
nessa oceasião, o respectivo Juiz de Direito.

Senhor. — Em cumprimento do Aviso do 1." de Julho do


corrente anno, a Secção dos Negócios da Justiça examinou
attentamente a correspondência official entre o Presidente
da Provincia do Ceará e Antônio José Machado, Juiz de
Direito do Sobral, uma das comarcas delia, e o que colligiu,
vem ter a honra de relatar mui suecintamente com o seu
parecer na Augusta Presença de Vossa Magestade Imperial.
Chegando em fins de Março, ou principios de Abril do
corrente anno à cidade cio Sobral este Juiz de Direito, con-
vocou -a sessão do Jury, e abriu correição em observância
das Leis e Regulamentos Imperiaes.
Em 21 de Abril osobredilo Juiz participou ao Presidente
da Provincia que na sua comarca não eram as Leis obser-
vadas; que o arbitrio, o rancor, a vingança e a persegui-
ção a mais atroz exerciam nella absoluto império, desde
que se substituíram as antigas pelas novas autoridades po-
liciaes, que curavam de vingar-se, intimidar, satisfazer
suas paixões, fazer acreditar que tudo podiam impune-
mente praticar, e effectivamente atropellavam o justo e o
honesto.
Para confirmar estas suas asserções produziu os seguin-
tes factos:
Um criminoso de morte, João íreneo Rodrigues, já sen-
tenciado pelo Jury a galés perpétuas, foi solto por ordem
do Chefe de Policia da Provincia, João Fernandes de Barros,
pendendo ameia a appellaçâo interposta para a Relação do
Districto; e para prova deste facto ajunta um officio do
Juiz Municipal, que o attesta. Este criminoso passeia mui-
tas vezes pelas ruas do Sobral affrontando a moralidade
publica.
Da cadêa daquella cidade conseguiram evadir-se 20 cri-
minosos, a maior parte delles já condemnados a galés per-
— 150 —
petuas e a prisão com trabalhos, por meio de um arromba-
mento que se suspeita ter sido favorecido por uma das
autoridades policiaes, havendo connivencia em todas ellas;
pois não procediam á costumada visita das prisões por mais
do 15 dias, e deslocaram a sentinella do lugar pelo qual era
mais fácil a fuga.
As autoridades policiaes formavam iníquos e injustos
processos contra uns, ameaçavam a outros, e ostentavam
tão escandalosa protecção aos criminosos de tão graves cri-
mes, que vagavam impunemente não sô pelo Termo, mas
também pelas ruas da mesma cidade do Sobral.
Eis os factos pelos quaes o Juiz de Direito pretende mos-
trar a desordem de Sobral, a que a sua presença e a do Juiz
Municipal deveriam pôr termo, pois, longe de prestarem-se
como instrumentos de taes autoridades, as cohibiriam exe-
cutando pontualmente as Leis, Regulamentos e Ordens
Imperiaes.
Participa o Juiz de Direito que na correição procedeu
contra alguns empregados que achara em culpa , como
contra o Tabellião Publico, por escrever no livro de notas
actos sujeitos ao sello, sem prévio pagamento delle, e por
deixar ou fazer escrever em o dito livro pessoa que para
isso não estava habilitada; e outrosim contra o Subdele-
gado do Districto do Sobral, por ter dado posse ao seu
Escrivão, sem que primeiro pagasse o sello de seu titulo;
e, finalmente, contra um Substituto do Juiz Municipal,
por haver prevaricado não pronunciando a um indivíduo
contra quem depunham testemunhas de vista, e pronun-
ciando a outro contra quem nenhuma prova havia nos
autos.
Bem que a Secção não esteja assaz informada para ajuizar
das rectas intenções deste Magistrado, não pôde taxar de
injusto seu procedimento, porque não encontra as Leis
em vigor, antes crê dever presumir regulado pelo exacto
desempenho de seus deveres. 0 Presidente da Provincia,
porém, attribuiu estes actos do Juiz de Direito a manejos
eleitoraes, e a elle imputa a anarchia judiciaria de Sobral,
a qual teria podido evitar marchando com prudência e
— 131 —
sisudeza; mas a Secção pensa que o Presidente da Provincia
não reflectiu que se a prudência do Magistrado fôr levada
ao extremo de não proceder contra os criminosos, em lugar
de virtude passará a ser crime. Um administrador pôde,
em attenção a certas circumstancias, adiar e modificar as
medidas, que, em outras, cumpria empregar; mas a jus-
tiça não enxerga senão os factos e as Leis, e é cega para
todas as outras considerações.
O Presidente da Provincia ordenou ao dito Juiz, em offi-
cio de 16 de Abril do corrente anno, que, fazendo reunir
de novo a Junta de Revisão dos Jurados, incluísse no alis-
tamento as pessoas que o deviam ser, e excluísse as que
illegalmente foram contempladas. O Juiz de Direiitodeixou
de cumprir esta ordem representando ao Presidente, que,
não obstante não ter sido presidida por elle a Junta Revi-
sora, accusada de ter commettido os actos condemnados na
dita ordem, estava informado de que procedera regular-
mente e segundo as Leis, e bem assim, que, não tendo
havido reclamação alguma dos interessados na indevida
inclusão ou exclusão da lista do Jury, nem tendo sido apre-
sentado recurso dentro do termo legal na Secretaria do
Governo da Provincia, não cabia proceder-se á reforma da
lista, como resolvera o Presidente.
E a Secção entende que a representação do Juiz de Direito
devia ser atlendida pelo Presidente da provincia, por ser
fundada nos arts. 29, 101 e 102 da Lei de 3 de Dezembro
de 1841, e nos arts. 229 e seguintes do Regulamento de
31 de Janeiro de 1842, embora o Presidente da provincia
julgue que, encarregado de executar e fazer executar as
Leis, competia-lhe expedir a dita ordem, sem que houvesse
reclamação, nem recurso, pois, visto que ao Presidente
incumbe guardar, e fazer guardar as Leis, não lhe era
permittido senão executal-as, e não mandar proceder contra
a sua letra e espirito, como o fez na sobredita ordem.
Esta ordem do Presidente foi entregue ao Juiz de Direito
no dia 24 de Abril, e no dia seguinte, presidindo elle a
reunião do Jury, apresentou-se nella o Subdelegado Rufino
Furtado de Mendonça, com seus asseclas, e declarou que,
— 152 —
sem o cumprimento delia, não trabalharia o Tribunal; e
não tendo força o Juiz de Direito para fazer respeitar sua
autoridade, tomou o expediente de suspender a sessão do
Jury, até para reílectir no que lhe cumpria fazer. Ao sahir,
porém, da casa do Jury, viu alguns grupos de tropa far-
dada e armada, e teve noticia de que outros estavam espa-
lhados por diversos pontos da cidade; e sendo outrosim
informado de que tanto a Guarda Nacional como a tropa de
linha o não auxiliariam, declarou dissolvida a sessão do
Jury por um edital do dia seguinte, 26 de Abril, em que
mencionou a violência que o obrigava a proceder pela ma-
neira expendida. Estas asserções do Juiz de Direito foram
contrariadas por um edital que no mesmo dia publicou o
Delegado de Policia de Sobral.
Bem que muitas circumstancias não estejam provadas,
a Secção inclina-se a crer na exposição do Juiz de Direito,
porque o seguinte facto das autoridades policiaes de Sobral
revela seu despreso pelas Leis e autoridades legitimas. O
Subdelegado fôrma um processo crime contra o Juiz de Di-
reito e o Municipal, Dr. Manoel Theophilo Gaspar de Oli-
veira, por não ter sido cumprida a referida ordem sobre a
reforma do Jury, e expediu mandado para serem ambos
capturados, o qual lhes foi intimado em 9 de Maio do cor-
rente anno.
Cabe observar que o Juiz Municipal nenhuma parte ti-
vera na suspensão da mencionada ordem; que esta sus-
pensão, quando criminosa, pertencia á classe dos crimes de
responsabilidade, e não dos individuaes, e quando o Subde-
legado a quizesse considerar como crime individual, era
desobediência e não resistência, e por conseguinte o réo ou
réos só podiam ser presos depois da condemnação.
E' pois, de presumir que a classificação foi de propósito
mal feita para cohonestar o illegal procedimento da Po-
licia, e não é infundada a crença de que este tivera lugar
para se descartarem as autoridades policiaes dos Juizes de
Direito e Municipal, pois apenas o Juiz de Direito se re-
solveu a deixar a comarca, foi suspensa a execução do
mandado e o cerco posto á casa do mesmo.
— 153 —
Senhor, o Presidente da Provincia do Ceará denominou
anarchia judiciaria a esses tumultuarios procedimentos, c
em verdade o é; pois não se concilia a ordem e tranquilli-
dade publica com empregados que escarnecem das Leis,
desautorizam os Magistrados, e postergam todos os direitos
e deveres.
O Juiz de Direito é o superior dos Delegados e Subde-
legados, incumbe-lhe proceder contra elles quando faltam
aos seus deveres, e por certo o não farão se ficarem im-
punes estas autoridades policiaes, que inventam crimes a
seus superiores e executam suas sentenças contra elles para
evitarem o castigo a que seu procedimento irregular os
tem exposto. O Juiz de Direito de Sobral abre correição ;
as autoridades policiaes tinham de soffrer processos crimes,
e delles se isentam criminando o seu superior e obri-
gando-o a retirar-se da comarca.
O Presidente da provincia, que nesta oceasião se devia
lembrar de que pelo § 1." do art. 5.L da Lei de 3 de Ou-
tubro de 1834 lhe era incumbido fazer executar as Leis,
nenhuma outra providencia consta ter ciado, a não ser a de
pedir informações de todos esses factos ao mesmo Subde-
legado, que o Juiz de Direito aceusava. E não contente
desta connivencia, imputa ao Juiz de Direito tão des-
agradável oceurrencia, até a mesma anarchia judiciaria,
como elle appellidou a esses acontecimentos de Sobral.
Não consta que fossem demittidas as autoridades poli-
ciaes, que se mandasse averiguar esses factos e os seus au-
tores, nem que providencias fossem dadas para pôr termo
ao progresso de tantos males, cie tão perigosa tendência.
Eis, Senhor, o que consta do officio do Presidente da
provincia datado de 2 de Junho, e do do Juiz de Direito do
1.° do mesmo mez do corrente anno ; e como não estão
provadas algumas das principaes arguições feitas pelo Juiz
de Direito, a Secção SÒ limita a consultar a Vossa Mages-
tade Imperial com o seguinte parecer:
1. Que se estranhe ao Juiz de Direito os termos desco-
medidus que, em seus officios dirigidos ao Presidente da
provincia, empregou, por não serem conciliaveis com o
c. J. 20
— 154 —
respeito e consideração devida á primeira autoridade da
provincia, pois se esta não preveniu muitos dos aclos refe-
ridos, se dissimulou alguns, se lhe fez imputações infun-
dadas, cabia-lhe representar, e somente, representar ao
Governo Imperial, que não deixaria de atlendel-o, se ti-
vesse razão.
2.° Que seja reprovado o procedimento do Presidente da
provincia, por ter mandado alterar a lista dos Jurados de
Sobral contra a fôrma, e fora do tempo que a Lei lhe per-
mitlia fazel-opor via de recurso, imputandodepois ao Juiz
de Direito a desordem de Sobral, não mandando instituir
um exame circumstanciado de todas as occurrencias men-
cionadas nos officios do Juiz de Direito, e não demiltindo,
principalmente, oSubdelegado de Policia, que, procurando
prender aos Juizes de Direito e Municipal, em execução de
sentença, fez suspender a prisão, logo que o Juiz de Direito
se prestou a retirar-se da comarca.
3." Que se declare aos Presidentes das províncias, que,
quando as autoridades policiaes em um processo crime
acharem envolvido um Juiz de Direito, ainda em crime
individual, não procederão contra elle sem participação
aos mesmos, acompanhada do processo respectivo, e que
só quando os Presidentes de provincia entenderem que o
processo deve continuar poderão essas autoridades pro-
seguir nos seus termos, e que quando entendam que não
ha matéria para aceusação remetiam o processo ao Chefe
de Policia para o despachar. Isto caso o Governo de Vossa
Magestade Imperial entenda que os Juizes de Direito não
gozam de privilegio do foro nos crimes individuaes.
E' este o parecer da Secção de Justiça -.-—Vossa Magestade
Imperial deliberará o que fôr mais justo.
Paço em 27 de Setembro de 1845. — Caetano Maria Lopes
Gama.— Honorio Hermeto Carneiro Leão. (*)

(") De conformidade com o l.° e 2.° itens da consulta expediram-s«


em 3 de Outubro de 1845 dous avisos ao Presidente da Provincia do
Ceará, os quaes são do theor seguinte :
Illm. e Exm. Sr.— Sua Magestade o Imperador, depois de ouvido
o parecer da Secção de Justiça do Conselho de Estado sobre o con-
— 155 -
Consulta de > de Outubro de l « £ í i .
Sobre o requerimento em que os empregados da Secretaria da Policia
da Corte pedem a revogação do art. 110 do Regulamento n.°120
dê 31 de Janeiro de 1842, e a creação de emolumentos sobre os
titulos de residência de estrangeiros.

Senhor.— Mandou Vossa Magestade Imperial, por Aviso


de 17 de Fevereiro do corrente anno, que a Secção de Jus-
tiça do Conselho de Estado consultasse com seu parecer
sobre o requerimento, que'acompanhou aquelle aviso, e
em que os empregados da Secretariada Policia desta Corte
pedem a revogação do art. 110 do Regulamento de 31 de
Janeiro de 1842, e a creação de um emolumento qualquer
sobre os titulos de residência de estrangeiros.

teüdo do officio reservado de V. Ex. de 2 de Junho ultimo, edos


documentos que o acompanharam, relativos ao occorrido na comarca
do Sobral, Houve por bem Declarar que foi menos regular o proce-
dimento de V. Ex. em mandar alterar a lista dos Jurados daquella
cidade, contra a fôrma,'e fora do tempo que a Lei lhe permittia
fazel-o por via de recurso, imputando depois ao respectivo Juiz de
Direito a desordem que se seguiu, sem que íizesse instituir um
exame de todas as occurrencias mencionadas nos officios do dito
Juiz de Direito, nem houvesse ordenado, como cumpria, a demissão
do Subdelegado de Policia, que procurando prender aos Juizes de
Direito e Municipal, em execução de sentença, fez suspender a
prisão logo que o mesmo Juiz de Direito consentiu em retirar-se
da comarca. O que communico á V. Ex. para seu conhecimento.
Deus Guarde á V. Ex.—Palácio do Rio de Janeiro em 3 de Ou-
tubro de 1845.— José Carlos Pereira de Almeida Torres.—-Sr. Pre-
sidente da Provincia do Ceará.
Mm. e Exm. Sr. —Tendo subido á Presença de Sua Magestade o
Imperador o ofücio e documentos a elle juntos, que V. Ex. di-
rigiu a esta Repartição da Justiça, sobn.°34, e data de 2 de Junho
ultimo, expondo os factos oceorridos na comarca de Sobrai, assim
como a correspondência havida entre V. Ex. e o Juiz de Direito
da mesma comarca, Antônio José Machado; Houve o mesmo Au-
gusto Senhor por bem, depois de ouvida a este respeito, a Secção
de Justiça do Conselho de Estado, Mandar que V. Ex. estranhe,
em Seu Imperial Nome, ao dito Juiz de Direito os termos desco-
medidos de que usou nos officios por elle dirigidos á V. Ex., termos
impróprios do respeito e consideração devidos á primeira autoridade
da provincia; pois se esta lhe fez imputações infundadas, se deixou
de cumprir fielmente a Lei, só lhe cabia, e era licito, representar
ao Governo Imperial, que não deixaria de o attender, se tivesse
razão. O que communico a V. Ex. para que assim se leve a effeito.
Deus Guarde a V. Ex.—Palácio do Rio de Janeiro em 3 de Ou-
tubro de 1845.— José Carlos Pereira de Almeida Torres.— Sr. Presi-
dente da Provincia do Ceará.
— 156 -
O art. 110 do citado regulamento dispõe « que os
titulos de residência serão expedidos gratuitamente, e quo
não se; poderá exigir quantia alguma a titulo de apresen-
tação, fiança, ou qualquer outro pretexto.»
Esta disposição, no pensar da Secção, funda-se em uma
razão justificada. Em um paiz que, como o Brazil, deve
procurar attrahir população, e com particularidade jorna-
leiros, cumpre facilitar, simplificar e tornar o mais barata
possivel a sua entrada. Foi, certamente, esse o motivo que
dictou aquella disposição, bem como as dos arts. 82 e 83
do mesmo regulamento, os quaes permiüem, mediante
certas cautelas, o desembarque de estrangeiros sem pas-
saporte.
Supposto o pagamento de módicos emolumentos não
possa por si só arredar do Brazil ao estrangeiro indus-
trioso, todavia esses emolumentos, aliás de pouca impor-
tância para os que trazem capitães, pesam para o simples
trabalhador que desembarca já gravado com a divida da
passagem, e com os emolumentos que paga nos respectivos
Consulados.
As razões em que se fundam os supplicantes são deduzidas
da mesquinhez dos ordenados com queé retribuído o serviço
que prestam. A Secção não desconhece nesta parte a justiça
dos mesmos supplicantes, porém como a actual organização
da Secretaria da Policia é provisória, é seu parecer que,
indeferindo-se a pretenção dos supplicantes, se tome, to-
davia, em consideração o melhoramento da sua sorte,
quando se tratar da organização definitiva da mesma Secre-
taria, na fôrma do art. 12 do Regulamento n. 120de31
de Janeiro de 1842.
Vossa Magestade Imperial, porém, Mandará o que fôr
mais acertado.
Paço em 7 de Outubro de 1845.— Honorio Hermeto Car-
neiro Leão.— Caetano Maria LmesGwma.— Bispo de Ane-
muria. (*) - '' -'

(*) O Decreto n.° 1531 de 10 de Janeiro de 1855 isenta os estrangeiros


do titulo de residência e permitte que elles viagem no Império com
— 157 —

Consulta de 17 de D e z e m b r u d e 184ÍÍ.

Sobre correição nos livros e processos do Juizo de Orphãose Ausentes


da Corte.

Senhor.—Em observância do Aviso de 3 do corrente


mez, a Secção do Conselho de Estado dos Negócios da Jus-
tiça tem a honra de interpor o seu parecer sobre o officio do
Juiz de Orphãos desta Corte, informado pelo Juiz de
Direito da l. a Vara Crime, em que se trata da correição,
que este Juiz de Direito pretende fazer nos livrose processos
do Juizo de Orphãos e dos Ausentes desta Corte.
A Secção, estando inteiramente de accôrdo com o que
expendeu o Procurador da Coroa sobre esta matéria, não
faria senão repelir pouco mais ou menos as judiciosas
reflexões e argumentos deste Magistrado, cujo parecer a
Secção adopta ecomo seu o offerece á Alta Consideração de
Vossa Magestade Imperial, que Resolverá oquefôrdeSeu
Agrado.
Paço, em 17 de Dezembro de 1845.— Caetano Maria
Lopes Gama.— Bispo de Anemuria. (*)

o passaporte que trouxerem, e na falta deste com o que fôr passado


pelos Ministros, Cônsules ou Vice-Consules respectivos, tendo o—
visto—da autoridade brazileira.
Esse—visto—é da competência dos Chefes de Policia, Delegados e
Subdelegados.—Decreto n.° 2466 de21 de Setembro de_1859.
Mas os immigrantes que transitam no Império eslao isentos de
passaporte. Decreto h.° 5145 de 27 de Novembro de 1872.
Os passaportes para fora do Império sao regulados pelo De-
creto n.° 4176 de 6 de Maio de 1868.
(*)' O officio, informação e parecer acima citados são do theor
seguinte :
IUm. eExm. Sr. —Tendo o Dr. Juiz de Direito da l. a Vara Crime
desta Corte no seu edital de 12 do corrente, art. S.°; determinado que
os Escrivães do Juizo de Orphãos lhe apresentassem todos os livros
relativos ao dito Juizo e ao ramo de ausentes, e bem assim todos os
inventários pendentes, e mesmo os findos, que ainda não tiverem
sido vistos em correição, e apresentando esta determinação diver-
sos inconvenientes, parece-mç represental-os ao Governo de Sua
Magestade o Imperador, para que resolva sobre elles o que lhe pare-
cer de justiça.
- 158

No preâmbulo do Regulamento de 15 de Março de 1842 mostrou o


seu iüustre autor, antecessor de V. Ex., às difflculdades que existiam
para determinar-se as attribuições dos Provedores das comarcas no
estado actual da Legislação e systema adoptado no Brazil, e reco-
nheceu que o trabalho de as coordenar, diminuir, ou acrescentar
demandava tempo, e só era próprio de um regulamento especial,
cuja organização declarou ia ter principio : parecia, pois, que, em-
quanto este regulamento não fosse concluído e publicado, os Juizes
de Direito, para quem passaram, pela Lei de 3 de Dezembro de 1841,
as attribuições dos antigos Provedores, não podiam conhecer dos Es-
crivães e Officiaes do Juizo de Orphãos e Ausentes, e talvez fosse esta
a razão por que oDr. Juiz de Direito da 2. a Vara na sua primeira
correição, feita neste mesmo anno, nao chamou a si os livros e
inventários do Juizo de Orphãos e Ausentes ; accresce nao haver
exemplo nesta Corte, segundo informações a que procedi, que,
depois de entrar em exercício a Relação creada pela Lei de 13 de
Outubro de 1751, os Corregedores e Provedores abrissem correição
dentro da mesma Corte, e dahi resulta grave inconveniente em
transportarem os dous Escrivães todos os inventários e livros exis-
tentes em seus cartórios, não vistos em correição, como se determina
no referido edital; porque pelo menos comprehendem aquella época,
e ainda alguma anterior, e apenas um dos Provedores exercitou sua
jurisdicção tomando contas a um Thesoureiro do Juizo pela supposi-
ção de nao deverem ser tomadas pelo Juizo de Orphãos, sendo elle
um dosclavicularios do cofre ; demais, a apresentação dos inventá-
rios pendentes tanto do Juizo de Orphãos, como do deAusentes, assim
como dos respectivos livros traz grave prejuizo ás partes, por ficar
sobr'estado o andamento legal, que me cumpre dar-lhes, e inhibido
o Escrivão, encarregado do ramo de Ausentes, de dar as informa-
ções que as Repartições Fiscaes a cada momento exigem, delle, e
cabe aqui o ponderar a V. Ex. que os antigos Provedores das co-
marcas nunca exerceram no Brazil jurisdicção alguma sobre os
Provedores de Ausentes, sendo os feitos e livros dos Escrivães de
Ausentes apresentados unicamente aos syndicantes por oceasião da
residência tirada, tanto do Provedor, quando findava o seu exercício,
como dos Officiaes que serviram perante elle : ora, se os Juizes de
Direito suecedem aos Provedores de comarcas na jurisdicção que
estes tinham, parece-me claro que a não têm para tomarem conhe-
cimento dos negócios relativos ao ramo de Ausentes, sem que o
regulamento preconisado pelo dito antecessor de V. Ex. lh'a
confira.
E porquanto é do meu dever evitar conflicto de jurisdicção, levo
ao conhecimento de V. Ex. todo o expendido, para deliberar sobre
elle como lhe parecer de justiça.
DeusGuarde a V. Ex. —Rio, 19 de Novembro de 1843.— Illm. e
Exm. Sr. Antônio Paulino Limpo de Abreu, Ministro e Secretario
de Estado dos Negócios Estrangeiros, e interino dos da Justiça.— José
Florencio de Araújo Soares, Juiz de Orphãos e Ausentes da Corte.
Illm. e Exm. Sr. —Fundei-me nos arts. 26 §§ 3.° e4.°da Lei de
3 de Dezembro de 1841, 207 e 209 do Regulamento de 31 de Janeiro
de 1842, 3 e 36 do de 15 de Marco do mesmo anno, 3.° do de 26 de
Abril do referido anno, e, ünaímente, na Ord. L. l.° Tit. 62, e
no Alvará de 7 de Dezembro de 1689, que se acham em vigor, para
chamarão meu conhecimento e exame os livros, autos e papeis, que
menciona a inclusa representação.
159

Não ha Lei que isente os cartórios do Juizo dos Orphãos deste


exame : o que talvez se pudesse allegar por argumento do art. 487
do citado Regulamento de 31 de Janeiro de 1842, não pôde hoje ser
admissível, á vista dos fundamentos do Decreto de 31 de Julho deste
anno.
O ter o autor do Regulamento de 15 de Março de 1842 escripto que
conviria em um regimento reunir todas as disposições das leis em
vigor, relativas aos Provedores, e ás suas obrigações, não me tira o
dever, que tenho, de conhecel-as e de cumpril-as.
Sé ellas existem em vigor, cabe dar-lhes execução, estejam ou não
compilladas, reunidas ou separadas; e, em quanto se não der essa
compillação pretendida, cabe-me estudal-as, apanhal-as, se é que
estão assim tão dispersas ( o que não me parece) e observal-as
fielmente : se nisto me houver mal, ahi estão as autoridades com-
petentes para me castigarem.
Queé possível a observância destas Leis, independente dessa com-
pillação, o reconheceu o próprio Ministro, em cuja opinião o repre-
sentante se basêa, quando disse á Coroa que Provedores podiam
haver que, com critério e acerto, fizessem esse trabalho.
O haver o meu collega na única e primeira correição que houve
nesta Corte deixado de tomar conhecimento do que vai pelos cartó-
rios do Juiz dos Orphãos, não é argumento que possa fundar a isenção
pretendida, quer esse facto fosse filho da sua intelligencia, quer de
vontade.je ainda mesmo que fosse filho de insinuação que recebesse
de alguma autoridade superior.
Nunca em regra se argumentou, ou fundou-se um privilegio no
modo de entender e praticar de um empregado, e nem o theor por
que alguém procede no desempenho de seus . deveres pôde servir de
Lei, que obrigue a todos os que na observância das Leis procuram
cingir-se á sua letra e espirito. Como empregado publico e como
Magistrado devo por ultimo a este respeito com toda a franqueza
dizer,—não dou por insinuações quando se trata do cumprimento das
Leis, e nem por ordens, quando estas lhes sao oppostas, só obe-
deço a medidas legislativas, que as declarem, modifiquem ou re-
voguem.
O que cumpre deplorar é que se tenha accumulado tanto trabalho
pela falta de correições, e que tantos abusos se tenham introduzido
em prejuízo do publico. E' certamente cousa que admira o ter até
esta data havido somente uma correição nesta Corte, e que assim nas
outras comarcas tenha a Lei tido melhor e mais completa exe-
cução !
O inconveniente que resulta, como se ponderou, do trabalho de
examinar uma tão grande quantidade de livros, autos e papeis, não
deve impressionar ao representante que deve ter muito presente que
elle é menor do que o que vem da inexecuçao e despreso da lei
e do progresso dos abusos que se têm introduzido no Foro. Qualquer
que fôr a intenção desse mal, caso appareça, é do meu dever leval-a
ao conhecimento do Governo Imperial.
Fora de cabimento me parece a reflexão feita sobre o damno te-
mido da demora e emprazamento dos feitos e livros pendentes, em
virtude do seu exame em correição. Se vier elle de negligencia
minha, cabe infligir-se-me a pena competente : se da natureza e
disposição da Lei, força é soffrel-o, emquanto esta nao fôr revogada.
E acaso o Legislador não pesaria este mal ? Deu-se elle acaso algum
dia nos antigos tempos, em que sempre houve correição ? Não ha
memória de sua existência.
Que os cartórios dos Escrivães de Orphãos, pelo que toca aos ne-
— 160 —

gocios dos Ausentes, estão sujeitos ao exame em correição, é couss


que não admitte duvida, já pela razão da Lei, já pela sua letra e
disposição.
0 foram sempre quando a cuidado do Juizo de Orphãos estavam,
o são agora, que, por força da Lei de 3 de Novembro de 1830, a elle
volveram, e, por certo, com a simples leitura do Alvará de 7 de
Dezembro de 1689 o representante tirar-se-ha dessa duvida.
Muitos obstáculos devo encontrar no desempenho das minhas
funcções na próxima correição; muitas duvidas se levantarão, não
porque a Lei não seja clara, mas porque o orgulho de alguns Juizes
por um lado parece offendido, e por outro aos e*scrivaes não convém
que seus actos sejam conhecidos.
Estas duvidas, e estes obstáculos e impedimentos não são novos,
e já em outro tempo deram origem ao citado Alvará de 7 de De-
zembro de 1689, e ao Decreto de 23 de Agosto de 1694, que com elles
acabou.
E'o que me parece dever responder em virtude da ordem que
acabo de receber.— Deus Guarde a V. Ex. — Rio de Janeiro, 24 de
Novembro de 1845. — Illm. e Exm. Sr. Ministro e Secretario de
Estado dos Negócios da Justiça.— O Juiz de Direito da l. a Vara do
Crime, Ângelo Moniz da Silva'Ferraz.
A matéria é para mim tão espinhosa, que para fixar qualquer
proposição sem receio de errar, julgo indispensável longa òedueção
e serio estudo; porque, além do labyrintho em que considero a mo-
derna Legislação, comparada com a antiga, que se pretendeu instau-
rar depois de abolida ha perto de um seeulo, e substituída por ou-
tra, também hoje revogada, noto taes e tão encontradas disposições
nos próprios artigos novissimamente promulgados, qué me é absolu-
tamente impossível concilial-os, e o único fructo que colho deste
exame é reconhecer a verdade confessada no preâmbulo do Regula-
mento de 15 de Março de 1842, isto é, a necessidade de instrucçoes, ou
de um Regulamento especial. Bem se vê, pois, quanto discordo do
Dr. Juiz de Direito, que reputa clara a Lei que eu contemplo obscu-
rissima em sua execução, e quando desde já attribue a prevenções,
e á má vontade dos Juizes e Escrivães as duvidas que apparecerem,
estando eu mesmo cheio de duvidas e receios. Entretanto, exporei
summariamente o que só julgo preciso para justificar o parecer que
por obediência vou aventurar sobre o caso especial de que se trata no
officio do Dr. Juiz dos Orphãos desta Corte.
Nunca os Corregedores ou Ouvidores das comarcas abriram correi-
ção criminal nos lugares onde estava a Corte, porque a Lei (Ord. L.
l.°Tit. 7.° | 22 e outros artigos legislativos) o prohibia expressa-
mente, sendo, como era, esse encargo da privativa competência dos
Corregedores do Crime da Corte, que com o Regedor das JustiçE-; pro-
viam sobre os erros dos Juizes, ou dos seus ofíicíaes, e esta determi-
nação tornou-se extensiva a todos os Ouvidores do Crime das anti-
gas Relações da Bahia e Rio de Janeiro, visto que por seus regi-
mentos se estabeleceu que estes Ouvidores do Crime exercessem as
funcções dos Corregedores da Corte no que nelles não fosse especial-
mente declarado, e t c , etc.
Portanto se os Ouvidores da comarca do Rio de Janeiro, hoje ex-
tincta, nao faziam correição criminal nesta Corte e seu termo, não
provinha isso de erro, ou omissão sua, mas da immediata determi-
nação da Lei, a que temeráriamente não deviam desobedecer.
Da mesma sorte não se fazia correição pela Provedoria da comarca,
mas por outra razão muito differente. Logo que foram creadas as
— 161

Provedorias de Resíduos, Capellas e Ausentes para os termos das ci-


dades e villas do Brazil, abolida assim a Legislação antecedente,
deixaram os Ouvidores e Provedores das comarcas de corrigir e ins-
peccionar os termos em que havia Juizes de vara branca, porque
sendo todos estes juntamente Provedores em seus termos, e usando
do mesmo regimento, eram totalmente independentes dos das co-
marcas, os quaes por isso só tinham jurisdicção e previam em cor-
reição nos termos sujeitos a Juizes ordinários, porque estes não eram
Provedores. Temos portanto, que os Ouvidores da comarca do Rio de
Janeiro também não devem ser taxados de omissos, se na qualidade
de Provedores não abriam correição sobre os negócios de Resíduos,
Capellas, Ausentes, e t c , da Provêdoria desta cidade.
O mesmo acontecia a respeito do Juizo dos Orphãos, posto que por
motivo distineto, e vem a ser, que não sendo licito aos Ouvidores
desta comarca fazer correição na Corte, e tendo determinado a Lei
de 2 de Dezembro de 1750 qúe os Juizes de Fora dos"Orphãos fossem
isentos das devassas de correição, e só sujeitos a ellas os/seus Offi-
ciaes, declarando ao mesmo tempo que essas devassas fossem tira-
das pelos Ouvidores, a que era, concedido fazer correição, com toda a
razão se entendeu que nesta Corte não tinha lugar semelhante dis-
posição; ficando, por conseqüência, limitado nella a bem poucos ar-
tigos o officio de Provedor da comarca do Rio de Janeiro, e isto tanto
de facto, como de direito.
Tal era, em geral, o estado da nossa Legislação, e a pratica, quando
pela Lei de 22 de Setembro de 1828, que extinguiu os Tribunaes do
Desembargo do Paço e Mesa da Consciência, se fizeram as primeiras
notáveis alterações, dispondo-se não EÓ quanto ao Juizo dos Orphãos,
mas também a respeito da Provêdoria de Ausentes, merecendo espe-
cial menção o § 8.° do art. 0 2.°, em que se determinou que ao
Thesouro* e ás Juntas de Fazenda immediatamente pertencia tomar
contas aos Officiaes dos Juizes de Ausentes; alterações estas que vi-
goraram, até que pela Lei de 3 de Novembro de 1830 foram em
parte revogadas, ficando extinetas as Provedorias de Ausentes, e
instaurada a Legislação antiga em termos geraes e inteiramente
vagos.
Seguiram-se o Código do Processo e a disposição provisória sobre a
Justiça Civil,que, supprimindo os Ouvidores, e substituindo-os pelos
Juizes de Direito, nada absolutamente determinaram sobre as correi-
ções dos Provedores; e assim permaneceu este ramo da administra-
ção publica, salvas algumas disposições provisórias do Governo, até
â Lei de 3 de Dezembro de 1841, a qual com os respectivos regula-
mentos conferiram aos Juizes de Oirpito as funcções dos extinetos
Provedores de comarca, e restabeleceram também em termos geraes
e puramente allusivos a Legislação antiga, que se julgasse subsistente
a semelhante respeito.
Emquanto, porém, assim se legislava pelo Ministério da Justiça,
publicava o Thesouro, e o Ministério da Fazenda, autorizado por arti-
gos de Leis de orçamento, as suas Provisões e Regulamentos, e entre
estes o de 9 de Maio de 1842, no qual per totum, e com muita especia-
lidade nos arts. 37 e 42 assumiu todo o mando e immediata inspec-
cão sobre as Provedorias de Ausentes, sem que se possa, pelo menos
na minha intelligencia, assignar de um modo fixo e claro qual seja
a raia entre essa competência do Thesouro e Thesourar;as, e a dos
Provedores das comarcas em correição, ao passo que é certo que por
aquelle Ministério continuam a publicar-se repelidas ordens, decisões
e providencias sobre esta matéria, como pondera o Dr. Juiz dos Or-
phãos.
c. J. 21
1C2 —

Eis, em resumo, o quadro do que ha de principal na nossa juris-


prudência sobre o assumpto em questão, sem se entrar, todavia, em
sua anaiyse, para a qual sobra matéria. E poder-se-ha, por ventura,
fazer delia jurídica applicação ao caso especial, de que se trata, sem
embaraços e tropeços? Quanto á Provêdoria de Ausentes, além de
não lhe'poder ter applicação alguma a antiga Legislação á vista dos
novíssimos regulamentos, que cm nada casam com esses antigos, vê-
se que estes mesmos regulamentos conferiram á Repartição da Fa-
zenda toda a respectiva direcção einímediata inspecção e correcçâo.
Demais, como chamar á correição dos actuaes Provedores de comarca,
nulos, livros, e t c , do tempo em que as Leis não admittiam taes cor-
reições, porque os respectivos Juizes eram os próprios Provedores, e
quando por estes mesmos novíssimos Regulamentos já se lem man-
dado fazer esses exames e averiguações pelos Officiaes de Fazenda '?
Pelo que pertence particularmente aos orphãos: como é possível
obrigar á correição os actos deste Juízo da Corte, praticados desde que
deixou de haver nelle correição, quando já se fez ver que o Juiz dos
Urphàos desta cidade estava disso muito legalmente dispensado por
artigos expressos, e só se pôde considerar sujeito á correição depois
do Regulamento de 15 de Março de 1842, tendo elle até então exer-
cido de direito as funcções de inspecção e correcçâo cm seu Juizo ?
Como se cita o Alvará de 7 de_Dezembro de 1689, quando este Al-
vará e outros que se seguiram nao podiam ter inteira execução nesta
cidade depois de estabelecida a Relação creada em 1751, e á vista
da Lei de 1750, que já citei, e de outros muitos artigos de le-
gislação , como já demonstrei ? Como _ dar á Lei de 3 de De-
zembro de 1841 úin effeito retroacüvo e tao amplo e indeterminado.,
que infallivelmente accumularia o absurdo de dar por annullados
innumeraveis actos passados por virtude de Leis válidas então e que
por ella não foram annulladas ? Como capitular de errônea e abu-
siva a pratica, até então seguida, de se não fazer correição
alguma no Juizo dos Orphãos e na Provêdoria desta Corte, quando se-
melhante pratica tem q seu apoio em Direito expresso, e muito posi-
tivo, pelo qual os Juizes de Orphãos, e Provedores delia eram consti-
tuídos Corregedores de seus oíflciaes, e immunes de correição por
parte do Ouvidor, e Provedor da comarca f
Serão embora de pouco mérito estas reflexões, e outras muitas, que
açodem : ellas, porém, fazem-me vaciüar, eme levam a pensar que
não é praticavel absolutamente a correição, que se pretende fazer,
quanto á Provêdoria de Ausentes desta Corte, emquanto por uma dis-
posição especial não fôr declarado, ou antes, modificado o Regula-
mento de 9 de Maio de 1842, e mais artigos subsequentes, publicados
pela Repartição da Fazenda, na qual seassigne e marque com exac-
tidão o limite da competência do Thesouro, e a do Juiz de Direito
em correição.
Quanto, porém, ao Juizo dos Orphãos propriamente dito, entendo
que pôde e deve admittir-se a correição, com tanto que somente com-
prehenda os actos passados de 15 de Março de 1842 por diante, não os
antecedentes, pela razão já expendida de serem até então os Juizes de
Orphãos desta Corte considerados pela Lei os únicos Corregedores e
Provedores em seu próprio termo. Mas nem por isso se entenda que a
respeito da correição neste Juizo julgo dispensável o Regulamento
promettido pelo de 15 de Março de 1842 : pelo contrario, eu o consi-
dero muito necessário, assim corno é minha opinião que nelle se
sanecione a doutrina da Lei de 2 de Dezembro de 1750, que me parece
muito sabia e política na distineção que faz entre Juizes letrados e
leigos; e receio graves inconvenientes no estado em que se acha o
— 163

nosso foro e a administração dos orphãos, e dos seus bens, se não fôr
adoptada esta medida, além de outras.
Eis o que com brevidade posso dizer sobre este difficil assumpto,
seguindo o parecer que tenho por mais seguro ou menos arriscado.
Rio de Janeiro, 27 de Novembro de 1845. — Francisco Gomes de
Campos. (*)

(*) Expediu-se o seguinte Aviso ao Juiz de Direito da l . a Vara Crime da


Corte.— Rio de Janeiro, Ministério dos Negócios da Justiça, em 18 de Dezembro
de -1845.
Tendo sido presente ao Governo Imperial o oüleio do Juiz dos Orphãos desta
Corte, datado de 19 do mez próximo passado, no qual expõe os inconvenientes,
que resultaram da disposição do art.' 5.° do edital que Vm. publicou em 12
daquelle mez, determinando que os Escrivães do Juizo de Orphãos lhe apre-
sentem todos os livros relativos ao dito -Juizo, e ao ramo de ausentes, e bem
assim todos os inventários pendentes, e mesmo os findos, que ainda não ti-
verem sido vistos em correição, e tendo sido, depois da sua resposta de 24 do
referido mez, ouvido sobre esta matéria o Desembargador Procurador da Coroa,
Soberania e Fazenda Nacional, e consultada a Secção do Conselho de Estado a
que pertencem os Negócios da Justiça ; com cujo parecer se conforma o Go-
verno Imperial, entende o mesmo Governo:—l.° que não é praticavela cor-
reição que se pretende fazer, pelo que pertence a Provêdoria de Ausentes desta
Corte, emquanto por uma disposição especial não fôr declarado, ou antes mo-
dificado o Regulamento do 9 de Maio de 1842, e mais artigos subsequentes pu-
blicados pela Repartição da Fazenda, assignando-se , e marcando-se com
exactidão os limites da competência do Thesouro e a do Juiz de Direito em
correição ; 2.° que o Juizo dos Orphãos propriamente' dito deve ser sujeito á
correição, com tanto qae esta comprehenda somente os actos passados de 15
de Março de 1842 por diante, não os antecedentes, pela razão de serem até
então os Juizes de Orphãos desta Corte considerados pela Lei os únicos Cor-
regedores e Provedores em seu próprio termo. Fazendo esta communicação a
Vm., cumpre-me prevenil-o de que o trabalho de declarar, e modificar o Re-
gulamento de 9 de Maio de 1842, será com urgência incumbido ás respectivas
Secções do Conselho de Estado, sendo para desejar que Vm. me transmitia
quaesquer informações, o esclarecimentos, que tenha, e que por ventura lho
pareçam úteis.
Deus Guarde á Vm.— Antônio Paulino Limpo de Abreu.—Sr. Juiz de Di-
reito da l . a V a r a Crime da Corte.
CONSULTAS

TIA

SECÇÃO DE JUSTIÇA DO CONSELHO DE ESTADO

1846.

R e s o l u ç ã o de %£> de .Sun lio de 1 6 4 6 .

Sobre a contagem do quatriennio dos Juizes Municipaes e subs-


tituição dos mesmos, quando não forem reconduzidos.

Senhor.—Por Aviso datado de 9 de Maio deste anno


Mandou o Governo de Vossa Magestade Imperial que a
Secção de Justiça do Conselho de Estado interpozesse seu
parecer sobre o contexto de três quesitos formulados em
vista de dous officios, um do Presidente da Provincia das
Alagoas, com data de 23 de Março, outro do da Provincia
de Pernambuco de 17 de Abril deste mesmo anno.
Os quesitos são os seguintes :
1." Se os quatro annos de exercício dos Juizes Municipaes
devem ser contados do dia da posse, em conseqüência da
Carta Imperial da sua nomeação, ou se daquelle em que o
Juiz tiver entrado no exercício do seu cargo, em virtude
de nomeação interina dos Presidentes das Províncias.
— 166 —
2. Se taes Juizes, tendo completado os quatro annos,
devem continuar a exercer os seus respectivos lugares,
ainda quando não tenham sido nos mesmos reconduzidos ;
ou se devem ser logo substituídos pelos Supplentes.
3.° Se os quatro annos, que a Lei marca para o exercício
dos lugares de'Juizes Municipaes, devem ser contados se-
guidamente, ainda no caso de terem sido os ditos Juizes
removidos de uns para outros lugares, ou se, verificada a
remoção, deve o prazo continuar a contar-se do dia em
que o Juiz tiver entrado no exercício do novo lugar
Por Aviso de 15 de Junho corrente foi remetlido á Sficção
um officio do Presidente da Provincia de Minas Geraes,
datado de 30 de Maio do presente anno, no qual o mesmo
Presidente participa haver-lhe consultado o Bacharel Pedro
Caetano Sanches de Moura, Juiz Municipal e de Orphãos do
Termo da cidade do Serro, se devia contar-se oquadriennio
de sua jurisdicção do dia, em que tomou posse do lugar
por nomeação interina da Presidência, ou se da data da
Carta imperial, que depois o nomeara. E Ordenou Vossa
Magestade Imperial que a Secção tivesse em vista o conteúdo
neste officio, quando houvesse de consultar sobre objecto
idêntico contido nos mencionados quesitos.
A Secção, tendo confrontado os referidos quesitos com a
Lei de 3 de Dezemhro de 1841, e com os Regulamentos
n.' 120 de 31 de Janeiro de 1842, e n." 122 de 2 de Fevereiro
do mesmo anno, entende, quanto ao primeiro, que seria
mais conforme com o espirito da dita Lei, e com a dispo-
sição do art. 10 do ultimo Regulamento citado, que o
quadriennio da jurisdicção dos Juizes Municipaes se contasse
do dia em que elles entrassem em exercício, em conseqüência
de nomeação feita por Vossa Magestade Imperial, por ser
esta a nomeação definitiva, e não ter a que o mesmo Regu-
lamento permittiu aos Presidentes fazerem, senão o caracter
de provisória, que nenhum direito dá ao nomeado a ser
confirmado no lugar.
Entretanto, não havendo, nem na Lei. nem nos Regula-
mentos, nenhuma disposição explicita a semelhante res-
peito ; e tendo já o Q-overno de Vossa Magestade Imperial,
— 167 -
por officio da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça
de 10 de Julho de 1844, dirigido ao Presidente daProvidcia
de Minas Geraes, resolvido o contrario, ordenando que o
quadriennio da jurisdicção dos Juizes Municipaes fosse
contado do dia em. que tivessem entrado em exercício
cifoctivo, em conseqüência da primeira posse, verificada
cm virtude de nomeação dos Presidentes; parece ã Secção
que essa resolução poderá ser mantida como regra, para se
contar o quadriennio daquelles Juizes Municipaes, que,
sendo primeiramente nemeados pelos Presidentes das Pro-
víncias, tomaram posse dos lugares em virtude de taes
nomeações, e foram depois nelles mesmos confirmados por
Decreto e Carta Imperial.
Pelo que toca ao segundo quesito, a Secção não encontra
nem na Lei de 3 de Dezembro de 1841, nem nos Regula-
mentos, que a completaram, artigo algum, que autorizo aos
JuizesMunicipaes, que tiverem concluído os quatro annos,
a continuar a exercer os seus respectivos lugares, quando
não tenham sido nos mesmos reconduzidos.
Parece, pois, á Secção, que, emquanto não forem addicio-
nados os Regulamentos com algumas regras, que julga
convenientes a este respeito, os referidos Juizes, comple-
tados os quatro annos, devem ser substituídos pelos Sup-
plentes.
Esta doutrina, que a Secção julga de conformidade com
a letra da Lei e dos Regulamentos, não parece conforme
om o seu espirito, e menos com a conveniência publica.
A Lei é os Regulamentos querem que em todos os Termos,
áexcepção dos insignificantes e pouco populosos, haja Juizes
Municipaes Bacharéis formados, nomeados pelo Governo
Imperial; e é só nesses Municípios insignificantes, e para
s casos de impedimento, que se nomeam os Supplentes, de
que trata o art. 19.
Consequentemente, pareceria de muita conformidade qual-
quer providencia, que se tomasse, para que os Juizes Muni-
cipaes continuassem a exercer sua jurisdicção, ainda findo
o quadriennio, se o Governo Imperial não tivesse expressa-
mente deliberado 0 contrario, Esta providencia seria con-
— 168 —
forme com a utilidade publica, e com o que se observava
com os antigos Juizes de Fora.
A sorte dos Juizes Municipaes é, já muito precária; a
qualidade de Bacharel formado, e a pratica, que a Lei exige,
não se adquirem sem grandes esforços e multiplicadas des-
pejas. No entanto, sendo o máximo dos seus ordenados a
quantia de quatrocentos mil réis, e não podendo os emolu-
mentos na maior parte dos lugares elevar-se a igual.quantia,
será iniqüidade obrigar-se aos Juizes Municipaes a vir á
Corte solicitar novos lugares, desde que finda o seu qua-
driennio. Os Juizes de Fora, posto que fossem nomeados por
três annos, comtudo, continuavam no exercício de sua ju-
risdicção, ainda findo esse tempo, por força da cláusula, que
sempre.se inseria em suas cartas, que os autorizava a servir
pelos três annos, e emquanto se não mandasse o contrario.
O Governo de Vossa Magestade Imperial, pelo Regula-
mento n. 120 de 31 de Janeiro de 1842 e seus arts.'37, 38
e 39, estabeleceu differentes providencias para obter in-
formações do bom ou máo serviço dos Juizes Municipaes.
Consequentemente, o Governo Imperial, ainda findo o
quadriennio, se deve considerar habilitado a julgar se os
Juizes Municipaes devem ser reconduzidos nos lugares,
melhorados, e promovidos, ou se devem ser dispensados
do serviço. E, assim, nenhuma inconveniência haveria
em se inserir nas cartas dos Juizes Municipaes a mesma
cláusula contida nas dos Juizes de Fora.
Se o Governo Imperial assim o julgasse conveniente,
seria necessário addicionar os Regulamentos respectivos
com as seguintes regras :
Primeira.— Nas Cartas dos Juizes Municipaes, que forem
nomeados pelo Governo Imperial em virtude da Lei de 31
de Janeiro de 1842, se fará expressa menção de que deverão
servir seus lugares por quatro annos e pelo mais tempo que
decorrer, emquanto o mesmo Governo não houver mandado
o contrario.
Segunda. —Se o Governo Imperial, durante os primeiros
seis mezes, que se seguirem á data, em que tiver findado
a posse do Juiz Municipal, não deliberar expressamente
— 169 —
sobre sua dispensa do serviço, entender-se-ha que foi
reconduzido- para effeito de dever servir outros quatro
annos, e não poder deixar o lugar durante esse espaço, salvo
nos casos do art. 36 do Regulamento n.° 120 de 31 de Ja-
neiro de 1842.
Pelo que toca ao terceiro quesito, entende a Secção que
as remoções dadas aos Juizes Municipaes, sem requerimento
seu, antes de haverem completado o quadriennio para que
foram nomeados, são factos que os "Governos de Vossa Ma-
gestade Imperial têm procurado justificar com motivos e
razões políticas. Taes remoções não têm seu fundamento
nem na Lei nem nos Regulamentos, que ora se acham em
vigor Sendo assim, parece á Secção que a remoção é uma
novano'meação, e que o Juiz Municipal, que houver aceitado
essa nova nomeação, tem direito a servir e a ser conservado
nesse lugar pelo espaço dos quatro annos, que devem ser
contados da sua posse com effectivo exercício no mesmo
lugar.
Tal é o parecer da Secção : — Vossa Magestade Imperial
deliberará o que fôr servido.
Paço em 22 de Junho de 1846.— Honorio Hermeto Car-
neiro Leão.—Bernardo Pereira de Vasconcellos.—Caetano
Maria Lopes Gama.
RESOLUÇÃO.

Como parece ao i.° e 3. quesitos.


Paço, 25 de Junho de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador
1
José Joaquim Fernandes Torres. (')

(') Expediu-se o seguinte Aviso:


Rio de Janeiro, Ministério dos Negócios da Justiça em 27 de Junho
de 1846.
Illm. e Exm. Sr. —Tendo sido mandada consultar, por Aviso de 9
de Maio deste anno, a Secção de Justiça do Conselho de Estado, sobre
os dous seguintes quesitos: 1.°, se os quatro annos de exercício dos
Juizes Municipaes devem ser contados do dia da posse, em conseqüência
da Carta Imperial da sua nomeação, ou daqueiie em que o Juiz tiver
entrado no exercício do seu cargo, em virtude de nomeação interina
c. i. 22.
— 170 —
R e s o l u ç ã o d e <5t d e Jfsilljo d e 1 8 4 © .
Sobre a revogação de um Alvará que conferiu a Joaquim José Pereira
dos Santos a serventia vitalícia do Officio do Tabellião de Notas da
capital de Pernambuco.

Senhor.— A Secção de Justiça do Conselho de Estado em


cumprimento dos Avisos de 20 e 23 de Setembro próximo
passado, examinou as duas representações que os acompa-
nharam, e vem interpor seu parecer a respeito.

dos Presidentes de Provincia : 2.°, se taes Juizes, tendo completado os


quatro annos. devem continuar a exercer os seus respectivos lugares,
ainda quando' não tenham sido nos mesmos reconduzidos, ou se devem
ser logo substituídos pelos supplentes: Houve Sua Magestade o Impera-
dor por bem, por Sua Immediata Resolução de 25 do corrente mez, Con-
formar-se com o parecer qne sobre esta°materia deu a referida Secção,
o qual é do teor seguinte : Quanto ao 1.° quesito, entende a Secção
que seria mais conforme com o espirito da Lei de 3 de Dezembro*de
1841, e com a disposição do art. 10 do Regulamento n_.° 122 de 2 de
Fevereiro de 1842, que o quadriennio da jurisdicção dos Juizes
Municipaes se contasse do dia em que elles entrassem em exercício,
em conseqüência de nomeação feita pelo Governo Imperial, por ser
a nomeação definitiva, e não ter aquellaque o citado Regulamento
permittiú aos Presidentes fazerem, senão o caracter de provisória,
que nenhum direito dá ao nomeado para ser confirmado no lugar.
Entretanto, não havendo, nem na Lei, nem nos Regulamentos,
nenhuma disposição explicita a semelhante respeito; e tendo já o
Governo, por Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça
de ÍO de Julho de 1844, dirigido ao Presidente da Provincia de Minas
Geraes, resolvido o contrario, ordenando que o quadriennio da juris-
dicção dos Juizes Municipaes, fosse contado do dia em qüe tivessem
entrado em exercício eífectivo, em conseqüência da primeira po;se
verificada em virtude de nomeação dos Presidentes, parece á Secção
que essa resolução poderá ser mantida como regra para se contar o
quadriennio daquelles Juizes Municipaes que, sendo primeiramente
nomeados pelos Presidentes das Províncias, tomaram posse dos luga-
res em virtude de taes nomeações,e foram depois nelles confirmados,
por Decreto e Carta Imperial. Pelo que toca ao 2.° quesito, não
encontra a Secção, nem na Lei de 3 de Dezembro de 1841, nem nos
Regulamentos que a completaram, artigo algum que autorize os
Juizes Municipaes que tiverem concluído os quatro annos, a conti-
nuara exercer os seus respectivos lugares, ainda quando não tenham
sido nos mesmos reconduzidos.
Parece, pois, á Secção que, em quanto não forem addicionados os
Regulameníos, com algumas regras que julga conveniente a este
respeito, devem os referidos Juizes, no fim dos quatro annos, serem
substituídos pelos Supplentes. ü que de Ordem do Mesmo Augusto
Senhor, communico a V. Ex., para seu conhecimento e governo.
Deus Guarde á V. Ex.— José Joaquim Fernandes Torres. —Sr. Vice-
Presidente da Provincia do Rio de Janeiro.
As Cartas dos Magistrados, Chefes de Policia e Serventuários de
Officios de Justiça, ficarão substituídas pelos respectivos Decretos de
nomeação, na conformidade do art. 5b do Decreto n.° 4159 de 22 de
Abril de 1868.
— £ 7 1 —•

A 1." representação fizeram subirá Presença de Vossa


Magestade Imperial, os Tabelliães de Notas do Termo da ci-
dade do Recife de Pernambuco, com o fim de pedirem a
revogação do Alvará de 12 de Maio do corrente anno, na
parte em que conferiu a Joaquim José Pereira dos Santos,
a serventia vitalícia de Tabellião de Notas da cidade do Re-
cife, em prejuízo dos supplicantes.
A 2." representação é do referido Joaquim José Pereira
dos Santos, que sendo suspenso do exercício de Tabellião de
Notas por deliberação do Presidente, pretende entrar nesse
exercício, allegando que o Officio de Notas deve estar an-
nexo ao de Escrivão do Civel e Crime em que foi provido.
O Presidente da Provincia de Pernambuco, o da Relação
da dita Provincia e o Chefe de Policia, informam em, favor
dos primeiros supplicantes, e com estas opiniões concorda a
do Desembargador Procurador interino da Coroa, Soberania
e Fazenda Nacional.
A Secção tendo pesado as allegações de uns e outros sup-
plicantes, entende que a organização dos Officios de Justiça
da cidade do Recife feita pelo Presidente da Provincia, deve
continuar a ser observada, como já foi ordenado por Avisos
expedidos ao mesmo Presidente de Pernambuco em 17 de
Outubro de 1843 e 23 de Janeiro de 1844.
Esta organização foi feita em virtude da Resolução da
Assembléa Provincial; e semelhante Resolução não ofíen-
dendo em cousa algura a natureza e attribuições dos Offi-
cios de Justiça, podendo-se asseverar que versa unicamente
sobre o numero dos Empregados; pois que em virtude
delia não fez o Presidente outra cousa mais que separar os
Officios de Notas, dos do Civel, e dos do Crime ; parece in-
teiramente conforme com o Acto Addicional, e com a Lei
de sua interpretação datada de 12 de Maio de 1840.
Em vista do exposto parece que, achando-se providos todos
os Officios de Tabelliães de Notas da cidade do Recife, não
podia uma nova Mercê de tal officio ser conferida ao se-
gundo supplicante: provável é que a intenção de Vossa
Magestade Imperial não fosse senão conferir-lhe vitalicia-
mente a Mercê do Officio de Escrivão do Civel, único que
— 172 —•

se achava vago, e que o dito supplicante já exercia interi-


namente.
Parece, pois, á Secção que a i . 1 representação é fundada
em justiça, eque em deferimento delia deve ser mantida a
suspensão do Alvará na parte que affecta ao direito dos sup-
plicantes, cassando-se ou declarando-se por Decreto o dito
Alvará.
Esta é a opinião da Secção : Vossa Magestade Imperial
Mandará e Resolverá o que fôr mais justo.
Paço em 7 de Outubro de 1845.— Honorio Hermeto Car-
neiro Leão. — Caetano Maria Lopes Gama.— Bispo d'Ane-
muria .
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 4 de Julho de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador
José Joaquim Fernandes Torres.

R e s o l u ç ã o d e 4 d e «SmSho d e 1 8 4 6 ,

Sobre casamento de orphãos sem a licença do respectivo Juiz.

Senhor — Em officio de 22 de Outubro findo elevou o


Presidente da Provincia de S. Paulo ao Augusto Conheci-
mento de Vossa Magestade Imperial o protesto ou represen-
tação, que o Juiz de Orphãos da cidade de Itú, da mesma
Provincia, fez contra a Justiça Ecclesiastica da cidade de
S. Paulo, por ter mandado casar um orphão, sem inter-
venção do mesmo Juiz.
Abstrahindo do facto particular, e de todas as suas cir-
cumstancias, que motivaram o protesto, por desnecessárias
ao seu propósito, a Secção se persuade que desempenhará a
- 173 —

incumbência com que Vossa Magestade Imperial a Honrou,


por Aviso de 5 do corrente mez, consultando se as Leis
Pátrias exigem para o casamento do orphão, além do con-
sentimento dos tutores ou curadores, a intervenção do Juiz
dos Orphãos.
E' para deplorar que, sendo o casamento um dos actos
que maior influencia exercem no bem-estar c prosperidade
das famílias, possa ser contraindo em uma idade, em que
nem sempre a razão e a prudência prevalecem contra as
paixões.
Dahi esse considerável numero de uniões desgraçadas
que amarguram a existência dos esposos, e que, as mais
das vezes, só com a morte terminam.
Mui solícitos têm sido os Legisladores Pátrios em precau-
ções contra estas deploráveis occurrencias ; mas, além de
que nem sempre podem ser estas evitadas, nem todos a
quem incumbe a execução daquellas põem o devido cuidado
para que surtam o desejado effeito.
A Ordenação do Reino de Portugal não permilte o casa-
mento do menor sem consentimento de seus pais, e o dos
orphãos precisa da autoridade do Juiz competente. Não
obstante esta Legislação, a cada passo recebem os Ecclesias-
ticos em matrimônio a menores e orphãos, sem que estejam
habilitados na fôrma sobredita, o que tem excitado não
poucos clamores. E porque lão transcendente objecto não
pôde deixar de merecer a attenção de Vossa Magestade Im-
perial, ,muito conviria indagar os motivos de tal usança, e
se são insuficientes para evital-o as penas do art. 247 do
Código Criminal, a fim de que medidas mais apropriadas
sejam por Vossa Magestade Imperial empregadas.
Sem embargo das diligencias feitas pelo dito Juiz de Or-
phãos, para que se não effectuassse o casamento de um
orphão da sua jurisdicção, tanto por desigual, como por não
ter precedido licença sua, o Vigário Geral de S. Paulo não
julgou necessária sua autorização, nem desigual o casa-
mento, e foi este realizado. Sem duvida que a igualdade
ou desigualdade dos casamentos, tanto no que respeita ás
pessoas, como no concernente ás posses, entra na alçada do
— 174 —

Juiz dos Orphãos, e incompetentemente interveiu neste


julgamento o sobredito Vigário.
Não disputa o Vigário Geral ao Juiz de Orphãos a neces-
sidade de sua intervenção para o casamento dos menores,
mas a considerou dispensável no caso que faz ò objecto da
representação sobre que consulta a Secção, por ter havido
o consentimento da mãi. E' opinião deste Ecclesiastico, —
que a Lei de 29 de Novembro de 1775, Dera como a de 6 do
Outubro de 1784, e Ord. do Liv. 4 / Tit. 88 § 1.° se con-
tentam para o casamento db menor ou orphão com o con-
sentimento de mãi; e em seu abono invoca a pratica do
Juizo de S. Paulo e ítú.
Esta opinião e prática (se é que existe) tém a seu favor a
legislação de alguns Paizes, que não deriva o pátrio poder
da mesma origem que a nossa.
Adoptando quasi todas as disposições das Leis Romanas
sobre esta matcria, não podia a Ord. conferir á mãi, incla
tutora, os mesmos direitos sobre seus filhos, que aos pais
concedeu. Daqui vsm que, bastando por este nosso dire;lo
o consentimento do pai para o casamento do filho, o da
mãi, ainda que tutora, o não habilita para tal acto, sem que
intervenha a autoridade do Juiz de Orphãos.
Não desconhece a Secção quão intenso seja o amor da mãi
a seus filhos, e que, se não superior, é pelo menos igual ao
que o pai lhes vota. Esta consideração tem pesado tanto no
espirito de alguns Legisladores modernos, que não têm
hesitado em exigir para o casamento do menor o consenti-
mento do pai e mãi, e em se contentar com o desta, quando
viuva. E bem que a Secção tribute o devido respeito á sa-
bedoria destes Legisladores, dá preferencia á disposição das
Leis Pátrias.
Ella reconhece na mãi, se não maior, igual amor ao que
o p:,i tem a seus filhos ; mas as considera de uma razão mais
débil, e, por seu sexo, menos fraquejada nos negócios da
vida humana ; sendo por isso mais sujeita a erros peri-
gosos. E', pois, a Secção de parecer que o consentimento
da mãi, ainda quando tutora de seus filhos, não ésufficientc
para os habilitar a contrahirem matrimônio; e que, por
- 175 -
conseguinte, os Ecclesiasticos que dispensam a licença do
Juiz competente, não ficam isentos das penas do art. 247 do
Cod. Crim.
Se a Secção assim pensa do consentimento da mãi, não
pode ter diversa opinião a respeito do dos tutores ou cura-
dores. Estes,, as mais das vezes, por estranhos ás famílias
dos menores, não offerecem a garantia de tanto interesse
pelo seu bem-estar como as mais. E não poucos tutores
haverá que, por próprio interesse, por peita, ou ppr con-
templação promovam casamentos de seus pupillos, ou os
impeçam com grave detrimento delles.
Nem todos os tutores terão a coragem de contrariarpo-
derosos e influentes interessados em promover ou oppòr-se
a taes casamentos ; prestando-se a elles, podem lucrar van-
tagens e augmentar a fortuna de suas famílias, procurando
effeclual-os com pessoas dellas.
Não se esconde á Secção o que dispõem as Leis de 19 de Ju-
nho e 29 de Novembro de 1775, e a de 6 de Outubro de 1784,
e as opiniões de abalisados autores, que, fundando-se nellas
julgam desnecessária a licença do Juiz de Orphãos, quando
existe a da mãi, ou a dos tutores ou curadores. As leis men-
cionadas, não tendo revogado a Ord., nem derivado o pátrio
poder de origem diversa da que lhe deu a Ord., não devem
ser entendidas como derogatorias delia; ao menos neste
sentido têm sido observadas na maior parte do Império.
Demais, a opinião pubiica, entre nós, se tem pronunciado
contra esses casamentos, frueto de ailiciações, fraudes e
paixões desordenadas, que têm sempre em resultado a in-
felicidade dos cônjuges e a perturbação da harmonia e paz
das famílias.
Parece, pois, á Secção que Vossa Magestade Imperial Deve
declarar ao Presidente da Provincia de S. Paulo, que é
necessário licença do Juiz de Orphãos para o casamento
dos orphãos, ainda que o haja da mãi, quer se conserve
viuva, quer passe a segundas nupeias, ou seja delles tutora ;
c outrosim, qne não é da competência do Juizo Ecclesias-
tico conhecer das vantagens ou desvantagens dos casa-
mentos dos menores.
— 176 -
Permitta Vossa Mageslade Imperial que a Secção proponha
duas providencias, que no seu conceito hão de contribuir
para a prompta decisão das duvidas, e representações que
subirem ao Seu Augusto Conhecimento. Qualquer autori-
dade se reputa com direito de se entender directamenle
com o Governo Imperial; e ainda quando o faça pelo in-
termédio do Presidente da respectiva Provincia, nem sem-
pre vem acompanhada dos documentos, informações e
outros esclarecimentos que podem concorrer para que seja
breve e acertadamente respondido. Este importante resul-
tado será conseguido, no conceito da Secção, fazendo-se
extensiva á correspondência de todas as autoridades, e sobre
qualquer matéria, a providencia dos arts. 495, 496, 497 c
498 do Regulamento n. 120 do 31 de Janeiro de 1842.
A outra medida, de que a-Secção espera colher não pe-
quena vantagem para os seus trabalhos e para o melhor
andamento das Secretarias cie Estado, consiste em não su-
birem ao Governo Imperial, nem serem mandados ás Sec-
ções,— officios, representações e outros papeis, antes que
sejam extractados, não pela ordem cbronologica, mas pela
natural das idéas ou oceurrencias. O que a Secção propõe,
c o que outr'ora se observava" imprelerivelmente nas Se-
cretarias, e cujo desuso não descobre a Secção os motivos
que o justifiquem.
E' próprio das Secretarias colligir e dispor os papeis que
têm de ser conhecidos e resolvidos pelo Governo Impe-
rial ; e esta collecção e disposição pôde ser perfeita só
quando fôr feito o extracto na fôrma indicada : é neste
trabalho que o Official da Secretaria observará as faltas
que existem, e procurará suppril-as, poupando assim es-
cusado trabalho ás Secções do Conselho de Estado, e acce-
lerando as consultas, donde resultará incontestável van-
tagem ao serviço nacional.
Digne-se Vossa Magestade Imperial Acolher este parecer
com Sua costumada Indulgência.
Paço em 24 de Dezembro de 1845. — Bernardo Pereira
de Vasconcellos.— Caetano Maria Lopes Gama.—Bispo de
Anemuria.
— 177 —

RESOLUÇÃO.

Gomo parece.

Paço, 4 de Julho de 1846.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.


m

José Joaquim Fernandes Torres. (*)

(*) Expediu-se o seguinte Aviso :


Rio de Janeiro, Ministério dos Negócios da Justiça, em 18 de Julho
de 18Í6.— Illm. e Exm. Sr.— Tendo sido mandada ouvir a Secção
de Justiça do Conselho de Estado, sobre a representação, que V. Ex.
transmittiu a esta Secretaria de Estado, com o seu 'officio de 22 de
Outubro ultimo feita pelo Juiz de Orphãos da cidade de Itú, con-
tra a Justiça Ecclesiastica dessa capital, por ter mandado casar
um orphão*sem intervenção daqueile Juiz, Houve Sua Magestade o
Imperador por bem, por Sua Immediata Resolução de 4. do corrente
mez, Conformar-se com o parecer da referida Secção, e Manda, por
tanto, declarar a V. Ex., que para verificar-se o "casamento dos or-
phãos, 6 necessária a licença do Juizo dos Orphãos, ainda que a
haja da mãi, qu.ér esta se "conserve viuva, quer passe a segundas
nupcias, ou seja delles tutora : e outrosim, que nao é da com-
petência do Juizo Ecclesiastico conhecer das vantagens ou des-
vantagens dos casamentos dos menores.
Deus Guarde a V. Ex.—José Joaquim Fernandes "Torre*.—Sr. Pre-
sidente da Provincia de S. Paulo.
0 Aviso n.° 271 de 16 de Dezembro de 1852 declara que, em regra
geral, deve ser denegada a entrega de bens á orphãos que se casam
sem licença, mas que aos maridos das orphãs casadas sem licença,
póde-se fazer essa entrega, justificando elles a necessária capaci-
dade e merecendo por sua probidade e boa conducta essa concessão.-
O de n.° 332 de 13 de Novembro de 1838 dispõe que os Parochos não
podem receber em matrimônio orphãos menores sem prévia licença
do respectivo Juiz.
Ode n.°312 de 20 de Outubro de 1839 determina que a menor
filha de pai incógnito, e que tem mai viva não pode casar-se sem
licença do Juiz.
O den.° 88 de 23 de Março de 1868 declara que deve ser punido
com as penas do art. 247 do Cod. Crim. o Parocho, que receber em
casamento orphãos de qualquer espécie, sem licença do Juiz.
O de n.°289 de 5 de Agosto do mesmo anno explica os Avisos, já
citados, de 13 de Novembro de 4838 e 23 de Março de 1868, e diz que
entre elles nao ha contradicção.
Oden.°470 de 16 de Outubro de 1869 declara que as referidas
disposições são extensivas aos orphãos indigentes.
Hoje," pela Lei n.» 2033 de 20 de Setembro de 1871, art. Si § 1. ,e
Decreto n.°5't67 de 12 de Novembro de 1873, art. 4.° §6.Via con-
cessão ou denegação de tal licença compete exclusivamente ao Juiz
de Direito.
Aviso n. c 465 de 27 de Outubro de 1875.
c. J. 23
— 178 —

ftesolução d e 4í d e «SulSics d o 1 8 - £ 6 .

Sobre emolumentos de estada aos Juizes e Escrivães.

Senhor.—Em observância do Aviso de 8 de Novembro do


corrente anno, vem a Secção dos Negócios da Justiça apre-
sentar o seu parecer acerca da intelligencia do Alvará de
10 de Outubro de 1754, na parte relativa a aiarias ou estadas
dos Juizes e Escrivães. Consta de vários documentos que
acompanharam o officio do Presidente de S. Paulo de 5 de
Setembro, e do Vigário Geral daquelle Bispado de 25 de
Outubro, ambos do corrente anno, que admittido no Juizo
Ecclesiastíco Contencioso e Gamara Episcopal de S. Paulo o
Alvará de 10 de Outubro de 1754, que marcou os salários e
custas judiciaes para o foro secular nos districtos de Minas,
nunca foram contadas diárias ou estadas aos Juizes, se não
no caso desahirem fora cia terra a vistorias, posses, exames,
e-mais diligencias ; e bem assim nem aos Escrivães e Tabel-
liães, unia vez que não sahirem a praticar diligencias fora
da cidade ou villa em que residirem. Não obstante esta
pratica, fundada na letra do alvará citado, introduziu-se,
ha Ires annos, em alguns JUÍZOS Seculares daquella Pro-
vincia o estylo de vencerem os Juizes, Escrivães e Tabelliães
estadas de todos os actos que praticam dentro das villas e
cidades, não sendo em seus cartórios, que não só dos de
fora da terra. E para cessar esta divergência pede o dito
Vigário Geral decisão sobre os três seguintes quesitos: —
1." Se devem os Juizes levar o vencimento de estada dos
actos de vistorias, posses, exames, inquirições e outras
diligencias a que procederem dentro ou fora da terra em
que residirem; 2.° Se o mesmo vencimento compele aos
Escrivães pelas mesmas diligencias, ou sejam feitas dentro
da terra, ou fora delia indistinctamente; 3.° Se, nos casos
em que os Escrivães vencem estada, deve esta contar-se de
todo o tempo da duração do acto, ou somente do tempo em
que estiverem impedidos de trabalhar por motivos justos,
em que não tenham parte.—Pensa a Secção que aos Juizes
só compete o vencimento de estada, quando sahirem fora
• — 179 -
da terra de sua residência, na fôrma do Alvará de 10 de
Outubro de 1754; quanto ao segundo quesito, que os Escri-
vães só podem receber estada nos casos expressos no mesmo
Alvará; e pelo que respeita ao terceiro quesito, a estada só
deve contar-se pelo tempo que durar a diligencia, e quando
haja arguição de desnecessária demora o Juiz resolverá.—
A' Secção parece conveniente que se recommende aos Pre-
sidentes das Províncias a exacta observância do citado al-
vará, não só na parte relativa ás diárias ou estadas referidas,
mas em todas as outras suas disposições, que não estiverem
alteradas por lei, emquanto o Governo Imperial não adoptar
medidas que melhor conciliemos interesses das partes com
os dos empregados de Justiça.— E' este o parecer da Secção,
que Vossa Magestade Imperial Se dignará acolher com Sua
costumada indulgência.
Paço em 24 de Dezembro de 1845.— Bernardo Pereira de
Vasconcellos.— Caetano Maria Lopes Gama.—- Bispo de Ane-
muria.
RESOLUÇÃO.

Gomo parece.
Paço, 4 de Julho de 1846,
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
José Joaquim Fernandes Torres. (*)

(*) Expediu-se o seguinte Aviso :


Rio de Janeiro.— Ministério dos Negócios da Justiça em 8 de Julho
de 1846 — Illm. e Exm. Sr.— Em resposta ao officio n.° 58, de 17 de
Junho do anno pretérito, no qual V. Ex. , referindo-se ao que, com
dita de 17 de Fevereiro, lhe dirigirão Vigário Geral desse Bispado,
acerca da maneira de contarem-se no Juízo os salários de estada ou
iusta demora, á face do Alvará de 10 de Outubro de 1754, pede, sobre
este objecto, os necessários esclarecimentos; tenho de communicar
a V Ex para seu conhecimento, e para que o faça constar ao mesmo
Vieario Geral que, sendo mandada consultar, sobre a matéria de
mie tratam os ditos officios, a Secção de Justiça do Conselho de Estado,
Houve Sua Magestade o Imperador por bem, por Sua Immediata Reso-
ção de 4 do corrente mez, Conformar-se com o parecer da referida
Secção, o qual é do theor seguinte:
__ 180 —
faeaolução d e S d e «Solho d e 1@4L©.
Sobre o requerimento em que o Juiz de Direito Ângelo Muniz da
Silva Ferraz pediu pagamento de seu ordenado durante um período,
no qual não serviu o lugar.
Senhor.— As Secções reunidas do Conselho de Estado,
encarregadas de consultar sobre os Negócios da Justiça, do
Império e da Fazenda, cm cumprimente do Aviso de 20
de Novembro de 1845 têm a honra de apresentar o parecer
de sua maioria, sobre o requerimento documentado do Juiz
de.Direito da 1. Vara desta Corte, Ângelo Muniz da Silva
Ferraz, no qual pede o pagamento do ordenado de seu
lugar desde 15 de Julho até o ultimo de Dezembro de 1844,
não obstante não o ter servido durante esse tempo pelos
motivos seguintes:
O supplicante era Juiz dos Feitos da Fazenda na Provincia
da Bahia, donde foi removido para o dito lugar desta
Corte; remoção que lhe foi communicada no dia 15 de
Julho de 1844 pelo seu suecessor, aquém entregou imme-
dialamente a Vara do Juiz dos Feitos, e cuidando logo em
tirar a carta do seu novo lugar, tomou delle posse por pro-
curador e transportou-se para esta Corte, onde chegou a
24 de Dezembro do mesmo anno, mas não pôde entrar no
exercício de suas funcções judiciarias por ter de exercer
as de -Deputado.
O Desembargador Procurador da Coroa, Soberania e
Fazenda é de parecer que não pôde ser attendida a pretenção

l.« Que aos Juizes só compete o vencimento de estada, quando sa-


hirem da terra de sua residência, na fôrma do citado Alvará de 10 de
Outubro de 1754.
2.° Que os Escrivães só podem receber estada, nos casos expressos
no mesmo alvará.
3.° Que a estada só deve contar-se pelo tempo que durar a dili-
gencia ; e que, no caso de haver arguição de desnecessária demora,
ao Juiz compete resolver.
Deus Guarde a V. Ex.— José Joaquim Fernandes Torres.— Sr. Presi-
dente da Provincia de S. Paulo.
O Alvará de 10 de Outubro cie 1734 foi revogado pelo Decreto
n.° 1569 de 3 de Março de 1855. Mais tarde o de n.° 5737 de 2 de Se-
tembro de 1874 approvou o novo regimento de custas; e ultimamente
este regimento ainda foi alterado pelo Decreto n.° 5902 de 24 de Abril
de 1875.
— 181 —
do supplicante por ter contra si a pratica observada com
todos os outros Magistrados em idênticas circumstancias,
pratica que elle entende ter sido approvada pela Lei de 18
de Setembro de 1845, providenciando no art. 40 quanto ao
futuro.
Pensa a maioria das Secções que essa Lei não fez mais
do que clesapprovar semelhante pratica, fundada cm mero
arbitrio, porque sendo os Juizes de Direito vitalicios pela
Constituição, as remoções que o Governo tem julgado con-
veniente decretai* não devem condemnal-os á privação dos
seus ordenados durante o tempo rasoavelmente preciso para
se mudarem de uns para outros lugares. Um semelhante
procedimento da parte do Governo converteria em castigo
uma medida que não é autorizada senão por bem do serviço
publico.
Parece, pois, á maioria das Secções que se deve praticar
com o supplicante, e com quaesquer outros Magistrados em
iguaes circumstancias o que em execução da Lei de 18
de Setembro de 1845 se houver de observar nos casos de
remoção. Não se dá assim effeito retroactivo á essa Lei :
ella não fez senão reconhecer o direito que Juizes vitalicios
têm aos seus ordenados, em quanto por facto próprio não
elevam perdel-os ; e sendo esse o seu objecto, ella abrange
necessariamente em sua disposição os casos que veiu reme-
diar, casos de sua natureza tão permanentes, como a lesão
que elles oceasionaram.
A maioria das Secções poderia chamar também em apoio
de sua opinião o que se observa com os empregados da
Fazenda e os Militares, quando são removidos, mas julga
bastante a sabia disposição da citada Lei de 18 de Setembro,
para ter por justa a pretenção do supplicante.
Os Conselheiros de Estado Visconde.de Olinda, Visconde
de Monte Alegre e Francisco de Paula Souza pensam dif-
ferentemente, concordando com a opinião do Desembargador
Procurador da Coroa : entendem elles que, por isso mesmo
que a Lei de 18 de Setembro de 1845 deu essa providencia
no art. 40 para o futuro, claro fica que ella não podia ter
lugar antes, acerescendo que ella dá como condição para
- 182 —

isso ter lugar a apresentação do Magistrado no seu novo


lugar dentro do prazo marcado em Lei, ou Decreto do Go-
verno ; e não havendo antes Lei -ou Decreto que marcasse
prazo relativamente á remoção de Juizes de Direito, segue-se
que não podia essa Lei ter em vista o passado, e por conse-
guinte ser applicavel para a decisão desta bypothese.
Além da pratica constante (com raras excepções) opposta
á pretenção do supplicante, pratica resultante da Lei de
4' de Outubro de 1831, existe ainda a Circular de 22 de
Janeiro de 1844, que oppõe-se à mesma pretenção, pois
determina positivamente, que não recebam ordenado os
Juizes de Direito removidos desde o momento em que
tiverem noticia da remoção, recebendo-o sim,ossubstitutos,
se não se tiverem apresentado os successores, exceptuando
unicamente os casos de licenças do Governo Imperial com
vencimento de ordenado: como poisa vista deste Regula-
mento do Governo se poderá entender que a Lei de 18 de
Setembro de 1845 deva ser entendida favoravelmente á
pretenção do supplicante?
E' pois, o voto dos ditos Conselheiros de Estado, que
não pôde ter lugar a pretenção do supplicante, nem outras
de igual natureza. E' este o parecer das Secções que
Vossa Magestade Imperial se dignará acolher com a sua
costumada Benignidade.
Rio de Janeiro em de Fevereiro de 1846. — Visconde
de Olinda. —Visconde de Monte Alegre.—José Cesario de Mi-
randa Ribeiro. —Caetano Marii Lopes Gama.—Francisco
de Paula Souza.—- Bernardo Pereira de Vasconcellos.

RESOLUÇÃO.

Como parece á minoria das Secções.

Rio, 8 de Julho de 1846.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

José Joaquim Fernandes Torres.


— 183 —
ü e s o l u ç â o da 1% de A g o s t o d e 1 8 4 6 .

Sobre a reclamação do Juiz de Orphãos da Corte para que seus


actos não ficassem sujeitos á correição do Juiz do Crime.

Senhor. — Por Aviso, datado de 10 de Janeiro do presente


anno Mandou Vossa Magestade Imperial que a Secção de
Justiça do Conselho de Estado interpozesse seu parecer
sobre o officio, que em 22 de Dezembro passado dirigiu á
respectiva Secretaria de Estado o Juiz de Orphãos desta
Corte, acerca do direito que, em virtude do titulo da sua
nomeação, julga elle ter para ser considerado como Pro-
vedor e Corregedor do seu Juízo.
Expõe' o referido Magistrado que mandara cumprir o
Aviso de 18 de Dezembro de 1845 (*), dirigido pela Secretaria
de Estado dos Negócios da Justiça ao Dr. Juiz de Direito da
i: Vara Crime, que lhe fora enviado por cópia; porém
que julgara dever trazer ao conhecimento do Governo Im-
perial os inconvenientes, que encontra na execução do dito
aviso: e passando a'ponderar esses inconvenientes, mos-
tra, com a cópia da sua Carta Imperial, que elle fora pro-
vido no lugar de Juiz de Orphãos desta Corte, para o servir
na conformidade do Decreto de 30 de Outubro de 1835, e
por isso que elle não pôde ser considerado na categoria
dos Juizes de Orphãos, de que trata o art. 117 da Lei de 3
de Dezembro de 1841; e que por conseqüência seus actos
não podem estar sujeitos á correição do Juiz do Crime, e
deve ser elle o Provedor e Corregedor do seu Juizo, como
o foram os seus predecessores.
Ouvido o Desembargador Procurador da Coroa, Sobera-
nia e Fazenda Nacional sobre o conteúdo neste officio, foi
elle de parecer que o Juiz de Orphãos do termo desta ci-
dade, á vista da carta da sua nomeação, estava na mesma
classe e razão dos actuaes Juizes do Civel; e por conseguinte
que a elle era extensiva a isenção da correição conferida
aquelles Juizes ; ficando comtudo sujeitos á ella os officiaes
do seu Juizo nos mesmos termos que o são os officiaes, que

(*) O Aviso citado se acha transcripto a pag. 163.


_ 184 —
servem perante os Juizes do Civel, na conformidade do
Decreto de 31 de Julho de 1845.
Não concordou, porém, o Procurador da Coroa em consi-
derar o actual Juiz de Orphãos como Corregedor do seu Juizo.
A Secção, tendo examinado esta matéria, julga que se
deve declarar a segunda parte do Aviso de 18 de Dezembro
de 1845, contra cuja execução representa o Juiz de Or-
phãos, de conformidade com a opinião expendida pelo
Desembargador Procurador da Coroa.
O actual Juiz de Orphãos, posto que nomeado no anno
de 1844, comtudo não pertence á classe dos Magistrados,
de que trata o art. 117 da Lei de 3 de Dezembro de 1841.
Estes Magistrados, posto quê escolhidos por Vossa Mages-
tade Imperial d'entre os Bacharéis formados, comtudo não
têm a categoria de Juizes de Direito, nem são perpétuos,
sendo nomeados por quatro annos, com ordenado, venci-
mento e categoria de Juizes Municipaes.
O actual Juiz de Orphãos foi nomeado para o lugar,
depois de ter servido dous lugares de Juiz de Direito,
sendo o ultimo o da comarca de Itaborahy. Conseguinte-
mente não podia ser rebaixado em sua categoria; e assim
o entendeu o Governo Imperial fazendo declarar em sua
carta que elle serviria o lugar em conformidade do Decreto
de 30 de Outubro de 1835; Decreto este que eleva os Juizes
de Orphãos da Corte á categoria de Juizes de Direito.
Sem duvida semelhante categoria deve um dia cessar ,
em execução do art. 117 da referida Lei de 1841;' mas para
ter isso lugar é necessário que pela promoção do Juiz de
Orphãos haja verdadeira vaga. A remoção, que o Governo'
de Vossa Magestade Imperial fez no anno de 1844 do Juiz
de Orphãos, que então servia na Corte, não dando vaga no
lugar, não podia permittir nomeação nos termos do art.
117 da Lei de 3 de Dezembro de 1841.
Tal é a opinião da Secção. Vossa Magestade Imperial
Mandará o que fôr servido.
Paço em 28 de Julho de 1846. — Caetano Maria Lopes
Gama. —Honorio Hermeto Carneiro Leão.—Bernardo Pe-
reira de Vasconcellos, vencido,
— 185 —

RESOLUÇÃO.

Como parece.

Paço, 12 de Agosto de 1846.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

José Joaquim Fernandes Torres. (*)

Resolução de 19 de Agosto de 1S4G.

Sobre a reclamação que, contra a disposição do art. 482 do Regu-


lamento n. c 120 de 31 de Janeiro de 1842, fizeram o 1.° e 2. Ta-
belliães de Notas e o Escuivão de Orphãos da cidade da Victoria.
Senhor. — Manda Vossa Magestade Imperial, por Aviso
de 14 de Julho do corrente anno, que a Secção do Conselho
de Estado dos Negócios da Justiça interponha o seu parecer
sobre o requerimento em que Manoel José de Noronha,
1. Tabellião do Publico, Judicial e Notas da cidade da
Victoria, José das Neves Rosa, 2. Tabellião do mesmo
Termo, e Marcellino da Silva Lima, Escrivão de Orphãos,
se queixam do prejuízo que lhes tem causado a disposição
do art. 482 do Regulamento n.° 120, de 31 de Janeiro
de 1842.
Determina esse artigo que, quando, em conformidade
dos arts. 20 e 31 da Lei de 3 de Dezembro de 1841, se
reunirem dous ou mais Termos, escrevam por distribuição
(cada um no seu ramo) perante o Juiz Municipal e de
Orphãos, todos os Escrivães que serviam perante os Juizes
Muuicipal e de Orphãos dos ditos Termos, quando separados.
" O Termo da cidade da Victoria tem dous Tabelliães e um
Escrivão de Orphãos; e o da villa do Espirito Santo,

(*) De conformidade com a Resolução expediu-se Aviso em 13 de


Agosto ao Juiz de Direito da L* Yara Crime.
c. J. Vk
— 186 —

reunido aquelle, tem, pela insignificancia de seus rendi-


mentos, um só Escrivão, que reúne, em um só officio, o
Tabelliado, o Judicial e os Orphãos. Ha.portanto quatro
Escrivães nos Termos r-eunidos.
Por virtude daquelle artigo "do Regulamento acima ci-
tado, a totalidade das escripturas ou notas dos dous Termos
reunidos deve ser distribuída em três partes; a do Judicial,
em Ires também, e a dos Orphãos em duas.
Assim cada um dos dous Tabelliães de Notas e Judicial
do Termo da Victoria vem a ter uma terça parte na distri-
buição das notas e do Judicial dos Termos reunidos; o
Escrivão do Termo do Espirito Santo vem a ter também
uma terça parte.
Ha perfeita igualdade quanto aos quinhões. Pelo que
toca aos Orphãos, todos os feitos que lhes pertencem devem
ser distribuídos em duas partes .iguaes, tocando uma ao
Escrivão de Orphãos da Victoria, e outra ao do Espirito
Santo. Ha também aqui igualdade, pelo Regulamento.
O Escrivão do Termo do Espirito Santo vem portanto a
ter um quinhão nas notas dos Termos reunidos, outro no
Judicial, e outro nos Orphãos. Não pôde portanto a Secção
comprehender o fundamento da. queixa, na parte em que
allega que esse Escrivão escreve em cinco Officios. Escreve
nos três que tinha, com quinhão igual aos que têm os
Tabelliães e Escrivães de Orphãos da Victoria.
A circumstancia de se acharem reunidos em um só in-
divíduo, no Termo do Espirito Santo, attenta a pequenhez
dos seus rendimentos, os três Officios de Tabelliães de Notas,
do Judicial,,de Escrivão de Orphãos, é antes favorável do
que prejudicial aos queixosos. Se esses Officios fossem
exercidos por dous ou três individuos, a distribuição faz-
se-hia em mais partes, e o quinhão dos queixosos seria
menor. A accumulação dos Officios compensa a mesquinhez
dos rendimentos de cada um separadamente.
Reunidos os Termos, na conformidade dos arts. 20 e 31
da Lei de 3 de Dezembro de 1841, ha um só Juizo, um só
foro. E' de razão que haja uma só distribuição, e igual.
Se a divisão dos Termos desappareco para todas os actos
- 187 —

judiciaes, porque ha de ser conservada somente na distri-


buição ?
A Lei teria feito desapparecer uma divisão judiciaria,
quanto á competência do Juiz ; e conservar-se-hia comtudo
essa divisão para a competencia'do Escrivão.
A Secção reconhece que, havendo Termos mais povoados,
e mais rendosos, e outros menos, pôde acontecer que a sua
reunião empeiore ou melhore mais ou menos a condição
deste ou daquelle Escrivão.
Pôde um, pela juncção dos Termos, peiorar quanto as
notas, e melhorar quanto ao Judicial, ou vice-versa.
Pôde peiorar na oceasião da juncção dos Termos, mas
melhorar dahi a tempos, segundo as alternativas do Foro.
Porém a legislação e as providencias geraes do Governo
não podem attender a tão variáveis e mudaveis circumstan-
cias,-nem descer á contagem dos feitos de cada Officio em
cada lugar.
Os Decretos do i.° de Março de 1833 e de 30 de Janeiro
de 1834, que marcaram o numero de Escrivães que devia
ter cada uma das villas creadas em execução do Código do
Processo, e regulavam a distribuição dos feitos entre elles,
não attenderam, nem podiam attender ás circumstancias
acima ponderadas. Os novos Termos foram desmembrados
de outros, e, com essas novas divisões, os Officios dos Es-
crivães existentes soffreram alterações.
0 argumento que os supplicantes pretendem deduzir da
lotação de seus Officios, não procede, porque esse facto não
pôde embaraçar o poder competente de fazer, nas divisões
judiciarias, e nos Officios de Justiça, aquellas alterações
que a conveniência do serviço publico exigir. O que dahi
se segue é que se deve mandar proceder á nova lotação
para regular o pagamento dos direitos para o futuro.
Pelas razões expostas, é a Secção de parecer que a pre-
tenção dos supplicantes não deve ser attendida.
A Secção todavia pede licença a Vossa Magestade Imperial
para suggerir ao Ministério um alvitre de que espera
vantagens ao serviço publico.
Em verdade a multiplicidade de Officios de Justiça, sem
- 188 —
que delles haja precisão, entre outros resultados dá o de se
abalançarem ao crime os que os exercem, a fim de obterem
meios de subsistência. Releva, pois, no conceito da Secção,
que os Mnistros de Vossa Magestade Imperial procurem
inteirar-se do numero de Escrivães que são necessários dos
auditórios da cidade cia Victoria, e que não proponham o
provimento dos que vagarem alli, emquanto o actual não
fôr reduzido ao indispensável.
Vossa Magestade Imperial, porém, Resolverá o que en-
tender mais justo.
Paço em de Agosto de 1846.— Bernardo Pereira de
Vasconcellos.—Caetano Maria Lopes Gama.—Honorio Hermeto
Carneiro Leão.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 16 de Agosto de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
José Joaquim Fernandes Torres.

R e s o l u ç ã o d e 1© d e A g o s t o d e 1 8 4 © .

Sobre precedência nos actos officiaes entre o Bispo e o Presidente da


Provincia de S. Paulo.
Senhor.— A Secção dos Negócios da Justiça do Conselho
cie Estado vem ter a honra de apresentar a Vossa Magestade
Imperial seu parecer sobre a desavença que se realizou
entre o Presidente da Provincia de S. Paulo, Manoel da
Fonseca Lima e Silva, e o actual Bispo da mesma, moti-
vada por occurrencias eleitoraes, quando alli se procedeu
á eleição para a presente Legislatura.
Sobre denuncia do Subdelegado da villa de Mogy-mirim
resolveu o Presidente suspender o Parocho da freguezia da
mesma villa, e ordenar ao Juiz de Direito que procedesse
— 189 —
criminalmente contra o dito Parocho, por indiciado de
conluio com o Juiz de Paz (que, com elle e o dito Subde-
legado formavam as Juntas de classificação dos cidadãos
activos) para excluírem os que deviam ser contemplados
nas listas eleitoraes, e incluírem nellas incapazes. Na
suspensão do Parocho foram comprehendidas não só as
funcções civis, que, como tal, competia-lhe exercer, mas
as mesmas parochiaes, porque está ò dito Presidente per-
suadido de que, como primeira autoridade da provincia,
não deve tolerar que autoridades secundarias façam objec-
çõcs às suas ordens. Communicada esta resolução ao Bispo
Diocesano, recusou este reconhecer no Presidente autori-
dade para suspender o dito Parocho de suas funcções eccle-
siasticas, ordenou ao Parocho suspenso que continuasse a
ministrar o pasto espiritual ás suas ovelhas, e representou
ao-Governo Imperial e á Assembléa Geral contra o mencio-
nado acto, pedindo uma interpretação das leis que regulam
esta matéria.
A este facto tinham precedido entre o Presidente e Bispo
outros que o prepararam. Refugiando-se na capital da pro-
víncia Modesto Antônio Coelho Netto, Vigário da freguezia
da Parahybuna, por temer pela sua existência, visto que o-
partido interessado nas eleições por partedo Governo, como
elle o denominava, o ameaçava, o Presidente da provincia,
a quem o Bispo recorreu para dar providencias adaptadas,
fez reparo na indulgência com que era acolhido este Pa-
rocho. Havendo nas eleições da Gamara Municipal e Juizes
de Paz da villa de Porto Feliz um desaguizado, que as
perturbou e fez derramar sangue no recinto do templo, e
communicando o Bispo o expendido ao Presidente, este
notou-lhe falta de medidas doutrinárias e preventivas, e
declarou-lhe que não seria tranquillo espectador de sua
indifferença. O Bispo resentiu-se desta correspondência, em
que enxergava ameaças á sua pessoa, e despreso ás suas re-
presentações, a ponto de ser denominado cabeça de motim,
ou chefe de partido o Parocho de Porto Feliz, quando, pro-
cedendo o Chefe de Policia, autoridade do Governo, para
descobrir os criminosos que perturbaram o referido acto
— 190 —
eleitoral, o não pronunciou, bem que pronunciasse a outros.
O Bispo imputa ao Presidente da provincia o intento de o
obrigar a remover Parochos para facilitar otriumpho elei-
toral do partido que appellida dominante, e o culpa de não
tomar medidas doutrinárias e preventivas, para evitar os
choques e abusos que houve da parte das autoridades civis.
Accresce a discussão que entre as duas autoridades men-
cionadas se empenhou sobre o lugar em que deviam assignar
seus nomes na correspondência official. O Bispo queixa-se
de que o Presidente da provincia, depois do relatado suc-
cesso de Mogy-mirim, principiasse a assignar o seu nome
cm cima do delle Bispo, quando não só o mesmo Presidente,
mas todos os seus antecessores assignavam sempre o seu
nome abaixo do delle. O Presidente da provincia, porém,
participa que quem primeiro transgrediu os precedentes
foi o Bispo, e que sendo elle a primeira autoridade, a que
todas as outras estavam subordinadas, como está declarado
no art. 1. da Lei de 3 de Outubro de 1834, cabia-lhe pôr
sempre o seu nome na correspondência official acima de
qualquer outro, incluído o do mesmo Bispo.
Sobre esta contestação foi ouvido o Procurador da Coroa,
que deu a seguinte resposta :
Magnatibus innatum scimus circa honores sui preroga-
tivas scrupulose versari, nec ullius rei jacturam gravius,
quam ejusdem immunitionem patiantur Tignat. Tom.
5. Cons. 12 n. 1.
A contenda entre o Reverendo Bispo e o Presidente da
Provincia de S. Paulo refundiu-se, .por agora, em uma
questão de precedência e cortezia, questão de não pequeno
momento, quando suscitada entre os Magnates constituídos
em superior autoridade, pela desordem e confusão que delia
pôde resultar em prejuízo do serviço publico, e algumas
vezes também da publica tranquillidade.
Ambos se julgam offendidos, e um pelo outro desautori-
sados; aquello no que lhe compete como Príncipe da Igreja;
este no que lhe é devido como primeira autoridade da pro-
vincia ; um Representante do Divino Instituidor da Religião
Gatholica, Apostólica, Romana, Religião do Estado, — qui
— 191 —
sedet ad dextram Patris; — outro Delegado do Imperador,
encarregado de o representar na provincia que lhe foi con-
fiada; o primeiro chamando em seu favor as determinações
da antiga legislação e ordens, que estabeleceram a etiqueta
ceremonial, e cortezia com que devia ser tratado ; o segundo
firmando-se na Lei, que lhe serve de regimento, e lhe asse-
gura ser elle a primeira autoridade da provincia, a que são
subordinados todos os que nella se acharem, seja qual fôr a
sua classe e graduação.
Na necessidade de dar-se uma resolução que estabeleça a
necessária ordem, evite todos os inconvenientes, parece-me
que, achando-se revogadas todas as disposições relativas ás
precedências dos Bispos para com os Capitães Generaes, no
que se não podem concordar com a do art. l.° da Lei de
3 de Outubro de 1834 a respeito dos Presidentes, 1.' se
deverá declarar que, em tudo quanto pertencer a objectos
e expediente da Administração da Provincia em todos os
actos públicos, civis e políticos, meramente temporaes,
cumpre ao Revm. Bispo reconhecer a precedência do Pre-
sidente da provincia, primeira autoridade delia, a que o
mesmo Revm. Bispo, na qualidade de empregado publico,
que é, como já de ha muito declarou o Aviso de 4 de Junho
de 1832, deve ser subordinado, incluído na genérica dispo-
sição da referida Lei; e em conseqüência, eundo, sedendo,
loquendo, scribendo, lhe cumpre usar para como Presidente
de toda a cortezia própria de um empregado publico para
com seu superior; sem que por isso se presuma degradado
de sua alta categoria, quando dá a César o que é de César:
e que deve o Presidente da Província dar ao Revm. Bispo
a precedência em todos os actos meramente ecclesiasticos,
celebrados dentro das igrejas, em procissões publicas, e
outros semelhantes: 2."que convirá recommenclar-se, que,
fora dos casos e actos especificados, observem reciproca-
mente um para com o outro as regras de uma polida civili-
dade e cortezia; podendo ter em vista o Formulário de 12
de Junho de 1805;-- Rio, 15 de Novembro de 1844.— Maia.
Não ha duvida que o Presidente da provincia suspendeu
a um Parocho, não só das funcções civis, que nesta quali-
— 192 —
dade lhe competem, mas também das ecclesiasticas, ou
parochiaes; o Presidente o confirma na resposta que, sendo
ouvido sobre a queixa do Bispo, deu ao Governo Imperial.
No conceito da Secção procedeu mal o Presidente; envol-
vendo na suspensão do Parocho a das funcções ecclesiasticas,
porque se a Religião do Estado é a Catholica Apostólica
Romana, e se é um dos essenciaes desta Religião sua inde-
pendência absoluta do poder temporal, invadiu, sem duvida,
a autoridade espiritual o Presidente, que entendeu como
exercício das funcções de Parocho. Nem o justifica a consi-
deração de que, pela citada Lei de 1834, é elle a primeira
autoridade da provincia, a que todas as outras estão subor-
dinadas, porquanto, não tinham os Legisladores, que, como
os Brazileiros, se regulam pela Constituição do Estado, e
que sabem respeitar a liberdade de consciência, direito de
subordinar, isto é-, de sujeitar o poder espiritual e os
empregados que o exercem ás autoridades temporaes.
Nem porque o Presidente pôde mandar proceder contra
um Parocho que abusa das funcções temporaes, que lhe
commettem as Leis civis, se pôde inferir que é elle seu
subordinado em matérias espirituaes.
Se fosse lógica esta illação, subordinados se deviam
considerar os Bispos á justiça ordinária, que os pôde pro-
cessar, e até impôr-lhes temporalidades. A Secção, pois,
entende que cabe advertir ao Presidente da provincia de
que foi excessivo no acto que vem de analysar, se Vossa
Magestade Imperial não julgar mais acertado, pelas razões
políticas, que a Secção não está habilitada para avaliar,
Differir esta decisão, até que o Poder Judiciário, que desla
questão se occupa, resolva definitivamente.
O expendido manifesta a divergência entre a Secção e o
voto do Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda Na-
cional, quando considera o Bispo subordinado ao Presidente
da provincia, e por isso não pôde concluir com elle que ao
Bispo cumpre officiar ao Presidente da provincia pondo
sempre o nome deste acima do seu. Considerando a Secção
o Presidente e o Bispo duas autoridades independentes,
sem sujeição de um ao outro, quando se conservam dentro
— 193 —
da esphera dos poderes competentes, não hesita em suggerir
ao Governo Imperial que declare aos Bispos e Presidentes
que na correspondência official seja posto abaixo do nome
do que a firma o daquelle a quem fôr dirigida.
E quanto á precedência nos actos públicos, concorda com
o parecer do Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda
Nacional.
E' este o parecer da Secção, que Vossa Magestade Imperial
se dignará acolher com Sua costumada Indulgência.
Paço em 14 de Agosto de 1846.— Bernardo Pereira de
Vasconcellos.— Caetano Maria Lopes Gama.— Honorio Her-
meto Carneiro Leão.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 19 de Agosto de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador-
José Joaquim Fernandes Torres.

Consulta d e S 4 d e S e t e m b r o d e 1 8 4 6 .
Sobre uniformes e distinctivos de Officiaes da Guarda Nacional, e
expedição de patentes.

Senhor —Mandou o Governo de Vossa Magestado Impe-


rial, pelo Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios da
Justiça, datado de 3 de Abril do anno presente, que a Sec-
ção do Conselho de Estado, á que pertencem os negócios da
Justiça, interpozessc seu parecer sobre o officio n. 17 de
11 de Março ultimo do Presidente da Provincia de Santa
Catharina, pedindo esclarecimentos a respeito dos unifor-
mes, e distinctivos dos Officiaes da Guarda Nacional; e da
duvida, em que elle se acha, se os Chefes, Majores e Girur*
c. J. 23
- 194 —
giões-móres de legiões devem tirar patente pela Secretaria
da Presidência.
Diz o mesmo Presidente que lhe consta terem sido feitas
algumas alterações nos uniformes e distinctivos dos corpos
da Guarda Nacional da Corte: que estes usam de dragonas e
differentes plumas: que os sargentos usam de bandas, e que
a cavallaria usa de botões amarellos. Pede em conseqüên-
cia que se lhe remettam figurinos, e as ordens do Governo
Imperial a semelhante respeito, e refere o desejo, que ma-
nifesta alli a Guarda Nacional de imitar a da Corte.
Informa o mesmo Presidente que um Commandante Su-
perior é Tenente Coronel honorário; que um Chefe de
legião é Coronel honorário; dous Tenentes Coronéis de
cavalleria são, um, Tenente Coronel, e outro Major, hono-
rários. Solicita portanto que o Governo Imperial haja de
resolver alguma cousa a este respeito, tendo em vista ser
muito oneroso aquelles Officiaes terem dous uniformes, e
não poder elle Presidente decidir de qual devam usar na
frente de seus corpos.
A Secção, tendo examinado este objecto, entende que, es-
tando determinado o uniforme da Guarda Nacional pelo De-
creto de 23 de Dezembro de 1831, com o qual se publicou o
respectivo figurino, nada mais pôde fazer o Governo Impe-
rial, senão recommendar ao Presidente a observância deste
decreto. Se na Corte ou em outros lugares, tem sido alte-
rado o uniforme estabelecido no mencionado decreto, se-
melhante procedimento não tem apoio legal, é mero facto,
que não deve ser imitado com a approvação do Governo.
O art. 65 da Lei de 18 de Agosto de 1831 autorizando
o Governo Imperial para designar o uniforme e distincti-
vos da Guarda Nacional e seus Officiaes, recommendando
que se tivesse atfénção a que fossem os mais simples e
menos dispendiosos possível, estabeleceu ao mesmo tempo
que uma vez marcados esses uniformes e distinctivos, não
pudessem ser elles alterados senão por Lei.
Em conseqüência, pois, desta determinação, entende a
Secção que só cumpre ao Governo recommendar a obser-
vância do Decreto de 23 de Dezembro de 1831.
— 195 —
Pelo que toca á duvida, em que está o Presidente sobre
deverem tirar ou não patente os Chefes, Majores e Cirur-
giões-móres de legiões e quaesquer outros Officiaes, que
em virtude de Lei são nomeados pelo Presidente da Pro-
vencia, entende a Secção que são elles obrigados a tirar os
competentes titulos ou patentes, que devem ser expedi-
dos pela Secretaria da Provincia, como se pratica em todas
as Províncias, em que não está em vigor Lei, que mande
o contrario. E desta regra não se devem exceptuar os
Officiaes, que forem honorários do Exercito; porque,
desde que tenham, algum exercício na Guarda Nacional,
necessariamente devem ser munidos de titulo, que os au-
torize ao exercício do posto, que tiverem na Guarda Na-
cional.
O mesmo Presidente observa que seria muito oneroso
a alguns dos ditos Officiaes honorários, que exercem postos
na Guarda Nacional o terem dous fardamentos; mas a Sec-
çíío entende que, se por excepção poderia o Governo dis-
pensar temporariamente a alguns dos ditos Officiaes" o uso
dos uniformes estabelecidos no Decreto citado de 23 de
Dezembro de 1831, a regra deve ser o uso dos ditos uni-
formes, sempre que estiverem de serviço com a Guarda
Nacional.
Tal é a opinião da Secção; Vossa Magestado Imperial
Resolverá o que julgar conveniente.
Paço em 24 de Setembro de 1846.— Honorio Hermeto
Carneiro Leão.— Caetano Maria Lopes Gama.-— Bernardo
Pereira de Vasconcellos. (')

O A Lei de 18 de Agoíto de 1831 foi revogada pela de n.- 602


de 19 de Setembro de 1830.
Segundo esta Lei de 18J0 e respectivas instrucções de 25 de Ou-
tubro do mesmo auno, as patentes dos Ufliciaes subalternos, nomea-
dos pelos Presidentes de Provincia, sao expedidas pelas respectivas
Secretarias; e as dos outros Officiaes, de nomeação do Governo Geral,
tanto subalternos, como superiores, o são pela de Esiado dos Ne-
gócios da Jnsüça.
Os uniformes e distinctivos estão marcados no capitulo 3.° do
Decreto n.° 5573 de 21 de Março de 1874, que deu nova organização
á Guarda Nacional.
— 196 —

I t e s o l u ç & o d o i . ° d e O i i t a b p o d e 1®4IÍ$«>

Sobre remoção de Serventuários de Officios de Justiça.

Senhor.—Foi Vossa Magestade Imperial Servido Ordenar,


por Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça,
de 7 de Agosto deste anno, que a Secção do Conselho de
Estado desta Repartição consultasse com o seu parecer,
sobre o requerimento de João de Castro Silva e Menezes, em
que pede ser resfiuido ao Officio de Tabellião da villa de S.
Bernardo, na Provincia do Ceará, do qual foi removido
para outro igual Officio, em villa Viçosa, na mesma Pro-
víncia; e assim também sobre o requerimento de João
Carlos de Saboia, que pede ser provido por Vossa Mages-
tade Imperial, no primeiro dos mencionados Officios, para
que foi removido do Officio de Escrivão de Orphãos da villa
de S. Malheos.
Em cumprimento, pois, do referido Aviso, tem a Secção
a honra de levar á Augusta Presença de Vossa Magestade
Imperial este seu parecer.
A Assembléa Legislativa da Provincia do Ceará, enten-
dendo que o art. 10 § 7." do Acto Addicional lhe dava o
inteiro poder de legislar sobre os Officios e Empregados de
Justiça, como ojectospuramente provinciaes, autorizou o
Presidente da Provincia, por Lei de 3 de Abril de 1835,
para transferir esses Empregados de uns para outros lu-
gares, quando assim julgasse conveniente.
Fundando-se nesta Lei, decretou o Presidente as remo-
çãesde que se queixa o 1.° supplicante, eo 2."predente
aproveit-ir-se, pedindo o provimento do Officio que aquelle
outro fora tirado, não obstante ser Serventuário vitalício.
Cessando, porém, a intelligencia que assim se dera ao
art. 10 | 7.° do Acto Addicional, por se achar declarado
no art. 2. da Lei de 12 de Maio de 1840, que, com-
quanto possa ser objecto de legislação provincial a creação
e suppressão dos Officios ou Empregos de Justiça, conser-
vam ellés comtudo a sua natureza e attribuições, como
— 197 —
objectos das Leis geraes, pelas quaes é regulada a adminis-
tração da Justiça, em todo o Império.
Em conformidade desta authentica interpretação, revo-
gou a Assembléa Legislativa do Ceará a sua referida Lei,
por outra de 5 de Setembro de 1840 ; mas, pouco depois,
foi esta revogada por outra de 26 de Dezembro do mesmo
anno, que mandou pôr em observância a legislação anterior,
isto é, a de 3 de Abril de 1835.
Contendo esta Lei diversas disposições, não podia enten-
der-se restabelecida, na parte em que ia além da creação e
suppressão dos Officios de Justiça. Mas o Presidente não
pensou assim ; e, considerando os Tabelliães e Escrivães,
como meros Empregados provinciaes, contra a referida Lei
interpretatíva, removeu os supplicantes dos seus Officios,
comoficaexposto.
Talvez quizesse o Presidente do Ceará apoiar-se no art. 8."
desta Lei, por se declarar alli, que a sua simples promul-
gação não bastava, para que se entendessem revogadas as
Leis provinciaes que lhe fossem oppostas, reservando, para
actos expressos do Poder Legislativo Geral, a revogação de
cada uma dellas; mas, na opinião da Secção, essa declaração
não quer dizer que ficavam impedidas as Assembléas Legis-
lativas, Provinciaes de legislar sobre objectos da sua com-
petência ; e da sua competência era revogar as suas próprias
Leis, para harmonizal-as, e pol-as de accôrdo com os prin-
cipios e disposições da Lei de 12 de Maio de 1840.
No Acto Addicional, não se fencontra disposição alguma
que converta, em Leis geraes, as provinciaes que a Assem-
bléa Geral Legislativa deixar subsistir, ou por lhe parecer
que a sua revogação carece de um mais aturado exame, ou
por attender a razões políticas do momento.
O Legislador, tendo por cxtraneas e absortas quaesquer
disposições de direito civil em uma Lei Constitucional, dei-
xou a revogação das Leis. provinciaes oppostas a Lei de 12 de
Maio de 1810, para quando Lratasse cio objecto de cada uma
dellas, em actosespcciaes; mas dahi não se pôde concluir,
que ficou suspensa a faculdade que, pelo Acto Addicional,
temas Assembléas Legislativas Provinciaes, para revogar
— 198 —
as suas próprias Leis : pelo contrario, semelhante proce-
dimento deve ser acatado, como uma prompta e fiel obser-
vância da Lei Constitucional; e foi o que aconteceu con-
diversas leis de outras Províncias, que hão esperaram pela
revogação da Assembléa Geral Legislativa, para desappare-
cerem, como oppostas á Lei de 12 de Maio de 1840.
E' certo que, se a Lei de 3 de Abril de 1835 não tivesse
sido revogada pela Assembléa Legislativa do Ceará, poderia
ser alli executada, até ser revogada por uma Lei geral; mas,
desde que a mesma Assembléa revogou aquella sua Lei, pela
de 5 de Setembro de 1840, e que assim reduziu a legislação
provincial aos objectos da sua competência, não podia
mais legislar em sentido contrario, isto é, sobre objectos
das Leis geraes pelas quaes se rege todo o Império, por já
existir a Lei da interpretação do Acto Addicional, que ex-
tremou esses objectos.
Entende portanto a Secção que a Lei da Assembléa
Legislativa da Provincia do Ceará, de 26 de Dezembro de
1840, somente pódè ter execução, quanto aos objectos pro-
vinciaes de que ella trata, tendo-se por insubsistenles as
disposições que autorizam o Presidente da Provincia a re-
mover os Empregados de Justiça-. Nesta conformidade, é a
mesma Secção de parecer, que o. Governo mande restituir
os supplicantes aos lugares de que tinham serventia vitalia,
e de que foram removidos por actos reconhecidamente
illegaes. Vossa Magestade Imperial Resolverá, porém, o
que fôr mais acertado.
Paço em 19 de Setembro de 1846.— Caetano Maria Lopes
Gama. —Honorio Hermeto Carneiro Leão.—Bernardo-Pereira
de Vasconcellos, com voto separado.
Este voto separado é do teor seguinte:
Divergindo da maioria da Secção de Justiça do Conselho
de Estado, sobre o requerimento de João de Castro Silva e
Menezes, cumpre-me expor as razões de minha divergência.
Pede o supplicante ser restituido ao Officio de Tabellião do
Publico, Judicial e Notas, e Escrivão da Gamara e mais
annexos da villa de S. Bernardo da Província do Ceará, de
— 199 —
que diz ter serventia vitalícia, do qual foi removido para a
villa Viçosa, na mesma Provincia, por lhe ser mui dam-
nosa esta remoção, e feita com a única mira de o perseguir.
O documento n. 4 manisfesta que o Presidente da Pro-
vincia, o Brigadeiro José Joaquim Coelho, removeu ao
supplicante, exercendo a faculdade que considerava dar-lhe
o art. 4. da Lei Provincial n. 1, de 30 de Abril de 1835,
que diz : « O Presidente da Provincia poderá transferir,
de uns para outros lugares, os Empregados de empregos
semelhantes.... quando a utilidade publica assim o exigir.
Sem duvida que esta Lei autoriza a remoção do suppli-
cante, por que o seu emprego era, no tempo em que foi feita
a dita Lei, considerado Provincial, não sendo enumerado
entre os exceptuados no art. 7. , como geraes; e por tal
reconheceram o emprego do supplicante as Assembléas
Provinciaes, e a Assembléa e Governo Geral, até. a promul-
gaçãoda Lei de 12 de Maio de 1840, que interpretou o Acto
Addicional.
Nega, porém, o supplicante, e a maioria da Secção con-
corda que lhe não é applicavel a citada Lei Provincial de
1835, por que essa Lei foi revogada por outra Lei da mesma
Assembléa Provincial, de 5 de Setembro de 1840; e bem
que a Lei da mesma Provincia, de 26 de Dezembro de 1840,
revogando esta, puzesse em seu inteiro vigora de 1835, re-
puta a Secção esta ultima nulla, por versar sobre objecto
geral fora das attribuições da Assembléa Provincial. A
maioria da Secção entende que as Assembléas Provinciaes
estão autorizadas a revogar as suas próprias leis, que forem
oppostas á interpretação de 12 de Maio de 1840, não sendo
vedado ás Assembléas Provinciaes revogal-as, para harmo-
nizal-as, e pol-as de accôrdo com os principios e disposi-
ções da lei que interpretou o Acto Addicional. Não
encontra a maioria da Secção embaraço algum á esta in-
telligencia, no art. 8.' da Lei de 12 de Maio de 1840; por
que, se esta reservou a revogação das Leis Provinciaes ao
Poder Legislativo Geral, não suspendeu, nem podia suspen-
der a faculdade que, pelo Acto Addicional, têm ellas, de
revogar suas próprias leis; que, nessa disposição do art. 8.',
— 200 —

o Poder Legislativo Geral só teve em vista abster-se de


tratar, em uma lei constitucional, de disposições do direito
civil; que o procedimento das Assembléas, revogando suas
leis contrarias á interpretação do Acto Addicional, deve
ser acatado, como uma prompta e liei observância da Lei
Constitucional ; que semelhante procedimento tiveram
outras Províncias; e que, finalmente, sendo o Officio do
supplicante geral, não se pôde àpplicar-lhea Lei Pro-
vincial. São estes os argumentos que a maioria da Secção
produz, para consultar favoravelmente ao supplicante.
Antes de expor minha opinião, sobre a lei querioCeará, é
applícavel ao caso em questão, seja-me permittido ponderar
que este parecer não é precedido dos precisos esclarecimen-
tos, como audiência do Presidente da Provincia, e que por
conseguinte, poderá ter o resaibo de precipitado, no con-
ceito de alguns. E' também, em minha opinião, duvidosa
a injustiça de que se queixa o supplicante, porque, tendo
sido removido pelo Presidente, Brigadeiro José Joaquim
Coelho, não tem conseguido sua reintegração, apezar de or-
dens imperiaes a tal respeito, nem pelo Presidente Briga-
deiro Bittencourt, nem pelo actual Presidente, o Coronel
Vasconcellos, dado que sejam elles de sentimentos políticos
mui differentes; pois nem o Brigadeiro Bittencourt, nem o
actual Presidente podem ser suspeitos de pertencerem á
opinião do Ministério de 19 de Setembro, a que elle attri-
bue seus soffrimentos; accrescendo que a lei de 1835, em
que é fundada a sua remoção, é dous annos anterior a esse
gabinete; e tanto esta, como a Lei provincial de 26 de De-
zembro de 1840, que a mandou pôr em vigor, são sanccio-
nadas pelo Presidente, o Senador Alencar. Não sendo da
minha competência avaliar a justiça da remoção do sup-
plicante, julgo dever ponderar que o supplicante não tem
podido conseguir sua revogação, a despeito das ordens im-
periaes que a favoreciam, e de ter sido a administração
da provincia confiada a dous Presidentes, depois do que
resolveu a remoção, um dos quaes, o Brigadeiro Bitten-
court, era neutral aos partidos; eo actual não é pelo menos
suspeito ao supplicante.
— 201 —

Se, desta consideração, se passa á da legislação em vigor


no Ceará, inda mais evidente se torna a justiça que se fará,
indeferindo o requerimento do supplicante. Já observei
que, pela,Lei de 1835, o Presidente estava autorizado a re-
mover o supplicante, se a utilidade publica o exigisse, pois
que então era elle considerado empregado provincial, não só
por um ou outro Presidente, por uma ou outra Assembléa,
mas até pela mesma Assembléa e Governo Geral. Embora
esta lei seja opposta á interpretação de 12 de Maio de 1840,
porque esta, no seu art. 8. , manda continuar em vigor
as Leis Provinciaes oppostas ás suas disposições, em quanto
não fossem expressamente revogadas, por actos do Poder
Legislativo Geral. Não ha lei alguma geral que revogasse
essa autorização conferida ao Presidente da Provincia do
Ceará, nem expressa, nem tacitamente, e consequente-
mente o acto da remoção foi praticado por legitima auto-
ridade, e não posso, ajuizar se bem cabido, por isso que
nenhuns esclarecimentos foram exigidos, como já notei.
A este valente argumento, oppõe a maioria da Secção
duas asserções que não prova; uma a de que não foi, pelo
citado art. 8.", inhibido ás Assembléas Provinciaes revo-
garem as suas próprias leis, e a outra de que esta autori-
dade só lhe compete, para as pôr em harmonia com a inter-
pretação dada em 1840 ao Acto Addicional.
Reconheço, como a maioria da Secção, que ás Assem-
bléas Provinciaes foi conferido o poder de revogar as suas
próprias leis pelo Acto Addicional; mas esta regra não
reina na questão vertente. A Lei de 12 de Maio de 1840
declarou que as Leis Provinciaes oppostas á interpretação
dada nos seus artigos, se não entendessem reVogadas, sem
que expressamente o fossem, por actos. do Poder Legis-
lativo Geral. Logo essas Leis Provinciaes, entre as quaes
cabe enumerar a citada de 1835, não podem ser revogadas
por actos das mesmas Assembléas, mas, só c unicamente,
por actos do Poder Legislativo Geral.
Esta intelligencia é fundada nos principios mais incon-
troversos de direito. Com effeito, enumerando a Lei de 12
de Maio de 1840, entre os objectos geraes, os officios de
c. J. 26.
— 202 —

Tabelíião do Publico, Judicial e Notas, é fora de toda a


duvida que, sobre taes officios, não podem legislar as
Assembléas Províncias, por não estarem comprehendidos
nos dous arts. 10 e 11, como muito expressamente dispõe o
art. Í2 do Acto Addicional. Se, pois, desde a promulgação da
Lei interpretativa de 1840, taes officios constituem objecto
geral, e se a Lei de 1835, que tinha legislado sobre elles,
continuou em vigor, pelo referido art. 8." da Lei de 1840,
a Assembléa Provincial do Ceará não tinha direito de a
revogar, como o fez, pela Lei de 5 de Setembro de 1840,
nem inda limitando-se a simples e pura revogação delia,
porque declarar que os officios de que se trata não são
amoviveis, é legislar sobre matéria geral.
A Constituição daMonarchiaj no § 8. do art. 15, reco-
nhece leis interpreta ti vas; e um dos caracteres destas leis,
no conceito-dos Jurisconsultos e Legisladores, desde os
Romanos até ao presente, está em serem ellas observadas,
não da sua data, mas desde a data da lei que ellas inter-
pretam, salvo nos casos em que ponderosas razões de
justiça, e bem publico, outra cousa aconselhem. De accôrdo
com este principio , o Legislador , no § 8. da Lei de 1840,
declarou que as Leis Provinciaes oppostas á interpretação
que ella contém, não se entendiam revogadas pela sua pro-
mulgação, como é próprio das leis interpretativas ; que
continuariam em vigor, emquanto o não fossem expressa-
mente, por actos do Poder Legislativo geral. Quando, pois,
uma Assembléa Provincial, posteriormente á interpretação
dada em 1840, revoga uma sua lei a ella opposta, não só
legisla sobre objecto geral, mas revoga a lei geral da
interpretação, e compromette o bem do paiz que o Poder
Legislativo geral consultou, quando mandou continuar a
observância desses Actos Legislativos provinciaes, embora
contrários á citada interpretação.
Inda outra ponderação para se negar ás Assembléas Le-
gislativas provinciaes a autoridade que lhes suppõe a
maioria da Secção. A Lei provincial de 1835 invesliu o
Presidente da Provincia do Ceará da autoridade de remover
• os Tabelliães do Publico, Judicial e Notas, de uns para
— 203 —

outros termos : revogando esta Assembléa a sua Lei de


1835, se eleve entender que.ella põe em vigor, resussita a
lei geral a este respeito, ou que extingue este direito. Pôde
ser mui damnoso ao serviço publico revogar-se uma lei
Provincial sem substituto satisfactorio ; e não é, a meu ver,
questionável que a revogação de uma lei não resussita
outra, sem que expressamente o declare ; e se as Assembléas
Provinciaes fizerem esta expressa declaração, não serão con-
sideradas como revogando suas leis, mas como dando leis
sobre o objecto de que ellas tratarem.
Considero-me, pois, autorizado para concluir do exposto,
não-só que a Loi de 5 de Setembro é manifestamente nulla,
e que, por conseguinte, acertadamente procedeu a Assem-
bléa Provincial do Ceará, revogando-a pela de 26 de De-
zembro do mesmo anno , senão também que a revogação da
Lei de 1835, longe de harmonizar as leis provinciaes com
a da interpretação, como imagina a maioria da Secção,
offendeu a lei interpretativa; e que, se, em casos seme-
lhantes, o mesmo poder exercem as Assembléas Provin-
ciaes,augmentar-se-ha inda mais a confusão, já não pequena,
das leis que regem o Império. Se uma Assembléa Provincial
fizesse uma lei que as oiftras nãoadoplassem, ou imitassem,
a revogação delia, se podesse restabelecer a lei geral a que
era opposta, traria aó menos o beneficio de diminuir os
actos legislativos, embora isto mesmo seja contrario a lei
que interpretou o Acto Addicional. Mas o facto é que a lei
que uma Assembléa Provincial faz, é copiada por outras, ou
imitada e modificada ; a revogação, pois, dessas leis, feita
por uma ou outra Assembléa, não simplifica a legislação,
tende a emmaranhal-a mais.
Portanto, nem este mesmo beneficio de simplificar a
Legislação se colherá dessa autoridade que se quer reco-
nhecer nas Assembléas Provinciaes.
Duas observações de diversa natureza terminarão o meu
voto. O supplicante não é só Tabelliãodo Publico, Judicial
e Notas, é também Escrivão da Gamara, e exerce outros
officios annexos. Quando, pois, fosse sustentável o parecer
da maioria da Secção, não podia verificar-se a respeito dos
— 204 —

officios que não são geraes, pois que a mesma maioria da


Secção confessa que devem ser^governados pelas Leis pro-
vinciaes. Em -fim, se fôr attendida a pretenção do suppli-
cante, seu exemplo será seguido de muitos outros ; muitas
reclamações terão de ser feitas, não só na Provincia do
Ceará, em que a Lei de 1835 rege até ao presente, mas em
outras em que a mesma Legislação, ou differente, fôr alte-
rada pelas Leis provinciaes, nas círcumstancia da de que
se trata.
E' este o meu voto, que Vossa Magestade Imperial se
Dignará acolher com Sua costumada Indulgência.
Paço em 1. de Outubro de 1846.— Bernardo Pereira de
Vasconcellos.

RESOLUÇÃO.

Ouça-se o Conselho de Estado.

Paço, 7 de Outubro de 1846.

Com rubrica de Sua Magestade o Imperador.

José Joaquim Fernandes Torres. (*)

(*) Ouvido o Conselho de Estado, nos termo da Resolução, deu o


seguinte parecer :
O Conselho de Estado reunido por Ordem de Vossa Magestade Im-
perial, tratando da matéria, votou a respeito delia, pela maneira
seguinte :
O Conselheiro Visconde de Olinda, reflexionando sobre os funda-
mentos dos dous votos que ficam transcriptos, refutou alguns dos
argumentos do voto separado, inclinou-se aquelles do voto da mai.oria
da Secção, que tendem a sustentar, na Assembléa Legislativa da
Provincia do Ceará, a faculdade de revogar a sua Lei de 30 de Abril
de 1835, não obstante a disposição do art. 8.° da Lei de 12 de Maio
de 1810, em que não encontra preceito algum positivo em contrario ;
comtudo, porém, declarou que não era favorável á conclusão desse
voto da maioria, porque, estando a Lei de 30 de Abril de 1835 em
actual vigor, em virtude da outra Lei de 26 de Dezembro de 1810,
não julgava admissível negar-se-lhe a execução, em quanto não
fôr revogada pela Assembléa Geral Legislativa, e concluiu adoptando
a conclusão do voto separado.
— 205

Os Conselheiros Visconde de MonfAlegre, Lopes Gama, Cordeiro,


Carneiro Leão, e Lima e Silva seguiram o voto da maioria da
Secção.
0"Conselheiro Maya foi também do mesmo voto e advertiu que
segundo o seu pensar, nao poderá ser taxada de precipitada a de-
liberação que tomar o Governo á este respeito, por falta de informa-
ções, e audieucia do Presidente da Provincia, como parece ao Con-
selheiro Vasconcellos, no seu voto separado; porque tratando-se
somente de averiguar, e fixar um ponto de direito, ba para isso as
illustraçoes precisas, sem dependência de mais algumas informações
de facto.
O Conselheiro Vasconcellos sustentou o seu voto.
Do que se conclue ser o parecer do Conselho de Estado, pelos votos
da sua maioria, conforme com o da maioria da Secção de Justiça,
sobre que foi mandado ouvir : e Vossa Magestade Imperial, pesando
na Sua Alta Sabedoria, os fundamentos de um e outro, se Dignará
Resolver o mais justo.
Paço em 1 de Dezembro de 184S.— José Antônio da Silva Maia.—
Caetano Maria Lopes Gama.—Honorio Hermeto Carneiro Leão.— Vis-
conde de MonVAlegre— Bernardo Pereira de Vasconcellos— José Joa-
quim de Lima e Silva.— Visconde de Olinda.— Francisco Cordeiro da
Silva Torres.
EESOLÜÇÃO.

Como parece ao Conselheiro Visconde de Olinda.


Paço, 12 de Dezembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
José Joaquim Fernandes Torres. (")

(*) Expediu-so o seguinte AYÍSO :


Rio do Janeiro.—Ministério dos Negócios da Justiça, em 29 de Dezembro de
1846.
Illm. e Exm. Sr.—- Tendo sido presente á Sua Magestade o Imperador, em
Consulta do Conselho de Estado de 4 do corrente mez o requerimento em quo
João de Castro SilYa o Menezes, pede ser restituido ao officio de Tabellião da
villa de S. Bernardo, do qual fora removido para igual officio em villa Viçosa
dessa Provincia : Houve o mesmo Augusto Senhor por bem, por Sua Imme-
diata Resolução de 12 do mesmo mez, Decidir que não pode ter lugar a preten-
ção do supplicante, visto que em ordenar a sua remoção, eiercou o Presidente
da Provincia a faculdade que lhe conferiu a Lei provincial de n.° 1 de 30 de
Abril de 1825 no art. 4.°, e não obsta o argumento allegado, de que sendo a
sobredita Lei revogada pela de 5 de Setembro de 1840, não podiam, á vista do
art. 8 da Lei de 12 de Maio do 1840 que interpretou o Acto Addicional, serás
suas di. posições restauradas pela Lei provincial de 26 de Dezembro do mesmo
anno de 1840 ; por quanto parecendo que a Assembléa Legislativa Provincial
tem o direito de revogar as suas Leis, não obstante a disposição do supracitado
art. 8.° da Lei de 12 de Maio, que não estatue preceito a'gum positivo em con-
trario, está era actual vigor a Lei de 30 de Abril de 1835 em virtude da de
%6 de Dezembro do 1840, á que não é admissível negar-se-lhe a execução, em
quanto não fôr revogada pela Assembléa Geral Legislativa.
Dens Guarde a V. Ex.— José Joaquim Fernandes Torres.— Sr. Presidente
da Provincia do Ceará.
- 206 —

"ResoSuofio <Je *> <tie O u t u b r o <Se S84L@.


Sobre os effeitos de um processo organizado pelo Subdelegado de
Policia da cidade de Sobral contra o Juiz de (Direito Antônio
José Machado e o Juiz Municipal da mesma cidade, Manoel
Theophito Gaspar de Oliveira.

Senhor.— Mandou Vossa Magestade Imperial, por Aviso


de 10 de Fevereiro deste anno, que a Secção do Conselho
de Estado dos Negócios da Justiça consultasse, com o seu
parecer, acerca do ofücio do Presidente da Provincia do
Ceará, de 5 de Março deste anno, no qual, procurando ainda
justificar os procedimentos por que fora reprehendido em
Aviso de 3 de Outubro do anno passado, (*) pede ao Governo
que lhe declare os effeitos que deve produzir o processo
formado pelo Subdelegado de Policia da cidade do Sobral,
contra o Juiz de Direito Antônio José Machado, e o Juiz
Municipal da mesma cidade Manoel Theophilo Gaspar
de Oliveira.
Em additamento ao referido aviso, ordenou Vossa Mages-
tade Imperial, por Aviso de 28 do mez passado, que a
Secção consultasse, ao mesmo tempo, sobre o ofíicio da
dito Juiz de Direito, de 30 de Julho deste anno, no
qual expõe as violências que tem soffrido, e pede provi-
dencias, para que ellas cessem, e possa elle continuar no
exercicio das suas funcções, de que está privado ha qua-
torze mezes.
Antes de entrar no mais importante assumpto do officio
do Presidente, isto é, a declaração que elle pede, sobre
os effeitos daquelle processo, tem a Secção de ponderar,
que uma mais explicita-advertência se torna precisa, para
que elle reconheça quanto é errada a intelligencia que dá a
Lei de 3 de Outubro dei83í, com que pretende justificar-se.
Diz elle que, pelo art. 5.° § i.° dessa lei, compete-lhe exe-
cutar, e fazer executar as leis, na provincia cujo governo
lhe foi confiado; mas, se elle attendesse aos termos em

(*) A' pagina 154 se encontra o dito aviso.


— 207 —

que Vossa Magestade Imperial Houve por bem estranhar-


lhe o seu procedimento, veria que é a exacta observância
da mesma Lei de 3 de Outubro de 1834, que lhe foi recom-
mendada no referido Aviso de 3 de Outubro do anno passado.
A Lei que, como Presidente, elle tinha de executar, e fazer
.executar, é a de 3 de Dezembro de 1841, a qual, nos arts.
101 e 102, determina o modo por que procederão o Governo
na Corte, e os Presidentes nas provincias, quando, dentro
do tempo alli marcado, para elles se recorrer da inde-
vida inscripção, na lista geral dos Jurados.
Que o Presidente do Ceará procedeu contra os referidos
artigos, é evidente, e elle mesmo não ousa negar Portanto,
em vez de executar, tornou-so infractor dessa lei; e assim
debalde pretende defender-se com a disposição do art. 5.°
| 1.° da Lei de 3 de Outubro de 1834, onde quer enxergar
autorização, para executar a Lei de 3 de Dezembro, pelo
modo que lhe aprouver-
Passando a tratar cios effeitos do processo formado pelo
Subdelegado de Policia, contra o Juiz de Direito e Juiz Mu-
nicipal, não hesita a Secção em affirmar que, em sua opinião
nenhum effeito elle tem, porque deve ser considerado como
um acto da mais escandalosa subversão das nossas insti-
tuições judiciarias.
Os Subdelegados têm, nos seus disírictos, pelo art. 5.°
da Lei das Reformas do Cod. do Proc, algumas attribuições
menos do que os Chefes e Delegados de Policia ; e estes
mesmos não têm attribuição, como se vê do art. 4." desta
lei, para processar os Juizes, quer de Direito quer Muni-
cipaes. Esta attribuição tinham os Juizes de Paz pela Lei
de 18 de Setembro de 1828, e Alvarás de 6 de Novembro
de 1833 e 16 de Junho de 1834; mas estas leis foram alte-
radas pelo art. 91 da referida Lei das Reformas, a qual,
no art. 17 § 4.° incumbe aos Juizes Municipaes a verificação
dos factos, e a inquirição de testemunhas, nas queixas
contra os;Juizes de Direito das comarcas em que não houver
Relação; deixando nos arts. 25 §1. e 28 §§1. e 2.', a
cargo dos Juizes de Direito a formação da culpa contra
os Juizes Municipaes, nos crimes de responsabilidade.
— 208 •—
Da legislação citada se vê, que o Subdelegado de Policia
do Sobral nenhuma autoridade tinha para pronunciar o
Juiz de Direito, ainda quando este tivesse commettido um
crime individual; porque, se o art. 17 § 4. da Lei' das
Reformas incumbe aos Juizes Municipaes unicamente as
diligencias necessárias para instrucções das queixas contra
os Juizes de Direi to, sem differença de crimes, como se havia
feito, no art. 155 % 2. do Cod. do Proc, se, nas Comarcas
em que houver Relação, é ella quem assim procede, segundo
o dito art. 17 § 4. das Reformas, sem differença também
de crimes, fica evidente que a disposição do art. Í61 do
mesmo Cod., que, nesse § 4. se resalvou, é a que tem por
objecto a fôrma do processo, para que fosse extensiva a
quaesquer crimes dos Juizes de;Direito, os quaes (se assim
não se entendesse o dito art. 161) nãojferiam Juizes, para a
pronuncia e julgamento nos seus crimes individuaes, pois,
em nenhum caso, permifte a Lei das Reformas, aos Juizes
Municipaes, fazer mais do que colher provas para instruirem
as queixas.contra os Juizes de Direito. Se, pois, os Juizes
Municipaes não podem, em caso algum, pronunciar os
Juizes^de Direito, menos podem sustentar pronúncias contra
estes Juizes, proferidas por autoridades inteiramente in-
competentes, mesmo para a preparação de taes procesos.
Foi isto, porém, o quo praticaram o Subdelegado de Policia,
e o Juiz Municipal interino da cidade de Sobral, no intitu-
lado processo, de que se trata.
A Secção entra nestas considerações, para prevenir o
subterfúgio, a que, não poucas vezes, se tem recorrido, de
alterar-se a nomenclatura jurídica dos crimes, para, deste
modo, poder-se dar desenvolvimento a injustas persegui-
ções. Sobe, porém, de ponto a criminalidade desse proce-
dimento, quando se considera que elle assentou sobre factos
praticados pelo Juiz de Direito, em razão do seu ofücio, do
qual foi violentamente suspenso, por contentar-se o Sub-
delegado com a sua retirada da comarca, em vez da prisão,
a que o tinha obrigado.
Se semelhante processo não pôde ter effeito algum, em
razão de ser instaurado por quem não tinha jurisdicção, é
— 209 —
comtudo o mais solemne corpo de delicto contra o Promotor
Publico, o Subdelegado e o Juiz Municipal interino, tanto
por este motivo, como pelos actos arbitrários e violentos,
de que se compõe.
Começou elle por uma denuncia dictada, senão por teme-
rário capricho, ao menos pela mais patente ignorância dos
principios, e disposições cie Direito, já por ser dada perante
uma autoridade incompetente para conhecer dos denun-
ciados, já por não existir crime que lhe servisse de funda-
mento, como a Secção passa a mostrar.
Deu o Promotor Publico, por motivo dessa denuncia, o
de provocarem os dous referidos Magistrados a desobe-
diência, e não cumprimento de ordens superiores expedidas
pela primeira autoridade da provincia, como aconteceu
com a que foi dirigida ao Juiz de Direito, para proceder a
nova revisão da lista dos jurados.
Entre os diversos casos que o Cod. Crim. classifica como
crimes de resistência, são o art. 119 citado pelo Promotor.
Eis o que diz este artigo:—« Provocar directamente, por
escriptos impressos, lithographados ou gravados, que se
distribuírem por mais de quinze pessoas, aos crimes especi-
ficados nos Capitulos 3.", 4. e 5.°, e, bem assim, á desobe-
diência ás Leis. — Penas—de prisão por dous a dezeseis
mezes, e de multa correspondente á metade do tempo.»
« Se a provocação fôr por escriptos não impressos, que
se distribuírem por mais de quinze pessoas, ou por discursos
proferidos em publicas reuniões:—Penas—cie prisão de um
a oito mezes, e de multa correspondente á metade do
tempo. »
Em nenhum destes dous casos podia ser comprehendido
o procedimento, quer do Juiz de Direito, quer do Juiz Mu-
nicipal. O primeiro destes dous Magistrados era o próprio
executor da ordem do Presidente, e assim não tinha a
quem provocar, para que lhe desobedecesse: foi elle mesmo
quem desobedeceu, fundado na disposição do art. 155 §2.°
do Cod. Crim.
E', pois, evidente, que também não podia haver a pre*
tendida provocação da parte do Juiz Municipal,
c. J. 27
— 210 —
O que, porém, manifesta, em grão ainda mais subido,
o espirito de perseguição, de que estavam possuídos o
Subdelegado de Policia, e o Juiz Municipal interino, é o
terem achado motivo, nos depoimentos das testemunhas
do arbitrário processo, para a pronuncia dos ditos Ma-
gistrados.
Todas ellas são contestes em dizer que o Juiz de Direito
declarou que não obedeceria á ordem do Presidente da
provincia, para proceder á nova revisão da lista dos Ju-
rados, e que o Juiz Municipal em diversas conversas,
dissera que, se estivesse no lugar do Juiz de Direito,
também não a executaria.
Aceitar o Governo tão desordenados actos daquelle Sub-
delegado, como susceptíveis de qualquer effeito, seria es-
tabelecer um funesto exemplo, para estes e outros ainda
maiores attentados. A Secção não entrará em um mais
longo exame desse celebre processo, em que, para cumulo
de escândalo, figurou, como Juiz Municipal, sustentador
da pronuncia, o sogro do Subdelegado que a proferiu.
Esta miúda analyse seria do officio do julgador, se tal pro-
cesso devesse subir á superior instância, como acontece
com os que são organizados por legitimas autoridades.
O Presidente da provincia já foi adiante do Governo,
na decisão das justas representações do Juiz de Direito:
elle ordenou a este Juiz, como se vê do seu officio de 30
de Julho do presente anno, que voltasse para o seu lugar
Este acto devia dispensal-o de pedir explicações, sobro
os effeitos do mencionado processo, mas, como ainda as
solicita, convém deciarar-se-lhe, que não merecem seme-
lhante nome os insólitos, e criminosos procedimentos do
Promotor Publico, do Subdelegado de Policia, e do Juiz
Municipal interino da cidade do Sobral, e ordenar-se-lhe,
ao mesmo tempo, que os faça metter em processo de respon-
sabilidade.
Sendo este o parecer da Secção, sobre o officio do Presi-
dente, não lhe será difficil atinar com as providencias que
justamente reclama o Juiz de Direito, não tratando do
Juiz Municipal, por já ter regressado para o seu lugar.
-~ 211 —

A restituição do Juiz de Direito ao seu emprego, o legal


procedimento contra os seiis perseguidores, são actos de
rigorosa justiça, e de incessante necessidade para a ordem
publica, que não poderá ser mantida, se assim não fôr
desaffrontado aquelle Magistrado.
Tendo elle recebido o seu ordenado, por espaço de seis
mezes, por determinação do Presidente da provincia, ne-
nhuma razão ha, para que seja delle privado o resto do
tempo que tem estado foragido, a íim de escapar ás vio-
lências que obrigaram a retirar-se para a capital da pro-
vincia ; violências que ainda poder-se-hiam repetir por
estarem, impunes os seus autores.
E' este o parecer da Secção :
Vossa Magestade Imperial Resolverá, porém, o que fór
mais justo, e digno da Sua Alta Sabedoria.
Paço em 25 de Setembro de 1846. — Caetano Maria Lopes
Gama.•'—Honorio Hermeto Carneiro Leão.—Bernardo Pereira
*

de Vasconcellos.

RESOLUÇÃO.

Ouça-se o Conselho de Estado.

Paço, 7 de Outubro de 1846.


Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador
José Joaquim Fernandes Torres. (*)

(') Ouvido o Conselho de Estado, nos termos da Resolução, deu o


parecer seguinte:
Pela Imperial Resolução de 7 de Outubro deste anno Foi Vossa
Magestade Imperial servido ordenar que se ouvisse o Conselho de
E=tado sobre o que consultara a Secção dos Negócios da Justiça, a
respeito de um oííicio do Presidente da Provincia do Ceará, em que
procura justificar o procedimento, por que fora reprehendido em
Aviso de 3 de Outubro do anno passado, pedindo ao Governo que lhe
declare os effeitos que deve produzir o processo formado pelo Sub-
delegado de Policia da cidade do Sobral, contra o Juiz de Direito An-
tônio José Machado, e o Juiz Municipal da mesma cidade Manoel
Theophilo Gaspar de Oliveira.
— 212 —
ItesoluçSo de 11 de Movembro de 1®^©,
Sobre a falta de pagamento da terça parte dos rendimentos de um
officio de Justiça ao respectivo serventuário vitalício.

Senhor.—A Secção do Conselho cie Estado dos Negócios


da Justiça tem a honra de interpor o seu parecer, como
por Vossa Magestade Imperial lhe foi ordenado, sobre o re-
querimento de João de Carvalho Raposo, e a contestação que
se apresenta por parte de Luiz José Ferreira Leite,
O supplicante João de Carvalho Raposo tinha a serventia
vitalícia do primeiro officio de Escrivão da Correição do
Civel desta Corte, e usando da faculdade que lhe dava o
Alvará de 31 de Julho de 1826, nomeou ao supplicndo Luiz
José Ferreira Leite para em seu lugar servir o dito officio
com a pensão da terça parte do rendimento, em que estava
lotado.
Extincta o Juizo da Correição do Civel, e determinando
o art. 40 do Cod. do Proc, queos Escrivães desse Juizo
servissem de Escrivães das appellações, passou o suppli-
cado a exercer um destes officios, e desde então nada mais
pagou ao supplicante, já por se persuadir que a elle, e não
a este, é que foi conferido o officio de Escrivão das appel-

A referida Secção havia apresentado a Vossa Magestade Imperial


a sua Consulta do theor seguinte

Reunido o Conselho de Estado, e ouvidos os Conselheiros, que


o formavam, foram unanimes os votos de todos pela approvação do
parecer da Consulta supra transcripta, em todas as suas conclu-
sões. O que o Conselho de Estado respeitosamente leva cá Augusta
Presença de Vossa Magestade Imperial para a Resolução.
Paço em (') de Dezembro de 1846.— José Antônio da Silva Maya.—
Caetano Maria Lopes Gama.— Honorio Hermeto Carneiro Leão.—
Visconde de Monte Alegre— Visconde de Olinda.— Francisco Cordeiro
da Silva Torres.— Bernardo Pereira de Vasconcellos.— José Joaquim
de Lima e Silva.
_ Os Juizes de Direito, nos crimes communs, serão processados e
julgados perante as Relações.—Art. 29 § 2.° da Lei n.° 2033 de 20
de Setembro de 1871.
As attribuições das autoridades policiaes se acham modificadas
pelos arts. 9." e 10 da dita lei.
(*) Não tem data.
— 213 -~
lações; já por não ter feito novo contracto com o sup-
plicante, como suppõe que seria mister para um novo en-
cargo ; e acrescenta, que o officio é de tão pequeno rendi-
mento, que, segundo a Provisão do Conselho de Fazenda
de 9 de Setembro de 1817, nem mesmo ao Thesouro Publico
pôde elle ser obrigado a pagar a terça parte, Sendo esta
questão inteiramente de direito, é preciso procurar nelle
a sua decisão.
A transferencia dos Escrivães da Correição para os officios
de Escrivães das appellações foi ordenada pelo art. 40 do
Cod. do Proc em favor dos que ficavam privados dos
officios, que se extinguiram ; e tanto foi este o fiai da lei,
que não tratou de proporcionar o numero destes empre-
gados ás necessidades do serviço das Relações, como reco-
nhece o supplicado. Sendo, porém, do supplicante a ser-
ventia vitalícia do officio, que se extinguira, a elle per-
tence a do officio, com que a mesma lei quiz compensal-o.
Concordando assim a Secção com as opiniões do Presi-
dente da Relação desta Corte e do Procurador da Coroa,
é também do parecer deste Magistrado, que, quanto á obri-
gação, 'em que está o supplicado de pagar ao supplicante
a terça parte do rendimento do novo officio, que até agora
tem recebido por inteiro, é assumpto do Poder Judiciário.
Vossa Magestade Imperial, resolverá, porém, o que tiver
por mais justo e acertado.
Paço em 16 de Outubro de 1846.—Caetano Maria Lopes
Gama.—Honorio Hermeto Carneiro Leão.—Bernardo Pereira
de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 11 de Novembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
José Joaquim Fernandes Torres. (*)

(*) Os nomeados para as serventias, que não satisfizerem a im-


posta obrigação de pagar annualmente aos serventuários vitalí-
cios a terça parte dos rendimentos, ficarão inbabilitados de con-
tinuar nas mesmas serventias. O processo nestes casos e nos
— 214 —
R e s o l u ç ã o de ^B d e IHovembro de 1841®.
Sobre a pretenção do Secretario da Relação de Pernambuco, r|ue
pedia ser provido no officio de Contador das custas do mesmo
Tribunal.

Senhor — Ordena Vossa Magestade, por Aviso de 5 de


Março de 1845, expedido pela Secretaria de Estado dos Negó-
cios da Justiça, que a Secção respectiva do Conselho de Esta-
do interponha seu parecer sobre a pretenção de Domingos
Antônio Ferreira, Secretario da Relação da provincia de
Pernambuco, que pede ser provido no officio de Contador
das custas do mesmo Tribunal.
O Presidente da dita Relação, ouvido pelo da Provincia,
informa achar-se vago o referido officio de Contador das
custas, e ter sido annexado, por ordem expedida pela Se-
cretaria de Estado dos Negócios da Justiça, ao de Contador
geral; e entende que é justa a pretenção do Secretario, por
que o ordenado e propinas, que lhe pertencem, não lhe po-
dem chegar para sua decente subsistência.
0 Presidente da provincia também julga attendivel a
pretenção do supplicante ; e, não obstante, .parece á Secção
que não ha motivo para se alterar o que já foi resolvido a este
respeito em Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios da
Justiça de 30 de Dezembro de 1844. Então se resolveu que
a contagem dos feitos, que correm e se despacham em Rela-
ção, se annexasse provisoriamente ao officio de Contador
geral, e não ao de Secretario da Relação, como havia orde-
nado o Presidente delia. Semelhante decisão funda-se na
disposição do Regimento das Relações de 3 de Janeiro de
1833, que não incumbiu este serviço ao Secretario, e na das

outros mencionados no art. 7.° da Lei de l i d e Outubro de 1827,


será o estabelecido no Regulamento n.° 120 de 31 de Janeiro de
1842, arts. 396 e seguintes. Art. 3.° do Decreto n. a 4083 de 27 de
Janeiro de 1871.
Cabe o procedimento official contra os serventuários que se re-
cusam á tal pagamento. Avisos de 13 de Maio de 187o e 23 de
Março de 1876.
Cabe também ao serventuário interino o ônus da prestação da
terça parle dos rendimentos de um officio de Justiça. Aviso" de 28
de Dezembro de 1876.
— 215 -
Ordenações, que igualmente o não incumbiam ao Guarda-
mór, a quem substituiu o Secretario. A escassez do ordenado
e propinas do Secretario, allegada pelo Presidente da Re-
lação, não parece motivo sufficiente para alterar a decisão
tomada.
O ordenado e propinas do Secretario da Relação de Per-
nambuco são iguaes aos dos Secretários das Relações do Rio
de Janeiro, da Bahia e do Maranhão, e em nenhum destes
lugares se acha annexò ao officio de Secretario o de Conta-
dor dos feitos, que se despacham em Relação.
Em vista do que, entende a Secção que deve subsistir a
decisão tomada eser indeferida a pretenção do supplicante
Vossa Magestade Imperial Determinará, porém, o que fôr
servido.
Paço, 6 de Novembro de 1846. — Honorio Hermeto Carneiro
Leão.—Caetano Maria Lopes Gama.—Bernardo Pereira de
Vasconcellos.

RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço em 21 de Novembro de 5846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador-
José Joaquim Fernandes Torres.

R í - s o l u ç ã o d e 1® d e ISTíezernibro d e H®^<3.

Sobre o recurso de um réo condemnado á morte e separação de


julgamento.

S en hor — Em observância do Aviso de 19 de Novembro


ultimo vem a Secção dos Negócios da Justiça do Conselho
de E^adQ apresentar m parecer sobre a execução da
— 216 —
sentença, em que o Juiz de Direito da 2. a vara crime da
Corte condemnou amor te o pardo Manoel, escravo de Pedro
Lamagner Frazão, por ter assassinado a José da Silva
Mattos.
Confessa Manoel que assassinou a José da Silva Mattos,
morador no beco da Lapa, e o Jury entende que, longe de
haver circumstancias queattenuem a gravidade do delicto,
encontra só aggravantes.
Assim que, julga o Jury provado que o réo commetteu o
assassinio com esperança de recompensa, que tratara com o
co-réo Antônio Simões mais de um mez antes de o per-
petrar, que, entrando em casa do assassinado, se collocou
em lugar donde não fosse visto por elle, quando se reco-
lhesse ao seu quarto para dormir, e que depois da meia
noite, tendo Mattos já adormecido, se lançou sobre elle e lhe
deu uma navalhada, da qual morreu poucos momentos de-
pois.
E o mencionado Juiz, á vista da declaração do Jury,
condemnou á morte ao dito Manoel, attentas as circum-
stancias aggravantes que acompanharam o delicto, e que
são enumeradas nos|| 11, 12, 14 e 17 do art. 16 do Cod.
Crim.
A Secção entende que a sentença deve ser executada
dando-se morte ao réo, bem que alguma irregularidade se
possa notar no processo. Posto que a letra da Lei de 10 de
Junho de 1835 negue recurso ao escravo que commette
crime de morte na pessoa de seu senhor, em sua mulher,
descendentes, ou ascendentes que em sua companhia mo-
rarem, ou no administrador, ou feitor, e nas mulheres, que
com elles viverem, eoutrosim quando se insurgirem e pra-
ticarem qualquer outro delicto em que caiba a pena de
morte ; todavia a opinião mais geral é que só são privados
de recursos os escravos que attenderem contra a vida de
seus senhores, ou de alguma das pessoas comprehendidas no
art. 1." da citada lei.
A Secção está informada de que a Relação desta Corte
assim tem constantemente julgado, e inclina-se ar esta in-
telligencia da lei, que lhe parece fundada em humanidade
— 217 —
enos principios geraes do direito. Cumpria, pois, no con-
ceito da Secção, ao Juiz de Direito recorrer da sentença em
que condemnou á morte o assassino Manoel; e se não
propõe a Vossa Magestade Imperial a commutação da pena,
é por considerar que a lei não se exprimiu com sufficiente
clareza.
O crime foi commettido por ajuste entre o assassino e
João Simões Amaro Júnior, também condemnado á
morte, e para elle concorreu mui directamente, além da*
escrava Miquelina, D. Carlota Joaquina da Silva Mattos,
cunhada do assassinado.
O Juiz de Direito, attendendo a que D. Carlota estava
grávida, separou o julgamento desta do dos outros três
co-réos; e a Secção julga desacertado, senão illegal este
procedimento. Verdade é que o art. 43 do Cod. Crim.
manda adiar o julgamento da mulher grávida, que tenha
commettido crime pelo qual possa ser condemnada á morte.
As razões, porém, que determinaram os Legisladores a
decretar este adiamento, comprehenclem o julgamento
dos co-réos da mulher criminosa. Nem as Ordenações do
L. 1.' Tit. 79 | 31, Liv. 5.° Tit. 124 § 11 permittem
julgar-se separadamente os co-réos de um delicto senão
a requerimentos de algum delles. Inda, pois, concorreu
mais esta razão para ser estranhavel a conducta do Juiz,
consentindo na separação de processos sem requerimento
cios co-réos.
Como a razão e as leis não toleram a separação de julga-
mentos, que resolveu o Juiz de Direito, e muito possa in-
teressar á Justiça que exista o pardo Manoel quando a ré D.
.Carlota fôr sentenciada, entende a Secção conveniente que
se adie a execução da sentença, até que seja julgada a
dita ré.
E' este o parecer da Secção, que Vossa Magestade Im-
perial Se Dignará Acolher com Sua costumada Indulgência.
Sala das sessões do Conselho de Estado, a que pertencem
os negócios da Justiça, em 9 de Dezembro de 1846.— Ber-
nardo Pereira de Vasconcellos.—Caetano Maria Lopes Gama.
— Honorio Hermeto Carneiro Leão.
c J. 28.
- 218 —
RESOLUÇÃO.
Como parece.
Paço, 12 de Dezembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
José Joaquim Fernandes Torres.

Ctmsuít» d e 1© d e JDseaieKiiIfosro d e 1 8 4 6 ,
Sobre soccorros aos presos pobres.
Senhor.— Houve Vossa Magestade Imperial por bem
Ordenar, que a Secção do Conselho de Estado interpozesse
o seu parecer sobre o officio do Presidente da Provincia de
S. Paulo, em que solicita do Governo Imperial uma reso-
lução, que decida, se os soccorros aos presos pobres perten-
cem á despeza geral ou á provincial.
A Secção, concordando com a opinião do Procurador da
Coroa, (*) e referindo-se aos judiciosos argumentos, com
que elle a sustenta, é de parecer, que pelos cofres das ren-
das provinciaes deS. Paulo deve ser feita dita despeza.
Vossa Magestade Imperial Resolverá porém o que fôr
mais digno da Sua Alta Sabedoria.
Paço em 16 de Dezembro de 1846. — Caetano Maria Lopes
Gama.— Honorio Hermeto Carneiro Leão, —-Bernardo Pereira
d,e Vasconcellos.

(') A opinião do Procurador da Coroa é do teor seguinte :


Que as despezas com presos pobres têm sido, e ainda são conside-
radas a cargo dos cofres das respectivas províncias, é assumpto, que
para mim não pôde entrar em duvida, firmando-me tão somente nos
três seguintes fundamentos :
1.° Nas leis de orçamento geral, incluindo-se a do exercício cor-
rente, só apparece esta verba para o município da Corte especifica-
damente.
2.° Por documentos prova-se que a Assembléa de S. Paulo tem
applicado quantias para esta despeza, e que só agora o deixou de
fazer, o que mostra que ao menos até agora tem estado nessa convic-
ção.
3." Não me consta que alguma outra Assembléa Provincial tenha
desconhecido este encargo, attribuindo-o ao cofre geral.
Rio de Janeiro, 15 de Dezembro de 1848.
— 219 —
U t e s o í u ç ã o d e 1© d© D e z e m b t r o d e 1 8 4 $ ,

Sobre os effeitos da pronuncia nos crimes particulares, commettidos


por empregados públicos.

•Senhor. — Pelo Aviso datado de 10 de Outubro próximo


passado, expedido pela Secretaria de Estado dos Negócios
da Justiça, Mandou Vossa Magestade Imperial que a res-
pectiva Secção do Conselho de Estado interpozesse seu pa-
recer sobre o conteúdo do officio do Vice-Presídente da
Provincia da Bahia de 19 de Agosto ultimo, que acom-
panhou o dito aviso.
Expõe o mesmo Vice-Presidenteem seu referido officio que'
alguns Juizes Municipaes entendem que a pronuncia nos
crimes particulares, commettidos por empregados pú-
blicos, produz a suspensão do exercido de todas as func-
ções publicas, fazendo assim extensiva a disposição do §
2." do art. 165 do Cod. do Proc. Crim., que só é applicavel
aos crimes de responsabilidade; e que attendendo elle a
que a doutrina do art. 94 da Lei de 3 de Dezembro de
1841 só trata da suspensão dos direitos políticos, tendo
outrosim em vista o que dispõe o Aviso de 30 de Se-
tembro de 1834, que exceptua o caso da pronuncia
obrigar a prisão, solicita que o Governo Imperial haja
de dar uma decisão sobre este assumpto.
O Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda Nacional,
tendo sido ouvido, considera resolvida a duvida pela dis-
posição do art. 94 da Lei de 3 de Dezembro de 1841, e do
art. 293 | 2.L do respectivo Regulamento de 31 de Janeiro
de 1842.
Como pela disposição do citado art. 94 é sem duvida que
a pronuncia, depois de sustentada competentemente, sus-
pende o exercício dos direitos políticos, entende o mesmo
Procurador da Coroa.que se não podem exceptuar as func-
ções, que desempenham os empregados públicos em razão
do seu officio.
A Secção, tendo considerado esta matéria, julga que a
duvida proposta pelo Vice-Presidente da Provincia da
Bahia não se acha resolvida pela disposição do art. 94 da
— 220 —

Lei de 3 de Dezembro de 1841, e do art. 293 § 2. do Regu-


lamento de 31 de Janeiro de 18i2, como parece ao Procu-
rador da Coroa.
Pela disposição destes artigos a pronuncia, depois de.
sustentada competentemente, suspende o exercício dos
direitos políticos.1
Esta disposição, porém, não deve ser entendida litteral-
mente, porque, assim entendida seria offensiva da Consti-
tuição do Império. O §2. do art. 8. da mesma Consti-
tuição declara que se suspende o exercício dos direitos
políticos por sentença condemnatoria á prisão ou degredo,
emquanto durarem os seus effeitos. O § 3 . do art. 94 da
mesma Constituição declara não poderem ser eleitores os
criminosos pronunciados em querella ou devassa. Dahi se
segue que taes criminosos ficam suspensos de um direito
político, qual o de poderem ser nomeados eleitores; mas
não se acham suspensos de todos, pois não são excluídos de
votar nas assembléas parochiaes, quando tenham as outras
circumstancias necessárias. Sendo assim, é claro que o
art. 94 da Lei de 3 de Dezembro de 1841, emquanto dispõe
que-a pronuncia não suspende os direitos políticos, senão
depois de sustentada, não deve ser entendido tão litteral e
amplamente que se considere por virtude delle suspensos
de todos os direitos políticos aquelles que tiverem sido
pronunciados, e cuja pronuncia haja sido sustentada. Essa
intelligencia viria a dar ás pronúncias sustentadas os
effeitos, que a Conc-tituição Política do Império quiz somente
dar á sentença condemnatoria á prisão ou degredo. Que tal
não foi o intuito do Legislador se deve presumir pela dis-
posição contida no art. 53 §3. da Lei n.° 387 de 19 de
Agosto do corrente anno.
Ahi se copia fielmente o § 3.° do art. 94 da Constituição.
Do exposto pòde-se concluir que os pronunciados, ainda
depois de sustentada a pronuncia, não ficam suspensos do
todos os seus direitos políticos, mas somente de um, qual o
de poderem ser nomeados eleitores. Consequentemente
não se deve na supposição dessa suspensão geral de direitos
políticos basear a suspensão dos empregos públicos, como
— 221 —
pretendem os Juizes, de que faz menção o Vice-Presidente
da Provincia da Bahia.
A suspensão dos empregados públicos, quanto aos pro-
nunciados, deve por tanto ter somente lugar : l.«, a respeito
dos pronunciados em delicto de responsabilidade, conforme
a disposição do art. 165 do Cod. do Proc.; 2.°, a respeito
dos pronunciados em crimes inafiançáveis de qualquer
natureza que sejam; 3. , a respeito dos pronunciados nos
crimes afiançaveis em quanto não tiverem effectivamente
prestado a fiança e obtido mandado de soltura, ou contra-
mandado para não serem presos. A suspensão dos empregos
nestes dous últimos casos é um effeito necessário da prisão,
que impossibilita e torna incompatível o eífectivo exer-
cício do emprego.
Tal é a opinião da Secção. Vossa Magestade Imperial
Resolverá o que parecer mais justo.
Paço em 13 de Novembro de 1846.— Honorio Hermeto
Carneiro Leão.—Bernardo Pereira de Vasconcellos .—•Caetano
Maria Lopes Gama.
RESOLUÇÃO.

Como parece.
Paço, 16 de Dezembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador
José Joaquim Fernandes Torres. (*)

(*) De uma nota lançada no original da Consulta se verifica que se


mandou lavrar, sobre a matéria, Avisos aos Presidentes da Bahia c
Rio de Janeiro ; mas apenas se encontra registrado o que foi dirigido
ao desta ultima provincia, e que é do theor seguinte :
Rio de Janeiro.— Ministério dos Negócios da Justiça em 24 de De-
zembro de 18í6.
Illm. eExm. Sr.—Em resposta ao officio que V. Ex. me dirigiu,
sob n.° 174, e data de 5 do mez passado, relativo ao acto do Juiz de
Direito de Cabo Frio, quando mandou suspender do exercício de
Professor publico de instrucção primaria, e de Tenente Coronel da
Guarda Nacional, ao cidadão Manoel Barboza Ribeiro, visto achar-se
pronunciado por crime de responsabilidade, como incurso no art.
181 do Cod. Crim., tenho a communicar a V. Ex. que, por imme-j
diata Resolução, tomada sobre Consulta da Secção dos Negócios da:
9qa _

ffcesoSsieão d© S 3 d e D e z e m b r o d e 1®4<5.

Sobre a intelligencia e execução que se.deve darão art. do


Cod. Crim., e bem assim aos arts. 433 e43í do Regul. n.° 120 de
31 de Janeiro de 1843, relativamente ás multas impostas aos réos
de diíferentes penas.

Senhor.—Ordena Vossa Magestade Imperial, por Aviso


da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça de 20 de
Outubro do corrente anno, que a respectiva Secção do
Conselho de Estado interponha seu parecer sobre os escla-
recimentos, que pede o Juiz Municipal da 3. a vara desta
Corte acerca da intelligencia e execução, que deve dar ao
art. 49 do Cod. Crim., e bem assim do art. 433do Regu-
lamento de 31 deJaneirode 1842.
Expõe o-referido Juiz Municipal da terceira vara:
1.' Que existem na Casa de Correcçâo, e em outros esta-
belecimentos públicos condemnados á prisão com trabalho
soffrendo a pena como se fossem sentenciados á galés, e
que para com estes presos encontra algumas difficuldades
na execução do art. 49 do Cod. Crim., não sabendo se a
commutação ordenada por esse artigo deve ser feita em

Justiça do Conselho de Estado, versando sobre matéria idêntica,


Houve Sua Magestade o Imperador por bem Mandar declarar que a
suspensão dos empregos públicos, quanto aos pronunciados, deve ter
somente lugar: 1.°, a respeito dos pronunciados em delicio de res-
ponsabilidade, conforme a disposição do art. 16S do Cod. do Proc. ;
2.°, a respeito dos pronunciados em crimes inafiançáveis, de qualquer
natureza que sejam; 3.°, a respeito dos pronunciados, nos crimes
afiançaveis, em quanto não tiverem effectivãmente prestado a fiança,
e obtido mandado de soltura, ou contra-mandado para não serem
presos; sendo nos dous últimos casos, um effeito necessário da prisão,
que impossibilita, e terna incompatível o effectivo exercício do em-
prego. Estando, porém, o cidadão Manoel Barboza Ribeiro compre-
hendido em o primeiro dos três casos apontados, é evidente que o Juiz
de Direito procedeu em regra, mandando intimar ao mesmo cidadão,
para deixar de exercer o seu emprego.
Deus Guarde a V. Ex. — José Joaquim Fernandes Torres.— Sr. Pre-
sidente da Provincia do Rio de Janeiro.
O Aviso de 20 de Abril de 1876 também trata da matéria e declara
que a pronuncia em crime de responsabilidade suspende logo o
exercício das funcções publicas, não obstante o recurso para o Iri-
bunal superior e a "disposição da Lein. 0 2033 de 20 de Setembro de
1871, art. 17 § 1.° parte final, que ê restríeta ás decisões dos Juizes
Municipaes nos crimes communs,
— 223 —

relação ao tempo de suas sentenças, ou ao que lhes falta


para cumpril-as.
Expõe em segundo lugar o mesmo Juiz que, ordenando
o art. 433 do Regul. de 31 de Janeiro de 1842 que, quando
a multa fôr em relação ao tempo, o Juiz nomeará peritos
para arbitrarem o tempo da prisão com trabalho, necessá-
rio ao réo para ganhar-lhe a importância da multa, e nesse
tempo será commutada ; e ordenando o art. 434 que,
quando não houver prisão com trabalho, terá lugar a
reducção desse tempo á prisão simples com augmento da
terça parte do tempo, precisa esclarecimento que o instrua
se esse augmento da terça parte, de que trata o art. 434,
se entende para os condemnados á galés, que estão empre-
gados nas obras publicas, ou somente para os sentenciados
a prisão com trabalho, e á prisão simples.
Ouvido o Desembargador Procurador da Coroa, Sobe-
rania e Fazenda Nacional acerca destas duvidas, quanto á
primeira, pareceu-lhe pela exposição do Juiz Municipal
reconhecer que de facto tem havido 'excesso na execução
das sentenças, e exacerbação nas penas; e como os dictames
da justiça aconselham neste caso especial uma reparação ou
compensação, e não descubra na lei disposição alguma
que confira este arbitrio ao Juiz executor, como este en-
tende, e só encontra o remédio extraordinário, que pôde
dimanar da soberania prerogativade agraciar, é de parecer,
em quanto á primeira duvida, que sem perda de tempo o
Juiz apresente uma relação dos réos, a que allude, com in-
formação satisfactoria de todas as circumstancias indi-
viduaes, a fim de que por um acto do Poder Moderador se
façam as commutações e graças, que parecerem justas.
Em quanto á segunda duvida, entende o mesmo Pro-
curador da Coroa que, logo que o regulamento tratando de
commutação da multa nenhuma excepção estabelece cm
relação á pena principal, senão a que indica o art. 431 para
—os condemnados á prisão simples por infracçãodo mesmo
artigo da lei—, é conseqüente que se não deve admittir a
distincção, que figura o Juiz para os condemnados a galés
empregados nas obras publicas,
— 224 —

A Secção, tendo julgado convenientes alguns esclare-


cimentos a respeito dos factos allegados pelo Juiz Muni-
cipal, requereu ser informada: 1.', se os condemnados a
prisão com trabalho, que se acham na Casa de Correcçâo
e outros estabelecimentos públicos, andam com corrente de
ferro, além da calceta no pé ; 2.°. se estão empregados
nos trabalhos públicos, ou somente se empregam em tra-
balhos dentro do recinto ou muralha da Casa de Correcçâo.
O Juiz Municipal da 3.* vara informa em officio de 30
do mez passado, communicado á Secção por Aviso de 4 do
corrente mez, que, tendo ido pessoalmente á Casa de Cor-
recçâo, vira que os presos sentenciados á prisão com tra-
balho tinham cada um meia corrente e manilha ao pé;
que trabalham dentro das muralhas das obras e ha con-
strucção dessas mesmas obras, e que andam separadamente.
A Secção, em vista de taes informações, não pôde con-
cordar, em quanto á primeira duvida, nem com o Juiz
Municipal, nem com o Desembargador Procurador da
Coroa.
O Juiz Municipal entendequeos condemnados, que exis-
tem na Casa de Correcçâo, posto que o sejam á prisão com
trabalho, estão soffrendo pena como se fossem senten-
ciados a galés. O Desembargador Procurador da Coroa re-
conhece haver de facto excesso na execução das sentenças,
e exacerbação nas penas.
A Secção, tendo presentes as disposições dos arts. 44 e
46 do Cod. Crim., julga que nenhuma exacerbação de pena
soffrem os condemnados á prisão com trabalho, que actual-
mente se empregam na Casa de Correcçâo.
Não constituem a pena de galés somente a calceta ao pé
e a corrente de ferro; é necessário além disso, para se
julgar que os condemnados supporlam semelhante pena,
que elles sejam empregados nos trabalhos públicos.
Se os condemnados á prisão com trabalho, que actual-
mente existem na Casa de Correcçâo, posto que tenham
meia corrente e manilha ao pé, comtudo só trabalham den-
tro da muralha das obras e na construcção das mesmas
obras, não supportam a pena de galés, rnas sim a de prisão
— 223 -

com trabalho, em que foram condemnados; porquanto esta


pena, segundo o art. 46doCod. Crim., obriga os réos a
occuparem-se diariamente no trabalho, que lhes fôr des-
tinado dentro do recinto das prisões,—na conformidade das
sentenças e dos regulamentos policiaes das mesmas prisões.
Quando a Casa de Correcçâo estiver terminada, convirá
adoptar-se um regulamento apropriado ao systema de sua
construcção ; e então esse regulamento deverá sem du-
vida excluir a corrente e manilha ora usadas. Porém essa
corrente e manilha, adoptadas provavelmente para diffi-
cultar a fuga dos condemnados á prisão com trabalho em-
pregados na Casa de Correcçâo, não são sufficientes para se
julgar com ellas aggravada a pena de galés.
Desde que os condemnados existentes na Casa de Cor-
recçâo trabalham dentro do recinto das muralhas, e não
em trabalhos públicos, a pena que supportam não é outra
senão a pena de prisão com trabalho.
Segundo o art. 46 do Código pertence ao? regulamentos
policiaes das prisões o determinar a maneira por que os
réos se hão de occupar diariamente nos trabalhos. Este
artigo nem determina que os réos estejam acorrentados,
nem exclue a corrente e calceta; aos regulamentos poli-
ciaes das prisões deixou elle o prudente arbitrio de adoptar
a semelhante respeito os preceitos, que fossem conve-
nientes,^ que podem ser diversos em a ttençãoá segurança
das prisões, á sua capacidade, ao systema e estado de con-
strucção, etc.
De conformidade com estas opiniões da Secção é ella de
parecer, quanto á primeira duvida, que não tem lugar a
respeito dos condemnados á prisão com trabalho, que se
acham empregados na Casa de Correcçâo, a commutação ou
substituição de pena, de que trata o art. 49 do Código Cri-
minal ; por quanto a pena por elles supportada não se pôde
considerar aggravada pela manilha e meia corrente, que
ora trazem ; essa pena não é outra senão a de prisão com
trabalho em que foram condemnados os réos.
Quando as ordens e regulamentos policiaes, em virtude
dos quaes são actualmente empregados nos trabalhos da
c. i. 29
— 226 —

Casa de Correcçâo e dentro do recinto das muralhas os con-


demnados á prisão com trabalho, não tenham estabelecido
expressamente o uso dessa meia corrente e manilha (o que
não pareceprovavel),sendo ellas necessárias para segurança
dos réos no estado, em que se acham as obras da dita casa,
cumpre que taes regulamentos prescrevam expressamente
esse uso de meia corrente e manilha, o que fará cessar
todas as duvidas por ser da incontestável competência do
Governo Imperial a organisação dos regulamentos poli-
ciaes das prisões.
Pelo que toca á segunda duvida, a Secção se conforma
com o parecer do Desembargador Procurador da Coroa,
entendendo que não fazendo os arts. 443 e 444 do Regula-
mento de 31 de Janeiro de 1842 distineção alguma entre
condemnados a differenles penas, evidente é que as^dispo-
sições destes artigos são applicaveis tanto aos sentenciados
à prisão com trabalho e á prisão simples, como aos con-
demnados a galés, o que igualmente é conforme ás dispo-
sições do Código Criminal.
Tal é o parecer da Secção; Vossa Magestade Imperial
resolverá o que julgar mais justo.
Paço em 18 de Dezembro de 1846. — Honorio Hermeto
Carneiro Leão.— Caetano Maria Lopes Gania.— Bernardo
Pereira de Vasconcellos.
RESOLUÇÃO.
Gomo parece.
Paço, 23 de Dezembro de 1846.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador-
José Joaquim Fernandes Torres. (*)

(*) Expediu-se o seguinte aviso ao Juiz Municipal da Corte:


Ministério dos Negócios da Justiça.— Rio de Janeiro em 19 de Ja-*
neiro de 1847.
Tendo sido consultada a Sdcção dos Negócios da Justiça do Conselho
de Estado a respeito do officio que em data de 23 de Setembro do anno
irndp, V. S. dirigiu ao Governo Imperial pedindo esclarecimentos
sobre a exacta intelligencia e execução que se devia dar ao art. 40
— 227 —

do Código Criminal, por isso que na Casa de Correcçâo existiam con-


demnados á prisão com trabalho soffrendo a pena como se fossem
condemnados a galés e bem assim dos arts. 433 e 434 do Regulamento
de 31 de Janeiro de 1842, relativamente ás multas impostas aos réos
de diíferentes penas; foi a mesma Secção de parecer que em presença
dos arts. 44 e 46 do Código Criminal julgava que nenhuma exa-
cerbação de pena soffrem os condemnados á prisão com trabalho em-
pregados nas obras da dita Casa de Correcçâo; por quanto, não
constituindo a pena de galés somente a calceta ao pé e a corrente de
ferro, era necessário, para se julgar que taes condemnados suppor-
tavam semelhante pena, que estivessem empregados nos trabalhos
públicos; desde que elles só trabalhavam, posto que com meia cor-
rente e manilha ao pé, dentro do recinto das muralhas da Casa de
Correcçâo, não se podia dizer que experimentavam a pena de galés
e sim a de prisão com trabalho, em que foram condemnados, visto
que pelo art. 46 são obrigados a occuparein-se diariamente no tra-
balho, que lhes fôr destinado dentro das prisões, na conformidade
das sentenças e dos regulamentos policiaes das mesmas prisões,
sendo de esperar que, logo que fosse concluída a dita Casa de Cor-
recçâo se adoptaria um regulamento apropriado ao systema de sua
construcção, no qual se excluiria sem duvida a corrente e a ma-
nilha, ora usadas provavelmente para difficullar a fuga dos con-
demnados á prisão com trabalho; o que não era motivo suffieienle
para se julgar aggravada essa pena ; não tendo por tanto lugar a
commutação ou substituição da pena, de que trata o art. 49 do
referido Código: e pelo que respeita á segunda duvida, que não
fazendo os arts. 433 e 434 do Regulamento de 31 de Janeiro de 1842
distineção alguma entre condemnados a diíferentes penas, evidente
era què as disposições destes artigos _se referiam tanto aos senten-
ciados á prisão com trabalho e á prisão simples, como aos condem-
nados á galés, o que igualmente era conforme ás disposições do
Código Criminal. E Havendo-se Sua Magestade o Imperador, pela
Sua Immediata Resolução dejj 23 de Dezembro ultimo, Conformado
com este parecer da sobredita Secção dos Negócios da Justiça do
Conselho de Estado, o Manda conímunicar a V. S. para seu co-
nhecimento e execução.
Deus Guarde a V. S.— José Joaquim Fernandes Torres.— Sr. D. Luiz
de Assis Mascarenhas.
O Decreto n. c 678 de 6 de Julho de 1850 dá regulamento para a
Correcçâo da Corte.
ÍNDICE ALPHABETICO

DAS MATÉRIAS

DE QUE TRATAM AS CONSULTAS E RESOLUÇÕES CONTIDAS


NO PRESENTE VOLUME.

A.

PAGINAS.
Acto — de um Presidente de Provincia, negando sancção
a uma lei 42
Aforamento de terras pertencentes a índios. 88
Aggravos 19
Ajudante do Procurador dos Feitos da Fazenda 144
Amnistia 97
Appellaçâo 49
Arrendamento de terras pertencentes á índios 88

Cl.

Commutações de penas 222


Conservatórias inglezas — destino dado á processos nellas
existentes 82
Contador 214
Correição 75,157, 183
Casamento de orphãos 172

o.
Distribuição— de autos crimes dependentes da sustenta-
ção de pronuncia — 21
Damno. , . , . . . . * . . . . , ,• W
PAGINAS.
Embargo '11, 14
Esrcivães— reclamação contra a nomeação do dos Feitos
da Fazenda de Pernambuco : 23
Escrivães — reclamação de alguns para nao escreverem
por distribuição ... 183
Escrivães — provimento interino 103

w.
Foro — para julgamento de um militar 84
91.

Habeas-corpus 44
Hypothecas 115
K.

Instrucção — aos Juizes de Paz e Municipaes, Delegados e


Subdelegados. .... 3,1
«I.
Juizes de Direitos— suas substituições... 49
Juizes Municipaes — quadriennio e substituição 165
Jurados — alteração na respectiva lista 149,
Vu. i

Lei de 10 de Junho de 1835—imposição de penas e in-


terpretação.. 39, 80
Leis Pravinciaes 16, 80
Leis — quando principião a obrigar 49
SM.
Magistrados — quaes são elles 67
Magistrados —suspensão delles pelos Presidentes de Pro-
vincia 24
Magistrados — suspensão de um pelo Governo Imperial.. 26
Magistrados —pedido de outro para ser responsabilizado
pelas aceusaçoes que soíTreu ...••• 56
Multas 222
O.
Officiaes da Guarda Nacional — conservação ou não con-
servação de postos, uniformes distinctivos e expedição
de patentes 93, 193
Officios de Justiça — remoções. 196.
Ofücios de Justiça — falta de pagamente da 3. a parte dos
rendimentos de um officio, e como se procede, 212
Orphãs — desvalidas. 114-
p*.
PAGINAS.
Passaportes 155
Perdão do offendido — seus effeitos 70
Precedência — entre Rispos e Presidentes de Provincia.. 188
Presidência do Tribunal do Jury.... 60, 61
Eresidentes de Provincia — inconvenientes que podem
resultar da faculdade que elles tem de resolver du-
vidas 49
Presos pobres — seus soccorros 218
Privilegio de foro—concedido aos subditos de S. M.
Britannica 64
Processo — de autos crimes dependentes da sustentação
da pronuncia 21
Processo—organisado por um Subdelegado de Policia
contra um Juiz de Direito e um Juiz Municipal — seus
effeitos ., 206
Processo — quando existir queixa da parte e denuncia
do Promotor Publico : 70
Promotores Públicos —nomeação interina , 39
Pronuncia — seus effeitos nos crimes particulares,, com-
mettidos por empergados públicos 219
Provimento da Relação de Pernambuco que não foi
cumprido 44

Hi.

Recurso — das decisões do Jury , 34


Reforma de despaGhos — •... 32, 35
Regulamento—da parte civil da lei de 3 de Dezembro
de 1841... I
Regulamento — do Corpo Municipal Permanente 8
Kemessa — de autos crimes dependentes da sustentação 21
da pronuncia

8.

Separação de julgamento. , •••• 215


Suspeições • 37, 49
10
Solicitadores. • •••• »

Tabelliães — reclamação contra a nomeação de u m . . . . . 170


Titulos de residência de estrangeiros 155
ÍNDICE CHKONOLOGICO

OAS

C O N S U L T A S E R E S O L U Ç Õ E S C O N T I D A S fVO
PRE8E*«TE VOLUME.

A n n o de 1 8 4 8 .

PAfiS.
Consulta de 7 de Março de 1842.—Sobre o projecto de regu-
lamento para a execução da parte civil da Lei n.° 261 de
3 de Dezembro de 1841'.... 7
Consulta de 19 de Abril de 1842.—Sobre o projecto de regu-
lamento para o corpo Municipal Permanente.. 8
Consulta de 9 de Setembro de 1842.—Sobre duvidas no pro-
cesso e julgamento dos embargos oppostos a um Acórdão da
Relação da Corte, proferidos nos autos de appellaçâo entre
D. Francisca Norberta e seus filhos e D. Maria Gualberta
Xavier de Lima — 11
Consulta de 9 de Setembro de 1842.—Sobre o embargo feito
no producto da venda da barca portugueza Maria Carlota,
que, como navio empregado no trafico de africanos, foi
condemnada pela commissão mixta Brazileira e Ingleza e
arrematada em hasta publica, em virtude de sentença da
mesma commissão '. — 14
Consulta de 21 de Novembro de 1842.—Sobre os actos da As-
sembléa Legislativa da Provincia das Alagoas, promulgados
nas sessões extraordinária e ordinária do anno de 1842... 16
A n n o ile ÍS^SS.

PAUS,
Consulta de 2 de Março de 1843.— Sobre os.seguintes que-
sitos: — Se por virtude, da Lei de 3 de Dezembro de 4811
foram restabelecidos para a Relação os aggravos dos des-
pachos do Chanceller, que foi substituído pelo Presidente;
e, no caso affirmativo,— as regras pelas quaes esse recurso
se deverá reger i'í
Consulta de 16 de Junho de 1843.—Sobre a
os inconvenientes
encontrados pelo Juiz Municipal da 3 . vara da Corte na
distribuição, processo e remessa de autos crimes, depen-
dentes da sustentação da pronuncia 21
Consulta de 21 de Setembro de 1843. —Sobre a reclamação de
Francisco Baptista de Almeida contra o Decreto de 4 de
Maio de 1843, que conferiu a Pedro José Cardoso a serventia
do officio de Escrivão dos Feitos da Fazenda de Pernam-
buco :>,'<
Resolução de 27 de Setembro de 1843.—Sobre a intelligencia
do § 8.° da Lei de 3 de Outubro de 1834, relativa á duração
da faculdade concedida aos Presidentes de Provincia para
suspenderem Magistrados 24
Resolução de 8 de Outubro de 18-43.—Sobre factos occorridos
na Provincia do Espirito Santo contra a tranquillidade pu-
blica, que motivaram a suspensão do Juiz de Direito da Co-
marca de Itapemirim 26
Resolução de 8 de Novembro de 1843.—Sobre duvidas rela-
tivas ao | 9.° do art. 46 do Código do Processo Criminal... 31
Resolução de 8 de Novembro de 1843.— Sobre : se pôde o Juiz
de Direito reformar actos exercitados pelo seu s u b s t i t u t o . . . 32
Resolução de 8 de Novembro de 1843.—Sobre: se pôde o Juiz
de Direito Presidente do Jury, depois de ter recorrido da
decisão deste Tribunal, deixar de proseguir nesse recurso
por ter reconhecido pelo exame dos autos, que o não devera
ter interposto . 34
Resolução de 8, de Novembro de 1843.—Sobre a reforma do
despacho de sustentação de pronuncia 33
Resolução de_8 de Novembro de 1843.—Sobre o julgamento
de suspeições postas aos Juizes Municipaes, 'em causas
eiveis 37
Resolução de 8 de Novembro de 1843.—Sobre a nomeação
interina de Promotor Publico, para negocio urgente em um
termo, estando o effectivo oecupado em outro, e imposição
de penas aos escravos julgados pela Lei de 10 de Junho
de 1835 39
Resolução de 8 de Novembro de 1843.—Sobre o acto do Pre-
sidente da Provincia do Ceará, que negou sancção a uma
lei da respectiva Assembléa Legislativa, creando um ofücio
de Jusjiça 42
Resolução de 24 de Novembro de 1843.— Sobre um provimento
da Relação de Pernambuco, que nao foi cumprido por ter
sido apresentado fora do prazo marcado no art. 77 da Lei
de 3 de Dezembro de 1841 e a maneira pela qual se deve
expedir ordem de habeas-corpus, quando os detidos estejam
em quartel militar, ou em outra prisão, que não seja cadeia
publica , 44
PAGS.
Consulta de de Dezembro de 1843.(")— Sobre a substituição
do Juiz de Direito, appellaçâo, suspeição, o tempo em que as
leis principiam a obrigar, e art. 34 dó Regulamento de 2 de
Fevereiro de 1842, que autoriza os Presidentes de Provincia
a resolver duvidas 40
Consulta do de Dezembro de 18-43.('")— Sobre o requeri-
mento em que um Magistrado, aceusado de ter recebido
dinheiro para não pronunciar a um criminoso, pediu .ser
responsabilisado 50
Resolução do 20 de Dezembro de 1843.—Sobre: se o Juiz de
Direito interino pôde presidir ao Jury no julgamento de um
processo, no qual, como Juiz Municipal, revogou ou sus-
tentou a pronuncia CO'
Resolução de 20 de Dezembro de 1843.—Sobre : se os Juizes
Municipaes que pronunciam, ou sustentam pronúncias, po-
dem presidir ao Jury nos processos, em que assim tiverem
intervindo 61
Resolução de 20 de Dezembro de 1843.—Sobre os. privilégios
concedidos aos subditos de Sua Magestade Britannica no
art, 6.° do Tratado de 17 de Agosto de 1827....... 04

A n n o ele 18-4^2.

Resolução de 24 de Janeiro de 1844.—Sobre a intelligencia do


termo — Magistrados 67
Resolução de 2i de Janeiro de 1844.— Sobre o effeito do per-
dão concedido pelo offendido e o modo de processar um
indivíduo quando contra elle- existirem queixa da parte e
denuncia do Promotor Publico 70
Resolução de 24 de Janeiro de 1844.—Sobre as correições de
que trata, o Regulamento n.° 120 de 31 de Janeiro de 1842... 75
Consulta de 26 de Janeiro de 1844.—Sobre actos legislativos
da Assembléa da Provincia do Rio Grande do Norte 80
Resolução de 5 de Outubro de 1844.— Sobre o recurso de graça
dos réos Francisco Cassange, c Francisco Moçambique; e
interpretação da Lei de 10 de Junho de 1835 80
Resolução dè 18 de Outubro de 1844. —Sobre o destino dado a
diversos processos, que existiam nas Conservatórias In-
Consulta* de 24 de Outubro de 1844— Sobre a competência de
foro para o julgamento de um militar — . — 84
Resolução de 29 de Outubro de 1844.— Sobre o destino que se
devia dar a uma quantia proveniente de arrendamentos e
aforamentos de terras pertencentes a índios 88
Resolução de 29 de Outubro de 1844.- Sobre a conservação ou
não conservação de postos a officiaes da guarda nacional,
cujas companhias e corpos foram dissolvidos

(*) Esta consulta nao tem mez nem anno ; mas supponho que ella
ellaéé
e Dezembro do 1843, á vista de dados existentes nesta Secretaria de
de'.
Estado.
(**) Esta consulta nao tem daí
PA os.
Resolução de 9 de Novembro de 1844. —Sobre a amnistia e
destino dos rebeldes apresentados na comarca do Brejo,
Provincia do Maranhão '. 97
Consulta de 28 de Novembro de 1844.— Sobre actos legislativos
da Assembléa Provincial de S. Paulo 102
Resolução d e l i de Dezembro de 1844.—Sobre o provimento
interino de um serventuário de officio de justiça 103
Resolução de 11 de Dezembro de 1844.—Sobre o provimento
dos Solicitadores de numero das Relações 106
Resolução d e l i de Dezembro de 1844.—Sobre orphãs desva-
lidas • 111

A n n o d e IS^Síí.

Resolução de 7 de Junho de 1845.—Sobre a creação do Registro


Geral das hypothecas 115
Consulta de de Setembro de 1845. — Sobre a necessidade
da nomeação de um Ajudante do Procurador dos Feitos da
Fazenda 144
Consulta de 10 de Setembro de 1845.—Declara que o perdão
não exime o réo de satisfazer o damno causado 147
Consulta de 27 de Setembro de 1845.—Sobre a alteração iIlegal
que o Presidente da Provincia do Ceará mandou fazer na
lista dos jurados da cidade do Sobral, e correspondência
desrespeitosa, que aquella autoridade dirigiu nessa oceasião,
o respectivo Juiz de Direito 149
Consulta de 7 de Outubro de 1845.— Sobre o requerimento em
que os empregados da Secretaria da Poiicia da Corte pedem
a revogação do art. 110 do Regulamento n.° 120 de 31 do
Janeiro de.1842, e a creação de emolumentos sobre os titulos
de residência de estrangeiros : 155
Consulta de 17 de Dezembro de 1845. —Sobre correição nos
livros e processos do Juizo de Orphãos e Ausentes da Corte. 157

Resolução de 25 de Junho de 1846.—Sobre a contagem do qua-


driennio dos Juizes Municipaes e substituição dos mesmos,
quando não forem reconduzidos *, lo.">
Resolução de 4 de Julho de 1846.—Sobre a revogação de um
Alvará que conferiu a Joaquim José Pereira dos Santos a
serventia vitalícia do ofücio de Tabellião de Notas da capital
de Pernambuco . . . 170
Resolução de 4 de Julho de. 1846.— Sobre casamento de orphãos
sem a licença do respectivo Juiz...... 172
Resolução de '4 de Julho de 1846.—Sobre emolumentos de es-
tada aos Juizes e Escrivães 178
Resolução de 8 de Julho de 1846.—Sobre o requerimento em
- que o Juiz de Direito Ângelo Muniz da Silva Ferraz pediu
pagamento de seu ordenado durante um período, no qual
nao serviu o lugar - 180
Resolução de 12 de Agosto de 1846.—Sobre a reclamação do
Juiz de Orphãos da Corte para que seus actos não ficassem
sujeitos á correição do Juiz do Crime 183
PAl.h.
Resolução de 19 de Agosto de 18HK— Sobre a reclamação que,
contra a disposição do art. 482 do Regulamento n.° 120 de 31
de Janeiro de 1842, fizeram o 1.» e 2.° Tabelliães de Notas
e o Escrivão de Orphãos da cidade da Victoria 185
Resolução de 19 de Agosto de 1846.—Sobre precedência nos
actos officiaes entre o Rispo e o Presidente da Provincia de
S. Paulo 188
Consulta de 24 de Setembro de 1846.—Sobre uniformes e dis-
tinctivos de Officiaes da Guarda Nacional, e expedição de
patentes ._ 193
Resolução do 1." de Outubro de 1846.— Sobre remoção de ser-
ventuários de officios de Justiça * 196
Resolução de 7 de Outubro de 1846.— Sobre os effeitos de um
processo organizado pelo Subdelegado de Policia da cidade
de Sobral contra o Juiz de Direito Antônio José Machado e o
Juiz Municipal da mesma cidade, Manoel Theophilo Gaspar
de Oliveira 206
Resolução de 11 de Novembro de 1846.—Sobre a falta de pa-
gamento da terça parte dos rendimentos de um officio de
Justiça ao respectivo serventuário vitalício •••• 212
Resolução de 21 de Novembro de 1846.—Sobre a pretenção do
Secretario da Relação de Pernambuco, que, pedia ser provido
no officio de Contador das custas do mesmo Tribunal 214
Resolução de 12 de Dezembro de 1846.—Sobro o recurso de um
réo condemnado á morte e separação de julgamento 215
Consulta de 16 de Dezembro de 1846.—Sobre soccorros aos
presos pobres •• 218
Resolução de 16 de Dezembro de 1846.—Sobre os effeitos da
pronúncia nos crimes particulares, commettidos por empre-
gados públicos • 219
Resolução de 23 de.Dezembro de 1846.—Sobre a intelligencia
e execução que sê deve dar ao art. 49 do Cod. Crim., e bem
assim aos arts. 433 c 434 do Regul. n.° 120 de 31 de Janeiro
de 1842, relativamente ás multas impostas aos réos de dillc-
rentes penas . . . . : . . . .*.. •> 2-2
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