Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CDD 362.1068
Presidenta
LUCIANA MENDES SANTOS SERVO Ficha catalográfica elaborada por Elizabeth Ferreira da Silva CRB-7/6844.
Diretor de Estudos Internacionais As publicações do Ipea estão disponíveis para download gratuito
FÁBIO VÉRAS SOARES nos formatos PDF (todas) e ePUB (livros e periódicos).
Chefe de Gabinete
Acesse: http://www.ipea.gov.br/portal/publicacoes
ALEXANDRE DOS SANTOS CUNHA
Coordenador-Geral de Imprensa e Comunicação Social As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira
ANTONIO LASSANCE responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o
ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou do
Ministério do Planejamento e Orçamento.
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO........................................................................... 6
2 MÉTODO.................................................................................... 8
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................35
REFERÊNCIAS...........................................................................36
APÊNDICE A..............................................................................44
APÊNDICE B...............................................................................45
APÊNDICE C..............................................................................48
SINOPSE
ABSTRACT
This text analyzes issues related to the federative coordination of the Unified Health System
(SUS), with negative repercussions on access to public health goods and services, aiming
at the identification and recommendation of measures that contribute to the gradual solu-
tion of access difficulties. Following the methodology of analysis of public policies, after
the definition of the public problem as “difficulty of timely, effective and equitable access
to public health goods and services” a tree of the problem was elaborated and several
causes and consequences were identified. The cause chosen for intervention in this study
is “insufficient federative coordination”, which is also considered a structural problem of the
SUS. One of the ways to reduce the problem of timely and equitable access to health care
is to increase the availability of health goods and services in the most deprived areas. But
this should be done in the most effective way, within the principles and guidelines of the
SUS, based on a cooperative action among the federated entities. Thus, although there are
other ways of expanding the public supply of health goods and services, it is understood
that, in specific situations, the intergovernmental consortium is an option that cannot be
ruled out. The preliminary proposal of this text was analyzed in a public policy forum with
the participation of researchers, technicians and managers of the SUS, with recognized
knowledge on the subject. The contributions of the forum participants were included in
the text and summary of the discussions are inserted in appendix.
1 INTRODUÇÃO
Conforme previsto na legislação básica do Sistema Único de Saúde (SUS) – Constituição
Federal de 1988 (CF/1988) e Leis nos 8.080/1990 e 8.142/1990 –, as competências das
três esferas de governo são, na sua quase totalidade, comuns ou compartilhadas. Esse
compartilhamento acontece principalmente no tocante à administração da assistência
à saúde, ainda que, conforme explicitado no art. 30, inciso VII da CF/1988, ao município
é delegada, de forma mais direta e inequívoca, a responsabilidade pela prestação de
serviços de assistência à saúde.1 Ademais, quando a Constituição trata da organização
do sistema, uma de suas diretrizes é a descentralização “com direção única em cada
esfera de governo” (Brasil, 1988, art. 198, inciso I).
1. Do ponto de vista do poder de legislar sobre a saúde, a competência é concorrente entre a União, os
estados e o Distrito Federal, pois, conforme estabelecido no item XII, do art. 24 da CF/1988, cabe a estes
entes legislar concorrentemente sobre previdência social, proteção e defesa da saúde. Nesses casos,
cabe aos municípios legislar sobre questões de interesse local (Brasil, 1988, art. 30, inciso I).
6
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
Este texto faz parte de um projeto de pesquisa mais abrangente, denominado Prio-
riza SUS, proposto pela equipe da Coordenação de Estudos e Pesquisas em Saúde e
Assistência Social da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Cosas/Disoc/Ipea). O projeto tem por finalidade discutir os prin-
cipais problemas estruturais do SUS e propor soluções para aqueles identificados
como prioritários, constituindo uma agenda que promova o debate entre instituições
do Estado e sociedade, visando à formulação e à implementação de políticas públicas
para eliminá-los ou mitigá-los.
2. Esse é um dos princípios do SUS, o qual garante ao usuário uma atenção que engloba ações de pro-
moção, prevenção, tratamento e reabilitação, com garantia de acesso a todos os níveis de complexidade
do sistema. Pressupõe a atenção focada no indivíduo, na família e na comunidade (inserção social) e
não em um recorte de ações ou enfermidades (Brasil, 2005).
7
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
2 MÉTODO
Os procedimentos metodológicos gerais adotados na realização dessa e de outras
análises no âmbito do projeto Prioriza SUS encontram-se descritos de forma detalhada
em nota técnica publicada pelo Ipea (Vieira et al., 2023). Em resumo, a equipe desse
instituto realizou uma análise do problema público, que foi enunciado como dificuldade
de acesso tempestivo, efetivo e equitativo à atenção à saúde pela população em diver-
sas localidades do Brasil. Para tanto, produziu-se uma árvore desse problema público
(apêndice A). Foram identificadas as suas causas e consequências, considerando o
papel estratégico do SUS para a garantia do acesso da população aos serviços e bens
de saúde no país. Buscou-se explicitar, entre as causas, aquelas que são problemas
estruturais desse sistema. Na sequência, priorizaram-se entre esses problemas aqueles
que seriam objeto de análise detalhada. Neste texto, analisa-se o problema estrutural
definido como coordenação federativa insuficiente do SUS, com foco na repercussão
desse problema no acesso aos bens e serviços públicos de saúde.
8
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
A maior parte dos municípios são pequenos, em torno de 68% – quase 3.800 – têm
menos de 20 mil habitantes. Estes municípios abrigam um total de quase 32 milhões
de habitantes, apenas 15% da população total do país. Destes, 1.253, cerca de 33%, têm
até 5 mil habitantes, abrigando 2% da população. Os municípios com menos de 5 mil
habitantes representam um quinto (22,5%) do total de municípios (tabela 1). Quanto
à área geográfica, municípios de grande extensão territorial se situam sobretudo na
região Norte, enquanto os de menor porte, especialmente na região Sul.
9
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
TABELA 1
Distribuição dos municípios por faixa populacional (2019)
3. As transferências constitucionais da União para estados, Distrito Federal e municípios são realizadas
por meio do Fundo de Participação de Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Nos dois casos, as transferências obedecem a critérios regionais, populacionais e de renda per capita.
10
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
TABELA 2
Arrecadação direta e receita disponível por esfera de governo – Brasil (2018)
(Em R$ 1 bilhão)
A partir da CF/1988 é que houve aumento dos percentuais do Imposto de Renda (IR)
e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para redistribuição automática por
meio do FPE e FPM para estados, Distrito Federal e municípios. Com o fim de recuperar
a capacidade de gastos e diminuir a vinculação de receitas, o governo federal aumentou
alíquotas de contribuições sociais,4 particularmente da Contribuição Social sobre Lucro
Líquido (CSLL) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e
desvinculou o percentual das receitas dessas contribuições.5 Mais recentemente, com
4. No sistema tributário brasileiro, a União é a única instância de governo com prerrogativa de criar
contribuição sociais. Pela CF/1988, contribuições, como CSLL e Cofins, eram vinculadas ao Orçamento
da Seguridade Social (OSS).
5. Desde 1994, quando foi criado o Fundo Social de Emergência, hoje denominado Desvinculação de
Receitas da União (DRU), o orçamento fiscal tem se apropriado de receitas destinadas à Seguridade
Social e à descentralização (receitas do FPE e do FPM).
11
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
a EC no 93/2016,6 o governo federal está autorizado a desvincular até 30% das receitas
de contribuições até 2023. Ademais, essa emenda estendeu a desvinculação para as
receitas de impostos, taxas e multas de estados, Distrito Federal e municípios até 2023.
6. Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para prorrogar a DRU e estabelecer a des-
vinculação de receitas dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
12
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
13
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
serviços de saúde (op. cit., art. 197), cabendo ao poder público sua regulamentação,
sua fiscalização e seu controle.
O SUS tem direção única em cada esfera de governo (federal, estadual e munici-
pal), exercida, respectivamente, pelo MS, pelas 27 secretarias de saúde dos estados
e do Distrito Federal e por mais 5.568 secretarias municipais de saúde. O nível muni-
cipal é o principal responsável pela provisão de ações e serviços públicos de saúde,
especialmente pela atenção básica de saúde. O nível estadual é responsável pela
organização de redes regionais resolutivas, em seu âmbito, pela cooperação técnica
e financeira aos municípios e também atua, em caráter complementar, na provisão
de serviços, principalmente no tocante a serviços de média e alta complexidade.
À União cabe, entre outras reponsabilidades definidas no art. 16 da Lei no 8.080/1990,
8. Desse total, R$ 11,6 bilhões foram gastos de pessoas físicas. Esse tipo de renúncia fiscal é bastante
discutível do ponto de vista da justiça distributiva, pois só tem acesso a esse benefício parcela menor
da população, os declarantes do IR e, dentro destes, os que fazem declaração no formulário completo.
14
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
Os bens e serviços de saúde providos pelo SUS são financiados por meio de tributos
gerais originários da União, dos estados e municípios, e são de acesso universal, como
dito anteriormente. O MS participa do financiamento e da condução e coordenação geral
do sistema (Barros e Piola, 2016). No tocante ao financiamento compartilhado do SUS,
mudanças importantes ocorreram com a EC no 29/2000. Desde então, tem-se reduzido a
participação da União vis-à-vis a participação de estados, Distrito Federal e municípios.
Em 2000, a União era responsável por 59,8% do financiamento do sistema, enquanto
estados e municípios, por 40,2%. Em 2021, estados e municípios se responsabilizaram
por 54,5% e a União por 45,5%. Em relação ao PIB, o gasto público cresceu de 2,84% do
PIB em 2000 para 4,56% em 2019. Nesse último ano, o gasto total em saúde do Brasil
foi estimado em 9,6% do PIB. Desse total, o gasto público correspondia a 39,9%. Ou
seja, mais de 60% do gasto provém de fontes privadas (IBGE, 2022). O Brasil, quando
comparado a outros países, possui um gasto total em saúde como proporção do PIB,
relativamente elevado. Contudo, a baixa participação do gasto público, menos de 40%,
está na contramão dos países desenvolvidos que, quase sem exceções, apresentam
um gasto público superior ao privado.9
9. Nos países da OCDE, o gasto público com saúde corresponde, em média, a 70% do gasto total.
10. Programas de imunização, por exemplo.
11. Transplantes, medicamentos para câncer e doenças raras, por exemplo.
15
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
12. Autores, como Souza (2019), valorizam uma diferenciação entre os conceitos de coordenação, que
teria um caráter mais hierárquico; e o de cooperação, que teria um caráter de relação mais voluntária
entre as partes.
13. “Compete aos municípios: VII – prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
serviços de atendimento à saúde da população” (Brasil, 1988, art. 30).
14. Comissão Intergestores Tripartite (CIT) no âmbito federal; Comissão Intergestores Bipartite (CIB), no
âmbito dos estados e colegiados regionais de grupos de municípios que conformam regiões de saúde.
15. Muito relevantes como instrumentos de coordenação federativa do SUS tem sido o Conass e
Conasems. O primeiro, fundado em 1982, é o órgão de representação dos secretários estaduais de saúde.
Sua direção é formada por um presidente e cinco vice-presidentes regionais (um de cada macrorregião) e
assembleia geral. O Conass é assessorado por secretaria executiva desde 2002, que conta com diversas
câmaras técnicas. A Lei no 8.142/1990 confere ao Conass representação no CNS (art. 1o, parágrafo 3o).
16
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
16. O Conasems, também criado na década de 1980, tem diretoria composta por presidente, vice-presi-
dente e cinco vice-presidências regionais. Conta com Conselho Nacional de Representantes Estaduais
(Conares), que reúne, com certa periodicidade, os presidentes de todos os Conselhos de Secretarias
Municipais de Saúde (Cosems). O Conasems também conta com secretaria executiva e câmaras téc-
nicas de apoio.
17
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
A expansão dos serviços de atenção primária, se, por um lado, trouxe benefícios
imediatos e mensuráveis para boa parcela da população; por outro, permitiu vislumbrar
de maneira mais clara a incapacidade da grande maioria dos munícipios de prover
uma atenção mais integral, com serviços médico-assistenciais especializados, à saúde
de seus munícipes. Essa situação foi respondida por parte dos municípios mediante
17. O Programa de Ações Integradas de Saúde (Pais), criado em 1983 e transformado em AIS em 1984,
visava à integração interinstitucional e à descentralização. Em 1987, cerca de 2.500 municípios estavam
integrados às AIS (Escorel, 2012).
18. O Programa de Suds, de 1987, aprovado por decreto e originário da presidência do Instituto Nacional
de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) tinha como proposta a transferência dos serviços
de saúde da Previdência Social para estados e municípios, o estabelecimento do secretário de Saúde
como gestor único do sistema em cada esfera de governo, entre outras medidas. Foi, de certa forma,
uma proposta de preparação para o SUS (Escorel, 2012).
19. A CF/1988 fala em sistema único (art. 198) com acesso universal e igualitário às ações do sistema
público (Brasil, 1988, art. 196). O Suds era denominado de Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde.
20. Aqui entendida como responsabilidade pela gestão das ações de atenção primária à saúde.
21. O Programa de Agentes Comunitários de Saúde foi criado em 1991, e o Programa de Saúde da
Família em 1994.
18
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
22. Os exemplos mais importantes desse procedimento ocorreram nos estados do Paraná, de Minas
Gerais, de Mato Grosso, de Santa Catarina e, principalmente, do Ceará.
19
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
Apesar de apenas dois estados e seus municípios terem assinado o Coap, o pro-
cesso iniciado a partir do Decreto no 7.508/2011 impulsionou, em quase todos os
estados, o debate sobre o processo de regionalização, resultando em reconfiguração
dos espaços regionais e contribuindo para o aperfeiçoamento do planejamento regio-
nal integrado. Contudo, a segunda fase do processo, que implicava aporte de recursos
financeiros adicionais e explicitação de metas que poderiam ser cobradas, acabou não
avançando (Ouverney, Ribeiro e Moreira, 2017).
20
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
24. Uma delas é, por exemplo, o fato de a Federação brasileira ser uma das poucas em que três níveis
de governo possuem independência política, administrativa e financeira.
21
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
22
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
23
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
24
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
1) Revisão do financiamento, com aumento dos recursos da União, uma vez que
esta esfera de governo vem diminuindo sua participação no financiamento
total do sistema, o que inviabiliza a expansão sustentada da oferta de serviços.
Também entra no rol das mudanças necessárias, no tocante ao financiamento,
a revisão do papel das transferências federais, instituindo-se sistemática que,
ao lado de contribuir para a diminuição das desigualdades regionais de gasto
público com saúde, também favoreça o planejamento regional da saúde. Para
isso, seria importante criar condições para a efetiva aplicação dos critérios
previstos na LC no 141/2012, até hoje não regulamentada, e incorporar ele-
mentos de descentralização mais efetiva da gestão dos recursos transferidos,
tendo por base os espaços regionais. Fechando a questão das mudanças
necessárias no financiamento do SUS, seria necessário reavaliar as formas
de remuneração dos serviços produzidos, seja na provisão direta, seja nas
diferentes formas de terceirização.
25
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
uma das experiências mais conhecidas nos anos 1980 e 1990 foi o Consórcio de
Penápolis, organizado em 1986 (Ribeiro e Costa, 2000).
Apesar disso, a lei federal sobre consórcios, Lei no 11.107/2005, só foi aprovada
seis anos depois.
26
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
Apesar de, como dito anteriormente, a inserção da temática dos consórcios ter
sido incluída na CF em 1998, somente em 2005, por meio da Lei no 11.107, houve dis-
ciplinamento dos consórcios públicos e dos convênios de cooperação entre os entes
27
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
federados, lei esta que foi regulamentada pelo Decreto no 6.017, de 17 de janeiro de
2007. Legislação mais específica para os consórcios na área da saúde só foi estabe-
lecida pela Portaria GM/MS no 2.905, de 13 de julho de 2022, que altera a Portaria de
Consolidação GM/MS no 1, de 28 de setembro de 2017.
28. Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Previdência Social; Sistema
de Gestão de Convênios e Contratos de Repasses, do Ministério da Economia (Sincov/ME); Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), gerenciado pela Secretaria de Receita Federal do Brasil (RFB);
Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro, vinculado à Secretaria do Tesouro
Nacional (Siconfi/STN/ME); Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) do Ministério
de Desenvolvimento Regional (MDR), trabalho realizado pela Confederação Nacional de Municípios
(CNM), entre outras.
28
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
29
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
TABELA 3
Número de consórcios públicos na área da saúde e de participações de
municípios por Unidade Federativa, segundo dados do MS1
UF Número de consórcios2 Número de participações3
Acre (AC) 1 1
Alagoas (AL) 1 7
Bahia (BA) 18 67
Ceará (CE) 20 60
Espírito Santo (ES) 8 38
Goiás (GO) 3 11
Minas Gerais (MG) 69 435
Mato Grosso (MT) 16 69
Pará (PA) 1 2
Paraíba (PB) 3 9
Pernambuco (PE) 3 5
Paraná (PR) 36 347
Rio de Janeiro (RJ) 6 16
Rio Grande do Norte (RN) 2 4
Rondônia (RO) 2 9
Rio Grande do Sul (RS) 21 118
Santa Catarina (SC) 22 119
Sergipe (SE) 1 4
São Paulo (SP) 30 127
Total 263 1.448
Fonte: MS. Dados disponibilizados por meio de solicitação de acesso à informação do DigiSUS –
Módulo Planejamento. Acesso em: 2 jun. 2022.
Notas: 1 Em 2022, 4.211 municípios estavam com o seu respectivo plano de saúde na condição de
aprovado, em análise pelo conselho de saúde, não aprovado ou retornado para ajustes. Tais
condições indicam que esses entes preencheram previamente as telas de dados cadas-
trais do DigiSUS, incluindo a ficha para informar a sua participação em consórcio público.
Assumindo-se que todos os informantes preencheram adequadamente essa ficha, então,
estima-se que, do total de 4.211 municípios informantes, 1.061 participavam de algum
consórcio público na área da saúde (25,2%).
2
O número total de consórcios informados é de 256. Seis atuam em mais de uma Unidade
Federativa: i) PR e SC; ii) PR e CE; iii) PR e RS; iv) PR e SP; v) PR e MG e PE; e vi) MG e SP.
Dessa forma, a contagem por Unidade da Federação (UF) totaliza 263 consórcios.
3
Um município pode participar de dois ou mais consórcios. Em 2 de junho de 2022, 1.061
municípios participavam de algum consórcio na área da saúde: 770 municípios, de apenas
um consórcio; 203, de dois; 81, de três; seis, de quatro; e um, de cinco consórcios. Conside-
rando as participações em mais de um consórcio, chega-se ao total de 1.448 participações.
30
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
A participação da União nos consórcios tem se dado por meio de convênios, mas
não como participante direto. Segundo Lui, Schabbach e Nora (2020), de 1996 a 2016,
foram estabelecidos 122 convênios entre União e consórcios municipais de saúde.29
Destes, cinquenta foram com consórcios do Paraná, 22 de Minas Gerais, dezesseis de
São Paulo, quinze do Rio de Janeiro, dez do Rio Grande do Sul e outros nove com municí-
pios de outros estados. Por se tratar de transferências voluntárias, fatores políticos são
determinantes na obtenção de recursos por esse meio, ainda segundo o mesmo autor.
Nesses 122 convênios, 81 têm como objetivo a aquisição de equipamentos, material
permanente e melhorias de estrutura física; nove, a aquisição de unidade móvel; nove,
a construção de unidade de saúde; e 23, outros objetivos.
29. Os convênios com consórcios intermunicipais realizados pela União no período de 1996 a 2016
totalizaram 384 convênios, cem foram celebrados em 2010 e 2011. Com a saúde, foram realizados 122
(31,77% do total) (Lui, Schabbach e Nora, 2020).
30. Nos consórcios verticais, “os arranjos de cooperação são formados pelo governo estadual e muni-
cípios que compõem as regiões de saúde”, de acordo com Julião (2019).
31
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
Citado na legislação básica do SUS, esse instrumento poderia ser utilizado, mais
intensivamente, na conjugação de esforços das três esferas de governo. Na verdade,
os consórcios têm, na maior parte das vezes, sido utilizados como instrumento de coo-
peração horizontal, por meio de consórcios intermunicipais de saúde, que foi, no início,
seu papel primordial. Contudo, o reconhecimento da importância desse instrumento de
articulação federativa, não só na área da saúde, levou ao progressivo aperfeiçoamento
32
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
de sua legislação, que tem como marcos legais a Lei federal no 11.107/2005 e o Decreto
no 6.017, de 17 de janeiro de 2007. Contudo, só mais recentemente esse instrumento
foi objeto de regulamentação mais detalhada, no âmbito do setor da saúde, por meio
da Portaria GM/MS no 2.905, de 13 de julho de 2022,31 que dispõe sobre diretrizes e
aspectos operacionais aplicáveis aos consórcios no âmbito do SUS, estabelecendo o
balizamento que deve orientar a sua utilização no sistema.
Por seu turno, a proposta não deve ser entendida como uma receita genérica a ser
desenvolvida por todos os estados e pelo conjunto de seus municípios ou abranger
todas as regiões ou macrorregiões de saúde. Deve ser uma iniciativa compartilhada
pelas instâncias de governo, mesmo que de forma distinta, e ter sua implementação
prioritária em áreas que confluam critérios de necessidade de serviços e de viabilidade
política, uma vez que o instrumento é de conjugação de esforços. Ademais, todas as
propostas devem fluir das esferas locais, com a liderança das secretarias de saúde dos
estados na mobilização dos municípios e na provisão de apoio técnico e administrativo
na elaboração das propostas regionais, mantendo estreita compatibilização com as
determinações da Portaria GM/MS no 2.905 no pertinente às diretrizes e aos aspectos
operacionais dos consórcios no SUS.
Outra questão importante é que os consórcios são instrumentos que podem viabi-
lizar a sinergia de esforços das três esferas de governo na alocação de recursos para
a ampliação da oferta de serviços nas macrorregiões/regiões de saúde. Contudo, eles
não substituem as instâncias de coordenação do SUS nos níveis nacional, estadual e
regional (CIT, CIBs e CIRs, respectivamente). Tampouco tornam menos importantes
os processos de planejamento e programação em saúde. Estes devem se dar em
todos os níveis de gestão do SUS, de forma negociada e pactuada no âmbito das ins-
tâncias de coordenação, precedendo, portanto, as contratações de bens e serviços a
serem executadas pelos consórcios. Deve-se entender os consórcios como um braço
operacional a fim de viabilizar investimentos para ampliação da capacidade instalada
33
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
34
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste texto, aberto à discussão, é analisado o problema estrutural do SUS relacio-
nado à sua coordenação federativa insuficiente, o que contribui para a exacerbação do
problema público que, como dito de início, foi enunciado como dificuldade de acesso
tempestivo, efetivo e equitativo à atenção à saúde. Tanto o problema público, quanto
o problema estrutural do SUS identificados são resultantes da interação de causas
variadas e de diversas ordens. A discussão sobre coordenação federativa insuficiente
é multidimensional e há vários modos de abordá-la.
35
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
REFERÊNCIAS
ABRUCIO, F. L. A coordenação federativa no Brasil: a experiência do período FHC e os
desafios do governo Lula. Revista de Sociologia e Política, n. 24 p. 41-67, 2005.
36
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
COSTA, D. C. A. R. et al. Oferta pública e privada de leitos e acesso aos cuidados à saúde
na pandemia de covid-19 no Brasil. Saúde em Debate, v. 44, n. especial 4, p. 232-247,
dez. 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3AUVMl9>.
37
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
ESCOREL, S. História das políticas de saúde no brasil de 1964 a 1990: do golpe militar
à Reforma Sanitária. In: GIOVANELLA, L. et al. (Org.). Políticas e sistema de saúde no
Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2012. p. 323-363.
38
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
39
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
40
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
41
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
SCHEFFER, M. et al. (Coord.). Demografia médica no Brasil 2018. São Paulo: FMUSP;
CFM, Cremesp, 2018.
VIANA, A. L. d’ Á. et al. Regionalização e redes de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio
de Janeiro, v. 23, n. 6, p. 1791-1798, 2018.
42
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
MACHADO, C. V. et al. Federalismo e política de saúde: comissões intergovernamentais
no Brasil. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 48, n. 4, p. 642-650, 2014.
43
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
APÊNDICE A
FIGURA A.1
Árvore do problema público
Resultados de saúde da Aumento da demanda por
população aquém dos esperados atendimento no setor privado não SUS
Custos econômicos
Iniquidade em saúde
para a sociedade
Adoecimento por Ineficiência no SUS
causas evitáveis
Aumento das filas e tempo de espera
para atendimento em saúde
Óbitos precoces
Agravamento das desigualdades Absenteísmo no trabalho Descrédito com relação ao
em saúde
sistema público de saúde
Processos de
planejamento, Mecanismos Oferta regional desigual Formas de
monitoramento e insuficientes de e/ou insuficiente de contratação de RH
avaliação deficientes coordenação entre profissionais e serviços inadequadas
e insuficientes esferas de governo para o SUS
Formação
Formação e Uso insuficiente inadequada para
Competição
capacitação dos recursos o SUS
entre os entes
insuficientes para a tecnológicos e de
da Federação
gestão do SUS informação
Composição das
equipes e atribuições
Articulação insuficiente dos profissionais
Profissionais Assimetria política das unidades de saúde inadequadas
em quantidade e econômica entre na rede de atenção
insuficiente e com os entes à saúde
contratos precários Oferta
insuficiente de
Enfraquecimento Deficiência na recursos físicos
Regulação deficiente Competição não do papel dos estados formação de
do sistema de regulada entre o SUS no processo de profissionais
saúde brasileiro e o setor privado implementação do SUS Parâmetros
assistenciais
insuficientes para
o planejamento
efetivo da oferta
de serviços
44
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
APÊNDICE B
TERMO DE PARTICIPAÇÃO
45
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
Quaisquer dúvidas sobre a participação no fórum ou sobre este termo podem ser
esclarecidas mediante contato com:
Participante:
___________________________________ ____________________
Município/UF Data
___________________________________ ____________________
Município/UF Data
46
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
APÊNDICE C
1C
OMENTÁRIOS DOS PARTICIPANTES DO FÓRUM A FIM DE
ATUALIZAR E COMPLEMENTAR A ANÁLISE DO PROBLEMA
DE COORDENAÇÃO FEDERATIVA INSUFICIENTE DO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE E SOBRE PROPOSTA DE SOLUÇÃO
APRESENTADA
1) Em geral, considerou-se que o problema da coordenação federativa insuficiente
no âmbito do SUS está bem descrito, deixando patente a complexidade do
tema, identificando ou realçando, de forma bastante abrangente, as desigual-
dades estruturais da nossa Federação e aqueles problemas decorrentes da
forma como foi construída a relação federativa nesse sistema, sob a liderança
do Ministério da Saúde (MS), sobretudo no tocante ao papel do financiamento
federal. O comentário mais comum foi o de que apesar de descrever diversos
aspectos do problema, na parte destinada às proposições, o documento acaba
focando em apenas uma estratégia/instrumento de ação, no caso os consór-
cios intergovernamentais. Desta forma, dever-se-ia deixar mais explícita a con-
corrência de outros aspectos que têm relevância, como é o caso da alocação
federativa dos recursos do MS e do planejamento e da gestão compartilhada
do sistema, explicitando, no documento, se estas questões serão trabalhadas
em outros produtos do projeto.
47
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
5) Apesar das críticas que podem e devem ser realizadas aos consórcios, algu-
mas especificadas no documento, foram bastante salientadas as vantagens
desse instrumento que, em alguns estados, serviram para expandir o acesso
aos serviços médicos de urgência e aos serviços especializados, por exemplo,
consolidando uma tramitação que lhes confere mais institucionalidade, par-
tindo de projeto de lei, que passa pelas respectivas câmaras legislativas, dando
mais segurança na organização do sistema e no rateio de seu financiamento.
48
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
49
2900
TEXTO para DISCUSSÃO
50
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
EDITORIAL
Coordenação
Aeromilson Trajano de Mesquita
Assistentes da Coordenação
Rafael Augusto Ferreira Cardoso
Samuel Elias de Souza
Supervisão
Ana Clara Escórcio Xavier
Everson da Silva Moura
Revisão
Alice Souza Lopes
Amanda Ramos Marques Honorio
Barbara de Castro
Brena Rolim Peixoto da Silva
Cayo César Freire Feliciano
Cláudio Passos de Oliveira
Clícia Silveira Rodrigues
Olavo Mesquita de Carvalho
Regina Marta de Aguiar
Reginaldo da Silva Domingos
Nayane Santos Rodrigues (estagiária)
Editoração
Anderson Silva Reis
Augusto Lopes dos Santos Borges
Cristiano Ferreira de Araújo
Daniel Alves Tavares
Danielle de Oliveira Ayres
Leonardo Hideki Higa
Natália de Oliveira Ayres
Capa
Aline Cristine Torres da Silva Martins
Projeto Gráfico
Aline Cristine Torres da Silva Martins
Ipea – Brasília
Setor de Edifícios Públicos Sul 702/902, Bloco C
Centro Empresarial Brasília 50, Torre B
CEP: 70390-025, Asa Sul, Brasília-DF
Missão do Ipea
Aprimorar as políticas públicas essenciais ao desenvolvimento brasileiro
por meio da produção e disseminação de conhecimentos e da assessoria
ao Estado nas suas decisões estratégicas.