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Filomena Naves
O sistema de ensino no seu todo vai ressentir-se com o apagamento da filosofia ditado pelo
fim do seu exame nacional, diz Maria Filomena Molder. A filósofa é uma das organizadoras
do debate que hoje se realiza em Lisboa sobre o tema.
Está. E está a perder terreno no ensino superior também. O decreto-lei de Fevereiro deste
ano, que elimina o exame nacional de filosofia para os 10.º e 11.º anos, é uma medida
puramente administrativa, cujas consequências não são administrativas. São pedagógico-
científicas, desde logo no secundário, e na articulação com o ensino superior.
Quer dizer que não tem pressupostos, não invoca qualquer princípio e ignora as
consequências. Ninguém foi ouvido para esta decisão. A filosofia está há muitos anos
ancorada no ensino, com todas as irradiações que o ensino tem para a investigação, a
comunicação, a publicação e transmissão de conhecimento. Esta decisão tem
previsivelmente um pensamento por trás, e parece-me que só pode ser um. O de diminuir o
peso institucional da filosofia no sistema de ensino. O que significa que um dia destes ela
pode ser suprimida ou tornada opcional também no 10.º e 11.º anos.
Acha que o ensino vai ser todo afectado por esta medida?
O estudo da filosofia tem consequências para a compreensão do que é ser livre, ou para
construir conceitos, por exemplo, acerca da responsabilidade, ou da compreensão da morte.
Sem filosofia, a sociedade fica mais utilitarista e inconsciente de si própria. Fica menos
apta a reconhecer-se a si própria, a criticar-se, a descobrir os seus próprios limites e a
descobrir uma maneira de transcender os seus limites. Fica claramente mais pobre.
http://cef-spf.org/imp_50.html