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O SISTEMA AMBIENTAL DA SEÇÃO FLUVIAL INFERIOR-

MÉDIO DO IGARAPÉ DO QUARENTA - MANAUS (AM)


Monica Barbosa de Castro Delgado19
Mônica Cortêz Pinto20
Jesúete Brandão Pachêco21

INTRODUÇÃO

A Amazônia Ocidental é modelada pela extensa rede de drenagem da Bacia


Hidrográfica (BH) do rio Amazonas/Solimões. Esta entrecorta as Unidades de Terra
Firme e de Várzea que compõem a Formação Alter do Chão, onde se assentam as
áreas urbanas e as rurais. Manaus é um desses sítios assentada no platô de Terra
Firme dotada de um complexo sistema hidrográfico.
Dentre as metrópoles da Amazônia (Belém, Manaus, São Luís), Manaus se
estabeleceu como principal centro financeiro e corporativo da Região Norte. Ocu-
pa de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o posto
de sétima cidade mais populosa do Brasil, com uma população estimada em 2019
de 1.802.014 habitantes. Estes distribuídos em uma área de 11.401,092 km², cuja
densidade demográfica é de 158,06 habitantes/km².
A sede urbana de Manaus, capital do estado do Amazonas, se desenvolveu
na faixa justafluvial esquerda da Sub-bacia hidrográfica (Sbh) do rio Negro. Nesta
faixa se encontram os principais tributários aqui classificados como Microbacias
Hidrográficas (Mbh) em relação ao rio Amazonas/Solimões, que é o principal ca-
nal fluvial da BH supracitada, e também denominadas regionalmente de igarapés
(Para PACHECO (1999) e Guerra e Guerra (2005) são pequenos sistemas fluviais do
platô de Terra Firme da Amazônia. igarapé é um termo Tupi que significa: caminho
de canoa e/ou de igara – canoa e pé – trilha, caminho.). As principais Mbh cujos di-
visores de água são ocupados por residências, infraestruturas urbanas, indústrias
podem ser citadas: a do igarapé do Tarumã Açu, São Raimundo, e a de Educandos.
Esta última abrange a área do Distrito Industrial que fora ocupada inicialmente
em função das instalações da Zona Franca de Manaus (ZFM) desde sua criação na
década de 1960 (BATISTA, 2012) e, após por outras situações.
Assim, o objetivo central desta temática é apresentar a situação do sistema
ambiental do igarapé do Quarenta na seção fluvial inferior-médio da Mbh de Edu-
candos e as medidas mitigadoras para sua qualidade.

19 Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Amazonas . mbcdelgado@bol.com.br


20 Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Amazonas. monicaczgeo@gmail.com
21 Universidade Federal do Amazonas – DEGEOG-IFCHS. jesuetepacheco@ufam.edu.br

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ÁREA DE ESTUDO
O estudo se refere ao trecho do igarapé do Quarenta, canal principal da
Mbh de Educandos delimitado entre as coordenadas geográficas 03o 06’ 54” S -
03o 07’ 30” S e 59o 58’ 14” W e 59o 59’ 13”W. A seção fluvial segue de montante a
jusante desse a SEDUC e última casa da Avenida Manaus 2000 até a confluência
desta com a Avenida General Rodrigo Otávio Jordão na altura que segue a frontei-
ra do Shopping Studio 5 (Figura 01).
Figura 1: Mosaico de Fotos e Carta Imagem de localização da área de estudo – seção
inferior do Igarapé do Quarenta: a) Registro do canal principal ao lado do Supermer-
cado; b) e c) igarapé nas proximidades da SEDUC; d) Igarapé margeando um sho-
pping; e) Lançamento de efluentes no leito do igarapé, no trecho da Av. Manaus 2000;
f) Monofauna com habitat em vegetação secundária.

Fonte: Monica C. Pinto - org. (2020), com dados de: Imagem CNES/Astrium, ArcGis.
Mapa elaborado no Sistema de Coordenadas Geográficas. Datum WGS - 1984.

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ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

Para realização do presente estudo utilizou-se as fases demonstradas na Figura 2.

Figura 2: Esquema das fases seguidas no desenvolvimento da pesquisa.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Na fase de levantamento documental constitui-se desde o primeiro mo-


mento da pesquisa, envolvendo os temas ambientais, estudos realizados anterior-
mente na área de estudo e nas fases sequenciais.
A fase de aquisição de dados, incluiu os registros no campo da pesquisa
incluindo aqueles dos anos de 2015 e 2019.
Das técnicas utilizadas contou com os registros: da Caderneta de Campo;
Protocolo de Inventariamento Geográfico (Parâmetros Gerais e Específicos), a fim
de obtenção das características e situação ambiental do sistema hidrográfico que
abrange a seção inferior do igarapé do Quarenta (drenagem, vegetação, solo, geo-
morfologia, presença de fauna, identificação de dejetos despejados no leito fluvial,
uso e ocupação do solo nas faixas justafluviais).
Da fase de gabinete fazem partes as tabulações dos registros de campo e os
de geração computacional (coleta de dados cartográficos em formato vetorial), a
fim de servirem na organização do Sistema de Informação Geográfica (SIG):
1) Delimitação do polígono que abrange a área de interesse, seguido do
corte da imagem do Landsat 8 e dos dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mis-
sion). Esta etapa promoveu a extração de dados das imagens e em concordância
com dados cartográficos (poligonal da bacia hidrográfica do Educandos e hidro-
grafia) disponibilizados por outras instituições como: IBGE; e a SEMMAS (Secreta-
ria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus). Das imagens de
SRTM - resolução espacial de 30m para: extração das curvas de nível de 10 metros

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(Figura 3a); elaboração da declividade, cujos parâmetros foram os de Valeriano; e
elaboração do Modelo Digital de Elevação (Figura 3b);

Figura 3: 3a. – Mosaico com curvas de níveis da Mbh de Educandos Manaus-AM

Fonte: Monica Cortez - org. 2020. Curvas de nível de 10 m geradas a partir dos dados
SRTM – programa ArcGis;

3b. Hipsometria da área da Mbh de Educandos

Fonte: Org. Monica Cortez - org. 2020. Programa SPRING geradas a partir das cotas
altimétricas e declividade.

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2) As imagens do satélite Landsat 8 sensor OLI (Operational Terra Imager)
foram processadas no SPRING (Sistema para Processamento de Informações Ge-
orreferenciadas), onde foi realizada a composição colorida das bandas 5,6 e 7.
Após, a aplicação das técnicas de realce e contraste para melhor interpretação
visual (Figura 4a); 4) Criação do contexto para elaboração da segmentação (Figura
4b), que auxiliou a etapa do treinamento e realização da coleta das amostras dos
atributos geoespaciais, os quais foram divididos em quatro classes: floresta, área
urbana, água e a presença de nuvens (Figura 5). Em seguida foi utilizado o classifi-
cador Bhattacharya onde o desempenho médio de análise das amostras e o índice
de Kappa foi de 100%.

Figura 4: 4a. Composição das bandas 5, 6 e 7 do satélite Landsat 8 OLI, programa QGIS;

Figura 4: 4b. Segmentação da imagem Landsat 8 OLI. Preparação da imagem para


coleta de amostras e posterior classificação no programa SPRING.

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Figura 5: 5a. Análise das amostras após o treinamento, fase no processamento de
classificação que se refere a coleta de amostras dos itens geoespaciais que serão indi-
vidualizados e agrupados conforme suas características;

Figura 5: 5b. Classificação das bandas 5, 6 e 7 do satélite Landsat 8 OLI onde foram
identificadas as classes de floresta, área urbana, água, nuvens, e sombra, conforme a
interpretação visual e após a aplicação das técnicas de realce e contraste na imagem.

A última etapa buscou elencar uma série de medidas mitigadoras que per-
mitiu viabilizar a segurança da qualidade ambiental da seção inferior do sistema
hídrico e, demais componentes físico-biológicos, inclusive oriundo das ações an-
trópicas. Essa proposição de medidas foi realizada enquanto monitora voluntária
da disciplina Gestão de Bacias Hidrográficas e no decorrer das pesquisas de 2018-
2020 realizadas na Microbacia hidrográfica do Educandos (Mbh).

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Caracterização do Sistema Ambiental da Microbacia Hidrográfica de Edu-


candos que se constitui com o igarapé do Quarenta
Por sistema ambiental entenda-se como a interação entre a sociedade hu-
mana e os sistemas da natureza. A (re) organização do espaço geográfico se dá no
espaço-tempo (re)produzindo a paisagem de maneira complexa, pois os hologra-
mas que se conectam produzindo a ordem também poderão provocar a desordem
e vice-versa (MORIN, 2017). Por esse complexus tetragramático de Edgar Morin
(ordem-desordem-nteração-organização) poder-se-á analisar toda ou parte da
Mbh de Educandos que é uma unidade complexa.
Esta Mbh tem as suas principais nascentes de montante entrecortando os
bairros situados no sudeste da cidade de Manaus: Distrito Industrial II; Armando
Mendes; e Zumbi do Palmares. A morfometria desenhada é do tipo dendrítica-re-
tangular, um padrão da maioria dos tributários que, por vez acompanha a morfo-
gênese do tipo obsequente (CHRISTOFOLETTI,1980; SUGUIO e BIGARELLA, 1990).
Nessa rede hidrográfica, o desague dos canais fluviais se dirigem para o canal prin-
cipal, no caso ao igarapé do Quarenta, o qual faz seu escoamento até desembocar
para o rio Negro, no sul desse sítio urbano, entre o Centro e o bairro de Educandos
(DELGADO, 2021).
Para Pacheco (1999; 2003; 2013) e Delgado (2021), os igarapés da unidade
de Terra Firme aqui representados por uma parte, tem sua limnologia de acordo
com ambiente de sua gênese. No caso da Amazônia com rios dessa unidade em
ambos os escudos (das Guianas, a exemplo do Sbh do rio Negro e os do Brasil
Central como o rio Tapajós) têm suas águas transparentes quanto a classificação
tipológica. No que tange a Mbh de Educandos, uma das principais redes hidro-
gráficas do rio Negro, possui o mesmo tipo de água, muito embora a cor natural
das suas águas seja marrom avermelhada semelhante ao café fraco ou chá preto
(SIOLI, 1985). A respeito dessa característica, no entanto foi constatada somente
nas proximidades de algumas nascentes protegidas por vegetação.
Registro sobre a fisiografia fluvial de outras pesquisas (FROTA FILHO, 2019;
PACHECO,1996), contribuíram na análise do sistema ambiental do referido trecho
fluvial do igarapé do Quarenta, a citar a dinâmica fluvial, e o Índice de Sinuosida-
de. Frota Filho (2019), calculou este índice para todo o perfil longitudinal o valor
médio de Isin= 1,05. Este é o indicador de uma tendência transicional mais voltada
para o padrão de canal retilíneo. Essa métrica subsidiou outras situações como
as diferenças de declives e a hipsometria da unidade hídrica, pois somente com a
observação direta não foi possível precisar, tendo em vista o local de estudo já ter
recebido muitas modificações com terraplanagens e retificação de canal.
Dessa forma, para a identificação das declividades, o SIG possibilitou a ge-
ração e interpretação de Mapas (1a e 1b) a partir das cotas altimétricas dos dados
SRTM (2000), cujos valores das classes de declividade variam de 3% a 45%.
Isto permite inferir diferentes inclinações em relação aos leitos fluviais atu-
ais, a partir da interpretação dos dados de declividade, associada aos de hipsome-

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tria, cujos resultados mostram que, nas porções mais elevadas do terreno os des-
níveis ocorrem de forma abrupta com a presença de perfis de encosta íngremes
para cidade de Manaus entre 20% a 45%. No nível intermediário formam-se as
vertentes de declividade que compreendem valores entre 3% a 8%. Esta é a classe
de declividade que mais se sobressai correspondendo a 42,54% da área da bacia
de Educandos onde tem o gradiente do igarapé do Quarenta. Nas porções mais
baixas e próximas ao nível da água a declividade não ultrapassa valores de 3%. Na
área de estudo (Mapas 1a e 1b).

Mapa 1: 1a- Mapa da classe de declividade

Fonte: Monica C. Pinto - org. (2020) com dados de: SEMMAS (2009); IBGE(2015).
Elaborado no Sistema de Coordenadas Geográficas. Datum WGS 1984.

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Mapa 1: 1b- Mapa Hipsométrico da área da Microbacia Hidrográfica do Educandos

Fonte: Monica C. Pinto - org. (2020) com dados de: SEMMAS, 2009; IBGE, 2015. Ela-
borado no Sistema de Coordenadas Geográficas. Datum WGS 1984.

Identificação do uso e ocupação no trecho do igarapé do Quarenta


O uso e ocupação do solo urbano tendencia aos riscos de impactos aos siste-
mas naturais, principalmente ao sistema fluvial mais atingido da cidade de Manaus
como este estudo aponta: alteração na paisagem das bordas e dos leitos fluviais e
na qualidade da água em virtude: da ocupação humana nas faixas justafluviais; a
movimentação de terra para terraplanagem e construção civil sem fiscalização; e o
carreamento de cargas difusas e pontuais.
O Mapa 2 mostra a ocupação urbana na Mbh de Educando, os fragmentos
de vegetação, como o da Universidade Federal do Amazonas, a malha hidrográfica
existente, e o destaque para o trecho do curso inferior-médio do igarapé do Qua-
renta o qual passa a ser analisados a partir dos modos de utilização pelos morado-
res locais e pelo poder público.

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Mapa 2: Identifica a ocupação de Manaus, majoritariamente urbana com fragmentos
de vegetação, entre esses o Campus Universitário, UFAM e nas suas proximidades
vegetação ao longo curso do igarapé do Quarenta entre o bairro Coroado e Japiim.

Fonte: Monica C. Pinto - org. (2020) com os dados do SIG composto por: imagem
LandSat 8 OLI, composição 5,6 e 7 e o sombreamento dos Dados SRTM; Sistema de
Coordenadas Geográficas. Datum WGS 1984; dados da SEMMAS (2009); e IBGE, 2015.

Quanto à situação ambiental pelo uso e ocupação das Áreas de Preservação


Permanentes (APP) é histórica nos centros urbanos, principalmente as moradias
sediadas nas bordas, vertentes e leito dos igarapés da Amazônia. Como os cur-
sos d’água modelam a cidade, o atrativo vai desde a proximidade do centro, da
estação de transportes coletivos, do baixo ou nenhum valor imobiliário, pois são
imóveis irregulares com baixo nível de saneamento básico (Figuras: 6a e b). Os
problemas ambientais citados são geradores das cargas difusas destinadas irregu-
larmente para o leito fluvial do igarapé do Quarenta. A Lei Estadual nº 3167/2007
prevê no seu Art. 3º VIII “a integração da gestão das águas com a gestão am-
biental, notadamente no controle da poluição das águas, exigindo tratamento dos
esgotos industriais e urbanos e outros efluentes, para obter a necessária disponibi-
lidade hídrica, em padrões de qualidade compatíveis com os usos estabelecidos”.
Verifica-se a discordância entre a legislação supracitada e o uso e ocupação com
impactos ao sistema ambiental fluvial.
O estudo de Pinto (2008) há mais de uma década, nas áreas industriais lo-
calizadas próximo a esse trecho do igarapé demonstraram um aumento nas con-
centrações de metais pesados na água e consequentemente nos peixes, nas depo-
sições, no solo e plantas. Com o apoio da resolução do CONAMA N. 357 que, trata

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sobre os padrões de potabilidade e a destinação de resíduos líquidos em fontes
de água, a referida autora classificou as águas do igarapé do Quarenta na classe 4.
Essa categorização corresponde à última posição, implicando na baixíssima quali-
dade da água.
No inventariamento realizado para este estudo registrou-se a implantação
de grandes obras governamentais e privadas, as quais contribuem na alteração
do canal fluvial. Nas proximidades e na área de estudo houve uma grande obra
de engenharia, o Complexo do Sistema Viário do Quarenta e as obras do PRO-
SAMIM, onde o igarapé do Quarenta foi retificado cujo talvegue foi compactado
com cimento, bem como o canal fluvial do curso inferior recebeu barramento de
concreto, técnica que substituiu as telas de barramentos usadas anteriormente.
Na faixa justafluvial direita (FJD) da Av. Manaus 2000 (Japiim II) há predomi-
nância de casas e diversos comércios (Figura 6a). Os que estão alocados na referi-
da área do igarapé são construídos com madeiras, e semelhantes aos quiosques de
feiras, até porque seus produtos são de origem primária como frutas regionais e
peixe. Os estabelecimentos comerciais alocados na faixa justafluvial esquerda em
locais destinados às moradias populares são de alvenaria e seus produtos são ge-
ralmente mais industrializados (Figura 6b). Esse tipo de configuração de apropria-
ção do espaço se modifica a priori, devido as frequentes enchentes que ocorrem
após intensos episódios de precipitação.

Figura 6: Estabelecimentos comerciais na Av. Manaus 2000: a) Pequenas barracas co-


merciais localizadas nas FJD do igarapé do Quarenta com produtos de origem primá-
ria, são mais suscetíveis aos episódios enchentes urbanas; b) Comércios de alvenaria
alocados na área das casas populares

Fonte: Monica C. Pinto (2019).

A melhoria das moradias e infraestruturas urbanas no local de estudo não


substituíram as residências de madeira com o piso alto, denominadas palafitas (Fi-
guras 7a e b), pois as enchentes pluviais urbanas são rápidas e transbordam o leito

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fluvial maior. Também são presentes banheiros sem qualquer tipo de saneamen-
to, pontes de madeiras que ligam as casas à avenida principal, e um emaranhado
de redes de fios elétricos.

Figura 7: a) Presença de resíduos urbanos nas bordas do igarapé do Quarenta. b)


Moradias irregulares nas APP.

Fonte: Monica C. Pinto (2019).

Os efluentes são comumente observados ao longo do canal fluvial, com o


despejo de águas servidas instrumentalizados pelos moradores e assegurada pelo
poder público, com a implantação de manilhas (tubos de esgoto). Quando estas não
são construídas pelos agentes estatais e municipais as obras são realizadas pelos
próprios moradores. No local foram identificadas essas ações de duas formas: 1) as
manilhas instaladas na rede de esgoto abaixo da via pública com despejo para o leito
fluvial (Figura 8a); e 2) os próprios moradores promovem a instalação de encana-
mentos para despejos das águas servidas para o leito do igarapé (Figura 8b).

Figura 8: Esgoto despejado no igarapé do Quarenta sem nenhum tratamento. a -


Tubulação de esgoto construída pelo poder público. b - Canaletas construídas pelos
agentes do poder público e o encanamento dos próprios moradores despejando seus
efluentes.

Fonte: Monica C. Pinto (2019).

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Além dos sistemas de esgoto sem tratamento foi registrada a presença de
resíduos sólidos urbanos em alguns pontos da borda fluvial e dentro do leito flu-
vial: garrafas pet, embalagens, pneus de carros, restos de construção civil, eletro-
domésticos; e móveis (Figuras: 7a e b; 9a e b).
A água possui a coloração distinta da cor natural (Figuras:8a e b; 9a; 10a e
b), devido a presença de cargas difusas em suspensão. Também apresenta, a retili-
nização do canal e a consequente impossibilidade de equilíbrio da dinâmica fluvial
e controle de vazão.
Esses fatores e a quantidade de resíduos urbanos nas faixas justafluviais e
dentro do leito fluvial (Figura 9a) promovem o transbordamento do leito excep-
cional pelas referidas enchentes pluviais. Quando o canal fluvial, sem a sua capaci-
dade e competência de absorver as águas pluviais transborda sobre as bordas do
leito ocasionando entre outras, uma série de problemas à infraestrutura urbana,
aos moradores e os demais sistemas naturais parte do ecossistema que possuem
resistência limitada. Nos estudos anteriores da década de 1990, 2000 e neste não
foi encontrada nenhuma lixeira pública, ao longo do igarapé do Quarenta.
Por outro lado, registrou-se algumas iniciativas dos moradores com placas
de aviso (Figura 9b) para evitar o descarte de material para o canal fluvial. Uma
das iniciativas, o morador estabeleceu nas bordas do igarapé um sistema de cole-
ta seletiva (Figura 9c). Em uma conversa informal, este afirmou que o intuito era
evitar o descarte incorreto de materiais que poderão ser reutilizados. Logo que
os cestos estão cheios são levados até as fábricas de reciclagem ou entregues aos
catadores de resíduos.

Figura 9: a) Presença do acúmulo de resíduos urbanos de obras do governo; b) Placa


fixada pelos moradores da Lei 9.605/1998; c) Coleta seletiva.

Fonte: Monica C. Pinto (2019).

No final do trecho selecionado para estudo, a montante, na faixa justaflu-


vial direita por limitar-se com um conjunto habitacional (Atílio Andreazza – Japiim
II) não há nenhuma habitação e a água tem menos turbidez, mas há vegetação
secundária e gramíneas exógena ao tipo de vegetação natural das vertentes que
deveria ser de mata ciliar, cujas raízes se emaranham como telas protetoras. No

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lado esquerdo, final da Av. Manaus 2000 os moradores do programa de habita-
ção estadual os moradores fizeram um pequeno reflorestamento nas bordas, com
fruteiras e plantas paisagísticas. Seguindo daí em ambas faixas justafluviais estão
cobertas por vegetação secundária (Figura 10a). A área aparenta aspectos naturais
com poucas alterações antrópicas, em relação aos observados em outros trechos.
As intervenções mais visíveis foram a utilização de grades/telas de contenção para
evitar erosão das margens (Figura 10b).

Figura 10: a) Vegetação nas proximidades da SEDUC; b) Obras de intervenções com


grades/telas de contenção para reforçar as margens fluviais.

Fonte: Monica C. Pinto (2019).

PROPOSIÇÃO DE MEDIDAS PARA MELHORIA DA QUALIDADE AM-


BIENTAL DO IGARAPÉ DO QUARENTA

Em virtude do igarapé do Quarenta continuar sendo mais receptor de car-


gas difusas e pontuais do que o canal de escoamento pluvial próprio dos sistemas
fluviais, a fim de gerar qualidade ao sistema ambiental do qual faz parte, indica-se
o seguinte:
a) Construção e funcionamento de um sistema de tratamento de águas que
atenda toda a faixa do igarapé, desde sua nascente até a sua foz;
b) Pontos de coleta de resíduos urbanos de acordo com a classificação de-
les, assim como os horários definidos para os carros coletores;
c) A total realocação dos moradores da faixa justafluvial direita, no sentido
de protegê-los quanto a saúde e perdas materiais pelas enchentes pluviais. E para
aqueles da faixa justafluvial esquerda que, recebam as infraestruturas necessárias
ao desenvolvimento das atividades humanas em concordância com o ambiente
fluvial;
d) Plano de reflorestamento, com espécies nativas da Terra Firme;
e) Preservação dos espaços que possuem alguma forma de vegetação nas
bordas do igarapé e arredores, com o objetivo da melhoria na circulação do vento

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e prevenção dos processos erosivos decorrentes do solo exposto;
f) Melhorias nas obras de infraestrutura urbanística com a inclusão de ciclo-
vias, iluminação e sinalização, faixas de pedestre, policiamento e placas de aviso
de leis ambientais.
As três últimas propostas foram indicadas há mais de duas décadas por Pa-
chêco(1999;2003). Sendo estas:
i) Implantação pelo poder público de centrais de tratamento, no próprio
igarapé. Na impossibilidade de instalar esse tipo de estação, dever-se-ia ter um
plano de monitoramento e fiscalização das indústrias para que não lançassem seus
efluentes para o igarapé.
ii) Proposição de parcerias junto às instituições de pesquisas a fim de obter
técnicas para o controle do excesso de matéria orgânica presente na água;
iii)Introdução de um programa educativo sobre resíduos sólidos e líquidos,
envolvendo a reutilização e a reciclagem, como gerador econômico familiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo de apenas uma parte do igarapé do Quarenta enquanto recorte
de análise se mostra importante, uma vez que esse pequeno espaço geográfico
mostra os elementos integrados que se (re) organizam dentro de uma ordem e de-
sordem no espaço-tempo a passar por intervenções modificadores da paisagem.
A fisionomia que se estabelece hoje nas faixas justafluviais do igarapé do
Quarenta ainda que pareça impactante ao sistema fluvial, o devir das incertezas,
incompletudes e as imperfeições é que poderão conceber a natureza do conhe-
cimento da mesma a darem as novas formas de produzir e reproduzir o espaço
geográfico com perdurabilidade ambiental.

REFERÊNCIAS
BATISTA, S. P. O adensamento urbano consolidado em igarapés, como proposta
para o desenvolvimento local: o caso do PROSAMIM em Manaus. GEOUSP - Espaço
e Tempo, São Paulo, n. 31 Especial, p. 33- 43, 2012.
CHRISTOFOLLETI A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher, 1980, 2a. ed. 188 p.
DELGADO, Monica B. de C. As trilhas do espaço-tempo na Bacia Hidrográfica dos
Educandos: a paisagem do curso fluvial inferior-médio do igarapé do Quarenta.
Dissertação (Mestrado). Pós-Graduação em Geografia (PPG-GEOG), Departamento
de Geografia, Instituto de Ciências Humanas e Letras, Universidade Federal do
Amazonas, Manaus, Amazonas, 2021.
MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. 6. ed. Lisboa-(Portugal):
Instituto Piaget, 2017.
MORIN, Edgar. Método 1. A Natureza da Natureza. Porto Alegre (RS): Sulina, 2003.
FROTA FILHO, A. B. Alterações na geomorfologia original da bacia do Educandos,

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