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Anais 3º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Cáceres, MT, 16-20 de outubro 2010

Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 55 -64

Modelo hidrológico NGFLOW aplicado à bacia hidrográica do Alto Araguaia

Irvig Diego Matos Carvalho Santana 1


Ivairton Monteiro Santos 1
Peter Zeilhofer 2

1
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
Campus Universitário do Araguaia/ ICET
Curso de Ciência da Computação
irvigforever@hotmail.com, ivairton@ufmt.br

2
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
Campus Universitário de Cuiabá/ ICHS
Departamento de Geograia
zeilhoferpeter@gmail.com

Resumo. Os sistemas de informação geográica estão cada vez mais presentes na hidrologia. Uma de suas
aplicações é como ferramenta de auxílio no manejo de recursos hídricos, por ser capaz de conciliar diferentes
aspectos através de camadas de informações e dados. A integração de modelos hidrológicos em ambientes
de sistemas de informação geográica subsidia a parametrização de bacias e rede hidrográica, facilita a
manipulação de informações do modelo que agrega equações matemáticas, mapas da região estudada e
dados numéricos, além de permitir a visualização e avaliação dos resultados no contexto geográico. Este
trabalho propõe a pesquisa e a análise de vazão da sub-bacia hidrográica do Alto-Araguaia, que possui
nascentes pertencentes a biomas da região pantaneira, pertencente à bacia Araguaia-Tocantins, Centro-
Oeste do Brasil, aplicando o modelo de simulação hidrológica NGFlow. O desenvolvimento incluiu
a caracterização da região modelada e a otimização do modelo para os aspectos inerentes à região. A
aplicação do modelo foi avaliada a partir de uma série temporal de precipitação e chuva entre os anos de
1994 e 2005. Os resultados demonstraram uma boa adaptação e aplicabilidade do modelo hidrológico à
região. Nas conclusões são apresentadas algumas propostas de trabalhos que podem melhorar a aplicação
do modelo para esta e outras bacias hidrográicas.

Palavras-chave: Modelo hidrológico, simulação computacional, simulação de vazão, NGFlow, SIG.

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Abstract. The Geographic Information Systems are increasingly present in the studies of hydrology. An
example is assisting in the management of water resources, because it is able to join different aspects through
layers of information and data. The integration of hydrological models in environments of geographic
information systems permits the parameterization of watersheds and river network. This facilitates the
manipulation of the model, since it aggregates information, mathematical equations, maps and numerical
data, and allows the visualization and evaluation of results in the geographical context. This work proposes
a research and analysis of low of the river basin of the Alto-Araguaia, part of the Araguaia-Tocantins basin,
central-western Brazil, using the hydrological simulation model NGFlow. The development included the
characterization of the region modeled and optimization model for the speciics aspects. The application of
the model was evaluated from a time series of precipitation and rainfall between the years 1994 and 2005.
The results showed a good adaptation and application of hydrological model to the region. Finally, some
proposals are presented to improve the application of the model for this and other watersheds.

Key-words: hydrological model, computer simulation, low simulation, NGFlow, GIS.

1. Introdução

Um Sistema de Informação Geográica (SIG) é um sistema que envolve informações


espaciais e procedimentos computacionais, que permite e facilita a análise e gestão ou
representação de uma determinada área ou região, bem como dos fenômenos que nela
ocorre.
SIG’s se tornaram ferramentas valiosas, pois, permitem manipular grandes volumes
de dados digitais e implementar modelos computacionais. Por exemplo, sistemas baseados
em SIG permitem o pré-processamento de dados, análises espaciais, modelagem, pós-
processamento e visualização de resultados (Goodchild, 1993; Burrough & Mc-Donnell,
1998).
Especialmente em estudos de hidrologia, o acoplamento de SIG com modelos
hidrológicos facilita a manipulação de informações espaciais e permite a interpretação
dos resultados de simulações no contexto geográico, fornecendo uma visão integrada dos
sistemas hídricos (McKinney & Cai, 2002).
Um modelo hidrológico pode ser considerado como uma representação simpliicada
da realidade, auxiliando no entendimento dos processos que envolvem esta realidade. Pode
ser deinido como uma representação matemática do luxo de água e seus constituintes
sobre alguma parte da superfície e/ou subsuperfície terrestre (Maidment, 1993). Permitem
a simulação de processos físicos nas suas dimensões temporais (Pullar & Springer,
2000), possuem importância na previsão de enchentes ou no processo de estimativa da
disponibilidade hídrica em situações de escassez. Os modelos estão sendo cada vez mais
utilizados em estudos ambientais, pois ajudam a entender o impacto das mudanças no uso
e cobertura da terra e a prever alterações nos ecossistemas.
Frequentemente modelos de previsão não examinam os fenômenos hidrológicos
no seu contexto geográico, utilizando uma representação de elementos espaciais
simpliicada, assumindo a bacia hidrográica como uniforme. Estas limitações dos modelos
chamados não-distribuídos, podem ser superadas pelo uso de modelos semi-distribuídos
ou distribuídos que permitem a detecção de efeitos e anomalias locais (Tucci, 1998).
Entretanto, modelos distribuídos se apresentam complexos na sua operação e demandam
grandes volumes de dados de entrada, especializados para descrição da variabilidade
da paisagem. Daí a importância em se utilizar SIG como ferramenta de integração de
sistemas e simulação hídrica.
O estudo das bacias hidrográicas passou a ter grande importância a partir do aumento
da preocupação com os mananciais, especialmente aqueles essenciais no abastecimento

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dos centros urbanos. O conhecimento e a caracterização da bacia hidrográica passaram


a ser vital para a sua gestão, posto que todos os impactos sofridos devem inluenciar na
qualidade das águas e de todo o sistema ambiental envolvido (Unesco, 2003).
Dessa forma, este trabalho se propõe a pesquisar e simular a vazão da bacia hidrográica
do Alto-Araguaia, localizada no Centro-Oeste do Brasil, posicionada entre os estados
de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Será aplicado a este cenário o modelo
de simulação hidrológica NGFlow, para simular a vazão da bacia, buscando efetuar um
estudo computacional sobre a hidrologia da região.
Com base nos dados da região, como o Modelo Numérico de Terreno (MNT), dados
de precipitação e vazão, foi aplicado o modelo NGFlow que obteve dados de vazão
coerentes com os observados na região, apresentando uma boa adaptação do modelo para
a simulação de vazão da bacia hidrográica estudada.
Como próximo passo, espera-se implementar otimizações no modelo de simulação
de maneira a incrementar a acurácia e promover um sistema de adaptação automatizado
(auto-coniguração), facilitando a aplicação do modelo a outras bacias hidrográicas, de
forma a não exigir ajustes no modelo a partir de um especialista.

2. Objetivo

Pesquisar e analisar a vazão da bacia hidrográica do Alto-Araguaia aplicando o modelo


de simulação hidrológica NGFlow, caracterizando e representando digitalmente a região.

3. Materiais e Métodos

De acordo com Whittemore et al. (2001) a integração de modelos computacionais aos


SIG’s é classiicada em dois tipos: integração por meio de uma interface de transferência
de dados entre o modelo e o SIG ou integração das equações do modelo ao SIG.
Na interface de transferência de dados entre o modelo computacional e o SIG, cria-
se uma aplicação para conversão e transferência dos dados armazenados nesse sistema
para a entrada de dados do modelo. Após a execução do modelo, utiliza-se novamente a
interface para transferência dos resultados do modelo para as camadas do SIG, onde os
resultados da simulação são apresentados.
Na segunda forma de integração, as equações do modelo computacional são integradas
aos elementos do SIG através de implementações utilizando linguagens de programação
interpretadas pelo SIG. Este projeto é baseado do modelo de simulação de escoamento de
águas em bacias hidrográicas NGFlow (Ye et al., 1996) que é acoplado ao SIG.
Originalmente o modelo NGFlow foi desenvolvido para a simulação do escoamento
dos rios da bacia do rio Níger/África. Trata-se de um modelo de integração de equações,
contínuo, semi-distribuído, determinístico, conceitual, do tipo precipitação-vazão,
desenvolvido com conceitos de programação orientada a objetos (Santos, 2005; Santos,
2004).
O modelo estrutura sua simulação em função da bacia hidrográica, deinindo sub-
bacias. Uma bacia hidrográica é uma área drenada por um curso de água ou por uma
série de cursos de água tal que toda a vazão eluente seja descarregada através de uma
só saída, na porção mais baixa do seu contorno. A elevação da região irá determinar a
organização natural das bacias por ordem de menor volume para os de maior volume, que
vai das partes mais altas para as mais baixas. Para descrever processos de escoamento e
transporte na escala de captação, é necessário compreender a característica do relevo e

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dos canais de rede dentro da bacia hidrográica.


O modelo NGFlow considera vários componentes do ciclo hidrológico, incluindo
os processos de precipitação e escoamento supericial nas sub-bacias e nos canais dos
rios. Possui em sua versão original um componente para simulação de luxo de águas
subterrâneas, que pode ser acoplado ao modelo de águas supericiais.
Uma modelagem com NGFlow necessita de três conjuntos de dados de entrada
básicos: um MNT da bacia, uma representação espacial das estações climatológicas e
as séries temporais de precipitação associadas. A aplicação modelo permite também a
representação de represas, neste caso será necessário o acréscimo de um respectivo plano
de informação com uma tabela de atributos da sua caracterização (volume, extensão,
liberação de água, etc.). Para efetuar uma calibração do NGFlow, devem ser disponíveis
também um plano de informação (PI) dos postos luviométricos com séries temporais de
vazão acopladas.
Toda parametrização da bacia hidrográica e da rede de escoamento é realizada a
partir de pré-processadores de MNT (Santos, 2005). Um plano de dados espaciais das
estações climatológicas e pluviométricas é utilizado para espacialização das series
temporais de precipitação, mantidas no componente de banco de dados (Santos, 2005).
O balanço hídrico e excedente é estimado a partir de um modelo simples de reservatórios
(Mintz & Seraini, 1992), utilizando como entradas as estimativas das precipitações por
sub-bacias, capacidade de armazenamento de solo e evaporação potencial. As estimativas
das vazões locais por sub-bacias se dão a partir de um componente de escoamento
supericial, baseado em uma função de resposta da vazão local no volume de água
excedente e um componente subsupericial que pode ser simulado com um modelo
linear de armazenamento. O escoamento nos canais pode ser simulado com os métodos
Muskingun ou Muskingun-Cunge (Chow et al. 1988). Na existência de represas, um
submódulo especíico de simulação acessa um respectivo PI espacial que possui atributos
das características isiográicas da lagoa (extensão, volume, etc.) e das características de
operação da usina (liberação média de vazão, etc.).
Por se tratar de um modelo conceitual, o modelo NGFlow faz uso de equações físicas
para transformar os dados das séries temporais de cada sub-bacia em vazão excedente. A
vazão excedente é formada pela água que não evapora ou iniltra no solo, ou seja, o rio.
As equações básicas para o cálculo da vazão são (Ye et al., 1996):

w(t ) w(t −1)


(1)
= + P(t ) − E (t )
Ä
t Ät
(w(t ) − w ' ) ; w(t ) = w '
(2)
se w (t ) > w '
S (t ) =
Ä
t

S (t ) = 0; w(t ) = w(t ) se w (t ) ≤ w '


Onde:
S (t ) é a vazão em um determinado tempo t da simulação;
P(t ) é a precipitação em um determinado tempo t da simulação;
E (t ) é a evaporação em um determinado tempo t da simulação;
w(t ) é a capacidade do solo de absorção de água em um determinado tempo t da simula-
ção;
w ' é a capacidade do solo de retenção de água; e

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Ä
t é um intervalo de tempo.

A equação (1) descreve a absorção de água pelo solo em um determinado intervalo


de tempo. Note que a absorção no tempo t corresponde à absorção ocorrida no tempo
anterior, mais o valor da precipitação e menos a evaporação ocorrida no tempo t. A
equação (2) descreve a vazão. Enquanto a capacidade do solo em absorver água não for
alcançada (w(t) ≤ w’) então a vazão é zero, pois o solo está absorvendo toda a água. No
momento que a capacidade de iniltração do solo for atingida (w(t) > w’), então é possível
determinar a vazão, que corresponde ao excedente de água, ou seja, aquilo que não foi
absorvido pelo solo num determinado intervalo de tempo.

Figura 1. Localização da bacia hidrográica do Alto-Araguaia.

Conhecido o modelo hidrológico de simulação adotado, o próximo passo é


caracterizar a área de estudo. A sub-bacia do Alto-Araguaia pertence à bacia hidrográica
Tocantis-Araguaia e está localizada na Zona 22 sul (coordenada UTM). A área estudada
se caracteriza por uma região altiplana com altitudes entre 278 m a 1.023 m e contém
importantes nascentes e aluentes da bacia Tocantins-Araguaia. Seus limites abrangem
territórios de três estados: Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, conforme ilustra a
Figura 1.
A bacia Tocantins-Araguaia possui a maior parte de suas nascentes em serras, mas se
caracteriza por ser uma bacia de planície. Percorre um terreno pobre em nutrientes e sua
lora é constituída basicamente por cerrado, apesar de suas nascentes possuírem também
biomas pertencentes à região pantaneira (ANA, 2002).
O comportamento da bacia do Alto-Araguaia é típica dos rios que compõe o cerrado,
em geral durante a época da cheia inundam e durante a época da seca ica caracterizada
pela formação de bancos de areia em sua extensão.

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Figura 2. Composição do MNT a partir das amostras do projeto SRTM.


Os dados do MNT da região, utilizado pelo modelo de simulação, foram obtidos
através do site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa, 2007), que
utiliza informações do projeto SRTM (NASA, 2000). A Figura 2 retrata as folhas com
dados do plano-altimétrico que foram utilizadas na composição do MNT da bacia, sendo
elas: SD-22-Y-C, SD-23-Y-D, SE-22-V-A, SE-22-V-B, SE-22-V-C, SE-22-Y-A. O MNT
resultante da interpolação das amostras e do recorte que delineia a bacia do Alto-Araguaia
pode ser observado na Figura 3.

Figura 3. MNT resultante da uniicação das folhas topográicas e do recorte da bacia


hidrográica.

Os pontos pluviométricos da região, suas coordenadas e suas respectivas séries


temporais, foram obtidos através do portal Hidroweb, da Agência Nacional das Águas
(ANA, 2008). A região da bacia possui vinte e um postos pluviométricos, conforme
demonstra a Figura 4(a). Entretanto, a maior parte desses pontos apresenta falhas nas
suas séries temporais (lacunas) ou estão desativados (ausência de registros). Dessa forma,
ao descartar os pontos inconsistentes, restaram nove pontos, conforme Figura 4(b). Em
função das lacunas existentes nas séries temporais dos pontos, foi identiicado e deinido
um intervalo que apresentou menor deiciência. As séries temporais passaram a ter um

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intervalo de 12 anos, correspondente aos anos de 1994 a 2005. Ainda assim, ocorreram
algumas lacunas nos registros dessas séries, que foram preenchidas através do cálculo da
média, de acordo com os outros registros do ponto presente na série temporal.
Com base nos dados de entrada discutidos acima (MNT e séries temporais de
precipitação), foi aplicado o conjunto de pré-processadores do modelo NGFlow. Esse
processo produziu como resultado os PI’s do leito do rio e suas sub-bacias, que são a
fonte de dados necessários para o processo de simulação (Santos, 2004; Santos 2005). A
Figura 5 ilustra os PI’s do rio e suas sub-bacias obtidas na etapa de pré-processamento.
Também são descritos os pontos de medição de precipitação e suas áreas de interferência
na bacia. Cada sub-bacia obtém como dado de precipitação o resultado da interpolação
entre as áreas de atuação dos pontos.

Figura 4. (a) Pontos pluviométricos da região delimitada, antes da análise das respecti-
vas séries temporais e (b) após a iltragem, retirando os pontos com dados inconsistentes.

Figura 5. PI’s do rio e das sub-bacias da bacia hidrográica do Alto-Araguaia obtidos


pelos pré-processadores do modelo de simulação.
Após a execução dos pré-processadores e dos processadores do modelo, o sistema
está apto à execução da simulação.

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4. Resultados e Discussão

Dado o MNT da bacia hidrográica e o conjunto de séries temporais que compreende


os anos de 1994 a 2005, a simulação da bacia do Alto-Araguaia, através do modelo de
simulação NGFlow, obteve dados de vazão em intervalos mensais. O gráico na Figura 6
demonstra os dados de vazão mensais obtidos pela simulação para os anos de 2003, 2004
e 2005. Os valores correspondem ao ponto de saída da bacia do Alto-Araguaia (região de
encontro dos rios Garças e Araguaia, entre os municípios de Barra do Garças, MT, Pontal
do Araguaia, MT e Aragarças, GO).
Os valores simulados evidenciam a sazonalidade das chuvas, com alta vazão no
período chuvoso (início em dezembro e término em abril) e baixa vazão no período de
estiagem (início em maio e termino em novembro). O resultado da simulação é coerente
aos dados de precipitação presentes nas séries temporais.

Figura 6. Vazões mensais obtidas pela simulação na saída da bacia, entre os anos de
2004 e 2005.

Todos os doze anos das séries temporais foram simulados, mas foram detalhados aqui
apenas os três últimos anos. A Figura 7 demonstra as médias anuais de vazão obtidas
através do processo de simulação. Pode-se observar que o nível de vazão do primeiro ano
da simulação é bastante elevado, isso ocorre por ser o inicio da simulação e ainda não existir
um equilíbrio numérico no sistema (Ye et al., 1996). Esse comportamento é esperado e
por esta razão, os primeiros dois anos da simulação geralmente são desconsiderados.
O gráico na Figura 7 evidencia uma tendência de queda do nível de vazão da bacia
do Alto-Araguaia. Porém, não se pode airmar que o nível da bacia está diminuindo antes
de uma análise mais cautelosa. Para essa análise, será necessária a utilização de uma
série temporal bem mais longa no processo de simulação. Infelizmente, como citado
anteriormente, as séries temporais da bacia em estudo possuem sérias deiciências, que
inviabilizam a simulação de outros anos. Uma alternativa é empregar métodos numéricos
ou heurísticos nessas séries temporais buscando preencher suas lacunas, permitindo ao
menos, uma simulação aproximada baseada em uma série mais extensa.
A Agência Nacional de Águas não possui registros históricos de vazão para a área da
bacia do Alto-Araguaia, apresentando poucos dados, imprecisos e dispersos em relatórios

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ambientais da região do Araguaia. Esse contexto inviabiliza uma comparação adequada


entre dados simulados e observados na região. Um dos poucos dados de vazão obtido
para a região corresponde à média anual de vazão na saída da bacia no ano de 2006, com
valor de 1.071 m³/s. Em função das lacunas nas séries temporais de precipitação, não foi
possível simular o ano de 2006. Entretanto, as médias anuais no mesmo ponto, obtidas
pelo modelo de simulação para os anos de 2003, 2004 e 2005 foram respectivamente,
1.120 m³/s, 1.096 m³/s e 1.104 m³/s.
Vazão simulada (m³/s)
Vazão
3000

2500

2000
Vazão

1500

1000

500

0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Anos

Figura 7. Vazão média anual simulada para todos os anos da série temporal.

Para a validação efetiva da aplicação do modelo de simulação na bacia, seriam


necessárias comparações mensais entre os dados simulados e observados e não apenas
a média anual, tão pouco de anos distintos. Essa análise não permite inclusive avaliar os
resultados da simulação para os períodos de estiagem e cheia. Porém, pela proximidade
dos valores médios simulados e o valor de vazão registrado pela Agência Nacional de
Águas, observa-se uma proximidade numérica que justiica a aplicação do modelo de
simulação como ferramenta de apoio no processo de monitoramento hídrico-ambiental,
considerando que há uma adaptação adequada do modelo à bacia hidrográica estudada.

5. Conclusão

Este projeto buscou pesquisar a respeito dos processos hídricos da bacia hidrográica
do Alto-Araguaia, que possui um bioma diversiicado e é a cabeceira da bacia Tocantis-
Araguaia.
O NGFlow mostrou-se eicaz na estimativa de vazão nas bacias do rio Níger e Cuiabá.
Apresentou bons resultados também quando aplicado à bacia do Alto-Araguaia. Porém,
devido à deiciência no registro dos dados pluviométricos e luviométricos da bacia,
não foi possível a realização de comparações efetivas entre as vazões mensais obtidas
pelo modelo de simulação e a aferida pelos pontos de controle. Entretanto, devido aos
resultados da simulação ao longo da série temporal e à proximidade numérica dos valores
simulados e observados (mesmo que em anos diferentes), conclui-se que ocorreu uma boa
adaptação do modelo à bacia do Alto-Araguaia, justiicando a aplicação do modelo como
ferramenta de monitoramento hídrico.
Em virtude dos resultados obtidos através da simulação, o conjunto de informações
levantadas servirá para futuras otimizações da simulação e para a implementação de

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algoritmos adaptativos na rotina do modelo, visando à automatização e otimização do


modelo.

6. Agradecimentos

Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso –


FAPEMAT, pelo inanciamento desta pesquisa.

7. Referências
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Disponível em <http://hidroweb.ana.gov.br/HidroWeb/>. Acesso em: Março de 2008.
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