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Ultrassonografia

A ultrassonografia ou ecografia é um método


diagnóstico muito recorrente na medicina moderna que
utiliza o eco gerado através de ondas ultrassônicas de
alta frequência para visualizar, em tempo real, as
estruturas internas do organismo. Por meio de uma
ultrassonografia com doppler, o médico é capaz de ver o
fluxo sangüíneo nos principais vasos.

Fornece diagnóstico de imagens que


complementa aquele feito com raios-X, medicina nuclear
e ressonância magnética. Ultrassom não fornece a
qualidade de imagem desses outros métodos, e é
suscetível a artefatos, mas possui grandes vantagens em
relação aos demais exames radiológicos:

● Não é um exame caro;


Equipamento de ultrassom
● É um exame presente em diversas clínicas e centros hospitalares;

● É de rápida execução;

● É realizado em tempo real;

● Permite maior contato entre o paciente e o radiologista;

● Pode ser feito com um instrumento ao lado da cama do paciente;

● É seguro, pois não utiliza radiação.

Pelo fato de transmitir as imagens em tempo real, tal técnica é muito importante
para o estudo do funcionamento dos órgãos.

No entanto, apresenta algumas desvantagens, pois é incapaz de reproduzir


imagens que possibilitem o estudo de estruturas muito internas como as protegidas por
ossos.

Ultrassom representa a faixa de frequências acima de 20kHz. Os aparelhos de


ultrassom utilizam, em geral, uma frequência a qual varia entre 2 MHz e 10 MHz. Aplicações
especializadas de ultrassom usam até 50 MHz (20 MHz no caso da ultrassonografia
dermatológica). Tais ondas ultrassônicas são emitidas através de um transdutor, o qual

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contém um cristal piezoelétrico. O transdutor também recebe os ecos gerados,
transformando-os em sinais, que serão interpretados por um computador, para, em seguida,
serem exibidos na forma de uma imagem no display.

A sonda funciona, assim, como emissor/receptor. Quanto maior a frequência,


maior a resolução obtida e mais precisão se tem na visualização das estruturas superficiais.
Conforme a densidade e a composição das interfaces, a atenuação e mudança de fase dos
sinais emitidos variam, sendo possível a tradução em uma escala de cinza, que formará a
imagem dos órgãos internos.

O preciso Efeito Doppler da ultrassonografia permite, também, conhecer o sentido


e a velocidade do fluxo sanguíneo.

A ultrassonografia é um dos métodos de diagnóstico por imagem mais versáteis e


ubíquos, de aplicação relativamente simples. Por não utilizar radiação ionizante, como na
radiografia e na tomografia computadorizada, é um método relativamente inócuo, pouco
dispendioso e ideal para avaliar a evolução fetal. Nas últimas duas décadas do século XX, o
desenvolvimento tecnológico transformou esse método em um instrumento poderoso de
investigação médica dirigida, exigindo treinamento constante e uma conduta participativa do
examinador.

A ultrassonografia é considerada uma modalidade de imageamento segura,


contudo as ondas de ultrassom podem produzir efeitos biológicos no corpo. Estas ondas
depositam energia nos tecidos conforme se propagam, energia essa que gera um aumento
de temperatura nesses tecidos. Em alguns casos, esse aquecimento acaba produzindo
pequenos bolsões de gás nos fluidos ou tecidos (cavitação), que podem colapsar gerando
danos aos tecidos ou liberando radicais livres, que podem causar danos químicos a
moléculas biológicas importantes, como o DNA.

Características

Esta modalidade de diagnóstico por


imagem apresenta características próprias:

É um método não invasivo ou


minimamente invasivo. Apresenta a anatomia em
imagens seccionais ou bidimensionais, que podem
se adquiridas em qualquer orientação espacial.
Ultimamente a ecografia tridimensional está em
desenvolvimento mas ainda não é um verdadeiro
tridimensional mas sim a reconstrução informática Exemplo de ultrassonografia

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em três dimensões das imagens previamente adquiridas em bidimensional. (A versão 4D é
interpretada como a aquisição 3D em tempo real).

● Não possui efeitos nocivos significativos dentro das especificações de uso

diagnóstico na medicina.

● Não utiliza radiação ionizante.

● Possibilita o estudo não invasivo da hemodinâmica corporal através do efeito

Doppler.

● Permite a aquisição de imagens dinâmicas, em tempo real, possibilitando

estudos do movimento das estruturas corporais.

O método ultrassonográfico baseia-se no fenômeno de interação do som com os


tecidos, ou seja, a partir da transmissão da onda sonora pelo meio, observamos as
propriedades mecânicas dos tecidos. Assim, torna-se necessário o conhecimento dos
fundamentos físicos e tecnológicos envolvidos na formação das imagens, incluindo o modo
pelo qual os sinais obtidos por essa técnica são detectados, caracterizados e analisados
corretamente, propiciando uma interpretação diagnóstica correta.

Além disso, o desenvolvimento contínuo de novas técnicas, a saber: o


mapeamento Doppler, os meios de contraste, os sistemas de processamento de imagens
em 3D, as imagens de harmônicas e a elastometria, exigem um conhecimento ainda mais
amplo dos fenômenos físicos.

A ultrassonografia pode contribuir como auxílio no diagnóstico médico e


veterinário, sendo sua aplicação mais ampla atualmente em seres humanos. Esta técnica
tem sido muito utilizada em obstetrícia, sobretudo na avaliação de aspectos morfofuncionais.
Permite ainda a orientação de processos invasivos mesmo antes do nascimento.

A ultrassonografia interage e auxilia a todas as demais especialidades médicas e


cada vez mais se afirma como um dos pilares do diagnóstico médico na atualidade.

Impedância acústica

A propriedade física dos tecidos que possibilita a formação de imagens de

ultrassonagrafia é a impedância acústica Z, expressa por:

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, sendo ρ0 a densidade e k a compressibilidade do tecido, e c a

velocidade do som no tecido.

A interação da onda sonora incidente com uma fronteira entre dois tecidos com

diferentes impedâncias acústicas, Z1 e Z2 , resulta em uma onda refletida e uma onda

transmitida. O coeficiente de reflexão R descreve a fração da intensidade da onda sonora


incidente que é refletida. Ele é expresso como:

O coeficiente de transmissão T é definido como a fração


da intensidade da onda sonora que é transmitida através dessa
fronteira. Por conservação de energia:

As intensidades refletida e transmitida são o produto da intensidade incidente pelo


coeficiente de reflexão e transmissão, respectivamente .

Se a impedância acústica dos dois meios for a mesma , Z1 = Z2, não há onda

refletida e a onda inteira é transmitida. Se Z1 << Z2 (por exemplo, som indo do ar para a

água), quase todo o som é refletido. É por esse motivo que um gel de acoplamento acústico
deve ser usado entre o transdutor e a pele para eliminar bolsões de ar.

Refração

Refração é o fenômeno de mudança de direção da onda


sonora transmitida em uma fronteira entre dois tecidos quando o feixe
incidente não é perpendicular a esta fronteira. A frequência da onda
incidente não se altera, mas a velocidade do som pode ser diferente nos
dois tecidos. O ângulo de refração é dado pela Lei de Snell:

sendo θi e θt os ângulos incidente e transmitido, quando a

onda sonora se propaga do meio 1 para o meio 2, com

velocidades do som no meio iguais a c1 e c2 , respectivamente.

A ocorrência de refração em ultrassonografia resulta em


Artefato gerado
artefatos, como o da imagem ao lado. O feixe de ultrassom incidente
por refração.
sofre refração e encontra duas estruturas. Ao construir a imagem, o

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objeto no caminho do feixe refratado estará posicionado no lugar incorreto, pois o display do
ultrassom assume que o feixe se propaga por um caminho reto.

Não ocorre refração quando a velocidade do som é a mesma nos dois tecidos, ou
quando a incidência é perpendicular.

Atenuação

Uma onda sonora se propagando em um meio é atenuada. Há uma diminuição na


intensidade devido a fatores como viscosidade e condução de calor. A atenuação é causada
principalmente pelo espalhamento e absorção nos tecidos (na forma de calor) do feixe
incidente. A atenuação aumenta com o aumento da frequência da onda sonora.

Processo de formação da imagem

Em imageamento por ultrassom, um pulso curto de energia mecânica é enviado


para os tecidos. O pulso viaja na velocidade do som, e com as mudanças nas propriedades
acústicas dos tecidos, uma fração do pulso é refletido como um eco que volta para a fonte.
Armazenando os ecos ao longo do tempo, assim como a intensidade dos mesmos, obtemos
informações sobre os tecidos ao longo do caminho.

A criação de uma imagem digital a partir das ondas ultrassônicas se dá em 3


etapas: produção da onda sonora, recepção do eco e
interpretação do eco recebido.

Produção da onda sonora

Ultrassom é tipicamente produzido


utilizando um transdutor piezoelétrico. O transdutor é
o componente do aparelho de ultrassonografia que
entra em contato com o paciente e é conectado ao
restante do equipamento através de um cabo.
Transdutor
Um material piezoelétrico converte uma tensão (ou pressão) em um campo
elétrico, e vice versa. Transdutores usados para imageamento utilizam cerâmica
piezoelétrica sintética, normalmente titanato zirconato de chumbo (PZT).

Uma voltagem oscilando com alta frequência aplicada através do material


piezoelétrico cria uma onda sonora com a mesma frequência. Uma pressão oscilante
aplicada a um material piezoelétrico cria uma voltagem oscilando através dele. A medida
dessa voltagem fornece uma maneira de registrar ondas ultrassônicas. O mesmo material
piezoelétrico pode funcionar tanto como fonte quanto como detector!

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O som é direcionado pelo formato do transdutor ou por sistemas mais complexos
de controle. Há um intervalo de alguns milissegundos entre a produção de cada pulso de
ondas ultrassônicas. Durante esses intervalos, há a captação das ondas que são refletidas.

A direção do feixe é rapidamente alterada para cobrir uma região do corpo em


forma de leque. Isso pode ser feito com um arranjo de transdutores que são pulsados
sequencialmente, ou com um arranjo faseado de transdutores que são pulsados juntos.

Arranjos de transdutores

A maioria dos sistemas de ultrassom utiliza transdutores com vários elementos


piezoelétricos retangulares individuais. Dois modos de ativação são utilizados para produzir
um feixe:

● Transdutores com arranjo linear contêm tipicamente de 256 a 512 elementos. O

feixe de ultrassom é produzido ativando-se um pequeno grupo de aproximadamente 20


elementos adjacentes. Um novo feixe é produzido ativando-se um outro grupo de elementos
adjacentes, deslocado de alguns elementos em relação ao anterior. Cada grupo de
elementos age como um elemento transdutor maior nesse caso. Para a formação da
imagem em tempo real, é necessário gerar feixes através do arranjo de transdutores várias
vezes por segundo. O número de elemento ativados simultaneamente está relacionado com
a resolução: quanto menor for esse número, melhor é a resolução, mas há um aumento na
divergência do feixe, diminuindo a qualidade da imagem.

● Transdutores com arranjo faseado são compostos de 64 a 128 elementos.

Todos os elementos são ativados quase simultaneamente para produzir o feixe. Usando
diferenças de fase (menores que um microssegundo) na ativação do elementos ao longo do
transdutor, o feixe de ultrassom pode ser apontado para diferentes direções. Alterando-se as
diferenças de fase pode-se varrer um setor em forma de leque, sem que seja necessário
mover o transdutor.

O som é parcialmente refletido (gera o eco) pelas interfaces formadas pelos


diferentes tecidos do corpo. Portanto, o som é refletido por qualquer lugar em que a
densidade do corpo mude.

A frequência do ultrassom não é afetada pelas mudanças na velocidade do som


conforme o feixe acústico se propaga através dos diferentes meios. Já o comprimento de
onda do som sim, é afetado pela velocidade de propagação, ou seja, depende do meio pelo
qual a onda se propaga. Quanto maior for a frequência emitida pelo transdutor, maior será a
resolução da imagem. Contudo, se a frequência for muito alta, o campo de visualização fica
restringido a alguns centímetros de profundidade (pois, como citado acima, a onda sonora é

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mais atenuada quanto maior for sua frequência). Desse modo, a frequência a ser utilizada
depende da estrutura a ser analisada.

Existem vários tipos de transdutores. Entre eles estão: o convexo, com a


frequência variando entre 3 a 6 MHz (utilizado para exames obstétricos); o linear, com a
frequência variando entre 5 a 11 MHz (utilizado para exames superficiais como mama e
tireoides); convexo endocavitário, com a frequência variando entre 5 a 11 MHz (utilizado
para exames de próstata e genitália interna feminina).

Recepção dos ecos

O oposto também ocorre, ou seja, ao receber estímulos mecânicos (ondas


ultrassônicas), os cristais vibram e geram uma diferença de potencial elétrico, causando
impulsos elétricos. Estes constituem um sinal elétrico, que é lido e interpretado pelo
computador acoplado ao aparelho de ultrassom (ou "scanner" de ultrassom). O scanner
processa esses sinais e os transforma em uma imagem digital. Desse modo, percebe-se que
a ultrassonografia é uma técnica baseada na leitura de ecos.

Formação da imagem

O scanner sonográfico determina três


informações de cada eco recebido:

1. Quanto tempo levou desde a transmissão


até a recepção do eco.

2. A partir do intervalo de tempo, calcula a


distância (profundidade) onde o eco se formou,
possibilitando uma imagem nítida do eco na dada
profundidade.
Ultrassom Modo M de um coração de
3. Qual a intensidade do eco. cachorro. Representa o movimento do
músculo do coração ao longo do tempo.

Quando o scanner sonográfico determina estas 3 informações, ele pode codificar


cada pixel da imagem com a intensidade.

Um pulso curto (tipicamente 0.5 μs de duração com uma frequência central de

cerca de 5 MHz) é aplicado ao tecido por um transdutor piezoelétrico. O pulso viaja com uma

velocidade de cerca de c = 1540m/s (velocidade média de propagação do som nos tecidos

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moles). Quando ele se aproxima de uma fronteira entre dois tecidos com impedâncias
acústicas diferentes, parte do pulso incidente é refletido como um eco, que pode ser
detectado pelo mesmo transdutor piezoelétrico.

Quanto maior o tempo entre a geração e a detecção do pulso, mais longe a


fronteira refletiva. Fronteiras múltiplas produzem múltiplos ecos, com cada eco
correspondendo a uma distância diferente da fonte à fronteira.

A transformação do sinal recebido numa imagem pode ser explicada usando uma
planilha como analogia. Imagine o transdutor localizado na primeira linha, ocupando várias
colunas. Ele envia impulsos para baixo, em cada coluna da planilha. Então espera para ver
quanto tempo cada impulso leva para retornar (eco). Quanto mais demorar, mais o sinal se
desloca para baixo na coluna correspondente.

Um plot da intensidade do eco versus o tempo é chamado um scan A. Para


formar uma imagem bidimensional, é necessário scanear em muitas direções (colunas da
planilha) diferentes. Em um scan B, o brilho da tela corresponde à intensidade do eco,
plotado versus posição no corpo no plano do escaneamento. O transdutor do scan B envia
um feixe estreito dentro do corpo. A intensidade do eco determina a cor que a célula vai ter
(branco para um eco forte, preto para um muito fraco, e graduações de cinza para as
intensidades intermédias). Quando ocorre a transição entre dois meios com grande
diferença de impedâncias, maior será a intensidade do eco e, desse modo, mais intensa
(branca) será a imagem gerada.

Outros métodos de imagem de ultrassom incluem movimento ou modo M, que


pode ser usado para observar o batimento do coração como uma função do tempo.

Modo de operação Pulso-Eco

Nesse modo de operação, o transdutor produz intermitentemente o feixe de


ultrassom. A maior parte do tempo é ocupada captando os ecos. O intervalo de tempo entre
a produção do feixe e a detecção do eco está relacionado à profundidade.O número de
vezes por segundo que o transdutor gera um pulso é conhecido como Frequência de
Repetição de Pulso (PRF). Para imageamento, a PRF geralmente varia entre 2000 a 4000
pulsos por segundo.

Um aumento na PRF resulta em uma diminuição no tempo de captação dos ecos.


A PRF máxima é determinada pelo tempo necessário para os ecos das estruturas mais
distantes alcançarem o transdutor. Se um segundo pulso ocorrer antes da detecção do eco
mais distante, estes ecos mais distantes podem ser confundidos com os ecos mais próximos
do segundo pulso, dando origem a um artefato.

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Feixes de ultrassom com frequência mais alta têm uma menor profundidade de
penetração (pois, novamente, a onda sonora é mais atenuada quanto maior for sua
frequência), permitindo PRFs maiores. Feixes de ultrassom com frequências mais baixas,
por sua vez, exigem PRFs menores, porque ocorrem ecos em estruturas mais profundas.

O Ciclo de Trabalho (do inglês, Duty Cycle) em Ultrassonografia é a fração de


tempo em que o transdutor está produzindo ondas sonoras. Matematicamente ele é igual à
duração do pulso multiplicado pela PRF. Para imageamento em tempo real, o Ciclo de
Trabalho está tipicamente entre 0,2% e 0,4%,ou seja, mais que 99,5% do tempo de
escaneamento é ocupado captando os ecos.

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