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"Esta velha angústia"

Álvaro de Campos

Márcia Silva Nº18 º12D


"Esta velha angústia"
Esta velha angústia, Pobre velha casa da minha infância perdida!
Esta angústia que trago há séculos em mim, Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Transbordou da vasilha, 25 Que é do teu menino? Está maluco.
Em lágrimas, em grandes imaginações, Que é de quem dormia sossegado sob o teu tecto provinciano?
5 Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror, Está maluco.
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Transbordou. Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!


Mal sei como conduzir-me na vida 30 Por exemplo, por aquele manipanso
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma! Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
10 Se ao menos endoidecesse deveras! Era feiíssimo, era grotesco,
Mas não: é este estar entre, Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Este quase, Se eu pudesse crer num manipanso qualquer –
Este poder ser que..., 35 Júpiter, Jeová, a Humanidade –
Isto. Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?
15 Um internado num manicómio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicómio sem manicómio. Estala, coração de vidro pintado!
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
20 Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos
Estou assim...

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