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BENÇÃO DO PACTO
Prefácio
O presente trabalho não é uma série de arrazoados sem base bíblica. Tampouco é a
posição apaixonada de alguém que queira defender um ponto de vista particular. Trata-
se de trabalho sereno, responsável, de quem detém vasta erudição no conhecimento da
Bíblia em seus idiomas originais, e presta uma contribuição positiva e valiosa à
restauração do dialogo redentivo com o mundo necessitado de Cristo, o qual, mediante
o uso não bíblico das línguas, tem sido flagrantemente fragmentado a ponto de
converter-se num monólogo ininteligível.
Deus, em sua soberana graça, opera por meio deste e de muitos outros estudos
similares, para abrir o caminho para o entendimento correto e a sã aplicação de sua
verdade revelada; pois evidentemente, a prática pentecostal carismática do momento
contradiz a verdade da Palavra de Deus. Os cultos em que se predominam a desordem,
os gritos e a irreverência, abertamente afrontam a norma bíblica para a adoração, “pois
Deus não é Deus de confusão, mas de paz. Como em todas as igrejas dos santos ... tudo,
porém, seja feito com decência e ordem" (1 Co. 14:33, 40). O salmista, ao dar louvores
a Deus, como “refugio e fortaleza", e ao transportar o povo até ao “santuário do
Altíssimo”, canta dizendo, "aquietai-vos e sabeis que eu sou Deus" (Sal. 46:10).
" Sola Scriptura, sola fide ". Eis aqui o que hoje, unicamente, pode proporcionar uma
vida verdadeiramente cristã e profunda. Somente a Bíblia e somente a fé. Convém, pois,
recordar tão somente admoestação do próprio Mestre, "examinais as Escrituras; porque
julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que de mim testificam” (Jo. 5:39).
Deus não tem por costume surpreender seu povo com o inusitado e inesperado. A
extensa história de preparação através do. Antigo Testamento tinha por propósito
suavizar o trauma potencial da escamação do Filho de Deus. Dificilmente
encontraremos uma doutrina ou experiência cristã no Novo Testamento que não tenha
sua contraparte no Antigo Testamento. A tênue formação das sombras precede a
esplendorosa irrupção da realidade. Com o propósito de assegurar a compreensão
adequada do contexto, Deus cuidadosamente envolve com cuidados a entrada de sua
verdade no mundo.
A história da salvação
Não ocorre da mesma maneira com a conexão feita por Paulo. De forma interessante,
Paulo relaciona o Antigo Testamento explicitamente com o dom de línguas, por sua vez,
Pedro aplica ao fenômeno das línguas do Pentecostes uma profecia geral do Antigo
Testamento que relacionada diretamente com as línguas.
“ 20. Irmãos, não sejais meninos no juízo, na malicia, sim, sede crianças; quanto ao
juízo, sede homens amadurecidos.
21.Na lei está escrito: Falarei a este povo em outras línguas e por lábios de outros
povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor.
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22.De sorte que as línguas constituem um sinal, não para os crentes, mas para os
incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, mas para os que crêem.”
O juízo de Deus sobre o povo desobediente viria por meio de uma nação estrangeira. O
sinal do juízo do pacto de Deus sobre Israel será o som de língua estranha.
A resposta infantil do povo ofende a Deus seu Criador. Age como se fossem crianças,
lactantes, recém desmamados (v. 9b). Como "eles não quiseram ouvir" (v. 12), Deus
devia falar-lhes como se estivessem ainda aprendendo a falar por meio de rimas
infantis:
Em hebraico:
“ sav lasav
sav lasav
kav lakav
Qual seria o resultado desta deliberada regressão à infância por parte de Israel? Qual foi
Ia conseqüência desse infantilismo? Isaías adverte aos seus ouvintes. Caso persistam em
suas atitudes infantis e imaturas pretendendo não escutar nem entender, Deus lhes
falaria com juízo apesar de sua condição infantil. Sua voz soaria como as palavras de
um adulto imitando uma criança. Em lugar de comunicar-se com eles claramente, em
sua língua nativa, falaria "por língua estranha a este povo" (v. 11). O que seria na
realidade a maldição do pacto proferida por Moisés. Uma nação cuja língua não era sua
língua viria sobre eles para executar a ira e a maldição de Deus. Sua relação favorável
para com eles terminaria através de um povo cuja língua não poderiam entender. Deus
falaria em acentos desconhecidos, "para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem, se
enlacem, e sejam presos" (v. 13).
"Portanto, assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, pedra
já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada, aquele que crê não foge."
Sendo que esta perspectiva sobre o papel das línguas é bastante nova, o ponto de
partida desta discussão deve ressaltado de novo. É Paulo, quem, ao tratar o problema
das línguas em Corinto, cita a sentença de Isaías para explicar o significado das línguas.
Um exame mais cuidadoso do contexto da citação de Paulo, pode servir para reforçar a
conexão do argumento de Paulo com o de Isaias. Paulo começa em 1 Coríntios 14:20
interrompendo sua discussão sobre as línguas para exortar seus leitores a não ser
"meninos" no juízo. Os coríntios estavam agindo flagrantemente como meninos ao
ostentarem o dom de línguas. Estavam praticando o dom de forma imatura, sem
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Israel recebeu nos dias do Antigo Testamento o juízo ao qual Moisés e Isaías se
referiram. Ambos profetizaram que, como resultado da desobediência do pacto, o sinal
de balbuciar línguas se escutaria em sua terra. Suas profecias se unificaram por uma
confirmação posterior feita através de um terceiro profeta, contemporâneo ao fato
histórico do cumprimento. Moisés falou no Século XV a.C. a respeito de um povo com
língua estranha que viria para o juízo sob Israel (Dt. 28:49). Isaías no Século VIII a.C.
profetizou com a mesma perspectiva. No tempo do cativeiro de Israel, Jeremias reiterou
a mesma mensagem:
“Eis que trago sobre ti uma nação de longe, ó casa de Israel, diz o SENHOR; nação
robusta, nação antiga, nação cuja língua ignoras; e não entendes o que ela fala" (Jr.
5:15).
Esta tríplice profecia dos Séculos XV, VIII e V, antes de Cristo, encontrou seu cumpri-
mento inicial quando os "balbuciantes" babilônios avançaram sobre Israel. Mas, Paulo
diz que este sinal de maldição do pacto sobre Israel chega ao clímax de seu
cumprimento na manifestação do dom de línguas da era do Novo Testamento. O juízo
de Deus sobre Israel no ano 586 a.C. foi somente a antecipação de juízos ainda mais
severos pronunciados por Cristo mesmo: " Eis aqui a vossa casa vos ficará deserta "
(Lc. 13:35).
Agora pois, de que forma as línguas serviram como um sinal do juízo do pacto para
com Israel?
Vale notar o papel que as línguas desempenham no pacto que resulta igualmente
significativo constatar o seu caráter de sinal. Depois de citar Isaías 28:11, Paulo oferece
sua própria versão interpretativa. "As línguas", diz Paulo, "constituem em sinal". Tanto
a natureza essencial das línguas, como o contexto da citação paulina do Antigo
Testamento, que já se discutiu antes, corroboram a precisa definição do "caráter de
sinal" das línguas. As línguas servem, pois, de sinal para indicar que o plano redentor de
Deus deslocou da atividade centrada nos judeus, para uma atividade que açambarca
todas as nações do mundo.
Indicou-se anteriormente que o contexto da citação de Paulo em Isaías 28 tem a ver com
o juízo de Deus para com Israel, pela dureza de seu coração. A referência à "preciosa
pedra angular" de Isaías 28:16, tal como é empregada no Novo Testamento, corrobora a
idéia resultante do contexto da citação de Paulo a respeito da remoção do reino das
mãos de Israel. As "línguas" têm neste contexto a função de um "sinal". Sinal do
cumprimento do juízo de Deus sobre Israel. Sinal da maldição do pacto realizada sobre
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Israel. Sinal da mudança de tratamento exclusivo de Deus com uma nação em sua
linguagem especial para a manifestação aberta de Deus aos homens de todas as nações,
comunicando-se com eles em sus próprias línguas.
Israel persistiu em sua incredulidade e Deus cumpriu o juízo anunciado. As línguas dão
testemunho do juízo de Deus sobre Israel. Era claro que Deus não haveria de continuar a
tratar de forma exclusiva com uma só nação. Por meio das línguas ele anuncia sua
comunicação aos homens de todas as nações. Por sua vez, as línguas anunciam ao
incrédulo as dimensões universais da graça de Deus. Uma transição teve lugar. A
intenção da graça de Deus foi exposta. Deus explicitou sua determinação de falar na
linguagem dos homens que se encontram em todo o orbe.
De modo que as línguas são para os incrédulos. Serve inicialmente como uma clarinada
evangélica. Quando se trata propriamente com o pano de fundo da perspectiva
veterotestamentaria, as línguas dão seu testemunho e sinal ao incrédulo. No entanto,
este sinal de transição tem um papel de menor importância para quem entra na
comunidade dos crentes. "As línguas constituem sinal ... para os incrédulos" (1 Co.
14:22). Deus não apresentou o dom de línguas para a edificação sólida do crente. Por
sua própria natureza, as línguas têm um papel concreto a ocupar na história da redenção.
Como a maioria dos sinais, as línguas orientam ao longo do caminho. Uma vez, porém,
tendo sido ultrapassada a placa sinalizadora, cessa sua função.
Por outro lado, tanto a profecia como as línguas aparecem como dons de mensagem
inspirada. No caso das línguas, a veracidade desta avaliação é clara. Posto que Deus
fazia mover a boca, a mensagem em uma língua tinha relação direta com a inspiração de
Deus frase a frase, portando conseqüentemente elementos infalíveis e inequívocos. Que
as mensagens de línguas fossem interpretáveis (1 Co. 14:5) parecia eliminar a
possibilidade de que as línguas fossem articulações verbais sem sentido. Elas
comunicavam a verdade divinamente inspirada.
Mas estes dons apresentam marcadas diferenças. Ainda que se intersecionam na mesma
categoria básica tem suas diferenças significativas. A mais importante para esta
discussão é o caráter peculiar que Paulo menciona a cada um destes dons na vida da
igreja. A profecia é para edificação, exortação e consolação dos homens. As línguas
teriam o efeito de edificar unicamente a quem fala, a menos que fossem interpretadas (1
Co. 14:3-5). Este valor relativo dos dois dons encontra confirmação permanente no fato
de que as palavras escolhidas da "profecia" (2 Pe. 1: 19) são adequadas para fazer o
homem de Deus "perfeito, perfeitamente habilitado para toda boa obra" (II Tm. 3:17).
Precisamente por seu contínuo valor de edificação para a igreja, as palavras de
inspiração profética têm sido preservadas na Escritura. O dom de línguas não obstante
possui este valor intrínseco para a edificação do povo de Deus. Por isso, as mensagens
em línguas não deveriam ter um valor permanente a preservar. As línguas servem como
um "sinal" comunicado aos incrédulos (1 Co. 14:22); enquanto a profecia cumpria o
propósito de edificar os crentes.
Paulo acaba de prescrever as línguas aos incrédulos e a profecia aos crentes. Agora, nos
versículos 23-25, parece retroceder completamente, tanto que o comentário a seguir
encontra-se em uma nota ao final da página na tradução do Novo Testamento de J. B.
Phillips em inglês:
Esta é a única instância que serve de base ao tradutor a partir do texto aceito. Ele se
sente impulsionado a concluir, do sentido dos seguintes três versículos, que temos aqui
é um deslize da pluma de Paulo, ou, mais provavelmente, um erro do copista.
No versículo 23, Paulo diz que o efeito das línguas sobre os incrédulos será levá-los a
concluir que os que estejam congregados na assembléia cristã estão "loucos".
Evidentemente, não seriam capazes de compreender o fenômeno. Mas, continua o após-
tolo, nos versículos 24 e 25, se todos se ocupam de profetizar na congregação e um
incrédulo os visita convencer-se-á e converter-se-á. De modo que, enquanto as línguas
conduzem o incrédulo à conclusão de que os cristãos estão loucos, a profecia o guiará à
salvação.
Agora como resolver este paradoxo do apóstolo? No versículo 22, prescreve as línguas
para o incrédulo e nos versículos 24-25 prescreve a profecia. A solução deste problema
consiste na distinção feita anteriormente a respeito da natureza básica das línguas e da
profecia. As línguas são "sinais"; a profecia não. As línguas têm tal caráter que,
inerentemente, limita sua função a uma perspectiva mais verbal do que o ministério
característico da profecia. As línguas servem de indicador; a profecia cumpre funções
de comunicador. As línguas fixam a atenção nos portentosos feitos de Deus; a profecia
chama ao arrependimento e à fé como resposta aos feitos poderosos de Deus.
A história da redenção faz clara a verdade. Ainda que as línguas resultaram ser
importantes como sinal, teriam utilidade muito limitada para aprofundar o entendimento
da igreja. De acordo com Paulo, as línguas sinalizam inequivocamente o ponto do juízo
sobre Israel e a ocasião da transição para o resto das nações. Desta maneira, servem
como sinal de maldição e bênção do pacto. É neste contexto que o caráter temporal
adstrito ao dom de línguas se mostra mais claro. As línguas são um sinal atado vital-
mente, e em forma intransferível, a uma conjuntura particular da história da redenção.
Por isso, não se pode esperar que o dom de línguas cumpra de forma ativa e indefinida
sua função assinalada.
Pela verdadeira natureza do caso, o dom de línguas poderia cumprir plenamente sua
função, divinamente assinalada, somente no contexto histórico demarcado por Deus
para um sinal semelhante.
As línguas serviram bem para mostrar que o cristianismo, ainda que tenha começado
em berço judaico, não seria distintivamente judaico. As línguas ajudaram
significativamente a mostrar a transição de um evangelho contextualmente judaico para
um Evangelho universal. As línguas proporcionaram base de sinal à estrutura
fundamental do cristianismo. Agora que o cimento já foi colocado, a continuação do
sinal das línguas não teria uma função significativa. Agora, a transição havia ocorrido; o
sinal de transição não teria mais valor unificante na vida da igreja.
Hoje não há necessidade de um sinal para mostrar que Deus está-se movendo da nação
singular de Israel para todas as nações. Esse movimento já ocorreu. Como no caso do.
estabelecimento do oficio de apóstolo, assim o dom particular de transição das línguas
cumpriu sua função como sinal do pacto, tanto para o povo de Deus do Antigo
Testamento como do Novo. Uma vez desempenhado seu papel, não tem mais o que
fazer dentro do povo de Deus.
O texto adotado é o da Edição Revista e Atualizada – ARA – 2ª Edição, da Sociedade Bíblica do Brasil
Quero crédito total ao Reverendo John Garrisi, quem primeiramente sugeriu-me esta linha de interpretação das palavras de Paulo. O
Sr. Garrisi empenha-se especialmente em estimular aos pastores a "fazer teologia", que dentre todos os múltiplos afazeres que se
relacionam ao ministério é o "primeiro em utilidade".
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Uma interpretação um pouco diferente de Isaías 28:9-10 é sustentada por vários notáveis eruditos do Antigo Testamento, incluindo
E. J. Young. No entanto, esta interpretação alternativa dos versículos 9 e 10 não altera o fato de que Isajas 28:11 aplica-se à
maldição do pacto de Deuteronômio 28:49, com respeito a Israel.
A unidade contextual da Escritura especificamente citada por Paulo (Is. 28:11) com referencia à pedra assentada em Sião (Is. 28:16)
reforça a alusão do estabelecimento da justiça como “regra” (v. 17). Deus fará MISHPAT LANA. A palavra. hebraica para "linha
padrão" ou “cordel de medida" é a mesma palavra rara do versículo 11 (kav lakav). O efeito de esta unidade contextual em Isaías 28
é o de corroborar com a perspectiva das línguas como um sinal relacionado especificamente com o juízo de Deus sobre o Israel
endurecido.
O fato de Paulo aplicar as profecias que têm a ver com as línguas estrangeiras ao problema de Corinto resulta em argumento forte
(para o autor, conclusivo) em favor do ponto de vista que apresenta as línguas em Corinto, como da mesma natureza das línguas do
Pentecostes. Sem sombra de duvida, as "línguas", referidas pelos profetas do Antigo Testamento, eram línguas estrangeiras. Posto
que Paulo aplica a profecia à situação de Corinto, pode-se entender que essas eram também línguas estrangeiras. Ainda que haja
problemas para admitir este ponto de vista, não há argumento conclusivo contra ele.
O Novo Testamento em inglês moderno. T radução de J. B. Phillips, Londres. William Collins Sons & Co., Ltd., 1958, p. 346, nota.
Este ênfase, quando comparada com Atos 2:13, é uma corroboração à teoria de que as línguas de I Coríntios não eram de natureza
diferente às de Atos. O efeito inicial do fenômeno é o mesmo em ambos os casos.