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Curso

básico de Teologia

Índice

INTRODUÇÃO
Além de colocar à disposição de todos os pregadores e estudantes da Palavra de Deus em geral uma
Bíblia com mais de mil sermões para serem pregados em todas as ocasiões, estamos colocando à
disposição dos leitores desta Bíblia um cursinho básico de teologia. É algo bem simples e resumido. O
objetivo é facilitar a vida de tantos obreiros da seara do Senhor que não tiveram a oportunidade e nem
mesmo condições de fazer um curso mais amplo de teologia. Pessoas que não residem nos grandes
centros encontram dificuldade para fazer um curso, seja ele básico, médio ou superior em teologia. Daí a
razão de apresentarmos este cursinho de teologia composto de 12 matérias teológicas, com o objetivo de
pelo menos dar uma pequena noção do que é teologia, sua importância para o crescimento espiritual,
intelectual e bíblico de todos os estudantes em geral da Bíblia Sagrada. Os conceitos técnicos e basilares
da teologia cristã são encontrados nos melhores manuais de teologia. Portanto, não há como fazer
invenções teológicas. Destas 12 matérias teológicas, dez são de teologia sistemática: teologia,
cristologia, paracletologia, bibliologia, angelologia, antropologia, hamartiologia, soteriologia,
eclesiologia e escatologia; duas fazem parte da teologia exegética: homilética e hermenêutica.
1) Teologia — A Doutrina de Deus

INTRODUÇÃO
A doutrina que estuda sobre Deus chama-se “teologia”. O termo teologia, segundo seus aspectos
etimológicos, é composto de duas palavras gregas: theos, que significa Deus e logos, que significa
“ciência” ou “tratado”. A teologia estuda o seguinte sobre Deus: sua personalidade, seus atributos
naturais e morais, sua existência, sua eternidade, sua santidade, sua misericórdia, sua graça, seu amor,
sua espiritualidade, sua imutabilidade, seus nomes, sua retidão, sua providência, sua paternidade, a
Trindade e tudo mais que a teologia pode nos revelar acerca de Deus. Embora não encontremos nas
Escrituras Sagradas a palavra “teologia”, ela é bíblica em seu caráter. Vejamos:
I. CLASSIFICAÇÃO DA TEOLOGIA
A teologia é envolvida com Deus, o homem e a religião e por isso tem várias divisões. A teologia está
classificada em cinco principais ramos:
TEOLOGIA EXEGÉTICA: Este ramo da teologia procura descobrir o verdadeiro significado das
Escrituras, mostrando a arte de interpretar as línguas originais em que foi escrita a Bíblia, decifrando as
dificuldades de interpretação, como no caso a hermenêutica sagrada.
TEOLOGIA HISTÓRICA: Este ramo da teologia traça a história do desenvolvimento da interpretação
doutrinária, envolvendo o estudo da história da Igreja, como por exemplo, a história do cristianismo.
TEOLOGIA DOGMÁTICA: Este ramo da teologia estuda as verdades fundamentais da fé como se nos
apresenta nos credos da Igreja, como por exemplo a teologia calvinista, luterana e outras mais.
TEOLOGIA BÍBLICA: Este ramo da teologia traça o progresso da verdade, através dos diversos
livros da Bíblia e descreve a maneira de cada escritor apresentar as doutrinas importantes como por
exemplo a teologia do Antigo Testamento, teologia do Novo Testamento, teologia do Pentateuco etc.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA: Neste ramo de estudo da teologia, os ensinos bíblicos concernentes a
Deus e aos homens são agrupados em tópicos de acordo com um sistema definido por matérias e
distribuído em disciplinas autônomas, como por exemplo: teologia (doutrina de Deus), cristologia
(doutrina de Cristo), paracletologia (doutrina do Espírito Santo), bibliologia (doutrina da Bíblia),
angelologia (doutrina dos anjos), antropologia (doutrina do homem), hamartiologia (doutrina do pecado),
soteriologia (doutrina da salvação), eclesiologia (doutrina da igreja) e escatologia (doutrina das últimas
coisas). De acordo com o teólogo anglicano William Henry Thomas: “A teologia é a expressão técnica da
revelação de Deus. Faz parte da teologia examinar todos os fatos espirituais da revelação, calcular o seu
valor e arranjá-los em um corpo de ensinamentos”. Vejamos:
II. ORIGEM DO TERMO “TEOLOGIA”
O termo “teologia” foi usado pela primeira vez por Platão no diálogo “A república”, para referir-se à
compreensão da natureza divina de forma racional, em oposição à compreensão literária própria da
poesia, tal como era conduzida pelos seus conterrâneos. Mais tarde, Aristóteles empregou o termo em
numerosas ocasiões, com dois significados: (1) teologia como o ramo fundamental da filosofia, também
chamada “filosofia primeira” ou “ciência dos primeiros princípios”, mais tarde chamada de metafísica
por seus seguidores; e (2) teologia como denominação do pensamento mitológico imediatamente anterior
à filosofia. O teólogo protestante suíço Karl Barth definiu a teologia como um “falar a partir de Deus”.
III. A IMPORTÂNCIA DA TEOLOGIA
A teologia, o estudo de Deus, já foi classificada no passado como a “rainha das matérias
universitárias”, por pesquisar e estudar sobre o maior de todos os mistérios do Universo — Deus. E,
também, por ser um dos mais antigos cursos universitários da história. Aliás, as primeiras universidades
da Europa ofereciam basicamente três cursos: teologia, filosofia e direito. Hoje, com a extrema
secularização das universidades, o curso de teologia sofre toda a discriminação da comunidade
científica, por sua associação com a religião e pelo fato de ir contra todos os argumentos e teorias
científicas acerca da origem do homem e do Universo, como a teoria da Evolução, teoria do Big Bang e
tantas outras teorias.
Eles previam que o povo perderia o interesse pela religião e, consequentemente, Deus seria tirado da
pauta. Todavia apesar do materialismo das pessoas, elas resolveram querer Deus e também a
prosperidade econômica. Portanto Deus nunca saiu e nem jamais sairá da mente humana. Ele sempre será
o assunto principal do mundo. Os maiores conflitos hoje ao redor do planeta ainda são por questões
religiosas. As previsões teóricas dos sábios deste mundo fracassaram e a teologia voltou a ficar em
evidência. Os teólogos estão cada vez mais se tornando fonte de consulta para os problemas existenciais
da vida humana. O próprio MEC (Ministério da Educação e Cultura) passou a reconhecer o curso de
bacharel em teologia como um curso de nível superior. Hoje, os teólogos estão sendo convidados pelos
populares programas de auditório na televisão e programas de debate nas rádios, nas redes sociais e nos
demais meios de comunicação para responder questões de moralidade, ética e fé. Daí a necessidade de
cada cristão, ou obreiro da seara do Mestre, ter pelo menos um conhecimento básico de teologia.
IV. O OBJETIVO PRINCIPAL DA TEOLOGIA
O principal objetivo da teologia é fazer o homem entender o maior mistério do Universo — Deus. A
pergunta que Pilatos fez a Jesus é uma pergunta que não se cala: “Que é a verdade?” (Jo 18.38). Tanto
filósofos como teólogos tentam explicar Deus. Para o filósofo grego Platão: “Ele é o começo, meio e fim
de todas as coisas. É a metade ou a razão suprema; a causa eficiente de todas as coisas; eterno, imutável,
onisciente, onipotente. Tudo permeia e tudo controla. É justo, santo, sábio e bom; o absolutamente
perfeito, começo de toda a verdade, a fonte de toda a lei e justiça, a origem de toda a ordem e beleza e,
especialmente, a causa de todo o bem”. Essa descrição foi aceita por muitos teólogos.
Para o grande teólogo cristão Anselmo de Cantuária, o pai da Escolástica, “Deus é o princípio e o fim
de todas as coisas; ele existe antes, durante e depois de todas as coisas, pois ele criou tudo, mantém tudo
e permanecerá eterno e imutável depois que todas as coisas tiverem seu fim. Em tudo se pode notar Deus,
pois em cada criatura está uma inscrição de seu Criador. Ele criou todas as coisas existentes às nossas
realidades sensíveis e também aquelas que nossa limitação sensitiva não é capaz de perceber, mas
somente sofrer suas consequências. Tu estás inteiro por toda a parte e a tua eternidade é inteira e
imperecível. Tu estás de tal maneira fora do espaço que não há em ti nem meio, nem metade, nem parte
alguma. Tu és misericordioso porque és sumamente bom; és sumamente bom porque és sumamente justo,
deve-se admitir que és verdadeiramente misericordioso porque és sumamente justo. Portanto, tu és justo
conforme a tua natureza, ó Deus justo e benigno, tanto ao castigar como ao perdoar. Tu não és apenas
aquilo de que não é possível pensar nada maior, mas és, também, tão grande que superas a nossa
possibilidade de pensar-te”. Já dizia o profeta Isaías: “Verdadeiramente, tu és o Deus que te ocultas, o
Deus de Israel, o Salvador” (Is 45.15).
Em Is 57.15, o próprio Deus dá a definição de si mesmo, dizendo: “Porque assim diz o Alto e o
Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o
contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos
contritos”. Aqui Deus revela a sua transcendência e a sua imanência. Ele é um Deus que transcende a
tudo e está acima de tudo, porém, é um Deus imanente, o qual está bem perto de sua criação e mora
também dentro do coração das pessoas contritas.
V. A EXISTÊNCIA DE DEUS
A existência de Deus é uma verdade fundamental das Escrituras, que não tecem argumentos para
afirmá-la ou comprová-la. A Bíblia já inicia apresentando a realidade da existência de Deus, dizendo:
“No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Deus não precisa que o homem creia que ele existe
para poder existir. Independente do homem crer ou não crer na existência de Deus — ele existe! Nossa
principal base para crer na realidade de Deus se encontra nas páginas da Bíblia Sagrada. A Bíblia,
portanto, não se destina ao ateu, que nega a existência de Deus, nem ao agnóstico, que nega a
possibilidade de crer ou não na existência de Deus, nem para o incrédulo, que rejeita a revelação de
Deus. Definir exatamente quem é Deus não é algo que pode ser feito meramente por palavras. Se não
houvesse uma revelação, acima de tudo, do próprio Deus ao homem, nunca iríamos compreendê-lo.
Acreditando ou não na existência de Deus, o homem necessita do Senhor para compreender a si mesmo.
Eis a questão que definirá o nosso destino eterno. A definição básica que os dicionários bíblicos dão
sobre Deus é esta: “Deus é um ser existente por si mesmo, infinito, supremo, criador e conservador do
Universo”.

Teorias sobre a existência de Deus


Existem várias teorias a respeito do que o homem pensa sobre a existência de Deus, e se difundiram
através da história, existindo até hoje adeptos destas teorias.
ATEÍSMO: O ateísmo se define hoje como um movimento humanista radical que nega a existência de
Deus. O ateu nega o conceito de Deus por não ser capaz de descobrir no Universo material a existência
de Deus. Porque Deus sendo Espírito não pertence à categoria da matéria e, portanto, não pode ser
descoberto por investigações meramente naturais ou humanas. Entretanto a Bíblia mostra que o Universo
material proclama a glória de Deus (Sl 19.1). A crença na existência de Deus é universal. Nunca
existiram povos ateus. Ficou provado, tanto pela história como pela arqueologia, que “nunca se encontrou
tribo ou nação que não tenha alguma noção de um ser supremo, um Deus que através de suas religiões
procuram se aproximar dele e agradar-lhe por meio de sacrifícios, às vezes até de sangue”. O moralista e
historiador grego Plutarco (45-125 d.C.) costumava dizer o seguinte: “É possível encontrar cidades sem
muralhas, sem ginásios, sem leis, sem moedas, sem cultura literária, mas um povo sem Deus, sem
orações, sem juramentos, sem ritos religiosos, sem sacrifícios jamais foi encontrado”.
POLITEÍSMO: O politeísmo é conhecido como “culto de muitos deuses”. Era característico das
religiões antigas, mas até hoje é praticado entre muitos povos e nações, principalmente na Índia, onde se
acredita que existam treze milhões de deuses. Baseia-se o politeísmo na ideia de que o Universo é
governado não só por uma força, mas sim por muitas forças, de maneira que há um deus na água, um deus
no fogo, um deus em cada animal, um deus nos pássaros, nas montanhas etc. O apóstolo Paulo descreve
como surgiu o politeísmo, dizendo: “E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da
imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis” (Rm 1.23). A Palavra de Deus
derruba totalmente esta teoria, dizendo: “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e
em todos” (Ef 4.6).
PANTEÍSMO: O panteísmo é proveniente de duas palavras gregas, que significam “tudo é Deus”. É
um sistema de pensamento que confunde Deus com a natureza e o identifica com o Universo, árvores,
pedras, terra, água etc. O apóstolo Paulo também descreve como surgiu o panteísmo, dizendo: “pois
mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é
bendito eternamente. Amém!” (Rm 1.25). A Bíblia afirma que: “Os céus manifestam a glória de Deus e o
firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19.1). Portanto, a natureza apenas expressa a glória do
Criador!
DEÍSMO: O deísmo admite que haja um Deus pessoal que criou o mundo, mas insiste que, depois da
criação, Deus abandonou o mundo e entregou para ser governado pelas leis naturais. A Bíblia condena
totalmente esta teoria, dizendo: “Exaltado está o SENHOR, acima de todas as nações, e a sua glória, sobre
os céus. Quem é como o SENHOR, nosso Deus, que habita nas alturas; que se curva para ver o que está nos
céus e na terra; que do pó levanta o pequeno e, do monturo, ergue o necessitado, para o fazer assentar
com os príncipes, sim, com os príncipes do seu povo; que faz com que a mulher estéril habite em família
e seja alegre mãe de filhos? Louvai ao SENHOR!” (Sl 113.4-9). Este texto revela a transcendência e
imanência de Deus. Como transcendente, Deus é excelso e está acima de tudo! Porém como imanente, ele
se inclina para observar a sua criação e interfere no dia a dia das pessoas, exaltando o humilde, fazendo
até a mulher estéril ser alegre mãe de filhos!
AGNOSTICISMO: O vocábulo “agnosticismo”, proveniente de um termo grego, tem o sentido de “não
conhecer”. Esse sistema de ensino tem por objetivo negar a capacidade humana de conhecer a Deus. “A
mente finita não pode alcançar o infinito”, afirma o agnóstico. A Bíblia refuta totalmente esta teoria,
dizendo: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR: como a alva, será a sua saída; e ele a nós
virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Os 6.3). Portanto, o conhecimento de Deus é
progressivo!
MONOTEÍSMO: O monoteísmo é a crença de que existe um só Deus que criou todas as coisas e
sustenta pela sua Palavra todo o Universo (Hb 1.1-3). O “monoteísmo” é o oposto do “politeísmo” e
defende o “culto verdadeiro de adoração a um só Deus”. O monoteísmo é defendido pelo judaísmo e
pelas duas maiores religiões do planeta, cristianismo e islamismo. A Bíblia apoia claramente esta
doutrina, dizendo: “Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e
um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1Co 8.6). O próprio Deus
confirma esta doutrina, dizendo: “Olhai para mim e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque
eu sou Deus, e não há outro” (Is 45.22).
VI. OS ATRIBUTOS DE DEUS
Os atributos de Deus são aquelas características essenciais permanentes e distintivas que podem ser
afirmadas a respeito de seu ser. Seus atributos são suas perfeições inseparáveis de sua natureza e que
condicionam seu caráter. Os teólogos têm feito muitas tentativas para classificar os atributos de Deus em
atributos naturais e atributos morais. Os atributos naturais de Deus são todos aqueles que pertencem à sua
existência como Espírito infinito e racional. Enquanto que os atributos morais de Deus são aqueles
atributos adicionais que lhe pertencem como Espírito infinito e justo.

Os atributos naturais de Deus


Os atributos naturais de Deus são: eternidade, imutabilidade, onisciência, onipotência e onipresença.
ETERNIDADE: A eternidade de Deus é a duração infinita sem começo e sem fim. Deus não teve
princípio e não terá fim (Jó 36.26). Ele conhece os acontecimentos presentes. Contudo o passado,
presente e futuro são igualmente conhecidos para ele. Para nós os acontecimentos ocorrem um a um. Mas
Deus vê todos os acontecimentos como um todo ligado, como se fosse um único acontecimento. Moisés
escreveu sobre a eternidade de Deus, dizendo: “Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a
terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2).
IMUTABILIDADE: A imutabilidade de Deus não admite a possibilidade de mudança e nem sombra de
variação. Na qualidade de ser infinito, absoluto, independente e eterno, Deus está acima de
possibilidades de mudanças e variações. O apóstolo Tiago escreveu sobre a imutabilidade de Deus,
dizendo: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há
mudança, nem sombra de variação” (Tg 1.17). O Senhor também falou de sua imutabilidade através do
profeta Malaquias, dizendo: “Porque, eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois
consumidos” (Ml 3.6).
ONISCIÊNCIA: A onisciência de Deus é um termo teológico que se refere ao conhecimento e
sabedoria infinitos de Deus e sua capacidade de conhecer perfeitamente todas as coisas. Calvino definiu
a onisciência como “Aquele atributo mediante o qual Deus conhece a si mesmo e a todas as outras coisas
em um só e simplicíssimo ato eterno”. Davi escreveu sobre a onisciência de Deus, dizendo: “Tu conheces
o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar e o meu
deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó
SENHOR, tudo conheces. Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim
maravilhosíssima; tão alta, que não a posso atingir” (Sl 139.2-6).
ONIPOTÊNCIA: A onipotência de Deus é um termo teológico que se refere ao poder ilimitado de
Deus. Davi também escreveu sobre a onipotência de Deus, dizendo: “Grande é o SENHOR e muito digno
de louvor; e a sua grandeza, inescrutável” (Sl 145.3). O próprio Deus revelou para Abraão a sua
onipotência, dizendo: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso” (Gn 17.1). Jesus também revelou a onipotência de
Deus, dizendo: “Mas a Deus tudo é possível” (Mt 19.26).
ONIPRESENÇA: A onipresença de Deus é um termo teológico que se refere à natureza ilimitada de
Deus ou à sua capacidade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Davi também escreveu sobre a
onipresença de Deus, dizendo: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face? Se
subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também; se tomar as asas da
alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá. Se disser:
decerto que as trevas me encobrirão; então, a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me
escondem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa”
(Sl 139.7-12). O escritor da carta aos Hebreus também escreveu sobre a onipresença de Deus, dizendo:
“E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos
daquele com quem temos de tratar” (Hb 4.13).

Os atributos morais de Deus


Os atributos morais de Deus são: santidade, retidão, justiça, amor, misericórdia e graça.
SANTIDADE: A santidade de Deus é seu atributo mais exaltado e destacado, pois expressa a
majestade de sua natureza e caráter moral. A santidade de Deus poderia se chamar também de “atributo
moral enfático de Deus”. A Bíblia descreve como Deus é incomparável em santidade, dizendo: “Não há
santo como o SENHOR; porque não há outro além de ti; e Rocha não há, nenhuma, como o nosso Deus”
(1Sm 2.3). Os seres viventes proclamam dia e noite a santidade de Deus, dizendo: “Santo, Santo, Santo é
o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir” (Ap 4.8). Os serafins também
fazem isso, dizendo: “Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”
(Is 6.3).
RETIDÃO: A retidão de Deus é a imposição de leis e exigências retas, podendo ser chamada de
“santidade legislativa”. Nesse atributo vemos revelado o empenho de Deus pela santidade que sempre o
impele a fazer e a exigir o que é reto (Sl 145.17; 116.5). Todos os requisitos exigidos por Deus aos
homens são absolutamente retos em seu caráter. Davi escreveu sobre a retidão de Deus, dizendo: “Bom e
reto é o SENHOR; pelo que ensinará o caminho aos pecadores” (Sl 25.8).
JUSTIÇA: A justiça de Deus é a execução das penalidades impostas por suas leis; essa pode ser
chamada de “santidade judicial”. Nesse atributo vemos revelado seu ódio contra o pecado, uma
indignação tal que, livre de toda paixão ou capricho, sempre o impele a ser justo e a exigir o que é justo
(Sf 3.5; Dt 32.4). Todos os tratos de Deus com os homens se baseiam na justiça absoluta. A Bíblia fala da
retidão e justiça de Deus, dizendo: “Ele mesmo julgará o mundo com justiça; julgará os povos com
retidão” (Sl 9.8).
AMOR: O amor é aquele atributo de Deus pelo qual ele se inclina a buscar os melhores interesses de
suas criaturas (Jo 3.16; Mt 5.44-45). O cristianismo é realmente a única religião que exibe o ser supremo
como amor (1Jo 4.8). Os deuses dos pagãos são irascíveis e odiosos, que necessitam ser constantemente
apaziguados. Não é assim o nosso Deus. Seu amor, qual ponte, transpõe o abismo do tempo. Permanece
firme sob as mais pesadas pressões. As pressões e o peso do pecado do homem não têm quebrado a
ponte do amor, que se reflete na longanimidade de Deus. Paulo escreveu sobre a demonstração prática do
amor de Deus pelos pecadores, dizendo: “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo
morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
MISERICÓRDIA: A misericórdia de Deus é aquele princípio e qualidade que descreve sua
disposição e ação em relação aos pecaminosos e sofredores, sustando penalidades merecidas e aliviando
os angustiados. A Bíblia fala da eternidade da misericórdia de Deus, dizendo: “Mas a misericórdia do
SENHOR é de eternidade a eternidade, sobre aqueles que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos
filhos” (Sl 103.17). Com base nisso, o profeta Jeremias descreve a infinita misericórdia do Senhor,
dizendo: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos; porque as suas
misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22-23).
GRAÇA: A graça de Deus é seu favor não merecido, contrário ao merecimento, mediante o qual a
penalidade merecida e consequente é suspensa e todas as bênçãos positivas são concedidas ao crente
arrependido. O salmista Davi descreveu tão bem a plenitude da graça de Deus, dizendo: “Mas tu, Senhor,
és um Deus cheio de compaixão, e piedoso, e sofredor, e grande em benignidade e em verdade”
(Sl 86.15). O apóstolo Paulo também escreveu sobre a extensão da graça de Deus, dizendo: “Porque a
graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11).
VII. A SANTÍSSIMA TRINDADE
A Bíblia afirma, de forma categórica, em suas páginas: “Há um só Deus” (1Co 8.6; Ef 4.6). Entretanto,
esse Deus único se manifesta em três pessoas divinas: O Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito Santo
(Mt 28.19). A palavra “Trindade” não se encontra na Bíblia, mas foi primeiramente empregada por
Tertuliano, um dos mais importantes teólogos do período Patrístico, para descrever o que as Escrituras
ensinam sobre a natureza do Deus trino. A Bíblia afirma que o único Deus verdadeiro existe como uma
Trindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Estas três pessoas, que formam uma única divindade, são
distinguíveis uma da outra na mesma natureza, na mesma essência, e se relacionam entre si numa
comunhão ininterrupta. A Trindade é uma comunhão eterna que já existia muito antes de todas as coisas,
portanto, não é uma invenção de Tertuliano; ele apenas usou pela primeira vez o termo “Trindade”.
A doutrina da Trindade existe para descrever a plenitude da divindade, que se fundamenta na tríplice
manifestação de Deus, nos eventos narrados no Antigo e Novo Testamento. Desde a criação observamos
alguns verbos e pronomes que se referem a mais de uma pessoa: (1) na criação do homem: “Façamos o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26); (2) na confusão das línguas: “Eia,
desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro” (Gn 11.7); (3) na
visão de Isaías, quando do seu chamamento, lemos que Deus perguntou: “A quem enviarei, e quem há de
ir por nós?” Estas citações no Antigo Testamento definem mais de uma pessoa na Trindade presente em
ação.
No Novo Testamento, a doutrina da Trindade é claramente explícita nas seguintes ocasiões: (1) a
tríplice manifestação divina é evidenciada por ocasião do batismo de Jesus (Mt 3.16-17); (2) pela
menção das Três Pessoas da Trindade na grande ordenança de Jesus acerca do batismo dos salvos
(Mt 28.19); (3) na referência das Três Pessoas da Trindade na bênção apostólica (2Co 13.13) e (4) pela
menção das Três Pessoas divinas nos ensinos de Cristo e Paulo em várias outras passagens do Novo
Testamento, que revelam claramente a doutrina da Trindade.
A santíssima Trindade não é três deuses como ensina a teoria conhecida como “triteísmo”. A Trindade
não é três manifestações de uma só pessoa como ensina a teoria conhecida como “sabelianismo”. A
Trindade também não é três elementos essenciais de um Deus como ensina a teoria conhecida como
“swedenborgianismo”. Entretanto qual é a teoria correta que define a Trindade? O Credo Atanasiano
define muito bem a santíssima Trindade dizendo: “Adoramos um só Deus em Trindade e uma Trindade
em unidade, não confundindo as pessoas e nem dividindo a substância”. A Trindade, portanto, são três
pessoas eternamente “interconstituídas”, inter-relacionadas, “interexistentes” e inseparáveis dentro de um
único ser e de uma única substância ou essência.
Em 1Co 12.4-6, Paulo distingue de forma clara as três pessoas da Trindade, dizendo: “Ora, há
diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o
mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”.
Em Ef 4.4-6, Paulo ainda reforça o argumento, dizendo: “Há um só corpo e um só Espírito, como
também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só
batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos”.

CONCLUSÃO
Em Jo 17.3, o Senhor Jesus Cristo nos deu o resumo de toda a teologia cristã, dizendo: “E a vida
eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.
2) CRISTOLOGIA — A DOUTRINA DE CRISTO

INTRODUÇÃO
A cristologia é uma disciplina da teologia sistemática que estuda acerca da pessoa e obra de Cristo. O
termo “cristologia”, é uma associação do nome messiânico de Jesus em grego, que é “Cristo”, o
“Ungido”, com o sufixo logia, que é “estudo”, “doutrina” ou “ensino”. Portanto, cristologia é o estudo, a
doutrina ou o ensino acerca de Cristo. Esta matéria teológica se reveste de grande importância, pelo fato
de estudar sobre o fundador do cristianismo, a maior religião do planeta. Jesus Cristo possui uma relação
tão vital com o cristianismo que nenhum outro fundador de religião possui. Todas as demais religiões são
de profetas e mestres mortos. O cristianismo, porém, é a única religião que o seu fundador vive para
sempre. Vamos resumir esta matéria tão extensa em oito principais ensinos acerca de Cristo: I) A pessoa
de Jesus Cristo; II) A humanidade de Jesus Cristo; III) A divindade de Jesus Cristo; IV) O caráter de
Jesus Cristo; V) A obra de Jesus Cristo; VI) O significado da morte de Jesus Cristo; VII) A ressurreição
de Jesus Cristo e VIII) A ascensão de Jesus Cristo. Vejamos:
I. A PESSOA DE JESUS CRISTO
Jesus Cristo é o centro e âmago da história do mundo. A própria história do mundo se divide entre
antes e depois de Cristo. Como definiu muito bem o teólogo Bancroft: “A pessoa de Jesus Cristo não
somente está firmemente engastada na história humana e gravada nas páginas abertas das Escrituras
Sagradas, mas também é experimentalmente materializada nas vidas de milhões de crentes e entrelaçada
no tecido de toda a civilização digna desse nome”. Por mais que os historiadores e pensadores do
presente século queiram classificar Jesus Cristo como um simples fundador de religião como Maomé,
Buda, Confúcio, Zoroastro e tantos outros, jamais conseguirão ofuscar o brilho e a influência da obra de
Cristo no coração de milhares e milhares de pessoas através da história e nos dias atuais. Quanto mais
tentam sepultar o cristianismo, mais vigoroso e glorioso ele ressurge em todo o mundo. Nisto concordo
com as palavras de outro grande teólogo: “O cristianismo não pode ser comparado com outros cultos,
como também Jesus Cristo não pode ser comparado com outras pessoas. Cristo é o incomparável; ele
está acima dos homens como os céus estão acima da terra. Da mesma forma, o cristianismo é
incomparável. Acha-se em plano tão afastado do nível das religiões humanas, quanto está o Ocidente
afastado do Oriente” (Neighbor).
II. A HUMANIDADE DE JESUS CRISTO
Jesus Cristo é homem verdadeiro e Deus verdadeiro. A encarnação do Verbo é, sem dúvida, um dos
grandes mistérios do cristianismo (Jo 1.14). Para o teólogo Bushnell: “Cristo pertence à raça e dela
participa, nascido de mulher, vivendo dentro da linhagem humana, sujeito às condições humanas e
fazendo parte integral da história do mundo”. Cristo não foi 50% homem e nem 50% Deus. Ele é 100%
homem e 100% Deus. Jesus Cristo tornou-se homem através de uma concepção sobrenatural, como bem
já definia o Credo dos Apóstolos: “Nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria”. Desta maneira as
Escrituras confirmam, dizendo: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe,
desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mt 1.18). E
Paulo resume este assunto, dizendo: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido
de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4).
III. A DIVINDADE DE JESUS CRISTO
Jesus Cristo possuía duas naturezas: a divina e a humana. “A união da divindade com a humanidade
era essencial à constituição da pessoa de Cristo. Segue-se, portanto, que Cristo é o Deus-Homem”, assim
definiu Pendleton. Ainda de acordo com o teólogo Bancroft: “Para quem aceita a doutrina bíblica da
Trindade, evidentemente não há necessidade de argumentos para provar a divindade de Cristo, pois a
aceitação de uma abrange a outra: Se Cristo é a segunda pessoa da Trindade, é da mesma essência do Pai
e do Espírito Santo, possuindo igual poder e glória. Em Deus Pai vemos a fonte da divindade; em Jesus
Cristo, a divindade a transbordar; na corrente está toda a perfeição da fonte. O Pai é a fonte da glória;
Jesus Cristo, o Filho, é o resplendor dessa glória.”
A Bíblia afirma que Jesus Cristo é “o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa”
(Hb 1.3). Portanto, Cristo é a expressão exata da natureza e da essência da divindade. O apóstolo Paulo
apresenta Jesus Cristo como o próprio Deus, dizendo: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o
aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.13). Pedro também apresenta
Jesus Cristo como o próprio Deus, dizendo: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que
conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”
(2Pe 1.1). O apóstolo João chama a Jesus Cristo de verdadeiro Deus, dizendo: “E sabemos que já o Filho
de Deus é vindo e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro
estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20).
IV. O CARÁTER DE JESUS CRISTO
O estudo sobre o caráter de Jesus Cristo se reveste de grande importância pelo fato de colocar em
relevo tudo aquilo que ele afirmou ser, além de elevar a sua ética bem acima de todos os demais homens
que já pisaram nesta terra. A ética e a moral de Cristo eram tão elevadas que até os pensadores ímpios a
reconheceram.
Pecaut, um célebre infiel francês, reconheceu a pureza moral do caráter de Jesus Cristo, dizendo: “O
caráter moral de Cristo elevou-se incomparavelmente acima de qualquer outro grande homem da
antiguidade. Nenhum outro foi tão meigo, tão humilde e tão bondoso como ele. Em Espírito, ele viveu na
casa de seu Pai celestial. Sua vida moral está totalmente impregnada de Deus.” Portanto, o caráter puro e
santo de Jesus Cristo demonstrado nos Evangelhos apenas confirmam a sua superioridade ética e moral
bem acima dos demais fundadores de religião.
De acordo com o grande estudioso cristão Neighbor: “A ética do cristianismo é incomparavelmente
superior à ética das demais religiões.” A Bíblia comprova o caráter puro de Jesus Cristo, dizendo:
“Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito
mais sublime do que os céus” (Hb 7.26). O apóstolo Pedro, que conviveu por três anos e meio com Jesus
Cristo, deu o seu testemunho do caráter puro e santo de Jesus, dizendo: “Porque para isto sois chamados,
pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas, o qual
não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano, o qual, quando o injuriavam, não injuriava e,
quando padecia, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente, levando ele mesmo em seu
corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a
justiça; e pelas suas feridas fostes sarados. Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas, agora, tendes
voltado ao Pastor e Bispo da vossa alma” (1Pe 2.21-25).
V. A OBRA DE JESUS CRISTO
Por obra de Jesus Cristo entendemos tudo aquilo que ele realizou para o nosso bem mediante a sua
morte e ressurreição. Não se pode mensurar nem avaliar o tamanho da obra de Cristo em favor da
humanidade. “Todas as bênçãos que Deus tem para o homem encontram-se em Jesus Cristo e são dadas
por meio dele” (A. Lindsay Glegg).
A obra de Jesus Cristo se define por tudo aquilo que ele conquistou para nós como legado perpétuo: a
vida eterna, a paz eterna e a alegria eterna (Jo 3.16; 14.27; 16.22). “As realizações de Cristo ultrapassam
as suas promessas” (Nehemiah Rogers). A salvação, a redenção, a remissão, a justificação, a expiação, a
regeneração, a reconciliação, a santificação e o perdão são obras que somente Jesus Cristo tinha
condições de realizar em favor da humanidade pecadora. Martinho Lutero, o grande reformador, assim
definiu a obra de Jesus Cristo: “Em sua vida, Cristo foi um exemplo edificante, que nos traçou normas
salutares de conduta; em sua morte, um sacrifício propiciatório pelos nossos pecados; em sua
ressurreição, um conquistador; em sua ascensão, um rei; em sua intercessão, um sumo sacerdote.”
A obra principal de Jesus foi clara e objetivamente definida por ele mesmo: “Porque o Filho do
Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10). Existe obra maior do que esta? Esta foi
e continua sendo a principal missão de Jesus Cristo em favor do homem.
VI. A MORTE DE JESUS CRISTO
O cristianismo é uma religião redentora. Daí o fato da morte de Jesus Cristo ter o primeiro lugar em
sua mensagem evangélica. Dessa forma, o cristianismo assume uma posição sem paralelo entre todas as
religiões do mundo. Somente o sangue de Jesus Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo
sem mancha a Deus, pode purificar a nossa consciência de obras mortas a fim de servirmos ao Deus
vivo. “A encarnação tinha em vista a expiação. Cristo encarnou-se a fim de poder fazer expiação e
propiciação. Nasceu para morrer. Manifestou-se para tirar os pecados. Encarnou-se a fim de que, ao
assumir natureza semelhante à nossa, oferecesse sua vida como sacrifício pelos pecados dos homens. A
encarnação foi da parte de Deus uma declaração do seu propósito de promover salvação para o mundo.
Essa salvação só podia ser provida pelo sangue expiador de Cristo” (Bancroft). O apóstolo Paulo
resumiu todo o conteúdo do evangelho no seguinte credo: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que
já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo qual também sois
salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se não é que crestes em vão. Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as
Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1Co 15.1-4).
Reconhecendo ainda o grande valor da morte de Jesus Cristo, Paulo escreveu, dizendo: “Porque nada me
propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).
VII. A RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO
A ressurreição de Jesus Cristo é a coluna mestra que sustenta o edifício da fé cristã. A ressurreição de
Cristo é um dos fatos mais bem comprovados da história humana. É sustentado e apoiado por provas
corroborativas e infalíveis, como bem poucos fatos históricos. A ressurreição de Jesus Cristo é
comprovada pelo sepulcro vazio e pelas aparições pessoais do Senhor ressurreto para dezenas e
centenas de pessoas de uma só vez. Como bem atestou o doutor Lucas, ao investigar o fato como um
legítimo médico legista, dizendo: “aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com
muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao
Reino de Deus” (At 1.3). A morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo são dois pilares que sustentam o
cristianismo e o coloca infinitamente bem acima de todas as demais religiões do planeta. A ressurreição
de Jesus Cristo é a comprovação de que tudo aquilo que ele falou é verdadeiro. É a prova cabal de que
Jesus é o Deus vivo e verdadeiro, “o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa
justificação” (Rm 4.25). A ressurreição de Jesus Cristo lavou a alma de seus discípulos acanhados pela
sua morte e pelos inimigos que acusavam seu Senhor e Mestre de apenas mais um embusteiro (Jo 20.19).
O antes medroso Pedro podia dizer com autoridade: “Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus
Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez
no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este que vos foi entregue pelo determinado conselho e
presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus
ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela” (At 2.22-24). O
apóstolo Paulo declara que a nossa crença na ressurreição de Jesus Cristo é fator determinante para a
nossa salvação, dizendo: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que
Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10.9).
VIII. A ASCENSÃO DE JESUS CRISTO
A ascensão visível de Jesus Cristo em corpo ressurreto aos céus é a prova mais contundente de que
ele havia descido lá do alto, mediante a sua encarnação e agora retornava para o céu reassumindo a
glória que ele já possuía muito antes da fundação do mundo (Jo 17.5,13,24). A ascensão de Jesus Cristo
foi um “até breve” do rei que retornará da mesma forma visível com que foi assunto ao céu. “E, quando
dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E,
estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois varões
vestidos de branco, os quais lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse
Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1.9-
11).

CONCLUSÃO
O pensador cristão Thomas Brooks assim concluiu o que pensa acerca de Jesus Cristo: “Cristo é
admirável, Cristo é muito admirável, Cristo é o mais admirável, Cristo é sempre admirável, Cristo é
totalmente admirável”. E o grande e cristocêntrico apóstolo Paulo disse: “Porque dele, e por ele, e para
ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Rm 11.36).
3) PARACLETOLOGIA — A DOUTRINA DO ESPÍRITO
SANTO

INTRODUÇÃO
A disciplina teológica que estuda sobre o Espírito Santo é “paracletologia”, termo extraído do
vocábulo grego parakletos e traduzido por “advogado”, termo este utilizado por Jesus para se referir a
vinda do “Consolador” (Jo 14.26), que significa “Alguém chamado para o lado de outro para o ajudar”
ou “Alguém que aparece em defesa de outra pessoa”, como faz um advogado que aparece ao lado de
alguém para defendê-lo perante um tribunal. Este termo foi o mesmo utilizado para referir-se a Cristo
como “Advogado” (1Jo 2.1), confirmando a expressão grega de Jo 14.16, cujo termo utilizado para
“outro consolador” é allos parakletos, que significa “outro do mesmo tipo” ou “outro da mesma espécie”
e não heteros, que significa “outro”, porém, de espécie diferente. Noutras palavras, o Espírito Santo
continuaria fazendo exatamente o que Cristo faria se continuasse aqui na terra. Aliás, Cristo continua
presente conosco todos os dias, por meio do Espírito Santo que nos foi enviado (Mt 28.20; Fp 1.19). O
vocábulo parakletos, utilizado por Jesus para se referir ao Espírito Santo, pode ser traduzido ainda
como: consolador, fortalecedor, conselheiro, socorro, advogado, companheiro, intercessor, ajudador,
aliado e amigo (Rm 8.26). A matéria teológica que estuda sobre o Espírito Santo é também conhecida
como “pneumatologia”, que provém do vocábulo grego pneuma, que significa “vento” ou “espírito”.
Prefiro, entretanto, o termo “paracletologia”. Vejamos:
I. DISPENSAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO
Vivemos na dispensação do Espírito Santo. O dia de Pentecostes marcou para sempre a descida do
Espírito Santo para habitar com a Igreja. O Espírito Santo veio para morar dentro de cada crente. O
nosso corpo é templo do Espírito Santo. O Espírito Santo habitando dentro de cada crente é o próprio
Deus morando em nosso coração. O domínio que prevalece nesta dispensação é o domínio do Espírito
Santo. O Espírito Santo é o comandante da Igreja. Cristo, sendo a cabeça da Igreja, ele orienta a sua
Igreja, através do Espírito Santo que habita conosco. Foi o próprio Jesus Cristo quem disse em Jo 14.16-
17: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o
Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o
conheceis, porque habita convosco e estará em vós”. Portanto, o Espírito Santo é o guia da Igreja nesta
dispensação. Até mesmo quando Cristo se dirige à sua Igreja na terra, ele o faz através do Espírito Santo.
Ao enviar as sete cartas para as sete igrejas da Ásia, no livro do Apocalipse, na introdução de cada carta
é Jesus Cristo quem se identifica como o remetente (Ap 2.1,8,12,18; 3.1,7,14). Porém quem assina cada
carta no final é o Espírito Santo (Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22).
II. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA BÍBLICA
A obra do Espírito Santo pode ser vista e percebida através de toda a história bíblica. Em cada
manifestação das obras de Deus registradas na Bíblia percebemos a Trindade santa trabalhando para o
bem da criação. De acordo com alguns teólogos, o Pai é o autor, o Filho é o executor e o Espírito Santo é
o ativador de cada obra iniciada. Em todos os momentos da história, desde a criação dos céus e da terra
em Gênesis, até o estabelecimento do novo céu e da nova terra, em Apocalipse, percebemos o trabalhar e
o mover do Espírito Santo através dos líderes do povo, sacerdotes, juízes, libertadores e profetas na
antiga aliança, como também através de Jesus e dos seus santos apóstolos no estabelecimento da nova
aliança e na inauguração da Igreja no dia de Pentecostes. A Bíblia já inicia mostrando o Espírito Santo
trabalhando para dar forma à terra, dizendo: “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face
do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1.2). Da criação até Cristo, o
Espírito Santo atuava de forma esporádica através dos homens que Deus levantava para liderar o seu
povo (Nm 11.24-29; Jz 3.10; 6.34; 11.29; 13.25; 1Sm 10.6; 16.13; 2Cr 15.1; 20.14; Is 61.1; Mq 3.8 etc.).
Do nascimento de Cristo até Pentecostes, o Espírito Santo atuou por meio do ministério glorioso de
Cristo. Tudo o que Jesus fez por ocasião de seu ministério terreno, foi orientado pela atuação do Espírito
Santo (Mt 3.16-17; Lc 4.1; 4.14; 4.18-19). De Pentecostes até o arrebatamento da Igreja, o Espírito Santo
habita na Igreja, a qual é o corpo de Cristo. Neste período, o Espírito Santo habita individualmente em
cada crente, fazendo do nosso corpo o santuário onde Deus habita (1Co 3.16-17; 6.19-20).
III. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA IGREJA PRIMITIVA
A marcha triunfal da Igreja na terra está no poder do Espírito Santo. A Igreja primitiva era uma igreja
triunfante porque caminhava no poder do Espírito Santo. Basta ler os 28 capítulos do livro de Atos dos
Apóstolos e constatar esta verdade. Igreja que caminha no poder do Espírito Santo é uma igreja avivada.
A igreja, porém, que não tem o poder do Espírito é uma igreja fria. Existe uma grande diferença entre a
Igreja avivada e a igreja fria, por isso Paulo já havia advertido a igreja de Tessalônica, dizendo: “Não
extingais o Espírito” (1Ts 5.19). Infelizmente, aquilo que Paulo temia aconteceu. Após o primeiro século
de avivamento apostólico, a Igreja já não tinha mais a chama do Espírito ardendo em seu coração e
começou o período das discussões teológicas colocando em dúvida a divindade de Cristo, rebatidas
pelos apologistas do segundo século. Em seguida veio o período da Patrística, onde a filosofia
influenciou profundamente a teologia cristã, o conhecimento da letra apagou o brilho do Espírito, dando
início à Igreja romana, ascensão do papado e tantas outras coisas mais que a doce voz do Espírito foi
silenciada por quase mil anos, entre o início do catolicismo romano, no século quinto, até o alvorecer da
Reforma protestante, nos séculos 15 e 16.
IV. O SILÊNCIO DO ESPÍRITO SANTO
O período mais angustiante para a Igreja nesta dispensação, foi o silêncio do Espírito Santo entre os
anos 500 d.C. (início do paganismo na Igreja) a 1500 d.C. (início da grande Reforma). A Igreja tornou-se
ritualística e entrou numa fase sombria da sua história. Com a conversão de Constantino, o primeiro
imperador romano cristão, houve uma tentativa tanto política como religiosa de cristianizar o mundo
pagão. Entretanto se o paganismo foi cristianizado, o cristianismo também foi paganizado, com a
ascensão da Igreja romana como “matriz” da cristandade católica. Além disso, uma das piores mentiras
que o inimigo vendeu para a Igreja e boa parte dos primeiros pais da Igreja compraram, foi a chamada
“teoria cessacionista”, aquela que afirma que os dons espirituais e a operação sobrenatural do Espírito
Santo, com a evidência das línguas faladas no dia de Pentecostes, haviam cessado com o fim do período
apostólico. Essa desastrosa teoria causou mais estrago espiritual à Igreja no decorrer desses séculos de
silêncio do Espírito Santo do que a maldita teoria da Evolução de Charles Darwin. Quantos séculos
perdidos se passaram desde o período Patrístico até a Reforma protestante, seguida pelos avivamentos
da Inglaterra, pelos grandes despertamentos nos Estados Unidos e pelo avivamento da rua Azuza, no
limiar do século 20?
V. ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA DA IGREJA
Para alguns, durante a Reforma protestante no século 16, pelo esforço de homens como Martinho
Lutero, o trabalho do Espírito Santo reviveu após mil anos de silêncio. Porém a própria Reforma só não
surtiu mais efeito, porque muitos líderes da Reforma ainda defendiam essa desastrosa teoria
cessacionista. Mais adiante, por meio de grandes avivalistas como Jonathan Edwards, John Wesley,
George Whitefield, Charles Finney e Dwight Moody a grande atuação do Espírito Santo começou a
reaparecer. Deus estava amadurecendo o mundo para um grande avivamento. E, por volta do ano 1900, o
mundo todo começou a receber de novo o Espírito Santo com as mesmas evidências ocorridas no dia de
Pentecostes (At 2.1-4). Precisamente no ano de 1906, mais uma vez, à exemplo do que aconteceu no dia
de Pentecostes, o avivamento não começou no meio de pessoas intelectuais, mas sim no meio de 120
pessoas simples que aguardavam ansiosamente a promessa do Pai. E assim foi também no Pentecostes da
rua Azuza. O Espírito Santo voltou a descer sobre pessoas simples e humildes, até discriminadas da
sociedade, como foi o caso do pastor afro-americano Wiliam Seymour, que liderou através do Espírito
Santo o grande avivamento do começo do século 20. Foi desse grande avivamento que resultou o
Movimento Pentecostal que se espalhou rapidamente como um fogo por todo o mundo. O Espírito Santo
continua agindo e guiando a Igreja do Senhor na terra, convencendo o mundo, do pecado, da justiça e do
juízo (Jo 16.7-11). Ele é simplesmente o glorioso Espírito Santo que nos adestra para a batalha e está
preparando a noiva de Cristo para o seu encontro com o Senhor Jesus Cristo (Ap 22.17).
VI. OS DONS ESPIRITUAIS
O Espírito Santo continua distribuindo os dons espirituais para a sua amada Igreja ainda hoje
(1Co 12.7-11). A palavra “dom”, vem do grego charisma no singular e charismata no plural. Os dons são
talentos e habilidades dadas por Deus à sua Igreja com o objetivo de servir melhor aos santos. Os dons
espirituais podem ser classificados em três grupos: Os dons de revelação, os dons de poder e os dons
vocais. Os dons de revelação servem para a orientação espiritual da Igreja e do ministério na sua tomada
de decisões. Os dons de poder servem para a manifestação do poder de Deus na Igreja através de sinais,
prodígios e maravilhas e os dons vocais servem para comunicar os desígnios de Deus para a Igreja no
sentido de exortar, edificar e consolar o povo através da elocução, que é a ação de anunciar o
pensamento por meio de palavras. Vejamos:

1. OS DONS DE REVELAÇÃO
1. Os dons de revelação são: A palavra de sabedoria, a palavra do conhecimento e o discernimento de
espíritos (1Co 12.7-10). Esses dons buscam a orientação divina para a Igreja do Senhor na terra!
2. Os dons de revelação têm a finalidade de capacitar pessoas escolhidas por Deus para transmitir ao
povo uma sabedoria superior à sabedoria humana, um conhecimento superior e um entendimento
superior do mundo espiritual (Jr 33.3).
3. A palavra da sabedoria se manifestava com intensidade na vida de Salomão (1Rs 3.28). A palavra
do conhecimento e o discernimento de espíritos se manifestavam de forma intensa nos ministérios
dos profetas Eliseu e Daniel (2Rs 6.8-23; Dn 1.17; 2.19-22).
4. O Deus da Bíblia é o Deus das grandes revelações. Em Dn 2.19-22, a Palavra de Deus afirma que:
“Então, foi revelado o segredo a Daniel numa visão de noite; e Daniel louvou o Deus do céu. Falou
Daniel e disse: Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a sabedoria e a
força; ele muda os tempos e as horas; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos
sábios e ciência aos inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido e conhece o que está em
trevas; e com ele mora a luz”.

2. OS DONS DE PODER
1. Os dons de poder são dons sobrenaturais pelos quais o poder de Deus se manifesta, a fim de
transmitir uma resposta miraculosa através de uma intervenção, até mesmo na natureza física.
2. Todos esses dons espirituais são distribuídos às pessoas pelo Espírito Santo, de acordo com sua
própria vontade, para benefício e crescimento da Igreja, o corpo de Cristo (1Co 12.11).
3. Os dons de poder são: O dom da fé, os dons de curar e o dom de operação de maravilhas. Os dons
de poder se manifestavam de forma intensa na vida de Moisés, Elias, Eliseu, Jesus, os apóstolos,
Pedro, Filipe e Paulo.
4. Em Rm 15.19, Paulo menciona a operação destes dons de poder no seu ministério, dizendo: “pelo
poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que, desde Jerusalém e
arredores até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo”.

3. OS DONS VOCAIS
1. Os dons vocais ou dons de expressão são os dons do Espírito Santo manifestados através de
expressões vocais ou orais, que são: O dom de profecia, o dom de interpretação de línguas e o dom
de variedade de línguas.
2. Estes três dons transmitidos através da língua, são os dons da comunicação divina para edificação
pessoal do portador do dom e para edificação e exortação espiritual da Igreja.
3. Em 1Co 14.1, Paulo aconselhou os crentes buscarem com zelo os dons espirituais, dando um
destaque especial ao dom de profecia, dizendo: “Segui o amor e procurai com zelo os dons
espirituais, mas principalmente o de profetizar”.
4. Em At 19.6, Lucas revela a operação dos dons vocais em Éfeso, dizendo: “E, impondo-lhes Paulo
as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam”.
VII. OS DONS MINISTERIAIS
O Espírito Santo também é responsável por distribuir os dons ministeriais para a sua Igreja
(At 20.28). Em Ef 4.11, o apóstolo Paulo afirma que: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para
profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”. Vejamos:

1. APÓSTOLOS
O apóstolo é um enviado especial, que representa a pessoa que o envia. Em Lc 6.13, Jesus “chamou a
si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos”. O equivalente no
aramaico que Jesus utilizou para “apóstolo” é shaliah, que significa “alguém que recebeu a comissão e
autoridade explícitas daquele que o enviou, mas sem capacidade de transferir seus atributos para outro”.
Cada apóstolo teve uma chamada explícita, individual e intransferível.

2. PROFETAS
Em At 13.1, Lucas escreve que: “Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão,
por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo”. Portanto,
mesmo não havendo tanta intensidade de profetas quanto havia na antiga aliança, havia também profetas
de Deus na nova aliança. Entretanto, os profetas da nova aliança, profetizam através do dom de profecia
(1Co 12.10). O profeta maior já veio e, nestes últimos dias, Deus nos fala através dele — O seu Filho
Jesus Cristo (Hb 1.1). Os verdadeiros profetas do Senhor comunicam a palavra de Deus pela inspiração
do Espírito Santo (2Pe 1.21).

3. EVANGELISTAS
O evangelista é o mensageiro de boas-novas. O evangelista exerce o ministério itinerante, levando a
mensagem do evangelho de Cristo a todas as nações (At 1.8). Em At 21.8, a Bíblia destaca a visita que
Paulo fez a casa de Filipe, o evangelista. E, em At 8.4-40, a Palavra de Deus destaca a notoriedade do
ministério itinerante deste grande evangelista chamado Filipe. Em 2Tm 4.5, Paulo recomendou a
Timóteo, dizendo: “Faze o trabalho de um evangelista”. Timóteo era pastor da igreja de Éfeso e Paulo o
aconselhou a realizar também o trabalho de um evangelista. Em nossos dias, temos muitos pastores
polivalentes, que pastoreiam, ensinam, pregam e ainda exercem um ministério evangelístico (2Tm 1.11).

4. PASTORES
O pastor é o homem que apascenta as ovelhas. Quis Deus, na sua graça, que o seu povo fosse chamado
de ovelhas e os seus líderes de pastores (Nm 27.15-17). Deus é o pastor maior do seu povo, pois no
Sl 100.3, o salmista disse: “Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele, e não nós, que nos fez povo seu e
ovelhas do seu pasto”. Aleluia! Os pastores foram levantados por Deus, para pastorearem o rebanho do
Senhor. Em At 20.28, a Palavra de Deus afirma: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o
Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu
próprio sangue”. Em Hb 13.20, a Bíblia afirma que Jesus Cristo é o “grande Pastor das ovelhas”, pelo
sangue da eterna aliança. Portanto, os pastores devem cuidar bem do rebanho de Deus, pois hão de
prestar contas das ovelhas de Cristo (Hb 13.17).

5. MESTRES OU DOUTORES
Os mestres são conhecidos como os doutores da palavra. São aqueles que conseguem sistematizar a
doutrina cristã e revelar um conhecimento mais profundo da Palavra de Deus. Em 2Tm 1.11, o próprio
Paulo afirma que, foi designado por Cristo “pregador, apóstolo e mestre”. Paulo conseguiu, por meio da
revelação divina, sistematizar toda a doutrina do evangelho de Cristo (Gl 1.11-12). Em 2Pe 3.15, o
próprio Pedro, o líder do colégio apostólico, reconheceu a grande sabedoria de Paulo, dizendo: “… e
tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como também o nosso amado irmão Paulo vos
escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada”. Em At 13.1, a Palavra de Deus afirma que: “Na igreja
que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores”. Jesus Cristo é o Mestre por excelência. Ele é
o Mestre dos mestres. Em Jo 13.13, ele mesmo disse: “Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem,
porque eu o sou”. Jesus Cristo é o Mestre único e inconfundível (Mt 23.8).

6. SOCORRO
Em 1Co 12.28, o apóstolo Paulo acrescenta mais alguns dons ministeriais em uma outra lista, dizendo:
“E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores,
depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas”. Os “operadores de
milagres e dons de curar” podem ser uma referência aos evangelistas (At 8.5-8; Ef 4.11); e, a “variedade
de línguas” nesta lista de dons ministeriais pode se referir ao ministério de profetas (1Co 14.29-31;
Ef 4.11). Neste caso, as novidades em relação a lista de Ef 4.11 seriam apenas duas: socorros e
governos. O ministério de socorro é dado para os que possuem o dom de ajudar as pessoas, realizando
grandes obras sociais e assistenciais (Rm 12.8; At 4.36-37; 1Tm 6.17-19; Lc 8.1-3; Fm 22; 3Jo 5-8).

7. GOVERNO
O dom ministerial de “governos” é concedido pelo Espírito Santo aos que ele capacita para presidir e
exercer com prudência os cargos que envolvem a administração eclesiástica. Em Rm 12.8, Paulo também
se refere a este dom, dizendo: “O que preside, com cuidado”. Neste cargo estão incluídos os pastores
presidentes de igrejas e convenções, bem como bispos e supervisores de um aglomerado de igrejas
filiadas a um setor ou campo eclesiástico (Fp 1.1; 1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9).
VIII. O FRUTO DO ESPÍRITO SANTO
O fruto do Espírito Santo é constituído daquelas virtudes cristãs que devem ser cultivadas e praticadas
por todas as pessoas que foram regeneradas, ao nascerem do Espírito e não da carne (Jo 3.5-6). O fruto
do Espírito é formado por nove gomos importantes. Através do fruto do Espírito, podemos compreender
ainda mais sobre o caráter do Espírito Santo. Vejamos:

1. AMOR
O primeiro gomo do fruto do Espírito Santo é o amor. O amor é a maior e mais sublime de todas as
virtudes cristãs (1Co 13.13). A Trindade santa demonstra através das Escrituras um amor incomensurável
em favor dos homens. O Pai amou o mundo de uma maneira inexplicável (Jo 3.16). O amor do Filho
supera todas as dimensões imagináveis e excede a toda a compreensão humana (Ef 3.18-19). O amor do
Espírito Santo é tão grande por nós que ele chega a ter ciúmes e um zelo profundo por nossa vida
(Rm 15.30; Tg 4.5).

2. ALEGRIA OU GOZO
O segundo gomo do fruto do Espírito Santo é a alegria. A alegria pode ser definida como um estado
emocional de júbilo, contentamento e prazer moral. Como fruto do Espírito, a alegria é a manifestação do
gozo do Espírito Santo, mesmo em face das tribulações da vida presente (1Ts 1.6).

3. PAZ
O terceiro gomo do fruto do Espírito Santo é a paz. A paz pode ser definida como a tranquilidade da
alma e o bem-estar em todas as áreas da vida. A palavra hebraica para “paz” é shalom, que é sinônimo
de harmonia, plenitude e firmeza. É a sensação de tranquilidade e harmonia no relacionamento com Deus
e com os homens (Rm 5.1; 12.18; Tg 3.18).

4. LONGANIMIDADE
O quarto gomo do fruto Espírito Santo é a longanimidade. A longanimidade pode ser definida como a
capacidade de suportar com paciência a afronta ou ofensa recebida. O próprio Deus é constantemente
exaltado e adorado por sua longanimidade para com todos nós (Êx 34.6). Longânimo é uma pessoa que
demora ficar irada, alguém que tarda em irar-se (Tg 1.19).

5. BENIGNIDADE
O quinto gomo do fruto do Espírito Santo é a benignidade. A benignidade pode ser definida como a
qualidade que uma pessoa possui de ser misericordioso e benevolente. A santíssima Trindade possui em
abundância todos os gomos do fruto do Espírito, e servem de modelo para todos nós seguirmos. Uma das
coisas mais louvadas e exaltadas na Bíblia é a benignidade do nosso Deus. Todos os 26 versículos do
Salmo 136 exaltam a benignidade do Senhor para com o seu povo (Sl 136.1-26).

6. BONDADE
O sexto gomo do fruto do Espírito Santo é a bondade. A bondade pode ser definida como a qualidade
de uma pessoa boa e clemente. O próprio Espírito Santo é chamado na Bíblia de “bom Espírito”
(Sl 143.10). Existem pelo menos sete virtudes da divindade muito correlacionadas entre si, que são: a
benignidade, a bondade, a longanimidade, a fidelidade, a misericórdia, a beneficência e a clemência
(Êx 34.6; 9.17; Sl 103.8; Is 63.7).
7. FIDELIDADE OU FÉ
O sétimo gomo do fruto do Espírito Santo é a fidelidade. A “fidelidade” é definida como a lealdade
de uma pessoa a outra. A fidelidade é marcada por uma lealdade constante e inabalável a alguém com
quem estamos unidos por promessa, compromisso, fidedignidade e honestidade (Sl 101.6). Deus é
conhecido nas Escrituras pela sua fidelidade (Sl 100.5). Na Almeida Revista e Corrigida, este gomo do
fruto do Espírito é mencionado como fé. Além da fé salvadora, da fé comum e da fé como dom, existe a
fé como fruto do Espírito, que está associada a confiança, fidelidade e lealdade incondicional a Deus!

8. MANSIDÃO
O oitavo gomo do fruto do Espírito Santo é a mansidão. A mansidão pode ser definida como a
brandura de gênio, índole pacífica e a serenidade que uma pessoa possui (Sl 37.11). O nosso querido
Salvador Jesus Cristo possuía este fruto com muita intensidade, pois ele mesmo disse: “Aprendei de
mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma” (Mt 11.29).

9. TEMPERANÇA
O nono gomo do fruto do Espírito Santo é a temperança. A temperança pode ser definida como a
qualidade ou virtude de quem é moderado, sensato e equilibrado (Pv 19.11). Na Versão Almeida Revista
e Atualizada, o nono fruto do Espírito aparece como “domínio próprio”. Quem tem temperança possui
domínio próprio. Ter temperança, é ser temperante, equilibrado e que domina o seu próprio ímpeto. O
Senhor Jesus Cristo nos deu uma aula de temperança e equilíbrio diante das mais terríveis dificuldades
enfrentadas no seu ministério (Lc 9.51-56; 23.28; 23.34 etc.).
IX. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo é a terceira pessoa da santíssima Trindade (Mt 28.19). Esta definição foi dada pelo
próprio Jesus ao citar o Espírito Santo como uma pessoa coexistente com o Pai e com o Filho. O Espírito
Santo não é uma energia cósmica ou uma força impessoal como muitas seitas ensinam. Através das
Escrituras, aprendemos que o Espírito Santo é representado como um agente pessoal, a realizar atos que
só podem ser atribuídos a uma pessoa. Portanto o Espírito Santo não é um mero poder ou influência
iluminadora, como alguns ensinam, mas sim uma pessoa dotada de inteligência, vontade e emoções que
somente alguém dotado de personalidade pode ter e sentir.

Características pessoais do Espírito Santo


Ao se referir ao Espírito Santo, Jesus usou pronomes de tratamento que só podem ser aplicados a uma
pessoa. Em Jo 16.13, Jesus disse: “Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda
a verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de
vir”. O Senhor Jesus Cristo usou aqui o pronome de tratamento masculino “ELE”.
1. Como pessoa, o Espírito Santo fala (2Sm 23.2; Ap 2.29). Como pessoa, o Espírito Santo se
entristece (Ef 4.30).
2. Como pessoa, o Espírito Santo se alegra (At 13.52; Rm 14.17). Como pessoa, o Espírito Santo
possui vontade (1Co 12.11).
3. Como pessoa, o Espírito Santo guia e ensina (Jo 14.26; Rm 8.14). Como pessoa, o Espírito Santo
intercede e geme (Rm 8.26).
4. Como pessoa, o Espírito Santo chama e envia outras pessoas (At 13.1-4) Como pessoa, o Espírito
Santo tem amor (Rm 15.30; Gl 5.22; Cl 1.8).
5. Como pessoa, o Espírito Santo possui inteligência e habilidade (Êx 31.2). Como pessoa, o Espírito
Santo investiga e revela as coisas (1Co 2.10-11).
6. Como pessoa, o Espírito Santo ajuda e convence outras pessoas (Rm 8.26; Jo 16.7-11). Como
pessoa, o Espírito Santo tem até ciúme de nós (Tg 4.5). O Espírito Santo pode ser representado por
vários símbolos, que ilustram verdades espirituais acerca de sua pessoa gloriosa, como: AZEITE
(1Sm 16.13), ÁGUA (Is 44.3), VENTO (Jo 3.8), FOGO (1Ts 5.19), ORVALHO (Os 14.5), RIO
(Jo 7.37-38), VINHO (Ef 5.18), VESTES (Jz 6.34), POMBA (Mt 3.16-17) etc. O Espírito Santo não
é uma pomba, nem o vento, nem o fogo e nem a água; ele é a terceira pessoa da santíssima Trindade
(Mt 28.19; 2Co 13.13).
X. O ESPÍRITO SANTO É DEUS
O Espírito Santo possui atributos que só uma pessoa pode ter. O Espírito Santo possui os mesmos
atributos divinos que a pessoa do Pai e a pessoa do Filho possuem. Como a terceira pessoa da santíssima
Trindade, o Espírito Santo faz parte da divindade, sendo coigual, coeterno e da mesma substância do Pai
e do Filho (Mt 28.19; 2Co 13.13). A Trindade não é uma composição de três deuses, mas sim uma única
divindade que subsiste em três pessoas (1Co 12.4-6). Uma é a pessoa do Pai, outra é a pessoa do Filho e
outra é a pessoa do Espírito Santo (Ef 4.4-6). Porém, estas três pessoas divinas, formam uma única
divindade, que é também chamada de único Deus e único Senhor (Dt 6.4; Ef 4.4-6). Sendo Deus, o
Espírito Santo é onipotente, onipresente e onisciente (Sl 139.7-12; Is 40.13-18; 1Co 2.10-11). O Espírito
Santo é Criador (Sl 104.30). O Espírito Santo é eterno (Hb 9.14). O Espírito Santo é Senhor (2Co 3.17).
O Espírito Santo é Deus (At 5.3-4). Portanto, o Espírito Santo possui os mesmos atributos de Deus Pai e
de Deus Filho.

O Espírito Santo é o nosso amigo pessoal


O Espírito Santo é o nosso fiel amigo e companheiro e esteve presente em todos os grandes momentos
da história humana, mesmo quando os homens o ignoraram, o que por si só revela sua natureza mansa e
pacífica. Como nosso amigo pessoal, o Espírito Santo mora em nós (Jo 14.17). O nosso corpo é o templo
do Espírito Santo (1Co 3.16; 6.19-20). O Espírito Santo não veio passar férias conosco e nem muito
menos passar alguns dias conosco; ele veio morar para sempre conosco (Jo 14.16). Como nosso amigo
pessoal, o Espírito Santo nos ajuda em nossas fraquezas, nos ensina a orar e ainda intercede por nós com
gemidos inexprimíveis (Rm 8.26).

CONCLUSÃO
“O dia de Pentecostes marcou o raiar de um novo dia nas relações entre o Espírito Santo e a
humanidade. Ele veio para habitar na Igreja. Todo o trabalho eficaz que a Igreja tem feito é realizado no
poder do Espírito Santo. A incredulidade, a dúvida e a crítica podem atacá-la, mas não podem derrotá-la.
A Igreja, o verdadeiro corpo de Cristo, habitado pelo Santo Espírito de Deus, é tão indestrutível como o
trono de Deus” (E. H. Bancroft).
4) BIBLIOLOGIA — A DOUTRINA DA BÍBLIA

INTRODUÇÃO
Bibliologia é a doutrina que estuda a Bíblia sob seus aspectos e observações gerais. Sua leitura, seu
estudo, sua estrutura, sua divisão em livros, capítulos e versículos, sua classificação, suas
particularidades, seu tema central, sua tradução, sua preservação, sua história, sua cronologia, sua
formação, sua autoridade como livro divino, sua autenticidade como Palavra de Deus, sua infalibilidade,
sua integridade e sua veracidade. A verdadeira teologia é extraída da Bíblia. Por ser uma matéria de
grande vastidão, a bibliologia não pode ser comentada em todos os seus aspectos em pouco espaço;
entretanto vamos aprender um pouco sobre o livro de ouro da teologia cristã. Vejamos:
I. TERMO E ORIGEM DA BIBLIOLOGIA
O termo “bibliologia” vem da palavra grega biblos, que os gregos davam à uma folha de papiro
preparada para a escrita. Um rolo de papiro de tamanho pequeno era chamado de biblion; vários destes
rolos juntos eram chamados de “bíblia”. E desta palavra “bíblia”, surgiram os derivados: bibliologia,
bibliografia, biblioteca e bibliófilo. O vocábulo “Bíblia”, foi empregado pela primeira vez por volta do
ano 400 d.C., por João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla e conhecido pregador de sua época
chamado de “Boca de ouro”. A bibliologia é matéria de grande importância dentro da teologia, é como
um carro chefe que puxa as demais matérias. A mãe da teologia é a Bíblia, pois todas as verdades
teológicas são extraídas deste livro divino. O próprio Deus, que é o Pai da teologia, é revelado na
bibliologia como o autor da Bíblia.
II. A BÍBLIA COMO UM LIVRO
A Bíblia é um livro antigo quanto à sua formação, mas é um livro moderno quanto à sua mensagem. Os
livros antigos tinham a forma de rolos. E a Bíblia foi originalmente escrita na forma de rolos. A palavra
“Bíblia” significa “coleção de pequenos livros” e “livro por excelência”. A Bíblia é o livro mais lido,
mais traduzido, mais editado, mais pesquisado, mais conhecido, mais valioso, mais ensinado, mais
proclamado, mais exaltado e mais amado do mundo. A Bíblia é um livro tão forte e poderoso que foi
citada tanto por Jesus (Mt 4.1-11), como também pelo próprio diabo (Mt 4.6). “A Bíblia é o mapa do
viajante, o cajado do peregrino, a bússola do navegante, a espada do soldado e o guia do cristão. Por
meio dela o paraíso é restaurado, os céus são abertos e as portas do inferno são cerradas. Cristo é o seu
assunto, nosso bem é o seu propósito e a glória de Deus o seu fim”. “Lâmpada para os meus pés é a tua
palavra e luz, para o meu caminho” (Sl 119.105).
III. MATERIAL GRÁFICO EMPREGADO NA BÍBLIA
ORIGINALMENTE
A princípio, o material gráfico empregado na Bíblia foi o “papiro”. O papiro era uma planta aquática
que crescia junto aos rios, lagos e banhados no Oriente, cuja entrecasca servia para escrever. As tiras
extraídas do papiro eram colocadas umas às outras até formarem um rolo de qualquer extensão. O papiro
é conhecido em algumas versões da Bíblia como “juncos” (Êx 2.3; Jó 8.11). É da palavra “papiro” que
se deriva a palavra “papel”, inventado pelos chineses no século 2. O uso do papiro, porém, como
material gráfico, existe desde o ano 3000 a.C. Com o passar do tempo surgiu um material gráfico melhor
que o papiro, conhecido como “pergaminho”, feito de peles de animais curtida e polida. Seu uso vem
desde os primórdios da Era Cristã. O pergaminho é mencionado na Bíblia em 2Tm 4.13; antigamente
cada livro da Bíblia era um “rolo de pergaminho” ou um “rolo de papiro”. Jesus leu na sinagoga de
Nazaré provavelmente em um “rolo de pergaminho” do profeta Isaías. E ainda hoje, devido aos ritos
tradicionais, os rolos sagrados das Escrituras hebraicas continuam sendo lidos e usados nas sinagogas
judaicas.
IV. O AUTOR DA BÍBLIA
Deus é o próprio autor da Bíblia, o intérprete é o Espírito Santo e o tema central e coração da Bíblia é
o Senhor Jesus Cristo. Tudo o que o homem quer saber e precisa saber espiritualmente de Deus, sua
redenção, conduta cristã e felicidade eterna, está revelado na Bíblia. Deus não tem outra revelação
escrita além da Bíblia. Tudo o que Deus tem para o homem está na Bíblia. Jesus é a Palavra viva que está
no céu dos céus, enquanto que a Bíblia é a Palavra viva que está na terra. A expressão “Assim diz o
Senhor” aparece cerca de três mil vezes nas Escrituras, autenticando a Bíblia como a inconfundível,
infalível e inspirada Palavra de Deus. A palavra Yahweh, o nome sagrado de Deus, aparece quase sete
mil vezes nas Escrituras (6.855), confirmando que a Bíblia é mesmo o livro de Deus. “A Bíblia contém a
mente de Deus, o estado do homem, a ruína dos impenitentes e a eterna felicidade dos crentes. Suas
doutrinas são santas, seus preceitos são justos, suas histórias verdadeiras e suas decisões imutáveis. Leia
a Bíblia para ser sábio, creia nela para estar seguro e pratique-a para ser santo. Ela contém luz para
dirigi-lo, alimento para sustentá-lo, consolo para animá-lo e armadura para defendê-lo”.
V. NOMES CANÔNICOS DA BÍBLIA
A Bíblia, a inspirada Palavra de Deus, dá a si mesma diversos nomes. Seus nomes inspirados
encontrados em suas páginas sagradas são os seguintes:
1. ESCRITURAS (Mt 21.42);
2. SAGRADAS ESCRITURAS (Rm 1.2);
3. LIVRO DO SENHOR (Is 34.16);
4. A PALAVRA DE DEUS (Hb 4.12);
5. OS ORÁCULOS DE DEUS (Rm 3.2);
6. LIVRO DA LEI (2Cr 34.15).
Além desses nomes canônicos, a Palavra de Deus também é: pão que alimenta, lâmpada que ilumina,
luz que dissipa as trevas, escudo que protege, vara que corrige, martelo que esmiúça a pedra, fogo que
queima o pecado, semente que produz, água que limpa, espada que combate o mal, espelho que revela
nossa verdadeira imagem, candeia que brilha em lugar escuro e mel que traz doçura para a nossa alma.
VI. TEMA CENTRAL DA BÍBLIA
Cristo é o centro e coração da Bíblia. O Antigo Testamento descreve uma nação. O Novo Testamento
descreve um homem. O Antigo Testamento descreve Deus nutrindo a nação de Israel, para que o Novo
Testamento descrevesse e desse ao mundo o homem que mudou a história da humanidade. Cristo é o
centro e âmago da Bíblia, centro e âmago da história, centro e âmago de nossa vida. Em cada livro da
Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, Cristo está presente, direta e indiretamente, através de suas aparições
e nomes diferentes. O Antigo Testamento prepara o cenário do aparecimento de Cristo, enquanto que o
Novo Testamento descreve como foi este aparecimento. Todo o Antigo Testamento fala de sua
“preparação”, os Evangelhos falam de sua “manifestação”, o livro de Atos dos Apóstolos fala de sua
“propagação”, as Epístolas falam da “explanação” de sua mensagem, enquanto que o Apocalipse fala da
“consumação” de sua obra.
VII. A ESTRUTURA E CLASSIFICAÇÃO DOS LIVROS DA BÍBLIA
A Bíblia divide-se em duas partes principais: Antigo e Novo Testamento. O Antigo Testamento foi
escrito antes do nascimento de Cristo e o Novo Testamento depois da morte de Cristo. A Bíblia tem ao
todo 66 livros, 1.189 capítulos, 31.173 versículos, 773.692 palavras e 3.566.480 letras (de acordo com o
tipo de tradução). Os 66 livros da Bíblia podem ser classificados por assuntos na seguinte ordem: LEI,
HISTÓRIA, POESIA, PROFECIA, EVANGELHOS, HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA E
APOCALIPSE.

Antigo Testamento
1. LEI — São os primeiros cinco livros da Bíblia, conhecidos como “Pentateuco” e chamados pelos
judeus de Torah, reconhecidos pela maioria de judeus e cristãos como sendo de autoria do grande
legislador hebreu Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
2. HISTÓRIA — Ao todo são 12: Josué, Juízes, Rute, 1Samuel, 2Samuel, 1Reis, 2Reis, 1Crônicas,
2Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.
3. POESIA — Ao todo são cinco: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão.
Representam a categoria dos livros poéticos ou devocionais da Bíblia, contendo o seguinte: “um drama
poético” (livro de Jó); “poesias líricas” (livro de Salmos); “didática poética” (livro de Provérbios);
“idílios poéticos” (livro de Cantares de Salomão); “didática filosófica” (livro de Eclesiastes).
4. PROFECIA — Ao todo são 17: Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel,
Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
Correspondem aos livros que levam o nome dos respectivos profetas literários. Durante três séculos, a
sequência dos profetas clássicos hebreus constitui um fenômeno totalmente ímpar na história. O profeta é
sempre um gênio da linguagem, cujo ritmo e simbolismo desafiam o mais brilhante tradutor a alcançar um
inimitável original. Estão subdivididos em dois grupos:
PROFETAS MAIORES — São Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel.
PROFETAS MENORES — São Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. O termo empregado para maiores ou menores não se refere
ao mérito ou notoriedade do profeta, mas ao tamanho do livro e a extensão do respectivo
ministério.

Novo Testamento
1. EVANGELHOS — São quatro os Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Contêm a biografia
do Senhor Jesus Cristo e a descrição de seu glorioso ministério terreno, cuja vida, obra e seus
ensinamentos formam o alicerce do cristianismo. É nos Evangelhos que resplandece a cultura moral e
espiritual do cristianismo, condensado nos ensinamentos do Mestre dos mestres — Jesus Cristo — a
pessoa mais pura que já pisou nesta terra.
2. HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA — É o livro de Atos dos Apóstolos, narrado por Lucas, onde
é descrito um resumo do início do cristianismo pós-ressurreição e ascensão de Jesus Cristo ao céu, com
a descida do Espírito Santo no dia da festa judaica de Pentecostes, culminando com o início triunfal da
maior sociedade cosmopolita do mundo — a Igreja cristã.
3. EPÍSTOLAS APOSTÓLICAS — São cerca de 21 Epístolas apostólicas endereçadas aos primitivos
cristãos e igrejas espalhadas pelo vasto Império Romano. Contém o desenvolvimento sistemático dos
ensinamentos de Cristo, naquilo que podemos denominar de teologia apostólica, teologia paulina,
teologia petrina, teologia joanina etc. As epístolas apostólicas podem ser subdivididas em dois grupos:
EPÍSTOLAS PAULINAS — São ao todo 13: Romanos, 1Coríntios, 2Coríntios, Gálatas, Efésios,
Filipenses, Colossenses, 1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses, 1Timóteo, 2Timóteo, Tito e
Filemom. Escritas por Paulo (Saulo de Tarso), que veio a tornar-se no maior teólogo do
cristianismo e o grande mentor intelectual da fé cristã por todo o mundo;
EPÍSTOLAS GERAIS — Ao todo são oito: Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João e
Judas. Escritas por Tiago, Pedro, João e Judas, à exceção da Epístola aos Hebreus, cujo autor é
desconhecido até hoje.
4. PROFECIA — O livro do Apocalipse — É o último livro da Bíblia onde, numa linguagem
excessivamente figurativa, enigmática e simbólica, João recebe na ilha de Patmos (no mar Egeu) a grande
revelação do fim do mundo, descrevendo em vivas cores a vinda pessoal de Cristo à terra para
estabelecer o seu governo universal e proferir a grande sentença do famoso juízo final, havendo em
seguida uma fusão do reino terreno com o reino celestial e eterno.
VIII. O CÂNON DA BÍBLIA
Cânon, ou Escrituras Canônicas, é a coleção completa dos livros divinamente inspirados por Deus que
constituem a Bíblia. Cânon é uma palavra grega que significa “vara reta de medir”. Assim como uma
régua serve de regra para medir, no sentido religioso tem o significado de “regra escrita de fé e prática”.
E realmente para nós, povo de Deus, a Bíblia é nossa regra de fé e prática que serve para medir a nossa
conduta cristã. O termo “cânon”, foi empregado primeiramente por Orígenes (185-254 d.C.), professor
da escola teológica de Alexandria, para diferenciar os livros canônicos dos livros “apócrifos”.

1. O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO


O cânon do Antigo Testamento, como temos hoje, ficou completo desde o tempo de Esdras em 445
a.C. A divisão dos livros no cânon hebraico é diferente da nossa. Jesus citou a divisão do cânon hebraico
em Lc 24.44 (Lei de Moisés, Profetas e Salmos). O cânon hebraico consiste em 24 livros e não 39 livros
como em nossa Bíblia. Isso porque alguns livros são divididos em dois, em nossa Bíblia, como nos casos
de Samuel, Reis e Crônicas, os quais, na Bíblia hebraica formam um só volume. Esdras e Neemias são
também um só volume. Os Profetas Menores, que são 12 em nossa Bíblia (Oseias a Malaquias), na Bíblia
hebraica são um só volume. A nossa divisão do Antigo Testamento em 39 livros vem da Septuaginta,
através da Vulgata Latina. A diferença da divisão do cânon hebraico, da divisão do cânon de nossa
Bíblia, não altera a veracidade das Escrituras Sagradas; o mais importante é que não foi alterada a
mensagem. O cânon do Antigo Testamento foi formado num espaço de mais ou menos 1046 anos. Moisés
escreveu as primeiras palavras do Pentateuco, por volta do ano 1491 a.C. e Esdras escreveu as últimas
palavras do Antigo Testamento por volta do ano 445 a.C. O último escritor do Antigo Testamento foi
Malaquias, porém Esdras, na qualidade de sacerdote e escriba, foi o encarregado de completar e
organizar o cânon Sagrado.

2. O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO


Os 27 livros canônicos do Novo Testamento foram aqueles que vieram a ser reconhecidos pelas
igrejas como escritos genuínos e autênticos e de autoria apostólica. Já nos dias dos apóstolos e sob a
supervisão deles começaram a ser feitas coleções de seus escritos para as igrejas, as quais eram
colocadas ao lado das Escrituras canônicas do Antigo Testamento, tendo a mesma autenticidade como a
inspirada Palavra de Deus (2Pe 3.15-16). Os livros do Novo Testamento que primeiro apareceram
foram: Mateus, Tiago e Hebreus, na Palestina; João, Gálatas, Efésios, Colossenses, 1 e 2Timóteo,
Filemom, 1 e 2Pedro, 1, 2 e 3João, Judas e Apocalipse, na Ásia Menor; 1 e 2Coríntios, Filipenses, 1 e
2Tessalonicenses e Lucas, na Grécia; Tito em Creta; Marcos, Romanos e Atos, em Roma. Enquanto o
cânon do Antigo Testamento levou 1046 anos (1491-455 a.C.) para ser formado, o cânon do Novo
Testamento levou apenas 96 anos para ser concluído. Somando os 1046 anos gastos para completar o
cânon do Antigo Testamento, com os 96 anos gastos para completar o cânon do Novo Testamento, dá um
total de 1142 anos, que foi o tempo gasto para completar a formação do cânon dos dois Testamentos.
Porém somando os 1142 anos mais os 400 anos do período interbíblico, dá um total de 1542 anos.
Portanto, os 66 livros canônicos de nossas Bíblias foram escritos por cerca de 40 homens inspirados por
Deus, dos mais variados tipos de funções e profissões. Alguns eram príncipes, legisladores, estadistas,
profetas, chefes de Estado, generais, reis, poetas, sacerdotes, pecuaristas, funcionários públicos,
médicos, eruditos, teólogos etc., em um período de cerca de 16 séculos. Em 2Tm 3.16-17, Paulo escreve
que: “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para
instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa
obra”.
CONCLUSÃO
O que diferencia a Bíblia dos demais livros é a sua inspiração divina (2Tm 3.16; 2Pe 1.21). Em
Hb 4.12, o escritor sagrado escreve: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do
que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas,
e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”. Que as Escrituras são de origem divina é
assunto resolvido. Quem tem o Espírito Santo, deposita toda confiança na Bíblia como a Palavra de
Deus, sem exigir provas e argumentos. Concordo assim com as palavras de Napoleão Bonaparte, grande
imperador francês, quando disse: “A Bíblia não é um simples livro, senão uma criatura vivente, dotada
de uma força que vence a todos quanto se lhe opõem”.
5) ANGELOLOGIA — A DOUTRINA DOS ANJOS

INTRODUÇÃO
A angelologia é a matéria teológica que estuda sobre os anjos. A importância da nossa crença sobre a
pessoa e ações dos anjos consiste, primeiro, no fato de que eles, confirmados na obediência a Deus,
terem sido designados como espíritos ministradores em benefício dos que hão de herdar a vida eterna
(Hb 1.14). Depois porque todos eles, até os que caíram com Satanás no princípio, terão papel decisivo
nos eventos e terão lugar no futuro. Os anjos são protagonistas de grandes eventos nas Escrituras no
cumprimento de suas funções e atividades, em submissão e obediência ao Deus Todo-Poderoso
(Sl 103.20). Do Gênesis ao Apocalipse, as atividades angelicais são tão intensas que os anjos são
citados cerca de 300 vezes nas páginas da Bíblia. Vejamos:
I. OS ANJOS SÃO CRIATURAS DE DEUS
Os anjos são seres celestiais que foram criados do nada pelo poder de Deus. Eles foram criados
perfeitos para habitarem eternamente nos céus. O Deus Todo-Poderoso, o Criador do Universo, mediante
a sua palavra foram feitos os céus e todo seu exército (Sl 33.6), as coisas invisíveis que estão nos céus,
as visíveis que estão na terra, tudo foi criado pelo Senhor Jesus Cristo (Cl 1.16). Não sabemos com
exatidão a época em que os anjos foram criados, porém, temos conhecimento de que eles existem há
muito tempo. Os judeus acreditavam que os anjos eram seres eternos e incorpóreos, dotados de grande
luminosidade e pureza. Nunca ficavam doentes, nunca morriam, não comiam nem dormiam, nem
tampouco estavam sujeitos aos infortúnios que afligem os seres humanos. Deus rege o Universo com
poder absoluto, e, os anjos, a serviço de Deus, agem em obediência à Palavra do Senhor (Sl 103.20-21).
II. OS ANJOS SÃO CRIATURAS SUPERIORES AOS HOMENS
Apesar dos anjos serem celestiais, perfeitos, puros, poderosos, eternos, eles reconhecem que são
criaturas e não admitem ser adorados pelo homem, porque somente Deus é digno de ser adorado
(Ap 19.10). Embora na Bíblia sejam descritos como varões, os anjos, na realidade não têm sexo e não
propagam a sua espécie (Lc 20.34-35) e não podem gerar (Lc 20.36). Os anjos são espíritos, diferentes
dos homens, não estando limitados às condições naturais e físicas. Os anjos não possuem um corpo
carnal material com forma humana, mas um corpo espiritual, que é acompanhado de luz e de glória
celestial (1Co 15.44). O aspecto do anjo que anunciou a ressurreição de Jesus Cristo era como um
relâmpago (Mt 28.3). Os anjos aparecem e desaparecem quando querem e se movimentam com uma
velocidade incalculável. Porém apesar dos anjos serem puramente espíritos, eles têm o poder de assumir
a forma de corpos humanos, para se tornarem visíveis aos sentidos do homem a quem Deus quer revelar
propósitos específicos (Gn 19.1-3). Os anjos não estão sujeitos à morte, são imortais, foram criados num
estado perfeito para viverem eternamente (Lc 20.34-36). O anjo que apareceu no sepulcro de Jesus, tinha
um aspecto como de um mancebo, embora tenha existência há milhares de anos (Mc 16.5). Sobre a sua
quantidade, a Bíblia diz que são milhares de milhares e milhões de milhões (Dn 7.10; Mt 26.53; Lc 2.13;
Hb 12.22).
III. A CLASSIFICAÇÃO DOS ANJOS
Quanto à sua classificação, existem várias graduações de autoridade entre os anjos correspondentes às
suas diferentes funções no céu. Alguns anjos desempenham funções de grande responsabilidade junto ao
trono de Deus, cooperando na administração divina. Outros são encarregados de serviços na
administração de Deus quanto ao atendimento aos homens no mundo inteiro, servindo a favor daqueles
que hão de herdar a salvação (Hb 1.14; Dn 3.28; Gn 19.16).

1. ARCANJOS
Miguel é mencionado como arcanjo, o anjo principal. Ele aparece como o anjo protetor da nação
israelita (Dn 12.1). O nome “Miguel” significa “Quem é semelhante a Deus?” Desde que Satanás desejou
ser semelhante a Deus, o arcanjo Miguel, cujo nome lhe traz a honra de defender a glória que pertence
unicamente ao Senhor, é sempre citado em confronto com o diabo. Talvez o fato de ser designado por
Deus para cuidar da expulsão de Satanás do céu, Miguel sempre aparece em peleja contra o inimigo de
Deus e defendendo a Israel, o povo escolhido de Deus (Ap 12.7-10; Dn 12.1). De acordo com a Bíblia,
Miguel é um dos primeiros príncipes (Dn 10.13), o que sugere a existência de outros príncipes de
destaque no céu. A maneira pela qual Gabriel é mencionado, também indica que ele é de uma classe
muito elevada. Ele está diante da presença de Deus e a ele são confiadas as mensagens de mais elevada
importância com relação ao Reino de Deus (Jd 9; Ap 12.7; 1Ts 4.16; Dn 8.16; 9.21; 12.1; Lc 1.19).
Gabriel foi o portador da mensagem a Zacarias sobre o nascimento de João Batista, o precursor de Jesus
(Lc 1.11-19); foi também quem trouxe a grandiosa mensagem para a virgem Maria de que ela haveria de
dar à luz o Filho de Deus (Lc 1.26-35).

2. QUERUBINS
Os querubins pertencem também a uma classe elevada de anjos. Eles ocupam uma função muito
especial e de grande responsabilidade na administração divina, junto ao trono de Deus. A Bíblia afirma
que Deus está entronizado entre os querubins (Sl 99.1). Deus habita entre querubins (Is 37.16; 2Rs 19.15)
e eles são chamados de “querubins da glória” (Hb 9.5). Os querubins são anjos relacionados também
com os propósitos redentores de Deus para o homem. Eles são descritos como tendo rostos de leão, de
homem, de boi e de águia; isto sugere que representam uma perfeição de criaturas: força de leão,
inteligência de homem, rapidez de águia e serviço semelhante ao que o boi presta (Ap 4.6-8). Em
Gn 3.24, provavelmente foi a primeira vez que vieram querubins à terra para proteger o acesso à árvore
da vida no jardim do Éden. A grande importância dos querubins no conceito divino se observa no fato de
que Deus ordenou que fossem feitos dois querubins de ouro numa só peça para fazerem parte do
propiciatório que ficava acima da arca da aliança (Êx 25.19), o lugar mais sagrado do culto divino no
Antigo Testamento. Deus também mandou que fossem bordados querubins em obra-prima sobre o véu
(Êx 26.31), bem como nas cortinas do tabernáculo (Êx 26.1).

3. SERAFINS
Os serafins, outra classe angelical, são mencionados apenas em Isaías (Is 6.1-6). Pouco se sabe a
respeito deles. Segundo alguns estudiosos do assunto, eles constituem a ordem mais elevada de anjos e a
característica que os distingue é um ardente amor para com Deus. A palavra “serafins” significa
“ardentes”. O nome deles indica uma alta patente. Os serafins têm três pares de asas, com duas voam,
com duas cobrem o rosto, em reverência diante de Deus e com duas cobrem os pés, para que as suas
próprias obras não apareçam. Eles sempre clamam uns aos outros, dizendo: “Santo, Santo, Santo, é o
Senhor dos Exércitos.”
4. PRINCIPADOS E POTESTADES
Os principados e potestades que a Bíblia menciona são classificações de governos e domínios. A
Bíblia parece ensinar que cada nação tem seu anjo protetor, o qual se interessa pelo bem-estar da mesma,
conhecido como anjo das nações. Um “principado” é um pequeno estado independente, cujo soberano
tem o título de príncipe. Já a “potestade”, é a própria autoridade constituída. É aquele que tem o poder
para exercer certas funções. A Bíblia faz referência a dois tipos de potestades: As do céu e as da terra.
Os principados e potestades da terra têm domínio sobre os homens; Paulo recomenda submissão total,
reconhecendo que essas potestades foram constituídas por Deus (Rm 13.1-4). Ou seja, são os governos
humanos constituídos pelo próprio Deus. Em relação aos principados e potestades do céu, (anjos com
autoridade e poder), Paulo ordena que coloquemos a armadura espiritual e entremos em luta contra os
principados e potestades do mal (Ef 6.10-17). Ou seja, são dominadores invisíveis e hostes infernais da
maldade que se opõem aos governos humanos estabelecidos nas nações, manipulando-os para fazerem o
mal e são inimigos mortais da Igreja do Senhor Jesus Cristo na terra. A felicidade da Igreja é saber que
Cristo está assentado à direita de Deus “acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de
todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1.20-21). O profeta Daniel
faz referência a eles. Havia um príncipe angelical sobre os persas (Dn 10.13). Havia também um príncipe
angelical sobre o governo da Grécia (Dn 10.20). Os judeus estavam sob a autoridade do principado do
arcanjo Miguel (Dn 10.21; 12.1). Era tempo de os judeus regressarem do cativeiro e Daniel se dedicou a
orar e jejuar pela sua volta. Depois de três semanas, um anjo apareceu-lhe e deu como razão da demora o
fato de que o príncipe, ou anjo da Pérsia, havia se oposto à volta dos judeus. O anjo lhe disse que a sua
petição para o regresso dos judeus, não tinha quem a apoiasse a não ser Miguel, o príncipe da nação
hebraica. O príncipe dos gregos também não estava inclinado a favorecer a volta dos judeus. Entretanto
Miguel estava pelejando com aquele mensageiro celestial, provavelmente Gabriel, para que os judeus
retornassem do cativeiro babilônico. A palavra do Novo Testamento para “principados” pode referir-se
a esses príncipes angélicos das nações; o termo é usado tanto para os anjos bons como para os maus
(Dn 9.1-2; 10.13,20-21; Ef 3.10; 6.12; Cl 2.15). Na antiga aliança, Israel vivia sob o principado de
Miguel, o arcanjo. Entretanto na nova aliança, a Igreja vive sob o governo e principado do próprio
Senhor Jesus Cristo (Ef 1.22-23; 3.10). Glórias a Deus!

CONCLUSÃO
Tanto na antiga como na nova aliança, os anjos foram personagens importantes e continuam sendo
“espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?”
(Hb 1.14). Do Gênesis ao Apocalipse, os anjos de Deus atuam em favor do seu povo eleito.
Agradeçamos ao nosso bondoso Deus pela existência dos anjos eleitos e valorosos em poder, os quais
nos ajudam e nos acompanham no nosso dia a dia, livrando-nos do mal e nos guardando em todos os
nossos caminhos! (Sl 34.7; 91.11).
6) ANTROPOLOGIA BÍBLICA — A DOUTRINA DO
HOMEM

INTRODUÇÃO
A ciência que estuda o homem como um todo chama-se antropologia. Esta palavra vem do grego
anthropos que significa “homem” e logia significa “estudo” ou “ciência”. A união destes dois termos
forma a palavra “antropologia” — A doutrina do homem. Existe a antropologia biológica, que estuda os
aspectos genéticos e biológicos do homem; a antropologia social, que estuda as organizações sociais e
instituições políticas do homem; a antropologia cultural, que estuda os sistemas simbólicos,
comportamentos e religiosidade do homem; a antropologia teológica, que estuda o ser humano a partir de
uma visão bíblica e teológica. O termo “homem”, proveniente do latim homine, é aplicado ao ser humano
como um todo, sendo um mamífero bípede, dotado de capacidade de raciocinar e se expressar de modo
articulado. O homem foi criado por Deus de uma maneira especial, pois, ao criar os animais e as plantas,
Deus apenas ordenou a palavra, dizendo: “Haja…” (Gn 1.3,6,11,14,20,24). Porém ao criar o homem,
Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança…” (Gn 1.26). Portanto, a
criação do homem foi pontual e especial. Vejamos:
I. A COROA DA CRIAÇÃO DE DEUS
O homem é a coroa da criação de Deus. O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26-
27). O homem foi formado do pó da terra (Gn 2.7). Dizer que o homem veio do macaco é uma blasfêmia
contra o próprio Deus, pois o homem foi feito à imagem de Deus e não à imagem do macaco. É muito
melhor crer na Palavra de Deus, que é a verdade (Jo 17.17), do que crer na mentira da teoria da
Evolução de Charles Darwin. O homem é tricotômico, ou seja, é composto de três elementos: espírito,
alma e corpo (1Ts 5.23). O espírito é o elemento espiritual do homem. A alma é o elemento intelectual do
homem e o corpo é o elemento material do homem. Isso faz do homem um ser espiritual, racional e
material. Com o espírito, o homem adora a Deus. Com a alma, o homem crê e obedece a Deus; com o
corpo, o homem serve e faz a obra de Deus.
II. O HOMEM MATERIAL
Deus criou o homem com um lado material e um lado espiritual. O homem material corresponde ao
corpo humano criado por Deus para que o homem pudesse se comunicar com o mundo material. A ciência
ainda não criou uma máquina que tenha um mecanismo tão perfeito como o corpo humano, que possui uma
dimensão gigantesca em vários dos seus aspectos. Calcula-se que o cérebro humano é composto por
cerca de nove milhões de células nervosas e todo o corpo humano é formado por cerca de um trilhão de
células. O valor físico do homem não tem preço. Alguém foi calcular o valor físico do corpo humano e
descobriu que ultrapassava seis milhões de dólares, caso fossem vendidos todos os elementos químicos
que compõem o corpo humano. “O homem não tem preço; é o que existe de mais valioso no Universo”; é
o que dizem os filósofos. Se o corpo material do homem vale tanto assim, imagine o seu valor espiritual e
intelectual? É simplesmente incalculável.
III. O HOMEM RACIONAL E ESPIRITUAL
O homem racional e espiritual corresponde a alma e o espírito que Deus formou no homem para
diferenciar os seres humanos dos animais irracionais, além de se comunicarem com o seu Criador e com
os céus. Para se comunicar com Deus, que é Espírito, o homem precisa adorá-lo em espírito e em
verdade (Jo 4.23-24). Jesus Cristo exaltou o grande valor espiritual do homem, dizendo: “Pois que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa
da sua alma?” (Mt 16.26). O raciocínio de Jesus é que uma alma salva vale mais do que o mundo inteiro
perdido. Nenhum valor monetário no mundo seria capaz de pagar o resgate da alma humana, porque
“nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da
sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes)” (Sl 49.7-8). Nem toda a prata e o ouro deste
mundo serviria para pagar o valor da alma humana (1Pe 1.18). Só o precioso sangue de Jesus Cristo
(1Pe 1.19; 1Co 6.20). A “alma” e o “espírito” são parecidos na maneira pela qual são usados na vida
espiritual do crente. Eles são diferentes em sua identidade. De acordo com alguns estudiosos a “alma” é
a visão horizontal do homem com o mundo e o “espírito” é a visão vertical do homem com Deus. A alma
e o espírito se referem à parte imaterial do homem, mas somente o “espírito” se refere à caminhada do
homem com Deus. Entretanto a “alma” se refere à caminhada do homem fazendo incursões tanto no
mundo material quanto no mundo espiritual. A alma se comunica com o mundo material através do corpo
e se comunica também com o mundo espiritual por meio do espírito. A vontade de Deus é que haja
harmonia espiritual nos três elementos que constituem o homem: espírito, alma e corpo (1Ts 5.23).
IV. O PECADO DO HOMEM
O apóstolo Paulo descreve como o pecado entrou no mundo dizendo: “Pelo que, como por um homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por
isso que todos pecaram” (Rm 5.12). No Sl 14.2-3, o salmista descreve a situação dos homens
extraviados dos caminhos de Deus dizendo: “O SENHOR olhou desde os céus para os filhos dos homens,
para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se
fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um”. No Areópago de Atenas, Paulo descreveu
um breve resumo da história da humanidade, e o propósito de Deus para o homem: “O Deus que fez o
mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de
homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele
mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas; e de um só fez toda a geração dos
homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites
da sua habitação, para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, o pudessem achar, ainda que
não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como também
alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus,
não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por
artifício e imaginação dos homens. Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora
a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam, porquanto tem determinado um dia em que com
justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-
o dos mortos” (At 17.24-31). Neste discurso, feito no Areópago de Atenas, Paulo revelou para os gregos
o verdadeiro Deus Criador dos céus e da terra e o Deus redentor da humanidade, dando uma verdadeira
aula de antropologia teológica para os filósofos estoicos e epicureus que ali se encontravam!
V. O DIA EM QUE DEUS VIROU HOMEM
A maior alegria do ser humano é saber que, um dia, Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14).
Quando Jesus Cristo se encarnou, ele passou a possuir a verdadeira natureza física humana, pois foi feito
“em semelhança de homens”. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (Gn 1.26), para que o
homem se parecesse com ele. Porém ao se tornar carne e habitar entre nós, Deus se fez semelhante aos
homens (Fp 2.7), para se parecer conosco e, depois, nos transformar na “imagem do seu Filho”
(Rm 8.29). Por ocasião da encarnação, Jesus Cristo trocou sua vida independente pela vida dependente,
sua soberania pela subordinação. Vivendo uma existência humana, ele se limitou aos meios e métodos
pelos quais o poder divino é obtido e exercido pelo homem. Jesus Cristo foi tentado e, assim, sujeito às
limitações morais essenciais da natureza humana, ainda que separado do pecado. Ao vencer o pecado, o
mundo, o diabo e a própria morte, Jesus Cristo foi o único homem perfeito que já pisou nesta terra!
(Hb 2.14-18).
VI. A SALVAÇÃO DO HOMEM
O propósito de Deus virar “homem” foi justamente para conhecer de perto o sofrimento humano e
providenciar a salvação do homem (Jo 3.16; Hb 5.8-9). O alvo de Deus não é salvar apenas alguns
homens. O propósito maior de Deus é salvar a todos os homens. O apóstolo Paulo afirma que: “A graça
de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). A nossa alegria se torna
maior ainda ao saber que Deus “que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da
verdade. Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem”
(1Tm 2.4-5). Jesus Cristo é o Homem Deus, ou o Deus Homem, que está diante do Pai advogando a causa
de todos os homens (1Jo 2.1-2).

CONCLUSÃO
O homem é o ser mais valioso que existe na face da terra! Deus não avalia o homem pelo seu
patrimônio, mas sim pelo seu caráter! “Mas o nobre projeta coisas nobres e, pela nobreza, está em pé”
(Is 32.8).
7) HAMARTIOLOGIA — A DOUTRINA DO PECADO

INTRODUÇÃO
A doutrina que estuda o pecado chama-se “hamartiologia”. Este termo vem da palavra grega hamartia,
que significa “transgressão”, “pecado”, ou “errar o alvo” e logia, que significa “estudo” ou “doutrina”.
Portanto, hamartiologia é a doutrina que estuda o pecado e suas consequências. No Antigo Testamento, o
pecado é visto como uma transgressão direta à Lei de Deus, caracterizado por um erro moral do homem
que o torna culpado diante de Deus. Já no Novo Testamento, o pecado é um mal impregnado na própria
natureza pecaminosa do homem que o mantém cativo até que ele encontre a libertação em Cristo Jesus. O
Senhor Jesus Cristo declara que o pecado nasce no próprio coração humano (Mc 7.21-23). Já o apóstolo
Paulo afirma que o pecado é algo genético que herdamos de nosso primeiro ancestral Adão (Rm 5.12-
19); o apóstolo Tiago afirma que o pecado nasce pela própria cobiça do ser humano (Tg 1.13-15).
Podemos resumir este estudo da hamartiologia em três pontos principais: 1) A origem do pecado; 2) As
consequências do pecado do homem e 3) A solução de Deus para o pecado do homem. Vejamos:
I. A ORIGEM DO PECADO
Toda a criação de Deus é importante. Porém Deus escolheu o homem de um modo especial, formando-
o à sua imagem e semelhança (Gn 1.26-28). Deus criou os seres angelicais, com graus distintos de
responsabilidade e autoridade. Deus deu a um querubim uma grande formosura e sabedoria esplêndida
(Ez 28.12-17). Lúcifer atuava como um dos primeiros-ministros de Deus, tinha grande poder, perfeita
formosura e esplêndida sabedoria, mas também tinha livre-arbítrio. Lúcifer ficou tão deslumbrado com o
poder e a formosura de Deus, que disse: “serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14.14). Com isso,
encabeçou uma rebelião jamais vista em toda a história, com o propósito de estabelecer um reino
espúrio, juntamente com os anjos que lhe acompanharam nesta rebelião (Ap 12.4-9). Devido esta
rebelião, Lúcifer, agora chamado Satanás, recebeu o juízo de Deus e a expulsão dos céus. A queda de
Lúcifer é o marco da origem do pecado no Universo e de todos os males que acompanham este ato de
rebelião ao Criador.
Algum tempo depois desta rebelião, Deus fez outra criação, a qual também concedeu livre-arbítrio: o
homem. Ao criar o homem, Deus mostrou o seu cuidado especial, com um jardim de delícias para a sua
nova criação habitar. Satanás, observando isso, ficou com ira e ciúmes e partiu para atacar e perturbar a
nova criação de Deus, o homem. Deus estabeleceu um relacionamento de companheirismo e comunhão
com Adão e Eva, no jardim do Éden, mediante o amor. A fim de Adão e Eva continuarem esse
relacionamento com Deus, teriam apenas de passar na prova de obediência total a vontade divina
(Gn 2.16-17). Porém neste caso, falharam em sua prova (Gn 3.1-8). A queda do homem é o momento
histórico que explica a origem do pecado no mundo em que vivemos.
De acordo com o apóstolo Paulo “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram”
(Rm 5.12). Edward Oakes assim definiu esta entrada do pecado no mundo: “Em função do pecado
nascemos num mundo onde a rebelião contra Deus tomou espaço e nos arrasta como uma correnteza.” A
nossa natureza pecaminosa é uma inclinação negativa, que herdamos de Adão, para a prática do mal
orientado contra Deus.
II. AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO DO HOMEM
Como consequência do pecado do homem a morte, tanto física como espiritual, passou a reinar no
homem. A imagem de Deus foi maculada e a natureza humana foi corrompida por inteiro, trazendo a culpa
judicial sobre toda a humanidade e o rompimento da comunhão entre Deus e o homem (Rm 3.10-18,23).
O pecado ainda trouxe como consequência a depravação humana, a culpa e a própria incapacidade do
homem de se libertar sozinho do mal que o escraviza. O apóstolo Paulo explica isto ao dizer: “Porque o
que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço… De maneira que, agora, já
não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha
carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.
Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Ora, se eu faço o que não quero,
já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7.15,17-20).
O apóstolo Paulo ainda retrata em vivas cores a guerra que o pecado trava dentro de nós, dizendo:
“Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende
debaixo da lei do pecado que está nos meus membros” (Rm 7.23).
Reconhecendo a total depravação humana, o apóstolo Paulo desesperadamente grita por socorro e
libertação, dizendo: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24).
Então Paulo respira aliviado afirmando: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que
eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado” (Rm 7.25). Jesus
Cristo é o único que pode libertar o homem do pecado! Tal fato fazia Paulo, assim como todos nós,
respirar aliviado!
III. A SOLUÇÃO DE DEUS PARA O PECADO DO HOMEM
Deus havia previsto a possibilidade do pecado e idealizado um meio para resgatar o homem. E foi
assim que Deus desceu no jardim do Éden naquela tarde sombria e, como autêntico missionário,
proclamou a primeira mensagem evangelística, conhecida pelos teólogos como “protoevangelho”: “E
porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). Esta é a primeira referência indireta à Cristo na Bíblia, relacionada à
derrota de Satanás, o autor do pecado. Esta sentença divina dada à “antiga serpente”, que se chama diabo
e Satanás (Ap 20.2), são as boas-novas de vitória sobre o fracasso do homem. Naquele momento, Deus
estava anunciando Cristo a todos os descendentes de Adão que haveria de nascer no decorrer dos
séculos. “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gl 4.4-5).
Somente Jesus Cristo pode libertar o homem de sua total depravação, pois: “Assim que, se alguém
está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17).
Entretanto, apesar de receber uma nova natureza, o crente ainda continua com sua antiga natureza
pecaminosa, porém, controlada pelo Espírito Santo (Rm 8.13-16).
Em 1Jo 2.1-2, o apóstolo João nos apresenta o advogado universal dos pecadores, dizendo: “Meus
filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para
com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos,
mas também pelos de todo o mundo”. Segundo o famoso teólogo da cruz John Stott: “A propiciação
enfoca a ira de Deus a qual foi aplacada pela cruz; a redenção centraliza-se na má situação dos
pecadores da qual foram resgatados pela cruz”.
Em Ap 1.5, a Bíblia afirma que Jesus Cristo é “Àquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos
nossos pecados”. Ainda segundo John Stott: “O amor divino triunfou sobre a ira divina mediante o divino
autossacrifício. A cruz foi um ato simultâneo de castigo e anistia, severidade e graça, justiça e
misericórdia”.
Em Ap 22.14, João descreve a felicidade dos pecadores redimidos, dizendo: “Bem-aventurados
aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida e
possam entrar na cidade pelas portas”.

CONCLUSÃO
A expiação era o único meio de satisfazer a justiça divina contra o pecado. “No pensamento paulino o
homem é alienado de Deus pelo pecado e Deus é alienado do homem pela ira. É na morte substitutiva de
Cristo que o pecado é vencido e a ira desviada, de modo que Deus possa olhar para o homem sem
desprazer e o homem olhar para Deus sem temor. O pecado é expiado, e Deus propiciado” (John Stott).
8) SOTERIOLOGIA — A DOUTRINA DA SALVAÇÃO

INTRODUÇÃO
Soteriologia é a doutrina que estuda a salvação. A palavra “soteriologia” vem do grego soterios, que
significa “salvação” e logia, que significa “estudo” ou “doutrina”. A soteriologia — doutrina da
salvação, é o antídoto da hamartiologia — a doutrina do pecado. A hamartiologia estuda o pecado e a
queda do homem; a soteriologia, porém, estuda a redenção e ressurreição espiritual do homem morto em
seus delitos e pecados. A Bíblia chama esta salvação de “tão grande” (Hb 2.3), lembrando a mesma
expressão do grande amor de Deus pelo pecador, em Jo 3.16, quando aparece a expressão “de tal
maneira”, ou seja, não há como mensurar o grandioso amor de Deus, como também não há como mensurar
esta “tão grande salvação”. Cada religião oferece um tipo diferente de salvação e possui sua própria
soteriologia. Algumas dão ênfase ao relacionamento do homem em unidade com Deus, outras dão ênfase
ao aprimoramento do conhecimento humano como forma de se obter a salvação. Porém, para o
cristianismo, só há salvação em Jesus Cristo. O próprio nome “Jesus” significa “salvação”. “E em
nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens,
pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). A palavra “salvação”, significa “livrar-se”, “escapar”, “ser
tirado de um perigo”. Existem basicamente dois tipos de salvação: 1) A salvação comum e 2) A salvação
eterna. A salvação comum é quando somos salvos de um perigo qualquer, salvos de um acidente, salvos
de um assalto ou de outra adversidade qualquer; a salvação é também sinônimo de livramento. Já a
salvação eterna é quando aceitamos a Jesus Cristo como o nosso Salvador e perseveramos nesta
salvação até o fim, para obtermos a vida eterna (At 16.31; Rm 10.9-10; Mt 24.13). Vamos aprender
soteriologia em 10 principais atos que resultam na salvação do homem.
I. O AMOR DE DEUS
O primeiro ato da salvação é o amor ativo de Deus em favor da humanidade: “Porque Deus amou o
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna” (Jo 3.16). A salvação humana só é possível porque Deus nos amou de maneira
inexplicável. As palavras “de tal maneira” indicam intensidade. Seu amor era tão intenso, sua pressão foi
tão grande, que rompeu fatalmente os “diques” da divindade e se derramou em superabundante plenitude
sobre uma raça perdida e arruinada. O amor de Deus não ficou resumido a meras palavras. Ele tomou
uma atitude: “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda
pecadores” (Rm 5.8).
II. A EXPIAÇÃO
O segundo ato da salvação foi a expiação. Sem expiação não haveria salvação. A “expiação” é o meio
pelo qual Deus providencia a reparação do pecado humano através de um ato redentor. O amor de Deus o
levou a realizar o segundo ato da salvação: “Deu o seu Filho unigênito” (Jo 3.16). “A alma que pecar,
essa morrerá” (Ez 18.4). Essa seria a sentença de toda a humanidade se Deus não houvesse
providenciado a expiação do pecado. A expiação foi o primeiro ato redentor de Deus após o pecado: “E
fez o SENHOR Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu” (Gn 3.21). O sangue derramado
daquele animal propiciou as vestes redentoras de Adão e Eva; assim o sangue derramado pelo Cordeiro,
morto desde a fundação do mundo, propiciou as vestes redentoras de todos os pecadores redimidos
(Ap 13.8; 22.14). “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22). Moisés escreveu que: “É o
sangue que fará expiação pela alma” (Lv 17.11). Sem expiação, nenhuma alma se salvaria. O pecado do
homem clama por expiação e reparação da culpa. Isso acontecia por meio da morte vicária de um
substituto em lugar do homem. Portanto a morte de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo, foi:
1) Expiatória — O pecado foi expiado (Jo 1.29).
2) Voluntária — Por um ato espontâneo de amor (Jo 15.13).
3) Vicária — Em favor de outras pessoas (1Pe 3.18).
4) Propiciatória — O pecado foi coberto (1Jo 4.10).
5) Sacrificial — Oferecido em holocausto pelos nossos pecados (Is 53.6-7; 1Co 5.7).
6) Substitutiva — Em lugar de miseráveis pecadores (Rm 5.8).
7) Redentora — O preço foi pago pelo seu próprio sangue (Ef 1.7).
III. A GRAÇA
O terceiro ato da salvação é a graça de Deus. A graça é um favor imerecido. A graça exclui qualquer
mérito humano. A graça é o ato espontâneo de Deus em favor do pecador. Após amar o mundo de tal
maneira e providenciar a redenção humana, através da morte expiatória de seu Filho Jesus Cristo, Deus
decidiu qual a extensão desta tão grandiosa graça. Esta graça seria apenas para alguns, ou para a
humanidade inteira? Então ele respondeu, dizendo: “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Não é apenas para alguns, é para todo o que crê. “Porque a graça de Deus
se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Paulo escreveu, dizendo: “Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8). A salvação não é
obra dos homens; é graça de Deus!
IV. A FÉ
O quarto ato da salvação do homem é a fé. Ora, se a graça de Deus se manifestou trazendo salvação a
todos os homens, por que todos os homens não são salvos? A resposta é a seguinte: a graça de Deus é
suficiente para todos, porém, só é eficiente para os que creem! Observe que a expressão bíblica diz:
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé…” (Ef 2.8). O segredo está nesta expressão: “por meio
da fé”. A única coisa que condena o homem é não crer. Veja o que disse o próprio Jesus: “Quem crer e
for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16). Para que o homem se beneficie
da graça divina manifestada a todos os homens, é preciso crer, pois a salvação é pela graça, “mediante a
fé”. O apóstolo Paulo ainda escreve, dizendo: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a
justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” (Rm 10.9-10).
V. O ARREPENDIMENTO
O quinto ato da salvação do homem é o arrependimento. O arrependimento se dá no interior do
homem, quando ele sente um profundo remorso e tristeza pelo mal que praticou e reconhece o seu pecado.
Esse foi o primeiro passo que o filho pródigo deu para se levantar, quando se expressou: “Pai, pequei
contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho” (Lc 15.21). A primeira pregação do
Novo Testamento é esta: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 3.2). Jesus aprovou
esta mensagem inicial do Evangelho e passou também a pregar, dizendo: “Arrependei-vos, porque é
chegado o Reino dos céus” (Mt 4.17).
VI. A CONVERSÃO
O sexto ato da salvação do homem é a conversão. Enquanto o arrependimento é uma mudança de
posição no interior do homem, a conversão é uma tomada de decisão em seu interior. Ou seja: no
arrependimento, o homem apenas reconhece o seu pecado e deseja a mudança; na conversão, porém, o
homem toma uma atitude para mudar aquela situação em que se encontra. Ele decide se levantar e mudar
de vida, aceitando a Cristo e entregando sua vida a ele. A conversão vem sempre acompanhada do
arrependimento; por isso, o apóstolo Pedro disse: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que
sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor”
(At 3.19).
VII. A RECONCILIAÇÃO
O sétimo ato da salvação do homem é a reconciliação. Após a sua conversão, acontece a
reconciliação do homem com Deus. A reconciliação se dá quando dois inimigos fazem as pazes. O
pecado tornou o homem inimigo de Deus; quando o homem, porém, se converte ao Senhor, a paz é
restabelecida e o homem se reconcilia com Deus (Ef 2.12-16). A Palavra de Deus nos aconselha,
dizendo: “Une-te, pois, a Deus, e tem paz, e, assim, te sobrevirá o bem” (Jó 22.21). E Paulo escreve em
2Co 5.18-19: “E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos
deu o ministério da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes
imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação”.
VIII. A REGENERAÇÃO
A regeneração é o oitavo ato da salvação do homem. A regeneração é um ato divino pelo qual o
homem recebe uma nova vida. É a transformação operada na natureza humana. A regeneração é sinônimo
de novo nascimento. Na regeneração, a natureza pecaminosa do homem é transformada e o homem se
torna participante da natureza divina. O novo nascimento é a entrada do homem no Reino de Deus. Em
Jo 3.3, Jesus disse a Nicodemos: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não
pode ver o Reino de Deus”. A regeneração é um ato realizado pelo próprio Espírito Santo: “Não pelas
obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da
regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5). O apóstolo Pedro conclui, dizendo: “Bendito
seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de
novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3).
IX. A JUSTIFICAÇÃO
O nono ato da salvação do homem é a justificação. A justificação é o ato pelo qual os seres humanos
pecadores são judicialmente declarados justos diante do Deus santo. Esta justificação, porém, é um ato
exclusivo da graça de Deus, pelo qual ele imputa à pessoa que crê em Jesus a justiça de Cristo e a
declara isenta de culpa diante de Deus. Na justificação, Deus trata o homem arrependido de acordo com
o mérito de seu mediador Jesus Cristo. “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção
que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24). E, em 1Co 1.30, Paulo confirma esta verdade: “Mas vós sois dele,
em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. O
raciocínio da justificação se resume ainda no seguinte texto sagrado: “Àquele que não conheceu pecado,
o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21). A justificação do
pecador, além de o tornar quite e isento de culpa perante o tribunal divino, traz paz judicial perante o
supremo juiz do Universo: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo” (Rm 5.1).
X. A SANTIFICAÇÃO
O décimo ato da salvação do homem é a santificação. Se na justificação o homem é declarado justo
diante de um Deus santo, na santificação, o homem é declarado santo pelo próprio Deus santo. A
santificação é a separação do pecado. Quando um vaso do tabernáculo era utilizado para o serviço
sagrado, ele era santificado e declarado um vaso santo. Da mesma forma acontece com o crente salvo.
Quando o cristão renuncia o pecado e se entrega ao Senhor, ele se torna santo para o seu Senhor. Paulo
explica todo o processo da santificação do pecador, dizendo: “E é o que alguns têm sido, mas haveis sido
lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo
Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11). A santificação não é automática; ela é gradual, progressiva e pode
ser aperfeiçoada: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da
carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2Co 7.1). A busca pela santificação
deve ser um alvo atingido por nós: “De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para
honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra” (2Tm 2.21). A
santificação é a condição indispensável para vermos ao Senhor (Hb 12.14; 1Ts 3.13; 5.23). A
santificação é o alvo final para alcançarmos a vida eterna (Rm 6.22).

CONCLUSÃO
A salvação da nossa alma é grandiosa e jamais deve ser negligenciada. Precisamos ensinar mais ao
nosso povo as doutrinas elementares da salvação, as quais estão ficando esquecidas em detrimento de
outras doutrinas. “Portanto, convém-nos atentar, com mais diligência, para as coisas que já temos ouvido,
para que, em tempo algum, nos desviemos delas” (Hb 2.1).
9) ECLESIOLOGIA — A DOUTRINA DA IGREJA

INTRODUÇÃO
A palavra “igreja” é traduzida do termo grego eklesia, que significa “chamados para fora”. Esta
palavra, eklesia, é que deu origem ao termo “eclesiologia”, que é o estudo ou doutrina da igreja. A Igreja
é de fato um organismo vivo composto por todos aqueles que são “chamados para fora”, dentre todas as
nações, tribos, povos e línguas, para constituírem o povo eleito de Deus na face da terra. Em 1Tm 3.15, o
apóstolo Paulo escreve ao pastor Timóteo como o obreiro deve proceder na Casa de Deus; ao mesmo
tempo revela o papel que o povo de Deus deve exercer perante a sociedade, como Igreja do Deus vivo,
coluna e baluarte da verdade. Paulo nos oferece três designações para povo de Deus nesta passagem
bíblica: 1) Igreja do Deus vivo; 2) Coluna; 3) Baluarte da verdade. A eclesiologia também estuda a
Igreja como organização e como organismo. Como organização, a Igreja possui o seu sistema de governo
e modelo de administração eclesiástica; como organismo, a Igreja obedece às ordenanças de Cristo,
cumpre a sua missão na terra, adorando a Deus em espírito e em verdade, aguardando a vinda do Senhor
Jesus Cristo (Ef 2.20-22; Mt 28.19; Mc 16.15-16; 1Co 11.23-31; Jo 4.23-24; Tt 2.13-14). Vejamos:
I. IGREJA DO DEUS VIVO
A Igreja é o corpo místico de Cristo, no qual ele é a cabeça viva e os crentes regenerados são os seus
membros. O conjunto dos salvos que fazem parte da Igreja do Deus vivo possui várias designações na
Bíblia. A primeira vez que a palavra “igreja” aparece na Bíblia está em Mt 16.18, pronunciada pelos
lábios do próprio Senhor Jesus Cristo. Ali, ele disse com autoridade: “Edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela”. A igreja é de Jesus Cristo e foi por ele edificada. A
igreja é lugar de oração incessante a Deus (At 12.5). A igreja é lugar de homens capacitados por Deus
(At 13.1). A igreja é lugar de servir ao Senhor, o lugar onde Deus fala e chama as pessoas para fazerem a
sua obra (At 13.2). A igreja é lugar de se testemunhar das grandezas de Deus (At 14.27). A igreja é lugar
de se receber bem os servos de Deus (At 15.4). A igreja é lugar de paz (At 9.31).

Nomes dados à Igreja nas Escrituras


1. Em Mt 5.13, a Igreja é chamada de “o sal da terra”. Em Mt 5.14, a Igreja é chamada de “a luz do
mundo”.
2. Em Jo 10.16, a Igreja é chamada de “aprisco”. Em At 5.14, a Igreja é chamada de “multidão de
crentes”.
3. Em At 11.26, a Igreja é chamada de “cristãos”. Em At 20.28, a Igreja é chamada de “rebanho” e
“igreja de Deus”.
4. Em Rm 8.29, a Igreja é chamada de “imagem de seu Filho”. Em Rm 8.29, a Igreja é também
chamada de “irmãos”.
5. Em 1Co 3.9, a Igreja é chamada de “lavoura de Deus e edifício de Deus”. Em 1Co 3.16, a Igreja é
chamada de “santuário de Deus”.
6. Em 2Co 11.2, a Igreja é chamada de “virgem pura”. Em Gl 6.16, a Igreja é chamada de “Israel de
Deus”.
7. Em Ef 1.23, a Igreja é chamada de “corpo de Cristo”. Em Ef 2.19, a Igreja é chamada de “família de
Deus”.
8. Em Ef 2.21, a Igreja é chamada de “edifício bem-ajustado e templo santo do Senhor”. Em Ef 2.22, a
Igreja é chamada de “morada de Deus no Espírito”.
9. Em Fp 2.15, a Igreja é chamada de “luzeiros do mundo”. Em Cl 1.2, a Igreja é chamada de “santos e
irmãos fiéis em Cristo”.
10. Em 1Ts 1.4, a Igreja é chamada de “amados de Deus”. Em 2Ts 2.13, a Igreja é chamada de “irmãos
amados do Senhor”.
11. Em 1Tm 3.15, a Igreja é chamada de: “casa de Deus”; “igreja do Deus vivo”; “coluna e baluarte da
verdade”. Em 2Tm 2.20, a Igreja é chamada de “grande casa”.
12. Em Tt 2.14, a Igreja é chamada de “povo especial, zeloso de boas obras”. Em Hb 4.9, a Igreja é
chamada de “povo de Deus”.
13. Em Tg 1.18, a Igreja é chamada de “primícias das suas criaturas”. Em 1Pe 1.2, a Igreja é chamada
de “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”.
14. Em 1Pe 2.9, a Igreja é chamada de “geração eleita, sacerdócio real, nação santa e povo de
propriedade exclusiva de Deus”. Em 2Pe 3.1, a Igreja é chamada de “amados”.
15. Em 1Jo 3.1, a Igreja é chamada de “filhos de Deus”. Em Jd 1, a Igreja é chamada de “amados em
Deus Pai e guardados em Jesus Cristo”.
16. Em Ap 1.6, a Igreja é chamada de “reis e sacerdotes para Deus”. Em Ap 1.20, a Igreja é chamada de
“castiçal de ouro”.
17. Em Ap 19.7, a Igreja é chamada de “noiva ataviada”. Em Ap 21.9, a Igreja é chamada de “esposa do
Cordeiro”.
18. Em Ap 22.17, a Igreja aparece ao lado do Espírito Santo como a noiva que anseia e aguarda a vinda
do noivo amado Jesus Cristo.
II. A IGREJA COMO COLUNA
A segunda designação que Paulo dá a igreja do Senhor neste texto sagrado é “coluna”. Uma coluna é,
na verdade, um pilar ou um capitel que serve para dar sustentação a uma casa ou um edifício. A Igreja é a
coluna mestra que ainda dá sustentação ao mundo em que vivemos. No dia em que a Igreja deixar de ser
coluna, este mundo irá se desmoronar por completo. A Igreja é a coluna que sustenta a verdade de Deus
neste mundo.
1. O mundo moderno ensina que o homem veio do macaco. Porém a Igreja continua sustentando a
verdade que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26-27).
2. O mundo ensina que o Universo surgiu através da explosão de uma célula por uma obra do acaso. A
Igreja, porém, continua sustentando a verdade que, no princípio, criou Deus os céus e a terra
(Gn 1.1).
3. O mundo moderno tem jogado a ética e a moral na lata de lixo. A Igreja, entretanto, é a coluna que
ainda mantém a reserva moral que existe neste mundo (Fp 2.15).
4. O mundo moderno ensina que o homossexualismo é algo normal, uma simples opção sexual. A
Igreja, entretanto, continua sustentando a verdade que o homossexualismo é um pecado abominável
diante de Deus (Rm 1.25-27).
5. O mundo afirma que não existe verdade absoluta e que toda a verdade é relativa. Porém a Igreja do
Deus vivo continua sustentando que Cristo é a verdade absoluta que liberta o homem da ignorância
espiritual (Jo 8.32; 14.6).
III. BALUARTE DA VERDADE
A terceira designação que Paulo dá a Igreja neste texto sagrado é “baluarte da verdade”. O baluarte é
definido como uma construção alta, sustentada por uma forte muralha. É uma espécie de fortaleza ou torre
forte. A Igreja do Senhor é este baluarte forte, edificada por Deus, para que as portas do inferno jamais
prevaleçam contra ela (Mt 16.18). O baluarte é aquilo que serve de defesa para uma cidade. A Igreja é o
baluarte de Deus, que defende a verdade do evangelho de Cristo neste mundo. O próprio Senhor é
chamado de baluarte em várias passagens bíblicas (2Sm 22.2-3; Sl 18.2; 91.2; 94.22).
1. A Igreja do Deus vivo é um baluarte indestrutível. O Inimigo pelejou de todas as formas, através da
história, para tentar destruir este baluarte da verdade chamado igreja, mas não conseguiu. Levantou
trincheiras, fez tudo o que pode; usou o Império Romano, usou os seus impiedosos imperadores,
usou o regime de ferro nos países comunistas, mas não conseguiu. Impérios se levantaram e caíram;
regimes totalitários de governo se levantaram e caíram. A Igreja do Deus vivo, porém, continua
marchando de forma triunfal (2Co 2.14).
2. Em 2Co 10.4-5, o apóstolo Paulo afirma que: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais,
mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda altivez
que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de
Cristo”.
3. Os imperadores romanos fizeram tudo o que estava ao alcance deles para destruir a nova fé cristã.
Queimaram crentes e manuscritos bíblicos em todo o vasto império. Apesar de todo esforço dos
imperadores pagãos em tentar varrer a Igreja da face da terra, em menos de três séculos, o
cristianismo veio a se tornar a religião oficial do Império Romano. O mesmo império que deu o
veredito da crucificação de Cristo através de Pilatos, o seu representante legal, menos de três
séculos depois seus imperadores, começando por Constantino, estavam se submetendo ao senhorio
de Jesus Cristo, o homem que eles haviam crucificado. Glórias a Deus!
IV. AS DUAS GRANDES ORDENANÇAS DA IGREJA
O Senhor Jesus Cristo deixou duas importantes ordenanças para a sua Igreja: O batismo (Mc 16.16) e
a santa Ceia (Lc 22.19-20; 1Co 11.23-34). O cristianismo não é uma religião ritualista; a essência do
cristianismo é o contato direto do homem com Deus por meio de Jesus Cristo, o nosso mediador, e do
Espírito Santo, o nosso intercessor (1Tm 2.5; Rm 8.26). Portanto não há uma ordem dogmática e
inflexível, antes permitindo à Igreja, em todos os tempos e países, a liberdade de adotar o método que lhe
seja mais adequado, para a expressão de sua vida. Não obstante, há duas cerimônias que são essenciais,
por serem divinamente ordenadas, a saber: O batismo nas águas e a Ceia do Senhor. Em razão de seu
caráter sagrado, elas às vezes são descritas como sacramentos, oriundas do termo latino sacramentum,
literalmente “coisas sagradas”, ou juramentos consagrados por um rito sagrado. Também são
mencionadas como ordenanças porque foram “ordenadas” pelo próprio Senhor Jesus. O batismo nas
águas é o ritual de ingresso do novo convertido na Igreja cristã e simboliza o começo da vida espiritual.
Já a santa Ceia tem o propósito de servir de recordação dos sofrimentos do Senhor Jesus Cristo em nosso
favor.

1. O BATISMO
A palavra “batismo” é transliterada do grego baptimos e significa “imergir ou mergulhar na água”.
Essa interpretação é confirmada por eruditos da língua grega e pelos historiadores da Igreja. O modo
bíblico e original é a “imersão”, o qual corresponde ao significado simbólico do batismo: morte,
sepultamento e ressurreição (Rm 6.3-4). O apóstolo Paulo explica isso, dizendo: “De sorte que fomos
sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do
Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6.4). O batismo nas águas, em si “não tem
poder para salvar”; as pessoas são batizadas não para serem salvas, mas porque já são salvas. Não
podemos dizer que o rito seja absolutamente essencial para a salvação. Mas podemos dizer que o rito
seja essencial para a integral obediência aos mandamentos de Cristo (Mt 28.19; Mc 16.15-16).

2. A SANTA CEIA
A santa Ceia é uma celebração em memória da morte sacrificial e expiatória de Jesus Cristo para
remissão dos nossos pecados. O Salvador sabia como é curta a memória humana. E, por consideração à
nossa fraqueza e inclinação ao esquecimento, estabeleceu a santa Ceia como um culto memorial de sua
morte redentora. Nela tomamos do pão partido, simbolizando o seu corpo que foi ferido por nós e do
fruto esmagado da videira, símbolo de seu sangue derramado por nossos pecados (Mt 26.26-28). É uma
lembrança dos sofrimentos do Senhor, a qual nos apresenta com muita nitidez o Calvário e sua cruz. A
Ceia, porém, contempla não só o passado, mas também o futuro. É uma comemoração e uma profecia, a
qual demonstra a morte do Senhor até que ele venha (1Co 11.23-31). O batismo sugere a fé em Cristo; Já
a santa Ceia sugere a comunhão com Cristo. O batismo é administrado somente uma vez, porque só pode
haver apenas um começo da vida espiritual; já a santa Ceia é ministrada frequentemente, ensinando que a
vida espiritual deve ser alimentada constantemente pela nossa comunhão com Cristo (1Co 10.16).
V. SISTEMAS DE GOVERNO DA IGREJA
A Igreja foi fundada, não como instituição autoritária para compelir o mundo a viver a doutrina de
Cristo, mas apenas como instituição que dá testemunho de Cristo, para apresentá-lo ao povo. Cristo, não
a Igreja, é o poder transformador da vida humana. Todavia a Igreja foi fundada nos dias do Império
Romano, tomando gradualmente uma forma de governo semelhante ao do mundo político em que existia,
vindo a tornar-se vasta organização autocrática governada de cima. O sistema do governo eclesiástico da
Igreja foi estabelecido pelo próprio Senhor Jesus Cristo, o supremo pastor e bispo das nossas almas
(1Pe 2.25). Foi ele mesmo quem estabeleceu na Igreja “uns para apóstolos, e outros para profetas, e
outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para
a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao
conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não
sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens
que, com astúcia, enganam fraudulosamente” (Ef 4.11-14). Entretanto ainda existem também os cargos
locais de presbíteros, diáconos e auxiliares do ministério (Tt 1.5-9; 1Tm 3.8-13; 1Co 16.16). Cristo
governa e orienta a Igreja através do Espírito Santo (Jo 16.13; At 16.6-10; Fp 1.19); o Espírito Santo, por
sua vez, dirige a Igreja de Cristo através do ministério eclesiástico (At 15.28; 20.28). Entretanto a
multiforme graça de Deus (1Pe 4.10) permite a diversidade e multiplicidade de operações, também a
autonomia eclesiástica. Por isso, existem três principais formas de governo eclesiástico em nossos dias.

1. SISTEMA EPISCOPAL
A forma episcopal de governo eclesiástico é normalmente considerada a mais antiga. O próprio título
é derivado da palavra grega episkopos, que significa “supervisor”. A tradução mais frequente desse
termo é “bispo” ou “superintendente”. Os que apoiam esta forma se dividem em dois grupos:
1) Os que acreditam que Cristo, como a cabeça da Igreja, tenha confiado o controle de sua Igreja na
terra a uma ordem de oficiais chamados “bispos”, que seriam sucessores dos apóstolos, como por
exemplo o catolicismo, o qual defende que o Papa, o bispo maior da Igreja Católica, seria o sucessor da
cadeira de São Pedro, o líder do colégio apostólico.
2) Os que também acreditam que Cristo é o supremo cabeça da Igreja defendem a escolha divina de
um líder como superintendente, bispo ou pastor presidente, não necessariamente como sucessores dos
apóstolos, mas para presidir e supervisionar uma determinada denominação em âmbito mundial,
nacional, estadual, regional ou municipal, como por exemplo a Assembleia de Deus, Igreja Quadrangular,
Deus é Amor etc.

2. SISTEMA PRESBITERIANO
Este sistema de governo eclesiástico é formado pelo presbitério de uma igreja ou um conselho de
anciãos. A forma presbiteriana de constituição eclesiástica deriva seu nome do cargo e função bíblica de
“presbíteros” (presbítero ou ancião). Este sistema de governo tem um controle menos centralizado que o
modelo episcopal: confia na liderança de representação. Cristo é reconhecido como a cabeça da Igreja
(em última análise) e os escolhidos (usualmente por eleição) para ser seus representantes diante da Igreja
lideram nas atividades normais da vida cristã (adoração, doutrina, administração etc.).

3. SISTEMA CONGREGACIONAL
A terceira forma de governo eclesiástico é o sistema congregacional. Conforme sugere o nome, seu
enfoque da autoridade recai sobre o corpo local de crentes. Entre os três tipos principais de constituição
eclesiástica, o sistema congregacional é o que mais controla e coloca nas mãos dos leigos a escolha dos
líderes e que mais se aproxima da democracia. Este sistema é muito utilizado nas igrejas batistas, cuja
igreja local possui autonomia para escolher o líder, e também em algumas Assembleias de Deus, que
adotam o sistema eleitoral para os membros escolherem o seu pastor por meio do voto dos obreiros ou
também dos membros. Entretanto, para muitos líderes cristãos, o que predomina na igreja deve ser a
teocracia — governo de Deus, e não a democracia — governo do povo. Pois quem deve escolher os
líderes é Deus, e não o povo (At 20.28; 1Co 12.28; Ef 4.11).
VI. A MISSÃO DA IGREJA
A missão primordial da Igreja é cumprir a Grande Comissão entregue pelo Senhor Jesus Cristo após a
sua ressurreição vitoriosa (Mt 28.18-20; Mc 16.15-20; At 1.8). A missão principal da Igreja na terra é a
evangelização de todos os povos, tribos, línguas e nações. Estas são as três passagens bíblicas básicas
que descrevem a Grande Comissão ordenada por Jesus:
1. “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15);
2. “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo” (Mt 28.19);
3. “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto
em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).
O Senhor Jesus Cristo só ordenou a Grande Comissão aos seus discípulos após a sua ressurreição. Ele
deixou para fazer isso somente após receber todo o poder e autoridade nos céus e na terra (Mt 28.18-20).
A ressurreição de Jesus Cristo reafirmou a sua vitória sobre a morte, o inferno e sobre Satanás, quando
humilhou publicamente e expôs ao desprezo todo o principado, protestante e domínio de Satanás
(Cl 2.15; Hb 2.14; Ap 1.18). Como um general vitorioso o Senhor Jesus Cristo ressuscita e comissiona os
seus discípulos delegando a eles o poder e a autoridade necessária para conquistarem o mundo. A
Grande Comissão entregue pelo Senhor Jesus Cristo resume-se nestas três ordens imperativas dadas aos
seus discípulos: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). “Ensinai todas
as nações” (Mt 28.19). “Ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e
ATÉ AOS CONFINS DA TERRA” (At 1.8).

CONCLUSÃO
O historiador John Lea afirma em um de seus livros que um rei francês, certa feita, sugeriu à sua corte
que iniciasse uma nova onda de perseguição contra os cristãos em seus domínios. Um general
conselheiro, porém, replicou sabiamente a proposta real com estas palavras: “Majestade, a Igreja de
Deus é uma bigorna que já destruiu muitos martelos”. O Espírito Santo é aquele que adestra a Igreja de
Deus para a batalha! Em Is 59.19, o profeta Isaías escreve que: “Vindo o inimigo como uma corrente de
águas, o Espírito do SENHOR arvorará contra ele a sua bandeira”. Segundo o grande teólogo Bancroft: “O
dia de Pentecostes marcou o raiar de um novo dia nas relações entre o Espírito Santo e a humanidade.
Ele veio para habitar na Igreja. Todo o trabalho eficaz que a Igreja tem feito está sendo realizado no
poder do Espírito Santo. A incredulidade, a dúvida e a crítica podem atacá-la, mas não podem derrotá-la.
A igreja, o verdadeiro corpo de Cristo, habitado pelo Santo Espírito de Deus, é tão indestrutível como o
trono de Deus”.
10) ESCATOLOGIA — A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS
COISAS

INTRODUÇÃO
A escatologia é a doutrina que estuda os últimos acontecimentos relacionados entre Deus e os homens.
O termo “escatologia”, vem do vocábulo grego eschatos, que significa “últimos” e logia, que provém
também do grego e significa “estudo” ou “tratado”. Portanto, escatologia é a doutrina que estuda todo o
plano profético de Deus para o futuro da humanidade. Nestes últimos dias o Espírito Santo tem
despertado uma consciência escatológica em cada um daqueles que amam e aguardam a vinda do Senhor
Jesus Cristo. Há uma variada divergência hermenêutica no meio protestante, com várias linhas de
interpretação escatológica. A escatologia bíblica é sem dúvida a matéria mais enigmática e especulativa
da teologia sistemática. Os debates são importantes para o aprofundamento do estudo profético e das
várias correntes de interpretação do livro do Apocalipse. Existem três principais escolas escatológicas:
A amilenista a pós-milenista e a pré-milenista.
1. O amilenismo defende que o milênio ocuparia todo o período intermediário entre o primeiro e o
segundo advento de Cristo e não um tempo literal de mil anos. Entendem que o milênio consiste em
um reinado espiritual de Cristo, que começou quando Satanás foi amarrado por ocasião da primeira
vinda de Cristo.
2. O pós-milenismo defende que haverá neste mundo um glorioso reinado de Cristo, em seguida à sua
volta. Esse reinado, do qual os crentes participarão, ocorrerá à medida que mais e mais nações e
povos vierem se submeter ao senhorio de Cristo. Visto os números na literatura apocalíptica terem,
por muitas vezes, um sentido simbólico, os mil anos seriam qualquer período de tempo, antes da
volta de Cristo, quando o evangelho triunfar sobre o mundo inteiro.
3. O pré-milenismo defende que o milênio será um tempo literal de mil anos que acontecerá no período
de transição entre esta era e o estado eterno, contando a partir da segunda vinda de Cristo em glória.
Satanás será solto e em seguida lançado em definitivo no lago de fogo e enxofre (Ap 20.1-10). Em
seguida acontecerá o Juízo Final (Ap 20.11-15) e o estabelecimento dos novos céus e da nova terra
(Ap 21). Esse ponto de vista retrocede até o século 2º d.C.
Entretanto o crente, salvo na pessoa bendita de Jesus Cristo, não deve se preocupar com essa ou
aquela corrente de interpretação especulativa da escatologia, pois o próprio Jesus advertiu aos seus
discípulos que não se preocupassem com assuntos escatológicos que o Pai reservou para a sua exclusiva
autoridade, mas sim em evangelizar o mundo (At 1.6-8). A única coisa que Jesus mais advertiu e pediu
foi a perseverança e vigilância constante dos salvos que aguardam a vinda do Filho do Homem — o
amado noivo da Igreja (Mt 24.13-14; 25.1-13). A posição do salvo em Cristo deve ser esta: “Aguardando
a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o
qual se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu
especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.13-14). Vamos resumir este estudo escatológico em 12 principais
assuntos: (I) o arrebatamento da Igreja; (II) o tribunal de Cristo; (III) as bodas do Cordeiro; (IV) a grande
tribulação; (V) o anticristo; (VI) a segunda vinda de Cristo em glória; (VII) a batalha do Armagedom;
(VIII) o milênio; (IX) o Juízo Final; (X) a eternidade com Deus; (XI) novos céus e nova terra e (XII) a
perfeição da nova Jerusalém. Vejamos:
I. O ARREBATAMENTO DA IGREJA
O arrebatamento da Igreja sempre foi ilustrado desde o Antigo Testamento através de tipos e símbolos
proféticos. Do Gênesis ao Apocalipse, a Bíblia fala da vinda do Senhor Jesus Cristo, o evento
escatológico mais aguardado pela Igreja no momento. Em relação ao arrebatamento da Igreja, existem
também três escolas de interpretação: (1) pré-tribulacionista; (2) mesotribulacionista e (3) pós-
tribulacionista. O pré-tribulacionismo defende o arrebatamento da Igreja antes da grande tribulação; o
mesotribulacionismo defende o arrebatamento da Igreja no meio da grande tribulação e o pós-
tribulacionismo defende o arrebatamento da Igreja ao final da grande tribulação. Para os que acreditam
no pré-tribulacionismo, escola escatológica que defende a vinda do Senhor Jesus Cristo antes da grande
tribulação, a vinda de Cristo se dará em duas fases distintas. Vejamos:

1ª FASE 2ª FASE
Virá somente para a Igreja Virá para julgar as nações
Virá até as nuvens Pisará os pés no monte das Oliveiras
Virá como ladrão de noite Todo o olho o verá
Virá como noivo Virá como Rei dos reis
Virá para os seus santos Virá com os seus santos
Virá secretamente Virá publicamente

O arrebatamento é descrito na Bíblia como o rapto e assalto repentino da Igreja. É por isso que a
vinda de Cristo para a Igreja é descrita como a vinda do ladrão de noite. O arrebatamento da Igreja será
o “sequestro” santo de todas as pessoas lavadas e redimidas pelo sangue do Cordeiro. O apóstolo Paulo
esclarece isso em 1Ts 5.2,4 dizendo: “Porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá
como o ladrão de noite. Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele Dia vos surpreenda
como um ladrão”.
A palavra “arrebatados” é traduzido do verbo grego harpazo, que significa “tirar ou arrancar com
força”; o vocábulo latino raptare, que significa também “arrebatar”, é que deu origem a palavra
portuguesa “raptar”. Assim como um ladrão assalta, rapta e sequestra numa rapidez incrível, assim o
Senhor Jesus raptará a sua Igreja na incrível rapidez do “abrir e piscar de olhos” (1Co 15.52). Conforme
Jesus ensinou: “Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro” (Mt 24.40). Talvez o
objetivo do Senhor em arrebatar a sua Igreja com tanta rapidez, é não dar tempo algum para o inimigo
arquitetar qualquer plano de ação no reino espiritual para prejudicar este evento iminente e glorioso que
deverá acontecer a qualquer tempo. No Antigo Testamento houve dois casos de arrebatamento que, com
certeza, Deus operou para simbolizar o tipo da Igreja que será arrebatada ao encontro do Senhor nos
ares. O primeiro arrebatamento da história foi o de Enoque (Gn 5.22-24). Enoque representa a Igreja que
anda com Deus na terra e será transladada pelo Senhor (Hb 11.5). O segundo caso de arrebatamento no
Antigo Testamento foi o de Elias (2Rs 2.11). Elias representa a Igreja fiel que subsiste de pé perante o
Senhor, no meio de uma geração idólatra e pecaminosa e será levada, de forma repentina e sobrenatural,
da terra para o céu (1Ts 4.16).
II. O TRIBUNAL DE CRISTO
A Igreja, como noiva de Cristo após o arrebatamento, passará pelo “tribunal de Cristo” para receber
os atavios, que serão simbolizados pelos galardões (1Co 3.12-15; 4.5; 2Co 5.10). As nossas obras serão
avaliadas pelo “crivo divino”, se aquilo que fizemos para o Senhor aqui na terra foi qualificado como:
ouro, prata e pedras preciosas ou foi desqualificado como madeira, feno e palha. A palavra grega
utilizada por Paulo para “tribunal” é bema, utilizada para designar o palco ou pódio dos juízes nos Jogos
Olímpicos. Os competidores premiados, ao receber suas coroas, não se julgavam a si mesmos melhores,
nem aos outros melhores do que eles. No tribunal de Cristo, os cristãos premiados não se julgarão
melhores do que ninguém e nem aos outros melhores do que eles. A avaliação das obras será feita pelo
perfeito crivo divino. Lá não haverá suspeita de jurados no critério de avaliação das obras. Nos Jogos
Olímpicos modernos, apenas três níveis de classificação na prova conseguem subir ao pódio e receber o
prêmio: o primeiro lugar recebe a medalha de ouro, o segundo lugar recebe a medalha de prata e o
terceiro lugar recebe a medalha de bronze. No tribunal de Cristo, apenas três níveis de classificação
receberão o galardão: primeiro lugar, a medalha de ouro; segundo lugar, a medalha de prata e o terceiro
lugar, a medalha de pedras preciosas.
III. AS BODAS DO CORDEIRO
“Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a
sua esposa se aprontou” (Ap 19.7). Conforme o texto acima, as bodas do Cordeiro serão após o tribunal
de Cristo. Porque a expressão “já a sua esposa se aprontou”, mostra que a Igreja já se apresentará alegre
com os seus galardões, para comemoração de uma grande festa no céu. Você já imaginou os salvos
chegados de todas as partes da terra e de todos os tempos e se saudarem mutuamente? Conheceremos os
santos do Antigo e Novo Testamento e reencontraremos com aqueles que antes foram estar com o Senhor.
“Para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos assenteis sobre tronos, julgando as doze
tribos de Israel”, é o que disse o Senhor Jesus Cristo (Lc 22.30). As bodas do Cordeiro seguir-se-ão logo
após o arrebatamento da Igreja e ao tribunal de Cristo (Ap 19.7-8; 2Ts 2.1). A Igreja é chamada de noiva
(Mt 25.6; 2Co 11.2); as bodas do Cordeiro serão a festa de casamento da Igreja com Cristo, união esta
que nunca se acabará. “E assim estaremos sempre com o Senhor” (1Ts 4.17).
IV. A GRANDE TRIBULAÇÃO
O profeta Daniel descreveu este período dizendo: “E, naquele tempo, se levantará Miguel, o grande
príncipe, que se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve,
desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se
achar escrito no livro” (Dn 12.1). O Senhor Jesus Cristo também falou deste período terrível: “Porque
haverá, então, grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco
haverá jamais” (Mt 24.21). “É tempo de angústia para Jacó” (Jr 30.7), é um dia de trevas (Am 5.18), “o
dia da vingança do nosso Deus” (Is 61.2), é “o grande Dia da sua ira” (Ap 6.17). A palavra “tribulação”
literalmente significa “comprimir com força”, como se pisa as uvas no lagar, ou como a cana-de-açúcar
no moinho. Em Is 13.11, o Senhor Deus afirma: “E visitarei sobre o mundo a maldade e, sobre os ímpios,
a sua iniquidade; e farei cessar a arrogância dos atrevidos e abaterei a soberba dos tiranos”. O tempo de
duração da grande tribulação é de sete anos. Porém dos sete anos, os piores serão os últimos três anos e
meio. A primeira metade da grande tribulação corresponde ao que é descrito do capítulo 6 ao 13 do livro
de Apocalipse; se refere à implantação do reino do anticristo. Vai começar a operar no mundo uma
“trindade satânica”, formada pelo dragão (o diabo), sendo o “antiDeus”, a besta que subiu do mar sendo
o anticristo e a besta que subiu da terra sendo o “antiEspírito Santo” — conhecido também como falso
profeta (Ap 12.7-18; 13.1-18). O apóstolo Paulo teve a revelação das duas bestas: O anticristo e o falso
profeta. Em 2Ts 2.3-6, Paulo se refere ao anticristo; em 2Ts 2.7-12, Paulo refere-se ao falso profeta. Não
está dito que o anticristo fará milagres (a primeira besta), mas o falso profeta (a segunda besta) sim
(Ap 13.12-14). No capítulo 13 de Apocalipse é apresentado duas bestas: a que subiu do mar (Ap 13.1-
10), que é o anticristo e a que subiu da terra (Ap 13.11-18), que é o falso profeta. A expressão: “Quem
poderá batalhar contra ela?” (Ap 13.4), mostra que o poder do anticristo será um poder POLÍTICO E
BÉLICO, e, portanto, um “chefe político” que comandará um bloco de dez nações, que são representadas
pelos seus “dez chifres”. Ainda conforme Ap 13.13 a expressão: “até fogo fazia descer do céu”, mostra
mais o aspecto religioso e, portanto, um “chefe religioso” que vai liderar uma falsa igreja mundial,
representada pela “grande meretriz”, cujo nome profético é “Mistério, a Grande Babilônia, a Mãe das
Prostituições e Abominações da Terra” (Ap 17.5). Será uma “igreja ecumênica” associada a todas as
religiões místicas da terra, comandadas pelo falso profeta. O apóstolo Paulo teve a revelação das duas
bestas; o apóstolo João, porém, teve a visão das duas bestas.
V. A MANIFESTAÇÃO DO ANTICRISTO
A Bíblia Sagrada diz que a manifestação do anticristo “é segundo a eficácia de Satanás, com todo o
poder, e sinais, e prodígios de mentira” (2Ts 2.9). O anticristo será um homem personificando o diabo,
porém, apresentado como se fosse Deus. Será um grande demagogo. A Bíblia dá vários nomes a este
personagem. Vejamos alguns: “o homem da iniquidade” ou “homem do pecado” (2Ts 2.3), “o iníquo”, “a
besta”, “falso profeta”, “anticristo” etc. O anticristo será recebido ao aparecer como a solução dos
problemas e crises sociais, econômicas e políticas que afetam o mundo inteiro. A humanidade achará que
nele estará a solução dos seus problemas, quando na verdade estará entrando em um problema muito mais
sério. “Quando disserem: Há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição” (1Ts 5.3).
Porque “sobre a asa das abominações virá o assolador” (Dn 9.27). O anticristo surgirá da área do antigo
Império Romano. Em Dn 9.26, o profeta Daniel escreve que o seu povo (isto é, o povo de onde procede o
anticristo) destruiria a cidade de Jerusalém; esse povo foi o romano, conforme bem documenta a história
no ano 70 d.C. O anticristo firmará um acordo de sete anos com Israel, e na metade destes sete anos, o
acordo será quebrado: “Na metade da semana fará cessar o sacrifício” (Dn 9.27). Todos nós conhecemos
o zelo que os filhos de Israel têm pela lei cerimonial do templo e por isso, ao perceber que o anticristo é
contra sua religião, Israel romperá a aliança feita de sete anos com o anticristo, descobrindo que ele é um
falso messias. Com isso, o anticristo iniciará uma perseguição feroz contra o povo de Israel.
VI. A BATALHA DO ARMAGEDOM
Conforme Ap 16.13-14 — espíritos demoníacos incitarão as nações que, por ordem da besta e do
falso profeta, concentrarão seus exércitos em Israel. A essa altura todos já estarão plenamente
conscientizados que o Senhor Jesus está para descer e implantar o seu reino milenar. Os judeus lutarão
desesperadamente. Será grande o morticínio em Israel (Zc 13.8). A capital, Jerusalém, será tomada e
invadida mais uma vez, com requintes de perversidade, vandalismo e abuso contra a população,
especialmente mulheres (Zc 14.2). Quando Jerusalém estiver cercada de todos os lados pelas nações
confederadas, sob a liderança do anticristo e os judeus estiverem perdendo a esperança de serem salvos,
eles clamarão a Deus (Is 64.1-12) e, nesse momento, Jesus descerá visivelmente com os seus santos (a
Igreja que fora arrebatada e os anjos). Todos verão isso (Ap 1.7; Jd 14). Então se dará a tão sonhada
“CONVERSÃO NACIONAL DE ISRAEL”. Será derramado neste momento o Espírito de graça e
súplica, e os judeus chorarão muito reconhecendo finalmente Jesus, como Messias e Salvador de suas
vidas: “Olharão para mim, a quem traspassaram” (Zc 12.10). “E assim todo o Israel será salvo”
(Rm 11.26). Enquanto isso, todas as nações estão reunidas no vale de Josafá, ou “vale de Jezreel” na
grande planície do Armagedom, para a batalha no Dia do Deus Todo-Poderoso (Jl 3.1-2; Ap 16.14-16).
Este vale é um lugar onde já houve grandes batalhas históricas no passado de Israel. Os estrategistas
concluirão que o poderio BÉLICO E ARMAMENTISTA combinado dos exércitos do mundo inteiro
destruirá Israel e o próprio Deus. A loucura do homem, causada pelos espíritos imundos saídos da boca
do dragão, da besta e do falso profeta (Ap 16.13; 13.4), levará o homem a esse ponto de batalhar contra
Deus. Seu alvo principal é Jerusalém. O grosso das tropas ficará em Armagedom, ao norte de Israel e
parte das tropas em Edom, ao sul de Israel (Is 34.5-8; 63.1-6).
VII. A SEGUNDA VINDA DE CRISTO EM GLÓRIA
A segunda vinda de Cristo em glória se dará no final da grande tribulação para destruir o anticristo
com o “sopro de sua boca” e implantar o seu reino milenar na terra após derrotar o anticristo, o falso
profeta e seus aliados na batalha do Armagedom (Ap 19.11-16; 1.7; 20.1-6; Zc 14.1-4 etc.). A Bíblia fala
mais da segunda vinda de Cristo, do que qualquer outro assunto em suas páginas. Existem cerca de 400
profecias que se cumpriram por ocasião da primeira vinda de Cristo. Segundo alguns estudiosos, porém,
existem cerca de 1800 profecias que falam da segunda vinda de Cristo. Portanto, a segunda vinda de
Cristo é a maior promessa das Escrituras (Tt 2.13). Televisões e rádios do mundo inteiro terão seus
repórteres concentrados na batalha do Armagedom dando notícias via satélite para o mundo inteiro sobre
a grande guerra, quando então serão interrompidas com o aparecimento pessoal de Cristo montado em um
cavalo branco com os seus milhares de santos (Jd 14; Mt 24.29-31; Ap 19.11-16). Esta poderá ser a
manchete das televisões do mundo inteiro: “INTERROMPEMOS NOSSA PROGRAMAÇÃO PARA
TRANSMITIR VIA SATÉLITE PARA TODOS OS PAÍSES DO MUNDO O APARECIMENTO
PESSOAL DE JESUS CRISTO COM MILHARES DE ANJOS VINDO EM DIREÇÃO À TERRA
DESCENDO DAS NUVENS E PISANDO NO MONTE DAS OLIVEIRAS, EM JERUSALÉM, NO
ORIENTE MÉDIO”. Que momento glorioso será esse!
No momento que Jesus tocar o monte das Oliveiras, este se dividirá ao meio, produzindo um grande
vale (Zc 14.4). Certamente toda área de Jerusalém e cercanias se tornarão em planície, ficando Jerusalém
num planalto, uma vez que da fonte que brotar em Jerusalém, águas correrão para o mar Morto e o mar
Mediterrâneo igualmente (Ez 47.8-12). O mar Morto onde atualmente não há vida, se transformará em um
viveiro de peixes. A batalha do Armagedom se tornará bastante renhida a ponto das vestes de Jesus
ficarem “salpicadas de sangue” (Ap 19.13; Zc 14.3). E, então, o Senhor Jesus Cristo destruirá o anticristo
e o falso profeta pelo sopro de sua boca e os aniquilará pelo esplendor de sua vinda (2Ts 2.8; Ap 19.15),
lançando a besta e o falso profeta vivos no lago de fogo que arde com enxofre (Ap 19.20). E todos os
aliados da besta e do falso profeta com seus exércitos foram mortos e seus corpos estendidos sobre a
terra servindo de alimentos para as aves de rapina (Ap 19.17-18,21). Certamente que serão tantos mortos
nesta batalha que não haverá cemitério que dê para enterrar tanta gente. Segundo Ap 9.16, somente o
exército aliado do anticristo era de duzentos milhões de cavaleiros. Realmente é impossível enterrar
tanta gente (Ez 39.17-20). Israel levará sete meses para enterrar os mortos e purificar a terra (Ez 39.11-
12).
VIII. O MILÊNIO
O milênio é o maravilhoso reinado de Cristo na terra por mil anos (Ap 20.1-6). O termo “milenar” ou
“milênio” corresponde ao seu período de duração que é de mil anos. Será o último período de
oportunidade para a raça humana. Como já aprendemos, existem correntes de teólogos que acham difícil
Jesus vir novamente à terra para reinar durante mil anos. Isso é puro raciocínio humano. Ora, muito mais
difícil seria ele vir para ser humilhado, morrer e sofrer como homem por nossos pecados, levando sobre
si a nossa maldição, pois isso ele já fez (Gl 3.13). Por muito mais motivo ele virá para reger as nações
com vara de ferro, como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.15; Sl 2.7-12; Is 11.1-10 etc.). Esta
época áurea é ansiosamente aguardada pelo povo israelita (Lc 2.38; At 1.6-7). Jesus não lhes tirou esta
esperança, apenas não revelou o tempo. Existem milhares de promessas a respeito deste Reino glorioso
(Zc 14.9-21; Mq 4.8-13; Is 11.1-13; Dn 2.44-45; At 15.16; Is 60.1; 66.20; Lc 2.25-38; Ap 20.1-6 etc.).
Este período é também chamado de “consolação de Israel”, “tempo de grandeza e glória para Israel”,
“redenção de Israel”, “reino prometido a Davi”. O milênio será a resposta às milhões de orações do
povo de Deus através dos tempos: “VENHA O TEU REINO” (Mt 6.9-13).
O milênio terá o seu início no final da grande tribulação com a consequente prisão de Satanás
(Ap 20.1-2) e terminará quando se completarem os mil anos que Cristo reinará na terra com os seus
santos (Ap 20.4-6), culminando com a soltura de Satanás (Ap 20.7) e sua consequente destruição
definitiva (Ap 20.10). No milênio ocorrerá os seguintes fatos: 1º) Governo universal do Filho de Deus
(Sl 2.6-9); 2º) Jerusalém, a capital mundial (Is 62.1-3); 3º) Israel como cabeça das nações (Zc 14.16-17);
4º) Ausência do mal (Is 65.25; Ap 20.1-3); 5º) A redenção da natureza (Rm 8.21); 6º) Ausência de
enfermidades, pragas, miséria e fome (Jr 33.6-7; Zc 9.1; Is 65.19-22); 7º) Inigualável prosperidade e
riquezas (Is 60.16-17); 8º) Muita fartura e abundância (Sl 72.16; Is 61.7-8); 9º) Aumento da qualidade de
vida; pessoas terão a idade das árvores (Is 65.20-22); 10º) Será o último período de oportunidade da
raça humana (Zc 14.16-17); 11º) A Igreja estará glorificada com Cristo na Jerusalém celeste (Hb 12.22-
24; Ap 21.9-10); 12º). O templo milenar será construído (Ez 47.1); 13º) Os judeus possuirão toda a Terra
Prometida (Am 9.14-15); 14º) A Jerusalém celeste estacionará acima da Jerusalém terrena (Is 4.5); 15º)
Toda a terra se encherá da glória e do conhecimento do Senhor Jesus (Is 11.9-10) e 16º) O conhecimento
de Deus será universal (Mq 4.1-2).
IX. O JUÍZO FINAL
“E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o
céu, e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono”
(Ap 20.11-12). Nessa ocasião, os ímpios falecidos de todas as épocas ressuscitarão com seus corpos
literais e imortais, porém, carregados de pecados (Mt 10.28; Ap 20.15). Este julgamento não acontece
nem no céu, nem na terra, mas em algum lugar entre as duas esferas. O trono de julgamento é grande! É de
vastíssimas dimensões, enchendo o campo inteiro de nossa visão; expulsa da vista todos outros elementos
como céu e terra. Ameaça e deixa a mente atônita.
Trata-se de um infinito julgamento, diante do qual está o que é finito: o pobre humano, morto, mas
carregado de pecado. O trono é branco! Resplandece de pureza e santidade, o que exige justiça! Castigo!
Julgamento! Purificação! Retribuição! Tudo isso descreve uma cena fora da história humana. É o Juízo
Final!
João escreve, dizendo: “E abriram-se os livros” (Ap 20.12). A palavra “livros” está no plural,
indicando a variedade de livros que serão abertos no julgamento dos mortos. Tudo vai ser revelado neste
dia. O arquivo divino não falha. Veja os livros que serão abertos:
1º: LIVRO DOS ATOS DOS HOMENS (Ap 20.12). O homem comete pecado por palavras, por
pensamentos e por obras; tudo isso está registrado neste livro (Ec 12.14; Mt 12.36).
2º: LIVRO DA CONSCIÊNCIA (Rm 2.15; 9.1). Este livro será usado para julgar as pessoas que
nunca ouviram falar do evangelho. Talvez o leitor já fez esta pergunta: como Deus julgará àqueles que
nunca ouviram falar de Cristo? O critério será o livro da consciência. Pois, “mostram a obra da lei
escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-
os, quer defendendo-os” (Rm 2.15). Todos os seres humanos possuem a lei da consciência em seu
coração lhe dando a noção do que é certo e errado.
3º: LIVRO DA MEMÓRIA (Lc 16.25). Este livro trará à memória de todos os indivíduos o que eles
praticaram nesta vida, fazendo com que eles reconheçam a justiça do julgamento que estão sendo
submetidos (Rm 2.2).
4º: LIVRO DO EVANGELHO (Jo 12.48; Rm 2.16). Este livro será usado contra aqueles que tiveram a
oportunidade de ouvir o evangelho e não o aceitaram. Seu julgamento será de conformidade com o
conhecimento que chegaram a ter do evangelho anunciado pelos pregadores.
5º: LIVRO DA LEI (Rm 2.12). Este livro será usado contra aqueles que tiveram o conhecimento da lei
de Deus e não a obedeceram. Em Mt 23.15, Jesus chegou a dizer que os fariseus estavam ensinando os
seus prosélitos a serem duas vezes filhos do inferno, por conhecerem a lei e não a obedecerem.
6º: LIVRO DA NATUREZA (Sl 19.1-4). Este livro também será usado contra aqueles que alegarem
nunca terem o conhecimento de Deus. “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto
o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão
criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1.20).
7º: LIVRO DA VIDA (Ap 20.12). Neste livro estará o nome dos salvos de todas as épocas. Em
Lc 10.19-20, Jesus disse aos seus discípulos: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões,
e toda a força do Inimigo, e nada vos fará dano algum. Mas não vos alegreis porque se vos sujeitem os
espíritos; alegrai-vos, antes, por estar o vosso nome escrito nos céus”. Em Fp 4.3, o apóstolo Paulo
demonstrou não ter nenhuma dúvida que os nomes dos crentes fiéis estavam escritos no livro da vida. As
pessoas que participarão deste julgamento são aqueles que foram fiéis a Deus durante o reino milenar de
Cristo e não acompanharam Satanás na sua última revolta; estarão diante do trono branco e com os seus
nomes escritos no livro da vida. Estarão os ímpios falecidos de todas as épocas sendo julgados e também
aqueles que seguiram Satanás, no final do milênio e durante a rebelião, estarão ali para receber a
sentença final. “E aquele que não foi achado escrito no Livro da Vida foi lançado no lago de fogo”
(Ap 20.15). Conforme Ap 20.11-15, os incrédulos serão lançados no lago de fogo (inferno), depois do
julgamento do grande trono branco e permanecerão ali por toda a eternidade. É a própria escolha do
indivíduo que lhe traz esse castigo eterno. “Sem dúvida a maior dor sofrida pelas pessoas no inferno é
que elas estão excluídas eternamente da presença de Deus. Se alegria arrebatadora é encontrada na
presença de Deus (Sl 16.11), pavor total é encontrado na sua ausência”. Toda pessoa deve decidir se
passará a eternidade no céu ou no inferno. A escolha a ser feita é entre a vida eterna ou o castigo e
desprezo eterno (Mt 25.46). O homem deve fazer a escolha certa hoje; naquele dia não haverá mais
escolha (Hb 9.27)!
X. A ETERNIDADE COM DEUS
Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o “Pai da eternidade” (Is 9.6), dará gratuitamente aos seus servos
uma eternidade feliz. Todas as coisas terão sido restauradas. “O qual convém que o céu contenha até aos
tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o
princípio” (At 3.21). A Igreja, em estado de glória e felicidade eterna, governará a terra sob Cristo. “Mas
os santos do Altíssimo receberão o reino e possuirão o reino para todo o sempre e de eternidade em
eternidade” (Dn 7.18). “E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão
dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão
e lhe obedecerão” (Dn 7.28). À medida que a eternidade for “passando”, conheceremos mais e mais da
sabedoria e do poder insondáveis de Deus. “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o
ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam”
(1Co 2.9). Se Jesus, quando veio aqui, revelasse os grandes segredos que nos intrigam hoje, a nossa
mente não alcançaria. Ele mesmo disse: “Naquele dia nada, me perguntareis” (Jo 16.23). Jesus afirmou
isso, porque a própria eternidade nos revelará tudo o que a nossa mente interroga nesta vida. Não será
necessário perguntarmos a ele nada, tudo será esclarecido perfeitamente. O céu é um lugar preparado
para um povo preparado com programa apropriado para ambos.
XI. NOVOS CÉUS E NOVA TERRA
O apóstolo Pedro já havia manifestado o sonho de todas as pessoas salvas, dizendo: “Mas nós,
segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2Pe 3.13).
Porém, o apóstolo João viu ao vivo e a cores este novo céu e esta nova terra e escreveu, dizendo: “Vi
novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap 21.1).
O apóstolo Pedro havia descrito como se daria o processo da criação do novo céu e da nova terra,
dizendo: “Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro e se
guardam para o fogo, até o Dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios” (2Pe 3.7). Em 2Pe 3.10,
Pedro ainda escreveu, dizendo: “Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus
passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se
queimarão” (2Pe 3.10-12). Somente obras humanas serão consumidas (Hb 12.26-29). O mesmo Deus que
preservou a sarça de se consumir (Êx 3.2) e tornou imunes ao fogo os três jovens hebreus (Dn 3.25),
também pode preservar o povo salvo saído do milênio e tudo mais que ele quiser, durante esta
expurgação dos céus e da terra: “E ponho as minhas palavras na tua boca e te cubro com a sombra da
minha mão, para plantar os céus, e para fundar a terra, e para dizer a Sião: Tu és o meu povo” (Is 51.16).
Devido Deus ter criado a terra com elementos na sua maioria compostos de gases como oxigênio e
hidrogênio, dois gases altamente inflamáveis! É somente Deus detonar uma centelha de sua parte para que
os céus e a terra sejam renovados. São indiscutíveis as possibilidades de serem dissolvidos os céus, de
se desfazerem abrasados os elementos e de vir a existir um novo céu e uma nova terra conforme o
apóstolo Pedro escreveu (2Pe 3.10-13). Em que sentido serão novos? A resposta é que não serão trazidos
novamente à existência, mas renovados, assim indicando existência prévia. Através das Escrituras é
ensinada a reconstituição do mundo material, mediante a qual este passará da escravidão e da corrupção,
para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Rm 8.21).
XII. A PERFEIÇÃO E A GRANDEZA DA NOVA JERUSALÉM (Ap 22.1-
5)
A Bíblia descreve a “Jerusalém lá de cima” como sendo “nossa mãe” (Gl 4.26). O apóstolo João
escreve, dizendo: “E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu,
adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap 21.2). “E a cidade não necessita de sol
nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua
lâmpada” (Ap 21.23; 22.5). O apóstolo Paulo também escreveu: “Mas a nossa cidade está nos céus”
(Fp 3.20). Entre os habitantes da cidade celeste estará em lugar de destaque a Igreja; de fato, o título que
será dado à esta cidade santa é “a noiva, a esposa do Cordeiro” e haverá outros dentre os redimidos lá,
especialmente os santos do Antigo Testamento. Isso fica subentendido pelos nomes das doze tribos de
Israel, incorporados nas portas da cidade (Ap 21.12). Os doze apóstolos representarão a Igreja
(Ap 21.14). Os principais habitantes da nova Jerusalém serão homens redimidos e anjos santos e eleitos
(1Tm 5.21; Hb 12.22-24). A grandeza da cidade assegura lugar para todos. O livro do Apocalipse
descreve as sete perfeições da nova Jerusalém (Ap 22.1-5). Vejamos:
1) SANTIDADE PERFEITA — “Nunca mais haverá maldição”. A nova Jerusalém será um ambiente
de perfeições. Lá a bênção será perfeita e completa.
2) GOVERNO PERFEITO — “Estará o trono de Deus e do Cordeiro”. Quando visitamos a nossa
capital Federal, ficamos encantados com o suntuoso e moderno palácio da Alvorada em Brasília, ou
mesmo a famosa Casa Branca em Washington (EUA), onde fica o presidente da República. Imagine a
perfeição do palácio celestial onde fica o Deus Todo-Poderoso e a perfeição absoluta do seu governo!
3) SERVIÇO PERFEITO — “Os seus servos o servirão”. Nenhuma empresa multinacional que exista
neste mundo, por mais avançado que seja o serviço que oferecem, pode se comparar com o serviço
perfeito que os salvos prestarão ao Senhor Deus na nova Jerusalém. O céu não é um lugar para
monotonia; o céu será um lugar de muito serviço, pois o Pai trabalha (Is 64.4), os anjos trabalham
intensamente (Hb 1.14) e nós também trabalharemos intensamente (Ap 22.3). De acordo com as
dimensões da cidade (Ap 21.16), a nova Jerusalém tem de altura o que tem de largura. Pressupondo que
Deus distribua os andares de sua grande metrópole como faria um arquiteto em um edifício, a cidade teria
mais de 600 mil andares, um espaço amplo para o entra e sai de bilhões de pessoas. Portanto, haverá
muito serviço na cidade.
4) VISÃO PERFEITA — “Contemplarão a sua face”. Servimos um Deus tão elevado em maravilhas
que, para vê-las, será preciso uma eternidade. Ele é um Deus tão belo, que a sua beleza aumenta mais e
mais à medida que nos aproximamos dele e contemplamos a sua face (Sl 96.9).
5) IDENTIFICAÇÃO PERFEITA — “E nas suas frontes estará o nome deles”. O céu é um lugar
perfeito, de pessoas aperfeiçoadas pelo nosso perfeito Senhor. Ninguém precisará ficar perguntando
quem é quem, pois identificaremos facilmente as pessoas. Saberemos quem é Abraão, Isaque, Jacó, Davi
etc., sem precisar perguntar (Mt 8.11).
6) ILUMINAÇÃO PERFEITA — “Porque o Senhor Deus brilhará sobre eles”. A nova Jerusalém será
uma cidade dourada e eternamente iluminada. Nunca iremos sofrer apagão ou queda de energia. A nova
Jerusalém se dá ao luxo de não precisar sequer da luz do sol ou da lua, quanto menos de luz elétrica, pois
a glória de Deus a iluminará eternamente (Is 60.19).
7) INTERAÇÃO PERFEITA — “E reinarão pelos séculos dos séculos”. Você será você em sua
melhor forma para sempre e desfrutará da companhia de todas as outras pessoas em seu estado perfeito!
Teremos muitas tarefas no céu. Deus deu responsabilidades para Adão e Eva, antes do pecado,
ordenando que eles dominassem sobre todas as coisas debaixo do céu (Gn 1.26-28). E Jesus falou que
aqueles que forem fiéis dominarão até sobre dez cidades (Lc 19.17). O Senhor Deus poderá escolher
povoar um novo planeta e eleger algum fiel para reinar sobre uma determinada região habitada do seu
imenso Universo. Quem sabe?

CONCLUSÃO
A escatologia bíblica é um assunto muito profundo e extenso, sendo impossível tratar todos os temas
escatológicos em apenas um sermão. Um estudo mais aprofundado deste assunto pode ser pesquisado
neste próprio livro na parte de “Sermões escatológicos” e no meu livro: “Escatologia bíblica — Um
tratado sobre o fim do mundo”.
11) HOMILÉTICA — A ARTE DE PREGAR

INTRODUÇÃO
O termo “homilética”, é oriundo da palavra grega homiletike, e significa “o ensino em tom familiar”.
O verbo grego homileo significa “conversar”; daí resultou o termo “homilia”. Uma homilia é também
uma “pregação”, ou “conversação”. Existe a homilética secular e a homilética evangélica. A homilética
secular é a ciência que estuda a preparação de discursos. Pode ser um discurso: político, forense ou
acadêmico. A homilética evangélica, porém, é a ciência que ensina os princípios da pregação e da
oratória cristã. Por isso, o pregador é também chamado de “orador”. Os três elementos-chave da
homilética são: oratória, eloquência e retórica. Oratória é a arte de falar em público. Eloquência é a arte
natural de expressar com fervor a palavra. Retórica é o estudo teórico e prático das regras de
aperfeiçoamento da pregação. Ninguém na história foi tão perfeito na arte de pregar como Jesus Cristo.
Ele usou todos os recursos oferecidos pela homilética para alcançar os seus ouvintes. Ele utilizou-se da
oratória, da eloquência e da retórica como mais ninguém usou tão bem na história. Vejamos:
I. JESUS CRISTO — O MAIOR PREGADOR DA HISTÓRIA
Jesus foi o maior pregador itinerante que o mundo já conheceu. A pregação é a forma mais expressiva
de disseminar o evangelho de Cristo e ocupou lugar central no ministério terreno de Jesus. Seu púlpito
era quase sempre improvisado: Um monte, a popa de um barco, o alto de uma pedra, a casa de amigos, ou
mesmo o púlpito de uma sinagoga. Não tinha um lugar fixo ou uma sede. Ele ia de vila em vila, de aldeia
em aldeia e de cidade em cidade (Mt 9.35). Seu estilo eletrizante arrastava após si multidões para ouvir
seus sermões cheios de graça e autoridade divina (Lc 4.22) a ponto dos próprios oponentes se renderem
a ele, dizendo: “Nunca homem algum falou assim como este homem” (Jo 7.46).
II. A SENSIBILIDADE DO PREGADOR
O pregador precisa ter a sensibilidade espiritual para entender o que Deus quer transmitir naquele
momento aos seus ouvintes e observar o tipo de público que ele estará se dirigindo. Jesus observava tudo
isto. Quando ele se dirigia ao povo da zona rural, Cristo utilizava uma linguagem que os moradores do
campo bem entendiam. Ele falava de semeador, agricultor, sementes, plantações etc. (Mt 13.1-32).
Quando Jesus se dirigia ao público da zona urbana, Ele falava de festividades sociais, negociação de
talentos, juros bancários, administração de negócios etc. (Mt 25.1-27; Lc 16.1-13).
III. A PREGAÇÃO PRECISA TER GRAÇA E UNÇÃO
Além do conhecimento, a pregação precisa ser acompanhada com graça e unção (At 6.10). Uma
pregação sem graça parece um mero discurso. Em Lc 4.22, a Bíblia menciona a graça na pregação de
Jesus: “E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca”.
Paulo também deixava de lado seu conhecimento filosófico e pregava com unção, dizendo: “A minha
palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em
demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas
no poder de Deus” (1Co 2.4-5).
IV. O PREGADOR PRECISA SER AUTÊNTICO EM SUA PREGAÇÃO
O pregador precisa ter: equilíbrio, humildade, autenticidade e otimismo. Equilíbrio, para dominar
suas emoções, promovendo uma harmonia entre razão e emoção. Humildade, para não se ensoberbecer
com os elogios que recebe, nem se empolgar com o seu brilhantismo em algumas apresentações.
Autenticidade, para ser sincero, íntegro e autêntico em sua mensagem. Otimismo, para produzir confiança
nas pessoas através da mensagem de Deus.
O pregador precisa pregar palavras agradáveis aos seus ouvintes, porém, sem omitir a verdade.
Salomão revela isso, dizendo: “Procurou o Pregador achar palavras agradáveis; e o escrito é a retidão,
palavras de verdade. As palavras dos sábios são como aguilhões e como pregos bem fixados pelos
mestres das congregações, que nos foram dadas pelo único Pastor” (Ec 12.10-11).
O pregador não precisa inventar nada. Ele deve pregar a palavra pura sem mistura. O profeta Jeremias
deixou isso bem claro dizendo: “O profeta que teve um sonho, que conte o sonho; e aquele em quem está
a minha palavra, que fale a minha palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo? — diz o SENHOR”
(Jr 23.28).
V. CRISTO DEVE SER O PRINCIPAL CONTEÚDO DA NOSSA
PREGAÇÃO
O pregador precisa exaltar Cristo na sua pregação. No Sl 45.1-2, o salmista revela esta verdade,
dizendo: “O meu coração ferve com palavras boas; falo do que tenho feito no tocante ao rei; a minha
língua é a pena de um destro escritor. Tu és mais formoso do que os filhos dos homens; a graça se
derramou em teus lábios; por isso, Deus te abençoou para sempre”.
Para um pregador ser bem-sucedido, ele não precisa abusar da intelectualidade humana e nem pregar a
mensagem de Deus por conveniência do auditório. O pregador precisa deixar o Espírito Santo fluir na
sua pregação e priorizar Cristo em sua mensagem. É exatamente isso que Paulo quis nos ensinar dizendo:
“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade
de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este
crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra e a
minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do
Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de
Deus” (1Co 2.1-5). Esse é o tipo de pregação que Deus se agrada!
Jesus Cristo era o conteúdo principal da pregação de Pedro e dos demais apóstolos. Além do sermão
pentecostal e cristológico que Pedro pregou no dia de Pentecostes (At 2.14-36), ele já introduziu o seu
sermão na casa de Cornélio exaltando a Cristo, dizendo: “A palavra que ele enviou aos filhos de Israel,
anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos)” (At 10.36).
VI. OS TIPOS DE SERMÕES
Existem quatro principais tipos de sermões: (1) sermão temático; (2) sermão textual; (3) sermão
expositivo e (4) sermão biográfico. Vejamos:

1. SERMÃO TEMÁTICO
O sermão temático é aquele que o pregador apresenta a mensagem a partir de um tema específico e
desenvolve todo o sermão em torno daquele tema escolhido. Exemplo: Você pode escolher como tema o
amor e pregar todo o sermão falando do amor.

2. SERMÃO TEXTUAL
O sermão textual é aquele que o pregador faz a apresentação da mensagem a partir de vários pontos
extraídos de um texto escolhido da Bíblia. Exemplo: 1Co 13.13, fala das três maiores virtudes do
cristianismo: amor, fé e esperança. Você pode falar destes três pontos do texto.

3. SERMÃO EXPOSITIVO
O sermão expositivo é aquele que o pregador apresenta a mensagem fazendo uma exposição de todo
um capítulo ou de todo um livro da Bíblia. Existem livros da Bíblia que não dão para fazer uma
exposição pela metade. Exemplo: Você pode fazer uma exposição de todo o livro de Atos dos Apóstolos
apresentando o progresso e avanço da Igreja primitiva no período apostólico em seus 28 capítulos.

4. SERMÃO BIOGRÁFICO
O sermão biográfico é aquele que o pregador desenvolve a sua mensagem a partir de um personagem
escolhido da Bíblia. Exemplo: Abraão, Moisés, Davi etc.
VII. O PREPARO INTELECTUAL E DEVOCIONAL DO PREGADOR
O pregador precisa investir no seu conhecimento. Em 1Tm 4.13, Paulo aconselhou a Timóteo,
dizendo: “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá”. O pregador precisa gostar de ler, em primeiro
lugar, a Bíblia e em segundo lugar, outros bons livros que servirão de ferramenta para o seu crescimento
intelectual.
O pregador precisa cuidar de sua vida devocional. Em At 6.4, os apóstolos nos deixaram este
exemplo, dizendo: “Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra”.
Em Js 1.8, há muitos séculos, Deus já havia dado um conselho para um grande líder: “Não se aparte
da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme
tudo quanto nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te
conduzirás”.

CONCLUSÃO
Na história da cristandade, é impossível citar grandes nomes da oratória sacra, sem mencionar João
Crisóstomo, apelidado de “Boca de ouro”, Jerônimo Savonarola, Martinho Lutero, John Calvino,
Jonathan Edwards, John Wesley, Dwight Moody, George Whitefield, Charles Finney e tantos outros
oradores da história e da atualidade, cujo espaço não permite citar. Ao contrário dos oradores seculares,
que dependem apenas do preparo intelectual e das técnicas da retórica para serem bem-sucedidos, os
oradores sacros dependem da unção do Espírito Santo para serem bem-sucedidos em sua oratória. Foi
assim que Davi, além de rei, general, poeta, músico, foi um grande orador, quando disse: “O Espírito do
SENHOR falou por mim, e a sua palavra esteve em minha boca” (2Sm 23.2).
12) HERMENÊUTICA — A ARTE DE INTERPRETAR O
TEXTO

INTRODUÇÃO
Da mesma forma que existe a homilética secular e a homilética evangélica, existe também a
hermenêutica secular e a hermenêutica bíblica. A palavra “hermenêutica” é oriunda da palavra grega
hermenevein, que significa “interpretar”. Portanto, a hermenêutica é a arte de interpretar textos. Uma das
coisas que um jurista mais utiliza para interpretar os textos da lei é, sem dúvida, a hermenêutica jurídica.
Porém no caso do pregador, o que ele mais utiliza para interpretar os textos sagrados é a hermenêutica
bíblica. Um bom hermeneuta da Bíblia tem tudo para se tornar um bom pregador. Um bom hermeneuta
jurídico consegue interpretar bem o texto legal de um código jurídico; da mesma forma, um bom
hermeneuta bíblico consegue interpretar corretamente o texto da Bíblia. A hermenêutica bíblica faz parte
da teologia exegética, a qual trata da reta inteligência na interpretação das Escrituras Sagradas. Uma das
primeiras ciências que o pregador deve conhecer é certamente a hermenêutica. Muitas heresias surgem
em nossos dias, justamente, por falta de interpretação correta dos textos sagrados. O bom pregador deve
conhecer melhor os princípios e regras da hermenêutica bíblica, para não ir além do que está escrito
(1Co 4.6). Podemos resumir este estudo de hermenêutica em cinco principais pontos que o pregador
precisa conhecer na arte de interpretar a Bíblia. Vejamos:
I. A BÍBLIA EXPLICA ELA MESMA
Não existe interpretação particular da Bíblia. Qualquer pregador ou líder religioso que interpretar um
texto bíblico sem observar esta regra fundamental pode ser declarado como herege. Em 2Pe 1.20, o
apóstolo Pedro deixou esta regra bem clara, dizendo: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma
profecia da Escritura é de particular interpretação”. Ninguém pode criar ou formular uma doutrina em
cima de uma interpretação equivocada do texto sagrado. Não adianta o homem dizer: “Eu acho, eu penso,
ou afirmo que seja assim”. Em Pv 21.30, o sábio Salomão escreveu que: “Não há sabedoria, nem
inteligência, nem conselho contra o SENHOR”. A Palavra do Senhor é perfeita e restaura a alma (Sl 19.7).
Não há nenhuma necessidade de acréscimo ou diminuição do texto sagrado (Ap 22.18-19). Em Pv 30.5-6,
Salomão ainda escreve: “Toda palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada
acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso”. No Sl 119.140, O
salmista se expressa, dizendo: “A tua palavra é muito pura; por isso, o teu servo a ama”. Aleluia!
II. NÃO SE PODE INTERPRETAR UM TEXTO BÍBLICO DE FORMA
ISOLADA
O primeiro a quebrar esta regra foi o próprio diabo, ao querer induzir Jesus a cometer um erro, numa
interpretação isolada do texto bíblico do Sl 91.11-12. Esta regra básica da hermenêutica diz o seguinte:
“Texto fora do contexto gera pretexto”. Porém Jesus citou o contexto, dizendo: “Não tentareis o SENHOR,
vosso Deus” (Dt 6.16). Se você ler de forma isolada a primeira frase dos versículos bíblicos de Sl 14.1;
53.1, vai pensar que a Bíblia nega a existência de Deus; entretanto, ao observar o contexto, você vai
perceber que, somente um homem louco e corrompido pode negar a existência de Deus. Ninguém pode se
utilizar de uma frase isolada da Bíblia para beneficiar ou justificar uma teoria errada. Em 2Co 4.2, Paulo
diz: “Antes, rejeitamos as coisas que, por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de
Deus, pela manifestação da verdade”. No Sl 119.144, o salmista também escreveu, dizendo: “A justiça
dos teus testemunhos é eterna; dá-me inteligência, e viverei”. Precisamos pedir inteligência ao Senhor
para interpretar corretamente a sua Palavra.
III. É PRECISO CONHECER AS FIGURAS DE LINGUAGEM DO
TEXTO SAGRADO
A Bíblia possui várias figuras de linguagem e diferentes estilos literários que podem ser difíceis de
compreender. É preciso observar se o texto pode ser interpretado de forma literal, simbólica ou
figurativa. A interpretação é literal quando o texto é direto, claro, objetivo e sem enigmas. Exemplo:
“Permaneça o amor fraternal” (Hb 13.1). A interpretação pode ser simbólica, quando o texto utiliza um
símbolo poético ou profético para expressar uma verdade moral ou espiritual. Exemplo de um texto com
simbologia poética: “Porque, com alegria, saireis e, em paz, sereis guiados; os montes e os outeiros
exclamarão de prazer perante a vossa face, e todas as árvores do campo baterão palmas” (Is 55.12).
Exemplo de um texto com simbologia profética: “Aprendei, pois, esta parábola da figueira: quando já os
seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão” (Mt 24.32). A
interpretação pode ser figurativa quando o texto utiliza uma figura do cotidiano para ensinar lições
espirituais. Exemplo: “Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade vos digo que eu sou a porta das
ovelhas” (Jo 10.7). Além destas três principais formas de interpretação do texto bíblico, é preciso
observar as figuras de linguagem gramatical. As principais figuras de linguagem gramatical são as
seguintes:
1) HIPÉRBOLE, se dá quando o texto se utiliza de um exagero deliberado para produzir um efeito
maior. Exemplo: “Estou com uma fome de leão” ou o que Jesus disse em Mt 23.24: “Coais um mosquito e
engolis um camelo”;
2) METÁFORA, se dá quando no texto sagrado há semelhança entre duas coisas que se aplicam ao
mesmo tempo. Exemplo: “Eu sou a videira, vós, as varas” (Jo 15.5);
3) PARÁBOLAS, se dá quando o texto sagrado apresenta uma história baseada no cotidiano das
pessoas com o objetivo de ensinar uma verdade moral ou espiritual. Exemplos: parábola do semeador,
parábola das dez virgens, parábola dos dez talentos etc.;
4) ANTROPOMORFISMO, se dá quando o texto sagrado descreve coisas inanimadas dotadas de
características humanas. Exemplo de antropomorfismo aplicado a coisas inanimadas: “Os rios batam
palmas; regozijem-se também as montanhas” (Sl 98.8). Exemplo de antropomorfismo aplicado a Deus:
“E o SENHOR cheirou o suave cheiro” (Gn 8.21); “Arrependeu-se o SENHOR” (Gn 6.6); “Eis que a mão do
SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem o seu ouvido, agravado, para não poder
ouvir” (Is 59.1) etc.
5) ENIGMA, quando é preciso decifrar com base na revelação divina, ou relacionado com algo já
existente. A linguagem enigmática era muito utilizada pelos sábios orientais. Exemplos: A rainha de Sabá
veio provar Salomão com alguns enigmas (1Rs 10.1). Sansão usou um enigma associado a algo já
existente: O leão e o mel (Jz 14.12-14,18).
6) FÁBULA, quando aparecem seres irracionais e inanimados falando. A fábula é uma lenda ou uma
história fictícia. O apóstolo Paulo previu uma época em que as pessoas iriam preferir acreditar em
fábulas do que na doutrina da verdade (2Tm 4.3-4). Paulo já havia advertido ao jovem pregador Timóteo,
dizendo: “Nem se deem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que
edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora” (1Tm 1.4). A mesma advertência Paulo deu a
Tito, dizendo: “Não dando ouvidos às fábulas judaicas” (Tt 1.14). Hoje em dia, o que tem de pregadores
pregando fábulas judaicas no púlpito não é brincadeira!
7) IRONIA, quando a expressão revela o contrário do que se está pensando ou sentindo. Exemplo: O
rei Acabe quase obrigou Micaías a profetizar o que ele gostaria de ouvir acerca da guerra contra a Síria
em Ramote-Gileade; então, o profeta lhe respondeu de forma irônica: “Sobe e serás próspero, porque o
SENHOR a entregará na mão do rei” (1Rs 22.15).
8) ALEGORIA, quando o pensamento do texto apresenta um objeto para dar ideia a outro. O apóstolo
Paulo utilizou uma linguagem alegórica para ensinar a diferença entre a lei e a graça, dizendo: “O que se
entende por alegoria; porque estes são os dois concertos: um, do monte Sinai, gerando filhos para a
servidão, que é Agar” (Gl 4.24). Na alegoria de Paulo, Agar representava a lei dada no monte Sinai, a
qual deixa o homem ainda debaixo da escravidão. Porém Sara representa a graça, a qual deixa o homem
livre (Gl 4.21-31). Como Paulo bem explicou, é apenas uma alegoria!
9) PARADOXO, quando uma coisa parece contrária ao que é comum, mas acaba tendo uma relação.
Exemplo: Em Mt 16.6, Jesus disse aos seus discípulos: “E Jesus disse-lhes: Adverti e acautelai-vos do
fermento dos fariseus e saduceus”. É algo que parece contrário ao que é comum, porém, há uma relação
em comum nesta advertência de Jesus. Pois o fermento dos fariseus e dos saduceus são suas doutrinas
corrompidas e de conteúdo alterado. Ou seja, Jesus não está condenando o uso do fermento comum, mas
sim, o fermento da maldade, da malícia e da hipocrisia (1Co 5.8).
IV. É PRECISO APLICAR A EXEGESE DE FORMA CORRETA
A palavra “exegese” vem do grego ekegeomai, que significa “arranco do texto”. A exegese é a
aplicação das próprias regras estabelecidas pela hermenêutica. Assim como a prudência é a aplicação
prática da sabedoria, a exegese é a aplicação prática da hermenêutica. É a prática da hermenêutica
sagrada que busca a real interpretação dos textos que formam o Antigo e o Novo Testamento, valendo-se
do conhecimento das línguas originais (hebraico, aramaico e grego), da confrontação dos diversos textos
bíblicos e das técnicas aplicadas na linguística e na filosofia. A exegese é o estudo rigoroso de um texto,
a partir de regras e conceitos metodológicos, pelos quais se busca alcançar o melhor sentido daquilo que
está escrito. Quando aplicado ao estudo da Bíblia especificamente, denominamos de “exegese bíblica”.
A exegese apresenta cinco principais bases de interpretação do texto sagrado:
EXEGESE ESTRUTURAL — Doutrina que sustenta estar o significado do texto bíblico além do
processo de composição e das intenções do autor. Neste método é levado em conta as estruturas e
padrões do pensamento humano. Deve-se conhecer a etimologia das palavras, o desenvolvimento
histórico de seu significado e o seu uso pelo autor sagrado do texto bíblico em análise.
EXEGESE GRAMÁTICO-HISTÓRICA — Princípio de interpretação bíblica que leva em conta
apenas a sintaxe e o contexto histórico no qual foi composta a Palavra de Deus. O intérprete deve
conhecer os princípios gramaticais da língua na qual o texto foi escrito, a fim de interpretá-lo do modo
correto como foi escrito. Tendo as análises lexicais, morfológicas e sintáticas do texto sido feitas, é
preciso partir para análises de contexto e história a fim de que se tenha uma boa compreensão do texto e
de seu significado primeiro e, com os passos anteriores bem dados, o intérprete tem condições de extrair
a teologia do texto, bem como sua aplicação às necessidades pessoais dele, em primeiro lugar e às dos
ouvintes. O que o texto tem com a minha vida? Ou com os grandes desafios atuais?
EXEGESE TEOLÓGICA — Princípio de interpretação bíblica que toma por parâmetro as doutrinas
sistematizadas pelos doutores da Igreja. Neste caso, a Bíblia é submetida à doutrina. Mas como esta nem
sempre se encontra isenta de interpretações particulares e tradições meramente humanas, corre-se o risco
de se valorizar mais a forma que o conteúdo. O correto é submeter à teologia dogmática dos
doutrinadores cristãos ao crivo da infalibilidade da Palavra de Deus e não o contrário. Em direito, se
recorre muito às opiniões dos doutrinadores jurídicos para uma melhor interpretação dos textos legais; na
teologia, a opinião dos eminentes mestres e doutrinadores bíblicos também é muito importante, porém,
suas linhas de interpretação não são infalíveis. A Bíblia é sua própria intérprete, diz o princípio
hermenêutico. A Bíblia deve ser o próprio recurso primordial para entender ela mesma. Uma
interpretação particular que entra em choque com o ensino total da Bíblia deve ser totalmente rechaçada
e rejeitada. Uma interpretação submetida ao ponto de vista central da Bíblia é a maneira mais correta de
expor aos ouvintes a Palavra de Deus.
EXEGESE TEXTUAL E CONTEXTUAL — Princípio de interpretação em que o texto bíblico é
focalizado como um todo e o significado dependente do contexto para uma correta compreensão. O
contexto é o que vem antes e depois do texto. Segundo esta corrente de interpretação, é preciso manter em
mente a inclinação do pensamento de todo o texto sagrado, para se obter uma visão real do que o texto
está realmente querendo dizer. Há textos da Bíblia cujo conteúdo já exprime o pensamento central da
teologia cristã.
EXEGESE CONTEXTUAL BÍBLICA E CONTEXTUAL HISTÓRICA — Princípio de interpretação
em que o contexto bíblico realiza-se na própria Bíblia. O contexto histórico leva em consideração a
época em que o autor escreveu. Em alguns casos a própria Bíblia oferece o contexto histórico, mas
noutros, é preciso recorrer a livros que abordem questões culturais e históricas. Portanto, a exegese é a
aplicação dos princípios e regras estabelecidos pela hermenêutica. Estas regras técnicas de interpretação
são importantes; entretanto, é preciso buscar o auxílio do Espírito Santo que perscruta todas as coisas,
até mesmo as profundezas de Deus, para uma interpretação mais correta do texto sagrado (1Co 2.10-11).
V. É PRECISO ESTUDAR A BÍBLIA DE FORMA DEVOCIONAL
O cristão precisa estudar as Escrituras de forma devocional, dedicando-se à oração, e pedindo a
orientação do Espírito Santo para uma compreensão melhor do texto sagrado. No Sl 119.97, o salmista
disse: “Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia!” A melhor maneira de se entender
um livro é conversando com o seu autor. Deus é o autor da Bíblia, Jesus Cristo é o seu tema central e o
Espírito Santo é o inspirador dos escritores sagrados. O próprio Senhor Jesus Cristo prometeu que
poderíamos contar com o auxílio do Espírito da verdade no entendimento da sua Palavra (Jo 16.12-13).
“Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e
Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior
do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que, conhecendo-o,
desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado” (2Pe 2.20-21).

CONCLUSÃO
Conhecendo as regras de interpretação correta do texto sagrado, o obreiro pode se apresentar diante
de Deus aprovado, não tendo do que se envergonhar, manejando bem a palavra da verdade (2Tm 2.15).
Pois, o nosso Deus “o qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da letra,
mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica” (2Co 3.6).

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