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Tomo 8 Pontes de Miranda Comentarios Ao Codigo de Processo Civil
Tomo 8 Pontes de Miranda Comentarios Ao Codigo de Processo Civil
TOMO VIII
(Arts. 539-565)
TITULO X
DOS RECURSOS
(Continuação)
CAPITULO VI
SEÇÃO 1
Art. 539
2)Apelação
3)Agravo de instrumento
SEÇÃO II
Do recurso extraordinário
Art. 541
1)Dispensa de termo
3)Fundamentação
6)Divergência de interpretação
4)Atualização do texto
5)Conhecimento de recurso extraordinário
7)Vistas e razões
2)Agravo de instrumento .
5) Execução e carta de
Carta de sentença
Interposição e eficácia
Contingência
Embargabilidade
CAPITULO VII
1) Ordem do processo
2)
Registro
Art. 548
2)Publicidade da distribuição
3)Juizes e decisão
4)Redistribuição
2)Prazo de subida
3)Deserção da apelação
4)Relator
5)Pontos controvertidos
Art. 550
1)Procedimento sumaríssimo
2)Contagem do prazo
1)Revisor e recursos
3)Visto do revisor
4)Procedimento sumaríssimo
. Art. 553
1)Embargos infringentes e ação rescisória
2)Revisão
Art. 554
3)Função do relator
4)Sessão de julgamento
6)Função do presidente
Art. 556
1)Votantes
4)Anunciação do resultado
6)Acórdão e lavratura
2)Conversão em diligência
4)Suspensão da medida
6)Nulidade
Art. 562
1)Julgamento iniciado
Art. 563
1)Conferência do julgado
2)Vantagem da conferência
Art. 564
1)Sustentação oral
TITULO X
DOS RECURSOS
(Continuação)
CAPITULO VI
DOS RECURSOS PARA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SEÇÃO 1
O art. 539 do Código de 1973 diz que “nas causas em que forem partes, de
um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de outro,
município ou pessoa domiciliada ou residente no País, caberá: 1 apelação
da sentença; agravo de instrumento, das decisões interlocutórias”. O art.
129, § § 1.~ e 2.0, nada tem com o processo civil. Bem assim o art. 119, II,
c), concernente a hábeas Corpus.
539 e 540)
Em boa hora se fez. Quem vai julgar é que deve processar. A cisão, que se
havia adotado, excluía, pela base, o principio da imediatividade. A respeito,
cf. nossos Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo 1. A
Constituição de 1967, na estréia da Constituição de 1946, seguiu, aí, como
em tantos outros lugares, O que sugeríamos em 1938 (Comentários à
Constituição de 1937, III, 85); “Melhor técnica de classificação teria sido a
de dividir-Se a matéria em duas partes: competência originária, subdividida
em competência para processar e julgar e competência só para julgar;
competência em grau de recurso, subdividida em competência para julgar
recurso ordinário, e competência para julgar recurso extraordinário. Há,
sem dúvida, melhora de forma taxinômica entre 1891, 1934 e 1937: mas há,
ainda, a atender-se que se não justifica, somente porque as ações rescisórias
dos acórdãos do Supremo Tribunal Federal são julgadas por ele e
processadas nos outros juízos ou tribunais, a mistura de tal cognição com a
cognição dos recursos ordinários, encambulhandos tal caso de competência
com o julgamento dos recursos Hoje só há procedimento e julgamento.
No art. 546, parágrafo único, o Código de 1973 estatui que, “além dos casos
admitidos em lei, é embargável, no Supremo Tribunal Federal, a decisão da
turma que, em recurso extraordinário ou em agravo de instrumento, divergir
do julgamento de outra turma ou do plenário”. Não foi criação do legislador
de 1973, nem do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, art. 309,
que já dizia: “Somente caberão embargos à decisão da Turma que, em
recurso extraordinário ou agravo de instrumento, divergir de julgado de
outra Turma ou do Plenário, na interpretação do direito federal.” Não se
diga que não se trata de recurso. verdade que há embargos ação, como os
embargos do devedor (arts. 736-745), OS embargos de terceiro (arts. 1.046-
1.054), e os embargos à arrematação e à adjudicação (art. 746).
Os arts. 476-479 do Código de 1973 são regras jurídicas que têm de ser
respeitadas pelo Supremo Tribunal Federal: o plenário tem de decidir o que
se lhe pediu como pronunciamento prévio.
3)DETERMINAÇÃO CONSTITUCIONAL DA RECURSABILIDADE
PARA O SUPREMO TRIBUNAL
Art. 539. Nas causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro
ou organismo internacional e, de outro, município ou pessoa domiciliada ou
residente no Pais’), caberá: 1 apelação da sentença2);
Advirta-se que o art. 540 alude ao que está estabelecido nos Capítulos II e
III do Titulo X (Dos recursos). Mas isso, de modo nenhum, sendo o art. 540
uma das regras jurídicas do Capitulo VI, que também é do Título X, poderia
levar a se supor que aos recursos interpostos para o Supremo Tribunal
Federal não se aplicam as regras jurídicas gerais que enchem o Capitulo 1.
O que é geral, de todos é. O que Importa é que sejam regras jurídicas que
atinjam a espécie de recurso (por exemplo, a apelação, art. 500, II) ou as
duas espécies (apelação e agravo de instrumento, arts. 499, 500, 1 e II, e
parágrafo único, 502, 503, 506-508 e 511>. Quanto à eficácia e à extensão
subjetiva dos recursos, incidem os arts. 497, 2.a parte, e 509; quanto à
desistência, o art. 501; quanto à impugnação, o art. 505; e quanto ao efeito
do julgamento do recurso, o art. 512. Como a Constituição de 1967, com a
Emenda n. 1, art. 120, parágrafo único, c), deixa ao Supremo Tribunal
Federal pôr no seu Regimento Interno o processo e o julgamento dos feitos
de sua competência originária ou de recurso”, não poderia o Código de
Processo Civil estender ao Supremo Tribunal Federal regra jurídica como a
do art. 510. O art. 540, parágrafo único, apenas se recebe como regra
jurídica de explicitação.
Deu-se no art. 119, II, a), da Constituição de 1967, com a Emenda n. 1, aos
Municípios o mesmo tratamento que têm as pessoas domiciliadas ou
residentes no Brasil. Competentes para as ações entre Estado estrangeiro ou
organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no
Brasil, são os juizes federais (art.
Admita-se que pode haver a retenção nos autos de que cogita o art. 522, §
1.”.
SEÇÃO II
Por outro lado, cumpre observar-se que a revisão alemã permitia que a
Corte revisora corrigisse, além do erro de direito que legitimou o recurso,
todos os I rores inris, in iudicando, no que se distinguiu, radicalmente, da
cassação francesa. Em todo caso, a lei alemã de 5 de junho de 1905
suprimiu tal freie Revisionspraxis, em se tratando de infrações processuais.
O que nos interessa é sabermos que tal foi o caminho seguido pelo
legislador americano, desde cedo, e outro não poderia ser, no sentido de
uma das leis sociológicas empiricamente mais relevantes e de não difícil
verificação, a lei da progressiva integração dos corpos sociais. Também é
digno de nota que o legislador norte-americano resolveu o problema técnico
de se limitar a Supreme Court ao exame de direito, ou de se lhe permitir o
exame in iure e in facto, no sentido de haver certa discrição por parte da
própria Supreme Court: “pode” ela reformar, modificar, ou confirmar a
sentença ou decisão do tribunal estadual e abrir a execução, ou ordenar a
volta do processo ao tribunal recorrido, “the Supreme Court may reverse,
modify or affirm the judgement or decree of such state court, and may, at
their discretion, award execution, remand the same to the court from which
it was removed by the writ”. A Supreme Court tem sido assaz prudente,
evitando, de regra, passar, no exame, aos fatos.
de notar-se que a Lei n. 27, de 1862, art. 7•0, falava de apelação, expressão
que se conservou na terminologia das leis Argentinas, e, no art. 23, permitia
tal apelação (ou nulidade das causas) quando houvesse dúvida, ou questão,
sobre se o assunto de que se tratasse, havia de ser regido somente por leis
provinciais, decidindo-se, em última instância, nesse sentido. A Lei n. 48,
de 1863, foi mais explícita (art. 14): segundo ela, cabia apelar-se para a
Corte Suprema das sentenças definitivas, pronunciadas por tribunais
superiores de Província, 1.0) quando no pleito se houvesse posto em
questão a validade de um tratado, de uma lei do Congresso, ou de ato de
autoridade exercida em nome da nação, e a decisão tenha sido contra a sua
validade; 2.0) quando a validade de uma lei, decreto,ou autoridade de
Província se tivesse posto em questão, sob o pretexto de repugnar à
Constituição nacional, aos tratados e leis do Congresso, e a decisão
houveSse sido em favor da validade da lei ou do ato da autoridade de
Província 3.0) quando a inteligência de alguma cláusula da Constituição, ou
de um tratado, ou de uma lei do Congresso, ou de uma comissão exercida
em nome de autoridade nacional tivesse sido questionada, e a decisão,
contrária à validade do título, direito, privilégio, ou isenção, que se fundasse
na dita cláusula e fosse matéria do litígio.
No art. 16, a Lei n.º 48, prevendo o provimento do recurso, disse que a
Corte Suprema “fará una declaratoria sobre el punto disputado, y devolverá
la causa para que sea nuevamente juzgada ó bien resolverá sobre ei fondo, y
aún podrá ordenar la ejecución, especial-mente si la causa hubiese sido una
vez devuelta por idéntica razón”.
legislador argentino podia ter ficado no exame in iure, porém ousou alargar
o poder judicante da Corte Suprema.
Advirta-se, portanto~ em que às regras jurídicas do art. 119, III, a), b), c) e
d), não importa se a lei ou o ato administrativo é anterior à constituição, ou
posterior~ se se cogita da sua incidência na vigência da constituição de
1967, com a Emenda n. 1.
Resta saber-se até que ponto pode ir a cognição pelo Supremo Tribunal
Federal.
Onde quer que, com a técnica e a taxinomia dos recursos, se esteja a par dos
meios contemporâneos de direito processual (e, por sua origem e por sua
fixação doutrinária, os legisladores e juristas norte-americanos não
estiveram perto de tal auge), tudo aconselha que o Supremo Tribunal
Federal não transforme o recurso extraordinário em apelação.
Se a decisão dá provimento ao recurso e com ela não há mais nada para ser
julgado, porque o proferimento in iure esgota a matéria, com indeferimento
radical do pedido, claro que o pleito morre no Supremo Tribunal Federal.
Descendo os autos e pondo o juiz local o “cumpra-se”, conhecerá ele o teor
do julgado do Supremo Tribunal Federal, a que foram os autos, e verá que
nada mais lhe cabe dizer sobre o petitum. Se os autos não subiram, o
conhecimento do acórdão e das peças do recurso extraordinário, que lhe
vierem, bastará para que se certifique do corte total que resultou do julgado
in iure. Naturalmente, como acontece com os outros recursos, o provimento
contra os que não recorreram reabre-lhes a recorribilidade, se é o caso.
(b) Muitas vezes, dizendo o direito, o Supremo Tribunal Federal não exaure
o pedido. Pode ocorrer, por exemplo, que uma interpretação dê ao autor x, e
outra interpretação lhe dê y, devendo ser feita a aplicação de uma, em vez
da outra. O Supremo Tribunal Federal diz que a interpretação verdadeira é a
que dá y. Se, no exame da causa, toda a matéria de fato for apreciada e
somente quanto à interpretação é que importa decidir-se, o Supremo
Tribunal Federal, dizendo o direito, de certo modo decide a causa. Introduz-
se, aí, elemento oriundo do princípio de economia processual, que não
chega a ser revisio in facto, porém que é junção dos dois iudicia, o
cassatório, ou rescidente, e o rescisório. Por esse modo, a jurisdição do
Supremo Tribunal Federal aproxima-se do sistema alemão, afastando-se do
sistema francês, sem que deixe de ser simples reexame in iure, isto é, sem
cair em assimilação, à inglesa, entre a apelação e o recurso para o Supremo
Tribunal Federal. O que é essencial é que o Supremo Tribunal Federal tenha
a matéria de fato como definitivamente apreciada pelas jurisdições
inferiores, não lhe sendo permitido passar à apreciação de outros errores
iuris in iudicando, ou à crítica e reforma do julgamento das provas, pois a
cognição, que tem, é limitada ao ponto de direito, que serviu de fundamento
para a interposição do recurso extraordinário. Interposto esse, com base no
fundamento a), não pode o Supremo Tribunal Federal dele conhecer, com
base em b), ou em outra letra do art. 119, III, da Constituição de 1967, com
a Emenda n. 1, ou vice-versa. A fortiori, interposto o recurso extraordinário,
com invocação de uma, de algumas ou de todas as letras do art. 119, III,
usurparia funções das outras Justiças o Supremo Tribunal Federal, se,
aproveitando a oportunidade de lhe ser devolvido o conhecimento da
questão de direito, passasse ao exame in iure de outras questões, que não
foram objeto do recurso extraordinário, ou descesse ao exame in facto.
Se a regra jurídica a que se refere o recorrente é tida, por ele, como ius
dispositivum, ou não (= é cogente ou interpretativa), a disputa há de
restringir-se à indagação da qualidade da regra jurídica, ou acerca de quais
os elementos que lhe hão de compor o suporte fático. Passa-se o mesmo a
propósito da regra jurídica de que se afirma ou se nega ser ius
interpretativum.
Comecemos pela própria posse. Há quaestio iuris na decisão que negou seja
modo de aquisição da posse a tradição brevi manu, ou a tonga manu, ou o
constituto possessório, ou a posse de bem incorpóreo suscetível de
propriedade.
A sentença que previu qualquer regra jurídica sobre aquisição, sobre perda
e sobre tutela jurídica da propriedade imobiliária ou mobiliária de bem
corpóreo é atacável pelo recurso extraordinário e pode dar-se que o seja
pela própria ação rescisória. Qualquer infração de qualquer regra jurídica
contida na lei sobre o assunto pode ser alegada como fundamento de
recurso extraordinário. Por onde se vê que é vastíssimo o campo em que
pode ocorrer quaestio iuris, com a conseqüente interponibilidade de recurso
extraordinário.
b)A decisão pode ser de última instância ou de única instância se, quanto ao
ponto, em que há um dos pressupostos do art. 119, III, a), b), c), ou d), não
há mais recurso, posto que o haja quanto aos outros (e. g., 2.a Turma do
Supremo Tribunal Federal, 28 de outubro de 1947, D. da J. de 8 de
setembro de 1949).
É preciso todo cuidado com o trato das proposições insertas nos acórdãos e
nas notas taquigráficas do Supremo Tribunal Federal no tocante a recurso
extraordinário. O tom geral, a afirmação categórica, a respeito do recurso
extraordinário, pode iludir. Diz-se, como se conviesse a todas as espécies do
art. 119, III, da Constituição, o que só é pertinente a uma delas; ou se atribui
fim ao remédio recursal que só se pode referir a uma das espécies. Por outro
lado, alude-se, por vezes, à falta de fim prático da tese de direito (e. g., 1.a
Turma do Supremo Tribunal Federal, 28 de novembro de 1946 (R. F., 144,
112). Chegou-se já a emitir que não cabe recurso extraordinário, em caso de
divergência jurisprudencial, ou de violação da lei, se a decisão
“razoavelmente”interpretou regra jurídica da Constituição ou de lei federal
(L~ Turma, 5 de julho de 1951, D. da J. de 30 de março de 1953). A
Súmula 400 acolheu a trinca.
Para tribunal que julga quaestiones iuris, não é possível admitir-se que ache
razoáveis duas interpretações. Por mais razoáveis que sejam as
interpretações que se possam dar à mesma regra jurídica, só uma é
verdadeira, só uma tem razão.
a) O Supremo Tribunal Federal não pode ter dúvida sobre qualquer das
soluções, trate-se de recurso extraordinário com base no art. 119, III, a), no
art. 119, III, b), ou no art. 119, III, c), ou trate-se de recurso extraordinário
com base no art. 119, III, d).
b)O Supremo Tribunal Federal não está adstrito a aplicar a regra jurídica b,
em vez da regra jurídica a, se os fatos apreciados com determinado critério,
estranho às regras jurídicas, poderiam ser suporte fático da regra jurídica b,
cuja incidência não se discutira, nem foi pedida, pois apenas se negou
aplicação à regra jurídica a.
c)Se a decisão recorrida não aplicou a regra jurídica a porque, embora lhe
reconheça o suporte fático s, entendeu o prolator que s não estava completo,
não há pensar-se em aplicar o Supremo Tribunal Federal a regra jurídica a.
8)CoNcEITO DE LEI FEDERAL. Lei federal, no art. 119, III, a), b), e d), é
a lei que se fez para todo o Brasil, ou referente a interesse federal (e. g., a
exploração das minas na zona a). Esse interesse pode ser determinado
constitucionalmente, por exceção (e. g., Constituição de 1946, art. 25).
No art. 101, III, a), b), e d), lei federal é a lei de origem federal, isto é, a lei
que, no momento de incidir, teria de ser feita pelo Congresso Federal. O que
se leva em conta é a competência federal no momento em que incide a lei
federal.
A propósito das espécies do art. 119, III, d), é indiferente quando se deu a
interpretação divergente ou a divergida. Todavia, se a interpretação de que
se diverge fora dada ao tempo em que a lei interpretada era local, falta o
pressuposto da divergência de interpretações da mesma lei. A regra jurídica
é elemento de sistema lógico, que pode ser decisivo quanto à sua
inteligência: enquanto lei local, tinha de ser interpretada dentro do sistema
jurídico local; após tornar-se federal é que é preciso atender-se a que ela se
entrosa no sistema jurídico federal.
Por onde se vê que a origem federal é relevante, mas, se a lei deixara de ser
federal, não mais se discute a sua apreciação como lei federal, salvo se o
que se alega é que, ao ser feita, houve nulidade, por infringência da
Constituição daquele momento, porque essa questão se liga à lei como regra
jurídica federal, tal como nascera, e não à lei local, como se quisera depois
aplicar. Assim, se o tribunal reputou nula, por ser contrária à Constituição
de 1891, a lei que se fizera como parte do direito processual civil do
Distrito Federal, e se argúi que a lei não valia e, pois, não vale hoje, após a
mudança da competência para se legislar sobre direito processual civil, o
recurso extraordinário cabe, porque a quaestto iuris é relativa ao momento
em que se fizera a lei.
(d)Na espécie do art. 119, III, b), já não há a alusão a controvérsia, que
havia em 1946. Corrigiu-se o texto que criticáramos. Fazer, em tal matéria,
pressuposto do recurso, ter havido discordância, seria absurdo. Pena é que o
legislador constituinte (j quanto falta em nosso pais o gosto de fazer boas
leis, de terminologia e técnica cada vez melhores, e quanto sobra a ânsia de
fazê-las a mancheias, assoberbantemente, sem meditação e sem medida!)
não tivesse aproveitado o ensejo para limpar de tais escórias o texto
constitucional. Indiferente à lição da melhor jurisprudência e da doutrina,
permitiu que aos leigos o inciso III, b) e c) diga o que não diz. Se, na
decisão de última ou única instância, sem se haver “questionado” sobre a
disposição de tratado ou lei federal, ou sobre a
Sempre que tribunal faz irrecorrivel sentença que o não é e não há recurso
que não seja o constitucional, deixou necessariamente de aplicar lei federal,
e cabe, a mais, por si mesmo, o recurso extraordinário. Por outro lado, nada
obsta a que no mesmo pedido se invoquem dois ou mais textos da
Constituição, ou que se interponham tantos recursos quantos os
fundamentos, não sendo difícil o caso de, sobre determinado ponto, haver
mais de um recurso, isto é, mais de um fundamento.
Se da decisão proferida pelo tribunal nenhum recurso cabe, trata-se de
instância única. Nem por isso é obstado o recurso extraordinário. Se há duas
ou mais instâncias, não importa se a decisão se deu em grau de agravo ou
de apelação, de embargos infringentes do julgado, ou em prejulgado, ou em
embargos de declaração, ou durante o processo na primeira instância, se da
decisão não se concede recurso, ou durante o processo de superior instância,
se recurso não existe, ou durante o processo da execução, ou da liquidação.
ação rescisória não pode ser admitida fora dos casos taxativamente
enumerados no art. 680 do Reg. n. 737.” O
Reg. n. 737, de 25 de novembro de 1850, era uma lei processual, uma lei de
direito judiciário, portanto o contrário de uma lei de direito civil, a que o
Procurador-Geral da República chamou de direito substantivo. Ainda que
nele não estivesse inserta a regra sobre pressupostos, seria de direito
judicial, porque isso é essencial à rescisão das sentenças, que são prestações
jurisdicionais. A Ordenação Filipina do Livro III, Título 75, pr., era de
direito público, de direito material, pré-processual, e formal (processual),
como o art. 681 do Reg. n. 737. Se os pressupostos da ação rescisória eram
de direito material, seriam de direito judicial material, e não de direito civil,
a despeito do heterotópico art. 178, § 10, VIII, do Código Civil.
provinda, como lei federal, do Poder Legislativo federal; nos casos da regra
jurídica d), a decisão quebra a linha de uniforme interpretação da lei que,
embora destinada a reger dentro do Distrito Federal, ou de Território, ou de
ambos, fora elaborada pelo Poder Legislativo federal e, pois, por força da
Constituição, de incidência, em sua interpretação, que interessa ao
Congresso Nacional. Contra a admissão do recurso extraordinário, se a lei,
embora de origem federal, é local, a 2ª Turma do Supremo Tribunal
Federal, a 20 de maio de 1947 (R. F., 115, 84). Mas sem razão. Se a lei é,
por sua origem, federal, e na data da sua pretendida incidência mantém a
ligação à sua procedência, a federalidade da lei impõe aos juizes do
Supremo Tribunal Federal que defendam o interesse federal na aplicação ou
na validade da lei. Se a lei local fora federal por sua origem e o deixou de
ser espécie que é assaz importante depois da mudança da Capital da
República, quando leis locais, federais por sua origem, deixam de ser
ligadas a essa origem não há mais a pretensão à tutela jurídica recursal da
Constituição de 1967, com a Emenda n. 1, art. 119, III, a), b) e d).
A lei processual civil é a lei federal. Ela é que diz se produziu, ou não, a
coisa julgada formal. Tal regra jurídica pode dar ensejo a recurso
extraordinário com base no art. 119, III, a), ou no art. 119, III, b), ou no art.
119, III, c), ou no art. 119, III, d). Somente se há de exigir a questão seja
apenas quaestio iuris.
Idem, o habeas-corpus.
Na Constituição de 1937, havia o art. 32, c), que vedava à União, aos
Estado5~membros e aos Municípios tributar bens, rendas e serviços uns dos
outros; porém não mais a. regra jurídica do art. 17, VII, da Constituição de
1934, que proibia tributar atos jurídicos perfeitos (não retroatividade das
leis fiscais). Assim, tivemos: a) Não podiam ser tributados pela União os
atos que fossem da Justiça local. Excluídos, pois, da proibição os que ela
praticasse (e. g., se ao presidente do Tribunal de Apelação tivesse de ser
endereçada a petição) em ato federai.
(b) Se, porém, a quaestio facti tem de ser decidida de maneira diferente
daquela pela qual o tribunal recorrido decidira, nenhuma cognição tem
quanto a isso o Supremo Tribunal Federal. O exemplo esclarece
plenamente: otribunal recorrido ou o juiz recorrido entendera ser preclusivo
o prazo; por isso, se abstivera de julgar a questio jacti da prescrição. O
Supremo Tribunal Federal, julgando ser prescripcional o prazo, não pode
decidir a quaestio facti, concernente ao ter havido interrupção do prazo
prescripcional, para a qual só seria competente o tribunal ou juiz de cuja
decisão se recorrera.
O acórdão não precisa ser sobre o mérito; salvo quando atinente a mandado
de segurança, se há pressuposto do art. 308, IV, in fine.
101, III; de 1946, art. 101, III; de 1967, art. 114, III, e com a Emenda n.1,
art. 119, III), mantiveram a denominação. Houve inovações que não
persistiram: o Decreto n. 23.055, de 9 de agosto de 1933, art. 1.0, que
cogitou do recurso extraordinário ex ali icio que, em determinados casos,
seria interponivel pelo próprio presidente do Tribunal local ou da Câmara
julgadora; a Constituição de 1934, art. 76, parágrafo único, que permitia, se
o caso era de diversidade de interpretação de lei federal entre as justiças
estaduais ou entre algumas delas e a Corte Suprema, ou outro tribunal
federal, que o inter-pusesse o presidente do Tribunal local ou o Ministério
Público. As Constituições posteriores afastaram tal legitimação processual
ativa.
Para que caiba recurso extraordinário, é preciso que não haja outro recurso
que possa ser interposto. Se há um, dois ou mais pontos a respeito dos quais
se pode recorrer, e outro ou outros de que não mais há interponibilidade,
quanto a esse ou esses é que se pode interpor recurso extraordinário.
Pode ser interposto por adesão o recurso extraordinário (art. 500, II, in fine).
Para fundamento no art. 119, III, a), basta que se contrarie regra jurídica
federal, ou negue vigência a cláusula de tratado ou lei federal. Para o
fundamento no art. 119, III, b), o que se exige é a desconstitutividade da
decisão, que atinja tratado ou lei federal. Embora não tivesse mencionado
os tratados, o art. 101, III, b), da Constituição de 1946, era o que se havia de
entender, uma vez que os tratados têm ratificação por lei. A Constituição
vigente atendeu ao que mencionamos com explicitude. Para o fundamento
no art. 119, III, c), é de mister que se haja contestado a ‘validade de lei ou
ato de poder local, e o juiz ou tribunal se haja pronunciado pela validade.
problema não é tão simples quanto tem parecido. Merece, pois, certos
esclarecimentos. Desde já observemos que o primeiro caso se subsumia no
segundo, sob as Constituições de 1934 e de 1937; porque a Constituição é
lei federal e a mais importante delas, por sua superioridade e rigidez. O
texto de 1946 teve o sentido de explicitação da interpretação que déramos
àqueles textos.
(b) O segundo caso não constava da Constituição de 1891, nem tem símile
na Constituição norte-americana.
Como, ~se a lei, aí, se choca consigo mesma, com os princípios que a
levantam e a informam? (Sobre a impertinência desses métodos, nosso
escrito Subjektivismus und Voluntarismus im Recht, Archiv flir Rechtsund
Wirtschaltsphilosophie, 16, 522-543). O que nos cumpre é tomar a
Constituição como um todo e procurar, com lealdade e segurança, a
proposição mais ajustável, mais conciliável com os seus princípios. Os mais
relevantes deles são os que assentam que a Justiça da União e a dos Estados
membros não podem reciprocamente intervir em questões submetidas aos
tribunais e juizes respectivos, nem lhes reformar, alterar ou suspender as
decisões ou ordens, salvo os casos expressos na Constituição (o que, de si
só, faria de interpretação estrita a letra a) do art.
Porém não nos esqueça que temos de procurar as atitudes mentais que
possam salvar o texto errôneo na sua difícil adequação aos fatos da vida. Na
esteira da nossa crítica ao texto de 1946, retirou-se a referência a
literalidade.
sistema jurídico é que faz refletir-se nas esferas jurídicas de cada um dos
direitos, pretensões, ações, exceções, deveres obrigações, que dependem
portanto da integridade do sistema jurídico. A afirmação de que, a despeito
da lacuna da lei (lacuna que, então, seria aparente, isto é, somente
considerado o texto em relação ao conteúdo das proposições que nele se
formulam), existe a regra jurídica, implica que se afirme existirem direitos,
pretensões, ações, exceções, deveres e obrigações, que, sem ser verdadeira
aquela afirmação, não existiriam. Ora, o recurso extraordinário, conforme a
regra a) do art. 119, III, tem o fito mesmo de inteireza positiva do sistema
jurídico. Tanto é dizer-se que a regra jurídica r não existe, ou existe outra
regra jurídica, digamos r’, como decidir que existe a regra jurídica que se
alega não existir no sistema jurídico e necessariamente limitaria direitos,
pretensões, ações, exceções, deveres e obrigações.
Além disso, nos casos de omissão, os juizes podem entender que cabe a
regra jurídica r, ou a regra jurídica r, ou r, ou s ou t. Se dois tribunais
discordam, em única ou última instância, caberia o recurso extraordinário
do art.
119, III, d); mas, antes de tal discordância, seria de repelir-se que não há
meio jurídico recursal para se restabelecer a inteireza positiva do sistema
jurídico.
O caso mais notável da antiga Corte Suprema, e até hoje, a respeito do art.
76, 2), III, a), da Constituição de 1934
Ainda há o caso de texto sem conteúdo; e de texto de conteúdo nulo por ser
contra princípio ou regra jurídica constitucional art. 119, III, b) e c) ou
contra outra regra de lei ordinária, de que adiante trataremos.
Há mais: o recurso extraordinário com base no art. 119, III, d), quando a
interpretação de um tribunal ou juiz diverge da interpretação adotada por
outro tribunal ou juiz, ou pelo Supremo Tribunal Federal. Dois ou mais
sentidos; um só texto. Irreflexão é pretender-se que não possam ambos os
tribunais, ou mais de dois, seguir a
II. Praeter legem. Aqui, o juiz decide sem a lei, mas junto (mediatamente) à
lei. De antemão, cumpre notar-se que o ius não corresponde, em extensão, à
lei. O conhecimento da lei é conhecimento indireto, imperfeito e parcial do
direito, porque a lei não é todo o conteúdo efetivo do sistema jurídico, como
o documento constitui simples elemento de cognição indireta, e não o
conteúdo efetivo da história. Dai a diferença especifica entre os que
interpretam a lei e pretendem construir ciência de raciocínio e os que
revocam a indagação jurídica à trilha da observação (análise), da indução e
da experiência. Leis escritas nada mais são do que traços exteriores, mais
ou menos acidentais, do conteúdo real do direito objetivo; de maneira que
há mister extrair toda a soma de realidade que elas representam, sem nos
privarmos de buscar, fora das leis, tudo que possa completar a porção,
talvez pequena, que delas tiramos. Pode ocorrer:
b) Que todo o direito e mais do que todo o direito esteja na lei, ou, pelo
contrário, que pouco se lhe encontre ou quase tudo esteja noutras fontes e
manifestações da realidade e da verdade jurídicas: lex>ius, ou lex<ius, isto
é, no último caso, lei menor, e, no primeiro, o que seria difícil, maior que o
direito, salvo em caso de lei nula.
Quem fala de clareza da lei ou alude ao que, segundo a letra da lei, está
dito, ou ao que, segundo o que se pode entender dentro do sistema, nela se
disse. Portanto, é de perguntar-se: ~,clara, relativamente ao que
gramaticalmente se há de ler, sem se atender ao que, conforme o sistema
jurídico, se há de entender, ou clara, relativamente ao que, tendo-se como
elemento inserto no sistema jurídico, ela diz? Um exemplo basta: é clara, no
primeiro sentido, a regra jurídica do art. 178, § 10, VIII, do Código Civil,
onde se estabelecia que “prescreve” em cinco anos “o direito de propor
ação rescisória” (= o direito de propor ação rescisória “precluía” em cinco
anos); mas tal clareza não nos interessa, o que se há de ler nas palavras
inadequadas que se empregaram e em lugar inadequado que se escolheu é
muito diferente do que a interpretação do texto nos diria, ao certo:
Ainda quando o juiz decide contra legem scriptam, não viola o direito, se a
sua decisão corresponde ao que se reputa o Direito. O absolutismo da
correlação necessária entre texto e direito, que o Estado absoluto pregara, o
Estado constitucional herdou e as chamadas escolas positivistas receberam
como realidade social permanente, por falta de conhecimento sociológico,
foi apenas (mas só hoje se verifica) aspecto de determinado momento
histórico.
O princípio de que o juiz está sujeito à lei é, ainda onde o meteram nas
Constituições, algo de “guia de viajante”, de itinerário, que muito serve,
porém não sempre. Equivale a inserirem-se nos regulamentos de fábrica
princípios de física, a que se devem subordinar as máquinas: a alteração há
de ser nas máquinas. Se entendemos que a palavra “lei” substitui a que lá
devera estar, “direito”, já muda de figura. Porque direito é conceito
sociológico, a que o juiz se subordina pelo fato mesmo de ser instrumento
da realização dele. Esse é o verdadeiro conteúdo do juramento do juiz,
quando promete respeitar e assegurar a lei. Se o conteúdo fosse o de impor
a “letra” legal, e só ela, aos fatos, a função judicial não corresponderia
àquilo para que foi criada: realizar o direito objetivo, apaziguar. Seria a
perfeição em matéria de braço mecânico do legislador, braço sem cabeça,
sem inteligência, sem discernimento; mas anti-social e como a lei e a
jurisdição servem à sociedade absurda. Além disso, violaria, eventualmente,
todos os processos de adaptação da própria vida social, porque só a eles,
fosse a ~tica, fosse a Ciência, fosse a Religião, respeitaria, se coincidissem
com o papel escrito.
Toda regra de qualquer procedência que seja, tida como convicção jurídica
e, na prática (trate-se de doutrina ou de decisão judicial), realizável, de
preferência a outras que a excluiriam, ou modificariam é Direito.
Mas (dir-se-á) não é ao Direito que o art. 119, III, a), se refere: usa ele,
insofismavelmente, de expressão que somente poderia corresponder a texto
legal, a lei (no sentido estrito), a letra da lei, a literalidade. Fácil dito.
“Lei” está, no art. 119, III, a), como no art. 119, III, b), e) e d), em lugar de
“regra jurídica”. Não se cogitou somente da regra jurídica legal (= feita pelo
Poder Legislativo), mas sim de qualquer regra jurídica.
b) Em todos os casos em que as justiças, em única ou última instância,
decidem contra legem, desde que exista a regra jurídica que se deixou de
aplicar, cabe o recurso extraordinário do art. 119, III, a); salvo se a decisão
deixou de aplicá-la por entender que não tem vigência (estar revogada,
derrogada, ou ainda não em vigor, ou suspensa, ou não va7er), em face da
Constituição a lei federal, ou, se assim procedeu, tratando-se de lei ou de
ato dos governos locais, por então não valer, em face da Constituição ou de
lei federal, a lei federal, porque, nos dois casos, respectivamente, os
recursos extraordinários mais próprios são os das regras b) e c). Mais
próprios, dissemos, pois o recurso extraordinário do art. 119, III, a), é mais
vasto que os recursos extraordinários das regras b) e c) do referido artigo,
bem como da letra d), e interposto devidamente não podem as justiças
deixar de atender à interposição nem o Supremo Tribunal Federal de
conhecer dele e julgá-lo, pelo simples fato de ter sido possível a
interposição de outro que nele se subsume. Mas a petição de recurso
extraordinário não necessita ser muito precisa: bastam as simples
referências ao texto constitucional e à regra jurídica de que se trata. Isso não
quer dizer que não possa haver petições ineptas de recurso extraordinário.
Qualificação jurídica está, aí, por suporte fático; mas o suporte fático há de
ser o suporte de alguma regra jurídica: se atribui à regra jurídica suporte
fático que não o seu, nega-se a regra jurídica em sua extensão.
Como se sabe, o art. 3, alínea 3~, do Código Civil francês só se referiu à lei
que havia de reger o estado e a capacidade dos franceses, ainda que
residentes no estrangeiro. Não havia regra jurídica escrita sobre a lei que
rege o estado e a capacidade dos estrangeiros. Pois bem: a Corte de
Cassação, que se abstinha de conhecer das violações do princípio não-
escrito sobre o estado e a capacidade dos estrangeiros (Cass. Civ., 17 de
julho de 1833), cassou, ao depois, certo julgado da Corte de Apelação, que
entendera não aplicar ao estrangeiro, quanto à capacidade, a lex patriae
(Cass. Civ., 28 de fevereiro de 1860). E outros casos tais se sucederam.
A respeito do art. 101, III, a), da Constituição de 1946, não havia, sequer, as
expressões “quando se questionar” e
“quando se contestar” que apareciam no art. 101, III, b) e c). De modo que
seria impertinência exigir-se que se houvesse discutido a infringibilidade da
regra jurídica: o que importava e importa é a violação mesma (1 ~a Turma
do Supremo Tribunal Federal, 6 de agosto de 1951, A. J., 100, 272).
Aliás, em sistema jurídico que tem o principio lura novit curia, seria
absurdo que se não desse o recurso extraordinário contra a decisão do
tribunal que, sem alegação contrária, deixou de aplicar regra jurídica
federal, ou aplicou regra jurídica, não referida, por entender não ser
contrária à Constituição, ou à lei federal, a despeito de não se lhe haver
“contestado” a validade. 1967, com a Emenda n. 1, art. 119, III, a) têm-se
de considerar incluídas a decisão que nega a existência e a decisão que nega
a eficácia da regra jurídica constitucional, ou de lei federal, ou de cláusula
de tratado. São, nesses pontos, decisões declarativas, à diferença das
decisões de que cogita o art. 119, III, b), que são constitutivas negativas.
c) Deixa de aplicar a lei federal por ineficácia o juízo ou tribunal que lhe
nega incidibilidade no passado, ou no presente (ainda não começou a
vigência), ou no futuro (a lei foi para incidência sob condição ou a termo, e
já passou a oportunidade).
4)NEGAÇÃO DE VALIDADE À LEI FEDERAL OU DE TRATADO
PERA1~TE A CONsTITUIçÃO E NÃO-APLICAÇÃO DA REGRA
JURIDICA. A segunda espécie é a de quando se trata de validade de lei
federal ou de tratado em face da Constituição, e a decisão do tribunal ou
juiz negar aplicação à lei impugnada.
Os tratados, vistos pelo Poder Judiciário, são leis. Neles pode haver texto de
que resulte direito ou pretensão; neles, portanto, se podem fundar ações.
Também ao tratado, como a qualquer lei, se exige ser de validade perante o
direito constitucional. Mais do que ele são as emendas à Constituição, e
ninguém lhes abre a exceção de poderem ser elaboradas ou simplesmente
admitidas contra a Constituição vigente. A cláusula do tratado que infringe
a Constituição é nula. Daí, proferido pelo Poder Judiciário o julgamento de
inconstitucionalidade, ser possível, se foi suscitada, a deliberação do art. 42,
VII, da Constituição. Suspensa a execução, segundo o art. 42, VII, a
aplicação da lei suspensa é infração desse principio constitucional.
A cláusula do tratado pode ser nula, por ser com Agrária à Constituição de
1967, com a Emenda n. 1, ou ter sido contrária a alguma das Constituições
anteriores. Também pode ser contrária a alguma das Constituições
anteriores a lei que aprovou o tratado. Em qualquer das espécies, cabe o
recurso extraordinário.
Mas é força que se não viole qualquer regra jurídica das Constituições
federal e estadual, notada-mente o art.
9•o, 1, 2Y~ parte, daquela, onde se diz que é vedado à União, aos Estados-
membros, ao Distrito Federal e aos Municípios criarem preferências em
favor de umas contra outras unidades, e o art. 20, III, onde se proíbe aos
Estados-membros, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecerem
diferença tributária, em razão da procedência, ou destino, entre bens de
qualquer natureza.
Por certo, a respeito dos tratados como das leis em geral, deve o Poder
Judiciário afastar-se, tanto quanto possível, das apreciações do intrínseco,
que redundariam em apreciações do exercício mesmo da discricionariedade;
mas os limites do poder político (A. LAWRENCE LOWELL, Essays on
Government, 103), esses ficam sujeitos à investigação judicial.
Vigência da lei é o tempo em que ela incide, em que se diz que tem
incidência. A vigência da lei é marcada pelo momento em que começa a ser
lei, e, pois, substitui outra (revoga, ab-roga, derroga), ou cria direito novo, e
pelo momento em que acaba a sua incidência, o seu vigor. A lei pode ter
sido feita com todo o respeito das linhas discriminadoras das competências
legislativas, com todas as participações de órgãos que se lhe haviam de
exigir e com todas as formalidades constitucionais, legislativas e
regulamentares, porém ainda, ou ~á não estar em vigor, ainda, ou ji não ser
aplicável. A Constituição de 1934 separara, nitidamente, validade e
vigência, e é de notar-se que, no art. 76, 2), III, c), não se falava da vigência
da lei ou ato dos governos locais em face da Constituição estadual e das leis
estaduais; o que se verificava era a validade das leis estaduais e dos atos dos
governos locais. Seguia-a, à risca, a Constituição de 1937, art. 101, III, b).
(No caso de ser a Constituição estadual ou a lei local que por modo tal
determina a vigência que se infringe algum texto da Constituição federal,
cabe o recurso extraordinário, porque se trata de validade de lei ou ato dos
governos locais sobre vigência, e não, propriamente, de vigência de lei ou
de vigência de ato dos governos locais.) No art. 101, III, b) e c), da
Constituição de 1946, só se falou de validade. Ficou, assim, explícito que
tinha de haver, necessariamente, na sentença, de que se recorre, decisão, em
preliminar, ou não, sobre a invalidade da regra jurídica federal (art. 101, III,
b), ou sobre a validade da regra jurídica local (art. 101, III, c). Dir-se-á que,
desse jeito, não há pensar-se em recurso extraordinário se a decisão de que
se quer recorrer não nega a validade da regra jurídica federal. Com a
invocação do art. 101, III, b), não. Mas tal espécie entrara na regra jurídica
do art. 101, III, a), porque diminuir-se o tempo de incidência, ou espaço de
incidência da regra jurídica federal, é decidir-se contra a regra jurídica
federal. Talvez se compusessem os pressupostos para a interposição do
recurso extraordinário do art. 101, III, d).
Quanto à espécie do art. 101, III, c), para que o caso da vigência viesse à
balha, e provocasse a situação aí prevista, seria preciso que a decisão
relativa à vigência ofendesse à lei federal (e. g., ofendesse o art. 141, § 3•0,
da Constituição de 1946). Aliás, se a decisão recorrenda, na espécie do art.
101, III, b), dissera que seria contrária à Constituição ou alguma lei a regra
jurídica federal, por se lhe atribuir vigência que não poderia ter, estava em
causa a invalidade, como elemento pré ejiminante de vigência.
Presidente da República pode vetar como quiser; o que ele não pode é pôr
em vigor trecho que o legislador não concebeu. As justiças e,
eventualmente, ao Senado cumpre evitar que se aplique o texto que não é
lei. Ainda se há de perguntar qual a solução se o Presidente da República,
vetando uma parte (palavra, ou proposição), não promulga e não publica o
resto, por entender que o veto a atingiu. Quem diz até onde vai o veto é o
Presidente da República: se, vetando a palavra “principal”, ou toda a
segunda proposição lógica do art. 87 do Código Civil de 1916 (“o objeto
principal da declaração”), não promulgou o resto, foi porque em verdade
vetou todo o art. 87, posto que pelo só motivo de conter a expressão ou a
proposição apontada (dita talvez “vetada”, por defeito de terminologia). As
regras são, portanto, as seguintes: se podia entrar em vigor a parte do artigo,
responde o conteúdo mesmo do projeto parcial-mente vetado, porque ao
que disse o legislador é que se há de buscar resposta à nossa questão, que é
assim concebida disse o legislador o que fica do artigo, tirada a parte
vetada? Se o Presidente da República, vetando uma parte, não promulgou o
resto, vetou tudo que não promulgou. Ele é que é juiz da extensão positiva
do veto; o texto do projeto é que decide sobre a extensão negativa do veto
parcial: aquele diz até onde vai o veto, e a não-promulgação é mais forte
que a fundamentação, razão por que o Presidente da Câmara dos
Deputados, ou o Presidente do Senado (Constituição de 1967, com a
Emenda n. 1, art.
A.A parte invocou lei federal (invocação explícita ou implícita, isso não
importa) e a outra implícita ou explicitamente a reputou por não válida
como lei, ou pela incidência que se sustenta.
a)A fonte da letra c) está no Judiciary Act de 1789, onde se diz. “where is
dirawn in question the validity of a statute of, or an authority exercised
under any State, on the ground of their being repugnant to the Constitution,
treaties or laws of the United States, and the decision is in favour of such
their validity”. Repare-se em que, no texto brasileiro, se não repetiu a
expressão vigência, de modo que, nesse ponto, os dois textos, norte-
americano e brasileiro, conceptualmente coincidem.
a)A decisão tem de ser judicial para que se possa interpor recurso
extraordinário. Mas, enquanto a Constituição de 1891, arts. 59-60, § 1.0, b),
falava de “decisão do tribunal do Estado”, e a Constituição de 1934, art. 76,
2), III, c), de “decisão do tribunal local” (idem, a Constituição de 1937, art.
101, III, e), a Constituição de 1946 acertadamente deixou de limitar o
recurso extraordinário com fundamento no art. 101, III, e), para atender a
que a decisão por tribunal federal seria igualmente nociva. A Constituição
de 1967, com a Emenda n. 1, seguiu a mesma trilha.
Mas penso que a União estaria em perigo, se não pudesse fazer essa
decretação quanto às leis dos diversos Estados.” Isto é, talvez, no tocante à
Justiça, o ponto único em que a federação ficaria comprometida.
Leis e atos municipais são, também, leis e atos locais (Supremo Tribunal
Federal, 9 de dezembro de 1896).
d)A Constituição, no art. 119, III, c), fala de lei ou ato do governo local. A
expressão “governo” não é feliz.
O Ministro OTÁVIO KELLY não conhecia do recurso, por lhe parecer que
só estavam em causa a Constituição e a legislação fluminenses. É de notar-
se que, segundo prática que fora mais acertado corrigir-se, qual a de se
superporem argumentos de inconstitucionalidade estadual, ou de
ilegalidade, ao argumento de inconstitucionalidade federal, o relator
discutiu o que lhe não cumpria discutir, isto é, se o Procurador-Geral podia,
de acordo com a Constituição estadual, ou com a legislação estadual,
remover, ou não, o membro do Ministério Público. A Corte Suprema só
teria cognição para apreciar se o ato ou se a lei valia, ou não, em face da
Constituição federal. O que lhe cumpria era dizer se o ato do Procurador-
Geral infringia ou não infringia o art. 7•O, 1, e), ~n une, da Constituição de
1934, ocasião excelente para terem expendido consideração de proveito
sobre a interpretação das garantias a que se referia a Constituição federal,
quer dizer ao mínimo de garantias que os Estados-membros, nas suas
Constituições e nas suas leis, eram obrigados a conferir aos membros do
Ministério Público. In casu, a remoção implicou rebaixamento de categoria,
o que constituía, evidentemente, infração do art. 7•O, 1, c), in fine, da
Constituição de 1934, com um julgado, que o não reconhecia, da Justiça
local, pressuposto suficiente para a interposição do recurso extraordinário,
com fundamento no art. 76, 2), III, c), da Constituição de 1934, hoje, art.
119, III, c). Muito ganharia a Justiça, mais ainda a doutrina, se o Supremo
Tribunal Federal, no exercício da sua altíssima missão de tribunal julgador
dos recursos extraordinários, se limitasse, nas decisões e nas próprias
discussões, à matéria da sua competência. Quando começa o relator a
submeter ao Supremo Tribunal Federal considerações que escapam à sua
cognição, não só perturba a clareza com que devem ser apresentadas as
premissas de um julgamento tão delicado, qual o da constitucionalidade das
leis e dos atos dos poderes públicos, como também leva os demais juizes a
opinarem sobre matéria que lhes não pertence conhecer. Os casos em que
isso tem ocorrido são muitos. No mesmo Recurso extraordinário n. 2.880, o
Ministro CARVALHO MOURÃO chamou a atenção para o deslocamento
da questão• “Se, em vez de determinar que os Promotores seriam
classificados pelas comarcas em que se encontravam, a Constituição
estadual tivesse fixado que o seriam pela respectiva antiguidade, por
exemplo, éter se ia violado a Carta Magna? Evidentemente não. Nem o art.
7~o, na letra mencionada, nem o art. 95 dispõem, de modo algum, que as
garantias do Ministério Público local sejam essas ou aquelas. Tanto assim é
que todos os nobres colegas, ao fundamentarem os seus votos, depois de se
referirem à Constituição federal, passando sobre de leve como asa de
andorinha, se basearam quase que exclusivamente na Constituição estadual
e nas leis locais. Desejaria que, de conformidade com o que dispõe a Lei n.
221, que justifica somente o recurso extraordinário quando em causa a
Constituição ou a lei federal, ..., fizessem abstração das leis estaduais, e,
ainda assim, fundamentassem a sua opinião.” A um ministro que dissera
declarar a Constituição que os Promotores seriam classificados segundo as
comarcas onde foram encontrados, isto é, onde estavam, respondeu o
Ministro CARVALHO MOURÃO: “Vossa Excelência está citando a
Constituição estadual.” E acrescentou: “A verdade verdadeira é que o ato é
ilegal, mas só o é em face da legislação local. Ora, não devo tomar
conhecimento do recurso extraordinário fundado em semelhante
ilegalidade. O caso está afeto à competência exclusiva da Justiça local. De
fato, o recurso extraordinário apenas tem por fim manter a preeminência, o
vigor, ou a eficiência da lei federal. Toda vez que a lei federal não está em
jogo não cabe o recurso extraordinário, não tem ele razão de ser.” Iii casu,
os Ministros OTÁVIO
KELLY e CARVALHO MouRÃo não tinham base para afastar a hipótese
da violação à Constituição federal: acertado foi o julgado da Corte
Suprema. Ainda assim, havemos de pôr em relevo que somente eles
chamaram a atenção para a necessidade de se discutir o ponto único da
cognição da Corte, de modo que o acórdão resolveu bem, sem ter dito por
que resolvia, ou, o que é pior, acumulando argumentos estranhos à matéria.
Desde que se conhecera do recurso extraordinário, e só o podiam fazer,
como fizeram, com fundamento no art. 76, 2), III, c), haviam de assentar se
o ato da autoridade local infringira ou não o art. 7~O, 1, e), da Constituição
de 1934. Ora, a simples remoção não constituiria infração e, se acertado foi
o julgado da Corte Suprema, deve-o, apenas, à circunstância de conter o ato
impugnado e considerado válido pela Justiça local, além da remoção, o
rebaixamento. Se rebaixamento não tivesse havido, só estaria em causa a
remoção e, se valia, ou não, perante a Constituição estadual, ou perante as
leis estaduais, era assunto que escapava totalmente à cognição da então
Corte Suprema.
e)Já vimos que “lei federal”, no art. 119, III, na espécie c), quer nas demais
espécies, também, é a lei federal em razão da sua origem, e não só em razão
da sua função ou incidência espacial. Assim, a lei federal, nos casos da
espécie c), como das demais, pode ser a lei de organização judiciária do
Distrito Federal ou de algum Território. Resta saber-se na expressão “lei ou
ato dos governos locais” se inclui a lei local, cuja origem é federal. Mais
concretamente:
Se a lei que está em causa, por ser tida como válida, diante da Constituição
ou de outra lei federal, é da espécie (a), não há pensar-se em possibilidade
de recurso extraordinário com base no art. 119, III, c), da Constituição de
1967, ~com a Emenda n. 1. Poderiam o que são outros problemas perfazer-
se os pressupostos do art. 119, III, a) ou b), ou d). Se a lei que está em
causa, por ser dita por válida, diante
~da Constituição ou de outra lei federal, é lei da espécie (b), não cabe o
recurso extraordinário do art. 119, III, c); é de origem federal persistente e
de incidência local, precisamente por sua função local.
Se a lei que está em causa, por ser tida como válida, diante da Constituição,
ou de outra lei federal, é lei da espécie (c), é cabível o recurso
extraordinário, com base no art. 119, III, c), pois, a despeito da origem, é
local a lei.
Se a lei que está em causa, por ser tida por válida, diante da Constituição ou
de outra lei federal, é lei da espécie (d), já seria inadequado o recurso
extraordinário com base no art. 119, III, c), da Constituição de 1967.
c) É preciso que se haja impugnado o ato ou a lei local, antes do
julgamento? Disse o relator do Recurso extraordinário n. 6.709 (Corte
Suprema, 18 de novembro de 1936): “É verdade que a parte, na petição de
recurso extraordinário e na minuta da carta testemunhável, argüil a
inconstitucionalidade de um decreto-lei do governo local, que foi aplicado
pela Corte de Apelação. Mas a argüição devia ter sido anterior ao
julgamento, porque a Constituição de 1934v no art. 76, 2), III, c), admite o
recurso quando se haja contestado a validade de lei ou de ato dos governos
locais em face da Constituição, e a decisão do tribunal local julgue válido o
ato ou a lei impugnada. Ora, os testemunhantes não fizeram transcrever na
carta os embargos de declaração,. para se verificar se neles foi agitada a
questão constitucional. E o Sr. Desembargador Presidente da Corte de
Apelação, no seu despacho, informa que não se discutiu a
constitucionalidade, ou não, da lei paulista de 2 de maio do corrente ano.
Aliás, o relator do Recurso extraordinário n. 6.709 disse que a Constituição
só admitia o recurso “quando se havia contestado a validade da lei ou ato
dos governos locais”. Não era o que dizia o art.
a) O autor invocara a lei local e, argüida, pelo réu, a nulidade da lei local,
por inconstitucionalidade, ou infração de lei federal, o juiz decidira ser
válida a lei local. O autor não pode exercer a pretensão do recurso
extraordinário; pode exercê-la o réu.
b)O autor pedira a aplicação da Constituição, ou de regra de lei federal, por
entender ser contra aquela, ou contra essa, a lei local, e o juiz, de ofício, ou
atendendo a alegação do réu, ou do órgão do Ministério Público, ou de
outra parte, ou de parte de ofício, julgou válida a lei local. O réu não tem a
pretensão do recurso extraordinário; tem-na o autor.
c)Nem o autor pedira a aplicação da lei local, nem a pedira o réu, mas o juiz
(lura novit curia!) aplicou-a. O
c)Importa, na espécie c) do art. 119, III, que se haja conferido com regra
jurídica constitucional, ou com regra jurídica ordinária federal, regra
jurídica local ou ato de governo local. Para que caiba o recurso
extraordinário (= para que do recurso extraordinário se possa e se deva
conhecer), é preciso que se juntem os seguintes pressupostos: a) que haja
duas regras jurídicas, uma local e outra federal; b) que haja choque entre
elas; c) que a decisão haja sido pela validade da regra jurídica local.
Também se supõe o princípio de hierarquia das regras jurídicas. Convém,
todavia, que dele não se deduza, nem se tenha por implícito, que a lei
federal passa antes da lei local. A lei federal passa antes da lei local se, na
espécie, a regra jurídica, segundo a repartição das competências que se fez
na Constituição, teria de ser federal. No fundo, o art. 119, III, c), com o
recurso extraordinário atribuído a quem tem interesse em que se decrete a
invalidade da regra jurídica local, permitiu praevia quaestio, que é a de ser
competente, na espécie, para legislar, a União.
d)Importa, na espécie d), a comparação (não a conferência de uma regra
jurídica por outra) entre interpretações divergentes da mesma regra jurídica.
Em relação à espécie do art. 119, III, d), há comparação, posto que uma só a
regra jurídica, ao passo que, na espécie a), nenhuma comparação se dá. Em
relação às espécies b) e c), há mais, em tais espécies, do que comparação:
há conferência, enquanto, na espécie d), se apura qual a verdadeira
interpretação, dentre as interpretações que se examinam.
Para que a pessoa sem interesse e legitimidade isto é, sem ser parte, pelo
menos de ofício, ou órgão do Ministério Público, quando lhe cabe a
legitimação ativa recursal, ou terceiro prejudicado, arts. 499 e 500
pudesse interpor recurso extraordinário, seria de mister (dir-se-á) que se
criasse actio popularis, ou recurso por qualquer pessoa do povo, mas aí se
teria atribuído a qualquer pessoa do povo ser parte ou ter interesse recursal
como elemento do povo. Assim, o interesse de agir seria o interesse geral, o
interesse que alguém do povo, e não só o recorrente, teria.
d). A importância do art. 119, III, d) está exatamente em que, com eles, se
constitucionalizou a pretensão ao recurso extraordinário. Quanto aos outros
recursos, não se passou das regras jurídicas de competências (arts.
c)Cabe recurso extraordinário, com fundamento no art. 119, III, d), quando
se trata de discrepância de interpretação da lei de organização judiciária do
Distrito Federal ou de Território, desde que estejam satisfeitos os outros
pressupostos da referida espécie d). Ai, há o interesse federal em que seja
uma só a interpretação da lei, pois embora, pela incidência, a lei seja
somente local é federal pela origem. Quem faz a regra jurídica é que lhe dá
o conteúdo lógico, e não se compreederia que se tolerasse a divergência de
interpretações a respeito de regra jurídica que foi de elaboração federal. As
vezes, alguns juristas, por superficial exame do assunto, chegam a
conclusões diferentes, mas o que se há de exigir é o respeito à ratio legis.
e) Interpretação de lei, e não de atos jurídicos. Porém lei federal é, aí, como
no art. 119, III, a) e b), a lei, o tratado, o decreto, o regulamento, o aviso, a
circular, etc. Em termos mais claros: qualquer regra de direito que tenha
origem federal, ou que, embora tivesse tido origem local, se haja
federalizado.
119, III, a), e outro com base no art. 119, III, d).
Dizer-se que não fere a letra da lei o tribunal que se pronuncia sobre espécie
que a regra da lei não previu (2.a Turma do Supremo Tribunal Federal, 28
de janeiro de 1941, R. F., 87, 681) é desatender-se a que as regras jurídicas,
quando deixam de prever alguma espécie, ou é porque lhes seja indiferente,
ou é porque caiba na sua exemplificação, ou porque essa espécie deva ser
tratada diferentemente (a contrario sensu). Em qualquer das três hipóteses,
a resposta tem de se basear na explicitação do conteúdo das regras jurídicas,
portanto em algo da natureza delas. Melhor seria que se atendesse a outra
proposição do Supremo Tribunal Federal que tocou o ponto (voto do
Ministro OROSIMBO NONATO, no acórdão de 8 de setembro de 1942, R.
F., 95, 71): a divergência há de ser “quanto à aplicação do direito através de
qualquer dos seus modos de revelação”.
possível que o julgado seja de tribunal distante: que o valor da causa não
compense ou os recursos da parte não comportem a despesa; que a parte
não conheça, na localidade, pessoa que se incumba de pedir, pagar e
remeter a certidão. Desde, pois, que não haja dúvida razoável sobre a
existência do texto da decisão divergente, eu admito o recurso. Sem dúvida,
é perigoso aceitar a prova fundada em publicações feitas em revistas ou
jornais. Os respectivos redatores não exigem certidões dos julgados.
Aceitam, muitas vezes, originais remetidos por pessoas interessadas, que
podem até cometer fraude. Quando, porém, a parte invoca uma publicação
dessa natureza e o adversário nada opõe, deve-se, penso, dar como satisfeita
a exigência constitucional.” Finalmente, o Ministro LAUDO DE
CAMARGO:
Tal, porém, foi a divisão do tribunal, que se não poderia afirmar tivesse de
ser essa, para o futuro, a orientação dele. No plano legal, certo seria de bom
aviso que se aceitassem citações, ou publicações oficiais das decisões, ou,
ainda, julgados da própria
Uma vez que foi alegado não ser de se receber a apelação, ou de caber outro
recurso, e a apelação ou outro recurso foi julgado, o recurso extraordinário
pode ser sobre esse ponto ou sobre outro ponto ou outros pontos apreciados
na última instância.
Quanto à espécie c), de modo nenhum. Não se pode exigir dos tribunais e
dos juizes que atendam ao futuro em relação à cognição.
i) “Nos casos em que houver de aplicar leis dos Estados, a Justiça federal”,
dizia o art. 59, § 2.0, da Constituição de 1891 (art. 60, § 2.0, de 1925-1926),
“consultará a jurisprudência dos tribunais locais, e vice-versa as Justiças
dos Estados consultarão a jurisprudência dos tribunais federais, quando
houverem de interpretar leis da União”. As duas regras jurídicas
desapareceram das Constituições de 1934, de 1937, de 1946, e de 1967,
sem ou com a Emenda n. 1. Que se há de entender? Que a Justiça local
interpreta como melhor lhe parece, sem nenhuma consulta, as leis federais?
Não há pensar-se que isso fosse possível, pois o art. 119, III, d), nos mostra
o contrário: havendo divergência na interpretação, o Supremo Tribunal
Federal intervém, o que, de si só, põe em evidência o propósito de mandar
que seja uniforme e una a interpretação. No caso de lei estadual, a
Constituição de 1891 queria que a Justiça federal, ao ter de interpretar as
leis estaduais, consultasse a jurisprudência estadual. Pergunta-se: é
essencial à República federativa que se repute a Justiça local mais apta a
interpretar as leis locais e a Constituição estadual, razão por que
prevaleceria a regra, ainda depois de a excluírem do texto os legisladores
constituintes de 1934, 1937 e 1946; ou o Supremo Tribunal Federal tem
plena liberdade no interpretar, e consultará a jurisprudência local, se o
quiser? Não há dúvida que a entidade política competente para elaborar
uma lei o é para as regras de sobre direito (fontes e interpretação, começo
de vigência, direito intertemporal, etc.) porém isso não quer dizer que só á
sua Justiça compete interpretá-la. Nas relações interestatais (note-se bem:
interestatais) aquele que faz a lei é que é competente para determinar os
limites da sua extensão no espaço e no tempo, bem como os meios para
preencher-lhe as lacunas e interpretá-la. Aplicar o direito de um Estado é
aplicá-lo segundo o direito intertemporal, o direito internacional privado, ou
internacional público (no sentido próprio), bem como segundo o método de
interpretação e fontes do mesmo Estado. A jurisprudência interestatal
apenas verifica se foram respeitadas as linhas demarcadoras da competência
legislativa, interestatalmente distribuída. E, uma vez que foram guardadas
as regras, o Estado move-se, como entende, dentro do “branco” deixado à
atividade do seu legislador. E vão-se buscar a jurisprudência interna e a
doutrina interna (Tratado de Direito Internacional Privado, 1, 380 5.). E
Justiça que dos casos conhece e os julga não é só a sua. Nas relações
internas, tudo depende da Constituição. Nas Constituições de 1934, de
1937, e de 1946 não havia, nem há na de 1967, com a Emenda n. 1, dever
dos juizes a respeito, nem recomendação, porém, científica e moralmente, é
aconselhável que levem em conta a interpretação que se deu e, a fortiori, a
que seguramente se já fixou.
Em suma: o juiz ou tribunal não está adstrito ~à interpretação que outro juiz
ou tribunal haja firmado, pelo fato de se tratar de regra jurídica que é feita
pela entidade estatal a que pertence esse juiz ou esse tribunal.
Ainda mesmo que a jurisprudência seja do Supremo Tribunal Federal, não
há o princípio da subordinação á exegese que se adotou. Para se chegar à
uniformidade de interpretação, à integridade lógica do sistema jurídico, o
caminho é o exercício da pretensão recursal fundada no art. 119, III, d), se
outro pressuposto não se compõe. possível compor-se o do art. 119, III, b),
ou o do art. 119, III, c), porque se pode tratar de questão de validade da lei;
mas o pressuposto do art. 119, III, d), facilmente se compõe, em se tratando
de lei federal: se o juiz ou o tribunal, de última ou única instância, local ou
federal, deixa de seguir a interpretação que o juiz federal, ou local, deu à
regra jurídica federal, necessariamente há divergência a respeito de
interpretação de regra jurídica federal. Aliter, em se tratando de lei local, o
que pode fazer irremediável a discordância, se o pressuposto do art. 119, III,
c) não se compõe.
479).
Se forem vencidos, autor e réu, à parte que recorreu pode aderir a outra
parte (art. 500, II) que foi explícita em permitir a adesão em caso de recurso
extraordinário.
Na Constituição de 1967, com a Emenda n.0 1, o art. 119, III, apenas diz
que compete ao Supremo Tribunal Federal “julgar, mediante recurso
extraordinário, as causas decididas em única ou última instância por outros
tribunais”, de modo que não se referiu a “outros tribunais e juizes”.
Todavia, havemos de entender que, se há, por lei, juízo singular, como única
instância, em que os recursos são apenas de embargos de declaração, há de
ser admitido recurso extraordinário. Bastam exemplos. Quem quer justificar
a existência de algum fato, ou relação jurídica, seja para simples documento
e sem caráter contencioso, seja para prova em processo regular (art. 861),
pede a citação dos interessados, ou, se não podem ser citados pessoalmente,
a intervenção do Ministério Público no processo. Processa-se a ação de
justificação sem se admitir defesa ou recurso (arts. 861-866). O art. 865 é
explícito: “No processo de justificação não se admite defesa nem recurso”.
Se, na espécie, o juiz infringiu a Constituição, ou de outro modo decidiu
que se possa invocar o art. 119, III, a), b), c) e d);
(2.a ed., III, 290 5.), à semelhança do que fizemos nos comentários às
Constituições de 1934 e de 1937. E
Os recursos podem ser admissíveis in thesi, isto é, para as decisões que têm
a classe prevista nas regras jurídicas processuais, ou in thesi e in casu, isto
é, dadas as circunstâncias que se compõem na causa de que se trata. Afasta-
se a cognição do recurso extraordinário porque na classe a que pertence a
decisão se admitiria outro recurso, isto é, um dos recursos cuja
cognoscibilidade pré-excluiria a do recurso extraordinário; porém não é de
afastar-se se, para a pessoa, que quer recorrer, ou pelas circunstâncias, o
recurso admitido em tese não no seria in casu.
Pode dar-se que o recorrente tenha emprestado à decisão sentido que ela
evidentemente não tem e o seu recurso se haja baseado nisso. O Supremo
Tribunal não pode conhecer do recurso, diante da evidência do texto
sentencial, sem que a tal atitude se atribua declaração da sentença. Se o
próprio Supremo Tribunal Federal não pode entender a sentença, e ela é
suscetível da interpretação que lhe deu o recorrente, o melhor caminho é o
de converter-se o julgamento em diligência para que o juiz informe se foi
acertada, ou não, a interpretação que o recorrente deu. Se o juiz a confirma,
tem o Supremo Tribunal Federal de conhecer do recurso extraordinário.
Não se compreenderia que o Supremo Tribunal Federal não reputasse
instruído o recurso. Se o juiz atribui à decisão interpretação, que poderia
ser admitida, e com tal interpretação desaparece o interesse do recorrente, a
solução é não se conhecer do recurso extraordinário. Se a interpretação que
o juiz aponta é imprópria (= não seria de se interpretar por esse modo o que
está escrito na decisão), o Supremo Tribunal Federal tem de mandar que o
recorrente tome conhecimento de tal versão exorbitante, e não seria
razoável que não admitisse novo recurso extraordinário como se somente
agora da decisão tivesse ciência a parte; porque também o Supremo
Tribunal Federal não atinara com tal sentido, nem, ex hypothesi, lhe
pareceu possível.
527, § § 4.~ e 5•o, do Código de 1973. Donde ser acertada a solução que dá
o art. 538 do Código de 1973, como o fizera o de 1939, art. 862, § 5•0• O
prazo para o recurso extraordinário ficou suspenso, a fim de que, julgados
os embargos de declaração, possa o interessado interpor o recurso
extraordinário. Se a declaração é quanto ao ponto a e o pressuposto para o
recurso extraordinário concerne ao ponto b, nem por isso se afasta a
suspensão do prazo. É até possível que o juízo singular ou o tribunal
proceda como se supõe no art. 463, 1, do Código de 1973, para os juizes,
porém inafastável também quanto aos tribunais.
O assunto merece que o tratemos, na pratica forense. Uma vez que o juiz
atribuiu à decisão sentido que ela não tinha para as partes, está a declarar,
de ofício, a decisão que proferira, e não pode, com isso, prejudicar a
qualquer delas. Se uma não recorrera, porque a outra, que recorrera, dera à
decisão a mesma interpretação que a sua, a cognição que tiveram foi de
outro conteúdo que não aquele que ora lhes mostra o juiz. Desse conteúdo
só têm conhecimento ao serem cientes do que expusera o juiz. Em tal
emergência, o tribunal do recurso, que então for interposto, deve verificar,
como preliminar de tempestividade do recurso, se o juiz em verdade
declarou, de ofício, e se podia fazê-lo. Não há resposta a priori.
No art. 308, IV, termina-se com referência a divergência das decisões, (“os
pronunciamentos das instâncias ordinárias”, “ou se trate de ação sujeita a
instância única”). Ação sujeita a instância única é a que se processa no
tribunal, mesmo se há recorribilidade, mas o próprio tribunal é que é
competente para o julgamento do recurso. Pense-se na ação rescisória de
decisão do tribunal, que é da competência do tribunal que a proferiu, e da
qual cabe recurso de embargos infringentes do julgado se não foi unânime o
julgado, inclusive, se parcial o acordo, no tocante ao ponto ou aos pontos
em que ocorreu divergência (Código de 1973, art. 530).
Art. 542. O recurso será interposto2) dentro de quinze (15) dias 4), perante
o presidente do tribunal recorrido, mediante petição’) que conterá:
3.396, art. 3~O, foi explícita: “. . . nas causas de alçada, perante o próprio
juiz prolator da decisão da qual se recorre”.
A juntada de documento, que não seja para a prova do art. 337 do Código
de 1973, que corresponde ao art.
212 do
F., 99, 69). Não se pode falar, como o Ministro CASTRO NUNES (voto no
mesmo acórdão) de “faculdade”, que o Supremo Tribunal Federal “se
reserva para dela usar em casos excepcionais”. Em matéria de recurso não
há arbítrio judicial, nem nunca houve, fora dos recursos de graça real, aos
tempos do absolutismo político: há, em vez disso, pretensão do legitimado a
que o Supremo Tribunal Federal, como outro qualquer juízo, conheça do
recurso cujos pressupostos foram. satisfeitos (pretensão processual
recursal). Quem vai, em recurso extraordinário, ao Supremo Tribunal
Federal, pedindo respeito a regras jurídicas que a Constituição mesma
cercou desses cuidados, exerce direito subjetivo constitucional e pretensão
de direito constitucional. Recurso, ou cabe, ou não cabe; nenhum tribunal
pode falar, em regimes democrático-liberais, de faculdade de admitir ou não
admitir. Os que têm pretensão processual recursal, nos regimes
democrático-liberais, têm algo acima do Príncipe: a Constituição. Tem-se
de dizer qual a lei violada e qual a decisão que a violou (2.a Turma do
Supremo Tribunal Federal, 17 de janeiro de 1947, D. da J. de 12 de maio de
1947). Ou tem-se de apontar outro pressuposto.
244, 249, § 2.0, e 250. O Supremo Tribunal Federal deve, em tal caso,
mandar suprir a falta.
<o art. 508 atinge o art. 542? Se o recurso extraordinário estivesse no art.
508, onde se marca o prazo de quinze dias para “todos os recursos”, não se
precisaria do art. 542; razão por que havemos de entender que o art. 508,
parágrafo único, não vai até o recurso extraordinário. É verdade que aí se
fala de prazo para interposição de recurso e para responder a ele, mas seria
desacertado que para se interpor o recurso extraordinário se desse o prazo
de cinco dias. O que houve foi trato desigual, mas acertado. Temos de
advertir que se pode interpor recurso extraordinário de decisão proferida em
processo sumarissimo. Sem a regra jurídica do art. 542 ter-se-ia de
interpretar que o recurso extraordinário estava incluído nos “recursos” de
que cogita o art. 508 e, pois, sujeito ao parágrafo único. Mas, concedida a
regra jurídica do art. 542, não se há de dizer que ocorreu bis in idem.
Houve, sim, explicitude e afastamento da regra jurídica geral do art. 508.
O Regimento Interno também remeteu ao art. 121, onde consta: “Em caso
de impugnação, as partes deverão provar a fidelidade da transcrição de
textos de leis e demais atos do poder público, bem como a vigência e o teor
das mesmas pertinentes à causa, quando emanam de Estado estrangeiro, de
organismo internacional, ou, no Brasil, Estados e Municípios.”
O art. 119, III, d), fala de interpretação divergente da. que lhe tenha dado
“outro tribunal ou o próprio Supremo Tribunal Federal’~. Pergunta-se:
~como se há de resolver se a decisão, de que se quer recorrer com base no
art. 119, III, d), diverge não de decisão de “outro Tribunal”, ou do “próprio
Supremo Tribunal Federal”, mas sim de algum juiz federal, cuja decisão
transitara em julgado, ou de juiz de outra entidade estatal, cuja decisão
transitara em julgado? O art. 119, III, d), só se referiu a outro tribunal, inclu.
sive o Supremo Tribunal Federal. Não se trata de legitimação recursal ativa
de quem quer interpor o recurso extraordinário, porque esse interessado está
adstrito a não haver mais recurso.
-se-á o recorrido, abrindo-se-lhe vista, pelo prazo de cinco (5) dias, para
impugnar o cabimento do recurso2).
§ 1.0 Findo esse prazo, serão os autos, com ou sem impugnação, conclusos
ao presidente do tribunal, o qual, em despacho motivado, admitirá, ou não,
o recurso, no prazo de cinco (5) dias4).
Se alguma lei ordinária deixasse de dar o meio jurídico para que o Supremo
Tribunal Federal apreciasse o ato do juiz incumbido de tal missão, seria
inconstitucional; porque, então, teria tirado à cognição do Supremo
Tribunal Federal as preliminares do recurso. As leis ordinárias podem
entregar o conhecimento in limine, recorrível o despacho, ao juiz recorrido
ou ao chefe da sua Justiça, ou ao juiz relator do feito, ou ao juiz semanal da
Justiça recorrida, ou a qualquer outra entidade da Justiça recorrida, ou a
qualquer ministro do Supremo Tribunal Federal, ou ao Presidente do
Supremo Tribunal Federal, desde que, proferido o despacho negativo do
recurso extraordinário, caiba recurso para o Supremo Tribunal Federal, a
que se não pode tirar a cogniçdo plena das preliminares. Autoridades
judiciárias não sã~ autorizadas a qualquer exame das decisões das outras
justiças, de modo que ou se confere à Justiça recorrida o exame in limine,
ou se confere ao Presidente do Tribunal recorrido, ou ao Presidente do
Supremo Tribunal Federal, ou a algum dos seus membros. Tal é o que, no
plano constitucional, nos cabia dizer. Se a lei ordinária é omissa, ou se,
tendo dado ao juiz recorrido, ou ao chefe da sua Justiça, a função de receber
o pedido, também lhe conferiu a de, in limine, resolver sobre a admissão, ou
não, do recurso: é questão de leitura e interpretação. da lei, que está fora do
problema da sua constitucionalidade. Digamos de passagem que o antigo
Supremo Tribunal Federal já havia firmado a sua jurisprudência no sentido
de caber o exame preliminar por parte das justiças locais (24 de julho de
1909, 13 de abril de 1910, 8 de abril de 1911 e 17 de julho de 1912),
afastada, portanto, a pecha de inconstitucionalidade. Cognição, essa,
necessariamente incompleta.
Quem quer interpor recurso extraordinário não tem direito a que se lhe
dêem os autos em confiança; a vista, de que precise, há de ser em cartório,
ou na secretaria. A vista .é assegurada para as razões (1.~ Turma do
Supremo Tribunal Federal, 13 de novembro de 1950, A. J., 98, 211) e para
as alegações do recorrido.
Se os autos foram retidos por alguma das partes, e não pelo recorrente, ou
por algum funcionário judiciário, ou por nutrem, de modo que os não
poderia ter o recorrente, não corre o prazo (art. 183 e §§ 1.0 e 2.0); mas
deve ser requerida a interposição, com fundamentação devidamente
instruída. Por exemplo, se os autos ficaram em diligência para recolhimento
de quantia exeqüenda (2.a Turma do Supremo Tri~,unal Federal, 2
Nenhuma regra jurídica proíbe que haja juizes estaduais que decidam em
única instância e já antes apontamos alguns casos de julgamento em única
instância por juiz singular.
Por outro lado, não se pode negar a interposição de recurso extraordinário
se o Senado Federal deu ensejo a algum dos pressupostos do art. 119, III, da
Constituição de 1967, com a Emenda n. 1, ao julgar o Presidente da
República ou Ministro de Estado (art. 42, 1), ou processar e julgar Ministro
do Supremo Tribunal Federal ou Procurador-Geral da República, nos
crimes de responsabilidade (art. 42, II). Idem, quanto à Câmara dos
Deputados, no tocante ao art. 40, 1. O recurso extraordinário não só apanha
o processo civil, de modo que há atos do Presidente da República que
permitem a sua interposição.
Observe-se mais uma vez que a cognição de que fala o art. 543, § 2.0, é non
plena cognitio. O presidente do tribunal ou o juiz admitiu o recurso
extraordinário, sem que seja definitiva a admissão. Só o Supremo Tribunal
Federal pode apreciar, em plena cognição, as preliminares.
Na espécie do art. 119, III, c), também se cogita de alegação sobre validade,
e basta, se interposto, dentro do prazo, uma vez (a) que seja de única ou
última instância a decisão de que se recorre; (b) que haja aplicado regra
jurídica não-federal ou atendido a ato de poder local; (c) que se argua de
inválida a regra jurídica ou o ato do governo local diante da Constituição ou
de lei federal ordinária. Se procede a argüição de que se fala em (c), ou se
não procede, já se entende como decisão sobre provimento ou não-
provimento do recurso extraordinário. (A expressão “lei federal” insistamos
apanha quaisquer regras jurídicas federais. Se a lei local seria válida, se o
aviso ou a portaria federal não existisse, e existe o aviso ou a portaria, com
a conseqtiência de se não poder atender à lei local, pode ser interposto o
recurso extraordinário.) Se a parte nega que exista a lei local, ou o ato do
poder local, e a decisão lhe afirma a existência, não está em causa a
Constituição de 1967, com a Emenda n. 1, ou outra anterior, nem lei
federal, porque a contrariedade entre regras jurídicas de graus diferentes de
hierarquia determinaria nulidade, e não inexistência. Todavia, se foi
suspensa a incidência da regra jurídica, conforme se prevê no art. 42, VII,
da Constituição, e o juiz a aplica, nega que tenha sido decretada a nulidade,
a despeito da providência do Senado Federal. Ora, aí, cabe o recurso
extraordinário com base no art. 119, III, c), e, a fortiori, porque a suspensão
se fundou em que havia a invalidade e fora decretada.
Na espécie do art. 119, III, d), basta, para que se conheça do recurso
extraordinário, se interposto, dentro do prazo, perante a autoridade
judiciária competente: (a) que seja de única ou última instância a decisão de
que se recorre; (b) que haja divergência jurisprudencial na interpretação de
regra jurídica federal; (c) que na espécie se caracterize tal divergência.
Dizer-se que a interpretação que se criou ou que se seguiu na decisão
recorrida é a verdadeira, ou é falsa, ainda que todas as opiniões discordantes
sejam falsas, é dar ou negar provimento ao recurso. O pressuposto (a) é
comum às quatro espécies. O pressuposto (b) da primeira espécie, e os
pressupostos (b) e (c) das demais espécies que diferenciam as quatro; a
primeira, concernente à existência ou não-existência, à extensão ou
qualidade da regra jurídica federal; a segunda, à invalidade ou afirmação de
ser nula a regra jurídica federal; a terceira, à validade ou afirmação de não
ser nula a regra jurídica estadual, distrital ou municipal, ou o ato de governo
local; a quarta, ao conteúdo lógico da regra jurídica federal.
Não há bis in idem entre a quarta e a primeira espécie quando está em causa
a extensão lógica, porque, na espécie do art. 119, III, a), a determinação da
extensão lógica é tal que implica negação de existir a regra jurídica federal
tal como se afirma, ao passo que, na espécie do art. 119, III, d), a
divergência pode ser sem ofensa à existência da regra jurídica federal. Não
se julga, na espécie do art. 119, III, d), como se existisse, ou como se não
existisse, tivesse ou não tivesse tal natureza ou extensão: apenas se atribui à
regra jurídica conteúdo que não é o mesmo que lhe foi atribuído por outro
tribunal. Por isso mesmo, o recorrente, na espécie do art. 119, III, d), não
precisa provar estar ofendido com a interpretação dada pelo tribunal, o que
é pressuposto implícito para o recurso extraordinário do art. 119, III, a).
Infelizmente, alguns acórdãos não atentam na diferença, que remonta à
ratio legis, entre a espécie do art. 119, III, a), e a do art. 119, III, d),
entendendo que não há recurso extraordinário com base no art. 119, III, a),
se está a discutir extensão lógica da regra jurídica (e. g., 1.a Turma do
Supremo Tribunal Federal, 6 de agosto de 1951, A. .T. 100, 272).
de 1951, R. F., 143, 202); porém isso não ocorre, de ordinário, com os
outros recursos.
Se a falta foi somente do recorrente, sem ter havido algum dos casos do art.
507, o recorrido defendeu-se.
(Pode dar-se que também haja recorrido, ou que ele haja dito ter razão o
recorrente.) O recorrente perdeu o prazo, na instância da decisão recorrida:
acarreta com as conseqüências, porém essas somente seriam graves se a
petição de modo nenhum bastasse à cognição plena. Em todo caso, é de
iqualdade que se repute a falta das alegações, a despeito da preclusividade
do prazo, causa de nulidade, para se invocar alguma das regras jurídicas da
doutrina das nulidades segundo o Código de Processo Civil. A fortiori, se
nem o recorrente nem o recorrido arrazoou.
8)PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DE RAZÕES DO RECURSO
EXTRAORDINÂRIO. O prazo é de dez dias. O art. 298 é aplicável, bem
assim o art. 191. Se o recorrente ou o recorrido junta documentos, o outro
tem cinco dias para falar sobre eles (art. 398).
Para a subida dos autos é indispensável o devido preparo (art. 543, § 3.0).
A pena de deserção pode ser relevada se ocorreu justo impedimento (cf. art.
519, § 1.0). Se hão houve a relevação, não mais se pode pensar em
julgamento de recurso extraordinário. Não é preciso que o Presidente do
Tribunal julgue a deserção. Deserção houve.
O recorrido pode aderir ao recurso extraordinário (art. 500, II). Para isso, o
prazo é de dez dias, contados da publicação da decisão do Presidente do
Tribunal a quo, que. admitiu o recurso extraordinário interposto pela outra
parte (art. 500). O prazo para a adesão é contado da publicação da decisão
que admitiu o recurso extraordinário. Diferente, portanto, do prazo para
arrazoar. O Presidente do Tribunal tem de decidir quanto ao cabimento do
recurso adesivo, depois que se manifestou, impugnando ou não, o
recorrente principal. Após a admissão, abre-se vista ao recorrente adesivo e
ao recorrido adesivo, que têm o ensejo para as razões. Os dois recursos
extraordinários, o principal e o adesivo, sobem juntos, mesmo se assim se
excede o prazo do art. 543,
§ 30
543 e § § 1.0, 2.” e 3.”. Se não o admite, cabe de tal despacho o agravo de
instrumento para o Supremo Tribunal Federal. O prazo é de cinco dias. Se
esgota, toilitur quaestio. Nada mais se pode fazer, salvo se ocorre o que se
supõe no art. 507. Se, liminarmente, não foi admitido o recurso
extraordinário, cabe agravo de instrumento que subirá nos autos
suplementares, se os há. Posto que não mais se fale de carta testemunhável,
em verdade não se poderia negar agravo de instrumento, que hoje é amplo.
No primeiro grau, se o recorrente obtém despacho de admissão liminar e
abandona o recurso, e. g., não restitui os autos levados com vista (art.
543 § 2.”), ~,dá-se renúncia, tal como acontece ao agravo, que também
possui o período intercalar, que vai do despacho que o juiz lança na petição
(art. 524) até o despacho da mantença da decisão (art. 527, § 3.”) e remessa,
ou dá-se deserção? O símile com o agravo de instrumento tem contra si a
diferença entre a cognição incompleta, a um jacto só, de quem despacha a
petição do recurso extraordinário, e a cognição incompleta, a dois jactos, do
juiz do agravo de instrumento, que ainda pode reformar o despacho inicial.
A deserção tem a seu favor que o despacho foi, só, necessitatis causa, por
outrem que o próprio Supremo Tribunal Federal. Os argumentos caem
diante de outro: não há paridade entre o recurso extraordinário e a apelação;
e de deserção só se pode cogitar na superior instância. Se acaso sobe o
recurso renunciado, ao Supremo Tribunal Federal cabe não conhecer dele,
decisão, essa, declarativa.
1.”, 523-526.
O art. 545, parágrafo único, fala da carta de sentença para execução. Não só
se interpõe recurso extraordinário em ações executivas, de modo que se há
de ler o art. 545, parágrafo único, como alusivo a qualquer eficácia da
sentença, a que se haja de atender por ser suspensivo o recurso. Há, por
exemplo, o mandado que não é para penhora de bens, ou para a entrega de
bens ou filhos ou outras pessoas.
3)EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA SENTENÇA. A execução da sentença,
porque o recurso interposto foi o recurso extraordinário, não se faz por
conta de quem interpôs tal recurso nem o obriga a indenização, como ocorre
nas outras espécies (art. 588, 1), porque há regra jurídica especial, que é a
do art. 545, parágrafo único, onde apenas se põem nas despesas a serem
pagas pelo recorrente (a serem pagas, frise-se) as despesas de extração da
carta de sentença. Aliás, pode dar-se que não seja preciso extrair-se tal
carta, por haver autos suplementares (arts. 589, 2.~ parte, e 590). Na
espécie, a extração é pela secretaria do tribunal, assinada pelo presidente. É
digno de referência o art. 328, II, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal, onde se diz que a carta de sentença é extraída, a
requerimento do interessado, para execução de decisões “quando o
interessado não a houver providenciado na instância de origem e penderem
de julgamento do Tribunal recursos sem efeito suspensivo’~. O
requerimento é dirigido ao Ministro relator, se já subidos os autos.
119, III, d), a de não ter sido interpretação em decisão irrecorrível a do juiz
ou tribunal de que divergiu a decisão recorrida, ou de não o ter sido a que se
aponta a interpretação adotada no Supremo Tribunal Federal, ou a de não
ter havido diversidade de interpretação entre o juiz ou tribunal, de cuja
decisão se recorre, e outro tribunal ou o Supremo Tribunal Federal.
Em todo caso, são os próprios fatos, a chamada “natureza das coisas”, que
ordenam se versem primeiro as preliminares. Lei ordinária que ordenasse o
contrário seria como a lei que mudasse o sexo das pessoas, ou pretendesse
que as águas de uma servidão não secassem nunca, ou que admitisse o
reconhecimento por duas mães ou dois pais. (Não é fora de propósito dizer-
se isso. Por ocasião dos primeiros passos para a elaboração da Constituição
de 1934 houve quem pedisse.., a eliminação das preliminares.) Se há, por
exemplo, contradição, ou não, entre as decisões, é preliminar de cabimento
do recurso extraordinário do art. 119, III, d), da Constituição. Qual das
duas, ou mais, interpretou bem a lei, ou se nenhuma das duas, ou mais, a
interpretou bem, é matéria do mérito do recurso.
São Paulo, 8 de abril e 14 de outubro de 1947, R. dos T., 168, 640, e 171,
560; 3.~ Câmara Civil, 26 de junho de 1947, R. F., 116, 185, R. dos T., 169,
732). É de estranhar-se que a 1.a Turma do Supremo Tribunal Federal, a 11
de novembro de 1948 (R. dos T., 187, 956), e a 2.~ Turma,. a 13 de janeiro
de 1950 (D. da J. de 28 de dezembro de 1951), hajam enveredado por esse
caminho. Apraz-nos lembrar que, na esteira do que escrevêramos, reagiram
contra a erronia o Juízo da 12.~ Vara (RIZZIO BARANDIER), o da 6.R
Vara Cível do Distrito Federal (CLOVISvís RODRIGUES, D. da J. de 14
de janeiro e 14 de agosto de 1953), e a 4Y~ Câmara Cível do Tribunal de
Apelação do Distrito Federal, a 26 de abril de 1946 (R. F., 107, 287: “Na
espécie dos autos a agravante interpôs recurso extraordinário da sentença
exeqüenda, de sorte que essa decisão está sujeita a ser reformada na
instância superior.., O
O que se tinha de fazer, diante dos textos de então e de hoje, era, e é, partir-
se de conceitos precisos, que estão à base da ciência do direito processual:
recurso que somente’ devolve, recurso com efeito suspensivo, trânsito
formal em julgado. Se o recurso tem efeito suspensivo, a execução não se
pode fazer; se o recurso apenas devolve (= entrega ao tribunal ad quem a
cognição), pode fazer-se a execução, provisoriamente. Nada disso precisaria
estar em lei. Se há coisa. julgada formal, a execução pode fazer-se,
definitivamente: para destruí-la, ter-se-ia de propor ação rescisória, e a
sentença na ação rescisória encontraria execução feita.
Somente há coisa julgada se não cabe ou não mais cabe recurso, qualquer
que seja ele. Assim ocorre também naprocessualística da Justiça do
Trabalho (cf. Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943, Consolidação
das Leis do Trabalho, art. 899, redação dada pela Lei n. 5.442, de 24 de
março de 1968; Tribunal Superior do Trabalho, 14 de outubro de 1947, D.
da J. de 26 de novembro: “...tendo havido, no caso sub indice, interposição
de recurso extraordinário para a mais alta corte judiciária do país que
decidirá, em última e irrecorrível instância, não passou a decisão em
julgado, pois sentença transitada em julgado é aquela de que não cabe
recurso algum”).
§ 1.0) conforme se diz no art. 305; isto é, por certidão, ou cópia autenticada,
ou mediante citação do repositório de jurisprudência, oficial ou autorizado,
com a transcrição dos trechos que configurem o dissídio, mencionadas as
circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
Não se diga que o recurso a que se refere o art. 546, parágrafo único, não é
de embargos infringentes: quando a decisão no recurso extraordinário, ou
mesmo no agravo de instrumento que se interpusera da decisão que não
admitira o recurso extraordinário, “divergir do julgamento de outra turma
ou do plenário”, infringe. Apenas, aqui, a divergência não é interior, e sim
entre o julgado da turma e julgado de outra turma ou do plenário; e ali, no
art. 530, a divergência é interna. O art. 546, parágrafo Único, é de grande
relevância e o Supremo Tribunal Federal não o pode afastar no seu
Regimento Interno (cp. Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal,
art. 309, que acrescentava “na interpretação do direito federal”). Tal regra
jurídica proveio de emenda apresentada no Senado Federal. agravo
regimental (art. 300)”. O art. 313: “Na sessão de julgamento (art. 7~o, V),
aplicar-se-ão, supletivamente, as normas do processo originário, observado
o disposto no art. 151.” E o parágrafo único: “Recebidos os embargos de
divergência, o Plenário julgará a matéria restante, salvo nos casos do art.
294, 1 e II, quando determinará a subida do recurso principal (art. 297) “.
Se a decisão embargada foi proferida em agravo de instrumento, tem o
Tribunal de determinar a subida do recurso extraordinário que fora
derrogado (art. 313, parágrafo único), se provido o recurso de agravo de
instrumento.
O art. 546, parágrafo Único, alude a outros casos (“além dos casos
admitidos em lei”). A lei ordinária supõe outros embargos oponíveis aos
julgados do Supremo Tribunal Federal, o que o Regimento Interno não pode
eliminar. São eles os embargos infringentes, de que cogitam os arts. 530-
534 (julgados proferidos em apelação ou em ação rescisória) e os embargos
de declaração (arts. 535-538), que podem ser opostos a qualquer acórdão e
qualquer que seja o corpo julgador. O procedimento é assunto para o
Regimento Interno.
No Regimento Interno, diz o art. 311: “Os embargos serão opostos no prazo
de dez dias, perante a Secretaria, e juntos aos autos, independentemente de
despacho” (art. 61, l0~, a). O art. 312: “Feita a distribuição, serão conclusos
os autos ao Relator (art. 72) para serem ou não admitidos os embargos. §
1.0. Admitidos que sejam, abrirá a Secretaria vista ao embargado. § 2.0. Do
despacho que não os admitir, caberá
Trata-se de ordem dos processos nos tribunais, e não só dos processos nos
recursos. E. g., ação rescisória (arts. 551-
244 e 250. Se, sem se ter argüido a nulidade, o relatório é feito oralmente,
ou, sendo argüida , entende o tribunal que a matéria está suficientemente
apresentada com o relatório do revisor, não se decreta nulidade.
§ 2.0. O revisor aporá nos autos o seu “visto”, cabendo-lhe pedir dia para
julgamento 3)•
Após o estudo dos autos, com o que inseriu como seu pensamento, tem ele
de pôr o “visto” e pedir dia para o julgamento.
~).
art. 552, § 1.0, exige que entre a data da publicação da pauta e a sessão do
julgamento medeiem, pelo menos, quarenta e oito horas. Portanto, que,
entre a meia-noite do dia em que foi publicada e o minuto em que começou
o dia para o qual se marcou a sessão e se realizou, hajam decorrido, pelo
menos, quarenta e oito horas. Não há nulidade se, marcada para antes a
sessão, só se realizou depois do tempo mínimo. A infração importa nulidade
não-cominada.
Mais: algum dos membros do órgão julgador pode pedir vista (art. 555,
parágrafo único), ou conversão do julgamento em diligência, para correção
de vicio ou suprimento de omissão (art. 560, parágrafo único).
O relator faz nos autos a exposição dos pontos controvertidos sobre o que
versa o recurso ou a causa (art. 549). Na sessão de julgamento, tem ele de
volver à exposição, que pode ser mera reprodução, ou extrato, mas convém
que o relator oralmente transmita o que essencialmente expusera.
Qualquer juiz que toma parte no julgamento pode solicitar que o relator (e o
revisor, se o há) preste esclarecimentos de algum ponto, ou de alguma
circunstância, inclusive alegando que lhe parecem contraditórios dois ou
mais enunciados, ou que tem algum ou alguns deles como obscuros, ou
sugerindo que confirme a interpretação que ao texto deu o solicitante.
(c)Há três pontos distintos na regra jurídica que pró-veio do art. 1.~ da Lei
n. 2.970: o de falarem os advogados após o relatório feito pelo juiz relator;
o de falarem após o voto desse juiz; o de falarem nos julgamentos de
agravos. A tradição do direito brasileiro consistia em se fazer antes de
serem ouvidos os advogados o relatório, que era escrito, para que os outros
juizes o examinassem, tendo-se, depois, permitido o relatório oral, em
mesa. Bem assim, o relatório do revisor. O relatório só se compõe de
enunciados de fato, que ou são verdadeiros ou falsos, ou apenas mal
expressos.
É intuitivo que o relatório deve ser conhecido dos outros juizes e das partes,
para que o achem “conforme” ou “não conforme”, como acertadamente se
dizia e se há de dizer.
o de permitir a lei que nos agravos falem os advogados. Tal providência foi
reclamada desde muito. Há recursos de agravos que são da mesma
relevância que as apelações. Nenhum texto constitucional veda ao
Congresso Nacional legisle sobre poderem os advogados usar da palavra
em quaisquer recursos ou ações. Tudo isso é assunto do art. 546.
para o resto (não se diga “para o mérito”, porque a preliminar pode ser parte
dele), conta-se para o tempo total (quinze minutos, ou a quota do
litisconsorte) o que o procurador gastar na discussão da preliminar.
apelado tem a situação que expôs e foi acolhida pela sentença, e até pode
achar supérfluas as razões de defesa no recurso. Se o apelado não
apresentou razões, entende-se que adotou os argumentos da sentença ou os
seus, na petição ou na defesa. O art. 554 fala de ser dada a palavra “a fim de
sustentarem as razões do recurso”. Dai, sem razão, tirou M. SEABRA
FAGUNDES (Dos Recursos ordinários, 275 5.) que o apelado que não
arrazoou não pode produzir defesa oral. Nenhum texto legal nem princípio
não escrito permite tal conclusão. A situação do apelado, ou de qualquer
recorrido, é a de atacado, e não a de atacante; o ataque, que se lhe faz, é à
decisão recorrida. Na própria expressão “recorrido” há elipse: recorrido diz-
se o figurante do recurso que é interessado no manter-se a decisão recorrida;
é o figurante que está ligado à sorte do julgado recorrido; recorrido, em
verdade, é o julgado, e não ele.
LOPEs DA COSTA, Direito Processual Civil Brasileiro, IV, 2.~ ed., 30; M.
SEABRA FAGUNDEs, Dos Recursos ordinúrios em matéria civil, 226 5.;
E. D. MONIZ DE ARAGÃO, Embargos de nulidade e infringentes do
julgado, 182 5.)
Se um dos juizes pediu vista e há a nova sessão, qualquer outro juiz pode
modificar o voto que dera, ou pedir vista porque o voto de outro foi
modficado.
Se o juiz C, que já havia votado, após o voto de D muda o voto, isso não
impede que mude de novo em seguida ao voto de E, ou inclusive no
momento em que o presidente ia desempatar. Se o presidente já iniciara o
voto, não, porque o desempate há de ter tratamento mais atencioso, pois
quem desempata implicitamente inicia a anunciação do resultado.
E nos feitos crimes, onde não se merecia morte, posto que provados fossem,
o Juiz do feito o poderá despachar com outro Desembargador, para com ele
serem dois; e, sendo ambos conformes, se porá a sentença, e, não o sendo, o
Regedor dará outro Desembargador, ou Desembargadores, e como forem
dois conformes, se porá a sentença, e se dará a execução. 8. E quando seis
Desembargadores forem em algum feito de morte, e quatro deles forem em
voto de condenar, posto que diferentes nas condenações, e dois em absolver,
ponha-se a sentença conforme aos quatro votos, que forem em condenar,
reduzindo a maior condenação à menor, sem o feito ir a mais
Desembargadores. E a mesma ordem se guardará, sendo todos os seis em
voto de condenar, posto que diferentes nas condenações, reduzindo os
quatro votos da maior condenação a menor dos ditos quatro votos. E a
mesma concórdia se terá nos votos dos outros feitos, que por menos
Desembargadores houverem de ser despachados. 9. E sendo caso que os
Desembargadores das mesas sejam de votos diferentes, de tal maneira que
se não possa pôr desembargo, o Regedor fará ajuntar com eles outros, que
vejam o feito, sobre que for a diferença e o que a maior parte deles juntos
acordar, se cumpra. E quando em algum feito, visto por todos os
Desembargadores, que presentes forem, as vozes forem iguais, o Regedor
dará sua voz, e a parte, a que se acostar, prevalecerá; e segundo ela se porá a
sentença, e assinarão sem postila , nem outra declaração por que se possa
saber quais foram em outro parecer; o que não haverá lugar nos feitos, que
se despacharem, por tenções escritas neles, porque nas tais sentenças
assinarão somente os que forem no parecer, porque a sentença foi vencida, e
não os outros; porém poderão pôr junto aos seus sinais: pro voto, se em suas
tenções não forem em todo conformes à sentença, mas somente em alguma
parte.”
O presidente deve dizer qual foi a decisão, qual o número de votos que
deram unanimidade ou maioria a toda a petição inicial, ou a cada pedido
que obteve acolhimento, ou ao que foi total ou parcialmente objeto do
recurso.
Qualquer dos votantes pode reclamar quanto à discordância entre o que foi
julgado e o que o presidente apontou como resultado do julgamento, ou
troca de nomes dos votantes, ou número de votos, ou qualquer outra
circunstância. Os advogados podem, pela ordem, pedir a palavra para
solicitar a retificação ( diz o Estatuto da Ordem dos Advogados, Lei n.
4.215, de 27 de abril de 1963, art. 89: “São direitos do advogado: X pedir a
palavra, pela ordem, durante o julgamento, em qualquer juízo ou tribunal,
para mediante intervenção sumária, se esta lhe for permitida a critério do
julgador, esclarecer equivoco ou dúvida surgida em relação a fatos,
documentos ou afirmações que influam ou possam influir no julgamento.”
Uma vez que, no caso de que estamos a tratar, a manifestação do presidente
é declarativa, a fortiori havemos de entender que há o direito do advogado a
pedir a palavra. Tem ele de dizer “peço a palavra” antes que o presidente
termine a anunciação e designe quem vai redigir o acórdão. Depois que
acabou a proclamação e designou ou vai designar o relator, não mais pode
atuar o advogado, salvo reclamar “contra a insolvência de lei, regulamento
ou regimento” (art. 89, XII), ou opor embargos de declaração (Código de
Processo Civil, arts. 535-538, 1 e II, uma vez que haja no acórdão
obscuridade, dúvida ou contradição, ou se tenha omitido algum ponto sobre
que devia pronunciar-se o tribunal).
3.0).
“agravinho”, que aparece no art. 557, parágrafo único, como no art. 532, §
1.0.
2.0), ou ter sido feita a retenção (art. 522, § 1.0). Se o agravante requerera a
imediata subida do recurso e o juiz mantém a decisão, o escrivão remete ao
tribunal dentro de dez dias (art. 527, § 4.0). Pode ocorrer que o juiz reforme
a decisão e com a reforma não se conforme o agravado, caso em que se dá a
remessa do instrumento ao tribunal, observado o art. 527, § 5~0~ Há, ainda,
as espécies dos arts. 528 e 529. Sempre, se ainda não foi julgado o agravo
de instrumento, e houve o recurso de apelação, tem-se de atender à regra
jurídica do art. 559.
12, funciona, para o juízo do outro recurso, com que subiu, como preliminar
processual. A separação é na própria instância do recurso se o agravo retido
nos autos não se prende a ato que somente na instância inferior poderia ser
praticado.
As Ordenações Filipinas, Livro III, Título 20, § 47, diziam: .... . tanto que o
feito vier concluso a primeira vez à Relação por razão de qualquer
incidente, para nela se despachar, ou por outra qualquer maneira que seja,
os Desembargadores, que dele conhecerem, poderão acerca do dito agravo
prover a parte, que se agravou no auto do processo, como lhes parecer
justiça.”
“apelação”, que aparecia nos arts. 876, § 1.0, e 852, do Código de 1939,
firmou-se a doutrina de que não só por ocasião de se julgar a apelação (que
pode não haver) se julga o recurso de agravo retido nos autos, antes “agravo
no auto do processo”.
Algumas precisões.
Se o agravo retido nos autos foi interposto por se não ter admitido a prova
requerida, ou uma das provas requeridas, e o tribunal dá provimento ao
recurso, a decisão importa que os autos desçam, para que se produza a
prova, salvo se a produção da prova pode ser feita imediatamente, como se
consiste em simples juntada de documento. Se, na instância inferior, a outra
parte teria de ser ouvida, abre-se-lhe vista na instância superior. Passa-se o
mesmo em caso de agravo retido nos autos por cerceamento, qualquer que
seja, de defesa de interessado.
O agravo retido nos autos, uma vez provido, tem repercussão no pretérito,
de modo que se há de reparar o gravame, antes de se prosseguir no
julgamento. Essa reparação pode ser na mesma sessão de julgamento, ou ter
de ser depois dela. Nesse caso, ou é no próprio tribunal que se procede à
reparação, ou descem os autos ao juízo agravado. Há as duas espécies de
que o caso é suscetível. As medidas necessárias às reparações do agravo
não são apenas as praticáveis no grau do recurso.
Nos tribunais que apreciam julgados de juizes coletivos são alegáveis a falta
de quorum , a presença de pessoa estranha (que altere ou não o alcance dos
votos), a falta de co-deliberação.
485, IV), de modo nenhum se pode chamar tal enunciado de fato preliminar
de julgamento. Quem alega que não houvera trânsito em julgado não alega
preliminarmente: já. está plenamente no mérito, porque elemento de algum
suporte fático não é preliminar.
As preliminares, senso lato, a que alude o art. 560, são as argüidas pelas
partes e qualquer interessado que possa recorrer, e as que foram suscitadas
pelo relator ou qualquer membro do corpo julgador. Quaisquer
preliminares, portanto, e qualquer que seja a pessoa que tenha legitimação
para a apreciação pelo corpo julgador. Quanto às preliminares do~ mérito
(prejudiciais), como a de prescrição, têm de ser preferentemente julgadas,
mesmo se algo pode ser posto a exame e julgamento, em virtude de oficio.
257
(a) Se foi citada pessoa diversa (O) da indicada (B), como réu, na petição, a
relação jurídica processual não é eficaz quanto à pessoa indicada na citação:
mas se formou eficazmente a relação jurídica processual A Estado B, que se
previa na petição; e O mesmo pode excepcionar (KONRAD HELLWIG,
Lehrbuch, II, 26).
214, § 1.0, e 741, 1); sem que essa atitude ponha no mesmo pé os casos de
inexistência e os de nulidade. Os arts. 214,
Quando ocorre caso de não ter sido citado, ou ~e ter sido citado, nulamente,
o demandado, a sentença ou formalmente dá por estabelecida a
angularidade da relação jurídica processual, o que não ocorrera, ou a
sentença nada diz a respeito e, então, no tocante à pessoa de que se trata,
não há de pensar-se em angularização superveniente, com eficácia ex tune.
259
Isso significa que o art. 741, 1, supõe que a sentença dê como figurante (=
como estabelecida, no tocante a ele, a angularidade da relação jurídica
processual), muito embora não tenha sido citado, ou haja sido nulamente
citado, quem figura como demandado na relação jurídica processual.
(b) Desde que se trate, in casu, de nulidade dos atos que estabeleceriam a
relação jurídica processual (dita, por elipse, porém com ambiguidade que se
há de evitar nulidade da relação jurídica processual) ou de nulidade absoluta
da sentença, ainda que não provenha da incompetência do juiz que a
proferiu, pode ser alegada no recurso que ainda resta, ou como preliminar,
aproveitando-se a relação jurídica processual que se estendeu com a
interposição dele, ou como matéria própria do recurso, se é que a alegação
da nulidade contém os pressupostos suficientes ou o pressuposto suficiente
para ele. A situação é semelhante à da alegação da inexistência da relação
jurídica processual, ou da inexistência da sentença recorrida.
(Quando a nulidade é dos atos que determinariam a criação da relação
jurídica processual, também há inexistência da relação jurídica processual,
porque a relação jurídica processual é efeito e, ex hypothesi, sendo nulo o
ato ou sendo nulos os atos de que ela resultaria, não houve efeitos.)
(c) Não muito distante disso é o caso da alegação de invalidade simples (se
o sistema jurídico a reconhece), que é a anulabilidade da relação jurídica
processual, ou a da sentença, isto é, quando essa ou aquela existe, porém
não é nula de pleno direito. Apenas, no caso de inexistência da relação
jurídica processual, o juiz põe-se por fora da relação, vigiando a própria
adição à sua função; o que também se passa a respeito das nulidades, de
pleno direito, dos processos. Ali, diz: “Nada aqui existe”; “O que aqui
existe é nulo”. A diferença conceptual faz a diferença entre os dois
enunciados, que definem inexistência e nulidade absoluta e separam os
conceitos, salvo se o direito positivo apagou a diferença fazendo inexistente
o que “existe e é nulo”. O conceito de inexistência, esse, escapa à
legislatura, porque é o não-ser que fica por fora de toda a construção da lei.
O que a lei pode fazer é equiparar ao inexistente o nulo de pleno direito. Se
ela conhece a diferença entre anulável e nulo, relativamente nulo e
absolutamente nulo, nulo e nulo pleno iure, nulidade sanável e nulidade
insanável, tem de reconhecer três classes de atos: nulos, nulos de pleno
direito e inexistentes. Porque a terceira classe é no plano da existência, onde
há o processual ou as construções processuais e o não-processual ou o que
não é construção processual. A terceira classe independe da lei; é o que está
fora do que ela construiu, do finito em que a lei tem de ficar.
(Paraná J., 58, 330), que no julgamento se saíram com toda exatidão: “O
art. 275 do Código do Processo Civil” de 1939, entenda-se, e hoje art. 249,
§ 2Y “autoriza que o juiz, quando puder decidir do mérito em favor da parte
a quem aproveite a declaração da nulidade, não pronuncie, nem mande
repetir o ato, ou lhe supra a falta. Certa, por conseguinte, a decisão de
segunda instância, que deixe de dar provimento a agravo no auto do
processo, interposto por uma das partes, sob fundamento de haver ocorrido
nulidade processual, quando a decisão do mérito for favorável a essa parte.
Desde, porém, que nos embargos haja razões para se reformar a decisão não
embargada, o agravo no auto do processo tem de ser reexaminado para ser
decidido, como for de direito”.
Art. 562. Preferirá aos demais o recurso cujo julgamento tenha sido
iniciado 1) 2)•
possível que essa não coincida com a da aprovação da ata, que é a resposta
afirmativa de exatidão, após a conferência da ata com o que se passou. Mas
é frequente que só após essa o juiz, incumbido de lavrar o acórdão, o
apresente à conferência. Aí, o art. 133 é invocável; bem assim o art. 187.
Ao futuro acórdão somente se pode alterar o que não coincide com o que
foi julgado. Ao julgamento nada se pode mudar.
Qualquer juiz que tenha sido vencido, ou apenas tenha divergido quanto aos
fundamentos, ou que entenda que conste do acórdão o que foi base do seu
voto, pode entregar o escrito a ser anexado. Tudo isso convém que seja
assunto minuciosamente exposto nos Regimentos Internos.
Se a publicação foi insuficiente, por ter sido omissiva, ou por ter sido
defeituosa, faz-se outra, da qual há de correr o prazo para os recursos (cf.
2.0 Grupo de Câmaras Civis do Tribunal de Justiça de São Paulo, 1.0 de
junho de 1950, R.
dos T., 188, 95). Aliter, se a primeira publicação foi suficiente (= na segunda
não ocorre alteração substancial, Tri bunal Federal de Recursos, 27 de
agosto de 1951, R. F., 141, 228).
510).
1. Recursos e ações
Também há a rescindibilidade especial, que vai aos atos judiciais que não
têm sentença, ou em que essa é simplesmente homologatória, para os atacar
onde seriam, fora do processo, inválidos. Tivemos o ensejo de mostrar que
com isso se fez transparente, digamos assim, a pele processual de tais atos
judiciais, ou, melhor, de tais atos praticados em juízo (Código de Processo
Civil, art. 486).
Se, tendo de haver debate oral, as partes não foram apregoadas, ou não o
foram as pessoas cujo comparecimento era obrigatório (arts. 450 e 327), de
modo que não se procedeu ao debate oral, a sentença é nula.
563 e 564).
A sentença, que não pode ser executada desde logo, porque seja recorrível,
é sentença a que não se dá cumprimento enquanto não se alcança a coisa
julgada formal. De modo que falar-se de recurso de efeito suspensivo não é
exprimir-se bem o que se passa: não se deve a suspensão ao recurso, tanto
assim que, antes da sua interposição, não se começa de cumprir; se, antes
dela, pudesse ser executada a sentença, então sim, a interposição do recurso
suspenderia. Na verdade, nada se suspende, porque a sentença mesma era, e
é, da classe daquelas que se não podem cumprir antes de transitarem
formalmente em julgado. A terminologia é admissível somente brevitatis
causa.
A apelação não instaura novum fudici um; o reexame leva a outra decisão,
que se substitui à. decisão apelada. Os poderes do tribunal de apelação são
os mesmos do juiz do primeiro grau; e os mesmos deveres.
(1) A experiência humana veio discernindo, aqui e ali, pela análise dos
fatos, as causas de inexistência, de nulidade ipso fure, de anulabilidade ou
de rescisão; e a processualística ocidental é o produto de dois milênios de
vida jurídica, de extração de princípios e de descobertas de sinteses entre o
princípio da força formal e o da discussão sobre as sentenças. Ou essas
sínteses levavam aos recursos, o que era só se permitir o ataque antes de
preclusão, ou a ações que abrissem brecha àquele princípio. Naturalmente,
cometiam-se erros a respeito, como o de se admitir ação e não recurso pela
infração na apreciação da prova, ou o de ter como causa de nulidade fpso
fure, em vez de causa de rescisão, a violação do direito em tese.
tinham ‘de pôr em lugar da decisão do magistrado: ~o. duplô grau baixava,
mas continuava duplo grau.
Não se pode dizer que tudo tenha sido contra a evolução político-social na
burocratização imperial: houve evolução no tocante à unidade, sem os
inconvenientes da monocracia, quando os Estados contemporâneos
puderam encher de democracia esse aparelho administrativo, e judicializá-
lo, mediante o principio da origem popular dos juizes, mesmo indireta, e o
principio da separação dos poderes. A carreira judiciária, sem o juiz eleito
de primeira instância, denuncia o romanismo de decadência, sinal de
inferioridade, nesse ponto, do Brasil do século XX ao Brasil das capitanias
e dos vice-reis. Por outro lado, tendo os Imperadores, e não só Justiniano
(L. 2, § 21, O., de veteri iure enucleando et auctorit ate iuris prudentium
qui in digestis referuntur, 1, 17), chamado a si a edicção das regras jurídicas
(~leges interpretari solo dignum imperio esse oportet!), as estruturas
democráticas contemporâneas distinguiram o condere e o interpretari leges.
A audácia usurpadora era tão artificial que permaneceram nos textos
referências ao poder interpretati~ dos juizes. Essa a explicação que
devemos dar à aparente contradição, sendo fantasiosa a de Coz~~imo
FEEiUNI (Manuale dt Pandette, 2.B ed., 28), que reduz a reserva imperial
de Interpretar à interpretação com força de lei.
O poder régio; que ~se substituiu aos poderes feudais e locais, em sentido
de maior integração dos círculos sociais, porém maior soma de despotismo,
em certos países propícios ao sufocamento das liberdades, teve a
oportunidade de invocar a armação imperial romana, o que prejudicou a
linha evolutiva desses países até hoje. Desse reforçamento de poder
nasceram recursos ou ações perante o rei, que destoariam das fontes
germânicas e das concepções pré-imperiais romanas.
Se o recurso tem efeito suspensivo, a sentença não pode ser executada. Para
que haja execução de sentença, é preciso que haja título e precutivo judicial,
e a sentença que não transitou em julgado, não no é, salvo se a lei à
semelhança do que ocorre com os títulos executivos extrajudiciais permite o
adiantamento de execução, em virtude de non plena cognitio. Só a lei pode
estabelecer tal executividade excepcional.
-se. ~Zurzia-se o estar fora dos poderes do juiz, no dizer a lei, e fazia e
chocante o erro (explicação de J. T. B.
LINDE, Handbuch, 397 s.), ressaltante pela evidência (N. TH. GÕNNER,
Handbuch, III, 388), ou contra o direito em abstrato (W.FRANci~, Beitrag,
397-400), ou excedente das regras jurídicas de competência (L. H. VON
que não deixa. dúvida é que operou longo processo histórico de luta entre o
método que hoje chamaríamos positivista de fontes e interpretação da lei e
o método de livre pesquisa, entre o literalismo e a interpretação construtiva.
Onde essa. exorbitou, aquela reagiu com a afirmação de existência. A
sentença contra sacras constitutiones advertia-se que não “existia” e assim
o direito “imperial” sustava a expansão interpretativa (L. 2, C., quae sit
longa consuetudo, 8, 52), com as doctrinae adulterin.ae, de procedência
grega, e a pululação dos direitos locais (JosEF KOHLER, Pro~ess und
Nichtprozess, 121 s.).
o que não está nas fontes. As novas indagações nos levaram à convicção de
se tratar de ação mandamental negativa, que tinha conteúdo declaratório, e
não constitutivo; e os casos de proibição, nos textos romanos antigos, de
intercessiones contra decreta sem violação da lei (questões de direito), em
vez de se entenderem como inovações, por ser ilimitado, antes, o poder
intercessional (sem razão, PIREo CALA1VI&NDREI, La Cassazione
Civzle, 1, 62), hão de ser interpretados como defensivos da pureza da
concepção das intercessiones e exprobrativos dos abusos. Na intercessio
não ia ordem de redecidir; ia a declaração, que estabelecta a tábua rasa e
dava ensejo ao magistrado de ter, de novo, de decidir a causa (certo E.
Izrkvi~, Du ROle des Tribuns de la Plêbe, 96). Os casos de intercessio por
infração de regra sobre a constituição do processo e da redação da fórmula,
sobre servirem de prova do tratamento que se dava às regras pré-
processuais e processuais, não eram menos suscitadores de intercessiones
mandamentais negativas, de conteúdo declarativo.
c)A actio contra iudicem qui litem suam fecit era ação de condenação
contra o juiz, para se haver indenização do dano, mesmo em caso de
imprudência (cf. H. SANDER, Syndi.katsklage, 9 s.; L. BARTOLI, Du juge
qui litem suam facit, 18 s. e 37 s.). Inconfundível com a ação do Estado
contra o juiz funcionário (L. BARTOLI, 26 s.), que também era de
condenação; e não constitutiva negativa, nem mandamental declarativa,
pois a sententia venalis era inexistente, e a decisão, que podia ser
declarativa negativa, ou mandamental de conteúdo negativo, não no era, por
ser seu objeto o ato do juiz, e não a sua sentença. A apelação, que era
querela iniquitatis .sententiae, e também as ações, a provocatio ad populum
e a intercessio tribunicia, tinham por objeto a sentença em si mesma; não
assim as duas ações acima referidas, condenatórias.
(Der Rechtszung> 91) exatamente lançou mão de tal alusão a non valere,
nos textos bávaros e burgúndios, para afirmar que, no direito germanico, era
inexistente a sentença injusta. Ora, aí estaria o traço romano, e não o
germânico. A verdade está em que da antítese germânica da força formal da
sentença, com a tese romana da inexistência, surgiu o conceito de nulidade
O autor, em vez de pedir, já enunciava, pro pondo, a decisão. Porque ele era
par na assembléia, a despeito do seu interesse individual. Essa proposta
podia ser acolhida, ou não, pelos achadores. A contradição ao não-
acolhimento ia à assembléia, que dava como adotada aquela, ou essa, ou
outra decisão (sem razão, H. SIEGEL, Geschichte des deutschen
Gerichtsverfahren, 148, que só entendia a escolha entre as duas; com razão,
J. W. PLANcK, Die Lehre von dem Beweisurteil, 17 5.). A controvérsia
podia estabelecer-se entre dois membros da assembléia sem serem já as
partes.
O mais leve exame dos sistemas germânicos basta para se ver que a
apelação não poderia nascer ai. A sentença era popular e imune a recursos.
Não havia decisão pelos achadores; havia algo de parecer, menos, portanto,
do que na appellatio e muito menos ainda do que nos outros recursos do
direito contemporâneo. Alguma coisa como relatório e a revisão antes dos
nossos julgamentos em tribunais. Andava-se à procura da sentença, em vez
de se estar a tentar reformá-la: não se reforma o que ainda não é (cf. R.
SoH~I, Die altdeutsche Reichs- und Gerichtsverfassung, 374; A.
(e) Quanto às nulidades ipso iure (no sentido moderno), não as vemos na
Lez Visigothorum; o elemento germânico opunha-se a isso. O art. 741, 1, do
Código de 1973, igual à do direito anterior, e outras regras jurídicas sobre
nulidades ipso iure têm fonte diversa. Porém o elemento germânico atuou
para que o nulo ipso iure fosse causa para ação de desconstituição, embora
sem processo ordinário, e não para declaração.
Foi isso que nos trouxe ao art. 471, 1, e aos outros casos de nulidade ipso
iure. O direito canônico foi veículo para as nossas sínteses do encontro
entre as teses romanas e as antíteses germânicas.
b)A querela nuílitatis dos estatutos italianos foi uma das sínteses entre o
princípio germânico da força formal da sentença e a distinção romana entre
sententia nuila e sententia iniusta. O direito romano não chegara à
concepção da querela constitutiva negativa, porque não conseguira
desvencilhar-se da sua equação “nuilus inexistente”. Tem-se por instituto
nascido no século XII (A. SKEDL, Die Nichtigkeitsbeschwerde, 54 s.). O
elemento romano assalta no direito estatutário a cada momento, inclusive
pela influência de regras jurídicas referentes à appellatio. Aos poucos os
estatutos foram diferenciando os prazos para o exercício da pretensão a
apelar (dez dias) e para o exercício da pretensão a querela (trinta dias,
Módena; um ano, Roma; Albenga, dois anos; etc.).
quand elie est donnée contre droit écrit et ancien usage du pays”).
Mas isso ocorre porque a coisa julgada material é uma das eficácias. Trata-
se de proposição evidente: há eficácias da sentença, a res iudicata é uma
delas; há eficácia antes de haver, ou mesmo se não há, eficácia de coisa
julgada material.
153, § 20. Se o juiz impõe, por exemplo, à mulher casada que durma no
quarto do marido, não é a interponibilidade de recurso, que pode afastar,
conforme a espécie, o deferir-se o pedido de habeas-corpos, ou de mandado
de segurança. Se o juiz manda castigar, cautelarmente, o menor, ou a
mulher casada, ou o empregado, não é a recorribilidade, que pode dar
fundamento para que se denegue o habeas-corpus, ou o mandado de
segurança, conforme a espécie. Se o juiz, em ação de contrato de locação de
serviços ou de trabalho, defere, cautelarmente, a medida da tatuagem como
marca de profissão, ou de claustro privado, não é com a alegação de haver
recurso que evita o mandado de segurança, ou o habeas-corpus contra o seu
ato de violência. Se o juiz, em qualquer ação, defere, como medida cautelar,
a suspensão de membros de órgãos de pessoa jurídica, não é com o
argumento de haver recurso que afasta o deferimento do pedido de
mandado de segurança. As situações são, preci5ameflte~ as mesmas.
Recursos
A decisão de não-admissão do recurso (e. g., de não-recebimento de
apelação) é negativa da extensão, é óbice à constituição da nova extensão
da relação jurídica processual. A decisão, na segunda instância, declara que
se constituiu, ou que se não constituiu a extensão. Se não se constituiu a
extensão e outro recurso não cabe, ou já não cabe, a decisão transitou
formalmente em julgado. Se a decisão era terminativa do feito, cessou a
relação jurídica processual, ou ex nunc, se não foi desconstituída, ou ex
tunc, se houve desconstituição desde o início.
Não se ignoram somente fatos extraprocessuais (e. g., o testador não sabe se
a pessoa que ele nomeou herdeiro lhe sobreviverá, ou se ainda vive),
ignoram-se efeitos de fatos jurídicos processuais (e. g., se o tribunal para o
qual se recorre admitirá o recurso, se a outra parte deixará de preparar o
recurso que interpôs, ou se já deixou de prepará-lo).