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I.

Suponha que

Em 2015, seis Estados (A a F) concluem uma convenção em matéria


militar que prevê a sua entrada em vigor com o depósito do instrumento

de vinculação do quinto Estado. Ainda em 2015 A, B, C e D efectuam


esse depósito. Em Janeiro de 2016 E deposita o mesmo instrumento

formulando uma reserva. A, B e C aceitam-na imediatamente. D não se


pronuncia. Em Setembro de 2016 F vincula-se. Em Fevereiro de 2017 G

solicita a adesão. Todos os Estado a aceitam, com excepção de E, que se


opõe.

1. Confira a situação da convenção em Março de 2017, face a todas as

ocorrências (7 valores).

A convenção concluída entre os Estados A, B, C, D, E e F entra em vigor


com o depósito do instrumento de vinculação do quinto Estado (E), em

Janeiro de 2016 (isso decorre da interpretação literal do enunciado; se a


interpretação fosse no sentido de que a vigência dependia da vinculação

pretendida com esse depósito, a vigência ocorreria apenas em Setembro


de 2016, com a vinculação de F - já que a vinculação de E ocorre apenas

em Janeiro de 2017, conforme se verá de seguida).


A reserva formulada por E condiciona a vinculação deste Estado e carece

da aceitação da todos os Estados (20.º/2 CV69) o que acontece apenas


em Janeiro de 2017, ou seja 12 meses após a sua formulação, já que E e

F não se pronunciaram).

O pedido de adesão de G carecia também da aceitação de todos os


Estados parte, já que se trata de uma convenção fechada (que não previa

a adesão), nos termos do art. 15.º c) CV69. Donde, a oposição de E


impedia que a adesão ocorresse.

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Em conclusão, em Março de 2017 a convenção estava em vigor entre tos

Estados que a haviam concluído em 2105 (A a F).

2. Explique qual seria a intervenção do PR no processo de vinculação de


Portugal a essa convenção (6 valores).

Tratando-se de matéria militar, integra o elenco da primeira parte da

alínea i) do art. 161.º CRP, pelo que seria necessariamente um tratado


solene, cabendo a aprovação à AR. Assim sendo, ao PR caberia a

eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º g), 277.º) e


a ratificação (135.º b).

3. Se, em Abril de 2017 se verificasse que o representante de B havia sido

subornado por um funcionário de G, poderia C considerar a convenção


inválida e retirar-se dela imediatamente? (7 valores)

O suborno do representante de B poderia configurar uma corrupção

(50.º CV69), mas apenas se tivesse sido praticado por um Estado que
tivesses participado na negociação (conforme refere expressamente

aquela norma). Donde, in casu, não existirá qualquer vício.

De qualquer forma, mesmo que o vício existisse, tratar-se-ia de uma


nulidade relativa que afectaria apenas o consentimento de B e apenas

por este poderia ser invocada (nos termos referidos no próprio art. 50.º)
– e nunca por C.

Finalmente é de referir que mesmo o Estado que legitimamente invoque

o vício nunca deverá abandonar ipso facto a convenção, estando


obrigado a iniciar o procedimento referido no art. 65.º ss.).

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II. Em Janeiro de 2015 os Estados A, B, C e D celebraram entre si uma
convenção que criava um imposto comum cujas receitas seriam
orientadas para o financiamento de projectos ambientais.

No texto da convenção estipulava-se que a mesma entrava em vigor


com o depósito do terceiro documento de ratificação.

C efectuou esse depósito em Março de 2015, A e B um mês depois. Mas

este último juntou uma declaração, nos termos da qual estabelecia um


limite máximo às suas contribuições financeiras. A e D aceitaram

imediatamente, mas C não se pronunciou.

Em Abril de 2015 E solicita a adesão que foi mediatamente aceite por A e


B.

Face a estas circunstâncias. explique:

1. Quem são as partes na convenção, em Maio de 2016 (assumindo que


nada mais se passou, entretanto)? (10 valores)

Trata-se de uma convenção multilateral restrita que entrava em vigor

quando três Estados se vinculassem. O terceiro Estado a vincular-se foi B


(em Abril de 2015) mas formulou uma reserva, a qual condicionava a

vinculação deste. Esta tem de ser aceite por todos (por se tratar de uma
convenção multilateral restrita – cf. art. 20.º/2 CV69 –, como se referiu).

Nem C nem D se pronunciaram pelo que, nos termos do n.º 5 do mesmo


art. 20.º CV69 considera-se que a aceitação surge decorridos 12 meses.

Donde, a aceitação ocorreu em Abril de 2016.

E solicitou a adesão em Abril de 2016. Não havendo referência a

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qualquer regime convencional sobre o assunto (15.º a) ou que o mesmo
tenha sido estabelecido pelas partes noutra altura (15.º b), a adesão

apenas pode ocorrer com o assentimento de todas as partes (15.º c) – o


que não ocorreu, uma vez que apenas se pronunciaram A e B.

No mês seguinte – em Maio de 2016 – as partes serão, portanto, A, B e C

(já que nada indica ter havido vinculação de D e a adesão de D aguarda


o assentimento dos demais).

2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção, qual seria a intervenção do

PR? (10 valores)

Trata-se de uma convenção em matéria fiscal (criava um imposto


comum). A matéria não integra o elenco da 1.ª parte do 161.º i) CRP pelo

que não tem de ser um tratado solene (podendo, por conseguinte,


assumir a forma simplificada). A competência de aprovação seria da AR

(segunda parte do 161.º i) e 165.º/1 i), que o deveria fazer através de


uma resolução (166.º/5).

Ao PR caberia, então,

(a) suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização


preventiva da constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º CRP) e

(b) assinar a resolução da AR que aprovou a convenção (134º b) – sob

pena de inexistência jurídica (137.º). Deste acto (assinatura da resolução)


haveria referenda ministerial obrigatória, sob pena de inexistência do

acto (140º).

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III. Por iniciativa da Assembleia Geral das Nações Unidas foi convocada
uma conferência intergovernamental que concluiu em 15 de Janeiro de

2015 uma convenção em matéria de protecção de espécies florestais


ameaçadas. A convenção ficou aberta para assinatura durante 90 dias.

Em 1 de Março do mesmo ano o Estado A assinou, mas informou, desde


logo, que excluía do elenco das espécies protegidas um tipo arbóreo (X),

muito abundante no seu território e cuja madeira era objecto de


exportação em massa, gerando receitas muito significativas.

Dois Estados vizinhos que haviam negociado a convenção declararam

imediatamente que aceitavam essa limitação sendo que alguns outros se


opuseram e a maioria não se pronunciou.

Em 30 de Junho A depositou o instrumento de ratificação da convenção,

a qual entrou em vigor em 15 de Agosto.

Em 1 de Setembro B – parte na convenção – protestou pelo facto de A


ignorar a protecção da espécie X em violação da convenção. A lembrou

a B ter formulado uma reserva que excluía tal obrigação.


Face a estas circunstâncias, explique:

1. Estaria A obrigado, na data em questão, a proteger a espécie X? (8

valores)

A formulou uma reserva com a assinatura (no sentido de excluir do


elenco das espécies protegidas o tipo arbóreo X), a qual deveria ter sido

confirmada com a vinculação (cf. GPR 2.2.1.) - já que esta não decorreu
da assinatura (2.2.2.). Nesse sentido, em rigor, deve assumir-se que a

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vinculação ocorreu sem qualquer reserva. E, por isso, A estava vinculado
desde 30 de Junho. Estando a convenção em vigor desde 15 de Agosto,

A estaria obrigado a proteger a espécie X em 1 de Setembro, nos termos


da própria convenção.

[Aos alunos a quem escape o pormenor da falta de confirmação da

reserva – que, numa situação prática, poderia/deveria ter sido lembrada


pelo depositário aquando da recepção do instrumento de ratificação –

deverão descontar-se 2,5 valores. Nesse caso a resposta ao caso prático


seria outra: sendo um tratado multilateral geral bastava a aceitação de

um Estado para que a vinculação se pudesse produzir – 20.º/4 a) – pelo


que havia igualmente vinculação em 1 de Setembro, mas com a reserva

a excluir a protecção da espécie X, pelo que esta não lhe podia ser
exigida].

2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção:

a. Como de deveria resolver uma inconstitucionalidade pontual na

mesma convenção detectada pelo Tribunal Constitucional em sede de


fiscalização preventiva? (4 valores)

Se o TC detectasse alguma inconstitucionalidade em sede de fiscalização

preventiva a mesma, sendo formal deveria ser objecto de correcção


(pode tratar-se de mera exigência interna susceptível de repetição),

sendo de outra natureza (inconstitucionalidade material) apenas poderia


ser evitada através [da confirmação pela AR – 279.º/2 ou] da formulação

de uma reserva (que excluísse ou modificasse o efeito jurídico da norma


julgada inconstitucional – 19.º e 20.º CV 69) ou eventualmente de uma

declaração interpretativa (GPR 1.2, 1.3 ss.) – se a determinação de um

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determinado sentido e alcance da norma fosse suficientemente para
obviar à inconstitucionalidade.

b. Qual seria a intervenção do PR? (8 valores)

Trata-se de uma convenção em matéria de protecção de espécies


florestais ameaçadas. A matéria não integra o elenco da 1.ª parte do

161.º
i) CRP pelo que não tem de ser um tratado solene (podendo, por

conseguinte, assumir a forma simplificada). Na medida em que a


convenção não conflituasse com a Lei de Bases do equilíbrio ecológico, a

competência de aprovação não seria da AR (161.º i), 165.º/1 g), mas do


governo (197.º/1 c), que o deveria fazer por decreto (197.º/2).

Ao PR caberia, então,

(a) suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização

preventiva da constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º CRP) e

(b) assinar o decreto do governo que aprovou a convenção (134º b) –


sob pena de inexistência jurídica (137.º). Deste acto (assinatura do

decreto) haveria referenda ministerial obrigatória, sob pena de


inexistência do acto (140º).

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IV. Os Estados A, B, C e D concluíram uma convenção que regulava o
uso, nos respectivos territórios, de moedas digitais.

Aquando do depósito do instrumento de vinculação, em Janeiro de


2016, o Estado B juntou uma declaração nos termos da qual considerava

que a referida convenção não de aplicava a eventuais unidades de conta


eventualmente usadas pela administração tributária para efeitos

orçamentais (sendo que essa situação ocorria em A e B). B informava


ainda os demais Estados que considerava a questão tão relevante que

condicionava a sua vinculação ao reconhecimento desse âmbito de


aplicação.

A e C declararam imediatamente ser esse o seu entendimento dos

termos convencionais, mas D, envolvido em complexos processos


eleitorais não se pronunciou.

Face a estas circunstâncias, explique:

1. Estaria B obrigado pela convenção em Março de 2016? (10 valores)

A declaração de B nos termos da qual considerava que a referida


convenção não de aplicava a eventuais unidades de conta

eventualmente usadas pela administração tributária para efeitos


orçamentais não deveria ser considerada uma reserva (já que não exclui

ou modifica o efeito jurídico de uma ou mais disposições da convenção


na aplicação a esse Estado (2.º/1 d) CV69, GPR 1.1), mas, antes uma

declaração interpretativa, já que apenas precisa ou clarifica o sentido e

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alcance de uma disposição (GPR 1.2). A declaração não visava um regime
especial (para B), mas referia-se antes ao regime regra (que se aplicaria,

portanto, também a A, país no qual existiam também unidades de conta


usadas pela administração tributária para efeitos orçamentais).

Tratando-se de uma declaração interpretativa, esta, em princípio não


afectaria a vinculação de B.

Todavia, quando B condicionou a sua vinculação ao reconhecimento

desse âmbito de aplicação, tornou a declaração interpretativa


condicional, à qual se aplica o regime das reservas (GPR 1.4). Assim

sendo, esta (declaração interpretativa) tem de ser aceite por todos (por
se tratar de uma convenção multilateral restrita – cf. art. 20.º/2 CV69). A

e C já o haviam feito aquando da formulação. D não se pronunciou,


impedindo a vinculação de B (que, a manter-se a situação, apenas

ocorreria em Janeiro de 2017, ou seja, depois de decorrerem 12 meses


(20.º/5 CV69).

Concluindo: em Março de 2016 B não era parte (não estando por isso
obrigado).

2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção, qual seria a intervenção do

Governo no processo? (10 valores)

Trata-se de uma convenção em matéria monetária, a qual não integra o


elenco da 1.ª parte do 161.º i) CRP, pelo que não tem de ser um tratado

solene (podendo, por conseguinte, assumir a forma simplificada). A


competência de aprovação seria da AR (segunda parte do 165.º/1 i) e

161.º/1 o), e que o deveria fazer através de uma resolução (166.º/5).


Ao PR caberia, então,

(a) suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização

preventiva da constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º CRP) e


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(b) assinar a resolução da AR que aprovou a convenção (134º b) – sob

pena de inexistência jurídica (137.º). Deste acto (assinatura da resolução)


haveria referenda ministerial obrigatória, sob pena de inexistência do

acto (140º).

V. Os Estados A, B, C, D e E assinaram uma convenção em Abril de 2014,


tendo em vista estabelecer diversos mecanismos de cooperação
académica. Na convenção estabelecia-se que a vinculação à mesma

decorria da assinatura.

Em Maio de 2014, F solicitou ao depositário que fosse admitida a sua


assinatura diferida.~

No mesmo mês, B formulou uma reserva no sentido de fixar limites às

suas contribuições em alguns dos programas criados na convenção.


Neste enquadramento responda às seguintes questões:

1. Como deve reagir o depositário ao pedido de F? (4 valores)

Considerando que a assinatura diferida apenas ocorre estando


expressamente prevista (até porque supõe a determinação clara do

prazo, do local ou locais, das entidades capazes de receber os


documentos, etc.) – e assumindo que isso não acontecia – o depositário

devia informar F dessa impossibilidade (e caso este insistisse, informaria


os demais estados do sucedido e do regime aplicável).

2. A reserva de B afectou a sua vinculação? Justifique (8 valores)

A reserva de B surgiu depois da vinculação, consistindo, portanto, numa


reserva tardia, que não é admissível excepto se expressamente admitida

pelo tratado (o que assumimos que não acontecia, já que não é referido)
ou se todas as partes o aceitarem (GPR 2.3).

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De qualquer forma, tendo ocorrido após a vinculação, nunca afecta esta

- a eventual aceitação pelos demais Estados, a acontecer, alteraria o


efeito jurídico do tratado na aplicação a B, mas o efeito condicionante da

vinculação já não ocorria.

3. Qual seria a intervenção do governo se Portugal se vinculasse a esta


convenção? (8 valores

Estamos perante um acordo em forma simplificada – já que a matéria

não integra o elenco da 1.ª parte do 161.º i) – cuja competência de


aprovação será do governo – art.s 197.º/1 c), 161.º i) 164.º e 165.º), que o

fará através de um decreto (197.º/2) - considerando que a cooperação


académica não é susceptível de conflituar com a lei de bases do ensino -

164.º i).

Neste enquadramento o PR poderá

(a) suscitar fiscalização da constitucionalidade (art.s 134.º, 278.º e 279.º)


e

(b) deverá assinar o decreto de aprovação.

Deste acto há referenda ministerial obrigatória (140.º).

Caso a convenção conflituasse com a Lei de Bases do ensino, então a

competência de aprovação seria da AR - 161.º i), 164.º i) – que o faria


através de uma resolução – 166.º/5. A intervenção do PR seria a mesma,

mas a assinatura recairia sobre esta resolução.

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VI. Suponha que

Os Estados A, B, C, D e E assinaram em 31 de Janeiro de 2012 uma

convenção que codificava e completava o regime consuetudinário


relativo ao rio X que atravessava o território de todos eles.

A convenção determinava a sua entrava em vigor com o depósito do


instrumento de ratificação do quarto Estado, mas previa a aplicação

imediata das partes III e IV (relativas ao controlo do cumprimento e à


resolução de conflitos).

Em Março de 2012 B deposita o seu instrumento de ratificação e

imediatamente solicita que sejam controladas as descargas de poluentes


efectuadas por D.

D recusa que esse controlo seja efectuado alegando que ainda não

estava vinculado à convenção. Acrescenta que, por outro lado, a sua


ordem jurídica assumidamente dualista não reconhecia a vigência do

direito internacional.

A protesta contra a posição de D recordando a expressa previsão da


aplicação imediata das regras convencionais relativas ao controlo do

cumprimento e chamando ainda à atenção para o facto de o regime

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relativo às descargas poluentes ser mera codificação do costume
existente na matéria.

Qvid jvris? [10 valores]

A situação prática exposta levanta três questões jurídicas distintas (1 a

aplicação provisória das regras convencionais – importanto conferir se


obrigam D mesmo antes da sua vinculação à convenção –, 2 o carácter

dualista da ordem jurídica de D – que não reconhecia a vigência do


direito internacional tornando necessário conferir se, obrigavam D – e

ainda o facto de 3 as regras relativas às descargas pré-existirem


enquanto regras consuetudinárias – o que obriga a que se pondere as

relações entre as diferentes fontes e a respectiva vigência) que serão


analisadas em cada um dos parágrafos seguintes.

1. Nos termos do art. 24.º CV69 as cláusulas finais [que são a parte do

dispositivo em que se regula entre outros aspectos a entrada em vigor, a


aplicação provisória, etc.] entram em vigor com a assinatura. A aplicação

imediata das partes III e IV da convenção constituiria uma situação de


aplicação provisória regulada pelo art, 25.º/1 CV69. Donde, ao contrário

do pretendido pelo Estado D, este estava obrigado àquele regime.[É


certo que o carácter provisório e voluntário da aplicação faz com que

qualquer Estado que participe nessa situação lhe possa pôr fim quando
o entenda e que a mesma aplicação cessa se o Estado comunica a

intenção de não se vincular, mas enquanto D pretenda prosseguir o


processo da sua vinculação deverá cumprir o estipulado].

2. D refere ainda que a sua ordem jurídica, assumidamente dualista, não


reconhecia a vigência do direito internacional. A doutrina reconhece

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desde a primeira metade do sec XX um regime de convergência que
reconhece aos Estados a liberdade de determinarem por via

constitucional (ou outra) o regime relativo à aplicação do direito


internacional, mas isso não afasta a obrigação de conformarem a sua

ordem interna ao cumprimento das suas obrigações internacionais


[princípio esse expresso no art. 27.º CV69]. Donde, ainda que a ordem

constitucional de D não reconhecesse a vigência do direito internacional


teria de cumprir as obrigações dele decorrente (por ser fonte de direito

internacional - 38.º ETIJ) podendo, se assim entendesse, transformar as


regras convencionais em actos nacionais.

3. Foi ainda referido por A a questão de o regime relativo às descargas


poluentes ser mera codificação do costume [local] existente. A ser

verdade as regras aplicar-se-iam independentemente da convenção,


impondo-se a D.

Em conclusão, embora D ainda não se houvesse vinculado à convenção

estava obrigado a cumprir as regras relativas às descargas (que se


impunham enquanto regras consuetudinárias) e a admitir o controlo do

cumprimento que se lhe impunha dado as regras beneficiarem de


aplicação provisória (determinada no texto convencional).

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VII. Os Estados F, G e H celebraram uma convenção que criava uma
força comum de patrulhamento das fronteiras terrestres e marítimas.
Já depois da entrada em vigor da convenção, F e G tomam

conhecimento de que a fórmula de cálculo aplicável à repartição das


despesas – e que tinha sido apresentada por H – assentava em

pressupostos incorrectos e prejudicava substancialmente ambos os


Estados.

Face a este circunstancialismo, responda directa mas

fundamentadamente a cada uma das seguintes questões:

a) Pronuncie-se quanto à validade da convenção; [3 valores]


O uso de pressupostos incorrectos que prejudicavam F e G na repartição

das despesas da força comum de patrulhamento das fronteiras constitui


dolo (art. 49.º CV69), já que, da parte de H, houve uma conduta

fraudulenta que induziu os demais Estados em erro. O dolo gera uma


nulidade relativa, ou seja, os Estados cujo consentimento foi afectado [F

e G] podem invocar o vício (e podem, se assim o entenderem, ponderar


da eventualidade de essa invocação se dirigir apenas a parte do tratado

– divisibilidade (44.º/3 e 4) – e, bem assim, podem preferir considerar o


vício sanado (45.º/1).

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b) Explique se G ao tomar conhecimento da situação poderia considerar-

se imediatamente desvinculado e exigir a devolução das contribuições


por si efectuadas; [3 valores]

Sendo que o consentimento de G foi afectado pelo dolo de H este tem

legitimidade para invocar o vício (49.ºCV69). Não pode todavia


considerar-se imediatamente desvinculado, devendo seguir o

procedimento previsto nos art.s 65.º ss. (comunicar a sua constatação


indicando da sua intenção, concedendo um prazo não inferior a 3 meses

para que os demais Estados se pronunciarem; se da parte destes


houvesse oposição deveriam recorrer a um dos mecanismos de

resolução pacífica de conflitos e se, no prazo de um ano não obtivessem


solução poderia dar início ao procedimento de conciliação previsto no

anexo da CV69).
Havendo nulidade (que decorreria do vício referido nas respostas

anteriores - dolo) esta tem como efeito a retroactividade, ou seja,


qualquer parte poderia solicitar a reposição da situação que existiria se a

convenção não tivesse sido aplicada (69.º/2 a). Nesse sentido poderia
exigir a devolução das contribuições por si efectuadas. No entanto, os

actos praticados de boa-fé, antes da nulidade de um tratado haver sido


invocada, não serão afectados pela nulidade do tratado (69.º/2 b) o que

significa que as despesas entretanto realizadas (de boa-fé) se


mantinham.

c) Indique qual seria a intervenção do Presidente da República no

processo de vinculação se o Estado português se vinculasse a esta


convenção. [4 valores]

Tratando-se de uma convenção que criava uma força comum de

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patrulhamento das fronteiras esta revestiria a forma de um tratado
solene (1.ª parte 161.º i) CRP) cuja a competência de aprovação seria da

AR (por se tratar de matéria relativa à defesa, nos termos da mesma


norma), através de uma Resolução (166.º/5), pelo que o PR poderia

eventualmente suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade


(134.º, 278.º) e – não havendo qualquer vício –, se entendesse que a

vinculação era politicamente adequada, deveria ratificá-la (135.º b) – acto


do qual deveria haver posterior referenda ministerial (140.º/1).

Notas decorrentes da correcção (relativas a deficiências ou erros


comuns)

[Em geral]

Os alunos não devem presumir que a repetição dos factos que constam
do enunciado tem, enquanto tal, algum valor. O que importa é identificar

(nos factos) as questões juridicamente relevantes e tratá-las.


[Questão I]

a. A assinatura de uma convenção apenas é expressão da vontade em

ficar vinculado [à convenção] se essa for a intenção dos Estados


(constante do próprio tratado ou de outro acto). Isso mesmo consta do

art. 13.º CV69.


No caso, prevendo-se [o depósito do instrumento de] ratificação, deve

constatar-se que a contrario sensu, não era essa a intenção, pelo que a
assinatura não vinculava.

b. Quando se referia que a entrada em vigor ocorria com o depósito do

instrumento de ratificação do quarto Estado, isso não significa (nem

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pode significar) que é o quarto Estado referido, mas o quarto a efectuar
esse depósito. Poderia, no caso ser A, B ou C.

[Questão II]

c. Dizer que determinada matéria – no caso, o patrulhamento das

fronteiras – integra o elenco das matérias constantes da 1.ª parte da


alínea i) do art. 161.º CRP não chega. É necessário explicar qual das

matérias (já que os termos não coincidem);

d. Boa parte dos alunos confunde o regime relativo à forma com o da

competência de aprovação da AR (não devem confundir-se porque não


coincidem sequer – a AR aprova acordos em forma simplificada, em

matérias da sua competência própria de aprovação);

e. Quando se pede para indicar a intervenção do PR no processo não é


necessário referir todo o processo de vinculação do Estado português.

Mas principalmente não deve referir-se este em abstracto. Se – como


acontecia no caso cuja análise era pedida – existem os dados suficientes

para determinar o nível formal da convenção para efeitos nacionais


[devia concluir-se que era necessariamente um tratado solene] não

devem os alunos na resposta referir as intervenções alternativas: sendo


acordo em forma simplicada ou sendo tratado solene. Tratando-se de

uma questão prática, o que se pretende é a aplicação do regime e não a


sua descrição genérica.

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VIII. Suponha que os Estados A, B, C, D e E celebraram entre si uma
convenção de codificação das regras de costume local relativas ao
acesso e utilização das águas de um lago que banhavam o território de

todos eles, nela fixando a aplicação imediata.

Ainda antes de a convenção entrar em vigor E recusou o acesso de


embarcações dos demais Estados às águas contíguas ao seu território,
contrariando o disposto na convenção que garantia o livre acesso.
Perante o protesto dos demais Estados, E reagiu lembrando que (a)

quaisquer regras consuetudinárias existentes lhe não seriam aplicáveis


dado que não participara na sua criação (E acedera recentemente à

independência) e a (b) sua constituição não reconhecia o costume.


Lembrou ainda que (c) não estando a convenção em vigor, dela não

resultava qualquer obrigação.

1. Aprecie a posição de E. (8 valores)

(a) E acedera recentemente à independência. Não participara, portanto

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na formação do costume objecto de codificação. Sobre esta matéria, o
entendimento (vigente durante muito tempo) de que o fundamento da

obrigatoriedade do costume seria o facto de se tratar de um pacto tácito


(o que faria com que não se aplicasse a novos Estados) está hoje

ultrapassado, sendo pacífica uma concepção objectiva que retira esse


fundamento do facto de se tratar de regras que constituem respostas

(critérios sentidos como justos) às necessidades da vida internacional,


acolhidas por uma maioria representativa da comunidade internacional.

E nesse sentido estas obrigam também os Estados que não participaram


na sua formação.

(b) Relativamente a facto de a ordem de E não reconhecer o costume

deve ter-se presente que os Estados têm liberdade para adoptar o


regime de vigência do direito internacional que entendam [cf. regime de

convergência de Hersh Lauterpascht, pp. 56 ss. da Lições, em especial p.


58]. Não obstante, há unanimidade na doutrina e na jurisprudência

relativamente ao facto de essa liberdade não admitir que estes possam


deixar de cumprir as obrigações resultantes do direito internacional.

Donde, se a ordem jurídica de E não reconhecesse o costume, para


assegurar o cumprimento das obrigações dessa natureza deveria

transformar as regras em causa em actos internos dos quais resultassem


as mesmas obrigações. O que implica que directa ou indirectamente (no

caso, indirectamente) E estava obrigado a cumprir o regime


consuetudinário (sob pena de responder internacionalmente pelos danos

resultantes desse incumprimento).

(c) Quanto ao regime convencional propriamente dito, as partes haviam


fixado a aplicação imediata. Estamos, portanto, no âmbito do regime da

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aplicação provisória (art. 25.º CV69) o que impõe o seu cumprimento
(até que algum Estado – E, neste caso – comunique a sua intenção de

não se tornar parte).

Em conclusão, E estava obrigado a cumprir o regime consuetudinário e o


próprio regime convencional que o codificava, não podendo por isso

recusar o acesso de embarcações dos demais Estados.


Suponha também que, aquando do depósito do instrumento de

vinculação, o Estado D apresentou uma declaração nos termos da qual


se reservava ao direito de impor quaisquer limitações necessárias à

preservação do ambiente. A e B aceitaram, E não se pronunciou e C


opôs-se, por considerar que isso daria origem a uma limitação ao livre

acesso e utilização das águas, garantido consuetudinariamente, pelo que


não podia surgir por via convencional.

2. Aprecie a posição de C e explique que consequências teria a mesma

para a convenção. (4 valores)

O regime consuetudinário podia ser alterado por via convencional já que


não há hierarquia de fontes de direito internacional. Não colhia o

argumento de C, portanto. Caso este insistisse em objectar à reserva de E


(e poderia fazê-lo, mesmo sendo inválido o argumento aduzido já que,

no limite, não necessitaria sequer de justificar a sua objecção) a


vinculação deste não se produziria, dado tratar-se de um tratado restrito

e a reserva não seria aceite (20.º/2 CV69) – o que impediria a vinculação


já que esta estaria sempre condicionada pela aceitação daquela.

3. Explique qual seria a intervenção do Presidente da República num

eventual processo de vinculação de Portugal a esta convenção. (4


valores)

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O acesso às águas territoriais não integra o elenco da 1.ª parte 161.º i)
CRP pelo que a convenção revestiria a forma de acordo em forma

simplificada. Não integrando também os elencos dos art.s 164.º e 165.º,


a competência de aprovação seria do governo (197.º/1 c). Este aprovaria

por decreto simples (197.º/2). Enviados ao PR (a convenção e o decreto


de aprovação) este poderia suscitar a fiscalização preventiva da

constitucionalidade das normas convencionais (278.º ss.) e (não havendo


inconstitucionalidade) deveria assinar o decreto de aprovação (134.º b).

Da intervenção do PR haveria referenda ministerial (140.º/1), devendo o


texto da convenção e os avisos relativos à aprovação e assinatura ser

depois publicados no DR (119.º/1 b).

Suponha finalmente que o Governo de A toma conhecimento de que

tinha sido garantido ao representante de E que, caso este assinasse a


convenção, as autoridades de B arquivariam uma investigação criminal

contra um filho seu e asseguravam o acesso de outro filho a uma


prestigiada universidade. Considera, por isso, nula a convenção, e

pretende a imediata devolução de todas as contribuições efectuadas por


si.

4. Aprecie a posição de A. (4 valores)

Haverá que conferir se as garantias dadas ao representante de E (de


arquivamento do processo e admissão do filho na universidade)

constituem uma forma de corrupção (art. 50º). Isso não parece acontecer
na medida em que o representante de E apenas assinou, não vinculou

este Estado (e na referida norma se refere [s]e a manifestação do


consentimento de um Estado em ficar vinculado). De qualquer forma,

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mesmo que houvesse corrupção isso daria origem a uma nulidade
relativa que apenas o próprio Estado poderia invocar (cfr. o mesmo

artigo quando refere aquele Estado pode invocar), e já não A.

Quanto ao pedido de devolução das contribuições deve referir-se que


havendo nulidade esta tem como efeito a retroactividade (ou seja, a

reposição da situação que existiria não tivesse o tratado sido aplicado –


cf. 69.º/2 a), mas esta comtempla algumas excepções, nomeadamente no

tocante aos actos praticados de boa-fé (alínea c) do mesmo artigo).


Donde, havendo nulidade invocável por A – o que não acontece, como

vimos – este poderia reaver as contribuições que não houvessem,


entretanto, sido gastas de boa-fé.

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