Você está na página 1de 2

Faculdade de Direito

Curso de Direito
Direito Internacional Público
Exame de Recurso - adiamento
2023.07.18 – 15h00

GRELHA DE CORRECÇÃO
(Tópicos que os alunos devem explicar e fundamentar na prova)

Suponha que
Os representantes dos Estados A, B, C, D e E assinaram em 1 de Março de 2012
uma convenção relativa ao regime de controlos fronteiriços esses mesmos Estados, que
pretendia codificar e desenvolver o regime consuetudinário existente. Estipulava-se
também que a convenção entraria em vigor no primeiro dia do segundo mês após o
depósito instrumento de ratificação (ou de acto equivalente) do quarto Estado.
B, C e D efectuarem esse depósito simultaneamente, em 12 de Junho de 2012,
tendo este último juntado uma declaração – fazendo depender a sua vinculação da
aceitação da mesma –, na qual esclarecia que, estando previsto o patrulhamento de
fronteiras por forças conjuntas, nessa matéria a convenção apenas se poderia aplicar
depois de constituídas as referidas forças (pelo que, até lá, cada Estado mantinha o
direito e a obrigação de efectuar o patrulhamento das suas fonteiras).
B e C declararam imediatamente nada ter a opor à posição expressa por D.
A, que se havia vinculado um mês antes (12 de Maio do mesmo ano, portanto),
não se pronunciou.

1. Estariam B e E obrigados a cumprir o regime convencional em 1 de Junho de


2012?
Não estando o tratado em vigor (o que ocorreria apenas com a vinculação de 3 Estados, em 12 do mesmo
mês) nenhum dos Estados estava obrigado ao regime convencional enquanto tal. Tratava-se, porém, da
codificação e desenvolvimento de um regime consuetudinário (pré-existente) relativamente ao qual a
vinculação existia nessa condição. Essa vinculação não existiria, porém, em relação às normas que
reflectissem um desenvolvimento do regime consuetudinário.

2. C e D são, ao presente, partes da convenção? Se sim, desde quando?


D formulou uma declaração interpretativa condicional [já que trata apenas de precisar ou clarificar o
sentido ou alcance de um algumas das disposições convencionais – cf. directiva 1.2. GPR2011 – e já não
excluir ou modificar o efeito jurídico dessas disposições na aplicação a este Estado – cf. art. 2.º/1 d) CV69],
aplica-se o regime das reservas (directiva 1.4). Donde, tratando-se de uma convenção multilateral restrita,
a sua vinculação depende da aceitação por todos (art. 20.º/2 CV69). A não pronúncia de A apenas pode
ser assumida como aceitação decorrido um ano (20.º/5 CV69) – ou seja em 13 de Junho de 2013. Assim
sendo, ao presente D seria parte, tal como C (este desde a vinculação, ou seja, 12 de Junho de 2012).
3. Qual seria a intervenção do Governo no processo de vinculação do Estado
português a esta convenção?
Ao Governo caberia, desde logo, a.negociar e b.assinar a convenção (197.º/1 b) CRP), sendo a negociação
efectuada pelo MNE ou por outro departamento governamental (Ministério da Administração Interna
e/ou da Defesa), desde que essa actividade fosse enquadrada e acompanhada pelo MNE (n.os 1 e 2 da
Resolução 17/88).
Sendo a matéria de controlo fronteiriço uma questão do foro policial (administração interna, portanto)
escapa aos assuntos militares e, não integrando o elenco da 1.ª parte do art. 161.º i) CRP, a competência
de c.aprovação seria do Governo (197-ª/1 c) CRP), que o faria através de decreto (197.º/2), a aprovar em
Conselho de Ministros (200.º/1 d).
Após a eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º g) e 278.º/1 CRP) pelo TC a pedido
do PR, este assinaria o referido decreto (134.º b), 197.º/2), havendo destes actos, d.referenda ministerial
obrigatória, sob pena de inexistência jurídica do acto (140.º).

4. Explique se, a 25 de Maio de 2012 B tinha já algum tipo de obrigação


decorrente do tratado em causa.
B não estava ainda vinculado em 25 de Maio de 2012 por não ter depositado o seu instrumento de
ratificação (o que ocorreu em 12 de Junho seguinte). Todavia, tendo assinado, tinha a obrigação de não
privar o tratado do seu objecto ou fim (art. 18.º CV69). Por outro lado, tendo em conta que as disposições
finais dos tratados entram em vigor com a assinatura (art. 24.º/4 CV69), B estaria vinculado a quaisquer
obrigações que eventualmente constassem dessa parte da convenção.

Suponha ainda que em 1 de Janeiro de 2013 o novo governo de A toma conhecimento


de que o representante de C havia assinado a convenção depois de lhe ser garantido
pelo governo de A um lugar na administração do seu banco central.

5. Explique se esse facto permitiria a A considerar inválida a sua vinculação,


exigindo ser ressarcido pelas despesas tidas.
A corrupção (art. 49.º CV69) do representante de C apenas afectaria a vinculação deste Estado e nessa
medida apenas poderia ser invocada por este (estamos perante uma nulidade relativa).
No mesmo sentido, porque a nulidade relativa afecta apenas a vinculação do Estado cujo consentimento
foi afectado (C), apenas este poderia, também, solicitar a reposição da situação que existiria se não tivesse
cumprido o tratado (69.º 2/a) CV69, salvaguardando-se, todavia, os actos produzidos de boa-fé, o que
provavelmente incluiria parte senão a totalidade das despesas efectuadas.

Duração da prova: 2h (sem tolerância).


Valor das questões: 4 valores cada.
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho durante a prova.
Podem ser consultadas quaisquer publicações e os textos normativos que estejam reunidos num só
maço, agrafado. Está interdita a circulação dos mesmos.

Você também pode gostar