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HUMANOS E
CIDADANIA
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
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O SEU LIVRO
NA VERSÃO
DIGITAL!
EXPEDIENTE
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenador(a) de Conteúdo
Eder Rodrigo Gimenes
Projeto Gráfico e Capa
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho Núcleo de Educação a Distância. PRADO, Francieli Muller.
e Thayla Guimarães
Educação, Direitos Humanos e Cidadania.
Editoração Francieli Muller Prado.
Juliana Duenha
Design Educacional Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. Reimpresso 2021.
Jociane Karise Benedett 144 p.
Revisão Textual “Graduação - EaD”.
Diego Delavega Marques 1. Educação 2. Direitos 3. Cidadania. EaD. I. Título.
Ilustração
Marta Kakitani
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 379.26
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Impresso por:
ISBN 978-85-459-2075-5
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- são, que é promover a educação de qua-
versão integral das pessoas ao conhecimento. lidade nas diferentes áreas do conheci-
Reitor
Wilson de Matos Silva
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
http://lattes.cnpq.br/5329262896894768
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA
A aprendizagem e a integração dos direitos humanos possuem relação com conhecer, possuir,
planejar e agir. Assim, o(a) aluno(a) assume uma responsabilidade única, a partir do momento
que passa a conhecer os direitos humanos como inalienáveis, pertencentes a todos, e ao saber
que são uma ferramenta de organização, uma estratégia única para o desenvolvimento econô-
mico, humano e social. Desse modo, a própria escrita sobre a temática dos direitos humanos
nos engaja em um trabalho de amor para mudar o mundo, de modo a integrar aprendizagem
significativa dos direitos humanos em todos os níveis da sociedade, o que leva ao planejamento
positivo das ações.
Teremos a oportunidade de refletir sobre como os Direitos Humanos são uma ferramenta po-
derosa para ação contra a desintegração social, pobreza e intolerância. Com o conhecimento
acerca dos direitos humanos, podemos nos unir para mudar um mundo onde o sistema é, por
vezes, injusto, em que justiça é injusta e mulheres e homens trocam a sua igualdade por sua
sobrevivência.
Este livro aspira evocar um diálogo e discussões que levem ao pensamento crítico e à análise
sistêmica do futuro da humanidade que todos esperamos gerar. Nas páginas a seguir, você
terá contato com uma estrutura que traça o caminho para compreensão dos principais temas
relacionados aos Direitos Humanos: educação, cidadania, minorias, política e desigualdade.
explorando Ideias
quadro-resumo
conceituando
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conecte-se
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01
8 UNIDADE 02
34
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS
DIREITOS HUMANOS
HUMANOS E A CONSTRUÇÃO DA
CIDADANIA
UNIDADE 03
58 UNIDADE 04
84
TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS
DIREITOS NO
HUMANOS E SEUS CONTEXTO
IMPACTOS NA DA POBREZA E DAS
EDUCAÇÃO POLÍTICAS PÚBLICAS
UNIDADE 05
110 FECHAMENTO
134
QUESTÕES CONCLUSÃO GERAL
CONTEMPORÂNEAS
DE DIREITOS
HUMANOS
1
INTRODUÇÃO AOS
DIREITOS
humanos
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Introdução aos direitos humanos
• Definição de direitos humanos • Origem dos direitos humanos no mundo • Principais fatos históricos
da Constituição dos Direitos Humanos • Os direitos humanos no Brasil.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender os pressupostos que serviram como base para a constituição dos direitos humanos no
mundo e no Brasil • Estudar as principais definições conceituais que envolvem os direitos humanos e
como ele evoluiu ao longo da história • Conhecer a origem dos direitos humanos • Evidenciar os prin-
cipais fatos históricos que constituíram os direitos humanos no Brasil e no mundo • Saber mais sobre
o desenvolvimento dos direitos humanos no Brasil.
INTRODUÇÃO
DIREITOS
humanos
10
UNICESUMAR
explorando Ideias
Como a Segunda Guerra Mundial levou às nossas modernas leis de direitos humanos?
Nos anos 30 e 40, cerca de seis milhões de judeus e milhões de outros, incluindo romanos,
homossexuais e pessoas com deficiência, morreram nas mãos dos nazistas. O surto da
Segunda Guerra Mundial levou a uma perseguição muito mais selvagem, incluindo assas-
sinatos em massa. Essa política de tratamento cruel e genocídio deliberado e sistemático
em toda a Europa ocupada pelos alemães chocaram o mundo. Depois que os nazistas
foram derrotados pelas Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, o mundo se uniu
para estabelecer padrões mínimos de dignidade a serem concedidos a todos os seres hu-
manos. Esses padrões mínimos se tornaram conhecidos como direitos humanos, foram
registrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos e executados na Europa sob
a Convenção de Direitos Humanos. Os artigos da Convenção que proíbem a tortura, a es-
cravidão e o trabalho forçado visavam claramente limitar o tratamento bárbaro à história.
Fonte: a autora.
Essa ação foi compreendida, por muitos, como um sinal de otimismo para uma
melhor proteção, promoção e aplicação dos direitos humanos. No entanto, 50
anos desde a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi relatado
que os abusos dos direitos humanos não diminuíram. O mundo está repleto de
exemplos de violações de direitos básicos, como censura, discriminação, prisões
políticas, torturas, escravidão, desaparecimentos, genocídios, execuções extraju-
diciais, detenções, assassinatos arbitrários, pobreza etc. Não só, mas os direitos
de mulheres e crianças também são ignorados de muitas maneiras diferentes.
pensando juntos
Você sabia que os direitos humanos envolvem direitos e obrigações? Os Estados assu-
mem obrigações e deveres sob o direito internacional de respeitar, proteger e cumprir os
direitos humanos. No nível individual, apesar de termos nossos direitos humanos, tam-
bém devemos respeitar os direitos humanos de outras pessoas.
Os princípios dos direitos humanos foram elaborados como uma forma de ga-
rantir que a dignidade de todos sejam igualmente respeitadas, isto é, para garantir
que um ser humano seja capaz de desenvolver e usar plenamente suas qualidades
humanas e satisfazer suas necessidades sociais e de sobrevivência.
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A dignidade dá, ao indivíduo, um senso de valor e a existência de direitos hu-
UNIDADE 1
UNICESUMAR
do com o objetivo de levar os criminosos de guerra nazistas à justiça. Esse evento
foi muito significativo para a consolidação dos direitos humanos, uma vez que
materializava um senso de justiça aclamado pelo mundo todo.
No entanto, o desenvolvimento da Guerra Fria (1947 – 1991) e de novas formas
de nacionalismo colocaram um ponto de interrogação sobre até onde se conseguiu
responsabilizar os mais violentos abusos de poder. Assim sendo, podemos sinalizar,
ainda, os eventos contemporâneos de violência de países, guerras civis etc.
Na teoria, não podemos falar de direitos humanos sem falar de Jürgen Ha-
bermas, que procurou explorar as ramificações dos direitos humanos. O autor
trouxe, em suas discussões, a teorização dos direitos humanos sobre a constitu-
cionalização do direito internacional. Assim:
“
No entendimento de Habermas, “direito”, na expressão “direitos
humanos”, é um conceito jurídico, donde direitos humanos, para
ele, serem direitos jurídicos, normas legais declaradas em atos de
fundações do Estado ou anunciadas em convenções do direito inter-
nacional e/ou constituições estatais. Ao conceber assim os direitos e
tematizar os direitos humanos numa abordagem tríplice (focando-
-os entre moral, direito e política), ele fornece diferentes definições
teóricas dos direitos humanos (LOHMANN, 2013, p.1 ).
Para o autor, na aplicação dos direitos humanos além das fronteiras do estado-na-
ção, tem-se, como fundamento, as responsabilidades do poder, sobretudo de pre-
venir ou de impedir atrocidades que ocorrem em outros Estados (LOHMANN, 2013).
Habermas (1999) apresenta uma crítica aos regimes neoliberais de direitos
humanos, os quais restringem os direitos humanos às liberdades negativas dos
cidadãos que adquirem um status imediato em relação à economia global. Além
disso, o autor menciona os direitos básicos para a provisão de condições de vida,
que são social, tecnológica e ecologicamente salvaguardados. No entanto, assim
como ele explica, esses direitos devem ser entendidos como derivados dos direitos
liberais e políticos clássicos (HABERMAS,1999).
Ainda de acordo com a “prioridade” aos direitos sociais e culturais, os direitos
básicos não fazem sentido, pela simples razão de que eles servem apenas para ga-
rantir o “valor justo” dos direitos básicos liberais e políticos, isto é, os pressupostos
para a igualdade de oportunidades para exercer direitos individuais. Em outras
palavras, o direito de exigir, para garantir uma condição de vida socialmente dig-
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na, deve ser entendido como um direito que as pessoas as quais vivem dentro de
UNIDADE 1
2
DEFINIÇÃO DE
DIREITOS
humanos
UNICESUMAR
dependem das especificidades do
indivíduo: são os direitos que todos
possuem igualmente, em virtude de
sua humanidade.
Christian Bay (1982) definiu direi-
tos humanos como quaisquer reivin-
dicações que devam ter proteção legal
e moral para assegurar que os direitos
humanos podem ser definidos como
os direitos mínimos que cada indiví-
duo deve ter contra o Estado ou outra Figura 1 – Nuvem de palavras / Fonte: a autora.
autoridade pública, em virtude de ser
um membro da família humana.
No preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, é des-
crito que “o reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inaliená-
veis de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, justiça
e paz no mundo” (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 2).
Assim como fora descrito na Declaração dos Direitos humanos, os direitos
humanos, em um sentido geral, denotam os direitos dos cidadãos. Contudo, num
sentido mais específico, constituem aqueles direitos que se tem precisamente por
ser humano.
Nas palavras de Freeden (1996), um direito humano é um dispositivo con-
ceitual, expresso em forma linguística, que confere prioridade a certos atributos
humanos ou sociais, os quais são considerados essenciais para o adequado funcio-
namento de um ser humano. Não só, mas se destina a servir como proteção para
aqueles atributos e apela para uma ação deliberada, a fim de garantir tal proteção.
Scot Davidson (1992) definiu os direitos humanos como intimamente ligados à
proteção de indivíduos do exercício do governo ou autoridade estadual em certas
áreas de suas vidas. Isso é também direcionado para a criação de condições sociais
pelo estado em que os indivíduos podem desenvolver seu potencial máximo.
Com base nas contribuições desses autores, pode-se afirmar que os direitos
humanos podem ser definidos como aqueles sem os quais os seres humanos não
podem viver com dignidade, liberdade (política, econômica, social, cultural) e
justiça em qualquer nação ou estado, independentemente da cor, local de nasci-
mento, etnia, raça, religião, sexo ou quaisquer outras considerações. Esses direitos
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são inerentes à natureza do ser humano e, portanto, garantidos e protegidos pelo
UNIDADE 1
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3
ORIGEM DOS
UNICESUMAR
DIREITOS
humanos no mundo
O termo direitos humanos entrou em vigor após a Segunda Guerra Mundial, par-
ticularmente, com a fundação das Nações Unidas, em 1945. Substituiu o termo
direitos naturais, porque se tornou uma questão de grande controvérsia e o termo
posterior, os direitos do homem, não era compreendido universalmente para a
inclusão dos direitos das mulheres. É comum, na filosofia política e entre os estu-
diosos, sugerir que os antecedentes dos direitos e liberdades contemporâneos são de
origens históricas dos direitos humanos da Grécia e da Roma antigas, os quais estão
intimamente ligados às doutrinas pré-modernas da lei natural do estoicismo grego.
A doutrina dos direitos humanos surgiu sob a forma de direitos naturais nos
escritos políticos de Thomas Hobbes, os quais foram chamados de “Leviatã”. A
chave para a filosofia política deste estudioso é a sua doutrina do estado de na-
tureza, na qual é descrita a pré-situação política da condição humana. Segundo
Hobbes (1997), todos os homens são iguais e cada um é dominado pelo desejo de
autopreservação. Na referida obra, o estudioso afirmou que todos os indivíduos
possuem liberdades e liberdades simples, que são correlacionadas com deveres e
obrigações por parte de outros. Para Hobbes (1997), o direito da natureza (direi-
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tos naturais) é definido como o direito à autopreservação, que é imediatamente
UNIDADE 1
em contraste com a lei da natureza (lei natural), que proíbe indivíduos de fazerem
algo destrutivo em suas vidas ou de omitir os meios de auto-preservação.
Nesse sentido, para que a ideia de direitos humanos (naturais) se consolide
como uma necessidade social geral, certas mudanças básicas nas crenças e nas
práticas da sociedade tinham que acontecer. Além disso, quando a resistência à
intolerância religiosa e à escravidão econômica começou, a longa transição para
as noções liberais de liberdade e igualdade, particularmente em relação ao uso e à
posse de propriedade, foi o fundamento do conceito moderno de direitos humanos.
Os escritos de Tomás de Aquino (1224-1274) e as Leis da Guerra e da Paz
explicam que os direitos naturais surgiram com a defesa de que os homens ti-
nham o direito de realizar reivindicações pela proteção de sua vida, liberdade e
propriedade. Nesse sentido, Locke (1997, p. 11) afirma que:
“
Homem que está nascendo com um pouco para aperfeiçoar a liberda-
de e para um descontrolado gozo de todos os direitos e privilégios da
lei da natureza, igualmente com qualquer outro homem por natureza
não só para preservar sua propriedade, sua vida, liberdade e proprie-
dade contra os ferimentos e tentativas de outros homens, mas julgar
e punir as violações da lei em outros (LOCKE, 1997, p. 11).
Ainda de acordo com Hobbes (1997) e John Locke (1997), existem muitos direi-
tos naturais, mas todos eles são inferências de um direito original, que é o direito
de um indivíduo de preservar sua vida. O que é intrinsecamente correto não é
mais o que é requerido ou o que participa da boa vida: é o que é subjetivamente
considerado pelo indivíduo como necessário à sua segurança.
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4
PRINCIPAIS FATOS
UNICESUMAR
HISTÓRICOS
da constituição dos direitos
humanos
A era moderna dos direitos humanos pode ser atribuída às lutas para acabar com
a escravidão, o genocídio, a discriminação e a opressão do governo. Atrocidades
durante a Segunda Guerra Mundial deixaram claro que os esforços anteriores
para proteger os direitos individuais contra violações do governo eram inade-
quados. Assim, nasceu a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH)
como parte do surgimento das Nações Unidas (ONU). A DUDH foi o primeiro
documento internacional que enuncia os direitos civis, políticos, econômicos, so-
ciais e culturais básicos que todos os seres humanos deveriam gozar. A declaração
foi ratificada, sem oposição, pela Assembleia Geral da ONU em 10 de dezembro
de 1948. Entretanto, antes disso, encontramos discussões, teorias e debates em
torno dos direitos humanos. É isso que vamos discutir a partir de agora.
Os direitos humanos são produto de um debate filosófico que dura mais de dois
mil anos, na busca de padrões morais de organização e comportamento político.
O surgimento dos direitos humanos se deu a partir da tradição de que existe uma
ordem moral cuja legitimidade precede condições sociais e históricas e se aplica a
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todos os seres humanos em todos os lugares e em todos os momentos. Nessa visão,
UNIDADE 1
SÉCULO XIX
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O NASCIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS
UNICESUMAR
A Segunda Guerra Mundial durou de 1939 a 1945 e, à medida que o fim se apro-
ximava, cidades da Europa e da Ásia estavam em ruínas. Além disso, milhões de
pessoas estavam mortas, ou desabrigadas e famintas.
Em abril de 1945, delegados de cinquenta países se reuniram em São Francisco,
com o objetivo de participar da Conferência das Nações Unidas. O propósito era
que essa organização internacional formasse um organismo internacional para pro-
mover a paz e impedir futuras guerras. Assim, a Carta da Organização das Nações
Unidas entrou em vigor em 24 de outubro de 1945, data que é comemorada todos
os anos como o Dia das Nações Unidas. A Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos inspirou várias outras leis e tratados de direitos humanos em todo o mundo.
Em 1948, a nova Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas havia
capturado a atenção do mundo. Sob a presidência dinâmica de Eleanor Roosevelt –
viúva do presidente Franklin Roosevelt, defensora dos direitos humanos e delegada
dos Estados Unidos na ONU –, a Comissão decidiu redigir o documento que se
tornaria a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Roosevelt, creditado com
sua inspiração, referiu-se à Declaração como a Magna Carta Internacional para
toda a humanidade. Foi adotada pelas Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.
Em seu preâmbulo, a Declaração proclama os direitos inerentes a todos os seres
humanos:
“
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos huma-
nos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da
Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos go-
zem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a
salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta
aspiração do ser humano comum (DUDH, 1948, p. 2).
21
A partir deste discurso, vieram apelos de todo o mundo, em busca de padrões
UNIDADE 1
de direitos humanos para proteger os cidadãos dos abusos de seus governos. Essas
vozes desempenharam um papel importante na reunião de São Francisco, que
elaborou a Carta das Nações Unidas em 1945.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu com o fim da segunda Guer-
ra Mundial. Com o término do conflito e a criação de Nações Unidas, a comunidade
internacional se uniu com um objetivo comum: nunca mais suportar as atrocidades
que o mundo acabara de testemunhar na guerra. A partir de então, os líderes do
mundo decidiram ampliar a Carta das Nações Unidas, a fim de consagrar e enco-
rajar garantias para os direitos dos seres humanos em todo o mundo.
A Assembleia Geral examinou os documentos entre setembro e dezembro de
1948, com mais de 50 Estados-membros, os quais votaram 1.400 vezes em, pratica-
mente, todas as cláusulas e em praticamente todas as palavras do texto. Em dezembro
de 1948, a Assembleia Geral, reunida em Paris, votou pela adoção DUDH com oito
nações abstendo-se, mas nenhuma discordando. Foi um momento histórico e a As-
sembleia Geral apelou a todos os Estados-membros que divulgassem o texto da De-
claração e a tornasse disseminada, exibida, lida e exposta principalmente nas escolas.
UNICESUMAR
HUMANOS
no Brasil
sitos e princípios, cuja realização se dava à luz das mudanças nas condições do
mundo. É importante destacar que a Carta não apenas incorporava limitações à
liberdade de ação de um Estado, mas também fez referência para o desenvolvi-
mento dos direitos humanos por meio da Constituição de cada nação.
A atual conjuntura de consolidação democrática pede uma lista mínima de
pré-requisitos para manter a democracia – como a liberdade de opinião, expres-
são, associação e organização, eleições livres e competitivas, rotação em poder,
mecanismos de responsabilização do governo, a capacidade dos movimentos so-
ciais participar abertamente na esfera pública. Nesse contexto, os compromissos
do Estado com a proteção dos direitos humanos se constituem como um fator
primordial na consolidação da cidadania.
No Brasil, a história dos direitos humanos está vinculada com a história das
constituições brasileiras e com a importância delas à garantia dos direitos. Nesse
contexto, a Constituição Imperial de 1824, que foi primeira constituição brasileira
a ser outorgada após a dissolução da Constituinte, trouxe a inviolabilidade dos
direitos civis e políticos que se baseavam na liberdade, na segurança individual
e na propriedade. Já a Constituição de 1934 trouxe alguns pressupostos liberais,
que, em alguma medida, garantiram alguns direitos adquiridos, além de:
“
Vedar a pena de caráter perpétuo; proibiu a prisão por dívidas, multas
ou custas; criou a assistência judiciária para os necessitados (assistên-
cia esta, que ainda hoje, não é observada por grande parte dos Estados
brasileiros); instituiu a obrigatoriedade de comunicação imediata de
qualquer prisão ou detenção ao juiz competente para que a relaxasse,
se ilegal, promovendo a responsabilidade da autoridade coatora, além
de várias outras franquias estabelecidas (ALVES,2009,p.10).
Vale destacar que, além dessas garantias, a Constituição de 1934 trouxe novas
normas de proteção social para os trabalhadores, estabelecendo igualdade de
direitos de salário, sobretudo em relação à idade, ao sexo, à nacionalidade ou ao
estado civil. Além disso:
“
Proibiu o trabalho para menores de 14 anos de idade, o trabalho
noturno para os menores de 16 anos e o trabalho insalubre para
menores de 18 anos e para mulheres; determinando a estipulação
24
de um salário mínimo capaz de satisfazer às necessidades normais
UNICESUMAR
do trabalhador, o repouso semanal remunerado e a limitação de tra-
balho a oito horas diárias que só poderão ser prorrogadas nos casos
legalmente previstos, além de inúmeras outras garantias sociais do
trabalhador (ALVES,2009, p.10).
“
Inviolabilidade à liberdade e, depois, no artigo primeiro, com os fun-
damentos e, ainda, no inciso terceiro (a dignidade da pessoa humana),
mais adiante, no artigo quinto, quando fala da inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à segurança e à igualdade (ALVES, 2009, p. 13).
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A Conferência Mundial de Direitos Humanos trouxe um maior envolvimen-
UNIDADE 1
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
Muitas pessoas consideram o desenvolvimento dos direitos humanos como uma
das maiores conquistas do século XX. De fato, assim como observamos ao longo
do livro, os direitos humanos não começaram exclusivamente com um movimen-
to político isolado, nem apenas com as Nações Unidas. Eles tiveram início com
um movimento de várias frentes, que foram legitimadas por documentos que
reivindicam os direitos individuais e se apresentam como precursores escritos
dos instrumentos de direitos humanos.
Embora a estrutura internacional de direitos humanos se baseie em documen-
tos próprios, todos são inspirados e tomam, como direcionamento, principalmente,
os documentos das Nações Unidas, que tratam os direitos humanos como uni-
versais: são sempre os mesmos e para todos os seres humanos em todo o mundo.
Nesse contexto, os direitos humanos não são garantidos a um sujeito, porque
ele é cidadão de qualquer país, mas porque é membro da família humana. Isso
significa que as crianças têm direitos humanos, bem como os adultos. Os direitos
humanos são inalienáveis: não se pode perdê-los. Além disso, são indivisíveis:
ninguém pode tirar um direito porque é “menos importante” ou “não essencial”.
Os direitos humanos são interdependentes e, juntos, formam uma estrutura
complementar. Por exemplo, a sua capacidade de participar da tomada de deci-
sões locais é afetada diretamente pelo seu direito de se expressar, de se associar
com os outros, de obter educação e até de obter as necessidades da vida.
Ademais, os direitos humanos refletem as necessidades humanas básicas, as
quais são necessárias para que os indivíduos possam viver com dignidade. Desse
modo, violá-los pressupõe que as pessoas não possuem a sua cidadania garantida.
Assim, defender os direitos humanos é exigir que a dignidade humana de todas
as pessoas seja respeitada.
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na prática
a) Constitui violações dos direitos humanos de escala, as quais são cometidas re-
petidamente por indivíduos que não seguem as normas legais de convivência.
Tais sujeitos não têm direitos assegurados, sobretudo os humanos.
b) Atribui uma obrigação à população de apresentar relatórios periódicos para a
apuração da responsabilidade dos Estados em relação aos direitos sociais.
c) Sugere que os direitos humanos não podem ser entendidos como universais,
visto que cada país possui as suas normas morais e legais, e deve ser considerada
a sua distinção de etnia, raça, gênero, religião ou tipo de governo.
d) Constitui violações dos direitos humanos de escala, as quais são cometidas repe-
tidamente por atores estatais ou não-estatais a qualquer comunidade ou grupo
de pessoas em suas vidas cotidianas.
e) Define o conceito de direitos humanos com a inclusão de direitos civis e sociais,
apenas.
28
na prática
Com base no fragmento da música e nos conteúdos discutidos em nosso livro, reflita
e descreva quais são os direitos que efetivamente são respeitados em seu bairro
e/ou cidade.
4. Desde a sua criação, as Nações Unidas têm se esforçado para concretizar as pro-
messas feitas pela comunidade internacional ao ser humano individual. O fato de
a organização ter ajudado a formular uma série de declarações e convenções é
de grande importância. Com base no exposto, qual documento é de fundamental
importância e apresenta as diretrizes para a consolidação dosdireitos humanos?
a) A Carta Nacional dos Direitos Humanos marca uma das ações importantes rea-
lizadas pelas Nações Unidas com a intenção de promover os direitos humanos
e as liberdades fundamentais.
b) O Pacto dos Direitos Civis e Políticos.
c) A Carta Americana, a qual marca uma das ações importantes realizadas pelas
Nações Unidas com a intenção de promover os direitos humanos e as liberdades
fundamentais.
d) A Assembleia Geral adotou a Declaração Universal, que reconhece a dignidade
inerente e os direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família hu-
mana, em 10 de dezembro de 1948.
e) O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
5. A Assembleia Geral confirmou que o pleno gozo de uma categoria de direitos de-
pende da realização das demais. Em outras palavras, todos os direitos humanos
e as liberdades fundamentais são indivisíveis e inter-relacionadas. Além disso, a
promoção e a proteção de uma categoria de direitos nunca deve isentar ou descul-
par os Estados da promoção e proteção de outra. Sobre essa afirmação, julgue as
afirmativas a seguir:
I - O exposto deixa claro que todos os direitos humanos são universais, indivisíveis,
interdependentes e inter-relacionados.
II - Os esforços para promover uma categoria de direitos devem levar plenamente
em consideração o progresso na implementação de outras categorias.
29
na prática
30
aprimore-se
CIDADANIA NO BRASIL
31
aprimore-se
Essas pessoas nem sempre têm noção exata de seus direitos, e quando a têm
carecem dos meios necessários para os fazer valer, como o acesso aos órgãos e
autoridades competentes, e os recursos para custear demandas judiciais. Frequen-
temente, ficam à mercê da polícia e de outros agentes da lei que definem na prática
que direitos serão ou não respeitados. Os “cidadãos simples” poderiam ser localiza-
dos nos 63% das famílias que recebem entre acima de dois a 20 salários mínimos.
Para eles, existem os códigos civil e penal, mas aplicados de maneira parcial e
incerta.
Finalmente, há os “elementos” do jargão policial, cidadãos de terceira classe. São
a grande população marginal das grandes cidades, trabalhadores urbanos e rurais
sem carteira assinada, posseiros, empregadas domésticas, biscateiros, camelôs,
menores abandonados, mendigos. São quase invariavelmente pardos ou negros,
analfabetos, ou com educação fundamental incompleta. Esses “elementos” são par-
te da comunidade política nacional apenas nominalmente. Na prática, ignoram seus
direitos civis ou os têm sistematicamente desrespeitados por outros cidadãos, pelo
governo, pela polícia. Não se sentem protegidos pela sociedade e pelas leis.
Fonte: Carvalho (2002).
32
eu recomendo!
livro
filme
conecte-se
33
2
DIREITOS
HUMANOS
e a construção da cidadania
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Desigualdades e a sua relação
com os direitos humanos • Cidadania e os direitos humanos • Movimentos sociais e a busca pela
cidadania.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Entender as diferentes formas de constituição das desigualdades e a sua relação com os direitos huma-
nos • Abordar o que é cidadania e como os direitos humanos influenciam a sua consolidação • Refletir
em que medida os movimentos sociais contribuem para a consolidação da cidadania na sociedade
global e brasileira.
INTRODUÇÃO
RELAÇÃO
com os direitos humanos
Olá aluno(a), seja muito bem vindo(a) à segunda etapa de nossa discussão. Neste
momento, avançamos na compreensão de todo o arcabouço que contempla a
discussão geral sobre direitos humanos e cidadania, com discussões de temas
transversais ao conceito, como desigualdade, cidadania e movimentos sociais.
Por desigualdade entendemos um estado de não igualdade, especialmente em
status, direitos e oportunidades. Existem muitas discussões acerca dessas duas
colocações, igualdade e desigualdade, à medida que tendem a significar coisas
diferentes para diferentes pessoas. Muitos autores definem a desigualdade econô-
mica como sinônimo principalmente renda e desigualdade monetária ou, mais
amplamente, de desigualdade em condições de vida. Outros distinguem ainda
mais os direitos baseados em abordagem legalista da desigualdade – desigualda-
de de direitos e obrigações associadas (por exemplo, quando as pessoas não são
iguais perante a lei ou quando têm poder político desigual).
No que tange à desigualdade econômica, grande parte da discussão pode resu-
mir-se em duas. A primeira é mais preocupada com a desigualdade de resultados nas
dimensões materiais do bem-estar e isso pode ser o resultado de circunstâncias além
do controle (etnia, antecedentes familiares, gênero e assim por diante) bem como
talentos e esforço. Já a segunda diz respeito à desigualdade de oportunidades, ou seja,
concentra-se apenas nas circunstâncias, além de um controle que afeta os resultados
possíveis. Esta é uma perspectiva que considera o potencial de realização.
36
No entanto, sobretudo, no Brasil, facilmente encontramos ambas as desigual-
UNICESUMAR
dades: econômica e de oportunidade. Amartya Sen (1999) propôs que o bem-estar
deve ser definido e medido em termos dos seres e dos feitos valorizados pelas pes-
soas (funcionamentos) e da liberdade de escolher e agir (capacidades). Essa abor-
dagem enfatiza a liberdade de escolher um tipo de vida em detrimento de outro.
Neste quadro, a equalização do rendimento não deve ser o objetivo, porque
nem todas as pessoas convertem renda em bem-estar e liberdade da mesma ma-
neira. Além disso, esse relacionamento parece altamente dependente de “circuns-
tâncias contingentes, pessoal e social” (SEN, 1999, p. 70), que incluem idade, sexo,
antecedentes familiares e incapacidade. Não só, mas também depende de condi-
ções climáticas, sociais (cuidados de saúde, sistemas de educação, prevalência do
crime, relações com a comunidade) e convenção entre outros fatores. Portanto, o
que deveria ser equalizado não é o meio de viver, mas as oportunidades reais de
viver que dão às pessoas a liberdade de perseguir uma vida de escolha própria.
Já Stewart (2005) defende a ideia de ir além do foco em indivíduos e examinar,
também, as desigualdades que surgem entre indivíduos, devido ao(s) grupo(s)
com o(s) qual(is) se identificam (cultural, gênero, idade etc.) e que podem ser a
causa do preconceito, da discriminação, da marginalização ou vantagem – um
fenômeno que o estudioso denominou como desigualdades horizontais.
Para concluir, pode-se afirmar que uma sociedade oferece oportunidades
iguais quando as circunstâncias não determinam as diferenças na vida (FER-
REIRA et al., 2000). Na prática, a igualdade de oportunidades existe quando as
políticas compensam os indivíduos que enfrentam circunstâncias desvantajosas.
A desigualdade econômica diz respeito ao modo como as variáveis econômicas
são distribuídas – entre indivíduos em um grupo, entre grupos em uma população
ou entre países. A teoria do desenvolvimento tem-se preocupado, com as, desigual-
dades nos padrões de vida, como as desigualdades em renda/riqueza, educação,
saúde e nutrição.
explorando Ideias
De acordo com o relatório da ONG Oxfam, divulgado em 2017, que utilizou como base
levantamentos sobre bilionários da revista “Forbes” e dados sobre a riqueza no mundo de
um relatório do banco Credit Suisse, no mundo, apenas oito bilionários acumulam a mesma
quantidade de dinheiro que a metade mais pobre da população do planeta, ou seja, 3,6
bilhões de pessoas juntas. No Brasil, seis homens concentram a mesma riqueza que toda
a metade mais pobre da população do país, ou seja, mais de 100 milhões de brasileiros.
37
Fonte: OXFAM (2017).
Muito dessa discussão se resumiu a um debate entre duas perspectivas: a primei-
UNIDADE 2
explorando Ideias
Trabalho e renda:
• A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua de 2017 mostra que
há forte desigualdade na renda média do trabalho: R$ 1.570 para negros, R$ 1.606 para
pardos e R$ 2.814 para brancos.
• O desemprego também é fator de desigualdade: a PNAD Contínua do 3º trimestre de
2018 registrou um desemprego mais alto entre pardos (13,8%) e pretos (14,6%) do que na
média da população (11,9%).
• Dados também da PNAD só que mais antigos, de 2015, mostram que apesar dos negros
e pardos representam 54% da população na época, a sua participação no grupo dos 10%
mais pobres era muito maior: 75%.
• Já no grupo do 1% mais rico da população, a porcentagem de negros e pardos era de
apenas 17,8%.
Fonte: Portal da Câmara dos Deputados (2018, on-line)4.
38
UNICESUMAR
explorando Ideias
Educação
• A taxa de analfabetismo é mais que o dobro entre pretos e pardos (9,9%) do que entre
brancos (4,2%), de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios)
Contínua de 2016.
• Quando se fala em acesso ao Ensino Superior, os dados se invertem: de acordo com a
PNAD Contínua de 2017, a porcentagem de brancos com 25 anos ou mais que possuem
Ensino Superior completo é de 22,9%. É mais que o dobro da porcentagem de pretos e
pardos com diploma: 9,3%.
• Já a média de anos de estudo para pessoas de 15 anos ou mais é de 8,7 anos para pretos
e pardos e de 10,3 anos para brancos.
Fonte: Exame (2018, on-line)5.
39
As pessoas experimentam desigualdades em várias dimensões, como no nível
UNIDADE 2
UNICESUMAR
que funcione bem. Isso ocorre, porque a maioria da população – aqueles que
estão no meio da distribuição de renda e abaixo dela – votará pela redistribuição
quando a renda e a riqueza estiverem concentradas em poucas mãos.
Entretanto, essa abordagem faz suposições muito fortes: que as pessoas são
capazes de reivindicar seus direitos, que o Estado é democraticamente responsável,
que as políticas apoiadas pela maioria não prejudicam os direitos de outros grupos,
que a integração global não limita as escolhas políticas e que os interesses econômi-
cos da elite não devem influenciar de modo negativo o acesso aos direitos sociais.
Na realidade, as desigualdades de renda e riqueza produzem desigualdades
na distribuição de poder. Quando o poder político das elites se expande à medida
que a distribuição de renda e riqueza se torna mais polarizada, isso compromete
toda a gama de direitos humanos.
Estudos que analisam as variações de desigualdade dos países mostraram que
a maior desigualdade está associada aos gastos governamentais redistributivos,
medidos pelos gastos com seguridade social e assistência social como parcela do
PIB. No Brasil, as duas das principais políticas públicas de ajuda aos mais pobres,
como o Programa Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC),
juntos, representaram um investimento apenas de 1,21% do PIB brasileiro. É
por meio da transferência de renda que é possível fazer que milhares de famílias
deixem a pobreza extrema e passem a ter condições de vida mais dignas (TRI-
SOTTO, 2018, on-line)6.
Vale destacar que as elites econômicas tendem a resistir às formas progressi-
vas de tributação mais justa, o que limita a capacidade do governo de mobilizar
recursos para o cumprimento de direitos.
Os direitos humanos fornecem orientações parciais sobre as implicações do
aumento das desigualdades na obtenção de direitos. No entanto, o quadro de
direitos humanos não chega a declarar uma distribuição particular de renda ou
riqueza como justa ou não justa. Isso se deve, em parte, porque os direitos huma-
nos focam sobre os resultados realizados, que moldam as escolhas e as liberdades
das pessoas. Portanto, uma distribuição justa de renda é aquela que permite a
mais plena realização dos direitos possíveis, consistente com os princípios de não
discriminação e igualdade.
O Art. 28 da Declaração Universal dos Direitos Humanos declara que “todos
têm direito a uma ordem social e internacional na qual os direitos e liberdades esta-
belecidos nesta Declaração possam ser plenamente realizados” (DUDH, 1948, p.6 ).
41
A distribuição de renda e riqueza e a dinâmica política representam uma
UNIDADE 2
2
CIDADANIA E OS
DIREITOS
humanos
UNICESUMAR
liberdade individual, na participação política e nos direitos de propriedade, com
foco no critério de ter uma vida boa e bem-estar social.
Um “cidadão” é um membro de uma comunidade política, definida por um
conjunto de direitos e deveres. “A cidadania representa, portanto, uma relação
entre o indivíduo e o estado, no qual os dois estão unidos por relações recíprocas
direitos e obrigações” (HEYWOOD, 1994, p. 155).
Cidadania é um status legal e uma identidade. Assim, existe uma dimensão
da cidadania, a qual compõe direitos e obrigações específicos com os quais um
Estado investe em seus membros e em uma dimensão subjetiva, um senso de
lealdade e pertencimento. Contudo, a cidadania objetiva, por si só, não garante
a existência de cidadania subjetiva, porque “membros de grupos que se sentem
alienados de seu estado, talvez por causa de desvantagem social ou discriminação
racial, não pode ser pensado adequadamente como ‘cidadãos plenos’, mesmo que
possam desfrutar de gama de direitos formais” (HEYWOOD, 1994, p. 156).
O sociólogo britânico Thomas Humphrey Marshall tem sido um ponto de
referência central da análise histórico-sociológica do desenvolvimento da cida-
dania moderna. Para o estudioso:
“
Cidadania é um status concedido àqueles que são membros de pleno
direito de uma comunidade. Todos que possuírem o status são iguais
em relação aos direitos e deveres com os quais o status é concedido.
Não existe um princípio universal que determine quais serão esses
direitos e deveres, mas as sociedades em que a cidadania é uma insti-
tuição em desenvolvimento criam uma imagem de um ideal de cida-
dania em relação ao qual a conquista pode ser medida e em relação ao
qual a aspiração pode ser dirigida (MARSHALL, 2002, p. 17).
Marshall (2002) compreendia a cidadania como partes diferentes e defendia que elas
estavam todas interligadas. Em seu livro Cidadania e classe social, o referido autor
destaca esses pontos e considera a cidadania como uma ideia dinâmica, como um
status dado àqueles que são membros de uma comunidade. No entanto, não existe
um princípio universal que determine quais são esses direitos e deveres. Além disso,
Marshall (2002) divide a cidadania em três partes: uma civil, uma política e uma social.
Esses três elementos da cidadania foram fundidos como resultado da fusão
das instituições. Marshall (2002) prossegue traçando a história da cidadania estu-
dando-a como um processo de fusão e separação, em que a fusão era geográfica e
43
a separação funcional. Ele atribuiu o desenvolvimento de cada parte a um século:
UNIDADE 2
direitos civis ao século XVIII, político ao século XIX e social ao século XX.
O elemento civil é composto pelos direitos necessários à liberdade individual,
como liberdade pessoal, liberdade de expressão, direito à propriedade, liberda-
de de pensamento etc. As instituições mais diretamente associadas aos direitos
civis são os tribunais de justiça. Inclui, também, o direito ao trabalho, ou seja, o
de seguir a ocupação da escolha de alguém, algo que foi negado pelos estatutos
e costumes (MARSHALL, 2002).
Os direitos civis foram os primeiros a aparecer, no século XVIII. Em seu
período formativo, foi uma adição gradual de novos direitos a um status que já
existia. Com cidadania civil, a lei e a igualdade foram garantidas para proteger a
liberdade do povo, se era certo trabalhar, o direito de circular livremente etc. A
cidadania civil abriu o caminho para a cidadania política (MARSHALL, 2002). O
elemento político significa principalmente o direito de participar no exercício do
poder político enquanto membro de um órgão investido de autoridade política
ou como eleitor dos membros de tal órgão, em que as instituições correspon-
dentes são o parlamento e os conselhos do governo local (MARSHALL, 2002).
Já o elemento político surgiu no século XIX, quando os direitos civis ligados
ao status de liberdade já estavam no centro de uma ideia geral de cidadania. A
cidadania política visava conceder os antigos direitos às novas seções da socieda-
de. O sufrágio universal marcou o início da cidadania política para os indivíduos,
mas Marshall (2002) afirma que a política não era um dos direitos de cidadania:
na verdade, era um privilégio da classe econômica limitada.
O elemento social significa ser capaz de viver em uma sociedade como um ser
civilizado, de acordo com os padrões vigentes na sociedade. Não só, mas de posse
de bem-estar econômico e segurança, para o direito de compartilhar plenamente,
no patrimônio social, as instituições do sistema educacional e os serviços sociais
mais intimamente ligados a ele (MARSHALL, 2002).
Os interesses variados de diferentes classes, gradualmente, levaram a um con-
flito maior. Enquanto os industriais buscavam mais lucros e nenhuma tributação, o
Estado de bem-estar social da cidadania precisava aumentar a taxação. A cidadania
social garantiu o suprimento de necessidades básicas, como saúde e educação, de
regras mínimas de salário, regras de horas máximas de trabalho, condições mínimas
de trabalho, segurança ocupacional e indenização por acidentes de trabalho etc.
Historicamente, a ideologia capitalista é baseada na desigualdade e na ex-
ploração dos trabalhadores e, portanto, o conceito de direitos sociais acaba por
44
conflitar com esses interesses sociais. O Estado lidou com esses dois interesses
UNICESUMAR
opostos, ao conceder alguns direitos à classe trabalhadora, impedindo-os de avan-
çar para um conflito maior que poderia derrubar o sistema.
A introdução dos direitos de cidadania, portanto, não acabou com as desi-
gualdades, mas apenas deu uma ilusão de igualdade, empurrando ainda mais a
classe trabalhadora para o sistema de exploração, consolando-as com melhorias
externas. Assim, Marshall (2002) levantou o questionamento da justiça da de-
mocracia, que só levaria o expansionismo capitalista com o véu da igualdade.
Desse modo, cidadão, para Marshall (2002), é aquele que exerce seus direitos
civis, políticos e sociais de forma efetiva. O conceito de cidadania não é fixo:
ele está sempre em construção à medida que a humanidade está em constante
luta pela ampliação dos direitos e maiores garantias de direitos individuais. Ser
cidadão, portanto, significa ter consciência dos direitos à vida, à liberdade e à
igualdade, os quais são divididos em civis, políticos e sociais. Assim, o Estado
tem o dever de garantir os direitos humanos, protegendo-os contra a violação,
mesmo que, em muitos casos, ele próprio cometa.
Brian Turner (1993), entre os primeiros a revisitar a teoria de Marshall, defi-
ne a cidadania como um conjunto de práticas legais, econômicas e culturais que
determinam um indivíduo como membro competente da sociedade. Tais práticas
moldam o fluxo de recursos para indivíduos e grupos sociais. A definição de Turner
nos permite analisar como indivíduos e grupos têm oportunidades diferenciadas
de se tornar membros competentes da sociedade. Desse ponto de vista, a identidade
cidadã, o sentimento de pertencimento e a solidariedade estão necessariamente
ligados ao problema da distribuição desigual de recursos na sociedade.
Já para Zamudio (2004), existem três dimensões da cidadania: status, exer-
cício e consciência. O status de cidadania é o conjunto de direitos e obrigações
entre indivíduos e o estado. Somente aqueles indivíduos e grupos que cumprem
todos os requisitos que definem a cidadania em um país terão o reconhecimento
formal do estado. Exercício de cidadania se refere às condições necessárias para a
realização dos direitos de cidadania e a incorporação de novos direitos (transfor-
mação das necessidades em direitos legítimos), de modo a redefinir e a expandir
a noção anterior de cidadania.
Por último, mas não menos importante, a consciência de cidadania faz refe-
rência à convicção de ser cidadão, com o reconhecimento do Estado expresso em
práticas concretas que garantem o exercício da cidadania. Em uma democracia
liberal, ser cidadão, ou seja, um membro competente da sociedade, parece estar
45
intimamente relacionado com a educação. A razão disso é porque, por meio da
UNIDADE 2
pensando juntos
Pode-se afirmar que a maioria dos brasileiros tem seus direitos respeitados? A cidadania
que vigora é real ou formal? Na cidadania formal, o direito à moradia digna foi reconhe-
cido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948.
Todavia, na cidadania real, cerca de 33 milhões de brasileiros não têm onde morar.
46
3
MOVIMENTOS
UNICESUMAR
SOCIAIS
e a busca pela cidadania
48
nacional. Vale destacar, porém, que a ocupação de espaços públicos tornou os
UNICESUMAR
movimentos sociais vulneráveis a uma severa reação repressiva da polícia, muitas
vezes, mas nem sempre, apoiada pelos militares.
Essa repressão é consistente com a destruição do público em geral e com a
valorização do privado, mas levou a um contínuo jogo de gato e rato entre os mo-
vimentos e a polícia. Esses movimentos não irão embora. Eles são uma forma de
“protesto líquido” que desaparece aqui apenas para reaparecer em outro lugar. É
preciso olhar para eles como parte de um movimento global conectado por mídias
sociais que fornecem o veículo para reorganização e flexibilidade contínuas.
Já aprendemos, em nossos estudos, que a Declaração Universal dos Direitos
Humanos protege não apenas os direitos civis e políticos, mas também os direi-
tos socioeconômicos “indispensáveis” para a dignidade humana. Tais direitos
incluem os de trabalho em condições justas e favoráveis para a educação e para
moradia, assistência médica e serviços sociais necessários para garantir um pa-
drão de vida adequado.
Na última década, os apelos aos direitos humanos universais ganharam força
renovada, animando uma série de lutas socioeconômicas no Brasil. Ativistas ala-
vancam cada vez mais os direitos para chamar a atenção para a injustiça social,
o racismo estrutural inerente às políticas públicas regressivas e que incluem o
defasamento e a desregulamentação dos serviços públicos essenciais.
Os direitos humanos também estão inspirando programas de ação impor-
tantes, como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS/ONU), por
exemplo. Projetos como esses explicitam as medidas necessárias a serem reali-
zadas na prática com envolvimento público e privado.
Entender a desigualdade econômica como uma causa e uma consequência
das violações dos direitos humanos tem o potencial de ser transformador. Os
direitos ajudam a mudar a narrativa sobre o que é justo e injusto. Ao exigir que
certas necessidades materiais essenciais para o ser humano devem ser garantidas
a todos, os direitos desafiam diretamente a lógica do fundamentalismo de mer-
cado. Dessa forma, observar os movimentos sociais de hoje unirem-se cada vez
mais ao redor dos direitos socioeconômicos é uma prova da visão duradoura da
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 2
50
na prática
51
na prática
I - Ser cidadão também impõe certos deveres em termos do que o Estado espera
de indivíduos sob a sua jurisdição.
II - Os cidadãos cumprem certas obrigações com o seu Estado e, em contrapartida,
podem esperar a proteção de seus interesses vitais. Isso é uma realidade da
maioria dos países com democracias consolidadas.
III - O conceito de cidadania tem muito mais camadas de significado do que a cida-
dania legal, que é a que encontramos no dia a dia.
IV - Atualmente, a cidadania é muito mais do que uma construção legal e se rela-
ciona – entre outras coisas – com o acesso aos direitos, que entendemos como
cidadania real.
É correto afirmar que:
a) Estão corretas apenas as afirmativas I, II e IV.
b) Estão corretas apenas as afirmativas I e IV
c) Estão corretas apenas as afirmativas I e III.
d) Estão corretas apenas as afirmativas II e III.
e) Estão corretas apenas as afirmativas III e IV.
52
na prática
53
aprimore-se
Há, hoje, uma epidemia de pessimismo em torno dos direitos humanos. Essa men-
talidade pessimista é compreensível por causa das situações preocupantes que os
ativistas de direitos humanos enfrentam todos os dias. A ideia de perigo e crise, no
entanto, aponta não apenas para o momento presente, mas também implica algum
conhecimento sobre tendências e mudanças ao longo do tempo: sugere que os di-
reitos humanos não foram desafiados antes e que a situação, agora, é pior.
Historicamente, o progresso dos direitos humanos ocorreu como resultado da
luta e tem sido frequentemente liderado por grupos oprimidos. Onde isso ocorreu, o
progresso dos direitos humanos não foi de todo inevitável, mas sim contingente ao
compromisso e esforço contínuos. Alguns ativistas e acadêmicos temem que, se ad-
mitirem que houve progresso, as pessoas se tornarão complacentes e desengajadas.
Uma pesquisa realizada com 346 pessoas do campo dos direitos humanos cons-
tatou que esse trabalho está associado a níveis elevados de depressão e transtorno
de estresse pós-traumático. Uma fonte disso parece ser uma autoavaliação negativa
sobre o trabalho em direitos humanos. Essas descobertas sugerem que uma das
partes mais difíceis de ser ativista de direitos humanos é a dúvida sobre se você está
contribuindo para uma mudança positiva. Um quadro de crise excessiva, portanto,
pode não apenas contribuir para a impressão de que o movimento pelos direitos
humanos tem sido historicamente ineficaz, mas também pode diminuir a motivação
e o bem-estar dos ativistas. Sem falar, ainda, no risco que as pessoas que trabalham
com direitos humanos sofrem, sobretudo no Brasil, onde, segundo a ONU, é um dos
países mais letais para ativistas.
54
aprimore-se
55
eu recomendo!
livro
Economia da Desigualdade
Autor: Thomas Piketty
Editora: Intrínseca
Sinopse: a desigualdade é consequência da concentração do ca-
pital? É transmitida de geração a geração ou deriva das diferenças
salariais, que, por sua vez, resultariam do jogo de oferta e deman-
da do mercado de trabalho? É possível reduzir a desigualdade de
oportunidades com investimento em educação? O sistema tributário moderno é
capaz de promover a redistribuição de renda ou é preciso uma grande reforma?
A Economia da Desigualdade demonstra que o antagonismo esquerda/direita do
debate político não discorda necessariamente em suas noções de justiça social,
mas sim nos mecanismos econômicos que produzem a desigualdade e em como
minorá-la. Em uma edição atualizada, incluindo gráficos e tabelas, o livro é mais
uma valiosa aula de Piketty sobre a natureza da distribuição de renda e o cenário
econômico mundial.
filme
56
eu recomendo!
conecte-se
Oxfam Brasil
A Oxfam Brasil faz parte de uma confederação global que tem como objetivo com-
bater a pobreza, as desigualdades e as injustiças em todo o mundo. Desde 2014,
somos membros da Confederação Oxfam, que conta com 19 organizações atuan-
do em 93 países. No total, são mais de 10 mil funcionários e 55 mil voluntários
pelo mundo, contribuindo para aliviar a vida de milhões de pessoas em situação
de emergência e ajudando na transformação social com base nos direitos huma-
nos e no desenvolvimento justo e igualitário.
Consulte as informações e dados disponíveis na plataforma:
Web: https://www.oxfam.org.br/publicacoes.
Relatório Mundial de Direitos Humanos (Brasil), disponível em: https://www.hrw.
org/pt/world-report/2018/country-chapters/313303.
57
3
TRATADOS DE
DIREITOS
humanos e seus impactos na
educação
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • A educação nos direitos humanos
• Os direitos humanos na educação • A diversidade cultural e os direitos humanos • Igualdade de
Gênero e os direitos humanos • Questões étnico-raciais e os direitos humanos.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender como a educação é inserida nos direitos humanos • Identificar como a abordagem dos
direitos humanos pode ser discutida no âmbito educacional • Avaliar como a diverisade cultural dialo-
ga com os pressupostos dos direitos humanos • Perceber como a igualdade de gênero se estabelece
dentro dos direitos humanos • Perceber como as questões étnico-raciais se estabelecem dentro dos
direitos humanos.
INTRODUÇÃO
DIREITOS
humanos
Olá aluno(a), seja muito bem-vindo(a)! Chegamos na terceira etapa de nossos es-
tudos. Neste momento, estudaremos definitivamente a proposta central dessa dis-
ciplina. Para tanto, discutiremos a educação e sua relação com os direitos humanos.
O direito humano à educação pode ser caracterizado como um direito de
empoderamento. Esse direito proporciona ao indivíduo maior controle sobre o
curso de sua vida e, em particular, mais um controle sobre o efeito das ações do
Estado sobre o indivíduo.
Em outras palavras, exercer um direito de empoderamento por meio da lei-
tura e escrita permite que uma pessoa experimente alguns benefícios e direitos
que existem, uma vez que eles podem ser acessados por meio da compreensão.
Isso se deve, o gozo de muitos direitos civis e políticos, como a liberdade de infor-
mação, a liberdade de expressão, o direito de votar e de ser eleito e muitos outros,
dependem de pelo menos um nível mínimo de educação.
Da mesma forma, uma série de direitos econômicos, sociais e culturais, como o
direito de escolher o trabalho, receber remuneração igual pelo trabalho, aproveitar os
benefícios do progresso científico e tecnológico e receber educação superior com base
na capacidade, só pode ser exercida de forma significativa após a obtenção de um nível
mínimo de educação. Isso se deve, vale para o direito de participar da vida cultural.
Além disso, para as minorias étnicas e linguísticas, o direito à educação é um
meio essencial para preservar e fortalecer sua identidade cultural. Por meio da
60
educação, é possível realizar um resgate de pressupostos universais de tolerância
UNICESUMAR
e respeito ao próximo, independentemente da sua diferença social e cultural, tais
como grupos étnicos, diferentes classes sociais e culturais.
A educação em direitos humanos tem seu início com, além de Carta das Na-
ções Unidas em 1948. Para Trindade (1993), foi nesse momento que a declaração
se tornou um instrumento de conscientização dos valores fundamentais da de-
mocracia e dos direitos humanos. Isso se deve, sobretudo com o desenvolvimento
de materiais educativos elaborados e disseminados pelos setores da sociedade
civil, e organismos internacionais.
Como é possível perceber, é necessário um forte apoio institucional para a
plena implementação do direito à educação. Nesse sentido, a UNESCO, como
agência especializada das Nações Unidas, desempenha um papel de liderança,
uma vez que, de acordo com a sua constituição de 1946, a educação se apresenta
como uma de suas principais funções.
A ação da UNESCO na educação é construída em torno de três objetivos estra-
tégicos: promover a educação como um direito fundamental; melhorar a qualidade
da educação; promover a experimentação, a inovação, a difusão e a partilha de infor-
mação, boas práticas, bem como o diálogo político na educação (UNESCO, 2005).
A UNESCO, em cooperação com outras organizações, como UNICEF e a Or-
ganização Internacional do Trabalho (OIT), por exemplo, tem sido instrumental
para iniciar reformas educacionais e promover a plena implementação do direito
à educação, assim como é evidenciado pelo extenso corpus de instrumentos de
definição de padrões, vários documentos, relatórios, bem como, os numerosos
fóruns, reuniões, grupos de trabalho e atividades de coordenação, colaboração
com estados, organizações intergovernamentais internacionais e ONGs.
A UNESCO é, portanto, a principal agência de cooperação internacional no
campo da educação. As Comissões Nacionais para a UNESCO asseguram que
as suas ações estão bem enraizadas nos Estados-membros.
explorando Ideias
61
As nações que faziam parte da ONU acabaram por incluir, em seus programas,
UNIDADE 3
1999 Convenção da OIT sobre as Piores Formas de Trabalho Infantil. Há o Comentário Geral Nº
13 sobre o Direio à Educação.
2000 Dakar Framework for Action, adotada no Fórum Mundial de Educação em Dakar, Senegal.
2011 - 2019 A ONU aprova a Resolução AG/66/137 adotando a Declaração das Nações
Unidas para a Educação e a Formação em Direitos Humanos, que versa sobre a atividade
educativa voltada para a promoção dos direitos humanos.
62
2
OS DIREITOS
UNICESUMAR
HUMANOS
na educação
vem ser capazes de agir de acordo com seus conhecimentos adquiridos e ter a
confiança para exercer seus direitos e respeitar os dos outros. Para conseguir isso,
os grupos-alvo precisam de habilidades e disposição (atitude) para poder aplicar,
promover e proteger os direitos humanos.
A educação em direitos humanos se concentra não apenas nos objetivos de
aprendizagem relativos ao conhecimento, habilidades e atitudes do aluno indivi-
dual, mas também no processo de aprendizagem, no ambiente de aprendizagem e
no contexto. Isso é igualmente expresso na Declaração da ONU sobre Educação
e Treinamento em Direitos Humanos, que afirma que a educação em direitos
humanos deve abranger a educação sobre, através e para os direitos humanos.
pensando juntos
Você acredita que o direito à educação é atualmente uma prioridade para a comunidade
internacional?
64
No Brasil, a luta pelos direitos humanos se consolidou no âmbito da educa-
UNICESUMAR
ção em 1996, com o lançamento do Programa Nacional dos Direitos Humanos
I (PNDH), que foi reformulado em 2010, a partir do lançamento do PNDH-3,
com o eixo 5, exclusivo da Educação em Direitos Humanos.
A Educação em Direitos Humanos foi instituída, enquanto política pública,
com a instituição do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos (CNE-
DH), seguida da elaboração do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNEDH),
em 2003, em resposta às exigências da ONU. O PNEDH é um instrumento orien-
tador e fomentador de ações educativas no âmbito da Educação em Direitos
Humanos, com o propósito de nortear a formação de sujeitos de direitos, voltados
para os reais compromissos sociais (BRASIL, 2013).
Em 2012, no Brasil, foram aprovadas, pelo Ministério da Educação, as Dire-
trizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH), que, por sua
vez, dialogam com a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei n° 9.394/1996). As diretrizes têm, como fundamen-
to, alguns princípios, tais como: a dignidade humana; igualdade de direitos; o
reconhecimento e a valorização das diferenças e das diversidades; a laicidade do
Estado; a democracia na educação; a transversalidade; a vivência e a globalização;
e a sustentabilidade socioambiental.
explorando ideias
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) é uma política pública que
consolida um projeto de sociedade baseado nos princípios da democracia, da cidadania
e da justiça social, por meio de um instrumento de construção de uma cultura de direitos
humanos que visa ao exercício da solidariedade e do respeito às diversidades.
O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) é produto de uma construção demo-
crática e participativa, incorporando resoluções da Conferência Nacional de Direitos Hu-
manos, além de propostas aprovadas em mais de 50 conferências temáticas, promovidas
desde 2003, em áreas como segurança alimentar, educação, saúde, habitação, igualdade
racial, direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência,
idosos, meio ambiente etc.
Fonte: Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos (2018).
65
3
A DIVERSIDADE
UNIDADE 3
CULTURAL
e os direitos humanos
UNICESUMAR
persistente contra esse grupo vulnerável. Vale destacar que essa causa se tornou
uma luta ampla dos direitos humanos em nível global e que ganhou repercussão,
sobretudo nos últimos anos, com o aumento da violência com o grupo.
Em 2011, 85 países assinaram uma declaração expressando a sua preocupação
com as violações dos direitos humanos contra pessoas LGBT. No mesmo ano,
o Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou a primeira resolução para
tratar, especificamente, sobre o assunto (ONU, 2013, on-line)9. Vale destacar que
76 países ainda continuam a proibir relacionamentos entre pessoas do mesmo
sexo, violando o direito do cidadão à privacidade. As penalidades variam entre
sentenças de prisão até a pena de morte, em sete países (ONU, 2013, on-line)9.
A cultura diz respeito ao comportamento das pessoas como membros de um
grupo. Assim, as normas de uma sociedade e valores fazem parte de sua cultura.
Nenhuma sociedade é culturalmente homogênea e pode haver diferenças cultu-
rais consideráveis dentro dos países.
explorando Ideias
No Brasil, por exemplo, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), existem 225 povos
indígenas, além de referências de 70 tribos vivendo em locais isolados e que ainda não fo-
ram contatadas. E, mas além do português – o único idioma oficial – há aproximadamente
180 outras línguas no Brasil.
Fonte: Doarth (2018, on-line)10.
67
No mundo, um marco importante contemporâneo de luta pelo alcance dos
UNIDADE 3
direitos humanos é a adoção da Agenda 2030, pois ela representa uma referência
internacional, não apenas em termos de complexidade e abrangência, mas tam-
bém em vista do grau de participação do público no processo de negociação e
envolvimento de países.
A Agenda 2030 está explicitamente fundamentada em instrumentos inter-
nacionais de direitos humanos e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Susten-
tável (ODS) buscam realizar os direitos humanos de todos. A Agenda 2030 e os
direitos humanos são, portanto, reforçados mutuamente: estes direitos oferecem
orientação para a implementação daquela, pois é sustentada por instrumentos de
direitos humanos que vinculam legalmente. Da mesma forma, a Agenda 2030 e os
ODS podem contribuir substancialmente para a realização dos direitos humanos.
As questões abordadas pelos 17 objetivos e os seus 169 objetivos refletem uma
ampla gama de direitos civis e políticos, além de econômicos, sociais e culturais.
Além disso, 90% das metas dos ODS estão vinculadas a disposições específicas
de instrumentos internacionais e regionais de direitos humanos. Os mecanismos
propostos para o monitoramento (acompanhamento e revisão) da Agenda 2030
também refletem princípios fundamentais e transversais de direitos humanos de
participação, responsabilidade e não discriminação. Um dos principais Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável estabelecido na Agenda 2030 das Nações Unidas
busca alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
Vale destacar que, diariamente, mulheres do mundo todo são as principais ví-
timas de violência física ou sexual. Essa não é apenas uma questão de integridade
física, mas também diz respeito a aspectos como direitos trabalhistas. As mulheres
ainda não gozam das mesmas condições no local de trabalho que os homens – e,
em todo o mundo, elas ganham menos. Além disso, ainda há casos de casamentos
forçados entre adultos e meninas e/ou adolescentes ainda menores, de mutilação
genital, sub-representação política e acesso garantido à educação sexual.
Nas sociedades em que as visões fundamentalistas e conservadores são forta-
lecidas, ocorre um apoio generalizado à redução dos direitos humanos, visto que
os governantes apelam para a homogeneidade cultural como base para restringir
os direitos a minorias sociais. Consequentemente, há um aumento da violência
contra esses grupos, o que têm impulsionado a população a uma maior intole-
rância e o ódio (contra os gays, as religiões diferentes, negros e indígenas).
68
4
IGUALDADE DE
UNICESUMAR
GÊNERO
e os direitos humanos
“
O Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2016 registra que, no Bra-
sil, mulheres recebem até 25% a menos que homens desempenhando
trabalhos semelhantes e que a taxa de mortalidade materna é de 44
mortes a cada 100 mil nascidos vivos (a Noruega, a primeira colocada
70
no ranking, apresenta 5 mortes para cada 100 mil). Na política brasi-
UNICESUMAR
leira, apenas 10% dos assentos do parlamento são ocupados por mu-
lheres (a Argentina conta com 37% e a Arábia Saudita com 19,9%). A
acentuada discrepância na participação política fez com que o Brasil
caísse 11 posições (atualmente ocupa a 90ª posição no ranking, o que
representa também uma queda de 23 posições desde 2011) no Relató-
rio de Desigualdade Global de Gênero 2017, divulgado em 2017 pelo
Fórum Econômico Mundial (ARAÚJO; FACCHINI, 2018, on-line).
explorando ideias
71
5
QUESTÕES ÉTNICO
UNIDADE 3
RACIAIS
e os direitos humanos
Assim como fora estudado, os direitos humanos podem ser entendidos como
algo que transcende interesses particulares ou contextos. Por isso, eles se tornam
um veículo de bondade, igualdade e humanismo (FLORES, 2002).
Nessa perspectiva, os direitos humanos são internacionalmente reconheci-
dos por difundirem e defenderem normas e valores que adotam e promovem a
dignidade, a justiça e a oportunidade para todas as pessoas e permitem satisfazer
as suas necessidades básicas, inclusive de segurança. Essas normas reconhecem a
inerente inter-relação entre o direito civil, político, social, econômico e os direitos
culturais das diferentes expressões de cultura e raça.
Além disso, um quadro de direitos humanos gera uma obrigação afirmativa
para os governos respeitarem, protegerem e cumprirem esses direitos. Essas obri-
gações exigem que o governo se abstenha de qualquer ação que interfira ou limite
a liberdade das pessoas em exercer seus direitos e requer que ele proteja indiví-
duos e grupos de humanos de abusos de direitos por terceiros. Não só, mas que
dê passos positivos para perceber o gozo dos direitos humanos de um indivíduo.
O sistema também pede ao governo que promova a igualdade e a não-dis-
criminação com base em categorias sociais, inclusive de raça, a qual é um fator
importante na nossa sociedade. Isso se deve, à medida que o Brasil apresenta,
desde a sua formação histórica até os dias de hoje, uma base racista velada, a qual
se mostra de modo ainda mais cruel do que se fosse explícita.
72
Além do mais, essa fumaça que esconde as relações de exclusão por raça fica evi-
UNICESUMAR
dente quando são confrontadas as estatísticas de desigualdade racial. No Brasil, quan-
do brancos e pretos são comparados nos campos de trabalho, violência, educação e
participação política, a distância é muito grande. De acordo com a PNAD (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios) realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) em 2017, há a seguinte desigualdade na renda média do traba-
lho: R$ 1.570 para negros, R$ 1.606 para pardos e R$ 2.814 para brancos (IBGE, 2018).
No Brasil, em 2017, registramos 11,3 milhões de analfabetos, sendo que os piores
índices se concentram na população preta e parda, com cerca de 9,9%. Já entre bran-
cos, os índices se mantém em 4,2%. Na educação superior, apenas 8,8% da popula-
ção negra com mais de 25 anos frequentou uma faculdade. Por sua vez, o índice da
população branca que chega à universidade se dá em torno de 22,2% (IBGE, 2018).
Essas estatísticas corroboram com a estrutura de racismo presente na nossa socieda-
de, em que os negros possuem seu acesso e direito à educação cerceados pela estrutura
social e institucional. É importante lembrar que, por racismo, podemos entender: uma
crença de que uma determinada raça ou etnia é inferior ou superior a outras. A discri-
minação racial envolve qualquer ato em que uma pessoa é tratada desfavoravelmente
por causa de sua raça, nacionalidade, cor, descendência ou origem étnica.
O racismo pode tomar a forma de estereótipos, xingamentos ou insultos, co-
mentários negativos na mídia, dano ou abuso na internet. Não só, mas também
pode ser a exclusão de pessoas e a dificultação do seu acesso a serviços (direta
ou indiretamente), emprego, educação ou esporte. Além disso, o racismo pode
ocorrer sistemicamente como resultado de políticas, condições e práticas que
afetam um amplo grupo de pessoas. Em sua forma mais grave, é demonstrado
em comportamentos e atividades que encarnam o ódio, a difamação, o abuso e a
violência da raça – particularmente experimentados por grupos que são visivel-
mente diferentes em consequência de sua vestimenta cultural ou religiosa, sua
pele cor ou sua aparência física.
Em última análise, o racismo é uma ferramenta para ganhar e manter o poder.
Também está inextricavelmente ligado a fatores socioeconômicos que frequen-
temente refletem desigualdades subjacentes em uma sociedade. Além disso, vale
destacar que a população mais vulnerável e marginalizada da sociedade acumula
uma série de problemas sociais e disparidade de acesso, muitas delas enraizadas
na estrutura social que possui relações diretas ao racismo.
Tudo isso quer dizer que o racismo, além da violência advinda do próprio
problema, traz consigo outros fatores de exclusão decorrentes dele próprio. De
73
acordo com a campanha Vidas Negras, realizada pelas Nações Unidas ([2019],
UNIDADE 3
Violência no Brasil
29%
Brancos
54%
46% Negros 71%
Brancos Negros
População Vítimas de
homicídios
Figura 1- Vítimas de homicídios no Brasil / Fonte: IPEA (2019).
UNICESUMAR
zar os flagrantes por acusação de tráfico de drogas. Vale destacar que esse dado é
fundamental para explicar os inúmeros casos de violência policial e de “confusão”
noticiados pela mídia, e que envolvem uma abordagem policial equivocada.
Situações como essas trazem à tona outras muitas denúncias desse tipo, em
que, na grande maioria das vezes, as vítimas mortas de modo equivocado pela
polícia são negros, como se a atuação ocorresse com base em um estereótipo pa-
drão de bandido com a cor da pele negra, como um tipo ideal de criminoso nato.
Isso quer dizer que o racismo, no Brasil, não está apenas em algumas pessoas: ele
faz parte da estrutura e, por vezes, institucionaliza-se no próprio Estado, que, em
tese, deveria zelar pela segurança e defesa de direitos de todos.
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 3
A educação assume o status de direito humano, posto que é parte integrante e au-
menta a dignidade humana por meio de seus frutos de conhecimento, sabedoria e
compreensão. Além disso, a educação tem o status de direito humano social, econô-
mico e cultural multifacetado. É um direito social, porque, no contexto da comuni-
dade, promove o pleno desenvolvimento da personalidade humana. É um direito
econômico, dado que facilita a autossuficiência econômica por meio do emprego.
Assim, o direito à educação é fundamental para a própria ideia de direitos
humanos. Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamava
que a educação elementar gratuita e compulsória era um direito humano básico.
Desse modo, a educação é compreendida não apenas como um direito, mas tam-
bém como um meio para a plena e efetiva realização de outros direitos humanos.
O direito à educação é apoiado, em grande parte, nos instrumentos e tratados de
direitos humanos. Vale destacar que todos esses instrumentos de direitos huma-
nos dependem amplamente do conhecimento e da educação sobre seus padrões
e objetivos. Por exemplo, o preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos reconheceu tal fato ao observar que “uma compreensão comum desses
direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse
compromisso” (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 3) de
promover o respeito universal e a observância dos direitos humanos. Isso implica
que a educação sobre direitos humanos é essencial para criar um mundo onde
estes sejam respeitados.
Vale destacar, também, que todos nós temos direito a uma educação voltada
para a construção e manutenção de uma cultura de direitos humanos. Devemos
ser capazes de aprender os direitos humanos e estudar em um ambiente em que
os direitos humanos sejam respeitados. É exatamente disso que trata a educação
em direitos humanos. Assim, podemos concluir que o direito à educação inclui
também o direito à educação em direitos humanos.
76
na prática
77
na prática
4. Qual das alternativas define uma política pública que consolida um projeto de so-
ciedade o qual visa fortalecer as práticas individuais e sociais que geram ações e
instrumentos para a promoção, defesa e proteção dos direitos humanos, bem como
reparação de violações?
78
aprimore-se
79
aprimore-se
cipatória, está armadilhada nessa dupla crise, ao mesmo tempo em que é sinal do
desejo de a ultrapassar.
A segunda tensão dialética que ocorre entre o Estado e a sociedade civil, apesar
de considerado o dualismo fundador da modernidade ocidental, aponta como pro-
blemáticas e contraditórias a distinção e a relação entre ambos.
Nas últimas décadas, tornou-se mais claro que a distinção entre o Estado e a socie-
dade civil, longe de ser um pressuposto da luta política moderna, é o resultado dela.
A tensão deixa, assim, de ser entre Estado e sociedade civil para ser entre interesses e
grupos sociais que se reproduzem sob a forma de Estado e interesses e grupos sociais
que se reproduzem melhor sob a forma de sociedade civil, tornando o âmbito efetivo
dos Direitos Humanos inerentemente problemático. Historicamente, nos países do
Atlântico Norte, a primeira geração dos Direitos Humanos, dos direitos civis e políti-
cos, foi concebida como luta da sociedade civil contra o Estado, considerado principal
violador potencial dos Direitos Humanos. A segunda e terceira gerações, dos direitos
econômicos, sociais e culturais e da qualidade de vida foram concebidas como atua-
ções do Estado, considerado principal garantidor dos Direitos Humanos.
Por fim, a terceira tensão ocorre entre o Estado Nação e o que designamos por
globalização. Hoje, a erosão seletiva do Estado Nação, imputável à intensificação da
globalização, coloca a questão de saber se, quer a regulação social, quer a emancipação
social, deverão ser deslocadas para o nível global. É nesse sentido que se começa a falar
80
aprimore-se
81
eu recomendo!
livro
filme
Crianças Invisíveis
Ano: 2005
Sinopse: o filme foi patrocinado pelo Unicef para retratar a in-
visibilidade de algumas crianças no mundo contemporâneo. Em
todos os sete curtas, dirigidos por celebrados cineastas do mun-
do todo, o tema central é a vida de crianças que vivem dramas e
responsabilidades como se fossem adultas.
Os sete curtas são excelentes, embora alguns sejam mais tristes
ou pesados que outros. Embora tenha sido produzido há mais de uma década,
continua, infelizmente, atualíssimo. Muitos professores já conhecem esse filme,
mas é sempre bom lembrar que muitas crianças ainda não o viram. Os curtas
tratam do abandono da infância de forma muito universal. Recomendamos, em
especial, o brasileiro.
82
eu recomendo!
conecte-se
83
4
DIREITOS HUMANOS NO
CONTEXTO
da pobreza e das políticas
públicas
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Os direitos humanos como ins-
trumento contra a pobreza • direitos humanos e as políticas públicas • Violação de direitos humanos
no Brasil.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender o fenômeno da pobreza e qual é a sua relação com os direitos humanos • Identificar
os princípios que orientam as políticas públicas para manutenção dos direitos humanos • Conhecer e
refletir sobre as diversas formas de violação dos direitos humanos na contemporaneidade.
INTRODUÇÃO
INSTRUMENTO
contra a pobreza
“
As tarefas urgentes incluem clarificação conceitual, bem como a pro-
moção de discussão pública, além de identificar projetos concretos de
ação relacionados à mudança institucional para promover a equidade
e para a salvaguarda da segurança humana básica. Uma melhor com-
preensão dos conflitos e valores tem que ser integrada com a investiga-
ção das demandas de saúde, educação, pobreza, remoção e redução da
desigualdade e insegurança de gênero (SEN, 2001, p. 38).
UNICESUMAR
mas com que ela se manifesta, hoje, estão se tornando cada vez mais complexas.
Essa complexidade é resultado de muitos fatores, incluindo a natureza mutável
das relações entre os seres humanos, o relacionamento entre sociedade, fatores e
processos de produção, as perspectivas dos governos e instituições internacionais,
como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e as Nações Unidas.
O conceito de pobreza evoluiu com o tempo. A pobreza, que costumava ser
compreendida apenas como relacionada à renda, é, agora, vista como um concei-
to multidimensional que deriva e está intimamente ligado à política, geografia,
história, cultura e especificidades da sociedade. Em países em desenvolvimento,
a pobreza é generalizada e caracterizada pela fome, falta de terra, recursos de
subsistência, políticas ineficientes de redistribuição, desemprego, analfabetismo,
epidemias, falta de serviços de saúde e água.
Nos países desenvolvidos, a pobreza se manifesta sob a forma de exclusão so-
cial com o aumento do desemprego e baixos salários. Sendo assim, vale destacar,
nos dois casos, que a pobreza faz-se presente pela falta de igualdade e equidade.
Pobreza significa não ter acesso às oportunidades que o mundo pode oferecer.
Isso se deve, porque pessoas que vivem nessa situação não são capazes de mudar
a sua situação, visto que, a elas, são negadas a liberdade política, a participação na
tomada de decisões de processos, a proteção pessoal, a possibilidade de participar
da vida de uma comunidade, a segurança à sustentabilidade, bem como o capital
próprio intergeracional. Enfim, a pobreza é a negação do poder e dos recursos
econômicos, sociais e políticos.
Existem várias definições de pobreza e suas manifestações. Do ponto de vista da
renda, uma pessoa é pobre se – e somente se – seu nível de renda está abaixo da linha
de pobreza definida. Muitos países adotaram, para a pobreza de renda, linhas para
monitorar o progresso na redução da incidência da pobreza. A linha de corte da po-
breza é definida em termos de ter renda para uma quantidade específica de alimentos.
De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano do PNUD (RDH,
1997, on-line)¹², “pobreza significa que as oportunidades e escolhas mais básicas
ao desenvolvimento humano são negados – para liderar uma vida longa, saudável
e criativa e para desfrutar de padrão de vida decente, liberdade, dignidade, autor-
respeito e o respeito dos outros”. O Índice de Pobreza Multidimensional utiliza
indicadores às pessoas para identificar as várias dimensões de pobreza, quanto
saúde e nutrição precárias, baixa educação e habilidades, meios de subsistência
inadequados, más condições de habitação, exclusão social e falta de participação.
87
UNIDADE 4
pensando juntos
88
ser capaz de aparecer em público sem vergonha; ser capaz de ganhar a vida; e
UNICESUMAR
participar de uma comunidade.
Para as crianças, a pobreza apresenta um forte impacto à medida que as nega a
oportunidade de cumprirem o seu potencial como seres humanos e as torna vul-
neráveis à violência, ao tráfico, à exploração e ao abuso. No Brasil, a desnutrição é a
principal causa de mortalidade infantil. De acordo com os dados divulgados pelo
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (2017), em
média, 207 mil crianças apresentaram desnutrição grave no país.
Com o aumento da pobreza e da desigualdade, o número de crianças fora da
escola está aumentando. No Brasil, 2.802.258 crianças e adolescentes de 4 a 17
anos estão fora da escola, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí-
lios (PNAD) de 2015. A exclusão escolar afeta principalmente meninos e meninas
vindos das camadas mais vulneráveis da população, já privados de outros direitos
constitucionais (UNICEF, [2020], on-line). O fator da evasão escolar está forte-
mente relacionado com a variável da pobreza. Um levantamento da Fundação
Abrinq realizado em 2018 mostra que 40,2% daqueles que têm até 14 anos vivem
em situação de pobreza; além disso, cerca de quatro milhões de crianças moram
em favelas. No Brasil, mais de nove milhões de crianças e adolescentes de até 14
anos vivem em extrema pobreza.
A estatística brasileira evidencia que o Estado é contraditório na sua atuação.
Por um lado, cria leis, assina tratados e acordos internacionais que garantem os di-
reitos da pessoa humana. Na prática, contraditoriamente, desrespeita tais direitos
e acaba por privar as crianças e os adultos de seus direitos constitucionais básicos.
Nos últimos anos, a pobreza e a exclusão social têm tomado centralidade nas
áreas de pesquisa (demandando solução) e política (no campo de ação) e, a partir
disso, acabam por definir o foco de outros temas e problemáticas sociais. Nesse
contexto, é relevante ressaltar que a pobreza é um problema complexo e, por isso,
não admite uma solução fácil, tampouco uma compreensão rasa.
Tradicionalmente, o fenômeno da pobreza é associado à renda insuficiente.
Isso quer dizer que, ao pensar em pobreza, a renda acaba por ser considerada um
fator primordial de análise, porém não é o único. Critérios como gênero, com-
posição e estrutura familiar, etnia e cor da pele, idade e classe social e econômica
devem ser considerados critérios para entender a pobreza.
De acordo com dados do Banco Mundial, a pobreza, no Brasil, atinge 21%
da população (AGÊNCIA BRASIL, 2019). Por outro lado, nosso país tem uma
89
grande disponibilidade de recursos e é marcado principalmente por se posicionar
UNIDADE 4
entre as dez maiores economias do mundo. O fato é que, ao avaliar apenas o fator
renda, não se tem um panorama do nível de bem-estar dos indivíduos. A pobreza
e a desigualdade, desse modo, devem ser entendidas de forma mais abrangente,
ou seja, como uma privação de capacidades básicas que conduz à vulnerabilida-
de, exclusão, carência de poder, de participação e de voz, exposição ao medo e à
violência, enfim, à exclusão de direitos básicos e de bem-estar.
Por exemplo, em um caso de um Estado de bem-estar altamente desenvolvido,
que oferece educação, assistência social e saúde à população, uma renda baixa
não implica necessariamente em uma vida sem conforto, já que suas necessidades
básicas estão sendo atendidas. Por outro lado, se o Estado não garante a educa-
ção, assistência social e saúde à população, uma renda altamente elevada pode
não ser suficiente para proteger dos riscos ligados à pobreza. Sobre a temática,
contribuem Rego e Pinzani (2013, p. 149):
“
A presença da renda estável não constitui, portanto, uma garantia
absoluta contra problemas ligados à pobreza: estes se resolvem antes
por meio de políticas públicas voltadas à satisfação de necessida-
des básicas, quer diretamente (prestação de serviços básicos), quer
indiretamente (criação das condições nas quais os indivíduos con-
seguem satisfazer suas carências básicas).
90
2
DIREITOS
UNICESUMAR
HUMANOS
e as políticas públicas
Conforme estudamos até aqui, podemos afirmar, portanto, que a renda e a sua distri-
buição não são suficientes para pensar em pobreza, pois uma entende que a pobreza
não deve ser considerada apenas a partir de uma perspectiva econômica, mas que
outros fatores também devem ser considerados, tais como: a problemática do desem-
prego, assistência em saúde, discriminação social e cultural, violência e educação etc.
Para tratar essas problemáticas, o Estado desempenha um papel primor-
dial, sobretudo em relação à atividade política. Nesse caso, estamos nos refe-
rindo à ação de atender a um conjunto de necessidades da vida social de uma
determinada comunidade, localidade, cidade, estado ou país.
A atividade política de um Estado visa atender a uma série de objetivos da
vida coletiva de um povo ou de determinado segmento social (MELAZZO; GUI-
MARÃES, 2010). Colocado dessa maneira, a problemática do desemprego, as-
sistência em saúde, discriminação social e cultural, violência e educação são de
responsabilidade do Estado. Logo, cabe, às políticas públicas, a implantação de
ações e estratégias de intervenção que possam impactar nessa realidade.
Afinal, o que são políticas públicas? A abordagem das políticas públicas se in-
sere no contexto das ciências sociais aplicadas, mais especificamente no da gestão
pública. Partindo de um conceito geral, política pública é tudo o que um governo
91
faz e também o que não faz, pois até mesmo o não fazer pode ser considerado
UNIDADE 4
uma ação política, à medida que acarreta todos os impactos de suas ações e de
suas omissões (AZEVEDO, 2011).
O que distingue política pública da política é que a política é exercida pela so-
ciedade civil, e não apenas pelo governo. Já a política pública é condição exclusiva
do governo, desde sua formulação, deliberação, implementação e monitoramento.
Do ponto de vista teórico-conceitual, as políticas públicas podem ser entendidas
como toda ação abrangente e permanente do Poder Público em uma determinada
área de atuação, ou seja:
“
Trata-se de uma linha de estratégias adotadas para lidar com deter-
minados objetivos/problemas previamente selecionados, linha essa
que se materializa/consubstancia na maioria das vezes, por meio de
princípios, diretrizes, objetivos e normas mais ou menos explicitados
em planos, programas e projetos, e, dependendo de cada caso, tam-
bém por arcabouço legal (MELAZZO; GUIMARÃES, 2010, p. 237).
Dado o conceito, as políticas públicas ainda podem ser divididas em três tipos:
políticas públicas distributivas, políticas públicas redistributivas e políticas pú-
blicas regulatórias:
Políticas distributivas: as políticas públicas distributivas têm
objetivos pontuais ou setoriais ligados à oferta de equipamentos
e serviços públicos. Quanto ao financiamento, é a sociedade
como um todo, através do orçamento público, quem financia
sua implementação, enquanto os beneficiários são pequenos
grupos ou indivíduos de diferentes estratos sociais. As políticas
públicas distributivas atendem a demandas pontuais de grupos
sociais específicos. Em geral, porém, em um contexto de grandes
desigualdades sociais, esse tipo de política pode ser usado como
moeda de troca nas eleições. No entanto, é preciso sublinhar que
as políticas distributivas podem ser implantadas sem cliente-
lismo. Exemplos: Rodovias: O governo construiu isto usando
nosso dinheiro de imposto. Todas as classes de cidadãos são
livres de usá-lo. Escolas públicas: As crianças de todas as classes
são aceitas pelas escolas públicas. Programa de renda mínima.
Programa Bolsa Família, política pública de transferência direta
92
de renda, ou seja, uma política distributiva alocando recursos
UNICESUMAR
para os segmentos mais pobres da população.
Políticas redistributivas: o objetivo das políticas públicas
redistributivas é redistribuir renda na forma de recursos e/ou
de financiamento de equipamentos e serviços públicos. No
que se refere ao financiamento, são os estratos sociais de alta
renda os responsáveis por essa modalidade de política, sendo
os estratos de baixa renda os beneficiários. Como exemplos de
políticas redistributivas clássicas, podemos citar a isenção ou
a diminuição do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano)
para camadas sociais mais pobres da cidade, e o aumento desse
imposto para os setores de maior nível de renda que vivem
em mansões ou apartamentos de luxo. Esse tipo de política
é popularmente chamada de “Política Robin Hood”. Outro
exemplo desse tipo de política é a realocação de recursos orça-
mentários para os setores mais pobres da população por meio
de programas sociais, tais como programas habitacionais, de
regularização fundiária, reforma agrária, política tributária,
distribuição dos royalties de petróleo.
Políticas regulatórias: as políticas públicas regulatórias visam
regular determinado setor, ou seja, criar normas para o funciona-
mento dos serviços e a implementação de equipamentos urbanos.
Assim, a política regulatória se refere à legislação e é um instru-
mento que permite regular (normatizar) a aplicação de políticas
redistributivas e distributivas, como por exemplo, a Lei de Uso do
Solo e o Plano Diretor; Proibição de dirigir bêbado (Código de
Trânsito); Legislação Trabalhista, etc. (AZEVEDO, 2011, p. 17).
Além disso, as políticas públicas podem ser classificadas tomando, como base, o
setor de atividade em que operam. Dessa forma, elas podem ser divididas em: po-
líticas econômicas, políticas de infraestrutura, políticas de estado e políticas sociais.
A seguir, conheça cada uma delas:
Políticas Econômicas: o objetivo é a gestão da economia in-
terna e a promoção da economia externa. Exemplo: política
monetária, cambial, fiscal, industrial etc.
Políticas de Infraestrutura: asseguram as condições para im-
plementação e a consecução dos objetivos das políticas econômi-
93
cas e sociais. Exemplo: políticas de transportes, energia elétrica,
UNIDADE 4
explorando Ideias
Você sabe a diferença entre uma Política de Estado e uma Política de Governo?
Uma política de Estado é toda política que, independente do governo e do governante,
deve ser realizada, pois é amparada pela constituição. Já uma política de governo pode
depender da alternância de poder, pois cada governo tem seus projetos, os quais, por sua
vez, transformam-se em políticas públicas.
Fonte: Costa (2019).
Essas considerações acerca dos diferentes tipos de políticas públicas têm como
objetivo trazer para o debate a importância e o impacto delas para a sociedade
como um todo, para o equilíbrio do Estado e para a garantia dos direitos hu-
manos. Desse modo, pensar em política pública implica o dever de identificar
demandas na sociedade, com o intuito de analisar as reais necessidades da popu-
lação e realizar as ações, pois é fundamental que o Estado garanta os direitos de
cidadania para população, tais como condições básicas de vida, saúde, educação,
lazer, segurança etc. Um modo de minimizar os processos de exclusão e garantir
maiores possibilidades de vida digna é por meio das políticas públicas.
A pobreza resulta das desigualdades sociais, de modo a agravar ainda mais a
situação dessas, que, por consequência, acarretam a exclusão social. Portanto, para
uma equidade dessa lógica, são necessárias políticas públicas sociais. Isso se deve,
pois é por meio dessas políticas que o Estado consegue lidar com os problemas de
pobreza e miséria, e apresentar mecanismos capazes de promover a autonomia
individual e garantir a cidadania aos membros da sociedade.
Pereira (2009, p. 163) sustenta que, nos últimos tempos, “a menção às políticas
sociais, associada aos conceitos de políticas públicas, necessidades sociais e direitos
de cidadania, tornou-se uma tendência intelectual e política”. Isso acarretou um mo-
94
vimento de interpretações simplistas do termo por algumas vertentes intelectuais,
UNICESUMAR
motivado principalmente pelas diferentes experiências nacionais, posicionamentos
ideológicos, valores e perspectivas teóricas. Por conseguinte, essas interpretações
acabaram por ilustrar e associar as políticas sociais como algo negativo.
Ianni (1991, p.194) traz uma perspectiva que revela o caráter histórico da difi-
culdade das questões sociais em serem incorporadas na agenda de reivindicações.
Para o autor, “em geral, os setores sociais dominantes revelam uma séria dificul-
dade para se posicionarem em face das reivindicações econômicas, políticas e
culturais dos grupos e classes subalternos”. Essa inclinação que se manifestava
no passado ainda é muito forte no presente. Vale destacar, também, que essa
ideia foi construída com base no pensamento liberal do século XIX, em que “os
pobres eram pobres porque não tinham o caráter necessário para praticar esta
abstinência” (CHANG, 2013, p. 197).
Desse modo, os pobres são associados a atrasados(as), irracionais, preguiçosos(as),
incompetentes e desqualificados(as) para o trabalho. Essa perspectiva permanece
muito viva na opinião pública de muitos países, em particular, no Brasil. A política
social se configura como uma política pública, ou seja, um tipo de política entre as
políticas públicas, e ambas são policies (políticas de ação). Além disso, o conceito
mais utilizado atualmente para política social a identifica como uma política de ação
que tem objetivos próprios e produz impacto no contexto em que atua, além de estar
estritamente relacionada ao Estado, governos e políticas (PEREIRA, 2009).
A política social deve ser focada em atender às necessidades sociais, cuja
solução não se dá a partir da iniciativa privada ou ação individual e espontânea,
mas requer a ação regida por princípios da justiça social e amparada por leis ga-
rantidoras de direitos. No entanto, vale salientar que a política social não deve se
pautar na mera distribuição de recursos entre os cidadãos visando ao bem-estar,
mas contemplar o conhecimento de como se criam essas necessidades e como
elas se distribuem, com o objetivo de modificá-las.
Discutir a problemática da desigualdade requer não apenas apresentar as suas
raízes, mas também a cultura política que vigora na configuração socioespacial. Isso
se deve, pois os traços políticos desenvolvidos impactam diretamente nos segmentos
sociais de modo positivo e negativo, dependendo do tipo de política que se desen-
volve. Em outras palavras, para a consolidação de um bem-estar individual e coleti-
vo, é fundamental uma dinâmica política que permita a construção de um projeto
democrático e igualitário. Para isso, é necessário a constituição de espaços de debate
democrático com participação ativa dos excluídos e reconhecimento dos conflitos.
95
A Constituição de 1988 apresenta o Estado como principal meio de articu-
UNIDADE 4
3
VIOLAÇÃO DE
DIREITOS
humanos no Brasil
Existe, hoje, um consenso quase universal de que todos os indivíduos têm direito
a certos direitos básicos sob quaisquer circunstâncias. Esses direitos incluem
certas liberdades civis e direitos políticos, sendo, os mais fundamentais, o direito
à vida e à segurança física. Os direitos humanos são a articulação da necessidade
de justiça, tolerância, respeito mútuo e dignidade humana em todas as nossas
atividades. Dessa forma, falar em direitos nos permite expressar a ideia de que
todos os indivíduos fazem parte do escopo da moralidade e da justiça.
96
Problemas crônicos de direitos humanos afligem o Brasil. Alguns policiais matam
UNICESUMAR
ilegalmente, torturam detentos e maltratam crianças em conflito com a lei. Muitas pri-
sões brasileiras estão severamente superlotadas e a falta de controle estatal adequado
deixa os presos vulneráveis à violência, extorsão e recrutamento do crime organizado.
Outros problemas de direitos humanos incluem violência contra as mulheres, assas-
sinatos de jornalistas e militantes dos direitos humanos, em virtude do seu trabalho,
e violência contra ativistas rurais e indígenas envolvidos em conflitos por terra.
Além disso, perpetradores de abusos durante o regime militar de 1964 a 1985
continuam a ser protegidos da justiça por uma lei de anistia aprovada pelo regime
militar. Para lutar pela garantia dos direitos humanos, existem algumas instâncias
competentes que podem ser acionadas:
■ Polícia: a polícia tem, entre outras responsabilidades, a garantia dos di-
reitos de cidadania. Em outras palavras, a instituição policial tem, entre
suas funções, a de prevenir e reprimir as violações aos direitos, pois, no
cumprimento do seu papel, ela é a responsável pela proteção dos direitos
à vida, à segurança, à integridade física e entre outros.
■ Ministério Público: esse órgão tem o papel e a função de fiscalizar o
cumprimento da lei. Nele, podemos denunciar as violações aos nossos
direitos. Vale destacar que a sua atuação é sempre coletiva.
■ Defensoria Pública: esse órgão é responsável pela garantia dos direitos,
quando é necessária a assistência jurídica e não existe recurso para pagar
um advogado.
■ Poder Judiciário: o Judiciário é o responsável por analisar e julgar os
casos denunciados à polícia e ao Ministério Público.
■ Comissão e Conselho de Direitos Humanos: esses órgãos recebem,
orientam e encaminham denúncias aos órgãos competentes, além de po-
derem convocar audiências públicas para discutir os casos de violações.
■ Secretária dos direitos Humanos: esse órgão tem a função de formu-
lar e executar a política de direitos humanos, garantindo sua proteção e
promoção.
“
Se observarmos a história dos direitos humanos no período ime-
diatamente a seguir à Segunda Grande Guerra, não é difícil concluir
98
que as políticas de direitos humanos estiveram em geral ao serviço
UNICESUMAR
dos interesses económicos e geopolíticos dos Estados capitalistas
hegemónicos.
Uma outra corrente enfatiza que os discursos e as práticas dos direitos humanos
contrapõem essa perspectiva ao valorizar o impacto positivo em nível global, e
não necessariamente envolvem submissão ao neoliberalismo. Nesse sentido, os
direitos humanos também representam uma linguagem na qual uma variedade
de reivindicações de justiça é articulada contra o imperialismo e o neoliberalis-
mo. Não só, mas oferecem uma linguagem que permite tornar o mundo mais
centrado nas pessoas e pacífico, melhorando-o, ao invés de restringir a liberdade,
a igualdade e a solidariedade transfronteiriça.
O que se percebe, no nível teórico, é a investida dos autores em abordar tanto
as dimensões progressivas quanto os problemáticos direitos humanos, pois não
podemos correr o risco de simplificarmos a compreensão dos direitos humanos,
visto que é uma análise muito complexa e envolve vários atores, organizações
e estruturas. Vale destacar, ainda, que as análises que se opõem aos bons usos
dos direitos humanos acabam sendo simplificadas, o que dificulta ainda mais a
compreensão e aceitação do tema, dos reivindicados por movimentos populares
em sociedade e dos maus usos dos direitos humanos da elite (feitos por elites
nacionais, em organizações formais).
Você já parou para pensar onde encontrar os direitos humanos? Se pararmos para
refletir sobre perceberemos que os direitos humanos são encontrados em pequenos lu-
gares, perto de casa, em ações de inclusão social da classe menos favorecida e no amparo
de direitos sociais e civis. Essas situações, por mais complexas que sejam, não fazem mais
do que sugerir a diversidade e a abrangência dos direitos humanos.
As demandas dos direitos são apoiadas por uma variedade de atores: movi-
mentos sociais, bem como grandes organizações não-governamentais interna-
cionais; organizações locais; políticos; e organizações intergovernamentais. Esses
atores, muitas vezes, divergem entre si na definição e na defesa das justificativas
específicas do que os direitos humanos são e devem ser na realidade. O fato é que
os direitos humanos diferem nos diferentes contextos. Por exemplo, no Brasil, em
casos de violência e extermínio da população indígena, o apoio transnacional
para a manutenção dos direitos humanos desses povos é crucial, sobretudo para
obter reconhecimento internacional desses casos, e há a tentativa, com isso, de
barrar os casos, em virtude da mobilização e crítica internacional.
99
Ao mesmo tempo, exemplos como esses também nos levam a questionar o
UNIDADE 4
“
1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país
diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do
seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta
vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio uni-
versal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade
de voto (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 11).
UNICESUMAR
da Carta das Nações Unidas foram incorporadas no documento e, legalmente,
passaram a fazer parte da legislação brasileira.
Dentro do sistema jurídico nacional, os sujeitos jurídicos se reconhecem
como detentores desses direitos dentro da estrutura da lógica interna de um siste-
ma jurídico de determinado país. Por outro lado, os países que não assumem essas
diretrizes ou que não são cidadãos dessa sociedade legal específica permanecem
sem direitos humanos.
Desse modo, para Lohmann (2002), os direitos humanos correm o risco de
reduzirem a sua universalidade por meio da particularização como partes de um
sistema jurídico nacional, ou seja, de cada país. Em nível prático, é necessário o
processo de fortalecimento do direito internacional e de uma institucionalização
global da implementação e proteção dos direitos humanos – paralelamente à
integração dos direitos humanos nos sistemas jurídicos nacionais.
Se partirmos da perspectiva da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
em um estado em que eles não podem ser reivindicados legalmente, todo ser
humano ainda é portador de direitos humanos, independentemente da posição
oficial do estado. Todavia, para que esses indivíduos se empoderem a partir des-
se pressuposto, a educação em direitos humanos pode enfrentar esses desafios.
Thomas (2008) enfatiza que educar os cidadãos em seus direitos humanos cria
uma sociedade informada, que, por sua vez, fortalece a democracia. Nesse senti-
do, a educação em direitos humanos é essencial para: a prevenção de abusos dos
direitos humanos; a promoção da não discriminação, a igualdade e o desenvolvi-
mento sustentável; o aprimoramento das pessoas, bem como a participação nos
processos democráticos de tomada de decisão.
Para além, a educação em direitos humanos contribui para o funcionamento
da democracia. O papel fundamental da educação em direitos humanos é o de
capacitar os cidadãos para defender seus próprios direitos e os dos outros. “Esse
empoderamento constitui um investimento importante para o futuro, destinado
a alcançar uma sociedade justa, na qual todos os direitos humanos de todas as
pessoas sejam valorizados e respeitados” (MELLO, 2004, p. 3). A ideia de empo-
deramento significa a capacidade de determinar o presente e o futuro com auto-
confiança e consciência dos próprios direitos, bem como de participar ativamente
do processo de decisão política.
A educação em direitos humanos tem um horizonte global, em que a edu-
cação para a cidadania capacita as pessoas a se tornarem cidadãos ativos de seu
101
próprio país: porquanto ela as capacita a enfrentar os desafios da cidadania global
UNIDADE 4
102
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
O papel do Estado em relação aos direitos humanos sempre foi contraditório.
Contudo, é por meio dos Estados que se garante a proteção dos direitos humanos,
assim como eles também podem ser violadores brutais dos direitos humanos.
Essa tensão básica está enraizada na própria noção de Estado e permeia grande
parte da literatura sobre direitos humanos.
O fato é que o Estado é o principal detentor das obrigações dos direitos huma-
nos. Embora, esses direitos possam ser violados por qualquer pessoa ou grupo – o
que, de fato, ocorre –, cometido por atores não-estatais, como empresas, grupos
criminosos organizados, terroristas, paramilitares e organizações intergoverna-
mentais, é dever do Estado respeitar, proteger e cumprir os direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais da sociedade.
Além disso, o Estado tem o dever de prevenir as violações dos direitos huma-
nos e desenvolver mecanismos para que eles sejam respeitados. Uma das formas
de desenvolver e fomentar os direitos humanos é por intermédio das políticas
públicas, que são expressas como objetivos tangíveis a serem alcançados por
meio da implementação de programas específicos, com a participação de todos
os setores relevantes do governo e da sociedade.
A ação do Estado, por intermédio de políticas públicas, torna-se muito re-
levante, à medida que faz referência aos direitos dos indivíduos, sobretudo dos
grupos vulneráveis. Assim, a defesa dos direitos humanos se tornaria, portan-
to, um dever não apenas daqueles que lutam contra as violações dos direitos
humanos e buscam evitá-las, mas também daqueles que estão em posições de
tomada de decisão e podem adotar, preventivamente, medidas para garantir que
as políticas desenvolvidas estão de acordo com a lei de direitos humanos desde
o início. Desse modo, a política pública passa a ser um instrumento de cidadania
e de conscientização sobre os padrões de direitos humanos, minimizando os im-
pactos de fenômenos como a pobreza e casos específicos de violação dos direitos.
103
na prática
1. As formas como a pobreza se manifesta, hoje, estão se tornando cada vez mais
complexas. Essa complexidade é resultado de muitos fatores, incluindo a natureza
mutável das relações entre os seres humanos, o relacionamento entre sociedade e
fatores e processos de produção, e as perspectivas dos governos e instituições in-
ternacionais. Com base nessa afirmação, assinale a alternativa que mais se enquadra
no conceito de pobreza na contemporaneidade:
2. A abordagem das políticas públicas se insere no contexto das ciências sociais apli-
cadas, especificamente, no campo da gestão pública. Partindo de um conceito geral,
política pública é tudo o que um governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos
de suas ações e de suas omissões (AZEVEDO, 2011). Com base nessa afirmação,
qual é a relação das políticas públicas com os direitos humanos?
3. As políticas públicas podem ser classificadas tomando como base o setor de ativi-
dade em que operam. Dessa forma, podem ser divididas em: políticas econômicas,
políticas de infraestrutura, políticas de estado e políticas sociais. Além disso, uma
delas apresenta forte relação com a garantia de direitos humanos. Com base no
exposto, assinale a alternativa que representa essa política:
104
na prática
5. Mais de sessenta anos após a publicação da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos, tais direitos ainda são mais um sonho do que realidade. Violações existem
em todas as partes do mundo e dos mais variados tipos. Felizmente, existem órgãos
que atuam na defesa desses direitos e podem ser acionados em caso de violação.
Com base nessa afirmação, relacione os órgãos com suas respectivas finalidades:
I - Ministério Público.
II - Defensoria Pública.
III - Poder Judiciário.
IV - Comissão e Conselho de Direitos Humanos.
V - Secretaria dos Direitos Humanos.
105
na prática
106
aprimore-se
livro
As Causas da Pobreza
Autor: Simon Schwartzman
Editora: FGV
Sinopse: a pobreza e a exclusão social são temas dominantes, o
que requer atenção imediata e definem o foco dos demais temas
das ciências sociais. Não é possível tratar esses problemas com
os conceitos do passado. Ao examinar a questão racial, o traba-
lho infantil, a questão da educação e o relacionamento entre as políticas sociais
e o uso da pobreza como instrumento de ação política, este livro, mais do que
estabelece certezas, levanta dúvidas, para que possamos reformular nossa visão
da pobreza e da desigualdade social e, assim, realmente enfrentá-las. Sumário: -
As causas da pobreza. - Pobreza e exclusão. - As estatísticas públicas e a mediação
da pobreza. - Raça e etnia. - Trabalho infantil. - O futuro da educação. - Conclusão:
políticas sociais e política da pobreza.
conecte-se
No site de dados da HRMI, você pode visualizar os dados por país ou por direito
acerca dos direitos humanos no Brasil.
Web: https://data.humanrightsmeasurement.org/en.
108
eu recomendo!
filme
109
5
QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS
de direitos humanos
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O estatuto da criança e do ado-
lescente e a “garantia” da cidadania • O pensamento de Paulo Freire e os direitos humanos • Direitos
humanos: desafios e perspectivas contemporâneas.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Refletir sobre algumas questões contemporâneas que envolvem a temática dos direitos humanos e
educação no Brasil e no mundo • Pensar a educação e os direitos humanos sob a perspectiva Freiriana
• Analisar os argumentos e os contra-argumentos dos direitos humanos de forma crítica.
INTRODUÇÃO
O movimento dos direitos humanos fez grandes progressos nas últimas sete
décadas, mas os abusos ainda ocorrem com uma triste frequência. O ani-
versário da DUDH é uma oportunidade para comemorar os sucessos e nos
comprometermos com os princípios descritos nos 30 artigos desta.
A lei internacional de direitos humanos determina que os Estados não
discriminem membros de minorias étnicas, religiosas e sociais. Além dis-
so, a comunidade mundial – como a ONU –, por exemplo, espera que os
Estados adotem medidas positivas que protejam e beneficiem as minorias
na garantia de seus direitos.
Se, por um lado, ao se tratar de conflitos de guerra, o Brasil seja um país
pacífico, por outro, ele é recordista em violência a minorias – qualificados
como minorias sob o direito internacional –, que se estende aos mais varia-
dos grupos sociais, como a violência contra negros, defensores de direitos
humanos, de ativistas ambientais, moradores de comunidades carentes,
homossexuais e mulheres. Vale destacar que a situação política de alguns
desses grupos melhorou significativamente nos últimos anos. No entanto,
o discurso discriminatório sobrevive e acaba por negar os direitos básicos
aos membros dessas minorias, por vezes, baseado em crenças discrimina-
tórias e infundadas.
Com base nesse contexto, ao chegarmos à nossa última unidade do
livro, a proposta é levá-lo a pensar em algumas questões contemporâneas
relacionadas aos direitos humanos em relação a esses aspectos elencados
Isso se deve, porque percebemos, pois sobretudo nos últimos anos, uma
retomada de discussões e críticas referentes aos direitos humanos, de um
discurso que, em alguns casos, vêm deslegitimar a luta pelos direitos uni-
versais, principalmente pela educação.
Nessa perspectiva, a tentativa é a de trazer essas pautas contemporâneas
e apresentar os seus argumentos e contra-argumentos, para que você reflita
de forma crítica sobre os temas propostos. Bons estudos!
1
O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
UNIDADE 5
ADOLESCENTE
e a “garantia” da cidadania
UNICESUMAR
tema foi ampliado e a ONU proclamou a Resolução 1386 da Assembleia Geral
de 20 de novembro de 1959, a Declaração dos Direitos da Criança. A declaração
serviu de base para a futura Convenção sobre os Direitos da Criança, que seria
adotada trinta anos depois pela Resolução 44/25 da Assembleia Geral da ONU,
de 20 de novembro de 1989.
Foi em 21 de novembro de 1990 que o Brasil aprovou a Convenção das Na-
ções Unidas sobre os Direitos da Criança, incorporando-a integralmente à lei
positiva do Brasil, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O
referido estatuto, promulgado em 1990 pelo Congresso Nacional do Brasil, foi o
resultado de uma forte articulação entre a coalizão de organizações não-gover-
namentais (ONGs) brasileiras e movimentos sociais que lutavam pelos direitos
das crianças e adolescentes. Assim, o ECA reformou radicalmente o status legal
das crianças, redefiniu as responsabilidades do Estado e da sociedade civil, e de-
terminou a criação de conselhos participativos nos níveis federal, estadual e local.
Vale destacar que, em 1990, o Brasil registrou 52 mortes de crianças a cada mil
nascidos vivos, o que era um dado alarmante se comparado com o cenário atual, em
que, no ano de 2018, registramos a taxa de 12,8 a cada mil nascidos vivos (IBGE, 2018).
O ECA partiu de uma revisão da Constituição Brasileira de 1988, que, no
Art. 227, afirma que:
“
É dever da família, da sociedade e do estado garantir com absolu-
ta prioridade os direitos das crianças e adolescentes à vida, saúde,
alimentação, educação, lazer, treinamento ocupacional, cultura,
dignidade, respeito, liberdade e vida familiar e comunitária, além
de protegê-los de todas as formas de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, on-line).
114
A saúde da criança é encarada como um direito social em defesa e em garantia de
UNICESUMAR
princípios democráticos. O ECA determina, em seu Art. 1º,“a proteção integral à criança
e ao adolescente” (BRASIL, 1990, on-line). Já no Art. 5º, inscreve esse compromisso:
“
É dever da família, da sociedade e do Estado garantir às crianças e
adolescentes, com absoluta prioridade, o direito à vida, saúde, nu-
trição, educação, lazer, formação profissional, cultura, dignidade,
respeito, liberdade e vida familiar e comunitária, bem como para
protegê-los de todas as formas de negligência, discriminação, ex-
ploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1990, on-line).
115
Um fato importante a ser considerado são os ataques à educação que ocor-
UNIDADE 5
explorando Ideias
116
2
O PENSAMENTO DE
UNICESUMAR
PAULO FREIRE
e os direitos humanos
118
UNICESUMAR
explorando Ideias
Sabemos que muitas críticas feitas a Paulo Freire têm se caracterizado por um profundo
desconhecimento não só de suas ideias, mas, igualmente, das reais condições da educa-
ção brasileira. Todavia, por outro lado, sabemos, também, que há críticas que não são
fruto da incompreensão da sua obra e nem do desconhecimento das verdadeiras causas
que afetam negativamente a educação brasileira.
Fonte: Instituto Paulo Freire (2019).
“
Nunca existe, nem nunca houve, uma prática educacional no espa-
ço-tempo zero – neutro no sentido de estar comprometido apenas
com preponderantemente abstrato, intangível ideias. Tentar fazer as
pessoas acreditarem que existe algo assim. É indiscutivelmente uma
prática política, na qual se faz um esforço para amenizar qualquer
possível rebeldia por parte daqueles a quem a injustiça está sendo
praticada. É tão político como a outra prática, que não esconde - de
fato, que proclama - seu próprio caráter político (FREIRE,1970, p. 65).
Essa alegação tem uma base ontológica e epistemológica. Segundo Freire, existe
uma dialética de subjetividade e objetividade na interação dos seres humanos e do
mundo, com a consciência modificando e sendo modificada pela realidade externa.
Os seres humanos, no entanto, não são universalmente conscientes de seu
potencial de transformar o mundo exterior, sendo imersos em sua realidade. Tal
fato é, particularmente, verdade nos povos “oprimidos”, que podem acreditar que
sua pobreza e opressão são inevitáveis e, de alguma forma, fadados. Para tanto,
Freire (1988, p. 31) afirma que:
“
Para que os oprimidos possam travar a luta por sua libertação, eles
deve perceber a realidade da opressão não como um mundo fecha-
do do qual não há saída, mas como uma situação limitadora que 119
eles podem transformar.
Desse modo, a educação, segundo Freire, está fundamentalmente ligada a essa ques-
UNIDADE 5
tão, que serve tanto para reforçar o senso de falta de potencial dos alunos para agir –
sendo objetos – ou para “libertá-los”, aumentando compreensão das possibilidades
de transformação – tornar-se sujeito (FREIRE, 1988). Portanto, não há saída para
os educadores: eles devem escolher qual dessas dinâmicas promover.
O que Freire deixa claro é que a aparente escolha de não agir é, na perspectiva
ética que ele toma, na verdade, uma decisão de agir de uma maneira que continua
o status quo e desumaniza todas as pessoas, já que perpetua injustiça e assegura
que a situação injusta atual continuará em perpetuidade.
Esses processos não são apenas libertadores ou domesticadores em relação à cons-
ciência individual, mas também acerca das condições materiais da sociedade, desde a
opressão dos grupos sociais ou, alternativamente, a libertação da opressão depende
de sua consciência crítica. A educação, portanto, torna-se um ato fundamentalmente
político. Se as pessoas não são incentivadas a serem críticas, elas aceitarão injustiças
e não trabalharão em conjunto para derrubar a opressão e transformar a sociedade.
Freire (2010) também afirma que as pessoas têm uma vocação ontológica à
humanização, caminhando em direção à maior realização de sua humanidade.
Contudo, forças opressivas na sociedade (e métodos “bancários” de ensinamentos
que enfatizam a transmissão) desumanizam, de maneira a restringir a agência de
indivíduos e a sufocar a sua consciência crítica e capacidade de agir.
O pensamento de Paulo Freire ganhou projeção e teve muita relevância na-
cional e internacionalmente, mas, junto à ampla disseminação das ideias, vieram
várias críticas, sobretudo ao discurso de construção de cidadania e de direitos hu-
manos a partir da educação, que, na perspectiva de alguns, parte de uma doutrina.
Existem outras razões possíveis para a crítica da abordagem social de Freire, in-
cluindo desconforto com pensadores e ideias progressistas, até a inacessibilidade
de compreensão de alguns dos escritos de Freire e negligência de fontes primárias
na educação para os Direitos Humanos e emancipação individual e social. Pois,
vale destacar que, embora Freire não seja um revolucionário político, ele baseia-se
amplamente na teoria crítica que, em alguma medida, pode ser desconhecida ou
desconfortável para alguns.
pensando juntos
UNICESUMAR
DESAFIOS E
perspectivas
contemporâneas
121
lugar, os direitos humanos envolvem, basicamente, relações dentro de um Estado, en-
UNIDADE 5
tre ele e os indivíduos ou entre indivíduos e grupos privados que vivem neste Estado.
A conclusão da Segunda Guerra Mundial marcou um ponto de virada no
desenvolvimento de recursos humanos internacionais. A conduta da Alemanha
nazista e das administrações em outros países, em colaboração como esforço de
guerra alemão em relação aos cidadãos judeus, aos ciganos e homossexuais, o que
gerou políticas de extermínio, foi considerada uma violação de qualquer poder
que pudesse ser legitimamente reivindicado por uma autoridade soberana. Tais
atos constituem crimes puníveis contra a humanidade.
Assim, a ONU adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1947.
O documento recebeu uma “declaração” para confirmar que não está tentando criar
uma nova lei, mas busca declarar o direito internacional dos direitos humanos que
existia antes e havia sido violado durante a Segunda Guerra. Sendo uma declara-
ção, não era juridicamente vinculativa. Portanto, para dar força legal à DUDH, foi
adotada uma série de convenções internacionais que formaram a moderna base
internacional do direito dos direitos humanos, que, inclusive, inspirou a Constitui-
ção Cidadã adotada no Brasil em 1988.
Recentemente, em 2015, foi adotada a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, adotada pelas Nações Unidas (ONU), movimento fortemente fun-
damentado no direito internacional dos direitos humanos. Os Objetivos de De-
senvolvimento Sustentável (ODS) visam realizar os direitos humanos de todas as
nações. São 17 objetivos e 169 metas, as quais visam contribuir com as realizações
econômica, social e cultural, e os compromissos de não deixar ninguém para trás
e alcançar a igualdade de gênero. Assim, tais objetivos podem dar um significado
concreto ao ser humano com direitos de igualdade e não discriminação:
“
Essa já era a visão da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
de modo que os ODS são uma nova forma de lhe dar efetividade. Os
ODS trazem metas objetivas que, se cumpridas, permitirão grande
avanço no campo dos direitos humanos. As noções de desenvolvi-
mento e direitos humanos estão intrinsecamente ligadas tanto na
DUDH quanto nos ODS; assim, ressalta-se que o desenvolvimento
deve ocorrer sem deixar ninguém para trás e, para isso, estratégias
específicas no campo das políticas públicas devem ser buscadas para
garantir essa vinculação (BRASIL, 2017, p.3).
122
A Agenda 2030 também foi implementada com base nas obrigações do direito inter-
UNICESUMAR
nacional, que incluem o dever de respeitar, proteger e cumprir as metas sem discrimi-
nação. O respectivo documento prevê um mundo de respeito universal aos direitos
humanos e à dignidade, Estado de direito, justiça, igualdade e não discriminação.
Embora não estejam enquadrados na linguagem dos direitos humanos, os ODS
procuram realizar direitos de todos. Não só, mas os objetivos relacionados à pobreza,
segurança alimentar, saúde, educação, habitação, à água e ao saneamento incorpora-
dos classificam a maioria dos elementos dos direitos econômicos, sociais e culturais.
A pressão realizada por um movimento como esse acaba por forçar os Estados (par-
ticipantes) a adotarem uma nova abordagem das políticas econômicas e sociais baseada
em direitos e redistributiva. Isso é necessário para mudar a trajetória do desenvolvi-
mento global para um caminho justo, sustentável e de realização dos direitos humanos.
Na seara dos direitos humanos, os ODS acabam por explorar um conjunto de
políticas redistributivas – nas áreas de proteção social, saúde, educação e tribu-
tação – que é essencial para combater a desigualdade econômica da perspectiva
dos direitos humanos. Para os ODS, ONGs, pesquisadores de direitos humanos
e outras partes interessadas procuraram se engajar em todo o processo de desen-
volvimento, discussão e deliberação das metas para uma nova era de desenvolvi-
mento mais baseada em direitos.
Havia muitas oportunidades para esse engajamento durante um processo am-
plo e longo, incluindo consultas temáticas e nacionais antecipadas, as negociações
da Rio + 20 e o Grupo de Trabalho Aberto sobre os ODS. Muitas ONGs se envol-
veram no processo, as Instituições Nacionais de Direitos Humanos descreveram
qual poderia ser a sua posição e papel, e os órgãos de tratados da ONU, por sua vez,
procuraram influenciar no processo para manter os direitos humanos no centro.
Conforme contribui Lima (2019), os ODS podem e devem aprender com os
instrumentos de direitos humanos, uma vez que existe uma governança mais ro-
busta e reativa quanto às violações de direitos humanos ocorridas no âmbito dos
países. Isso pode significar uma maior responsabilização, eficiência e coerência
em torno da temática dos direitos humanos dos países.
Embora esses movimentos (como os das ODS), em alguma medida, venham
contribuir para a inserção da temática dos direitos humanos na estrutura social, o
que observamos, nos últimos anos, é a construção de uma narrativa que distorce
o verdadeiro significado dos direitos humanos, o que contribuiu para fortalecer
o estigma de “defensores de bandido”. Tal discurso é reforçado, por exemplo, pela
falsa ideia de que criminosos são protegidos pela lei, quando, na realidade, o que
123
encontramos são situações desumanas nos presídios superlotados. Os direitos
UNIDADE 5
humanos precisam estar acessíveis para todos os seres humanos, inclusive para
as minorias sociais, que se encontram em maior vulnerabilidade no Brasil.
pensando juntos
Você sabe o que caracteriza uma violação dos direitos humanos? O Estado é o principal
guardião dos direitos humanos e tem autoridade para tomar as medidas necessárias para
proteger seus direitos humanos. Portanto, é ele quem tem responsabilidade quando algo
lhe acontece. Uma situação que leva a uma violação dos direitos humanos pode surgir nos
seguintes casos de: Violação pelo Estado e Falha do Estado em proteger.
Além disso, no Brasil, são notificados, todos os anos, mais de mil assassinatos pela
polícia. Isso constitui uma grave violação dos direitos humanos e nos coloca entre
os países mais violentos do mundo para quem defende tais direitos. Infelizmente,
esse contexto de violência não é uma exclusividade do Brasil: outros países, como
a Índia, África do Sul, República Dominicana e Irã apresentam sistemas judiciais
em que, frequentemente, são notificados casos de abusos de direitos humanos.
Vivemos em um período da histórica contemporânea em que as violações
dos direitos humanos permanecem generalizadas. O discurso dos direitos hu-
manos continua a existir, porém vem sendo criticado, em defesa de uma agenda
conservadora e pouco progressista. Embora essas críticas, em alguma medida,
sempre tenham existido, é somente nos últimos anos que começaram a ganhar
notoriedade e força internacional. De modo geral, o mundo, mesmo que, aparen-
temente, luta em prol das defesas dos direitos humanos. Por exemplo, os países
ocidentais frequentemente condicionam a ajuda externa aos direitos humanos e
até lançaram intervenções militares baseadas em violações dos direitos humanos.
Muitas pessoas argumentam que a incorporação da ideia de direitos humanos
no direito internacional é uma das grandes realizações morais da história da hu-
manidade. Como a lei de direitos humanos Concede Direitos a todas as pessoas,
independentemente da nacionalidade, ela contribui quando os estrangeiros criti-
cam os abusos aos seus cidadãos, ou seja,“soberania”. Assim, o direito internacional
dos direitos humanos fornece proteções às pessoas contra os abusos do Estado.
Os tratados de direitos humanos, em pouco tempo, atingiram seu objetivo e
têm melhorado o bem-estar das pessoas, sobretudo quando pensamos que mais
de 150 países (dos 193 países pertencentes à ONU) praticam tortura. O número
de países autoritários aumentou nos últimos anos. As mulheres continuam a
124
ser uma classe subordinada em quase todos os países do mundo. Além disso, as
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crianças continuam trabalhando nas minas e fábricas vários países.
A razão para isso é que os direitos humanos nunca foram tão universais quan-
to as pessoas esperavam e a crença de que eles poderiam ser impostos aos países
por uma questão de direito internacional foi tomada com suposições equivocadas
desde o início. Isso se deve, pois, dificilmente, a ONU, por exemplo, consegue ir
além das intervenções com ajuda humanitária.
explorando Ideias
micos e sociais ou direitos sociais. Tal fato é corroborado por Cranston (1979, p. 65):
“
Os direitos políticos e civis tradicionais não são difíceis de instituir.
Na maioria das vezes, eles exigem que os governos e outras pessoas
em geral deixem um homem em paz. Os problemas colocados pe-
las reivindicações de direitos econômicos e sociais, no entanto, são
de outra ordem. Como os governos dessas partes da Ásia, África e
América do Sul, onde a industrialização mal começou, podem ser
razoavelmente chamados a fornecer previdência social e férias a
milhões de pessoas que habitam esses lugares e se multiplicam tão
rapidamente?
Além disso, Cranston (1979) apresenta um argumento contrário aos direitos eco-
nômicos e sociais. O estudioso afirma que os tradicionais direitos civis e políticos
à vida, à liberdade e à propriedade são direitos universais, supremos e morais.
Contudo, os direitos econômicos e sociais não são universais, concretos e nem
possuem suprema importância, “pertencendo a uma diferente categoria lógica”
– ou seja, não são verdadeiros direitos humanos.
Esses direitos, que, às vezes, são chamados de direitos de segunda geração,
como um direito comum a subsistência ou a assistência médica, foram adicio-
nados recentemente a enunciados anteriores de direitos humanos. Assim, ex-
pandiu-se amplamente o domínio e a reivindicação de direitos humanos. Esses
acréscimos, certamente, levaram a literatura contemporânea sobre direitos huma-
nos muito além das declarações do século XVIII, que se concentraram em uma
classe mais restrita de “direitos do homem”, incluindo demandas como liberdade
pessoal e política. Essas inclusões mais recentes foram sujeitas a críticas, focan-
do nos seus problemas de viabilidade e sua dependência de instituições sociais
específicas que podem, ou não, existir.
126
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) representa um marco muito im-
portante para o reconhecimento de uma parcela vulnerável da sociedade brasi-
leira. Entretanto, ele ainda está longe de representar ou trazer os direitos reais de
modo pleno no Brasil.
O que percebemos é que, de modo geral, o Brasil evoluiu nas questões de
direitos após a redemocratização – sobretudo, por ter se transformado em uma
política de Estado. A prova disso foi a criação da Secretaria de Direitos Humanos.
Nesse sentido, teoricamente, o Estado passa a ser visto como um promotor dos
direitos humanos, e não apenas violador. No entanto, ao se tratar de diversidade,
sempre ocorrerá pressão, principalmente de setores conservadores na sociedade,
contra os direitos humanos.
É importante saber que a educação reflete nos direitos humanos, à medida
que confere, ao conhecimento sobre os direitos, acesso e promove a participação
de diferentes atores no trato desses direitos. Nesse contexto, a escola se apresenta
como um instrumento de pura cidadania, ao passo que trata da própria educação
como um direito humano.
Ficou evidenciado, em nossos estudos, que os direitos humanos, mesmo tra-
duzindo avanços, não são capazes, por si só, de promoverem mudanças. Todavia,
sem eles, mudar a realidade se torna uma tarefa ainda mais difícil, à medida que
representam um instrumento de mobilização e esforço para a sua efetivação.
Vale destacar, ainda, a importância do desenvolvimento da consciência crítica
da educação em direitos humanos e da própria sociedade e do seu processo de
conscientização, politização e organização. Sendo assim, promover o conheci-
mento sobre os direitos humanos, estimular a reflexão e o debate sobre, e fazer
valer esses direitos na vida cotidiana, sobretudo, na educação, são tarefas de todos
e representa o maior avanço ao se tratar de direitos.
127
na prática
128
na prática
III - A pedagogia de Freire é um plano educacional para libertar aqueles que estão
oprimidos. Em seus primeiros livros, ele se concentra na educação de adultos.
No entanto, a pedagogia foi adaptada a quase todos os contextos educacionais.
IV - A pedagogia, na perspectiva de Paulo Freire, deve ser criada juntamente com
os oprimidos. Por isso, Freire se importa apenas com os direitos, e não com os
deveres dos indivíduos. Assim, as ideias de Freire de democracia, autonomia e
liberdade contribuíram para os alunos fazerem o que quiserem em sala de aula.
É correto afirmar que:
a) Estão corretas as afirmativas I, II e III.
b) Estão corretas as afirmativas I e IV.
c) Estão corretas as afirmativas I e III.
d) Estão corretas as afirmativas I, III e IV.
e) Estão corretas as afirmativas II e III.
4. A razão é que os direitos humanos nunca foram tão universais quanto as pessoas
esperavam, e a crença de que eles poderiam ser impostos aos países por uma ques-
tão de direito internacional foi tomada com suposições equivocadas desde o início.
Dificilmente, a ONU, por exemplo, consegue ir além das intervenções com ajuda
humanitária. Sobre a atuação da ONU, julgue as afirmativas a seguir:
129
na prática
II - Desde a sua criação, a Assembleia Geral da ONU tem sido um fórum para de-
clarações grandiosas, com debate rigoroso sobre as questões sérias do mundo,
da pobreza, direitos humanos e desenvolvimento paz e segurança.
III - A ONU é a organização intergovernamental mais representativa do mundo,
atualmente. O papel das Nações Unidas nos assuntos mundiais é insubstituível
por qualquer outra organização internacional ou regional, sobretudo na manu-
tenção da paz e da segurança internacionais, promovendo a cooperação entre
os estados e o desenvolvimento internacional.
IV - Para fortalecer o papel das Nações Unidas, é essencial garantir, a todos os
Estados-membros das Nações Unidas, o direito à participação igualitária em
assuntos internacionais. Além disso, os direitos e interesses dos países em de-
senvolvimento devem ser salvaguardados.
É correto afirmar que:
a) Estão corretas as afirmativas I, II e III.
b) Estão corretas as afirmativas I e IV.
c) Estão corretas as afirmativas I e III.
d) Estão corretas as afirmativas II, III e IV.
e) Estão corretas as afirmativas II e III.
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aprimore-se
131
aprimore-se
132
eu recomendo!
livro
filme
conecte-se
133
conclusão
conclusãogeral
geral
conclusão
conclusão
geral
geral
A atenção recente para questões minoritárias, como a proteção dos direitos das
mulheres, indígenas e outros, evidencia que essas questões estão sendo priorizadas
em nível mundial, com o uso da lei e da política de direitos humanos, que tentam re-
parar os erros impostos às minorias por séculos. Nesse contexto, percebemos que
a educação e a aprendizagem em direitos humanos são essenciais para a cidada-
nia ativa em uma sociedade pluralista. Cidadãos ativos e responsáveis precisam ser
capazes de pensar criticamente, para que compreendam seus direitos de acesso,
respeito e liberdade, valores tão cerceados na contemporaneidade.
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134
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políticos e civis tradicionais não são di- fazem parte do corpo das leis de di-
eles exigem que os governos e outras após a Segunda Guerra Mundial. A lei
dem. Outra crítica se baseia na ideia de julgamento justo. Esses direitos estão
e sociais, não são universais, concretos está sofrendo de fome. Da mesma for-
ria lógica” — ou seja, não são verdadei- para discutir as condições de trabalho.
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