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DIREITO PENAL

PARTE GERAL
Teoria da Norma e Lei Penal no Tempo
e no Espaço

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO PENAL - PARTE GERAL
Teoria da Norma e Lei Penal no Tempo e no Espaço
Dermeval Farias

Sumário
Teoria da Norma. .............................................................................................................5
1. Importância da Teoria da Norma..................................................................................5
2. Características das Normas Penais.............................................................................5
3. Fontes do Direito Penal...............................................................................................6
3.1. Fonte de Produção ou Substancial (Material)............................................................ 7
3.2. Fonte Formal ou de Conhecimento ou de Cognição................................................. 11
4. Norma Penal e Lei Penal............................................................................................ 16
4.1. Anomia....................................................................................................................17
4.2. Antinomia. ...............................................................................................................17
5. Classificação das Normas Penais (Incriminadoras, Não Incriminadoras,
Permissivas, Completas, Incompletas, Remetidas)........................................................ 19
6. Interpretação, Aplicação e Integração da Norma......................................................23
6.1. Modelo Tradicional..................................................................................................23
6.2. Modelo Novo..........................................................................................................25
6.3. Analogia.................................................................................................................26
6.4. Interpretação Analógica........................................................................................ 28
6.5. Interpretação Extensiva.........................................................................................29
6.6. Interpretação do Direito Penal no Brasil no Cenário da Jurisprudência do STF e
do STJ........................................................................................................................... 30
6.7. Brocardo In Dubio Pro Reo.....................................................................................32
7. Tempo do Crime........................................................................................................33
8. Lei Penal no Tempo...................................................................................................33
8.1. Princípios................................................................................................................33
8.2. Exceções (Leis Excepcionais e Temporárias)..........................................................34

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8.3. Conflito ou Sucessão de Leis Penais no Tempo. . .....................................................35


9. Lei Penal no Espaço...................................................................................................43
9.1. Princípios................................................................................................................43
9.2. Conceito de Território Nacional..............................................................................45
9.3. Território por Extensão..........................................................................................46
9.4. Lugar do Crime...................................................................................................... 47
9.5. Extraterritorialidade da Lei Penal.. ........................................................................ 48
10. Conflito ou Concurso Aparente de Normas.............................................................. 51
11. Pontos para Discussão.............................................................................................53
11.1. Medida Provisória e Matéria Penal..........................................................................53
11.2. Declaração de Inconstitucionalidade de Lei Penal Benéfica e Efeitos.....................54
11.3. Jurisprudência e Retroatividade ou Irretroatividade. . .............................................55
11.4. Norma Penal em Branco e o Complemento de Natureza Intermitente................... 57
Questões de Concurso...................................................................................................59
Gabarito........................................................................................................................ 81
Gabarito Comentado. .................................................................................................... 82
Referências.................................................................................................................. 121

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Apresentação

Olá, sou o professor Dermeval Farias. É  com prazer que iniciamos mais um capítulo do
material em PDF do Gran Cursos Online. Apresentamos a Teoria da Norma com abordagem de
doutrina, jurisprudência e questões correlatas.
O tema tratado nesse momento é muito relevante para as provas de concursos públicos,
bem como para a compreensão do Direito Penal. É o momento de estudar Direito Penal a partir
dos primeiros artigos do Código Penal brasileiro, pois a Teoria da Norma abrange o conteúdo
do artigo 1º ao artigo 12.
É a hora de reviver a lei penal no tempo e no espaço, de estudar as fontes do Direito Penal,
a classificação das normas, a interpretação da lei penal, a sucessão de leis no tempo, o conflito
aparente de normas, bem como os temas polêmicos, por exemplo, os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade de lei penal e sua relação com o princípios da retroatividade benéfica e
da irretroatividade maléfica.
Fizemos um sumário bem detalhado para facilitar o estudo e a busca por temas que,
porventura, não sejam do conhecimento do aluno. Ademais, incluímos substanciosa pes-
quisa doutrinária, jurisprudencial e muitas questões recentes de concursos devidamente
comentadas.
É certo que seguimos a direção de nossas aulas, uma vez que há mais de 16 anos temos
preparado candidatos para os mais diversos concursos jurídicos do país: Juiz Estadual, Juiz
Federal, Procurador da República, Promotor de Justiça, Defensor Público, Delegado de Polícia
(Civil e Federal), Analista Jurídico, Advogado da União e outros.
Temos muito prazer em trabalhar hoje com colegas que são promotores de justiça e que
outrora eram alunos; bem como magistrados, delegados de polícia, defensores públicos, ex-
-alunos que encontramos em audiências, nos júris etc.
Ressalto que serão apresentados, quando necessários, resumos, quadros sinópticos,
dicas e destaques sobre pontos específicos de cada instituto jurídico de Direito Penal, de
modo a facilitar a compreensão e, por consequência, o acerto em provas de concursos.

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TEORIA DA NORMA

1. Importância da Teoria da Norma

O estudo da teoria da norma é relevante para a análise adequada da natureza das


normas penais, da origem e da interpretação constitucional dessas normas. É necessário,
ainda, para a compreensão da norma no tempo e no espaço.

2. Características das Normas Penais

As normas penais possuem como características a generalidade, a abstração, a bila-


teralidade. Uma vez que estabelecem direitos e obrigações, possuem, portanto, coercibi-
lidade e imperatividade.
Para Luís Regis Prado (2012), há duas funções nas normas penais, quais sejam: fun-
ção valorativa (seleção dos bens que serão objetos de proteção penal) e função determi-
nativa (imposição de “dever-ser”, seja como normas proibitivas, seja como normas man-
damentais).
O “dever-ser” representa um conteúdo deôntico das normas jurídicas, visa a “com-
portamento humano passível de ser realizado pela generalidade das pessoas” (GUEIROS;
JAPIASSÚ, 2020, p. 56). Dito de outro modo, a  exigência da norma não pode ir além da
capacidade humana para o seu efetivo cumprimento.
Neste momento, é importante salientar o conceito de Direito Penal. Segundo o maior
penalista português, Jorge Figueiredo Dias,

Chama-se Direito Penal ao conjunto das normas jurídicas que ligam a certos comportamentos
humanos, os  crimes, determinadas consequências jurídicas privativas deste ramo de direito.
A mais importante destas consequências– tanto do ponto de vista quantitativo, como qualita-
tivo (social)– é a pena, a qual só pode ser aplicada ao agente do crime que tenha actuado com
culpa. Ao lado da pena, prevê, porém, o Direito Penal, consequências jurídicas de outro tipo: são
as medidas de segurança, as quais não supõem a culpa do agente, mas a sua periculosidade
(DIAS, 2007, p. 03).

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Quanto às prescrições normativas que formam o Direito e a ciência jurídica, é importante


destacar que não são iguais. Direito e ciência jurídica não são a mesma coisa. A ciência jurí-
dica descreve o Direito, não o prescreve. O Direito, por sua vez, por meio de normas gerais ou
individuais, prescreve.

Exemplo: um Tratado de Direito Penal (ciência jurídica) é diferente de um Código Penal (con-
junto de normas prescritivas) (KELSEN, 2019).

A ciência jurídica (doutrina penal, por exemplo), como conhecimento do Direito, possui ca-
ráter constitutivo e, dessa forma, produz o seu objeto. As proposições normativas podem ser
descritas e formuladas pela ciência jurídica, podendo ser verdadeiras ou falsas, enquanto as
normas, estabelecidas pela autoridade jurídica, são válidas ou inválidas. Não se pode falar, por-
tanto, em norma verdadeira ou falsa, mas somente em norma válida ou inválida (KELSEN, 2019).
A ciência jurídica não prescreve as normas, apenas descreve as suas proposições. Tais
proposições normativas descrevem normas de “dever-ser”. Este (da proposição jurídica)
não tem um sentido prescritivo (como o da norma jurídica), mas um sentido descritivo
(KELSEN, 2019).

3. Fontes do Direito Penal

Fonte corresponde ao lugar onde nasce água, mas, no sentido figurado, significa “origem”,
“causa” ou “princípio”. A “fonte do Direito Penal é, pois, aquilo de que ele se origina ou promana”
(DIAS, 2007, p. 03). Em outras palavras, fonte do Direito Penal corresponde ao fato ou ato do
qual se originam as normas incriminadoras e não incriminadoras.
Segundo Kelsen:

Fonte de Direito, é uma expressão figurativa que tem mais do que uma significação. Esta designação
cabe não aos métodos acima referidos, mas a todos os métodos de criação jurídica em geral, ou a
toda norma superior em relação à norma inferior cuja produção ela regula. Por isso, por fonte de Di-
reito entender-se também o fundamento de validade de uma ordem jurídica, especialmente o último
fundamento de validade, a norma fundamental. No entanto, efetivamente, só costuma designar-se
como fonte o fundamento de validade jurídico-positivo de uma norma jurídica, que dizer, a norma
jurídica positiva do escalão superior que regula a sua produção. Neste sentido, a  Constituição é
fonte das normas gerais produzidas por via legislativa ou consuetudinária (KELSEN, 2019, p. 259).

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No caso brasileiro, vale a informação do parágrafo anterior, principalmente no que diz res-
peito ao Direito Penal até a expressão via legislativa, uma vez que o costume, no modelo legal
brasileiro, não exerce o papel criador. De forma mais clara, para a generalidade das normas
jurídicas, são fontes de produção normativa: constituição, convenções, tratados, leis, analogia,
costume, jurisprudência e princípios gerais do direito.
Para o Direito Penal, somente a lei é fonte primária (direta) de produção, em razão do prin-
cípio da legalidade. De forma indireta, secundária, mitigada, são fontes de normas penais a
analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.

3.1. Fonte de Produção ou Substancial (Material)


A pergunta que se almeja responder no presente tópico é a seguinte: quem pode legislar
sobre Direito Penal no Brasil? A lei penal no Brasil é produzida pela União, nos termos do artigo
22, inciso I, da CRFB. O referido dispositivo disciplina a competência da União para legislar so-
bre diversas matérias, não somente Direito Penal. Portanto, a União é fonte de produção (fonte
material) da norma penal incriminadora e não incriminadora.
No parágrafo único do referido artigo 22 da CRFB, consta a possibilidade de a União dele-
gar, por meio de Lei Complementar, matérias ali contidas para que o Estado da Federação e/ou
o Distrito Federal possa legislar sobre elas.

Questão 1 (INÉDITA/2020) O Estado-membro ou o Distrito Federal pode legislar sobre Direito


Penal com autorização de Lei Complementar da União?

Com uma interpretação literal do dispositivo, poderia se chegar a uma conclusão de que seria
possível o Estado-membro legislar sobre Direito Penal desde que autorizado por lei comple-
mentar da União.

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Parte da doutrina afirma que essas matérias específicas (parágrafo único do art. 22) são
aquelas de interesse meramente local. Desse modo, entende-se que, pela doutrina penal brasi-
leira, os Estados e o Distrito Federal não podem legislar sobre Direito Penal fundamental.
Segundo Nucci (2008, p. 54), “o Estado jamais poderia legislar em matéria de Direito Pe-
nal Fundamental (normas inseridas na Parte Geral do Código Penal, que devem ter alcance
nacional, a fim de manter a integridade do sistema)”. O referido autor ainda afirma que o Esta-
do-membro, na atividade legislativa, poderia compor lacunas existentes na legislação federal.
Entretanto, o  tema envolve muitos debates jurídicos, como posições opostas. Para Luiz
Vicente Cernicchiaro (1991, p. 30), poderá ocorrer a delegação por lei complementar da União
para o Estado-membro legislar sobre matéria de interesse específico, como, por exemplo,
a proteção da vitória-régia na Amazônia, ou, como ensina Luiz Flávio Gomes (2003, p. 122),
ao tratar de matéria específica, “uma regra penal sobre o trânsito de determinada localidade”.
Há dois requisitos importantes apresentados no âmbito da doutrina do Direito Constitu-
cional que merecem destaque, no que diz respeito ao parágrafo único do artigo 22 da CRFB.
O primeiro é um requisito formal no sentido de que a União só pode delegar competência por
meio de Lei Complementar “Federal”; o segundo requisito é material no sentido de que a ma-
téria objeto da delegação deve tratar de pontos específicos do artigo 22. Com isso, não pode
haver delegação genérica de competência de matérias relacionadas no referido dispositivo.
Isto é, não pode a União delegar competência genérica de Direito do Trabalho para Esta-
do-membro, apenas pode haver delegação de pontos específicos que deverão ser tratados no
âmbito regional.
Existe um terceiro requisito implícito da delegação apontado por Alexandre de Moraes
(concordam com essa tese Pedro Lensa e Bernardo Gonçalves), qual seja, que deve existir
correspondência entre a delegação referida no parágrafo único do artigo 22 e o inciso III do
artigo 19, ambos da CRFB, ou seja, deve-se fazer uma interpretação sistemática entre esses
dois dispositivos.
O inciso III do artigo 19 da CRFB (grifos nossos) expressa:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:


III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

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Segundo Alexandre de Moraes, como a União não pode instituir distinções entre um Estado
e outro, entre um Estado e o Distrito Federal, se decidir concretizar a norma do parágrafo único
do artigo 22, deverá fazê-lo para todos os Estados e para o Distrito Federal e, portanto, não
poderá delegar para um ente e não delegar para outro ente federado.
Dito de outro modo, certa vez, um governador do Rio Janeiro quis implementar um Direito
Penal mais severo com o fim de combater “melhor” a criminalidade (Revista Exame, abril de
2014). Tal proposta não avançou, mas houve debates no âmbito doutrinário. Importa dizer que,
por ora, o STF nada decidiu sobre delegação de matéria penal para Estado-membro ou para o
Distrito Federal, conforme o artigo 22 da CRFB.
No cenário ainda da doutrina constitucional, Pedro Lenza ensina que uma Emenda Cons-
titucional poderia autorizar o Estado-membro a legislar sobre crimes e penas semelhante ao
sistema nos EUA. Uma lei que fizesse isso seria inconstitucional. A única maneira de autorizar
o Estado a estabelecer crime e pena seria por meio de uma Emenda Constitucional que não
estaria ferindo a Federação, nem abolindo-a, mas reforçando-a (LENZA, 2008, p. 363-364).
Quanto a uma nova divisão de competência por meio de uma emenda constitucional, não
haveria óbice. O STF possui entendimento no sentido de que alterações pontuais podem ser
feitas. O que não pode ser implemento é um rearranjo geral de todo o sistema constitucional de
repartição de competências que desvirtue o modelo federativo de Estado. Sob esse aspecto,
poderia existir uma nova divisão de competência penal por meio de emenda constitucional,
possibilitando a referida atribuição a Estado-membro.
Vamos um pouco além. O parágrafo único do artigo 22 da CRFB deve ser interpretado de
forma restritiva, para abranger a possibilidade de delegação de matéria de exclusivo interesse
local, do qual estaria fora o Direito Penal.
Dito de outro modo, o Direito Penal, principalmente, em razão da peculiaridade de sua san-
ção privativa de liberdade e da finalidade específica de proteção de bens jurídicos de maneira
subsidiária e fragmentária, constitui um ramo do direito de interesse nacional, que não pode
compreender como crime uma determinada conduta em um Estado da Federação e não fazê-lo
em outro.

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Não acreditamos que o modelo diluído de competência penal, semelhante ao existente


nos EUA, que possui uma formação história federativa centrípeta, diferente da brasileira, que
é centrífuga­, seja o melhor para um país que ainda possui relevantes desigualdades econômi-
cas verificadas em todas as suas unidades federativas e muita desorganização no sistema de
justiça criminal. A competência individual de cada Estado ou de alguns, em matéria penal, ge-
raria maior desarranjo institucional, mais discussões sobre competência, uma vez que são 27
Unidades da Federação, e, por sua vez, maior morosidade e maior ausência de resposta penal.
No Brasil, em matéria de execução penal, o Estado-membro pode criar faltas leve e média,
entretanto não pode instituir falta grave, conforme redação contida no artigo 49 da Lei de Exe-
cução Penal (Lei n. 7210/1984- LEP, grifo nosso):

As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e graves. A  legislação local especificará


as leves e médias, bem assim as respectivas sanções. Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a
sanção correspondente à falta consumada.

Sobre o tema, já decidiu o STJ:

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO PARA REGIME SEMIABERTO.


PEDIDO PREJUDICADO. FALTA GRAVE. PERDA DOS DIAS REMIDOS. POSSE DE APARE-
LHO CELULAR ANTES DA LEI N. 11.466/2007. CONDUTA NÃO TIPIFICADA. PRINCÍPIOS
DA LEGALIDADE E IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS RIGOROSA. INCOMPETÊN-
CIA ESTADUAL PARA LEGISLAR SOBRE FALTAS GRAVES. ORDEM PREJUDICADA EM
PARTE E CONCEDIDA. 1. Antes do advento da Lei n. 11.466 de 29 de março de 2007,
a posse de aparelho telefônico não constava do rol taxativo previsto no art. 50 da Lei de
Execuções Penais, onde estão previstas as condutas caracterizadoras de falta disciplinar
de natureza grave, razão pela qual não está autorizado o reconhecimento da falta por este
motivo, sob pena de violação do princípio da legalidade e da irretroatividade da lei penal
mais rigorosa.
2. Resolução da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo
tipificando a conduta como falta grave não é suficiente para legitimar a decisão, pois
nos termos do art. 49 da Lei n. 7.210/1984, a legislação local somente está autori-
zada a especificar as condutas que caracterizem faltas leves ou médias e suas res-
pectivas sanções.

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3. Habeas corpus prejudicado em parte e, na parte remanescente, concedido para


retirar a anotação da falta disciplinar ocorrida em 21/9/2005 e todos os efeitos dela
decorrentes.
(HC 155.372/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em
02/08/2012, DJe 15/08/2012, grifo nosso).

Ao tratar de crimes de responsabilidade, o STF, por meio da súmula 722, estabelece: “São
de competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o estabele-
cimento das respectivas normas de processo de julgamento”.
Em síntese, por ora, fonte de produção do Direito Penal no Brasil é a União, ou seja, so-
mente o Estado (União) é fonte material ou substancial do Direito Penal (NORONHA, 2000, p.
45). O Estado-membro e o Distrito Federal, exceto os Municípios, não possuem leis penais (lei
incriminadora com preceito primário e secundário) em suas localidades. Tais entes podem,
todavia, complementar normas penais em branco, em matérias, por exemplo, de saúde e de
meio ambiente.

3.2. Fonte Formal ou de Conhecimento ou de Cognição


A fonte formal ou de conhecimento (cognição) é o meio pelo qual o Direito Penal se apre-
senta à sociedade. É a que permite o conhecimento do direito. A fonte formal se classifica em
fonte podendo ser mediata e em fonte imediata.

3.2.1. Fonte Direta (Imediata)

No Brasil, a norma penal se apresenta pela lei. A lei penal, como regra, é a Lei Ordinária da
União. Desse modo, a lei estrita da União é a fonte formal imediata. Tal afirmação dialoga com
o princípio da legalidade, na dimensão da reserva legal, que foi visto no capítulo sobre princí-
pios penais constitucionais.
Admite-se, ainda, a previsão de crime em Lei Complementar da União. É certo que a Consti-
tuição não autoriza a edição de Lei Complementar para tratar especificamente de Direito Penal,
mas permite que, ao tratar de tema que lhe seja destinado pelo texto constitucional (exemplo:
responsabilidade fiscal), possa trazer no seu bojo uma norma penal incriminadora.

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Questão 2 (INÉDITA/2020) Os Tratados ratificados também constituem fonte formal ime-


diata do Direito Penal no Brasil?

Para Luís Flávio Gomes, é pré-requisito de que o Decreto, que aprova o Tratado, seja publicado.
Desse modo, além da lei, crime e pena podem ser definidos em um Tratado, ratificado pelo
Brasil e publicado internamente (GOMES, 2003, p. 123).
Por outro lado, André Estefan argumenta que a ratificação de Tratados pelo Brasil, com a con-
sequente publicação interna da norma, não tem o condão de inserir tipos penais no ordena-
mento nacional. Tal norma pode apenas trazer definições legais e recomendações de incrimi-
nação, as quais devem ser analisadas pelo Congresso Nacional para eventual aprovação de
leis (ATEFAM, 2010, p. 113).

Sobre o tema, em decisão do STJ, observou-se a seguinte posição:

STJ- INFO 659. Terceira Seção.


TEMA: Crime contra a humanidade. Art. 7º do Estatuto de Roma. Tratado internacional
internalizado pelo Decreto n. 4.388/2002. Ausência de lei em sentido formal. Princípio da
Legalidade. Art. 5º, XXXIX, da CF. Ofensa.
É necessária a edição de lei em sentido formal para a tipificação do crime contra a huma-
nidade trazida pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado.
O conceito de crime contra a humanidade se encontra positivado no art. 7º do Estatuto de
Roma do Tribunal Penal Internacional, o qual foi adotado em 17/07/1998, porém apenas
passou a vigorar em 01/07/2002, quando conseguiu o quórum de 60 países ratificando a
convenção, sendo internalizado por meio do Decreto n. 4.388/2002. No Brasil, no entanto,
ainda não há lei que tipifique os crimes contra a humanidade, embora esteja em tramita-
ção o Projeto de Lei n. 4.038/2008, que “dispõe sobre o crime de genocídio, define os crimes

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contra a humanidade, os crimes de guerra e os crimes contra a administração da justiça


do Tribunal Penal Internacional, institui normas processuais específicas, dispõe sobre a
cooperação com o Tribunal Penal Internacional, e dá outras providências”. Nesse con-
texto, o Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de se manifestar no sentido
de que não é possível utilizar tipo penal descrito em tratado internacional para tipificar
condutas internamente, sob pena de se violar o princípio da legalidade - art. 5º, XXXIX,
da CF/1988 segundo o qual “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal” - art. 5º, XXXIX, da CF/1988. Assim, tanto no Supremo Tribu-
nal Federal como também no Superior Tribunal de Justiça, não obstante a tendência
em se admitir a configuração do crime antecedente de organização criminosa - antes
da entrada em vigor da Lei n. 12.850/2013 - para configuração do crime de lavagem
de dinheiro, em virtude da internalização da Convenção de Palermo, por meio Decreto
n. 5.015/2004, prevaleceu o entendimento no sentido de que a definição de organiza-
ção criminosa contida na referida convenção não vale para tipificar o art. 1º, inciso VII,
da Lei n. 9.613/1998 - com redação anterior à Lei n. 12.683/2012. De igual modo, não
se mostra possível internalizar a tipificação do crime contra a humanidade trazida pelo
Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado por meio do Decreto n.
4.388/2002, porquanto não há lei em sentido formal tipificando referida conduta. REsp
1.798.903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção, por maioria, julgado
em 25/09/2019, DJe 30/10/2019, grifos nossos.

Portanto, as demais espécies normativas, quais sejam: Decreto, Resolução, Portaria, Me-
dida Provisória e qualquer outra, que não seja lei em sentido estrito, não podem estabelecer
tipo penal. Os tipos penais, anteriores à CRFB de 1988, instituídos por Decreto-Lei, são vá-
lidos desde que não contrariem à Constituição. Os que não apresentaram incompatibilidade
com a CRFB, em 1988, foram recepcionados.

Se somente a Lei pode apresentar a conduta criminosa (constituir a norma penal incrimina-
dora), se somente a União, por meio do Congresso Nacional, pode aprovar uma Lei penal in-
criminadora (artigo 22 I da CRFB), por que o STF decidiu que a homofobia constitui crime de
racismo (racismo social)?

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Dermeval Farias

Entendemos que o STF violou a exigência de reserva legal contida no texto constitucional. Para
compreender o sentido do princípio da legalidade penal, remetemos o leito ao PDF sobre prin-
cípios penais e jurisprudência do STF e do STJ ao item legalidade e reserva legal.

3.2.2. Fonte Indireta (Mediata ou Secundária)

São fontes indiretas do Direito Penal os costumes, os princípios gerais do direito e a juris-
prudência. Essas fontes não prescrevem a norma incriminadora nem possuem o poder de criar
ou de revogar a norma incriminadora. Na verdade, constituem fonte de interpretação do Direito
Penal.
Sobre as fontes mediatas ou indiretas, Noronha descreve:

[...] como fonte imediata, grande número de autores aponta os costumes. Outros há, ainda, que colo-
cam nessa espécie também a doutrina, a equidade e os princípios gerais do direito, a jurisprudência,
a analogia e os tratados, havendo ainda os que incluem as providências administrativas, os regula-
mentos, as instruções, circulares, posturas, recomendações, advertências da autoridade policial etc.
(NORONHA, 2000, p.45-46).

Do emprego dos costumes, não pode surgir um crime não previsto em lei. Os costumes,
como fonte, segundo Estefam, somente incidem para ampliar a licitude penal:

Os trotes acadêmicos, por exemplo, traduzem uma prática reconhecida e costumeira, de modo que
possíveis infrações, como injúria (ex. referir-se ao calouro como bicho) ou constrangimento ilegal
(ex. obrigar o novato a repetir cânticos satíricos contra a sua vontade), são consideradas permitidas
à luz do art. 23, III, do CP (exercício regular de um direito)1.

O exemplo anterior pode ser contestado. A liberdade de alguém no sentido de não querer
participar do trote deve ser respeitada. Ademais, dependendo da intensidade do constrangi-
mento e dos meios utilizados, referida conduta pode estar adequada a algum dos tipos penais
previstos no Código Penal, como o constrangimento ilegal, a lesão corporal e outros.
No tocante à jurisprudência, é importante observar que, por força da inovação decorrente
da Emenda Constitucional 45 de 2004, com a introdução do artigo 103 A na CRFB, que permitiu
a elaboração de súmulas vinculantes pelo STF, regulamentada pela Lei n. 11.417/2006, pode-
1
ESTEFAM, André. Direito Penal. Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 71.

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-se dizer que existe hoje a interpretação jurisprudencial não vinculante e a interpretação judi-
cial vinculante. Essa última é a que decorre de súmulas vinculantes do STF, as quais deverão
ser obedecidas pelos juízes e tribunais de todo o país.
A súmula vinculante terá eficácia imediata, mas razões de segurança jurídica ou de excep-
cional interesse público autorizam o STF a restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só
tenham eficácia a partir de outro momento, conforme art. 4º da Lei n. 11.417/2006.
A Lei n. 11.417/2006 não veda a criação de súmula vinculante em matéria penal. Entretan-
to, é importante advertir que a súmula não pode criar tipo penal, não pode constituir uma nor-
ma penal incriminadora por força do princípio da reserva legal contido no art. 5º inciso XXXIX
da CRFB.
A súmula vinculante somente poderá interpretar o Direito Penal para afastar celeuma exis-
tente. Tal interpretação poderá ocorrer no sentido agravador ou favorável ao agente. O intuito
reside na uniformidade das decisões a partir da súmula vinculante, afastando, desse modo,
a insegurança jurídica em muitos temas reinantes em matéria penal ou em outros ramos do
direito.
Ao tratar da súmula vinculante em matéria penal, Alberto Silva Franco adverte:

Se tal conteúdo vier a agravar a situação do acusado, é evidente que não poderá atingir fatos ocorri-
dos antes de sua publicação. No entanto, se se tratar de súmula de caráter penal, mais favorecedora
do réu, sua retroatividade será inquestionável (FRANCO et al., 2007, p. 72).

Não concordamos com a posição anterior defendida por Alberto Silva Franco. Isso porque
a interpretação penal pode ser modificada ao longo do tempo, com a possibilidade de surgir
um entendimento mais gravoso em matéria penal, que poderá ser aplicado a casos passados
ainda não julgados e casos futuros. Não se trata de lei nova mais gravosa, mas de interpreta-
ção da lei existente, que pode surgir via súmula vinculante ou não vinculante, ou mesmo em
uma jurisprudência nova, decorrente de várias decisões em um mesmo sentido.
Anota-se ainda que, por força do sistema de controle de constitucionalidade, é  possível
uma decisão do STF anular uma lei penal, bem como modular os seus efeitos. Logo, a afirma-
ção de que a jurisprudência não revoga lei deve ser vista com reserva quando se pensa no sis-
tema de controle de constitucionalidade de leis e atos normativos previsto na CRFB de 1988.
Esse tema voltará a ser discutido nos pontos de discussão no final deste capítulo.

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4. Norma Penal e Lei Penal


Embora não seja costume de toda a doutrina apontar a diferença entre norma penal e lei
penal, é certo que não se trata, do ponto de vista técnico, de expressões sinônimas. A lei é a
forma de exteriorização da norma, ou seja, a norma precede à lei. A lei é a forma como a norma
se apresenta à sociedade.

Exemplo: a  norma “não matarás” se apresenta no art. 121 do CP na forma “matar alguém”,


pena-reclusão de 6 a 20 no homicídio simples, de 12 a 30 no homicídio qualificado.

Desde já, é importante ressaltar que norma penal é diferente de lei penal. A norma apre-
senta um comando, mandamental ou proibitivo, anterior à lei. A lei é a forma como a norma se
apresenta à sociedade. Para o Luís Regis Prado, a norma constitui:

[...] pressuposto ou prius lógico da lei, sendo esta o revestimento formal daquela daquela. A norma
jurídica, quando elaborada pelo órgão legislativo competente, segundo os ditames constitucionais,
apresenta-se sob a forma, por exemplo, de lei ordinária. [...] a lei, em sentido técnico jurídico, deve
ser entendida como uma fonte do Direito positivo, um meio ou instrumento, com caracteres especí-
ficos, de produção de norma jurídica. É ela um modo de revelação ou de exteriorização racional da
norma” (PRADO, 2012, p. 208, grifos nossos).

É importante destacar uma peculiaridade da lei penal, qual seja: quando uma pessoa, ao re-
alizar uma conduta criminosa, não contraria a lei, ou seja, a conduta não é contrária à lei, exem-
plo: artigo 121, caput do CP, matar alguém. Caio, com animus necandi (vontade de matar), fa-
zendo uso de uma arma de fogo, efetuou disparos e matou Maria. Caio, com sua conduta, não
contrariou a lei, mas contrariou a norma, o pressuposto lógico da lei, qual seja “não matarás”
(OLIVÉ et al., p. 79).

Na linguagem usual dos manuais de Direito Penal no Brasil, nem sempre é dada a devida aten-
ção ao sentido exato de tais palavras. Não raro, a lei é usada com o sentido de norma, e a nor-
ma é usada com o sentido de lei. O uso mais corrente se revela no uso de norma para se referir
à lei. Por isso, nesse material, em razão de sua finalidade, não vamos precisar sempre o que é
lei e o que é norma.

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Dito de outro modo, nas linhas abaixo, também vamos nos referir em alguns momentos à lei
com o uso do termo “norma”, buscando uma melhor comunicação com o leitor. De antemão, já
colocamos o sentido estrito de lei e norma nos parágrafos anteriores.

4.1. Anomia
O termo “anomia” significa “ausência de lei”, bem como a situação caracterizada pela exis-
tência de leis que não são cumpridas, ou seja, no segundo caso, quando ocorrem fatos que
ofendem as normas, mas não há resposta estatal.
Em síntese, a anomia corresponde a um quadro de inexistência de normas ou a um quadro
de descumprimento das normas existentes pela sociedade. Segundo Sérgio Salomão Shecaira:

Haverá anomia, compreendida como ausência ou desintegração das normas sociais, sempre que os
mecanismos institucionais reguladores do bom gerenciamento da sociedade não estiverem cum-
prindo seu papel funcional [...]. O crime, por sua vez, é um fenômeno normal de toda estrutura social
(SHECAIRA, 2004, p. 219).

Assim, segundo determinado setor da doutrina, a inflação legislativa penal provoca ano-
mia, já que muitas normas não são conhecidas da sociedade, e outras são desnecessárias,
uma vez que a solução do conflito, nesses casos, poderia ser obtida com eficácia em outros
ramos do direito. Esse quadro gera a sensação de impunidade e enfraquece o Direito Penal,
o qual deveria atuar de forma célere somente na tutela dos bens jurídicos principais.

4.2. Antinomia
A antinomia corresponde à relação de incompatibilidade entre duas normas situadas no
mesmo ordenamento jurídico, que possuam o mesmo âmbito de validade.
Na classificação de Noberto Bobbio, se as duas normas incompatíveis possuem o mesmo
âmbito de validade, pode-se falar, com apoio em Alf Ross, em antinomia total-total; se tem o
âmbito de validade em parte igual e em parte diferente, pode-se falar em antinomia parcial-
-parcial; se tem o âmbito de validade igual ao da outra, no entanto mais restrito, denomina-se
antinomia total-parcial (BOBBIO, 2014, p. 91).

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Noberto Bobbio (2014, p. 98-99) ensina que a relação de contrariedade entre essas normas
deve ser solucionada com os critérios:
• cronológico - a norma posterior revoga a anterior;
• hierárquico - chamado de Lei Superior, segundo o qual, entre duas normas incompatí-
veis, prevalece a de hierarquia superior;
• especialidade - norma especial prevalece sobre norma geral, aplica-se, portanto, a uma
situação de antinomia total-parcial, devendo ser aplicado quando os critérios anteriores
não forem suficientes, por exemplo, quando duas leis ordinárias são editadas ao mesmo
tempo, a segunda prevalece sobre a primeira.

O referido autor ainda acentua que os critérios anteriores são insuficientes quando as nor-
mas incompatíveis são contemporâneas, do mesmo nível e gerais. Nessa situação, os critérios
cronológico, hierárquico e da especialidade não resolvem a antinomia (BOBBIO, 2014, p. 98).
Importa observar que esses critérios propostos por Bobbio são compatíveis com nosso
ordenamento jurídico, seja do ponto de vista constitucional, seja sobre o enfoque da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Em todo o caso, não se pode esquecer do princípio constitucional insculpido no art.  5º
inciso XL da CRFB (irretroatividade maléfica e retroatividade benéfica) quando se tratar de
aplicação do critério cronológico às normas penais contraditórias. Esse tema será tratado com
mais detalhes no item “Sucessão de leis no tempo”.
É importante acrescentar que o tema ainda é desenvolvido dentro do estudo denominado
conflito aparente de normas descrito pela doutrina penal, quando se analisam os princípios
da especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade, os quais serão vistos adiante.

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5. Classificação das Normas Penais (Incriminadoras, Não Incriminadoras,


Permissivas, Completas, Incompletas, Remetidas)

De forma usual, a doutrina nacional classifica as normas penais em duas espécies: incrimi-
nadoras e não incriminadoras.
As normas penais incriminadoras, denominadas “normas penais em sentido estrito” ou
“completas”, são aquelas que tipificam determinadas condutas e estabelecem penas (PRADO,
2012). Em outras palavras, são as que possuem preceito primário e preceito secundário, ou,
conforme leciona Regis Prado (2012, p. 177): “prótase (hipótese legal); e apódose (consequ-
ência jurídica)”.
As normas não incriminadoras não possuem preceitos primário (conduta) e secundário
(pena). Elas constituem normas gerais do Direito Penal e se classificam em: permissivas (jus-
tificantes e exculpantes), finais, complementares ou explicativas.
Para determinado setor da doutrina, as normas permissivas são somente as excludentes
de ilicitude que autorizam, portanto, a lesão ao bem jurídico em determinadas situações, nos
termos dos arts. 23, 24 e 25 do CP. Importa alertar que, na parte especial, o legislador também
estipulou excludentes, como no art. 128, I etc.
Essa é posição de Fernando Capez (2007, p. 30), o qual, ao tratar das normas permissi-
vas, afirma que elas “tornam lícitas determinadas condutas tipificadas”. No mesmo sentido,
Luiz Flávio Gomes se refere às normas permissivas ao dizer que “são as que descrevem
uma causa de exclusão da ilicitude” (GOMES, 2003, p. 140). Esse autor tem nova opinião no
livro em parceria com o Molina, diferenciando normas permissivas (afastam a tipicidade) de
normas justificantes (afastam a ilicitude), posição diversa da doutrina brasileira. Portanto,
tais autores não consideram que os artigos que excluem a culpabilidade façam parte das
normas permissivas.
Não concordamos com a posição anterior. Tanto os artigos que excluem a ilicitude da
conduta quanto os dispositivos que afastam a culpabilidade são normas permissivas. Ou seja,
a norma exculpante do art. 22 que trata da coação moral irresistível e da obediência à ordem

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não manifestamente ilegal é permissiva. No mesmo sentido, citando os arts. 26 caput e 28 §1º,
Rogério Greco (2010, p. 24),

É possível dizer que as normas permissivas trazem exceções à obrigatoriedade de outras nor-
mas que estabelecem obrigações ou proibições. Em sentido semelhante, Regis Prado e Nober-
to Bobbio.

Questão 3 (INÉDITA/2020) Como se dividem as normas permissivas?

As normas permissivas podem ser classificadas em: justificantes – afastam a ilicitude da con-
duta (ex.: arts.  23 a 25; e 128, I); e exculpantes – afastam a culpabilidade da conduta (ex.:
arts. 26, caput, e 22).

Para determinado setor da doutrina, as normas permissivas são somente as excludentes


de ilicitude que autorizam, portanto, a lesão ao bem jurídico em determinadas situações, nos
termos dos arts. 23, 24 e 25 do CP. Essa é posição de Fernando Capez, que, ao tratar das nor-
mas permissivas, afirma que elas “tornam lícitas determinadas condutas tipificadas em leis
incriminadoras. Exemplo: legítima defesa” (2011, p. 49). No mesmo sentido, em uma de suas
obras, Luiz Flávio Gomes, ao se referir às normas permissivas, diz que “são as que descrevem
uma causa de exclusão da ilicitude” (GOMES, 2003, p. 140).
Por outro lado, é possível sustentar que tanto os artigos que excluem a ilicitude da conduta
quanto os dispositivos que afastam a culpabilidade são espécies de normas permissivas. Des-
se modo, a norma exculpante do art. 22, que trata da coação moral irresistível e da obediência
à ordem não manifestamente ilegal, é permissiva. Possui raciocínio semelhante Rogério Greco,
citando como normas permissivas exculpantes os arts. 26, caput, e 28, §1º (GRECO, 2011, p.
20). Importa ressaltar que há muita divergência sobre a classificação das normas permissivas.
Há quem se limite a dizer que as normas finais, complementares ou explicativas são as
que “esclarecem o conteúdo de outras normas e delimitam o âmbito de sua aplicação. Exem-

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plo: arts. 1º, 2º e todos os demais da Parte Geral, à exceção dos que tratam das causas de
exclusão da ilicitude” (CAPEZ, 2007, p. 30).
É importante ressalvar que, na Parte Especial do Código Penal também existem normas
explicativas, conforme artigos 127 (conceito de funcionário público) e 150 § 4º (conceito de
casa).
Outra classificação das normas penais as divide em completas e incompletas. Completas
são aquelas normas incriminadoras que não necessitam de complemento no preceito primário
nem no preceito secundário.
Já as normas incompletas se classificam de duas formas: incompletas no preceito se-
cundário (normas penais remetidas ou normas penais em branco ao avesso); incompleta no
preceito primário (normas penais em branco).
Incompletas ou imperfeitas no preceito secundário são as normas que possuem a pena
remetida para outra norma (exemplos: art. 1º da Lei n. 2.889/1956; inciso II do art. 4º da Lei
n. 1579/1952; artigo 304 do Código Penal). Possuem a conduta narrada, mas não possuem a
pena na sua descrição. A sanção é prevista em outra norma que se faz referência na norma
incompleta.
Mas é possível afirmar que as normas penais em branco também são incompletas. Não
são incompletas no preceito secundário, mas no preceito primário, o qual é indeterminado e,
portanto, necessita de complementação.
As normas penais em branco podem ser homogêneas ou impróprias ou em sentido amplo
(complemento na mesma fonte legal) e heterogêneas ou próprias ou sentido estrito (comple-
mento em fonte diversa da lei).
As normas penais em branco homogêneas são complementadas por norma da mesma
fonte legislativa, ou seja, Lei que complementa Lei.

Exemplo: o artigo 237 do Código Penal é complementado pelo artigo 1521 do Código Civil.
As normas penais em branco homogênea podem ser divididas ainda em homovitelínea (com-
plemento na mesma lei) e heterovotelínea (complemento em leis diferentes).

As normas penais em branco heterogêneas são complementadas por fonte diversa da lei.

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Exemplo: Portaria 344 da ANVISA que complementa o termo “droga” dos artigos 33, 28 e
outros da Lei n. 11343/2006. Essa norma penal em branco decorre da dinâmica da sociedade,
que necessita em situações específicas de complemento normativo avindo de fonte diferente
do Congresso Nacional. Isso ocorre também em preceito da lei n. 9605/1998 (Meio Ambiente)
que é complementada, em determinados tipos penais, por Portaria do Ibama.

Vale destacar que o complemento normal de uma norma penal em branco retroage se for
benéfico e, por outro lado, não terá retroatividade se for maléfico.
Exemplo disso é Info 578 do STF, quando a Corte decidiu pela retroatividade de modifica-
ção na Portaria da Anvisa em relação ao lança perfume:

INFO 578 STF
Abolitio Criminis e Cloreto de Etila – 1 e 2
A Turma deferiu habeas corpus para declarar extinta a punibilidade de denunciado pela
suposta prática do delito de tráfico ilícito de substância entorpecente (Lei n. 6.368/1976,
art. 12) em razão de ter sido flagrado, em 18.2.98, comercializando frascos de cloreto
de etila (lança-perfume). Tratava-se de writ em que se discutia a ocorrência, ou não, de
abolitio criminis quanto ao cloreto de etila ante a edição de resolução da Agência Nacio-
nal de Vigilância Sanitária - ANVISA que, 8 dias após o haver excluído da lista de subs-
tâncias entorpecentes, novamente o incluíra em tal listagem. Inicialmente, assinalou-se
que o Brasil adota o sistema de enumeração legal das substâncias entorpecentes para a
complementação do tipo penal em branco relativo ao tráfico de entorpecentes. [...]
Em suma, assentou-se que, a partir de 7.12.2000 até 15.12.2000, o consumo, o porte
ou o tráfico da aludida substância já não seriam alcançados pela Lei de Drogas e, tendo
em conta a disposição da lei constitucional mais benéfica, que se deveria julgar extinta
a punibilidade dos agentes que praticaram quaisquer daquelas condutas antes de
7.12.2000. HC 94397/BA, rel. Min. Cezar Peluso, 9.3.2010 (HC-94397), grifos nossos.

Todavia, caso o complemento de uma norma penal em branco seja anormal, isto é, guarde
semelhança com a norma excepcional ou temporária, seja um complemento para regular uma
situação específica, temporária ou excepcional, haverá a mesma interpretação dada às nor-
mas excepcionais e temporárias, ou seja, o complemento terá ultratividade.

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Exemplo: tabela de preço para controlar a inflação, caso o comerciante venda a mercadoria
acima do preço tabelado, será julgado com base na norma da época do fato, a qual terá ultrativi-
dade. Isso vale ainda para situações específicas, como, por exemplo, complemento excepcional
(se vincula à cessação das circunstâncias) ou temporário (tem prazo de vigência no bojo) nos
casos do artigo 268 do CP, para conter o COVID-19. A pessoa que descumpre a medida especifi-
cada no complemento, responderá pelo fato. O referido complemento tem ultratividade.

Vale ainda ressaltar, que dentro de suas competências, Estados e Municípios podem com-

plementar normas penais em branco.

Exemplos: áreas de saúde e de meio ambiente.

6. Interpretação, Aplicação e Integração da Norma

No estudo da interpretação, a doutrina brasileira menciona a metodologia tradicional, a in-

terpretação analógica, o brocardo in dubio pro reu e a interpretação moderna guiada pelos prin-

cípios, influenciada por uma visão neoconstitucionalista, bem como o critério de integração

caracterizado pelo uso da analogia em favor do réu.

É certo ainda que as construções da dogmática penal exercem grande influência na ati-

vidade de interpretação ou, pelo menos, deveriam exercer. Nessa perspectiva, são relevantes

funções da dogmática penal: função argumentativa, que possui relação com a necessidade

de uso dos institutos dogmáticos na construção de decisões penais; e função de segurança

jurídica, tanto na tutela de bens jurídicos penais individuais quanto no cenário da proteção de

bens jurídicos supraindividuais (GOMES FILHO, 2019).

6.1. Modelo Tradicional

Quando se fala do modelo tradicional de interpretação, nos diferentes ramos que compõem

o ordenamento jurídico, é comum a apresentação da classificação que envolve a interpretação

quanto à fonte, ao meio e ao resultado.

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A interpretação quanto à fonte se divide em:

• Doutrinária, a qual feita pelos juristas, por exemplo, nos manuais de Direito Penal, civil,

empresarial, constitucional etc.;

• Judicial, que é realizada pelos juízes e tribunais em suas decisões;

• Autêntica, que é aquela produzida pelo próprio legislador no bojo da norma legal que

fora aprovada.

A intepretação quanto ao meio se divide em:


• Histórica, a qual leva em conta os acontecimentos da época em que foi produzida a lei;
• Sistemática, que indica uma comunicação ou um diálogo entre dispositivos legais, de
modo a alcançar toda a abrangência de um texto legal, evitando o uso de artigos iso-
lados quando tal escolha puder impedir o alcance do verdadeiro sentido do texto legal;
• Teleológica, ou seja, leva em conta a finalidade da lei;
• Literal ou gramatical, isto é, examina o texto apenas com o sentido expresso de sua lin-
guagem, caracteriza-se pela “busca do sentido das palavras utilizadas pelo legislador”
(GOMES; MOLINA, 2007, p. 75).

Quanto ao resultado, a interpretação pode ser:


• Declarativa, no sentido escrito no texto legal, sem alargar ou diminuir o seu alcance;
• Restritiva, a qual é usada quando a lei disse mais do que queria, de modo que compete
ao intérprete reduzir o seu significado;
• Extensiva, usada quando a lei disse menos do que deveria, de forma que o intérprete
estenda o seu alcance.

Todo o modelo tradicional de classificação tem aplicação ao Direito Penal, entretanto não
abriga todos os problemas penais. A doutrina penal, dessa forma, propõe outras alternativas,
as quais devem ser conjugadas com a classificação tradicional, com a finalidade de extrair o
melhor sentido da legislação, com respeito aos princípios estruturantes, garantidores da corre-
ta aplicação do Direito Penal, vistos em outro capítulo.

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6.2. Modelo Novo
No modelo tradicional, os livros clássicos costumam falar em interpretar para extrair a res-
posta correta, como se, segundo Queiroz (2006), houvesse um único sentido possível ao texto
legal, ou seja, a tarefa compreendia a missão de extrair o espírito da lei.
Hoje, em um denominado modelo mais recente de interpretação, desvinculado da Escola
da Exegese, separado de um raciocínio unicamente silogista, observa-se, com variadas linhas
filosóficas, o uso da ferramenta axiológica e a abertura do sistema jurídico, que permitem ao
intérprete construir a solução jurídica adequada para o caso concreto, diante de várias possibi-
lidades, de várias alternativas possíveis.
Nesse novo ambiente, no âmbito do Direito Penal, diante de novas classes de bens jurídi-
cos, que exigem novos institutos jurídicos, inexistentes nos séculos XVIII e XIX, para concreti-
zar a sua aplicação, a ciência jurídico-penal se debruça para descrever proposições capazes de
solucionar as querelas jurídicas.
Diante disso, surgiram novos princípios para auxiliar os operadores do Direito Penal na
interpretação de casos concretos, conforme visto no capítulo sobre princípios penais e juris-
prudência do STF e do STJ (PDF), bem como novas técnicas de interpretação, como a interpre-
tação progressiva, a qual, segundo Molina e Luís Flávio Gomes, significa o seguinte:

Interpretação progressiva: a lei deve ser interpretada de acordo com os progressos da cultura, da
sociedade, dos recursos tecnológicos, das ciências, da medicina, da computação etc. O fundamen-
to da interpretação progressiva ou evolutiva ou adaptativa, como se vê, é  o princípio dinâmico.
Também são levadas em conta as evoluções econômicas, fiscais, monetárias etc. Por exemplo: diz
o artigo 11 do Código Penal que não são computáveis na pena as frações de cruzeiro. Em razão da
mudança do padrão monetário brasileiro, hoje devemos interpretar (progressivamente) essa locu-
ção como frações de um real (que são os centavos) (GOMES; MOLINA, 2007, p. 76, grifos nossos).

Novos institutos, novos princípios implícitos e novas ferramentas de linguagem também


são observados atualmente na busca de soluções para os problemas penais no que diz respei-
to à interpretação, tanto das normas incriminadoras, quanto das normas não incriminadoras,
ou seja, a título de exemplo: princípio da insignificância, princípio da proibição da tutela penal
deficiente, tipicidade conglobante e teoria da imputação objetiva.

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Questão 4 (QUESTÃO INÉDITA/2020) Qual seria, em breves linhas, a proposta metodológi-


ca para um padrão equilibrado de interpretação do Direito Penal?

A interpretação do Direito Penal clássico seguiu o modelo quanto à fonte (doutrinária, judicial
e legal), aos meios (histórico, gramatical/literal, sistemático, teleológico) e ao resultado (decla-
rativo, extensivo, restritivo). Com os acréscimos do uso da analogia somente em favor do réu e
do princípio in dubio pro reu quando houvesse dúvida sobre as opções existentes.

Com o advento do neoconstitucionalismo e das contribuições funcionalistas teleológicas


com suas abordagens de política criminal, observou-se o surgimento da interpretação penal
constitucional sedimentada em princípios constitucionais explícitos e implícitos com dupla
função, quais sejam: orientar a produção legislativa e a aplicação do Direito Penal.
De todo modo, não se pode esquecer a vinculação à legalidade, reserva legal, irretroativida-
de (salvo retroatividade benéfica), como princípios clássicos do Direito Penal, acompanhados
atualmente da dignidade da pessoa humana, humanidade das penas, proporcionalidade, insig-
nificância e outros. Deve-se buscar ainda evitar valorações subjetivas que fujam por completo
da realidade apresentada, bem como o casuísmo sem pacificação dos conflitos nos Tribunais
Superiores, gerador de insegurança jurídica.

6.3. Analogia
A analogia constitui um recurso de integração diante de lacuna legislativa, que se carac-
teriza pelo uso, para um caso não regulado pelo ordenamento, de norma legal que rege caso
semelhante. No Direito Penal, é possível o uso da analogia em benefício do processado, ou do
réu, como se diz na doutrina penal.

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Já decidiu o STJ:

[...] 4. O delito previsto no art. 293, § 1º, III, “b”, do Código Penal - em que incorreram os
pacientes, em razão da conduta de manter em depósito, no exercício de atividade comer-
cial, garrafas de bebida alcoólica sem o selo obrigatório do IPI - está inserido no Capítulo
II do Título X do Código Penal, que trata dos crimes contra a fé pública. Apesar disso,
observa-se que o bem jurídico tutelado por esse crime não é a fé pública. Trata-se, na
verdade, de crime praticado em detrimento apenas da ordem tributária, direcionado tão
somente ao combate à sonegação.
5. Mesmo se tratando de crime exclusivamente praticado em detrimento da ordem tributá-
ria, o delito previsto no art. 293, § 1º, III, “b”, do Código Penal não está previsto nas hipóte-
ses de extinção da punibilidade, em razão do pagamento do tributo, trazidas pelos arts. 34
da Lei n. 9.249/1995 e 9º, § 2º, da Lei n. 10.684/2003. Aliás, não poderia ser diferente, já
que o crime em apreço foi incluído no Código Penal pela Lei n. 11.035, de 22/12/2004, ou
seja, em data posterior à vigência dos dispositivos anteriormente indicados.
6. Nada obstante, não é justo tratar situações semelhantes de modo distinto sem que
exista motivo plausível para tanto. É que onde existir a mesma razão haverá o mesmo
direito (ubi eadem ratio ibi idem jus). Assim, faz-se necessária a aplicação, ao caso em
apreço, de analogia em favor do réu (in bonam partem).
7. Por um lado, quem, por suprimir ou reduzir tributo, incorre em pena prevista no art. 1º
da Lei n. 8.137/1990, mas, a qualquer tempo, paga o tributo sonegado tem sua punibi-
lidade extinta, por aplicação do art. 34 da Lei n. 9.249/1995 ou do art. 9º, § 2º, da Lei n.
10.684/2003. Precedente.
8. Por outro lado, quem, por manter em depósito, no exercício de atividade comercial,
garrafas de bebida alcoólica sem o selo obrigatório, responde pelo crime descrito no
art. 293, § 1º, III, “b”, do CP, mas, em seguida, paga o tributo que deveria ter sido reco-
lhido - como ocorreu no caso aqui analisado - também deverá ter, por interpretação ana-
lógica, sua punibilidade extinta.
9. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para declarar extinta a
punibilidade dos pacientes em relação ao delito previsto no art.  293, §  1º, III, “b”, do
Código Penal.

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(HC 414.879/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 24/05/2018,
DJe 30/05/2018, grifo nosso).

6.4. Interpretação Analógica

A interpretação analógica constitui um recuso de interpretação utilizado para determinar o


sentido de uma hipótese geral, exarada pelo legislador após uma sequência casuística, como
acontece em diversos dispositivos do Código Penal: Artigo 121 §2º, I, III e IV do Código Penal,
onde o legislador, após uma sequência de especificação, fez uso, em seguida, de hipóteses
genéricas. Destaca-se o inciso IV “traição, emboscada, dissimulação, ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”.
A interpretação da hipótese genérica feita nos casos concretos deve obedecer a uma rela-
ção de semelhança com as hipóteses casuísticas, sob pena de não configurar a qualificadora.
Já decidiu, por exemplo, o STJ em relação ao inciso I e ao inciso IV do artigo 121 §2º:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PRO-


NÚNCIA. HOMICÍDIO QUALIFICADO. MOTIVO TORPE E RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU
A DEFESA DA VÍTIMA. QUALIFICADORAS MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTES. EXCLU-
SÃO. POSSIBILIDADE. MODIFICAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA 7/STJ.
1. É firme o entendimento desta Corte de que a exclusão de qualificadoras da pronúncia,
quando manifestamente improcedentes, não constitui usurpação da competência do Tri-
bunal do Júri.
2. Na hipótese, o Tribunal a quo justificou devidamente a exclusão das qualificadoras do
motivo torpe e de emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima, por serem
manifestamente improcedentes, mantendo apenas a qualificadora do meio que resulte
perigo comum.
3. O gosto por aventuras, embora injusto, não pode ser considerado torpe, conceito em
que se incluem as condutas abjetas, desprezíveis, a  exemplo do homicídio mediante
paga, do qual se extrai a interpretação analógica.

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4. O agente, ao assumir o risco de produzir o resultado lesivo, mediante embriaguez ao


volante e direção na contramão, não praticou conduta que, por analogia, se assemelhe à
traição, emboscada ou dissimulação.
5. A revisão do conjunto fático probatório assentado no acórdão para concluir de forma
diversa, incluindo-se as qualificadoras do motivo torpe e do emprego de recurso que
impossibilitou a defesa da vítima na pronúncia, é vedada em recurso especial, nos termos
da Súmula 7 do STJ.
6. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1125714/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
13/10/2015, DJe 03/11/2015, grifo nosso).

6.5. Interpretação Extensiva

A interpretação extensiva, conforme já anunciado, é utilizada para estender o alcance de


uma disposição legislativa que, aparentemente, disse menos do que queria dizer. No Direito
Penal, é  possível o uso da interpretação extensiva, inclusive para se chegar a um resultado
prejudicial ao réu.

Crime de bigamia, previsto no artigo 235 do Código Penal; aceita-se também o terceiro casa-

mento do agente ou o quarto ou quinto e assim por diante, ou seja, a lei pune casar mais de

uma vez e não somente casar duas vezes, com ofensa aos impedimentos legais; crime de

perigo de contágio, quando se aceita o próprio contágio, para efeito de tipificação da conduta,

nos termos do artigo 130 do Código Penal (GOMES; MOLINA, 2007, p. 75).

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6.6. Interpretação do Direito Penal no Brasil no Cenário da Jurisprudência


do STF e do STJ

O uso dos princípios como principal ferramenta de decisão, não somente com ponderação,

mas também o uso isolado de princípios para solucionar toda e qualquer questão que seja

submetida ao Judiciário, constitui um reflexo neoconstitucional e tem influenciado a forma de

decidir das Cortes Superiores no Brasil e de todos os demais órgãos do Poder Judiciário, bem

como a atividade dos demais operadores do Direito.

O pontapé inicial para o surgimento do neoconstitucionalismo foi a Constituição alemã

de 1949, com a instalação do Tribunal Constitucional aAemão em 1951 e o início de uma

produção jurisprudencial que contribuiu sobremaneira para o crescimento científico do direito

constitucional, com reflexo nos países de tradição romano-germânica. É  certo que também

contribuíram para o neoconstitucionalismo a Constituição da Itália de 1947, com a instalação

da Corte Constitucional em 1956, bem como a redemocratização de Portugal, em 1976, e a da

Espanha em 1978 (GOMES FILHO, 2019).

Enquanto isso, no Brasil, somente após a vigência da Constituição de 1988, o neoconsti-

tucionalismo passou a constituir “um dos fenômenos mais visíveis da teorização e aplicação

do direito constitucional” (ÁVILA, 2017, p. 1). Esse período tem sido marcado pela adoção de

métodos flexíveis na hermenêutica constitucional pelo uso da ponderação, bem como pela di-

minuição das fronteiras entre o direito e a moral. Em outras palavras, a argumentação jurídica

moral se faz presente no modelo neoconstitucional.


Com uma visão moderada, mas confiante na proposta, Daniel Sarmento afirma que uma
das principais características do neoconstitucionalimo é a constitucionalização do direito, não
com uma premissa analítica do texto constitucional, mas com uma “interpretação extensiva e
irradiante dos direitos fundamentais e dos princípios mais importantes da ordem constitucio-
nal” (SARMENTO, 2009, p. 140).

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De modo reverso, sob uma perspectiva crítica da doutrina neoconstitucional, Humberto


Ávila afirma que o neoconstitucionalismo, conquanto não constitua uma única proposta, mas
um conjunto variado de ideias, pode ser apresentado como um modelo com as seguintes ca-
raterísticas (2017, p. 1):
• Os princípios são aplicados em detrimento das regras ou mais que as regras;
• A ponderação de princípios ocupa o lugar da subsunção, ou mais ponderação e menos
subsunção;
• Uma justiça particular no lugar de uma justiça geral, ou seja, a análise individual, concre-
ta e casuística prepondera sobre a geral e a abstrata;
• Mais destaque para o Poder Judiciário, com a diminuição dos espaços típicos dos Po-
deres Legislativo e Executivo;
• A Constituição substitui a lei, ou mais aplicação da Constituição com um menor uso
da lei.

Desse modo, a abertura na interpretação constitucional, com o uso de princípios para so-
lucionar casos concretos, constitui um dos pontos mais relevantes da proposta neoconsti-
tucional, com ênfase no papel do intérprete, principalmente do juiz, que não se limita mais a
subsumir a lei formal ao caso concreto.
Dentre as propostas neoconstitucionais, a ponderação de princípios como técnica de solu-
ção de conflitos e também de construção de solução jurídica (CARBONELL, 2005, p. 12), tanto
no caso de existência de regras legais como no caso de inexistência de regras, abriu espaço
para um modelo de justiça do caso concreto e, com isso, ampliou o poder do Judiciário, em
detrimento das competências do Legislativo e do Executivo nas mais diversas matérias.
Portanto, não se pode negar que o uso de princípios na solução de casos concretos e o
destaque ao papel do julgador, que tem sua margem de “poder de decidir” ampliada, consti-
tuem contribuições neoconstitucionais que dialogam com a proposta funcionalista penal tele-
ológica, vista no capítulo anterior. Isso porque o funcionalismo teleológico propõe a solução de

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casos penais com suporte em princípios político-criminais extraídos do texto constitucional,


em detrimento, caso necessário, da subsunção dogmática.
A referida forma de decidir questões penais, presente no atual do contexto do Supremo
Tribunal Federal, tem permitido uma amplitude desordenada no exame dos casos penais, com
soluções subjetivistas e voluntariosas, sem deferência ao legislador, sem respeito à dogmática
penal, sem seguir a própria orientação jurisprudencial da Corte ante às mudanças inconstan-
tes de posicionamentos, bem como a presença de muitas decisões monocráticas, que contri-
buem para a imprecisão na solução de temas.

6.7. Brocardo In Dubio Pro Reo

É comum no Direito Penal o uso do brocardo in dubio pro reo, o qual significa que, na dúvida,
deve-se decidir em favor do processado criminalmente. Tal orientação chamada por alguns de
princípios, faz-se presente, em alguns momentos, em Regimento de Tribunal (exemplo do STF,
grifos nossos):

Art. 151 — O Presidente do Plenário não proferirá voto, salvo:


I – — Nas arguições de inconstitucionalidade (arts. 174 e 181);
II – — Em matéria administrativa;
III – — Nos demais casos, quando ocorrer empate, salvo o disposto no parágrafo único deste artigo.
Parágrafo único — No julgamento do habeas corpus, pelo Plenário, o Presidente não terá voto, salvo
em matéria constitucional, proclamando-se, na hipótese de empate, a decisão mais favorável ao
paciente.
Art. 155 — O Presidente da Turma terá sempre direito a voto.
§ 1º — Se ocorrer empate, será adiada a decisão até tomar-se o voto do Ministro ausente.
§ 2º — Persistindo a ausência, ou havendo vaga, impedimento ou licença de Ministro da Turma por
mais de um mês, convocar-se-á Ministro de outra, na ordem decrescente de antiguidade.
§ 3º — Nos habeas corpus e recursos em matéria criminal, exceto o extraordinário, havendo empa-
te, prevalecerá decisão mais favorável ao paciente ou réu.

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7. Tempo do Crime

No que diz respeito ao tempo do crime, a teoria da atividade consta no art. 4º do Código
Penal: “Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que
outro seja o momento do resultado”.

8. Lei Penal no Tempo

Quanto ao âmbito da Lei Penal no Tempo, trata-se de espaço no qual se analisam todas as
hipóteses que dizem respeito aos princípios penais da retroatividade benéfica e da irretroati-
vidade maléfica, as características e a ultratividade das leis temporárias e excepcionais, bem
como a sucessão de leis penais no tempo com as suas diversas situações.

8.1. Princípios

Quando se trata do tempo do crime e da lei penal no tempo, é importante compreender a


teoria da atividade mencionada no tópico anterior, bem como os princípios da retroatividade
benéfica e da e da irretroatividade maléfica. Referidos princípios foram destacados no capítulo
sobre princípios penais e jurisprudência do STF e do STJ (PDF).
Segundo o princípio da irretroatividade da lei penal, a  lei penal mais gravosa não pode
retroagir para alcançar fatos passados. Representa uma conquista histórica do final do sécu-
lo XVIII, que surgiu atrelada ao princípio da legalidade penal, tendo previsão no inciso XL do
art. 5º da CRFB.
Pode ser compreendido, ainda, como já caiu em provas de concursos, no sentido de irre-
troatividade que possui como corolários a irretroatividade maléfica e a retroatividade benéfica.
O referido princípio não é contrariado pela súmula 711 do STF, a qual diz que a lei mais gra-
ve é aplicada se surgir durante a prática de um crime permanente ou de um crime continuado.
Isso porque o crime permanente está se consumando, enquanto a continuidade delitiva estará
ocorrendo com o cometimento de vários crimes, presentes os requisitos do art. 71 do Código
Penal.

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Do mesmo modo, não há ofensa à retroatividade benéfica com a previsão de ultratividade


de lei temporária e excepcional (art. 3º do Código Penal), que costumam ser leis mais severas.
Pode-se falar em uma mitigação ao referido princípio. Parcela pequena da doutrina afirma a
inconstitucionalidade, ou seja, a não recepção do art. 3º pela ordem constitucional, uma vez
que que a referida previsão/ressalva deveria constar do próprio texto da CRFB.

Questão 5 (QUESTÃO INÉDITA/2020) Jorge sequestrou Ana e, quatro dias depois, exigiu
o resgate em dinheiro para a liberação da vítima. Após dois meses do sequestro, sem a libera-
ção da vítima, entrou em vigor uma lei mais grave que aumentou a pena da extorsão mediante
sequestro (art. 159 do CP). Essa lei mais grave pode ser aplicada ao presente caso? Justifique
(no máximo 5 linhas).

Sim. A lei mais grave deverá ser aplicada no caso apresentado. A extorsão mediante sequestro,
prevista no art. 159 do CP, é crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. Enquanto a
vítima não for libertada, o crime estará acontecendo. Desse modo, a lei mais grave, que surge duran-
te a consumação do crime permanente, será aplicada. Não há, se falar em retroatividade da lei mais
grave nessa situação, uma vez que o crime está acontecendo, ou seja, começou a ser praticado na
vigência da lei menos grave e continuou sendo praticado na vigência da lei mais grave. Nesse sen-
tido, o STF editou a Súmula 711: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.

8.2. Exceções (Leis Excepcionais e Temporárias)


A lei temporária regulada pelo artigo 3º do Código Penal é aquela que regula situação
específica e que possui prazo de vigência no seu bojo, no seu texto. Difere da lei excepcional,
a qual também regula situação específica, mas se vincula à cessação das circunstâncias ex-
cepcionais, como condição para perder a sua vigência. Ambas as leis possuem ultratividade.
Essa ultratividade, que garante a sua eficácia, pode ser afastada de forma expressa por uma lei
posterior, mas isso não é comum, constitui apenas uma possibilidade dogmática.

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8.3. Conflito ou Sucessão de Leis Penais no Tempo


No estudo da sucessão de leis no tempo, analisam-se as consequências da substituição
legislativa em matéria penal, ou seja, os efeitos gerados quando uma lei penal substitui outra
lei penal.

8.3.1. Abolitio Criminis

A abolitio criminis significa a descriminalização de uma conduta efetuada por uma Lei,
a  qual terá retroatividade benéfica. Na história não muito distante do Direito Penal brasilei-
ro, ocorreu abolitio criminis dos crimes de adultério, sedução, rapto consensual. Se já houver
condenação transitada em julgado, o juiz da execução aplicará a lei penal melhor, na forma do
artigo 66 da Lei da Execução Penal (n. 7.210/1984).
Se a lei descriminalizadora surgir na fase do inquérito policial já instaurado, os autos serão
relatados encaminhados ao Ministério Público (nos locais onde se faz a distribuição direta)
ou ao judiciário (para envio ao Ministério Público). Após a promoção de arquivamento do Mi-
nistério Público, o juiz homologará o arquivamento. Se não concordar com o arquivamento do
Ministério Público, o juiz deverá aplicar o artigo 28 do CPP.

Essa sistemática foi alterada pela Lei n. 13964/2019 (pacote anticrime), mas está com a eficá-
cia suspensa em razão de decisão do STF. É importante acompanhar.

A abolitio criminis também pode acontecer por força de decisão do STF no controle de
constitucionalidade. Veja os temas em debates no final do presente capítulo.

8.3.2. Lex Mitior

Após o trânsito em julgado, se surgir uma lei melhor, a  sua aplicação competirá ao juiz
da execução penal, nos termos do artigo 66, inciso I, da Lei de execuções Penais (LEP n.
7.210/1984): “Art. 66. Compete ao Juiz da execução: I - aplicar aos casos julgados lei posterior
que de qualquer modo favorecer o condenado”.

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Tal contexto se apresentou, por exemplo, quando entrou em vigor a Lei n. 12015/2009, que
uniu as condutas de estupro e de atentado violento ao pudor em um único dispositivo, ou seja,
a conduta do artigo 214 foi transportada para o artigo 213, gerando aquilo que se denomina:
princípio da continuidade normativa típica. Desapareceu a rubrica atentado violento ao pudor,
no entanto, as elementares foram mantidas, não havendo abolitio criminis.
Tal modificação legislativa gerou a possibilidade, no mesmo contexto fático, de crime úni-
co nas condutas. A  título de ilustração, as  condutas de violência sexual caracterizadas por
sexo anal e por conjunção carnal, antes da Lei n. 12015, configuravam concurso material de
crimes porque estavam em tipos penais diferentes.
Após a mudança legislativa, se praticadas no mesmo contexto fático, as referidas condu-
tas caracterizam crime único (princípio da alternatividade do conflito aparente de normas); se
praticadas em contexto fático diverso, preenchidos os requisitos do 71 mais a unidade de de-
sígnios, configuram crime continuado; praticados em contextos e, se faltar um dos requisitos
para a continuidade delitiva, configuram concurso material de crimes.
Portanto, a mudança legislativa significou lex mitior em duas situações explicadas no pa-
rágrafo anterior.

8.3.3. Lex Tertia

A lex tertia constitui um tema polêmico em matéria penal, se caracteriza pela combinação
de parte (benéfica) de uma lei revogada com parte (benéfica) de uma lei em vigor, formando,
deste modo, uma terceira solução, denominada “terceira lei”, para ser aplicada em favor do réu.
Há muita discussão doutrinária sobre a possibilidade de se combinar parte benéfica de
uma lei revogada com parte benéfica de uma lei que está em vigor, afastando as partes preju-
diciais ao agente, criando assim uma terceira solução.
A primeira corrente doutrinária afirma que a combinação de leis é possível, pois visa a
atender aos princípios constitucionais da ultratividade e retroatividade benéficas. Não se pode
vedar a combinação de leis como se fosse um dogma (TOLEDO, 1994, p. 38). Isso não é cria-
ção de leis, mas combinação (GOMES, 2003, p. 176-177).

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De outro lado, contra a tese da combinação de leis, pois seria permitir ao juiz exercer fun-
ção típica do poder legislativo, legislar no sentido literal, estão Nélson Hungria, Jair Leonardo
Lopes, Paulo José da Costa Júnior.
A título de ilustração, o  STF já combinou leis para prejudicar o réu quando afirmou que
prevalecia o preceito primário do art. 14 da antiga Lei n. 6368/1976 e o preceito secundário do
art. 8º da Lei n. 8072/1990.
Todavia, em sua jurisprudência, o STF resistia à tese da combinação de leis. Adotava a po-
sição de Hungria, para o qual a combinação de leis seria uma ofensa ao princípio da separação
de poderes, uma vez que o juiz estaria, esse modo, criando uma lei diferente.
Pode-se dizer que a posição antiga do STF pela impossibilidade de combinação de leis
penais, na esteira de Nelson Hungria, foi mitigada por decisões de alguns anos atrás, após a
entrada em vigor da Lei n. 11343/2006, que possibilitava combinar partes da Lei nova de dro-
gas com parte da Lei revogada (n. 6368/1976). Isso consta nos Informativos 525 e 574 do STF.
O STJ também decidiu neste sentido.
Tudo isso foi superado mais adiante com a entrada em vigor da Súmula 501 do STJ, que proibiu
a combinação das leis n. 11343 e n. 6368/1976, ou seja, afirmou-se que a lei deveria ser aplicada no
seu todo, na íntegra, sem possibilidade de combinação de parte de uma lei com parte de outra lei:

É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das
suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n.
6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.

Não se pode deixar de salientar que o STJ tem combinado, em decisões penais, parte do artigo
273 do Código Penal com o artigo 33 da Lei n. 11343/2006, ou seja, o preceito secundário do
artigo 273, com alicerce no princípio da proporcionalidade, tem sido substituído pelo preceito
secundário do artigo 33 da lei n. 11343/2006. Referido tema foi abordado no PDF e em princí-
pios penais, quando se tratou do princípio da proporcionalidade.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARA-


ÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. IMPORTAÇÃO DE MEDICAMENTOS SEM REGISTRO NO
ÓRGÃO COMPETENTE. ART. 273, § 1º-B, I, DO CP. PRECEITO SECUNDÁRIO. INCONSTI-

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TUCIONALIDADE. UTILIZAÇÃO DA PENA PREVISTA PARA O TRÁFICO DE DROGAS.


POSSIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A  Corte Especial do Superior Tribunal
de Justiça, no julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade no HC 239.363/PR,
Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, declarou a inconstitucionalidade do preceito
secundário do art.  273, §  1º-B, do Código Penal, em atendimento aos princípios
constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade, autorizando a aplicação
analógica das penas previstas para o crime de tráfico de drogas (art.  33 da Lei n.
11.343/2006) àquele delito.
2. Agravo regimental não provido.
(AgRg nos EDcl no REsp 1662629/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 03/05/2018, DJe 09/05/2018, grifo nosso).
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ART. 273, § 1º-B, DO CP.
INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA PELO TRIBUNAL A QUO. APLICAÇÃO DO
PRECEITO SECUNDÁRIO DO ART. 33 DA LEI DE DROGAS. ENTENDIMENTO EM CON-
FORMIDADE COM OS PRECEDENTES DESTA CORTE SUPERIOR.
DESCLASSIFICAÇÃO. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. O  Tribunal de segundo grau reconheceu, no caso concreto, a  inconstitucionali-
dade do preceito secundário do art. 273, § 1º-B, I, do CP, por ofensa ao princípio da
proporcionalidade, e definiu, por analogia, que a pena a ser aplicada em substitui-
ção ao tipo penal seria a do crime de tráfico de drogas, consideradas a natureza e
a quantidade de produtos apreendidos. O entendimento está em conformidade com
a jurisprudência desta Corte Superior, o que justificou a incidência da Súmula n. 568
do STJ. 2. O recorrente importou medicamentos com princípio ativo sem registro no
órgão competente e anabolizantes com substância prevista em portaria da Anvisa,
sujeita a controle especial. Não há falar em atipicidade dos fatos e, de acordo com
o princípio da especialidade, está correta a incursão no art.  273, §§  1º, 1º-B, I, do
Código Penal, que contém todas as elementares do art. 334 e mais algumas.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1509051/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 03/09/2019, DJe 10/09/2019, grifo nosso).

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Questão 6 (QUESTÃO INÉDITA/2020) Quais são os argumentos favoráveis e contrários à


combinação de leis penais, ou seja, combinação de aspectos favoráveis ao réu constantes em
duas leis – uma lei revogada e uma lei em vigor –, afastando os aspectos prejudiciais, criando
assim o terceiro gênero (lex tertia)?

A primeira corrente doutrinária afirma que a combinação de leis é possível, pois visa a atender
aos princípios constitucionais da ultratividade e retroatividade benéficas.2 Há uma alquimia,
“no mundo da realidade, alguma forma de combinação de leis pode ocorrer, sem nenhum pre-
juízo para a ordem e segurança jurídica”3. Não se trata de criação de leis, mas de combinação
(GOMES, 2003, p. 176-177). É apenas um processo de integração que busca a aplicação mais
benéfica.
De outro lado, posiciona-se outra parcela da doutrina, com a afirmação de que a combinação
de leis seria permitir ao juiz exercer função típica do poder legislativo, legislar no sentido literal
(NUCCI, 2008, p. 63).
Nucci, com apoio em Roxin, ensina que o juiz não pode combinar leis, mas escolher a mais fa-
vorável ao réu. E, se este não concordar, que apresente o recurso. Afirma o renomado autor que
a sua posição seria intermediária entre as anteriores (NUCCI, 2008, p. 63). Entretanto, a sua
posição consiste em não aceitar a combinação de leis, porque escolher a mais favorável não é
combinar, mas aplicar a previsão constitucional do art. 5º, XL, da CRFB.
O tema foi pacificado, em tese, com a edição da Súmula 501 do STJ, que proibiu a combinação
das leis n. 11343 e n. 6368/1976, ou seja, afirmou-se que a lei deve ser aplicada no seu todo, na
íntegra, sem possibilidade de combinação de parte de uma lei com parte de outra lei.

2
Nesse sentido: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 13. ed. Rio de Janeiro, Impetus, 2011, p. 115.
3
TOLEDO, Francisco Assis de. Princípios Básicos de Direito Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 38.

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8.3.4. Novatio Legis

Uma nova lei penal que tipifica uma conduta que até então não constituía crime não retro-
age, só terá aplicabilidade para os fatos cometidos a partir de sua vigência. Esse raciocínio
também é válido para lei nova prejudicial ou mais gravosa do que a anterior que, por exemplo,
introduza no ordenamento jurídico uma causa de aumento de pena para determinada conduta
criminosa.

8.3.5. Lei Intermediária

A lei intermediária é aquela que é melhor do que a anterior e melhor do que a posterior. Des-
se modo, aplica-se ao fato cometido antes de sua vigência e ao fato cometido durante e julga-
do depois de sua vigência. A título de exemplo, para o fato cometido antes e julgado depois de
sua vigência, a lei intermediária possui extra-atividade, ou seja, retroage e exerce ultratividade
ao mesmo tempo.

Questão 7 (QUESTÃO INÉDITA/2020) Caio praticou um crime em janeiro de 2020, quando


a pena cominada de forma abstrata era de 2 a 5 anos. Em fevereiro de 2020, o legislador di-
minuiu a pena do crime, que foi fixada de forma abstrata no mínimo de 1 e, no máximo, de 3
anos. Em abril de 2020, o legislador novamente alterou a pena do referido crime, aumentando-a
para o mínimo de 3 e, para o máximo, de 6 anos. Salvo as hipóteses citadas, não houve outra
alteração da lei. Caio só foi julgado em maio de 2020, quando foi condenado. Nesse caso, Caio
será apenado com a pena em vigor no mês de janeiro, no mês de fevereiro ou no mês de abril?

Aplica-se a lei que entrou em vigor no mês de fevereiro, com previsão de pena mínima de
1 ano e máxima de 3 anos. Isso porque a tal lei possui extra-atividade, uma vez que é me-
lhor do que a anterior e melhor do que a posterior, sendo que o fato ocorreu antes dela. Há
no caso em apreço retroatividade e ultratividade benéficas da lei intermediária, uma das

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hipóteses encontradas na sucessão de leis. A lei intermediária que surgiu em fevereiro é


também denominada de lei bipolar.
Alberto Silva Franco, com precisão, trata da lei intermediária como sendo a norma mais favo-
rável que surge após o fato criminoso e finda antes do trânsito em julgado. Ela tem caráter
bipolar (expressão de Aníbal Bruno) porque é retroativa e ultrativa ao mesmo tempo. Para nós,
nada mais e nada menos do que uma hipótese de aplicação do princípio da extra-atividade da
lei penal.

Questão 8 (QUESTÃO INÉDITA/2020) Caio praticou um crime em julho de 2017, quando a


pena cominada de forma abstrata era de 02 a 05 anos. Em 2018, o Legislador diminuiu a pena
do crime, a qual restou fixada de forma abstrata no mínimo de 01 e, no máximo, de 03 anos. Em
2019, o Legislador novamente alterou a pena do referido crime, aumentando-a para o mínimo
de 03 e para o máximo de 06 anos. Salvo as hipóteses citadas, não houve outra alteração da
lei. Caio só foi julgado em 2020, quando foi condenado. Nesse caso, Caio será apenado com a
pena em vigor na lei do ano de 2017, do ano de 2018 ou do ano de 2019? Justifique.

Aplica-se a lei do ano de 2018, com previsão de pena mínima de 01 ano e máxima de 03 anos.
Isso porque a lei de 2018 possui extra-atividade, uma vez que é melhor do que a anterior e
melhor do que a posterior, sendo que o fato ocorreu antes dela. Há no caso em apreço retroati-
vidade e ultratividade benéficas da lei intermediária, uma das hipóteses encontradas na suces-
são de leis. A lei intermediária de 2018 é também denominada de lei bipolar.

8.3.6. Vacatio Legis

A vacatio legis constitui o intervalo temporal entre a publicação e a entrada em vigor de


uma lei. Segundo o artigo 1º do Decreto-Lei n. 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro): “salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta
e cinco dias depois de oficialmente publicada”.

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Mas o objeto do presente tópico é saber se uma lei penal melhor pode ser aplicada na va-
catio legis, sem aguardar a entrada em vigor da Lei. Isso porque, como regra, a lei é aplicada a
partir de sua entrada em vigor a partir de sua vigência.
Para Luís Flávio Gomes (2003), leis penais benéficas na vacatio não podem ser aplicadas
porque não possuem vigência. Rogério Greco (2008) defende a aplicação da lei benéfica na
vacatio e diz que é a posição majoritária na doutrina.
Essa também é a posição de Alberto S. Franco (2007), para quem a retroatividade benéfica
é um princípio constitucional jurídico-positivo e, portanto, não pode ser limitado pela vacatio
legis infraconstitucional do legislador ordinário. A norma do art. 1º da Lei de Introdução ao Có-
digo Civil é anterior à disposição constitucional e não pode limitar o princípio da Carta Magna.
Logo, a lei benéfica pode ser aplicada ainda na vacatio legis. Ainda exemplifica com leis hipo-
téticas que deixou de considerar o fato como criminoso e estabeleceu vacatio (FRANCO et al.,
2007, p. 67-68).
Com apoio na doutrina nacional de Paulo José da Costa Junior, Luiz Vicente Cernicchiaro,
René Ariel Dotti, Alberto Silva Franco (2007) afirma que norma favorável que for revogada na
vacatio legis terá ultratividade benéfica com relação aos fatos praticados na sua vigência. Cita
posição oposta na doutrina estrangeira de Cerezo Mir, Antônio Garcia-Pablos de Molina e ou-
tros, afirmando que seria intromissão do poder judicial nas faculdades do legislativo (FRANCO
et al., 2007, p.67-68).
Nucci (2008) discorda da posição anterior e defende que a Lei penal deve esperar a entra-
da em vigor para ser aplicada, sob pena de ofensa à segurança jurídica, uma vez que poderia
acontecer, por exemplo, a revogação de uma lei melhor no prazo da vacatio legis. Desse modo,
se ela já havia sido aplicada para determinados casos, mas ainda não aplicada para outros
semelhantes, haveria desigualdade e insegurança jurídicas.
STF e STJ já se manifestaram contra a aplicação da lei Penal na vacatio legis:

STF INFO 056 1 TURMA


Lex Mitior e Vacatio Legis
Ressalvando a competência do juiz da execução para apreciar originalmente o pedido
nos termos da Súmula 611 do STF (“Transitada em julgado a sentença condenatória,
compete ao Juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna”), a  Turma indeferiu

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habeas corpus que imputava ao Tribunal de Alçada de Minas Gerais o constrangimento


de não haver adotado, no julgamento da apelação interposta pelo paciente - ocorrido no
período de vacatio da Lei n. 9099/1995 -, o procedimento previsto nos arts. 76 e 89 dessa
lei (vista ao ofendido e ao MP para oferecimento de representação e de proposta de sus-
pensão do processo, respectivamente). Considerou-se que as normas invocadas pelo
impetrante ainda não estavam em vigor na data do julgamento da apelação, motivo pelo
qual a decisão impugnada, ao deixar de aplicá-las, não incorrera na pretendida ilegali-
dade. HC 74.498-MG, rel. Min. Octavio Gallotti, 03.12.96, grifo nosso.
STJ VACATIO LEGIS
O STJ se recusou a aplicar lei penal melhor no interregno da vacatio legis, conforme jul-
gado abaixo:
[…] JULGAMENTO DO RECURSO EM PERÍODO DA VACATIO LEGIS. RETROAÇÃO PARCIAL
DE ARTIGO DE LEI PENAL NOVA MAIS BENÉFICA. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA.
[...]
4. Não poderia o Tribunal de origem aplicar a minorante do art.  33, §  4º, da Lei n.
11.343/2006, de 23/8/06, uma vez que a norma não estava em vigor quando do julga-
mento do recurso acusatório, que se deu em dentro do prazo da vacatio legis.
[...] 7. Ordem denegada.
(HC 100.692/PR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em
15/06/2010, DJe 02/08/2010, grifo nosso).

9. Lei Penal no Espaço


Com relação à Lei Penal no espaço, o que se discute aqui é o lugar de incidência da legis-
lação penal brasileira. Não se discute competência nos artigos 5º a 8º do Código Penal, mas
o espaço de aplicação da Lei Penal brasileira. Competência é outro tema desenvolvido nos
artigos 70 e seguintes do Código de Processo Penal brasileiro.

9.1. Princípios
Territorialidade é o princípio adotado no caput do artigo 5º do Código Penal ao tratar do
âmbito de aplicação da Lei penal brasileira. O princípio foi adotado de forma temperada, relati-
vizada ou mitigada. Isso porque, conforme ressalva do próprio texto legal, o Brasil observa os
tratados internacionais que tratam, por exemplo, da imunidade diplomática.

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O princípio da territorialidade é mitigado não somente em razão da imunidade diplomática.


Por outro lado, a Lei penal brasileira também pode ser aplicada fora do território nacional pro-
priamente dito, nas hipóteses de território por extensão e nas hipóteses de extraterritorialidade.
Sobre a imunidade diplomática, vale dizer que se trata de um conjunto de prerrogativas
concedidas ao representante diplomático para o exercício de sua função na representação de
seu país. Não se cuida de privilégio.
O Brasil é signatário da Convenção de Viena e respeita as imunidades diplomáticas. Dis-
cute-se na doutrina a natureza jurídica, na seara penal da imunidade diplomática. Alguns de-
fendem que se trata de isenção de pena, outro afirmam que se trata de exclusão de jurisdição.
O diplomata que praticar um crime no território brasileiro, estando ou não no exercício da
função, possui imunidade e será julgado no seu país. O diplomata não pode renunciar à imuni-
dade que lhe for concedida, manifestando, por exemplo, o desejo de ser julgado no Brasil. Isso
porque a imunidade é de ordem pública e deve ser reconhecida de ofício. Apenas o país do
diplomata pode abrir mão dessa imunidade.
Ressalta-se que o agente consular possui imunidade apenas para os fatos penais cometi-
dos no exercício de sua função. Se cometer crime não relacionado com a sua função, não terá
imunidade e será alcançado pela legislação penal brasileira.

A embaixada estrangeira, localizada no Brasil, constitui território penal brasileiro para efeito
de incidência da Lei penal brasileira. Por isso, o  motorista ou qualquer outra pessoa, sem
imunidade diplomática, que praticar crime dentro da embaixada ou fora da embaixada, nos
limites do território brasileiro, será julgado conforme a Lei penal brasileira. Não se pode es-
quecer de que a imunidade diplomática, vista no tópico acima sobre o princípio da territoria-
lidade, impede que a Lei penal brasileira seja aplicada aos crimes cometidos, pelos agentes
diplomáticos, no exercício ou fora do exercício da função. Ressalte-se que os cônsules de
outros países que trabalham no Brasil só possuem imunidade para os crimes cometidos no
exercício da função.

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9.2. Conceito de Território Nacional


Como regra, a Lei Penal brasileira se aplica aos fatos cometidos no território nacional. Cer-
to que há exceções abordadas em outros tópicos deste capítulo, o que almeja agora é buscar
o conceito de território nacional.
Em síntese, o território brasileiro para efeito de incidência do Direito Penal abrange o solo,
o subsolo, o espaço aéreo correspondente, os cursos d’água internos, bem como as 12 milhas
marítimas (artigo 1º da lei n. 8.617/1993), medidas a partir da linha do baixa-mar do litoral con-
tinental e insular brasileiro, conforme as referências contidas nas cartas náuticas brasileiras.
Em relação aos rios internacionais que cortam mais de país, o território costuma ser esta-
belecido por tratados entre as partes interessadas. “Se o rio pertence a ambos os países, o li-
mite é fixado como regra pela equidistância das margens ou pela linha de maior profundidade
(talweg)” (GUEIROS, 2020).
Vale ressaltar que o Brasil possui uma parte do território da Antártica ou Antártida (ambas
expressões são aceitas), conforme Decreto n. 75.963/1975, que regulamentou dentro do Brasil
o Tratado da Antártica. Essa parte mencionada também integra o território brasileiro.

Questão 9 (QUESTÃO INÉDITA/2020) Silvinha, brasileira, grávida de gêmeos, embarcou em


um navio privado holandês que estava ancorado no Estado da Bahia. Em seguida, quando o
navio já se encontrava em alto-mar, Silvinha, de forma livre e consciente, fazendo uso de um
método abortivo, interrompeu a gestação dos dois fetos. Levando-se em conta que a referida
conduta não é tipificada na Holanda, haverá a aplicação da lei penal brasileira? Por quê? (no
máximo 10 linhas).

No caso apresentado, não haverá a incidência da lei penal brasileira. O fato ocorreu fora do
território nacional (art. 5º, caput) e, ainda, está fora da abrangência do conceito de território
por extensão (art. 5º, § 1º).

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Territorialidade
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacio-
nal, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 1984)
§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações
e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação
dada pela Lei n. 7.209, de 1984).

O caso dado também não se encaixa em qualquer hipótese de extraterritorialidade incondicio-


nada prevista no art. 7º, I, alíneas ‘a’, ‘b’, ‘c’ e ‘d’ do CP.
Por fim, na situação apresentada, não há que se falar em extraterritorialidade condicionada
da lei penal brasileira, uma vez que o fato não constitui crime, segundo a questão, no país da
bandeira do navio. Por isso não preenche uma das condições da extraterritorialidade condicio-
nada, qual seja o fato punido no país onde foi praticado o crime.

Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:


II – Os crimes:
b) praticados por brasileiro;
§ 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

9.3. Território por Extensão

O conceito de território por extensão consta no §1º do artigo 5º do Código Penal:

Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e ae-
ronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encon-
trem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

Exemplos de embarcações e aeronaves de natureza pública (navio ou avião a serviço do gover-


no transportando o Presidente da República etc., primeira parte do §1º do art. 5º do CP; embar-
cações ou aeronaves brasileiras de natureza privada (mercantes, de turismo) que estejam em
alto-mar ou no espaço aéreo correspondente, segunda parte do §1º do art. 5º do CP.

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9.4. Lugar do Crime

Lugar do crime tem importância para efeito de incidência ou não da Lei penal brasileira.

Não se trata aqui do estudo de competência, medida de jurisdição, que é abordado nos artigos

70 e seguintes do Código de Processo Penal.

O artigo 6º do Código Penal, ao cuidar do lugar do crime, destina-se aos crimes à distância,

que são aqueles em que a ação ou a omissão ocorre em um país e o resultado, em outro. Para

resolver essa questão, adotou-se a teoria da ubiquidade, ou seja, se o crime (na fase de execu-

ção ou de consumação) tocar o território nacional, aplica-se a Lei penal brasileira.

Adotou-se ainda a teoria mista ou da ubiquidade para explicar o lugar do crime no que diz

respeito à incidência da Lei penal brasileira. Vale destacar que o referido dispositivo diz respei-

to à fase executória ou de consumação do crime. Não se aplica, portanto, a outras etapas do

iter criminis, como a cogitação, os atos preparatórios ou mesmo o exaurimento).

O exaurimento é tratado por parcela da doutrina como etapa do iter criminis. Tema de estudo

do fato típico, sem relação direta com o estudo da teoria da norma. Entendemos que o exauri-

mento não faz parte do iter criminis.

Questão 10 (QUESTÃO INÉDITA/2020) Marcos, com o objetivo de lesionar Francisco, atin-

giu-o com uma pedra no Uruguai. Francisco, lesionado, correu ferido por uma distância de dez

metros e caiu no Brasil, já no Estado do Rio Grande do Sul. Socorrido por um caminhoneiro,

Francisco foi levado ao hospital mais próximo, localizado em uma pequena cidade gaúcha,
mas não sobreviveu ao ferimento, vindo a óbito dois dias após a internação. Aplica-se a lei
brasileira nessa situação? Justifique (no máximo 6 linhas).

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Aplica-se a lei brasileira com base na teoria da ubiquidade para os crimes praticados à dis-
tância, ou seja, que envolvem territórios de mais de um país. “Art. 6º Considera-se praticado o
crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se
produziu ou deveria produzir-se o resultado”.

9.5. Extraterritorialidade da Lei Penal


Sobre a extraterritorialidade da Lei penal brasileira, vale destacar o artigo 7º e o artigo 8º
do Código Penal. Em razão da necessidade de proteção de alguns bens jurídicos específicos,
bem como de se impedir que fatos criminosos não tenham resposta penal, existe, em algumas
situações descritas pela legislação penal, a possibilidade de extraterritorialidade.
Frisa-se que não se aplica a lei brasileira às contravenções ocorridas fora do território na-
cional (art. 2º da LCP). Não há extraterritorialidade em contravenção penal.
Com relação aos crimes, a Lei brasileira estabelece a extraterritorialidade incondicionada
e a extraterritorialidade condicionada:
• Extraterritorialidade incondicionada - art. 7, I, do CP: aplica-se mesmo que o crime te-
nha sido julgado no estrangeiro e independentemente de o agente entrar no Brasil.
• Extraterritorialidade condicionada - art. 7, II, do CP:
− art. 7º, II, ‘a’ e ‘b’ + requisitos do art. 7º, §2º;
− art. 7º, II, ‘c’, do CP + requisitos do art. 7º, §2º+ 7º, II, ‘c’ in fine (não ter sido julgado no
estrangeiro);
− art. 7º, §3º, do CP + requisitos do art. 7º, §2º+ requisitos do §3º (não ter sido pedida
ou ter sido negada a extradição) + requisição do Ministro da Justiça.

Princípios da Extraterritorialidade:
• Defesa - (proteção real) - art. 7º, I, ‘a’, ‘b’ e ‘c’, do CP. Tem em vista a nacionalidade da
pessoa titular do bem jurídico lesado e a necessidade de os Estados reprimirem as con-
dutas que atentam contra seus interesses primordiais;

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• Representação (pavilhão ou bandeira) - art. 7º, II, ‘c’, do CP. Atribui ao Estado no qual está
registrada a embarcação ou a aeronave o poder de submeter à sua jurisdição os crimes
nestes praticados, de forma subsidiária, ou seja, desde que o país onde a embarcação
estava ancorada não se interesse pela aplicação da lei;
• Personalidade (nacionalidade) - art.7º, I, ‘d’; II, ‘b’ e §3º, do CP. Atribui aos Estados o po-
der de sujeitar os seus nacionais, que pratiquem crimes no estrangeiro, ou aqueles que
praticarem crimes contra os seus nacionais no estrangeiro;
• Justiça Universal (cosmopolita, universalidade) - art. 7º, II, ‘a’, do CP. Representa a puni-
ção pela prática de crimes, cuja repressão interessa a todos os países.

Ressalta-se que o art. 2º da Lei n. 9.455/1997 prevê aplicação incondicionada da lei brasileira
se a vítima de crime de tortura é brasileira ou se o delito é praticado em local sujeito à jurisdi-
ção brasileira.
Crimes praticados no estrangeiro que o Brasil se obrigou a reprimir por força de tratado ou
convenção são de competência da Justiça Federal, conforme já decidiu O STJ:

[...] 6. A competência da Justiça Federal, na presente hipótese, encontra-se justificada


no inciso V do art. 109 da Constituição Federal, o qual dispõe que, “aos juízes federais
compete processar e julgar os crimes previstos em tratado ou convenção internacio-
nal, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente”.
7. Imputa-se ao recorrente o crime de corrupção passiva, o qual efetivamente encontra
previsão em tratado ou convenção internacional (Decreto n. 5.687 de 31/1/2006). É irre-
levante o fato de a convenção ter entrado em vigor no ordenamento pátrio após a prática
dos fatos, porquanto, diversamente da alegação do recorrente, a competência criminal,
por ser norma processual, é regida pelo princípio do tempus regit actum. Assim, devida-
mente preenchido o primeiro requisito trazido no inciso V do art. 109 da CF, haja vista a
efetiva existência de convenção internacional, assinada pelo Brasil, visando o combate
do crime de corrupção.

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8. Quanto ao requisito da transnacionalidade do delito, consta que “toda a denúncia está


embasada na premissa da existência de um esquema de corrupção idealizado e reali-
zado, em grande parte, a partir da matriz francesa da empresa ALSTON” e que as con-
dutas imputadas “ostentam claro caráter transnacional, com remessas de recursos por
meio de teias de offshores sediadas em paraísos fiscais, e destino final a agentes públi-
cos em tese corrompidos”.
Constato, assim, estar concretamente delineada também a transnacionalidade do delito.
9. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no RHC 85.990/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 13/08/2019, DJe 30/08/2019, grifo nosso).

Pena – Cumprida no estrangeiro - art. 8º do CP

a) se foi cumprida integralmente e for hipótese de extraterritorialidade condicionada, impe-

de a aplicação da lei penal brasileira (art. 7º, §2º, ‘d’, do CP);

b) se foi cumprida parcialmente ou for hipótese de extraterritorialidade incondicionada:

atenua a pena imposta no Brasil, se for pena de natureza diversa; será computada na pena a

ser imposta no Brasil (art. 42 do CP - detração) se for da mesma natureza.

Efeitos da Sentença Penal Estrangeira

Somente pode ser homologada para produzir os seguintes efeitos:

• obrigar o condenado à reparação do dano (restituir coisas ou produzir outros efeitos

civis);

• sujeitar o condenado à medida de segurança (arts. 96-99 do CP);

• Os efeitos mencionados dependem da homologação da sentença pelo STJ (art. 105, I, ‘i’,

da CF - EM 45). Na primeira hipótese ‘a’, depende de pedido da parte interessada (art. 9º,

parágrafo único, ‘a’, do CP). Na segunda hipótese ‘b’, para aplicação de medida de segu-

rança, depende da existência de tratado de extradição com o país respectivo ou, se não

houver tratado, de requisição do Ministro da Justiça.

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Crime cometido em embaixada brasileira está sujeito à incidência da lei penal brasileira (Extra-
dição 579-1, STF).

10. Conflito ou Concurso Aparente de Normas


No conflito aparente de normas, há um fato regido aparentemente por duas ou mais nor-
mas. Para evitar o bis in idem e garantir a integridade do ordenamento jurídico, deve-se esco-
lher uma só norma, uma vez que não se trata de pluralidade delitiva, mas de aparente conflito.
“No concurso aparente de leis, a ação só corresponde realmente a um tipo penal; há um crime
só e somente uma lei aplicável ao caso” (BRUNO, 1959, p. 260). Para resolver o concurso apa-
rente de normas, a doutrina menciona os seguintes princípios: especialidade, subsidiariedade,
consunção (absorção) e alternatividade.
Pelo princípio da especialidade, a norma especial prevalece sobre a norma geral, não importa
se a sanção prevista é menor ou maior. Há aqui uma relação de gênero e espécie, e a análise
pode ser feita em abstrato, dispensando o exame do caso concreto. Desse modo, o art. 122 (in-
fanticídio) é especial em relação ao art. 121 (homicídio), ambos do CP. O art. 290 do CPM (Códi-
go Penal Militar) é especial em relação aos artigos 28 e 33 da Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas).
O princípio da subsidiariedade (soldado de reserva) indica que um fato menor pode estar
contido dentro de um fato maior (elementares do art. 155 estão dentro do art. 157, caput), reve-
lando uma hipótese de subsidiariedade tácita. Há também a subsidiariedade expressa quando
o tipo penal menciona a ressalva por uma punição mais grave. É o que ocorre no art. 307 do
CP (grifo nosso):

Falsa identidade
Art. 307.
Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio,
ou para causar dano a outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais
grave.

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Já o princípio da consunção ou absorção revela uma relação de parte e todo, de fração e


inteiro, de conteúdo e continente, de minus e plus, de crime-meio e de crime-fim. É necessário
o exame do caso concreto para a aplicação do princípio da consunção, não sendo suficiente o
exame em abstrato.
Nessa linha de argumentação, no mesmo contexto fático, a tentativa é absorvida pela con-
sumação, a participação pela coautoria. O porte de arma é absorvido pelo homicídio quando a
arma é comprada e portada para matar a vítima. Tal absorção não alcança outros empregos da
arma fora do contexto do homicídio. Em tais hipóteses, haverá concurso de crimes.
Há consunção no caso de falso que se esgota no estelionato, respondendo o agente so-
mente por estelionato, conforme Súmula 17 do STJ. O referido raciocínio, segundo a jurispru-
dência do STF e do STJ, aplica-se ainda no caso de falso que se esgota na sonegação fiscal.
A orientação sumular merece críticas, pois há ofensas a bens jurídicos diversos em situações
distintas, já que o crime de falso é formal, enquanto o estelionato é material. Portanto, a solu-
ção adequada, contrária à jurisprudência atual, indica a existência de um concurso de crimes.
A consunção também é aplicada no crime progressivo, ou seja, situação na qual o agente
possui um só desígnio, mas, para chegar ao resultado mais grave, passa pelo menos grave.

Exemplo: o ato de matar passando antes pelas lesões cortando partes da vítima estando ela ainda
viva. O agente responde por um único crime de homicídio, embora qualificado pela crueldade.

Ainda se pode falar em consunção na progressão criminosa, isto é, quando o agente atua
com mais de um desígnio no mesmo contexto fático (caso de substituição do dolo). Ocorre,
a título de ilustração, quando o agente, desejando lesionar a vítima, corta as suas pernas. En-
tretanto, no mesmo instante, muda de ideia e resolve matar o ofendido efetuando um disparo
fatal contra a sua cabeça. Com suporte na consunção, o agente responde por um único crime
de homicídio. Se os atos citados fossem praticados em contextos fáticos diversos (exemplo:
um ano após lesionar a vítima, o agente a matou), haveria concurso de crimes.
Fala-se também em consunção no ante factum impunível:

Exemplo: o agente pratica toques corporais antes de praticar a conjunção carnal contra a
vítima. Os referidos toques devem estar na mesma linha de desdobramento, de modo a não
configurarem delito autônomo.

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No post factum impunível (ex.: quem furta e destrói a coisa subtraída responde somente
por furto). Há discussão com relação à conduta de quem furta e vende a coisa, se respon-
derá por furto ou por furto e estelionato. Prevalece que a venda, nesse caso, é post factum
impunível, e o agente responde somente por furto etc. (GOMES, 2003, p. 198), desde que não
tenha, no ato da venda, cometido um novo crime. Se após furtar o objeto, o agente engana
uma determinada vítima, no momento da venda da res furtiva, ao afirmar que se tratava de
produto lícito, que tinha a nota fiscal de compra, haverá concurso de crimes entre o furto e o
estelionato.
Por fim, com base no princípio da alternatividade, a  prática, no mesmo contexto fático,
nos crimes de conteúdo múltiplo ou variado (exemplos: art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006,
art. 213, caput, do CP), se o agente pratica mais de um verbo, implicará a responsabilidade por
um único crime. Nesse caso, deverá o juiz majorar a pena base (art. 59 do CP), em razão de o
agente ter incidido em mais de um verbo no mesmo contexto fático.

11. Pontos para Discussão

11.1. Medida Provisória e Matéria Penal

A medida provisória, conforme narração do texto constitucional (art. 62, §1º, I, b, da CRFB),


não pode tratar de matéria penal. Entretanto, o STF e o STJ não se manifestaram contrariamen-
te à possibilidade de medida provisória com conteúdo penal benéfico (ex.: medidas provisórias
que prorrogaram o prazo para devolução da arma de fogo gerando atipicidade temporária do
art. 12 da Lei n. 10.826/2003). Atualmente, a jurisprudência aceita as medidas provisórias com
conteúdo benéfico. O STF, antes da alteração promovida no art. 62 da CRFB pela Emenda 32,
havia se manifestado no seguinte sentido:

EMENTA: I. Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal – extraída


pela doutrina consensual – da interpretação sistemática da Constituição –, não com-
preende a de normas penais benéficas, assim, as que abolem crimes ou lhes restrin-
gem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção de pena

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ou de extinção de punibilidade. II. Medida provisória: conversão em lei após suces-


sivas reedições, com cláusula de “convalidação” dos efeitos produzidos anterior-
mente: alcance por esta de normas não reproduzidas a partir de uma das sucessivas
reedições. III. MPr 1571-6/97, art. 7º, § 7º, reiterado na reedição subsequente (MPr
1571-7, art. 7º, § 6º), mas não reproduzido a partir da reedição seguinte (MPr 1571-8
/97): sua aplicação aos fatos ocorridos na vigência das edições que o continham,
por força da cláusula de “convalidação” inserida na lei de conversão, com eficácia de
decreto-legislativo. (RE 254.818, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno,
julgado em 08/11/2000, DJ 19-12-2002 PP-00081 EMENT VOL-02096-07 PP-01480
RTJ VOL-00184-01 PP-00301)

Pode-se concluir, apesar da posição do STF, que o uso da medida provisória em matéria pe-

nal, com ou sem conteúdo benéfico, contraria o art. 62 da CRFB e viola a prerrogativa do Poder

Legislativo de legislar sobre a matéria penal.

11.2. Declaração de Inconstitucionalidade de Lei Penal Benéfica e

Efeitos

Divergência na doutrina. A primeira corrente entende que lei Benigna, declarada inconstitu-

cional pelo STF, continua regulando os fatos perpetrados durante a sua vigência. É a opinião de

Alberto Silva Franco (2007).

Por outro lado, segundo Nucci, se o STF declarar inconstitucional uma norma penal bené-

fica, o efeito deve ser ex nunc, “sob pena de gerar prejuízos incalculáveis à segurança jurídica

e ao indivíduo, que culpa não teve quando o Estado gerou uma norma em desacordo com a

Constituição” (NUCCI, 2008, p. 62).

As opiniões anteriores devem ser submetidas ao modelo atual de controle de constitucio-

nalidade, que permite ao STF decidir sobre o momento dos efeitos decorrentes da declaração
de inconstitucionalidade: modular os efeitos, inclusive em matéria penal.

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11.3. Jurisprudência e Retroatividade ou Irretroatividade

Questão 11 (QUESTÃO INÉDITA/2020) A alteração jurisprudencial para mudança benéfica


em matéria penal nas Cortes Superiores (STJ e STF), sem alteração legislativa (sucessão de
leis), pode ser usada para a revisão benéfica de fato passado já transitado em julgado? Justifi-
que (no máximo 40 linhas).

Busca-se compreender aqui se uma mudança jurisprudencial pode provocar a retroatividade.


Não se trata de jurisprudência vacilante ou mutante (FRANCO et al., 2007), mas de posição
sólida da jurisprudência. Com o devido respeito, parece difícil nos tempos atuais falar em juris-
prudência consistente.
A Lei modificada para melhor retroage nos termos do inciso XL do art. 5º da CRFB, salvo as
hipóteses de leis temporárias e excepcionais que possuem ultratividade. Discute-se se a juris-
prudência deve ser interpretada com o mesmo princípio contido no inciso XI da CRFB. A ques-
tão não é pacífica.
Se a mudança jurisprudencial for para pior, ela só pode valer dali para frente, com efeitos ex
nunc, em consonância com inciso LX do art. 5º da CRFB. Se a lei pior não pode retroagir, muito
menos uma decisão judicial.
Todavia, se a mudança jurisprudencial for para melhor, ela deverá provocar efeitos retroativos
nos casos julgados ou praticados antes da nova decisão? Deverá ser retroativa para beneficiar
o réu, porque o inciso XL do art. 5º deve ser compreendido não somente no sentido da “lei”,
mas também da “aplicação da lei”, segundo Alberto Silva Franco, com apoio em Nuno Brandão
e em Andrei Zenkner Schmidt (FRANCO, 2007, p. 71-72). Também é a posição de Rogério Greco
(2011, p. 121), Nilo Batista, Zaffaroni, Alejandro Alagia e Alejandro Slokar (ZAFFARONI et al.,
2003, p. 224).

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Essa foi a solução em parte, após o julgamento do STF no HC 82.959/SP, de fevereiro de 2006,
que declarou a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado. O julgado referiu-se a
um caso concreto.
Quando surgiu a Lei n. 11.464, em 29 de março de 2007, com o estabelecimento de progres-
são para o crime hediondo e equiparado, após 2/5 de cumprimento de pena para o primário e
3/5 para o reincidente, sem dispensar o bom comportamento, divergências surgiram sobre os
fatos praticados antes da lei, se deveriam ser regulados com a nova lei ou com o critério dos
crimes comuns estabelecido no art. 112 da LEP, qual seja: 1/6 mais bom comportamento.
Em seguida, ainda no ano de 2007, em julgados de casos concretos, o STF (HC 91.631/SP) e o
STJ (HC 83.799) afastaram as contradições sobre o tema, delimitando-o na forma seguinte: crime
hediondo ou equiparado praticado (data do fato) antes de 29/03/07, progressão com 1/6 mais o re-
quisito do bom comportamento; crime hediondo ou equiparado perpetrado a partir de 29/03/07, pro-
gressão com 2/5 (primário) e 3/5 (reincidente), mais o requisito subjetivo do bom comportamento.

É certo dizer que a decisão do STF, proferida no HC 82.959, no caso concreto, mesmo sem
resolução do Senado, gerou retroatividade benéfica e ultratividade benéfica, consagrada na
Súmula Vinculante 26:

Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o ju-
ízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990,
sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do bene-
fício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.

Essa foi a solução em parte após o julgamento do HC 82959/SP, de fevereiro de 2006, pelo
STF, que declarou a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado. O julgado referiu-
-se a um caso concreto e, posteriormente, foi objeto da súmula vinculante 26.
De todo modo, parece que admitir de forma genérica essa possibilidade de retroatividade
da jurisprudência modificada para melhor pode significar insegurança jurídica e paralisação do
desenvolvimento da própria jurisprudência. Ademais, o agente que pratica um fato criminoso
sabe que a interpretação jurídica pode ser alterada durante o desenrolar do proce-
dimento, para melhor ou para pior. O tema, portanto, deve ser tratado dentro do controle de
constitucionalidade com a possibilidade de modulação de efeitos pelo STF.

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11.4. Norma Penal em Branco e o Complemento de Natureza


Intermitente

Questão 12 (QUESTÃO INÉDITA/2020) Com relação à norma penal em branco heterogênea


que sofrera modificação benéfica, há diferença na interpretação concreta entre um comple-
mento excepcional (ex.: tabela de preço) e um complemento normal (ex.: especificação das
drogas proibidas em portaria)? Explique (no máximo 6 linhas).

Sim, há diferença. O complemento anormal da norma penal em branco heterogênea, por es-
tar vinculado a circunstâncias excepcionais, possuirá ultratividade na forma do art. 3º do CP,
o qual cuida das leis temporárias e excepcionais (ex.: tabelas de preços). Enquanto o comple-
mento normal, por não se vincular a circunstâncias excepcionais, segue o art. 5º, XL, da CRFB
de 1988, possuindo retroatividade benéfica e irretroatividade maléfica (ex.: especificação de
drogas proibidas em portaria da Anvisa).

Nesse sentido, já decidiu o STF:

EMENTA: “Habeas corpus”. - Em princípio, o artigo 3º do Código Penal se aplica à norma


penal em branco, na hipótese de o ato normativo que a integra ser revogado ou substi-
tuído por outro mais benéfico ao infrator, não se dando, portanto, a retroatividade. - Essa
aplicação só não se faz quando a norma, que complementa o preceito penal em branco,
importa real modificação da figura abstrata nele prevista ou se assenta em motivo per-
manente, insusceptível de modificar-se por circunstâncias temporárias ou excepcionais,
como sucede quando do elenco de doenças contagiosas se retira uma por se haver
demonstrado que não tem ela tal característica. “Habeas corpus” indeferido.

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(HC 73.168, Relator(a): Min. Moreira Alves, Primeira Turma, julgado em 21/11/1995, DJ
15-03-1996 PP-07204 EMENT VOL-01820-02 PP-00316)

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QUESTÕES DE CONCURSO
Questão 1 (MP-SP/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2019) Assinale a alternativa correta.
a) Otelo e Rinaldo foram denunciados e pronunciados pela prática de homicídio. Otelo como
autor da conduta e Rinaldo como partícipe. Se o Conselho de sentença decidir que Otelo, agen-
te denunciado e pronunciado como autor do crime de homicídio, não praticou a conduta des-
crita no tipo, “matar alguém”, ainda assim poderá decidir pela condenação de Rinaldo, partícipe
que permaneceu “vigia”, dando cobertura ao autor Otelo, pois, em relação ao concurso de pes-
soas, aplica-se a teoria da acessoriedade limitada.
b) O juiz, na sentença condenatória, ao verificar evidenciada a hipossuficiência econômica do
condenado e a inviabilidade de suportar o pagamento da pena de multa prevista no preceito
secundário do tipo, ainda que aplicada em seu mínimo legal, pode excluir a sua aplicação e
isentar o condenado do seu pagamento.
c) Na sucessão de leis penais no tempo, deve ser aplicada a lei mais favorável ao réu, seja a lei
contemporânea à prática da infração penal, seja a vigente na data da sentença.
d) O arrependimento posterior, como causa de diminuição de pena entre determinados limites,
tem como pressuposto para seu reconhecimento que o crime seja patrimonial, para atender ao
requisito da reparação do dano ou da restituição da coisa.
e) No crime de injúria cometido contra funcionário público, em razão de suas funções, é admi-
tida a exceção da verdade.

Questão 2 (ES/DELEGADO/2019) Tício, morador do Rio de Janeiro, começou a namorar


Gabriela, uma jovem moradora da cidade de São Paulo. Com o passar do tempo e os efeitos da
distância, Tício, motivado por ciúmes, resolveu tirar a vida de Gabriela. Pôs-se então a planejar
a prática do crime em sua casa, no Rio de Janeiro, tendo adquirido uma faca, instrumento com
o qual planejou executar o crime. No dia em que seguiu para São Paulo para encontrar Gabrie-
la, que lhe o esperava na rodoviária, Tício combinou com a jovem uma viagem a passeio para
o Espírito Santo. Ao ingressarem no ônibus que os levaria de São Paulo para o Espírito Santo,
Tício afirmou para Gabriela que iria matá-la. Todavia, dada a calma de Tício, a jovem achou
que se tratava de uma brincadeira. Durante o trajeto, Tício, ofereceu a ela uma bebida conten-

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do substância que causava a perda dos sentidos. Após Gabriela beber e dormir, sob efeito da
substância, enquanto passavam pela BR-101, no Rio de Janeiro, Tício passou a desferir golpes
com a faca no peito da jovem. Quando chegou ao destino, Tício se entregou para polícia, e Ga-
briela, embora tenha sido socorrida, veio a óbito ao chegar ao Hospital.
O crime descrito no texto foi praticado, de acordo com a lei penal, no momento
a) da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Trata-se, portanto, do
momento em que Tício desferiu os golpes em Gabriela.
b) em que o agente se prepara para a promoção da conduta criminosa. Ou seja, trata-se do mo-
mento em que Tício planejou e adquiriu as ferramentas necessárias ao cometimento do crime.
c) em que a autoridade policial toma conhecimento do crime. Ou seja, quando Tício se entre-
gou para a polícia.
d) em que é alcançada a consumação do crime. Trata-se, portanto, do momento da morte de
Gabriela, que ocorreu no hospital.
e) da ação ou omissão, se este for concomitante ao resultado. Não sendo possível determiná-
-lo, no presente caso, em razão da separação temporal entre a conduta e o resultado.

Questão 3 (ES/DELEGADO/2019) João Carlos, 30 anos, brasileiro, com residência transi-


tória na Argentina, aproveitando-se da aquisição de material descartado por uma indústria
gráfica falida, passou a fabricar moeda brasileira em território argentino. Para garantir a diver-
sidade da moeda falsificada, João imprimia notas de 50 e de 100 reais. Ao entrar em território
brasileiro, João foi revistado por policiais que encontraram as notas falsificadas em meio a sua
bagagem. João foi acusado da prática do crime previsto no artigo 289 do Código Penal.
De acordo com as teorias que informam a aplicação da lei penal brasileira no espaço, é corre-
to dizer que, nesse caso, cabe a aplicação
a) da lei argentina, em atenção à regra da territorialidade, uma vez que o crime fora praticado
na Argentina.
b) incondicionada da lei brasileira, uma vez que o crime cometido atenta contra a fé pública.
c) condicionada da lei brasileira, pelo fato de a conduta ter sido cometida em território argentino.
d) condicionada da lei brasileira, já que a conduta integra dois ordenamentos jurídicos.
e) da lógica da extraterritorialidade, já que o fato ocorreu em território argentino.

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Questão 4 (ES/DELEGADO/2019) “Chamamos de extra-atividade a capacidade que tem a


lei penal de se movimentar no tempo regulando fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo
depois de ter sido revogada ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas an-
teriormente à sua vigência”. (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. vol. 1. 17. ed.
Rio de Janeiro: Impetus, 2015, p. 159). Segundo esse autor, a extra-atividade é gênero do qual
seriam espécies a ultratividade e a retroatividade.
Leia as afirmativas a seguir e marque a alternativa correta:
a) A garantia penal positivada na Constituição Federal brasileira (1988) promove a retroativida-
de da lei penal mais benéfica quando o condenado, por uma conduta típica, apresenta residên-
cia fixa, após cometimento do ilícito penal.
b) A lei penal possui ultratividade, nos casos em que, mesmo após sua revogação por lei mais
gravosa, continua sendo válida em relação aos efeitos penais mais brandos da lei que era vi-
gente no momento da prática delitiva.
c) A aplicação da irretroatividade em Direito Penal funciona como garantia legal do ius puniendi
que pretende auferir a punição mais gravosa ao condenado.
d) A ultratividade da lei penal funciona como mecanismo de endurecimento da norma penal,
ao passo que funciona como técnica de resolução de conflito para aplicação de um Direito
Penal punitivo.
e) A figura da ultratividade da norma penal realiza o objetivo de garantir a condenação do réu
pela norma penal vigente na prática da conduta delitiva, com o principal objetivo de promover
a segurança jurídica em âmbito penal.

Questão 5 (MPBA-BA/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2018) “Interpretar a lei penal é fixar o seu


sentido (conceito, objeto e alcance).” (LIRA, 1942, p. 164). Com respeito à interpretação e à
integração da norma penal, analise as assertivas e identifique com V as verdadeiras e com F
as falsas.
 (  ) Na lei penal, a viabilidade da interpretação analógica compreende tão somente o siste-
ma da alternância expressa, ou seja, quando a própria norma penal indica claramente a
indispensabilidade da interpretação analógica.

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 (  ) Na atividade de interpretação da norma penal, admite-se a criação de elementos ou o


preenchimento de lacunas, já a integração da regra penal foge a esse universo.
 (  ) No processo de interpretação, pode-se ampliar o conteúdo de determinado termo ou
expressão para extrair o seu real significado.
 (  ) A norma penal em branco própria recebe tal denominação por seu complemento ser
extraído de norma de igual status, por exemplo, outra Lei Federal, tal qual a editada para
criar o tipo incriminador.
 (  ) A utilização da analogia em matéria penal torna-se complexa porque se encontra presen-
te o princípio da legalidade e, dessa maneira, a regência é conduzida pela lei em sentido
estrito, mas diante de uma lacuna, todo e qualquer caso concreto poderá ser resolvido
dentro das fronteiras legais pela integração do sistema.
A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é
a) V F V F V
b) V F V V F
c) V V F V F
d) F V F V F
e) F F V F V

Questão 6 (MP-DFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2012) Examine as afirmações que se se-


guem, referentes à aplicação da lei penal, e assinale a alternativa correta:
a) Ostentam imunidade diplomática os diplomatas de carreira, os  membros do quadro ad-
ministrativo e técnico da sede diplomática, com os respectivos familiares, além dos adidos
consulares.
b) O fenômeno da Lex intermedia importa na aplicação da lei penal mais benéfica ao acusado,
ainda que não tenha sido a lei de regência ao tempo do fato, nem mais subsista, dada sua re-
vogação, ao tempo da decisão condenatória.
c) Segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial predominante, operou-se a abolitio cri-
minis em relação ao crime de porte de entorpecentes para uso próprio, nos termos da Lei n.
11.343/2006.

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d) A aplicação da lei penal estrangeira ao crime ocorrido no território brasileiro é vedada pelo
princípio da soberania.
e) Por se tratar de crime formal, à extorsão mediante sequestro, iniciada na égide da lei penal
mais branda, não se aplica a lei penal mais grave, ainda que a restrição da liberdade da vítima
perdure após a alteração legislativa que agrave a pena do referido crime.

Questão 7 (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO-DF/2019) Considerando o Código Penal brasilei-


ro, julgue o item a seguir com relação à aplicação da lei penal, à teoria de delito e ao tratamento
conferido ao erro.
Em razão da teoria da ubiquidade, considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a
ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria ter sido produ-
zido o resultado.
 (  ) Certo
 (  ) Errado

Questão 8 (CESPE/TJ-PR/JUIZ/2019) Nas disposições penais da Lei Geral da Copa, foi


estabelecido que os tipos penais previstos nessa legislação tivessem vigência até o dia 31 de
dezembro de 2014. Considerando-se essas informações, é correto afirmar que a referida legis-
lação é um exemplo de lei penal
a) excepcional.
b) temporária.
c) corretiva.
d) intermediária.

Questão 9 (VUNESP/TJ-AC/JUIZ/2019) Assinale a alternativa correta quanto à aplicação


da lei penal.
a) Para efeito de análise sobre o local do crime, a legislação brasileira adota a teoria da ubiquidade.
b) É incabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, ainda que o resultado da incidência
das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da
Lei n. 6.368/1976, permitida, no entanto, a combinação das mencionadas leis para beneficiar
o agente.

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c) O Código Penal Brasileiro não adotou o princípio da representação na eficácia espacial da


lei penal.
d) A lei penal mais grave não se aplica ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Questão 10 (VUNESP/TJ-SP/JUIZ/2018) Segundo a Exposição de Motivos da Parte Geral,


o Código Penal, quanto ao tempo e ao lugar do crime, ao concurso de pessoas e ao crime con-
tinuado, adotou, respectivamente, as seguintes teorias:
a) Atividade, Ubiquidade, Monística e Objetiva.
b) Atividade, Resultado, Monística e Objetiva-subjetiva.
c) Resultado, Atividade, Pluralística e Objetiva-subjetiva.
d) Ubiquidade, Resultado, Pluralística e Objetiva.

Questão 11 (CESPE/DELEGADO FEDERAL/2018) Em cada item a seguir, é  apresentada


uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base na legislação de
regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no
tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior.
Manoel praticou conduta tipificada como crime. Com a entrada em vigor de nova lei, esse tipo
penal foi formalmente revogado, mas a conduta de Manoel foi inserida em outro tipo penal.
Nessa situação, Manoel responderá pelo crime praticado, pois não ocorreu a abolitio criminis
com a edição da nova lei.

Questão 12 (UEG/DELEGADO DE POLÍCIA-GO/2018) Sobre a lei penal, tem-se o seguinte:


a) A jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal admite
a aplicação combinada das partes benéficas de leis penais distintas (lex tertia).
b) A ultratividade da lei penal temporária, prevista no artigo 3º do Código Penal, constitui exce-
ção legal à regra do tempus regit actum.
c) Não se aplica a lex gravior ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da
permanência

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d) A retroatividade de lei penal benéfica ao réu é expressamente prevista na Convenção Ame-


ricana sobre Direitos Humanos.
e) Admite-se a aplicação da analogia in malam partem no Direito Penal.

Questão 13 (VENESP/DELEGADO DE POLÍCIA-SP/2018) Prescreve o art. 327 do CP: “con-


sidera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.”
Tal norma traduz exemplo de interpretação
a) científica.
b) autêntica.
c) extensiva.
d) doutrinária.
e) analógica.

Questão 14 (VENESP/DELEGADO DE POLÍCIA-SP/2018) João comete um crime no estran-


geiro e lá é condenado a 4 anos de prisão, integralmente cumpridos. Pelo mesmo crime, João
é condenado no Brasil à pena de 8 anos de prisão. João
a) cumprirá 8 anos de prisão no Brasil, uma vez que para essa quantidade de pena não se re-
conhece o cumprimento no estrangeiro.
b) não cumprirá pena alguma no Brasil caso de trate de país com o qual o Brasil tem acordo
bilateral para reconhecer cumprimento de pena.
c) não cumprirá pena alguma no Brasil, uma vez já punido no país em que o crime foi cometido.
d) cumprirá 8 anos de prisão no Brasil, uma vez que o Brasil não reconhece pena cumprida no
estrangeiro.
e) ainda deverá cumprir 4 anos de prisão no Brasil.

Questão 15 (NUCEPE/DELEGADO DE POLÍCIA-PI/2018) Em relação à aplicação da lei pe-


nal, é CORRETO afirmar que:
a) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes cometidos contra
a vida ou o patrimônio do Presidente da República;

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b) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes praticados por
brasileiro, mesmo que o fato não seja punível também no país em que foi praticado;
c) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra o patri-
mônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
Público;
d) para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações
e aeronaves brasileiras, de natureza privada onde quer que se encontrem, bem como as aero-
naves e as embarcações brasileiras mercantes, que se achem, respectivamente, no espaço
aéreo correspondente ou em alto-mar;
e) é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações es-
trangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em
voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou em alto-mar.

Questão 16 (NUCEPE/DELEGADO DE POLÍCIA-PI/2018) Caio cometeu no dia 01 de janeiro


de 2016 um fato criminoso punível com pena privativa de liberdade previsto em lei temporária,
sendo no dia 05 de dezembro de 2016 condenado a 5 (cinco) anos de reclusão. No ano seguin-
te decorreu o período de sua duração, findando-se a citada lei no dia 31 de dezembro de 2017.
Em relação à aplicação da lei penal indique a opção CORRETA.
a) Caio deve ser preso e cumprir a pena estabelecida de cinco anos, aplicando-se ao fato cri-
minoso a lei temporária.
b) Ninguém pode ser punido por fato que medida provisória posterior deixa de considerar
crime.
c) Deve continuar a execução da pena de Caio até o dia 31 de dezembro de 2017.
d) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, não se aplica aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
e) Caio deve ser imediatamente solto.

Questão 17 (MP-MS/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2018) Analise as proposições a seguir:


I – Segundo entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal, no crime continuado, se
entrar em vigor lei mais grave enquanto não cessada a continuidade, aplica-se a lei penal mais
grave.

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II – O princípio da continuidade normativa típica, conforme posição do Superior Tribunal de


Justiça, ocorre quando uma norma penal é revogada, porém a mesma conduta continua tipifi-
cada em outro dispositivo, ainda que topologicamente diverso do originário.
III – Na fase de execução da sentença condenatória, com a definição da culpa do condenado,
não se aplica a lex mitior.
IV – A lei penal brasileira é aplicável aos crimes cometidos em aeronaves estrangeiras de pro-
priedade privada que estiverem sobrevoando o espaço aéreo brasileiro.
Assinale a alternativa correta.
a) Todos os itens estão corretos.
b) Somente os itens I, II e III estão corretos.
c) Somente os itens III e IV estão corretos.
d) Somente os itens I, II e IV estão corretos.
e) Somente os itens II, III e IV estão corretos.

Questão 18 (CESPE/STJ/ANALISTA JUDICIÁRIO/2018) Tendo como referência a jurispru-


dência sumulada dos tribunais superiores, julgue o item a seguir, acerca de crimes, penas,
imputabilidade penal, aplicação da lei penal e institutos.
Tratando-se de crimes permanentes, aplica-se a lei penal mais grave se esta tiver vigência an-
tes da cessação da permanência.

Questão 19 (FGV/TJ-AL/ANALISTA JUDICIÁRIO/2018) No dia 02.01.2018, Jéssica, nasci-


da em 03.01.2000, realiza disparos de arma de fogo contra Ana, sua inimiga, em Santa Luzia
do Norte, mas terceiros que presenciaram os fatos socorrem Ana e a levam para o hospital
em Maceió. Após três dias internada, Ana vem a falecer, ainda no hospital, em virtude exclu-
sivamente das lesões causadas pelos disparos de Jéssica. Com base na situação narrada,
é correto afirmar que Jéssica:
a) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da
Atividade para definir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar;
b) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resul-
tado para definir o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

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c) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Ubiqui-

dade para definir o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

d) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da

Atividade para definir o momento do crime e apenas a Teoria do Resultado para definir o lugar;

e) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resul-

tado para definir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar.

Questão 20 (CESPE/PC-MA/DELEGADO/2018) No Direito Penal, a analogia

a) é uma forma de autointegração da norma penal para suprir as lacunas porventura

existentes.

b) é uma fonte formal imediata do Direito Penal.

c) utiliza, na modalidade jurídica, preceitos legais existentes para solucionar hipóteses não

previstas em lei.

d) corresponde a uma interpretação extensiva da norma penal.

e) é uma fonte formal mediata, tal como o costume e os princípios gerais do direito.

Questão 21 (CESPE/PC-MA/DELEGADO/2018) Com relação a lugar do crime e territoriali-

dade e extraterritorialidade da lei penal, conforme previstos no CP, assinale a opção correta.

a) Nos crimes tentados, o lugar do crime será onde o agente pretendia que tivesse ocorrido a

consumação do delito.

b) Nos crimes conexos, não se aplica a teoria da ubiquidade, devendo cada crime ser julgado

pela legislação penal do país em que for cometido.

c) No concurso de pessoas, o lugar do crime será somente aquele em que ocorrerem os atos

de participação ou coautoria, independentemente do local do resultado.

d) No crime continuado, somente será aplicada a lei nacional quando todos os fatos constitu-

tivos tiverem sido praticados em território brasileiro, por se tratar de delito unitário.

e) Nos crimes complexos, não se aplica a teoria da ubiquidade, mesmo que o delito-meio tenha
sido cometido em território brasileiro.

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Questão 22 (CESPE/PC-MA/DELEGADO/2018) Em relação à lei penal no tempo e à irretroa-


tividade da lei penal, é correto afirmar que à lei penal mais
a) severa aplica-se o princípio da ultratividade.
b) benigna aplica-se o princípio da extra-atividade.
c) severa aplica-se o princípio da retroatividade mitigada.
d) severa aplica-se o princípio da extra-atividade.
e) benigna aplica-se o princípio da não ultratividade.

Questão 23 (VUNESP/DEFENSOR PÚBLICO-RO/2017) O Código Penal estabelece que é cri-


me “praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público” (CP, art. 233). Para
interpretar o exato significado da expressão “ato obsceno”, deve o operador do Direito valer-se
de elementos
a) analógicos.
b) autênticos.
c) sociológicos.
d) gramaticais.
e) sintáticos.

Questão 24 (TRF-5ª REGIÃO/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) Sobre a aplicação da lei penal,


é correto afirmar que
a) o Código Penal adotou o princípio da territorialidade, em relação à aplicação da lei penal no
espaço. Tal princípio é absoluto, não admitindo qualquer exceção.
b) transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo do Conhecimento a apli-
cação da lei mais benigna.
c) a lei aplicável para os crimes permanentes será aquela vigente quando se iniciou a conduta
criminosa do agente.
d) quando a abolitio criminis se verificar depois do trânsito em julgado da sentença penal con-
denatória, extinguir-se-ão todos os efeitos penais e extrapenais da condenação.
e) a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência.

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Questão 25 (TER-RJ/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) “João da Silva atira contra ‘X’ no dia 29/5,
tendo ‘X’ falecido 20 dias depois”. Sobre o tempo do crime, o Código Penal adota a teoria:
a) Ubiquidade.
b) Da atividade.
c) Do resultado.
d) Ambivalência.

Questão 26 (FAPEMS/DELEGADO DE POLÍCIA-RJ/2017) Com relação aos princípios de Di-


reito Penal e à interpretação da lei penal, assinale a alternativa correta.
a) A interpretação autêntica contextual visa a dirimir a incerteza ou obscuridade da lei anterior.
b) Não se aplica o princípio da individualização da pena na fase da execução penal.
c) A interpretação quanto ao resultado busca o significado legal de acordo com o progresso
da ciência.
d) O princípio da proporcionalidade tem apenas o judiciário como destinatário cujas penas
impostas ao autor do delito devem ser proporcionais à concreta gravidade.
e) A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da lei, aquilo que ela se destina a
regular.

Questão 27 (FCC/DELEGADO DE POLÍCIA-AP/2017) De acordo com os dispositivos da par-


te geral do Código Penal, é correto afirmar:
a) Na hipótese de abolitio criminis a reincidência permanece como efeito secundário da prática
do crime.
b) O território nacional estende-se a embarcações e aeronaves brasileira de natureza pública,
desde que se encontrem no espaço aéreo brasileiro ou em alto-mar.
c) Crimes à distância são aqueles em que a ação ou omissão ocorre em um país e o resultado,
em outro.
d) O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, isenta
de pena; se inevitável, poderá diminui-la de um sexto a um terço.

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e) É isento de pena o agente que pratica crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, desde
que, voluntariamente, repare o dano ou restitua a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa.

Questão 28 (PUC-PR/TJ-MS/ANALISTA JUDICIÁRIO/2015) Quanto à regulamentação do


Código Penal para a aplicação da lei penal no tempo, assinale a alternativa CORRETA.
a) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
b) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores so-
mente quando ainda não houver sentença penal condenatória transitada em julgado.
c) A lei excepcional ou temporária, uma vez decorrido o período de sua duração ou cessadas
as circunstâncias que a determinaram, deixa de ser aplicada a fatos praticados durante sua
vigência.
d) A ultratividade da lei penal mais benéfica não é possível quando, na data da sentença, dita
lei foi revogada por lei posterior mais gravosa.
e) A retroatividade da lei penal mais benéfica não se aplica para os acasos de abolitio criminis.

Questão 29 (IBEG/IMPREV/PROCURADOR PREVIDENCIÁRIO/2017) Considerando o dis-


posto no Código Penal brasileiro quanto à aplicação da lei penal, indique a alternativa incorreta:
a) Não há crime sem lei anterior que o defina, tampouco pena sem prévia cominação legal;
b) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória;
c) A lei excepcional ou temporária, se decorrido o período de sua duração ou cessadas as cir-
cunstâncias que a determinaram, não retroage ao fato praticado durante sua vigência;
d) Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado;
e) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

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Questão 30 (MP-MG/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2017) No direito brasileiro, adota-se, no âm-


bito espacial, como regra, o princípio da territorialidade. Dada, porém, a relevância de certos
bens, protege-os o direito até mesmo contra crimes praticados inteiramente fora do Brasil, em
respeito a certos princípios. É o que chama a doutrina de aplicação extraterritorial condicio-
nada ou incondicionada, conforme o caso, da lei penal brasileira. A esse respeito, assinale a
alternativa INCORRETA:
a) A lei brasileira é aplicável, por força do princípio da justiça cosmopolita, ao crime contra a
dignidade sexual de criança praticado no estrangeiro, quando o agente ou vítima for brasileiro
ou pessoa domiciliada no Brasil, falando a doutrina, nesse caso, de aplicação extraterritorial
incondicionada.
b) A lei brasileira é aplicável, por força do princípio da personalidade, ao crime praticado no es-
trangeiro por brasileiro, falando a doutrina, nesse caso, de extraterritorialidade condicionada.
c) A lei brasileira é aplicável, por força do princípio da proteção, ao crime praticado no estran-
geiro contra a Administração Pública por quem está a seu serviço, falando a doutrina, nesse
caso, de aplicação extraterritorial incondicionada.
d) A lei brasileira é aplicável, por força do princípio do pavilhão, ao crime praticado a bordo de
embarcação mercante brasileira, quando em território estrangeiro e aí não seja julgado, falan-
do a doutrina, nesse caso, de aplicação extraterritorial condicionada.

Questão 31 (MP-RS/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2017) Assinale a opção correta:


a) A doutrina dominante aponta que, em regra, o crime culposo admite tentativa, especialmen-
te quando a culpa é própria.
b) Se “A” determina que “B” aplique uma surra em “C”, e este, ao executar a ação, excede-se,
causando a morte de “C”, o Código Penal Brasileiro determina que ambos respondam por ho-
micídio, em decorrência da adoção do sistema monista no concurso de pessoas.
c) O erro de tipo exclui a ilicitude, mas permite a punição culposa do fato, quando vencível.
d) No concurso de crimes, o cálculo da prescrição da pretensão punitiva considera o acrésci-
mo decorrente do concurso formal, material ou da continuidade delitiva.

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e) Se vigorava lei mais benéfica, depois substituída por lei mais grave, hoje vigente, é a lei mais
grave que será aplicada ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência foi
iniciada antes da cessação da continuidade.

Questão 32 (CREF-4ª REGIÃO/PROCURADOR/2013) De acordo com o Código Penal brasi-


leiro, assinale a alternativa incorreta.
a) O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena.
b) O erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, poderá diminuir a pena.
c) É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
d) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ain-
da que decididos por sentença condenatória.
e) Considera-se praticado o crime no momento do resultado, ainda que outro seja o tempo da
ação ou omissão que lhe deu causa.

Questão 33 (MP-DFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2015) Assinale a opção CORRETA:


a) A desistência voluntária só se aplica a crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à
pessoa, e o agente não responde pela tentativa.
b) O motorista sem imunidade diplomática da Embaixada de Portugal em Brasília que furta, de
dentro da sede daquela repartição diplomática, um computador, presta contas à justiça penal
brasileira.
c) A tentativa de vias de fato é punível e, em caso de condenação, o agente pode ser beneficia-
do com a suspensão condicional da pena, por período que pode variar de 1 a 3 anos.
d) A reparação espontânea e integral do dano pelo agente, após o recebimento da denúncia ou
queixa, mas antes do julgamento do processo, é causa de diminuição de pena.
e) A ineficácia absoluta do meio empregado e a impropriedade absoluta do objeto material
ensejam a caracterização do crime impossível, que é causa de exclusão da ilicitude.

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Questão 34 (CESPE/JUIZ-RN/2013) No que se refere à aplicação da lei penal, assinale a


opção correta.
a) De acordo com entendimento doutrinário dominante, a lei excepcional ou temporária aplica-
-se ao fato praticado durante sua vigência, ainda que, no momento da condenação do réu, não
mais vija, ou ainda, que tenham cessado as condições que determinaram sua aplicação.
b) Tendo o Código Penal adotado sem exceção o princípio da territorialidade, a lei penal brasi-
leira aplica-se somente aos crimes praticados no território nacional.
c) O prazo prescricional começa a ser contado a partir do dia seguinte ao da prática do delito,
não se podendo considerar, em sua contagem, frações de dia.
d) Lei superveniente que abrande a penalidade referente a determinado crime somente benefi-
ciará réu processado na vigência da lei anterior se não houver trânsito em julgado da sentença
condenatória quando de sua entrada em vigor.
e) Se, no curso do cumprimento de pena por determinado réu condenado por sentença tran-
sitada em julgado, lei nova deixará de considerar crime o ato por ele praticado, cessará a exe-
cução da pena, mas não os efeitos da condenação.

Questão 35 (MPF/PROCURADOR DA REPÚBLICA/2015) Na discussão sobre concurso apa-


rente de normas penais assinale a alternativa correta:
a) O concurso de normas penais se confunde com a sucessão de leis ou normas penais;
b) A teoria da consunção por uma relação de meio a fim não se compatibiliza com a agravante
do art. 61, II, b, do Código Penal;
c) É indispensável para o tipo do art. 89 da Lei de Licitações que o agente se utilize de docu-
mento ideologicamente falso;
d) São requisitos da consunção a unidade de agente e a pluralidade de normas aparentemente
incidentes sobre uma determinada situação de fato, abranja ou não essa situação pluralidades
de condutas.

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Questão 36 (MP-PR/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2013) Dos crimes abaixo mencionados, qual


não fica sujeito à lei brasileira pela aplicação do princípio da extraterritorialidade incondicionada:
a) De homicídio cometido no estrangeiro contra o Presidente da República;
b) De latrocínio cometido no estrangeiro contra o Presidente da República;
c) De constrangimento ilegal cometido no estrangeiro contra o Presidente da República;
d) De ameaça cometido no estrangeiro contra o Presidente da República;
e) De sequestro praticado no estrangeiro contra o Presidente da República.

Questão 37 (MP-PR/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2013) Quanto ao tempo do crime, é correto


afirmar:
a) Para nosso Código Penal, considera-se praticado o crime quando o agente atinge o re-
sultado, ainda que seja outro o momento da ação ou omissão, vez que adotamos a teoria
da atividade;
b) Para nosso Código Penal, vez que adotada a teoria da ubiquidade ou mista, considera-se
praticado o crime quando o agente atinge o resultado nos crimes materiais, ou no caso dos
delitos de mera conduta, no momento da ação ou omissão;
c) O adolescente Semprônio, um dia antes de completar 18 anos, querendo ainda aproveitar-se
de sua inimputabilidade, desfere tiros contra a vítima Heráclito, que somente vem a falecer
uma semana após. Neste caso, graças à adoção da teoria do resultado pelo nosso Código
Penal, Semprônio não se verá livre de responder pelo crime de homicídio;
d) No caso dos crimes permanentes - exceções que são à teoria do resultado adotada pelo
Código Penal - considera-se praticado o delito no momento do início da execução;
e) Para nosso Código Penal, considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,
mesmo que ainda seja outro o momento do resultado, vez que adotada a teoria da atividade.

Questão 38 (CESPE/JUIZ-BA/2012) No que se refere à aplicação da lei penal, assinale a


opção correta.
a) Considere que Carlos, condenado definitivamente à pena privativa de liberdade de dez anos
de reclusão, tenha sido encaminhado à penitenciária, para o cumprimento da pena, às 23h45
min do dia 13 de agosto de 2010. Nessa situação, deverá ser excluído do cômputo do cumpri-
mento da pena o referido dia, uma vez que Carlos ficará preso, nesse dia, menos de uma hora.

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b) A lei penal mais benéfica retroagirá se favorecer o agente, aplicando-se a fatos anteriores,
respeitados os fatos já decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
c) Considere que Pedrosa, brasileiro de trinta e quatro anos de idade, juntamente com mexica-
nos, tenha tentado sequestrar, na cidade Uruguaiana de Rivera, o presidente do Brasil, quando
este participava de uma convenção internacional, e  que, presos ainda no Uruguai, todos te-
nham sido processados e absolvidos no estrangeiro por insuficiência de provas. Nessa situa-
ção, dado o princípio da justiça universal, Pedrosa não poderá ser punido de acordo com a lei
brasileira.
d) Suponha que João, brasileiro de vinte e dois anos de idade, sequestre Maria, brasileira de
vinte e quatro anos de idade, nas dependências do aeroporto internacional da cidade do Rio
de Janeiro/RJ, levando-a, imediatamente, em aeronave alemã, para o Paraguai. A esse caso
aplica-se a lei penal brasileira, sendo irrelevante eventual processamento criminal pela justiça
paraguaia.

Questão 39 (INÉDITA/2020) Com relação à extra-atividade da lei penal, é certo afirmar:


a) consiste na possibilidade de uma lei penal retroagir e ultra-agir ao mesmo tempo, por ser
melhor do que a lei anterior e por ser melhor do que a lei posterior, numa sucessão de leis no
tempo;
b) é somente a retroatividade benéfica da lei penal;
c) é somente a irretroatividade maléfica da lei penal;
d) consiste na impossibilidade de uma lei penal retroagir e ultra agir ao mesmo tempo, por ser
melhor do que a lei anterior e do que a lei posterior, dentro de uma sucessão de leis no tempo;
e) consiste na possibilidade de aplicação da lei penal melhor durante a vacatio legis.

Questão 40 (INÉDITA/2020) Marque a assertiva que corresponde à figura do território por


extensão:
a) as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo bra-
sileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo cor-
respondente ou em alto-mar;

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b) crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de pro-


priedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados;
c) aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou
mar territorial do Brasil;
d) crimes cometidos fora do território brasileiro contra o patrimônio ou a fé pública da União,
do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de
economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
e) aeronaves ou embarcações estrangeiras públicas, achando-se aquelas em pouso no terri-
tório nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial
do Brasil.

Questão 41 (DF/JUIZ/2016) Transitada em julgado a sentença penal condenatória, no caso


de ser editada lei de natureza penal mais benéfica, competirá ao juiz da vara de execução penal
a) devolver a carta de guia ao juízo de origem, a fim de que o juiz do processo de conhecimen-
to aplique a pena mais benéfica ou remeta o feito diretamente ao tribunal local ou ao tribunal
superior que porventura tenha aplicado, em grau de recurso, a condenação que até́ então vinha
sendo executada.
b) aplicá-la em benefício do condenado, independentemente de a condenação ter sido estabe-
lecida pelo juízo singular, pelo tribunal ou pelos tribunais superiores.
c) aplicá-la em benefício do condenado, salvo se a condenação tiver sido estabelecida pelo
STF em ação penal originária, hipótese em que competirá aos ministros modificar seus julga-
dos e ao juiz, remeter carta de guia ao ministro relator.
d) aplicá-la em benefício do condenado, salvo se a condenação tiver sido aplicada pelo STJ,
hipótese em que deverá remeter a carta de guia ao ministro relator.
e) intimar o réu e seu defensor para lhes dar conhecimento da lei, a fim de que eles, se dese-
jarem, ajuízem ação de revisão criminal, medida apta a desconstituir o título penal até́ então
executado, dado o princípio da segurança das relações judiciais, conforme o qual a coisa jul-
gada faz lei entre as partes.

Questão 42 (DF/JUIZ/2016) Com relação à aplicação da lei penal, assinale a opção correta.

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a) As frações de dia são computadas como um dia integral de pena nas penas privativas de
liberdade e nas restritivas de direitos.
b) O Direito Penal, quanto ao tempo do crime, considera praticado o crime no momento
do seu resultado.
c) A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz as mesmas conse-
quências, poderá ser homologada no Brasil para todos os efeitos, exceto para obrigar o
condenado à reparação do dano.
d) Ficam sujeitos à lei brasileira os crimes contra o patrimônio ou a fé pública do DF, de
estado, de município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo poder público, embora cometidos no estrangeiro, sendo o agente
punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido no estrangeiro.
e) Não é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embar-
cações estrangeiras de propriedade privada, ainda que achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil.

Questão 43 (MPMS/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2015) Em relação ao âmbito temporal de


aplicação da lei penal, é incorreto afirmar que:
a) A lei penal mais benéfica é a única que tem extra-atividade.
b) A lei excepcional e a lei temporária possuem em comum o regime específico da ultra-
tividade gravosa.
c) A lei penal em branco, quando tem por objetivo garantir a obediência da norma comple-
mentar, não está subordinada à irretroatividade da lei mais severa e da retroatividade da
lei mais benigna.
d) No delito continuado, formado por uma pluralidade de atos delitivos, mas legalmente
valorados como um só delito, para efeito de sanção, considera-se como tempo do crime
aquele da prática de cada ação ou omissão.
e) O Código Penal acolheu a teoria da ação ou atividade, sendo o tempo da infração penal
tanto o da ação como o da omissão, independentemente do momento do evento.

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Questão 44 (MPSP/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2015) Os princípios que resolvem o conflito


aparente de normas são:
a) especialidade, legalidade, intranscendência e alternatividade.
b) especialidade, legalidade, consunção e alternatividade.
c) especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade.
d) legalidade, intranscendência, consunção e alternatividade.
e) legalidade, consunção, subsidiariedade e alternatividade.

Questão 45 (MP-DF/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2005) Aprecie as seguintes considerações


acerca da lei penal, assinalando a opção correta:
a) Predomina no STF e no STJ o entendimento de que se aplica a lei penal mais benéfica ao
crime continuado quando parte dos comportamentos criminosos ocorreu inicialmente sob a
égide de lei mais branda e parte já na vigência da lex gravior.
b) O complemento da lei penal em branco em sentido estrito, se possuir caráter regulador,
como as tabelas oficiais, segue a regra do artigo 3º do Código Penal, que estabelece a ultrati-
vidade das leis temporárias e excepcionais.
c) Considera-se praticado no estrangeiro o homicídio ocorrido no interior de aeronave mercan-
til de bandeira brasileira, durante sobrevoo em alto-mar.
d) Em relação ao local do crime, vigora no ordenamento jurídico pátrio, como regra, a teoria da
atividade.
e) Não se admite, em Direito Penal, possa o intérprete socorrer-se do recurso analógico na
aplicação da lei.

Questão 46 (MP-DFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2008) Analise os itens e assinale a quanti-


dade de itens errados.
I – O princípio segundo o qual nenhuma pena passará da pessoa do condenado, não se aplica
à pena de multa. Porque está poderá ser adimplida por qualquer pessoa.
II – De acordo com o princípio da intervenção mínima, pode-se dizer que a lei penal só deverá
intervir quando for absolutamente necessário para a sobrevivência da comunidade, como ulti-
ma ratio.

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III – A lei, em sentido estrito, é a fonte normativa primeira do Direito Penal, mas não é a única,
exceto quando se cuidar, especificamente, de norma penal explicativa.
IV – Considerando que o CP, quanto ao tempo do crime, adota a teoria da ação ou atividade
(art. 4º). No caso dos crimes permanentes, o tempo do crime será todo o tempo de duração
da conduta, passando a se contar o prazo prescricional a partir do primeiro ato de execução.
V – Quanto à aplicação da lei penal, o CP adota o princípio da territorialidade extremada, que se
justifica, dentre outros pelos princípios real (o da defesa), da nacionalidade e da personalidade.
a) Um.
b) Dois.
c) Três.
d) Quatro.
e) Cinco.

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GABARITO
1. c 17. d 33. b
2. a 18. C 34. a
3. b 19. a 35. d
4. b 20. a 36. b
5. e 21. b 37. e
6. b 22. b 38. d
7. C 23. c 39. a
8. b 24. e 40. a
9. a 25. b 41. b
10. a 26. e 42. d
11. C 27. c 43. c
12. d 28. a 44. c
13. b 29. c 45. b
14. e 30. a 46. d
15. c 31. e
16. a 32. e

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GABARITO COMENTADO
Questão 1 (MP-SP/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2019) Assinale a alternativa correta.
a) Otelo e Rinaldo foram denunciados e pronunciados pela prática de homicídio. Otelo como
autor da conduta e Rinaldo como partícipe. Se o Conselho de sentença decidir que Otelo, agen-
te denunciado e pronunciado como autor do crime de homicídio, não praticou a conduta des-
crita no tipo, “matar alguém”, ainda assim poderá decidir pela condenação de Rinaldo, partícipe
que permaneceu “vigia”, dando cobertura ao autor Otelo, pois, em relação ao concurso de pes-
soas, aplica-se a teoria da acessoriedade limitada.
b) O juiz, na sentença condenatória, ao verificar evidenciada a hipossuficiência econômica do
condenado e a inviabilidade de suportar o pagamento da pena de multa prevista no preceito
secundário do tipo, ainda que aplicada em seu mínimo legal, pode excluir a sua aplicação e
isentar o condenado do seu pagamento.
c) Na sucessão de leis penais no tempo, deve ser aplicada a lei mais favorável ao réu, seja a lei
contemporânea à prática da infração penal, seja a vigente na data da sentença.
d) O arrependimento posterior, como causa de diminuição de pena entre determinados limites,
tem como pressuposto para seu reconhecimento que o crime seja patrimonial, para atender ao
requisito da reparação do dano ou da restituição da coisa.
e) No crime de injúria cometido contra funcionário público, em razão de suas funções, é admi-
tida a exceção da verdade.

Letra c.
Na sucessão de leis penais no tempo, quando são aplicados o art.  5º LX da CRFB e o
art. 2º do Código Penal, depreende-se que lei benéfica retroage para alcançar fatos pas-
sados e, ainda, possui ultratividade para atingir os fatos praticados durante sua vigência.
Ou seja, a  revogação de uma lei penal benéfica não impede a sua aplicação aos fatos
anteriores à sua existência e aos fatos praticados, durante a sua vigência, mas julgados
depois, quando a lei já estava revogada.

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Questão 2 (ES/DELEGADO/2019) Tício, morador do Rio de Janeiro, começou a namorar


Gabriela, uma jovem moradora da cidade de São Paulo. Com o passar do tempo e os efeitos da
distância, Tício, motivado por ciúmes, resolveu tirar a vida de Gabriela. Pôs-se então a planejar
a prática do crime em sua casa, no Rio de Janeiro, tendo adquirido uma faca, instrumento com
o qual planejou executar o crime. No dia em que seguiu para São Paulo para encontrar Gabrie-
la, que lhe o esperava na rodoviária, Tício combinou com a jovem uma viagem a passeio para
o Espírito Santo. Ao ingressarem no ônibus que os levaria de São Paulo para o Espírito Santo,
Tício afirmou para Gabriela que iria matá-la. Todavia, dada a calma de Tício, a jovem achou
que se tratava de uma brincadeira. Durante o trajeto, Tício, ofereceu a ela uma bebida conten-
do substância que causava a perda dos sentidos. Após Gabriela beber e dormir, sob efeito da
substância, enquanto passavam pela BR-101, no Rio de Janeiro, Tício passou a desferir golpes
com a faca no peito da jovem. Quando chegou ao destino, Tício se entregou para polícia, e Ga-
briela, embora tenha sido socorrida, veio a óbito ao chegar ao Hospital.
O crime descrito no texto foi praticado, de acordo com a lei penal, no momento
a) da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Trata-se, portanto, do
momento em que Tício desferiu os golpes em Gabriela.
b) em que o agente se prepara para a promoção da conduta criminosa. Ou seja, trata-se do mo-
mento em que Tício planejou e adquiriu as ferramentas necessárias ao cometimento do crime.
c) em que a autoridade policial toma conhecimento do crime. Ou seja, quando Tício se entre-
gou para a polícia.
d) em que é alcançada a consumação do crime. Trata-se, portanto, do momento da morte de
Gabriela, que ocorreu no hospital.
e) da ação ou omissão, se este for concomitante ao resultado. Não sendo possível determiná-
-lo, no presente caso, em razão da separação temporal entre a conduta e o resultado.

Letra a.
Conforme visto acima, quanto ao tempo do crime, a teoria da atividade consta no art. 4º do
CP: “Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado”. A  questão não traz pergunta sobre competência, medida de
jurisdição, regulada pelo CPP, mas indaga sobre tempo do crime, regulado pelo Código Penal.

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Questão 3 (ES/DELEGADO/2019) João Carlos, 30 anos, brasileiro, com residência transi-


tória na Argentina, aproveitando-se da aquisição de material descartado por uma indústria
gráfica falida, passou a fabricar moeda brasileira em território argentino. Para garantir a diver-
sidade da moeda falsificada, João imprimia notas de 50 e de 100 reais. Ao entrar em território
brasileiro, João foi revistado por policiais que encontraram as notas falsificadas em meio a sua
bagagem. João foi acusado da prática do crime previsto no artigo 289 do Código Penal.
De acordo com as teorias que informam a aplicação da lei penal brasileira no espaço, é corre-
to dizer que, nesse caso, cabe a aplicação
a) da lei argentina, em atenção à regra da territorialidade, uma vez que o crime fora praticado
na Argentina.
b) incondicionada da lei brasileira, uma vez que o crime cometido atenta contra a fé pública.
c) condicionada da lei brasileira, pelo fato de a conduta ter sido cometida em território
argentino.
d) condicionada da lei brasileira, já que a conduta integra dois ordenamentos jurídicos.
e) da lógica da extraterritorialidade, já que o fato ocorreu em território argentino.

Letra b.
A questão considerou como correta a letra b), uma vez que, considerando que a falsificação da
moeda brasileira ocorreu na Argentina, cuida-se de hipótese de extraterritorialidade incondicio-
nada prevista no artigo 7º I, alínea b, do Código Penal (grifo nosso).

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei
n. 7.209, de 1984).
I – Os crimes: (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (Incluído pela Lei n. 7.209, de 1984)
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Mu-
nicípio, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
Poder Público”.

É importante acrescentar que, embora a questão não tenha apresentado item neste sentido,
considerando que o agente ingressou com a moeda falsificada no território brasileiro, ele incor-
reu na conduta (importar) descrita no §1º do artigo 289 do Código Penal (grifo nosso):

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Teoria da Norma e Lei Penal no Tempo e no Espaço
Dermeval Farias

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no


país ou no estrangeiro:
Pena – reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire,
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.

Desse modo, considerando a conduta de importar e não a de falsificar, o problema penal pode-
ria ser resolvido com o princípio da territorialidade se houvesse somente a conduta de impor-
tar. Por outro lado, é certo que a conduta de falsificar prevalece sobre as posteriores no mesmo
contexto fático. Dito de outro modo, quem falsifica e importa responde pelo falso. Como a
questão narrou que foi o próprio agente quem falsificou, ele responde pelo falso.

Questão 4 (ES/DELEGADO/2019) “Chamamos de extra-atividade a capacidade que tem a


lei penal de se movimentar no tempo regulando fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo
depois de ter sido revogada ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas an-
teriormente à sua vigência”. (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte geral. vol. 1. 17. ed.
Rio de Janeiro: Impetus, 2015, p. 159). Segundo esse autor, a extra-atividade é gênero do qual
seriam espécies a ultratividade e a retroatividade.
Leia as afirmativas a seguir e marque a alternativa correta:
a) A garantia penal positivada na Constituição Federal brasileira (1988) promove a retroativida-
de da lei penal mais benéfica quando o condenado, por uma conduta típica, apresenta residên-
cia fixa, após cometimento do ilícito penal.
b) A lei penal possui ultratividade, nos casos em que, mesmo após sua revogação por lei mais
gravosa, continua sendo válida em relação aos efeitos penais mais brandos da lei que era vi-
gente no momento da prática delitiva.
c) A aplicação da irretroatividade em Direito Penal funciona como garantia legal do ius puniendi
que pretende auferir a punição mais gravosa ao condenado.
d) A ultratividade da lei penal funciona como mecanismo de endurecimento da norma penal,
ao passo que funciona como técnica de resolução de conflito para aplicação de um Direito
Penal punitivo.

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e) A figura da ultratividade da norma penal realiza o objetivo de garantir a condenação do réu


pela norma penal vigente na prática da conduta delitiva, com o principal objetivo de promover
a segurança jurídica em âmbito penal.

Letra b.
A lei penal benéfica exerce ultratividade em relação aos fatos cometidos durante a sua vigên-
cia, mesmo depois de revogada, bem como apresenta retroatividade em relação aos fatos
anteriores à sua vigência.

Questão 5 (MPBA-BA/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2018) “Interpretar a lei penal é fixar o seu


sentido (conceito, objeto e alcance).” (LIRA, 1942, p. 164). Com respeito à interpretação e à
integração da norma penal, analise as assertivas e identifique com V as verdadeiras e com F
as falsas.
 (  ) Na lei penal, a viabilidade da interpretação analógica compreende tão somente o siste-
ma da alternância expressa, ou seja, quando a própria norma penal indica claramente a
indispensabilidade da interpretação analógica.
 (  ) Na atividade de interpretação da norma penal, admite-se a criação de elementos ou o
preenchimento de lacunas, já a integração da regra penal foge a esse universo.
 (  ) No processo de interpretação, pode-se ampliar o conteúdo de determinado termo ou
expressão para extrair o seu real significado.
 (  ) A norma penal em branco própria recebe tal denominação por seu complemento ser
extraído de norma de igual status, por exemplo, outra Lei Federal, tal qual a editada para
criar o tipo incriminador.
 (  ) A utilização da analogia em matéria penal torna-se complexa porque se encontra presen-
te o princípio da legalidade e, dessa maneira, a regência é conduzida pela lei em sentido
estrito, mas diante de uma lacuna, todo e qualquer caso concreto poderá ser resolvido
dentro das fronteiras legais pela integração do sistema.

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A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é


a) V F V F V
b) V F V V F
c) V V F V F
d) F V F V F
e) F F V F V

Letra e.
A única assertiva que poderia gerar dificuldade é a primeira, dada como falsa. A segunda as-
sertiva é falsa porque, por exemplo, admite-se analogia em favor do réu no processo de inte-
gração da norma penal. A terceira assertiva é verdadeira porque, a título ilustrativo, admite-se
interpretação extensiva em matéria penal. A quarta assertiva é falsa porque a norma penal em
branco própria é a heterogênea, denominada ainda de norma penal em branco em sentido es-
trito. A norma penal em branco homogênea é apelidada de imprópria ou impropriamente dita,
em sentido amplo.

Questão 6 (MP-DFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2012) Examine as afirmações que se se-


guem, referentes à aplicação da lei penal, e assinale a alternativa correta:
a) Ostentam imunidade diplomática os diplomatas de carreira, os  membros do quadro ad-
ministrativo e técnico da sede diplomática, com os respectivos familiares, além dos adidos
consulares.
b) O fenômeno da Lex intermedia importa na aplicação da lei penal mais benéfica ao acusado,
ainda que não tenha sido a lei de regência ao tempo do fato, nem mais subsista, dada sua re-
vogação, ao tempo da decisão condenatória.
c) Segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial predominante, operou-se a abolitio cri-
minis em relação ao crime de porte de entorpecentes para uso próprio, nos termos da Lei n.
11.343/2006.
d) A aplicação da lei penal estrangeira ao crime ocorrido no território brasileiro é vedada pelo
princípio da soberania.

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e) Por se tratar de crime formal, à extorsão mediante sequestro, iniciada na égide da lei penal
mais branda, não se aplica a lei penal mais grave, ainda que a restrição da liberdade da vítima
perdure após a alteração legislativa que agrave a pena do referido crime.

Letra b.
A lei intermediária (bipolar) possibilita a extra-atividade da lei penal. Consiste em uma lei me-
nos gravosa do que a lei anterior e, também, menos gravosa do que a lei posterior que lhe su-
cedeu. Exemplo: para o fato X, havia uma lei 01 com pena de 05 anos, que foi substituída pela
lei 02 com pena de 02 anos, que, por sua vez, foi substituída pela lei 3 com pena de 06 anos.
Se o fato X, cometido na vigência da lei 1, for julgado na vigência da lei 3, aplicar-se-á a lei 2 (in-
termediária) por ser a menos gravosa e que possuirá retroatividade e ultratividade benéficas.
a) Errada. O Brasil adotou, no tocante ao âmbito espacial de aplicação da lei penal, o princípio
da territorialidade temperada, conforme art. 5º caput do CP. Estabeleceu de forma expressa
o respeito à imunidade diplomática, que integra um conjunto de prerrogativas para o bom de-
sempenho da função. A imunidade alcança os diplomatas para os fatos praticados dentro e
fora do exercício funcional. Quanto aos cônsules, a imunidade vale somente para os fatos pra-
ticados no exercício da função.
c) Errada. O art. 28 da Lei n. 11.343/2006, porte de entorpecentes para uso próprio, que substi-
tuiu o antigo art. 16 da Lei n. 6368/1976, trouxe despenalização e não descriminalização (vide
comentário à questão 01 do 27º concurso do MPDFT). Apesar de não possuir a pena privativa de
liberdade no preceito secundário, possui natureza jurídica de crime. Nesse sentido, decidiu o STF
no INFO 456 (STF - RE 430105 QO/RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 13.2.2007)
d) Errada. O princípio da soberania, pelo fato de não ser absoluto, não é violado com a possibi-
lidade de incidência para alguns casos de lei penal estrangeira para fatos cometidos dentro do
Brasil (ex.: casos de imunidade diplomática; casos de crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de natureza pública ou a serviço de governo estrangeiro, achan-
do-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente,
e estas em porto ou mar territorial do Brasil).
e) Errada. A extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP) é crime permanente e, nos termos
da súmula 711 do STF, “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime per-
manente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.

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Questão 7 (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO-DF/2019) Considerando o Código Penal brasilei-


ro, julgue o item a seguir com relação à aplicação da lei penal, à teoria de delito e ao tratamento
conferido ao erro.
Em razão da teoria da ubiquidade, considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a
ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria ter sido produ-
zido o resultado.
 (  ) Certo
 (  ) Errado

Certo.
A assertiva é verdadeira porque repete o conteúdo do artigo 6º do Código Penal, o  qual ao
tratar dos crimes à distância, adotou a teoria da ubiquidade, ou seja, se o crime (na fase de
execução ou de consumação) tocar o território nacional, aplica-se a Lei penal brasileira.

Questão 8 (CESPE/JUIZ/TJ-PR/2019) Nas disposições penais da Lei Geral da Copa, foi


estabelecido que os tipos penais previstos nessa legislação tivessem vigência até o dia 31 de
dezembro de 2014. Considerando-se essas informações, é correto afirmar que a referida legis-
lação é um exemplo de lei penal
a) excepcional.
b) temporária.
c) corretiva.
d) intermediária.

Letra b.
Conforme visto no texto acima, a  lei temporária, regulada pelo artigo 3º do Código Penal,
é aquela que regula situação específica e que possui prazo de vigência no seu bojo, no seu
texto. Difere da lei excepcional, a qual também regula situação específica, mas se vincula à
cessação das circunstâncias excepcionais, como condição para perder a sua vigência. Ambas
as leis possuem ultratividade. Essa ultratividade, que garante a sua eficácia, pode ser afastada
de forma expressa por uma lei posterior, mas isso não é comum, constitui apenas uma possi-
bilidade dogmática.

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Questão 9 (VUNESP/TJ-AC/JUIZ/2019) Assinale a alternativa correta quanto à aplicação


da lei penal.
a) Para efeito de análise sobre o local do crime, a legislação brasileira adota a teoria da ubiqui-
dade.
b) É incabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, ainda que o resultado da incidência
das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da
Lei n. 6.368/1976, permitida, no entanto, a combinação das mencionadas leis para beneficiar
o agente.
c) O Código Penal Brasileiro não adotou o princípio da representação na eficácia espacial da
lei penal.
d) A lei penal mais grave não se aplica ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Letra a.
A assertiva, conforme já dito no comentário de outra questão, o  artigo 6º do Código Penal,
ao tratar dos crimes à distância, adotou a teoria da ubiquidade, ou seja, se o crime (na fase de
execução ou de consumação) tocar o território nacional, aplica-se a Lei penal brasileira. Ado-
tou-se a teoria mista ou da ubiquidade para explicar o lugar do crime no que diz respeito à inci-
dência da Lei penal brasileira. Vale destacar que a letra d) contém um não depois da expressão
grave, ou seja, inverteu o conteúdo exarado na súmula 711 do STF, por isso está errada.

Questão 10 (VUNESP/TJ-SP/JUIZ/2018) Segundo a Exposição de Motivos da Parte Geral,


o Código Penal, quanto ao tempo e ao lugar do crime, ao concurso de pessoas e ao crime con-
tinuado, adotou, respectivamente, as seguintes teorias:
a) Atividade, Ubiquidade, Monística e Objetiva.
b) Atividade, Resultado, Monística e Objetiva-subjetiva.
c) Resultado, Atividade, Pluralística e Objetiva-subjetiva.
d) Ubiquidade, Resultado, Pluralística e Objetiva.
Letra a.

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Essa questão requer, na metade de sua resposta, 50% de conteúdo da teoria da norma, os quais
eram suficientes para acertar o item, ou seja, a letra a). Nos artigos 4º e 6º, respectivamente,
o legislador adotou a teoria da atividade, para explicar o tempo do crime, e a teoria da ubiquida-
de ou mista para explicar o lugar do crime. A teoria monista foi adotada no artigo 29 do Código
Penal de forma temperada, uma vez que há exceções à teoria monista no Código Penal. Leia
o PDF do GRAN sobre concurso de pessoas que eu escrevi. Quanto ao concurso de crimes,
a exposição de motivos da reforma penal de 1984, concretizada pela Lei n. 7.209, menciona
a teoria objetiva. Não se pode esquecer de que a exposição de motivos tem apenas natureza
doutrinária, não constitui norma descritiva. Isso deve ser enfatizado porque, em matéria de
concurso de crimes, o STJ adota a teoria objetivo-subjetiva. Este é um tema para ser tratado
quando há abordagem do concurso de crimes.

Questão 11 (CESPE/DELEGADO FEDERAL/2018) Em cada item a seguir, é  apresentada


uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base na legislação de
regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no
tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior.
Manoel praticou conduta tipificada como crime. Com a entrada em vigor de nova lei, esse tipo
penal foi formalmente revogado, mas a conduta de Manoel foi inserida em outro tipo penal.
Nessa situação, Manoel responderá pelo crime praticado, pois não ocorreu a abolitio criminis
com a edição da nova lei.

Certo.
A questão traz uma assertiva que não caracteriza abolito criminis, mas apresenta o princípio da
continuidade normativa típica. Isso ocorre quando um tipo penal é revogado, porém a conduta
narrada é transportada para outro tipo. Foi o que ocorreu, por exemplo, quando entrou em vigor
a Lei n. 12015/2009, que revogou a norma do atentado violento ao pudor, entretanto não houve
abolitio criminis, uma vez que a conduta foi transportada para o tipo que trata do estupro.

Questão 12 (UEG/DELEGADO DE POLÍCIA-GO/2018) Sobre a lei penal, tem-se o seguinte:

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a) A jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal admite


a aplicação combinada das partes benéficas de leis penais distintas (lex tertia).
b) A ultratividade da lei penal temporária, prevista no artigo 3º do Código Penal, constitui exce-
ção legal à regra do tempus regit actum.
c) Não se aplica a lex gravior ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da
permanência
d) A retroatividade de lei penal benéfica ao réu é expressamente prevista na Convenção Ame-
ricana sobre Direitos Humanos.
e) Admite-se a aplicação da analogia in malam partem no Direito Penal.

Letra d.
O tema foi tratado em tópico desenvolvido acima, ou seja, a Convenção Americana sobre Direi-
tos Humanos dispõe no seu artigo 9º (grifo nosso):

Princípio da legalidade e da retroatividade


Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas,
não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave
que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a lei dis-
puser a imposição de pena mais leve, o delinquente será por isso beneficiado.

Questão 13 (VENESP/DELEGADO DE POLÍCIA-SP/2018) Prescreve o art. 327 do CP: “con-


sidera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.”
Tal norma traduz exemplo de interpretação
a) científica.
b) autêntica.
c) extensiva.
d) doutrinária.
e) analógica.
Letra b.

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Cuida-se de interpretação autêntica, ou seja, aquela que é realizada pelo próprio legislador, que
não se confunde com a interpretação judicial nem com a interpretação doutrinária.

Questão 14 (VENESP/DELEGADO DE POLÍCIA-SP/2018) João comete um crime no estran-


geiro e lá é condenado a 4 anos de prisão, integralmente cumpridos. Pelo mesmo crime, João
é condenado no Brasil à pena de 8 anos de prisão. João
a) cumprirá 8 anos de prisão no Brasil, uma vez que para essa quantidade de pena não se re-
conhece o cumprimento no estrangeiro.
b) não cumprirá pena alguma no Brasil caso de trate de país com o qual o Brasil tem acordo
bilateral para reconhecer cumprimento de pena.
c) não cumprirá pena alguma no Brasil, uma vez já punido no país em que o crime foi cometido.
d) cumprirá 8 anos de prisão no Brasil, uma vez que o Brasil não reconhece pena cumprida no
estrangeiro.
e) ainda deverá cumprir 4 anos de prisão no Brasil.

Letra e.
Questão mal elaborada. Só foi colocada aqui para ser criticada e para possibilitar a correta ex-
plicação do tema. Ou seja, só é possível dupla condenação em hipótese de extraterritorialidade
incondicionada. Não cabe tal medida na extraterritorialidade condicionada.

Questão 15 (NUCEPE/DELEGADO DE POLÍCIA-PI/2018) Em relação à aplicação da lei pe-


nal, é CORRETO afirmar que:
a) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes cometidos contra
a vida ou o patrimônio do Presidente da República;
b) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes praticados por
brasileiro, mesmo que o fato não seja punível também no país em que foi praticado;
c) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra o patrimônio
ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa
pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
d) para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações
e aeronaves brasileiras, de natureza privada onde quer que se encontrem, bem como as aero-

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naves e as embarcações brasileiras mercantes, que se achem, respectivamente, no espaço


aéreo correspondente ou em alto-mar;
e) é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações es-
trangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em
voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou em alto-mar.

Letra c.
A assertiva está correta, conforme redação ao artigo 7º, inciso I, alínea b, do Código Penal, que
trata da extraterritorialidade da Lei Penal brasileira. Veja ainda, para complementar o estudo,
o comentário à questão 41 sobre esse tema.

Questão 16 (NUCEPE/DELEGADO DE POLÍCIA-PI/2018) Caio cometeu no dia 01 de janeiro


de 2016 um fato criminoso punível com pena privativa de liberdade previsto em lei temporária,
sendo no dia 05 de dezembro de 2016 condenado a 5 (cinco) anos de reclusão. No ano seguin-
te decorreu o período de sua duração, findando-se a citada lei no dia 31 de dezembro de 2017.
Em relação à aplicação da lei penal indique a opção CORRETA.
a) Caio deve ser preso e cumprir a pena estabelecida de cinco anos, aplicando-se ao fato cri-
minoso a lei temporária.
b) Ninguém pode ser punido por fato que medida provisória posterior deixa de considerar crime.
c) Deve continuar a execução da pena de Caio até o dia 31 de dezembro de 2017.
d) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, não se aplica aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
e) Caio deve ser imediatamente solto.

Letra a.
Cuida-se de hipótese que deve ser solucionada com o artigo 3º do Código Penal: “Art. 3º - A
lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”.
Portanto, considerando que Caio cometeu o crime na vigência de lei temporária, sendo julgado
com base na referida lei, deverá cumprir a pena prevista na referida lei.

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Questão 17 (MP-MS/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2018) Analise as proposições a seguir:


I – Segundo entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal, no crime continuado, se
entrar em vigor lei mais grave enquanto não cessada a continuidade, aplica-se a lei penal mais
grave.
II – O princípio da continuidade normativa típica, conforme posição do Superior Tribunal de
Justiça, ocorre quando uma norma penal é revogada, porém a mesma conduta continua tipifi-
cada em outro dispositivo, ainda que topologicamente diverso do originário.
III – Na fase de execução da sentença condenatória, com a definição da culpa do condenado,
não se aplica a lex mitior.
IV – A lei penal brasileira é aplicável aos crimes cometidos em aeronaves estrangeiras de pro-
priedade privada que estiverem sobrevoando o espaço aéreo brasileiro.
Assinale a alternativa correta.
a) Todos os itens estão corretos.
b) Somente os itens I, II e III estão corretos.
c) Somente os itens III e IV estão corretos.
d) Somente os itens I, II e IV estão corretos.
e) Somente os itens II, III e IV estão corretos.

Letra d.
Apenas a assertiva III está errada, uma vez que a lei penal melhor pode ser aplicada mesmo
depois do trânsito em julgado. Nesse caso, a aplicação compete ao juiz da execução penal,
nos termos do artigo 66, inciso I, da Lei de execuções Penais (LEP n. 7.210/1984): “Art. 66.
Compete ao Juiz da execução: I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer
modo favorecer o condenado”.

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Questão 18 (CESPE/STJ/ANALISTA JUDICIÁRIO/2018) Tendo como referência a jurispru-


dência sumulada dos tribunais superiores, julgue o item a seguir, acerca de crimes, penas,
imputabilidade penal, aplicação da lei penal e institutos.

Tratando-se de crimes permanentes, aplica-se a lei penal mais grave se esta tiver vigência

antes da cessação da permanência.

Certo.

A assertiva é verdadeira. O tema é tratado na súmula 711 do Supremo Tribunal Federal, que

publicada em 13 de outubro de 2003: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado

ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da per-

manência”.

Questão 19 (FGV/TJ-AL/ANALISTA JUDICIÁRIO/2018) No dia 02.01.2018, Jéssica, nasci-

da em 03.01.2000, realiza disparos de arma de fogo contra Ana, sua inimiga, em Santa Luzia

do Norte, mas terceiros que presenciaram os fatos socorrem Ana e a levam para o hospital

em Maceió. Após três dias internada, Ana vem a falecer, ainda no hospital, em virtude exclu-

sivamente das lesões causadas pelos disparos de Jéssica. Com base na situação narrada,

é correto afirmar que Jéssica:

a) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da

Atividade para definir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar;

b) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resul-

tado para definir o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

c) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Ubiqui-

dade para definir o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

d) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da
Atividade para definir o momento do crime e apenas a Teoria do Resultado para definir o lugar;

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e) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resul-
tado para definir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar.

Letra a.
A resposta se encontra no artigo 4º do Código Penal que adota, quanto ao tempo do crime,
a teoria da atividade, ou seja, considera praticado o crime no momento da ação ou da omis-
são, ainda que outro seja o momento do resultado. Jéssica, portanto, será representada por
ato infracional, semelhante ao crime de homicídio, nos termos do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Poderá receber, como uma das medidas lá previstas, a internação. A medida de
internação não pode ultrapassar 3 anos, sendo a liberação obrigatória aos 21 anos de idade,
conforme artigo 121 da Lei n. 8069/1990 (grifos nossos):

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade,
salvo expressa determinação judicial em contrário.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante
decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, coloca-
do em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.

Questão 20 (CESPE/PC-MA/DELEGADO/2018) No Direito Penal, a analogia


a) é uma forma de autointegração da norma penal para suprir as lacunas porventura existentes.
b) é uma fonte formal imediata do Direito Penal.
c) utiliza, na modalidade jurídica, preceitos legais existentes para solucionar hipóteses não
previstas em lei.
d) corresponde a uma interpretação extensiva da norma penal.
e) é uma fonte formal mediata, tal como o costume e os princípios gerais do direito.

Letra a.
Conforme acentuado no texto acima, a  analogia constitui uma forma de integração da
norma, consiste no uso, para uma hipótese fática não regulada pelo ordenamento jurídico,

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de uma norma legal que rege caso semelhante. É permitida no Direito Penal somente em
favor do réu.

Questão 21 (CESPE/PC-MA/DELEGADO/2018) Com relação a lugar do crime e territoriali-


dade e extraterritorialidade da lei penal, conforme previstos no CP, assinale a opção correta.
a) Nos crimes tentados, o lugar do crime será onde o agente pretendia que tivesse ocorrido a
consumação do delito.
b) Nos crimes conexos, não se aplica a teoria da ubiquidade, devendo cada crime ser julgado
pela legislação penal do país em que for cometido.
c) No concurso de pessoas, o lugar do crime será somente aquele em que ocorrerem os atos
de participação ou coautoria, independentemente do local do resultado.
d) No crime continuado, somente será aplicada a lei nacional quando todos os fatos constitu-
tivos tiverem sido praticados em território brasileiro, por se tratar de delito unitário.
e) Nos crimes complexos, não se aplica a teoria da ubiquidade, mesmo que o delito-meio tenha
sido cometido em território brasileiro.

Letra b.
Questão muito interessante para complementar os estudos. Em respeito ao princípio da terri-
torialidade, adotado como regra, em respeito à ideia de soberania, a lei do país no qual foi prati-
cado do crime será aplicada, sendo este o lugar do crime. Desse modo, se são crimes conexos
cometidos em países distintos, cada país tem autonomia para julgar o fato cometido em seu
território. Todavia, o item não foi bem elaborado porque, na verdade, a teoria da ubiquidade não
é afastada, porque se trata de crime cometido em outro país e não de crime iniciado em um e
terminado em outro território.

Questão 22 (CESPE/PC-MA/DELEGADO/2018) Em relação à lei penal no tempo e à irretroa-


tividade da lei penal, é correto afirmar que à lei penal mais
a) severa aplica-se o princípio da ultratividade.
b) benigna aplica-se o princípio da extra-atividade.

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c) severa aplica-se o princípio da retroatividade mitigada.


d) severa aplica-se o princípio da extra-atividade.
e) benigna aplica-se o princípio da não ultratividade.

Letra b.
A lei penal melhor gera retroatividade, para os fatos anteriores à sua vigência e ultratividade,
para os fatos posteriores à sua vigência. É certo ainda que a lei penal melhor, quando figurar
como lei intermediária, poderá retroagir e ultra-agir ao mesmo tempo, exercendo a extra-ativi-
dade. Isso ocorrerá para o fato praticado antes de sua vigência e julgado depois de sua vigên-
cia, quando a lei já estiver revogada por outra lei, que seja mais gravosa.

Questão 23 (VUNESP/DEFENSOR PÚBLICO-RO/2017) O Código Penal estabelece que é cri-


me “praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público” (CP, art. 233). Para
interpretar o exato significado da expressão “ato obsceno”, deve o operador do Direito valer-se
de elementos
a) analógicos.
b) autênticos.
c) sociológicos.
d) gramaticais.
e) sintáticos.

Letra c.
Questão muito peculiar que trouxe um tema não tão cobrado nas questões de concursos.
É certo que o sentido de ato obsceno deve ser depreendido da experiência social, da forma
como a referida conduta é conhecida socialmente, exemplos: baixar a caça e urinar em praça
pública; baixar a caça e defecar na rua etc. Ou mesmo como já foi cobrado em uma prova do
MPDFT de 2016, praticar sexo em casa com parede de vidro transparente que possibilite às
pessoas da rua enxergarem o episódio.

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Questão 24 (TRF-5ª REGIÃO/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) Sobre a aplicação da lei penal,


é correto afirmar que
a) o Código Penal adotou o princípio da territorialidade, em relação à aplicação da lei penal no
espaço. Tal princípio é absoluto, não admitindo qualquer exceção.
b) transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo do Conhecimento a apli-
cação da lei mais benigna.
c) a lei aplicável para os crimes permanentes será aquela vigente quando se iniciou a conduta
criminosa do agente.
d) quando a abolitio criminis se verificar depois do trânsito em julgado da sentença penal con-
denatória, extinguir-se-ão todos os efeitos penais e extrapenais da condenação.
e) a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência.

Letra e.
As leis temporárias e excepcionais possuem ultratividade, conforme visto no desenvolvimento
do capítulo. Segundo narra o artigo 3º do Código Penal, “a lei excepcional ou temporária, em-
bora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram,
aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”.

Questão 25 (TER-RJ/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) “João da Silva atira contra ‘X’ no dia 29/5,
tendo ‘X’ falecido 20 dias depois”. Sobre o tempo do crime, o Código Penal adota a teoria:
a) Ubiquidade.
b) Da atividade.
c) Do resultado.
d) Ambivalência.

Letra b.
Conforme visto acima, quanto ao tempo do crime, a teoria da atividade foi adotada pelo Códi-
go Penal, conforme redação do art. 4º do CP: “Considera-se praticado o crime no momento da
ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”.

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Questão 26 (FAPEMS/DELEGADO DE POLÍCIA-RJ/2017) Com relação aos princípios de Di-


reito Penal e à interpretação da lei penal, assinale a alternativa correta.
a) A interpretação autêntica contextual visa a dirimir a incerteza ou obscuridade da lei anterior.
b) Não se aplica o princípio da individualização da pena na fase da execução penal.
c) A interpretação quanto ao resultado busca o significado legal de acordo com o progresso
da ciência.
d) O princípio da proporcionalidade tem apenas o judiciário como destinatário cujas penas
impostas ao autor do delito devem ser proporcionais à concreta gravidade.
e) A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da lei, aquilo que ela se destina a
regular.

Letra e.
Conforme visto acima, no rol da interpretação penal quanto ao meio, destacam-se a interpre-
tação: teleológica, histórica, sistemática, literal. A interpretação teleológica busca alcançar a
finalidade da norma.

Questão 27 (FCC/DELEGADO DE POLÍCIA-AP/2017) De acordo com os dispositivos da par-


te geral do Código Penal, é correto afirmar:
a) Na hipótese de abolitio criminis a reincidência permanece como efeito secundário da prática
do crime.
b) O território nacional estende-se a embarcações e aeronaves brasileira de natureza pública,
desde que se encontrem no espaço aéreo brasileiro ou em alto-mar.
c) Crimes à distância são aqueles em que a ação ou omissão ocorre em um país e o resultado,
em outro.
d) O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, isenta
de pena; se inevitável, poderá diminui-la de um sexto a um terço.
e) É isento de pena o agente que pratica crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, desde
que, voluntariamente, repare o dano ou restitua a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa.
Letra c.

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O conceito de crime à distância dado na letra c) está correto. O tema faz parte do alcance da
norma do artigo 6º do Código Penal, que se aplica aos crimes à distância, quando se adotou a
teoria mista ou da ubiquidade.

Questão 28 (PUC-PR/TJ-MS/ANALISTA JUDICIÁRIO/2015) Quanto à regulamentação do


Código Penal para a aplicação da lei penal no tempo, assinale a alternativa CORRETA.
a) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
b) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores so-
mente quando ainda não houver sentença penal condenatória transitada em julgado.
c) A lei excepcional ou temporária, uma vez decorrido o período de sua duração ou cessadas
as circunstâncias que a determinaram, deixa de ser aplicada a fatos praticados durante sua
vigência.
d) A ultratividade da lei penal mais benéfica não é possível quando, na data da sentença, dita
lei foi revogada por lei posterior mais gravosa.
e) A retroatividade da lei penal mais benéfica não se aplica para os acasos de abolitio criminis.

Letra a.
Se a lei posterior afastar o caráter criminógeno do fato, constituirá uma abolitio criminis,
significará uma descriminalização da conduta, retroagirá, independentemente do trânsito em
julgado de condenações. O artigo 66 da Lei n. 7210/1984 (LEP) diz que o juiz da execução
aplicará abolitio criminis se já houver trânsito em julgado. Nesse caso, desaparecerão todos
os efeitos penais da sentença condenatória, porque se cuida de abolitio criminis, o fato deixa
de ser crime.

Questão 29 (IBEG/IMPREV/PROCURADOR PREVIDENCIÁRIO/2017) Considerando o dis-


posto no Código Penal brasileiro quanto à aplicação da lei penal, indique a alternativa incorreta:
a) Não há crime sem lei anterior que o defina, tampouco pena sem prévia cominação legal;

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b) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória;
c) A lei excepcional ou temporária, se decorrido o período de sua duração ou cessadas as cir-
cunstâncias que a determinaram, não retroage ao fato praticado durante sua vigência;
d) Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado;
e) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Letra c.
A lei temporária ou excepcional se aplica ao fato cometido durante sua vigência, mesmo de-
pois de sua validade. Isso porque tais normas possuem ultratividade penal, nos termos do
artigo 3º do Código Penal.

Questão 30 (MP-MG/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2017) No direito brasileiro, adota-se, no âm-


bito espacial, como regra, o princípio da territorialidade. Dada, porém, a relevância de certos
bens, protege-os o direito até mesmo contra crimes praticados inteiramente fora do Brasil, em
respeito a certos princípios. É o que chama a doutrina de aplicação extraterritorial condicio-
nada ou incondicionada, conforme o caso, da lei penal brasileira. A esse respeito, assinale a
alternativa INCORRETA:
a) A lei brasileira é aplicável, por força do princípio da justiça cosmopolita, ao crime contra a
dignidade sexual de criança praticado no estrangeiro, quando o agente ou vítima for brasileiro
ou pessoa domiciliada no Brasil, falando a doutrina, nesse caso, de aplicação extraterritorial
incondicionada.
b) A lei brasileira é aplicável, por força do princípio da personalidade, ao crime praticado no es-
trangeiro por brasileiro, falando a doutrina, nesse caso, de extraterritorialidade condicionada.
c) A lei brasileira é aplicável, por força do princípio da proteção, ao crime praticado no estran-
geiro contra a Administração Pública por quem está a seu serviço, falando a doutrina, nesse
caso, de aplicação extraterritorial incondicionada.

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d) A lei brasileira é aplicável, por força do princípio do pavilhão, ao crime praticado a bordo de
embarcação mercante brasileira, quando em território estrangeiro e aí não seja julgado, falan-
do a doutrina, nesse caso, de aplicação extraterritorial condicionada.

Letra a.
Somente a letra a) trouxe assertiva falsa, enquanto as demais letras trouxeram informações
verdadeiras. A alternativa tratou como extraterritorialidade incondicionada a incidência do prin-
cípio cosmopolita ou da justiça universal, aplicada aos crimes que o Brasil se obrigou a reprimir
em virtude de tratado ou convenção. Essa hipótese se caracteriza como extraterritorialidade
condicionada, na forma do artigo 7º, II, a, do Código Penal.

Questão 31 (MP-RS/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2017) Assinale a opção correta:


a) A doutrina dominante aponta que, em regra, o crime culposo admite tentativa, especialmen-
te quando a culpa é própria.
b) Se “A” determina que “B” aplique uma surra em “C”, e este, ao executar a ação, excede-se,
causando a morte de “C”, o Código Penal Brasileiro determina que ambos respondam por ho-
micídio, em decorrência da adoção do sistema monista no concurso de pessoas.
c) O erro de tipo exclui a ilicitude, mas permite a punição culposa do fato, quando vencível.
d) No concurso de crimes, o cálculo da prescrição da pretensão punitiva considera o acrésci-
mo decorrente do concurso formal, material ou da continuidade delitiva.
e) Se vigorava lei mais benéfica, depois substituída por lei mais grave, hoje vigente, é a lei mais
grave que será aplicada ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência foi
iniciada antes da cessação da continuidade.

Letra e.
O tema é tratado na súmula 711 do Supremo Tribunal Federal, que publicada em 13 de outubro
de 2003: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.

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Questão 32 (CREF-4ª REGIÃO/PROCURADOR/2013) De acordo com o Código Penal brasi-


leiro, assinale a alternativa incorreta.
a) O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena.
b) O erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, poderá diminuir a pena.
c) É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
d) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ain-
da que decididos por sentença condenatória.
e) Considera-se praticado o crime no momento do resultado, ainda que outro seja o tempo da
ação ou omissão que lhe deu causa.

Letra e.
Somente a letra e) trouxe uma assertiva falsa, uma vez que o crime é praticado, segundo o
artigo 4º do Código Penal, no momento da ação ou da omissão, ou seja, adotou-se a teoria da
atividade.

Questão 33 (MP-DFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2015) Assinale a opção CORRETA:


a) A desistência voluntária só se aplica a crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à
pessoa, e o agente não responde pela tentativa.
b) O motorista sem imunidade diplomática da Embaixada de Portugal em Brasília que furta, de
dentro da sede daquela repartição diplomática, um computador, presta contas à justiça penal
brasileira.
c) A tentativa de vias de fato é punível e, em caso de condenação, o agente pode ser beneficia-
do com a suspensão condicional da pena, por período que pode variar de 1 a 3 anos.
d) A reparação espontânea e integral do dano pelo agente, após o recebimento da denúncia ou
queixa, mas antes do julgamento do processo, é causa de diminuição de pena.
e) A ineficácia absoluta do meio empregado e a impropriedade absoluta do objeto material
ensejam a caracterização do crime impossível, que é causa de exclusão da ilicitude.

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Letra b.
A embaixada estrangeira, localizada no Brasil, constitui território penal brasileiro para efeito de
incidência da Lei penal brasileira. Por isso, o motorista ou qualquer outra pessoa, sem imuni-
dade diplomática, que praticar crime dentro da embaixada ou fora da embaixada, nos limites
do território brasileiro, será julgado conforme a Lei penal brasileira. Não se pode esquecer de
que a imunidade diplomática, visto no tópico acima sobre o princípio da territorialidade, impe-
de que a Lei penal brasileira seja aplicada aos crimes cometidos, pelos agentes diplomáticos,
no exercício ou fora do exercício da função. Ressalte-se que os cônsules de outros países que
trabalham no Brasil só possuem imunidade para os crimes cometidos no exercício da função.

Questão 34 (CESPE/JUIZ-RN/2013) No que se refere à aplicação da lei penal, assinale a


opção correta.
a) De acordo com entendimento doutrinário dominante, a lei excepcional ou temporária aplica-
-se ao fato praticado durante sua vigência, ainda que, no momento da condenação do réu, não
mais vija, ou ainda, que tenham cessado as condições que determinaram sua aplicação.
b) Tendo o Código Penal adotado sem exceção o princípio da territorialidade, a lei penal brasi-
leira aplica-se somente aos crimes praticados no território nacional.
c) O prazo prescricional começa a ser contado a partir do dia seguinte ao da prática do delito,
não se podendo considerar, em sua contagem, frações de dia.
d) Lei superveniente que abrande a penalidade referente a determinado crime somente benefi-
ciará réu processado na vigência da lei anterior se não houver trânsito em julgado da sentença
condenatória quando de sua entrada em vigor.
e) Se, no curso do cumprimento de pena por determinado réu condenado por sentença tran-
sitada em julgado, lei nova deixará de considerar crime o ato por ele praticado, cessará a exe-
cução da pena, mas não os efeitos da condenação.

Letra a.
Conforme já explicado no texto e em outras questões anteriores, as leis temporárias e excep-
cionais possuem ultratividade, ou seja, são aplicadas aos fatos cometidos durante a sua vigên-
cia mesmo depois que elas deixam de existir, conforme redação do artigo 3º do Código Penal.

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Questão 35 (MPF/PROCURADOR DA REPÚBLICA/2015) Na discussão sobre concurso


aparente de normas penais assinale a alternativa correta:
a) O concurso de normas penais se confunde com a sucessão de leis ou normas penais;
b) A teoria da consunção por uma relação de meio a fim não se compatibiliza com a agravan-
te do art. 61, II, b, do Código Penal;
c) É indispensável para o tipo do art. 89 da Lei de Licitações que o agente se utilize de docu-
mento ideologicamente falso;
d) São requisitos da consunção a unidade de agente e a pluralidade de normas aparente-
mente incidentes sobre uma determinada situação de fato, abranja ou não essa situação
pluralidades de condutas.

Letra d.
Essa foi uma questão complexa. O princípio da consunção constitui um dos quatro princí-
pios que atuam na solução do conflito aparente de normas (especialidade, subsidiariedade,
consunção, alternatividade). O princípio da consunção se aplica a um contexto fático no qual
seja possível identificar crime-meio e crime-fim, parte e todo, minus e plus, crime consumado
que absorve tentado, progressão criminosa, crime progressivo, pós-fato impunível. É certo
que há, aparentemente, mais de uma norma para ser aplicada, e o referido princípio auxilia na
escolha de uma das normas, busca-se evitar o bis in idem e garantir a integralidade jurídica
do sistema normativo. A última frase da letra d) gerou dúvida em muitos candidatos, porque
o item mencionou que o princípio da concussão pode ser aplicado a “uma determinada situ-
ação de fato, abranja ou não essa situação pluralidades de condutas”. No caso, por exemplo,
da súmula 17 do STJ, na qual o estelionato absorve o falso, pode-se falar em duas condutas,
uma que ocorre no momento da falsificação e outra que ocorre no momento do golpe de es-
telionato; enquanto no crime progressivo só é possível falar em uma única conduta, exemplo
de um crime de homicídio, no qual o agente, desde o início, quer matar a vítima, mas resolve,
antes do golpe final, lesioná-la em diversas partes do corpo.

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Questão 36 (MP-PR/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2013) Dos crimes abaixo mencionados,


qual não fica sujeito à lei brasileira pela aplicação do princípio da extraterritorialidade
incondicionada:
a) De homicídio cometido no estrangeiro contra o Presidente da República;
b) De latrocínio cometido no estrangeiro contra o Presidente da República;
c) De constrangimento ilegal cometido no estrangeiro contra o Presidente da República;
d) De ameaça cometido no estrangeiro contra o Presidente da República;
e) De sequestro praticado no estrangeiro contra o Presidente da República.

Letra b.
Somente a situação descrita na letra b) não está contemplada no rol do artigo 7º, inciso I, do
Código Penal brasileiro. Isso ocorre porque o crime de latrocínio constitui um crime contra o
patrimônio, na classificação topográfica do Código Penal, nos termos do artigo 157 §3º, parte
b, do seu texto. Sob o ponto de vista jurisprudencial, o STJ já afirmou, em diversos julgados,
que não se admite continuidade delitiva entre roubo e latrocínio, uma vez que o roubo é crime
contra o patrimônio, enquanto o latrocínio é um crime contra a vida e contra o patrimônio. Res-
salte-se que o latrocínio não é crime doloso contra a vida incluído no rol de competências do
Tribunal do Júri.

Questão 37 (MP-PR/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2013) Quanto ao tempo do crime, é correto


afirmar:
a) Para nosso Código Penal, considera-se praticado o crime quando o agente atinge o resultado,
ainda que seja outro o momento da ação ou omissão, vez que adotamos a teoria da atividade;
b) Para nosso Código Penal, vez que adotada a teoria da ubiquidade ou mista, considera-se
praticado o crime quando o agente atinge o resultado nos crimes materiais, ou no caso dos
delitos de mera conduta, no momento da ação ou omissão;
c) O adolescente Semprônio, um dia antes de completar 18 anos, querendo ainda aproveitar-se
de sua inimputabilidade, desfere tiros contra a vítima Heráclito, que somente vem a falecer
uma semana após. Neste caso, graças à adoção da teoria do resultado pelo nosso Código
Penal, Semprônio não se verá livre de responder pelo crime de homicídio;

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d) No caso dos crimes permanentes - exceções que são à teoria do resultado adotada pelo
Código Penal - considera-se praticado o delito no momento do início da execução;
e) Para nosso Código Penal, considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,
mesmo que ainda seja outro o momento do resultado, vez que adotada a teoria da atividade.

Letra e.
A letra e) traz novamente o tema sobre o momento do crime, o qual já foi abordado em outras
questões, ou seja, o artigo 4º do Código Penal brasileiro adotou a teoria da atividade, a qual
considera praticado o crime no momento da ação ou omissão, mesmo que ainda seja outro o
momento do resultado.

Questão 38 (CESPE/JUIZ/BA/2012) No que se refere à aplicação da lei penal, assinale a


opção correta.
a) Considere que Carlos, condenado definitivamente à pena privativa de liberdade de dez anos
de reclusão, tenha sido encaminhado à penitenciária, para o cumprimento da pena, às 23h45
min do dia 13 de agosto de 2010. Nessa situação, deverá ser excluído do cômputo do cumpri-
mento da pena o referido dia, uma vez que Carlos ficará preso, nesse dia, menos de uma hora.
b) A lei penal mais benéfica retroagirá se favorecer o agente, aplicando-se a fatos anteriores,
respeitados os fatos já decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
c) Considere que Pedrosa, brasileiro de trinta e quatro anos de idade, juntamente com mexica-
nos, tenha tentado sequestrar, na cidade Uruguaiana de Rivera, o presidente do Brasil, quando
este participava de uma convenção internacional, e  que, presos ainda no Uruguai, todos te-
nham sido processados e absolvidos no estrangeiro por insuficiência de provas. Nessa situa-
ção, dado o princípio da justiça universal, Pedrosa não poderá ser punido de acordo com a lei
brasileira.
d) Suponha que João, brasileiro de vinte e dois anos de idade, sequestre Maria, brasileira de
vinte e quatro anos de idade, nas dependências do aeroporto internacional da cidade do Rio
de Janeiro/RJ, levando-a, imediatamente, em aeronave alemã, para o Paraguai. A esse caso
aplica-se a lei penal brasileira, sendo irrelevante eventual processamento criminal pela justiça
paraguaia.

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Letra d.
A assertiva d) está correta, não traz grande dificuldade, uma vez que o artigo 6º do Código
Penal adotou a teoria da ubiquidade para os crimes à distância, ou seja, se o crime tocar o
território nacional, na fase de execução ou de consumação, aplica-se a lei brasileira. No caso
dado, observa que se cuida de um crime permanente, ou seja, tanto a execução quanto a con-
sumação ocorreram no Brasil, embora a consumação tenha continuado no tempo e prossegui-
do até o Paraguai.

Questão 39 (INÉDITA/2020) Com relação à extra-atividade da lei penal, é certo afirmar:


a) consiste na possibilidade de uma lei penal retroagir e ultra-agir ao mesmo tempo, por ser
melhor do que a lei anterior e por ser melhor do que a lei posterior, numa sucessão de leis no
tempo;
b) é somente a retroatividade benéfica da lei penal;
c) é somente a irretroatividade maléfica da lei penal;
d) consiste na impossibilidade de uma lei penal retroagir e ultra agir ao mesmo tempo, por ser
melhor do que a lei anterior e do que a lei posterior, dentro de uma sucessão de leis no tempo;
e) consiste na possibilidade de aplicação da lei penal melhor durante a vacatio legis.

Letra a.
A assertiva a) está correta, refere-se à lei intermediária, chamada de lei bipolar, que possui ex-
tra-atividade penal, possibilidade de retroatividade e de ultratividade, conforme explicação da
própria assertiva.

Questão 40 (INÉDITA/2020) Marque a assertiva que corresponde à figura do território por


extensão:
a) as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo bra-
sileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo cor-
respondente ou em alto-mar;

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b) crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de pro-


priedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados;
c) aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou
mar territorial do Brasil;
d) crimes cometidos fora do território brasileiro contra o patrimônio ou a fé pública da União,
do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de
economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
e) aeronaves ou embarcações estrangeiras públicas, achando-se aquelas em pouso no terri-
tório nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial
do Brasil.

Letra a.
Está correta pois se refere à redação do §1º do artigo 5º do Código Penal que trata do território
por extensão.

Questão 41 (DF/JUIZ/2016) Transitada em julgado a sentença penal condenatória, no caso


de ser editada lei de natureza penal mais benéfica, competirá ao juiz da vara de execução penal
a) devolver a carta de guia ao juízo de origem, a fim de que o juiz do processo de conhecimen-
to aplique a pena mais benéfica ou remeta o feito diretamente ao tribunal local ou ao tribunal
superior que porventura tenha aplicado, em grau de recurso, a condenação que até́ então vinha
sendo executada.
b) aplicá-la em benefício do condenado, independentemente de a condenação ter sido estabe-
lecida pelo juízo singular, pelo tribunal ou pelos tribunais superiores.
c) aplicá-la em benefício do condenado, salvo se a condenação tiver sido estabelecida pelo
STF em ação penal originária, hipótese em que competirá aos ministros modificar seus julga-
dos e ao juiz, remeter carta de guia ao ministro relator.
d) aplicá-la em benefício do condenado, salvo se a condenação tiver sido aplicada pelo STJ,
hipótese em que deverá remeter a carta de guia ao ministro relator.

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e) intimar o réu e seu defensor para lhes dar conhecimento da lei, a fim de que eles, se dese-
jarem, ajuízem ação de revisão criminal, medida apta a desconstituir o título penal até́ então

executado, dado o princípio da segurança das relações judiciais, conforme o qual a coisa

julgada faz lei entre as partes.

Letra b.

A assertiva está correta, uma vez que a lei benéfica que entra em vigor possui retroatividade,

devendo ser aplicada, inclusive, aos fatos transitados em julgado. No curso da execução da

pena, compete ao juiz da execução penal aplicar a lei penal melhor, nos termos do artigo 66

da Lei de Execução Penal (Lei n. 7210/1984).

Questão 42 (DF/JUIZ/2016) Com relação à aplicação da lei penal, assinale a opção corre-

ta.

a) As frações de dia são computadas como um dia integral de pena nas penas privativas de

liberdade e nas restritivas de direitos.

b) O Direito Penal, quanto ao tempo do crime, considera praticado o crime no momento do

seu resultado.

c) A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz as mesmas consequ-

ências, poderá ser homologada no Brasil para todos os efeitos, exceto para obrigar o conde-

nado à reparação do dano.

d) Ficam sujeitos à lei brasileira os crimes contra o patrimônio ou a fé pública do DF, de esta-
do, de município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação
instituída pelo poder público, embora cometidos no estrangeiro, sendo o agente punido se-
gundo a lei brasileira, ainda que absolvido no estrangeiro.
e) Não é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarca-
ções estrangeiras de propriedade privada, ainda que achando-se aquelas em pouso no terri-

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tório nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial
do Brasil.
Letra d.
A assertiva está correta, conforme redação ao artigo 7º I alínea b do Código Penal, que trata
da extraterritorialidade da Lei Penal brasileira. Vale destacar que o artigo 8º do mesmo Código
aponta a possibilidade de dupla condenação pelo mesmo fato no caso de extraterritorialidade
incondicionada, quando o agente poderá ser julgado pelo mesmo fato fora do Brasil e dentro
do Brasil. Essa possibilidade não existe nos casos de extraterritorialidade condicionada.
Narra o Código Penal brasileiro:

Pena – cumprida no estrangeiro


Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

Vale destacar o disposto no artigo 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica (Convenção
Americana de Direitos Humanos, introduzido no sistema brasileiro pelo Decreto 678/1992

O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a novo processo
pelos mesmos fatos.

É importante ainda ressaltar recente decisão do STF sobre o artigo 8º do Código Penal (grifos
nossos)

STF-INFO 959-HC 171118, 2ª TURMA, REL. MIN. GILMAR MENDES, 12/11/2019


Dupla persecução penal em âmbito internacional -
FATO
No caso, o  paciente já teria sido processado e julgado na Suíça pelos mesmos fatos,
o que culminou em condenação transitada em julgado e cômputo de período de encarce-
ramento de caráter preventivo como execução antecipada da pena naquele Estado.
De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, o fato de o crime também ter sido come-
tido no Brasil, uma vez que a execução e os efeitos da lavagem de dinheiro ocorreram em
território nacional, permite a persecução penal pela justiça brasileira, independentemente
de outra condenação no exterior. Dessa forma, adota-se o princípio da territorialidade,
nos termos do art. 5º do Código Penal (CP) (1), segundo o qual aplica-se a lei brasileira a
qualquer crime cometido no Brasil.
DECISÃO

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A Segunda Turma concedeu a ordem em habeas corpus para determinar o trancamento


de ação penal movida contra o paciente, denunciado pela suposta prática do crime de
lavagem de capitais, em razão de haver transferido dinheiro oriundo de tráfico de drogas
da Suíça para o Brasil, utilizando-se de contrato de fachada para dar aparência de licitude
aos ativos em solo brasileiro.
Inicialmente, a Turma reconheceu que os fatos apreciados pela justiça brasileira são coin-
cidentes com os já analisados pelo Estado suíço.
Ademais, apontou que a redação do art. 5º do CP contém a ressalva de que devem ser
observados convenções, tratados e regras de direito internacional. Desse modo, deve-se
cotejar a redação dos arts. 5º, 6º e 8º do CP (2) com o que dispõe a Lei n. 13.445/2017
(Lei de Migração), a qual elenca o rol de casos em que o Estado brasileiro não concede
extradição, notadamente o disposto no art. 82, V (3). O art. 100, caput, (4) do mesmo
diploma legal exige a observância do princípio do ne bis in idem.
A proteção ao indivíduo selada por esses dispositivos é muito cara ao direito brasileiro.
Revela-se evidente garantia contra nova persecução penal pelos mesmos fatos, de modo
a se consagrar a proibição de dupla persecução penal também entre países, no âmbito
internacional.
Por outro lado, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), assen-
tou-se o status normativo supralegal aos tratados internacionais de direitos humanos,
ou seja, abaixo da Constituição, mas acima das leis infraconstitucionais. Portanto, con-
sagrou-se que o controle de convencionalidade pode ser realizado sobre as leis infra-
constitucionais. Assim, o CP deve ser aplicado em conformidade com os direitos asse-
gurados na Convenção Americana de Direitos Humanos e com o Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos.
Em relação à proibição de dupla persecução penal, tais diplomas o fazem de forma
expressa (CADH, art. 8.4; PIDCP, art. 14.7) (5).
O STF já teve a oportunidade de se manifestar a respeito dessas regras, e, ao fazê-lo
obstou o prosseguimento de processo penal quanto a fatos já julgados por jurisdição
diversa (Ext 1.223).

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Assim, o exercício do controle de convencionalidade, tendo por paradigmas os disposi-


tivos do art. 14.7, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e do art. 8.4, da
Convenção Americana de Direitos Humanos, determina a vedação à dupla persecução
penal, ainda que em jurisdições de países distintos. Por sua vez, o art. 8º do CP deve
ser lido em conformidade com os preceitos convencionais e a jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vedando-se a dupla persecução penal por
idênticos fatos.
Por fim, a vedação à dupla persecução penal em âmbito internacional deve ser ponde-
rada com a soberania dos Estados e com as obrigações processuais positivas impostas
pela CIDH. Em casos de violação de tais deveres de investigação e persecução efetiva,
o julgamento em país estrangeiro pode ser considerado ilegítimo, como em precedentes
em que a própria CIDH determinou a reabertura de investigações em processos de Esta-
dos que não verificaram devidamente situações de violações de direitos humanos.
Portanto, se houver a devida comprovação de que o julgamento em outro país sobre
os mesmos fatos não se realizou de modo justo e legítimo, desrespeitando obrigações
processuais positivas, a vedação de dupla persecução pode ser eventualmente ponde-
rada para complementação em persecução interna. Contudo, neste caso concreto, não
há qualquer elemento que indique dúvida sobre a legitimidade da persecução penal e da
punição imposta em processo penal na Suíça por idênticos fatos ao agora denunciado no
Brasil. Dessa forma, a proibição de dupla persecução deve ser respeitada de modo inte-
gral, nos termos constitucionais e convencionais.

Questão 43 (MP-MS/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2015) Em relação ao âmbito temporal de


aplicação da lei penal, é incorreto afirmar que:
a) A lei penal mais benéfica é a única que tem extra-atividade.
b) A lei excepcional e a lei temporária possuem em comum o regime específico da ultratividade
gravosa.
c) A lei penal em branco, quando tem por objetivo garantir a obediência da norma complemen-
tar, não está subordinada à irretroatividade da lei mais severa e da retroatividade da lei mais
benigna.

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d) No delito continuado, formado por uma pluralidade de atos delitivos, mas legalmente valo-
rados como um só delito, para efeito de sanção, considera-se como tempo do crime aquele da
prática de cada ação ou omissão.
e) O Código Penal acolheu a teoria da ação ou atividade, sendo o tempo da infração penal tanto
o da ação como o da omissão, independentemente do momento do evento.

Letra c.
O complemento da norma penal em branco e a própria lei penal em branco se sujeitam aos
princípios da retroatividade benéfica e da irretroatividade maléfica. Isso aconteceu, por exem-
plo, quando houve a retroatividade benéfica após a eliminação do cloreto de etila do rol da
portaria 344 da Anvisa no ano de 2010 e sua inclusão posterior (Informativo 578 do STF), bem
como no caso de retroatividade do artigo 28 da lei n. 11343 em relação ao artigo 16 da Lei n.
6368/1976.

Questão 44 (MP-SP/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2015) Os princípios que resolvem o conflito


aparente de normas são:
a) especialidade, legalidade, intranscendência e alternatividade.
b) especialidade, legalidade, consunção e alternatividade.
c) especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade.
d) legalidade, intranscendência, consunção e alternatividade.
e) legalidade, consunção, subsidiariedade e alternatividade.

Letra c.
A assertiva está correta, uma vez que tais princípios são apontados pela doutrina penal para a
solução do conflito aparente de normas. Para compreensão do significado e alcance de cada
princípio, bem como da jurisprudência pertinente. Recomenda-se a leitura do tópico específico
redigido anteriormente, no bojo deste capítulo.

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Questão 45 (MP-DF/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2005) Aprecie as seguintes considera-


ções acerca da lei penal, assinalando a opção correta:
a) Predomina no STF e no STJ o entendimento de que se aplica a lei penal mais benéfica
ao crime continuado quando parte dos comportamentos criminosos ocorreu inicialmente
sob a égide de lei mais branda e parte já na vigência da lex gravior.
b) O complemento da lei penal em branco em sentido estrito, se possuir caráter regulador,
como as tabelas oficiais, segue a regra do artigo 3º do Código Penal, que estabelece a ul-
tratividade das leis temporárias e excepcionais.
c) Considera-se praticado no estrangeiro o homicídio ocorrido no interior de aeronave mer-
cantil de bandeira brasileira, durante sobrevoo em alto-mar.
d) Em relação ao local do crime, vigora no ordenamento jurídico pátrio, como regra, a teoria
da atividade.
e) Não se admite, em Direito Penal, possa o intérprete socorrer-se do recurso analógico na
aplicação da lei.

Letra b.
Com relação ao tema Teoria da Norma no Direito Penal, segundo a súmula 711 do STF,

a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência
é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Ainda sobre a Teoria da Norma, se o complemento de uma norma penal em branco hete-
rogênea, denominado complemento em sentido estrito, estiver vinculado a uma circuns-
tância excepcional ou temporária (complemento anormal), possuirá a ultratividade. Isso,
por exemplo, sucede com o tabelamento de preços por Órgão do Governo para conter a
inflação. Desse modo, se um agente vender acima do preço tabelado cometerá crime e
será julgado por ter violado o preço tabelado, ainda que sobrevenha alteração da tabela
ou a sua extinção, salvo, unicamente, se a lei benéfica posterior for expressa quanto aos
efeitos retroativos.

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Portanto, o  art.  3º CP aplica no caso de complemento excepcional. Nesse sentido, decidiu


o STF HC 73168 (Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 21/11/1995,
DJ 15-03-1996 PP-07204 EMENT VOL-01820-02 PP-00316). Por isso, a alternativa correta é a
letra b).
De outro modo, o complemento normal de uma norma penal em branco heterogênea não se-
gue a disciplina da ultratividade, mas a da retroatividade benéfica exarada no art.  5º XL da
CRFB (exemplo: a lista de drogas da Portaria 344 da ANVISA para complemento da Lei n.
11343/2006). Conforme decidiu o STF no INFO 578 (HC 94397/BA), quando se aplicou a re-
troatividade benéfica para o tráfico e uso de lança-perfume anterior a 07/12/2000, em razão
de a ANVISA ter apagado o cloreto de etila de sua portaria 344, reescrevendo-o a partir de
15/12/2000. De 07/12/2000 a 15/12/2000, não houve tipicidade formal.
No tocante à figura do território por extensão (território brasileiro por extensão), previsto no
Art. 5º § 1º do CP, diz o legislador:

Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e ae-
ronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encon-
trem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

Segundo o art. 6º do CP:

Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Por fim, importa acrescentar que, no Direito Penal, é possível o uso da analogia somente
em favor do réu. A analogia consiste no uso, para um caso não regulado pelo ordenamento,
de uma norma que rege caso semelhante. Por sua vez, a interpretação analógica também é
possível no Direito Penal diante da construção legal de normas com sequência casuística
e hipótese genérica. A interpretação da hipótese genérica deve ser feita numa correlação
com as previsões casuísticas. É a interpretação que se faz, por exemplo, no inciso IV do §2º
do art. 121 do CP.

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Questão 46 (MP-DFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2008) Analise os itens e assinale a quanti-


dade de itens errados.
I – O princípio segundo o qual nenhuma pena passará da pessoa do condenado, não se aplica
à pena de multa. Porque está poderá ser adimplida por qualquer pessoa.
II – De acordo com o princípio da intervenção mínima, pode-se dizer que a lei penal só deverá
intervir quando for absolutamente necessário para a sobrevivência da comunidade, como ulti-
ma ratio.
III – A lei, em sentido estrito, é a fonte normativa primeira do Direito Penal, mas não é a única,
exceto quando se cuidar, especificamente, de norma penal explicativa.
IV – Considerando que o CP, quanto ao tempo do crime, adota a teoria da ação ou ativi-
dade (art. 4º). No caso dos crimes permanentes, o tempo do crime será todo o tempo de
duração da conduta, passando a se contar o prazo prescricional a partir do primeiro ato
de execução.
V – Quanto à aplicação da lei penal, o CP adota o princípio da territorialidade extremada,
que se justifica, dentre outros pelos princípios real (o da defesa), da nacionalidade e da
personalidade.
a) Um.
b) Dois.
c) Três.
d) Quatro.
e) Cinco.

Letra d.
I – Errada. A Constituição veda que a pena passe da pessoa do condenado, nos seguintes ter-
mos: art. 5º, inciso XLV,

Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a de-
cretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.

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A pena de multa, a par da divergência quanto à sua natureza jurídica, não deixa de ser uma san-
ção penal e, assim, insere-se no dispositivo constitucional, aplicando-se, portanto, o princípio
da intranscendência descrito no item. Confira-se, para maior aprofundamento, o  precedente
REsp 1251697 / PR, do STJ. Por outro lado, é certo que as penas pecuniárias mitigam o princí-
pio da intranscendência ou da responsabilidade pessoal, uma vez que não tem como impedir
o pagamento suportado por um terceiro em lugar o condenado. Em razão da polêmica, o tema
merece crítica por ter sido questionado dessa forma.
II – Certa. De fato, o princípio da intervenção mínima determina a atuação do Direito Penal de
forma restrita, devendo se abster de intervir em condutas irrelevantes e atuar somente em últi-
mo caso, como ultima ratio, portanto, do sistema jurídico.
III – Errada. As fontes do Direito Penal podem ser imediatas ou diretas e mediatas ou indiretas.
As fontes chamadas de “primeiras” são as fontes imediatas, que o examinador, no caso, res-
tringiu às normativas, ou seja, às leis. Assim, a primeira parte do item está correta. No entanto,
na segunda parte, há um erro. Diz o item que a exceção quanto à fonte normativa primeira
do Direito Penal se restringe às normas penais explicativas, o que não é verdade. As fontes
indiretas ou mediatas, quais sejam, os costumes, doutrina, jurisprudência, direito comparado
e analogia se aplicam ao Direito Penal como um todo e não somente às normas explicativas.
IV – Errada, por causa do final da assertiva. Com efeito, com relação ao tempo do crime ado-
ta-se a teoria da atividade e, nos crimes permanentes, o tempo do crime se prolonga durante
toda a ação criminosa. Exatamente por isso, o prazo prescricional começa a correr de quando
cessar a permanência, na dicção do art. 111, do CP:

A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: [...] III - nos crimes
permanentes, do dia em que cessou a permanência.

V – Errada. O art. 5º do CP trata da aplicação da lei penal no espaço e adota a teoria da ter-
ritorialidade temperada (e não da temporalidade extremada), pois não é adotada em caráter
absoluta, mas com previsão de exceções, em que aos crimes praticados no território brasileiro
é aplicada a lei estrangeira, motivo pelo qual a doutrina conceitua a teoria da territorialidade
adota pelo Brasil como temperada.

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REFERÊNCIAS

ACKEL FILHO, Diomar. O princípio da insignificância no Direito Penal. Revista de Jurisprudência


do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, São Paulo, v. 22, n. 94, p. 72-77, abr./jun. 1998. p. 73.

ÁVILA, Humberto. Neoconstitucionalismo: entre a Ciência do Direito e o Direito da ciência. Re-


vista Eletrônica de Direito do Estado (REDE), Salvador, n. 17, jan./mar. 2009. p. 1. Disponível em:
<http://www.direitodoestado.com.br/rede.asp>. Acesso em: 17 ago. 2017.

CANOTILHO, J.J. Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa Anotada. v.1.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

COSTA, José de Faria. O fenômeno da globalização e o Direito Penal Econômico. Revista Bra-
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Dermeval Farias
Professor Dermeval Farias Gomes Filho. Promotor de Justiça do Júri/Criminal no Distrito Federal (MPDFT).
Doutorando em Direito Penal pela PUC-SP. Mestre em Direito Penal pelo UNICEUB. Pós-graduado em
processo civil pela Universidade Federal de Santa Catarina. Ex Conselheiro Nacional do Ministério Público
(biênio 2017/2019). Professor de Direito Penal em diversos cursos de preparação para concursos da
Magistratura e do Ministério Público e pós-graduações desde o ano de 2006. Palestrante em Simpósios
e Congressos. Leciona em cursos de capacitação de direito penal do STF, STJ, TJDFT e MPDFT. Integra o
grupo de pesquisa em política criminal do UNICEUB/UNB. Autor de artigos e livros, com destaque para:
Dogmática Penal: Fundamento e limite à construção da jurisprudência penal no Supremo tribunal Federal.

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