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PARTE GERAL
Teoria da Norma e Lei Penal no Tempo
e no Espaço
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
DIREITO PENAL - PARTE GERAL
Teoria da Norma e Lei Penal no Tempo e no Espaço
Dermeval Farias
Sumário
Teoria da Norma. .............................................................................................................5
1. Importância da Teoria da Norma..................................................................................5
2. Características das Normas Penais.............................................................................5
3. Fontes do Direito Penal...............................................................................................6
3.1. Fonte de Produção ou Substancial (Material)............................................................ 7
3.2. Fonte Formal ou de Conhecimento ou de Cognição................................................. 11
4. Norma Penal e Lei Penal............................................................................................ 16
4.1. Anomia....................................................................................................................17
4.2. Antinomia. ...............................................................................................................17
5. Classificação das Normas Penais (Incriminadoras, Não Incriminadoras,
Permissivas, Completas, Incompletas, Remetidas)........................................................ 19
6. Interpretação, Aplicação e Integração da Norma......................................................23
6.1. Modelo Tradicional..................................................................................................23
6.2. Modelo Novo..........................................................................................................25
6.3. Analogia.................................................................................................................26
6.4. Interpretação Analógica........................................................................................ 28
6.5. Interpretação Extensiva.........................................................................................29
6.6. Interpretação do Direito Penal no Brasil no Cenário da Jurisprudência do STF e
do STJ........................................................................................................................... 30
6.7. Brocardo In Dubio Pro Reo.....................................................................................32
7. Tempo do Crime........................................................................................................33
8. Lei Penal no Tempo...................................................................................................33
8.1. Princípios................................................................................................................33
8.2. Exceções (Leis Excepcionais e Temporárias)..........................................................34
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Dermeval Farias
Apresentação
Olá, sou o professor Dermeval Farias. É com prazer que iniciamos mais um capítulo do
material em PDF do Gran Cursos Online. Apresentamos a Teoria da Norma com abordagem de
doutrina, jurisprudência e questões correlatas.
O tema tratado nesse momento é muito relevante para as provas de concursos públicos,
bem como para a compreensão do Direito Penal. É o momento de estudar Direito Penal a partir
dos primeiros artigos do Código Penal brasileiro, pois a Teoria da Norma abrange o conteúdo
do artigo 1º ao artigo 12.
É a hora de reviver a lei penal no tempo e no espaço, de estudar as fontes do Direito Penal,
a classificação das normas, a interpretação da lei penal, a sucessão de leis no tempo, o conflito
aparente de normas, bem como os temas polêmicos, por exemplo, os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade de lei penal e sua relação com o princípios da retroatividade benéfica e
da irretroatividade maléfica.
Fizemos um sumário bem detalhado para facilitar o estudo e a busca por temas que,
porventura, não sejam do conhecimento do aluno. Ademais, incluímos substanciosa pes-
quisa doutrinária, jurisprudencial e muitas questões recentes de concursos devidamente
comentadas.
É certo que seguimos a direção de nossas aulas, uma vez que há mais de 16 anos temos
preparado candidatos para os mais diversos concursos jurídicos do país: Juiz Estadual, Juiz
Federal, Procurador da República, Promotor de Justiça, Defensor Público, Delegado de Polícia
(Civil e Federal), Analista Jurídico, Advogado da União e outros.
Temos muito prazer em trabalhar hoje com colegas que são promotores de justiça e que
outrora eram alunos; bem como magistrados, delegados de polícia, defensores públicos, ex-
-alunos que encontramos em audiências, nos júris etc.
Ressalto que serão apresentados, quando necessários, resumos, quadros sinópticos,
dicas e destaques sobre pontos específicos de cada instituto jurídico de Direito Penal, de
modo a facilitar a compreensão e, por consequência, o acerto em provas de concursos.
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TEORIA DA NORMA
Chama-se Direito Penal ao conjunto das normas jurídicas que ligam a certos comportamentos
humanos, os crimes, determinadas consequências jurídicas privativas deste ramo de direito.
A mais importante destas consequências– tanto do ponto de vista quantitativo, como qualita-
tivo (social)– é a pena, a qual só pode ser aplicada ao agente do crime que tenha actuado com
culpa. Ao lado da pena, prevê, porém, o Direito Penal, consequências jurídicas de outro tipo: são
as medidas de segurança, as quais não supõem a culpa do agente, mas a sua periculosidade
(DIAS, 2007, p. 03).
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Exemplo: um Tratado de Direito Penal (ciência jurídica) é diferente de um Código Penal (con-
junto de normas prescritivas) (KELSEN, 2019).
A ciência jurídica (doutrina penal, por exemplo), como conhecimento do Direito, possui ca-
ráter constitutivo e, dessa forma, produz o seu objeto. As proposições normativas podem ser
descritas e formuladas pela ciência jurídica, podendo ser verdadeiras ou falsas, enquanto as
normas, estabelecidas pela autoridade jurídica, são válidas ou inválidas. Não se pode falar, por-
tanto, em norma verdadeira ou falsa, mas somente em norma válida ou inválida (KELSEN, 2019).
A ciência jurídica não prescreve as normas, apenas descreve as suas proposições. Tais
proposições normativas descrevem normas de “dever-ser”. Este (da proposição jurídica)
não tem um sentido prescritivo (como o da norma jurídica), mas um sentido descritivo
(KELSEN, 2019).
3. Fontes do Direito Penal
Fonte corresponde ao lugar onde nasce água, mas, no sentido figurado, significa “origem”,
“causa” ou “princípio”. A “fonte do Direito Penal é, pois, aquilo de que ele se origina ou promana”
(DIAS, 2007, p. 03). Em outras palavras, fonte do Direito Penal corresponde ao fato ou ato do
qual se originam as normas incriminadoras e não incriminadoras.
Segundo Kelsen:
Fonte de Direito, é uma expressão figurativa que tem mais do que uma significação. Esta designação
cabe não aos métodos acima referidos, mas a todos os métodos de criação jurídica em geral, ou a
toda norma superior em relação à norma inferior cuja produção ela regula. Por isso, por fonte de Di-
reito entender-se também o fundamento de validade de uma ordem jurídica, especialmente o último
fundamento de validade, a norma fundamental. No entanto, efetivamente, só costuma designar-se
como fonte o fundamento de validade jurídico-positivo de uma norma jurídica, que dizer, a norma
jurídica positiva do escalão superior que regula a sua produção. Neste sentido, a Constituição é
fonte das normas gerais produzidas por via legislativa ou consuetudinária (KELSEN, 2019, p. 259).
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No caso brasileiro, vale a informação do parágrafo anterior, principalmente no que diz res-
peito ao Direito Penal até a expressão via legislativa, uma vez que o costume, no modelo legal
brasileiro, não exerce o papel criador. De forma mais clara, para a generalidade das normas
jurídicas, são fontes de produção normativa: constituição, convenções, tratados, leis, analogia,
costume, jurisprudência e princípios gerais do direito.
Para o Direito Penal, somente a lei é fonte primária (direta) de produção, em razão do prin-
cípio da legalidade. De forma indireta, secundária, mitigada, são fontes de normas penais a
analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.
Com uma interpretação literal do dispositivo, poderia se chegar a uma conclusão de que seria
possível o Estado-membro legislar sobre Direito Penal desde que autorizado por lei comple-
mentar da União.
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Parte da doutrina afirma que essas matérias específicas (parágrafo único do art. 22) são
aquelas de interesse meramente local. Desse modo, entende-se que, pela doutrina penal brasi-
leira, os Estados e o Distrito Federal não podem legislar sobre Direito Penal fundamental.
Segundo Nucci (2008, p. 54), “o Estado jamais poderia legislar em matéria de Direito Pe-
nal Fundamental (normas inseridas na Parte Geral do Código Penal, que devem ter alcance
nacional, a fim de manter a integridade do sistema)”. O referido autor ainda afirma que o Esta-
do-membro, na atividade legislativa, poderia compor lacunas existentes na legislação federal.
Entretanto, o tema envolve muitos debates jurídicos, como posições opostas. Para Luiz
Vicente Cernicchiaro (1991, p. 30), poderá ocorrer a delegação por lei complementar da União
para o Estado-membro legislar sobre matéria de interesse específico, como, por exemplo,
a proteção da vitória-régia na Amazônia, ou, como ensina Luiz Flávio Gomes (2003, p. 122),
ao tratar de matéria específica, “uma regra penal sobre o trânsito de determinada localidade”.
Há dois requisitos importantes apresentados no âmbito da doutrina do Direito Constitu-
cional que merecem destaque, no que diz respeito ao parágrafo único do artigo 22 da CRFB.
O primeiro é um requisito formal no sentido de que a União só pode delegar competência por
meio de Lei Complementar “Federal”; o segundo requisito é material no sentido de que a ma-
téria objeto da delegação deve tratar de pontos específicos do artigo 22. Com isso, não pode
haver delegação genérica de competência de matérias relacionadas no referido dispositivo.
Isto é, não pode a União delegar competência genérica de Direito do Trabalho para Esta-
do-membro, apenas pode haver delegação de pontos específicos que deverão ser tratados no
âmbito regional.
Existe um terceiro requisito implícito da delegação apontado por Alexandre de Moraes
(concordam com essa tese Pedro Lensa e Bernardo Gonçalves), qual seja, que deve existir
correspondência entre a delegação referida no parágrafo único do artigo 22 e o inciso III do
artigo 19, ambos da CRFB, ou seja, deve-se fazer uma interpretação sistemática entre esses
dois dispositivos.
O inciso III do artigo 19 da CRFB (grifos nossos) expressa:
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Segundo Alexandre de Moraes, como a União não pode instituir distinções entre um Estado
e outro, entre um Estado e o Distrito Federal, se decidir concretizar a norma do parágrafo único
do artigo 22, deverá fazê-lo para todos os Estados e para o Distrito Federal e, portanto, não
poderá delegar para um ente e não delegar para outro ente federado.
Dito de outro modo, certa vez, um governador do Rio Janeiro quis implementar um Direito
Penal mais severo com o fim de combater “melhor” a criminalidade (Revista Exame, abril de
2014). Tal proposta não avançou, mas houve debates no âmbito doutrinário. Importa dizer que,
por ora, o STF nada decidiu sobre delegação de matéria penal para Estado-membro ou para o
Distrito Federal, conforme o artigo 22 da CRFB.
No cenário ainda da doutrina constitucional, Pedro Lenza ensina que uma Emenda Cons-
titucional poderia autorizar o Estado-membro a legislar sobre crimes e penas semelhante ao
sistema nos EUA. Uma lei que fizesse isso seria inconstitucional. A única maneira de autorizar
o Estado a estabelecer crime e pena seria por meio de uma Emenda Constitucional que não
estaria ferindo a Federação, nem abolindo-a, mas reforçando-a (LENZA, 2008, p. 363-364).
Quanto a uma nova divisão de competência por meio de uma emenda constitucional, não
haveria óbice. O STF possui entendimento no sentido de que alterações pontuais podem ser
feitas. O que não pode ser implemento é um rearranjo geral de todo o sistema constitucional de
repartição de competências que desvirtue o modelo federativo de Estado. Sob esse aspecto,
poderia existir uma nova divisão de competência penal por meio de emenda constitucional,
possibilitando a referida atribuição a Estado-membro.
Vamos um pouco além. O parágrafo único do artigo 22 da CRFB deve ser interpretado de
forma restritiva, para abranger a possibilidade de delegação de matéria de exclusivo interesse
local, do qual estaria fora o Direito Penal.
Dito de outro modo, o Direito Penal, principalmente, em razão da peculiaridade de sua san-
ção privativa de liberdade e da finalidade específica de proteção de bens jurídicos de maneira
subsidiária e fragmentária, constitui um ramo do direito de interesse nacional, que não pode
compreender como crime uma determinada conduta em um Estado da Federação e não fazê-lo
em outro.
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Ao tratar de crimes de responsabilidade, o STF, por meio da súmula 722, estabelece: “São
de competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o estabele-
cimento das respectivas normas de processo de julgamento”.
Em síntese, por ora, fonte de produção do Direito Penal no Brasil é a União, ou seja, so-
mente o Estado (União) é fonte material ou substancial do Direito Penal (NORONHA, 2000, p.
45). O Estado-membro e o Distrito Federal, exceto os Municípios, não possuem leis penais (lei
incriminadora com preceito primário e secundário) em suas localidades. Tais entes podem,
todavia, complementar normas penais em branco, em matérias, por exemplo, de saúde e de
meio ambiente.
No Brasil, a norma penal se apresenta pela lei. A lei penal, como regra, é a Lei Ordinária da
União. Desse modo, a lei estrita da União é a fonte formal imediata. Tal afirmação dialoga com
o princípio da legalidade, na dimensão da reserva legal, que foi visto no capítulo sobre princí-
pios penais constitucionais.
Admite-se, ainda, a previsão de crime em Lei Complementar da União. É certo que a Consti-
tuição não autoriza a edição de Lei Complementar para tratar especificamente de Direito Penal,
mas permite que, ao tratar de tema que lhe seja destinado pelo texto constitucional (exemplo:
responsabilidade fiscal), possa trazer no seu bojo uma norma penal incriminadora.
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Para Luís Flávio Gomes, é pré-requisito de que o Decreto, que aprova o Tratado, seja publicado.
Desse modo, além da lei, crime e pena podem ser definidos em um Tratado, ratificado pelo
Brasil e publicado internamente (GOMES, 2003, p. 123).
Por outro lado, André Estefan argumenta que a ratificação de Tratados pelo Brasil, com a con-
sequente publicação interna da norma, não tem o condão de inserir tipos penais no ordena-
mento nacional. Tal norma pode apenas trazer definições legais e recomendações de incrimi-
nação, as quais devem ser analisadas pelo Congresso Nacional para eventual aprovação de
leis (ATEFAM, 2010, p. 113).
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Portanto, as demais espécies normativas, quais sejam: Decreto, Resolução, Portaria, Me-
dida Provisória e qualquer outra, que não seja lei em sentido estrito, não podem estabelecer
tipo penal. Os tipos penais, anteriores à CRFB de 1988, instituídos por Decreto-Lei, são vá-
lidos desde que não contrariem à Constituição. Os que não apresentaram incompatibilidade
com a CRFB, em 1988, foram recepcionados.
Se somente a Lei pode apresentar a conduta criminosa (constituir a norma penal incrimina-
dora), se somente a União, por meio do Congresso Nacional, pode aprovar uma Lei penal in-
criminadora (artigo 22 I da CRFB), por que o STF decidiu que a homofobia constitui crime de
racismo (racismo social)?
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Entendemos que o STF violou a exigência de reserva legal contida no texto constitucional. Para
compreender o sentido do princípio da legalidade penal, remetemos o leito ao PDF sobre prin-
cípios penais e jurisprudência do STF e do STJ ao item legalidade e reserva legal.
São fontes indiretas do Direito Penal os costumes, os princípios gerais do direito e a juris-
prudência. Essas fontes não prescrevem a norma incriminadora nem possuem o poder de criar
ou de revogar a norma incriminadora. Na verdade, constituem fonte de interpretação do Direito
Penal.
Sobre as fontes mediatas ou indiretas, Noronha descreve:
[...] como fonte imediata, grande número de autores aponta os costumes. Outros há, ainda, que colo-
cam nessa espécie também a doutrina, a equidade e os princípios gerais do direito, a jurisprudência,
a analogia e os tratados, havendo ainda os que incluem as providências administrativas, os regula-
mentos, as instruções, circulares, posturas, recomendações, advertências da autoridade policial etc.
(NORONHA, 2000, p.45-46).
Do emprego dos costumes, não pode surgir um crime não previsto em lei. Os costumes,
como fonte, segundo Estefam, somente incidem para ampliar a licitude penal:
Os trotes acadêmicos, por exemplo, traduzem uma prática reconhecida e costumeira, de modo que
possíveis infrações, como injúria (ex. referir-se ao calouro como bicho) ou constrangimento ilegal
(ex. obrigar o novato a repetir cânticos satíricos contra a sua vontade), são consideradas permitidas
à luz do art. 23, III, do CP (exercício regular de um direito)1.
O exemplo anterior pode ser contestado. A liberdade de alguém no sentido de não querer
participar do trote deve ser respeitada. Ademais, dependendo da intensidade do constrangi-
mento e dos meios utilizados, referida conduta pode estar adequada a algum dos tipos penais
previstos no Código Penal, como o constrangimento ilegal, a lesão corporal e outros.
No tocante à jurisprudência, é importante observar que, por força da inovação decorrente
da Emenda Constitucional 45 de 2004, com a introdução do artigo 103 A na CRFB, que permitiu
a elaboração de súmulas vinculantes pelo STF, regulamentada pela Lei n. 11.417/2006, pode-
1
ESTEFAM, André. Direito Penal. Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 71.
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-se dizer que existe hoje a interpretação jurisprudencial não vinculante e a interpretação judi-
cial vinculante. Essa última é a que decorre de súmulas vinculantes do STF, as quais deverão
ser obedecidas pelos juízes e tribunais de todo o país.
A súmula vinculante terá eficácia imediata, mas razões de segurança jurídica ou de excep-
cional interesse público autorizam o STF a restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só
tenham eficácia a partir de outro momento, conforme art. 4º da Lei n. 11.417/2006.
A Lei n. 11.417/2006 não veda a criação de súmula vinculante em matéria penal. Entretan-
to, é importante advertir que a súmula não pode criar tipo penal, não pode constituir uma nor-
ma penal incriminadora por força do princípio da reserva legal contido no art. 5º inciso XXXIX
da CRFB.
A súmula vinculante somente poderá interpretar o Direito Penal para afastar celeuma exis-
tente. Tal interpretação poderá ocorrer no sentido agravador ou favorável ao agente. O intuito
reside na uniformidade das decisões a partir da súmula vinculante, afastando, desse modo,
a insegurança jurídica em muitos temas reinantes em matéria penal ou em outros ramos do
direito.
Ao tratar da súmula vinculante em matéria penal, Alberto Silva Franco adverte:
Se tal conteúdo vier a agravar a situação do acusado, é evidente que não poderá atingir fatos ocorri-
dos antes de sua publicação. No entanto, se se tratar de súmula de caráter penal, mais favorecedora
do réu, sua retroatividade será inquestionável (FRANCO et al., 2007, p. 72).
Não concordamos com a posição anterior defendida por Alberto Silva Franco. Isso porque
a interpretação penal pode ser modificada ao longo do tempo, com a possibilidade de surgir
um entendimento mais gravoso em matéria penal, que poderá ser aplicado a casos passados
ainda não julgados e casos futuros. Não se trata de lei nova mais gravosa, mas de interpreta-
ção da lei existente, que pode surgir via súmula vinculante ou não vinculante, ou mesmo em
uma jurisprudência nova, decorrente de várias decisões em um mesmo sentido.
Anota-se ainda que, por força do sistema de controle de constitucionalidade, é possível
uma decisão do STF anular uma lei penal, bem como modular os seus efeitos. Logo, a afirma-
ção de que a jurisprudência não revoga lei deve ser vista com reserva quando se pensa no sis-
tema de controle de constitucionalidade de leis e atos normativos previsto na CRFB de 1988.
Esse tema voltará a ser discutido nos pontos de discussão no final deste capítulo.
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Desde já, é importante ressaltar que norma penal é diferente de lei penal. A norma apre-
senta um comando, mandamental ou proibitivo, anterior à lei. A lei é a forma como a norma se
apresenta à sociedade. Para o Luís Regis Prado, a norma constitui:
[...] pressuposto ou prius lógico da lei, sendo esta o revestimento formal daquela daquela. A norma
jurídica, quando elaborada pelo órgão legislativo competente, segundo os ditames constitucionais,
apresenta-se sob a forma, por exemplo, de lei ordinária. [...] a lei, em sentido técnico jurídico, deve
ser entendida como uma fonte do Direito positivo, um meio ou instrumento, com caracteres especí-
ficos, de produção de norma jurídica. É ela um modo de revelação ou de exteriorização racional da
norma” (PRADO, 2012, p. 208, grifos nossos).
É importante destacar uma peculiaridade da lei penal, qual seja: quando uma pessoa, ao re-
alizar uma conduta criminosa, não contraria a lei, ou seja, a conduta não é contrária à lei, exem-
plo: artigo 121, caput do CP, matar alguém. Caio, com animus necandi (vontade de matar), fa-
zendo uso de uma arma de fogo, efetuou disparos e matou Maria. Caio, com sua conduta, não
contrariou a lei, mas contrariou a norma, o pressuposto lógico da lei, qual seja “não matarás”
(OLIVÉ et al., p. 79).
Na linguagem usual dos manuais de Direito Penal no Brasil, nem sempre é dada a devida aten-
ção ao sentido exato de tais palavras. Não raro, a lei é usada com o sentido de norma, e a nor-
ma é usada com o sentido de lei. O uso mais corrente se revela no uso de norma para se referir
à lei. Por isso, nesse material, em razão de sua finalidade, não vamos precisar sempre o que é
lei e o que é norma.
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Dito de outro modo, nas linhas abaixo, também vamos nos referir em alguns momentos à lei
com o uso do termo “norma”, buscando uma melhor comunicação com o leitor. De antemão, já
colocamos o sentido estrito de lei e norma nos parágrafos anteriores.
4.1. Anomia
O termo “anomia” significa “ausência de lei”, bem como a situação caracterizada pela exis-
tência de leis que não são cumpridas, ou seja, no segundo caso, quando ocorrem fatos que
ofendem as normas, mas não há resposta estatal.
Em síntese, a anomia corresponde a um quadro de inexistência de normas ou a um quadro
de descumprimento das normas existentes pela sociedade. Segundo Sérgio Salomão Shecaira:
Haverá anomia, compreendida como ausência ou desintegração das normas sociais, sempre que os
mecanismos institucionais reguladores do bom gerenciamento da sociedade não estiverem cum-
prindo seu papel funcional [...]. O crime, por sua vez, é um fenômeno normal de toda estrutura social
(SHECAIRA, 2004, p. 219).
Assim, segundo determinado setor da doutrina, a inflação legislativa penal provoca ano-
mia, já que muitas normas não são conhecidas da sociedade, e outras são desnecessárias,
uma vez que a solução do conflito, nesses casos, poderia ser obtida com eficácia em outros
ramos do direito. Esse quadro gera a sensação de impunidade e enfraquece o Direito Penal,
o qual deveria atuar de forma célere somente na tutela dos bens jurídicos principais.
4.2. Antinomia
A antinomia corresponde à relação de incompatibilidade entre duas normas situadas no
mesmo ordenamento jurídico, que possuam o mesmo âmbito de validade.
Na classificação de Noberto Bobbio, se as duas normas incompatíveis possuem o mesmo
âmbito de validade, pode-se falar, com apoio em Alf Ross, em antinomia total-total; se tem o
âmbito de validade em parte igual e em parte diferente, pode-se falar em antinomia parcial-
-parcial; se tem o âmbito de validade igual ao da outra, no entanto mais restrito, denomina-se
antinomia total-parcial (BOBBIO, 2014, p. 91).
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Noberto Bobbio (2014, p. 98-99) ensina que a relação de contrariedade entre essas normas
deve ser solucionada com os critérios:
• cronológico - a norma posterior revoga a anterior;
• hierárquico - chamado de Lei Superior, segundo o qual, entre duas normas incompatí-
veis, prevalece a de hierarquia superior;
• especialidade - norma especial prevalece sobre norma geral, aplica-se, portanto, a uma
situação de antinomia total-parcial, devendo ser aplicado quando os critérios anteriores
não forem suficientes, por exemplo, quando duas leis ordinárias são editadas ao mesmo
tempo, a segunda prevalece sobre a primeira.
O referido autor ainda acentua que os critérios anteriores são insuficientes quando as nor-
mas incompatíveis são contemporâneas, do mesmo nível e gerais. Nessa situação, os critérios
cronológico, hierárquico e da especialidade não resolvem a antinomia (BOBBIO, 2014, p. 98).
Importa observar que esses critérios propostos por Bobbio são compatíveis com nosso
ordenamento jurídico, seja do ponto de vista constitucional, seja sobre o enfoque da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Em todo o caso, não se pode esquecer do princípio constitucional insculpido no art. 5º
inciso XL da CRFB (irretroatividade maléfica e retroatividade benéfica) quando se tratar de
aplicação do critério cronológico às normas penais contraditórias. Esse tema será tratado com
mais detalhes no item “Sucessão de leis no tempo”.
É importante acrescentar que o tema ainda é desenvolvido dentro do estudo denominado
conflito aparente de normas descrito pela doutrina penal, quando se analisam os princípios
da especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade, os quais serão vistos adiante.
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De forma usual, a doutrina nacional classifica as normas penais em duas espécies: incrimi-
nadoras e não incriminadoras.
As normas penais incriminadoras, denominadas “normas penais em sentido estrito” ou
“completas”, são aquelas que tipificam determinadas condutas e estabelecem penas (PRADO,
2012). Em outras palavras, são as que possuem preceito primário e preceito secundário, ou,
conforme leciona Regis Prado (2012, p. 177): “prótase (hipótese legal); e apódose (consequ-
ência jurídica)”.
As normas não incriminadoras não possuem preceitos primário (conduta) e secundário
(pena). Elas constituem normas gerais do Direito Penal e se classificam em: permissivas (jus-
tificantes e exculpantes), finais, complementares ou explicativas.
Para determinado setor da doutrina, as normas permissivas são somente as excludentes
de ilicitude que autorizam, portanto, a lesão ao bem jurídico em determinadas situações, nos
termos dos arts. 23, 24 e 25 do CP. Importa alertar que, na parte especial, o legislador também
estipulou excludentes, como no art. 128, I etc.
Essa é posição de Fernando Capez (2007, p. 30), o qual, ao tratar das normas permissi-
vas, afirma que elas “tornam lícitas determinadas condutas tipificadas”. No mesmo sentido,
Luiz Flávio Gomes se refere às normas permissivas ao dizer que “são as que descrevem
uma causa de exclusão da ilicitude” (GOMES, 2003, p. 140). Esse autor tem nova opinião no
livro em parceria com o Molina, diferenciando normas permissivas (afastam a tipicidade) de
normas justificantes (afastam a ilicitude), posição diversa da doutrina brasileira. Portanto,
tais autores não consideram que os artigos que excluem a culpabilidade façam parte das
normas permissivas.
Não concordamos com a posição anterior. Tanto os artigos que excluem a ilicitude da
conduta quanto os dispositivos que afastam a culpabilidade são normas permissivas. Ou seja,
a norma exculpante do art. 22 que trata da coação moral irresistível e da obediência à ordem
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não manifestamente ilegal é permissiva. No mesmo sentido, citando os arts. 26 caput e 28 §1º,
Rogério Greco (2010, p. 24),
É possível dizer que as normas permissivas trazem exceções à obrigatoriedade de outras nor-
mas que estabelecem obrigações ou proibições. Em sentido semelhante, Regis Prado e Nober-
to Bobbio.
As normas permissivas podem ser classificadas em: justificantes – afastam a ilicitude da con-
duta (ex.: arts. 23 a 25; e 128, I); e exculpantes – afastam a culpabilidade da conduta (ex.:
arts. 26, caput, e 22).
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plo: arts. 1º, 2º e todos os demais da Parte Geral, à exceção dos que tratam das causas de
exclusão da ilicitude” (CAPEZ, 2007, p. 30).
É importante ressalvar que, na Parte Especial do Código Penal também existem normas
explicativas, conforme artigos 127 (conceito de funcionário público) e 150 § 4º (conceito de
casa).
Outra classificação das normas penais as divide em completas e incompletas. Completas
são aquelas normas incriminadoras que não necessitam de complemento no preceito primário
nem no preceito secundário.
Já as normas incompletas se classificam de duas formas: incompletas no preceito se-
cundário (normas penais remetidas ou normas penais em branco ao avesso); incompleta no
preceito primário (normas penais em branco).
Incompletas ou imperfeitas no preceito secundário são as normas que possuem a pena
remetida para outra norma (exemplos: art. 1º da Lei n. 2.889/1956; inciso II do art. 4º da Lei
n. 1579/1952; artigo 304 do Código Penal). Possuem a conduta narrada, mas não possuem a
pena na sua descrição. A sanção é prevista em outra norma que se faz referência na norma
incompleta.
Mas é possível afirmar que as normas penais em branco também são incompletas. Não
são incompletas no preceito secundário, mas no preceito primário, o qual é indeterminado e,
portanto, necessita de complementação.
As normas penais em branco podem ser homogêneas ou impróprias ou em sentido amplo
(complemento na mesma fonte legal) e heterogêneas ou próprias ou sentido estrito (comple-
mento em fonte diversa da lei).
As normas penais em branco homogêneas são complementadas por norma da mesma
fonte legislativa, ou seja, Lei que complementa Lei.
Exemplo: o artigo 237 do Código Penal é complementado pelo artigo 1521 do Código Civil.
As normas penais em branco homogênea podem ser divididas ainda em homovitelínea (com-
plemento na mesma lei) e heterovotelínea (complemento em leis diferentes).
As normas penais em branco heterogêneas são complementadas por fonte diversa da lei.
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Exemplo: Portaria 344 da ANVISA que complementa o termo “droga” dos artigos 33, 28 e
outros da Lei n. 11343/2006. Essa norma penal em branco decorre da dinâmica da sociedade,
que necessita em situações específicas de complemento normativo avindo de fonte diferente
do Congresso Nacional. Isso ocorre também em preceito da lei n. 9605/1998 (Meio Ambiente)
que é complementada, em determinados tipos penais, por Portaria do Ibama.
Vale destacar que o complemento normal de uma norma penal em branco retroage se for
benéfico e, por outro lado, não terá retroatividade se for maléfico.
Exemplo disso é Info 578 do STF, quando a Corte decidiu pela retroatividade de modifica-
ção na Portaria da Anvisa em relação ao lança perfume:
INFO 578 STF
Abolitio Criminis e Cloreto de Etila – 1 e 2
A Turma deferiu habeas corpus para declarar extinta a punibilidade de denunciado pela
suposta prática do delito de tráfico ilícito de substância entorpecente (Lei n. 6.368/1976,
art. 12) em razão de ter sido flagrado, em 18.2.98, comercializando frascos de cloreto
de etila (lança-perfume). Tratava-se de writ em que se discutia a ocorrência, ou não, de
abolitio criminis quanto ao cloreto de etila ante a edição de resolução da Agência Nacio-
nal de Vigilância Sanitária - ANVISA que, 8 dias após o haver excluído da lista de subs-
tâncias entorpecentes, novamente o incluíra em tal listagem. Inicialmente, assinalou-se
que o Brasil adota o sistema de enumeração legal das substâncias entorpecentes para a
complementação do tipo penal em branco relativo ao tráfico de entorpecentes. [...]
Em suma, assentou-se que, a partir de 7.12.2000 até 15.12.2000, o consumo, o porte
ou o tráfico da aludida substância já não seriam alcançados pela Lei de Drogas e, tendo
em conta a disposição da lei constitucional mais benéfica, que se deveria julgar extinta
a punibilidade dos agentes que praticaram quaisquer daquelas condutas antes de
7.12.2000. HC 94397/BA, rel. Min. Cezar Peluso, 9.3.2010 (HC-94397), grifos nossos.
Todavia, caso o complemento de uma norma penal em branco seja anormal, isto é, guarde
semelhança com a norma excepcional ou temporária, seja um complemento para regular uma
situação específica, temporária ou excepcional, haverá a mesma interpretação dada às nor-
mas excepcionais e temporárias, ou seja, o complemento terá ultratividade.
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Exemplo: tabela de preço para controlar a inflação, caso o comerciante venda a mercadoria
acima do preço tabelado, será julgado com base na norma da época do fato, a qual terá ultrativi-
dade. Isso vale ainda para situações específicas, como, por exemplo, complemento excepcional
(se vincula à cessação das circunstâncias) ou temporário (tem prazo de vigência no bojo) nos
casos do artigo 268 do CP, para conter o COVID-19. A pessoa que descumpre a medida especifi-
cada no complemento, responderá pelo fato. O referido complemento tem ultratividade.
Vale ainda ressaltar, que dentro de suas competências, Estados e Municípios podem com-
terpretação analógica, o brocardo in dubio pro reu e a interpretação moderna guiada pelos prin-
cípios, influenciada por uma visão neoconstitucionalista, bem como o critério de integração
É certo ainda que as construções da dogmática penal exercem grande influência na ati-
vidade de interpretação ou, pelo menos, deveriam exercer. Nessa perspectiva, são relevantes
funções da dogmática penal: função argumentativa, que possui relação com a necessidade
jurídica, tanto na tutela de bens jurídicos penais individuais quanto no cenário da proteção de
Quando se fala do modelo tradicional de interpretação, nos diferentes ramos que compõem
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• Doutrinária, a qual feita pelos juristas, por exemplo, nos manuais de Direito Penal, civil,
empresarial, constitucional etc.;
• Autêntica, que é aquela produzida pelo próprio legislador no bojo da norma legal que
fora aprovada.
Todo o modelo tradicional de classificação tem aplicação ao Direito Penal, entretanto não
abriga todos os problemas penais. A doutrina penal, dessa forma, propõe outras alternativas,
as quais devem ser conjugadas com a classificação tradicional, com a finalidade de extrair o
melhor sentido da legislação, com respeito aos princípios estruturantes, garantidores da corre-
ta aplicação do Direito Penal, vistos em outro capítulo.
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6.2. Modelo Novo
No modelo tradicional, os livros clássicos costumam falar em interpretar para extrair a res-
posta correta, como se, segundo Queiroz (2006), houvesse um único sentido possível ao texto
legal, ou seja, a tarefa compreendia a missão de extrair o espírito da lei.
Hoje, em um denominado modelo mais recente de interpretação, desvinculado da Escola
da Exegese, separado de um raciocínio unicamente silogista, observa-se, com variadas linhas
filosóficas, o uso da ferramenta axiológica e a abertura do sistema jurídico, que permitem ao
intérprete construir a solução jurídica adequada para o caso concreto, diante de várias possibi-
lidades, de várias alternativas possíveis.
Nesse novo ambiente, no âmbito do Direito Penal, diante de novas classes de bens jurídi-
cos, que exigem novos institutos jurídicos, inexistentes nos séculos XVIII e XIX, para concreti-
zar a sua aplicação, a ciência jurídico-penal se debruça para descrever proposições capazes de
solucionar as querelas jurídicas.
Diante disso, surgiram novos princípios para auxiliar os operadores do Direito Penal na
interpretação de casos concretos, conforme visto no capítulo sobre princípios penais e juris-
prudência do STF e do STJ (PDF), bem como novas técnicas de interpretação, como a interpre-
tação progressiva, a qual, segundo Molina e Luís Flávio Gomes, significa o seguinte:
Interpretação progressiva: a lei deve ser interpretada de acordo com os progressos da cultura, da
sociedade, dos recursos tecnológicos, das ciências, da medicina, da computação etc. O fundamen-
to da interpretação progressiva ou evolutiva ou adaptativa, como se vê, é o princípio dinâmico.
Também são levadas em conta as evoluções econômicas, fiscais, monetárias etc. Por exemplo: diz
o artigo 11 do Código Penal que não são computáveis na pena as frações de cruzeiro. Em razão da
mudança do padrão monetário brasileiro, hoje devemos interpretar (progressivamente) essa locu-
ção como frações de um real (que são os centavos) (GOMES; MOLINA, 2007, p. 76, grifos nossos).
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A interpretação do Direito Penal clássico seguiu o modelo quanto à fonte (doutrinária, judicial
e legal), aos meios (histórico, gramatical/literal, sistemático, teleológico) e ao resultado (decla-
rativo, extensivo, restritivo). Com os acréscimos do uso da analogia somente em favor do réu e
do princípio in dubio pro reu quando houvesse dúvida sobre as opções existentes.
6.3. Analogia
A analogia constitui um recurso de integração diante de lacuna legislativa, que se carac-
teriza pelo uso, para um caso não regulado pelo ordenamento, de norma legal que rege caso
semelhante. No Direito Penal, é possível o uso da analogia em benefício do processado, ou do
réu, como se diz na doutrina penal.
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Já decidiu o STJ:
[...] 4. O delito previsto no art. 293, § 1º, III, “b”, do Código Penal - em que incorreram os
pacientes, em razão da conduta de manter em depósito, no exercício de atividade comer-
cial, garrafas de bebida alcoólica sem o selo obrigatório do IPI - está inserido no Capítulo
II do Título X do Código Penal, que trata dos crimes contra a fé pública. Apesar disso,
observa-se que o bem jurídico tutelado por esse crime não é a fé pública. Trata-se, na
verdade, de crime praticado em detrimento apenas da ordem tributária, direcionado tão
somente ao combate à sonegação.
5. Mesmo se tratando de crime exclusivamente praticado em detrimento da ordem tributá-
ria, o delito previsto no art. 293, § 1º, III, “b”, do Código Penal não está previsto nas hipóte-
ses de extinção da punibilidade, em razão do pagamento do tributo, trazidas pelos arts. 34
da Lei n. 9.249/1995 e 9º, § 2º, da Lei n. 10.684/2003. Aliás, não poderia ser diferente, já
que o crime em apreço foi incluído no Código Penal pela Lei n. 11.035, de 22/12/2004, ou
seja, em data posterior à vigência dos dispositivos anteriormente indicados.
6. Nada obstante, não é justo tratar situações semelhantes de modo distinto sem que
exista motivo plausível para tanto. É que onde existir a mesma razão haverá o mesmo
direito (ubi eadem ratio ibi idem jus). Assim, faz-se necessária a aplicação, ao caso em
apreço, de analogia em favor do réu (in bonam partem).
7. Por um lado, quem, por suprimir ou reduzir tributo, incorre em pena prevista no art. 1º
da Lei n. 8.137/1990, mas, a qualquer tempo, paga o tributo sonegado tem sua punibi-
lidade extinta, por aplicação do art. 34 da Lei n. 9.249/1995 ou do art. 9º, § 2º, da Lei n.
10.684/2003. Precedente.
8. Por outro lado, quem, por manter em depósito, no exercício de atividade comercial,
garrafas de bebida alcoólica sem o selo obrigatório, responde pelo crime descrito no
art. 293, § 1º, III, “b”, do CP, mas, em seguida, paga o tributo que deveria ter sido reco-
lhido - como ocorreu no caso aqui analisado - também deverá ter, por interpretação ana-
lógica, sua punibilidade extinta.
9. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para declarar extinta a
punibilidade dos pacientes em relação ao delito previsto no art. 293, § 1º, III, “b”, do
Código Penal.
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(HC 414.879/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 24/05/2018,
DJe 30/05/2018, grifo nosso).
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Crime de bigamia, previsto no artigo 235 do Código Penal; aceita-se também o terceiro casa-
mento do agente ou o quarto ou quinto e assim por diante, ou seja, a lei pune casar mais de
uma vez e não somente casar duas vezes, com ofensa aos impedimentos legais; crime de
perigo de contágio, quando se aceita o próprio contágio, para efeito de tipificação da conduta,
nos termos do artigo 130 do Código Penal (GOMES; MOLINA, 2007, p. 75).
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O uso dos princípios como principal ferramenta de decisão, não somente com ponderação,
mas também o uso isolado de princípios para solucionar toda e qualquer questão que seja
decidir das Cortes Superiores no Brasil e de todos os demais órgãos do Poder Judiciário, bem
constitucional, com reflexo nos países de tradição romano-germânica. É certo que também
tucionalismo passou a constituir “um dos fenômenos mais visíveis da teorização e aplicação
do direito constitucional” (ÁVILA, 2017, p. 1). Esse período tem sido marcado pela adoção de
métodos flexíveis na hermenêutica constitucional pelo uso da ponderação, bem como pela di-
minuição das fronteiras entre o direito e a moral. Em outras palavras, a argumentação jurídica
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Desse modo, a abertura na interpretação constitucional, com o uso de princípios para so-
lucionar casos concretos, constitui um dos pontos mais relevantes da proposta neoconsti-
tucional, com ênfase no papel do intérprete, principalmente do juiz, que não se limita mais a
subsumir a lei formal ao caso concreto.
Dentre as propostas neoconstitucionais, a ponderação de princípios como técnica de solu-
ção de conflitos e também de construção de solução jurídica (CARBONELL, 2005, p. 12), tanto
no caso de existência de regras legais como no caso de inexistência de regras, abriu espaço
para um modelo de justiça do caso concreto e, com isso, ampliou o poder do Judiciário, em
detrimento das competências do Legislativo e do Executivo nas mais diversas matérias.
Portanto, não se pode negar que o uso de princípios na solução de casos concretos e o
destaque ao papel do julgador, que tem sua margem de “poder de decidir” ampliada, consti-
tuem contribuições neoconstitucionais que dialogam com a proposta funcionalista penal tele-
ológica, vista no capítulo anterior. Isso porque o funcionalismo teleológico propõe a solução de
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É comum no Direito Penal o uso do brocardo in dubio pro reo, o qual significa que, na dúvida,
deve-se decidir em favor do processado criminalmente. Tal orientação chamada por alguns de
princípios, faz-se presente, em alguns momentos, em Regimento de Tribunal (exemplo do STF,
grifos nossos):
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7. Tempo do Crime
No que diz respeito ao tempo do crime, a teoria da atividade consta no art. 4º do Código
Penal: “Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que
outro seja o momento do resultado”.
Quanto ao âmbito da Lei Penal no Tempo, trata-se de espaço no qual se analisam todas as
hipóteses que dizem respeito aos princípios penais da retroatividade benéfica e da irretroati-
vidade maléfica, as características e a ultratividade das leis temporárias e excepcionais, bem
como a sucessão de leis penais no tempo com as suas diversas situações.
8.1. Princípios
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Questão 5 (QUESTÃO INÉDITA/2020) Jorge sequestrou Ana e, quatro dias depois, exigiu
o resgate em dinheiro para a liberação da vítima. Após dois meses do sequestro, sem a libera-
ção da vítima, entrou em vigor uma lei mais grave que aumentou a pena da extorsão mediante
sequestro (art. 159 do CP). Essa lei mais grave pode ser aplicada ao presente caso? Justifique
(no máximo 5 linhas).
Sim. A lei mais grave deverá ser aplicada no caso apresentado. A extorsão mediante sequestro,
prevista no art. 159 do CP, é crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. Enquanto a
vítima não for libertada, o crime estará acontecendo. Desse modo, a lei mais grave, que surge duran-
te a consumação do crime permanente, será aplicada. Não há, se falar em retroatividade da lei mais
grave nessa situação, uma vez que o crime está acontecendo, ou seja, começou a ser praticado na
vigência da lei menos grave e continuou sendo praticado na vigência da lei mais grave. Nesse sen-
tido, o STF editou a Súmula 711: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
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A abolitio criminis significa a descriminalização de uma conduta efetuada por uma Lei,
a qual terá retroatividade benéfica. Na história não muito distante do Direito Penal brasilei-
ro, ocorreu abolitio criminis dos crimes de adultério, sedução, rapto consensual. Se já houver
condenação transitada em julgado, o juiz da execução aplicará a lei penal melhor, na forma do
artigo 66 da Lei da Execução Penal (n. 7.210/1984).
Se a lei descriminalizadora surgir na fase do inquérito policial já instaurado, os autos serão
relatados encaminhados ao Ministério Público (nos locais onde se faz a distribuição direta)
ou ao judiciário (para envio ao Ministério Público). Após a promoção de arquivamento do Mi-
nistério Público, o juiz homologará o arquivamento. Se não concordar com o arquivamento do
Ministério Público, o juiz deverá aplicar o artigo 28 do CPP.
Essa sistemática foi alterada pela Lei n. 13964/2019 (pacote anticrime), mas está com a eficá-
cia suspensa em razão de decisão do STF. É importante acompanhar.
A abolitio criminis também pode acontecer por força de decisão do STF no controle de
constitucionalidade. Veja os temas em debates no final do presente capítulo.
Após o trânsito em julgado, se surgir uma lei melhor, a sua aplicação competirá ao juiz
da execução penal, nos termos do artigo 66, inciso I, da Lei de execuções Penais (LEP n.
7.210/1984): “Art. 66. Compete ao Juiz da execução: I - aplicar aos casos julgados lei posterior
que de qualquer modo favorecer o condenado”.
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DIREITO PENAL - PARTE GERAL
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Tal contexto se apresentou, por exemplo, quando entrou em vigor a Lei n. 12015/2009, que
uniu as condutas de estupro e de atentado violento ao pudor em um único dispositivo, ou seja,
a conduta do artigo 214 foi transportada para o artigo 213, gerando aquilo que se denomina:
princípio da continuidade normativa típica. Desapareceu a rubrica atentado violento ao pudor,
no entanto, as elementares foram mantidas, não havendo abolitio criminis.
Tal modificação legislativa gerou a possibilidade, no mesmo contexto fático, de crime úni-
co nas condutas. A título de ilustração, as condutas de violência sexual caracterizadas por
sexo anal e por conjunção carnal, antes da Lei n. 12015, configuravam concurso material de
crimes porque estavam em tipos penais diferentes.
Após a mudança legislativa, se praticadas no mesmo contexto fático, as referidas condu-
tas caracterizam crime único (princípio da alternatividade do conflito aparente de normas); se
praticadas em contexto fático diverso, preenchidos os requisitos do 71 mais a unidade de de-
sígnios, configuram crime continuado; praticados em contextos e, se faltar um dos requisitos
para a continuidade delitiva, configuram concurso material de crimes.
Portanto, a mudança legislativa significou lex mitior em duas situações explicadas no pa-
rágrafo anterior.
A lex tertia constitui um tema polêmico em matéria penal, se caracteriza pela combinação
de parte (benéfica) de uma lei revogada com parte (benéfica) de uma lei em vigor, formando,
deste modo, uma terceira solução, denominada “terceira lei”, para ser aplicada em favor do réu.
Há muita discussão doutrinária sobre a possibilidade de se combinar parte benéfica de
uma lei revogada com parte benéfica de uma lei que está em vigor, afastando as partes preju-
diciais ao agente, criando assim uma terceira solução.
A primeira corrente doutrinária afirma que a combinação de leis é possível, pois visa a
atender aos princípios constitucionais da ultratividade e retroatividade benéficas. Não se pode
vedar a combinação de leis como se fosse um dogma (TOLEDO, 1994, p. 38). Isso não é cria-
ção de leis, mas combinação (GOMES, 2003, p. 176-177).
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De outro lado, contra a tese da combinação de leis, pois seria permitir ao juiz exercer fun-
ção típica do poder legislativo, legislar no sentido literal, estão Nélson Hungria, Jair Leonardo
Lopes, Paulo José da Costa Júnior.
A título de ilustração, o STF já combinou leis para prejudicar o réu quando afirmou que
prevalecia o preceito primário do art. 14 da antiga Lei n. 6368/1976 e o preceito secundário do
art. 8º da Lei n. 8072/1990.
Todavia, em sua jurisprudência, o STF resistia à tese da combinação de leis. Adotava a po-
sição de Hungria, para o qual a combinação de leis seria uma ofensa ao princípio da separação
de poderes, uma vez que o juiz estaria, esse modo, criando uma lei diferente.
Pode-se dizer que a posição antiga do STF pela impossibilidade de combinação de leis
penais, na esteira de Nelson Hungria, foi mitigada por decisões de alguns anos atrás, após a
entrada em vigor da Lei n. 11343/2006, que possibilitava combinar partes da Lei nova de dro-
gas com parte da Lei revogada (n. 6368/1976). Isso consta nos Informativos 525 e 574 do STF.
O STJ também decidiu neste sentido.
Tudo isso foi superado mais adiante com a entrada em vigor da Súmula 501 do STJ, que proibiu
a combinação das leis n. 11343 e n. 6368/1976, ou seja, afirmou-se que a lei deveria ser aplicada no
seu todo, na íntegra, sem possibilidade de combinação de parte de uma lei com parte de outra lei:
É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das
suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n.
6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.
Não se pode deixar de salientar que o STJ tem combinado, em decisões penais, parte do artigo
273 do Código Penal com o artigo 33 da Lei n. 11343/2006, ou seja, o preceito secundário do
artigo 273, com alicerce no princípio da proporcionalidade, tem sido substituído pelo preceito
secundário do artigo 33 da lei n. 11343/2006. Referido tema foi abordado no PDF e em princí-
pios penais, quando se tratou do princípio da proporcionalidade.
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A primeira corrente doutrinária afirma que a combinação de leis é possível, pois visa a atender
aos princípios constitucionais da ultratividade e retroatividade benéficas.2 Há uma alquimia,
“no mundo da realidade, alguma forma de combinação de leis pode ocorrer, sem nenhum pre-
juízo para a ordem e segurança jurídica”3. Não se trata de criação de leis, mas de combinação
(GOMES, 2003, p. 176-177). É apenas um processo de integração que busca a aplicação mais
benéfica.
De outro lado, posiciona-se outra parcela da doutrina, com a afirmação de que a combinação
de leis seria permitir ao juiz exercer função típica do poder legislativo, legislar no sentido literal
(NUCCI, 2008, p. 63).
Nucci, com apoio em Roxin, ensina que o juiz não pode combinar leis, mas escolher a mais fa-
vorável ao réu. E, se este não concordar, que apresente o recurso. Afirma o renomado autor que
a sua posição seria intermediária entre as anteriores (NUCCI, 2008, p. 63). Entretanto, a sua
posição consiste em não aceitar a combinação de leis, porque escolher a mais favorável não é
combinar, mas aplicar a previsão constitucional do art. 5º, XL, da CRFB.
O tema foi pacificado, em tese, com a edição da Súmula 501 do STJ, que proibiu a combinação
das leis n. 11343 e n. 6368/1976, ou seja, afirmou-se que a lei deve ser aplicada no seu todo, na
íntegra, sem possibilidade de combinação de parte de uma lei com parte de outra lei.
2
Nesse sentido: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 13. ed. Rio de Janeiro, Impetus, 2011, p. 115.
3
TOLEDO, Francisco Assis de. Princípios Básicos de Direito Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 38.
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8.3.4. Novatio Legis
Uma nova lei penal que tipifica uma conduta que até então não constituía crime não retro-
age, só terá aplicabilidade para os fatos cometidos a partir de sua vigência. Esse raciocínio
também é válido para lei nova prejudicial ou mais gravosa do que a anterior que, por exemplo,
introduza no ordenamento jurídico uma causa de aumento de pena para determinada conduta
criminosa.
A lei intermediária é aquela que é melhor do que a anterior e melhor do que a posterior. Des-
se modo, aplica-se ao fato cometido antes de sua vigência e ao fato cometido durante e julga-
do depois de sua vigência. A título de exemplo, para o fato cometido antes e julgado depois de
sua vigência, a lei intermediária possui extra-atividade, ou seja, retroage e exerce ultratividade
ao mesmo tempo.
Aplica-se a lei que entrou em vigor no mês de fevereiro, com previsão de pena mínima de
1 ano e máxima de 3 anos. Isso porque a tal lei possui extra-atividade, uma vez que é me-
lhor do que a anterior e melhor do que a posterior, sendo que o fato ocorreu antes dela. Há
no caso em apreço retroatividade e ultratividade benéficas da lei intermediária, uma das
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Aplica-se a lei do ano de 2018, com previsão de pena mínima de 01 ano e máxima de 03 anos.
Isso porque a lei de 2018 possui extra-atividade, uma vez que é melhor do que a anterior e
melhor do que a posterior, sendo que o fato ocorreu antes dela. Há no caso em apreço retroati-
vidade e ultratividade benéficas da lei intermediária, uma das hipóteses encontradas na suces-
são de leis. A lei intermediária de 2018 é também denominada de lei bipolar.
8.3.6. Vacatio Legis
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Mas o objeto do presente tópico é saber se uma lei penal melhor pode ser aplicada na va-
catio legis, sem aguardar a entrada em vigor da Lei. Isso porque, como regra, a lei é aplicada a
partir de sua entrada em vigor a partir de sua vigência.
Para Luís Flávio Gomes (2003), leis penais benéficas na vacatio não podem ser aplicadas
porque não possuem vigência. Rogério Greco (2008) defende a aplicação da lei benéfica na
vacatio e diz que é a posição majoritária na doutrina.
Essa também é a posição de Alberto S. Franco (2007), para quem a retroatividade benéfica
é um princípio constitucional jurídico-positivo e, portanto, não pode ser limitado pela vacatio
legis infraconstitucional do legislador ordinário. A norma do art. 1º da Lei de Introdução ao Có-
digo Civil é anterior à disposição constitucional e não pode limitar o princípio da Carta Magna.
Logo, a lei benéfica pode ser aplicada ainda na vacatio legis. Ainda exemplifica com leis hipo-
téticas que deixou de considerar o fato como criminoso e estabeleceu vacatio (FRANCO et al.,
2007, p. 67-68).
Com apoio na doutrina nacional de Paulo José da Costa Junior, Luiz Vicente Cernicchiaro,
René Ariel Dotti, Alberto Silva Franco (2007) afirma que norma favorável que for revogada na
vacatio legis terá ultratividade benéfica com relação aos fatos praticados na sua vigência. Cita
posição oposta na doutrina estrangeira de Cerezo Mir, Antônio Garcia-Pablos de Molina e ou-
tros, afirmando que seria intromissão do poder judicial nas faculdades do legislativo (FRANCO
et al., 2007, p.67-68).
Nucci (2008) discorda da posição anterior e defende que a Lei penal deve esperar a entra-
da em vigor para ser aplicada, sob pena de ofensa à segurança jurídica, uma vez que poderia
acontecer, por exemplo, a revogação de uma lei melhor no prazo da vacatio legis. Desse modo,
se ela já havia sido aplicada para determinados casos, mas ainda não aplicada para outros
semelhantes, haveria desigualdade e insegurança jurídicas.
STF e STJ já se manifestaram contra a aplicação da lei Penal na vacatio legis:
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9.1. Princípios
Territorialidade é o princípio adotado no caput do artigo 5º do Código Penal ao tratar do
âmbito de aplicação da Lei penal brasileira. O princípio foi adotado de forma temperada, relati-
vizada ou mitigada. Isso porque, conforme ressalva do próprio texto legal, o Brasil observa os
tratados internacionais que tratam, por exemplo, da imunidade diplomática.
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A embaixada estrangeira, localizada no Brasil, constitui território penal brasileiro para efeito
de incidência da Lei penal brasileira. Por isso, o motorista ou qualquer outra pessoa, sem
imunidade diplomática, que praticar crime dentro da embaixada ou fora da embaixada, nos
limites do território brasileiro, será julgado conforme a Lei penal brasileira. Não se pode es-
quecer de que a imunidade diplomática, vista no tópico acima sobre o princípio da territoria-
lidade, impede que a Lei penal brasileira seja aplicada aos crimes cometidos, pelos agentes
diplomáticos, no exercício ou fora do exercício da função. Ressalte-se que os cônsules de
outros países que trabalham no Brasil só possuem imunidade para os crimes cometidos no
exercício da função.
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No caso apresentado, não haverá a incidência da lei penal brasileira. O fato ocorreu fora do
território nacional (art. 5º, caput) e, ainda, está fora da abrangência do conceito de território
por extensão (art. 5º, § 1º).
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Territorialidade
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacio-
nal, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 1984)
§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações
e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação
dada pela Lei n. 7.209, de 1984).
Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e ae-
ronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encon-
trem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
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Lugar do crime tem importância para efeito de incidência ou não da Lei penal brasileira.
Não se trata aqui do estudo de competência, medida de jurisdição, que é abordado nos artigos
O artigo 6º do Código Penal, ao cuidar do lugar do crime, destina-se aos crimes à distância,
que são aqueles em que a ação ou a omissão ocorre em um país e o resultado, em outro. Para
resolver essa questão, adotou-se a teoria da ubiquidade, ou seja, se o crime (na fase de execu-
Adotou-se ainda a teoria mista ou da ubiquidade para explicar o lugar do crime no que diz
respeito à incidência da Lei penal brasileira. Vale destacar que o referido dispositivo diz respei-
O exaurimento é tratado por parcela da doutrina como etapa do iter criminis. Tema de estudo
do fato típico, sem relação direta com o estudo da teoria da norma. Entendemos que o exauri-
giu-o com uma pedra no Uruguai. Francisco, lesionado, correu ferido por uma distância de dez
metros e caiu no Brasil, já no Estado do Rio Grande do Sul. Socorrido por um caminhoneiro,
Francisco foi levado ao hospital mais próximo, localizado em uma pequena cidade gaúcha,
mas não sobreviveu ao ferimento, vindo a óbito dois dias após a internação. Aplica-se a lei
brasileira nessa situação? Justifique (no máximo 6 linhas).
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Aplica-se a lei brasileira com base na teoria da ubiquidade para os crimes praticados à dis-
tância, ou seja, que envolvem territórios de mais de um país. “Art. 6º Considera-se praticado o
crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se
produziu ou deveria produzir-se o resultado”.
Princípios da Extraterritorialidade:
• Defesa - (proteção real) - art. 7º, I, ‘a’, ‘b’ e ‘c’, do CP. Tem em vista a nacionalidade da
pessoa titular do bem jurídico lesado e a necessidade de os Estados reprimirem as con-
dutas que atentam contra seus interesses primordiais;
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• Representação (pavilhão ou bandeira) - art. 7º, II, ‘c’, do CP. Atribui ao Estado no qual está
registrada a embarcação ou a aeronave o poder de submeter à sua jurisdição os crimes
nestes praticados, de forma subsidiária, ou seja, desde que o país onde a embarcação
estava ancorada não se interesse pela aplicação da lei;
• Personalidade (nacionalidade) - art.7º, I, ‘d’; II, ‘b’ e §3º, do CP. Atribui aos Estados o po-
der de sujeitar os seus nacionais, que pratiquem crimes no estrangeiro, ou aqueles que
praticarem crimes contra os seus nacionais no estrangeiro;
• Justiça Universal (cosmopolita, universalidade) - art. 7º, II, ‘a’, do CP. Representa a puni-
ção pela prática de crimes, cuja repressão interessa a todos os países.
Ressalta-se que o art. 2º da Lei n. 9.455/1997 prevê aplicação incondicionada da lei brasileira
se a vítima de crime de tortura é brasileira ou se o delito é praticado em local sujeito à jurisdi-
ção brasileira.
Crimes praticados no estrangeiro que o Brasil se obrigou a reprimir por força de tratado ou
convenção são de competência da Justiça Federal, conforme já decidiu O STJ:
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atenua a pena imposta no Brasil, se for pena de natureza diversa; será computada na pena a
civis);
parágrafo único, ‘a’, do CP). Na segunda hipótese ‘b’, para aplicação de medida de segu-
rança, depende da existência de tratado de extradição com o país respectivo ou, se não
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Crime cometido em embaixada brasileira está sujeito à incidência da lei penal brasileira (Extra-
dição 579-1, STF).
Falsa identidade
Art. 307.
Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio,
ou para causar dano a outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais
grave.
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Exemplo: o ato de matar passando antes pelas lesões cortando partes da vítima estando ela ainda
viva. O agente responde por um único crime de homicídio, embora qualificado pela crueldade.
Ainda se pode falar em consunção na progressão criminosa, isto é, quando o agente atua
com mais de um desígnio no mesmo contexto fático (caso de substituição do dolo). Ocorre,
a título de ilustração, quando o agente, desejando lesionar a vítima, corta as suas pernas. En-
tretanto, no mesmo instante, muda de ideia e resolve matar o ofendido efetuando um disparo
fatal contra a sua cabeça. Com suporte na consunção, o agente responde por um único crime
de homicídio. Se os atos citados fossem praticados em contextos fáticos diversos (exemplo:
um ano após lesionar a vítima, o agente a matou), haveria concurso de crimes.
Fala-se também em consunção no ante factum impunível:
Exemplo: o agente pratica toques corporais antes de praticar a conjunção carnal contra a
vítima. Os referidos toques devem estar na mesma linha de desdobramento, de modo a não
configurarem delito autônomo.
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No post factum impunível (ex.: quem furta e destrói a coisa subtraída responde somente
por furto). Há discussão com relação à conduta de quem furta e vende a coisa, se respon-
derá por furto ou por furto e estelionato. Prevalece que a venda, nesse caso, é post factum
impunível, e o agente responde somente por furto etc. (GOMES, 2003, p. 198), desde que não
tenha, no ato da venda, cometido um novo crime. Se após furtar o objeto, o agente engana
uma determinada vítima, no momento da venda da res furtiva, ao afirmar que se tratava de
produto lícito, que tinha a nota fiscal de compra, haverá concurso de crimes entre o furto e o
estelionato.
Por fim, com base no princípio da alternatividade, a prática, no mesmo contexto fático,
nos crimes de conteúdo múltiplo ou variado (exemplos: art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006,
art. 213, caput, do CP), se o agente pratica mais de um verbo, implicará a responsabilidade por
um único crime. Nesse caso, deverá o juiz majorar a pena base (art. 59 do CP), em razão de o
agente ter incidido em mais de um verbo no mesmo contexto fático.
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Pode-se concluir, apesar da posição do STF, que o uso da medida provisória em matéria pe-
nal, com ou sem conteúdo benéfico, contraria o art. 62 da CRFB e viola a prerrogativa do Poder
Efeitos
Divergência na doutrina. A primeira corrente entende que lei Benigna, declarada inconstitu-
cional pelo STF, continua regulando os fatos perpetrados durante a sua vigência. É a opinião de
Por outro lado, segundo Nucci, se o STF declarar inconstitucional uma norma penal bené-
fica, o efeito deve ser ex nunc, “sob pena de gerar prejuízos incalculáveis à segurança jurídica
e ao indivíduo, que culpa não teve quando o Estado gerou uma norma em desacordo com a
nalidade, que permite ao STF decidir sobre o momento dos efeitos decorrentes da declaração
de inconstitucionalidade: modular os efeitos, inclusive em matéria penal.
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Essa foi a solução em parte, após o julgamento do STF no HC 82.959/SP, de fevereiro de 2006,
que declarou a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado. O julgado referiu-se a
um caso concreto.
Quando surgiu a Lei n. 11.464, em 29 de março de 2007, com o estabelecimento de progres-
são para o crime hediondo e equiparado, após 2/5 de cumprimento de pena para o primário e
3/5 para o reincidente, sem dispensar o bom comportamento, divergências surgiram sobre os
fatos praticados antes da lei, se deveriam ser regulados com a nova lei ou com o critério dos
crimes comuns estabelecido no art. 112 da LEP, qual seja: 1/6 mais bom comportamento.
Em seguida, ainda no ano de 2007, em julgados de casos concretos, o STF (HC 91.631/SP) e o
STJ (HC 83.799) afastaram as contradições sobre o tema, delimitando-o na forma seguinte: crime
hediondo ou equiparado praticado (data do fato) antes de 29/03/07, progressão com 1/6 mais o re-
quisito do bom comportamento; crime hediondo ou equiparado perpetrado a partir de 29/03/07, pro-
gressão com 2/5 (primário) e 3/5 (reincidente), mais o requisito subjetivo do bom comportamento.
É certo dizer que a decisão do STF, proferida no HC 82.959, no caso concreto, mesmo sem
resolução do Senado, gerou retroatividade benéfica e ultratividade benéfica, consagrada na
Súmula Vinculante 26:
Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o ju-
ízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990,
sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do bene-
fício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
Essa foi a solução em parte após o julgamento do HC 82959/SP, de fevereiro de 2006, pelo
STF, que declarou a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado. O julgado referiu-
-se a um caso concreto e, posteriormente, foi objeto da súmula vinculante 26.
De todo modo, parece que admitir de forma genérica essa possibilidade de retroatividade
da jurisprudência modificada para melhor pode significar insegurança jurídica e paralisação do
desenvolvimento da própria jurisprudência. Ademais, o agente que pratica um fato criminoso
sabe que a interpretação jurídica pode ser alterada durante o desenrolar do proce-
dimento, para melhor ou para pior. O tema, portanto, deve ser tratado dentro do controle de
constitucionalidade com a possibilidade de modulação de efeitos pelo STF.
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Sim, há diferença. O complemento anormal da norma penal em branco heterogênea, por es-
tar vinculado a circunstâncias excepcionais, possuirá ultratividade na forma do art. 3º do CP,
o qual cuida das leis temporárias e excepcionais (ex.: tabelas de preços). Enquanto o comple-
mento normal, por não se vincular a circunstâncias excepcionais, segue o art. 5º, XL, da CRFB
de 1988, possuindo retroatividade benéfica e irretroatividade maléfica (ex.: especificação de
drogas proibidas em portaria da Anvisa).
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(HC 73.168, Relator(a): Min. Moreira Alves, Primeira Turma, julgado em 21/11/1995, DJ
15-03-1996 PP-07204 EMENT VOL-01820-02 PP-00316)
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QUESTÕES DE CONCURSO
Questão 1 (MP-SP/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2019) Assinale a alternativa correta.
a) Otelo e Rinaldo foram denunciados e pronunciados pela prática de homicídio. Otelo como
autor da conduta e Rinaldo como partícipe. Se o Conselho de sentença decidir que Otelo, agen-
te denunciado e pronunciado como autor do crime de homicídio, não praticou a conduta des-
crita no tipo, “matar alguém”, ainda assim poderá decidir pela condenação de Rinaldo, partícipe
que permaneceu “vigia”, dando cobertura ao autor Otelo, pois, em relação ao concurso de pes-
soas, aplica-se a teoria da acessoriedade limitada.
b) O juiz, na sentença condenatória, ao verificar evidenciada a hipossuficiência econômica do
condenado e a inviabilidade de suportar o pagamento da pena de multa prevista no preceito
secundário do tipo, ainda que aplicada em seu mínimo legal, pode excluir a sua aplicação e
isentar o condenado do seu pagamento.
c) Na sucessão de leis penais no tempo, deve ser aplicada a lei mais favorável ao réu, seja a lei
contemporânea à prática da infração penal, seja a vigente na data da sentença.
d) O arrependimento posterior, como causa de diminuição de pena entre determinados limites,
tem como pressuposto para seu reconhecimento que o crime seja patrimonial, para atender ao
requisito da reparação do dano ou da restituição da coisa.
e) No crime de injúria cometido contra funcionário público, em razão de suas funções, é admi-
tida a exceção da verdade.
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do substância que causava a perda dos sentidos. Após Gabriela beber e dormir, sob efeito da
substância, enquanto passavam pela BR-101, no Rio de Janeiro, Tício passou a desferir golpes
com a faca no peito da jovem. Quando chegou ao destino, Tício se entregou para polícia, e Ga-
briela, embora tenha sido socorrida, veio a óbito ao chegar ao Hospital.
O crime descrito no texto foi praticado, de acordo com a lei penal, no momento
a) da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Trata-se, portanto, do
momento em que Tício desferiu os golpes em Gabriela.
b) em que o agente se prepara para a promoção da conduta criminosa. Ou seja, trata-se do mo-
mento em que Tício planejou e adquiriu as ferramentas necessárias ao cometimento do crime.
c) em que a autoridade policial toma conhecimento do crime. Ou seja, quando Tício se entre-
gou para a polícia.
d) em que é alcançada a consumação do crime. Trata-se, portanto, do momento da morte de
Gabriela, que ocorreu no hospital.
e) da ação ou omissão, se este for concomitante ao resultado. Não sendo possível determiná-
-lo, no presente caso, em razão da separação temporal entre a conduta e o resultado.
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d) A aplicação da lei penal estrangeira ao crime ocorrido no território brasileiro é vedada pelo
princípio da soberania.
e) Por se tratar de crime formal, à extorsão mediante sequestro, iniciada na égide da lei penal
mais branda, não se aplica a lei penal mais grave, ainda que a restrição da liberdade da vítima
perdure após a alteração legislativa que agrave a pena do referido crime.
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b) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes praticados por
brasileiro, mesmo que o fato não seja punível também no país em que foi praticado;
c) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra o patri-
mônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
Público;
d) para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações
e aeronaves brasileiras, de natureza privada onde quer que se encontrem, bem como as aero-
naves e as embarcações brasileiras mercantes, que se achem, respectivamente, no espaço
aéreo correspondente ou em alto-mar;
e) é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações es-
trangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em
voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou em alto-mar.
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c) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Ubiqui-
dade para definir o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;
d) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da
Atividade para definir o momento do crime e apenas a Teoria do Resultado para definir o lugar;
e) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resul-
tado para definir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar.
existentes.
c) utiliza, na modalidade jurídica, preceitos legais existentes para solucionar hipóteses não
previstas em lei.
e) é uma fonte formal mediata, tal como o costume e os princípios gerais do direito.
dade e extraterritorialidade da lei penal, conforme previstos no CP, assinale a opção correta.
a) Nos crimes tentados, o lugar do crime será onde o agente pretendia que tivesse ocorrido a
consumação do delito.
b) Nos crimes conexos, não se aplica a teoria da ubiquidade, devendo cada crime ser julgado
c) No concurso de pessoas, o lugar do crime será somente aquele em que ocorrerem os atos
d) No crime continuado, somente será aplicada a lei nacional quando todos os fatos constitu-
tivos tiverem sido praticados em território brasileiro, por se tratar de delito unitário.
e) Nos crimes complexos, não se aplica a teoria da ubiquidade, mesmo que o delito-meio tenha
sido cometido em território brasileiro.
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Questão 25 (TER-RJ/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) “João da Silva atira contra ‘X’ no dia 29/5,
tendo ‘X’ falecido 20 dias depois”. Sobre o tempo do crime, o Código Penal adota a teoria:
a) Ubiquidade.
b) Da atividade.
c) Do resultado.
d) Ambivalência.
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e) É isento de pena o agente que pratica crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, desde
que, voluntariamente, repare o dano ou restitua a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa.
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e) Se vigorava lei mais benéfica, depois substituída por lei mais grave, hoje vigente, é a lei mais
grave que será aplicada ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência foi
iniciada antes da cessação da continuidade.
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b) A lei penal mais benéfica retroagirá se favorecer o agente, aplicando-se a fatos anteriores,
respeitados os fatos já decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
c) Considere que Pedrosa, brasileiro de trinta e quatro anos de idade, juntamente com mexica-
nos, tenha tentado sequestrar, na cidade Uruguaiana de Rivera, o presidente do Brasil, quando
este participava de uma convenção internacional, e que, presos ainda no Uruguai, todos te-
nham sido processados e absolvidos no estrangeiro por insuficiência de provas. Nessa situa-
ção, dado o princípio da justiça universal, Pedrosa não poderá ser punido de acordo com a lei
brasileira.
d) Suponha que João, brasileiro de vinte e dois anos de idade, sequestre Maria, brasileira de
vinte e quatro anos de idade, nas dependências do aeroporto internacional da cidade do Rio
de Janeiro/RJ, levando-a, imediatamente, em aeronave alemã, para o Paraguai. A esse caso
aplica-se a lei penal brasileira, sendo irrelevante eventual processamento criminal pela justiça
paraguaia.
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Questão 42 (DF/JUIZ/2016) Com relação à aplicação da lei penal, assinale a opção correta.
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a) As frações de dia são computadas como um dia integral de pena nas penas privativas de
liberdade e nas restritivas de direitos.
b) O Direito Penal, quanto ao tempo do crime, considera praticado o crime no momento
do seu resultado.
c) A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz as mesmas conse-
quências, poderá ser homologada no Brasil para todos os efeitos, exceto para obrigar o
condenado à reparação do dano.
d) Ficam sujeitos à lei brasileira os crimes contra o patrimônio ou a fé pública do DF, de
estado, de município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo poder público, embora cometidos no estrangeiro, sendo o agente
punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido no estrangeiro.
e) Não é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embar-
cações estrangeiras de propriedade privada, ainda que achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil.
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III – A lei, em sentido estrito, é a fonte normativa primeira do Direito Penal, mas não é a única,
exceto quando se cuidar, especificamente, de norma penal explicativa.
IV – Considerando que o CP, quanto ao tempo do crime, adota a teoria da ação ou atividade
(art. 4º). No caso dos crimes permanentes, o tempo do crime será todo o tempo de duração
da conduta, passando a se contar o prazo prescricional a partir do primeiro ato de execução.
V – Quanto à aplicação da lei penal, o CP adota o princípio da territorialidade extremada, que se
justifica, dentre outros pelos princípios real (o da defesa), da nacionalidade e da personalidade.
a) Um.
b) Dois.
c) Três.
d) Quatro.
e) Cinco.
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GABARITO
1. c 17. d 33. b
2. a 18. C 34. a
3. b 19. a 35. d
4. b 20. a 36. b
5. e 21. b 37. e
6. b 22. b 38. d
7. C 23. c 39. a
8. b 24. e 40. a
9. a 25. b 41. b
10. a 26. e 42. d
11. C 27. c 43. c
12. d 28. a 44. c
13. b 29. c 45. b
14. e 30. a 46. d
15. c 31. e
16. a 32. e
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GABARITO COMENTADO
Questão 1 (MP-SP/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2019) Assinale a alternativa correta.
a) Otelo e Rinaldo foram denunciados e pronunciados pela prática de homicídio. Otelo como
autor da conduta e Rinaldo como partícipe. Se o Conselho de sentença decidir que Otelo, agen-
te denunciado e pronunciado como autor do crime de homicídio, não praticou a conduta des-
crita no tipo, “matar alguém”, ainda assim poderá decidir pela condenação de Rinaldo, partícipe
que permaneceu “vigia”, dando cobertura ao autor Otelo, pois, em relação ao concurso de pes-
soas, aplica-se a teoria da acessoriedade limitada.
b) O juiz, na sentença condenatória, ao verificar evidenciada a hipossuficiência econômica do
condenado e a inviabilidade de suportar o pagamento da pena de multa prevista no preceito
secundário do tipo, ainda que aplicada em seu mínimo legal, pode excluir a sua aplicação e
isentar o condenado do seu pagamento.
c) Na sucessão de leis penais no tempo, deve ser aplicada a lei mais favorável ao réu, seja a lei
contemporânea à prática da infração penal, seja a vigente na data da sentença.
d) O arrependimento posterior, como causa de diminuição de pena entre determinados limites,
tem como pressuposto para seu reconhecimento que o crime seja patrimonial, para atender ao
requisito da reparação do dano ou da restituição da coisa.
e) No crime de injúria cometido contra funcionário público, em razão de suas funções, é admi-
tida a exceção da verdade.
Letra c.
Na sucessão de leis penais no tempo, quando são aplicados o art. 5º LX da CRFB e o
art. 2º do Código Penal, depreende-se que lei benéfica retroage para alcançar fatos pas-
sados e, ainda, possui ultratividade para atingir os fatos praticados durante sua vigência.
Ou seja, a revogação de uma lei penal benéfica não impede a sua aplicação aos fatos
anteriores à sua existência e aos fatos praticados, durante a sua vigência, mas julgados
depois, quando a lei já estava revogada.
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Letra a.
Conforme visto acima, quanto ao tempo do crime, a teoria da atividade consta no art. 4º do
CP: “Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado”. A questão não traz pergunta sobre competência, medida de
jurisdição, regulada pelo CPP, mas indaga sobre tempo do crime, regulado pelo Código Penal.
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Letra b.
A questão considerou como correta a letra b), uma vez que, considerando que a falsificação da
moeda brasileira ocorreu na Argentina, cuida-se de hipótese de extraterritorialidade incondicio-
nada prevista no artigo 7º I, alínea b, do Código Penal (grifo nosso).
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei
n. 7.209, de 1984).
I – Os crimes: (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (Incluído pela Lei n. 7.209, de 1984)
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Mu-
nicípio, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
Poder Público”.
É importante acrescentar que, embora a questão não tenha apresentado item neste sentido,
considerando que o agente ingressou com a moeda falsificada no território brasileiro, ele incor-
reu na conduta (importar) descrita no §1º do artigo 289 do Código Penal (grifo nosso):
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Desse modo, considerando a conduta de importar e não a de falsificar, o problema penal pode-
ria ser resolvido com o princípio da territorialidade se houvesse somente a conduta de impor-
tar. Por outro lado, é certo que a conduta de falsificar prevalece sobre as posteriores no mesmo
contexto fático. Dito de outro modo, quem falsifica e importa responde pelo falso. Como a
questão narrou que foi o próprio agente quem falsificou, ele responde pelo falso.
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Letra b.
A lei penal benéfica exerce ultratividade em relação aos fatos cometidos durante a sua vigên-
cia, mesmo depois de revogada, bem como apresenta retroatividade em relação aos fatos
anteriores à sua vigência.
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Teoria da Norma e Lei Penal no Tempo e no Espaço
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Letra e.
A única assertiva que poderia gerar dificuldade é a primeira, dada como falsa. A segunda as-
sertiva é falsa porque, por exemplo, admite-se analogia em favor do réu no processo de inte-
gração da norma penal. A terceira assertiva é verdadeira porque, a título ilustrativo, admite-se
interpretação extensiva em matéria penal. A quarta assertiva é falsa porque a norma penal em
branco própria é a heterogênea, denominada ainda de norma penal em branco em sentido es-
trito. A norma penal em branco homogênea é apelidada de imprópria ou impropriamente dita,
em sentido amplo.
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e) Por se tratar de crime formal, à extorsão mediante sequestro, iniciada na égide da lei penal
mais branda, não se aplica a lei penal mais grave, ainda que a restrição da liberdade da vítima
perdure após a alteração legislativa que agrave a pena do referido crime.
Letra b.
A lei intermediária (bipolar) possibilita a extra-atividade da lei penal. Consiste em uma lei me-
nos gravosa do que a lei anterior e, também, menos gravosa do que a lei posterior que lhe su-
cedeu. Exemplo: para o fato X, havia uma lei 01 com pena de 05 anos, que foi substituída pela
lei 02 com pena de 02 anos, que, por sua vez, foi substituída pela lei 3 com pena de 06 anos.
Se o fato X, cometido na vigência da lei 1, for julgado na vigência da lei 3, aplicar-se-á a lei 2 (in-
termediária) por ser a menos gravosa e que possuirá retroatividade e ultratividade benéficas.
a) Errada. O Brasil adotou, no tocante ao âmbito espacial de aplicação da lei penal, o princípio
da territorialidade temperada, conforme art. 5º caput do CP. Estabeleceu de forma expressa
o respeito à imunidade diplomática, que integra um conjunto de prerrogativas para o bom de-
sempenho da função. A imunidade alcança os diplomatas para os fatos praticados dentro e
fora do exercício funcional. Quanto aos cônsules, a imunidade vale somente para os fatos pra-
ticados no exercício da função.
c) Errada. O art. 28 da Lei n. 11.343/2006, porte de entorpecentes para uso próprio, que substi-
tuiu o antigo art. 16 da Lei n. 6368/1976, trouxe despenalização e não descriminalização (vide
comentário à questão 01 do 27º concurso do MPDFT). Apesar de não possuir a pena privativa de
liberdade no preceito secundário, possui natureza jurídica de crime. Nesse sentido, decidiu o STF
no INFO 456 (STF - RE 430105 QO/RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 13.2.2007)
d) Errada. O princípio da soberania, pelo fato de não ser absoluto, não é violado com a possibi-
lidade de incidência para alguns casos de lei penal estrangeira para fatos cometidos dentro do
Brasil (ex.: casos de imunidade diplomática; casos de crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de natureza pública ou a serviço de governo estrangeiro, achan-
do-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente,
e estas em porto ou mar territorial do Brasil).
e) Errada. A extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP) é crime permanente e, nos termos
da súmula 711 do STF, “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime per-
manente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
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Certo.
A assertiva é verdadeira porque repete o conteúdo do artigo 6º do Código Penal, o qual ao
tratar dos crimes à distância, adotou a teoria da ubiquidade, ou seja, se o crime (na fase de
execução ou de consumação) tocar o território nacional, aplica-se a Lei penal brasileira.
Letra b.
Conforme visto no texto acima, a lei temporária, regulada pelo artigo 3º do Código Penal,
é aquela que regula situação específica e que possui prazo de vigência no seu bojo, no seu
texto. Difere da lei excepcional, a qual também regula situação específica, mas se vincula à
cessação das circunstâncias excepcionais, como condição para perder a sua vigência. Ambas
as leis possuem ultratividade. Essa ultratividade, que garante a sua eficácia, pode ser afastada
de forma expressa por uma lei posterior, mas isso não é comum, constitui apenas uma possi-
bilidade dogmática.
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Letra a.
A assertiva, conforme já dito no comentário de outra questão, o artigo 6º do Código Penal,
ao tratar dos crimes à distância, adotou a teoria da ubiquidade, ou seja, se o crime (na fase de
execução ou de consumação) tocar o território nacional, aplica-se a Lei penal brasileira. Ado-
tou-se a teoria mista ou da ubiquidade para explicar o lugar do crime no que diz respeito à inci-
dência da Lei penal brasileira. Vale destacar que a letra d) contém um não depois da expressão
grave, ou seja, inverteu o conteúdo exarado na súmula 711 do STF, por isso está errada.
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Essa questão requer, na metade de sua resposta, 50% de conteúdo da teoria da norma, os quais
eram suficientes para acertar o item, ou seja, a letra a). Nos artigos 4º e 6º, respectivamente,
o legislador adotou a teoria da atividade, para explicar o tempo do crime, e a teoria da ubiquida-
de ou mista para explicar o lugar do crime. A teoria monista foi adotada no artigo 29 do Código
Penal de forma temperada, uma vez que há exceções à teoria monista no Código Penal. Leia
o PDF do GRAN sobre concurso de pessoas que eu escrevi. Quanto ao concurso de crimes,
a exposição de motivos da reforma penal de 1984, concretizada pela Lei n. 7.209, menciona
a teoria objetiva. Não se pode esquecer de que a exposição de motivos tem apenas natureza
doutrinária, não constitui norma descritiva. Isso deve ser enfatizado porque, em matéria de
concurso de crimes, o STJ adota a teoria objetivo-subjetiva. Este é um tema para ser tratado
quando há abordagem do concurso de crimes.
Certo.
A questão traz uma assertiva que não caracteriza abolito criminis, mas apresenta o princípio da
continuidade normativa típica. Isso ocorre quando um tipo penal é revogado, porém a conduta
narrada é transportada para outro tipo. Foi o que ocorreu, por exemplo, quando entrou em vigor
a Lei n. 12015/2009, que revogou a norma do atentado violento ao pudor, entretanto não houve
abolitio criminis, uma vez que a conduta foi transportada para o tipo que trata do estupro.
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Letra d.
O tema foi tratado em tópico desenvolvido acima, ou seja, a Convenção Americana sobre Direi-
tos Humanos dispõe no seu artigo 9º (grifo nosso):
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Cuida-se de interpretação autêntica, ou seja, aquela que é realizada pelo próprio legislador, que
não se confunde com a interpretação judicial nem com a interpretação doutrinária.
Letra e.
Questão mal elaborada. Só foi colocada aqui para ser criticada e para possibilitar a correta ex-
plicação do tema. Ou seja, só é possível dupla condenação em hipótese de extraterritorialidade
incondicionada. Não cabe tal medida na extraterritorialidade condicionada.
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Letra c.
A assertiva está correta, conforme redação ao artigo 7º, inciso I, alínea b, do Código Penal, que
trata da extraterritorialidade da Lei Penal brasileira. Veja ainda, para complementar o estudo,
o comentário à questão 41 sobre esse tema.
Letra a.
Cuida-se de hipótese que deve ser solucionada com o artigo 3º do Código Penal: “Art. 3º - A
lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”.
Portanto, considerando que Caio cometeu o crime na vigência de lei temporária, sendo julgado
com base na referida lei, deverá cumprir a pena prevista na referida lei.
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Letra d.
Apenas a assertiva III está errada, uma vez que a lei penal melhor pode ser aplicada mesmo
depois do trânsito em julgado. Nesse caso, a aplicação compete ao juiz da execução penal,
nos termos do artigo 66, inciso I, da Lei de execuções Penais (LEP n. 7.210/1984): “Art. 66.
Compete ao Juiz da execução: I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer
modo favorecer o condenado”.
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Tratando-se de crimes permanentes, aplica-se a lei penal mais grave se esta tiver vigência
Certo.
A assertiva é verdadeira. O tema é tratado na súmula 711 do Supremo Tribunal Federal, que
publicada em 13 de outubro de 2003: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado
manência”.
da em 03.01.2000, realiza disparos de arma de fogo contra Ana, sua inimiga, em Santa Luzia
do Norte, mas terceiros que presenciaram os fatos socorrem Ana e a levam para o hospital
em Maceió. Após três dias internada, Ana vem a falecer, ainda no hospital, em virtude exclu-
sivamente das lesões causadas pelos disparos de Jéssica. Com base na situação narrada,
a) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da
Atividade para definir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar;
b) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resul-
tado para definir o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;
c) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Ubiqui-
dade para definir o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;
d) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da
Atividade para definir o momento do crime e apenas a Teoria do Resultado para definir o lugar;
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e) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resul-
tado para definir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar.
Letra a.
A resposta se encontra no artigo 4º do Código Penal que adota, quanto ao tempo do crime,
a teoria da atividade, ou seja, considera praticado o crime no momento da ação ou da omis-
são, ainda que outro seja o momento do resultado. Jéssica, portanto, será representada por
ato infracional, semelhante ao crime de homicídio, nos termos do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Poderá receber, como uma das medidas lá previstas, a internação. A medida de
internação não pode ultrapassar 3 anos, sendo a liberação obrigatória aos 21 anos de idade,
conforme artigo 121 da Lei n. 8069/1990 (grifos nossos):
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade,
salvo expressa determinação judicial em contrário.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante
decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, coloca-
do em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.
Letra a.
Conforme acentuado no texto acima, a analogia constitui uma forma de integração da
norma, consiste no uso, para uma hipótese fática não regulada pelo ordenamento jurídico,
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de uma norma legal que rege caso semelhante. É permitida no Direito Penal somente em
favor do réu.
Letra b.
Questão muito interessante para complementar os estudos. Em respeito ao princípio da terri-
torialidade, adotado como regra, em respeito à ideia de soberania, a lei do país no qual foi prati-
cado do crime será aplicada, sendo este o lugar do crime. Desse modo, se são crimes conexos
cometidos em países distintos, cada país tem autonomia para julgar o fato cometido em seu
território. Todavia, o item não foi bem elaborado porque, na verdade, a teoria da ubiquidade não
é afastada, porque se trata de crime cometido em outro país e não de crime iniciado em um e
terminado em outro território.
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Letra b.
A lei penal melhor gera retroatividade, para os fatos anteriores à sua vigência e ultratividade,
para os fatos posteriores à sua vigência. É certo ainda que a lei penal melhor, quando figurar
como lei intermediária, poderá retroagir e ultra-agir ao mesmo tempo, exercendo a extra-ativi-
dade. Isso ocorrerá para o fato praticado antes de sua vigência e julgado depois de sua vigên-
cia, quando a lei já estiver revogada por outra lei, que seja mais gravosa.
Letra c.
Questão muito peculiar que trouxe um tema não tão cobrado nas questões de concursos.
É certo que o sentido de ato obsceno deve ser depreendido da experiência social, da forma
como a referida conduta é conhecida socialmente, exemplos: baixar a caça e urinar em praça
pública; baixar a caça e defecar na rua etc. Ou mesmo como já foi cobrado em uma prova do
MPDFT de 2016, praticar sexo em casa com parede de vidro transparente que possibilite às
pessoas da rua enxergarem o episódio.
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Letra e.
As leis temporárias e excepcionais possuem ultratividade, conforme visto no desenvolvimento
do capítulo. Segundo narra o artigo 3º do Código Penal, “a lei excepcional ou temporária, em-
bora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram,
aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”.
Questão 25 (TER-RJ/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) “João da Silva atira contra ‘X’ no dia 29/5,
tendo ‘X’ falecido 20 dias depois”. Sobre o tempo do crime, o Código Penal adota a teoria:
a) Ubiquidade.
b) Da atividade.
c) Do resultado.
d) Ambivalência.
Letra b.
Conforme visto acima, quanto ao tempo do crime, a teoria da atividade foi adotada pelo Códi-
go Penal, conforme redação do art. 4º do CP: “Considera-se praticado o crime no momento da
ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”.
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Letra e.
Conforme visto acima, no rol da interpretação penal quanto ao meio, destacam-se a interpre-
tação: teleológica, histórica, sistemática, literal. A interpretação teleológica busca alcançar a
finalidade da norma.
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O conceito de crime à distância dado na letra c) está correto. O tema faz parte do alcance da
norma do artigo 6º do Código Penal, que se aplica aos crimes à distância, quando se adotou a
teoria mista ou da ubiquidade.
Letra a.
Se a lei posterior afastar o caráter criminógeno do fato, constituirá uma abolitio criminis,
significará uma descriminalização da conduta, retroagirá, independentemente do trânsito em
julgado de condenações. O artigo 66 da Lei n. 7210/1984 (LEP) diz que o juiz da execução
aplicará abolitio criminis se já houver trânsito em julgado. Nesse caso, desaparecerão todos
os efeitos penais da sentença condenatória, porque se cuida de abolitio criminis, o fato deixa
de ser crime.
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b) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória;
c) A lei excepcional ou temporária, se decorrido o período de sua duração ou cessadas as cir-
cunstâncias que a determinaram, não retroage ao fato praticado durante sua vigência;
d) Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado;
e) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Letra c.
A lei temporária ou excepcional se aplica ao fato cometido durante sua vigência, mesmo de-
pois de sua validade. Isso porque tais normas possuem ultratividade penal, nos termos do
artigo 3º do Código Penal.
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d) A lei brasileira é aplicável, por força do princípio do pavilhão, ao crime praticado a bordo de
embarcação mercante brasileira, quando em território estrangeiro e aí não seja julgado, falan-
do a doutrina, nesse caso, de aplicação extraterritorial condicionada.
Letra a.
Somente a letra a) trouxe assertiva falsa, enquanto as demais letras trouxeram informações
verdadeiras. A alternativa tratou como extraterritorialidade incondicionada a incidência do prin-
cípio cosmopolita ou da justiça universal, aplicada aos crimes que o Brasil se obrigou a reprimir
em virtude de tratado ou convenção. Essa hipótese se caracteriza como extraterritorialidade
condicionada, na forma do artigo 7º, II, a, do Código Penal.
Letra e.
O tema é tratado na súmula 711 do Supremo Tribunal Federal, que publicada em 13 de outubro
de 2003: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
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Letra e.
Somente a letra e) trouxe uma assertiva falsa, uma vez que o crime é praticado, segundo o
artigo 4º do Código Penal, no momento da ação ou da omissão, ou seja, adotou-se a teoria da
atividade.
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Letra b.
A embaixada estrangeira, localizada no Brasil, constitui território penal brasileiro para efeito de
incidência da Lei penal brasileira. Por isso, o motorista ou qualquer outra pessoa, sem imuni-
dade diplomática, que praticar crime dentro da embaixada ou fora da embaixada, nos limites
do território brasileiro, será julgado conforme a Lei penal brasileira. Não se pode esquecer de
que a imunidade diplomática, visto no tópico acima sobre o princípio da territorialidade, impe-
de que a Lei penal brasileira seja aplicada aos crimes cometidos, pelos agentes diplomáticos,
no exercício ou fora do exercício da função. Ressalte-se que os cônsules de outros países que
trabalham no Brasil só possuem imunidade para os crimes cometidos no exercício da função.
Letra a.
Conforme já explicado no texto e em outras questões anteriores, as leis temporárias e excep-
cionais possuem ultratividade, ou seja, são aplicadas aos fatos cometidos durante a sua vigên-
cia mesmo depois que elas deixam de existir, conforme redação do artigo 3º do Código Penal.
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Letra d.
Essa foi uma questão complexa. O princípio da consunção constitui um dos quatro princí-
pios que atuam na solução do conflito aparente de normas (especialidade, subsidiariedade,
consunção, alternatividade). O princípio da consunção se aplica a um contexto fático no qual
seja possível identificar crime-meio e crime-fim, parte e todo, minus e plus, crime consumado
que absorve tentado, progressão criminosa, crime progressivo, pós-fato impunível. É certo
que há, aparentemente, mais de uma norma para ser aplicada, e o referido princípio auxilia na
escolha de uma das normas, busca-se evitar o bis in idem e garantir a integralidade jurídica
do sistema normativo. A última frase da letra d) gerou dúvida em muitos candidatos, porque
o item mencionou que o princípio da concussão pode ser aplicado a “uma determinada situ-
ação de fato, abranja ou não essa situação pluralidades de condutas”. No caso, por exemplo,
da súmula 17 do STJ, na qual o estelionato absorve o falso, pode-se falar em duas condutas,
uma que ocorre no momento da falsificação e outra que ocorre no momento do golpe de es-
telionato; enquanto no crime progressivo só é possível falar em uma única conduta, exemplo
de um crime de homicídio, no qual o agente, desde o início, quer matar a vítima, mas resolve,
antes do golpe final, lesioná-la em diversas partes do corpo.
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Letra b.
Somente a situação descrita na letra b) não está contemplada no rol do artigo 7º, inciso I, do
Código Penal brasileiro. Isso ocorre porque o crime de latrocínio constitui um crime contra o
patrimônio, na classificação topográfica do Código Penal, nos termos do artigo 157 §3º, parte
b, do seu texto. Sob o ponto de vista jurisprudencial, o STJ já afirmou, em diversos julgados,
que não se admite continuidade delitiva entre roubo e latrocínio, uma vez que o roubo é crime
contra o patrimônio, enquanto o latrocínio é um crime contra a vida e contra o patrimônio. Res-
salte-se que o latrocínio não é crime doloso contra a vida incluído no rol de competências do
Tribunal do Júri.
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d) No caso dos crimes permanentes - exceções que são à teoria do resultado adotada pelo
Código Penal - considera-se praticado o delito no momento do início da execução;
e) Para nosso Código Penal, considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,
mesmo que ainda seja outro o momento do resultado, vez que adotada a teoria da atividade.
Letra e.
A letra e) traz novamente o tema sobre o momento do crime, o qual já foi abordado em outras
questões, ou seja, o artigo 4º do Código Penal brasileiro adotou a teoria da atividade, a qual
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Letra d.
A assertiva d) está correta, não traz grande dificuldade, uma vez que o artigo 6º do Código
Penal adotou a teoria da ubiquidade para os crimes à distância, ou seja, se o crime tocar o
território nacional, na fase de execução ou de consumação, aplica-se a lei brasileira. No caso
dado, observa que se cuida de um crime permanente, ou seja, tanto a execução quanto a con-
sumação ocorreram no Brasil, embora a consumação tenha continuado no tempo e prossegui-
do até o Paraguai.
Letra a.
A assertiva a) está correta, refere-se à lei intermediária, chamada de lei bipolar, que possui ex-
tra-atividade penal, possibilidade de retroatividade e de ultratividade, conforme explicação da
própria assertiva.
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Letra a.
Está correta pois se refere à redação do §1º do artigo 5º do Código Penal que trata do território
por extensão.
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e) intimar o réu e seu defensor para lhes dar conhecimento da lei, a fim de que eles, se dese-
jarem, ajuízem ação de revisão criminal, medida apta a desconstituir o título penal até́ então
executado, dado o princípio da segurança das relações judiciais, conforme o qual a coisa
Letra b.
A assertiva está correta, uma vez que a lei benéfica que entra em vigor possui retroatividade,
pena, compete ao juiz da execução penal aplicar a lei penal melhor, nos termos do artigo 66
Questão 42 (DF/JUIZ/2016) Com relação à aplicação da lei penal, assinale a opção corre-
ta.
a) As frações de dia são computadas como um dia integral de pena nas penas privativas de
seu resultado.
ências, poderá ser homologada no Brasil para todos os efeitos, exceto para obrigar o conde-
d) Ficam sujeitos à lei brasileira os crimes contra o patrimônio ou a fé pública do DF, de esta-
do, de município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação
instituída pelo poder público, embora cometidos no estrangeiro, sendo o agente punido se-
gundo a lei brasileira, ainda que absolvido no estrangeiro.
e) Não é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarca-
ções estrangeiras de propriedade privada, ainda que achando-se aquelas em pouso no terri-
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tório nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial
do Brasil.
Letra d.
A assertiva está correta, conforme redação ao artigo 7º I alínea b do Código Penal, que trata
da extraterritorialidade da Lei Penal brasileira. Vale destacar que o artigo 8º do mesmo Código
aponta a possibilidade de dupla condenação pelo mesmo fato no caso de extraterritorialidade
incondicionada, quando o agente poderá ser julgado pelo mesmo fato fora do Brasil e dentro
do Brasil. Essa possibilidade não existe nos casos de extraterritorialidade condicionada.
Narra o Código Penal brasileiro:
Vale destacar o disposto no artigo 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica (Convenção
Americana de Direitos Humanos, introduzido no sistema brasileiro pelo Decreto 678/1992
O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a novo processo
pelos mesmos fatos.
É importante ainda ressaltar recente decisão do STF sobre o artigo 8º do Código Penal (grifos
nossos)
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d) No delito continuado, formado por uma pluralidade de atos delitivos, mas legalmente valo-
rados como um só delito, para efeito de sanção, considera-se como tempo do crime aquele da
prática de cada ação ou omissão.
e) O Código Penal acolheu a teoria da ação ou atividade, sendo o tempo da infração penal tanto
o da ação como o da omissão, independentemente do momento do evento.
Letra c.
O complemento da norma penal em branco e a própria lei penal em branco se sujeitam aos
princípios da retroatividade benéfica e da irretroatividade maléfica. Isso aconteceu, por exem-
plo, quando houve a retroatividade benéfica após a eliminação do cloreto de etila do rol da
portaria 344 da Anvisa no ano de 2010 e sua inclusão posterior (Informativo 578 do STF), bem
como no caso de retroatividade do artigo 28 da lei n. 11343 em relação ao artigo 16 da Lei n.
6368/1976.
Letra c.
A assertiva está correta, uma vez que tais princípios são apontados pela doutrina penal para a
solução do conflito aparente de normas. Para compreensão do significado e alcance de cada
princípio, bem como da jurisprudência pertinente. Recomenda-se a leitura do tópico específico
redigido anteriormente, no bojo deste capítulo.
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Letra b.
Com relação ao tema Teoria da Norma no Direito Penal, segundo a súmula 711 do STF,
a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência
é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
Ainda sobre a Teoria da Norma, se o complemento de uma norma penal em branco hete-
rogênea, denominado complemento em sentido estrito, estiver vinculado a uma circuns-
tância excepcional ou temporária (complemento anormal), possuirá a ultratividade. Isso,
por exemplo, sucede com o tabelamento de preços por Órgão do Governo para conter a
inflação. Desse modo, se um agente vender acima do preço tabelado cometerá crime e
será julgado por ter violado o preço tabelado, ainda que sobrevenha alteração da tabela
ou a sua extinção, salvo, unicamente, se a lei benéfica posterior for expressa quanto aos
efeitos retroativos.
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Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e ae-
ronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encon-
trem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Por fim, importa acrescentar que, no Direito Penal, é possível o uso da analogia somente
em favor do réu. A analogia consiste no uso, para um caso não regulado pelo ordenamento,
de uma norma que rege caso semelhante. Por sua vez, a interpretação analógica também é
possível no Direito Penal diante da construção legal de normas com sequência casuística
e hipótese genérica. A interpretação da hipótese genérica deve ser feita numa correlação
com as previsões casuísticas. É a interpretação que se faz, por exemplo, no inciso IV do §2º
do art. 121 do CP.
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Letra d.
I – Errada. A Constituição veda que a pena passe da pessoa do condenado, nos seguintes ter-
mos: art. 5º, inciso XLV,
Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a de-
cretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
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A pena de multa, a par da divergência quanto à sua natureza jurídica, não deixa de ser uma san-
ção penal e, assim, insere-se no dispositivo constitucional, aplicando-se, portanto, o princípio
da intranscendência descrito no item. Confira-se, para maior aprofundamento, o precedente
REsp 1251697 / PR, do STJ. Por outro lado, é certo que as penas pecuniárias mitigam o princí-
pio da intranscendência ou da responsabilidade pessoal, uma vez que não tem como impedir
o pagamento suportado por um terceiro em lugar o condenado. Em razão da polêmica, o tema
merece crítica por ter sido questionado dessa forma.
II – Certa. De fato, o princípio da intervenção mínima determina a atuação do Direito Penal de
forma restrita, devendo se abster de intervir em condutas irrelevantes e atuar somente em últi-
mo caso, como ultima ratio, portanto, do sistema jurídico.
III – Errada. As fontes do Direito Penal podem ser imediatas ou diretas e mediatas ou indiretas.
As fontes chamadas de “primeiras” são as fontes imediatas, que o examinador, no caso, res-
tringiu às normativas, ou seja, às leis. Assim, a primeira parte do item está correta. No entanto,
na segunda parte, há um erro. Diz o item que a exceção quanto à fonte normativa primeira
do Direito Penal se restringe às normas penais explicativas, o que não é verdade. As fontes
indiretas ou mediatas, quais sejam, os costumes, doutrina, jurisprudência, direito comparado
e analogia se aplicam ao Direito Penal como um todo e não somente às normas explicativas.
IV – Errada, por causa do final da assertiva. Com efeito, com relação ao tempo do crime ado-
ta-se a teoria da atividade e, nos crimes permanentes, o tempo do crime se prolonga durante
toda a ação criminosa. Exatamente por isso, o prazo prescricional começa a correr de quando
cessar a permanência, na dicção do art. 111, do CP:
A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: [...] III - nos crimes
permanentes, do dia em que cessou a permanência.
V – Errada. O art. 5º do CP trata da aplicação da lei penal no espaço e adota a teoria da ter-
ritorialidade temperada (e não da temporalidade extremada), pois não é adotada em caráter
absoluta, mas com previsão de exceções, em que aos crimes praticados no território brasileiro
é aplicada a lei estrangeira, motivo pelo qual a doutrina conceitua a teoria da territorialidade
adota pelo Brasil como temperada.
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Dermeval Farias
Professor Dermeval Farias Gomes Filho. Promotor de Justiça do Júri/Criminal no Distrito Federal (MPDFT).
Doutorando em Direito Penal pela PUC-SP. Mestre em Direito Penal pelo UNICEUB. Pós-graduado em
processo civil pela Universidade Federal de Santa Catarina. Ex Conselheiro Nacional do Ministério Público
(biênio 2017/2019). Professor de Direito Penal em diversos cursos de preparação para concursos da
Magistratura e do Ministério Público e pós-graduações desde o ano de 2006. Palestrante em Simpósios
e Congressos. Leciona em cursos de capacitação de direito penal do STF, STJ, TJDFT e MPDFT. Integra o
grupo de pesquisa em política criminal do UNICEUB/UNB. Autor de artigos e livros, com destaque para:
Dogmática Penal: Fundamento e limite à construção da jurisprudência penal no Supremo tribunal Federal.
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