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O PORQUÊ DOS MEUS SILÊNCIOS

Matheus Neves da Fontoura

Na verdade ninguém soube


O porquê dos meus silêncios...
Têm coisas que a gente sente
E que simplesmente não conta.
O coração acinzenta...
Os olhos nublam agostos...
As penas ganham seu posto
Com cismas de solidão
E enclausuram o coração
Com o cadeado do desgosto.

Nenhum sorriso a me romper auroras


A iluminar meu rosto de fechado cenho
Sou apenas eu... em meus silêncios largos
E quando muito um trago pra compartir quietudes
E todas as inquietudes que me tecem ponchos de pesadas lãs,
Que não me aquecem a carne, que não me aquentam o corpo
E que não me animam a alma...

As vezes me perco assim:


Outonal… Sem folha ou fruto, nem flores pra oferecer...
Seco... preso em um tronco onde os grilhões me apertam os pulsos
Como a esperar pela alforria, rezando que me chegue a paz de uma palavra afiada...
Afinal só ela, em suas sílabas claras, é capaz de me fazer cessar o sofrimento...

A palidez da folha em branco não me ajuda em nada!

Escravizei-me ao silêncio de um labirinto de sombras,


Pautado pelas grades das mesmas linhas... entre capas de cadernos...
Enfraqueci a tinta que me construiu
Ao mesmo passo em que a depressão me corroeu o cerno...
De inspiração alucinada que um dia fui, de um querer-poema que me partejou...

À lembrança vaga que me visitou … até o ocaso de um triste esquecimento...


Na verdade ninguém soube o porquê dos meus silêncios...
Minguei exangue de inspiração e sonho
Inacabado.
Perdido...
Num esperar eterno,
Que não achou a rima,
Que entortou a métrica
E que se esmaeceu no tempo.

… E eu queria tanto acordar recuerdos


Que adormeceram junto a mim um dia
Acender poesias em sonetos prontos
Costurando o pranto de quem me escreveu...
Devolver a voz a quem me prometeu
O sentimento puro que eu ainda guardo
Pois sendo metade ainda sou inteiro
E acendo um braseiro só por ser soprado!

Na verdade ninguém soube


O porquê dos meus silêncios...
Eu... que seria rio... acabei remanso
Onde as águas quietas, sempre mais profundas,
Giram redemoinhos como a esperar correntes de libertação...
Eu... que de coração… perdi o batimento
E o ritmo vital de oxigenar o sangue
E de empurrar pra vida o que o papel acolhe...

Mas ninguém escolhe um destino destes...


E se eu tivesse forças não o escolheria...
Afinal eu nasci verso:
Sementado no coração de quem me planta
Meu corpo a vaza de sentimentos e de lamentações
Era pra eu ser amor e traduzir paixões
Eu não nasci assim pra morrer calado...
Quando eu silencio... se apagam estrelas
E morrem tantas luas sem nunca ter vivido...
Só a escuridão da noite se agiganta
Quando eu silencio por qualquer motivo...

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