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A formação de mão de obra para Indústria do Petróleo no Norte e Noroeste

Fluminense

Ludmila Gonçalves da Matta1


ludmatta@yahoo.com.br
Rodrigo Anido Lira2
rodrigoanidolira@gmail.com

1
Doutora em Sociologia Política; professora do Mestrado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da
Universidade Cândido Mendes- UCAM-Campos.
2
Doutor em Sociologia Política; professor do Mestrado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da
Universidade Cândido Mendes- UCAM-Campos.
A formação de mão de obra para Indústria do Petróleo no Norte e Noroeste
Fluminense
Resumo
Recentemente o Instituto de Pesquisa Aplicada –IPEA divulgou uma pesquisa em que
foi analisada a relação entre oferta de mão de obra qualificada e a demanda do mercado, tendo
como objetivo verificar se o atual ciclo de desenvolvimento pode vir a ser frenado por
estrangulamentos na oferta de força de trabalho qualificada. Baseado nesse estudo e tendo em
vista a posição do Norte e Noroeste Fluminense no que se refere a demanda por mão de obra
qualificada em função do Pólo de Produção de Petróleo é que desenvolvemos esse trabalho
em que fizemos um levantamento da oferta de cursos de Engenharia nas regiões buscando
demonstrar como o mercado e o estado tem atuado para formação de mão de obra qualificada
para atender a demanda da indústria e de outros setores da economia em desenvolvimento no
Norte e Noroeste Fluminense. A pesquisa foi realizada a partir da base de dados do Censo da
Educação Superior 2012.
Palavras-chave: educação; desenvolvimento; engenharia; mão de obra

Abstract

Recently, the Institute of Applied Research-IPEA released a survey in which we analyzed the
relation between the supply of skilled labor and the market demand, aiming to verify whether
the current development cycle may prove to be braked by bottlenecks in the supply of power
skilled labor. Based on this study and in view of the position of the north and northwest
Fluminense regarding the demand for skilled labor due to the Pole of Oil Production that is
developed in this work we did a survey offering courses in Engineering regions to
demonstrate how the market and the state has worked to train skilled manpower to meet the
demands of industry and other sectors of the economy development in the North and
Northwest Fluminense. The survey was conducted from the database of the Higher Education
Census 2012.
Keywords: education, development, engineering, labor
Apresentação

Recentemente o Instituto de Pesquisa Aplicada –IPEA divulgou uma pesquisa em que


foi analisada a relação entre oferta de mão de obra qualificada e a demanda do mercado, tendo
como objetivo verificar se o atual ciclo de desenvolvimento pode vir a ser frenado por
estrangulamentos na oferta de força de trabalho qualificada. Baseado nesse estudo e tendo em
vista a posição do Norte e Noroeste Fluminense no que se refere a demanda por mão de obra
qualificada em função do Pólo de Produção de Petróleo é que desenvolvemos esse trabalho
em que fizemos um levantamento da oferta de cursos de Engenharia nas regiões buscando
demonstrar como o mercado e o estado tem atuado para formação de mão de obra qualificada
para atender a demanda da indústria e de outros setores da economia em desenvolvimento no
Norte e Noroeste Fluminense. A pesquisa foi realizada a partir da base de dados do Censo da
Educação Superior 2012.

As Regiões Norte e Noroeste Fluminense

Apesar das Regiões Norte e Noroeste apresentarem características diferentes, como


setores econômicos distintos, elas tem em comum à distância em relação à capital e em
consequência ao centro de decisões políticas e econômicas do estado. A Região Norte
atualmente se destaca pela indústria petrolífera e pelos grandes investimentos que estão sendo
realizados na construção do Complexo Logístico do Porto do Açu-CLIPA, no Município e
São João da Barra, um empreendimento iniciado pelo grupo LLX do empresário Eike Batista
e que atualmente está sob o controle do grupo EIG de origem americana e passou a se chamar
Prumo Logística Global.
O Complexo Logístico do Porto do Açu é um empreendimento com previsão de
investimento de R$ 40 bilhões (LLX, 2013) na construção de dois terminais, um offshore e
outro onshore para exportação de minério de ferro e outros produtos.
Além dos terminais, está previsto no projeto à instalação de um pólo industrial na
retro-área do porto. Atualmente, já estão em fase de instalação a empresa de construção de
tubos flexíveis Technip, a INOV também de construção de tubos flexíveis e a Wartsila
empresa que irá instalar uma unidade de produção de grupos geradores e propulsores
azimutal, além de outras empresas que ainda estão em fase de negociação.
Outro aporte econômico importante previsto para região é a exploração do pré-sal,
calcula-se que os investimentos nessa área cheguem a R$43,7 bilhões.
Todos esses empreendimentos, por certo, requerem uma demanda de mão de obra
especializada, assim como também alavancam o crescimento em outros setores, como da
construção civil. Algumas previsões apontam para um crescimento populacional passando da
ordem dos 100%, ou seja, a população da região pode dobrar. Com isso a demanda pelo setor
de serviços aumentará consideravelmente.
A mesorregião (IBGE) Norte Fluminense abrange nove municípios: Campos dos
Goytacazes, Carapebus, Cardoso Moreira, Conceição de Macabu, Macaé, Quissamã, São
Fidelis, São Francisco do Itabapoana e São João da Barra. Em ordem de importância
econômica nessa região destacam-se Campos dos Goytacazes com um setor de serviço mais
bem equipado dentre os município da região, inclusive com o maior número de instituições de
ensino superior, possuindo duas públicas: a Universidade Estadual do Norte Fluminense-
UENF e a Universidade Federal Fluminense-UFF e quatro instituições privadas: Universidade
Salgado de Oliveira-UNIVERSO; Universidade Estácio de Sá-UNESA; Universidade
Cândido Mendes-UCAM; Universidade do Norte Fluminense- UNIFLU, além do Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia- IFF (que possui cursos do ensino médio, técnico,
superior e pós-graduação).
Em segundo lugar temos o Município de Macaé, este município se destaca por
receber a sede da Petrobrás na região, a estrutura física e administrativa da empresa se aloca
nesse município, em consequência há uma concentração de emprego nesse município.
São João da Barra, apesar de ainda ser um município pequeno, com população de
32.767 (IBGE,2010), tem previsões de grande crescimento com os investimentos no CLIPA.
Os demais municípios que compõe a região são municípios pequenos com pouca
influência econômica na região.
A mesorregião (IBGE) Noroeste Fluminense abrange treze municípios: Itaperuna,
Bom Jesus do Itabapoana, Italva, Laje do Muriaé, Natividade, Varre-Sai,Porciúncula, Santo
Antônio de Pádua, Aperibé, Cambuci, São José de Ubá, Itaocara e Miracema. Desses
municípios o único que oferece curso superior na área de engenharia é Itaperuna. Essa região
é caracterizada, principalmente, pela atividade agrícola e como os municípios que compõem
essa região não são confrontantes com poços de petróleo eles não recebem royalties. Sendo
assim, a região é composta por pequenos municípios que vivem, efetivamente, de repasses de
verbas estaduais e federais.
A formação de Engenheiros e o setor econômico

A primeira instituição das regiões a ofertar curso de engenharia foi a UENF em 1993
com a abertura dos cursos de Engenharia Civil; Engenharia de Petróleo e Engenharia
Metalúrgica o que ocorreu conjuntamente com a sua fundação.
A UENF é uma universidade nova, se comparada com as demais universidades
públicas, ela foi planejada e idealizada intelectualmente por um grupo de intelectuais sob a
liderança de Darcy Ribeiro3, foi projetada fisicamente por Oscar Niemeyer e está localizada
no município de Campos dos Goytacazes, na Região Norte do Estado do Rio de Janeiro.
Darcy Ribeiro propõe a UENF como uma universidade do “Terceiro Milênio” cuja
missão “é adornar-se, cultivar e ensinar a ciência e as tecnologias de ponta, que constituem o
patrimônio cultural maior da humanidade, para colocá-las a serviço da modernização e do
progresso econômico e social da região e do Brasil” (RIBEIRO, 1994, p.32). Daí a ênfase,
desde a sua criação, nos cursos de engenharia.

Hoje o município e toda a Região Norte Fluminense vivem um ciclo de


desenvolvimento ocasionado pela indústria do petróleo, proveniente da Bacia de Campos e,
principalmente, pelo recebimento dos royalties desta exploração. Em função desse perfil
observamos na região um crescimento vertiginoso no número de cursos de engenharia.

Segundo dados do Censo da Educação Superior-2012 só no Município de Campos dos


Goytacazes, têm-se hoje 19 cursos de engenharia com 3.765 alunos matriculados em sete
instituições, sendo duas públicas e cinco privadas. Sendo que a UENF foi até o final da
década de 1990 a única a oferecer cursos de engenharia. A partir dos anos 2000 e mais
fortemente em meadas dessa década é que a abertura desses cursos irá crescer
fortemente,conforme o Gráfico 1, em 2012 se contabilizou 32 cursos de engenharia nos
municípios que compõem as regiões.

3
Darcy Ribeiro nasceu em 1922 na cidade mineira de Montes Claros e faleceu em 1997 em Brasília. Formou-se
na Escola de Sociologia e Política de São Paulo em 1946. Dedicou grande parte de sua vida a Etnologia. Na
educação se destacou pela implementação da UnB, Universidade Nacional da Costa Rica, pela Universidade de
Argel e da UENF.
Gráfico 1

Observando as regiões Norte e Noroeste Fluminense a partir dos dados do Censo da


Educação Superior-2012, apesar de Campos concentrar o maior número de cursos, nos
Municípios de Macaé e Itaperuna também constatou um número crescente de ofertas de
cursos. Macaé conta com 11 cursos, somando 2597 alunos matriculados em 5 instituições,
sendo duas públicas e três privadas. Itaperuna tem 673 alunos matriculados em duas
instituições privadas que oferecem dois cursos cada uma.

Dentre as áreas de engenharia a que apresenta um maior número de cursos é a de


Engenharia de Produção com 10 cursos nos três municípios, seguido de Engenharia Civil com
6 cursos, e ainda se destaca as Engenharias de Petróleo e Ambiental com 4 cursos cada uma,
conforme a tabela 1:

Tabela 1: Cursos de Engenharia por município e instituição

Município Instituição Cursos Número de DATA DO


matrículas ativas INÍCIO DO
em 2012 CURSO
Macaé FACULDADE Engenharia 24 SEM DATA
SALESIANA Ambiental
MARIA Engenharia da 58 02/08/2009
AUXILIADORA Computação
Engenharia de 321 02/02/2004
Produção
Engenharia 144 02/02/2010
Química
Macaé FACULDADE Engenharia de 376 01/08/2007
PROFESSOR Produção
MIGUEL ÂNGELO
DA SILVA SANTOS

Macaé INSTITUTO Engenharia de 206 02/05/2006


FEDERAL DE Controle e
EDUCAÇÃO, Automação
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA
FLUMINENSE

Macaé Universidade Estácio Engenharia 292 12/08/2007


de Sá Ambiental
Engenharia Civil 186 23/02/2012
Engenharia de 661 01/08/2006
Petróleo e Gás
Engenharia 158 11/02/2008
Química
Macaé UNIVERSIDADE Engenharia 171 14/03/2011
FEDERAL DO RIO
DE JANEIRO

Campos dos FACULDADE Engenharia de 233 11/02/2009


Goytacazes SALESIANA Produção
MARIA Engenharia 314 01/01/2009
AUXILIADORA Mecânica

Campos dos Faculdade Redentor Engenharia Civil 7 06/02/2012


Goytacazes Engenharia de 0 NÃO
Produção INICIOU
Campos dos INSTITUTO Engenharia 79 01/08/2011
Goytacazes FEDERAL DE Ambiental
EDUCAÇÃO,
CIÊNCIA E
Engenharia de 361 08/08/2005
TECNOLOGIA
Controle e
FLUMINENSE
Automação
Campos dos Universidade Estácio Engenharia 197 11/02/2008
Goytacazes de Sá Ambiental
Engenharia Civil 476 12/02/2007
Engenharia de 155 01/07/2006
Petróleo e Gás
Engenharia de 14/02/2005
Produção
Engenharia Elétrica 133 11/02/2008
Campos dos ASSOCIACAO Engenharia Civil 111 01/02/2012
Goytacazes SALGADO DE
OLIVEIRA DE Engenharia de 307 02/02/2000
EDUCACAO E Produção
CULTURA

Campos dos Universidade Engenharia Civil 154 16/08/1993


Goytacazes Estadual do Norte Engenharia de 131 16/08/1993
Fluminense Petróleo e Gás
Engenharia de 154 01/03/2004
produção
Engenharia 155 16/08/1993
Metalúrgica
Campos dos Universidade Engenharia de 444 01/06/2003
Goytacazes Cândido Mendes Produção
Engenharia 354 01/02/2011
Mecânica
Itaperuna Universidade Nova Engenharia de 97 01/08/2006
Iguaçu Petróleo e Gás
Engenharia de 116 13/02/2006
Produção
Itaperuna Faculdade Redentor Engenharia Civil 303 29/07/2002
Engenharia de 157 23/03/2009
produção

Todavia, a questão que se coloca é se o aumento na oferta de vagas vem acompanhado


da qualidade dos cursos. De acordo com levantamento do IPEA (2013) as universidades
públicas são as que apresentam melhor desempenho no Índice Geral de Cursos (IGC) auferido
pelas avaliações do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais-INEP. Segundo o
estudo as universidades federais vão a 3,92 ( o conceito máximo é 5), as estaduais chegam a
3,17 e as privadas não passam de 2,97 (59% do ideal).
Analisando o nosso caso, vimos ocorrer o aumento das matrículas , principalmente na
rede privada. Dos 32 cursos ofertados na região apenas 8 são ofertados por instituições
públicas, sendo 4 pela universidade estadual, 1 por universidade federal e 3 por instituto
federal. Somando as matriculas da rede pública tem-se 1411 alunos o que corresponde a
37,47% do total de matriculados em cursos de engenharia nos três municípios estudados.

Considerações finais

No entanto, num ambiente de “escassez de mão de obra” a vinculação institucional dos


egressos da engenharia não será um forte empecilho para o ingresso desses no mercado de
trabalho. Mas num cenário mais pessimista de retração econômica, esses egressos de
instituições menos qualificadas podem ficar de fora. E, mais uma vez reportando para o
cenário econômico das regiões analisadas é possível que a incorporação desses egressos
ocorra sensivelmente, visto as projeções de crescimento através dos investimentos do pré-sal e
também dos investimentos no sistema portuário.
Dessa forma, concluímos que as instituições de ensino superior das regiões Norte e
Noroeste têm correspondido às projeções do setor econômico de aumento de oferta de
emprego para a área de engenharia com a abertura de vagas em cursos da área.

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