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BRUSQUE
2021
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BRUSQUE
2021
ATA DE APRESENTAÇÃO PÚBLICA
DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente ata digital, que foi assinada
pelos Srs. membros da banca examinadora e aluno através do sistema institucional de
gestão de bancas on-line.
Pró-Reitoria de Graduação
Coordenação de Cursos
REGISTRO DE ATA
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS..................................................................................................................3
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................5
1. NOÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL........................................................................7
1.1.SURGIMENTO DA NOÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL........................................7
1.2.CARTAS PATRIMONIAIS...............................................................................................17
1.3. PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL......................................................................30
2. DA FORMULAÇÃO DA CATEGORIA JURÍDICA DO PATRIMÔNIO
CULTURAL À FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM BRUSQUE...........46
2.1. CONTEXTO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE BRUSQUE.........................................46
2.2. POLÍTICAS PÚBLICAS E TENTATIVAS FRUSTRADAS DE PRESERVAÇÃO......55
2.3. O PATRIMÔNIO ENQUANTO CATEGORIA JURÍDICA EM BRUSQUE.................75
3. SITUAÇÃO ATUAL DA POLÍTICA PATRIMONIAL EM BRUSQUE.....................78
3.1. BENS TOMBADOS, INVENTARIADOS, CATALOGADOS E NÃO-TOMBADOS. .78
3.2. ATUAÇÃO DO CONSELHO DO PATRIMÔNIO EM BRUSQUE...............................85
3.3. DILEMAS CONTEMPORÂNEOS ENVOLVENDO A NOÇÃO DE PATRIMÔNIO
CULTURAL...........................................................................................................................102
CONCLUSÃO.......................................................................................................................112
REFERÊNCIAS....................................................................................................................114
3
LISTA DE SIGLAS
INTRODUÇÃO
base para que o COMUPA, atualmente, negue a emissão de alvará de demolição sendo que há
casos de mais de 3 anos de espera por parte dos proprietários para que o imóvel possa ser
demolido. Diante desse contexto ficam as dúvidas: Como surgiu a noção de patrimônio
cultural e como ela se desenvolveu no Brasil? Como Brusque implementou uma política de
patrimônio cultural? Em que situação se encontra atualmente a política pública de patrimônio
cultural no município de Brusque?
Como objetivo geral esse trabalho de propõe a compreender o processo de construção
das políticas públicas de preservação do patrimônio cultural no município de Brusque.
No primeiro capítulo a noção de patrimônio cultural é explorada do seu surgimento, às
normas positivadas nas cartas e documentos internacional até a recepção desse termo no
Brasil.
No segundo capítulo Brusque é observada como espaço privilegiado após a chamada
aos Prefeitos, analisando a implantação dessa política pública no município.
Por último, no terceiro capítulo, a situação atual da política pública de patrimônio no
município é avaliada listando os documentos normativos do Inventário, Catálogo e sua
atualização no mês de outubro de 2021. Por fim, são apontadas discussões contemporâneas
acerca dos conceitos e panorama atual deste debate.
7
1CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado. 4ª ed. São Paulo:
Estação Liberdade: UNESP, 2006.
2Tradução do autor da definição retirada de PATRIMŌNIUM. In: Oxford Latin Dictionary. Oxford: Oxford
University Press, 1968. p. 1310.
3CHOAY, 2006, p. 11.
8
violência simbólica, como foi o caso da Campanha de Nacionalização que criou a noção de
brasilidade e do nacionalismo brasileiro na década de 1930.
Choay4 enfatiza que entre a constituição da primeira Comissão dos Monumentos
Históricos na França em 1837 até o ano de 1945, os monumentos basicamente se restringiram
a três agrupamentos: 1) os remanescentes das antiguidades; 2) os edifícios religiosos e; 3) os
relacionados à Idade Média, em especial os castelos. Além disso, até a década de 1960, em
específico no contexto francês, não era considerado patrimônio o que ultrapassava o século
XIX enquanto no Brasil, já nos primeiros anos do Serviço do Patrimônio nacional,
construções há pouco inauguradas foram tombadas, como o caso do edifício da Igreja de São
Francisco de Assis na Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais, inaugurada em 1928 e
tombada em 19475. Choay aponta que uma “tripla extensão” de ordem tipológica, cronológica
e geográfica dos bens é acompanhada por um crescimento vertiginoso do público tendo o
turismo e a inflação memorial como mola propulsora de um movimento frenético que mantém
o patrimônio como refém de uma discussão contemporânea. O patrimônio, portanto, se torna
um conceito global e, na medida em que extravasa as fronteiras europeias, também abarca
novas formas em novas tipologias, usos e necessidades.
Com relação a outro termo chave abordado por Choay, o monumentum, ele é
definido pelo Dicionário Oxford de Latim como:
[MONEO+-MENTVM] […] 1 Uma estátua, troféu, edifício ou sim., erguido para
celebrar uma pessoa ou evento, um monumento. […] 2 a Um monumento sepulcral,
tomb. b um prédio público comemorativo, templo ou sim.; esp. usado como
biblioteca; (também, w. uiae, de uma via pública). […] 3 Qualquer coisa que sirva
de comemoração, de memorial. b um token, lembrete; um exemplo. […] 4 Um
memorial escrito, documento, registro; também ~um litterarum ou scriptorum. b
annalium ~a, anais, livros de história. c (pl.) tradição gravada. […] 5 Uma obra
literária, livro; (esp. pl.) escritos, literatura. b um relato histórico, história.6
alcance da vista e das mãos de seus habitantes e impenetrável porque suas expressões haviam
tornado-se indecifráveis aos seus habitantes por conta da perda de suas referências culturais
da época da Roma Antiga, reduzindo-se naquele momento a formas vazias e desvinculadas do
contexto de criação dos monumentos, sem que se vislumbrasse o sentido de sua confecção 12.
É, portanto, em Roma, que pela primeira vez se consegue tomar distância em relação ao
passado pois com a reutilização dos edifícios ou com o que restou deles dois tipos de memória
urbana conviveram simultaneamente: 1) uma relacionada à instauração religiosa que estrutura
a vida cotidiana e define seu horizonte com o reaproveitamento e/ou readequação dos
edifícios seculares para fins religiosos e; 2) outra relativa à permanência de edificações que
remetem a um passado temporal e glorioso de quando Roma foi hegemônica frente aos
bizantinos, bárbaros e alemães – a quem o papado desejava superar em termos culturais13.
Essa abstração de distanciamento – ver as ruínas presentes como relacionadas à
noção de “antiguidade”, investidas de uma herança de glórias de um passado grandioso - foi
que permitiu propriamente o surgimento da categoria e noção de monumento histórico. A
partir de então o Papa Pio II Piccolomini editou a bula Cum almam nostram urbem em abril
de 1462 proibindo a todos de demolir, quebrar, danificar ou transformar em cal qualquer
edifício público da antiguidade em Roma ou em seus arredores. Para além da proibição, os
papas também começam a restaurar as antiguidades. - não obstante continuarem a servir-se de
construções antigas para retirar material de construção14.
Os bens enxergados sob o rótulo de “antiguidades” passam a ser sistematicamente
conceituados e inventariados entre a segunda metade do século XVI e a segunda metade do
século XIX. Ao pretender pesquisar as suas próprias origens, os antiquários, através de
pesquisas conduzidas de forma meticulosa e paciente, acabaram por promover uma alteração
na noção de antiguidade também adjetivando-a enquanto “antiguidade nacional” na medida da
própria constituição do Estado-nação. Esse movimento contou com importantes avanços
sobretudo quando foram descobertos os sítios de Herculano (1713), Pompéia (1748) e Pesto
(1746) – as ditas “antiguidades clássicas”15.
Dentre os fatores que implicaram no interesse dos antiquários pelas antiguidades
nacionais, destaca-se 1) o papel e o efeito estimulante das pesquisas que empregaram em
bens foram postos fora de circulação em caráter provisório e selos foram afixados nos
edifícios. Porém, logo cedo, verificou-se que o Estado francês não dispunha de recursos
técnicos e financeiros para a sua manutenção22. Inicialmente, não se dispunha de recurso nem
para a confecção de bens de artilharia durante o processo Revolucionário, e nesse sentido
alguns bens não foram poupados. A assembléia, em uma situação de desespero, decretou a
fundição de pratarias e dos relicários bem como as armações de telhado de chumbo ou de
bronze das catedrais para que se transformassem em peças de artilharia 23. Em agosto de 1792
foi decretada a eliminação dos monumentos e resíduos do feudalismo, sobretudo os
monumentos de bronze de Paris. Em setembro foi decretado que os sinais da monarquia e do
feudalismo deveriam ser destruídos nos jardins, parques, recintos e edifícios. Em novembro,
que todos os monumentos do feudalismo fossem convertidos em peças de artilharia ou
destruídos. Na justificativa, consta que os bens derrubados com o consentimento dos comitês
revolucionários simbolizavam poderes e valores execrados relativos ao clero, monarquia e
senhores feudais – classes que representavam a ordem deposta e que não deveriam ter seus
bens e simbologia representada dentre os bens que representariam o patrimônio nacional 24. A
destruição foi ideologicamente de ordem iconoclasta.
De todo modo, foram processadas as transferências de propriedade desses bens da
velha ordem - do clero, monarquia e senhores feudais - que se restringiam inicialmente ao
valor econômico, porém, as obras arquitetônicas também foram investidas, mais tarde, de
significado histórico passando a compor as antiguidades nacionais (destituídas do significado
da velha ordem). Em seguida instituiu-se uma comissão dos monumentos a fim de que fosse
organizado um inventário da herança recebida e das regras de sua gestão. Estes bens foram
tombados e inventariados, estabelecendo portanto um relatório do estado em que se
encontrava cada um dos bens que compunham o inventário.
Ao fazer dos monumentos históricos sua propriedade, o Estado francês acabou
designando-os como herança de todo o povo, tendo, portanto, um valor nacional. Os bens da
velha ordem – clero, monarquia e feudalismo – foram salvos porque poderiam servir,
enquanto bens ressemantizados de nacionais, para fins educativos, científicos e práticos. Se na
Grã-Bretanha foram as associações eruditas dos antiquários que tomaram para si o papel de
realizar pesquisas e inventários, na França o patrimônio virou assunto de Estado:
Para o crítico de arte britânico John Ruskin a arquitetura é essencial para que se
possa ter nossas lembranças. A ideia de que a arquitetura que vemos diariamente é definida
pelas gerações passadas implica em pensar que herdamos uma estética e os bens dessa estética
de nossos antepassados. Nesse sentido, a arquitetura que vemos diariamente se assemelha ao
monumento original: ele foi construído para que as gerações futuras lembrem e celebrem sua
memória. Isso possibilitará tanto que a arquitetura doméstica quando os conjuntos urbanos
sejam incluídos na idéia de monumento histórico, o que possibilitará também a ampliação e
aplicação dessa categoria para contextos fora da Europa28.
Havia, portanto, dois tipos de vandalismos: destruidor e restaurador. A prática
patrimonial impunha um modelo dicotômico onde ou se deixava os bens em ruínas ou se
descaracterizava com uma intervenção. Entre 1830 - quando foi criado o cargo de Inspetor
dos Monumentos Históricos na França - até 1887 - quando ocorreu a promulgação da primeira
lei sobre os monumentos históricos - houve um intenso trabalho de experimentação e
reflexão. Se em 1840 havia 934 bens tombados, em 1849 esse número saltou para 3.000 e esse
número não cessou de crescer29. Em 2015 já somavam 43.600 edifícios e 300.000 objetos
tombados na França30. Para efeitos de comparação, no Brasil, em 2019, eram apenas 1.218
bens tombados31.
Promulgada em 1887, a legislação francesa teve sua regulamentação em 1889 e sua
forma definitiva fixada em 1913, sendo o texto legislativo de referência até hoje. Porém,
tombar os monumentos é uma coisa, saber conservá-los fisicamente e restaurá-los é outra
completamente diferente e requer profissionais especializados. Na França a criação de um
corpo de profissionais especializados na restauração e conservação de monumentos é obra do
século XIX e encontrou três empecilhos: 1) em sua maioria os arquitetos franceses não tinham
domínio sobre as construções medievais; 2) havia um claro contraste entre Paris e o interior
da França e; 2) o trabalho de consolidação e restauração não renderia prestígio aos arquitetos
que não poderiam mostrar o seu gênio criador32.
históricos. Do ponto de vista prático, até a década de 1960 a restauração continuou fiel aos
princípios esboçados por Viollet-le-Duc35.
Haussmann, que foi prefeito do antigo departamento do Sena - que incluía Paris -
entre 1853 e 1870, foi responsável pela marcante reforma urbana que se empreendeu em Paris
e depois foi replicada em outras cidades, como no Rio de Janeiro, no Brasil. Ele fora acusado
de vandalismo pelos nostálgicos amantes da velha Paris que foi modificada para que se
removesse os obstáculos à salubridade, ao trânsito e até mesmo a contemplação dos
monumentos do passado. É nesse contexto, em pleno triunfo da industrialização que a noção
de patrimônio urbano será forjada em uma dialética que leva em conta três questões: 1) a
figura memorial relativa à percepção de que cidade em si desempenha o papel memorial dos
monumentos; 2) a figura histórica relacionada tanto a uma forma esteticamente desagradável
na padronização da cidade industrial em processo de implementação que se contrapunha à
singularidade estética das diferentes configurações que irradiaram a beleza dos lugares e seu
passado consumado quanto a constatação de que a cidade antiga estaria sendo ameaçada de
desaparecimento e pela ameaça de perda que acaba por se constituir em objeto raro, frágil e
precioso, tendo que ser apartada para fora do circuito da vida como uma figura museal e, por
último; 3) a figura historial, que é a síntese e superação das duas primeiras.36
A figura historial foi formulada pelo arquiteto, urbanista e engenheiro italiano
Gustavo Giovannoni que atribuiu um valor de uso e museal aos conjuntos urbanos antigos
relacionando-os a uma concepção geral da organização territorial dando origem à noção de
“patrimônio urbano”. Para ele, a cidade histórica constitui em si um monumento que também
é um tecido vivo. Sua doutrina pode ser resumida em três grandes princípios: 1) todo
fragmento urbano antigo deve ser integrado num plano diretor relacionado-o com a vida
presente; 2) o monumento histórico não se refere a um edifício isolado descontextualizado na
cidade – por conta disso, isolar um monumento ou destacá-lo é o mesmo que cortar ele de seu
contexto; 3) esses conjuntos urbanos antigos requerem procedimentos de preservação e
restauração análogos aos definidos por Boito, mas agora aplicados ao contexto urbano37.
1.2.CARTAS PATRIMONIAIS
o entorno dos monumentos antigos, especialmente no caso das perspectivas pitorescas - o que
poderia nos remeter à noção atual de chancela da paisagem cultural. Com relação ao restauro,
recomenda-se o emprego de materiais modernos (cimento armado) na consolidação dos
edifícios antigos de forma dissimulada a fim de não alterar o aspecto e o caráter do edifício.
Com relação às ruínas, recomendou-se o emprego da anastilose (recolocação dos elementos
originais encontrados em suas imediações).
1.2.2.Carta de Atenas - CIAM - Novembro de 1933: aponta generalidades,
diagnósticos e conclusões sobre os problemas urbanísticos das principais e grandes cidades do
mundo. Com relação ao tópico reservado ao patrimônio histórico das cidades, é defendido que
são as obras, traçados e construções que conferem às cidades uma personalidade própria.
Nesta perspectiva, o valor histórico ou sentimental é a expressão dos testemunhos preciosos
do passado e, por serem parte do patrimônio humano, aqueles que seriam encarregados de sua
proteção teriam a responsabilidade e a obrigação de fazer tudo o que é lícito para transmitir
intacta, para os séculos futuros, essa nobre herança - embora assinale que nem tudo que é
passado tem necessariamente direito à perenidade sob pena de que um “culto estrito do
passado” sobreponha-se sobre a justiça social. O emprego de estilos do passado é rechaçado
como tendo consequências nefastas, não sendo tolerado de maneira alguma pois seria o
mesmo que erigir o “falso” como princípio.
1.2.3.Recomendação de Nova Delhi - Novembro de 1956: propôs princípios
internacionais a serem aplicados em matéria de pesquisas arqueológicas (investigações que
impliquem escavação do solo ou numa exploração sistemática de sua superfície ou sejam
realizadas sobre o leito ou no subsolo das águas interiores ou territoriais).
1.2.4.Recomendação Paris - Dezembro de 1962: defende a salvaguarda da beleza e
do caráter das paisagens e sítios e, quando possível, a restituição do aspecto das paisagens e
sítios, rurais ou urbanos, devidos à natureza ou obra do homem, que apresentam um interesse
cultural ou estético, ou que constituem meios naturais característicos.
1.2.5.Carta de Veneza - Maio de 1964: reexamina a Carta de Atenas de 1931. Parte
do princípio de que a humanidade considera as obras monumentais de cada povo que
perduram no presente como testemunho de suas tradições como portadoras de mensagem
espiritual do passado, um patrimônio comum e que se reconhece responsável por preservá-las
perante as gerações futuras, impondo a si mesma o dever de transmiti-las na plenitude de sua
autenticidade. Define como monumento histórico a criação arquitetônica isolada, bem como o
19
sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução
significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só às grandes criações, mas
também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural. A
restauração aparece como uma operação de caráter excepcional, sendo que todo trabalho
complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas deve ser
destacado da composição arquitetônica, devendo ostentar a marca do nosso tempo (quando a
técnica tradicional for inadequada a consolidação pode ser assegurada com técnicas atuais).
Todas as “contribuições válidas” devem ser mantidas pois não há necessidade de alcançar a
unidade de estilo enquanto finalidade.
1.2.6.Recomendação Paris - Novembro de 1964: recomendou que cada Estado
Membro adote medidas destinadas a proibir e impedir a exportação, a importação e a
transferência de propriedade ilícitas de bens culturais. Define bens culturais os bens móveis e
imóveis de grande importância para o patrimônio cultural de cada país. Dentre as medidas
propôs a identificação e inventário dos bens culturais; a instituição de proteção de bens
culturais por órgãos oficiais; a pactuação de acordos bilaterais e multilaterais; a colaboração
internacional para a detecção de operações ilícitas; a restituição ou repatriação de bens
culturais exportados ilicitamente; a publicidade em caso de desaparecimento de um bem
cultural; a garantia dos direitos dos adquirentes de boa fé e ações educativas de modo a
despertar o interesse dos cidadãos pelo patrimônio cultural de todas as nações.
1.2.7.Normas de Quito - Novembro e Dezembro de 1967: postula que os bens do
patrimônio cultural representam um valor econômico e que são suscetíveis de constituir-se em
instrumentos do progresso. Defende que a tutela estatal pode e deve se estender ao contexto
urbano no qual está inserido um monumento, ao ambiente natural que o emoldura e aos bens
culturais que encerra. Constata que “qualquer que seja o valor intrínseco de um bem ou as
circunstâncias que concorram para constituir a sua importância e significação histórica ou
artística, ele não se constituirá em um monumento a não ser que haja uma expressa declaração
do Estado nesse sentido”. Ademais, defende que todo monumento nacional está
implicitamente destinado a cumprir uma função social. O documento constata que a América
encontra-se num processo acelerado de desenvolvimento que põe em risco um rico patrimônio
relacionado aos grandiosos testemunhos das culturas pré-colombianas. Busca uma solução
conciliatória do progresso urbano com a salvaguarda dos valores ambientais pela valorização
econômica dos monumentos. Sugere que a valorização do patrimônio cultural equivale à
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habilitação do bem com condições objetivas e ambientais que, sem desvirtuar sua natureza,
ressaltem suas características e permitam seu ótimo aproveitamento com a vizinhança
imediata ao monumento que permita a valorização do bem. Postula vantagens sociais e
econômicas do turismo. Constata que o estímulo a agrupamentos cívicos de defesa do
patrimônio deu bons resultados quando o interesse público se sobressai. Sugere que os países
americanos adotem os preceitos da Carta de Veneza como norma mundial em matéria de
preservação de sítios e monumentos históricos e artísticos. Recomenda que seja redigido um
novo documento que substitua o Tratado Interamericano sobre a Proteção de Móveis de Valor
Histórico (1935). Por fim, apresenta a recomendação de que as legislações sejam atualizadas e
que sejam revisadas regulamentações que se aplicam à matéria de publicidade de modo a
controlar toda forma publicitária que tenda a alterar as características das zonas urbanas de
interesse histórico.
1.2.8.Recomendação Paris - Novembro de 1968: defende que as medidas de
preservação dos bens culturais deveriam se estender à totalidade do território do Estado e não
se limitar a determinados monumentos e sítios. Também é recomendada a preservação ou
salvamento dos bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas com incentivo e
sanções definidos por lei, reparação, recomendas, assessoramento, programas educativos,
financiamento e medidas administrativas por meio de órgãos de proteção e salvaguarda.
1.2.9.Compromisso Brasília - Abril de 1970: também conhecido como sendo o I
Encontro de Governadores, reconheceu a necessidade de ação supletiva dos Estados e dos
Municípios à atuação federal no que se refere à proteção dos bens culturais de valor nacional,
recomendando a criação de órgãos locais. Alude a um “culto ao passado” enquanto elemento
básico da formação da “consciência nacional” que deve ser estimulado por meio de inclusão
nos currículos escolares, através da disciplina de Educação Moral e Cívica a noção de
preservação do patrimônio nacional. Dentre várias recomendações, consta a da “utilização
preferencial para casas de cultura ou repartições de atividades culturais, dos imóveis de valor
histórico e artístico cuja proteção incumbe ao poder público”. Documento assinado por Lucio
Costa.
1.2.10.Anais do II Encontro de Governadores - Outubro de 1971: Extenso
documento fruto do II Encontro de Governadores onde se faz um balanço do Compromisso de
Brasília de 3 de abril de 1970. Apresenta um panorama das ações de cada Estado brasileiro e
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de ameaça. Por fim, são os ritmos acelerados do carro e o ininterrupto relógio que ameaçam
os jardins históricos, alargados em sua definição, equiparados a monumentos.
Temas como a educação patrimonial são recorrentes, o que evidencia a falta de
sentido e desconexão da proposta com o objeto ao qual querem relacionar a educação. Um
patrimônio, a priori, deveria ser algo com o qual as pessoas se identifiquem e da qual
reconheçam uma partilha sem uma ação governamental deliberada, resultando disto não ter
sentido falar em educação patrimonial quanto insistir em pleitear ações nesse sentido.
30
41FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação
no Brasil. 3. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009. pp. 35-36.
42FONSECA, 2009, p. 37-39.
43FONSECA, 2009, p. 39-41.
44FONSECA, 2009, p. 43.
31
identidade nacional e servir como provas materiais das versões oficiais da história. Deste
modo, a preservação só foi possível devido ao interesse político justificado ideologicamente45.
Para Fonseca, a relevância da temática patrimonial passa a ser politicamente
relevante no Brasil somente a partir da década de 1920. Neste contexto, ela destaca dois
fatores que marcaram a vida cultural e política do Brasil na primeira metade do século XX: os
movimentos modernistas e o Estado Novo46. O tema da identidade – operado pelos dois
fatores destacados - fazia-se presente em termos de uma crítica à europeização do Brasil como
também pela valorização dos traços primitivos de nossa cultura47.
Para Márcia Chuva é insuficiente nomear os intelectuais engajados no campo
patrimonial simplesmente como modernistas, pois houveram diferenças cruciais entre as
várias correntes que se ampliaram após o debate acerca do papel do regionalismo enquanto
constituidor da identidade nacional. Resultou deste embate a posição irreconciliável de que
“para alguns modernistas, as características regionais eram sinal de atraso e obstáculo à
atualização da cultura brasileira e, para outros, ao contrário, eram depositárias da verdadeira
identidade”48.
Reafirmando uma presença lusa em detrimento da indígena, Rodrigo Mello Franco
de Andrade “daria propriamente uma forma ao pensamento que se consolidou no Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN, ao buscar, sem regionalismos, constituir
a fisionomia do Brasil que seria apresentada [...] para garantir um pertencimento ao mundo
das nações modernas”49. Esta fisionomia seria fruto da “preocupação central [que] estava
voltada para a valorização do passado colonial, representando as origens da nação,
conferindo-lhe uma ancestralidade que deveria referenciar-se numa matriz portuguesa, mas
que, a partir dela, configuraria um universo tipicamente brasileiro” 50. Como exemplo desta
perspectiva, o jurista, político, historiador e ensaísta Afonso Arinos de Melo Franco realizou,
a pedido de Rodrigo Mello Franco de Andrade – primeiro dirigente do órgão federal de
preservação -, cinco conferências entre os meses de outubro e novembro de 1941 no Sphan.
Estas conferências “constituíram um pequeno curso destinado privativamente ao pessoal
técnico da repartição, que tinha sentido necessidade, para a orientação dos estudos e trabalhos
a seu cargo, de um conhecimento maior do aspecto material do processo histórico do
desenvolvimento”. A constatação de Rodrigo Mello Franco de Andrade era de que havia uma
“precedência conferidas pelos historiadores aos fenômenos políticos e sociais”, ficando as
questões de ordem material ignoradas51.
Para Franco, os portugueses conquistaram o mundo quando passavam por uma
transformação interna - de agricultores para navegadores – o que teria contribuído para a
“absorção dos elementos culturais dos povos menos evoluídos”. Além disso, o “problema da
influência portuguesa” estava posto quando se buscava precisar “um conteúdo exato ao
vocábulo 'português'”. Esta imprecisão se daria devido ao antagonismo observado na
formação lusa: assim como inexistia diferenças substanciais entre as formas de vida nas
diferentes localidades de Portugal; também haveria contribuições não-portuguesas –
mourisca, negra, amarela e judia. Portanto, o português já estava mestiçado no século XV,
absorvendo por onde expandia seu império os elementos culturais de povos menos
evoluídos52. Essa imprecisão de Franco nos ajuda a perceber que o próprio português já
continha em sua homogeneidade uma heterogeneidade a partir de influências diversas. Desta
forma, tornaria-se, para ele, mais difícil precisar quais foram os elementos negros e índios
incluídos diretamente na nossa civilização material – por mais que, para ele, fosse fácil
perceber a influência destas culturas na psicologia social – a ponto de postular que seriam
estes os elementos “enriquecedores e diferenciadores” que contribuiam para nos percebermos
“diferentes dos portugueses”53. Esta contribuição fazia-se pouco importante “não somente por
ter sido absorvida no choque com um meio muito mais evoluído mas também porque as
condições de sujeição em que viviam as raças negra e vermelha não permitiam a expansão
plena das suas respectivas formas de cultura”54.
Embora Lúcio Costa não tenha participado e muito menos se envolvido com
qualquer corrente de pensamento modernista na década de 1920 no Brasil, ele acabou
assumindo um papel central dentro do SPHAN, acumulando
os papéis de principal mentor do modernismo em arquitetura no Brasil, de
formalizador das bases conceituais que caracterizariam a profissão do arquiteto, e de
51ANDRADE, Rodrigo M. F. Prefácio à 1a. Edição. In: FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Desenvolvimento
da civilização material no Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005. p.19.
52FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Desenvolvimento da civilização material no Brasil. 3 ed. Rio de
Janeiro: Topbooks, 2005. pp. 23-27.
53FRANCO, 2005, pp. 30-32.
54FRANCO, 2005, p. 37.
33
Costa teria se tornado o elo entre o moderno e o tradicional, difundindo suas ideias
principalmente através da Revista do SPHAN, que por sua vez “foi muito bem-sucedida no
sentido de construir uma identidade nacional que, associadamente, revelasse uma nação
moderna e pertencente ao mundo civilizado”56.
É, portanto, somente através do sentimento de pertencimento a um novo tempo
(moderno – século XX) que se torna possível demarcar dois momentos precisos – o
originário, que constitui a ancestralidade da nação, e o momento presente, de
refundação, que é capaz de reconquistar o elo perdido constituinte do ser nacional,
qual seja, o 'espírito de invenção', a 'seive criadora', o 'sentido plástico real' e a
'espontaneidade' – e reconhecer nesse gesto a ruptura.57
Este elo perdido poderia ser pensado como retórica da perda, o que por sua vez pode
ser pensado como “uma estética modernista que configurou o patrimônio histórico e artístico
nacional”58. Com o Estado Novo, o Estado passa a encarnar o interesse legítimo da nação,
sendo o patrimônio um instrumento para seus fins. Sobre a especificidade do modernismo
brasileiro, Fonseca esclarece que:
o interesse dos modernistas pela questão da brasilidade decorreu de uma elaboração
no próprio campo da criação artística, que teria ocorrido por volta de 1924, e que
implicou a introdução do conceito de tradição como elemento estruturante de uma
produção artística que se queria ao mesmo tempo universal e particular – no caso,
nacional. Ou seja, que se queria singular, artística no sentido moderno 59.
55CHUVA, Márcia. Fundando a nação: a representação de um Brasil barroco, moderno e civilizado. In: Topoi,
v. 4, n. 7, jul.-dez. 2003, p. 321.
56CHUVA, 2003, p. 321.
57CHUVA, 2003, pp. 327-328.
58CHUVA, 2003, p. 329.
59FONSECA, 2009, p. 90.
60FONSECA, 2009, pp. 90-91.
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realidades, além do que, no caso brasileiro o movimento tinha como retórica a crítica à
importação acrítica de valores europeus – o que tornaria contraditório o próprio movimento de
importação de valores de contextos exógenos sem quaisquer critérios.
Na introdução de Arquitetura contemporânea no Brasil o historiador francês Yves
Bruand expõe a importância do meio geográfico e das condições históricas no
desenvolvimento da arquitetura moderna no Brasil. Para ele, o território brasileiro, com um
vasto meio físico determinado por planalto ou uma região litorânea cheia de relevos, bem
como a condição climática marcada por calor, excesso de luminosidade e violentas chuvas,
marcaram significativamente esta produção que teve uma “solução perfeita” com o térreo
livre e o prédio sobre pilotis61. Com relação às condições históricas, o fenômeno da
urbanização e da industrialização deram impulso decisivo à atividade imobiliária, restrita até
então pela aristocracia rural - que perdera seu monopólio com a crise de 1929. A opinião
pública sobre o novo estilo moderno só se convertera após a conclusão do prédio do
Ministério da Educação e Saúde em 1943, o qual fora absorvido pelo nacionalismo brasileiro,
que desde a Proclamação da República voltara-se para o passado. Desta forma, “encontram-se
aí as duas tendências, ambas nacionais, entre as quais oscila o Brasil do século XX: a vontade
de progredir, de romper com o passado, e um apego ao mesmo tempo sentimental e racional a
esse passado, especialmente o da época colonial, origem da personalidade do país” 62. Este
olhar duplo dirigido ao passado e ao futuro tinha por objetivo distinguir-se do estilo
internacional. Para tanto, o poder público desempenhou papel decisivo ao demandar prédios
novos. Bruand chama a atenção para o caráter pessoal que as obras públicas assumem e que o
fato de os políticos tentarem aumentar seu prestígio junto ao público teria aspecto positivo ao
desenvolvimento da arquitetura63. Ainda sobre a prática do serviço público, o autor pontua
que “a maior parte das obras da nova arquitetura brasileira são edifícios públicos cujo
arquiteto foi escolhido diretamente, em detrimento das disposições legais, ao mesmo tempo
em que os júris dos concursos realizados não raro premiaram soluções medíocres” 64, como
ocorrera no caso do concurso do prédio do Ministério da Educação e Saúde65. Para Bruand,
61BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. Tradução Ana M. Goldberg. São Paulo:
Perspectiva, 2012. pp. 11-14.
62BRUAND, 2012, p. 25.
63BRUAND, 2012, p. 27.
64BRUAND, 2012, p. 28.
65A decisão do Ministro da Educação Gustavo Capanema em 1936 foi por recusar o projeto premiado no
concurso vencido por Archimedes Memória e Francisque Cuchet (marcado pela ornamentação marajoara),
chamando Lúcio Costa para executá-lo, chamando outros arquitetos para colaborarem com o projeto (Bruand,
35
2012, p. 28-29). Para informação complementar, ver: Itaú Cultural. Ministério da Educação e Saúde – MES.
Disponível em <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3762/ministerio-da-educacao-e-saude-mes>.
Acesso em 5 de junho de 2021.
66BRUAND, 2012, p. 33.
67BRUAND, 2012, pp. 52;55;58.
68BRUAND, 2012, p. 59.
36
importa? Não queremos entender!... Ai de quem nos repetir essas palavras infames!...” 69. No
caso brasileiro operou-se uma mudança na apropriação feita a partir deste manifesto:
A princípio o movimento foi sendo designado por 'Futurismo' e futuristas os seus
autores, circulando a palavra no Brasil desde 1915, e, em 1921, Oswald de Andrade,
em artigo retumbante, ainda chamava Mário de Andrade de 'O meu poeta futurista'.
Todavia, a palavra, usada no começo, como se pode ver nos artigos de 1920 e 1921
de Menotti del Picchia e Oswald de Andrade, passou a despertar a oposição dos
corifeus do movimento, que não aceitavam a confusão com o de Marinetti, e
reagiam contra o epíteto, empregado a seguir, sobretudo pelos adversários, com
intuito de ridículo. [...] Mas a irritação, sobretudo de Mário de Andrade, atingiu o
auge em 1925 por ocasião da colaboração modernista ao jornal A Noite, do Rio de
Janeiro. Primeiro o título da seção seria 'O mês Futurista', contra o que protestou
Mário de Andrade, levando o jornal a mudá-lo para 'O mês Modernista que ia ser
Futurista'. Novo protesto de Mário, e então adotou-se o cabeçalho 'O Mês
Modernista', e aí colaboraram os grandes do movimento.70
O estopim que desencadeou uma ação mais engajada de intelectuais sob o rótulo de
modernistas deu-se na defesa da artista Anita Malfati, chamada de “ser bizarro” por Monteiro
Lobato. Os participantes do movimento não tinham um programa coerente, sendo seu
elemento aglutinador a natureza negativista e demolidora que visava uma ruptura com o
passado e, no caso brasileiro, independência cultural da Europa71. Curiosamente, a introdução
deste pensamento na arquitetura se dará através de Gregori Warchavchik, imigrante russo
formado na Itália, que propôs uma arquitetura ditada pela praticidade e pela economia de
acordo com os preceitos do suíço Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido sob o
pseudônimo Le Corbusier. A reputação de Warchavchik fez com que Lúcio Costa o
convidasse para lecionar arquitetura moderna na Escola de Belas-Artes, quando este assumira
o posto entre 1930-193172. Apesar de efêmera, a cadeira obteve grande aceitação dos
estudantes, e recusa dos mestres do estilo neocolonial. Em Pernambuco, Luís Nunes, também
inspirado em Le Corbusier, porém, com maior influência da Bauhaus do alemão Walther
Gropius, também desempenhou grande papel na divulgação do estilo – apesar de ter falecido
ainda jovem73.
Retornando à questão patrimonial, um dos primeiros projetos elaborados com a
finalidade de considerar objetos a lugares enquanto “propriedade da nação” foi redigido pelo
arqueólogo brasileiro Alberto Childe a pedido da Sociedade Brasileira de Belas Artes.
Fonseca comenta que o grande empecilho ao projeto de Childe deu-se com relação à
inviabilidade de desapropriar os bens para protegê-los74, ao qual as propostas encaminhadas
ao Congresso esbarravam no direito de propriedade, que com o advento do Estado Novo foi
amenizado por conta da ideia de por limites à função social da propriedade em 193475. Pouco
tempo depois foi solicitado a Mário de Andrade que elaborasse um projeto de órgão de
preservação. A contribuição de Mário de Andrade suscita uma divisão na historiografia do
campo patrimonial brasileiro e é objeto de embates antagônicos.
Propondo-se a pensar novos paradigmas para a preservação do patrimônio cultural, a
historiadora brasileira Márcia Chuva, em artigo publicado na Revista do Iphan 76, busca
compreender os motivos e sentidos dessa divisão do campo patrimonial no Brasil
manifestados na dicotomia material e imaterial, que por sua vez refletiriam as “singularidades
da trajetória de formação do campo” 77. Na versão oficial da trajetória patrimonial no Brasil
produzida na década de 1980 é apontada uma divisão em duas fases (heroica e moderna) e
para a ideia de que o anteprojeto de Mário de Andrade teria sido fundamental para a
consolidação do texto do Decreto-lei nº 25 de Rodrigo Melo Franco de Andrade. Esta
recorrência à Mário de Andrade é percebida por Chuva como obscurecedora da complexidade
e do antagonismo presente na tensão política em que acontece a definição patrimonial78.
Se houvera monopólio da versão dos fatos modernistas, a distinção entre material e
imaterial seguiu rumos institucionais separados, respectivamente no campo do patrimônio e
do folclore, mesmo que tenham sido “originados da mesma matriz andradiana e no mesmo
contexto político-cultural brasileiro – de um nacionalismo não meramente retórico, mas
constituído em política de Estado pelo governo Vargas”79. O fato de Mário de Andrade ter
trabalhado no Sphan seria um indicador de que ele não via contradição entre seu anteprojeto e
o trabalho desenvolvido pela instituição, sendo a oposição entre o anteprojeto e o Decreto-lei
nº 25 “um falso problema, se considerado do ponto de vista dos objetivos mais imediatos do
Sphan, quando de sua criação, e do quadro político e ideológico naquele momento” 80. Para
Fonseca, o espírito do anteprojeto não fora esquecido, apesar da prioridade ter sido dedicada
“aos remanescentes da arte colonial brasileira, justificada pelos agentes institucionais como
decorrência do processo de urbanização”81. Fato curioso, na medida em que a compatibilidade
do movimento modernista com o Estado Novo deu-se pela superação das velhas elites
agrárias por um movimento urbano de massa. De todo modo, os critérios adotados para o
tombamento centravam-se na autoridade dos agentes e da instituição na medida em que “cabia
ao Estado, naquele momento, o papel de intérprete e guardião dos valores culturais da nação”.
Mário de Andrade, vinte anos depois, traçaria o que lhe pareceram os rumos iniciais
do movimento: 1) Ruptura das subordinações acadêmicas; 2) Destruição do espírito
conservador e conformista; 3) Demolição de tabus e preconceitos; 4) Perseguição permanente
de três princípios fundamentais: a) direito à pesquisa estética; b) atualização da inteligência
artística; c) estabilização de uma consciência criadora nacional 82. Desta forma, Bruand
observa uma dualidade do modernismo brasileiro com a “tentativa de sintetizar preocupações
ao mesmo tempo revolucionárias e nacionalistas”83.
Fonseca conclui que foi a noção de civilização material e a interpretação que os
arquitetos modernistas fizeram da arquitetura brasileira é que justificaram os tombamentos da
primeira fase sob o comando da Rodrigo Mello Franco de Andrade, interpretação fundada,
por sua vez, nas noções de valor nacional e de valor excepcional84. Em resumo, a nomeada
por Fonseca de “fase heroica” resume-se em 4 pontos: 1) a legitimação das escolhas se dava
pela autoridade dos técnicos; 2) prevaleceu uma apreciação de caráter estético; 3) o valor
histórico não era o foco principal; 4) a prioridade era assegurar a proteção legal através de sua
inscrição nos Livros do Tombo85. Para Fonseca houve ainda uma fraca autonomia em relação
ao Estado Novo, especulando que o interesse para o governo getulista na arregimentação dos
intelectuais no aparelho estatal era evitar que estes elaborassem críticas ao regime. Para além
disso, os intelectuais engajados, na visão de Fonseca, “fizeram do Sphan [...] uma instituição
eminentemente técnica, que desenvolvia um trabalho altamente especializado e de grande
responsabilidade científica e social, na medida em que era juridicamente responsável pela
instituição do patrimônio histórico e artístico nacional”86.
Fonseca assinala que após 1945 houve um engajamento político de alguns
intelectuais, radicalizando-se a politização da atividade cultural em meados da década de
1960. Durante o Governo Geisel o Estado portava-se não apenas como repressor, mas também
como organizador da cultura. Neste período o modernismo passou a ser objeto de contestação
e de crítica. Se nos anos iniciais os adversários enfrentados pelo Sphan resumiam-se aos
“vigários obtusos ou prefeitos modernosos”, a partir da década de 1960 o grande vilão era a
“poderosa especulação imobiliária”87. Importante assinalar que
o entendimento de patrimônio cultural de Mário de Andrade era bastante diferente, e
até mesmo antagônico, do entendimento do grupo de intelectuais [...] que se tornou
hegemônico no Sphan. Para Mário de Andrade, a cultura brasileira deveria ser
apreendida como uma totalidade coesa, ainda que constituída pela mais ampla
diversidade de práticas possível [...] a identidade nacional seria uma síntese de
diferentes costumes e formas de expressão, resultado de suas preocupações acerca
do folclore.88
problema de absorverem tecnologia de cuja evolução não participaram” 98. Deste modo, ele
propunha uma “vacina da adequação dessas alterações à verdade e autenticidade do perfil
cultural da nação”99. Que vacina seria essa?
Em sua concepção, essa vacina deveria levar a um “desenvolvimento harmonioso” 100
que deveria considerar as políticas de metadesenvolvimento (ao nível macro) e de
paradesenvolvimento (ao nível micro). Se o primeiro cuidaria dos grandes complexos
industriais, o segundo seria “indispensável para que o metadesenvolvimento não se desvincule
da realidade nacional, acarretando a perda de identidade cultural e eventualmente afetando
mesmo a soberania nacional”. Percebe-se que Magalhães mantinha termos próprios de seu
contexto: desenvolvimento e soberania nacional. Desta modo, Magalhães questionava-se:
“quais são os valores permanentes de uma nação?”101.
Para ele, o conceito de bem cultural, no Brasil, continuava restrito aos bens móveis e
imóveis102. Assim, “permeando essas duas categorias, existe vasta gama de bens [...] que por
estarem inseridos na dinâmica viva do cotidiano não são considerados como bens culturais
nem utilizados na formulação das políticas econômica e tecnológica.” Magalhães entendia
que a possibilidade de ampliar e revitalizar o IPHAN de modo a cobrir maior espectro de bens
culturais era viável e lógica103, para tanto, “era necessária uma conceituação nova e
abrangente de bens culturais”104.
Assim, a definição de bem cultural “depende de algumas constantes que possam ser
identificadas, algo que tenha sido reiterado na trajetória do país. Não tem que ser
necessariamente original ou autóctone. O que caracteriza a autenticidade são alguns valores
atribuídos àquele fenômeno, àquele objeto, àquele ato”.105.
Magalhães reconhecia que em países pobres “a preservação passa a ser um luxo” 106,
daí não podermos assumir uma estrutura policialesca voltada à proibição, mas que devemos
“encontrar os mecanismos que permitam essa adequação entre a postura de preservar e a
postura de mudar, de crescer”. Nós, do “Terceiro Mundo”, poderíamos inserir no conceito de
bem cultural toda uma gama de percepção de uma realidade que na verdade não está
cristalizada, da qual sequer há ainda uma representação clara, mas que justamente pela sua
fragilidade, pela sua vitalidade, pela sua importância como indicadores de formulação de
identidade cultural, são bens que precisam ser preservados107.
Essa ideia de preservação surgira a partir do questionamento de Severo Gomes,
Ministro da Indústria e Comércio do Brasil entre 1974 e 1977, do porquê de o produto
brasileiro não ser reconhecido. Para Magalhães a “resposta mais imediata foi que, para se
criar uma fisionomia própria de uma cultura é preciso antes de conhecer a realidade desta
cultura em seus diversos momentos”108. Logo, o objetivo do Centro Nacional de Referências
Culturais seria estudar as formas de vida e atividades pré-industriais que estavam
desaparecendo de modo a “tentar influir sobre elas, ajudando-as a dinamizar-se” 109. Ele via o
Programa Cidades Históricas e o CNRC como aliados do IPHAN para atender à nova
complexidade da situação na qual se inseria a problemática relacionada com a preservação
dos bens culturais110.
Para Magalhães, não seria possível atuar de cima para baixo de acordo com a prática
do IPHAN pois “uma gama de atividades do povo [...] deve ser tomada como bens culturais”,
mais especificamente os “bens culturais vivos”111.
A grande inquietação de Magalhães era como atuar sobre a realidade e devolver à
população os benefícios gerados pelo desenvolvimento das políticas públicas, na medida em
que uma atividade popular não teria consciência de seu valor. Neste sentido, já
institucionalizado sob a forma de Fundação Nacional Pró-Memória, buscou-se “traçar um
sistema referencial básico para a descrição e análise da dinâmica cultural brasileira, tal como é
caracterizada na prática das diversas artes, ciências e tecnologias”112.
Muito hábil politicamente, Aloísio Magalhães amenizava a crítica a Rodrigo Mello
Franco de Andrade, afirmando que este “foi obrigado a se dedicar quase exclusivamente aos
bens em perigo de extinção”113 e que as pessoas não haviam compreendido o verdadeiro
patrimônio concebido por ele e por Mário de Andrade 114. De modo a legitimar sua ação afirma
107MAGALHÃES, 1997, pp. 93-94.
108MAGALHÃES, 1997, p. 116.
109MAGALHÃES, 1997, p. 117.
110MAGALHÃES, 1997, p. 139.
111MAGALHÃES, 1997, p. 120.
112MAGALHÃES, 1997, p. 139.
113MAGALHÃES, 1997, p. 120.
114MAGALHÃES, 1997, p. 222.
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que a consciência “existe porque está implícita no documento original de Mário de Andrade.
Ou seja, curiosamente, tudo isso que a gente traz agora não é novidade. É apenas, vamos
dizer, a retomada no momento histórico certo de segmentos que já estavam previstos na
antecipação de Mário de Andrade”115. De uma só vez, Magalhães ameniza as limitações do
contexto de ação de Rodrigo Mello Franco de Andrade e reivindica e resgata a tradição de
Mário de Andrade.
Infelizmente a obra de Magalhães à frente da política pública relacionada aos bens
culturais foi interrompida quando ele tomava posse como presidente da Reunião de Ministros
da Cultura dos Países Latinos em Pádua, Itália em 1982. Após sua morte foi editado o livro E
triunfo?, registrando seu pensamento e sua ação à frente dos organismos federais de cultura,
reunindo discursos, ensaios e conferências de Aloísio Magalhães sobre política cultural.
Se o problema identificado relaciona-se com o dos modernistas da década de 1920 –
qual seja a tradição – a diferença é que buscava-se esta singularidade não mais cristalizada,
objetificada em bens “mortos” mas, com um desenvolvimento endógeno, a partir da busca de
soluções autóctones “do zero”, uma tradição viva, que fosse apreendida em sua dinâmica e em
sua pluralidade. Também pretendia-se começar do zero, sem importação de modelos do
exterior; e com uma visão crítica à visão romântica que predominava entre os folcloristas 116.
Fonseca assinala que, em relação ao anteprojeto de 1936,
O novo na proposta do CNRC era a perspectiva a partir da qual se valorizavam essas
manifestações, que não eram apreciadas via folclore ou etnografia. Tratava-se de
revelar um interesse até então não percebido: sua capacidade de gerar valor
econômico e de aprender alternativas apropriadas ao desenvolvimento brasileiro 117.
Desta feita, Fonseca assinala que a noção de cultura popular fora ampliada de forma
a comportar seu imbricamento com o mundo industrial e urbano a ponto de produzir uma
“vacina contra as poderosas influências externas que descaracterizavam a nação”. Deste
modo, a proposta do CNRC era “reelaborar essa dicotomia (erudito/popular)” 118. Ela observa
que
A prática dos agentes do CNRC e, posteriormente, da FnpM, como, certamente,
também a prática dos agentes da Sphan junto às comunidades vinha demonstrando
que os valores culturais atribuídos pelas elites cultas [...] aos bens que integravam o
patrimônio eram freqüentemente estranhos, ou mesmo indiferentes, para as
populações que conviviam com esses bens [...] seja porque essas populações lhes
atribuíam valores de outra ordem, seja porque consideravam que havia necessidades
mais prementes a serem atendidas pelo poder público119.
Porém, “em meados dos anos 80 [...] a questão central não era mais a da relação
entre cultura e desenvolvimento, e sim a relação entre cultura e cidadania” 120. Para Fonseca, o
uso recorrente do instrumento do tombamento faz confundir-se este com a ideia de
preservação121. Como consequência desta prática, para grupos menos favorecidos o
tombamento pode ser visto como algo positivo, para as classes média e alta como indesejável;
para os bens imóveis implica em desvalorização, para os móveis em valorização. Deste modo,
resulta que “os processos de tombamento constituem espaços de expressão desses
confrontos”122. Com relação aos pedidos de tombamento, Fonseca assinala uma grande
dificuldade em dar prosseguimento aos projetos que aguardam deliberação há mais de uma
década. Na década de 1970 há um aumento significativo de pedidos externos, embora “os
mecanismos de decisão continuaram restritos aos órgãos técnicos da administração central” e
“Portanto, um dos cuidados da instituição [...] é de, ao mesmo tempo, apresentar as
justificativas técnicas que levam (ou não) a cada tombamento, interpretando as disposições
genéricas do texto legal, e defender a autoridade de sua decisão quanto á avaliação de bens
para tombamento”123.
A ideologia do nacionalismo “vem sendo substituída pela noção de direitos culturais
como nova forma de legitimar essas políticas” 124. Estes direitos culturais teriam aparecido
inicialmente na constituição soviética de 1918 imbricada à noção de Bildung 125, sendo
somente no pós-guerra que esta noção foi relacionada aos direitos humanos. Porém, Fonseca
alerta que a luta pelos direitos humanos na América Latina na década de 1970 encontrava-se
mergulhada no contexto das ditaduras militares, e não no esgotamento do socialismo soviético
ou do estado de bem-estar social como na Europa 126. Para Fonseca os direitos culturais
inscritos na Constituição Federal de 1988 não passaram, num primeiro momento, de “meras
declarações de boas intenções”127. Na análise da autora, isto teria ocorrido devido ao
119FONSECA, 2009, p. 116.
120FONSECA, 2009, p. 172.
121FONSECA, 2009, p. 180.
122FONSECA, 2009, p. 181.
123FONSECA, 2009, pp. 185;201.
124FONSECA, 2009, p. 71.
125A noção de Bildung pressupunha a educação do cidadão de forma a cultuar o Estado e o sistema político
vigente.
126FONSECA, 2009, pp. 72-74.
127FONSECA, 2009, p. 74.
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argumento de que haveria necessidades mais urgentes a serem atendidas, ao que ela traduz por
“não dá voto”. A autora conclui que se a emergência do patrimônio histórico e artístico se deu
nos contextos da ideologia do nacionalismo, o patrimônio cultural teria surgido a partir de sua
inserção em um contexto mais amplo que vai dos mecanismos internacionais às comunidades
locais, envolvendo não apenas burocratas mas as comunidades locais128.
O primeiro item deste segundo capítulo é, em grande parte, o texto abordado no livro
Regimes de Cidade, lançado pelo autor no início de 2021, com alguns acréscimos e
modificações pertinentes a atender o escopo e foco deste trabalho. No segundo item
discorreremos sobre as políticas públicas e tentativas frustradas de preservação para na
sequencia fechar o capítulo falando sobre o patrimônio enquanto categoria jurídica no
município.
Brusque está inserida na microrregião do Vale do Itajaí-Mirim. Esta, por sua vez, é
composta ainda pelos municípios de Guabiruba e Botuverá. Esta microrregião compõe a
região do Vale do Itajaí, no estado de Santa Catarina, na região Sul do Brasil. Sua ocupação
inicial de maneira sistemática ocorreu pelos europeus com a fundação da Colônia Itajahy-
Brusque em 4 de agosto de 1860 e depois com a Colônia Príncipe Dom Pedro em 15 de
fevereiro de 1867, colônia que mais tarde foi incorporada à primeira, dando origem ao
município de São Luiz Gonzaga em 1881, renomeado de Brusque e depois desmembrado em
1962 dando origem aos municípios de Botuverá e Guabiruba.
Majoritariamente a população se caracterizou nos anos iniciais por ter emigrado a
partir de estados que mais tarde compuseram a Alemanha, sendo, portanto, a narrativa de
fundação da colônia associada aos pioneiros “alemães”. Estas colônias também contaram com
a presença de imigrantes de origem polonesa e americana/inglesa/irlandesa, os quais se
transferiram respectivamente para o Paraná e para diversos outros lugares, não se fixando em
grande quantidade no município de Brusque. Os elementos de origem italiana (e outras
nacionalidades) imigraram quando a colônia já contava no mínimo quinze anos, o que
resultou na concentração das melhores terras nas mãos dos teuto-brasileiros, ficando os
italianos, portanto, com os lotes mais distantes do Stadtplatz (núcleo colonial). Esta dinâmica
inicial de migração, juntamente a uma série de fatores, colaborou para que alguns imigrantes
alemães acumulassem capital (a partir das vendas e venda fiado aos estabelecidos mais tarde)
e, com isto, iniciassem um processo de industrialização. Com isto, o imigrante alemão
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exerceu influencia sobre os demais grupos étnicos por meio de seu poder econômico. É da
cidade resultante deste contexto que parece falar uma tríade que produziu obras que
inauguraram de forma consistente a historiografia brusquense: Oswaldo Rodrigues Cabral,
Giralda Seyferth e Maria Luiza Renaux [Hering 129]. Porém, antes de abordar estas obras, é
preciso assinalar a obra do antropólogo e sociólogo alemão radicado no Brasil que produziu
uma importante estudo antropológico dos imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil e
também a obra de um “trapeiro” (juntador de trapos, de fontes, como ele se denominava) que
empreendeu grande mobilização para a reunião de documentos que pudessem retratar o
primeiro centenário do município. Sem este panorama historiográfico, impossível falarmos de
uma história e patrimônio em Brusque.
Nascido em Colônia (Alemanha), no ano de 1905, o antropólogo e sociólogo alemão
Emilio Willems emigrou em 1931 para Brusque. Sua emigração ocorreu logo após ele obter o
título de doutor em Filosofia pela Universidade de Berlim, quando contava com 26 anos de
idade. Willems lecionou grego, latim e francês no Seminário de Azambuja, em Brusque130.
Em seu estudo antropológico publicado originalmente em 1941 A aculturação dos alemães
no Brasil, Willems investiga os imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil citando por
diversas vezes cidades catarinenses como Blumenau, Brusque e Guabiruba. Desse estudo,
Willems conclui que a cultura dos alemães sofreu mudanças mais ou menos profundas no
Brasil sobretudo por conta das mudanças do meio geográfico que impactaram nos elementos
de cultura material e tecnológica. O isolamento geográfico fez com que a pequena
propriedade, a família e a vizinhança ganhassem papel de destaque. Enquanto comunidades
puramente agrícolas, os colonos permaneceram nos primeiros anos sem influência da cultura
brasileira embora a tenham influenciado elaborando uma cultura híbrida que ele denominou
“teuto-brasileira”, principalmente com o processo de urbanização131.
Idealizada pelo relojoeiro Ayres Gevaerd, a Sociedade Amigos de Brusque (SAB) foi
criada formalmente em 4 de agosto de 1953 por meio do esforço de várias personalidades
brusquenses. A inauguração do prédio que abriga o Museu Histórico do Vale do Itajaí-Mirim
e o acervo da SAB ocorreu anos mais tarde, em 20 de janeiro de 1973. Gevaerd, memorialista
129Em algumas publicações o sobrenome de quando ela esteve casada aparece nas referências, optei por
referenciá-la como RENAUX.
130BOAS, Glaucia Villas. De Berlim a Brusque, de São Paulo a Nashville: a sociologia de Emílio Willems
entre fronteiras. Tempo soc., São Paulo , v. 12, n. 2, p. 171-188, Nov. 2000 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702000000200012&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 16 jan. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-20702000000200012.
131Páginas 574 a 578 do referido estudo.
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brusquense, foi o responsável pela reunião dos documentos de que dispomos para pesquisar
os primórdios da colonização e desenvolvimento do município. Além do esforço empreendido
na reunião dos documentos que constituem o Arquivo Histórico da SAB, Gevaerd também
esteve envolvido nas comemorações do Centenário de Brusque. Provavelmente inspirada
pelas comemorações e atividades desenvolvidas por conta do centenário de fundação de
Blumenau (1950) e Joinville (1951), dentro deste contexto foi encomendada ao pesquisador
Oswaldo Rodrigues Cabral uma obra que versasse sobre os primórdios de Brusque. Além
dessa obra foi compilado o Álbum do Centenário de Brusque (com diversas contribuições em
temas os mais diversos) e o livro “Folclore de Brusque”, de autoria de Walter Fernando
Piazza.
A obra “Brusque: Subsídios para a história de uma colônia nos tempos do Império”,
publicada em 1958, foi organizada em seis capítulos. Enquanto o primeiro deles aborda o
movimento colonizador e a fundação da Colônia Itajahy (Brusque); os cinco demais exploram
as gestões dos administradores das colônias com base nas correspondências escritas pelos
próprios administradores endereçadas aos presidentes da província (equivalentes a
governadores, na época). No primeiro capítulo, Cabral aponta que o movimento colonizador
em Santa Catarina principiou na zona litorânea ainda no século XVIII; tendo somente em
1829 sido fundada a colônia alemã de São Pedro de Alcântara; em 1836 os primeiros
elementos italianos em Tijuca Grande; franceses em Babitonga e Saí em 1842 e a dos belgas
em Ilhota em 1844. Por último a dos ingleses/americanos em Príncipe Dom Pedro, mais tarde
incorporada à Colônia Itajahy (Brusque), fundada em 1860. Nos cinco capítulos seguintes é
sobre os aspectos narrados nas cartas dos administradores destas duas colônias Itajahy
(Brusque) e Príncipe Dom Pedro, que Cabral desenvolve seu estudo que cobre o período entre
1860 e 1880, um ano antes de a Colônia Itajahy (com os territórios da Colônia Príncipe Dom
Pedro já incorporados) ser elevada à categoria de município, sob a denominação de São Luiz
Gonzaga (1881), tendo seu nome sido alterado para Brusque em homenagem ao Presidente da
Província de Santa Catarina Francisco Carlos de Araújo Brusque quando da Fundação da
Colônia em 1860.
Seyferth e Renaux (Hering132) também abordam em seus escritos o processo de
colonização alemã e industrialização no Vale do Itajaí-Mirim. Muito embora o lucro dos
vendeiros já tivesse sido citado na obra “Brusque” de Oswaldo Rodrigues Cabral, na obra de
trabalhadores na Fábrica Renaux situados em Tijucas e Gaspar, ela comenta que era a
população germânica quem ditava os padrões de conduta e os valores sociais 133, o que parece
nos levar a imaginar uma conduta passiva e submissa dos demais habitantes.
Além desta tríade, que de certa forma marcou uma historiografia épico/fabril,
tivemos também uma historiografia épico/febril em que se destacam os trabalhos de Aloisius
Carlos Lauth, sobre a imigração inglesa/americana (1987), Roselys Izabel Corrêa dos Santos,
sobre a imigração italiana (1981) e, Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart, sobre a
imigração polonesa (1984, 1988, 1989). Tanto Lauth quanto Goulart foram incentivados por
Ayres Gevaerd a investigar os temas. A obra de Santos é fruto de sua dissertação de mestrado.
Por outro lado, despontando em novos temas como a greve de 1952, Afonso Imhof 134 e depois
Marlus Niebuhr, em sua dissertação de mestrado135, exploram o movimento que envolveu
mais de 4.000 trabalhadores entre 19 de dezembro de 1952 e 26 de janeiro de 1953. Para além
da greve, tema de sua pesquisa de mestrado, Niebuhr coordenou os cursos de História na
Univali e Unifebe, onde dirigiu o Centro de Documentação e Memória Oral (CEDOM) no
Centro Universitário de Brusque - Unifebe. Além disso, Niebuhr atuou como Diretor no
Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural de Brusque entre 2009 e 2013,
tendo organizado o livro “Brusque 150 anos: Tecendo uma história de coragem” (2013),
escrevendo sobre temas diversos como cotidiano, trabalho, medicina popular e, mais tarde, o
livro “Memória Urbana” (2015), no qual aborda a atuação do Clube de Engenharia e
Arquitetura de Brusque no desenvolvimento urbano de Brusque. Neste último trabalho
Niebuhr chega a abordar os aspectos de evolução urbana de Brusque, porém cessa sua análise
no ano de 1977, ano de fundação do CEAB.
Novos trabalhos com temas diversos tem surgido em forma de monografias
acadêmicas fruto de dissertações e teses. Destaco as obras sobre temas os mais variados e que
escapam à área de história como o trabalho sobre o processo educacional envolvido na
trajetória de Fanny por Aquiles Duarte de Souza 136, educação no seminário de Azambuja de
Na primeira linha da letra escrita por Eduardo Mário Tavares 150, o que era para narrar
a chegada a um paraíso, parece também denunciar que neste Vale não havia perturbações de
ordem psicológica ou emocional como aquelas que ocorreram nos primórdios da colonização
quando, além de enfrentar a selva e os animais, também foram contratados os bugreiros,
assassinos dos nativos americanos. Na última estrofe reproduzida é a voz singular dos teares
que anuncia o canto triunfal de um pretenso movimento para frente, de um avanço.
Porém, a singularização de Brusque no concerto geral das cidades parece vir de uma
generalização: o enxaimel. Nesse contexto, o enxaimel parece ser uma resposta contraditória a
uma fobia da cidade genérica – o medo da descaracterização já apontada por Rodrigo Mello
Franco de Andrade ou Aloísio Magalhães, neste caso, um medo de que Brusque tivesse "sua
própria configuração como uma estética sem critérios, totalmente liberada da busca de
singularidade"151. Contraditória, pois ao adotar esta estética ela acaba se generalizando junto
às demais cidades que também adotaram essa ideia de singularização (são vários os
municípios no Brasil que ostentam em seu meio urbano o enxaimel): um anseio de
singularização pela generalização, ou generalização por anseio de singularização. Nesse
sentido voltamos à obra A crítica da estética urbana152, do filósofo e sociólogo francês Henri-
Pierre Jeudy. O diagnóstico de Jeudy é de que "uma certa nostalgia parece nos fazer acreditar
que a cidade não corresponde mais ao signo porque se teria tornado excessivamente percebida
graças aos símbolos de sua monumentalidade exibida" 153 - uma espécie de cegueira por
excesso. Para Jeudy, construímos de forma imaginária uma outra cidade dentro da própria
cidade, o que seria um problema, pois, da constelação de imagens que se tornou a cidade,
150O diácono Eduardo Mário Tavares foi o vencedor de um concurso realizado para a letra do Hino do
Centenário de Brusque, cuja música foi elaborada pelo Maestro Aldo Krieger. O Hino do Centenário acabou por
ser declarado o Hino oficial do Município de Brusque pela Lei nº 1.769 de 26 de abril de 1993 (BRUSQUE,
1993).
151JEUDY, 2005, p. 98.
152Ao lado de A maquinaria patrimonial, este texto compõe o livro Espelho das cidades. (JEUDY, 2005).
153JEUDY, 2005, p. 81.
54
adotar um ponto de vista seria sempre uma maneira de constituir um ponto cego da percepção
sobre a cidade154. Ainda, segundo ele,
Quando tentamos voltar a ver os lugares onde vivemos, ficamos desde logo
fascinados pela relação estranha imposta pela cidade, entre o que desapareceu e o
que foi recentemente construído, e somos cativados por esse movimento de
substituição reversível que estimula a memória antes que nasça a desolação. Se nos
lembrarmos do que foi, de qual era a configuração do local ao qual estamos
voltando, constataremos curiosamente que sua transformação presente permite à
memória se deleitar com as imagens de restituição, e sobretudo com sua espantosa
liberdade. A ausência do que foi possibilita qualquer intervenção presente da
memória. Assim, a sensação de desaparecimento não provoca nostalgia, mas, ao
contrário, provoca efeitos de atualização do local cuja atração visual está relacionada
à exibição presente de sua metamorfose.155
Ocorre que estes efeitos de atualização tornaram-se quase que incessantes. A ideia de
adotar o enxaimeloide como algo sintomático para refletir sobre o patrimônio cultural em
Brusque foi que me levaram a partir do mural pintado na parede do Terminal Urbano pela
artista Zane Marcos a buscar compreender seus elementos e as transformações urbanas
ocorridas em Brusque após a década de 1960 no livro Regimes de Cidade 156 - obra que
pretende preencher a lacuna historiográfica brusquense a partir da década de 1960 até a
década de 2020. Nesta obra aponta que as obras públicas que modificaram a paisagem urbana
do município estão relacionadas ao ímpeto realizador de Ciro Roza – tanto como empresário
quanto como político. Foi Ciro Roza quem deu início à adoção da estética enxaimeloide nos
prédios públicos de Brusque em seus três mandatos como Prefeito entre 1989-1992, 2001-
2004 e 2005-2008. Seria o enxaimel, fenômeno singular-genérico proposto para se fazer uma
singularização, um patrimônio de Brusque? Como se deu esse processo de criação da
legislação patrimonial em Brusque? Qual o estado atual dessa legislação?
163Ibidem.
164Ver legislação relativa à cada município nas referências.
58
coisa dessas”. “Mas ninguém vai construir o autêntico, isso não existe mais.
Ninguém mais vai fazer uma construção num estilo autêntico enxaimel. Isso é um
estilo de 100 ou 300 anos atrás, hoje é uma coisa nova. Mas se a gente não fizer
nada…” “ah não, nós não concordamos, nós não concordamos, um sujeito...”
Dia a dia, novas construções, algumas de estilo bizarro, como essa que aparece na
foto, são acrescida ao panorama arquitetônico da cidade.
À sua frente, o seu proprietário construiu um bonito jardim, que deu maior ênfase ao
estilo da casa, que parece suspensa no ar, apenas sustentada por leves e graciosas
colunas.
165Em 1979 foi anunciada a pretensão das Casas Pernambucana construir prédio típico em enxaimel. Ver:
Casas Pernambucanas querem construir prédio de estilo germânico em Brusque. O Município, Brusque. 9 nov.
1979. p. 8.
166Ver Veiga, 2013, p. 143.
59
Se o leitor que não a conhecer duvidar, que venha ver que, com bom gôsto, lh’as
mostraremos.167
Se hoje o termo “bizarro” daria uma conotação negativa, neste contexto deve ter
significado como sendo algo ousado ou inédito. Na edição seguinte do jornal, nova edificação
estampou a capa, a Villa Quisisana, residência de Oskar Gothard Pastor (genro de Edgar von
Buettner).
Sobre esta edificação, o jornal emitiu a seguinte opinião:
A pessoa que vir esta foto ha de pensar que está admirando um castelo medieval da
Europa. Na Alemanha, às margens do Reno, existem várias construções dêsse tipo,
só em maiores proporções, que exercem grande atração turística. A desta foto,
porém, é uma bela residência de Brusque que o turista, para ve-la e admira-la, não
precisa fazer muito esforço nem despender grandes somas em dinheiro. O
movimento turístico nacional, segundo se depreende da notícia dos órgãos
especializados, está aumentando constantemente, com forte tendência a intensificar-
se no Vale do Itajaí, que é uma das mais belas regiões do Sul do Brasil. Brusque
pelas suas características de cidade moderna e bem dotada de aspectos turísticos,
possuindo as mais belas residências de Santa Catarina, não pode ficar à margem
dêsse movimento.168
Segundo Jaime Mendes, antes de conhecer Brusque, por volta de 1950, fora alertado
pela imprensa de Florianópolis “sobre a beleza e originalidade” da arquitetura de Brusque.
Por este motivo é que ele decidiu mostrar aos leitores “as mais belas residências de
Brusque”169 o que na realidade aconteceu em apenas duas oportunidades. Coincidentemente,
poucos meses depois, em setembro de 1968, Blumenau ganhou destaque na revista Seleções
Reader’s Digest.
Embora em um primeiro plano aparecesse uma construção em enxaimel, as demais
construções também se diferenciam da arquitetura vernacular brasileira comumente
encontrada nas demais regiões do país. Um mapa destacado indica as rodovias pavimentas em
asfalto e as que ainda eram de terra. O apelo é nítido: Blumenau é “um outro país”. A ideia de
constituição da FIDEB e posterior construção do Pavilhão da FIDEB foi análogo ao ocorrido
em Blumenau com a constituição da COEB e criação do Pavilhão da FAMOSC, mais tarde a
COEB deu lugar à Fundação Promotora de Exposições de Blumenau – PROEB
(BLUMENAU, 1969), que também emprestou o nome ao Pavilhão “da PROEB”, até ser
rebatizado de Parque Vila Germânica em 2005170.
167As mais belas residências de Brusque. O Município, Brusque. 19 abr. 1968. Capa.
168As mais belas residências de Brusque. O Município, Brusque. 26 abr. 1968. Capa.
169Antes de conhecermos... (legenda de foto no centro da página). O Município, Brusque. 29 mar. 1968. p. 8.
170“Em outubro de 2005, os pavilhões antigos foram demolidos, e em dezembro do mesmo ano, iniciou-se a
construção de um novo centro de eventos, com três pavilhões concentrados, modernos e climatizados. Assim, em
05 de maio de 2006, foi inaugurado o Centro de Exposições Parque Vila Germânica.”. Ver: PARQUE VILA
60
Após um hiato de oito anos, em 1980, foi aprovada uma lei que dispõe sobre a
proteção do patrimônio natural, histórico e artístico cultural do município de Brusque,
disciplinando o tombamento e os seus efeitos 171. O pesquisador Aloisius Carlos Lauth, em
artigo publicado no periódico Notícias de Vicente-Só, editado pela Sociedade Amigos de
Brusque, ao comentar a
política municipal de conservação dos valores históricos” conclui que “Brusque
subjuga sua tradição: por temer a concorrência de outras cidades ou por má
aquilatação de suas potencialidades sócio-culturais, cidade que foi colonizada por
duas levas de imigrantes estrangeiros – alemães e italianos. […] Não é saudosismo,
então, perguntarmos: que restam das Exposições Agrícolas dos tempos coloniais,
quando fomos até Paris? Qual o fruto de tantos esforços particulares na
alfabetização? Que ganhamos a mais por iniciarmos a saúde pública na área da
psiquiatria? Que são feitos dos Jogos Abertos, de seu berço? Qual é a tradição de
nosso futebol profissional? A Festa de Reis do Tiro da Sociedade Caça e Tiro,
pioneira no Brasil? Que significam nossos teares na vida de nossa gente? Que são
feitas, enfim, das nossas Casas de Enxaimel, símbolo da colonização alemã? 172
presença de casas típicas de colonização alemã. Em outro artigo escrito em 1980, porém
publicado em 1982 na Revista Notícias de Vicente-Só, Lauth 174 comenta que
queiramos ou não, é questão de dias a consolidação de BLUMENAU transformar-se
num burgo alemão para centralizar o comércio, influenciando assim as cidades
vizinhas com características que, por semelhantes que sejam, não são próprias do
nosso município: pontos de ônibus, fachas de lojas, placas de sinalizações,
acabamentos residenciais, sociedades esportivas...
Lauth comenta ter realizado uma pesquisa durante dois meses e ter localizado 46
casas em enxaimel e que de modo geral as suas características seriam:
1. o enxaimel foi construído por alemães badenses; 2. cujos tijolos cozidos tinham
facetas laterais lisas; 3. eram fugados, ou pintados de cal; 4. a armação era de
madeira de lei, banhada a óleo cru; 5. assoalho tosco de tábuas largas e espessas; 6.
janelas de madeira, estreitas e altas; 7. forro alto, sobre barrotes grossos e também
toscos; 8. telhado quase vertical, com telhas lisas; 9. pilares de pedra granito, as mais
novas tinham tijolos rebocados; 10. varandas com frontais trabalhados; 11. as
paredes da sala-de-visitas e quarto-de-casal eram decorados em cores frias, com
motivos de flores miúdas, em linhas geométricas; 12. as instalações sanitárias
estavam desligadas da casa; 13. as repartições dos cômodos ficava a gosto do
proprietário; 14. o morador contratava os trabalhos do carpinteiro e pedreiro e sua
família o auxiliava e; 15. o estilo enxaimel está em completo abandono.175
Destas quarenta e seis casas na década de 1980, restaram apenas duas em Brusque.
Lauth aponta como causa do abandono da técnica construtiva três fatores: o alto custo da
mão-de-obra, a dificuldade de conseguir madeira já entalhada e a facilidade de aquisição de
tábuas e pregos para uma construção mais rápida. Segundo o testemunho que ele coletou em
seu trabalho de campo, as casas em enxaimel teriam sido construídas entre 1880 e 1940. Em
30 de setembro de 1982 foi apresentado um projeto de preservação da Rua das Carreiras,
elaborado pelas arquitetas Denise Adélia Back Comandolli e Siomara Cherem Schwarz. O
trabalho foi fruto de uma pesquisa de graduação das arquitetas na UFSC e teria sido inspirado
a partir do artigo escrito por Ayres Gevaerd dez anos antes 176. Em 16 de novembro de 1982
foi promulgada pelo Prefeito Alexandre Merico uma lei concedendo isenção fiscal de taxas e
IPTU de “todas as residências construídas até a presente data, nas ruas Hercílio Luz [das
Carreiras], Manoel Tavares, Marechal Deodoro e Humaitá” e seria “a título de incentivo à
implantação do Projeto de Preservação do Patrimônio Ambiental Urbano”.
No ano seguinte, em abril de 1983, três advogados impetraram ação popular “contra
a PREFEITURA MUNICIPAL e CAMARA DE VEREADORES DESTA CIDADE, bem
como contra todos os titulares das 185 propriedades” situadas na lei 1.074/82 177. Segundo
argumentaram os advogados, a medida constituiria “ato atentatória ao patrimônio (sic) do
Município, onerando-o com pesado encargo, equivalente a 2,2% da Receita do I.P.T.U.” 178 e
que “longe de atender os interesses da comunidade, porque utópico o Projeto de Preservação
do Patrimônio Ambiental Urbano, visa tão somente aos interesses particulares das 185
residências atingidas pela benesse”, sendo que um dos subscritos teria residência na rua
Hercílio Luz179.
Ainda em abril, nas dependências do Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque, foi
fundada a “Sociedade dos Amigos das Ruas das Carreiras - SACAR” com o objetivo de
efetivar o projeto apresentado no ano anterior 180. A mobilização não surtiu o efeito desejado,
pois em 18 de maio de 1983 o Prefeito José Celso Bonatelli revogou a lei que concedeu
isenção fiscal às casas do entorno da Rua das Carreiras.
Em 1987 novo apelo foi feito para que a Prefeitura conservasse a Rua das Carreiras:
Em nome do progresso casas que representavam verdadeiros monumentos foram
dizimadas em nosso município não havendo preocupação alguma para sua
conservação. Ainda nos resta a Rua das Carreiras: até quando não se sabe, porém, é
preciso lembrar, que foi ali o primeiro caminho da Colônia, partindo do ancoradouro
e subindo em direção ás nascentes do rio, onde se instalaram a Casa da Imigração e
a Sociedade dos Atiradores”181
O texto de 1987 repete boa parte do já explorado por Ayres Gevaerd em 1972 e
relata que entre 1982 e 1983 foram colhidos novos depoimentos de moradores. No ano
seguinte, em 1988, Aloisius Carlos Lauth explica novamente as propostas do projeto
apresentado pelas arquitetas em 1982, apelando para que a Câmara de Vereadores reconsidere
o projeto. Contudo, o assunto da Rua das Carreiras não voltou a ser debatido.
Iniciado o governo de Ciro Roza, em 1º de agosto de 1990 é publicado o Decreto de
Tombamento “como Patrimônio Histórico e Artístico do Município, o prédio situado à Praça
Barão de Schneeburg, nº 10”, o Casarão Schaefer.
Questionado acerca do processo de tombamento da referida edificação, Ciro Roza,
Prefeito na época, comentou:
se tu analisares, aqui em Brusque, a única coisa que devia se preservar, mas a
Prefeitura devia comprar e transformar aquilo num espaço público, numa biblioteca,
177KRIEGER, Nilo Sérgio; COLOMBI, João Alexandre; DADAM, Eloi Luiz. Ação popular contra a Prefeitura
e a Câmara Municipal. O Município, Brusque. 15 abr. 1983. p.2
178Ibidem.
179Ibidem.
180Fundada a Sociedade dos Amigos da Rua das Carreiras. O Município, Brusque. 6 mai. 1983. p. 5.
181Rua das Carreiras: um projeto ignorado. O Município, Brusque. 23 ago. 1987. p. 10.
63
em alguma coisa, que é a [Villa Quisisana,] casa do Herbert Pastor, porque ela é
diferenciada naquela época, mas não dar prejuízo à família. O Paulo Eccel criou
uma lei e foi tombando. Qualquer casa que tem 50 anos tombou. Tem pessoas que
eu conheço aqui na [rua] Felipe Schmidt que eles só não passam fome porque tem
gente que ajuda, e tem uma casa que se eles venderam da pra comprar um
apartamento pros filhos, pra ela e sobra um dinheiro. Isso é a coisa mais injusta do
mundo. Que espécie de sociedade, que nós estamos vivendo, que de repente entra
um louco e diz que tua casa é patrimônio, te tira um bem. Isso não existe. [...] Sim, a
casa [dos Schaefer] que era a mais antiga da cidade de Brusque e era uma
construção diferente. E hoje o que eu vejo, só tinha aquela construção, e aquilo a
Prefeitura ia pagar. Transformar numa biblioteca. Era bem no centro da cidade.
Porque sabia que eles queriam desmanchar pra fazer um prédio. Então pra não dar
prejuízo você ia comprar. Foi feito pela lei do tombamento pra poder fazer o acerto e
poder pagar. Era aquela casa e essa [Villa Quisisana] do Herbert Pastor. Existe
alguma outra que vale a pena ser tombado? Que obra da rua das Carreiras que tu
achas de arquitetura? Brusque tem 100 e poucos anos. Tem alguma arquitetura que
chama a atenção ali? Uma coisa simples ali. Só porque é velha? Não faz sentido.
Na fala de Ciro Roza três questões chamam a atenção: 1) a ideia de associação entre
o tombamento de uma edificação ou o fato de ela ser antiga com a instalação de uma
biblioteca; 2) a oportunidade de atacar o seu rival Paulo Eccel por conta da criação, em seu
governo, do Departamento e Conselho de Patrimônio Histórico e da elaboração, por parte
deste, do Catálogo e do Inventário do Patrimônio Histórico – que, apesar de não serem fruto
da compilação de edificações tombadas, acabam implicando no impedimento ou dificuldade
na demolição das edificações que neles estão inseridas. Vale ressaltar que o próprio Ciro Roza
foi o primeiro a tombar uma edificação. A segunda edificação que foi tombada no município,
e primeira a ser inscrita no livro Tombo, foi o Tiro de Guerra, em 12 de dezembro de 2012; 3)
a ideia de que o município teria de desapropriar a edificação tombada, o que se choca com a
ideia de tombamento - instituto jurídico criado justamente para evitar que o Poder Público
tivesse que desembolsar recursos com a aquisição de propriedades alvo de salvaguarda
patrimonial.
Em 6 de setembro de 1990 o tombamento foi destaque na capa de O Município 182. Os
vereadores Arno Michei (PFL) e Ivo Mário Melato (PMDB) apresentaram o projeto de lei
20/90 “o qual revoga a Lei 900/80, retroagindo seus efeitos à data da promulgação da Lei
Orgânica de Brusque, ou seja, 3 de abril de 1990”183. O jornal O Município informou ainda
que o Prefeito Ciro Roza vetaria a nova lei e que “Coincidência ou não, o casarão objeto do
tombamento estava em vias de ser comprado pelo Vereador Antônio Maluche Neto/PDS, que
182Casarão dos Schaeffer é tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal. O Município, Brusque. 6 set. 1990.
Capa.
183Tombamento: Câmara aprova lei e prefeito veta. O Município, Brusque. 6 set. 1990. p. 3.
64
revelou sua intenção de construir um prédio no local.”, reproduzindo a fala do vereador que
afirmou que ainda não teria concretizado o negócio.
Após a negativa do Prefeito, na sessão de 11 de outubro de 1990, a Câmara de
vereadores rejeitou o seu veto por oito votos a sete, em votação secreta. O líder da bancada do
PDT, vereador Serafim Venzon, pleiteou a anulação da rejeição do veto do Prefeito:
baseada nos artigos 20, 90 e 146 do Regimento interno da Câmara, ‘pois de acordo
com estes artigos, o Vereador Antônio Maluche Neto não poderia ter votado esta
matéria, por ser parente afim de 1º grau dos descendentes de Arnoldo Bauer
Schaeffer’, completa Venzon. Ele lembra que Maluche é casado com uma neta de
Arnoldo.184
184Lei do tombamento: Câmara rejeita veto do Prefeito. O Município, Brusque. 19 out. 1990. p. 3.
185Patrimônio Histórico: Começa a demolição do Casarão dos Schaeffer. O Município, Brusque. 9 nov. 1990.
Capa.
186Iniciada a demolição do “Casarão dos Schaeffer”. O Município, Brusque. 9 nov. 1990. p. 3.
187Casarão dos Schaeffer: crianças correm perigo de vida. O Município, Brusque. 27 set. 1991. p. 3.
188CAMPOS, Vânia. Casarão dos Schaeffer será demolido. O Município, Brusque. 20 dez. 1991. Capa;
contracapa.
65
Brusque na década de 1950, conforme citado por Jaime Mendes com referência a uma matéria
veiculada em Florianópolis sobre as casas de Brusque, e reforçado por ele em duas ocasiões
em 1968, apreende-se um conflito entre o interesse dos proprietários por uma vantagem
pessoal e a tentativa de técnicos ou políticos de implementar uma ação coordenada visando
um ganho coletivo. Esse destaque do ambiente urbano também foi explorado por Blumenau,
ganhando destaque por meio da revista Seleções, de circulação nacional. Perdendo a
ambiência singular por um processo de renovação urbana que descartava a preservação de
edificações que foram construídas espontaneamente de acordo com um processo histórico
baseado na imigração, iniciou em Blumenau um processo deliberado de adaptação de
edificações para se criar uma ambiência daquilo que se estava descartando, as construções em
“estilo germânico”.
Sobre o falso enxaimel em Blumenau, Francisco de Assis Zimmermann comentou
que “Quando Burle Marx andou aí por Blumenau, andou dizendo umas coisas sobre a
arquitetura alemã do passado que a Prefeitura Municipal daquela cidade e, talvez uma boa
parte da ‘inteligentzia’ de lá, não gostaram. […] Morreu, caputz!, como dizia minha avó” 189.
Segundo Aloisius Carlos Lauth, em conversa realizada em 21 de março de 2019, entre
1986/1987 a Casa Caça e Pesca, na rua XV de Novembro, em Blumenau, pegou fogo. O
proprietário teria tentado reconstruir a edificação em enxaimel, porém não encontrou quem
pudesse reconstruí-la. Essa dificuldade evidenciou a falta de mão-de-obra que pudesse
construir em enxaimel, demanda que só foi suprimida depois de alguns anos por uma empresa
em Pomerode que se especializou na técnica construtiva após anos de estudo. Na Casa Caça e
Pesca foi feita um enxaimeloso de metal.
Em 1987 foi noticiado que o arquiteto alemão Udo Baumam, consultor técnico do
Ministério da Cultura para Preservação da Arquitetura de Imigração Alemã e Italiana no
Brasil, poderia visitar Brusque no ano seguinte e que ele teria passado 10 meses em Santa
Catarina. Baumam havia estado há pouco em Blumenau, onde palestrou sobre o Plano Diretor
do Município, tendo sido convidado a vir a Brusque pelo presidente do COMUTUR, Valdir
Rubens Walendowsky. Segundo o engenheiro Alexandre Gevaerd190, a palestra foi proveitosa
“pela orientação que [Baumann] forneceu à municipalidade blumenauense, considerando que
sua palestra, focalizou, entre outros assuntos, ‘a possibilidade de conciliar a preservação de
189ZIMMERMANN, Francisco de Assis. Enxaimel no seculo XX. O Município, Brusque. 11 dez. 1981. p. 8.
190Alexandre Gevaerd é filho do ex-Prefeito Cyro Gevaerd. Ele atuou e foi responsável pela área de
Planejamento Urbano e de Trânsito nos últimos 20 anos em municípios como Blumenau, Itajaí, Brusque e
Gaspar.
66
edificações históricas com a necessidade de crescimento que a cidade tem’ 191. Baumam teria
declarado que teria levado “na bagagem” idéias para um trabalho futuro sobre a origem da
arquitetura no sul do Brasil.
Alguns anos antes, Baumam já havia estado em Santa Catarina por meio de um
intercâmbio cultural entre Brasil e Alemanha no qual ele foi responsável por “informar e
orientar na preservação do patrimônio histórico nacional […] orientando as comunidades na
execução de suas obrigações, concernentes à preservação no Estado de Santa Catarina 192. Em
novembro de 1981 ocorreu o Seminário sobre Desenvolvimento Urbano e Preservação do
Patrimônio Histórico, em Florianópolis, no qual participaram Prefeitos de diversos municípios
teria, segundo Baumam, despertado “nos participantes uma maior consciência para os
problemas da conservação de monumentos e prédios históricos”. Segundo ele, sua tarefa
consistia em desenvolver e aprofundar os resultados do seminário, em particular
- Assessoramento a cidades e municípios da região abrangida pela tarefa, na
conservação e recuperação do Patrimônio Histórico; - Assessoramento ao SPHAN
em Brasília na inventariação do Patrimônio Histórico; - Desenvolvimento de
metodologia para a inventariação de prédios históricos; - Aprofundar o trabalho
junto á opinião pública anteriormente iniciado.
191Consagrado arquiteto alemão vem a Brusque, em 1988. O Município, Brusque. 2 out. 1987. p. 10.
192Consultar Baumam, nas referências.
67
um teatro, se temos o anfiteatro da Febe e nunca se apresentou uma peça que valesse
a pena nele ainda? É de se pensar, não é mesmo? Será que algum dia vou ver uma
Marília Pêra, uma Túnia, uma Renata Sorrah por aqui? Sonhos…200
autenticidade. Isso explica porque, mesmo sendo falso, a sua disseminação pouco importa sob
os critérios de autenticidade/verdade, mas tão somente atender a um apelo, uma vez que não
obstante “falsear” uma aparência resultante de uma técnica construtiva e de possivelmente
não mais se dispor de mão de obra qualificada para a construção de uma edificação enxaimel,
ou até mesmo não ter mais sentido construir por ser anacrônico/extemporâneo edificar uma
edificação enxaimel com técnicas construtivas mais avançadas disponíveis, a replicação de
uma aparência semelhante à resultante de construções enxaimel em novas edificações, de
forma adaptada ou nova, é realizado como um desejo que é atendido por quem pretende
usufruir desse falseamento que atende à sua satisfação. O apelo de “estilo germânico”
desconsidera a presença desta técnica construtiva em outros países europeus e acaba por
reforçar a presença física de uma narrativa identitária por fins turísticos.
Diferentemente de Blumenau, Joinville e São Bento do Sul, onde ocorreram ondas
enxaimelizadoras incentivadas por conta de legislação de incentivo fiscal, a onda
enxaimelizadora de Brusque teve como principal promotor os agentes públicos, não atingindo
o curso da Avenida Cônsul Carlos Renaux, artéria principal do comércio mas ruas adjacentes.
No caso de Blumenau a rua XV de Novembro foi repaginada na onda enxaimelizadora 206, em
Joinville a Rua do Príncipe recebeu poucos exemplares207. Enquanto em Blumenau o
investimento na enxaimelização atravessou diversos governos, em Joinville o processo de
enxaimelização foi descontinuado, tendo sido interrompido em 1998 com a inauguração do
Fórum208. No caso de Brusque a onda começa em 1987/1988 com o Hotel Monthez e Casa de
Brusque, ganha força em 1989 com o Geschäfthaus e Rodoviária, e segue com a inauguração
dos prédios públicos até o segundo e terceiro mandato do Prefeito Ciro Roza entre 2001-2008.
Em Blumenau a construção da germanidade enquanto produto turístico teria sido
realizada com “três componentes fundamentais, o estímulo à construção ‘em estilo enxaimel’,
a preservação das construções consideradas típicas, e a Oktoberfest”209; contudo, em Brusque,
não ocorreu estímulo à construção, não obstante o desejo da COMUTUR, e não resultou em
lei de incentivo fiscal (talvez por conta da tentativa frustrada do projeto da rua das Carreiras
em 1982). Além disso, a ideia de preservação patrimonial, não obstante se ter consciência da
singularidade do conjunto de edificações, foi frustrada, além do projeto da rua das Carreiras,
também pela querela suscitada pelo tombamento do Casarão Schaeffer, tanto que atualmente,
atém do prédio do Tiro de Guerra, que foi tombado em 12 de dezembro de 2012, também o
prédio do Casarão Hort foi tombado, via determinação judicial, por Decreto editado em 31 de
maio de 2019. Quanto à festa, Kaestner comenta que “pegamos carona na festa de outubro,
desde o início, porém, no segundo e terceiro mandato de Ciro Roza a festa fracassou devido à
remodelação da festa com a contratação de shows nacionais”. Foi tentado, sem sucesso, uma
festa italiana denominada “Brusquitália” durante a gestão do Prefeito Hylario Zen, e depois
durante a gestão do Prefeito Paulo Eccel se realizou uma festa denominada “Felicittà – A festa
das etnias”.
Tendo visto como surgiu a onda enxaimeloide que se relaciona ao que ocorrera em
Blumenau, Rio Negrinho, Joinville e São Bento do Sul, a adaptação do projeto da Beira-Rio
como canal extravasor; as várias obras e ações que remontam a problemas das décadas de
1960-70-80, retomando à questão demográfica, é importante frisar que no Centenário de
Brusque, em 1960, havia pouco mais do que 20 mil habitantes, tendo dobrado para 40 mil em
1980, quando a cidade já contava com ligação asfaltada com o litoral e foi introduzida a
malharia e as Feiras Industriais começaram a surtir efeito. Depois, a cada década, Brusque
contou com novos 20 mil habitantes. Não obstante a iniciativa das Casas Pernambucanas em
1979, foi somente após o Hotel Monthez construir seu prédio entre 1987-1992 que o estilo
germânico foi incentivado, com o Centro Comercial Geschäfthaus, a Rodoviária,
Zoobotânico, Prefeitura e Fórum, quando Brusque atingiu 60 mil habitantes.
75
210CASTRO, Álisson. Regimes de Cidade: Turismo e Crescimento urbano no Vale do Itajaí. Brusque: Ed.
UNIFEBE, 2021. pp. 122-130.
77
pedidos protocolados, aprovados pelo COMUPA e que não resultaram em inscrição no livro
tombo: Bens da Massa Falida da Fábrica Renaux e Bens da Comunidade Luterana de
Brusque. Com relação ao primeiro grupo - que envolve as edificações da Associação Atlética,
Chaminé, Villa Ida, Villa Goucky, Loja de Fábrica e Galpão de Fábrica -, a notificação de
tombamento foi realizada em setembro de 2013 pelo não conhecimento da impugnação à
notificação de tombamento e desde então restou inconcluso o procedimento administrativo,
restando os bens tombados de forma provisória desde então. Com relação ao segundo grupo -
que envolve a Antiga Maternidade e a sede da Paróquia Bom Pastor -, foi aprovado o
tombamento pelo COMUPA em maio de 2015. Em fevereiro de 2017 o Ministério Público
arquivou o inquérito instaurado uma vez que “deu parecer favorável à ideia de que, para que
os imóveis mantenham-se preservados, o tombamento como patrimônio histórico não é
necessário”211. A Comunidade Luterana, detentora dos bens, não foi notificada e por conta
disso os bens sequer estão tombados provisoriamente.
Na esfera federal não há notícia sobre qualquer ação visando registro, chancela ou
tombamento de bem cultural no município de Brusque. Com relação à esfera estadual, além
do pedido de tombamento da Igreja Luterana e Comunidade Evangélica realizado por
iniciativa pessoal do Historiador Dr. Álisson Sousa Castro, o qual não teve qualquer retorno
por parte do Conselho Estadual de Cultura ou Fundação Catarinense de Cultura, também foi
solicitado pela Historiadora Dr. Maria Luiza Renaux o tombamento da Villa Goucky, onde ela
residia na época do pedido. Ambos os pedidos permanecem sem qualquer resposta.
A revisão do catálogo/inventário do patrimônio em 2021 visa atualizar e
complementar as informações acerca dos bens que foram efetivamente inventariados e
constam, portanto, inscritos no Livro Tombo. Além disso, essa revisão pretende deixar
incontroverso o entendimento de que a listagem dos demais bens de interesse patrimonial não
implica qualquer restrição relativa ao instituto jurídico do tombamento (disponível e
específico para essa finalidade) mas tão somente que as edificações listadas estão aptas a
usufruir os benefícios previstos na Lei do Programa Preservar.
211MP-SC avalia que imóveis da Comunidade Luterana não precisam ser tombados. O Município,
Brusque. Notícia de 09/02/2017. Disponível em: <https://omunicipio.com.br/mp-sc-avalia-que-imoveis-da-
comunidade-luterana-nao-precisam-ser-tombados/>. Acesso em: 25 ago. 2021.
78
foram os trabalhos acadêmicos produzidos por Luize Fernanda Foppa, Jaqueline Kühn, e o
Projeto Bairro e Memória - CEDOM, coordenado pelo autor deste inventário”.
Ademais são listadas as propostas de ação quanto ao patrimônio material e imaterial:
1) Apresentar o levantamento dos locais de preservação; 2) Desenvolvimento de projeto que
contemple 35 imóveis para criar um catálogo arquitetônico (volume 01); 3) Desenhar uma
proposta que será encaminhada aos proprietários destes 35 imóveis para um possível
tombamento, com as seguintes vantagens a) isenção de IPTU; b) ajuda para conservação do
imóvel para futuro restauro; c) preservação da memória da família em placa comemorativa; d)
placa de registro homenageando as autoridades municipais; 4) notificar os proprietários dos
imóveis não selecionados para que estejam desenvolvendo uma atividade pró-ativa de
preservação até o próximo catálogo arquitetônico; 5) implementar uma política de
preservação, turismo e lazer para os ‘Lugares de Memória’ Hercílio Luz, Centro Histórico,
Vale Azambuja e Espaço Fabril; 6) criar uma cartilha de preservação do patrimônio.
A ideia de “lugares de memória” será aprofundada no item 3.3 quando falaremos
sobre os dilemas contemporâneos envolvendo a noção de patrimônio cultural. Ela é
extremamente complicadora e aparece como um sintoma da inflação memorial. A aparição
deste termo é sintomática de uma inflação memorial.
80
Para além destes dois documentos, em setembro de 2013 foi entregue pela arquiteta
Rosália Wal o documento “Patrimônio Arquitetônico e Natural de Brusque”. Os imóveis
solicitados para descrição foram os seguintes:
1) Igreja Evangélica Luterana, inaugurada em 6 e janeiro de 1895; 2) Primeira
Maternidade de Brusque, inaugurada em 1938; 3) Igreja Matriz Católica, finalizada
em 1962; 4) Clube de Caça e Tiro “Araújo Brusque”, construído em 1866; 5) Museu
de Azambuja, de 1907; 6) Casa Cônsul Carlos Renaux, de 1935; 7) Edificação do
Tiro de Guerra de Brusque, construída em 1941; 8) Figueira plantada em 04 de
agosto de 1935, que será aqui avaliada como elemento de paisagem cultural no
contexto histórico da cidade.
Tal como o recorte do Inventário na constituição do Catálogo foi uma tentativa de
tombamento, este documento elaborado pela arquiteta Rosália Wal também foi encomendado
na expectativa de que estes 8 bens fossem tombados/chancelados.
Segundo a arquiteta, o documento “visa conhecer as características urbanas e
arquitetônicas que fazem destes imóveis e sítios históricos serem importantes elementos de
referencia no contexto histórico e cultural do município”.
Ao contrário dos documentos anteriores, o levantamento realizada pela arquiteta
Rosália Wal traz uma breve explanação sobre a metodologia utilizada, principalmente com
relação aos critérios de agrupamento das edificações em 3 grandes eixos: conjunto histórico
central, conjunto católico de peregrinação e centro de saúde e o conjunto industrial Carlos
Renaux, ficando o Tiro de Guerra e a Figueira isolados, sendo esta última classificada como
elemento do Patrimônio Natural da Cidade.
Curiosamente a Reserva Particular do Patrimônio Natural Chácara Edith, criada em
24 de janeiro de 2001, com uma área de 415,79 hectares, localizada praticamente na região
central do município, sequer foi citada nestes documentos.
Como critério de avaliação constam o valor paisagístico, urbanístico, arquitetônico,
histórico-cultural e econômico.
Por fim, um novo “Catálogo do patrimônio histórico, natural e artístico-cultural de
Brusque” foi elaborado em outubro de 2021 e aprovada na reunião do COMUPA na reunião
de 26/10/2021. O documento de 34 páginas é assinado pela arquiteta Ana Cláudia dos Santos,
pelo Historiador Álisson Sousa Castro, pela Diretora da Fundação Cultural de Brusque
Elisane Marcos e pelo Diretor de Relações Institucionais do Gabinete do Prefeito Rafael
Scheibel de Andrade, presidente da Comissão Especial criada pelo Decreto no 8.685/2020 e
84
2010 06
2011 01
2012 12
2013 12
2014 11
2015 9
2016 9
2017 14
2018 10
2019 11
2020 05
2021 05
Total 105
Estas atas foram recolhidas em três locais distintos: 1) um primeiro grupo estava em
posse da Fundação Cultural de Brusque e compreende 31 atas em folhas soltas entre maio de
2010 e dezembro de 2013; o segundo grupo estava no “arquivo morto” da Prefeitura e
compreende 15 atas entre fevereiro de 2014 e maio de 2015 que estão coladas em um livro de
atas; o terceiro grupo estava disponível no sítio eletrônico da Prefeitura de Brusque na seção
dos conselhos (COMUPA) e compreende 59 atas entre abril de 2015 a março de 2021.
86
212 As datas são referentes às datas das atas e não à posse e destituição de fato.
87
seu mandado cassado pelo TSE, tendo revertido a decisão após o término do mandato).
Roberto Pedro Prudêncio Neto, presidente da Câmara de Vereadores, substituiu o Prefeito e
teve mandato interino entre 31/03/2015 a 05/06/2016, tendo sido sucedido por José Luiz
Cunha que teve mandato tampão entre 05/06/2016 e 31/12/2016. O médico Jonas Oscar
Paegle cumpriu mandato entre 01/01/2017 até 31/12/2020, tendo sido sucedido pelo atual
Prefeito, José Ari Vequi, que assumiu a Prefeitura em 01/01/2021. Essas mudanças são
refletidas na composição do conselho, na redação da ata e nas próprias discussões e
deliberações.
2010
O Conselho Municipal do Patrimônio Natural, Histórico e Artístico Cultural
(COMUPA) foi criado no dia 1º de abril de 2010 por meio do Decreto nº 6.232 como um
conselho de caráter paritário, deliberativo e consultivo com o objetivo de proteger os bens
móveis e imóveis de valor reconhecido mediante a adoção das providências necessárias e
previstas em regulamento.
Por meio da Portaria nº 6.983 assinada em 05 de abril de 2010 213 foram nomeados os
8 membros titulares e demais suplentes, representantes das seguintes instituições/órgãos: 1)
Superintendência da Fundação Cultural; 2) Diretoria de Patrimônio Histórico da Fundação
Cultural de Brusque; 3) Instituto Brusquense de Planejamento e Mobilidade (IBPLAM); 4)
Procuradoria Geral do Município de Brusque; 5) Ordem dos Advogados do Brasil - Subseção
de Brusque; 6) Instituto Nossa Cidade; 7) Clube de Engenharia e Arquitetura de Brusque
(CEAB) e; 8) Presidência do Museu Arquidiocesano Dom Joaquim (Museu de Azambuja).
Durante o primeiro ano de atuação ocorreu a instalação do Conselho e posse de seus
membros, sendo elaborado e aprovado o seu Regimento Interno. Foram também discutidos
vários temas: conscientização da população; o Decreto de criação do Conselho; o
levantamento de imóveis a compor a lista de bens a serem preservados e o emprego de
estagiários neste trabalho; o “resgate” da história de Brusque; o instituto do destombamento;
memorial da destruição do patrimônio; a falta de recursos do município para manter bens
tombados; patrimônio imaterial; Plano Diretor Urbanístico; sanções e multas para quem
destruir ou descaracterizar os bens. Na segunda reunião procedeu-se à eleição, sendo o
Historiador Me. Marlus Niebuhr, Diretor de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural de
213Na parte superior consta a data de 15 abril de 2010, na parte inferior aparece duas vezes a data de
05 de abril de 2010. Documento original disponível na Fundação Cultural de Brusque.
88
2012
O presidente Marlus Niebuhr foi reeleito para a presidência do COMUPA neste ano.
Os conselheiros debateram sobre a proposta de lei do Programa Preservar, que tinha por
finalidade dentre os vários instrumentos de preservação, adequar juridicamente a criação do
COMUPA de Decreto para Lei. O Presidente Marlus Niebuhr comentou na oportunidade que
89
já existia lei de Tombamento, porém a Prefeitura não contava com corpo técnico para dar
suporte às etapas do processo de tombamento, tampouco teria recursos para restaurar os bens.
Ressaltaram os conselheiros a preocupação com relação à ausência de penalidades para
aqueles que descumprirem as leis de preservação.
Com relação ao Catálogo e Inventário, o Presidente Marlus Niebuhr comentou que
“seria importante uma revisão feita por uma comissão do Conselho, tanto do Inventário como
no Catálogo, e posterior apresentação aos conselheiros”.
Foram várias as ações e projetos que foram sugeridos ou implementados neste ano:
1) sugestão de implantação do Laboratório de mídia do Departamento de Patrimônio
Histórico; 2) Projeto de Lei que institui o Sistema de Arquivos de Brusque com uma
Comissão Central de Avaliação de Documentos; 3) lançamento do livro “Brusque 150 anos” e
início da tradução para o alemão (lançado em 2013); 4) implantação da Sala Brusque Virtual;
5) início do levantamento arquitetônico de edificações por Rosália Wal (concluído em
setembro de 2013); 6) aprovação do Plano Municipal de Cultura.
Com relação às propostas de preservação, foi cogitado o tombamento do Parque das
Esculturas. Também foram apresentadas propostas de aproveitamento da Villa Quisisana: 1)
memorial ou museu das famílias Buettner e Pastor mantido pela Prefeitura de Brusque; 2)
memorial da indústria têxtil, ampliando para as famílias Renaux e Schloesser; 3) galeria de
arte municipal.
Foi elaborado um projeto visando a preservação da Serralheria Mosimann com um
roteiro turístico e histórico, até que, em março, o conselho foi informado de que os
proprietários optaram pela demolição da referida edificação. Além desta, também ocorreu a
demolição de uma casa na esquina da rua Sete de Setembro e rua que dá acesso ao Colégio
Osvaldo Reis sem o alvará de demolição e comunicação ao conselho.
No fim do ano, ocorreu a conclusão da reforma e o tombamento da edificação que
abriga o Tiro de Guerra.
2013
Este ano marcou o ápice das políticas patrimoniais no município de Brusque:
reformulação e ampliação do COMUPA com a sua instituição por lei no lugar de Decreto;
aprovação do tombamento dos imóveis da massa falida das indústrias Renaux; levantamento
arquitetônico de edificações pela arquiteta Rosália Wal e mecanismo de controle dentro do
IBPLAN visando permitir o diálogo com os proprietários de imóveis alvo de interesse
90
2014
As atas deste ano tornaram-se extensas, a mudança na Presidência possibilitou que
vários assuntos pudessem ser tratados de maneira menos coordenada do que como vinha
sendo feito pelo Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural. Se no ano
anterior as atas não passavam de duas a três páginas, agora elas frequentemente passavam de
cinco a seis páginas.
Em março foi realizada a substituição do conselheiro Marlus Niebuhr, exonerado do
cargo de Diretor de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural de Brusque no fim de
fevereiro, pelo Historiador Álisson Sousa Castro, servidor de carreira da instituição. O cargo
de Diretor do Departamento de Patrimônio Histórico nunca mais foi ocupado desde então e a
Fundação Cultural de Brusque deixou de contar com alguém responsável pela área. Na
mesma reunião foi aprovado o novo Regimento Interno do COMUPA.
Com a sua ampliação, o COMUPA começou a sofrer com um problema de ausência
de representantes em suas reuniões, dentre eles os representantes da ASSEVIM e do SAMAE.
Deste último órgão, em abril ocorreu a substituição do titular, situação que deu ensejo à uma
verdadeira sabatina com relação às políticas de preservação do patrimônio natural em
Brusque.
Em sua primeira reunião no mês de março, o conselheiro Álisson Castro defendeu a
divulgação do Catálogo e do Inventário do patrimônio uma vez “que se as pessoas não
tiverem consciência de que determinado imóvel se constitui em patrimônio, então não é
patrimônio. Aduziu que é necessário dar visibilidade aos bens e produzir conhecimento”. Dois
meses depois, na reunião de maio, um proprietário que havia demolido sua residência
compareceu à reunião do COMUPA alegando que “não tinha consciência da relevância do
imóvel e que se tivesse, não o teria adquirido; que nunca foi notificado dessa relevância e que
nada constava na matrícula do mesmo; que já tem projeto pronto para construir; e que apesar
de não ter pedido autorização para demolir, jamais teve qualquer má-fé”. Ao fim, solicitou
que sua punição fosse igual aos demais proprietários que demoliram edificações sem alvará.
93
2015
A demolição do Casarão Strecker sem o devido alvará da Prefeitura e consentimento
do COMUPA deu início à Ação Civil Pública nº 0900131-83.2014.8.24.0011 promovida pelo
94
Ministério Público do Estado de Santa Catarina, sendo réus Cornélia Strecker, Guilherme
Strecker, Inês Hildegard Strecker, Luciane Strecker, Luiz Strecker, Simone Regina Moser,
Valdir Furbringer e WK Administradora de Bens Ltda.
Em abril de 2015 houve mudança nos conselheiros governamentais devido a
mudança de gestão na Prefeitura de Brusque por conta da cassação do mandato do Prefeito
Paulo Roberto Eccel (revertida no TSE posteriormente). Em maio o COMUPA deliberou por
recomendar ao chefe do Poder Executivo o tombamento da Igreja Evangélica e do edifício da
antiga Maternidade.
Foi dada a entrada de consulta prévia de imóvel localizado na rua Felipe Schmidt, n.
170, edificação que ainda permanece em pé ao lado do Tiro de Guerra. Também foi solicitada
reunião da proprietária do imóvel localizado na rua Marcos Malossi, n. 71 com os
conselheiros do COMUPA. No mais discutiu-se a possibilidade de revisão do Inventário e do
Catálogo e assuntos diversos que não tiveram qualquer encaminhamento.
2016
A partir deste ano as atas passaram a ser redigidas pela responsável atual pela
redação das atas, Jenifer Cardozo Schweigert. Neste ano os relatos das discussões foram
abreviados e a grande maioria não passa de apenas uma página.
Este ano foi problemático, sobretudo pela deliberação de exclusão de algumas
edificações do Catálogo e Inventário do patrimônio (indiretamente, autorizando sua
demolição) bem como pelo acidente ocorrido no Casarão Schaefer. De início debateu-se o
estado da chaminé da Fábrica Renaux que estava prestes a ruir (possivelmente por conta da
inatividade a estrutura de tijolos maciços começou a trincar). Esse bem foi restaurado no ano
seguinte pelo empresário Luciano Hang que adquiriu os bens da massa falida de, contratando
um especialista em restauro de chaminés.
Também foi aprovado o tombamento do Casarão Hort no mês de setembro,
edificação que abrigava uma venda por onde chegou a e passou a ser difundida a mensagem
Adventista no Brasil. A inscrição no livro de tombo só ocorreu em maio de 2019 após
determinação judicial.
Um assunto bastante debatido neste ano e nos anos subsequentes foi a situação da
edificação situada na rua Felipe Schmidt, nº 413, residência da senhora Rosarita Münch, que
fica ao lado do Tiro de Guerra. Foi negado o alvará de demolição por conta de a edificação
estar situada no inventário do patrimônio e principalmente por estar na área de entorno do
95
No mês seguinte novo relato de reunião com o Ministério Público, dessa vez o órgão
esclareceu que “O Ministério informou o arquivamente do pedido de Tombamento da Igreja
Luterana, ao qual um dos motivos foi que a comunidade não aceitou bem esse pedido de
tombamento”. Foi questionado a validade do Catálogo e Inventário ao qual o representante do
órgão teria respondido, no relato da presidente, que seria de “total validade”. Além disso
manifestaram preocupação com os tombamentos dos bens da massa falida da Indústria
Renaux e do Casarão Hort, ambos que, embora aprovados os tombamentos, não haviam sido
inscritos no livro tombo até aquela data.
Em maio o COMUPA recebeu um ofício da Câmara dos vereadores solicitando o
envio do Inventário.
O COMUPA apreciou predido de reforma e ampliação da Igreja da Limeira Alta,
enviando ofício ao arquiteto responsável com algumas considerações.
Em julho foi informado pelo conselheiro Álisson Sousa Castro que o Inventário e
Catálogo estariam disponíveis online no site da Fundação Cultural de Brusque e na Sala
Brusque Virtual.
98
Porém, em setembro foi deliberado com relação à edificação da rua Felipe Schmidt,
nº 413 (de Rosarita Münch) que
99
para novas edificações no terreno matrícula número 45971, deverá ser respeitado o
recuo frontal de 5 metros da linha de edificação do imóvel tombado Tiro de Guerra e
recuo lateral de 3 metros da linha de muro até o final da edificação do imóvel
tombado Tiro de Guerra; caso o recuo frontal for inferior a 10 metros terá de ser
respeitado o mínimo de 10 metros de recuo frontal. Os conselheiros também
informaram que para aprovação do projeto, deverá ser respeitado os recuos
deliberados, assim como as demais leis vigentes do município.
Em agosto a exclusão do imóvel da rua Guilherme Niebuhr, nº 139 teve seu pedido
negado por unanimidade por conta da deliberação de 2018 de não autorizar novas baixas. Foi
solicitada a exclusão do imóvel “Alfaiataria do Pedroca”, situado na rua Felipe Schmidt,
esquina com a rua Gustavo Krieger.
Em junho deste ano foi publicado o Decreto de tombamento do Casarão Hort, após
determinação judicial. O Casarão Hort foi o terceiro bem tombado no município.
A atualização e revisão do Catálogo e Inventário foram novamente solicitadas,
indicando os conselheiros Francisco e Edineia da UNIFEBE e o historiador Álisson Castro da
Fundação Cultural no mês de abril. Em agosto o representante da UNIFEBE, Francisco
comentou que a ideia é buscar assessoria do Senhor Dalmo ou da Senhora Rosalia,
ou até mesmo dos dois, para auxiliar a equipe que fará a formulação. O IAB e
CEAB entrarão em contato com o Senhor Dalmo e Senhora Rosalia para ajudar a
compor o orçamento prévio para apresentar à Prefeitura.
2020
No mês de fevereiro uma solicitação de tombamento de uma edificação na rua
Benjamin Constant, nº 256 foi refutada pelo diretor do Gabinete do Prefeito Rafael Scheibel
de Andrade uma vez que ela fica localizada próximo ao local onde foi ampliada a Avenida
Beira Rio margem esquerda. O tombamento da edificação de estilo simples, vernacular,
sequer foi apreciada.
Possivelmente por falta de quórum, algo que vinha ocorrendo nos anos anteriores, a
segunda reunião do ano só foi realizada em agosto. Nesta reunião foi informado acerca do
Decreto nº 8.685 que instituiu o Processo de Elaboração de Diagnóstico e a Execução de um
Plano de Ação objetivando a Revisão do Inventário dos Patrimônio Arquitetônico e
Urbanístico. O COMUPA oficiou ao diretor de Gabinete da Prefeitura “solicitando a inclusão
de um arquiteto com especialização em patrimônio histórico para composição da Comisssão
Especial e convidando-o a participar da próxima reunião ordinária”. Considerando o contexto
de instituição da noção de patrimônio concomitante à instituição da carreira de arquiteto no
101
tal qual a musealização proposta pelo filósofo alemão Hermann Lübbe compensaria a perda
de tradições vividas217. Huyssen conclui que as experiências de deslocamento e migrações que
parecem ser não mais a exceção, mas a regra no fluxo global de pessoas. Além disso, há um
mal-estar ocasionado pela ameaça do esquecimento que emerge da própria tecnologia atual.
Para o historiador francês François Hartog, a objetivação do passado fez do tempo
algo naturalizado, um impensado na história. Para ele, vivemos a imposição de um presente
onipresente, o que ele denomina por “presentismo”. A resposta da história profissional
francesa foi a denominada “história do tempo presente” após a década de 1980, modalidade
que é relacionada a demandas da atualidade judiciária (crimes contra a humanidade, com
característica de temporalidade imprescritível). Esta história do tempo presente lidaria com
processos inacabados, sujeitas ao interdito testemunhal. Para compreender esta inquietação,
Hartog usa a noção de “regime de historicidade”218.
Foi a partir do diálogo de Hartog com as obras do antropólogo estadunidense
Marshall Sahlins e do filósofo alemão Reinhart Koselleck que ele elaborou uma semântica
dos tempos históricos, levando em consideração as tensões entre “espaço de experiência” e
“horizonte de expectativas” propostos por Koselleck e estando atento aos modos de
articulação do presente, do passado e do futuro. “Regimes de historicidade” pode ser
compreendido tanto de forma restrita (como uma sociedade trata seu passado) ou ampla (para
designar uma modalidade de consciência de si de uma comunidade humana). Isto serviria para
iluminar modos de relação ao tempo; formas de experiência; maneiras de ser no tempo219. Na
perspectiva de Koselleck o “espaço de experiência” está relacionado à experiência do passado
governando a conduta no presente, da mesma forma, o “horizonte de expectativa” se refere à
expectativa futura governando as ações no presente. Hartog adicionou ao passadismo e ao
futurismo o presentismo onde se recusa o futuro e o passado é acessado apenas de forma
nostálgica. Nesse contexto, o alter ego da memória é o patrimônio.
Essa noção de presentismo acompanhou Hartog em 1994, quando os restos do Muro
não tinham ainda desaparecido em Berlim, quando se debatia a reconstrução ou não do
Castelo real, dentre outras questões. Em Berlim, o tempo era um problema, visível, tangível,
ineludível. Procurou-se apagar o passado de um lado e do outro de um muro que pouco a
pouco tornava-se um muro temporal. Lá, o historiador vagueia frente a fragmentos, restos,
marcas de ordem do tempo diferentes220.
Memória e patrimônio são tratados como indícios, sintomas de nossa relação com o
tempo. Por conta disso Hartog questiona se um novo regime de historicidade, centrado sobre
o presente, estaria se formulando? Para ele, o patrimônio se impôs como categoria dominante
da vida cultural e das políticas públicas221.
Ao discorrer sobre a política patrimonial na França, Hartog cita a noção crítica de
“lugares de memória” formulada pelo historiador francês Pierre Nora. Para ele, essa noção foi
formulada a partir de um diagnóstico de uma “patrimonialização” da história da França, senão
da França mesma, fazendo com que saíssemos da “história-memória” rumo à “história-
patrimônio”. Dentro dessa perspectiva, o patrimônio encontra-se ligado ao território e à
memória, categorias que operam como vetores de identidade. O patrimônio se apresenta como
um convite à anamnese coletiva. Ao “dever” da memória com o remorso, se teria
acrescentado uma “ardente obrigação” da memória e do patrimônio222.
Hartog comenta o caso do santuário de Ise – reconstruído a cada 20 anos -
ressaltando que no Japão o dilema ocidental “conservar ou restaurar” não existe. O “tesouro
nacional”, outra noção diferente da clássica concepção patrimonial, é conferido a um artista
ou artesão enquanto ele é detentor de um patrimônio intangível, podendo este título conferir
recompensas (indenizações), mas obrigando-o a transferir o saber223.
No decorrer dos últimos anos o patrimônio e a memória tomaram amplitude de tal
forma até tender ao limite que “tudo é patrimônio”. Tudo seria patrimônio ou suscetível de
tornar-se objeto de conservação patrimonial. O fato de a patrimonialização ou musealização
ter se aproximado do presente implicou em estipular que nenhuma obra de arquiteto vivo seria
considerada legalmente monumento histórico224, o que seria um indício deste presente que se
historiciza de imediato e logo em seguida passa a ser evocado – como foi o caso das obras dos
arquitetos modernistas tombadas no Brasil poucos anos depois de sua inauguração.
Hartog comenta que quanto mais a noção de patrimônio cresceu, mais se enfraqueceu
a noção de monumento. A lei francesa substituiu o “interesse nacional” pelo “interesse
público do ponto de vista da história e da arte”. Hoje o privilégio da definição da história-
220Op. cit. p. 264.
221Op. cit. p. 265.
222Op. cit. p. 266.
223Op. cit. p. 267.
224Op. cit. p. 268.
105
p. 21.
231Op. cit. p. 22.
232Op. cit. p. 23.
233Op. cit. pp. 25-26.
234Op. cit. pp. 26-27.
107
São essas variações de situações da identidade que impedem de reificá-la, de reduzi-la a uma
essência ou substância235.
Em seu livro A maquinaria patrimonial236, o filósofo e sociólogo francês Henri-
Pierre Jeudy reforça a noção de “lugares de memória” de Pierre Nora ao refletir que a
conservação patrimonial acaba por nos liberar do peso das responsabilidades da memória.
Essa inflação memorial parece ser uma garantia contra o esquecimento e essa garantia é
resultado de uma mentalidade culpabilizante, imposta pelo “dever de memória”, estimulada
por uma moral da rememoração onde esquecer parece ser um ato criminoso. Por conta disso
acabamos por censurar as gerações precedentes por terem tão facilmente esquecido ou não
terem preservado determinados bens que hoje consideraríamos patrimônio. Se o esquecimento
provoca a culpabilização, a conservação patrimonial nos compensa com nostalgia (passado
revisitado sem suas agruras). Porém, Jeudy alerta que “o gozo da nostalgia se transforma
depressa em morbidez”237. Ao que parece, a repulsa alertada por Jeudy, inspirada pelo excesso
de preservação, nos remete ao manifesto futurista de Marinetti.
A inflação memorial acaba por imobilizar a própria nostalgia e anular a transmissão
patrimonial por conta do princípio da retroação perpétua que lembra o eterno inconformismo
com o presente motivado pelo mergulho nostálgico dos personagens em Meia Noite em
Paris238.
A regra é clara: para que o passado não seja abolido é preciso que tudo o que se vive
seja atualizado. As diferenças temporais entre o passado, o presente e o futuro são
aniquiladas graças aos simulacros dessa atualização. O passado e o futuro parecem
se conjugar no presente, ao passo que o próprio presente se torna o tempo da
reprodução antecipada do passado.239
Desta forma, o que está em vias de desaparecer deve ser celebrado com a finalidade
de se constituir enquanto “marcadores” de uma singularidade cultural mantida e exibida. O
valor patrimonial faz um papel de “marca” que é a garantia de autenticidade memorial. Uma
espécie de garantia que evitaria, no caso de Brusque, tomar a Fenarreco como algo
verdadeiramente típico de Brusque, e não um simulacro, como de fato é.
Jeudy comenta que “O 'é preciso não esquecer' pôde suportar o entusiasmo coletivo
porque se transformou em prazer de reconhecimento de si mesmo naquilo que estava em vias
de desaparecer”243, o que lembra o caso do Museu do Holocausto, que também abriu filiais
nos EUA e no Brasil.
Enquanto o patrimônio dizia respeito à história tradicional das igrejas e dos castelos,
ele deixava a memória totalmente livre de seus recortes e de seus retornos. A partir
do momento em que incluiu a vida social em seu conjunto, passou a impor um
arcabouço semântico prévio às manifestações da memória individual. E, sobretudo,
parece ter realmente liquidado a conivência implícita que animava e fundava a
memória coletiva. Esse arranjo era necessário? Dentro da perspectiva do dever de
não esquecer, uma tal necessidade obteve força de lei. É preciso de fato admitir que
a organização patrimonial coincide com 'uma regulação ética' do tratamento
reflexivo das memórias coletivas.244
de que a humanidade conserve o espelho de sua própria história. Jeudy se expressa nos
seguintes termos:
A demarcação da reserva e o museu respondem a essa mesma vontade de controlar,
em nome da preservação dos traços identitários, e graças à 'polícia patrimonial', o
que já é dado por morto mas que ameaça desaparecer. Nas antigas colônias, o
reconhecimento das identidades culturais passa cada vez mais pela criação de
museus que permitem expor e fazer viver uma cultura cada vez mais pela criação de
museus que permitem expor e fazer viver uma cultura já morta.246
Tal postulado pode ser encontrado em Brusque, que insiste em ignorar os migrantes e
celebrar uma germanidade histórica que seria “descaracteriza” pelos migrantes. O adjetivo
“germânico” deve ser empregado com todos os poréns que o termo comporta frente a
desconexão semântico-histórica que ele acarreta em Brusque (os badenses, grupo hegemônico
nos primeiros anos da colônia, seriam do tronco alemânico e não germânico, por exemplo).
De todo modo, Jeudy postula que qualquer diferença cultural se tornará aceitável na medida
em que for musealizada247. Desta forma, ao contrário do enfrentando e combatido por Aloísio
Magalhães, Jeudy compreende que o patrimônio representa duas perspectivas que não são
contraditórias: a globalização cultural e a heterogeneidade cultural, expressas justamente pelas
referências étnicas ou identitárias que Magalhães defendia frente a suposta homogeneização
cultural provocada pela globalização. O processo de museificação da diferença, a
patrimonialização das etnias é que é o processo homogeneizador e a experiência de Aloísio
Magalhães apenas adiantou e institucionalizou esse processo, ao invés de enfrentá-lo. Dentro
dessa perspectiva, “o mundo deve se tornar um grande museu para que a identidade, a
etnicidade, a alteridade não sejam mais do que rótulos, e que a invocação destas últimas sirva
sobretudo para o comércio turístico mundial.”248
De maneira lúcida e pontual, Jeudy analisa o cerne da questão patrimonial que
remonta às suas origens no conceito jurídico romano, analisando-o contingencialmente ao
contexto atual do presentismo e inflação memorial: “O que estaria impulsionando a
conservação para o futuro não é mais a angústia da perda dos vestígios, mas sim o medo de
não se ter nada para transmitir”249. A questão primordial não é mais saber “o que vale o
esforço de ser conservado para ser transmitido, mas imaginar o que nos conservará na
memória dos que ainda não nasceram”. Ou seja, imaginar o que nos conservará na memória
dos que ainda não nasceram, como ocorre com o Pelznickel, em Guabiruba, para ter um
exemplo na região de Brusque.
De uma forma purista, Jeudy defende que o mais razoável seria remeter a uma
transmissão acidental e que só essa postura resguardaria a idéia de uma transmissão possível.
Não parece ser possível que uma dicotomia nestes moldes seja possível uma vez que toda
transmissão ritual ou patrimonial tem um interesse deliberado 250. A questão crucial não parece
ser isso que Jeudy aponta mas sobretudo se ainda há sentido na transmissão, sobretudo do
resultado daquilo que o antropólogo estadunidense Clifford Geertz compreende por cultura
que daria sentido a uma metafísica de significados dando origem a uma postura frente ao
mundo que resultaria em padrões de comportamento.
De forma irônica, Jeudy comenta que tudo aquilo que projetamos sobre os objetos
faz com que seja o objeto que nos pense pois “o objeto absorve todas as posições do sujeito,
para devolvê-las como espelho de suas intenções.” 251 Desta forma não poderíamos tornar
presente o que não é mais pois isto implica em subtrair a temporalidade atribuída ao passado
para tornar o objeto patrimonial atemporal por conta da atribuição de um poder de
contemporaneidade252.
Enquanto no Japão as ruínas são raras por não inspirarem nostalgia, os ocidentais
pretendem memórias coletivas em escala planetária. Se ocorre um terremoto em Kobe, os
ocidentais pretendem que os japoneses não esqueçam a catástrofe. A essa maneira de querer
se responsabilizar pela memória dos outros e como eles devem acioná-la, Jeudy chama de
totalitarismo patrimonial253. Por fim, encerro este primeiro capítulo com duas questões de
Jeudy: Como fazer da destruição um ato que não seja negativo, uma vez que a lógica
patrimonial já é em si um empreendimento de destruição? Conservar já não é uma maneira de
pôr fim a algo que ainda está vivo?254
CONCLUSÃO
Vimos no primeiro capítulo que a noção de patrimônio surgiu como uma categoria
jurídica relacionada ao legado dos bens dos pais de família na Roma Antiga. Desde a
antiguidade a noção de monumento como algo a ser rememorado foi sendo implementada em
diversas civilizações. No contexto do Renascimento os bens da Antiguidade foram
ressemantizados e no contexto da Revolução Francesa ocorreu uma ressemantização dos bens
da nobreza enquanto bens do legado civilizacional francês.
A partir desse contexto de ação efetiva do Estado-Nação na preservação patrimonial
ocorreu a importação da noção de patrimônio histórico, surgida na Europa, para o contexto
brasileiro de forma a auxiliar na narrativa de criação da ideia de nação brasileira. Além disso
o conceito de patrimônio foi sendo lapidado em documentos internacionais.
A prática do órgão federal de preservação patrimonial colapsou e saturou na década
de 1970, quando ocorreu a chamada aos governadores para que estes, juntamente com os
prefeitos, assumissem uma parte do encargo da preservação patrimonial. Esse chamado a
partir da saturação do órgão federal de preservação culminou na elaboração de legislações
municipais.
No caso de Brusque a legislação elaborada em 1980 instituindo o tombamento foi
revogada uma década depois quando o tombamento de fato foi utilizado. Revogada a lei, foi
instituída nova lei de tombamento em 1994 e que só foi utilizada em 2012 após a política
pública de patrimônio cultural desenvolvida a partir de 2009 pelo Departamento de
Patrimônio Histórico da Fundação Cultural de Brusque.
A atuação do Departamento de Patrimônio Histórico ocorreu inicialmente
confundindo-se com a do COMUPA e também com a figura do Diretor Marlus Niebuhr, algo
semelhante ao que ocorreu no plano federal com Rodrigo Mello Franco de Andrade, primeiro
responsável pelo órgão federal de preservação.
Dentro da atuação do COMUPA e da Diretoria do Patrimônio Histórico da Fundação
Cultural de Brusque, foram elaborados documentos que tiveram força normativa a ponto de
inviabilizar a emissão de alvarás de demolição como o Inventário e o Catálogo do Patrimônio.
Ademais, no ano de 2021 estes documentos foram reformulados, diminuindo o número de
113
bens de 112 para apenas 12 bens, dos quais dois deles encontram-se tombados com inscrição
no livro tombo.
Os dilemas contemporâneos bem como toda a fundamentação histórica e
arquitetônica explanada acabaram por respingar na fala e posicionamento dos conselheiros do
COMUPA e colocam luz às ações e posicionamentos dos membros no referido conselho.
Com relação às hipóteses, foi confirmado que de fato a noção de patrimônio foi
importada da Europa e serviu para moldar a ideia de Estado-nação no Brasil. É possível
dividir as ações do órgão municipal de preservação em dois períodos que compreendem 1980-
1994 e o de 2009-2021. Por fim, os instrumentos Inventário e Catálogo do Patrimônio foram
reformulados e aprovados em reunião do COMUPA em 26/10/2021.
114
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Intérpretes: Owen Wilson; Rachel McAdams; Marion Cotillard; Khaty Bates; Michael Sheen
e outros. Roteiro: Woody Allen. Espanha; Estados Unidos: Gravier Productions; MediaPro
Pictures, 2011. 100 min.
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
BRUSQUE (Município). Decreto nº 6.232, de 01 de abril de 2010. CRIA O CONSELHO
MUNICIPAL DO PATRIMÔNIO NATURAL, HISTÓRICO E ARTÍSTICO CULTURAL,
NOS TERMOS NO ART. 24 DA LEI MUNICIPAL Nº 1.971/94, E DÁ OUTRAS
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