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14/12/2022

PROVA P2 – FUNÇÕES COMPLEXAS/ANÁLISE COMPLEXA - 2022

PROF: RENATO FERREIRA DE VELLOSO VIANNA

Questão 1 (3 pontos). Seja C = {x + iy ∈ C; x2/4 + y2/25 = 1}. Calcule as seguintes integrais:

ez−i
Z
a) dz
C (z − i)2 (z − 2 − 5i)

e8iz cos(z)
Z
b) dz
C (z − 6i)(z − 1 − 5i)3

Solução. a) Denotemos
ez−i
f (z) =
(z − i)2 (z − 2 − 5i)
Temos que f (z) tem um pólo simples em 2 + 5i e um pólo de ordem 2 em i. Porém, 2 + 5i
não está no interior de C ( {x + iy ∈ C; x2/4 + y2/25 < 1}), uma vez que 22/4 + 52/25 = 2 > 1.

Método 1: Assim, pelo Teorema do Resíduo:

ez−i
Z
2
dz = 2πi Res(f, i)
C (z − i) (z − 2 − 5i)

Como i é pólo de ordem 2, defina:


d
Res(f, i) = lim [(z − i)2 f (z)] = h0 (i)
z→i dz

ez−i
para h(z) = (z−2−5i) .

ez−i (z − 2 − 5i) − ez−i


h0 (z) =
(z − 2 − 5i)2

(−2 − 4i) − 1 −3 − 4i (−3 − 4i)2 −7 + 24i


h0 (i) = 2
= = =
(−2 − 4i) 4(−3 + 4i) 4(9 + 16) 100

Então,

ez−i −7 + 24i −48π − 14πi


Z
2
dz = 2πi =
C (z − i) (z − 2 − 5i) 100 100

Método 2: Denotando:
ez−i
h(z) =
(z − 2 − 5i)
temos que, pela fórmula integral de Cauchy, uma vez que h(z) é holomorfa no interior de C:
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ez−i
Z Z
h(z)
dz = dz = 2πi h0 (i)
C (z − i)2 (z − 2 − 5i) C (z − i)2

ez−i (z − 2 − 5i) − ez−i


h0 (z) =
(z − 2 − 5i)2

(−2 − 4i) − 1 −3 − 4i (−3 − 4i)2 −7 + 24i


h0 (i) = 2
= = =
(−2 − 4i) 4(−3 + 4i) 4(9 + 16) 100

Então,

ez−i −7 + 24i −48π − 14πi


Z
2
dz = 2πi =
C (z − i) (z − 2 − 5i) 100 100

b) A função
e8iz cos(z)
g(z) =
(z − 6i)(z − 1 − 5i)3

possui pólo simples em 6i e pólo de ordem 3 em 1 + 5i. Porém ambos estão fora do interior
de C ( {x + iy ∈ C; x2/4 + y2/25 < 1}), uma vez que 02/4 + 62/25 > 1 e 12/4 + 52/25 > 1.

Portanto g(z) é holomorfa no interior de C e pelo Teorema de Cauchy:

e8iz cos(z)
Z
3
dz = 0
C (z − 6i)(z − 1 − 5i)
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Questão 2 (1,5 ponto). Encontre a expanção em serie de Laurent da função


1
f (z) =
(z − i)2 (z − 5i)

no anel A = {z ∈ C; |z − i| > 4} centrado em i.


Solução. Em A temos que 4/|z − i| < 1. Então escrevemos:
1 1 1
= =
(z − i)2 (z − 5i) (z − i)2 (z − i − 4i) (z − i)3 (1 − 4i/z − i)

∞  ∞ 0
!
4i n (4i)n

1 X X X
= = = (4i)−n (z − i)n−3
(z − i)3 z−i (z − i)n+3 n=−∞
n=0 n=0

−3
X
= (4i)−n−3 (z − i)n
n=−∞
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Questão 3 (3 pontos). Calcule o valor principal de Cauchy da integral:


Z ∞
cos(x)
2 + 4)(x2 + 25)
dx
−∞ (x

Solução. Primeiro notemos que


Z ∞ Z ∞
eix

cos(x)
2 2
dx = Re 2 2
dx
−∞ (x + 4)(x + 25) −∞ (x + 4)(x + 25)

Consideramos então a função

eiz
f (z) =
(z 2 + 4)(z 2 + 25)

cuja restrição ao eixo real nos da o integrando da última expressão. Notemos que f (z) tem pólos
simples em ±2i, ±5i.

Desenhe a região limitada pelo intervalo [−R, R] e o semi-círculo SR = {Reiθ ; θ ∈ [o, π]}, com R > 5.
Esta região contém os pólos 2i e 5i de f (z). Seja CR a fronteira dessa região, mantendo a orientação de
[−R, R] e SR . Pelo Teorema dos resíduos:

Z
f (z)dz = 2πi(Res(f, 2i) + Res(f, 5i))
CR

R
Mostremos que SR f (z)dz → 0 quando R → ∞:
Sobre SR , z = R cos θ + iR sen θ, e portanto

|eiz | = |e−R sen θ ||eR cos θi | = e−R sen θ ≤ 1

pois θ ∈ [0, π] onde sen θ ≥ 0. Assim, em SR , com R > 5:


1 1
|f (z)| ≤ ≤
|z 2 2
+ 4||z + 25| (R − 4)(R2 − 25)
2

e pela desigualdade do módulo da integral:


Z
1 πR
f (z)dz ≤ 2 2
l(SR ) = →0
SR (R − 4)(R − 25) (R − 4)(R2 − 25)
2

quando R → ∞.

Assim,

eix
Z  Z
V.C. dx = lim f (z)dz = 2πi(Res(f, 2i) + Res(f, 5i))
−∞ (x2 + 4)(x2 + 25) R→∞ CR

Como 2i e 5i são pólos simples, temos


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eiz e−2 1
Res(f, 2i) = lim (z − 2i)f (z) = = =
z→2i (z 2 + 25)(z + 2i) z=2i (21)(4i) 84e2 i

eiz e−5 −1
Res(f, 5i) = lim (z − 5i)f (z) = = =
z→5i (z 2 + 4)(z + 5i) z=5i (−21)(10i) 210e5 i

Então:

eix
Z   
1 1 π π
V.C. dx = 2πi − = −
−∞ (x2 + 4)(x2 + 25) 84e i 210e5 i
2 42e 2 105e5

E portanto

∞ ∞
eix
Z   Z 
cos x π π
V.C. dx = Re V.C. dx = −
−∞ (x + 4)(x2 + 25)
2
−∞ (x2 + 4)(x2 + 25) 42e 2 105e5
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Questão 4 (2,5 pontos). Lembre que a função f (z) = 1/z leva as retas Ra = {z ∈ C; Re(z) = a}
em cículos de raio 1/2a, centrato em 1/2a. Assim, como f ◦ f (z) = z, vemos que f (z) é um bi-
holomorfismo (bijeção holomorfa com inversa holomorfa) entre B1/2 (1/2) = {z ∈ C; |z − 1/2| < 1/2} e
H1 = {z ∈ C; Re(z) > 1}. Usando esta informação:

a) Encontre um bi-holomorfismo entre H0 = {z ∈ C; Re(z) > 0} e B1 (0) = {z ∈ C; |z| < 1}.


(Encontre uma bijeção holomorfa e sua inversa holomorfa.)

b) O hiperplano H = {z ∈ C; Im(z) > 0} é bi-holomorfo a C?

Solução. a) A função z 7→ z + 1 leva H0 em H1 , compondo com 1/z , vemos que z 7→ 1/z + 1 leva
H0 em B1/2 (1/2). A função z 7→ 2(z − 1/2) leva B1/2 (1/2) em B1 (0). Compondo com
z 7→ 1/z + 1, temos que

1 1 −z + 1
φ : z 7→ φ(z) = 2( − )=
z+1 2 z+1

leva H0 em B1 (0).
A inversa φ−1 (w) calculamos fazendo:

−z + 1
w=
z+1

e resolvendo para z:

wz + w = −z + 1

−w + 1
φ−1 (w) = z(w) =
w+1

Ou seja, φ−1 = φ.

b) Se o hiperplano H = {z ∈ C; Im(z) > 0} fosse bi-holomorfo a C, teríamos uma função inteira


Ψ(z) com imagem H. Logo, −iΨ(z), seria um mapa holomorfo de C para H0 e φ(−iΨ(z)) nos
daria um mapa holomorfo de C com imagem B1 (0), contradizendo o Teorema de Liouville, que
diz que uma função inteira com imagem limitada, tem que ser constante. Portanto não existe
bi-holomorfismo entre o hiperplano H = {z ∈ C; Im(z) > 0} e C.
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SUGESTÃO: APENAS LEIA O ENUNCIADO DA SEGUINTE QUESTÃO DEPOIS


DE TER TERMINADO COM AS QUESTÕES ANTERIORES

Questão 5 ( EXTRA 1 ponto). Seja f : C → C função holomorfa em C. Assuma que f ((n + 1)/n) = 0
para todo n ∈ Z>0 . Mostre que f (z) = 0, ∀z ∈ C.
Solução. Tomando n → ∞ concluímos que f (1) = 0, por continuidade de f . Se f não é nula, como C
é conexo, temos que então 1 é zero de ordem finita N (vimos que única função holomorfa com zero
de ordem infinita em um conexo é a função nula). Daí, f (z) = (z − 1)N φ(z), onde φ é holomorfa e
φ(1) 6= 0. Mas,

0 = f ((n + 1)/n) = ((n + 1)/n − 1)n φ((n + 1)/n)


E como (n + 1)/n 6= 1, temos que φ((n + 1)/n) = 0 para todo n ∈ Z> 0. Mas por continuidade de φ
teríamos 0 = φ(1) 6= 0, contradição. Portanto f é nula.

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