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A NARRATIVA DE JESUS: O DEUS GENEROSO

Texto: Mateus 20.1-15


1. Uma parábola sobre generosidade
Esta é uma história com a qual os ouvintes daquela época estavam
familiarizados. De acordo com Flávio Josefo, que foi um escritor e historiador
judeu que viveu entre 37 e 103 d.C, “havia bastante desemprego nos dias de
Jesus, talvez um número próximo a 2 mil pessoas dentro e em torno de
Jerusalém”. Todos os dias as pessoas saíam em busca de trabalho e as que
não conseguiam serem contratadas, reuniam-se na praça e lá permaneciam na
expectativa de que ao longo do dia alguma oportunidade surgisse.

Nessa história contada por Jesus o dono da vinha contrata cinco grupo de
pessoas. O primeiro grupo foi contratado logo cedo, por volta das 6h da manhã
e eles concordaram em trabalhar o dia inteiro pelo equivalente a R$ 100,00. O
segundo grupo foi contratado às 9h com a promessa de que receberiam o que
fosse justo. O terceiro grupo foi contratado ao meio dia. O quarto, às 15h e o
quinto às 17h. Aparentemente está implícito que a todos eles, o dono da vinha
fez a mesma promessa, ou seja, “pagarei o que for justo”, v. 4 e no verso 5 diz
“... fez a mesma coisa”.

Ao fim do dia veio à surpresa. Começando pelos que chegaram por último o
dono da vinha pagou R$ 100,00 a todos eles. Isso pareceu injusto aos
trabalhadores que concordaram, no início da manhã, em trabalhar por R$
100,00, então um deles disse:

‘Estes homens contratados por último trabalharam apenas uma hora, e o


senhor os igualou a nós, que suportamos o peso do trabalho e o calor do dia’.
“Mas ele respondeu a um deles: ‘Amigo, não estou sendo injusto com você”.
Você não concordou em trabalhar por um denário? Receba o que é seu e vá.
Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo que lhe dei. Não tenho
o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está com inveja
porque sou generoso?”. Mateus 20:12-15

Nesse ponto há que se fazer uma pergunta fundamental: quem fica


incomodado com a generosidade de Deus? Ou melhor, eu e você ficamos
incomodados com a generosidade de Deus?

2. Uma informação preciosa


O teólogo alemão Joachim Jeremias que é um profundo conhecedor do
contexto em que se dão as histórias do Novo Testamento, afirma que uma
parábola similar era ensinada pelos rabinos judeus, todavia com um final
diferente. Na versão judaica o proprietário da vinha explica que o último grupo
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de trabalhadores recebeu a mesma quantia por merecimento – eles se


empenharam mais e alcançaram mais resultados em seu curto tempo de
trabalho que o primeiro grupo trabalhando o dia todo.
A história contada por Jesus tem um enfoque exatamente oposto, ou seja, a
atitude do proprietário não é fruto de merecimento dos trabalhadores, mas da
generosidade dele. Jeremias conclui:

Na parábola de Jesus, não havia nenhuma justificativa para que os


trabalhadores contratados por último reivindicassem o salário cheio de um dia
de trabalho: o que eles recebem se devia inteiramente à bondade de seu
empregador. Assim, neste detalhe aparentemente trivial reside à diferença
entre dois mundos: o mundo do mérito e o mundo da graça: a lei contrasta com
o Evangelho [...], Você então murmurará contra a bondade de Deus? Esta é a
essência da vindicação do evangelho de Jesus: Olhe para o que Deus é –
todo-bondade.

Se essa fosse à única coisa que você tivesse ouvido sobre Deus, o que você
pensaria sobre a base da relação de Deus com as pessoas? Certamente você
pensaria que Deus estabelece relacionamento sobre uma base diferente
daquela que você vê no mundo a sua volta porque o nosso mundo funciona
com base na versão dos rabinos.

Jesus nos apresenta a narrativa de um Deus absolutamente generoso e parece


que o escritor Brennan Manning captou isso de forma muito precisa: “Jesus
revela um Deus que não exige, mas dá; que não oprime, mas liberta; que não
ofende mais cura; que não condena, mas perdoa”.

Vivemos em um mundo no qual as pessoas exigem, oprimem, ofendem e


condenam. Então, é quase automático projetarmos o mesmo na relação com
Deus. É fácil pensar em um deus exigente, opressor, ofensivo e condenador,
que precisa ser apaziguado. O Deus que Jesus conhece, entretanto é
genuinamente generoso.

3. A generosidade de Deus
Geralmente pensamos na generosidade como fruto da percepção da minha
abundância e, isso está correto. Por exemplo, se eu tiver uma mesa farta, fica
fácil para eu doar comida a alguém. Tenho mais do que o necessito. Estou
distribuindo meu excedente.
Entretanto, a generosidade também poder ser fruto da percepção da
necessidade do outro, ou seja, eu posso ser generoso mesmo quando tenho
pouco a dar. Por exemplo, pode acontecer de eu ter apenas o meu prato de
comida, mas, se eu vir uma mulher pobre com uma criança sem nada para
comer, talvez eu seja profundamente tocado a oferecer-lhe o meu próprio prato
ou dividi-lo com elas.
A generosidade de Deus flui tanto da consciência de Sua abundancia quanto
de Sua capacidade de compadecer-se. A generosidade de Deus caminha,
portanto, sobre dois trilhos, o da Sua abundância de recursos e o da
compaixão ante as nossas necessidades.
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4. Por que Deus é generoso com os justos e os ímpios?


Gostamos de pensar assim: por que coisas ruins acontecem a pessoas boas?
Mas nem sempre nos damos conta que coisas boas acontecem com pessoas
boas; que coisas boas acontecem a pessoas ruins e, ainda, que coisas ruins
acontecem a pessoas ruins. Não gostamos de pensar a assim, mas é fato que
a generosidade de Deus está disponível e acessível a todas as pessoas (Mt
5.45b)

Juliana de Norwich (monja inglesa que viveu no século XIV) escreveu algo que
lança luz sobre essa questão: “A maior honra que podemos dar a Deus é viver
alegremente pelo conhecimento de seu amor. O que Deus mais quer é ver
você sorrir por saber o quanto Ele te ama”.

Deus não é generoso para comprar a nossa obediência. Deus é generoso para
nos ensinar que Ele não pode nunca ser ajudado seja pelo justo, seja pelo
ímpio; Ele só pode ser amado. E a experiência de amar a Deus por aquilo que
Ele é, constitui-se um bem que só os justos conhecem. Os justos não sorriem
com base nas dádivas que recebem. Os justos sorriem porque são filhos
amados, cujas vidas estão seguras nas mãos Daquele que é o doador de toda
boa dádiva.

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