Você está na página 1de 340

Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.

com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Revisão
Fabiana Guimarães

Supervisão Editorial
Iana Coimbra

Capa e Diagramação
QuartelDesign.com

Contatos
Ministério Restaurando Vidas
(31) 3691-6430 / 3691-6560
Endereço: Rua Britanite, 10 - Sabará - Minas Gerais - Brasil
www.estanciaparaiso.org.br
www.diantedotrono.com

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e


Atualizada, 2ª ed. (SBB), salvo indicação específica.

Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita
dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Dedicatória
Dedico este livro Àquele que me amou primeiro, que me tocou,
transformou a minha vida e me curou. O meu fiel Companheiro,
Amigo, Pastor e Pai: o Senhor Jesus Cristo. E a todos aqueles que Ele
usou durante esta bela caminhada.
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

ÍNDICE

Agradecimentos 09
Prefácio 15
Introdução 17
PARTE I
01. No princípio 21
02. Eu não sabia que ela falava inglês 31
03. Um choro incontrolável 37
04. Jovens Com Uma Missão 43
05. Os anos de fogo 51
06. Palavras de vida 59

PARTE II
07. Eu estou viva 67
08. Os anos de restituição 71
09. O batismo no Espírito Santo 77
10. Arrebatada 87

PARTE III
11. O treinamento 99
12. O pequeno grande milagre 111
13. Lourdes 129

PARTE IV
14. Eu nunca mais quero um homem na minha vida 149
15. Um “pão queimado” – um presente inesperado! 157
16. Um milagre com nome e sobrenome 169

PARTE V
17- Hora de fazer as malas 193
18. Renata, Ana Paula e André 203
19. Uma nova filha 213
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PARTE VI
20. Fazendo as malas mais uma vez 221
21. Um pedaço do paraíso 229
22. Águas purificadoras 235
23. Estância Paraíso 243

PARTE VII
24. Levante intercessores pelo Brasil 249
25. Eu preciso de um sinal 261
26. Preciso de Ti 267
27. Recebendo a família 273
28. Uma fé guardada em caixas 279
29. Filhos do coração 283

PARTE VIII
30. Perseguição 295
31. Preciosa é a morte dos santos 313
32. Eu sou um milagre 329
Epílogo 331
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Agradecimentos
Quero começar agradecendo àqueles que me geraram. Sem o meu pai
Jacinto e a minha mãe Eugênia eu não estaria aqui. Eles sempre cuidaram
de mim, lutando sem cessar para que eu vivesse. Pais queridos, tementes a
Deus, que criaram filhos abençoados. Se hoje posso louvar ao Senhor por
ter escrito a minha história, é porque eles foram firmes e corajosos. Eles me
guiaram com os ensinamentos da Palavra, me orientaram a decorar ver-
sículos e sempre intercederam por mim e por meus irmãos. Sou grata ao
meu pai, que já está com o Senhor, e à minha mãe, mulher forte, pioneira,
que até hoje me sustenta com orações.
A você, mãe, o meu carinho, meu amor e, acima de tudo, a minha
gratidão. Sei que eu tenho vida porque, quando me pegou no colo pela
primeira vez, você me devolveu ao Senhor. Eu posso mergulhar fundo
e me lançar no chamado de Deus porque minha base é sólida, minhas
raízes, profundas, e eu estou firmada na Rocha. Que o meu testemu-
nho reflita em sua vida, pois sou fruto de tudo o que vocês me ensi-
naram. Mesmo que o meu pai já esteja com o Senhor, o exemplo que
ele deixou permanece vivo em meu coração. Mãe, saiba que apesar de
termos passado tanto tempo longe, nunca tive sensação de abandono
ou rejeição. Pelo contrário. Eu os admiro por tudo o que fizeram por
mim, inclusive por abrirem mão de me terem ao lado de vocês em
obediência. Obrigada por não me segurarem, por compreenderem

9
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

que sou propriedade do Senhor Jesus. Sei que por causa dessa atitude
eu tenho fluído e prosseguido na minha vida com Deus – e assim vou
continuar, em nome de Jesus. Eu amo vocês!
Também agradeço aos meus lindos irmãos biológicos. É muito duro
lembrar-me de nossa separação. Meu coração ficava apertado ao saber
que a Julimar me esperava, sentadinha na porta de casa, e que todos
vocês aguardavam pelo meu retorno ao longo de tantos anos. Mas o Se-
nhor cuidou de cada um de nós. Vocês eram tão pequenos, e em alguns
momentos devem ter pensado que eu preferi outra família – mas com o
tempo Deus mostrou que tudo fazia parte do plano dEle. Sou grata por
vocês terem me aceitado de volta, em seus corações, após tantos anos
sem nos vermos. Hoje estamos próximos, podemos curtir as mesmas
coisas e passar lindos momentos juntos. Minha irmã Débora, amo mui-
to você por sempre estar comigo em todas as minhas mudanças. Paulo,
amo você com seu jeitão durão! Amo você, Julimar, com o seu jeiti-
nho amável. Amo você, Eujácia, por nunca se esquecer de mim, mesmo
quando achou que eu a tinha abandonado. Amo você, Eujácio, por ser
meu irmão. Amo você, Jonatas, por simplesmente me amar. Queridos
cunhados, cunhadas, sobrinhos e sobrinhas, que bom que vocês fazem
parte desta família. Amo e curto todos vocês!
Como eu sou grata também ao meu grande amor. Refiro-me ao Mar-
cos assim não apenas porque ele é o meu marido, ou por essa ser a forma
como eu o chamo – mas sim por tudo o que faz. Por tudo o que vejo na
prática, em atitudes e ações. Ele sempre esteve ao meu lado me passando
segurança e firmeza. Eu já tinha desistido de me casar com qualquer pes-
soa, mas ele foi me conquistando com o jeito de falar e de me olhar.
Amor, suas atitudes mudaram todo o meu coração. Depois que o
conheci, as flores e os chocolates – principalmente o Suflair, meu favo-
rito – foram chegando à minha vida. Você foi presente nos momentos
difíceis e me assistiu enquanto eu cuidava de cada vida que Deus nos
enviou. Você sempre esteve pronto para servir, não importando a situ-
ação. Ao longo dos anos, você me provou que suas palavras e promes-
sas não foram só para me conquistar. Todas elas são reais, e até hoje
você me surpreende. Você sempre tem uma palavra sábia e certeira,
e eu não consigo imaginar a vida sem a sua presença. Você me envia,
me incentiva, me apoia, me guarda. Você é um paizão para os meus
filhos, e eles também o amam demais. Quando Deus me falou que es-

10
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

tava me dando um marido de presente, não imaginei que a nossa vida


seria tão maravilhosa. Você sempre será o grande homem da minha
vida, o grande pai dos meus filhos, o grande avô dos meus netos. Sem
você, a minha história nunca seria completa. Obrigada, Amor! Meu
vocabulário é pobre para expressar a minha gratidão. Sou uma mulher
realizada por sua causa, meu eterno namorado. Eu te amo, paixão da
minha vida!
Que alegria saber que Deus me deu filhos com o mesmo coração
que o meu: prontos para servir. Lembro-me do Lucas na minha pri-
meira ministração após seu nascimento. Ele nem tinha dois meses e
chorava muito, pois ninguém conseguia fazê-lo dormir. Então parei
o culto, peguei-o no colo; ele colocou a cabecinha debaixo do meu
braço, e eu continuei pregando com ele grudado em mim. Meu com-
panheirinho desde pequeno.
Lucas, que alegria saber que você cresceu, e seu amor por Jesus
permanece. Você continua escolhendo viver para Ele, aplicando os
ensinamentos que recebeu em casa. Eu, você e o papai fomos bons
companheiros até a chegada da sua irmã. Você orou tanto por ela.
Lembro-me de que quando ela chegou, você corria de um lado para
o outro agradecendo a Deus por ter respondido ao seu clamor. Você
sempre teve o coração aberto para receber os irmãos que foram so-
mando ao longo dos anos; sempre esteve pronto para nos doar às pes-
soas que precisavam. Você nunca me questionou, mas se alegrou co-
nosco, recebendo a todos de braços abertos, repartindo o seu quarto
e tudo o que tinha. Eu o admiro muito, não só por ser sua mãe, mas
por ver que verdadeiramente você ama o Senhor. Hoje, por sua causa,
eu tenho uma nora abençoada e um príncipe, meu neto Davi Lucca.
Eu amo muito vocês!
Minha segunda filha, Anninha, você é verdadeiramente um pre-
sente e uma realização para nós. Você foi gerada nos meus sonhos en-
quanto eu comprava e guardava, em algumas caixas, as roupinhas que
um dia você usaria. De uma maneira muito especial você preencheu o
espaço que sempre foi seu. Você tem o seu jeitinho às vezes distante,
mas é sempre meiga e atenciosa. Seu sorriso e seu olhar transmitem
o quanto você ama as pessoas e a vida. Você já chegou aprendendo a
dividir seu espaço e a receber as pessoas. Obrigada, filha, por ser essa
garota, essa jovem, tão especial. Sua voz é linda, e quando você estava

11
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

sendo gerada, eu pedia: “Senhor, dá-me uma adoradora. Que a Anna


Beatriz seja uma adoradora!” E Ele me presenteou com você, minha
princesa, minha Prin. Você marcou as nossas vidas. Amo você!
Sarah, minha flor, obrigada por ser minha amiga e estar sempre ao
meu lado. Você é a minha companheira de compras, shoppings e das
feirinhas que tanto gosto! Sinto a sua falta, mas sou realizada por ver o
sonho de Deus realizado em sua vida. Você é muito especial. Obriga-
da por me amar, me respeitar e me receber como sua mãe.
Eu queria muito que a minha mãe do coração, Eurídes, pudesse ler
este livro. Infelizmente não a tenho mais ao meu lado, mas posso falar
com alegria o que ela representa para mim. Ela me recebeu, me amou,
me casou! Ela e toda a família foram muito especiais em minha vida.
A você, pai, esse homem brincalhão, cheio de energia, alegria e amor,
muito obrigada! Você não me conhecia, mas me acolheu. Sempre me
lembrarei de você me levando de um hospital para outro, preocupado,
chorando comigo. Quando me casei, você me conduziu ao altar como
um pai orgulhoso. Não me esqueço de seu cuidado, principalmente
após o meu casamento; queria saber se eu precisava de algo e sempre
me dava 50 cruzeiros, lembra? Em todo o tempo você teve o prazer de
me apresentar como filha mais velha, e tudo isso me fez chegar onde
estou. Você e a minha mãe me receberam e me amaram da mesma
forma como aos meus lindos irmãos Marcos, Maurício e Ana Paula.
Sempre fui respeitada como irmã mais velha, e vocês nunca permi-
tiram que as pessoas me tratassem de forma diferente. Queridos ir-
mãos, obrigada por dividirem o espaço comigo. Eu peço a Deus que
continue cuidando de vocês. Contem comigo sempre. Em qualquer
circunstância, em qualquer situação, amo vocês demais: pai, mãe, ir-
mãos, cunhados e sobrinhos!
Não posso deixar de agradecer à Ana Paula Valadão. Ana, obriga-
da! Eu lhe agradeço por ser essa pessoa tão especial na minha história,
por sempre me encorajar e admirar o que eu faço. Você chora e se
alegra comigo – está presente em todo tempo. Obrigada por ter acre-
ditado na unção de Deus sobre a minha vida. Obrigada por caminhar
ao meu lado e me permitir estar perto, vendo seus filhos, Isaque e
Benjamim, crescerem. Amo ouvi-los me chamar de “Vovó Zê”. Você,
o Gustavo e os meninos são muito especiais, e sou grata a Deus por
fazer parte da vida de vocês.

12
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Agradeço também à Renata Valadão, com quem sempre brinco: eu


a chamo de mãe, e ela me responde dizendo que eu é quem sou a mãe
dela. Obrigada porque você ouviu a voz de Deus e permitiu que Ele
agisse na vida dos seus filhos através de mim. Você nunca teve ciúmes
e nem pensou que eu queria “tomá-los”, mesmo quando muitas pesso-
as falavam isso. Obrigada por sua amizade fiel, mesmo depois de ouvir
pessoas dizerem que eu queria manipular a sua família. Já passamos
por tantos momentos juntas vendo o Senhor operar de uma forma
maravilhosa na sua vida – nunca vou me esquecer. Quero dizer que se
hoje tenho a liberdade de expressar isso é porque você é uma mulher
segundo o coração de Deus. Também sou grata ao Senhor pelas vidas
do André e da Mariana, que sempre me amaram e me receberam com
muito carinho. Assim como à Cassiane e ao Felippe, que também fa-
zem parte desta linda e preciosa família. Amo todos vocês!
Meu querido pastor Márcio, como falar de uma pessoa tão ge-
nerosa, amável, dócil e amiga? Um homem que acolheu a mim e a
minha família sem me questionar, sem me perguntar quais eram as
minhas intenções. Como homem de Deus, acreditou e investiu em
mim, abrindo espaço para o meu ministério – mesmo quando muitos
duvidavam da minha integridade. Você nunca me desprezou e conti-
nuou me dando o microfone do seu púlpito, me permitindo expressar,
em oração, o que o Senhor queria falar. As portas da sua casa sempre
estiveram abertas para mim e para a minha família. Quando o Marcos
quis sair de BH, você insistiu para ficarmos – e aqui estamos. Hoje eu
tenho a honra de ouvi-lo dizer que eu sou sua filha mais velha. Tenho
o privilégio de recebê-lo na minha casa e de oferecer-lhe da minha
mesa. Eu não mereço a graça, do Senhor, de ter um homem como
você se importando conosco. Obrigada por confiar os seus filhos para
que Deus pudesse trabalhar através de mim. Obrigada pela expressão
de amor e carinho em todos os momentos de dor. Obrigada por estar
sempre presente ao nosso lado – especialmente quando você e a Rena-
ta deixaram tudo para passar o dia de luto, pela morte da minha mãe,
ao nosso lado. Você impactou toda a minha família. Obrigada, papai
Márcio. Eu o amo muito. Você faz parte da nossa história. Que os seus
dias de vida sejam acrescentados, porque ainda quero viver muitos
momentos ao seu lado.
Se hoje vivo tantas vitórias, tantas bençãos, é porque tenho ao meu

13
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

lado uma equipe maravilhosa de intercessores e obreiros do Ministé-


rio Restaurando Vidas. Como é glorioso saber que tenho ombros para
chorar, pessoas mais chegadas que um irmão, e que estou coberta de
oração, carinho e amor por todos vocês, que me ajudaram a gerar este
livro. Que Deus abra as janelas dos céus e derrame chuvas de bençãos
sobre cada um. Que as vitórias do Senhor venham sobre vocês, para
que continuem a ser esses guerreiros e valentes. Dias melhores estão
por vir, e vamos viver coisas lindas, porque servimos a um Deus pode-
roso, que faz infinitamente mais. Contem sempre comigo! Eu preciso
muito de vocês, e vamos prosseguir auxiliando uns aos outros. Nunca
se esqueçam de que a oração é a chave da vitória. Que toda honra
e toda glória sejam dadas ao Senhor Jesus. Bendito seja o nome do
Senhor. Amo vocês, queridos intercessores e obreiros. Até aqui nos
ajudou o Senhor!
Aos meus filhos do coração, agradeço a Deus pelo privilégio de ter
conhecido cada um e de alguma forma ter gerado algo do Senhor na
vida de vocês. Vocês são presentes do céu e me ajudam a prosseguir.
Quando olho para trás, vejo tantas vidas, tanto amor, tanta graça de
Deus ao ter vocês. Sei que preciso continuar, me fortalecer e correr
para Ele todos os dias, porque Ele me confiou joias preciosas, peças
raras que não têm preço. Vocês foram comprados por um valor impa-
gável, o sangue do Cordeiro, e tenho a honra de cuidar um pouquinho
de cada um. Meus filhos, vocês são o cumprimento das palavras de
Jesus quando fui arrebatada – Ele disse que eu geraria muitas pesso-
as. Obrigada por me amarem, me aceitarem, por estarem comigo, me
servirem, por me permitirem entrar e gerar vocês para viverem os
sonhos de Deus. Vamos continuar juntos, batalhando, orando e ado-
rando ao Senhor. Meu vocabulário é pobre para expressar o que o
Senhor tem feito por mim dando cada um de vocês como extensão
da minha família. Recebam, agora, do Senhor, uma porção dobrada
de fé, ousadia, autoridade. Vocês são escolhidos, amados, vencedores.
Amo vocês como uma mãe que gerou cada um no meu ventre espiri-
tual – no amor do Pai. Vocês são especiais!
Minha querida Igreja Batista da Lagoinha, eu sou grata a Deus por
Ele ter me plantado neste local abençoado. Agradeço a cada pastor,
obreiro e membro que me abraçou e me amou. Obrigada por me per-
mitir servir ao meu Deus aqui, no meio de vocês.

14
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Prefácio
Eu creio que a vontade de Deus é que todos vivam uma vida de
milagres. Porém, existem pessoas que não escolheram esse caminho,
mas foram guiadas pelo Senhor nessa direção. A Ezenete representa
um desses casos. Ela não escolheu viver um milagre, mas Deus tomou
essa decisão por ela, e a transformou em um testemunho vivo, condu-
zindo-a até os dias de hoje.
O milagre é o inusitado, aquilo que nos admira como homens –
mas é o normal de Deus. Tudo o que Ele faz já é sobrenatural para
nós, mas absolutamente natural para Ele. O ser humano dá o nome
de milagre àquilo que é comum para Jesus Cristo, mas incrível para a
humanidade. A Bíblia está repleta de histórias verídicas que relatam
os feitos incríveis do Filho de Deus quando Ele viveu entre nós. Mas
todas essas maravilhas narradas – como as curas, as ressurreições, as
transformações poderosas, as libertações, as multiplicações inimagi-
náveis, as ações sobrenaturais – estão ao nosso alcance. E a tudo isso
que era tão natural para Jesus, mas tão inusitado para o mundo, nós
chamamos de milagres.
A Ezenete viveu uma vida inteira dessa forma. Desde a infância,
passando pelos dias atuais, ela testemunha a ação sobrenatural do Es-
pírito Santo. Desde que a conheci, na década de 1990, eu tenho visto
o Senhor operar através da vida dela. Ela é usada na minha casa, na

15
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

igreja, e creio que, no poder que há no nome de Jesus, ela vai continu-
ar vivendo e contando, a cada dia, novos milagres do Senhor.
Este é um livro inspirador. Mas sei que ele não vai apenas emocio-
nar as pessoas com esses relatos gloriosos. Creio que ele vai despertar,
em cada leitor, o desejo por algo novo em Deus –um relacionamento
mais profundo, uma busca mais intensa e experiências transformado-
ras. Ao ler as memórias da Ezenete, você verá que é possível viver uma
vida de milagres ao se entregar verdadeiramente a Deus. Mesmo que
você ainda não tenha feito essa escolha, creia, você também pode ser
uma testemunha viva do poder milagroso de Jesus.

Pastor Márcio Valadão

16
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Introdução
Você, que vai me acompanhar por meio da leitura deste livro,
precisa saber de uma coisa: tenho orado para que o Espírito Santo se
mova em seu coração. Tenho intercedido para que Ele fale com você
em cada capítulo, em cada página, em cada frase. Meu clamor é para
que o Senhor traga à sua vida esperança, fé, amor e alegria, enquanto
você me acompanha pela minha história. Mas, acima de tudo, minha
oração é para que você decida viver para Deus.
Ao ler meu testemunho, você vai perceber que desfrutar do mundo
sobrenatural está ao nosso alcance – e vai além das tentativas de nos
apoiarmos naquilo que vemos. É fechar os olhos e abrir o coração
fazendo uma entrega total para caminhar, dia a dia, com o Senhor,
enxergando pela ótica da fé. Creia que Ele tem sonhos para a sua vida.
Creia que Ele escreve a sua história com uma caneta de fogo e poder
banhada pelo sangue que Jesus derramou na cruz. Creia que Ele pode
e quer conduzir você.
Esta história, verdadeira e poderosa, foi escrita por meio de muitas
lágrimas no meu dia a dia. Ao longo dos anos, enquanto enfrentei os
desafios que conto, eu não percebia o que estava acontecendo e não
tinha ideia de onde chegaria. Mas em todo o tempo eu estava deter-
minada – e esperançosa – de que Aquele que começou a boa obra em
mim era fiel para terminá-la.

17
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Em cada deserto por onde caminhei, durante as dificuldades que


vivi, em meio à dor que quase me dilacerou, o Senhor esteve presen-
te. Sei que Ele continuará ao meu lado – e sei que Ele quer fazer o
mesmo por você. Quando chegar ao final deste livro, saiba de uma
coisa: depois que você se entregar para Jesus, nunca mais você será
a mesma pessoa.
Você vai se ver de uma forma diferente – não com os olhos na-
turais, talvez já marcados pelas lutas, nem por meio das mentiras do
Inimigo, que diz que você não pode vencer. O meu desejo é que caia
por terra tudo o que fez você acreditar que não tinha para onde ir, não
tinha a quem recorrer. Seja corajoso, destemido, tenha a sua identi-
dade restaurada e torne-se um valente do Senhor. Creia que você é
o melhor de Deus, porque Ele mesmo o desenhou antes de você ser
formado no ventre da sua mãe!
Seja inspirado! Não desista no meio do caminho! Não pare! Vá até
o fim! Porque no final eu sei que Deus fará algo na sua vida.
Vamos caminhar juntos nesta leitura, porque grande é a benção
de Deus sobre nós! Eu o abençoo e o encorajo nesta caminhada, nesta
viagem dentro da minha história. Eu sei que nascerá o Sol da Justiça, e
Ele vai brilhar, pois a escuridão não pode ofuscar a grandeza de Deus
em sua vida.

Vamos juntos!

Ezenete Rodrigues
Inverno de 2014

18
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

P A R T E I

“AN TE S QUE E U T E
F O RMASSE N O V E NT R E ,
T E CO NHE CI, E A NT E S
QU E SAÍ SSE DA M A DR E , T E
S A NTI FI QUE I ; À S NA ÇÕE S
TE DE I PO R P ROF E TA ” .

J E R E M I A S 1 . 5
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

1. NO PRINCÍPIO

Algumas lembranças não saem da memória. O tempo pode passar,


a vida pode mudar, muitas outras coisas podem acontecer. Podemos
crescer, amadurecer, envelhecer. Porém, alguns acontecimentos per-
manecem bem vivos, em um canto qualquer da mente, para nos lem-
brar de onde viemos, pelo que passamos e para onde estamos indo.
Quando me recordo da minha história, também trago à memória
a minha missão e o meu chamado. Lembrar disso tudo não é fácil, me
traz desconforto e às vezes até um mal-estar, mas quero compartilhar
um pouco da minha vida com você. Sei que preciso fazer isso, porque
é o que Deus tem me pedido há tantos anos.
Eu me lembro quando estava morrendo. Recordo-me perfeitamen-
te de ouvir, com todas as letras, que os meus dias estavam chegando
ao fim. Eu era uma menina de apenas quinze anos de idade e não me
esqueço das palavras do médico ao meu pai:
“Se fizermos a cirurgia ela pode morrer. Se não operar, ela também
corre esse risco.”
Palavras duras para um pai ouvir. Mais duras ainda para uma jo-
vem com tanta sede de viver. Mas antes de chegar a este ponto, vamos
voltar um pouco no tempo.

21
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Uma infância diante do altar

Nasci em Janaúba, no estado


de Minas Gerais, em um lar cris-
tão. Sou privilegiada por causa
disso, eu sei. Para você ter uma
ideia, meu primeiro passeio, com
apenas quinze dias de vida, foi ir
à igreja. Meus pais eram pastores
de uma congregação batista tra-
dicional e queriam me apresentar
logo à comunidade. Eles amavam
muito a Jesus, e essa sempre será a
minha lembrança dos dois.
O ministério deles era im-
plantar igrejas em cidades do interior, então as nossas mudanças eram
constantes, indo sempre de um lugar para outro, cumprindo o chama-
do missionário. Ao longo de décadas de muito trabalho, meu pai abriu
mais de quarenta congregações. Ele foi um verdadeiro pioneiro da fé,
tendo sempre ao lado, como escudeira fiel, a minha mãe.
Moramos em Janaúba por vários anos, rodeados pelos meus avós
e tios maternos. Nossas casas ficavam bem perto, e uma das irmãs
de minha mãe, a tia Eurídes, carinhosamente chamada de tia Lidi-
nha, desenvolveu um carinho especial por mim. Logo que nasci, ela
se prontificou para ajudar e se tornou praticamente a minha babá. Eu
fui a primeira de sete filhos, a primeira neta da família, a primeira
sobrinha, e o colo extra foi muito útil. Além de ser inexperiente no
universo da maternidade, minha mãe era muito jovem e bastante en-
volvida com as atividades da igreja. Por isso o apoio da tia Lidinha foi
uma verdadeira benção para os meus pais.
Ela estava sempre na nossa casa cuidando de mim. Trocava fral-
das, me colocava para dormir, me dava banho, mamadeiras. Por causa
disso, desenvolvemos um laço especial. Mas quando eu tinha aproxi-
madamente um ano de vida, minha avó passou por alguns problemas
familiares e teve de se mudar com os filhos solteiros para São Paulo.
Meus pais permaneceram em Minas Gerais, afinal tinham um minis-
tério, uma igreja e irmãos em Cristo pelos quais eram responsáveis.

22
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

Só que a tia Lidinha não queria me deixar. Ela era como minha segun-
da mãe, e por isso procurou a irmã para fazer um pedido inesperado:
“Dena, eu não quero ficar longe da Nete. Nesse tempo cuidando
dela eu fiquei muito apegada e não sei se consigo morar tão distante.
Eu quero levá-la comigo para São Paulo. Você deixa? Eu quero criar a
Nete para você.”
É claro que a minha mãe não permitiu. Eu era a primeira filha e o
xodó da família, e meus pais nunca abririam mão de me ter ao lado
deles. Sendo assim, tia Lidinha foi obrigada a se mudar e a romper
aquele laço quase maternal. Ela chorou muito e, de fato, ficamos mui-
tos anos sem nos ver. Sem a família por perto, meus pais seguiram a
vida e o ministério, mas tiveram que se desdobrar para cuidar da igreja,
de mim e dos meus irmãos, que vieram depois. Não foi fácil, mas eles
deram conta e construíram uma família alicerçada na Palavra de Deus.
Os dois tinham toda uma preocupação em seguir o que acredi-
tavam ser o correto, em servir a Deus com alegria e criar a família
nos caminhos do Senhor. Em nosso lar sempre tínhamos os cultos
domésticos como uma prática diária. Cresci vendo meus pais lendo
a Bíblia e orando por cada um dos filhos antes mesmo do sol nascer.
Todos os dias eles se levantavam da cama bem cedo, às cinco horas
da manhã, com esse propósito. Sei que sou fruto dessa postura e do
compromisso que eles assumiram diante de Deus, mas quero deixar
bem claro que não tinha nada de extraordinário na nossa casa ou fa-
mília. Éramos pessoas comuns, que frequentavam uma igreja comum
e viviam uma vida igualmente comum. Apesar da diligência deles e do
amor por Jesus, não tínhamos nenhuma experiência com o poder de
Deus ou com os dons espirituais. Nem sabíamos o que era isso! Não
posso dizer que não acreditávamos na ação do Espírito Santo, mas não
conhecíamos e nem vivíamos essa realidade. Ainda.
E nesse ambiente eu fui criada. Quer saber qual era meu maior
sonho de criança? Ser missionária. Eu sempre fui muito crente, mui-
to temente ao Senhor e super ativa na igreja. Era esse exemplo que
eu tinha dentro de casa. Sonhava em crescer, seguir a minha vida e
construir a minha história servindo ao Deus dos meus pais. Na esco-
la, quando eu fazia redações sobre o que queria ser quando crescer,
sempre escrevia que iria viajar pelo mundo inteiro para levar a Palavra
de Deus. Também queria ser maestrina, para levantar corais por onde

23
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

fosse, com a missão de evangelizar. Mesmo sendo apenas uma me-


nina, uma criança, esse era o desejo que ardia forte no meu coração.
Esse era o meu sonho, o meu ideal de vida.
Desde que comecei a ler, eu me preparava para o momento em que
iria para o Instituto Bíblico de Educação Reformada, o Iber. Este era
um seminário para mulheres no Rio de Janeiro; lá eu também poderia
fazer o curso de bacharelado em Música, para criar os meus corais.
Seria a formação perfeita para excercer aquilo que eu acreditava ser a
minha missão. Então, com esse sonho sendo gerado por mim, todas
as noites eu ficava ajoelhadinha na beirada da cama, pedindo para que
Deus me abençoasse e ajudasse a cumprir esse propósito. Eu tinha a
convicção de que tinha um chamado, que dedicaria todos os dias da
minha vida a Deus levando até Ele pessoas de todas as nações.
Esta é a exata definição de quem eu era nos meus primeiros anos
de vida: eu amava a minha família, era fiel ao Senhor e estava sempre
presente na igreja. Ao longo dos anos fui assumindo, naturalmente,
papeis de liderança na congregação dos meus pais. Eu não precisava
fazer o menor esforço para estar à frente, porque era algo que fluía de
mim. Era fácil, natural, como um verdadeiro dom.
Mas é engraçado lembrar que, apesar de tudo isso, aos nove anos de
idade comecei a sentir que havia um vazio dentro de mim. Já pensou?
Uma criança tão pequena se sentindo assim? Nas minhas orações, eu
sempre pedia para Deus pre-
encher esse espaço. Esse era o
meu clamor mais sincero, dia
após dia, noite após noite.
Mas o que aconteceu por
causa da minha dedicação a
Deus? Vi anjos entrando no
meu quarto? Ouvi a voz do
Senhor se dirigindo a mim,
solenemente: “Eis que te
digo!”? Fui tomada pelo po-
der e saí falando em línguas?
Comecei a profetizar instan-
taneamente? Não. Nada dis-
so aconteceu naquela época.

24
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

Pelo contrário! Apesar


de toda a minha busca
individual, de todas as
orações que meus pais
faziam para que o Se-
nhor guardasse a mim e
a meus seis irmãos me-
nores, eu fiquei doente.
Aos dez anos de
idade tive uma reação
de tuberculose. Fiz um
tratamento específico
para isso, mas foi só o início de anos que se seguiram com a minha
saúde debilitada. Pouco tempo depois também tive uma enfermida-
de que nunca foi descoberta ao certo. Minha perna direita secou. Eu
sentia dores terríveis, chorava muito e sofria ao ver uma parte de mim
definhar. Assim, fui perdendo os movimentos do pé e o jogo da perna,
como se o nervo que passava naquela parte do corpo deixasse de fun-
cionar. Alguns médicos falavam que era paralisia infantil, mas nunca
chegaram a um diagnóstico definitivo. De certa forma, era um mis-
tério que me atacava, me machucava e me trazia muitas dores. Você
consegue imaginar como é difícil para uma criança ver uma parte tão
importante do corpo secar?
Por causa dessa enfermidade, minha perna direita parou de se de-
senvolver e ficou uns quatro centímetros mais curta do que a outra.
Era uma situação muito delicada, porque além de doer, eu caía muito.
Meu pé virava com frequência, não tinha a menor estabilidade. Era
como se o meu corpo não correspondesse à minha vontade, aos co-
mandos enviados do cérebro. Segundo os médicos, não havia muito o
que fazer para mudar aquele quadro, e eu iria precisar de muletas para
andar com firmeza e segurança. Mas nenhum desses problemas ou
diagnósticos me impediram de continuar buscando a Deus, de seguir
no propósito de cumprir a vontade dEle em mim. Eu ainda tinha fome
e sede por algo mais.
Você pode pensar que sou uma privilegiada por ter nascido em um
lar evangélico, ter tido pais pastores e por toda essa estrutura familiar
que pude desfrutar. Sim, é verdade, mas não foi isso que determinou

25
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

o meu futuro e o meu relacionamento com Deus. Eu tinha uma sede


que era minha. Uma vontade de buscar ao Senhor que vinha de den-
tro do meu peito. Não fazia nada por imposição dos meus pais ou por
orientação deles. Eu queria. Eu precisava. Eu sabia que havia mais. Era
algo que ardia, me impulsionava e causava uma inquietação muito forte.
Mas apesar de todo esse desejo por algo mais em Deus, eu ainda
não tinha feito a minha oração de entrega a Ele. Eu ainda não tinha
confessado que Jesus era o Senhor e Salvador da minha vida.

Oração de entrega

Aos treze anos de idade, vivi uma situação que me fez entender a
necessidade de confessar que Jesus era o meu Senhor e Salvador, que
os meus dias pertenciam a Ele. Não que eu não acreditasse nisso, ou
não tivesse essa convicção no meu íntimo, mas faltava aquela hora
exata da decisão, quando declaramos com os nossos lábios aquilo que
já sentimos no coração. Particularmente acredito que esse é um mo-
mento muito importante na caminhada cristã.
Era uma sexta-feira de oração na igreja dos meus pais, mas eu não
queria ir. Não estava com a menor vontade de participar do culto,
pois tinha outros planos. Mas como eu faltaria à reunião? Não podia
simplesmente me ausentar. Eu não queria ir, mas era filha do pastor e
precisava acompanhá-lo. Eu e meus irmãos tínhamos que dar o exem-
plo. Então, inventei uma desculpa que convenceria meus pais: chamei
minha mãe em um canto e disse que estava com uma dor de cabeça
terrível, que nem conseguia ficar de olhos abertos. Eu não gostava de
mentir, mas foi a única maneira que encontrei de ficar em casa e não
ser obrigada a ir para a igreja. Meus pais sabiam que eu sempre falava
a verdade, que era uma filha exemplar, então facilmente acreditaram
em mim. Eles se despediram e foram, me deixando sozinha.
Assim que fecharam a porta e eu percebi que ninguém voltaria até
o final do culto, parti para meu plano. Rapidamente fui para o quarto,
orgulhosa do feito, e retirei de debaixo do colchão uma revista para
adolescentes.
“Ezenete, esse tipo de revista não edifica em nada. Você não pre-
cisa ler essas coisas. Essa leitura não faz bem para você!” – era o que
minha mãe dizia tentando me convencer de que, de fato, eu não deve-

26
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

ria ter interesse por aquele conteúdo para garotas. Ela era uma mulher
muito zelosa, por isso precisei fazer toda aquela operação secreta para
conseguir pelo menos passar os olhos nas páginas daquela revista. Eu
não concordava com ela; não via nada de mal em ler algo que todas as
adolescentes gostavam. Então eu não comprava nas bancas, mas pedia
emprestado para alguma amiga da escola. Foi exatamente o que fiz na-
quele dia, antes de voltar para casa, e comecei a pensar em como dar
um jeito para ler a revista do início ao fim – em paz. Mas assim que
meu plano deu certo, todos saíram de casa e eu fiquei sozinha para
fazer o que quisesse, algo muito estranho aconteceu.
Nós morávamos numa cidadezinha chamada Capitão Enéas, em
uma casa espaçosa, agradável e com muitos cômodos – espaço ideal
para minha grande família. Minha mãe tinha até uma loja em frente,
assim ela podia trabalhar e ficar de olho nos sete filhos. Mas de repen-
te, enquanto eu estava super concentrada na revista, toda feliz porque
meu plano tinha funcionado, algo me incomodou. Senti a janela do
quarto bater, chacoalhar, fazendo um barulho muito forte.
“Quem tá aí?” – gritei curiosa. Mas ninguém respondeu; parecia
ser apenas o vento.
Respirei fundo, me tranquilizei e segui na leitura secreta, esque-
cendo do resto do mundo. Depois de um tempo, ouvi o som nova-
mente. Ignorei, foquei nas páginas coloridas e continuei a ler, com
todo interesse, os textos sobre comportamento, garotos, moda e ami-
zades. Porém, no meio de uma das reportagens a situação se repetiu
de novo, e de novo, e de novo. Eu não consegui ler mais nada. Já não
dava para ignorar a janela chacoalhando, como se alguém a empur-
rasse sem parar. Reuni toda coragem que havia em mim e perguntei,
já em pânico:
“Tem alguém aí?”
A única resposta foi o silêncio. Então uma sensação terrível tomou
conta de mim. Abandonei a revista e aos poucos fui me encolhendo
na cama, sentindo um medo enorme percorrer meu corpo franzino.
Assustada, pensei que talvez me sentiria mais protegida se me escon-
desse no quarto dos meus pais. Afinal, eles eram pastores e pais, isso
deveria valer alguma coisa nos momentos assustadores – e me trazer
alguma sensação de segurança. Não é para o quarto dos pais que todo
filho corre quando está com medo? Foi o que pensei enquanto a janela

27
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

continuava batendo sem parar. Mas cadê a coragem? Ela não vinha! Ao
perceber em mim o menor sinal de bravura, levantei da cama, segurei
a respiração e, na ponta dos pés, tentei ir em direção ao outro cômodo.
Mas o frio na barriga percorreu o meu corpo inteiro, gelando até a espi-
nha. De repente ouvi o barulho novamente e não consegui mais seguir
adiante! Levei um susto, fechei a porta e voltei correndo para a minha
cama! Era melhor me esconder ali mesmo, onde eu já estava! Não ar-
riscaria andar mais nem um milímetro sozinha naquela casa enorme!
Completamente aterrorizada, me joguei no chão de joelhos, fechei
os olhos e não consegui pensar em mais nada – a não ser em orar. E
orei o mais rápido que pude, com toda a sinceridade do meu coração.
“Senhor, me perdoe por ter mentido para os meus pais, eu sei que
os enganei. Eu também me enganei com a minha atitude. Me perdoe,
Deus! E se tiver alguém aqui em casa, se for algum homem tentando
entrar pela janela ou pela porta para nos roubar, não permita ele entrar,
por favor! Me guarda, Deus! Eu entrego a minha vida para o Senhor, eu
entrego a minha vida para o Senhor! Não me deixe morrer! Eu tenho
tantos sonhos. Escreva o meu nome no Livro da Vida! Escreva o meu
nome no Livro da Vida! Escreva o meu nome no Livro da Vida!”
Repeti essa última frase várias vezes, completamente desesperada.
Diante da minha reação, do medo, da minha percepção de que estava
fazendo algo muito errado, entendi que se a minha vida fosse do Se-
nhor, como eu sempre acreditei, eu não estaria mentindo para os meus
pais, nem usando a revista como desculpa. Eu não teria uma atitude feia
como aquela. O problema não era não querer ir ao culto, mas inventar
uma história falsa para enganar minha família. Continuei a oração re-
conhecendo que eu tinha pecado ao executar o meu plano secreto:
“Deus, me lave com o Seu sangue, me cubra com o Seu sangue que foi
derramado na cruz por mim. Eu quero me lavar no Seu sangue agora!”
Mesmo orando com todo o meu coração, o barulho opressor ficava
cada vez mais forte. Nada do que eu falava fazia com que aquele som pa-
rasse ou mudasse a minha sensação de pânico. Eu tinha a forte impressão
de que alguém estava tentando invadir a casa. Em total desespero, tremen-
do por completo, continuei a clamar por Deus com todo o meu fôlego:
“Escreva o meu nome no Livro da Vida! A partir de hoje eu sou a
sua serva, sou lavada e remida no sangue de Jesus!”
De repente, da mesma forma que aquele barulho ensurdecedor

28
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

começou do nada, um raio entrou no meu quarto, iluminando tudo


ao meu redor. Foi como um daqueles relâmpagos poderosos, estron-
dosos, que descem do céu anunciando a chegada de um forte tempo-
ral. Eu estava ajoelhada, tremendo, com medo até da minha própria
sombra, sem coragem para erguer os olhos e concentrada apenas na
minha oração de arrependimento. Mas ao ver aquela luz tão brilhante,
soltei um grito muito alto:
“Ai!!!!”
Depois disso, uma doce presença invadiu o meu quarto de uma
forma que nem sei explicar. Senti algo muito diferente tomar conta
de mim. Como se o relâmpago tivesse afastado a opressão maligna, a
sensação de medo que me consumia, o barulho apavorante na janela,
e substituísse o pavor por uma tranquilidade indescritível.
Não fiz mais nada a não ser permanecer naquela atmosfera dife-
rente, desfrutando de uma profunda paz e esperando pela chegada
dos meus pais. Assim que eles puseram os pés em casa, pedi perdão e
contei tudo o que tinha acontecido enquanto todos estavam fora. Eles
me perdoaram, e oramos juntos. Aquilo nunca mais se repetiria.
Foi naquela noite que aceitei a Jesus. Sei que Deus usou essa experiên-
cia para me mostrar que, apesar de viver na igreja, eu ainda não O tinha
recebido em minha vida e que eu precisava fazer isso imediatamente. Pou-
co depois eu fui até a frente em um culto e publicamente declarei a minha
fé. Minha decisão não ficou restrita à experiência no meu quarto.
Muitas pessoas acreditam que só porque nasceram em um lar evan-
gélico não precisam fazer a oração de confissão de pecados. Ou só por-
que estão na igreja há muitos anos acham que já se entregaram a Ele
– afinal, assim como eu, cresceram ouvindo sobre quem é Jesus, apren-
dendo sobre a Palavra de Deus, às vezes até pregando no púlpito. Tudo
isso fica tão natural, que muitas pessoas deixam de perceber que jamais
renderam as próprias vidas ao Senhor. Você pode não acreditar, mas
certa vez atendi um pastor que, após décadas de ministério, nunca tinha
confessado a Jesus. Estávamos conversando sobre os desafios dele, para
orarmos juntos, quando o Espírito Santo falou forte ao meu coração:
“Este pastor nunca se entregou a Mim. Ele me serve sem me co-
nhecer, sem se render totalmente ao Meu senhorio.”
Ouvi isso impressionada, quase sem acreditar. Como assim? Um
pastor que nunca fez essa oração? Seria possível? Com muito cuida-

29
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

do, compartilhei com ele o que senti. E quando contei o que ouvi do
Espírito Santo, aquele homem, que estava assentado na minha frente,
falando sobre os problemas que enfrentava na vida e na igreja, caiu
de joelhos, chorando desesperadamente. Ele simplesmente desabou
pedindo perdão a Deus por nunca ter reconhecido Jesus como Senhor
e Salvador da sua vida. Já havia conduzido muitas pessoas a Cristo,
mas ele mesmo não tinha dito aquelas palavras tão poderosas. Juntos
fizemos uma linda oração assumindo que, apesar de ensinar há tantos
anos sobre a Palavra, ele não tinha ainda dado esse passo tão funda-
mental em sua caminhada com o Pai.
Confessar a Jesus – entregar a Ele a nossa vida, o nosso coração, e
pedir que Ele perdoe os nossos pecados – é um passo indispensável
na jornada pessoal com Deus. É essa oração, segundo a Bíblia, que nos
leva a receber a graça da salvação. Quando reconhecemos que preci-
samos dEle para ser salvos e ter a vida eterna, entendemos que não
entraremos no Reino de Deus apenas porque trabalhamos para Ele,
ou porque somos pessoas boas, caridosas. Precisamos confessar com
a nossa boca e com o coração que Ele é o Todo-Poderoso Salvador.
Por isso, quero te perguntar agora: Quando você aceitou a Jesus em
seu coração? Você se lembra disso ter acontecido? Você já confessou,
com os seus lábios, que Cristo é o Senhor e Salvador da sua vida?
Se você não se lembra, ou se realmente nunca declarou com a sua
boca essas palavras, que tal fazermos isso agora mesmo? Eu te ajudo.
No livro de Romanos está escrito que todo aquele que confessar o
nome de Jesus será salvo. Então, convido você a abrir o seu coração e
a repetir comigo as seguintes palavras:

Senhor Jesus, eu reconheço que sou pecador e preciso de Ti. Re-


conheço que o Senhor veio à Terra, como o Filho de Deus encar-
nado, morreu na cruz pelos meus pecados, para que eu pudesse
ter uma vida em abundância. Eu sei que pelo Seu sangue eu sou
justificado, purificado e perdoado. Lave-me no Seu sangue pre-
cioso. Eu reconheço que Jesus é o Senhor e Salvador da minha
vida e creio que um dia estaremos juntos no céu. Eu recebo a
Sua salvação como um presente de valor inestimável. Escreva o
meu nome no Livro do Vida. Muito obrigado, Senhor, porque sou
nova criatura. Em nome de Jesus, amém.

30
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

2. EU NÃO SABIA QUE


ELA FALAVA INGLÊS

Pouco depois da minha experiência de conversão e de sentir a pre-


sença de Deus no meu quarto, minha família concluiu sua missão na
cidade de Capitão Enéas. Após anos de muito trabalho, meus pais dei-
xaram uma congregação bem estabelecida, e partimos para o próximo
destino. Bastante animados, prosseguimos para outra etapa da obra
missionária para a qual eles foram chamados. Com a convicção de
que era hora de começar tudo de novo, mudamos para Montes Claros,
no Norte de Minas Gerais, para implantar uma das primeiras igrejas
batistas da cidade.
Além da nova congregação e dos irmãos que passaram a fazer par-
te da nossa vida, comecei a frequentar uma outra escola. Aos poucos
fui observando os novos colegas, conhecendo os alunos da minha sala
e me enturmando na cidade.
Um dia, no colégio, descobri uma menina chamada Eneida. Per-
cebi que ela era muito diferente de todas as pessoas que eu conhecia.
Não sei se ela tem noção de como as atitudes dela me impactaram.
Eneida me inspirou. Ela falava o tempo todo sobre Jesus, sobre o seu

31
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

relacionamento com Deus, sobre oração. Além disso, estava sempre


lendo alguma coisa interessante. Observando aquela adolescente tão
autêntica, tão firme em seus posicionamentos, tão apaixonada pelo Se-
nhor, eu quis ser amiga dela. Então, me aproximei e começamos a con-
versar e a desenvolver uma amizade que me marcou profundamente.
Eneida não se preocupava com o que as pessoas pensavam sobre
ela. De repente, ela falava, do nada:
“Vamos orar?”
Eu respondia:
“Como assim, Eneida? Orar na escola? Agora?”
E ela completava:
“Sim, por que não?”
E eu orava, fazer o que. Ela era minha amiga. Era bom estar com
ela, ouvir o que ela tinha a dizer. Eu achava muito interessante a forma
como Eneida se relacionava com Deus. Era mesmo muito diferente do
que eu estava acostumada e do que eu via no meu dia a dia, com meus
pais e com as pessoas que frequentavam a minha igreja.
Com brilho nos olhos, ela falava sobre o poder de Deus, sobre as
ações que Ele operava, sobre os milagres do Senhor. Era tão bom ouvir
aquilo! A Eneida despertou em mim uma curiosidade enorme sobre
aquele mundo novo, como se as palavras dela fossem gotas de água
viva que aliviavam a minha sede por algo que eu não conhecia.
Eneida era criada pela avó e frequentava a Assembleia de Deus.
Um dia ela começou a falar sobre um certo batismo que acontecia
entre os pentecostais. Não, não era o batismo mergulhando as pessoas
na água, como o meu pai fazia. Era outro tipo! Eu fiquei ouvindo cada
palavra, tentando entender o que ela dizia, quando ela soltou a bomba:
“Ezenete, você é batizada no Espírito Santo?”
“Eu? Eu não...” – respondi sem graça, quase que pedindo desculpas
por não saber do que se tratava.
“Ah, Ezenete, você precisa receber esse batismo! Ele é poderoso!”
Eu não tinha a menor ideia do que ela estava falando, mas com seu jeito
peculiar, minha amiga foi me explicando o que aquilo queria dizer. Ao ou-
vi-la falar sobre esse novo batismo, que nos enchia do Espírito Santo, abria
as portas para uma nova intimidade com Deus, para outras experiências
com o poder dEle, meu coração acelerou! Eu não sabia o que era, mas fazia
todo sentido para mim. Cheguei em casa e fui correndo atrás do meu pai:

32
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

“Pai, quero ser batizada no Espírito Santo. Eu quero ser cheia dEle!”
Meu pai olhou para mim bem desconfiado e explicou, à maneira dele:
“Filha, você já aceitou Jesus?”
“Sim, pai, você sabe que já O recebi em meu coração. Por quê?”
“Bem, quando isso acontece, já somos cheios do Espírito Santo.”
Não era o que eu queria ouvir. Longe de estar satisfeita com essa
resposta, insisti:
“Não, pai. A Eneida, minha amiga da escola, disse que é diferente!
Que tem que passar por esse novo batismo. É um batismo de poder!”
Eu o encostei na parede com todas as perguntas que me inquieta-
vam, relatando tudo o que tinha acabado de descobrir, mas ele sim-
plesmente colocou um ponto final na conversa com a explicação que
ele tinha. Fim de papo. Entretanto, eu estava longe de chegar ao fim
dos meus questionamentos.
Eu também enchia de perguntas os líderes do ministério Mensa-
geiras do Rei, do qual fazia parte. Mas ninguém tinha respostas que
me satisfaziam. Ninguém explicava de um jeito que fazia sentido para
mim. Afinal, a Eneida me falava que o batismo no Espírito Santo era
diferente, algo especial – como se fosse um novo passo na caminha-
da cristã. Então, eu continuava cheia de dúvidas e querendo entender
melhor o que a minha amiga dizia.
Dias depois, lá veio ela de novo. Mas dessa vez, com um convite
muito curioso:
“Vou com a minha avó e com algumas amigas orar em um parque
da cidade. Você quer ir com a gente?”
Meu coração acelerou, e respondi com toda animação possível:
“Claro que quero!”
Meu pai autorizou, e assim fomos. Quando chegamos, fiquei
ouvindo os corinhos que elas cantavam. Eu não conhecia ne-
nhum. Elas batiam palmas durante as músicas com muita alegria
e empolgação. Então, a avó da Eneida abriu a Bíblia, visivelmente
gasta de tanto uso, e leu um trecho da Palavra sobre o período em
que Silas e Paulo ficaram na prisão. Com muita sabedoria, nos
explicou aquela passagem de Atos 16. Ela contou que eles can-
tavam a Deus mesmo depois de terem sido açoitados por pregar
o Evangelho; disse também que foi pelo poder do louvor que as
correntes se partiram e os portões das celas se abriram. Depois de

33
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

ouvir essa história, e inspiradas pela fé desses homens de Deus,


fomos orar juntas.
Bem, orar eu sabia. Nisso eu tinha prática! Eu sempre me ajoelhava
na beira da minha cama para falar com o Senhor. Mas ouvir a avó e
as amigas da Eneida era diferente também. Elas oravam, clamavam,
davam glórias a Deus, falavam “aleluia” diversas vezes! Era tudo tão
forte e empolgante! Tão vivo! E de repente, no meio dessa oração tão
calorosa, elas começaram a falar em outras línguas! Eu nunca tinha
ouvido nada sequer parecido. O que elas estavam dizendo? Que lín-
gua esquisita era aquela? Por que elas se comunicavam daquele jeito?
Eu fiquei simplesmente abismada. Olhei para um lado, olhei para ou-
tro, prestei atenção em cada uma delas e pensei, no meu canto: “Poxa,
a Eneida nunca me disse que falava inglês!”
Eu fiquei muito impactada. Quando elas terminaram de orar, a avó
da Eneida disse várias coisas para mim, mas eu estava tão impressio-
nada que nem me lembro mais. Uma pena. Queria muito me recordar
de tudo o que aconteceu naquela tarde. Mas logo depois fui atrás da
minha amiga:
“Onde você aprendeu a falar inglês? Você também estuda em outro
lugar? Na nossa escola não ensina...”
Ela caiu na risada e tentou me explicar:
“Não, Ezenete! Não é inglês. Eu não sei falar inglês. Nós estávamos
orando na língua dos anjos!”.
“O quê? Língua dos anjos? Como assim? Que língua é essa?” – fi-
quei completamente pirada com essa resposta.
Nos minutos seguintes, Eneida começou a me falar sobre o batis-
mo no Espírito Santo, sobre os dons espirituais que estavam descri-
tos na Bíblia, sobre tudo aquilo que era tão natural para ela, mas tão
novo para mim. Fiquei muito intrigada com as explicações da minha
melhor amiga e lá fui eu, de novo, atrás do meu pai. Ele com certeza
saberia me dizer que história era aquela de falar na língua dos anjos.
Fiquei durante toda a semana no pé dele, sem dar folga. Eu precisava
de explicações.
Mas qual foi o resultado? Muito incomodado com tudo, mas
sem me falar nada, ele me proibiu de sair com a Eneida. Para a
minha tristeza, ele não estava gostando nada daquilo e achou me-
lhor me afastar da minha amiga. Meu pai estava preocupado com

34
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

aquela influência pentecostal, afinal éramos batistas tradicionais.


A partir dali não poderíamos mais nos encontrar ou orar juntas.
Ele achou que seria melhor assim. Fiquei triste, mas obedeci. Ela
era uma boa amiga.
Mas os meus questionamentos estavam longe de acabar. Eu
queria explicações! Sem poder falar com a Eneida nem com meu
pai sobre isso, porque de certa forma ele encerrou o assunto de-
finitivamente, procurei por outras pessoas que poderiam me es-
clarecer. Novamente fui atrás dos meus líderes do Mensageiras do
Rei, mas eles também não conseguiram me deixar satisfeita com
as respostas. No meio de tanto silêncio, eu pensava comigo: “Gos-
to mais do jeito que a Eneida e a avó dela oram”.
Sei que aquele período em que convivi com elas me marcou
profundamente. Elas me despertaram para algo que eu não co-
nhecia, mas que fazia todo sentido para mim. Eu senti muita falta
daquelas pessoas tão queridas, mas o que aprendi naqueles meses
levei comigo para sempre.
Eu amava cantar e tinha o hábito de emendar uma música atrás da
outra enquanto orava em casa. A música fazia parte do meu relaciona-
mento com Deus. Meu pai também fazia isso nos seus momentos de
oração e creio que ele me influenciou muito nesse aspecto. Eu também
gostava muito do livro de Salmos. Então ficava cantando e lendo os
capítulos poéticos sem parar. Exaltava o nome do Senhor, proclamava
a Sua grandeza, falava versículos seguidos, e tudo isso ia ajudando a
preencher meu vazio interior, saciando a minha sede. A música que
eu mais gostava era Eu quero ser um vaso de benção, o hino 304 do
Cantor Cristão. Ela é muito linda e diz:

Quero ser um vaso de benção


Sim, um vaso escolhido de Deus
Para as novas levar aos perdidos
Boas-novas que vêm lá dos céus

Faze-me vaso de benção, Senhor


Vaso que leve a mensagem de amor
Eis-me submisso pra teu serviço
Tudo consagro-te agora, Senhor

35
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Quero ser um vaso de benção


Para todos os dias fazer
Aos culpados que vivem nas trevas
O perdão de Jesus conhecer

Quero ser um vaso de benção


Sim, um vaso de benção sem par
Avisando que crentes em Cristo
Jubilosos no céu hão de entrar

Para ser um vaso de benção


É mister uma vida real
Uma vida de fé e pureza
Revestida do amor divinal

A proibição do meu pai, o afastamento da minha melhor amiga


e a falta de explicações não me fizeram desanimar nem desistir de
buscar a Deus intensamente. Não mesmo. Tudo isso serviu também
para despertar algo novo em mim. Eu tinha muita convicção de que
queria mais do Senhor e sentia que algo diferente estava acontecendo.
Eu já era cristã, vivia dentro da igreja, mas para mim tudo isso ainda
era muito pouco. Agora eu sabia que havia algo mais.

36
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

3. UM CHORO
INCONTROLÁVEL

Após a conversão, minha primeira experiência real com o Senhor


aconteceu pouco depois daquele dia em que o meu pai encerrou a
conversa sobre o poder do Espírito Santo. Eu estava em um culto nor-
mal da nossa igreja. O templo era simples e ligeiramente estreito, com
um longo corredor. Naquele dia, cheguei bem cedo, com a minha fa-
mília, como sempre, e sentei no terceiro banco, na fileira da direita.
Era noite de ceia, e toda a congregação cantava a plenos pulmões
a música Tudo Entregarei, do Cantor Cristão. O hino é muito bonito:

Tudo, ó Cristo, a Ti entrego


Tudo, sim, por Ti darei
Resoluto, mas submisso
Sempre, sempre, seguirei

Tudo entregarei
Sim, por Ti, Jesus bendito
Tudo deixarei

37
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Tudo, ó Cristo, a Ti entrego


Corpo e alma, eis aqui
Este mundo mau renego
Ó Jesus, me aceita a mim

Tudo, ó Cristo, a Ti entrego


Quero ser somente Teu
Tão submisso à Tua vontade
Como os anjos lá no céu

Tudo, ó Cristo, a Ti entrego


Oh, eu sinto Teu amor
Transformar a minha vida
E meu coração, Senhor

Tudo, ó Cristo, a Ti entrego


Oh, que gozo, meu Senhor
Paz perfeita, paz completa
Glória, glória ao Salvador

Eu já conhecia aquela música, ela não era nova, mas neste dia a
expressão “tudo entregarei” queimou meu coração. Não parecia ser a
mesma canção que ouvi tantas vezes. Algo estava diferente. Eu estava
diferente. Cada estrofe que eu entoava parecia que não apenas saía dos
meus lábios. A sensação era outra. Enquanto eu cantava, era como se as
palavras entrassem de volta, para dentro de mim, em ondas poderosas.
Declarando aquela composição tão antiga e sentindo meu peito
queimar, reforcei os votos que fiz ao Senhor no dia em que fui tomada
pelo pânico, com medo do barulho da janela do meu quarto. Mas ali,
durante aquele culto, eu não sentia o menor medo... e me lembrava
daquela cena sem parar, e da sensação de temor indo embora quando
o relâmpago poderoso entrou na minha casa. Foi muito forte viver
aquilo. Porém, na igreja, ouvindo aquele hino que eu já conhecia, algo
diferente estava acontecendo. Eu fui envolvida em uma atmosfera po-
derosa, majestosa, e senti profundamente o amor do meu Deus.
Era tudo tão novo. Eu me lembro do que disse para o Senhor en-
quanto lágrimas jorravam sem parar. Não foi uma oração de conver-

38
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

são, essa eu já tinha feito. Dessa vez eu me senti impelida a dizer a


Deus palavras sinceras de entrega. Aquelas frases brotaram natural-
mente dos meus lábios:
“Meu Deus, eu entrego tudo o que tenho a Ti: meus dias, meu
coração, minha mente. Eu não desejo outro tipo de vida. Eu quero te
servir e viver somente para o Senhor. Eu não almejo absolutamente
nada além disso.”
Eu orava e chorava, orava e chorava. E no meio daquele mover
incrível, que é até difícil de explicar, algumas vezes eu repetia a can-
ção dizendo: “Tudo entregarei”. Eu estava livre! Era como se não
existisse mais ninguém naqueles bancos, apenas eu e Deus. A ora-
ção fluía dos meus lábios como se não houvesse outra coisa a fazer
senão me render àquele poder maravilhoso que me inundava. Foi
simplesmente incrível!
Mas o meu choro começou a incomodar as pessoas. Aquela era
uma igreja nova, com poucos membros – e todos muito tradicionais.
Acredito que aproximadamente sessenta pessoas foram ao culto, e
como eu estava em um dos primeiros bancos, todos começaram a me
observar. Minha oração de entrega chamou a atenção, mas eu, com os
olhos fechados e mergulhada na presença do Senhor, nem me dei con-
ta disso. De repente percebi a diaconisa se aproximando. Ela chegou
perto de mim, passou o braço ao meu redor e me retirou do templo o
mais rápido que pôde. Eu não sabia, mas ela estava apenas cumprindo
ordens do meu pai. Com bastante cuidado, preocupada em não cha-
mar ainda mais atenção, ela me conduziu para uma salinha privada.
Ali começou o interrogatório.
“O que foi? O que aconteceu com você?”
“Não aconteceu nada, está tudo bem” – respondi limpando meus
olhos vermelhos e encharcados.
“Você está arrependida de algo que você fez?” – como era culto de
ceia, eles pensaram que eu podia estar me consertando com Deus por
causa de algum pecado, e dali vinha o choro. Mas eles estavam enten-
dendo tudo errado, e eu me assustei com a pergunta.
“Eu? Claro que não! Eu não fiz nada. Eu só quero mais de Deus na
minha vida. Eu sei que existe algo mais no Senhor. Essa música mexeu
muito comigo.”
Em seguida várias amigas da igreja se aproximaram.

39
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Ezenete, você quer se abrir com a gente? Pode falar; nós vamos
te ajudar!”
“Não, meninas, eu não preciso desabafar. Está tudo bem, eu apenas
sinto que quero estar mais perto de Jesus.”
Parecia que ninguém entendia o que estava acontecendo. Era
como se as pessoas não me ouvissem, ou não quisessem acreditar que
toda a minha comoção era apenas o meu desejo latente por continuar
mergulhada naquela presença maravilhosa, de onde tinham me reti-
rado para me interrogar! E por mais que eu tentasse explicar, parecia
que eu estava falando em outro idioma, porque ninguém era capaz de
compreender.
No dia seguinte, logo cedo, minha família me levou a uma psicó-
loga cristã. Ela era de outra igreja e não havia presenciado o episódio
na noite de ceia. Meu pai estava preocupado, pois já tinha me ouvido
chorar, trancada no quarto, diversas vezes. Na realidade, ele me escu-
tava clamar pela presença de Deus. Sem saber como agir, pensando
que eu poderia estar passando por algum tipo de dificuldade, ele acre-
ditava que a consulta me ajudaria. No entendimento dele, eu estava
com problemas emocionais, deprimida, e precisava de orientação pro-
fissional. Mas não era nada disso!
“Eu não tenho nenhum problema” – comecei logo a dizer para a
psicóloga. “Estou muito bem, só quero conhecer mais a Deus e ter
outras experiências com Ele. Eu sei que existe um outro nível de re-
lacionamento com o Senhor, mas parece que ninguém entende o que
que eu digo” – completei.
Ela me olhou surpresa. E como já havia conversado com o meu
pai, ela me respondeu, com muito jeito:
“Olha, é preciso ter um certo cuidado com essas coisas espirituais,
com tudo isso que você está sentindo e buscando. Esse tipo de situa-
ção pode causar desequilíbrio na sua vida e na sua família. E não é só
isso: muitas igrejas passam a ter problemas justamente por causa da
falta de equilíbrio e ponderação.”
Eu entendi o que ela disse, mas no fundo eu a vi apenas como mais
uma pessoa que não percebia o que eu estava querendo explicar. Saí
desse primeiro encontro frustrada, porque percebi que ela também
não poderia me ajudar. Sinceramente eu esperava não ser obrigada a
voltar a falar com a psicóloga. Ela era boazinha, simpática, mas não

40
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

estava melhorando a minha situação. Porém, meus pais insistiram


muito para que eu retornasse ao consultório. Relutante, eu fui, mas
antes fiz uma oração:
“Jesus, vem comigo? Entra naquela sala ao meu lado, por favor. Mos-
tra para essa psicóloga que eu não tenho problema emocional nenhum.”
Eu estava cansada e não queria ter que explicar, novamente, o que
ninguém parecia disposto a ouvir. Mas algo aconteceu; ela me escutou e
me liberou. Antes de me se despedir, ela disse:
“Eu sou batista tradicional, mas a minha avó é pentecostal. Eu te
entendo. Você não tem problema nenhum.”
Que alívio ouvir isso! Pela primeira vez alguém me compreen-
deu! Foi como se Jesus tivesse entrado mesmo comigo no consultó-
rio e mostrado para a psicóloga o que estava acontecendo. Depois
que me levantei e saí da sala, ela chamou os meus pais e explicou que
estava tudo bem, que eles não deviam se preocupar. Eles também
ficaram aliviados.
Depois desse dia eu percebi que algo novo estava realmente acon-
tecendo. Eu sentia que uma alegria diferente estava nascendo e que
grandes coisas estavam por vir! Mas após essas experiências – minha
entrega inteiramente para Deus, minha declaração de que estava dis-
posta a viver por Ele e que eu não queria mais nada além disso – o
inferno se levantou com toda força. Satanás sabia a seriedade daqui-
lo e com o que eu estava me comprometendo. Ele deve ter pensado:
“Não adianta eu tentar essa aí com os prazeres da carne, com as coisas
deste mundo. Para atingi-la, vou tocar na saúde dela”. E foi o que ele
fez. Novamente.

Ataque das trevas

Eu continuei participando do ministério Mensageiras do Rei, mas


com o coração queimando por experimentar novamente aquele mo-
ver da noite da ceia. Nós tínhamos reuniões frequentes para estudar a
Bíblia, decorar os versículos e nos preparar para alcançar outros níveis
no grupo. Mas eu queria mesmo era aproveitar os encontros da turma
de adolescentes para orar! A cada três meses acontecia uma festa para
testar os conhecimentos bíblicos e para saber se estávamos aprenden-
do o que era ensinado. Quem se destacava ia crescendo no ministério

41
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

e tendo a oportunidade de assumir posições de liderança. Eu era mui-


to diligente e fui “promovida” a um desses cargos.
Certo dia eu estava me preparando para uma reunião muito espe-
cial. Na verdade, seria a primeira vez em que eu conduziria o encontro
do meu próprio grupo de adolescentes. Eu estava muito feliz, como
quem sonha, ansiosa pelo momento em que lideraria meus amigos em
oração e estudaríamos a Palavra!
A igreja ficava bem na frente da escola onde eu e boa parte da turma
da congregação estudávamos. Eu estava na porta do colégio com as
minhas amigas esperando dar a hora da reunião, conversando, falando
sem parar e com o coração ansioso pela programação da tarde. Olhei
para o relógio e vi que faltavam poucos minutos para o nosso encontro.
Chamei as meninas, puxei uma delas pela mão e nos preparamos para
atravessar a avenida.
Eu ainda mancava. O lugar era bem agitado, com movimento de
carros nos dois sentidos; não sei explicar porque olhei apenas para a
direita antes de deixar o meio-fio. Tudo então aconteceu ao mesmo
tempo: minha amiga, que estava ao meu lado, soltou a minha mão de
repente e deu um grito. Uma Kombi veio com tudo, em alta veloci-
dade, exatamente na nossa direção. Minha amiga conseguiu escapar,
mas eu não tive tempo. O veículo me atingiu pela esquerda com uma
força brutal. Com o impacto, fui arremessada para longe, e bati contra
o muro da escola. Caí desmaiada. A motorista era uma mulher que
estava entregando frutas na região. As maçãs, laranjas, pêras, uvas, me-
lancias ficaram espalhadas por todos os lados, enquanto as pessoas que
viram o acidente correram desesperadas ao meu encontro.
Acordei no hospital, com o soro ligado na minha mão, os lábios
cortados, o braço esquerdo imobilizado, vários machucados nas per-
nas, escoriações por todos os lados. Mas apesar da gravidade do aci-
dente, eu estava bem. Estava inteira. Escapei de algo que tinha tudo
para ter me levado à morte. Deus me livrou do pior. Eu sabia. Meus
pais sabiam. Quem viu o acidente também. Pela graça e misericórdia
de Deus, eu não fui tocada pela morte. Ao despertar, nasci de novo.
Mas essa não foi a última vez que Satanás tentou me matar.

42
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

4. JOVENS COM UMA MISSÃO

Poucos dias depois, uma equipe do ministério JOCUM (Jovens Com


Uma Missão) chegou a Montes Claros para fazer um trabalho missio-
nário. Eu estava recuperada do acidente e muito animada para receber,
na nossa comunidade, pessoas de tantos lugares diferentes do Brasil. A
JOCUM é um ministério internacional muito sério, e meu pai abriu a
nossa casa e igreja para o grupo que escolheu nossa cidade para levar a
mensagem da salvação através dos impactos evangelísticos.
Como eu tinha irmãos, e nossa casa era bem espaçosa, meus pais
permitiram que dois rapazes se hospedassem conosco durante aquele
período. Eu adorei a novidade, a movimentação diferente, e me inte-
grei completamente às equipes. Seguia o pessoal da JOCUM por to-
dos os lados e estava sempre disposta a acompanhar o que eles faziam.
Se eles se encontravam na igreja para orar, lá eu estava. Se saíam pelas
ruas da cidade para pregar, eu seguia atrás. Se eles participavam dos
cultos, eu me sentava perto deles. Se eles estavam ensaiando, eu ficava
de olho, para aproveitar cada segundo. Era tudo tão empolgante!
A turma era muito alegre, divertida, mas muito comprometida
com o Senhor. Uma das coisas que eu mais gostava era acompanhar as

43
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

reuniões de oração. O grupo sempre se encontrava na igreja, antes de


sair para os impactos evangelísticos, e lá clamava a Deus pelas vidas e
pela proteção do Senhor. Eles sabiam que esse era um momento mui-
to importante, afinal tinham viajado vários quilômetros para levar a
Palavra aos perdidos, e o Inimigo não gostava nada daquilo. Aqueles
jovens entendiam que apesar de toda descontração, tratava-se de um
momento de batalha espiritual. Então, de mãos dadas e com muita
reverência, eles erguiam as vozes e invocavam o nome do Senhor. Eu
fazia o mesmo. Como era gostoso participar!
Compartilhar a Palavra de Deus, orar pelas pessoas, conviver com
jovens que amavam a Jesus era tudo o que eu queria. Por isso, estar
entre eles fazia muito sentido para mim. Aquela turma servia a Cristo,
vivia para o Senhor, conduzia pessoas à salvação. Era exatamente o
que eu planejava fazer para sempre!
Quando os dias da campanha foram chegando ao fim, meu cora-
ção ardia por seguir viagem com eles. Eu queria me mudar para a base
da JOCUM e começar o meu treinamento missionário imediatamen-
te. Eu estava pronta para deixar tudo para trás, fazer minhas malas e
acompanhá-los até o centro de treinamento. Pensei muito, orei e fui
falar com o meu pai:
“Pai, eu quero ir para a JOCUM.”
“Ezenete, minha filha, seria ótimo se você pudesse ir. Mas a JO-
CUM não aceita menores de dezoito anos. Você é muito nova e vai ter
que esperar para isso.” – foi a resposta.
“Mas pai, eu gostei tanto de estar com eles. Será que não tem como
eles me aceitarem? Eu já tenho quase quinze anos!”
“Ezenete, eles são muito organizados e muito sérios. Não acredito
que possam abrir uma exceção para você.”
“Mas, e se eles deixarem?” – insisti. “E se eu preencher os formulá-
rios e eles me aceitarem na próxima equipe? Você permitiria?”
“Preciso pensar. Vamos orar sobre isso.” – ele respondeu bem sério.
Mas eu não me dei por vencida. Usei a minha última cartada:
“Pai, seria o meu presente de quinze anos! Eu não quero festa nem
nada. Eu só quero ir para a JOCUM. Por favor!”
Ele parou, pensou, olhou para mim, viu que eu estava levando
aquilo realmente a sério e finalmente respondeu:
“Se eles concordarem em aceitar uma adolescente de quatorze

44
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

anos, se assumirem essa responsabilidade, eu abençoo a sua ida. Será


o seu presente de aniversário.”
Era tudo o que eu precisava ouvir. Eu queria sair gritando pela rua
para compartilhar a minha alegria! Peguei os papéis com o líder do
grupo que estava em Montes Claros, conversei bastante sobre o meu
desejo de ser missionária e, com muita animação, preenchi cada um
dos campos. Escrevi meu nome, minha idade, contei que mesmo sen-
do tão nova eu tinha o apoio do meu pai e pastor. Também expliquei o
motivo pelo qual eu queria tanto fazer o curso básico de evangelismo
da JOCUM: eu sentia que Deus tinha me chamado para isso.
Para a minha alegria, o líder que acompanhou o grupo ao Norte
de Minas disse que todos da equipe estavam encantados comigo, com
meu compromisso e postura diante de Deus. Ele disse que seria mui-
to bom se eu pudesse ir para a base da JOCUM fazer a ETED, que é
a Escola de Treinamento e Discipulado. Seriam três meses morando
com eles, recebendo aulas teóricas sobre o assunto, com professores
capacitados, me preparando para o campo missionário, e depois indo
de fato para a parte prática.
Enviei o formulário com o coração em chamas, mas receosa de que
não fosse aceita por causa da pouca idade. Porém, para a minha sur-
presa, eles concordaram! Uma semana depois que a equipe foi embora
de Montes Claros, eu estava me preparando para a minha primeira
viagem sozinha.
Meu pai foi supreendido pela novidade, mas como já havia prome-
tido, não pôde voltar atrás. Hoje eu desconfio que ele só abençoou a
minha ida porque tinha certeza de que a direção da escola nunca acei-
taria uma menina de quatorze anos no grupo. Ele não parecia muito
confortável enquanto me via partir alegremente.
Com o coração transbordando de expectativa, fiz as malas, peguei a
Bíblia, entrei no ônibus e fui para Contagem, na região metropolitana
de Belo Horizonte. Lá fica a base nacional da JOCUM e seria minha
casa pelos próximos meses. Chegar àquele lugar foi indescritível! Eu
estava como quem sonha, ansiosa pelo início das atividades e convic-
ta de que Deus faria coisas incríveis. Era mês de janeiro, mas não me
importei em perder uma parte do ano letivo para viver minha tão so-
nhada experiência missionária. Depois eu correria atrás do conteúdo
perdido na escola e recuperaria tudo. Eu era dedicada e daria conta.

45
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Observando os prédios dos alojamentos, as salas de aula onde eu


aprenderia sobre o campo missionário, lembrei-me de minhas reda-
ções nos primeiros anos escolares, quando eu escrevia sobre meu so-
nho de levar o nome do Senhor por onde fosse. Eu sentia que estava
dando o primeiro passo para isso se tornar realidade e para que o
meu chamado se cumprisse. Ajeitei-me no quarto, que eu comparti-
lhava com outras moças, escolhi uma cama e descobri que, de fato, eu
era a mais jovem de toda a base. Nosso grupo era composto por mais
de cem pessoas, gente de todos os cantos do país.
A rotina era puxada: acordávamos às seis horas da manhã para
fazer o devocional, depois tomávamos o café e assistíamos às aulas te-
óricas. Em seguida era servido o almoço, e à tarde cada um tinha uma
tarefa para cumprir. Nós nos revezávamos entre lavar a louça, fazer
a limpeza da cozinha e do salão de refeições. Também cuidávamos
da área externa varrendo, tirando o lixo e mantendo nossos quartos
bem limpos e organizados. Depois tínhamos os momentos de oração
e os cultos. Era tudo muito intenso, mas maravilhoso. Eu não sentia
saudades de casa, mas em compensação a comida da minha mãe me
fazia muita falta – e sempre falava isso quando telefonava para casa:
“Mãe, a comida daqui não é tão boa quanto a sua.”
“Você está passando fome, filha? Você está passando dificuldades?
Você quer voltar para casa?” – ela perguntava, preocupada.
“Não, mãe. Não quero voltar. Estou amando estar aqui. Mas bem
que você podia mandar algumas coisas para eu comer. Não estou gos-
tando muito da comida.”
Dias depois chegava às minhas mãos uma caixa repleta de bis-
coitos, sucos, pães, chocolates e muitos lanches gostosos, preparados
com carinho pela minha família. Cheia de alegria, eu compartilhava
com meus novos amigos as delícias que recebia de casa. Na JOCUM
também aprendemos sobre desprendimento, e eu acabava distribuin-
do outras coisas como roupas e sapatos. Dividir o que tínhamos foi
uma parte importante do treinamento.
Aos domingos, todos íamos servir em uma igreja na região do Bar-
reiro, em Belo Horizonte. O caminho era longo: pegávamos um ôni-
bus bem cedo e terminávamos o trajeto a pé. Lá na Igreja Batista do
Tirol participávamos da escola dominical, cuidávamos das crianças,
assistíamos aos cultos e fazíamos evangelismo. Ao final do dia, bem

46
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

cansados, voltávamos para a base, pelo mesmo longo caminho.


Os meses de janeiro e fevereiro passaram rapidamente, e logo
seria o período prático em Ouro Preto. Cidade histórica famosa até
hoje pelo carnaval, festas, e pela vida agitada dos alunos das univer-
sidades. Eu queria muito ir, mas desde o início sabia que, por causa
da idade, os líderes decidiriam em cima da hora se eu acompanharia
o grupo ou não.
“Ezenete, se você não der conta de viajar para o campo, não tem pro-
blema. Você pode voltar para casa quando quiser. Você não é obrigada a
ir para Ouro Preto ou permanecer até o final.” – explicou o líder.
“Mas eu quero ir. Eu vou dar conta. Sou responsável e não vou
dar trabalho, prometo! Eu não quero voltar antes. Eu nem quero ir
para casa!”
“Tem certeza?” – ele perguntou.
“Sim, tenho!” – confirmei.
De repente, uma outra pessoa entrou na conversa:
“Pode deixar, que eu fico de olho nela. Ela vai com o meu grupo,
e eu tomo conta da Ezenete. Ela não vai dar trabalho para ninguém.
Prometo.”
Foi um alívio ouvir isso. Pronto! Eu estava liberada para fazer o
prático e seguiria com meus amigos para Ouro Preto. Na minha equi-
pe estavam dois irmãos de Jacareí, São Paulo, de quem fiquei bem
próxima. Todos éramos unidos e levávamos aquela experiência muito
a sério.
Chegamos a Ouro Preto felizes. O grupo tinha quinze pessoas e
ficaríamos hospedados em uma igreja metodista. O prédio fazia parte
da arquitetura histórica da cidade e era bem antigo. As reuniões e os
cultos aconteciam na parte de cima do prédio, e nós dormíamos em
um salão no porão – meninas de um lado, meninos do outro.
Cada um levou seu colchonete, a roupa de cama e tudo o que
precisaria para o próximo mês. Éramos responsáveis pelos nossos
pertences e cuidávamos sempre um dos outros. Os lanches que a
minha mãe enviava continuavam fazendo sucesso entre aqueles jo-
vens missionários.
Durante o dia, tínhamos reuniões de oração, estudávamos a Bí-
blia, ensaiávamos as apresentações e depois saíamos às ruas para fa-
lar sobre o Evangelho. Como era bom fazer isso! A primeira vez que

47
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

preguei foi para uma senhora, e ela aceitou a Jesus! Foi uma alegria
indescritível. Também compartilhei com um jovem a mensagem de
salvação, e ele disse sim ao Senhor e se converteu. Eu fiquei imensa-
mente feliz, pois ele continuou frequentando a igreja que nos rece-
beu com tanto carinho.

O Deus que cura

Entre todas as coisas importantes que vivenciei durante a campa-


nha, algo que me marcou muito foi descobrir que Deus curava. E isso
eu vi na minha frente.
O nosso alojamento ficava no subsolo, um lugar espaçoso, mas
muito úmido. Em alguns momentos era possível ver a água escorren-
do pelas paredes daquela construção centenária. Quando chegamos,
fomos alertados sobre a presença de escorpiões e os perigos de uma
picada. Assim, fomos orientados a ficar atentos, conferir os sapatos,
checar as roupas, verificar os lençóis antes de deitar. Mas, com o tem-
po acabamos nos acostumando com o ambiente e às vezes nos esque-
cíamos dessas recomendações.
Certo dia eu estava assentada no chão enquanto a turma terminava
de se preparar. Eu usava uma saia longa, azul claro, muito bonita, que
tinha bolsos laterais fechados por delicados botões. Eu gostava muito
daquela saia e acho que a dei de presente quando a campanha termi-
nou. Eu estava fazendo o meu devocional quando senti algo andando
sobre o tecido. Me assustei, fiquei gelada, e quando olhei para baixo
lá estava um escorpião passeando em mim. Dei um grito desespera-
do, levantei na hora, agitei a roupa e tentei mandar para longe aquele
bicho horroroso. Eu não fui picada, graças a Deus, mas uma menina
do nosso grupo não teve a mesma sorte. Dias depois ela foi alvo de
um escorpião. Ela era americana, a única estrangeira da equipe. Usava
um saco de dormir, e naquela noite deitou-se sem conferir os lençóis.
Então, enquanto o grupo se preparava para descansar, ouvimos um
grito terrível. Ela chorava muito e rapidamente se levantou de onde
estava. Todos correram para ver o que tinha acontecido. Os rapazes
logo viram o escorpião e conseguiram matá-lo.
Com muita dor, ela gritava alto e sem parar. A perna inchou ime-
diatamente, e a pele, bem branca, ficou muito vermelha. Eu fiquei as-

48
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

sustada com aquela cena terrível e com a forma como ela se contorcia.
Os líderes do grupo pegaram um elástico e prenderam a perna dela,
como um torniquete, para evitar que o veneno se espalhasse pelo cor-
po. Todos erguemos as mãos e começamos a orar em alta voz. Clama-
mos a Deus pela cura, para que Ele parasse a ação das trevas. Geral-
mente a picada do escorpião só é fatal para crianças e idosos, mas em
alguns casos pode causar vômito, problemas cardíacos e convulsões.
As vítimas desse animal peçonhento precisam receber o antídoto o
quanto antes, para evitar o pior. Enquanto os líderes aplicavam os
primeiros-socorros e pensavam para onde iriam levá-la, nós só po-
díamos orar. O hospital que possuía o melhor atendimento para esses
casos ficava em Belo Horizonte, cerca de 200 quilômetros dali.
Clamamos, sem cessar, até que Deus manifestasse a cura. E isso eu
vi acontecer diante dos meus olhos: a dor que a jovem sentia passou, o
inchaço foi embora, a pele voltou à cor normal. Apenas com as nossas
orações. Depois ela foi levada para o atendimento médico e logo vol-
tou para continuar a missão com o grupo. O escorpião que a picou era
muito venenoso, mas nada de mal aconteceu a ela. Para mim, aquela
experiência foi muito forte e ficou marcada em minha memória. Ao
ver que a moça estava bem, fiquei maravilhada pelo poder de Deus.
“Uau, Deus realmente cura!” – pensei, empolgada.
Dias depois, por causa da forte umidade, comecei a ter problemas
respiratórios. Várias pessoas do grupo também adoeceram, e muitas
foram obrigadas a interromper a missão e voltar para casa. Mas eu não
queria ir embora, mesmo estando bem gripada. Minha líder me reco-
mendou fazer as malas, mas eu insisti em ficar. E fiquei até o fim! Das
quinze pessoas que saíram da base em Contagem, com o meu grupo,
em direção a Ouro Preto, apenas seis concluíram a parte prática. Eu
estava entre elas.
Estar no campo missionário não era fácil. Não tinha conforto, a
programação era puxada, dormíamos praticamente no chão e nem
sempre a comida era boa. Mas essa era a proposta do treinamento.
Não estávamos em uma viagem de férias, e a ideia não era desfrutar
de luxo e uma cama quentinha. Não se tratava de turismo; o nosso
propósito era levar a Palavra de Deus para as pessoas perdidas, e eu
estava determinada a fazer isso até o último dia.
Quando a viagem chegou ao fim, e voltamos à base, meu coração

49
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

estava novamente em chamas. Era como se eu tivesse encontrado o


meu lugar no mundo. Eu não queria voltar para Montes Claros, prefe-
ria continuar ali e fazer todos os cursos possíveis – até ser oficialmente
enviada como missionária para onde fosse! Então, conversei com a
direção da escola sobre o meu desejo. Eles disseram que os relatórios
dos líderes sobre mim eram excelentes e que eles teriam alegria em
me receber no ano seguinte. Infelizmente naquele momento não seria
mais possível, porque as vagas já estavam preenchidas. Quando eu
voltasse, poderia continuar estudando, cursando o colégio que tinha
ali perto e fazendo as aulas da JOCUM no centro de treinamento. Não
teria problema, e eles ficariam felizes em me receber mais uma vez.
Ao ouvir isso, voltei para casa radiante. Só queria que o ano passas-
se rápido, para eu voltar a JOCUM em breve. Ali aprendi muito sobre
a Palavra, sobre missões, sobre convivência com outras pessoas, sobre
culturas diferentes. Na base, comemorei meus quinze anos e cresci no
meu relacionamento com Deus, vi pessoas aceitarem a Jesus e tive a
vida marcada. Ali eu vi que Deus curava através das nossas orações
e, mais do que nunca, tive a convicção de que isso era tudo o que eu
queria viver para sempre. Agora era uma questão de tempo.
Mas eu não tive tempo. Os meus planos não foram para frente,
e eu nunca completei o seminário. Assim que voltei para Montes
Claros, fiquei muito doente. Em poucos meses eu descobriria que
estava morrendo.

50
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

5. OS ANOS DE FOGO

Tudo acontece com a permissão de Deus, porque Ele tem um pla-


no. Quando passamos por provas, por lutas, saímos do outro lado
revestidos com poder, força e autoridade. Assim, com essas novas ex-
periências, com mais maturidade, continuamos vencendo, e podemos
dizer: “Até aqui me ajudou o Senhor”. E foi debaixo da permissão dEle
que passei pelos anos mais difíceis da minha vida, pouco tempo de-
pois de voltar da JOCUM.
Eu tinha ficado doente em Ouro Preto, mas quando voltei fui to-
mada por uma enfermidade muito forte e precisei ser internada em
um hospital. Começou com uma febre que não cedia; algo parecido
com uma gripe. Independente dos remédios que eu tomava, minha
temperatura não baixava. Fui enfraquecendo, tendo dificuldades para
tudo. Minha energia e resistência foram embora. Sentia dores terríveis
na região abdominal, e nada ajudava a melhorar. Nenhum tratamen-
to dava resultado, e ninguém sabia explicar o motivo. Por causa des-
sa enfermidade, meus órgãos começaram a aderir um ao outro, e os
médicos não sabiam muito o que fazer. Um dos exames revelou que
eles estavam reunidos, grudados, como se fossem uma massa única.
Comecei a emagrecer muito, e as dores não passavam. Fui definhando

51
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

enquanto a vida parecia me abandonar. Tudo aconteceu em apenas


quinze dias.
Fiquei tão mal, que um dos médicos que cuidava de mim teve
a ideia de fazer uma cirurgia muito arriscada. O plano era abrir a
região abdominal para cuidadosamente retirar todos os órgãos con-
taminados, lavar um a um e colocá-los de volta no meu corpo. Seria
um procedimento longo, de alto risco, muito complexo, envolvendo
vários profissionais, e que tinha apenas uma pequena chance de su-
cesso. A operação poderia ser a minha cura. Mas não havia garantias,
afinal ela também poderia me matar.
Foi aí, enquanto estava deitada na cama do hospital, com os olhos
fixos no teto, completamente prostrada após tantas tentativas de tra-
tamento em um curto espaço de tempo, que ouvi o que o médico
disse ao meu pai. Eu estava quietinha no quarto, em total silêncio,
mas muito atenta à conversa que acontecia no corredor. Eles falavam
baixo, como se fosse para não me incomodar e para evitar que eu
ouvisse o que viria pela frente. Mas não teve como, eu escutei cada
palavra daquela sentença de morte:
“Senhor Jacinto, se fizermos a cirurgia ela pode morrer na mesa.
Mas se ela não operar, pode morrer também.”
Eu não podia acreditar naquilo. Eu tinha só quinze anos de idade.
Eu queria servir a Deus. Meu sonho era ser missionária e fundar co-
rais que levariam o Evangelho pelo mundo. Eu tinha entregue a minha
vida ao Senhor e estava prestes a ir para a JOCUM! Como eu poderia
morrer? Como tudo poderia chegar ao fim tão cedo? Não era justo!
Mesmo cheia de questionamentos, continuei a ouvir o diálogo
mais duro da minha vida. Segundo os médicos, a minha chance de
sair viva da sala de cirurgia era de apenas dez por cento. Tudo era
muito delicado e arriscado. Eles não podiam garantir a minha sobre-
vivência operando e muito menos sem operar. Tudo o que havia era
uma pequena possibilidade, uma tentativa que poderia dar certo ou
me matar de uma vez por todas.
Ouvindo aquilo, comecei a acreditar que estava doente porque
tinha questionado a fé do meu pai e a Deus. Algumas pessoas me
falavam que eu estava passando por esse momento de enfermidade
porque eu estava procurando coisas que não existiam, e por isso o
Senhor me castigou. Ele estava me punindo porque não fui uma boa

52
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

garota e todos tinham me alertado quanto a isso. Bem, pelo menos foi
o que ouvi dos meus líderes. Ao saber que estava morrendo, aquelas
palavras das pessoas que eu amava e respeitava começaram a fazer
sentido. Todos deviam ter razão. Eu provavelmente estava errada...
Entrei em parafuso. O que eu mais queria na vida era viver para
Deus, nada além disso. Mas por causa dessa decisão eu estava doente,
por estar procurando coisas que não eram verdade, segundo as pes-
soas. Comecei a refletir: “Quer dizer que aquelas orações poderosas
que ouvi a avó da Eneida fazer não eram de Deus? Falar na língua dos
anjos não é um dom do Espírito Santo? Jesus não gosta dessas coisas?
O que vivi nos últimos meses, aquelas experiências que enchiam meu
coração e criavam em mim mais vontade de estar perto do Senhor
foram uma farsa? O relâmpago que iluminou meu quarto e tirou o
meu medo não foi a mão de Deus? Aquela sensação maravilhosa de
estar tão pertinho do Senhor na noite de ceia não foi real?”. Eu não
sabia mais o que pensar.
Isso me entristeceu muito, e diante do meu quadro clínico aceitei
a sentença de morte, aquela condenação. Cada palavra dita pelo mé-
dico se repetia em minha mente, e um pensamento martelava na mi-
nha cabeça sem parar: “Vou morrer”. Eu sentia como se Deus tivesse
se esquecido de mim. “Vou morrer”.
Mesmo perdida em meus pensamentos e questionamentos, con-
tinuei a prestar atenção à conversa no corredor. Depois de falar com
meus pais sobre a possibilidade da cirurgia, o médico fez uma suges-
tão que mudaria tudo – para todos da família.
“Seu Jacinto, você teria como levar a Ezenete para São Paulo? Lá
tem mais recurso, mais tecnologia. De repente lá existe algum tra-
tamento mais avançado, que vai ajudar a estabilizar a sua filha, para
fazermos a cirurgia.”
No silêncio do meu quarto, ouvi a ideia de ir para outro estado.
Mas eu não conseguia pensar em mais nada, em nenhuma outra coi-
sa, apenas na minha condenação: “Eu vou morrer”.

É hora de mudar

Eu estava internada num hospital de Montes Claros, onde eu mo-


rava com minha família. Depois de toda essa conversa dura com o

53
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

médico, muito preocupados, meus pais vieram falar comigo. Eles


chegaram perto de mim com muito jeito, mas sem me esconder a
seriedade do problema de saúde. Eles não sabiam que eu já tinha
ouvido tudo.
“Ezenete, você sabe que está muito doente. Nós tentamos de tudo,
mas não podemos mais fazer muita coisa. Agora a decisão é sua. Você
prefere ficar aqui, continuar o tratamento na nossa cidade mesmo,
perto da sua família, ou quer arriscar ir para São Paulo? Lá podemos
tentar algo novo, com outra equipe médica que pode oferecer melho-
res condições.”
Sem pensar muito, sem conseguir decidir ou raciocinar que pode-
ria haver solução para o meu caso, eu respondi:
“Para mim tanto faz. Eu sei que vou morrer. Eu ouvi as palavras
do médico enquanto vocês estavam no corredor. As chances são mui-
to pequenas de algo dar certo, ficando ou indo. Eu vou morrer de
qualquer jeito. Então, vocês decidem.”
Era muita tristeza em meu coração, mas o Senhor já estava na
história, e minha família escolheu por mim. Recebi alta, pegamos os
documentos com meu histórico médico e deixamos o hospital. Ali
começou o processo de Deus comigo e com meus pais. Eu sempre
sentia muita dor na região abdominal, como se fosse uma cólica in-
tensa que não dava trégua. Vendo todo meu sofrimento e desejando
o melhor para mim, eles fizeram uma prova com Deus. Meu pai e mi-
nha mãe nem entendiam muito o que estavam fazendo, mas oraram:
“Se o Senhor tiver o propósito de levar a Ezenete para se tratar
em São Paulo, cremos que antes de ir ela vai ficar bem durante uma
semana inteira aqui em casa. Se isso acontecer, vamos entender que é
um sinal do céu para que ela vá. E iremos com ela.”
Inexplicavelmente, durante aqueles sete dias minha saúde me-
lhorou. Fiquei excelente, me sentia curada, apesar da fraqueza. Por
todo aquele período eu não soube o que era dor. E só isso já era um
grande milagre. Entendendo que essa era a resposta de Deus, meus
pais decidiram me levar. Fizemos as malas e pegamos a estrada para
uma viagem que, para mim, era sem volta. Na porta de casa, com
lágrimas nos olhos, meus irmãos me viram partir. Eles tinham cer-
teza de que estavam me vendo pela última vez. Minha vida estava
chegando ao fim.

54
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

Chegando a São Paulo

Não consigo me lembrar de como foi a nossa viagem ou como che-


gamos a São Paulo. Eu estava fraca demais para prestar atenção na
estrada, no caminho e até na minha família. Eu mal dava conta de
mim e tinha certeza que em breve iria morrer, e o pior de tudo: longe
de todos que eu tanto amava. Essa separação significava o fim de uma
parte da minha vida.
Em São Paulo, fui morar com a
tia Lidinha e o tio Elson. A tia Li-
dinha foi a irmã da minha mãe que
cuidou de mim no meu primeiro ano
de vida. Naquela época ela chegou a
pedir para me levar para São Paulo
quando a família se mudou para lá, e
agora curiosamente ela voltava a as-
sumir essa responsabilidade. Mais de
uma década depois ela era uma mu-
lher casada e tinha três filhos peque-
nos, e estava feliz em ajudar meus
pais novamente. Fiquei aos cuidados
dela e do marido, o tio Elson, mas eu
mal os conhecia. Depois que ela foi
com a minha avó para Santo André,
perdemos muito o contato e a con-
vivência. Quase não nos vimos mais.
Aquele laço construído entre nós quando eu era um bebê de colo ti-
nha se perdido ao longo dos anos. Eu não me sentia confortável em
morar com eles, porque naquele momento todos eram praticamente
estranhos para mim. Porém, eu não tinha escolha e dali em diante
era onde eu iria ficar. Meus pais até queriam, mas não poderiam per-
manecer comigo em São Paulo. Após alguns dias eles voltaram para
Montes Claros, porque não podiam abandonar os meus irmãos e a
igreja que pastoreavam. Eles não tinham como deixar para trás toda a
vida em Minas Gerais para ficar só por minha conta.
Assim que eles partiram, começou minha batalha de passar por
médicos, mais médicos, mais médicos, outros médicos. Foram mui-

55
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

tas internações, tantas que parecia não ter fim. Eu ficava quinze dias
em casa, mais quinze no hospital. Confesso que não gosto nem de
lembrar dessa época, de tão difícil, dolorida e solitária. Todas essas
intervenções hospitalares tinham apenas um objetivo: esperar que eu
melhorasse, me fortalecesse para fazer a tal cirurgia arriscada que ti-
nha apenas uma pequena chance de me curar.
Porém, apesar de todo cuidado, nada de bom acontecia. Eu sim-
plesmente não ficava melhor, meu corpo não respondia aos tratamen-
tos. Era como se ele ignorasse todos os remédios que eu tomava, não
importando quão forte eles fossem. Para complicar meu quadro, tive
muitas pneumonias seguidas. Eu estava tão debilitada que passei a ter
problemas respiratórios por pelo menos três vezes ao ano. Desconhe-
ço alguém que tenha tido tanta pneumonia na vida.
Por causa da intensa fragilidade, passei a desmaiar do nada. Nin-
guém sabia dizer porque isto acontecia: eu perdia os sentidos e o
controle do meu corpo, como se alguém me desligasse da tomada e
meu sistema sofresse um “apagão”. Não havia explicação para esses
episódios, que eram cada vez mais frequentes. Certa vez, minha tia
estava cozinhando e eu quis ficar ali, ao lado dela, observando ela
mexer os ingredientes, colocar água no arroz, cozinhar o feijão, tem-
perar a comida. De repente, desmaiei. Tudo sumiu ao meu redor, e
fui parar no chão. Tia Lidinha ficou desesperada. Parou o que estava
fazendo para me socorrer. Largou as panelas no fogo, do jeito que
estavam, para me levantar.
“Nete, você está bem? Acorda! Acorda, Nete!”
“O que aconteceu?” – eu perguntei quando recuperei os sentidos.
“Você desmaiou! Você caiu!” – ela respondeu enquanto checa-
va meus batimentos cardíacos, as pupilas, e avaliava se eu tinha me
machucado.
“Está tudo bem, tia. Passou. Eu estou melhor. Foi só uma fraqueza.”
Ela me levantou, me colocou no sofá, me deu água, e aos poucos
tudo voltou ao normal. Depois desse dia, para evitar que isso se repe-
tisse e que eu me machucasse, ela colocou um sofá na cozinha para que
eu ficasse assentada. E teve a ideia de me prender com um lençol, para
eu não cair. Assim podíamos ficar juntas, e ela de olho em mim, para
eu não passar mal sem ninguém por perto. Dá para imaginar? A tia
Lidinha não podia nem fazer comida sem se preocupar comigo. A par-

56
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

tir de então eu estava sempre com o tal lençol; usava-o para me cobrir
no sofá, enquanto estava deitada, ou para me amarrar de forma a ficar
firme e não cair no chão novamente. Nesta época eu não me assentava
sozinha, nem tomava banho por conta própria, pois estava muito fraca.
Não deve ter sido fácil para os meus tios cuidarem de mim.
Lembro-me de que eu chorava muito e sempre perguntava a Deus:
“Por que o Senhor não gosta mais de mim? Tudo o que eu queria
era mais de Ti! Por que o Senhor me castigou deste jeito?”
Além disso, eu sentia muitas saudades dos meus pais, dos meus
irmãos, da minha família, da minha casa, do lugar ao qual eu per-
tencia. Não era só a dor física que parecia me cortar por dentro. Eu
chorava com aquela ausência que se transformava em um sentimento
apertado no peito, um nó que não desatava na garganta. Eu sempre
fui boa filha, companheira, obediente, ajudava em casa, estudava. Era
uma filhona mesmo, muito apegada à minha família. E agora me via
ali, aos meus olhos, abandonada – sem pai e mãe, sem meus irmãos
por perto.
“O Senhor precisava tirar os meus pais também?” – eu pergun-
tava a Deus.
Ali, doente, sem perspectivas de melhora, sem as pessoas mais im-
portantes da minha vida, eu só podia acreditar em uma coisa: Deus
me abandonou.

57
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

6. PALAVRAS DE VIDA

Enquanto estava na casa da minha tia, entre os intervalos de ir e


voltar para o hospital, eu gostava de passar a tarde sozinha, sentada
no terraço. Enquanto eu sentia o vento fresco ir e vir, eu chorava e via
o tempo passar. Como parei de estudar, as horas corriam preguiçosas,
lentas. Eu não tinha mais sonhos. A possibilidade de ir para a JOCUM
tinha ficado para trás, uma realidade distante. Também não ia mais a
igreja. Eu não conseguia. Então, ali, no terraço, muitas vezes eu pedia
para Deus acabar com o meu sofrimento e me levar para o céu de uma
vez por todas. Eu estava muito cansada.
Mas certa tarde foi diferente – desse dia eu me lembro como se fosse
hoje. Eram cinco horas, e eu estava, como sempre, sozinha, vendo o sol
se pôr. De repente ouvi a vizinha me chamar do outro lado do muro:
“Ei, você pode vir aqui em casa rapidinho? Preciso tirar as suas
medidas. Sua tia deixou um tecido para eu fazer um belo vestido para
você usar no Natal.”
Sei que a tia Lidinha fez isso com todo carinho, para me alegrar,
mas ao ouvir sobre o tal vestido, chorei mais ainda. Natal? Será que eu
viveria até lá? Quem disse que meu corpo aguentaria por mais tempo?
Não era isso o que os médicos falavam. Eu já estava condenada à mor-

59
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

te! Era desperdício fazer um vestido para eu usar no Natal. Era mais
fácil que fosse para o meu funeral.
Mas ela insistiu tanto, que acabei indo. Com muito cuidado, a vi-
zinha me pôs de pé, me posicionou e começou a tirar as medidas. Eu
não falei nada com ela, fiquei muda. Eu estava magra, frágil e debi-
litada. Com a fita métrica, ela conferiu o tamanho do meu quadril
estreito, checou a altura da saia e decidiu como seria o modelo da
roupa. Mas enquanto ela fazia isso, eu pressentia aquela enxurrada de
lágrimas vindo com tudo. Meus olhos começaram a marejar, e eu não
consegui controlar o choro. Eu sentia todo aquele peso de que minha
morte estava próxima e que era melhor não fazer planos – quanto
mais uma roupa nova!
Então a vizinha parou o que estava fazendo, sentou comigo no
sofá, observou meus olhos encharcados e perguntou:
“Por que você é tão triste? Você só chora. Te ouço soluçar do terraço.”
Eu não costumava me abrir para ninguém, mas como ela me pe-
gou de surpresa, e estava sendo muito gentil, comecei a desabafar:
“É porque Deus não gosta de mim. Ele me abandonou. Eu pequei
contra Ele, e por isso Ele me castigou. Tirou meus pais, minha saúde e
agora estou aqui, me preparando para morrer.”
“Sério? De vez em quando eu pergunto sobre você para a sua tia, e
ela sempre diz que você está internada no hospital.”
Diante daquele interesse repentino pela minha vida e pelas minhas
dificuldades, eu contei o que estava acontecendo. Ela me ouviu atenta,
quase sem piscar. De repente, cheia de misericórdia e completamente
movida pelo Senhor, ela começou a orar por mim, a ministrar sobre
minha vida. Por meio daquela mulher que eu nunca tinha visto, Deus
falou comigo, disse o quanto me amava, que Ele estava presente em
todo tempo, que nunca tinha me deixado. Essas palavras são tão vi-
vas na minha memória, que eu não me esqueço nunca. Especialmente
quando ela disse:
“Hoje você pode não entender o que está acontecendo, mas um dia
você vai compreender. Deus vai fazer uma grande obra na sua vida.”
Na mesma hora pensei: “Como assim? Que obra? O Senhor é tão bom
que até meus pais tirou de mim. Não tem obra nenhuma para acontecer.”
Aquela mulher continuou a profetizar, como se estivesse lendo os
meus pensamentos:

60
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

“O mistério contigo é tão grande, que hoje você não entende. Mas
um dia você vai compreender que essa separação é para que se mani-
feste a Minha glória sobre a sua vida. Dentro da história que Eu tenho
para você, Eu te darei pais; te darei pai e mãe.”
Pensei comigo de novo: “Credo! Eu tenho pai e mãe! Amo a minha
família e não tenho nenhum problema com eles. Para que eu vou pre-
cisar de outras pessoas ocupando esse lugar?”
Movida pelo Senhor, a vizinha falou palavras que me marcaram
para sempre:
“Você ainda vai passar pelo vale da sombra da morte, mas Eu pas-
sarei contigo. Te tocarei de uma forma que muitas pessoas ficarão ad-
miradas. Minha graça é contigo.”
Ela continuou profetizando e falou coisas que nem me lembro
mais, mas aquela experiência, diferente de tudo o que eu já tinha vivi-
do, mexeu muito comigo, assim como as conversas com a Eneida e a
oração com a avó dela. Eu não tinha nenhuma experiência com Deus
assim, falando por meio de alguém como um profeta. Na verdade, eu
tinha até medo dessas coisas. Ainda mais depois de me sentir castiga-
da por querer algo diferente com o Senhor. Ela ainda abriu a Bíblia e
leu para mim um versículo:
“Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da
madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta.” (Jeremias 1.5)
Depois de um certo tempo a oração chegou ao fim. Voltei para a
casa dos meus tios, e a vizinha de fato fez o vestido. Ele era rodado, de
um tom de rosa, minha cor favorita, e me foi entregue como um pre-
sente e uma lembrança daquela tarde tão preciosa. Mas não cheguei a
usá-lo; ele ficou guardado por muito tempo. Pouco dias depois voltei
ao hospital, mais uma vez...
Em meu coração, guardei todas aquelas palavras de vida. Não con-
tei a ninguém; guardei-as dentro de mim como um tesouro precioso,
porque eu sabia que ia precisar de cada uma dessas promessas.

Palavras de morte

A minha última internação foi por causa de uma pneumonia du-


pla. Meus pulmões estavam muito cansados da luta contra tantas en-
fermidades seguidas. Já estava no terceiro ano de uma batalha que

61
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

parecia não ter data para acabar. E tudo isso era para ver se eu me-
lhorava, para então fazer a tal cirurgia que poderia me curar. Porém,
meu organismo não respondia aos remédios, e minha saúde não re-
agia. Foram muitos meses vivendo com tratamentos paliativos, que
não resultaram em absolutamente nada. E quando meus dois pulmões
foram tomados, eu sentia dores ainda mais fortes. Foi muito cruel. O
médico tinha certeza de que eu não viveria.
Eu me lembro de chorar muito. Meu sistema respiratório estava
todo comprometido. Fui definhando, me acabando, estava comple-
tamente debilitada e fragilizada pelos anos seguidos da enfermidade.
Então o médico que cuidava de mim chamou meus tios para uma
conversa muito séria: disse que tinha tentado de tudo, e não havia
como prosseguir. Ele pegou os exames para mostrar que meu corpo
foi tomado por uma infecção. A doença se espalhou para todos os
lados, meus órgãos estavam começando a parar de funcionar, e não
tinha mais o que fazer para me manter viva. Mais uma vez alguém
proferiu a minha sentença de morte.
“Podem se preparar para despedir da Ezenete. Talvez seja a hora de
começar a pensar no enterro.” – declarou o médico.
Era a segunda vez que minha família tinha que lidar com essas
palavras tão duras. Ao serem informados de que eu estava vivendo
meus últimos momentos, meus pais saíram de Montes Claros ime-
diatamente. Eles pegaram a estrada para me verem pela última vez e
comparecer ao meu funeral. A mensagem que eles receberam foi:
“Venham rápido! Podem viajar agora mesmo, porque temos que
preparar tudo. Os órgãos da Ezenete já pararam.”
Se era difícil para mim, para eles também não era nada fácil. Nin-
guém quer enterrar um filho, nem receber a notícia de que apesar de
todos os esforços, de todos os recursos investidos, de toda a dedica-
ção, de todas as orações, o tratamento não funcionou.
Eu sabia que não estava bem, porém não tinha conhecimento de
que minha família estava vindo para o meu velório. Eu apenas en-
tendia que estava muito doente e que não conseguiria mais viver por
muito tempo. Daquele ponto em diante, fiquei inconsciente, sem po-
der responder por mim. Era como se o meu corpo estivesse se des-
ligando sozinho, aos poucos, sem a minha autorização ou consenti-
mento. Eu estava em coma.

62
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I

Entretanto, apesar de toda a desesperança transmitida pelo médi-


co, Deus tinha me dado palavras de vida. Mesmo sem ter entendimen-
to de tudo o que aconteceu naquela tarde, com a vizinha da minha
tia, eu me apeguei àquelas profecias. Aquela tarde tinha mudado tudo
para mim. Mesmo questionando por que Deus tinha permitido que
eu chegasse àquele ponto tão deplorável, eu acreditava que Ele tinha
me escolhido para algo. Minha vida era dEle. Tudo o que eu queria
era ser dEle, cumprir o meu chamado, levar o Evangelho pelo mundo,
para que as pessoas conhecessem a Jesus.
Então, ainda que o meu quadro não mudasse e minha vida che-
gasse ao fim, como os médicos insistiam em dizer que aconteceria, eu
sabia para onde estava indo. Eu iria para o céu e nunca tive dúvidas
disso. Porém, mesmo inconsciente eu não acreditava que aquela era
a minha hora de partir. Então, sem saber como, lutei com as poucas
forças que tinha, porque havia uma promessa.

Quando a promessa se cumpre

Meus pais chegaram a São Paulo para me ver pela última vez e
para preparar meu funeral. Eles me visitaram com o coração apertado
pensando que seria a despedida final. Mas, ao contrário do que os mé-
dicos previam, eu não morria! Parecia que o meu corpo estava aten-
dendo aos meus últimos comandos para se manter vivo e se recusava
a “desligar”. Permaneci naquele coma por alguns dias: sem melhorar,
mas também sem piorar. Minha família não sabia o que fazer.
Então, cansados de tanta luta, em uma madrugada meus pais se
ajoelharam diante do Senhor e fizeram uma oração me entregando a
Ele. Ali eles agradeceram a Deus pelo tempo em que vivi com a famí-
lia, pela minha vida, louvaram a Ele pela filha que fui durante aqueles
anos e abriram mão de mim. Eles não queriam mais me ver sofrendo,
então me deixaram livre para partir para o Senhor. Eles sentiam que,
de alguma forma, estavam me impedindo de descansar, já que eu não
morria, mas também não voltava a viver. E assim eles fizeram uma
oração dolorida e corajosa:
“Deus, a Ezenete não nos pertence mais, ela é Sua. Se o Senhor
quiser dar vida a ela, curá-la, fazer dela o que quiser, levá-la para onde
decidir, nós vamos ficar satisfeitos só em ter notícias da nossa filha. Se

63
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

o Senhor quiser nos dar essa alegria de colocá-la de pé, nós aceitamos.
Mas a Ezenete não nos pertence mais e nós não vamos ficar aqui em
São Paulo para esperar pelo o que vai acontecer. Nós vamos voltar
para casa para cuidar dos outros filhos que o Senhor nos confiou.”
No dia seguinte, meu pai e minha mãe fizeram as malas e foram
embora. Seguiram chorando por todo o longo caminho até Montes
Claros, mas sabiam que eu não pertencia mais a eles e à nossa família.
Eu era de Deus. Eles abriram mão de mim para que os planos do Se-
nhor se concretizassem.
Eu acredito que foi neste momento de entrega que Jesus entrou
com tudo no meio das nossas histórias para mudar o meu destino e
a vida de todos ao meu redor. Meu pai era um homem muito tradi-
cional e foi impulsionado por Deus a fazer essa oração tão audaciosa.
Em outras situações ele nunca tomaria essa atitude, mas vendo que
não havia mais nenhuma opção e percebendo que não podia fazer
mais nada por mim, ele foi movido pelo Senhor e obedeceu. Creio
que Deus só precisava disso para me reerguer do leito de morte. E foi
o que aconteceu.
No dia em que eles se despediram de mim (estando eu ainda in-
consciente no hospital) e voltaram para casa, fui visitada pelo Senhor.
Durante a madrugada, vi uma grande mão entrar no quarto e me to-
car debaixo das costas, entre o meu corpo e a cama. Aquela presença
tão forte, que eu nunca tinha sentido, falou comigo:
“Ezenete, Eu te dou vida. Eu te dou vida. Eu te dou a Minha vida.”
Era como se eu estivesse sonhando, dormindo. Meus olhos esta-
vam fechados, mas me lembro perfeitamente dessa visão. Em seguida,
aquela mesma mão tocou no meu peito e repetiu:
“Te dou vida. A Minha vida. Ponho a Minha vida em ti e te liberto.”
Depois, eu me lembro de apenas uma cena: em meio aquele quarto
frio, coberta pelo lençol com listras azuis, eu acordei me debatendo e
gritando:
“Eu quero água, eu preciso de água!!!”
Três dias depois, eu estava em casa. Curada.

64
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

P A R T E I I

“E I S QUE FAR E I DE T I
UM TRI LHO N OVO, QUE
TE M DE NTE S AGUDOS;
OS MO N TE S T R I L HA R Á S
E O S MO E RÁ S, E OS
O UTE I RO S TOR NA R Á S
CO MO A PR AGA NA .
TU O S APE DR E J A R Á S
E O RE D E MOI NHO OS
E SPALH ARÁ, E T U T E
ALE GRARÁS O SE NHOR E T E
G L O RI ARÁS N O SA NTO DE
I SRAE L” .

I S A Í A S 4 1 . 1 5 - 1 6
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

7. EU ESTOU VIVA

Assim que me levantei daquela cama e voltei para a vida, os mé-


dicos me submeteram a um raio x de urgência. Para a surpresa de
todos, os meus órgãos, que até então pareciam aglutinados, reunidos
em uma massa única, voltaram ao normal. Ovários, trompas, útero,
bexiga, intestino – cada um no seu devido lugar. A equipe que cuidava
de mim não entendeu como o meu estado de saúde mudou tão rápi-
do, como eu saí da morte para a vida de uma hora para outra. Mas eu
sabia e fazia questão de dizer:
“Fui curada por Deus. A mão dEle entrou no meu quarto e me
deu vida!”
Mesmo reconhecendo que era um milagre, eles pareciam não acre-
ditar em nada do que eu falava. A tia Lidinha e a irmã dela, a tia Eufrá-
sia, a quem chamávamos carinhosamente de tia Nó, nunca duvidaram
da minha experiência. Elas sabiam o que tinha acontecido naquele CTI.
Minhas queridas tias intercediam sem parar, e mesmo quando tudo pa-
recia não estar dando certo, elas acreditavam nos planos de Deus.
Mas foram tantos anos aprisionada àquela doença terrível, que
quando saí do hospital e fui para casa, eu ainda não me sentia curada.
Eu tinha certeza de que Deus havia mudado a minha sorte, mas na

67
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

prática eu não sabia como isso ia acontecer dali em diante. Aliás, eu


não me lembrava como era ser uma jovem normal, comum. Sentir-me
bem, sarada, respirar tranquilamente e até fazer pequenas atividades
sozinha, como tomar banho, eu desaprendi.
Parece que a equipe médica também teve dificuldades para acredi-
tar que eu estava viva. Eles tinham tanta certeza de que eu morreria e
que nada poderia mudar o meu quadro terminal, que me submeteram
a diversos testes. Fui obrigada a fazer cada um daqueles exames extre-
mamente desagradáveis por pelo menos três vezes. A bateria infindá-
vel começou cerca de quinze dias após a minha alta.
Um dos exames foi muito louco. Não gosto de lembrar e não de-
sejo que ninguém passe por aquilo. Para começar, tive que tomar um
laxante para limpar meu organismo; assim, a máquina de última ge-
ração que faria as imagens do meu corpo poderia me ver com clareza
por dentro. Depois, em jejum, fui amarrada ao equipamento, como
se fosse para fazer uma tomografia. Eles prenderam meus pés, as per-
nas, os braços, as mãos, o tronco, pescoço e até a minha cabeça. Eu
não podia mexer para lado nenhum. Estava completamente imóvel e
apreensiva amarrada sobre uma mesa gelada. Então, com tudo pronto,
eles me anestesiaram e injetaram um tipo de ar em minha barriga.
A picada da agulha em si não doeu, mas fui surpreendida por uma
sensação terrível, como se estivesse sendo sufocada pela substância
que estava se espalhando dentro de mim e que fazia a minha barriga
inchar. Eu sentia aquele ar ocupando cada centímetro, forçando es-
paço entre meus órgãos, até chegar em meu peito. Ao mesmo tempo,
a mesa se mexia de um lado para outro para que a máquina pudesse
registrar as imagens. Foi uma sensação sufocante!
Eu fiquei tão louca, que consegui soltar minha cabeça da faixa aper-
tada que a prendia na mesa e comecei a urrar de dor. Gritei sem parar,
em total desespero, até o exame chegar ao fim. Eu queria sair dali! Esta-
va curada! Eu podia não sentir ainda, mas eu sabia. Eu não queria mais
passar por tantas experiências cruéis. Eu não precisava daquilo! Só que-
ria ir para casa. Para a minha casa. Deus tinha me curado. Eu O senti me
tocar. Ele não mente, então eu não precisava mais de tanto tratamento,
nem de passar por testes que me faziam tão mal.
Estar presa naquela máquina foi o pior momento da minha vida.
Mesmo depois de soltarem o meu corpo, e eu poder sair correndo da

68
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

sala, o mal-estar me seguiu. Fui para casa gritando pelo caminho. Não
conseguia nem sentar, porque sentia aquele ar horrível, aquela pres-
são forte dentro de mim. Foi torturante. Segundo os médicos, ainda
levaria mais quinze dias para o gás injetado ser todo expelido do meu
corpo. Até lá eu mal saí da cama. Não tinha a menor condição.
Os exames continuaram por um bom tempo. Quando finalmente
acabaram, o hospital ligou para marcar uma reunião, para apresentar
os resultados. Nas últimas duas vezes que isso aconteceu, foi para co-
municar que eu iria morrer – e eu me lembrava muito bem. Nos diri-
gimos para lá cheios de expectativas de que agora seria diferente. No
meu coração, a certeza da cura lutava contra a dúvida de ser internada
de novo para operar. A tensão brigava com a fé. Mas pisamos naquele
lugar crendo que receberíamos boas notícias. Eles teriam palavras de
vida para mim.
Assim que chegamos ao hospital, e era sempre terrível voltar ali,
fomos conduzidos a uma sala. Lá eles começaram a mostrar todos os
laudos e resultados. Eu não entendia muito bem os termos técnicos,
os nomes que eles falavam, mas por fim, nos disseram:
“A Ezenete não tem mais nada. Fizemos todos os exames, checa-
mos todas as possibilidades. Repetimos quantas vezes consideráva-
mos necessárias para não ter risco de erro. Ela está curada. Não vai
precisar de nenhum tipo de cirurgia para separar os órgãos: eles vol-
taram naturalmente para onde deviam estar. O pulmão está limpo,
sem sinal das pneumonias. Ela ainda precisa melhorar em relação à
anemia, mas isso é fácil.”
Respirei fundo. Aliviada. Pela primeira vez em três anos me senti
livre, limpa, pronta para retomar a minha vida de onde ela havia pa-
rado. Poderia voltar à igreja, estudar, morar com os meus pais, fazer
novas amizades. Eu seria restabelecida e iria recuperar os anos que
perdi de internação em internação. Quem sabe eu ainda poderia ser
missionária?
Mas a reunião não tinha acabado, e os médicos ainda queriam ex-
plicar outras coisas. Pela expressão, não eram boas notícias. Eles nos
alertaram que eu poderia apresentar algumas sequelas ao longo dos
anos, especificamente a partir dos 35. Eu já tinha tido o problema da
perna, com a paralisia, então era quase certo que eu precisaria de uma
cadeira de rodas no futuro. Mas havia mais um problema.

69
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“O útero da Ezenete foi muito prejudicado pelo tratamento. Ele


está como uma folha seca. Por causa disso, ela não poderá engravidar
ou gerar nenhum filho no próprio ventre. Sabemos que essa é uma
notícia ruim, mas não é nada comparado ao que ela enfrentou du-
rante esses anos ou das sequelas que ela poderia ter. Existem muitas
crianças por aí que precisam de uma mãe, e a Ezenete poderá adotar
quantas quiser.”
Ele não sabia, mas quando disse que eu poderia ser mãe de filhos
que não foram gerados por mim, ele estava profetizando.
Não nos apegamos às más notícias. O Deus que me curou tomaria
conta da minha vida. Ele não me abandonaria. Ele me amava e isso me
bastava. Meu futuro estava em Suas mãos, e eu não estava sozinha. O
mais difícil tinha ficado para trás. Apeguei-me novamente às palavras
de vida, aquelas que a vizinha ministrou sobre mim naquela tarde.
Agarrei-me à conclusão do médico de que eu estava bem. Era o sufi-
ciente para eu seguir adiante. Do futuro Deus cuidaria.
Naquele hospital fiquei conhecida como a menina do milagre. Saí
dali na companhia dos meus tios, repetindo para mim mesma:
“Eu estou viva! O Senhor disse que eu passaria pelo vale da sombra
da morte, mas Ele estaria comigo e eu sobreviveria. Ele cumpriu o que
prometeu. Eu estou viva!”

70
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

8. OS ANOS DE RESTITUIÇÃO

Durante todo o ano seguinte à minha cura, continuei sendo


acompanhada pelos médicos de São Paulo, por isso não pude voltar a
viver em Montes Claros. A cada três meses eu era examinada para ver
como estava evoluindo. Eles queriam ter certeza de que tudo estava
bem, que eu estava me recuperando da melhor forma possível, fora
de risco, ganhando peso, me fortalecendo.
Continuei na casa dos meus tios e tive que aprender a respirar e a
andar como se fosse uma criança pequena. Eu estava tão acostumada
a me sentir doente, que não sabia mais como era ser uma pessoa sau-
dável, normal. Porém, minha cura era real e visível.
A sensação que eu tive foi a de que o sol voltou a brilhar – não
para mim, mas em mim. Não era algo que vinha de fora, mas sim
uma sensação que nascia dentro do meu peito e se expandia até tras-
passar para o meu exterior. A vida perdeu o tom cinza que tinha ad-
quirido nos últimos anos e reapareceu cheia de cor. O que era turvo
se tornou brilhante. A esperança retornou ao meu coração e a cada
um dos meus novos dias. Eu percebia a graça e a misericórdia de
Deus se renovando a cada manhã, e preciso dizer que o sol nunca
mais parou de brilhar. Ele nasceu no meu coração e me aquece até os

71
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

dias de hoje. Eu posso senti-lo mesmo nos períodos mais “chuvosos”.


Eu também vi cada palavra que a vizinha profetizou se tornar real:
eu passei pelo vale da sombra da morte, sentia que Deus me amava e
não estava me punindo, tive a visão daquela mão poderosa me tocando
e deixando muitas pessoas admiradas com o milagre da cura. Mas fal-
tavam duas partes da oração que eu ainda não compreendia: o Senhor
me daria novos pais e faria uma obra muito grande em minha vida.
A cura foi uma grande obra, mas não foi sobre isso que o Senhor
falou naquela tarde, na casa da costureira. Algo mais estava por vir. E
eu aguardava por isso. Voltei à escola para fazer um supletivo. Fiquei
muito tempo para-
da, então essa era a
melhor opção para
concluir o colegial,
como na época era
chamado o ensino
médio. Também vol-
tei a buscar a Deus.
Esse foi o ponto
decisivo dos anos
vindouros e para o
desenvolvimento do
meu ministério. O
Senhor investiu em
mim me trazendo de
volta à vida, agora era a minha vez de dar o segundo passo. Os planos
dEle não seriam frustrados, eu faria valer a pena. Começou uma nova
etapa na minha jornada.
A casa da tia Lidinha sempre foi um lugar de oração. Depois que
ela, a mãe e os irmãos se mudaram para São Paulo, eles passaram a fre-
quentar uma igreja renovada. Por isso, ela já conhecia o Espírito San-
to, frequentava reuniões avivadas pelo poder de Deus e tinha grandes
experiências com o Senhor. Tia Nó estava sempre presente, e juntas
elas buscavam intensamente pela presença de Jesus. Eu convivia dia-
riamente com as duas, então me juntei a elas. Em Santo André, fre-
quentávamos uma igreja muito diferente da congregação tradicional
do meu pai, e eu me sentia muito bem nessa nova rotina.

72
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

Ao mesmo tempo, a minha história ficou muito conhecida na re-


gião. Muitas pessoas que souberam da minha cura se impressionavam
em me ver de pé e me procuravam para orar por elas. Até então eu
não pregava ou testemunhava em igrejas, mas compartilhava o meu
milagre com alegria, em casa mesmo, para quem quisesse ouvir.
Deus começou a operar grandiosamente nas reuniões domésticas.
As pessoas iam até lá para orar com a gente e saíam curadas pelo po-
der do Espírito Santo. Nós não fazíamos nada, apenas clamávamos
pela presença e pela ação do Senhor, e Ele, com Sua misericórdia, agia.
Muita gente queria que eu orasse com imposição de mãos, e eu sem-
pre buscava atender aos pedidos. Comecei a ser usada por Ele assim,
enquanto meu corpo ia recobrando as forças, ia ganhando peso e eu
me sentia restabelecida.
No fundo, eu esperava ansiosamente pelo dia em que os médicos
me liberariam para voltar para a minha cidade. Mas enquanto isso
não acontecia, eu buscava a Deus com todo o meu coração e enten-
dimento.

De volta para casa

Um ano depois da minha cura, autorizada pelos médicos, fiz as


malas e fui visitar minha família no Norte de Minas. A saudade era
enorme. Para os meus tios, eu disse que ficaria por pouco tempo e
retornaria a São Paulo em breve. Mas no meu coração eu já tinha de-
cidido: meu lugar era com os meus pais em Montes Claros. Eu queria
estar com eles e com os meus irmãos. Já estava há muito tempo fora
e acreditava que era hora de voltar. Eu saí de casa aos quinze anos de
idade, já estava com dezoito, e meus irmãos caçulas, Eujácio e Eujácia,
nem se lembravam de mim. Eles não me conheciam porque cresce-
ram sem eu estar por perto. Foram quase quatro anos de distância,
de solidão, e eu sonhava com o dia em que regressaria para ficar com
todos eles. Depois de tudo o que vivi, foi a primeira vez que retornei
para o lugar que eu acreditava ser o meu lar. Minha saúde estava bem,
e deixei São Paulo convicta de que jamais moraria novamente naquele
estado.
Cheguei a Montes Claros muito emocionada. Eu me desmanchei
em lágrimas ao rever minha família e ao abraçar bem apertado cada

73
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

um. Estar de volta foi uma alegria tão grande, que nem consigo des-
crever. Meu coração estava em festa; era como se todos os anos de
provação, de doença e internações tivessem sido enterrados e ficado
para trás. E se tudo isso eu deixei no passado, eu não voltaria mesmo
para São Paulo. Aquele não era mais o meu lugar. Eu estava curada e
iria retomar a minha vida exatamente onde ela tinha parado antes de
adoecer: ao lado do meu pai, da minha mãe, dos meus irmãos. Che-
guei, desfiz as malas e me ajeitei no quarto da minha irmã Débora.
Organizei as minhas coisas e fui tentando me adaptar à vida para a
qual tinha sonhado voltar.
Mas nada era igual. A casa era outra. O ritmo da família era ou-
tro. Tudo era diferente do que eu me lembrava. Meus irmãos tinham
crescido comigo fora dali, de certa forma eu era uma estranha para
eles, e eles para mim. Eu queria que as coisas voltassem a ser como
eram, mas não tinha jeito. Eu olhava ao meu redor e sentia que algo
estava fora do lugar, que nem tudo se encaixava como eu imaginava.
Estar em casa era uma sensação boa, mas também ruim, pois eu não
me sentia mais parte daquela família. Independente disso, ignorei a
minha percepção.
O mês passou muito rápido, e logo chegou a hora de partir. Bom,
pelo menos era o que todos imaginavam. Mas eu já tinha decidido
ficar, e não queria mesmo fazer o caminho de volta. Eu não tinha con-
tado para ninguém sobre minha escolha e fui ficando, ficando, ficando
– sem dar satisfações. Até que não teve mais como adiar, e conversei
com os meus pais:
“Não vou voltar para São Paulo. Eu não quero mais morar lá. Esta
é a minha casa, vocês são a minha família, e eu quero ficar com vocês.”
Com muita cautela, meu pai me respondeu:
“Ezenete, você ainda precisa fazer acompanhamento médico com
a equipe do hospital de lá.”
“Eu sei, mas não tem problema” – respondi. “Posso ir a São Paulo
quando for a época das consultas. Não preciso morar lá para isso.”
Ele me olhou com calma, pensou e respondeu com sabedoria:
“Então vamos fazer o seguinte: você fica aqui, esperamos um pou-
co, enquanto oramos sobre isso. Que tal?”
“Tudo bem, mas eu não vou voltar para São Paulo” – insisti.
Eu estava convicta da minha decisão, e ninguém poderia argu-

74
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

mentar comigo. Eu estava pronta para lutar e ficar. Porém, inexpli-


cavelmente, certo dia, quando acordei comecei a me sentir mal. Fui
ficando fraca, sem ar, com dificuldade para andar, para respirar, e caí
doente. Eu não sabia explicar, mas era horrível – sentia-me estranha,
com o corpo gelado. Fiquei assim por uma semana, pensando que
podia ser apenas uma virose. Preocupada, minha mãe me levou a um
médico da região. Ele não soube dizer o que estava acontecendo. Eu
já tinha passado por essa experiência de ficar debilitada do nada, sem
ninguém descobrir o motivo, e definitivamente não queria viver isso
novamente. Comecei a sentir muito medo, pânico, pavor de ser aco-
metida por aquela enfermidade outra vez.
“Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Eu não fui curada
por Ti? O Senhor me curou! Eu lembro do que aconteceu no hospital
em São Paulo. A Sua mão me trouxe vida! Então, por que tudo parece
estar voltando?” – eu queria saber, por isso perguntava a Ele.
Meu pai, vendo minha preocupação e também sentindo um aperto
muito grande, me chamou para conversar. Ele finalmente iria me con-
tar o que aconteceu na noite em que abriu mão de mim para o Senhor.
“Ezenete, foi muito difícil para mim e para a sua mãe termos que
ir a São Paulo para nos despedir de você. Os médicos diziam que você
iria morrer e que nada mudaria isso. Nós choramos muito, ficamos
muito tristes e não sabíamos como agir. Até que fizemos uma oração.
Você estava desenganada, os médicos acreditavam que você morreria
em breve, e não tínhamos mais como lutar contra a sua doença. En-
tão, como pais, decidimos fazer a única coisa que ainda não tínhamos
feito: nós te entregamos para o Senhor.”
Ele continuou a contar sobre os detalhes da oração e sobre como
foi sofrido pegar a estrada sem me levar de volta com eles. Ouvi a
história muito maravilhada pela fidelidade de Deus, mas eu ainda não
tinha entendido o que aquilo queria dizer. Dias depois o próprio Se-
nhor me revelou.
Eu continuei passando mal sem parar, sem melhorar. O medo da
doença voltar tomou conta de mim, então fiz o que nunca pensei que
faria: pedi aos meus pais para me levarem de volta a São Paulo. Não
foi fácil tomar essa decisão, porque ela ia contra toda a lógica, afinal eu
tinha saído da casa deles para me tratar. Só para isso. Fui curada por
Deus e estava com a saúde restabelecida. Na minha cabeça, a única

75
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

coisa que fazia sentido depois de ter sobrevivido era voltar para Mon-
tes Claros, já que o motivo pelo qual eu me mudei não existia mais. Mas
esse não era o plano de Deus. Peguei a estrada arrasada, aos prantos
e sem entender mais nada. Minha família sofreu novamente com essa
despedida, mas meus pais sentiam que era a direção do Senhor.
Cheguei a São Paulo completamente confusa, perdida, doente e
sem saber o que fazer. Minhas tias Lidinha e Nó começaram um jejum
em favor da minha vida. Elas oraram sem parar durante sete dias, até
que eu ficasse curada, e foi o que aconteceu. Não precisei retornar ao
hospital. Enquanto elas intercediam, Deus foi falando ao meu cora-
ção. E contra a minha vontade, finalmente entendi que Montes Claros
não era mais o meu lugar. Aquela não era mais a minha casa, nem
meu lar. Eu não podia voltar a morar com meus pais, e havia uma ra-
zão para isso. Mesmo sem entender, sofrendo muito, aceitei a vontade
de Deus. Aos quatorze anos eu fiz uma oração me entregando para
viver a vida que Ele sonhou para mim. Aos dezoito, Ele me mostrou o
peso da minha decisão.

76
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

9. O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

De volta à casa dos meus tios, me lancei na busca pela presença de


Deus. Mais do que nunca, senti a necessidade de mergulhar na Pala-
vra para entender os propósitos dEle para a minha vida. Jesus não me
resgatou da morte à toa. Não fui conduzida para longe dos meus pais
e irmãos em vão. Se Ele tinha uma grande obra para realizar em mim,
como a vizinha tinha dito e outras pessoas depois disso profetizaram,
eu queria saber o que era.
Minhas tias eram mulheres de oração. Buscavam a face de Deus
durante as madrugadas, cantavam louvores pela casa e estavam sem-
pre abertas para o mover do Espírito Santo. Elas tinham tanta liber-
dade com o Senhor, que eu também desejava aquilo. Com a saúde
restabelecida, passei a seguir o exemplo delas. Eu havia entregado
todos os meus dias a Deus, então não existia outra opção senão me
aprofundar no conhecimento do meu Senhor.
Aqueles sete dias de jejum e oração que elas fizeram assim que
cheguei de Minas Gerais despertaram em mim um desejo adorme-
cido. Aquele fogo e aquela sede insaciável que eu sentia quando era
adolescente voltaram como nunca. Mas agora, com uma diferença:
eu podia perguntar tudo para as minhas tias, elas sabiam e faziam

77
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

questão de me explicar. Se na casa do meu pai esse assunto era proi-


bido, com elas isso não era um problema.
Tia Lidinha e tia Nó eram batizadas no Espírito Santo, oravam em
línguas, tinham visões. Elas também recebiam revelações de Deus e
exerciam, dentro de casa, os dons que são citados por Paulo no carta
aos Coríntios. De certa forma, o jeito que elas oravam me lembravam
a Eneida e a avó dela, e isso trazia à minha memória aquele tempo
precioso da adolescência.
Certo dia, entrei no meu quarto e me tranquei para orar. Comecei
agradecendo a Deus pelo dom da vida, pela minha cura, por ter sido
resgatada da morte. Também O louvei pelos meus pais, pelo período
em que vivi com eles e pelos meus tios, que cuidavam de mim com
tanto carinho. Ali também me lembrei das experiências com as pes-
soas que iam até a nossa casa para me procurar. Na minha memória,
recordei-me de um casal que nos visitou para que eu orasse por eles.
A mulher era crente, o rapaz não. Ele estava doente, e ela acreditava
que o Senhor podia curá-lo da mesma forma que aconteceu comigo.
Os recebi, conversamos bastante, contei meu testemunho, e o rapaz
saiu de lá convertido. Fiquei muito feliz por isso, e essa foi apenas
uma das várias histórias que passaram pela nossa casa naqueles dias.
Durante este período, recebi muitas palavras proféticas de que Deus
me usaria para a Sua glória e que a morte não me tocaria. Por isso eu
estava sempre ali, no meu quarto, em oração. Eu queria entender me-
lhor esse propósito e finalmente receber o batismo no Espírito Santo.
Eu tinha aprendido que não havia nada de errado em querer isso. Deus
não ficaria bravo comigo por procurar novas experiências nEle. Pelo
contrário! Depois que Jesus morreu na cruz, os discípulos viveram um
dos momentos mais poderosos de suas vidas durante o Pentecostes. Ali
o Espírito Santo foi derramado sobre cada um deles cumprindo a pro-
messa que Cristo fez aos Seus companheiros antes de subir aos céus:

Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis


batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.
Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo:
Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? E disse-lhes:
Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai esta-
beleceu pelo seu próprio poder.

78
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir so-


bre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. E, quando
dizia isso, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o
recebeu, ocultando-o a seus olhos. (Atos 1.5-9)

O que eu buscava era o cumprimento de uma palavra de Jesus e


uma experiência com o Espírito Santo pela qual Pedro, João, Marcos
e outros passaram.

E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemen-


te no mesmo lugar. E de repente veio do céu um som, como de um
vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam
assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de
fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios
do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme
o Espírito Santo lhes concedia que falassem. (Atos 2.1-4)

Tendo esse entendimento de que o batismo no Espírito Santo era


uma promessa, e que estava disponível para todos, comecei a buscar
a Deus com esse propósito. Se os apóstolos oraram em línguas, se
minhas tias oravam em línguas, eu também queria.
Mas como funcionaria na prática? Eu não tinha a menor ideia de
como poderia acontecer.
Como Deus poderia manifestar a glória dEle na minha vida?
O que eu tinha que fazer para ser batizada?
Alguém tinha que orar por mim?
Alguém precisaria impor as mãos na minha cabeça?
Isso poderia acontecer quando eu estivesse sozinha?
Eu tinha muitas dúvidas e confesso que até um certo receio, um
pouco de temor. Não era nada fácil, e como eu não tinha muita com-
preensão, acabava me apegando à parte racional. Como eu faria para
falar em línguas? Eu precisava decorar alguma palavra?
Cheia de dúvidas e com uma boa dose de medo, eu evitava orar na
presença das pessoas. Preferia ficar mais distante, no meu canto. Dali
eu podia observar o comportamento dos irmãos e me arriscar sem
me sentir exposta ou constrangida.

79
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Ezenete, vá para o seu quarto, feche a porta e comece a falar com


Deus. Abra o seu coração para Ele e comece a adorar. Diga palavras
de louvor, glorifique, engrandeça o nome dEle. Ele vai falar com
você.” – era assim que as minhas tias me orientavam.
Elas oravam muito madrugada adentro, e comecei a repetir esse
hábito. Mas eu vinha de uma igreja batista tradicional e realmente
achava difícil clamar na presença de outras pessoas. Por mais que eu
quisesse experimentar mais de Deus, eu tinha raízes profundas nos
ensinamentos do meu pai. Durante muitos dias repeti esse processo,
de entrar no meu quarto em oração, sempre esperando pela manifes-
tação do Senhor. Eu clamava e adorava sem parar, mas atenta para
que ninguém estivesse por perto.
Uma noite em especial me tranquei no meu quarto, ajoelhei-me
na cama, fechei os olhos, abri os lábios e mergulhei na adoração. Eu
amava louvar a Deus e fazia isso em todo o tempo. Fui cantando, can-
tando, cantando até chegar a madrugada. Nem vi o tempo passar! Ali,
no meu lugar secreto, eu me sentia tão livre! Na presença de Deus eu
levantava as mãos e declarava o meu amor, a minha fidelidade, o meu
desejo de conhecer mais sobre Jesus. A palavra “aleluia” transbordava
do meu coração, e eu a repetia sem parar.
De repente o clima ao meu redor mudou. Fui tomada por algo di-
ferente, difícil até de descrever. Senti uma presença muito forte, como
se alguém tivesse passado pela porta fechada e estivesse ali, pertinho
de mim. Não tive medo em nenhum momento e me abri cada vez
mais para absorver tudo o que surgia ao meu lado. Na mesma hora,
me lembrei da noite de ceia, na igreja do meu pai, em que fui toma-
da por um choro incontrolável e pela sensação de ser abraçada pelo
amor de Deus. A experiência de agora era diferente, mas aquela paz,
aquela presença forte eram as mesmas daquele dia. Jesus estava ali.
Ele tinha respondido às minhas orações insistentes; Ele não ignora-
va o meu clamor e sabia que eu estava procurando por Ele. Aquele
mesmo sol que eu sentia brilhar em mim resplandecia mais do que
nunca. Com aquela luz irradiando de dentro para fora, com aquela
presença tão forte, fui envolvida em uma atmosfera de poder divino.
Meu coração bateu acelerado, minha respiração ficou ofegante,
meus lábios tremeram diante da glória manifesta em minha frente.
Ainda ajoelhada, era como se eu não estivesse mais ali. Eu senti que

80
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

tinha sido transportada a outra dimensão, para outro lugar, mesmo


estando ainda no quarto. Com o coração em chamas, com aquela luz
intensa saindo de dentro de mim, com um calor percorrendo cada
centímetro do meu corpo, senti meus lábios se moverem de um jeito
novo, mas muito natural. Eu não fiz esforço algum. O som que saiu
da minha boca não era de nenhuma palavra que eu conhecia. Aos
poucos, a minha língua ganhou liberdade, independência, e eu falava
frases que jamais tinha ouvido em toda a minha vida. Quando menos
percebi, já estava orando em línguas.
As palavras saíram como uma cachoeira, com uma força incrí-
vel. Eu não conseguia mais me conter. Na minha mente, não sabia o
que estava acontecendo, mas no meu espírito eu sentia que o próprio
Jesus tinha ido ao meu quarto para me batizar, para derramar sobre
mim os dons, para me conduzir a um novo nível na minha caminha-
da cristã. Enquanto me ouvia falar na língua dos anjos, senti meu
corpo ser empurrado para frente, me levantei e comecei a orar com
mais intensidade. Eu ainda não tinha a menor ideia do que estava fa-
zendo, mas hoje entendo que entrei em uma batalha espiritual. Tudo
o que me prendia a um passado de tradições, em que o Espírito Santo
era barrado, estava caindo diante daquele novo mover. Era algo tão
maravilhoso, que eu não consegui parar! Eu orava em línguas, can-
tava, guerreava, tudo ao mesmo tempo, completamente mergulhada
em uma atmosfera de poder.
Não sei dizer por quanto tempo permaneci assim. A impressão é
de que se passaram muitas horas. Jesus estava ali. Eu sabia, eu podia
sentir. Quis aproveitar ao máximo cada segundo de tudo o que acon-
tecia em mim e ao meu redor. O tempo foi passando, e só sei que de
repente dormi em meio àquela alegria indescritível enquanto orava e
louvava. Eu estava embriagada pelo poder de Deus.
Acordei cedo, ansiosa para compartilhar com a tia Lidinha o que
tinha acontecido no meu quarto. Eu sabia que ela estava orando para
que o Senhor me batizasse e precisava contar que isso tinha final-
mente acontecido. Ela iria vibrar quando ficasse sabendo que o Se-
nhor me visitou!
Quando a vi e comecei a falar os detalhes da noite anterior, as
palavras que saíam da minha boca não eram em português. Eu ten-
tava repetir com calma, letra após letra, para explicar o que vivi, mas

81
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

novamente os sons que eu emitia não eram nada parecidos com o que
eu estava tentando dizer. Eu estava falando em línguas! De novo! Sem
querer! Sem pensar! Sem orar! “Meu Deus!” – eu pensava – “Como
vai ser isso agora? Como vou me controlar?”.
Eu não sabia como parar aquele mover que tinha tomado conta de
mim na madrugada e permanecia até aquela hora! Da mesma forma
que comecei a orar em línguas naturalmente, também parei e conse-
gui compartilhar a experiência.
Mas isso se repetiu outras vezes durante aquele dia. Quando liguei
para a tia Nó, para contar os detalhes do meu batismo, novamente o
Espírito Santo veio sobre mim, e eu desatei a falar em línguas! Do
lado de lá do telefone ela começou a cantar em línguas, e juntas er-
guemos louvores celestiais. Eu tinha esperado por tantos anos para
que isso acontecesse, e agora os meus lábios eram como uma cacho-
eira que derramava palavras vindas do céu. Aleluia!
Foi uma experiência tão linda, tão maravilhosa, que mal consigo
descrever. Era muito mais do que eu imaginava. Descobri que não
precisava que alguém colocasse as mãos sobre minha cabeça para que
eu recebesse o Espírito Santo. Diferente de como acontece nas águas,
em que uma pessoa nos mergulha, nesse novo batismo não é essen-
cial ter alguém para conduzir o momento. É claro que em muitas si-
tuações podemos receber ajuda de pessoas ungidas, mas no meu caso
não havia mais ninguém no meu quarto. Eu estava sozinha, oran-
do há dias, clamando pela presença de Deus, quando o Senhor veio
como uma resposta poderosa à minha busca individual. Não foi fácil,
nem rápido, mas foi simples. Eu O busquei de todo o meu coração, e
Ele veio ao meu encontro.
Confesso que naqueles primeiros momentos de descoberta nem
me lembrei do meu pai e de todo o pânico que ele demonstrou quan-
do, anos antes, o perguntei sobre os dons espirituais. Não pensei no
que ele poderia achar de tudo aquilo. Finalmente entendi que talvez
essa teria sido a razão pela qual eu não podia mais voltar para casa,
em Montes Claros. Enquanto eu estava debaixo da autoridade dele,
vivendo na casa dele, enquanto eu era uma ovelha dele, o batismo no
Espírito Santo era vetado. Ele não cria, não concordava, não aprova-
va, não abençoava. Se eu continuasse insistindo nessa busca pelo po-
der de Deus, estaria sendo rebelde contra o meu pai e contra o meu

82
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

pastor. Isso poderia nos trazer sérios problemas em casa e na igreja.


O Senhor honra a liderança e a obediência, porque são princípios
que Ele mesmo estabeleceu. Mas morando na casa dos meus tios, que
viviam a realidade do poder de Deus, eu estava livre para buscar, para
mergulhar, para ser batizada, para orar em línguas, para aprender e
para finalmente entender o propósito do Senhor para mim. Foi difícil
e doloroso, mas compreendi que para eu cumprir o plano de Deus, eu
precisava renunciar a minha família e abraçar o novo caminho que se
descortinava. Meus pais já tinham aberto mão de mim, agora seria a
minha vez. Mas era tão difícil...
A minha experiência foi tão forte e real, que não tive dúvidas
de que era algo do Senhor. Ao receber aquele batismo, várias coi-
sas passaram a fazer sentido. Daquele momento em diante o meu
ministério começou a ser gerado. Mas, no meu coração, tomei uma
decisão: jamais falaria em línguas na frente do meu pai. Dessa forma
eu o respeitaria, e talvez ele nem ficasse sabendo o que me aconteceu.
Muitos anos se passaram até que ele descobrisse e entendesse o que
Deus tinha feito na minha vida, e ele mesmo reconhecesse o poder
do Espírito Santo.

Um novo batismo

A partir dali eu senti o fluir de Deus. Foi diferente de tudo o que


eu já tinha experimentado. Naquele mesmo dia, depois de ouvirem o
que contei, minhas tias me levaram para uma reunião de oração. Eu
estava tão sedenta que nem pensei duas vezes. Fui.
Na igreja havia apenas umas vinte pessoas, entre elas uma senhora
bem idosa chamada Francisca. Todos tinham muito carinho por aquela
irmã, que era uma potência na mão de Deus e orava pelas pessoas pre-
sentes. Durante a reunião, comecei a clamar e a cantar em línguas! Uau,
como era incrível fazer aquilo! E eu não sentia mais vergonha. Eu podia
vivenciar esse novo dom sem constrangimento. Todos estavam buscan-
do a face de Deus com muita intensidade, e a irmã Francisca foi movida
pelo Senhor para orar por algumas pessoas. Quando dei por mim, ela
já estava com as mãos sobre minha cabeça, falando com muita autori-
dade, em nome do Senhor:
“Você perseverou durante a sua batalha, mesmo sem entender.

83
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Mesmo sofrendo, questionando tudo o que aconteceu, você se man-


teve firme até o fim. Eu nunca te abandonei e estive ao seu lado em
todo o tempo. Mesmo no meio da sua tristeza você foi fiel, e Eu cui-
dei de você. Agora é tempo de manifestar a Minha glória sobre a sua
vida, e Eu te batizo como profeta de exortação e de fogo!”
Não entendi muito bem o que ela quis dizer com a expressão “pro-
feta de exortação e de fogo”, mas meu coração queimava. Era como
se todo o meu corpo estivesse em chamas, pegando fogo mesmo! Foi
a primeira vez que Deus falou comigo novamente, por meio de uma
pessoa, depois daquela tarde na casa da vizinha. E quanta coisa já
tinha acontecido desde então...
Durante os dias que se seguiram, minhas tias buscaram me orien-
tar da melhor forma possível. Na Bíblia, me mostravam as referências
que explicavam o que era exercer os dons. Elas tinham sempre o cui-
dado de me discipular.
“Ezenete, você precisa entender que não basta falar em línguas.
Você precisa buscar intimidade com o Senhor. Receber esse dom
é algo poderoso e nos dá mais liberdade no Espírito Santo, porque
quando oramos dessa forma edificamos a nós mesmos. Estamos tra-
zendo a glória de Deus, e às vezes até orando o que nem temos ideia.
Só que o Espírito de Deus sabe de tudo, intercede em nosso favor e
nos conduz a clamar em mistério. Mas só isso não é suficiente.”
Então compreendi que mesmo sem entender o que estava dizendo, o
Senhor sabia o que cada uma daquelas palavras significava. E Ele mes-
mo podia gerar, no meu espírito, aquelas frases desconhecidas, para que
chegasse ao céu aquilo que eu nem sabia. Definitivamente é um misté-
rio que Deus nos entregou, e precisamos usar, com muita sabedoria, os
dons que Ele nos dá. Existem muitas pessoas que falam em línguas, que
têm visões, mas que se apegam apenas a isso e não avançam no conheci-
mento de Deus. Acabam abandonando a Bíblia e se tornam ignorantes
na Palavra. Pode parecer estranho, mas acredite: acontece sim. E só falar
em línguas não basta. Precisamos nos aprofundar no relacionamento
com Aquele que derrama sobre nós os dons celestiais.
Minhas tias eram mulheres que jejuavam muito e começaram a
me falar sobre a importância dessa disciplina espiritual como um dos
meios para aumentar a intimidade com Deus. Elas me explicaram
também que existem batalhas que são vencidas apenas com jejum

84
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

e oração, então eu queria fazer isso também. Mas eu tinha me recu-


perado há pouco tempo e havia toda uma preocupação comigo: eu
não podia ficar 24 horas sem comer, mas podia fazer isso durante a
metade do dia, uma vez por semana. Era o que fazíamos. Tia Lidinha
terminava de preparar o almoço, e nós íamos juntas buscar o Senhor.
Na sala, ajoelhadas, diante de Deus, cantávamos, adorávamos, decla-
rávamos a Palavra. Entrávamos em espírito de oração, chorávamos
diante do Pai afirmando a nossa dependência. Era um ambiente de
glória. Deus se manifestava respondendo ao nosso clamor. Oráva-
mos em línguas por tempo indeterminado, sempre buscando mais de
Deus. Então entregávamos o jejum e fazíamos nossa refeição.
Assim, o Senhor começou a agir na minha vida de uma forma
diferente, com um poder que eu não conhecia e com dons que eu
só sabia que existiam porque li na Bíblia. Aquelas palavras da irmã
Francisca, o batismo no Espírito Santo que recebi no meu quarto e
o batismo com fogo na igreja, me marcaram profundamente. Muda-
ram tudo o que viria dali em diante. Como eu ainda estava me recu-
perando, tinha muito tempo disponível, então eu usava cada segundo
livre para buscar mais de Deus.
Pouco tempo depois passei a ter visões. Deus abriu os meus olhos
para o mundo espiritual, e eu enxergava o que antes não era visível
para mim. Uma das primeiras experiências que tive aconteceu du-
rante um momento de oração com as minhas tias. Eu estava ado-
rando, cantando ao lado delas, quando enxerguei mãos estendidas
em nossa direção. Eu via também a orla de um manto, e era tudo tão
lindo, tão forte, tão poderoso, tão real. Foi uma sensação muito boa,
muito gostosa, mas que também me trazia temor. Não era medo, mas
sim um respeito pela visão que estava a minha frente.
Os mistérios do Senhor comigo continuaram, e eu permaneci fir-
me, buscando a presença dEle sem cessar. Dias depois dos meus ba-
tismos, passei a ter sonhos proféticos nos quais Deus falava comigo.
Na época, minhas tias diziam que eram sonhos do céu. E no meu
coração eu sabia que isso era só o começo. Havia mais. Muito mais.

85
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

10. ARREBATADA

Certa noite, minhas tias me convidaram para orar com elas ma-
drugada adentro. Estávamos no meio de uma campanha de jejum e
oração durante sete sextas-feiras, e naquele terceiro dia de propósito
elas iriam fazer uma vigília em casa mesmo.
“Ezenete, você fica com a gente quanto tempo quiser. Se você se
sentir muito cansada ou com sono, não tem problema. Pode ir para o
seu quarto descansar. Não se sinta pressionada em nos acompanhar.”
Assenti com a cabeça e logo me pus de joelhos para buscar o Se-
nhor ao lado dessas mulheres que eram verdadeiros referenciais de
vida com Deus. Tia Nó sempre começava os seus momentos de ora-
ção glorificando, exaltando, cantando. Ela erguia as mãos diante de
Deus e se entregava. Eu amava vê-la buscar o Senhor, e seu jeitinho
me inspirou muito.
Então, naquela noite cantamos, falamos em línguas, clamamos,
exaltamos e glorificamos durante muito tempo. Por volta da meia-
-noite, algo aconteceu. Eu me lembro como se fosse hoje. Foi tudo
tão real, que se eu fechar os olhos agora mesmo consigo rever, com
detalhes, o que se passou dali em diante.
Em meio às nossas orações, meus olhos espirituais se abriram, e

87
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

eu, que estava apenas começando a lidar com a visão aberta, enxerguei
algo totalmente lindo. Um ser celestial apareceu na minha frente con-
duzido por uma carruagem dourada, brilhante, com ares de realeza.
Ao me deparar com essa imagem tão gloriosa, desmontei no chão.
Quando dei por mim, eu não estava mais na sala. Fui arrebatada.
Ao abrir os olhos, eu estava em outro lugar, em uma dimensão di-
ferente. Em vez da casa da minha tia, eu me vi em um espaço aberto.
Não era mais madrugada, era dia. Ao olhar para o horizonte, percebi
que eu estava no meio de muitas montanhas, tantas que nem pude
enxergar o fim. Elas eram verdes, em um tom muito intenso, e como
se fossem formadas por gramas aveludadas. Não era algo natural,
mas era completamente real! Observei tudo ao meu redor tentando
reconhecer que lugar era aquele e desfrutar cada segundo daquela
experiência sobrenatural. Mas tudo era muito diferente do que eu já
tinha visto na vida. Aquele era um lugar novo, e eu sentia que algo
especial estava me aguardando.
No meio do mar de montanhas aveludadas eu não vi o céu. Mas
sabia que ele estava ali. Ou ali seria o céu? Eu estaria no céu? Não
tive tempo de pensar. De repente senti uma presença poderosa, linda.
Mas não era o mesmo ser que tinha entrado na sala da casa da minha
tia. Eu não me lembro de ver o rosto, mas Ele transmitia muita paz,
como se sorrisse para mim. Ele falava comigo com uma voz doce.
Tão doce e tão suave...
Ele usava um manto enorme, com abas largas, e a orla da veste
quase tocava o chão. Era tudo tão lindo. A roupa era furta cor, e os
tons mudavam e se misturavam enquanto ele se movia. De um lado
era amarelo, de repente virava azul, aí apareciam nuances cor-de-rosa
que se tornavam verdes! Era como se Ele reunisse em Si mesmo todas
as tonalidades que eu já tinha visto. Mas não tive muito tempo para
olhar os detalhes, porque ao virar o rosto observei que a certa distân-
cia de onde estávamos havia três anjos enormes. Com muita suavida-
de, aquele ser indescritível tocou a minha mão e começou a me dizer:
“Esses anjos a seguirão daqui em diante.”
Fiquei maravilhada, tentando entender o que Ele estava dizendo.
Ele então continuou a falar como se quisesse explicar quem era:
“Eu a encontrei naquela tarde. Fui Eu quem falou contigo através
daquela mulher. Não tenha dúvida, Eu Sou o que Sou. Eu Sou o seu

88
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

Deus. O propósito que tenho para você é muito grande. Quero que
você entenda que o que Eu mais amo são as pessoas; elas são muito
importantes para mim. E é isso que quero para a sua vida: que você
ame as pessoas como Eu amei você.”
Ao ouvir essas palavras, que soavam como melodia suave, eu en-
tendi que estava diante do meu Senhor, o mesmo que tinha falado
comigo por meio da vizinha. O mesmo que, com Sua mão poderosa,
me tirou do leito de morte para me dar uma nova vida. Jesus Cristo
estava ali, me conduzindo, me tocando e me mostrando coisas que
nunca imaginei existir. É maravilhoso demais para descrever.
Estendi meus braços para receber aquele amor que Ele disse ter
pelas pessoas. Então, Ele me tocou com muita suavidade, pegou as
minhas mãos e as levou até o próprio peito; em seguida colocou o
coração dEle, pulsando em mim. Seu toque era forte, doce, suave e
gentil. Tudo ao mesmo tempo.
“Eu estou curando você. Estou tirando todas as suas mazelas. Es-
tou levando o medo, a insegurança, a timidez.” – Ele declarou.
Ele realmente me conhecia. Eu era muito dependente das pesso-
as. Por causa da minha condição de saúde, eu precisava sempre de
alguém ao meu lado. Sentia medo de estar sozinha e de frequentar
certos lugares. Em alguns momentos, durante todo o meu processo
de cura, eu me perguntava onde tudo isso ia dar. Eu me sentia inse-
gura, inclusive quanto ao meu futuro. Deus sabia que precisava me
tirar desse lugar para o chamado que tinha para a minha vida. Era o
que Ele estava fazendo.
Ainda me segurando, com muita delicadeza, Ele perguntou:
“Posso contar com você?”
Eu estava tão impressionada, que nem consegui responder. Eu
queria dizer sim, mas as palavras não saíam da minha boca. Então
Ele tocou meu braço novamente, com muita leveza, e disse:
“Eu quero passear com você.”
Sem exitar, O segui pelas montanhas. Pelo caminho, percebi flo-
res coloridas, vivas, que davam uma beleza especial àquele lugar que
já era indescritivelmente belo. Fui levada para um local onde havia
muitas pessoas. Ele me mostrou aquela cena e disse:
“Eu vou te mostrar o que quero que você faça.”
A primeira coisa que vi foram duas pessoas conversando sentadas uma

89
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

de frente para a outra. Eu estava ao lado de Jesus, e os três anjos estavam


conosco, nos acompanhando em todo tempo. Mas quando olhei direito
para aquela cena, quando observei atentamente para o que estava à minha
frente, para entender o que Jesus queria que eu fizesse, percebi que eu era
uma das duas pessoas que Ele me mostrava. Eu estava assentada e ouvia
com atenção o que a outra falava. Quase não me reconheci. Eu, que ainda
era apenas uma jovem franzina, recém-recuperada de uma doença terrí-
vel, naquela visão tinha ganhado corpo. Estava forte, saudável, corada; até
meus cabelos estavam maiores, na altura do ombro, com as pontas viradas
para fora, formando cachos suaves. Meus olhos transmitiam alegria e vida.
Não se parecia nem um pouco com a minha imagem daquela época.
“É isso que eu quero de você” – Ele me disse sem dar atenção ao
meu susto.
“Sou eu quem está ali?” – perguntei.
“Sim” – Ele respondeu e completou:
“Cuide com paixão. Tenha compaixão das pessoas. Não basta só o
amor. É preciso compaixão.”
Eu senti o olhar dEle sobre mim e respondi:
“Sim, eu vou ter compaixão das pessoas.”
“Posso contar com você?” – novamente Ele me perguntou.
“Claro que pode. Eu vou amar fazer isso!” – respondi.
Então, Ele me disse:
“Isto traz cura: o se importar com o outro, parar tudo para dar
atenção e escutar. Você vai cuidar de muitas pessoas ungidas. Algu-
mas ficarão hospedadas na sua casa. Trarei a você filhos Meus que
vão liderar multidões.” – Ele continuou.
Eu assenti com a cabeça e recebi aquela missão de ouvir, cuidar e
amar. Eu poderia fazer isso. Queria ser usada e me senti muito alegre
por receber uma tarefa tão especial. Eu também deveria ter compai-
xão de quem se aproximassem de mim precisando de ajuda. As pes-
soas que Ele colocaria no meu caminho seriam curadas por Ele dessa
forma, e eu seria apenas um canal para isso. Ali Deus estava me en-
tregando uma missão muito nobre. Ele quis me mostrar exatamente
como eu faria. No meu coração, agradeci por esse incrível privilégio,
mas não tive muito tempo, porque Ele tinha pressa.
“Você precisa comer e beber da Palavra. Que o seu ajoelhar e tudo
o que você fizer glorifiquem o Meu nome.”

90
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

Recebi aquele ensinamento e fui conduzida para outro lugar no


meio da cadeia de montanhas. Lá havia um grupo de aproximada-
mente quarenta pessoas. Ele me disse:
“Eu vou te dar a Minha Palavra, e você vai dar comida, vai alimen-
tar essas pessoas. Eu colocarei em você as Minhas palavras.”
Concordei com a cabeça novamente e tentei prestar atenção aos
detalhes daquela reunião que Jesus estava me mostrando. Foi quando
me vi falando para aquele grupo, pregando o Evangelho. E eu anda-
va de um lado para o outro gesticulando, ensinando. É tão curioso
perceber que é exatamente assim que me movo, hoje, quando estou
ministrando.
“Posso contar com você?” – Ele me perguntou com aquela voz tão
doce e chamando a minha atenção para Si.
“Claro!” – respondi com toda a sinceridade do meu coração.
Saímos daquele lugar, e Ele me conduziu para outro espaço entre
as montanhas aveludadas. Agora havia uma multidão à minha frente,
e lá estava eu falando, me movimentando, ensinando. Eu via muitas
pessoas com as mãos levantadas. Outras estavam ajoelhadas, choran-
do. Mas não era um ambiente de tristeza, apesar das lágrimas. Era
algo diferente, como se fosse uma atmosfera de oração e adoração.
Ele me mostrou aquilo e disse:
“Quando as pessoas erguem as mãos, Eu me alegro.”
Pude sentir o sorriso dEle ao falar isso. Ele realmente parecia feliz
ao compartilhar.
Quando olhei novamente, percebi que eu também fazia parte da-
quele grupo. Eu estava na frente fazendo a mesma coisa.
“Ajude as pessoas a se quebrantarem na minha presença. Vou te
levar a vários lugares para você ensiná-las. Posso contar com você?”
– mais uma vez Ele me perguntou.
“Claro, pode contar comigo!” – respondi.
Depois disso, Ele me levou para um lugar diferente. Eu ainda esta-
va no meio das montanhas, mas agora, ao invés de olhar para frente,
eu mirava para baixo, como se estivesse tendo em uma visão aérea do
que Ele queria me mostrar. De onde eu estava, vi um monte de casas
pequenas, próximas, mas não coladas. Então perguntei:
“O que é isso? Que lugar é este?”
“Um dia você entenderá. Vou te levar para um monte bem alto,

91
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

onde as pessoas serão libertas e transformadas. ” – Ele me respondeu


como se tivesse novamente um sorriso no rosto. E completou: “Eu
vou te dar muita vida”.
“Mas eu posso voltar para a casa dos meus pais? Para a minha
família?” – perguntei. Por mais que eu entendesse que era tempo de
estar longe, no meu coração havia uma pontinha de esperança de
voltar a viver com eles.
“Ezenete, a Minha família e a sua família são o mundo. Você irá
para muitos lugares. Você terá uma grande família.”
Então Ele tocou no meu ventre e disse:
“Você será tão fértil. Posso contar com você?”
Eu achei que Ele estava dizendo que eu teria muitos filhos natu-
rais, contrariando o que o médico me falou quando apresentou os
resultados dos exames. Entendi que Ele estava curando o meu útero
que, segundo o ultrassom, mais se parecia com uma folha seca.
“Claro que pode contar comigo. Eu quero viver para o Senhor. Só
para o Senhor.” – respondi.
Depois disso, Jesus me conduziu para mais um lugar. Desta vez,
era um vale muito diferente daquelas montanhas verdes, aveludadas,
vivas, lindas, cheias de paz e de flores coloridas. Este lugar era hor-
rível, escuro, turvo e assustador. Eu olhei ao redor e enxerguei uma
batalha muito grande; eram seres demoníacos que lutavam. Nunca ti-
nha visto nada parecido e fiquei com muito medo. Jesus me observou
muito impressionada com aquela cena e disse para mim:
“As trevas são assim. Mas Eu venci. Eu venci o Inimigo, vou ven-
cê-los na sua vida também, e você vai triunfar.”
Eu me encolhi, com muito medo, e Ele completou sem pestanejar:
“Eu vou te dar ousadia e coragem, e eles se sujeitarão a você.”
Ouvi com uma certa desconfiança, mas acreditei que quando che-
gasse a hora de lidar com esse tipo de situação, Ele me capacitaria. Afi-
nal, era isso que Ele estava me dizendo. Mas a minha preocupação era
outra, por isso fiz uma pergunta que não tinha nada a ver com aquilo:
“Então eu não vou mais voltar para minha casa, para morar ao
lado da minha mãe e do meu pai?”
“Não, você não vai. Aquela não é mais a sua casa. Mas não se pre-
ocupe, eu vou te dar novos pais.”
Minhas tias já sabiam que eu não voltaria para Montes Claros, pois

92
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

compreendiam que, para os planos de Deus se cumprirem, eu não po-


dia estar debaixo da autoridade tradicional do meu pai. Ele e minha
mãe já haviam me entregado para Deus, então no reino espiritual isso
já estava resolvido. Só faltava o meu coração receber essa palavra. Elas
achavam que eu iria morar na casa da tia Nó e do tio Mariano, já que
eles não tinham filhos biológicos, apenas uma filha de criação, e eu era
muito apegada a eles. Mas os planos de Deus eram outros.
Deus, então, me perguntou:
“Você aceita o meu plano? Você quer?”
“Sim, eu quero. Eu aceito. Mas quem serão os meus novos pais?”
– indaguei.
“Eu já trabalhei no coração dos seus pais biológicos no dia em que
eles entregaram você para Mim. Também trabalhei com os seus tios,
que vão te receber como filha a partir de agora.”
Então eu vi a minha tia Eurídes, querida tia Lidinha, e o tio Elson.
Eles eram os novos pais a quem Deus estava me entregando! Como
eu não tinha percebido? Eles cuidaram de mim ao longo de quatro
anos. Não desistiram da minha vida nem por um segundo. Eles me
amaram, me assumiram e oraram durante o período mais difícil que
vivi. Depois de tudo que passamos juntos, eles não eram mais desco-
nhecidos, pelo contrário, eles eram a minha família, e eu os recebi.
“Eu vou colocar amor no seu coração por eles, e no deles por você.
Confie em mim.” – disse o Senhor.
“Por um longo período você ficará sem ver os seus pais biológi-
cos, mas Eu estarei no controle, trabalhando no coração deles” – Ele
completou.
Assenti com a cabeça e com tudo o que havia em mim. Eu recebi o
que Deus desejava fazer em minha vida e não questionaria mais. Estava
decidida a acatar os planos do Senhor e a cumpri-los – a qualquer custo.
Em seguida, fui conduzida para mais um lugar, a nossa última
parada. Este era um outro tipo de ambiente. Era como uma sala fe-
chada com vidros enormes por todos os lados, onde Ele trabalhou
em mim. Eu ouvia muitas pessoas falando a palavra “mãe”. Mas não
entendia de onde vinham aquelas vozes e o que aquilo queria dizer.
Ele me explicou:
“São os seus filhos. Muitas pessoas chamarão você de mãe. Poucos
nascerão do seu ventre, mas você terá muitos filhos.”

93
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Recebi também essa palavra, mas logo disse:


“Estou gostando tanto daqui. Eu queria ficar. Não quero voltar à
minha vida.”
“Vou levar você de volta. Sua caminhada é muito longa. E quando pre-
cisar de Mim, quando tudo estiver difícil, peça para pegar na Minha mão,
que Eu vou segurar você bem forte, vou conduzi-la, e você não vai cair.”
Então Ele me deu a mão, me segurou com toda delicadeza e amor
e me conduziu de volta. Até hoje, quando tudo fica muito difícil,
quando as situações se complicam, quando a batalha é muito grande,
eu me lembro disso. Fecho os olhos, peço pela mão do alto, pego nela
e seguro firme enquanto a turbulência passa.
O arrebatamento durou toda a madrugada. Quando voltei à sala
daquela que seria minha nova casa, já era dia. Abri os olhos, vi a
carruagem (como se ela tivesse me trazido de volta), e lá estava eu
deitada no chão. Quando me virei para a tia Eurídes, meu coração foi
coberto por um amor sobrenatural. Em vez de me dirigir a ela como
tia Lidinha, chamei-a com toda sinceridade:
“Mãe!!!!”
No início, ela ficou sem entender, mas fui contando tudo o que
vivi durante o período arrebatada. Nós nos abraçamos como mãe e
filha, e dali em diante um novo laço foi formado. Eu a amei como se
tivesse sido gerada em seu ventre, e me senti como filha de sangue.
Foi um momento glorioso, e eu me lembrava das palavras da vizinha
quatro anos antes. Sim, o Senhor me deu novos pais, uma nova famí-
lia e uma nova vida.
O mais interessante é lembrar que quando nasci, foi ela quem cui-
dou de mim e me amou como uma mãe ama. Durante meu primeiro
ano de vida, era ela quem passava mais tempo comigo. A tia Lidinha pe-
diu aos meus pais permissão para que eu fosse embora com ela, quando
mudou-se para São Paulo. Quase vinte anos depois, o Senhor fez essa
relação de mãe e filha renascer, com amor, respeito e admiração.
A tia Nó, que era uma mulher muito de Deus, sabia que o Senhor
estava falando comigo. E mais do que isso, enquanto eu estava mer-
gulhada na presença do Senhor, ela também foi visitada pelo Espírito
Santo e recebeu visões a meu respeito:
“Enquanto você estava arrebatada, eu vi muitos aviões. Deus vai
usá-la poderosamente. Eu vi muitos nomes de outros países também.

94
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I

Além disso, Ele me mostrou várias pessoas ao seu redor, e todos eram
seus filhos. Você vai ser mãe de filhos de todos os jeitos – velhos e
novos. Você será mãe, Ezenete. Mãe!”
Pensei que Deus me daria muitos filhos adotivos, mas não era isso
o que Ele queria dizer. Com o passar dos anos eu entenderia, e essa
profecia também se tornaria realidade.

Recebendo novos pais

O amor pela minha nova mãe, Eurídes, veio de uma forma muito
rápida e natural. Já pelo tio Elson, agora pai, o amor aconteceu aos
poucos. Mas posso dizer, sem medo, que Deus proveu os nossos co-
rações com sentimentos muito sinceros. Os três primos, que a partir
daquele momento se tornaram meus irmãos, também me aceitaram
com muito carinho. Começamos, então, a orar pelos meus pais bioló-
gicos, porque queríamos contar para eles o que tinha acontecido. Até
porque, desde então, passei a chamar os meus tios de pai e mãe, e não
queríamos criar nenhum tipo de constrangimento.
Nesta mesma época, minha mãe biológica, Eugênia, sonhou que
estava me entregando para a tia Eurídes. No sonho, Deus falou que
assim como Maria ge-
rou Jesus e o entregou
para o mundo, assim
como Ana gerou Sa-
muel para a obra de
Deus, ela havia me ge-
rado para algo maior
do que podia ima-
ginar. Quando acor-
dou, ela pegou papel
e caneta e começou a
escrever tudo o que
tinha sonhado. Nes-
ta carta à tia Eurídes,
ela disse: “A partir de
agora a Ezenete também é sua filha. Eu a entrego para que você cuide
dela como uma verdadeira mãe”.

95
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Quando a carta chegou a nossa casa, mal pudemos acreditar naque-


las palavras. Deus disse que ia falar com os meus pais e assim o fez. A
partir daquele momento eu oficialmente recebia uma nova família.
Nunca mais voltei a morar com meus pais e irmãos biológicos.
Continuei os amando com todo o meu coração, mas finalmente en-
tendi que Deus tinha um novo lugar para mim. E eu não precisava
temer; quando tudo ficasse difícil, eu sabia que era só pedir que Ele
me desse a mão – e juntos caminharíamos em paz.

96
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

P A R T E I I I

“VÓ S N ÃO ME ESCOL HE ST E S
A MI M, MAS E U VOU
E SCO LH I A V ÓS E VOS
D E S I G N E I , PA R A QU E VA D E S
E DE I S FRU TO S, E O VOSSO
FRU TO PE RMAN E ÇA , A F I M
DE QUE TU DO QUA NTO
PE D I RDE S AO PA I E M
ME U NO ME , EL E VO- L O
CO NCE DA ” .

J O Ã O 1 5 . 1 6
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

11. O TREINAMENTO

Depois do arrebatamento, muita coisa mudou, e a minha vida com


Deus alavancou. Definitivamente eu não era mais uma menina enga-
tinhando na fé ou nos dons espirituais. A doença tinha ficado para
trás, junto com toda a fragilidade física e emocional. Eu ainda estava
sendo fortalecida, sim, mas nada em mim lembrava os anos de cama
e internação.
Sem falar que eu finalmente fui curada das sequelas da paralisia
que sofri aos dez anos de idade. Milagrosamente, após o arrebatamen-
to, a minha perna direita se desenvolveu, e os quatro centímetros que
a diferenciavam da outra foram nivelados. Eu não mancava, não ti-
nha mais dificuldades para andar, e ao contrário do que os médicos
disseram, jamais precisei de uma muleta. A perna também engros-
sou bastante, e aquele membro seco ganhou vida. O nervo que liga o
pé continua estático; não tenho força e não consigo fazer ponta, por
exemplo, mas a não ser que eu conte a minha história, ninguém se-
quer desconfia que tive esse problema. A maior prova da minha cura
é que eu fiz todos os testes e consegui ser aprovada no exame de habi-
litação. Tirei a carteira de motorista sem nenhuma dificuldade e dirigi
muito ao longo dos anos.

99
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Mas preciso ressaltar que o arrebatamento me marcou muito, de


uma forma que eu não imaginava. Depois que Deus falou comigo cla-
ramente sobre o que queria de mim, a missão que Ele estava me entre-
gando e como eu deveria desempenhá-la, foi como se eu tivesse sido
cheia da presença e da capacitação dEle. Também não posso deixar de
ressaltar o papel importantíssimo que a tia Nó e a minha mãe Eurídes
tiveram no meu “treinamento”. Refiro-me a esta fase dessa forma, por-
que eu precisava aprender a lidar com tanta informação que eu tinha
acabado de receber. Por isso continuávamos a nossa rotina de jejum e
oração. Mas a frequência das pessoas que nos procuravam em casa au-
mentou bastante. Creio que cada uma que entrava pela nossa porta era
enviada por Deus. Ao mesmo tempo em que recebíamos a todas com
muito amor, como o Senhor me orientou, para ajudá-las, sabíamos que
elas também estavam ali com suas histórias pessoais para me ensinar.

O primeiro atendimento

Após o arrebatamento, as primeiras pessoas que vieram se acon-


selhar comigo foram um homem e uma mulher de aproximadamente
sessenta anos. Eles eram amigos dos meus novos pais e estavam en-
frentando sérios problemas no casamento. Até hoje não entendo por
que eles me procuraram; eu mal tinha dezenove anos, era solteira e
não sabia muito sobre relacionamentos. Mas se Deus tinha enviado os
dois para que eu os atendesse, assim eu o faria.
Eles chegaram a nossa casa e foram recebidos com muito carinho.
Eu os conduzi à sala e fiz exatamente como o Senhor me mostrou:
nos assentamos em um sofá, ofereci água e começamos a conversar.
Minha mãe foi para outro cômodo, para orar por nós, enquanto fiquei
sozinha com o casal.
Mas o que era para ser um diálogo se tornou uma briga terrível!
Eles começaram a se agredir verbalmente como se eu nem estivesse
ali. Fiquei assustada com a reação dos dois, que sem o menor cons-
trangimento expuseram problemas antigos, de anos, e não paravam
de se atacar, me ignorando completamente.
Assisti à discussão em total silêncio por alguns minutos, sem saber
o que fazer. Eu olhava para o homem enquanto ele esbravejava; depois
olhava para a mulher enquanto ela reclamava. Aí voltava a olhar para

100
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

o marido, que falava cada vez mais alto, e em seguida para a esposa,
que parecia querer matá-lo ali mesmo. O ciclo de ofensas não parava e
se tornava cada vez pior. Nem parecia um casal maduro, mas sim duas
crianças disputando quem conseguia agredir mais a outra. Foi uma
cena lamentável, e eu simplesmente não sabia o que dizer para melho-
rar aquela situação. Estava perdida e nunca tinha visto uma coisa tão
feia em toda a minha vida!
Mas de repente comecei a ouvir a voz de Deus falando dentro de
mim e me orientando a agir. Respirei fundo e segui a direção.
“Parem vocês dois, agora! Parem de discutir!” – eu disse interrom-
pendo aquela terrível guerra particular.
Eles me olharam assustados e, acredito, até com vergonha. Mas
eu estava ouvindo a voz de Deus e precisava colocar um fim àquele
vexame.
“Vocês não podem continuar brigando desse jeito. Isso não está cer-
to. Deus não uniu vocês para viverem dessa forma. Está tudo errado.”
Eles me olharam com olhos arregalados. Não sei o que esperavam
de mim, ou por que me procuraram, mas de uma coisa eu tinha certe-
za: Deus iria fazer algo naquelas vidas.
Depois dessas primeiras frases, comecei a repetir tudo o que o Es-
pírito Santo sussurrava ao meu coração. Eu sentia que Deus estava
colocando na minha boca as palavras que eles precisavam ouvir, e eu
apenas reproduzia o que Ele queria que fosse dito. Enquanto eu falava,
pensava: “Meu Deus, que incrível! Não sou eu que estou pensando
tudo isso!”. E não era mesmo. Eu tinha muita certeza de que o Senhor
estava cumprindo o que tinha me prometido durante o arrebatamen-
to. Ele me pediu para ouvir as pessoas com amor, pois colocaria as
palavras certas em mim. Estava acontecendo!
Quando me dei conta, aquele casal estava ajoelhado na minha frente.
Os dois se abraçavam, pediam perdão um ao outro, diziam que se ama-
vam e colocaram um fim a questões problemáticas tão antigas, encerran-
do os anos de brigas. Deus estava operando ali, na minha frente, através
de mim! Era lindo ver o que acontecia quando as pessoas abriam o co-
ração para Ele! Eu sabia que não tinha feito nada para aquilo. Não era
mérito meu. Eu não sabia o que estava dizendo e não tinha experiência
suficiente na vida para ser uma grande conselheira amorosa, mas obedeci
à voz do Senhor e repeti tudo o que Ele soprou em meus ouvidos.

101
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Então, ajoelhados na sala da minha casa, eles fizeram a renovação


de votos. Nós oramos juntos, e posso dizer que praticamente celebrei
o casamento do casal de novo! Foi uma reconciliação linda, poderosa e
que colocou fim ao domínio de Satanás sobre aquela família. Para mim
ficou a compreensão de que eu não estaria no comando de nenhum
atendimento, mas sim o Senhor. Eu precisava apenas estar centrada
nEle, entregue a Ele e atenta a Sua voz poderosa e inconfundível. Ele iria
operar a cura nos corações, e eu seria apenas um vaso em Suas mãos.

A cura do menino

Continuei buscando o Senhor com toda intensidade. Estava sem-


pre orando, lendo a Bíblia e mantendo uma vida de consagração a
Deus. Eu desejava estar preparada para cumprir o ministério que Ele
entregou em minhas mãos da melhor forma possível, então não que-
ria perder tempo. Enquanto isso, o meu testemunho se espalhava pe-
las ruas de Santo André. A experiência com o casal que me procurou
naqueles primeiros dias me encorajou muito. Eu sentia que estava no
caminho certo.
Certo dia o telefone de casa tocou. Do outro lado, uma pessoa que-
ria saber se eu poderia visitar um menino de doze anos que estava
muito doente. Ele estava desenganado depois de pegar sarampo. A
família ouviu sobre a minha cura e gostaria que eu passasse algum
tempo com o garoto que estava prestes a morrer. Eu sabia bem o que
era viver algo desse tipo. Senti paz em meu espírito, mas antes de acei-
tar, conversei com a minha mãe. Oramos e ela me orientou a ir.
No dia marcado, vesti uma saia, uma blusa, peguei a Bíblia e me
dirigi, sozinha, ao ponto de ônibus. Mas assim que cheguei ao local
onde pegaria a condução, ouvi uma voz:
“Volte para casa e coloque um lenço na cabeça.”
“Voltar para casa? Será que é isso que eu escutei?” – falei comigo
mesma, meio desconfiada.
“Volte para casa e coloque um lenço na cabeça.” – a voz repetiu.
Senti novamente aquela frase ecoar dentro de mim, como se fosse
uma ordem a ser obedecida. Mas eu ainda estava achando que podia
ser apenas fruto da minha imaginação. Não dei ouvidos.
“Estou ouvindo coisas.” – pensei e continuei a refletir. “Se eu voltar

102
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

para casa agora, vou perder o ônibus e me atrasar. E por que eu colo-
caria um lenço na cabeça? Eu não uso lenço!”
“Volte para casa e coloque um lenço na cabeça.”
Pela terceira vez eu ouvi a mesma coisa. Não dava para ignorar;
com certeza o Senhor estava falando. Enquanto eu pensava passou
o coletivo, mas ele estava muito cheio, e o motorista nem parou no
ponto. Era o sinal que eu precisava para entender que Deus estava me
direcionando a fazer algo. E eu devia obedecer, mesmo que não fizesse
o menor sentido naquele momento.
Saí correndo em direção a minha casa. Fui o mais rápido que pude,
porque queria buscar um lenço, mas ao mesmo tempo não podia me
atrasar. Afinal, o menino e toda a família me aguardavam. Assim que
coloquei os pés na sala, falei com minha mãe:
“Mãe, eu preciso de um lenço para cobrir a cabeça.”
“Lenço? Para que você quer um lenço, Nete?”
“Mãe, eu estava no ponto de ônibus esperando a condução e ouvi
Deus falar que eu precisava colocar um lenço. Eu escutei a mesma
coisa três vezes, então acredito que Ele está me mandando fazer isso.”
Ela olhou para mim e respondeu sem exitar:
“Deus realmente falou com você. Vamos providenciar agora mesmo.”
Encontramos um lenço de croché que era dela, muito bonito. Eu
nunca tinha usado nada parecido, então tentamos ajeitar da melhor
maneira possível. Nessa época eu usava os cabelos bem curtinhos,
na altura da nuca. Durante os anos de internação, era mais prático
mantê-los assim. Eu ficava muito tempo deitada, não dava para ter
os cabelos longos, pois pentear dava trabalho, lavar com frequência
também, sem falar que o calor me irritava. Então o jeito mais fácil foi
encurtar o tamanho dos fios. Os anos passaram e acabei me acostu-
mando com o corte.
Escondi o meu cabelo curto debaixo do lenço de croché e sai de
casa morrendo de vergonha, achando aquilo a coisa mais esquisita do
mundo. Mas eu estava decidida a obedecer, mesmo que eu me sentisse
completamente desconfortável com aquele acessório na cabeça! Voltei
para o ponto de ônibus e segui o meu destino.
Assim que cheguei a casa do menino, percebi um ambiente formal,
quase solene. Na realidade, parecia mais um funeral. Na sala, alguns
homens de terno estavam reunidos; pareciam líderes de igrejas. Havia

103
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

muita gente ali, andando de um lado para o outro e conversando bai-


xinho. Tão logo cumprimentei as pessoas e fui procurar um local para
me assentar, ouvi um daqueles senhores falando para o outro:
“Onde já se viu? Mulheres de cabelos curtos orando em línguas?
Isso é impossível! E ainda dizem que estão sendo guiadas por Deus.
Não acredito que Ele use uma pessoa assim.”
Havia todo um tom de indignação naquela conversa. A pessoa
com quem aquele homem falava respondeu concordando, e com um
certo tom de revolta na voz:
“Eu nunca permitiria que uma mulher de cabelos curtos impu-
sesse as mãos em um filho meu. Essas pessoas estão fora da Palavra!”
Ao ouvir isso, levei discretamente as mãos à cabeça e respirei ali-
viada, porque cada fio estava coberto pelo croché. Com certeza eles
não estavam falando de mim, ou para mim, porque não me conhe-
ciam, não sabiam como era o meu cabelo, e pela graça de Deus eu
tinha ouvido aquela voz e colocado um lenço! Como Deus é incrível!
Ele nos direciona, fala aos nossos corações e nos conduz, desde que
estejamos atentos a Sua voz.
Escutando essa conversa, percebi que a família frequentava a As-
sembleia de Deus, igreja bem rígida em relação aos costumes. Eu não
sabia que eles pertenciam a essa denominação, mas o Senhor tinha
conhecimento e por isso me levou a me apresentar de uma forma que
não os ofendesse, mesmo que eu não soubesse disso. Lembrei-me de
Paulo, que escreveu, na primeira carta aos Coríntios, capítulo 9, dos
versículo 20 ao 23:

Tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus. Para


os que estão debaixo da lei, tornei-me como se estivesse sujeito à
lei, (embora eu mesmo não esteja debaixo da lei), a fim de ganhar
os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, tornei-me
como sem lei (embora não esteja livre da lei de Deus, mas sim sob
a lei de Cristo), a fim de ganhar os que não têm a lei. Para com os
fracos, tornei-me fraco para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para
com todos, para de alguma forma salvar alguns. Faço tudo isso por
causa do evangelho, para ser co-participante dele.

Deus amava aquela família, se importava com aquelas pessoas, es-

104
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

pecialmente com o menino de doze anos que precisava ser curado. E


Ele sabia que não me permitiriam chegar perto da criança caso vissem
os meus fios curtinhos. Por isso o Senhor me orientou a usar o lenço,
e isso não me ofendeu. Pelo contrário, ao esconder os cabelos, me fiz
como aquelas pessoas.
Em seguida a mãe e uma tia do garoto se aproximaram de mim
e me conduziram ao quarto onde ele estava deitado, esperando pelo
pior. A cena era de partir o coração. O menino estava todo inchado,
com o corpo marcado pelo sarampo, muito empolado e com dificul-
dade para respirar. Ele se esforçava para levar oxigênio aos pulmões, e
quando conseguia, soltava longas lufadas de ar. O garoto não abria os
olhos, parecia estar inconsciente, e de uma coisa eu tinha certeza: ele
estava sofrendo. Não é fácil estar em cima de uma cama. Eu sei. Não é
fácil ser tão jovem, querer fazer tantas coisas e ser derrubado por uma
enfermidade. Eu entendia aquele menino e compreendia a dor de toda
a família também.
Fechei a porta e comecei a orar ao lado daquelas duas mulheres.
Elas estavam desesperadas, clamando a Deus pela vida do menino.
Tudo o que a mãe queria era ver o filho restabelecido, e ela pedia com
todo coração por isso. Senti que o Senhor me entregou autoridade
para guerrear pela vida dele. Eu repreendi o espírito de morte que
estava rondando aquele lugar, invoquei a presença do Senhor, levantei
a minha voz e impus as minhas mãos. Eu acreditava que ele seria cura-
do e sentia muito forte que Deus estava nos conduzindo nesse sentido.
De repente, ouvi a mesma voz que falou comigo no ponto de ônibus:
“Ele precisa beber água. Dê água a ele.”
Quando eu esperava o coletivo passar, precisei receber a mesma
ordem três vezes para obedecer. Agora eu não iria questionar.
“Preciso dar água ao menino.” – eu disse para a mãe.
“Não, ele não bebe água há dias. Você não pode fazer isso. Tem
quase uma semana que ele não come e nem bebe nada. Ele simples-
mente não consegue engolir.” – ela me respondeu com educação e
tristeza.
“Mas Deus está me dizendo que ele vai beber agora. Por favor, me
dê um copo com água. Ele vai engolir, eu creio.” – respondi.
“Você não pode estar falando sério.” – ela me questionou com des-
dém. “Você só pode estar doida. Ele não consegue beber água há dias!”

105
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Ela olhou para mim com muita desconfiança, mas eu não me dei
por vencida. Deus me falou que era para fazer isso, e eu não desistiria
até o menino beber.
“Eu não estou doida. Eu realmente ouvi a voz de Deus e quero fa-
zer o que Ele está me dizendo. Alguém pode buscar água, por favor?”
Elas olharam entre si e pouco depois me entregaram um copo bem
cheio com uma colher. Peguei o talher, mergulhei no líquido, olhei
para o menino e levei até a boca dele.
“Beba, você precisa de um pouco de água.” – eu disse a ele.
O menino não esboçou a menor reação. Continuou com os olhos
fechados, imóvel, e a água que coloquei nos lábios dele escorreu por
todos os lados. Repeti a ação. Coloquei mais bebida na colher e a levei
até a boca.
“Você precisa beber essa água para melhorar, em nome de Jesus.
Vamos lá. Beba só um pouquinho.”
Nada aconteceu. Ele continuou na mesma posição, estático, e a
água escorria pelas bochechas e pelo queixo, sem entrar nenhuma
gota. Eu insisti.
“Eu vou colocar mais água na colher e vou levar até você de novo. Em
nome Jesus, você só precisa abrir a boca um pouquinho para o líquido
entrar. Vamos lá, você consegue!” – eu disse num tom quase maternal.
Novamente o menino permaneceu sem mover nenhum músculo.
Mas eu não estava preocupada. Eu sabia que Deus estava fazendo algo,
ainda que eu não pudesse ver naquele momento. A cada minuto que
eu passava ali, tinha mais convicção de que ele seria curado. Fui repe-
tindo a ação de colocar água na colher e dar na boca, clamando pelo
nome de Jesus e agradecendo pelo milagre que aconteceria. Enquanto
isso, a mãe não parava de murmurar e reclamar, me lembrando incon-
táveis vezes de que ele não podia beber nada.
“Não adianta. Ele não vai engolir. Eu disse... Pare de insistir, por favor!”
“Jesus, eu te agradeço porque esse menino já bebeu a água e está
sendo liberto de todo o mal. Em nome de Jesus, ele está curado. Eu te
agradeço.” – continuei, ignorando as reações negativas da mãe.
Foi uma oração de fé. Até que de repente o garoto abriu uma fresta
mínima nos lábios e permitiu que algumas gotas do líquido escorres-
sem para dentro do seu corpo. No início foram pequenas quantidades,
mas aos poucos ele foi bebendo e engolindo tudo o que eu lhe dava.

106
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

A mãe e a tia nem podiam acreditar no que estavam vendo. A mu-


lher parou de murmurar. O garoto começava a reagir depois de dias
totalmente imóvel! Ele parecia estar se refrescando com o que eu lhe
dava para beber. Depois de mais algumas colheradas quase forçadas,
o menino abriu a boca naturalmente querendo mais. Então eu senti o
Senhor falando comigo:
“Agora ele precisa se alimentar. Dê leite.”
Quando pedi um pouco de leite, ninguém exitou. Rapidamente
me entregaram um copo. Ajeitei o garoto na cama de uma forma que
ele ficasse quase assentado e pudesse engolir com mais facilidade. Ele
conseguiu se mover e se posicionar dessa forma, para a surpresa da
família que há dias não o via se mexer. Fui dando a bebida enquanto
cantava e adorava o Senhor. Repeti o procedimento até que ele já tinha
engolido quase um copo inteiro de água e outro de leite. Deus estava
fazendo um milagre! O garoto estava voltando à vida! Aleluia!
Quero deixar claro que a cura não estava na água ou no leite. O
Senhor não precisa dessas coisas para operar, mas o fato de o menino
beber e se alimentar manifestou o poder de Deus na vida dele, den-
tro da oração que já tinha sido feita. O garoto não conseguia engolir,
mas quando ele fez isso, o poder do Senhor foi visto diante de todos.
Foi uma confirmação da cura que já tinha acontecido enquanto cla-
mávamos. Não foi um ato profético, porque eu nem sabia o que isso
significava, mas sim um ato de fé baseado na convicção de que Deus
agiu naquela vida.
Nos minutos seguintes o garoto foi recobrando as forças, a saúde, e
eu senti quando a doença deixou o corpo dele. Na mesma hora come-
cei a ouvir gritos de ódio vindos do corredor.
“Eu te odeio! Eu vou te matar! Saia daqui! Saia daqui agora! Eu
odeio você!”
Eu não conhecia aquela família nem ninguém que estava naquele
lugar. Mas eu sabia que aqueles gritos malignos eram para mim.
“É a minha sobrinha. Ela mora aqui há algum tempo e tem crises
desse tipo com frequência. Você pode orar por ela também?” – me
pediu a mãe do menino.
“Sim. Vou orar por ela agora mesmo.” – respondi convicta de que
o Senhor tinha me levado ali também com o propósito de abençoar a
vida daquela mulher.

107
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Para preservar a identidade dessa querida irmã, vou chamá-la de


Leninha. Ela tinha aproximadamente trinta anos, era uma mulher
franzina e estava sendo atormentada por espíritos malignos que a fa-
ziam gritar, ficar violenta e ter crises que preocupavam a todos. Eu
ainda não sabia, mas apesar de ser muito bonita, ela vinha de uma
história muito triste de rejeição.
Leninha era a filha mais velha que nunca tinha se casado. Se sentia
menor que as outras pessoas da família, era complexada e desenvol-
veu, ao longo dos anos, várias doenças. Ela não tinha problemas psi-
cológicos, mas todas as situações não resolvidas, que a faziam se sentir
mal-amada e rejeitada, adoeceram a alma dela e passaram a oprimi-la.
Satanás usava as características, o passado, os comentários maldosos
das pessoas, contra a Leninha e assim ela foi entrando em uma prisão
demoníaca da qual não conseguia se libertar.
É curioso pensar que muitas pessoas passam por problemas seme-
lhantes. Vão sendo sufocadas por esses sentimentos, por essas ques-
tões familiares, e começam a colocar a culpa de tudo em Deus. Acre-
ditam que o Senhor não as ama, não se importa e não está nem aí para
a vida delas, que prefere os outros filhos. Ao longo dos anos já atendi
muitos irmãos assim. O Inimigo realmente usa situações desse tipo
para marcar as pessoas e afastá-las dos caminhos Senhor. Ele não é
criativo e vai soprando mentiras e infelizmente muitos acreditam nos
enganos de Satanás. Era o caso dessa irmã.
As dificuldades emocionais de Leninha se tornaram tão grandes,
que ela desenvolveu problemas físicos como dor no estômago. Ela so-
freu várias gastrites que tinham raiz na alma amargurada e doente.
A situação chegou a um ponto que ela não conseguia comer, porque
quando olhava para o prato via minhocas e vermes andando pela co-
mida. Ela estava completamente perturbada por espíritos do inferno.
Outro detalhe da história da vida de Leninha é que ela cresceu em
um lar evangélico, mas por causa dos traumas, desviou-se. E quando
isso acontece, o Diabo entra de sola para terminar de destruir a vida que
Deus criou. A Bíblia nos diz, em Lucas capítulo 11, versículos 24 a 26,
que quando um espírito imundo é expulso, ele tenta voltar para o lugar
de onde tinha saído. Se ele encontra a casa limpa, mas vazia, ele retorna
com outros sete demônios, e aí a situação se torna ainda pior. Foi o que
aconteceu com essa querida irmã. Foi nessa situação que a encontrei.

108
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

Quando cheguei a porta do quarto onde Leninha estava, ouvi no-


vamente os gritos de Satanás por meio da boca dela:
“Você vai morrer! Saia dessa casa agora, que eu não te quero aqui!
Eu não gosto de você, e você não pode encostar em mim! Eu te odeio
e vou te matar!”
Aqueles berros tinham apenas um objetivo: me intimidar. Mas
eu não estava sozinha: Jesus estava comigo. Ele tinha me prometido
que quando as circunstâncias ficassem difíceis eu poderia segurar nas
mãos dEle e enfrentaríamos juntos o que viesse pela frente. O Senhor
também tinha me falado que me daria autoridade para lidar com o
inferno, quando esse momento chegasse. Lembrei-me disso, segurei
bem firme a minha própria mão, como se pudesse sentir a presença fí-
sica de Jesus me amparando, e entramos juntos naquele cômodo para
uma verdadeira batalha espiritual.
“Você não vai me matar. Você não vai encostar nenhum dedo em
mim. Minha vida é do Senhor Jesus. Ele morreu na cruz para me curar
e me perdoar dos meus pecados. Eu sou dEle. Você não pode fazer
mais nada contra mim. E eu estou aqui porque Ele me enviou para
ajudar essas pessoas. Saia dessa vida agora, em nome de Jesus!”
Impus as minhas mãos com autoridade, e o demônio que durante
anos atormentou aquela moça foi expulso pelo poderoso nome do Se-
nhor. Não foi por minha causa, pelo meu comando ou por nada que
viesse de mim, mas sim pelo poder dAquele que morreu na cruz para
perdoar os nossos pecados e nos oferecer a vida eterna.
Enquanto orávamos, o Senhor foi trazendo à luz toda a história
de rejeição, e com base na Palavra fui trabalhando com aquela irmã
preciosa. É importante dizer que na hora de expulsar um espírito ma-
ligno é preciso, sim, mandá-lo embora com autoridade. Determinar
que ele saia em nome de Jesus. Mas é essencial trabalhar com a origem
do problema. Entender o motivo que levou a pessoa a sofrer aquela
opressão maligna que a distanciou de Deus e abriu espaço para os de-
mônios se apoderarem dela. Porém, tudo tem que ser feito com base
na Palavra de Deus, porque é ela que liberta.
Apesar dos comandos para que o Inimigo deixasse aquele corpo,
Leninha só foi de fato liberta quando se arrependeu da rejeição que
ela criou contra si mesma. Esse é um mal que atinge muitas pesso-
as e as leva para uma prisão maligna. Infelizmente existem aquelas

109
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

que nunca saem dessa posição de cativeiro e vivem uma vida presa
às mentiras do Inimigo. Leninha não gostava de nada nela e precisou
se reconciliar consigo mesma e pedir perdão a Deus por toda falta de
aceitação. Fizemos tudo com base na Palavra, entendendo que quan-
do Deus a criou Ele fez algo bom.
De nada adiantaria expulsar demônios ou orar pela libertação da
Leninha se ela não entendesse a verdade de que foi feita pelas mãos
do Senhor para honra e glória do nome dEle. Se ela não pedisse per-
dão por ter acreditado nas mentiras de Satanás, que fez com que ela
achasse que não era digna, que não era boa o suficiente, que ninguém
a amava, tudo seria em vão, porque a raiz do problema não teria sido
resolvida. Sem essa consciência, o Inimigo voltaria a oprimi-la, e tudo
ficaria sete vezes pior, como diz a Bíblia.
Aquele foi um dia de vitória. De milagre. Quando saí dali para voltar
para a minha casa, o menino e a Leninha estavam bem e tinham se ali-
mentado. Todos estavam maravilhados com o que Deus fez durante aque-
las horas. Os homens de terno também se impressionaram com a ação do
Espírito Santo. Antes mesmo de me despedir, o garoto e Leninha foram
restabelecidos. O poder de Deus se manifestou pela misericórdia dEle. E
ninguém se importou com o tamanho do meu cabelo.
Continuei acompanhando Leninha por um bom tempo. Ela chegou
a ficar na minha casa durante alguns dias, enquanto fomos trabalhando
juntas a nova identidade dela em Cristo. Aliás, essa foi uma estratégia que
Deus me deu: eu deveria levar algumas pessoas para a minha própria casa,
para cuidar e amar. Leninha foi uma delas, e não foi nada fácil.
Demoramos uma semana para que ela parasse de ver os vermes an-
dando na comida. Orávamos, e eu dizia que ela podia comer tudo, porque
não havia nada além de alimentos no prato. Eu me assentava ao lado dela,
e nós tomávamos café da manhã, almoçávamos e jantávamos juntas. As-
sim ela foi vencendo e aprendendo a lidar com os próprios dilemas.
Leninha precisou fazer as pazes com a história, aceitar o próprio
corpo, o cabelo e a vida que recebeu de Deus. Ela compreendeu, por
fim, que era pecado rejeitar o que o Pai celestial tinha entregue a ela
com tanto amor. Ela reconheceu que estava jogando fora a vida que
o Senhor preparou. Leninha se arrependeu, foi curada dos problemas
emocionais e construiu um nova identidade em Cristo. Glória a Deus!

110
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

12. O PEQUENO GRANDE


MILAGRE

Essa é uma daquelas histórias das quais não me esqueço. Nem tem
como. Lembro-me de absolutamente tudo o que aconteceu nos meses
em que convivi com Carina, Malu e Nazareth. Meu caminho cruzou
com o delas há muitos anos, quando eu ainda estava aprendendo a
ouvir a voz de Deus e a obedecer os comandos dEle sem questionar.
Quem me apresentou à Malu foi a Edith, uma irmã que frequenta-
va as reuniões de oração em minha casa. Ela era muito querida na fa-
mília, e não pensei duas vezes no dia em que ela me procurou pedindo
para que eu atendesse a uma amiga que estava vivendo um momento
muito delicado:
“Ezenete, eu queria muito que você orasse por uma pessoa. Ela se
chama Malu, acabou de dar à luz uma menina, e a bebê está internada
no hospital em estado grave, com meningite. A situação da criança é
muito delicada, e os médicos disseram que ela não vai sobreviver. A
Malu está desesperada, e creio que só Jesus pode mudar essa história.
Você pode nos ajudar? Você poderia receber a Malu e a mãe dela para
um período de oração?”
Senti paz no meu espírito. Assim, eu e a irmã Júlia, uma interces-

111
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

sora da nossa igreja, recebemos aquelas mulheres na tarde de uma


segunda-feira. Lembro-me perfeitamente de quando vi Malu e Na-
zareth pela primeira vez. Estávamos preparando um salão alugado
para transferir as reuniões que aconteciam às quartas em nossa casa.
Eu estava colocando as cortinas novas para o primeiro culto quando
elas passaram pela porta. Malu era uma mulher linda, alta, esguia.
Era aquele tipo de pessoa que chama a atenção por onde passa, com
sua pele morena e corpo bem torneado. Ela estava sedenta por Deus e
vivia um momento crucial.
Malu era modelo, solteira e amante do homem de quem engravi-
dou. Ele era um empresário muito rico, e eles mantinham há alguns
anos esse relacionamento extraconjugal. A criança não foi planejada,
mas os dois decidiram levar a gestação adiante e criar a filha do jeito
que desse. Porém, para a surpresa de todos, a menina, Carina, nasceu
muito doente. Eles proporcionaram o melhor tratamento possível em
um dos melhores hospitais de São Paulo. Mas, quinze dias depois do
parto a recém-nascida permanecia internada sem possibilidade de alta.
Nós recebemos as duas mulheres com muito carinho, e assim que
fomos apresentadas comecei a falar sobre Jesus. Não mencionei nada
sobre cura, mas senti Deus me direcionando a pregar sobre salvação.
Entendi que elas precisavam ouvir e aceitar o Evangelho para, em se-
guida, orarmos pela recém-nascida. Malu me ouviu com atenção e
com o coração aberto. Ela estava tão interessada na mensagem da cruz
que nem piscava, enquanto a mãe gritava pelo salão:
“Malu, essas mulheres querem te converter. Vamos embora agora!
Eu não quero saber de Jesus. Eu não quero saber de igreja! Eu não vou
ficar mais nenhum um minuto nesse lugar! Você vai embora comigo
agora mesmo!”
Mas a Malu continuava a me ouvir. Ela estava bebendo cada uma
das palavras. Contei todo o meu testemunho, a minha história de
cura, como saí de um leito de morte para uma vida totalmente res-
taurada. Para mim, o importante era que ela percebesse a necessidade
da salvação e confessasse o Senhor. Eu não queria que ela apenas se
sentisse empolgada ou curiosa ao escutar um caso sobrenatural, mas
enquanto eu falava, percebi que a semente do Evangelho caiu em terra
fértil. Era a hora de fazer o apelo:
“Malu, você quer aceitar a Jesus como Senhor e Salvador da sua vida?”

112
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

“Quero.” – ela respondeu sem exitar.


Ouvi, com alegria, mas eu precisava ter a certeza de que ela sabia
o que estava fazendo. Ela não podia tomar uma decisão tão séria le-
vada apenas pela emoção de uma história bonita e milagrosa. Senti
em meu coração que precisava ter a clareza de que a Malu realmente
queria Jesus e não diria “sim” apenas para ver a filha sair do hospital.
A conversão precisava ser genuína.
“Malu, você quer receber a Cristo independente da cura da Cari-
na?” – perguntei.
“Sim, eu quero Jesus na minha vida.”
“Malu, você aceita a Cristo mesmo que a sua filha não sobreviva?
Mesmo que o Senhor a leve? Mesmo que a Carina morra por causa da
doença?” – insisti.
A resposta de Malu à minha última pergunta veio de uma forma
linda, intensa e muito emocionante: ela se ajoelhou no chão, levantou
as mãos para o céu e falou bem alto, para todos ouvirem:
“Sim! Eu quero receber a Jesus na minha vida agora mesmo! Mes-
mo que a Carina nunca vá para casa, mesmo que ela não seja curada.
Mesmo que ela não resista. Eu quero aceitar a Cristo hoje!”
Quando ouviu essas palavras, a mãe dela ficou enlouquecida. Se
antes a Nazareth já estava fazendo de tudo para nos atrapalhar, agora
a situação piorou:
“Você está virando crente? Eu não acredito no que estou vendo!
Isso não é possível!” – ela gritava.
Ignorei tudo o que a mulher dizia, olhei nos olhos da Malu e falei
para ela, com toda tranquilidade:
“Amém, Malu. Glória a Deus. Então repita comigo as seguintes pa-
lavras: Senhor Jesus...”
“Senhor Jesus...” – ela falou em seguida.
E assim ela fez a oração de entrega, se lançou nos braços de Deus e
começou uma jornada incrível de transformação. Quando elas foram
embora do salão, até a aparência da Malu era outra. Ela estava mais
leve, como se toneladas tivessem saído das suas costas. Mas a Naza-
reth não parava de reclamar, de atormentar e de falar que não queria
me ver nunca mais.
Dois dias depois nos reencontramos. A Malu nos convidou para
orarmos na casa dela. Fui acompanhada pela tia Nó e pela irmã Edith.

113
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Assim que chegamos ao portão, demos de cara com uma mulher.


Fui saber mais tarde que ela se apresentava como mãe de santo. Ela
ia de helicóptero, a cada três dias, para a Bahia, para fazer oferendas
em favor da Carina – e cobrava caro por isso. O pai da menina era
quem pagava todas as despesas, crendo que estava fazendo o melhor
para a filha.
Quando entrei na casa senti uma opressão terrível, um peso espi-
ritual indescritível. Por mais que a Malu tivesse aceitado o Senhor, ela
ainda não tinha colocado um fim naquelas práticas demoníacas nem
no relacionamento com o amante. Ela precisava encarar essas mudan-
ças de uma vez por todas.
Passamos pela sala e fomos levadas, pela Malu, ao quarto onde ela
dormia. O lugar era lindo, muito elegante, com uma cama enorme
ocupando boa parte do espaço. Um tapete bem grande e bonito dava
um ar aconchegante ao ambiente decorado em tons de amarelo. Per-
corri todo o quarto com olhos atentos, sentindo em meu espírito que
algo estava errado. Levei um susto quando vi um altar cheio de ofe-
rendas e imagens montado em um canto. Malu me explicou que eram
despachos feitos pela mulher que vimos sair pela porta. Ela fazia as
oferendas na Bahia, pedindo a cura da Carina às entidades, e as trazia
de volta para serem depositadas ali. Era isso que ela tinha feito antes
de nós chegarmos.
Em silêncio e em oração, ouvi tudo o que a Malu tinha a dizer, mas
aquele altar não poderia ter mais espaço no quarto ou na vida dela, se
ela realmente quisesse seguir uma vida dedicada a Jesus Cristo. Trevas
e luz não podem andar juntas – da mesma forma que um ambiente
não pode ser claro e escuro ao mesmo tempo. Trabalhos, despachos,
oferendas a qualquer deus ou entidade não trazem a benção do Deus
vivo. Essas são práticas demoníacas que enganam as pessoas e não
têm nada a ver com o Evangelho de Jesus descrito na Bíblia Sagrada.
Por isso a Malu precisava escolher. Mesmo após confessar a Cristo
como Senhor e Salvador, ela precisava renunciar àquelas vida. Ime-
diatamente.
“Malu, o Senhor condena esse tipo de coisa. Se lermos a Bíblia, vamos
encontrar várias passagens que mostram que, na realidade, essas entidades
são seres malignos. Você não precisa de nada disso. Se você quer realmente
viver como filha de Deus, precisa abandonar essas práticas.”

114
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

Conversamos muito para que ela entendesse o que significavam os


trabalhos e despachos. Expliquei que eles não traziam nada de bom
para aquela casa, mas estavam afundando toda a família em um mar
de maldição. Malu me ouviu e por fim respondeu:
“Ezenete, eu realmente quero Jesus na minha vida. Não quero sa-
ber de nada que não glorifique ao Senhor. Eu tomei a minha decisão;
pertenço a Cristo. Ele é o meu Senhor e Salvador.”
“Ótimo!” – respondi. “Então vamos jogar essas coisas fora daqui.”
Começamos a limpar o ambiente. Juntamos tudo e fomos orando
para Deus nos revelar o que mais tinha que ser eliminado. Ele foi nos
dando a direção que precisávamos e, com ousadia, entramos em bata-
lha espiritual por aquelas vidas. Quando percebemos que tudo estava
separado, colocamos em um lote vago e ateamos fogo. Foi poderoso!
Sentimos como se Deus estivesse arrancando a vida da Malu das tre-
vas e a conduzindo de uma vez por todas para o reino da luz.
Malu também ligou para a mulher na nossa frente e rompeu o
acordo que elas tinham. Em seguida, telefonou para o pai da Carina.
Sabíamos que essa seria uma conversa muito difícil. Ela contou para
ele que tinha se convertido e que tudo seria diferente dali em diante.
Assim, colocou um ponto final naquela relação extraconjugal. Ela es-
tava determinada a recomeçar a vida seguindo a Cristo. Porém a Na-
zareth, mais uma vez, não ficou nada contente com a decisão da filha.

Discernindo a voz de Deus

O nosso próximo passo era visitar a Carina no hospital. Ela per-


manecia internada, frágil e sem a menor perspectiva de melhora. En-
quanto eu orava, ouvi uma direção muito clara. Eu sabia que vinha de
Deus. Aquela voz poderosa, que eu sempre sentia falar comigo, disse
as seguintes palavras:
“Tire a Carina do hospital e a leve para casa. Cuide muito bem
dela. Essa menina vai viver durante um ano, e muitas pessoas se con-
verterão. Pessoas que se tornarão pastoras, missionárias, obreiras, me
conhecerão por causa dessa história. Mas depois de um ano Eu a leva-
rei. Enquanto isso, cuide da flor do Meu jardim.”
Ouvi tudo isso com temor. Era uma atitude muito séria retirar
aquela criança da UTI, onde recebia os melhores cuidados disponí-

115
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

veis, onde estava ligada a aparelhos que a mantinham viva, para levá-
-la para minha casa. Nós não tínhamos a menor estrutura para cuidar
da Carina, mas eu já estava conseguindo discernir bem quando era
Deus falando e quando era apenas um pensamento meu.
Conversei com minha mãe contando todos os detalhes, mas ela
achou que seria uma loucura enorme pedir a alta e assumir a respon-
sabilidade de cuidar de uma criança tão doente. Então, expliquei que
estava buscando a Deus por uma direção específica, para saber como
agir com a menina, e eu tinha convicção de que foi o Senhor quem
falou comigo. Eu não seria capaz de inventar uma maluquice daquela.
Tinha que ser algo do céu! Mas antes de fazer qualquer coisa, decidi-
mos ligar para a tia Nó. Quando ela atendeu o telefone e me ouviu,
respondeu:
“Faça como Deus orientou. O Senhor também falou comigo. Ele
me disse para você conduzir dessa forma.”
Senti o meu coração se encher de ousadia. Fui encorajada pela
minha tia, que sempre foi um referencial para mim, a seguir com os
meus planos. Deus estava nisso. Eu tinha certeza! E depois dessa con-
firmação, minha mãe também creu.
Você deve estar se perguntando como eu tenho convicção quando
é o Senhor que está falando comigo. Bem, preciso deixar claro que é
algo muito pessoal e que não existe um método exato, uma cartilha a
seguir. O que posso dizer é que eu não copiei nenhuma prática e nem
imitei o que alguém fazia. Eu buscava a presença de Deus intensamen-
te, tinha uma rotina de oração, jejuava com frequência e lia muito a
Bíblia. Essa minha vida com Deus, o meu relacionamento com Ele,
me levaram a ter discernimento espiritual. Quando tudo começou,
nesses primeiros meses após o arrebatamento, eu era muito jovem e
não tinha noção do que estava acontecendo comigo e ao meu redor.
Mas busquei de tal forma que aprendi a reconhecer aquela voz pode-
rosa falando ao meu espírito.
Eu sei que algumas pessoas fazem as coisas pela própria cabeça achan-
do que é só falar “em nome de Jesus” que tudo fica certo. Mas eu aprendi a
ter muito temor pelo Senhor e por tudo que envolve a Sua obra. E aprendi
também que quando é Deus falando diretamente com os Seus filhos, não
resta a menor dúvida no espírito de quem tem intimidade com Ele. Outra
coisa importante é que o Senhor jamais nos orienta a fazer algo que vai

116
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

contra o que está escrito na Bíblia, porque Ele não contradiz a própria
Palavra. Então, se você quer aprender a ouvir a voz de Deus, a discernir
o que vem dEle, passe tempo em Sua presença, invista seus dias nisso,
busque-O com sinceridade e de todo coração. Não se esqueça de que só
reconhecemos a voz daqueles com quem temos intimidade.
Com toda essa convicção, eu tinha que falar com a Malu. Eu não
sabia qual seria a reação dela ao escutar que Deus me orientou a reti-
rar a Carina do hospital naquele quadro tão crítico. Mas o mais difícil
seria dizer que a menina viveria apenas por um ano e que havia um
propósito do Senhor nisso. Orei com a minha mãe e com a tia Nó
antes de ter essa conversa tão delicada.
Malu me ouviu e aceitou tudo o que Deus me disse. Ela concordou
em procedermos daquela forma, e por mais difícil que fosse saber que
a filha não teria uma vida longa, ela se lembrou da oração que fez
quando aceitou a Cristo – e teve paz. Com essa certeza, partimos para
o hospital. Malu pediria à equipe médica para liberar a Carina. E ain-
da tinha um detalhe: o Senhor me falou que ela deveria assinar a alta
da filha de joelhos.
Chegamos lá com a Nazareth gritando. Ela me chamava de louca,
de maluca e tudo o mais que você puder pensar. Ela não aceitava nada
do que estávamos fazendo; para começar, não concordava com a con-
versão da filha e com nenhuma atitude que ela tomou depois disso.
Estar perto da Nazareth era extremamente difícil, porque ela fazia de
tudo para tumultuar. Era sempre uma prova.
Quando encontramos o médico responsável pela Carina e expli-
camos o nosso plano, ele ficou revoltado. Usou todos os argumentos
possíveis para que a Malu mudasse de ideia, mas ela estava firme, con-
victa de que essa era a vontade de Deus.
“Vocês não podem estar falando sério!” – o médico falou para nós.
“Doutor, eu agradeço por tudo o que vocês fizeram pela Carina,
mas estou falando sério sim. Eu vou sair daqui hoje levando a minha
filha comigo.” – a Malu respondeu.
“A Carina não vai sobreviver fora da UTI. Vocês vão matá-la. Não
posso aprovar esse pedido nem apoiar essa decisão.”
“Doutor, eu entendo a sua preocupação, mas não vou mudar de
ideia. Deus nos disse para levar a minha filha embora daqui, e nada
vai me convencer do contrário.”

117
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

O médico estava indignado, a Nazareth revoltada, e eu orava num


canto sem parar. Eu sabia que tudo parecia uma maluquice, mas a
Bíblia nos diz que as coisas de Deus parecem loucura para o homem.
Eu estava convicta, a Malu também, e não arredaríamos o pé até a alta
da Carina ser assinada.
“Tudo é culpa daquela mulher!” – a Nazareth gritou apontando o
dedo para mim. “Ela está fazendo a cabeça da minha filha! Essa louca
apareceu nas nossas vidas para acabar com tudo! Tirem ela daqui agora!”
Nazareth não queria nem saber se estávamos em um hospital, onde
a ordem é falar baixo para não incomodar os pacientes. Ela berrava coi-
sas horríveis contra mim e contra Deus. Mas a Malu se manteve firme.
“Mãe, a Ezenete não vai sair daqui. Ela vai ficar comigo. Nós vamos
levar a Carina embora juntas. Deus nos falou para fazer isso, e eu não
vou desistir.”
“Vocês são irresponsáveis!” – agora era o médico quem gritava
apontando o dedo para nós. “Vocês duas são loucas! Se essa menina
morrer em 24 horas, eu vou acabar com vocês. Eu prometo que vou
gastar cada centavo que eu tenho na vida, todo o meu dinheiro, para
persegui-las e colocá-las na cadeia! Eu posso ficar pobre, mas vocês não
sairão impunes! Se a mãe da paciente realmente quer fazer essa loucura,
eu não posso impedir, mas torçam para essa menina não morrer. Senão
eu vou dedicar a minha vida para acabar com a de vocês.”
Ouvimos essas ameaças e entendemos a preocupação do médico.
Ele queria o melhor para a paciente que lutava para sobreviver, mas
estávamos seguindo as orientações do Médico dos médicos. Malu não
se intimidou:
“Tudo bem, doutor. Onde eu assino para levar a minha filha para casa?”
Malu assinou a alta de joelhos, conforme o Senhor me mostrou.
Saímos de lá com aquela bebezinha embrulhada nos braços da mãe.
Ela era tão frágil e pequena! Aos olhos humanos, realmente estávamos
indo contra todo o bom senso, mas não nos preocupamos. Se Deus
prometeu que a Carina iria sobreviver por um ano, ela com certeza
não morreria nas próximas 24 horas. O médico não precisaria nos
perseguir e nem gastar nem um centavo para nos prejudicar.
Levei a Carina para a casa da minha família. Malu permaneceria
onde morava, mas a partir daquele momento passaria bastante tempo
conosco. Meus primos, que agora eram meus irmãos, as receberam

118
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

com muito carinho, assim como meus pais. Na nossa casa todos eram
crescidos, então não tínhamos nada para cuidar de um bebê, mas con-
seguimos arrumar um berço e tudo o que seria necessário. Deus tam-
bém colocou em nosso caminho profissionais de saúde cristãos que
vinham com frequência acompanhar a pequena.
Nazareth estava sempre presente, criando todo aquele tumulto ha-
bitual. Quando ela aparecia para fazer visitas, gritava, berrava, me in-
sultava e ficava endemoninhada. Era terrível. Ela vinha para ver a neta
e tomar café conosco, mas tinha acessos de fúria sempre que aparecia.
Era um verdadeiro tormento.

Prova com Deus

Certo dia a Carina estava queimando de febre. Ela já tinha uns três
meses, e dentro do possível estava se desenvolvendo bem. Os queri-
dos médicos enviados por Deus estavam sempre por perto, e a Malu
permanecia firme no Senhor. Mas naquela tarde de sábado a febre
não cedia. Dei remédios e fiz tudo o que estava ao meu alcance para
ajudar, porém o corpinho da Carina continuava pelando. Foi nessa
situação que a Nazareth resolveu fazer uma de suas visitas. Quando
ela pegou a menina no colo e viu que a neta estava com 40 graus de
febre, começou a gritar:
“Eu disse que vocês iam matar a minha neta! Eu vou levar ela em-
bora daqui agora! Ela precisa de cuidados médicos, e vocês são duas
loucas irresponsáveis! Esse seu Deus não faz nada. Ele não curou a
Carina até hoje, e ela vai morrer por causa de vocês!”
Eu entendia a preocupação dela, como avó, mas não aguentava
mais ouvir os insultos, os berros, as ofensas e blasfêmias. Naquele mo-
mento orei em espírito e falei com o Senhor no meu coração: “Eu
preciso de um milagre agora”.
“Nazaré, eu não sirvo a um Deus falso. Meu Deus é poderoso, ver-
dadeiro, ama a vida da Carina. Ele ama você e vai fazer um milagre
hoje. Você verá! Me dê apenas dez minutos que a febre vai embora.”
Ela debochou da minha fé na minha cara, mas peguei a menina no
colo, entrei com ela no quarto, junto com a minha mãe e com a Malu,
e começamos a clamar:
“Deus, essa mulher fala absurdos! Ela está duvidando de Ti, de

119
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

quem o Senhor é, do Seu poder. Mas eu sei que o Senhor é poderoso


para curar a Carina e para operar um milagre agora mesmo. Eu te
peço, em nome de Jesus, para levar essa febre embora. Abaixe a tem-
peratura do corpo da Sua filha nos próximos dez minutos. Ela é uma
flor do Seu jardim!“
Olhei para o relógio, marquei o tempo e continuei orando. No pri-
meiro minuto, nada aconteceu. Carina continuou queimando de fe-
bre sem esboçar o menor sinal de melhora. Quatro minutos depois a
temperatura caiu um grau. Mas não era suficiente. Ela precisava ceder
mais! Clamei com toda intensidade, crendo que o Senhor não seria
envergonhado. Mais um minuto se passou e agora ela estava com 37,5
graus. Ainda era considerado estado febril, e eu tinha convicção de
que a Carina estaria com a temperatura do corpo normal quando a
levasse para ver a avó. Clamei novamente a Deus, e quando olhei para
o relógio nove minutos tinham se passado. Coloquei o termômetro no
corpinho dela, e para a glória do Senhor, o aparelho marcou 36 graus.
Saí do quarto sorrindo e muito grata porque Ele me ouviu.
“Nazareth, Deus não precisou nem de dez minutos para curar a
Carina. Pode conferir. A febre foi embora.”
Eu queria pular de alegria, porque o Inimigo desafiou o Senhor e
foi envergonhado. Deus poderia ter feito a febre ceder antes mesmo
da Nazareth chegar, mas Ele queria que ela visse um pouquinho da
Sua glória. Ainda desconfiada, ela pegou o termômetro e conferiu,
pessoalmente, a temperatura.
“Você quebrou o termômetro.” – ela disse com um olhar de des-
confiança. “Você acha que eu sou boba?”
“Não quebrei, não! Ele está inteiro e funcionando perfeitamente!”
– retruquei.
“Então vou conferir a temperatura dela com o meu próprio termô-
metro.” – falou enquanto retirava o que ela trazia de dentro da bolsa.
“Sem problemas. Por favor, confira. Deus operou mais um milagre
na vida da Carina, e você não pode negar isso.”
Nazareth pegou a neta no colo, colocou o termômetro no corpinho
da menina e, para a glória do Senhor, constatou que de fato a febre
havia cedido totalmente. Mas isso não foi suficiente para que ela reco-
nhecesse o poder de Deus e aceitasse a Cristo. Ainda tínhamos uma
caminhada longa pela frente.

120
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

Porém, eu já estava exausta de lidar com todo o tumulto que


acontecia sempre que ela aparecia. Era muito desgastante ter que
conviver com a Nazareth. Impaciente, decidi que não aceitaria mais
seus desaforos.
“Você vai sair da minha casa agora! Se você voltar, eu é que vou
chamar a polícia! Nazareth, eu não aceito mais você aqui. Essa casa é
de Jesus Cristo; sua filha e sua neta estão sendo bem cuidadas. Estou
tolerando a sua grosseria e suas ofensas há meses, mas agora acabou.
Se você quiser ver a Carina, nós a levaremos até onde você estiver.
Aqui você não entra mais! Vou continuar orando pela sua vida, mas
cansei dos seus desaforos.”
Ela se assustou comigo, mas foi embora. Respirei aliviada. Eu sabia
que um dia ela se converteria, afinal Deus também tinha nos prome-
tido isso, mas eu não estava mais disposta a manter a porta da minha
casa aberta para alguém que sempre tumultuava nossas vidas e blasfe-
mava contra Deus. A Malu entendeu minha postura e respeitou.
Carina continuou conosco, sendo cuidada com muito carinho.
Enquanto isso, Malu frequentava sempre a nossa casa, sendo discipu-
lada, amadurecendo e crescendo em Deus. Ela participava das nossas
reuniões de oração, dos cultos e das vigílias que fazíamos todas as
sextas-feiras. Ela não dava ouvidos às bobagens que a Nazareth falava,
e orava sem cessar. A Malu sabia que a filha viveria por pouco tempo,
mas isso não abalava a sua fé. Ela queria desfrutar o máximo que pu-
desse da companhia da pequena.

A Carina está morrendo

Certo dia estávamos todos reunidos na cozinha conversando tran-


quilamente. Carina tinha cinco meses e estava deitada no carrinho, com
alguém sempre de olho nela. Pouco tempo antes, além da meningite ela
foi diagnosticada com hidrocefalia, uma doença que acumula líquido no
crânio e faz com que a cabeça cresça prejudicando todo o desenvolvi-
mento. Ela continuava sendo acompanhada pelos médicos, que iam até
nossa casa, e sabíamos dos cuidados extras por causa do novo problema.
Mas de repente, ela começou a ter uma crise convulsiva. Rapidamente
começamos a orar, clamando a Deus por vida, e chamamos a pediatra.
Enquanto a médica não chegava, travamos uma batalha espiritual.

121
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Deus, o Senhor me disse que a Carina viveria por um ano. Esse


período ainda não chegou ao fim! Eu creio nas Suas promessas, e ela
não vai morrer hoje.”
A médica veio o mais rápido que pôde. Pegou a menina no colo
e começou a procurar a pulsação. Os batimentos cardíacos estavam
muito fracos e ficavam mais lentos a cada minuto.
“Ezenete, a Carina está morrendo. O pulso dela está sumindo.”
“Não! Ela não vai morrer. O Senhor disse que ela viveria por
mais tempo. Vamos continuar orando, clamando pela cura, em
nome de Jesus!”
A Malu ficou muito abalada. Por isso, se retirou e foi orar no quar-
to, sozinha. Para ela era muito difícil ver a filha tão pequena passar
por tanta dificuldade. Então, mesmo sem ver, ela clamava com todas
as forças por mais um milagre na vida da pequena.
“Ezenete, a pulsação diminuiu mais um pouco. A Carina não está
bem, e não sei se ela vai resistir.”
A médica estava fazendo tudo o que podia. Massageou o coração-
zinho da menina e, com todo cuidado e dedicação, tentava salvar a
vida da paciente. Enquanto isso, nós orávamos por um milagre. Mais
um na vida da pequena guerreira. Naturalmente falando, não podía-
mos fazer mais nada. Mesmo que quiséssemos correr para o hospital
mais próximo, em busca de socorro, não daria tempo. Os batimentos
cardíacos estavam desaparecendo a cada segundo.
Por fim, a Carina desfaleceu nos braços da médica. A cabecinha
tombou no colo da pediatra. Ela checou a pulsação e, com muito pe-
sar, anunciou:
“A Carina morreu.”
Não. Eu não acreditava nisso. Eu não podia crer que a promessa
do Senhor não iria se cumprir. Deus não mente! Ele deu um ano
de vida à Carina, e nós críamos que ela viveria pelo tempo que Ele
prometeu. Não iríamos desistir. Continuamos orando com todas as
nossas forças.
“Deus, o Senhor nos prometeu um ano de vida. Não aceito que a
Carina viva nem um dia a menos do que o Senhor determinou. Nós
ministramos vida para a Carina. Ela é a Sua filha, a florzinha do Seu
jardim! Não está na hora de ela partir. Nós cremos que o Senhor vai
operar mais um milagre na vida dessa menina. Em nome de Jesus!”

122
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

Cerca de vinte minutos se passaram, e ela sem nenhuma pulsação.


O corpo já estava ficando frio, com as extremidades azuladas. Ela não
respirava, o coração não batia, não havia o menor movimento que nos
desse uma gota de esperança. Humanamente falando a médica nos
disse várias vezes que não tinha nenhum sinal de vida naquele corpi-
nho tão pequeno. Mas eu não iria desistir até que Deus me mandasse
parar. Eu clamaria até perder a voz, se preciso fosse.
“Deus, traga a Carina de volta! A vida da Carina pertence ao Se-
nhor! Eu acredito que veremos pessoas se converterem a Ti por causa
desta história, deste milagre! Eu creio nas Suas promessas!”
No meio das minhas orações, de repente, ouvi em meu espírito:
“Ligue o ventilador.”
Não pensei duas vezes: liguei. E até hoje não sei por que Ele me
direcionou a fazer isso. Continuei orando, e nada aconteceu. Em se-
guida ouvi outra direção:
“Cubra o corpo da Carina.”
Imediatamente peguei uma manta que estava no carrinho e a cobri
por inteiro, inclusive o rosto. Apertei aquele corpo que estava ficando
cada vez mais frio no meu colo e continuei a clamar:
“Deus, eu vou obedecer custe o que custar. A Carina é Sua filha!
O Senhor nos prometeu que muitas pessoas converteriam durante o
período em que ela vivesse, e ainda não vimos isso acontecer. Eu creio
que as Suas palavras não voltam vazias e acredito no Seu milagre. A
Carina vai reviver, em nome de Jesus!”
Começamos, então, a cantar em agradecimento a Deus pela vitó-
ria, ainda que a menina continuasse gelada.
“Agora descubra a menina.” – aquela voz ordenou.
Segui a direção novamente, sem questionar. Malu havia saído do
quarto e estava conosco novamente clamando pela vida da filha. Ime-
diatamente a Carina fez um leve movimento, como um reflexo invo-
luntário. Comecei a gritar na hora, chamando a atenção da médica,
mas ela me disse que poderia ser apenas uma reação normal do corpo,
que isso não significava que ela estava viva. Para tirar a dúvida, procu-
rou novamente qualquer sinal de batimento cardíaco e não encontrou.
“Ezenete, a Carina está morta. Não tem pulsação.”
“Não. Ela vai reviver! Deus me disse que ela viveria por um ano!”
Continuamos a clamar por mais vinte minutos, até que aos poucos

123
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

o corpo foi se aquecendo, a pulsação foi retomando bem devagar, a


Carina foi recobrando a cor. Finalmente ela moveu os braços, as per-
nas e abriu os olhinhos. A cada mínimo sinal de vida, nós glorificamos
o nome do Senhor e proclamamos a vitória!
Foram quarenta minutos de oração ininterrupta até que ela reco-
brasse todo o fôlego e chorasse no meu colo. A pequena guerreira
venceu mais uma batalha. O Senhor cumpriu a promessa, e a menina
voltou a viver. Novamente contemplamos um milagre naquela bebê
tão frágil, mas tão valente.
Ao ver a filha voltar a respirar, Malu a tomou nos braços. Ela
embalava a menina, beijava e agradecia a Deus. Ela sabia que a filha
nunca seria uma criança como as outras, mas reconhecia que o Se-
nhor estava operando maravilhas. E ainda veríamos muitas pessoas
se converterem como fruto dessa história. Inclusive a Nazareth. Essa
era a promessa.

Um minuto para Deus agir

O tempo passou, e certo dia a Malu nos fez um pedido: “Vai ter a
vigília aqui na sexta-feira, e eu queria muito convidar a minha mãe.
Posso chamá-la?”
Estávamos orando pela conversão dela, então concordei: “Tudo
bem, Malu. Se ela for se comportar, pode convidar.”
“Muito obrigada!” – ela respondeu com um enorme sorriso, sem
esconder a alegria. “Vou chamá-la agora mesmo para tomar café co-
nosco. Ela adora o bolo da Eurídes, e será uma ótima desculpa para
ela participar da vigília!”
Respirei fundo, orei e me preparei para receber novamente aquela mu-
lher em nosso meio. Nazareth chegou na hora marcada dizendo que só
tinha ido por causa do bolo da minha mãe. Ela realmente gostava dele.
“Eu vou ficar só até o café. Depois vou embora.” – já informou an-
tes mesmo de nos cumprimentar.
A vigília começava por volta da meia-noite, e sempre fazíamos um
intervalo rápido para o lanche por volta das duas horas da manhã. Esse
foi o prazo que ela tinha estipulado para partir. Decidi que não iria me
preocupar com a Nazareth e iria aproveitar a vigília. Se Deus a tinha le-
vado, Ele tinha um propósito. Pelo menos ela não gritou com ninguém.

124
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

Oramos, cantamos e mergulhamos na presença do Senhor. Como


era gostoso ficar ali, entregue no meio da glória de Deus. Nossas reu-
niões atraíam muitas pessoas que tinham sede por mais de Jesus, e
juntos desfrutávamos de um ambiente sobrenatural.
No meio desse clima maravilhoso, a Nazareth começou a se sentir
mal. Ela estava sem lugar, agitada, e decidiu ir embora. Mas, antes de
se levantar para sair, ela se ajoelhou e falou com Deus, bem baixinho,
de um jeito que ninguém poderia ouvir:
“Deus, se você quiser fazer qualquer coisa na minha vida, você tem um
minuto para isso. Esse é o tempo que te dou para provar que você é real.”
De repente, do outro lado da sala, a tia Elisa falou, num tom de voz
alto, para que todos ouvissem:
“Deus não precisa de um minuto.”
Ela não tinha ouvido o que a Nazareth disse ao Senhor, porque as
duas estavam assentadas em lugares distantes, sem o menor contato.
A Nazareth sabia, por isso arregalou os olhos e começou a chorar. Re-
conhecendo que essa era a prova que precisava, ela caiu de joelhos na
sala da nossa casa. Que noite poderosa! Eu mal acreditei quando vi a
Nazareth rendida aos pés do Senhor.
Imediatamente começamos a clamar por ela, e a conduzimos a fa-
zer a oração de arrependimento, recebendo a Cristo. Ela confessou
Jesus como Senhor e Salvador no mesmo lugar onde inúmeras vezes
O amaldiçoou. Então pediu perdão pelos pecados, pelas blasfêmias, e
recebeu o amor de Deus. Como está escrito na Palavra: Onde abun-
dou o pecado, superabundou a graça! Aleluia!
Naquela noite não paramos para tomar café, e ela nem provou o
bolo da minha mãe. Mas Nazareth finalmente se assentou à mesa de
Deus para um banquete inesquecível. O céu estava em festa. A primei-
ra conversão por causa do testemunho da Carina aconteceu.
Ela foi salva, liberta e se transformou em uma outra mulher. Ina-
creditavelmente nos tornamos amigas. Era uma nova criatura, e nin-
guém podia negar isso. Sua aparência mudou, o jeito de falar era ou-
tro; em nada ela lembrava aquela pessoa arrogante que nos perseguiu
por tantos meses. Malu transbordava de gratidão pela conversão da
mãe. Ela sabia que as promessas de Deus estavam se cumprindo. Ver
Nazareth ao pé da cruz foi apenas uma delas. Nunca mais ouvi aquela
mulher gritar na minha casa ou em qualquer lugar.

125
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Chegou a hora de colher a flor do Meu jardim”

Quando Carina completou sete meses, Malu e Nazareth a levaram


de volta para casa. Eu sabia que o período em que ela deveria perma-
necer morando comigo, com meus pais e irmãos, havia se cumprido.
Deus agora continuaria operando os Seus milagres e restituindo aque-
la família no lar delas.
As duas mulheres transformaram a casa onde moravam em um
lugar de oração. Elas faziam reuniões, vigílias, cultos e, de fato, mui-
tos se converteram ao conhecê-las. Assim como Deus prometeu,
pessoas perdidas encontraram a Cristo naquele lar onde um dia as
trevas reinaram. Pastores, missionários, obreiros e verdadeiros ser-
vos de Deus começaram a caminhar na fé naquelas reuniões, e cada
palavra que Deus me revelou assim que as conheci se cumpriu. In-
clusive a morte da Carina.
Quando ela completou um ano e quinze dias, Deus me falou que
a permanência dela conosco havia terminado. Os planos dEle para a
pequena guerreira aqui na terra foram realizados. Era tempo de levá-
-la para o lar celestial, onde ela seria livre da hidrocefalia e de todas as
sequelas que carregava em seu corpo frágil e pequeno.
“Chegou a hora de colher a flor do Meu jardim.” – Ele me disse.
“Amém, Senhor...” – foi tudo o que eu pude responder, com muita
gratidão, mas também com uma pontinha de tristeza.
Eu não falei nada com a Malu, mas ela sabia que isso aconteceria
a qualquer momento depois que Carina completasse um ano de uma
vida milagrosa. Ela se lembrava de tudo o que Deus disse antes de
retirá-la do hospital, naquele dia em que fomos ameaçadas, ofen-
didas e criticadas. Deus foi fiel até o fim. Ao contrário de todos os
prognósticos, Carina viveu um ano inteiro cercada de muito amor,
ao lado da mãe, da avó, dos amigos da família que a adotaram no
coração.
Cinco dias mais tarde, a Malu me ligou.
“Ezenete, a Carina amanheceu diferente hoje. Ela está mais parada,
mais quieta. Eu sinto que são os últimos momentos dela conosco. Va-
mos passar o dia agradecendo a Deus por esse ano maravilhoso. Será
nosso tempo de ação de graças. Você gostaria de vir?”
Não foi fácil ouvir aquelas palavras, mas nós duas sabíamos que

126
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

era verdade. Eu não quis estar com elas, pois sabia que avó, filha e neta
precisavam viver intensamente o último período juntas, em família,
se curtindo, se amando, se despedindo e rendendo graças.
Ao final daquele dia, Carina respirou pela última vez e partiu para
o Senhor. Como uma flor no seu esplendor, em seu momento de
maior beleza, foi separada da sua raiz para compor um belo arranjo –
Carina foi colhida, com todo carinho, por Deus, o criador do jardim,
para a Sua glória.
Nunca me esquecerei de como aquela bebê foi usada por Ele
para trabalhar
a minha fé,
para mudar a
vida da mãe
e transformar
para sempre
a história da
avó. Todas as
promessas que
o Senhor tinha
para aquela pe-
quena guerrei-
ra se cumpri-
ram no tempo
determinado.
Um ano foi
suficiente para
ela usufruir da graça de Deus, manifestar a Sua glória e ser usada
por Ele de uma maneira tremenda.
Hoje, Malu e Nazareth são missionárias. Nazareth passou muitos
anos na missão Vale da Benção e depois foi enviada para pregar o
Evangelho na Bolívia. Malu fez seminário e foi servir na Alemanha.
Ela se casou com um homem de Deus, um pastor, e viveu muitos ou-
tros milagres. Hoje as duas contam esse testemunho incrível e conti-
nuam a exalar o bom perfume de Cristo. Elas também são flores do
jardim do Pai celestial e por onde passam deixam as marcas do amor
e o doce aroma de Jesus.

127
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

-------------------------

Palavras da Malu

A Palavra de Deus nos ensina: a quem honra, honra. O mo-


mento mais glorioso da minha vida foi quando recebi a Cristo.
Para isso a Ezenete foi usada como farol, como uma ponte, para
me levar a Ele. O Senhor a colocou no meu caminho na hora
certa, no momento de maior dificuldade, para fazer diferença
na minha história. Nunca poderei me esquecer de que quando
aceitei a Jesus ela acompanhou a mim, e a minha filha, Carina,
por uma jornada dura. Ela estava ali nos dando força e coragem
durante dias árduos. O que ela fez por nós, o preço que pagou em
oração, só Deus pode retribuir. Recebi dela amor e cuidado in-
tensos para que eu crescesse na fé. Ela me ensinou a ser ousada,
corajosa, a amar as almas e a ter disposição para servir, com te-
mor no coração. Com a Ezenete aprendi também a ter uma vida
de oração e jejum. Ela é uma mulher perseverante, de visão e
tive o privilégio de ser uma das suas primeiras ovelhas e filhas na
fé. Sou grata a Deus pela Ezenete, a amo de coração por quem
ela é e por permitir que o Senhor aja em sua vida. Para mim ela
é um exemplo maravilhoso de mulher de Deus.

-------------------------

128
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

13. LOURDES

Relembrar o que Deus fez na vida da minha amiga Lourdes é tra-


zer à memória o poder que Ele tem para transformar completamente
quem se entrega verdadeiramente a Cristo. Se você estivesse ao meu
lado quando a conheci, e fizesse uma comparação de quem é a Lour-
des agora, dificilmente você acreditaria que se trata da mesma pessoa.
Ela é a prova viva de que Jesus transforma água em vinho, maldição
em benção, trevas em luz.
Quando nos encontramos pela primeira vez, ela era uma pessoa
extremamente lasciva. Tinha cabelos curtos, num corte masculino, e
usava maquiagem bem forte, com destaque para um chamativo batom
vermelho. As unhas eram da mesma cor, reforçando a postura altiva e
agressiva. Para completar, ela fumava um cigarro atrás do outro. Por
mais incrível que possa parecer hoje, a Lourdes consumia, sozinha,
mais de dois maços por dia – e exalava aquele cheiro carregado e de-
sagradável da nicotina.
Eu e ela não tínhamos nada que nos ligasse, a não ser um conhe-
cido em comum, que se chamava Jorge. Ele era um homem cristão,
temente a Deus, e sabia que a Lourdes precisava desesperadamente
de Jesus. Às vezes ele frequentava as nossas reuniões e era uma pes-
soa querida na minha casa. Os dois trabalhavam em uma empresa

129
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

que fazia máquinas de fliperama; ele pouco sabia sobre a vida dela.
A Lourdes comandava uma equipe de mulheres que tinham a função
de unir os fios dos equipamentos e os conectar aos circuitos, para que
os jogos funcionassem. O Jorge era o chefe, e o relacionamento dos
dois era unicamente profissional. Mesmo assim ele era uma pessoa
calorosa, atenciosa e buscava conversar sempre com os funcionários.
Porém, vou interromper a história por aqui. Antes de contar como
a Lourdes foi parar na minha casa, levada pelo Jorge, preciso voltar no
tempo para explicar como era a vida desta mulher.

“Eu estava esperando por você”

Lourdes nasceu em uma família muito desestruturada. O pai era


infiel à mulher e manteve uma relação extraconjugal por muitos anos,
causando sérios danos emocionais à esposa e aos filhos. A Lourdes
viu a mãe sofrer calada e, como primogênita, teve que aprender a se
virar. Nunca recebeu amor dentro de casa e não se sentia amparada ou
protegida. O pai a chamava de feia e era extremamente violento com
os filhos. Por isso, um dia ela decidiu:
“Já que eu apanho do meu pai, em casa, na rua ninguém vai encos-
tar um dedo em mim. Quem vai bater sou eu!”
Ela se armou de toda agressividade que pôde encontrar dentro de
si, alimentando o ódio que sentia. O pai a machucava também com
palavras, então a Lourdes transferiu para as roupas toda a sua revolta.
Vestia os shorts mais curtos que podia encontrar. Ela gostava de mos-
trar as pernas grossas e completava o visual com blusas bem justas,
que deixavam a barriga sempre aparente. Tudo para afrontar a família.
Quando o pai a obrigava a se trocar, a Lourdes o enfrentava sem medo
algum. Ele então batia com força nas pernas da filha, como castigo.
Mas ela não se intimidava e fazia questão de sair na rua para exibir a
violência paterna transformada em manchas roxas e vergões.
Ela não teve uma infância feliz, nem adolescência. Apesar de es-
tar sempre vestida com pouca roupa, ninguém mexia com ela na rua.
As pessoas tinham medo da Lourdes e queriam distância, afinal ela
partia para cima de qualquer um sem pensar duas vezes. E batia mes-
mo! Além disso, ela compensava toda falta de amor familiar comendo
guloseimas e refrigerantes. Como consequência, engordou bastante

130
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

e passou a ser ofendida pelo pai também por causa disso. A Lourdes
nunca tinha ouvido falar sobre Jesus e não tinha nenhum contato com
qualquer tipo de igreja. Sabia apenas que Ele foi um homem bom que
morreu em uma cruz. Nada além disso.
Certo dia ela estava em casa e sentiu vontade de ir até o local onde
a amante do pai morava. Mesmo sem entender por que estava fazen-
do aquilo, pegou o endereço e foi. Quando chegou, bateu na porta e
aguardou. Aquela mulher que ela odiava, que era a causa do sofri-
mento de sua mãe e seus irmãos, que trouxe tanta dor a toda a família,
apareceu com um sorriso:
“Eu estava te esperando. Que bom que você veio. Já está na hora de
nos tornarmos amigas.”
Com palavras sutis, ela atraiu a Lourdes que, sem entender como,
entrou naquele lugar. A Lourdes odiava aquela mulher e tudo o que
ela representava, mas de repente se viu envolvida, como se tivesse ca-
ído em uma teia. A visita foi longa, e sem explicação, as duas se tor-
naram amigas. A mulher dizia ser mãe de santo, e naquele mesmo dia
fez algumas orações que a Lourdes não compreendeu. Dali em diante
elas passaram a conviver bastante, se encontrando quase todos os dias.
Tornaram-se confidentes.
Se antes a Lourdes brigava com o pai, depois dessa estranha ami-
zade ela passou a se desentender com a mãe, nutrindo ódio e ressenti-
mento. O clima em casa conseguiu se deteteriorar ainda mais. E, para
piorar, ela começou a defender a mulher, que tinha acabado de conhe-
cer, como se fosse da própria família.
Um dia a amante do pai a chamou para uma conversa muito séria:
“Lourdes, você nunca vai se casar. Você será como eu: amante de
vários homens. Um casamento só vai fazer você perder tempo.”
“Você está louca?” – a Lourdes respondeu.
“Eu estou falando sério. Você precisa ir a uma reunião espiritual
comigo.”
“Não, eu não quero ir. Eu não quero saber de marido, nem de
amante, muito menos de religião.”. A mulher não discutiu. Elas conti-
nuaram a se relacionar e aprofundar aquela amizade estranha.
A Lourdes não sabe explicar como, mas durante esse período, ela
acabou se casando com o Oswaldo, um rapaz que morava no mesmo
bairro. Ela tinha dezenove anos, e ainda guardava dentro de si todo

131
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

ódio e rancor e não era uma pessoa fácil de conviver. O curioso é


que a Lourdes e o Oswaldo não eram amigos, nem se falavam, mas de
uma hora para outra foram se aproximando. Quando ela assustou,
ele a pediu em casamento, e eles assinaram os papeis para começar
uma família. Foi tudo muito rápido, e ninguém entendeu como aquilo
aconteceu. Mesmo não apoiando o relacionamento, a amante do pai,
preparou o enxoval e tudo o que foi necessário para a união. Assim
que a cerimônia acabou, aquela mulher pediu para a Lourdes entregar
o vestido de noiva, o sapato, a bolsa e o buquê.
“O que você vai fazer com as minhas coisas?” – a Lourdes perguntou.
“Eu estou indo para Santos e vou levar para a praia. Vou dar tudo para
Iemanjá. Você está perdendo tempo com esse casamento, eu já te disse.”
Sem entender nada, a Lourdes simplesmente entregou nas mãos da
mulher as peças que foram pedidas. Quando conversamos sobre esse as-
sunto, tempos depois, ela me disse que agia como um robô debaixo da
influência maligna da mulher. Era como se ela não tivesse vontade própria
– se comportando de forma automática, sem opinião, sem decisão.
Poucos dias depois disso, a Lourdes começou a desmaiar à toa. Ela
sofria apagões e caía. Sentia um mal-estar terrível durante o dia intei-
ro e nada do que fazia a ajudava a melhorar. Sem nenhum relaciona-
mento com a mãe, ela foi se aconselhar com a amante do pai:
“Eu estou me sentindo muito mal. Estou tendo uns desmaios que
nunca tive antes. Alguma coisa está errada. Não sei mais o que fazer!”
“Eu sei o que está acontecendo.” – a mulher respondeu. “Venha comigo.”
Os desmaios não paravam, e a Lourdes não tinha explicação de ne-
nhum médico para aquilo. Cansada, se rendeu à insistência da mulher
e foi até o lugar indicado. Assim que elas chegaram ao endereço, uma
casa escura, cheia de gente e com forte cheiro de incenso, um homem
incorporou um espírito maligno. Ele olhou para a Lourdes, como se a
conhecesse de longa data, e disse:
“Eu estava esperando por você.”
De repente, aquela pessoa que nunca a tinha visto na vida come-
çou a falar as mesmas coisas que a mãe de santo:
“Você não é mulher de um homem só. Você foi escolhida para ser
amante de vários homens.”
“Você está enganado. Eu sou casada.” – a Lourdes retrucou com
pouca paciência.

132
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

“Eu sei que você é casada, mas precisa se separar do seu marido.
Você precisa ficar aqui conosco e começar a se relacionar com os pais
de santo.”
“De jeito nenhum!” – ela respondeu cada vez mais irritada. “Nessa
espelunca eu não fico. E também não quero me deitar com esse pai de
santo horroroso!”
O homem continuou olhando para ela, assim como as pessoas
ao redor.
“Você tem passado por uma série de desmaios, não é verdade?”
– ele perguntou com o mesmo tom de voz, sem que ela tivesse men-
cionado esses episódios.
“Sim, eu tenho apagado do nada, e é por isso que estou aqui.”
“Então, você precisa entender que são os espíritos te solicitando.
Você não pode fugir. Você precisa parar de resistir a eles. Essa é a sua
oportunidade. Se você não atender a esse chamado, não sei o que pode
acontecer com a sua vida.”
A Lourdes ficou muito assustada. Ela se sentiu ameaçada. Com
muito medo daquele homem que falava possuído por um espírito, ela
pensou nas opções que tinha. Com as pernas tremendo e a barriga
gelada, ela se viu completamente sem saída. Se aquele era o único ca-
minho para todo o mal-estar ir embora, para os desmaios acabarem,
para ela voltar a ter controle sobre o próprio corpo, então aceitaria a
proposta assustadora. Mas com algumas condições:
“Eu faço o que vocês quiserem, mas eu não vou me separar do
meu marido. Também não quero ficar aqui e não vou dormir com
ninguém.”
“Tudo bem” – o homem respondeu com o mesmo tom de voz calmo,
olhando sempre para ela e esboçando um sorriso. “Não tem problema.
Podemos começar assim. Mas vamos te iniciar nos nossos rituais. Para
isso você precisa fazer a cabeça, que é como nós chamamos esse pacto.
Assim que você completar o ritual, os desmaios vão acabar.”
“Tá bom” – ela respondeu muito séria. “Eu faço a cabeça como
você quer e continuo com o meu marido.”
A amante do pai, que acompanhou todo o diálogo, sorria discretamente.
“Ok. Você faz a cabeça e permanece com o seu marido, já que é a
sua condição.”
Em seguida, o homem explicou o que seria feito e como o ritual

133
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

funcionaria. Ele orientou a Lourdes a comprar, ali mesmo, algumas


coisas que seriam usadas no pacto de iniciação.
“Já que você entendeu como tudo vai funcionar, vamos marcar
para amanhã à noite aqui mesmo. Mas, atenção: você não deve contar
nada disso a ninguém, especialmente ao seu chefe. Precisa ser um se-
gredo entre nós.” – alertou o homem.
“Tudo bem. Eu não vou falar nada. Prometo.”
Lourdes me contou que saiu dali muito assustada, sem saber se
tinha tomado a decisão certa. Ela se sentia perdida, triste e sozinha.
Não conhecia ninguém a quem poderia recorrer; só tinha a amante do
pai como amiga e o marido, que não fazia a menor ideia do que esta-
va acontecendo. Ela nem questionou o motivo pelo qual não poderia
contar sobre essa reunião com o chefe. O que o Jorge poderia ter a ver
com aquilo? Eles nem eram amigos.
Outra coisa que a Lourdes não sabe explicar é que ao vê-lo, no dia
seguinte, no trabalho, ela sentiu vontade de contar tudo o que aconte-
ceu na noite anterior. Como Jorge era um homem de Deus, percebeu
imediatamente a seriedade da situação em que Lourdes havia se metido
e sentindo a direção do Senhor, rasgou o verbo sem poupar palavras:
“Lourdes, você não vai voltar nesse lugar. Se você colocar seus pés
lá de novo, você vai fazer um pacto com Satanás, vai ficar presa pela
sua decisão. Em vez disso, você vai comigo a um culto hoje à noite.
Deus tem um plano para a sua vida.”
“Plano para a minha vida? Você tá doido! Eu não vou a nenhum
culto com você. Eu bato nas pessoas no meio da rua, eu falo palavrão
toda hora e ando quase sem roupas, e você sabe disso. Deus não se
lembra que eu existo!”
“Ele se lembra sim, Lourdes.” – afirmou o Jorge, preocupado.
“Tá, eu não acredito nisso. Mas se você diz que Deus se lembra de
mim, como é que eu faço para entrar num lugar desses com você? Eu
não tenho roupa nenhuma, só ando pelada! Tudo o que eu tenho é
curto e decotado. Não tenho nada para vestir.”
“Roupa não é prioridade. O que importa é que você vá comigo ao culto
nesta noite. Chame o Oswaldo também. Eu sei que vocês vão gostar.”
Lourdes acabou cedendo ao apelo do chefe. Falou com o marido, e
ele concordou. Mas antes de saírem de casa para ir à reunião, ela ligou
para a amante do pai.

134
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

“Eu não vou ao centro hoje à noite.”


“Não? Como assim? Você já comprou tudo para fazer a cabeça.
Hoje é um dia importante, você não pode faltar.”
“Eu sei, mas o meu chefe me chamou para ir a um culto com ele.”
“Culto? Você está fora de si? Você não vai a culto nenhum. Você vai
ao centro servir os orixás. Você ouviu o que o espírito te disse ontem
e não pode mudar de ideia!”
“Eu sei o que ouvi ontem, mas não posso recusar um convite do
meu chefe. Eu e o Oswaldo vamos com ele e depois eu te conto o que
aconteceu.”
Elas desligaram o telefone, e a Lourdes seguiu com o marido para
o culto, que foi realizado na casa de uns irmãos de uma igreja batista
tradicional que o Jorge frequentava. A reunião foi normal. Os irmãos
cantaram, oraram e compartilharam a Palavra.
“Culto é isso? Só isso?” – a Lourdes perguntou quase indignada.
“Culto também é isso, mas não é só isso. Vou te levar em um lugar
diferente. Quero que você conheça umas amigas minhas. Que tal?”
Ela parou, pensou e foi movida pela curiosidade: “Não é possível
que culto seja só o que eu assisti. Eu vou conhecer essas mulheres.
Fazer a cabeça pode esperar. Tudo bem, eu vou com você” – ela res-
pondeu com o apoio do marido.
Mas antes deles voltarem para casa, uma irmã muito abençoada,
chamada Valdeci, começou a orar. Ao ouvir as primeiras palavras, a
Lourdes caiu endemoninhada. Foi terrível. Os irmãos daquela comu-
nidade não estavam acostumados àquele tipo de situação. O Oswaldo
ficou muito assustado, porque nunca tinha visto a mulher daquele jei-
to. Mas a irmã Valdeci e o Jorge não se intimidaram e entraram com
tudo na batalha espiritual. Eles repreenderam os espíritos malignos e
expulsaram os demônios que manifestaram. Quando a Lourdes vol-
tou a si, não se lembrava de nada, mas percebeu que estava toda desca-
belada, com as roupas desajeitadas. Ela tinha machucados e hemato-
mas pelo corpo. Não entendeu o que tinha acontecido, mas percebeu
as pessoas olhando para ela de um jeito estranho.
“Jorge, o que aconteceu? Oswaldo, por que eu estou assim?”, ela
perguntou para as únicas pessoas que conhecia. “Eu não me lembro
de nada”, a Lourdes confessou visivelmente assustada.
“O que aconteceu aqui foi muito sério. Amanhã você precisa ir co-

135
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

migo na casa de duas irmãs de oração. Eu acredito que elas podem te


ajudar. Elas vão te explicar melhor.” – o Jorge respondeu preocupado.
E foi assim que a Lourdes, o Oswaldo e o Jorge chegaram a minha casa.

O diabo veio para matar, roubar e destruir

No dia seguinte, o Jorge me ligou e contou toda a história.


“Ezenete, você sabe que eu sou de uma igreja tradicional e não sei
muito bem como explicar para a Lourdes o que aconteceu com ela.
Seria muito bom se você pudesse recebê-la para orar e conversar. Mas
não se preocupe, nós expulsamos os demônios, e ela foi liberta. Você
pode ficar tranquila.”
“Jorge, eu vou recebê-la sim, mas não acredito que ela foi liberta.
Pelo que você me contou, o caso envolve castas de demônios. Mas
você pode trazê-la aqui em casa amanhã.” – eu disse a ele.
“Obrigado, Ezenete. Estaremos aí!”
No dia seguinte, uma sexta-feira pela manhã, a Lourdes apa-
receu na nossa porta acompanhada pelo Oswaldo e pelo Jorge. Eu
e minha mãe estávamos sozinhas, mas já com muitas expectativas
pelo que Deus iria fazer. Eu arrumava a casa para meu aniversá-
rio, que seria no dia seguinte, e interrompi os afazeres para aquele
encontro. Assim que o Jorge os apresentou, comecei a falar sobre
o amor de Deus. Contei minha história de cura e percebi que os
demônios que acompanhavam a Lourdes ficaram todos do lado de
fora da casa. Eles não passaram pela porta, pois antes já tínhamos
feito uma oração pedindo para Deus selar todo o ambiente. Mas
de repente, quando eu falei que o Senhor havia me escolhido para
libertar os cativos e repreender as forças malignas na vida das pes-
soas, a Lourdes ficou possessa.
Foi uma das minhas primeiras experiências desse tipo. Ela ficou
muito violenta e começou a querer quebrar tudo o que via pelo cami-
nho. Inicialmente eu não soube o que fazer, como reagir, mas me lem-
brei de uma das coisas que Deus me disse durante o arrebatamento.
Enquanto passeávamos pelas montanhas aveludadas, Ele me mostrou
a luta entre seres demoníacos. Aquela imagem horrível eu nunca vou
esquecer, nem o que Ele disse:
“As trevas são assim. Mas eu venci. Eu venci o Inimigo, vou vencê-

136
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

-los na sua vida também, e você vai triunfar. Eu vou te dar ousadia e
coragem, e eles se sujeitarão a você.”
Logo fui encorajada pela lembrança daquela experiência incrível.
Eu não precisaria temer, porque Jesus me disse que eu iria triunfar.
Guiada pelo Espírito Santo, liberei uma palavra de comando para o
mundo espiritual:
“A vida da Lourdes pertence ao Senhor Jesus. Eu repreendo todo espí-
rito maligno agora! Eu amarro, em nome de Jesus, todos os demônios que
estão agindo na vida dela! E vocês não vão tocar em nada aqui! Sentem-se
agora, que eu quero falar com a Lourdes. Não vou falar com vocês!”
Na mesma hora ela voltou a si e me olhou assustada, perdida, desorientada.
“O que foi? O que aconteceu aqui?” – ela me perguntou.
Então eu me dirigi a ela com muito amor e compaixão:
“Eu quero que você faça algo.”
Com muito jeito, explicamos o que significava a possessão demo-
níaca. Ela precisava entender o que estava acontecendo, mas quero
deixar claro que o meu foco não foi falar do Inimigo. O meu objetivo
foi contar sobre o amor de Jesus e o plano de salvação para a vida dela
e do marido. Eles precisavam confessar a Cristo para que, de fato, fos-
sem libertos. Os dois ouviram, entenderam e receberam.
“Eu não sabia de nada disso. Como é ser crente?” – ela me pergun-
tou muito curiosa.
Eu sorri com a pergunta, tão simples, e com muito carinho falei do
amor de Jesus pelos dois. Até então a Lourdes nunca tinha ouvido o
Evangelho e não sabia que o filho de Deus morreu pelos pecados da
humanidade para por um fim às trevas e nos levar de volta para o pla-
no original. Para a alegria de todos, ao ouvir sobre o sacrifício de Je-
sus, Lourdes e o marido se arrependeram, confessaram a Cristo como
Senhor e Salvador e afirmaram estar dispostos a seguir esse caminho.
Eles nasceram de novo.
Assim que eles terminaram de orar, a Lourdes caiu possessa mais
uma vez. E foi muito pior do que antes. O Jorge ficou visivelmente
assustado, mas novamente amarramos aqueles demônios, expulsamos
os espíritos malignos, e ela pôde se recompor.
No dia seguinte era o meu aniversário de 22 anos, e tínhamos
planejado uma comemoração. A minha saúde estava ótima, eu an-
dava normalmente e estava me aprofundando a cada dia no relacio-

137
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

namento com Deus. Tínhamos feito um voto de agradecer e honrar


ao Senhor por minha cura nos meus aniversários, por isso meus pais
resolveram celebrar a data com uma festa bem bonita em nossa casa.
Chamamos a família, os amigos, os irmãos da igreja e preparamos um
culto especial, conduzido pelo tio Mariano, para render graças a Deus
por mais um ano de vida.
Convidei a Lourdes e o Oswaldo. Eles estavam curiosos com o que
tinha acontecido nos últimos dias e aceitaram o convite. Na hora mar-
cada, apareceram. A Lourdes foi gentil e trouxe rosas muito bonitas.
Eu os recebi e agradeci pelo presente, mas percebi que ela já estava
possessa. Com os meus olhos espirituais vi vários seres malignos agin-
do na vida da Lourdes e também agarrados ao arranjo que ela me deu,
que, aparentemente, não tinha nada de mal. Pode parecer bobagem,
mas devemos ter muito cuidado com o que recebemos, ainda que as
pessoas tenham as melhores intenções.
No meio da festa, enquanto louvávamos a Deus, a Lourdes ficou
endemoninhada para valer. Assim que aconteceu, o Espírito Santo me
orientou a pedir para dois diáconos se posicionarem na porta, porque
ela sairia correndo. Na hora em que me levantei para falar com eles, a
Lourdes saiu em disparada. Depois ela nos contou que ouviu alguém
sussurrar no ouvido dela, como se estivesse dando uma ordem:
“Saia desta casa agora, vá para a rua e se jogue debaixo do primeiro
carro que passar!”
Foi o que ela fez. Saiu desesperada, empurrando as pessoas que
estavam no caminho, sem falar com ninguém! Hoje ela explica que
não se lembra de mais nada depois disso. Assim que atravessou a por-
ta da casa, o corpo da Lourdes foi tomado por um espírito maligno,
e ela simplesmente acelerou os passos. A velocidade que atingiu foi
incrível. As pessoas que estavam ali correram atrás dela, para tentar
impedir o que quer que fosse. Até que finalmente os dois diáconos
conseguiram detê-la no quintal.
Sem o menor controle sobre seus movimentos, ela gritou, rolou,
se debateu e fez um grande escândalo. Oswaldo não sabia o que fa-
zer. Que situação triste! Satanás sabe como envergonhar as pessoas.
A Bíblia diz que ele veio para roubar, matar e destruir, e era isso o
que estava fazendo com a Lourdes: ele estava destruindo a vida dela,
roubando tudo o que ela tinha e tentou matá-la, ordenando que ela

138
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

se jogasse debaixo de um carro. Mas se Deus tinha colocado o Jorge


em seu caminho, se ela tinha aceitado a Jesus como Senhor e Salva-
dor, havia esperança de que os planos do maligno fossem frustrados.
A Lourdes e o Oswaldo não tinham o menor entendimento do que
estavam vivendo, nem da gravidade de toda a situação. E o Oswaldo
estava visivelmente assustado ao ver a esposa, com quem tinha acaba-
do de se casar, agir como uma louca.
Com a ajuda dos diáconos, os irmãos que estavam próximos con-
trolaram a situação e conduziram a Lourdes para o meu quarto. Eu
deixei a festa e fui para lá junto com a tia Nó, Malu e mais duas irmãs
de oração. O meu culto de aniversário continuou sem mim. Mais uma
batalha intensa estava começando – justo no dia da minha comemo-
ração. Enquanto eu estava com a Lourdes, Deus falou comigo que esse
era só o início da caminhada dela rumo à nova vida em Cristo:
“Durante os próximos quinze dias, a batalha será intensa. Os demônios
vão fazer de tudo para impedir a Minha obra. Por quinze dias ela passará
pelo processo de libertação, e no décimo sexto dia vocês devem subir o
monte, e Eu vou batizá-la com o meu Espírito. Ela será uma profeta. Ali
vai começar a história que Eu escrevi para a Lourdes e para o Oswaldo.”
Ouvi tudo convicta de que era a voz de Deus falando comigo. Não
era possível uma coisa assim ser imaginação da minha cabeça.
“Amém. Que aconteça como o Senhor desejar.” – foi a minha resposta.
Decidi também que não contaria nada para a Lourdes. Caminha-
ríamos juntas, crendo na obra que Jesus iria fazer. Eu tinha certeza de
que em breve veríamos um milagre na vida dela e do marido.
Durante as horas seguintes clamamos pela presença de Deus, pela
ajuda dos anjos do Senhor e começamos o árduo trabalho de expul-
sar aqueles demônios. Era um atrás do outro. Quando um ia embo-
ra, outro se manifestava, e começávamos tudo novamente. A Lourdes
estava completamente fora de si. Ela gritava, rolava, se machucava.
O barulho era tanto, que as pessoas do lado de fora do quarto, que
participavam da celebração, podiam ouvir. Algumas interromperam
o culto para oferecer ajuda.
“Ezenete, deixe a gente entrar. Queremos dar apoio a vocês.” – al-
guém se prontificou.
“Não precisa, obrigada. Já estamos trabalhando com a Lourdes, e o
Senhor vai agir em favor dela novamente.”

139
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Mas algumas pessoas não ficaram satisfeitas com a minha nega-


tiva. Se sentiram ofendidas e insistiram para que eu abrisse a porta.
No meu espírito, eu sentia que não devia fazer isso, mas a casa estava
cheia de irmãos da igreja que queriam ajudar na batalha. Depois de
ponderar um pouco, achei que talvez eles pudessem estar certos, e eu
não queria ofender ninguém.
“Tudo bem, eu vou abrir a porta para todos orarmos juntos.”
Assim que girei a maçaneta, a Lourdes saiu correndo enlouque-
cidamente pela casa. Ela bateu em várias pessoas e acabou com meu
aniversário; derrubou a mesa onde estava o bolo, espalhando massa e
recheio pela sala! Os docinhos saíram voando por todos os lados. Foi
um vexame! As pessoas que se ofereceram para ajudar não consegui-
ram contê-la. O espírito maligno que estava no comando do corpo
dela começou a falar com alguns dos meus convidados que tentavam
expulsá-lo:
“Você quer me expulsar? Você? Tem certeza? Como? Com que au-
toridade? Não era você que ontem estava no motel? Eu te vi e sei o que
você estava fazendo.”
Todos arregalaram os olhos. A pessoa que foi denunciada pelo Ini-
migo diante de irmãos da igreja corou e quis desaparecer. Os outros
que estavam ao redor se assustaram com a revelação e ficaram com
medo de também terem os pecados expostos. Adorando a atenção que
ganhou, o demônio continuou a contar tudo o que as pessoas queriam
esconder. Mas, na autoridade do Senhor, eu e a tia Nó clamamos a
Deus e demos o comando para os espíritos malignos voltarem para
o quarto onde estávamos. Então nos trancamos com a Lourdes no-
vamente e continuamos o trabalho de libertação. Dessa vez ninguém
entraria, e só abriríamos a porta quando ela voltasse a ter controle do
próprio corpo.
Do lado de fora, o culto continuou. Mas em vez de seguir como
uma celebração de aniversário, tio Mariano conduziu as pessoas a se
arrependerem pelos próprios pecados. Foi uma choradeira só! Muitos
irmãos que frequentavam a nossa igreja e tinham ido à reunião para
me abraçar se renderam a Cristo. O meu aniversário foi transformado
em uma noite evangelística poderosa, com conversão e libertação.
Era meu segundo encontro com a Lourdes, e eu mal podia esperar
pelo fim daqueles quinze dias.

140
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

O processo de libertação

Do meu aniversário em diante, todos os dias íamos aos cultos na


igreja pastoreada pelo tio Mariano. A Lourdes ficava possessa em to-
das essas ocasiões, mas ela sabia que estava passando pelo processo de
mudança total de vida.
Com o passar do tempo, ela rompeu os laços com a amante do pai
colocando um ponto final naquela amizade estranha – que ela nunca
entendeu e que nunca fez sentido. Reatou o relacionamento com a
mãe, pediu perdão e se livrou de tudo o que tinha recebido da outra
mulher. Parou de fumar, jogou os maços de cigarro no lixo e fez uma
verdadeira limpeza em casa. Ela retirou as roupas lascivas do armário
e assumiu um compromisso sério de andar com o Senhor. Ela tam-
bém rasgou as fotos que tinha, porque não queria nenhuma lembran-
ça da vida antes de se entregar a Cristo. A Lourdes entendeu que não
bastava expulsar os demônios que a atormentavam diariamente; ela
precisava construir uma nova identidade em Jesus.
“Se é para ser crente, eu vou ser direito. Não quero nada do Inimi-
go na minha vida!” – ela dizia.
Mas a batalha ainda estava em curso. A cada culto ela caía ende-
moninhada. Era bem difícil. Muitas pessoas achavam que ela estava
querendo chamar atenção, mas não era nada disso. Para a Lourdes, que
até então era uma mulher muito altiva, arrogante, “nariz em pé” (como
ela mesmo diz), passar por aquela situação era muito humilhante. Os
espíritos malignos a agrediam; durante os episódios de possessão ela se
machucava, se feria e quando voltava a si estava cheia de marcas roxas
e mordidas espalhadas pelo corpo. O Oswaldo ficava muito constran-
gido quando a via se contorcer pelo chão, mas se manteve firme ao lado
da esposa. Ele recebeu verdadeiramente a Cristo como Senhor e estava
determinado a caminhar com a mulher até o fim.
A Lourdes era atormentada por uma legião, e a cada experiência
durante essa jornada expulsávamos vários demônios. Uma das vezes,
no meio do culto ela pediu para ir ao banheiro. Nós não a deixáva-
mos ir sozinha para lado nenhum, com medo do que poderia acon-
tecer. Então me levantei e a acompanhei. Enquanto estávamos ali ela
ficou possessa novamente, e toda aquela luta exaustiva recomeçou. A
cada batalha, sentíamos o espírito sendo fortalecido, mas o corpo ia

141
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

ficando cansado. Estávamos em contagem regressiva, crendo que no


décimo sexto dia ela seria liberta definitivamente. Enquanto isso, per-
manecíamos firmes em oração.
O Senhor me levou a sempre declarar a Palavra durante esse pro-
cesso tão dolorido para ela e exaustivo para nós. É a Palavra de Deus
que liberta, então eu orava lendo a Bíblia e também orientava para que
ela lesse as Escrituras durante os momentos de batalha. A cada pala-
vra que liberávamos sobre ela e o Oswaldo, o Senhor ia quebrando as
armas que o Inimigo usava para amarrá-los a uma vida de escravidão.
Mas os ataques das trevas não se limitavam ao período em que a
Lourdes estava conosco ou na igreja. Quando eles voltavam em casa,
coisas terríveis aconteciam, e era o maior sufoco. Quando a Lourdes
ia tomar banho, a água do chuveiro esquentava do nada, sem que nin-
guém encostasse no aquecedor. A temperatura ia às alturas de um jei-
to que chegava a queimar a pele dela.
“Oswaldo, socorro!!! Comece a orar agora! A água do chuveiro
está me queimando!”
E o Oswaldo orava do jeito que via as pessoas fazendo, mas mor-
rendo de medo. Quando a Lourdes saía do chuveiro, sua pele estava
ardendo. Então ela passou a tomar banho o mais rápido que podia,
para evitar novas queimaduras.
Ela também era atormentada na mente. Os espíritos falavam para
ela esconder facas debaixo do travesseiro e da cama, para que atacasse
o marido enquanto ele estivesse dormindo. Mas ela aprendeu a re-
preender a presença do Diabo e nunca feriu o Oswaldo. Durante esse
período, nós orávamos dia e noite para que Deus os guardasse e os
livrasse de todas as armadilhas tramadas por Satanás.
A perturbação durante a noite era tanta, que os dois mal fechavam
os olhos. Sem falar que a cada episódio de possessão ela saía exausta,
esgotada, sem forças para levantar um dedo sequer. E aquelas marcas
de mordidas continuavam a aparecer no corpo dela, como se alguém
tivesse cravado os dentes com muita raiva.
Satanás odiava a Lourdes, e podíamos perceber isso de uma ma-
neira clara. Ele estava revoltado porque não conseguiu levá-la para
os caminhos do mal, então passou a fazer de tudo para machucá-la e
fazê-la desistir de andar com Jesus. Enquanto isso, a Lourdes jejuava,
clamava pela presença de Deus e enfrentou todo esse processo, tão

142
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

difícil, com muita coragem, bravura e humildade. Ela e o Oswaldo são


verdadeiros guerreiros do Senhor.

O décimo sexto dia

No décimo quinto dia, a Lourdes voltou a ficar endemoninhada


na igreja. Com muita ousadia, expulsamos os espíritos malignos que
se apoderaram do corpo da nossa irmã pela última vez. Oramos, ba-
talhamos, e o Senhor, conforme prometeu, pôs fim àquele tormento.
Mesmo sem nenhum sinal aparente de que a Lourdes nunca mais se-
ria tomada pelo Inimigo, de que os dias de vergonha tinham ficado
para trás, cremos que a libertação foi completa. Ela foi curada, limpa
e purificada de todo o mal.
Como ação de graças, fomos ao monte no décimo sexto dia. Eu
não queria assustá-la, então a convidei de um jeito bem delicado –
como quando a Eneida e a avó me chamaram para orar.
“Lourdes, vamos fazer um passeio no monte. Alguns irmãos da
igreja vão comigo, e eu gostaria que você viesse também.”
“Claro, Ezenete. Eu vou sim.”
E assim ela subiu o monte conosco pela primeira vez. Cantamos,
oramos, clamamos, agradecemos, e o poder de Deus veio de uma for-
ma incrível. Uma profeta do Senhor estava com a gente e foi movida
por Ele para falar com a Lourdes. Com muita autoridade, ela impôs as
mãos sobre a cabeça da minha amiga e começou a falar:
“Até este instante, Satanás pisou em você, te machucou e te enver-
gonhou. Mas a partir deste momento, Deus está te ungindo com fogo
para pisotear a cabeça do Inimigo!”
Se, durante todo o período em que a conheci, a Lourdes vinha sen-
do maltratada pelo Diabo, ali, naquele lugar de oração, ela foi tomada
pela glória de Deus. O batismo do Espírito Santo veio com tudo, pre-
enchendo a vida dela e mudando para sempre a sua história. Lourdes
e Oswaldo receberam o poder de Deus juntos e começaram a orar em
línguas ao mesmo tempo! Que forma gloriosa de encerrar o período
tão turbulento pelo qual os dois passaram.
Foi maravilhoso vê-la dando glórias, com as mãos erguidas para o
céu e falando com o Senhor! Em nada ela se parecia com a mulher que
era atormentada por Satanás. Era verdadeiramente uma outra pessoa,

143
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

com um olhar diferente, um semblante transformado, irradiando a


glória de Jesus. Lourdes e Oswaldo receberam, naquele dia, a oportu-
nidade de um novo começo – e eles sabiam disso.
“Senhor, eu estou livre!!!” – ela gritava. “Se antes era Satanás quem
me batia, quem pisava em mim, agora sou eu quem vou pisar nele!
Nunca mais serei a mesma pessoa! Eu fui lavada pelo sangue do Cor-
deiro! O preço foi pago, e eu nasci de novo!!!”
Que cena indescritível... A obra foi completa.
Lourdes e Oswaldo se tornaram meus amigos mais chegados que
irmãos, grandes companheiros de ministério. Desde aquela época ca-
minhamos juntos, e lá se vão três
décadas. A Lourdes costuma dizer
que saiu das entranhas da minha
família e foi formada como cristã
ali.
Porém, nos dias depois da ora-
ção no monte, quando ela voltou
à igreja, totalmente restaurada,
muitas pessoas a olhavam com
desconfiança. Ela chegou cheia de
Deus e fluindo nos dons espiritu-
ais, mas foi acusada de ainda estar
endemoninhada. É incrível como
algumas pessoas acham mais fácil
acreditar que Satanás faz o que
quer na hora que deseja, mas não
compreendem que Cristo muda
qualquer situação e imediatamente preenche com a glória do Senhor.
O próprio apóstolo Paulo é um exemplo disso. Ele perseguiu os cris-
tãos até ter um encontro real com Jesus. Dali em diante, se tornou
um homem de Deus, mas muitas pessoas tiveram dificuldades para
aceitar isso.
Apesar de tudo, assim como Paulo, Lourdes não se abalou. Ela sa-
bia de onde veio. Ela sabia de onde foi resgatada. Ela sabia do longo
caminho de humilhação pelo qual andou. Ela reconheceu o poder do
sangue do Filho de Deus na própria história e decidiu nunca mais
olhar para trás.

144
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I I I

“Eu sei o que é ter um demônio no meu corpo, o que é ser assolada
pelo mal de dentro para fora. Agora eu sei o que é ter Jesus na minha
vida, pulsando dentro de mim. Nada vai me tirar isso.”
Apesar das muitas provações pelas quais passou, a Lourdes nunca
mais foi tocada por Satanás. Na autoridade do nome de Jesus, ela pas-
sou a dar muito trabalho para o inferno sendo usada por Deus para
resgatar milhares de vidas das trevas e pisando, sem cessar, na cabeça
do Inimigo. Glória a Deus por isso.

-------------------------

Palavras da Lourdes

A Ezenete foi usada por Deus para me tirar do Egito. Assim como
Deus usou Moisés para libertar o povo da escravidão, a Zê foi ins-
trumento para me livrar da feitiçaria, da revolta, da sensação de
abandono. Eu estava caminhando a passos largos para o inferno
e nem tinha noção disso, mas Deus a colocou na minha história
para me falar de um Jesus maravilhoso. Depois ela cuidou de mim
como mãe, professora, amiga, pastora. Ele me ensinou limites, me
discipulou e também foi usada por Deus para tratar o meu ódio, a
incredulidade e revolta. Com ela aprendi que eu não me bastava,
mas que eu precisava das pessoas também. Eu não podia simples-
mente viver sozinha. Ela injetou amor do Pai em mim. Até hoje,
depois de tantos anos, ela tem sido essa pessoa de Deus para me
ensinar e me amar. Quando olho para a Ezenete, passa o filme
inteiro na minha cabeça do dia em que cheguei a casa dela, perdi-
da, endemoninhada, sem esperança. Ela se importa comigo e isso
para mim é incrível. Meus pais me colocaram no mundo, mas foi a
Ezenete que me gerou.

-------------------------

145
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

P A R T E I V

“MAS, CO M O E ST Á
ES CRI TO : AS C OI SA S QUE
O LHO S N ÃO V I R A M , NE M
OUVI DO S O UVI R A M , NE M
PE N E TRARAM O COR A ÇÃ O
D O H O ME M, S Ã O A S QUE
DE US PRE PARO U PA R A OS
QUE O AMA M .”

1 C O R Í N T I O S 2 . 9
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

14. EU NUNCA MAIS QUERO


UM HOMEM NA MINHA VIDA

A Lourdes se tornou uma grande amiga. Nos anos que se segui-


ram, ela e o Oswaldo me acompanhavam por onde eu ia. Nós orga-
nizávamos vários eventos para jovens e estávamos sempre ocupados
com as atividades da igreja. Foi um tempo maravilhoso de aprofun-
damento na Palavra, de dedicação ao ministério, de oração e muitas
reuniões cheias do poder do Espírito Santo. Durante esse período da
minha vida, em um culto na igreja do tio Mariano, conheci o homem
que eu tive a certeza de que seria o meu marido.
Ele era um jovem muito bonito, comunicativo, gostava de conver-
sar com as pessoas. Era pastor, e todos diziam que ele era “a tampa”, e
eu, “o balaio”! Aparentemente tínhamos sido feitos um para o outro, e
nossos ministérios se completavam.
O namoro ia bem, e minha família gostava muito dele – tanto que
ele estava sempre em nossa casa. Até que, depois de um ano de rela-
cionamento, de uma hora para outra, minha mãe começou a ter uma
sensação estranha, uma desconfiança de que algo não estava certo e
que esse rapaz não era de Deus para mim. Ela passou a enxergar coisas
que eu não via. Dizia que o meu namorado só queria se aproveitar

149
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

da minha evidência ministerial para abrir portas para ele mesmo, e


que depois ele me colocaria em uma caixinha, me prendendo e me
impedindo de prosseguir. Ela dizia que ele era grosso, que não me
tratava como eu merecia. Então, ficou totalmente contra o nosso re-
lacionamento. Eu não acreditava que justo a minha mãe, que antes
nos apoiava, torcia por nós, de repente se posicionou contra a nossa
história.
Mas, mesmo contra a vontade de todos da minha casa, eu estava
decidida a me casar. Não foi fácil. Para ser sincera, foi diferente de
tudo o que eu tinha sonhado. Meu namorado me pediu em casamen-
to, e trocamos as alianças de noivado na nossa igreja, sem ninguém
das nossas famílias por perto. Foi um tempo muito difícil, pois eu
ouvia todos dizendo que minha mãe estava sendo usada pelo Diabo
contra nós dois. As pessoas me falavam que éramos abençoados por
Deus, e que eu devia ignorar o que ela dizia. Meu conflito era grande,
pois apesar de o amar muito, sempre quis honrar meus pais.
O clima em nossa casa ficou terrível. Eu me sentia culpada, mas
não entendia porque minha família parou de nos apoiar. Cheguei até
a mentir para sair escondida. Eu, que antes consultava meus pais para
tudo e tinha com eles um relacionamento maravilhoso, comecei a
ter comportamentos que nem pareciam ser meus. Foram dias muito
ruins. Até que, em uma conversa dura com minha mãe, ela me disse,
em lágrimas:
“Você acha que eu vou ser feliz vendo você infeliz? Eu lutei tanto
para você viver! Você é um presente de Deus pra mim, e não posso
te entregar para qualquer pessoa. Vá orar! Você não fala com Deus?
Deus não fala com você? Peça para Ele te mostrar quem esse moço é.
Peça para Ele revelar o que vai acontecer depois que vocês se casarem!
E peça para Ele me mostrar se eu estou errada em não apoiar vocês.
Não quero atrapalhar sua vida.”
Ouvi aquilo tudo assustada. Eu estava cansada de brigar; simples-
mente sonhava em me casar em paz. Mas segui a orientação da mi-
nha mãe: fui buscar a Deus. Naquela noite orei e chorei muito diante
do Senhor. Quando eu já estava com os olhos pesados, lutando para
me manter acordada, me permiti descansar. Então Deus me deu um
sonho que falou muito ao meu coração. Enquanto eu dormia, vi o
meu noivo, aquele rapaz manso e tranquilo se transformando em um

150
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

monstro bravo. Eu senti muito medo e acordei aterrorizada, como se


ele estivesse no meu quarto querendo me esmurrar.
É curioso que quando estamos vivendo momentos de conflito nos
quais há um certo encantamento, pensamos que é sempre o Diabo
querendo nos impedir de prosseguir. No nosso coração, somos leva-
dos a crer que o inimigo de Deus está tentando impedir a nossa feli-
cidade, e assim corremos o risco de ficar cegos para o que o Senhor
quer nos mostrar. Por isso, mesmo sabendo que o sonho já era uma
resposta de oração, eu insisti em continuar com os meus planos para
o casamento. Mas a sensação de medo com a qual acordei me trouxe
uma grande interrogação.
A partir daquele momento, meus olhos começaram a enxergar o que
eu não via. Passei a me atentar para coisas que eu nunca tinha percebido
até então. De repente, meu noivo não era mais tão perfeito assim. Ao
mesmo tempo, eu questionava a Deus por que Ele tinha permitido que
esse rapaz aparecesse na minha vida, se ele não era a pessoa certa para
mim. E se ele não fosse o homem com quem eu deveria me casar, por
que as pessoas diziam que éramos perfeitos um para o outro?
Com a cabeça muito confusa, algumas situações começaram a vir
à tona. Certa vez estávamos saindo de um encontro de jovens em que
havíamos ministrado. Fomos de ônibus e voltaríamos de carona com
alguns irmãos que moravam perto de nós. No final do culto estávamos
muito cansados, e o carro que poderia nos levar estava quase indo em-
bora. Se isso acontecesse, não teríamos como voltar para casa. O meu
noivo ainda estava no local da reunião, em um aconselhamento, mas
por causa da hora avançada resolvi interromper e chamá-lo para ir:
“O carro que vai nos levar está lá fora nos esperando. Precisamos
nos despedir. Vamos?”
Ele não esboçou nenhuma reação; me ignorou completamente.
Então o informei sobre a minha decisão:
“Você pode ficar, que eu vou pegar a carona. Não quero ir para
casa a pé.”
Ele, que até então não tinha me dado a menor atenção, esperou
todos se afastarem e saiu atrás de mim, me agarrando pelo braço. Ele
esbravejou enquanto me apertava:
“Nunca mais faça isso! Nunca mais me atrapalhe enquanto eu esti-
ver conversando com as pessoas!”

151
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Solte o meu braço! Tire a mão de mim!” – eu pedi. Mas ele parecia
estar surdo.
“Você está ouvindo? Nunca mais, quando eu estiver em um acon-
selhamento, me interrompa!”
Saí muda, massageando o meu braço dolorido. Não gostei nem um
pouco daquela reação. Demos as mãos e fomos embora juntos. Eu,
que já estava confusa, fiquei ainda mais. Aquela atitude me incomo-
dou muito. Depois disso, o comportamento dele mudou de vez. Al-
guns dias ele era super carinhoso, em outros se mostrava indiferente.
Cada hora ele estava de um jeito. No meio de tudo isso, eu orava sem
parar pedindo a Deus para me mostrar o que eu precisava ver.
Aquele episódio me preocupou, então tomei coragem e compar-
tilhei com a tia Nó. Ela me ouviu, orou comigo e disse que realmente
meu noivo não era quem eu pensava. Tia Nó me falou que a minha
mãe estava correta em não incentivar o nosso relacionamento. E eu
amava demais as duas para simplesmente ignorá-las. Assim que che-
guei, contei tudo para a minha mãe. Ela me ouviu aliviada e disse que
aquilo era pouco diante do que eu sofreria se me casasse.
“Ezenete, eu avisei. Eu tenho orado por vocês, mas parece que você
não quer ver. Você precisa acordar dessa cegueira! Abra os seus olhos!”
E realmente, pouco a pouco, meus olhos foram se abrindo para a
realidade. Minha mente ainda estava confusa. Minha fé estava abala-
da. Afinal, aquele relacionamento era de Deus ou não? Eu ouvia tantas
vozes de pessoas diferentes: gente que dizia que éramos perfeitos um
para o outro, que nossos chamados estavam ligados, que tínhamos um
propósito! Mas, do outro lado, eu ouvia minha mãe e minha tia me
falando o contrário. Eu me sentia perdida, mas a vontade de honrar
e obedecer a minha família falava alto, aumentando ainda mais meu
conflito interior.
Até que um dia recebi uma notícia terrível. Meu noivo, me traiu
com minha melhor amiga, na igreja, enquanto eu ministrava no culto.
Foi difícil demais de acreditar. Ela não era qualquer jovem! Era uma
pessoa íntima, que dormia na minha casa e era a minha confidente.
Para ela eu contava todos os meus conflitos. Ela orava comigo pelo
meu noivado, me encorajando a enfrentar aquela situação.
Foi muito cruel descobrir essa dupla traição. Não podia ser ver-
dade. Além disso, se ele era um homem de Deus, como poderia fazer

152
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

algo tão horrível? Nós estávamos planejando construir uma vida, tí-
nhamos sonhos juntos! Ele era um referencial para mim, e tantas pes-
soas nos diziam que o Senhor queria que formássemos uma família!
Sem falar que eu estava enfrentando os meus pais para estar com ele.
Parecia que tudo não passava de fofoca, de uma tentativa de alguém
para nos separar, mas infelizmente era real.
A traição me fez sofrer muito, mas foi o que eu precisava para ou-
vir minha família e decidir terminar o relacionamento. Naquela se-
mana, após uma reunião de oração, entramos no meu carro, eu tirei a
aliança do dedo e entreguei a ele.
“O nosso noivado acabou.”
“O quê?” – ele disse rindo, dando gargalhadas, sem acreditar no
que eu dizia.
“É isso mesmo que você ouviu. Eu sei que você me traiu com a
minha amiga enquanto eu estava pregando no altar! Como você teve
coragem? Eu não quero me casar com um homem que não é fiel, que
não me respeita. Acabou!”
“Você só pode estar brincando!” – ele respondeu em tom de zombaria.
“Não, eu não estou brincando. A minha mãe já tinha me alertado
sobre você. Ela me disse que o seu maior interesse era se aproveitar de
mim e do meu ministério. Eu não queria acreditar nela, mas agora eu
acredito.”
“Ezenete, você nunca vai amar alguém como você me ama. Você
nunca vai ser feliz com outra pessoa. Eu sou o homem de Deus para a
sua vida, e é comigo que você deve se casar. Pare com essa bobeira! Você
está dando ouvidos a pessoas que não querem a nossa felicidade!”
Ele não acreditou que eu estava falando sério. Ainda disse que eu
ficaria perdida sem ele, que eu não teria rumo na vida. Por fim, can-
sada, falei:
“Pode descer do carro.”
“Descer do carro? Mas você não vai nem me levar ao ponto de
ônibus?” – ele perguntou.
“Não. A partir deste momento eu não tenho mais nada a ver com você.”
Então ele entendeu que eu estava falando sério e disse:
“Você vai morrer sem mim!”
“Prefiro morrer a ficar com você. Desça agora, ou eu deixo o carro
aqui mesmo e vou a pé pra minha casa.”

153
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Ele arregalou os olhos e finalmente saiu. Quando pisei no acelera-


dor e arranquei, ele gritou e jogou a aliança que eu tinha devolvido.
Nem sei onde ela foi parar, porque segui em frente sem olhar para trás.
Também nem sei como cheguei a minha casa. Eu quase não conseguia
enxergar, e minha cabeça rodava. Tudo parecia girar ao meu redor. Só
me lembro de bater o carro três vezes enquanto tentava estacionar na
garagem! Minha mãe ouviu o barulho e saiu desesperada:
“Ezenete, está tudo bem? Tem alguém perseguindo você? O que
foi, minha filha? Por que você bateu o carro? Você está passando mal?”
Abri a porta o mais rápido que pude e me lancei nos braços dela:
“Terminei o noivado, mãe!”
Eu chorava e mostrava a mão sem aliança. Eu estava desorientada,
sem saber ainda se aquilo era certo ou errado. Minha cabeça rodava,
minhas pernas tremiam, e eu tentava respirar enquanto revivia os úl-
timos momentos na memória. Minha mãe me puxou para mais perto
e me abraçou mais forte ainda. Ela chorava dando glórias:
“Obrigada, Deus! O Senhor ouviu as nossas orações. O Senhor falou
com a minha filha, e agora ela está livre! Nós O louvamos, porque agora
está doendo, mas essa dor vai passar. Obrigada por esse livramento!”
Eu sentia tanta dor no peito, que nem consegui responder “amém”.
Eu só queria que aquele dia acabasse. As semanas que se seguiram
foram de muitas lágrimas. Eu sabia que tinha tomado a decisão cer-
ta, mas eu amava aquele homem. Se a minha mente tinha certeza de
que fiz o melhor, o meu coração ainda não tinha tanta convicção. No
meu quarto, eu orava pedindo a Deus que pusesse fim ao sofrimento
e me trouxesse paz. Tudo o que eu mais queria era que nada daquilo
estivesse acontecendo, que pudéssemos reconstruir o nosso relacio-
namento. Mas a cada dia ficava mais claro que esse não era o plano
de Deus.
Pouco tempo depois, ele me escreveu uma longa carta reconhe-
cendo que havia errado e afirmando que minha mãe estava certa em
todas as preocupações quanto a ele. Ele me pediu perdão e confessou
que estava cheio de motivações erradas, mas que dali em diante que-
ria acertar. Fiquei muito abalada. Minha mãe acompanhou de perto
todo o meu drama e orava pedindo para que eu não voltasse atrás na
minha decisão.
Durante esse período, desenvolvi uma dor de estômago muito for-

154
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

te, e todos ficaram preocupados com minha saúde. Emagreci de tan-


to sofrimento. Fiquei doente de paixão. Todo esse processo dolorido
durou três meses. Em minhas orações, eu perguntava a Deus por que
Ele tinha permitido que a gente namorasse. Por que Ele deixou que
eu fosse traída, ferida e humilhada. Eu queria saber por que estava
vivendo esse tormento. Nunca obtive essas respostas.
Hoje entendo que comecei todo esse relacionamento sem pergun-
tar a Deus o que Ele achava disso. Eu nunca quis saber se o namoro era
da vontade dEle. Percebi que fui levada pelo o que as pessoas diziam,
de que nos daríamos bem, de que fomos feitos um para o outro e que
o Senhor queria dessa forma. Eu errei ao me conduzir por impressões,
e ao acreditar que todos esses comentários eram a confirmação do
Espírito Santo. Todas as aparências me conduziam nessa direção.
Apesar de sempre ter tido a preocupação de agradar a Deus, eu
ainda estava aprendendo a discernir o que era dEle. E sinceramente,
nunca O procurei para saber se realmente deveria me envolver com
aquele rapaz. Confesso que eu simplesmente achava que como tudo
parecia óbvio e claro, já era um sinal da benção de Deus, e assim me
confundi. Esse é um risco que muitas pessoas que amam ao Senhor
correm. Eu tive a minha mãe e a minha tia para lutarem por mim, mas
sei que muitos não têm ninguém por perto. Porém, o Pai sempre está
ao nosso lado para ouvir e orientar aqueles que O buscam.
No meio de tantos questionamentos, em uma madrugada, ouvi
Deus me dizer:
“Até quando você vai trocar a Minha presença por um homem, que
é mortal?”
Assim que escutei essas palavras, caí aos pés dEle e respondi:
“Meu Deus, nunca mais quero um homem na minha vida. Leva-
-me com o Senhor!”
Chorei tudo o que eu podia, me arrependi por ter me permitido
ser enganada durante tanto tempo. Então me entreguei novamente a
Deus refazendo com Ele o compromisso de amá-Lo, servi-Lo, hon-
rá-Lo. Abri mão de me casar com quem quer que fosse, para viver
somente para Cristo. Milagrosamente acordei pela manhã completa-
mente curada. Não senti mais dor, nem saudade, nem conflito algum.
Passou. Simplesmente passou.
Compartilhei com minha família o ocorrido: contei que tinha me

155
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

entregado novamente e renovado a minha consagração ao Senhor. Eu


realmente acreditava que não iria me casar e que iria dedicar-me in-
teiramente à obra de Deus. Eu não iria trocar o que Ele tinha para
mim por nada que fosse de carne e osso. Para selar minha decisão, fiz
um jejum iniciando esta nova caminhada. Eu estava virando a página.
Por causa de toda essa situação, meu ex-noivo acabou se desli-
gando da nossa igreja. Curiosamente ele se casou com a menina com
quem me traiu. Mas isso já não tinha a menor importância para mim.
Neste período, minha amiga Zildinha me chamou para estudar nos
Estados Unidos. Eu gostei muito da ideia, e meus pais me apoiaram.
Começamos, então, os preparativos para que no ano seguinte eu fosse
morar fora. Eu acreditava que, enfim, iria servir a Deus como missio-
nária em outro lugar do mundo, em um país bem distante. Mas Deus
tinha outros planos.

156
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

15. UM “PÃO QUEIMADO” –


UM PRESENTE INESPERADO!

Os planos de estudar no exterior não deram certo, e segui com o


ministério, que não parava de crescer. Um ano e meio depois do fim
do meu noivado, alguns amigos começaram a falar sobre um jovem
lindo, alto, um “negão” temente a Deus e muito bem-sucedido! Di-
ziam que ele era um “pão”, expressão muito usada na época para dizer
que um homem era bonito e interessante. Mas eu ficava brava quando
ouvia essas coisas e rebatia:
“Eu não gosto de ‘pão queimado’!”
Realmente eu não pensava em me relacionar com mais ninguém.
Esse era um assunto encerrado. Eu tinha criado toda uma armadura
ao meu redor. Minha dedicação era exclusiva a Deus e ao trabalho
que Ele tinha me confiado. Eu estava muito feliz desse jeito. Pregava
sempre, orava pelas pessoas, estava focada em servir. Além disso, eu
tinha feito um compromisso de que não trocaria o Senhor por nada
mortal. Não queria saber de homem, por mais interessante que fosse!
Mas, no dia 2 de fevereiro de 1989, enquanto eu pregava em um
encontro de jovens, um rapaz surgiu no fundo do auditório e cha-
mou a minha atenção. Ele era alto, muito bonito, usava uma calça

157
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

branca e paletó preto. Enquanto eu o olhava, parecia que ele crescia


diante dos meus olhos. Pensei até que fosse uma visão espiritual.
Talvez eu deveria abençoar aquele jovem de alguma maneira, quem
sabe orando por ele no final do culto. Mas me concentrei na mensa-
gem e afastei aquela distração.
Quando a reunião acabou, como eu sempre fazia e faço ainda hoje,
atendi a muitas pessoas. Por último, minha amiga Suely, que trabalha-
va na minha equipe, veio com seu esposo, Luís, falar comigo:
“Oi, Ezenete! Que culto abençoado!”
“Glória a Deus! Foi mesmo.” – respondi.
“Foi ótimo! Então, queremos apresentar a você o nosso amigo
Marcos. Ele trabalha com o Luís na fábrica de automóveis.”
Eu estremeci. Era exatamente o jovem que eu tinha observado – e
também era o tal “pão” sobre quem tinham me falado!
“Oi!” – eu disse sem graça.
“É um prazer conhecê-la!” – ele falou estendendo a mão para me
cumprimentar.
Conversamos brevemente. Quando nos despedimos, o Marcos fez
um pedido que me deixou com frio na barriga:
“Eu posso visitar você em sua casa?”
“Me visitar na minha casa? Para quê?” – pensei. Mas acabei res-
pondendo que sim, sem saber onde isso ia dar. Uma semana mais tar-
de, ele apareceu no nosso endereço. Naquele primeiro encontro, eu es-
tava muito indisposta. Confesso que não me arrumei. Pelo contrário:
quis ficar bem feia, com trajes de fazer faxina, para afastá-lo de mim.
“Ezenete, vista uma roupa melhor, pelo amor de Deus!” – disse a
minha mãe.
“Eu não. Já abri mão de me casar. Já me entreguei ao Senhor, e vo-
cês sabem disso. Nem sei o que esse moço quer fazer aqui. Não sei por
que aceitei que ele viesse.”
Na hora marcada, o Marcos chegou com a Suely e o Luís. Eu os
recebi com aquele visual desarrumado. Ele pareceu não se importar;
entrou, se apresentou para a minha família, se assentou no sofá e co-
meçou a conversar com o Luís. Na realidade, passei o tempo todo fa-
lando com a Suely enquanto os dois homens conversavam entre si.
Horas depois, eles se despediram e foram embora. Não entendi aque-
la visita. Na semana seguinte, o Marcos apareceu, do nada, no culto

158
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

da minha igreja. Ele esperou a reunião acabar e então se aproximou.


Logo fez outro pedido:
“Posso te levar até a sua casa?”
“Me levar? Ah, acho que o meu pai não vai deixar.”
“Pergunta para ele. Quem sabe ele permite?” – o Marcos arriscou.
Para minha surpresa, e quase indignação, meu pai não colocou ne-
nhum empecilho.
“Claro que pode. Só não chegue tarde em casa.”
Com a permissão inesperada, tive que concordar. Não deu para
inventar outra desculpa.
Conversando sobre coisas comuns do cotidiano, saímos da igreja
e fomos para o lugar onde ele tinha estacionado. Eu estava muito sem
graça, sem saber o que ele fazia ali. Entramos no carro e no meio do
caminho, sem a menor cerimônia, ele me perguntou:
“Você quer se casar comigo?”
“Oi? Como assim? Casar com você? Eu nem te conheço!”
Marcos percebeu meu espanto, mas não se intimidou:
“Sim, eu quero saber se você aceita ser minha mulher.”
Achei que ele era louco. Apenas uma pessoa maluca poderia fa-
zer um pedido desse, sem ao menos me conhecer! Mas ele estava
determinado.
“Ezenete, Deus me mostrou como será a minha família. Não quero
assustá-la, mas no meu sonho você era a minha esposa, e nós tínha-
mos três filhos. Primeiro eu vi um menino muito bonito. Depois veio
uma menina, que era uma criança linda. E, não sei explicar como, mas
em seguida chegou a nossa terceira filha, que era maior que o nosso
garoto. Uma das nossas meninas se chamará Sarah.”
Eu ouvi tudo com o “pé atrás”. Não fazia o menor sentido, já que eu
tinha renunciado a minha vida sentimental em favor do Reino. Sem
falar que eu era estéril, não podia ter filhos. Ele não sabia disso e pare-
cia não se importar com minha expressão de desconfiança.
“Eu não quero namorar você.” – ele falou com uma expressão séria.
Sem entender que conversa louca era aquela, respondi:
“Eu também não quero namorar você!”
Então, com um sorriso de tirar o fôlego, ele repetiu:
“Quero me casar com você!”
Fiquei mais assustada ainda e fui muito direta:

159
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Marcos, eu não posso namorar você. Não posso me casar com


você. Essa não é uma opção para mim; me desculpe. Eu venho de
um noivado frustrado e fiz um compromisso com o Senhor de viver
somente para Ele.”
“Não importa o que você viveu antes de mim. Não vou desistir de
você, Ezenete.”
“Faça o que você quiser, Marcos, mas eu não estou disponível.”
Cheguei a minha casa desnorteada. Mas os dias se passaram e ele
realmente não desistiu. Sempre me mandava flores; quando me vi-
sitava, levava presentes. Mesmo com a minha resposta negativa, ele
insistia em se manter próximo. Eu planejava cortá-lo de uma vez por
todas, mas acabava achando que seria rude da minha parte. Então,
sempre deixava para colocar um ponto final no dia seguinte. Mas
quando o outro dia chegava, ali estava ele me surpreendendo com
carinho e gentileza.
Em oração, perguntei ao Senhor o que estava acontecendo, pois
reconhecia que o Marcos era diferente dos outros rapazes. Eu também
percebia que os meus sentimentos estavam mudando, se inclinando
para ele. Porém, a minha fidelidade à escolha de me dedicar inteira-
mente a Deus fechava o meu coração. Eu precisava ouvir uma palavra
do Senhor a esse respeito. Nada além de um direcionamento do céu
mudaria a minha decisão. Então, Deus falou comigo:
“Ezenete, eu quero te dar um esposo. Alguém que vai cuidar de
você e que vai te esperar depois de cada viagem. Você não precisa
abrir mão de ter a sua família para Me servir. Eu quero que você se
case e construa um lar para honra e glória do Meu nome.”
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. O Senhor me mos-
trou que conduziu o Marcos para minha vida como um presente ines-
perado vindo diretamente das mãos dEle. Eu não precisava lutar con-
tra os sentimentos que estavam nascendo. Pelo contrário! Deus me
instruiu a me abrir e aceitar a benção que Ele estava me entregando.
Foi em um domingo que aceitei começar o namoro. Na semana
seguinte, fui visitar os pais do Marcos e fui abençada com uma ou-
tra família maravilhosa. Meus sogros e minhas cunhadas são pes-
soas ótimas e sempre nos ajudaram em tudo o que puderam. Eles
também foram presentes do Senhor para mim. Era tudo tão novo e
diferente, que fiquei muito feliz e ao mesmo tempo temerosa. Len-

160
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

tamente meu coração foi se abrindo, o Marcos foi me conquistando,


e eu, me apaixonando.
Passamos juntos por momentos de intensa dedicação ao minis-
tério. Uma situação muito delicada aconteceu durante a terceira gra-
videz da Lourdes. Ela e o Oswaldo já tinham dois meninos lindos, e
quando o caçula foi nascer, o parto foi muito difícil. Na correria de
fazer a cesareana, os médicos fecharam o corte deixando gases cirúr-
gicas no interior da barriga da Lourdes. Ela voltou para casa com o
bebê no colo, mas cinco dias depois teve que retornar às pressas para
o hospital. Ela estava com muitas dores e quando os médicos a exami-
naram, descobriram uma infecção generalizada.
Foi um processo muito difícil, que durou cerca de quarenta dias.
Eu ficava no hospital com a Lourdes e o Marcos permaneceu firme
ao meu lado. Ele me ajudava inclusive a cuidar do neném, o Júnior,
enquanto o Oswaldo tinha que dar conta sozinho dos dois filhos mais
velhos. Eu observava bem as atitudes do Marcos e percebia que ele
era, de fato, especial. Pouquíssimos homens fariam o que ele estava
disposto a fazer. A recuperação da Lourdes foi um grande milagre, e
quero contar essa história completa no próximo livro. Mas todo esse
processo abriu ainda mais os meus olhos para o valor da pessoa que
Deus colocou ao meu lado.
Com três meses de namoro, decidi que era o momento certo de
contar sobre as enfermidades que eu sofri. O Marcos precisava saber
da terrível sequela que me seguiria por toda a vida: a esterilidade. Os
médicos diziam que eu nunca poderia gerar filhos, e já que o relacio-
namento estava caminhando para o casamento, eu tinha a respon-
sabilidade de ser transparente com ele. Por mais que Jesus tivesse
me falado sobre eu ser mãe, eu não podia esconder essa história do
homem com quem queria me casar. Meus pais apoiavam o nosso
namoro e já sonhavam com a nossa união, por isso conversei com a
minha mãe antes:
“Mãe, é hoje. Vou contar ao Marcos que ele não poderá ter filhos
caso fique comigo. Ele precisa saber que sou estéril. Se não estiver
disposto a abrir mão de ser pai, creio que voltarei sozinha para casa...”
“Filha, se o Marcos for o homem de Deus para você, isso não será
um problema. Vá falar com ele em paz. Eu ficarei orando daqui.”
Ainda me lembro daquele dia. Estava frio. Fomos conversar em

161
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

um parque onde muitas crianças brincavam – crianças que nunca po-


deríamos ter. Andamos bastante enquanto eu tentava encontrar co-
ragem para revelar algo tão íntimo. Depois de adiar ao máximo, nos
assentamos debaixo de uma árvore. Flores rosadas e brancas que des-
prenderam da copa caíram no chão formando um bonito tapete. Era
um lugar bem romântico para uma revelação muito delicada. Foi difí-
cil me abrir, mas eu precisava ser honesta. Comecei contando sobre as
internações e, ao final, expliquei o que os médicos disseram na época:
“Marcos, eles explicaram que o meu útero secou. A minha saúde
se restabeleceu, mas ficou claro que gerar uma vida não é uma opção.
Se você quer se casar comigo, precisa se abrir para a possibilidade de
um futuro sem filhos.”
Olhando bem nos meus olhos, ele disse:
“Ezenete, eu não quero me casar com você para ter filhos. Me dei-
xe cuidar de você? Eu sou a pessoa que Deus preparou para amá-la.
Quero ser seu amigo e oferecer o meu ombro para você chorar. Você é
a mulher da minha vida. Posso te fazer feliz?”
Carinhosamente ele pegou a minha mão e, contrariando todas as
minhas expectativas, me perguntou novamente, mas pela última vez:
“Você quer se casar comigo?”
Ele não precisou me pedir novamente. Em lágrimas, eu disse sim.
E ali mesmo, debaixo daquela árvore, rodeados por crianças, marca-
mos a data: 30 de setembro de 1989.

Sim

Namoramos, noivamos e nos


casamos em sete meses. Nossas
famílias estavam muito felizes, e
Deus preparou uma celebração
especial. Nosso casamento foi ma-
ravilhoso, com muita fartura e ale-
gria! Havia uma multidão dentro e
fora da igreja. Até pessoas que mo-
ravam longe nos surpreenderam
com a presença inusitada! Recebe-
mos caravanas que vieram partici-

162
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

par do nosso culto. Estáva-


mos como quem sonha.
A decoração da igreja foi
feita com muito carinho por
uma amiga da minha mãe
que trabalhou sem parar
durante três meses. Flores
envoltas em tule enfeitavam
lindamente os bancos, os
corredores e o altar. Escolhi
o pastor Cleyber para fazer
a cerimônia. Meu vestido era
todo bordado com aplicações
de flores, tinha saia farta, uma
longa cauda e mangas bufan-
tes – a última moda da época.
Arranjos com flores brancas
enfeitaram os meus cabelos
arrumados em cachos. Um véu branco saía do alto da minha cabeça
até a cintura. Um laço caprichado arrematava as costas do vestido.
Marcos entrou usando um fraque todo branco com uma gravata
borboleta rosa pink. Uma faixa e um lenço da mesma cor comple-
taram o belo visual. Ele calçava um elegante sapato branco. O meu
noivo estava lindo, moderno e chamava a atenção. O Daniel, segundo
filho da Lourdes e do Oswaldo, foi o nosso pagem – estava vestido
igualzinho ao Marcos!
Na minha entrada, que teve a participação dos meus dois pais, El-
son e Jacinto, a minha amiga Iara cantou a música Com amor no lar.
Eu amava essa canção! E do jeito que eu sempre sonhei, um quarteto
de homens interpretou Almas gêmeas. No final, ganhei um presente.
A Silvaninha, filha de uma amiga que pensei que não poderia ir, me
fez a surpresa de cantar uma música especial, feita para nós dois. Não
consegui segurar as lágrimas. Eu estava transbordando de felicidade
e gratidão por mais esse milagre em minha vida. Já o Marcos, desde o
início chorava sem parar! Estávamos muito emocionados...
Mas, de certa maneira, as lágrimas também tinham uma pontada
de tristeza: a tia Nó, que já enxergava pouco, ficou completamente

163
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

cega dois dias antes do casamento. Então, ela não pôde me ver vestida
de noiva, e esse era um grande sonho que ela tinha. Tia Nó, que tanto
me ajudou e foi essencial para o cumprimento dos planos de Deus em
minha vida, entrou na igreja sem enxergar nada. Ela, que foi nossa
conselheira e nos acompanhou durante todo o período do namoro
e noivado, não pôde contemplar o templo tão bonito. Mesmo assim
ela sorria em gratidão a Deus. Aliás, diante de todas as lutas a tia Nó
nunca murmurou. Ela sempre nos encorajou com seu testemunho até
o último dia de vida.

Ao final da celebração na igreja Avivamento Bíblico, saímos de


mãos dadas, como marido e mulher. Nossas fotos foram feitas no
mesmo lugar em que conversamos sobre minha infertilidade, naquele
parque onde decidimos nos casar. De lá seguimos para a festa. Lem-
bro-me do trânsito pesado, do quarteirão cheio de carros e das pes-
soas que queriam comemorar nossa alegria. Quando entrei no salão,
Marcos me surpreendeu mais uma vez com uma enorme faixa repleta
de palavras de amor. A festa foi maravilhosa, transbordando de har-
monia e da presença do Senhor. A sensação era de que Deus estava
celebrando o nascimento do nosso novo lar, sonhado e planejado no
coração dEle, para o cumprimento dos Seus propósitos! Minhas duas
famílias estavam lá. A festa foi repleta de risos, e todos se regozijaram
por aquela vitória.
Saímos por um mês de lua de mel. Viajamos para o Guarujá, no li-

164
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

toral de São Paulo, e foi um tempo maravilhoso. Eu, que havia renun-
ciado minha vida pessoal por amor à obra de Deus, vivi a restituição
dela. O Senhor me deu muito mais do que eu pedi. Infinitamente mais
do que eu podia sonhar.

Um companheiro para a vida

Há alguns anos, durante nossas férias, um homem não crente esta-


va almoçando conosco. De repente alguém me chamou para orar na
casa do vizinho, pois a esposa dele estava passando muito mal. Eu já
tinha combinado com o Marcos que as nossas férias eram dedicadas
a nossa família e fiquei dividida, porque eu não queria descumprir
um acordo que tínhamos. Mas o próprio Marcos me incentivou a ir
atender aquela mulher. Com a benção dele me levantei e fui interceder
por aquela pessoa que eu nem conhecia. Então, esse homem se dirigiu
ao Marcos:
“Como é que você empresta sua esposa para Deus assim? Até de fé-
rias você tem que dividi-la com Ele?” – perguntou com ar de zombaria.
Meu marido, geralmente muito calado, é muito sábio. Quando ele
se manifesta, é melhor se preparar. Então, sem se exaltar, ou ser rude,
ele respondeu com muita tranquilidade:
“Eu sou um privilegiado. Não sou eu quem a divide com Deus; é
Deus quem a divide comigo.”
Com essa resposta, inesperada, aquele homem ficou tão impacta-
do que decidiu entregar a vida a Cristo. Até hoje ele afirma que foi o
Marcos quem o ganhou para Jesus.
Quero encerrar esse capítulo dizendo que muitas mulheres, que
possuem um chamado específico de Deus, não conseguem realizar
plenamente sua missão porque não tiveram sabedoria para escolher
um esposo que as compreendesse e incentivasse. A escolha do cônjuge
é a segunda decisão mais importante de nossas vidas, depois da nossa
conversão a Cristo. E, mesmo depois de casadas, precisamos ser sá-
bias para edificar o lar honrando sempre o marido e valorizando todo
apoio e cuidado. Quando a esposa está em evidência, isso exige do
homem uma estrutura muito forte para resistir às pressões e cobran-
ças de uma sociedade – às vezes, até de uma igreja que não vê como
Deus vê. As pessoas geralmente valorizam quem está à frente, quem

165
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

aparece no púlpito. Mas cada parte do Corpo de Cristo é igualmente


importante, e todos possuem chamados individuais.
Eu preciso muito do Marcos. Mesmo que outros não o conheçam
nem reconheçam, só eu sei o quanto ele é essencial em minha vida e
no ministério. O meu marido continua honrando o compromisso que
me fez. Está sempre me enviando para a obra, me apoiando, me es-
perando no aeroporto, mandando bilhetes de amor e encorajamento,
me presenteando com flores e muito carinho. Ele se lembra de todas
as nossas datas especiais – e sempre comemoramos.
O Marcos é um esposo maravilhoso e um excelente pai para os nos-
sos filhos! Ele é o melhor presente que Deus poderia ter me dado; um
presente inesperado em que se cumpriu a promessa do Senhor. Ele é fiel
e faz infinitamente mais além de tudo quanto pedimos ou pensamos.

-------------------------

Palavras do Marcos

02 de Fevereiro de 1989: dia em que conheci a Ezenete. Data que o


Senhor separou para eu encontrar aquela por quem eu havia orado e
que se tornaria a minha primeira e única namorada. Num primeiro
momento tudo parecia normal. Ela era uma pessoa que eu estava co-
nhecendo por meio de amigos em comum, mas quando começamos
a conversar, um sentimento que eu nunca havia sentido começou a
brotar em meu coração. Em cada palavra e gesto parecia que Deus
confirmava os detalhe das promessas para minha vida. Ela seria a
mãe dos três filhos que o Senhor me mostrara em sonho. Neste ano
vamos completar bodas de prata e as palavras são pobres demais para
descrever todo o sentimento que tenho por ela: amiga, companheira,
esposa, mãe, mulher de Deus. Seu testemunho tem se tornado em
todos esses anos motivo de inspiração, exemplo, admiração, para mim
e para quem a conhece. Lembrei-me de um episódio engraçado num
primeiro momento, mas que hoje é muito real. Já estávamos namo-
rando e planejando o casamento quando alguém me perguntou sobre
quantos filhos gostaríamos de ter. Eu “brinquei” que queria encher

166
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

uma Kombi com a nossa família! Bom, Deus deve ter me levado mui-
to a sério porque hoje a nossa turma não cabe nem em um ônibus.
Quero agradecer ao Senhor por me dar a oportunidade de cuidar de
uma joia tão preciosa, de dividi-la comigo e confiar a mim tão grande
responsabilidade.

-------------------------

167
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

16. UM MILAGRE COM NOME


E SOBRENOME

Meus primeiros meses de casada foram maravilhosos. Foi um tem-


po de muito amor, amizade e comunhão entre nós. Desde o início o
Marcos se empenhou, me oferecendo o melhor, e eu estava aprenden-
do a ser uma mulher sábia, que edifica o próprio lar. Mas confesso que
havia a pergunta no ar: “Senhor, eu terei filhos?”. Pela medicina, eu
nunca me tornaria mãe de uma criança gerada por mim. Desde que
recebi alta, quase dez antes, eu sabia disso. Na minha memória ecoa-
vam as palavras do médico:
“Você pode fazer tudo, menos ter um filho. O seu útero secou.
Ninguém sabe explicar o motivo, mas infelizmente é uma sequela com
a qual você terá que lidar.”
Mas eu também me lembrava das promessas de Deus para a mi-
nha vida e das palavras de Jesus durante o arrebatamento. Até aquele
momento, ter um bebê não era de fato uma preocupação, afinal eu
não queria nem me casar! Mas, ao olhar nossa casa, ao contemplar a
minha vida, ao ver o marido maravilhoso que Deus me deu, que me
completava, que me fazia feliz, que cuidava de mim, comecei a pensar
seriamente sobre isso. O Marcos também tinha recebido a visão do
céu de que seríamos pais. Eu engravidaria. Ele nunca teve dúvidas.

169
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Então, segui a minha vida. Eu ia para os encontros de jovens, pas-


sava vários finais de semana fora, me envolvia em muitos eventos e,
como sempre, o Marcos trabalhava pesado. Ele estava focado nos es-
tudos, nas atividades profissionais, preocupado com o nosso sustento
e pensando no futuro. Por causa disso, ele não podia me acompanhar
nos compromissos ministeriais, mas sempre me apoiou. Eu saía para
ministrar nas sextas e quando voltava, no domingo, nosso lar estava
limpo e perfumado. Flores lindas me aguardavam sobre a cama, e meu
marido me cobria de palavras e gestos carinhosos. Ele me proporcio-
nava a vida que qualquer mulher gostaria. Não falávamos muito sobre
filhos. Estávamos bem, felizes e gratos.
Com oito meses de casados, fomos visitar meus pais biológicos. Eu
queria que eles conhecessem melhor o Marcos, afinal, com a distância
entre o Norte de Minas e São Paulo, acabamos nos afastando. Meu
pai estava desenvolvendo um trabalho missionário em uma cidade
chamada Porteirinha, e viajamos até lá. Foi muito gostoso reencontrar
minha família. Nós nos abraçamos, matamos as saudades e conversa-
mos muito. Todos estavam alegres pelo nosso casamento e nos rece-
beram com muita alegria.
Vou confessar algo: eu amo passear nessas feirinhas de artesanato
que quase toda cidade no mundo tem. Quer me fazer feliz? É só me
levar num desses lugares! Então, assim que chegamos a Porteirinha
fomos andar na praça onde havia uma feira. Comecei a caminhar des-
preocupadamente pelas barracas, observando a beleza de tudo o que
estava sendo vendido. No meio de tantas coisas, havia roupas lindas
de bebê: vestidinhos, blusinhas, macacões delicadamente bordados à
mão. Tudo de muito bom gosto. Fiquei encantada, com vontade de
sair comprando o que passava pela minha frente! Mas guardei para
mim aquele impulso. Fiz passeios pela mesma feirinha por três dias
seguidos, até que decidi conversar com o Marcos:
“Amor, vamos começar a fazer nosso enxoval?”
Ele se assustou com a minha proposta e perguntou, sem entender:
“Enxoval?”
“Sim, enxoval. Deus fez tudo na minha vida: Ele me deu mais do
que eu pedi, mas sinto que falta um pedaço. Lembra que você me
contou sobre o sonho de que teríamos três filhos? Duas meninas e
um menino? Você me disse até que uma das nossas filhas se chamará

170
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

Sarah. Eu não sei se será ela quem vai nascer agora, mas eu creio que
Deus vai fazer algo. Eu sinto que em breve vou engravidar.”
O Marcos se lembrava muito bem disso, e ali, em oração, come-
çamos a gerar a nossa família. Só nós dois. Não contamos para mais
ninguém. Depois desse momento, já me sentia grávida! Discretamen-
te eu apoiava a mão na barriga, sonhando com o bebê que iria nascer.
Comprei várias roupinhas já pensando na criança que completaria a
nossa vida. Guardei todas elas – e vez ou outra as tirava da gaveta para
cheirar, acariciar e alimentar as nossas expectativas.
Voltamos de viagem muito felizes e esperançosos. Dias depois, es-
távamos andando pelas ruas de Santo André quando me deparei com
uma loja de móveis para bebês. O Marcos nem percebeu, mas meus
olhos brilharam quando olhei para a vitrine. Vi um berço maravilhoso!
Ele era branco, com detalhes verde água, e tinha formas arredondadas
entalhadas na madeira. Uma cômoda lindíssima fazia par, formando
um bonito conjunto. Segurando a minha mão, o Marcos continuou
nosso passeio. Seguimos pela rua, mas eu não conseguia parar de pen-
sar nos móveis. Queria muito levá-los para casa! Mas como eu falaria
para o meu marido que eu queria comprar um berço para o filho que
não tínhamos? Até tentei, mas não consegui me conter.
“Amor, eu tenho que te contar algo. Vamos voltar aquela loja?”
“Qual loja? Para quê?”
“Aquela ali. Eu quero te mostrar algo. Vem comigo.”
Ele me seguiu pelo caminho de volta. Quando nos aproximamos
da vitrine, e eu vi novamente aquele berço, meu coração acelerou, e os
meus olhos brilharam.
“Vamos comprar este berço?
“Berço? Mas para quê? Onde vamos guardá-lo?”
“Amor, eu creio que teremos um filho, e quando ele chegar não sei
onde vamos encontrar um berço tão lindo como este...”
A vendedora, percebendo a minha empolgação, completou:
“Só temos duas peças. Esta que está aqui no mostruário e outra
no estoque. Se vocês estão mesmo interessados, é melhor aproveitar a
oportunidade.”
Acabamos comprando. Eu estava feliz da vida, como se já estivesse
prestes a dar à luz! Quando a loja entregou as caixas com as peças
do berço desmontado, nós guardamos debaixo da cama, alimentando

171
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

ainda mais o nosso sonho. Depois disso, a cada vez que eu ia ao super-
mercado, comprava pacotes de fraldas e estocava em cima do armário.
E sempre agradecia a Deus, em um ato de fé:
“Ah, meu Pai! Como será linda a chegada do meu bebê! Obrigada,
porque ele já está a caminho!”
Dois anos depois, a nossa benção chegou.

Preparando o caminho

Certo dia recebi a visita da minha mãe biológica. Eu fiquei muito


feliz em passar um tempo com ela, já que a distância nos impedia de
estarmos sempre juntas. Assim que ela chegou à minha casa, sua rou-
pa me chamou a atenção. Ela vestia uma blusa branca, de botões, bem
soltinha, com uns detalhes franzidos nas laterais. Parecia uma bata de
grávida. Enquanto a gente conversava, fiquei pensando em como eu
ficaria vestida com aquela peça, quando eu estivesse esperando pelo
meu primeiro filho. Então, no meio da nossa conversa, eu falei:
“Mãe, me dá essa blusa? Eu vou precisar de algo assim em breve.
Vou ficar linda com ela quando eu estiver grávida!”
Ela sorriu e respondeu:
“Claro, Nete. Pode ficar. A blusa é sua!”
Guardei aquela bata decidida que ela seria a primeira roupa que eu
vestiria quando engravidasse. Quando as pessoas me perguntassem
por que eu estava com uma blusa tão soltinha, eu responderia:
“É para o meu bebê crescer livremente!”
Mesmo sem nenhuma evidência física de que eu seria mãe, eu es-
tava me preparando para isso. Era uma preparação pela fé, porque eu
continuava sem poder engravidar. Até fiz outros exames, mas meu
útero permanecia como uma folha seca. Apesar disso eu cria, ainda
que tudo dissesse o contrário.
Eu e o Marcos morávamos em uma casa pequena, mas aconchegan-
te. A sala, o banheiro e a cozinha eram simples e delicados. Meu quarto
tinha um bonito tapete caramelo, e a nossa cama, que era branca, fazia
conjunto com um guarda-roupa da mesma cor. Parecia que vivíamos
em uma casa de bonecas! E quando eu me deitava, ficava pensando em
como caberia, naquele espaço, a estrutura que o nosso bebê precisaria.
Nessa época, eu e a tia Nó nos encontrávamos toda semana para

172
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

orar. Era maravilhoso! Vivíamos momentos incríveis. Na realidade,


esse é um conselho que eu sempre dou: tenha um companheiro de
oração. Uma amiga, um discipulador, uma pessoa de Deus em quem
você confie. Criem o compromisso de clamar juntos, pelo menos uma
vez por semana, e vocês verão o Senhor fazendo grandes coisas. Eu
tenho muitas saudades desse tempo. De vez em quando chamávamos
a Lourdes, e ela vinha cheia do Espírito Santo. Nessa época, ela era
nossa vizinha – morava na casa que ficava abaixo da nossa. Foi uma
fase muito preciosa da minha vida.
A tia Nó era como um “regador de Deus” que derramava, sobre
mim, água nos momentos de maior sequidão. Estar com ela me en-
corajava, me alimentava e me trazia ânimo. Ela era uma mulher in-
crível. Existem pessoas que são assim, que trazem sobre nós alívio do
céu. Gente que nos ajuda a aprofundar as raízes do relacionamento
com Deus, trazendo viço e força para as nossas “folhas”. E quando os
momentos difíceis vêm, quando o inverno chega, quando algumas
coisas nos faltam, conseguimos permanecer firmes. Não nos abala-
mos porque a nossa essência está tão mergulhada no Senhor, que nos
tornamos fortes. Assim podemos dar frutos, porque temos estrutura
para isso. Até hoje sei que continuo vencendo as dificuldades por causa
da base que construí ao lado de heroínas da fé. Sinto muitas saudades
desses dias maravilhosos. Meus olhos transbordam de lágrimas e grati-
dão por ter tido mulheres incríveis como a minha mãe e a tia Nó.
Em um belo dia, minha tia foi me visitar. Ela sempre chegava ale-
gre, dizendo gentilezas:
“Que perfume gostoso! A sua casa tem cheiro de céu!”
Eu sorria ao ouvir isso. Era muito bom recebê-la. Tia Nó falava
que era assim que ela sentia a presença do Espírito Santo em nosso
lar, pelo aroma. Mas nessa quinta-feira em que ela foi me ver, sentiu
algo diferente.
“Hoje tem outro perfume nesta casa.”
“Ah é?” – eu perguntei. “Perfume de quê?”
“Perfume de bebê! Hoje tem cheiro de bebê!”
Eu sorri, como sempre, e respondi:
“Tia, pode ser o Juninho que passou por aqui.” – me referindo
ao filho da Lourdes e do Oswaldo, que sempre estava comigo. “Você
deve estar sentindo o cheirinho dele.”

173
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Não, não é do Juninho.” – ela respondeu e já começou a cantar,


como se estivesse falando para um bebê: “Ai, coisa linda da titia!
Coisa fofa da titia!”
“Tia, a senhora está ‘viajando na maionese’!” – eu falei usado uma
expressão da época.
“Não estou não! Eu já posso ver o rostinho do bebê! Ele está vindo!”
Eu via aquela cena e gargalhava. Um riso bom, um sorriso repleto de fé.
Pouco tempo depois participei de uma vigília poderosa. No cami-
nho de volta para casa, falei com Deus:
“Eu quero tudo o que o Senhor tem para a minha vida. Só o que o
Senhor tem para mim.”
Então, ouvi:
“Eu tenho uma vida para a sua vida.”
“Uma vida para a minha vida?” – perguntei de volta. “Isso quer
dizer que o Senhor vai colocar uma vida dentro de mim?” – questio-
nei, já muito emocionada. “Aleluia! Meu Deus, você nem precisa fazer
isso, mas se o Senhor quiser, eu tenho fé.”
Dois meses depois, comecei a me sentir estranha. Procurei um
médico para saber o que eu tinha, afinal o mal-estar era enorme. Fiz
vários exames, na expectativa de Deus ter operado e eu estar esperan-
do uma criança. Mas assim que o doutor recebeu os resultados, me
chamou para conversar.
“Ezenete, deu negativo. Você não está grávida e provavelmente está
se sentindo assim por alguma razão emocional. Talvez justamente por
querer muito esse filho. Você sabe que não pode engravidar. Só por
um milagre. Mas, já que quer tanto ser mãe, por que não adota uma
criança?”
“Um dia eu vou adotar, mas antes vou engravidar e gerar.”, respondi.
Voltei para casa desanimada, com o coração apertado, mas espe-
rando no Senhor. Continuei com os meus momentos de busca e ora-
ção, e então Deus falou comigo:
“Louve pelo fruto do seu ventre.”
“Deus, eu fui ao médico. Não tem fruto no meu ventre. O exame
não deu nada.”
Ele não me disse mais nada, mas eu continuei a orar. Minha mens-
truação acabou descendo, como era esperado. Porém tinha um deta-
lhe: o fluxo de sangue estava bem menor que o normal. Por isso tomei

174
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

uma decisão: fazer um exame de sangue. Manteria em segredo, nem


meu marido saberia. Senti essa direção no meu espírito.
Dormi agitada, ansiosa e contando os minutos para o dia clarear.
Marcos saía para o trabalho às 4h30 da manhã. Esperei ele se arrumar,
tomar o café e partir. Eu já estava em jejum, só esperando a hora certa
para ir ao laboratório onde uma amiga trabalhava. Como eu não tinha
um pedido de exame por escrito, eu acreditava que ela poderia me
ajudar. Minha amiga me atendeu, mas me alertou:
“Ezenete, cuidado para você não se frustrar novamente.”
“Não se preocupe com isso. Só me avise quando o resultado sair.”
Naquela época os exames não ficavam prontos na hora, então vol-
tei no horário marcado, dois dias depois. Assim que a minha amiga
me viu, ela deu um sorriso:
“Parabéns, parabéns, parabéns! Você não pode abrir o exame, pre-
cisa levá-lo direto para o médico. Mas deu positivo! Você está grávida!”
“Não conte nada a ninguém, por favor!” – eu pedi. Queria esperar
até o momento da consulta para acreditar que estava tudo bem. Mas
dentro de mim eu já celebrava.

Finalmente grávida

No dia seguinte, fui ao consultório. Assim que vi a secretária, fui


pedindo:
“Eu sei que não estou agendada, mas preciso muito ver o doutor.”
“Sinto muito, mas ele não tem nenhum horário disponível.”
“Eu imagino, mas você precisa me ajudar. Eu só quero mostrar um
exame para ele. Por favor. É urgente!”
“Bem, eu não posso garantir nada. Você pode esperar aqui até o
fim das consultas. Quem sabe o médico te atende!”
Foi o que eu fiz. Fiquei assentada na recepção vendo pacientes en-
trando e saindo, esperando ansiosamente pela minha vez. Liguei para
o Marcos e pedi para que ele me encontrasse. Ele foi, sem entender
nada. No final da tarde o médico me chamou e logo perguntou:
“Que exame é esse que você quer que eu veja?”
“Eu fiz um exame de sangue.”
“Mas, por quê? Para quê?”
“Para ver se eu estou grávida!”

175
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Ai, Ezenete... Há poucos dias nós vimos que o resultado deu negativo.”
“Eu sei, mas fiz novamente. Doutor, por favor, confira o resultado
para mim.”
O Marcos me olhou, sem entender nada, e perguntou:
“Para que você fez isso?”
“Você vai ver. Espere. Depois te conto.” – eu respondi falando baixinho.
“Mas você está menstruada!”
“Eu sei! Mas vamos ver o resultado.”
O médico abriu o envelope enquanto ouvia o Marcos me questio-
nar. Mas assim que ele desdobrou o papel e leu o que estava escrito,
arregalou os olhos:
“Como assim? Ezenete, você está grávida! E pelo resultado você já
tem mais de um mês de gestação! Eu não entendo! Precisamos fazer
novos exames. Isso não é normal. Pode ser algum problema hormonal.”
Nem dei ouvidos ao que ele dizia. Só podia sorrir e dar glória a
Deus! Eu estava vivendo mais um milagre! Mistérios do Senhor! Por
orientação médica, fiz vários exames, e todos mostraram que eu es-
tava bem. Bem grávida! Já estava na sexta semana, e agora vinha um
longo caminho pela frente. Deus tinha um propósito! Fazendo as con-
tas, descobri que quando a tia Nó esteve na minha casa e sentiu o
cheirinho de bebê, o meu filho já estava no meu ventre. Aleluia!
Compartilhar a notícia da gravidez foi maravilhoso. Meus pais se
alegraram, meus irmãos celebraram, e eu e o Marcos ficamos como
quem sonha. Continuamos preparando tudo. Eu já tinha mais de cem
pacotes de fraldas! No meu guarda-roupa elas nem cabiam mais, en-
tão continuei o estoque na casa da minha mãe.
Apesar de todas as expectativas e do pré-natal, não foi possível sa-
ber o sexo do bebê. Em nenhum dos exames de ultrassom que fiz foi
possível identificar se seríamos pais de um menino ou de uma me-
nina. Independente disso, nosso coração transbordava. Porém, nem
tudo foi fácil. O período da gestação foi complicado, mas nós acredi-
távamos que o Senhor estaria conosco até o fim. O médico disse que
eu precisaria fazer muito repouso, pois minha bacia era estreita, e eu
poderia ter dificuldades para sustentar o bebê. Segui todas as reco-
mendações.
No quinto mês, algo curioso aconteceu. Eu percebi que o meu filho
mexia pouco, geralmente só de um lado. Eu não sabia bem o que isso

176
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

significava, afinal era minha primeira gravidez, mas sentia que algo
estava errado. Certo dia, estávamos orando com a família da Lourdes,
e o filho mais velho dela, o Samuel, falou para todos ouvirem:
“O neném da Nete só tem um lado normal. O outro não mexe. Mas
Jesus vai operar o bebê agora. Jesus está falando para eu orar por ele.”
Todos ficamos impressionados. O Samuel tinha apenas seis anos
de idade e descreveu exatamente o que eu sentia. Por isso, demos
ouvidos ao que ele falou. Fechamos nossos olhos, ele impôs as mãos
sobre mim e oramos em concordância. Aproximadamente três horas
depois o bebê começou a se movimentar no meu ventre. Ele se mexia
tanto, que era inacreditável! Deus ouviu a oração do pequeno Samuel
e operou um milagre. Agradecida, louvei ao Senhor. Ele estava agindo.
Semanas depois, sofri um sangramento. Acordei sentindo que algo
estava errado e percebi um pouco de sangue escorrer. Liguei para o
médico, muito preocupada, mas ele disse que estava tudo bem e que
eu só deveria permanecer de repouso, tranquila.
Dias mais tarde, eu estava no meu quarto, deitada, seguindo as
orientações de ficar bem quieta, quando percebi que meu fôlego es-
tava diferente. A minha cunhada estava na cozinha, preparando o al-
moço, e eu comentei:
“Márcia, que estranho... parece que estou ficando sem ar, sem fôlego.”
“Ah, Ezenete, deve ser só o calor. Quem sabe se você tomar um
pouco de ar fresco lá fora você se sente melhor...”
Eu fui, mas a cada minuto o fôlego diminuía. Foi ficando mais di-
fícil para puxar o ar. Dei uma volta no pequeno quintal e voltei para
dentro de casa. De repente o oxigênio sumiu. Eu não conseguia res-
pirar nem falar. A sensação era como se eu estivesse mergulhada sem
tirar a cabeça para fora da água. Era horrível! Aflita, minha cunhada
ligou para o meu pai, que morava bem perto:
“Venha rápido socorrer a Ezenete. Ela não está bem.”
Quando eles chegaram, eu já esperava do lado de fora da casa, qua-
se desfalecendo. A minha mãe tinha ligado para a tia Nó, pedindo
oração, enquanto a Lourdes permanecia ao meu lado guerreando, lu-
tando contra o inferno:
“Satanás, você não vai roubar a benção da Nete! Vá saindo agora,
em nome de Jesus! Foi Deus quem prometeu esse filho! Você não vai
encostar nenhum dedo na vida dela ou no bebê que ela está gerando!”

177
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Enquanto isso eu tentava respirar, me esforçando ao máximo para


puxar o ar, como se estivesse no meio de uma crise de asma. Minha
mãe ligou para o hospital avisando que estávamos a caminho. Assim
que chegamos, uma enfermeira e o médico me aguardavam. Eles co-
locaram um balão de oxigênio no meu nariz e me puseram no soro.
Mesmo desorientada, percebi a correria ao redor. Todos estavam ten-
sos, agitados.
“Meu bebê! Como está o meu bebê?” – eu perguntava, tentando
gritar, sem sucesso.
O médico segurou as minhas mãos e foi muito claro:
“Ezenete, esqueça o seu bebê. Você pode arrumar outro filho de-
pois. A nossa preocupação agora é em salvar a sua vida.”
Fui internada, e os exames começaram. Em um deles percebemos
que não era possível mais ouvir os batimentos cardíacos do meu filho.
Minha mãe, minha tia, minha sogra e a Lourdes estavam em oração.
O Marcos chegou e se uniu à batalha espiritual. Minha respiração me-
lhorou, mas as notícias não eram boas...
“Nós vamos fazer um ultrassom, mas o coração do bebê não está
batendo mais. Vamos esperar mais um pouco e repetir o procedimen-
to.” – informou o médico.
Mesmo diante desse luta tão grande, eu louvava ao Senhor. Era só
o que eu podia fazer e foi o que aprendi. Nos momentos de adversida-
de precisamos erguer um altar de adoração a Deus. Enquanto isso Ele
guerreia por nós.
No final da tarde, o médico voltou ao meu quarto com o semblante
muito preocupado.
“Ezenete, vamos aguardar um pouco mais, mas acredito que o seu
bebê não suportou a falta de ar. Tudo nos leva a crer que ele não está
vivo. Essa crise foi muito forte, muito intensa. Nós vamos aguardar até
amanhã para ter certeza, mas quero prepará-la para o pior. Provavel-
mente teremos que fazer uma cirurgia para retirar o bebê.”
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Nas horas seguin-
tes, tudo o que fizemos foi clamar por socorro divino e adorar:
“Deus, o Senhor não faz isso. O Senhor é um Deus fiel. Eu já te
agradeço pela Sua provisão.”
Mas nada acontecia. O meu filho permanecia imóvel no meu ven-
tre. De tempos em tempos alguma enfermeira vinha checar, mas tudo

178
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

permanecia igual. À meia-noite uma delas voltou e massageou a mi-


nha barriga. Depois de alguns segundos ela disse:
“Ezenete, já se passaram tantas horas, e o seu neném não reagiu.
Fizemos de tudo, você lutou tanto. Infelizmente está na hora de você
se preparar para o pior.”
Olhei para o teto do quarto, respirei fundo e suspirei:
“Amém...”
Eu tinha convicção de quem Deus era. Eu sabia que Ele estava no
controle de toda as coisas. Então, orei:
“Deus, eu entrego o meu bebê. Não sei se é menina ou menino,
mas eu devolvo a criança que o Senhor me deu. Se o objetivo de tudo
isso, me permitindo engravidar, era mostrar o Seu poder, amém. Que
assim seja. Mas eu peço, prepare o coração do meu esposo e das pes-
soas que creram junto conosco. De uma coisa eu sei: eu estou grávida,
meu útero gerou, um milagre aconteceu. Daqui para frente é com o
Senhor.”
Continuei deitada, em espírito de oração, adorando. Eu cantava o
hino que diz:

A Tua graça é melhor que a vida


A Tua graça é melhor que a vida
Meus lábios te louvam e assim bendirei
Em Teu nome minhas mãos levantarei

Dormi exausta. Acordei às três horas da manhã sentindo a minha


barriga tremer e chamei a enfermeira:
“Olha, a minha barriga está mexendo! Meu bebê está se movendo!
Ele está vivo!”
Ela veio, me olhou com um sorriso sem graça e disse:
“Eu sou mãe e sei como a gente faz tantos planos durante a gravi-
dez. Vamos continuar esperando, tá bom? Fique tranquila.”
Dali em diante eu sentia a criança estremecer dentro de mim.
Eram movimentos leves, mas, para mim, suficientes para saber que eu
iria dar à luz um bebê vivo. Às oito horas da manhã o médico chegou:
“Como você está, Ezenete?”
“O meu filho está vivo, doutor! Ele está mexendo! Eu estou sentindo!”
Ele sorriu e com o mesmo olhar vago da enfermeira me respondeu:

179
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Olha, a gente vai fazer mais um exame e em seguida seguimos


para a sala de operação.”
Eu já sentia o bebê se mexendo normalmente dentro de mim. Já
estávamos a caminho do bloco cirúrgico, quando eu insisti:
“Doutor, eu não vou operar. Por favor, me examine novamente!”
– implorei.
“Eu vou confirmar só mais uma vez, para que você tenha tranqui-
lidade.” – ele respondeu com um sorriso piedoso.
Assim que o médico colocou o estetoscópio na minha barriga, ele
ouviu o meu milagre:
“Eu não acredito! Não é possível!” – ele reconheceu a batida forte
do coração que pulsava no meu ventre.
Os médicos disseram que eu tive uma asma muito forte, mas na
realidade eu sei que passei por um ataque das trevas para matar o
meu filho e os sonhos de Deus na minha vida. Por um milagre sobre-
vivemos. Não desanimei. Nunca desisti. Entreguei tudo nas mãos do
Senhor e simplesmente acreditei que o mais Ele faria. Três dias depois,
voltei para casa com o meu bebê vivo em mim.

Cadê o meu filho?

Porém, depois de todo esse estresse a criança virou e se encaixou


para nascer. O médico me alertou que, mais do que nunca, era preciso
repouso e cuidado absolutos. Eu não podia nem sair da cama. Mas
havia um problema: eu tinha um compromisso com a igreja naquele
final de semana.
“Doutor, eu vou obedecer. Mas neste sábado eu tenho um encon-
tro com mil jovens.”
“Não! Você está louca? Você não pode sair do quarto!”
“Doutor, eu preciso que o senhor diga que eu posso. Eu tenho que
pelo menos me despedir da minha turma.”
Ele acabou concordando com a minha promessa de que eu não
abusaria. Participei do encontro e voltei para casa, para aguardar os
meses que faltavam. Mas assim que passei pela porta, a dor voltou.
Como a minha bacia não dilatava, o espaço era muito pequeno para
o crescimento da criança. Por isso sofríamos juntos. Os exames mos-
travam que o bebê era muito pequeno e tinha dificuldades para se

180
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

desenvolver. Não foi nada fácil para nós dois. Por causa dos cuidados
extras que a situação exigia, fui para a casa da minha mãe. Lá sempre
teria alguém para me acompanhar e socorrer, se fosse preciso.
As dores eram terríveis, e posso dizer que Satanás sempre tentou
me atacar nessa área. Ele sabe que quando sofremos a nossa tendência
é desistir, murmurar. A dor nos entristece e retira as nossas forças.
Quando o incômodo era insuportável, e eu não tinha mais condições
de prosseguir, minha mãe intercedia. Ela erguia os braços e orava.
Juntas cantávamos ao Senhor, e o louvor preenchia a nossa casa, o
meu corpo, e me fazia esquecer de tudo o que eu sentia.
Muitas pessoas diziam que era uma loucura eu ter engravidado,
por causa do meu histórico de saúde. Mas eu via o sofrimento como
uma benção de Deus. Maior foi a dor que Jesus sentiu no Calvário.
Por isso, decidi não dar ouvidos aos comentários negativos. Eu apenas
adorava, mesmo quando os pezinhos finos do bebê se esticavam para
debaixo das minhas costelas!
Quando faltava uma semana para completar oito meses de gesta-
ção, voltei ao consultório para o médico analisar as imagens de mais
um ultrassom. Ele não gostou do que viu:
“Você precisa aguentar mais. Eu não posso fazer o seu parto agora.
Continue em repouso, relaxe, porque não é o momento para o bebê nas-
cer. O seu filho já escapou da morte uma vez, e não quero colocá-lo em
risco novamente. Vou aumentar as vitaminas que você está tomando.”
Mas eu respondi, quase chorando:
“Doutor, eu não aguento mais... Dói muito!”
“Eu sei, Ezenete, mas você vai ter que suportar. Eu não toco nessa
criança a não ser que Deus me dê um sinal.”
Voltei para casa, para o meu antigo quarto de solteira, e continuei
a minha espera dolorida. Certa noite, enquanto buscava a Deus, co-
mecei a desabafar:
“Deus, eu não aguento mais. Se o Senhor não tinha essa gravidez
para mim, se eu fiquei insistindo contra a Sua vontade, me perdoe!
Se eu pequei, de alguma forma, buscando esse filho, e por isso estou
sofrendo tanto, me conceda o Seu perdão pela minha ignorância! Eu
acreditei no Seu poder, eu creio no que o Senhor pode fazer. Mas me
perdoe se eu busquei tanto o que não era para mim. Eu só peço uma
coisa: me ajude. Eu não suporto essas dores mais nenhum dia. Se o

181
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Senhor quiser, pode me levar agora mesmo para a glória. Eu não con-
sigo mais...”
Passei uma madrugada terrível, travada, sem conseguir respirar
direito. Quando estava quase pegando no sono, e o sol já nascendo,
comecei a pensar em tudo o que eu estava vivendo, nas provações que
venci... e lembrei dessa minha última oração. Decidi conversar com o
Senhor novamente.
“Deus, me perdoe se na hora da angústia eu falei alguma besteira.
O Senhor sempre me ouviu, e eu sei que tens vida para mim. Me lava
com o Seu sangue e me ouça mais uma vez, por favor. Faça mais um
milagre: me entregue o meu filho, permita que ele nasça bem, saudá-
vel e o mais rápido possível. Eu não suporto mais tanta dor.”
Pouco depois a minha mãe foi levar o meu café no quarto. Tudo
doía. Ela e o meu pai tiveram que me ajudar a levantar, a ir ao banhei-
ro, porque eu mal dava conta de mim.
“Mãe, dói muito. Mas agora é diferente. É algo que passa pelas minhas
costas, vem para frente, para um pouco e retorna com toda força.”
“Ezenete, isso é contração.”
Eu não sabia o que estava sentindo, mas continuava a clamar. Se
tem uma coisa que aprendi durante esses momentos de desconforto
é: não pare de louvar. Diga “aleluia”, glorifique ao Senhor. Não pare,
porque assim você vai vencer a tentação de murmurar. Quanto mais
dor você estiver sentindo, mais alto clame, para não correr o risco de
pecar. E eu dizia a Deus:
“Eu agradeço porque sei que Jesus está comigo. Ele venceu na cruz,
e juntos vamos passar por essa batalha. Obrigada, porque não estou
sozinha.”
No meio de todo esse desconforto, um amigo da minha família foi
nos visitar. Ele testemunhou a minha dor e disse:
“Hoje Deus tem uma solução para você, Ezenete. Ele vai te dar
uma resposta. Fique calma.”
Três horas mais tarde as contrações aumentaram. Preocupada,
minha mãe ligou para o médico relatando tudo. Ele ouviu e tentou
tranquilizá-la.
“Dona Eurídes, a Ezenete vai sentir dor mesmo. Não temos muito o
que fazer. Peça para ela ficar quieta, repousar, que o desconforto vai passar.”
Minha mãe desligou inquieta, mas acatou a orientação do médico.

182
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

Mais uma hora se passou, e a dor piorou. Ela pegou o telefone, discou
o número e falou novamente:
“Doutor, a situação piorou. Ela está com contrações muito fortes.
Precisamos fazer algo!”
“Tudo bem, traga a Ezenete, que vou fazer um exame. Mas já
adianto: não está na hora da criança nascer.”
“Obrigada, doutor. Estamos indo para aí agora!”
As malas da maternidade já estavam prontas, mesmo sabendo que
ainda tinha pelo menos um mês de gestação pela frente. Fui tomar
um banho, me arrumar, pegar as minhas coisas, quando ouvi o te-
lefone tocar. Era minha amiga Clécia, a que fez a decoração do meu
casamento:
“Oi, Ezenete! Tudo bem?”
“Oi, Clécia, estou vencendo no Senhor Jesus.”
Na mesma hora ela foi tomada pelo poder de Deus.
“Filha, Eu sou o seu Pai, Eu sou o seu Senhor. Eu ouvi o seu choro
pela madrugada. Você não vai morrer, Eu não tenho morte para você,
Eu tenho vida. Você e a criança vão sobreviver. Lembra da minha
aliança contigo? Eu farei mudar todas as coisas. Leve as malas para o
hospital. Você só vai voltar para casa com o seu varão no colo. É o Meu
ungido! O Meu presente para ti! O médico vai dizer “não”, mas Eu
digo “sim”. Ao alvorecer de um novo dia você estará com o seu varão
nos braços. Minhas mãos estão sobre ti.”
Foi assim, pela voz de Deus, que descobri que carregava um meni-
no no ventre. Desliguei o telefone e falei com a minha mãe:
Mãe, eu preciso levar as malas.
“As malas?”
“Sim! A Clécia ligou, e Deus disse que o meu filho vai nascer.”
Entrei no carro com meus pais e seguimos para a casa da tia Nó,
para buscá-la também. Assim que nos encontramos, ela começou a
cantar daquele jeitinho alegre de sempre e falou em nome do Senhor:
“Filha, eu já te disse. Ao amanhecer você estará com o seu varão
no colo.”
Ela não sabia de nada! Eu nem tinha contado o que Deus havia reve-
lado. Essa foi mais uma confirmação de que meu filho estava a caminho.
Quando chegamos ao hospital, expliquei para o médico sobre as
dores e disse que estava na hora de o bebê nascer. Ele até me ouviu,

183
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

mas não concordou. Ele sabia que seria arriscado fazer um parto tão
prematuro e queria me mandar de volta para casa. Porém, depois de
me examinar, ele percebeu que eu estava com contrações e concordou
em me manter em observação.
“Vou interná-la; você vai ficar no soro a noite toda. Vamos fazer de
tudo para que o seu bebê não nasça agora. Veremos se você poderá ir
para casa ou se terá que permanecer aqui. Vamos fazer de tudo para
manter a criança na barriga. Ela precisa de pelo menos mais vinte dias
de gestação. O parto neste momento não é o ideal. Eu não ponho a
mão em você, a não ser que Deus me dê um sinal.”
Não discuti, mas na mesma hora pensei: “É ruim, hein. Você vai
ver que não vou ficar aqui esse tempo todo. Meu filho vai nascer até
amanhã! Deus vai te mandar um sinal”.
Fui internada, o médico repassou as orientações para as enfermeiras e
foi embora deixando a ordem de que eu deveria permanecer em repouso.
Minha sogra chegou mais tarde. Ela, minha mãe e a tia Nó, passa-
ram a noite no corredor, enquanto eu fiquei no quarto. Elas intercede-
ram a noite toda. Eu posso dizer que sou resultado de muita oração.
Ela move céus e terra a nosso favor. Eu sou prova disso.
A dor terrível foi embora e finalmente consegui dormir um pou-
co. Mas às três horas da manhã acordei sentindo todo aquele mal de
novo. As contrações voltaram. Chamei minha mãe, minha tia, minha
sogra e começamos a orar. As enfermeiras me examinaram e pediram
para esperar, seguindo a orientação que receberam. Mas nós sabíamos
que algo estava errado. Era hora de agir. E tinha que ser rápido!
“Deus, incomoda o médico! Desperta esse médico! Envie o Seu
socorro! Mande o sinal que ele precisa!”
Quando o relógio marcou cinco horas da manhã, o médico chegou
agitado e foi logo nos dizendo:
“Eu não consegui dormir essa noite. Fiquei muito inquieto. Ezene-
te, eu liguei para o hospital e fiquei sabendo que você está tendo con-
trações. Esse bebê não pode nascer ainda, e você não pode entrar em
trabalho de parto. Seria arriscado para você e para o bebê. Não sei o
que fazer. Vou esperar os outros médicos para tomarmos uma decisão
juntos. Você vai ter que aguardar mais um pouco.”
O Marcos chegou e ficou ao meu lado. Dali em diante as enfermei-
ras passaram a me monitorar com mais frequência.

184
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

“Como você está?” – elas perguntavam.


“Com dor.” – essa era sempre a minha resposta.
“Mas você tem certeza? Não é coisa da sua cabeça?”
“Não é nada da minha cabeça. Eu estou com dor.”
“As contrações voltaram?”
“Sim. E estão muito fortes.”
E elas saíam do quarto cada vez mais preocupadas. O médico ti-
nha deixado claro que eu não poderia entrar em trabalho de parto,
mas esse momento estava se aproximando. O último ultrassom, feito
poucos dias antes, tinha mostrado que nosso filho era muito pequeno,
não tinha peso suficiente e enfrentaria uma longa batalha pela vida se
nascesse nessas condições. Mas quando o relógio marcou seis horas
da manhã, o médico voltou decidido.
“Eu vou fazer o parto agora. Assim que a criança nascer, ela terá que
ir para a incubadora. Ela mal está pesando dois quilos, é muito pequena.
Vocês precisam se preparar para o que vem pela frente. Minha prioridade
é você, Ezenete. Seu bebê sofreu muito durante a gestação e precisava de
mais tempo no útero, mas você não tem mais tempo. Não posso te colocar
em risco. Por isso o Marcos vai ter que assinar um documento dizendo que
está ciente de tudo o que estou explicando. Vocês entenderam?”
“O meu filho pode morrer? É por isso que vamos ter que assinar esse
documento?” – perguntei.
“Sim. O seu filho pode morrer.” – ele respondeu sem rodeios.
“Marcos, pode assinar o papel. Vai dar tudo certo.” – eu afirmei.
Sabíamos que já estávamos vivendo um milagre. Deus tinha nos pro-
metido que seríamos pais. Decidimos entregar tudo nas mãos dEle e sim-
plesmente confiar.
“Já que vocês estão cientes dos riscos, vamos fazer a cesariana.”
Às 6h30 da manhã as enfermeiras começaram a me preparar para
o parto. Entrei sozinha na sala de cirurgia, louvando ao Senhor, en-
quanto meus pais, minha sogra e o Marcos ficaram do lado de fora
esperando e intercedendo por mim e pelo bebê. Não podíamos fazer
mais nada, a não ser clamar.
“Vamos torcer para o seu filho resistir. A nossa prioridade é você.”
“Doutor, meu filho vai nascer forte e saudável. Você vai ver. Tudo vai
dar certo, muitas pessoas estão orando por mim. Jesus Cristo está vivo e
vai fazer um milagre.”

185
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“Você é uma mulher de muita fé.” – ele respondeu antes de me


anestesiar.
Declarei o Salmo 23 em alta voz para os médicos ouvirem que o Se-
nhor é o meu pastor e nada me faltará. Quando a anestesia começou a
fazer efeito, eu tinha acabado de orar o Salmo 91:
“Mil cairão ao seu lado, dez mil à sua direita, mas você não será
atingido.”
Às 8h20 da manhã o nosso filho nasceu: um menino lindo, forte, gran-
de, encorpado, pesando 3,300 kg e medindo 48 cm. Quando os médicos o
pegaram, não podiam acreditar que era a mesma criança que tinham visto
no ultrassom.
“Onde esse menino estava escondido?” – eles se perguntavam impres-
sionados! “É impossível ele ter se desenvolvido tanto nesses poucos dias!”
Ouvi o choro forte do meu bebê e observei a agitação dos médicos.
Vi rapidamente o meu filho, e a pediatra o levou para ser examinado.
Após o parto eu estava exausta. Adormeci profundamente na sala de
recuperação enquanto era assistida pelas enfermeiras. Quando des-
pertei, eu estava muito confusa e perdida, sem ter ideia de quanto
tempo fiquei apagada e o que tinha acontecido depois do parto. Per-
cebi que estava sozinha e não havia ninguém perto de mim.
“Cadê o meu filho! Eu quero o meu filho!” – comecei a gritar.
“Meu neném morreu! Cadê o corpo dele?” – eu olhava de um lado
para o outro implorando por informações.
“Calma, o seu menino está bem.” – respondeu uma enfermeira
tentando me acalmar.
“Eu preciso ver o meu filho! Ele morreu!”
“Não, ele não morreu. Ele está vivo! É um menino! Um menino lindo!”
Eu estava sem forças, emocionalmente abalada, cansada de ouvir
más notícias. Acordar sem o meu bebê ao lado me deixou maluca. Eu
tinha certeza de que ele não tinha resistido e as pessoas não queriam
me contar. Então chamaram o Marcos, que já havia carregado no colo
o nosso menino e estava ansioso para me ver.
“Amor, ele é lindo! O nosso filho é lindo!”
“Não, eu não acredito! Se ele estivesse vivo ele estaria comigo aqui
agora! Cadê ele?”
“Calma, você vai ver. Ele está vivo!”
Eu continuava agitada, confusa, sem acreditar que nós dois tínha-

186
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

mos sobrevivido. Os médicos viram que eu estava bem e que podia ser
levada para o quarto. Minha mãe estava lá me esperando.
“Ezenete, ele é lindo! O seu filho é lindo!”
“Mãe, você não o viu! Como pode dizer que ele é lindo?”
“Eu vi sim! Ele está vivo e é lindo.”
Parecia que as pessoas só sabiam dizer isso. Mas mesmo assim eu
tive muita dificuldade para acreditar. Até que finalmente o trouxeram
– todo embrulhado em uma manta do hospital. Segurei-o com todo
cuidado, mas muito desconfia-
da. Ele era grande, cabeludo e ti-
nha a pele clara. Esse garotinho
tão forte poderia ser a mesma
criança que vi no ultrassom?
“Vocês estão me enganando?
Esse é mesmo o meu filho?”
“Sim, Ezenete! É o seu bebê!
Você é mãe de um menino!”
Eu olhava para ele, que com
olhinhos abertos parecia reco-
nhecer a minha voz. Aos poucos
fui entendendo que estávamos
bem. Deus novamente foi fiel às
nossas vidas. Nosso filho nasceu
forte, saudável, grande e lindo!
“Eu estou viva. Meu filho
está vivo!” – eu falava enquanto
tocava o meu milagre, deslizando minhas mãos pelos dedinhos finos
e delicados do meu garoto.
Três dias depois, recebemos alta, juntos. Ele era um menino muito
saudável e não precisou ficar internado, pela graça de Deus. Eu tam-
bém estava ótima e podia cuidar de mim e dele. Saí com o nosso bebê
no colo glorificando o nome do Senhor.
Só fomos decidir o nome quando já estávamos em casa. Todos da
família palpitaram e, por fim, escolhemos: Lucas Rodrigues. Agora o
meu milagre tinha nome e sobrenome. Novamente o Senhor marcava
a minha vida.
No dia em que fomos apresentar o Lucas na igreja, fizemos um culto

187
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

lindo. Subi ao púlpito, como já tinha feito tantas vezes. O lugar estava
lotado. Muitas pessoas acompanharam a nossa história e vieram nos
ver. Contei o meu testemunho, a minha batalha pessoal para sobre-
viver quando era criança e adolescente, a sentença de que eu não po-
deria ter filhos, as dificuldades que vivi durante a gravidez e o parto
emocionante. Quando terminei de falar, todos olharam para o fundo
da igreja; uma menina de apenas sete anos de idade, a Elisa, começou
a cantar uma música de gratidão a Deus que retratava exatamente o
que estava em meu coração. A canção se chama Grande em Bondade,
da Shirley Carvalhaes, e diz:

Mais uma vez estou aqui, vim te adorar


Mais uma vez voltei aqui para te louvar
Quanta bondade, que amor que há em Ti
Misericórdia em Jesus Santo eu vi
Obrigado, obrigado, Senhor
Não mereço, mas Tu és maravilhoso

É engraçado pen-
sar que hoje a Elisa faz
parte da minha equipe
na Estância e trabalha
para que outras pessoas
sejam abençoadas por
esse Deus que opera mi-
lagres. Mas naquele dia,
enquanto ela louvava,
todos os olhos se diri-
giram para o fundo da
nossa igreja em Santo
André. Foi de lá que veio
a Lourdes, caminhando
bem devagar, com o Lucas no colo, mostrando para todos que o poder
de Jesus Cristo é real. Muito real.

188
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E I V

-------------------------

Palavras do Lucas

Falar da minha mãe é falar da minha história. Além do milagre


que nós somos, e pelo qual passamos juntos durante a minha
gestação e nascimento, ela teve um papel muito importante na
minha vida. Ela me ensinou a ser homem, um cristão, e hoje
me orienta a ser um bom esposo e pai. Mas o que mais chama a
minha atenção, é a forma como ela demonstra Jesus. De todas
as pessoas que conheço, ela é a que mais se assemelha com Ele.
Além de ser minha mãe, ela é minha amiga, companheira, dis-
cipuladora, minha conselheira. Todos os momentos de conflitos
pude contar com ela, sendo sempre presente. Só posso agradecer
a Deus pela vida dos meus pais, por tudo o que eles fizeram por
mim. Se hoje eu sirvo a Deus, se eu prego, aconselho, é porque
tive esse exemplo dentro de casa. Sou grato a Deus por ter a
oportunidade, de não ter apenas uma mãe, mas sim uma líder
espiritual. Eu te amo muito, mãe, e eu nunca vou me esquecer
dos seus conselhos e ensinamentos. E tudo isso eu vou passar
para o meu filho, para os meus netos, e assim por diante.

-------------------------

189
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

P A R T E V

“D EPO I S DI STO OUV I A VOZ


DO SE NHO R, QUE DI Z I A : ‘A
QUE M E N VI ARE I , E QUE M
HÁ DE I R PO R NÓS? ’ E NT Ã O
D ISSE E U : ‘E I S - M E AQUI ,
E N VI A-ME A M I M ’” .

I S A Í A S 6 . 8
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

17. HORA DE FAZER AS MALAS

O Lucas cresceu, desenvolveu-se e trouxe muita alegria às nossas


vidas. Com nove meses ele começou a andar, nos enchendo de orgu-
lho! Desde bem pequeno, dizia que seria pastor e jogador de futebol.
Ele marchava pela casa, de um lado para o outro, com a Bíblia debaixo
do braço, pregando a Palavra.
Vivemos muitas histórias lindas em Santo André e na igreja que
frequentávamos. Mas quando o Lucas tinha uns quatro anos de idade,
o Senhor começou
a falar que nos le-
varia para outra
cidade. Era assus-
tador pensar nis-
so, porque amáva-
mos a nossa vida,
adorávamos estar
perto das nossas
famílias e estáva-
mos muito felizes
na igreja. Mas se o
Espírito Santo nos

193
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

guiasse a fazer as malas, assim o faríamos. Deus disse que nos levaria
para um lugar próximo a Santo André, e que lá seria um trampolim
para o que Ele tinha para nós. Então, descansamos nEle e simples-
mente aguardamos.
Pouco tempo depois, o Marcos foi promovido. Ele sempre foi um
homem trabalhador, um funcionário dedicado, uma pessoa compro-
metida, que levava tudo muito a sério. Ficamos felizes quando ele foi
honrado pelo chefe, que reconheceu e valorizou toda a competência e
capacidade do meu marido. Ele disse que gostaria muito que o Mar-
cos assumisse novas responsabilidades em uma unidade da empresa,
que seria ampliada. A transferência seria para São José dos Campos.
Quando oramos a respeito, nos lembramos do que o Senhor tinha dito
e, por isso, sentimos paz.
Marcos arrumou uma pequena mala, pegou a estrada e foi sozinho
preparar um lugar provisório para nós três. Seis meses depois, eu e o
Lucas seguiríamos para acompanhá-lo. Assim que eu chegasse, pode-
ria ajudá-lo a encontrar uma casa definitiva, que atendesse às nossas
necessidades.
No dia em que me des-
pedi do nosso antigo lar,
em que abracei meus pais
e parti, meu coração estava
acelerado. Era uma mistu-
ra de saudade antecipada
da família, com a vontade
de estar novamente com o
meu marido. Mas, ao mes-
mo tempo, estávamos em
paz. As cidades eram próxi-
mas, então decidimos que
passaríamos a semana em
São José, enquanto o Mar-
cos trabalhava, e na sexta
à noite voltaríamos para
Santo André. Assim a mu-
dança não seria tão brusca,
poderíamos nos manter

194
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

próximos de nossos pais e irmãos e continuar a frequentar a nossa


igreja. Partir não foi fácil, mas tínhamos convicção de que era um
novo tempo do Senhor para nós.
Após alguns dias da minha chegada com o Lucas na nova cida-
de, fomos procurar um lugar para nos instalarmos definitivamente.
Andávamos o dia inteiro por todos os bairros, mas eu não gostava de
nada do que via. Depois de caminhar tanto, me sentia cansada e orava
para que Deus me conduzisse, de uma vez por todas, ao imóvel que
Ele tinha para nossa família. Confiei que o Espírito Santo me guiaria.
Certo dia peguei a bolsa e saí novamente, mas pela última vez, nessa
busca exaustiva.
Depois de percorrer muitas ruas, observei uma casa de esquina.
Gostei muito do que vi. Um senhor estava no terraço do imóvel vizi-
nho; achei que seria interessante conversar com ele para saber como
era morar ali. Ele foi muito agradável e atencioso.
“O bairro é muito tranquilo. Você vai gostar.” – ele respondeu, com
cordialidade, depois de uma breve conversa.
Foi assim que conheci o Seu Nunes, marido da Ana Lúcia, amiga
preciosa que esteve ao meu lado por tantos anos. Hoje sei que um dos
motivos pelos quais eu precisava me mudar para São José dos Campos
era me aproximar dessa família tão querida. Esse foi o início de uma
linda amizade, que mudou as nossas vidas. Naquele dia eu nem ima-
ginava o que o Senhor estava reservando para nós.
Assim como o Seu Nunes me disse naquele primeiro contato, gos-
tei da casa, do bairro e do lugar. Eu poderia criar o meu filho ali, seria
fácil para o Marcos ir para a fábrica e com o tempo eu me envolveria
em alguma atividade na região. Fechamos o negócio e nos mudamos.
Eu e minha família não conhecíamos ninguém, apenas aquele senhor
que morava ao lado. Não sabíamos muito sobre ele, até que um dia ele
me disse que a esposa era crente – “só a esposa”, ele não, fez questão
de dizer.

Ana Lúcia

Certa noite a Ana Lúcia bateu na minha porta. Ela tinha acabado
de chegar do trabalho e queria se apresentar. Tivemos uma conversa
muito agradável. Ela me contou que foi criada em um lar cristão, que

195
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

era filha de missionários, mas na adolescência tinha desistido de ser


crente. Disse que o pai só aceitou a Cristo depois de ter falido, então
ela associava o Evangelho a uma vida de pobreza. Por isso, assim que
se casou com o Seu Nunes, ela parou de ir à igreja, abandonando de
vez os ensinamentos recebidos em casa.

O próprio casamento foi um ato de rebeldia. O pai conhecia o gen-


ro e gostava dele – que era um homem bom e trabalhador –, mas
alertou a filha de que ela estava entrando em um relacionamento com-
plicado, pois o Nunes não era convertido. A Ana Lúcia não o respon-
deu, mas pensou: “Se eu me casar com um crente é que vai ser jugo
desigual. Eu não quero mais saber de igreja.”
Ignorando os conselhos do pai, ela começou a própria família,
quando ainda era uma adolescente. O tempo passou, Ana Lúcia se
manteve o mais distante que pôde dos caminhos do Senhor e teve três
filhos com o Seu Nunes. Quando completou 36 anos, depois de 20
casada, ela sentiu que Deus a estava chamando de volta.
“Vá para a Minha casa me louvar!” – ela ouvia o Senhor dizer vá-
rias vezes.
Ao mesmo tempo, ela encontrava pessoas que não a conheciam,

196
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

mas diziam, do nada, que ela precisava voltar para Jesus. Ela até tentou
relutar, mas em um domingo foi à igreja com as irmãs. Passou todo
o culto aguardando, ansiosa, pela parte final. Ela só queria saber do
apelo para aceitar verdadeiramente a Jesus como Senhor e Salvador.
Assim que o pastor perguntou quem queria receber a Cristo, ela gri-
tou lá do fundo do templo, erguendo os braços:
“Eu!”.
Todos os olhares se voltaram para ela. Ana Lúcia foi à frente, cho-
rando, muito emocionada porque sabia que estava tomando a decisão
certa. Enquanto caminhava até o até o altar, ela foi ouvindo a voz do
Senhor sussurrando em seu ouvido em um tom amoroso:
“Filha, você nunca mais você sairá da Minha presença.”
Ela sabia disso. Por isso, em prantos, ela respondia:
“Mas eu não quero! Eu não quero!”
As irmãs foram ampará-la. Elas oravam por este dia há anos, e
quando perceberam que a Ana Lúcia cambaleava em direção ao pas-
tor, foram apoiá-la. Ao ouvirem a irmã dizer repetidamente as pala-
vras “eu não quero”, elas rebatiam, apontando o dedo para ela:
“Você quer sim, Ana Lúcia! Você quer Jesus sim!”
Isso porque elas não sabiam que a Ana falava com o Senhor que
não queria mais viver sem Ele! Tudo o que ela desejava era voltar para
Cristo e começar uma nova vida nos caminhos que nunca deveria ter
deixado. Desde então, Ana Lúcia iniciou uma linda jornada com Je-
sus. Mas o marido estava com o coração duro, e assim que soube da
conversão, avisou:
“Esse negócio de Jesus não tá com nada. Se você quiser, vai ser
crente sozinha, mas não leve nem um tostão meu para a igreja! Se eu
souber que você está levando dinheiro, vou lá buscar! E se algum pas-
tor mexer com você, eu vou lá também e quebro a cara dele!”
Mas ela perseverava em oração, crendo que um dia o Seu Nunes
entraria pelas portas da igreja para aceitar a Cristo – e não para bus-
car dinheiro ou bater em ninguém. Ana Lúcia era uma mulher de fé,
amava a Jesus e tinha um coração gigante. Sem falar o quanto era di-
vertida, engraçada e bem humorada. Aquele primeiro encontro, na
minha casa, foi muito bom. Senti uma alegria enorme em conhecê-la.
No meu coração, agradeci:
“Obrigada, Senhor! Agora podemos começar algo aqui”.

197
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Deus trabalhou muito comigo naqueles dias. Parecia que Ele estava
“zerando” a minha história. Pude rever o meu chamado, o meu minis-
tério e as experiências que tive com o Espírito Santo até então. Com o
passar dos dias, minha amizade com a Ana Lúcia foi aumentando. Eu
acompanhava as dificuldades e frustrações dela, porque parecia que o
Seu Nunes nunca iria se converter. Não foi fácil, mas nunca deixamos
de orar para que a obra de Deus fosse completa.
Uma das histórias que a Ana Lúcia sempre fazia questão de contar
aconteceu em um dia em que ela estava chorando aos pés do Senhor,
reclamando que mesmo após tantos anos, o marido e os três filhos
adolescentes permaneciam incrédulos. Na realidade, ela dizia que
depois que voltou para Jesus, o ambiente familiar, que era bom, se
tornou terrível. O marido reclamava de tudo, falava mal da igreja, de
Deus, dos crentes e do tempo que a esposa dedicava à obra. Os filhos
se recusavam a acompanhá-la e diziam que queriam aproveitar a vida
antes de se converterem. Exausta, ela se queixava frequentemente com
o Senhor:
“Deus, até hoje o Nunes não se converteu! Eu não aguento mais. Tá
muito difícil. Ele só fala mal do Senhor! Quanta bobagem sai da boca
deste homem! Olha o que ele está dizendo sobre Ti! Manda um raio
naquela cabeça dura e mata ele de uma vez! Assim eu fico viúva, me
caso com um pastor, e meus problemas se acabam!”
E nada acontecia. Era como se o coração do marido ficasse mais
resistente ainda! Na realidade a Ana Lúcia não orava. Ela só reclamava
com Deus sobre a família:
“Deus, eu vou me separar do meu marido. Cada um vai para o seu
lado, e meus filhos decidem com quem vão ficar. Eles seguem a pró-
pria vida e ficam livres para fazer o que quiserem! Aí eu continuo indo
para a igreja em paz, porque eu não vou largar Jesus!”
Até que um dia, enquanto ela estava ajoelhada buscando o Senhor,
Ele falou com ela:
“Eu te alcancei primeiro, dentro da sua casa, porque você era a pior
da sua família.”
Foi um baque para Ana Lúcia ouvir isso. Ela, do alto da sua arro-
gância, não imaginava que essa seria a resposta. Ela que se achava tão
correta e cheia de razão, reconheceu os próprios erros. Então, pediu
perdão a Deus e mudou a forma de agir. Mudou também o jeito de

198
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

falar com o Senhor. Com sabedoria, passou a servir ao marido e aos


filhos com ainda mais dedicação, e parou de fazer o que ela chamava
de “oração reclamação”. Ela se arrependeu das bobagens que falava
para Deus e entendeu que precisava de outra estratégia, se quisesse
ver a família convertida.
“Deus não ouve esse tipo de oração” – ela dizia, quando contava
essa história. E completava com estas palavras que leu em um livro:
“Intercessão é dar à luz, no reino do espírito, as promessas e os pro-
pósitos de Deus”.
A Ana Lúcia sabia que Deus amava a família dela e que também
queria ver todos se entregando a Jesus. Mas para isso, ela precisava
mudar o próprio comportamento e testemunhar com atitudes.
De uma pessoa insatisfeita, soberba, Ana Lúcia se tornou uma
mulher temente ao Senhor. Ela enxergou que, assim que converteu,
começou a tratar a família com certa superioridade, como se, por ter
recebido Jesus, ela fosse melhor do que os filhos e o marido. Incons-
cientemente ela os diminuía, pois sentia que tinha encontrado a sal-
vação, e eles não.
Após reconhecer as próprias falhas, a Ana Lúcia descobriu o ca-
minho para se submeter à vontade e ao poder de Deus. Então, se es-
forçou para reparar os erros e recomeçar. Nós nos tornamos grandes
amigas, e ela foi forjada pelo Senhor ao longo dos anos como uma
guerreira valente e muito sábia. Uma mulher incansável que lutou,
orou e profetizou durante anos, até ver o Seu Nunes e os três filhos –
Helder, Nádia e Tobias – rendidos a Jesus Cristo.

Tarde da Benção

Depois de um certo tempo, senti que era hora de começar um gru-


po de oração. Por isso, eu, a Ana Lúcia e as irmãs dela passamos a nos
encontrar nas tardes das quartas-feiras na sala da minha casa. Foi uma
época muito abençoada! Aos poucos a nossa reunião foi crescendo e
muitas pessoas nos perguntavam se podiam participar também. Para
aumentar o espaço, eu afastava os móveis; mas com o tempo, precisei
usar também a garagem para receber todos os convidados. Não para-
va de chegar gente! Batizamos aquele encontro de Tarde da Benção.
O Senhor fez maravilhas entre nós! Pessoas foram curadas, muitas

199
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

aceitaram a Cristo e recebiam o Espírito Santo. Vivemos experiências


indescritíveis, que me traziam ainda mais convicção de que eu estava
no lugar certo, na hora certa, fazendo o que me foi delegado. Aos pou-
cos, irmãos de outras cidades passaram a nos visitar, e a rua ficava lo-
tada de gente. Assim como acontecia na casa da minha mãe, o Senhor
se fez presente, manifestando a Sua glória.
Certo dia, um jovem bateu em minha porta pedindo socorro:
“Ezenete, eu sou pastor e preciso de ajuda. Eu era viciado, me re-
cuperei, mas agora voltei para as drogas. Estou em pecado e não sei
como agir. A minha família não sabe de nada. Um pastor de Santo
André me passou o seu contato, e decidi vir aqui para pedir ajuda. Eu
não sou bandido. Você pode ligar para o pastor para conferir a minha
história.”
Enquanto ele aguardava na sala, liguei para o pastor que o tinha
enviado. Assim que atendeu, ele me pediu:
“Ezenete, por favor, receba meu amigo. Ele precisa de ajuda, e sei
que Deus vai usar vocês para a restauração dele.”
Por telefone, ele me contou brevemente a gravidade da situação
pela qual o jovem líder passava. De fato, ele precisava de socorro. Con-
cordei em atendê-lo, e aquele rapaz acabou ficando na minha casa por
uma semana. A história era complicada: antes de se converter, ele era
usuário de drogas e acabou se contaminando com o vírus da AIDS.
Mas ele conheceu Jesus, venceu a dependência química e conseguiu
controlar os efeitos da doença. Depois de anos vivendo bem, ele so-
freu uma recaída e passou a ser oprimido por Satanás. E agora estava
na sala da minha casa, em uma tentativa desesperada de recuperar a
dignidade, a saúde e a própria vida.
Acomodei-o em um quarto e começamos a trabalhar no mesmo dia.
Sozinha eu não podia fazer nada, mas eu acreditava que o Senhor era
poderoso para operar um milagre, assim como fez com várias pessoas
que passaram por nós. O processo de libertação foi muito difícil. Mes-
mo sendo um crente, já tendo entregado a vida a Cristo, o jovem pastor
ficou possesso várias vezes. Não desistimos da batalha, e na autoridade
do nome de Jesus, ele saiu vencedor de uma situação tão triste.
Foi incrível o que vivemos naqueles sete dias. Discipulei, minis-
trei sobre a vida dele e senti que o Senhor estava escrevendo uma
nova história, oferecendo uma outra oportunidade. Servimos a um

200
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

Deus que nos proporciona segundas, terceiras, quartas chances para


recomeçar. Ao final daquela semana, nos despedimos de um outro
homem. Definitivamente ele não era a mesma pessoa que bateu em
minha porta procurando por socorro. Para a glória de Deus, o jovem
pastor foi curado e liberto.
Até hoje ele está firme, dando frutos e ajudando muitas pessoas
com sua história. Anos depois, acompanhei o casamento dele com
uma mulher maravilhosa. Oramos para que eles tivessem filhos e tes-
temunhei o milagre de vê-lo se tornar pai sem transmitir o HIV para
a esposa ou para a criança. Foi tremendo tudo o que Deus fez!
Porém, enquanto as Tardes da Benção davam frutos, os vizinhos
começaram a ficar incomodados com toda aquela movimentação na
rua. Sempre havia muitos carros estacionados na porta da minha casa.
Os moradores do bairro chegaram a fazer um abaixo-assinado pedin-
do que as reuniões acabassem, mas continuamos nos encontrando em
nome do Senhor.
Deus operava poderosamente. Com o passar do tempo, me envolvi
também em uma Igreja do Evangelho Quadrangular. Eu era assistente
durante os cultos da semana, e era muito bom ver o que o Espírito
Santo estava fazendo.
Um belo dia, durante a Tarde da Benção, Deus realizou um gran-
de milagre na vida da Dôra, uma das irmãs da Ana Lúcia. Ela esta-
va passando muito mal, sentindo dores fortíssimas. Depois de vários
exames, ela foi diagnosticada com câncer no útero. A doença estava
muito avançada, e nós clamávamos a Deus pela cura. Fizemos uma
campanha de oração, crendo na vitória. Até que em uma madrugada,
o Senhor falou comigo:
“Assim como fiz com Lázaro, ressuscitarei a minha filha.”
“Amém. Eu creio! Eu tomo posse da cura na vida da Dôra.” – respondi.
Intensificamos as orações, e Deus de fato fez uma grande obra: a Dôra
foi completamente curada sem precisar passar por quimioterapia ou ra-
dioterapia. Depois disso, uma outra irmã da Ana Lúcia, a Cida, também
adoeceu. Ela teve uma trombose e foi internada às pressas. Passei dias no
hospital orando, convicta de que iríamos testemunhar mais uma ação
milagrosa de Jesus Cristo. Os médicos insistiam que não havia mais nada
a fazer, que precisavam amputar a perna da Cida para salvar a vida dela,
mas clamamos, e Deus respondeu às nossas orações.

201
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Essas foram algumas das curas que Ele operou em nosso meio du-
rante as Tardes da Benção. Não posso me esquecer, jamais, do amor,
da fidelidade e da misericórdia do Senhor que se renovaram sobre
nós ao longo daqueles anos. Vivemos coisas incríveis, e laços fortes
de amizade foram construídos. Ana Lúcia se tornou uma amiga mais
chegada que irmã, um braço forte ao meu lado.
Depois, Deus me presenteou também com a mudança da Lourdes
para São José. De uma forma sobrenatural, ela, o Oswaldo e os me-
ninos foram morar perto de nós, e continuamos a caminhar juntos,
vivendo as maravilhas do Senhor. Estávamos no meio da década de
1990 e jamais podíamos imaginar o que Deus faria nas nossas vidas e
nas nossas famílias em um futuro tão próximo.

202
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

18. RENATA, ANA PAULA E ANDRÉ

Certo dia, depois de quase um ano morando em São José dos


Campos, recebi uma ligação de uma irmã que já tinha passado um
período na minha casa.
“Oi, Ezenete! Aqui é a Rosângela, de Belo Horizonte. Eu preciso
muito da sua ajuda.”
A Rosângela era uma mulher de Deus, que tinha vivido uma fase
muito complicada anos antes. Eu ainda morava em Santo André
quando nos conhecemos, e ela ficou hospedada na casa dos meus pais
durante dois meses. Na época eu era solteira e a recebi com muito
amor. Um dos meus irmãos, que morava em Paraíba do Sul, foi quem
nos apresentou. Um dia ele me ligou pedindo para atendê-la. Quando
nos conhecemos, a Rosângela estava doente, com úlcera e depressão.
Chegou à minha casa muito mal, mas Deus fez algo lindo durante
aqueles dias, e ela voltou curada para a cidade onde morava.
Naquela tarde, quando meu telefone tocou, eu não tinha ideia do
motivo pelo qual a Rosângela me procurava novamente:
“Ezenete, eu estou com um problema muito sério com uma sobri-
nha. Ela está passando por uma crise depressiva. Já tentamos ajudá-la
de todas as formas, e ela está cada dia pior. Eu falei com a minha irmã
e meu cunhado, e eles concordaram em procurar você. Por isso estou

203
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

ligando. Gostaria de saber se você poderia receber minha sobrinha.”


“Rosângela, vou orar. Vou buscar de Deus, e nós vamos fazer o que
Ele nos direcionar.” – respondi a ela.
“Obrigada, Ezenete. Eu sei que Ele vai falar com você. Estamos orando.”
Eu e o Marcos tínhamos combinado de não receber ninguém na-
quele período. Eu tinha ficado doente um pouco antes, e ele acreditava
que eu precisava descansar. Eu concordei, por isso só abriria a minha
casa se o Senhor realmente me falasse. Comentei com o meu marido
rapidamente sobre a situação, e ficamos de pensar. Quando fui buscar
a Deus, naquele mesmo dia, Ele me disse:
“Receba a Minha filha. Farei dela mãe das nações e a usarei com
grande poder.”
Entendi que o Espírito Santo tinha levado a Rosângela a me procu-
rar e que Ele me sustentaria para fazer esse atendimento. Mas mesmo
assim eu precisava falar com o Marcos. No dia seguinte conversei com
a tia Nó. Estávamos morando em cidades diferentes, mas mantínha-
mos contato sempre. Eu fazia questão de orar com ela pelo telefone e
consultá-la em momentos de dúvida:
“Tia, me ajude em oração? Eu recebi uma ligação da Rosângela, de
Belo Horizonte. Ela quer que eu receba aqui em casa uma sobrinha
que está em depressão. O que você acha?”
“Ezenete, Deus está me dizendo para você atender essa menina.
Ele me disse que ela é como um canarinho. Ela vai encher os céus
com a voz e será como mãe para as nações. Essa menina será usada
no mundo inteiro por meio do louvor e adoração a Deus. Pode abrir
as portas da sua casa.”
Eu fiquei muito impressionada com essa revelação. Eu não tinha
ideia de quem era aquela moça, mas jamais desobedeceria uma or-
dem do céu.
“Tia, então me ajude a orar para que o Marcos entenda. Nós tínha-
mos combinado de não receber ninguém por enquanto. Eu já estou
me sentindo bem de saúde, mas ele ainda quer que eu descanse.”
Nós duas clamamos para que Deus falasse com o meu marido,
para que ele entendesse o propósito na vida dessa jovem desconheci-
da. Enquanto isso a Rosângela esperava pela nossa resposta. Dois dias
mais tarde, o Marcos me ligou no horário de sempre. Ele tinha uma
pausa para o café durante a manhã e, como marido amoroso, aprovei-

204
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

tava para telefonar para a casa e conversar um pouco. Naquele dia ele
estava com um tom de voz muito diferente:
“Amor, estou assustado! Aconteceu algo que eu nunca vivi!”
“O que foi, Marcos? Você se machucou?”
“Não, eu estou bem. Mas há vinte minutos eu estava trabalhando
na fábrica, e uma voz falou comigo: ‘Receba a menina na sua casa,
porque a obra que Eu tenho na vida dela é muito grande. Ela será
como mãe para as nações. Abra as portas e receba a Minha filha. Eu
vou usá-la poderosamente, e vocês vão fazer parte disso’. Amor, man-
da a moça vir! Liga para a Rosângela agora e fala que vamos receber a
menina. Deus nunca tinha falado desse jeito comigo.”
Era o sinal que precisávamos. Quando dei a resposta positiva para
a Rosângela, ela ficou muito feliz, e me disse que o sobrinho adoles-
cente também viria com ela. Eu concordei. Dois dias mais tarde rece-
bemos na nossa casa a Rosângela, acompanhada por três pessoas da
família: Renata, Ana Paula e André Valadão.
Abri as portas do meu lar da mesma forma que fiz para tantas pes-
soas que vieram antes e depois. Eu nunca tinha visto aqueles jovens ou a
mãe. Sabia apenas que a Ana Paula tinha uns vinte anos, era a filha mais
velha do pastor de uma igreja batista de Belo Horizonte e liderava o mi-
nistério de louvor. Ela estava passando por conflitos com a família, por
causa de um relacionamento amoroso. Os pais estavam preocupados
e acreditavam que Deus poderia agir durante aquele período em que
ela estivesse em São José dos Campos, longe do namorado. André era
o filho do meio, um adolescente muito alegre, mas que passava por um
momento de rebeldia. Se ele tivesse escolha, nem teria viajado.
A Renata me agradeceu muito por recebê-los e disse que estava con-
fiante no que Deus podia fazer. Ela tinha um semblante cansado. Estava
sofrendo ao lidar com os problemas da Ana Paula e do André. Ela e o ma-
rido tinham ainda uma filha mais nova, a Mariana, que era praticamente
uma criança. A caçula era uma menina tranquila, obediente, e permane-
ceu com o pai enquanto a mãe viajou com os irmãos mais velhos.

Um homem de fé

André vivia uma fase difícil. Chegou dizendo que não precisava
estar ali e que não queria nenhuma oração. Ele falava que era de bem

205
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

com a vida, e que a irmã mais velha é quem tinha problemas. Ele era
rebelde e deu bastante trabalho para os pais naquela época. Aos 17
anos fazia questão de dizer que nunca seria pastor, que não gostava
da igreja, que buscava outras coisas para o futuro. Mesmo sem pres-
sioná-lo, a Renata ficava muito nervosa e preocupada. Ela e o mari-
do não faziam questão que o André se tornasse um ministro, mas se
preocupavam em vê-lo longe dos caminhos do Senhor. Como mãe,
ela fazia tudo o que podia: orava sem cessar, jejuava, ungia o quarto
do filho enquanto ele estava fora, conversava até a exaustão. Nada
parecia dar resultado.
Eu olhava para ele e via apenas um menino, mas com um grande
potencial nas mãos de Deus. Imediatamente o Senhor começou a falar
comigo sobre os planos que Ele tinha para aquele garoto. O Espírito
Santo me revelou coisas incríveis, que pareciam pura fantasia naquele
momento, mas eu sabia que Ele cumpre o que diz.
Como o André ainda estava no colégio e precisava voltar para BH
por causa de uma prova, não teríamos muito tempo juntos. Ele tam-
bém não parecia interessado em estar ali. Percebendo a falta de com-
prometimento do garoto, a Renata me disse:
“Deixa o André, ele não quer saber de nada disso. Deus vai tratar com ele.”
“Renata, Deus é simples. Ele está me falando que o seu filho vai
estudar fora do Brasil. Ele vai para os Estados Unidos fazer seminá-
rio.” – respondi.
“Estudar? Nos Estados Unidos? Como, Ezenete? Ele nem gosta de
estudar!”
“Mas ele vai. E nós vamos celebrar. Deus vai mudar todo o per-
curso do André, porque Ele tem um grande plano. Nós vamos ver o
propósito do Senhor se cumprir. Creia.” – completei.
Oramos juntos, eu compartilhei o que o Espírito Santo estava me
mostrando. Aquele menino seria muito usado pelo Senhor – eu podia
ver. Ele se tornaria um pastor ousado, um homem de fé e um grande
líder. Deus estava ouvindo as orações dos pais, mas tudo aconteceria
no tempo certo. Os planos do Altíssimo não seriam frustrados. Na
hora exata, em um futuro não muito distante, o André teria novas
experiências com Jesus. Olhando para aquele jovem irreverente que
recebi na minha casa, parecia uma loucura, mas o Senhor não volta
atrás em Suas palavras. Ele é fiel ao que diz.

206
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

Depois desse tempo de oração, nos despedimos, e o André voltou


para casa. Aos olhos humanos, nada tinha mudado, mas o Espírito
Santo já estava agindo. Era uma questão de tempo. Continuaríamos a
clamar pela vida daquele adolescente até ver todas as promessas cum-
pridas. O que de fato aconteceu.
Anos depois o André viajou. Como o Senhor nos mostrou, ele foi
para os Estados Unidos fazer seminário. Passou um tempo fora, es-
tudando, e voltou para o Brasil transformado – pronto para ser um
homem de Deus e conduzir multidões a Jesus Cristo.

Mãe das nações

Voltando ao dia em que os quatro chegaram a minha casa, se a


Renata parecia cansada, a Rosângela cheia de esperança e o André
desinteressado, a Ana Paula transmitia uma tristeza profunda. Assim
que olhei para ela, falei com o Senhor:
“É essa menina que vai ser mãe das nações? Tem certeza?” – ela
não se parecia, em nada, com alguém que teria uma missão tão nobre
e desafiadora.
Ana Paula era uma jovem pequena, delicada. Ela chegou abatida,
oprimida e cabisbaixa. Assim como o irmão, ela não demonstrava o
menor interesse em passar um tempo com uma família desconhecida.
Nos primeiros dias, ela ficava no quarto. Enquanto eu orava com o
André, ela parecia estar em outro planeta. Quando o irmão foi embo-
ra, centrei as minhas atenções nela.
Eu era uma dona de casa, com meus afazeres domésticos, e no
meio das minhas atividades diárias parava para conversar com a Ana
Paula. Eu passava horas orando e clamando por aquela jovem. Ela se
demonstrava muito resistente e desinteressada. Não queria abrir o co-
ração. Naquele momento, ela vivia o conflito de estar envolvida em
um namoro que os pais não aprovavam. Apesar de manter a postura
de que estava convicta em sua decisão de ficar noiva e se casar, ela
estava sofrendo.
Quando a Ana Paula finalmente se abriu um pouquinho, ela re-
velou que tudo o que queria era morrer. Tinha perdido a vontade de
viver, de cantar e até de se levantar da cama. Eu sabia que para ela
cumprir todo o propósito que Deus me mostrou – ser uma mãe para

207
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

as nações – ela necessitava sair daquele lugar de morte e avançar para


a vida. Mas antes de tudo, ela precisava querer.
Os primeiros três dias na minha casa, ela esteve completamente fe-
chada. Não queria falar; se escondia atrás dos cabelos cacheados e dos
olhos tristes. Enquanto eu permanecia com ela no quarto, a Renata,
a Rosângela e a Ana Lúcia intercediam e adoravam na sala. Foi uma
verdadeira batalha espiritual. A Ana Paula queria se casar de qualquer
jeito, contra a vontade de todos que a amavam, e não percebia que
estava definhando. Ela não aceitava que algo estava errado.
A estratégia que Deus me deu foi contar testemunhos sem tocar no
assunto que a deixava tão triste e que a tinha levado até mim. Eu me
assentava na cama e compartilhava várias histórias, inclusive a minha,
quando eu quis me casar contra a vontade dos meus pais. Ela até me
ouvia, mas parecia que as palavras não chegavam ao seu coração. A
Ana Paula inclusive me convidou para ser madrinha do casamento
com aquele rapaz, como se dissesse que não adiantava fazermos nada.
A decisão estava tomada.
No quarto dia daquela rotina que parecia não nos levar a lugar
nenhum, eu não sabia mais como agir. Orei durante a madrugada pe-
dindo a Deus uma nova estratégia, uma forma diferente de abordar os
assuntos que precisavam ser tratados. E Ele falou comigo:
“Respeite o tempo da Ana Paula. Ame-a independente de quem
ela é ou de como se comporta. Mesmo com toda a apatia, ainda que
demonstre não te ouvir, fique ao lado dela e esteja disponível para
escutar. No momento certo Eu vou agir.”
Naquela tarde, quando nos assentamos para conversar, ela come-
çou a falar sobre os preparativos para o casamento. Eu ouvia tudo,
esperando o sinal de céu. A Ana Paula me perguntou sobre a minha
vida com o Marcos, e eu contei como éramos felizes e como ele foi
enviado por Deus para mim sem que eu fizesse qualquer esforço – e
com o total apoio de todos os nossos parentes. Então eu senti o Espí-
rito Santo sinalizando que era a hora. Eu deveria abordá-la. Respirei
fundo, a encarei com amor e disse:
“Ana, eu concordo com tudo o que você está me dizendo, mas olhe
para mim por um segundo e me responda com todo o seu coração:
você é feliz nesse relacionamento? Você tem convicção do que quer?
Você está feliz?”

208
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

Então aquela montanha de frieza, aquele muro impenetrável de-


sabou. Ela começou a chorar. No meio das lágrimas, ela finalmente se
desarmou. Confessou que estava vivendo um conflito, que nunca foi
uma filha rebelde, que sempre foi dócil, amável, respeitosa com a fa-
mília. Mas o namorado dizia que os pais queriam impedir a felicidade
dos dois. E ela acreditou.
Na realidade, a Ana Paula estava sendo dominada por um espírito
de rebelião. Jamais os pais dela – ou de qualquer outra família que ama
o Senhor – iriam desejar a infelicidade da própria filha. Mas ela acre-
ditava nisso sem questionar. Porém, naquele momento Jesus começou
a fazer algo. Com o aval do Espírito Santo, prossegui:
“Então você não é feliz. Você não tem convicção. Se é assim, por
que vai tomar essa atitude? Por que você vai se casar sem a benção da
sua família?”
Ela me deu abertura e pude entrar nesse assunto sem reservas.
“O que é de Deus para nós traz paz. Os pais são as pessoas mais
importantes das nossas vidas e são autoridades instituídas pelo Se-
nhor. Se eles não sentem tranquilidade em alguma situação, é porque
há algo errado.”
Ela me ouviu e finalmente abriu o coração para escutar o que Deus
estava falando. Oramos de uma forma diferente, em concordância,
pela primeira vez. Ao longo dos dias ela foi entendendo que precisava
renunciar aquele relacionamento. Após muita guerra ela percebeu que
não podia haver um final feliz em uma história tão conturbada, sem a
aprovação do pai ou da mãe.
Ao se distanciar do namorado por poucos dias, a Ana Paula pôde
perceber que não tinha mais vontade própria e só agia segundo as
vontades dele. Ele interferia em todas as decisões que ela tomava, in-
clusive na escolha das roupas e até na cor dos cabelos. Quando chegou
à minha casa, ela estava loira porque ele havia pedido. Dias depois,
fomos juntas ao salão para fazer as unhas, e ela decidiu voltar os fios
para o tom natural – não porque alguém queria, nem por sugestão
da mãe ou minha, mas sim porque ela desejava. A Ana Paula estava
voltando a ser quem era.
As semanas passavam enquanto fazíamos vigílias de oração. Nesse
período ela se arrependeu das atitudes, pediu perdão aos pais e come-
çou uma nova vida. Ficamos quinze dias buscando ao Senhor juntas.

209
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Eram tardes e noites dedicadas à Palavra, mergulhadas na presença


de Deus, crendo na ação do Espírito Santo. Eu não podia fazer nada
a não ser orar e confiar que o Senhor cumpriria a obra que Ele tinha
começado. A Ana Paula não foi a São José dos Campos por acaso, e
eu acreditava que ela não sairia dali sem ser liberta de vez. Aquele
era o início para ela se tornar a mãe de nações conforme Deus pla-
nejava.
Durante as semanas em que ficou conosco, ela participou de uma
Tarde da Benção. A casa, como sempre, estava cheia, mas entre os
convidados havia uma irmã que compareceu pela primeira vez. O
Espírito Santo usou aquela senhora desconhecida para falar aos nos-
sos corações:
“Eu vejo uma árvore enorme e um fruto bem grande no meio.
Deus vai levar vocês para esse lugar, para onde essa árvore está plan-
tada. Vocês vão ajudar a cuidar do que está por vir. Alguns frutos
são maduros, outros são verdes, outros estão em flor, mas vocês vão
fazer parte disso. Vocês vão orar e interceder, e os frutos se multi-
plicarão.”
Eu, Lourdes e Ana Lúcia nos olhamos sem entender. Então a Re-
nata disse para a mulher que estava profetizando:
“Você está falando do meu marido, o pastor Márcio Valadão.
Esse grande fruto é ele.”
A irmã que trouxe essa palavra se despediu, e nunca mais a vimos.
Eu creio que foi um anjo enviado para falar conosco, para transmitir essa
mensagem a fim de que não tivéssemos dúvidas quando tudo acontecesse.
Após duas semanas, a Ana Paula saiu restaurada da minha casa.
Depois de muita oração, ela se lembrou dos propósitos do Senhor e
foi atraída novamente para o Deus que tanto amava. A rebeldia foi
embora, a paz voltou. Os momentos poderosos que ela já tinha vivi-
do com Jesus, desde a infância, ressurgiram em sua memória, e ela
fez um novo compromisso com Cristo. A esperança renasceu para
ela, para a mãe, para a tia e para toda a família que a esperava ansiosa
em Belo Horizonte.
O semblante depressivo foi embora. Aquela jovem ergueu a cabe-
ça, resgatou os sonhos, se revestiu da autoridade e do poder que há
no nome de Jesus, e voltou para a Igreja Batista da Lagoinha com o
coração renovado. Glória a Deus.

210
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

-------------------------

Palavras do André

Nunca vou me esquecer da viagem que fiz, ainda na minha ado-


lescência, entrando na juventude, para São José dos Campos.
Tantas eram minhas mazelas, meus pecados, medos e revolta.
Fui recebido pela Ezenete com um amor diferente. Vivo hoje o
cumprimento de palavras que naqueles dias foram proferidas.
Promessas que soaram absurdas, difíceis de acreditar. Quando
oramos juntos, muitos mistérios de Deus foram sendo desven-
dados diante de nós. A força que várias vezes me ajudou em mi-
nhas quedas e medos veio do Senhor através da Ezenete. Como
uma mãe, mulher que preenche o coração, ela sempre esteve
presente na minha vida desde então. Ela é uma real resposta de
Deus não só para mim, mas para essa geração. O amor, a gra-
tidão, a honra que sinto por ter esta enviada do Senhor ao meu
lado serão levados pela eternidade.

-------------------------

211
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

19. UMA NOVA FILHA

Depois que a Renata, a Ana Paula e o André passaram pela nossa


casa, mantive contato com a família Valadão. Um relacionamento
muito gostoso começou ali, mas não tinha nada além daquela ami-
zade. Nós nos falávamos sempre, de longe, e eu pude ver o cresci-
mento na vida dos dois jovens.
Naqueles dias eu tive um sonho. Eu estava grávida e fui para o
hospital ter o bebê que eu gerava. Do meu ventre nasceu uma me-
nina linda! Quando a vi, percebi que as pessoas a estavam vestindo,
mas eu pedi para parar dizendo:
“Não coloquem essa roupinha nela! Eu quero arrumá-la de outro
jeito! Ela vai usar um vestido cor-de-rosa.”
No sonho, eu saí do hospital e fui buscar em casa a roupa que
tinha planejado. Mas quando voltei, não encontrei a minha filha. A
enfermeira que cuidava dela era uma missionária que eu conhecia
bem, chamada Ismênia. Ela era uma mulher muito de Deus, que
tinha me abençoado anos antes. Ela me disse, no sonho:
“A sua filha foi para outro estado. Você precisa viajar para alcan-
çá-la. Só assim você vai receber a sua menina.”
Acordei incomodada com aquilo. Liguei para a Lourdes na hora:
“Lourdes, eu tive um sonho muito maluco.”

213
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Ela me ouviu contar e respondeu:


“Vamos orar sobre isso.”

Você vai caminhar sobre essa terra

A Ana Paula se abriu para os planos de Deus e foi muito usada


por Ele. Voltou para a liderança do ministério de louvor cheia de so-
nhos. Da minha cidade, eu acompanhava o agir do Senhor. Até que
um dia, no final de 1997, ela me ligou:
“Zê – como ela carinhosamente me chama até hoje – nós vamos
gravar um CD aqui na igreja. Estou muito animada com o que Deus
está fazendo e gostaria que você viesse. Vai ser no dia 31 de janeiro.”
Fiquei muito feliz por ver que o plano do Senhor de levantá-la
como uma voz poderosa estava começando a tomar forma.
“Ana, que coisa linda! Glória a Deus por esse projeto, mas infe-
lizmente eu não poderei ir. Pode deixar que vou orar daqui mesmo e
sei que será uma noite gloriosa.”
E, de fato, foi. A Igreja Batista da Lagoinha ficou lotada para a
gravação do CD Diante do Trono. Era tanta gente, que mal cabia no
templo principal. O André já estava morando nos Estados Unidos,
conforme Deus tinha prometido, mas veio para Belo Horizonte só
para participar. Ele e a Ana fizeram um dueto lindo cantando a mú-
sica Manancial, que se tornou uma das mais conhecidas do Ministé-
rio. Os dois foram muito usados pelo Senhor enquanto declaravam
o que tinham vivido nos últimos meses:

Eu quero ser como um jardim fechado


Regado e cuidado pelo Seu Espírito
Flua em mim como um manancial
Do meu interior com águas vivas
Restaura o meu ser
Para o Seu louvor

Depois da gravação, o André voltou para o seminário, para con-


tinuar a se preparar para o chamado de Deus. A obra ainda estava
em andamento! Dias mais tarde, a Ana me ligou toda feliz para falar
como foi o culto. Ela me contou os detalhes, e juntas glorificamos o

214
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

Senhor por aquele álbum que seria lançado em breve.


Meses depois, em julho, ela me telefonou novamente.
“Zê, o CD está maravilhoso! Vamos lançá-lo na igreja, em um
culto. Queremos dedicá-lo ao Senhor. Eu queria muito que você
viesse!”
Agradeci pelo convite, porém, mais uma vez, eu não poderia ir
a Belo Horizonte. Mas continuamos nos falando. Eu orava por ela,
pela família, pela igreja, sem imaginar no futuro que estava por vir.
A Ana Paula me chamou muitas outras vezes para visitá-la, e
após um certo tempo, finalmente pude aceitar. No dia em que che-
guei a BH, já fui logo com ela e a família para a igreja. Era uma
quarta-feira, e o evangelista americano Morris Cerullo iria pregar
em um culto especial. A Igreja Batista da Lagoinha estava lotada.
Os três andares acomodavam cerca de sete mil pessoas espremidas,
sedentas por Deus.
Eu fui acompanhada pela Lourdes; nos assentamos no terceiro
banco do primeiro andar. Estávamos muito animadas para ouvir a
mensagem, mas algo fantástico aconteceu durante a ministração.
Enquanto pregava, Morris Cerullo olhou para a multidão e disse:
“Hoje vou orar só por homens. Deus está me guiando a fazer
isso.”
Imediatamente vários senhores, rapazes, pastores, líderes, diáco-
nos e obreiros se levantaram e foram até o altar. As orações fluíam, e
o poder do Espírito Santo também. Mas o evangelista interrompeu
aquele momento, após um período, e falou novamente para a igreja:
“Eu também vou orar por duas mulheres que estão neste templo.
Apenas duas mulheres que Deus está me mostrando agora. Ele se
virou para o nosso banco, apontou em nossa direção e completou a
frase: gostaria de chamar vocês para virem aqui.”
Eu olhei para um lado, olhei para o outro, e o Morris Cerullo
estava falando comigo e com a Lourdes. Fui envolvida por uma sen-
sação muito forte de temor a Deus. Então nos levantamos juntas e
fomos até lá.
Com autoridade, ele disse, em nome do Senhor:
“Grande é a obra que Eu tenho contigo neste lugar. Prepara-te,
porque em breve você vai caminhar sobre esta terra.”
Ele impôs as mãos sobre nós duas, e despencamos, fomos direto

215
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

para o chão. Caímos no poder de Deus e tivemos uma experiência


incrível com o Senhor. Foi tremendo, sobrenatural. Eu não entendi
o que aquela profecia queria dizer, mas foi inegável que o Espírito
Santo estava se movendo. Eu e a Lourdes nos recompomos e nos
levantamos renovadas.
Quando voltei para o banco, tentando absorver tudo o que acon-
tecia ao meu redor, olhei para a Ana Paula. Ela estava liderando o
louvor naquela noite. Imediatamente me lembrei do sonho que tive
meses antes.
“Lourdes, nós estamos em outro estado! A minha filha, aquela
com quem sonhei, do vestidinho rosa, deve estar por aqui.”
Comecei a olhar para todos os lados, procurando por um sinal
de Deus que me apontasse quem seria a menina que Ele tinha me
mostrado. Eu pensava que poderia ser alguma moça que não tinha
pai ou mãe, ou uma jovem que estivesse passando por qualquer difi-
culdade. Mas, para a minha surpresa, enquanto a Ana ministrava no
altar, o Espírito Santo falou para mim:
“Esta é a sua filha. É a filha que vai nascer espiritualmente do seu
ventre, porque Eu ainda vou fazer uma grande obra, e ela precisa ser
gerada de novo.”
Eu entrei em pânico. Eu conhecia a voz do Espírito Santo e sabia
que era Ele falando comigo. Comecei a questionar:
“Senhor, como assim? A Ana Paula não precisa de outra mãe! Ela
tem uma família maravilhosa. O pai é um homem de Deus, a mãe é
uma mulher incrível. Não pode ser. Está errado!”
Ele não falou mais nada. Ele já tinha me dado o recado. O culto
acabou, mas meu conflito continuou. Fiquei em uma briga interna
durante os quatro dias seguintes. Eu não queria aceitar o que o Es-
pírito Santo estava me mostrando, porque eu não via necessidade
de a Ana Paula ter mais uma mãe. Ao mesmo tempo, era tão claro
o que Ele estava falando, que eu não sabia mais o que fazer. Fiquei
apavorada.
Certa noite, durante esse período em BH, eu, a Lourdes, a Ana e
a Renata fomos orar. Enquanto clamávamos pela presença de Deus,
comecei a sentir um incômodo muito forte: meu abdômen doía, la-
tejava. Por mais que eu quisesse negar, eu estava sentindo dores de
parto. As mesmas contrações de quando fui para o hospital dar à luz

216
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V

ao meu filho. Eu resisti enquanto pude, mas acabei compartilhando


com a Renata o que estava acontecendo. A resposta dela foi a confir-
mação que eu tanto precisava e temia:
“É a Ana! Você está gerando a Ana novamente. Ezenete, eu te
entrego a minha filha para você gerar. Eu sei que Deus tem uma
obra linda em andamento na vida dela, e eu sinto que você faz parte
disso.”
Quando o Senhor fala conosco, Ele não deixa dúvidas. Daquele
momento em diante as dores aumentaram, oramos em línguas e fo-
mos mergulhadas em uma atmosfera gloriosa. Eu gemia, sentindo
contrações. De repente vi novamente aquele bebê do meu sonho,
e quando consegui mirar o rostinho, era a Ana Paula quem estava
sendo embalada por mim.
Quando abri os olhos, a dor passou. A Lourdes também sentiu
o Senhor confirmando essa direção, e fomos supreendidas pelo Es-
pírito Santo. Em um ato de fé, eu recebi a Ana como filha espiritu-
al, crendo que Deus faria grandes coisas em nossas vidas. As horas
passaram, a Lourdes e a Renata se recolheram e foram dormir. Eu e
a Ana permanecemos na sala, conversando, abrindo os nossos co-
rações e estreitando os laços familiares que estavam sendo constru-
ídos madrugada adentro. Vimos o dia clarear e o sol nascer sobre as
nossas vidas.
Nos dez meses seguintes, recebi vários convites para ministrar e
estive em Belo Horizonte onze vezes. Em todas as viagens me hos-
pedei na casa da minha nova filha. Eu sempre me sentia muito aco-
lhida por ela, pelos pais e pelos irmãos.
Em uma dessas visitas, a Ana confessou que durante aqueles pri-
meiros dias, em São José dos Campos, ela realmente estava muito
fechada para me ouvir. Mas disse que se impressionou pelo fato de
eu nunca tê-la colocado contra a parede, nem tê-la pressionado a
romper com o namorado. Enquanto eu a ouvia, não a condenava
nem acusava, eu apenas escutava e a amava – independente de quem
ela fosse e de como estava se comportando. Eu apenas segui a es-
tratégia que Deus me entregou e agi da forma que Ele me ensinou.
Investi tempo na vida daquela jovem, conversei com ela. Eu a amei
sem o menor interesse e tive compaixão. Assim como o Senhor me
disse que seria, aconteceu: o amor curou.

217
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

-------------------------

Palavras da Ana

Cheguei à casa da Ezenete muito oprimida, mas a autoridade es-


piritual que eu sentia perto dela me trazia alívio, paz, seguran-
ça e alegria. Eu era quase uma adolescente, e ela foi muito sábia
em se aproximar de mim sem me julgar. Ela conquistou a minha
confiança com amor. Aqueles dias foram um divisor de águas na
minha vida. Não sei onde eu estaria se a Zê não tivesse dito ‘sim’
ao pedido da tia Rosângela para me receber. Quando olho para
trás, percebo que ela me amou antes de existir Diante do Trono
e de eu me tornar uma pessoa conhecida. Hoje muitos abririam
as casas para mim, mas ela fez isso quando eu era uma menina
rebelde, sem nenhuma fama. Depois disso, o Senhor continuou fa-
zendo coisas lindas entre nós, e ela participa de todos os processos
pelos quais passo, como uma mãe espiritual, gerando os propósitos
do Pai na minha vida e no ministério. Nada é feito sem oração, e
ela está sempre comigo. É um privilégio ter esse discipulado, esse
apoio e esse amor incondicional, que já passou por vários ataques
do inimigo, mas permanece tão firme. É impossível apagar o que
aconteceu lá no começo, há tanto tempo, e que me sustenta até
hoje. Sou muito agradecida pela vida da Zê e de toda a sua família.

Eu e a Ana, em 2003.

-------------------------

218
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

P A R T E V I

“ TO D O VA L E S E R Á
EXALTAD O, E TODO M ONT E
E TO D O O UTEI RO SE R Ã O
AB ATI D O S; E O QUE É
TORCI D O SE E N DI R E I TA R Á ,
E O QUE É ÁSP E RO SE
APLAI N A R Á ” .

I S A Í A S 4 0 . 4
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

20. FAZENDO AS MALAS


MAIS UMA VEZ

Em uma das vezes em que voltei a Belo Horizonte, o Marcos pôde


me acompanhar. Ele adorou tudo o que viu:
“Ezenete, eu vou morar em BH. Deus vai nos trazer para cá.”
“Amor, de jeito nenhum! Não gosto dessa cidade, não a acho bo-
nita. Eu venho só pela obra, mas não quero morar aqui não!” – res-
pondi. Mas ele parecia convicto de que em breve o Senhor mudaria
o meu coração.
Em São José estávamos vivendo um período sobrenatural. Eu es-
tava muito envolvida na obra, ajudando várias igrejas, realizando as
Tardes da Benção ao lado da Lourdes e da Ana Lúcia. Eu não sentia
que era tempo de deixar tudo para trás e fazermos as malas novamen-
te. Tínhamos acabado de construir a casa dos nossos sonhos, na qual
investimos todo o Fundo de Garantia. Sem falar que ainda estávamos
pagando as prestações! O Marcos estava muito bem no emprego, com
possibilidade de receber uma nova promoção, para assumir um cargo
mais alto na fábrica. Estávamos muito felizes, e eu não via nenhum
motivo para sairmos de São José dos Campos.
Mas Deus foi falando conosco, foi transformando as situações,

221
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

movendo tudo para nós. A primeira vez em que o pastor Márcio nos
convidou para irmos de vez para Minas Gerais, eu não aceitei. Tí-
nhamos os nossos motivos para permanecer onde estávamos. Mas o
tempo passou, e veio a certeza de que era para dizer sim. O Senhor
orientou o Marcos a renunciar a vida profissional e nos pediu algo
ainda mais difícil:
“Quitem a casa, paguem tudo o que vocês devem. Em seguida, en-
treguem como presente. Desfaçam também do seu melhor carro.”
Ficamos muito assustados com essa direção, mas sabíamos que
era algo de Deus. O Senhor falou primeiro com o meu marido, e essa
foi a maior confirmação do que precisávamos fazer. Abrimos mão dos
nossos bens preciosos, conquistados com muito suor. Renunciei ao
lindo trabalho nas Tardes da Benção e me despedi, com o coração
apertado, de nossos amigos e vizinhos, Ana Lúcia e Seu Nunes. Eles
e toda a família foram pessoas muito importantes para nós naqueles
anos em São José dos Campos. Almoçávamos todas as semanas com
as irmãs e a mãe da Ana Lúcia, a saudosa Vó Luiza. Nós sentiríamos
falta daqueles momentos.
Deus sabia que o que Ele nos pedia não era fácil, então usou vários
irmãos para falar conosco, para não termos dúvidas de que era Ele
quem nos conduzia. Não compartilhamos com muitas pessoas sobre
o que estávamos fazendo. Entendemos que era melhor esperar. Mas
quando eu terminava de colocar as caixas no caminhão de mudança, o
telefone de casa tocou pela última vez. Era um pastor que me ajudava
muito e que fazia questão de manter contato:
“Oi, Ezenete, tudo bem? A mudança já está pronta? O caminhão já
está na sua porta?”
“Como o senhor sabe que estamos nos mudando de São José?” –
perguntei pensando em quem havia contado para ele.
Ele respondeu, com uma risada agradável:
“O Espírito Santo me disse! Eu quero te orientar. Vocês estão seguin-
do um propósito de Deus. Vocês vão para um lugar onde Ele fará gran-
des coisas. E o projeto, o chamado dEle para sua vida será realizado.
Será sobrenatural! Porém, você vai passar por um grande deserto, então
não desista. Você enfrentará acusações, ameaças e não será nada fácil.”
Do outro lado da linha eu só sabia responder:
“Amém, amém, Jesus. Que assim seja.”

222
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

Então ele começou a falar no nome do Senhor:


“Eu enfrentei muito mais por você. Vá. Nesse lugar existem muitos
defuntos vivos, que Eu vou transformar. E você vai entender o propó-
sito que Eu tenho para a sua vida. Fique firme, porque Eu vou passar
por toda essa dificuldade com você.”
Ele desligou o telefone, e eu fiquei aos prantos. O Senhor nos ama-
va tanto, que nos sinalizou desde o início o que nos aguardava. Pri-
meiro, com a visão daquela irmã que nunca tínhamos visto, na Tarde
da Benção, quando a Renata, a Rosângela e a Ana estavam conosco.
Depois veio o direcionamento para o meu marido largar o emprego, e
agora esse alerta de que enfrentaríamos muitos desafios. Mas eu não
tinha noção de quão difícil seria!
Eu, Marcos e Lucas saímos de São José dos Campos com um pouco
da nossa mudança a bordo do nosso carro mais simples, mais velho,
um Escort Hobby. Assim como o Senhor ordenou, em obediência
abrimos mão do nosso melhor automóvel, um Corsa Sedan prata. O
dia estava nublado, sem o menor brilho. Quando demos partida e se-
guimos pela rua, nos despedindo da casa e da vida que tanto amáva-
mos, percebi que uma nuvem diferente estava sobre nós.
“Dôra, você está vendo isso?” – perguntei à irmã da Ana Lúcia, que
nos acompanhava na viagem.
“Que estranho, Ezenete. Eu tô vendo sim. O que será?”
“Eu não sei, mas o Senhor vai nos mostrar. Ele vai à nossa frente.”
Por todo o caminho aquela nuvem nos acompanhou. Mesmo
quando passamos por trechos ensolarados, lá estava ela no céu, como
se estivesse nos seguindo até a nossa nova casa. Assim que chegamos
a BH, mais exatamente no bairro Copacabana, onde iríamos morar, a
nuvem desapareceu.

Belo Horizonte

Fomos recebidos com muito carinho e amor pela família Valadão.


Dias antes a Lourdes já tinha se mudado para Minas Gerais. Quando o
pastor Márcio me convidou, eu disse que gostaria muito que a minha
companheira de oração viesse também – ela, o marido e os três filhos.
Na verdade, a Lourdes não queria ficar longe de mim! Desde que nos
conhecemos, criamos um laço muito especial, e o Senhor ouve o cla-

223
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

mor daquele que pede com amor. Para a nossa alegria, o pastor Már-
cio concordou e estendeu a proposta a eles, que oraram e entenderam
que Deus também tinha um chamado para a família em Belo Hori-
zonte. A Lourdes, o Oswaldo e os meninos chegaram antes de nós, já
preparando o caminho para os grandes desafios que nos aguardavam.
Assim que nos instalamos em BH, o pastor Márcio me pediu para
atender os obreiros da igreja na Casa Pastoral, onde hoje funciona a
Casa Administrativa. Foi dessa forma que comecei a desenvolver o
meu chamado na nova cidade. Enquanto isso, o ministério de louvor
que Deus entregou para a Ana Paula crescia. O primeiro CD que a
Lagoinha gravou ficou lindo, e as pessoas gostaram muito. A tiragem
inicial, de cinco mil cópias, não foi suficiente para atender a deman-
da nem da igreja. Na
época, a Lagoinha
contava com umas
seis mil pessoas no
rol de membros, sem
falar dos visitantes.
Outras tiragens fo-
ram encomendadas,
e a rapidez com que
os CDs acabavam era
impressionante.
A maioria das
músicas do CD Dian-
te do Trono foram
compostas pela pró-
pria Ana Paula, que
estava fluindo com muita autoridade no nome de Jesus. Enquanto
assistíamos ao vídeo gravado na igreja, era visível que algo diferente
estava sobre aquele ministério de louvor. A liderança, o som poderoso
da orquestra, a afinação da banda, as vozes tão bonitas dos cantores,
a leveza dos bailarinos e a participação tão ativa da comunidade for-
mavam um conjunto poderoso. Era emocionante assistir àquela fita de
VHS. Nem existia DVD ainda!
Algumas das músicas gravadas foram geradas pela Ana durante o
período de restauração emocional, e era maravilhoso ver as promessas

224
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

de Deus se tornarem reais. Por isso, em fevereiro de 1999, a Lagoinha


gravaria um novo CD. Ficou decidido que o grupo se chamaria Diante
do Trono e a Ana sentiu de dar o nome de Exaltado ao segundo disco.
Eu e a Lourdes participamos da gravação orando e acompanhan-
do todo aquele
processo com-
plicado. Está-
vamos muito
comprometidas
com a obra que
o Senhor nos
delegou, mas
ficamos impres-
sionadas em
como era traba-
lhoso gravar um
CD!
Dessa vez o
André não veio, pois ainda estava nos Estados Unidos e estávamos
ansiosos pelo que aconteceria quando ele retornasse ao Brasil defini-
tivamente. Enquanto isso, contemplávamos a bondade de Deus por
meio das músicas do CD Exaltado. A noite da gravação foi maravilho-
sa, e nos deleitamos na presença de Jesus Cristo, que nos presenteou
com uma atmosfera poderosa.
Aos poucos, e de uma forma muito natural, fui entendendo que
Deus me direcionava a estar mais perto daquele novo ministério. Para
fazer a distribuição dos discos, das fitas K7 e dos VHs, o pastor Márcio
montou um escritório na própria igreja, e os músicos do grupo traba-
lhavam lá. Eles até pensaram em entregar os materiais para alguma
gravadora comercializar, mas Deus orientou de outra forma – e assim
foi feito.

Tempos difíceis

Se no ministério tudo parecia fluir, dentro de casa, as coisas esta-


vam complicadas para mim. Para a Lourdes também. Os nossos mari-
dos estavam desempregados. O Marcos chegou a trabalhar em alguns

225
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

lugares, mas sem nenhuma explicação ele era mandado embora. Não
entendíamos muito bem o que Deus estava fazendo. Ele e Oswaldo
sempre foram os mantenedores das próprias famílias, e agora não
conseguiam mais assumir esse papel. Eu nunca quis viver pela fé e
fazia questão de dizer isso. Acreditava que era coisa de gente pregui-
çosa, que não gostava de trabalhar. Desde que me casei, eu e o Marcos
ajudávamos quem nos procurava – pagando contas atrasadas, aben-
çoando irmãos que passavam por dificuldades, doando cestas básicas
e comida. Sempre tivemos abundância para servir, mas agora éramos
nós quem precisávamos de outras pessoas.
As nossas reservas financeiras foram chegando ao fim, os meses
foram passando, até um dia em que não tínhamos dinheiro nem para
comprar coisas básicas para casa. O Marcos queria recorrer ao cartão
de crédito, mas eu não concordei. Afinal, não teríamos como pagar a
fatura depois. Eu também não podia pedir ajuda aos nossos familiares,
pois eles foram contra a nossa mudança. Na época em que saímos de
São José, todos disseram que estávamos cometendo uma loucura, que
eu não podia obrigar o meu marido a abrir mão do trabalho e ir para
uma cidade estranha. Mas preciso repetir que a decisão não foi minha.
Foi ele quem ouviu o Senhor dizendo que deveríamos mudar toda a
nossa vida, e que ele pediria demissão. Marcos é um homem discreto,
mas muito sábio. Ele sempre foi temente a Deus. Sei que quando ele
abre a boca, é o Senhor falando.
Não murmuramos, fomos fiéis e cremos. Se o Espírito Santo nos
orientou a seguir nessa direção, ficaríamos firmes.
“Amor, vamos fazer prova com Deus. Foi Ele quem nos trouxe.
Não foi a Ana Paula, nem o pastor Márcio. Se estamos seguindo a voz
do nosso Pai Celestial, Ele vai prover. Se Ele quer nos ensinar algo, nós
vamos aprender.”, era o que eu dizia a ele.
Nessa época, a Ana era solteira e estava sempre na nossa casa. Ela
dormia pelo menos uma vez por semana conosco, e eu jamais levei
para ela ou para a igreja os nossos problemas financeiros.
Certo domingo fui para a Lagoinha sabendo que estavam faltan-
do coisas importantes para a minha família. Fui dando graças a Deus
pelo caminho, sendo grata por tudo o que Ele tinha nos dado e pelas
bençãos que nos cobriam, mesmo em um momento difícil. Assim que
o pastor Márcio me viu no banco, pediu que eu pegasse o microfone

226
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

para orar. Subi no púlpito e falei com o Senhor, abençoei o culto, inter-
cedi pelos irmãos da igreja e agradeci pelo que Ele faria naquela noite.
Voltei para o banco, cantei, louvei, ouvi a mensagem e segui para casa.
No dia seguinte fui trabalhar normalmente. Passei toda a tarde
atendendo os obreiros. Depois de orar com a última pessoa, me des-
pedi dos irmãos e peguei o caminho de volta. Era noite quando che-
guei a nossa casa. Assim que entrei na sala, eu não pude acreditar
no que estava diante de mim: sacolas e mais sacolas cuidadosamente
colocadas no sofá e sobre a mesa. Arroz, feijão, legumes, frutas, carne,
pão, manteiga, biscoitos, leite, produtos de limpeza. Era muito mais
do que nós precisávamos. A irmã que nos ofertou tudo aquilo me dis-
se que estava acompanhando o culto pelo rádio, e enquanto eu orava
pela igreja, o Senhor falou com ela:
“Vá ao supermercado e faça a melhor compra que você puder. Leve
para a Minha serva. Compre o suficiente para três meses. Inclua no
carrinho aquilo que você não compra nem para você.”
Ela obedeceu. Era tanta coisa, que tive que compartilhar com outras
pessoas, porque não daríamos conta de consumir tudo! Deus proveu.
Nunca havíamos passado por necessidade alguma, mas nos deleitamos
com esse carinho do céu. Eu sabia dar, mas ainda não tinha aprendido a
receber. Creio que essa provisão tão abundante foi um sinal do Senhor
para nos mostrar que, mesmo nos momentos difíceis, quando não con-
seguíssemos ver nada à nossa frente, Ele cuidava de nós.
Os tempos que se seguiram foram ainda piores. Estávamos em
constante batalha espiritual, mas o peso não diminuía, o fardo não
aliviava. A Ana e a Renata sempre estavam por perto, e quando elas
me perguntavam sobre a nossa adaptação, minha resposta era:
“Está tudo bem, graças a Deus. Ele está no controle de todas as
coisas.”
Não era orgulho, mas sim obediência à direção do Senhor. Ele ti-
nha me guiado a permanecer em silêncio. No meio de tudo isso ainda
enfrentávamos a oposição de algumas pessoas da igreja. Muitos me
olhavam com desconfiança, e passei por situações que eu nunca po-
deria imaginar.
Mas o pior, e o melhor, ainda estavam por vir.

227
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

21. UM PEDAÇO DO PARAÍSO

O CD Exaltado foi lançado, e o Diante do Trono passou a viajar em


alguns finais de semana. O Senhor me orientou a ir com eles – orando
e clamando em todo o tempo. Nessa época comecei a enxergar o poder
da intercessão de uma forma diferente. Estivemos em igrejas, ginásios
e praças para adorar ao Senhor. Era lindo ver o que acontecia enquan-
to o grupo ministrava. Quando o DT tocava, algo se movia no reino
espiritual. Pessoas eram salvas, libertas e curadas. O grupo era novo, a
Ana ainda era muito jovem, mas a fome que todos tinham por Deus
era contagiante. Se o público era abençoado pelas canções, nós, que
estávamos em cima do palco, também desfrutávamos do sobrenatural.
No ano 2000, a Ana começou a sonhar com o terceiro CD. Ela esta-
va compondo várias músicas, e a unção do Senhor era crescente. Mas,
no meio de toda essa preparação, Deus nos mandou parar tudo. Preci-
sávamos nos separar, como grupo, para buscar a presença dEle. Juntas
começamos a procurar por um lugar onde pudéssemos fazer um retiro
espiritual. Ficamos sabendo de uma pousada perto de Belo Horizonte,
na cidade de Sabará, chamada Estância Miraís. Reservamos aquele lu-
gar no meio das montanhas para passar o feriado do carnaval – longe
das distrações do dia a dia, concentrados nas coisas do céu.
Quando cheguei ali, não sei explicar o porquê, mas me lembrei do meu

229
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

arrebatamento. Estávamos no alto de um monte rodeado por tantas ár-


vores, e mesmo sendo uma pousada secular, meu coração se agitou. De-
cidimos que aquele era o espaço perfeito para o nosso primeiro retiro. Os
quartos dos hóspedes eram organizados em chalés e alojamentos maiores,
como as casinhas que vi durante aquela experiência gloriosa.
Nós nos reunimos durante os quatro dias com o grupo e com os fami-
liares dos integrantes. Até as crianças foram conosco. Pela manhã, à tarde e
à noite buscamos a presença do Senhor. Oramos, ouvimos a Palavra, lou-
vamos e adoramos. No aparelhinho de som, as músicas que seriam grava-
das em julho, mas que já estavam sendo ensaiadas, tocavam sem parar. Era
o CD de ensaio, feito da forma mais simples possível só para que o grupo
aprendesse as canções. Deus me disse que o DT precisava ser ministrado
pelas próprias melodias. Foram dias poderosos e decisivos!
Durante o retiro, montamos uma programação que proporcionava,
além das reuniões, momentos individuais de reflexão e oração silencio-
sa. Tudo o que estávamos vivendo me lembrava o arrebatamento. Certa
tarde, eu tinha saído do salão onde fazíamos os cultos e fui em direção ao
restaurante, passando por debaixo de várias árvores enormes. O dia estava
fresco, e o clima muito agradável. Enquanto eu caminhava, olhei para o
alto e comecei a falar com o Senhor:
“Deus, você se lembra da promessa de que me levaria a um monte
bem alto, onde as pessoas subiriam para serem libertas e transforma-
das? Desde que cheguei aqui não paro de pensar nisso. Eu vejo o que
está acontecendo ao meu redor, e é como se eu voltasse a enxergar o
que o Senhor me mostrou. Aqui é maravilhoso e parece tanto com a
minha visão. Se o Senhor quiser me dar esse lugar, eu recebo.”
Encerrei a oração e voltei para os meus afazeres. Os cultos continua-
ram, e o Espírito Santo se movia livremente em nosso meio. Enquanto os
louvores tomavam conta daquela pousada, nós orávamos para que Deus
operasse na vida de cada um. Foi um mover incrível, uma libertação ge-
ral. O Senhor mostrou coisas ocultas que precisavam ser trazidas à luz.
Ele revelou situações mal resolvidas, que tinham que ser tratadas; feridas
foram expostas para serem curadas. O Senhor revelou que tudo aquilo era
necessário para que o Diante do Trono prosseguisse.
Se até aquele momento tudo tinha acontecido sem muito planeja-
mento, a partir dali precisávamos nos preparar para a nova fase que o
Senhor estava apontando. Havia mais. Muito mais.

230
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

Helena

Uma das pessoas mais tocadas durante o retiro foi a Helena Tan-
nure. Ela fazia parte do backing vocal, ao lado do marido, o João Lúcio.
Ela era uma mulher muito engraçada, divertida e tinha uma voz linda
e potente. Os dois tinham entrado para o Diante do Trono no ano
anterior, na época da gravação do Exaltado e eram muito queridos
por todos. A Helena era uma pessoa com personalidade muito forte
e sempre se destacava. Dois anos antes, quando a vi pela primeira vez
em um culto, Deus já tinha me falado sobre ela. Helena e o João canta-
vam com o coral El Shamah (um dos ministérios da igreja) e naquele
dia específico ela fez um belo solo. Quando a observei por alguns mi-
nutos, ouvi o Senhor dizer:
“Ela precisa de uma grande libertação. Gere a Helena para Mim.”
Desde então eu orava, crendo que no momento certo ela seria
transformada pelo poder divino. Tudo era uma questão de tempo.
Durante uma das ministrações na Estância, em que o tema era que-
brantamento, o Senhor me disse:
“É agora.”
Sem que ninguém a tocasse, Helena caiu no chão e chorava muito. Ela
bradava alto, com gritos que revelavam o tamanho da dor que sentia no
mais profundo da sua alma. Os irmãos que tinham ido comigo para orar
rapidamente a rodearam, e juntos come-
çamos uma batalha. Eu sabia que a hora
havia chegado. A gestação estava no fim:
uma nova Helena estava para nascer.
Depois daquele momento no meio
do grupo, tive um tempo separado com
ela. Precisávamos conversar. O Senhor
trouxe muitas revelações, que foram
confirmadas por outras pessoas, e ela se
abriu para o que Deus estava fazendo.
Não foi fácil, mas era necessário pas-
sar por aquilo. Deus falou comigo que
a Helena precisava se afastar do púlpito
por um período. Ela não poderia minis-
trar até que a obra fosse completa. Por

231
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

cerca de dois meses ela ficou assentada no banco, vendo o marido e os


amigos cantando e tocando, enquanto apenas assistia.
Durante esse tempo, Deus tratou a necessidade de aceitação da Hele-
na. Ela dependia desse sentimento de apreciação das pessoas, por isso foi
difícil enfrentar o “tratamento de choque”. Foi como se o Senhor tirasse as
muletas que ela usava para se sentir bem. A própria Helena confessou que
precisava de palavras positivas para saber que era aprovada.
Ela tinha acabado de entrar na universidade e, com muita convicção,
senti que ela também precisaria abrir mão desse sonho para ter apenas
tempo com Deus. Não era hora de se dedicar aos estudos. Por isso a orien-
tei a trancar o curso até que estivesse pronta para voltar. Ela recebeu essas
palavras com pesar, mas concordou que era hora de se conhecer, se apro-
fundar em Cristo e ser liberta.
“Helena, você precisa voltar para o seu quarto. É tempo de parar
tudo para ouvir o Senhor. É hora de romper o que te prende, para
depois você avançar.”
Foi um período muito dolorido, mas ela venceu. Helena sentiu que
era necessário jogar fora vários pertences que tinha em casa. Também
abraçou uma vida de jejum. Nós nos encontrávamos todas as semanas
para orar e conversar; ela rasgava o coração diante de Deus, enquan-
to eu e outras intercessoras clamávamos sem cessar. Eu senti que ela
precisava ler sobre o assunto, entender melhor o que era a libertação
pela qual ela estava passando, e o livro Porcos na sala fez parte desse
processo. Aliás, essa é uma leitura que eu recomendo para todos!
Muitas pessoas não entendiam o que estava acontecendo. Ficavam
curiosas, sem compreender por que a Helena, que cantava tão bem,
não estava com o microfone nas mãos. Mas o Senhor foi tratando,
agindo e completando a transformação. Acho importante dizer que
apenas ter uma bela voz não serve como credencial para ministrar
louvor. É preciso bem mais que isso: é necessário ter uma vida consa-
grada, transformada, rendida ao pé da cruz!
Dentro do próprio quarto, Helena aprendeu a adorar quando nin-
guém estava vendo. Ela desapegou do próprio ego, foi curada do or-
gulho que poderia ter impedido tudo o que Deus tinha para fazer em
sua vida. Com o passar dos dias, descobriu que louvar na intimidade
de casa era melhor do que cantar na frente de uma multidão. Sozinha
com o Senhor, ela dançou, chorou, louvou!

232
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

A Helena se desprendeu dos elogios dos outros para se render


à aprovação do céu. Dali em diante ela soube que não precisava de
aplausos para alcançar o coração do Pai. Pelo contrário, ela não era
digna de glória alguma. Todo louvor e adoração devem ser dados so-
mente ao Salvador.
Quando aquele processo chegou ao fim, o grupo a recebeu com
muito carinho e festa. Especialmente o João, que passou ao lado da
esposa por toda essa fase complicada. No dia em que ela subiu ao púl-
pito novamente, o céu se abriu. Era uma nova mulher. Uma outra He-
lena. Senti que o Senhor sorria para aquela filha amada, que em breve
andaria “em lugares altos”.

-------------------------

Palavras da Helena
O período em que fui afastada do grupo para ser tratada por Deus
foi muito difícil. Passei por dias muito intensos em que Ele foi re-
movendo a minha necessidade de ser amada e aceita pelas pessoas.
Esse processo foi doloroso, porque o Senhor usou a Ezenete para
retirar tudo a que eu recorria para me sentir valorizada. Ela me
mandava buscar a Deus em casa, para conhecê-Lo verdadeira-
mente. Eu a encontrava todas as semanas, e durante esses momen-
tos eu chorava muito. Ela e as outras intercessoras oravam pedindo
ao Senhor para quebrar as cadeias na minha alma que me pren-
diam. Mas o que mais me marcou foi a orientação de ir para o meu
quarto, para descobrir como era adorar e buscar quando ninguém
estivesse me assistindo. Foi ali que aprendi a viver só para Jesus.
Quanto mais eu ficava aos pés de Cristo, no silêncio da minha in-
timidade, mais Ele me curava. Nunca vou esquecer destas palavras
da Ezenete: “Tranque a universidade e vá para o seu quarto apren-
der quem é o seu Deus”. Aquilo mudou tudo!

-------------------------

233
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

22. ÁGUAS PURIFICADORAS

Depois do nosso primeiro retiro, o grupo atingiu outra matu-


ridade espiritual. Foi lindo ver todos livres, fluindo no Espírito
do Senhor. Fiquei especialmente feliz em ver a Helena minis-
trando. Ela não era a mesma pessoa – isso foi visível. Ela recebeu
uma nova autoridade do céu e fez um trio lindo, ao lado da Ana
e da Soraya, cantando À sombra do Altíssimo. A música é mara-
vilhosa, baseada no Salmo 91, e fala sobre a confiança absoluta
em Deus.
As músicas gravadas no CD Águas Purificadoras traduziam
exatamente o tempo que estávamos vivendo como ministério. Du-
rante o retiro, nós cantamos uns para os outros, diversas vezes, a
canção Quando Deus escolhe alguém. E quando o grupo começou
a tocar os primeiros acordes dessa música, no Parque de Exposi-
ções da Gameleira, em Belo Horizonte, ministramos com muita
alegria, porque sabíamos que os planos que Ele plantou em nossos
corações vinham do Alto. Se o Senhor me escolheu, se Ele levan-
tou a Ana Paula, se Ele reuniu cada uma daquelas pessoas para um
propósito, Ele nos capacitaria. Ainda hoje, quando ouço a letra ou
a melodia dessa canção, volto no tempo.

235
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Quando Deus escolhe alguém, Ele mesmo faz


Tudo o que determinou em Seu coração
Capacita os chamados
Fortalece os seus braços
Pois a obra é dEle e não falhará

Quando Deus escolhe alguém, bom é obedecer


Custe o que custar é sempre o melhor
Ele cumpre a Palavra
Que diz boa e agradável
Perfeita é a vontade do Senhor

Deus te criou para triunfar


Te escolheu para reinar
E viver como um herdeiro
Do que Jesus conquistou

Ele te fez um sonhador


Com um propósito, uma visão
E nada vai frustrar os planos do Senhor

Você é um vencedor

Outra música que falou muito conosco durante o retiro, e foi gra-
vada naquela noite fria de julho de 2000, foi Cheiro das águas. Todos
tinham a consciência de que se estávamos ali, gravando um CD, é
porque tínhamos parado tudo para nos consagrar a Ele. Era pela mi-
sericórdia dEle, para a glória dEle. Nós nos levantamos como novas
criaturas, que passaram pelo processo de cura e foram renovadas
pelas águas do trono de Deus.

Há esperança para o ferido


Como árvore cortado, marcado pela dor
Ainda que na terra envelheça a raiz
E no chão, abandonado, o seu tronco morrer
Há esperança pra você

236
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

Ao cheiro das águas brotará


Como planta nova florescerá
Seus ramos se renovarão
Não cessarão os seus frutos
E viverá

Todos ficamos impressionados com aquela multidão de 70 mil pes-


soas que compareceram à gravação – a primeira fora do templo da Igre-
ja da Lagoinha. E coisas maiores estavam por vir! Mas esse terceiro CD
representa para mim a história do Diante do Trono, e é lindo ver que
se tornou também parte da vida de tantos irmãos em Cristo. Até hoje,
mais de dez anos depois, a mensagem é atual!
A música Deus fiel, um dueto lindo da Ana com o André, é uma das mais
cantadas em casamentos evangélicos! Por falar em André, ele voltou de uma
vez por todas para o Brasil, assumindo o chamado de ministro do Senhor. Não
havia traço daquele jovem rebelde; quem cantava ali era um homem restaura-
do por Jesus. E quando pensamos na letra poderosa dessa canção, podemos
nos deleitar nas promessas de um Deus fiel, que sempre cumpre o que diz.

Nem olhos viram nem ouvidos ouviram


O que Deus preparou para nós
Um futuro certo, cheio de esperança
e paz, muita paz

Quero viver Teus sonhos Teus planos


Tudo o que por mim conquistaste na cruz
A Tua vontade é o meu prazer
Sem Ti nada posso
Opera em mim o Teu poder
Vê o fruto do Teu penoso trabalho
Alegra-te sobre mim
Alegra-te sobre mim

É tão bom sonhar Teus sonhos


É tão bom viver Teus planos
E conhecer a graça de pertencer a Ti
Deus fiel

237
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

É tão bom fechar meus olhos


E contemplar com minha fé
Todas as Tuas palavras
Tuas promessas pra mim
Deus fiel

Apesar de termos vivido momentos de preparação, de orarmos bas-


tante durante todo esse processo, eu não tinha uma estratégia definida
de intercessão. Assim, não formei um grupo específico para esse pro-
pósito. Eu apenas reunia alguns irmãos em uma sala da igreja, poucas
semanas antes do evento, e nós orávamos em unidade. Sabíamos que
era necessário clamar para que tudo desse certo, para que os equipa-
mentos funcionassem, para que as pessoas recebessem a mensagem e
fossem salvas. Basicamente essa era a nossa ‘lista’. O Senhor nos pro-
porcionou momentos incríveis, e aqueles encontros seriam embriões
do ministério que estava por vir.
Sem falar que nesse período eu ainda enfrentava uma persegui-
ção intensa por parte de alguns membros da igreja. Em meio as ben-
çãos do Senhor, aos milagres que Ele operava, eu lidava com uma
forte oposição. Mas nada disso chega aos pés da graça, da misericór-
dia, da fidelidade e do amor de Deus. Nada se compara ao que Ele
fez na minha vida.

Deus fiel

Preciso dizer que me-


ses após essa gravação a
Ana Paula se casou. Se
quando a conheci, ela es-
tava perdida, precisando
renunciar a um relacio-
namento amoroso, no dia
13 de setembro de 2000
eu a vi vestida de noiva
entrando no templo da
Igreja Batista da Lagoi-
nha. Linda, como uma

238
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

princesa, ela se uniu a um homem de Deus, o Gustavo. Durante a ceri-


mônia, os dois foram ordenados pastores, e meu coração transbordou de
alegria por ver a minha filha do coração começando uma nova família
abençoada pelo Senhor.
Acompanhei toda essa história de amor: desde quando, quase dois
anos antes, o Gustavo mandou um e-mail para a Ana, querendo conhecê-
-la, a preocupação dela em ter a benção dos pais para se corresponder com
ele, os primeiros encontros, o início do namoro, o pedido de casamento,
o noivado e, finalmente, o grande dia. Desde o início geramos tudo em
oração, e foi maravilhoso ver os dois se declarando um ao outro e a Deus
no altar. A igreja estava cheia, e foi um dia de festa para todos da Lagoinha.
Eu e o Marcos fomos pa-
drinhos, mas entramos na
igreja como pais orgulhosos.
Se um dia a Ana foi obedien-
te e ouviu a voz do Senhor,
ali, diante de toda a comuni-
dade onde ela cresceu, ela foi
honrada e abençoada para
começar a própria família.
O Gustavo fez muito bem a
ela e também se tornou um
filho para mim.
Ao longo dos anos,
acompanhei a luta da Ana para engravidar, e com uma alegria enorme
contemplei os nascimentos do Isaque, em 2006, e do Benjamim, em
2009. Deus foi e tem sido fiel!

Mariana

Também quero falar sobre a Mari, a caçula dos Valadão. A Mariana


era muito pequena quando conheci a família e pude trabalhar com ela
desde bem novinha. Quando a vi pela primeira vez, a enxerguei como
uma guerreira do Senhor e uma companheira para a mãe, Renata. Ela
sempre foi obediente, tranquila e convicta de que viveria para amar
a Deus. Eu sabia que ela também tinha sido chamada para cantar e
abençoar multidões.

239
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Vi a Mari crescer, se envolver nas atividades da igreja, cantar com o


Diante do Trono, iniciar a faculdade de psicologia, largar o curso, fazer
seminário, namorar, casar e começar o seu ministério próprio ao lado do
marido. Hoje ela mora no Rio de Janeiro e cuida de uma congregação da
Lagoinha em Niterói. Ela é mãe de um menino maravilhoso, o Tito, e com
o Felippe percorre o Brasil com a sua doçura, proclamando o Evangelho.
Tenho um amor muito grande pela Ana, pelo André, pela Mariana
e pelas famílias que os três construíram ao lado do Gustavo, da Cas-
siane e do Felippe. Vejo cada um como filhos espirituais que o Senhor
me deu, e olho para as crianças que eles tiveram, o Isaque, Lorenzo,
Benjamim e Tito, como se fossem meus netos. Até hoje oro e continuo
gerando os sonhos do nosso Pai para essas preciosas famílias.
Houve um tempo em que também pude cuidar da Renata, e Deus
fez grandes coisas entre nós. Mas essa é uma outra história.

-------------------------

Palavras da Mariana

Para mim é uma alegria muito grande fazer parte da vida da Ezene-
te. Lembro-me de que quando a conheci eu ainda era uma criança.
Mas ela, e toda a família, vieram como presentes enviados por Deus
a nós, me vendo crescer e fazendo parte da minha história. Foram
muitos momentos que vivemos juntos ao longo desses anos. Eu falava
com a Ezenete: “Zê, me ajude nesta área. Eu quero crescer, eu quero
mudar”. E ela sempre foi um exemplo para mim, ao enfrentar enfer-
midades, dificuldades, sem nunca desistir. Ela sempre me amou, me
acolheu e sorriu para mim. Quando eu conheci o meu marido ela
orou e me encorajou. Ela dizia: “É de Deus!”, e tudo foi se confirman-
do. Depois eu engravidei do Tito, nós oramos por ele, e Deus mostrou
o milagre que ele viveria nos pulmões. Ele ficou internado por sete
dias na UTI e saiu com uma marca do Senhor. Hoje eu agradeço de
coração por todos os segundos, por todas as horas que a gente se doou
gerando o que hoje eu vivo. Eu te amo, Zê, e eu estou aqui para o que
der e vier! E vamos prosseguir, porque só vai melhorar!

240
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

Palavras da Renata

A Zê foi muito importante na minha família. Minha irmã falava que


ela era uma benção, o que pudemos comprovar ao longo dos anos.
Quando falei com o Márcio sobre a possibilidade de viajar para São
José com os nossos filhos mais velhos, ele me disse que eu já deveria
ter feito isso antes! Sempre tivemos muito cuidado com profecias, mas
a nossa situação estava tão complicada que, mesmo contra a vontade
da Ana e do André, nós fomos. Quando chegamos, a nossa primo-
gênita estava péssima e queria desistir de tudo. Já o Dedé dizia que
estava bem, que não precisava de nada. Eles não queriam conversa,
mas a Zê foi os conquistando. Como o André tinha prova e tinha que
voltar a BH, não tivemos muito tempo, mas foi incrível o que Deus
nos revelou enquanto orávamos. Nunca obrigamos nossos filhos a se-
rem pastores, e o André não queria mesmo saber disso. Eu e o Már-
cio falávamos que não havia problema, mas na casa da Zê o Senhor
mostrou que tinha um chamado ministerial para ele. No decorrer dos
anos, vimos se cumprir tudo o que Deus falou naqueles dias. Sempre
orei pelos meus três filhos, mas nunca tive uma pessoa com quem eu
pudesse de fato compartilhar minhas lutas e desabafar. Por ser esposa
de pastor, nem sempre é fácil ter alguém assim, e a Zê também veio
para ser essa confidente. Foi maravilhoso o que Deus fez através dela
nas nossas vidas em uma época que não existia Diante do Trono e
que o chamado dos meus três filhos, Ana, André e Mariana, parecia
um sonho distante. Juntas fizemos uma parceria para lutar pela vida
deles, e eu confiei nela. Além disso, Deus falou com a Zê para esperar,
pois um dia eu pediria para ela cuidar de mim também. Muitos anos
depois, isso aconteceu. A dedicação que ela e toda a família têm para
conosco e pela Lagoinha é incrível. É um privilégio tê-los com a gente.
Eu amo muito a Ezenete e no mundo espiritual ela é a minha mãe, e
eu sou a mãe dela! A Zê sabe disso.

-------------------------

241
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

23. ESTÂNCIA PARAÍSO

Confesso que mesmo depois do retiro e da gravação do CD Águas


purificadoras eu continuei com a Estância Miraís na cabeça. Na épo-
ca, a pousada era dedicada a práticas esotéricas e meditação, mas eu
fiquei pensando que aquela montanha seria perfeita para o que Deus
tinha me mostrado duas décadas atrás. Curiosamente, assim que che-
guei a BH, quase um ano antes, o pastor Márcio me perguntou por
que eu levava, para dentro de casa, tantas pessoas que eu nem conhe-
cia – assim como fiz com a Ana e o André.
“Filha, por que você fazia isso em São Paulo?” – foi a pergunta dele
para mim.
“Pastor, Deus me mostrou que eu deveria agir dessa forma. Ele me
deu esse chamado quando eu fui arrebatada, há muitos anos. O Se-
nhor foi muito claro e específico, e eu apenas obedeço. O meu prazer
é ver vidas transformadas e restauradas. Cada pessoa que passa por
mim me ensina. Sei que é algo do céu.
“E qual é o seu sonho?” – ele continuou.
“Meu sonho? Ah, eu queria muito ter um lugar espaçoso onde eu pudes-
se morar e receber pessoas, do Brasil e do mundo, para serem transformadas
por Deus. Eu sonho com uma casa no alto de uma montanha. O Senhor me
disse que um dia eu terei um espaço assim – para preparar a noiva dEle.”

243
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Enquanto eu falava, meu coração acelerava, batendo cada vez mais


rápido. Era como se eu enxergasse tudo, novamente, diante de mim.
Então saí do mundo dos sonhos e voltei para a realidade.
“Mas eu creio que isso não é algo para já, pastor. Eu penso que ain-
da vai demorar. Quem sabe quando eu tiver uns 60 anos? Até lá acho
que não vou poder mais viajar de um lado para o outro, então terei
bastante tempo para me dedicar a esse projeto.”
Ele agradeceu, se despediu, e não falamos mais sobre isso. O tempo
passou, eu me envolvi com o Diante do Trono e conheci a Estância
Miraís. Mas eu estava tão focada no DT, que continuava crendo que o
meu sonho era algo muito distante da realidade que eu vivia. Eu tinha
falado com o Senhor, que se Ele quisesse me abençoar com aquele
espaço maravilhoso, eu tinha fé. Mas sinceramente, no meu coração,
eu não pensava que aquele momento seria o melhor para abraçar um
novo projeto.
Certo dia o pastor Márcio me ligou para uma nova conversa:
“Filha, conta pra mim: qual o seu maior sonho?”
“Pastor, eu te falei sobre isso assim que cheguei a Belo Horizonte.
Lembra? Eu sonho com um lugar grande, espaçoso, no alto de uma
montanha, onde eu possa receber e cuidar das pessoas.”
“Amém. Que bom ouvir isso. Você pode passar aqui na igreja?”
“Claro! Mas para quê?”
“Quero te levar para conhecer um lugar.” – ele respondeu.
“Que lugar? Não, pastor, não quero conhecer lugar nenhum! Esse
meu sonho não é para agora, eu te falei. Eu não posso me envolver
com mais nada, ando muito ocupada.”
“Eu sei, Ezenete, mas mesmo assim eu quero que você faça uma
visita acompanhada por alguns irmãos da igreja.”
“Olha, pastor, eu vou. Mas eu não posso assumir mais nada por
enquanto. Estou muito envolvida com o Diante do Trono.” – expliquei
para ele.
Então fui para a igreja me encontrar com o grupo que eu iria acom-
panhar. Entrei no carro e segui pelo caminho sem prestar atenção. No
meu coração, não era hora de ter esse espaço para cuidar das pessoas,
nem de me dedicar a esse sonho. Mas o Senhor é o dono do tempo.
Não reconheci a estrada, nem me atentei para o lugar. Mas quando
passei pela porteira, meu coração acelerou!

244
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I

“Uau! É a estância onde fizemos o retiro! Esse é o lugar que o pas-


tor Márcio quer me mostrar?” – pensei.
Lá, caminhei novamente sob as árvores, pelo salão onde testemu-
nhei o poder do Senhor; fui até o restaurante, vi a sombra onde orei a
Deus pedindo um espaço no alto de uma montanha para receber pes-
soas. Será que Deus estava preparando uma surpresa para mim? Os
irmãos da igreja que estavam comigo adoraram a pousada. Quando
desci a montanha, liguei para o pastor Márcio:
“Pastor, eu conheço esse lugar. Ele é ótimo. Foi aqui que fizemos o
retiro do Diante do Trono.”
“Tá bom, filha. Que bom que você gostou. Eu precisava saber a sua
opinião. Obrigado por ter feito essa visita.”
Dois meses se passaram, e ele me ligou novamente me chamando
para uma reunião na sala dele. Assim que passei pela porta, percebi
um molho de chaves em cima da mesa. Ele me recebeu com o sorriso
e o carinho de sempre.
“Filha, o seu sonho está aqui. O tempo em que você vai realizar
depende de você. Mas receba esse presente do Senhor.” – ele disse me
entregando as chaves.
“Presente? Que presente? Que chave é essa?” – perguntei sem en-
tender ou acreditar.
“Essa é a chave da Estância Miraís.” – o pastor respondeu.
Meu coração se encheu de alegria e regozijo. Eu não podia acredi-
tar que o Senhor estava trazendo à realidade tudo o que eu sonhei. Se
Ele proveu o lugar que eu pedi, Ele me capacitaria e me daria o tempo
necessário para desenvolver mais esse trabalho.
Três meses depois eu e minha família nos mudamos para lá, pron-
tos para ampliar o ministério que sempre desenvolvemos na nossa
própria casa. O nome não seria mais Miraís. O Senhor me mostrou
que aquele lugar precioso seria como um paraíso para pessoas seden-
tas por um relacionamento vivo com Ele. Por isso, não havia nome
melhor.
Quando entrei na Estância Paraíso com a chave na mão, pela pri-
meira vez, o Espírito Santo me disse:
“Por aqui passarão príncipes e princesas escolhidos por Mim.”
Desde então meu coração começou a sonhar com o dia em que
as pessoas começariam a subir o monte para estar conosco. Naquela

245
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

época a área era bem fechada pelas árvores, pois os antigos proprietá-
rios acreditavam que não podiam tocar na “mãe natureza”. Com tanto
espaço disponível, pude, então, desenvolver vários dons que eu nem
sabia que tinha! Com um grupo de seis intercessores e minha família
plantamos mais de dois mil metros de grama. Chamei uma profis-
sional de jardinagem para nos ensinar, e com nossas próprias mãos
fizemos canteiros lindos, com flores e plantas ornamentais. Até então
eu nem desconfiava que seria capaz de fazer algo desse tipo.
O próximo passo foi reformar algumas áreas para que a Estância
se adequasse às nossas necessidades. Começamos pela cozinha, que
era bem pequena.
Num papel, dese-
nhei como eu gos-
taria que o espaço
ficasse. O Senhor
proveu todos os
recursos para essa
primeira obra – e
para todas as outras
que vieram em se-
guida.
Hoje olho para
trás e me surpreendo com tudo o que Deus fez. Aos poucos Ele foi
trazendo as estratégias de como deveríamos trabalhar. E posso dizer
que muitos príncipes e princesas passaram por aqui, resgataram suas
identidades, recuperaram suas vidas e retornaram o lugar de realeza.
A Estância Paraíso também se tornou um lugar muito especial para
o Diante do Trono. Ao longo dos anos nos reunimos ali diversas vezes
para orar, buscar ao Senhor e nos separarmos para Ele. No alto daquela
montanha geramos em oração todas as gravações e congressos que vieram
depois disso. Deus sempre foi fiel, agindo em nosso meio, respondendo o
nosso clamor, e fazendo muito mais do que podíamos imaginar.
Nunca terei palavras suficientes para agradecer ao Senhor por esse
pedaço do paraíso que Ele me entregou e onde tenho o privilégio de
morar.
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

P A R T E V I I

“E O S QUE DE T I
PRO C E DE RE M E DI F I CA R Ã O
AS ANTI GAS RUÍ NA S;
E L E VA N TA R Á S O S
FU NDAME NTO S DE GE R A ÇÃ O
EM GE RAÇ ÃO ; E CHA M A R -
TE -ÃO RE PARA DOR DA S
ROTU RAS, E RE STAUR A DOR
D E VE RE DAS PA R A M OR A R .”

I S A Í A S 5 8 . 1 2
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

24. LEVANTE INTERCESSORES


PELO BRASIL

No início de 2001 fomos ministrar em Belém do Pará, e sincera-


mente eu senti que algo diferente aconteceu. Meu espírito estava agi-
tado. Não sei explicar como, mas durante o louvor eu fui tomada por
uma necessidade de adorar e de orar de uma forma que ainda não
tinha acontecido em to-
dos os meus anos de ca-
minhada com o Senhor.
A palavra “interceder”
era muito pouco usa-
da na época, mas minha
percepção era de que eu
estava envolvida em uma
atmosfera de intercessão.
O evento foi maravi-
lhoso, e mesmo após che-
gar ao hotel eu senti que
precisava me aquietar. Naquela noite eu não quis jantar; bebi apenas
um copo de suco e fui me deitar. Eu e a Ana Paula estávamos dividin-

249
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

do o mesmo quarto. Dormi, adorando ao Senhor, antes mesmo que


ela chegasse.
Por volta das três horas da manhã, senti um toque diferente em
mim. Já tinha um tempo que eu não ouvia a voz doce e meiga do Es-
pírito Santo me despertando do sono, mas naquela noite aconteceu.
Escutei Seu sussurro:
“Quero falar com você.”
Abri os olhos sonolenta, assentei-me na cama, estiquei os braços e me
pus de pé. Caminhei lentamente até a sacada do quarto, passei pela porta
e a fechei atrás de mim, sem fazer nenhum barulho. Senti que não devia
falar nada com a Ana, pois aquele momento era meu e do Senhor. Ali fora
pude respirar o ar úmido do Norte do país e abrir meu coração para o que
Deus estava falando. Eu estava de frente para um dos rios que cruza a cida-
de e a vista era muito bonita. Tentei fazer tudo silenciosamente, para não
incomodar a Ana, que dormia exausta após a ministração.
A voz clara, meiga, voltou a falar aos meus ouvidos:
“Eu tenho algo para te revelar. Tenho um chamado para você.”
“Sim, Senhor. Eu estou ouvindo. Eis-me aqui.” – respondi.
“Levante, para Mim, intercessores no Brasil.” – foi o que a voz do
Senhor me ordenou.
“Sim, Senhor! Mas como vou fazer isso?” – eu quis saber.
“Eu te guiarei e te ensinarei. O Meu povo precisa aprender a cla-
mar, a chamar pelo Meu nome.” – Ele me explicou.
“Mas como será isso, Senhor? – continuei.
Ele me respondeu:
“Levante um Ministério de Intercessão onde Eu plantei você. Pre-
pare também uma Escola de Intercessão. Eu a levarei pelo Brasil, para
você fazer seminários e ensinar o Meu povo a importância de clamar
a Mim.” – foi a orientação do Senhor.
Isso era muito sério. Ouvi o que Ele me dizia, mas pensando em
como funcionaria na prática: “Escola de Intercessão? Como assim?
Vou reunir pessoas em uma sala para orar? Como vou ensinar as pes-
soas a fazerem isso? Orar é tão natural...”
“Mas como eu vou fazer isso?” – eu quis saber.
E Ele respondeu:
“Você foi gerada pela intercessão. Eu gero em ti, agora, essa unção
e essa visão. Eu sou quem Eu sou.”

250
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

É curioso pensar que no livro de Romanos, no capítulo 8, versícu-


los 26 e 27, Paulo nos ensina que o Espírito Santo intercede por nós
com gemidos inexpremíveis:

“E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraque-


zas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas
o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E
aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e
é ele que segundo Deus intercede pelos santos.” (Romanos 8.26-27)

Aquilo era algo muito novo para mim, mas eu disse para Ele:
“Se o Senhor me ensinar, eu farei.”
Interessante lembrar que durante meu arrebatamento eu vi pessoas
ajoelhadas, com as mãos levantadas e chorando. Eu também ficava de
joelhos, diante delas, fazendo a mesma coisa. E ali, tantos anos atrás,
envolvida na glória de Deus, eu me lembro de ouvi-lo dizer:
“Ajude as pessoas a se quebrantarem na Minha presença. Vou te
levar a vários lugares para você ensiná-las.”
Se durante o arrebatamento a minha resposta foi positiva para o
propósito de Deus, agora, depois de já ter visto e experimentado tanta
coisa, eu não poderia reagir de outra maneira. Enquanto a brisa quen-
te e úmida soprava no meu rosto, lembrei-me de mais uma passagem
bíblica que embasava o que eu estava vivendo na sacada daquele hotel.

“Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas gran-


des e ocultas, que não sabes.” (Jeremias 33.3)

Se o Senhor disse isso a Jeremias, eu cria que Ele também estava


me revelando, naquela madrugada, um plano grande, que até aque-
le momento estava oculto aos meus olhos. Envolvida nesse ambiente
glorioso, continuei a fazer perguntas:
“Mas como tudo isso vai acontecer?”
“Eu vou te ensinar” – Ele me respondeu mais uma vez.
“Então espera um pouco, que eu preciso fazer algo!” – pedi a Ele
Voltei rapidamente, mas em total silêncio, para dentro do quarto.
No escuro, tateei sobre o criado-mudo até encontrar uma caneta e um
bloco de papel. Voltei para a varanda, sem que a Ana acordasse, me

251
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

assentei e, respirando aquele ar quente, comecei a escrever o que ouvia.


Eu não queria perder nenhum detalhe! Pensando agora, acho interes-
sante que aquela voz poderosa esperou para que eu pudesse estar pron-
ta para anotar antes de continuar a me passar as instruções.
“Características fundamentais para ser um intercessor” – o Senhor
me ditou.
Silenciosamente passei para o papel essa primeira frase. Eu tremia
por inteiro, minhas pernas estavam bambas, minha respiração ofe-
gante. Eu sentia aquele sol poderoso brilhando dentro de mim, irra-
diando uma luz majestosa. Estava sendo visitada pelo Espírito Santo, e
todo o meu corpo reconhecia tão bem aqueles sinais. Tentei controlar
a minha emoção e prossegui com o processo que funcionava como
um ditado. O Senhor continuou a dizer:
“Primeiro ponto: Ser quebrantado.”
“Segundo ponto: Ser liberto.”
Eu anotei essas duas orientações, mas comecei a questionar com
base no conhecimento que eu tinha até então:
“Mas como pode ser? Ninguém é quebrantado sem ser liberto.”
O Senhor me esclareceu:
“Não, filha. É aí que o Meu povo se engana: ninguém é liberto se não
for quebrantado. É o quebrantamento que gera a verdadeira libertação.”
Uau! Foi assim que descobri que esse processo não funcionava
como eu imaginava. De repente, tudo passou a fazer sentido. Lem-
brei-me de tantas pessoas que passaram pelo meu caminho e das
dificuldades que elas enfrentavam para abandonar comportamentos
destrutivos. Finalmente entendi que isso acontecia porque elas nunca
tinham se quebrantado diante do Pai.
Às vezes vivemos tantos conflitos interiores e lidamos com tantas situ-
ações difíceis, que parece impossível romper para uma nova vida. A nossa
alma briga, as nossas emoções resistem, e por mais orações que façamos,
é como se a libertação não acontecesse. Mas então Deus revelou que para
sermos de fato livres do que nos impede de avançar – e viver uma nova
vida em Cristo – precisamos passar pelo processo de quebrantamento. É
essa atitude de reconhecer nossa humanidade que nos conduz ao arrepen-
dimento verdadeiro pelas atitudes erradas, que nos traz a convicção do
pecado, nos mostrando onde nos perdemos. E assim somos conduzidos a
chorar ao pé da cruz por fazer o que não devíamos.

252
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

Quando nos submetemos à mão poderosa de Jesus, Ele nos revela


quais são as áreas em que precisamos ser libertos. Às vezes a razão
de cairmos tanto nas mesmas situações, de termos tanta dificuldade
para fugir de um pecado específico, é porque ainda não fomos livres
daquilo. O quebrantamento nos leva à santidade, e esta nos conduz à
intimidade com o Senhor. E nesse relacionamento real e próximo, que
começa com o reconhecimento das nossas falhas, é que somos libertos
de uma vez por todas.
Que revelação! Eu ia ouvindo, sentindo o poder de Deus, tentando
anotar e me lembrar de tudo:
“Deus, que loucura! Não foi assim que eu aprendi. Agora final-
mente entendi que o verdadeiro quebrantamento é o que rasga o céu
sobre as nossas vidas.”
Continuei a anotar a lista que o Senhor estava me transmitindo:
“Terceiro ponto: Ser um adorador.”
“Uau!” – falei para mim mesma enquanto escrevia sem parar.
“Quarto ponto: Ser um guerreiro.”
Como eu nunca tinha pensado nisso? Voltando no tempo e relem-
brando todas as batalhas pelas quais passei – com a Lourdes, Malu,
Helena e tantas outras pessoas – vi que foi exatamente assim que
aconteceu. Elas foram libertas depois que reconheceram os próprios
erros se quebrantando diante de Cristo e recebendo o poder liberado
pela vitória de Jesus na cruz. O sangue do Cordeiro as cobriu com po-
der, graça e misericórdia depois que elas se abriram para isso. Então,
elas passaram a viver uma vida de adoração. Realmente fazia sentido!
Lágrimas brotaram nos meus olhos, e comecei a me derramar na pre-
sença do Senhor. Mas com a caneta e o papel na mão, para não deixar
de escrever nada do que o Espírito Santo me mostrava!
É lindo também perceber que um adorador só é guerreiro depois
de entender que vivemos em um mundo de batalha espiritual, e a nos-
sa maior arma é a adoração. No livro de Salmos aprendemos que o
nosso Deus habita entre os louvores.

“Porém tu és santo, tu que habitas entre os louvores de Israel”.


(Salmo 22.3)

Várias músicas falavam sobre isso, e é incrível como Deus se mani-

253
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

festa quando O adoramos. Isso acontece porque dessa forma, estamos


invocando a Sua presença santa, poderosa, majestosa. Isso é bíblico!
O Senhor continuou a falar comigo e me fez duas perguntas curiosas:
“O que é interceder? O que é intercessão?”
Fiquei pensando enquanto chorava, ajoelhada, na presença dEle:
“O que é intercessão? Que pergunta engraçada. Interceder não é
orar? Não é o que todo crente faz?” – indaguei a mim mesma.
Já eram quase seis horas da manhã. O sol estava nascendo e co-
meçava a iluminar, aos poucos, tudo ao redor. A Ana ainda dormia
profundamente, sem a menor ideia que do outro lado da porta eu es-
tava tendo uma experiência incrível que nos traria uma nova direção
ministerial.
“Entrando na Sala do Trono” – ouvi Ele me dizer.
“O que o Senhor quer dizer com isso? Podemos entrar na Sala do
Trono estando vivos? Morando aqui na Terra?” – perguntei.
Ele continuou a falar ao meu ouvido:
“O quebrantamento gera a santidade, que traz a intimidade, que
conduz à Sala do Trono. Sede santos como Eu sou santo. O quebran-
tamento é o primeiro passo para tudo isso.”
Finalmente eu entendi – e havia um mistério por trás disso. En-
trar na Sala do Trono é separar um tempo para se dedicar exclusiva-
mente ao Senhor. Não é aquela oração rotineira que a gente faz para
almoçar, para jantar, acordar ou dormir. Mas é aquele momento em
que você para tudo para ter comunhão, para ouvir e se derramar na
presença dEle. E a intercessão passa por aí. A pastora Alda Célia tem
uma música linda que fala sobre isso. Ela tem justamente esse nome:
Sala do Trono.

Pai eu quero contemplar


Tua glória e majestade
Pai eu quero te adorar
Em espírito e em verdade

Não apenas no átrio,


Ou no santo lugar
Eu quero te entronizar
Entre os querubins

254
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

Oh, leva-me à Sala do Trono


Pelo novo e vivo caminho
Pelo sangue de Jesus
Eterno sumo sacerdote
Oh, leva-me à Sala do Trono
Pra te adorar, Senhor

Finalmente o Senhor me mostrou a visão específica sobre o que é


intercessão:
“Você precisa entrar na Sala do Trono todos os dias. Lá revela-
rei Meus segredos a muitos que se doarão para interceder e clamar.
Muitos chegarão doentes e desanimados, procurando a cura. Eu darei
remédio e os levantarei como atalaias.”
Eu compreendi: a intercessão é a oração feita na Sala do Trono.
Entendi que durante as reuniões de oração na casa da minha mãe,
com a tia Nó, nós experimentávamos isso. Nas nossas incontáveis vi-
gílias desfrutamos desse lugar santo, assim como também aconteceu
nas Tardes da Benção e até durante as reuniões antes das gravações do
Diante do Trono. É em dias assim que vivemos experiências maravi-
lhosas com o poder de Deus. Mas o que Ele estava me revelando era
algo profundo, que precisava ser compartilhado.
“Sim, Senhor. Eis-me aqui. Mas, eu preciso de um sinal. Eu vou
contar tudo isso ao pastor Márcio, que é o meu líder. Se ele aprovar,
abraçarei essa visão. Tenho mais um pedido: Quem vai me ajudar? Eu
preciso ter alguém ao meu lado. Alguém que entenda o que o Senhor
quer fazer. Eu já tenho a Lourdes, mas preciso de uma pessoa só para
esse plano. Ainda não conheço os irmãos da Igreja da Lagoinha, mas
gostaria de te pedir para trazer a Ana Lúcia de São José dos Campos
para BH. Eu sei que parece impossível. O Seu Nunes nem é converti-
do. Os filhos deles estão trabalhando e bem empregados, mas nada é
impossível para o Senhor. Me dê a Ana Lúcia como auxiliar! Quando
estávamos em São Paulo, vivíamos em oração e intercessão. Eu sei que
o Senhor pode fazer isso por mim.”
Nessa época eu passava por um período de muitas dificuldades
na Lagoinha. Pode não parecer, mas eu fui muito perseguida. Várias
pessoas faziam questão de deixar claro que eu não era bem-vinda.

255
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Por isso não consegui enxergar como eu poderia desenvolver algo tão
grande, se já enfrentava uma oposição tão dura dentro da minha pró-
pria igreja. Eu sabia que um dia essa rejeição passaria, mas enquanto
isso não acontecia, precisava de alguém da minha confiança ao meu
lado, para dar início a esse trabalho.
O Senhor sabia de tudo isso. Apesar de eu não comentar nada a
respeito nem com meu marido, eu orava todos os dias pedindo a Deus
para guardar a mim e a minha família, para nos sustentar enquanto
Ele nos quisesse em Belo Horizonte. Então Ele me respondeu na mes-
ma hora:
“Eu farei. Clame, gere. Será a sua primeira experiência com esse
entendimento sobre intercessão.”
“Amém!”
Senti que o nosso longo diálogo chegou ao fim. Reuni as folhas do
bloquinho, peguei a caneta e voltei para o quarto. O relógio marcava
sete horas da manhã. Eu estava cansada, mas meu espírito estava vivo
como nunca! Porém, meu corpo finalmente sentiu os efeitos da ma-
drugada acordada, vivendo algo tão sobrenatural. Assim que fechei
a porta da sacada, a Ana Paula abriu os olhos e me perguntou com
aquela voz meiga.
“Uai, Zê, você estava lá fora?”
Por mais exausta que eu estivesse, não consegui me conter. Come-
cei a falar antes mesmo que ela pudesse se levantar da cama:
“Ana, vivi um momento glorioso. Tive mais uma experiência in-
crível com o Senhor. Deus me deu uma missão. Ele me chamou para
ser uma intercessora. Ele me deu uma visão de levantar intercessores
pelo Brasil!”
Ela arregalou os olhos e me perguntou:
“Por que você não me chamou, Zê? Eu queria ter vivido isso também!”
“O Espírito Santo não mandou eu te chamar!” – respondi dando
uma risada.
Gargalhamos juntas, e continuei compartilhando o que havia aconteci-
do. Tenho um laço muito especial com a Ana: além de considerá-la como
uma filha, ela é minha amiga, minha confidente. Dividimos segredos, as
revelações do Senhor, coisas profundas ou acontecimentos do dia a dia.
Temos uma relação incrível, e depois dessa madrugada tremenda começa-
mos a sonhar juntas com esse novo ministério.

256
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

O início do ministério

Voltamos a BH com meu coração cheio de expectativas. Fui direto


contar para o pastor Márcio tudo o que tinha acontecido. Ele me ou-
viu com os olhos brilhando e disse:
“Que lindo, filha! Quando você vai começar? Vai ser maravilhoso.
A nossa igreja e o Corpo de Cristo precisam disso.”
“Pastor, antes eu tenho outro pedido para fazer.”
“Pode pedir.”
Então comecei a falar sobre a Ana Lúcia. Contei sobre as nossas
Tardes da Benção, sobre as orações que fazíamos juntas e expliquei o
papel importante que ela tinha para que essa visão fosse desenvolvida.
Ele ouviu e respondeu:
“Traga a Ana Lúcia para BH.”
“Mas como, pastor? O marido dela nem é cristão!”
“Nós vamos trazê-lo para o nosso meio. Convide os dois para vi-
rem aqui. Eu vou falar com eles.”
Meu coração disparou! Era tudo o que eu precisava ouvir. Era a
confirmação. O sinal! Pouco depois liguei para a Ana Lúcia, sem saber
como abordar o assunto. Eu estava sem coragem! Peguei o telefone e
disquei para São José dos Campos. Ela atendeu:
“Oi, amiga! Como você está?”
“Eu estou bem, Ezenete, e você? Que bom que você ligou!”
Então eu comecei a cantar uma música do ministério australiano
Hillsong que a Ana gravou em português no CD Aclame ao Senhor:
“‘Eu tenho sonhos grandes demais, meu Deus os torna reais. Você vai
ver, Ele tem todo poder!’ Estou com saudades, Ana Lúcia! Beijos, tchau!”
E desliguei o telefone sem falar mais nada. Ela achou curioso, mas não
questionou. Depois repeti isso várias vezes, sem saber que do outro lado
a minha amiga estava sendo tocada pelo Senhor. Ela já estava orando há
algum tempo, questionando Deus sobre a minha mudança para BH:
“Eu não entendo por que o Senhor levou a Ezenete para tão longe.
Se fomos unidas com um propósito, por que estamos separadas? Não
faz o menor sentido para mim! Nós tínhamos o sonho de levantar um
grande círculo de oração. Se ela se mudou para Belo Horizonte, para
te servir, por que o Senhor não me leva também? Por que eu fiquei
aqui, Deus? Me leva para lá!”

257
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Eu não podia imaginar que ela estava orando sobre isso! Dias de-
pois, liguei novamente para falar com o Seu Nunes:
“Oi, Seu Nunes! Tudo bem? Quero que vocês venham me visitar na
minha casa, em Belo Horizonte.”
“Ezenete, obrigado pelo convite, mas eu não posso. Estou traba-
lhando muito. Quem sabe um dia eu vou?”
“Não, Seu Nunes! Eu estou com saudades! Você vai adorar onde
estou morando: lá tem pomar e horta!” – falei lembrando que foi ele
quem fez os canteiros na minha casa de São José dos Campos.
“Ezenete, não posso. Vamos combinar para outra oportunidade.”
Continuei insistindo e orando, até que duas semanas mais tarde
ele e a Ana Lúcia chegaram a BH. Contei para os dois a minha visão.
A minha amiga vibrou, mas o marido não estava aberto para essa
mudança:
“Ezenete, não podemos abandonar a nossa vida e vir para cá.”
Eu insisti, mas ele parecia irredutível. Então os convidei para uma
reunião que já estava marcada. Eles concordaram em ir e foram re-
cebidos com muito carinho na casa do pastor Márcio. Logo que se
assentaram no sofá foram bombardeados pelas informações:
“A Zê quer muito que vocês venham morar aqui. Ela precisa da
Ana Lúcia para ajudá-la nesse projeto de intercessão. Nós estamos
inaugurando também um espaço novo para os cultos dos adolescen-
tes da igreja e vamos ter que abrir uma lanchonete. Lá vamos vender
salgados, sanduíches e refrigerantes para a turma comer após as reu-
niões. Seu Nunes, eu gostaria muito que você assumisse essa respon-
sabilidade. O que você acha?”
“Mas seria para quando?” – o Seu Nunes perguntou.
“Temos um mês para isso.” – foi a resposta do pastor.
“Não tem como. É pouco tempo! Eu tenho uma casa e um trabalho
em São José dos Campos!”
“Não tem problema, você vai conseguir fazer tudo no tempo ne-
cessário. O Senhor vai agir.” – profetizou o pastor Márcio.
Seu Nunes acabou aceitando. Ele me disse, depois, que nem sabe
por que concordou, mas voltou para São Paulo muito animado pela
mudança que ele e a família fariam. Enquanto isso, eu e a Ana Lúcia
falávamos pelo telefone e orávamos. Intercedíamos pela venda da casa
e para que Deus os ajudasse a resolver o que era preciso para eles vi-

258
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

rem logo para Minas Gerais. Assim como o pastor Márcio profetizou,
tudo deu certo.
No dia 1º de abril de 2001, a Ana Lúcia, o Seu Nunes e os três fi-
lhos se despediram de São José dos Campos, entraram no carro com
a bagagem e pegaram estrada rumo a Belo Horizonte. Como que por
um milagre eles conseguiram vender a casa no tempo necessário e
embarcaram nesta jornada sobrenatural.
Assim que chegaram, começamos a orar. Abrimos as portas da Es-
cola de Intercessão, na igreja, aceleramos as atividades na Estância e
retomamos o trabalho que tínhamos juntas em São José dos Campos.
Foram mais de dez anos lado a lado, servindo ao Senhor, amando as
pessoas que nos procuravam e gerando muitas vidas.
Enquanto eu me dedicava às viagens com o DT e aos Seminários de
Intercessão pelo país, Ana Lúcia permanecia firme na Escola. Milha-
res de pessoas foram treinadas pela minha amiga. O testemunho dela
trouxe muito impacto. Com o passar do tempo, o Seu Nunes aceitou a
Cristo e foi transformado pelo poder do Senhor. Os três filhos deles se
firmaram na Palavra, para a alegria da Ana Lúcia – e nossa também.
Ela era muito engraçada, divertida e alegre. Costumava contar
como foi esse processo de conversão do marido durante as aulas e mi-
nistrações. O Seu Nunes resistiu durante anos e passou por momentos
de muita dureza no coração. Mas toda essa história inspira mulheres
que enfrentam situações semelhantes.
Um caso, em particular, a Ana Lúcia sempre fazia questão de com-
partilhar: antes de se entregar a Jesus, o Seu Nunes brigava muito por
causa do tempo que ela dedicava ao Senhor. Um dia ela chegou em
casa após um culto, e ele sugeriu, de uma forma bem sarcástica:
“Por que você não leva a sua cama para a igreja? Aí você fica de
uma vez por lá!”
Muito chateada, ela foi procurar consolo na congregação. Uma
irmã a viu chorando e foi perguntar o que tinha acontecido. A Ana
Lúcia respondeu em meio às lágrimas:
“Meu marido mandou eu trazer a minha cama para cá! Vê se pode!”
“Glória a Deus!” – aquela irmã respondeu.
“Glória a Deus? Você fala isso porque não é o seu marido!” – ela
rebateu irritada.
“Minha filha, glorifique! Porque se você é casada com ele, e vo-

259
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

cês são um no Senhor, quer dizer que se você trouxer a sua cama,
ele virá junto com você! Dê glória a Deus sim! Deus vai fazer uma
grande obra.”
A Ana Lúcia passou a enxergar a situação de outra forma e curio-
samente foi o que aconteceu. O Senhor operou de uma maneira linda
naquela família. Seu Nunes se converteu, e não é que eles moraram na
igreja? Quando eles chegaram a Belo Horizonte, ele trabalhou no Cen-
tro de Treinamento Ministerial Diante do Trono, o CTMDT, um semi-
nário onde pessoas de todo o mundo vêm para se preparar para servir
no campo missionário e para desenvolver o ministério de louvor. En-
quanto a Ana Lúcia trabalhava ao meu lado, o marido cuidava daque-
les alunos! Hoje ele mora na Estância Paraíso, que é praticamente uma
extensão da igreja, e se dedica com muito carinho a essa obra de Deus.

-------------------------

Palavras do Seu Nunes

Desde quando nos conhecemos, em São José dos Campos, e a


Ezenete me pedia ajuda em algumas tarefas domésticas, como
apertar um parafuso ou trocar uma lâmpada. Quando nos
encontrávamos ela nunca me perguntou se eu era crente. Ela
nunca me pressionou. Mas eu vi muita mudança na vida da
Ana Lúcia depois que elas se tornaram amigas. A Lúcia já tinha
voltado para a igreja, mas recebeu uma injeção de ânimo depois
que a Zê se mudou para perto de nós. Só quando chegamos a
Belo Horizonte, anos depois de termos nos conhecido, ela come-
çou a me “apertar” para eu assumir um compromisso com Jesus.
Ela dizia que eu precisava me batizar, e um dia isso aconteceu.
Mesmo hoje, depois da Ana Lúcia ter partido para a glória, eu
permaneço aqui, morando perto dela e do Marcão, servindo no
que eles precisam e amando a Jesus.

-------------------------

260
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

25. EU PRECISO DE UM SINAL

Ter a Ana Lúcia comigo na Estância foi um presente do céu! Du-


rante os primeiros dias na Estância, eu orava muito pedindo ao Espí-
rito Santo que me desse uma confirmação de que estávamos no ca-
minho certo. Como a oposição era grande, eu clamava por um sinal:
“Deus, que pelo menos uma vida seja transformada aqui, para eu
ter certeza de que o Senhor realmente tem essa missão para nós agora.
Eu preciso de um sinal. Realize um milagre. Faça algo sobrenatural,
em nome de Jesus!” – esse era o meu clamor.
Nas primeiras semanas, fui procurada por um homem que tinha
participado da negociação da venda da Estância. O Geraldo chegou
aqui de cabeça baixa, abatido, magro, com o semblante oprimido. Eu
o atendi, e ele me contou que estava com depressão, morando sozinho
e passando por um divórcio. Os dois filhos estavam com a mãe e ele
confessou que não conseguia fazer mais nada.
Ao ouvi-lo, o Senhor colocou uma compaixão muito grande em
meu coração pela vida dele. Por isso eu o escutava, orávamos juntos,
e quando ele descia a montanha para voltar para Belo Horizonte, pa-
recia revigorado. Mas era só colocar os pés em casa que a esperança
sumia, e ele voltava àquele estado depressivo.
Durante um dos atendimentos, o Geraldo revelou que se trancava

261
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

em um quarto escuro e ficava ali por dias, sem fé, sentindo que nada
dava certo para ele. Ele desaparecia nesses períodos. Então íamos
atrás, pedíamos para ele vir nos encontrar, para que pudéssemos ter
mais um tempo de oração e fortalecimento juntos. O Geraldo tam-
bém estava desempregado, e aquele abatimento que vinha sobre ele
funcionava como uma draga sugando-o para um lugar cada vez mais
profundo.
Olhar para aquele homem alto e cabisbaixo era desanimador. A
impressão era que ele nunca sairia daquele estado sombrio. Podíamos
passar o tempo que fosse, mas após alguns dias ele era tragado nova-
mente pela depressão. Mas há algo que aprendi ao longo de todos es-
ses anos: nunca desista de alguém que Deus colocou no seu caminho.
Ele tem um propósito! Por isso eu não abria mão de acompanhá-lo.
Assim, o Geraldo ia e vinha, enquanto reformávamos a Estância e pre-
parávamos aquele lugar lindo para receber os príncipes e as princesas
que o Senhor disse que nos enviaria.
Eu sempre monitorava o Geraldo. Quando ele sumia, eu pedia à
Ana Lúcia para ir atrás e descobrir como ela estava:
“Ana, encontre o Geraldo! Estou preocupada.”
“Ezenete, já tem mais de um ano que estamos trabalhado com esse
homem. Estamos perdendo tempo, parece que ele não quer mudar de
vida. Ele vem aqui, fica bem e depois cai no mesmo lugar.”
“Não vamos desistir. Pode ir atrás dele.” – eu insistia.
“Eu vou em obediência, porque você está me pedindo. Só por isso.”
Ela ia, e começávamos tudo de novo. Um tempo depois, conhe-
cemos a ex-mulher dele. Nós a convidamos para a Estância, na es-
perança de uma reconciliação. Ela foi tratada, amada por nós, e após
um período ela nos agradeceu por tudo, mas disse que não gostaria
de reatar o casamento. Ela contou que teve experiências lindas com o
Senhor, que gostou muito de nos conhecer, mas não queria mais sa-
ber do ex-marido. Iria tocar a própria vida. O Geraldo ficou arrasado,
porque estava com muitas expectativas de voltar a viver com a família.
Para ele foi muito difícil lidar com essa frustração. Eu dizia:
“Geraldo, a sua esperança não é uma mulher. Sua esperança é o
Senhor Jesus.”
“Mas, Ezenete, ela é a mãe dos meus filhos!” – ele respondia in-
conformado.

262
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

“Sim, e isso nunca vai mudar. Mas ela não é mais a sua esposa.
Essa decisão não é sua. Foi uma escolha dela. Vamos crer que Deus
tem uma nova história. Você se casou antes de conhecer a Jesus, teve
filhos lindos, construiu uma família. Mas agora a vida é outra. Vamos
confiar em Deus.”
Oramos muito por ele e com ele. Com o passar do tempo, final-
mente o Geraldo venceu a depressão. Nós o mantínhamos sempre por
perto. Deus fez coisas lindas, ainda que o relacionamento conjugal ti-
vesse mesmo chegado ao fim por escolha da mulher. Mas ele sonhava
em habitar em família. Ele sonhava em ter uma esposa que o amasse e
o visse como um homem de Deus, que o respeitasse como tal.
Mesmo assim, o Geraldo foi aprendendo a servir o Senhor com
alegria, apesar da dor por viver longe dos filhos e da mulher que ele
amou. Aos poucos ele também foi curado da sensação de fracasso,
da rejeição, e se tornou um homem de fé. Ele adorava em qualquer
circunstância e estava sempre pronto para servir. Ele abriu mão dos
próprios sonhos e deixou que o Senhor sonhasse por ele. Depois de
passar por um vale sombrio, o Geraldo entendeu que o nosso bem
maior se chama Jesus Cristo.
Então, ele resolveu fazer a Escola de Intercessão e lá conheceu a
Lídia, uma mulher de Deus que já fazia parte do nosso ministério.
A Lídia era solteira e orava para que o Senhor colocasse no caminho
dela um homem que O amasse acima de qualquer coisa. Ela liderava
o louvor, me ajudava nos seminários, servia com alegria e também
viveu um período de renúncia e restauração.
Os dois se tornaram amigos, namoraram e finalmente se casaram
em 2007. A cerimônia foi linda, e eles transbordavam gratidão pela
fidelidade de Deus. A Lídia estava muito serena e ao mesmo tempo
radiante. O Geraldo transmitia muita paz e convicção. Os filhos dele
participaram da celebração – foi uma noite gloriosa!
Hoje eu tenho o privilégio de ter os dois ao meu lado no ministé-
rio, morando também na Estância Paraíso. Eles abriram mão da casa
onde viviam para estar aqui, servindo em tempo integral. O Geraldo
não lembra, em nada, aquele homem deprimido. Pelo contrário: ele
tem sempre um sorriso no rosto, uma mão amiga para oferecer e sá-
bios conselhos. Valeu a pena investir na vida dele. Hoje ele é um líder
de homens no nosso ministério. O Geraldo ama as vidas, atende as

263
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

pessoas e é um referencial para nós. Para a glória do Senhor, ele e Lí-


dia se tornaram pais em 2011. O Davi é um menininho lindo, alegre,
abençoado. Ele se diverte muito na Estância e nos proporciona boas
gargalhadas. Como o Senhor é bom!
Depois do Geraldo, recebemos vários irmãos em Cristo individu-
almente ou em pequenos grupos. Começamos a abrir as portas para
duas ou três pessoas de cada vez. Eu queria poder atender a todos,
assim como fazia em minha casa, por isso limitávamos a quantida-
de, já que a equipe também estava em formação. Não tínhamos um
tempo determinado para cada um ficar conosco. O Senhor ia agindo,
operando, até sabermos a hora de nos despedir. Algumas pessoas fi-
cavam na Estância por alguns dias, outras por uma semana. Certos
casos eram bem complicados e exigiam mais tempo, então a estadia
se prolongava por um mês ou mais. Esse trabalho é chamado de “Re-
novo”, porque as pessoas recebem um novo fôlego de vida ali e voltam
para casa prontas para recomeçar.
Logo sentimos que era hora de ampliar as nossas atividades. Au-
mentamos a equipe de servos do Senhor e passamos a receber grupos
maiores. Desenvolvemos um programa mais enxuto, que dura em
média quatro dias, chamado Moriá. Nele trabalhamos o resgate da
identidade, o entendimento de Deus como Pai, a compreensão sobre
maldições hereditárias e tantas coisas que o Senhor tem nos ensina-
do. Também levamos essa visão a outras cidades, por meio do Moriá
Móvel, como chamamos o retiro que fazemos nos lugares onde so-
mos convidados. Criamos também o Acampamento do Espírito San-
to e o Rhema, que têm o foco em ajudar pessoas em depressão. Além
disso, temos a Escola de Intercessão Intensiva. Em 2014 começamos
o projeto Verdadeira Pérola, destinado a mulheres. Nele cuidamos
com carinho das princesas que chegam a nós precisando de socorro.
Falamos sobre o papel das filhas de Deus e compartilhamos ensina-
mentos preciosos para o dia a dia.
Olhando para trás, vejo que Geraldo foi o nosso primeiro prín-
cipe! Ele foi o sinal de que, por mais difícil que fosse, toda a vida
que chegasse a nós merecia o nosso esforço e dedicação. Por mais
impossível que pareça, milagres acontecem. O Senhor não desiste.
Nunca. Jamais!

264
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

-------------------------

Palavras do Geraldo

A pastora Ezenete foi – e continua sendo – uma pessoa escolhida


pelo Senhor para cuidar de vidas através do amor. Sou muito
grato porque o Senhor agendou o encontro que mudou a minha
vida para sempre. Me lembro de quando pude abrir meu cora-
ção e revelar o que se passava comigo. Eu tinha 42 anos e estava
começando a caminhar na fé. Ela abraçou as minhas causas e as
minhas lutas como se fossem dela também. Me adotou como fi-
lho espiritual e gerou a minha cura e libertação em Jesus. Desde
então tenho aprendido e experimentado o amor de Cristo atra-
vés do testemunho e da vida dela. Reconheço na pastora Ezenete
a autoridade espiritual que foi instituída por Deus. Tenho uma
gratidão eterna por ela nunca ter desistido de mim, da minha
esposa Lídia e do meu pequeno Davi.

-------------------------

265
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

26. PRECISO DE TI

Na gravação do CD Preciso de Ti, em 2001, enfrentamos lutas que


nem imaginávamos. A visão de que deveríamos gravar no Mineirão, o
maior estádio de futebol de Belo Horizonte, foi ousada. Sabíamos que
Deus estava naquilo e avançamos para vencer desafios muito maiores
do que pensávamos.
Eu e a Lourdes fizemos exatamente como no CD anterior, mas de-
pois da minha experiência em Belém do Pará, a nossa compreensão
era outra. Ter conosco a Ana Lúcia funcionou como um reforço espi-
ritual. Continuamos reunindo pessoas de oração para buscar a Deus
em uma salinha da Casa Pastoral. Nós nos encontrávamos, apresen-
távamos ao Senhor a nossa lista de necessidades e erguíamos as vozes
em unidade. Em espírito entrávamos na Sala do Trono, e sentíamos
que estávamos começando a viver um novo tempo.
Ao mesmo tempo, a Ana Paula ia compondo as canções em meio
a muitas dificuldades pessoais. Ela era recém-casada quando o Gusta-
vo sofreu um grave acidente e quase perdeu a perna. A música tema
do CD nasceu dessa experiência, enquanto ela permanecia firme ao
lado do esposo, batalhando pela recuperação total. Por um milagre do
Senhor, o Gustavo foi se restabelecendo, e no dia da gravação estava
conosco. Usando muletas, mas de pé.

267
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Passamos por muitas lutas antes, durante e após a gravação do


quarto CD. Além disso, o Brasil enfrentava um momento histórico
de racionamento de energia, que ficou conhecido como “Apagão”. Ilu-
minar um lugar tão grande como aquele estádio de uma forma que
pudéssemos gravar as imagens para produzir uma fita VHS não era
tarefa fácil. Contratamos muitos geradores, mas eles não aguentavam
a demanda e desligavam durante a ministração! Dá para imaginar a
batalha que foi? Enquanto a Ana Paula e o grupo estavam em cima do
palco cantando, para 210 mil pessoas, músicas que falavam da depen-
dência do Senhor, nós provávamos tudo isso nos bastidores!
Intercedemos sem cessar, entramos na Sala do Trono para gerar aquele
evento. Hoje, quando ouvimos tantas pessoas cantando a música Preciso
de Ti, que retrata tão bem o desafio de todo cristão, que é manter-se sem-
pre focado no Senhor, nos lembramos com carinho daquela noite. Não é
à toa que essa canção se tornou a marca registrada do Diante do Trono.

Preciso de Ti
Preciso do Teu perdão
Preciso de Ti
Quebranta meu coração

Como a corça
Anseia por águas
Assim tenho sede
Como terra seca
Assim é minh’alma
Preciso de Ti

Distante de Ti, Senhor


Não posso viver
Não vale a pena existir
Escuta o meu clamor
Mais que o ar que eu respiro
Preciso de Ti

Não posso esquecer


O que fizeste por mim

268
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

Como alto é o céu


Tua misericórdia é sem fim

Como um pai
Se compadece dos filhos
Assim Tu me amas
Afasta as minhas
Transgressões
Preciso de Ti

E as lutas vem tentando me afastar de Ti


Frieza e escuridão procuram me cegar
Mas, eu não vou desistir
Ajuda-me, Senhor
Eu quero permanecer
Contigo até o fim

Dali em diante as nossas viagens pelo país se intensificaram. A
agenda foi ocupada por ministrações pelo Brasil, mas tínhamos o cui-
dado de estar presentes na igreja. Eu obedecia ao Senhor e acompa-
nhava o grupo por todos os lados, cobrindo a Ana e cada integrante
com orações.
Deus sempre foi muito misericordioso e agia poderosamente.
Muitas pessoas aceitavam a Jesus durante os eventos. E é importante
dizer que quem ia esperando um show encontrava um ambiente de
reverência, adoração e intimidade com Deus. Apesar da alegria que
acontecia já nos primeiros acordes da música Tempo de festa – quando
todos pulavam e dançavam na presença do Senhor –, tudo era feito
com muita ordem. A Ana sempre parava as músicas quando via mo-
ças subindo nas costas de rapazes para ficarem mais altas e verem me-
lhor. Na autoridade do nome de Jesus, ela pedia para todas descerem e
explicava que o corpo delas era templo do Espírito Santo.
A Ana também não gostava de ver as pessoas gritando o nome
dela. Quando isso acontecia, ela pedia que, se fosse para exaltar al-
guém, que fosse o nome de Jesus. Durante os cultos, ela me chamava
para pegar o microfone e orar pelas pessoas que estavam ali. Então
eu me lembrava, novamente, do arrebatamento – quando Jesus me

269
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

mostrou que eu estaria na frente de multidões. Coisas incríveis acon-


teciam, e muitos testemunhos chegavam depois.
Era um privilégio ver o que Deus fazia em nós e por meio de nós.
Era empolgante, e todos vivíamos como no primeiro amor. A cada
culto, a cada retiro, a cada gravação, o Senhor aprofundava as nossas
raízes e solidificava o ministério. À base da oração, fomos construindo
os alicerces da nossa vida espiritual. Oração, adoração e obediência:
essas eram as chaves do que estava por vir.

O poder da intercessão

Desde a conversa com o pastor Márcio e a chegada da Ana Lú-


cia, começamos a gerar, planejar e colocar em ação o Ministério de
Intercessão. No final de 2001, realizamos a primeira Escola – e não
paramos mais. Aliás, os recursos para as reformas da Estância vieram
de muitos desses eventos.
Além disso, aceleramos o processo para receber as pessoas nesse
lugar lindo que o Senhor nos deu e fazer as reuniões com aquelas que
Ele enviava para estar ao nosso lado. O nosso ministério estava em
pleno crescimento! Sem falar que a cada gravação que se seguia Deus
ia trazendo novas estratégias, que nos conduziam até o dia do evento.
No ano de 2002 o Diante do Trono escolheu a capital do Brasil para
gravar o quinto CD. Nos braços do Pai trouxe uma mensagem pode-
rosa do resgate da nossa identidade de filhos. O palco seria construído
na Esplanada dos Ministérios, lugar simbólico que concentra o Sena-
do, o Congresso Nacional, o Palácio da Alvorada e os prédios admi-
nistrativos mais importantes do país. Tínhamos um desafio enorme
pela frente, e três meses antes do evento o Senhor falou comigo:
“Reúna dois mil intercessores de todo o país. Eu quero fazer algo
no Brasil através dessas pessoas.”
“Mas como eu vou fazer isso, Deus? Eu conheço pouca gente aqui em
Lagoinha. E o Senhor ainda quer que eu reúna irmãos de todo o país?”
“Eu mesmo vou prover, se você estiver disposta.” – Ele respondeu.
“Amém, Senhor. Você sabe que pode contar comigo.”
E de fato algo começou a acontecer. Pessoas se ofereciam para me
ajudar. Em um dos eventos que participamos, com o Diante do Trono,
uma pessoa se aproximou e disse:

270
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

“Olha, eu sei que o DT vai gravar em Brasília, e queremos dar


apoio. Na nossa igreja temos um Ministério de Intercessão. Queremos
orar com vocês e por vocês.”
E assim foi acontecendo. No dia da gravação eu contei 2.215 in-
tercessores reunidos. Ficamos agrupados em um lugar oferecido pelo
Corpo de Bombeiros e oramos incessantemente enquanto a Ana Pau-
la estava no palco liberando palavras poderosas sobre o Brasil.
O CD Nos braços do Pai foi uma revolução tanto pelo público –
mais de um milhão de pessoas –, quanto pela mensagem. Esse quinto
CD levou muitos cristão a descobrirem que não estavam abandona-
dos, mas que tinham um Pai Celestial presente, com os braços aber-
tos, esperando pelos Seus filhos amados.
Esse evento grandioso também nos revelou a força invisível de um
exército de intercessores.

271
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

27. RECEBENDO A FAMÍLIA

Depois de um tempo morando em BH, Deus me presenteou tra-


zendo a tia Nó e o tio Mariano para perto de nós. Estávamos sempre
em contato pelo telefone, mas eu orava pedindo a Deus que os en-
viasse para cá também. Eles tinham saído de Santo André e estavam
morando em Marataízes, uma cidade do litoral do Espírito Santo. Ali
se sentiam muito sozinhos, e por causa da distância ficava complicado
para mim estar mais próxima e oferecer o cuidado e a assistência que
eu desejava.
O problema é que o tio Mariano não pensava em se mudar nova-
mente. Para que o coração dele se abrisse para essa possibilidade, o Se-
nhor tinha que falar. Enquanto isso, eu orava – até que os dois vieram
nos fazer uma visita. Os dois gostaram de Belo Horizonte, buscaram a
Deus e sentiram que deveriam aceitar o nosso convite. Foi uma alegria
muito grande para mim. A tia Nó fazia parte da minha história, estan-
do sempre presente nos momentos mais difíceis. Ela me ajudava, me
sustentava, e tivemos experiências maravilhosas buscando a presença
de Deus lado a lado. Tê-la tão pertinho de mim, novamente, era um
presente do céu!
Assim que ela chegou a BH, retomamos os nossos momentos de
oração. O Senhor sabia que eu passava por grandes desafios, e contar

273
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

com a presença da tia Nó foi muito importante. Ela foi uma coluna
para mim durante as lutas que estavam por vir. Era no ombro dela que
eu chorava quando sentia que não conseguiria suportar mais tantas
provações.
Para a nossa tristeza, a minha tia sofreu mais um golpe duro na
área da saúde. Ela perdeu boa parte da audição. Além de ter ficado
cega dois dias antes do meu casamento, tantos anos antes, agora ela
ouvia apenas 50% em um dos ouvidos. A vida ficou um pouco mais
difícil para ela e para o tio Mariano, mas eles não reclamavam! Tia Nó
sempre foi uma inspiração para mim nesse sentido, pois seria muito
fácil questionar o Senhor sobre o porquê de eles serem tão atacados
na área da saúde. Mas, ao contrário, ela cantava e bendizia em todo o
tempo. Ela não mur-
murava e se adaptou
muito bem às limita-
ções. Quando eu ia
buscá-la para fazer-
mos qualquer coisa,
ela perguntava:
“Quanto tempo
eu tenho? Preciso de
pelo menos 40 mi-
nutos, porque sou
devagar para me ar-
rumar.”
Eu marcava o ho-
rário e achava incrí-
vel, pois quando chegava ela sempre estava pronta, sem a ajuda de
ninguém. Tia Nó sabia onde estavam todas as suas coisas, roupas, sa-
patos, bolsas, acessórios, e agia como se não tivesse qualquer deficiên-
cia. Ela conseguia combinar as cores, as estampas, os tecidos, e estava
sempre arrumada. Nunca a vi com a roupa amarrotada ou usando
peças descoordenadas. Seu cabelo também estava sempre bonito, e os
calçados perfeitamente limpos.
Mesmo sem enxergar, ela conseguia perceber se a casa estava em
ordem, e isso é um mistério que nunca conseguimos entender. Ela
gostava de cuidar das coisas pessoalmente: limpava os azulejos e o

274
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

chão; mantinha o ambiente cheiroso. Como era muito difícil para ela
fazer tudo sozinha, pagávamos uma ajudante. Mas me lembro perfei-
tamente bem de chegar a casa da tia Nó e ela vir me mostrar o resulta-
do do trabalho da assistente:
“Olha para você ver essa faxina! A moça que veio aqui parece que
nem limpou os móveis. Não está bom!”
Era incrível como uma mulher cega podia enxergar tão bem! Tia
Nó também fazia questão de lavar a própria roupa. Quanto a passar,
claro que a gente não permitia, pois tínhamos medo que ela se quei-
masse com o ferro quente. Também pedimos a ela para não cozinhar,
para evitar problemas com o fogo. Ela não ficava muito feliz com essa
orientação e dizia:
“Eu só não vou fazer essas coisas em obediência a vocês. Eu sei que
dou conta de fazer tudo sozinha.”
Ela era uma boa dona de casa e esposa dedicada. O tio Mariano já
era bem desligado e desatento, mas ela não o deixava sair para a rua
desarrumado. Ela tocava com as mãos a roupa do marido e dizia:
“Bem, a sua gravata está torta! Arrume esse cinto! Ajeita a camisa!”
Então ia arrumando o esposo como se estivesse vendo tudo! Era
muito interessante como esses detalhes não passavam despercebidos.
Era ela também quem controlava as contas da casa. Tio Mariano não
sabia de nada! Além disso, ela não se descuidava da saúde dos dois.
Era a minha tia quem dava remédios para o marido, porque ele, que
enxergava com os dois olhos, se atrapalhava todo! Inacreditável, não é?
Após algum tempo, uma outra tia de São Paulo também se mu-
dou para Belo Horizonte e pôde cuidar deles mais de perto, enquanto
eu gradativamente intensificava os meus trabalhos na Estância. Mas
a tia Nó permanecia ao meu lado, indo para a igreja, participando
das atividades da Lagoinha e orando por mim. Ela também atendeu
muitas pessoas depois que chegou a BH. Ela gostava de servir, de orar
pelos irmãos e sempre foi uma profeta ousada. Uma grande mulher
de Deus!
O tio Mariano também se adaptou muito bem à igreja e logo se in-
seriu em um ministério. Ele foi trabalhar no Telefone da Paz, orando
por quem ligava pedindo socorro e aconselhando sabiamente quem
estava do outro lado da linha.
Para ajudar a tia Nó a ouvir melhor os cultos, o André Espíndola,

275
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

que naquela época cuidava do som da igreja e do DT, desenvolveu um


equipamento especial. Então, ela se assentava no segundo banco à
direita, na área reservada aos portadores de necessidades especiais, e
encaixava no aparelho de surdez o acessório feito, com carinho, pelo
André. Assim ela podia ouvir pelo menos um pouco do louvor, da
mensagem e participar do culto da melhor maneira possível – o que
não acontecia em outras igrejas. Com a audição ampliada ela adorava
ao Senhor, levantava as mãos para o céu – sempre com postura de
gratidão. Vê-la assim, tão livre, era uma realização para todos nós.

Eu chamo para a vida

Anos depois, Deus enviou outras pessoas da minha família para


perto de mim: a minha mãe biológica Eugênia, minha irmã Débora,
seu esposo e os filhos. Vieram também minha irmã Eujácia com o
esposo e o único filho, e o meu irmão de sangue caçula, o Eujácio. Eles
chegaram a Estância, seguindo a direção de Deus, primeiro para se-
rem tratados, cuidados, e depois para somar ao meu ministério. E isso
foi uma benção, porque pudemos nos aproximar e resgatar inclusive
os laços famíliares.
Quando o Senhor os chamou para cá, a Débora e o Arnaldo es-
tavam vivendo um momento muito difícil. Eles também vieram de
Marataízes e passavam por uma crise muito séria no casamento – já
em processo de separação. Mas aqui o relacionamento deles foi res-
taurado, para a glória de Deus. Eles renovaram o amor desgastado
pelo tempo e recomeçaram a vida como um casal abençoado e curado
pelo Senhor. Passaram também a servir ao meu lado, somando ao tra-
balho que o Pai nos entregou. Hoje tenho a alegria de vê-los pregando,
aconselhando e viajando para fazer a obra. Glória a Jesus!
Já a minha mãe do coração veio em 2004. Ela estava enferma, e fui
a Santo André buscá-la para ser tratada em Belo Horizonte. Em Minas
Gerais ela foi diagnosticada com hepatite C. Descobrimos, então, que
ela contraiu a doença muitos anos antes, durante uma transfusão de
sangue pela qual passou no parto do Marcos, o filho mais velho. Com
ela em casa, pude ajudá-la, cuidando com muito amor, assim como ela
fez comigo quando fiquei doente durante minha adolescência.
Aqui ela ficou bem, se estabilizou e pôde se recuperar. Na época,

276
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

como ela estava melhor, fiz uma viagem para o Japão com o DT. Orei
e perguntei ao Senhor se eu poderia ir. Senti paz, e Ele me respondeu
que cuidaria dela enquanto eu estivesse fora. Descansei em Deus, fiz
as malas e parti com o grupo.
Eu não sabia, mas durante a minha ausência ela entrou em coma.
Na viagem de volta para o Brasil, tive um sonho terrível. Eu estava no
avião e vi a igreja que ela frequentava em Santo André. O lugar estava
cheio de pessoas que a conheciam. Eu perguntei o que tinha aconte-
cido, e alguém me respondeu que a líder das mulheres (posição que
minha mãe sempre ocupou) tinha morrido. Acordei em pânico. Não
dormi mais e só orava:
“O Senhor não vai fazer isso comigo. Eu não vou me perdoar se a
minha mãe partir enquanto eu estiver fora do país. Deus, eu orei, eu te
perguntei e recebi a sua autorização para viajar! Eu sei que o Senhor me
ama. Agora eu clamo, mesmo que ela estiver morta, ressuscite a minha
mãe! Nunca vou me perdoar se eu chegar apenas para enterrá-la.”
Assim que coloquei os pés no aeroporto de Guarulhos, liguei para
a minha cunhada. Era muito cedo, e eu sabia que se ela atendesse logo
seria sinal de que algo tinha acontecido. Com dois toques ela atendeu
o telefone:
“Oi, Shirley, tudo bem? Por que você está acordada a essa hora?
Minha mãe morreu?”
A minha cunhada não sabia que eu ainda não tinha recebido ne-
nhuma notícia, mas ela deduziu que eu já estava por dentro de tudo:
“Acho que ainda não. Suas tias já foram para BH. Os médicos dis-
seram que não há mais nada a fazer.” – ela me respondeu com tristeza.
Consegui antecipar o voo para Belo Horizonte e fui o mais rápido
que pude. Eu estava exausta pela noite sem dormir e abalada pela má
notícia, mas por todo o caminho, segui orando e cantando:
“Deus, salve a minha mãe! Acrescente pelo menos mais cinco anos
de vida a ela!” – nem sei o motivo pelo qual pedi esse tempo. Foi a
primeira coisa que passou pela minha cabeça.
Meu pai me buscou no aeroporto chorando:
“Não temos mais a sua mãe, ela não vai voltar!”
“Não, pai! Ela não vai morrer! O Senhor me ama e vai dar vida a
ela! Ela vai voltar a viver!”
Por todo o caminho ele tentou me preparar para a despedida, mas

277
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

eu não aceitava. Eu orava e cria em um milagre.


“Filha, você fez o que pôde. Você foi obediente, cuidou dela, mas
não acho que ela vá sobreviver...” – ele dizia.
Ignorei essas palavras. Eu acreditava em um milagre e ponto final!
Quando cheguei ao hospital, chorando, abracei as minhas tias, que
me disseram que talvez fosse melhor para a minha mãe ir para a gló-
ria, para estar com o Senhor. Mas eu não acreditava que estava na hora
dela partir. Entrei no CTI e declarei:
“Mãe, pode voltar! Você não vai embora agora! Eu te chamo para
a vida! Chamo o seu cérebro de volta, o seu coração, todos os seus
órgãos! Você vai viver, e Deus vai te acrescentar anos! Ainda temos
muitas coisas para fazer juntas! Eu cancelo a morte e te chamo para
vida, em nome de Jesus!”
Saí do CTI a pedido dos médicos. Eles acreditavam que ela estava
passando pelos últimos momentos e talvez não seria bom que eu as-
sistisse. Deixei o quarto inconformada, mas não parei de clamar. Eu
veria mais um milagre na minha família. Meia hora mais tarde nos
chamaram. Para a surpresa de todos, as notícias eram boas:
“Não sabemos explicar, mas a Eurídes acordou. Ela está bem e se
recuperando. Os sinais vitais estão bons, e ela reagiu. Vamos mantê-la
mais alguns dias em observação, mas cremos que em breve ela vai po-
der ir para casa. Não temos como explicar como isso aconteceu, mas
ela vai sobreviver.”
Eu comecei a pular
na porta do CTI e a
agradecer a Deus:
“Senhor, eu não
mereço tanto amor e
fidelidade. Obrigada!
Obrigada!”
Mais uma vez, Ele
prometeu e cumpriu.
Na data marcada pelo
médico a levamos em-
bora. Ela se recuperou muito bem, e o Senhor acrescentou dias, mui-
tos dias à vida da minha amada mãe.

278
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

28. UMA FÉ GUARDADA EM CAIXAS

Nós sempre tivemos o sonho de ter uma filha. Não sabíamos como
isso seria, ou como aconteceria. Certa vez, muitos anos atrás, ain-
da em São José dos
Campos, o Marcos e
o Lucas saíram para
comprar um presente
de Dia das Mães para
mim. Quando chega-
ram a nossa casa, me
surpreenderam com
uma caixa cor-de-ro-
sa. Lá dentro tinha
uma camisetinha para
bebê com um nome
estampado: Anna Be-
atriz. Levei um susto.
Estaria chegando a
hora? O Marcos sempre quis ter mais filhos, isso nunca foi um segredo.
Antes de nos casarmos, ele tinha sonhado que Deus nos daria duas me-
ninas. Mas com o nascimento do Lucas, nós descansamos no Senhor. A

279
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

partir desse presente passamos a


gerar, no coração, o nascimento
da nossa Anna Beatriz.
Lá mesmo, em São José, pela
fé, comecei a fazer o enxoval.
Assim como na gestação do
Lucas, fui comprando as coi-
sas aos poucos, enquanto orava
abençoando a nossa filha. Me-
ses depois, já tinha macacões,
cobertores, vestidos de todos
os tamanhos e cores! Também
comprei tiaras e sapatinhos! Eu
só não adquiri os móveis para o
quarto, mas tudo o que um bebê
precisaria para os primeiros
meses de vida nós já tínhamos
guardado em três caixas. Nelas
estava escrito: Anna Beatriz.
Alimentamos aquele sonho em
segredo, como família, crendo
que assim como a gestação e o nascimento do Lucas foram milagres, o
Senhor proveria uma nova criança para somar ao nosso trio.
As caixas nos acompanharam de São José para Belo Horizonte e
ficaram escondidas – sem que nin-
guém soubesse da existência delas.
E assim o tempo passou, nossa vida
mudou e esse sonho adormeceu.
Até que um dia, muitos anos
depois, senti de compartilhar com
a Ana Paula sobre o meu desejo
de ser mãe novamente. Ela foi me
visitar e eu aproveitei para fazer a
revelação.
“Ana, gostaria de te mostrar algo
e te contar um segredo. Você prome-
te que não fala nada para ninguém?”

280
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

“Claro, Zê! Prometo!”


Puxei a Ana pela mão e a levei até a despensa. Retirei uma das
caixas do lugar, coloquei-a no meu colo com muito carinho e revelei o
enxoval escondido. Os sabonetes que eu tinha guardado perfumaram
os vestidinhos, as roupinhas, os acessórios – tudo cheirava a bebê.
“Ana, eu sonho em ter uma outra criança. Mas dessa vez será a Anna
Beatriz! Creio que vamos aumentar a nossa família com uma menina...”
“Uau, Zê. Eu não imaginava que você tinha esse sonho.”
“Ninguém sabe: só o Marcos e o Lucas. Você me ajuda a gerar?”
“Claro! Vamos crer juntas!” – foi a resposta dela.
Desde então começamos a orar também por esse motivo. Quase
três anos depois, o Senhor me deu uma menina linda. A Anna Beatriz
chegou! Ela usou tudo o que eu tinha guardado ao longos dos anos. Os
macacões, os laços, sapatinhos, as saias... Ela era a nossa boneca, nos-
so sonho realizado. A Anna Beatriz trouxe cor e alegria à nossa casa,
com muita saúde, em uma situação muito diferente do nascimento
do Lucas. Deus nos presenteou de uma forma sobrenatural, trazendo
para nós uma menina muito amada.
Anos mais tarde, o Senhor ainda iria completar a família con-
duzindo aos
nossos cami-
nhos a nossa
terceira filha!
Ele tinha pro-
metido ao
Marcos uma
menina cha-
mada Sarah,
e nós críamos
que na hora
certa a casa te-
ria mais uma
moradora.
Mas enquanto
isso não acontecia, fomos cuidando do Lucas e da Anna Beatriz, que
preenchiam os nossos dias com amor e muita agitação.

281
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

-------------------------

Palavras da Anna Beatriz

A minha mãe é muito especial. Ela sabe me ajudar da melhor for-


ma possível e sempre quer o meu bem. Quando estou errada, ela me
corrige com amor e me coloca no caminho certo. E ela me ama cada
dia mais, mesmo quando estou sendo “um pouco difícil”. Sei que in-
dependente da distância por causa das viagens missionárias, minha
mãe tem cuidado de mim por meio das orações.

Eu e a minha princesa, minha linda Anna Anna Beatriz.


Beatriz, em Paris.

-------------------------

282
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

29. FILHOS DO CORAÇÃO

Quando fui arrebatada – e não me canso de falar sobre essa ex-


periência, porque ela foi e é muito importante em minha caminhada
– o Senhor me disse que eu seria mãe de muitos filhos. E mesmo
que do meu ventre outras crianças não pudessem nascer, eu senti o
Senhor movendo meu coração para amar e gerar pessoas que cruza-
ram o meu caminho. Cuidei da Carina, da Malu, da Lourdes, da Ana
Paula e de tantas pessoas ao longo dos anos. Em BH, o Senhor me
presenteou com a amizade do Aílton Ramez, o Juninho, que tocava
trompa na orquestra do Diante do Trono.
A primeira vez que o vi, foi pela televisão. Eu assistia ao VHS
do Diante do Trono, e aquele jovem me chamou atenção. Eu ainda
não conhecia ninguém do grupo, e nem morava em BH, mas senti o
Senhor me falando:
“Gere esta vida para mim. Grande é o plano que tenho para ele.”
Mesmo sem saber como ele se chamava, foi o que fiz dali em
diante. Por isso, quando finalmente o conheci parecia que já éramos
amigos. Quando me mudei para Belo Horizonte, fomos nos apro-
ximando e construímos um relacionamento muito bonito. Juninho
era solteiro e tinha três irmãs, duas delas também faziam parte do
ministério. A Soraya cantava e era casada com o Sérgio Gomes, o

283
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

maestro do DT. A caçula, Sarah, também era solteira e tocava trom-


pa ao lado do irmão. Dos três, acabei me apegando bastante ao Juni-
nho, e nos tornamos grandes amigos.
Certo dia, eu estava almoçando no restaurante da Estância, e ele,
muito afobado, me ligou. A voz estava diferente; ele parecia muito pre-
ocupado:
“Por favor, me ajuda! A minha irmã Sarah quer se matar!” – foi o que
ele disse assim que o atendi.
“Como assim?” – perguntei.
“Zê, ela me disse que não quer viver mais e que vai tomar veneno de rato!
Ela não quer se levantar da cama, parou de comer e só diz que vai morrer! O
que eu faço?”
“Juninho, coloque a Sarah no carro e traga ela agora para a Estância!
Estou esperando por vocês. Arrume as coisas dela, coloque em uma
mala e venha.”
“Mas como eu vou fazer isso? Ela não quer sair de casa!”
“Eu vou orar e o Senhor vai agir. Venha logo.”
Com muito esforço, quase carregando a irmã no colo, ele chegou.
Quando olhei para a Sarah, ela estava abatida, sem forças, visivelmente
oprimida. Ela tinha perdido a mãe há três anos e estava passando por
uma depressão profunda. O que começou como luto se tornou uma
prisão. Ela não se abria com ninguém e se fechou num buraco de soli-
dão e dor. Quando comecei a perguntar o que estava acontecendo, ela
despejou toda aquela melancolia, como num sussurro frágil:
“Eu não quero viver mais. Minha mãe morreu, meu pai está se
envolvendo em outro relacionamento. Eu sinto uma tristeza sem
fim. Eu só quero que Deus me leve.”
Ouvi o desabafo da Sarah com muito amor e preocupação. Co-
mecei a trabalhar com ela a partir dessa conversa. Naquele dia, a
Sarah não voltou para casa. Preparei um quarto, e ela permaneceu
comigo. Conforme orientei, o Juninho já tinha trazido alguns per-
tences e roupas. Ela não tinha condições de ficar sozinha, e senti que
eu precisava cuidar dela naquele momento delicado. Ela tinha 23
anos e sentia muito a falta da mãe, que era uma mulher de oração e
muito ativa na igreja. Eu não conheci a Dodora, mas ela era muito
querida pelos irmãos de Lagoinha.
E assim a Sarah foi ficando, enquanto íamos trabalhando juntas e

284
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

ela retomava aos poucos a vontade de viver. Não sei como ela conse-
guia tocar na orquestra do DT no meio de tanto sofrimento. Sei que
Deus estava cuidando e a sustentando, mas ela precisava de ajuda
desesperadamente.
Quando o Marcos conheceu a Sarah, assim que chegamos a BH,
dentro dele algo chamou a atenção. Mas ele não me disse nada. Po-
rém, depois que ela veio passar aqueles dias na Estância, o meu ma-
rido a olhava e buscava de Deus o que havia nela que despertava um
sentimento novo em seu coração. Ele observava a Sarah andando
pela Estância, até que um dia me disse:
“Que engraçado, essa menina é diferente. Eu sinto algo que não
é normal quando olho para ela. Ezenete, ela se parece com a menina
com quem eu sonhei. Ela parece com a Sarah que Deus me mostrou.”
Não dei muita atenção ao que ele falou. Eu estava muito atarefada,
preocupada com essa jovem, super envolvida com o Diante do Trono
e às vésperas de um evento. Acabamos nos esquecendo disso e toca-
mos a vida.
Nessa época, o Juninho me ajudava muito no Ministério de Inter-
cessão e estava sempre por perto, enquanto eu acompanhava a irmã
caçula dele. As visitas que ele nos fazia eram sempre bem vindas
e gostávamos de passar tempo conversando. Eu sabia que um laço
especial estava sendo formado entre nós.
Cerca de 20 dias depois que a Sarah chegou, começaríamos um en-
contro do Ministério de Intercessão. Ela já estava bem melhor, e eu senti
que seria importante que ela participasse conosco. Curiosamente, um
dia antes do início das atividades, o Senhor falou comigo enquanto eu
dormia. No sonho ele me entregava um presente e dizia:
“Adote a Sarah e o Juninho. Eles precisam do amor de mãe. Eles
precisam ser cuidados, e Eu tenho uma aliança com eles.”
Então eu me via chegando bem alegre para os dois e dizia:
“O Senhor está me dando vocês como filhos! Vocês me aceitam? Vocês
me recebem?”
Acordei assustada, impressionada: “Como assim? Como eu po-
deria adotar dois adultos? O que o Marcos acharia disso? Como
vou falar para ele?”. Fiquei pensando alto e falando comigo mes-
ma. Levantei da cama com isso na cabeça, mas não comentei com
ninguém. Reuni o grupo que estava comigo na Estância, chamei a

285
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Sarah, e fomos juntos para o seminário.


Assim que o culto começou, Deus falou comigo:
“Você receberá os dois como filhos neste evento. Você vai de-
clarar no meio dos intercessores, eles vão impor as mãos sobre o
Juninho e a Sarah, e você os receberá.”
“Deus, como assim? Eu vou chegar para dois marmanjos e vou
falar que vou ser mãe deles?”
Isso não me parecia certo. Era no mínimo estranho. Decidi então
que falaria com o Marcos, em casa, quando eu voltasse. Mas, ao mes-
mo tempo, fiquei pensando que Deus tinha me orientado a agir. O
meu marido não estava comigo, mas depois de refletir muito sobre o
assunto, liguei para ele. Era um sábado à noite, e o encerramento das
nossas atividades seria no dia seguinte.
“Amor, preciso te falar algo bem sério. Eu tive um sonho muito
interessante nessa noite.”
Comecei a conversa assim, contando o que tinha acontecido du-
rante a madrugada. O Marcos me ouviu sem interromper. Parecia
uma maluquice. Quando terminei toda a história, ele respirou fundo
e finalmente me respondeu:
“Ezenete, eu não queria te falar antes, mas desde que conheci a
Sarah, eu recebi um amor muito grande no meu coração. Eu imedia-
tamente soube que ela é a Sarah do meu sonho. Pode receber os dois,
você tem a minha benção. Deus falou comigo também.”
Era a confirmação que eu precisava. No domingo, quando o nos-
so encontro de intercessores chegava ao fim, eu chamei toda a mi-
nha família à frente, convidei o Juninho e a Sarah também, e diante
do todas as pessoas os recebi como meus filhos. Foi um momento
maravilhoso, e eles me abraçaram como mãe. Ali mesmo os entre-
guei ao Senhor, assim como fiz com o Lucas e com a Anna Beatriz,
quando que eles nasceram. Com gratidão, por esses presentes do
céu, consagrei meus filhos do coração no altar, mesmo eles sendo
adultos! Foi um momento inesquecível!
O Juninho e a Sarah se mudaram automaticamente para a nossa
casa, e iniciamos uma nova vida em família. Foi um tempo mui-
to abençoado e gostoso. Os dois se adaptaram muito fácil ao nosso
cotidiano, e juntos criamos uma nova rotina. Parecia que eles sem-
pre estiveram conosco, como se tivessem nascido do meu ventre.

286
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

É curioso pensar que assim como eu fui recebida pela minha tia
Eurídes como filha, pude fazer o mesmo por esses dois jovens. Deus
proveu os nossos corações de amor, e me recordo com carinho dos
anos maravilhosos que vieram depois disso.
O Juninho esteve conosco por bastante tempo, mas depois de um
período ele se mudou para ter a própria vida. Morou por um tempo
com uma tia e, por
fim, se casou, em
uma cerimônia lin-
da, com uma jovem
cristã chamada
Fernanda. Ele não
podia ter filhos,
mas Deus operou
um milagre, e hoje
ele é pai do Samuel.
Já a Sarah per-
maneceu na nos-
sa casa por longos
anos. Ela foi ama-
da como irmã pelo
Lucas e pela Anna Beatriz, como neta pelos meus pais e como prima
pelos meus sobrinhos. Ela nos chama de pai e mãe – e eu sempre me
derreto quando a ouço se referir a nós assim. Ela completou a nossa
família e cumpriu a promessa do Senhor de que a nossa filha Sarah
seria maior do que o Lucas. É incrível como Deus é detalhista e nos
revela os seus planos quando estamos dispostos a ouvir e a obedecer.
Depois disso, o Senhor ainda enviou outras pessoas muito amadas
que viveram e vivem conosco. Entre elas, a Lucélia, a Lílian e Sinfhone,
meninas preciosas, que têm histórias tremendas que quero comparti-
lhar no próximo livro. Elas também são minhas filhas do coração.

Dois casamentos, um único dia

Foi com muita alegria e emoção que em fevereiro de 2013 levamos


os nossos filhos Lucas e Sarah ao altar – numa cerimônia dupla! O Lu-
cas tinha se mudado para a Alemanha e lá conheceu a Ana Cássia, uma

287
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

menina abençoada, que veio somar à nossa família. Deus já tinha nos
falado que ele jogaria futebol como atleta profissional em outro país,
onde conheceria uma brasileira, e que eles se casariam cedo. E assim
aconteceu. Ana Cássia se mudou com a família para a Alemanha quan-
do ainda era criança, e morou por dez anos na Europa, onde conheceu
o Lucas. Tão logo eles se aproximaram, Deus começou a agir.
A Sarah também estava apaixonada pelo Leandro, um homem de
Deus que trouxe ainda mais brilho ao sorriso dela. Os irmãos então
decidiram se casar na mesma data, em uma cerimônia conjunta, na
Estância Paraíso – o lugar maravilhoso que o Senhor nos deu como
lar. Mesmo morando em
outro país, o Lucas fez ques-
tão de trazer a noiva para
oficializar a união no Brasil.
O curioso sobre o casa-
mento da Sarah é que nós
não conhecíamos o Lean-
dro. Ele não era de Belo
Horizonte. Um dia, alguns
anos antes, quando a Sarah
já morava comigo, fui par-
ticipar de um Seminário de Intercessão em Barretos, São Paulo. Eu
tinha planejado passar em Santo André, após o evento, para visitar a
minha família. Um jovem que participou dos cultos ofereceu carona
para mim e para a Ana Lúcia. Era o Leandro. Ele estava com a mãe,
e os dois curiosamente conheciam meus parentes. Assim que entrei
no carro, senti Deus me falando que ele seria o esposo da Sarah.
Contei isso apenas para a Ana Lúcia e começamos a orar. A Sarah e
o Leandro não se conheciam, e nunca falamos nada para os dois. Se
Deus tinha esse plano, Ele faria sem a minha interferência! Eles che-
garam a estar no mesmo evento juntos, mas nada aconteceu, e então
seguiram seus caminhos separadamente, cada um em uma cidade.
Depois disso, a Sarah namorou dois rapazes e chegou a pensar
em se casar com um deles, mas o relacionamento não foi adiante.
E eu ficava pensando: “Deus, por que o Senhor me disse que ela se
casaria com o Leandro?”. Ele não me respondia.
Mas o tempo passou, os dois se reencontraram, começaram uma

288
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

amizade e finalmente, três anos depois daquela carona em Barretos,


eu estava vivendo o grande dia que nós tanto esperamos. A Sarah e
o Leandro estavam se casando.
Vesti a minha filha de noiva com o coração grato e muito emo-
cionada. As minhas pernas tremiam, e eu precisei até sair do quarto
onde estávamos nos arrumando para tomar um pouco de ar. Fiquei
lembrando de quando ela chegou a nós, oprimida, depressiva, que-
rendo morrer. Agora ela irradiava vida. Quando a vi pronta, enxer-
guei a nova mulher que estava saindo da minha casa para construir
a própria família. E ela se
casou no mesmo campo
gramado onde orou du-
rante muito tempo pelo
futuro marido.
Na hora marcada,
quando a música come-
çou a tocar, os noivos e os
padrinhos entraram. De
braços dados com o meu
filho, caminhei lentamen-
te, relembrando todos os
milagres que vivemos ao
longo dos anos. A sensa-
ção foi indescritível. Nós
dois estávamos radiantes
pela fidelidade de Deus.
Na sequência, Sarah
e Ana Cássia seguiram
pela passarela ao som da
orquestra do Diante do
Trono. A noiva do Lucas tinha acabado de chegar da Alemanha e
não conhecia praticamente ninguém. Como toda mulher, estava
bem nervosa e tentava disfarçar o frio na barriga enquanto desfilava
em direção ao futuro marido. O Lucas, lindo em um terno prata, a
esperava ansioso no altar. Já a Sarah não conseguia conter o sorriso.
Com os olhos brilhantes, ela atravessou a longa passarela exalando
gratidão. Lá na frente estava o Leandro, com um sorriso de orelha a

289
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

orelha, pronto para recebê-la como esposa. Que cena gloriosa!


Toda a cerimônia foi linda, e a Anna Beatriz, com toda a beleza da sua
adolescência, participou cantando. O pastor Márcio conduziu o culto tra-
zendo uma mensagem simples e muito bonita sobre o amor. Foi uma noite
incrível, especial. Eu sentia que o céu sorria para nós.
Nossos amigos e familiares encheram a tenda construída no gra-
mado. Eram tantos convidados, que foi impossível cumprimentar a
todos! Mas ficamos muito felizes por viver a realização dos sonhos
dos nossos amados filhos. Antes do final da cerimônia, a Sarah fez
uma homenagem linda honrando a mim e ao Marcos por termos
a recebido como filha. A pedido dela, a Helena Tannure compôs
uma canção emocionante, que foi cantada pela minha outra filha
do coração, a Ana Paula. Eu, uma mulher que não podia gerar, me
vi naquela noite abraçada pela fidelidade de Deus, que me concedeu
mais filhos do que eu podia sonhar. Na minha vida, o Salmo 113,
versículo 9, se tornou realidade.

“Faz com que a mulher estéril habite em casa e seja alegre mãe
de filhos. Louvai ao Senhor”. (Salmo 113.9)

Hoje, quando os nossos filhos nos visitam, a casa vira uma festa!
Nosso lar se enche de riso, de casos engraçados, de testemunhos e
muita oração. Amamos passar o tempo juntos, e é glorioso ver a fi-
delidade de Deus nos acompanhando de geração em geração.
Em março de 2014,
o Lucas e a Ana Cássia
me deram um grande
presente: o Davi Lucca!
Meu netinho veio para
alegrar ainda mais o
nosso lar. Ele é como se
fosse a cereja do bolo!
Toda a família foi para a
Alemanha acompanhar
bem de perto o nasci-
mento. A Ana Cássia
passou por um proces-

290
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I

so muito difícil, mas estávamos ao


lado dela no hospital, em oração. De-
pois de 19 horas de trabalho de parto,
o Davi finalmente chegou! Como foi
gostoso segurá-lo! Boa parte deste li-
vro foi escrita enquanto eu o embalava
no meu colo, com ele olhando e sor-
rindo para mim. Sei que ele é um pro-
feta. Curiosamente, na imagem de um
dos ultrassons que a Ana Cássia fez, o
Davi aparece de joelhos e com as mãos
unidas, como se estivesse em oração. Creio que ele é um intercessor.
Agora espero ansiosa pelo neto que um dia virá do ventre da Sa-
rah. A medicina diz que não existe a possibilidade dela gerar, mas
o Senhor prometeu que ela e o Leandro terão filhos. Eu sei que em
breve carregarei no meu colo o fruto de mais um milagre. A obra
será completa.
Olhando para trás, vejo que Deus me transformou de uma mu-
lher estéril em uma alegre mãe de filhos. E, neste momento, em uma
feliz e babona vovó.

-------------------------

Palavras da Sarah

Por meio da vida da minha amada mãe do coração, o Senhor


Jesus restaurou a minha alegria de viver. Através do seu carinho
e cuidado, pude experimentar, sentir, receber e desfrutar do amor
singular e incondicional do Pai Celestial. O Senhor me trouxe
a Ezenete cerca de três anos após o falecimento da minha mãe,
Dodora, quando eu estava prestes a dar fim à minha vida. Na-
quele momento eu não conseguia sentir o amor de Deus, e ela foi
a primeira pessoa com quem me abri e para quem contei as mi-
nhas tristezas e dores. Finalmente coloquei para fora tudo o que
estava apodrecendo em mim. Ela me recebeu, abrindo as portas

291
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

de casa, assim como toda a família que também fez parte do meu
processo de restauração – em especial, seu esposo Marcos e seus
filhos Lucas e Anna Beatriz. Durante esses 13 anos caminhando
ao lado da Ezenete, Deus restaurou meus sonhos. Ele me trouxe
um marido maravilhoso, e creio que isso foi resposta das orações
e intercessões que fizemos juntas! Se hoje sou uma testemunha
do que o Senhor pode fazer na história de alguém, agradeço a
Deus e a ela, que tem sido um instrumento para a restauração de
vidas, especialmente a minha.
“Flor, a alegria floresceu...” *
*Este é um verso da música escrita por Helena Tannure para ser
cantada na homenagem à minha mãe Ezenete, no meu casamento.

-------------------------
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

P A R T E V I I I

“E J E SU S LH E DI SSE :
N IN GUÉ M, QU E L A NÇA M Ã O
DO ARAD O E O L HA PA R A
T RÁS, É APTO PA R A O
RE I N O D E DE US.”

L U C A S 9 . 6 2
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

30. PERSEGUIÇÃO

Quando Deus tem um plano em nossas vidas, podemos nos pre-


parar para o levante de Satanás. O Inimigo fará de tudo para tentar
abortar os sonhos do Senhor. Eu saí de São José dos Campos prepara-
da para enfrentar muitas lutas e dificuldades, mas nada parecido com
o que veio pela frente.
Assim que chegamos a Belo Horizonte, em 1999, antes de todo o
milagre da Estância acontecer, antes da gravação do CD Águas Purifi-
cadoras, eu e a Lourdes intensificamos as nossas orações em conjunto.
Acordávamos às cinco horas da manhã para cumprir um propósito
de 90 dias de consagração. Foi uma estratégia que o Senhor nos deu,
um pedido que Ele nos fez. Nesse período, sentimos que Deus estava
operando grandes coisas, fazendo mais do que podíamos imaginar.
Nossas primeiras orações foram como sementes lançadas em terra
fértil, e com o tempo os frutos começaram a nascer. Na igreja algumas
situações começaram a vir à tona e o Espírito Santo trouxe luz à mui-
tas trevas. Porém, como imaginávamos, Satanás não estava feliz e se
levantou com toda a fúria contra minha vida.
Passei por um momento muito difícil, de muita rejeição, críticas e
ameaças. É difícil entender como isso pode acontecer dentro da pró-
pria Igreja do Senhor, no meio do povo de Deus. O inferno armou

295
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

para tentar destruir o que o Espírito Santo queria fazer através da mi-
nha vida. Mas eu sempre tive a fé firmada e sabia que se Ele estava
permitindo que eu passasse por essa situação, Ele enfrentaria as ad-
versidades comigo.
Em BH ninguém me conhecia até então, e aos poucos foram sa-
bendo mais sobre mim. Mas creio que o romper do Diante do Trono
e os Seminários de Intercessão trouxeram um certo desconforto, e al-
gumas pessoas começaram um burburinho ao meu respeito. Muitos
falavam nas minhas costas e comentavam pelos corredores da igreja:
“Quem é esta mulher? De onde ela veio? Como ela chegou até aqui?”
Eu ouvia esses rumores, mas nunca quis fazer nada sobre esse as-
sunto. Achava que, com o tempo, o falatório passaria. Mas o que ini-
ciou com uma desconfiança a respeito da minha origem passou para
um estágio muito pior: começaram a dizer que eu era bruxa, satanista
e adivinha. Muitas pessoas me chamavam de tudo, menos de serva de
Deus. Não foi coisa de alguns dias, nem de semanas ou meses. Foram
anos debaixo de acusações cruéis e muita perseguição. Enquanto isso,
eu permanecia em obediência, servindo, atendendo, intercedendo,
ministrando e viajando.
Eu e o Marcos perdemos as contas de quantas vezes os vidros do
nosso carro foram quebrados. Era frequente encontrarmos os estilha-
ços na hora de voltar para casa. A gente se aproximava do lugar onde
tínhamos estacionado e víamos que alguém tinha passado por lá antes
e tentado nos intimidar. Não eram acontecimentos aleatórios. Havia
uma opressão demoníaca ao redor desses fatos. Com frequência en-
contrávamos também bilhetes com as seguintes palavras: “Esse é só o
início”. E foi.
Não podíamos fazer nada a não ser orar e clamar pela proteção do
sangue de Jesus. Nesse período, o Marcos sofreu um acidente muito
sério. Um ônibus bateu no carro que ele dirigia. Depois de acertar o
meu marido em cheio, o motorista perdeu o controle e, sem conseguir
segurar aquele veículo enorme, rodou na pista. Inexplicavelmente ele
atingiu o Marcos novamente. Pela graça do Senhor, ele não se feriu
e saiu vivo dessa batida tão grave. Mas perdemos o automóvel. Não
tínhamos seguro nessa época, e de acordo com os mecânicos o ferro
ficou tão retorcido, que o caso era de perda total.
Pouco tempo depois eu recebi uma ameaça pelo telefone. Meu

296
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

aparelho tocou, e quando atendi ouvi uma voz desconhecida:


“Você tem dez dias para sair da cidade. Você não é bem-vinda em
Belo Horizonte.”
Desliguei o telefone ofegante, mas crendo que o Senhor era o meu
juiz, o meu protetor, e me guardaria. Eu não sairia até receber uma
ordem do céu.
Dias depois, recebi outra ligação com novas ameaças:
“Nós estamos orando, e Deus vai arrancar você daqui – viva ou
morta. Você não é bem-vinda. Vá embora!”
Cada vez que isso acontecia, e não foram poucas, eu me ajoelhava
diante do Senhor e pedia que Ele nos guardasse. Foram dias de muito
choro. Mas eu tinha convicção de que fui chamada por Deus para vir
morar em Belo Horizonte. Não foi por causa da Ana, nem do pastor
Márcio ou da Igreja Batista da Lagoinha. Foi o Senhor! Sendo assim,
eu não arredaria o pé – até que Ele me mandasse partir. Nesses tem-
pos angustiantes, eu me lembrava das palavras daquele pastor que me
ligou no dia em que estávamos de mudança para cá:
“Você vai passar por um grande deserto, mas não desista. Você vai
enfrentar acusações, ameaças e não será nada fácil, mas Eu enfrentei
muito mais por você. Vá. Nesse lugar existem muitos defuntos vivos que
Eu vou transformar. E você vai entender o propósito que Eu tenho para
a sua vida. Fique firme, porque Eu vou passar por tudo isso com você.”
Eu me recordava disso e seguia adorando, louvando, agradecendo
pelos livramentos. Poder contar com a presença da tia Nó era um bre-
ve refrigério no meio de tanta turbulência. Ela me ouvia, orava comi-
go e me incentivava a permanecer.
Lembro-me também das vezes em que eu entrava na igreja e via
as pessoas saindo de perto de mim. Elas se afastavam, me evitavam.
O Senhor me fortaleceu de tal maneira que, mesmo não gostando de
passar por isso, essas atitudes não me feriam. Era chato, desagradá-
vel, me incomodava, mas eu sentia que Deus me escondia. Até o meu
coração estava sendo protegido por Ele, pois eu não guardei mágoas,
mas ansiava pelo dia em que essas lutas acabariam. A presença da
Lourdes e da Ana Lúcia também faziam toda diferença – elas me sus-
tentavam com orações sem parar.
Durante todo esse tempo eu tive o amor e o apoio do pastor Már-
cio e da família dele, mas várias pessoas influentes na igreja me per-

297
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

seguiam. As mentiras que falavam sobre mim – que eu era enviada de


Satanás para destruir a igreja, que eu estava infiltrada na Lagoinha,
que era uma bruxa – se espalharam muito rápido. É incrível como
fofoca, contenda e sopros do maligno são velozes.

O Médico dos médicos

Certo dia, meu filho Lucas amanheceu passando muito mal. Ele
estava com febre, com dores e abatido. Era um final de semana. Nós
não tínhamos plano de saúde, e minha única opção foi procurar aten-
dimento no Centro Geral de Pediatria. O CGP é um hospital infantil
público de Belo Horizonte e geralmente fica muito cheio. Até então
nunca tínhamos precisado recorrer ao SUS, porque sempre tivemos
um convênio com o qual contar. Mas agora estávamos diante de uma
situação completamente nova, em uma cidade que não conhecíamos.
Pegamos nosso filho, já com 39 graus de febre, e fomos para lá. As-
sim que colocamos os nossos pés no hospital, encontramos o saguão
lotado. Quando passamos pela triagem, a enfermeira deu uma olhada
rápida no Lucas e disse:
“Existem crianças aqui que estão piores do que ele. O seu filho
pode esperar.”
Fiquei com ele no colo, desfalecido, aguardando pelo atendimen-
to. Muitas mães estavam na mesma situação, e assim duas horas se
passaram. Nada acontecia. Durante aquela longa espera, tive muita
vontade de ligar para os nossos parentes em São Paulo e pedir que nos
enviassem qualquer quantia de forma que pudéssemos levar o Lucas a
um médico particular. Sei que eu poderia ter feito isso, ou até mesmo
ter entrado em contato com o pastor Márcio. Tenho certeza que ele e
a família iriam nos socorrer na hora. Mas dentro de mim havia uma
convicção de que não era para fazer nada. Eu deveria confiar na ação
de Jesus.
“Quem me trouxe para BH foi o Senhor. Foi Ele quem me chamou.
É Ele quem vai fazer algo por nós.” – eu dizia para mim mesma.
Cansei de esperar. Chorando e clamando pelo socorro do céu,
voltei para o carro com o Lucas nos braços. O Marcos não sabia o
que fazer. A nossa sensação era de que estávamos perdidos, mas eu
precisava crer que, por mais que não pudéssemos ver nada à frente,

298
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

estávamos cobertos pelo manto do nosso Pai.


“Marcos, nós não vamos murmurar. Não vamos reclamar. Vamos
dar graças porque Deus vai nos ensinar algo.”
“Ezenete, mas o que vamos fazer? O Lucas está doente!” – ele me
perguntou com o olhar perdido.
“Nós vamos para casa. Vamos orando, e Deus vai nos direcionar.”
– respondi buscando convicção no Senhor.
Visivelmente preocupado, ele arrancou o carro. Havia uma tensão
no ar. O clima estava pesado. No banco de trás, o filho que tínhamos
lutado tanto para ter, estava fraco, frágil, desfalecido. Poucos metros
adiante, o Marcos estacionou. Ele queria orar.
“Senhor, o que vamos fazer? Como devemos proceder? Nós não
queremos pedir ajuda a ninguém, mas queremos ver a Sua glória e o
Seu poder!” – ele clamou.
No meu coração eu gritava em silêncio: “Deus, mostre ao Marcos
como o Senhor é lindo. Se revele a nós!”. Na mesma hora senti o Espí-
rito Santo falar comigo:
“Vá à farmácia e procure por estes remédios.”
Então Ele me disse quais medicamentos eu deveria comprar e
como deveria administrá-los ao meu filho. Eu não tinha ideia do que
estava fazendo, mas cria que era Deus falando. Ele é o Médico dos
médicos e não nos deixaria sem auxílio.
“Marcos, vamos passar em uma farmácia agora. Jesus está falando
comigo. Ele me contou como vamos tratar o Lucas.”
Ele creu, e juntos fomos orando para que o Senhor quebrantasse o
coração do farmacêutico para nos ajudar. Assim que chegamos, desci
do carro e fui direto para o balcão onde estavam os remédios. Vi um
homem com jaleco branco e lhe falei os remédios que queríamos. Ele
foi muito solícito, mas pediu para ver a receita assinada pelo médico
e me perguntou quem tinha recomendado justamente aqueles medi-
camentos:
“Foi um Médico que me disse.” – afirmei.
“Mas, cadê a receita?” – ele quis saber.
“Ele não me deu.”
“Você precisa de uma receita para comprar esses remédios. Não
posso vendê-los assim.”
“O meu Médico não me falou nada sobre receita.” – respondi. Afi-

299
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

nal, Deus realmente não tinha mencionado nada sobre isso.


O rapaz me olhou muito desconfiado, como se não acreditasse na
minha história. Mas eu insisti:
“Por favor, eu preciso desses remédios.”
“Quem é esse médico?” – ele perguntou mais uma vez.
“É o Médico dos médicos. Ele é muito famoso, manda em tudo e
em todos. Ele é muito bom, pode acreditar. Ele não erra.”
O farmacêutico me fitou novamente com aquele olhar questiona-
dor. Soltou um longo suspiro e finalmente respondeu:
“Tá bom. Eu vou te vender. Mas se algo der errado, é sua a respon-
sabilidade.”
“Você não precisa se preocupar.” - eu respondi com um sorriso
aliviado.
Então ele me entregou as caixinhas. Fiz o pagamento e saí dali cor-
rendo e glorificando. Entrei no carro agradecendo a Deus pela provi-
são. Fomos para casa, e comecei a tratar o Lucas como o Senhor havia
orientado. A febre baixou, e ele foi melhorando aos poucos. Dois dias
depois, eu fui a um médico que conheci na igreja. Assim que exami-
nou o meu filho, ele deu o diagnóstico:
“O Lucas está com pneumonia. Os medicamentos estão certos.
Nós vamos só aumentar o período em que ele vai tomar. Ele deve per-
manecer de repouso.”
Voltei para casa aliviada. Eu não estava louca: realmente tinha ou-
vido a voz do Espírito Santo, e Ele me orientou. Ao longo da vida eu
passei por tantas pneumonias, que eu sabia como o meu filho esta-
va se sentindo. Mas o Senhor não permitiu que a doença evoluísse, e
agora eu tinha a convicção de que Deus respondeu as nossas orações
e nos deu vitória.
Ele poderia ter curado o Lucas instantaneamente, eu sei. Ele pode-
ria ter sarado o meu filho assim que fiz a primeira oração, quando a
febre subiu. Mas eu estava passando por um momento de experiências
com Deus. Era um período de muita fragilidade, especialmente para
o Marcos, que se encontrava sem condições para prover a família –
como sempre fez. Deus falou para ele que tínhamos que vir para BH;
nós obedecemos, mas diante de tantas afrontas do Inimigo, de tanta
luta, precisávamos viver algo que fortalecesse a nossa fé, que nos mos-
trasse novamente que não estávamos sozinhos. O Senhor era por nós.

300
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

Eu já tinha vivenciado muitas experiências lindas de cura apenas com


o poder da oração, histórias que compartilhei aqui neste livro. Mas
naquele deserto tão grande, o Senhor nos direcionou de uma forma
diferente. O Marcos ficou mais tranquilo ao ver o filho medicado.
Deus tem vários meios de agir e Ele sabe como responder às ora-
ções. Cada situação exige uma ação diferente, porque Ele nos vê como
filhos peculiares, com necessidades particulares. Quando finalmente
sentimos que o perigo tinha passado, falei com o Marcos:
“Amor, um dia vamos descobrir por que estamos passando por
esta luta. O Senhor ainda vai nos revelar, no momento certo, por que
o Lucas teve essa pneumonia e ficou tão doente.”
O Marcos concordou. O Lucas se recuperou em duas semanas.
Nesse período ele não foi à aula nem à igreja; permaneceu em casa
enquanto os remédios faziam efeito e ele se fortalecia. Depois disso,
retomou a vida normal.

O Deus que livra

No meio de tantas lutas e perseguições, eu e a Lourdes permane-


cemos firmes, apoiando nossas famílias e atendendo aos obreiros da
igreja. Certo dia, três meses depois da doença do Lucas, eu estava na
Casa Administrativa quando me avisaram que uma pessoa estava na
recepção querendo falar comigo. Pedi para aguardar um pouco; mi-
nutos depois informei à secretária que estávamos liberadas para rece-
ber. Um segurança da igreja passou pela porta e se assentou na minha
frente, tremendo. Eu não o conhecia e ele desviava o olhar, evitando
me encarar.
“Pastora, eu preciso do seu perdão: me perdoa. Eu não consigo
dormir nem comer. Estou desesperado.” – ele começou a dizer.
Eu estranhei aquela fala e perguntei:
“O que aconteceu? Eu te perdoo, mas o que houve?”
Então ele me contou algo que eu nunca imaginei que fosse vivenciar.
“Pastora, eu não sei por que, mas fiquei com muita raiva de você.
Algumas vezes tentei passar aqui para conversar, mas nunca consegui.
Sempre me diziam que você não estava atendendo mais naquele dia e
que eu deveria retornar mais tarde. Nessa mesma época, eu me envol-
vi com algo errado e achei que você tinha me denunciado. Eu escutei

301
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

também as pessoas falando que você era bruxa, que você iria destruir
a nossa igreja. Por isso eu decidi acabar com a sua vida. Eu queria te
dar um susto para que você desistisse de morar aqui e fosse embora de
uma vez por todas.”
Eu ouvia aquele homem amargurado, despejando todas
aquelas palavras de rancor, curiosa para saber onde a história ia parar.
Eu sabia que muitas pessoas não gostava de mim e desejavam que eu
fosse embora. Mas o que ele fez? O que ele estava planejando contra
mim?
“Pastora, eu armei um se-
questro para o seu filho. Eu
planejei tudo e coloquei o pla-
no em ação.”
Senti o chão se abrir sob os
meus pés, como se um buraco
surgisse do nada e me puxasse
para baixo. Minha cabeça ficou
pesada, meu corpo enfraque-
ceu. Fiquei tonta.
“Você o quê?” – perguntei
sem ter certeza do que iria ouvir.
“Eu contratei dois homens
para sequestrar o Lucas na sa-
ída da escola. A gente não ia
fazer nada de mal com o meni-
no, mas o plano era te dar um
susto. Seriam só quatro dias e
depois o devolveríamos ileso.”
Eu não sabia o que pensar.
Meu coração batia acelerado enquanto aquele homem, um seguran-
ça contratado pela igreja para cuidar do bem-estar das pessoas, me
revelava o plano maligno contra a minha família. Muda, continuei
ouvindo.
“Eu levei os sequestradores para a porta do colégio e mostrei quem
era o seu filho. Expliquei sobre os horários de saída e o trabalho dos
outros seguranças. Estava tudo pronto, planejado, só esperando o dia
que marcamos para pegá-lo assim que ele colocasse os pés para fora

302
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

da escola. Seria em uma segunda-feira, há três meses. Mas o Lucas


não apareceu.”
Foi desesperador ouvir cada uma daquelas palavras. Dentro de
mim eu clamava a Deus: “Meu filho não! Meu filho não!”. Eu não po-
dia acreditar que tudo aquilo era verdade.
“Pastora, me perdoe. Estou muito arrependido pelo que fiz. Os ho-
mens que eu contratei permaneceram na porta do colégio por duas
semanas, mas o seu filho não foi à aula nenhum dia! Eu conhecia o
comportamento dele e sabia que ele nunca faltava. Mas vocês não o
levaram para a escola nesse período! Por fim os sequestradores desis-
tiram e me acusaram de ter planejado algo contra eles. Eles desapa-
receram com muita raiva de mim. No dia seguinte o Lucas voltou ao
colégio normalmente. Me perdoe, pastora! Eu errei! Eu não deveria
ter feito nada disso!”
Com o coração disparado, comecei a chorar. Então me derramei
diante do Senhor sem me importar com a presença daquele homem
que tinha tramado algo tão cruel. Quando o Lucas ficou doente, eu
disse ao Marcos que um dia Deus nos revelaria por que isso tinha
acontecido. Agora eu entendi: ele teve febre no sábado de manhã e
por isso não foi à aula durante os quinze dias que os sequestradores
esperaram por ele. O Senhor nos livrou de algo tão terrível, que nem
podíamos imaginar. Enquanto lutávamos contra a pneumonia, Ele es-
tava batalhando por nós contra algo muito pior.
Aquele homem também chorava. Desesperado, ele me pediu:
“Não conte para ninguém! Por favor! Se a senhora falar qualquer
coisa, eu vou ser mandado embora. Não posso perder o meu empre-
go! Eu preciso muito deste trabalho.”
Eu me levantei da cadeira e disse a ele:
“Por que eu vou dizer isso para alguém? O Senhor livrou o meu
filho. Deus o escondeu. Você está perdoado. Mas algo eu te digo: con-
serte a sua vida com Deus. Vá em paz.”
Ele saiu da sala com o rosto inchado de chorar e me deixou sem
condições de fazer qualquer outro atendimento. Pelo resto do dia, a
imagem do que poderia ter acontecido passava pela minha mente. Eu
me imaginava chegando para buscar o Lucas e não o encontrando. Eu
nem conseguia respirar direito. A Lourdes ficou ao meu lado orando
comigo e por mim. Minhas emoções estavam em frangalhos.

303
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Por alguns dias permaneci com toda aquela conversa indo e vindo
na memória. Então orei:
“Senhor, Satanás está indo longe demais. Eu preciso da Sua força e
da Sua graça. Eu preciso de Ti mais do que nunca!”
Eu estava chegando ao meu limite.
Tempos depois aquele segurança foi demitido da igreja. Não pelo o
que ele tentou fazer com o Lucas, afinal eu nunca levei esse assunto ao
pastor Márcio ou para qualquer pessoa da liderança. Mas ele acabou
se envolvendo em outras coisas erradas e por isso foi desligado.
Dali em diante, fiquei mais atenta aos passos do Lucas, evitando ao
máximo deixá-lo sozinho ou exposto. Não falei nada para o Marcos.
Ele estava passando por uma fase de fragilidade, por causa de todas
as lutas, e eu não queria preocupá-lo ainda mais. Também fiquei com
medo que ele tomasse alguma atitude drástica. Achei melhor esperar.
Meses mais tarde, quando estávamos mais fortalecidos, finalmente
contei. Compartilhei aquele fardo tão pesado.

Eu estou me revelando

As perseguições continuaram nos meses seguintes, mas certo dia


divulgaram na internet, para todo mundo ler, as acusações com as
quais eu já tinha praticamente me acostumado a lidar. Os textos me
difamavam, diziam que eu era bruxa, que praticava vodu e que “colo-
cava doença” nas pessoas. Foi horrível. Meu pranto era reservado para
o chuveiro, onde eu me derramava diante do Senhor. Ele é o meu juiz
e um dia julgaria a minha causa. Eu também não compartilhei isso
com o Marcos. A situação já estava tão difícil para ele... eu não podia
torná-la pior. Alguém pode pensar que eu escondi algo do meu mari-
do, mas a ideia não era essa. Eu só queria protegê-lo de situações que
iriam feri-lo ainda mais.
Porém, o que veio a seguir nos atingiu de uma forma muito cruel.
Uma pessoa se fez passar por mim, na internet, e divulgou um texto
em que “eu” dizia: “Eu estou me revelando. Eu sou poderosa e enganei
o pastor Márcio Valadão, a Ana Paula, o Diante do Trono e a Igreja
Batista da Lagoinha. Eu sou uma satanista. Todos estão nas minhas
mãos”. O depoimento era recheado de gargalhadas e zombaria, fra-
ses inacreditáveis que eu jamais escreveria. Só fiquei sabendo quando

304
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

uma pastora de outra cidade me ligou muito indignada:


“Ezenete, que história é essa? O que você escreveu na internet?”
“Eu? Eu não escrevi nada!” – respondi assustada.
“Você se revelou como satanista! Eu não acredito nisso!” – ela me
acusou.
“Como assim? Eu não fiz nada!” – respondi sem saber o que estava
acontecendo.
“O que você é afinal? Quem é você?” – ela me interrogava.
Fiquei em estado de choque. Eu já tinha ouvido acusações pelos
corredores da igreja, recebido ameaças por telefone e bilhetes. Meu
filho tornou-se alvo de um sequestro, e agora isso? Minha cabeça ro-
dava... Tudo girava. Precisei respirar fundo e pensar nas minhas pala-
vras. Então consegui responder:
“Olha, você sabe quem eu sou. Você me conhece. Você já viveu
vários momentos comigo e viu a manifestação da glória de Deus na
minha vida. Eu não vou responder nada. Tire as suas próprias con-
clusões.”
Desliguei arrasada. Aquela carta na internet foi acessada em todo
o Brasil. Meu telefone não parava de tocar. Eu recebia um e-mail atrás
do outro. As pessoas me falavam que estavam decepcionadas comigo.
Foi incrível a quantidade de irmãos em Cristo que acreditaram em
toda essa mentira. Eu, uma satanista? Nunca! Jamais! Tudo o que eu
sempre fiz foi amar o Senhor, confiar em Seu poder e viver para Ele
em obediência. Nunca quis nada com o inferno ou com as trevas. Mi-
nha vida sempre foi de Jesus Cristo: meu Rei, meu Salvador! Como
alguém podia acreditar no contrário?
Mesmo diante de tantas acusações, permaneci com a cabeça ergui-
da. Deus nunca permitiu que eu me curvasse por causa da maledicên-
cia. Permaneci firme nEle, mas com o coração completamente que-
brado. Eu sabia que seria difícil vir para Belo Horizonte, mas nunca
imaginei que as estratégias do Inimigo para me intimidar seriam tão
baixas. Muito menos que as pessoas as levariam a sério. Então, eu ia
para a casa da tia Nó, para desabafar e rasgar o meu coração:
“Tia, eu sei que posso suportar, mas está muito difícil. Eu não vou
retroceder. Satanás é quem vai desistir. Mas tudo está tão pesado...”
Poder contar com a presença física desta mulher que me amava
foi muito importante nesse momento tão cruel da minha vida. Tia Nó

305
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

dizia que o Senhor estava mostrando para ela que tudo isso fazia parte
de um grande processo e que a nuvem negra passaria.
“Você vai ver a glória do Senhor na sua vida, e muitos dos que te
perseguem e te julgam vão enxergar com os próprios olhos. Eles vão
reconhecer que você é uma mulher de Deus, enviada por Ele para
esta terra.”
“Pai, me oriente. Eu quero aprender o que Jesus está me ensi-
nando. Eu não deixarei o Senhor. Vou permanecer!” – era a minha
oração diária.
Fizeram uma sindicância na minha vida: entraram em contato
com as pessoas com quem convivi em Santo André e em São José dos
Campos querendo saber tudo a meu respeito. Também mandaram a
minha foto para um homem que teve envolvimento com o ocultismo,
mas se converteu. Ele pregava em muitas igrejas dando o seu testemu-
nho, por isso algumas pessoas foram atrás dele para saber se ele me
conhecia. Após ver a minha imagem, ele respondeu:
“Eu nunca a vi, mas ela é famosa no meio dos satanistas. Eles falam
que ela é uma mulher de Deus.”

Basta

Após muito sofrimento, o Senhor começou a trabalhar a meu fa-


vor. Os meus primeiros sete anos em Belo Horizonte foram assim:
muita angústia, muitas lutas e dificuldades. Em todas as madruga-
das Jesus enxugava as minhas lágrimas, trazia consolo e palavras de
benção. Durante todo esse tempo, nunca procurei o meu pastor nem
ninguém. Eu continuei trabalhando, atendendo, ministrando, rece-
bendo as pessoas na Estância e estruturando o Ministério, a Escola e
os Seminários de Intercessão. A Ana Paula não sabia de nada. Até que
um dia alguém contou para ela tudo o que estava sendo falado por aí.
Imediatamente ela foi conversar com o pastor Márcio:
“Pai, olha o que estão falando da Zê! Estão dizendo que ela é sata-
nista! Isso é um absurdo! Deus operou na minha vida através dela! Ela
é uma benção no Diante do Trono e nas nossas famílias!”
Os dois ficaram indignados com esse boatos. Já o Marcos, assim
que tomou conhecimento das acusações, me chamou para conversar:
“Ezenete, basta! Nós vamos sair desta cidade. Este povo não te me-

306
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

rece. Eu ouço o seu choro e o seu clamor pelas madrugadas. Eu não


vou te perder. Você está ficando doente! Deus não tem isso para você.
Se eles não te querem, não vamos ficar aqui.”
Nesta época, o Marcos vendia pães de porta em porta para nos
sustentar. Não foi nada fácil para ele chegar a esse ponto, pois até nos
mudarmos para Belo Horizonte ele trabalhava em uma multinacional.
Meu esposo estava sofrendo. Ele me via enfrentar e suportar tantas
situações, que decidiu que era hora de voltarmos para a nossa terra.
“Nós vamos embora. Não quero mais te ver assim. Não precisamos
passar por isso!” – foram as palavras dele.
“Não, Marcos! Eu estou bem.” – tentei explicar.
“Você não está bem; eu tenho ouvido você chorar. Eu sei que você
tem me poupado de muita coisa, mas uma pessoa da igreja me contou
o que andam dizendo por aí. Basta, Ezenete! Nós vamos embora.”
Tentei argumentar de todas as formas, mas ele estava cansado de
lutar. Por fim, concordei.
“Sou submissa a você. Se é essa a direção que você tem, então eu
vou embora.”
“Nós não vamos ficar aqui nem mais uma semana.” – ele concluiu.
“Tudo bem. Só te peço uma coisa: o pastor Márcio nunca nos decep-
cionou, nem a família dele. Então, vá até ele e explique por que estamos
indo embora. Não podemos partir sem a benção do nosso pastor. A
Lourdes e o Oswaldo estão aqui, a Ana Lúcia e o Seu Nunes também.
Até a tia Nó. Não podemos simplesmente sumir sem falar nada.”
“Ezenete, então eles vão embora conosco. Voltamos todos para o
lugar de onde viemos. Mas pode deixar que vou falar com o pastor
Márcio.”
No dia seguinte, ele foi até a igreja e explicou por que estávamos
fazendo as malas. Ele contou tudo, como se já estivesse se despedindo
depois de sete anos em BH. Mas o pastor Márcio o ouviu e insistiu
para que ficássemos.
“Filho, ontem a Ana me procurou e me contou essa história. Nós
não sabíamos de nada disso. A Ana me disse que se a Ezenete é sata-
nista, ela também é. Eu disse para a Ana que não tem nada disso e que
as duas são mulheres de Deus. Marcos, vocês não podem partir. Vocês
têm sido uma grande benção na nossa igreja. Olha a minha vida, olha
a minha família! A Igreja Batista da Lagoinha tem duas histórias: uma

307
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

antes e outra depois da chegada de vocês. Filho, não se joga pedra em


árvore que não dá fruto. A Ezenete está sofrendo tudo isso porque ela
tem dado bons frutos. Não vá embora. A minha família precisa da
sua. Essas pedras que estão sendo lançadas estão atingindo o próprio
Jesus. Mas Deus vai honrar e vai cuidar da Ezenete e de todos vocês.”
Marcos voltou para casa com outro semblante. Enquanto eles con-
versavam, eu estava em casa de joelhos, em oração. Nessa época eu
já tinha estruturado um grupo grande de intercessão na igreja. Já tí-
nhamos acompanhado várias gravações do Diante do Trono, sendo
guiados pelo Senhor a seguir estratégias incríveis. O nosso ministério
fluía, e víamos muitas igrejas implantando grupos de oração confor-
me o Senhor tinha me mostrado. Sem falar que a Estância tinha dado
muitos frutos. Quantas pessoas foram restauradas naquele lugar incrí-
vel que Jesus me deu! Para mim ainda havia muito a ser feito em BH.
Não era hora de partir. Eu não acreditava que Satanás venceria essa
batalha. E quando vi o meu marido entrando pela porta, eu sabia que
a vitória tinha chegado.
“Nós não vamos embora. Nós vamos ficar.”, ele logo disse.
Ele me contou sobre a conversa, e eu glorifiquei o nome do Senhor.
Eu sabia que estávamos vivendo debaixo da obediência e não iríamos
retroceder – por mais difícil e dolorido que fosse. Nós dois ficamos em
paz e determinados a permanecer.
Depois dessa conversa, o Senhor me entregou uma estratégia: fize-
mos, no Ministério de Intercessão, um propósito de 72 dias de jejum,
oração e pé no chão. Em casa, nos vestíamos com panos de saco, para
clamar, e deixávamos nossos calçados na porta de entrada. Nas reu-
niões, fazíamos a mesma coisa. Sabíamos que a vitória estava a cami-
nho. Quebrantamento, guerra e adoração – essa era a nossa estratégia.
Além disso, eu liberava perdão para quem me perseguia, porque eu
sabia que não eram as pessoas. Aquilo não passava de um projeto das
trevas para tentar impedir tudo o que eu vivo hoje.
Dias depois, aconteceu uma reunião na Lagoinha com alguns líde-
res da igreja. Eles queriam falar com o pastor Márcio e a família tudo
o que sabiam sobre mim. Seria uma última tentativa de me afastar.
Mas nesse encontro, Deus usou a Ana, o André, a Renata e o próprio
pastor para dizer a eles quem eu era. A família Valadão me conhecia,
convivia dentro da minha casa e reconhecia que eu não tinha nada a

308
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

esconder. Ali o Senhor agiu em meu favor. Ele se revelou, me protegeu


e me guardou.
Depois disso, em um belo dia, um grupo de obreiros e líderes da
Lagoinha, entendendo finalmente o que eu vim fazer em Belo Hori-
zonte, pediu para se reunir comigo. Confesso que eu não sabia o que
esperar, mas eles vieram me pedir perdão e lavar os meus pés. Todo o
esquema maligno arquitetado por Satanás caiu por terra! Deus mos-
trou a cada um deles que a minha única intenção sempre foi servir,
amar a Jesus e abençoar as pessoas. Nada além disso.
Hoje, anos depois de toda essa provação, eu vivo a honra do meu
Pai celestial por ter perseverado, por ter acreditado, por não ter olha-
do para a direita ou para a esquerda, por não ter desistido. Depois de
muitas lágrimas e dor, minha sorte mudou sem que eu tivesse que me
defender. Deus honrou a mim, o meu marido e os meus fiéis compa-
nheiros que vieram de longe para servir aqui.
Hoje sou amada, respeitada e querida. É claro que existem pessoas
que ainda me olham com desconfiança, e sei que existem aqueles que
não gostam de mim mesmo. Mas eu não me importo; nem Jesus agra-
dou a todos. Meu foco, minha atenção e meu tempo eu dedico àqueles
que o Senhor trouxe para estar ao meu lado!
Hoje sou respeitada também em muitas igrejas do Brasil. Recebo
o carinho e o amor de pessoas que me abraçaram, que ofereceram
púlpitos para pregar e que aceitaram a visão de um país transformado
pelo poder da oração. Tudo isso eu devo ao Senhor, porque Ele reve-
lou a todos quem de fato eu sou.

Ordenação

Depois dessa reunião com os líderes da igreja, eles me perguntaram


como poderiam reparar os erros cometidos. Eu já tinha liberado o perdão,
mas não sabia muito bem como eles poderiam apagar tanto mal feito a
mim, ao meu marido e aos meus filhos. Para mostrar que reconheciam
o meu ministério e a autoridade de Deus sobre a minha vida, decidiram
me ordenar como uma das pastoras da Lagoinha. Até então, eu não tinha
esse “título”, apesar de fazer muitos atendimentos, dar aconselhamentos e
pregar a Palavra. O Senhor sabe que isso não era algo que eu buscava, mas
aceitei com o coração aberto este ato de reparação da minha igreja.

309
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Assim, em 2006, sete anos após a minha chegada a BH, em um cul-


to de domingo à noite, eu e outros obreiros fomos chamados ao púlpi-
to pelo pastor Márcio. Subi os degraus pensando em tudo o que tinha
acontecido desde que coloquei os meus pés ali pela primeira vez. O
Senhor nos disse que não seria fácil – e de fato não foi. Mas Ele tam-
bém nos prometeu que faria grandes coisas em nosso meio – e isso
também aconteceu. Eu não voltaria atrás. Eu nunca me arrependi de
ter obedecido à voz do meu Mestre e sei que hoje vivo a fidelidade
de Deus porque não retrocedi, mesmo diante dos momentos mais
obscuros. Foi emocionante
ser finalmente abraçada nes-
te lugar onde o Senhor me
plantou.
Após a ordenação, o meu
trabalho não mudou, mas o
reconhecimento e a honra
fizeram diferença. A des-
confiança chegou ao fim. As
ameaças também. Senti que
finalmente a minha igreja
me abraçou, me aceitou e me
amou. Agora sim, aquela era
a minha casa. Também per-
cebi que no mundo espiritu-
al recebi mais autoridade do
Senhor.
Não posso dizer que nun-
ca mais tive lutas, porque isso
seria uma mentira. A vida do
cristão é feita de batalhas, mas
mais do que nunca eu vivo de
vitória em vitória – ainda que,
em algumas situações, ela venha com cara de derrota. Até hoje pes-
soas me procuram para pedir perdão pela forma como me trataram
quando acreditavam que eu não era uma pessoa de Deus. E o Senhor,
de uma forma carinhosamente fiel, ainda me proporciona esses con-
sertos poderosos.

310
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

Eu amo a Igreja Batista da Lagoinha assim como amei as outras


congregações nas quais servi, porque sei que não existe lugar melhor
para estar do que no centro da vontade de Deus. Por mais que as lutas
fossem árduas, nunca tive dúvidas de que eu não estava sozinha. Jesus
Cristo era por mim, e por causa dEle suportei tudo.
Hoje a forma como sou tratada é impressionante. Em nada se pa-
rece com a perseguição que sofri durante aqueles sete anos. Pequenos
detalhes do dia a dia fazem a diferença – desde um sorriso, até um
abraço, passando por um cumprimento amigável.
É importante dizer também que todas as dificuldades que narro
aqui me fortaleceram, me trouxeram para mais perto de Deus e me
fizeram uma nova pessoa. Elas não diminuíram as bençãos do Senhor
ao longo desse período e não me fizeram esquecer de todas as maravi-
lhas que vivi nEle e com Ele. Porque essa é apenas parte da minha his-
tória, ainda existe muito mais. A glória de Deus, os milagres, as curas,
as libertações que presenciei são infinitamente maiores e mais nume-
rosos do que as dificuldades. Mas, ainda que não fossem, teria valido a
pena, pois servir, obedecer e seguir a Deus sempre vale a pena.

-------------------------

Palavras do Pr. Márcio

A Ezenete chegou às nossas vidas no momento de Deus, na progra-


mação dEle. A minha filha Ana tinha acabado de voltar de uma tem-
porada nos Estados Unidos e estava começando o ministério aqui. Ela
conheceu a Ezenete quando vivia conflitos e momentos de definições.
As duas passaram alguns dias juntas e tiveram o que chamo de “en-
contro divino”. Com o tempo a Zê foi guiada pelo Senhor para deixar
a parentela e vir para Belo Horizonte. Ela teve o desprendimento de
largar tudo para trás: as raízes, a casa, o bom emprego do esposo, a
própria cidade, e veio para um lugar novo. A Ezenete não sabia, e
imagino que nem passava pela cabeça dela, tudo o que Deus faria
a partir daquele encontro em São José dos Campos. Naquela época
estávamos experimentando um avivamento na nossa igreja e ela foi

311
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

uma pessoa “chave”. A Ezenete não foi apenas um instrumento nas


mãos do Senhor, mas também começou a cuidar das pessoas. Ela
atendia os pastores, as pastoras, os obreiros e mais um bocado de gen-
te. Ela foi rejeitada por alguns, criticada por outros e muitos diziam:
“Quero ver até onde isso vai durar”. Mas quando Deus tem um pro-
pósito, Ele faz e move o que for pelo tempo que Ele determinou. E já
se vão mais de quinze anos. A Ezenete e a família estão aqui por todo
esse tempo, sempre me tratando com honra, respeito e submissão. Até
hoje, depois de tantos anos, ela me pede para orar sempre que vai
viajar. Por isso, posso dizer que ela é uma filha, por quem tenho um
amor e uma apreciação muito grande.

-------------------------

312
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

31. PRECIOSA É A MORTE


DOS SANTOS

Se durante toda a minha história celebrei muitas vitórias, também vivi


alguns momentos de perda. O meu pai Jacinto, que me colocou no mun-
do, foi a primeira delas. Em 1997, a um mês do casamento da minha
irmã caçula, a Eujácia,
ele sofreu um AVC,
mas se recuperou e fi-
cou bem. Ele e minha
mãe estavam morando
em Marataízes, no li-
toral do Espírito Santo.
Dois anos depois, se
mudaram para Jacare-
ípe para ficar perto dos
meus três irmãos que
viviam lá.
Em setembro de
2003 ele precisou
operar a carótida. Durante a cirurgia, sofreu um novo AVC, pois o

313
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

anestesista errou a
dosagem do medica-
mento. Depois disso,
a saúde dele ficou
comprometida; e o
lado esquerdo do cor-
po paralisado. Mas
nada não o impediu
de seguir o ministé-
rio pastoral. Em no-
vembro daquele ano
vimos o milagre do
Senhor na vida dele,
que recuperou os mo-
vimentos antes do casamento do meu irmão Eujácio. Era impossível,
aos olhos humanos, mas ele conseguiu caminhar em direção ao altar e
ainda conduziu a parte da troca das alianças durante a cerimônia. Ele,
que não podia falar, ministrou a benção de Deus ao filho.
No ano seguinte, em janeiro de 2004, meu pai ainda apresentou à
igreja o Henrique, filho da Eujácia. Teve o privilégio de consagrar a
Deus mais um neto. Foi a última vez que ele entrou em um templo. No
dia 2 de fevereiro do mesmo ano, enquanto passava férias na Paraíba
do Sul (estado do Rio de Janeiro), na casa do meu irmão Jonatas, meu
pai passou mal. Ele era diabético, e a glicose estava alterada, apesar de
todo o cuidado que tinha com a saúde. Levaram-no às pressas para
o hospital e a luta começou. Eu o visitei várias vezes ao longo desse
período. Curiosamente ele sempre perguntava se já eram cinco horas
da manhã, para poder orar pelos filhos – um hábito que levou até o
último dia de vida. Pouco mais de um mês depois de internado, ele
sofreu uma parada respiratória, e o Senhor o recolheu. Minha mãe me
disse que antes de falecer ele orou por cada um de nós. Sei que Deus
sempre ouviu o clamor do meu querido pai.
Na semana anterior à sua partida, fui visitá-lo e tivemos uma con-
versa maravilhosa, que me marcou para sempre:
“Filha, a minha carreira ministerial chegou ao fim, mas eu te aben-
çoo para cumprir o seu ministério.” – ele me falou com a voz baixa e
as palavras emboladas.

314
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

Eu sentia que aquele poderia ser o nosso último diálogo, e por isso
fiz questão de dizer:
“Pai, me perdoe se em algum momento eu te magoei pelas minhas
escolhas, se de alguma forma eu te entristeci por seguir algo diferen-
te do que o senhor acreditava. Mas eu quero que saiba que sempre
tive paz em tomar as minhas decisões por causa da entrega que o se-
nhor fez a Deus. O senhor me devolveu para Ele, lembra?” – respondi,
emocionada, lembrando que quando eu estava em um leito de morte,
ainda na adoles-
cência, meu pai me
entregou para que
o Senhor cumprisse
em mim os propó-
sitos dEle.
“Eu me orgulho
e me alegro porque
vejo que Deus te le-
vou para onde Ele
quis, filha. Um dia
eu te entreguei a Ele
e disse que ficaria feliz só em ter notícias suas. E isso aconteceu. Eu te
abençoo, Ezenete, para você prosseguir no seu ministério. Quero te
dizer que eu acredito no poder de Deus.”
Foram as últimas palavras que escutei do meu pai. Vivemos ali um
conserto necessário para que ele partisse em paz e eu prosseguisse de-
baixo da benção. Sempre soube que ele me amava, que orava por mim
e que se alegrava em me ver cumprir o meu chamado. Mas ouvir isso
da boca dele foi um presente.
Eu estava no Nordeste do país com o Diante do Trono quando
fiquei sabendo que ele foi para a glória. Tínhamos acabado de chegar
e estávamos a caminho do hotel quando meu telefone tocou. A Lídia
contou que meu pai tinha descansado. Peguei outro avião e fui me
despedir dele e chorar com a minha família.
Apesar das nossas diferenças, sempre o admirei. Quando eu era
criança, ele se assentava comigo para compartilhar o que estava viven-
do. Orávamos juntos pelas lutas que ele passava. Eu era fã do meu pai e
o achava o máximo! Além de pastor, ele era professor de química e in-

315
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

glês. Era um homem estudioso, que lia muito. Fazia questão de montar
um escritório em todas as casas por onde passava. Para mim ele foi um
exemplo de amor, perseverança e de renúncia, afinal, ele me entregou a
Deus. Ele não tinha os dons do Espírito Santo (porque nunca buscou es-
sas experiências), mas
foi uma pessoa ínte-
gra, sábia e que sem-
pre amou o Senhor.
Ele cantava muito
os hinos do Cantor
Cristão, e acho que
eu gosto tanto dessas
músicas por causa
dele. Eu amava muito
o meu pai e sinto sau-
dades de tê-lo para
conversar, orar e can-
tar junto.
Depois disso a minha mãe biológica se mudou para Belo Horizonte,
para ficar mais perto de mim.

Minha mãe do coração

Despedir-me da tia Lidinha, que me amou, me aceitou e cuidou


de mim como filha, foi outra dor imensurável. Sei que nunca estamos
preparados para dizer adeus a quem amamos, mas enterrá-la partiu
meu coração.
Quatro anos e meio após sua doença, quando entrou em coma e vol-
tou, ela começou a dizer que desejava ir para casa. Dizia que já tinha criado
os filhos e queria descansar. Eu respondia que a levaria de volta para São
Paulo, mas ela falava que não ficaria muito tempo por lá – e que logo iria
embora. Não era da casa em Santo André que ela estava falando.
“Filha, vou ficar por lá só três meses.”
Eu não argumentei. Meu pai Elson, veio buscá-la. Quando eles se
despediram de mim, tive a convicção de que ela não voltaria a Belo Ho-
rizonte. Lembrei-me da oração que fiz quando voltei do Japão, pedindo
mais cinco anos de vida para a minha mãe. O tempo estava passando.

316
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

Em junho de 2009 eu estava com as malas prontas para ir a um


Seminário de Intercessão em Manaus, durante um final de semana.
Depois deste evento eu iria para São Paulo, para passar uns dias com
ela. No meu coração havia uma sensação muito forte de despedida. Eu
sabia que o tempo dela conosco estava se abreviando.
Uma semana antes acordei com muita vontade de vê-la. Eu estava
de folga em BH, e o Marcos me incentivou a pegar um avião e ir para
Santo André. Mas eu estava tão cansada que preferi ficar. Achei que
seria melhor passar por lá no final de semana seguinte, aproveitando
o retorno do Amazonas. Eu não entendi que era o Senhor me impul-
sionando para aproveitar
aqueles últimos momentos.
Eu sabia que precisava ir,
mas me permiti ser vencida
pelo cansaço, e fiquei.
Na quinta-feira seguin-
te, de madrugada, enquan-
to eu preparava para ir para
o aeroporto de Confins, o
telefone tocou. Gelei com-
pletamente. Pensei comigo:
“Algo aconteceu”. E eu estava
certa. Era a minha irmã Ana
Paula avisando que a nossa
mãe tinha sofrido uma parada cardíaca. Fiquei em estado de choque. Mas,
apesar da minha tristeza profunda, eu não tive coragem de pedir a Deus
para curá-la, como fiz cinco anos antes. Eu só dizia:
“Senhor, ela é Sua. Cuida da minha mãe.”
No meu coração eu sentia pesar por não ter ido antes a São Paulo
para aproveitar aqueles momentos e me despedir. Tinha a sensação de
ter perdido a chance de dizer, pela última vez, que a amava, e de agra-
decê-la novamente por tudo o que fez. Fiquei sabendo que durante
aqueles dias ela chamou pelo meu nome. Quando alguém chegava,
para visitá-la, ela perguntava se era eu. Isso acabou comigo! Ela tinha
um carinho muito grande por mim, e eu sabia.
Meia hora depois dessa primeira ligação, quando eu já estava qua-
se saindo de casa, minha irmã telefonou novamente:

317
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

“A mãe se foi.”
Nem precisava falar nada. Eu sentia que ela havia partido. Mudei meus
planos e fui com a minha família para São Paulo. A Ana Lúcia nos acom-
panhou. Quando menos esperei, o pastor Márcio e a Renata chegaram a
Santo André para ficar ao meu lado naquele momento de luto.
Foi um dia de muito conflito para mim. Além de toda a dor, eu
não entendia por que isso tinha acontecido justo quando eu estava a
caminho de um seminário. Diante das circunstâncias, eu não pode-
ria deixar a minha família e ir para o norte do país. Então, apesar do
compromisso tomei a decisão de não viajar para Manaus. A equipe se-
guiu, conforme planejado. Eu queria estar com os meus tios e primos,
abraçar meus parentes e chorar com eles. Eu tinha certeza de que os
irmãos da igreja entenderiam.
Porém, a Lídia conversou com o Marcos, e eles decidiram que seria
bom que eu mantivesse a minha agenda. Então remarcaram, para o
dia seguinte, minha passagem para Manaus. Quando eles me conta-
ram, fiquei muito brava! Eu não queria ir! Eu não queria viajar! Pre-
feria viver o meu luto ao lado dos meus familiares. Contrariada, segui
para o velório pensando que depois tomaria alguma providência.
Fizemos um culto de agradecimento a Deus pela vida da minha
mãe e ficamos felizes por ver tantas pessoas que a amavam e foram
se despedir. Minha mãe foi uma mulher incrível, dedicada ao Se-
nhor, à família e aos amigos. Ela marcou a história de muitos irmãos
de Santo André, e eu pude ver o carinho que eles nutriam por ela.
Lembrei do meu sonho, cinco anos antes, quando eu chegava à igreja
para o velório dela e via o lugar cheio de pessoas que fizeram questão
de se despedir.
Durante o louvor, a equipe ministrou uma música do DT que fala
sobre o amor de Jesus. Enquanto eu cantava, me veio uma gratidão
muito grande no meu peito, pois finalmente entendi que o Senhor me
deu os cinco anos a mais que pedi em 2004. Ele acrescentou vida à mi-
nha mãe. Porém, por mais que eu a amasse, o amor de Jesus era maior.
O sentimento que Ele tinha por ela, que Ele tem por mim e por todos
os outros filhos é incomparável e vai muito além do que podemos
imaginar. Gosto muito desta música, pois apesar dela me lembrar este
momento triste, também traz à minha memória que o amor que Deus
tem por todos é infinitamente maior do que pensamos:

318
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

O Teu amor é maior que o meu pecado


O Teu amor é mais forte que a minha dor
O Teu amor demonstrado no Calvário
Vai mais além do que eu possa imaginar

O Teu amor quebra todas as correntes


O Teu amor toca quem ninguém quer mais tocar
O Teu amor que venceu a própria morte
Vai mais além do que eu possa imaginar

O Teu amor, Senhor Jesus


Não tem limites
É incomparável
Irresistível

Ninguém é mais o mesmo ao se encontrar Contigo


És incomparável
Irresistível

Ninguém tem maior amor


Dar a vida pelo pecador

O Teu amor demonstrado no Calvário


Vai mais além do que eu possa imaginar

Ninguém tem maior amor


Dá a vida pelo pecador
O Teu amor que venceu a própria morte
Vai mais além do que eu possa imaginar

Enquanto eu cantava e era ministrada por esse louvor, entendi que eu


não podia mudar os planos. Eu precisava viajar para Manaus, por mais di-
fícil que fosse, porque Deus amava os irmãos que estavam lá e tinha algo
para fazer na vida deles. Entendi que Jesus é o meu bem maior, e Ele não
tinha morrido. Ele estava vivo. A obra dEle na vida da minha mãe tinha sido
completa – ela combateu o bom combate. Mas os propósitos do Senhor para
mim ainda não tinham acabado. Eu precisava cumprir a minha missão.

319
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Depois que enterramos o corpo da minha mãe, conversei com


meus irmãos e tios e expliquei que eu precisava viajar. Eu honraria
meu compromisso. Eles não gostaram, me questionaram e falaram
que eu os estava abandonando justo quando todos deveriam perma-
necer juntos. Eu entendi, e até concordei, mas me lembrei da passa-
gem da Bíblia em Mateus 8. Jesus estava em Cafarnaum e conversou
com um discípulo que passou pelo mesmo conflito que eu; ele queria
seguir o Mestre, mas lidava com a dor de deixar o pai para trás:

“E outro de seus discípulos lhe disse: Senhor, permite-me que primei-


ramente vá sepultar meu pai. Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e dei-
xa os mortos sepultar os seus mortos.” (Mateus 8.21,22)

Por mais que eu estivesse triste, segui o meu caminho. Fui direto
para o hotel e no outro dia, bem cedo, peguei o avião. Minhas lágri-
mas escorreram pelo rosto ao longo de toda a viagem. Eu estava muito
sentida por ter deixado a minha família em um momento tão difícil,
mas sabia que estava no caminho certo, pois a Bíblia também diz:

“Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de


mim.” (Mateus 10.37)

Só prossegui por amor ao Senhor. Cheguei a Manaus e disse para


a equipe que eu não sabia se iria ministrar; não iria me forçar a subir
no púlpito se eu não estivesse bem para isso. Eu já estava lá e poderia
apenas interceder. Expliquei para a equipe:
“O louvor vai acontecer normalmente, conforme está programado. Se
eu não tiver forças e perceber que não dou conta, a Ana Lúcia ministra no
meu lugar.”
Eles entenderam. A música começou a tocar, e eu estava decidida
a não pregar. Mas, de uma forma sobrenatural, pouco antes do final
do louvor eu me percebi na frente do púlpito, pronta para assumir o
microfone. Todos já sabiam o que havia acontecido e nem me espe-
ravam, mas o Senhor me sustentou. Eu ministrei. E mais uma vez Ele
manifestou sobre a minha vida a força, a graça e o amor sobrenatural.
O seminário foi um divisor de águas na vida das mais de duas mil
pessoas que estavam ali.

320
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

Por isso eu digo a você: Quando nos entregamos inteiramente nas


mãos de Cristo, nada pode nos impedir de seguir adiante. Não são as
circunstâncias que definem o que devemos fazer ou não, mas sim o
amor que temos por Jesus. É isso que nos leva a prosseguir mesmo
em meio às lágrimas e à dor. Porque o consolo dEle sempre é real!
Enquanto O servimos, Ele enxuga as nossas lágrimas. E foi o que fez
quando levou a minha mãe para Si.

Tia Nó e tio Mariano

A tia Nó sempre sonhou em ir a Israel. Eu já tinha ido algumas vezes


e planejava retornar em 2011. Queria muito levá-la comigo, mas confes-
so que ficava temerosa por causa da saúde frágil que ela tinha. Mas orei,
senti paz e fiquei alegre em proporcionar essa alegria à minha querida
tia. Ela foi comigo, e o
tio Mariano perma-
neceu na Estância.
No meio da via-
gem, durante um
momento de teste-
munhos, ela contou
aos irmãos que esse
era o sonho da vida
dela – o último. Ela
havia falado com o
Senhor que não que-
ria partir para a gló-
ria antes de conhecer
a terra por onde Ele
andou, e que agora, depois de viver essa experiência tão marcante,
estava pronta: já poderia vê-Lo face a face.
Nesse mesmo período, enquanto estávamos em Israel, o tio Maria-
no teve um sonho. Ele disse que um anjo veio para buscá-lo, e os dois
começaram a caminhar juntos por um caminho lindo. Mas logo ele
olhou para o lado e perguntou:
“Cadê a minha velha?” – que era como ele se referia à esposa. “Sem
ela eu não vou de jeito nenhum! Vou buscá-la!”

321
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

Então, no sonho, ele voltou correndo até a Estância. Lá ele gritava


para todos os cantos:
“Cadê a minha velha? Cadê a minha velha? Ela tem que ir comigo!
Eu não vou embora sem ela!”
Ele acordou assustado. Tio Mariano sempre dizia que não queria
morrer e deixar a esposa para trás, afinal eles cuidavam muito bem
um do outro. Cada um com a sua limitação. Ele tinha um carinho
muito grande pela mulher e fazia questão de dizer:
“Se eu morrer primeiro, quem vai cuidar dela? Quem faria isso
como eu?”
É verdade. Ninguém jamais cuidaria tão bem. Ninguém nunca
a amaria com tanta dedicação, afeto e companheirismo. Tia Nó era
apaixonada pela vida e pela família; era uma pessoa entusiasmada
com tudo. Mas, curiosamente, depois que voltamos da viagem ela co-
meçou a dizer a mesma coisa. Ela nos contou que não gostaria de ir
para glória e deixar o tio Mariano sozinho. Os dois se amavam tanto
que desejavam partir juntos – e já tinham pedido isso para Deus.
Em outubro de 2011 eu comecei a ficar muito preocupada com os
dois. Eles eram bem independentes, mas como o tio Mariano já tinha
mais de 80 anos, também estava com a visão debilitada. Sendo assim,
a vida não era tão fácil. Não gostávamos que eles saíssem de casa sozi-
nhos, pois sabíamos dos riscos que corriam. Por isso os procurei para
conversar. Falei com a tia Nó que preferia que ela se mudasse para a
Estância, assim eu poderia estar mais perto, e eles não precisariam se
arriscar tanto. Depois de muita relutância ela concordou, e comecei a
planejar a construção de uma casa bem pertinho da minha. No início
do ano seguinte eles poderiam ir para o novo lar. Estava decidido.
Antes de me despedir, pedi a ela:
“Tia, a partir de agora, em nome de Jesus, a senhora não vai mais
andar sozinha. Você não vai ao supermercado sem ajuda. Eu vou dei-
xar aqui três telefones de taxistas para vocês ligarem quando precisa-
rem sair. Não se preocupem em pagar. Eu pago. Se eu não puder ajudar
vocês, ligue para esses números. Mas não quero que vocês andem a pé
ou de ônibus sem alguém junto. É muito arriscado. Se vocês fizerem
isso, estarão em desobediência! A senhora é minha tia, mas eu sou a
sua líder e estou te dizendo que não quero vocês por aí sozinhos.”
Ela não gostou. Eu estava muito incomodada, sentindo que uma tragé-

322
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

dia poderia acontecer a qualquer hora. Mas a tia Nó não me levou a sério:
“Menina, me deixe! O anjo me guarda.” – ela disse rindo.
“Tia, eu sei que Deus guarda vocês, mas estou preocupada.” – insisti.
“Tudo bem.” – ela concordou.
Fui embora crendo que eles me obedeceriam.
No dia 26 de dezembro daquele mesmo ano, tio Mariano estava se
preparando para comemorar o aniversário em São Paulo, junto com
a família que morava lá. Eles planejaram a viagem e iriam acompa-
nhados pela tia Nice. Estávamos tranquilos quanto a isso. Mas, como
se ele já soubesse o que estava por vir, quando perguntado por uma
vizinha sobre o que gostaria de ganhar, ele respondeu:
“O presente que eu quero de Deus é que eu e a Eufrásia possamos ir
para glória juntos. Eu sinto que o nosso tempo está chegando ao fim.”
Dois dias mais tarde, antes de viajar, ele decidiu fazer um exame
de sangue. Já tinha uma consulta de rotina marcada e quis adiantar os
exames. Não era nada urgente, mas ele resolveu ir ao laboratório na-
quela quarta-feira. Assim, quando chegasse de São Paulo o resultado
já estaria pronto. Antes de sair de casa eles fizeram as malas e, igno-
rando os meus inúmeros pedidos, seguiram sozinhos para o centro da
cidade. Eles pegaram os documentos, deram as mãos e saíram, como
tinham feito tantas vezes ao longo dos anos.
Chegaram à região central de BH sem dificuldades, mas quando
foram atravessar a avenida Afonso Pena, o sinal, que estava fechado
para os carros, abriu. O motorista de um ônibus os viu e conseguiu
frear a tempo. Tia Nó e tio Mariano se assustaram e tentaram voltar
para a calçada, mas os veículos, que não perceberam a presença dos
dois, já passavam em alta velocidade. Eles ficaram ilhados no meio
do trânsito pesado, sem ver ou ouvir exatamente o que se passava ao
redor. Logo veio um carro que, sem visualização, atingiu os dois com
muita violência. Para a nossa tristeza, o atropelamento foi fatal. Não
sei se eles perceberam o que aconteceu, mas foi assim que a tia Nó e
o tio Mariano foram juntos para a glória. No mesmo dia. No mesmo
lugar. Sob as mesmas circunstâncias.
Receber a notícia do acidente e da morte foi muito difícil. Prepara-
mos um culto de despedida no Tabernáculo, um dos salões da Lagoi-
nha. Muitas pessoas vieram nos abraçar e prestar homenagens. No ve-
lório, os caixões permaneceram lado a lado, e mesmo em meio a uma

323
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

dor tão profunda, engrandecemos a Deus. Tio Mariano dizia que não
queria que tocassem louvores de CD durante seu velório. Ele gostaria
de um culto bonito, com músicos adorando ao vivo. Assim foi feito.
Mais uma vez pude contar com a presença da Ana Paula e do Diante
do Trono, que ministraram sem cessar durante a nossa despedida.
O pastor Márcio trouxe uma palavra de consolo, mas só de pensar que
os meus tios estavam juntos, andando por aquele caminho tão lindo que o
tio Mariano viu em sonho, minhas lágrimas se misturaram com meu sorri-
so. Enquanto agradecíamos a Deus pelo privilégio de tê-los em nossas vidas,
e dizíamos “até logo”, uma chuva forte e pesada caiu sobre Belo Horizonte,
como se a Terra também estivesse chorando a perda dessas pessoas preciosas.
Vou sentir saudades deles para sempre. Preciso dizer que mesmo
em meio a toda a dor, Deus me manteve de pé. Mas confesso que em
alguns momentos achei que não suportaria perder esses alicerces na
minha vida. Então, apesar de todo amor e gratidão que eu nutro por
eles, de toda a falta que eles me fazem, eu sempre me lembro que tenho
um bem maior, que não morreu. Jesus Cristo permanece em mim, na
minha vida, e é quem me sustenta com os pés firmes na rocha.

Ana Lúcia

Como se não bastasse, em 2014 aprouve ao Senhor levar mais uma


flor do Seu jardim. A minha grande amiga e companheira Ana Lúcia
foi para a glória. Durante os anos em que esteve comigo, aqui, ela
marcou a história de Belo Horizonte e de todo Brasil. Ela serviu com
amor, dedicação e bom humor. Participando dos inúmeros seminá-
rios, da Escola de Intercessão e de vários programas desenvolvidos na
Estância Paraíso, ela compartilhou sua história e sabedoria. Ela ensi-
nou muitas pessoas a orar, a interceder. Não foi fácil vê-la partir.
A Ana Lúcia lutou bravamente pela vida depois de ser acometida
por uma doença cruel, que reduziu a capacidade de respirar. Mas ela
nunca reclamou. Mesmo com a saúde debilitada ela pregava, aconse-
lhava, ensinava e orava. Ela deixou um legado que jamais se apagará.
Foram dois anos de enfermidade que teve início com um proble-
ma no pulmão. Uma proteína produzida pelo próprio corpo a levou
a perder muitos quilos. Ela ficava muito cansada, porque respirar era
difícil, mas por um bom tempo ela manteve as atividades normais.

324
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

Em outubro de 2013 a Ana Lúcia ensinou, pela última vez, na Escola


de Intercessão. Quando encerramos as aulas daquela turma, ela não
sabia, mas estava concluindo também o seu ministério.
No final do ano a Ana Lúcia ainda estava bem, mas no dia 28 de
dezembro um problema no fígado agravou a situação. Depois disso,
ela foi parar no hospital algumas vezes, e em janeiro foi novamente
internada. Orávamos dia e noite. Cheguei a alugar um um flat ao lado
do hospital, para ficar mais perto. Fizemos um relógio de oração que
foi preenchido voluntariamente por irmãos que a amavam. Cobrimos
a Ana Lúcia com o nosso clamor dia e noite.
Nesse período, algumas
situações nos marcaram.
Um dia ela passou muito
mal e precisou ir para o CTI.
Quando recobrou a consci-
ência e voltou para o quarto,
conversou com uma das ir-
mãs dela pelo telefone. Disse
que não gostou de ter acor-
dado, porque antes de abrir
os olhos estava num lugar
muito lindo, sentindo uma
grande paz. Ela não ficou sa-
tisfeita, pois queria continu-
ar onde estava.
Três dias depois, ela re-
tornou para o CTI. Intensi-
ficamos as orações até que
ela fosse liberada mais uma
vez para o quarto. Ela nunca
estava sozinha, porque fazíamos questão de estar sempre por perto.
Quando eu chegava para vê-la, sempre perguntava:
“Oi, Ana Lúcia! Você quer viver?”
“Sim. Eu quero continuar meu ministério e preciso cuidar do
Hugo.” – ela respondia.
Hugo é o netinho dela e do Seu Nunes, filho da Nádia. Ele vivia na Estância
com a mãe e os avós. A Ana Lúcia se preocupava em acompanhar o crescimen-

325
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

to do menino. Como ela me dizia que queria viver, nós lutávamos por ela.
Mas ela me parecia cada dia mais cansada. Em uma segunda-feira
ela não falou com ninguém durante o horário da visita. Nem abriu os
olhos. Por causa do problema no fígado, a pele estava muito amarela-
da, e o corpo continuava magro e frágil. Meu coração ficava partido
em vê-la nessas condições. Nesse dia fui visitá-la sem expectativas de
conversar, mas com fé de que ela receberia alta em breve.
“E aí? Tá chegando o fim do seu tratamento! Logo vamos fazer o
seu culto de ação de graças!”, eu falei animada.
Ela não respondeu.
“Ana Lúcia, nós vamos fazer uma festa para você na Estância! Você
quer viver?”
Para a minha surpresa, ela balançou a cabeça de um lado para o
outro respondendo ‘não’ à minha pergunta. Mas eu insisti:
“Como assim? Você não quer viver? Nós vamos fazer um culto de
ação de graças pela sua cura! Vamos soltar foguetes!”
Ela amava fogos, e pensei que isso poderia animá-la. Mas ela repe-
tiu o mesmo gesto negativo com a cabeça. Eu não quis acreditar.
“Mas você não quer?” – perguntei mais uma vez.
Ela abriu os lábios e respondeu, bem baixinho, em um sussuro:
“Canta, canta...”
Eu não queria cantar. Eu queria vê-la pedindo para viver. Por isso
perguntei:
“Você quer que eu cante no culto de ação de graças?”
Ela fez novamente o gesto movendo a cabeça para a direita e para a
esquerda. Eu não podia aceitar aquilo. Perguntei por que ela não queria
mais viver, por que estava desistindo de lutar, mas ela não respondeu.
Apenas continuou balançando a cabeça e me pedindo para cantar. Mes-
mo muito frágil, ela começou a procurar pela minha mão tateando o ar,
tentando encostar em mim. A segurei com carinho e firmeza:
“Mas, e o Hugo? O que vai ser dele?” – perguntei.
“Deus cuida.” – ela respondeu com a voz fraca.
Por fim, ela apertou a minha mão com o pouco de força que lhe
restava e disse, num sussurro leve:
“Obrigada. Eu te amo. Canta...”
Cantei. Depois de alguns minutos, saí do quarto sem falar nada.
Meu coração doía demais. Quando passei pela porta, encontrei o To-

326
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

bias, filho mais novo dela. Ele me perguntou como a mãe estava. Eu
disse que ela estava bem, mas ele me respondeu:
“Você sabe que ela não está bem.”
Naquela madrugada ele sentiu alguém falando em seu ouvido:
“Aprouve ao Senhor levar a sua mãe.”
Ele sabia. Eu sentia. Estava chegando o dia de nos despedirmos da
Ana Lúcia. Na terça-feira ela amanheceu quieta, não falou com nin-
guém, não se mexeu. Seu corpo, que havia perdido muito peso, ficou
inchado. Fui visitá-la novamente e encontrei o Seu Nunes abatido. Ele
estava com a cabeça apoiada na cama e me disse, em meio a lágrimas:
“Zê, eu já entreguei a Ana Lúcia para Deus. Acabei de fazer isso.
Entrega também. Deixa ela ir.” Então pegou a minha mão e repetiu:
“Vamos entregá-la. Deixa ela ir.”
“Não, Seu Nunes! Não vamos desistir!”
“Não. Deixa ela ir.”, ele me pediu enquanto chorava.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que respondi:
“Se for a vontade do Senhor, que seja feita. Mas eu vou continuar
lutando.”
Lutei até o último minuto. Mas na quarta-feira ela partiu. Recebi a
notícia como se um buraco tivesse aberto no meu peito. Doía demais.
Fui ao hospital para preparar o funeral. A Ana Paula e o pastor
Márcio estiveram lá para me apoiar. Escolhi tudo: o caixão, a roupa,
as flores e até o batom que ela usou. Eu permaneceria firme ao lado
da minha Amiga Fiel (como registrei o nome dela na minha agenda)
até o fim. Eu cuidaria dela, mesmo que ali só estivesse o seu corpo. Eu
sabia que naquele momento a Ana Lúcia já estava adorando o Altís-
simo na glória.
O velório foi preenchido por louvor. E apesar do lugar estar repleto
de pessoas, eu sentia meu coração vazio. A Ana Lúcia tinha um espaço
na minha vida que era dela. Ela foi minha companheira, minha par-
ceira, minha irmã de oração, minha amiga fiel. Nunca pensei que um
dia seríamos separadas dessa forma – por uma doença.
Muitos amigos vieram para se despedir e abraçar a família. Mas o
filho mais velho dela e do Seu Nunes, o Helder, não pôde compare-
cer. Ele, a esposa permaneceram na Albânia, onde serviam ao Senhor
como missionários, e acompanharam tudo pela internet. A Ana Lúcia
tinha muito orgulho do trabalho que eles faziam.

327
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Mais uma vez pude contar com o amor do pastor Márcio e da Ana
Paula, que nos ajudaram e estiveram ao nosso lado nesse dolorido
processo. Mesmo após essa triste despedida, o Seu Nunes, a Nádia, o
pequeno Hugo e o Tobias permanecem firmes. Helder também, pre-
gando o Evangelho onde foi chamado. O meu laço de amizade com
essa amada família permanece.
Assim como aconteceu quando perdi a minha mãe, no dia seguin-
te após o velório e o enterro da minha companheira de ministério eu
segui viagem para continuar cumprindo meu chamado. Peguei um
avião e fui realizar um Seminário de Intercessão em Angra dos Reis,
no Rio de Janeiro. Foi muito difícil pregar sem tê-la ao meu lado, mas
eu já tinha aprendido essa lição alguns anos antes.
A saudade dessas pessoas abençoadas, que caminharam ao meu
lado e que foram tão importantes na minha vida, dói demais. Mas sei
que um dia estaremos todos juntos, diante do Pai. Não vamos mais
interceder, mas vamos louvar, adorar e dançar diante dAquele que nos
amou, nos uniu e nos conduziu por um lindo caminho aqui na Terra.
Com os meus pais, com os meus tios e com a Ana Lúcia eu vivi mila-
gres. Ao lado deles testemunhei milagres. E quando penso neles, mais
do que nunca tenho a convicção: eu sou um milagre.
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

PA RT E V I I I

32. EU SOU UM MILAGRE

Quero terminar este livro reafirmando: eu sou um milagre. Mas eu


mesma não tenho mérito nenhum nisso. Tudo foi Jesus. Sou apenas
um vaso. A minha história é repleta da ação poderosa e misericor-
diosa de Deus. A começar pela luta por saúde, nos primeiros anos
de vida, passando pela batalha pela sobrevivência na adolescência, o
meu casamento abençoado, os filhos gerados no ventre e no coração,
as mudanças de cidade e a realização do sonho da Estância Paraíso.
Minha vida é do Senhor, e posso garantir a você que as promessas
dEle se cumprem quando não olhamos as circunstâncias, quando não
nos concentramos nas dificuldades, mas perseveramos.
Hoje eu ainda vivo na Estância Paraíso em uma linda casa de ma-
deira. E sabe o que é incrível? Você se lembra de que contei que quan-
do saímos de São José dos Campos nós doamos o lugar onde vivía-
mos, com tudo o que tinha dentro, para irmãos da igreja? Então, sei
que Deus me deu infinitamente mais. Curiosamente, o material usado
na construção do nosso lar veio do interior de São Paulo. Todo o aca-
bamento veio de São José dos Campos. Deus usou dois casais de filhos
do coração – Kleber e Clásia, Eduardo e Adriana – para nos abençoar.
Eles nos presentearam com tudo! O Senhor é fiel!
Eu vivo cada dia um milagre do Senhor: em mim, na minha casa,

329
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

EZENETE RODRIGUES - UMA VIDA DE MILAGRES

no Corpo de Cristo. Minha maior alegria é saber que milhares de pes-


soas já passaram pela Estância nos programas que oferecemos aqui.
Elas são o cumprimento das promessas que Jesus me fez quando fui
arrebatada há tantos anos. Sempre ouvimos testemunhos maravilho-
sos de quem fez o Moriá, o Renovo, a Escola de Intercessão – e isso
sempre solidifica a minha fé. São milagres inacreditáveis. Em tantos
anos de ministério, já realizamos mais de 60 seminários pelo país e
outros tantos no exterior. Minha equipe tem viajado por vários lu-
gares para ministrar salvação, quebrantamento, libertação, novidade
de vida. Em muitas igrejas essa visão foi levantada, e para a glória de
Deus tem feito diferença na sociedade.
Hoje eu coloco no papel a minha história para perguntar a você:
Qual é a sua história? Qual o plano de Deus para a sua vida? Você pre-
cisa saber que seu nascimento não foi por acaso. Você existe porque
Deus tem um plano. Hoje você está com este livro nas mãos, lendo o
que vivi, mas isso não é nada diante daquilo que Jesus passou na cruz
do Calvário por você. Ele também tem vida para a sua vida.
Quanto a mim, vou continuar perseverando, cumprindo tudo o
que o Senhor planejou, custe o que custar, porque o meu bem maior
é o Senhor Jesus – e Ele está vivo. Apesar das situações difíceis, das
lutas, o meu foco não está no que eu perdi, mas sim no que eu ganhei.
A vida com Cristo é isto: Jesus renunciou à própria vida para que nós
a tivéssemos. As nossas perdas não se comparam ao que Ele entregou
e ao que tem para cada um dos Seus filhos. Algumas pessoas que cui-
daram de mim quando precisei e me inspiraram ao longo dos anos, se
foram. Mas Aquele que morreu no meu lugar continua vivo. E Ele é o
meu bem maior. Por isso quero amá-Lo e honrá-Lo por todos os dias
da minha vida.
A Ele a minha gratidão eterna pelos milagres que vi, que vivi e que
hei de viver. Eu te amo, Senhor.

330
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Epílogo
“Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos
os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos
dias.” (Salmo 23.6)

Enquanto eu escrevia este livro viajei para Israel novamente. Fui


com o Diante do Trono para a gravação do CD e DVD Tetelestai. Es-
távamos muito animados com as promessas de Deus para essa cara-
vana tão especial, que registrou ministrações maravilhosas do grupo
no Jardim do Túmulo, na Torre de Davi e no Monte das Oliveiras. Vi-
vemos momentos marcantes durante os cultos, as visitas, reuniões de
oração e adoração. Tivemos experiências transformadoras que trou-
xeram a certeza de que o Filho de Deus nasceu, viveu entre nós, foi
crucificado, ressuscitou e um dia voltará. Aleluia!
Porém, chegando ao Brasil comecei a passar mal. Estava exausta, com
o corpo fraco, sentindo todos os efeitos do cansaço, do desgaste físico e
emocional. Sem falar das batalhas espirituais. Passei uma semana tratando
uma infecção urinária, que foi diagnosticada, mas ela não melhorou. Meu
abdômen doía, eu me sentia desconfortável e bem fraca. Também não ti-
nha vontade de comer; só queria ficar deitada. Por um segundo, pensei:
“Meu Deus, parece que estou voltando ao início, ao tempo em que
fiquei internada na minha adolescência.”

331
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Seria possível? Antes mesmo de alimentar essas possibilidades, co-


mecei a orar no meu espírito. Agora, tantos anos depois, eu tenho en-
tendimento, mais fé e uma visão diferente da daquela época. Eu con-
sigo enxergar as batalhas e saber como enfrentá-las. Mas ao mesmo
tempo, comecei a pensar:
“Como vou escrever algo falando sobre as minhas vitórias, teste-
munhando a minha cura, se tudo o que vivi no passado parece voltar?”
Após relutar bastante, acabei sendo obrigada a ir ao hospital. Eu já
estava sendo assistida pelo Dr. Audrin Marshall, que cuida de mim e
da minha família e atende algumas pessoas que passam pela Estância.
Ele praticamente me obrigou a internar. Era tudo o que eu não que-
ria. Confesso que depois de tudo o que passei, tenho um trauma de
hospital e faço o possível e o impossível para não precisar passar por
nada parecido. Mas nessa situação não teve jeito. Eu estava debilitada,
desidratada e com febre.
Era uma sexta-feira. Assim que cheguei me puseram no soro. Começa-
ram a me tratar com antibiótico, mas parece que os medicamentos faziam
efeito contrário, e eu piorei. O desconforto aumentou, a fraqueza e o mal-
-estar também – como se o meu corpo não quisesse reagir. Um médico
veio me examinar; tentou identificar onde eu sentia mais dor, e eu mal
conseguia permitir que ele me tocasse, porque todo o meu ventre latejava.
Ele olhou para mim e, parecendo preocupado, disse:
“Amanhã vamos tomar as medidas necessárias.”
Fizemos um exame que comprovou a infecção urinária. Por muitos
momentos eu fiquei perguntando para Deus o que estava acontecendo
comigo. Várias pessoas me disseram que eu precisava desacelerar, que
eu estava trabalhando demais, correndo demais, e que o meu corpo
estava reclamando. Foi muito difícil ouvir isso, porque toda a minha
dedicação é para o Senhor, e Ele já fez coisas incríveis na minha vida.
Como um simples cansaço poderia me derrubar dessa forma? Teve
gente que disse que Deus estava me parando para eu relaxar. Mas eu
não podia concordar com isso, porque creio que viemos ao mundo
para servir, para obedecer. No livro de Miquéias está escrito:
“Levantai-vos e ide-vos, porque este não é lugar de descanso.” (Mi-
quéias 2.10)
Sim, eu sei que precisamos ser prudentes e reconheço que traba-
lhei muito naqueles dias em Israel, mas eu não fiz nada além do que

332
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

estou acostumada. Sem falar que eu sentia a direção de Deus para agir
daquela forma. Eu não me excedi, porque conheço também os meus li-
mites. Mas me entristeceu ver que muita gente, em vez de orar por mim,
de querer dividir o fardo, de servir junto, preferiu trazer julgamento.
Muitas pessoas me dizem que preciso parar, descansar e largar o
meu telefone, por exemplo, quando estou relaxando. Mas eu me preo-
cupo muito com as vidas que me procuram e dou o máximo de mim
para ajudá-las, porque sei que foi para isso que nasci. O que muitos
não entendem é que a vida é curta, e eu quero viver o máximo que
eu puder para cumprir o meu chamado. Os nossos dias na Terra são
poucos, mesmo se eu viver até os cem anos! Porque isso não é nada
diante da eternidade que Deus tem para nós.
Essas especulações me lembraram das acusações que ouvi no
passado, quando fiquei internada aos quinze anos de idade. Naquela
época me disseram que eu estava doente por ter negado a fé do meu
pai. Agora me falavam que eu estava de cama porque estava servindo
demais a Deus.
Ao mesmo tempo eu sentia uma grande batalha espiritual rondan-
do o meu quarto. Satanás falava aos meus ouvidos:
“Você não diz que Deus cura? Onde está o seu Deus? Olha como
você está agora! Você está doente e internada.”
Adormeci pensando em tudo isso. Acordei no domingo por volta
das quatro horas da manhã me sentindo fraca, com muita dor. Levan-
tei, fui ao banheiro com dificuldade e retornei para a cama. A Irace-
ma, minha amiga, intercessora e discípula, estava lá me ajudando. Ela
não saiu do meu lado. Quando me deitei novamente, peguei o celular
para ler a Bíblia. Eu gosto muito de orar declarando a Palavra, mas na-
quele momento não tive forças. Até tentei, mas não consegui; minha
voz não saía. “Meus Deus, como estou fraca!” – pensei.
Decidi, então, ouvir música para adorar junto, crendo que isso po-
deria me fortalecer. Também não dei conta. Desliguei o celular e o
coloquei na mesinha ao lado da cama.
“Senhor, estou muito mal. O que será isso? Onde vai chegar essa situ-
ação? Só me resta orar em pensamento, porque não consigo nem falar.”
Comecei a me lembrar de tudo o que vivi. Passou um filme na
minha cabeça com as histórias que conto aqui e tantas outras, que
quero compartilhar em um próximo livro. Recordei-me da minha úl-

333
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

tima internação, na adolescência – aquele momento em que eu estava


em coma, e a mão poderosa do Senhor entrou no quarto para me dar
vida. O Senhor me disse que Ele era a minha vida. Então, ao lembrar
disso meu coração se fortaleceu com a certeza de que o mesmo Deus
poderia operar em mim novamente. Por isso, comecei a falar com Ele
no meu espírito:
“O Senhor não mudou. Eu não posso ficar assim. Eu tenho que re-
agir. Já passei por isso, já vivi um milagre, e no Seu poder sairei daqui.”
Pedi para a Iracema pegar o vidrinho que eu carrego com óleo.
Depois, pedi que ela levantasse a parte superior da cama de forma que
eu ficasse assentada – e eu mesma comecei a me ungir. Coloquei as
mãos sobre mim e disse para o mundo espiritual:
“Eu sou templo do Espírito Santo. Eu visitei o túmulo vazio e sei
que Jesus está vivo. Quando Ele ressuscitou, a minha vitória também
ressurgiu. Essa fraqueza é ilegal no meu corpo! Eu sou temente ao Se-
nhor! Eu estive em Israel, na batalha, porque Jesus me orientou e me
garantiu que eu não estaria sozinha, porque Ele me acompanharia. Por
isso eu dou um comando agora: fraqueza, você sabe muito bem quem
eu sou em Cristo. Eu sou co-herdeira com Ele, por isso eu sou forte e
vou conseguir sair dessa situação de doença. No nome de Jesus!”
Então passei a dar ordens para o meu próprio corpo dizendo para os
meus órgãos, para o meu sangue, que tudo voltasse ao normal. Minha
voz ainda estava ofegante, mas eu reuni as forças que tinha para lutar
por mim.
“Reaja, corpo! Reaja, corpo! Fraqueza, este corpo não te pertence!
Vá para o abismo agora, em nome de Jesus!”
Foi sobrenatural. Fui me fortalecendo e comecei a declarar a Palavra,
trechos de versículos diferentes que fiz questão de memorizar:
“‘Mil cairão ao meu lado, dez mil à minha direita, mas eu não serei
atingida. Eu elevo os meus olhos para os montes; de onde virá o meu
socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra. Eu posso
tudo naquele que me fortalece. Eu posso vencer esse mal, porque ele
não é maior que o Senhor! Deus, eu creio na Sua fidelidade!”
Senti a direção de fazer um ato profético para mandar esse espírito
de enfermidade para bem longe da minha vida.
“Iracema, abra a porta para mim, que Deus está falando para eu fa-
zer algo.”

334
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Imediatamente ela se dirigiu até a entrada do quarto e fez o que eu


pedi. Com a voz um pouco mais forte, comecei a dar ordem para os
espíritos malignos que tentavam me derrubar:
“Enfermidade, pega toda a sua mochila, toda seta que você lançou
contra mim e saia daqui agora! Satanás, você quer se levantar contra
mim neste momento em que estou escrevendo para abençoar pessoas
com o meu testemunho? Você quer tentar me induzir a me sentir der-
rotada? Você quer me tentar a questionar o meu Deus? Você não vai
ouvir nenhuma lamentação da minha boca. Pega tudo o que é seu é vá
embora! Leve com você a fraqueza, em nome de Jesus! A porta fica logo
à frente! Vá embora!”
Eu disse essas últimas palavras tentando apontar em direção à saída
do quarto, mas quando me movi, senti dores no corpo. Não podia acei-
tar mais aquilo. Por isso me dirigi ao Inimigo novamente:
“Ei, volte aqui! Vem pegar a dor que você deixou! Eu estive no tú-
mulo vazio e conheço as palavras do profeta Isaías, que diz que Jesus
levou sobre Si as minhas dores. Então, se você está colocando em mim
esse desconforto e a infecção, carregue tudo para o abismo! Nada disso
me pertence!”
Fui me tocando novamente nos lugares doloridos para ter certeza de
que o mal-estar estava indo embora. Percebi que um lado ainda doía.
“Volta aqui e leva o restante dessa dor! Rápido, em nome de Jesus!
Sobre a minha vida não vale encantamento.”
Assentei-me de repente na cama e comecei a declarar uma música
da cantora Cassiane, que diz:

Quando estiver frente ao mar


E não puder atravessar
Chame este Homem com fé
Só Ele abre o mar
Não tenha medo irmão
Se atrás vem faraó
Deus vai te atravessar
E você vai entoar o hino da vitória

Fui declarando com fé cada uma dessas palavras, mas dizendo meu
nome: “Não tenha medo, Ezenete, se atrás vem faraó, Deus vai te atra-

335
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

vessar, e você vai entoar o hino da vitória!” E aquele sol maravilhoso,


que há tantos anos sinto brilhar em mim, iluminou o meu quarto. De
repente me senti forte.
Peguei o telefone e decidi mandar uma mensagem para o grupo de
obreiros que intercedia por mim. Os meus queridos irmãos ainda so-
friam pela perda da Ana Lúcia e estavam preocupados comigo. Então
eu disse a eles:
“Eu não vou morrer! Quem morreu foi o plano de Satanás para me
derrubar e me envergonhar justamente quando escrevo sobre os mila-
gres que vivi.”
Cantei para eles a música que eu estava declarando no meu quarto,
proclamando a vitória do Senhor. Ainda era madrugada, mas não dor-
mi novamente. Tomei um banho, deitei na cama, recebi meu café – tudo
glorificando o nome do Senhor. Agradeci pela bondade, pela misericór-
dia e pela graça que se renovavam na minha vida.
Horas mais tarde, quatro médicos entraram no quarto para saber
como eu estava. Eu disse que me sentia bem e que a dor da noite ante-
rior tinha ido embora. A médica que liderava a equipe repetiu os exa-
mes clínicos me tocando para saber onde estava o incômodo, mas nada
mais me fazia mal. Ela olhou para o colega que fez o exame anterior
com desconfiança enquanto continuava a procurar as dores que eu sen-
tia. Eles não estavam entendendo nada, e eu tentei explicar:
“Vocês não vão acreditar, mas veio um Médico antes de vocês. Ele
tem poder para curar e me curou.”
Contei toda a minha experiência; disse que eu tinha me levantado,
movimentado e que estava muito bem. A doutora, então, decidiu retirar
o soro para ver como eu ficaria, mas manteve os antibióticos. Horas
mais tarde a Ana Paula e a Renata foram me visitar, e eu pude teste-
munhar o milagre que vivi. Elas me acharam abatida, mas eu já estava
muito melhor que antes. A Iracema confirmou que minha aparência
anterior era bem pior, pois a pele ficou esverdeada e os olhos estavam
fundos. Nós três oramos juntas. A Ana e a Renata se alegraram comigo.
Mais uma vez, ao longo desses anos de caminhada, elas estavam ao meu
lado. Elas são testemunhas vivas da minha história.
Meus outros filhos do coração, acrescentados à minha vida por Deus
nesses últimos tempos, também estiveram comigo. O Júnior, que foi o
último a ser incluído na nossa família, representa um resgate de Deus

336
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

na minha vida e na dele. Ele trabalha no Diante do Trono e já viajamos


muito juntos. Assim que a Ana e a Renata se despediram, ele chegou
trazendo amor e carinho.
O Alex Passos, que “ado-
tei” desde que ele perdeu
a mãe há alguns anos, veio
em seguida. O meu outro
filho do coração, o Luci-
nho Barreto, também me
cobriu de atenção, mes-
mo viajando. Ele estava
nos Estados Unidos, mas
me mandava mensagens a
todo instante. Assim como
os meus queridos Sarah e
Leandro, Lucas e Ana Cássia, Anna Beatriz e Lílian. A Sinphoni tem
paralisia cerebral, por isso não tem muita noção do que acontece ao seu
redor; ainda assim eu sei que, da forma dela, ela me cobriu de amor. A
Patrícia e o André, que também fazem parte da grande família Rodri-
gues, não saíram do meu lado. Todos esses filhos são muito especiais
para mim, e me emociono em reconhecer como Deus tem colocado
pessoas incríveis ao meu redor, assim como os intercessores que fazem
parte da minha jornada e também são como filhos espirituais. Muitos
deles eu gerei em oração! Sem falar do Marcos, meu marido, compa-
nheiro fiel para a vida toda, que sempre permaneceu comigo.
Mas, por que estou encerrando o livro contando isso? Porque você
precisa saber que o Diabo não desiste de tentar nos derrotar. Ele sabe
onde somos fracos, quando estamos frágeis e em que somos tentados.
Se você olhar para a sua própria vida, vai reconhecer que vez ou outra
você é atacado em algumas áreas específicas. Acredite: o Inimigo não é
criativo. Por isso, fique firme no Senhor e persevere!
Satanás sempre soube que não adiantava me oferecer os prazeres
deste mundo, por isso a estratégia foi agir na minha saúde. Vez após
vez. Ano após ano. Além das lutas que relato aqui, passei por muitas ou-
tras. Fui atacada no meu corpo a exaustão. Mas isso não quer dizer que
não saí vencedora das batalhas que enfrentei. Nem que não fui curada
e liberta pelo sangue de Jesus. O Senhor nunca me deixou caminhar só,

337
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

mesmo nas situações mais difíceis. Ele sempre manifestou o Seu amor
e livramento sobre mim. Sua bondade tem andado ao meu lado, e a Sua
misericórdia tem me socorrido a cada dia.
A batalha continua enquanto estamos neste mundo. Cada vez vamos
enfrentar investidas maiores do inferno. Sei que os ataques das trevas só
chegarão ao fim quando já estivermos na glória – mas enquanto este dia
não chega, eu lutarei. Ainda que doa. Ainda que seja difícil. Ainda que
o mal se levante contra mim. Ainda que eu tenha que me despedir dos
meus queridos. Não desistirei jamais, porque eu sei que sou um milagre
e que muito mais ainda há de ser feito em mim e através de mim. Em
nome de Jesus.

Família reunida na Estância Paraíso para a chegada do meu neto,


Davi Lucca, ao Brasil.

338
339
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Suelen - 52017451215 - Protegido por Eduzz.com

Você também pode gostar